Louise Allen 01 - Um Oponente Perigoso

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Série Ravenhurst 01 — Um oponente perigoso LOUISE ALLEN

Disponibilização e tradução: Leniria Revisão por capítulos: Kris, Rafa, Lukita, Rayssa, Edilene,

Lucimar e Rosania Revisão Final: Mima Romero Leitura Final e Formatação: Mary

Informação da série: 1. Um oponente perigoso — Distribuído 2. The Outrageous Lady Felsham – Na lista 3. The Shocking Lord Standon– Na lista 4. The Disgraceful Mr Ravenhurst– Na lista 5. The Notorious Mr Hurst– Na lista 6. The Piratical Miss Ravenhurst– Na lista

ARGUMENTO: A saga dos Ravenhurst, uma família pouco convencional.

Ele encontrou-se com sua alma gêmea. Jack Ryder sabia que escoltar a altiva viúva Grã Duquesa Eve Maubourg a Inglaterra não seria uma tarefa fácil. Mas com sua capacidade como espião e aventureiro acreditava que seria capaz de conduzir Sua Alteza Sereníssima. No entanto, ele não estava preparado para sua beleza, sua sinceridade, nem a maneira na qual percebeu a sensualidade através da fachada de frieza. E o que começou como uma missão rapidamente deu lugar há algo muito mais perigoso e pessoal.

CAPÍTULO 01 Sete de junho de 1815 pela noite. Ninguém disse lhe que era bonita. Jack Ryder se agarrava precariamente sobre o parapeito de uma janela de pedra situada a uns setenta metros sobre o leito do rio no fundo do barranco, e observava a sala iluminada por velas. Dentro a mulher pela qual tinha sido enviado, caminhava ao redor da sala como uma gata raivosa. Ele ficou olhando para a mulher do outro lado do vidro e se ajeitou melhor no nicho escorregadio. Abaixo, o vazio a frente do castelo estava imerso em uma escuridão misericordiosa e o som da água do rio chegava muito abafado. Ele tentou ignorar os dedos frios do medo correndo por sua coluna, sabendo muito bem que se desse rédea solta à sua imaginação não conseguiria se mover. As botas com pregos derrubaram algumas pedras e ele ficou imóvel por um momento, mas ela pareceu não ouvir. Jack começou a trabalhar no nó que prendia o fim da longa corda que tinha enrolada na cintura. Quando a desenrolou, jogou-a do topo da torre e a deixou cair através do vazio, para fora da vista. Agora, a única maneira de descer era através dessa janela. Apesar do perigo de sua posição, Jack não tinha a intenção de atravessá-la até que tivesse a chance de pegar a mulher. A mulher que havia sido contratado para levar de volta à Inglaterra, por qualquer meio necessário, incluindo a força. Em Whitehall tinham explicado que era para o bem da mulher e do interesse dos dois países. Seus líderes tinham falado com o ar de homens que estavam contentes de não ser aqueles quem teriam que tentar convencer a mulher. Ele havia ouvido algumas coisas sobre sua Alteza Sereníssima a viúva grã-duquesa Eve Maubourg. Eles tinham dito que era inteligente, teimosa, anti-napoleônica, altiva, independente, forte e exigente. E metade francesa. Não tinha deixado o ducado de seu casamento e certamente seria quase impossível deixar agora, mas isso não importa, Jack estava acostumado a ser designado para coisas quase impossíveis. Mas não tinham falado sobre sua beleza morena, sua figura sexy e não disseram que tinha a graça de uma pantera ágil em uma gaiola. E Jack não podia acreditar que poderia ser a mãe de um

menino de nove anos, embora isso talvez se devesse à espessura do vidro da janela. Ela estava sozinha no quarto e Jack tinha esperado o suficiente para ter certeza disso. Mudou de posição e se esforçou para abrir a janela sem pensar no que aconteceria se ele perdesse o equilíbrio. A lâmina fina deslizou facilmente entre a pedra e a moldura. Felizmente, a janela se abria para dentro. Ele abriu alguns centímetros e esperou alguns minutos para não assustá-la com uma queda brusca na temperatura ou uma rajada de vento. Se ela chorasse, provavelmente tudo iria acabar em um banho de sangue e ele não tinha a intenção de que o sangue fosse dele. A grã-duquesa Eve parou de andar pela sala e sentou diante de uma mesa, de costas para a janela com a cabeça nas mãos. Jack pensou que talvez ela estivesse chorando e se sobressaltou, com resultados potencialmente letais para ele, quando ela bateu na mesa com o punho e amaldiçoou em um inglês colorido, que Jack se sentiu tentado a imitar. Definitivamente, era hora de sair dali. Ele se agarrou ao marco e entrou na sala com os pés na frente. Era impossível para ele cair em silêncio sobre um chão de pedra. Ela virou-se na cadeira com uma mistura de emoções no rosto: surpresa, medo e, finalmente, algo que o deixou impressionado, a fúria arrogante que cobria tudo. Tampouco ninguém lhe disse que ela era valente. — Quem no inferno é você? — Ela perguntou em inglês sem sotaque. Levantou com altivez, como se levantasse de um trono. Jack viu que tinha a mão direita atrás das costas e rebuscou em sua memória os objetos que tinha visto através da janela. Ah, sim, o abridor de cartas. Uma mulher de atitude. — Você fala muito bem Inglês — ele comentou. Sabia que era meio inglesa então isso era esperado, mas era menos agressivo iniciar a conversa assim do que exigir para largar o abridor de cartas. — Mas como você sabia que eu entenderia? Ela o olhou diretamente nos olhos. Jack viu os olhos escuros, sobrancelhas finas arqueadas com um elegante desdém, uma boca cheia vermelha que traiu mais paixão do que ela provavelmente queria demonstrar e uma onda marrom escapava de seu turbante branco e caia sobre seu ombro. Ele olhou para os olhos dela e tentou não pensar na sensação que produziria tocar naquele ombro.

— Chame-me Alteza Sereníssima— disse ela friamente. — Eu estava pensando em inglês — ela acrescentou inadvertidamente. — Sua Alteza Sereníssima — ele curvou-se, muito consciente do seu vestuário. Ele estava vestido com a finalidade de descer as muralhas do castelo, não para fazer reverência, mas conseguiu fazer com uma graça que a fez arquear as sobrancelhas em surpresa. — Meu nome é Jack Ryder — tinha pensado sobre se diria ou não seu verdadeiro nome a ela e decidiu que não. Seu nome de guerra seria mais seguro se fossem capturados. — Então você é inglês, Sr. Ryder? — Sim, senhora. — Não veio para me matar? Eve foi percorrida pelos mais belos olhos cinza que já tinha visto com o que poderia ser descrito como insolência respeitosa. Não havia absolutamente nada nas palavras de Jack Ryder que pudesse ofendê-la, mas chegou a ser muito consciente de sua feminilidade e da apreciação dessa feminilidade por parte dele. Passara um longo tempo desde que alguém olhara para ela dessa forma e ainda mais tempo desde que seu pulso acelerou em resposta. Ganhou o controle da respiração com esforço e flexionou os dedos, que segurava o abridor de cartas. Se ele era inglês, seria altamente improvável que pudesse constituir um perigo, mas depois do que aconteceu no dia anterior, não podia dar-se ao luxo de correr riscos. E a entrada não-convencional através da janela só podia significar problemas. — Não, senhora. Eu não vim para matá-la. Ela se recuperou bem do choque. Por que não tinha lhe perguntado a que ele se referia? Eve observou-o apreciando as implicações dessa ideia. Ele era alguns anos mais velho que os 27 dela, mas ainda jovem. Magro, moreno de olhos cinza e um controle muito bom de seu corpo, que ficava evidente na maneira de entrar ali, e de seu rosto. O imaginou facilmente com uma espada em sua mão; tinha postura de esgrimista. Após a primeira reação de surpresa à sua pergunta, agora não traiu nenhuma emoção. — Convença-me — disse ela, esperando que ele não notasse o tremor que sacudiu a bainha de seu vestido. — Se não, grito e haverá dois guardas, em questão de segundos. Ele puxou uma pistola do bolso. — E um deles morrerá em seguida. Isso não é necessário, minha senhora — voltou a colocar a arma no bolso. — Estou aqui em

nome do governo britânico. O padrinho de seu filho é de opinião que seria melhor para o jovem Grão-Duque que esteja com ele. — O Príncipe Regente? Dificilmente tem demonstrado qualquer interesse por Frederic desde que escreveu para enviar seu presente de batismo — ela gostaria de mover-se, mas a necessidade de manter escondido o abridor de cartas a mantinha colada à mesa. — De qualquer forma, minha senhora, o governo britânico está pendente do ducado de Maubourg e seus negócios e tem sido assim desde o início da guerra. Ter um país neutro incorporado à França só pode ser um grande trunfo para o diplomata, por menor que seja o país. — É claro — Eve deu de ombros negligentemente. Ninguém disse qualquer coisa que ela já não soubesse. — Provavelmente, você está ciente de que meu marido fez tudo que podia para atenuar a situação, agindo como um intermediário. Opunha-se aos franceses, é claro, mas era muito realista pensar que ele poderia resistir ativamente. — Eu acho que conheci o falecido Grão-Duque, na Inglaterra. Ryder mudou de postura e registrou com os olhos os cantos do quarto. Ela percebeu que era mais por precaução natural que para buscar algo em concreto. Quem conhecesse sua história não provava que ele tinha recebido um encargo do governo, qualquer um que se interessasse por seus problemas poderia ter descoberto isso facilmente, pois era de conhecimento público. Inclinou a cabeça. — Então estávamos exilados. Meu pai morreu no Terror e minha mãe voltou para casa com seu pai, o Conde de Allgrave. Fui apresentada à sociedade em Londres, e conheci o Grão-Duque em meu primeiro baile. Tinha sido como um conto de fadas. Louis Frederic, alto, moreno, atraente, muito mais sofisticado do que ela, uma presença exótica no cenário social inglês, era um partido com o qual jamais ousara sonhar. O fato de que ele fosse trinta anos mais velho que ela, que tinha apenas dezessete anos, não tinha dissuadido nem sua mãe, nem a ela. O Grão-Duque cumpriu a sua missão de negociar uma troca de prisioneiros, realizou um namoro relâmpago e voltou para Maubourg acompanhado por sua futura Grã-Duquesa. Eve agora não conseguia acreditar que uma vez tinha sido tão jovem e inocente. — E desde a morte de seu marido há quase dois anos, seu irmão, o príncipe Philippe atuou como regente e você e ele tem a

custódia conjunta do seu filho — disse Ryder, como se quisesse provar que ele sabia dos fatos. Aparentemente não sabia tudo, mas ela não informou que Philippe estava confinado ao seu quarto desde que chegou há três meses, desde a notícia de que Napoleão havia escapado da ilha de Elba, e ela já começava a acreditar que ele jamais se recuperaria. — Sim — suas pernas tinham parado de tremer e Eve mudou de posição e apoiou a mão esquerda na parte traseira de sua cadeira casualmente. — Há quatro anos eu não vejo meu filho. Meu marido achou que ele tinha que ser educado na Inglaterra. A dor daquela traição ainda era como uma punhalada. Louis nem sequer tinha lhe dado oportunidade de se despedir, com a desculpa de que suas lágrimas fariam o menino fraquejar. Este teve primeiro um tutor particular, que compartilhou com os filhos de uma família ducal, e logo depois ingressou em Eton. Seu pequeno Frederic a reconheceria se a visse agora? — Não há um modo fácil de dizer isto — disse Ryder, e Eve empalideceu. — Seu filho foi submetido a uma série de acidentes no mês passado. Mas garanto a senhora que agora está tudo bem. Ela se sentiu tonta e ele imediatamente colocou-se a seu lado para apoiá-la. Eve se recuperou de imediato. — Eu estou bem — os dedos dele se fecharam em torno do abridor de cartas e o arrancou da mão dela. — Devolva-me isso! Ele abriu a janela e jogou o objeto fora sem se preocupar em olhar para onde caía, e permaneceu ao lado dela. — Eu prefiro continuar sem furos, se eu tivesse o azar de perturbá-la, minha senhora. Seu filho está vivo, apesar de sua maré de azar e tenho certeza que neste momento está imerso em estudos clássicos. — Que acidentes? — Eve perguntou, virando-se. A proximidade do Sr. Ryder era estranhamente perturbadora. Se não fosse uma viúva sensata, teria atribuído à proximidade de um homem atraente e perigoso. Mas isso poderia acontecer, deveria estar aliviada de saber que Frederic estava bem. Ele permitiu que ela saísse, mas não a perdeu de vista. — Primeiro ele caiu de uma escada de pedra no meio de maio, uma queda que, felizmente, alguns jovens que subiam detiveram. Eu entendi que eles compartilharam algumas contusões, mas foi só isso. Em seguida, no dia dezoito uma carruagem em High Street se desgovernou, e só não atropelou o grão-duque porque um pedestre o

empurrou. Depois, foi impossível encontrar a carruagem ou o motorista. Então... — Hoffmeister deveria cuidar melhor dele — Eve interrompeu furiosamente. — Seu secretário pessoal não pode atar um menino vivaz de nove anos, minha senhora. E devo dizer em seu favor que Hoffmeister teve o bom senso de começar a recear depois do terceiro incidente e informar a Whitehall. — Terceiro incidente? — A presença inexplicável de um cogumelo venenoso em um prato de cogumelos para o jantar do dia vinte. Eve engoliu em seco e lutou para manter sua compostura. — E como escapou disso? — Porque ele começou a vomitar imediatamente. Seu médico pessoal me disse que Sua Alteza tem um estômago muito sensível, o que provavelmente salvou sua vida. Mas agora está muito mais protegido, acredite em mim. Desta vez, ela não tentou esconder o tremor das pernas. Sentou-se na cadeira. Eve tentou dizer a si mesma que Frederic estava seguro, que todos os seus servos e em especial Hoffmeister estariam agora muito atentos. — Entendo que deve ser difícil aceitar isso, senhora. — Não, Sr. Ryder, em absoluto. Aparentemente, é uma sorte que Frederic herdasse minha sensibilidade para a digestão, porque eu passei uma hora muito desconfortável há duas noites. Naquele momento, eu achei que foi devido ao choque após o acidente com a roda da carruagem que caiu quando cruzávamos uma ponte estreita. Só o parapeito impediu que caíssemos no penhasco. E ontem eu escorreguei no topo da escada, fora do meu quarto, parece que alguém tinha estado ali com uma vela pingando e a pedra estava cheia de cera. — Você fez alguma coisa? — Ele perguntou. — Não, mas eu agarrei a tapeçaria que fica ao lado da escada e a arranquei de seus ganchos. — E como o príncipe Philippe reagiu a esta série de acidentes? — Jack Ryder pegou uma cadeira, virou-se e sentou-se com os braços nas costas. Ele parou de chamá-la de "senhora", e seu comportamento era muito informal, mas de alguma forma isso não importava naquele momento. — Meu irmão está doente... De fato, se encontra em um estado de colapso físico e mental, uma vez que recebemos a notícia que

Napoleão havia fugido de Elba. No início, pensei que era só um ataque. Já está há três meses nesse estado. Meu médico pessoal e um guarda-costas se revezam para não deixá-lo sozinho em momento algum — olhou para cima e viu seu próprio ceticismo refletido em seus olhos cinzentos. Com seu nariz reto e lábios cerrados, Ryder parecia um austero padre ouvindo confissões. — Você suspeita que ele foi envenenado. Quem manda agora em Maubourg? — Meu irmão mais novo, Príncipe Antoine. Era óbvio que a pergunta sobrava, pois aquele inglês sabia muito bem quem tinha as chaves do ducado. — Ah, sim, o cavalheiro que estava tão ansioso para convencer o Príncipe Philippe de que pusesse fim a sua neutralidade e unisse forças com Napoleão após a morte do seu marido? — Eve concordou. — E o homem que se tornará grão-duque se seu filho e o príncipe Philippe morressem? — Sim. Por isso protegemos tanto Philippe. Mas não sabia que o braço de Antoine chegaria à Inglaterra — não lhe ocorreu que seu Frederic estava em perigo; até o momento tinha acreditado que aquilo era uma luta de poder entre irmãos. — É muito provável que um inimigo pudesse atacar o grãoduque e, naturalmente, poderia facilmente atacar a pessoa que tem autoridade para proteger o Regente — Ryder descansou o queixo sobre as mãos cruzadas. — A mim. Sim, eu já tinha pensado nisso. E eu tive tempo para pensar sobre o fato de que a doença de Philippe o acometesse justo quando Napoleão entrou na França seja muita coincidência. Antoine adora ao imperador e não hesitaria em colocar Maubourg do lado da França com a esperança de ter o apoio de Napoleão. — Perdoe-me, não quero insultar seu país, mas embora uma Maubourg neutra tenha sido muito útil para os aliados no passado, por que vai importar a Napoleão que fiquem do seu lado agora? — Porque eu acho que agora nós podemos ter algo que ele quer — Jack levantou uma sobrancelha ceticamente e ela sacudiu a cabeça — Não estou segura. É só uma suspeita. O que você sabe sobre explosivos? Em vez de responder, Ryder levantou-se e caminhou até a grande porta de madeira. Girou a chave, abriu uma fresta e olhou para fora. Aparentemente satisfeito, ele fechou e voltou para seu lado. — Há guardas no corredor. Eles são fieis?

— Eu acho que sim. — Eu sei menos de explosivo do que provavelmente deveria saber agora. O que acontece? Eve ficou surpresa e quase passou as mãos pelo cabelo, mas se conteve. A Grã-Duquesa não mostrava sinais de fraqueza e estava impecável em todas as circunstâncias. Graciosamente cruzou as mãos no colo. — A indústria principal do ducado é a de perfumaria. A perfumaria do estado emprega muitos químicos, uma vez que se trata de um processo de destilação e misturas. Eu interesso-me pela empresa e na semana passada estive olhando os livros. Antoine contratou novas pessoas sem consultar Philippe e nem a mim. E a julgar pela quantia que paga a eles, são profissionais, não trabalhadores ou artesãos. E tem havido explosões nas montanhas. No dia do acidente eu passava por lá. Encontramos crateras profundas e zonas queimadas e eu tive a impressão de que nos observavam. A roda soltou no caminho de volta. — Então possivelmente Príncipe Antoine vem experimentando alguma forma de novas armas justo quando Napoleão retornou à França. E todos que se interpõem entre o título e ele começaram a ficar doentes ou sofrer acidentes. — Sim. Eles se olharam e Eve perguntou-se por que tinha sido tão fácil dizer tudo isso a um estranho. Poderia ser um espião de Antoine ou ser um homem que procura os seus próprios fins. Tinha sido uma ingênua em confiar nele. — Você tem credenciais, Sr. Ryder? — É um pouco tarde para pensar nisso, senhora — disse ele. Ele moveu os lábios com a alegria nos olhos e os dela soltaram faíscas. — Antes tarde do que nunca, senhor. Ele levantou uma mão com longos dedos desprovidos de anéis afastou a lapela para mostrar um pequeno galgo de prata preso lá. — Eu sou um mensageiro do rei, minha senhora. — Um mensageiro? — Ela sentia calafrios só de pensar sobre o quão terrível foi sua indiscrição. Se pudesse ter certeza que ele era o que disse ser! — Fazemos mais do que entregar mensagens — disse ele. — Como eu sei que você não matou o verdadeiro mensageiro do rei?

— Não saberá. O que pretendia fazer sobre tudo o que falou, antes que eu entrasse através da sua janela? Eve pensou rapidamente. Ele queria saber muitas coisas. Levantou-se e começou a caminhar ao redor da sala, roçando a tapeçaria da cama com sua saia escarlate. Não precisava ser muito hábil para fingir agitação. — Eu estava pensando em como eu poderia deixar o castelo para levantar provas contra Antoine — disse. — Uma loucura — disse Ryder, quando ela chegou à mesa de cabeceira. Eve colocou uma mão em seu rosto e fingiu chorar, abriu a gaveta e começou a remexer nela como se estivesse procurando um lenço. Quando ela se endireitou, tinha um na mão. — Eu acho que seria loucura confiar em você com as poucas credenciais que mostrou. Eu vou puxar o sino, e, quando minha empregada entrar, mandá-la-ei buscar meu secretário particular e minha guarda pessoal. E depois vamos ver. — Não — Ryder atravessou a sala em dois passos e estendeu a mão para interceptá-la no momento em que Eve afastou o lenço e mostrou a pequena pistola escondida. — Obrigada por ter se aproximado tanto, senhor. Esta arma não é muito útil à distância, mas de perto acho que isso pode ser perigoso. Ela não sabia como ele fez isso. Tinha o cano da arma apoiado sobre o colete dele e, aparentemente, parecia surpreso, e no momento seguinte a arma voou pela sala. Ryder a levantou nos braços, a jogou na cama e segurou-a com seu corpo no colchão. — Senhora, você pode sair daqui caminhando voluntariamente e acompanhar-me para a Inglaterra ou você pode deixar este quarto inconsciente e amarrada para fazer a viagem. A escolha é sua.

