@ligaliteraria Triton - kathy Seraph

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Copyright © 2018 by KATHY SERAPH Todos os direitos reservados. É proibido o armazenamento e/ou a reprodução de qualquer parte desta obra - física ou eletrônica -, sem a prévia autorização do autor. Título: Triton Autor: Kathy Seraph Revisão: Erika Rodrigues e Vivi Dal Bo Capa: Sarah Libna Diagramação: Kathy Seraph Todos os direitos reservados, no Brasil, por Editora Sekhmet. editorasekhmet@ gmail.com www.facebook.com/EdSekhmet http://editorasekhmet.wixsite.com/meusite



Sumário Copyright © 2018 by KATHY SERAPH Sumário GLOSSÁRIO 1° ESCAMA DE TRITON 2° ESCAMA DE TRITON 3° ESCAMA DE AIKEN 4° ESCAMA DE TRITON 5° ESCAMA DE TRITON 6° ESCAMA DE TRITON 7° ESCAMA DE TRITON 8° ESCAMA DE AIKEN 9° ESCAMA DE TRITON 10° ESCAMA DE TRITON 11° ESCAMA DE TRITON 12° ESCAMA DE TRITON 13° ESCAMA DE TRITON 14° ESCAMA DE TRITON 15° ESCAMA DE TRITON 16° ESCAMA DE TRITON 17° ESCAMA DE TRITON 18° ESCAMA DE TRITON 19° ESCAMA DE TRITON 20° ESCAMA DE TRITON 21° ESCAMA DE TRITON 22° ESCAMA DE TRITON 23° ESCAMA DE TRITON 24° ESCAMA DE TRITON 25° ESCAMA DE TRITON 26° ESCAMA DE AIKEN 27° ESCAMA DE TRITON 28° ESCAMA DE AIKEN 29° ESCAMA DE TRITON 30° ESCAMA DE TRITON



GLOSSÁRIO ♆ DEUSES E RELIGIÃO ♆ Sereianos são devotos a deusa água. Muitas lendas contam que ela pode tomar o corpo igual como qualquer Sereiano e interagir entre eles, todavia, sempre precisa voltar a se fundir com a água depois de um dia. Kaya - Deusa água como é mais chamada, ou Deusa da luz. Conhecida como criadora de toda a vida marinha, tudo que a água toca é dela. Belial - Deus dos humanos, ou Deus das trevas como é mais chamado. Conhecido como criador de toda vida terrestre, principalmente os humanos que sua criação menos favorita em sua opinião. Belial deus cruel, do caos, e da criação. Baal - Deus supremo das trevas. Sua história é parcialmente desconhecida, tudo que se sabem que foi um deus extremamente cruel e tão poderoso quando a deusa suprema da luz, e isso foi um dos motivos de ser traído por sua parceira. (Na história vão notar, Belial chamando sua espada por Baal, cuidado para não se confundirem, ele nomeia sua espada assim em homenagem) Keline - Deusa suprema da luz. Mãe criadora de Kaya e Belial, sua ambição por poder e desequilibrar a balança do equilíbrio acaba colocando em risco toda a vida que seus filhos criaram, todavia, Keline é conhecida como deusa da estratégia e ambição. ♆ CLÃS OU FAMÍLIAS REAIS ♆ Schifino - A família mais conhecida e poderosa dos 7 mares, os Schifino são extremamente rigorosos, para carregar o sobrenome, os nascidos dentro do clã precisam passar por uma cerimônia, uma luta, na qual, o líder Schifino decidira se ele é forte ou não, os que são derrotados seu status é baixado e não podem carregar o sobrenome, mas também não podem sair do palácio. Alkes - A família conhecida pela força bruta e menos inteligentes para política, os Alkes são a única família do oceano que tem a pele mais clara. Segunda família no poder da hierarquia e o que tem menos integrantes atualmente. Waycheming - A família mais pacifica, conhecidos por seus olhos verdes como esmeralda, são espertos, inteligentes e muito bons em negócios, atualmente o rei dos mares é um Waycheming.

Reskenov - Família riscada, sua origem é desconhecida, como sua destruição. Poucos sabem sobre a família que foi riscada em todos os documentos. ♆ RAÇAS ♆ Sereianos: Metade peixe. Octopus: Metade polvo. Dolphins: Metade golfinhos (espécie rara). Sharkes: Metade tubarão (não apenas da cintura para baixo). ♆ AS HIERARQUIAS ♆ Composta apenas por 15% população da nobreza, os de alto status moram na cidade flutuante do rei, mas apenas os com muito status ou aceito pelo rei. ♆ AS CIDADES ♆ Existem pequenas cidades espalhadas, a maior, a capital. Fica debaixo da cidade flutuante (a cidade sobre as águas). Contida maior parte da população Sereiana é a capital, logo depois vindo apenas mais três pequenas cidades. ♆ CAUDAS DE SEREIANOS♆ Existe pelo menos quatros tipos de caudas, da mais comum a mais rara. Cauda Enguia: Uma cauda que se assemelha uma enguia (uma cobra) é a segunda mais rara. Cauda nadador: Terceira mais rara, suas pontas são mais compridas melhorando a velocidade no nado. Cauda salmão: Cauda mais comum, suas pontas são curtas e simples. Cauda dos ventos: Cauda mais rara, uma cauda que se assemelha um leque. Cauda dos deuses: Criada apenas para personagem Triton, sua cauda uma mistura de nadador, uma versão melhorada, por assim dizer, suas pontas são largas e suas barbatanas são qualificadas até mesmo para fazer ótimas curvas na água. ♆ SOBRE RELACIONAMENTOS ♆

Sereianos não tem preconceito e é normal casamento com mesmo sexo, única coisa difere na cerimônia matrimonial é o amanho da festa, realeza por ter mais poder tem chance de ter uma festa que dura até cinco dias, enquanto outros são no máximo dois dias. ♆ SEREIANOS YIN ♆ Sereianos Yin são machos que podem engravidar, os ômegas, existe poucos, mas no início dos tempos eram muito volumosos. Porém, Yin apenas são machos onde precisam ser engravidados apenas por outro macho, Yin ou alfa. ♆ SOBRE AS PEROLAS ♆ Um sereiano quando se apaixona tem dois "caminhos", o amor deles é diferente dos humanos, eles sabem muitas vezes quando realmente ama aquela sereiano, assim muitos saem em busca de uma perola para presentear a pessoa amada e assim é dever de quem está recebendo recusar ou aceitar. Tanto uma sereia pode dar para um tritão como vice-versa, todavia, mais comum um tritão dando ao outro. Isso pode ocorrer a qualquer momento, e a perola dada vai ser usada para a união matrimonial deles.

1° ESCAMA DE TRITON Debaixo daquelas águas, estava mais quieto do que o normal. Eu observava imensas caudas de diversas cores para todos os lados. Sim, estava quieto, mas agitado. Logo chegaria a noite do ritual, uma cerimônia que transformaria um Sereiano em adulto e assim, escolheriam um futuro parceiro para se casar. Aquele ritual era feito a cada semestre, e adivinha quem seria obrigado a participar? Suspirei. Meu pai, um tritão da alta classe, o conselheiro direto do rei dos mares, me obrigava a isso. Dizia que já passou da hora de escolher uma esposa para mim, porém, a grande verdade era: eu já tinha escolhido. Daria a pérola que simboliza uma união, um futuro casamento, para ela hoje! Estava animado, dava para ver na minha cauda que balançava com alegria. A conhecia desde a infância. Ela era plebeia, dificultando as coisas com meu pai. Ele queria que eu me casasse com alguém da realeza, alguém da alta hierarquia, todavia, amava uma única sereia. Uma linda sereia de pele escura e cauda rosa. Que coincidência! A encontrei parada diante da estátua que era feita para aquela cerimônia. Sorri apertando firmemente a pérola em minhas mãos. Ela poderia muito bem recusar, era direito da sereia aceitar ou não, porém, estava torcendo para ela sorrir e dizer sim. Eu estava muito apaixonado. Analisei a pequena joia em minhas mãos. Ao dar uma pérola ao parceiro que desejava, após passar na cerimônia, você falaria com os sacerdotes do templo da deusa água onde ela diria se aceitava a união ou não. Era um processo longo, mas não complicado para dois amantes apaixonados. Após isso, a pérola se transformava em um anel ou em um colar que diria a todos ali que aquele Sereiano já pertencia a alguém. Muitos tritões a usavam no pescoço e as sereias no dedo. Nadei em direção a sereia de bela cauda rosa em duas tonalidades, tinha um sorriso estampado bem visível em minha face. Mesmo que fosse obrigado a passar por aquele ritual dentro de três dias, eu já tinha escolhido a mulher com a qual queria passar minha eternidade. Aproximava-me devagar, com o coração acelerado.

Entretanto, tudo aconteceu tão rápido. Parei perto demais daquele que se aproximava da sereia que eu tinha escolhido e o vi selando os lábios dela com delicadeza e depois, se virando ao perceber meus movimentos. Ele sorriu, falando meu nome e me abraçando. Pisquei... Aquele que me abraçava era outro amigo de infância, Side, mas... Ele a tinha beijado? Meu corpo parou enquanto ele me abraçava forte. Se afastando rapidamente ele me observou, pegando a cintura de Kastra. — Triton, queremos te contar as novidades. — Eles se entreolham, porém, não sei nem se eu estava respirando. — Queríamos te contar quando oficializamos, mas por causa do seu pai, você sumiu nessa semana. Errado! Eu estava nadando como louco para achar uma pérola! Apenas com o desejo de encontrar a mais perfeita das joias. Eu queria chorar. Sei que deveria estar feliz pelos meus amigos, todavia, não conseguia sorrir. Nem abrir a boca. O que eu deveria fazer? Enquanto Side contava sobre terem assumido um compromisso dias atrás, eu desviava o olhar discretamente. Era egoísta não querer olhar para os melhores amigos abraçados e sorrindo um para o outro, porém, meu coração nem conseguia bater. Vários Sereianos continuavam a arrumar tudo para a cerimônia, via outros saindo de suas casas e logo ganhando sua cauda colorida. Na cidade ali em baixo viviam mais que a metade dos seres de minha raça, quem vivia na cidade flutuante — acima da água — eram apenas os mais nobres e o rei. E falando nisso... Consegui vislumbrar vários guardas procurando alguma coisa, e sabia o que era. Ou melhor, quem era. Meu pai sempre dizia que o novo rei era muito irresponsável e toda hora fugia, se escondendo em lugares que ninguém conseguia achá-lo. Revirei os olhos discretamente sem os dois em minha frente perceberem. Não tinha visto o novo rei pessoalmente, sabia as informações comuns como todos os cidadãos. O antigo morreu e com isso o filho dele subiu ao trono, porém, o que escutei de meu pai era que ninguém era tolo a subestimá-lo e aquele rei tinha mostrado isso aos adversários. Não tinha vontade de conhecê-lo pessoalmente, mesmo que meu pai desejasse.

Voltei a observar Side que sorria, segurando meus ombros. — Sei que isso é inusitado, mas quero que vá a nossa pequena festa e esteja comigo na cerimônia quando anunciarmos. — Ele sorriu largamente. Abri a boca, mas nada saiu. Não conseguia falar, nem me mexer. Apenas apertei firmemente a pérola em uma de minhas mãos e assenti, tentando sorrir. Observei as feições dele. Side era um ótimo amigo e tritão, o conheci quando uma multidão me agredia, ele me protegeu e com isso se tornou meu amigo, cuidando sempre de mim. Sempre presente que até mesmo fez um símbolo da nossa amizade, deixamos nossos cabelos crescerem e assim, usamos uma trança do lado esquerdo. E adorava a dele, seus cabelos castanhos eram arrepiados na parte de cima. Muitas vezes ria deles, fazendo-o jogar conchinhas em mim, furioso. Deveria estar feliz por ele, foi à único Sereiano desse imenso oceano a me proteger, a aceitar-me com essa tonalidade de pele... Enquanto todos a minha volta me humilhavam por ser albino e saído de uma humana, Side apenas sorriu e esticou sua mão para mim. Preciso sorrir! Preciso estar feliz por ele! Ele é meu melhor amigo. Mesmo que custe despedaçar meu coração, mas não tenho culpa. Nem para ela falei dos meus sentimentos. O vi se afastar rapidamente, com os olhos em algo atrás de mim. Side abraçou a cintura de Kastra que também se encolheu. Como ela ficava linda até mesmo encolhida e com medo. A história com Kastra foi outra, Side a convidou para ser nossa amiga e ela aceitou depois de ter perdido os pais em uma batalha que tivera com a outra raça. Seus cabelos eram lisos e negros como sua pele, cauda rosa juntamente as suas escamas que percorriam seu busto também. Órbitas rosa que me fascinavam. Virei-me, arregalando os olhos. Uma expressão séria e assustadora me fitava, engoli em seco. Odiava quando meu pai fazia isso. Aparecer atrás de alguém sem ser notado era algo que ele adorava fazer, todavia, conhecia bem aqueles olhos para saber que algo o preocupava. Seria o rei? Não, o que eu poderia fazer?! Nem ao menos conhecia vossa majestade. Fechei brevemente meus olhos, sabia exatamente o que era: O ritual. — Triton, o que faz aqui? — Sua voz era grossa e assustadora. Outro motivo pelo qual eu não tinha amigos, meu pai não permitia que eu

andasse ou trocasse palavras com plebeus. — Eu... eu apenas... — Gaguejava sobre a presença dele. — Você não deveria estar se preparando para a cerimônia? Mas ela é daqui a três noites! Queria berrar para ele, porém, apenas permaneci calado. Uma coisa eu sabia. Não discuta com Hardar Schifino, você nunca ganha! Baixei o olhar, eu tinha muitas feições de meu pai. Ele é um antigo general, corpo forte, mais forte que o meu e o de Side, cabelos incrivelmente negros como os meus e olhos azuis gelo, aquele de quem puxei, todavia, sua pele não era como a minha; a dele era escura, como a de Kastra. — Agora volte logo para casa e se prepare! Eu mesmo vou arranjar uma noiva para você. — Continuou ele, furioso. O problema de conseguir uma sereia para mim era: Mais da metade da população ali me odiava por ser diferente. Então, como ele conseguiria uma noiva para mim e ainda da realeza? Queria suspirar e revirar os olhos, mas não o fiz. Talvez a sereia que meu pai escolhesse me aceitasse, assim como Side e Kastra me aceitaram, porém, gostaria que alguém me amasse, ou melhor, queria que Kastra me amasse... Meu coração voltou a bater rápido, ele só podia estar brincando comigo. Hardar observou de cima a baixo meus amigos, fazendo cara de nojo. — Faça o que mando, preciso resolver um probleminha. Quer dizer, achar o rei! Falando nisso, qual era mesmo nome dele? — Estarei o mais breve possível em casa, se conseguir achar aquele idiota! Crianças... — Meu pai resmungou. — Isso que dá não passarem pelo ritual. Ele suspirou se afastando de mim, nadando na direção de onde tinha vindo. Voltei-me para meus amigos que me olhavam com preocupação e tristeza, eles sabiam muito bem como meu pai era e agia, e todos naquele reino o temiam. Talvez o temessem mais do que o próprio rei. Meu pai virou braço direito e conselheiro do antigo rei por tê-lo fascinado em uma batalha, e pediu para treinar seu filho que tinha nascido naquela época. Eu não era nascido e, para ser sincero, não sabia como meu pai tinha conhecido a minha mãe. As regras eram claras, não se relacionar ou falar com humanos, a não ser

que fossem para negócios, mas meu pai fez um filho em uma humana. E o que me chamava a atenção, era que as sereias eram responsáveis por guardar as fronteiras, tanto do mundo humano quanto do outro reino, se humanos invadissem nossa areia, elas tinham permissão para usar sua voz e matá-los, dando-os como oferenda a deusa água. — Você está bem? Pisquei, sentindo a mão quente de Side em minha face. Ele sabia muito bem como me decifrar, porém, não era por meu pai que não estava bem, mas usaria isso como pretexto. Sorri como pude, assentindo de leve, não para convencê-lo, apenas para afastar-me. — Ficarei. — Sussurrei. Ele ainda me fitava com tristeza. Uma vez meu pai o expulsou e o ameaçou para ficar longe de mim, e ainda o humilhou por ser plebeu. A verdade era, Side tinha uma família pobre, mas era um soldado agora, um dos melhores. — Farei o que ele diz, antes que sobre para você, Side. — Avisei a eles. Side assentiu, baixando a cabeça. Sabia que ele não se importava que meu pai o humilhasse, nem Kastra se importava, todavia, eu me importava! E agora eles estavam felizes juntos. Sorri, um sorriso grande que doeu minhas bochechas. — Cuide bem dele! — Dirigi minhas palavras a minha amiga. — Sabe como ele é. Ela riu alto, me abraçando, até parecia uma despedida. Eu estava com o coração partido, entretanto, isso não era um adeus. Ri disso e a apertei em meus braços. — Se cuide, nos vemos na cerimônia. — Respondeu ela de volta. Assenti e me dirigi para o lado oposto que meu pai tinha ido. Porém, não era o lado da cidade submersa, e sim, mar adentro. Vi pelo canto do olho, Kastra olhar preocupada para Side que apenas riu alto e falou algo que não pude mais escutar. Certamente era: "Achou mesmo que ele ia obedecer?". Realmente, não gostava de seguir regras, então apenas nadei com a pérola em minhas mãos. Não podia ser egoísta a esse ponto, precisava sorrir e ficar feliz por eles. Afastei-me o que pude, passando por pedras grandes e arraias que se levantavam com meu passar, fugindo. Não podia prosseguir, ou acabaria na região onde tinha os polvos gigantes. Eles eram perigosos quando não se tinha

uma arma para se defender, fora aquela coisa negra e grudenta que eles soltavam. Eca! Encontrei uma caverna pequena e certamente abandonada. Se tivesse algo ali, seria um peixe. Sentei-me em cima observando a pérola em minha mão. Jogaria fora? Não. Melhor guardar. Se eu não estivesse na água poderia sentir minhas lágrimas rolando, todavia, senti como se fosse uma mão quente tocando em meu rosto. Seria a água? A nossa deusa? Não, por que ela se importaria com um mero tritão no meio de muitos? Apertei a pérola firme e balancei minha cauda. Precisava me distrair, entretanto, foi uma péssima ideia balançá-la. Arregalei os olhos ao ser puxado. Berrei e bati a cabeça, vendo que algo me puxava para dentro da caverna. Fechei meus olhos e não sei se a pérola se soltou de mim. Apenas vi escuridão. Gemi de dor ao sentir algo quente me tocando. Tentáculos? Não... Não era um polvo, porém, estava escuro demais e minha cabeça doía muito. Gemi baixinho de novo, manhoso. Quem teria me puxado? Estava escuro, mas senti algo contra minha pele nua, era quente. Notei alguma coisa se mover. Consegui abrir bem meus olhos e os arregalei no momento em que percebi uma lâmina fria perto do meu pescoço. Ok, aquilo não era um polvo gigante, era um polvo louco! Assassino! Queria gritar socorro, todavia, quem tinha a lâmina em mãos a afastou, certamente vendo minha expressão de pânico. Pisquei, sentindo uma cauda... diferente, mas de Sereiano. Era um? Um riso ecoou e meu sequestrador, se podemos chamar assim, se aproximou de minha face. Senti seus cabelos baterem em meu peito e consegui ter o vislumbre de algo vermelho... Seriam seus olhos? Não, suas madeixas vermelhas bagunçadas. — Quem é você? Não é um soldado ou teria se defendido. Sua voz era graciosa, assustadora e sexy. E como era graciosa... Pisquei. Até um soldado não conseguiria se defender assim! Queria gritar para aquele imbecil! — Quem é você, pequeno? Pequeno! Ok, já passou dos limites! Ele queria briga? Isso que ele ia ter! — Não sou pequeno, Imbecil! — Berrei. — Saia de cima de mim! —

Rugi. Um minuto de silêncio pairou no local, todavia, ele não se afastou de mim. Apenas caiu na gargalhada. Senti novamente seus cabelos contra minha pele desprotegida. Seu toque era tão quente... — E saia de cima de mim! Idiota! — Continuei a rugir alto. Quem ele pensava que era? Idiota... Ele ia ver só quando me soltasse! Mostraria que podia ser melhor que um soldado! Ele continuou a rir, porém, saiu de cima de mim e checou a entrada da caverna. Ela era grande! Como? Era minúscula por fora. — Está acompanhado, saia de cima de mim? — Sua voz ecoou novamente tranquila e controladora. Cruzei os braços e me sentei de qualquer jeito. — Não! Por que quer saber, Idiota? — Resmunguei bravo. Apenas o vi sorrir leve e se aproximar de mim como se me analisasse. Sou agora o quê para ele ficar me olhando assim? Uma estátua? Resmunguei e dei as costas para ele enquanto ajeitava minha trança. Aquele idiota era um fugitivo? Estaria encrencado? Analisei pelo canto dos olhos aquele tritão estranho. Seus cabelos eram compridos e vermelhos, sua cauda era diferente da minha, vermelha com negro e tinha um cinto dourado em volta de sua cintura, o que indicava que era da realeza. Observei a pedra ali presente. Não, ele não era um simples membro da realeza, tinha muitas joias para ser um simples membro, talvez um conselheiro? Ele pegou-me observando-o, corei e virei a face. O que ele pensaria? Um macho o analisando atentamente... Ajeitei minha trança de qualquer jeito. Quis sair dali, mas ele não permitiu. Derrubou-me novamente e prendeu-me no chão contra a minha vontade enquanto aproximava sua face da minha. — Não posso deixá-lo ir agora, saia de cima de mim. — Disse me provocando. Pisquei, o que ele queria dizer com isso? Eu apenas queria ir embora. Ele desviou aquelas órbitas vermelhas para algo ao meu lado. Tinha as mãos presas sobre meu peito, tentei balançar minha cauda, mas seu corpo forte conseguiu me imobilizar rapidamente. Ele pegou algo ao lado de minha cabeça e o analisou. Arregalei os olhos.

A pérola! O vi sorrir maliciosamente, voltando a aproximar seu rosto do meu. Aqueles olhos me assustavam, pareciam que podiam ler minha alma. Eles me analisavam bem... — Parece que temos um tritão comprometido aqui. — Sua voz saiu com certa tristeza. Por quê? — Infelizmente não. — Agora foi a minha voz que soou com tristeza. Ele pareceu me analisar antes de abrir a boca para dizer algo. Aquela pérola pertencia a alguém, uma sereia que não podia aceitar, que não podia possuí-la. Fechei brevemente os olhos e voltei-me para o ruivo ainda acima de mim. Quem era aquele cara estranho? Não gostava do jeito que ele me observava, minha cara de decepção e tristeza era tão nítida assim que não conseguia nem esconder de um estranho? Arregalei os olhos quando ele sorriu novamente com malícia e... Queria berrar, socá-lo! Senti seus lábios contra os meus e sua língua quis invadir minha boca. Suas mãos seguraram meus braços ao lado do corpo e sua cauda começou a se enrolar na ponta da minha. Um pervertido! Deveria gritar? O analisei. Seus cabelos caíam por cima de meu rosto, seus olhos mantinham-se fechados e sua língua ainda tentava ir contra a barreira que fiz com os dentes, iria mordê-lo! Isso sim! E fiz. Todavia, não ri disso. Ele pareceu gostar, sorrindo ainda mais ao se afastar. — Solte-me, seu pervertido sádico! — O empurrei. Fugi de baixo dele, enfurecido. Desde quando podia sair beijando os outros assim? Nossa raça não tinha problemas por escolher alguém do mesmo sexo, todavia, sair beijando qualquer um por ai não era certo! Correto? — Apenas queria ajudá-lo. — Sua voz graciosa soou. Ajudar-me? Ajudar-me? Ele era um louco! Isso sim!

Por que precisaria da ajuda dele? — Você ficou com um olhar tão vago e triste ao ver a pérola... Pensei em fazê-lo se esquecer um pouco. Ajudar-me? A esquecer um pouco? Queria berrar com ele, socá-lo, chamá-lo de louco e tudo mais, porém, não consegui. O que ele falou... era verdade. Tinha funcionado, seu beijo fez-me esquecer da pérola, de Kastra... E apenas me concentrar nele. Maldito! — Então, gostou do beijo? — Perguntou, aproximando-se de mim novamente. Por que tão próximo? — Eu... Eu não gosto de machos! Seu tarado! Fugi de seus braços, nadando para fora daquela caverna, não me importando com a pérola, não daria para ninguém mesmo! Não olhei para trás ao sair daquele esconderijo mal iluminado, apenas suspirei e mexi minhas guelras. Senti a movimentação da água. Ele não desistia! O fitei de soslaio, ele se aproximava cuidadosamente. Ótimo, estava agora fugindo do meu próprio rei que poderia me obrigar a ficar! Não sabia se deveria nadar para longe dele, apenas fiquei imóvel. — Sou Aiken. — Se apresentou, mudando de assunto. — Alkes. — Completou com seu sobrenome. O analisei pelo canto do olho, ele estava sorrindo e parou poucos a metros de mim. Conseguia ver agora nitidamente seu corpo. Ele usava algumas joias pelo pescoço e braços, todavia, nada de sua coroa. Realmente era o rei dos mares? Sabia que o antigo rei tinha falecido a pouco tempo, mas o suficiente para seu sucessor subir ao trono. — Eu sei quem você é! — Provoquei e virei o rosto. Talvez assim pudesse saber se ele realmente era o rei, porém, a pergunta era: Por que ele nunca tinha ido a público? Nada de cerimônias, festas ou qualquer outra coisa que o antigo rei fazia... Era estranho... — Sabe? — Sua voz era provocante, senti uma movimentação na água indicando que ele se aproximou ainda mais. — Então sabe que sou o rei e mesmo assim xinga-me e foge? Vi seu sorriso provocativo. Queria arrancar aquele sorriso dele! Rei

tarado! Apenas o ignorei. Ele ainda sorria. Qual era o problema dele? Irritante! Senti algo se enrolar em minha cauda, assim como seus braços passarem por cima de meus ombros. Pisquei, sem conseguir me mexer. O que ele pensava que estava fazendo?! Se agarrar em alguém que não conhece! Ouvi sua risada fraca, antes de sentir seus lábios em minha orelha em forma de barbatana. — Você não me disse seu nome. — Sua voz continuava naquele tom provocativo de sempre. E por que eu falaria meu nome para ele? A menos que fosse uma ordem, claro. Nem de coroa ele estava, então, o ignorei. Ele se remexeu atrás de mim, prendendo-me mais. Era impossível sair nadando e fugir com ele preso em minha cauda. Suspirei, o que faria? Desistiria? Ele queria apenas saber meu nome, certo? Tramaria outra coisa? Baixei o olhar e senti minhas faces corarem. — Triton... — Disse baixo, entretanto o suficiente para ele ouvir. O vi sorrir de leve e sua cauda se desenrolou da minha, todavia, seus braços permaneceram ali, assim como seus lábios. — Triton...? — Repetiu ele em tom baixo. — Nome único para os Sereianos, gostei. — Continuou. — É da realeza, não é? — Ele perguntou ao apontar para o cinto metálico que eu tinha e que separava meu corpo humano do de peixe. O cinto que todos da realeza levavam, dependendo de seu status mudava a pedra no centro. A minha era dourada e a do rei vermelha. Apenas sou filho de um nobre, um conselheiro do rei dos mares, meu status então é baixo comparado ao do meu pai que possui uma pedra azul. Assenti devagar, vendo-o sorrir. — Qual seu sobrenome? O fitei de soslaio, por qual motivo ele queria saber o meu sobrenome? Senti seu colar de conchas roçar minhas costas, era uma concha de verdade presa em um fio metálico. Materiais mais resistentes que os dos humanos, alguns ainda nem descobertos por eles. — Schifino... — sussurrei.

O vi abrir a boca novamente. Só que a voz que soou não era de Aiken. — Triton! O rei me soltou rapidamente, girando seu corpo como se estivesse preparando-se para um ataque. Pisquei ao ver meu pai com alguns soldados se aproximarem. Aiken resmungou baixo e virou a cabeça. Certamente ele queria fugir. Por que ele fugia tanto? Era tão chato governar? Ele não estava nem um ano no poder! — Triton, o que faz por aqui? — Meu pai começou com os sermões. — Está quase na divisa das pedreiras! Quer ser atacado por um Octopus? Neguei com a cabeça, era o que eu fazia quando era xingado, negava ou afirmava, dependendo da pergunta. Nunca falava nada, era melhor... Meu pai lançou um olhar ao rei, um olhar que não o fazia se lembrar que estava na presença de seu rei. Aiken coçou a nuca e desviou os olhos daquelas órbitas azuis bravas. Ri com a cena. O próprio rei levando um olhar mortal, não se via todo o dia. — O que está fazendo aqui com meu filho, majestade? — Sua voz era fria. — Meu filho não é para brincar! Pisquei, tentando processar aquilo. Por que meu pai falava algo assim para o rei? Demorei para entender do que se tratava, mas quando entendi, arregalei os olhos e corei. Berrei, xingando-o antes de Aiken responder qualquer coisa. O que se passava na cabeça dele também? O que se passava na cabeça desses doidos? Ou era eu que estava ficando doido...? — Vamos para casa! — Meu pai disse. — Nunca mais chegue perto das pedreiras ou ultrapasse-as! — Avisou, furioso. — Sempre preciso estar repreendendo-o, Triton! Quando vai começar a agir como um adulto? Agir como um adulto? Quando começaria a agir como um adulto... Eu tentava! Eu tentava agir normalmente. Queria berrar, queria... Por que era tão difícil de ser aceito? Por causa da minha pele? Por que minha mãe era uma humana? Cerrei os punhos, ouvindo-o enquanto ainda me dava sermão. Senti o olhar de Aiken sobre mim, mas não queria prestar atenção nele agora. Em ninguém!

— Quando vou começar a agir como um adulto? — Repeti sua pergunta, fazendo-o se calar. — Quando todos pararem de me olhar com nojo! Quando pararem de tocar pedras e outras coisas por causa de minha pele! — gritei com toda a força que tinha. — Quando pararem de me julgar enquanto eu sou igual a eles! Por que ninguém pode me aceitar assim? — Deixei a voz morrer nessas palavras. Senti aquelas lágrimas invisíveis novamente... Por que ninguém me aceitava? — Já disse a você para... — Não quero saber! — O cortei, gritando novamente. Fui para trás, engolindo minha mágoa. Meu pai estava com aquelas órbitas azuis bem arregaladas. Cerrei os dentes e fugi dele, fugi de todos. Se nem meu próprio povo poderia me aceitar, quem poderia? Humanos? Octopus? Dolphins? Certamente nenhum deles... Nadei rapidamente, vi que meu pai vinha atrás de mim enquanto os guardas seguravam Aiken para não vir junto. O que ele queria também? Ver-me ser mais humilhado e agredido por todos? Nadei e nadei, despistando meu pai, todavia, não notei que tinha ido para um lugar que realmente não deveria ir. Um lugar perigoso. A divisa das pedreiras... Depois dali muitos de outras raças e principalmente Octopus, inimigos mortais e perigosos dos Sereianos, espreitavam... Não deveria ter ido por ali.... Ultrapassei o muro de pedras, arrependendo-me logo em seguida. Deveria ter ido para casa. Se tivesse ido, nunca teria sido flagrado por um... Octopus. Vi o Octopus se virar na mesma hora em que passei pelos muros, não consegui parar, não sabia o que fazer. Apenas vi aqueles tentáculos negros e seus olhos de um azul tão claro como a água... Não notei o quanto tinha me afastado, apenas sei que ao olhar para frente, não consegui parar e acabei batendo de frente a uma pedreira. A batida foi forte, na qual jogou-me para o fundo do mar. Cai devagar e logo depois minha visão começou a escurecer. Não podia desistir... Não agora que aquele Octopus vinha em minha

direção. Toquei o chão de areia e tudo escureceu... Não sabia dizer ao certo quantas horas tinha ficado inconsciente, apenas sabia que não tinha sido devorado por um Octopus. Via algo vermelho se aproximando, não sabia se estava realmente desperto ou era apenas um sonho, porém, estiquei a mão para tentar alcançar aquele vermelho que me lembrava... Aiken... Senti chamá-lo... Ele tinha vindo? Como? Por quê? Era perigoso para um rei se arriscar tanto assim, todavia, meu corpo era egoísta e tentava alcançá-lo. Estiquei mais minha mão e cada vez o objeto vermelho não se transformava em uma cauda, ou aqueles cabelos compridos... E sim, em uma... Estrela do mar! Pisquei, arregalando meus olhos. — Que bom que acordou! Observei o Octopus que segurava a estrela vermelha que não se mexia. Ele sorriu, mostrando covinhas e logo depois levantou minha cabeça, colocando aquilo debaixo. O que ele estava pensando? E por que não tinha me devorado? Ou eu estava sendo ajeitado para uma bela refeição? Fitei a cama feita por estrelas do mar que ele tinha feito. Umas se mexiam, fugindo. — Então você se chama Aiken? — Perguntou ele, pegando outra estrela fujona. Ele ainda continuava a sorrir, era tão alegre e caloroso. Não mostrava frieza nem qualquer expressão ruim em seus atos ou olhos. O fitei mais, analisando seus olhos de um tom de azul muito claro, seus cabelos compridos, mas amarrados em parte e de fios negros. E seus... Tentáculos escuros. Seu corpo era forte e levava um colar de conchas verdes como os objetos a mais que o enfeitavam desde a cintura até os braços. Ele arrumou as estrelas sobre a pedra que eu estava, não se importando que ali tinha um Sereiano! Quem era ele? E se eu me chamava Aiken? Pisquei.

Realmente tinha chamado por Aiken? Corei, fazendo o Octopus notar e ficar confuso. — Não. — Disse virando a face. — Meu nome é Triton. Ele nada respondeu e não me voltei para ver suas expressões. Sentia a vibração da água, algo que indicava que ele se mexia. O fitei de soslaio, vendo-o agarrar um pequeno cavalo-marinho e acariciá-lo. Ele tinha até um cavalo-marinho? Pensando bem, muitos tipos de peixes e tartarugas marinhas estavam naquele local com algumas pedreiras baixas. Que lugar seria aquele? A casa dele? — Sou Oki. — Disse ainda acariciando seu cavalo-marinho amarelinho. — Você bateu a cabeça, espero que não esteja doendo muito. — Sua voz parecia preocupada. Por que ele estava se preocupando comigo? Sereianos e Octopus se odiavam há séculos, mas pensando bem, eu mesmo poderia tê-lo atacado, porém, não conseguia pensar em machucá-lo. Ele me ajudou e se preocupou, mas por quê? — Eu estou bem. — Sussurrei, vendo-o soltar o animal que nadou feliz. — Mas por que está fazendo isso? Ele se virou para mim com uma expressão confusa a mostra. Gaguejei, antes de escolher as palavras... — Você é um Octopus, eu sou um Sereiano... — Comecei não sabendo como continuar. — Por que está cuidando de mim? — Disse finalmente. — Ou pensa em me devorar junto a essas estrelas do mar? Me remexi sentindo-as se moverem, apenas a vermelha ficava quietinha. O vi gargalhar alto e tocar na barriga. Ele estava rindo do que eu falei? Ele realmente era um Octopus? Ele era louco! Ainda gargalhando, ele fitou-me, limpando uma lágrima invisível enquanto aquele mesmo cavalo-marinho voltava e se escondia debaixo de seus tentáculos. O mesmo sorriu para mim, enrolando as pontas de seu cabelo negro. — Eu nunca vi um Sereiano e achei você fascinante. — Sussurrou ele, desviando o olhar. Ele estava ficando corado! — E quando o vi bater e desmaiar, fiquei preocupado. — Continuava baixo. — Não odeio Sereianos e nem entendo o ódio das duas raças, apenas fiquei preocupado e fui ao seu auxílio. — Baixou a cabeça. — Desculpe se te

assustei. Pisquei, ele estava se desculpando por ter me assustado?! Sorri fraco e peguei a estrela do mar vermelha que começava a se mexer em reação. A toquei, sentindo seu corpo duro. O silêncio pairou sobre nós, deixando apenas o barulho de peixes e as ondas batendo nas pedreiras grandes, sobre nossas cabeças. Não sabia o que dizer, então apenas fiquei observando aquela coisinha vermelha feito um idiota. Deveria agradecê-lo, além do mais, ele não me devorou e nem me fez mal. Apenas cuidou de mim e se preocupou. Levantei a cabeça, vendo-o observar um cardume que não sabia para que lado ia, seu rosto ainda mostrava rubor. Ri baixo, chamando sua atenção. — Obrigado. — Agradeci. Oki abriu um sorriso grande com covinhas para mim. Ele realmente não parecia um Octopus assassino como me contavam as histórias. Ele parecia gentil, bondoso e bem alegre. O vi remexer seus tentáculos de maneira ansiosa. — Você odeia minha raça? — Ele perguntou ao desviar os olhos dos meus. Neguei fortemente com um balançar de cabeça. Nem saberia dizer o porquê de odiar se estivesse dizendo sim. Ninguém daquela raça me fez mal, pelo contrário, o único Octopus que fiquei frente a frente me tratou melhor que meu próprio povo. E só tinha a agradecê-lo por isso. — Não os odeio. O vi sorrir ainda mais. — Então podemos ser... Amigos? — Disse suas últimas palavras baixinho. Por que ele falava tão baixo assim? E ficava corado também... Não deveria haver vergonha em fazer amigos. Sorri abertamente e assenti. Por um minuto, pareceu que suas órbitas azuis tinham brilhado e logo depois senti seus braços e corpo, indo rumo ao meu. Ele sorria e comemorava... Apenas por ter recebido um sim! Isso me fez rir ainda mais. Será que ele tinha amigos? Ou sabia o que era ter uma amizade? Todavia, algo a mais me preocupou. Como seriamos amigos? Se Oki passasse pelas pedreiras seria morto pela minha raça e eu não queria isso. Senti seus tentáculos me enrolarem, eram pegajosos, mas nada disse, apenas deixei-me ser abraçado e sacudido, literalmente, por ele. Sua felicidade

era grande. Oki se afastou um pouco, apoiando suas mãos em meus ombros e tentáculos em volta de mim. Algo bom de ser um Octopus era que você tinha oito tentáculos os quais podiam fazer muitas coisas! Sorrindo, ele deu-me um pequeno beijo em meus lábios e se afastou corado. Pisquei e não me movi. Ele tinha acabado de me beijar! Por quê? Ele... Aiken... Por que eles beijavam as pessoas que recém conheciam? Dois doidos? Balancei a cabeça de leve, vendo sua expressão confusa e preocupada. Oki voltou a se aproximar e parecia estar com medo. — Sua raça não sela uma amizade com um pequeno beijo? — Ele perguntou com receio. Octopus selavam amizades com um beijo? Deve ter sido daí que aquele tarado tirou essa ideia. Revirei os olhos ao pensar nele. Por que sempre pensava naquele rei idiota? — Ah, não... — Disse baixando o olhar. — Que eu saiba não. Não tenho muitos amigos... — Continuei. — Na verdade, quase nenhum. — Disse com a voz triste. Não levantei a cabeça, apenas senti a vibração da água e logo em seguida o conforto dos braços dele. O calor do corpo dele abraçando-me fortemente. Isso apenas me fazia querer chorar mais... Por que minha raça tinha que odiar tanto a ponto de outro aceitar-me mais do que eles? Apenas tinha Side, mas agora o havia perdido... — Não se preocupe, eu serei seu amigo! — Disse ele me sacudindo. — Não fique triste, Triton. Você tem a mim! — Sorriu. Sorri de leve, vendo-o animado apenas para alegrar-me. Sentia tristeza pelo fato de não ter Oki sempre ao meu lado, todavia, não o queria morto. Ele era meu amigo, não é? Permiti que ele me abraçasse, enquanto ele falava sobre como seria a nossa amizade. Oki se afastou e pegou algo rapidamente perto de mim. — Pegue ela como presente. — Ele ofereceu a estrela do mar vermelha. — Ela é rara e é minha preferida. Esticou-a em minha direção.

Sorri. Mas não podia levá-la para casa, era sua preferida e não teria como cuidá-la dentro dos casulos que chamávamos de casa. Não havia água lá dentro, então ela morreria. — Não posso levá-la. — Disse a ele e expliquei o motivo. Oki pareceu ficar triste. — Não teria onde colocá-la. — Sorri e expliquei sobre as cúpulas dos Sereianos. Oki pareceu ficar fascinado enquanto escutava as histórias que eu contava a ele. Mesmo sendo da raça inimiga, ele nem mesmo tivera contato com os de sua própria espécie. Contei sobre minha família e, como eu, Oki apenas morava com sua mãe, enquanto a única pessoa que tinha era meu pai. Os peixes não se incomodavam conosco, nadavam tranquilamente e muitas vezes se batiam de frente. O pequeno cavalo-marinho ficava sempre por perto, rodeando Oki que no final deu-me uma concha verde de seu colar. Aceitei, pegando a conchinha rara. Aquele Octopus era um amante de coisas raras. O tempo passou, até ver o Octopus virar-se por um breve instante, partindo logo em seguida, avisando que voltaria logo. Pisquei, não sabendo o que estava acontecendo, porém, permaneci sobre a pedra cheia de estrelas do mar que não fugiam mais. Olhei para cima, vendo que o sol brilhava forte, refletindo na água que tinha se acalmado. Fechei meus olhos, sentindo-me tranquilo. Era tão agradável aquele momento que nem mais notei a ausência de Oki que não retornou. Meus pensamentos inquietos foram para aquele tritão ruivo. Ainda não sabia porque pensava tanto naquele rei idiota! Suspirei, meu coração tinha cantado para ele? Não, impossível! Kastra era a sereia que eu amava, não era possível. Sorri sarcasticamente, deveria tirar aquele estranho de minha cabeça! Pisquei no minuto que senti algo tocar em meu braço e assim ser puxado com força, sendo arrastado pela areia. Rolei até me equilibrar e nadar para fugir. Fitei o enorme polvo puxado para o vermelho que me encarava. Aquele era um enorme polvo, não era nada comum, eles são selvagens e controlados pelos Octopus, o que significava que deveria ser de Oki, ou de sua mãe, certo? Então por que ele me atacava sem ordens de seu mestre? Ele puxou-me com o outro tentáculo, pegando meus dois braços e

cintura. Bati a cauda, queria fugir daquele animal grande. Quem era que o controlava? Deveria gritar por Oki? Péssima ideia... Descuidando-me, fui puxado novamente para baixo e arrastado enquanto mais um tentáculo me agarrava, agora pelo pescoço. Aquele animal pretendia me matar? Precisava chamar Oki! Me desesperei, não tinha nada que pudesse usar de arma por perto, não via nada além de um lugar repleto de areia e estrelas do mar. O que deveria fazer? Debatendo-me, tentei tirar aqueles tentáculos grudentos de meu pescoço, sentia minhas guelras sendo bloqueadas, respirava com dificuldade. O desespero veio, e o que eu poderia fazer não fiz, abri a boca, mas nenhum som saiu de meus lábios. Puxei os tentáculos de meu pescoço, pegando o que conseguia de oxigênio e chamei pelo nome de Oki, dessa vez, conseguindo. O polvo me arrastava para perto dele. — Oki! — Continuei a gritar, porém, sem forças. Fitei aqueles tentáculos que vinham em minha face, tampando completamente minha visão. — Oki! — Minha voz mal saia. O que eu deveria fazer? Ele não vinha... O que deveria fazer? Meu corpo parou de reagir, estava com medo... Nunca tinha sido pego por um polvo, ainda mais naquele tamanho. O que deveria fazer? Abri a boca, mas nada consegui gritar ou dizer, apenas senti aqueles tentáculos em se apertarem mais em volta de meu corpo. — Aiken! — Berrei com todo o ar que restava em meus pulmões. Não sabia porque o tinha chamado. Ele não tinha motivos para vir me salvar, nem mesmo como me escutar. Eu estava perdido e logo seria morto por um polvo gigante. Um belo final para o mestiço odiado pela própria raça... Que final irônico... Não conseguia ver mais nada, até a claridade surgir e machucar meus olhos. Não conseguia enxergar nada, estava tudo embaçado, porém, havia algo que consegui ver muito bem... Aqueles cabelos vermelhos... — Aiken... — sussurrei sem mais forças. Consegui o ver com um imenso tridente que não soube distinguir bem sua cor, mas parecia ser dourado. Seus cabelos soltos se mexiam à medida que avançava sua arma sobre o polvo. Talvez quisesse matá-lo, não sabia o que ele

pretendia, apenas sei que cada vez minha visão ficava mais turva a ponto de eu não enxergar mais nada, apenas escutar as vibrações que aconteciam por perto. Escutei os peixes fugindo e assim os movimentos de Aiken pararam. Não soube dizer muito bem o que aconteceu logo depois, apenas ouvi ele me chamar, e senti seu toque sobre minha pele. Após meu corpo se certificar de estar protegido em seus braços, minha consciência se foi.

2° ESCAMA DE TRITON — Não! Pisquei, acordando com as vozes que captava. Meu corpo doía. Apertei os lençóis que conhecia muito bem. Piscando novamente, observei meu pequeno quarto confortável, estava tudo escuro, o que significava que a grande bola que iluminava o céu já tinha sumido. Remexi-me e fitei minhas pernas cheias de machucados por causa do polvo gigante. Ele certamente estaria morto agora, ou não? Aquele polvo... Tudo tinha acontecido tão rápido, não sabia porque Oki saiu com uma expressão aflita, teria acontecido algo antes daquele polvo aparecer? Ou ele o teria sentido? Sabia que os Octopus podiam sentir qualquer polvo por perto, mas talvez não a sua localização... Deitei de costas, sentindo os lençóis quentes debaixo de minha pele desprotegida. Toquei minha cabeça, lembrando de tudo o que tinha acontecido. Tudo ainda girava, até me lembrar de Aiken... Aquele rei estranho tinha ido me salvar. Ele não sabia o quanto estava se arriscando? Suspirei. Se não fosse sua idiotice, quem sabe o que teria acontecido? Oki poderia ter chegado a tempo e ter me ajudado? Fechei meus olhos, não queria pensar no que teria acontecido, nem no que aconteceu. Apenas estava agradecido com a idiotice daquele rei. — Você não deveria ter saído das muralhas! Pisquei, olhando em direção a porta. Escutava a voz de meu pai, mas com quem ele falava? E eu era o único que tinha saído. Com dor, saí da cama em passos lentos, indo em direção a porta. Espiei pela fresta arregalando meus olhos logo em seguida. Meu pai estava de pé em frente ao rei dos mares e seus guardas. Aiken tinha me trazido até aqui? Se arriscado tanto assim? Ele mesmo poderia ser punido por seu descuido e idiotice! O que ele realmente queria? — Isso não está em questão aqui, Hardar. — Sua voz saiu firme, fazendo-me arrepiar. Aquele tom de voz não chega nem perto do que ele usará comigo, todavia, meu pai teimoso, também não se abalava ou abaixava a cabeça. O vi colocar a mão na cintura, colocando sua pior cara de mau a qual eu muitas vezes,

achava engraçada. — Isso está em questão desde que o rei dos Sereianos saiu sem escolta pelos muros! — Dizia. Continuei a observar a briga. Gostava de ver que Aiken nem dava importância para isso, e com aquela força nem era para menos. Ele era forte, até demais... Mas se me lembro bem, o rei antes de seu pai, não tinha cabelos de fogo. As linhagens reais sempre tiveram cabelos negros... E era raro um Sereiano ter aquela cor de cabelo, era mais comum um verde do que vermelho. — Se eu não tivesse feito o que fiz, talvez Triton nem estivesse vivo! — Ele elevou a voz com muita raiva acumulada. O vi serrar o maxilar, segurando-se para não falar mais nada. Os dois soldados atrás dele se entreolhavam com expressões assustadas. Meu pai se calou. — Você se preocupa com o rei dos mares saindo da proteção dos muros inúteis! — Berrava ele. — Mas não se importa com a vida de seu próprio filho! Arregalei os olhos, assim como meu pai. Aiken berrava as palavras com raiva, assustando até mesmo seus soldados. Deu um passo à frente, ainda fitando os olhos de meu pai. — Eu não me importo com minha coroa e essa idiotice toda! E aposto que minha morte agradaria ao povo! Além do mais, não sou realmente da linhagem imperial! — Sua voz era de frustração agora. Pisquei. Então realmente aquela cor não era da família real. Ou seja, seu pai tinha roubado o trono. Aiken era um indesejado pelo povo... Aqueles que me humilhavam por ser albino, por não ser puro... Aiken entendia o que era ser desprezado...? — Aiken, isso... — Hardar suspirou. — Eu me preocupo também com você, seu idiota. Você é como um filho para mim. Aiken não falou nada, apenas o vi se virar e mandar seus guardas esperarem fora da casa, conseguindo o vislumbrar melhor. Aiken vestia aquelas vestes reais brancas, nas quais pude ver suas pernas cheias de escamas em vermelho e negro. Seus cabelos, ele tinha prendido de um jeito qualquer que lembrava um rabo de cavalo. Viu os guardas saírem, e assim, voltou-se para Hardar. — Não vim aqui para discutir o porquê de ter saído da proteção dos muros. — Vi meu pai cruzar os braços. — E também, não foi apenas para trazer

Triton. Notei meu pai se franzir e até mesmo eu estava confuso. Onde Aiken queria chegar? — Eu quero Triton. Quase berrei de onde estava ao escutar isso! O que esse louco estava falando? Aquele rei idiota só podia ter um parafuso solto! Um rei querendo um tritão sem status, um rejeitado pela sociedade. Eu não seria bem aceito, e isso o faria ser mal visto! Será que ele não sabia das consequências em me querer? Levei as mãos até minha cabeça. Estava feliz por ele ter me salvado e ter-me trazido seguro de volta, mas não queria dar problemas a Aiken... Será que ele não entendia? Não quero vê-lo sofrer justo por minha culpa. Olhei em direção ao meu pai no minuto que ele balbuciou alguma coisa. Sua expressão era algo que nunca tinha visto no famoso Hardar, o tritão de pedra. Seus olhos estavam arregalados, ele tinha dado um passo atrás e seus braços penderam para baixo. O vi piscar várias vezes enquanto Aiken se mantinha igual desde o início, apenas com uma sobrancelha arqueada. Eu não era o único a achar que aquele rei tinha um parafuso solto. Mas devo admitir que estava me divertindo com suas ousadias. — O... Que? — Meu pai balbuciou. Aiken suspirou. — Eu quero Triton! — Repetiu com a voz séria. — O quero para ser meu e para levá-lo para a Cidade Flutuante comigo. Ele estava sonhando alto demais! Ele queria levar-me para a Cidade Flutuante onde os nobres moravam, ou seja, em torno de três famílias, até mesmo para soldados era extremamente raro dormirem lá! Seus turnos eram trocados e assim atiravam na água para irem descansar. Dizem que na Cidade Flutuante, apenas os abençoados pela deusa Água podem morar. — Você quer meu filho? — Sua voz não demostrou uma pergunta. — Você... — Só pode ser louco! — Pensei alto. Pisquei, sorrindo logo em seguida me revelando totalmente. Portas feitas de navios afundados nunca ajudam a espionar... Aiken me observou de cima a baixo e desejei estar vestido melhor.

Meu pai veio ao meu encontro, tocando em meus ombros, perguntando se estava tudo bem comigo. Assenti, voltando a olhar aquele rei idiota. — O que o povo vai pensar se me levar para lá? — Perguntei. —Todos me odeiam, isso apenas vai prejudicá-lo! Aiken apenas ficava em silêncio, observando-me. O que ele estaria pensando? Em loucuras, claro! Não troquei palavras com meu pai e muito menos ele se atreveu a falar algo. Permaneceu quieto, apenas observando-nos. Vi Aiken desviar o olhar, resmungando. — Acha mesmo que me importo com o que eles pensam ou falam? — Sua voz voltou a ser como nunca tinha escutado. — Tem coisas, Triton, que devemos apenas fingir que não escutamos. — Disse dando um passo à frente. — Se você for atingido por tudo o que eles falam, você nunca vai conseguir olhar para frente. O que ele estava dizendo? Estava se referindo a mim? Apenas queria ser aceito como todos, isso realmente me afetava, escutava aquelas palavras duras saindo da boca de vários de minha raça, de seus atos, de suas risadas em deboches... — Eu o quero Triton, se um dia quiser me aceitar, sabe onde fica meu esconderijo. — Ele piscou um olho. Vi pelo canto dos olhos, Hardar ficar confuso e me fitar. Resmunguei, sentido minhas bochechas arderem. Aquele idiota falava isso na frente de meu pai! O tritão que eu nem sabia se já havia amado uma vez. Suspirei, vendo-o se virar, indo em direção a saída. — E tome cuidado com aquele Octopus, não confio nele. — Aiken falou antes da porta automática se abrir. Arregalei os olhos. Ele tinha conhecido o Oki? Como ele estaria? Se Aiken tinha passado pelos muros, certamente seus soldados também, e se viram Oki... Engoli em seco, meu coração se acelerou. Não, Oki estava vivo. Aiken tinha dito para tomar cuidado com aquele Octopus, algo que significava que ele ainda estava vivo... — Octopus? Você viu um Octopus e não o matou? — Meu pai ralhou comigo. Encolhi-me. Como poderia matar Oki depois do que ele fez por mim? Seria crueldade! Oki não merecia ser morto, ele era gentil e não odiava ninguém. — Vocês dois. — Hardar disse, colocando a mão na testa. — Realmente

formam um belo casal de sem cabeças. Vi Aiken rindo baixo, assim acenando para mim antes das portas se fecharem. Maldito! Ele me pagaria! Depois diz que me quer! Quem ama não dedura! Será que ele não sabe disso? Mas ele me pagaria! Maldito rei dos mares! — Melhor eu me deitar. — Meu pai disse em um suspiro. — Já basta o rei o querer, e ele poderia muito bem tomá-lo se desejasse, por isso me pergunto porque ele veio falar comigo antes... Aiken realmente veio pedir a meu pai para ficarmos juntos, todavia, não ficaria com um idiota, cabeça oca e que dedura os outros! Não amarei aquele maldito! Meu coração não vai cantar, não mesmo! Cruzei os braços, não escutando o que mais meu pai falava. O vi ir para seu quarto. A casa era pequena como todas debaixo da água, comíamos na água mesmo, então apenas tinha quartos e salas em todas as casas. Fitei minhas escamas, pensativo, deveria ir ver Oki? Me desculpar por qualquer confusão? Olhei para trás, nenhum sinal de meu pai. Sai em disparada para fora, passando pela capsula e assim, entrando em contato com a água. Minha cauda apareceu e nadei rapidamente para as muralhas. Precisava ver o Oki, precisava ver se ele estava bem... Alcançava as muralhas rapidamente, quando algo aconteceu. Fui puxado para baixo, em direção aos montes de rochas. Gritei e tentei nadar para cima, eram tentáculos que me puxavam? Pisquei, olhando para baixo ao escutar um som e assim, desisti e fui rumo a Oki que suspirou aliviado. Ele estava no reino dos Sereianos! Se alguém o visse seria morto! Ele sorriu, pedindo desculpas por ter me puxado, mas não me importei, o fitei de cima a baixo, vendo-o completamente bem. — O que faz aqui Oki? Se o pegarem... — Eu sei, eu sei. — Disse rindo, coçando a cabeça. — Mas queria saber onde aquele tritão cabelo de fogo tinha ido com você. — Fez bico. Ri disso. Nenhum dos dois tinham se gostado. — Aiken me levou para casa — falei, tentando não o preocupar mais. — Queria saber como você está.

Oki sorriu ainda mais me abraçando. — Triton ficou preocupado comigo. — Falava feliz. Oki me soltou rapidamente olhando para cima, não era seguro ele ficar ali. Peguei sua mão o puxando para fora das muralhas. — Desculpe pelo que aconteceu. — Oki falou assim que passamos por aquelas pedras. O soltei, me virando. Estávamos escondidos atrás das pedras, todavia, não impedia de um Sereiano bisbilhotar ali para ver se algo se aproximava. Octopus não conseguiam chegar perto da superfície, fazendo as muralhas apenas ajudarem contra aquela raça. Sharkes eram os piores... — Sobre o polvo, me desculpe... — Dizia baixo. Pisquei, aquele polvo era de Oki? Ele suspirou, desviando o olhar. — Eu senti a presença de um Octopus e sabia quem era, não podia deixálo ver você, então fui até a presença de quem era, na verdade, de meu irmão. — Oki mexia seus tentáculos, como se fosse difícil para ele falar sobre o irmão. — Eu sinto muito pelo que aconteceu, eu não senti a presença do polvo dele. Oki mantinha a cabeça baixa enquanto tocava em um de seus tentáculos negros. Ele pedia desculpas várias vezes, deixando-me desconfortável. — Oki, não precisa pedir desculpas. — Sorri para tentar aliviá-lo. — Eu estou bem, não estou? Ele não me fitava nos olhos, apenas ficava com a cabeça baixa. Suspirei. — Apenas eu e minha mãe nos afastamos por não odiar sua raça, por querer apenas paz... Todavia ele sempre vem... — Oki segurou firme seu tentáculo. — Ele é chefe dos exércitos dos Octopus nomeado pelo fato de odiar e ter matado muitos de sua raça... Pisquei, então existiam mesmo aqueles Octopus tão cruéis... — Melhor não vir muito para esse lado, Triton. Até mesmo eu o temo, ele viu você e o outro tritão. — Ergueu a cabeça. — Apenas tome cuidado. Sorri para ele, assentindo. — Não se preocupe. — Disse. — E falando nisso. — Comecei ao vê-lo tocar no colar de conchas — Eu não sei onde está a concha que me deu. — Baixei o olhar. Lembro-me de ter deixado cair naquela hora, apenas isso...

— Aqui. — Ele disse, pegando outra de seu colar. — Pode pegar essa. — Sorriu. Pisquei, sorrindo logo em seguida. — Obrigado, Oki. Peguei a conchinha verdinha, analisando-a. Oki arrumou seu colar para logo depois o ver corar e desviar o olhar. Ri baixo, agradecendo novamente. — Que bonitinho. — Uma voz atrás de mim falou. Vi Oki arregalar os olhos para logo depois me virar. — Olá, Okita. Como foi seu dia, maninho?

3° ESCAMA DE AIKEN Eu nadava rumo a superfície, ainda com as cenas anteriores na cabeça. Sabia que o tio Hardar não tinha gostado nada do que eu falei, porém, nunca tinha me sentido assim. Era estranho e, ao mesmo tempo, maravilhoso. Isso era o que falavam de o coração cantar? Meu coração tinha cantado para um tritão que sem querer puxei sua cauda, pensando que era um guarda... Pisquei. Eu lembro-me de estar de olhos fechados quando senti a vibração da água me avisando, e assim, vi aquela cauda muito diferente da minha. Não sabia se a observava ou agia, admito ter feito os dois. Queria tocá-la. Aquelas escamas pareciam tão brilhantes, uma mistura de azul com branco, todavia, a cor azulada predominava. E o que falar de sua nadadeira? Não eram as caudas comuns, desenhadas retas com uma ponta... Nunca tinha visto algo parecido. Suas pontinhas tinham uma leve curva, isso ajudava a nadar rapidamente, era uma tonalidade parecida com suas escamas, mas admitia que parecia ser mais transparente, algo estranho, mas belo. Senti vontade de tocá-la, porém, acordando de meus desejos, pensei que era um guarda, um nadador me procurando, então, a puxei e avancei uma lâmina contra o pescoço do nadador, vendo um par de órbitas fascinantes. Foi ali que tenho certeza que meu coração cantou. Talvez fosse loucura, alguém que depois de ter jurado que não iria mais se apaixonar, não se deixaria mais ser levado nessa onda, acabar se apaixonando apenas ao ver uma cauda e um par de olhos cristalinos. Em meus lábios, um sorriso bobo brotou. O velho Aiken pelo visto, estava mudando... Suspirei. Os guardas passaram em minha frente, mostrando que estávamos chegando na plataforma. Ela ficava longe do aglomerado de casas dos Sereianos, abaixo do que seria a área de lazer, porém, ninguém sem autorização poderia subir. Apesar de que precisariam de ajuda para subir e esperar suas caudas desaparecerem. Vi os dois guardas que me acompanhavam chegando na arquitetura de aço e sendo ajudados.

Olhei para trás, sentindo um calafrio percorrer meu corpo, todavia, apenas vi peixes e uma arraia que tentava se camuflar. Ignorando o sentimento, voltei a nadar rumo a superfície e, diferente daqueles Sereianos, não precisei de ajuda. Saltei do mar, vendo a água deixar meu corpo e meus cabelos balançarem. Odiava ser ajudado e desde que pulei naquelas águas, não precisava mais de ajuda, mesmo a controlando, também não a usava. Minha força era a única necessária. Toquei o aço gelado, já com a forma humana completa, todavia, diferente dos humanos, nossos pés tinham barbatanas e nossas pernas escamas da mesma cor de nossa cauda. Nosso corpo inteiro também tinha escamas, porém, na parte inferior eram mais volumosas. Ergui-me, sentindo ainda pequenos respingos rolarem por meu peito. Soldados me fitavam com certa curiosidade, o que indicava que eram novos ali. Suspirei, amarrando meus cabelos à medida que servos traziam algumas vestes de costume. Odiava usar roupas humanas, ou algo que cobrisse quase todo meu corpo. Apenas o que se dizia região genital eu cobria, uma espécie de saia que tapava apenas a parte da frente e a traseira, deixando minhas coxas a mostra. O que mais gostava de abusar era nas joias, podíamos conseguir ótimas pedras, mas adorava o que se chamava ouro. Tirando isso da cabeça à medida que um Sereiano se aproximava com uma expressão fechada, já avisava que precisaria me preparar para os sermões. — Sua irmã o espera em sua sala, majestade. Pisquei. Isso seria marcado na história, o segundo homem que tinha coragem de me xingar, depois de Hardar. Nada disse, apenas um aviso? Realmente raro. Apenas sorri assentindo, não me prolongando, quanto menos sermões, melhor, menos horas dormindo em uma cadeira. Pelo menos era confortável, mas a pergunta era: será que ele tinha visto que não adiantava seus xingamentos? Pensando nisso, apenas Hardar continuava como o super pai comigo. Arrumei minhas vestes, adentrando as portas de vidro. A plataforma não era perigosa, a água não a atingia, pelo contrário, a protegia de qualquer coisa, até a ocultava dos olhos humanos. Pelo que sabíamos, eles agora tinham objetos flutuantes que se moviam sobre a água, algo que uma equipe de Sereianos estão envoltos a pesquisar e imitar, talvez possamos usar para nosso favor os objetos humanos. Sorria para todos os servos que se curvavam e educadamente sorriam de

volta. Não odiava ser rei, nem nobre, pelo contrário, amava o efeito que isso fazia em meu povo. O povo que não aceitou meu pai, se curva e sorri para mim, e acima de tudo, se preocupa comigo, e sabia que não era por não ter sucessor, além de minha irmã, tem o antigo filho do rei que meu pai assassinou. Ele não me odeia, pelo contrário, me vê como seu irmão, além de estar feliz com o novo amante. Na época pedi perdão pelos atos de meu pai, entretanto, ele apenas lançou um sorriso para mim e chorou em meus braços, não me culpou ou quis vingança, apenas fez-me fazer uma promessa. Algo que ainda cumpro... Uma promessa eterna. Suspirei, preparando-me para abrir as portas duplas de minha sala, sabia que minha irmã viria gritar e bater-me por ter sumido. Por sorte não sentia nada de dor com seus socos. Sorri com as imagens. Adentrei a sala, vendo apenas um servo que ajeitava o local, ele se curvou e sorriu, e eu estranhei. Erya não era para estar ali? Dando de ombros, fui em direção a minha poltrona favorita. O servo logo serviu uma taça com água salgada e ofereceu-me algumas folhas que seriam certamente dos conselheiros reais, suspirei pegando tudo. — Obrigado. — Agradeci, vendo rapidamente que eram relatórios dos conselheiros. Revirei os olhos, largando tudo em uma mesinha alta e redonda ao meu lado. Aqueles Sereianos apenas sabiam reclamar do meu reinado, nada útil vinha deles, um bando de corruptos que se acham superiores. Beberiquei a água da taça de vidro, logo ouvindo passos. — Contagem regressiva. — sussurrei, rindo e fazendo meu servo piscar não entendendo. Até a porta ser aberta sem qualquer carinho. Ri baixo, erguendo meu olhar. Erya como sempre, divina e agressiva, aquela era minha garotinha que amava. Igual o irmão, lindos cabelos compridos e vermelhos, carregava uma coroa de cristais na cabeça. Seus olhos eram da mesma cor que os meus, igualmente sua cauda. Se ela não fosse vinte anos mais nova que eu, poderia dizer que éramos gêmeos. Sorri de leve, vendo sua cara furiosa. Erya adorava joias como eu, todavia, ela gostava de prata, nada de dourado. Ela tinha joias por suas orelhas, pescoço, braços, e até mesmo em torno de seus seios que mantinham um tecido rosa claro. Minha garotinha era tão bela, fazendo-me ter ciúmes a cada Sereiano homem que se aproximava, mas lembrava que ela já tinha vinte aninhos.

— Mano, Aiken! — berrou se aproximando. — Onde andava? Eu fiquei preocupada! Eu precisei de você! Ela berrava em meu ouvido pontiagudo. Repreendi a risada, mostrandome um irmão mais velho, sério e comportado, porém, no fundo ela sabia que eu estava rindo. — Você é um péssimo irmão mais velho! — berrou ela. — Até Bruce é mais presente. — Ela fez careta. Brinquei com a minha taça. Tinha esquecido de Bruce, o filho do rei que veio antes de meu pai. Por ter a idade de minha irmã, cresceram juntos e até hoje, não desgrudam. Ela o capturou para ser o que seria a dama de companhia, fazendo o amante dele ficar muito enciumado. — Então vá com ele. — Comecei a entrar no clima. — Se ele é tão melhor, vá pedir joias, golfinhos, música de ninar e muitas outras coisas para ele. — Fiz bico, olhando para outro lado. Erya até hoje sempre me arrastava para seu quarto, fazendo-me cantar até ela pegar no sono, ou contar uma história de alguma aventura que fiz enquanto era proibido por nosso pai. Era divertido contar o passado, havia muitos fatos que adorava recordar, outros nem tanto. Ela se aproximou de mim, abraçando-me por trás. Beijou minha bochecha, resmungando baixinho. — Apenas você — falou em um sussurro. Sorri. Adorava quando ela fazia isso. A puxei pelo pulso, a jogando em meu colo e a abraçando forte. Eu a criei, eu a ensinei a comer e a nadar. Ela era minha joia mais perfeita que eu amava tanto. Depois da morte de nossa mãe em seu nascimento, não permiti ela ser jogado nas mãos de qualquer sereia, eu mesmo aprendi para poder ensiná-la. A ensinei até mesmo tocar arpa! Era minha garotinha que apenas deu-me orgulho. — Te amo. — Resmungou baixinho. Algo que indicava que pediria alguma coisa. Sorri, beijando o topo de sua cabeça e respondendo a mesma coisa. Ela sabia o quanto a amava, eu não precisava colocar isso em palavras, meus atos já falavam por si. — Queria que você estivesse hoje cedo quando tio Hardar veio aqui. — Ela começava a falar, se ajeitando em meu colo.

Tio Hardar vindo até a plataforma? Se não era para me ver, então para que era? O tio foi quem me criou, um verdadeiro pai para mim, alguém que foi mais presente que meu biológico. — Eu queria sua permissão, mas já que você não estava, Bruce disse para eu aceitar. Revirei os olhos, algo bom não era... — O que seria? — Mostrei interesse por algo que era mentira. Ela sorriu radiante, levantando-se e rodopiando, fazendo suas vestes iguais as minhas, girarem também. — Casamento! Eu berrei um "quê?" Tão alto que o servo atrás de mim deu um pulo assustado, logo voltando a sua faxina. Endireitei-me em meu lugar, voltando a pose ereta. Já era realmente hora de Erya se casar, era a idade certa de casamento dos Sereianos, apenas eu tinha fugido disso. Essa palavra ainda me assustava, todavia, não quando pensava em Triton... O que ele estaria fazendo agora? Brigando com Hardar? — Tio Hardar veio aqui perguntando se não queria me casar. — Ela continuava, radiante. Arqueei uma sobrancelha. — Ele quer casar com você? — berrei, fazendo cara de nojo, mesmo que o tio realmente fosse um tritão muito atraente, ainda sim ela era minha bebê! Não conseguiria permitir isso. Erya chutou minha canela, fazendo-me resmungar. — Não, irmão idiota. — Ela cruzou os braços. — Pensei que você fosse mais inteligente. — Eu sou, mais que você. — Me gabei. — E lembre-se quem a ensinou a ler e falar! Ela virou a face, mexendo aqueles cabelos com enfeites. Sorri vitorioso. Erya era idêntica a mim até em seus atos, fazendo-me rir. — Ele veio perguntar se eu não queria casar, porque ele teria um noivo perfeito para mim. — Ela continuou, mas eu não estava mais prestando atenção, brincava com minha taça, pensando novamente em Triton. Desde aquela caverna que eu não o tirava da cabeça e sabia que meu

coração tinha cantado por aquele Sereiano albino. Eu o queria e não o perderia... Minha irmã continuou a falar animadamente, certamente falando do tal noivo, o que me fez piscar. Hardar. Casamento. Noivo perfeito. Arregalei os olhos. — O nome dele é? — Comecei para ela completar, meu coração acelerava. Erya pensou um pouco, fazendo-me acalmar. — É o filho do tio Hardar, o tritão albino: Triton. — Ela sorriu animada. Porém, a única coisa que consegui fazer foi não deixar minha taça cair e se espatifar no chão. Hardar prometera Triton a minha irmã?! Isso significava que ele não tinha ficado feliz quando fui lá pedir Triton... Ele já tinha planos, já tinha prometido o homem que eu amava. Erya piscou, vendo minha expressão, entretanto voltou a girar feliz, certamente pensando que eu não estava gostando da ideia do casamento. — Tio Hardar disse que vai trazê-lo aqui amanhã. Disse que ele tem belos olhos azuis como ele, cabelos negros e é muito lindo. — Erya falava sonhadora. Hardar traria meu Triton aqui amanhã? Para dar para outro Sereiano? Nunca! Triton era apenas meu! Eu seria egoísta, não o perderia, não o deixaria... Gargalhei. Não poderia perder Triton. Ele era especial, não permitiria isso, já me apaixonei antes, mas não como agora. Não iria perdê-lo. Levantei-me, fazendo Erya ficar confusa com o riso. — Realmente, Triton é magnífico, principalmente quando está irritado e deixa aqueles cabelos caírem em sua face. — Falava, lembrando-me toda vez que o tritão ficou bravo. — Até mesmo sua cauda rara é linda. Erya pareceu ficar enciumada, certamente por eu já conhecer seu "noivo". — Você não me disse que conhecia o Triton. — Ela fez bico emburrada. Sorri maliciosamente. — Eu não apenas o conheço como também, Triton é meu.

Erya piscou não entendendo nada. — Meu pequeno Triton é apenas meu, irmãzinha — disse enciumado. — Eu o amo, e desculpe ser um irmão cruel, mas não deixarei você casar com ele. Erya colocou as mãos na cintura, falaria algo, porém, apenas voltou a uma postura direita. Seus olhos não eram acusadores e seu sorriso era brincalhão. — Pela primeira vez na história, então, meu irmão está completamente apaixonado? Não era a primeira vez na história, todavia, era a primeira vez que sentia algo tão forte, e ao pensar que o perderia, quase fiquei sem chão. Não aguentaria se algo acontecesse com meu pequeno Triton... Jamais. Então era isso o que diziam de o coração cantar? Meu coração estava cantando e loucamente. — O coração do famoso Aiken cantou. — Erya riu. Revirei os olhos, virando a face vermelha. O que tem de mais nisso? Não poderia me apaixonar loucamente por alguém? Ela sabia que eu não gostava de sereias e acreditei que Erya ficaria furiosa comigo, me xingaria. Ao contrário de tudo o que pensei, ela sorria para mim. Eu estava tirando seu noivo! — Mesmo que quisesse casar com alguém, não poderia tirar a pessoa que meu irmão Aiken ama tanto. — Ela me abraçou. — Mas promete me deixar conhecê-lo? Desviei o olhar enciumado. Não queria mostrar minha pérola para ninguém. Apenas guardá-lo em meus braços, cuidar e beijá-lo... — Tudo bem. — Resmunguei. Ela pulou de alegria e eu sorri. Mas antes teria que convencer o tio Hardar... Como faria isso? Como faria ele ver que eu realmente amo e quero Triton? Triton aceitaria isso também? Todos me odeiam, isso apenas vai prejudicá-lo! Sorri, lembrando de suas palavras. Ele estava errado, nem todos o odiavam, havia muitos que o amavam, o protegiam e sua presença apenas me faria sorrir e enlouquecer, mas nunca me prejudicar, aquele tritão nunca seria um fardo. Eu realmente o amo. Abri a boca para falar algo, porém, as portas se abrindo fizeram-me ficar surpreso e mirar naquela direção. Pisquei, vendo o tritão que adentrara, com uma

expressão de pavor, algo nada comum exposto naquela face dura do tio Hardar. Aproximei-me calmante. — Diga que Triton está aqui! — Seus olhos mostravam pânico. Neguei, fazendo-o arregalar os olhos. — Triton... — Ele sussurrou. — Foi anunciado muitos Octopus depois dos muros... E temo que ele foi para lá... Hardar abaixou a cabeça, era tão estranho ver meu tio tão vulnerável assim... Entretanto, apenas queria sair correndo e procurar Triton. Ele poderia estar em perigo. Seria aquele calafrio que avisara isso? A água tinha tentado me avisar! — Ache-o, por favor.... — Tio Hardar caiu de joelhos, todavia, apenas sai correndo rumo ao meu Triton Precisa achá-lo, meu coração doía... Passei pelos guardas confusos e me atirei no mar, não olhando para trás.

4° ESCAMA DE TRITON Eu observava aquele Octopus sorrir e mexer seus tentáculos, seus olhos estavam fixos em mim com um tanto de curiosidade neles. Pelo visto aquele era o irmão de Oki, porém, o que ele queria? E por que aquela expressão? Um polvo gigante apareceu atrás dele, fazendo-me arregalar os olhos. Ele era o dono daqueles polvos gigantes, daquele que me atacara... — Arkab... — Oki disse com uma voz um tanto tristonha, por quê? Tirando aquelas órbitas de cima de mim, pude observá-lo melhor. Uma joia em sua orelha dizia que Arkab era da realeza, talvez o rei dos Octopus? Impossível, isso significaria que Oki era um príncipe, e suas vestes mostravam que tinha corpo e postura de um guerreiro. Com conchas fazendo parte de suas ombreiras e dois colares em seu pescoço onde o maior levava um igual ao de Oki, até conchas verdes eram idênticas. Seus cabelos eram tão compridos quanto os de Aiken, todavia, negros e parecia que foram cortados com uma lâmina, tinha algumas mexas para frente e nada em sua cabeça que indicasse ser príncipe ou rei. — O que está fazendo aqui? — Oki perguntou baixo como se temesse aquele Octopus. Seria tão poderoso a ponto do próprio irmão o temer? — Vim vê-lo! — Exclamou esticando os braços. — Estava com saudades do meu caçula e quero levá-lo de volta para casa. Tudo bem, ele falando desse jeito não parecia nenhum ser cruel, tirando o fato que em sua voz parecia ter frieza em tudo, estaria ele falando a verdade? Não sabia a história de Oki, muito menos que seu nome verdadeiro era Okita, a verdade era que não sabia nada dele como de Aiken. Não conhecia nem mesmo comida preferida... Nada... Baixei a cabeça. Eu seria um péssimo amigo? Aiken apenas queria afastar, não tinha objetivo de saber sobre ele, mas Oki era meu amigo, não é? Ou ele escondia muitas coisas de mim? — Eu não vou para casa! — Berrou fazendo-me levantar a cabeça assustado. — Aquele lugar não é minha casa! E você sabe muito bem! — Dizia irritado. Uma ira que nunca tinha visto naquele Octopus sorridente e meigo. Gostava de Oki por seu carisma, sorrisos, preocupações... Mesmo estando em

péssima situação ele sempre sorria para mim como se isso acalmasse a água. Arkab pareceu ficar irritado, o vi serrar os punhos e temi que ele os usasse contra o irmão caçula, mas Oki não parecia se abalar. Ele respirou fundo, desfazendo seus punhos, agarrou uma conchinha em seu colar, fechando brevemente seus olhos. — Sabe que posso fazer sua traição evaporar como a água, então volte comigo, vamos ficar juntos novamente. — Sua voz parecia uma súplica. Oki tinha traído sua raça? Ele estendeu a mão para Oki que semicerrando os olhos, a estapeou. Vi a reação de Arkab sendo de muita surpresa pelo ato e logo sua face endurecer de raiva. Fechou os punhos, todavia, a mão que acertou Oki foi a outra. Seu olhar parecia de alguém traído e furioso. Abri a boca ao ver Oki sendo atingido. Arkab parecia não se arrepender. — Para quem trai sua raça a pena é de morte, você não aceitou minha oferta. Tentei falar, isso era loucura! Mataria seu próprio irmão por um ato desses? Oki não me permitiu aproximar de Arkab ou falar algo que não conseguia entender! Ele queria ser morto! — Mas primeiro tentarei persuadir você. — Ele sorriu e a água girou em volta da sua mão onde uma luz se fez, dando vida a uma lança negra com uma ponta retangular com algumas falhas, deixando-a de lado para um ataque. Ele mostrou o objeto e apontou para mim, surpreendendo-me. Se ele me matasse seria guerra, principalmente se Aiken descobrisse. Aiken... Por que sempre penso nele? — Se não aceitar, farei o Sereiano sofrer lentamente. — Riu alto. Não sabia o que fazer, não era do exército, não sabia ser habilidoso em uma arma para lutar com ele e por seus movimentos eu seria cortado na primeira tentativa antes de revidar. Maldita hora que meu povo não me aceita e assim nem mesmo do exército podia fazer parte! O que tem de diferente alguém ter pele tão clara? Isso não muda que sou um Sereiano... Eu sei que sou um. — Você deve ser Triton, não é? — Ouvi Arkab falar. Como ele sabia meu nome? — Um Sereiano albino que jamais nasceu na história, você é famoso pelos mares, principalmente para os Octopus.

Eu famoso? Pelo menos outras raças me conheciam como um Sereiano... — Os dolphins acham que você é a mudança, os Sereianos que você é uma aberração, os Sharkans que pode ser um ótimo troféu, e para os Octopus, não passa de mais um tritão que será morto na guerra. — Continuava ele. — Ou por mim. — Sorriu frio. — Não fala isso. — Oki pedia tentando se aproximar. — Não faça a água nos expulsar! A água os expulsar? Por minha morte? Até parece que a Deusa se importaria com mais um Sereiano morto, mais um ser daqueles mortos. Eu era apenas um ponto no meio do oceano esquecido até mesmo por minha Deusa. Deveria ir para o mundo humano, talvez lá eles me aceitariam no meio deles, mas como esconder as escamas? Arkab gargalhou alto certamente com as palavras de Oki. O que ele estava tentando fazer? Ninguém cairia nisso, mesmo todos sabendo que a Deusa amava muito os Sereianos, sua primeira criação, minha morte não resultaria nisso. Era caso perdido, a única coisa que poderia fazer era fugir, fugir para dentro das muralhas e com isso, deixar Oki com aquele Octopus assustador. Não podia fazer isso, ele era meu amigo! E como lutar contra alguém tão forte? Sem armas, habilidade, apenas contando com a sorte. — Ele é o escolhido do rei, se fizer isso ele pode fazer a água nos expulsar, lembre-se que Aiken, o escolhido da Deusa que é o novo rei Sereiano! — Oki continuava a falar. Pensando bem, certamente Aiken faria uma loucura sem mim para vigiálo. Não que eu quisesse vigiá-lo e bater naquela cabeça vermelha, entretanto, ele faria alguma burrice se um Octopus, se Arkab me matasse. Fitei em direção a muralha, será que ele apareceria? Não gostava de depender ou de ser protegido, mas sabia meus limites e Arkab não tinha chance alguma, talvez Aiken... Mas como chamá-lo? E arriscar sua própria cabeça, ele era um rei não meu pai para cuidar de mim. Meu pai! Papai saberia me localizar se eu me concentrasse! O velho Hardar foi nomeado o melhor guerreiro do reino, mesmo aposentado, seus músculos ainda gritavam por voltar à ativa e sabia que ele queria isso! Com a ligação que um filho tem com seus pais, poderia fazer ele vir até mim. Sorri de leve. Oki foi afastado com a ponta da lâmina em seu peito, não desistindo continuou a convencer seu irmão que era suicídio. Fechei meus olhos, tentando me concentrar em meu pai, em tentar chamá-lo, precisava dele...

Precisava parar de ser salvo! Por que não posso ser forte? Só por que sou albino? Por que não devo ser um Sereiano sangue puro? Abri meus olhos, sentindo as lágrimas e no final não consegui chamá-lo, não conseguia me concentrar em chamá-lo, queria-o... Arkab riu alto, assim acertando o estômago do irmão com o outro lado da lança, ordenou ao polvo que o segurasse enquanto Oki recuperava o fôlego. Tinha os olhos arregalados e as mãos no local atingido. Foi rodeado pelos tentáculos grandes do polvo que o puxou mais para baixo, tentou lutar, mas seus próprios tentáculos tinham sido pegos. — Corra! — Gritou. Arregalei os olhos. Não podia deixá-lo, o que Arkab faria com ele? O que ele faria depois? Oki morreria, não podia deixar... Fitei Arkab que parecia brincar com minhas reações e meu pavor, parecia um caçador vitorioso por ter sua caça encurralada e era isso que eu era, uma caça sem saída para correr, apenas o caminho da morte. Não me movi, não conseguia. — É uma pena que tenha que ensinar uma lição ao meu irmão, adoraria brincar com você. — O senti perto demais. Suas mãos pegaram meu queixo e o vi passar sua língua rente aos seus lábios como se eu fosse algo saboroso, uma novidade, Octopus comiam Sereianos, agora eu não seria morto e sim, devorado! Senti um de seus tentáculos passar por meu rosto em um ato que seria carinho, porém, sabia que aquilo não era nem perto de um agrado, mostrava apenas quem estava no controle, quem era o inferior ali. Não gostei daqueles tentáculos em minha bochecha, e outro rodeando minha cauda na qual me desequilibrei na água, precisava balançá-la para manter-me no mesmo lugar, sem movimento, afundava. — Você realmente é bem raro. — Dizia. — Uma cauda rara, de uma cor um tanto diferente, pele igualmente e esses olhos da cor da água dão o toque final. Uma completa obra de arte que eu adoraria juntar a minha coleção. — Então vão arrancar minha cabeça e colocar em sua estante de coleção? — Provoquei, e não sabia por quê! Ele gargalhou alto, fitou o irmão que tentava se soltar até mesmo mordendo os tentáculos do inimigo, mas não adiantando. — Talvez tomá-lo para mim, sei que meu irmão nutri sentimentos por você, Sereiano, e talvez pegá-lo todo para mim enquanto ele nos vê. Pode ser

uma boa tortura psicológica, o que acha? Será que saberia satisfazer um Octopus tão bem quanto meu irmão contentou um de sua raça? — O ouvi rir alto. Oki já tinha ficado com alguém de minha raça? Já tinha se apaixonado? Minha expressão foi de confusão e meus olhos foram até Oki que arregalou os olhos não sei por qual motivo. Senti agora aquelas duas mãos em meu rosto, virando em direção para fitar o Octopus líder. — Sereianos o desprezam, posso fazer os Octopus te aceitarem em seu meio e assim, conquistar ele com a traição de sua raça, eles vão adorar. Um aliado é sempre bem-vindo para nossa vingança. — Sorriu. Senti ele se aproximar e muito! — Aliás, ele falou que você era protegido de Aiken. — Relaxei vendo-o se afastar de meu rosto, no qual até meu coração tinha parado. Apenas queria distância daquele pervertido, por que apenas atraio pervertidos?! E ele conhecia Aiken para falar tão abertamente seu nome. — Não me diga que essa criaturinha é protegida por aquele Sereiano desprezível que tocou em seus tentáculos. — Ele dizia em direção ao irmão caçula, e senti suas mãos começarem a me apertar. Sereiano que tocou nos tentáculos de Oki? Do que ele falava? Aiken podia ser pervertido e dar em cima de todos, menos de Oki, menos de um Octopus. Todos de minha raça odiavam aquela raça e o rei tocando ou fazendo amizade com um, seria um insulto a todos. Um rei representa seu povo, precisava sempre agir certo. Arkab cerrou os dentes e pude sentir seus tentáculos inquietos. — Exato, essa criaturinha protegida por mim. Arregalei os olhos juntamente a Arkab que se desprendeu de mim rapidamente, indo para trás, todavia, não o suficiente para a lâmina de Aiken cortar superficialmente seu peito. Vi aquele pervertido sorrir e seus olhos brilharem enquanto ele me puxava para seus braços e apontava seu tridente para o líder dos Octopus. Aiken tinha vindo... Sorri de leve, estava feliz, não queria ser levado a lugar nenhum ou tocado por outro ser, apenas queria os braços de Aiken. O abracei com força, fazendo-o certamente ficar surpreso, senti seus músculos e relaxarei enquanto abraçava seu pescoço e agarrava seus cabelos, não me importei por suas joias no

pescoço me espetarem ou por sua coroa quase caía de sua cabeça, apenas queria abraçá-lo. Ele sempre vinha, como ele sabia? Como saber quando precisava dele? Sorri. Afastei-me, com o rosto rubro, mas feliz por tê-lo ali. Senti-me sendo observado por seus olhos, e assim, seus dedos passarem em minha bochecha, no mesmo local que aquele ser assustador tinha tocado. A mão de Aiken podia ser mais gelada do que a de Arkab, todavia, para mim parecia mais quente do que o normal, seria o rubor? Ouvi o Octopus rugir e vi sua ferida fechar lentamente. Ele posicionou sua lança e Aiken me afastou. Eles realmente iriam duelar? Aiken não podia se machucar! Os dois foram rumo um ao outro, e eu não podia fazer nada para ajudar. Cerrei os dentes, queria ajudar Aiken... Virei-me indo rumo a Oki que já tinha feito progresso. O polvo gigante parecia não desistir e quantos tentáculos aquela coisa tinha! Puxei um tentando ajudar, eram pesados e grudentos e pareciam estar presos ao corpo de Oki. — A cabeça. — Oki dizia com dificuldade. — Acerte sua arma na cabeça dele, é um ponto fatal nos polvos gigantes! Via-o desesperado e pelo movimento dos tentáculos do polvo, eles apertavam mais e mais Oki, não o deixando respirar direito. Olhei para os lados procurando uma arma capaz de ferir a cabeça de um polvo gigante. Pedras? Pedras adiantariam? O que poderia fazer? Estava desesperado, não conseguia nem salvar a mim mesmo, e agora a Oki. Peguei uma pedra e vi a expressão de confusão no Octopus. Eu não tinha uma arma igual a Aiken ou Arkab, eu não sei como eles faziam para ligar-se a uma arma, nem Hardar tinha me ensinado! O que poderia fazer além de acertar o polvo com uma pedra? Se Arkab largasse sua lança, talvez eu pudesse ter uma chance, porém, ele certamente seria mais rápido pegando-a e atingindo-me. Toquei a pedra na cabeça do polvo que soltou apenas um tentáculo de meu amigo, sorri. Uma pedra poderia ser de grande ajuda. — Triton! — Berrou Oki e vi aquele tentáculo vindo em minha direção. Tinha deixado aquele animal mais bravo ainda! — Use sua arma. — Gritou ele enquanto fugia dos tentáculos. Tentei agarrar um, todavia, só colaborou para quase ficar preso naquele

polvo. Era pegajoso e escorregadio, não conseguia agarrar tão facilmente. — Eu... Eu não tenho uma arma! — Admiti, desviando o olhar. Senti ainda o olhar de Oki sobre mim. Não havia me conectado com uma arma, não sabia como separar parte do meu corpo, uma arma é seu corpo, é feita por seu copo. Um Sereiano ou outra raça sem uma arma, era apenas um inútil que não conseguia nem se proteger... E era isso que eu era, um fraco que nem ao menos uma pequena lâmina conseguia fazer. — Triton! — Pisquei saindo de meus pensamentos ao ver um tentáculo vindo em direção ao meu rosto. Desviei daquela coisa pegajosa por sorte, todavia, outra vinha por baixo e me puxou para o chão. Senti minhas costas serem feridas pela areia com pedrinhas. Gemi de dor e assim, vi outro tentáculo vir em meu rosto, o agarrei, puxando-o para longe, mas não deu certo. Como aquele animal conseguia ser tão forte? A sensação era horrível em ter algo pegajoso tapando sua face e você sentindo o gosto amargo em seus lábios. Mexi minha cauda presa e irritado, finquei minhas unhas naqueles tentáculos que saíram de minha face para meu alívio. O polvo pareceu ficar irritado e me arrastou novamente pela areia na qual bati em várias pedras. Grunhia de dor enquanto protegia minha cabeça com meus braços e sentia a água machucar meus arranhões. Oki berrava por mim, mas não conseguia vê-lo, apenas sentia dor. Mordi meus lábios reprimindo um grito ao sentir algo me cortando. Não sabia se reclamava pela dor ou pelo enjoo. Senti meu pequeno estômago embrulhar à medida que aquele polvo me levantava pela cauda, deixando-me de cabeça para baixo. Não tinha forças para tentar fugir, apenas senti minhas guelras doerem junto com todo meu corpo, mas a pior dor se localizava em minhas costas. Pisquei, vendo agora Oki apavorado. Ele estava quase solto e estendia sua mão em minha direção, não entendia o ato nem tinha forças para esticar a minha. Sentia muita dor querendo correr para algum canto e chorar, chorar como fazia em cada pedra atirada em mim por meu próprio povo. Albino, aberração, Sereiano falso. Eram as palavras que mais usavam, todavia, começaram a usar monstro... Eu era um monstro? Um monstro que não reagia nem ao ser agredido apenas esperando tudo acabar e chorar em um canto protegido por rochas. Um monstro que levava as marcas ainda na pele, era isso ser um monstro?

— Triton! — Oki berrou e pude ver pelo canto do olho Aiken virar em nossa direção. E assim, aos poucos meus olhos começaram a se arregalar em pavor, em medo da cena que se seguiu, do movimento da lâmina de Arkab e de seu sorriso cínico. Via a cena como se estivesse passando lentamente e logo em seguida a lança atingiu seu alvo de início. Arkab gargalhou alto. Vi Aiken indo para trás, ferido. Não acreditava no que via... Aiken tinha sido atingido?! Não... Segui meu olhar para Arkab que não parou com sua lâmina. Estendi minha mão em direção a Aiken como se eu conseguisse alcançá-lo e puxá-lo, mesmo com meu ato falho, minha mente não queria admitir que era impossível, e assim, vi a imagem que nunca imaginei que veria, que nem conseguia imaginar... Aiken sendo atingido novamente e dessa vez seu sangue tentou ganhar espaço no meio da água clara. Pisquei, sentindo que minha boca estava aberta e até mesmo Arkab tinha parado. Não conseguia me mexer, falar ou gritar para Aiken que parecia estar surpreso pelo ataque, como eu. Meu coração doía, bombardeando em meu peito e meus olhos ainda estavam arregalados. Mantinha minha mão esticada como se pudesse alcançá-lo e o trazer para perto de mim. Meu corpo tremeu ao ver aquele sangue ganhando espaço entre a água rapidamente. Ao mesmo tempo que era assombroso ver um dos melhores guerreiros treinados por meu pai sendo ferido, eu não conseguia mexer-me, ir ao seu encontro e o amparar, apenas sabia que meu corpo inteiro tremia, tinha medo. Medo... Precisava chegar em Aiken, não queria que ele se machucasse mais por mim! Queria protegê-lo! Apenas... Senti minhas lágrimas invisíveis como a água a minha volta começar a se manifestar. Fechei meus olhos cerrando os dentes antes de ver Arkab se movendo novamente rumo ao meu rei. Não queria que ele o atingisse, não queria ver aquele tritão sendo ferido, eu me importava... Não sabia o significado de o coração cantar, não sabia quando acontecia ou qual era o efeito, além do mais não acreditava em algo assim, não para um renegado para a água, um mestiço albino. Mas sabia que queria ir ao seu encontro, sem planos, apenas xingar Aiken, e perguntar por que me protegia

tanto! Por que se arriscar tanto por mim? Ele era um rei, e eu apenas um mestiço, algo inaceitável em nosso meio, então por que se arriscar? Não queria vê-lo ferido, não queria vê-lo sofrer, não o Sereiano que se importou comigo e não me atirou uma pedra quando me viu. Era estranho ver aquele sorriso sendo lançado para mim, seus atos, seus braços em volta de mim... Admitia que gostava, sentia-me protegido e aceito. Queria fazer algo para ele também! — Ai-ken... — Ouvi-me sussurrar inconscientemente. Abri meus olhos. Iria lutar! Não era hora de ser fraco! Mostraria a todos que sou um Sereiano, mostrarei de quem sou filho! Quem eu sou... Ouvi-me rugir alto, fazendo Arkab parar com seus movimentos e virar-se em minha direção. Aquele rugido parecia fazer até mesmo meu corpo tremer ou talvez não fosse o temor do rugido que fazia aquela reação, e sim a água em minha volta, em todo o local, a água que se conectava a mim, que realizava meu desejo. Ela reagia, ela se erguia, me dava forças. Um redemoinho se formou, grande e poderoso em minha volta, não entendia o que estava acontecendo, o que estava o provocando, apenas sentia meu corpo quente e cada membro reagir a água. Não conseguia enxergar ninguém, apenas o polvo logo abaixo de mim, soltando-me e tentando fugir, pisquei. A água estava fora do controle... Eu estava fazendo aquilo? — Aiken... — Sussurrei. Aiken... Quero salvá-lo! Berrei em minha mente. E como tinha imaginado, a água concedeu meu desejo. O redemoinho ficou mais forte e pude ver as ondas se unirem a um pilar de água onde parecia ganhar vida e por um momento pensei ter o vislumbre de nossa Deusa com seus imensos cabelos. Seria ela mesma? Estava apavorado e ao mesmo tempo fascinado, ela tinha concedido meu desejo? Ela me ouvia? O pilar passeou pelo ar e assim mergulhou com toda sua força rumo ao polvo gigante assustado. Um brilho se formou, diferente pelo que vislumbrei pelo canto do olho, a luz tinha afetado Oki e os outros, menos a mim, conseguia ver o pilar de água que acertou o polvo e algo que cintilou descer lentamente, era

tão belo, tão chamativo... Estiquei minha mão, queria alcançá-lo. Queria tocá-lo e sentir seu material em minhas mãos, descobrir o que era... Arregalei os olhos ao sentir que estava mais perto do que imaginava do objeto que rapidamente afundou no polvo gigante, parando de se debater. A água ainda agitada formou uma parede mais grossa enquanto finalmente conseguia tocar aquele objeto, sentindo-o tão gélido. Era uma arma, uma arma estranha. A puxei sentindo-a se conectar a mim enquanto um arrepio invadia meu corpo através das mãos que o tocavam. Girei-me, com minha nova arma buscando respostas em Aiken e esperando que ele estivesse lá, bem, seguro, queria protegê-lo... A parede de água sumiu e o oceano se acalmou rapidamente. Segui o olhar até meu rei, vendo-o com seus olhos arregalados, como Arkab. Pisquei, olhando para o objeto em minhas mãos. Se assemelhava a um Tridente, todavia, faltava um dos dentes, o da ponta. O do meio parecia mais fino enquanto o da esquerda era mais groso e até mais afiado. Minha arma era um tridente quebrado? Ou melhor, um tridente estranho quebrado! O que aquilo faria? Meio estrago? Resmunguei. — O tridente do oceano. — Arkab falou baixo em espasmos. Observei novamente minha arma quebrada, não a achando nada demais. — A arma da nossa Deusa... — Dessa vez foi Aiken que falou, e pude vê-lo sorrir para mim. — O terceiro pilar. Pisquei, confuso. — Meu presente prometido... — Ele sussurrou e dessa vez fui eu que arregalei os olhos. Presente? Prometido? Alguém tinha batido a cabeça... — Meu Triton... Então foi isso que ela quis dizer... — Ele continuou a sussurrar, fechando os olhos. — Meu prometido é meu Triton. Arregalei os olhos, vendo-o parar de mexer sua cauda e seu equilíbrio perder-se, deixando seu corpo afundar lentamente e seu sangue deixar um rastro. Por um momento senti que não conseguia mais respirar principalmente por ver a lâmina de Arkab ganhando velocidade rumo a Aiken...

Rosnei erguendo aquele tridente quebrado fazendo a água se manifestar, ela ia de acordo com meus desejos era como se eu a dominasse, fosse a deusa, e como queria, elas atacaram Arkab que arregalou os olhos ao ser atingido por uma espécie de mão que o jogava longe. Sua lança caiu fazendo alguns peixes saírem de seus corais assustados, não desistindo, o Octopus rosnou alto virandose em minha direção, porém, nada fez. Seus olhos me fitaram, seguindo logo em seguida por algo atrás de mim, pisquei, apenas havia a água me rodeando furiosamente, estranhei ao vê-lo arregalar os olhos e mexer seus tentáculos, afastando-se. — Triton... — Ouvi Aiken dizer. Fitei-o sorrindo por vê-lo consciente ainda mesmo debilitado. Ele segurava a ferida enquanto tentava voltar a nadar, sem forças para se equilibrar. Pegando seu tridente, ele tentou se apoiar no objeto, em vão. Queria nadar em sua direção, verificá-lo e levá-lo para casa, porém, algo me incomodava. Uma sensação fazendo um arrepio subir pelas minhas costas. Arkab se afastou mais. — Você... Você... — Arkab apontou para mim. Piscando, olhei para Aiken, não entendendo e vendo-o também com suas órbitas vermelhas arregaladas, o que estava acontecendo? Seria pela água estar se manifestando em torno de mim? A senti ficar cada vez mais forte e algo começar a se formar. Novamente virando minha cabeça foi minha vez de me surpreender agora com a visão nítida que tinha. Aquilo não era eu controlando a água, aquilo não era a água! E sim... A Deusa. Não acreditava no que via ganhando força diante de meus olhos, nunca presumi que a grande Deusa do oceano apareceria em minha frente, em frente a um Sereiano mestiço e fraco... Por que ela ganhava força e me dava suas forças? Por que realizar justo meu desejo? E não Aiken, o seu escolhido? A senti me fitar e, novamente um arrepio percorreu minhas costas, o que ela queria? — Você... — Arkab voltava a gaguejar. Virei-me para ele o qual ainda tinha uma expressão de espanto. — Você é parte da Deusa... Como? — O ouvia dizer. — O que você é? — Gritou abismado. O que eu era? Parte da Deusa?

Um mestiço, metade Sereiano, metade humano. Isso era o que minha pele dizia e todos sabiam... O que significava ser parte da Deusa? A fitei novamente sem medo e pude ver o vislumbre de um sorriso. Ela mesmo em um tamanho o dobro do meu, estendeu sua mão em minha direção, tocando seus dedos feitos de água em minha face. Era para sentir apenas a temperatura da água, sentir como se fosse a água me tocando, todavia, a sensação era outra. Parecia algo tão vivo e quente. Aconchegante e carinhoso em seus atos. Triton... A ouvi dizer meu nome. Mostre seu poder, use metade de minha arma. A lança dos deuses! E dê o equilíbrio aos pilares. Do que ela falava? Pilares? A mesma palavra que Aiken falou, e equilíbrio dos pilares? O que significava? Confie em Aiken, ele saberá lhe guiar pelo caminho certo. Disse antes de se misturar a água e seu corpo sumir. Olhei em volta, sentindo que a água se acalmava em minha volta, fitei minha lança. O que deveria fazer agora? A resposta eu não sabia. Decidi nadar rumo à Aiken que se apoiava em uma rocha suja, Arkab parecia perdido em seus pensamentos e não desejava importuná-lo ou saber o que passava em sua cabeça naquele momento. Sorri aproximando-me daquele rei idiota. — Por que veio? Não sabe que você é o rei e precisa ficar seguro? — gritei com ele. Não queria admitir que estava feliz por ele ter aparecido quando precisei de sua ajuda, Aiken parecia saber quando era hora de aparecer em uma batalha, o que me deixava irritado era eu não conseguir lutar, não conseguir defender-me, como desejaria proteger aqueles que são importantes se nem um fio de meu cabelo conseguia defender? Não queria Aiken machucado por minha culpa, ele era o rei acima de tudo não podia arriscar sua vida por alguém como eu, com ninguém... Baixei o olhar. Estávamos em um nível totalmente diferente, em uma posição muito distinta.