CAPÍTULO 02 Eve olhou fixamente para o homem que a mantinha colada na cama. Poderia debater-se, mas isso só serviria para apertar mais seu corpo contra o dele. Tinha muita dignidade para isso e ele seguramente sabia disso. E, provavelmente, desfrutava daquilo. Ela olhou para os olhos cinza brilhantes de malícia e disse: — Quer ter a gentileza de retirar o seu corpo da minha cama? Ela própria admirou a firmeza da sua voz, especialmente considerando que uma parte dela, uma pequena parte sensual, ansiava apertar-se contra o corpo viril que a dominava. Reprimiu o impulso, afinal, levava dois anos reprimindo seus instintos. Jack Ryder respondeu erguendo-se contra os cotovelos para olhá-la melhor nos olhos. O movimento causou ainda mais pressão na sua pélvis; não parecia que o Sr. Ryder combatesse energicamente sua sensualidade interior. Ele olhou para ela com curiosidade. — Em um momento, minha senhora, quando tivermos esclarecido isso. Eu não sei que prova escrita de minha identidade e da minha missão aceitaria uma vez que, como você diz, poderia ter roubado de outra pessoa. Você aceitaria a palavra de seu filho? — Frederic? O que você quer dizer? — Quando eu fui falar com ele para dizer que estava vindo buscá-la, perguntei se havia uma contra-senha que pudesse dar-lhe se você não acreditasse em mim. Ele disse-me que perguntasse como estão o Velho Urso e o Rato. — Velho Urso? Ah, o pequeno malandro. Senhor Ryder — ela o empurrou — Por favor, levante-se, eu acredito — esperou ele se afastar e sentou-se na cama — Esses são os apelidos com os quais ele chama seus tios e o fiz prometer que nunca os usaria com ninguém além de mim, porque eles poderiam se ofender. Pelo menos Antoine. — Eu presumo que ele é o rato. — Exatamente. Tem um nariz comprido que se move quando está agitado. Eu acredito Sr. Ryder. Você vai me tirar do castelo? — Essa é a minha intenção. — E vai levantar provas contra Antoine? — Não. — Por que não? — Eve pôs os pés no chão e o olhou com indignação. Aquele mensageiro do governo britânico não tinha o direito de lhe dar ordens. Era óbvio que este era um homem de ação,

justo o que ela precisava nestas circunstâncias, e deveria fazer o que lhe ordenaram — É o seu dever patriótico, senhor. — Besteira. Eve ofegou. Não estava acostumada a que falassem assim com ela. — Deixando de lado o fato de eu não ter jurado lealdade a este ducado — continuou ele — não é meu dever assegurar que as tropas francesas massacrem a maioria de sua população masculina, o que irá acontecer se Bonaparte quiser este lugar e vocês resistir. E se ele não quiser então você correrá o risco de uma guerra civil para nada. Meu dever, como já expliquei, é levá-la de forma segura para a Inglaterra, onde você tem autoridade legal para cuidar de seu filho até que tudo isso passe. Também estarei ratificando Antoine de um refém. — O quê? Sair e deixar o ducado para Antoine e para os franceses só porque eu sou uma mulher? — ele não tinha ideia do papel que ela teve que desempenhar nesses dois anos desde a morte de Louis nem da frieza que tinha entrado em sua alma ao fazê-lo. — Não, executar uma retirada estratégica, porque é mais sensato — respondeu ele. — Eu presumo que você entende que o conceito de ação significativa em oposição ao gesto romântico. — Como se atreve a falar assim? Você é um insolente e posso cuidar de mim. — Realmente, minha senhora? Você escapou de dois acidentes e de uma intoxicação por puro acaso. Se eu fosse um assassino, você estaria morta. Seu filho precisa de você, e você precisa de mim. Você pensa em ficar aqui desperdiçando seu tempo ou vem comigo? Como iria? Este era o seu país, era seu dever... Mas Frederic... — E Philippe? Não pode ser removido. — Temos que deixá-lo. É o regente, aceitou os riscos que vêm com o posto — ele falava como se fossem deixá-lo para dar uma caminhada, não o abandonando à sua morte. Ao querido Philippe, o Velho Urso de Frederic — Você pode ajudá-lo se ficar? — Ela negou com a cabeça — Então vamos. — Agora? A cabeça de Eve girava. Durante muito tempo teve que pensar por si mesma e agora este homem tomava as decisões. De certa forma foi um alívio. Eve endireitou as costas e tentou não pensar nisso. — Sim, agora. A menos que você possa pensar em uma razão pela qual é mais fácil sair em plena luz do dia. Você pode vestir algo

mais neutro? Um vestido de passeio e uma capa? Algo que uma mulher comum vestiria se tiver algo parecido. — olhou para o vestido de noite roxo, de seda, que ela usava. — Eu tenho que fazer as malas. — Só uma valise. O fundamental. Uma muda de roupa exterior no máximo. Um vestido discreto, que não chame a atenção. — Mas vai levar dias para chegar à Inglaterra, eu preciso de mais roupas — a rotina da corte exigia um mínimo de quatro mudas de roupa desde a manhã até a noite, e isso em um dia calmo. — Compraremos mais pelo caminho. Você tem valise aqui? — Claro que não. Eu tenho que chamar minha empregada para ajudar-me a trocar. E como é que eu vou explicar a ela que eu preciso de uma valise há essa hora? — Diga a ela que você deseja armazenar roupas para os pobres. Não, melhor, que conheceu uma jovem na cidade que alcançou uma posição de governanta e você quer dar-lhe uma valise e decidiu dar uma das suas. E então você diz que quer vestir a camisola, porque está com uma dor de cabeça e não quer mais ser incomodada esta noite. — E como eu vou colocar o vestido de viagem sozinha? — Antes de terminar de falar adivinhou a resposta — Eu presumo que você vai me dizer que os mensageiros do rei foram treinados como empregadas pessoais. — Não, mas sei amarrar fitas com os olhos fechados — ele confessou. — Tenho certeza que sim, Sr. Ryder — disse ela. E não há dúvida que também sabe desatar. Deveria ter certo charme para as mulheres que gostam de um homem dominante. Era uma sorte que ela fosse imune aos encantos do sexo masculino. Puxou a campainha, e olhou com curiosidade para Ryder, que caiu no chão e se arrastou para debaixo da cama. — Alteza Sereníssima? — Hortense, sua empregada pessoal, entrou na sala com discrição. — Traga-me minhas valises, Hortense, por favor. — Agora, minha senhora? Todas? Quer arrumar o equipamento de viagem? — Sim, todas. E não, claro que não quero arrumar o equipamento de viagem. Eu estou pensando em encomendar um jogo novo em Paris e quero ver o que eu tenho — não havia motivo para não usar a desculpa do Sr. Ryder, era pura teimosia da sua parte e ela sabia disso.

Não era dada a ordens caprichosas e tentava se mostrar considerada com o pessoal do castelo, então aquele pedido naquela época não era comum, mas Hortense era muito bem treinada para mostrar surpresa. — Sim, senhora, imediatamente. Demorou quase vinte minutos para retornar com quatro homens carregando quinze bolsas juntos. — Obrigado, Hortense. Eu não sabia que tinha tantas. Coloqueas aqui, por favor — esperou que os homens saíssem. — Ajude-me a me despir. Estou um pouco cansada e não vou precisar mais de você. — Sim, senhora. Parecia-lhe arriscado despir-se com um homem debaixo da cama, embora ele não pudesse ver nada. Eve enrolou-se em um manto e amarrou o cinto com firmeza. — Boa noite, Hortense. Quando a porta se fechou atrás da empregada, ordenou: — Fique aí. E começou a procurar um vestido apropriado entre suas roupas. Ela tirou o roupão e o pijama, e começou vestir de novo a roupa de baixo. Um simples corselê que abotoava na frente resolveu o problema. Mas o que poderia vestir? Por fim vestiu o vestido mais comum que ela poderia encontrar e conseguiu abotoá-lo sozinha, e encontrou um par de sapatos resistentes para caminhadas. Na pilha de valises tinha uma grande, mas desgastada e jogou nela uma grande seleção de roupas debaixo. — Já pode sair agora. Começou a pegar seus produtos de higiene e Jack Ryder saiu de debaixo da cama. — Essa valise? Não, muito grande. Ele colocou a mão dentro da valise, pegou sua roupa debaixo e deixou-a na cama. — Senhor Ryder! Essa é a minha roupa debaixo! — Você é muito gentil de mencionar isso, eu estava me esforçando para não fazê-lo. Francesa, percebo. Essa valise ali servirá, mas você tem que reduzir pela metade as roupas. Então — rebuscou através da pilha, dividiu em duas partes e estendeu a ela. Eve se contentou em olhar para ele fixamente, colocou tudo na pequena valise e começou a procurar por outros itens, tentando pensar no que era essencial. — E dinheiro?

— Eu tenho o suficiente. A viagem para a fronteira só nos levará uma semana. — Mas Napoleão controla a França! — Está em Paris mobilizando suas tropas. Aparentemente, nós não queremos parecer estrangeiros, mas vamos nos passar por viajantes franceses; para mim funcionou ao vir. Seu francês é perfeito e o meu não é ruim. Eve deu de ombros; ele tinha chegado até Maubourg e agora ela tinha que acreditar que poderia levá-la até a Inglaterra. — Como saímos do castelo? — Ela perguntou. Viajar por toda a França parecia quase fácil em comparação com a tarefa de deixar o castelo com um estranho e uma valise de viagem. — Você tem uma capa com capuz? Eve concordou e foi pegar o vestiário. Ryder a dobrou, a colocou em outra das valises, tirou o casaco e o juntou à bolsa. — Eu preciso de um cinto. Em mangas de camisa, e com o casaco e a calça escuros, poderia se passar por um empregado, exceto que todos usavam cintos vermelhos enrolados à volta da cintura. Mas o que queria alcançar com isso? Ela não poderia se vestir da mesma maneira. E se ele tinha visto de baixo da cama, como se vestiam os servos, o que mais tinha visto? Eve afastou aqueles pensamentos e olhou no armário até que encontrou uma longa echarpe que estava quase na cor certa. — Deixe-me. Estava tão empenhada em se mostrar pragmática e determinada que antes de perceber o que fazia seus braços estavam ao redor de sua cintura. Jack ficou parado com os braços erguidos. Eve corou, não poderia fazer isso sem tocar nele. — Se amarra de uma forma muito específica — disse ela — Ai está — afastou-se; o calor do corpo dele tinha sido perturbador, mas decidiu riscar a impressão da situação em geral. — E agora? — Você sabe qual é o caminho para chegar ao pátio inferior, sem passar por um monte de guardas? — Ryder escondeu o seu revólver na cintura. — Sim, claro, mas não podemos evitar a todos; para começar, há dois no final do corredor, o meu guarda-costas — o olhou confusa — Duvido que eu possa me disfarçar o suficiente para enganá-los. — Não tem que fazê-lo. Você vai andar ao meu lado, sorrindo, e seguiremos para o pátio inferior pelas zonas menos frequentadas.

Ele carregou a pequena mala no ombro e pegou a outra com a outra mão. Uma vez que só tinha dentro o casaco e jaqueta, balançou no ar, claramente leve e aparentemente vazia. — Entendo — disse ela. — Venha. Ele abriu a porta e saíram no primeiro corredor. Um pouco além, onde o corredor se unia seus aposentos com a galeria principal, havia dois guardas de cada lado com lanças nas laterais. Ouvindo sua voz, se firmaram com as armas para cima. — Eu não entendo como pode demorar tanto tempo para consertar uma simples correia — ela protestou no dialeto de Maubourg — E menos ainda dizer que não entende com que valise quero substituí-la. Será mais rápido vê-las pessoalmente. Há quanto tempo você está empregado aqui? Eu tenho que falar com o mordomo sobre o recrutamento de pessoal. Passaram entre os guardas, com Eve colocada entre o lado descoberto de Jack e a guarda. — Por aqui. Eu não tenho a noite toda. Jack caminhou atrás de Eve reprimindo um sorriso, no entanto, se ela fosse muito mandona, na realidade, seria uma jornada tensa. Era difícil entender como uma criatura do sexo feminino poderia ser tão dura. Tinha visto nela lágrimas sinceras quando tinha temido pela vida de seu filho, mas fora isso, parecia fria, arrogante e caprichosa. Isso foi o que disseram lhe dela. Ele manteve a cabeça para baixo quando passou um grupo de servos que estavam muito ocupados se curvando para olhar para ele, e seguiu a figura da Grã-Duquesa. Desceram uma escada em espiral, cruzaram corredores estreitos e atravessaram com confiança o que pareciam as áreas de trabalho do castelo. Talvez, apesar de suas maneiras aristocráticas, se incomodava em monitorar o progresso do castelo. Jack ficou surpreso ao admirar a maneira como ela se movia no balanço dos quadris dentro do vestido, e se forçou a concentrar-se em manter seu senso de direção e contar os andares. Eve abriu uma pesada porta e parou. Jack olhou para cima e viu que tinha empalidecido. Parecia não haver justificativa para isso. Não tinha vozes ou pessoas, apenas o início de uma escada escura em espiral. Ela hesitou por um momento e então os guiou pelas escadas até a porta de carvalho maciço que ficava no fim. Empurroua e entraram em uma sala cheia de vapor, com cheiro de guisados e mulheres ocupadas. No centro, um cara enorme empunhava um balde grande e brigava com seus subordinados.

— Que idiota criminal colocou creme aqui? — Ele perguntou. — Não sabem do que gosta Sua Alteza Sereníssima? Querem envenenála? – Viu os recém-chegados e soltou um suspiro — Senhora! — Continue — a Grã-Duquesa acenou com a mão no ar em um gesto imperioso, e todos voltaram às suas tarefas — Por aqui — ela murmurou. E Jack encontrou-se no quintal da madeira. Um garoto passou por ele cambaleando sob uma cesta de toras e, em seguida, fechou a porta da cozinha e ficaram sozinhos no escuro. Ele deixou a valise mais leve no chão e tirou o casaco e a jaqueta. — Aqui, vista isso e oculte o rosto o máximo possível com a capa. Ele jogou a sacola nas sombras de um chute, pegou o braço da mulher e caminhou até onde ela supôs que seria o pátio inferior. Os habitantes da cidade tinham acesso restrito lá e em um momento seriam apenas dois caminhantes a mais. Foi mais fácil do que esperava, embora a Grã-Duquesa caminhasse rígida ao seu lado. Obviamente, não estava acostumada a que seus subordinados lhe dessem ordens. Havia guardas, mas apenas na entrada principal do pátio, e ninguém percebeu um casal entre muitas outras pessoas. — Eu tenho um carro esperando na ponte oeste — ele disse quando saíram através das portas. Passaram por um grupo de homens que riam no caminho da taverna, tinha mais pessoas do que ele pensou anteriormente. Era difícil não sucumbir à tentação de correr, mas isso só iria chamar a atenção para eles. Jack viu o brilho da água, logo abaixo e na frente deles estava a pousada, que antigamente era usada como ponto de referência. — Por aqui. Era uma rua íngreme, mais como um beco, com escadaria no centro e pedras nas laterais, e levava diretamente para o rio. Eve caminhou a passos largos ao lado dele, segurando o casaco na garganta, sem quaisquer sinais de medo. Agora que eles já estavam envolvidos na fuga, conservava a calma. Jack agradeceu por não ter que lidar com uma mulher histérica e permitiu-se pensar que eles iam conseguir. E, de repente, Eve se soltou dele com um grito e seus pés escorregaram nas pedras gordurosas. Jack largou a valise e tentou agarrá-la com ambas as mãos, mas tropeçou na escada e caiu com força.

— Ai! – Ela sentou-se no chão e puxou com irritação as dobras enredadas de sua capa. — Você está machucada? — Jack caiu sobre um joelho e se apressou a revistá-la. — Machucada, mas nada sério — Eve começou a levantar puxando a capa — Oh, droga! O fecho da gola está quebrado — Jack a ajudou a sentar e notou que ela estava se movendo bem. Ela era magra e ativa, o que significou um alívio. A capa caiu no chão e ficou invisível entre as sombras a seus pés. — Fique um momento aí. Vou procurar a mochila e o casaco — disse Jack. Ele congelou quando ouviu vozes. Uma tocha acesa iluminou a boca do beco e botas bateram nas pedras. Ele se virou contra a porta de uma loja fechada e puxou Eve para perto. A estreita rua se encheu de luz de tochas. — Finja — Foi tudo o que ele teve tempo de dizer antes de inclinar a cabeça e beijar sua boca. Ela soltou um som de sua boca e tentou afastar a cabeça. Jack colocou a mão firme sobre sua nuca, e segurou-a com força pela cintura com a outra mão e se concentrou no fornecimento de uma demonstração de luxúria em ação. Coisa nada fácil, quando a senhora em questão tentou morder sua língua. — Ei! O que temos aqui? — Perguntou uma voz forte, culta e arrogante — Podemos participar meu amigo? Jack levantou a cabeça e apertou o rosto de Eve no ombro, sufocando um gemido de sua fúria no processo. — Desculpe, mas esta mulher é minha. Eram meia dúzia de homens de uniforme azul e prata dos militares de Maubourg. Tinham bebido, mas parecia só o suficiente para se mostrarem extrovertidos e barulhentos. Jack falou com um sotaque francês do norte, na esperança de torná-lo mais assustador do que provocativo, que era mais do que se poderia dizer dos esforços da Grã-Duquesa de se livrar dele. — Paciência, querida — ele rosnou. — Espere até que os cavalheiros se retirem. Sua reação foi tentar plantar o joelho na virilha dele. — Meus amigos, nos dêem alguma privacidade. O marido da senhora a está procurando. Tenham misericórdia. Previsivelmente, isso arrancou risadas e gritos de incentivo. Seguiram descendo para o rio. Um deles, que parecia mais largo, a julgar pelas suas pisaduras, parou.

— A senhora perdeu a capa. Permita-me. Ele pegou o casaco e foi colocá-lo sobre os ombros de Eve, segurando a lanterna para ver bem o que estava fazendo e, talvez, na esperança de ver o rosto da senhora em questão.

CAPÍTULO 03 O Coronel Presteigne! Ouvindo sua voz, Eve parou de tentar livrar do abraço de Jack para se agarrar a ele e apertar o rosto em seu pescoço. Não se tratava de um grupo de jovens subalternos que provavelmente não reconheceriam a Grã-Duquesa com aquelas roupas; aqueles eram uns funcionários que a conheciam bem. Sentiu o pulso do pescoço de Jack nos lábios, um pulso forte e firme, e tentou manter a calma. — Permita-me, querida. O peso da capa assentou-se em seus ombros e os dedos do coronel resvalaram por seu pescoço, como havia feito duas noites antes, colocando o lenço de seda em uma recepção, o qual ela não poderia saber se foi intencional ou acidental. Agora ela sabia que era proposital, uma jogada que certamente provava a todas as mulheres, nobres ou burgueses. — Obrigado — Jack subiu a mão, aparentemente para alisar a capa em torno dos ombros dela, mas, na realidade, colocou a palma contra os dedos do coronel — Boa noite — disse ele suavemente, não sem alguma violência. Eve sentiu o crepitar da atmosfera entre os dois homens e compreendeu que Jack tinha permitido galanteria se impusesse a seu senso comum. Era estúpido, mas isso não impediu que a reação dele lhe desse prazer. Ser protegida como uma mulher e não como GrãDuquesa era tão novo que ela corou. Ou será que foi devido aos beijos? Sentiu o braço de Jack tencionar e soube que estava se preparando para empurrar o coronel, se necessário. Houve um segundo em que parecia que todos os participantes prenderam a respiração e depois Presteigne riu. — Boa noite e boa sorte, meu amigo — os policiais se afastaram deixando-os lá embaixo no escuro e em silencio. Eve se apoiou em Jack, aliviada, respirou fundo e tentou fazer os joelhos pararem de tremer. Jack levou ambas as mãos ao rosto dela e a beijou novamente com uma ferocidade que expressou seu alívio, tensão liberada e também exigência sexual. Sua boca estava quente, dura e experimente e Eve se rendeu a ela com uma sensação de abandono. O prazer físico, direto e espontâneo ante tal liberação foi tanto que sentiu a mente em branco e se deixou levar pelo momento,

ignorando o beco, os paralelepípedos gordurosos sob os pés e o perigo da perseguição. Ela abriu a boca para a língua dele e agarrou-se a seu corpo. Atrás de suas pálpebras fechadas estrelas surgiram. O desejo inundou seu corpo. — Demônios! — Ele levantou a cabeça e ela voltou à realidade. — Demônios? — Eles estavam quase fazendo amor na calçada e só lhe ocorreu dizer isso? Deve estar louca. O que aconteceria se esse momento de loucura tivesse lugar em seu quarto? Como se atreveu a tocá-la? Como ela tinha permitido isso? — Você... — Ela começou com raiva. — Eu esqueci quem eu sou. — Sim — ele murmurou sarcasticamente — O alívio e a tensão nos afetam de forma estranha. Seguimos nosso caminho? Era mais digno não dizer nada. Comentar sobre o incidente só iria causar mais constrangimento. — Certamente, Sr. Ryder — disse ela com altivez. — Você tem a valise? Ele se aproximou de uma forma escura nas sombras e depois voltou e pegou o braço dela. Eve aceitou o risco do contato porque não queria tropeçar novamente. — Quem cuida do transporte? — perguntou. — Meu ajudante, Henry — Jack apertou o passo no final do morro. Das tabernas e casas de má reputação que se alinhavam ao longo do rio saía luz. — E se alguém fala com ele? — Eve pôs a capa e caminhou com cuidado pelas cordas esticadas ao longo da orla. — Ele passou dois anos em uma prisão francesa, então fala bastante o idioma, embora com muitos palavrões — disse Jack — É aqui. O carro estava perto da entrada do que Eve tinha certeza ser um bordel, como se esperasse que seu dono retornasse de seus prazeres. Ao lado da porta estava um grupo de homens falando um pouco alto e um porteiro com punhos como presunto os observava da porta. Pelas janelas iluminadas saía o ruído da música e risos. O motorista devia estar atento, pois Eve viu uma figura vestindo um casaco se endireitar no banco. — Já está aqui. Que surpresa! — Ele se inclinou à medida que se aproximaram e falou com Jack no forte sotaque francês e com uma familiaridade que surpreendeu Eve. — Eu pensei que teria que

arrancar seus ossos das rochas pela manhã. Eu já tinha me resignado a isso. É esta a senhora? — Não, esta é uma que eu escolhi ao acaso — Jack disse sarcasticamente. Ele abriu a porta do carro e a ajudou a entrar. — É claro que é a senhora. Você fez uma ronda de exploração, esta tarde, como eu pedi? — Sim, patrão. — o homem passou a falar inglês — E a cidade está muito bem. Não é como Paris, é claro, nem sequer como Marselha, mas um homem pode se divertir um pouco aqui, se tivesse tempo. — Bem, nós não. E fale francês, caramba — respondeu Jack. Você já viu a fábrica de perfume? — Sim. É um local grande e cheira a uma banca de flores em Covent Garden. Por quê? Você quer comprar presentes? — Não, quero me infiltrar nela. Nos leve lá agora e não se faça de tonto. Não quero chamar a atenção — Jack entrou no carro, fechou a porta e sentou-se na frente dela. Eve suspirou e vislumbrou o branco de seus dentes. Tudo correu melhor do que o esperado. — Você realmente quer entrar na fábrica? — Ela perguntou. — Eu vou, você não. — Senhor Ryder, precisamos lembrar quem eu sou? Eu digo para onde vamos e onde não. Além disso, tenho a chave. — Aqui? — A voz de Jack pareceu surpresa — Você tem a chave aqui? E por que você a trouxe? Era tentador fingir que ela sabia que ele precisaria, mas Eve escolheu ser honesta. — Está no bolso dessa capa. Eu esqueci que tinha deixado lá na última vez que eu fui. Foi quando eu descobri que Antoine estava usando produtos químicos. Eu tinha ido lá uma noite para procurar nos livros antigos, porque eu tinha encontrado a receita no castelo de um perfume que parecia promissor e eu queria ver se nós já tínhamos na fábrica. Antes ia mais vezes, mas desde que Philippe ficou doente, tinha deixado de ir. Eu não acho que Antoine sabe que tenho as chave dos escritórios. O que nós procuramos? — Eu estou procurando fórmulas, desenhos, equipamentos... algo que pode nos dar uma ideia do que se propõem. — Nesse caso, devemos começar com o escritório — disse ela. — E se não encontrar nada lá, voltamos para os laboratórios. Eu acho que nas oficinas não haverá nada, pois a produção de perfumes continua como de costume, ou eu teria sabido.

— Será mais fácil você desenhar uma planta — Jack enfiou a mão no bolso da porta de carro e tirou papel e lápis. — Eu disse que vou com você — disse Eve. — Eu tenho todo o direito de estar lá — acrescentou — Eu posso ir com quem quiser. Quem vai me negar a passagem? E o guarda não vai se surpreender a me ver, porque está acostumado. Há menos risco comigo e tudo será mais rápido. — É verdade — admitiu Jack. Deve ter percebido a surpresa dela ante sua capitulação, porque acrescentou — Não tenho o hábito de refutar argumentos bem feitos só porque outra pessoa os fez. — Eu pensei que oporia por ser uma mulher. Ou por minha posição. — Nenhum dos dois. O que você faz na sua posição é a sua escolha. Eu tenho uma história de desentendimentos com duques, duquesas, mas não com grã-duquesas, e na minha experiência, as mulheres têm a mesma tendência para a sabedoria ou a falta de senso comum que os homens. — Oh! Eve levou um momento para se recuperar da surpresa. Os homens em sua vida sempre deixaram muito claros, respeitosamente, é claro, que tinha que ser tratada com deferência pela sua posição e com indulgência por suas opiniões. Até o querido Philippe estava propenso a tratá-la como se ela não tivesse nada na cabeça além de vestidos, instituições de caridade e de seu filho. De uma Grã-Duquesa se esperava que fosse uma boneca consciente de seus deveres. Começou a relaxar muito com este homem e começava a gostar dele. Em sua posição, isso era algo perigoso simplesmente porque alguém não a tratava como um fantoche sem cérebro... e beijara como um anjo caído. — Você trata aos Duques, com a mesma familiaridade com que trata a mim? Eu tenho um título que você deveria usar... — Alteza Sereníssima, se me dirijo a você dessa forma, não só prolongaremos intoleravelmente todas as frases, mas corremos o risco de suscitar interesse ao longo da viagem. — Senhora, pode servir — disse ela, irritada. — Qual é o seu nome completo, senhora? — Eveline Claire Elizabetta Mélanie Jabotte Nicole de Maubourg. Jack assobiou. — Agora eu entendo porque a chamam de Grã-Duquesa Eve. Eu acho que nós chegamos.

Eve olhou o muro alto e as portas duplas. — Sim, é aqui — pegou a chave e as estendeu — Vou dizer ao guarda que você é um visitante francês de Grasse interessado em ver como nós fazemos perfume aqui. E procure lembrar-se de dirigir a mim corretamente — acrescentou, quando Jack a ajudou a descer do carro. — Sim, Alteza Sereníssima — tocou seus calcanhares, mas Eve decidiu ignorar o desafio. O velho George, o zelador veio com a lanterna antes de terem atingido o meio do pátio. Ele colocou a jaqueta em uma mão e franziu o rosto em uma expressão de preocupação por ter sido surpreendido. — Alteza Sereníssima, minha senhora. Não a esperava. Há algo de errado? — Não, não, George. Este senhor é de Grasse, que também fazem bons perfumes como você sabe. Não tenho tempo para vir amanhã e eu vou lhe mostrar a fábrica agora à noite. — Quer que os ilumine, Vossa Alteza? — Não, não é necessário, você pode dar a lanterna para o Senhor. Você será notificado quando saímos. Ela abriu a porta que dava aos escritórios e dispensou o velho com um aceno. Jack a seguiu e fechou a porta. — Isso foi quase muito fácil — observou. — O que você quer dizer? — Eve abriu o livro pesado do dia e começou a folhear. — Pela noite só George fica de serviço. Este é o escritório de campo. Eu duvido que vamos encontrar alguma coisa aqui e o livro do dia parece inofensivo. — Se você operasse em um laboratório secreto, deixaria só um idoso como vigilante? Ele não pareceu se assustar com nossa presença, por isso não pode ser parte na trama — Jack olhou ao redor da sala, abriu uma ou duas gavetas e prosseguiu para a próxima — Portanto, deve estar muito bem escondido. — Eu entendo o que quer dizer — Eve pegou as saias e seguiuo — Os laboratórios estão por aqui. Eu tenho a chave mestra. Foi abrindo uma porta após outra até chegar ao final. — Esta já não usamos. Oh, olha, mudaram a fechadura — de repente, a fábrica onde andou muitas vezes à noite, sem problemas, parecia estranha e ameaçadora. Aproximou-se de Jack e em seguida mordeu o lábio inferior por essa mostra de medo. —Esta chave não a abrirá. — Então eu tenho que forçá-la — Jack meteu a mão na bota e retirou um pedaço de metal fino dobrado. Ele se abaixou e começou a

trabalhar na fechadura. Eve pegou a lanterna e aproximou-se para iluminar. — Não, eu não preciso de luz, obrigado. Isso eu faço pelo tato e pelo som. Ela o observou fascinada pela sua concentração. Ele fechou os olhos e seu rosto relaxou, como se ouvisse a música e analisasse ao mesmo tempo em que a ouvia. Seus cílios escuros abanavam seu rosto bronzeado. Ela viu uma cicatriz em forma de lua crescente próxima ao olho e viu a penugem escura de uma barba que estava começando a escurecer o queixo. Pensou que era uma figura muito masculina. Em seus dois anos de viuvez tinha sido cuidadosa em não ficar muito perto de outro homem para não cair na tentação de que o frio de sua cama solitária a empurrasse a alguma aventura. Era algo arriscado, degradante e ruinoso para a reputação, pois o segredo sempre acabaria vindo à luz, e, nesses casos, inevitavelmente a mulher que era o objeto de piadas e de censura. — Consegui. A porta se abriu. Dentro tinha uma sala montada como escritório de desenho com duas mesas de um lado, uma mesa larga e alta no meio e duas placas inclinadas com tamboretes do outro lado. Na parte de trás, tinha uma série de cômodas cheias de gavetas amplas. — Nem um pedaço de papel — Jack abriu as gavetas da mesa. — Há apenas lápis, tinta e regras. Eles se aproximaram junto às cômodas. Eve estendeu a mão e tocou na madeira escura. — Olhe as fechaduras — disse. — Eu nunca vi nada parecido. — Eu tampouco, e não posso forçá-las — se endireitou um momento para inspecionar as fechaduras, feitas de aço com fechos duplos e barras, e estranhos cilindros na superfície. — Mas nós temos que quebrar as cômodas — disse ela. — Há eixos para fogo em todos os quartos. Olha, lá — pegou o eixo, no canto onde ele estava descansando ao lado de um balde de água e agitou no ar. Era pesado. — Se eu fizer isso, não poderemos esconder que estivemos aqui — Jack se apoiou na cômoda e a olhou. — Claro — isso era óbvio. — Quando o príncipe Antoine descobrir seu desaparecimento do castelo, talvez a persiga e talvez não. É improvável que o assunto lhe pareça tão urgente para empreender muitos recursos em sua

perseguição. Mas se o seu desaparecimento se relaciona com um ataque ao seu laboratório secreto, destruirá o campo à sua procura. — Mas temos de encontrar provas do que acontece — Eve franziu o cenho. Estava lhe perguntando se colocaria sua segurança pessoal à frente do seu dever? — Nós temos o suficiente para confirmar que o príncipe Antoine experimenta com explosivos. Tenho ordens para levá-la de forma segura para a Inglaterra, não dedicar-me a espionagem. — Quer dizer que vai deixar isso assim? — Ela perguntou. — Não, eu pergunto se você quer fazê-lo. É a sua vida. Seu filho está esperando na Inglaterra. Eve apoiou o eixo na cômoda mais próxima e tentou esclarecer seus pensamentos. Jack deixou a escolha para ela, coisa que nenhum outro homem faria. Não tentava esconder os perigos. Teria preferido ir sozinho, mas ela estava lá porque ele estava disposto a ouvir as suas ideias. — Se há algum risco de que uma arma que poderia ajudá-lo caia nas mãos de Napoleão, nunca me perdoaria — respondeu ela. — Casei com o governante de um país, mesmo um país pequeno. Isto está entre minhas obrigações. E sabia que, se a sua vida estava em perigo, a de Jack também. Na verdade, corria mais perigo, pois estava começando a perceber que, se Antoine a quisesse teria que passar por cima de Jack para chegar a ela. Ele curvou os lábios em um sorriso que mostrou admiração. — Bem, vamos começar. Eve pegou o eixo pesado e apertou os dentes. — Deixe comigo – levantou o eixo e bateu na primeira fechadura. A madeira lascou e ela sentiu um solavanco no braço quando atingiu o metal — Esta é por Frederic. Como Antoine se atreve a se apoderar do que pertence ao meu filho? Gostaria que estivesse aqui neste momento.

CAPÍTULO 04 Jack estendeu a mão para o machado. — Permite? Eu aprecio seu desejo de decapitar seu irmão, mas acho que vai rapidamente transformar isso em lenha. Ela assentiu e deixou o machado. Ela se virou e olhou-o facilmente com fúria. Jack achou que era uma mulher corajosa. Deve ter sido o regente, ele mereceu. A maneira como ele falava com ela era simplesmente porque não podia deixar seu posto ficar no caminho da missão. Não foi desrespeito. Não queria pensar o que diria os senhores em Whitehall, que o haviam enviado nessa missão, quando soubessem que haviam invadido a fábrica num ato de espionagem. O fechamento final da primeira deu conforto no meio de uma massa de fragmentos e Jack começou a próxima. Eve começou a abrir gavetas ao lado dela, — Tem pilhas de papel, é melhor colocá-los em ordem na mesa grande. O esforço físico para lidar com o machado causou aos músculos dores descontroladamente ao redor das costelas, onde a corda tinha envolvido antes. Tentou concentrar-se em quebrar confortável o mais rapidamente possível. Já tinha distrações suficientes na sua missão de começar a pensar em reforços feridos. As revelações sobre a saúde do monarca, ter identificado como a fonte das traições o Príncipe de Antoine, a descoberta desta fábrica e seus segredos, tudo o que tinha que ser incluído nos seus planos. E o impacto que Eve estava ali com ele de espontânea vontade foi totalmente inesperado e que exigem mais do que apenas uma mudança de táticas para neutralizá-lo. Não se surpreendeu ao descobrir admirando sua força e coragem, mas não esperava encontrá-la desejável. Não foi só a beleza que produziu o efeito. Jack deu um golpe final para a última trava e começou a puxar as gavetas. Havia algo mais... uma paixão por trás de seus frios olhos castanhos, uma energia e uma raiva escondida sob um verniz de graça e dignidade. E o seu corpo... fúria doce de sua boca quando ele a beijou ... Ele virou-se quando ela se aproximou para tomar as folhas de desenhos das gavetas que tinha acabado de abrir. Mudou-se como se estivesse em uma recepção de Estado, mas seus cabelos soltos e rosto corado, com seu trabalho naquele quarto. Seu casaco estava

deitado no chão e rolou até o vestido para mostrar forte armamento, esguio e punhos com ossos finos. Os desenhos foram dispostos em cima da mesa e ela franziu a testa concentrada, colocando a mais recente coleção. Jack deixou o machado e encostou-se à cômoda para observar. Não devia ter beijado ela, é claro, mas o engano tinha trabalhado bem para eles fora do problema. A franqueza de seu beijo quando ela parou de lutar depois de terem movido o militar não deveria tê-lo surpreendido. Tinha sido uma mulher casada, e sabia o que era. A partir dos relatos de que ele havia dado que tinha um amante, tinha sido muito discreto... Talvez até mesmo ele recebesse o benefício de vários anos de frustração. Os dois estavam em perigo e o abraço foi uma resposta tão natural quanto os dois soldados que estava indo para ficar bêbado depois da batalha... um comunicado para afirmar a vida. Parecia que ela tinha se esquecido dele e que ele deveria fazer o mesmo. O que era mais fácil dizer do que fazer. — Mr. Ryder. Você dorme? — Não minha senhora não quero incomodá-la até que tenha terminado. Os olhos de Eve se estreitaram, mas ele manteve o rosto impassível, e ela virou-se para o conteúdo da tabela para pressionar seus lábios para mostrar seu descontentamento. A Grã-Duquesa Eve tinha a capacidade de ignorar as coisas desagradáveis e retiradas, o que certamente foi útil na vida da corte. — Como você classificou os jornais? — São desenhos de diferentes mecanismos, mas acho que estão todos juntos — ela franziu a testa e ele chegou a seu lado. — Ordenei com os desenhos mais recentes acima, são todos datados — Eve disse fazendo um monte com folhas — Esses são números e cálculos. Fórmulas. Não fazem sentido para mim. — Para mim um pouco. — Jack olhou para o primeiro e voltou sua atenção para os desenhos. — Isso são foguetes. — Fogos de artifício? Ela se aproximou dele para ver melhor e Jack respirou fundo entre os dentes. Seu corpo estava perfumado e quente e ele imediatamente se lembrou da sensação dela em seus braços. — Não, armas de artilharia — Jack retirou-se para mostrar-lhe o que ele disse — Congreve inventou e os britânicos usaram na terra e no mar desde 1805. Napoleão ofereceu uma recompensa a quem pudesse inventar um para o exército francês, mas ainda não sei. Mas

eles não são muito precisos. — passou a estudar as outras imagens. — Isso é para os reservatórios de queima e caminhões. Gostaria de saber se encontrou uma maneira de melhorar o seu objetivo. — E sobre os livros? Podem ser formulas de pó explosivo? — Sim, talvez. Temos que conseguir isso. — E como você sugere que nós vamos passar por George? — Ela perguntou. — Nós não vamos. Nem todos — Jack pegou uma tesoura e começou a cortar o desenho do topo de cada lote, retirando todas as margens. Nós carregamos o último de cada grupo e destruímos o resto. — A chaminé — Eve concordou e começou a jogar fotos junto à lareira no canto da sala. — Eu levo os livros. — Começou a rasgar as páginas. — Melhor soltar para queimar. A meia dúzia de desenhos e recortes puxados dos livros não inchou muito. Jack colocou no bolso da frente do casaco e puxou a lanterna para os outros jornais, que pegou fogo imediatamente. Jack bateu as cinzas e se endireitou. —Como enfurecer o príncipe em uma noite. — ele disse. — Antoine terá uma grande decepção— disse Eve. Ele tomou seu casaco e jogou nos ombros. — Obrigado, Sr. Ryder. É melhor irmos embora, não? — Na verdade — Jack observou o chão até que ele encontrou o que queria: um pedaço de metal quebrado menor que a unha do dedo mindinho. — Feche a porta. Demorou pouco para fechar o cadeado e entraram no pequeno fragmento no buraco. — Mudei o fio até que ele ficou preso lá. Com isso não é impossível abrir a porta, mas acho que o bloqueio está com defeito. Isso vai nos dar algum tempo. Eve avançou para o pátio. O guarda saiu para esperar. — Ah, bem, George, vamos embora. Desculpe ter incomodado. Sua filha está bem? — Excelente. Jack voltou para a lâmpada velha e olhou para a Grã-Duquesa. Seu cabelo caiu a meio das costas, o rosto corado e poeira na bainha de seu vestido. O pêlo, sujo e enrugado, dando a impressão de que tinha sido usada na cama por um casal de cães. Isso lhe deu uma ideia.

— Obrigado — colocou uma moeda na mão do velho e baixou a voz. —Tenho certeza de que Sua Alteza Sereníssima pode contar com sua discrição. O homem olhou para ele com uma expressão de compreensão e acenou com a cabeça vigorosamente. — Deus o abençoe senhor. Ela merece alguém que se importa. Jack piscou e Eve seguiu no carro com o volume dos documentos esmagado sob o braço. Eve foi deixada para ajudar a entrar no carro e afundou-se nas almofadas. — Isso rato! Se Philippe se recupera, vai ficar doente quando descobriram acerca de Antoine. A parceria com Bonaparte já é muita traição, mas criar armas para eles em suas mãos, é imperdoável e incompreensível. Agora eles estavam fora da fábrica, começando a entender a magnitude do que eles encontraram. Dentro de tudo parecia uma aventura, que tinha sido emocionante, mas estava com medo. Tinha gostado de trabalhar com Jack. A coisa despertou dentro dela, algo que havia sido reprimida muito tempo. Foi agradável e tinha que resistir. — Quanto tempo irá conter o bloqueio, Sr. Ryder? — Bastante. Terá de encontrar um serralheiro, mas são impacientes, não acho que eles percebem que houve sabotagem. Um serralheiro saberá de imediato, é claro, e depois terá de quebrar a porta, eu acho. A julgar pelo seu peso, deve ser reforçada. Será sua maldição as precauções antes de entrar. — E, em seguida, perguntará a George quem foi lá e ele vai lhe dizer, não há razão para que não. Deveria ter falado com ele. — Eve sacudiu a cabeça, irritada com a sua falta de previsão. — Eu não sei o que poderia ter dito para lhe perguntar algo sem despertar sua curiosidade. — Eu acho que vai ser discreto. — Por quê? — Ela perguntou, desconfiando imediatamente. — O que você disse? — Nada de importante. Eu dei uma dica e lhe disse que tinha certeza que seria discreto. — Por que ele vai pensar que é necessário? — Ela perguntou. Uma mecha de cabelos escovou seu pescoço. Ela ergueu a mão e descobriu que a metade do cabelo estava solto. Quando tocou seu rosto, estava quente e úmido. E o revestimento estava amassado e sujo de estar no chão.

— Eu entro num prédio vazio depois de escurecer com um homem e ao sair uma hora mais tarde, minhas roupas em desalinho, corada e amarrotada e você pediu ao porteiro discrição. — disse a ele. — Você encorajou George a pensar que nós fizemos amor lá. — terminou com o rosto vermelho de vergonha. —Como você pôde? — Vai ser eficaz. E parecia muito compreensivo. Acho que o povo não iria jogá-la por um pouco de diversão inofensiva. — Inofensiva? Diversão? É assim que cataloga adultério e dissipação? É? — Manteve a voz baixa, com esforço, porque a grãduquesa nunca chorou. — Pense na minha posição! — Pode-se dizer que não é adultério. Nem sou casado. — Oh! Eu não sei o que dizer. — Claro, minha senhora. — Agora ele mostrava respeito. — Merecia ser atirado para os calabouços do castelo. Seria cheio de ratos e aranhas. Se eu pudesse, eu o encadearia lá ao lado de Antoine. Seria uma espécie. — Então a memória de algo que estava embaixo do castelo deu-lhe um calafrio. Não, era melhor não pensar nisso, especialmente no escuro. — Senhor Ryder, vou ser sincera. Se eu achasse que conseguiria esquecer-se de mim mesma e a minha posição ao ponto de ter um amante, não escolheria um aventureiro ousado e um espião. —Você fez de mim um espião— respondeu ele. Isso era verdade. — O fato de não responder como deveria, quando você fez essas liberdades ultrajantes comigo no beco não lhe dá direito de assumir que você pode manchar o meu nome... — Liberdade, minha senhora?— Sua voz soava zombeteira. — Desculpe, mas eu acho que quando os policiais haviam ido embora, devolveu aos meus beijos com muito entusiasmo, como eu lhe dei a mim mesmo. Ou isso ou você é uma atriz de talento excepcional. — Fiquei chateada— protestou Eve, que estava bem ciente de que ele estava certo. —Claro — ele concordou. — Eu entendo perfeitamente. E por favor, me perdoe, mas esse incidente não teve nada a ver com George. Tenho medo que ele tenha as suas ideias e as conclusões se encaixam bem com os nossos propósitos. Houve uma pausa, Eve tinha os dentes cerrados, concentrandose respirando lenta e profundamente pelo nariz. — Você quer voltar e explicar que ele chegou a conclusões erradas, Alteza Sereníssima?

— Não — respirou fundo e se acalmou tanto como possível — É muito tarde, o dano está feito. Onde estamos? — Ela olhou pela janela e viu o brilho do rio abaixo. —Não vamos voltar para Maubourg? Por quê? — Porque é o último lugar que esperam que você esteja, se você esta fugindo. Este passeio irá fluir lentamente e visível através do centro da cidade. Henry observou o costume de Toulon, pelo menos, três vezes, e sempre garantira que a porta vermelha do transporte bastante comum esteja bem iluminada. Então vá a becos escuros, vamos remover os painéis vermelhos na porta e deixar uma coroa fictícia e sairá pela porta do condutor do Norte comigo. Ao amanhecer, Henry vai ser o condutor, a falta de distintivo na porta e todos os efeitos estamos em uma carruagem de terceira, que não tem sido visto em Maubourg. — E você pensou em tudo? É indiscutível o quanto é cuidado e bom no que faz. Interrogar os guardas, conduzir a minha fuga, quando deixamos o meu quarto, investigar como fez essa noite. Senhor Ryder, faz estas coisas muitas vezes? — Sequestro de damas? Não, é a primeira vez. Missões na Europa durante a guerra, sim, algumas. Principalmente trabalhos de inteligência para o governo e, por vezes, para os indivíduos. — Que tipo de missões? —Verifico se os pretendentes são o que parecem, trabalho informal como guarda-costas... Recentemente, ajudei um senhor que tinha perdido a sua mulher há dez anos atrás. — Credo! Que homem tão descuidado! É assim que você ganha a vida? Ele falou com o vocabulário de um cavalheiro e com a decisão e firmeza de um soldado. — Eu tenho uma renda privada. Eu faço isso porque gosto. — Você gosta? Estranho que gostassem de sentir medo e perigo! Não... não tão estranho. Até Eve percebeu que gostava, em um sentido perverso. Estava receosa e muito preocupada com Frederic, envergonhada por muito do que tinha acontecido naquela noite, mas ela estava viva. O sangue que corria em suas veias, sua mente estava viva, tinha saído de uma vida previsível e privilegiada a uma incerteza... e se sentia muito bem. Apenas um dia antes tinha olhado no espelho e se esforçado para aceitar o fato de que desde que ela entrou na idade média só restava o declínio com graça.