Ele era o rei. Eu, o filho de um conselheiro, sem status... Sem um verdadeiro nome. Mesmo sendo filho do maior guerreiro do reino dos Sereianos, eu apenas afundava a reputação, e status de meu pai o qual conquistou com as próprias mãos, ele lutou por isso e conseguiu. Precisava lutar também, mostraria de quem eu era filho! Vi Aiken erguer as mãos em direção ao meu rosto e tocar-me delicadamente. Arregalei os olhos, vendo seu pequeno sorriso cálido. — O conheço o suficiente para saber que dentro dessa cabecinha, meu Triton está se culpando e se achando fraco. Como...? — Quando o coração canta você entende melhor seu parceiro, consegue sentir algo como uma ligação. — Ele tocou em minha cabeça, bagunçando meus fios soltos da trança. Resmunguei segurando sua mão a qual sentia tão quente. Fitei seus olhos vermelhos e aquele sorriso. Corei. Por que era tão difícil para ele entender que estávamos em posições muito distintas? Que ele era o rei e que não precisava se preocupar com o povo e herdeiros? Eu sou um odiado aos olhos do povo, sou um tritão, e um sem status, realmente um plebeu se não fosse por meu pai. Ele não enxergava isso? Existem regras acima do cântico do coração, existem leis e hierarquias a serem seguidas! Rei idiota! — Eu não me importo. — Ele disse fazendo-me piscar. O que ele tinha falado antes? Estava tão perdido assim em meus pensamentos? — Sei o que está pensando e não me importo, não ache que vou desistir de algo que quero por regras e leis. — Ele tocou em meu queixo, erguendo minha cabeça. Fitei-o vendo-o subir com seu sorriso. — Eu sou o rei dos mares e quero você, Triton. — Disse. — Eu o quero... Arregalei os olhos ao ser solto repentinamente, pisquei fitando a cena em minha frente na qual poderia ser algo engraçado se não fosse a situação em que encontrávamos. Arqueei a sobrancelha vendo Oki batendo em Aiken. Ainda

desconfiava que eles já se conheciam de algum lugar, muitas vezes agiam tão intimamente. Fitei Arkab por cima de meus ombros, ainda estava no chão de areia fitando seus tentáculos escuros idênticos aos de Oki. O observei melhor, tudo em seu por físico e aparência lembrava Oki, seus cabelos também eram compridos e negros, mas diferente dos de Oki que metade ficavam presos em um rabo de cavalo, os de Arkab não. Seus músculos eram tão fortes quando os de Aiken, sua pele era um pouco escura e seus olhos agora mostravam pavor e sua expressão era de alguém perdido. Fitei seu colar de conchinhas idênticas aos de Oki, ele tinha feito e dado ao irmão? Ou Arkab no fundo era diferente com Okita? — Seu pervertido! — Ouvi Oki gritar atrás de mim, certamente ainda puxando os cabelos de Aiken e vice-versa. — Você nunca muda! Pisquei, fitando-o de soslaio. — Olha quem fala, polvo! — Aiken puxou seus cabelos. Balancei a cabeça, por que eles brigavam, se isso poderia ser chamado de briga, em um local e situação dessas? Ainda me perguntava se realmente Aiken era um adulto e, para falar a verdade, quantos anos ele tinha? — Você se apaixona por qualquer um! Não deixarei você machucar Triton! — A voz de Oki parecia mais séria. Suspirei, mexendo minhas guelras. Fitando o tridente quebrado em minhas mãos perguntava-me se teria todo aquele poder de antes ou se foi apenas a Deusa ajudando. Outra pergunta que não se calava eram os pilares nos quais ela falou, para que serviriam? Todos eram Sereianos? Existem três pilares, o terceiro seria eu? Aiken era um deles, e o último, quem era? — Não vou deixar você machucá-lo! — Ouvia ainda Oki berrar furioso. Eles teriam um passado? Oki mentiu ao dizer que eu tinha sido o primeiro Sereiano que ele viu? Pisquei pensativo. Fitei Arkab que voltava a se mexer, erguendo a cabeça. Segurei firmemente o tridente em minha frente. — Como me machucou. Olhei para trás ao ouvir aquela voz fraca. Via Aiken desistir de "brigar" e Oki também, os dois continuaram a se encarar e eu não gostava da expressão que

via em meu amigo, diferente de Aiken, Oki tinha um ar sombrio e ferido enquanto conseguia notar seu maxilar trincado e seus olhos em fúria analisando aquelas órbitas vermelhas, não sabia a história do passado deles, e isso me fazia ter mais medo que Oki quisesse se vingar de Aiken. Arkab se remexeu em seu lugar, chamando minha atenção, o fitei erguer a cabeça e sorrir como um louco. Uma fileira de dentes um tanto pontiagudos era mostrada em seu sorriso, seus cabelos longos flutuavam não tirando sua elegância e beleza. O vi segurar firme sua lança, porém, continuou imóvel em seu lugar. Fitando-me, ele sorriu mais ainda deixando meu corpo mais tenso, ele pretendia fazer alguma coisa, conseguia sentir isso. Firmei minhas mãos no tridente quebrado, não sabia lutar, todavia, aquela arma me dava o poder de controlar uma grande quantidade do mar. — Entendo... — Ouvi ele falar. Arkab sorria enquanto mexia em seus cabelos, porém, ainda algo dizia para não baixar a guarda com ele. Fitei Aiken e Oki de soslaio, vendo-os em silêncio enquanto seus olhares se dirigiam para qualquer coisa menos um ao outro. — Vou fazer uma proposta a você, tritão albino. — Voltei-me para o Octopus, semicerrando os olhos. — Você quer descobrir como controlou aquela quantidade de água? Sobre sua pele? Até sobre sua mãe? — Ele sorriu vitorioso. — Se me deixar matar aquele maldito tritão ruivo e devolver-me Okita, eu revelo tudo que sei sobre você, além do mais, seu pai deve mentir muito para você. Pisquei. Meu pai estava mentindo para mim? Sobre o quê? Eu era filho dele, minhas características físicas gritavam nesse aspecto, então o que ele mentia para mim? Arkab sorriu, olhando rapidamente para Aiken. — Então, Triton, quer descobrir toda a verdade? — Propôs ele novamente. A verdade? Sim, eu queria saber por que tinha nascido com a pele branca, queria saber por que conseguia me locomover melhor que um Sereiano nadador, sobre minha cauda e esses poderes. Seria tudo benção da Deusa? Impossível. Nem mesmo os heróis ganharam tantas bênçãos assim, nem meu pai o

poderoso guerreiro Hardar o qual enfrentou Sharkans sozinho e liderou um exército pequeno e saiu vitorioso, ele era uma lenda, e nem ele conseguiu tantas bênçãos. Não existem segredos entre meu pai e eu! — Não... — Sussurrei. Arkab arqueou uma sobrancelha curioso e vi pelo canto do olho Aiken observar-me, ele não demonstrava aflição ou medo de aceitar a proposta de Arkab, alguém como ele conseguiria sair vivo dessa batalha mesmo ferido, conhecia também sobre as histórias de Aiken, o abençoado da Deusa, o preferido. — Não existem segredos entre meu pai e eu! — Berrei surpreendendo-o. Por um breve instante, todos ali pareceram se calar, até mesmo conseguia escutar as batidas de meu coração o qual bombardeava rápido demais, sentia meus músculos ficarem mais tensos como se soubessem o que aconteceria assim se preparando. Mexi minhas guelras puxando o oxigênio por ali, não tínhamos narizes como os humanos, apenas um volume onde seriam localizados, mas isso mudava quando saíamos da água e nossos corpos transformavam-se idênticos aos dos humanos. Tudo em nosso corpo era diferente, nossa aparência humanoide poderia lembrar e ser muito semelhante, mas a verdade era que até nossos órgãos internos eram diferentes. Lembro-me de odiar estudar sobre os humanos, principalmente por todos em minha volta me perguntarem se em meu coração havia quatro cavidades como os humanos, se até mesmo minhas brânquias eram idênticas as deles, ou minha língua. As memórias daquela época vinham à tona, a dor de ser chutado e ameaçado de ser aberto para apenas ver o que tinha dentro de mim, também. Foi a época que conheci Side, à época que ganhei um amigo e o único Sereiano que não me olhava com desprezo e nojo, que selamos uma amizade grande, física e emocional, na qual tocava em nossa marca. A trança de lado que sempre usava parecia imóvel ali, muito diferente dos cabelos de Arkab que flutuavam. — Não existem, é? — Sua voz não parecia ser de interrogação, mas transbordava frieza. — Então sua resposta é não? Assenti com a cabeça esperando seus movimentos, porém, o Octopus permaneceu imóvel. O vi sorrir friamente. — Você nunca saberá o que é sentir algo ser tirado de você, aquilo que você mais cuidou e glorificou com todo seu amor, que protegeu e cuidou. Você

não sabe o que é algo precioso ser arrancado de você e logo em seguida colocado fora como uma pequena pedra sem objetivos a ser usada. Semicerrei os olhos não entendendo onde ele queria chegar, nem o motivo de estar falando aquilo, fitei Oki de soslaio que mantinha sua cabeça baixa. — Eu sou um Octopus general, eu vivo na vingança e no sangue e destruirei... — Passado é passado, as vezes é melhor apenas esquecer e seguir em frente, meu irmão. — Ouvi as palavras fracas de Oki cortando as de Arkab. O Octopus apenas piscou fitando em direção ao irmão, sua expressão parecia incrédula fazendo-me pensar o que tinha acontecido no passado deles, o quanto Aiken estava envolvido, mas ele apenas olhava em outra direção, por qual motivo? — Você mesmo cometeu muitos erros, matou muitos inocentes, e eu apenas continuava a sorrir para você e falar que não era um monstro, quem mandava fazer isso era o verdadeiro monstro. — Oki suspirou. — O passado pode ser esquecido, depende de você. Baixei o olhar pensativo, era tão fácil assim falar em esquecer o passado? Ser esquecido não era ainda mais quando você tinha as marcas. — Alguns passados são mais difíceis, mas nunca deve deixá-los impedir de você continuar a caminhar e sorrir. — Seus olhos se fixaram em mim. Sorri de leve. — Não me peça para esquecer o passado! Apenas esquecerei quando completar minha vingança, meu objetivo. — Gritou suas palavras. Vi ele mexer seus tentáculos lentamente. — Você deve aprender que nem tudo devemos esquecer. — Foram as últimas palavras de Arkab antes de ver apenas um vulto passar por mim. Arregalei os olhos, senti a vibração da água. Arkab tinha usado seus tentáculos para ganhar velocidade enquanto batia-os no solo para logo em seguida sua lança fazer o restante do trabalho. Ele tinha parado a poucos metros de mim, porém, foi o suficiente apenas para ver algo negro passar perto de meu rosto. O vi ficar surpreso, e virei-me. Seu alvo era Aiken o qual parecia ter visto muito bem os movimentos do Octopus e tinha as mãos preparadas para pegar o objeto no qual foi impedido de prosseguir. Arkab se afastou voltando para o solo, vendo a cena com certo pavor

em sua expressão. Aiken retirou a lança que atravessou um dos tentáculos de Oki, vi o sangue flutuar se misturando com a água. Gemendo baixinho, Oki recolheu em suas mãos o tentáculo mais ferido. — Oki... — A voz de Arkab soou fraca. O sangue continuava. — Okita... — Arkab tentou se aproximar. Não sabia se deveria perfurá-lo com minha arma, ou deixar aproximar-se de seu irmão. Sabia que o alvo nunca foi Oki e isso fazia-me hesitar. Ouvi sons, gritos. Fitei em direção onde um grupo de Sereianos passavam pelas muralhas com suas lanças em punho, certamente em proteção de Aiken. — Oki, por quê? Apenas vi Oki fitar seu irmão com ira enquanto segurava sua dor apenas para ele. — Seu monstro! — Berrou no qual até mesmo me surpreendeu. Oki dizia aquelas palavras com fúria e claras, seus olhos não negavam o que queria transmitir por sua boca. Arkab balançou seus tentáculos querendo alcançar Oki e não sabia se deveria impedir isso. O que deveria fazer? Nem mesmo Aiken se mexia... — Desista Arkab. Senti as mãos quentes em meus ombros em um apertão leve, a ondulação da água indicava que havia alguém atrás de mim, e sabia identificar muito bem aquele toque que tentava muitas vezes ser delicado. A voz grossa de meu pai soou autoritária, fazendo até mesmo os soldados pararem onde estavam, longe e temerosos. Era de se admirar que um Exconselheiro poderia ter mais autoridade que o líder, colocar mais medo que qualquer Sharkan, esse era Hardar Schifino. — Se retire ou iremos matá-lo, além do mais, estamos em guerra matar um general seria benevolente para nós. — Vi meu pai sorrir friamente o qual fezme arrepiar. Um sorriso que jamais vi, seria esse sorriso que fazia todos fugirem? Arkab hesitou fitando entre meu pai e Oki que foi recebido por Aiken que tentava ver seu ferimento, a lança passou por um deles e feriu outros dois e isso era péssimo, como um Sereiano, Octopus tinham um ponto fraco semelhante. Uma cauda ferida fazia ter lentidão, uma cortada poderia até nos

levar à morte, e Oki sem seus tentáculos que se localizavam mais na parte frontal, seria um grande problema para se locomover. — Acha que vou temer você? Um Sereiano que quebrou regras? Matou reis? — Ele gargalhou. Fitei meu pai ao escutar aquelas palavras, sabia que a regra deveria ser o fato de meu pai ter tido relações com uma humana, minha mãe, mas matar reis! Isso era um absurdo, um inimigo da coroa, um traidor! Meu pai era um traidor? Ele mataria Aiken? Ou até ele ter utilidade não faria nada? Por que ele não se tornou então o rei até hoje? — Tolo. — Vi meu pai erguer em mãos a lança de Arkab a qual deveria estar caída nos corais, e assim lançar em direção ao Octopus cravando no solo macio perto de seu corpo. Arkab arqueou uma sobrancelha. Por que meu pai tinha jogado a arma para o inimigo que poderia revidar? A resposta logo veio. O sangue começou a ganhar espaço na face de Arkab que ficou surpreso, não era de menos a velocidade que foi tacado, porém, nem mesmo Arkab sentiu a dor? Ele levou suas mãos até o ferimento superficial sentindo a dor e seu próprio sangue escuro, um sangue quase negro. — Na próxima não serei tão bonzinho. — Vi aquele sorriso novamente. Ainda senti o toque de sua mão esquerda em meu ombro e a outra roubando meu tridente quebrado. Arregalei os olhos, ele não sabia que as armas eram feitas de nosso corpo apenas seu usuário poderia controlar e tocá-las ou ela desapareceria, o caso que não aconteceu. Meu tridente continuou firme nas mãos de meu pai que segurava como se fosse acostumado com ele. — Não me subestime, criança. — Hardar o avisou. Vi o Octopus trincar o maxilar pegando sua lança, tremi, entretanto, parecia que meu pai não se abalara com o inimigo tendo pego sua arma, apenas sorrindo começou a girar levemente minha arma e assim, uma bola de água começava a circular. — Não se esqueça de como sou chamado. — Riu e assim levando seu braço um tanto para trás, fincou a lâmina naquela bola a qual sumiu, era como se algo comesse a ponta da arma. Com os olhos arregalados, sentia a água vibrar fortemente e assim raios surgirem por todos os lados. Raios que não deveriam ser possíveis dentro da água atingiam agora Arkab e várias pedras e corais. Vi soldados fugindo com

medo e o grito de dor de Arkab. — O filho do trovão. — Fitei em direção a Aiken que sorria como se aquilo o divertisse. — Um dos poderes do deus da terra. Arregalei os olhos e assim, senti meu corpo doer como se algo me atingisse, era como se eu estivesse no lugar de Arkab que caía agora ofegante. Abracei meu próprio corpo grunhindo baixo. Como se fossem lâminas me espetando, essa era a descrição do que parecia que sentia, porém, forte, forte demais. Meu pai puxou-me para seus braços e vi os raios pararem e minha arma sumir de suas mãos. O oceano se acalmava e suas ondas também. — Desculpe-me. — Ouvi sussurrar perto de mim. — Vai passar logo. — O que... Foi isso...? — gaguejei. Meu pai apenas me apertou mais, não respondendo. — Preparem-se, vamos voltar. — Gritou. — Aiken leve o Octopus. Pisquei, tocando em meus olhos. — Pai... — chamei ele, fracamente. Nem eu mesmo conseguia escutar minha própria voz, senti Aiken se aproximar de mim, mas foi afastado e mandado cuidar de Oki. Pisquei novamente, me apoiava no corpo de meu pai, era tão quente e nostálgico, parecia que fazia pouco tempo que corria para aqueles braços quando queria o conforto e a segurança deles, era meu refúgio. — Pai... — Tentei chamar mais alto, ele fitou-me curioso. Seus olhos eram penetrantes, pareciam que arrancaria sua alma, a mesma cor dos meus, porém, sua pele escura era a única diferença entre nós. — Você está mentindo para mim? — A pergunta pareceu fazer seu corpo estremecer. Então era verdade? Ele mentia para mim? O quanto ele escondia? O quanto Arkab sabia? — Saberá em breve o motivo — sussurrou. Queria perguntar o motivo, e por que apenas em breve, mas seus dedos vindo em direção em meus olhos e fazendo minhas pálpebras fecharem fizeram minha boca parar de se mexer e apenas entrei em um sono escuro. Quando descobriria os motivos das mentiras, de minha pele? De tudo...?

5° ESCAMA DE TRITON Lembro-me de ter acordado várias vezes. Uma delas ao ser levado por meu pai, Aiken falava com ele, todavia, não recordo de suas palavras. Consegui o vislumbre dos tentáculos de Oki, ele estava ferido e era levado por Sereianos, seria ordem de Aiken? Sereianos tinham ódio pelos Octopus, fazendo-me saber que não o levariam por bondade. Meus olhos fecharam-se de novo e ouvi um sussurro perto de mim que fez-me corar, certamente se não fosse pela minha consciência sendo perdida rapidamente acertaria um certo tritão de cabelos vermelhos. Aiken era ousado o que me fazia ter inveja, mas, ao mesmo tempo, ele era um pervertido! A escuridão tomou conta de mim como se me abraçasse para me acalmar. Meu corpo tremia, minha boca se abrira querendo gritar, estava naquele mar negro, medo me afligia, como pitadas de angustia e tristeza, não sabia de onde vinham aqueles sentimentos ou porque, porém, apenas os sentia. Senti como se alguém me abraçasse e jurava poder escutar a voz de Aiken fazendo um pequeno ponto de luz surgir no alto. Pude perceber um sorriso se formando em meus lábios mesmo que não soubesse se aquilo era real ou irreal. As palavras de Aiken ainda surgiam, as mesmas palavras, a mesma frase na qual a cada vez que ouvia, aquela aflição, angustia e tristeza sumiam dando lugar a um Triton sorridente e agitado. Queria sair daquela bolha, queria achar Aiken e segurar suas palavras. Não se preocupe, eu amo você. Essas eram as palavras que ouvia com a voz de Aiken, essa era a frase que me fazia nadar naquela bolha negra. Balançava com força minha cauda e bolhas de oxigênio saiam cada vez que abria minha boca, como se eu fosse um humano perdendo todo o ar que tinha. Estendi minha mão querendo pegar aquele pontinho de luz. Desejava aquele pontinho de luz. Queria ir ao encontro daquela voz. Queria ir até Aiken. Não se preocupe, eu amo você. Os significados de suas palavras eram simples, todavia, me faziam querer nadar e fugir daquele lugar. Abri meus olhos pela terceira vez. Sentia minha visão nublada demais e meu braço esticado, minha respiração era pesada, meu coração estava acelerado. Com a boca aberta, pisquei várias vezes naquele mesmo dia o qual não era Aiken que estava ao meu lado, não era ele que me abraçava ou agarrava minhas mãos. Talvez aquelas palavras nem tivessem sido proferidas por ele.

Senti a mão de meu pai passando por meus cabelos e logo em seguida voltei a perder a consciência, mas dessa vez não havia aquela bola de escuridão me engolindo, apenas o mar e a tranquilidade. Sonhei com uma cena de quando era criança, quando participei pela primeira vez de uma grande festa, lembro-me de ter me perdido e apenas isso. Aquele sonho parecia forçar meu subconsciente fazendo aquelas cenas voltarem à tona nitidamente, mostrando-me o mesmo acontecimento. Me vi perdido em meio à multidão, lágrimas escorriam em minha face desesperadamente, chamava por meu pai, pedia ajuda, entretanto apenas olhares tortos eram dirigidos a mim. Mesmo criança, meu próprio povo não me perdoava por ter nascido com a pele branca. Chorei, chorei por longos minutos, tentei nadar para qualquer lado, Sereianos me afastavam de perto de si, alguns chamavam-me até de aberração. Meu corpo parou ao escutar aquelas palavras ditas por um soldado que se afastou com nojo, aquelas palavras fizeram meu choro parar, não por serem boas, mas pelo meu coração ter sido destruído completamente. Tudo começou a ficar torto e minha cabeça doeu até voltar para aquela cena onde fitava vários Sereianos os quais apenas me expulsavam de perto deles. Até que surgiu alguém que não ditou palavras cruéis, que não me afastou. Ergui meus olhos azuis até aquele tritão de cabelos vermelhos que flutuavam na água, ele sorria para mim enquanto estendia sua mão. As cenas continuaram, mesmo que naquele estranho sono não mostrasse o rosto daquele Sereiano o qual agarrei a mão fielmente, eu sabia quem era, sabia a quem pertencia aquele cabelo vermelho. Eu tinha me esquecido? Esqueci-me que Aiken foi o único a me estender a mão, cuidar e achar meu pai para mim? Ele foi o único que se preocupou, me deu petiscos de peixe com algas e contou uma pequena história sobre a deusa. Aiken foi o primeiro Sereiano a me aceitar e sorrir. E eu havia esquecido disso. Voltei a abrir lentamente meus olhos, dessa vez, minha visão era nítida, mas meu braço não estava erguido. Estava de lado em minha cama em formato de ostra aberta. Pisquei várias vezes antes de agarrar aquele tecido estranho que produziam sobre as águas, diziam que os humanos usavam, o senti quente o que indicava que meu pai tinha saído a pouco. Voltei em minha posição curvada, de conchinha fechando novamente meus olhos. Eu tinha me esquecido de Aiken... Abri novamente minhas órbitas as revirando.

Tinha-me esquecido dele por ser um pervertido doido que arriscava sua própria vida por alguém que mal conhecia! Ele precisava agir como um rei e, por que eu? Por que justo a mim que ele escolhera? Não tenho nada de especial e, acima de tudo, sou uma aberração, não? Então por que o grande rei dos mares estendeu a mão para mim? Escolheu-me?! Queria perguntar a ele, todavia, mesmo que tivesse coragem de sair e ir atrás dele não passaria pelos guardas e nunca saberia subir na plataforma. Suspirei. — Vejo que acordou. — Ouvi a voz de meu pai, fraca e preocupada. Virei a cabeça para o lado vendo Hardar segurar uma bandeja feita de pedra com alguns peixes em cima. Ele sorriu como nunca o vira sorrir. Será que tinham clonado ele? — Você dormiu por dois dias. — Ele se aproximou. O vi depositar aquela bandeja ao meu lado e logo em seguida sentar perto de minhas pernas cheias de escamas em tonalidades azuis. O fitei esperando que continuasse a falar, meu estômago não roncou, então, não me preocupei em pegar os peixes. — Você chamou Aiken várias vezes. — Corei parando meus olhos sobre a comida. Eu tinha feito o quê? Eu queria berrar para ele parar de brincar comigo, jamais chamaria aquele pervertido! Jamais! Não estava apaixonado! — Chamou várias vezes ele como teve muitos pesadelos. Você não parava de se mexer e gritar, chutar. Até erguer a mão e chamá-lo novamente. Não sabia para onde olhar, nem onde esconder minha face. Eu tinha feito tudo isso? Até mesmo gritado o nome de Aiken? Aqueles sonhos... Era realmente a voz de Aiken que proferiu aquelas palavras? Meu coração se acelerou, eu desejava que sim, mas duvidava agora. Fechei brevemente meus olhos respirando fundo. Meu pai ergueu-se cruzando os braços em sua postura típica de quem estava bravo com alguns de meus atos, porém, o problema era: Eu não fiz nada! Por que daquela expressão típica dele? De sua postura? Hardar desviou o olhar várias vezes antes de respirar fundo e soltar os braços que caíram tranquilamente. Observei meu pai com certa curiosidade. Ele tinha as joias em volta do pescoço, pulsos e até brincos, sua pele escura parecia fazer aquelas joias

douradas se destacaram mais. Apenas estava vestido da cintura para baixo, um tecido branco que deixava suas coxas a mostra, diferente de minhas roupas. Era comum vestirmos apenas branco por ser algo que transmitia tranquilidade, calma, e era a cor da espuma do mar a qual dizem ser dali que a deusa nos criou. Fitei minhas roupas da mesma cor a qual lembrava uma espécie de túnica, prendia apenas em um dos meus ombros e vinha pouco acima da metade das minhas coxas, porém, por ter-me remexido, quase estava nu, não que isso fosse um problema, nem todos os Sereianos têm o costume de se vestir, apenas os nobres. Esperei meu pai falar. Ele parecia que estava paralisado no mesmo lugar. Estava acontecendo algo? — Fiquei preocupado com seus sonhos e atos, Triton. — Começou ele. — Então eu o chamei. Fui para trás quase caindo de minha cama. Ele tinha chamado Aiken? Aiken ficou o tempo todo ao meu lado? — Ele saiu há pouco tempo, ele ainda é o rei acima de tudo. — Sua voz soava baixa. — Mas não pense que o perdoei, ou deixarei vocês ficarem juntos. — Sua voz se elevou e ficou autoritária. Eu gritei um "quê" alto. Que tipo de pensamentos fantasiosos estava passando na cabeça de meu pai? E ele tinha me deixado sozinho com Aiken no quarto? Cai para frente puxando os tecidos e tapando minha face, aquilo era vergonhoso demais. Ouvi meu pai resmungando e ele logo partiu. Orgulhoso demais! Suspirei. Aiken... Foi ele quem ficou ao meu lado? Aquelas mãos em meus cabelos eram suas mãos ou as de meu pai? Não, não era ele, conhecia bem as mãos de meu pai devido ao carinho que sempre ganhava antes de dormir quando criança, mas aquelas palavras... Sim, certamente foram ditas por Aiken. Sorri de leve escondendo mais minha face, estava feliz com isso! Era loucura! — Só lembrando você. — Ouvi meu pai falando novamente, ergui a cabeça curioso. Hardar cruzou os braços antes de falar. — Seu treinamento começa hoje! — Sua voz era autoritária, típica dele. Treinamento? Que treinamento? Não me recordava dele ter falado isso,

além do mais sua desculpa por nunca me treinar era para que eu não me machucasse, era perigoso demais conjurar uma arma e a manusear. Pensando em arma, meu pai tinha pego meu tridente quebrado sem qualquer dificuldade, como ouvi suas preces a deusa enquanto estava em seus braços sendo carregado. Franzi o cenho. — Por que vai me treinar agora? — O privei demais, está na hora de crescer. E se quiser decidir com quem quer se casar terá que me vencer em um duelo no final. — Vi seu sorriso frio. Odiava quando ele fazia isso. Dando de ombros, peguei minha comida mesmo sem fome. Não havia ninguém em mente para me casar, nem queria. Tinha apenas vinte anos, para que me casar agora enquanto tenho muitos anos pela frente? Envelhecíamos com oitocentos anos, ou perto dos novecentos, dependendo do Sereiano, eles vivam até 1.500 anos. Bufei ao vê-lo sair, pelo visto seria um dia dolorido. E foi como imaginara ao me deparar com vários pilares de pedras alinhados em minha frente. Arqueei uma sobrancelha não entendendo o porquê de observar aquelas ruínas subaquáticas. Fitei meu pai de soslaio que parecia sorrir ao analisar as pedras sujas. Não eram do tamanho dos muros, porém, ouvi as histórias de que aquele lugar foi um palácio, talvez o antigo palácio antes de fazerem a plataforma. Agora apenas sobraram aqueles pilares. Podia ver alguns pedaços da arquitetura, todavia, peixes já tomavam conta do lugar. Balançava minha cauda mantendo o equilíbrio, calmamente tentando descobrir o motivo de estar parado em frente aos pilares! Estava perdendo tempo ali! Deveria ver como Oki estava, se estava se sentindo bem ou não, se estava sendo bem tratado, além do mais, Oki estava na plataforma cheia de nobres e Aiken. Fiz bico ao pensar nisso, Oki poderia estar correndo muito perigo! — Vamos começar. — Meu pai tirou-me de meus pensamentos. Virei fitando-o. O que ele planejava? — Seu treinamento vai começar. — Ele disse. Pisquei. O que aqueles pilares tinham a ver com isso? Precisava aprender a lutar com minha arma! Aprender a acertar e me defender. Hardar me fitou como se soubesse o que eu estava pensando, desviei o olhar cruzando os braços. Era um privilegio ser treinado pelo Sereiano que trouxe a vitória para seu povo mais de uma vez, que liderou exércitos, que se tornou o braço direito de dois

reis, entretanto, não entendia os treinamentos de meu pai. O vi se mexer e apontar para os pilares, segui seu dedo voltando a focarme nos pilares sujos. — Você nadará rapidamente entre os pilares, nadando por dentro e por fora, como se fizesse um S — ditou ele. Arquei uma sobrancelha não entendo por que raios faria aquilo! Qual era a noção em nadar em S entre os pilares? Já tinha velocidade, precisava aprender a manejar minha arma! Suspirei mexendo minhas guelras enquanto cruzava meus braços. Aquilo era estranho. — Se conseguir nadar entre os vinte pilares até contar vinte, passaremos para fase que tanto quer — disse ele. Meus olhos brilharam. Se conseguisse passar no tempo certo naquelas coisas sujas, poderia finalmente aprender a manejar uma lança! Fitei meu pai vendo um sorriso frio, o que indicava que ele tramava alguma coisa. Encarei novamente os pilares notando algo que fez minha alegria diminuir tanto, que até meu sorriso murchou. Aqueles pilares eram afastados demais! Vinte segundos era o que levava para ir ao próximo! Como conseguiria passar por tudo aquilo tão rápido? Nem com minha cauda de nadador conseguiria, era loucura! Ele estava me testando? Era impossível aquilo. — Aiken levou apenas três semanas para conseguir, nadadores levam entre dois a quatro meses, será que consegue menos? — Provocou. Rosnei, conseguiria sim! Aiken conseguiu em apenas três semanas. Com o estilo de cauda dele, levaria muito mais, talvez eu conseguisse em menos dias, conseguiria e faria meu pai engolir aquele sorriso que ele lançava! Surpreenderia o grande Hardar! O segui até o alinhamento de frente aos pilares, podendo apenas ver um em minha frente. Fechei brevemente os olhos preparando-me. Conseguiria! Meu pai se afastou ficando longe o suficiente para ver todos os pilares e, assim que ele acenou comecei. Vinte pilares em vinte segundos, precisava passar, precisava vencer! Adentrando o quarto pilar ouvi meu pai gritar: Vinte! Arregalei os olhos parando, apenas tinha passado quatro pilares, algo bom pela distância deles, todavia, não o suficiente para passar no teste de meu pai. O vi sorrir friamente irritando-me.

— Os nadadores têm obstáculos mais difíceis — falou como se não fosse nada. Voltei ao ponto de partida, preparando-me novamente e, assim que foi dado o sinal, nadei rapidamente entre os pilares, não acabando a tempo. Rugi, era difícil! Como faria aquilo em vinte minutos? Os nadadores eram treinados desde pequenos, eu não! — Já tive aprendizes mais focados. — Ouvi ele comentar enquanto sentava-se sobre uma pedra. Cerrando os dentes, voltei para o ponto de partida e comecei de novo, e de novo e de novo. Sempre voltava para o ponto inicial nunca alcançando seis pilares. Suspirei cansado. Meu coração estava acelerado, minha respiração igualmente. Minha cauda não aguentava mais ficar balançando. Fitei os arranhões por meu corpo feitos ao bater naqueles pilares, podia sentir a água fazendo aquelas feridas arderem. Mexi minhas guelras capturando mais oxigênio, estava cansado, mas não desistiria. Fitei em direção a meu pai que continuava sentado montando um colar de conchas que achava por perto. Bufei, precisava conseguir passar por aqueles pilares. Gritei que estava pronto, meu pai observou-me antes de fazer sinal para ir. Nadei rapidamente entre o primeiro e segundo pilar, até bater fortemente no terceiro. Cai naquela areia fofa, ergui-me indo ao início de partida e nadando novamente. Dessa vez eu contava. Dez. Doze. Treze. E novamente bati de frente em um pilar voltando ao chão. Rosnei furioso, fazendo a água a minha volta começar a reagir, pisquei acalmando minha mente e coração. A água estava reagindo com meus sentimentos? Olhei para cima, vendo que as ondas estavam agressivas, pisquei novamente. Como conseguiria passar? Voltei-me em direção a meu pai, todavia, meus olhos se prenderam em algo antes de Hardar. Naquela cabeleira vermelha que se aproximava do alto. Aiken mexia sua cauda com delicadeza e rapidez fazendo em segundos estar perto de meu pai. Arregalei os olhos, ele conseguia nadar tão rápido com aquele tipo de cauda, mais rápido do que eu. Baixei a cabeça, não queria treinar por meses naquele lugar, queria ser forte como meu pai... Aiken falava alguma coisa para Hardar que apenas assentia e mexia poucas vezes sua boca. Não os escutava e nem queria. Ergui-me desistindo. Nadei rumo à minha casa, passando sobre os olhares dos dois. Aiken abriu a

boca, mas antes de qualquer um dos dois falarem, os cortei. — Estou indo para casa, estou cansado — disse tristonho. Aiken não desistiu, porém, nadei rápido, não podendo escutar suas palavras, apenas meu nome sendo chamado por ele. Queria apenas ser forte, mas nem pilares conseguia vencer. Como conseguiria ser um guerreiro como meu pai? Como Aiken? Até os nobres que não faziam nada sabiam manejar e lutar com suas armas, sabiam invocar quando quisessem sua arma! Nem isso eu conseguia fazer... Fechei os olhos, talvez eu não prestasse para lutar... Eu não queria desistir e eu não desistiria. Não conseguia dormir, levantando-me e perambulando pelo pequeno espaço que era o meu quarto. Não éramos como os humanos que precisavam de móveis entre outras coisas, fazendo assim, meu pequeno aposento ter apenas minha cama e uma estante de pedras onde ficava minha coleção de objetos marinhos. No passado, quando eu gostava até mesmo de uma pedra diferente, tudo que achava interessante levava para casa, por isso, agora existia uma estante cheia de objetos inúteis, não queria jogar fora somente para ter algo de minha infância, porém, não me interessava por mais nada, tirando a concha verde que Oki tinha me dado. A concha que ficava comigo na cama. Como Oki estaria? Estaria sendo tratado bem? Se eu conseguisse vê-lo... Suspirei. Precisava ser forte! Precisava fazer meu pai ver minha força, não podia desistir agora. Não era hora de ficar triste por uma derrota onde poderia haver muitas vitórias. Apenas precisava me concentrar e vencer o tempo, o primeiro teste, o tempo o que significava que o segundo poderia ser resistência, e apenas no final ele me ensinaria a chamar minha arma. Meu pai era esperto e forte. Meus olhos sempre brilharam ao vê-lo segurar a lança, erguer a cabeça intimidando até mesmo os conselheiros. Hardar Schifino, o Sereiano mais temido dos mares, o mais poderoso, ser treinado por ele muitos diziam ser uma honra, e concordo, sempre sonhei em ser como ele, carregar seu legado, seu sobrenome, mostrar de quem eu era filho. Ergui minha cabeça, precisava treinar, ficar forte! Sai de casa aproveitando o silêncio, não sabia se meu pai estava, apenas descia pelo túnel que me fez ter rapidamente contato com a água e minha cauda aparecer. Não era uma transição dolorida, era indolor apenas fazia cócegas. Parti rumo aos pilares antigos, treinaria sozinho e venceria o tempo até meu pai voltar. Os avistei, indo rapidamente ao seu encontro, parei em frente a eles os

quais faziam uma linha reta, permitindo apenas fitar o primeiro objeto sujo. Mexi minhas guelras pegando o máximo de oxigênio, logo após, soltando pela boca. Vinte segundos, vinte pilares. Sorri de leve, conseguiria vencer! Nadei em S, percorrendo todos os pilares, porém, nunca chegava nem no décimo pilar e o tempo acabava, mesmo assim, permaneci firme. Continuei a nadar, não desistindo, nadava rapidamente e a cada fase minha raiva e frustração apenas faziam minha cauda balançar mais, estava irritado por não conseguir ser tão rápido, sendo que minha cauda era melhor que a de um nadador. A balancei novamente. Batia-me. Nadava. Perdia. Não alcançava os vinte pilares a tempo e minha respiração apenas falhava. Horas certamente tinham se passado e a cada reação minha, a água em minha volta começava a reagir. Estava curioso com a mudança repentina dela reagindo com meus sentimentos, não sabia como controlá-la, todavia, a cada momento imaginava que minha vontade, meus sentimentos faziam ela reagir, o que poderia ser usado ao meu favor. Tentei fazer uma bola de água com as mãos quase unidas, mas nada acontecia. Fiz bico, o que precisava fazer para controlá-la? Poderia usar ela ao meu favor com a velocidade? Poderia ser possível, entretanto, como? Resmunguei dando um soco na água, o que fez um redemoinho surgir em volta de meu braço e atacar o nada. Pisquei, eu não tinha feito nada, apenas ficara irritado, apenas conseguia controlar a água irritado? Resmungando novamente, voltei-me para meu treinamento, precisava vencer o tempo não socar a água e acertar o nada com redemoinhos incontroláveis, poderia fazer algum estrago se não tivesse disciplina. Nadei novamente, começando a contar, fazia minhas curvas perfeitas e sem demora, todavia, sempre ao chegar no quinto pilar o tempo acabava. E novamente, recomeçava sendo diferente dessa vez. Não passei pelo quinto pilar, e antes do tempo acabar, acertei em cheio o objeto fazendo até mesmo ele quebrar. Cai devagar, pousando na areia onde alguns peixes se escondiam. Gemi de dor antes de olha para cima, verifiquei meu corpo, não encontrando nenhum dano. Suspirei, nunca conseguiria vencer o tempo assim, o que precisava fazer? Desistir? Soquei a areia macia, não queria desistir, queria vencer, queria

prosseguir, mas por que isso era tão difícil e doloroso? A cada momento, parecia que minha vitória se encontrava mais e mais longe, fazendo-me não conseguir alcançá-la. Ergui novamente minha cabeça, queria saber por que parecia tudo distante de mim, nunca teria utilidade ao meu povo? Nunca conseguiria carregar o legado de meu pai? Pisquei, expulsando pequenas lágrimas que brotavam no canto de meus olhos, não me permitiria chorar por isso, apenas me erguer. Balançando a cabeça, fitei algo se mexendo bem distante de mim, semicerrei os olhos, não me importava se fosse algum soldado, poderia dizer de quem eu era filho, se fosse alguém de meu povo poderia apenas ignorar como sempre fazia, porém, não era nenhum soldado, ou cidadão, era Aiken. Aiken se aproximava dos pilares rapidamente, fazendo-me perguntar o porquê? Via sua cabeleira se mexendo à medida que nadava mais e mais rápido, o vi sorrir ao me localizar e vir em minha direção. Desviei o olhar, não sabia se queria sua companhia agora ou apenas sofrer em silêncio, todavia, sabia que agora seria impossível enxotá-lo. Sorri de leve, a persistência de Aiken no fundo fazia-me sentir bem, mesmo querendo ficar sozinho, não queria a solidão como companheira, meu coração não a queria, e Aiken preenchia um vazio, fazia-me esquecer de tudo. Notei sua expressão confusa misturada com tristeza ao me analisar, ele observou tudo em volta antes de parar em minha frente e então se posicionar naquela areia. Ele sorriu antes de mais nada, fazendo-me virar a face corada. — Por que está aqui? — Perguntei sem delongas. — Sabe que odeio ficar preso lá em cima, apenas fugi. — Ele disse sem importância. Pisquei, como um rei como ele era tão irresponsável?! Suspirei. — Apenas senti que precisava descer, nunca acho pelo meu instinto, todavia, não sei o que me deu. — A voz de Aiken era baixa e seus olhos não estavam focados em mim. — E achei você... Ele sorriu. Fiz bico cruzando os braços, o que tinha de mais ele ter me achado aqui? Estou treinando e precisava vir até aqueles pilares gigantes e estranhos, voltei a fitar Aiken de soslaio ainda vendo que ele sorria em minha direção. O que ele planejava? O silêncio pairou sobre nós, fazendo-me irritar, ele vinha até mim apenas

para ficar me observando? Não tinha tempo para isso, ergui-me sobre seu olhar curioso enquanto me locomovia novamente para recomeçar a corrida. Minha cauda doía, mas não podia parar, não agora. Enquanto fechava meus olhos respirando fundo, senti Aiken se aproximando e, assim, se posicionar ao meu lado. Ele observava os pilares com atenção, estaria se lembrando do treino que teve ali? Ou o que meu pai disse era mentira? Ultimamente sinto que Hardar anda mentindo sobre muitas coisas, não entendo o porquê, nem o motivo para isso. Aiken apontou para os pilares com um sorriso nos lábios. — Eu sempre batia no sexto pilar, até se observar, tem um estrago nele. — Ele riu. — Nunca conseguia a tempo, e Hardar apenas sorria e não me respondia, fazia seu jogo o que me deixava furioso, pensei em várias vezes desistir, mas prossegui, por que é assim que devemos fazer. O observei enquanto Aiken não tirava os olhos dos pilares que um dia foram brancos. — Não precisa ter uma cauda de nadador para conseguir vencer o tempo, isso não se aplica a nós. Nós? Do que ele estava falando? A que ele estava se referindo? Nós... Eu tinha uma cauda melhor que a de um nadador e, mesmo assim, não conseguia nem atingir o sexto pilar. — A água está ao nosso favor, Triton. — Erguia a cabeça, vendo Aiken estendeu a palma para cima e, assim, um redemoinho pequeno surgir. Ele conseguia fazer a água obedecê-lo tão bem, como era possível? Como conseguiria controlá-la? Com os olhos arregalados me coloquei em frente a Aiken, agarrando seu braço, o que o fez ficar surpreso, e se não estivesse tão determinado, eu mesmo estaria berrando comigo. Fitei aquelas órbitas vermelhas surpresas. — Me ensine a controlar a água, Aiken — disse um tanto alto, mas com toda vontade. Supliquei para ele fazendo-o sair de seu transe surpreso e me observar por longos segundos até fazer aquele sorriso que sempre via e tinha vontade de arrancar de seus lábios. Um sorriso travesso e cheio de malícia, admitia que tinha vontade de arrancar aquele sorriso e, ao mesmo tempo, gostava de vê-lo, era o sorriso que Aiken sempre dava para mim nas piores situações que ele passou apenas para me salvar, talvez por isso me irritava tanto com aquele sorriso. Ele sempre o dava quando se sacrificava por mim...

Não deveria pedir nada para ele, ainda mais porque ele era o rei e eu apenas mais um tritão normal. Senti seus dedos em minha face fazendo-me erguer o olhar e novamente fitar aquelas órbitas vermelhas tão intensas, ainda sorrindo, ele se aproximou. — Ensino. — Respondeu rapidamente. Fiquei boquiaberto com aquela resposta rápida sem hesitação, entretanto, era de se esperar de Aiken. Ele sempre aceitaria ajudar-me o que não poderia me aproveitar, não era certo. Ele precisava agir como rei, e eu o servir, não ao contrário. — Com uma condição. — Pisquei arqueando uma sobrancelha. Isso sim era surpresa, ele pedir algo em troca para mim? O que eu poderia dar a ele? Tudo o que ele queria poderia ter, podia ter poder e ser o grande rei dos mares, mas seu sorriso denunciava o seu pedido. Suspirei, imaginando o que ele pediria, porém, iria ter que negar. Não podia ir morar com ele, nem me casar com ele, nunca teríamos aprovação, e isso não significava que eu queria isso. Casar-me com ele seria tortura! — Irei ajudá-lo a controlar a água e a passar por esses pilares. — Ele apontou para os pilares, fazendo-me piscar. — Em troca, quero que seja mais justo com seus sentimentos, que dê ouvidos para seu coração. Fiquei surpreso, até demais com sua condição. Ele apenas queria que eu fosse mais justo com meus sentimentos? Por quê? Meu pai dizia que nem sempre podíamos dar ouvidos ao nosso coração, aos nossos sentimentos, isso apenas nos enfraquecia e nos faria hesitar na hora da batalha, a piedade estava no meio de nosso coração, mas no inimigo não estaria, sentimentos, muitas vezes, serviam apenas para nos ferir, e nos fazer perder a batalha, até a guerra. Não podia ser mais justo com meus sentimentos, isso não me tornaria o guerreiro que sempre sonhei em ser, não me tornaria igual a Hardar. Suspirei. O que deveria dizer? E fazer? Aiken me fitava com aquela expressão de esperança, a expressão que ainda tinha esperanças de que aceitasse seus sentimentos, abrisse meu coração, mas a verdade era que não desejava abri-lo. Quando o abri, apenas sofri, sofri perdendo quem eu estava apaixonado, sofri por ter esperança em ser aceito, sofri com a dor em minha carne. Emoções não foram feitas para mim, um tritão albino e aberração. Neguei com a cabeça, não iria ser mais justo, não queria aquelas sensações novamente.

— Sentimentos apenas existem para nos machucar, e não quero mais ser ferido, estou cansado... — Minha voz saía baixa e fraca. Não sabia se ele tinha me ouvido pelo silêncio que pairou, todavia, senti seus dedos escorregarem pelos meus ombros e, assim, firmando em meus braços puxando-me para perto dele. Não hesitei ou reagi, apenas deixei-me ir ao encontro de seu peito, não havia necessidade de lutar, apenas sentia que precisava realmente do conforto de algum abraço. — Eu pensava como você, Triton. — Sua voz também saía fraca. — Eu pensava que sentimentos eram para os fracos, deveria ser forte e impenetrável se eu quisesse derrotar meu pai, Hardar mostrou-me que não preciso fechar meu coração para tudo, não entendi de início, até conhecer Okita. Arregalei meus olhos. Ele tinha citado Oki? Senti seu peito estufar, e logo depois soltar aquele ar preso, olhei para cima vendo seus olhos vagando para o nada. — Nunca pensei que contaria isso a você, nem que relembraria o passado... — Comentou ele. — Mas Oki fez-me ver e sentir o que Hardar sempre falava, ele foi minha primeira paixão, aquele que não pensei em ser apenas um peão em meu tabuleiro. — O vi sorrir sem humor. — Pode-se dizer que fui um Sereiano muito cruel, agia realmente como meu pai enquanto, na verdade, meus objetivos eram vencê-lo e trazer a paz. Fazia igual seus passos, usava todos em minha volta e comandava aquele jogo, Okita fez-me abrir os olhos e agir como eu mesmo, não Erial Alkes. Erial...? Pai do Aiken, o antigo rei. Nunca pensei que Aiken falaria de sua família, de seu pai. Continuei a observá-lo, vendo ainda seus olhos perdidos. — Quando você nasceu, já estava em meu reinado então não pôde conhecer o verdadeiro lado do rei dos mares, mas Hardar conheceu e confiou até ser traído. Ele afastou-me, fitando em meus olhos. — Nem para tudo você precisa fechar seu coração, Triton. — Seu sorriso era diferente agora, um calor percorria meu corpo ao ver aquele sorriso. — Seja mais sincero com você. Com isso será mais fácil controlar a água. Assenti. Isso realmente iria me ajudar? Iria descobrir. — A primeira coisa é se concentrar. — Ele sussurrou em meu ouvido. Fui para trás, sentindo novamente aquele rubor voltar, maldito vermelho!

Aiken sorriu brincalhão enquanto voltava a me olhar, apontando para os pilares. — Comece e peça para a água ajudá-lo. Pedir para a água me ajudar? Como? — Esvazie sua mente e abra seu coração, assim, conseguirá entrar em contato com ela. Você tem a água ao seu lado, use-a para os impulsos, use-a para as curvas, use-a como seu corpo, como uma armadura. Arregalei os olhos ao ver uma parede se formar em volta de nós. Aiken ergueu uma das mãos fazendo a parede subir ainda mais e criando algo impenetrável. Ela poderia ser usada como um escudo nas batalhas? Vi sua mão se mexendo, indo para a direita o que fez a parede se abrir mais ainda. Era fascinante Aiken conseguia controlar todo aquele espaço, toda aquela água, o que mais conseguiria fazer? Vi uma parede de água semelhante ao sólido permanecer imóvel, fazendo-me ter a curiosidade de tocá-la, hesitei fazendo certamente Aiken ver e tocar naquela parede, sua mão não a ultrapassou, e nenhum peixe conseguiu adentrar. Em um minuto havia uma barreira, no outro, ela sumia se misturando com o restante da água. — Você pode fazer muitas coisas, como cortar a água, podendo andar por aí com pernas e uma parede o protegendo, pode tirar o oxigênio do inimigo e muitas outras coisas. Sorri encantado com tudo aquilo. — Agora se conecte com a água, use-a como se fosse seu corpo e acelere, conseguirá vencer o tempo e os pilares. Assenti confiante. Aiken se afastou, observando de longe onde pudesse fitar os pilares igualmente. Respirei fundo fechando meus olhos, precisava me concentrar, conectar-me com a água. Sentia minha cauda balançando e, assim a água se manifestando ao meu lado. Concentrar-me nela, é o que desde o começo eu deveria ter feito, o que significava por que ela reagia a minha fúria, minhas emoções fora de controle entravam em contato sem que eu percebesse e tudo em minha volta reagia. Senti que estava pronto e, assim, nadei. Nadei começando novamente aquele teste, mas, dessa vez, tinha a água em meu favor. Minhas curvas não eram iguais, eram ótimas e rápidas, fazendo-me passar do sétimo pilar e ainda ter tempo. Nadava mais rápido com meus braços ao meu corpo, virando ao décimo sétimo pilar, estava quase chegando e o tempo se fechando. Cerrei os dentes antes de ultrapassar o último pilar e a contagem zerar. Tinha conseguido.

Tinha passado por todos os pilares no tempo exato, sorri. O primeiro teste tinha vencido! Queria pular de alegria, porém, apenas senti meu corpo afundando lentamente, pelo canto do olho vi Aiken vindo rapidamente em minha direção. Estava ofegante e meu corpo dolorido, pousei na areia tranquilamente enquanto Aiken se aproximava com uma expressão preocupada. Sorri para ele, fazendo aquela face torna-se alegre com um belo sorriso. Tinha conseguido com sua ajuda, poderia controlar a água, e sabia como agora, estava conseguindo me tornar forte. Sorri ainda mais em sua direção, tinha conseguido! Vi Aiken rir alto enquanto sentava em minha frente, queria xingá-lo por rir de mim, mas apenas consegui rir junto, enchendo aquele espaço de gargalhadas altas e peixes passando por nós, até uma arraia se juntava, sorri vendo o animal que se aconchegava perto, agarrei minha cauda baixando o olhar, agora apenas precisava me aperfeiçoar e conseguiria até mesmo vencer meu pai! — Eu irei vencê-lo. — Pensei alto. Aiken sorriu não perguntando sobre meu pensamento alto. — Também desejava vencê-lo. — Sorriu pensando certamente no passado. — Venceremos Hardar. — Ele piscou. Assenti. Mostraria para meu pai como estava forte! Como poderia ser forte! — Acho que mereço um agradecimento especial por isso. — Aiken disse com seus olhos desviados dos meus. Com um brilho travesso em seus olhos, ele colocou o indicador sobre os lábios, fazendo uma expressão como se pensasse, balancei a cabeça em negativa. Aiken sendo ele mesmo. Ele continuava a falar o que poderia pedir de agradecimento, o que poderia pedir, desviei rapidamente meus olhos apenas vendo aquela água tranquila e escura. Remexi-me em meu lugar mudando de posição, chamando a atenção de Aiken que foi pego de surpresa. Nem eu mesmo saberia responder o que estava fazendo se me perguntassem, apenas diria que fiz o que senti que deveria fazer, apenas segui minhas vontades, talvez instinto? Não, coração? Talvez. Vi suas órbitas surpresas sentindo seu sorriso surgir em meio ao beijo. Não sabia o que estava fazendo, apenas sabia que estava beijando agora o rei dos mares. Estava beijando Aiken, agarrando aqueles cabelos vermelhos com força entre meus dedos, estava indo rumo a seus braços que me cercavam.

Estava ficando louco, isso sim! Poderia ser loucura, mas gostava daquela sensação, daquelas mãos em volta de mim, de seus lábios doces e quentes, daqueles cabelos que eu agarrava firmemente, minha boca era penetrada com desejo e sua língua chocava-se com a minha, várias vezes. E eu gostava. — Vai continuar me treinando? — Sorri provocando, enquanto percorria meu dedo por seu peitoral. Aiken apenas sorriu travesso. — Se Triton for um tritão bonzinho, posso pensar. — Respondeu dando um pequeno beijo em meus lábios. — O que acha? — Você que não se comporta! — Cruzei os braços, virando a face. Aiken riu alto puxando-me novamente enquanto beijava-me. Não hesitei, correspondi aos seus beijos com a mesma intensidade e o mesmo desejo. — Ensinarei tudo o que sei. — Ele piscou, enquanto aquele sorriso voltava. Sorri junto a ele. _________ ♆♆♆♆♆ _________ No dia seguinte, eu voltei a treinar sem a supervisão de ninguém. Ficaria forte e mostraria para todos! A cor de minha pele não iria ser um obstáculo para minha conquista, nem meu povo! Já tinha os Sereianos ao meu lado que me aceitavam e me amavam como eu realmente era, não iria mais chorar por aquele povo, não aceitaria mais correr para algum local isolado porque eles não me querem em seu meio. Era filho de Hardar, o maior guerreiro dos Sereianos, o único do oceano que foi abençoado pelo deus Terra e a deusa Água, e mostraria de quem eu era filho. Era cedo ainda quando sai para treinar naqueles pilares, havia pouco fluxo de Sereianos em volta tirando os guardas que cuidavam da cidade de baixo, ainda era cedo demais, no entanto, não para mim. Segui até os pilares, melhoraria e mostraria para meu pai! Respirei fundo nadando entre aqueles objetos várias e várias vezes, já podia ver o sol batendo na superfície da água, porém, não era hora de parar. Continuei meu treino até não conseguir mais e ir rumo à areia. Minha respiração era ofegante fazendo minhas guelras se mexerem rápido, observei um daqueles pilares que não achava nada interessante, nunca soube ao certo o motivo daqueles pilares apenas sabia que eram ótimos para as crianças brincarem.

— Começou cedo. — Uma voz atrás de mim soou. Pisquei, virando minha cabeça observando aqueles cabelos vermelhos que flutuavam com graciosidade. Seu sorriso indicava que aprontaria algo. Aiken cruzou os braços sobre seu peitoral forte enquanto seguia seu olhar em volta, não sabendo os motivos, sua cauda balançava rapidamente, voltou-se para mim, aproximando-se e sentou sobre a areia. Como ele tinha me encontrado? Estaria novamente fugindo? Rei irresponsável! Desviei o olhar sem falar nada, certamente estava indo até aquela caverna pequena que nunca iria mais me aproximar! Ainda me lembro de ser puxado para dentro, e aquele beijo. Baixei a cabeça, fazendo meus cabelos taparem minha face. Ao lembrar daquele beijo sempre fico envergonhado! Maldito rei irritante! Por que eu ainda agia assim? Foi apenas um beijo! Não notei que balançava a cabeça como um doido fazendo Aiken observar-me confuso, ele riu alto fazendo-me fitá-lo irritado. Tinha mudado de ideia, ele não estava fugindo tinha vindo atrás de mim para incomodar! Cruzei os braços. O ouvi parar de rir e o silêncio pairar sobre nós, nem os peixes circulavam em volta deixando um cenário vago e morto se não fosse aqueles pilares velhos. Baixei a cabeça apenas aproveitando aquela tranquilidade se instalar. Senti a vibração da água em minha volta, virei-me para Aiken que se deitava sobre a areia, seus olhos estavam fechados enquanto seus cabelos se mexiam, o analisando pude ver suas guelras se mexerem com calma, seu peito subir e descer devagar e suas feições relaxadas. Aiken sem abrir os olhos, estendeu a mão em minha direção abrindo sua palma onde uma conchinha verde estava, arregalei os olhos, as conchinhas da cor que Oki sempre procurava... Olhei para Aiken que abriu os olhos e um sorriso brotou em seus lábios. — Ele mandou para você. — disse. Pisquei, voltando a analisar aquela conchinha a qual peguei em minhas mãos sentindo-a quente, sorri, queria saber como Oki estava e se estava sendo bem tratado na plataforma. Sabia que Sereianos odiavam Octopus podendo assim julgar e quererem matar Oki. — Ele está bem, certamente amanhã já pode voltar para água. — Aiken falava voltando a fechar os olhos. — Foi difícil fazê-los aceitar um Octopus na plataforma, apena um curandeiro se disponibilizou em ajudá-lo, o restante ficou por minha conta. Pisquei, fitando novamente Aiken.

Imaginava que seriam poucos Sereianos que aceitariam Oki, eles julgariam e até mesmo Aiken poderia ser prejudicado, por sorte, tudo deu certo e ao mesmo tempo que me alegrava Oki estar bem, de Aiken o ter ajudado, minha curiosidade sobre o passado daquele rei aumentava, nem mesmo meu pai dizia sobre Aiken que mais parecia uma caixinha de segredos, não me interessava a vida de ninguém, porém, daquele tritão de cabelos vermelhos era algo curioso e tentador para mim, ele um dia iria me contar pelo menos como eram seus pais? Pervertido! Diz que seu coração cantou por mim, mas, nem ao menos soube me dizer seu sobrenome e não saberia se não fosse o grande rei dos mares. Aiken nunca se abria, sempre ficava com aquele sorriso e extremamente fechado, teria alguém nesse oceano para quem ele se abriu? Sim, meu pai. O único Sereiano que conhecia o grande rei dos mares mais que o próprio. Desviei meus olhos, apertando a conchinha em minhas mãos. — Por que ficou tão triste e confuso agora? — O ouvi perguntar. Pisquei como um idiota, virando minha cabeça na direção dele, como ele sabia o que sentia? Seria sorte? Minha expressão dizia tudo? Escondi novamente minha face, não o respondendo, não queria responder! Mesmo curioso. — Por que você nunca conta de você para mim? — falei automaticamente frustrado. Deveria ter ficado calado! Ignorado ele! Por que tinha aberto minha boca, nem sabia se realmente queria saber algo daquele pervertido! Baixei meus olhos, segurando apenas minha conchinha, nem tinha por que saber mais de Aiken! Não tínhamos nada, apenas ele vinha me importunar, meu coração tinha cantado apenas por Kastra! — Consigo sentir suas emoções através da água, você está tão conectado a ela que parece que é parte dela. — O ouvi comentar. — E eu controlo a água, por isso sempre o acho. — Sua voz era tranquila e seus olhos estavam fechados. A água denunciava minhas emoções? Apenas por estar tão conectado a ela? Nem sabia que estava tão conectado com a água assim. — O que deseja saber de mim? — Ele perguntou. O encarei, vendo-o abrir suas pálpebras e me fitar com seus olhos intensos. No momento apenas tinha curiosidade sobre seu passado, todavia, queria saber mais de qualquer coisa, até mesmo se ainda tinha algum parente, tinha escutado de meu pai que Aiken tinha uma irmã, ela seria igual a ele? Não soube o que perguntar primeiro, ficando apenas com a boca aberta

como um idiota. Aiken riu, erguendo-se e ficando próximo demais! Senti sua mão sobre a minha, quente, todo o corpo dele era tão quente... — Então vamos começar do início. — Ele sorriu com diversão. — Sou Aiken Alkes, rei dos mares que subiu ao trono após a morte do antigo rei, Erial, tenho uma irmã, e um primo emprestado, odeio roupas e aqueles conselheiros irritantes. Mas amo um certo tritão albino e minha caverna. — Sorria ele. — Ou seria nossa caverna? Corei... Desviei o olhar, mostrando uma expressão irritada. Aquela caverna não era minha, nem nossa, e muito menos queria voltar para lá! O ouvi rir baixo, de soslaio o fitei, vendo aquele rei pervertido erguendo seus olhos até a superfície, a água estava tão calma e silenciosa, nem mesmo os peixes eu conseguia ver, até mesmo as correntezas estavam tranquilas. Seria um ótimo dia pelo visto. — O que menos quero é ser um completo estranho para você. — A voz de Aiken soou chamando minha atenção. — Se tiver alguma pergunta, faça. — O vi sorrir com diversão. Desviei rapidamente meus olhos daquelas órbitas vermelhas, tinha curiosidade em saber sobre seu passado, sobre a relação dele com Oki, queria pedir para ver Oki. Sentia falta dele, de suas conchinhas. Agarrei minha cauda azul, sentindo minha nadadeira tocar em minha face e minhas guelras se mexerem apressadamente, a vontade em fazer a pergunta era grande, todavia, não conseguia ter voz agora. Suspirei fechando rapidamente meus olhos. — Que tipo de relação você e Oki tiveram? — Finalmente tinha colocado para fora. Esperei a resposta sem olhar diretamente para meu rei, porém, sua voz não soou naquele oceano calmo nem ao menos se mexeu. O fitei pelo canto do olho, vendo-o apenas com a cabeça erguida enquanto seus cabelos compridos estavam espalhados, era uma bela vista podia admitir, conseguia ver seus músculos contraídos, seu corpo mais forte que imaginava para um rei, sua cauda atirada sobre aquela areia, comprida e vermelha fazia uma pequena volta, suas guelras se mexiam devagar, e suas joias enfeitavam seus braços e cintura. Corei, repreendendo-me por ficar o observando demais. Não importava quantas vezes o analisava, sempre o achava tão belo em qualquer posição, até mesmo aquele sorriso irritante! Não acreditava no que pensava, no que dizia a mim mesmo, meu coração estava acelerado e minha cabeça tonta, não sabia o que dizer que sentia diante de Aiken.

Para mim apenas existia Kastra, era séria a única, desde que vi seu sorriso e seus cabelos negros flutuando, tinha certeza que ali meu coração tinha cantado, tinha se apaixonado por aquela sereia sempre sorridente, mesmo que seu mundo estivesse desabando, mesmo que não tivesse status ou riqueza, ela era feliz, porém, ao olhar para Aiken, via a mesma semelhança, o que deixava meus pensamentos a mil, meu coração confuso. Aiken sorria a qualquer momento, sempre estava com um belo sorriso no rosto, mesmo que a água estivesse furiosa, estava sempre calmo e sorridente, mesmo com muita riqueza e status ele não se importava, gostava de ficar em uma caverna apertada e escura, nadar pelo oceano, alegre. Como poderia acalmar meu coração e meus pensamentos? Fazê-los verem que Aiken e Kastra eram diferentes, mas também decidir para qual deles meu corpo cantava, minha alma necessitava. Uma sereia que jamais poderia ser minha ou um rei que burlava tudo e a todos apenas para fugir e ficar ao meu lado. O que deveria fazer? Estava confuso demais com tudo isso. Balancei a cabeça calmamente. — O conheci quando me perdi, tinha parado na região neutra e não sabendo que ele era um Octopus, eu pedi ajuda. De início ele queria fugir com medo de mim, e eu dele. — Ele riu. — Mas aos poucos, começamos a conversar, ele me contou sobre aquela região, sobre as muralhas e as conchinhas e porque sempre as pegava. — O vi fechar os olhos. Em sua cabeça estaria passando as imagens do passado? Certamente. — Ele me deu a direção e voltei para casa, graças a ele, pouco tempo depois, nos vimos novamente, e conversamos várias e várias vezes, ele fez um colar de conchas vermelhas para mim. Não via Aiken com esse colar, ele teria perdido? Ou apenas não usava por algum motivo, queria perguntar, no entanto, optei por outra que girava em minha cabeça e fazia meu corpo tremer, não entendia esses sentimentos repentinos que apenas ocorriam quando estava perto de Aiken, quando pensava nele! Toquei em meu braço sentindo minha pele fria, não sabia o que era exatamente amor ou estar apaixonado, e certamente Hardar não saberia me explicar, nem ninguém, apenas aqueles sentimentos parariam quando acharia a fonte que os fariam cessar. — Você e Oki já ficaram... Juntos... Sabe... — Corei, falando aquelas palavras sem sentido para serem entendidas. Não sabia por que estava com tanta vergonha de perguntar algo assim ou

seria medo da resposta? Não sabia, apenas sentia meu rosto rubro após fazer a pergunta que duvidava que Aiken a intenderia, porém, ouvi seu riso baixo fazendo-me ficar inquieto. Estaria rindo de mim? Ou da minha pergunta? Teria a interpretado tão bem e rápido assim? Virei meu rosto em sua direção, mostrando uma expressão furiosa que não saiu tão bem. — Essa resposta apenas darei a você quando me dizer se me ama. — Aiken se aproximou novamente com aquele sorriso típico. Pisquei, antes de virar minha face e cruzar os braços, ele queria jogar é? Isso era injusto! E realmente saberia essa resposta? O vi olhar novamente para superfície antes de começar a se remexer na areia. Tocou em meu rosto e seus dedos me acariciaram com carinho, sorrindo e com a face tão perto apenas pude fitar meus olhos naqueles vermelhos que pareciam me hipnotizar, com aquela aproximação imaginava que seria beijado, e de fato fui, mas um beijo que foi uma surpresa para mim. Senti seus lábios em minha testa antes de vê-lo se afastar de mim, de meu corpo e sorrir. Ele estava partindo? Iria me deixar? Pisquei, fitando em sua direção. — Hoje levarei Erya para um passeio, se quiser se juntar a nós passem por aqui quando o sol estiver em seu auge. — Fez o convite. — Espero que decida ir, gostaria de mostrar um lugar que iria gostar. — O vi sorrir. Pisquei novamente. Algo em minha cabeça dizia, sem cavernas, a outra parte dizia para eu aceitar, e meu coração não sabia interpretá-lo. Cerrei os dentes. Como conseguiria decifrar todos aqueles sentimentos confusos? Queria desistir de tudo, mas meu coração inquieto e minha boca entreaberta tentavam dizer alguma coisa, queria aceitar o convite, porém, meu pai deixaria? Sorrindo, Aiken abanou a cauda antes de se virar e se preparar para partir. Baixei a cabeça, analisando a areia e antes que eu percebesse, minha cauda balançava rapidamente indo em direção a Aiken. Meu corpo parecia estar com medo de ficar sozinho, meu coração estava louco, e minha cabeça não sabia decifrar nada que vinha dela. Apenas sentia meu corpo se mover. Estendi meu braço e agarrei o de Aiken que se virou assustado e surpreso. Até mesmo eu estava surpreso por meus atos repentinos, sentindo apenas minhas mãos segurando Aiken, enquanto meu braço esquerdo entrelaçava seu pescoço e meus lábios iam rumo aos seus. Fui recebido por seus

braços enquanto suas mãos seguravam minha cintura. Agarrei seus cabelos com força ao sentir aquela língua vasculhando minha boca, sua cauda se enrolava na minha, fazendo-me perder o equilíbrio, mas não o xinguei, continuei beijando-o, sentindo-o e vendo apenas isso, não me interessava mais nada. Senti a areia e as mãos de Aiken em minha face, o beijo não tinha pausa nem problema, respirávamos pelas guelras, não atrapalhando nada, seus dedos tão quentes percorreram por meu rosto e sua língua áspera tocava na minha. Ainda com meus dedos afundados naquela cabeleira ruiva, seus beijos se afastaram de meus lábios, indo para meu queixo, assim continuando em meu pescoço, não atrapalhando minhas guelras. Senti minhas costas tocarem o chão, no entanto, não conseguia abrir os olhos e observar aqueles momentos, sentindo minha boca entreaberta e os beijos em meu pescoço, aqueles lábios continuavam indo até meu peito. Senti as mãos de Aiken sobre meu abdômen indo em direção a minha cauda, remexi-me incomodado. A cada segundo seus dedos brincavam sobre meu corpo, como sua língua. Mordi meus lábios abrindo os olhos ao sentir sua boca tomar um dos meus mamilos. Agarrei com força sua cabeleira, fazendo-o reclamar. — Rei abusado. — Retruquei o soltando. O vi rir, aproximando-se novamente de meu rosto, queria mostrar uma expressão irritada e que não baixaria a guarda para ele, todavia, a única coisa que pensava era naqueles malditos lábios, por que tudo era tão confuso!? — Espero por você. — Aiken sorriu, afastando-se de meu corpo. — E quero levá-lo até a plataforma, mesmo sem Hardar autorizar. — Ele piscou. Sempre aprontando! Era o que iria falar para ele antes de sentir as vibrações da água e assim avistar Hardar vindo. Corei, ele tinha nos visto? Onde me esconderia agora? Ele iria ou xingar-me ou importunar-me muito! Suspirei. Vi Aiken sorrir e partir, indo na mesma direção de meu pai, os dois pararam por alguns segundos antes de retomarem seus caminhos. Virei não querendo encarar meu pai, minha face estava quente imaginava que Hardar tinha visto tudo e isso fazia minha vergonha aumentar, queria esconder minha cabeça em algum lugar ao sentir meu pai se aproximando ainda mais, vendo-o decidir sentar sobre uma pedra um pouco distante, sua expressão era calma e seus músculos estavam relaxados. O analisei pelo canto do olho, mesmo sabendo que Hardar notava que era observado, tinha saído sem ele notar o que me fazia

esperar um sermão de como eu estava descuidado e deveria ter o avisado, todavia, ele permaneceu sentado em silêncio com seus cabelos negros balançando, em sua orelha, um brinco que pegava boa parte de seu lóbulo, da cor prata, o que indicava que era um conselheiro, cintilava. O brinco dourado indicava que era o braço direito do rei ou estava em uma posição acima dos conselheiros, já os nobres, usavam um esverdeado. Era um objeto simples, no entanto, com muito significado. Aproximei-me dele, cansado daquele silêncio mórbido que se instalava entre nós, se ele iria xingar-me que fizesse logo. Não sorri, apenas prossegui até ele de cabeça baixa sentando ao seu lado, e esperei, mas ele nada disse, o que me deixou mais frustrado. O que ele planejava? Abri a boca para dizer qualquer coisa, até mandá-lo parar com aquele silêncio quando ouvi sua voz em um tom fraco soar. — Você pode ir nesse passeio se desejar. Pisquei. Não era exatamente isso que esperava, a verdade era que nunca esperaria isso. Hardar estava dando autorização para sair com Aiken? O Sereiano que ele não permitia me relacionar! Algo realmente estava muito estranho, não respondi e não pretendia tocar naquele assunto quando nem eu mesmo sabia se realmente queria ir com Aiken em um passeio pelo oceano, se o conhecia bem, ele fugiria de seus guardas e sairia apenas para aprontar de tudo. Voltei a observar meu pai, sua voz tinha soado fraca e insegura, estaria ele com dúvida se devia ou não dar permissão? O que estava deixando o famoso Hardar Schifino aflito? — Nem eu mesmo sei se quero ir. — Ouvi-me sussurrar. Senti seus dedos sobre meus cabelos. Estava confuso demais como meu coração e temia que aquele passeio piorasse ainda mais. Queria decifrar esses sentimentos confusos, queria entender meu coração. O que realmente deveria fazer? Observei a superfície onde o sol a iluminava tão bem. Não precisávamos daquela luz para enxergarmos bem, tanto na noite quanto no dia, nada diferenciava para nós dentro da água, como outras das quatro raças que a deusa criou especialmente. Éramos fortes e quase imortais, vivíamos apenas um bocado a mais que os humanos, mas existia um limite também para nosso corpo, muitos anciões nem nadar conseguiam mais, e cada vez que pensava nisso ficava com medo de logo perder Hardar... Tinha medo de ficar sozinho, de não saber o que fazer ou para onde ir, precisava dele e temia qualquer coisa. Colocava em minha cabeça que meu pai era tão forte que nem a idade iria controlá-lo, mas a

cada dia, isso começava a mudar, tinha visto a dificuldade naquela batalha, na força de seus poderes... Senti seus dedos correrem por minha face, e apenas deixei meus olhos se fecharem. — Não se preocupe, confio nele para cuidá-lo. — Continuava a falar baixo. A cada palavra dele estava ficando mais confuso de entender. Qual era o significado delas? E a que ele estava se referindo? Não me preocupar com o quê? E cuidar de mim seria? Mas por qual motivo? Hardar estava começando a me deixar com medo. Olhei meu pai e o vi sorrir de leve. — Pai... — Pensava que se deixasse você longe da realeza, longe de todos, poderia adiantar, mas a cada dia está mudando, até decidi colocar você dentro daquela família onde sei que um protege o outro, ia casar você com Erya, mas vejo que ela está longe de ser sua opção. — O vi rir mais. Casar-me com Erya? A irmã de Aiken! — Apenas saiba que tudo está mudando, Triton, e não é apenas pela guerra que se aproxima, Sereianos serão dizimados por suas atitudes se continuarem assim e todos pagarão, Aiken está falhando, se ele desmoronar tudo acaba. Piscava como um doido enquanto tinha meu cenho franzido. O que aconteceria era a verdadeira pergunta a se fazer quando algo estava assustando o famoso Hardar tanto assim, e nem mesmo sabia o significado desses pilares, a cada palavra ele me assustava mais, o que um Sereiano sem força e odiado pela sociedade poderia fazer?! Nada, essa era a resposta. — Você logo vai começar a descobrir a resposta de todas as suas perguntas, até lá, permaneça forte e controle seu tridente, a partir de agora, Aiken vai treiná-lo. Minha parte vem depois. O vi se levantar girando seu corpo ficando de frente para mim, suas palavras estavam me dando medo ainda mais não sabendo a resposta de nenhuma delas, de seus significados, por que escondiam tanta coisa de mim? O que eu precisava fazer? Controlar meu tridente? Mas após invocá-lo ele não pertencia a mim? Abri a boca para fazer perguntas, porém, meu pai apenas sorriu, fazendo

minha cabeça formar outra dúvida. Se ele estava deixando tudo nas mãos de Aiken agora, todo meu treinamento, algo ele planejava, o conhecia bem para saber que ele não largaria um treinamento assim, a menos que fosse preciso. Arregalei os olhos de leve fitando novamente seu brinco enquanto o via olhar para qualquer lado aleatório. — Você está voltando a ser um conselheiro, não é? Ele fechou os olhos, assentindo enquanto sorria. Ele não odiava ser um conselheiro, além do mais, muitos na época que decidiam junto com ele o respeitavam e o temiam. Hardar era para ter sido o rei por muitos fatores, e sabia que ele amava aquela função, o que me deixava afoito sobre a tensão que caía em seus ombros, ele não queria voltar por algum motivo. — Quando voltar do seu passeio, não se aproxime da plataforma, não agora. — Avisou. — Chegarei tarde. — Avisou se afastando. Ele deixou-me ali com minha confusão e meu coração acelerado, não sabia o que fazer nem achava as respostas daquelas perguntas, sentei sobre a única pedra ali ficando com o vazio e o silêncio enquanto o tempo passava. Algo em meu corpo fazia eu sentir medo, e estava com medo o que até mesmo a água em minha volta parecia querer me acolher. Suspirei, abraçando meu próprio corpo. O que deveria fazer agora? Fechei meus olhos, deixando o tempo passar, e minha respiração se acalmar. Não sabia em que posição estava o sol quando vi um pequeno grupo de Sereianos um pouco distante. Conseguia ver Aiken se diferenciando do grupo junto com quem deveria ser sua irmã, os únicos de cauda e cabelo vermelho. Não saí do lugar, não sabia se deveria ir até ele, não sabia o que deveria fazer de agora em diante! Não percebi quando Aiken começou a vir em minha direção, arregalei os olhos ao ver agora tão próximo que me fazia não ter a oportunidade de me esconder. Vi seu sorriso, e assim ele parou, estendendo sua mão. Sua cauda se mexia em movimentação diferente da minha, fechei brevemente meus olhos antes de nadar em sua direção e segurar sua mão. Fui guiado entre as águas até aquele pequeno grupo composto por muitos guardas e uma sereia de longos cabelos vermelhos que sorriu ao ver-me, não sabia como reagir com aquela reação que estava longe de ser a primeira que recebia, mas diferentes dos guardas que olhavam-me com nojo, Aiken e sua irmã sorriam abertamente, não se importando em atrapalhar um momento que deveria ser apenas deles, continuamos o passeio, a água parecia tranquila e os peixes começavam a aparecer com seus cardumes, poucos estavam sozinhos, e

conseguia ver mais da beleza daquele oceano, não sabia por quanto tempo seguimos até ser separado do grupo. Senti meu braço ser pego, e assim, fui afastado daquele grupo de guardas que se desesperavam não sabendo o que fazer ao ouvir a ordem de Aiken para não virem, pisquei, onde aquele pervertido estava me levando! Sendo levado, olhei para trás vendo apenas Erya rindo quase fazendo sua coroa cair, e vários guardas inquietos, tirando o que deveria ser o líder por sua expressão e postura. Suspirando, apenas decidi focar por onde Aiken levava-me, sabia que naquela caverna não era, ele nunca iria para seu esconderijo sob o olhar daqueles guardas, ainda mais, a caverna ficava para o outro lado perto daquelas paredes de pedras alta. Não sabia para onde estava indo, mas admitia que passávamos por locais lindos, o grupo já estava muito distante quando vi o chão mudar nos aproximando no que seria um precipício, não precisava me preocupar com aquilo, todavia, ficava curioso em saber por que estávamos indo naquela direção, descobrindo logo em seguida. Arregalei meus olhos, mirando meus olhos para baixo. — Esse é meu segundo esconderijo. — O ouvi dizer enquanto sorria. Fitei aquela paisagem naquele precipício não muito fundo, diferente do que já tinha visto, esse era cheio de vida que a água pudesse dar, corais cheios de peixes e cavernas pequenas era a visão que tinha conseguido até ver um pequeno tubarão por perto, não eram os tubarões de caça dos Sharkans, apenas um animal comum que deveria estar procurando comida. Sorria como um bobo gravando cada momento daquele local. Aiken ria certamente de minha expressão, mas não me importava. Notei o pequeno tubarão branco partir, desistindo do que procurava, e mais peixes logo começaram a aparecer como uma grande baleia que passava tão perto de mim, estava de boca aberta com toda aquela visão tão deslumbrante. — Queria compartilhar esse lugar com você. — Senti ele tocar em minha cabeça como meu pai sempre fazia. O olhei furioso, não gostando de sentir seus dedos bagunçando minhas madeixas, Aiken não se importou com meu olhar, continuando a sorrir. Seus dedos escorregaram tocando meu braço onde permaneceram puxando-me mais para perto daquele rei pervertido, abraçando-me, arregalei os olhos em surpresa pelos atos, não era algo que eu imaginava, não naquele momento... — Sempre estarei aqui para você. — Sua voz soou. — Você disse que queria saber mais de mim, saiba então que esse lugar, eu nunca mostrei para ninguém.

Deixei meu corpo relaxar, não queria lutar contra aqueles braços e parecia que meu coração ou mente nem desejavam isso. — Não importa o que aconteça, estarei sempre ao seu lado, tio Hardar não precisa se preocupar. Arregalei os olhos, até mesmo Aiken já sabia que algo estava acontecendo? Não sabia o que estava acontecendo ou talvez ia acontecer, apenas aparentava que lutava com um inimigo invisível e eu estava perdendo. Estava confuso e isso me dava medo... — Quero fazer uma pergunta. — Pisquei, vendo Aiken afastar seu corpo o suficiente para sua face ficar próxima a minha. — Quer ser meu? Casar-se comigo?

6° ESCAMA DE TRITON O que? Queria berrar. Que pergunta era aquela?! Casar-me com ele? Jamais casaria com aquele pervertido! Jamais! Via seu sorriso enquanto seus dedos acariciavam minha face tão próxima da dele, em minha mente, mil coisas passavam, todavia, apenas uma, meu corpo queria. Senti seus lábios sobre os meus, e pouco a pouco me via com os braços em volta de seu pescoço correspondo àqueles beijos de Aiken, não sabia porque estava me entregando assim, não deveria fazer isso, no entanto, o desejo do meu corpo era mais forte, fazendo-me permanecer ali com aqueles atos. Casar-se com Aiken... Saberia responder? Nossos lábios se separaram, e Aiken sorriu permanecendo ainda com uma de suas mãos em minha cintura e a outra em minha face. — Case-se comigo, Triton. Seja o novo rei ao meu lado. Abri minha boca, fitando seus olhos vermelhos, minha resposta? Minha resposta era... Não sabia qual era. Meu coração pulsava rapidamente quase saindo de meu peito, meu corpo hesitava sobre o toque de Aiken, seus dedos percorriam minha face com delicadeza, seus olhos esperançosos aguardavam a resposta com certa ansiedade, no entanto, apenas conseguia deixar meus lábios entre abertos, minha voz não queria sair como minha cauda vacilava para manter-me em equilíbrio. Aquela pergunta pegou-me de surpresa, e todo meu corpo, meus sentimentos. Não tinha ainda uma resposta definida se realmente amava Aiken e desejava olhar para o mundo como ele, enfrentar tudo que ia contra seu coração, seus pensamentos para ter aquilo que o deixa feliz, que o faz feliz! Não sabia se teria até mesmo essa coragem. Algo dentro de mim queria aceitar aquele pedido, mas, outra se negava mandando ter cautela e vendo por esse ponto não seria ideal entregar-me agora a Aiken, não quando todos os nobres estavam querendo aquela imensa guerra, querendo poder, e o restante do meu povo vendo-me como uma aberração e mal presságio, se eu me cassasse com Aiken e perdêssemos a guerra até mesmo Aiken e outras pessoas em nossa volta sofreriam, os nobres controlariam o povo sem conhecimento e tudo estaria acabado. Não desejo ver Aiken sofrendo, devia isso a ele por tudo que fez, e até pelo meu coração insistente por desejá-lo.

Não gostaria de vê-lo sofrer nas mãos de ninguém, não iria permitir vê-lo machucado, todavia, essa não era a hora certa para aceitar aquele pedido. Sorri de leve, esperava que ele não se sentisse magoado se negasse o pedido, torcia para que ele não sentisse raiva de mim. Respirei fundo mexendo minhas guelras, se realmente Aiken tinha todo esse amor que ousava dizer, ele não ficaria irritado comigo, não desistiria de mim, e no fundo de meu coração sentia que ele almejava isso. — Eu... — Comecei sem conseguir terminar. Aqueles olhos tiravam minhas forças, não queria magoá-lo, mas vê-lo sofrer no futuro por minha culpa mesmo que não tivesse feito nada, iria me doer muito mais. — Acho que não é uma boa hora... para isso... — Baixei a cabeça. — Desculpe-me. Sentia meu coração apertar ainda mais com o silêncio que prosseguiu, estaria ele bravo comigo? Decepcionado? Por que aquele maldito coração não parava de gritar dentro de mim, talvez fosse loucura minha, porém, meu corpo tremia como sentisse medo. Sentindo a água parecer mais gélida, e tudo em minha volta se calar, abri minha boca várias vezes, mesmo com medo do futuro não queria que Aiken sofresse. O que poderia fazer? O que deveria fazer! Fechei brevemente meus olhos, nunca conseguia tomar minhas próprias decisões tudo dentro de mim parecia um caos, um tritão conseguia fazer tudo isso dentro de mim, alguém que neguei decidido que meu coração apenas tinha cantado para Kastra e jamais cantaria de novo, Sereianos são sempre de monogamia, então nossos corações cantam apenas uma vez e meu corpo, minha mente se recusou a perdê-la impondo aquilo em meu coração, em meus sentimentos, mas foi graças à Aiken que consegui enxergar novamente, mesmo não tendo gostado de ser puxado sem cuidado para dentro daquela caverna e me assustado, foi a ousadia dele, seu sorriso, e seus gestos que fizeram-me esquecer de tudo e abrir meus olhos, mesmo que fosse para brigar com um tritão doido que puxava outro daquele jeito, não me arrependia de ter sentado sobre a caverna, não me arrependia por não ter impedido aquele beijo. Cerrei os punhos. — Aik...— Não terminei de dizer seu nome, o meu foi chamado tão alto que estranhei. Piscando, virei-me para trás vendo guardas apontando lanças em direção a Oki que parecia ter vindo da superfície, e de fato veio, não estávamos muito longe da plataforma, todavia, por qual motivo os guardas tentavam jogar suas

lanças nele? Arregalei os olhos ao ver uma daquelas lâminas passar pelo braço de Oki que pareceu grunhir, espantado tentei correr na direção dele, mesmo não sabendo como parar aqueles Sereianos nem mesmo minha arma conseguia invocar, isso não me impediu. Não sabia o que Oki estaria fazendo ali em vez de estar descansando, no entanto, os movimentos da água fizeram-me parar, fitei em direção a Oki que parava olhando para trás onde Aiken jazia com seu tridente em punho, vi as órbitas do Octopus se arregalarem e logo ficarem indiferentes, estaria ele esperando por essa reação de Aiken? Com o olhar cheio de fúria os guardas que vieram atrás de Oki pararam distante um tanto hesitantes algo que me chamou atenção foram àquelas atitudes, por que estavam prontos para lutar contra seu próprio rei? Um Octopus valia o tamanho dessa traição? O segurar forte nas lanças simples mostrava que não queriam hesitar, porém, decidiram apenas se virarem a partir, um grupo de quatro Sereianos homens voltavam depois de ter perseguido, sem motivo, Okita. Fitei Aiken agora mais de perto vendo seus músculos tensos como suas mãos que seguravam tão firme seu tridente, quis me aproximar e segurar sua mão, mas, os tentáculos que se enrolaram em mim fizeram olhar para o Octopus que tentava se equilibrar em mim e apontava para Aiken que apenas o fitou por cima dos ombros. Ainda não conhecia a história daqueles dois fazendo-me não entender suas brigas estranhas que Aiken não se importava. Oki com seu dedo apontado em direção às costas do rei dos mares vi seu olhar nada brincalhão que era a marca daquele tritão, talvez foi isso que fez Oki recuar e desistir de xingá-lo, mesmo assim ainda aquele olhar não saia de minha mente nem quando Aiken se virou para sua irmã e sorriu. Aquelas íris azuis claras miraram em mim confusas não sabendo como respondê-las. — Você está bem? — Ouvi a voz de Aiken, ele falava com sua irmã que era escoltado por apenas dois Sereianos. Vi Erya assentir e sorrir, seu sorriso era lindo lembrando um pouco do sorriso travesso de Aiken, observando-a mais, podia se ver uma cópia de Aiken em forma feminina, desde seus cabelos vermelhos e compridos que flutuavam na água, como seus olhos da mesma tonalidade que fitavam com doçura o irmão. Seu corpo era rodeado de joias mais do que Aiken fazendo-me tocar na minha única joia, aquilo significava status algo que duvidava que teria tão cedo, meu pai mesmo tendo já sido o braço direito do antigo rei, e agora apenas tutor de Aiken, usava poucas joias, porém, as mais desejadas pelo meu povo. — Vamos voltar. — Anunciou Aiken ainda não sorrindo como sempre, o que fazia meu coração apertar ainda mais.

Ele estava magoado, e certamente iria me odiar agora. — Você trate de dizer-me o que aconteceu, e tratar desse ferimento. — Sua voz era dirigida para Oki que apenas resmungou. — Seus guardas são problemáticos! Isso que aconteceu! Eu apenas estava quieto onde mandou! — Ouvi se exaltar. Aiken franziu o semblante nunca dirigindo seus olhos em minha direção, era como se eu não existisse mais ali, era assim que se esquecia alguém? Tinha se cansado de mim? Depois de tudo... — Eles não são meus guardas, são do líder do conselho. — Ouvi sua voz novamente e Oki resmungar ao meu lado. Fitei-o de soslaio, ainda agarrado a mim ele analisava Aiken com uma expressão um tanto curiosa, voltando-se novamente para Erya via suas madeixas longas onde flutuavam um pouco, queria me aproximar dele, tocar em qualquer parte de seu corpo para chamar aqueles olhos para mim, tinha errado ter negado? Eu realmente o feri? Sentindo a água em volta de mim ela parecia estar um tanto agitada e suas ondas no alto diziam isso, ouvia apenas a voz de Aiken sendo dirigida para sua irmã e um Octopus silencioso e observador ao meu lado, virando meu rosto desejei voltar para casa, queria minha doce cama e meus sonhos, mesmo agitados, desde aquele dia que Aiken ficou ao meu lado não tive mais aqueles sonhos estranhos, nunca mais entrei em uma bolha de escuridão que não me deixava nem sentir minha própria cauda, meu corpo se lembrava do calor daquele corpo próximo, daquelas mãos que acariciaram meus cabelos por horas, poderia não estar desperto, mas meu corpo reconhecia mesmo que minha mente estivesse em dúvida. No fundo, as duas sabiam... Eu não sabia o que fazer, e a cada momento que via sua silhueta conversando tranquilamente para alguém que não fosse eu, meu coração começava a recordar, a cada momento que aqueles olhos não se viravam em minha direção, meu coração começava a doer mais e mais, como no dia que descobri que Kastra jamais seria minha, ela não poderia ser minha nunca mais. Nunca imaginei que meu coração bateria tão rápido novamente, e era aquele maldito tritão que fazia isso em meu peito. No fim, Aiken e Erya se viraram partindo com seus guardas que levavam um Oki um tanto furioso, por sua dificuldade de se equilibrar na água, a superfície ou nível que estávamos era desagradável para um Octopus o que fez ele se agarrar em mim, porém, além dos sermões de Aiken sobre os cuidados que Oki precisava ter aqueles guardas não o levavam direito. Bufando, decidiu apenas aceitar e suspirar em tédio. Sorri me divertindo com a cena notando que

onde ele tinha perdido o tentáculo, outro já crescia no lugar, alegrei-me mais, Oki teria novamente todos seus tentáculos o que dizia que suas pernas em forma humana não tinham mais tantos machucados. Pensando bem, como seria a forma humana de um Octopus? Ignorando esse pensamento acordando ao sentir aquelas mãos em meus cabelos, bagunçando-os vi Aiken passar por mim e pude notar um pequeno sorriso um tanto triste em seus lábios, após meu transe passar, estiquei minha mão em sua direção, no entanto, ele já estava longe demais alcançando o grupo. Baixei a cabeça decidindo apenas voltar para casa, por sorte meu pai estaria lá e poderia pedir por seus braços, não sabia o que tinha feito, não sabia se realmente queria fazer aquilo, todavia, apenas pensava na segurança de Aiken e no provo se virar contra ele se ficasse com uma aberração como eu. Um tritão albino que jamais existiu, a cor de minha pele que me condenava. Perguntavame por que nasci assim, e como era minha mãe? Eu a imaginava tão linda como meu pai, de pele escura como dele, não daquela cor tão branca, Aiken não tinha a pele idêntica à de Hardar, porém, era de tonalidades mais escura que a minha, o que chamavam de moreno, a tonalidade de seus cabelos era rara no meio de Sereianos, porém, não impossível como a cor de minha pele. Ganhei pernas ao ver um dos lados daquele túnel que adentrava, se fechar e a água ser jogada para fora, todas as casas tinham isso, todas se o Sereiano desejasse. O bom, era que assim não precisávamos dormir em pedras, conchas ou em esponjas do mar, e sim em uma cama, não idêntica à de humanos, porém, similar. Sorri, sentindo meus olhos marejarem ao ver meu pai surgindo na pequena sala, nossa casa não era grande mesmo considerando o tamanho do status de Hardar, se quisesse poderia morar na plataforma como um dia morou, ou ter uma enorme casa como alguns nobres, porém, ao contrário daqueles ricos, meu pai gostava daquela pequena casinha aconchegante para nós dois, a casa que ele e minha mãe compraram e moraram. Ele confuso parou na mesma hora que viu meu corpo correr rumo ao seu automaticamente, apenas queria seus braços, seu calor, e conforto. Admitia que odiava algumas decisões dele, como a de me casar logo com uma sereia, e mesmo com suas provocações que muitas vezes me faziam resmungar, o amava demais e não poderia escolher um pai melhor que Hardar. Senti suas mãos grandes e fortes em meus cabelos, ele permaneceu em silêncio enquanto minhas lágrimas rolavam molhando seu peito desprotegido, diferente de meu pai e Aiken que nunca usavam tecidos da cintura para cima, odiava mostrar muito meu corpo, todavia, admitia que meu pai ficava lindo daquele jeito e ria para provocá-lo quando muitas sereias tentavam se aproximar

dele. Depois de minha mãe ele nunca amou mais ninguém, nunca mais tentou um relacionamento, apenas focou-se em seu trabalho e em mim. O abracei com força lembrando-me no dia que foi agredido e ele apareceu, mesmo sendo apenas um filhote meu povo não me poupou, jogaram pedras em mim chamando-me de aberração, chorando apenas senti a água em volta de mim ficar mais densa e forte e assim uma chicotada afastar e atirar aqueles Sereianos para longe de mim, foi a primeira vez que vi um pouco do poder de Hardar como seus olhos em fúria, depois daquele dia ele nunca mais deixou-me andar sozinho apenas quando conheci Side. — Apenas não me suje, ou farei você chorar mais! — Sabia que ele não estava me ameaçando de verdade, apenas tentando fazer-me sorrir. Era sempre assim, um provocava o outro. — O que aconteceu? — Ele bagunçou meus cabelos fazendo-me lembrar da cena anterior de Aiken, ele realmente estava magoado comigo? Bravo? Voltando a chorar mais como uma criança que nem eu mesmo acreditava que estava fazendo aquilo, meu pai suspirou balançando a cabeça, me odiaria depois daquela choradeira isso tinha certeza. Fazer birra daquele jeito não era meu estilo, e não sabia por que estava fazendo aquilo, sempre neguei Aiken por que estava agindo daquela maldita forma! Não era isso que queria? Que ele se afasta de mim! Não, meu coração não queria isso e doía ao pensar. — Aquele idiota fez algo a você? — Ouvi sua voz de pai protetor soar. Apenas sorri, negando com a cabeça em negativa. Eu tinha feito algo! Com ele! — Triton? — Chamou afastando meu corpo do dele. — O que está acontecendo? Se ficar apenas chorando não vou poder ajudar, e sabe que não gosto de meleca no meu peito! Ri alto limpando as lágrimas que caiam novamente. — O problema é que nem sei o que pode me ajudar — dizia com a voz chorosa e rouca. — Eu neguei seu pedido, por medo, e agora acho que ele está bravo, não quer mais ver-me nunca mais. — Baixei a cabeça. Agarrei minha trança brincando com ela, duvidava que meu pai fosse entender o que tinha falado, porém, estava confuso demais, meu coração, minha cabeça estava confusa demais. Vi meu pai suspirar alto antes dele agarrar meus ombros e chacoalhar-me até fitar em seus olhos da mesma tonalidade que a minha.

Pisquei confuso com aqueles balanços até ver um pequeno sorriso no canto de seus lábios. — Não entendi nada, porém, vocês dois me perturbaram demais com esse amor de vocês! — Sua voz parecia ficar ainda mais alta e furiosa. — Para agora darem crise de dúvida e um ir para cada lado! A verdade era que não estávamos bem em crise de dúvida, eu estava! Não sabia reconhecer esses sentimentos, essas batidas em meu coração, apenas queria Aiken por perto, queria ver seu sorriso, mas minha mente ainda vagava por Kastra muitas vezes, admitindo no fundo, sabia que Kastra não era o problema e sim meus sentimentos que não sabia decifrar direito. Amava Aiken, como amava Side, meu pai e Kastra, eles eram tudo para mim, todavia, para cada um que olhava um sentimento diferente invadia meu coração e não sabia reconhecê-los. Corei pensando em dizer o que tinha acontecido detalhadamente, se realmente conseguia, a vergonha para contar a Hardar aumentava ao analisar aqueles olhos furiosos e azuis, sabia que podia confiar em meu pai para qualquer coisa, no entanto, minha voz travava. — Aiken... — Comecei desviando o olhar. — Me... pediu em... casamento — falei com pausas e vergonha em minha voz. O silêncio de meu pai apenas fez tudo piorar, ele não permitiria isso? O que ele estava pensando? Respirei fundo mirando naquelas órbitas indiferentes, não sabia adivinhar suas expressões, todavia, podia ver que ele digeria aquelas informações, por fim, o vi cerrar os olhos e fitar-me. Ele sorriu de leve bagunçando meus cabelos. — Isso é bom, minha rainha. — Provocou ele. Corei, rugindo furioso com ele! Ele deveria estar me ajudando não me provocando! E não seria rainha! Sou um macho! Não uma fêmea para me tornar rainha. Cruzei meus braços bufando alto o que o fez cair na gargalhada, revirei os olhos afastando meu corpo do dele. Pelo canto dos olhos notei ele colocar seus braceletes nos dois braços como seu famoso colar que "nunca tirava", uma joia um tanto grande com uma pedra azul, única, no meio do objeto de prata. O objeto que parecia um tanto pesado balançou em seu peito tão forte quanto o de Aiken e assim o vi virar para mim com um sorriso travesso naqueles lábios. — Você ama Aiken? — Sua pergunta me pegou de surpresa, e minha boca abriu rapidamente querendo responder, mas minha voz não saiu. Meu pai permaneceu no meio da sala me observando enquanto minha

boca se movia, o amava realmente? Meu coração se acelerou querendo gritar em resposta e meu corpo estremeceu com aquele nome, apenas o nome daquele tritão fazia meu corpo reagir. — Se a resposta for sim, vá atrás dele naquela maldita terra voadora, se a resposta for não, esqueça-o e mandarei ele ficar longe de você, e se a resposta não tiver sido definida. — Hardar se aproximou de mim colocando aqueles dedos quentes abaixo de meu queixo fazendo minha cabeça se erguer. — Então isso diz que a resposta não tem mais porcentagem, então esqueça-o. Ele se afastou de mim e minha cabeça pendei novamente para baixo, qual era minha resposta? — Irei para a plataforma, você pode dizer que foi ver-me ou ver Aiken, eles permitiram que passe. — Meu pai terminou de colocar suas joias, tirando aqueles tecidos brancos em volta de sua cintura e partindo rumo ao túnel sem água. — Decida a tempo Triton, antes que seja tarde, não decida dizer sim quando perde aquele que ama, viva agora, não depois, ou se arrependera para tudo sua vida. Ele fechava o túnel quando piscou para mim e voltou a dizer suas últimas palavras. — Conselho de um bom e velho pai. — Riu ele de leve e fechou aquele túnel transparente, via a água surgir e logo sua forma verdadeira de Sereiano surgir, com uma bela cauda negra como a escuridão do mar profundo, vi meu pai partir. Baixei minha cabeça suspirando, deveria ir? Fazendo bico desejei conversar com alguém, Side estaria em casa? Ou deveria logo partir com meu pai para aquela plataforma, mas o que faria quando chegasse lá? E se eu travasse e minha voz não saísse? Estava com medo... Por uns longos minutos fiquei ali sentado no chão com a cabeça baixa, até decidir erguer-me e sair, precisava partir, precisava vencer meu medo de descobrir se realmente amava Aiken e que rumo tomar. Sai de casa nadando entre os corais e alguns peixes de porte pequeno, olhei para cima conseguindo ver a enorme plataforma, um frio em minha barriga surgia tirando toda aquela minha determinação, resmunguei, não podia desistir não agora. — Triton! — Pisquei ouvindo uma voz conhecida. Virei-me sorrindo ao sentir aqueles braços fortes em volta de meu pescoço vendo aquela animação que apenas Side tinha, como aquele sorriso travesso. Meu melhor amigo surgia na melhor hora, podemos dizer. Sorri, ao vêlo se afastar, ele não estava com Kastra o que me aliviou se a visse talvez não

conseguisse ir até a plataforma. Sorridente, Side me analisou de cima a baixo antes de fazer uma expressão confusa, certamente adivinhando onde eu iria. — Sairia sem seu amigo aqui! — Ele fez bico, mas sabia que estava apenas brincando. Vendo meu sorriso, Side tocou em sua trança castanha, nossa marca da amizade. — Sabe, queria perguntar uma coisa a você. — Sua voz saiu diferente, um tanto confusa o que me fez ficar curioso. — Você e o rei, que relacionamento vocês têm? Aquela pergunta fez-me congelar. Que relacionamento eu e Aiken temos? Nem eu mesmo sabia dizer ao certo, e pelo meu silêncio Side começou a ficar inquieto certamente não sabendo de deveria ter tocado naquele assunto, mexi minhas guelras, meu coração acelerava, queria ir para a plataforma, queria achar Aiken. Continuei com meu silêncio por longo tempo não notando. — Sei que não deveria estar me metendo, porém, é uma curiosidade que tive quando soube que você naquele dia encontrou o rei, e ele está o treinando agora. — Side referia-se ao dia que falou do namoro para mim, com a palavra naquele sabendo que iria saber do que se tratava. Desviei o olhar, a verdade que Aiken me ajudou muitas vezes principalmente quando estava prestes a desistir daqueles testes de meu pai, ele ajudou-me a controlar a água em volta de mim, graças a ele consegui invocar pela primeira vez minha arma, poucos Sereianos conseguiam isso, por isso as armas dos guardas eram do mesmo padrão, por serem feita de outros materiais não do nosso interior, não da nossa alma. Mesmo não sendo um guerreiro poderoso eu consegui fazê-la surgir em minhas mãos, e se não fosse por aqueles acontecimentos poderia dizer que foi um dos meus melhores dias. Todos meus avanços eram graças aquele rei pervertido, toda vez que olhava para lado ele estava lá, toda vez que tremia de medo e desistia de lutar, Aiken aparecia com seu enorme tridente enfrentando qualquer coisa. Não importava seu status, meu status, apenas seus objetivos. Sorri fraco, talvez isso o tornasse especial, seus atos sem pensar nas consequências que poderia ter sobre si por ajudar outros. — Desculpe-me, não deveria me meter nisso. — Ouvi a voz de Side novamente percebendo que tinha ficado um bom tempo em silêncio. Suas palavras me tiraram de meu transe e isso era bom, precisava agir não pensar.

— Sim, Aiken que até agora me ajudou e me treinou — disse não me importando em chama-lo pelo nome e não por sua majestade em frente de Side. Ele era mais do que meu rei, ele era o Aiken o tritão abusado, pervertido e cabeça de vento que apenas sorria. Ele era... — Obrigado. — Agradeci Side mesmo não sabendo que ele não entenderia o motivo das palavras, mas eu entendia, e precisava agradecê-lo. Se ele não tivesse anunciado seu namoro com Kastra, haveria possibilidade de ela dizer sim para mim e assim nunca teria nadado em direção aquela caverna, apenas que o destino fizesse nós encontrarmos em modos diferentes, e segundo, pelo simples fato de Side fazer-me pensar, sempre gostei de desabafar com ele, de permanecer ao seu lado, me sentia seguro para qualquer coisa e ele parecia me entender tão bem. Abracei Side sentindo-o ficar surpreso. — Como sabemos que nosso coração canta? — Perguntei para ele ainda o abraçando. Nossas caudas algumas vezes se batiam podendo ver o reluzir de suas escamas verdes em duas tonalidades daquela cor, meus olhos estavam fixos em seu ombro e naquela pele quase tão escura quanto a de Kastra e meu pai. Ele demorou para responder, porém, no fim ele suspirou abraçando-me. — Sabemos quando ele canta quando sentimos uma paixão um tanto duvidosa, quando admitíamos que gostávamos da presença do pretendente, quando nosso coração se acelera como louco em nosso peito. — Ele começava a falar, todavia, sentia um pouco de dor em sua voz... — Quando apenas aquele nome fica em nossa mente, quando você se lembra do toque dele, é quando você sabe que seu coração cantou. Quando você se lembra até do toque...? Tudo isso era os efeitos de um coração cantar? Afastei-me de Side, precisava decidir-me. Fitei em direção a plataforma, eu conseguiria fazer algo além de ficar travado quando chegasse lá? Meu corpo tremeu apenas de imaginar o que deveria fazer ao pisar naquela plataforma. — Triton... — Side chamou-me. Hesitei antes de virar-me novamente para meu amigo vendo seu semblante um tanto curioso, pisquei ficando corado, estava deixando tanto visível meus atos e pensamentos? — Você está apaixonado... pelo rei? — Com suas palavras demoradas ele perguntou e não soube responder apenas me encolher envergonhado.

Ainda com aqueles olhos sobre mim, não sabia o que fazer, o que responder... — Eu... eu queria falar... — Sua voz soava novamente enquanto me via encolhido, se tivesse uma grande concha por perto teria me escondido nela. Side tinha parado com suas palavras e baixado o olhar, pisquei confuso nunca tinha o visto daquele jeito. — Queria dizer que se você acha que seu coração cantou não deveria esconder isso, ou poderá se arrepender mais tarde. Suas palavras faziam-me lembrar de minha paixão por Kastra que sempre mantive em segredo dentro de mim. Respirei fundo baixando a cabeça, realmente estava certo que sentia algo por Aiken? Mexendo minhas guelras, ergui a cabeça sorrindo para Side. — Triton eu... — Desculpe Side, mas preciso ir. — O cortei me sentindo culpado por ver sua expressão tristonha. — Nos vemos amanhã, prometo. — Sorri em sua direção. Ele assentiu sorrindo fraco, então virei-me para partir. — Obrigado Side, graças a você sei agora o que é o significado do coração cantar — Aumentava minha voz um pouco mais distante. Voltei a me virar, e por um momento jurei escutar Side falar, e se não estivesse com tanta presa e meu corpo com tremelico, ficaria um tanto confuso. Suas palavras "E eu graças a você". Talvez amanhã se tocássemos no assunto perguntaria isso a ele, mas, por fim, nadei rapidamente rumo a plataforma com um sorriso bobo em meu rosto, não importaria se Aiken estava bravo ou não, faria ele me escutar, faria meu corpo escutar! Nadei rumo à superfície seguindo uma linha reta para cima um tanto curioso com a arquitetura da plataforma, não sei quando ela surgiu, porém, ela tocava o chão debaixo da água e adentrava ele, no topo ele era enorme na qual abrigava pelo menos 4 famílias e aquelas imensas salas, diziam que haviam até uma sala onde produziam os melhores tecidos para vestimenta e cama, pediria para Aiken me mostrar toda a plataforma! Sempre a quis conhecer, seria gelado ali dentro? Como seriam as roubas que eles deveriam vestir? E as famosas almofadas como aos dos humanos, ouvi de meu pai que Aiken tinha muitas delas! Uma vez ele trouxe uma para mim, demorou dias para tirar toda a água daquele objeto, mas nunca mais o soltei de tão macio que era, agora era mais fácil de locomover roupas entre outras coisas embaixo da água, copiamos muita coisa de humanos, e inventamos um suporte onde a água não penetra podendo

levá-la para fundo do oceano, chamavam de maleta, no entanto, nunca tinha visto ela. Parei ao ver-me perto da plataforma e menos guardas agora, alguns pulavam na água fazendo o número dobrar, antes quatro, agora seis guardas se aproximavam de mim, permaneci imóvel esperando a hora que poderia falar e pedir para ser guiado, falaria que precisava falar com meu pai assim seria um tanto mais rápido, nenhum guerreiro Sereiano não conhecia o famoso Hardar e o admirava, e um dia queria ser como ele. — Sou Triton Schifino, filho de Hardar — falei alto ao ver dois guardas se aproximando um tanto mal-humorados. — Vim ver meu pai, preciso falar com ele, tenho autorização por parte dele. — Continuei vendo ainda outros se aproximar. Esses guardas todos não mostravam sorrisos naquelas faces? Que mau humor! Arregalei os olhos ao vê-los apontar aquelas lanças em minha direção cercando-me, não sabia o que estava acontecendo, todavia, meu coração se acelerou, não seria apenas dizer de quem eu era filho para passar? E por que aquelas lâminas estavam tão perto de meu corpo? Pensei em reagir, porém, poderia pior ainda mais, não desejava brigar apenas ver Aiken. — Eu apenas... — Cale-se aberração! — Cortaram-me fazendo realmente me calar com aquela palavra. Aberração. A palavra que todos usavam contra mim. Baixei o olhar, a odiava, odiava tanto aquela palavra. Não pedi para nascer com uma cor de pele diferente, apenas queria ser um Sereiano como todos! Ser aceito, não humilhado. Fitei em direção ao que dirigiu aquelas palavras vendo um tritão de pele tão escura como a de meu pai, seus cabelos eram negros e um tanto compridos onde flutuavam com graciosidade, seu corpo forte era tão belo e cheio de joias o que indicava que não era um simples soldado ao ver que ninguém além dele tinha joias, e até mesmo um sem status como eu tinha um brinco em uma de minhas orelhas, e uma presilha que segurava minha transa da cor dourada. Meu coração inquieto temeu aquele ser que me olhava com certa maldade, tudo aquilo era por ser uma aberração? Ele se aproximou ainda mais fazendo os guardas se afastar e duas lâminas se afastarem de meu corpo, ele sorria com crueldade, e seus olhos apenas mostravam uma sede por maldade. Com os braços cruzados escondendo

seus grandes braceletes dourados como meu pai tinha, sua cauda era uma variedade de uma verde menta na cauda e até a parte que seria o joelho na forma humano onde aquelas escamas tão brilhosas se misturavam com um turquesa brilhoso. Sua calda em forma nadadora era tão bela quando a minha de alguns tons de azuis. — Você então é o famoso Triton. — Sua voz era grossa e me fazia ter calafrios. — Não costumo me apresentar, mas já que estou prestes a me vingar de você nada mais justo. — O vi rir um tanto alto o que fez os outros guardas também rirem. Neles também havia muita maldade em seus olhos como o símbolo em suas armas que já tinha visto. Era o mesmo símbolo que daqueles Sereianos que tentaram matar Oki a algumas horas atrás, eram os soldados dos conselheiros... — Sou Mukay Reskenov, um dos maiores guerreiros dos Sereianos perdendo apenas para Hardar Schifino. — Sorriu ele ao ver meus olhos se arregalarem. — E antigo amante do rei que foi trocado por uma aberração. Antigo amante do rei? Aquele tritão foi amante de Aiken?! Vi sua lança surgir e ser apontada para mim com certo ódio, vendo aquela lâmina prata com detalhes em dourado fazendo um desenho aberto chegando até seu cabo da mesma cor onde sua ponta era negra, sua arma lembra muito uma espada por seu comprimento e nem um pouco semelhante a um tridente. — Leve ele para superfície será mais fácil cortar sua cauda. — Sorriu ele. Arregalei os olhos ao sentir meu corpo ser cortado em todos os lados, vi o sorriso de cada guarda fazendo meu corpo se apavorar mais ao ser segurado, meu sangue tentava se misturar com a água enquanto minha cauda parava de se mexer com meu pavor, aquilo não se comparava ao pavor que tive com Arkab, aqueles olhos, aquele sorriso era mais cruel onde procurava sangue fresco diferente daquele Octopus que parecia apenas buscar e proteger alguém. Fui levado até a superfície, dois guardas saírem primeiro não sabendo o porquê, e logo aquele tritão, Mukay. Deixei minha lágrima solitária se misturar a água pedindo por socorro, deveria gritar por Aiken? Sim, meu corpo, meu coração gritava já por ele, queria Aiken comigo, queria correr em proteção em seus braços. Cerrei os dentes, não me importava em aparentar um fraco assim desde que pudesse estar nos braços daquele pervertido. Puxei o ar para meus pulmões antes de ver-me sendo jogado para fora da

água, nunca tinha saído da água, não sabia se para ganhar pernas era dolorido, ou respirar o ar do Deus terra, cai de qualquer jeito sobre aquele piso gélido enquanto os dois guardas que saltaram comigo pousavam normalmente, e sem caudas. Não sabia como era possível, todavia, podia ver todos ali com pernas escamosas e sorriso frios, mas minha cauda não sumia, não ganhava pernas como todos ali. — Essa aberração nunca saiu da água? — Mesmo sua frase aparentando ser uma pergunta sabia que não era. Ele ria alto apontando sua arma em minha direção. Continuando no chão, balançava minha cauda como um peixinho fora da água, meu peito doía, meus pulmões ardiam, respirava pela boca não conseguindo puxar o ar pelas minhas guelras, arranhei o chão sentindo ainda dor pelos cortes. Ergui novamente minha cabeça vendo agora Mukay parado em minha frente com aquele sorriso. Se chamasse Aiken ele viria? Meu corpo tremeu ao ver novamente aquela lâmina que apenas não se baixou por alguém se aproximar, alguém que pressenti que não seria aliado. Ainda com a respiração pesada consegui sentir algo começar a mudar em minha cauda, a analisei por cima de meus ombros vendo as ela se desmanchar lentamente da cintura para baixo. — Por que está enrolando, Mukay. Fitei aqueles dois Sereianos, sentindo um calafrio. — Mate-o logo. — O tritão que aparecera disse. Por suas joias o chutaria como um alto nobre ou um conselheiro, não, por suas roupas tão fechadas e negras diria que realmente era um conselheiro. Ele sorriu friamente em minha direção e assim se afastou com dois guardas, vi Mukay resmungar algo antes de dar de ombros e girar com habilidade extrema aquela arma que diante de meus olhos parecia ser tão pesada. Voltando sua atenção para mim, ordenou que me levantassem agora já com minhas pernas. O ar fora da água era extremamente diferente, mesmo que em casa eu ganhasse pés, ali foi mais dolorido e demorado, não sabia muito o porquê, apenas sabia algo reverente ao ar dos dois habitats. Com oxigênio da água era um jeito, do oxigênio da terra outro. Parando em minha frente, Mukay me olhou de cima baixo fazendo-me sentir nojo daquelas órbitas me analisando e desejei estar coberto, e muito. Sorrindo com malícia ele lambeu a ponta de sua arma como se divertisse com aqueles atos insanos.