Em poucos meses, completará vinte e oito anos. Por nove anos havia sido uma esposa fiel e uma duquesa viúva. Ela não tinha feito nada em especial ou impulsivo, nada empolgante. Como Frederic iria crescer e depois se casar, ela ia cada vez mais entrando numa espécie de retiro respeitável. Era seu dever. E era como se estivesse morta. — Minha senhora? — Sim, Sr. Ryder? — Você suspirou. Você está bem? — Eu estou considerando que é perigoso querer coisas. Ultimamente eu encontrava a minha vida chata. Depois da volta de Napoleão, Philippe adoece, estão tentando matar a mim e a Fréderic, você entra através da janela do meu quarto e invade o castelo. Parece que eu estou entrando numa fase de aventura na minha vida. — Isso eu posso prometer. O carro parou para o que viria a ser a terceira vez. Eve ouviu o sotaque francês de Henry e a resposta da torre de vigia localizada sob o poste, mais escondido nas sombras. — Por que não tomar a estrada para Toulon? — Ela perguntou quando a marcha foi retomada. — Porque é mais rápido, mas também mais arriscada. No sul são muito favoráveis a Bonaparte e é o caminho mais óbvio para nós. Como é que vamos encontrar um barco para nos levar para a Inglaterra em um porto francês? Eu estou indo para o norte para a Borgonha e depois para nordeste, a Bruxelas, que é onde o rei fugiu. Wellington tem a sua sede lá desde abril. De lá, vá para Oostende. O carro parou de repente. — Desculpe, preciso sair imediatamente. Henry vai se sentar com você alguns quilômetros. Depois de bater os ruídos nas laterais do veículo, o motorista entrou com o seu chapéu na mão. — Desculpe senhora. — Tudo bem. Pelo menos esse foi fácil, tendo passado muitas horas conversando com as pessoas que estão com a língua presa na sua presença. — Você já foi condutor Henry? — Eu sou um criado de quarto, minha senhora. Embora eu também seja o faz tudo dependendo de onde estamos. Aparentemente, o homem não estava com a língua presa, o que poderia ser útil para ela.

— Quer dizer que na casa do Sr. Ryder, em Londres, é o seu criado? — Sim, senhora. Quando o patrão é ele próprio, o que não acontece muito frequentemente. — Deve ser difícil para sua família — disse Eve — Para sua esposa, por exemplo, ou seus pais. — Seria se eu tivesse esposa, senhora. Quanto ao meu pai acharia respeitável, nada fora do padrão, o que está bem, então eu acho que aprovaria se fosse vivo, mas não é. Isso não tínhamos ido muito longe. Ele não era casado e seu pai "respeitável" tinha morrido. A frase "quando o empregador é ele próprio" deixou-a curiosa, como se implicasse duas vidas diferentes. E a sua "casa" estava em Londres. Mas quem era exatamente Jack Ryder? — Nós estamos perto. — disse Henry — Uma hora e estará na estalagem, minha senhora. Aposto que você ficará feliz em ficar instalada durante a noite. — Você sabe onde passaremos a noite, então? — Sim, senhora. O chefe não deixa nada ao acaso. Ele contratou a sala quando viemos e o proprietário está esperando por nós. É um cavalheiro pequeno, mas simpático que se veste como quando se vão a expedições de caça nas montanhas, mas agora está tranquila. Eve inclinou-se no banco e ficou em silêncio. Henry não tinha necessidade de colocá-la à vontade na sua presença, então ela não tinha que dar conversa. Foi estranhamente pacífico perceber que ele não tinha outros motivos que não sobreviver a esta aventura e ir para a Inglaterra. — Senhora! — Ela se endireitou, e viu que tinha parado de mexer e as luzes foram apagadas — Você dormiu minha senhora — disse Henry. — Sim, obrigada. Eve empurrou o cabelo para trás e puxou o capuz para esconder melhor o rosto. As pessoas viram o que esperavam ver e o senhorio não esperaria um viajante cansado fosse a sua GrãDuquesa. Só tinha que tentar não fazer nada para chamar a atenção. A porta se abriu, Jack ajudou-a e o proprietário saiu para cumprimentá-los. — Bem vindo, senhor, senhora, bem-vindo. Entre, por favor. Eve seguiu Jack após ele enviar os cavalos para os estábulos, carregando a bagagem e Henry desapareceu na direção da taverna.

— O quarto é como você pediu senhor — disse o proprietário. — Nós arejamos a cama e eu tenho certeza que sua esposa vai se sentir confortável. O homem começou a subir as escadas. Eve parou na primeira etapa, e bem acordada. — Em que quarto você está? — Ela perguntou desconfiada. — No nosso — Jack segurou pelo braço e começou a subir. Ela não tinha escolha senão seguir se não quisesse recorrer à violência. — Obrigado — ele aceitou as velas, dadas pelo estalajadeiro e empurrou-a através de uma porta na parte inferior da escada. —Tudo parece excelente. Água quente, por favor. Eve ficou no meio da sala e olhou em volta. Era confortável, duas cadeiras, um tapete na frente de uma lareira fria, uma estante, uma tela e uma cama. Uma cama. — Onde você vai dormir? — Ela perguntou friamente. — Com você. Na cama. Por quê? Onde você esperava que eu dormisse?

CAPÍTULO 05 — Eu espero que você durma em sua própria cama e no seu próprio quarto — Eve tinha a boca seca e o estômago cheio de borboletas. — Eu sou o seu guarda-costas, eu tenho que estar perto de você — Começou a acender velas ao redor da sala com uma mão firme e Eve entrou em pânico. Do que estava com medo? De ele forçá-la? Ridículo. Mas o senso comum não podia parar o seu medo. — Durma no chão— disse do canto, escondida atrás da tela. — Por que você quer que eu durma tão desconfortável? — Ele perguntou — O papel de guarda-costas moderno não inclui dormir na soleira de sua porta como um verdadeiro trovador. Foi um dia longo e duro. A cama parece grande e confortável. Vou colocar o travesseiro no meio para que se sinta melhor. Ele aproximou-se da porta e o barulho da chave girando na fechadura enfatizou seu medo. — Isso é ultrajante. Eu sou... — Minha esposa — Jack olhou para ela sem um pingo de humor. — Durante o resto da viagem, vai agir, vai pensar e viver como minha esposa. — Não! — Do que você tem medo? Você acha que eu vou exigir meus direitos conjugais? Isso a levaria a decepção. Isto é para sua segurança. O quarto era pequeno, mas sua presença parecia enchê-lo com sua masculinidade. E ela teria que passar a noite, e só Deus sabe quantas noites na cama com ele. — Claro que eu não penso assim, tentei não pensar nisso. E não tenho medo de você — ela levantou o queixo com altivez e tentou olhar para cima e para baixo. Não, ela estava com medo, medo de que ele se lembrasse de como ela se perdeu no beijo, medo que em cada hora gasta com ele mais um pedaço das barreiras que ergueu em torno de suas necessidades e desejos se rompessem. Medo de se unir a ele durante a noite para encontrar calor, conforto e... Não era fácil resistir à tentação quando ela estava tão perto, era fácil de ignorar tudo quando não havia nenhuma maneira de alguém conhecê-los. — Você está cansada. Ambos estamos. A água quente em breve chegará e você pode se lavar e deitar na cama.

Bateram à porta e Eve ficou surpresa ao ver que ele puxou uma faca da bota antes de ir abrir. Quando a empregada entrou com o jarro de água, a faca tinha desaparecido de vista. Jack voltou a girar a chave na fechadura, quando a empregada se foi e disse: — Vá em frente. — pegou a bolsa e colocou atrás da tela. — Obrigada. — Eve disse duramente. Ela foi para trás da tela. Teria que usar a camada como um manto. Ela abriu a bolsa com as mãos trêmulas e tirou a roupa que ele tinha autorizado a transportar e ficou olhando para dentro. — Sr. Ryder — disse com o tom de voz que usava para marcar uma grave ofensa contra o protocolo da corte e para produzir uma reação imediata de ansiedade e cuidados pela pessoa que recebe. — Sim? — Sua voz soava abafada, mas despreocupado. Eve o imaginou tirando a camisa dele e voltou com determinação, por um momento quis espreitar por entre as fendas da tela, como uma jovem espiona os lacaios. — Quando você selecionou os itens que poderia trazer, deixou a minha camisola. Com o que você espera que eu durma? — Usando uma das minhas camisas. — Você tem sobressalentes? — Claro, eu sabia que não poderia trazer muitas roupas. Ele estava rindo sobre isso! Eve se despiu e lavou-se rápido, furiosa. Então colocou a camisa sobre a cabeça. Ela veio para o meio da coxa e punhos pendurados muito abaixo da ponta dos dedos. Ela jogou-a para baixo tudo o que podia, virou os punhos e foi para ajeitar seu cabelo. Pelo menos a própria escova estava na bolsa. Ela escovou o cabelo devagar, regular, que tinha o poder da reconfortante rotina. Fez uma centena de vezes e os prendeu em uma trança. — Onde está você, Sr. Ryder? — Na cama. — Feche os olhos. —Tudo bem. Fechado. Você quer que eu saia? Eve olhou para a borda da tela e viu que Jack estava realmente na cama com os olhos fechados. Colcha até o queixo, deixando um vislumbre do que estava usando, ou não, e um pedaço grande no meio da cama mostraram que o travesseiro foi introduzido lá em um gesto de modéstia. Eve resistiu ao impulso indigno de correr de vela em vela e foi girando lentamente, até que a cama era apenas uma batida no quarto. Deslizou sob o lençol e puxou até o pescoço.

— Boa noite senhora. Ela seria somente uma "senhora" até chegarem em segurança. E esse pensamento foi estranhamente libertador. — Boa noite — respondeu friamente. Jack. Liberdade ou perigo? O protocolo sempre foi uma armadura. Atrás dele podia-se manter-se perfeita e esconder os sentimentos. Essa aventura tinha um tom íntimo com um homem perigosamente sensual. Ela estava exausta e a cama era confortável e limpa, mas teve dificuldade em adormecer. Tentou relaxar com os olhos fechados, começando com os dedos. Ela tentou contar carneirinhos, recitou receitas e lembrou os verbos irregulares do Latim. Nada. “Ele dormia?” Ela prendeu a respiração para ouvir sua respiração constante e regular. Ele parou um segundo quando se moveu um pouco, deu um pequeno suspiro e depois recuperou o ritmo. Obviamente, Jack Ryder era uma dessas pessoas irritantes que podia dormir em qualquer lugar e circunstância. Ela esperava que também fosse da mesma rapidez no perigo iminente. Ela voltou seus pensamentos para o seu filho e sorriu. Verei você em breve? Certamente ele teria crescido muito. Você parece mais como seu pai agora ou menos? Será que ainda iria jogar os braços para beijá-la ou ele estava muito velho para isso? Sem perceber, ela relaxou e adormeceu. Jack abriu os olhos na escuridão, e ficou tentando descobrir o que o havia despertado. A respiração de Eve era suave e regular e jazia longe dele, ela conseguiu empurrar o travesseiro três quartos para ele. Estava acostumada a dormir sozinha. Ao longe, um cachorro latiu, mas foi à casca sem brilho de um animal solitário, ninguém o estava ameaçado. O pátio estava quieto. Ele procurou e encontrou a sua mente o som de uma porta que se fechou. Deveria ser três horas. Quem estava andando naquela hora? Ele tinha escolhido esta pousada, um lugar para caçadores fora da estrada principal pela sua privacidade. Saiu da cama e colocou a calça antes de se aproximar da janela, em silêncio. Ele abriu o obturador, empurrado para fora e ficou observando até que seus olhos se ajustaram à penumbra. Depois de alguns minutos viu uma figura familiar saindo da sombra do lado oposto do celeiro e caminhou pelo pátio. O homem parou no meio e olhou diretamente nos olhos, no entanto, ninguém poderia saber que estava lá. Ele se inclinou para fora.

— O que acontece? — Sussurrou calculadamente para Henry e não além. — Nada. — sussurrou o seu servo. —Eu estava inquieto. Jack levantou a mão num gesto de reconhecimento e fechou a janela sem fazer barulho. Henry estava mentindo, claro, provavelmente teve uma rodada a cada meia hora ou assim. “Eu nunca preciso dormir muito” dizia Henry e ele disse que era porque tinha acostumado a viver com muito pouco sono, quando era um prisioneiro de guerra. Ele saiu de vista tão silenciosamente como havia aparecido. Jack virou-se para a cama e ficou cara a cara com um espectro branco. — Que diabos...? Eve é claro. E era preocupante que estava fora da cama e atravessou a sala sem vê-la. Estava perdendo seu poder? A sua perspicácia auditiva ou instinto, que sempre alertou para os perigos? Mas, claro, Eve não era um perigo. Pelo menos não no sentido de que pudesse enfiar uma faca nas costas. — Sou eu — ela sussurrou — O que acontece? São homens de Antoine? — Não, nada acontece. Eu só estava verificando. Henry fica de guarda lá em baixo. Volte para a cama. — Ok. — Eve começou a virar, cambaleou e estendeu a mão para buscar o equilíbrio batendo nas costelas nuas dele, que deu um gemido de dor quando as unhas passaram em suas contusões. — O que acontece? — Nada. Só raspado, nada mais. Ela olhou como se pudesse ler em seu rosto na sombra. Seu próprio rosto era um oval branco onde apenas distinguiu a sombra do olho. — Eu não acredito em você — respondeu após um momento. Voltou para o criado-mudo. — Não se mexa. Acendeu uma vela e foi onde ele estava. — Bons céus! — As costelas e peito estavam marcados. — Virese. — Não é nada, são hematomas da corda. Jack tentou levá-la de volta para a cama, mas ela permaneceu firme. Eve deveria ter ficado ridícula com a camisa grande e as pernas para fora sob a bainha, mas estava linda e o fato de usar um pedaço dele era estranhamente excitante. Muito excitante.

— Que corda? Vire-se, eu não vou te machucar — em sua mente, não parece enquadrar-se a ideia de que ele não poderia obedecer. Ela congelou quando sua mão fria tocou levemente as costas de Jack. — Eu não acho que você pensou que escalei a parede do castelo para o seu quarto como um lagarto, certo? —Jack falou. De repente, era muito difícil controlar sua respiração. — Eu não tinha parado para pensar sobre como você chegou lá — disse ela secamente — Tanto quanto eu sei você poderia ter ido voando em uma vassoura. Ela moveu a vela para o levantamento dos danos e deu um suspiro de preocupação. Jack ficou olhando suas sombras deslizando na parede da sala e lutou contra o impulso de se virar e levá-la em seus braços. A feminina preocupação e gentileza de seus dedos quase conseguiram fazê-lo esquecer quem ela era. Mas a Grã-Duquesa não esqueceu. Jack virou. Eve não teve tempo para retirar a mão que terminou com o braço direito em torno de suas costelas e sua mão esquerda segurando a vela para um lado, em um esforço para não o queimar. Curiosamente, essa intimidade não pareceu preocupá-la. Eve afastou-se para deixar a vela em um local seguro. — Eu acho que você não tem uma camisa limpa no armário, certo? Respirava agora como uma virgem em sua noite de núpcias e ele estava perfeitamente calmo. Tinha que ser controlado. — Claro — deu graças por usar as calças, colocou uma das valises na cama e abriu-a.— Mas eu não preciso de nada. — Isso sou eu quem julgo. — Eve começou a puxar as coisas da valise. — Você sabe o que é isso? — É um tubo para remover balas. Ela abriu os dedos com nojo e deixou cair o aparelho sobre a cama. — Espero que Henry saiba como usar ou você ter o bom senso de não se deixar atingir, porque eu não pretendo usá-lo. — Ela pegou o antisséptico, gaze e um pote cujo cheiro do perfume encheu a sala. — Sente-se na cama, por favor. O líquido estava frio e Jack ficou todo arrepiado quando ela colocou nas costas e ombros. Ele perguntou se ela iria tentar o peito com a mesma autoconfiança. Aparentemente, sim. Por alguma razão, a mulher que hesitou em dividir um quarto com ele, poderia lidar

bem com seu corpo seminu sempre que houvesse uma ferida para cuidar. Eve apertava para colocar mais líquido. Ela parou para observar a ferida. — O que acontece? A mulher maldita podia ler sua mente. Jack foi considerado capaz de manter sua expressão inescrutável, mas ela o lia. — Eu me perguntava por que você não está achando constrangedor — ele respondeu com franqueza. — Nós estamos ambos seminus, o que antes parecia um grande obstáculo para você conseguir dormir. Ela olhou para baixo, com uma grande atitude, apesar da camisa e pés descalços. — Você está machucado, isso é algo a ser tratado em qualquer situação. Além disso, sendo obrigada a compartilhar a cama com um estranho era algo que queria evitar se possível. — Ou será que a vergonha depende das circunstâncias? Ai! —Desculpe. Ela veio para ver o quanto ele estava machucado e continuou passando o remédio. Sua respiração soprou o pescoço dela e seu pulso estava começando a acelerar. — É claro que isso depende. Se eu estiver na banheira e queimassem o palácio não quero que você espere fora do meu quarto para me vestir antes de ir para me resgatar. Jack mordeu a bochecha em um esforço para reprimir o riso. Eve olhou nos seus olhos e percebeu que ele estava imaginando a cena que ela havia descrito. Foi ela quem riu. Foi a primeira vez que a viu rir. Ela deixou a garrafa no armário e sentou-se na cama com uma série de gargalhadas. — Eu acho que o nosso camareiro faria exatamente isso. “Lamento informar Sua Alteza Sereníssima que o castelo está em chamas. Sugiro o seu traje completo senhora”. Isso enquanto as chamas estão lambendo nossos pés. Jack achou que parecia uma menina de dezoito, natural, jovem e doce. —Observe que nós passamos a rir— Eve finalmente sentou e enxugou os olhos com a manga da camisa. — Desculpe, mas deve ser a tensão — ela sorriu. — Não me lembro quando foi à última vez que me fizeram gargalhar. Jack estendeu a mão para ela. Sabia o que queria, só precisava de um toque. Eve agitou as mãos com o questionamento no olhar.

Ele não falou, pois não havia nada a dizer. Ela sustentou seu olhar por um momento e depois olhou para o lado e levantou o queixo. Jack soltou sua mão e ergueu-se. — De volta para a cama, levantaremos em algumas horas e você precisa dormir. Ela assentiu com a cabeça muito digna e entrou em seu leito. — Boa noite. — Boa noite. Ele manteve a garrafa de linimento e o cobertor sobre os ombros. Não estava em seus planos ser atraído por uma mulher, muito menos uma grã-duquesa. Não era considerado profissional. Não faltavam mulheres para aliviar suas necessidades físicas, com uma série de luxo da corte, mas sabia que uma mulher não iria tolerar o jeito que ele tinha escolhido para viver. E com os exemplos de vida conjugal em torno dele não se sentia privado. Sua irmã, Bel, que ficou viúva recentemente, já tinha confessado que seu marido era tão chato que ela mal conseguia ficar acordada na sua presença, seu pai era um adúltero em série e seus amigos, um após outro, pareciam abatidos no altar da respeitabilidade ao se casar com mulheres bem-educadas de sorriso coquete. Flertar com jovens bem-educadas era entediante e corria o risco de criar ilusões e corações partidos. Parteiras e viúva de boa aparência exigia maior comprometimento emocional que ele estava disposto a investir, deixando apenas as profissionais, onde ele poderia pelo menos ter certeza de que não havia nenhuma hipocrisia. Mas por que queria essa mulher tão mal? Por que a proteger até um ponto que estava além de seu compromisso com a Inglaterra? Estava ferido, ansioso e vulnerável apesar de seus esforços para não aparentar esses sentimentos que tinham começado de forma profunda e inesperada. Decidiu que deveria ser a novidade. Não era provável que voltasse a encontrar-se em uma situação tão perto de um membro da família real, era isso. Satisfeito por ter encontrado uma razão, fechou os olhos, foi dormir e sonhar com o proibido. Do outro lado da cama, Eve lutou com seus sentimentos, as reações de seu corpo e seu senso de decência e do dever. Tinha sido despertada por instinto, porque tinha certeza de que Jack não tinha feito qualquer ruído e ela ficou observando a silhueta dele na janela. Seu corpo tinha uma bela figura, um corpo duro e muito excitante

para uma mulher que viveu uma vida celibatária por mais de 20 meses. Estava nervosa. Mais ainda depois que ficaram tão próximos enquanto ela cuidava de suas feridas. Não queria pensar nele como um homem até que olhou nos olhos dele e apertou suas mãos. Era só amizade que tinha visto em seus olhos e na sua mão estendida? Ou foi o primeiro movimento de um sedutor experiente? Ela não podia aceitar nenhuma dessas coisas, temendo que sua própria necessidade eventualmente traísse a amizade e se aproximasse dele. E se persistisse em seduzi-la, somente à distância e disciplina poderia salvá-la de si mesma. Eve fechou os olhos e obrigou-se a esperar pacientemente o sono. Era fácil permanecer casta quando não havia tentação por perto. A manhã traria uma nova resolução e mais força. Tinha que acreditar nisso.