— Será que você sente dor? — Ele fez essa pergunta fazendo-me não entender nada até sua arma girar novamente e cortar-me. Grunhi sentindo minhas sendo cortadas por aquela lâmina, mesmo que o corte não fosse tão fundo aquele local era perigoso demais para um Sereiano, sem uma cauda um Sereiano morria, com um machucado profundo ele nunca mais poderia voltar para a água e se o deus da terra não tivesse piedade o Sereiano apenas deveria esperar a morte. Apenas não cambaleei por estar sendo segurado, sentia meu sangue escorregar por minhas pernas escamosas e aquilo doer demais, Mukay riu um tanto alto colocando a mão da boca certamente não querendo chamar atenção ao ver aquele conselheiro se virando em sua direção, querendo ou não estavam em um território perigoso para aqueles atos. Fitei de soslaio aqueles dois guardas que apenas me seguravam não se importando com nada e assim Mukay cortoume novamente agora abaixo no joelho e apenas não gritei pela mão em minha boca, uma lágrima caindo e meu corpo queria cair. Rindo, chamei mentalmente meu pai desejei que ele aparecesse, aquela dor era horrível não queria senti-la. Pai... aonde você está! Mais uma vez minha pele provou daquela lâmina fazendo-me gritar ainda mais alto, mas som era abafado enquanto minhas lágrimas caindo. Pai... Pai... — Pai... — Choraminguei fazendo Mukay rir mais. Novamente, e novamente, minhas pernas não aguentava, meu sangue escorria, meus cortes nas costas e na barriga também começavam a doer, meu corpo inteiro, as lágrimas eram minhas únicas amigas. Aiken... Hardar... alguém...? Preciso reagir, no entanto, como? Não me importava em ser fraco, mas naquele momento desejei ser forte o suficiente para me desvencilhar e correr. Fechei os olhos ao ver novamente aquela lâmina se erguendo, sussurrara o nome de meu pai queria que aquela dor parasse, queria que tudo parasse, e finalmente aquela lâmina parou. Meu corpo fraco foi solto fazendo-me abrir os olhos antes de cair de joelhos podendo ver aquela expressão de pavor de Mukay. Pisquei, antes de perceber que aqueles dois que me seguravam não estavam mais entre nós. Virei a cabeça para trás ao ouvir um grito e assim pude ver a silhueta perfeita da deusa, seu corpo formato de água fazia até mesmo o detalhe de suas curvas, mas a grande pergunta era, por que ela estava aqui? Por que estava me salvando? Arregalei minhas órbitas ao ver sua mão esmagando

aqueles Sereianos como se eles fossem algo macio, o fato era que se ela conseguia esmagar um corpo a densidade de seu corpo água era incrivelmente forte naquele momento, nada passaria por seu corpo. Mukay foi para trás como aquele conselheiro e meu corpo caiu para frente, ainda consciente vi aquelas mãos feita de água bater na plataforma a mexendo, um objeto preso no fundo e resistente mexia-se com a força da nossa deusa, ela estava tão irada assim... Mukay fugiu a tempo, todavia, aquele conselheiro não sendo esmagado juntamente com o guarda ao seu lado. Meu corpo doía demais e apenas queria fechar os olhos e dormir, o que não fiz por ver uma silhueta conhecida surgir naquelas grandes portas, e por sua expressão ele se apavorava com cada cena e, por fim, seus olhos caírem sobre mim, sorri de leve piscando várias vezes mantendo minha consciência, Hardar correu em minha direção sendo impedido pela deusa, ela estava matando todos que se aproximassem de mim? Por que? O vi mirar na deusa e gritar alguma coisa e assim passando por suas mãos, realmente meu pai era incrível... — Não faça isso! Matará até Triton! — Ouvi sua voz agora mais perto. Ele falava com a deusa? Ela dava essa permissão? — Ele vai morrer! — O ouvi berrar para deusa que bateu suas mãos novamente na plataforma. — Salve-o! — Hardar suplicava. Meu estado estava tão horrível? Sorri com meu pensamento. Fechei meus olhos após ver a silhueta que tanto queria, aqueles cabelos vermelhos balançavam ao tentar também se aproximar, até mesmo Oki estava apavorado, e quem não estaria com a fúria de nossa deusa? Por fim, apenas senti ser erguido, mas naquele momento deixei a consciência me vencer e apenas senti a água me envolver e a escuridão. — Mãe. — Foi a única palavra que soou de minha boca.

7° ESCAMA DE TRITON Apenas sentia a água me rodear como se estivesse me protegendo de algo, porém, não sabia do que era. Não conseguia mover meu corpo, não sentia minhas guelras se mexerem pegando o ar, nem meus braços conseguia mexer, apenas sentia dor em minhas pernas que também não a movia. Meu corpo se encolheu e perguntava-me por que minha cauda não tinha aparecido? Nunca mais a teria? Voltei a ser engolido por aquela bola de escuridão que há muito tempo tinha sido esquecida, desesperei-me, não queria ser engolida por ela, não queria me perder naquele mar sem fim, e negro, queria nadar, todavia, não conseguia era impossível nadar naquele lugar, não existia nada para se segurar, nada para ver. Mesmo não vendo absolutamente nada sentia que meus olhos estavam abertos. Aiken... Aiken... Apenas esse era o nome que minha mente gritava apenas aquele Sereiano que desejava escutar a voz para tirar-me dali, estava com medo, não queria ser engolido como naquelas vezes, porque sempre entrava nessa bolha de escuridão? Aiken... Queria berrar, mas nem minha voz conseguia escutar. Talvez estivesse chorando pelo fato de conseguir a voltar a sentir minhas pernas, mesmo que não conseguia nem vislumbrar meu corpo, agora conseguia sentir algo, a água rodeada minhas pernas e a cada segundo a dor daquelas feridas começavam a sumir como se elas nunca tivessem sido feitas em minha carne, tudo parava de doer, e meu coração parecia se acalmar a cada momento como finalmente conseguia sentir minhas lágrimas rolando em minha face. Cerrei os dentes, queria sair dali, era assustador, frio e nada aconchegante. Queria nadar e fugir apenas, ir rumo a Aiken, apenas ele. Aiken... cadê você... Meu coração gritava. Remexi-me naquele espaço, queria gritar, porém, apenas senti meu corpo relaxar e aquela bolha sumir. Não entrava mais em um sonho de bolhas negras e sim de um cenário no fundo do oceano, alegre e caloroso como se já tivesse vivido as cenas que se seguiram tão vividas e intensas perguntando-me se realmente aquilo não era apenas um sonho, não, realmente meu coração tinha certeza que não era apenas um sonho normal, apenas algo que entrou no esquecimento em minha mente,

menos em meu coração. Lembrava-me de sorrir e brincar com aqueles cabelos vermelhos, ainda pequeno sempre fugia de meu pai nas festas para achar o Sereiano de cabelos vermelhos. Gostava de suas histórias, de seus mimos, sorria por longas horas e sempre ganhava uma concha de caramujo, as que ainda tinha enfileiradas em meu quarto. O pequeno Triton animado correu rumo ao Sereiano de madeixas vermelhas como se ele fosse o único motivo daquele cenário, do mundo. Perguntava-me como poderia esquecer tantas coisas, já conhecia Aiken desde criança e não me lembrava algo que notava agora que Aiken tinha um olhar que parecia me conhecer naquela caverna quando me puxou. Aqueles lábios sobre os meus nunca foram estranhos, como as mãos quentes. Aiken sempre foi o motivo de desobedecer Hardar nas festas, apenas queria seus braços e suas histórias. Aiken... Uma lágrima rolou em minha face, não queria perdê-lo, não aceitaria afastar-me dele novamente, o queria. Remexi-me querendo me soltar dos sonhos, não seria vencido pela escuridão, por nada! Não seria mais fraco a ponto de não conseguir nem vencer meus próprios pesadelos, deveria mostrar de quem sou filho, mostrar como um filhote do maior guerreiro do oceano deveria lutar, sou filho de Hardar Schifino não deveria me curvar ao inimigo. Quando tiver cercado de inimigos querendo apenas feri-lo, não hesite, nunca hesite! Duvidar é para aqueles que não são guerreiros, é para aqueles que são fracos com sua alma. Foram às palavras de meu pai disse no dia que fui cercado por Sereianos me chamando de aberração, tocando pedras e conchas em mim, lembro-me de ter chorado por dias quando criança, e sempre me perguntava por que eu era tão odiado, o que eu tinha feito de tão ruim. Apenas minha existência era a fonte de ódio deles, e chorava por isso, mesmo as palavras não sendo as mais inspiradoras para qualquer um, naquele dia encolhido em minha cama, decidi querer ser forte e invencível como Hardar, ele foi minha fonte de inspiração, aquele que me criou com amor, que me cuidou, educou-me e sorriu sempre. O Sereiano que usou sua força, seus poderes contra sua própria raça para proteger uma aberração? Não, o tritão que fez isso para proteger seu filhote, ele nunca parou de aceitar-me em seus braços, de me ajudar, de sorrir para mim, como Aiken fazia... Aiken...

Queria tocá-lo... Queria vê-lo... Aiken... Nunca se esqueça Triton. Sua força está em sua alma, está dentro de você, apenas ira sair quando tiver um objetivo para usá-la, então lute até mesmo com a escuridão do mar, mas não deixe de lutar jamais. Depois daquelas palavras senti suas mãos em meus cabelos, como parecia que meu corpo recebia o mesmo carinho, as mesmas mãos novamente. Pai... Como devo lutar com a escuridão? O que devo fazer? Abrindo meus braços, soltei minha cauda que parecia iluminar a escuridão. Queria sair dali, queria ir para braços de Hardar, de Aiken. Aiken... Eu o amava. Mexi-me loucamente dentro da bolha, e antes de perder total consciência dentro dela, senti-me como se estivesse sendo protegido, muitas vezes sentia isso, como também alguém mexendo em meus cabelos e sussurrando meu nome. Não reconhecia a voz, porém, queria reconhecê-la. Abri meus olhos em algum momento podendo ver um teto cinza escuro, não conseguia mexer-me, todavia, sabia que meu corpo estava em um local confortável. Fitei pelo canto do olho podendo ver a silhueta de meu pai de costas em minha direção, ele estava tão perto... e de roupas? Fechava várias vezes minhas pupilas, queria falar, chamá-lo, no entanto, não conseguia. Meus músculos não seguiam minha vontade, minha voz não soava e qualquer tentativa de mexer meu corpo falhou no minuto que ouvi aquela voz no local um tanto pequeno que desconhecia ou conseguia observar mais do que o teto. Fechei novamente minhas órbitas ainda um tanto consciente, reconhecia aquela voz muito bem, e sentia saudades. — Você ficará com ele. — Era a voz de meu pai que soava, ele parecia furioso. — Eu mesmo procurarei os dois que escaparam. — Apenas tome cuidado, Triton vai querer você inteiro quando ele acordar. — Aiken! Era Aiken quem falava aquela voz tão embriagada de ânimo não era a mesma. — E talvez eu não seja o Sereiano que ele espera ver quando acordar. — Senti um pouco de tristeza em sua voz. Ele realmente tinha ficado magoado por ter negado seu pedido... Pelos barulhos que seguiram, presumi que meu pai tinha se erguido e caminhado um pouco, abri meus olhos novamente apenas vendo borrões, mas realmente os dois agora estavam frente a frente, não conseguia ver as expressões

que faziam apenas suas vozes. Desistindo de tentar visualizar eles, apenas mantive-me consciente o tempo suficiente para entender a conversa, eu me sentia grogue e minhas pernas não doíam mais. Nada de meu corpo doía! — Então por que é o seu nome que sai da boca dele. — Aquelas palavras não era uma pergunta. — Ele o chama várias vezes, pode não ser o primeiro Sereiano que ele vai querer ver quando acordar, o que não diz que não será o tritão que ele não vai querer ao lado dele. — Ouvi sua voz com um tanto de graça em sua voz. Ele voltava a caminhar por seus barulhos. — Apenas cuide dele como você sempre fez. — Quando você ia me apresentá-lo? — A voz de Aiken soou questionável. — Por que o escondeu desde pequeno? Meu pai pareceu suspirar alto, e mesmo não vendo sabia que ele fazia uma expressão de desagrado por ter que responder, ele era assim e muitas vezes me divertia com aqueles atos ou expressões. Suas vozes pareceram mais baixas, e um tanto distante, eles estavam me deixando? Ou minha consciência estava se perdendo? Sim, não aguentava mais, a escuridão novamente estava vindo me buscar, tentei permanecer acordado, queria escutar... — Eu o escondi para ele não sofrer mais, não aguentava mais vê-lo chorar e tentar sorrir para todos aqueles Sereianos que o olhavam com nojo! — Sua voz era emaranhada de raiva. — Eu usei minha força contra minha própria raça para protegê-lo, se eu fizesse novamente, seu pai iria puni-lo! Se bem me lembrava, o antigo rei estava com uma pequena rixa com meu pai o que fez sair do conselho, e da posição de conselheiro direto do rei. Não me lembrava de como era muito bem o antigo rei, apenas de sua aparência que Aiken herdou praticamente tudo, menos os atos e o sorriso. Usar seus poderes contra sua própria raça era um ato perigoso demais, dependendo do grau você poderia ser condenado à morte e meu pai atacou um grande grupo o que me fazia pensar se o rei foi bondoso com ele, ou outra coisa. Recordava que muitas vezes quando mal sabia nadar direito, meu pai e o rei bebiam e sorriam juntos, e quando maior apenas lembrava-me da rixa deles. Não sabia a verdadeira história, apenas que eles foram grandes amigos na infância. — Ele não me puniria, você sabe disso, ele odiava Triton e iria matá-lo se não o afastasse do povo, se não o prendesse como um animal em uma jaula, não gostava de fazer isso com meu próprio filho, mas precisei. — Hardar voltava a falar com a voz entristecida. — Odiava tirar toda a visão do mundo dele, apenas

quando aquele plebeu surgiu soltei Triton, mas o povo continuou a olhá-lo com nojo. — Porém, você deixou por que eu estava no poder? Meu pai respondeu um sim baixinho, e o silêncio se instalou entre eles por longos segundos. — Você não o odiava, mesmo sabendo que seria difícil um de vocês se lembrarem um do outro, sabia que poderia novamente deixar Triton ver o mundo, tentar conhecer Sereianos que não o odiasse, e pelo visto conseguiu, até mesmo um Octopus ele tem ao seu lado. — Meu pai riu um tanto sem humor. — Ele está crescendo tão rápido agora. Aiken riu baixo. — Ainda assim não explica por que escondeu Triton de mim, por que não me deixou vê-lo. — Por que ainda não era o desejo da deusa, você sabe muito bem. Desejo da deusa? Que desejo? Por que meu pai era cheio de mistérios até mesmo em suas respostas? Ouvi-o dizer para Aiken cuidar de mim o que certamente percebi que ele estava saindo daquele local de paredes. Relaxei não lutando mais contra minha consciência e assim fui vencido, não sabendo quantas horas se passaram, ou até mesmos dias, apenas ao abrir minhas pálpebras me vi em outro local, um local que sabia que não era minha casa, nem dentro da água. Ainda estava dentro do grande palácio. Pisquei várias vezes ainda me sentindo grogue, notei a grande janela ao meu lado onde podia ver uma linda vista do céu com alguns pássaros e nuvens bem branquinhas, um tecido estranho cai tapando parcialmente os vidros e me perguntava para que elas serviam. Meus músculos agradeciam pelo local confortável que recebia meu corpo. — Pai! — Chamei lembrando o que tinha escutado. Sem notar meu corpo reagiu ao meu desespero erguendo-se com minhas órbitas arregaladas, pisquei olhando para o lado não vendo Hardar, e sim Aiken cochilando sentado ao lado do leito que eu estava, de braços cruzados e cabeça para baixo, seu peito desprotegido de qualquer tecido, subia e descia calmamente. Sorri de leve vendo-o, Aiken sempre permanecia ao meu lado não importa o que fosse. — Ele disse que já voltava. — O vi responder mesmo com seus olhos

fechados. Assenti mesmo sabendo que ele não estava vendo, e agradecia por isso ao sentir meu corpo ir para frente, joguei-me sobre o seu, feliz por ele estar ali e não me importando por me achar um louco com aquelas reações. O vi arregalar os olhos em surpresa. Entrelacei meus braços em volta de seu pescoço escondendo minha face naquele local, mesmo jogando-me sobre ele, Aiken permaneceu imóvel, apenas deu-me passagem abrindo seus braços e fechando em volta de meu corpo. Fechei meus olhos deixando o silêncio observar o momento, mesmo com meu rosto em chamas, meu coração gritava por Aiken a ponto de não conseguir mais controlar, sorri como um idiota, nada que fiz para afastar Aiken adiantou meus olhos apenas queriam Kastra não conseguindo ver mais nada em minha volta, não notando absolutamente nada que não fosse aquela sereia, porém, mesmo tendo entendido e aceitado o veredicto de meu coração não cederia agora. Afastei minha face de Aiken fitando seus olhos vermelhos me analisar com atenção, ele estava tão quieto para o famoso Aiken que conhecia. — Se quiser posso chamá-lo. — Podia sentir um pouco de hesitação na voz dele. Neguei com a cabeça fazendo-o piscar. Permaneci em seus braços achando um jeito de ficar confortável optando por um ângulo que fez-me baixar a cabeça envergonhado pelo simples fato de estar sem qualquer roupa, com as pernas em volta da cintura daquele tritão, podia ver suas vestes fora do lugar agora por culpa minha, e nossas regiões próximas demais. Querendo afastar-me enquanto minha vergonha berrava alto, todavia, fiz meu corpo permanecer ali. Não sabia o que falar e nem sei se conseguiria sem gaguejar, permanecendo em silêncio meu coração se acelerou sentindo as mãos de Aiken em volta de meu corpo e assim seus lábios em minha testa. Podiam ver um pequeno sorriso no canto de seus lábios, o que indicava que Aiken não estava com raiva de mim... Abracei seu pescoço, feliz, aquele pervertido era apenas meu. — Que bom que acordou. — Senti seus dedos em meus cabelos. Escorando minha cabeça entre seu ombro e seu pescoço, permaneci ali até acalmar meu coração, aquele tritão sempre me causava isso. — Ficamos preocupado, você ficou desacordado por cinco dias.

Cinco dias! Tinha ficado naquele mar escuro por longos cinco dias. Por alguns instantes chamei muitas vezes Aiken, ele teria me ouvido? O que tinha acontecido ao certo? Apenas lembro-me da água vindo em minha direção e o sangue em mim, o que tinha acontecido logo após perder a consciência? — O que aconteceu depois que a água veio em minha direção? O vi desviar o olhar com uma expressão indiferente. — A deusa o pegou, ela estava furiosa quase destruiu a plataforma. — Arregalei os olhos, ela tinha feito tudo isso por um Sereiano! — Ela te protegeu e te curou, tio Hardar pediu para ela não destruir a plataforma, então ela apenas esmagou alguns responsáveis. Apavorei-me. Tinha visto ela esmagando alguns soldados que ajudaram Mukay, porém, não esperava um nível assim da grande deusa apenas para proteger alguém. Era loucura! Isso podia fazer o povo voltar-se contra ela, matar muitos por um. Aiken segurou minha face, abrindo um grande sorriso. — Mesmo com as negociações ela não abriu mão de você, ela iria transformá-lo parte da água, tentei conversar com ela, mas, nada adiantou. — Aiken ainda sorria fitando em meus olhos confusos. Se ela não abriu mão de mim como eu estava aqui agora? Dentro da plataforma, dentro daquele quarto. Como era possível a deusa fazer isso comigo, ela então me destruiria? Onde estava meu pai nessas horas! Aiken parecia se divertir com minha expressão confusa, e jurei que o acertaria se continuasse com aquele sorriso bobo nos lábios. Rei pervertido! — Pare de rir de mim! — Resmunguei. — Quer ser acertado! Aiken gargalhou mais alto fazendo nossos corpos quase cair para trás com sua inclinação, abraçando meu corpo mais forte, senti seus lábios perto demais dos meus, o que fez meu coração voltar a acelerar. — Ela não o soltou, no entanto, você não aceitou o destino que ela queria para você. — Do que ele falava? — Você mesmo se soltou daquela bolha e chamou-me. Eu fiz o que? Impossível! Impossível! Jamais chamaria aquele pervertido! Jamais. Mas lembrando bem, naquelas bolhas de escuridão eu o chamei várias vezes... Queria gritar em frustração!

— Triton. — O vi me chamar. — Quero fazer uma pergunta. — Sua expressão tomou um tom mais sério. Pisquei, assentindo de leve por estranhar seu semblante um tanto sério com mistura de tristeza. — Preciso que me responda, caso contrário verei isso como um não. — Desviei o olhar, aquelas perguntas sempre vaziam minha voz travar. — Você me ama? Ou deseja que eu o deixe em paz? Pisquei. — Han? — Foi a única palavra que saiu de minha boca. Ele deixar-me em paz...? — Quero saber se tenho chances em seu coração, caso queira eu desistirei de perturbá-lo e me afastarei. Então, quero saber sua resposta. Desistir de me perturbar? Mesmo que mostrasse irritação nunca me importei em tê-lo ao meu lado, Aiken fazia meu mundo ficar diferente, alegre, colorido, calmo. Ele fazia mistos de sentimentos surgir dentro de mim, sentimentos que nunca soube que existiam, jamais desejaria que ele se afastasse, mesmo tendo negado seu pedido, não queria que Aiken fosse embora, jamais aguentaria se isso ocorresse. Aiken era apenas meu tritão pervertido, e o amava. O amava... Baixei o olhar, se falasse ele teria consequências no futuro, então o que eu deveria fazer? Condenar alguém que amava ou deixá-lo livre desse fardo... Não aguentaria viver longe de Aiken, não mais. Meu coração já pertencia a ele, mesmo que meu orgulho dizia para permanecer sendo o mesmo e admitia que me divertia com Aiken. Sai de meus pensamentos ao senti-lo se mexer com uma expressão tristonha, afastando meu corpo do seu, Aiken tentava se erguer, o que dizia que meu silêncio foi longo. Apertando os lábios, isso faria minha vergonha aumentar quando isso tudo acabasse e sabia que eu me xingaria eternamente, todavia, não podia perdê-lo. Não depois de tudo. Joguei meu corpo para trás trazendo o junto, mesmo sentindo já meu rosto rubro deixei minhas pernas abertas recebendo Aiken sobre mim antes de selar seus lábios com desejo. Não tardou de ser correspondido com puro desejo vindo de todo seu corpo que o prendia com meus braços e pernas, se não estivesse em um momento daqueles me divertiria com um sorriso vitorioso

vendo o grande Aiken preso por mim. Nossos beijos continuaram sobre a cama que por um breve momento imaginei ser de Aiken por sentir seu cheiro nas almofadas, realmente seria o quarto dele? Mas por que estaria ali? Meus pensamentos sem respostas foram interrompidos ao sentir as mãos de Aiken sobre minhas coxas apertando-as, realmente era um rei pervertido e abusado, não perdia tempo, entretanto, o que poderia reclamar? Meu coração escolheu o rei pervertido. — Ainda não entendo o que você viu em mim. — Desviei meu olhar daquelas órbitas vermelhas com um certo brilho de luxuria. Aiken deu de ombros, sorrindo travesso logo em seguida. — Você tem uma bela bunda, por isso. — O fitei piscando antes de cair na gargalhada. — Já o viu de costas? É uma ótima visão... Mesmo envergonhado, ri alto antes de bater em sua face com uma almofada, certamente Aiken estava brincando, mas em tese sabia que ele tinha um pouco de verdade em suas palavras. Ele voltou a beijar-me segurando agora minhas duas coxas enquanto se ajeitava no meio de minhas pernas, seus beijos eram tão quentes e seus lábios tinham o mesmo gosto da primeira vez que recebi um beijo seu. Na época apenas imaginei que era um tritão louco e fugitivo, mas a cada instante que olhava para a silhueta relaxada e suas joias minhas teorias caiam rapidamente, tentei manter-me não abalável ao descobrir que ele na verdade era o meu rei, todavia, outro lado se perguntava por que o grande rei dos mares estava naquela caverna, sozinho e com expressões tão vagas. Agarrei entre meus dedos as madeixas vermelhas que ocultaram a face de seu dono em nosso primeiro encontro. Brincando com elas, notava agora o comprimento que jurava ser menor dentro da água. Recebi um beijo em minha bochecha com uma pequena carícia vinda de Aiken, antes se sentir seus lábios descerem até a região que antigamente encontrava minhas guelras, mesmo que elas não estivessem mais ali sentia cócegas e um pequeno desconforto que pude ignorar ao sentir a língua daquele pervertido. Sorri ao sentir seus lábios novamente nos meus. Não imaginava que seus beijos poderiam ser tão viciantes, e antes de meus pensamentos terminarem, sua boca estava de volta em meu peito e seus dedos escorria de minhas coxas para minha cintura. O senti se mexer sobre mim, e cada segundo, piscava um tanto confuso até descobrir o que realmente eu estava fazendo.

Senti-me como uma lagosta bem vermelhinha, minha preocupação não era não querer fazer aqueles atos com Aiken, e sim, se realmente conseguiria. — Aiken... — sussurrei ao sentir seu sexo encostar livremente ao meu. Abri novamente minha boca, porém, a vergonha não deixava mais minha voz sair. Vi-o me fitar parando seu corpo, e em seu olhar pergunta-me se era para parar, no entanto, não queria que ele parasse, apenas queria esconder meu rosto em uma almofada até final. Talvez a ideia da almofada não fosse tão ruim, mas, isso apenas feriria meu orgulho! Deveria mostrar quem estava no comando, e não é por ele ser rei que estará! Tritão pervertido! — Melhor tomar cuidado com Hardar. — Avisei em provocação pegando sua nuca para alcançar seus lábios. Vi um pequeno sorriso em meio ao beijo, e seus movimentos recomeçarem. — Verdade, preciso me preocupar com ele. — O vi rir baixinho. — Porém, foi ele mesmo que mandou-me cuidar de você, e farei isso com maior prazer. Senti sua língua passar em meus lábios. Mesmo envergonhado tentei permanecer de cabeça erguida mesmo que aquelas mãos pelo meu corpo fazia um som sair em minha boca, um som que fez Aiken sorrir de leve enquanto beijava um de meus mamilos, aquilo realmente era bom, melhor do que a vez que Side contou-me como era, e lembrando disso, uma pequena onda de medo invadiu-me ao lembrar da parte que seria mais dolorida, a parte que Aiken estava se encaminhando. Mordi meu lábio inferior, precisava manter-me orgulhoso! Nem pense em desistir agora Triton! Nem pense em gritar! — Posso continuar? — Sua voz era um pouco abafada por ainda estar beijando-me no mesmo lugar. Apenas assenti, nem saberia se conseguiria falar sem deixar os sons estranhos saírem de minha boca junto. Aiken sorriu travesso, e o vi tirar o restante de suas vestes deixando-me com uma bela visão de sua bunda praticamente sem escama nenhuma na região, lambi os lábios em malícia, iria me vingar, todavia, admitia que ele tinha uma bela bunda, e como. — Você tem uma bela bunda — disse o fazendo rir.

— Só a bunda? — Sua voz saiu com uma pequena decepção. Desviei o olhar fazendo bico, isso não era justo! Não conseguia provocálo. Aiken depositou um pequeno beijo em meus lábios antes de voltar com suas mãos em meu corpo, o fitei pelo canto do olho, enquanto beijava-me em meu pescoço, suas mãos percorriam minhas coxas as erguendo em uma posição estranha para mim, Aiken endireitou-se novamente entre minhas pernas, e pude sentir seu membro perto de minhas nádegas, corei, ao vê-lo ajeitar seu próprio membro antes de enfiá-lo sem cerimonias. Mesmo que fosse lentamente, a primeira sensação não foi de dor, foi algo estranho, e de fato seria estranho se tivesse algo entrando em seu corpo. Aiken ia devagar deixando-me acostumar, não era doloroso, e a cada instante que meu corpo reconhecia e aceitava o sexo de Aiken, uma onda de prazer invadia-me. Uma onda que fez novamente um daqueles sons sair de minha boca entreaberta, não os entendia, porém, pelas expressões de Aiken deduzia que os sons eram bons, e após escutá-lo também notei que deveria ser algo comum em um momento daqueles. Não queria perguntar naquele instante, minha dúvida poderia ficar para outra hora, ainda mais agora quando Aiken estocava mais rápido gemendo juntamente. Isso realmente era bom. Agarrei seu pescoço trazendo seus lábios para mim, suas mãos ainda seguravam minhas coxas, e mesmo com aquela posição estranha, sentia um prazer grande vindo dos atos, gemi manhoso — se realmente era esse nome do ato —, sempre beijando seus lábios com um sorriso travesso. Corri minhas mãos pelo peitoral dele pelo mínimo espaço que tinha entre nós, queria provocá-lo e dar-lhe prazer também, no entanto, não sabia como. Abri meus olhos sentindo os lábios dele perto de minha face, Aiken estava com as pálpebras fechadas e a boca semiaberta onde gemia manhoso roçando seus lábios em meu rosto, suas madeixas vermelhas caiam sobre nós se mesclando aos meus negros cabelos espalhados pela cama, tapando minha visão que não fosse seu rosto, uma de suas mãos mantinha-se em minha coxa direita, e outra subia por minha cintura fazendo-o cócegas invadir meu corpo. Sorri. Quando imaginei que estaria em um momento como aqueles, seria após casar-me, e com uma fêmea que no final apenas vez meu coração se partir, mas ali estava eu, um tritão albino rejeitado por meu povo, sendo acolhido e amado por seu próprio rei.

Senti seus dedos contornarem minha face e sua boca pousar em meu pescoço fazendo seus dentes um tanto pontiagudos roçarem, Sereianos tínhamos dentes assim para ajudar na caça de nossas presas, e naquele momento eu estava sendo uma bela presa sentindo a boca dele indo em direção ao meu peitoral pouco definido como era de Aiken. Gemi agarrando suas madeixas vermelhas ao sentir sua língua passar em meu mamilo, e dessa vez em movimentos mais lentos. Pude notar que Aiken tinha um pequeno sorriso em seus lábios e os movimentos de seu quadril diminuíam. — Vire-se para mim. — O ouvi sussurrar e pisquei. Virar? Não compreendia, o que ele pretendia e o motivo. Todavia, não neguei, apenas hesitante deixei que suas mãos me conduzissem ainda confuso. Fazer sexo fora da água era tão confuso para minha visão, dentro parecia tão mais rápido e simples como vira uma vez um casal fazer, por sorte estava escondido e eles não me viram ou eu teria ficado mais constrangidos do que eles, algo que não era comum fazer com tanto público. Piscando, virei-me apoiando meus joelhos e mãos na cama esponjada como era feito qualquer cama dos Sereianos, agarrando uma almofada, arregalei os olhos ao vê-lo segurar minha cintura mantendo-a no alto. Eu estava pior que um peixe zonzo naquele momento não compreendendo nada dos atos daquele pervertido. O fitei sobre os ombros, e corei rapidamente notando que ele observava tão atentamente minha bunda. Quis xingá-lo, e talvez socá-lo quem sabe, no entanto, algo fez minha voz travar. Aiken posicionando meu quadril, adentrou-me novamente jogando seu corpo um pouco por cima de mim. Começando a mover-se para frente e para trás, seus atos voltavam com mais força deixando-me um pouco desconfortável, não sentia aquela dor que ouvira dizer, apenas uma sensação estranha por algo estar adentrando meu corpo, mas como sempre, logo tudo mudava e os atos se tornavam bons, e muito. Senti os beijos de Aiken em minha nuca enquanto o mesmo sussurrava para mim, — e como sempre, — palavras indecentes. Cerrei os punhos agarrando os tecidos finos que antes estavam tapandome, mesmo com suas palavras indecentes, não desejava que ele parasse, queria mais, muito mais. E foi isso que Aiken fez. Escorrendo suas mãos por minha barriga até alcançar meu sexo e envolvê-lo com suas mãos, ele fazia os mesmos movimentos que seu quadril

dando um êxtase grande para meu corpo que não deixava perguntar o que ele pretendia e o que era aquilo, e pouco importava agora, queria mais, e mais. Seus movimentos de quadril aumentaram-se como seus gemidos, e ao senti-lo parar com os atos em meu membro, choraminguei fazendo-o rir e voltar. A sensação de prazer era ótima jamais senti algo assim, nem quando provei a lagosta azul, ou um peixe raro que meu pai caçara. Seus beijos voltaram, e meus gemidos se intensificaram. Porém, pelo visto realmente tudo acaba mesmo e apenas senti Aiken parar quando algo escorreu em mim. — Que isso? Aiken apenas riu de mim. — Isso? — Seus movimentos com a mão voltaram mais rápido até algo escorrer por meu sexo. O vi erguer sua mão e sorrir malicioso. — É nosso puro êxtase, meu pequeno Triton. Arqueei as sobrancelhas, meu êxtase? Nosso êxtase? Aquilo mais parecia com algum tipo de substância para fecundação, porém, deu de ombros, se era esse o nome. — Você realmente não sabe que é gozo? — Aiken ria de mim vendo minha cara de desentendido e senti uma grande vontade de socá-lo. — Agora já sabe. — Ele lambeu os lábios. Virei minha face para outro lado, até notar algo, ele tinha atirado aquela coisa dentro de mim! Que coisa feia! O fuzilei com o olhar antes de sentar-me de costas para ele. — Por que jogou isso dentro de mim! É... pegajoso...? — Não sabia se realmente era, apenas via Aiken lamber seus dedos com maior naturalidade. Pisquei quase arregalando meus olhos, aquilo era de comer?! Aiken voltou a rir de mim, antes de me lançar seus típicos sorrisos sedutores que não caia nessa. — Meu pequeno Triton tão inocente. — Isso não responde minha pergunta! Pensei em gritar para ele, todavia, optei por continuar a observá-lo. — Realmente é meu famoso Triton? — Brincou ele. Resmunguei ainda o ouvindo me provocar. Virei meu corpo avançando meu punho em direção a sua face, sorri vitorioso ao acertá-lo perto do queixo, o que fez Aiken choramingar por que eu tinha feito isso. Virei novamente meu corpo ignorando-o. Tritão abusado! Pelo canto do olho pude ver seu pequeno sorriso enquanto passava seu

polegar em seus lábios, ele tinha gostado de levar um soco? Além de pervertido era masoquista! Resmungando virei-me lentamente jogando-me sobre Aiken que ficou surpreso. — Quero mais — disse manhoso perto de seus lábios o impedindo de me tocar. Agora eu que iria brincar, ele ia ver! Aiken voltou a se animar, e assim rápido e sem esforço algum ergueu seu corpo me derrubando para trás, sua boca tocou a minha antes de prosseguir para outras regiões de meu corpo, isso não era justo! No entanto, não queria reclamar, não naquele momento que sua língua passava por minha barriga, ronronei agarrando seus cabelos e tudo recomeçou-se novamente, e novamente até meu corpo não aguentar mais e cair exausto, queria apenas me encolher e dormir, Aiken não disse nada vendo meus atos, apenas sorriu puxando o lençol fino sobre meu corpo, depositando o seu ao meu lado. Seus dedos passaram por minhas madeixas grudadas em minha face, antes de depositar um pequeno beijo em mim e a ficar em uma posição que podia ver bem a porta e qualquer lugar do quarto, ajeitando-me ele sussurrou para mim descansar tranquilamente, e não hesitei. Sorri de leve sem deixá-lo perceber, e aconcheguei-me perto de seu peito, o calor de seu corpo era tão bom, e ali deixei meus músculos e minha mente relaxar em um belo sonho.

8° ESCAMA DE AIKEN Triton dormia como uma criança, tinha sido acertado por seus braços várias vezes enquanto o ouvir resmungar com os olhos fechados. Sorrindo, ergui-me procurando meus tecidos brancos. Precisava procurar Hardar que não tinha voltado ao quarto e isso já fazia horas, podia ver o sol no horizonte diante da imensa janela de vidros, ele estava se ponto o que indicava que já passara boas horas desde a última vez que vi Hardar. Sabia que ele era esperto o suficiente com seus objetivos, porém, não invencível e temia por Triton também. Fitei pela última vez o tritão albino que se esparramava pela cama com uma expressão despreocupa, e assim parti do quarto com um pequeno sorriso ao lembrar-me dos acontecimentos algumas horas atrás. Eu finalmente tive Triton em meus braços, mesmo levando um soco logo depois, eu o tive. E o queria para sempre. Não sabia o que procurar ou começar decidindo então ir rumo a Erya, poderia perguntar se Hardar estava na plataforma, e torcia que estivesse, no entanto, no meio do caminho não foi Erya que encontrei vindo apressadamente pelos corredores. Um guarda, certamente novato, com um corpo sem muito musculo parava em minha frente um tanto ofegante, algo que dentro da água não aconteceria, podíamos nadar com uma velocidade grande o oxigênio que a deusa nos dava não era cruel como a do deus terra, talvez fosse pelo fato dele odiar nós, as suas não criações. — Vossa majestade. — Voltei-me minha atenção para o pequeno novato de cabelos escuros. —O chamam com urgência para reunir-se até o pátio, e seu convidado disse para ir mais rápido possível sem levar Tri... Tri... — Ele olhava para o chão pensativo. Não levar Triton? Porque? — Já entendi — disse ainda pensativo, por sorte Triton ainda dormia tranquilamente. Apresei meu passo até a entrada do palácio, o pátio cinza que chamava. Não havia nada de cenário que não fosse as águas e seu chão cinza gélido, a plataforma foi a única coisa que restou de uma grande cidade que a deusa primeiramente criou, mas após suas criações se rebelarem contra ela, a deusa não hesitou em destruir metade dos Sereianos, como boa parte da cidade. Dizem que as sereias quebraram as leis mais importantes fazendo a população feminina diminuir drasticamente e assim surgir os tritões yin, Sereianos machos capazes

de gerar. Hardar tinha me contado todas as lendas, e historias verídicas do passo de nossa raça, e isso batia com os dias de hoje, não havia tantos Sereianos, principalmente fêmeas que apenas agora estavam se reerguendo novamente. Soube que em nossa cidade protegida em uma bolha gigante, tinha até campos floridos como objetos que os humanos criaram, e até próprios humanos vivendo conosco. Sereianos que os salvavam de um afogamento os traziam para nosso mundo, porém, apenas era permitido se o Sereiano se comprometesse a se casar e cuidar do humano. Algo parecido com que meu primo emprestado fez, trouxe um meio humano para nosso mundo, um humano com sangue real de Sereianos. Pisquei vendo a silhueta de Oki perto das imensas portas, e nenhum guarda as guardando. Apertei o passo e o vi virar o corpo com uma expressão preocupava. Franzi passando meus olhos no grupo de guardas com lanças apontadas em direção aos conselheiros que não paravam de reclamar e ameaça-los, mas parecia que as ordens que eles receberam era mais absoluta que as ameaçadas de nobres. Segui o olhar de Oki até o outro lado vendo Hardar parado diante do corpo de Mukay que era obrigado a se ajoelhar, dois guardas estavam o vigiando. — O que está acontecendo? — Virei-me para Oki. — Apenas vi a movimentação e vim com sua irmã, parece que Hardar capturou Mukay e outro prisioneiro, como também prendeu todos os conselheiros. — Pela expressão dele parecia tentar entender tudo que era planejado ali. — Os guardas apenas estão ouvindo as ordens de Hardar que pelo visto está bem diferente... Pisquei mirando rapidamente no Sereiano que caminhava como um predador em volta de sua presa, Mukay. A expressão do tio Hardar realmente era séria e dura, algo que era comum apenas quando ele estava furioso demais. — Aquele Sereiano.... — A voz do Octopus saia baixa demais. — É o mesmo daquela vez? O vi mirar em qualquer coisa que não fosse em mim. Suspirei, sim, Mukay era quase meu guarda pessoal, ou talvez fosse por ter visitado meu quarto muitas vezes. Meu objetivo era apenas usá-lo para conseguir informação e apoio, nunca me apaixonei por ele, o que era totalmente ao contrário de sua percepção. Por suas atitudes podia ver a paixão que ele nutria e precisava cortar isso antes que fosse tarde demais, e assim o afastei de minha vida, naquela época tinha conhecido Oki e nesse meio tempo ficamos juntos.

Fechei brevemente os olhos, não era algo que contava, todavia amei demais o Octopus que agora estava em meu lado observando todos, tinha me apaixonado a ponto de enfrentar meu pai para poder ter Oki, mas no final, apenas ganhei uma bela derrota e uma passagem de ida para guerra, não me despedi de Oki e nem nada. — Ele vai matar mata-los? Pisquei, ouvindo a pergunta que era fácil de saber a resposta. Hardar iria matar Mukay, e o outro prisioneiro, no entanto, o caso dos conselheiros era curioso para mim. O que ele pretendia fazer? Estava desafiando todas as leias, poderia ser condenado à morte se errasse qualquer passo, era arriscado demais e entendi bem o motivo agora de Oki ter pedido para não trazer Triton, um deslize e seria Hardar que perderia a vida e eu não poderia fazer nada apenas assistir Triton vendo a morte do próprio pai. Suspirando alto, fui em direção a um Hardar furioso que o via se segurar para não avançar contra Mukay que sorria debochadamente, brincando com o perigo como sempre. — Tio. — O chamei podendo notar a ira que seus olhos azuis emanavam. — Isso perigoso demais. — Apontei com a cabeça em direção ao grupo de conselheiros que ainda não paravam de ameaçar os guardas. — Tem certeza disso? Sabe das leis, nem eu poderia impedir... — Eu sei das leias, Aiken, e não vou deixa-las impedir-me de fazer esses desgraçados sofrerem. — Sua voz era de um tom frio e cruel, isso realmente nunca tinha presenciado. — Já sentiu a água hoje? Pisquei com sua pergunta observando as ondas inquietas, ao longe podia vê-las maiores, entretanto, as águas estavam tão turbulentas que invadiam o pátio da plataforma, mas não a mexiam. A deusa estava brava também. — Eu me preocupo comigo — disse Hardar voltando-se para Mukay que apenas lançava um sorriso para seu capturador. Sabia que ele tentará fugir, sua pele estava vermelha o que indicava que a deusa o punira ao adentrar a água. O fitei tendo seus olhos sobre mim e aquele sorriso desmurchar-se, sua expressão parecia tristonha e seus olhos acusadores, conseguia compreender tudo que ele tentava transmitir. Sua tristeza, ira, frustação... tudo que eu fiz para ele, Mukay apenas descontou em Triton todos esses sentimentos o que fazia-me ficar um tanto surpreso de não ter sido em Okita. O Octopus que ele acusou de ter me roubado dele. Assenti para Hardar e afastei-me voltando para o lado de Oki que me

fitava curioso. — Apenas espero que Triton não apareça. — Fechei os olhos. Pude ouvir os gritos de suplicas do outro prisioneiro, ele estava desesperado implorava por sua vida certamente para Hardar que não hesitaria em arrancar sua cabeça, como Mukay certamente fizeram ele se ajoelhar e assim sua voz diminuiu deixando o choro mais alto. Voltei a analisar os acontecimentos, um dos soldados que capturara Triton era o que choramingava, apenas ele e Mukay sobreviveram, até agora. — O que estamos fazendo aqui? — Um conselheiro berrou. Hardar apenas o olhou sobre os ombros e sorriu friamente. O vi esticar a mão fazendo minhas órbitas se arregalarem, ele iria invocar sua lança naquele ambiente, naquela situação o que o deixava ainda mais em perigo para qualquer deslize. Hardar era um dos poucos Sereianos que conseguia controlar sua lâmina fora da água, uma benção dada pelo deus terra que ninguém sabia a história por ter ganhado a benção, apenas sabia que o Sereiano abençoado pelos deuses tinha tanto poder que poderia governar o oceano inteiro, e pela história que ouvi de meu pai quando era pequeno, os deuses brigaram por Hardar, o deus terra se apaixonou por um Sereiano dando a ele a possibilidade de ganhar pernas mais rápido, o ar humano não prejudicar seus pulmões, e ter o dobro da força de um Sereiano e um pequeno poder. Suspirei, não podia fazer nada. Quando Hardar estava determinado com algo já sabia muito bem que seria inútil convencê-lo ao contrário, ainda mais quando o motivo de seus atos eram Triton. Triton foi o único que fez um sorriso brotar naqueles lábios estreitos. Mesmo não reconhecendo na hora que o tritão que pegava era de meu guardião e pai adotivo, lembrei vagarosamente de Triton ainda pequeno, quando ele fugiu o encontrei, porém, no dia estava quase bêbedo e achava que era apenas uma criança perdida até Hardar aparecer apavorado e levar Triton em seus braços. O vi tentar xingar seu pequeno, todavia, com o esticar naqueles bracinhos e olhinhos pidões, ele apenas sorriu e abraçou forte seu filho. Logo depois não o vi mais na grande festa, no entanto, apenas com a pequena cena que presenciei pude ver o amor que Hardar nutria por Triton, seu pequeno que desde criança era o tritão mais fofo do oceano. Não era à toa que meu próprio pai disse que Triton era fofo quando o viu, não sabia a idade de Triton na época, nem como ele estava, apenas tinha escutado as palavras e quando fugi da sereia que precisava “conversar

civilizadamente” tentei ver o primeiro e único Sereiano que meu pai disse palavras gentis. Mas Triton já tinha desaparecido. Pelo canto do olho, notei Erya se aproximando e agarrando meu braço, ela parecia aflita e de fato aquela situação era delicada. Matar Mukay era uma coisa, mas ameaçar o conselho era outra. Todos agora sabiam do crime de Mukay então nada aconteceria com Hardar. A arma de Hardar começava a aparecer, pouco a pouco ela ganhava forma deixando muitos ali com um ar fascinado e pasmo, invocar sua arma fora da água era praticamente impossível. Como abençoado, a arma tinha dourado, a cor preferida do Deus terra. E assim Hardar apertou o cabo de sua lança a girando mostrando sua arma, negra com dourado. Sua ponta era diferente de qualquer uma que já se viu no grande oceano, lembrava as garras de um animal humano, o escorpião, todavia, uma de suas pinças era maior que a outra para facilitar quando fosse cortar algo, com cerras tão afiadas e pequenas quanto dentes de tubarão, seu cabo voltas em dourado decorava sobre o preto. Muitos a chamavam de “a lâmina do deus”, porém, nenhum dos deuses tem ou deu aquela lança, ela apenas foi abençoada e apenas dourado acrescentado. — Não ache que vai me intimidar com esse brinquedo... —Mukay riu mesmo podendo ver seu desespero. Ninguém desejava perder a vida, isso estava em todos seres vivo. — O que pretender, Hardar? — Um conselheiro gritou. Hardar apenas sorriu friamente, colocando sua lâmina abaixo do queixo do prisioneiro que não conhecia, ele tremia e implorava ainda por sua vida. Vi Hardar se agachar e pegar os cabelos do prisioneiro que o fitou com suplica. Admitia que por muitas vezes tinha medo de Hardar, talvez fosse pelo fato de ter conhecido boa parte de seu poder na guerra, o que me vez voltar vivo. — Qual dos conselheiros? — Sua voz saia agora tranquila, como um verdadeiro matar nato. — Diga, aponte, o que preferir, apenas quero ele. Pisquei franzindo o cenho, de quem falavam? Observando o grupo de conselheiro um deles parecia tentar ir para trás sendo fincado pela lança apontada para o grupo. — O terceiro... — disse tremendo. — O terceiro conselheiro era o segundo mandante. Mukay fitou sem relevância o Sereiano ao seu lado que tremia mais

ainda, por suas expressões nem se preocupava com os mandantes, apenas transmitia ira e desejo de vingança o que me deixava mais curioso. Ter desejo de matar Triton não fazia sentido, não quando foi Oki que foi meu amante na época, apenas queria informação dele, nunca disse isso e hesitei ao ver seus sentimentos na época. Triton não era conhecido por ninguém, e seus atos pareciam já conhecer. — Ótimo. — O que quer dizer com mandante? — Os conselheiros ainda berravam. Hardar fincou o prisioneiro para ele responder. — O terceiro conselheiro foi segundo mandante que ordenou que Mukay capturasse e matasse Triton Schifino, porém, Mukay colocou sua vingança e sentimentos acima do plano, era executar Triton rapidamente sem chamar atenção — disse ele quase atropelando suas palavras. Os conselheiros queriam executar Triton? Apenas pelo fato dele ser um tritão albino! Inadmissível isso. Eles acima de qualquer Sereiano prometeram seguir as leis máximas acima de tudo! Nossa principal lei é nunca matar um Sereiano sem um motivo pesado, Mukay pode ser condenado à morte por ter tentado matar um de sua raça, todavia, Triton não. Jamais ele conseguiria matar um peixe se quer! Triton não merecia esse destino que queriam impor a ele. Agora intendo por que a deusa queria leva-lo, e seria melhor. Mirei em Hardar que via sua hesitação para não cortar a cabeça do prisioneiro, a raiva dentro dele deveria ser tão grande. Foi ele que criou, protegeu, ensinou, guiou Triton, seu filhote precioso onde podia ver que não existia limites para seus atos quando se referia ao seu filho. Um dia eu poderei saber o que são esses sentimentos? Em arriscar sua própria vida por seu único filhote, em amá-lo e cuida-lo. — Perante as regras ninguém foi morto então não pode haver execução. — Via um dos conselheiros falar, certamente um dos mandantes. Por sua calma e sorriso falso não tinha dúvida que era aquele conselheiro que estava por trás de tudo. Cerrei os punhos. Maldita hora que a coroa sobre minha cabeça não adiantaria em nada. — Ninguém foi morto?! — Hardar berrou fazendo todos irem para trás. — Triton está vivo graças a Deusa, e ainda ousa em dizer quem ninguém foi morto! — Ele rugia suas palavras.

Caminhando em direção ao conselheiro que hesitava em não ir para trás como os outros, Hardar balançava sua arma sedenta para ser usada. Mukay sorria como um louco querendo ver a cena que se seguiria, e eu a temia. Temia ao ver o cintilar daquela lâmina, algo travou em minha garganta ao sentir as mãos quentes em minhas costas. Olhei por cima de meus ombros vendo a silhueta pequena de Triton em minhas costas, suas unhas pequenas tentavam arranhar minha pele, e sua cabeça estava escorada em mim. O sentia tremer, como via suas vestes maus colocadas como se tivessem sido postas correndo. — Por que... — Ele sussurrou. — Por que... Não o compreendia. — Hardar! — Berrei não sabendo o que fazer. Sentia o tremer do corpo de Triton, ele estava com medo? O deixei a mostra para que os olhos de Hardar vissem seu filho escondido atrás de mim, no entanto, Triton não erguia a cabeça deixando-me curioso por seus atos. Voltei-me para tio Hardar que guardava sua arma dando um passo a trás. O conselheiro em sua frente respirava mais aliviado mostrando novamente sua expressão de vitória, se Hardar tivesse o matado poderia ser condenado, e morto na frente de Triton. — Você está certo, perante as leias dos Sereianos não posso condena-lo, não posso mata-lo — dizia ele. — Todavia, as leis não se aplicam aos deuses. Aos deuses... Pude ver Hardar rir e assim a água se erguer tomando a forma de nossa deusa, sua ira estava de volta e duvidava que dessa vez alguém escaparia. Triton se afastou observando tudo em silêncio, não sabia o que passava em sua mente, mas esperava que não fosse culpa. Achar que tudo que estava acontecendo e o que iria acontecer fosse sua culpa seria crueldade consigo mesmo. Tentei toca-lo, segurar sua mão, entretanto, seu corpo o guiava para frente. A deusa começava seu julgamento, Mukay era o único que permanecia em silêncio e calmo no meio da situação, não se preocupava se morreria e isso era típico dele desde que o conheci, apenas sua evolução e poder importava conseguindo chegar perto da altura de Hardar, se tivesse sido um discípulo de Hardar não duvidava que ele tivesse o ultrapassado, e ali diante da morte ele não se abalava, a aceitava seus olhos apenas estavam em Triton que impedia de continuar, não podia deixa-lo no meio daquela situação. Conselheiros corriam com medo, soldados se afastavam também com medo, Erya segurou meu braço

assustada, era sua primeira vez vendo a deusa. As mãos da deusa foram em direção ao conselheiro culpado que pedia por perdão, tentava fugir, porém, suas opções eram mínimas. Suplicava quando a mão da deusa veio em sua direção, e estaria morto naquele momento se não fosse um obstáculo o protegendo. Um obstáculo que erguia sua mão impedindo qualquer matança continuassem. Triton. Triton tinha bloqueado um ataque da deusa com facilidade, e protegido o conselheiro culpado que tinha agora seus olhos arregalados como muitos no local. Dei um passo à frente analisando a cena, Triton afastou o ataque erguendo a cabeça em direção a Deusa e pela expressão de Hardar nem ele mesmo entendia o que Triton estava tentando fazer. — Por que... — Sua voz soou fraca. — Por que...? — Saia daí Triton! — Hardar berrou. Triton permaneceu no mesmo lugar ainda repetindo a mesma palavra, “por que”. Seus olhos mirados na deusa faziam uma pergunta silenciosa e não duvidava que ela não o estivesse respondendo agora, Triton não gostava de ver ninguém em sua volta sofrer e se machucar ainda mais quando era por sua causa, mesmo que seu próprio povo tenha o julgado a vida inteira Triton nunca os odiava. Seria um dom dele em não conseguir sentir ódio? Sorri de leve, o Sereiano que tinha me apaixonado era especial não apenas por fora, e agora protegia o tritão que mandara tirar sua vida. — Por que está matando eles? São Sereianos, nosso povo... — Sua voz ainda soava um tanto baixa. — Não gosto de ver mortes... Arregalei meus olhos indo em sua direção ao ver a pequena lâmina surgindo nas mãos do conselheiro. — Você quer saber por que ela está nos matando?! — Berrou o homem. — Por que os deuses o temem! Puxei Triton para longe do conselheiro que era derrubado agora por Hardar. Confuso em meus braços, Triton fitava-me várias vezes como se procurasse a resposta em mim, todavia, nem eu compreendia o que Sereiano conselheiro tinha dito. Os deuses temem Triton? Mas Triton não era filho de nossa deusa? Por que ela então o temeria?

Tudo isso não era para protege-lo? — Você é capaz de destruir tudo! Controlar tudo! — O tritão continuava a gritar mesmo com a lâmina perto de sua garganta. — Ela teme que quando você despertar seja incontrolável! E Hardar sabia disso quando se relacionou com ela! — Apontou para nossa deusa. — Você é uma aberração destruidora! Isso que você é! Triton se encolhia em meus braços balançando a cabeça. Isso era crueldade demais com alguém como Triton. O abracei forte acariciando sua face, não queria ver aquele tritão chorando, triste ou chateado por ouvir as palavras cruéis do homem que certamente seria morto por Hardar agora. Triton balbuciava algo, porém, não permitia ele continuar, sorria em sua direção agarrando sua face, era que ele merecia, sorrisos. Beijei-o rapidamente o calando. Doía em mim ver seu olhar triste como se ele tivesse nascido apenas para sofrer. Mesmo que tivesse nascido apenas para isso, faria seu destino mudar, o faria sorrir todo dia, toda hora. Triton era o tritão que fez meu coração adormecido gritar, se mexer, saltar! Não permitiria que ninguém fizesse mais nenhuma lágrima rolar pela face que amava. Meu Triton. — Eu amo você. E sempre vou amar — sussurrei com meus lábios perto dos seus. — Aberração isso que ele é! Se ele se descontrolar todos estamos mortos! Ele deveria ter morrido! — Berrava. — Um matador de deuses, isso que ele vai se tornar. Rosnei cansado de ouvir aquilo e fazer Triton apenas tremer. Beijei sua testa antes de sorrir, não importava mais se tivesse outros conselheiros em nossa volta, não importava mais nada. Fiz Triton escondeu sua face em meus cabelos e com os punhos cerrados controlei a água para meus desejos, mesmo que estivesse sendo difícil agora controla-la pela deusa ter tomado força, isso não importava para meu corpo, para mim. Cerrei os dentes fazendo a água obedecer-me e assim avançar contra o conselheiro que berrou. A água em força de punhos se tornou densa e pesada e assim esmagou o Sereiano que não faria falta naquele castelo. Abracei Triton que tentava se soltar querendo descobrir certamente por

que do grito, porém, não permiti. Prendendo-o em meus braços, apenas lancei um último olhar para Hardar que nada demostrou. Levei Triton para dentro, mesmo com seus protestos ele obedeceu fitando rapidamente para trás, certamente procurando Hardar ou o Sereiano morto. Mukay ria histérico em seu lugar, mesmo amarrado e prestes a morrer ele continuava o mesmo de sempre, com seus olhos presos em mim, ele lançou um sorriso frio. — Estava com saudades desse Aiken! — Gritava como um louco. Triton virou-se para ele deixando-me irritado. Mukay nunca calava a boca? Se bem me lembrava, nunca mesmo. — Mais! Mais! Mostra para eles quem é o verdadeiro matador! Vamos Aiken! Rosnei. — Mostre para essa aberração como é matar milhões! Como fez no campo de batalha! Como fez com seu irmão! Já contou para ele sobre seu irmão caçula? Sobre seu pai? Ou talvez sobre sua mãe? Vamos Aiken! Mostre para ele como um matador deve ser! Irritante! Gostaria de esmaga-lo agora se não estivesse rindo por Hardar ter o acertando na cabeça, no entanto, suas palavras fizeram Triton ficar inquieto em meus braços. Seus olhos azuis me analisavam com confusão, todavia, aquele não era o lugar ideal para isso. Além do mais, existia muitos segredos sobre minha vida. — Apenas confie em mim. — Supliquei a Triton. — Não deve escutar tudo que falam, Triton, Sereianos mentem para manipula-lo, tenha cuidado. Brinquei com uma mecha de seus cabelos. Ele pareceu ficar mais calmo enquanto assentia, deixando-me abraça-lo o guiei pelos corredores. — Realmente existe muitas coisas sobre mim que não disse a você, mas, que deve saber primeiro é que nunca vou abandona-lo, sempre que precisar e não precisar também. — Sorri com graça. — Eu estarei aqui com você. Parei diante das portas de meus aposentos. Triton virou-se em minha direção me analisando primeiramente, todavia, sabia que ele estava na constante luta de Triton em sua cabeça. Suas expressões eram tão fofas que faziam-me ter vontade de morde-lo, como pode existir um tritão tão fofo como ele?

— Eu... eu... — O ouvi gaguejar. Sorri, sabia qual palavra ele estava tentando dizer, porém, apenas consegui rir de sua face corada. — Eu amo você — falei. — Pervertido! — Gritou ele chutando-me. Gargalhei, esse era meu Triton de sempre, belo matador de deuses.

9° ESCAMA DE TRITON Esse pervertido! Virei meu rosto mesmo que meu corpo quisesse tanto os beijos de Aiken, uma coisa podia dizer, aqueles lábios eram viciantes, porém, não cederia! Pronto para xinga-lo de novo ao ver seu sorriso ouço os passos novos no corredor, apressados, meu pai vinha em nossa direção com uma expressão séria, mas não a típica expressão dele naquela existia uma mistura de medo e preocupação que era raro em ver no famoso Hardar. — Preciso que leve Triton para casa e não o deixe sair. — Meu pai jogava ordens para Aiken que não respondia. Fitei meu pai com preocupação. O que ele pretendia? E sua preocupação era pelo que tinha acontecido a segundos atrás? Aberração isso que ele é! Se ele se descontrolar todos estamos mortos! Ele deveria ter morrido! Um matador de deuses. Matador de deuses é...? O que seria um matador de deuses? Como vou me tornar algo assim se nem seu caçar direito sozinho?! Ou isso apenas mais uma desculpa para me odiarem e matarem-me... Talvez seja isso... Mais uma desculpa para tirarem-me desse mundo. — Apenas leve Triton agora, e não o deixe sair até eu voltar! — Ouvi meu pai ordenar novamente para Aiken fazendo um calafrio percorrer minhas costas. Ele seria preso? Que aconteceria com meu pai? Dei um passo à frente, todavia, apenas recebi um de seus sorrisos raro e suas mãos em meus cabelos soltos. Não queria perder meu pai, não podia perde-lo! Meus olhos marejaramse fazendo-o rir baixo e se aproximar mais. — Não se preocupe, Triton. — O abracei. Não queria me afastar dele, não iria deixar ninguém machucar meu pai. — Volto daqui a um ou dois dias, enquanto isso me espere em casa e obedeça Aiken. — Fiz bico com as últimas palavras. — No que for sensato, claro. Aiken protestou atrás de mim fazendo-me rir, no entanto, apenas queria

ficar com meu pai, não queria que ele fosse machucado por causa de mim. — Promete que vai voltar? — Choraminguei. O vi rir alto e bagunçar minha juba negra. O fitei piscando. — Você sabe que ninguém me segura. — Piscou ele. — Não deixe ele sair daquela casa! — Meu pai voltou-se para Aiken novamente. Por que meu pai parecia estranho? O que haveria se eu saísse? — O que é um matador de deuses? — Perguntei lembrando-me das palavras daquele conselheiro que foi morto por Aiken. Ainda não conseguia processar os acontecimentos, em um minuto ele estava vivo ao meu lado, e no outro a água o esmagara fazendo sua existência aparentar nunca ter existido, no entanto, o que mais fez meu corpo paralisar foi o fato de Aiken ter o matado, não apenas por ele ser o rei, mas por ver um Aiken totalmente diferente do que imaginei e vi! As palavras de Mukay colaboraram ainda mais para minha surpresa, Aiken já tinha matado antes? Sabia que ele era um guerreiro como meu pai, todavia, guerreiros matavam inimigos de outras raças não a própria raça. Aiken tinha matado outros Sereianos? Quem ele realmente era além do rei dos mares? — Isso não é assunto para agora. — A voz de meu pai tirou-me de meus pensamentos. Senti seus braços em volta de mim e seus lábios no topo de minha cabeça. Hardar Schifino não era de dar abraços, beijos ou qualquer afeto, porém, eu era o único que conseguia o abraça-lo a qualquer momento, e receber seus carinhos. Sorri tristonho. Mesmo que ele me escondendo muita coisa, isso não fazia eu deixar de ama-lo e ter orgulho de tê-lo como pai. Ele sem dúvida era o melhor, mesmo rígido! Desejava ser como ele, ser um grande Schifino, merecer carregar o sobrenome mais poderoso dos mares, e o mais respeitoso. Um dia seria um grande Schifino! Não o matador de deuses! — Apenas cuide dele, por favor. — Meu pai suplicou em direção a Aiken me fazendo ficar surpreso. Nunca o vi suplicar para alguém. Aiken assentiu para meu pai puxando-me, resmunguei querendo acerta-lo em cheio, ele iria ver!

Pervertido! — Cuide bem dele, ou corto você em pedaços. — Mudou de expressão rapidamente. Segurei o riso vendo a expressão de Aiken ao ser ameaçado e fuzilado pelos olhos azuis de meu pai, assentindo como um bobo o vi sair de fininho quando Hardar sorriu em minha direção. — Lembre-se, você não é nada do que falaram! Você é um Schifino. É o Triton! Sorri assentindo. Vire-me seguindo Aiken que me esperou para partir. Quando voltei para a água ela parecia mais gélida. Uma sensação de estranha sentia dela onde fazia meu corpo se arrepiar. Analisei as águas escura vendo apenas alguns Sereianos sorridentes, nada de incomum. Voltei a seguir Aiken com sua bela cauda vermelha que se destacava na água escura, diferente da minha que parecia se ocultar. Finalmente em casa, sentia uma nostalgia invadir meu corpo, não sabia por quantos dias fiquei fora, todavia, sentia saudade do pequeno espaço aconchegante, de meu quarto, e até daquele sofá horrível feito de pele de peixe. Peguei um dos tecidos que sempre ficavam perto da entrada do tubo ajeitando-o em minha cintura, algo que Aiken não fez. Mesmo que sua bunda fosse uma ótima paisagem, não o queria andando nu pela minha casa. Rei pervertido! Ajeitei-me indo em direção ao meu pequeno quarto, meus planos eram dormir e tirar qualquer pensamento ruim que poderia acontecer com meu pai em minha mente, precisava acreditar nele como sempre fiz, ele era o grande Hardar, nada o derrubaria! Não deveria deixar as palavras que ouvi me abalar, jamais seria um matador, não conseguia nem manipular a água como poderia ser um matador de deuses! Isso era loucura! Esse título não era meu, e não queria saber de quem era. Meus planos de relaxar foram, — literalmente —, por água abaixo ao sentir os braços de Aiken em volta de minha cintura e seus lábios em meu pescoço molhado. A água pingava de minhas madeixas não o atrapalhando em nada, admitia que os beijos molhados que ganhavam eram ótimos, as mãos que percorriam meu corpo como o corpo colado em mim, mas não sabia se o momento era apropriado para isso. Sabia que isso farai esquecer-me por breve tempo o que tinha acontecido minutos atrás, no entanto, algo dentro de mim se

agitava. Senti os beijos de Aiken passar por minha nuca e começar a descer fazendo todo meu corpo se arrepiar. Por que tudo que ele fazia em mim meu corpo reagia assim? Sentia suas mãos descerem para minhas coxas e seus beijos também. Sua linha percorreu toda a extensão de minha coluna o que fez-me reagir. Odiava a onda de calor que ele conseguia dar-me com apenas alguns beijos, mas não negava que gostava. Gostava de ser o centro de sua atenção, de seus pensamentos, atos e desejos. Gostava da atenção que ganhava. Senti seus braços novamente em volta de minha cintura e seus beijos em minha nuca fazendo-me soltar um gemido baixo. Maldito tritão! — Pervertido! — Resmunguei fazendo-o rir enquanto beijava-me mais. Segurei suas mãos ao senti-lo mordiscar minha orelha. — Isso ele sempre foi. Aiken foi um dos primeiros que deu um pulo surpreso e quase ri de sua expressão de olhos arregalados. Sorri amistoso vendo a silhueta de Oki parado na entrada do túnel, seus cabelos grudavam em sua face e em suas pontas, pingos caiam escorrendo por seu peitoral. Com o olhar fixo em Aiken, demonstrava uma expressão que nunca via nele. Os dois continuaram a se entreolhar fixamente fazendo-me revirar os olhos. Eles nunca mudam… Suspirando, procurei algo que ajudasse a passar o tempo, estava preocupado com o futuro, com meu pai. Sabia que ele conseguiria o que planejava, era forte e astuto algo que admirava muito, no entanto, algo em meu coração me incomodava, não sabia o que era apenas perturbava-me deixando uma sensação estranha percorrer em meu corpo. Estava com medo do futuro? Certamente. Temia o futuro, temia o que me tornaria nele, sentia medo de tudo nele. Por que não conseguimos mudar o futuro? Por que ele é tão cruel? Ou seria o destino? Destino… outra palavra que fazia meu corpo tremer. Não queria me tornar um matador de deuses, não perder aqueles que amava. Queria ser o simples Triton. Era possível? Fechei brevemente meus olhos, tudo na vida era tão difícil e sem controle

assim? Gostaria de poder ter o poder do destino, do futuro. — Irritante! — Ouvi Oki ralhar atrás de mim. A risadinha baixa de Aiken anunciava que ainda estavam com a briga de sempre, gostaria de saber o que aconteceu no futuro para Oki odiar tanto Aiken, além do mais, Aiken não parecia odiar Oki, nem sentir nenhum sentimento negativo. Teria Aiken abandonado Oki para ficar com Mukay? Vire-me observando os dois. Frente a frente, os dois ainda brigavam, Aiken provocava deixando Oki furioso, ri baixinho daqueles dois que pareciam mais duas crianças brigando do que adultos. Outro fato de Oki era que ele apenas brigava mentalmente com Aiken, nunca o desafiava, ou jogava palavras como armas, apenas o olhar. Piscando, dirigi-me até nossa estante com objetos grossos conhecido pelos humanos como livros, os produtores daqueles objetos que não aguentava na água. Não sabia como meu pai tinha eles, ou como os trouxe para baixo da superfície, todavia, adorava quando ele lia alguma história para mim antes de dormir, adorava quando era a hora de dormir e ele vinha com um livro grosso de capa macia e sem figuras. Se tornando meu livro preferido, a lia centenas de vezes enquanto precisava esperar meu pai voltar da superfície, sua história era sobre o mundo humano, um humano que precisava matar um enorme dragão que destruía aldeias, porém, o dragão gostou dele por ser puro de coração e fez um trato com o humano. Ele seria seu dragão caso aceitasse mudar os corações das pessoas. Não me lembrava o restante da história mesmo tendo lido muitas vezes, todavia, se me recordo o coração do humano se tornou impuro como dos outros de sua raça, e assim o dragão matou todos. Não sabia se a história era verdadeira, mas sabia que adorava as cenas que o dragão aparecia. Peguei um dos livros na estante, o que lembrava de ser a do dragão. Acertando, sorri animado. Minhas horas passariam com uma boa leitura! Abracei o livro como se sentisse falta dele, era tão nostálgico pegar ele e deveria ser mais ainda o ler novamente. Sorridente, girei meu corpo em direção ao meu quarto ao sentir algo cair sobre meus pés, piscando, baixei o olhar vendo uma folha dobrada e amarelada. Imaginei que fosse algo do livro, no entanto, as folhas era presas o que mostrava que aquele papel não fazia parte do objeto em minhas mãos. Enquanto Aiken e

Oki continuavam a brigar, agachei-me pegando o papel fino e que parecia que se desmancharia a qualquer momento. Sabendo que Aiken não responderia nada a mim naquele momento, descobri por mim mesmo o que significava aquilo, e de onde tinha vindo. Largando o livro sobre o sofá horrível que odiava abri a folha com calma podendo ver agora palavras gravadas nela, ficando ainda mais confuso. Sabia que humanos usavam esse tipo de objetivo fino, mas o que ele estaria fazendo abaixo da superfície? E intacto? Dei de ombros, meu pai tinha livros inteiros onde a água nunca os tocou, então seria normal ter algo assim aqui. Apertando os olhos, tentei ler as palavras gravadas, uma caligrafia extremamente cursiva e pequena, todavia, bela se encontrava ali. Pela cor do papel fazia-me ter dificuldade para ler ainda mais. Apertei os lábios conseguindo apenas ler apenas “caro Hardar”. Aquela carta foi feita para meu pai? Exclusivamente para ele? Por quem? Continuei tentando a ler, e aos poucos as palavras ali faziam meus olhos se arregalarem, minha cabeça girar confusa e nostalgia invadiam meu corpo, era como se aquelas palavras fossem para mim, como se as conhecia o dono delas. O conhecia? Isso seria impossível... Caro Hardar. Espero que essa carta chegue até você, e que a leia. Eu não posso mais ficar em seu mundo, como um deus dos humanos preciso permanecer no ar deles, na terra deles, na vida deles, como a deusa permanece na sua e de outros da sua raça. Como não pude me despedir de você devidamente, dou primeiro os parabéns. Agora você é um Schifino, e logo o líder de seu clã, e o que levou a benção do deus terra. Outro motivo que escrevo essa carta para você, por que desejo que nunca se esqueça de mim mesmo que se apaixone ou se case, quero o ver feliz e quem sabe um dia não me mostre um pequeno Hardar socador, sim estou rindo muito disso. Então deixo minhas palavras aqui para você, como meu amor. Quando fui ver a cidade que minha irmã criou e suas criações primordiais, ria dela gabando-me que minhas criações eram mais belas e poderosas, ela desafiou-me então concordei em se apenas um Sereiano me convencesse daria a ele uma benção de minha escolha, apostava no rei de sua

raça, no entanto, ao vê-lo passar por aquele correr, suas madeixas escuras caindo por seus ombros largos e seu peitoral forte, você roubou toda minha atenção naquele momento ainda mais quando suas órbitas tão azuis quanto a água miraram em minha direção. Via bravura, destreza e poder em seu olhar, mesmo assim me apaixonei e meu coração inútil que bate em meu peito disse que esse tritão ganharia minha benção. Escondi o máximo de minha paixão de você e de todos, para observar outros Sereianos, mas, minha atenção apenas se voltava para você, assim percebi que era paixão, ou como vocês dizem, o coração cantar. Tentei novamente permanecer sério e não mostrar nada, tentei fugir de você pelo castelo para não o atacar e contar tudo que sentia, leva-lo comigo para meu mundo, guarda-lo e protege-lo, e quanto mais sabia de seu clã e sua situação desejava mais dar-te minha benção, e finalmente chegou o dia que me aproximei de você, o primeiro dia que alguém conseguiu me acertar, e digo que você tem uma bela força, minha boca doeu por dias! E mesmo com todos os socos que levava de você ao me aproximar, você me permitiu pouco a pouco ficar em sua presença, ensina-lo troques e até como manejar sua arma, em fazêla ficar mais forte. Mas tudo acaba, nada que é vivo permanece por muito tempo, isso eu odeio, porém, a mãe suprema não permite que eu mude isso. E aqui despeço-me devidamente de você, e quem sabe um dia não nos encontramos novamente. Desejo-lhe felicidade, e se precisar de mim, não hesite, você é o único que sabe meu nome. Chama-me e aparecerei para qualquer coisa, apenas não se esqueça de mim. Meu único pedido. Com amor, Belial, Deus terra, seu antigo amante. PS: Amo você tritão socador rabugento. Li demoradamente todas as palavras dispostas ali, como os olhos arregalados não sabia o que exatamente pensar. — Agora sei de quem você puxou? — Quase virei socando Aiken ao ter me assustado. Com o coração acelerado, o fitei vendo-o atrás de mim lendo a carta junto com certa curiosidade em sua face, mas era claro que ele falaria algo engraçado ou faria suas típicas brincadeiras que fosse, as vezes duvidava que era

ele que estava no poder do reino. — Não é à toa que Triton tem soco bem forte! — Continuava ele rindo. — E os resmungos também vem de nascença! — O via apontar para final da carta. Idiota... Eu vou é chuta-lo! Não mais soca-lo! — Isso é interessante. — Pronto para chuta-lo, o ouvi soar mais sério. — Hardar realmente foi abençoado pelo deus terra como todos sabem, porém, ninguém sabia de seu íntimo relacionamento. Papai nunca tinha me dito nada de sua vida, a carta em minhas mãos contava mais da vida de meu pai do que o próprio, não entendia por que escondia tanto, seus segredos eram guardados no fundo da terra, sua boca era um tumulo. Ele sentiria falta do deus terra e mantinha-se calado para não se lembrar do passado? Fitei novamente a caligrafia, o deus terra parecia ser sincero e cada palavra que lia sentia isso como se estivesse conectado a ele, no entanto, nem ao menos o conhecia e tão pouco sabia sobre ele, sobre sua existência. Apenas cultuávamos a deusa água, jamais o deus terra que parecia estar mais conectado ao nosso mundo do que imaginávamos. Belial... esse era o nome do deus terra? Qual seria o nome de minha mãe? E por que não me sentia tão conectado a ela fora da água? Desviei o olhar para Aiken que se sentava no sofá fitando a capa do livro ali presente ao seu lado, seus cabelos vermelhos caiam-lhe sobre os ombros o deixando novamente com seu ar sexy que odiava admitir, tudo nele era tão belo e gracioso, maldito tritão! — Hardar nunca contou nem mesmo sua trajetória ao se tornar um Schifino, porém, ele foi amante de dois deuses, dois irmãos que não se davam bem. — Aiken dizia fitando em direção a entrada da casa. — Conta as histórias que os dois deuses irmãos brigaram e assim separaram a terra em dois, a terra que foi presente de sua mãe suprema, e com isso a deusa fez um mundo debaixo e acima da água, tudo que a água tocava era dela, e o restante de seu irmão os tornando Deusa das águas, e deus da terra. Apertei os lábios, lembrando-me de uma noite meu pai ter contado a história dos deuses. Das estrelas dois pequenos seres brilhosos nasceram e para poderem brincar, a mãe suprema criou a terra e ao pisarem, os cambos se encheram de plantas e flores, água surgiu em abundância tomando boa parte da terra. Os dois

irmãos correram pelo planeta se divertindo até crescerem e decidirem criar algo assim fizeram os Sereianos, com belas caudas os tornando possíveis de viver dentro e fora da água, foram sua criação primordial, entretanto, os dois irmãos brigaram fazendo o ódio deles, cidades de área surgirem, o que chama de deserto, e lavas serem jorradas para alto dos vulcões matando muitas plantas. A deusa decidiu que tudo que a água tocava seria dela a partir daquele momento e o restante de seu irmão, e assim se separaram, porém, ouvi de Hardar que os dois irmãos já estavam unidos e foram eles que deram a benção em conjunto para meu pai. Mas existia algo na história, na carta em si que não entendi, não se unia a história que me foi contada. Na carta o deus terra disse “as criações de minha irmã”, os Sereianos foram criados pela deusa, ou pelos dois deuses? — Você sabe algo do deus terra? — Perguntei em direção a Aiken que brincava agora com um livro. Ele deu de ombros mostrando uma expressão pensativa. — Ouvi pouquíssimo dele, apenas que ele é tão poderoso quanto nossa deusa. — Comentava. — Ouvi uma vez de meu pai que o deus terra tão poderoso que poderia ser comparado a mãe deles, porém, era um abobado. — Aiken fez uma expressão engraçada. Segurei o riso com suas expressões. Esse Deus seria tão poderoso quando minha mãe? Suspirei. Existia muitos segredos por trás de meu pai e cada vez que descobrir um parecia ser um chute no estomago, qual era o maior dos segredos deles? Por que não podia saber de nada? Por que ninguém podia saber de nada? — Antigo rei conheceu o deus terra? — Fiz a pergunta ao pensar nas palavras de Aiken Se tinha escuta de seu pai que o deus terra era abobado, no entanto, poderoso isso dizia que Erial tinha conhecido o deus terra? — Acho que sim, pelo que escutei isso dá ênfase que eles se conheceram, porém, não sei onde ou quando, talvez fosse mentira. — Aiken mostrava um olhar confuso. — Nem sei se meu pai não mentia dizendo que eu não era filho dele. — Vi tristeza em seu olhar como o desviar dos de Oki. Sabia que Erial foi um rei e pai, cruel, sabia pouco da história de como ele era com Aiken, todavia, via que não foi nada agradável. — O que ouviu não era mentira.

Arregalei os olhos mirando em direção a entrada vendo a silhueta forte e torneada de joias de meu pai. Gotas de água escorriam por seu rosto de expressão séria como por seu peitoral forte, seus cabelos compridos grudavam em sua pele escura que era enfeitada por joias douradas no pescoço e braços. Seus olhos tão azuis quanto o meu foram em minha direção e o vi suspirar antes de dar passos até a pilha de roupas e vestir-se apenas da cintura para baixo. Largando a carta para Aiken que voltou a lê-la, corri para os braços de meu pai o pegando de surpresa ao virar-se. O abracei com força que apostava que aquilo apenas fazia cocegas para um corpo tão forte, choramingando em seu peito estava feliz por sua volta, não tinha demorado nada como ele supôs. Ele estava ali comigo. Com as mãos em meus cabelos recebi seus carinhos e abraços demorados. — Pai... — Sussurrei. — Já disse que não quero ranho em mim! — Brincou ele. Ri não querendo solta-lo. — Então socador rabugento como foi lá em cima? — Aiken sorria travesso balançando o papel em seus dedos. Senti o corpo de meu pai se enrijecer. — Onde pegou isso! — Ele gritou furioso. — Não pode xingar seu rei. — Aiken continuava com suas brincadeiras. — Devo dizer que pescou um peixe grande. — Gozou. Olhei para Aiken que ria no sofá, ele era o único Sereiano que conseguia desafiar e provocar Hardar, qualquer outro sairia correndo, admirava isso nele, mas ao mesmo tempo achava tolo. Hardar foi em direção a Aiken que saiu correndo deixando a carta para trás. Pegando o papel amarelado passou rapidamente seus olhos nele antes de fechar o papel com cuidado e guarda-lo novamente dentro do livro que voltou para a estante juntamente com outros. Aproxime-me de meu pai podendo ver Oki brigar com Aiken que tentava se esconder atrás de seu corpo fugindo e temendo Hardar, balancei a cabeça focando-me novamente no único Sereiano que queria agora respostas. Ele se virou encontrando meu olhar e por sua expressão deveria saber que faria alguma pergunta. — Não é hora de perguntas, Triton. — Falou ficando em frente a pequena estante com bastante livros de capas semelhantes ao que tinha antes em

minhas mãos. Decidindo fugir de meu olhar, fez-se que estava analisando algo naquela estante velha. — Você nunca me dá-me as respostas mesmo. — Resmunguei em um tom mais sério. Não sabia os motivos de Hardar nunca se abrir, de nunca contar nada de seu passado, de sua infância, porém, sabia que não era apenas comigo, até mesmo Aiken pouco sabia e o único Sereiano que saberia dar-me as respostas não existe mais. Erial Alkes foi o único tritão que se aproximou de meu pai contendo todos os segredos do herdeiro Schifino, o único também que sabia sobre o tal deus da terra, Belial. Algo naquele nome me soava tão nostálgico com uma sensação confortável, sentia uma proteção em volta de mim ao pensar nesse nome, no entanto, nada sabia compreender sem nenhuma resposta. Suspirei, baixando a cabeça, meus cabeços penderam-se para frente tapando minha expressão cansada, não estava com meu corpo fatigado, e sim minha alma, meu coração, queria apenas entender o que sou, o que é um matador de deuses. Tudo parece estar girando tão rápido em minha volta fazendo-me ficar atordoado em sem conseguir caminhar, era uma sensação estranha e comum? O que é um matador de deuses? Por que nasci diferente? Albino... Não sou um tipo raro de Sereiano, o que sei apenas que sou o Triton, um Schifino não nomeado filho do herdeiro do clã mais poderoso dos mares. — Tudo no tempo certo. — A voz de meu pai soou. Ergui minha cabeça fitando suas órbitas azuis que tinha herdado. Suas mãos tocaram meus cabelos acariciando-os no topo, sorri de leve, era bom receber seus carinhos o que não era típico do famoso general do reino, lembro-me de quando pequeno o provocava quando queria chamar sua atenção. Senti seus braços em volta de mim e assim fui puxado em direção ao seu peito nu. Gostava de seus abraços, do calor de seu corpo que quando pequeno corria para perto dele para aquecer-me. Queria voltar ao passado, ser apenas um tritão encolhido em seus braços. — Pai — chamei sua atenção. — Pelo menos pode dizer quem é Belial?

Pelo que conseguia fitar sua face o vi arregalar os olhos rapidamente, existia alguém que conseguia abalar as pernas de meu pai? Fazer seus olhos se arregalarem? — Ou, o que realmente ele foi para você... Hardar permaneceu em silencio como imaginara, nunca teria as respostas vinda dele, nem mesmo sabia de meu outro avô! Apenas tinha descoberto que meu tinha sido gerado pelo vovô Reykal quando o mesmo e meu pai discutiram, sabia que ele era então um Sereiano Yin e que mantinham sempre a linhagem pura para sempre haver Yin na família, porém, vovô se relacionou com outro tritão que não sabia o nome ou se estava vivo, e perguntava-me se meu pai o conhecia. As histórias dos Schifino não saiam além das paredes da enorme casa debaixo da água, um presente da deusa para o primeiro clã que governou seu povo. Eu mesmo sabia pouco da própria família que carregava o sobrenome. — Você esconde coisas demais dele! — A voz de Aiken soou forte pelo local acordando-me. Pisquei, tentando fitar em sua direção sem sucesso. — Você nada diz a ele! E quando tudo desmoronar! O que ele vai fazer? Vai deixa-lo sozinho! — Aiken elevava cada vez mais sua voz. Ele mesmo sabia que meu pai escondia tantos segredos... — Não se meta nisso! — Ralhou Hardar. — Não me meter! — Repetiu. — Você apenas está preso em sua visão que tudo vai ficar bem! Mas nem tudo fica bem! Nem mesmo Triton sabe das histórias de seu próprio clã! Pisquei remexendo-me para tentar escapar daqueles braços fortes que me apertavam como se quisessem me afastar e proteger de algo. Aiken bufou. — Você apenas vai destruí-lo assim. — O tom agora saiu mais baixo. Desvencilhando-me dos braços de meu pai podia agora observar a expressão dos dois, as duras de meu pai que apenas tinha o maxilar trincado, e a indignação de Aiken com seus punhos cerrados, apenas Oki mantinha uma expressão confusa como a minha. — No começo dos tempos a primeira raça a ser criada foram os Sereianos, pelos dois deuses, porém, apenas veneramos a deusa Água a que ficou responsável por nós por viver dentro e sobre as águas. — Hardar tentava manter sua voz controlada e baixa. — Criando então três famílias que são

tratadas como as mais nobres e poderosas. Os Schifino se destacaram, eram os reis naquela época, seu bisavô foi rei dos Sereianos. Arregalei os olhos. O homem que até hoje está vivo, mas debilitado, foi um dos primeiros reis do oceano? Mas a quanto tempo existe nosso mundo?! — Não se engane com tempo, Triton, o povo acha que nós fomos criados a milênios, mas a grande verdade que fomos criados a tão pouco tempo, nós, a última geração de Sereianos. Depois de nós não haverá mais outros. Pisquei, um nó em minha cabeça se fez. Meu pai estava querendo dizer que existiu uma geração beta de Sereianos? Entretanto, por que eles sumiram? E como somos as últimas gerações? — Por que... Via o olhar de Aiken também surpreso. — Os deuses não podem fazer nada, existe um tempo limite para nosso mundo, não digo a água. Todos vão parar de existir, humanos, Sereianos, Octopus, animais, árvores! Foi assim que a mãe suprema decidiu após seus filhos brigarem, porém, mesmo unidos novamente não conseguiram intervir com a mãe suprema e a destruição é eminente. O vi suspirar e fechar brevemente os olhos. — É aí que você entra. — O vi torcer os lábios. — Você é o matador de deuses, o único que pode entrar em confronto com a mãe suprema, e assim fazer todos seres vivos continuarem vivos. Eu sou o único o que? Se pudesse ver meu reflexo agora talvez veria um tritão de boca aberta e olhos esbugalhados que acabara de vera coisa mais assustadora do mundo! Não conseguia engolir as palavras que Hardar acabará de pronunciar, não conseguia processa-las, nem nada. Não bastava ganhar um novo título que me assustava, agora mais uma coisa que socava com força meu estomago deixandome sem ar, o que mais o futuro, o destino tinha preparado para mim? Nunca seria capaz de trilha-lo em total controle? Talvez isso não fosse possível. — Uma vez os Sereianos foram destruídos por culpa de suas ambições e desobediência, a primeira história da criação foi quando as sereias se rebelaram contra a deusa e começaram a matar humanos, quebrando a regra mais sagrada que os dois irmãos criaram. Humanos não se interferiam nem matariam os seres

da água, e vice-versa, fazendo assim a Deusa elimina-las fazendo assim o número dos Sereianos yin aumentarem. Sereianos yin, os Sereianos machos que podiam procriar. Sereianos que chamavam de ser abençoados, os Schifino eram compostos por muitos Yin. — Ela as recriou, porém, foi a vez dos tritões se rebelarem por pura ambição, no entanto, ela apenas destruiu alguns colocando a ordem novamente, a ordem que durou por longos milênios até um rei ambicioso subir ao trono. — Vi os olhos de meu pai se dirigirem a Aiken que desviou o olhar. Erial era tal rei, todos o temiam, todos sabiam de sua gula por poder e mais poder. — Antes disso houve muitas guerras que mataram metade dos Sereianos o que deu a oportunidade para deusa criar uma nova geração, e a última, fazendo então as três famílias mais poderosas, apenas elas poderiam controlar os Sereianos e o mais puro o oceano. Erial morreu na piro batalha dos tempos e logo após a Deusa ergueu os três pilares, das três famílias nobres. Aiken, eu e quem era o outro? Seria da família que Erial roubou o trono? — Eu sou um pilar... — Sim, ao nascer você herdou meu direito de pilar. — Ouvi o tom de graça de meu pai e assim seus dedos em meus cabelos. — Por que... — balbuciei. Eu nasci apenas para ser uma arma? Ser um destruidor? Não queria ser isso, me nego a ter que fazer isso! Duelar com a mãe suprema é loucura! Não existe ninguém com tanto poder como a criadora do mundo, do universo, de tudo! Se ela decidiu isso, não tem como lutar apenas esperar! Não tem como... Impossível vencer! Eu não posso fazer isso... — Eu não consigo fazer isso... — Desviava meus olhos para tudo que é lugar balbuciado aquelas palavras. Parecia mais um louco e de fato estava ficando louco, minha cabeça doía como se alguém estivesse batendo nela, meu mundo estava girando. Senti meu estomago embrulhar e doer, minha respirava ficava pesada e meu corpo um medo começava a assombrar-me dando a vontade de fazer minhas pernas apenas correr para qualquer lugar. O que estava acontecendo comigo?

— Triton... — A voz baixa de meu pai soou ao senti-lo se aproximar. Não, não sou o matador de deuses, sou apenas um tritão inútil e fraco que deveria ficar em um canto, não sou poderoso, não sou um deus, não.... — Nem mesmo Belial conseguiu intervir contra mãe suprema! É impossível. — Berrei como um louco colocando as mãos em minha cabeça. Lágrimas brotavam em meus olhos, e pude ter o vislumbre do arregalar das órbitas de meu pai fazendo-me notar o que tinha saído de minha boca. Como eu sabia disso? Nem mesmo sabia quem ao certo era Belial! Eu estava ficando completamente louco! Dei um passo a trás. Era loucura! Tudo isso... Corri em direção a entrada apenas queria a água apenas, seu envolver, seu carinho. Necessitava escutar o oceano, nadar. Conectar-me... — Triton! — Hardar berrou, mas era tarde demais. Senti a água invadir o tubo e assim após minha cauda surgir longa e azul a balancei com todas minhas forças, não sabia onde queria ir, apenas nadar. Meu corpo me levaria onde precisava ir e até lá controlaria minha mente. Imagens estranhas começavam a passar em minha cabeça, quem eram que invadiam minha cabeça! Cachos negros e um rosto pálido como a cor da minha pele sorriam em minha direção, como um homem de longos cabelos negros e de pele albina como a minha, todavia, ele não abria um sorriso grande como a mulher, tinha uma expressão mais séria e triste... Balancei a cabeça. Cabelos cacheados e negros, pareciam tão iguais que lembro da minha mãe...Se a deusa é minha mãe então tal homem é... — Ai! — Berrei alto sentido ter batido em algo e logo em seguida arregalei os olhos. Olhei para os lados para certificar-me de que não tinha ultrapassado as muralhas e para minha sorte ainda estava em meu território. A água em minha volta estava silenciosa e vazia tirando o macho em minha frente que virava sua cabeça em minha direção com uma expressão assustador que fez minha espinha inteira se arrepiar. Em uma zona sem peixes algum e composto por muito rochedos, o tritão de estrutura grande e forte catava algo atrás de uma grande rocha. Sua cauda longa era composta de escamas brilhantes da tonalidade azul que puxava para lilás por tudo sua extensão, as pontas de sua cauda eram pontiagudas, cauda

salmão, a mais comum entre os Sereianos, no entanto, o que chamou-me mais minha atenção, — tirando aquela expressão, — Foi as tatuagens na horizontal que começavam em seu peito e terminavam na linha de seu umbigo, ela ficava bem quase na volta da cintura, palavras que não sabia o significado estavam em seu corpo bem à mostra. Não muito incomum ter um Sereiano com uma tatuagem pelo fato de como eram feitas, certamente deveria ser um nobre, e pelas joias que carregava já mostrava isso. Ao virar seu corpo pude ver suas mãos cheia de joias, ele as seguravam com força mesmo que seu corpo já estivesse cheio. — De-desculpe-me! — Sorri medroso querendo ir para trás. Ele apertou os olhos antes de analisar-me. Queria fugir dali! Aquele tritão apenas fazia meu corpo inteiro se arrepiar. — Esses olhos... — O ouvi balbuciar. Tremi. Mais um tarado?

10° ESCAMA DE TRITON Fitei seus olhos castanhos que pareciam que vasculharia toda sua alma, seu olhar era como o de meu pai que descobria tudo que você escondia apenas com suas órbitas poderosas. Intensos e poderosos, esse era o ar que esse Sereiano passava. Seus cabelos castanhos flutuavam com leveza à medida que seu corpo se balançava por sua cauda mantê-lo em constante equilíbrio. Aquela tatuagem em seu peito era estranha e ao mesmo tempo familiar como se já tivesse a visto antes, entretanto, nunca tinha visto aquele tritão. — Qual seu nome? — Sua voz era calma e bem curiosa como seu semblante agora. Arqueei a sobrancelha não compreendo aquele macho, primeiro tinha uma expressão que iria arrancar minha cabeça com suas mãos fortes e grandes, logo depois sorria e mostrava curiosidade sobre mim?! O estranhei. Seria confiável? — Triton... — respondi baixinho o vendo arquear uma sobrancelha. — Schifino... Não deveria estar falando meu nome para estranhos, entretanto, sabia que meu sobrenome colocaria medo em qualquer Sereiano que tivesse pensamentos impuros, todos temiam o clã Schifino, claro, menos Aiken. Sua idiotice conseguia fazê-lo desafiar Hardar o que ninguém nunca conseguiu. — Sou Triton Schifino. — Continuei. — E você...? Arregalei os olhos indo para trás ao vê-lo se aproximar rapidamente deixando poucos centímetros do corpo dele do meu. Cerrei os dentes, realmente era mais um pervertido dos mares? — Esses olhos... — O que tinha meus olhos? — Sabia, apenas um clã tem órbitas tão azuis cristalinas como as suas! — Ele dizia animado. Sua empolgação era grande parecia uma criança que tinha ganhado um peixe raro e fresquinho, mas, o problema era que não compreendia sua empolgação! Era para ele estar assustado, ou talvez, querendo vingança contra o clã Schifino, era a primeira vez que via alguém tão feliz depois de ouvir o sobrenome mais temido dos mares. Afastei-me mais daquele tritão o estranhando demais o que não adiantou muito, seguindo-me ele ainda falava animado largando até mesmo suas joias. Vi

que logo atrás dele, entre algumas rochas estavam um baú naufragado cheio de joias douradas e prateadas principalmente, e poucas pedras vermelhas e verdes. — Você parece ser novo de quem é filho? — perguntou com sua curiosidade estranha. O que aquele Sereiano queria? — Por que quer saber? — falei ríspido para tentar afasta-lo. Cruzei os braços continuando a fita-lo como meu pai fazia para intimidar qualquer que fosse quem o enfrentasse. O vi analisar-me primeiro antes de arregalar os olhos rapidamente para sorrir ainda mais, no entanto, mesmo com um enorme sorriso pode notar um pouco de tristeza em seus olhos castanhos. — Claro, o tritão albino, você é filho de Hardar! — Sua voz parecia saudosa. — Sou Han Blynalvor. Blynalvor! Arregalei os olhos. — Você é parente de Side! Sabia que existia apenas uma família com esse sobrenome, a de Side, composta por pais guerreiros que muito já lutaram sob a liderança de meu pai, se lutar é a palavra certa, além do mais depois da grande guerra nunca mais ouve uma guerra apenas era usado o exército agora nas festas comemorativas e nas muralhas. Meu pai não gostava deles e eles não gostam de Hardar o que foi difícil de aceitarem a amizade minha e de Side, pouco conhecia sobre a família Blynalvor além das coisas que Side contara, não era uma família rica e grande como os Schifino, porém, pouco que sei era que Side perdeu um irmão, e o restante de sua família morava mais para o sul. — Side Blynalvor, o cabeça de espeto? Quase gargalhei loucamente ao ouvir as palavras daquele tritão, de fato era o apelido que Side me contara ter e o usava para provoca-lo, e agora sabia que Han era realmente o irmão do meu melhor amigo. Assenti. — Sou amigo dele. — Sorri. — Milagre aquele espeto ter amigos, ele sempre foi sozinho. — dizia saudoso. — Pensei que Side tinha perdido seu irmão... — Comentei lembrandome de nunca ter visto Han em lugar nenhum de nosso reino, principalmente na

casa de Side. Side também nunca falava de seu irmão e sempre que tocava nesse assunto, ele se calava e desviava o olhar como se temesse algo. Han baixou o olhar tristonho. Eles deveriam ter outro irmão? Tinha tocado em um assunto delicado? Precisava mudar de assunto! — Ah, qual significado da tatuagem? — Sorri falando rapidamente e apontando para o peito de Han. Ele piscou analisando rapidamente sua tatuagem com uma expressão de desgosto, mas tentou sorrir o máximo que conseguia ao erguer sua face em minha direção e abrir sua boca certamente para responder minha pergunta quando outra voz poderosa como um trovão soou atrás de mim, furiosa e poderosa era como sempre a conhecia parecia estar ainda mais de mau humor. Virei um pouco minha cabeça encontrando com os olhos de meu pai que tinha a expressão indiferente, e a postura dura. Com sua arma já em suas mãos ele apontou para Han que apenas desviou o olhar. — Significa expulso, exilado ou marcado. — Meu pai respondeu à pergunta. Pisquei não entendendo nada. — Ele foi marcado pelo clã Schifino, e assim dito sua sentença de exilio. — Continuava Hardar. — Ele deveria estar na zona neutra ou em qualquer lugar fora do território Sereiano. Analisei Han que apenas se encolhia com sua expressão triste e a mão sobre seu peito, senti pena de sua condição, o que ele tinha feito de tão cruel para ganhar uma sentença dessa de minha própria família? Han parecia ser um tritão tão alegre e brincalhão, mas era claro que aquela expressão séria dele me assustava. Olhei em direção de meu pai que parecia ter muito ódio pelo Sereiano que fitava. Todos os Schifino deveriam odiá-lo? Porque? Abri a boca para repreender meu pai, todavia, foi a voz de Han que soou antes da minha fazendo as coisas ficarem mais confusas para mim. — Minha sentença já acabou então estou voltando para meu reino. — Sua voz era baixa e dolorida. — Apenas queria ver minha família. — Acho que Triton já falou demais dela, agora pode sumir novamente. — Meu pai cuspia as palavras fazendo-me surpreender com sua frieza.

Ele sentia completo ódio e podia ver isso em seus olhos. — Pai! — Ralhei não conseguindo a atenção de Hardar. — Não apenas aquela família, Hardar! — Han continuava a falar. — Por que me odeia tanto? Não foi escolha minha! Não abandonei vocês! Pisquei, arqueando a sobrancelha. Olhei em direção a Hardar. O que estava acontecendo ali? — Nunca foi minha intenção abandona-los! Tiravam vocês de mim! Não, arrancaram vocês de mim! — Elevava sua voz tentando se aproximar aos poucos de Hardar. — Eu nunca tive a intensão de abandonar Reikal e você! Quando ele me disse da gravidez nunca passou por minha cabeça abandona-lo com você! Seu avô me baniu! Olhei para meu pai, Han era meu outro avô que nunca ouvi falar? Sabia que vovô Reikal era um Yin e que não aceitou meu pai após o nascimento fazendo os dois terem uma rixa agora, vovô Reikal é frio e fechado, sabia que após meu pai nascer deu para minha bisavó cuida-lo e ao saber que Hardar seria o próximo líder dos Schifino ele enfureceu ainda mais, na época ainda não era nascido, porém, sabia que ele tentou usar-me para trazer a ira do Sereiano que considero meu avô, mas não conseguiu. Foi anunciado que quando completasse a idade adulta faria os testes para me tornar um verdadeiro Schifino e próximo sucessor, e isso apenas fez Reikal me odiar ainda mais, e nunca mais olhar para meu pai. — Ele tirou vocês de mim! Ele acabou com minha felicidade e família! Hardar apenas semicerrou os olhos. — Ele odeia-me por sua culpa! Ele deixou-me em quaisquer braços por culpa sua! — A ira estava impregnada na voz de meu pai. Segurando firmemente sua arma aproximei-me, não podia deixa-lo agir por pura ira não seria certo com Han, se ele falava mesmo a verdade, ele apenas merecia ter pelo menos seu filho com sua arma guardada não apontada em sua direção. Hardar fitou-me e sorri agarrando seu braço livre, amava meu pai mesmo em volto de segredos, não o deixava de amar, de ficar feliz ao seu lado e agradecer por ter criado com amor e carinho, nunca deixado até hoje. — Por favor, entenda que nunca quis deixa-lo. Fazê-lo o odiar! Imaginei que mesmo sendo sentenciado ele o criaria, o cuidaria, protegeria e ensinaria ser um verdadeiro Schifino, sabia que meu sobrenome nada valeria para você, mesmo assim ainda estava feliz! Eu ai ter um filho! Pensei até em enche-lo de

mimo e conchas para brincar! — A voz de Han saia tremular. — Mesmo imaginando que Ranzel não deixaria casar-me com Reikal... Sentia-me triste por ele. Meu pai desviou o olhar e sorri escondido, seria tão engraçado ver meu pai cheio de conchinhas e roupinhas delicadas. Meu pai rosnou ao meu lado denunciando que tinha sido pego no flagra, sorri em sua direção roçando minha cabeça em seu braço forte o que ajudou a convence-lo, meus truques que fazia quando pequeno ainda adiantava no famoso Hardar coração de pedra, ele sempre repensava quando fazia meus mimos para ele. Han sorriu fraco em nossa direção. — Pelo visto o criou bem e com amor — proferiu baixo. — Eu amo meu filho! E não admitirei ninguém o machucando. — Hardar assegurou firme. Sorri. — Melhor irmos. — Anunciou tocando em minha cabeça. — Mas e o Han? Olhei em sua direção, não queria que ele fosse expulso novamente. — Como seu avô disse, sua sentença já acabou então nada posso fazer. Fiquei mais aliviado, pelo menos ele não seria afastado novamente de nenhuma de suas famílias, porém, ainda via a tristeza em seu olhar, não queria vê-lo triste. Meu pai chamou-me a atenção se virando para partir, entretanto, antes de partir nadei rapidamente em direção a Han o abraçando com força deixando-o surpreso como meu pai logo atrás de mim. — Não fique triste! — Sorri. — Side está esperando! — Completei. — Vovô. Brinquei sorrindo grande o que fez ele se alegrar um pouco. Senti seus dedos grandes em meus cabeços bagunçando-os ainda mais por não ter os amarrados, ele agradeceu baixinho e pude notar pitadas de felicidade em sua voz. Estava funcionando. — Que tal um dia ensinar você a caçar tesouros? — Ele sorriu. — Sou um ótimo caçador de tesouros! Já viu um barco naufragado? Quer ver um? Assenti como um louco, sempre quis ver um daqueles barcos grandes que todos falavam! Os grandes objetos que conseguiam flutuar sobre nossas águas, dentro do imenso oceano governado pela nossa deusa, seres do deus terra

conseguiam andar com tais objetos! Han riu baixinho bagunçando meus cabelos com seus dedos grandes, mesmo que no inicio meu corpo inteiro tenha tremido de medo por seu olhar, Han era um tritão legal e sorridente. Teria sido muito divertido tê-lo por perto desde cedo o que me fazia não compreender as razões dos Schifino, do macho que ainda governava o clã, meu bisavô, o tritão que um dia foi o rei dos mares. Como ele reagiria agora sabendo que eu estou com Aiken? O filho do Sereiano que roubou seu trono. Eu estou?! Do que minha mente está pensando! Não estou com Aiken, não sou do Aiken, por que fico dizendo isso! — Pensando bem. — Han falou tirando de meus devaneios. Vi seus olhos enormes e escuros me analisarem como se estivesse procurando algo em mim. Queria me afastar, arregalei minhas órbitas azuis, odiava quando me observavam como se fosse uma relíquia, um pedaço de carne, e Aiken fazia muito isso! E maldita hora que estava pensando novamente nele! Desviei o olhar, queria correr para perto de meu pai que tocou em meus ombros fazendo meus músculos relaxarem. — Estranho — disse ele depois daqueles segundos me observando. O que seria estranho? Além de minha pele clara... — Ele não tem olhos vermelhos, nem cabelos, nem cauda, nada! — Han disse pasmo. Arquei a sobrancelha. Por que deveria ter algo vermelho em minha genética? Sou filho de Hardar, meu pai não tinha nada de vermelho! Nem meu avô ou ele mesmo! Queria dizer que eu sou um Schifino quando ele abriu novamente a boca fazendo-me quase gritar um “que” alto! Ele estava ficando louco? Ou era mais segredos de meu pai? Não, certamente era mais dos segredos de meu pai! Só podia! Porém, só soube piscar e deixar meu queixo caído fitando em sua direção. — Ele não é filho de Erial também? Filho de Erial! Ele estava me confundindo com Aiken? Vi meu pai rosnar ao meu lado e virar a cabeça para outro lado, sabia que ele não tinha brigado com o antigo rei o que fez a amizade deles se quebrar, no entanto, tinha mais do que uma amizade nesse meio? Meu pai tinha ficado com o rei dos mares?!

Impossível! Aiken não era meu irmão, era? Olhei em direção ao meu pai que apenas decidiu me ignorar ali com minha expressão de dúvida e espanto! Isso com certeza era uma grande surpresa para mim! Mais que saber que sou um matador de deuses, algo que nem compreendia bem, todavia, sempre pensei que meu pai tinha amado apenas minha mãe, apenas a deusa... Hardar Schifino foi o amante de Erial Alkes!? Pisquei. Isso era de fato uma grande surpresa, mas, isso teria ligação por ele ter criado Aiken? Foi ele que foi um pai para Aiken, quem criou, protegeu, ensinou e treinou como colocou no trono. Meu pai era seu braço direito e novamente um conselheiro direto do rei, algo que ele foi de Erial... — Ele não é filho de Erial, idiota! — Hardar rosnou. — De onde você tirou isso! Não sou um Sereiano Yin! Nem Erial era. — Era? Então rumores foram verdade, existe novo rei. — A mais de quatro anos, idiota! — Nunca tinha visto meu pai tão alterado. Olhava entre ele e Han, que parecia se divertir com as alterações de meu pai, que de fato lembrava muito meu avô Reikal, porém, um nível menor. Vovô Reikal me dava medo! — O filho de Erial está no poder agora, Aiken Alkes — disse. — O namorado desse pirralho aqui do meu lado. — Meu pai apontou para mim rindo irônico. Pisquei querendo bater com minha cauda nele! Namorado! Não era namorado de ninguém! — Não sou namorado dele! — Berrei. Meu pai sorriu malicioso virando seu corpo, um pouco, em minha direção com aquele sorriso e expressão fazia-me ficar surpreso por vê-lo fazer gracinhas, todavia, não as queria agora. — Esqueci, esse pirralho é noivo dele. Noivo! Piorou! Han me olhou acreditando em tudo! Corei escondendo minha face, que vergonha! Que vergonha! Meu próprio pai!

— Você é cruel! — Choraminguei colocando uma expressão que usava demais quando era pequeno para pedir algo a ele. Muitas vezes funcionava quando ele tinha certeza que o que fosse pedir não iria machucar-me ou ter a presença de outros Sereianos, lembro-me que em todos meus aniversários era apenas eu e ele nunca podia fazer amigos, ou sair sem estar com ele, não o compreendia na época fazendo-me fazer muita birra, todavia, agora compreendo tudo que ele tentava fazer, e impedir. Hardar apenas estava tentando me proteger. Recebendo seus típicos carinhos em meus cabelos, mais o bagunçou do que acariciou. O vendo sorrir travesso, cruzei os braços mirando em qualquer outra coisa que não fosse ele, não podia dizer que não foi uma boa ideia fazer o ato, no entanto, não gostei do que vi. Arregalando os olhos, toquei no braço de meu pai que já tinha notado a presença dos Sereianos que nos cercavam. Com armas em punhos não mostravam ser nada amigáveis e o número apenas crescia... Dez. Esse era o número atualmente de tritões que nos cercavam e apontavam suas lâminas em nossa direção. — Tsc, pensei que tinha acabo com o problema. — Meu pai murmurava. Cada soldado ali parecia hesitar como se temesse algo e certamente estavam com medo de enfrentar Hardar, no entanto, o número de oponentes era o dobro o que daria uma boa chance de vitória e isso apenas fazia meu estomago revirar. Não queria meu pai machucado por minha culpa, se aqueles Sereianos estavam ali tudo diziam que me queriam morto e fariam isso até obter o que desejavam. Fitei de soslaio em direção a Hardar. Ele não hesitaria em sacar sua arma para me proteger, não hesitaria em nada se fosse para proteger-me e isso me dava medo. O que deveria faze? Não sabia invocar minha arma, mesmo que soubesse não saberia lutar fui um fracasso contra Arkab, imagina dez tritões. Aiken. Por que sempre pensava nele quando estava com medo e em perigo, por que sempre esperava ele... — Han. — Ouvi a voz de meu pai séria e baixa. — Pegue Triton e fuja

na primeira abertura que fizer para vocês. Arregalei os olhos como Han. Ele estava ficando louco! Enfrentar tantos assim! — Entendeu! — Rugiu ele. Assentindo Han não o contrariou o que fez-me ficar com mais medo, meu corpo inteiro ficou paralisado Assentindo Han não o contrariou o que fez-me ficar com mais medo, senti meu corpo paralisar e até perguntar-me como não tinha perdido o equilíbrio quando minha cauda parou de balançar, fitei pelo canto do olho um dos soldados se mexendo, vindo em nossa direção guiando mais quatro com lanças em punho e olhos com sede de sangue, podia ver tudo como se fosse em câmera lenta diante de olhos. Não conseguia mover meu corpo, não conseguia nem mesmo gritar mesmo que não soubesse o que gritar, nada conseguia fazer apenas ver a lança vindo em minha direção. Ponta prateada e afiada era mirada em mim com pura fúria. Aiken... Minha mente chamava desesperadamente por Aiken... Odiava-me por ser tão fraco, por depender de todos para me proteger... apenas queria ser forte, apenas queria proteger todos... Fui empurrado para trás pelas mãos de meu pai e assim o viu chamar sua arma bloqueando a lança comum que tinha vindo em minha direção. Seu corpo movia-se tão bem, meu pai enfrentava-os com bravura que desejava ter, com destreza e força, mesmo sendo algo tão mortal, era tão belo vê-lo lutar e se mover com sua arma que parecia completa-lo. E de fato a sua arma te completa. Ela é feita de sua própria alma... Hardar movendo-se para frente atacando os quatro Sereianos que eram mais habilidosos que imaginava, tinham mandado guerreiros melhores para que o serviço dessa vez fosse completado. Engoli em seco vendo o sangue manchar a água, sangue que era derramado pela lança de meu pai. Han puxou-me para trás onde pude ver que outros soldados vindo em nossa direção, pondo-se em minha frente Han fazia seu próprio corpo de escuto para me proteger, não sabia se ele conseguia chamar sua arma o que fez-me desesperar ainda mais. O que deveria fazer? Estavam lutando por mim, se sacrificando. Não quero ser fraco... Quero lutar, quero protege-los, não ser um peso...

Como posso ser forte? Fechei meus olhos tentando controlar minha respiração mesmo ao escutar mais sons de lâminas, meu pai lutava sem medo e Han também mesmo que ele tivesse recém me conhecido, ele estava lutando por mim! Precisava lutar por eles! Precisava ser forte por mim, por eles, e conjurar minha arma. Precisava pensar nela, chama-la, conectar-me a minha alma como era dito, ela fazia parte de mim... Abri meus olhos vendo dois Sereianos vindo em minha direção, Han lutando, Hardar lutando..., porém, meu corpo não se movia. Por que... — Apareça. — Minha boca se moveu sem ordenar. Não entendi o que estava acontecendo apenas sentia meu corpo se mover sem eu ordenar ou desejar. Meu braço foi estendido e minha palma aberta e pude ver finalmente minha arma aparecendo em minhas mãos, nitidamente e grande, o belo objeto aparecia assustando os Sereianos que vinham em minha direção, estava feliz se não fosse por um problema. Não controlava meu corpo. Era como se alguém o estivesse controlando... Segurando firmemente meu tridente quebrado vi-me apontar em direção aos dois tritões que se entreolharam decidindo voltar a atacar, algo em mim temeu, não aqueles Sereianos, e sim a mim. Sentia medo de mim mesmo. Girei meu tridente em meus dedos cortando a água em diagonal, um ato idiota a princípio, porém, não foi como imaginei. A água corpo os dois seres como navalhadas e pude ver as órbitas arregaladas em surpresa de meus adversários, girando novamente meu tridente podia ver agora a água ficar mais densa perto dele e começar a mover em círculos, toda a água em minha volta parecia esperar um comando meu ficando estranha. Erguendo meu tridente para cima sentia mais medo. — Corte. — Novamente as palavras saíram de minha boca sem serem ordenadas. Apavorei-me vendo a água cortando o peito de cada Sereiano em minha volta como se fossem mil navalhas passando por eles, a água em volta deles voltava-se contra eles tirando até mesmo seu oxigênio, e o sangue pintou mais ainda o oceano azul o manchando de vermelho. — Corte, mate todos. — As palavras eram profanadas de minha boca e

água obedecia. Não! Não faça isso! Não era desse jeito que queria vencer algo! Matando meus adversários friamente com a água, o tirando o ar para agonizarem, não era assim que eu era! Não era isso que me tornaria! Tentava fazer meu corpo parar, ele precisava parar! Via uma grande bolha de água tomar conta de meu braço que se movia ainda contra minha vontade girando meu tridente quebrado, pelo canto do olho notei um Sereiano se aproximado rapidamente vindo com sua lâmina mirada em meu braço, todavia, foi a minha que moveu-se cortando-o na altura acima do umbigo em um movimento da horizontal. Meu corpo moveu-se pouco apenas para cortar o Sereiano que arregalou seus olhos perdendo o equilíbrio e indo até a areia no fundo do oceano. Senti meus lábios formar um sorriso. Estava rindo da morte daquele tritão?! — Triton! — Ouvi a voz de meu pai. Meu corpo moveu-se em direção ao meu pai que mostrava uma expressão de confusão, até eu estava confuso com que estava acontecendo comigo, com meu corpo, com minha lança. A bolha de água apenas crescia tomando conta ainda mais de meu braço que se movia fazendo a água matar cada Sereiano que não vinha mais em minha direção, estavam com medo. Mesmo que isso tinha feito meu pai não se machucar, temia que meu corpo ordenasse a água machuca-lo ao vê-lo se aproximar. Estava com medo de mim mesmo! Tremi notando meu braço se mexer, todos que se aproximavam eram mortos! Hardar não podia se aproximar mais! Não, pai, não se aproxime, por favor! Pare! Pare! Pare! Não era assim que queria, não queria machucar meu próprio pai! Alguém me pare! Por favor... Sentia as lágrimas rolarem em minha face não sendo engolidas pela água, era tão estranho, elas corriam em minha face mesmo que estivesse em contato com a água, dentro dela. Com minhas órbitas miradas em meu pai, suplicava para que ele ou alguém me parasse, não queria mais machucar ninguém! Queria fechar os olhos ao ver o tridente sendo apontando em direção ao meu pai que finalmente parou de nadar em minha direção.

Não podia machuca-lo... — Triton. Meu coração se acelerou ao escutar som da voz de quem desejava, meu nome soava pela boca de Aiken... Meu corpo moveu-se para trás onde puxe vê-lo se aproximar com cautela, sua expressão mostrava confusão e procurava resposta não apenas em meu olhar, mas, em nossa volta e em Hardar que decidiu apenas se afastar de nós. Queria sorrir, queria correr rumo a Aiken, entretanto, meu corpo ainda estava fora de meu controle o que corria risco de machucar Aiken também. Meu coração pareceu parar ao pensar nisso, Aiken poderia ser machucado... Ele também não podia se aproximar! — Triton, não se preocupe! Eu estou aqui. — Sua voz saia cheia de carinho enquanto se aproximava com calma. Como se eu fosse uma besta perigosa o que de fato estava sendo... — Olhe para mim! — Pediu ele o que fez-me ficar surpreso. Estava então controlando meu olhar? Conseguiria controlar minha boca? Tentei abrir a boca fazer alguma palavra ser soada... Nada. Não sabia como não conseguia controlar meu corpo, era como se alguém estivesse o possuído, ou até como se eu fosse uma marionete e tudo que conseguia fazer era gritar mentalmente para que tudo parasse, nada mais... Era tão estranho isso, a sensação que sentia cada vez que meu braço se movia e meu tridente era apontado para cada Sereiano que antes estavam vivos em minha volta, agora só podia ver o vermelho querendo ganhar espaço entre o azul e negro do oceano. Uma vista nada bonita, no entanto, uma cor tão intensa... era a cor dos olhos do tritão que parecia confuso e preocupado e de fato até meu pai estava, estava matando loucamente sem controlar-me, qual Sereiano não iria ficar perturbado? Baixei o olhar fitando um lindo siri branco com azul andando pela areia e logo se escondendo, era um dos raros e digo que um dos mais deliciosos, sua casca azul não é nada comparada sua carne, eles eram meus pratos preferidos quando pequeno, porém, meu pai parou de dar-me dizendo que eram muito calóricos, isso foi maldade! — Triton... — A voz de Aiken estava mais próxima. Ergui o olhar aproveitando que meu tridente estava apontando para baixo

sem perigo de machucar Aiken e ninguém. Se aproximando devagar Aiken finalmente pode chegar tão próximo de mim e fiquei feliz por meu corpo não se mover contra minha vontade, fitei seus olhos vermelho como o sangue podendo receber apenas carinho vindo deles, pouco a pouco Aiken ousava mais tocando em minha mão livre entrelaçando seus dedos nos meus. — Está tudo bem — disse ele, mas sabia que no fundo nenhum de nós dois sabia que era verdade. Nada estava bem, nem minha situação agora, nem o futuro que tanto temia. — Eu estou aqui — falou ele. — Estamos juntos, isso que importa, então não se preocupe, Triton. Abri bem meus olhos escutando cada palavra. Como ele conseguia não ter medo? Meu corpo inteiro tremia e sabia que se não fosse por aquela bolha que fazia minha mão segurar firmemente meu tridente, já o teria largado, o que deveria fazer? Recebi os braços de Aiken em volta de meu corpo meu corpo em um braço forte o que fez mais lagrimas caírem de meus olhos, sentia tanto medo que tinha me esquecido que todos ali dependiam de mim, não podia deixá-los, precisava lutar para protege-los como Hardar sempre fez sem ver quem era os adversários, precisava lutar como Aiken fez arriscando sua vida para protegerme de Arkab... Eu era tão tolo... — Eu estou aqui, não precisa ter mais medo. Suas mãos foram até minha face acariciando minhas bochechas com seus dedos quentes, suas caricias conseguiam fazer uma leveza surgir em meu corpo mesmo que ainda não conseguisse move-lo, minha alma, meu corpo gostava do que recebia. Não sabia se um sorriso surgiu em meus lábios, todavia, podia se dizer que estaria com um pequeno sorriso agora. Tudo em meu corpo pedia mais de Aiken, queria mais de seus abraços, do calor que ele me proporcionava... queria tudo. Sua testa encostou-se na minha e pude ficar bem de perto as órbitas que apenas transmitiam carinho para mim. Senti uma pitada de ciúmes ao imaginar se ele tinha esse olhar com mais alguém, o queria apenas para mim, queria Aiken apenas para mim... Sentindo seus dedos escorregarem por meu braço livre do tridente, novamente tive meus dedos entrelaçado com os seus como seus lábios. Doces

que me lembrava e cheio de desejo, minha boca, meu corpo reagia correspondendo os beijos de Aiken. Sentia sua língua vasculhar minha boca com calma enquanto seus dedos apertavam minha mão e sua outra mão que permaneceu em minha face escorregava agora para minha nuca. Sentia sua mão quente segurar alguns fios de meus cabelos soltos enquanto o beijo não tinha fim e meu corpo gostava daquilo, queria mais, muito mais. Meu coração batia aceleradamente e minha respiração que saia por minhas guelras estava desregulada, tudo isso aquele tritão conseguia fazer em meu corpo, todas essas sensações ficaram mais intensas quando estive em seu quarto. Ele conseguia fazer tudo isso com minha alma.... Arregalei os olhos sentindo meu corpo se contrair e assim se afastar do corpo de Aiken, sem entender nada apenas senti-me mover para trás apontando o tridente para frente. Em direção ao meu pai. Algo em minha garganta travou vendo-o endireitar o corpo fitando o tridente apontado em sua direção. Ele tinha tentado tocar no tridente? Não, ele tinha tocado no tridente podia vê-lo segurar seu pulso, entretanto, por que ele não conseguiu tira-lo de mim? Se me lembro bem meu pai conseguiu manusear minha arma naquela luta contra Arkab, então por que não conseguiu agora? Sentia a bolha em meu braço se mover como a água em volta de meu tridente. Não! Era meu pai! Em um ato de desespero não notei quando conseguia controlar parcialmente meu corpo conseguindo segurar meu outro braço apontando o tridente mais para baixo, não iria machucar aqueles que amava! Já bastava que tinha me tornado um assassino sangue frio! Não toleraria mais isso! Cerrei os dentes. Pare! Pare! Nem um tridente consegue controlar? Arregalei os olhos ao escutar aquela voz que pelo visto não era o único ao tê-la ouvido. Como minha expressão surpresa, Aiken também a teve e meu pai apenas o vi baixar o olhar... Soltei meu braço finalmente conseguindo mover todo meu corpo, todavia, não tinha mais minha atenção presa em se conseguia ou não me mover e sim na água que começava a ficar gélida e estranhava como se ela se tornasse uma espécie de gelo.

Sentia o ar gelado, e assim escutei barulho de gotas de água como... Passos? Pisquei, movendo meu corpo para trás vendo finalmente o dono dos passos e da voz, como uma espada vindo em minha direção. Meu corpo paralisou vendo a lâmina vindo rapidamente em minha direção, bem diante de meus olhos apenas sentia o pavor de não conseguir mover meu corpo para lado, ou até mesmo me jogar no chão, nada, não conseguia fazer absolutamente nada. Novamente me tornava covarde e fraco dependendo dos outros para me salvar. Ferindo-os para me salvar! Vi as madeixas vermelhas de Aiken se movendo graciosamente à medida que o dono de seu corpo se posicionava em minha frente e rebatia a espada que era para mim receber, por sorte, Aiken não se machucou o que me deixou mais aliviado, todavia, tínhamos outra coisa para nos preocupar. Algo extremamente... Estranho? Cai sentado sobre um chão gelado e acinzentado que me lembrava a gelo, no entanto, também me lembrava metal. Vendo minhas pernas aparecer lentamente composta por escamas azuis cintilantes, ergui o olhar, não era o único que tinha a cauda substituída por pernas, notando que até mesmo Aiken estava caído em minha frente onde sua cauda sumia. Ele tinha uma expressão confusa ao fitar-me nos olhos, mas nem eu sabia a resposta para que estava acontecendo. Mirei no homem que balançava sua espada como se fosse um brinquedo divertido, aquele homem não só mostrava uma expressão cruel como até mesmo o que ele vestia era estranho! Com roupas largas e de negro com dourado, suas vestes pareciam ser de um tecido um tanto diferente do nosso. Tinha feito especialmente para seu corpo e caia de uma maneira um tanto exuberante e sexy, deixando seu peitoral de pele clara a mostra, seus cabelos negros e compridos caiam por seus ombros. O vi enrolar uma pequena corrente em seu baço direito na qual segurava sua espada o que fez notar que ela estava presa a sua arma. Pisquei. Quem era? E por que ele não tinha pele escura? Fitei minhas próprias mãos, o tom da pele daquele homem era como a minha, tão branca... Tentei ver seus olhos, porém, ele nunca mirava em mim. Apenas sorria e brincava com sua espada e qualquer palavra que ouvia sair de sua boca fazia

meu corpo tremer e pesar, era como se alguém colocasse pedras em mim. Quem era? Onde estaríamos? Continuando a observar em volta, podia notar uma extensão vazia e cinzenta, tudo não passava de uma vasta extensão daquele chão estranho e neblina, não havia água, terra e nem vento o que me fazia pensar como estávamos respirando. — Não consegue nem se defender de uma espada simples. Que desagradável. — Sua voz era tão bela, entretanto, apenas palavras cruéis era dita por ele. Tão belo, mas, tão grosso! — Já chega. — Ouvi a voz de meu pai soar poderosa como sempre. Sorri vitorioso, agora aquele homem sem escamas veria! Imaginava que meu pai iria ameaça-lo com sua lança, ou o cortaria no meio, todavia, Hardar apenas caminhou em direção do homem parando poucos metros dele permanecendo com uma expressão irritada e braços cruzados. Não conseguia compreender nada do que via, aqueles dois apenas se observavam em silêncio, nenhum movimento, nenhuma palavra, nada! Era feita. Hardar conhecia aquele homem? Era um humano? Não tinha escamas, guelras ou orelhas em formato de nadadeira. Além do mais, tal homem usava botas! Qual Sereiano usaria botas! Isso apenas atrapalharia para nossa causa aparecer. — Hardar. — O homem falou. Então eles se conheciam! Aiken ergue-se em minha frente fazendo-me ter a bela visão de sua bunda! Maldito tritão! Aposto que vez de propósito! E por que apenas reagia em ver apenas a nudeza dele! Meu pai estava pelado! E meu corpo não reagia daquele jeito, minhas bochechas não ficavam vermelhas como um camarão, nada acontecia, por que apenas com Aiken! Mexendo em seus cabelos, suas madeixas taparam boa parte de minha visão deixando um gostinho raivoso em mim, mas, para essa sensação que tinha apostava que tinha adorado a nova visão recebia. Aiken virou-se piscando enquanto me observava com uma expressão confusa antes de rir baixinho e estender minha sua mão em minha direção.

— Se queria tanto ver era só pedir. — Piscou ele. Rangi meus dentes de raiva, ele iria me pagar! Por hora apenas aceitei a oferta de suas mãos para erguer-me, era claro que gostaria de algumas roupas, nem meu cabelo era tão comprido como os de Aiken para ajudar em algo. Respirando fundo, precisava deixar isso de lado, havia algo mais sério acontecendo ali! Os dois voltavam a se observar e o silêncio pairar novamente sobre eles. Eles teriam uma rixa? O que estava acontecendo ali! Alguém poderia dizer! — Então esse é o famoso Belial. Quase pulei ouvindo a voz de Han perto do meu ouvido direito, de fato pulei batendo no corpo de Aiken sentindo muito mais do que queria! Belial?! Era esse nome que ele disse? “Nem mesmo Belial conseguiu intervir contra mãe suprema! É impossível. — Berrei como um louco colocando as mãos em minha cabeça.” Minhas palavras profanadas horas atrás voltava em minha mente, de onde sabia disso? E se foi esse Belial que escreveu a carta, isso queria dizer que... Aquele era Deus terra. — Não cheguei a vê-lo na casa dos Schifino, porém, ouvi de Reykal que Hardar ganhou a benção desse deus e algo a mais. — Algo a mais? — sussurrei confuso. — Eles foram amantes. — As palavras ditas saíram da boca de Aiken, de um Aiken com expressões totalmente desconhecidas para mim. Ele parecia sentir ódio pelo deus terra, isso era nítido em sua face. Mirei no Deus terra que finalmente virava-se para mim podendo ver seus olhos. Suas órbitas em tons surreais, jamais vi íris daquele jeito em uma mistura de azul e castanho claro. As cores pareciam se unir tornando ainda mais bela. A mistura de duas cores, a azul que lembrava as dos Schifino, e um castanho tão claro. Ele sorriu friamente em minha direção. — Você cresceu rápido, Triton. Cresci rápido? Cresci no tempo de qualquer Sereiano! O que aquele deus estava falando?

— Porém, você mimou ele demais, Hardar — disse ainda me fitando. — Sinto o poder querendo sair do corpo dele, no entanto, ele está o contendo. Eu estava contendo? Encarei meu pai que apenas tinha seus braços cruzados e rosto virada contra mim, ele novamente estava escondendo algo. Por que ele fazia isso? — Você não mudou nada. É uma pena. — Aiken rosnou ao meu lado ao escutar as palavras de Belial. — Você é incrivelmente idêntico com o antigo rei irritante. Aiken bufou ao meu lado. Erial Alkes. O pior dos reis e pelo jeito o pior dos pais também. Aiken sempre ficava incomodado, agitado, quando Erial era citado ou algo ao seu respeito era comentado, era como se ele quisesse nunca mais escutar tal nome, esquecer de sua cabeça e de seu mundo o que me fazia pensar o que tinha acontecido entre Aiken e seu pai. Voltando minha atenção para meu pai agora, o via ainda em silêncio distante de todos. O que ele estaria pensando? Belial se moveu cuidadosamente em minha direção o que fez meu corpo endurecer no lugar, algo naquele homem fazia até minha alma tremer. Sua aura assustadora talvez? Não, era muito mais. Meu corpo não sabia como reagir em sua presença isso me fazia ficar com medo, um medo que nunca senti por nada ou ninguém, era mais assustador do que ver uma multidão jogando pedras em você, não sabia como explicar apenas sentia minha alma gritar dentro de mim. Os olhos poderosos do Deus estavam tão fixos em mim, um sorriso pequeno era visto em seus lábios carnudos, seus longos cabelos negros balançavam com graciosidade a cada passo que ele dava, tudo nele parecia mais belo e gracioso do que via em Aiken. Tudo em Belial emanava a poder como em meu pai, porém, nele era em dobro. — Sinto o poder querer sair de você. Ele sussurrava em uma distância ainda grande, no entanto, conseguia ouvi-lo nitidamente em minha cabeça. Pisquei confuso com tudo em minha volta, não apenas pelo fato de suas palavras. Meu poder queria sair de mim? O que isso significava? Que maldito poder era esse? O matador de deuses?!

Jamais vou aceitar esse poder! Não serei alguém que não desejo, não deixarei o destino mudar tudo. — Ele cresce à medida que você fica mais determinado, ele é parte de você, ele é você. — Ainda podia escutar nitidamente a voz de Belial em minha cabeça mesmo longe. Arregalei os olhos ainda paralisado vendo aquela mão vindo em minha direção, meu coração acelerou, todavia, minha alma se acalmava onde um sentimento saudosos começava a surgir dentro de mim, um sentimento que não entendia em ter naquele momento. Meu coração se acalmava como meus músculos. Fitei as órbitas de duas misturas de cor que não mostrava frieza, nelas podia ver tristeza e saudade direcionado para mim. Belial sentia saudade de que? Eu sentia saudade de que? Por que meu corpo começava a ter a necessidade de ir em sua direção, o que estava acontecendo comigo? Fui para trás automaticamente não sabendo entender nem mesmo meus sentimentos, o ato fez o pequeno sorriso de Belial sumir e uma expressão de tristeza surgir. O que ele estava fazendo comigo? Agarrei o braço de Aiken não sabendo mais que fazer, não sabendo mais como entender meus sentimentos, meu corpo, meu mundo! Fui recebido pelos braços de Aiken em minha volta aproveitando a deixa para esconder minha face em seu peito. Sabia que Aiken estaria olhando friamente para Belial conseguia sentir seus músculos rígidos prontos para atacar e se defender, mas, não queria que ninguém brigasse, apenas que alguém me explicasse o que aconteceria... O que vai acontecer comigo, e com todos. — Nem pense em machuca-lo. — Ouvi a voz de meu pai. Olhei de soslaio notando sua mão apertando o pulso de Belial como o trocar de olhares dos dois nada amigáveis, nem pareciam que um dia foram amantes como Han tinha digo, estaria ele certo disso? Os dois permaneceram naquele estado até Belial suspirar e puxar seu braço, tocando no lugar onde foi apertado, fechou brevemente seus olhos antes de lançar um sorriso travesso para Hardar. Era tão estranho a troca de olhares deles, eles pareciam hesitar demais em seus movimentos, tanto meu pai quanto Belial. — Bom, devo ir agora. — Avisou o deus terra. — Logo nos veremos novamente, Triton. — Ele piscou em minha direção. — E você realmente se parece muito com esse bagre velho.

Ele apontou para meu pai que avançou nele com os punhos fechados, pisquei observando as cenas que seguiam na minha frente. Meu pai bufava ao não ter conseguido acertar Belial que gargalhava se distancia mais de Hardar, entretanto, o que mais me apavorou foram as atitudes de meu pai! — A carta era verdade então. — Aiken comentou baixo e risonho. O fitei rapidamente. Qual era a relação que eles tinham! — Não hesite, garoto, pode se arrepender no final. — Ele piscou novamente. — Seu poder é você! Lembre-se disso, por que terá que lutar por aqueles que ama se quiser mantê-lo vivos, como todo os seres vivos. Belial terminando de falar pegou o cabo de sua espada e com um último olhar lançando para meu pai, não consegui ouvir as palavras que saiu da boca daquele Deus antes dele cravar sua lâmina no chão acinzentado e novamente o cenário mudar. Novamente dentro da água, meu pai não comentou as palavras que recebera de Belial o que dizia que era algo íntimo dos dois e mesmo não querendo todos os detalhes queria saber sobre o passado de meu pai, quem ele conheceu primeiro? Minha mãe ou Belial? E por que ele tinha o tom de minha pele enquanto a deusa não conseguia lembrar qual era... Suspirei balançando novamente minha cauda. A água me cercava calmamente, estava tudo silencioso e poucos cardumes por perto que fugiam ao sentir nossa presença. Virei-me para Aiken que tinha seus olhos fechados e braços cruzados e sua expressão era dura como se não estivesse se agradado de algo. Fitei minhas mãos. Saiba que sempre estarei por perto como sempre estive! Se precisar de mim, chame-me, Triton. Olhei para superfície escutando a voz de Belial tão forte em minha cabeça. Ele sempre esteve por perto? Não compreendia, porém, precisava lutar, precisava permanecer determinado era assim que meu poder crescia, era assim que deveria controla-lo. Ele era eu, eu era ele como foi dito então usarei não para ser o matador de deuses, mas para ajudar todos e salvar aqueles que amo. Nadei rapidamente em direção a Aiken sabendo que um lado meu iria berrar comigo! Não podia pensar nisso agora, precisava me manter firme, pelo bem de todos, de meu pai, de Aiken, de Oki...

Todos. Abracei Aiken que abriu seus olhos surpreso, talvez estivesse surpreso pela força como o abraçava deixando até mesmo a mim pasmo. Acalmando meu coração acelerado com pensamentos que invadiam minha cabeça pensando no futuro, planejando meu futuro, mexi minhas guelras lentamente acalmando minha respiração e assim selando os lábios de Aiken. Meu Aiken. Apenas meu, agora. O oceano pareceu entrar em uma enorme bolha de silêncio no momento que beijava Aiken, só existia as mãos de Aiken em minha face, seus lábios, seu corpo. Sentia-me ficar corado à medida que não conseguia esquecer de fato a presença de meu pai logo atrás de mim, sabia que Hardar não me separaria de Aiken, todavia, ainda era constrangedor. Não sabia que expressão ele estaria fazendo agora, mas pedia que não fosse seu sorrisinho típico quando me provocava, pelos deuses! Eu iria mata-lo se ele estivesse sorrindo! Aiken quebrou o contado de nossos lábios, sorrindo logo em seguida e imaginava que iria começar com suas brincadeiras, o problema era que meus lábios, meu corpo queria mais dele, mais de seus beijos salgados e ao mesmo tempo tão poderosos, de suas mãos em minha face corada, queria mais e mais dele. Maldito tritão! Mordi meus lábios sentindo a vergonha tomar ainda mais meu corpo ao pensar na pergunta que desejava colocar para fora. Era tão estranho ao mesmo tempo tão bom. Ficava feliz de alguém ter me aceitado e protegendo-me todo esse tempo, nunca fui de pensar se teria um grande amor, apenas desejava ter amigos. Meu maior sonho era ter amigos e poder sorrir com eles e que menos imaginava era fato de ser ainda mais agradável sorrir com aquele que o ama, com aquele que você ama e Aiken ao mesmo tempo parecia tão viciante. Seus beijos, suas atitudes, seus carinhos, seus sorrisos que maioria me irritava, tudo nele! Aos olhos de qualquer outro Sereiano, ele poderia ser imperfeito, no entanto, para mim a cada minuto, cada dia, ele ficava ainda mais perfeito. Isso era o coração cantar? — Quero ficar... com... você. — gaguejei baixinho.

Vermelho, mirei meus olhos na areia abaixo e perto de nós. Algumas arraias sem camuflavam ali nos observando deixando-me com a sensação de estarmos sendo observado agora não apenas por meu pai. Todos os peixes desse oceano deram para nos observar! Vou devorar vocês! As ondas na superfície ficaram mais forte fazendo a corrente de água abaixo delas ficarem mais forte, meus cabelos flutuavam tapando muitas vezes minha visão lembrando-me que os conflitos de meus sentimentos agitavam a água. Respirei fundo mexendo minhas guelras pensando o que falar agora. — Pervertido! — Resmunguei ao nota-lo em constante silêncio e olhos um tanto arregalados. Ele riu baixinho, pegando minha face e depositando um pequeno beijo em meus lábios. — Será bem-vindo — sussurrou ainda com seu típico sorriso. — Meu Triton. Sorri de leve sentindo sua testa na minha, Aiken sabia ser ótimo em seus carinhos e admitia que adorava suas caricias e mimos, se meu outro lado orgulhoso não berrasse a cada ato, iria apenas pedir mais de seus mimos e ficar assim por dias! — Quer ir com você para plataforma — disse sem cerimonias. Aiken arregalou rapidamente suas órbitas em surpresa e logo mirou em algo atrás de mim que adivinhava ser meu pai. Seus lábios fizeram uma linha fina não se abrindo para dar-me alguma resposta e imaginava o porquê. Ele obedecia e seguia Hardar como um pai e confiava em suas palavras e atos, todavia, levar-me para o lugar onde estariam aqueles que querem me matar, não era de seu desejo como não era do meu pai e seu olhar pedia por sua ajuda. Ou talvez conselho? Não conseguia mais decifra-lo. — Triton... — Sua voz saiu fraca e duvidosa ao citar meu nome. Eu sabia, ele não queria levar-me para plataforma. — Eu quero ir! Se sou eu que precisarei salvar a todos não posso ficar me escondendo! Já me escondi por vinte anos, Aiken! — Minha voz era cheia de tristeza e raiva. Estava cansado de ficar escondido, preso, por que meu povo me odiava. Não iria pedir para eles me amarem agora para salvar suas vidas, todavia, apenas

baixarem as pedras de suas mãos. Não queria mais ser agredido, apenas aceito. Eu não os odeio, jamais os odiei, sempre quis viver no meio deles. Nunca os trocaria para ser de qualquer outra raça ou até mesmo um deus. Eu amo o que sou, amo meu pai, amo meu povo e minha cauda. Eu tenho um pai maravilhoso, três melhores amigos, e agora um grande amor, já está bom para mim o amor deles. — Se Hardar concordar apenas, sabe que ele não vai me ouvir se dizer um não. — respondeu desviando o olhar. Assenti. Virei-me para procurar a silhueta de meu pai e como imaginava, ele não estava muito longe de nós. Com os braços cruzados fazendo seus músculos se mostrarem ainda mais rígidos, sua expressão era fechada e vazia enquanto fitava o nada. Han estava perto dele em silêncio profundo certamente não sabendo o que falar para seu próprio filho. Respirando fundo, nadei em sua direção chamando sua atenção finalmente, podia notar um pouco de tristeza em seu olhar que logo foi substituído por preocupação certamente por estar nadando rapidamente em sua direção. Sorri o abraçando o deixando surpreso. Foi rodeado por seus braços forte em um abraço que adorava. Hardar podia não ser o pai que demostrava carinho toda hora ou dizia eu te amo, porém, seus “eu te amo” ele demonstrava mais em seus atos, como abraços, proteção, cafunes e até em suas palavras de consolo ou determinação. O amava, não compreendia toda sua preocupação e proteção, talvez um dia, se quisesse adotar um filhote entenderia como ser um pai. Adotar um filhote... Nunca parei para pensar que a linhagem Schifino acabava em mim, meu pai não era um yin e nem eu, todavia, diferente dele, me apaixonei por um Sereiano macho, nem eu, nem Aiken podíamos gerar, será por esse fato meu pai hesitou em deixar-me relacionar com Aiken? Se bem me lembro, ele não gostou muito da ideia no início. — A resposta é: Não. — Ele disse sem mesmo eu abrir minha boca. Desvencilhei-me de seus braços por alguns centímetros fitando em suas órbitas azuis. — Mas... — Não! É perigoso demais. Perigoso demais?! Eu estava prestes a lutar com alguém que duvidava

que poderia vencer onde se eu perdesse todos seres vivos, incluindo a mim, morreriam! O que era mais perigoso que isso! O que seria aqueles inimigos contra o verdadeiro! Nada! Absolutamente nada. A mãe suprema era poderosa como seu nome dizia e para derrota-la precisaria ultrapassar o supremo! E isso me deixava mais acanhado, eu era apenas um Sereiano que mal sabia invocar sua arma como poderia lutar com nossa mãe suprema? Ainda mais poderosa que a Deusa dos mares, mais poderosa que o Deus terra. E certamente, mais poderosa que os dois deuses juntos. Suspirei ouvindo os sermões de meu pai de quanto era perigoso e não me deixaria ir para plataforma e sabia que se deixasse ele me colocaria em baixo de seu braço e me protegeria até das bolhas de ar na água. A ideia não era ruim, ver o grande Hardar Schifino sendo tão carinho e protetor até era imaginável. Mas não podia aceitar seu não, dessa vez não poderia. Sorri fraco o abraçando fazendo seus sermões se calarem. — Obrigado — sussurrei para ele. O vi arquear uma sobrancelha confusa. — Agradeço por sempre ter me protegido, porém, dessa vez vai ter que deixar-me crescer. — Sorri fraco. Suas órbitas azuis se desviaram das minhas e podia notar que as palavras trancaram em sua garganta no momento que Hardar abria a fechava seus lábios. Ele sabia que eu estava certo, no final ele nada poderia fazer, esse inimigo agora ainda poderia ser protegido, no entanto, o que nos aguardava, não. Precisava saber defender-me sozinho mesmo que caísse, levantar-me mesmo que o inimigo fosse forte, precisava lutar por mim, por eles, por todos. Todos... A palavra não soava amarga ao pensar que teria que lutar e salvar todos os Sereianos que viram as costas para mim, que me agrediram e humilharam-me, era tão estranho, mas, parecia que algo dentro de mim queria ajuda-los fortemente... — E você mesmo não disse que sou noivo de Aiken? Então sou o futuro rei e preciso morar na plataforma. Hardar demorou a abrir um meio sorriso. Mesmo com a face em chamas por minhas palavras sorri em sua direção recebendo seus dedos grandes em meus cabelos ganhando um pequeno carinho que adorava, era tão nostálgico, o

passado sempre parecia caminhar comigo e as mãos deles em meus cabelos, afagando-os levava uma sensação tão boa, todavia, aquele carinho transbordava também tristeza. Meu pai estava triste? Estava com medo? Era estranho vê-lo tendo um desses sentimentos ainda mais quando fitava suas órbitas azuis, ele temia algo, sentia tristeza misturada. — Nunca desista — sussurrou ele. Assenti. Aprendi com o melhor guerreiro nunca desistir, nunca cair em frente do inimigo, jamais teme-lo. — Mesmo que ele seja forte jamais deveremos nós curvar — Lembrava das palavras que um dia ele profanou a mim. — Lutar sempre, é nossas conquistas, nossos desejos que estão em nossa frente. Meu pai deu alguns tapinhas fraco em minha cabeça abriu um sorriso ainda maior. — Aprendeu bem, baixinho. Baixinho? Ele estava comprando briga! Eu não era baixinho! Apenas três centímetros menor que ele! Rei pervertido! Pai cruel! Eles iriam ver quem era o baixinho! — Vá, sei que a Deusa o acompanhará. Ele retirou sua mão de meus cabelos voltando a sorrir fraco olhando em volta. Estive tão focado em meu pai que me esquecera de Han e Aiken perto de nós, do oceano ficar mais agitado em nossa volta com muitos cardumes de várias tonalidades passarem sem sentir medo algum. Sorri vendo um lindo peixe alaranjado, ele não estava acompanhado de nenhum de sua espécie, entretanto, parecia se encaixar tão bem no meio do cardume cinzento que o escoltavam, ele parecia estar bem e tranquilo com a presença de outros em sua volta, muitos peixes menores daquele cardume andavam bem pertinho dele o aceitando sem notar as diferenças. A água parecia mais agitava como se ela estivesse acordado naquele momento. Sob minha cabeça, as ondas da superfície eram tranquilas e as correntezas eram nulas. Tudo parecia tão surreal. Porém, isso não durou muito ao sentir a tensão de meu pai perto de mim, seus músculos parecem se preparar para alguma luta, sua respiração notava-se que estava pesada para a demora de suas guelras se mexerem, e se estivesse

ainda grudado em seu peito poderia ouvir seu coração certamente desregulado. Curioso, movi meu corpo para trás em direção onde as grandes órbitas de meu pai miravam podendo ver o motivo de sua tensão. Meu estômago pareceu revirar-se e meu corpo se encolher. Como sempre, era sempre assim. — É melhor você ir. — Seu tom de voz mostrava que era mais uma ordem do que uma sugestão. Torci os lábios, voltando a mirar na cauda negra que balançava em nossa direção. Vovô Reikal. O Sereiano que fazia meu corpo ter calafrios, nadava rapidamente na direção de meu pai.

11° ESCAMA DE TRITON Vovô parecia não ter mudado nada do que me lembre da última vez que o vi — a mais de dez anos atrás. Ele e papai nunca trocaram palavras que não fossem sobre políticas dos Schifino, ele ainda odiava meu pai e desde que este foi embora seu ódio piorou ainda mais, Hardar nunca me contou os detalhes, todavia, sabia que um dos motivos de tanto ódio foi por meu pai não ter sido expulso do clã, ou ter seu nome revogado para próximo líder após ter um filho sem a permissão do atual líder. Dentro do clã os casamentos eram arranjados, se não fosse assim o líder teria que permitir, no entanto, como vovô Reikal, papai quebrou as regras. E nada aconteceu com ele. Meu bisavô parecia até gostar de mim, nunca o vi pelo que eu lembre, mas alguns presentes sempre chegavam em seu nome. Seria esse o motivo dele não ter feito nada com meu pai? Eu era um motivo? Pisquei voltando minha a atenção ao vovô que parou ao ver Han, que mostrou uma expressão tristonha e saudosa, ele deveria ainda amar muito vovô Reikal, porém, temia o pior para Han. Mesmo ele ainda amando, seu ex-parceiro não demonstrava o mesmo, o colocando em perigo novamente. — Não se engane pelo olhar de Reikal. — Hardar sussurrou perto de mim. — Agora vá com Aiken, você tem um objetivo, não? — Mirei em seus olhos. — Faça então, mostre que é um Schifino. Suas mãos foram em meus cabelos bagunçando-os. Ele sorriu e assim se virou para mim. Queria ficar com ele, não gostava de como vovô o tratava, fazia-me sentir ânsia, como um pai poderia odiar tanto seu filhote? Ainda mais um que tinha a ligação com seu filhote. Não conseguia compreender. Sereianos são o reflexo dos humanos. Pisquei, escutando a voz que já era familiar para mim em minha mente, porém, não compreendia suas palavras e antes de mastigar e decifrá-la, meu braço foi agarrado pelas mãos quentes de Aiken. Sorri fraco mirando em sua direção não notando que vovô Reikal já tinha começado com seus sermões, mas não sabia para quem ele falava. Hardar e Han estavam lado a lado e isso certamente deixava Reikal mais bravo. — É melhor irmos. — Sugeriu ele baixinho.

Mexendo minhas guelras em um longo suspirou, fitei pela última vez o trio antes de virar-me e seguir Aiken que me levava, segurando minha mão. Se não estivesse tão preocupado com meu pai certamente teria nadado mais rápido que ele, envergonhado, mas naquele momento agradecia por Aiken estar me levando, mal mexia direito minha cauda. Pai... Arregalei os olhos ao ser pego por Aiken. Seus braços me puxaram rodeando meu corpo e cauda por baixo, onde se estivéssemos fora da água eu teria sido erguido em seus braços. Balancei a cauda fortemente, bravo, o que ele pensa que está fazendo?! Além do mais era difícil nadar daquele jeito. Rei pervertido! Pisquei não entendendo nada quando seu nado ficou mais rápido, sentia a água ficar diferente em sua volta, o que indica que ele estava a controlando, mas para quê? A resposta veio logo em seguida como um berro saindo de minha garganta. Aiken saltou para fora da água com a ajuda da água que estava controlando e assim pousou no chão da plataforma. Alguns soltados miraram em nós, surpresos fazendo-me perguntar onde estariam os guardas que deveriam estar dentro da água, não tinha visto nenhum por aonde viemos. Um calafrio percorreu meu corpo e minha mente trouxe as cenas do passado de volta, dos cortes em minhas pernas que não existiam mais, do rosto de Mukay, de tudo. Ele estaria morto? Encolhi-me no peito de Aiken que sorriu beijando o topo de minha cabeça, um medo percorria meu corpo, me lembrando de tudo. Notando que minha cauda demorava a desaparecer Aiken me carregou em direção as portas do palácio cuidadosamente ignorando todos os soldados que se aproximavam, apenas ordenou que se afastassem, agarrei-me mais em seu corpo sentindo finalmente minhas pernas. O medo tomava conta de mim, não o queria. — Mano Aiken! — Ouvi uma voz feminina gritar em nossa direção. Pelo canto do olho vi a silhueta de longos cabelos vermelhos como os de Aiken vindo em nossa direção com um enorme sorriso. Olhos vermelhos e joias por todo o corpo, Erya, a irmã caçula de Aiken, a sereia que quase fui comprometido. Ela era linda, até mesmo seus traços eram idênticos aos de Aiken.

Erya realmente era uma sereia encantadora, mas amava o tritão que me encontrava em seus braços. Escondi minha face com meus cabelos querendo permanecer nos braços daquele pervertido. Era tão estranho, segundos atrás queria que ele me soltasse e agora desejava que ele não fizesse isso, por que estava tão confuso?! — Por que sempre foge?! Você prometeu ficar mais tempo comigo. — A vi cruzar os braços e bufar não prestando atenção em mim. Ela parecia ser bem próxima a Aiken, querer muito sua atenção e isso fazia pitadas de ciúmes brotarem dentro de mim. Era normal casamento entre irmãos, na verdade era obrigatório dentro dos três principais clãs e mesmo sabendo que Aiken jamais casaria com sua própria irmã, o ciúme começou a despertar dentro de mim, ainda mais ao vê-lo sorrir na direção de Erya. Queria seus sorrisos apenas dirigidos a mim, queria suas mãos apenas em mim. Resmungando mentalmente, remexi-me escondendo mais minha face em seu peito, ter pensamentos assim era vergonhoso. Eles são apenas irmãos, seu idiota! — Ele é... — Parei meus xingamentos ao escutar novamente a voz fina de Erya. — O Triton? Na verdade, não sabia como descrever sua voz, não era tão fina, e a mistura graciosa estava junto se ela cantasse com toda certeza seria hipnotizante. — Sim. — Notei certa felicidade na voz de Aiken. — O que ele faz... nos seus braços? — perguntou confusa. — Mano Aiken, você novamente em sua fase pervertida, pensei que tinha passado! Aiken se remexeu e quase gargalhei sentindo sua revolta. Ele apertou os lábios resmungando baixinho logo em seguida. — Já disse, eu amo Triton, e ele vai morar conosco. Queria saber por que ainda estava nos braços dele. Por que ainda permanecia ali?! Arregalei os olhos berrando ao sentir seus dedos em minha bunda, maldito pervertido! O soquei com força caindo de seus braços, bufei cruzando os meus. — Rei pervertido! Aiken piscou como se não entendesse nada. Não se faça de inocente!

Erya riu alto perto de mim. — Teremos então membros novos! — A voz que soou não era de nenhum dos irmãos. Virei-me em direção ao palácio vendo outro Sereiano vindo em nossa direção com um sorriso gentil nos lábios, ele trazia uma pilha de roupas junto consigo. Seus cabelos negros batiam pouco abaixo dos ombros, e uma pequena franza de lado quase tapavam uma de suas órbitas extremamente azuis que lembravam a cor dos olhos de um Schifino. Seria ele um Schifino? Seu corpo não chegava a ter muitos músculos como os de meu pai, e em sua cintura seu tecido era azul e meio transparente. Com uma perola no pescoço podia ver que era comprometido e a criança agarrada em sua perna direita só confirmava isso. Ele sorriu gentilmente em minha direção se aproximando e estendendo um tecido branco que aceitei de bom agrado ao notar que Aiken não parava de analisar meu corpo. Pervertido! — Bem-vindo! Bom ver esses corredores se encherem. — Ele falava animadamente. Estendendo um par de roupas a Aiken o mesmo bufou pegando o tecido, o dele não ia apenas à cintura, pegava o corpo inteiro como uma túnica, mas diferente das túnicas, elas deixavam metade do peito do Sereiano a mostra, era um estilo de veste que eu usava muito quando estava aqui. Aiken vestiu o tecido de um jeito que ficasse apenas na cintura e assim cruzou os braços. — Sou Bruce Waycheming. — O Sereiano em minha frente falou tirando minha atenção ao rei pervertido. Waycheming, um dos três clãs importantes, todavia, os Waycheming não tinham olhos verdes esmeralda? — Triton Schifino. — Sorri amistoso apertando a mão que foi estendida a mim. Algo agarrou minha perna fazendo-me quase berrar. Olhei para baixo vendo o sorrisinho sem muitos dentes da criança que antes estava grudada em Bruce, diferente dele, a criança tinha olhos verdes e escamas azuis claro. Escamas também correspondiam muitas vezes aos clãs, escamas negras eram predominantes nos Schifino, vermelhas dos Alkes, no entanto, nas dos Waycheming não sabia, talvez fosse azul, mas isso me fazia perguntar por que minhas escamas eram azuis. Não havia nenhum traço de negro nelas, viria da deusa? Suas escamas eram azuis?

— Esse é Hut, ele é sempre tímido, nem com membros da família se agarra. — Bruce falou surpreso em ver a criança grudada em minhas pernas. Sorri estendendo meus braços em sua direção, ele puxou agarrando-se em mim e assim se aconchegando com um sorrisinho animado. Sereianos crianças tinham suas mãos pegajosas como um Octopus para se agarrar em seus pais, principalmente dentro da água, costumam ficar nas costas deles enquanto nadam. Lembro-me de permanecer muito nas costas de meu pai, mas preferir ficar mais em seu peito, como dormir sobre ele. — Ele é uma gracinha — disse passando meus dedos em seus cabelos. — Não fale isso perto do pai dele, aquele idiota... — Aiken resmungou ao meu lado enquanto Hut lançavam seus bracinhos em sua direção. Aiken não o pegou desviando o olhar quando Bruce riu. — É claro que ele não é uma gracinha! Ele é um grande tritão! Um guerreiro que vai ser muito poderoso! — Outra voz surgiu, porém, tinha o olhar fixo em Hut que me fitava e sorria. Aiken bufou. — Espero! Seguir passos de um pai preguiçoso não dá. — Provocava. — Diga isso de novo! Vamos ver quem é preguiçoso. Hut riu balançando os bracinhos como se estivesse gostando da “briga” entre quem deveria ser seu pai e Aiken. Mirei em direção no suposto Sereiano notando seus olhos verdes esmeralda. Seus cabelos negros eram tão compridos como os de Aiken, todavia amarrados em um rabo de cavalo onde deixava apenas algumas mexas para frente dos ombros. Seu corpo era forte, e sua pele branca, não tanto como a minha, mas ainda mais que a de Aiken ou Bruce. Suas pernas continham escamas verdes, e uma perola pendia em um cordão em seu pescoço. Sua expressão era de mau humor que apenas mudava quando tinha seus olhos sobre Bruce. Eles eram casados? — Que tal termos um jantar para celebrar?! — Bruce calou o outro Sereiano que resmungou. Ia abrir minha boca dizendo que não precisaria quando o murmurinho dos guardas agitados chamou nossa atenção, meu coração acelerou lembrando das cenas quando fui cercado e logo tirado da água. Saindo de meus devaneios medrosos, ergui o olhar analisando a multidão que se concentrava apenas em um

ponto, queria virar-me para Aiken e perguntar o que estava havendo, no entanto, a voz grossa que soou naquele meio já respondia todas minhas perguntas. Sorri. Meu pai era tão idolatrado assim, para os guardas correrem em sua direção? Nem quando Aiken apareceu eles fizeram isso. — Eles o idolatram... — falei baixinho ao sentir Aiken do meu lado. — Normal quando você é o líder dos exércitos. Hardar é o Sereiano mais forte que temos, ninguém que o desafiou roubou seu lugar, Mukay lutou com ele e falhou, mas ganhou segundo lugar. — Aiken torceu os lábios ao se lembrar de Mukay, queria saber o que se passava em sua cabeça ao lembrar-se daquele Sereiano. — Além do mais, tio Hardar fonte de inspiração para muitos. Fonte de inspiração? Só esperava que ninguém quisesse ser treinado por ele! Papai era um ótimo guerreiro, talvez nem ótimo o definiria, todavia, ser treinado por ele era ser espancado e ter muita dor de cabeça. Gostaria de saber quem o treinou, só poderia ser um louco! — Quem treinou meu pai? Aiken riu baixinho perto de mim, o fitei pelo canto do olho vendo-o cruzar os braços e ter sua típica postura que me provocava. Aiken podia ser muito lindo, mas, odiava quando ele me provocava, isso fazia desejar socá-lo! Se escorando em meu ombro, ele sorriu maliciosamente. — Quem sabe. O odiei imensamente, afinal, pensei que ganharia minha resposta. Maldito pervertido! Revirei os olhos. — Pelo que sei, foi seu avô em uma fase, logo depois o deus terra. — Aiken tocou nas pontas de seus cabelos. — Ele foi treinado e abençoado pelo deus terra, por isso é tão famoso entre os soldados, ser treinado por um deus, é... uma benção grande! — Sua voz não mostrava animação ao falar. Ele deu de ombros, voltando a fitar-me. Ao desejar respondê-lo, engoli minhas palavras vendo a silhueta de meu pai caminhando em minha direção. Ele terminava de vestir seus tecidos que lembrava o que Aiken tinha e se recusava a vestir inteiro, uma espécie de casaco, ou qual fosse nome verdadeiro daquilo. Sua cor era escura se destacando no meio de todos. Ele parou poucos metros fitando em minha direção, conhecia aquele

olhar. Não demorei em seguir em sua direção sendo recebido com afago em minha cabeça, seus atos que diziam que ele estava preocupado. Sorri fraco. — Eu vou ficar bem. — Eu sei que vai. — Suas palavras não me convenceram. — Apenas tome máximo de cuidado. Assenti. — E você? — Eu? Eu sou um dos doze conselheiros, conselheiro direito do rei, e líder do exército, apenas não permanecia aqui por sua causa, mas já que decidiu morar com Aiken, então posso permanecer todo meu tempo agora aqui. — Ele sorriu traiçoeiro. Semicerrei os olhos, mesmo papai tendo tantos títulos era verdade que ele não permanecia muito na plataforma, porém, em uma época chegou a morar aqui. — Se divirta — disse se retirando, avisando que precisava verificar os soldados. Suspirei virando-me para Aiken que voltava a brigar com o novo Sereiano que tinha aparecido, tinha até me esquecido deles, sorri vendo Bruce se colocar no meio dos dois que ainda brigavam com palavras para logo em seguida cruzarem os braços e darem as costas um para o outro, como duas crianças. Queria gargalhar daquela cena, porém, ao sentir minhas pernas sendo agarradas minha atenção mudou para dois pequeninos que sorriam para mim. Dois mini Sereianos. Não era apenas um? Hut tinha uma irmãzinha? De olhos verdes e escamas azuis fraquinho, ela sorri timidamente não sabendo se ficava agarrada em minhas pernas ou não. — Virou babá? — Aiken riu. — Ou está treinando para nossos filhotes? — disse ao estar bem próximo de mim. Corei querendo acertá-lo. — Cale-se! — Ralhei cruzando os braços. Aiken continuou provocando-me até a vontade se tornar ato acertando-o no queixo, ele riu alto, esse masoquista! O ignorei cruzando os braços, Bruce chamou seus dois filhotes, porém, apenas a garotinha tinha ido, Hut continuava agarrada em minhas pernas se escondendo de seus pais. Toquei em sua cabecinha fazendo-o sorrir e pedir novamente meus braços.

— Se divirta com ele. — Aiken disse. — Preciso fazer algo que prometi para Erya. — Ele suspirou baixo fazendo uma expressão de desagrado. O que ele precisava fazer? Erya gritou pelo irmão que se arrepiou antes de se virar e caminhar lentamente em sua direção, ao contrário dele, ela estava bem animada. Ri baixinho pegando Hut, essa queria ver! O que colocava tanto medo no famoso Aiken? _________ ♆♆♆♆♆ _________ Sentando-me sobre uma almofada me perguntava por que tinha seguido Aiken, imaginando que poderia usar algo contra ele apenas descobri que Erya o fazia sentar no meio de muitos ursinhos e contar uma história, qual era o temor disso que vi em sua expressão?! Ele apenas precisava contar uma história no meio de tantos bichos peludos que era produzido aqui na plataforma. Soube que antigamente, antes de meu bisavô se tornar rei, a cidade flutuante de fato era uma cidade, diziam que ela era praticamente um estado de tão grande que era, mais da metade da população morava e trabalhava na cidade, porém, só sobrou metade dela, ou talvez nem a metade, além do palácio e de um grande espaço para treinamentos ao ar livre, havia Sereianos que teciam nossas roupas, faziam armas, e alguns outros objetos que apenas poderiam ser usados sobre as águas, como algo que chamavam de cama. Aiken tinha algo semelhante a isso. Fitei o pessoal animado em minha frente. Bruce tinha preparado uma cerimônia com todos tipos de peixes para todos, e trazia mais duas bandejas. Sorri fraco. A mesa de pedra era larga podendo caber umas doze pessoas e muitas bandejas de comida, porém, apenas membros mais próximos estavam ali. Aiken tinha chegado com Erya que continuava animada, ele sentou na ponta perto de onde eu estava, Set cuidava das duas crianças que puxavam seus cabelos o deixando com uma expressão irritada. Até mesmo meu pai tinha se juntado a nós onde ajudava Bruce a trazer todo o banquete. Olhando para a mesa podia ver diferentes tipos e tamanhos de peixes, assados ou cru, com algas, camarão, caranguejos e algo vermelho por cima, um prato fundo de ostras cinzentas. Um verdadeiro banquete. Sorri maravilhado me jogando sobre os caranguejos, adorava carne de caranguejo e siri, era tão delicioso! Porém, comê-los vivos era chato demais, você precisa esmagá-los ou cortar todas suas pernas, era um ato cruel, porém, eram nossos alimentos.

— Vai engordar garoto. — Meu pai ralhou ao ver-me com alguns caranguejos na mão. O ignorei abrindo o caranguejo e me deliciando com sua carne. Após o segundo, notei os olhos de Aiken sobre mim e um pequeno sorriso no canto de sua boca, ignorei também voltando a mastigar, isso era delicioso demais! Todos se reuniram na mesa celebrando algo, era divertido. Era tão acolhedor, tão alegre. Analisando cada um presente, sorria animado, Aiken bebia água doce direito da garrafa fazendo Erya xingá-lo, ele certamente ficaria bêbado depois, Bruce gargalhava alto da cena com um camarão na mão, ao seu lado Set tentava pegar sua comida antes que seus filhotes tirassem dele e puxassem seus cabelos com as mãos sujas. Meu pai estava do meu lado comendo lentamente enquanto bebia água doce em uma taça, sabia que ele estava se segurando para colocar ordem naquela mesa, podia ver sua sobrancelha se mexendo com suas expressões. Por fim apenas escorei minha cabeça em seu ombro sorrindo em sua direção o que o fez se acalmar e desviar o olhar. Era tão divertido isso, entretanto, o jantar não durou muito. Alimentados, eles começaram a se dispersar. Set foi o primeiro a sair com seus filhotes dormindo em seus ombros, Aiken levou sua irmã para o quarto enquanto papai ajudava Bruce novamente com as bandejas e por um momento novamente senti aquele vazio, algo que faltava dentro de mim. Baixei o olhar para as cascas de caranguejos, era tão estranho. Erguendo-me bocejei me perguntando quanto tempo faz que não dormia direito. Suspirando arrumei minha trança saindo do aposento. Não tinha um rumo certo, apenas caminhar, certamente era perigoso por estar no território inimigo, porém, precisava sair para ver se esse vazio sumisse, e de fato isso não aconteceu. Torcendo os lábios, fitei o céu em um corredor aberto do palácio com estrelas brilhantes e uma mansidão negra, a noite jazia bela na superfície. Voltei a andar pelos corredores e ao bocejar pela segunda vez uma pergunta veio em minha cabeça. Onde seria meu quarto? Não tinha perguntando isso a Aiken, nem a Hardar. Parei fitando em volta, precisava achar um deles e descobrir onde seria meu quarto. Dormiria no mesmo que meu pai? Ele já tinha um?

Parei no corredor escuro fitando em volta, estava diante do corredor que levava ao quarto de Aiken, lembrava-me bem dele. Torcendo os lábios, deu um passo para trás para procurar outro caminho ao bater em alguém. De princípio meu corpo ficou em alerta já imaginando que seriam mais agressores, todavia, era apenas o pervertido de Aiken com um sorriso safado o que me fazia não querer saber o que ele estava pensando. — Está perdido, tritão caranguejo. — Meu corpo se arrepiou ao escutar tais palavras. Virei-me com uma expressão inabalável. — Está procurando nosso quarto? — Ele ainda tinha seu sorriso safado. Movendo seu corpo para mais perto de mim por pouco seus lábios não encostavam nos meus, o único problema era que um lado de minha mente gritava para receber os beijos de Aiken. Meu corpo ansiava por seus toques fazendo cenas do passava surgir em minha mente, maldito tritão! Como conseguia fazer tudo isso em meu corpo?! Com o coração acelerado, apertei os lábios virando minha face. — Não! — Afirmei. — Estou procurando o meu quarto. Aiken sorriu ainda mais. As vezes não o compreendia, na verdade, não entendia o que se passava em sua cabeça. — Ele fica seguindo reto nesse corredor. — Ele voltou a se aproximar demais, parecia tentáculos quando grudam em sua cauda. — Eu levo você até lá. Seu sorriso malicioso fez-me corar, rei pervertido! — Recuso — disse me afastando. Desvencilhei-me dele caminhando calmamente pelo corredor que tinha vindo, seria mais apropriado achar meu pai e dormir em seu quarto, ele deveria ter um quarto aqui, certo? Aiken não me seguiu o que achei um milagre, porém, era melhor assim. Não conseguia compreender o que se passava em minha cabeça agora, suspirei, por que pensamentos eram tão confusos? Atos tão difíceis? Não poderia existir algo fácil? Nem caminhar foi fácil. Suspirando novamente, analisei em volta vendo onde tinha me metido. Não sabia andar no palácio o que dava grande chance de me perder, o que de fato aconteceu. Parando em um corredor bastante escuro, tentei ver algo que me confirmasse que não estaria andando em círculo, havia pouco decoração naquele

lugar que não ajudava em nada. Estava perdido e sem nada para me guiar. Atrás de mim a mansidão escura engolia tudo, não sabia se conseguiria voltar para o corredor do quarto de Aiken, nem se conseguiria me mover para algum lugar. Deveria gritar? Por que não existia nenhum soldado por aqui? Isso não era inapropriado? Além do mais o rei e outros nobres moravam aqui. Não sabendo mais o que fazer, as fozes que soaram no corredor me deram esperanças, sorrindo segui em frente conseguindo ver logo a luz de chamas do corredor que fazia uma volta. Sorri mais ainda captando uma nova voz. A de meu pai, todavia, ele foi cortado em seguida. Quem era o ser que conseguia cortar a fala de Hardar Schifino? — Você continua cruel como sempre. — A voz que não reconhecia disse. Não entendia o que estavam falando por ter pego a conversa no meio, entretanto, a pergunta do estranho fez minhas pernas pararem. — Como está seu filhote? Aquele cara ainda não apareceu? De quem ele falava? Meu pai apenas suspirou alto. — Por que nunca me apresentou ele? — Sua voz saia manhosa. Tentei me aproximar mais para enxergá-los. — E porque deveria apresentá-lo? — Bufou Hardar. Esse era meu pai! — Queria saber como ele é, você me ignorou, talvez ele me desse uma chance, além do mais ele é um Schifino. Chance? Quem era esse Sereiano estranho? Meu pai o ignorou. Tentando me aproximar mais consegui ver com dificuldade as duas silhuetas escoradas na parede e duas velhas perto deles, porém, a cena que mais me chamou atenção foi da silhueta do tritão estranho, ele conseguia colocar sua cabeça no ombro de meu pai, e para piorar se esfregar em seu corpo falando frases estranhas. Quem era ele? Ignorar seria meu pai não o aceitar como amante? O vi bufar e se afastar. Meu pai mantinha a mesma expressão fechada de sempre, com seus braços cruzados podia notar seu corpo relaxado na presença

daquele tritão, o que dizia que se conheciam há bastante tempo. O Sereiano por sua vez ao se afastar suspirou focando-se na escuridão do lado oposto de onde eu estava. — Você ainda o ama, não é? — Meu pai não o respondeu fazendo o tritão suspirar novamente. — Imaginei que não teria chances nem agora... — disse baixinho. Queria poder enxergar a face de meu pai, todavia, ela estava tapada por seus cabelos e seus olhos estavam focados no chão, ou talvez fechados, não conseguia identificar bem. — Você nunca me deu uma chance — dizia tristonho. — Imaginei que por ser seu prometido me daria alguma chance. Arregalei meus olhos. Prometido? Meu pai tinha um prometido? Mas depois de meu nascimento meu pai nunca permaneceu com alguém, aquele tritão era prometido nomeado pelo líder do clã Schifino? — Não sei o que viu nele. — Continuava ele. — Porém, ele arruinou minha chance. — Ele riu fracamente. — Amor, proteção, segurança, tudo que nunca senti ou meu pai mostroume. — Hardar o respondeu. — Pelo visto nunca tive chance desde o início. — Sorriu fraco. O Sereiano ao lado de meu pai sorriu fraco baixando a cabeça. Após ficarem em silêncio me perguntei se deveria me mostrar, meu pai nada mais falou deixando-me curioso. Escorei-me na parede sentindo algo de uma textura diferente, berrando, deu um salto vendo ao grande quadrado cair no chão. O que era aquilo? Algo assassino também? — Triton? — Meu pai pronunciou meu nome. O fitei pedindo desculpas, não sabia o que tinha derrubado, porém, permaneceu no chão, então não era um ser das profundezas assassino, que coisa era aquela? Sorri fraco para meu pai que riu de minha face concertando minha bagunça. Vi o objeto quadrado e grande que chegava um pouco acima da cintura de meu pai, o desenho esculpido ali era tão estranho que nem tentava decifrá-lo. Por reconhecer o tipo de tinta usada naquela tela, presumi que era uma pintura de alguém, fazia demais aquele tipo de pintura em pedras, usando tinta

de polvo e algas. — O que faz aqui? — Eu não sei onde vou ficar, e também me perdi — dizia baixinho minhas últimas palavras. Meu pai me encarou brevemente antes de cair na gargalhada, bufei. O que ele estava pensando?! Nunca tinha visto alguém perdido? Ele mesmo sabia que era comum eu perder-me facilmente. Mirando meus olhos furiosos nele não o afetando em nada, meu pai apenas tocou em minha cabeça ainda rindo de mim. Belo pai! — Você não vai ficar com Aiken? Corei até ficar uma verdadeira lagosta. — N-não! — Gaguejei. Meu pai arqueou a sobrancelha — Mas seu proposito em permanecer na plataforma não era para ficar com ele? — Fitei em direção a ele. — Triton, não adianta enganar a si mesmo, você não veio para plataforma para mostrar que é forte, para enfrentar seus adversários, talvez sim, mas em segundo plano. Não conseguia respondê-lo, não conseguia abrir minha boca apenas escutar meu coração batendo como um louco em meu peito em cada palavra de meu pai. O que ele dizia era... verdade. Sentia medo de perder Aiken, gostava de seus carinhos, do calor de seu corpo. — Não fique se negando, Triton. — Meu pai massageou minhas madeixas negras. — Quando você perceber que não pode mais ter aquele que ama, irá se amaldiçoar por não ter dito as palavras certas, não ter lutado para ficar ao seu lado. Pisquei encarando meu pai, surpreso. Tais palavras eram profanadas de sua boca? Quem papai tinha perdido para mostrar tanta tristeza em sua voz ao dizer aquelas palavras? Erial? Minha mãe? Baixei rapidamente o olhar, suas palavras eram reais, porém e quando você se sente tão confuso a ponto de apenas querer fugir por não saber como reagir? Após ter negado o pedido de casamento de Aiken me desesperei por ele se afastar, pelas minhas decisões, queria ter ido atrás dele, todavia, não sabia mais como agir, o que deveria fazer logo depois.

É tão confuso. — Pai. — O chamei, não sabendo bem o que perguntar, como formular minha pergunta decidindo então mudá-la. — Você amava Erial? O vi arregalar os olhos rapidamente o abalando. Senão estivesse em um momento daqueles ficaria feliz em finalmente ter abalado os pilares do famoso Hardar Schifino, todavia, agora apenas queria entender o que passava em minha mente, em meu corpo, como tomar as decisões certas. Sereianos não eram como os humanos que um dia tinha um amante e em questão de horas tinha outro, minha raça era fiel até a morte por seu parceiro, por isso precisávamos ouvir nosso coração, ouvi-lo cantar pelo seu parceiro. — Não. — Para minha surpresa Hardar respondeu-me. — Meu coração não cantou por ele, mas admito ter me apaixonado por um tempo. Existia tantos sentimentos de afeto, qual eu sentia por Aiken? — O admirava, admirava suas palavras, atos e principalmente sonhos. Uma verdadeira utopia que deveria saber que nunca seria possível em uma realidade que já estava tudo pronta. — Franzi o cenho. — Porém, sua insanidade, ganância, ego, o mataram. No final ele apenas queria o poder. Seu sonho era o poder, então. Erial Alkes conhecido como rei ganancioso, não tanto quanto o que venho antes dele e não permaneceu muito no poder. Não sabia bem da história, porém, meu bisavô não queria largar os Schifino para ficar como rei na plataforma e quando tirou vovô Reikal de herdeiro direito, decidiu colocar um Waycheming no trono de rei para governar junto consigo, mas esse rei se tornou tão ganancioso que foi morto por Erial Alkes. Morto não apenas com uma lâmina em seu peito, tinha escutado que a partir daí Erial ficou insano. Após arrancar a cabeça do antigo “rei”. — Ele fez tudo isso por poder? Mas o que leva alguém desejar tanto isso? O que ganhamos com tanto poder? Meu pai suspirou longamente. — Poder faz ficarmos loucos, perder a razão. — Papai desviou o olhar. — Erial tinha sonhos que foi consumido pelo poder e a insanidade, tudo que ele queria ele tomava, e quando não conseguia ficava extremamente cruel. — Ele suspirou novamente tocando em sua testa. — Foi por isso que ele afastou Aiken. Afastou Aiken?

— Ele queria-me, não a esposa que fizeram ele casar e quando Aiken nasceu ele ficou extremamente irritado. Ele não queria herdeiros gerados por ela, e em um ataque de fúria quando Aiken tentou se aproximar dele, Erial jogou seu próprio filho longe. Arregalei os olhos. Que tipo de pai faz isso? — Aiken se machucou pouco, mas por ver aquilo não me aguentei e briguei com Erial, o que condenou para sempre Aiken. Ele o culpava por ter me perdido para sempre. Insano, isso deveria ser pouco para esse Sereiano. Isso era desumano. Nem humanos deveriam fazer isso com seus filhotes. — Agora vá descansar, se quiser pode ficar no meu quarto, mas nada de dormir no meu peito. — Aquele sorriso voltou para meu pai. — Você está gordo demais, ainda mais após comer vários caranguejos. Bati o pé, bravo. Eu não estava gordo! Apontei para minha barriga magra e com alguns gominhos pouco definidos, eu era magro até demais. Um Sereiano macho que precisava ser um guerreiro ter uma estatura dessas era perder em uma batalha! Precisava ficar tão forte quanto meu pai. Meu pai caiu na gargalhada antes mesmo de abrir a boca para falar algo. Rosnei, eu não tinha culpa de ser magrelo! Pelo menos batia à altura de meu pai, quem disse que um magrelo não podia ter seus 1,80? — Adeus. — Virei-me retirando o deixando gargalhando no corredor o que fez-me notar que aquele Sereiano que não sabia o nome não estava mais por perto. Franzi o cenho continuando em frente, talvez tivesse se afastado para dar privacidade a mim e meu pai, ele não parecia ser um dos inimigos que me queriam morto. Além do mais, a conversa sobre Erial fez-me esquecer de perguntar a Hardar então quem ele tinha citado. Não conhecia muito a história de meu pai, mas sabia que ele nunca se casara. Ele tinha se referido em alguém do masculino, ou seria a deusa? Por que todos tinham que ter tantos segredos? Não fique se negando, Triton. Quando você perceber que não pode mais ter aquele que ama, irá se amaldiçoar por não ter dito as palavras certas, não ter lutado para ficar ao seu lado.

Meu pai se arrependia de algo? Ou era apenas um conselho? Afinei meus lábios, quando Aiken se afastou eu me apavorei, sentia falta de sua presença perto de mim, do calor de corpo. Eu apenas queria tudo de volta, meu coração se apavorava ao imaginar que não o teria de volta. Suspirei. Rei pervertido! Por que meu coração foi cantar justamente por Aiken? Como será que ele escolhe? Passando por um corredor aberto de arquitetura em arcos magníficos com os detalhes que o teto do palácio levava, isso me dava uma vista belíssima do céu estrelado, sorri mirando na imensidão azul escura. Os pontinhos iluminados que se chamavam estrelas de diferente tamanhos e alinhamentos pareciam proteger a lua tão solitária, mesmo cercada ela parecia só, isso deveria ser muito doloroso. A lua podia brilhar bela e majestosa, ser protegida e cercada por muitas estrelas, no entanto, ela continuava triste por sua solidão, certamente em busca de um amante ou com saudades do sol. O sol era seu oposto, deveria ser seu amante? O velho ditado se aplicava até mesmo para lua? Por que sentia um aperto em meu peito? Não deveria sorrir vendo a maravilhosa visão que recebia? Não, aquilo fazia-me lembrar de Aiken, por algum motivo a imagem que tinha do céu o lembrava, era tão estranho... Ele tinha sua irmã, meu pai, os Waycheming. Mesmo assim ele poderia se sentir sozinho? Suas fugas seriam justamente para esquecer-se de tudo? — Tão belo, não é? — Pisquei me assustando ao ouvir quem falara. Mirei em direção ao Sereiano sentado no chão gélido com uma garrafa de água doce, fitei suas feições identificando-o como o que estava a pouco com meu pai. — E tão triste. — Continuou ele bebendo mais um gole de sua água. O podia ver claramente agora, o que me assustava. Suas feições eram de um... Schifino. Aquele Sereiano seria um? Cabelos negros e curtos, olhos extremamente azuis como os da casa de meu clã e uma estatura de um guerreiro. Sua pele era tão escura quanto à de meu pai, porém, diferente de Hardar, o tritão era sorridente demais, sorriso este que vinha embriagada de tristeza. — Sempre quis conhecer o famoso Triton. — Ele sorriu fraco. — Hardar nunca se sacrificou por ninguém, todavia, por você ele se tornava o verdadeiro

monstro, apenas para protegê-lo. Ele mirou para as estrelas novamente estendendo sua garrafa em minha direção, entendi o ato e rapidamente neguei com a cabeça. Não tinha idade para beber, e aquela situação não era momento de celebrar. Observei o Sereiano que bagunçava seus cabelos, não via nada de incomum em suas palavras. Hardar era meu pai, era errado um pai se sacrificar e lutar por seu filhote? Protegê-lo a qualquer custo e amá-lo? Papai colocou sua vida em risco quando atacou um grupo de Sereianos que me agrediam. Protegeu-me todo esse tempo, mesmo que fosse me trancando dentro de casa, foi à maneira que ele encontrou para fazer-me sofrer menos, ser menos agredido. Mesmo com seus resmungos, ordens e mau humor, ele sempre me amou e sorriu. — Você é um Schifino? — perguntei tentando cortar aquelas palavras sem nexo para mim. — Desculpe. — Ele sorriu, já podia ver que estava ficando bêbado. — Eu e meus modos! Sim, sou um Schifino, como você. Tritão estranho, ele sorri demais! — Tayga Schifino. Um Sereiano yin, segundo na liderança de Hardar Schifino, antigamente estava abaixo de Mukay no ranking que existe no exército. Aquilo não era uma apresentação de um nobre. — E o que foi prometido para seu pai. Prometido?! Abri a boca, porém, a risada fraca e triste fez-me calar rapidamente. Com seus olhos azuis fixo na garrafa que depositava em seu lado, ele suspirou apoiando seu cotovelo esquerdo em sua coxa. — Mas ele negou-me — sussurrou. Aproximei-me mais mesmo que meu corpo dizia ser uma péssima ideia, nunca ouvi nem mesmo de Aiken sobre meu pai ter tido um prometido o qual negou. Alguém poderia negar um prometido quando o líder do clã ordenava e arranjava o casamento? Papai enfrentou o líder dos Schifino? Entendi agora como ele era o próximo à sucessão. — Você não sabe muito sobre a vida dele, presumo. — Tayga fitava-me pelo canto do olho. — Nem de suas aventuras? Não digo sexuais. — Sorriu colocando a língua para fora.

Isso me nauseou. Eu não queria saber sobre as aventuras sexuais de meu próprio pai. Era nojento! Ele riu baixinho tirando seus olhos de mim. — Seu pai quase se tornou o rei dos mares, enfrentou o líder dos Schifino, negou um casamento arranjado e virou amante de um deus. Ele tem muita história de aventuras grandes para contar. De sua listagem apenas conhecia a história de que ele quase se tornou o rei, porém, ele deu a coroa para Erial. Pelo que tinha escutado da história quando era pequeno, papai e Erial duelaram com o rei que estava no poder sob a ordem de meu bisavô que se recusava a deixar a liderança do clã, eles claramente iriam perder a batalha. Mesmo sendo insano, o rei daquela época era forte demais com sua arma, papai então usou a benção dos deuses manipulando a água, imagino que a cena teria sido igual da que a deusa fez contra Mukay e seus soldados. Ele esmagou o rei dando a ele a coroa, todavia, nunca nenhum Sereiano controlou tanto assim a água, assustando seus futuros seguidores, foi aí que a deusa apareceu e por pedido de meu pai, ela nomeou Erial Alkes. Qualquer membro dos clãs nobres podia desafiar o rei em um duelo pela coroa. Schifino e Alkes eram aliados naquela época por meio de Hardar e Erial o que deixava os Waycheming mais fracos dando chances de pegarem a coroa. Vendo por esse lado, Aiken tinha o apoio de Waycheming e Schifino, sem inimigos. — Melhor me retirar — disse. Algo em Tayga fazia meu corpo querer se afastar, ele não aparentava ameaçador, todavia, não sabia explicar. Ele se moveu brincando ainda com sua garrafa. Sua expressão tristonha ainda continuava. — Nunca hesite quando seu coração cantar, talvez senão tivesse hesitado, negado meu coração, eu poderia ter encontrado aquele que me conectava. — O vi baixar a cabeça. Hesitação... Eu estava hesitando! — Quando você perde seu amado você se dá conta que poderia ter feito diferente. — Continuava Tayga. — Um conselho que te dou, pequeno Triton, não hesite. Desviei o olhar para o oceano onde suas ondas começavam a ficar mais agitadas batendo fortemente na plataforma, nuvens começavam a tapar as

estrelas, talvez uma chuva se aproximava. Sorri para Tayga antes de me virar e partir calmamente, porém, minhas pernas calmas e passos pequenos se tornaram maiores e maiores a ponto de verme correndo pelos corredores rumo a um em especial, não duvidava de o meu coração ter cantado, eu hesitava com medo de, no final, perder Aiken. Ao parar meus passos fui recuperando o fôlego à medida que me aproximava daquelas portas, sem pressa.

12° ESCAMA DE TRITON — Pensei que estaria no quarto de Hardar. — Ouvi a voz que conhecia muito bem. Virei-me vendo Aiken segurando uma tigela grande cheia de ostras e em sua boca uma já se encontrava, ele mastigava sua comida me olhando curioso. Virei minha face cruzando os braços. — Eu estou indo para o meu quarto! — disse me aproximando das portas e as abrindo. Vi um pequeno sorriso brotar em Aiken e assim ele adentrar o quarto, logo atrás de mim. Tudo igual da última vez que estive aqui e gostava assim. A luz da lua iluminava o quarto pelas grandes janelas, a cama de Aiken continuava a mesma com seus lençóis brancos e aparência aconchegante. Sem pensar duas vezes, fui em direção ao leito me jogando ali, era tão fofo. Aiken riu baixinho, pude o ver indo em direção a sua mesa depositando sua tigela lá. Estranhei o famoso rei dos mares não brincar ou lançar olhares maliciosos, ele apenas sentou-se acompanhado com suas ostras e ali começou a trabalhar em algo. Torci os lábios, apenas aquelas ostras ele queria! Resmunguei mentalmente. — Não deveríamos fazer algo que casais fazem? — Desviei meu olhar ficando vermelho. Pelo canto do olho fitei sua silhueta forte ainda sentada, seus cabelos tapavam toda suas costas em uma cascata vermelha, seus ombros, mesmo tensos, ainda o deixavam com uma postura tão bela que me fazia perguntar quando foi à última vez que observei bem Aiken. Ele me fitou por cima do ombro com um sorriso brincalhão. Todavia, não brincou. Estranhei, o que o deixava tão preocupado? — Aik... en? Aconteceu algo? Ele não me respondeu, não gostando daquela tensão me aproximei sem ele notar e me atirei em seus ombros o abraçando. Ele pareceu ficar surpreso com meu ato, mas logo relaxou. Sorri vendo minhas madeixas quererem se misturar com as vermelhas dele, encostei meus lábios em sua bochecha, queria meu Aiken abusado e pervertido de volta, foi por ele por quem me apaixonei.

— Apenas não quero te deixar desconfortável. — Ele disse baixo. Até parece! — Ignorar um tritão, é assim que o deixa confortável? — falei baixinho perto de sua orelha. — Quero meu Aiken pervertido. Afastei-me voltando a sentar no meio da cama, o tecido em minha cintura quase caia, meus cabelos negros faziam cócegas em minhas costas, porém, o que mais gostava era da luz da lua que parecia iluminar mais minha pele. Fitei a meia lua pela janela, era belíssima. — Triton... — Ouvi meu nome e antes de me virar, senti os lábios de Aiken em meu pescoço. Sorri de leve sentindo um arrepio percorrer meu corpo. Meu Aiken. — Já falei que está esplendido nessa posição. — Ele sussurrou em meio a suas caricias. — Gosto do meu Triton provocador. O vi lamber os lábios, sorri de leve. Suas mãos brincavam com o tecido em volta de minha cintura o qual faltava pouco para o nó em sua ponta se desmanchar, os dedos de Aiken brincavam justo ali. Observava-o pelo canto do olho enquanto brincava com uma mecha dos meus cabelos soltos, Aiken beijou meu ombro desprotegido indo em direção ao local que ficaria minhas guelras, senti um arrepio percorrer meu corpo com a língua que tocava meu pescoço de um jeito sensual. Puxei os cabelos de Aiken chamando sua atenção e assim que obtive o que queria, pulei em seu colo deixando para trás minhas roupas que caíram, fui rodeado pelos braços de meu tritão pervertido enquanto dessa vez era eu que o beijava sugando seus lábios para mim. Com meus dedos enrolado em suas madeixas vermelhas, dava pequenos puxões enquanto sentia o membro de Aiken sobre o tecido de suas vestes, mais grossas do que as minhas. Aiken fugiu de meus lábios com um pequeno sorriso, estava surpreso comigo mesmo, porém, queria mais daquela sensação que ele me deu naquela noite, queria mais de seu corpo. — Lembra no dia que me convidou para ver os corais? — Abri minha boca deixando tais palavras saírem. Queria tapá-la rapidamente, o rubor voltava a me dominar quando tive a atenção dos olhos de Aiken confirmando os acontecimentos que ditei. Desviei o olhar para cama não tendo coragem de continuar, ainda mais

quando seu corpo estava tão colado no meu, suas mãos tocaram em meu queixo, todavia, ele não me obrigou a erguer o olhar, apenas beijou o topo de minha cabeça bagunçando minhas madeixas logo em seguida. Mordi meus lábios, minha voz não iria me obedecer, o que deveria fazer? Suspirando silenciosamente, continuei mesmo que eu tremesse pela vergonha. — Eu... eu... fiquei pensando nas suas palavras... — Tentei ver a expressão de Aiken enquanto colocava meus cabeços tapando minha face. Cerrei meus dentes, apenas gaguejo saia e isso me irritava! Aiken abraçou minha cintura enquanto seus lábios davam pequenos beijos no canto de minha boca, tritão irritante, fazia todo esse efeito em mim. — Quer se casar comigo? — Arregalei os olhos escutando tais palavras serem profanadas de sua boca. Via seu pequeno sorriso ao depositar seus beijos por meu corpo, e não pode controlar meu coração acelerado. Ele tinha repetido aquelas palavras, as mesmas que fizeram minha alma ficar louca e confusa, queria ter aceitado na primeira vez, todavia, algo em minha cabeça em minha mente perguntava se seria hora certa. Não sabia identificar se meu coração tinha cantado, talvez, por ser despedaço ao perder Kastra. Não sabia o que acorrera com ele naquela época, naquelas horas, no entanto, sabia o que acontecia agora. Ele tinha cantado há muito tempo. Abri minha boca, mas como previa minha voz não saiu e isso não seria desculpa para não o responder. Apertando meus dedos em volta dos fios vermelhos, assenti para Aiken que abriu um sorriso grande. Meus lábios foram selados e não pude deixar de não rir das reações de Aiken que, por fim, deixou-me na cama erguendo seu corpo. Pisquei estranhando. O acompanhei com o olhar vendo se aproximar de uma caixinha de madeira sobre sua mesa com a tigela grande de ostras que havia sido deixava no esquecimento. Suas mãos abriram o objeto tirando algo que não consegui ver e assim ele voltou para cama. Sentando em minha frente com um sorriso bobo, o vi agarrar com a outra mão o objeto que havia pegado. Arregalei os olhos, vendo a perola caindo sendo sustentada por uma correntinha cinza.

— Posso? Assenti ainda surpreso, estava ganhando uma perola enquanto não tinha nenhuma para colocar em Aiken! O que deveria fazer? Voltei a sentar sobre suas pernas enquanto recebia a perola em volta de meu pescoço, feliz em sentir a correntinha fria em contato com minha pele abracei Aiken que riu de mim. Abraçando minha cintura, fui derrubado de costas na cama sentindo os beijos de Aiken começando em meu peito, lambi os lábios. Virei meu pescoço dando boa passagem aos beijos daquele pervertido, suas mãos acariciavam meu corpo enquanto suas vestes faziam cócegas em minhas regiões. Puxando Aiken para meus lábios, o beijei de um jeito que surpreendia até a mim mesmo, ele era meu, apenas meu e queria sua boca, suas mãos, seu corpo, apenas para mim. Sussurrando seu nome, entrelacei com minhas pernas na cintura de Aiken enquanto uma de minhas mãos puxava o tecido branco ferozmente. Queria tirar aquela maldita roupa a qual não desejava naquele momento, queria sentir todo o corpo de Aiken e não seria vencido por um pedaço de pano! — Está quase no nó. — O ouvi sussurrando. Resmungando, puxei o nó da roupa a jogando para o outro lado da cama e fazendo Aiken rir baixinho. Pervertido! — Vire-se, meu pequeno Triton. Torci os lábios. Pequeno? Quem era o pequeno aqui?! Resmungando, virei sendo pego e puxado para mais perto, sentindo assim o membro de Aiken roçar em minha pele. Corei, reclamei alto enquanto ele ria. Meus cabelos caíram para frente tapando a visão que poderia ter de Aiken o que me fez ficar mais furioso ainda! A língua dele percorreu minhas costas fazendo uma sensação gostosa. Arqueei-as escorando minha cabeça no travesseiro, maldito tritão que fazia meu corpo se abalar tanto com poucos atos. Notando um sorriso travesso em seus lábios, Aiken analisava meu corpo deixando-me mais vermelho. Por que ele precisava ficar olhando tanto?! Senti seus dedos brincarem em uma de minhas nádegas e um arrepio percorrer-me. Era uma sensação tão boa que apenas suas mãos conseguiam me dar, meu corpo apenas queria aquele tritão safado que me puxou para dentro de uma caverna, que fazia meu corpo se agitar e esquentar. Rebolei em sua direção o provocando mais, o que fez tirar risadas baixas

dele. Joguei meus cabelos para trás observando Aiken se mover se preparando. Senti seu membro adentrar-me dando início a dor que se misturava com prazer. Mordi meus lábios à medida que Aiken se movia lentamente jogando cuidadosamente seu corpo sobre o meu, beijando minha nuca desprotegida. Meus cabelos todo jogado para outro lado deixava-me ter a visão completa da cena, de Aiken, de tudo. Seus beijos depositados sobre minha pele faziam um êxtase tão bom possuir-me, um que não tinha sentido em minha primeira vez com ele. Seus movimentos se intensificaram começando a tirar gemidos de minha boca semiaberta, à medida que os gemidos, os quais não entendia o que significavam na primeira vez, se intensificavam por minha boca juntamente com as estocadas de Aiken, seus dedos tocavam meus cabelos prendendo-os. Fitei em direção ao meu rei notando-o ofegante, e sem aviso ele se afastou saindo de dentro de mim. Torci os lábios não gostando daquilo, mas, antes de abrir minha boca para protestar, suas ordens foram dadas. Piscando, movi-me para o lado ficando de costas para a cama. Os braços fortes de Aiken se apoiaram perto da minha cabeça sustentando seu corpo. Com um sorriso malicioso fui beijado com desejo, um beijo diferente dos que ele me dava, que fazia meu corpo ficar quente, minha boca, meu ser, querer muito mais daqueles lábios. Apoiando seu joelho na cama, uma de suas mãos foi até minhas coxas abrindo-as, o que me fez entender suas instruções e assim abrir minhas pernas, deixando seu corpo se ajeitar no meio delas. Seus beijos cessaram deixando o ar voltar para meus pulmões, movendo seu corpo para trás, endireitando sua silhueta, ele novamente analisava-me com seu ar de luxúria e safadeza. — Por que me observa tanto?! — Retruquei baixinho desviando o olhar. Sentia-me quente, minhas bochechas ardiam o que dizia que minha pele branquinha deveria estar bem vermelha, querendo esconder minha face com meu braço ouvi sua risada baixa, o que me deixou curioso abortando meu ato com o braço. Fitando-o, o vi vir em minha direção e beijar o topo de minha cabeça, seus beijos continuaram por minha testa e minha bochecha. — Porque eu o amo e adoro olhar para você. — Ele sussurrou perto de minha face. Pervertido! Quem é que gosta de ficar olhando alguém vermelho como um tomate em uma cena de sexo? — Eu amo você, Triton. — Ele continuava com sua voz baixa. — Amo

quando resmunga, quer me bater, fica vermelho, eu amo tudo o que faz! Ainda mais quando vem até mim manhoso e me abraça. — Senti seus lábios roçarem nos meus em um quase beijo. — Não tenho mais palavras, desculpe. Mais palavras para quê? Elas já faziam meu coração ficar em dúvida se batia tão rápido que sairia pela minha boca ou parava. Ele não sabia como era bom ouvir aquelas palavras; é tão gostoso quando você finalmente sai da bolha de escuridão que vivia quando seu povo o odiava, onde em sua caminhada não havia ninguém para sorrir junto com você. Por anos apenas tive meu pai que tentava me proteger de todos e isso apenas fazia doer mais, todavia, após ser puxado por aquele pervertido tudo começou a mudar, meu mundo saiu daquela bolha negra e em minha frente não via mais apenas meu pai. Eu tinha Aiken, tinha Hardar, Oki, Side, e agora uma grande família que me aceitara. Aiken tocou em meu rosto onde lágrimas rolavam, não as tinha notado ali não sabendo quando elas começaram, porém, sabia que não precisava se preocupar com elas, não eram de dor, tristeza ou medo. Eram de alegria. Eu estava tão feliz. — Desculpe. — Pedi baixinho limpando-as com as costas das mãos. Aiken pegou meu braço afastando de meu rosto e assim beijando-me, queria que aqueles momentos continuassem eternamente, e se dependesse de Aiken, ele realizaria isso. Meu rei, meu tritão, meu Aiken. Os beijos dele voltavam a ficar intensos e desejosos, com meu braço ainda preso por suas mãos o prendi com minhas pernas, vasculhando minha boca sua língua batia várias vezes contra a minha e pequenos gemidos baixos soavam entre os beijos. Soltando-me, suas mãos percorreram por meu corpo e seus beijos se alastraram pela região de meu pescoço e peito. Mordisquei os lábios sentindo sua língua tocar minha pele clara, meu corpo estava tão quente como nunca senti antes e isso apenas piorava sentindo os dedos de Aiken brincando pela minha barriga indo até minha cintura, ali permaneceram agarrando-a e erguendo. Fitando em direção ao meu pervertido, recebi um selinho antes de se ajeitar no meio de minhas pernas que eram obrigadas a ficar pouco acima da cintura de Aiken. Senti seu membro tocar minha única entrada e meu rosto pegou fogo por ser tão observado por aquelas órbitas vermelhas em meio aos atos. Com um sorrisinho travesso, Aiken se inclinou ajeitando-se, adentrando-me

lentamente naquela posição. Uma dor pequena se instalou em meu corpo ao senti-lo, todavia, não podia deixar isso arruinar o momento, mordi meus lábios e aos poucos Aiken começava a se mover, lento, calmo e logo, intenso. A cada segundo seus movimentos se agitavam fazendo a dor irritante que senti no início ser trocada por prazer. Gostava disso, uma sensação tão boa que percorria meu corpo. Sua face estava perto da minha e para provocá-lo lambi seus lábios fazendo ali um pequeno sorriso pervertido surgir. Meus dedos foram em seus cabelos agarrando-os com força, em minha boca meus gemidos pareciam o alegrar e, meu corpo, não parava de esquentar. Jogando minha cabeça para trás em meu pescoço foi depositado vários beijos, sorri em ouvir os gemidos de Aiken, puxei mais seus cabelos o deixando mais louco. Logo a pós Aiken gozar e finalmente não me apavorar com o que era um gozo, minha onda de puro prazer durou por mais muitas horas. Apenas sabia que aquela noite, que inicialmente se fazia fria para mim, se tornou tão quente, e as testemunhas de minha alegria eram as estrelas que nos observaram até o amanhecer onde acordava ao lado do rei dos mares o qual era apenas meu. Ao acordar gemi de dor enquanto erguia-me sozinho na cama, tudo doía como nunca me fazendo perguntar o que eu fiz errado para acordar dolorido. Aos resmungos, percorri minhas órbitas azuis pelo quarto encontrando o tritão que teria dormindo sobre sua mesa cheia de ostras e papiros. Rindo baixinho da cena, admirei a silhueta de cabelos longos que tapavam todas suas costas, Aiken tinha voltado aos seus afazeres depois que meu corpo pedia por descanso e meus olhos não aguentavam mais abertos, até minha consciência esvaziar ele permaneceu ao meu lado mexendo em meus cabelos como meu pai sempre fazia quando eu era pequeno para eu dormir. Caminhei em sua direção, no entanto, o balançar da perola em contato com meu peito fez-me parar. Eu não havia dado ainda a pérola para Aiken e isso deixava meu coração apertado, queria presenteá-lo igualmente. Virando para o outro lado, fui em direção às portas, iria achar uma perola grande e bonita! Sai sem fazer barulho culpado por deixá-lo dormir naquela posição, mas o conhecia bem o suficiente, Aiken não iria voltar a descansar se eu o acordasse agora. Do outro lado, percorri os corredores que pareciam totalmente diferentes ao ter o sol os iluminando, podendo ver seu teto enfeitado e até mesmo alguns enfeites na parede tirando o ar vazio que sempre via em todo o palácio.

— Triton. — Pisquei escutando a voz grossa de meu pai. Sua voz conseguia fazer meu corpo se encolher mesmo que ele não fosse fazer mal para mim, sua postura também ajudava a dar o ar assustador completo a ele. Virei-me encarando sua silhueta se aproximando devagar, por suas vestes podia dizer que ele estava treinando como fazia toda manhã. — Aconteceu algo? — perguntei esperando seu corpo ficar mais próximo. Seus dedos tocaram em meus cabelos recebendo seus cafunés que adorava. — Talvez, depende do ponto de vista. — Estranhei-o falar desse jeito. Sua expressão já o denunciava, era difícil ver um Hardar com um olhar vago e preocupado misturando-se com... tristeza? Sim, existia tristeza naquelas órbitas azuis iguais as minhas. O que estaria acontecendo? Algo novamente com meu destino? Abri a boca, porém, sua voz saiu antes da minha. — Arrume-se, vamos ao palácio Schifino ainda hoje. Arregalei meus olhos. O palácio Schifino? Meu pai tinha se afastado de lá quebrando a tradição dos clãs, desafiando o líder e Reikal, o que estaria acontecendo para ele decidir isso? Estaria ligado com o aparecimento do vovô naquela hora? — A mudança está começando, esteja preparado. — Sua voz saia mais baixa. — Sempre estarei ao seu lado, não se preocupe. Não me preocupo com as mudanças e sim com os segredos que vem com ela, com as respostas que não consigo, que não me dão! Eu sei que sou fraco, mas isso não é justificativa para esconder tudo, é meu futuro. É o futuro de todos! Queria proteger aqueles que amava, queria as respostas. Meu pai deu um passo à frente para continuar seu caminho quando meu braço automaticamente ergueu-se agarrando o de Hardar. Seus olhos mixaram em mim, e meu coração acelerou. Compreendia pouco o motivo de ele esconder os segredos de mim e proteger-me em seus braços, todavia, isso ele não podia enfrentar, nem sabia se eu poderia encarar. — Sem esconder nada! Suspirando, ele virou em minha direção puxando-me para seu peito, seus

braços me rodearam apertando-me em um abraço enquanto seu queixo descansava no topo de minha cabeça com madeixas desgrenhadas. Algo o preocupava muito. — Você realmente está crescendo. — Ele riu baixinho. — Nós iremos ao palácio para se despedir do seu bisavô. — Arregalei os olhos. Ele estava morrendo? — Não sei que vai acontecer depois de sua morte, não sei que vai acontecer nessa guerra, e pela primeira vez sinto muito medo. Abracei o corpo forte de meu pai. Se ele estava com medo o que sobrava para mim? Meu corpo tremia de pavor, no entanto, esse efeito era apenas por temer falhar com todos. — Você sabe que seu avô foi tirado da linha de sucessão o que dá o trono a mim após a morte dele. Sim, pelo que lembro Reikal foi retirando da linha de sucessão após engravidar de um Sereiano que namorou escondido, não sendo nobre isso pesou ainda mais ocasionando uma “tragédia” para os Schifino. Um filhote não Yin. Dentro de meu clã, era essencial ter filhotes yin, por isso era deixado à linhagem de sangue pura para as chances serem altas, mas papai conseguiu conquistar a todos mesmo não sendo yin, conseguiu completar a cerimônia para se tornar um Schifino antes da hora. Tornou-se herdeiro para ser o próximo líder, o primeiro Schifino não puro a conquistar tudo isso. E conseguiu a benção dos dois deuses. — E você não desejava isso, não é? — Já sabia o motivo daquela conversa de herdeiros. Papai nunca desejou trono nenhum, apenas a aventura. Ele assentiu. — Você vai dar um jeito. — Sorri em sua direção. — Além do mais, você seria um ótimo líder. — O provoquei recebendo puxões em meus cabelos. Gargalhei alto, vendo um pequeno sorriso em seus lábios. Sabia que ele seria um ótimo líder, assim como era para os exércitos do nosso povo, todos o seguiam o admirando, orgulhosos por estar no exército do famoso Hardar Schifino, papai era quase uma lenda. E isso apenas fazia não ter dúvidas que como o líder do clã Schifino, ele seria maravilhoso! O vi suspirar mirando o teto estranho com desenhos que não compreendia, eles sempre se repetiam. As mesmas cenas, personagens, acontecimentos e cores. Tudo idêntico e detalhado o que lembrava uma guerra, uma batalha. Os observando bem, algo naquela pintura fazia minha cabeça doer

como se já estivesse presenciado aquilo, era estranho de descrever e insano de se pensar assim. Quando mais olhava para a cena que se seguia na imagem mais algo no fundo da minha mente trazia o nome “Deuses”. Uma batalha de deuses. Semicerrei os olhos. O cenário era estranho, as cores marrons e outros tons mais escuros me impossibilitavam de dizer detalhadamente onde acontecia a luta, entretanto, o corpo que mais ganhava destaque era de um macho, apenas com um pano que mais lembrava uma nuvem tapando suas regiões mais intimas, ele apontava um tridente para alguém, sua barba negra era grande e seus cabelos também tapando parcialmente sua face, seu corpo era forte, e em sua volta tons de vermelho era o que mais tinha destaque. Para onde sua arma apontava lembrava um corpo feminino de longos cabelos escuros como seu olhar, em sua volta os tons mais claro eram os que ganhavam mais destaque, e diferente do macho, ela não apontava nada para ele, parecia lutar com as mãos nuas mostrando que era poderosa. Era estranho e ao mesmo tempo nostálgico. — São estranhas... — Pensei alto. — E trazem lembranças de nostalgia. — Apertei meus lábios ainda hipnotizado pela pintura. O toque de meu pai me fez piscar e notar o que estava falando, nem eu mesmo sabia entender a pintura, de onde vinham tais sentimentos? O olhar de meu pai não aparentou ser confuso, era como se tivesse sentido em minhas palavras e fosse algo normal, todavia, não era! Por que achava tão nostálgico quando fitava a pintura? Sentir confusão, saudade e tristeza ao ver um teto era normal? — O tempo está se acabando... — Sua frase mais parecia uma pergunta para o vento do que uma afirmação. — Talvez tenha algo que possa contar agora, porém, apenas quando formos ao palácio Schifino. Por quê? Apertei os olhos, sabia que não importa se perguntasse o motivo, ele não responderia, talvez no palácio tivesse algumas respostas... — Pai... — O chamei fitando rapidamente a pintura no teto estranhando porque um simples corredor era tão enfeitado. Além do mais, por que nunca notei isso? — Aquela na pintura é a Mãe suprema, certo? Então quem é o tritão barbudo? — Apontei na direção aonde vinha à silhueta que mais me intrigava,

existiu alguém que enfrentou a mãe suprema? Um deus também? Um Sereiano? Quem era ele? Voltando minha atenção para meu pai, ele não tinha uma expressão de confusão ou qualquer outro sentimento. Sempre imparcial mesmo que seus olhos fossem até onde os meus se fixavam muito. — Eu não vejo nada Triton. Arregalei os olhos. Ele não via a pintura no teto? — E também não sei quem é o homem que está falando, nunca ouvi sobre alguém assim de Belial. — Suas mãos foram até o topo de minha cabeça acariciando no local. — Quem sabe não descobrirmos. — Ele sorriu. Sabia que ele sorria apenas para me reconfortar. Quem iria sorrir para um filho louco que estava vendo alucinações agora?! Tentei sorrir, em vão. — Agora vá comer algo, logo partiremos. — Avisou bagunçando meus cabelos. Assenti rindo baixinho. Sendo abraçado por seus braços, recebi os últimos carinhos de meu pai antes de avisar que iria voltar para seus treinos. Papai toda manhã treinava bastante, ele deveria ser o grande escolhido dessa “profecia dos deuses”, não um tritão fraco, magrelo e que nem sabia invocar sua própria arma. Suspirando, fiz como meu pai mandou, após me alimentar de um prato com anchovas, algas e mariscos deliciosos segui para o local que os soldados costumavam treinar vendo um pequeno grupo em movimentos com algumas lanças sem sua lâmina que se resumia a um bastão de metal. Em duplas, eles faziam movimentos sincronizados sem machucar um ao outro. Em um grupo de aproximadamente doze Sereianos composto por mais machos, não via meu pai, estranhei. Aproximei-me com medo de me expulsarem dali, todavia, diferente das expressões de nojo que muito recebia, dessa vez ganhei olhares curiosos, surpresos e até de admiração. Isso me assustou fazendo meu corpo parar por um breve momento, era um choque para mim, mas adorei receber tais olhares. Muitos começaram a cochichar e conseguia escutar as palavras: Filho, Hardar, poderoso. Queria poder escutar as frases, no entanto, precisava achar meu pai e partir para o palácio Schifino. A ideia de perguntar e eles onde meu pai estava

não precisou ser feita ao sentir uma lâmina se aproximando tão rápido de mim que quase não consegui desviar. Berrei alto me esquivando a tempo, indo para trás pisquei assustado. Quem segurava a lâmina negra que quase me atingiu era meu pai! Com seu sorriso travesso ele endireitou o corpo fazendo os soldados se afastarem dele com medo, era normal, todos temiam o famoso Hardar, o líder dos exércitos. — Nada mau pirralho. — Ele provocou-me e pus a língua para fora em sua direção. Não entendia aqueles atos repentinos, entretanto, ficava feliz por ter esquivado ou estaria coberto de sangue e passando vergonha na frente dos soldados, mesmo que a intenção do meu pai não fosse me humilhar sofreria isso de muitos soldados que espalhariam a notícia. — Já estou pronto, quando vamos partir? — Perguntei endireitando minhas roupas impecáveis. Diferente de Aiken que se deixasse andaria nu bem feliz pelos corredores, eu não gostava de mostrar mais que deveria de meu corpo com pouco musculoso. — Quando provar que pode receber as respostas que tanto deseja. — Ele girou sua lança em formato estranho. Do que ele estava falando? Franzi o cenho esperando que ele continuasse, porém, meu corpo se alertou vendo a posição de luta de meu pai. — Terá que parar meu golpe se quiser as respostas, se fizer isso o palácio Schifino revelará suas respostas. — Ele sorriu friamente. Que crueldade! Como iria lutar com ele se nem minha arma conseguia fazer me obedecer? Uma lança comum se partiria no meio no primeiro golpe dele o que já me obrigava a usar a minha própria arma. Hardar era muito forte, mesmo que usasse todas as armas dos soldados que nos observavam animados não pararia nenhum golpe e talvez levasse até mesmo um corte. A lança de meu pai era perfeita para cortar na região do pescoço, não podia deixá-lo desprotegido. Suas lâminas podiam ser menos fatais quando ele a baixava o que também poderia me dar uma brecha se conseguisse invocar minha arma. Sorrindo friamente ele colocou sua lâmina para trás do corpo enquanto permanecia em sua mesma posição de ataque, não sabia o que ele planejava, mas tudo indicava que atacaria com sua arma apontada para cima, em direção ao meu pescoço. Afastando-me, semicerrei os olhos encarando aquele sorriso que não

conseguia identificar seus pensamentos. Ele era um ótimo guerreiro o que me deixava ainda mais em desvantagem, a única coisa que fazia minhas pernas se moverem era saber que ele nunca me mataria. — Você sempre foi bom em estratégias, em pensar, porém, as fraquezas e habilidades que pode ter de minha arma podem ser mudadas. — Ele endireitou o corpo ponto sua arma para frente. — Você sabe os segredos de nossas armas e de que elas são feitas? Assenti mesmo não sabendo responder tudo daquela pergunta. — A arma é moldada a partir de nossa alma, dizem que ela nossa imagem, ou até força. — O vi afirmar com a cabeça. — Mas os segredos não recordo de ter falado algo além de que elas podem ficar ainda mais poderosa. Uma arma é parte de si, e uma vez Hardar disse-me que elas podem ficar ainda mais fortes dependendo de sua força, no entanto, não dependia apenas da força física, era mais a força de sua alma. Quando mais forte era seu ser, mais forte sua lança poderia ficar. O que respondia o motivo de alguns Sereianos terem duas lanças ou espadas em suas mãos, como também o tamanho dela. E em minha frente meus olhos eram uma testemunha dessas mudanças novas para mim. Arregalei meus olhos vendo a lança de meu pai mudar. O objeto negro que era sua alma mudava de forma em suas mãos aumentando alguns centímetros, o brilho branco que a cercava como um manto a revelava mostrando sua nova ponta, afiada como sempre, ela reluziu com o brilho do sol mostrando a lista prata que ficava na regia da lâmina de corte querendo ganhar espaço com a cor da lança. Negra como a escuridão, seu cabo se estendia da nova ponta fina até a outra onde também levava uma lâmina, todavia, seu formato lembrava a antiga imagem de sua arma. Como um rabo de escorpião, a nova parte era maior e mais apertada, seu círculo que também levava a cor preta e prata. Com poucos enfeites apenas daquelas cores, a nova lança de meu pai era mostrada fazendo muitos ali terem a mesma reação que a minha e se afastarem o que podiam. Isso aí era perigoso? — Vamos brincar, até onde você aguenta. — Ele riu. Ainda se diz pai? Isso é crueldade com seu filhote! Eu estava ainda em desvantagem, muita agora. Como iria lutar? Precisava de estratégias, analisar seus pontos fracos não apenas na arma, como postura e em seu corpo, o único problema era que meu pai

quase não tinha nada do que precisava, suas bases eram perfeitas, seus movimentos com sua arma eram fortes e pesados, não totalmente rápidos demais, e por último, ele não apenas duelava com você como te golpeava com técnicas que mais nenhum Sereiano sabia. Ele avançou e meu corpo se moveu com medo. Queria berrar e xingá-lo. Como iria aprender a lutar assim? Não precisava primeiro saber como me posicionar? Jamais iria atingi-lo o que me levava a não ter minhas respostas. Afinando os lábios, fitei o grupo de soldados certamente novatos pelo brilho e a animação em seus olhos, além de apanhar eu teria uma plateia de soldados ainda. Isso era ainda mais cruel! Cada silhueta ali esperava uma bela luta entre Hardar e seu primogênito que deveria ser tão poderoso quanto ele, entretanto, esse título estava em Aiken. Ele era o lutador perfeito, não eu! Mirei na direção que tinha vindo notando a silhueta de cabeleira vermelha se aproximando, bocejando e com suas vestes toda desarrumadas, Aiken tinha uma expressão de sono e desleixado com sua aparência a qual ele não se importava muito, no entanto, não queria passar vergonha em sua frente, odiava mostrar que apenas precisava depender dele e não tinha garantia que ele não se meteria. Cerrando os dentes, desviei novamente de meu pai que bufou não gostando de não contra-atacar. O que poderia fazer? Controlar a água? Lute. Escutei ecoar em minha cabeça. Lute. Conecte-se à luta. Ela tem o poder para você. Quem era? De quem era a voz que soava em minha cabeça, uma voz masculina que não pertencia a Belial, muitos menos da deusa. — Vamos, Triton! — Hardar berrou ainda não me tirando de minhas perguntas. A voz que escutava era tão parecia com a... minha. Seria meu subconsciente? Pisquei várias vezes notando a imagem em minha frente de Aiken, de meu pai e até os soldados sumirem por um breve instante revelando uma silhueta negra vindo em minha direção, não sentia sua presença e não pertencia ao deus terra. Um corpo forte podia ser notado debaixo daquelas vestes negras, seus cabelos negros e compridos balançavam tapando sua face e sua barba negra estava bem grande. Lute. Ainda ecoava em minha cabeça. Vi um brilho em sua mão podendo notar uma pequena ponta de lâmina

de tons azuis. Lute! Destrua as barreiras Lutar? Destruir barreiras? Quem era? Piscando, podia notar a cena em minha frente voltar aos poucos revelando a minha plateia de soldados ainda animados, Aiken observando com certa preocupação e meu pai que estava pronto para desferir outro golpe. Vi o cabo largo da arma girar em suas mãos e assim vir em minha direção. Assustando-me coloquei a mão à frente em um ato de proteção e funcionou, porém, me surpreendi com a minha “proteção”. Uma parede de água protegeu-me e mesmo podendo ver a imagem de meu pai atrás dela, pude notar sua arma batendo e retornando como se tivesse atingido algo sólido. Todos em minha volta arregalaram os olhos com o ato repentino que aconteceu e notei que poderia controlar, mesmo que fosse um pouco, de águas com minhas próprias mãos. Meu pai sorriu satisfeito, eu tinha parado o golpe dele, iria conseguir minhas respostas? — Nada mal. — Sua voz soou baixa. Ele iria continuar? Lute. Lute. Erga-se e lute! Meu pai atacou novamente, todavia, tocando em minha barreira ele a desmanchou fazendo o liquido cair e banhar todo o chão metálico. Tinha me esquecido que ele também controla a água podendo anular minhas barreiras, e até golpes com ela. Apertando os lábios, fitei minha palma que coçava. Precisava lutar! Hardar girou novamente sua lança avançando com força, não entendia suas bases, seus ataques, apenas meu corpo se preparava para se proteger, ou até mesmo revidar. Precisava contra-atacar, todavia, como deveria lutar? Como invocar minha arma? Moldurar minha alma em minhas mãos. Mordendo meus lábios, suspirei ainda sentindo meus braços formigarem. Não importa quantas vezes desviassem dos golpes de meu pai mesmo que as táticas fossem perfeitas, ele apenas iria parar quando eu atacasse ou bloqueasse. A água não era minha aliada contra ele. Por que estou tão desesperado? Meu coração está acelerado de um jeito nada normal, meu corpo queria agir, minha mão abria e fechava, porém, em minha mente nada conseguia pensar além do medo. Ela é o medo, conjure-a e a quebre. A voz estranha sussurrava em minha

mente mesmo não entendendo. Como deveria conjurá-la se nem sabia as palavras para usar. Destruir o quê? Meu pai atacou novamente e ouvi a voz de Aiken pedindo para ele parar, minha plateia não estava mais animada como antes e muitos sussurros soavam entre eles. Meu coração se apertou em ver a cena, as expressões que vinham com ela. Sentiam nojo como todos, riam e duvidavam. — Não deixe o ambiente em sua volta te afetar, se isso acontecer use-os ao seu favor. — Meu pai disse baixinho. Seus golpes diminuíram de velocidade e um sorriso gentil estava em seus lábios. — Foi Belial que me ensinou isso. — Ele mirou no chão se afastando de mim. Ele nunca falava de seu passado, do que aconteceu e muito menos sobre seus treinos com Belial. Isso traria lembranças dolorosas? — Olhe apenas para dentro de si e esqueça-se do mundo, é dentro de si que estão as respostas, lute! Lute por aquilo que quer proteger, provar, conquistar ou até mesmo por diversão. Apenas lute! Lutar... A palavra que a voz que soava em minha cabeça profanava demais. Mirei em direção a Aiken vendo-o aflito, porém, não saia de seu lugar, ao seu lado com pouca nitidez conseguia ver um corpo que lembrava Belial, e do lado esquerdo de Aiken, uma silhueta feminina de longos cabelos negros e vestido azul feito de água. A deusa, minha mãe. Qual meu objetivo? Lutar. Olhei para palma de minha mão à medida que conseguia ver perfeitamente meu pai se arrumando para atacar. — Apareça. — Profanei a palavra que veio em minha mente.