CAPÍTULO 06 O som das botas no chão de madeira acordou Eve com um sobressalto de alarme. A luz solar era transmitida através da janela. Ela sentou na cama de um salto. — Que horas são? Como estão seus ferimentos? — É apenas seis, mas você tem que se levantar. E meus arranhões estão muito melhor, obrigado. — Jack sorriu. Ele já estava vestido, barbeado e de alerta. Sentiu-se estranha ao ter um homem no quarto, enquanto ainda estava na cama — Não há água quente na bacia. Sairei, a menos que você precise de ajuda com botões ou algo assim. — Obrigada, não. — Tudo bem. Tomaremos o café da manhã em vinte minutos — ele parou com uma mão na chave. — Logo nos vemos. Eve entrou quinze minutos depois e Jack ergueu as sobrancelhas para ela. Ele levantou-se e empurrou uma cadeira na sala de jantar vazia. — Eu tenho uma agenda grande que exige mudanças frequentes de roupas. — explicou, respondendo à estranheza da situação. — Onde comerá Henry? — Na cozinha, eu suponho— Jack serviu-se de uma fatia de fiambre, dois ovos e um grande pedaço de salsicha. — Eu preferia que estivesse com a gente — ela serviu o café em xícaras grandes e adicionou uma generosa quantidade de leite espumoso. Jack pegou a xícara. — Por quê? Você não pode colocá-lo no quarto, assim sua presença no café da manhã parece supérfluo. — Ainda assim, quero manter uma aparência de respeitabilidade, tanto quanto possível — disse ela. — Como você quiser — Jack se levantou, colocou a cabeça para fora da porta, passou a mensagem para um atendente e voltou para sua cadeira. — Eu não sei se Henry pode fazer muito para a reputação de uma senhora, mas eu não posso te dar camareiras. — Não, eu concordo. Seria injusto com ela e pode ser adiada em caso de emergência — Eve untou o pão com manteiga e resistiu ao prato perfumado de presunto e ovos até que tinha matado o pior do apetite. Estava com fome, mas não estava pronta para devorar a comida. Anos comendo em seu quarto e, em seguida, exibir

publicamente o apetite de uma ave elegante, tinha deixado a sua marca e não pôde livremente desfrutar de uma refeição na sociedade. Jack olhou para ela com curiosidade. Eve olhou para trás e continuou a arrogância, mordiscando o pão e manteiga. — Há algo de errado? Ele pensou com ressentimento que nunca soube o que esperar. Metade do tempo foi frio e sem expressão, mas de repente teve um lampejo de compreensão, compaixão, ou interesse, os olhos cheios de calor e queria tomar-lhe a mão novamente. — O que poderia acontecer? — Ela perguntou levemente. — Afinal, é isso que faço todos os dias — acrescentou sarcasticamente. — Trate-me como um embaixador não é a... Henry, bom dia. A senhora quer que você se junte a nós. O servo estava virando o chapéu na mão. — Tem certeza, minha senhora? Porque eu estava cuidando dos cavalos. — Certamente. Queira sentar-se, Henry. Quer um café? Eve serviu. Presunto e ovos eram servidos e conversou com os dois homens em uma forma que impossibilitou a questões pessoais, até que deixou a mesa convencida de que já deu o tom para o resto do dia. — Quando você viaja hoje? — Perguntou a Jack quando ele retirou a sua cadeira no final da refeição. Jack balançou a cabeça e soltou um suspiro. Tinha esquecido que poderia haver pessoas ouvindo. Ela sentiu um nó no estômago, que cresceu ainda mais quando ele apertou o cotovelo para sair da sala. Eu não estava acostumada a ser tocada. Tinha certeza que queria tranquilizar, mas conseguiu se lembrar o quanto precisava dele. Jack esperou até o transporte para fora do pátio. — Grenoble, Lyon, Dijon e depois para a fronteira holandesa, o caminho que parece mais seguro neste momento — disse ele sem preâmbulo, quando ela virou o casaco sobre o assento. — Por que tantas cidades? É tão inteligente? — Em minha opinião, sim— disse ele— Precisamos de velocidade de boas estradas e viajantes para passar despercebidos nas cidades. No entanto, se depararmos com problemas, eu tenho um plano alternativo — ela acenou com simpatia— Fico feliz que você aprove. — Não há dúvida de aprovação— disse ela — Quero saber. Eu não sou um pacote do qual você tem que tomar conta e a minha

posição não me faz um ornamento como você parece acreditar. Se eu entender o que eu faço, estamos menos propensos a cometer erros e eu ganhar a sua desaprovação. — Não é minha tarefa mostrar-lhe desaprovação. Sua resposta seca a irritou. Queria tutelá-la, continuar com a farsa do casamento e da partilha de um quarto, mas quando ela tentou tomar parte ativa na fuga, se tornou uma cortesã respeitosa. — Não é sua tarefa, Sr. Ryder, mas pensei que nós concordamos que durante essa aventura eu não seria uma GrãDuquesa. E eu tinha assumido que isso também significou que iria me tratar como se fosse uma pessoa de carne e osso. Eu odeio ir a algum lugar e ter pintado as portas e janelas especificamente. Como faço para saber o que está por trás deles? São eles prósperos ou pobres? Quanto dinheiro foi gasto em pintar? Eu quero a verdade, Sr. Ryder, e não o seu equivalente para as janelas pintadas. A princípio não demonstrou nenhuma reação. Então, ele sorriu. Foi um gesto de alegria, mas o tipo de sorriso que ela usava quando ela estava muito chateada, mas seria bom para dar a entender. —Tudo bem. Se você quer a verdade, o perigo está no fato de que Antoine depende se você deseja restaurar e, em caso afirmativo, se você preferir, viva ou morta. Você pode estar infeliz com sua vergonha, e nesse caso, estamos dando o trabalho feito. É claro que um acidente no caminho tem a vantagem da simplicidade. Se você quiser desonra, nos deixa em paz, para espalhar o boato de que fugiu com seu amante e garantir que todos os jornais europeus ecoaram a notícia. — Quando você vier para a Inglaterra e ver que eu recebo a rainha e o príncipe regente ... — O dano já está feito e seu nome enlameado. — Nesse caso, estou surpresa que você decidiu compartilhar o meu quarto na noite passada— ela estava constrangida. O que seria de Fréderic? As crianças eram cruéis e alguns contavam histórias sobre sua mãe. — Segurança primeiro, respeitabilidade depois. Melhor caluniado — ele estava falando sério — Além disso, o Príncipe Antoine tem toda a munição que necessita sem exigir um estalajadeiro dizer que você dormiu junto com um homem. Você estava saindo com um homem e bagagens, — olhou em seus olhos. — Se eu tivesse dito tudo isso, no castelo, você teria vindo?

— Sim, claro. O que é a minha reputação em comparação com a segurança de Fréderic, o meu dever? E o que influencia as nossas decisões se Antoine me quer viva ou morta? — Se você quer voltar a Maubourg, que as pessoas possam vêlo enquanto você controla como uma marionete com as ameaças ao seu filho, você tem que capturá-lo e levá-lo para o castelo. Isso exige planejamento e mais pessoas isso pode ser mais fácil de ver, agora se você quiser um acidente... será mais difícil...de ver. — Bem, isso é a sinceridade — ela concordou. Acreditava ter começado a entender o homem e viu agora a frio, implacável pelo medo e pelo perigo que está por trás de sua análise — Você sempre tem medo? — Muitas vezes — respondeu ele. A questão não é de admitir ou para si mesmo. — Eu tenho medo de aranhas – confessou ela — Mas eu não estou disposta a dizer o que mais. Não era sua intenção falar sobre seu pesadelo recorrente. Essas passagens escuras embaixo do castelo onde a luz das tochas em movimento foi ver formas em movimento nos cantos, formas retangulares e saber o que havia neles... Ela estremeceu. — Eu entendo o que você diz. Não adianta lutar com essas coisas. Em vez disso, me diga o que devo fazer para ajudar a proteger a todos nós. — Faça como eu digo sempre sem questionar. Eve piscou. Ela esperava para dar-lhe uma arma e ensiná-la a usar, ou alguma outra forma ativa de defesa. — Isso é muito imperativo. — Você vai argumentar? — Sim, Jack, eu vou discutir. E se eu discordar com o que você me diz para fazer? — Nós começamos a discuti-lo enquanto o inimigo está ganhando terreno ou eu soco no seu queixo bonito e faço o que precisa ser feito. — Que tem o meu queixo com isso? — É a parte mais fácil da sua anatomia para bater em uma crise — ele parecia ter recuperado seu bom humor — Em seguida, Henry e eu somos sobrecarregados com seu corpo inconsciente e nós escapamos — um sorriso surgiu em na dobra dos olhos dele de uma forma que era muito atraente. — Em Maubourg há pena de morte para quem bater em um membro da família ducal — declarou ela.

— Mas, felizmente, não será em Maubourg, se acontecer algo parecido. Eve voltou sua atenção para a paisagem, distanciando-se da imagem agradável de ver Jack apertando os lábios com força. Tinham chegado à estrada para Grenoble. — Você vai ficar brava todo caminho para Bruxelas? — Ele perguntou por fim. — Eu não estou zangada, só não tenho nada a dizer— homem insolente. — Eu entendo, peço desculpas pelo comentário sobre o queixo. — Que parte desse comentário? Será que o soco? — Não, um comentário pessoal que me veio à mente. — Não lhe disseram que você é...? — Eve foi interrompida pelo som de um soco contra o teto do carro. — Droga! — Jack endireitou-se na cadeira — Isso significa problemas. Estamos quase na fronteira. Você tende a ser salva? Quando entramos no ducado não tinha nenhum guarda na fronteira — Não, nunca. Nosso exército é pequeno e há muitos passos e caminhos para valer a pena colocar guardas de fronteira. O que fazemos? Jack levantou-se, tentando manter o equilíbrio, e Henry começou a abrandar. Eve viu a sua mão debaixo do banco onde estava sentado. Houve um clique e o topo foi dobrado, deixando um espaço retangular. Jack enfiou a mão no saco num canto e fez um gesto. — Dentro. Há buracos de respiração. — Não! O buraco era negro e escuro como um túmulo. Eve sentiu o pânico apertando a garganta. Por falar sobre pesadelos se tornarem reais... Sua visão ficou borrada como se tivesse teias de aranha na frente dos olhos. Sombras que se movem nos cantos... o som de pedra em pedra ... raspando os ossos ... — Dentro! — Jack fez um gesto impaciente com a minha atenção concentrada na parte externa. Vozes foram ouvidas nitidamente dando ordens— Vamos! Dever. É meu dever sobreviver. É meu dever ser forte. Eve entrou e sentou-se. O ar parecia ter escurecido e sentiu-se tonta — Não o feche. Jack empurrou-a até que ela estava presa. Ele disse alguma coisa, mas o barulho nos ouvidos a impediu de ouvir. A tampa foi

fechada no escuro. Ela lutou para respirar, levantou as duas mãos e empurrou a tampa. Estava trancada. "Confie nele, ele vai deixá-la sair. Confie. Ele virá”. Jack, sentado no canto do carro, passou as mãos pelo seu cabelo, descuidadamente cruzou as pernas e puxou um livro de bolso. Quando alguém abriu a porta, olhou para cima. — Sim? Era um soldado de Maubourg uniforme azul e prata. Postado por Príncipe Antoine de fato. — Os seus documentos, senhor. — Claro que sim. Jack abaixou seu livro e levou os documentos do bolso da camisa. Sua identidade falsa como advogado em Paris, foi reforçada por uma carta de um "cliente" perto de Toulon pedindo conselhos sobre uma questão familiar. Ele pegou os documentos com o passaporte e entregou. O soldado pegou e caminhou até a frente do veículo, sem olhar. Isso provavelmente significa que havia a presença de um oficial. Jack saiu do carro e caminhou até onde um jovem tenente olhou para os papéis com os três soldados por trás dele. — Você vai a caminho de Paris, senhor? —Sim. Eu tenho trabalhado em um problema perto de Toulon. O menino esfregou o selo de cera nervosamente. O tenente era inexperiente, inseguro e provavelmente imaginando o que diabos tivera de lidar lá. — Que outros carros atravessaram a partir de ontem? — Eu não tenho ideia. Jack parecia confuso. Era um truque útil. Pessoas que questionaram uma mentira deve deixá-lo pegar o suspeito. Uma admissão de ignorância os deixou fora da munição e fez-lhe parecer mais razoável. — Eu estava dormindo ou lendo. Eu não percebo estas coisas. Henry, o que você viu? Henry deu de ombros. —Todos os tipos de veículos, senhor. O que procura tenente? Uma jovem? — disse Henry e sorriu O tenente corou quando os soldados se esforçaram para não rir. — Uma fugitiva. Uma mulher nos seus vinte anos, cabelos castanhos, de altura média. Com um homem. Provavelmente viajavam em um carro.

— Não faço ideia— disse Henry — Eu não posso ver dentro de um carro fechado. Poderia ser o imperador e não saberia. —Tudo bem. Você pode continuar sua viagem. Jack acompanhou o oficial que cuidou de seus papéis e se afastou. Jack entrou no carro. Esse posto estava inapto e mal organizado. Certamente foi a primeira resposta ontem à noite... enviar tropas para as estradas principais. Mas não seria enganado em pensar que esta seria uma reação de Antoine para o desaparecimento de sua irmã. A batida no teto disse que seguiram viagem. Foi libertar Eve que estava muito relutante em se esconder, sem dúvida pensou que a caixa continha as aranhas que tinha confessado ter medo. Jack levantou a tampa e engasgou. Ele pensou que ela estava morta. Seu rosto estava cinza, seus olhos fechados e mãos cruzadas sobre o peito e manchadas de sangue. Ela abriu os olhos e olhou para ele com terror. — Não! — Ela sussurrou. — Não! Louis, não os deixe entrar.

CAPÍTULO 07 —Eve. Uma sombra escura debruçada sobre ela. Como ela sabia e temia, ele tinha ido embora. A figura estendeu a mão, tocou-lhe no ombro e ela engasgou em horror e desmaiou. —Eve, acorda. Seu nariz estava impregnado com o cheiro da poeira da caixa onde ele a havia colocado. Ela estava sentada em seu colo, mas o corpo masculino onde estava descansando não estava quente, alegre e vibrante, e sim frio e morto. —Está tudo bem, estamos seguros. Não há mais ninguém. — Jack? Ele não ousou responder. Uma mão tocou seu rosto e encontrou o rastro pegajoso de lágrimas secas. O contato não foi osso seco, mas dedos de carne e osso. Respirou rígida. —Eve, você está segura — disse ele. — Oh! Oh, Jack! —Ela escondeu o rosto em sua camisa. — Você está bem? —Ele colocou um dedo em seu queixo e levantou o seu rosto para vê-lo bem. —Você me assustou. O que foi aquilo? —Desculpe— ela tentou se sentar, mas ele segurou. —É só que eu estava... é ... meu pior pesadelo, um pesadelo no qual me tornei. —Diga-me. Eve nunca tinha falado sobre isso a ninguém. Poderia agora? Será que ele não acharia que ela era medrosa e fraca? —Quando cheguei ao castelo Louis, meu marido, me levou para o jazigo da família sob a capela. No começo, foi emocionante, divertido, como um romance gótico... escada em espiral, as chamas ... Eu percebi onde estávamos indo. O cheiro do ar... foi a primeira coisa que notei. Frio, seco, obsoleto. Louis não tinha uma lanterna, mas uma tocha e a chama criava formas sobre os pilares e arcos. Ele abriu a porta... Parecia que ia durar para sempre, estávamos logo abaixo do castelo, com arcos e uma sucessão de quartos. Eu não sabia o que pensar. Devíamos estar nas masmorras. Foi tudo muito surreal, como um romance gótico. Até que percebi onde estávamos. Nós estávamos na área de sepultamento. Havia apenas nichos nas paredes, como suportes grandes, cada uma com um túmulo no topo. Jack deve ter sentido que ela estava tremendo e a abraçou mais forte.

—Os mais jovens eram cobertos com veludo, estavam empoeirados e tinham grinaldas murchas. Os mais velhos estavam cobertos de teias de aranha. Alguns tinham rachaduras. Eu senti uma compulsão odiosa, para olhar dentro daquelas rachaduras e olhar dentro dos caixões, como se fosse um quarto. Louis começou a mostrar-lhes como se me apresentasse a parentes vivos, foi horrível, mas ele parecia considerar normal e eu tentei não mostrar o que eu pensava. Mesmo assim, ela começou a aprender que não devia demonstrar emoções, que devia mostrar respeito pela história e tradição de Maubourg, que a fraqueza era imperdoável. Eles continuaram a andar. Ela sentiu que algo tocou em seu braço e o tinha perdido de vista. —Houve um caixão de madeira velha que tinha a tampa quebrada e uma mão saindo ela. Tentei não pensar sobre isso quando estava acordada, mas quando veio o pesadelo começou com essa imagem. Uma mão de esqueleto que eu toquei de passagem. Jack fez um som para silenciá-la, mas ela tinha que contar tudo. —E então chegamos a duas prateleiras vazias e disse. E estes são os nossos. No começo eu não entendi então eu percebi que ele queria dizer que aqueles seriam os nossos caixões. Um dia ela ficaria lá em uma grande caixa trancada em pedra, para sempre longe da luz e do ar. Nem mesmo o natural e refrescante abraço da vida na Terra. —Eu não sei como eu saí sem fazer uma cena. Essa noite eu sonhei que tinha morrido e acordei em meu caixão. Eu sabia que estava lá e eles estavam todos lá esperando e Louis iria levantar a tampa, a qualquer momento e ele também seria morto e... Eu me sinto tão estúpida. Eve se levantou e tirou o cabelo do rosto com decisão. Disciplina. Lembre-se de quem você é. Jack olhou para ela e seus olhos cinza tinham piedade e respeito. —Desde então, tenho medo de espaços pequenos, fechados e escuros. —Não surpreende-me, é a mais horrível história que eu já ouvi na minha vida. Seu marido não percebeu como isso afetou você? —Louis acreditava firmemente na autodisciplina e demonstrar sempre que estava tudo bem —Disse ela com um sorriso — Logo descobri que era o que esperavam de mim.

— Você amou seu marido? —Não, claro que não, o amor não estava dentro das expectativas— ela respondeu rapidamente. Bastava confessar seu medo mais profundo, e em comparação com isso, falar sobre seu casamento foi fácil — Eu estava deslumbrada, seduzida e admirada. Eu tinha dezessete anos. Imagine... um grão-duque. —Um bom partido. — concordou Jack. Algo em sua voz a fez ser muito consciente de onde estava sentada e de como o corpo de Jack respondia. —Por favor, me liberte. — disse com o rosto ruborizado. — Obrigada. Sentou-se no canto oposto e alisou a saia. — Você diz que tem esse sonho, muitas vezes? — Ele perguntou. —Sim— ela disse rapidamente. —Tudo bem. Da próxima vez, se você começar a abrir a tampa, você tem que lembrar que eu fui ao seu resgate. Você não terá que fazer nada de ruim e eu vou subir as escadas com você para a luz. Você entende, Eve? Pense nisso antes de adormecer. — Você? Por que você irá me resgatar em meus sonhos? Ninguém jamais o fez. —Antes eu tinha que me proteger— disse ele — Só acredite em mim e eu estarei lá, mesmo em seus sonhos. — Acreditar em você? Sim, Jack. Eu acredito em você. Mesmo nos meus sonhos. Foi um conto de fadas. Eve olhou para as suas mãos cruzadas, para que Jack não pudesse ver que seus olhos se encheram de lágrimas. Fraqueza estúpida! Ela era sábia e bem-educada, é claro que ele não poderia entrar em seu pesadelo como um cavaleiro a matar os fantasmas e monstros. E, no entanto acreditava nele. Era um conto de fadas perigoso, porque ela queria mais do que ser protegida por seu cavaleiro andante... queria fazer amor, despertar de seu longo sono. Jack também sabia que ela queria, no nível mais básico de resposta do sexo masculino para feminino. Ele não conseguia esconder a resposta do seu corpo a uma mulher sentada em seu colo. E esse medo, porque ela percebeu que ela respondeu a esse desejo. — O que você acha? —Ele perguntou. Eve olhou para cima.

—Nos contos de fadas, dizer a verdade sempre foi fácil e ele parecia um tanto seguro. No ano passado eu encontrei um livro maravilhoso. — Os Irmãos Grimm? Sim, eu também li— Jack sorriu ao ver sua expressão— Você está surpresa por eu ler essas coisas? —Talvez você tenha sobrinhas. — sugeriu. — Não, nenhuma. E não acho que é um livro para crianças, e você? Muito sexo, medo demais e violência. —Sim, você está certo— disse ela. —Não é um livro que eu daria para meu filho. —Eu duvido que você ainda tenha tempo suficiente para ler tudo. —É verdade. Eu esqueci que você tem falado com ele. Diga-me o que viu. —Assim como qualquer garoto de nove anos que tinha acabado de ter problemas de estômago. Um pouco pálido, mas recuperou o suficiente para me contar em detalhes como os cogumelos tinham reaparecido do seu estômago e aquilo que parecia. —Desculpe— Eve riu. —Pequeno patife. —Eu era um menino. E eu não sou tão velho que eu não consiga lembrar o fascínio com os detalhes escabrosos. — Como é? É alto? Hoffmeister escreve relatórios periódicos tão pedantes. Sua Alteza adquiriu habilidade em traduções latinas. Sua Alteza tem sapatos novos. Sua Alteza introduziu um gatinho em seu quarto, mas eu tenho tido — não me ajuda a ver Fréderic. Jack se levantou, pegou a mão ao porta-bagagem e colocou o outro em seu corpo. — Eu acho que vai ser muito alto. Seu cabelo é grosso, como o seu, e você precisa de uma pausa. Seus olhos são amendoados e se parece com você. Ele sentou-se novamente. —Obrigado — disse ela. —Agora eu posso imaginar. A primeira coisa que farei quando eu chegar lá é encomendar seu retrato. — Com sua mãe, é claro. —Não. Sozinho. Seu primeiro retrato oficial. Vou ter cópias impressas e encher Maubourg. É hora das pessoas se lembrar do grão-duque. — Ah! — Jack exclamou. Tornou-se a Grã-Duquesa. — Isso nunca vai embora— disse Eve com frieza— Não se esqueça Sr. Ryder.

Ele fez uma mesura zombeteira e Eve respondeu com um aceno de cabeça. Recostou-se no banco de trás e fechou os olhos. — Grenoble — Jack deu ouvido. Eve acordou e ouviu as rodas de carro nas calçadas estavam se afastando agora. — Que horas são? — Ela se sentou e tentou esticar o pescoço para aliviar a posição anterior. —Cerca de oito. Viajamos mais rápido do que temia. — E onde ficamos? —Outra pousada burguesa respeitável. E desta vez temos uma sala adjacente ao quarto, Sra. Rider. —Agora quem eu sou, hein? Eu acho que é mais fácil de lembrar. Ryder ou Rider. Portanto, temos o quarto reservado? — Ele balançou a cabeça— Estava confiante de que chegaria aqui, certo? —É meu trabalho— ele sorriu. — Nós estamos aqui. —Boa noite, Sr. Rider, entrem, por favor — o estalajadeiro saiu ao encontro deles e os levaram para a sala. —A cama é pequena— ela comentou, enquanto estavam sentados na sala de espera para o jantar — É muito pequena. —Sim— Jack folheou um jornal na frente da lareira — Não há espaço para o descanso. —Não vou dormir com você em uma cama tão pequena. Aqui está um sofá com pontas de madeira no canto. —É muito menor do que eu e tão pobre como o peitoril da janela. Eu não vou trocar uma cama confortável por isso — Jack olhou para seu jornal —Tenho escrito louco na testa? — O que você diria? Naquele momento, o garçom apareceu com a refeição, seguido de várias outras pessoas que tinham comida, pão, jarras e talheres. Eve mordeu os lábios e se sentou à mesa. Jack dobrou o jornal e olhou para ela. — Pão minha querida? —Não me chame assim. — sussurrou ela, sorriu ao garçom, que estava se aproximando com um frango e um prato de legumes— Obrigada a todos. —Não, não, espera o queijo— Jack brandiu a faca e a entregou uma fatia de pão. — Seu covarde! Você nem sempre pode se esconder atrás dos servos — ela sorriu para o garçom, que vinha com o queijo. —Como você se atreve? —Ela perguntou quando a porta fechou.

—Eu pensei querida que daria credibilidade ao nosso relacionamento. Vinho? —Sim, por favor, realmente preciso de algo mais forte. Brandy. Não, eu quis dizer, você sabe. Como te atreves a falar-me com luxúria? —Sinto muito — Jack entregou-lhe um copo de vinho branco e tomou um longo gole de sua própria taça. Qualquer uma das coisas relacionadas a luxuria seria maravilhosa se ela estivesse com Jack. Eve cerrou os dentes. —Não seria apropriado para nós dormir na mesma cama. É muito pequena. — E o que acontece se o fizermos? —Jack começou a cortar as coxas do frango. —Podemos nos tocar sem perceber — Eve tomou um longo gole de vinho, engasgou um pouco e deu outro. Ele colocou uma coxa no seu prato — Obrigada. —Legumes? — Ele levantou a travessa para servir. —Por favor — Jack a serviu e tampou a travessa. — Batatas com molho? —Deixe-me... Eve correu a colher para servir-se com elegância. — Obrigado. Não lhe ocorreu que, sem perceber nos tocamos o dia todo? —Claro que sim. Mas era inevitável, manteiga? —Obrigado, não. Então? —E nada. No tocante a cama é muito diferente. —Isso, minha cara, é muito verdadeiro. Eve quase se engasgou com um gole de vinho e olhou diretamente nos olhos. —Eu não preciso que o diga para mim. Eu sou uma mulher casada. —Viúva— ele corrigiu gentilmente. — Mais vinho? —Sim— deve estar cansado, apesar da sesta no carro. Jack mastigou pensativamente. —Então, como podemos evitar nos tocar inadvertidamente, sem que eu tenha que desistir de dormir confortavelmente?— Ele pegou a segunda garrafa de vinho e o saca-rolha. — Felizmente eu pedi duas garrafas. —É uma colheita decente— admitiu Eve, abanando-se com o guardanapo —Quanto à cama, que é o seu problema. Você é o gerente. — E se eu dormir em cobertores e abaixo de você? Mais capão?

—Obrigada — devia estar com fome, pois sua cabeça estava girando — Vestir o quê? —A camisola. Ele ergueu a taça de vinho e ela bufou. Ela sabia que havia uma resposta muito inteligente, mas... — O que causou esse bufo? — Perguntou Jack. —Os homens são ridículos com camisola, pernas cabeludas — ela disse isso? Ele piscou e olhou para o copo de vinho. Estava pela metade. Estavam bêbados? —No meu caso não deve, portanto, se puder desviar o imaginário da estética do horror, está tudo bem. Eve estava se sentindo tonta. —Eu acho que vou para a cama— disse ela. Dentro. Debaixo das cobertas. Jack levantou-se. — Quer ajuda? A porta está ali. —Eu sei, — disse ela com dignidade. As saias foram levantadas e prestou muita atenção à sua conduta. — Boa noite. Um soluço muito audível ligeiramente perturbou o efeito de sua saída.

CAPÍTULO 08 Eve acordou com uma grande quantidade de calor e uma terrível dor de cabeça. Não conseguia se lembrar de nada e as mantas eram tão grossas, mas a verdade é que suas lembranças da noite anterior não estavam muito claras. Bebeu muito, era inegável. Ela tinha falado sobre a luxúria da cama, e camisolas com Jack! Era vergonhoso! Ela fechou os olhos com força. Mexeu-se nervosamente sob o peso dos cobertores e descobriu que seus casacos de lã se foram, mas não um longo braço que se apoiava em seu peito e a pregava na cama. Ela virou e viu-se quase cara a cara com Jack. —Bom dia. Você tem uma dor de cabeça? — O que você está fazendo? — Ela choramingou. As palavras quase dividiram em dois sua cabeça e fechou os olhos com um gemido. O hálito quente dele em seu rosto. —Eu tive que me virar à noite. Mas nós não temos nos tocado— ele apontou em sua defesa. — Você, por favor, remova o braço. O peso era mais leve. Eve abriu os olhos com cuidado e descobriu que o braço não se moveu. Permaneceu tão perto que poderia ter contado os cílios. Eram injustamente longos, olhos muito escuros enquadrados em termos dramáticos. Ele também estava em excelente posição para ver que, embora seus olhos fossem cinzentos, tinha pequenas manchas pretas sobre elas. As pupilas estavam dilatadas e os olhos eram intensos. Era incapaz de não olhar para trás. —Um dos dois tem que piscar, — disse Jack, — ou talvez nós hipnotizemos um ao outro e não nos levantaremos para sempre. Eve parecia a alguém que tinha usado seu poder de magnetismo animal, mas ela pensou que tinha lido em algum lugar que para fazer isso, você tinha que mergulhar o objeto em água magnetizada. Ou era apenas que as dores de cabeça a faziam se sentir desse jeito? —Sim, e tem que ser você porque eu não posso movê-lo em cima do cobertor — disse ela. Felizmente ela ainda podia falar com clareza e autoridade, ela temia que só fosse capaz de falar bobagens. —Ok — Jack se levantou e estendeu o seu caminho até a janela. Ele usava uma camisa amarrotada e calças, com os pés descalços no chão.

—Você disse que iria vestir uma camisola — Eve sentou-se na cama e tirou o cabelo do rosto com as duas mãos. Na noite anterior ela não os havia escovado e trançados. —E você ouviu minha sugestão de forma horrorizada. Eu acho que o assunto veio à tona em sua aversão a pernas cabeludas, — Jack se afastou da janela e olhou para ela com braços cruzados e um sorriso no rosto. —Eu não disse isso, disse? Oh, Senhor! Eve escondeu o rosto nas mãos. Se não estivesse olhando, ele não estaria lá e ela não teria que enfrentar a vergonha de saber que ficou bêbada e não mostrou nenhum senso crítico. O que você acha disso? Ela sabia o que pensava de si mesma. —Eve— afundou-se na cama ao seu lado e pôs a mão reconfortante no ombro dela. —Chega, não me toque novamente. Sinto muito. Não estou acostumada a ter essa intimidade com alguém. Eu não estou acostumada a que ninguém saiba o que eu faço o que eu penso. Baixou as mãos e olhou para ele, desesperada para saber o que sentia. —Eu não sei como estar com você, porque essa relação que temos é diferente de tudo que eu já conheci. Olhou ao rosto de Jack que não dava pistas sobre seus sentimentos... exceto que ele não parecia inclinado a rir. —Somos forçados a essa proximidade, e é como se ela estivesse à deriva, sem uma carta para se guiar. Você não é um trabalhador ou alguém da família você não é um homem que foi contratado como um médico ou um advogado. Quem é você? Não esperava uma resposta, muito menos a que lhe deu. —Um amigo. — Um amigo?— Por que doía tanto essa palavra? —Não tenho amigos. —Agora sim— Jack pegou sua mão direita — Eve, você tem compartilhado comigo seu medo secreto, eu disse o que eu sinto por seu filho, e você o que sentia por seu marido. Já tonta bebendo comigo e eu confesso minha mania por camisolas. Estamos unidos em uma aventura perigosa. Hoje vamos fazer compras juntos. Essas são coisas que você faz com os amigos. Sua mão parecia pequena, perdida na mão grande e os dedos longos de Jack envolvendo os seus em um gesto de proteção, segurando apenas vagamente. Eve foi pega por ele olhando as suas unhas. Limpas, bem cortadas, com uma linha preta de contusões ao

longo da base de três deles e um pouco escura no dedo indicador, como se ele tivesse batido em uma pedra dura. Que foi o que ele fez quando ele veio até ao quarto dela. Ela passou o polegar. — Você faz amizade com todos os seus clientes? — Você não é um cliente. Meu cliente é o governo do Reino Unido. Mas sim, eu faço alguns amigos. Nem todos. Alguns não gostam e muitos têm muitos problemas e só querem esquecer tudo quando está tudo acabado. Quando chegarmos à Inglaterra, vou apresentá-la a Dysart, Conde de Penrith, e sua esposa, acho que você vai gostar. Mas você não tem amigos? —Meninas de quando morava na Inglaterra? —O regente, as damas da corte... —Philippe é mais velho que eu 25 anos, é como um tio. Sempre gostei de Antoine. As damas da corte, como você diz... não. Louis incentivou-me a não fazer amigos lá ou manter antigas amizades. E mesmo assim, eu não tenho afinidades com essas pessoas, — Ela se esforçou para sorrir. — Claro não há ninguém com quem eu queira ficar bêbada, ter uma aventura ou contar minhas fraquezas. —Então eu sou o primeiro— Eu sou o primeiro. Eram as mesmas palavras que Louis usou na noite de seu casamento, de forma bruta, com seus olhos verdes pesados de desejo. Para ele tinha sido muito importante ela ser virgem. Depois, ao longo dos anos, ela soube que esse fato tinha animado o paladar cansado de um homem que era um dos amantes mais promíscuos da Europa. A união deles não foi uma união por amor, mas não podia queixar-se que Louis a tinha deixado fisicamente insatisfeita. Só vazia e desejosa de carinho. Ela tinha aprendido a ser uma Grã-Duquesa sem amor. — O que acontece? —A mão de Jack fechou em torno da dela. —Outro pesadelo? —Não, apenas lembranças. Obrigada por se preocupar. Eu gostaria de ser sua amiga. Olhou para cima. Ele sorriu, mas seus olhos diziam outra coisa, algo que ela sabia que estava tentando esconder. O calor, a intensidade e a necessidade. Ela os reconheceu, porque também os sentia. Jack levantou sua mão e beijou a ponta dos seus dedos. —Você estava certa. De agora em diante, precisaremos de uma cama consideravelmente maior para que eu possa dormir debaixo de cobertores e vestir uma camisola. — Oh! Como você pode brincar com isso?

—Porque ter medo, rir e assustar-se coloca muitas coisas em perspectiva. Com fome? Estou morrendo de fome!— tocou a campainha e aguardou. —Sim, eu tenho fome. Era verdade. E ela tinha a sensação de que um peso tinha sido tirado de seus ombros. Talvez fosse apenas o efeito catártico por contar a Jack o que ela sentia. Exceto, é claro, que ela o desejava. E com ele era o mesmo. Ela já tinha visto em seus olhos. Bateram à porta ela pulou da cama e foi abrir, mas não antes de perguntar quem era. A servente estava cambaleando sob o peso de dois baldes de água. — Você está indo realmente para às compras? Eve voltou para a cama e sentou-se com os braços em volta dos joelhos, ouvindo os sons da água. Ela nunca tinha ouvido os rituais matinais de um homem. Louis sempre voltava para o seu quarto depois de visitá-la. Após a noite de núpcias, nunca tinha dormido com ela até de manhã. —Claro que sim. Necessito de roupas de viagem. Mas não no tipo de lojas que você está acostumado. —Eu não me importo— Eve deitou sobre os travesseiros. —Eu nunca vou às compras, elas vêm a mim. Por trás da tela ele fez um ruído. —Eu tenho muito pouca experiência em compras com as mulheres— disse ele. — Oh! Será que não há cortesãs para você? — O que você sabe sobre cortesãs querida? —Nada, exceto que o meu marido as manteve ao longo dos anos. Silêncio. Estaria chocado? —Estou prestes a sair. Você pode fechar os olhos ou desviar o olhar. Eve fechou os olhos e os cobriu com as mãos. Alguma coisa estava fervendo por dentro, um sentimento ridiculamente jovem. Ele ouviu o som de pés descalços sobre o chão. — Você se importa com as outras mulheres? —Jack perguntou — Eu dou a volta, se você quiser se vestir. — Será que isso importa?— Não muito. No começo ela havia ficado chocada, mas porque ela era jovem demais para ter se casado com um homem.

Saiu da cama e aventurou-se a olhar para ele. Ele vestiu a camisa em frente à janela aberta, de costas para ela. Eve reprimiu um suspiro e baixou os olhos, descobriu-se observando a rigidez admirável de suas nádegas e elegante linha das pernas envoltas em calças apertadas e apressou-se a ficar atrás da tela antes de sua imaginação correr solta. Ela lembrou-se que eles eram amigos e não devia desperdiçar essa amizade. —Estou surpreso— disse ele. —Eu pensei que você iria se perturbar muito. —Ele nunca fingiu que me amava— ela explicou, ele desenhou o saco lingerie e fez uma lista mental de coisas a comprar — E eu era jovem demais para realmente entender. A única coisa que ficou ferida foi o meu orgulho. Quando eu vim a entender que não era o tipo de homem que poderia se dar a uma mulher e Frederic já tinha começado a lidar com a lição de casa. Não foi tão ruim, e tinha suas vantagens estar casada com um das amantes mais experientes da Europa. No silêncio que se seguiu a seus comentários, Eve pensou que teria sido possível ouvir um alfinete cair. Como ela poderia ter tão pouco tato? Dizer isso a um homem que a beijou, ela poderia ter comparando sua técnica com as lendárias façanhas de seu falecido marido. Pior ainda. Ele era um homem que tinha certeza do que ele queria. Eve fez uma careta e pensou o que poderia dizer para fazer as coisas direito. Provavelmente nada, a menos que quisesse continuar aprofundar o buraco. Dizer alguma coisa seria reconhecer a atração entre eles. — Você tem uma base de comparação? — Jack perguntou friamente. —Só a palavra de Louis— ela disse tomando uma decisão. — Pessoalmente, não tenho base de comparação, apenas um beijo. E, a julgar por aquele beijo, eu acho que Louis não tinha que ter sido tão seguro de si. — Nada? Em todo esse tempo? Ninguém? —Ninguém. Nenhuma pessoa enquanto ele viveu e nenhuma desde então. Significava que ele poderia chegar à conclusão de que era uma viúva mal-amada, disposta a mentir nos braços de um homem uma vez fora do controle habitual, ou que era fria e não tinha sentido a falta de amor ou de amantes. —Aquele homem era um tolo— disse Jack repentinamente.

Eve ouviu a porta fechar e percebeu que ele havia deixado o quarto. Ela pensou por um momento em suas palavras. Seu amigo estava irritado com ela. Seus olhos se encheram de lágrimas, ninguém tinha entendido seu casamento com Louis e agora que insultou um homem com sua falta de tato, ela compreendeu imediatamente fazendo empatia com ele. — Obrigado Jack— sussurrou para o quarto vazio. Fazer compras com uma mulher era uma experiência nova. Se sua irmã lhe pedisse para acompanhá-la às lojas em Londres, ele teria um ataque falso de caxumba antes de fazer sua vontade, mas o prazer de Eve em circular livremente em torno das lojas era contagiante. Eve foi olhar as vitrines arrastando Jack com ela. —Eu tenho que comprar um chapéu— disse ela. Sinto-me despudorada sem um. O que você acha? Will Straw âmbar ou fita amarela com laços de cetim? —Compre os dois— ele sugeriu, sabendo que o transporte de um chapéu não seria possível na viagem clandestina que ele queria fazer. — Sério? Eu posso? Jack ainda estava olhando para a janela quando ela olhou para ele. Ele viu seu reflexo no vidro, a mulher encantadora, que olhava com prazer para ele, e foi como um soco em seu estomago. Essa imagem deu-lhe um senso de propriedade desconhecida. Jack tentou analisar, mas Eve ainda estava falando. —Mas eu não comprei um vestido, e você deve comprar o vestido antes e somente depois encontrar o chapéu combinando. — É assim que você faz isso? —Eu acho que sim. Quando faço roupas novas já vem uma seleção dos chapéus, sapatos e todo o resto. Eu não estou acostumada a comprar bem — franziu o nariz em um gesto de dúvida e Jack sorriu. Esta não foi uma expressão da Grã-Duquesa. —Vem, vamos quebrar as regras— abriu a porta e entrou na loja — E precisamos de algo para montar a cavalo. Um pouco mais ao norte iria comprar cavalos como uma precaução. —Então eu preciso de calças — Jack ergueu as sobrancelhas. — Vou explicar mais tarde — Eve olhou para o lojista —Há dois chapéus na janela que eu gostaria de experimentar, por favor. “Eve montando”? Como o inferno tinha aprendido isso? Seria certamente útil. Se tivesse que ir a cavalo, era porque seriam forçados a deixar o transporte rápido e viajar à cavalo. Ele se

perguntou como eles poderiam comprar calças para uma mulher em Grenoble. Eve era alta e magra, mas com mais curvas do que poderia ter um homem ou um menino. — Jack — disse ela. Jack olhou para ela. Eve tinha fixado o chapéu amarelo com uma fita amarrada sob o queixo. O cetim verde brilhante da fita combinava com a cor de seus olhos. —Delicioso. Eu adorei. Ela mudou para outro chapéu. A ala emoldurando seu rosto acentuou os tons de ouro da cor de seu cabelo. —Ótimo. Pegue os dois. —Sim, mas depois eu vi esse. Jack fechou os olhos por um instante e, quando abriu, ele viu um chapéu que não podia descrever. A única palavra era "ousada” e fazia a Grã-Duquesa parecer uma menina de dezessete anos, madura para a aventura. —Maravilhoso. Compre todos. — Jack, você não está levando isso a sério. Tenho que ter certeza. Qual você gosta? —Eu acho que tudo o que resta é perguntar — respondeu ele — Mas acho que ficaria bem com qualquer chapéu, assim que não é fácil mostrar uma preferência. — Ah, senhor! —O lojista gostou da resposta. Eve deu-lhe um olhar travesso que fez seu pulso acelerar. Respirou fundo para acalmá-lo. — Obrigada. Acho que vou levar o amarelo e... esse— disse com ousadia. — Não os três? — perguntou Jack. —Acabamos de começar a fazer compras— ela sorriu. Jack sorriu de volta. Isso era uma loucura. Ele, Jack Ryder, o mensageiro do rei, um homem que ganhava a vida com o perigo, estava disposto a passar horas comprando roupas e sapatos. Se ela soubesse..., ele nunca iria esquecer.

CAPÍTULO 09 Duas horas mais tarde, carregado com pacotes, Jack declarou uma pausa e parou em uma pastelaria com Eve. —Chega. Não deve haver uma única loja na cidade que não têm explorado. —Nenhuma — Eve sorriu com alegria sobre o seu copo de chocolate —Diga-me o que você comprou-me para cavalgar. —Calça, camisa, colete, jaqueta e botas. Você pode usar uma das minhas gravatas. — Mas como você sabia o meu tamanho? —Eu posso medir a sua altura em relação à minha e fazer o mesmo com as botas. —esticou os pés debaixo da mesa e baixou a voz. —Quanto ao resto... Bem, eu a tive em meus braços. — Oh! — Ela corou. Jack tentou não imaginar a sua pele macia, como seria beijar a curva delicada da orelha e depois mordê-la. Tinha uma boa memória. Jack não achava que ela confessasse que muitas vezes lembrava aqueles poucos minutos em detalhes. — Duvido que a calça lhe fique bem — Eve disse. — Qualquer jovem como você, ah... No entanto, seria estranho junto aos jovens. Naturalmente, é mais largo. —Não se preocupe. Melhor do que estreito — Eve descansou o cotovelo na mesa e o queixo na mão. Mordiscou um biscoito — Obrigada por hoje. —Pelas roupas? Pagas pelo governo de Sua Majestade — a variedade de itens que ela tinha comprado tinha sido uma revelação para um homem acostumado a comprar uma jóia como presente para suas amantes sem lhes dar tempo ou dinheiro para fazer suas próprias compras. —Não, pelo dia. Por me dar tempo para relaxar e fingir que você também gostou. Eu gostei do biscoito — ela terminou. —Foi uma experiência nova para eu ir às compras. — Homens não compram? Claro que sim. —Sim, mas não distrai muito. Eu vou para o alfaiate, o Shirtwaist, o sapateiro, e assim por diante. Mas eu sei o que eu quero antes que eu vá, todos estão algumas ruas de Londres e só faço isso quando tenho necessidade. — O que é que você gostou de hoje? Jack serviu mais chocolate para os dois e tentou explicar.