13° ESCAMA DE TRITON A sensação era como tinha sentido da última vez. Uma conexão que você conseguia sentir percorrer todo seu corpo, a arma era parte de você o que fazia seu corpo já estar acostumado com ela mesmo que nunca tivesse lutado com ela, nem pesada, nem leve demais, a arma se tornava perfeita e única apenas para seu dono. Sorri satisfeito, tinha finalmente a invocado. Hardar hesitou um pouco ao se aproximar e minha plateia se animou arregalando os olhos ao verem meu tridente quebrado, o que ainda me levava a perguntar por que aquela coisa faltava uma ponta de sua lâmina? Sem tempo para pensar mais sobre isso avancei contra meu pai, eu apenas precisava parar um golpe seu para ter minhas respostas, para ser levado ao palácio Schifino e precisava delas, como nunca, sentia meu por precisar das respostas, se conectar a uma parte que estava faltando e esquecido. Hardar se surpreendeu em ver que era eu que o atacava tão rápido que nem me reconhecia, tinha o controle de meu corpo, no entanto, minha sede pelas respostas fazia meu limite ultrapassar-se. Cerrei os dentes. Minha arma se chocou a dele fazendo um zumbido fino e chato ecoar o que animava cada vez mais, conseguia bloquear cada golpe dele como também o contra-atacar mesmo não tendo nenhuma habilidade em luta, estava pasmo com meus próprios movimentos. Avançando o tridente para frente fiz a lâmina de Hardar ficar entre os dentes da minha e assim coloquei todo meu peso no cabo dirigindo para baixo. Com um sorriso vitorioso, quase tirei sua arma de suas mãos se ele não tivesse notado minhas intenções. Afastando-me, fitei meu pai que tinha um sorriso divertido em seus lábios que não conseguia decifrar, era como se ele sentisse nostalgia de uma luta assim, o que me levava a perguntar como conseguia mover meu corpo tão perfeitamente como se soubesse lutar, manejar uma arma. Até mesmo a posição que meu corpo tomava dava a ideia de ter experiência em luta. — Nada mal, pirralho. — Meu pai falou girando sua lança colocando a ponta mais fina no chão. — Não é à toa que é um Schifino. — Ele piscou. Olhei para meu tridente quebrado, eu tinha conseguido me mover tão bem e bloquear golpes de meu pai tão perfeitamente, mesmo sabendo que seu nível era ainda maior, sentia que poderia ser útil para algo.

Sorri satisfeito comigo mesmo. — Se prepare, partiremos logo. — Avisou. Assenti, iria pisar novamente no castelo de maiores guerreiros da história, os Schifino o sobrenome que muitos Sereianos desejavam carregar. — Obrigado, pai — falei baixinho ainda observando meu tridente quebrado notando que realmente faltava uma parte nele. Franzi o cenho tocando onde ficaria a terceira ponta sentindo a textura da arma me fincar, era como se ela tivesse quebrado em uma batalhava, os vestígios mostravam exatamente que era para existir outra ponta ali, então o que tinha acontecido? Era algum problema com minha alma? Meu pai voltou para seus soltados e pode ver sua arma sumir com facilidade. Como ele tinha feito aquilo? Como fazia ela retornar para dentro de mim? E agora? O que deveria fazer? Seguir meu pai? — Relaxe o corpo e mande ela retornar. — Escutei a voz baixa de Aiken juntamente com seus lábios tocando em meu ombro. Meus cabelos desgrenhados pela luta o deixava impossibilitado de beijar em qualquer lugar atrás de mim e isso deixou um sentimento de irritação em mim, meu coração se acelerou e minha pele desejou mais do que nunca seus beijos por minha nuca, pescoço e até mesmo em minhas costas, todavia, o momento não era apropriado para isso. Fazendo como Aiken ditou, respirei fundo acalmando meu coração e minha mente e assim mandei a arma retornar, não foi sucesso de primeira, no entanto consegui. — Obrigado. — Agradeci baixinho. Virei-me ficando de frente a um rei com um sorriso safado onde ainda desejava bate-lo cada vez que via aquele sorriso. Rei pervertido! — Vou me preparar. — Avisei na in tensão que ele me seguisse e como desejava, ele fez. Caminhando atrás de mim adentrados o palácio recendo algumas reverencia dos soldados em seus postos. Sorrindo maliciosamente lancei um olhar para Aiken o provocando, seria minha vez. Segui sem rumo e sem noção daqueles corredores todos iguais, porém, Aiken ainda me seguia e conhecia bem o castelo. Ainda com seu sorriso seus passos eram lentos como os meus, seus

cabelos compridos e solto balançavam graciosamente com seu andar. Como sempre Aiken apenas vestia tecidos na parte de baixo ainda assim, um tanto curto demais para machos da realeza, o que notei haver em Erya também, os dois não eram apenas idênticos na aparência como no modo de vestir e vaidade. Fitando de soslaio o peito saliente de Aiken lembrei-me da perola o que fez meus passos pararem e ter o corpo daquele pervertido batendo contra o meu. Ele piscou confuso antes de virar-me para ele, e suspirando, procurei onde tinha escondido a perola naquele tecido grande que vestia e ainda me sentia pelado demais o que não fazia sentido, muitos da minha raça não se importavam com roupas, andavam completamente nu então por que estava com tal chilique? Pegando a pequena perola, estendi minha mão com a palma para cima mostrando o objeto branco tirando um arregalar de olhos de meu rei. — Sei que é pequena, mas, queria dar um para você. — Mesmo tendo a ajuda de meu pai para ter ela. Quase falei. Não prestava nem para pegar uma perola, porém, isso iria mudar. Sorrindo, ele aceitou a perola pegando-a entre seus dedos e agradecendo, ele não esperava ganhar uma? Seu sorriso era tão grande e animado, não era comum um casal trocar perola? Apenas queria que ele tivesse também a marca da nossa união. Colando seu corpo no meu, Aiken beijou-me cheio de desejo e alegria. — Triton. — Ele citou meu nome entre os beijos fazendo-me sorrir de leve. — Meu Triton. Que tritão possessivo. Ri entre os beijos. Meu Aiken. Minhas costas encontraram a parede gélida enquanto os beijos ainda soavam, agarrei os cabelos de Aiken entrelaçando-o com meus braços, seus dedos tocaram minha cintura fazendo meu corpo não se afastar do dele e com beijos molhados e ferozes meus lábios eram tomados por aquele tritão ruivo. Ao sentir que precisava respirar direito, afastei-me de seus lábios. Como gostava da força daqueles lábios sobre os meus transbordando desejo em cada ato. Desviando o olhar, notei o corredor terminar em um arco sem porta com uma escadaria que levaria para baixo, escuro como a noite, era simples e sem graça talvez o motivo de não ter chamado minha atenção antes, porém, o que havia ali para levar para baixo onde não teriam janelas por estar debaixo da água. A estrutura da plataforma ia até o chão do oceano, grande o suficiente para suportar tudo aqui em cima, todavia, não imaginava que o enorme tubo tinha

algo a mais além de sustentar a arquitetura inteira do palácio. Apontei naquela direção e objetivo os olhos de Aiken seguindo meu braço notando aquele espaço. — O que fica lá para baixo? A expressão de Aiken ficou dura, desviando os olhos tive suas mãos segurando meu rosto, ele sorriu dando um pequeno beijo em mim. — Não queira descer, eu mesmo odeio aquele lugar — disse. — É o calabouço, ou prisão como quiser chamar, onde os que cometem crimes são jogados até morrerem. Arregalei os olhos sentindo meu estomago revirar. Mesmo que eles tivessem cometido crimes mereciam uma morte lenta e dolorosa assim? Viver em uma escuridão como via dali sem a água salgada do oceano, sem comida apropriada era algo cruel para qualquer um passar o que fazia perguntar-me quais crimes cometeram para estar naquele estado, porém, antes de perguntar qualquer coisa que fosse sobre o calabouço Aiken bagunçou meus cabelos fazendo seu sorriso safado retornar. — Não demore, sabe que tio pode te deixar para trás — disse rindo baixinho. E isso era verdade, papai odiava ficar esperando o que mostrava por que seu exército sempre estava no campo de treinamento antes deles, qualquer demora podia ser picado. Sorri de leve lembrando-me do dia que ele ia levar-me para ver os corais e demorei com medo de sair e ser apedrejado, naquele dia ele me agarrou pela cauda e me colocou sobre seu ombro me levando, nada delicado de sua parte, todavia, se não fosse teria perdido uma vista tão bela e a diversão que tive em nadar com os peixes que não se assustavam com minha presença. Se despedindo, Aiken avisou que voltaria para o guardo para terminar as tarefas que Hardar tinha dado. Ele suspirou dramaticamente resmungando que meu pai era muito cruel e apenas ri. Balançando a cabeça de leve, meus olhos miraram novamente naquele túnel de escadas escuras, deveria ser assustador e sujo lá em baixo e mesmo querendo saber como seria, não seria hoje que descobriria, não quando podia perder minha cabeça por demorar demais. — Pequena princesa que partiu, você era, minha princesa. — Pisquei escutando uma espécie de música. A voz era fraca e a letra estranha, no entanto, não foi a música que fez meu corpo congelar no lugar e minhas pernas tremerem. Algo em minha garganta pareceu travar sufocando-me. Minhas órbitas foram na direção das

escadas enquanto meu coração entrava em pânico. Talvez se não tivesse escorado na parede teria desabado no chão. Sem dúvidas aquela voz que cantarolava ainda era de Mukay, o tritão que feriu minhas pernas. Ele ainda estava vivo? Uma risada alta soou vinda daquele local e senti meu coração parar. — Ele está vindo! Ele está vindo, está, está! — Falava em um tom de canto. Quem estava vindo? Precisava me afastar dali, de Mukay, porém, meu corpo ao se mover levou-me em direção a escuridão das escadarias. Algo travou em minha garganta ao pisar no primeiro degrau gélido. Era loucura o que eu estava fazendo e nem ao menos sabia o motivo do meu corpo estar me levando para baixo, para rumo ao tritão que quase matou-me. Conseguia até mesmo escutar meu coração acelerado a cada passo que descia a escadaria. Sereianos não tinham problema com a escuridão, além do mais a noite era composto por apenas trevas o oceano se não tivesse uma das pedras brilhosas, nossa única fonte de luz dentro das águas, uma espécie de cristais que tinha visto pelo castelo, todavia, ali em baixo não existia nenhuma fonte de luz. Era triste, viver daquele jeito... Toque a parede áspera conseguindo fazer meu corpo parar sentindo minhas pernas pesadas, meu coração já não batia mais como antes e o medo que me assombrava sumia pouco a pouco, era tão estranho, mas a sensação que começava a ter me surpreendia ainda mais. Ter coragem para enfrentar seus maiores medos era algo que nunca me imaginei tento e agora quase terminava os degraus sem terror em meu corpo. Pisquei, estaria fazendo a coisa certa indo até ali em baixo? — Ele está vindo... — Ouvi novamente a voz de Mukay cantarolando. Aquelas palavras me deixavam curioso, desejava saber quem era que ele se referia, quem estava vindo? — Esse cheiro... — Travei antes de pisar no próximo degrau. — Princesinha, veio me ver? Engoli em seco, deveria continuar? Ver a imagem de Mukay poderia me apavorar novamente, além do mais, tudo que aquele tritão fez em mim foi apenas me machucar sem motivos, apenas por puro prazer.

— Princesinha, pensei que nunca viria me ver! — Cantarolou ele com ironia. — Venha! Venha, Triton Schifino. Mordi os lábios, terminando de descer caindo em uma corredor húmido e curto. Dos dois lados havia várias celas de barras negras e grossas aprisionando um elemento por cela, pelo que conseguia ver Mukay não estava sozinho tendo em torno de seis Sereianos ali. Caminhei observando cada Sereiano atirado no chão se contorcendo e choramingando, um atacou as grades ao me ver pedindo para sair dali me apavorei com o horror das cenas fazendo meu estomago embrulhar. Qual eram seus crimes? — Não se preocupe, princesa, eles não mordem, estão quase mortos. — Mukay sorriu friamente como se tudo aquilo não passasse de uma brincadeira! Quão louco aquele tritão era? — O que devo a honra? — Mukay lambeu os lábios. Atirado no fundo de sua cela, podia ver uma bandeja com pouca comida perto de seus pés, intacta e mais nada naquela imensidão solitária. Com apenas roupas de baixo e correntes em seus pulsos, Mukay não se importava em estar daquele jeito, até sorria animado vendo-me parado ali. Ele tinha emagrecido, as correntes já mostravam isso em seu pulso, a solidão deveria ser horrível e nada daquilo mudava sua mente, seu propósito. Ele mais estava esperando a morte... Remexendo-se fazendo suas correntes se arrastarem pelo chão, pude notar que elas estavam presas a parede cheia de marcas de garras o que sabia que não tinham sido feitas por Mukay, ele estava controlado demais, sã demais para alguém naquela condição! Até mesmo o que parecia ser o mais novo dos prisioneiros já estava em um canto arranhando seu próprio corpo choramingo pela deusa para liberta-lo. A cena em vê-los destruindo seu próprio corpo apenas me deixava mais enjoado. Voltei para Mukay que cantarolava baixinho a mesma música que tinha escutado lá de cima, a letra era estranha e sua cantoria era péssima, no entanto, parecia ser sua única forma de ficar consciente, esperando algo... — Quem está vindo? — Perguntei um pouco alto com o barulho que os prisioneiros faziam. Mukay abriu um sorriso grande e assustador e seus olhos aparentaram brilharem.

Gargalhando alto fazendo alguns prisioneiros pararem com suas murmuras, ele deu de ombros pendendo a cabeça para o lado ainda com seu sorrisinho. — Quem sabe. — Provocou voltando a cantarolar baixinho e brincar com suas correntes. Torci os lábios, algo em suas palavras fazia deixar-me alerta, existia algo errado e Mukay sabia das respostas e eu não desistiria, não agora. Tinha descido até ali, enfrentando meu pavor por aquele tritão, não podia desistir agora. — Quem está vindo? — Perguntei novamente o encarando, ele parecia se divertir com meus atos, todavia, não me importava, queria era a respostas. — Quem é que você fala que está vindo? Mukay riu baixinho. — Deseja tanto saber, princesa? Seria melhor não saber, talvez fique vivo, talvez, talvez... — Ele repetia a mesma palavra várias vezes fitando em direção ao teto. Ele gargalhou como um louco, antes de secar uma lagrima invisível e voltar sua atenção novamente para mim. — Não, ele matará todos. Vingança! Ele deseja é a vingança! E você é parente de uma hiena, desejei retruca-lo. Franzi o cenho não compreendendo nada. No final, Mukay já estava completamente insano. Seu sorriso louco, seus cantarolar, até a mexida frenética que dava nas correntes que deveriam prender sua arma dentro de seu corpo, tudo em sua aparência de caída mostrava que não havia mais o Mukay Reskenov, o antigo guerreiro que quase ganhava de meu pai. Suspirando, virei-me para partir, era perda de tempo estar ali em baixo e se me atrasasse demais Hardar iria querer me fatiar. — Tenha cuidado, princesinha. — Ele avisou. Resmunguei, por que ele estava me chamando de princesa? Apenas para me provocar? — Cuidado de quem? — falei para tentar tirar alguma informação dele. — Por que devo ter cuidado de alguém que não consigo ver? Apenas para sentir medo? Tolice! — Bufei cruzando os braços. Ele sorriu fitando-me de cima a baixo o que não me agradou nada, aqueles olhos sobre meu corpo me davam calafrios e minhas pernas se

afrouxavam se lembrando o que Mukay fez com elas. — Você mudou. — Ele sussurrou. — Saiba que terá que ficar ainda mais forte para derrotar ele. Ele quem! Quem era o maldito que esse tritão se referia? Um ser imaginário? Real? Pisquei várias vezes, não podia me estressar com algo tão banal. Bufando alto toquei nas grandes mirando bem naqueles olhos que apenas transmitiam frieza e crueldade. — Ele quem? — Quase rugi impaciente. — Fale logo seu louco! — Ralhei não me controlando mais. Mukay pareceu gostar de minha reação, batendo palmas ele apenas deu de ombros no fim. — Quem está vindo! — Noah — disse por fim. Franzi. Quem era Noah? Vendo a confusão em minhas expressões, Mukay gargalhou novamente. — Noah Alkes. Alkes...? Arregalei os olhos pasmo. O Sereiano que Mukay tanto avisava era um Alkes? Como? Porque? Se era do clã de Aiken por que iria ser inimigo? A confusão estava evidente em minhas expressões o que fez Mukay erguer-se e se aproximar da cela ficando frente e frente de meus olhos, ainda com um corpo torneado de musculo, porém, mais magro, ele continuava aquele tritão cruel que minha alma tanto tremia apenas em vê-lo, o problema era que naquele momento minha alma, meu coração, nada sentia medo mesmo com a aproximação apenas confusão e duvida surgiam em mim. Ergui o olhar para o Sereiano em minha frente que brincou com a barra grossa de ferro. — Quando ele vier, o caos também virá e a mãe suprema estará junto, então se prepare, princesa. — Avisou. Meu coração pareceu parar por um momento. Um Alkes faria tudo isso? Qual era o parentesco com Aiken? Quem era Noah? — Quem é? Mukay arqueou uma sobrancelha.

— Noah? Saberá quem é em breve! — Riu ele. — Quando ele surgir, nem Aiken vai conseguir tê-lo, não mais. — Sua voz soava baixa agora. Não compreendia, não conseguia entender mais nada. Baixei o olhar deixando minha guarda baixa o que deu a oportunidade de Mukay agarrar meus cabelos e puxar-me para perto de sua cela, meu corpo se preparou para revidar, lutar, todavia, ele não fez mais nada além de puxar-me para mais perto e aproximar sua boca de meu ouvido. — Então fique forte e salve todos, ou eu saio daqui e mato você antes dele. — Mukay soltou-me se afastando. — Mostre de seu poder, pequeno semideus, o grande matador de deuses! Semideus? Do que ele estava falando? — Você precisa apenas... — Mukay se calou rapidamente fitando-me novamente de cima a baixo franzindo o cenho. Algo em mim parecia chamar sua atenção e fazê-lo se aproximar novamente. Com a mão erguida em minha direção, me afastei não querendo ser tocado, bastava seus olhos para fazer minhas pernas tremerem e minha mente trazer cenas dolorosas do passado. Meu coração vacilou acelerando demais, toda aquela coragem que tinha começou a desaparecer no mesmo instantes que aquela mão se aproximava de mim. Estava novamente com medo. — Triton! — Sai daquele transe ao escutar a voz de meu pai soar forte e poderosa no início das escadas. Meu corpo gelou. Ele iria me matar! Mukay gargalhou de meu pavor voltando a se afastar das grades negras, seus olhos finalmente tinham saído de mim para encarar o vazio em um canto, o amaldiçoei mentalmente por rir e assim corri rumo as escadas com o coração acelerado, Hardar certamente iria ficar muito bravo por meu atrasado! Porém, não foi o corpo de meu pai que apareceu em minha frente fazendo-me atropelar sem querer, no susto quase berrei se não tivesse sido abraçado logo em seguida. Pisquei como um louco sentindo as madeixas vermelhas fazerem cocegas em meu rosto. — Você está bem? Está machucado? Dolorido? Quase gritei um que bem alto estranhando toda a bomba de perguntas que recebia de Aiken, como seu abraço apertado que continuou mesmo se

afastando o suficiente para fitar em meus olhos. O que deu nele? Ficou assim apenas por que desci no calabouço? Mas o que poderia me machucar lá? — Eu... estou bem. — Soube apenas responder tais palavras ainda confuso com a reação de Aiken. Vi a silhueta de meu pai mover-se atrás de Aiken com um olhar pensativo. — E... você? — Sorri como um idiota não sabendo o que fazer. Ele piscou ainda me observando de cima a baixo segurando meus braços. — Eu senti que você estava com muito medo e quando se misturou com outros sentimentos negativos eu vim correndo. — Ele dizia desviando o olhar um tanto confuso como eu também estava. Desde quando ele podia sentir o que eu sentia? Isso fazia parte do coração cantar? Por que não conseguia sentir então suas emoções? Por que era um caminho apenas de uma via? Logo após suas palavras, Aiken soltou-me permanecendo em silêncio o que fez Hardar se aproximar e me examinar devagar antes de puxar minhas orelhas fazendo-me choramingar de dor. — Sabe que não gosto de atraso. — Sorri manhoso para ver se conseguia não perder minha orelha, no entanto, não adiantou. — E não me faça ficar preocupado! Pirralho! Não desça mais lá! Antes de Hardar soltar-me, seus olhos encararam algo atrás de mim que certamente seria Aiken e assim se afastou. Fui rodeado pelos braços de meu pervertido enquanto choramingava para meu pai que ele tinha quase arrancado minha orelha o que o fez apenas rir alto. Que pai cruel! Primeiro a luta e agora minha pobre orelha. Recebendo caricias em minhas madeixas, pisquei virando fitando os olhos vermelhos de um tritão que carregava uma expressão um pouco estranha para mim. Aiken parecia estar incomodado com algo, até mesmo seus músculos não aparentavam estar relaxados e suas palavras ainda não saiam de minha cabeça. Como existia aquela ligação de apenas uma via? E por qual motivo então não sentia Aiken? Pensei em perguntar mais sobre isso, talvez ele tivesse a respostas para minhas perguntas, todavia, ver que Hardar não se encontrava mais no corredor apenas vez meu desespero voltar, outro puxão de orelha não desejava não. Selei os lábios de Aiken rapidamente antes de sorrir.

— Não quero levar outro puxão de orelha. — Ri recebendo os dedos quentes dele em minha face. — Não apronte enquanto estiver fora, ou te corto. — Tentei soar o mais ameaçador possível, porém, isso apenas o fez rir de mim. Com uma expressão tristonha, ele desviou o olhar certamente querendo aprontar e ir junto escondido, e se o conhecesse bem sabia que ele faria isso. Aiken nunca mudava, e era isso que adorava nele. — Se comporte, talvez se terminar suas tarefas, Hardar deixe você aprontar um pouco. — Pisquei antes de sair correndo. Aiken já conhecia o palácio Schifino, sabia como chegar lá e apenas o esperaria surgir com seu típico sorriso de que aprontou e fugir dos sermões de meu pai.

14° ESCAMA DE TRITON Correndo para alcançar meu pai joguei-me na água vendo sua silhueta forte esperando-me juntamente com escoltas, certamente guardas do palácio Schifino. Não me lembrava como era o palácio apenas que haviam várias esculturas de pedras antes de chegar na arquitetura, tinha apenas visitado o palácio quando era ainda bem pequeno, mas dessa vez queria gravar tudo que visse. Uma coisa sabia e podia concordar, os Schifino tinham o palácio mais belo de todo o reino. Sendo escoltado por seis Sereianos de pele escura, nadei ao lado de meu pai observando todos os corais que passávamos. Diferentes tipos de peixes fugiam de nós, outros nem se importavam passando em nosso lado, algumas anchovas nadaram ao nosso lado e abocanhei uma fazendo o cardume se dispersar. Me deliciando com o peixe que se debatia em minha boca, agarrei outro enquanto meu pai parava balançando a cabeça em negação. Tentei sorrir para ele o que fez receber um tapa de minha própria comida, vingando-me, o mordia devorando-o por completo. Por toda o percurso fugia do grupo brincando com os peixes ou avistando corais que nunca tinha visto atiçando minha curiosidade, até um enorme tubarão branco passou por nós deixando os guardas em alerta, porém, pelo que parecia ser uma fêmea apenas desviou de nós continuando seu percurso solitário. Meu pai várias vezes deu-me sermões para não nadar rápido na frente, todavia, apenas quando vi um polvo grande se levantar da areia do fundo do oceano que voltei correndo para lado de meu pai, desde aquele acontecimento com Arkab odiava polvos. Quando os guardas se dispersaram notei que chegávamos em nosso destino. Observando os enormes pilares esculpidos o nome Schifino em cada um, anunciava que adentrávamos o território do clã mais poderoso dos mares. Papai pareceu ficar tenso à medida que passávamos por uma espécie de jardim cheio de plantas aquáticas e rochas pequenas, e logo pode avistar a enorme construção de pedra. Cinza e Azul celeste eram suas cores. Nos aproximamos ainda mais. Até mesmo os peixes pareciam temer aquela arquitetura não entrando no território de meu clã, imenso era o que poderia falar daquele lugar que crescia para cima acabando sobre as águas. O palácio dos Schifino era o único que conseguia ter vidros em baixo da água

produzidos por membros de nosso clã, suas paredes por fora existiam relevo de escrita da mesma língua das palavras que estavam esculpidas no peito de Han. Não sabia ler tais palavras apenas sabia que deveria ser algo importante. Uma escadaria quebrada levava para um pequeno altar que não sabia para que servia, redondo e com teto, era cinzento onde mais estava para verde graças o musgo que tomou conta. — Para que serve aquele lugar? Papai olhou para onde apontava e assim desviou rapidamente suas órbitas de lá. — Onde acorriam os acontecimentos mais importantes, anúncios do próximo líder, casamentos dos mais nobres, entre outras coisas, porém, depois de construírem o grande salão dourado a abobora como chamávamos vou deixada de lado. Continuamos até chegar mais próximo ao palácio onde podia notar agora esculturas grudada nas paredes e novas escritas de outra língua. Franzi o cenho, como se lia aquilo? E tinham nome? Fitei a escultura que parecia um animal terrestre talvez, asas tinham em suas costas, e sua boca entreaberta era grande. Lembrava-me um réptil. É um dragão. Ouvi a voz de Belial em minha cabeça. Um dragão? Isso existia? Ao lado da estátua está a escrita chamada Hanzi, são usadas hoje pelos humanos, todavia, foram os Schifino que começaram com ela. Seu clã não é apenas conhecido por serem guerreiros natos, mas também criadores de muitas coisas, inteligentes e habilidosos. Fitei as escritas que para mim não passava de simples símbolos que não sabia ler, quantos segredos os Schifino tinham? E por que conhecia tão pouco do meu próprio clã. Eu levava o sobrenome Schifino, no entanto, mal sabia da história do meu próprio pai! Schifino são rigorosos, apenas com a autorização do líder pode ser contata a história. Ouvi a voz novamente de Belial. Como ele conseguia fazer isso, ele poderia ler tudo de minha mente? Rigorosos? O que indicava que apenas quando passasse no teste do clã conseguiria ter tudo que almejava de resposta, entretanto, conseguiria passar na prova? Me tornar tão cedo um Schifino. — O que está pensando aí garoto. — A voz de meu pai soou forte me

tirando de meus pensamentos. Arregalei os olhos quase batendo em uma estátua grande de pedra, faltou pouco para não quebrar meu nariz naquela coisa. Sorri bobo fazendo Hardar arquear uma sobrancelha o que me fez desviar meu olhar. — Estava pensando se conseguiria me tornar um Schifino, fazer a prova antes da minha idade adulta. — falei baixinho. Meu pai parou o nado deixando-me aproximar de seu corpo e assim recebi suas mãos em meus cabelos, afagando-os com carinho. Adorava seus carinhos, aqueles poucos momentos que ele sorria e me abraçava, sentia que nada no mundo poderia me ferir, tocar. Gritei sentindo-o puxar minhas orelhas forte, choraminguei fitando em suas órbitas iguais as minhas. — Você é um idiota ou bateu a cabeça? — Pisquei não o compreendendo. — Você acha que é filho de quem, pirralho. — Ele puxou mais minha orelha. — Você é meu filho! E é claro que consegue, você é forte, apenas tem que acreditar em você. Ele soltou minha orelha e a massageei. Sorri de leve ao escutar tais palavras fazendo-me lembrar meu único objetivo que sempre quis, mostrar de quem eu era filho. Ser como meu pai. Ser como o maior guerreiro dos Sereianos. Sorri em sua direção e assim o segui rumo à superfície. Para adentrar o palácio era semelhante a plataforma, a única diferença era que ali havia uma escadaria onde ninguém precisava de ajuda para subir ou saltar. A arquitetura azul e cinza tinha uma parte na superfície e o restante abaixo das águas, a parte desprotegida era para facilitar a entrada sem que a água tomasse conta de tudo dentro do palácio, sua escadaria de pedras era quebrada na medida certa apenas para Sereiano subirem quando ganhassem pedras. Segui meu pai até a direção delas e fiz o mesmo procedimento. Quando vim aqui, era tão pequeno que ainda era carregado nas costas. Hardar tocou na escada e com a ajuda dos braços arrastou-se para fora da água segurando-se em cada degrau. Suas pernas logo surgiram quando deixou o mar podendo erguer-se. Fiz o mesmo não gostando de bater minha linda cauda desesperadamente para me arrastar pelas escadas. Com braços em volta de meu corpo fui puxado para cima e assim minha forma aquática foi substituída pela terrestre.

Imaginei que ele iria rir de mim, ou provocar-me, porém, Hardar apenas largou-me voltando a subir as escadarias onde pude ver o motivo de não ter brincadeiras. Vovô Reikal jazia nas imensas portas imensas da cor azul esverdeado, com os braços cruzados sobre o peito sua expressão era de irritação. Guardas cuidavam as portas mantinham a cabeça baixa não reverenciando nem mesmo Hardar ao se aproximar. — Ele não consegue nem subir uma escada? — Reikal perguntou com tom de deboche. — O criou muito bem. — Riu sem humor. — Pelo menos o ensinou a se comportar no meio de Sereianos nobres? Papai continuava em silêncio com sua expressão fechada. Vovô não poupava para provoca-lo e ainda não conseguia compreender o tamanho do ódio que ele tinha pelo próprio filho. — Devo mencionar que estou escutando? Mirei nas portas duplas notando a silhueta forte de Belial. Escondido e em silêncio ele tinha suas órbitas fixas em vovô. Não sabia o motivo dele estar aqui, no entanto, intimidava Reikal apenas com um olhar vencendo-o, irritado, vovô apenas deu passagem baixando a cabeça. Hardar foi o primeiro a se aproximar e caminhar em direção a Belial que abriu um sorriso travesso se divertindo com a presença de meu pai, um sorriso contagiante e divertido que ele lançava apenas para Hardar. Sabia eles foram amantes no passado, porém, Belial ainda sentia algo pelo meu pai? E papai? Sentiria algo? Enquanto o deus provocava meu pai que se irritava, mirei em direção a Reikal que os observava com uma expressão irritada. Um arrepio percorreu meu corpo e uma sensação de ser observado me atingiu, virei para trás mirando meus olhos no vasto oceano não vendo nada além de ondas fracas e pássaros voando no céu. Calmo até demais. Muito longe dali conseguia ainda ver um ponto escuro que indicava o palácio real, o que Aiken estaria fazendo agora? Abracei meu próprio corpo desejava-o agora ao meu lado. Meu nome foi chamado e assim voltei minha atenção a Hardar, as portas do palácio Schifino se abriram dando passagem a todos, grandes e pesadas eram empurradas por mais de dois guardas e assim finalmente podendo ver seu interior. Diferente da plataforma, tudo no palácio levava para baixo, menos o guardo rei e um lugar que nunca tinha estado. O interior de onde estava consistia em um longo hall de entrada com

escadarias que levariam tanto para cima quanto as que levariam para baixo, estatuas enfeitavam o local de tons cinzas e azuis, como o longo tapete da cor semelhante aos olhos de um Schifino. Era limpo, todavia, grande e belo. Seu teto uma pintura contando a história do clã Schifino, o mais honroso de todos, a família nobre que já governou por muito tempo os mares. — Triton. — Meu nome foi pronunciado fazendo-me virar na direção da voz que conhecia muito bem. Sorri amistoso vendo Han e Side acenando. Não sabia o que estava fazendo no território Schifino, ainda mais Han, mas isso indicava o mau humor do vovô. Olhando em direção ao meu pai que era perturbado ainda por Belial, o deus desviava dos socos de Hardar rindo enquanto abraçava várias vezes sussurrando algo, não conseguia ouvi-los, no entanto, pelas expressões de meu pai certamente era algo que não gostaria mesmo de ouvir. Nenhum guarda ou mesmo Reikal implicavam com Han, porém, antes de pensar em ir em na direção dos dois irmãos, eles vieram até mim. Feliz por ver alguém conhecido e que poderia desabafar, abracei Side que retribuiu o ato. Fazia já bons dias que não o via e Side era preciso para mim, o primeiro amigo que fiz e sorriu em minha direção. — O que estão fazendo aqui? — Perguntei não querendo soar rude, estava feliz por vê-los, todavia, preocupado. Side passou seu braço por meus ombros enquanto Han massageava meus cabelos soltos o que me deixou mal por ver Side usando sua transa, deveria ter feito a minha, era nossa marca. Vendo meu amigo abrir a boca para responder, ele a fechou rapidamente e senti seu corpo tremer ao escutarmos a voz grossa e poderosa de Reikal, tão semelhante à de meu pai. — Nem isso Hardar conta! — Ele vociferou mirando em seu filho. — Isso é ideia dele com aquele Alkes. Aiken?! Fitei Side que apenas sorriu. — Também estou feliz em vê-lo, Reik. — Ao escutar a voz de Han profanando tais palavras apenas consegui arregalar os olhos, como Side. Fitamos de soslaio o tritão que sorria bem feliz para Reikal, de início até mesmo vovô ficou surpreso o que o tirou do transe foi a gargalhada de Belial que por sinal suas atitudes lembravam muito Aiken.

Resmungando, vovô apenas bateu seu tridente no chão virando a face. — Não ouse me chamar assim! Dito isso Reikal se retirou com os olhos fixos no chão e Han apenas sorriu tristonho. — Você ainda gosta dele? — Perguntei baixo recebendo minha resposta com o balançar de cabeça afirmado. — Por que tiveram que se separar? Vovô pareceu abalável o que não odiava Han, seus olhos mesmo pareciam saudosos quando fitavam seu ex amante. — Ranzel. — Foi a palavra que saiu da boca dele. O nome de meu bisavô, o atual líder dos Schifino. — Ele sempre foi cruel com Reikal, nunca o vi sorrir ou soar educado com seu próprio filho e quando descobriu que Reik estava esperando um bebê ele enfureceu. — Han fitou sobre o ombro certificando que ninguém mais estivesse escutando. — Hardar talvez não saiba de nada disso, mas, Ranzel apenas aceitaria Hardar em seu núcleo se eu fosse banido do reino dos Sereianos, e marcado. O vi tocar nos símbolos que identificava agora como os Hanzi. Meu bisavô era um tritão tão cruel assim? Como então ele me aceitava em seu núcleo? — Ranzel andou mudando, mas ainda assim, tome cuidado. — Han avisou. — Deveria falar isso para meu pai... — E esclarecer toda a história, queria completar e talvez teria completado se não tivesse visto uma cena atrás de Han que fez minha voz sumir. Han notou minha confusão olhando em direção onde estava meus olhos. Ele riu balançando a cabeça ao pegar apenas a parte que meu pai socava Belial que choramingava. Belial tinha beijado meu pai? — Eles sempre são assim. — Han riu enquanto falava. Pisquei como um louco respirando fundo tirando aquela cena de minha cabeça, talvez naquele momento não fosse mesmo o ideal para se pensar ainda mais quando todos ficavam tensos ao escutar o tilintar de uma arma no piso fazendo um anuncio. Meu bisavô estava diante de nós agora. Cabelos brancos e longos, já se podia ver a idade avançada de meu bisavô em sua pele. Com algumas mechas caída sobre seus ombros

cuidadosamente, suas órbitas azuis observavam cada silhueta no hall analisando cada um, sentia frieza em seu olhar na qual mudou apenas quando ele fitou-me. Segurando seu longo tridente de cabo negro, seus enfeites prateados cintilavam. Compondo na ponta do objeto e suas lâminas pedras azuis que decoravam, a lâmina do meio era maior e mais alta. Sua arma era bela, conhecia como a mais bela dentre os Schifino. Túnicas brancas caiam em seu corpo tapando-o por completo. Ele sorriu para mim. — Bem-vindo ao palácio, Triton Schifino. Arregalei os olhos, ele tinha dito Schifino após meu nome? Eu nem tinha feito o teste então por que ele já estava me dando o sobrenome? Sorri sem jeito. — Obrigado, Bisavô Ranzel. Seus olhos seguiram para Han que estava do meu lado e seu sorriso amistoso se tornou algo forçado, uma expressão de desgosto foi vista. — Vejo que trouxe acompanhantes. — Como vai Ranzel. — Han provocou acenando para o líder dos Schifino. Segurei o riso, todavia, a expressão de Reikal e Ranzel foram mais engraçadas, se surpreendendo com os atos de Han. Endireitando o corpo, Ranzel mirou na direção de Belial e meu pai que ainda continuavam se provocando. Papai mais batia no Deus terra após uma provocação, pelo menos não ouve mais nenhuma surpresa com colar de lábios. — Belial, uma honra tê-lo novamente em meu palácio. — Ranzel fez uma breve reverência. Belial nem deu atenção para líder dos Schifino, continuou sua atenção em meu pai como um bobo apaixonado, se não era isso que o definia. Bisavô não pareceu se importar. — Um banquete o espera, pequeno Triton, feito especialmente para sua chegada. Espero que desfrute, e devo dizer que você cresceu rápido! — Ele me observou de cima a baixo. — Você ganhou os olhos Schifino, e pelo visto puxou muito Hardar, porém, ainda assim tem muita semelhança com Belial. — Ranzel riu baixinho. Pisquei. Semelhança com Belial? Tenho semelhança com por que? Por ser filho dos deuses?

Vovô Reikal chamou a atenção do líder que parou de sorrir e aproveitei para olhar em direção a meu pai que já se aproximava. Ele tocou em minha cabeça sorrindo de leve. — Por que ele diz que tenho semelhança em Belial? — Perguntei. Meu pai desviou o olhar várias vezes fazendo a cena do beijo deles voltarem como muitas perguntas no passado. Hardar nunca me confirmou que minha mãe era a deusa, nem mesmo sabia se ela tinha um corpo Sereiano ou humano, no entanto, era estranho imaginar ter nascido de Belial, mas era possível? — Vovô é devoto fielmente em Belial, um dos motivos dele te adorar por ser filho dos deuses. — Mas então, o que tenho de parecido com minha mãe? E qual nome dela? — Mentiras atrás de mentiras. Conseguia perceber que meu pai estava escondendo algo, ainda mais quando ele ficou sem voz não sabendo o que respondia. Mais mentiras. Ele prometeu que me revelaria tudo quando chegássemos aqui! Foi mais uma mentira? — Por que você só mente! — Segurei minha voz para não gritar. Pelo canto do olho ainda via Ranzel e vovô conversando. Mentiras e mais mentiras, por que meu pai mentia tanto para mim? O que eu não podia saber? Meus olhos marejaram, eu não conseguia compreender nada por causa de suas mentiras, todavia, doía-me mais era ver meu próprio pai mentindo para mim, isso significava que ele não confiava em mim? Eu tinha um proposito, mas mal sabia sobre ele. — Triton. — Sua voz soou baixa. — Você prometeu que iria me dizer tudo, por que continua mentindo para mim? Você pelo menos sabe nome da deusa? Que você não mentiu para mim? — sussurrei. Ao invés das respostas, recebi uma pilha de roupa em minha cabeça. Pisquei notando que Han e Side tinha se afastado e em minha frente agora estava Belial. Peguei as roupas de tecidos mais grossos que vestia fitando a silhueta do Deus terra, ele bagunçou meus cabelos sorrindo de leve. — Se serve de consolo, você tem um bom coração como Kaya, é esperto e forte como ela. — Ele piscou para mim. — Hardar apenas quer o proteger, não o culpe. Você seu único filhote é normal fazer tudo para proteger sua cria, isso

ser um pai Olhei para roupas que tinha ganho, meu pai apenas escondia a verdade de mim para me proteger? Mas me proteger de que? Sorri, pelo menos agora sabia o nome dela. Kaya. Esse era o nome da deusa. — Conte a ele, já está na hora. — Ouvi Belial sussurrar a meu pai e assim partir em direção a Ranzel. Sorrindo animado como sempre, Belial perguntou do banquete conduzindo o líder dos Schifino. Suspirei, tentando identificar minhas novas vestes e como as colocaria, aquilo certamente era obra de Belial e seus vestuários estranhos. — Desculpe, Triton. — Meu pai aconchegou meus cabelos. Sua voz saiu baixa e tristonha. — Apenas saiba que sempre estarei ao seu lado. O que ele tanto teme? Podia ver o medo assolar meu pai e isso fazia me perguntar várias vezes, o que ele tanto teme? O banquete dito que foi preparado para minha chegada me deixava curioso, por que Ranzel faria tudo isso para mim? Seus olhos pareciam brilhar quando eram dirigidos para mim e suas palavras eram amistosas algo que não fazia para mais ninguém. Por todo banquete que achava exagerado, uma mesa longa cheia de vários tipos de comida que o oceano nos dava, como muitos tipos de peixe e tamanhos. Passando pelas portas grandes e pesadas adentrei a um enorme salão, meu queixo caiu vendo o aposento maior que do castelo real. Paredes brancas com pilares grossos, desenhos estava gravado em cada um na cor dourada enquanto no centro de tudo uma mesa marrom estava posta. Muitos Sereianos corriam para todos os lados ajeitando o lugar como pondo o restante da comida que era em abundância. No alto do teto claro, pedras que usávamos como fonte de luz brilhavam lindamente com pouco da ajuda de algumas tochas presas na parede. Fitei o chão sentindo o piso gélido, tudo ali era tão lindo e impecável. Fomos conduzidos até a mesa onde bisavô Ranzel já estava bebericando algo em sua taça. Desejava sentar longe dele, mas acabei sentando perto até demais. Papai tinha ficado ao lado de Reikal que mantinha suas pálpebras baixadas, e eu permanece ao lado de Belial que já mastigava uma porção de camarão já mortos, apenas não fiquei mais desconfortável ainda pelo fato de ter

Side ao meu lado. Sorri alegre vendo-o passar pelas portas e se sentar ao meu lado dirigindo um sorriso como sempre fazia. Fitei a tigela que foi posta em minha frente e meus olhos brilharam, um prato cheio de siris azuis perto demais, Side chegou a rir certamente vendo minha expressão e para minha surpresa a tigela foi puxada para mais perto fazendo meu pai reclamar do outro lado. Belial riu alto fazendo-me erguer a cabeça, ele era que tinha puxado o monte de siris para mais perto de mim e agora meu pai quase o matava com os olhos. — Não o mime, isso engorda! — O vi apontar para Belial que em provocação apenas mordeu um dos siris que roubou da tigela. Eram todos meus! Como ele ousa roubar meus siris? Deus ladrão de comida. Abracei minha tigela pegando minha primeira vítima comida, ao meu lado Side ainda ria. — Você nunca muda. — Ele comentou rindo baixinho. Deu de ombros, rindo junto. — Então, pequeno Triton, já tem pretendentes? Ou velho Hardar continua um paizão ciumento? — Ranzel falou com pouco de graça em sua voz. Tirando minha atenção de Side, fitei primeiro meu pai que erguia a sobrancelha mastigando com força seu peixe cru, podia até ouvir seus dentes triturando as espinhas de seu alimento. Sorte do peixe que ele já estava morto. Voltando a atenção para meu bisavô apenas sorri amistoso assentindo de leve. — Já sim. — Apontei para pérola em meu pescoço. Desejava muito que Aiken estivesse aqui comigo, porém, carregava a pérola que ele tinha me dado juntamente comigo como sabia que logo ele estaria aqui. Sorri fraco baixando o olhar para o objeto em uma cordinha, sim, Aiken logo estaria aqui o conhecia o bastante para saber que aquele pervertido não me deixaria sozinho, ele era uma luz para mim desde que cruzei sem caminho. — E quem seria? — Bisavô falou com certa curiosidade em sua voz que misturada a... raiva? Seus olhos caíram em Side que estava ocupado com uma linda sardinha e esse gesto foi o suficiente para entender o tom na voz de Ranzel. Ele achava que Side era meu pretendente, algo irônico, o Sereiano do meu lado era meu melhor amigo que compartilhava melhores lembranças que tinha.

— Aiken — disse rapidamente vendo meu pai abrir a boca. Ranzel piscou várias vezes franzindo o cenho. — O Alkes? — Perguntou curioso. Assenti orgulhoso. Sim, um Alkes e rei dos mares mais pervertido que poderia conhecer. Era meu Aiken. Ele balançou a cabeça bebericando novamente o que seria agua doce e sua taça dourada. — Pelo menos é um Alkes — murmurou. — E por que ele não está aqui? Ele não é filho de Erial? — Aiken tem um reino para cuidar, vovô. — Meu pai falou antes de pensar uma resposta. Desejava que meu pervertido estivesse aqui. Ranzel riu sem humor. — Se fosse Erial já estaria até pendurado em você. — disse largando sua taça. — Até um acordo com os Alkes era uma coisa boa de se pensar, mas aqueles pais dele apenas queriam afundar mais o clã deles e é isso que está acontecendo. A família Alkes está decaindo? O que significa que não existe mais muitos? — Existe quantos mais Alkes? — Pelo que sei, em torno de 40 Alkes, ou talvez menos. Desde que o filho do meio de Erial morreu não contei mais quantas cabeças vermelhas sobraram, no final, os últimos Alkes vão vir correndo até nós. — Ele riu sem humor. — A inteligência política nunca foi forte deles mesmo. Quarenta Alkes ainda existentes, isso era muito pouco para um clã. As palavras de meu bisavô poderiam ser bem cruéis, no entanto, parei de escutar em suas acusações e idiotices ao ouvir sobre o filho do meio de Erial. Ele tinha tido três filhos? Quem era o terceiro que nunca tinha o visto? — Quem é o terceiro filho de Erial? O do meio. — Perguntei chamando a atenção dos olhos de meu pai. Ranzel deu de ombros observando Belial que ainda comia murmurando que queria algo com gosto de frango. O que era frango? — Do meio? Não lembro, Neyh talvez. — Noah. — Meu pai o corrigiu fazendo-me arregalar os olhos. — Aiken,

Noah e Erya são nomes dos filhos que Erial teve, mas por que quer tanto saber disso, Triton? Tentei esconder minha expressão assustada de meu pai, entretanto, imaginava que ele já tinha me descoberto. Ele era rápido e observador e conhecia muito bem minhas expressões. — Nada, apenas queria conhecer mais de Aiken, ele nunca me conta nem sobre Erial. Ele semicerrou os olhos em minha direção, eu sabia! Ele tinha me descoberto. — Belo namorado. — Belial provocou. O olhei furioso fazendo-o rir, deus abusado! Belial vendo meus olhos o fuzilando continuou rindo batendo levemente em minha cabeça em um gesto amistoso. — Quando fica bravo fica idêntico o bagre velho que está também me olhando furioso. — Ele fitou meu pai lançando um sorriso travesso. Meu pai quebrou com as mãos à cabeça do peixe em seu prato semicerrando o olhar em direção a Belial que apenas piscou mordendo outro camarão. Era até que engraçado os olhares que aqueles dois lançavam um para outro, se provocando em todo o momento, como também respondia minha pergunta. Papai ainda amava Belial e podia ver em suas expressões e olhar quando desvia de Belial, meu pai amava o deus dos humanos tão intensamente, seu coração tinha cantado? — O que é frango? — perguntei cansado do resmungar de Belial ao meu lado. Seus olhos brilharem em minha direção. — Um animal terrestre, teoricamente, que humanos comem, e tem muitas outras comidas com gosto de galinha, frango, como deseja chamar. Como uma deliciosa torna recheada de frango, ou aqueles franguinhos fritos. — Ele lambia os lábios. E no final apenas soube que um animal que comiam, como peixe. — Você é um deus, então não consegue fazer essa comida surgir em sua frente? — A pergunta que saiu de minha boca era bem curiosa por sinal. O que deuses podiam fazer? Ele deu de ombros balançando a cabeça em afirmação. — Posso, porém, Sereianos não podem comer nada que não venha do

mar e para não atiçar curiosidade, prefiro comer da mesma comida. — Ele sorriu travesso. — Mas as coxinhas de frango empanadas e fritas você iria adorar! De fato, Sereianos são proibidos de comer algo que não venha do mar, nossa deusa deu variedades para nós não dependermos de comida que os humanos produzem, sabia que a comida fazia mão para nós, nosso sistema digestivo não era idêntico dos seres terrestres o que fazíamos passar mal caso comêssemos a comida deles. Belial fitou meu pai que apontou para ele o reprendendo de algo e assim diante da palma de Belial um baldinho mole do tamanho médio surgiu transbordando uma carne que lembrava a de peixe, clara, porém, algo grudado nela. — Isso se chama coxinhas fritas. — Ele pegou uma enfiando na minha boca. Arregalei os olhos engasgando, eu não podia comer esse tipo de comida! No entanto, minha mandíbula se moveu contra a razão mastigando a carne crocante e macia. Fitei Belial que sorria comendo também. — Não posso comer comida humana. — Coloquei a mão na boca sentindo o frango descer por minha garganta. Meu pai apenas balançou a cabeça colocando suas mãos na testa enquanto os olhos de bisavô Ranzel eram curiosos certamente querendo saber como é. — Você metade deus, garoto. — Belial riu. — Não fará mal uma dose pequena como o que engoliu. Mas bom pararmos por aqui — disse ele fazendo o baldinho sumir. Eu queria mais! Era tão bom! Quantas mais comida maravilhosas os humanos tinham? No final, fiquei apenas com meus siris. Belial voltou a beber com Ranzel até não aguentarem mais e vovô Reikal quase dormia sentado. Side tinha partido desejando não deixar Han sozinho, ele nem tinha aparecido certamente evitando Ranzel ou talvez Reikal. Suspirei cansado, bocejando olhei para meu pai que parecia já cansado de ouvir todos os papos do líder do clã e Belial. Erguendo-se, fiz a mesma coisa agradecendo pela almofada que sentei ser tão macia ou minha bunda estaria mais dolorida ainda. Caminhando ao lado de meu pai, escorrei minha cabeça em seu ombro recebendo seu braço em volta de meus ombros.

Era bom os momentos assim com ele. — Vai me ensinar a lutar? — Perguntei para ele já no corredor. — Quero aprender a lutar, quero me tornar um Schifino! Desejava me torna um Schifino logo. Hardar suspirou parando, observando para todos os lados antes de escolher suas palavras. — Sabe por que viemos? — Neguei com a cabeça. O fato de que teria minhas respostas aqui não era a razão principal de termos vindo. — Ranzel está morrendo, logo ele vai me colocar em seu trono. Já tinha imaginado que esse era o motivo, desde que vi bisavô Ranzel, era estranho dizer, mas conseguia ver sombras em sua volta. Isso soaria estranho se contasse a alguém, todavia, desde que cheguei nesse palácio pude sentir um ar pesado e mesmo que todo o lugar fosse iluminado, conseguia ver sombras andando, algo impossível. Se não há corpo, não há sombras, não é? Bisavô Ranzel parecia a atrai-las, não sei importar e ainda existia fato de que ele mesmo estava provocando sua morte. O tridente negro que vi era dele, era sua alma diferente do de vovô e todo o momento Ranzel não devolveu o tridente para dentro de si. A arma precisava voltar para nosso interior, voltar a completar nossa alma ou isso começava nos enfraquecer até nós matar. De um lado era bom ter nossa arma, de outro, ruim. — Reikal pediu para vir já que seu irmão ronda o palácio e os ouvidos de Ranzel. Arqueei uma sobrancelha, papai nunca desejou ficar preso em algo, ele sempre quis fugir do trono Schifino então na oportunidade por que hesitar? Não era mais fácil deixar ele ser passado a outro Sereiano? — E sim, sei que pensa e não desejo ficar preso a trono nenhum, porém, o Sereiano que conheço não pode toma-lo. — Franzi o cenho, o tritão que falava era tão cruel assim? Desejei perguntar a ele, no entanto, Hardar tocou em minha cabeça sorrindo de leve. — Você vai se tornar um Schifino, não se preocupe. — Sorri em sua direção. — Amanhã vamos treinar no salão dourado. Assenti.

Caminhando ao seu lado, abracei seu braço fazendo-o resmungar como ele sempre fazia, segurei minha gargalhada. No final fui abraçado por seus braços fortes como ele sempre fazia depois de seus resmungos que apenas se intensificaram quando grudei meu corpo no tele para descansar em seu quarto. Não tinha aposentos ficando no quarto de meu pai e choramingando para ganhar seus carinhos antes de dormir como sempre fazia quando era pequeno. Fitei o teto escuro do aposento sem janelas algumas, esse palácio me dava calafrios em meu corpo, me assustava de uma maneira que nunca senti antes. Tentando me distrair enquanto o sono não vinha, decidi ver o que mudara no velho quarto de Hardar. Nada, nada tinha mudado. Desde a última vez que vim aqui a única parte luxuosa do quarto era as portas douradas, grandes e exuberantes. A cama era como me lembrava, macia e bem grande, portas que se abrissem veria vários trajes, e muitas almofadas. — Pare de se mexer, sua minhoca do mar. — Meu pai resmungou com a voz abafada pela almofada em seu rosto. Ri baixinho me encolhendo mais perto de seu corpo, tentei a cabeça em seu braço fechando os olhos calmamente, até meu sono finalmente vir. Mas não do jeito que queria.

15° ESCAMA DE TRITON Novamente estava em minha bolha negra que pensei em ter deixa-la no passado, todavia, algo era diferente agora. Sempre nela estava deitado e me sentia flutuando no vácuo, dessa vez estava de pé sentindo algo neles, escuridão, apenas isso que conseguia ver. Fitava para todos os lados querendo apenas sair dali, odiava aquilo, sentia medo, frio e pavor, todos sentimentos negativos. Apertei meus lábios dando um passo à frente sentindo-me pisar em água, mirei em direção aos meus pés arregalando meus olhos. Meu pavor apenas cresceu vendo as sombras me engolindo. Queria fugir, mas para onde? Não havia saída. Meu coração estava acelerado, gritaria para alguém? Pai. Foi a única palavra que vinha até mim. Abri minha boca, porém, som não saia. Pai... Estava cada vez sendo mais engolido. — Pai! Medo, estou com muito medo. Fecho meus olhos abraçando meu próprio corpo, ou que imaginava estar fazendo. Quando abri minhas pálpebras estava na mesma posição que lembrava de ter dormido, nada tinha mudado a não ser uma nova silhueta conosco. Pisquei sentindo meus cabelos sendo afagados. — Está tudo bem, elas não vão machuca-lo, apenas querem se conectar com você. — A voz de Belial era baixa. Dizendo suas palavras, ele sorriu dele leve até ganhar um soco de meu pai. Segurei o riso enquanto via o velho Hardar sentar-se na cama reclamando que Belial era pesado demais, não sabia como ele tinha adentrado sem fazer barulho, mas ao abrir meus olhos ele estava virado de frente para mim em cima de Hardar que o xingava. O deus choramingou provocando ainda mais meu pai enquanto fugir de mais socos, deveria imaginar de onde tinha puxado minhas reações. Encolhi-me na cama deixando os dois “brigando”, mesmo que ele dissesse que elas não queriam me machucar, porque me rodear e ter uma sensação sufocante? Elas não pareciam quer algo mais. Observei aqueles dois que finalmente paravam de brigar ficando em

silêncio, eles sempre foram assim? — Volte a dormir. — Belial sentou-me ao lado de meu corpo. Ergui o olhar para ele. As sombras paravam de se mover quando ele estava ali, tudo parecia mais calmo. Ele também as controlava? — Ficarei aqui para acalmar a escuridão, porém, você vai precisar aceitala ou ela tomará por vontade própria. — Sua voz era baixa e calma onde se misturava com certo tom de preocupação. O que era tão preocupante assim? Ele se afastou deixando papai voltar a ficar do meu lado e assim me puxar para seus braços, tudo aquilo me assustava e pela primeira vez não tinha chamado Aiken. Nem Hardar. Fechei os olhos, não, não tinha chamado Hardar quando gritei pai, a silhueta que queria na hora, que senti rodear-me com seu abraço, era Belial. Encolhendo-me nos braços de Hardar, tentei voltar a dormir, mesmo depois de uma longa demora para sono vir as sombras não perturbaram mais meu sono. Algo que fiquei feliz. Abrindo meus olhos devagar, via tudo nublado o que fez-me fechar novamente minhas pálpebras. Não havia mais o abraço de meu pai, nem seu corpo ao meu lado, porém, sentia mãos em meus cabelos. Abrindo novamente meus olhos identificando quem estava do meu lado, como imaginava o deus dos humanos estava com suas costas escoradas na parede enquanto sua mão acariciava meus cabelos. Papai não estava na cama, todavia, sua voz soava fraca atrás de mim e pelo barulho ele fazia algo. — Você não pode fazer nada? Belial negou a pergunta de meu pai. Não entendia suas palavras, porém, apenas continuei a escuta-lo. — Cada vez que ele cresce, mais fraco fica a proteção de Kaya sobre ele, no entanto, Triton ficou forte em questão de meses. Proteção? Do que eles estavam falando? — Você dono da escuridão, não consegue para-la? Deixa-lo em paz. — Meu pai se alterava. — Ele parte de mim, então a escuridão também faz parte dele, ele apenas está se assustando pelo fato de que dentro do mundo de Kaya não existe elas, apenas no meu, e agora ele está no palácio Schifino onde Ranzel fez um altar

para elas. Bisavô Ranzel era devoto então aos Deus terra, as sombras o rodeavam e o engoliam pouco a pouco, um suicídio que ele mesmo tinha noção o que me levava a perguntar seus motivos, para qual bem tirar sua própria vida? — Já falei que adoro você furioso? — A voz de Belial soou safada demais para meus alarmes. Não, cenas assim não queria, nem saber como foi a relação mais intima deles. — Vocês fazem barulho demais. — Resmunguei. Belial gargalhou. Erguendo-me da cama, fitei papai que tinha sua expressão séria e fechada de sempre. Ajeitando minhas vestes aqueles dois voltaram a se provocarem e “brigarem”, se combinavam demais. Não querendo ver muito “mais” do que apenas as provocações, decidi avisar que iria na frente e esperaria Hardar no salão dourado para começar a treinar. Balançando a cabeça, sai o mais rápido. Talvez deveria passar no quarto de Side para falar com ele? Ele não parecia estar muito confortável, algo que eu também não estava, mas conversar com meu melhor amigo talvez aliviasse algo dentro de mim. Suspirei, saudades de Aiken, aquele pervertido que me seguia era meu único refugia, nem mesmo Oki estava aqui, me sentia tão sozinho mesmo que Side estivesse poucos metros de mim. Queria voltar a ver aqueles dois brigando, Oki sorridente por achar uma conchinha, Aiken fugindo de suas obrigações. Queria a nostalgia do passado que nem estava tão distante! Mas Oki tinha sumido sem se despedir e Aiken estava longe demais, mesmo sabendo que meu amigo apenas voltou para seu reino para proteger todos, principalmente Aiken de Arkab, desejava que ele não tivesse ido embora. Suspirando, parei abruptamente ao ver uma espada curta passar rente ao meu rosto. Cravando na parede ao meu lado fitei o objeto arregalado os olhos, alguém estava tentando me matar agora? Analisando o objeto de lâmina curta, sua força ao ser crava não foi o suficiente para deixa-la estática na parede fazendo-a cair no chão e um ruído agudo soar. Mirei os olhos na direção que a arma veio notando que já estava na entrada do salão dourado, onde estava ocupado agora. Franzindo, notei um Sereiano juntando algumas adagas no chão. Seus cabelos pretos caiam sobre seus ombros tapando sua face, não tão longos como o

meu, um enfeite dourado segurava um maço de mexas. Corpo forte e ombros largos, uma silhueta típica de um guerreiro. Ele ergueu a cabeça e pude notar suas órbitas da mesma cor que as minhas. Um Schifino. Piscando e olhando em volta ele mostrou-se confuso antes de notar a arma perto de meus pés. — Eu o acertei? — perguntou confuso. — Desculpe! — Já estou acostumado com armas voadoras, fugia muito delas quando irritava meu pai. — Brinquei tentando tirar a tensão que se formava. Hardar poderia tocar uma arma em você, todavia, precisava irrita-lo demais o que já consegui fazer. Ele sorriu. — Sou Rayran Schifino. — Se apresentou. — Filho de Aron Schifino, prazer. Não sabia de quem ele falava, no entanto, apenas sorri em sua direção. — Triton Schifino. — Apresentei-me também. — Filho de Hardar Schifino. Ao falar o nome de meu pai, Rayran arregalou os olhos como se tivesse visto um monstro atrás de mim. Não imaginava se meu pai poderia ter inimigos dentro do castelo, porém, considerei aquele arregalar de olhos como um sinal de tamanha surpresa, papai era muito conhecido não era mais estranho receber esse tipo de reação ao falar dele. Continuei observando-o enquanto recebia sua analise como todos faziam. — O famoso filho dos deuses! — Ele sorriu. — Você é bem famoso aqui, Ranzel sempre o idolatra para seus filhos e bisnetos. Arqueei uma sobrancelha. Sou idolatrado agora? — Filho do famoso Hardar Schifino, maior guerreiro do oceano, ele tem um histórico bem grande. Isso é verdade. Pegando a adaga no chão, me aproximei de Rayran para entregar o objeto, ele ainda me observava atentamente como se eu fosse a coisa mais rara do mundo, e de fato deveria ser. Um Sereiano albino, filho de uma deusa, ou talvez de um deus. Ainda achava estranha toda essa história. — Ranzel falou-me bastante de você. — Ele sorria. — Falou que iria nos colocar juntos, isso vai ser incrível! Vou poder me casar com o filho dos deuses!

Han? Minha mente parou de funcionar no momento que Rayran disse “nos colocar juntos” e logo depois a palavra casar. Eu me casar? Não! Apenas iria me casar com Aiken! Ele é o tritão que amo. — Sou um yin, por isso que ele me escolheu. Arregalei os olhos ao senti-lo perto demais, Rayran era audacioso com Aiken, enquanto eu corava e fugia dele, ele se aproximava ainda mais segurando minha mão que entregou a adaga. Mesmo ele sendo um yin não o desejava, Rayran podia ter muitas características típicas do Aiken, porém, ele jamais, ninguém, jamais conseguiria substituir aquele pervertido que fazia meus dias serem tão diferentes e alegres. Aiken tirava-me desse mundo, me tratava como algo mais especial do mundo, mostrava que não era nada que meu povo dizia sobre mim. Desde que seu beijo me fez delirar, desejar mais, suas aventuras me perturbando, notei que não conseguia mais viver sem ele do meu lado. Sentia um vazio por Aiken não estar aqui agora comigo, um que Rayran nem ninguém conseguiria preencher. Pisquei ao sentir a parede em minhas costas, tinha fugido tanto assim daquele Sereiano? — Já tenho alguém que amo. — disse tentando me desvencilhar dele. Minhas palavras me deram a oportunidade disso e assim me afastei caminhando de costas, sua expressão pensativa e confusa fizeram-me sentir pena dele. Rayran não tinha culpa, prometeram algo a ele que nunca poderia possuir. Triste com sua situação quase deu um pulo ao bater em alguém. Virei-me rapidamente imaginando ser meu pai pela estatueta que senti, mas para minha surpresa não era Hardar, e sim meu avô. Reikal afinou os olhos na direção de Rayran que desviou os seus como se temesse vovô. — Não ouse brincar com filhote de meu primogênito. — Fiquei surpresa em escutar suas palavras profanadas. — Espero que Aron não esteja metido nisso. — Sua voz era séria e assustadora. Rayran não ousava dirigir o olhar a Reikal, por que? — Não está, tio. Tio? Reikal era tio de Rayran? O que indicava Aron que se referiam era irmão do vovô? Ele tinha um irmão! — Ranzel o chama. — Pisquei fitando Reikal. — Ele está em seus

aposentos. Não querendo desobedecer e piorar a situação de Rayran, segui em frente mesmo não sabendo onde ficava, exatamente, os aposentos do líder Schifino. Movi-me em direção a saída do salão, parando rapidamente, girei o corpo para trás sorrindo amistoso. — Espero que possamos ser amigos. — Balancei meu braço querendo chamar atenção daqueles olhos fixos no piso. Conseguindo, Rayran sorriu de leve. Caminhei devagar imaginado que vovô viria atrás de mim para me guiar, mas ninguém apareceu e não gostava de ficar sozinho no palácio, as sombras pareciam me espreitar, o ar ali parecia mais gélido e para todos os lugares que olhava sentia o medo crescer cada vez mais dentro de mim. Corredores não eram escuros graças as pedras que nos fornecia luz, e até mesmo as tochas acesas grudadas em um suporte na parede, porém, conseguia ver as sombras descendendo pelas paredes, e a cada passo em direção a superfície do castelo elas pareciam crescer ainda mais. Parei diante das escadarias que davam ao hall de entrada onde um servo estava posicionado não muito longe de mim, ele fez uma reverencia apontando para uma escadaria mais estreita que levaria para locais que o oceano não engolia. Sorrindo em agradecimento, segui até a escadaria notando que não era muito longa o que me levou logo para um corredor em forma de T. Para que lado eu deveria ir? O castelo do lado de fora não aparentava ser tão grande, mas agora dentro dele me enganava. Não sabendo para que lado ir decidi seguir as sombras, onde elas mais se aglomeravam deveria ser o local onde Ranzel estaria. Elas o queriam então usaria elas para me levar até quarto. Virando no corredor que tinha entrado notei portas grandes e douradas, parecia ser feita de ouro mesmo. Detalhes eram visto ao me aproximar, um desenho que formava um tridente onde a lâmina do meio se partiria ao abrir a porta, aquela era o símbolo dos Schifino, do nosso reino. Erguendo minha mão, não precisei avisar de minha chegada, as portas se abriram no tamanho certo para meu corpo passar e um tanto hesitante segui em frente cauteloso. Arregalei os olhos vendo uma parte do teto ser de vidro onde notava que era noite, estrelas brilhavam forte no céu, porém, não conseguia ver a lua. A aposento era extremamente enorme, composto por uma cama diferente das que já dormi, sobre a madeira os colchões eram depositados e ajeitado com lenções e

almofadas. Um lindo lustre de pedras transparentes, grande e luxuoso, suas pedras pareciam uma chuva cristalina. — Bem-vindo aos meus aposentos, pequeno Triton. Sai do transe ao ouvir a voz de Ranzel. Pisquei mirando meus olhos no outro lado do quarto notando uma enorme banheira de mármore onde bisavô estava balançando sua enorme cauda negra. A água balançava com o movimentar de sua cauda enquanto ele se apoiava no parapeito da banheira. Caberia três Sereianos ali dentro. — Bisavô. — Fiz uma pequena reverencia mesmo sabendo que deveria me curvar-me no chão quando estivesse na presença do líder. — Se aproxime, venha. — Ele bateu na borda da banheira sorrindo. Hesitei, a escuridão estava em volta dele tirando toda a beleza do quarto. Engolindo em seco, me aproximei sentando ao seu lado, sorri de leve não querendo deixar visível minha tensão. — Que acha do quarto? — Ele perguntou. Olhei novamente em volta notando-o escuro demais, não sabia se era pelo fato das trevas estarem se apostando dele ou pela falta de luz, nem ao menos conseguia ver o que havia no restante do cômodo. Sorrindo ainda, apenas respondi com um; muito belo. Ele assentiu e pude notar que ao seu lado seu tridente estava solido repousando perto de seu dono, algo que não deveria acontecer, ao largar a arma ela se tornava parte da alma novamente nunca ficava solida o que indicava mais ainda o motivo de Ranzel estar morrendo. — Deve saber o fator da minha aparência. — disse tossindo alto. Confirmei com a cabeça. — Não sei quanto tempo mais tenho, porém, quero ter certeza que fiz algo certo. — Arquei uma sobrancelha. — Sou devoto mais ao deus das trevas, conhecido como Deus terra, e desde que o conheci, conheci a escuridão tentei ajudar. Ajudar? Que tipo de ajuda Belial precisava? — Um dos motivos de deixar sua arma solidificar? — Mordi a língua com medo de ter soado rude demais. Bisavô acima de tudo era líder Schifino, não poderia faltar com respeito deveria escolher as palavras certas. — Sim, antes de você nascer ele era o único deus das trevas e o equilíbrio estava prejudicado, então tentei fazer algo para ajudar em troca claro

de muitos benefícios como poder. Fiquei muito poderoso com as trevas dentro de mim e as atraindo com minha alma. — Não estou entendendo... — sussurrei confuso sobre trevas e deuses. Cada deus não era responsável por algo? Belial pelos humanos e tudo que o cercavam, Kaya pelos seres dentro do oceano, e a mãe suprema pela natureza. — No começo dos tempos existia dois deuses que se equilibravam, a luz e as trevas. Mãe suprema como conhecemos é a luz e o outro deus era a escuridão, porém, a existência do deus foi destruída e com isso a mãe suprema criou seus dois filhos onde um completaria o outro, Belial as trevas, Kaya a luz. Ranzel parou de falar tendo uma tossi violenta. Pensei em chamar alguém, no entanto, o mover de suas mãos fazendo sinal para não me levantar apenas deixou-me mais preocupado. — Entre Belial e Kaya há equilíbrio, porém, no universo não, existe mais luz e isso é problema, nenhum dos dois lados pode ser com excesso. — E para acabar com isso uma das deusas precisa ter sua existência apagada — falei completando alguns fragmentos que faltavam. O motivo de quererem matar a mãe suprema era por que precisavam equilibrar a luz, todavia, quem equilibraria o universo? Ranzel tossiu novamente se remexendo na banheira. — Você pode vê-las, não é? — Ele perguntou. — Você é filho de Belial, tome-as para si e faça como a profecia que os deuses citaram. — Belial é meu pai. — Ri fraco. — Então realmente verdade, não sou filho da deusa água. Fitei as sobras que se aglomeravam perto de meus pés, todavia, não estava com medo delas, minha mente não estava preocupada com elas e sim do que faltava para descobrir o que escondiam de mim. O plano dos deuses funcionaria? Por que Hardar está me escondendo tantas coisas, se sou eu que preciso acabar com tudo isso qual motivo de fazer segredo? A mãe suprema era poderosa e todos sabiam disso, ele temia que não conseguisse vencê-la? — Você pode possuir as sombras e vencer tudo isso, se tornando o Deus supremo que foi apagado a existência. Supremos contra supremos, único jeito de vencer, e castelo Schifino tem muita escuridão! — Ranzel falava animado mesmo entre suas tosses nada agradáveis. — Reuni elas por anos, agora pode fazer parte delas!

Afinei meus olhos, fazer parte das trevas? Tomá-las? Se me conectasse com elas, se fosse engolido eu me tornaria um deus supremo, alguém com poder de acabar tudo isso. Ranzel sorria em minha direção e podia notar mais sombras querendo se aproximar de seu corpo, porém, hesitavam, rodeavam-nos como se fossem caçadores esperando o momento ideal para pegar sua caça. Nenhuma delas me tocavam e quando aproximava meu pé elas se afastavam de mim. Não eram as trevas que tanto me queriam? — Jamais — respondi baixo fazendo o líder dos Schifino arregalar os olhos. — Não serei parte delas, não as deixarem me controlar. — Ergui-me. — Eu faço meu próprio destino, minhas escolhas, e não serei engolido, elas serão controladas por mim, não a mim por elas! Cansado. Essa palavra que me definia naquela situação. Cansado de todos segredos, mentiras, manipulações. Retirei-me do quarto deixando um Ranzel apavorado para trás, ele sempre esperou que eu me unisse as sombras que ele reunião, que fosse recompensado por seu bom feito, no entanto, o que ele fez foi apenas jogar sua vida, sua alma, fora. Eu não podia deixar elas me controlar, já provei como podem ser perigosas tomando controle de meu corpo, graças a elas quase feri Aiken e Hardar, e matei tantos Sereianos, mesmo que seus objetivos eram tirar minha vida, eu não sou um assassino sangue frio, eu sou apenas um tritão albino que apenas paz e sorrir. Pisquei, erguendo a cabeça sentindo as sombras se afastarem rapidamente. — Não deveria andar por aqui, elas são mais intensas. — Belial bloqueou meu caminho fazendo-me parar. Não sabia como fita-lo, como olha-lo agora sem a palavra pai soar em minha cabeça. Ele era meu verdadeiro pai, certo? — Ranzel chamou-me até aqui — respondi com a voz firme. Belial nada mais falou como não me deu passagem, o som de algo sendo mastigado fez minha curiosidade falar mais alto e meus olhos se erguer vendo um Deus comilão. Me observando com suas órbitas de duas cores, ele mastigava alguns camarões que pegava de seu pote grande. Arqueei uma sobrancelha. — Você só come a comida preferida de meu pai? — perguntei lembrando do jantar que tivemos, Belial não tocou em qualquer outra comida que não fosse

os camarões. Ele deu de ombros fitando seu pote. — É a comida preferida dele então. — Ele sorriu de leve. — Ele nunca me conta essas coisas. Talvez por que meu pai acha isso irrelevante? Queria dizer, mas era obvio que ele já sabia. Hardar nunca dizia seus gostos, hobbies, nada. Papai era alguém quieto e pensativo, sempre observava e dizia poucas palavras. Talvez fosse o único que conhecia bem por ser seu filhote que cresceu ao seu lado. Camarões eram seu prato preferido, lembro-me de chorar por siris não querendo mais comer camarão. Belial observou em volta franzindo o cenho. Seguindo seu olhar notei as sombras se aglomerando na região que estávamos, elas se reunião rapidamente tornando as paredes pretas como o teto. — Espero que tenha se despedido de seu bisavô. — Belial sussurrou se virando. Ele não iria impedir aquilo? Deixaria alguém morrer? Não queria imaginar como seria a morte, mas algo me dizia ser dolorosa. Dei um passo à frente arregalando os olhos ao notar que realmente Belial não faria nada, ele era um deus por que deixaria alguém morrer dessa forma? Era cruel demais, porém, a silhueta do único deus que poderia ajudar continuava sua caminhada. Ele apenas parou ao perceber-me ainda estático no mesmo lugar. As trevas pareciam agitadas, meu corpo tremeu, sentia o vento passar em meu rosto mesmo estando um em lugar sem janelas. Vozes soaram em minha cabeça em sussurros. Lamentos, gritos. Conseguia escutar baixo, não reconhecia as vozes, no entanto, sentia que pediam para tudo parar, para dor sumir e no meio delas pude escutar a de Ranzel apavorado. Não tinha noção se a voz que escutava dele era tão alta que passava das portas pesadas de seu quarto ou faziam parte daqueles sussurros. De tanto pavor que invadia minha cabeça, meu coração se encheu de dor por todas aquelas vozes, ignorei até mesmo Belial que tinha se aproximado e colocado a mão em meu ombro. Suplicas e mais suplicas. Cerrei os dentes balançando a cabeça, era tão triste. Trevas só carregavam amargura, todavia, muitas delas pareciam vir diretamente das ondas negras que nos cercavam. Do que elas eram feitas? Sem perguntar ou esperar

uma resposta, não suportei os gritos de Ranzel, de outros que não reconhecia. Avancei contra a parede escura arranhando o que quer que fosse, não sabia se apenas atingiria as pedras, ou o que. Algo dentro de mim dizia para avançar contra as trevas, e assim o fiz. — Chega! — Supliquei sentindo minha alma triste. Cambaleei para frente ao ter feito o ato que pareceu não significar nada, essa era visão para quem não as enxergava. Ao ter tocado na parede toda a escuridão aglomerada ali sumiu tão rápido como chegaram deixando novamente o corredor ser iluminado pelas pedras brilhosas. Com respiração pesada, pisquei fitando em direção a Belial que parecia surpreso, vasculhava cada canto do local para ter a certeza que tudo tinha sumido. — Triton. — Sorri ao escutar a voz de meu pai. Vendo sua silhueta aparecer no corredor que estava, ele correu em minha direção com uma expressão preocupada e assim logo após de me analisar de cima a baixo, relaxou. Sorri querendo deixa-lo despreocupado. — O que aconteceu? — Hardar perguntou a Belial que por sua expressão não sabia como responder. — Bisavô! Ele não está bem. — Lembrei-me de sua situação naquela banheira. Logo após avisar, vovô chegou com alguns Sereianos que correram em direção ao quarto de Ranzel, certamente eram os curandeiros do palácio. Reikal mantinha-se sua expressão fechada e parecia estar um tanto irritado, ele estaria desejando a morte de Ranzel? Notando minha observação sobre ele, vovô adentrou o quarto deixando-nos sozinho no corredor. Meu pai puxou-me mostrando que ainda esperava uma resposta, apenas sorri enquanto era segurado por seus braços. — Antes que queira me obrigar a falar, não sei bem que aconteceu. — Belial falou. — Ele apenas tocou nas trevas e elas sumiram, como se estivessem fugindo da luz. Elas não aparentaram ter fugido, e sim... obedecido. Era estranho, entretanto, a escuridão pareceu ter obedecido meu desespero e sumido. Meu pai me olhou e novamente coloquei minha cara famosa de que não aprontei nada, composta por um sorriso e piscar de olhos. Ele apertou mais seu braço em volta de meu pescoço fazendo meu rosto grudar em seu peito, um aviso para colocar as palavras para fora.

— Apenas queria que os gritos que soavam em minha cabeça parassem, podia até escutar Bisavô Ranzel apavorado. — Baixei o olhar. — Então avancei contra as trevas na parede e elas se dissiparam. — Dissiparam? — Hardar arqueou uma sobrancelha mirando em Belial. — Mas ele não é como você? — Belial assentiu um tanto pensativo. Mas qual era o problema? Belial não tinha feito o mesmo quando permaneceu no quarto? Elas sumiram quando ele chegou. — Eu não as obriguei a irem embora, apenas ordenei que ficassem mais afastadas. — Ele respondeu-me como se tivesse lido meus pensamentos. — Seu ato mostrou que você as obrigou ir embora, como a luz faz com as trevas, além do mais, você não está conectado a elas. Nada mais respondi por tentar digerir todas as informações dadas, o que fez-me ficar ainda mais confuso. Hardar suspirou largando-me. — Se elas não o machucam, então isso pode ser resolvido outra hora. — Avisou ele. — Além do mais a notícia que tenho para você é do seu interesse. — Ele sorriu travesso. Meu pai nunca sorria assim, apenas quando queria me provocar o que indicava que a notícia ele usaria justamente para isso. Não gostava de seu sorriso dirigido a mim, porém, antes dele falar, meu coração se acelerou. Meu corpo explodiu em uma alegria que fez um sorriso brotar em meus lábios. Movi minhas pernas correndo pelos corredores. O sentia se aproximar, estar tão próximo que a saudade aumentava ainda mais. Pulei vários degraus querendo chegar o mais rápido no hall de entrada. Passando por alguns servos que se assustavam com minha correria, finalmente senti o piso gélido da entrada do palácio Schifino. Servos e alguns Schifino que identificava por suas joias, se reunião ali enquanto guardas reais adentravam observando todos. Meu coração batia tão rápido. Passando por um grupo de servos do palácio os contornei querendo chegar em meu objetivo. Vi o olhar de Rayran em um canto próximo, ao seu lado uma silhueta idêntica à sua que me fazia pensar que deveria ser seu pai. Com os braços cruzados e olhos fechados, ele se mantinha escorado na parede quase se escondendo atrás de seu filho. O olhar de Rayran era de confusão, mas não tinha tempo de mais nada. Aiken adentrava o palácio e apenas tinha olhos para ele.

16° ESCAMA DE TRITON Tanto guardas do palácio quanto os da guarda real se curvaram colocando um dos joelhos no chão em uma reverência de respeito. Via sua silhueta movendo-se na entrada, Aiken segurava sua arma totalmente diferente da que tinha visto quando lutou contra Arkab, com uma expressão fechada ele movia seus olhos pela multidão que foi vê-lo. Não sabia se ele apenas estava atuando como um rei ou estava realmente bravo, poderia ser que odiasse vir no palácio Schifino, no entanto, apenas conseguia sorrir e ficar como um bobo apaixonado no mesmo lugar — no meio de servos que me fitavam curiosos. Aiken tinha sua coroa dourada sobre a cabeça mostrando sua posição, era obrigado fazer isso quando saia do palácio por regras muito longas, seu corpo era adornado por joias, tanto nos braços como em seu pescoço, onde se encontrava a perola que o tinha dado amarrada em um fio bem fininho. Sorri de leve vendo as famosas vestes de Aiken toda desarrumada como era de costume, ele odiava ficar colocando roupas, ainda mais quando precisava ajeitar em seu corpo com um nó, conto ou pequenos objetos que ajudavam a segurar o tecido. Empurrando todos, ultrapassei correndo na direção de Aiken que olhava para o lado oposto de onde eu vinha. Como uma criança animada, Aiken me avistou abrindo um sorriso quando o abracei. Era tão estranho não ter aquele pervertido me seguindo e importunando, tudo parecia tão silencioso e triste sem ele. Ele se tornou parte de mim. — Aik... — sussurrei tendo minha voz abafada por estar com minha face escondida em seu peito. — Você demorou — resmunguei. Senti seu peito se mover ao rir, seus dedos da mão livre foram até meus cabelos os massageando. — Bem-vindo ao palácio Schifino, vossa majestade. — Me arrepiei em escutar a voz de Ranzel. Ele então estava bem, ou nem tanto, sua voz denunciava que algo estava de errado com ele. Virei meu rosto levando meu olhar até o líder Schifino que não largava sua arma por nada, sorrindo falso, ele se aproximava ao lado de Reikal e meus dois pais que vinham pouco atrás do líder. Ranzel abriu um pouco os braços e pude notar uma aura mais pesada em sua volta, às sombras ainda queriam tomar sua vida. — O que traz o rei dos mares até aqui? — Ele perguntou fitando

levemente em direção a Hardar que desviava o olhar. Ranzel voltou sua atenção para seu rei o qual apontou em minha direção. — Ele — disse — Triton, meu amante, eu quero ficar perto dele, acho que não se importa em abrigar seu rei, não é? — Aiken parecia alfinetar Ranzel e por sua expressão ele se segurava. Desviando o olhar, Ranzel riu fraco. — Hardar estará responsável por você. — Bisavô olhou na direção de meu pai que apenas observava tudo. Belial parecia estar interessado em outra coisa e pela primeira vez não era agarrar meu pai. Ele analisava Ranzel e Aiken esperando algo mais, até me dar conta que Aiken não tinha feito sua arma desaparecer. Não queria ele muito tempo com ela, as sombras poderiam afetá-lo, todavia, antes mesmo de mandá-lo guardar seu tridente, o observei mais de perto. Era diferente do tridente que ele lutou contra Arkab, aquele parecia uma versão mais evoluída de sua arma, suas três pontas agora eram cinco, sua lâmina do meio era normal, feita juntamente com cabo de sua lança, no entanto, as duas na ponta que tinham pontas duplas pareciam ter sido grudadas na arma. Negra com alguns enfeites de pedras vermelhas, na ponta da arma outra lâmina se encontrava em um formato que lembrava mesmo o de uma lança. Uma versão parecida com a segunda evolução da arma de Hardar. A de Aiken também seria evolução? Ranzel teve seu ataque de tosse chamando atenção de todos os presentes, seu outro filho apenas observava de longe ao lado de Rayran. Era tão triste ver que nenhum de seus filhos se preocupava com sua saudade, isso me fazia perguntar o que Ranzel fez de tão ruim para ser tão odiado. Ele poderia ser mandão e autoritário, mas deveria ter algo a mais. Ele viveria muito mais se largasse seu tridente, mas o que fazer quando ele tinha se solidificado fora de seu corpo? — Você está bem, bisavô Ranzel? — Me afastei do corpo de Aiken fitando-o. Hardar me observou com uma sobrancelha erguida. — Colocar seu tridente para dentro de si pode ajudá-lo — disse calmamente. Ele riu sem humor ajeitando seu corpo. — Ele não desaparece mais, depois de solidificado é impossível ele retornar. — Ranzel respondeu-me amistoso. — Vamos indo, temos que

conversar sobre o pedido que fez a Hardar. — Ele começava a falar empolgado. — Quer tanto ter a batalha que define se você é um Schifino, mas sabe das consequências se não conseguir? Assenti confiante, ele sorriu vitorioso. — Ordene que todos voltem para seus devidos lugares — resmungou Ranzel para seu filho notando ainda o olhar dos servos sobre nós. Com um assentir Reikal expulsou todos do hall de entrada, até mesmo metade dos guardas. Rayran e seu pai foram os únicos que ficaram imóveis no mesmo lugar, ainda como nobres deveriam poder ficar. Ranzel tossiu novamente o que me fez ter certa agonia. Não desejava morte para ninguém, como odiava o ver sofrendo, o que levou meus atos não pensados. Toquei no tridente do líder Schifino fazendo-o começar a sumir das mãos de seu dono. Todos na sala arregalaram os olhos com o acontecimento deixando-me com medo. Seria punido? Ranzel fitou sua própria mão com uma expressão surpresa assim como meu pai e vovô. Encolhi-me perto de Aiken pedindo desculpas baixinho mesmo não entendo o que eu tinha feito. — Como fez isso? — Ranzel perguntou fitando ainda sua própria mão. — Ele é um deus. — Belial falou pela primeira vez fazendo todos os olhares caírem nele. — Deuses tem o poder de tirar e dar armas, como anulá-las ou mandá-las de volta a alma. — Ele deu de ombros. — Agora pelo menos você terá mais uns dias de vida. Ranzel por alguns minutos ficou em transe fitando apenas sua mão enquanto o silêncio pairava sobre o local, não sabia se ele estaria feliz com aquilo ou não, mas logo sua resposta veio. — Obrigado. — Como eu todos ali na sala ficaram assustados com a reação do líder Schifino. — Como agradecimento, deixarei que faça duas vezes a prova Schifino caso não passe na primeira, essa primeira será apenas um “teste”. — Ele piscou para mim e não soube como reagir. Hardar arregalou os olhos como Reikal. — Duas vezes? Mas não é assim que as regras funcionam! — Aron falou, sua voz era forte e assustadora como de vovô, todavia, podia notar que apenas carregava ira e inveja. — Você não está em posição de opinar, se ponha no seu lugar. — Ranzel o respondeu duro.

— Será Hardar a testá-lo, acha que ele vai ser sério nessa luta? Ele adora seu filho, é claro que vai hesitar para o albino ganhar! — Exclamava irritado. Pelo menos ele não tinha me chamado de aberração ou monstro. — Eu o testo. — Reikal informou cruzando os braços. — Ah menos que um perdedor como você queira fazer isso. Aron ficou irritado com o comentário, todavia, gostou da ideia. Eu não. Ser testado pelo vovô seria ter meu couro arrancado! — A primeira luta Reikal irá testá-lo, na segunda voltamos com as tradições absolutas. — Ranzel falou fazendo o burburinho de seus dois filhos acabarem. Dito isso, Ranzel se moveu deixando todos do Hall. Hardar se aproximou de mim colocando sua mão em meus cabelos massageando-o, ele sorriu de leve. Iria mostrar que o título “filho dos deuses” não era mais que mostrar de quem eu era filho. Vi Aron ainda discutindo com vovô que o ignorava até mesmo com os olhos fechados, ri da cena recebendo um abraço de Belial que me ofereceu um pote de coxinhas de franco como as do banquete, porém, foi repreendido por meu pai. Um grito fez todos se assustarem e fitarem rumo à Rayran que olhava o tridente cravado na parede perto de sua cabeça, com os olhos arregalados, fitou em direção a Aiken, não entendo seus motivos. Ele tinha ficado louco? Aiken parecia irritado enquanto bufava ao notar apenas essa reação vinda de Rayran. — O que pensa que está fazendo?! — Exclamou Aron esquecendo totalmente a quem dirigia as palavras. Aiken, que tinha se afastado do grupo, virou-se com uma expressão indiferente. Observando o Sereiano virou seu rosto como se Aron não fosse nada, olhava isso como falta de educação, mas havia algo no olhar de Aiken que me deixava curioso, até mesmo seus atos loucos. Rayran não tinha feito nada, nem se quer falado durante todo esse tempo. — Não ouse mais tocar em Triton. — Ralhou. Ele tinha feito tudo isso por seu ciúme? Ele realmente ficou louco! — Não o coloque nesse joguinho, ou a próxima vez esse tridente vai acertar o verdadeiro alvo. — Aiken falava com desprezo. Que tipo de joguinhos ele falava? — Dois machos brigando por você. — Ouvi a voz de Belial baixa ao

meu lado, ele ria provocativo enquanto passava seu braço em volta de meus ombros. — Você realmente é disputado hein, quem sabe aquele tritão que estava a seu lado no banquete também não queira entrar. — Ria ele. Agora entendia por que meu pai sempre queria socá-lo cada vez que ele abria a boca, será que eu podia fazer isso? Ou talvez nem precisasse ao ver Hardar puxar as madeixas longas de Belial fazendo-o me soltar e se grudar em meu pai. A arma de Aiken sumiu e o mesmo voltou-se em minha direção com uma expressão emburrada. Aron correu rumo ao seu filho, pelo menos Aiken não tinha machucado Rayran. — Você é possessivo — falei cruzando os braços. — Sei cuidar de mim mesmo, vossa majestade. — Sabe? — Aiken arqueou uma sobrancelha ruiva sorrindo travesso. — Então, diga-me Triton, quais eram as intenções desse Schifino? Amá-lo não era. — Sua voz de pura travessura foi para mais fria que ele já dirigiu para mim. — Você está em um território que não deve confiar em ninguém, essa é a lei dos clãs. Semicerrei os olhos. Se aproximando mais de mim ele voltou a sorrir travesso. — Além do mais, você é apenas meu, e eu sou apenas seu, pequeno Triton. — Chamou-me do apelido que não gostava nem um pouco. Não sou pequeno! Quantas vezes ia gritar isso? Cruzando os braços emburrado notei que praticamente estávamos já sozinhos; se não fosse por meu pai afastando Belial de si e vovô balançando a cabeça. Rayran seguia seu pai com a cabeça baixa enquanto desciam as escadarias e por sua expressão, estava triste. — Vamos Triton. — Pisquei ouvindo a voz do deus. Ir aonde? Meu pai apenas assentou com a cabeça na direção de Belial que já se dirigia para a escadaria. Sem entender nada o segui como meu pai ordenava deixando ele e Aiken para trás. Segurei o riso ao ver Hardar puxando as orelhas do famoso rei dos mares que choramingava, Aiken nunca mudava, talvez fosse esse fator que me fazia apenas rir e amá-lo mais. — Você realmente está apaixonado. — Cantarolou Belial, ia abrir a boca para rebater suas brincadeiras, todavia, suas novas palavras fizeram-me calar

rapidamente ao notar o tom delas. — É bom ter alguém ao seu lado, dividir suas brincadeiras, sorrisos, mau humor, dificuldades, entre outras coisas. Ter alguém caminhando ao seu lado é algo esplêndido. Pisquei fitando-o de soslaio, havia tristeza em sua voz, ele se sentia tão solitário assim? — Você se sente solitário? — Meus pensamentos fizeram minha boca abrir e minha pergunta sair. Ele demorou a responder com um acenar de cabeça. — Ser um Deus é ser imortal, nada vive mais que você e em certo ponto você ficará sozinho, é doloroso ficar só, não ter sorrisos para compartilhar, nem nada — dizia baixinho. — Mas você tem Hardar — falei tentando animá-lo. — Você não se sente feliz ao lado dele? Diminui o passo obrigando-o a fazer o mesmo e prolongar a conversa, ele sempre implicava comigo, iria fazer o mesmo, além do mais, uma vingança às vezes é bem-vinda. — Ele é segunda coisa que me faz tão feliz. — Para minha surpresa, ele respondeu. Segunda? O que era a primeira? Sua irmã? Pisquei sorrindo provocativo e me colocando em sua frente, ainda não tinha acabado e ele nem estava incomodado, isso não era justo! — O que seria então a primeira? Via seu sorriso pequeno no canto de sua boca e parando para observá-lo mais as palavras de bisavô Ranzel faziam ainda mais sentido em minha cabeça. — Você, meu pequeno. — Suas palavras foram um baque para meus pensamentos. Eu? Seria por ser seu filho? Seu legítimo. — Você é meu verdadeiro... pai?! — Não sabia se minha frase era mais uma exclamação ou uma pergunta, apenas sabia que tinha os olhos fixo no peito de Belial e assim senti seus braços me rodearem em um abraço. Ele riu baixinho antes de dizer, “finalmente percebeu”. Então era verdade, Belial era meu pai, e Hardar, o que ele era? De quem eu nasci? — Sei que pode ser confuso, mas sempre esperei esse dia — disse feliz. — Você, meu filhote, meu único. — Senti seus dedos em minhas madeixas negras.

Belial é meu pai... Que mais surpresas eu ainda não sabia? — Agora precisamos começar seu treinamento, logo será sua cerimônia. — Ele soltou-me se afastando de meu corpo. — Você ainda precisa treinar sua precisão e invocação, pouco para um iniciante. Ergui o olhar não sabendo como realmente enxergá-lo, pelo menos agora entendia bem o motivo de chamarem-me de filho dos deuses. Tinha nascido então de Belial. Como fui gerado? — Talvez seja herança genética do bagre velho. — Ele riu alto. Naquele momento não sabia o que pensar e muito menos querer treinar. Estava confuso e estranho, por qual motivo Hardar escondeu isso de mim? Minha pele albina agora tem uma explicação, por tanto tempo me perguntei por que tinha nascido assim, sou filho legítimo de um deus, isso até soa hilário. Belial ainda sorria em minha frente falando alguma coisa, porém, nem o escutava mais. Fitei as sombras que voltavam a escorrer pelas paredes, elas estavam quietas demais. —... Isso é um ponto bom para você. — Peguei as últimas palavras do deus. Não sabia do que ele estava falando, mas presumi que seria sobre o treinamento por sua empolgação antes, ou talvez fosse por contar-me alguns segredos que me esconderam por tanto tempo. Franzi o cenho, talvez Belial pudesse revelar mais ainda, tudo que Hardar escondia de mim, a resposta que apenas encontraria no palácio Schifino talvez fosse ele. — Ah... — Não sabia como chamá-lo optando apenas por começar a falar o que queria. — O que é ser um matador de deuses? O que eu realmente sou? Belial piscou antes de ponderar minhas perguntas e avaliar se as responderiam, por fim apenas desviou seu olhar para as paredes do palácio. — Matador de deuses é um mestiço cujo tem tanto poder que é capaz de matar um deus, apenas ele tem poder o suficiente por estar ligado ao mundo mortal e imortal, esforçando-se, indo no máximo, ele pode superar um deus criador, como a mãe suprema. Arrumando suas vestes, o vi esconder suas mãos nas mangas de suas roupas estranhas e largas, sorte que não tinha colocado as que tinha ganhado, não estava acostumado com tecidos tão estranhos que tapavam todo o corpo por completo, se ao menos fosse igual aos dois conselheiros que apenas tapavam o peito, mas até as de Belial tinham mangas mais compridas que seus braços.

Voltando a focar-me esperei a continuação de suas respostas. — Você é um semideus, por não ter sido completado, seria um deus... — Ele cortou suas palavras chamando minha atenção. Ele escondia algo também. — Por que não me tornei? — Persisti querendo minhas respostas. Belial abriu várias às vezes à boca fazendo qualquer coisa que não fosse olhar diretamente para mim. Quanto sério era esse segredo deles? Tinham vergonha de algo? De mim? — Porque você não desejou — ele deu de ombros —, você quis ficar com Hardar, talvez por isso ame tanto o bagre velho. — Ele fez suas gracinhas rindo forçado. Suspirei baixo, já era alguma resposta. — Porque eu falhei com você. Meu pai caminhava lentamente em nossa direção com o olhar fixo no chão. Seus cabelos quase tapavam sua face por cair em frente aos seus ombros. Belial esperou Hardar estar mais próximo para trocarem olhares que não entendia, apenas esperava ter minhas respostas. — Falhei como pai com você. Falhou como pai? Do que ele falava... — Eu o abandonei, mesmo assim você desejou vir comigo quando fui atrás para consertar meus erros e graças a isso você não se tornou um deus completo, saiu de sua pequena esfera antes de completar todo processo, e presumo que não esteja entendendo nada. — Ele sorriu fraco. Exatamente nada. Desde quando ele me abandonou as primeiras memórias que tinha eu já estava ao seu lado, era impossível ele ter me deixado. Não queria ser um deus completo mesmo, queria viver feliz e fazer meu próprio caminho, ter alguém para sorrir em minha direção e me amar. — Deixarei vocês a sós. — Avisou Belial e com o assentir da cabeça de meu pai ele sumiu sem se mover. Era estranho ver algo assim, mas me esquecia de que ele era um deus, não um Sereiano. Hardar suspirou e o fitei. — Quando descobri que estava esperando você minhas pernas desabaram e admito não ser de alegria, foi em um momento que não era bem-vindo, ainda mais com a situação que se vive dentro do palácio Schifino... — Ele fechou

brevemente seus olhos. Eu tinha nascido dele! Mas todo esse tempo achei que meu pai não fosse um Yin, ele nem ao menos dá sinal que é um yin tendo períodos de puro êxtase que se for saciado dura apenas um dia, é um período que os yin tentam chamar algum macho para eles. — Não sou um Yin e sei que esse olhar é por que disse que estava grávido de você. — Ele revirou os olhos sorrindo de leve. — Ranzel apenas tinha ficado amistoso comigo com a chegada de Belial, mais precisamente quando começamos a nos relacionar mesmo que eu negasse. — Ele desviou o olhar. — Mesmo assim, Belial não tinha me avisado de nada, ele sabia que você já vivia dentro de mim e não me contou nada, nem ao menos me disse como ter uma criança que era um deus, piorando ainda mais de um dia para outro ele sumiu. Isso era tão cruel por parte de um deus que dizia tanto amar meu pai, se ele realmente amava, por que abandonou Hardar? — Eu fiquei sem chão, não sabia o que fazer, então escondi sua gravidez até momento que consegui, claro que Reikal descobriu um mês depois, mas não fui expulso dos Schifino, pelo contrário, Ranzel ficou ainda mais gentil, mas os outros Schifino não. Nesse tempo Erial conseguiu subir ao trono, então aceitei seu convite de virar seu conselheiro e morar no palácio Real, mas a cada vez que você crescia com mais medo eu ficava, então decidi ir até Belial e Kaya e obrigá-lo tirar você de dentro de mim. — Suas últimas palavras carregavam certa tristeza. Meu pai quis tirar-me de dentro dele? E por que Belial o deixou, seria esse o motivo de ter-me negado? Por pura tristeza pelos acontecimentos? — Quando finalmente entrei em contato com aquele idiota eu estava furioso com seus atos e não o queria perto de mim, admito que isso também colaborou por sentir raiva de você, porém, Kaya foi que me levou até o mundo deles e com isso eles me explicaram até mesmo o que iria acontecer no futuro. — Ele sorriu sem humor. — Pensei que apenas tinha sido uma peça do jogo dos deuses até escutar que eu não estava nos planos deles. O jogo dos deuses, graças a isso era que definia meu destino algo que não admitia. Eu quero controlar minhas próprias escolhas e caminhar normalmente. — E por que Belial o deixou? — Já parou para observá-lo? — Meu pai perguntou e era claro que não, para que iria querer observá-lo? Com toda essa história nem ao menos conseguia

fazer isso. Meu outro pai era rodeado por trevas e isso me fazia ter calafrios, tendo uma aura pesada e fria era a única coisa que consegui notar dele. — Belial não pode viver aqui por ser o mundo de Kaya, ele não respira o mesmo ar que nós o que o limita a ficar aqui. — Hardar suspirou. — Na época ele aguentou o que conseguia até ficar sufocado e ter que partir sem falar nada, se ele ousar respirar o ar de Kaya ele pode morrer. Arregalei os olhos. Ar da deusa era um veneno para seu próprio irmão? Seria pelo acordo que fizeram no início dos tempos? — Era claro que não o perdoei completamente, ele poderia ter-me dito isso assim não ficaria sem chão e com raiva quando ele sumisse sem dar aviso, no entanto, ele nem mesmo me contou que era amaldiçoado pela mãe suprema, tudo o que sei dele foi por meio de Kaya. O que explicava o fato de meu pai hesitar com o relacionamento deles, era por estar ainda magoado com Belial, ele não confiava em meu pai para contar seus segredos? Sobre seu mundo, corpo ou qualquer outra coisa? Ele ficou feliz em saber que o prato preferido de meu pai era camarão, ele sempre fica deslumbrado quando fala de Hardar, então para que se priva tanto? — Talvez ele quisesse mesmo me explicar tudo quando voltei a ficar frente a frente dele. A tristeza que lembro em seu olhar, o desespero quando falei que o odiava, o pavor que teve quando o obriguei a tirá-lo de mim me fazem acreditar cegamente que ele queria abrir o jogo para mim. — Meu pai tocou em seus cabelos piscando várias vezes e pela primeira vez vi um Hardar que nunca tinha visto. Um tritão que estava prestes a derrubar suas lágrimas. — Desculpe-me por ter jogado toda minha raiva em você. Em ter escolhido meu ego de Schifino perfeito ao invés de você. — Pai... Avancei contra seu corpo o abraçando fortemente, ele parecia não esperar por isso, todavia, não hesitou em retribuir em um afeto bem apertado que quase me fez resmungar de dor. Não podia culpá-lo, não quando tinha a imagem do pai que quase colocou sua cabeça em risco apenas para proteger um filhotinho medroso. Todas as lembranças que tinha com ele eram boas e felizes, não posso reclamar dele e nunca o trocaria por outro.

Todos têm falhas, mas o que nos define é como agimos em frente a elas. — Desculpe meu filhote — sussurrou ele. — Se os deuses me tiraram de dentro de você, como eu estou aqui, ao seu lado, no mundo dos mortais? Não me afastei de seu corpo podendo escutar seu coração acelerado, papai acariciou meus cabelos como adora. — Eu voltei até você alguns dias depois implorando para tê-lo de volta, Aiken me fez abrir os olhos com suas palavras e afeto que ele sempre procurava em mim, ele abriu meus olhos para perceber que aquele não era o famoso Hardar Schifino que ia contra as leis. — Ele deu uma risadinha. — Eu voltei desejando pelo menos vê-lo antes de se tornar um deus, sabia que se eles tirassem você de mim você seria copulado em uma bolha de água e sairia de lá como um deus, porém, você ficou tão agitado com minha presença ali que destruiu seu casulo vindo para mim e não quis mais sair de meus braços. Casulo? Eu tinha um casulo? Como era isso? De água? Ele falava da bolha que sempre me via, sempre tinha a sensação de estar dentro de uma bolha de água que, às vezes, me sufocava. Quando eu era criança tinha muito esse sonho e apenas acordava quando meu pai me chamava, para mim não passava de um simples pesadelo e, de fato, ainda era um. A bolha que sentia estar era minha outra parte, a que me completava e desejava que eu voltasse. — Você era a coisinha mais bonitinha que já tinha visto quando o agarrei, mas também o pestinha que fez xixi em mim! — Meu pai puxou meus cabelos fazendo-me gritar e gargalhar. Eu tinha feito o que? Gargalhava alto o provocando ainda mais. — Você é o melhor pai — disse o fazendo me fitar. — Nunca o trocaria, mesmo que não me dê meus siris. Papai Hardar riu bagunçando meus cabelos. — Porém — continuei fitando as paredes que não eram mais brancas. As trevas estariam bravas comigo por ter as impedidas de matar Ranzel naquela hora? Mas Belial falou que não importasse a hora, quando era de partir tudo sumiria sendo pela luz ou pelas trevas. Era assustador, mas também chamado de o ciclo da vida. Acordei de meus pensamentos voltando a fitar meu pai. — Acho que agora você deveria falar com outro alguém. — Sorri

provocativo fazendo meu pai puxar mais meus cabelos. Gargalhei, abraçando-o fortemente. — Não acha que nenhum dos dois está sendo sincero um com o outro? Além do mais, você não consegue mais esconder, mamãe. Ria alto enquanto era apertado fortemente. De certa forma sua história realmente mexeu comigo, saber dos pequenos detalhes que ele poderia ter escondido fez meu coração ficar triste. Seu passado apenas ele conhecia e não podia culpá-lo pelos acontecimentos que colaboraram para meu pai ficar desesperado, se tornar um Schifino era ato que qualquer um que nascia nesse clã desejava, no entanto, era submetido com as regras rígidas, e ele tinha passado já no teste o que significava que ele perderia o título se aparecesse com uma criança nos braços. Uma criança não desejava pelo clã, como foi com papai. Ele teve sorte, uma sorte que nem todos tinham. Papai tinha voltado para mim, quebrado as regras, decidido perder seu sobrenome para ter seu filhote e não existia mais alegria do que essa, saber que ele me ama. — Eu amo você — sussurrei em seu peito. Recendo seus carinhos um beijo foi depositado em minha cabeça e assim me desvencilhei de seus braços. Virei-me vendo a silhueta de Aiken ao lado de meu outro pai. Bagunçando sua cabeleira vermelha Aiken bocejava enquanto caminhava lentamente quase ficando para trás, isso até ele me notar e correr em minha direção com uma criança que via um suculento peixe. Quase caindo para trás fui abraçado por um Aiken manhoso que resmungava de algo. Com a ideia em deixar meus pais sozinhos aproveitei a brecha que ganhava com o pervertido ali e deixei ele me levar sussurrando algo em seu ouvido que o animou para me arrastar de lá. Ele nunca perde tempo! Tudo seguindo conforme meu plano, impedi Aiken de continuar ao virarmos o primeiro corredor deixando-o confuso. Coloquei o dedo perto de meus lábios em um gesto para ele não falar e assim apontei para trás de mim. Aiken adorava espiar todos ainda mais quando era Hardar, e por seu sorriso travesso soube que ele tinha entendido a mensagem, porém, pela primeira vez, Aiken não queria espiar. Sendo puxado pela cintura recebi seus beijos saudosos e ferozes. Correspondia a cada gesto, era tão estranho ficar sem ele me provocando e rindo,

era como se meu corpo necessitasse daquele pervertido. — Ele vai ficar bem. — Ouvia a voz de Belial. — Ele é forte! Você está o subestimando e não mostrando de quem ele é filho! Subestimando-me por quê? Com um grunhido baixinho notei que tinha mordido a língua de Aiken sem querer. Ao tentar pedir desculpas segurei o riso vendo suas expressões e colocando a língua para fora, o que me lembrou da cena da caverna quando tinha o mordido e aquele sádico ainda tinha gostado. — Ele é meu filhote, como você quer que eu haja assim?! Se fosse uma luta simples, se fosse apenas o ritual dos Schifino, mas é algo que nem você pode parar. — A voz de meu pai era descontrolada. Uma mistura de pavor e ira era misturada em cada palavra que ele cuspia para fora, o que indicava que algo muito sério o assombrava. Hardar nunca agia assim, ele era calmo e observador mesmo com situações difíceis que deveria passar, além do mais, ele não me tinha contato o que fazia ele hesitar tanto, temer tanto. Fitei em direção a Aiken que estava prestando atenção na conversa deixando meus lábios de lado. — Ele é meu filhote e não vou permitir esse destino a ele, jamais! — Hardar ralhou. Nunca escutava a voz de Belial o que indicava que ele sabia que não podia argumentar contra meu pai, ninguém conseguia. Escorando minha cabeça no peito de Aiken, continuei ouvindo a discussão e a voz de meu pai começava a diminuir. O silêncio pairou pelos corredores enquanto recebia os carinhos de meu pervertido, seus dedos passavam lentamente pelos fios de minhas madeixas fazendo minhas pálpebras baixarem lentamente, sempre me sentia protegido perto de Aiken, eufórico também, por muitas vezes ele sempre estar aprontando ou me provocando, porém, gostava disso. Tudo que sempre desejei encontrei ao ser puxado para dentro de uma caverna. Abracei Aiken fortemente. Sempre quando olhava as outras crianças com muitos amigos eu desejava ter alguém também do meu lado para sorrir e compartilhar emoções comigo, e quando via os casais nadando alegres balançando suas caudas pelos mares meu desejo crescia. Queria ter um amor, queria ter um amigo, queria ser aceito e amado por alguém.

— Nós sabemos que você nunca vai permitir esse destino a ele. — Pela primeira vez ouvia a voz de Belial alta. — Eu errei demais por todo meu caminho até aqui, mas nunca menti sobre ajudá-lo a proteger Triton. Até mesmo deuses cometiam erros então... -— A mãe suprema ainda não conseguiu passar pela nossa proteção, mas é uma questão de tempo, a luz deveria está fora de controle, porém, existe algo que nem Kaya saiba, o que indica que o destino mudou de percurso. — Suas últimas palavras foram com toques de humor, certamente ele estaria sorrindo e piscando para meu pai agora. Ouvi meu pai suspirar alto e assim se mexer pelo corredor. — Na hora certa os pilares farão seu dever e assim vamos vencer sem perdermos nosso filhote. Perder nosso filhote? Como assim? — Não importa, se esse plano falhar jamais iria permitir que Triton se sacrificasse por um povo que o negou. — Meu pai falava irritado. — Meu Triton não será apenas um sacrifício sem valor. Sacrifício sem valor... Não gostava daquela palavra, sabia o significado dela. Por esse motivo que Hardar nunca me contou nada, me escondeu até mesmo quando falou de suas falhas... Ele não me contou porque nasci apenas para ser um sacrifício. Para morrer como uma arma. Fui ingênuo ao pensar que em uma batalha dessas não teria mortes daqueles que amava, sempre havia em uma guerra, sempre. E eu tinha nascido para salvar todos com minha própria vida, uma arma de puro sacrifício, eu me tornaria um supremo e assim mataria outro deus supremo ocasionando minha morte, uma jogada cruel. Porém, se eu não fizesse isso também significaria que deixaria aqueles que tanto amo morrer, certo? Aiken, meu pai, Side, Oki... Todos que eram importantes e viviam no mesmo mundo que eu teria um único destino, a bolha escura para sempre. Afastando-me dos braços de Aiken o fitei e, por sua expressão, ele não sabia como reagir, suas mãos em volta de meus pulsos me puxavam calmamente para voltar ao abraço, todavia, não necessitava disso agora. Existia um mofo de o destino mudar? Belial disse que o caminho do destino não estava igual pela mãe suprema

não estar com a luz descontrolada, mas isso era um bom motivo? Se não existisse equilíbrio era para tudo transbordar, mas a grande pergunta era, por que ainda não aconteceu isso? Belial teria algo com isso? Um único deus das trevas estaria conseguindo suprir o equilíbrio até do universo? Não. Ele era poderoso, porém, era impossível ele fizer tudo isso sozinho. Precisava pensar, precisava achar uma saída. Eu não queria morrer, no entanto, não desejo permitir que aqueles que eu amo morram pelas minhas escolhas precipitadas. Queria salvá-los, queria ser útil pelo menos uma vez para todos. — Eu quero apenas pensar... — sussurrei para Aiken em uma tentativa de tirar sua expressão de preocupação, mas ele não me soltou. — Sempre quis saber de toda verdade, porém, nunca imaginei que toda ela vindo à tona doeria tanto. — Você não precisa ficar com toda essa dor só para você, eu estou aqui, ao seu lado, sempre. — Aiken abraçou-me, o que me fazia sentir-me muito melhor. Era como se eu precisasse daquele abraço nesse momento. — Não estou aqui apenas para seduzir você. — Ele brincou piscando. Ri baixinho, balançado a cabeça. Esse era meu Aiken. — Obrigado. — Retribui seu abraço. — Obrigado por estar comigo. — Quem disse que está em meus planos deixá-lo? — disse brincalhão. — Quem vai protegê-lo, seduzi-lo e abraçá-lo? — Suas mãos tocaram em minha face e um sorriso travesso se fez naqueles lábios que se aproximavam agora dos meus. Recebi os beijos de Aiken com todo o carinho que eles proporcionavam, suas mãos ainda seguravam meu rosto, seu corpo estava colado ao meu enquanto minhas costas quase adentravam a parede — literalmente —, e de beijos doces, viraram selvagens como era a marca daquele tritão. Tudo isso me fez esquecer de meus dois pais que por sinal não ouvia mais as vozes. Afastei Aiken de mim que sem esforço nenhum foi para trás lambendo seus lábios em pura safadeza. Tudo naquele tritão era virado em malicias? — Pensei que estava com saudades de mim. — Aiken fez biquinho. Sorri friamente o provocando. Lute, lute. É o seu dever... Pisquei. A voz que soava já tinha a escutado antes, a palavra lutar ainda

era sussurrada mesmo não estando em uma batalha. Quando ela surgiu antes de invocar minha arma na luta contra meu pai imaginei que a palavra lute era sobre o que estava acontecendo na hora... Lutar é me dever? Lutar contra a mãe suprema? Sangue precisa ser derramado novamente, apenas assim tudo será libertado. Olhei em direção a Aiken confirmando que apenas eu escutava a voz e pelo visto minhas expressões estavam o deixando curioso. — A mesma voz novamente — disse antes de deixá-lo falar. — Não estou entendendo nada das palavras. — O que essa voz está falando? — "Sangue precisa ser derramado novamente, apenas assim tudo será libertado". — Repeti as mesmas palavras que tinha ouvido. — Sangue de quem? E o que estará libertado? Pelo silêncio de Aiken ele também não sabia dar uma resposta, ou talvez fosse algo que o fazia arregalar os olhos. Ele tinha descoberto algo? — Triton cor... — Antes dele terminar sua fala vi sua tentativa de me puxar, porém seu corpo foi jogado contra a outra parede em suas costas. Arregalei minhas órbitas apavorado. O corpo de Aiken caia no chão à medida que aquelas raízes negras se afastavam rondando-me agora. As trevas estavam ganhando... forma? Meus braços e pulsos foram agarrados com uma força muito grande e mais raízes surgiam atrás de mim, pela parede, agora totalmente negra, que antes estava escorado. Tentei me desvencilhar daquelas coisas estranhas, no entanto, quanto mais força fazia, mais força era posta para puxar-me para dentro da escuridão na parede. Gritei com toda força que conseguia não adiantando muito, minha garganta e boca foram tapadas pelas raízes negras e assim fui levado para dentro daquele portal escuro. Estava agora dentro do território delas.

17° ESCAMA DE TRITON Era tão estranho. Pisei descalço no que seria um chão todo negro, nem gélido ou quente, era até... fofo! Tudo em minha volta era composto por escuridão, nem sabia como conseguia enxergar. Observando em volta, enquanto tomava cuidado onde pisava, tentei identificar algo que não fosse um infinito negro aberto sem paisagem. A única coisa que se mexia ali dentro além de mim, eram as raízes que me puxaram, elas cresciam e iam até o que seria o céu daquele lugar e, assim, formavam uma parede me bloqueando de ir para qualquer lado, elas que decidiam onde eu deveria ir e isso me dava medo. Para onde elas estavam levando-me? "Sangue precisa ser derramado novamente..." Novamente tais palavras, deveria perguntar o que significavam? — O que querem comigo? — Berrei para o nada sentindo minha voz ecoar. Esperava que elas pudessem me ouvir e, até mesmo, me compreender. — O que vocês querem de mim? O silêncio foi à única resposta que obtive. Continuando a caminhar por onde a escuridão deixava pude notar algo que brilhava adiante, e este parecia chamar-me. Meus pés conduziram-me em direção ao brilho branco misterioso, queria saber o que era, por que me chamava tanto atenção. Em meio a todo aquele preto pude começar a notar listras brancas no chão, um tipo de raiz novo que crescia devagar vinda de uma bola iluminada adiante. Ainda estava longe, no entanto, ao pisar nas raízes brancas as negras me agarraram puxando-me para longe, e uma parede se formou em minha volta, não consegui enxergar mais nada, não sentia nem mais onde pisava. Meu coração se acelerou em pavor enquanto as coisas estranhas seguravam todo meu corpo, sentia-as me prender firmemente, puxar-me para todos os lados. Gritei, porém, não escutava o som de minha voz. O pavor apenas aumentava. "Lute, lute" Escutava as vozes falarem.

— O que vocês querem! — Berrei colocando todo o ar para fora, apenas assim consegui me ouvir. As raízes pararam de me puxar. — Eu não estou entendendo nada, mas vocês são minha única escolha para proteger aqueles que amo, então parem de me puxar e usem essa maldita voz para me explicar o que querem! — Ralhei para todos os lados como um doido. Se apenas assim elas me escutariam, então assim seria. Após ter gritado com elas as raízes me soltaram e, finalmente, senti novamente o chão um tanto fofo. Acalmando minha respiração e meu coração, esperei ver novamente o brilho branco, todavia, apenas as trevas se faziam presente com um... corpo humano. Arregalei os olhos vendo uma parede se abrir e assim uma silhueta se mover lentamente ganhando aparência aos poucos, ela caminhava em minha direção se soltando da tinta negra que escorria por seu corpo revelando aos poucos um rosto tão familiar. Meus olhos apenas cresceram notando as feições que surgiam em volta das trevas. — Quem é você? — Foi a única coisa que consegui perguntar ou fazer. Meu corpo ficou petrificado vendo o Sereiano em minha frente, se realmente fosse um Sereiano. Baixei meu olhar para suas pernas as vendo lisas, sem quaisquer escamas, mas então por que o ser em minha frente era minha cópia perfeita? Talvez não perfeita por ele ter mais músculos. — Sou você. — Ele sorriu, um sorriso tão frio quanto seus olhos. As trevas o rodeavam e quase o vestiam, seus cabelos tão longos quanto os meus se mesclavam a escuridão, seus olhos azuis me fitavam fazendo-me ter arrepios. — Apenas vim avisá-lo — dizia ele —, você deve tomar cuidado com... As raízes o cercaram novamente fazendo-me dar um passo para trás, elas pareciam estar agitadas e, pela expressão no rosto de minha cópia, ele parecia entender o que estava acontecendo, olhando por cima de seus ombros ele estreitou seus olhos antes de se aproximar de mim e sussurrar em meu ouvido palavras que apenas me deixaram mais atordoado. Queria perguntar sobre o que ele acabara de dizer, porém, seu corpo sumiu restando apenas as imensas raízes em minha volta que se dispersaram

rapidamente ao ouvir o tilintar de uma lâmina. Pisquei olhando para todos os lados até ver meu pai surgindo. Sorri de leve, sentia alivio por não estar mais sozinho naquele lugar. Arrastando suas vestes estranhas no chão suas duas espadas cortavam as raízes fazendo toda a escuridão se acalmar. — Pai. — Caminhei em sua direção e, de sua expressão fria, um grande sorriso surgiu em seus lábios. Largando as espadas Belial deu seus famosos chiliques que sempre o faziam receber os socos de meu pai, e abraçou minha cabeça. Maldito deus gigante! Ele conseguia ser mais alto que até mesmo Aiken! — Você me chamou de pai! Que coisa mais linda. — Ele dava gritinhos me sufocando. Não devia ter falado aquilo. Puxando seus braços tentava falar para ele me largar, porém, era em vão. Quando ele me soltou apenas inspirei o máximo de ar para meus pulmões antes de voltar a fitá-lo e notá-lo observando o horizonte escuro. Belial teria notado minha cópia? Ela seria um invasor nas trevas? — Vamos, Hardar está preocupado. Assenti. Movendo-me para segui-lo enquanto Belial guardava suas espadas senti minhas pernas falharem e uma intensa dor me atingir. Berrei tão alto que doeu meu peito, cai no chão não conseguindo mover minhas pernas, era como a dor de quando Mukay passou sua lâmina nelas, a ardência, a sensação de algo me cortando, fitei para todos os lados me certificando de que não era nenhuma das raízes, porém, nem sangue saia de minhas pernas, apenas minhas escamas ardiam como se estivessem sendo cortadas. Belial ergueu-me em seus braços enquanto encolhia-me em seu peito. A dor não cessou e, no final, soube o porquê. Ou o que poderia ser esse porquê. Belial contou-me que a dimensão da luz e das trevas não são apropriadas para qualquer tipo de mortal, eu apenas durei por ser metade deus, mesmo assim a dimensão queria tirar-me minhas escamas. Poderia estar correto esse fato, no entanto, não consegui tirar um único fato de minha cabeça.

Ao ser levado as presas por Belial para fora da dimensão pude ver novamente uma silhueta, que no início pensei que fosse minha cópia por notar seu corpo músculo, entretanto, seu sorriso cruel e sua mão que controlavam as raízes em direção a nós, fez-me perguntar quem era aquele ser. Seria a própria escuridão? Mas porque elas atacariam Belial, o mestre delas? Não comentei isso com meu pai, nem tive tempo, quando a dor cessou apenas adormeci nos braços dele não notando nem quando ele passou novamente para o mundo dos Sereianos. Apenas tinha uma certeza. Havia algo mais no meio das trevas.

18° ESCAMA DE TRITON Após Belial ter me levado para fora do mundo das sombras lembro-me de apenas escutar vozes diferentes em minha volta, reconhecia cada uma, porém, não entendia por que estavam tão alteradas. Meu pai discutia com Belial e parecia não estar gostando de algo, podia reconhecer a voz de Aiken sempre ao meu lado murmurando algo para mim, ele parecia preocupado, e até um toque que meu corpo não reconhecia pude sentir. Não via nada, não conseguia abrir minhas pálpebras e dizer que estava bem para ninguém e, cada som de voz preocupada em minha volta, fazia meu coração doer. Não queria Aiken preocupado e papai triste, queria mostrar que eu estava bem, mas como se nem ao mesmo conseguia me mexer?! Fiquei naquele estado por bastante tempo, várias vezes sentia tudo parar em minha volta e sonhos estranhos surgirem. As trevas queriam se conectar comigo, elas estavam aprisionadas, queriam minha ajuda e, para isso, compartilharam segredos que nunca foram contados para mim, memórias que poucos sabiam, histórias que não imaginavam existir e uma certeza. Tinha salvado um monstro. Isso fazia um gosto amargo em minha boca, saber que salvei o pior dos monstros do oceano deixando ele livre para fazer mais crueldade, trazer mais infelicidade a meu pai e vovô; uma raiva surgia dentro de mim. As trevas queriam a alma de Ranzel, elas queriam vingança para com o rei dos Schifino, aquele que as aprisionou e tentou recriar o deus supremo das trevas que foi morto pela mãe suprema. Ranzel era o verdadeiro inimigo e, quem sabe, o causador dessa guerra que teremos que enfrentar. Precisava ajudá-las e proteger vovô de Ranzel. Triton, o que aconteceu... Aiken sussurrava perto de mim, entretanto, meus olhos não se abriam ainda. Vivia uma intensa agonia cada vez que escutava os que amava em minha volta, preocupados. Queria acordar, todavia, emergi novamente nas trevas vasculhando mais o que elas queriam me mostrar. Era estranho que muitas vezes via um brilho intenso, nunca conseguia chegar perto dele, mas parecia me atrair tanto, no final a luz sumiu totalmente me deixando na escuridão que não me apavorava mais, apenas fazia um desejo crescer ainda mais em meu peito.

Ao receber um beijo de Aiken finalmente consegui abrir minhas pálpebras e fitar aquele pervertido, que sorriu. Aiken se jogou sobre mim me esmagando e apenas gritei. — Você é pesado demais! — Esperneei e assim ele sentou em meus quadris. Papai reclamava de mim, mas, ele já tinha sentido o peso de Aiken? Eu não estava gordo por comer siris! Ele sorriu travesso aproximando seus lábios dos meus. — Fiquei preocupado — sussurrou. — Tio Hardar também estava, mas Belial falou que você acordaria logo e daí levou ele para fora do quarto. Aiken riu baixinho me fazendo pensar como Belial tinha levado meu pai, se aquele pervertido dava risos safados podia imaginar que ele gostou de ver. — Até Reikal veio conferir você e fazer uma checagem, Ranzel e Han também vieram. — Aiken dava as notícias. — Até o seu amigo que vai se casar veio, porém, ele não ficou muito tempo. — O vi dar de ombros. Deitando-se sobre mim novamente puxei suas madeixas vermelhas para o lado fazendo Aiken finalmente sair de cima de mim, ele choramingou dizendo que eu estava agressivo demais, todavia, ao ver-me ir para cima dele ele se calou sorrindo safado e querendo tomar minha boca. Desvencilhei-me dele sorrindo vitorioso. — Onde está meu pai? — Qual deles? — Aiken fez uma expressão pensativa e revirei os olhos. Era óbvio que ele sabia qual dos meus pais eu estava falando. — Acho que no quarto ao lado com seu outro pai, talvez estejam fazendo o que gostaria de estar fazendo com você. — Ele tocava em seu queixo assentindo. Bati nele com uma almofada o chamando de pervertido e Aiken apenas gargalhou alto se mexendo embaixo de mim. Pelo menos papai estava ocupado, assim não ficava preocupado. Queria vê-lo, todavia, aproveitaria meu tempo com Aiken que não tinha desde que cheguei ao palácio, logo iríamos embora e nem mesmo treinado eu tinha. Suspirando deitei-me sobre peito de Aiken, sendo rodeado por seus braços fortes, estava preocupado com a cerimônia dos Schifino, eu conseguiria passar mesmo sem treinar? Meu adversário seria vovô Reikal e nem sabia suas fraquezas, nunca tinha o visto lutar, ele seria como meu pai? Pelo menos ele não sabia técnicas

que nenhum outro Sereiano sabia, isso me aliviada um pouco, entretanto, nem mesmo sabia sobre sua arma, como ela era? Quão potente era seu estrago, tamanho e forma? Talvez devesse perguntar para Hardar. — Por que está preocupado? Fitei as órbitas vermelhas que me analisavam, seus dedos faziam carinho em meus cabelos do jeitinho que adorava. — Sobre a cerimônia — sussurrei fechando os olhos. — Ranzel falou dela quando veio aqui. — Franzi voltando a abrir minhas pálpebras. — É finalmente amanhã. Amanhã? Arregalei os olhos erguendo meu tronco, assustando Aiken piscou. Quantos dias eu dormi? Faltavam ainda três dias, será que me enganei com o tempo? Era difícil contar as luas preso naquele palácio, talvez até já fosse o terceiro dia e me deram mais tempo... O que eu faria? Lutava ou não? Não estava confiante. — Triton — Aiken chamou-me alto tendo que pegar meu rosto para fazer-me prestar atenção em seus olhos. — Você vai conseguir, não fique se colocando para baixo, você é um Schifino, o filho de Hardar. E se eu desonrasse meu pai? E se todos rissem de mim? Já sofri humilhação demais, não queria mais uma, não dentro do lugar que fui recebido tão bem, isso fazia meu corpo tremer e travar, não quero que o pesadelo continue. Não posso falhar com a honra de meu pai. Ele não construiu toda ela lutando para seu filho fraco perder na frente de todos. — Triton... — Aiken puxou-me para seu peito e ali me prendeu. — Você é tão forte quando Hardar, basta acreditar e lutar. Pisquei. — E se eu falhar? Desonrar meu pai, fazer todos rirem de mim e de Hardar? Escondi meu rosto segurando minhas lágrimas. — Acha que ele vai se importar? — As palavras de Aiken foram um balde de água fria para minhas memórias. Ainda me lembrava bem quando meu pai invocou sua arma para um

grupo de Sereianos e, assim, os atacou me protegendo enquanto eu ficava encolhido perto de uma rocha, deixando minhas lágrimas se misturarem a água, eu estava tão acuado que papai teve que ficar abraçado comigo por horas até minha choradeira passar e eu adormecer em seu peito. Papai sempre me protegeu virando as costas para tudo. — Hardar cortaria cada um que risse de você, que o maltratasse, ele não pensaria em honra, em status ou o que poderia acontecer com ele. Ele apenas agiria para te consolar e proteger. Fitei Aiken deixando minhas lágrimas rolarem. — E ele não estaria sozinho, não mais. — Um dos dedos de Aiken secou uma lágrima solitária que rolava em minha face. — Eu o ajudaria a caçar cada um, assim como também Belial. Aiken bagunçou meus cabelos fazendo-me sorrir. — Você não sabe como ele pode ser bem mais assustador que Hardar. Vá ver as costelas de Aron quando sair desse quarto! — Aiken esbugalhou seus olhos rindo logo depois. Pisquei, o que tinha acontecido enquanto estava inconsciente? Belial atacou Aron? Mas aquele Sereiano nunca era visto pelos corredores, apenas seu filho primogênito. Aiken riu de minha expressão me deixando curioso sobre o que tinha acontecido. — Aron veio junto com Ranzel bem amistoso ver como você estava, e Aron fez gracinha sobre você ser fraco e estar inconsciente, Hardar não podia atacar, ele mesmo se segurava tanto que apertava seu próprio braço, e assim Belial apenas se virou e o tocou longe sem encostar-se a ele. — Aiken dizia sendo um péssimo contador. Torci os lábios tentando imaginar a cena, esperava que Aiken nunca contasse uma história para ninguém. — Resumindo, Belial quebrou algumas costelas do irmão de Reikal por ter chamado o filhote dele de fraco. — Aiken deu de ombros como se fosse bem normal. Admitia que teria gostado de ver a cena e estava feliz por meu pai que nunca convivi junto estar defendendo-me como Hardar, Belial se aproveitava de seu status de deus para fazer o que quisesse e, de fato, ele podia. Matar ou bater em um Sereiano da realeza não traria problemas a ele como aconteceria se meu pai Hardar tivesse feito.

Imagina que certamente papai Hardar tivesse sorrido da cena que aconteceu. — Isso é uma prova que aqueles dois não estão se preocupando com honra. Assenti deitando-me no peito de Aiken, poderia estar tranquilo sobre esse fato, todavia, existe algo que me deixava curioso. As trevas me mostraram e falaram muitas coisas, minha cópia mandoume tomar cuidado com Ranzel e ajudar as sombras a ter sua vingança, só assim podia finalmente se libertar, não sabia o que era essa prisão delas, talvez devesse perguntar a Belial, entretanto, até mesmo sobre meu pai elas falaram. Papai Hardar pode ter me contado sobre suas decisões e sua vida com Belial, porém, papai Belial nunca cogitou em dizer sobre a sua, nunca mostrou seu corpo ou braços. Ele vivia se escondendo em mantos gigantes o que me fez perguntar várias vezes como ele conseguia até mesmo se locomover com tantas vestes e por qual motivo nunca mudava de estilo, não importasse a ocasião ele estava sempre coberto. Belial era um deus que sempre podia estar brincando e sorrindo perto de meu pai, mas só ao lado daquele Sereiano. Muitos fatos do passado foram me mostrados, um deus cruel e sanguinário que se divertia criando e matando suas criações, brincando até mesmo com as trevas que deveriam ser suas companheiras com a batalha contra a mãe suprema. Ele era poderoso até demais, quase superando a deusa suprema da luz que, o derrotando, o amaldiçoou novamente, uma nova maldição que fazia parte de seus planos. Quando nasceu papai foi amaldiçoado não podendo gerar nenhum filho, mesmo que se deitasse com homens e mulheres de qualquer raça ele nunca poderia ter um filho e nem um companheiro imortal. Logo depois a segunda maldição veio o selando, selando as trevas em sua volta, as enfraquecendo para ele não se tornar o novo deus supremo. Papai foi rejeitado pela mãe suprema e atirado na terra novamente e dessa vez sem companheiros, filhos ou as trevas para consolá-lo, ele era um deus, mas sem seus poderes reais por um longo tempo, até Kaya o ajudar e assim metade de sua maldição se quebrar, entretanto, ainda ele não estava livre. As trevas estavam aprisionadas e Ranzel as fez ficar seladas dentro do palácio deixando Belial mais vulnerável, seu propósito era recriar o deus supremo das trevas, mas seu plano não resultou em nada por causa de meu nascimento. Um novo deus supremo nascia impossibilitando o primeiro em volta,

todavia, isso não fez Ranzel parar e agora as trevas querem vingança e liberdade para voltar ao seu verdadeiro mestre com força total. A escuridão quer o sangue de Belial e a alma de Ranzel para tornar seu mestre forte novamente e o livrar de uma das maldições e para isso eu precisava ajudar, já que libertei uma vez o monstro. Eu salvei Ranzel de sua morte e precisava agora causá-la. Após minha cerimônia seria a morte do líder Schifino, sua alma seria tomada pelas trevas. Mesmo com toda a verdade que tinha sobre os acontecimentos de meu pai ainda não entendia por que ele se escondia debaixo de roupas longas, deveria perguntar? Talvez papai Hardar soubesse. — Meu Triton, está pensando em mim? — Aiken voltou a me abraçar fortemente. Pisquei resmungando. Apertando minha cabeça contra seu peito Aiken riu soltando-me e, assim, recebendo uma almofadada na cara. Ele ria alto me provocando, me fazendo desistir de batê-lo, ele estava gostando. Isso não tinha graça! — Estava pensando em coisas pervertidas comigo? — Aiken sussurrava perto de meu ouvido o mordiscando logo em seguida. Corei forte. Pervertido! Suas mãos levantavam minhas vestes brancas da cintura percorrendo minhas coxas indo em direção de minha nádega, resmunguei o chamando de pervertido enquanto me deliciava com a sensação de suas mãos em meu corpo. Mordi meus lábios rebolando um pouquinho, sentindo finalmente seus dedos onde queria, onde meu corpo desejava. — Estava pensando em como vou te torturar — respondi tomando seus lábios. Ele sorriu em meio ao beijo. Meu copo parecia sentir saudades de Aiken reagindo a cada toque daqueles dedos, brincando com a roupada que cobria minha cintura, um arrepio percorreu minhas costas enquanto minha boca era vasculhada pela língua que mordi. Sorri vendo Aiken reclamar e logo voltar a me beijar sussurrando que eu sou cruel com ele.

Puxei seus cabelos com força fazendo Aiken gemer contra minha boca. Sorri satisfeito. — Depois eu sou o pervertido. — Ele falou com seu sorriso safado. Tendo seus olhos sobre mim remexi-me sobre sua cintura fazendo Aiken morder seus próprios lábios, suas mãos estavam em minha cintura e as minhas arranhavam o peito saliente de meu tritão. Fui puxado para mais perto e assim beijado novamente. — Quero perguntar algo. — Aiken disse em meio aos beijos. Afastei-me o fitando curioso, meu Aiken pervertido pausando atos como aqueles? Tocando em seu rosto encarei suas órbitas vermelhas. — Que você acha de nosso casamento acontecer no palácio Schifino? — Ele sorriu travesso. Em seu olhar tinha certa luxuria e desejo em executar seus planos, o que me levava a perguntar o que ele estava tramando, por que queria casar no palácio do clã que não gostava dos Alkes? Provocação? Certamente, se conhecesse Aiken... Desviei o olhar, não queria casar no meio de tantos Sereianos que nos olhariam com nojo, virariam o rosto. Queria passar com ele pela cerimônia que ocorreria daqui a sete luas, nadar ao pôr do sol e sorrir como se não tivesse uma guerra se aproximando. Queria um momento de pura alegria, além do mais, logo após da cerimônia teria o casamento de Side e não podia faltar. No início pensei em dar uma desculpa não querendo ver Kastra se afastar ainda mais de mim, todavia, agora fico feliz de ter sido ignorado e até mesmo puxado por um doido pervertido que estava sorrindo para mim naquele momento. Meu Aiken... — Schifino não gostam dos Alkes, ainda mais do filho albino de Hardar Schifino — falei demonstrado meu desgosto. — Por isso mesmo. — Aiken sorriu. — Os fazer engolir toda a raiva e nossa felicidade e, para acompanhar, fazer isso na cerimônia de coroação do Hardar. — Ele dizia cantarolando. Segurei o riso, esse era o Aiken que conhecia. — Que me diz? Triton Schifino Alkes. — Ele puxou-me para mais um beijo. Triton Schifino Alkes? Realmente tinha gostado disso, nunca tinha

parado para pensar que poderia carregar o sobrenome Alkes, como Aiken levaria o do Schifino. Pisquei. — Você quer apenas os provocar! Só porque seria nomeado um Schifino. — Balancei a cabeça rindo logo em seguida. — Você tem planos muito malignos — brinquei. — Mas aprovo. Aiken abriu um sorriso tão grande que parecia que cortaria seus lábios. Ele pulou embaixo de mim me fazendo ir para o lado e observá-lo. Ele parecia uma criança adorando ter um cúmplice em suas travessuras. Suspirei rindo, nunca me cansava de perceber que era isso que mais me atraia em Aiken, e claro, sua bunda. — Agora a vossa majestade pode continuar de onde paramos — retruquei apoiando meus joelhos e mãos na cama. — Não quer visitar a parte que mais adora em meu corpo? — Dei uma reboladinha. Aiken gargalhou se atirando em cima de mim, depositou um beijo em minha bochecha e depois passou seus lábios por meu pescoço seguindo para a nuca. Meus cabelos compridos caíram tapando minha visão e meu corpo se arrepiou sentindo a língua de Aiken em minhas costas. Não sabia se era dia ou noite naquele momento, porém, apenas deixei meu corpo provar novamente dos prazeres que apenas um tritão conseguia me dar, de seu toque por meu corpo que permaneceu por um bom tempo. No dia da cerimônia imaginei que estaria com o coração acelerado e o pavor percorrendo meu corpo, no entanto, as palavras de Aiken ainda rondavam minha cabeça me deixando até mais relaxado e minha mente sem nenhuma dúvida. Queria ganhar e carregar o sobrenome do meu clã com minha vitória. Mesmo sabendo que podia levar o título apenas por ser o filho de um deus, eu não desejava que fosse assim, queria lutar, vencer e conquistar! Mostrar a todos que eu podia ser a esperança de todos, demonstrar minha força. Expor a todos de quem eu realmente era filho. Não sou apenas o filho dos deuses, mas também de Hardar Schifino. Aiken saiu antes de Belial adentrar os aposentos de meu pai, com um sorriso animado em seus olhos ele sentou ao meu lado na cama. Todo o tempo que tinha ficado sozinho encarei as paredes e as trevas que se reunião ali, não as temia mais então deixei elas se aproximarem e, como imaginei, elas não me atacaram, não perturbaram, apenas naquele momento avisaram que hoje seria tomada a vida do líder Schifino. Elas não incomodaram mais depois daquele aviso e por breve momento,

quando vi meu pai adentrar o quarto, parecia que ele usava algo tapando boa parte de sua face, escondendo sua boca e nariz, não compreendi o que vi até ver as trevas cobrir todo o quarto, elas estavam fazendo um território para o deus dos humanos respirar. Belial não podia respirar o ar da deusa água. — Preparado filhote? — Perguntou ele arrumando suas vestes enquanto sentava. Assenti, estava com pouco de medo, além do mais vovô Reikal era forte, ele foi o primeiro Sereiano a vencer Ranzel na cerimônia, o primeiro filho que sobreviver nas mãos de Ranzel. Cinco filhos. Apenas três vivos. Apenas um passou em seu teste. Vovô ainda sofria nas mãos de meu bisavô, todavia, hoje seria o último dia. — Elas avisaram que hoje é o último dia dele... — Belial saberia de quem eu estava falando mesmo não citando nomes. Fitei as escamas de minhas pernas, tudo estava passando tão depressa. Hoje seria minha cerimônia, amanhã a coroação do papai Hardar e meu casamento com Aiken que certamente Hardar já sabia das ideias daquele tritão pervertido. E uma única pergunta rondava minha cabeça. Como vencer meus inimigos? Suspirei alto. — Imaginei que seria hoje, elas estão se aglomerando. — Belial falou fitando as paredes negras. — Pelo menos ele vai sofrer por seus crimes. — Ranzel tentou matar meu pai quando era recém-nascido, o que o fez mudar tanto com Hardar? Ele recebeu de braços apertos eu e papai. Belial deu de ombros. — Apenas o ameacei da primeira vez que vim aqui e me apaixonei por Hardar — ele deu de ombros novamente —, apenas disse se ele tentasse matar ou encostar novamente em Hardar ou em seu filhote eu viria pessoalmente e arrancaria seu coração. Belial olhou para suas próprias unhas como se fosse coisa mais normal do mundo. Por um breve momento apenas arregalei meus olhos, mas o que mais poderia de se esperar do meu pai e suas coxinhas fritas? Ri baixinho balançando a cabeça, esse era meu outro pai. Escorei a cabeça em seu ombro fechando minhas pálpebras.

— Você vai vencer, queria poder ter tido a chance de te ensinar alguns golpes que nenhum outro Sereiano sabe, mas ainda assim não mostra que vai perder — piscou bagunçando meus cabelos. — Apenas use bastante os pés, você pode chutar na altura da costela, é algo bem potente, mas se quer ganhar espaço, chute em forma de empurrar a barriga de seu adversário, ou até o joelho. Os golpes que meu pai mais usa. Hardar é mestre em luta corpo a corpo e seus alvos sempre são chutes na cabeça e costela e, logo em seguida, avança sua lâmina na direção do pescoço de seu adversário se for para matar. — Obrigado, pai — disse sorrindo. Belial novamente deu seus chiliques abraçando minha cabeça e me esmagando. — Agora vamos, você tem uma batalha para ganhar! — Ele se ergueu esticando sua mão em minha direção. — Mostre para aquele cabeça de bagre que você pode vencer ele. — Belial deu uma risada maligna que me fez rir. Esses dois nunca paravam de se provocar. Sorri suspirando, chegou a hora de me tornar um verdadeiro Schifino, e em breve ganhar meu novo sobrenome: Alkes. Belial tinha me dito que haveria muitos do meu povo assistindo, nobres de cada família para presenciar, um dos motivos de Aiken ter saído tão cedo do quarto também foi me revelado: seus avôs estavam no palácio e, como rei, ele seria o mais nobre convidado, assim precisava se ajeitar, algo que me fez rir sozinho naquele imenso aposento. Meu Aiken, se ajeitando? Fechei brevemente meus olhos abrindo as portas, enquanto seguia meu caminho apenas esperava não ser cortado ao meio pelo vovô. Os corredores estavam silenciosos em qualquer canto do palácio, menos quando você chegava perto do grande salão onde aconteceria a cerimônia. Diversas vozes desconhecidas faziam meu corpo se arrepiar, ter tantos Sereianos me olhando me dava medo, porém, meus pensamentos pararam ao ver a silhueta de vovô escorado na parede na direção que ia. Pisquei observando sua silhueta, de olhos fechados e braços cruzados, ele tinha sua expressão fechada como sempre, mas algo parecia estar diferente. — Está preparado? — Sua voz soou me surpreendendo. Desviei meu olhar ainda captando o som de vozes desconhecidas. — Não se engane, não tem muitos Sereianos naquele salão, apenas os Alkes e os Schifino brigando, como sempre. — Ele deu de ombros revirando os

olhos. Reikal não deveria gostar nem um pouco daquela briga e, de fato, realmente era desnecessária, brigar por poder apenas para provar qual clã era melhor. — Já pode entrar — avisou ele. — Boa sorte! — Vovô piscou para mim e apenas sorri. Era bom ver um pequeno sorriso em seus lábios, assim como seus dedos em meus cabelos em um ato carinhoso. Realmente Reikal era totalmente diferente daquele que Ranzel o obrigava a ser. — Obrigado — sussurrei. Vovô se aproximou de mim fazendo-me ficar confuso e assim ouvi suas palavras em um sussurro que me fez piscar e ficar atordoado. — Deixo o lado esquerdo muito aberto. — Ele piscou e assim se retirou. Vovô Reikal estava me dizendo onde era seu ponto fraco? Apenas para eu ganhar? Mas assim não poderia ser justo! Mesmo que perdesse queria algo justo, mas não podia pensar assim, precisava mostrar a Hardar que podia ser forte em qualquer campo de batalha. Adentrei o salão dourado tirando qualquer pensamento em minha mente.

19° ESCAMA DE TRITON Pisando no piso gélido arregalei os olhos ao ver o imenso salão que me encontrava, nunca tinha adentrado aquele imenso aposento sem portas. Todo o lugar parecia ser feito de ouro, pilares brancos com dourados que iam até o teto alto, em cada laje um desenho era feito onde, no centro, se podia ver o que formavam, dois círculos que se conectavam até o altar de três degraus amarelos. Enquanto observava todo o local, com seu teto brilhoso cheio de pedras que captavam a luz do sol e iluminavam o aposento, não notei as vozes altas dos meus telespectadores nem vovô sentado em um lindo trono dourado com pedras azuis com preto. Do meu lado direito, bem perto da parede, cada família estava junta dando um espaço longo para todos identificar que cada grupo era um clã. Os Alkes estavam no meio e brigavam com os Schifino que era composto por apenas três nobres, incluindo Rayran que abanava em minha direção tirando a atenção de Aron de sua briga com o avô de Aiken para mirar em mim. No lado dos Waycheming Bruce também acenava para mim enquanto uma mulher, parecida com ele, nem olhava em minha direção. Não a reconhecia, igualmente a única sereia junto com Rayran e seu pai. — Triton. — Pisquei olhando em direção a Belial que me chamava para o canto esquerdo. Caminhei rapidamente querendo me esconder atrás dele, fazendo-o rir de meus atos. — Seu pai não está lindo naquele trono?! Tirando os olhos dos membros nobres foquei-me novamente no altar onde Ranzel se sentava tranquilamente em seu magnífico trono, ao seu lado existia outro onde papai Hardar estava sentado com suas pernas cruzadas e olhos fechados. Podia ver uma capa negra em suas costas, papai estava sentado em cima dela e, mesmo assim, podia notar o fio prateado que passavam em seu peito segurando o tecido como suas roupas negras. Ranzel estava de preto também, porém, não usava uma capa, apenas uma longa túnica belíssima bordada com ouro mostrando que ele era o líder dali. Vovô Reikal já se posicionava com um tridente ao lado de Ranzel como sempre. Side e Han adentraram rapidamente juntamente com um mensageiro que falou tão alto que pensei que suas cordas vocais iriam explodir. Não sabia como os mensageiros conseguiam gritar tão alto. Anunciava a chegada do rei dos mares profanando o nome de Aiken,

sorri finalmente vendo sua silhueta de longos cabelos vermelhos preso em um lindo rabo de cavalo, com seu caminhar ela se mexia. Sua coroa que ele mal-usava estava em sua cabeça, uma imensa capa vermelha vinho em suas costas. Suas vestes da cintura eram brancas onde deixavam suas coxas à mostra ainda mais quando ele caminhava, e seu corpo estava cheio de joias mostrando seu status. Atrás dele dois guardas que vinham junto permaneceram na entrada e, assim, a cada passo do Aiken os membros do clã se curvavam diante da imagem do rei. Aiken não prestou atenção em ninguém, apenas notando-me ele sorriu correndo ao meu encontro e me abraçando. Meu Aiken estava sendo ele mesmo. Sorri. — Com todos os presentes, queria anunciar algo antes da cerimônia Schifino começar. — Ranzel começava a falar erguendo-se de seu trono e pondo-se perto da escadaria. — Ao meu lado senta-se o meu sucessor como todos do meu clã sabem e agora apresento aos demais clãs. Seus braços apontaram em direção a Hardar que tinha seus olhos abertos observando cada um na sala. Papai não estava feliz com aquilo, ele não queria se tornar o líder, apenas fazia por algum motivo, talvez proteção. Se caíssem nas mãos de Aron nem sei o que poderia acontecer até mesmo comigo. Aron jamais poderia ser o líder. Ouvi a voz de Belial em minha cabeça. Ele estava lendo meus pensamentos? Isso é invasão de privacidade! Eu sou seu pai, não fale de invasão de privacidade, nanico. Belial colocou a mão na boca rindo ao rosnar para ele. Ninguém me chama de nanico! Aron queria que Rayran se tornasse o próximo Schifino, mesmo sabendo que teria chances de ser Hardar, por isso ele influenciou Ranzel em colocar Rayran e você juntos. Ele me explicava. E não posso ler pensamentos, mas você está conectado comigo então é o mesmo que você estivesse falando comigo. Pisquei o fitando. — Você precisa bloquear, só imaginar um bloqueio, ou eu e Kaya continuaremos te escutando para sempre. E não quero escutar mais você falando como a bunda de seu namorado é sua parte favorita. — Belial colocou a mão em seu rosto deixando-me corado. Todos meus pensamentos ele sabia. Quis gritar naquele momento. — Hardar Schifino, primogênito de meu filho mais novo, Reikal

Schifino, será meu sucessor após minha morte. — Vovô apresentou meu pai. Aiken apertou meus ombros me puxando mais para ele, agora minha batalha iria começar. — Agora, vamos dar início à cerimônia! — Exclamou alto. — Triton, vá para centro do salão, Reikal Schifino também. Caminhei calmamente dentro do círculo menor no centro e assim vovô fez o mesmo, ele não sorria, tinha sua expressão fria como era obrigado e fechou brevemente seus olhos. — Se prepare. — Vovô avisou. — E comecem a cerimônia! — Ordenou o líder Schifino. Muitos não entendiam porque era meu avô que estava me traindo, mas não dei importância a isso, apenas me concentrei em Reikal que esticava seu braço para invocar sua arma. Respirei fundo olhando para minha própria mão. Não tinha água aqui, era uma batalha apenas de ataque e defesa. — Venha. — Ouvi vovô ordenar e, assim, uma enorme foice negra apareceu em sua mão. Tão bela, mas tão mortal. — Apareça. — Chamei minha arma. Que não apareceu. Arregalei os olhos a chamando novamente. Não! Isso não podia estar acontecendo, não naquele momento. Precisava de minha arma. — Invoque-a Triton, ou a cerimônia acaba e você perde. — Vovô disse baixinho. Meu coração se acelerou. — Comece logo isso! — Aron gritou. — Nem para invocar uma arma por segundos consegue! Olhei para papai Belial que tinha o cenho franzido olhando para as paredes. As trevas começavam a tomar conta do salão, elas estariam fazendo algum efeito em mim? Não, não podia permitir isso. — Ataque Reikal. — Ranzel tocou em seus olhos em uma expressão cansada e não aguentando mais o falatório de Aron que sorriu vitorioso em minha direção. Rosnei, algo naquele Sereiano fazia uma raiva surgir dentro de mim como nunca senti. Talvez pudesse ordenar as trevas e matá-lo também.

Dei um passo para trás vendo vovô avançar com sua foice. Não iria perder! Eu sou um Schifino, se minha alma não quer me ajudar, então buscaria outro tipo de ajuda, mas jamais perderia. Vi a foice baixar em minha direção lentamente, tudo parecia mais lento diante de meu olhar, e as trevas consumiam todo o salão dourado. Minha mão formigou e, sem comandar meu próprio corpo, apenas me defendi por puro reflexo. O sorriso de Aron se desmanchou e meus olhos se arregalaram vendo a lâmina da foice parar bem perto de meu ombro. Vovô sorriu e pude notar meu tridente quebrado parando a arma do vovô, no entanto, não faltava mais um pedaço do tridente. “Lute!” Berrei para mim mesmo deixando aquele fato de lado e afastando a arma de meu adversário de mim. Peguei com as duas mãos meu tridente verificando a ponta que antes faltava, foi ela que salvou meu ombro, minha alma finalmente estava completa. Sorri olhando para Belial que parecia não entender enquanto observava meu tridente. Ataquei vovô esquecendo os Sereianos no aposento, precisava vencer, lutar, mostrar meu poder. Movia meu tridente com tanta agilitada que me surpreendia, lâmina contra lâmina. Não atacava o ponto fraco de Reikal, apenas agia justo e com puro extinto. Chutei a foice tentando acertar Reikal para acabar logo com aquela batalha, mas ele era rápido demais. Sua velocidade me surpreendia, porém, era de se esperar do único Sereiano que venceu o monstro Ranzel, o mais poderoso do clã. Vovô era habilidoso demais, seus golpes eram com precisão, rápidos e se quisesse fatais. Esquivei-me indo para trás, ofegante. Não conseguia ultrapassar sua velocidade, assim nunca conseguia vencêlo, precisava usar a cabeça, fazer algum plano. — Isso está um tédio! — Aron voltou a importunar. — Essas batalhas já foram mais rápidas e interessantes. — Murmurou o líder dos Alkes. Irritantes... — Reikal. — A voz forte de Ranzel soou. — Use. Usar o quê? Pelo olhar arregalado do vovô não era boa coisa para mim.

Aron resmungou desviando o olhar, não entendendo seus atos. Reikal suspirou se posicionando novamente no círculo menor, com nossa batalha saímos dele, todavia, desde que não saísse do maior a batalha continuava, mas isso só valia para mim. Vovô podia sair ou ser empurrado para fora, porém, apenas a batalha estava finalizada se eu caísse para fora. Algo injusto? Talvez. Reikal girou sua foice tão rápida que não vi quando ela mudou. O segundo nível de uma arma, Reikal tinha liberado a dele. Uma foice dupla onde seus dois lados tinham belas lâminas negras em curva, vovô segurava no centro da arma em seu cabo gélido a girando com habilidade, se uma lâmina já era difícil se esquivar dele, não queria experimentar duas! Ele colocou sua arma para trás do corpo fazendo um estouro ao ser colocada no chão, ela era tão pesada assim? Para seu usuário ele não sentia o peso, mas para o que estava em sua volta sim. Flexionando os joelhos, ele moveu seus lábios em um “se prepare” e assim avançou. Ele estava pegando leve ainda, não queria nem imaginar como foi à luta contra papai Hardar. Arregalei os olhos sendo atingido e assim cambaleei para trás, atordoado apoiei em meu tridente enquanto sentia meu sangue escorrer por meu peito e cair manchado o piso dourado. A ardência tomou conta de meu corpo fazendo-me cerrar os dentes, pude ver papai Hardar erguer-se preocupado. Não podia deixá-lo naquele estado, precisava lutar. Vencer. Preciso vencer. Ter mais poder. Rugindo avancei novamente chocando minha arma contra a do vovô, não iria desistir. Iria vencer. Avançava sem pensar, deixando de lado até mesmo a ardência, estava tão cego pela vitória que nem notei que chegava perto do círculo maior, Reikal teve que me jogar para trás para não acabar a batalha, de um lado tinha há um pouco da ajuda dele. Cravei meu tridente no piso quebrando-o. O sangue ainda caia no chão e logo as trevas tomaram conta de todo lugar, não existia mais dourado, apenas a escuridão. Invoquei-a, invoque-nos...

Escutava várias vozes em minha cabeça, irreconhecíveis para mim. O sangue precisa ser derramado, do sangue nascemos... As palavras eram profanadas por vozes femininas e masculinas, não sabia contar quantos estavam falando, apenas as escutava por todo o lado. Seriam as trevas? Vovô hesitou, mas por ordens alheias ele precisou atacar-me, sua lâmina veio novamente em minha direção sendo bloqueada por meu tridente. Meus braços ardiam e, como daquela vez, meu corpo se movia por contra própria. Arregalei os olhos vendo minhas pernas se moverem para frente e meus braços guiarem o tridente que avançava ferozmente contra Reikal que teve que afastar, meu sangue ainda caia no piso negro sendo engolido, ele não manchava nada ali e, pelo visto, apenas eu e Belial conseguíamos vê-las. Ele saberia o que elas estavam tramando? Pai... Meus braços ardiam como se estivessem queimando. Cerrei os dentes cambaleando para trás e fincando novamente minha arma no chão, se permanecesse por muito tempo assim poderia perder a batalha, mas não conseguia aguentar a dor que apenas crescia indo em direção aos meus ombros. O que estava acontecendo comigo? Fitei em direção a Hardar que entendeu meu olhar, mas antes dele falar algo para Ranzel o cochicho voltou, mas dessa vez não eram palavras cruéis dirigidas para mim e sim de espanto. Eles estavam como eu diante da cena que se seguia. Minha arma tinha sido quebrada em vários pedacinhos que voaram como poeira brilhando em volta de mim. Segurando apenas o vento, olhei para meu punho fechado que segundos antes segurava o tridente. Era impossível uma arma moldada da alma quebrar-se assim. Engoli o grito ao sentir a dor aumentar nos meus braços e minha pele começar a escurecer. Todos me observavam não entendendo nada e era de se esperar, primeiro uma arma se quebrando e agora algo em minha pele mudando, não, ela não estava mudando, algo me cobria. As raízes cobriam-me e ficavam visíveis para todos, conseguia mexer meus dedos, aquilo parecia ser uma... armadura? Analisei as raízes cobrirem até meu antebraço, negra como a noite aquela armadura lembrava escamadas, porém, muito mais duras. Meus dedos se

transformaram em garras, e novamente ouvi as vozes. Um nome era profanado. Estiquei meu braço sendo guiado pelas trevas que me rodeavam, sentia meu cabelo balançarem mesmo que fosse impossível ter vento no local que estávamos. Ranzel ergueu-se de seu trono juntamente com meu pai com os olhos curiosos, Belial mantinha sua expressão surpresa. — Mystsu, apareça! — Repeti o nome que era citado para mim. Das trevas surgiu à arma que nunca tinha visto antes e, pelo arregalar dos olhos de todos, podia ver a surpresa, com o olhar mirado na direção à arma que se moldava em minha mão, agarrei firmemente seu cabo negro com enfeites que lembravam cristais, todavia, eles eram incolores. Grande como meu antigo tridente, minha nova arma, minha verdadeira alma, que se moldava diante de minhas mãos tinha suas lâminas negras enquanto os cristais percorriam todo tridente parando perto da parte afiada do objeto. Uma pedra azul se encontrava no centro. Um tridente negro com branco que brilhava como uma pedra preciosa. Girei o objeto cravando no chão onde quebrou muitas mais lajes do que deveria, uma onda de energia fez os pisos se quebrarem quando cravei o tridente. — A segunda liberação da arma? — Ouvi falarem. Não, não era uma segunda liberação e sim minha verdadeira alma. Vovô se preparou ao ver-me voltar a batalha. Por tanto tempo nunca tinha invocado minha verdadeira arma agora queria testa-la. Avancei contra Reikal que bloqueou meu golpe girando sua foice dupla, ele sempre fazia isso e avançava. Como tinha imaginado, a lâmina da foice veio em minha direção. Bloqueando seus golpes, fui para trás desferindo golpes e bloqueando os ataques que recebia, pela expressão de Reikal algo estava de errado e sua guarda baixa foi o suficiente para afastar meu tridente e em um giro com meu corpo, rebati na arma de Reikal que voou para fora do círculo. Sorri. Tinha conseguido. Reikal foi para trás segurando o braço olhando para o membro, ele movia seus dedos várias vezes como se sentisse câimbra neles. O silencio pairou sobre o local e muitos olhos se desviaram de minha direção, inclusive de Aron. Rayran foi o primeiro a sorrir comemorando o que deixou seu pai irritado.

Por longos minutos Ranzel manteve-se com suas órbitas surpresa me observando até começar a gaguejar e sussurros começar a surgir no salão dourado. Ele olhava várias vezes para Hardar que sorriu em minha direção, tinha vencido e meu pai estava feliz, minha próxima lutar o desafiaria e ganharia minha revanche de anos. — Triton mostrou suas habilitáveis e venceu, é com satisfação que informo o novo Schifino, o sucessor de Hardar, Triton Schifino. Todos fizeram uma reverência em minha direção incluindo os guardas reais e Aiken que piscou em minha direção. Vovô mandou um, parabéns para mim silencioso antes de deixar seu corpo ereto e se afastar para o canto da sala em direção a Aiken. — Esse meu Triton. — Aiken gritou para todos ouvirem e me esmagou em um abraço fazendo meu tridente cair no chão. Resmunguei o xingando enquanto ele ria. — Ainda tinha dúvidas que não podia vencer? — Ele sussurrou perto de meu ouvido. — Se você deseja vencer, vai vencer, não importa a hora ou dia, mas no final você consegue. — Que tal um banquete para comemorar? — Ranzel sugeriu ainda sob o altar. Podia ver seus olhos azuis se dirigindo para os tetos e as paredes, ele estava preocupado e ao mesmo curioso sobre as trevas em volta que não atacavam, não faziam nada. Elas até mesmo pararam de sussurrar para mim, o que estariam fazendo? Os sussurros voltaram concordando com o banquete não por causa da vitória, mas apenas para encherem a barriga. Nobres adoravam fazer feste e banquetes, suspirando, apenas os ignorei focando nas trevas que continuavam imóveis e silenciosas, achava estranhas suas reações além do mais não seria hoje que elas atacariam Ranzel? Segurei firmemente meu tridente o analisando, negro e branco se misturavam nele, no entanto, ele não deveria ser totalmente negro? Sou o filho das trevas, isso não fazia sentido. — Eles me irritam. — Ouvi Aiken sussurrar incomodados com a alegria que o nome banquete trouxe a todos. Sorri fraco, dando um pequeno beijo em seus lábios. — Quero te dar um presente. — Ele aumentou o tom de sua voz. — Meu Triton merece um presente à altura. — Aiken dizia dando alguns passos para trás.

Olhos curiosos viraram em nossa direção, e apenas foquei-me nas mãos de Aiken indo até seus cabelos e tirando a coroa dourado de sua cabeça, ela realmente era diferente da que me lembrava. Suas hastes douradas eram mais abertas, pedras brancas, cristais, estavam espalhados pelo objeto e assim que Aiken a colocou em minha cabeça imaginei que seria pesada e fria, porém, não pesava o suficiente para ser desconfortante e tinha até ficado pouco grande em mim. Tapando boa parte de minha testa, Aiken riu baixinho e assim me admirou como se eu fosse a estátua mais perfeita do oceano. Corei desviando o olhar. Todos tinham ficado quietos e pude ver várias órbitas de diversas cores em mim me deixando mais desconfortável. — Meu parceiro que governará o oceano comigo merece levar uma coroa própria. — Ele piscou para mim. — Presente de casamento. — Ele riu baixinho. Pervertido! Sorri me aproximando de seu corpo, queria abraça-lo, gritar pervertido enquanto o beijava na frente de todos, mostrando que não sou o tritãozinho fraco que todos me julgaram. Eu me tornei um Schifino, me entreguei ao rei dos mares, e levava uma coroa agora. Mas antes de entrar na brincadeira de Aiken em provocar os Alkes e Aron, meus joelhos fraquejaram não aguentando meu peso, minha visão ficou turva e assim apenas não desabei no chão graças aos braços de Aiken que me ajudou a ajoelhar-me no piso calmamente. Pisquei várias vezes tocando em meu rosto com a mão livre. Aiken perguntava o que tinha acontecido, o que eu sentia, porém, não conseguia falar nada, apenas me ajoelhar e segurar meu tridente firmemente. — Eu estou bem — disse aos minutos depois sentindo tudo voltar ao normal. Sorri em sua direção para mostrar que estava tudo bem, apenas tinha sentido minha visão falhar e minha cabeça doer, nada para se preocupar tanto. Pisquei notando os movimentos das trevas, finalmente elas estavam se manifestando fazendo Ranzel dar alguns passos para trás, ninguém mais podia vê-las e papai Belial mantinha-se indiferente fitando para o lado oposto de bisavô. Sua expressão denunciava que as sombras agiriam agora e justamente quando naquela mesma hora elas se tornaram nítidas para todos e atacaram o líder Schifino. Todos os visitantes arregalaram os olhos a cena que surgiu diante deles.

As mesmas raízes que me puxaram para dentro do mundo das sombras atacavam Ranzel com suas pontas afiadas não se importando o que acertava. Bisavô tentou lutar contra elas invocando sua arma, porém, isso não funcionava, Aron correu rumo ao seu pai e eu me desesperava com o meu que poderia ser uma vítima inocente naquele fogo cruzado. Papai Hardar tentava se afastar um tanto surpreso com as raízes que saiam de todos os lados, uma delas tinha atravessado Ranzel e outras ele conseguia afastar. Vovô Reikal se manteve imóvel não fazendo a gritaria que Aron fazia e defendia seu próprio pai. Não sabia se Ranzel foi cruel para seu quarto filho, todavia, o via lutar para proteger seu próprio pai. As trevas estavam irritadas e tudo em minha volta parecia acontecer lentamente, conseguia observar com calma e nitidez as expressões dos dois Alkes que não mostravam pânico, até sorriam fraco. Bruce estava segurando a sereia que tinha vindo com ele, e Rayran e a terceira filha de Ranzel se encolhiam em um canto. Até mesmo Han não sabia para onde ir decidindo se aproximar de Reykal que se mantinha imóvel ainda. O cenário era sombrio, e o sangue começava a jorrar de Ranzel, era algo que não gostava de ver, mostre e destruição, mas ao invés de me encolher perto de Aiken apenas conseguia me desesperar por meu pai Hardar que tinha sido atingido de raspão pelas navalhas das raízes. Queria ir até ele, queria parar tudo aquilo, no entanto não podia... — Pai! — gritei finalmente me erguendo. Aiken segurou-me novamente por ter cambaleado, por que eu estava assim naquele momento, em uma situação que deveria estar protegendo meu pai. Meus olhos se encheram de lagrimas em desespero, as trevas queriam atacar Hardar por ter o cheiro de Ranzel. Ele tinha ficado em contato com bisavô e isso o condenava agora. Precisava para-las... Desvencilhei-me de Aiken ao ver uma raiz ir me direção ao meu pai que já tinha sua arma em punho para se defender, papai nunca caia sem lutar, isso eu admirava demais. Sua arma sumiu de sua mão não precisando ser usada assim que Belial aparecer atrás dele o cobrindo com suas vestes longas que lembrava um casaco, jogando por cima de Hardar e o abraçando as raízes desviavam dos dois não dando importante mais. Sorri de leve ao ver Belial trazendo Hardar em minha direção, seguro. Mirei meus olhos em seus braços fortes, uma regata negra o cobria da cintura para cima e pude ver suas tatuagens que eram sua maldição. Eram

abstratas, sem forma algum tomando do braço ao pulso de meu pai, mesmo com seu olhar apenas em Hardar, podia notar que ele estava incomodado de estar “exposto”. Papai assim admitia que ficava muito mais belo do que escondido em baixo de roupas. Abracei papai Hardar com força. A voz de Aron ainda soava pelo salão, só que a dele era a única. Levando meu olhar até Ranzel vi seu corpo cair sobre o altar e o sangue escorrer pelos degraus. Escondi minha face no peito de meu pai não querendo mais ver aquilo, focando-se em meus pés, bati meu tridente no piso querendo que as trevas fossem embora, porém, não me lembrava o que tinha feito para ordenar que elas partissem daquela fez e isso não foi necessário. Vi as trevas sumirem do piso voltando ao branca e dourado e um raio de luz percorrer todo o local. Afastei minha cabeça do peito de papai apenas quando notei todos se curvando e assim logo atrás de mim, na patente da porta, a nossa deusa estava. Com seu tridente, igual o que tinha antes, em punho. Foi ela que fez aquele raio de luz percorrer tudo e expulsar as sombras. Virei-me observando o corpo Sereiano de nossa deusa, imaginei que ela não pudesse deixar a água. Mamãe sorriu para mim e assim se aproximou radiante e animava. Eu estava finalmente conhecendo pessoalmente minha mãe — Você cresceu tanto. — Ela tocou em meu rosto. Sua mão era quentinha, pequena e macia onde passavam uma energia tão boa. — E finalmente vocês dois deram próximo passo, achei que teria que fechar vocês de novo na caverna para se entenderem! Pisquei. O assunto não era bem visto agora, não quando existia um cadáver e olhos apavorados pelo salão, e, ela que tinha me conduzido até a caverna daquele pervertido? Tudo era seu plano? Desde quando? — Kaya. — A voz baixa de Belial soou fazendo mamãe tirar a atenção de mim. — O que faz separada da água? Sabe que perigoso demais! A vi suspirar e assentir. Movendo seu corpo em direção ao altar vi as raízes começarem a embrulhar Ranzel deixando Aron paralisado com sua arma em mãos. Elas queriam tudo de Ranzel, desde sua alma até sua carne e sangue, esse era o preço

por tê-las aprisionado tanto tempo aqui, longe de seu mestre. As trevas levaram o corpo de Ranzel deixando nada além de um espaço vazio. Aron se virou fitando-me, algo em seu olhar não me agradava e assim suas palavras começar a soar. — Isso culpa sua! Foi você que fez isso. Você é um monstro! Uma aberração como dizem. — Aquelas palavras ainda me machucavam. Não gostava de ouvi-las. Encolhi-me perto de Aiken que rosnou pronto para atacar Aron se não fosse pela silhueta mais baixa da deusa se colocando em sua frente e assim caminhando alguns passos em direção ao Schifino que hesitou. — Meu filho não tem nada com isso, fique ciente disso, ou pagará como seu pai. — Sua voz mesmo com toda sua doçura, saiu assustadora e assim seu tridente foi apontado para Aron que apenas assentiu baixando a cabeça. Ela voltou-se para os outros, fitando cada um dos membros ali. — A cerimonia acabou, os clãs podem partir, menos Rayran e meu pilar. — Ela falou olhando em direção a Bruce que a reverenciou. Os avôs de Aiken foram os primeiros a partir sem nem ao menos olhar para o neto, e assim Aron foi o último a deixar a sala. Tinha ficado surpreso que Han e Side não foram expulsos da sala. — Não vim aqui por causa de Ranzel. — Ela começou. — Vim aqui informá-lo, meu irmão, que o escudo foi rompido. Os olhos arregalados de papai Belial mostraram que essa notícia do escudo não era nada boa. Kaya se virou para Rayran que tinha uma expressão confusa, ele certamente não sabia nada da batalha contra mãe suprema, talvez nem soubesse da existência dela, e estar no meio de tantos Sereianos discutindo sobre o assunto apenas estava o deixando atordoado. Não sabia por que a deusa pediu para ele ficar, no entanto, ao mover-se até ele teria minha resposta logo. Ela sorriu para Rayran que apenas piscou. — Precisarei de você também nessa batalha. — Ela dizia colocando sua mão no rosto do tritão. — Você treinou tanto até hoje, vai se sair bem, além do mais. — Kaya se virou para multidão que se reunião. — Você estará sob a responsabilidade de Reikal. Arquei uma sobrancelha, mirando em vovô que parecia também surpreso.

Reikal não respondeu ou reclamou, apenas assentiu. Uma luta como aquela seria difícil e nada melhor que ter mais guerreiros lutando, não sabíamos se a mãe suprema viria sozinha, mesmo poderosa ela certamente teria aliados ao seu lado e era melhor prevenirmos nossos movimentos. Rayran era apenas um filhote que estava sendo usado por seu próprio pai e Kaya estava cortando essas raízes e o colocando nas mãos de vovô Reikal. Dando ordens para cada um ali, como notícias, ela voltou-se para mim. Parando em minha frente ela sorriu e assim ergueu seu tridente batendo na cabeça de Aiken que me soltou choramingando alto. Ele resmungou tocando em sua cabeça ruiva e assim segurei o riso. — Isso por demorar a encontrar Triton! — A deusa o ameaçou novamente fazendo Aiken fugir para trás de mim. — Eu o coloquei várias vezes em sua frente! Encontrar? Colocar várias vezes na frente de Aiken? Do que ela estava falando? — Do que está falando? A deusa me observou e assim virou em direção ao meu pai que estava empurrando Belial para longe de seu corpo, mas não adiantava muito. Suspirando, ela voltou-se para mim. Mais uma coisa que ele me escondia, novamente. — Apenas não sabia controlar o tempo. — A voz de Belial era de tom zombeteiro. O vi rir e abraçar Hardar que tinha desistido de empurra-lo. — Toda vez que você cruzou eles, Triton era filhote demais, apenas o tempo da caverna você acertou, e devo admitir que foi divertido ver as cenas do suposto “polvo assassino”. — Ele gargalhava. Corei fortemente, ele sabia daqueles pensamentos? Que pai era esse que falava algo como aquilo na frente de todos! Bati o pé furioso o fazendo apenas rir mais, agora entendia plenamente quando Hardar queria soca-lo, iria me vingar! Deus ladrão de siris. Para minha sorte Aiken não tocou no assunto. — O tornei prometido de Aiken desde que nasceu, você era especial e imaginava que muitos dos Sereianos não o aceitariam pelo tom de sua pele, assim, o uni com um de meus pilares que estavam dispostos de fazer seguir minhas ordens. — Ela falava desviando seu olhar em direção a Belial que tinha voltado a importunar papai Hardar.

Fitei em direção a Aiken o abraçando mais forte, sentia muitas vezes a água em volta de mim mais... Chamativas quando lembro-me de estar próximo a Aiken. Não sabia quantas vezes tinha cruzado com Aik no oceano, mas recordo de sempre ser atraído em sua direção como em uma festa que me perdi de Hardar, ou na caverna, o que me fazia perguntar, quantas mais vezes ficamos tão próximos? Quantas outras tentativas da deusa para nos unir tem que eu não recordo? Queria esconder meu rosto no peito do meu pervertido, não ouvir mais nada que pudesse mostrar que meu coração foi manipulado para cantar por ele. Não aceitava isso! Não era possível fazer isso. Meu coração ama e deseja apenas meu Aiken, o único tritão desse oceano. — Mas fico feliz. — Ela voltava a falar dessa vez não desviando o olhar dos meus. — Amor de vocês dois superaram tudo que planejei, não precisei mais estar em controle nenhum, guiar ninguém, vocês dois fizeram isso sozinhos, deram grandes passos juntos. Kaya cortou sua frase se virando em direção a Belial e Hardar que tinha seus olhos fechadas e braços cruzados mostrando que logo acertaria papai Belial se continuasse suas brincadeiras. Aqueles dois nunca mudavam, talvez fosse as atitudes que compõe meu pai deus que fizeram e fazem Hardar amá-lo tanto, como eu amo o pervertido ruivo ao meu lado. — Querem dar as notícias? — Ela sorriu amistosa. — Tenho uma cerimônia para ajudar a preparar, e como pais isso com vocês. — Ela sorriu travessa vendo as expressões de seu irmão. Belial cruzou braços imitando papai e fazendo um bico. Kaya foi guiada por Reikal que levava aos empurrões Han que chorava para ficar, com a ajuda de Rayran que sorriu em minha direção ao passar em minha frente, Aiken rosnou incomodando me abraçando possesivamente. Depois eu era o possessivo... Bruce passou atrás de mim bagunçando meus cabelos e avisando que não poderia ficar para cerimonia por quer voltar para seus filhotes, com pouco que fiquei ao lado dele pude notar que ele não largava seus filhos para nada, porém, era menos ciumenta que o outro pai de Hut. Side aproveitou a brecha de Aiken que enxotava Bruce que gargalhava e assim sussurrou baixinho que me esperaria nesse local da cerimônia que como eu, ele não sabia onde ficaria. Ri baixinho chamando atenção de Aiken que diferente dos outros, ele não enxotou Side, não sabia o motivo.

— Você é possessivo até com os ômegas... — Papai Belial falou emburrado em direção a Aiken que apenas virou seu rosto. Ômegas? Do que ele falava? Percebendo meu desentendimento, ele suspirou mostrando sua expressão que começaria uma história. — Ômegas são aqueles Sereianos que todos conhecem por Yin. E aqueles que podem engravida-los são apenas alfas, Sereianos machos que não podem gerar. — Belial sucintamente sanava todas minhas dúvidas. Então Yin tinham outro nome que os dominavam. — Mas não é esse assunto que Kaya deixou para nós. — Ele apontou para papai mesmo falando no plural. Hardar o deu uma cotovelada fazendo-me rir. — Resumindo tudo. — Belial sorriu brincalhão. — Você está buchudo. Agora podemos ir comer? Estou com fome. Hardar tocou em sua testa balançando a cabeça, e eu fiquei com minha testa franzida não entendendo aquelas palavras. O que era buchudo? — Você é um deus! Não morre de fome! — Sou deus que gosta de comer! — Ele exclamou balançando seus braços. — E adora um certo tritão, deixa te morder? — Ele colocou a língua para fora segurando o riso quando meu pai avançou contra ele querendo soca-lo. Esquecendo a tal palavra “buchudo”, me escorrei em Aiken que também tinha uma cara que nem estava nesse mundo e assim assisti papai Hardar querer bater em Belial. Era divertido isso neles. Belial se divertia, e assim fugindo dos socos de Hardar, ele o abraçou baixando todas as barreiras de meu pai e assim beijou sua bochecha fazendo meu pai tritão desistir de “lutar”. Ri baixinho da cena, era bom ver papai daquele jeito, Belial tirava completamente suas barreiras e o amava. — Agora podem me responder, o que é... — Gravido?! — Aiken berrou ao meu lado me assustado. Arregalando meus olhos o fitei como um louco, vendo suas órbitas vermelhas esbugalhadas enquanto miravam em meus dois pais, Belial gargalhou alto, soltando Hardar, que desviou sua cabeça para o lado contrário de nós, certamente envergonhado. — Triton está gravido? — Ele deu um passo para frente.

Belial assentiu como se fosse algo mais normal do mundo. Eu estava esperando um filhote! Como? Eu não era um Yin, nunca pensei que poderia gerar, no entanto, era algo maravilhoso. Eu poderia dar uma família para Aiken! Termos um filhotinho, carrega-lo em nossas costas. Sorri de leve. Poderia gerar, eu já estava gerando! Qual nome colocaria nele? Seria ele ou ela? Uma mini miniatura feminina de Aiken seria uma gracinha, todavia, meus sonhos logo eram devastados, não pelas trevas que se acumulavam em volta de mim, de meu tridente, e sim de lembrar da batalha que teríamos. Eu teria que ficar de fora ou mataria essa criança, se eu fosse ferido eu perderia meu filhote... — Kaya tem alguns planos para isso. — Belial respondeu minhas inseguranças que rondavam minha cabeça. — Ela fará mesma coisa que foi feito com você, seu filhote será gerado pela água até a luta acabar e depois ele poderá voltar para dentro de você se quiser, ou deixa-lo ser gerado na bola de água. Não! Queria gerar meu filhote, vê-lo nascer e seu rostinho pela primeira vez... E se a luta não fosse agora? A mãe suprema não tem data, nem prazo. — Por enquanto, vamos continuar, deusa suprema não tem data, porém, ela é imprevisível, temos que estar sempre preparados. — Ele afirmou se aproximando de mim. — E parabéns meu filhote, você está virando adulto. — Ele bagunçou minhas madeixas escuras. — Seu pai emburrado ali, está com ciúmes e triste que você vai parar de ser seu filhotinho precioso para virar um adulto. — Ele riu piscando. Aiken me abraçou envolvendo seus braços em volta de meu rosto, sorrindo e saltitando como um golfinho. Ele estava feliz. Nós teríamos um bebê!

20° ESCAMA DE TRITON Beijos e mais beijos. Os lábios de Aiken desciam por meu corpo quentes e molhados. Mordi meus lábios fechando os olhos e deixando que meu corpo recebesse uma onda de êxtase enquanto meus dedos agarravam as madeixas vermelhas com força. Aiken tinha ficado muito feliz quando recebemos a notícia do nosso bebê e agora só faltava ele partir a água ao meio para não me machucar. Sua atenção estava focada em mim como preocupação, a cada segundo ele perguntava se não sentia dor alguma. Belial tinha me explicado que Aiken pelos extintos que Sereianos tinham iria ficar mais agressivos com outros em minha volta, que representasse perigoso para ele. O que explicava sua agressividade com Rayran. Quando Aiken chegou no palácio ele atacou Rayran por ter sentido meu cheiro nele e assim seus extintos o alertaram que ele era perigo, porém, até agora Side ficou ao meu lado e Aik ficou normal seria por reconhecer já seu cheiro ou vê-lo como uma não ameaça? Sentei na cama de papai enquanto aquele pervertido continuava abraçado em mim beijando minha barriga lisa, não tinha notado nenhuma mudança em meu corpo, e perguntava-me se teria alguma. Pelo que tinham avisado a cerimonia seria hoje ainda o que respondia sobre o movimento nos corredores, todos os empregados corriam contra o tempo por ordens de Kaya. Papai tinha sumido com Belial e assim voltei para o quarto com Aiken que não me soltava mais, sorria vendo cantarolar que teria um bebê e sem dúvidas Aiken seria um ótimo pai. Talvez um parceiro de crime ou chefe do crime, mas um ótimo pai. Podia ver em seu sorriso e no brilho de seu olhar que esse bebê seria sua maior alegria. — Será um macho ou uma fêmea? — Perguntei tentando tirar o silencio do ar como os atos safados daquele tritão. Aik sentou-se em minha frente fazendo uma cara pensativa, certamente essa foi a única coisa que ele não pensou. — Acho que uma menina. — Ele ergueu os braços. — Uma linda garotinha igual meu Triton. Ri alto. Era claro que nosso bebê não sairia com apenas uma aparência. A mistura dos genes Alkes e Schifino são fortes o que daria uma mistura. Talvez o cabelo preto uma menina de cabelos pretos, olhos vermelhos, ou o contrário.

Antes de continuar nossa conversa sobre a aparência da nossa suposta filha, que nem sabíamos se seria menina, as portas do quarto se abriram revelando um Hardar de mau humor, papai Belial vinha logo atrás fechando as portas. De início meu pai nos observou sentados na cama até eu sorrir como um bobo para ele, não se demorando, meu pai sentou-se ao meu lado me trazendo para perto dele. — Algum problema? — perguntei preocupado. Hardar desviou o olhar, ele estava irritado, o que mostrava que não tinha nada de errado na cerimônia apenas seu desejo de não se tornar líder crescendo. — Eles vão chamar quando estiver na hora de se arrumar. — Foi Belial que respondeu escorado na porta. — Você vai ser um ótimo líder! — disse a ele. — Você é o melhor pai, ser o melhor líder desse clã! — Tentava encoraja-lo. — Eu nunca quis me tornar um líder. — Sua voz era baixa. — Você já conversou com vovô? Depois do que... aconteceu. — Não sabia como falar sobre minha cerimonia onde a morte de Ranzel aconteceu. Pelas expressões que vi dos empregados, alguns mostravam alegria em fazer a nova cerimônia, outros dúvida e medo. Não conseguia muito decifra-los, porém, o que tudo indica era que estavam felizes por ter um novo líder, todavia, apreensivos de como esse Sereiano seria agindo como rei dos Schifino. Papai nunca ficou muito tempo ali, ao completar sua maior idade, ou até antes, ele partiu com Erial não deixando todo seu clã o conhecer, no entanto, sabia que ele seria um governador maravilhosos e justo. O abracei, eu não queria perde-lo, ao aceitar o pedido de casamento de Aiken meu caminho mudou, eu devo permanecer ao seu lado na plataforma, agora longe de meu pai, dos meus dois pais. Papai Belial faria de tudo para viver ao lado de Hardar debaixo da água, e ficava feliz. Eles teriam um ao outro. Hardar apenas suspirou alto. — Não quero tocar no assunto. Como ele pediu, não toquei mais no assunto. Meus pais foram na frente se preparar para a cerimônia, e eu aproveitei aqueles momentos de paz, sem trevas, luz, deuses, ou mãe suprema louca por destruição. Era apenas dois Sereianos sorrindo um para outro, uma cerimônia, um clã e paz. Saia do quarto de mãos dadas a Aiken que logo teve que voltar correndo aos aposentos para pegar sua coroa, desde que ganhei a minha não a

tirava, era um presente do meu tritão pervertido. Permanece no corredor vazio e silencioso esperando. Fitei as paredes brancas e os tetos com pedras que iluminava o palácio, não tinha visto mais as trevas, mas foi apenas me lembrar delas para se manifestarem em minha volta, inquietas, as ignorando, virei para o outro lado tendo a certeza de ter visto um vulto de longos cabelos vermelhos. — Aiken? — Minha voz ecoou pelos corredores sem nenhuma resposta. Olhei para os dois lados sentindo apenas as trevas em minha volta, bem agitadas. As segui indo na direção de ter visto a silhueta ruiva. Pensei que era Aiken, estaria vendo coisas? Depois de ter visto minha própria sombra em minha frente não duvidava de mais nada. Além do mais, poderia ser mais um jogo das trevas. O corredor que cruzava o que me encontrava era um que levava até uma grande janela debaixo da água, o sol batia na superfície iluminando o chão branquinho fazendo sombras de ondas. Transparente e resistente, me aproximei das vidraças notando alguns peixinhos passando para todos os lados, uma linda paisagem. Até ser alertado pelas sombras. O ar faltou em meus pulmões por alguns segundos, meus olhos se moveram tentando acompanhar o dono dos longos cabelos vermelhos que passava por mim tão rápido como as correntezas do oceano, mesmo que tenha sido apenas segundos que não sabia como tinha acompanhado, vi um sorriso cínico aparecer enquanto o restante de sua face era oculta pelas madeixas e assim ao me virar não havia ninguém. Arregalei os olhos mirando em todos os lugares, até mesmo lá fora. Nada. — Noah? Aquele era Noah? Como? Corri para o outro corredor não encontrando nada, apenas o vazio e o silencio. Eu não estava delirando, eu vi a cabeleira ruiva passar por mim. Corri para o outro corredor rumo a minha resposta, porém, a única coisa que encontrei foi uma silhueta forte na qual bati quase caindo para trás. As mãos fortes de Aiken me seguraram antes de ir para chão, fitei as órbitas confusas que me analisavam. Se ele tinha vindo nesse corredor então

Noah não poderia ter passado por ali ou ele teria o reconhecido, mas então para onde o Alkes foi? Apenas uma paranoia minha. Sorri para Aiken o abraçando o que o deixou ainda mais confuso, ele não perguntou nada apenas retribui o abraço e assim continuamos. Apenas quando adentramos um imenso salão que Aik voltou a falar, brincar com a decoração, todavia, apenas tinha olhos para o imenso local que me encontrava. Tão grande como o salão dourado, aquele aposento deveria ser três salões dourados. Grande, luxuoso e brilhoso pelas pedras no teto. Seu piso era escuro como a noite, sus quatro pilares grossos eram do tom negro com dourado. Ouro. Suas paredes eram folhadas a ouro, pilares, tudo ali até mesmo o teto levava enfeites de ouro como um vidro onde o sol iluminava o altar com um lindo trono. A sala real, ou também conhecida como a sala do trono. Caminhando sob o piso gélido, muitas cadeiras foram postas diante do altar que era cercado dos dois lados por dois pilares grossos. Os outros dois ficavam perto da entrada, as portas douradas que estavam escancaradas e dois guardas estavam de posto ao lado delas. Pelo local, vi empregados terminado de arrumar as cadeiras brancas e saírem correndo, os avôs de Aiken já estavam sentados na primeira fileira conversando baixinho, nenhum Waycheming ficou para ver a cerimônia, o que me fazia pergunta quem ocuparia o restante dos lugares. Separado em duas filas com quatro cadeiras um ao lado do outro. Side e Han já ocupava os assentos do lado direito enquanto os Alkes do lado esquerdo. Ouvi Aiken bufar ao ver seus avôs. — Quem mais vai vir? — perguntei curioso com tanto de aposentos. — Han e Side estão na primeira fileira certamente por que Reikal mandou. — Aiken deu um sorrisinho malicioso. Vovô Reikal e vovô Han tinha se acertado? Isso era bom. — Do lado direito os primeiros assentos são do clã Schifino, então Rayran, Aron e Nemeli vão se sentar junto com Han e seu amigo Blynalvor. — Aiken me explicava. — E nós? — Segurei sua mão. Aiken pareceu tristonho. — Sou um Alkes, devo me sentar ao lado de meus avôs. Se dirigindo em direção aos seus avôs, pisquei levando meus olhos até a

plataforma ao ver Side rindo baixinho e assim encontrando o motivo de sua diversão. Arregalei os olhos ao ver os dois tronos sobre a plataforma e um deles já estar ocupado. Alguns guardas tentavam tirar papai Belial que estava sentado de forma informal enquanto cantarola e ignorava os guardas. Balancei a cabeça, ele não tinha jeito. Aiken soltou minha mão sentando ao lado de seu avô que o ignorou e assim com passos firmes fui em direção ao meu amante sentando ao seu lado, Aiken ficou surpreso com meus atos e apontou para o outro lado abrindo a boca, todavia, apenas dei um tapa em sua mão e cruzei os braços. Sou seu futuro marido, então sou um Alkes posso ficar ainda eu quero, além do mais, sou o herdeiro do novo líder Schifino e decido onde desejo sentar. Aiken viu em meu olhar que não adiantava discutir, assim apenas endireitou o corpo sorrindo. — Ele é um deus, mas não tem etiqueta. — O avô de Aiken reclamou. — Que ele faz ali, o segundo acento é apenas para o parceiro real do líder, isso é uma falta de respeito! Suspirei, esse velho nunca parava de reclamar? — Papai Belial é amante de meu pai Hardar! Se está incomodado sugiro ir tratar diretamente com o deus da terra ao invés de reclamar baixinho, ou devo supor que está com medo dele? — Sorri com minhas últimas palavras. O Alkes ficou tão vermelho de raiva quanto seus cabelos, porém, não discutiu comigo. Do trono vi um sorrisinho brotar nos lábios de meu pai, ele estava escutando tudo. Ao ouvir passos, olhei para trás vendo o restante dos Sereianos que ocupariam seus lugares, muito reconheciam por ser empregados, no entanto, a verdade era que mesmo empregados eles eram Schifino. Todos com mesmo sangue que corre em minhas veias. Vestidos formalmente, machos e fêmeas sentavam-se ocupando todas as cadeiras. Por último Rayran e Nemeli, a filha de Ranzel, se aproximaram das cadeiras da frente, Rayran sentou-se ao lado de Side e a sereia atrás onde o último lugar seria de Aron que chegou por último. Até mesmo os guardas reais de Aiken adentraram o aposento como outros guardas Schifino e por fim abriram passagem para o começo da cerimônia. Belial ergueu-se rapidamente do trono deixando seu corpo ereto ficando em uma ponta enquanto todos fitavam a silhueta da Deusa surgir diante do altar com seu tridente. Com a expressão fechada, papai Belial fez o mesmo invocando

sua espada e colocando sua lâmina pousada em seu ombro. A deusa da luz, da bondade e da caridade, ao seu lado o deus das trevas, da destruição e do caos. Isso me fazia perguntar-me o que eu era, o que me tornaria. Todos se ergueram e fazendo uma reverencia a cada passo de meu pai. Ao seu lado vovô Reikal o guiava, com um manto branco com dourado elas se arrastavam no chão, seus braços fortes ficavam a mostra enquanto ao seu lado vovô tinha um manto negro com prata, toda a decoração nas vestes de um era prateada e do outro dourado. O branco e o dourado representavam a cor do líder, o branco a pureza, e o dourado a riqueza como também o poder. Sorri para meu pai que acariciou meus cabelos ao fazer uma reverencia a ele, Aiken também se curvou, todavia, os outros dois Alkes não. Convidados de outros clãs não tinham a obrigação de se curvar. Reikal deixou Hardar nos degraus do altar e assim se dirigiu as cadeiras, ficando ao lado de Han que sorriu em sua direção. Realmente eles tinham se acertado, podia ver os dois deixando os dedos se entrelaçar e fiz a mesma coisa com Aiken que sorriu para mim. Ao subir ao altar papai se virou para sua multidão que endireitaram seus corpos. — Diante dessa cerimônia começaremos a nova coroação ao novo líder Schifino. — Kaya falou. Um velho Sereiano adentrou o salão, sua barba era branca e larga, seus cabelos grisalhos, sua pele era tão enrugada e seu passo tão devagar e desequilibrado que alguns guardas tiveram que escoltá-lo. Um orador, o único que pode nomear um novo líder sem ou com o desejo do antigo, uma cerimônia não pode ser feita sem ele. O velho tritão subiu no altar ficando ao lado de Hardar, ele também tinha túnicas brancas com dourado, todavia, suas mangas cobriam quase todo seu braço. Ele era mais baixo que meu pai, encarando por um breve instante Belial, seus olhos azuis se arregalaram vendo a silhueta poderosa do deus das trevas. Nunca na história o deus das trevas participou de uma cerimônia dos Sereianos, papai Hardar realmente era abençoado, só queria saber o que Belial daria a Hardar de presente, qual benção nova seria. Passando o choque ele virou-se para todos observando um a um até cair seu olhar em mim e me observar por alguns instantes.

— Como Ranzel Schifino mandou, estou hoje aqui para nomear o novo líder, na qual o antigo escolheu. — Sua voz era forte mesmo para sua idade e condições. — Hardar Schifino, primogênito de Reikal Schifino, quinto filho de Ranzel Schifino, foi o nomeado, então perante aos deuses e do nosso clã, com a benção dos convidados dito agora que o novo líder. — Ele virou-se para meu pai. — É Hardar Schifino. Todos novamente fizeram uma reverencia rápida que não conseguia acompanhar. — A coroa Schifino pertence a você. — Ele disse com orgulho. De trás do trono Kaya pegou uma almofada com uma tiara de ouro com pedras azuis, a cor dos Schifino, ela apenas era um símbolo nenhum líder a usava, apenas Ranzel usava em momentos comemorativos. O orador pegou o objeto colocando na cabeça de meu pai que teve que se abaixar um pouco. Ele estava quieto até demais, seus olhos vazios nem se quer iam em Belial. Meu pai era novo líder. — Como presente, dou-lhe uma benção a você Hardar Schifino. — Kaya falou apontando seu tridente em direção a meu pai. — Conjure sua arma final. — Ordenou. Como pedido, papai conjurou sua arma tirando muitos cochichos orgulhosos de membros do clã, sua lâmina dupla, uma aparentando uma foice e a outra uma ponta normal de uma lança foi apresentada e assim o tridente da deusa tocou a arma de meu pai fazendo um tinindo baixo. Não sabia o que ela estava fazendo, porém, foi rápido e assim ela voltou com seu corpo ereto. — Agora você poderá destravar a terceira forma de sua arma. — Ela disse. Terceira forma! Belial deu um passo à frente fazendo o orador se encolher e ir para trás, sorrindo safado para meu pai, Hardar o ameaçou silenciosamente se ele aprontasse, todavia, o deus das trevas apenas apontou sua espada em direção ao Schifino. — Como presente, dou-lhe uma benção a você, Hardar Schifino. — Belial citou as mesmas palavras de Kaya, entretanto, sua espada tocou o ombro nu de meu pai. — Você terá mais resistência que qualquer outro Sereiano, e a força de sua arma duplicara com minha benção sobre a de minha irmã.

Hardar o fitou vendo o sorriso travesso de meu pai. Papai Belial não poupava dar benção grandiosa para meu pai, e diferente da deusa, ele não precisava se privar, poderia dar qualquer coisa a ele e apenas para ele. Kaya precisava dar a todos os líderes. — E com isso, a cerimonia está feita. — O orador voltou a falar ao ver Belial se afastar. — Saúdem nosso novo líder. Todos os Schifino se curvaram afastando cadeiras, imitando vovô Reikal, fiz o mesmo bem feliz mesmo sabendo que o primogênito do líder não precisava, mas queria mostrar meu orgulho ao meu pai. Ao meu lado Aiken fazia o mesmo deixando seu avô agitado e irritado. Bem feito. — Mas a cerimônia não acaba por aqui. — Todos ficaram espantados com as palavras de meu pai. Erguendo-nos, fitamos meu pai, o que ele planejava. — Sou o novo líder Schifino, porém, não posso largar meu propósito, meu filho e o rei. — Ele dizia fazendo Aiken franzir. — Jurei que seria o braço direito do rei, de Erial Alkes, e seu conselheiro, como jurei que ficaria sempre com um pequeno tritão ruivo que se grudava em minhas pernas. — Ele sorriu de leve. Fitei Aiken pelo canto do olho vendo-o sorrir de leve. — E todos os Schifino cumprem suas promessas, é assim que agimos, e desde que pisei naquela plataforma eu não tive apenas um filho, mas três que precisam de mim, crianças irritantes que me observam agora. — Papai olhou em direção a Aiken. — Como líder não posso abandonar um para proteger outro. Papai renunciaria o trono? Se ele fizesse isso a coroa cairia para mim, então onde ele queria chegar? Todos os olhares pregados em Hardar, ele suspirou. — Não estou apto para me tornar um líder, então nomeio agora o que me substituirá. — Todos arregalaram os olhos. Vovô Reikal era o que mais estava apavorado, com suas órbitas azuis arregaladas, ele deu um passo à frente não acreditando no que seu filho falava. Pisquei, olhando meu pai, ele não renunciaria o trono apenas colocaria outro enquanto estivesse fora, um substituto por assim dizer. Reikal seria esse. — Reikal Schifino ficara em meu lugar como líder Schifino. Todos se entreolharam e o orador fitou Hardar apavorado, um líder podia

decidir isso, apenas o rei do clã meu pai se tornou apenas para nomear vovô como o novo líder. — Ranzel o rebaixou! Ele não pode ser o próximo líder. — O orador falou. — Ranzel não é mais o líder, eu sou o líder desse clã, então minha palavra é a lei, o que decido deve ser feito. — Hardar falava de peito estufado fazendo o velho Sereiano se encolher e afirmar com a cabeça. Sem protestar, o orador apenas fitou em direção a vovô que era empurrado por Han que sorria. — Após a morte de Reikal, trono volta para mim e assim sucessoriamente para Triton Schifino. — Deu sua palavra final. Vovô subiu no altar após os empurrões de Han ficando frente a frente de seu filho. Papai sorriu para ele tirando sua tiara de ouro e colocando na cabeça de Reikal. Ele era mais apto para se tornar um líder, ele conhecia muito melhor seu próprio clã. Aplaudi sendo seguido por Aiken e os demais. Todos se curvaram diante da imagem de Reikal que tinha seus olhos assustados, mas podia ver uma pontinha de felicidade crescendo em seus lábios, acho que vovô sempre quis se tornar líder para acabar com a tirania de Ranzel e agora finalmente ele é. Hardar fez uma reverencia para seu pai e assim ficou ao lado de Belial que passou o braço em volta dos braços de meu pai. — Obrigado. — Reikal agradeceu baixo. — Contudo, isso tem um, porém. — Hardar voltou a falar. — Han precisa ficar ao seu lado, além do mais ele tem sangue Schifino, é apto para governar ao seu lado. Ri baixinho vendo vovô quase ficar uma lagosta na frente de todos e Han sorrir animado em seu lugar. Ele ainda amava muito vovô Reikal. Estendendo seu braço em direção ao amante, Han não tardou em saltitar até Reikal e segurar sua mão. — Minha primeira ordem como líder. — Começava baixinho. — É autorizar o casamento de meu neto com Aiken Alkes, do clã Alkes. — Vovô piscou em minha direção e sorri. Aiken apertou minha mão feliz e o queixo de seu avô caiu. — Vamos celebrar essa data com coxinhas! — Belial gritou especialmente para mim fazendo-me cair na gargalhada. Levando uma cotovelada de Hardar, ele resmungou alto antes de puxar

meu pai para si e beija-lo na frente de todos que ficaram abismados, sabiam do relacionamento de meu pai com o deus terra, porém, pelo visto nunca imaginaram que era algo sério e continuava depois de tanto tempo. Segurei o riso colocando a mão na boca em ver as barreiras de papai Hardar caindo, ele ficava envergonhado, entretanto, não empurrava o deus terra. Vi pelo canto do olho Aiken sorrir travesso como se fosse aprontar logo, e de fato ele iria. Quando papai se separou de Belial ele o socou fazendo a confusão surgir nos olhos dos presentes e os sorrisos carismáticos sumirem. Eles não entendiam como aqueles dois agiam. Belial apenas riu tocando no queixo, ele não tinha se afastado nada mesmo com o soco. — Esqueci que agora seu soco vai ser mais forte. — Choramingou ele ainda tocando no local dolorido. Sorte dele que é um deus. Virei-me para Aiken que tinha suas pernas cruzadas e observava atentamente tudo apenas para provocar meu pai depois, era seu maior hobby, provocar aqueles que amava. Analisando meu amante por alguns segundos, ele podia estar com roupas de um rei, cabelos amarados, introvertido na frente de todos, mas conseguia ver o brilho de seus olhos mostrando que mesmo assim ele continuava sendo meu Aiken abusado, pervertido e brincalhão de sempre. Agarrei seu braço chamando sua atenção. — Não era seu plano casarmos aqui? Depois da cerimônia de meu pai. — Era. — Ele respondeu rápido. — Porém, imaginei que também quisesse seus amigos por perto. — Continuava. — Erya não vai conseguir vir, Bruce teve que partir, seu amante também está lá, Oki vai demorar para mandarmos uma mensagem para ele vir, se Arkab deixar. — Suas últimas palavras soram irritadas. Aiken e Arkab jamais seriam menos do que inimigos. Oki estava preso por Arkab, ele fez isso para o irmão deixar-nos em paz, e não começar uma guerra desnecessária como ele quer para lutar e vencer Aiken, como líder dos exércitos ele teria esse poder. Uma vez Oki contou-me que seu irmão tinha bastante poder, influencia, mas mesmo assim era preço por correntes, correntes que ele conseguiu fugir e se esconder por algum tempo na divisa neutra, mesmo não gostando ele ficou ali por ordens de seu irmão que lutou para salva-lo das mãos de seu rei. Não sei muito sobre a histórias dos dois, nem sobre seus pais. Oki nunca

me contou, nem tivemos tanto tempo para isso. Sentia muita falta dele e me pergunta o que Arkab estava planejando levando Oki de volta ao reino dos Octopus. — ... tem sua amiga que não poderia chegar a tempo. — Aiken continuava a falar e não tinha prestado atenção em suas palavras anteriores depois de Oki e Arkab. — Então pensei em dançarmos na cerimônia dos amantes e depois fazer nossa festa no palácio chamando todos que conhecemos. — Ele dizia animado. Um grande banquete que papai Belial adoraria, seria divertido. Assenti, esperava apenas que Oki pudesse vir.