—Gostei muito de sua companhia. Seu bom gosto. Foi interessante olhar para o mundo feminino — gostava de vê-la, fantasiar sobre como fazer amor com ela, se preparando para uma noite de sono mal dormida e pensando em seu desconforto físico. —Obrigado — seu olhar perdido em ceticismo — Estou contente em sermos amigos — levantou a mão impulsivamente e colocou nas dele, mas depois retirou visivelmente constrangida por ter feito isso em público — Jack, estamos em perigo aqui? — Aqui e agora? Eu duvido, a menos que nossos perseguidores decidiram que precisam de uma bebida. Eu não acho que o seu irmão deve fazer nada agora. Mas se você quer dizer em Grenoble, sim, claro — Não adiantava mentir. —Vai ser mais perigoso daqui para Dijon, porque há poucas rotas alternativas, se quisermos evitar as altas montanhas ou áreas que apóiam plenamente Napoleão. Depois disso, existem várias rotas possíveis. —E se Antoine já descobriu a fábrica e sabe que nós sabemos dos foguetes. É uma boa idéia ter parado tanto? Será que devemos passar a noite? Mas eu acho que você vai me dizer que você sabe melhor o que fazer e que eu não me preocupe — ela mordeu o lábio —Eu não estou lhe atrasando a volta, certo? Eu teria conseguido sem roupa. Ou era uma desculpa para me dar uma pausa? — Você chama isso de descanso? Não, era parte do meu plano. Nós não poderíamos deixar o castelo com mais do que um saco – chamou o garçom para pedir a conta — Sairemos antes do amanhecer de amanhã. Supondo que consigamos guardar todas essas coisas. —Nós podemos colocá-las sob os bancos, se elas não se couberem no porta-bagagem — Eve sugeriu. —Não, nós não podemos. Um deles está cheio de outros equipamentos e precisamos dele novamente. —Para mim — ela suspirou —Não se preocupe, eu vou então. E se você encontrar um carro cheio de roupas femininas, o que você vai dizer exatamente? —Que tenho uma mulher exigente que espera muitos presentes, —disse Jack — Ah, e eu expliquei para o dono da pousada que a minha mulher achou a cama muito pequena, então eu tenho certeza que haverá uma enorme cama no quarto quando voltamos. — Ele simpatizou com você? —Ela perguntou. —Claro que sim. Agora, considera-me um covarde, mas, aparentemente, ele nos viu juntos.

— E o que fez pensar isso? —Eve perguntou indignada. — Eu não tenho nenhuma ideia — suspirou Jack. — Você tem família? –Eve estava aconchegada no canto da carruagem, ela havia retirado os sapatos e colocado os pés sob as saias das suas vestes verdes novas. Jack estava na frente com as mãos nos bolsos e os olhos em seu rosto e na estrada. Eve pensou que ela nunca tinha visto um homem que parecia tão à vontade com ele mesmo. Ele estava totalmente relaxado e mesmo assim ela estava disposta a apostar muito dinheiro que em caso de uma crise ele estaria alerta, pronto para a ação imediata. E isso era muito atraente. —Um meio-irmão e uma irmã mais nova. Minha mãe é viúva e mora na zona rural. — Não são muitos parentes, então? —Ela se arrependeu de não ter dado irmãos a Fréderic. —Você perguntou sobre a família — ele comentou —Tenho dezenas de parentes. — Sério? O que você faz junto com eles? Você tem sorte, eu gostaria de ter muitos. Ou qualquer um — suspirou. —Uma tia, três tios e nove primos. A tia mais escandalosa de que falamos não pode ter filhos, também. — O que a tornou escandalosa? —Eve perguntou. —Ninguém queria nos dizer a geração mais jovem. Mesmo minha mãe, a quem muitos consideram chocantemente direta nunca contou e cora quando solicitado. Ela apenas diz que a pobre tia Margery era muito rebelde e caiu em pecado. A única pista é que o pecado deve ter sido muito lucrativo, porque a minha mãe também disse que nenhuma quantia de dinheiro pode lavar a alma moralmente maculada. — Você já se sentiu tentado a descobrir? Acho que se alguém pode, seria você. —Talvez — sorriu Jack —Devo admitir que a última vez que meu primo Teófilo mencionou o mal feito de tia Margery me irritava que fosse considerado como uma criança aos 20 anos. — Teófilo? —Ela perguntou — Eu não acho que alguém com esse nome possa ser mal. Pobre Theo estava destinado a virtude ou vício extremo. — Seu pai é um bispo e sua mulher a mãe mais hipócrita que se possa imaginar. —Isso soa como diversão — Eve perguntou-se se haveria uma chance de conhecer muitos parentes de Jack.

— Você tem vinte e oito anos? —Decidiu que era mais jovem do que parecia. Ela tinha calculado cerca de trinta, certamente por causa de seus olhos sérios e vigilantes. Ou o ar de competência e responsabilidade. —Vinte e nove recém concluídos. —Feliz aniversário. A estrada virou-se para Maubourg. —Eu não gosto de festas de aniversário. Eu acho que não estou acostumado. Meu pai considerava muito frívolo para as crianças. — Você não sabe o que está perdendo — declarou ela com firmeza. Todo mundo deveria ter a memória de uma infância feliz e crescer como ela. As dela estavam sempre em sua mente, como uma pequena chama que aquece a alma em tempos difíceis. Um homem que proibiu uma festa de aniversário para seus filhos não deve ter sido um pai amoroso de outras maneiras. —Eu acho maravilhoso em todas as idades e você tem que vir ver Frédéric em dezembro. Jack tentou imaginar jogando jogos bobos, mas não adiantou. Faltava-lhe um sentido de humor, mas havia algo nele que evocavam solidão e distância. Ele questionou se havia mais alguma coisa além de um pai severo e sentiu uma dor dentro dele. Embora Jack não fosse dar graças por piedade, porque era um homem orgulhoso e confiante. —Eu não estou acostumado a festas de crianças, mas fico honrado com o convite. — Não tem sobrinhos? Decidiu que seus filhos se dariam bem com ele. Não se mostraria condescendente. De Fréderic ele gostava. —Minha irmã Bel ficou viúva antes de ter filhos. — E o seu irmão? —Ela perguntou curiosa. Jack desviou o olhar para a janela. Seu perfil era inexpressivo. Devia haver um segredo. —Eu acho que é pouco provável que tenha filhos – disse. Fez-se silêncio, não estava exatamente frio, mas também não estava confortável. Talvez o pobre homem fosse aleijado e feria Jack falar sobre isso. Eve também olhou pela janela do lado dele e pensou sobre o que Jack lhe tinha dito. Uma família extensa. Um tio bispo e a indignação geral sobre a respeitabilidade da tia pecaminosa denotando aristocracia. Mas por outro lado, os aristocratas não estavam engajados em serem

detetives particulares ou mensageiros do rei. Seu novo amigo era um enigma. Amigo. Era uma palavra que devia ser repetida mentalmente. Amigo, amante, tanto quanto ela queria. Se achasse isso ele notaria em seu rosto. Jack Ryder não era tolo e sabia o que as mulheres queriam. — Quando a gente chegará a Lyon? —Ela perguntou. —Na área de negócios há uma pousada modesta, mas respeitável, onde normalmente os comerciantes de seda e outros empresários se hospedam. Preparam um grande jantar. — Não podemos sair? O dia anterior tinha sido muito divertido e Lyon era famosa por suas sedas. Eve sabia que ela não podia comprar mais nada, pois o carro já estava cheio de pacotes, mas teria gostado de ver. Ainda assim, não pôde evitar uma sensação de estar em férias, tinha sido liberada da cadeia de respeitabilidade e do dever. —Não, aqui, torna-se perigoso. Lyon apoiou Napoleão sem reservas. Além disso, Antoine sabe o que vimos. E agora ele teve tempo de organizar a perseguição. Se você se sente forte o suficiente, eu gostaria de estar andando de Lyon, Dijon e deixar Henry tomar o carro. —Mas ele estará em perigo – protestou. Ele endireitou-se e calçou os seus sapatos, como se preparando para a ação. —Não haverá nada que possa traí-lo. Um motorista humilde que leva presentes a irmã de sua esposa em Paris. Continuaremos a ter de voltar às estradas e desvios – Ele a olhou de soslaio. —Acha que você pode? —Sim — ela balançou a cabeça com firmeza. Às vezes, tinha montado um dia inteiro, quando Louis organizava grupos de caça, mas foi há muito tempo. Mas conseguiria, ela nunca deveria ser um fardo para Jack. Tudo estava indo bem, graças a um bom planejamento, ela tinha que fazer sua parte. Mas mesmo os melhores planos podem dar errado. Eve estava ao lado de Jack na entrada para a pousada Belle Alliance e olhou para seu rosto, enquanto o proprietário estava falando do fogo que tinha ocorrido na cozinha. O cheiro de cinzas molhadas e madeira carbonizada permeavam o ar, mas o homem assegurou-lhes que os quartos estavam intactos, e a única coisa que não estava funcionando era a cozinha. —Há muitos bons lugares para comer ao longo do cais, senhor, em ambas as margens do Sena e no Ródano.

—Muito bem — disse Jack —Vamos agora enquanto há luz. Eu não quero que minha mulher esteja fora em uma cidade estranha depois de escurecer. Henry! Desça a bagagem. Você é responsável por levá-la para o nosso quarto? O empregado assentiu. —Eu como lá — disse olhando uma banca de comida gordurosa em frente à entrada da estalagem — Eu gosto de ver quem chega e quem sai. Eve surpreendeu um olhar de inteligência entre os dois homens — Vocês suspeitam que talvez o fogo tenha sido deliberado? Jack perguntou-lhe porque entrou em um dos corredores famosos de Lyons os levando para os rios que fluíam de pátios e jardins privados. Eve queria ver amostras da vida cotidiana, as mulheres fofocando, os comerciantes a fazer acordos com um aperto de mão... Mas Jack tinha a mão sob o seu cotovelo e andou rápido. —Não, eu não suspeito disso. Antoine pode não saber para onde estávamos indo para sediar e organizar algo. Mas seus homens podem começar a inspecionar as pousadas e, se isso acontecer, eu prefiro ficar dentro olhando para fora. —Eu entendo Jack? — Sim? — sorri para ele. — Você está armado? —Até os dentes. —Não vejo armas. —Eu espero que sim. Uso facas nas botas e um arnês de peito. Pistolas nos bolsos. Por isso eu uso uma jaqueta tão mal cortada. Ela não encontrou nada de errado com suas jaquetas. Que não podiam melhorar ainda mais seus ombros largos. Se o que ele disse era verdade, era provavelmente uma jaqueta excepcionalmente bem feita e provavelmente muito cara, embora parecesse simples. —Pare de procurar elogios — ralhou com ele. —Você sabe muito bem que esse casaco é muito elegante. Por que você não me deixe colocar o meu casaco e capa? —Porque a última vez que vi isso. Se os funcionários que estavam parados no beco já chegaram à conclusão de quem era você podem descrever suas roupas. Este chapéu não é algo que leva uma Grã-Duquesa. Ao procurar algo na multidão, irão procurar algo familiar. É como a caça à procura de veados vê-se a silhueta deles e ignoraram-se as raposas. Eles estão procurando por uma grande dama e podem negligenciar uma bela moça com um chapéu negro.

—Eu jovem... — Eve tentou não pensar sobre o resto da descrição, mas não podia deixar de corar. — Quem procura elogios agora? —Não eu, mas sério, Jack, eu tenho 26 anos... — Que velha! Quando eu vi você, eu quase caí da sua janela em estado de choque. Foi-me dito que você era jovem e bonita. — Você está flertando comigo? —Ela perguntou, desconfiada, eles cruzaram o limiar de um restaurante aparentemente respeitável. —Claro que sim. Um amigo pode fazer isso, certo? Esse lugar parece aceitável. Eve esqueceu os elogios e o viu inspecionar o bistrô tentando descobrir o que ele queria. — Vá até a porta, vêem-se muitas pessoas e uma tabela onde as pessoas vê bem vindo? —Ele sugeriu. —Sim. —Você está aprendendo. Esperemos que a comida seja boa. Era. E o ambiente também. Eve nunca tinha ido a um lugar assim. Ele ficou surpreso com os cotovelos sobre a mesa e cantando com o grupo de perto da porta, que tinha começado a cantar enquanto esperava pela comida. E o simples ensopado de galinha com ervas molhadas com um vinho tinto robusto, parecia perfeito. —Estou gostando — confessou ele, quando a empregada deixou uma bandeja de queijo. —Eu também —Jack pegou sua mão — Gosto de ver você relaxar. —Isso é muito diferente para mim — ela admitiu. —Ninguém olha para mim. Eu não tenho que fingir. — Não? —Jack murmurou. Eve retirou a mão, porque ele estava em contato com ela e isso a preocupava mais que qualquer outra coisa. Eve ficou surpresa que Jack soltasse imediatamente. Seu braço caiu, bateu no pequeno vaso de flores colocadas sobre a mesa e o derrubou. — Oh! Eve deu um pulo para pegá-lo e só então a porta abriu-se e entrou um grupo de homens. Ela levantou-se com flores na mão e viu-se olhando nos olhos de um homem alto, loiro de olhos azuis, boca sensual e um queixo forte. Bonito, arrogante, inconfundível. Presteigne era o coronel.

CAPÍTULO 10 O coronel a tinha visto; havia–lhe reconhecido. Era impossível evitar. O sorriso triunfante que iluminou o rosto dele enojou Eve, que puxou o vaso fino com força e contou os homens atrás dele. Eram três, pelos seus aspectos normais eram provavelmente soldados sem uniformes, não havia oficiais jovens impressionáveis a quem apelar. Sentiu às suas costas que Jack saía detrás da mesa e levantou– se, quase como esconder–se atrás dela. Mas Jack não era o homem de se esconder atrás de uma mulher, então ele tinha um plano. Movia–se em silêncio, pelo qual não lhe surpreendia que os homens olhassem para ela. Jack agarrou seu pulso esquerdo. —Quando você atue, joga o vaso e corre comigo— ele sussurrou. Eve concordou imperceptível e ele a soltou. —Boa noite, senhora — Presteigne fingia deferência — Vejo que você está jantando com seu galante amante — curvou o lábio num sorriso de escárnio quando viu que Jack estava aparentemente escondido atrás de suas saias. Como alguma vez podia ter considerado o coronel charmoso? Eve viu pelo canto do olho que pela porta da cozinha saía uma garçonete com um prato fumegante e se aproximou de uma mesa. Sua rota de fuga estava livre. —Melhor um bistrô humilde que uma sala formal na companhia de traidores — disse, e viu que o sorriso do coronel tornou–se um esgar de raiva. —Você chama de traidores os partidários do imperador? — Ele perguntou, levantando a voz. As pessoas se viraram em suas cadeiras para olhá-los e rostos amigáveis dos convidados darem lugar para o receio. Lyon, aparentemente apoiava Bonaparte. —Vocês trairão o Grão-Duque— disse ela, quando o coronel avançou um passo. Jack soltou seu punho e Eve jogou com força o vaso no rosto de Presteigne. A água e as flores voaram e o coronel soltou um grito e levantou as mãos aos olhos. Eve não viu mais, então correu para a cozinha com Jack. O pessoal da cozinha se dispersou para sua passagem. Eles passaram por uma linha de facas e ela agarrou uma destas, um descascador de legumes pequeno e saíram num beco pavimentado que cheirava a

restos de comida. Eles correram para a saída do beco, quando ouviram a porta detrás. Eve arriscou um olhar sobre seu ombro. —Há dois, sem Presteigne. —Aí está o resto. Jack saiu á rua justamente diante do coronel e o outro soldado, girou, pegou sua jaqueta e jogou algo. O homem tropeçou e caiu com um gemido e puxando Presteigne na queda. — Corra! — Jack empurrou. Correram pisando em poças fétidas, pulando e esquivando–se de pilhas de lixo para dos vagabundos. O ruído dos pés que os perseguiam não paravam nunca. Quando chegaram a uma pequena praça, Eve ouviu a voz do coronel praguejando os homens por não alcançá–los. Jack correu para o outro lado e depois voltou. —É um beco sem saída— disse ele. Ele puxou uma pistola do bolso e segurou–a firmemente de costas para a parede e o com o braço esquerdo puxando Eve atrás dele. Ela sabia instintivamente que faria isso: protegê–la à custa de sua própria vida. Estava atrás dele, mas depois entrou em um beco à sua direita, com uma pequena faca escondida em suas saias e mostrou a bolsa que ainda carregava, contra todas as probabilidades, no seu pulso. — É isso que você quer coronel? Os planos? Os livros? Você se perguntou o que levamos, o que sabemos, a quem temos dito? —Eve! — Jack tentou agarrá–la, mas ela tinha feito o que se propunha: dividir os atacantes. —Ducrois comigo! — Presteigne gritou. —Foix, parta-lhe o pescoço! —E correu para ela. Eve virou-se e começou a correr, impulsionada pela necessidade desesperada de deixar Jack com menos inimigos. Ela ouviu um tiro de pistola, de Jack ou de Foix? E saiu no cais. A borda do cais estava escorregadia sob seus pés. Com medo das cordas que amarravam seus barcos, começou a deslizar por estas, com a atenção dividida entre a água e o coronel e um soldado que tinha parado ao vê–la e se adiantavam agora com o cuidado de gatos caçadores. —Não sua cachorra estúpida! — Presteigne disse irritado. — Onde diabos você pensa que vai? —Você irá para o inferno— disse ela. —Este é o lugar para traidores e desertores.

Olhou novamente para baixo. Parecia ter um longo caminho até a superfície escura da água e ainda não havia botes de remos à vista. Onde estava o Jack? Da praça ouviu-se um grito e o soldado retornou. —Não importa— gritou o coronel. —Pegue–a! Eve mostrou a faca que tinha escondido atrás da bolsa. —Tenta — Ela convidou. O homem correu em sua direção, sorrindo ante o desafio. Ela deu–lhe uma facada, ele estendeu a mão, escorregou no chão e caiu no rio com um grito de medo. —Coronel? — Ela convidou com cortesia. A luz dos faróis penduradas ao longo das paredes das lojas se refletiam na faca. O policial sacou uma pistola do casaco. —Não. Venha aqui ou eu atiro. E depois, se seu amante não estiver morto, vou atirar nele. Eve esticou o braço lentamente, tentando controlar o tremor, e segurou a bolsa acima do rio com as pontas dos dedos. Pendurada com um peso, obrigada ao romance que ela havia metido ali naquela manhã. —Então, jamais terás isso. Ele deu de ombros. —E o quê? Estarão no fundo do rio — deu alguns passos. — Vamos, não seja estúpida. Retorne com o Príncipe Antoine. Eve estava tentando decidir o que fazer. Se ela atirava a bolsa, já não procurariam mais os planos. E Jack... Naquele momento o viu sair do beco. Apesar da distância, eu vi seus dentes e a fúria assassina que permearam todas as linhas do seu corpo. Apontando a arma para o coronel. Este aproveitou a vantagem que ela não o estava olhando para agarrar o braço dela e apoiar a arma no peito. —Pare ou eu a mato... Ah! Eve enterrou seus dentes em sua mão e ele a soltou. Ela ficou livre um momento, colocada na beira do cais, e, logo o ímpeto do seu movimento a lançou no rio. Ouviu o ruído de um tiro e um grito e depois caiu na água e parou de pensar que tudo senão em sobreviver. Embora fosse uma noite quente de verão, o frio quase a deixou sem fôlego. Tirou os sapatos dos pés e puxou as abas das fitas do chapéu e os fechos do xale. Lutou para manter a calma a todo custo. Havia muito tempo disso, mas quando criança tinha nadado nua no rio que ficava perto

da casa de seu pai. Quando jovem também tinha nadado no lago privado do castelo. Conseguiu se manter à tona, mas a corrente estava arrastando rio abaixo numa velocidade assustadora. Na escuridão sobressaíam coisas na água, coisas que passavam ao seu lado antes que pudesse registrar como perigosos ou salva-vidas em potencial. Uma onda bateu o rosto e água suja deu-lhe arquejadas. Era inútil tentar nadar contra a maré, tinha que permanecer flutuando, deixar-se levar e agarrar a corda ou um pilar de uma ponte para subir. Esforçou-se para orientar-se. Deve estar em Ródano, que fluía rapidamente sua confluência com o rio Sena. Teve uma visão de correntes cruzadas e redemoinhos onde os dois rios se juntam e ficou com medo de modo que quase parou de respirar. Então, algo bateu em seu ombro. Instintivamente, estendeu a mão em direção ao objeto e pegou um galho grande que ainda tinha folhas em alguns pontos e suportou seu peso o suficiente para ela respirar profundamente e levantou a cabeça para olhar ao redor. Estava na metade do rio, as orlas passavam ao seu lado com uma velocidade de pesadelo, pois ela seguia sendo arrastada pela correnteza. A margem direita pareceu desaparecer mais adiante, já estava quase na confluência. Não parecia possível que conseguisse sobreviver a isso. Apesar do apoio do galho, seus membros perderam a sensação com o frio e o esforço, sua cabeça estava tonta, e a garganta lhe doía. Tentou rezar... Por Frederic, por Jack e por si mesma... E se agarrou com toda sua força. Presteigne caiu com um grito de dor quando a bala o atingiu no ombro, enquanto o tiro disparado por ele se perdeu por cima da cabeça de Jack. Este não se deteve para ver se ele estava vivo ou morto, e sim correu para baixo do rio com os olhos examinando a superfície da água. As luzes estavam refletidas nela, confusas e resplandecentes em alguns trechos, deixando o rio na escuridão em outros. Ele tentou manter a calma, pois sabia que se cedia ao pânico, mataria Eve tão seguramente enquanto se afastou. Se ela não soubesse nadar e nem se agarrasse em algo que flutuava, já estaria morta. Afastou o pensamento e olhou para trás para a superfície. Ele viu um emaranhado de folhagem e no meio, a cabeça escura, as roupas leves, um braço levantado. Ela estava bastante à frente dele e lhe seria impossível chegar ao lugar onde se juntavam os dois rios antes dela.