21° ESCAMA DE TRITON Em um piscar de olhos já estávamos diante das imensas portas do palácio Schifino, havia chegado a hora de partir. Entristeci-me, porém, sabia que não seria última vez que veria cada um que deixava para trás. Minha família. No salão os guardas corriam para seus postos, guardas reais adentravam a água cuidando e protegendo tudo. Han bagunçou meus cabelos tirando minha atenção dos soldados para focar em seus olhos que mostravam paixão e carinho, além de seus lábios que tinha um grande sorriso; ele finalmente estava feliz e ao lado do vovô Reikal. — Cuide-se, e não apronte demais — ele falou cutucando minha barriga lisa e desprotegida. Ri assentindo. — Iremos aparecer em seu casamento, e... — Han olhou em volta direcionando seus olhos a vovô que conversava com seu filho. — Obrigado por tudo. Não entendia porque ele agradecia a mim, foi Aiken e Hardar que o trouxeram aqui, eles fizeram toda essa mudança, apenas observei e escutei. Rayran se aproximou querendo se despedir confirmando que Aiken estava longe o suficiente sendo provocado por Belial que dava tapinhas em suas costas, abracei meu amigo bem rápido fazendo-o rir. Vovô Reikal foi o próximo a me despedir e assim voltei para lado de Aiken e Side, Han ficaria no palácio, todavia, seu irmão caçula voltaria para Kastra. Pensar nela não tinha mais o mesmo efeito como antes, talvez agora pudesse experimentar mesmo a sensação de amizade com ela. Apertei a mão de Aiken que sorriu para mim, meu único tritão pervertido. Papai Belial bagunçou meus cabelos dizendo para tomar cuidado na volta, sabia que ele não podia entrar no oceano então precisaria passar por seu mundo antes. O abracei forte antes de me voltar para o grupo de soldado que já rodeavam Aiken, meu pai e Side. Adentrar a água gélida causava uma sensação de estranheza que percorreu meu corpo, minha cauda apareceu e nadei ao lado de Aik, cuidando algum sinal de siris azuis na terra, apesar de vontade de comer lagostas e coxinhas queria me deliciar com uma caça, esquecer o formigamento que sentia

em meu corpo, da sensação esquisita que me rodeava. Meu coração se acelerava tão rápida e algo dentro de mim se agitava. Seria meu bebê? Não sabia o que estava acontecendo comigo, apenas meu corpo passou a não querer continuar, temeroso. Todos em minha volta diminuíram o nado para me acompanhar, porém, no final fui carregado por meu pai em suas costas, Aiken ficou o tempo todo preocupado comigo ainda mais agora com nosso filho, mesmo não sentindo dor, não sendo nada das preocupações deles, fiquei em silêncio escondendo meu rosto nas costas de meu pai enquanto meus braços estavam sobre seus ombros e minha cauda balançava às vezes, nem ela queria se mexer. Algo estava estranho. Analisei os peixes, eles nadavam contra nós sempre para o sul, mesmo as espécies que não migravam estavam fugindo de algo, seria algum predador? Sharkan ou Octopus atacando? Não, ou os guardas bem mais à frente voltariam rápido avisando, tudo estava normal, menos as atitudes dos peixes. Fechei os olhos por todo o trajeto reabrindo apenas quando todos diminuíram o nado e os guardas se separaram, vários Sereianos logo abaixo nos observavam. Papai me soltou fazendo-me nadar ao lado de Aiken que me puxava. Não me preocupava com os olhos transbordando vários sentimentos de meu povo, apenas fitava fixamente a parte subaquática da plataforma. Dentro dela havia mais do que um calabouço que entrei, o palácio era tão grande quanto os do Schifino e ficavam sobre aquele metal e pedra. Dizem que um dia foi maior, antes da ira de Kaya e pergunto, por que não criaram uma cidade subaquática? Apenas casas tinham tecnologia para andarmos como humanos dentro. Pisei na plataforma silenciosa como nunca. Algo em minha volta estava inquieto fazendo meus olhos se erguerem ao céu e perceberem algo estranho. Uma mancha branca que lembrava uma nuvem e poderia muito bem enganar a todos pairava grande no alto, talvez apenas aqueles que tinham benção dos deuses conseguiam ver pelo fato de meu pai ter seguido seu olhar e franzido. Aquilo não era normal. — Guardas! — Quase pulei ouvindo a voz forte e poderosa como nunca ouvi de Aiken. Ele chamava seus guardas que não apareciam como todas às vezes, apenas os que tinham vindo conosco tiravam suas cabeças de dentro da água

observando, também não compreendiam o silêncio e a falta de soldados. Sem aviso Aiken moveu-se rápido para dentro do castelo passando por suas portas vermelho vinho, a única cor que destacava a arquitetura branca e cinza. Queria correr atrás dele, porém dedos que conhecia bem seguraram meu braço me puxando de volta, fitei meu pai que analisava cada canto do local, cada nuvem no céu, ele sabia que algo também acontecia. Aiken, e se algo acontecer com ele? Precisava ir atrás dele. Papai me soltou, mesmo assim não consegui dar mais de dois passos batendo no peito forte de Belial que apareceu do nada. Resmunguei tocando em meu nariz, todavia, ele nem prestou atenção em mim apenas tinha seus olhos apavorados mirando em Hardar. — Precisam sair daqui, agora! — Sua voz mostrava pavor. Papai entendeu o recado e pegou-me pelo braço, me puxando rumo a água. Não entendia, se deveríamos lutar contra a mãe suprema por que não fazer agora quando ela finalmente iria aparecer? Simples, porque sou um empecilho novamente para eles e papai Hardar precisa me esconder até Kaya vir até mim, como sempre um inútil... Nunca passaria disso? — Princesinha, princesinha. — Uma voz que conhecia muito bem cantarolou atrás de mim. — Vai ir embora sem se despedir de mim? Mukay! Virei-me encarando suas órbitas de um tom de azul que parecia muitas vezes que eram verdes. Ele não sorria com crueldade, não tinha uma posição ameaçadora, até sua espada estava apontando para baixo, limpa. Ele a guardou e assim jogou um punhado de roupas em minha direção me atordoando, o que ele pretendia? Belial se moveu em minha frente bloqueando a visão que tinha do tritão e assim invocou sua Baal apontando na direção dele, vi a lâmina negra de meu pai fazendo algo chamar minha atenção, a espada de Mukay, da última vez que a vi era uma lâmina prata com detalhes em dourado, mas agora ela era totalmente branca, desde seu aço quanto seu cabo, apenas os detalhes em dourado permaneceram. Ele tinha guardado sua arma em um modo de dizer que não queria lutar, mas meu pai não queria saber disso, pronto para atacar. Fitei o tecido em minhas

mãos, lembrava o que Bruce sempre usava mesmo dentro da água, preto como meu cabelo. Mukay queria que eu me vestisse por algum motivo, e sentia ele. Sentia a luz se aproximar com tanto poder que jamais senti. Vendo outro tecido junto estendi a meu pai e assim ajeitei-me mesmo meu pai querendo me puxar para água. — Não adianta mais fugir — disse a meu pai, tão baixo que mal consegui escutar minha voz. — Ela está vindo... Papai Hardar arregalou os olhos parando. Não adiantava mais fugir. — Princesinha, vim avisá-lo, não o machucar. — Mukay tentava se desviar de Belial que o cuidava como uma deliciosa presa. Me avisar de quê? — Você precisa vencer, nossa única esperança é você, a mãe suprema tem guerreiros ao lado dela, você precisa vencê-los, unir-se aos seus amigos. — Finalmente papai tinha deixado Mukay se aproximar se afastando. Ele olhava para os lados como se sentisse algo. Foquei meu olhar em Mukay, ele parecia tenso e com medo do futuro. Deu um passo à frente, existia algo que ele não me contava, conseguia ver em seu olhar. Algo que nunca pensei em encontrar naquelas órbitas que um dia me fitaram com nojo e crueldade estampadas, ele tinha mudado tanto, tinha sido uma das mudanças mais bruscas que já vi. Mukay temia o futuro e pedia para eu lutar, salvar a todos. Abri a boca para perguntar o que estava acontecendo, o que ele sabia e, mesmo não dizendo nada, a resposta veio logo em seguida. Pelo canto do olho o vi novamente, senti sua presença em cima da hora como pude enxergar seu sorriso cínico ao passar por mim. Noah. Virei-me rapidamente arregalando os olhos ao ver sangue espirrar em minha direção, da surpresa estampada na face de meu pai e de suas pernas cedendo indo ao chão. Um grito travou em minha garganta como minha voz, o pavor me assolou enquanto apenas pude escutar a voz de Belial profanando o nome de papai Hardar. Meus olhos marejaram e meu corpo se jogou para frente rumo ao meu pai, lágrimas escorreram sem minha permissão enquanto o segurava para não ir com tudo ao chão. O ouvi grunhir em parte pela dor, mas também por ter baixado sua guarda.

Noah tinha desaparecido novamente em um piscar de olhos, não sabia como ele fazia isso e meu pavor nem queria saber disso agora. Choraminguei por meu pai que tentava se manter aquele guerreiro que era não sendo vencido por uma ferida, podia ver o sangue manchar o chão, ele tentava se mexer. — Pai... — Choraminguei novamente. — Pare de chorar em meu ouvido, pirralho! — Sua voz era fraca, todavia, ele tentava manter a graça. De joelhos no chão, ele analisou o estrago em seu corpo enquanto o sangue não parava mesmo que ele tentasse estancar. A lâmina de Noah tinha pegado pouco abaixo de sua costela e, por sorte, meu pai não estava morto, talvez nem era esse o objetivo de Noah ou talvez não teve a chance. Ouvi o tilintar de lâminas, ergui meu olhar em direção ao meu outro pai vendo-o chutar Noah para longe onde o mesmo gargalhava como um louco enquanto seus cabelos da mesma tonalidade dos de Aiken caiam em seu rosto. O tritão que quase matou meu pai era idêntico ao Sereiano que amava. — Você é tão fraco como me foi dito — sei que suas palavras não são para Belial que aproveita a baixa de Noah correndo rumo a meu pai. — O nascido hibrido, o semideus, matador de deuses, a arma dos deuses — ele citava todos apelidos possíveis para mim, alguns nem tinha escutado. — Patético. O vi mover seu corpo enquanto ajeitava seus longos cabelos vermelhos podendo notar que de um lado eles eram raspados concentrando toda a cabeleira no lado esquerdo, tão compridos como o de Aik, seus olhos em um vermelho igual ao do irmão e seu corpo cheio de músculos. Ele sorriu cinicamente enquanto seus olhos brilhavam junto com sua lâmina branca banhada do sangue de meu pai. Com partes de uma armadura pegando em seu braço direito que levava a arma, suas vestes brancas da cintura estavam protegidas por mais partes de armadura metálica que o deixava caminhar suavemente, ele tinha sacrificado boa parte do objeto apenas para poder se mover rápido. O deixando vulnerável também. — Pensei que poderia ter uma luta com você, mas vejo que é apenas um filhotinho desolado e fraco — ele fez um bico tristinho para provocar ainda mais. — E você ficou fraco, Mukay — O reprendeu fitando o tritão que não tirava seus olhos sobre mim. Mukay não falou nada apenas se afastou fazendo Noah rosnar. — Não adianta tentar estancar o sangue ou fechar o ferimento, uma

ferida feita pela luz nenhum ser das trevas consegue curar — Noah gargalhou. — E a deusa água não vira salvá-los. Pisquei fitando em direção a água, então era isso que sentia nela, em sua inquietude, o gélido e a sensação estranha, era porque minha mãe não estava nela. A mãe suprema tinha a prendido em algum lugar. Mãe... chamei em meus pensamentos, sem resposta. Belial ergueu-se novamente com sua arma em punho fazendo Noah rir cinicamente balançando um não com seu dedo indicador. — Sou protegido pela mãe suprema, sua arma não pode me ferir, apenas uma arma da luz — ele sorriu vitorioso. — Pobre dos deuses das trevas, impotentes, fracos e... — Ele fitou em minha direção — patéticos. Errado! Uma arma normal poderia feri-lo, matá-lo. Foi por isso que ele tentou se livrar de meu pai primeiro, pelo fato dele ser o único tendo uma arma normal capaz de vencer Noah, como também, ele foi esperto tentando eliminar seu pior adversário em primeiro lugar, porém, falhou em partes. Hardar não podia lutar e isso dava a vitória a ele, no entanto, ainda tinha meu pai. — Vamos acabar com isso, filho dos deuses — ele ergueu sua arma. Papai grunhiu de dor apertando no local onde podia ver um tipo de raiz branca crescendo. Uma arma da luz pode matar um mortal, como uma arma das trevas, todavia, não podia anular aquele efeito, não podia fazer nada pelo meu pai apenas vê-lo morrer em minha frente. Belial ergueu-se furioso mesmo sabendo que não podia ferir Noah, ele sentia muita raiva, tanta que podia sentir as trevas em volta dele me afetarem. As trevas de um deus normal não ganhavam de um supremo, Belial não tinha chances, antes dele atacar Noah um novo adversário apareceu jogando o Alkes para longe. Levei meus olhos cheio de lágrimas rumo ao meu Aiken que urrava de pura raiva, em suas órbitas via que tinha chorado, algo lá dentro aconteceu e apenas um nome passou em minha cabeça. Erya. Aiken a amava tanto, era a única capaz de mexer com ele assim. Ele sentia tanta raiva do irmão que não se importava em tirar sangue dele. E ele tinha uma arma normal. Com seu tridente de cinco pontas ele avançou contra Noah que já estava de pé pronto para uma batalha, ele sorria como um louco enquanto bloqueava os

ataques de Aiken perfeitamente como se conhecesse todos eles, soubesse que o que passava nos pensamentos de seu irmão. Não demorando para complicar, Belial moveu-se protegendo papai e eu de um grupo que surgia, mais cabeleira vermelha foi vista, mais Alkes. Os avôs de Aiken estavam com armas brancas como Noah e Mukay, ao lado deles uma figura que tinha madeixas castanhas e olhar fixo no chão com um ar sombrio. Sem escamas, o moreno de pele do tom de Aiken finalmente erguia o olhar direcionando ao meu pai Belial. Vi as pernas do deus terra fraquejarem ao notar aquele sem escamas. — Acabou para vocês — a voz de Noah soou poderosa e podia ver meu Aiken ofegante demais. Ele já estava lutando antes? Era impossível ter cansado com segundos de luta, qual era o nível de poder deles? Gargalhando alto vi a lâmina branca, e de formato estranho onde começava a afinar até chegar ao final da espada, atingir Aiken no peito. Mais sangue, mais e mais... Papai, Aiken... e quem sabe mais quantos lá dentro feridos, Erya, Bruce, o pequeno Hut. Toquei em meu ventre, o que aconteceria com meu bebê se lutasse? Quatro contra dois, dois que não podiam ferir nenhum deles, era um lado injusto onde a balança pendia para eles, o que poderia ser feito? Papai poderia morrer em meus braços se essas raízes brancas não parassem de crescer, Aiken podia morrer com mais um golpe de Noah, não havia saída... Um arrepio percorreu minha espinha fazendo olhar em direção onde meus inimigos que me fitavam e sorriam, um enorme portal de portas douradas enfeitas com detalhes brancos esculpindo uma fênix surgia perto dos avôs de Aiken. Totalmente branca podia ver a nuvem branca no céu se expandir, as portas se abriam lentamente e o sol parecia sumir aos poucos, éramos tomados pela mancha no céu. A mãe suprema tinha entrado na batalha, era correto ainda ter esperanças ou era mais fácil esperar a morte? Meu corpo reagiu estranhamente ao sentir a presença pessoal da deusa suprema da luz. Ainda com os olhos marejados, mirei em direção a mulher que saia do portal. Um vestido longo e solto da tonalidade branco jazia em seu corpo, com abertura em suas curvas no busto, ela pisava no chão frio da plataforma descalça. Cabelos negros como de Belial e Kaya estavam amarrados em um rabo de cavalo, mesmo seu ar elegante, sua expressão apenas mostrava frieza como seus olhos degrades da mesma cor dos de meu pai.

Não levava consigo armadura nem arma, apenas raízes brancas em volta de seus braços tão pálidos como os meus. Ela sorriu friamente. — Sentiu saúdes Beli? —Sua voz era baixa e afiada mesmo sendo direcionada ao seu filho.

22° ESCAMA DE TRITON Deveria lembrar-me que foi ela que amaldiçoou papai e o aprisionou. — É uma pena você não ter conseguido transformar essa criaturinha em uma arma, dei até tempo a você. — Ela abriu os braços como se fosse à dona do mundo, e de certo modo era. — Você amoleceu, graças a sua paixão por um mortal deixou que o único plano de vocês falhasse, criando uma criança chorona e fraca, não um matador de deuses. — Ela deu de ombros. — Pelo menos será mais fácil ainda destruir eles, esse mundo. Ela realmente queria destruir tudo, o mundo inteiro que criou. Belial e Kaya estavam incluídos? — Matem os mortais primeiro — Ordenou e direção a Noah que se alegrou —, e depois conversaremos, Mukay Reskenov. Mukay seria morto depois... Aiken... Ele não desistia de lutar, ergueu sua arma novamente pronto para uma nova batalha, isso fez o restante do trabalho cair sobre os três soldados reserva que esperavam as ordens da mãe suprema, o sem escamas e o líder Alkes se aproximaram primeiro deixando a sereia a guardar as costas do marido; Belial se defendeu do sem escamas e pude ver a hesitação de meu pai como também a preocupação em nos proteger dos inimigos. Papai tentou se erguer em vão. O segurei não querendo que seu ferimento sangrasse mais, contudo, era difícil segurar o velho Hardar, não importa seu estado, ele sempre lutava, sempre. Talvez sua esperança nunca acabasse, seria ela que o dava forças? Vi o sangue manchar mais o chão me apavorando, não queria que meu pai se mexesse, não podia perdê-lo. O segurei mirando em seus olhos azuis furiosos. — Você está ferido, não pode se mexer! — Minha voz era estava em puro desespero. — Pai, por favor, você está ferido não pode lutar. Segurei seu braço com força, impedir Hardar Schifino de lutar sempre foi quase impossível. — Nunca se deve desistir de lutar Triton, se não precisássemos disso então para que existiria a luta? — Papai tentou deixar seu corpo ereto. Em nossa frente papai Belial impedia qualquer um dos três de se aproximar fazendo a mãe suprema gargalhar.

— Lutamos pelo fato de que precisamos enxergar nossos objetivos, sonhos, desejos, escolhas e com ela, a luta, aprendermos. — Papai tocou em meu rosto. — Além do mais, somos os Schifino e... — Schifino nunca desistem. — Completei sua frase antes de tentar impedir que fosse novamente ao chão. Meu coração estava apavorado e com medo, então, como dizer para ele não desistir? Lutar, lutar... destruir... As sombras gritavam para mim. Em minha volta Aiken e Belial perdiam suas batalhas, estavam feridos e sozinhos. Cerrei os dentes. Unir e lutar... Continuavam a falar. — Começaram a festa sem nós! Arregalei os olhos escutando a voz que conhecia como o toque de sua lâmina. A água jorrou para cima e os tentáculos gigantes tocaram os três adversários de Belial para longe, sobre o polvo gigante e assustador Oki sorria enquanto Arkab, o dono da voz que falara, gargalhava. Os tentáculos do animal se ergueram revelando um trio em um deles, e uma dupla em outro. Hardar resmungou ao escutar a voz de um Sharkan que o provocava, ao seu lado o rei dos Dolphins jazia segurando sua lança prata, meus avôs e Rayran também estavam ali, todos. Eles tinham vindo unidos, as quatro raças dos oceanos estavam unidas lado a lado. — Mais vermes. — A mãe suprema resmungou não se abalando. O Sharkan, que caminhava com graciosidade em nossa direção, era um rei Helut. Pele acinzentada, escamas negras predominantes com branco, olhos vermelhos e madeixas brancas, o rei dos maiores predadores do oceano estava em minha frente sorrindo para meu pai. O rei dos Dolphins, de pele rosada, cabelos da mesma cor e longo preso em uma trança com presilhas douradas, seu corpo era afeminado com pouco músculo como o meu, sua cauda e escamas eram acinzentadas e seus olhos, de tom avermelhado, mirou-se em nós. — Sentinelas! — Urrou a deusa fazendo as raízes de seu braço brilharem e de seu portal corpos semelhantes a humanos surgirem. Brancos como a luz e sem rosto eram espectrais como fantasmas, carregavam lanças da mesma cor que eles e estavam prontos para o ataque, vários deles surgiam prontos para outra ordem, dessa vez para matar. — Sentinelas da luz, são perigosos como os das trevas, não deixem eles

ferirem vocês, ou morrerão em minutos ou horas. — Belial gritava para todos. As trevas também tinham isso? Então por que meu pai não chamava os dele? Talvez seu poder fosse limitado por não ser um supremo, ou sua maldição não deixava. Eles atacaram nossos aliados que não baixaram guarda, lutavam por algum propósito. Somos as trevas, somos a luz. Franzi o cenho escutando aquelas palavras. Cerrei os punhos vendo a deusa suprema gargalhar chamando mais sentinelas, Aiken, que estava cansado e ferido, ainda lutava; Belial, mesmo não tendo chances, protegia papai com toda a força, mesmo que aquele sem escama o abalasse. Fitei Mukay que olhava para o horizonte esperando apenas a morte, seu rosto não mostrava mais ter esperança em uma vitória, porém, ao virar em minha direção ele sorriu assentindo. Lutar... Rosnei vendo mais uma gota de sangue pingar de meu Aiken. Lutar! — Mystsu apareça! — berrei chamando atenção da deusa suprema. Como se ganhasse vida novamente meu corpo vibrou, minha pele queimou recebendo as trevas e me protegendo, sorri satisfeito erguendo-me ao ver os olhos arregalados de minha adversária. Desculpe meu filhote. Lutar significava sacrificá-lo, todo meu corpo sabia disso, todavia, se não fizesse isso nem um mundo teria para ele nascer. Rosnei arrastando minhas lâminas no chão, sorrindo vitorioso observei minhas duas armas que se encontravam em minhas mãos, meu tridente quebrado tinha voltado, todavia com suas três lâminas, diferente de como era antes sua cor predominante nesse momento era branco, e negro o rodeava em detalhes. — Uma arma negra e uma branca?! — A deusa deu um passo à frente fazendo todos pararem ao ouvir sua voz confusa. — Isso é impossível! — gritou ela. — Ninguém pode carregar as trevas e a luz! Ninguém? Sorri dando de ombros. — Sou uma aberração, lembra? — Provoquei. Nunca tinha gostado tanto de ser uma aberração. A luz e as trevas em um só corpo, coração e alma. Vozes diziam para mim.

Girei minhas armas reconhecendo bem o peso e a força delas, elas eram minha alma que se despedaçou. Eu sou o equilíbrio dos mundos, o deus não das trevas ou da luz. — Sou um novo deus — disse mais para mim. O deus do equilíbrio. Rosnando observei a mãe suprema dar um passo à frente onde uma grande lança surgia em suas mãos, branca como seus tecidos, sua arma passava de sua altura ganhando forma antes de chegar finalmente em sua lâmina no topo, a lança tinha uma forma que lembrava o sol em dourado com pontas afiadas, em seu meio nascia o aço que logo se chocaria contra minha arma. Era bela e mortal como seus olhos cheio de fúria. Batendo no chão suas sentinelas pararam virando-se em minha direção, ela ordenaria que todos eles me atacassem? Uma estratégia boa e covarde, imaginei que ela sempre quisesse lutar contra mim. Mesmo tendo dito que deu tempo de fazer-me uma arma a verdade era que ela queria me observar por mais tempo, ver o quão forte eu ficava, me tornava, porém, apenas falhei durante minha caminhada o que a deixou despreocupada. Eu estava diferente e sentia como nunca algo crescer dentro de mim. Deu um passo à frente mostrando que não temeria suas sentinelas, por culpa dela meu pai estava morrendo, Aiken estava ferido, meus amigos estavam sumidos dentro daquele palácio. Era culpa dela! Rosnei, arrancaria sua cabeça pelo que fez com aqueles que amava. As raízes cresciam em mim a cada sensação de raiva que sentia, as escamas duras começavam a ter detalhes em branco mesclando as trevas e a luz em meu corpo chegando até meu ombro, era vestido pelos meus poderes, meus cabelos se mexiam parecendo mais compridos, meus dedos em garras se apertavam em volta do cabo de cada arma e minha força era passada para elas, minha alma me estendeu. Cravando meu tridente da luz no chão segurei com as duas mãos o das trevas fazendo a mãe suprema não entender meu plano, no fundo quero sorrir, além do mais, suas sentinelas não vão me atacar, ela pode ser quem criou, todavia, uma luz nunca ataca uma luz, nem o equilíbrio. Ergui meu tridente para o alto fazendo todos pararem. — Isso por ter me chamado de fraco — rosnei. — Venham! O céu se tornou negro tapando até mesmo o portal da mãe suprema, as ondas se agitaram batendo na plataforma com força e assim da água uma enorme onda surgiu fazendo-me sorrir vitorioso, nunca tinha usado isso antes. O tsunami

ergueu-se alto e poderoso diante dos olhos de todos, era claro que ela não mataria ninguém e não seria uma simples onda de água. As trevas do céu tocaram no líquido transformando-o em negro. Uma enorme onda fundindo água da luz e trevas. Abaixei o tridente fazendo a onda atacar meus inimigos, diferente de uma onda normal essa era como se ganhasse vida contornando meu corpo e de meus aliados e atingindo apenas os sentinelas da luz os destruindo um por um, com o tridente balançava para todos os lados atingindo mais e mais inimigos e por fim girei minha arma apontando sua lâmina para o chão e as trevas atacaram Noah que arregalou os olhos não conseguindo fugir, sendo arremessado poucos metros para trás da mãe suprema que manteve-se petrificada no mesmo lugar. Bati três vezes no chão fazendo a onda voltar para o mar, porém, as trevas continuaram ali me rodeando junto com a luz. Um redemoinho pequeno e leve se formou em minha volta o qual podia controlar com a mão. — Isso por ter machucado meu pai. — Rosnei vendo Noah vomitar seu próprio sangue no chão. — Triton. — Ouvi a voz de Aiken e me virei em sua direção fazendo-o me analisar com o semblante confuso. Eu mesmo estava assim comigo mesmo, não sabia o que era capaz de fazer. Sorri para ele o tranquilizando. — Está tudo bem. — O reconfortei. Ele apenas baixou o olhar e pude ver no reflexo de minha lâmina um dos motivos de Aiken ter estranhado, arregalei minhas órbitas as vendo diferentes, um degrade de azul e castanho como as de Belial. Tinha me tornando um deus completo? Fitei minhas pernas vendo minhas escamas azuis. Não, ainda sou um hibrido. Avancei contra a mãe suprema, não podia deixá-la se recuperar e arquitetar outros planos, precisava agir. Sem dizer nada, meus aliados avançaram contra os guerreiros restantes da deusa. Meus tridentes se agitaram em minhas mãos furiosos e poderosos em cada golpe que desferia, o barulho era ensurdecedor, todavia, meu corpo não parava, não queria parar. Minha raiva aumentava fazendo a armadura em meu corpo crescer mais, já pegando boa parte de meu peito. Rangi os dentes avançando o tridente das trevas rumo seu pescoço, rápida como a verdadeira luz

ela passou por um portal a levando para trás de mim, o mesmo que Noah usou no palácio Schifino, que usou para ferir meu pai. Papai estava ferido. Minha raiva apenas crescia fazendo meus golpes ficarem mais fortes que o da própria suprema, gritei girando meu tridente da luz e cortando levemente o braço dela, como um mortal o sangue vermelho escorreu calmamente por seu membro, todavia se fechando rápido. Um golpe da luz não pode a matar, precisava usar apenas o das trevas, mesmo o tridente quebrado levando consigo as trevas ainda não sendo o suficiente. Ela atravessou novamente um portal e fui atrás dela a surpreendendo ao aparecer junto com ela em outro local daquela zona de batalha, sou a luz também e posso facilmente passar em um portal da luz. Sorri vitorioso fazendo sua lança vir em minha direção e passar rente à minha bochecha, senti a lâmina fria passar por minha pele, mas não senti nenhum líquido escorrer e o reflexo que me via em minha própria arma mostrava um arranhão rosinha como se o ferimento já tivesse fechado há dias. A luz não podia me cortar totalmente. — Noah! — Ela berrou. — Mate-o! Ela jogou o trabalho para seus carrascos. Noah avançou em nossa direção sendo obrigado a parar ao ter a silhueta de vovô Reikal em sua frente, fitando-me por cima dos ombros ele sorriu assentindo e assim avançou contra o Alkes que tinha a necessidade de vir em minha direção. — Isso vai acabar logo. — Sorri friamente erguendo meus tridentes. — Eu prometo! Não era palavras que costumava usar, nunca as usei nem mesmo com tom que saiu de minha boca, entretanto, tinha o desejo de matar aquela deusa, arrancar sua cabeça por tudo que ela já fez, por tudo o que ela quer fazer. Não se precisa de um deus que apenas quer destruir. — Você não pode me matar, garoto. — Ela riu alto. — Eu sou uma suprema, quem vai ficar em meu lugar se eu morrer? — Ela segurou firmemente sua lança apontando em minha direção. — Você não tem poder para isso, Belial é um deus das trevas e Kaya está unida a água para tira-la de lá precisaria destruir o oceano e o mundo. Destruir o mundo para tirar minha mãe de sua união com a água, com

isso ela ganhava corpo humano novamente. Algo na mãe suprema mostrava que ela apenas queria que a luz cresce ainda mais, se expandisse engolindo as trevas e tudo. Ela queria acabar com o mundo e Belial apenas para possuir os poderes de minha mãe. — Para isso vai destruir seu próprio filho? — Mesmo sendo uma pergunta já sabia a resposta. — Vai puni-lo novamente, destruí-lo como fez com o deus supremo das trevas apenas por poder... Ela rosnou. — Você ainda se diz mãe deles! — Berrei furioso. — Uma mãe nunca abandona seus filhotes! Luta por eles! Cria um mundo para eles sorrirem. — Vociferei não acreditando que ela realmente tinha a vontade de matar meu pai. Tinha nojo daquela mulher. — Você não é nada além de um obstáculo que devo eliminar. — Girei meu tridente das trevas fazendo o outro sumir. — Você não pode ser chamado de mãe, Keline, deusa suprema da luz, a que matou Baal, o pai de seus filhos e virou as costas para seus filhotes. Seus olhos me fitaram com espanto, não sabia dizer se era pelo fato de ter pronunciado seu nome, ou qualquer outra palavra. Belial nunca tinha me dito nome dela, nem ninguém, foram elas que me sussurram. — Ele te amou, queria apenas sua atenção, mas você virou as costas para Belial como fez com Baal. — Keline rangeu os dentes furiosa querendo me atacar. Um escudo de luz surgiu bloqueando ela sem pensar ou ordenar, a própria luz fazia isso com a deusa. — Baal não foi morto por ter perdido o controle de suas trevas, ele era poderoso demais para você vencê-lo assim. — Jogava minhas palavras para fora sentindo que tudo a atingia. — Ele a amava e usou isso para trai-lo apenas por que você queria mais poder que ele, queria o universo para você e ele nunca permitiria. — Você não sabe o que falava, garoto! — Ela gritou. — Então diga-me você, como ele morreu e o motivo. Ela se calou tentando ultrapassar a barreira de luz, podia ver em seu rosto a fúria por estar perdendo, por ter as verdades cuspidas em sua face. Ela bateu com força contra o escudo que se rachou e assim ela atacou com pura ira. Rebati seus golpes não saindo do lugar e assim a cortei novamente fazendo seu grito fino soar alto chamando atenção de Belial que protegia meu

pai, como sempre ele não queria ficar quieto em um lugar e com isso Han teve que segurá-lo. Papai nunca mudava e admirava isso nele, mas meu sorriso desmanchou em ver que as raízes cresciam mais nele, estavam quase no coração. Apertando bem o cabo de minha lança fitei o corpo da deusa que rugia furiosa. Ela voltou a contra-atacar não querendo perder essa luta, nem essa guerra. Sua lança pronta para vir contra mim foi bloqueada por um novo corpo que adentrava o meio de nossa batalha, seus cabelos negros se moveram e pude ver toda as tatuagens que papai Belial levava indo até suas costas.

22° escama de Triton As correntes de sua arma balançaram ao bloquear o golpe de sua mãe e jogá-la para trás. O vi analisar-me por cima dos ombros, seus olhos estavam marejados e quase rolavam em sua bochecha. Fitei em direção a meu pai que não aguentava mais ficar nem de joelhos, ele estava morrendo. Rosnei, Keline iria pagar por isso! — Salve-o. — Ouvi a voz baixa de papai. — Você carrega a luz, precisa salva-lo... Mas como? Queria perguntar, porém, Belial tinha voltado a atacar a mãe suprema. Apertando meus lábios movi em direção ao papai Hardar, como o salvaria? Sou um equilíbrio, precisava de muita luz para isso. Mirei meus olhos na água, piscando, eu não tinha luz o suficiente nem sabia como salvar meu pai, entretanto, existia alguém que sabia apenas precisava libertar minha mãe. Keline tinha trancafiado Kaya dentro de seu próprio mundo, se achasse algo que pudesse liberta-la... Segurei forte meu tridente, talvez se cortasse a água com o máximo de trevas que conseguia poderia ser possível, mirei em papai Hardar nos braços de Han, ele não estava nada bem, as raízes chegavam perto de seu coração, o suar rolava por seu peito, pelo menos o sangue foi estancado certamente feito por vovô Blynalvor. Virei-me em direção a água. — Venham — sussurrei apenas para as trevas. Em minha volta as trevas apareceram, saindo de todos os lugares e se

concentrando em meu tridente, era como se elas soubessem o que desejava e o tridente as sugava, sorrindo, concentrei o máximo de poder que queria e assim ergui a arma para baixado rapidamente cortando o ar. Como planejei, as trevas cortaram a água como uma navalha sumindo no horizonte e logo depois tudo voltar a tranquilidade. Nenhum efeito. Arregalei os olhos tentando novamente com mais poder. Nada. Desesperei-me não sabendo o que mais fazer. Pai... O que devo fazer... pai... As lágrimas voltaram a rolar em minha face. Não podia perder meu pai, não o tritão mais importante para mim. Papai... Corri para seu encontro, não conseguia nem mesmo salvar aquele que era tão importante para mim, como salvaria todos? Como salvaria meu próprio filho em minha barriga. — Pai... — Choraminguei segurando sua mão. Ele ainda tinha seu corpo quente, até demais. Fitei seus olhos azuis que pareciam perder o brilho da vida, suas pálpebras não aguentavam ficar de pé, respirando pela boca papai tentava manter seu aperto contra minha mão forte mesmo não aguentando nem mesmo permanecer com os olhos abertos. Mirei Han que afagava os cabelos de meu pai enquanto sua cabeça estava sobre suas coxas, em cada segundo ele certificava-se que o ferimento estava sob controle, papai não podia mais perder sangue e sem a deusa conectada na água ele não se regenera rápido como sempre acontece com nosso povo. Kaya estava presa em algum lugar desconhecido. — Não quero ser molhado, pirralho. — Ele tentava brincar comigo mesmo não gostando de ouvir sua voz tão fraca. Nunca nem tinha visto um deus curar outro, talvez se concentrasse muito poder da luz perto do ferimento pudesse cura-lo, ou mata-lo mais de presa. Afinei meus lábios, quais eram minhas chances de salvar meu próprio pai? Tentei forçar um sorriso, porém, não conseguia sorrir, não sabendo o que aconteceria no final. — Não me deixa... — Foi a única coisa que consegui falar. — Você está grandinho, não precisa mais de mim. — Ele tentou alcançar

meus cabelos, todavia, mau erguer seu braço conseguia. Agarrei sua mão colocando perto de meu rosto. Não importava se eu já era grandinho como ele falava, um adulto, sempre vou precisar do famoso Hardar Schifino ao meu lado, meu pai que me ensinou tudo que eu sei hoje, foi ele que estava comigo quando tentei me equilibrar na água nadando rumo aos seus braços, ele estava lá quando cacei meu primeiro siri, quando tive pesadelos. Não podia perdê-lo, ainda precisava demais de meu pai. — Você tem Belial... Aiken... jamais vai ficar sozinho... — Ele falava com pausas longas tentando puxar o ar. Elas tinham chegado no pulmão dele?! Isso dava menos tempo do que tinha pensado. Arregalei minhas órbitas que nem sabia mais de cor eram. — Você jamais vai ficar sozinho... — Sua voz diminuía ainda mais. — Meu filhote... Balancei a cabeça como um louco, não importava, eu precisava ainda de papai Hardar comigo, ele precisava ver o neto dele, bater mais em minha cabeça quando fazia algo errado, me chamar de pirralho. Ainda seu legado não podia encontrar o fim... — Pai... — Era a única coisa que sabia dizer naquele momento. Deveria dizer adeus? Falar que eu o amava tanto? Tinha orgulho de ser filho dele? De tudo que ele fez... — Papai... — sussurrei deixando as lágrimas rolarem desesperadas. Meu pai era tirado de mim lentamente enquanto sentia seu aperto diminuir ainda mais sobre minha mão. Estavam tirando ele de mim... Cerrei os dentes reprimindo os soluços. Matem todos, matem, matem... Limpei minhas lágrimas com a costas da mão, vovô Han começava a ficar inquieto em seu lugar chamando o nome de seu filho. Eles tinham tirado meu pai de mim, eles precisam morrer. Matem eles! Rugi dentro de mim sentindo meu corpo tremer e arder. As trevas cresciam já 1 de meu peito, minhas pernas eram consumidas por escamas negras e grosas como era em meus braços, indo até o joelho, senti o olhar de Han sobre mim enquanto apenas conseguia fitar a ferida em meu pai,

nem tinha notado agora suas órbitas indo em algum ponto atrás de mim, apenas gritava para aqueles que tiraram meu pai de mim morressem. Queria ver seus corpos serem destruídos, seu sangue sendo consumido por minhas sombras. Deixei meu tridente cair no chão e sumir enquanto pendia a cabeça para baixo deixando minhas lagrimas e grito de raiva serem soltos. Gotas de água caírem em minhas costas fazendo-me observar o cambo de batalha em minha frente, cada um parava sua luta mirando na mesma direção de Han, não sentia perigo, sentia proteção, nada para me preocupar. Olhei por cima de meus ombros não me surpreendendo com a imensa criatura que se moldava das águas, dizem que nossos piores pesadelos vêm da escuridão, elas os moldam e diante de mim via a besta que mais tinha medo dentro do oceano sendo feita de trevas e luz. Uma serpente da água, um animal que estavam em extinção. O animal negro abria sua boca mostrando uma língua de pontas duplas enquanto abria suas guelras. Seu corpo de serpente crescia ainda mais fazendo sombras nos cobrir e de seu corpo mais duas cabeças nascer, uma branca e outra mesclada que ficava no meio. Luz, equilíbrio e trevas. Um animal lendário que vi apenas em sonhos e livros estava diante de nós, mas não como uma besta real e sim formada do pesadelo, de minha alma rachada. Ela apenas ganhou forma. A Besta de três cabeças atacou todos na plataforma fazendo a mesma sacudir, Han se apavorou ao meu lado, mas não me importava, desde que tivesse o sangue daqueles que tiraram meu pai de mim. Por seu tamanho o animal era mais lerdo fazendo assim todos conseguirem fugir dele, Belial estava surpresa com o tamanho da besta que aparecia em sua frente, porém, ele não precisava se preocupar com as bestas que carregavam as trevas. Ouvi sua voz gritando em minha direção, todavia, tinha olhos apenas em meus dois inimigos que queria destruídos. Rápidos eles desviavam de minha besta. Rosnei erguendo minha mão e assim surgir flechas brancas, eles apenas poderiam ser mortos pelas trevas e assim as joguei na direção dos traidores, os Alkes tentavam fugir com medo, Noah era o único que tentava lutar com a serpente e assim finalmente consegui atingir um. Uma das minhas flechas gigantes perfurou o corpo do sem escamas fazendo-o desaparecer como se nunca

tivesse existido. Sorri friamente. Um a menos. Mais flechas foram jogadas na esperança de atingir qualquer um de meus inimigos. — Triton! — A voz de Aiken soou perto de mim. As bestas apenas atacavam Noah, Keline e Belial, certamente por ele ser um deus elas não distinguiram qual era aliado atacando todos. Eles devem pagar! Gritei para meus poderes. A serpente do mar foi em direção de Keline onde consegui destruir uma de suas cabeças que logo voltou ao normal, ela rosnou atingindo flechas de luz na parte negra da besta em vão. A plataforma sucumbiu novamente com mais força, as ondas invadiam a cidade flutuante e ainda continuavam a gritar meu nome. Rugi querendo que a serpente acabasse logo com isso, mas a única coisa que recebi foi elas sendo destruídas pela onda que se colidiu com o animal. Pisquei, olhando em direção a Aiken, ele tinha tanto poder da água assim? Minhas pálpebras abriram ainda mais vendo a silhueta ao seu lado. Seus cabelos negros balançavam com o vento como seu vestido azul claro, a cada passo que ela dava as ondas se acalmavam, segurando seu tridente, Kaya sorriu em minha direção, um sorriso tristonho. Ela estava liberta da prisão da mãe suprema, minha mãe estava ali. Mas pelo seu semblante triste e olhos mirados em meu pai sabia que já era tarde demais, eu tinha perdido meu pai... Rangi os dentes de raiva, por que eles queriam tanto destruição? Por que ela queria tanto acabar com todos mortais e a terra? Apenas para ganhar atenção de um filho, fazer um de seus filhos se tornar a luz pura para assim o universo destruir completamente a escuridão, todavia, nenhum dos lados pode ter em abundancia, consequências gera para tudo. Kaya sabia disso quando se fundiu com a água para perder metade de seus poderes da luz. Ela era mais a água agora, ela sacrificou-se por todos, pelo universo por um erro cometido por sua mãe que insistia em continuar. Ela tirou meu pai de mim e era apenas o começou. Deixei minhas lagrimas rolarem não percebendo que mais sentinelas que ela criava começavam a nos rodear prendendo todos os inimigos de Keline. Vovô Reikal estava furioso e não parava de atacar sem sucesso as

sentinelas querendo chegar em Noah, o rei dos Sharkans se aproximava do dolphin que observava seus inimigos com as mãos bem firmes em uma espada diferente do Sharkan que lutava com as mãos nuas. — Matem o máximo que conseguir, quero todos destruídos! — A deusa suprema gritou para todos do seu exército. Porém, os líderes Alkes hesitava querendo fugir. Noah era o único lambia os lábios enquanto erguia sua lâmina. Enquanto todos meus amigos tentavam proteger o local onde eu estava, apenas conseguia segurar a mão de meu pai. Eu precisava dele, ele não podia partir assim... Pai... pai... — Pai! — Berrei deixando minhas lágrimas molharem todo meu rosto. Papai Belial se afastou da mãe suprema fitando por cima dos ombros com um semblante preocupado, sabia que ele segurava todas suas emoções, ver papai Hardar quase morto, foi difícil fazê-lo se afastar e se meter em minha frente na batalha, mas como ele, também sofria a perda de meu pai. O olhar de Belial caiu para o chão desviando de onde eu estava, talvez ele conseguisse esconder tão bem suas emoções por ter visto tantas mortes, por todos esses anos, séculos, andando pela terra ele já viu de tudo, ou talvez por que ele era forte, diferente de mim. Senti os braços de Aiken em volta de mim me apertando em um abraço todo desgrenhado, no entanto, o simples afeto era o suficiente para segurar meu coração triste. Não podia perde-lo também, meu bebê... Precisava lutar por eles, ter um mundo para meu pequeno ter onde nadar, correr, sorrir. — Triton. — A voz doce de Aiken soou perto de meu ouvido. As sentinelas de luz deram um passo à frente deixando todos alerta. Destruir, eu preciso de força, de poder... Eu preciso mata-los... Gritava em minha mente. Mesmo cheio de poder, não tinha as forças necessárias, as habilidades, nem sabia como matar a mãe suprema, precisava de respostas, de poder... Ergui o olhar vendo as sentinelas de luz serem absorvidas fazendo Keline arregalar seu olhar degrade, surpresa. Acompanhei seu olhar vendo uma imensa bola branca que crescia cada vez que sugava mais sentinelas, não adiantava a mãe suprema criar mais, elas sempre eram sugadas aumentando aquela bola. Qualquer lugar que existisse a luz da mãe suprema era absorvido, até mesmo das armas que seus guerreiros ganhavam eram sugadas tornando-as comum

novamente. A bola cresceu tanto que toda a luz sugada se tornou em brilhos que explodiram no céu caindo como a chuva sobre todos, mesmo sendo bonito a cena, apenas soube me concentrar na silhueta de meu pai que ganhava pulsação acelerada novamente, ele tossiu várias vezes como se tivesse se engasgado com a água puxando o máximo de ar que podia para seus pulmões, entretanto, a ferida ainda estava ali com aquelas raízes, menos dessa vez. A bola deve ter sugado alguma porcentagem fazendo as raízes regressarem e abandonarem o pulmão e o coração de me pai. Ou talvez fosse alguma outra coisa que não entendia. Belial e Kaya se aproximaram e até me assustei quando papai Belial se atirou de joelhos no chão tocando em Hardar. — A raiz ainda está nele. — Kaya falava se agachando ao meu lado. — Papai pode ser curado? — Choraminguei. O olhar de caia não foi de tristeza o que me agradou um pouco, mas havia algo a mais. Ela gaguejou baixinho não sabendo o que responder para mim nem mesmo me encarava concentrando-se na ferida que pelo menos tinha parado de sangrar, graças ao vovô Han. E por sinal ele também esperava uma resposta, mais impaciente ainda. Ele forçou uma respostava fazendo a deusa ficar ainda mais sem jeito para falar. — Existe sim... — Ela começou. — Na verdade alguém que pode salválo e... — Faça. — A voz de Belial soou forte e cortante. Pisquei, olhando para seu rosto sério. O que estava acontecendo? — Fazer o que? — Han perguntou abraçando papai Hardar que não gostou nada. Mesmo a beira da morte ele não mudava reclamando e querendo socar todos. Segurei firme sua mão chamando a atenção de seus olhos para mim, ele sorriu levando seus dedos até meu rosto e secando minhas lágrimas. Era tão bom ter o carinho dele. — Deuses, dependendo de seu poder, podem trazer alguém dos mortos, nossa mãe fez isso com Noah e o humano que foi destruído pelas flechas de Triton. — Ela explicava rápido. Ao falar do sem escamas, meu pai desviou o olhar, ele conhecia o

humano? — Eu não posso por ter fundindo-me a água, sobrando apenas Belial e Keline. Papai Belial era o único que podia salvar Hardar. Kaya fitou seu irmão que apenas assentiu. “Um deus pode ter um mortal ligado a si por breves horas, dias, ou para sempre, depende de sua vontade.” Papai Belial soou em minha cabeça fazendome erguer o olhar para ele mesmo que seus olhos apenas estivessem em Hardar. “Porém, ele só pode fazer isso uma vez se for para sempre, e nunca mais poderá destruir essa ligação, é eterna como a vida do mortal que se unir ao deus, se eu morrer, Hardar morre, porém, ele não pode ser morto ao ser ligado a mim, apenas um deus superior pode destruí-lo, e me destruir.” Fitei em direção ao meu pai, senti os dedos de Aiken apertarem minha mão livre e seu outro braço se enrolar em torno de minha barriga. Um deus podia então ter um eterno parceiro, não ficar sozinho para sempre, mas apenas faria isso se os dois se amassem, unir-se com alguém que não ama, é apenas para pedir para ficar sozinho e Belial estava preparado para fazer esse ritual pelo amor que ele sentia. — Se você deseja. — Kaya se ergueu. — Sabe como fazer, dou minha permissão para tomar um de minhas criações, deus das trevas. Colocando a mão do ombro de Han, ela ordenou que ele se afastasse e assim soltei a mão do papai também, Belial cortou sua palma com sua própria espada deixando que as gotas de seu sangue escuro pingassem na ferida de meu pai que grunhiu de dor, talvez o sangue de um deus em contato com a pele de um mortal não fosse algo agradável. Manchando a ferida de sangue escuro as raízes brancas se tornaram negras e assim ele estendeu a mão para puxar meu pai. Sentados de frente um para o outro, Belial colocou uma espada em cada lado e assim me fitou. — Preciso de você longe, como é um deus das trevas isso pode complicar. — Ele falou com a voz calma e baixa. — Explico o ritual para você quando desejar fazer com esse cabeça de fogo. Aiken rosnou não gostando do apelido e assim o deixei me levar para longe de meus pais, além do mais tinha algo que precisava fazer. Keline bufou ao ver a cena e assim gritando para seus soldados, ordenou que Noah em especial intervisse, algo que não aconteceu por Reikal ter surgido bem em sua frente passando a lâmina de sua foice rente ao pescoço do Alkes. — Quanto tempo você acha que consegue segurar a mãe suprema? —

Perguntei a Aiken que fitou-me piscando. Certamente era suicídio para um mortal, mas não tinha Belial para contar e Kaya perdia aos poucos a forma solida, Aiken era o único forte o suficiente, mesmo sem muita energia naquela altura. — O suficiente para você fazer o que precisa. — Ele disse sorrindo para mim. Retribui o gesto assentindo, só precisava levar a mãe suprema para mais longe, afastando de meus pais e podendo usar meus poderes. — Um segundo deve fazer ter mais tempo. — A voz de Arkab soou atrás de mim fazendo-me virar. Ele não olhava diretamente para Aiken e até resmungava baixo certamente não gostando da ideia de lutar ao lado de meu pervertido, mas tudo dependia para nossa vitória, para termos para onde voltar quando tudo acabar. Sorri de leve em sua direção, até minha atenção se mover para o terceiro elemento que se aproximava. Mukay. — Ela é rápida em seus movimentos, um ataque não sincronizado vai ajudar no primeiro momento. — Mukay falava ficando ao lado de Arkab. — E um terceiro deve ajudar mais ainda. — Ele sorriu amistoso em minha direção fazendo Aiken rosnar e me abraçar. Não havia tempo para ciúmes de alfa, me afastando de Aiken coloquei meu melhor sorriso para convencê-lo, era melhor ele ter ajuda. Bufando ele deu de ombros. Sorri ao vê-los correr com suas armas em punho em direção a Keline que não se preocupou muito. Do outro lado, um grito agudo vindo de Noah soou fazendo meu olhar ir até ele, o rei tubarão tinha fincado seus dentes no ombro do Alkes enquanto Reikal avançava com toda a força. Oki e o rei Dolphin tinham os dois líderes Alkes ajoelhados e suas armas no chão mostrando que desistiam. Fitei em direção onde meus pais estavam cobertos por uma parede escura. Trevas. Concentrando-me no inimigo a frente, notava que a luta não sincronizada dos três fazia Keline ficar atordoada, mesmo que fosse poderosa o suficiente para destrui-los, ela não conseguia ter a chance de se concentrar em apenas um e nem davam chance para ela invocar sentinelas. As lâminas do tridente de Aiken balançava no ar cortando-o com tanta rapidez que admitia ser difícil de acompanhar seus atos, ele estava dando tudo de si. Sorri. Meu Aiken.

Arkab levava aquilo como uma disputava contra Aiken, avançando sem analisar. Já Mukay era o oposto dos dois. Estiquei minha mão, estava na hora de acabar com a luta antes que eles destruíssem mais minha casa, machucassem mais meus amigos. Noah já estava fraco e cansado faltando apenas Keline. Mystsu... As trevas em volta de mim começaram a percorrer em volta de meu corpo, elas não me tocavam, mas entendiam o que eu queria e para realizar meu desejo elas se união criando força, uma espécie de espelho escuro onde levei meus dedos até o local, nem gelada ou quente minha mão adentrou as trevas fazendas ficar descontroladas. Raízes atingiram o chão chamando atenção de muitos, principalmente de Keline que semicerrava os olhos tentando entender o que pretendia. Sorri travesso. As raízes cravaram-se no chão e assim puxava meu braço lentamente de volta. Keline arregalou os olhos a surpreendendo mais uma vez, ela me subestimava por ser um híbrido. Uma aberração. Meus olhos degrades focaram-se naquelas órbitas da mesma cor e sem pensar duas vezes, a deusa suprema revidou fazendo raízes brancas jogar os três adversários longe, vi o corpo de Aiken bater com força contra a parede, porém, não desistiu. Ergueu-se mesmo apoiando em seu tridente que voltava a primeira forma. Maldita. Rosnei dentro de mim. — Synters. — A ouvi gritar tão alto incomodando meus ouvidos. Dê-me poder. Pedi as trevas, a minha arma. Preciso de mais poder, mais força. As trevas voltavam a ficar agitadas à medida que as portas do portal branco da mãe suprema abriam-se. Dê-me mais poder, por favor... Suplicava. Ajudem-me. Fitei em direção a deusa que ria ao ver um exército negro surgindo de seu portal. Arregalei os dedos. Trevas? Impossível... Via a mãe suprema gargalhar enquanto seu exército semelhante às

sentinelas a rodeavam. Não tendo rosto apenas olhos opacos, eles usavam uma capa rasgada que era continuação de seu corpo, ou talvez grudado no mesmo. Em suas mãos lanças negras. Keline deu um passo para frente onde um brilho branco tocou sua mão crescendo na forma de uma arma. Ela invocava sua alma. Uma espada branca com dourado. Sua guarda era em forma de asas, duas asas em cada lado das duas cores da espada, seu cabo era dourado enquanto sua lâmina era branca como o vestido novo que surgia em seu corpo. Dando a ela mais possibilidade de se locomover mais rápido, sua veste era aberta na frente vindo até metade de sua coxa. Um recorte entranho na frente onde apenas escondida seus seios deixando sua barriga albina como minha pele, a mostra. Ela tinha as trevas ao lado dela, uma última carta. Cerrei os dentes. Eu achando que ela tinha me subestimado... A luz pode ser mais traiçoeira que as próprias trevas. Pisquei escutando a voz que sempre me perturbou. Mexi meus dedos podendo ver meu braço esticado sem estar dentro daquele espelho, o cenário inteiro apagou-se transformando tudo em escuridão. Não existia Belial ali, nem ninguém, apenas um homem de longos cabelos negros em minha frente. Seu corpo era vestido com uma armadura semelhante a que me cobria, todavia, a dele cobria todo seu corpo forte. Em sua cabeça uma coroa de longas pontas dourada enquanto seus passos com botas da mesma cor que a armadura, ecoavam se aproximando mais de mim. Em suas mãos havia uma lança trajada de preto de cabo fino igualmente sua ponta, pequenas lâminas surgiam no lado para fazer pequenos estragos no oponente, O homem de olhos degrade em minha frente, sorriu friamente estendendo sua mão livre. Você deseja mais poder para derrota-la, não é? Apenas conseguia assentir ignorando a reação de meu corpo contra aquele homem, algo em mim se alarmava gritando para fugir dele, para ficar longe o possível, todavia, eu precisava de poder para salvar todos, para salvar meu filho. Eu conseguia naquele mundo escutar as batidas dele, calmas e despreocupadas não sabendo que seu mundo poderia ser destruído. Queria salvar meu bebê...

Eu concederei esse poder a você, além do mais somos o mesmo. Ele sorriu mais “amistosamente”, entretanto ainda levava o ar sombrio. O poder total das trevas será libertado, você é o senhor delas a partir de agora. O deus supremo das trevas. Deus supremo das trevas...

23° ESCAMA DE TRITON O homem sumiu juntamente com o cenário de escuridão, pisquei várias vezes antes se sentir as raízes enrolando em meus braços. Keline ordenava que seus novos guerreiros atacassem indo até mesmo em direção dos meus pais, Aiken continuava machucado e ofegante. Rosnei puxando meu braço daquelas raízes, daquele portal negro sem forma revelando um brilho azul. A medida que puxava meu braço meus dedos estavam fechados em volta de um cabo gélido e de tons negros com um azul fosforescente que percorria por toda a arma longa. Arregalei os olhos puxando o objeto onde revelou uma ponta da mesma cor que cursava ao longo do cabo. Sua lâmina me lembrava um triangulo, só que suas duas pontas laterais puxada bem para cima e a do meio tão grossa quanto minhas coxas. O negro se fundia com a outra cor revelando uma nova arma. A segunda liberação. Os famosos Synters que a mãe suprema falara, vieram em minha direção e desacostumado com o peso daquela arma, como o tamanho dela, não estava preparado para revidar. Cerrei os dentes erguendo a lança, nunca tinha aprendido a lutar com algo daquele estilo, seria igual a um tridente? Ele era mais pesado que minhas armas anteriores. Arregalei os olhos vendo aquelas garras negras vindo em minha direção, até mesmo rumo a Aiken que cambaleava. “Aik”... gritei em minha mente. Na intenção de largar aquela arma pesada e correr rumo ao meu tritão, deixei o objeto cair e acertar o chão da plataforma fazendo o mesmo efeito de quando duelei com vovô Reikal, só que dessa vez em mais intensidade. A onda de energia dessa vez não rachou o chão e era bem visível, parecendo uma chama azul que atingiu os Synters os fazendo sumirem, em minha visão o efeito foi fraco, mas a onda conseguiu atingir até mesmo os adversários que ia em direção ao meu Aiken. Sorri em sua direção recebendo o mesmo ato de meu tritão e assim fui em seu encontro. Não iria permitir que machucassem mais meu pervertido, era minha vez de protege-lo. — E seu plano? — Aiken sorriu forçado. Olhei para minha lança azul com negro, não sabia se isso daria certo, mas precisava tentar.

— Será executado. — Sorri de leve. Aiken decidiu se apoiar em seu tridente saindo de meus ombros, queria ajuda-lo, protege-lo. Era minha vez de fazer isso, agradecer tudo que ele tinha feito por mim. Mesmo que o negasse em meu coração ele sempre vinha em minha direção, em meu resgate, sorria verdadeiro, me tratava de uma forma especial como se fosse a coisa mais especial do mundo. — Você confia em mim? — Mesmo já sabendo a resposta as palavras saíram. Aiken me fitou. — É obvio que sim. — Ele endireitou seu corpo. — Confio mais no meu Triton do que em mim mesmo. — Ele riu sem humor. Ele sabia o que planejava, sua expressão já o denunciava. Adorava isso em Aiken, parecia que ele conseguia ler meus pensamentos, saber meus planos antes mesmo de pensar neles e a melhor parte era que ele não hesitava em me apoiar sempre, no entanto, sabia que dessa vez eu não teria sua aprovação. — Não vou deixar você fazer tudo sozinho, nem tente. — Aiken me repreendeu ao ver minha boca se entreabrir. Sorri de leve. — Mas... — Já disse. — Sua voz saia séria, um tom que pouco vi de Aiken. — Não vou deixar você lutar sozinho! Estamos juntos nisso, em tudo! Baixei o olhar, precisava fazer isso sozinho. Não podia me dar o luxo de deixar os deuses, ninguém, interferir e matar a mãe suprema. Keline não podia ser marta por ninguém, não mais. Tentei convencer Aiken a deixar-me fazer isso sozinho, porém, ele não aceitou e sabia que não adiantaria teimar. Suspirando apenas movi meu olhar até a mãe suprema que era atacava por Arkab, ele já estava a deixando irritada deixando evidente nas expressões de Keline. Mesmo o Octopus sendo rápido, não era forte o suficiente para ferir a deusa da luz que se movia rapidamente esquivando-se. — Qual é seu plano? — Aik perguntou. Engoli em seco não sabendo se deveria revelar os acontecimentos anteriores, o destino que planejava para Keline, no entanto era Aiken que estava ao meu lado, o tritão mais abusado, pervertido e cabeça dura de todo o oceano, o pai do meu filho que não me deixaria sozinho em nada.

Sorri fraco. Quem poderia imaginar que o tritão que me puxou para uma caverna, que xinguei e chamei de pervertido seria aquele que mesmo em uma batalha difícil estaria firme ao meu lado, pronto para proteger-me como sempre fazia, o Sereiano sorridente e festeiro que vi pela primeira vez lutava mais ferozmente que uma serpente do mar. Meu Aiken. — Não me esconda nada. — Ele ainda tinha seu tom sério e o vi me observando pelo canto do olho. Abracei meu tridente, mesmo no meio daquela batalha, depois de tudo que duelei era a primeira vez que sentia tanto medo e não compreendia de onde ele vinha. Suspirei. — Keline não pode morrer. — Abracei mais firme minha arma vendo o olhar arregalado de Aiken. — Não mais... Ele franziu o cenho. — Ela pode ser destruída sim, porém, eu terei que ser destruído junto, nenhuma das partes pode ser em abundância. A balança estava equilibrada agora, todavia, se matasse Keline as trevas teriam muito mais força e apenas com minha morte poderia ser novamente equilibrada, por ser um supremo. Supremos compensavam com outro supremo os níveis, se um supremo era destruído o prato da balança caia para um dos lados trazendo caos ao mundo, mesmo que fosse a luz, a destruição era igual, e isso valia para os deuses menores. Deuses maiores e menores, era como chamavam antigamente pelo que as trevas falaram para mim. Os maiores eram conhecidos como supremos agora, e menores são os do nível de Belial e Kaya, eu era um deus menor. — Você se tornou um supremo... — Ouvi os sussurros de Aiken. Ele abriu várias vezes a boca tentando falara algo, porém, nada saia. Assenti levemente o fazendo mirar suas órbitas em direção a mãe suprema que avançava contra Arkab com sua arma, mesmo que o Octopus não tivesse a força necessária para vencê-la, ele tinha audácia. — Seus olhos... — Ele comentou ainda não me encarando. — Quando vi pensei que era apenas uma reação de seus poderes. Não sabia o que tinha acontecido com a cor de meus olhos antes, eu não

tinha aceitado ter mais poder, era apenas um deus do equilíbrio então não era para minhas órbitas ter mudado de cor, porém, analisando cada divindade, vi que todos tinham a mesma cor. Pele clara demais e olhos degrade. A marca dos deuses. — Como está nosso bebê? — Pode sentir medo na voz de Aiken, mas não existia nada para ele temer. Abracei seu braço chamando sua atenção, vendo seu semblante triste. Ele deveria sorrir, ficar feliz. Nosso filho ainda vive dentro de mim. — Eu escutei as batidas dele. — Sorri para Aiken vendo-o se alegrar. — Ele vai ficar bem, ele não é um simples filhote. — Pisquei para aquele pervertido. Sorrindo radiante esquecendo totalmente o semblante triste de segundos atrás, ele me observou focando-se em minha barriga lisa, demoraria bastante para mostrar algo, além do mais deveria estar no seu primeiro mês, existi mais quatro pela frente. Mais meses que poderíamos curtir nosso filhote no meu ventre quando selássemos Keline. — Por quanto tempo vocês vão ficar namorando. Pisquei, virei-me sorrindo ao ouvir a voz de papai Hardar. Mesmo que Belial viesse atrás o obrigando a ficar quieto e algum lugar, o Sereiano que conhecia muito bem o ignorou totalmente focando-se na sua adversaria. Papai não perderia uma luta, mesmo depois de quase o ter perdido minutos atrás, sentia alegria em tê-lo ao meu lado nessa batalha. O líder dos exércitos, a minha inspiração. Sorri sentindo suas mãos irem em meus cabelos bagunçando-os, seu toque era tão quente, carinhoso e gentil. — Papai. — Choraminguei sentindo meus olhos se encherem de água. — Não ache que vai se livrar tão fácil de mim. — Bagres velhos são difícil. — Belial brincou rindo. — Não estou velho! — Meu pai revidou. Depois eu e Aiken éramos as crianças. — Vejo que conseguiu ter a segunda liberação. — Papai falou com seu ar mais sério. Ergui minha lança a fitando. A segunda forma de minha alma em minhas mãos, pesada para mim e

nem sabia como lutar com ela, apenas sabia que precisava vencer a mãe suprema e aprisiona-la. Meu plano não era difícil, mas levava tempo e distração. Selaria Keline em seu próprio mundo usando seu portal, para isso precisava chegar perto dele e modifica-lo para joga-la dentro e fechar as portas. Fitei para Belial, não sabia fazer aquela barreira que ele falou para mim o que indicava que ele já sabia de tudo, e por sua expressão eu tinha acertado. Desviando o olhar, seu semblante se tornou pensativo enquanto torcia para ele ter uma saída, não tinha absoluta certeza que a mãe suprema ficaria presa por tanto tempo, porém, era a única arma que nós temos, agora. Papai apenas suspirou assentindo para mim. Ele não tinha outro plano... Ele invocou sua Baal caminhando para longe de nós o que fez papai Hardar estranhar ainda mais ao ver uma onda surgir e contornar meu outro pai. Kaya. — Está pronto? — perguntei a Aiken que apenas assentiu. — Papai Belial e Kaya vão distrair Keline e com isso vou modificar seu portal para prende-la. Separei-me deles, correndo pelos cantos, o portal não estava longe, todavia, ainda existia Synters em volta portal onde teria que esperar papai e Aiken abrir caminho para mim. Corri o mais rápido que podia fugindo de alguns daqueles monstros estranhos tentando chegar o mais rápido. Belial girava suas espadas pelas correntes caminhando como um felino em direção a mãe suprema que sorriu friamente depositando delicadamente sua lâmina branca no chão da plataforma enquanto observava seu filho. Belial era um deus menor, todavia, sua selvageria o fazia ser muito forte nas batalhas, não era à toa que meu pai quase venceu Keline. Sorri, vendo Kaya surgir ao seu lado saindo das águas, ela carregava consigo seu tridente e não tinha uma expressão amigável de sempre. — Hora de retornarmos aquela luta, mamãe. — Papai rosnou. Ele jogou sua espada em direção a mãe suprema, segurando pelas correntes que cresciam. Um ataque fraco e obvio demais que Keline apenas revidou com o bater de sua lâmina contra a de meu pai, porém, esse não era o verdadeiro ataque. Em um piscar de olhos, Belial estava ao seu lado a deixando surpresa, as correntes enrolaram em sua volta a prendendo e assim um arranhão surgiu em seu rosto e o sangue a marcou. Seu maior erro em uma batalha é subestimar seu adversário, mesmo que tivesse tanto poder ela era ferida por sua falta de atenção.

Ela se afastou de meu pai que a atacou sem piedade, as espadas se chocaram tão rápido que mal conseguia acompanhar. Era a primeira vez que via uma luta de Belial que não fosse apenas brincadeira e estava impressionado, seus ataques eram precisos e mais letais, muito mais poderosos dos que os golpes de Hardar. Vi seu corpo girar e sua perna quase alcançar a cabeça de Keline que pendulou a cabeça para baixo tentando acertar um golpe com sua espada. Em vão. Uma luta não apenas de armas, mas corpo-a-corpo também era travada. Keline também não ficava para trás avançando socos contra meu pai que se esquivava rapidamente antes das espadas voltarem a se chocar. Admirei tanto meu pai que não notei o toque de Aiken me empurrando rumo ao portal, os Synters tinham sido destruídos e Hardar ficava por perto assim como Kaya para dar apoio a Belial caso ele precisasse. Corri junto com Aiken até o imenso portal que era o dobro do tamanho que tive noção ao vê-lo de longe. — O que você vai fazer agora? — Aiken perguntou baixinho, vendo-me tocar no objeto. — Ouvir as trevas — disse tentando ver por dentro do portal. Aproximei-me mais curioso o que me deu a chance de ver uma enorme cidade, um castelo fabuloso de mármore branco e cinza. Não tive a chance de observar cada detalhe, no entanto, além do castelo havia jardins espalhados por todos os lados, um céu de vidro onde foi possível ver areia escorregando pelo cubo de vidro. O mundo dos deuses era tão estranho. “A destruição é eminente, o sangue deve ser derramado.” Ouvi a voz das trevas e logo após um urro. Movi-me para trás vendo a espada de Keline acertar o ombro de papai e vice-versa, os dois estavam empatados na batalha e isso não era vantagem para meu pai. “Conjure o selamento, liberte nosso poder, nosso único poder.” Franzi o cenho segurando firme minha lança. Libertar o poder, o único? O que isso queria dizer? — Triton. — Aiken chamou-me fazendo-me fitar sobre os ombros. Vi seu sorriso gentil que ele sempre lançava para mostrar que sempre estaria ali, que me apoiava e sabia que eu poderia vencer o que desejava fazer.

— Liberte sua alma, liberte seu poder, obedeça a mim, seu dono, seu mestre, agora e sempre. — Não sabia de onde vinha minhas palavras, apenas citava aquilo que gritava dentro de mim. — Mystsu liberte-se. Os azuis de minha arma se intensificaram correndo entre a lança inteira e assim as raízes tomaram conta do chão correndo para o portal. As trevas caminhavam entre os pilares daquele objeto tapando o branco o transformando em negro. — Minha alma caminhe entre a luz inimiga, transforme tudo no poder do equilíbrio, sele a luz que deseja a destruição. Meus lábios se mexiam enquanto acompanhava as raízes negras terminarem de cobrir todo o portal, tapando as portas douradas, pilares brancos e patentes da mesma cor e assim se tornarem brancas. O equilíbrio estava no controle. — Pai! — gritei ao ter meu plano completado. Via seu sangue no chão se misturado com a da mãe suprema e assim tive não só o olhar de Belial sobre mim, mas da mulher que arregalou suas órbitas vendo seu portar danificado. Ela conseguia ver perfeitamente as raízes cobrindo o objeto o que não deveria estar ali. Papai a pegou desprevenida a acertando nas costas à fazendo cambalear, porém, ela não desistiu, não caiu. Ela veio em minha direção deixando seu filho de lado, deixando suas costas desprotegidas, sua fúria era evidente ainda mais quando sua espada arranhou o chão e uma onda de luz veio em minha direção. Minha reação não foi se jogar para o lado, apenas bloquear com minha lança, algo que não funcionou muito bem. Sendo jogado longe, apenas tinha arranhões leves graças a arma que sugou boa parte daquela onda de luz. Aiken avançou contra ela invocando sua arma novamente, papai Hardar a atacou pelas costas, todavia, nada funcionou. Ela parecia mais feroz que um tubarão, mais forte que uma serpente do mar. Apenas bloqueando o ataque de Aiken ela conseguiu joga-lo para longe, igualmente meu pai que não voltou a se levantar urrando de dor no local que ele tinha sido ferido inicialmente. Ele não estava apto o suficiente para voltar a batalha. Cerrei os dentes, não me acuando. Não poderia permitir sentimentos assim agora, nunca mais! Corri em sua direção fazendo minha lança se chocar contra a dela, ela parecia mais forte do que antes, mais furiosa ainda. Sua luz parecia estar fora do controle, suas raízes me atacavam e precisava invocar as trevas para me proteger.

” Mate-a.” A voz daquela sombra que pedi mais poder soou. “Mate-a! Isso não irá funcionar, você é incompleto, fraco para ela.” Fraco?! Eu não sou fraco para vencê-la! Nada em mim é fraco. Não podia apenas desistir, deixar que os outros deuses a matassem. Eu prometi ao meu filho que ele teria um mundo para ele sorrir e brincar, para ele nadar, vasculhar e se esconder em cavernas. Eu protegeria o lar do meu filhote, o meu lar, por mim, por ele, por aqueles que amo. Desvie-me dos golpes dela, precisava atordoa-la e joga-la dentro do portal. — Você... — Ela parou encarando-me. — Como conseguiu fazer isso. — Sua voz misturava raiva com surpresa o que me fazia perguntar o motivo. Era tão difícil assim selar um portar? Ou ela estava tentando cuspir mais palavras de que eu era apenas uma aberração? Ela semicerrou os olhos analisando-me. “Erga a lança e a mate!” A voz da sombra gritava para mim. Tentei ignora-la focando-me em Keline que arregalou os olhos dando um passo para trás como se tivesse visto algo assustador. Pisquei, não entendo quando a vi segurar mais firme o cabo de sua arma e rosnar. — Ele vive dentro de você, impossível... — Ela resmungou palavras incompreensíveis. — Essa arma, essa aura... Papai Belial se aproximou de mim posicionando-se em minha frente, era claro que ele queria sua vingança, sua revanche da luta que tinha perdido. A mulher em sua frente o tirou quase tudo, aquela que dizia ser sua mãe. — Esse garoto está manchado. — Ela riu fitando nos olhos de meu pai. — Você sabe que logo você mesmo terá que erguer sua arma e acabar com ele. — Ela observava atentamente as reações de papai. O que era manchado? Por que usavam tantos termos que não entendia entre os deuses. — Não. — Ela falou firmemente. — Eu vou mata-lo, como fiz com Baal. — Ela gargalhou insanamente. Baal, o nome do antigo deus suprema das trevas, o nome da arma de Belial também, ele teria dado esse nome a sua arma em homenagem ao deus? Aquele que seria seu... pai? Qual era o parentesco entre os deuses. Girei-me minha arma jogando minha lança em sua direção enquanto ela gargalhava como uma louca o que a deixou com a guarda baixa. Por não poder

matá-la apenas fiz a arma passar rente à sua pele raspando-a no rosto. Keline sessou seus atos rosnando enquanto minha arma girava no chão atrás dela. — Não vou ser derrotado por alguém como você. — Cuspi. Corri em sua direção deixando papai para trás fugindo de seus dedos que iriam me impedir de avançar e assim fingi que iria avançar com meus próprios punhos deixando ela preparada para um golpe assim, no último minuto cai escorregando bem ao seu lado invocando minha arma em minhas mãos e a acertando nas costas. O ato fez o sangue dela manchar o chão enquanto seu corpo cambaleava para frente. Levantei-me voltando a ataca-la. Minha lança ia em sua direção com pura fúria que senti apenas ao sentir que iria perder meu pai, todavia, isso fazia meu poder crescer e crescer. O azul de minha arma se tornou intenso e as raízes atingiram a mãe suprema que teve que erguer um escudo branco que foi quebrado, nada que ela fazia parava meus poderes, nem eu conseguia parar. Era como se fosse uma sede que precisava saciar, atacava como nunca fazendo movimentos que jamais testei. Nós aproximávamos do portal à fazendo contra-atacar com mais força, ela sabia meu plano e para isso precisava ficar o mais afastado possível do portal. Sua lâmina veio em minha direção e meu corpo apenas se abaixou avançando com os punhos em direção a deusa. ” Mate-a, mate-a.” Era a única palavra que soava em minha mente. — Você não sabe o que está fazendo! — Ela gritou ao ser empurrada mais para trás. — Nunca pode existir um deus dentro de outro, um sempre precisa morrer. — Ela berrava tentando ainda contra-atacar. Não queria saber de deuses dentro de ninguém, apenas vencer essa guerra, derrotar aquele que feriu minha família, meus amigos. O deus que ameaçou o lar do meu filhote! “Destrua ela” Minha lança caiu e meu corpo paralisou, a voz não parava de gritar em minha mente e cada vez que me aproximava do portal ela ficava mais nítida, mais alta e não gostava de suas palavras. Não iria matar ninguém, não podia destruí-la.

Arregalei os olhos sendo pego pelo pulso e puxado rumo ao portal vendo apenas a luz branca em minha frente. Não sabia o que aconteceria se eu adentrasse o mundo de Keline, se ficaria preso lá. Nem tinha conhecimento de como destruir o selo que foi posto em seu portal. Naquele momento as trevas não me ajudariam, nem a luz em minha frente. Apenas senti abrir a boca quando fui puxado para trás e o sangue de um tom vermelho bem escuro pingar em meu rosto, naquele momento apenas cai no chão atordoado com o que aconteceu, tudo que ocorria ali. Levei os dedos até o sangue vendo que não era meu e assim ergui o olhar vendo uma silhueta de cabelos negros e curtos puxar sua arma banhada ao sangue chutando seu adversário rumo ao portal. O sangue que manchava a lâmina curvada de papai pingava enquanto ele tinha perfurado Keline que tinha os olhos mais vagos do que um cadáver. As raízes rodearam em sua volta a puxando para dentro de seu próprio mundo e assim as portas se fecharam fazendo tudo sumir. Tudo tinha finalmente acabado. Pisquei várias vezes não para ter certeza que tudo tinha acabado, mas sim, pelo fato das sombras estarem em minha volta e ainda aquela voz não parar. Sentia meu mundo girar diante de meus olhos, não conseguia escutar as palavras de meu pai que estendia sua mão em minha frente nem os gritos animados pelos aliados que erguiam suas armas par cima. Aiken também se aproximou de mim erguendo-me, no entanto, minhas pernas não aguentavam, queriam desabafar e permanecer no chão. Fitei minhas madeixas negras que escorriam sobre meus ombros, elas pareciam maiores e como minha íris que não retornava para o azul que tanto amava. Eu realmente tinha virado um deus das trevas? “Destrua tudo, as trevas é o caos, liberte ele.” A voz sussurrava tão nítida. “Me liberte...” — Pai... — Foi a única palavra que consegui choramingar antes de balançar a cabeça como um louco e tocar em meus olhos. Não queria ouvir a voz das trevas, daquela sombra. Queria apenas escutar a voz daqueles que amava. Queria gritar para Hardar fazer a sombra parar de falar, mas não consegui fazer minha voz sair.

Senti uma mão em meus cabelos acariciando-me antes de conseguir sentir seu calor, a silhueta se afastou de mim fazendo-me erguer o olhar e fitar em direção a Belial que continuava a caminhar para longe de mim e de papai. Hardar segurava meu rosto perguntando se estava tudo bem, Aiken ainda me segurava mesmo deixado que meu corpo fosse até o chão. De joelhos em frente ao meu pai, ele olhava várias vezes para Kaya. Pelo canto do olho, pude avistar vovô Reikal se aproximar com sua foice dupla cheia de sangue, o sangue do Alkes que estava atirado no chão. Não sabia nada sobre Noah, porém, imaginava que Aiken sofreria em dobro agora. Os outros se reunião, Oki tentava se aproximar sendo puxado pelo irmão. — Destrua. — Estremeci ao escutar aquela palavra. Todavia, não foi profanada pela voz da sombra e sim por Kaya que tinha uma expressão séria direcionada ao irmão que caminhava em direção a minha lança que não tinha sumido mesmo após ela ter caído de minha mão, isso não era para acontecer, uma alma sempre volta para o dono após ser solta. Belial parou diante da lança a fitando por um breve instante antes de erguer sua esmada mirada em direção a minha arma. Arregalei os olhos vendo sua lâmina descer tão rápida e poderosa cravando na ponta da lança e a quebrando, outro fator impossível se tornando possível diante de meus olhos. E por qual motivo papai estava destruindo minha própria arma! Tentei protestar, porém, minha voz não saia. Os pedaços da lança se desmancharam virando pó lentamente. — Minha arma... — Foi a única coisa que conseguia fazer soar de minha garganta. Papai Belial guardou sua própria espada após se certificar de que tinha terminado seu trabalho e assim se virou para mim. — Ela não era sua arma, não era sua segunda liberação. — Ele falou em um tom sério. Em seus olhos existia uma certa raiva, mas não de mim, ou dos acontecimentos com Keline. Era outra coisa... — Ela era a primeira liberação da arma do primeiro deus supremo das trevas, Baal — disse ele parando em minha frente. — Não sei como conseguiu invocar ela, porém, não podemos dar o luxo de despertar um fragmento seu. Despertar o deus que foi destruído? Isso era possível... — Um fragmento que se você evoluir ele, pode fazê-lo renascer

novamente. — Continuava. — E dentro de você, isso faria o verdadeiro Triton sumir. Até mesmo papai Hardar olhou em sua direção a Belial que não tinha nenhum de seus traços brincalhões, a sombra, o fragmento do deus supremo apenas me emprestou seu poder para despertar, renascer em meu corpo... Eu não sabia nem se a Mystsu era realmente minha verdadeira arma agora. Que mais eu invocava e não me pertencia? Primeiro a arma da deusa, agora do deus supremo, onde estaria a minha verdadeira alma. Toquei em minha cabeça sentindo tudo girar novamente e isso fazia-me perguntar se meu filhote estava bem, não conseguia mais ouvir suas batidas, nem minha barriga indicava que existia um bebê crescendo ali. Meu coração acelerou, escorrei minha cabeça no peito de Aiken vendo ainda as raízes caminhar pelo chão, a arma não tinha sido destruída o suficiente, a concentração de trevas ali indicava que ainda havia mais coisas escondendo no mar escuro que era o mundo das sombras. — Aiken. — Kaya chamou meu pervertido que continuou me abraçando. — Leve-o para a água. — Ordenou alto. Aiken queria hesitar, não a obedecer, porém, vendo meu pai assentir ele me ergueu em seus braços caminhando em direção a água, aflito não apenas por minha causa. Ele nem mesmo pode ir ver como sua irmã estava, ver pela última vez seu irmão pelo fato do tritão fraco estar precisando ser salvo de novo. Queria parar de dar apenas problemas para Aiken, mas jamais iria conseguir me afastar dele. Meu tritão pervertido. — Vai ficar tudo bem. — Ele sussurrou para mim sorrindo fraco. Invejava sua força, queria ser tão forte como ele em todos os sentidos. O baque na água fez um som forte e assim sentia a água em minha volta. Fria, como nunca senti. Aiken soltou-me e deixei meu corpo descer, minha cauda apareceu, todavia, a deixei imóvel. A água rodeava-me, o oxigênio puro do meu habitat adentrava minhas guelras e meus olhos teimavam em ficar fechados. Senti um nado ao meu lado e assim as mãos de Aiken em volta de mim como seus lábios selando os meus. Toquei em seu peito, abrindo os olhos. Enquanto meu corpo estava em direção para baixo, o de Aiken para cima e assim continuamos a nós beijar, seus lábios parecia aquecer todo meu corpo,

aliviar minha alma e também me fazer escutar o som que fez lágrimas serem engolidas pela água. As batidas de meu filhote.

24° ESCAMA DE TRITON Lembro-me de ter voltado a fechar os olhos e assim perder a consciência nos braços do tritão que amava após escutar meu filho. Não tive pesadelos de nenhuma bolha que me sufocava, ou dores agonizantes, pelo contrário, parei diante de um imenso jardim, um caminho longo de flores de todas as cores que podia imaginar, não as conhecia, todavia, até sua fragrância eu sentia o cheiro. Eu andei diante do caminho de pedra até o pequeno palácio de mármore preto, sentia curiosidade sobre a única arquitetura do local, mas ao chegar em sua escadaria, tudo se desmanchou, o sonho que tive foi interrompido sem saber o que me esperava lá dentro, sem descobrir o que era tudo aquilo. — Isso dói! — Uma voz rugiu como um trovão no local que eu estava. — Não quero isso! — Continuou a voz gritar. Abri lentamente minhas pálpebras vendo o teto branco do aposento, o sol adentrava o ambiente pela janela iluminando tudo enquanto suas cortinas finas do tom vermelho estavam abertas. O cheiro de Aiken no travesseiro fez-me reconhecer o local que estava e assim sentei na cama como um pulo procurando a voz de meu pai. Era ele que gritava como uma criança. O vi sentado em uma poltrona esperneando e tentando empurrar vovô Reikal que estava agachado tentando passar algo na região que meu pai se feriu. Aiken gargalhava atrás de Hardar enquanto o segurava o fazendo espernear mais ainda. Han balançava a cabeça segurando o riso. Nem eu mesmo me contive, era tão estranho ver meu pai fazendo drama com um machucado. — Isso não cura nada! — Berrava ele para Reikal que tinha um sorrisinho maligno nos lábios. — Seu pai faz tanto drama por um corte. — Dessa vez foi meu outro pai que falou rindo baixinho, mas sua expressão mudou ao fitar-me nos olhos. — Como está? Pisquei, olhando novamente o grupo que me acordou, deveria expulsalos do meu quarto, que abusados! Iria os punir depois dessa. — Bravo — disse fazendo meu pai erguer uma sobrancelha. — Aquele grupo me acordou! Meu sono de beleza! Como acham que consigo manter essa beleza toda. — Brinquei sorrindo.

Belial riu alto chamando atenção do grupo, no entanto, papai Hardar apenas berrou mais alto querendo fugir de vovô. — O que aconteceu exatamente? — Papai entenderia o assunto que queria chegar. E depois de um minuto de silêncio observando Hardar desistir de espernear, ele voltou-se para mim suspirando. — Depois que quebrei a arma, Kaya tentou te purificar, já que você é metade Sereiano ela expulsaria os fragmentos de Baal, e com isso você perdeu a consciência o que não era para acontecer. — Pisquei o fitando. — A existência do antigo deus estava forte dentro de você, por sorte você carrega a luz e sua própria luz o purificou por completo, todavia, ficamos com medo que isso não funcionasse e não fosse nosso Triton que acordasse. Minha própria luz, então realmente eu era um equilíbrio carregando os dois lados, o que deveria também ter-me ajudado a não ser controlado pelo antigo deus, ele não era um equilíbrio então a luz o machucava, mas a grande pergunta era: Por que ele queria que eu matasse Keline? — As trevas escolhem seu novo mestre, o novo hospedeiro que ela vai habitar, tendo apenas um, não existe duas possibilidades para ela, voltar para o núcleo, ou se unir ao único hospedeiro existente. — Papai explicava. Fiquei curioso sobre o núcleo que ele destacou gesticulado com a mão como se segurasse uma bola. O núcleo seria o mundo das trevas que eu adentrei? — Após a morte de Baal, elas foram para o único deus restante, por isso que Keline me selou, meu poder se comparava ao dela e se não fosse por Ranzel eu teria me tornado um deus supremo trevas. Ranzel, o Sereiano ambicioso que aprisionou boa quantidade de trevas dentro do palácio Schifino e isso o matou no final, tanto queria poder que foi morto por sua própria ganancia, sua própria fonte de poder. Então as trevas que estavam me ajudando eram um fragmento de Baal, e Kaya apenas o expulsou juntamente com minha luz, mas ainda ele ainda podia reviver, todavia, não tinha a intensão de usar mais meus poderes. A guerra acabou. — Ele tentou aproveitar-se de você já que não conseguiu comigo, mas não se preocupe, ele não pode mais possui-lo, seu fragmento tornou-se fraco novamente então por bons anos não vamos nos preocupar com ele. — Papai sorriu fraco. — Baal é o seu pai? — Coloquei para fora uma curiosidade que tinha

sobre os deuses. Meu filho seria um semideus também? — Sim e não. — Ele deu de ombros. — Keline não engravidou da forma normal; através de sexo, porém, ela nos fez com um pedaço das trevas, ou seja, um pedaço dela e um dele. Isso era tão estranho, entretanto, não podia falar nada, eu fui gerado em uma bolha de água! — E seu filho é um mistério para mim e Kaya, quem sabe ele se torne um deus como você, nunca na história existiu um semideus e dele nasceu uma prole, o futuro então dirá. Queria perguntar mais sobre os deuses para meu pai, até mesmo o que iria acontecer com Keline, no entanto, meu nome foi chamado e fitei em direção ao tritão ruivo que quase se atirava em cima de mim roubando beijos dos meus lábios. Beijos tão quentes e doces. Aiken sorriu tocando em meu rosto, encarei as órbitas vermelhas me fazendo imaginar como seria meu filhotinho, teriam olhos vermelhos ou azuis? Azuis... a cor que não estava mais em minha íris. — Triton. — Aiken sussurrou meu nome baixinho. — Fiquei preocupado com você. Sorri de leve entrelaçando meus braços em volta de seu pescoço. — Desculpe. — Pedi. — Eu amo você, tritão pervertido. Aiken sorriu radiante me abraçando com força esquecendo nosso pequeno filhote, o empurrei apontando para minha barriga lisa o lembrando, e assim ele se alegrou mais ainda me empurrando para trás e beijando minha barriga. Sussurrando meu filho, Aiken se estivesse em sua forma aquática iria parecer uma foca se mexendo todo. — Ninguém quer ver isso. — Papai Hardar gritou. Vovô Reikal tinha finalmente o soltado e realmente papai só tinha um arranhão um pouco fundo no local que tinha se machucado, mas nem sabia que pasta verde era aquela que meu avô passava em papai. Avermelhei resmungando. — Aiken, está na hora. — Hardar falou em um tom mais sério olhando o sol pela janela. Estava na hora de que? Vi Aiken assentir e assim me soltar tão facilmente, sempre quando tinha

uma tarefa ele fazia birra ou até fugia de Hardar, o que estava acontecendo? — Han, volte para o palácio Schifino. — Reikal falou fazendo o outro tritão de pele escura o fitar confuso. — Não é bom deixar Rayran sozinho, não com Aron fazendo de tudo para se tornar líder agora. Han não protestou mesmo sendo evidente que ele gostaria de ficar com o amante. Aiken beijou-me novamente antes de se levantar e ajeitar suas roupas, ele gritou que me esperaria no salão principal e assim abanou para mim enquanto papai Hardar o acompanhava lançando um último olhar para Belial que tinha parado no meio de seu trajeto. Sua expressão era fechada e sem emoção, seus olhos desviaram de Belial e assim papai fechou a porta seguindo Aik. Senti-me triste por papai Belial que apenas baixou a cabeça, imaginei que eles tinham finalmente feito as pazes, definitivamente, e se tornado amantes novamente. Não sabia o que estava acontecendo, todavia, papai Hardar não pareceu ir com Aiken para fugir de Belial, ele que governava por trás de Aiken que sempre se fazia e fugia, tudo que ele fazia era papai que mandava ele fazer. Sorri de leve, esse era meu Aiken. Vovô Reikal juntou seus “medicamentos” colocando em uma bolsa de pano, Han se aproximou da cama com uma expressão aflita e olhos direcionados para mim. — Queria poder ficar, talvez Side apareça com o anuncio de seu casamento, então peço que converse com ele. — Han parecia bem cabisbaixo. — Ele e Kastra decidiram de vez romper, e ele está bem tristonho. Side e Kastra terminaram? Eles não iam até casar? Iriam participar da cerimônia que por sinal tinha até esquecido. O casamento deles eram depois do segundo ritual e nem lembro a diferença dos dias entre um ritual ao outro. — Eles esperaram o novo ritual que acontece hoje a segunda parte, mas não adiantou, nem comigo ele quer falar. Baixei a cabeça, Side era meu amigo não queria vê-lo triste, no entanto, qual motivo fez Kastra desistir dele? Ela parecia tão apaixonado por Side, era tão estranho. Sorri para Han assentindo, iria conversar com meu amigo, era o mínimo que poderia fazer. Han e Reikal saíram juntos fazendo o silencio pairar sobre o quarto, mesmo que no passado estivesse cego de paixão por Kastra e vê-la beijando

Side, não podia ser egoísta e chutar meu amigo, ele foi o primeiro Sereiano que se aproximou e estendeu sua mão enquanto me escondia atrás de uma pedra com medo de outras crianças. — Sabe que não vai ajudar você falar com o garoto, não é? — Ouvi a voz de papai ao meu lado. Pisquei o fitando confuso o que o fez suspirar e balançar a cabeça. — O garoto gosta de você e esse é o motivo dele ter terminado com a sereia. — Papai se deitou na cama colocando os braços por trás de sua cabeça. Ele não esboçava nenhuma reação, apenas jogava suas palavras como se não fosse importante, ou estranho, mas era sim estranho! Side é meu amigo e na amizade há um sentimento então era claro que ele gostava de mim. — Você mais lerdo do que uma minhoca. — Papai falou para logo rir. — Melhor irmos, você vai ter um dia imenso pela frente. — Anunciou se levantando. Desistindo de ficar pensando em suas palavras o imitei arrumando minhas vestes brancas. O ato que fazia-me notar que era a primeira vez que via Belial sem seu enorme casacão que sempre ocultavam suas tatuagens nos braços. Suas roupas continuavam com a mesma cor que sempre usava. Braços tão fortes quanto os de Aiken, podia notar cada musculo no corpo de meu pai me fazendo ficar assustado. Debaixo das roupas antigas via mais um corpo reto, mais magro do que atlético. Ele virou sua cabeça em minha direção colocando suas mãos no bolso da calça enquanto me esperava perto da porta. Arqueando uma sobrancelha notei que fiquei paralisado no lugar, desviando o olhar, continuei a me ajeitar. Papai me guiou pelos corredores como se já os conhecessem tão bem, diferente do castelo Schifino, que tinha tudo a mesma cor e forma, o palácio pelo menos você não se perdia tanto. — Para onde estamos indo? — Para algo chamado de salão real. — Ele sorriu travesso. — Mas a menor, que só usada para julgamentos e reuniões entre o rei e o conselho. Isso explicava por que papai tinha ido atrás de Aiken. — Aconteceu alguma coisa? — Minha noção em minha volta estava nula pelo fato de ter ficado inconsciente e ninguém ter falado nada. Belial apenas continuou seus passos largos, com as mãos ainda dentro

dos bolsos ele só ergueu os ombros em um movimento rápido. — Depois que Aiken se jogou com você na água, ele o trouxe inconsciente, Kaya disse que você dormiria por dias se fosse preciso, então precisávamos ficar de olho. — Ele fitou as paredes douradas. Todo o local que passávamos parecia ser feito de ouro e ofuscava meus olhos de tanto dourado, realmente Aiken gostava da cor amarela, ou talvez a geração de outros reis. Ouro nem era tão precioso para nossa raça, era um material barato para nós. Apenas o teto que era escuro, e as molduras de quadros a tinta de polvo. Voltei a me concentrar em meu pai. — Noah não foi morto por Reikal que ficou furioso ao ser impedido por Hardar, os líderes Alkes foram capturados também, em resumo todos que estavam ao lado de Keline estão no calabouço agora prestes a irem a julgamento. Mukay... minha mente apenas trouxe nome dele. Ele no final ajudou-nos, não podia ser julgado. Não por crimes a traição ao rei. Foi Mukay que avisou para que nós saíssemos da plataforma, foi ele que ajudou contra a mãe suprema prendendo sua atenção. — Não se preocupe, traição a coroa é algo sério, mas sabe que seu namorado não vai condenar ninguém que acha que não deve ser julgado. — Papai Belial disse em uma voz normal. Aiken, algo que adorava nele era o senso de justiça, ele sabia observar, julgar certo. Um verdadeiro rei que ele deveria exercer, sair das sombras de Hardar e renascer. Ele era um rei que todos precisavam para selar as feridas da tirania dos antigos reis, para trazer um novo mundo para todos, até mesmo para nosso pequeno. Fitei para minha barriga lisa me perguntando se nada tinha acontecido com meu bebê, ninguém me deu más notícias, porém, também não deram boas. — O que está acontecendo entre você e papai Hardar? — perguntei quebrando esse silêncio que apenas intensificou. Belial apenas afinou os lábios, desviando seu olhar para as paredes brancas agora. Nossos passos diminuíram. — Não sei. — Sua voz era fraca. — Parece que cada vez ele está mais longe de mim e não sei mais como alcança-lo — sussurrou. Olhei para meu pai, ele tinha uma expressão tristonha. Mesmo depois da ligação eles não tinham se entendido totalmente, para falar a verdade a relação deles era um tanto estranha, em uma hora estavam

juntos até mesmo se beijando, na outra hora brigados. — O que você sente pelo papai Hardar? Sabia que minha pergunta não seria respondida, uma coisa que sabia dos meus pais eram que os dois eram cabeças duras que não colocavam seus sentimentos para fora em palavras, nem sempre apenas demonstrar ajuda. Continuei caminhando tranquilamente esperando que estivéssemos próximo ao nosso destino. — Eu apenas sinto que não posso perdê-lo. — Para minha surpresa, meu pai me respondeu. Pisquei, o fitando rapidamente. Papai Belial falava a palavra “Eu te amo”, em uma frase tão grande. Sorri de leve, apenas precisava saber o que Hardar sentia. — Depois que cometi meu primeiro erro, o senti tão distante, e não importava o que fazia eu não conseguia me aproximar mais, não no modo físico. Hardar cada vez ficou mais e mais distante de mim e era como se eu perdia parte de meu corpo. Sorri, papai Belial amava demais Hardar, seria difícil ele seguir em frente, e nem desejava isso. Queria trazer meu pai Schifino até ali e fazer aqueles dois se entenderem, pararem de brigar, colocar o passado em uma caixa e seguir para o presente e o futuro, mas apenas juntos poderiam guardar o que passou e olhar para frente. Agarrando o braço de meu pai, sorri escorando minha cabeça ali. Antes de prosseguir pelo corredor de esculturas de pedra em direção a uma porta grande e prata, quase fomos atropelados por uma figura que saia de uma passagem que nem tinha notada que existia, uma pequena sala que não consegui ver muito ao ser fechada pelos dedos de meu pai e assim se deparar com nossas silhuetas. Suas sobrancelhas se ergueram vendo Belial desviar o olhar dos deles. — Você já está pronto? — Hardar tinha a voz séria e me fitava de cima a baixo. Assenti e ele não pareceu se convencer. — Você vai precisar começar a usar mais joias. — Ele comentou. — Peça alguns a Aiken depois. — Que você sente pelo papai Belial? — Joguei a pergunta sem cerimonias. Não queria saber de joias, apenas fazer aqueles dois pararem de se

entristecerem mais. Papai mostrou uma expressão surpresa antes de pigarrear, talvez se fosse outro Sereiano que eu estaria abordando assim, Belial teria caído na gargalhada, porém, ele se mantinha o olhar baixo para o piso branco. — Não é hora para isso, temos um julgamento. — E faço seu agora. — Sorri travesso. — Deve responder ao seu rei, não é? — Sabia que poderia receber duas opções. Um puxão de orelha e quem sabe umas palmadas, era a primeira opção, a segunda era não ser respondido e papai apenas me deixar falando com suas costas. — Não devo sentir nada. As palavras de meu pai pareceram tão cruéis, e se não fosse pelo fato de uma tristeza nelas, poderia julgar errado. — Eu brinquei com o coração de dois machos que eram importantes para mim, abandonei um mentindo para ele até ir para tumulo, fui egoísta em não querer abrir mão de nenhum deles, deixar que seguissem em frente, e olha tudo que causei. — Em cada palavra de meu pai ficava mais surpreso. — Não posso mais ficar dando lugar a amor, nunca mais. Ele estava sedo duro demais com ele. Erial ficou insano por ele mesmo, papai não tinha culpa disso! E se apaixonar por dois não era um crime, não podemos controlar alguns de nossos sentimentos, nosso coração. Iria gritar essas palavras para ele, mas a silhueta que se pós em minha frente fez meus lábios voltarem a se fechar. — Você foi egoísta, eu fui egoísta. Eu menti para você, o deixei sem me abrir antes, sem falar a verdade e mesmo assim você me aceitou de volta, deixou que eu tocasse em você. — Belial jogava suas palavras fora impedindo papai falar algo. — Nós falhamos, mas existe algo que se chama concertar os erros, é isso que quero fazer. Hardar desviou o olhar e eu apenas sabia ficar observando aqueles dois. — Quero você, sempre quis! — Ele elevou a voz querendo chamar atenção dos olhos de Hardar. — Eu quero concertar meus erros, quero que no final você então julgue se mereço ganhar uma segunda chance para você, mas pare de pensar que você é culpado pela morte de Erial! Nunca tinha visto papai Belial com a voz tão elevada. Hardar se culpava pela morte do antigo rei? Pelo fato dele ter o deixado

por se apaixonar por Belial? Isso era ridículo, você não deve iludir alguém pelo fato de você sentir pena e permanecer ao seu lado mesmo não o amando mais, deve guia-lo para descobrir sua própria paixão. — Você não sabe... — Sei sim! — Belial gritou. — Eu sei que eu o abandonei com uma criança no ventre, ao invés de te falar que não podia respirar no mundo de Kaya apenas o joguei a própria sorte e corri para meu mundo! Eu sei que pelo que fiz, você apenas queria alguém que o confortasse e Erial foi um que fez isso, fico feliz que ele pelo menos foi homem suficiente para dizer seus sentimentos a você enquanto eu, um covarde. Hardar ergueu o olhar e era a primeira vez que via as órbitas azuis do famoso Hardar marejadas. Qual era o passado que papai se culpava tanto, por um segundo queria poder ver dentro em sua cabeça. — Desculpe pelos meus erros, mas quem deveria levar a culpa sou eu, não você. — Sua voz voltou a ser perto de um sussurro. — Eu o amo, Hardar. Não quero perdê-lo por uma idiotice minha. Sorri de leve esperando a resposta de meu pai, era estranho estar presenciando algo assim de meus pais, todavia, ficava feliz que poderiam finalmente colocar um ponto final naquilo. — Você é um idiota. — Hardar sussurrou. — Mas nunca deixei de amar você, babaca. — Ele sorriu de leve. Segurei o riso vendo realmente um Hardar que nunca tinha visto e era engraçado, apenas faltava os socos o que me lembrava que fazia demais com Aiken. Tinha puxado isso de meu pai? — Vocês estão aí, que bom. — As portas da sala que Hardar tinha saído se abriram novamente revelando meu Aiken. Ele estava deslumbrante e mostrava um lindo sorriso de dentes brancos e afiados, seus olhos vermelhos seguiram de meus pais até mim e apenas soube correr para seus braços. Meu Aiken. — Você ainda não está pronto! — Ele me fitou observando meu corpo. — Apesar que gosto do meu tritão assim, com pouca roupa. — Ele sorriu safado. Rei pervertido! — Ou se nenhuma — sussurrou perto de meu rosto. Corei, cerrando os punhos e o socando de baixo para cima pegando em

seu queixo, certamente deveria ter doido pelo jeito que Aiken choramingou indo para trás. Cruzei os braços desviando o olhar. Pervertido. — Eu preciso entrar agora. — A voz de papai Hardar soou atrás de mim. — Você vai ficar ao lado de Aiken, mas não se preocupe não precisará falar nada. — Ele tocou em minha cabeça. O fitei de soslaio. Essa reunião que aconteceria teria a presença do conselho o que indicava que não seria nada amistosa, nunca tinha visto uma, nem quando era filhote papai me levava para elas, todavia, pelo que ele tinha comentado os conselheiros queriam ter a voz do poder. Sorri para ele recebendo seu carinho antes de continuar seus passos, no final daquele corredor portas douradas guardavam vários Sereianos nada alegres e gentis o que me fazia entender por que Aiken sempre fugia de tudo envolvendo a coroa. — Vamos colocar umas joias em você, como rei precisa tê-las... — Voltei minha atenção ao tritão ruivo em minha frente que levantava as pontas de meus cabelos e me observava da cintura para baixo. Eu já estava como deveria estar, achava idiota isso de mostrar status, de humilhar os outros com suas joias se vangloriando que tinham mais do que eles, uma coisa era você comemorar sua vitória, outro é pisar sobre sua própria raça. — ...E sua coroa! — Pisquei sentindo Aiken largar meus cabelos deixando-os cair por meus ombros. Eles estavam mais compridos do que me lembrava. Entreabri meus lábios pronto para retrucar quando o som de metal soou no corredor e diferente de mim que apenas se virou para ver o que era, papai Belial e Aiken já endureceram seus músculos pronto para a luta, era assim que um guerreiro sempre agia? Ignorando o fato de meu relaxamento, apenas foquei no tritão que quase escorregava no piso liso quando vinha correndo, o som de metal era de sua armadura prata, tapando por completo seu corpo da cintura para cima, seus braços ficavam amostra e em volta de sua cintura a armadura era curta do estilo de nossas roupas. Sua lança batia em seu próprio corpo junto com seu elmo que segurava na outra mão. Um soldado do calabouço. Apenas eles usavam armadura para se proteger dos inimigos que mesmo

atrás das grades poderiam ser perigosos, porém, pela expressão podia notar que era um recruta. — Majestade. — Só depois de estar na presença de Aiken que o tritão se curvou mais por recuperar o folego do que uma reverencia. — Trago notícias. Aiken arqueou uma sobrancelha ruiva e fitei sua expressão, seu queixo, seus lábios e toda essa observação fazia meu corpo ficar agitado, desde que tinha acordado e ficado perto de Aiken ficava reagindo assim. Meus braços queriam se esticar e agarrar as roupas brancas daquele pervertido, tira-la, deixar seu peito a mostra... — Noah. — O nome fez-me virar na direção do recruta. — Ao acordar hoje ele começou a agir diferente, berrar por sua majestade, chorar e perguntar por que estava preço ali. Ele está sendo bem difícil de conter e algemar. Franzi o cenho como Aiken, o que Noah estava planejando. — Apenas uma jogada dele. — Aiken virou seu rosto, mesmo tentando ser frio podia ver sua tristeza. Ele sentia falta do irmão. — Talvez não. — Belial falou analisando o tritão de armadura. — Pode ser que ele esteja sim falando a verdade. — Do que está falando? — Aiken perguntou. Belial hesitou antes de virar-se e voltar a fechar a boca, ele apenas deu de ombros meneando a cabeça em negativa como se mandasse esquecer suas palavras. Estranhei, fitando em direção onde seus olhos pararam antes de se calar, papai Hardar estava poucos metros de nós, todavia, o suficiente para ouvir e com isso suas pernas o trouxeram de novo para nós. — Pai... — Chamei Belial o fazendo olhar rapidamente para mim. Ele temia algo... — Desembucha ou soco você. — Hardar o ameaçou. Se não fosse um momento como aquele, teria sorrido com aquilo e Aiken provocado algum dos dois. — Ele foi trazido a vida por Keline, então existe a possibilidade dela ter estado controlando sua mente, implantado tudo o que queria, os Alkes não agiram como Noah, nem Mukay, cada peão dela foi de um modo, deuses da luz são ótimos em manipulação. — Ele dizia fitando o chão. Deuses da luz podiam então manipular um ser mortal, então Kaya

também podia fazer isso? E eu? — Ah... bom, da luz são peritos nisso, porém, os das trevas também podem, se trazem ou se unem a eles. — Papai Belial olhou rapidamente para Hardar. Então era esse seu medo? Pensar que Hardar iria ficar bravo, não gostar em saber que Belial teria posse de sua mente e corpo se quisesse, ordena-lo a algo que ele não queria, entretanto, duvidava que ele seria capaz de fazer algo que machucasse papai Hardar. Observei Hardar o vento apenas fitar em direção as janelas amplas que fazia a luz do sol iluminar tudo pelo corredor. — Como Keline foi selada em seu mundo, esse transe que ela colocou todos seus peões vão sumir, e Noah o que foi mais controlado apenas deve se lembrar de sua última memoria ainda vivo. As palavras de meu pai fizeram Aiken fechar brevemente os olhos e baixar a cabeça, o que ele pensava? Existe cicatrizes que a vida nós da que impossível curar. Belial disse apenas para mim. Algo em seu passado que ele se culpa... Aiken se culpava por algo... — Vamos logo para essa reunião — disse por fim já caminhando em direção a porta. Fitei a silhueta de Aiken que parava ao lado de meu pai e trocando algumas palavras, Hardar apenas assentiu. Dispensando o recruta, papai adentrou os salões primeiro e aproveite para ficar ao lado de Aiken e segurar sua mão. Escorrei minha cabeça em seus músculos tentando chamar sua atenção, seu toque era quente, ou seria meu corpo que estava assim? Queria apenas prender meu cabelo para algo e me abanar, sentar-me logo. Os dedos de Aiken roçaram em minha pele, em minha barriga e vi seus olhos em mim, recebendo um beijo em minha cabeça, sorri para ele antes de acompanhar seus passos e as portas se abrirem.

25° ESCAMA DE TRITON Esperava que poderia sentar, e quem sabe comer algo. O que não daria por um prato de lagostas agora! Ao ver as portas douradas se abrindo um enorme salão, o dobro do tamanho daquele que aconteceu a cerimônia de coração no palácio Schifino, surgiu diante de meus olhos. Nem imaginava que algo tão grande poderia ter dentro do palácio real, mas a verdade era que nem conhecia um terço da minha nova casa. Piso branco tão brilhoso que não duvidava se me aproximasse poderia ver meu reflexo, paredes um tom acinzentado bem fraco, apenas para dar uma cor, teto dourado, mais ainda do que as portas que passei. Janelas do tamanho da parede estavam postas dos dois lados do lugar e mais para frente uma plataforma com dois tronos em... vidro? Por ter tanto dourado e ouro imaginei que seria do mesmo material ou cor, todavia, os tronos eram de um material diferente que sabia que não poderia ser de vidro, talvez cristais. Uma almofada branquinha no assento e no escoro das costas para deixar mais confortável. As mesas compridas que cada conselheiro ficaria estavam em seus postos, uma em cada lado da sala com cadeiras brancas para combinar com o objeto de cristal. Fitei os conselheiros em passarela se curvando diante da presença de Aiken e assim sem mais delongas irem para seus lugares, nem sei se tinham me notado ali, mas desejava que não. Expressões de nojo não seriam bem-vindo naquele instante. Vi meu pai me lançar um sorrisinho enquanto caminhava para seu lugar. Sendo puxado por Aiken me sentei na cadeira que ele me conduziu observando todos na sala que pareciam ter notado minha presença, e nem minha coroa eu tinha! Encolhi-me querendo fugir dali. Guardas rodearam o salão, cinco em cada lado e assim senti algo ser colocado em minha cabeça. Uma sereia de vestido preto sorriu para mim enquanto via seus cabelos vermelhos se mexerem com seus movimentos. Erya estava cheia de joias e uma coroa dourada em sua cabeça enquanto terminava de ajeitar a minha e assim ia para lado de Aiken que beijou sua mão. — Não gosto desses olhares... — Pensei alto.

Aiken fitou-me primeiro e assim lançou um olhar para cada Sereiano do local fazendo-os baixarem a cabeça. Notei que havia alguns lugares vazios, um deles sabia que tinha sido morto por ter mandado me matar, todavia, onde estaria os outros? Fitei em direção a papai que balançava a cabeça tocando em seus olhos enquanto Belial sentava como uma criança ao seu lado ocupando um dos lugares vagos. — Por que um deus está sentado na bancada dos conselheiros? — Um tritão de cabelos castanhos comentou. Belial que brincava com os fios da roupa de meu pai parou lançando um olhar que fez o mortal ficar paralisado. — Está incomodado? — Sua voz saiu provocativa. — Sou uma divindade, faço o que quero, sento onde quero. Se estiver incomodado sugiro falar agora. O tritão apenas balançou rapidamente sua cabeça que parecia que iria quebrar o pescoço e assim se encolheu em sua cadeira fazendo outros sussurrarem, Belial fitou cada um que baixou o olhar. Vi um sorriso fraco surgir nos lábios de meu pai, certamente achando engraçado os conselheiros amedrontados com Belial. — Vamos começar, se ninguém tem mais contradições, ou devo supor que os olhares ao filho do deus das trevas seja algo para ser discutido agora? — Aiken sorria maligno. Sua palma indicava a minha direção e apenas soube observar com medo os conselheiros que negaram fitando papai Belial cruzar os braços. — Ótimo, por que ele vai governar ao meu lado. — Os Sereianos fitaram seu rei. — Espero que se divirtam em nossa festa. — Aiken disse com a voz brincalhona. Os conselheiros nada falavam, talvez pela presença de Belial. Aceitando aquilo tudo, eles se renderam tão fácil e rápido, imaginei que não me aceitariam ao lado de Aiken e não permitiram de jeito algum. O conselho era imprevisível mesmo. As portas se abriram revelando dois guardas trazendo o primeiro julgado. O primeiro Sereiano que me fitou nos olhos e andava sem correntes, não era uma ameaça para ninguém ali até mesmo os guardas que ficaram ao seu lado no centro do salão sabiam disso. Seus passos não eram lentos, todavia, nem rápidos demais até chegar na posição determinada pelos soldados. Os cabelos negros e compridos estavam desgrenhados, sua mexa

vermelha era quase oculta e estava jogada para trás dos ombros, sua pele escura não levava nada de joias, ou parte de armadura como era de costume, apenas um tecido fino em volta de sua cintura. — Primeiro julgado, Mukay Reskenov. Antigamente segundo guerreiro mais forte do exército real. — Um conselheiro lia um uma folha branca igual dos livros que tinha visto na estante de minha casa. Dentro da água aquele objeto se desmancharia, mas era de e esperar que o palácio real tivesse mais do que objetos que qualquer um do povo pudesse ter, até mesmo roupas qualificadas para ficar debaixo da água eles tinham. Até mesmo fogo. Mukay abaixou a cabeça em uma reverência mantendo-se calado. — Seu julgamento por traição a coroa, e a pena de traição é a morte. — O mesmo conselheiro dizia alto. Mukay parecia já saber sobre o que o esperava pelo fato de nem ter erguido a cabeça ou suplicado para ninguém, aceitou o seu destino. Destino... algo que eu não aceitava! Eu mesmo criava meu destino e o fiz vencendo Keline, mesmo não sendo morta, ela foi detida e o mundo estava seguro por enquanto. Fitei Aiken de soslaio vendo-o desviar o olhar, o que passava em sua cabeça? Mesmo tendo tudo para odiar Mukay, não era esse sentimento que que passava por mim naquele momento, sentia tristeza. Os crimes passados não doíam mais em minha pele e nem meu coração desejava um final assim. — Últimas palavras? — O conselheiro continuou a julgar Mukay. Ninguém iria fazer nada? Ele não traiu a coroa! Foi ele que tentou avisar, mandou-nos voltar. Foi ele que ajudou a deixar Keline ocupada enquanto preparava meu plano que não saiu tão bom. Mukay não os traiu nessa guerra, e por mais que papai quisesse tê-lo matado pelos seus atos contra mim no passado, Hardar nem abria a boca, nem mesmo para aconselhar o rei o que dizia duas coisas: Ou estava dividida ou seu silêncio era uma confirmação aos representantes de sua escolha. Cerrei os punhos. — Mukay não nos traiu! — Vociferei mais do que desejava. Meu plano de soar com ar mais calmo se afundou no oceano quando tive minhas palavras soltas ao vento e todas as cabeças, até mesmo dos meus dois pais se viraram para mim, os nobres não mostraram muita surpresa com meus

atos, o que aliviou mais meu corpo. Aiken ao meu lado apenas ficava observando calado e queria soca-lo por isso! Ele sabia que Mukay não tinha cometido esses crimes. — Desculpe, mas existe provas até mesmo em sua arma que ele se uniu a mãe suprema, ou seja, traição! — O Sereiano tentou soar mais amigável possível, mas vi sua impaciência. — Mukay se aliou a eles, mas foi ele que avisou para sairmos da plataforma por que Noah estava aqui, foi ele que tentou me proteger dando essa informação, foi ele que lutou junto com Aiken e Arkab contra Keline, foi ele que esteve ao meu lado quando me desesperei vendo meu pai cair! — Rugi para aquele Sereiano. Agora ele é um traidor por isso! — E os crimes contra sua morte? Foi ele que tentou mata-lo. — Rebateu. — Isso está fora de questão, e isso escolha minha — disse querendo levantar-me e tocar qualquer coisa naquele tritão. Ao lado de meu pai, Belial sorria se divertindo com aquilo enquanto estava escorado em Hardar. — Você não pode mudar as decisões do conselho, nem mesmo é casado com Aiken para isso. Cerrei os dentes querendo chutar aquele tritão para fora daquela sala, mas não tinha nem poder para discutir com ele, para salvar Mukay. Fitei para o mesmo vendo seus olhos observando-me, mas sem suplica, sem medo. Apenas calmo. Fitei e direção a Hardar tentando buscar alguma resposta, porém, meu pai apenas olhava para Mukay, já Belial sorria travesso para mim como se esperasse algo, um espetáculo, algo do tipo, o que já era de se esperar dele. Franzi o cenho ao sentir as trevas em volta de mim. Um deus tinha mais poder que um rei, que aquele que rei casava. — Mande-o para a execução. — Aquele Sereiano que rebateu comigo ordenou. Pelo canto do olho captei Aiken abrindo sua boca para falar algo, todavia, meu corpo falou mais rápido, e não apenas minha voz. — Mukay não será morto. — Meu corpo se ergueu e o mesmo Sereiano revirou os olhos. — Você não tem poder...

— Eu sou filho de um deus! — Urrei mais alto que a voz daquele conselheiro. — Eu sou um deus do equilíbrio, então aconselho a medir suas palavras. Papai Belial levou uma cotovelada de Hardar como um olhar mortal certamente, no entanto, ele não se importou, se aproximou mais da mesa fazendo sua mão segurar abaixo de seu queixo e assim seus olhos degrade observar mais atentamente tudo. O conselheiro pareceu recuar ainda mais quando viu o sorriso diabólico de Belial em sua direção, e não foi apenas ele, todos de sua mesa pareceram se encolherem. — Eu decido seus crimes, e digo que Mukay não será morto por um pensamento fulo de vocês. Se entreolhando, nenhum deles voltou a rebater. — Como desejar. — Ouvi falarem. Voltei a sentar ao ver escoltarem Mukay para fora daquela sala. Meu pai não me olhou me aprovando ou desaprovando o que dizia que ele tinha ficado dividido entre mandar ou não mandar Mukay para a morte? Fechei brevemente minhas pálpebras fazendo toda aquela adrenalina baixar e o ar voltar a circular tranquilamente para dentro dos meus pulmões. — Ia dizer que agiu como um rei, mas acho que foi mais como um deus. — Ouvi Aiken sussurrar para mim e rir. Todo esse tempo ele estava esperando que eu falasse algo? Agisse por conta própria? Por isso Mukay foi o primeiro. Seu grande idiota. O xinguei mentalmente e sorri de leve.

26° ESCAMA DE AIKEN Por todo o julgamento que aconteceu apenas esperava que Triton fizesse algo diante do conselho, era meu plano de mostrar aos nobres que fitavam meu Triton com certo nojo estampado em suas faces que deveriam se curvar também diante dele, engolir suas palavras quando o rei desse uma ordem. No começo achei que ele não fosse conseguir e assim iria agir, porém, nos últimos minutos é sempre quando meu Triton nos surpreende como fez novamente. Imaginava que ele usaria sua autoridade como rei, porém, se mostrou um deus. Não que não gostasse disso, no entanto, um rei também podia vencer o conselho, mas isso dedicaria tempo a Triton, até mesmo eu não consegui fazer isso sozinho, por anos tive Hardar ao meu lado, ser meu porta voz, ser o rei. E todos que o conselho julgava ser desnecessário eles davam pena de morte. Um julgamento nada justo. Vi pelo canto do olho Triton se sentar e encolher os ombros, suas mãos pousaram em sua barriga e seu foco se fixou no chão, certamente ele estava se perguntando se agiu certo, se teria consequências. Algo que admirava em Triton era o perdão, ele conseguia fazer isso facilmente, sorrir, se preocupar com aqueles que um dia quase tiraram sua vida, dar-lhes uma segunda chance. Algo invejável, se todos tivessem um pouco desse perdão, talvez um conselho não seria tão corrupto. Levei minhas mãos acima das dele chamando a atenção de seu olhar, o único problema dele era que Triton se quebrava muito fácil, como se fosse um vidro, todavia, quando era preciso se tornava mais resistente que uma rocha. Temia que seu perdão e bondade o fizessem se ferir, nem todos eram bons, nem todos agradeciam com um sorriso o que era presenteado. — Está tudo bem? — perguntei vendo-o apertar suas mãos sobre o ventre. Deveria ter o deixado no quarto, estresse não era um bom alimento para ele carregando um bebê. Triton apenas assentiu. Talvez não fosse nada com o bebê e sim com ele, sua respiração parecia mais pesada, desde que o analisei fora daquele salão, suas mãos estavam inquietas, ele agia estranhamente. Talvez fosse por falta de comida? Ou de água?

Ele ficou tanto tempo dormindo... deveria ser isso. As portas foram apertas terminando com nossa conversa revelando dois Alkes que eram empurrados para seguir adiante, os dois suplicavam algo para os guardas que os levavam já com uma expressão de raiva, certamente eles deram trabalho a eles. Não tive muito contato com meus avôs, porém, saber que era dois gananciosos por poder surpreendeu-me ver de onde veio isso de Erial, já estava marcado em seu berço e talvez se ele não tivesse me deserdado e Hardar me criado, estaria sentado hoje nesse trono sendo sua imagem perfeita. Não apenas em aparência como era agora. Os dois Alkes se viraram para frente encontrando-me e assim correram até meio do salão juntando as mãos e suplicando. — Poupe-nos, Aiken. — Meu avô falava. Agora eles sabiam meu nome... — Somos da mesma família! Não nos leve para morte... — Era a vez de minha avó falar. Senti os dedos de Triton apertar os meus percebendo que tinha deixado minha mão sobre a sua desde aquela hora. Agradeci o apoio que vinha apenas de um simples apertar em minha mão. Família... eu tive uma família, uma que sorriu para mim, uma que segurou minha mão, bateu em minha cabeça com couro de peixe, me ameaçava com uma lança quando deitava-me no campo de treinamento. Sim, eu tive um pai, uma irmã, e mesmo não admitindo, até mesmo Mukay sempre ficou ao meu lado sendo um amigo sempre. Fitei pelo canto do olho, meu Triton. Agora minha família aumentava com mais dois integrantes que permaneceriam para sempre ao meu lado. Mas família também faz sacrifícios, é que deveria fazer. — Poupe nossas vidas. — Os dois suplicavam. — Segundos julgados, Dalila Alkes e Zyon Alkes. Atuais líderes do segundo clã mais poderoso, Alkes. — O mesmo conselheiro que discutiu com Triton, disse. — O julgamento de você é por traição a coroa, e a pena de traição é a morte. Essas palavras fizeram os dois Alkes ficarem mais agitados. Revirei os olhos. — Cale-se, ninguém ordenou você a falar. — Rugi para o conselheiro que já abria novamente a boca.

Seus olhos arregalados miraram em mim. Conselheiros que não se põem no lugar. — Vocês só não serão mortos pelo fato da mãe suprema ter controlado vocês, em parte. — Cruzei as pernas vendo o sorriso brotar nos lábios dos dois. — Porém, ainda assim, não saíram impunes. Os dois Alkes piscaram ficando em silêncio, ainda bem, não iria querer levantar a voz novamente para mandar agora eles se calarem. Os conselheiros começavam a cochichar um com os outros certamente se preparando para se oporem contra mim, todavia, não iria permitir isso. O rei sou eu e os faria abrir seus olhos para isso. — A pena de morte será substituída por outro fator, caso aceitem. — Larguei-me de Triton segurando agora a mão de minha irmã. — A renúncia do trono dos Alkes. Em base, os conselheiros aprovaram isso. A maior dor de um líder era ser arrancado de seu próprio trono contra a vontade, ainda mais aqueles que apenas o usavam para se beneficiar, e graças a eles nunca tive um pai biológico. Se eles tivessem deixado Erial seguir seus próprios passos talvez aquela insanidade que tio Hardar falava nunca tivesse acontecido. Por tempos eu tentei me aproximar de meu pai, sorrir para ele, porém, tudo que fazia apenas recebia sua expressão de nojo e seus punhos, nada de carinho ou um sorriso. — Diante do conselho vocês aprovam Erya como a nova líder do clã Alkes. Até mesmo Hardar olhou para mim surpreso. Era claro que não iria pegar a liderança, não quando tinha um reino para cuidar, para transformar em algo maravilhoso para meu filhote, aquele que seria meu herdeiro. — Mas em caso de renúncia perante a nós o trono cai para você ou para Agron. Agron Alkes, meu tio, irmão mais novo de Erial. Aquele que nunca cheguei a ver. — Então, eu passo meu poder de líder para Erya. Ela forte e inteligente o suficiente para governar sozinha. Sim, minha bebezinha já estava crescida. Mesmo a cuidando como se fosse um cristal, sabia que minha garotinha era forte, não apenas por ter também sido treinada por Hardar. Inteligente a ponto de me enganar muitas vezes quando

era criança, Erya poderia ser muito bem uma líder. Ela era gentil, bondosa e seu julgamento era sensato. A fitei, vendo-a hesitar. — Se assim, Vossa Majestade quer, será feito. — Os dois falaram em uníssono. Sorri vitorioso. Mais um problema tinha sido resolvido. — O julgamento acaba aqui — falei. Os guardas pegaram os Alkes os levando para fora do salão. Suspirei, o próximo julgamento era algo que partiria meu coração e sei que não tinha coragem suficiente para isso. Não quando era meu irmãozinho, aquele que sempre tentei proteger, que vi sendo perfurado e estender a mão em minha direção pedindo ajuda. Odiava aquelas lembranças, odiava o fato de ter sido facilmente vencido pelas mãos de Hardar que me puxava para longe daquele cenário que manchou demais o oceano, Hardar teve até que pedir ajuda da deusa para impedir mais mortes, todavia, não me lembro de mais nada desde que desmaiei em seus braços e acordei no castelo. Sentindo meu corpo não puxar ar suficiente, apenas soube que aquilo era um sinal que não faria um julgamento justo, eu iria protege-lo, iria salva-lo para consertar minha falha de irmão mais velho. Precisava salvar Noah. Ergui-me de meu trono chamando atenção de todos, um rei nunca poderia fazer isso, mas em caso de julgamento da própria família ele tinha opção de negar a julgar. — Hardar, nesse julgamento, você vai assumir meu posto — disse baixando o olhar. Não podia julgar Noah, meu pequeno. Hardar assentiu. — Julgue com justiça necessária. — Ordenei descendo as escadas. As portas se abriram para mim enquanto um guarda saia junto certamente ordenando que trouxesse Noah. Erya permaneceu no salão indo para lado de Hardar e as mãos finas de Triton tocaram meu braço. Ele tinha vindo junto, não que sua presença seria desnecessária, apenas não queria mostrar minhas lágrimas em sua frente.

Adentrei a sala que era usado para os servos ajeitarem o rei e os conselheiros para um julgamento usando os mantos certos. Segurei forte minhas roupas enquanto ouvia a porta sendo fechada. Ninguém estava mais ali, apenas roupas e mais roupas ajeitadas em seus vários armários de pedra, um sofá solitário estava no outro lado da sala, e vários objetos como um banco, pentes, entre outros acessórios estavam sobre uma mesa diante de uma janela de vidraça. Como se fosse as roupas que não permitissem respirar, retirei o manto de meus ombros, e qualquer tecido de meu peito. Queria tirar tudo, mas isso apenas constrangeria meu Triton que estava imóvel perto da porta. — Aiken. — Ele chamou-me. Amava sua voz, doce, gentil e baixa. Cada vez que Triton falava, meu corpo se alegrava querendo-o envolver e guarda-lo apenas para mim, não gostava quando aqueles toques se dirigiam a outro mesmo que fosse apenas em forma amigável, nem mesmo quando falava gentilmente com alguém. Engoli minhas lágrimas à medida que ouvi passos pelo corredor e a dor do passado apenas começava a me assolar, não a queria. Por tempos, aquela guerra não sabia mais de minha cabeça, do sangue manchando a água, corpos caindo no fundo do oceano. Perdas e mais perdas. Apenas queria salvar meu irmão, todavia, falhei em manter meu próprio corpo firme e forte, precisei ser carregado dali para permanecer vivo. Naquela hora eu vi meu irmão ser atingido e sua mão ser esticada especialmente para mim... — Aiken. — A voz de Triton me tirou de meus pensamentos. Ele me rodeou com seus braços e apenas soube retribuir o ato. — Vai ficar tudo bem! — Ele exclamava para mim sorrindo. — Apenas não queria ter falhado como irmão no passado. — Duvido que você tenha falhado nesse requisito. — Ele riu baixinho, tão alegre e radiante. Meu Triton parecia a luz do sol, ele radiava e contaminava sempre com seus sorrisos, com aquele olhar. Não entendia como nosso povo podia trata-lo assim apenas pela cor de sua pele que nada define alguém. Triton não tinha pele dos Alkes, nem dos Schifino, nem mesmo de Sereianos comuns, todavia, era tão forte quanto todos juntos, era mais gentil que qualquer um. Ele era especial.

— Eu deveria ter tentado mais! Deveria ter permanecido ao seu lado mesmo que ele apenas quisesse seguir os passos de nosso pai.... Eu deveria... — Minhas palavras saíram tão rápidas que nem sabia se tinha falado tudo certo. Respirei fundo. — Não podemos mudar alguém, até mesmo seu modo de pensar precisamos levar tempo. — O via sorrir tão gentil. — Você fez o que deveria ter feito, se ele não aceitou e sua escolha o levou onde ele está hoje é por sua livre vontade. Ele sempre sabia o que falar... Triton baixou suas mãos por meu peito usando suas unhas fazendo uma passagem bem gostosa. A sensação que fazia percorrer em meu corpo era maravilhosa, o calor de seu corpo bem perto do meu, sua respiração pesada contra meu peito. Triton era mais alto do que qualquer fêmea, todavia ainda assim, ele batia em meu peito. E gostava disso. De sua cabeça recostada contra minha pele, de seus abraços. Levei minhas mãos até seu rosto sentindo-o quente, e não era por seu rubor. — Você está bem? Triton abriu a boca várias vezes, no entanto, seu olhar confuso já me dizia que nem ele sabia direito o que estava acontecendo, deveria chamar um curandeiro ou até mesmo Belial? Mas ele estava dentro daquele salão... — Meu corpo está muito quente — sussurrou ele. — Ele... ele reage perto de você mais forte. Triton roçou seu rosto em meu peito desprotegido e suas mãos desceram mais ainda. Não sabia nem como uma fêmea grávida reagia em seu período de gestação, não podia chamar Belial nem Hardar, então o que deveria ao certo fazer? — Toque-me... — sussurrou ele. Triton pedia baixinho enquanto suas mãos continuavam agitadas e claro que um lado de mim queria fazer o que seu amante mandava, mas outro ficava remoendo o passado e querendo se banhar em lágrimas e culpa. Apertando meus lábios, decidi apenas mergulhar nos lábios em minha frente e no corpo do dono. Agarrei a cintura de Triton fazendo-o arfar, meus beijos eram retribuídos

com a mesma intensidade e isso apenas me deixava mais louco. Jogando qualquer argumento ou tristeza para o fundo de minha mente, apenas foquei-me em agarrar aquele corpo. A cada beijo, a cada mover de minhas mãos, Triton ficava ainda mais agitado e suas mãos puxavam o tecido em volta de minha cintura. Sorri travesso, adorava um Triton assim. — Aik... — Fui chamado novamente pelo apelido que de vez em quando ele dizia. Meu adorável tritão podia me chamar do que quisesse. O girei deixando-o de costas para mim enquanto segurava suas nádegas com força, e isso o fez gemer alto. Um som muito bem-vindo para o êxtase de meu corpo que ficava cada vez mais louco com tudo aquilo. Triton sussurrou alto que não compreendi bem, apenas continuei brincando com sua pele por debaixo daquele tecido fazendo-o arfar e forçar sua bunda para trás onde bateu em meu membro. — Depois eu sou o pervertido — sussurrei em seu ouvido fazendo minhas mãos irem para frente do corpo dele. Triton não me respondeu, nem sorriu, apenas ronronou querendo ainda mais. Passos fortes soaram pelo corredor tirando-me daquele transe de êxtase, passos de não apenas dois soldados levando um prisioneiro, muito mais, pelo fato te ouvir as armaduras de metal e logo após apenas reclamações vindas com as vozes dos conselheiros. O julgamento tinha acabado, ou Hardar expulsara todo o conselho da sala, não que a ideia não fosse boa, porém, achava difícil ele conseguir esse poder, mesmo tendo dado a liderança para ele. Triton ajeitou seu corpo resmungando baixinho, era tão fofo vê-lo daquele jeito. O abracei por trás e beijei a curva de seu pescoço. — A noite teremos muito mais tempo. — Lambi meus lábios. — Vamos brincar bastante. Ajeitei as roupas em volta de Triton e me afastei contornando seu corpo e depositando um beijo naqueles lábios tão vermelhos que certamente ele tinha o mordido forte. — Precisamos ir, se julgamento já acabou então temos um casamento para celebrar. — E uma despedida, que apenas ficaria para mim.

Não gostava do fato de Erya ficar longe de mim, todavia, os Alkes já estavam com muita má reputação e se isso continuasse até mesmo o povo poderia pedir para retirar-me do trono, nem meu filho poderia governar sendo mais Schifino ou Alkes. Apenas esperava que se isso acontecesse, Triton ou Hardar pudessem pegar o trono. Triton foi primeiro a abrir a porta quando o barulho acabou e tomando coragem sai na mesma hora que o tio saia junto de Erya da sala de reuniões. Belial já estava em frente ao filho o analisando de cima a baixo, todavia, apenas consegui me concentrar em minha irmãzinha que venho correndo em minha direção. Hardar assentiu calmamente sem demonstrar uma expressão negativa ou positiva, o que dizia que o julgamento de Noah foi justo. — Nosso tio já foi chamado, em breve estará aqui. — Erya avisou-me. Assenti. Tinha conhecido nosso tio, porém, quase não lembrava de sua imagem, e estaria ele ainda igual? — Então devemos nos aprontar para o ritual — falei mais para Triton que por sinal nem estava por perto. Belial virou-se cruzando seus braços desprotegidos fazendo-os saltarem mais ainda, aquele deus era a personificação de musculo! Como conseguia, ele ultrapassava a altura minha e de Hardar sendo que já éramos machos bastante altos para nossa raça e Belial passava sem problemas, e seu corpo parecia uma escultura, sua aura maligna mesmo que estivesse sorrindo era o ponto final para assustar alguém. Pelo mesmo ele tinha feito o conselho ficar em silêncio. — Ele não a lugar nenhum. — Belial falou. — Meu filhote está fraco, ele não vai aguentar todo esse ritual. Fitei em direção a Triton que negava contrariando qualquer coisa que seu pai falava. — Ele precisa comer primeiro, carne de preferência. — Belial disse erguendo seu dedo. — Depois ele precisa de pelo menos três horas de descanso. — Outro dedo se levantou e entendi que ele numerava. — E depois ser saciado. A reação de Triton fez-me sair da minha ingenuidade e perceber que o saciado era o sexo. — Corpo dele está bem quente, ele está nos primeiros estágios da

gravidez o que quer dizer que ele vai sentir sempre esse calor e precisará de sexo. Mas, isso é algo que os Yin sentiam, ou talvez fosse qualquer macho grávido? — Mas, eu quero participar do ritual! — Ele choramingou. — Se quer desmaiar, vá em frente. — Belial o respondeu. — Esse ritual é apenas uma coisa idiota, fora que a família real não o faz. Isso era verdade, apenas estava me preparando para isso pelo desejo de Triton. Sabia que perto do ritual ele tinha sido negado por uma sereia, ou algo assim, e apenas queria realizar seu desejo de participar daquela cerimônia com alguém que o aceitara e o amava. Queria fazê-lo apenas sorrir. Seus olhos se voltaram para mim e sorri de leve. — Terá outros pela frente. — Hardar avisou. — Vocês já perderam um, o que seria apenas mais um para a lista. — Ele deu de ombros. Preocupava-me com a saúde de Triton, todavia, me doía ver seu olhar vencido e fixar no piso gélido. Queria sempre fazê-lo sorrir, torna-lo o sol que ele era. — Vá descansar. — Hardar ordenou ao filho. — E preciso falar com você. — Apontou para o meio de meu peito. Sua expressão não tinha toques de mau humor o que indicava que era algo sério, entendia o peso da conversa que teríamos apenas pela expressão daquele rosto, de sua voz que fazia até mesmo a água tremer quando a elevava para dar ordens. Talvez os deuses se curvassem diante do tio Hardar. Observando os olhos azuis em mim, vi o quanto Triton era sua cópia perfeita, apenas com menos musculo e pele clara. As maçãs do rosto, o queixo, até a grossura das sobrancelhas negras que se mexiam dependendo de sua expressão eram idênticas, Triton apenas herdara a palidez de Belial. Assenti. Belial pegou o filho pelos ombros o escoltando enquanto voltava a conversar com o mesmo, porém, Triton não reagia muito. — Devo avisar sobre os acontecimentos do julgamento de seu irmão. — Hardar começou colocando as mãos para trás como um militar. Desviei o olhar, Erya e Noah eram meus únicos irmãos e família de sangue que tive maior contato, vovô e vovó eram mais desconhecidos do que avôs, jamais perguntaram de mim, nunca vieram me ver ou me tirar das mãos de

Erial. Eles pouco se importaram com seus netos. E diante dos Alkes apenas sabia do meu tio, claro que existia mais Alkes, todavia, não fazia ideia quem eram ou se tinha parentesco direito. — Belial contou sobre os efeitos que um deus poderia fazer, ainda mais ao trazer de volta um mortal. — Hardar começava. — Ele falou tudo diante do conselho que apenas ficaram calados processando tudo e assim pedi para ele se certificar se realmente Noah não se lembrava de nada. Franzi levando meu olhar até aqueles azuis. — Ele deu positivo. Noah realmente não se lembrava de nada... — Então, a pena de morte eu retirei, todavia. — Hardar ergueu seu indicador. — Ele não poderá sair da plataforma sem sua autorização, minha ou de alguém do alto poder. — Ele ergueu outro dedo. — Noah foi posto no exército para cumprir sua pena, deve permanecer lá por quarenta anos, nem mesmo rei tem direito de retirar sua pena. Assenti. — Qualquer movimento de traição por parte dele, guardarei que um dia eu criei aquela criança e o devolverei para o mundo dos mortos. — Hardar disse sem qualquer expressão de hesitação em sua voz. Seus olhos mostravam do que era capaz para proteger seu filhote, proteger aqueles que ele amava. Se Noah se mostrar um inimigo novamente, não ousarei fazer nada, apenas desejarei no fundo de meu coração que a deusa perdoe sua pobre alma levando-a de volta para seu corpo, não a destruição. — Vamos, precisamos nos aprontar. Noah... espero que realmente ele não seja o homem com quem vi naquele campo de batalha.

****** Triton devorou uma bandeja de peixes namorados grelhados e recheados por dentro com pastas de alga e logo em seguida lambeu seus dedos, pronto para atacar os files de salmão da outra bandeja, crus e com um molho esbranquiçado por cima. Pisquei vendo-o terminar com os salmões rapidamente e sorrir para mim. — Pelo visto está deliciosa a comida. — Ri sentando-se na cama ao seu lado. Triton meneou a cabeça em afirmação e assim voltou a lamber seus

dedos lambuzados. — Está melhor? — Apenas quente ainda. — Sua voz saiu baixinho e o vi corar enquanto baixava a cabeça deixando seus cabelos negros taparem seu rosto. Sorri de leve, meu Triton vermelhinho era tão fofo! Segurei seu queixo o fazendo me fitar nos olhos e assim lancei um sorriso gentil enquanto selava seus lábios com um beijo leve. — Se prepare, receberemos visitas para nossa festa, e se arrume. O vi piscar para mim. Por sorte Hardar tinha nos deixado a sós enquanto Belial tinha saído agarrado a ele e choramingando algo que nem tinha prestado atenção. Caminhei até o local de minhas festes, um armário na parede de vidro onde existia várias mudas de tecidos, brancos, negros e vermelhos. Pegando a do quadrado de vidro perto do chão, puxei a roupa da cor vermelha e outra preta. — Vista-se — disse tocando o tecido escuro na cabeça de Triton que reclamou alto. Desatando as roupas que estavam em meu corpo, as deixei cair no chão enquanto andava pelo quarto sem elas, imaginei que Triton iria resmungar, gritar pervertido, mas apenas o vi analisar a roupa e depois me fitar com a mistura de curiosidade e espanto em seus olhos azuis. Sorri travesso para ele enquanto piscava um olho. Ajeite-me rapidamente ajudando meu amante logo depois e assim como se fossemos crianças fugindo de nossos pais, agarrei sua mão e o conduzi para fora do quarto. Pelos corredores amplos, observava para todos os lados não querendo me deparar com tio Hardar, e por sorte apenas encontrei dois guardas conversando diante de seus postos. Como se nada estivesse acontecendo, passamos pelos Sereianos que se curvaram, e assim conduzi Triton até o hall de entrada em direção as portas pratas que estavam abertas sendo guardadas por mais guardas. Apertando meu passo ao estarmos do lado de fora, vi o sol quase se pôr no horizonte o que indicava que o ritual estava já começando. — Pronto? — perguntei a Triton ao nos aproximarmos da água. Ele sorriu radiante e assim assentiu. — Um rei nunca deve fugir pelos cantos. Congelei no lugar ao ouvir a voz grave e poderosa de Hardar soar tão alto

quanto um trovão que surgia em uma tempestade. Fitando os olhos de Triton nós viramos lentamente largando as mãos e assim encarei a silhueta forte de meu tio de braços cruzados. Sua sobrancelha erguida enquanto analisava primeiro seu filho depois a mim. Dei um passo à frente, nem que fosse preciso enganar Hardar para levar meu Triton para aquele ritual, eu faria qualquer coisa para ver meu amante sorrir. Pronto para enganar Hardar com palavras e puxas Triton para o oceano, vi sua expressão mudar para um sorriso pequeno enquanto meneava a cabeça em negação. — Imaginei que você fosse fazer algo do tipo. — Revelou. — Mas vocês não estão adequados para um ritual. Pouco me importava isso! Eu apenas queria levar Triton para nadar comigo, mostrar que estaria ao seu lado até mesmo em um ritual idiota que só servia para nadar com seu par e logo depois todos irem em direção as suas famílias para discutirem o casamento. — Um rei nunca anda sem sua coroa. — Ouvi a voz de minha arma soar atrás de Hardar e assim o mesmo dar um passo para lado. Ela sorria enquanto trazia consigo duas coroas, a minha que sempre tirava por arruinar meus cabelos, e a que tinha dado a Triton. Seus dedos conduziram a coroa até a cabeça de Triton que se abaixou pouco, e logo em seguida ela me olhou em reprovação vendo que não me agradava colocar aquela coisa pesada e destruidora de visual, mas por fim, cedi para minha irmãzinha, — como acontecia sempre —, e baixei-me deixando ela colocar o objeto dourado em seu devido lugar. Ela sorriu para mim observando-me. — Mesmo que não estejam com joias, ainda sim são: — Ela apontou para Triton. — Rei e rainha. — A palavra rainha foi dita ao apontar para mim. Resmunguei a fazendo gargalhar alto e Triton fez a mesma coisa rindo de mim. Ele ia ver. — Se divirtam. — Ela piscou para mim. — E se comporte, mano Aiken! Eu sempre me comportava! Que calunia! Vi pelo canto do olho Triton mexendo na coroa prata, ajeitando-a de um jeito que não ficasse desconfortável, talvez não caísse de sua cabeça ao pular da água, essa parte era a pior, por isso que aprovava colocar uma corda naquela

coisa. Resmungando, retirei o objeto de meus cabelos bagunçando alguns fios, não queria um dia de rei, uma cerimônia real. Queria um ritual normal para dois tritões apaixonados. Apenas isso. — Mano? — Erya chamou-me confusa. Dei de ombros. — Quero ter um ritual normal com Triton, nada de ser rei, se qualquer baboseira real. — Girei a coroa em minhas mãos. Ela era pesada por ser realmente de ouro, a única coisa que gostava nela era suas pontas que pareciam pontas de tridentes comuns. Hardar se aproximou de nós pronto para falar algo, vi sua boca se abrir, todavia, não permiti que deixasse nenhuma palavra escapar daqueles lábios e assim coloquei a coroa nele. Umas horas de rei para o homem que realmente fez a mudança em nosso reino. Todo esse tempo foi ele que me conduziu, transformou tudo que temos hoje, nada mais justo ter umas horinhas de rei. Pisquei para ele quando vi sua sobrancelha arquear-se em confusa e suas mãos irem até a coroa. Triton deu sua coroa a Erya e sorriu gentil. — Que tal umas horinhas de rei? Nada mais justo, já que era para você carregar sempre ela. Não entendia por que tio Hardar não gostava de nada que existisse poder absoluto, ele negou ser rei ao derrotar Kaeryus, colocando assim a coroa em Erial. O trono Schifino fez a mesma coisa, colocou a coroa em Reikal. Talvez ele já tivesse todo o poder que quisesse que não se estabelecia em status. Ele sorriu fraco tirando o objeto da cabeça como imaginei, porém, o homem que vinha logo atrás do tio faria ele ter suas horas reais. — Vocês estão nos atrasando — disse brincalhão. — Não precisam chorar já sentindo minha falta. — Coloquei a mão no peito encenando. Triton me chutou fazendo-me gritar e fita-lo, vi seu sorriso maligno e assim ele me deu as costas indo em direção a água. Que amante cruel! Será que existia divorcio para os reis? — Pervertido! — Triton gritou ao abraçar-me nele e depositar em beijo e

seu pescoço. — Apenas seu. — Respondi ainda o beijando.

27° ESCAMA DE TRITON Pulamos junto na água que nos envolveu com graciosidade como se a deusa desse as boas-vindas aos seus filhos, suas criações. Minha cauda surgiu no mesmo instante, azul como o oceano, minhas escamas brilhavam no meio das espumas que sumiam aos poucos a medida que nadamos mais para o fundo, ao meu lado a cauda larga e vermelha de Aiken se movia acompanhando-me, seus dedos enroscados aos meus fazendo a membrana em que unia nossos dedos atrapalhar um pouco. Sua cabeça moveu-se em minha direção e Aiken lançou um sorriso para mim, corei fraco sorrindo também. O ritual já acontecia quando chegamos no local determinado, não muito distante da plataforma, uma imensa festa em volta dos casais que nadavam em sincronia era feita, todos sorriam e cantavam à medida que muitos Sereianos unidos dançavam em seu nado, sempre juntos. Meu coração se apertou com medo. Sempre evitava multidões, evitava qualquer aglomerado que fosse o tamanho. As dores da humilhação, das palavras ditas, das pedras tocadas voltavam sempre para meu corpo e minha mente quando via meu povo. Sentia medo deles, temia eles mais do que deveria temer um deus supremo. Keline não foi meu maior medo mesmo que a vida daqueles que amava estivessem em jogo. Aiken apertou minha mão tirando-me de meu transe de medo vendo que com o outro braço livre eu apertava me próprio corpo e me aproximava mais de Aiken querendo me esconder atrás dele. Tudo em mim queria dar meia volta e ficar no palácio, esquecer esse ritual que apenas poderia me trazer mais dores. Fui levado por Aiken em direção ao centro do local onde acontecia a dança. Por todo trajeto observei pelo canto do olho os Sereianos que erguiam o olhar ao ver-me passar, o pavor surgiu ainda mais forte ao vê-los começar a sussurrar um com os outros. Temi que atirassem pedras. — Triton. — Aiken chamou-me baixinho vendo-me tremer. — Eles não vão machucar você. Eles já machucaram, queria responder. Ainda as cicatrizes estavam em mim, como o medo e pavor. Mesmo querendo que eles me aceitassem, jamais conseguiria andar no meio deles

novamente. Paramos e imaginei que Aiken falaria mais alguma coisa, ou me faria fita-lo nos olhos, no entanto, o colar de conchas sendo posto em meu pescoço fez-me paralisar e olhar a sereia de pele escura que também colocava um colar de várias conchas multicoloridas em Aiken, assim nos deu passagem para o local da dança. Todos os casais tinham aqueles colares. — Vossa divindade. — A sereia se curvou primeiro para mim. — Vossa majestade. Divindade? Aiken sorriu travesso. — Eu disse que eles não iriam machucar você. O que ele tinha tramado? Abri a boca fazendo uma pergunta muda para tudo aquilo, e Aiken apenas deu de ombros com seu sorriso. — Belial soube o que fizeram com o filhote dele, sabe, então ele chamou a irmã dele e eles tiveram uma conversinha. — Ele falava em forma mais tranquila e formal possível. — Resumindo, todos sabem que você é um Schifino, herdeiro ao trono, rei dos mares e filho dos deuses, caso alguém levantar a mão por causa de sua pele. Aiken fitou para todos os lados vendo nosso povo continuar a festa normalmente. — “Pobre do mortal que o fizer.” Belial falou com um uma voz bem assustadora que fez minhas escamas erriçarem. Pisquei, eles não podiam obrigar que eles me aceitassem, e não queria um status me ajudando, uma ameaça. — Eles são seus pais, Triton, não importa se você deseja isso, eles vão protege-lo do jeito mais feroz que acham certo, por que é extinto deles. — Aiken sorriu gentil. — E começo a entende-los. Ele tocou em minha barriga. — Não importa qual cor da pele ela vai ter, se tocarem na minha bebê eu mesmo corpo cada membro do desgraçado. Aiken abraçou-me dando seus chiliques novamente de vamos ter um bebê. Sorri vendo sua alegria. — Ela? — disse. — Quem disse que vai ser ela? E se for ele?

Aiken soltou-me dando de ombros. — Vai ser ela, sim. — Ele disse com toda certeza do oceano. — Vai ser uma linda menina! A garotinha mais fofa do papai! — Eu acho que vai ser ele. — Rebati. — Um garotinho para ajudar-me a chutar você. Nem sabia ao certo por que desejava um garoto, apenas sentia que meu bebê dentro de mim era um ele, um instinto que nascia dentro de mim. Estaria certo esse instinto? Qual nome colocaria? Como seria sua cama? Seus brinquedos? Suas roupinhas. Aiken me carregou para a dança. De início não sabia o que fazer no meio de tantos Sereianos, todavia, a cada nado Aiken me levava rodopiando como um golfinho muitas vezes, ele se agarrava em mim levando-nos para baixo e logo depois se soltava. Trocamos beijos e risadas junto até fugir da sincronia de todos o que fez muitos olhares serem dirigidos a nós. Aiken queria se destacar, era isso também que sua cauda vermelha e única no meio de todos dizia. Sorrindo tanto que minhas bochechas doíam, o segui por todo o percurso, não me importando mais com os olhares, com o que eles pensavam de mim. Só existia Aiken perto de mim rodopiando e nadando alegre para todos os lados, carregando-me, fazendo-me ser seu centro. Aiken fazia tudo parecer tão magico apenas com seu jeito, seus atos e sorrisos. Amava tanto isso nele. Ele conseguia chamar o olhar de todos enquanto nadava, observações que não gostei nem um pouco, eles que ficassem com o seu parceiro, Aiken era apenas meu. Quase bati de frente a ele ao tirar minha atenção da dança, Aiken riu beijando-me rapidamente e se afastando para nadar mais como uma sardinha que se afastou de seu cardume, e por falar em peixes, um grupo deles passava perto da superfície se distanciando de nós. O pôr-do-sol fazia os últimos raios de sol penetrar as águas e tentar dar o máximo de iluminação para nós fazendo as escamas do cardume brilhar em seu tom de prata. As sardinhas estavam se movimentando naquele horário que era algo raro. — Venha. — Aiken disse puxando-me pelo braço. — Nade rápido.

Suas palavras eram confusas para mim, ainda mais quando íamos em direção a superfície. O que ele pretendia? Queria gritar para ele, fazê-lo parar, que loucura ele estava pretendendo fazer... Pensei em ter gritado desesperado ao ser impulsionado para fora da água e voar sobre ela podendo ver a plataforma, rochas gigantes metade dentro da água e a outra metade fora, e até pequenas ilhas. Não durou muito aquilo e Aiken levou-me para baixo de cabeça em direção a água, não gostei daquilo, porém, tinha entendido o plano de Aiken no segundo que caímos no meio do cardume. As sardinhas se separaram correndo para todas as direções e mergulhando mais ainda passando entre muitos Sereianos que as atacaram. Gargalhei vendo Aiken com uma sardinha na boca e duas em cada mão, ele ergueu a sobrancelha ruiva enquanto me fitava. Aproximando-me, roubei a sardinha de sua boca que parava de se debater, os dentes de Aiken tinham perfurado o peixe que deixava um pequeno rastro de sangue. Roubando-a dele, o provoquei antes de me afastar com o alimento e como tinha imaginado, ele veio em minha direção largando os peixes. — Gostou da nossa dança? Triton. — Sua voz chamando por meu nome apenas fazia aquele calor aumentar. Gemi baixinho roçando em seu corpo. Queria tanto Aiken, suas mãos em mim, sua boca na minha. Larguei o peixe avançando contra os lábios em minha frente, meus braços percorreram seu pescoço e meus dedos sentiram as madeixas que balançavam. — Eu te amo — sussurrei. Aiken tocou em meu rosto, seu toque tão quente, ou seria meu corpo mesmo? Ele sorriu de leve enquanto nossas testas estavam coladas uma na outra. — Meu Triton. — Ouvi seu sussurro. — Amo você também, tritão albino. Sorri. — Pervertido. — Revidei. Sorrimos juntos, nos provocamos e dançamos mais atraindo olhares de muitos. Quando chegamos na plataforma, pensei que papai Hardar iria estar

furioso em nossa espera, porém apenas visualizei guardas em seus postos e fazendo patrulha pelo local, alguns deles nos ajudaram a subir, e no requisito nós seria apenas eu. Aiken conseguia saltar perfeitamente e pousar já com pernas, enquanto eu se fizesse isso pareceria uma bateia encalhada. Nenhum guarda foi avisar sobre nossa chegada como nenhum servo precisou vir em nossa direção com roupas. Segui Aiken em direção as portas do palácio guardadas por guardas com imensas lanças e espadas em sua cintura, nenhum ousava desviar o olhar para fitar-nos, sempre imóveis e observadores em direção oposta do rei para enxergar alguma ameaça. Mesmo aqueles Sereianos sendo treinados por meu pai, eles nem ao menos conseguiam proteger Aiken que tinha o dobro da força deles. Pisquei vendo uma silhueta se destacar perto dos guardas Sorri reconhecendo. As madeixas negras e compridas não mudaram nada, seus cabelos ainda caiam pelas costas e um pedaço dos cabelos preso em um pequeno rabo de cavalo, o corpo não tinha mudado nada, nem aqueles olhos azuis que se erguiam. Apenas tinha visto Oki na batalha contra mãe suprema e nem tinha trocado muitas palavras com ele, e nem tinha sido o momento para isso. Com o olhar em Oki notei pitadas de tristeza em seu olhar enquanto eles não eram mirados em minha direção. — Irei falar com ele. — Aiken avisou tocando em minha cabeça. Quando estava prestes em abrir a boca para perguntar os motivos daquela conversa particular, o vi apontar para trás de mim com o polegar. — Acho que você dever ir falar com aquele tritão que está te olhando. Pisquei, virando-me e encontrando um Side hesitante. Aiken seguiu em frente e uma pitada de ciúmes abordou meu corpo, não queria que Aiken tivesse aquela conversar “particular”, queria estar ao lado dele, escutar e o olhar de Oki sobre meu tritão apenas fazia a sensação do ciúme aumentar ainda mais, sem notar abracei minha barriga como se doesse. Ouvi Side se aproximar. — Você está bem? — Sua voz era de preocupação. Sua mão tocou em meu ombro fazendo minha cabeça pendida para baixo, erguer-se e minhas órbitas fitar as castanhas de Side. — Estou sim. — Sorri para ele, largando minha barriga. Side observou-me com um semblante preocupado não se convencendo

com meu sorriso, quando foi que consegui engana-lo? Ele sempre soube quando tinha algo errado comigo, quando me sentia quebrado por dentro depois de ser maltratado pelo nosso povo, ele sempre sabia exatamente o que eu estava passando, porém, naquele momento não desejava que ele soubesse. Era um tanto vergonhoso, sentir ciúmes só por que Aiken foi falar com outro, mas talvez fosse apenas essa reação da gravidez que deixava até meus hormônios no ápice. — É com bebê? Se precisar sentar ou algo levo você para dentro. Apenas quero Aiken, meu interior gritava. Neguei com a cabeça. — Eu aguento. — Pisquei para ele sorrindo. Esperava que dessa vez tivesse conseguido soar mais confiante e pelo visto funcionou quando Side se ajeitou em minha frente recuando o braço, nesse momento lembrei das palavras de Han que deseja que conversasse com meu melhor amigo. Eu tinha o esquecido... belo amigo eu era. — Han me contou sobre a festa e o bebê, claro que falou se não fosse ele ia me dar para tubarões. — Ele riu fraco. Vovô Han conseguia ser mais persuasivo do que qualquer um, acho que foi daí que papai Hardar puxou. Um lado que conheci agora de meu avô. Sorri junto. — E Kastra? Nunca mais a vi. Side por um momento teve o olhar tristonho que não deixou muito amostra, tentando sorrir e atuar o máximo que conseguia, todavia, ele era péssimo nisso. Ele gaguejou algumas vezes antes de suas palavras saírem ser corte. — Pensamos em desistir de tudo, romper o relacionamento... — Side desviava o olhar. — Admito que muitas coisas foi culpa minha, decisões minhas, mas meu irmão quando voltou para casa fez-me abrir com ele. Side sorriu fraco não focando suas órbitas em mim e isso fez-me aproveitar para espiar o outro lado, como Side, Oki também estava de cabeça baixa o que dizia que a conversa não era nada agradável, então do que se tratava? Se Oki estava triste o que Aiken estava fazendo? Dizendo... — Ele conversou comigo, ouviu-me e me deu conselhos. — Voltei-me para Side.

Era triste e sentia culpado por ter deixado meu primeiro melhor amigo sozinho, esquecido em um canto como se fosse um objeto. Mesmo depois de meu coração voltar a bater tão rápido que não acompanhava mais pelo pervertido que estava a metros de mim, nunca mais voltei a sorrir com meus amigos, a participar de suas vidas. — Desculpe, não vim falar de problemas, dia especial para você. Neguei com a cabeça, dando um passo à frente. — Eu me afastei de você, de Kastra, dos meus amigos. — Colocava para fora o que meu coração dizia. — Nunca deveria ter feito isso... — Você tinha já um futuro traçado, no qual lutou para a mudança, teve que enfrentar um deus, aprender a lutar a ficar forte para salvar todos! Fomos nós que erramos em não permanecer todo esse tempo ao seu lado como o rei fez. Fitei o sorriso fraco. — Deveria ter ficado ao seu lado, negando seus pensamentos negativos, dizendo que era forte sim, amigos não são só parar rir em um dia, é para se manter ao seu lado para sempre. Não sabia o que falar, quais palavras usar naquele momento. — Kastra e eu, continuamos juntos, demos um tempo e agora está tudo voltando ao normal. Ela vai vir para festa e está com saudades. Sorri, seria bom ver ela novamente, ver o quanto meus sentimentos mudaram, ou apenas o quanto eu estava cego de paixão? Kastra foi a primeira sereia a falar comigo e talvez isso fez meu coração bater rápido e esperançoso de ter alguém. Quem em sã consciência ficaria com um tritão albino, humilhado e julgado pelo povo? Um Sereiano comum naquela época que não passava de uma criança medrosa que se escondia atrás de uma pedra para chorar, ninguém ousava se aproximar de mim também com medo de ser julgado, todavia, Side foi o primeiro. Kastra a segunda. Lembro-me bem daquelas órbitas que me fitavam agora, curiosas surgindo pela frente da pedra que estava escondido atrás, ele não fez nenhuma maldade comigo mesmo tendo me assustado dele, apenas sorriu e estendeu a mão. — Obrigado... — sussurrei. Side piscou não entendendo, porém, agradecia por sua amizade, por ter sido meu primeiro amigo.

— Então. — Ele gaguejou quebrando o silêncio. — Não pensei que você era yin, na verdade nem sabia que seu pai Hardar era um também. Ri baixinho. Han tinha dito que eu era yin? E papai também? — Papai não é Yin. — Ri da expressão de Side. — Deuses podem engravidar um mortal de qualquer sexo, como também podem ser engravidados, como meu caso. Side franziu por alguns momentos, certamente não conseguindo digerir tudo aquilo e suas expressões apenas me faziam rir ainda mais alto, por fim ele apenas sorriu envergonhado com toda a confusão que se fez em sua cabeça. Ele deu um passo para trás e assim senti o peso em meus ombros. Um tritão pervertido e pesado. — Meu Triton já está pronto? Corei e assenti. — Vamos nos aprontar, os convidados já estão chegando. — Ele bateu em meu ombro de leve e segui o olhar pela plataforma. Um grupo de soldados ajudava um grupo a subir e assim pude vislumbrar os cabelos brancos do rei de Sharkan, a silhueta rosada do rei dos Dolphins e Arkab que fuzilou Aiken. Essa rixa deles pelo visto nunca entenderia e acabaria.

28° ESCAMA DE AIKEN Odiava ficar usando roupa demais, todavia, em uma cerimônia importante para o tritão que amo tanto faria qualquer coisa, até ficar com aquele tecido grudado em meu corpo, e por que raios aquilo tinha que ser tão longo? Um manto vermelho estava em meus ombros, com detalhas em dourados em todas as pontas do tecido, ele era apenas usado em algo cerimonial, mais no casamento do rei. A cor dele varia com a casa do rei atual, Triton usaria um azul com negro, as cores dos Schifino. Olhei para os lados não encontrando a silhueta que queria, no entanto, o apertão em meu braço fez minha atenção se virar para o lado direito onde minha irmã estava encolhida perto de mim, quase se escondendo atrás do meu manto como uma criança. Toquei em seus cabelos a abraçando fortemente. Ela era minha garotinha acima de tudo e não gostava do desconforto dela, era a primeira vez que ela veria outro membro de nossa família e diferente de mim que já tinha visto nosso tio, — mesmo quase não me lembrando de seu rosto —, ela nem ao mesmo teve contato com nossos dois avôs que estavam próximo a nós rodeados por quatro soldados. Hardar se aproximou colocando a mão em meu ombro, ele levava um manto semelhante ao meu das tonalidades de sua casa, como um nobre do alto poder e pai de Triton, eles carregariam um manto parecido, todos os pais dos dois lados levavam, e o que me fez sorrir foram as tonalidades em vermelho que substituíam o azul. Ele não tinha substituído a cor de sua casa, apenas mesclado. As palavras dele para mim ecoavam em minha cabeça, ainda com mais intensidade quando o via ao meu lado agindo como um verdadeiro pai. “Você também é meu filho, esqueceu de quem te aturou e chutava para fora da cama” Sorri de leve. Todos os convidados estavam no salão de banquetes sendo guiados pelos soldados e servidos pelos empregados, apenas a família “Alkes” estava do lado de fora do castelo esperando o próximo membro da família que nunca chegava. Meu tio era tão demorado assim? E onde estaria Triton? Estava começando a ficar preocupado com ele. — Ele está com Belial, não se preocupe. — Hardar respondeu-me como se lesse meus pensamentos.

Mas, era obvio o que se passava em minha cabeça por todo o momento olhar em direção ao palácio. — Apenas estou preocupado com ele — disse baixinho. — Ele agiu estranho depois que começamos a nos aprontar, mas ele não me diz, não sei se é uma dor ou que. Triton nunca compartilhava comigo nem mesmo suas dores, demorava para ele se abrir as vezes apenas mostrando que sabia que algo estava errado e queria ajuda-lo que ele desabafava, porém, isso deveria ser por sua dor no passado que nosso povo fazia. — Isso apenas o tempo pode curá-lo. — Hardar sussurrou de volta. Tentei deixar minha mente vazia, pensar em Triton apenas faria meu corpo ficar mais agitado e querer correr para ele, pensar no bebê também.... Seria algo com bebê? Erya apertou meu braço fazendo-me piscar e encarar os soldados que ajudavam alguém a subir na plataforma. Cabelos vermelhos bagunçados, olhos da mesma cor e um olhar de confusão enquanto os guardas ofereciam uma roupa a ele que pegou por obrigação. Seu corpo era forte, porém, não chegavam a ser como o meu, e seu rosto era muito jovial. Ele sorriu em nos ver e acenou para meus avôs. — Esse é o nosso tio? — Não entendi bem o tom da voz de Erya. Uma mistura de confusão, curiosidade e... interesse? A apertei em meus braços não gostando daquele tom. — Não, eu lembro pouco dele, e não era nada assim! — Larex! — Vovó gritou abrindo os braços. — Bom vê-lo também. Larex? Quem era esse pirralho que fitava Erya agora? Eu iria castra-lo se olhasse novamente minha garotinha! Queria avançar naquele pirralho e jogá-lo de volta na água quando um novo corpo emergiu da água fazendo gotas rolar por seu peitoral forte, tão forte quanto o meu. Seus cabelos longos e lisos caiam em partes em frente aos ombros, seus olhos eram observadores e não transmitiam nenhum sentimento. Por um breve momento achei que estava vendo uma miragem, um fantasma do passado ao ver que meu tio era exatamente igual a Erial, mesmo comprimento de cabelo, altura, tudo. A única coisa que o diferenciava era seu sorriso gentil que se abria. Pisquei saindo do meu transe ao sentir os dedos gelados de alguém em

meu braço esquerdo desprotegido. Virei o rosto vendo meu Triton um tanto acuado se ocultando atrás de Hardar que já o fitava por cima dos ombros. — Estava preocupado — disse querendo abraçar me amante, mas me contive. Erya e Triton eram importantes demais para mim, todavia, ainda pesava saber que logo ela iria embora, para longe de mim. O castelo Alkes era muito mais longe que dos Schifino, localizado na primeira cidade pequena em volta da cidade real. Meu tio se aproximou abraçando o tritão que se chamava Larex fazendoo resmungar querendo se soltar e manter um ar mais adulto, mas em seu rosto já revelava que deveria ter a idade de Triton, ou até menos. Os dois Sereianos lado a lado, pude ver a semelhança dos dois, até mesmo na moldura do rosto eram iguais, o que indicava que o garoto ao lado de Agron era seu filho, seu primogênito. — Aiken! Você realmente cresceu bastante. — A voz de meu tio não era nada fria como de Erial. Ele sorriu gentil se aproximando e me observando de cima a baixo. — Cresceu bastante mesmo. — Ele comentou. — Me lembro de você do tamanho de um camarão e olhinhos curiosos, agora está do meu tamanho! Ele ria. Realmente ele era bem diferente do meu pai, mas me comparar com um camarão e ainda em tamanho! Como ousava dizer isso! — Você deve ser a pequena Erya, a caçula dos filhos de Erial. — Agron se aproximou de Erya que apenas assentiu. — Bom conhecer você, será muito bem recebida no castelo Alkes. — Ele falava com gentileza. Erya sorriu mais abertamente para ele. Esperava mesmo isso, que a recebessem de braços abertos e a tratassem bem, um sequer boatos que minha garotinha não estava sendo cuidada eu atravessaria o oceano e destruiria aquele castelo. Larex se aproximou de Erya e minha reação vou chuta-lo para longe, todavia, os olhos apaixonados dele em minha irmã não fizeram meu corpo rugir como as órbitas vermelhas indo para trás de mim em pura analisei. Triton permanecia no silêncio enquanto estava quase escondido atrás de meu corpo. Minha irmã se desvencilhou de meus braços e se meu ciúme e outros sentimentos dentro de mim não gritassem mais forte, teria a puxado de volta para

meus braços e chutado aquele Larex para fora da minha plataforma, como ele ousava! — Fui avisado de seu casamento na mensagem, a união de um Alkes e um Schifino. Ele não falava com tanto desdém como a maioria dos Alkes que odiavam os Schifino, uma briga que já levava a anos apenas por status e poder, um clã queria se achar mais superior que os outros, mesmo que os Schifino já se mostrassem fortes o suficiente. Seus olhos seguiram para Hardar perdendo a atenção em Triton atrás de mim. — Mas, não imaginava que esse Schifino seria o filho de Hardar Schifino, ex-amante de meu irmão. Hardar pareceu rosnar com as palavras nada gentis de Agron, e ele era idiota? Provocar tio Hardar só resultaria perder a cabeça, ou talvez um membro do corpo. — Não bastou brincar com meu irmão mais velho? Tinha que colocar sua cria brincar com outro Alkes. — Agron não hesitava em enfrentar Hardar frente a frente. — Vai mesmo permitir que um Alkes case com um Schifino? Com esses Schifino! Seus olhos iam de Erya para meus avôs que apenas baixaram a cabeça em submissão, não cabia mais a eles terem a palavra, nem direito a opinar, e Erya nem ao menos mastigou suas palavras, seu olhar seguiu para mim que não entendia por que ainda estava calado. Eu ainda os temia? Não conseguia mostrar para mim que não precisava mais seguir ordens do meu clã? Eu era a ordem e a lei dentro e fora de lá... — Não estou brincando com Aiken. — A voz de Triton soou atrás de mim, forte até do que o normal. — Não ouse falar que estou brincando com ele. — Pelo menos você fala, não é igual seu pai. — Agron fitou Hardar que se não fosse pelo respeito entre os clãs já teria o acertado. Brigar com Agron apenas faria todos os Alkes ficarem contra todos os do clã de Triton, contra o casamento e quem sabe ainda mais. Clãs são sedentos por poder e seguiriam um líder que prometesse poder mesmo que meu clã estava próximo à extinção. — Chega — gritei para ele, mas parecia que em sua frente só existia um garotinho abaixo dele na hierarquia do clã. Ele não obedeceu, porém, se afastou alguns passos para trás.

— Alkes não devem se misturar. — Ele disse. — Talvez seja por esses pensamentos que nosso clã está sendo destruídos aos poucos! — Gritei não me controlando. — “Alkes não devem se misturar”, “Alkes não devem casar com um Schifino”, quanto tempo isso foi dito em nosso clã e qual foi o resultado! Olha quantos Alkes ainda existem. Agron permaneceu em silencio como esperado de um covarde que apenas citava palavras sem nexo e destruição para sua própria família. Os Alkes sempre foram cabeças duras, talvez fosse por isso que meu pai sempre quis sair daquele castelo e para isso precisava se tornar um rei, fico agradecido por ele ter se rebelado contra tudo do clã e virado um rei. Eu estava livre graças a Erial de um jeito ou outro. — E, não sou apenas mais um Alkes. Eu decido que passo dou, quem desejo — dizia. — Eu sou o rei dos Sereianos, não um simples Alkes com pensamentos fúteis que apenas está colaborando para destruição do clã mais rápido ainda. Schifino sempre casaram os mais elevados da hierarquia com outros Schifino, porém, dentro do clã havia miscigenação e isso proporcionou o crescimento deles, cada geração o sangue fica mais puro e isso o torna um completo Schifino. Han mesmo era parte Schifino e podia ser visto isso em seus traços, com isso Hardar nasceu sem nenhum traço que denunciasse outra linhagem em sua corrente sanguínea. Agron apenas decidiu ficar calado e aceitar a derrota, pelo menos alguém aceitava que estava errado. Virei-me para Triton, meu ingênuo e gentil, Triton Schifino que mostrava suas garras para proteger suas verdades. Toquei em sua cabeça bagunçando aqueles cabelos que estavam bem penteados antes, o fazendo resmungar e querer me socar. — Espero que após ver o resultado de uma união de duas linhagens, possa mudar seus pensamentos — disse. Agron fitou-me com olhos arregalados e logo mirou em Triton que tinha um grande sorriso direcionado para mim, apenas para mim. Meu Triton. — Vamos, antes que convidados se revoltem. — Brinquei. — Além do mais, é Belial que está cuidando de tudo, isso não é bom, não é? Mirei em Hardar que ergueu uma sobrancelha como se não entendesse

nada e assim tocou na testa já certamente imaginando o que seu amante estava aprontando. — Vou na frente — disse já quase atravessando as paredes para chegar em Belial. Ri baixinho abraçando meu Triton. — Acho que nossa festa vai ser bem animada. — Gracejei. Triton riu junto. Os Alkes não tocaram mais no assunto entre a não união, apenas aceitaram em silêncio, Larex não se mostrou contra, nem mesmo quando seu pai foi contra, e isso fazia-me dar uma chance a ele, pelo menos Erya teria alguém sábio por perto. — Vamos, paizão. — Triton me puxou mesmo não querendo me afastar da minha garotinha. Não podia deixa-la com aqueles tubarões famintos, ela era minha menininha. Suspirei, vencido e assim segui Triton. Minha filha não iria permitir que crescesse tão rápido! Nem fugisse de meus braços antes dos cem anos, jamais iria deixar!

29° ESCAMA DE TRITON Ajeitei minhas vestes negras com azul, deveria usar um imenso manto em meus ombros como os de Aiken e por baixo estava com uma túnica negra que escondia meu corpo como desejava, diferente de Aiken que apenas tinha um tecido em volta de sua cintura, aberto dos lados para ajudar numa locomoção mais rápida, usada por muitos soldados. Aiken segurou minha mão enquanto caminhávamos pelo corredor amplo e claro. Guardas se curvavam a cada passo que dávamos e assim pude avisar as portas do salão que aconteceria toda aquela festa, nunca tinha vindo para esse lado e tudo parecia mais... vivo. — Pronto? — Aiken perguntou fitando-me. Meu coração estava acelerado, o corpo estava quente e minha barriga roncava apenas querendo o banquete. Sorri, assentindo. Os guardas abriam as portas ao sinal de seu rei. O salão foi revelado diante de meu olhar, pilares brancos que seguravam o teto que por sua fez era todo detalhado com figuras que certamente contavam alguma história de nossa raça, nelas mostrava as quatro raças que a deusa criou, seu chão era branco com alguns enfeites em prata, uma mesa larga foi posta no meio do salão com almofadas escuras para usar de assento. O fogo iluminava cada centímetro do local o deixando claro ainda mais um imenso candelabro de fogo pendurado no teto. Os convidados se calaram e viraram em nossa direção. Meu coração bateu ainda mais rápido, não por estar assustado, todavia, por ver um novo caminho se abrindo em minha frente. O tritão que foi condenado a ser um sacrifício estava no meio de um salão tendo uma nova etapa de sua vida, meu destino tinha mudado e continuaria a lutar pelas correntes que poderiam me ligar ao passado, a qualquer profecia. Papai Belial tocava em sua orelha e tinha um sorriso que tinha aprontado e certamente levado um puxão de orelha de papai Hardar que estava ao seu lado de braços cruzados, o ignorando. Perto deles Reikal observava tranquilamente e Han ficava todo animado, até mesmo Rayran estava perto deles. Observei cada canto do salão, cada rosto que conhecia. Todos estavam ali, sorridentes com seus olhares em minha direção, tantos

olhares que apenas tive quando meu povo me humilhava, se juntavam apenas para isso, crianças ou adultos, não importava, tinha tantos olhares sobre mim quando uma pedra vinha em minha direção, gargalhadas eram soadas como palavras cruéis. Porém, mesmo com tudo isso não tinha percebido que mesmo que fossem poucos, existia sempre alguém do meu lado sorrindo verdadeiramente, eu lutei por eles, eles lutaram por mim. Mesmo tendo provado de dores nas mãos de meu povo, não podia pagar eles com dor também. Sorri vendo minha mãe surgir diante de todos, até mesmo ela tinha vindo e caminhava tranquilamente arrastando seu manto azul clarinho pelo chão. Com uma mão segurando seu tridente, ela sorria tranquilamente em nossa direção até parar próximo mesa de cheia de comida. — Podemos comer? — Ouvi Belial perguntar a Hardar que o deu uma cotovelada como resposta. Essa pergunta fez meu estomago roncar, eu e meu filho estávamos famintos e aquele banquete em nossa frente apenas fazia meu desespero aumentar. — Uma grande alegria estar aqui, diante dos meus dois filhos. Depois de tudo que todos passaram, finalmente nossa era de paz voltou. — Seu olhar passou por cada um. — E espero que cada raça continue com essa era. Mesmo que tivesse tido desavença entre os Sereianos e os Sharkans, nos dias de hoje apenas Octopus queriam guerra com minha raça. — Hoje presencio a união dos novos reis de Seryos, e... — Kaya piscou parando sua frase ao sentir os braços de seu irmão em volta de seus ombros. Belial sorriu travesso como sempre e apenas queria que ele jogasse pelo menos uma sardinha para mim. — Meu filhote está faminto e agora ele come por dois, então que acha de pularmos as formalidades e comermos? — Ele sorria se divertindo com a expressão de Kaya. — E preciso conversa a sós com você. Kaya assentiu e todos urraram em celebração erguendo suas taças, isso até pegou-me de surpresa vendo a água fugir de cada taça de prata e molhar o chão, todos gargalharam e se aproximaram. Pela primeira fez sorria de verdade em meio a uma multidão, ninguém ali iria chamar-me de aberração, tocar pedras, eles vinham com as mãos limpas estendendo para mim para um aperto amigável, até mesmo o rei dos Sharkans, Helut, veio animado em minha direção. Ele era um velho amigo de meu pai, sabia que tinha sido ele a ajudar papai a fugir da batalha levando Aiken, uma

amizade que começou após o líder dos exércitos salvar o primogênito de Helut. Fitei cada convidado, sorrindo de leve. Helut voltava a perturbar o rei dos Dolphis que ainda não conseguia identificar seu sexo, ele parecia uma mistura de fêmea com macho, Side levava um abraço apertado de seu irmão erguendo-o no ar. Papai tinha sua taça roubada pelo meu avô, até mesmo Oki gargalhava ao lado de Arkab enviando um peixe na boca dele. O alimento fez-me lembrar que até agora não tinha nem mesmo pego uma sardinha e minha barriga implorava por comida. — Coxinha de frango? — Papai apareceu atrás de mim me oferecendo um balde com aquela comida humana que tinha experimentado. Sorri, pegando o balde inteiro não me importando se aquela comida iria fazer mal para mim, meu corpo pedia alimento e devorei aquelas coxinhas de frango espanadas fazendo minha boca salivar com cada mordida. Aiken tentou pegar um, porém, rosnei escondendo-me atrás de Belial, ninguém ia pegar meu balde de frangos fritos. Papai Belial me deixou sozinho com Aiken enquanto sempre algum convidado vinha até nós, porém, deixava que Aiken ficasse conversando, meus olhos estavam fixos nos dois deuses que se afastavam da multidão, estaria acontecendo algo? Keline era uma ameaça novamente? As conversas entre eles continuavam, as expressões que captava não pareciam que algo ruim poderia acontecer, todavia, Belial mostrava-se tenso e hesitante esperando cada resposta de Kaya que desviava o olhar várias vezes, pela primeira vez vi Belial baixar a cabeça com semblante sem esperança, algo totalmente diferente de sua preocupação na época contra Keline. O que estaria acontecendo? — Não coma isso! — Pisquei ao ter meu balde tirado de minhas mãos. Papai Hardar bloqueou meu campo de visão me olhando furioso, quando ele colocava as mãos em sua cintura já sabia que ele me daria um sermão sobre a comida, era sempre assim, depois dizia que eu estava gordo! Meu peso era ideal, minha silhueta com poucos músculos era comprida, minha altura batia bem próxima a de meu pai que insistia em me chamar de pequeno, minha barriga era bem lisinha mesmo carregando um bebê — E se fazer mal para seu bebê? — Ele disse quando abri minha boca para rebate-lo.

Desviando o olhar, não tinha pensado no meu bebê, e se realmente fizesse mau a ele? A genética estava a favor dele ser um completo Sereiano, sem traços de deus. — Venha comer, você precisa se alimentar bastante ou vai ficar com fome a cada minuto. — Papai dizia carregando meu balde em direção à mesa. Sorri de leve o seguindo. — Ostras são ótimas para comer durante a gestação, coma também muita carne de tubarão ou de corvina nas horas que estiver longe da sala de jantar. — Papai ditava a lista de refeição que deveria fazer. Segurei o riso, era tão bom e nostálgico ver meu pai dizendo que deveria comer, lembro-me dele sempre deixar minha comida pronta enquanto passava o dia fora de casa, era claro que comia o que tinha vontade primeiro e levava um sermão depois, mas gostava daquela atenção, do amor que ele tinha caçando para mim. Sentando-me em uma das almofadas, papai me serviu de muito peixe e devorei com maior prazer, não sabia que tipo de peixe estava comendo, todavia, cada um fazia-me salivar ainda mais, a comida do palácio era maravilhosa! Erguendo o olhar em direção aos deuses, vi Belial vindo em nossa direção com um sorriso bem animado, diferente daquele semblante que tinha visto, ele estava escondendo algo? Novamente com mentiras... Ele tocou em meus cabelos bagunçando-os enquanto achava ficava logo atrás de nós, papai Hardar o analisou e assim voltou a comer seus camarões ignorando o deus. — Quero te fazer uma pergunta. — Belial entrelaço os ombros de meu pai e o meu juntando mais nossas cabeças para perto da dele. Sua pergunta era para meu pai o que não conseguia compreender por que eu estava sendo puxado também. Hardar arqueou uma sobrancelha fitando de soslaio meu outro pai, era certo que ele não se mexia pelo fato dos lábios de Belial estar tão próximo a sua face. Ele deu de ombros. — Responde, pai. — O cutuquei fazendo Belial rir. — E dizendo não iria adiantar algo para ele? — A resposta era não. — Então desembucha antes que sele sua boca com peixe que está em sua frente. Papai ameaço a pegar rabo do peixe inteiro que estava em nossa frente.

— Mas que deselegante. — Provocou Belial. Papai virou o rosto para outro lado e não conseguia mais segurar risada vendo a briga daqueles dois, ele foram sempre assim? Desde o primeiro dia que se viram? Papai Belial certamente deveria ter gostado de ser ignorado ou até socado para se apaixonar loucamente por papai Hardar. Hardar podia esconder suas expressões, desviar seu olhar, todavia, podia ver o amor deles quando estavam um do lado do outro, mesmo com tapas e beijos, os dois sempre se entendiam, se completavam assim. Queria ser conectado a Aiken para sempre. Enquanto os dois continuavam a briga deles, procurei pelo salão meu Aiken, o queria perto de mim mesmo sabendo que ele precisava conversar com convidados, principalmente com Helut e suposto rei dos Dolphins, qual era mesmo nome dele? Aiken se afastava de Oki que foi puxado por Arkab logo em seguida e assim se dirigiu até canto do salão onde Noah tentava se fundir a parede, ele estava quieto o que nem mesmo me fez nota-lo na sala, de cabeça baixa, ele se mantinha em seu lugar não entrando em contato com ninguém. O único que estranhava não estar aqui era Mukay, onde ele estaria? — Hardar Schifino, quer casar comigo? Talvez a reação do meu pai fosse pior por ter se engasgado com os camarões e dado um soco em seu próprio peito, pisquei fitando meus pais observando o olhar arregalado das orbitas azuis em direção as de Belial que sorria todo animado como uma criança. Papai Hardar apenas soube ficar de boca entreaberta e sorte a dele que Aiken não estava por perto para provoca-lo ou certamente seria a primeira vez que veria meu pai se escondendo debaixo da mesa com vergonha. Era divertido ver aquelas reações no famoso Hardar Schifino, o maior general frio que todo Seryos já teve. — Obvio que não! Belial piscou erguendo a cabeça enquanto vovô Reikal parava ao lado de Hardar com os braços cruzados. Sua expressão era de que cortaria Belial ao meio, diferente da de Han que olhava curioso para nós e essa aproximação apenas fez muita atenção se dirigir a nós. — Você não pediu a minha benção, acha que vou deixar você casar com meu filho? Você que o abandonou antes mesmo de tira-lo das mãos de Ranzel,

eu pedi a você isso e nem ao menos cumpriu com isso, mesmo dizendo que o amava! — Vovô não parecia estar brincando com suas palavras. — Ranzel virou o melhor avô depois que Belial partiu, e durante. Por todo esse tempo, Ranzel foi até mesmo gentil com Triton, como se fossemos seu maior orgulho. — Papai Hardar que falava com uma voz calma. — Não sei que Belial fez, todavia, sua raiva não é para ele, e sim para Ranzel e tudo que aconteceu. Vovô desviou o olhar resmungando. Ranzel fez uma grande ferida nos Schifino que mesmo com sua morte não adiantou para cicatrizar ela, o tritão que manchou seu clã de dor e sangue e mesmo não tendo restado nem seu corpo para jogar nas águas, ele continuava a causar dor. Conheci pouco desse Sereiano que foi uma farsa todo o tempo que o conheci. — Eu aprovo. — O silencio foi cortado por Han que sorria e assentia bem feliz. Todos piscaram olhando na direção dele, Han apenas deu de ombros. — Hardar bem grandinho, tem até um filhote, já pode tomar suas próprias decisões, mas se a tradição manda o noivo pedir a benção primeiro para pai, então, digo que aprovo. — Ele deu de ombros. Han sentou-se beliscando um enroladinho de alga. Reikal suspirou o chutando o que fez Han apenas rir. — Desde quando você é o pai? — Vovô rebateu. — Mas eu sou. — Han disse. — Quem colocou ele dentro de você? — Sorriu travesso. Papai balançou a cabeça vendo aqueles dois começarem a discutirem quem seria o tal pai. Os dois eram machos o que dizia que dois eram, o pai, certo? Hardar suspirou fitando-me e apenas consegui assentir para ele com um grande sorriso. — Aceito — disse papai finalmente. Belial se atirou em cima dele o que fez vovô Reikal não gostar nada e se não fosse pelos braços de Han o trazendo para seu colo, certamente vovô teria arrastado Belial para longe. Agora compreendia o ciúme de um pai. — Porém... — Papai Hardar voltou a falar. — Você não vai precisar

partir? Belial fez uma cara de pensativos enquanto tocava em seu queixo, o jeito que ele fazia quando queria apenas provocar. — A plataforma fica acima da água, o que indica que esse ar é o meu. — Ele deu de ombros. — Não terei problemas quanto a isso, e os humanos eu não me interfiro na vida deles, eles devem saber confiar e precisar um do outro, não de um deus. Papai Belial poderia viver livremente na plataforma com todos, com sua família e com isso esses dois finalmente podiam se acertarem. Deixei que meus pais sentassem lado a lado enquanto continuava a mastigar aquelas coxinhas deliciosas, os humanos teriam mais daquelas comidas boas? Que mais existia na culinária deles? Comiam peixes também? Fitei em volta vendo o pessoal se divertir, gargalhar e até mesmo tentar namorar igual Belial que tentava se jogar em cima de Hardar querendo beija-lo, mas a única coisa que conseguiu foi beijar um peixe que papai tocou no deus. Ri daquela cena enquanto um poderoso deus apanhava com um peixe, até mesmo vovô ria maldosamente de meu pai Belial. Sorri sentindo os braços de Oki em meus ombros, sorrindo em minha direção, ele beliscou alguns camarões em uma bandeja em nossa frente. Oki estava como da última vez que o vi, o que dizia que Arkab estava o cuidado, seus cabelos estavam todo amarrados em um rabo de cavalo, seus olhos azuis vasculhavam a comida vendo a variedade, seu braço estava ainda ao redor dos meus ombros, todavia, ele não falava nada. Estaria pensando no que falar? — Arkab está o cuidando bem? — perguntei tentando puxar assunto e fazê-lo fitar-me. Muito vi seu olhar sobre Aiken e não sabia o que eles tinham conversado enquanto estava com Side. — Arkab sempre me cuidou, eu querendo ou não. — Ele sorriu de leve. — Ele nunca deixa esse posto. — Isso é bom! Você tem alguém que pensa em você, desejava protege-lo mais do que seu próprio corpo, que te ama. Quando conheci Aiken o achava um doido, alguém se arriscando por um Sereiano que mal trocou palavras, protegendo alguém que negava seu amor e achava loucura tudo que fazia, ainda mais quando vinha para salvar-me de algo. Aiken sempre estava lá, ele desejava proteger-me, cuidar-me. Ele me

amava ao ponto de esquecer de seu próprio corpo, de sua coroa, de tudo. Sorri de leve, deveria ter me esforçado para entender meus sentimentos bem mais cedo, porém, Aik nunca me deixou, se afastou. Ele sempre estava lá com um sorriso e suas brincadeiras me fazendo ser o ser vivo mais especial daquele oceano. Amava muito o efeito que ele tinha sobre mim. — Arkab sempre me cuidou, me protegeu e nunca dei valor, sempre estive cego em minha paixão e o deixava de lado, mesmo assim ele continuava a cuidar. Mirei em direção a Aiken, entendia bem o que Oki estava falando mesmo assim. — Então corra em frente, concerte seus erros antes que seja tarde demais — disse inconsciente. Desviei o olhar em direção a Arkab sozinho em um canto. — Por que quando for tarde demais, ver aquilo escorrendo de suas mãos como água. Você vai se desesperar e ver que não era isso que desejava. — Baixei a cabeça e as imagens de Aiken se afastando de mim me assolou. Aiken estava indo embora, prometido a deixar-me em paz conforme fosse minha resposta e não soube abrir minha boca e dizer o que sentia, eu quase o perdi para sempre... — Obrigado, Triton. — Ele agradeceu abraçando-me. — Espero que nossas raças finalmente sejam aliadas, ainda mais agora com Ark no poder. — Sorriu gentil. Arkab era o novo rei?! Entendia que o antigo não tinha herdeiros, era um Octopus ganancioso que fazia todos se afastarem dele, talvez nem família tivesse para ser Arkab a estar com trono agora, seu escravo que tanto “presava”. Oki uma vez citou-me que Arkab era escravo do rei dos Octopus e com isso ele salvou Okita da escravidão também, mas ele nunca me disse ao certo que tipo de escravo ele era. E nem precisava mais. Arkab para ter conseguido a coroa só poderia ter sido escravo sexual do antigo e assim o influenciado. Vi meu amigo se afastar e ir em direção ao novo rei dos Octopus. — Princesinha! — Dei um pulo em minha almofada ao ouvir a voz implicante que Mukay usava ao dizer a palavra princesinha. Piscando, movi meu olhar em direção a porta vendo a silhueta forte de

Mukay. Seus cabelos negros estavam soltos, sua pele escura se encontrava respingo de água, suas escamas azuis pareciam brilhar. Mukay veio em minha direção com aquele seu típico sorriso e apenas soube parar de devorar meu salmão. — O que quer com meu Triton? — Aiken surgiu atrás de mim enciumado. Mukay parou próximo colocando as mãos na cintura. — O assunto não é com você, enguia vermelha. — Mukay disse provocando e virando a cabeça. Aiken rosnou. Se minha gravidez já o deixava enciumado, ver Mukay, um alfa, se aproximar de mim e não se afastar seus instintos deveriam estar gritando dentro dele. O tritão de escamas azuis se abaixou, colocando um joelho no chão, seu braço direito ficou sobre a perna da Mukay se curvou diante de mim, um de seus joelhos tocaram o chão e a mão da mesma parte do corpo tocou o chão, seu outro braço permaneceu sobre o joelho direito. Uma reverencia típica que soldados dão ao rei ou ao líder do exército. Não entendi o que ele estava tentando fazer até suas palavras soarem. — Você salvou-me e com isso ofereço minha vida a você. — Arregalei os olhos encarando o tritão de pele escura. — Peço seu perdão pelos crimes que cometi, então use minha vida ao seu favor. Não sabia o que falar, se deveria responder alguma coisa, por sorte não mastigava nada ou teria caído da minha boca aberta. Pisquei várias vezes e então olhei para meu pai que apenas deu de ombros. — Já disse, não quero uma sardinha enlatada perto do meu Triton. — Aiken falou. Sardinha enlatada? Era até aí seu nível de criatividade? — Essa enguia vermelha fala até pelos cotovelos. — Mukay rebateu provocativo. Aiken rosnou frustrado. — A minhoca do mar é disputada. — Ouvi meu pai comentar e Belial rir comendo um prato de camarão. Até mesmo meus pais faziam isso comigo!

Resmunguei fazendo um sorriso satisfeito aparecer em Hardar, e apenas não pensei em algo para rebate-lo pelo fato de duas crianças estarem agora brigando atrás de mim e me empurrando. E esse foi a festa de meu casamento, meu noivo puxando as bochechas de Mukay e vice-versa, meu pai me chamando de minhoca do mar e gritaria. Meu filhote era melhor nascer preparado. Meu filho que se chamaria.... Fitei Aiken me abraçando após sua briga. — Akon — disse. Esse será o nome do meu filhote. Akon.

30° ESCAMA DE TRITON Ano XXX 800 – Depois de Triton. 4 meses depois.... — Aiken! — Berrei arregalando os olhos. Larguei as roupas e os brinquedos em meus braços correndo até aquele pervertido no meio do quarto. Ele sorria se divertindo enquanto jogava o Akon para cima várias vezes enquanto ele ria balançando os bracinhos. — Não faça isso! Ele pode cair! — Me desesperei. Akon pousou novamente nos braços de Aiken e dessa fez permaneceu ali, meu filhote ria muito alegre enquanto puxava as madeixas do pai dele e até mesmo colocava na boca. Suspirei. Desde que Akon nasceu Aiken não desgrudava dele, o levava para todo o lado, até mesmo tinha feito um ninho em nossa cama para ficar mais perto do nosso filho, Aiken estava cada dia mais alegre com Akon nos braços dele. Olhinhos azuis como de um Schifino, cauda vermelha com preto como de um Alkes, Akon nascera com as madeixas de uma mistura de preto e vermelho e a pele morena como a de Aiken. Sua cauda tinha o mesmo formato da minha e adorava quando ele balançava aquelas perninhas fofinhas cheia de escamas. Dava vontade de morder meu próprio filho. Mexendo seus braços, Akon se aninhou querendo dormir. — E pensar que um mês atrás ele estava nascendo. — Aiken comentou abraçando nosso filho. — Nosso filhote, nasceu ainda na nossa caverna. Akon sorriu ao ser balançado. Um mês atrás foi o nascimento de meu filhote, não sabia o que fazer, como ele nasceria e minha primeira reação não foi perguntar ao meu pai Belial, foi me jogar na água sem avisar ninguém e apenas deixar a água me envolver, todas as sereias e yin tinham seus filhotes debaixo da água, então meus instintos apenas falaram mais alto. Eu me escondi na caverna que conheci Aiken e lá fiquei horas em processo de parto, Akon demorou para nascer, só depois de Aiken finalmente me encontrar todo apavorado e cuidar-me por horas enquanto papai Hardar e Mukay protegiam em volta da caverna que meu filho quis finalmente sair.

Meu corpo não era como de um yin, nem de uma sereia, todavia, ele nasceu como nasciam de um yin, rasgando o ventre. Um bebê após nascer dá seus primeiros nados antes de cair e assim Akon, que cabia na palma da mão de Aiken, nadou em sua direção até cair sobre a cauda vermelha do pai dele. Precisei ficar horas debaixo da água em repouso para minha pele se cicatrizar perfeitamente e assim ser carregado nos ombros por Hardar até a superfície. Akon foi bem recebido por todos do castelo que esperavam nossa volta, até Oki tinha vindo ver meu filhotinho que foi apresentado a todos. — Quem é meu garotão? — Aiken balançava Akon para cima e para baixo fazendo-o rir. Sorri de leve vendo aquela cena, a cada quatro levantamentos, Aiken dava um beijo em nosso filhote que balançava seus bracinhos em alegria. Fitei em volta vendo a bagunça do quarto, sei que os servos podiam arrumar, todavia, não tinha me acostumado com eles adentrando e querendo até mesmo me vestir. — Preciso ir — disse ajeitando os brinquedos de Akon. Fitei em direção a vidraça do quarto vendo o sol em seu auge o que dizia que estava na hora de encontrar meu pai no campo de batalha. Depois do que aconteceu na luta contra a mãe suprema, meus dois pais ficavam sempre de olho em mim, e hoje precisava provocar ao meu pai que eu estava apto a adentrar o exército ao seu lado e me aprimorar. Além do mais, Keline não foi destruída e uma hora ela iria voltar, precisava proteger meu filhotinho agora. — Vou na frente — falei me aproximando de Aiken e o beijando. Já faziam quase cinco meses que me casei com ele e ainda parecia tudo tão novo, Aiken continuava o mesmo pervertido que tinha me puxado para dentro da caverna, carinhoso e protetor de sempre. Toda noite seus braços me aqueciam, toda manhã recebia um beijo de bom dia e a choradeira de meu filhote. Aiken desceu sua mão em minha cintura até tocar em uma das minhas nádegas, arregalei os olhos batendo em seu braço. — Pervertido. Ele riu. — Não tenho culpa se sua bunda é minha parte preferida de apertar em seu corpo. — Ele sorriu travesso ajeitando Akon.

O fuzilei com meu olhar, era claro que já estava acostumado com seu jeito pervertido e admitia que adorava isso, só mostrava o quando meu Aiken continuava o mesmo tritão que me apaixonei. Sorri de leve virando meu rosto. — E não só apertar, suponho — articulei. Lançando um sorriso safado consegui deixa-lo surpreso, dei uma piscada para ele antes de sair e fechar a porta lentamente. Aiken achava que apenas ele conseguia me provocar? Então provaria que poderia fazer o mesmo efeito nele. Pisquei, prestando atenção no corredor, mesmo já vivendo a cinco meses nesse lugar, ainda me perdia facilmente, até agora só sabia ir do meu quarto até o quarto de meus pais e assim para a saída dos fundos do palácio, nem a entrada sabia onde ficava! Que seja, hoje eu precisaria estar mesmo na zona do exército, o campo que se localizava atrás do palácio. Papai estaria me esperando para começar meu treinamento e novamente teria a plateia de um exército que por sinal não apareceu na batalha contra a mãe suprema, mesmo que eles não fossem fortes o suficiente, ainda sim deveriam proteger o rei com suas vidas, Aiken lutou sem seu povo ao lado dele enquanto todos se escondiam, pelo menos nenhum Sereiano ousaria mais falar que os Alkes não eram dignos de usar a coroa. — Não acredito em você. — Ouvi a voz de Mukay próximo de mim. Pisquei continuando a caminhar silenciosamente pelo corredor até chegar na parte que se formaria um T, seguindo em frente me levaria ao quarto de meu pai, indo para o lado onde escutava a voz de Mukay, me levaria para outros lugares do palácio. — Essa história de que você está “liberto...” — Não acredita em mim? — A voz de quem soou foi de Noah. Não precisava vê-los para confirmar que estavam frente a frente e os questionamentos continuavam. — Nunca acreditei, ex-principezinho. — Mukay provocou com uma voz debochada. — Fico surpreso de Aiken ainda manter você, vivo, mas quem sabe, tempo está contra você, não é? Nesse momento imaginei que Mukay estivesse com um sorriso em provocação ao outro. Um dos dois deu um passo à frente e consegui me aproximar mais, por sorte o piso tão brilhoso quanto um espelho, me mostrava duas formas e como suspeitava, eles se encaravam bem próximo um do outro. — Não tenho tempo para perder com um subclasse, a vergonha de seu

clã pode me assolar se ficar muito em contato. Mukay rosnou. Mukay foi de um clã? E o que aconteceu com sua família? Os clãs mais poderosos consistem em três, o que dizia que existia um quarto, na qual, sumiu. Ao ouvir passos se afastarem, me aproximei de Mukay que estava com punhos cerrados e me perguntava o que o fazia hesitar em pular na garganta de Noah. — Princesinha. — Precisava me acostumar com esse apelido. — Escutou a conversa? — Uma parte dela. Mukay não disse mais nada, apenas ficou com o olhar fixo por onde Noah tinha sumido. — O que aconteceu com seu clã? — perguntei quando voltamos a caminhar pelo corredor. Ele engoliu em seco, desviando o olhar para o lado oposto de onde eu estava. Talvez realmente fosse uma vergonha para Mukay hesitar tanto em falar, porém, quem seria eu para julgar, ainda mais Sereianos que nem sei se ainda estão vivos. — Ele foi destruído pelos Schifino. Arregalei meus olhos. — Meu clã era conhecido por suas caudas amarelas como o ouro junto como as madeixas, porém, minha mãe se apaixonou por um Schifino, mas isso foi antes de Ranzel subir no poder, foi o pai dele que destruiu meu clã apenas por fúria que seus preciosos se envolveram com um clã inferior sem ele saber. — Mukay tocou em sua testa escura com o olhar fixo no chão. Ele realmente tinha nascido diferente de como descreveu seu clã, suas madeixas eram escuras, seus olhos azuis. Partes predominantes de um Schifino. Antes de Ranzel subir no trono... Uma destruição em massa apenas teria feito se fosse o filho do líder que se relacionou com uma inferior. Pisquei fitando Mukay. — Você é filho de Ranzel? — Minha voz saiu apavorada. Mukay deveria ser um dos cinco filhos de Ranzel, aquele que sobreviveu em vida por ter ficado com sua mãe, mas dentro do clã Schifino estava morto. — Presumo que não — disse. — Ranzel tinha um irmão um ano mais velho que foi morto certamente pelo próprio Ranzel, não sei. Apenas sei que

aquele Sereiano era meu suposto pai, mas todos que podia perguntar estão mortos. Quase sugeri falar com vovô Reikal, porém, ele era o mais novo dos filhos de meu bisavô então ele não saberia muito ajudar Mukay, se ele realmente quisesse ser ajudado. — Boa sorte. — Ele disse para mim dando tapinhas em meu ombro. Franzi antes do sol atingir meus olhos e me cegar parcialmente. Estávamos no campo de treinamento do exército. Podia ouvir o som das vozes dos Sereianos que treinavam, como seus passos quando se movimentavam. Suas armaduras tilintavam o que indicava que estavam lutando em dupla, dei um passo à frente me acostumando aos poucos com a luz do dia, tinha vindo tão poucas vezes no campo de treinamento que pareceu que fosse a primeira vez. Amplo e cinza como toda a plataforma, naquele local o diferente era as marcações no chão, uma era para corrida que marcavam números ali, já tinha os vistos ficarem correndo em círculos largos em torno daqueles desenhos, outros riscos retos eram para demarcar onde cada oponente ficaria para começar a luta e era apenas esses que sabia explicar. — Demorou, minhoca do mar. — Tremi escutando a voz de meu pai. Fitei em direção ao grupo de lutadores vendo meu pai caminhar tranquilamente em minha direção. Pisquei, passando meu olhar novamente em meu pai completamente diferente do que estava acostumado ver, o líder dos exércitos não apenas mostrava poder em sua presença como também, beleza que ficavam em completa harmonia. Talvez agora sabia o que chamara tanta atenção de meu pai Deus supondo que o mesmo ainda babava sonhando acordado sentado em um trono estranho. Sorri de leve, mesmo não gostando do apelido. Hardar parou poucos metros de mim e pude ver os brincos em sua orelha desprotegida pelas madeixas, seu torço era rodeado por joias douradas, seus pulsos também mesmo usando um bracelete um tanto largo, suas vestes brancas em torno da cintura eram soltas e abertas para ajudar a se movimentar e parte de sua armadura estava por cima. — Pelo menos ainda respondo. — Apontei com polegar para meu outro pai apaixonado. Hardar seguiu em direção balançando a cabeça.

— Vamos começar. Papai seguiu para uma marcação no chão que fazia um quadrado largo e assim o segui me posicionando em sua frente. Belial que saia de seu transe caminhou em nossa direção parando ao lado de meu pai, pisquei não entendendo quando o mesmo pegou suas espadas, eu teria que lutar com os dois? Isso não era justo! Esse teste desde o início era para ser assim? Papai Hardar não falou nada, apenas sorriu cruel e encarei papai Belial que estava “ocupado” mais com sua blusa apertada em seu corpo. — Isso vai ser divertido. — Belial riu animado. Papai invocou sua arma, porém, não era nenhuma que já tinha o visto usar, seria sua terceira forma? Ele já a tinha dominado... Suas foices curtas uma em cada mão não eram assustadoras como as do vovô Reikal, todavia, elas tinham um brilho mortal entalhado naquela lâmina escura. — Pronto? — Papai Hardar perguntou expondo suas duas lâminas. Não, respondi apenas para mim. Dei um passo para trás, respirando fundo, pelo canto do olho via Aiken chegar com meu pequeno Akon em profundo sono ajeitado delicadamente nos braços do pai dele. — Mystsu, apareça. — Chamei minha arma. O tridente do equilíbrio surgiu em minhas mãos, grande e poderosa como lembrava da luta contra vovô, minha Mystsu estava incompleta naquele momento, todavia, como meus adversários um tinha mais força e outro mais rapidez, não poderia perder tempo com peso extra, não enquanto não conseguia fazê-la novamente ter sua segunda forma. Papai Belial deu um passo à frente fazendo as correntes de sua Baal se mexerem, seu sorriso cruel mostrava que iria aprontar. — Cubra-me, Baal. — O ouvi dizer e assim suas roupas típicas mudarem. Papai não tinha mais aqueles mantos largos, ou aquela sua blusa justa e sim um corpo coberto de armadura negra, dando um passo para frente uma capa vermelha era a único elemento que dava cor. Venham! Chamei-as. As trevas surgiram nitidamente em minha volta e assim aquelas escamas duras novamente começaram a surgir pelos meus braços e pernas, elas não tinham evoluídos ou eram tão protetoras como a de meu pai, todavia, uma arma

de um Sereiano era difícil penetra-la o que podia usar contra os golpes de meu pai Hardar. Papai pareceu sorrir satisfeito e assim atacou-me tão rápido como um peixe fugindo de sua presa. Coloquei a Mystsu entre mim e o ataque que recebia a tempo de parar o golpe de meu pai, ele não forçou seu golpe fazendo-me baixar a guardar para ser atacado por Hardar que apareceu com a mesma velocidade. Arregalei os olhos. Involuntariamente, minha mão livre se estendendo em um ato de proteção o que fez as trevas reagirem e erguerem uma barreira na frente de papai Hardar que apenas atingiu uma parede escura, dura. Nunca tinha feito algo assim, um escudo. Belial forçou o golpe, não conseguia sair de seu campo sem levar um arranhão. Sabia que ele hesitava comigo pelo simples fato de meu pai apenas estar atacando com sua espada, diferente das lutas que vi dele que lutava corpo a corpo junto com suas armas. Até mesmo papai sabia aqueles movimentos e não usavam contra mim. Desejando me afastar, as trevas atacaram meu pai e assim me cobriram. Por segundos pensei em ter estado novamente naquele mundo da escuridão, todavia, não tive tempo para mastigar aquela afirmação, mesmo estando a alguns metros de meus pais, agora, não estava acabado aquela luta. Olhei para minha mão livre, podia usar as trevas para outras coisas além de atacar... Meus pais se reagruparam analisando-me, girei meu tridente me preparando. Dessa vez foi papai Hardar que começou atacando e não bloqueei seu ataque com as trevas, queria testar isso contra outro deus das trevas. Lâmina contra lâmina se chocaram fazendo um som alto e assim continuei a bloquear todos os golpes de papai Hardar, ele usava agilidade algo que que conseguia acompanhar muito bem e meu corpo se preparava para outro golpe, como minha mente, ele conhecia muito bem o estilo de luta de papai. Esquivei-me para trás ao ver sua base mudar e sua perna da frente se mexer, se não tivesse saído do lugar sua perna acertaria a minha, podendo me derrubar. Ele sorriu satisfeito e assim voltou a atacar com mais força, um ataque com arma outro com seu corpo. Ele apenas usava suas pernas ou cotovelo por estar com as mãos ocupadas por suas pequenas foices.

Ficava fascinado com cada golpe dele, Noah realmente não tinha tirado papai da batalha apenas por sua arma ser normal, mas sim por seu potencial. Mesmo escutando sempre seu título de Sereiano mais poderoso dos oceanos, foi poucas vezes que vi papai lutando, quando era comigo ele hesitava, todavia, agora era diferente. Ele vinha com hesitação, porém, ainda sim com força e destreza. Afastei-me de Hardar vendo pelo canto do olho papai Belial se aproximar. Se quiser vencer, deve avaliar seu oponente. A voz que não queria mais escutar em minha vida, soou forte em minha cabeça. Desejava que tivesse sido dita pelo papai. Já fazia tempo que a voz das trevas não tinha mais sussurrado e não as queria mais. — Dormir em uma batalha não devia ser uma opção. — Vi o rosto de papai perto do meu. Pisquei quase dando um berro. Estava agarrado firmemente em minha Mystsu, algo nas trevas me assustava, fazia algo no fundo de meu cérebro gritar para se afastar, fugir daquela voz, todavia, ela nunca me deixava e antigamente gostava de seus conselhos, mas agora... era tão estranho, parecia que ela tinha outra intenção. Não queria me fortalecer com minhas trevas, não se aquela sombra também pudesse ficar forte dentro de mim. — Apenas não quero mais lutar com as trevas... — sussurrei. O semblante de papai mostrou confusão, no entanto, ele não fez nenhuma pergunta, apenas assentiu endireitando o corpo e se movendo em direção a Hardar que se aproximava. Deixei que aquelas escamas em meu corpo desaparecessem, não queria lutar com nada das trevas, além do mais como um deus do equilíbrio poderia muito bem usar o poder das trevas e da luz. — Acho que está bom por hoje. — Ouvi papai Belial falar. — Ele já aprendeu a dominar o espaço-tempo e o bloqueio com as trevas, basta melhorar na defesa e aprimorar seus poderes com a luz. Papai Hardar não pareceu convencido. Seus olhos me observaram de cima a baixo com uma expressão avaliativa e preocupada, por fim, papai apenas aceitou assentindo e empurrou Belial para o lado. — Talvez devesse começar com os bloqueios, acho que Aiken pode

ensinar isso a você. Mirei em direção a Aiken sentado no trono de Belial brincando com Akon o balançando sobre sua perna, os dois sorriam enquanto Akon mexia seus bracinhos — Você está melhorando. Com tempo você vai parar de bater fraco como esse carrapato do mar. — Papai apontou com polegar para Belial que piscou. Sorri de leve. — Obrigado, pai. — Agora tenho outros deveres, não ultrapasse os limites de seu corpo, tudo se começa devagar. Assenti. Papai Belial se jogou nos ombros de Hardar quase o derrubando com seu peso, furioso, Belial quase foi socado se ele não prendesse agora os braços de meu outro pai com os seus em um daqueles seus abraços que era apenas para provocar. Esses dois nunca mudavam. — Bem lembrado! Precisamos ver os preparativos para nosso casamento! O famoso casamento que foi muito falado durante a corte real por vários dias, muitos dentro do conselho não gostaram muito dessa novidade, eles aproveitavam que nas reuniões Hardar era apenas mais um conselheiro dentre todos e se “vingavam”, todavia, desde que Aiken deu liberdade para Hardar ter poder de um rei durante de uma reunião os Sereianos não gostaram. Em resumo, eles não queriam que outros apenas caíssem. O conselheiro ainda continuava evitando meu pai e seu noivo. Papai Hardar se soltou do abraço cruzando os braços e voltando sua postura rígida, era raro ele baixar suas barreiras em público, mas sabia que Belial adorava mais assim, era mais fácil em provocar meu outro pai. — Podíamos ter coxinhas fritas! — Ele falou erguendo os braços fortes. Hardar balançou a cabeça o ignorando. O famoso casamento que não tinham decidido nem mesmo a data, apenas sabia que meu pai Belial queria que pudesse ser feito dentro da água, perto da pequena ilha na divisa das pedreiras, na água rasa Belial poderia entrar, todavia, não compreendia o que planejavam com isso. Mesmo que Belial conseguisse adentrar o oceano em uma parte rasa, papai Hardar ao entrar em contato com a água teria sua cauda. Hardar suspirou.

— Bom treino — disse ele passando os dedos em meus cabelos soltos. Belial o seguiu por todo percurso falando em um banquete, realmente ele era deus comilão, talvez o único que comesse tanto. Suspirei alto fitando o oceano, aquela voz voltou a se calar e minhas trevas estavam tranquilas, desde aqueles acontecimentos na batalha contra Keline e as palavras dos dois deuses sobre o que aconteceu comigo, tinha evitado usar as trevas, pelos primeiros meses depois da luta, treinei com papai Hardar, ele apenas me ensinava a manusear melhor qualquer tipo de arma já que Akon já estava mais crescido dentro de mim. Não parei em toda minha gestação, mesmo não podendo sair lutando corpo a corpo, podia aprender ao lado de papai, observei os treinos do exército, fiz todas as aulas que ele me deu matando uma ou outra por não me sentir bem e isso apenas deixava Aiken louco ao meu lado. Por todo momento, Aiken sempre estava ao meu lado me cuidado e aconselhando descansar, porém, algo dentro de mim dizia que precisava treinar, ficar forte não com os poderes que tinha de um deus, um sentimento que algo ia acontecer sempre me invadia. Deveria ser paranoia pela batalha, medo de perder aqueles que amava em uma guerra dessas, pavor por ter visto meu pai quase morto. Suspirei fundo o ar quente, ouvindo as ondas baterem na plataforma em ritmo calmo, dos gritos dos Sereianos em treinamentos e a voz de Tayga os comandando. Sentei-me no chão fitando minhas escamas enquanto sentia Aiken se aproximar com Akon, meu filhotinho apenas dava alguns passinhos, mesmo sempre caindo ele sempre sorria animado. O recebi em meus braços enquanto beijava meu filho e o apertava, Akon adorava os mimos que ganhava e era impossível não dar mimos a ele. Todos no castelo o adoravam, empregados sempre paravam para vê-lo e com permissão tocá-lo, guardas sorriam ao vê-lo, ele era a estrela do local. — Eu levo meu neto. — Pisquei ao ver meu pai aparecer pegando meu bebê. Papai Hardar era outro que não soltava Akon, ele e Aiken disputavam o pequenino que apenas se divertia. Aiken era ciumento e não entregava Akon a ninguém, até mesmo para mim. Papai Hardar era outro que adorava passar dia com seu neto que mostrava que seria um bom guerreiro.

— Vocês têm que treinar. — Apontou ele para nós. Sorri vendo o bico de Aiken enciumado vendo seu filhote ser levado. — E Akon precisava passar dia com o avô dele. — Acho que é a vovó dele. — Aiken provocou rindo maldoso. Tendo um olhar mortal de meu pai, meu pervertido desviou o olhar para o oceano comentando algo aleatório. Balancei a cabeça rindo. Aiken observou a silhueta de meu pai sumir diante das portas do palácio para se inclinar em minha direção e selar meus lábios com um beijo longo. Sua língua invadiu minha boca, suas mãos abusadas seguravam minha cintura. Já fazia tanto tempo que não tinha algo mais além de beijos, meu corpo respondia a cada toque de Aiken querendo mais e mais. Queria cravar minhas unhas naqueles cabelos vermelhos, sentar sobre suas pernas e jogá-lo para trás, todavia, a razão ainda falava mais alto gritando que estávamos em público na frente do exército. Afastei-me de seus lábios com um sorriso bobo. — Que acha de aproveitarmos esse momento a sós. — Ele falou manhoso perto de meu rosto. Sentia o calor de sua respiração contra minha pele deixando meu corpo mais agitado. Ele desejava muito essa ideia de meu pervertido. — Te ensinarei e treinarei você em nosso quarto. — Ele disse em modo safado, como de costume. Isso era uma ótima ideia, poderia aproveitar para mostrar quem o domaria dessa vez! Ele que me aguardasse. Fiz uma expressão pensativa tocando em meus lábios em modo provocador. — Quem sabe... Analisei Aiken o deixando mais agitado quando baixei mais meu olhar para o pouco tecido em volta de sua cintura. — Quero óleo de peixe e... ostras abertas — disse. Uma sobrancelha vermelha se ergueu não entendendo minhas palavras, Aiken aos poucos piscou e assim arregalou os olhos colocando a mão na cabeça. — Está prenho de novo? — Ele falava em um tom animado e surpreso. É meio difícil eu estar esperando outro filho já que desde a gravidez de Akon a gente não transou mais... Entretanto, deixei essas palavras para mim

mesmo. Neguei com a cabeça o deixando um tanto triste. Sabia que Aiken queria vários filhotes, principalmente uma garotinha, ele devia sentir muita falta de Erya. No primeiro mês ele até foi procura-la em seu quarto se deparando com o vazio e mesmo que fosse dolorido, queria dar muitos filhotes a ele. — Agora vai fazer que mandei — falei autoritário erguendo meu queixo e cruzando os braços. Aiken sorriu assentindo. — Como desejar, majestade. — Brincou. Aiken ajudou-me a me erguer a assim foi na frente dando uma reboladinha, um pervertido sendo um pervertido de sempre. Sorri com a visão até vê-lo sumir. Suspirei alto dando uma última olhada no treinamento do exército que voltavam a suas atividades, eles tinham ficado observando meu teste, mas dessa vez, não apanhei de papai Hardar. Meus treinamentos realmente estavam melhorando e logo queria estar tão forte quando meu pai. Apenas precisava me empenhar mais! O céu acima de minha cabeça estava limpo e claro, o sol não estava forte e deixava o clima quentinho na medida certa, suspirei relaxando enquanto caminhava em direção as portas do palácio, agora era hora de relaxar e fazer algo dentro de mim acalmar-se, a sensação de que deveria me preparar mais rápido, de que logo haveria uma batalha não saia de meu peito e isso deixava um gosto amargo em minha boca. “A vitória nunca é plena se você não destruir seus inimigos”. Aquela voz voltou a falar. Os calafrios voltaram. Meu corpo parou e meus olhos se arregalaram. Braços me rodearam em volta de meu peito, as trevas consumiram todo o cenário. O que estava acontecendo? Meu corpo tremeu. — A verdadeira batalha está para começar. As mãos me soltaram e assim me virei vendo agora aquele conjunto de trevas em sua real forma. No deus que se escondeu por tanto tempo dentro de mim. — Baal. — Foi minha única palavra antes de cair de joelhos e em minha

cabeça o som de sua risada consumir-me. O deus das trevas supremo estava... Vivo.

História continua.... Conheça meu outro livro da série: O presente de Hardar: http://a.co/d/divJOJs Sigam-me no insta: @Kathyseraph Facebook: Kathy Seraph Pagina: https://www.facebook.com/Kathyseraph/

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