As pessoas abriam caminho quando passava correndo e cavaleiro emergiu de uma rua lateral, andando a passo, relaxado, talvez a caminho de casa para o jantar. Jack tirou a faca que lhe restava, levantou a mão e o baixou da sela. A ferocidade de seus dentes e a faca ameaçadora bastara para que o homem se afastasse com as mãos levantadas num gesto de rendição. O animal se encrespou assustado com os movimentos violentos e estranhando o peso nas costas, mas respondeu ao calcanhar e à voz de Jack e partiu a galope. Dessa altura podia ver melhor, ele percebeu que tinha que ir para a margem oposta e forçar a virar o cavalo para ir à última ponte, que estava logo a diante. Tudo isso lhe fez perder tempo e Eve desaparecia rapidamente nas águas turbulentas. Jack afastou da mente a ideia de que ele a estava perdendo e cutucou o cavalo. Ele galopou descendo o rio, sem fazer caso do tráfego, dos obstáculos, nem dos gritos, para o lugar onde ele se lembrou que a turbulência dos rios recém unidos dava lugar a um labirinto de restingas e ilhas antes de retomar seu caminho para o mar. Se ele queria tirá-la da água, este era o lugar certo. Se ela conseguia chegar até ali, se ele pudesse chegar antes e se era bastante forte para puxá–la. O cavalo protestou quando forçado a atravessar a superfície da água para o banco de areia em primeiro lugar. Ele jogou as rédeas sobre o ramo de uma árvore de salgueiro e tirou as botas e jaqueta. Ele correu pelo chão de areia e pedras, uma pilha de madeira saltou e pulou para o primeiro canal. A corrente era forte, mesmo ali. Ele andou até o outro lado e correu para a beira da conta corrente da água em busca de véspera. A luz estava surpreendentemente boa, ainda pairava no céu um brilho vermelho do sol e as luzes das casas e dos barcos lançavam raios de visibilidade através da água. Ele não esperou muito tempo. O ramo com folhas ainda à tona, com o pano branco ainda enredado nele. Mas a figura ali sem se mover. Jack entrou na água e começou a interceptá–lo, recusando–se a sentir o frio nos músculos, a força da corrente e enervante aperto do medo no coração. O rio era tão forte que tentava tirá–la do galho, tão selvagem que Eve podia jurar que tinha mãos. Agarrava-se com os dedos adormecidos, apesar de que seria melhor se entregar e morrer,

porque isso doía muito e era inútil. No entanto, não poderia se render. —Eve — o rio sussurrou em seu ouvido. — Eve, solta isso. — Não! — Sim! Olha-me! A voz de Jack? Jack? Com um esforço que parecia escorrer a última gota de força, Eve virou o rosto da crosta dura em que estava apertado e o vi. — Veio por mim? —Sempre — soava como juramento —Sempre — o mundo ficou negro. — Eve! Alguém gritou, batendo o rosto e as mãos. —Chega— protestou debilmente, pôs-se de lado e vomitou com violência todo fluxo do rio. —Boa menina, isso é. Alguém a elogiava por vomitar? Eve foi erguida no ar, e descobriu que estava envolta em uma roupa estranha muito grande para ela. —Venha, venha. Era Jack. Jack a estava levantando. Forçou–se a acordar, o corpo levemente para frente para fazer o esforço e a vontade de gritar que ele não poderia deixar tudo isso para ele. Deve estar esgotado, frio, ferido, talvez. Permitiu um momento de fraqueza e descansou em seu peito. O frio, a roupa molhada agarrava à sua pele fria, porém o seu calor corporal lutava para aquecer os dois. Ele caminhou lentamente e cambaleou um pouco, mas não afrouxou a pressão pela qual a mantinha. —Ponha–me no chão— ela tossiu e repetiu isso mais claramente. Não podia suportar ser um fardo para ele como uma bolsa de pedras num animal esgotado que seguia em frente apesar de tudo. —Quando chegarmos ao cavalo. Com seu ouvido colado no peito dele, podia ouvir o esforço feito para controlar sua voz para que ela não pudesse ouvir o seu cansaço. —Não. Agora, — ela disse com tanta autoridade quanto podia. Para sua surpresa, ele deu um suspiro de escárnio e continuou andando. —Lembra que eu disse? Faça como eu digo sempre, imediatamente e sem questionar.

—Isso não conta. —Por quê? —Jack fez uma pausa e continuou caminhando. —Como você se comporta como um idiota teimoso. Desça-me agora, antes que você caia! —Sim, Sereníssima Alteza. Eve estava de pé no chão. —Exatamente. Veja? Assim está bem melhor — as pernas se inclinaram e se apoiou nele, ele colocou o braço em volta da sua cintura — Oh, Maldita seja! Eles ficaram abraçados e encharcados. Deu-se conta que Jack tinha envolvido no seu casaco e tentou a cercá-lo com isto. Seu rosto estava descansando em seu peito e sentiu que seu coração começou a bater mais lentamente. Deleitava–se com sua força e coragem e, apesar das circunstâncias, o desejava. —Feriram você? —Não, eu acho que não. — Acha que não? —Eve jogou a cabeça para trás para ver seu rosto, algo quase impossível agora. —Certamente não— ele corrigiu. Ele tinha outras coisas para pensar. —Venha, eu roubei o cavalo que está ali, se ficarmos mais tempo, congelaremos. —O que nos impediria de morte por enforcamento por roubar um cavalo— observou ela. Eles se aproximaram do animal, que esperava pacientemente ao lado do salgueiro. Jack subiu na sela, sentou–se atrás dela e colocou–a sobre suas coxas. —Segure–se firme! —O cavalo atravessou o canal de água superficial e saiu pelo outro lado e na estrada. —Henry dirá amanhã que o encontrou a pé sem dono e levá–lo às autoridades — disse Jack. —Quero que volte para a pousada e tome um banho quente. —Você também, — ela sentiu o queixo em sua cabeça e permitiu-se a relaxar. —Você está dormindo? — Ele perguntou depois de um tempo — Não caia no sono. Acorde e fale comigo. É perigoso cair no sono quando você está tão fria. — Falar? De quê? Para Eve era muito difícil pensar em conversa quando sentia o corpo adormecido da cabeça aos pés estava encharcada e suspensa num cavalo. Queria dormir, sonhar em fazer amor com Jack, sua fantasia, no que lhe dava ordens de verdade, o herói encharcado e

exausto que queria ser seu guarda–costas e amigo, e que não se permitia ser nada mais. Mas havia algo que eu queria dizer ao Jack real. —Obrigada, eu já lhe disse? Obrigada, Jack. Você salvou a minha vida. Eu não acho que ninguém teria feito o que você fez. Os braços dele ficaram tensos. Ela sentiu mover seu queixo e percebeu que ele tinha apoiado o rosto no seu cabelo por um momento. —Eu pensei que ia perdê-la — disse ele finalmente. —E isso não me parecia uma opção que poderia aceitar. Guardou silêncio e Eve tentou pensar se a opção será inaceitável no profissional ou no pessoal, mas sem sucesso. Jack não dava nada bem em demonstrar seus sentimentos ao falar. E, no entanto, ela não conseguia esquecer a memória da sua voz um pouco antes de perder a consciência no rio “Sempre”.

CAPÍTULO 11 — Droga, meu senhor! Eve vagamente percebeu que a voz que praguejava era de Henry. Estava parado. Olhou ao redor, sentindo a cabeça como um peso de chumbo em sua dor no pescoço, e viu que eles estavam em frente à pousada. — Cale a boca! —Jack resmungou — Você vai ajudar à senhora? — Que Deus nos ajude! Estão ensopados os dois— Henry pegou Eve com respeito e colocou-a no chão. —E congelados. — Esconde este animal, que roubei. Você vai ter que “encontrálo” na parte da manhã e levá-lo às autoridades. Eve pensou que Henry estava aceitando a notícia com uma calma que falava muito do que esperar da vida com Jack. Por seu lado, começou a acreditar que ela nunca iria parar de tremer e, quando Jack segurou pelo braço para levá-la para a pousada, também sentiu a vibração traiçoeira sob a pele. —Para cima e não deixe que te vejam. Se Presteigne está em condições, começará perguntando nas pousadas procurando clientes ensopados. Pelo menos temos parado de gotejar. Eles subiram com todas as precauções de amantes ilícitos e chegaram ao quarto com o alívio de tal forma que Eve ficou surpreendida agarrando-se à cabeceira da cama com lágrimas nos olhos. Jack encostou-se à porta fechada, como se ele já não pudesse contar com as pernas a seguissem sustentando-o. O quarto, que dava para o sul e era elevado, ainda tinha o calor do dia, mas o ar quente não aliviava o frio profundo que invadia Eve. —Dispa-se— Jack endireitou-se e empurrou até o biombo, puxando a campainha ao passar. Eve começou a lutar com botões e ganchos. Houve uma batida na porta. —Água quente — ouviu de Jack —Em abundância. E um banho. Se você não se apressar, não haverá mais dinheiro — ele ouviu o som de uma moeda e ao som de passos se afastando. —Toma — uma toalha caiu no biombo. —Eu não posso abrir os botões. Eve amaldiçoou em silêncio ao quebrar uma unha. Aquilo era demais, só queria estar de volta em Maubourg. Queria criadas e lacaios, queria seu quarto de vestir e estar quente e seca, enrolar-se, dormir e esquecer.

—Espere, deixe-me — Jack deslizou por trás do biombo usando apenas uma toalha de algodão longa em torno dos quadris. —Você pode abrir seus olhos— sussurrou com um tom que era uma mistura de diversão e irritação —Eu diria que morrer de frio e exaustão, mas sem te macular por olhar a minha pele nua é levar decência longe demais. —Sim. Sim, claro. Eve abriu os olhos e tentou se concentrar neles. Mostrar-se puritana era ridículo nas circunstâncias. Jack era o seu guarda-costas e seu amigo. Ela tinha sido casada e conhecia o que era um homem nu. E em qualquer caso, nenhum dos dois era capaz de fazer qualquer coisa imprudente. Jack começou a trabalhar na linha de botões que prendiam o corpete, praguejou baixinho e acabou usando o procedimento de puxar forte com as duas mãos e fazer voar os botões em todas as direções. — Jack! —De qualquer forma, está arrebentado— disse ele, puxou para baixo o vestido pelos braços. —Agora eu posso controlar. Ele não fez caso. Levantou as saias ensopadas acima da cabeça e deixou o vestido no chão, colocou as mãos nos quadris dela e a viu tremer nas anáguas e o casaco. — Você amarrou com laços ou eu vou ter que cortar a fita? — Aproximou-se da fileira de laços que mantinha o espartilho. Laçadas. Muito bem. A camisa aterrissou por cima do vestido quando a criada bateu na porta. Eve recuou e permitiu que Jack lidasse com a procissão dos serventes que entraram com a banheira e fumegantes baldes. Ela espiou pela abertura do biombo e sorriu divertida ao ver que a nudez de Jack arrancou risadas ruborizadas das criadas. Quando a porta se fechou, Eve começou a desapertar as ligas e as meias para baixo. Jack voltou a partir da borda do biombo. —Vamos, apresse-se, você está batendo os dentes. —Então vá. Porque se você acha que eu vou tirar algo mais contigo... Jack! Abaixa-me! Ele se inclinou, tomando-a nos braços e a meteu com anáguas e tudo na banheira que as meninas tinham trazido. — Ah, que maravilha! —O calor foi transmitido através do seu corpo, fazendo cócegas em pele e dor nos dedos dos pés congelados

— Que grande banheira! — era grande o suficiente para tombar-se nela, sempre mantendo os joelhos dobrados, saindo na superfície. Jack começou a colher água com as mãos e jogá-la nos joelhos e ombros. Deteve-se com as mãos e os ombros na água quente. —Vou me apressar, você tem que entrar — disse ela. —Não, você não está quente e você tem que lavar o cabelo — Jack pegou um dos baldes. —Feche os olhos—, jogou-lhe água no cabelo emaranhado, pegou o sabonete e começou ensaboando o cabelo — Fique quieta ou entrará sabão nos seus olhos. Ele parecia saber o que estava fazendo e Eve perguntou-se ele já tinha lavado algumas amantes. —Está ronronando— ele sussurrou perto de seu ouvido. —Deixe seus olhos fechados. Vou lavá-la. Ele fez o que dizia e depois lhe secou os cabelos com uma toalha. Era fácil deixar-se ir e permitir-lhe fazer. Eve mantinha os olhos fechados, mesmo quando ele pegou sua toalha e ela ouviu-lhe o movimento ao redor do aposento. Ele retornou quase que imediatamente e começou a escovar os cabelos. — Jack, não se incomode com isso, você vai congelar — Eve abriu os olhos e descobriu que ele estava muito perto e tentava desembaraçar os nós com os dedos. —Não, aqui no vapor quente estou quente, eu te prometo. Relaxe. Eve fechou os olhos. A memória de frio e medo desapareceu sob o toque de seus dedos. —Deite-se para frente. Encontrou-se apoiada em seu peito com a cabeça no ombro dele enquanto ele rodeava com as mãos ao redor e fazia-lhe um rabo de cavalo alto. Ele então virou a cabeça e prendeu com uma presilha que deveriam ter sido encontrados junto com a escova. Eve não queria levantar a cabeça de seu ombro. Sentada na linha da frente do pescoço e cheirou seu perfume através de vapor de sabão perfumado. Jack tinha cheiro de água do rio, a pele fria. Moveu os lábios para tocar o peito dele e ele apertou contra ele e se ajoelhou ao lado da banheira. —Você está com frio— ele murmurou contra sua pele. —Bem me esquenta— disse. Eve, com as anáguas molhadas emaranhadas nas pernas, conseguiu ajoelhar-se na banheira até ficar peito a peito com Jack. Abaixou as mãos para suas espáduas para atraí-la para si e apertou seu torso de modo que seu calor ficasse nele. Tinha os mamilos duros

sob suas anáguas encharcadas e enterrou o rosto no ângulo de seu pescoço quando sentiu o pulso dele batendo em seu ouvido. A respiração de Jack estava quente em seu rosto e ele soprava em sua orelha. Esperava que ele tocasse o rosto dela, talvez a língua pela orelha, mas Jack baixou as mãos para cobrir seu traseiro. A sensação de duas mãos mais frias na sua pele e a pressão dos dedos longos a fez apertar-se com mais força contra ele, de modo que quando Jack levantou-se sem aviso prévio, ela também levantou no movimento. Ela se agarrou nele e Jack caiu na água quente com ela. Eles estavam tão perto que eu podia sentir a ponta da toalha dele nos joelhos e o pelo molhado de uma das pernas dele na pele. Ela se apertou contra ele, com mamilos duros em seu peito e o calor inconfundível e pressão da ereção dele no estômago. Olhou para cima do abrigo de seu pescoço. —Vai — disse Jack com voz rouca. — O quê? —Ela sussurrou. Ele tinha os olhos fechados e os cílios molhados como se tivesse chorado, mas a pele do rosto estava seca. —Vá. Mete-se na cama — ele sorriu —Eu acho que você já me aqueceu tudo que se pode esperar de um amigo. Jack ainda estava imóvel e seguia com o ouvido a retirada de Eve através do biombo. A água quente da banheira segurava-o como um amante e pensou que talvez ficasse ali durante toda noite. Mas tinha que pensar. Fazer planos. Tentar colocar em perspectiva o que tinha acontecido. O calor fez nada para parar a evidência do quanto estava animado por ter Eve em seus braços. O que aconteceu? Tinha frio e estava exausto e sua única intenção era levá-la para a cama, onde estaria quente e seguro. Se o houvessem perguntado, teria rido pensar que poderia ter a força ou disposição para pensar em sexo. Mas parecia que ele não conhecia seu corpo tão bem como pensava. Ele ouviu uma tosse discreta e fechou os olhos enquanto Eve estava indo para a cama e perguntou-se o olharia, e perguntava pela primeira vez o que pensava do homem que via. Certamente consideraria um demônio arrogante, pois o que ela via era um aventureiro, um homem que poderia ser engenhoso, violento e que ignorava a com insolência o status e a posição dela. Via um homem que prometeu ser seu amigo e estava prestes a possuí-la ali, molhada no chão, ao lado da banheira.

Mas ele não havia feito. Por quê? Jack começou a esfregar com sabão para remover o cheiro da sua pele à água do rio e fez uma careta quando percebeu que tinha agarrado a sabonete dela e não seu. Cheiraria a gardênias, mas estava muito à vontade para pedir licença para procurar outra coisa. Não sequer a tinha beijado, nem havia baixado a língua para lamber os mamilos no peito, não havia se permitido sopesar seus seios com as mãos. Porque queria fazer amor, e não apenas sexo. E fazer amor com ela quando estivesse totalmente acordada e consciente do que ele fazia, e não exausta e agradecida por ele ter salvado sua vida... Por os pelos. —Mas o que diabos estava pensando? — Ele repreendeu a si mesmo e enterrou a cabeça sob a água. Quando ele voltou para tirála, passou as mãos pelo seu cabelo com força intencional. Ela era uma grã-duquesa, não uma matrona chata que queria mostrar sua gratidão por uma missão bem feita de uma forma que ia além do pagamento da fatura. Isso era algo que aconteceu ao longo do tempo. Nunca o procurou, às vezes dava passos para evitá-lo e outras vezes ele encontrou um encontro mutuamente satisfatório, mas breve. Aquilo era diferente. A grã-duquesa Eveline era diferente. Havia uma inocência nela que desmentia o seu casamento com um dos amantes mais famosos da Europa, a seus modos imperiais escondia muita suavidade e ternura. Ele se lembrou do seu abraço e novamente excitou-se. Seria uma longa noite. Se quisesse fazer amor com ela, talvez Eve, em sua vulnerabilidade, se voltasse para ele. Mas Jack sabia que não podia deixar isso acontecer. Ela era casta, poderia dizer imediatamente, e teve inúmeras oportunidades de não ser. O fato de que não as ter aproveitado significava que era importante para ela, para o que era como uma mulher, e ele não podia destruir isso. Ele abriu os olhos e viu o volume de Eve na cama. Começou a ensaboar seus pés, que estavam negros. Teria ela recusado Presteigne em algum momento? O instinto lhe disse que sim. E o homem provavelmente teria tomado como um insulto e buscado vingança. Isso o deixava ainda mais perigoso... Se estivesse vivo. Jack saiu da banheira. Ele sentiu-se muito fraco. No dia seguinte queria cavalgar, se Eve pudesse fazê-lo. Dois de seus perseguidores foram mortos, ele estava certo. Mas havia Presteigne, ferido, sim, mas, se ele viveu, sem dúvida, tão louco como um gato

escaldado, e o soldado que tinha caído no rio e que talvez soubesse nadar. Talvez seguissem tendo perseguidores próximos ou talvez não, mas certamente a segurança estava a avançar. Apoiou um pé na borda da banheira para secar a perna e pensou sobre isso. Segurança sempre que Antoine não houvesse ocorrido enviar outros agentes na frente de Presteigne na esperança de que o coronel atuasse como o furão na toca do coelho e os empurrando diretamente para suas mãos. Embora não conhecesse o irmão de Eve, Jack sentia um profundo desprezo por ele, um traidor tanto da família e do seu país ao ponto de tentar assassinar o sobrinho e a mãe dele. Mas isto não o convertia em estúpido e julgá-lo mau teria consequências fatais. Quando secou, se aproximou da cama e olhou Eve. O rabo de cavalo tinha se soltado e estava assentado no travesseiro dando-lhe um ar muito jovem. Queria meter-se na cama, mas antes colocou o travesseiro entre eles. Embora naquele momento estivesse determinado a lutar contra seu feitiço sensual, não queria arriscar o que aconteceria se, acidentalmente a tocasse no sono. O colchão suave o recebeu como uma nuvem, quando se meteu entre os lençóis e sono apoderou-se dele quando terminou de se cobrir. Uma batida na porta tirou Jack fora da cama, de arma na mão, antes mesmo de estar acordado. O sol entrava pela janela e o velho relógio do canto marcava oito horas. Respirou fundo. — Sim? —É Henry, senhor. Tinha que ser verdade, porque ninguém poderia imitar o sotaque ultrajante de seu servo. Jack virou a chave na fechadura e o deixou entrar. — É hora de ir — disse Henry. E olhou para ele com desaprovação — Você não deve andar assim completamente nu. Há uma senhora presente e não apenas uma senhora comum, mas uma grã-duquesa. Jack olhou diretamente nos olhos, mas a resposta não veio de fora, mas a cama. —A Grã-Duquesa em questão está aqui, Henry, e a razão de eu estar presa debaixo dos cobertores demasiado quentes é para não ver o que você acabou de mencionar. Se vocês tiverem a gentileza de desaparecer os dois, eu gostaria de me levantar. Jack pegou sua roupa e deixou a sala.

—Estaremos na alcova privada. Por favor, feche a porta quando sairmos. Ele ouviu o ferrolho antes de afastarem-se três passos. Jack largou os sapatos, praguejou e chutou para dentro do salão. —Cheira a lírios patrão — disse Henry. —Gardênias — corrigiu Jack, e começou a se vestir. E é melhor do que cheirar como a margem do Ródano acredite em mim. —Eu acredito — Henry apoiou um quadril no peitoril da janela e olhou com um olhar crítico. — Você está ferido? —Nada que não vá sarar logo— tinha a sensação que o tinham estendido no chão e espancado com um cabo de vassoura, mas admitia isto, apenas conseguiria que Henry lhe oferecesse uma de suas massagens brutais. —Bem — o servo parecia desconfortável — Olha, chefe, você não deve se misturar muito com Sua Alteza. — Assim como? — Perguntado Jack. —Vamos, não fique aborrecido, que quando você faz isso, parece seu falecido pai e isso pode dar cólicas a qualquer homem, o que exponho com todo o respeito... —Esse respeito seria muito bem vindo, mas acho que vou continuar falando — disse Jack ar sombrio. As liberdades que permitia ao seu servo seriam inexplicáveis aos olhos de outras pessoas, mas Jack estava mais do que disposto a ouvir um homem que tinha dado provas da sua lealdade e coragem de novo e de novo, mas tinha uma tendência a uma embaraçosa franqueza. —Pois sim. Ela é uma grande senhora e quase realeza. Você não deve... —Eu não faço. —Sim, você diz isso. Mas quem vai acreditar em vocês, se você sair da cama, vestido com o traje de Adão? —Você se eu digo a você, velho diabo. Todas as noites há um travesseiro no meio da cama. E pare de rir. —Pensam continuar por muito mais tempo com suas conversas atrozes que tanto os divertem?— Perguntou uma voz com reprovação da porta. —Porque eu quero tomar o café da manhã. Jack viu que Henry abria muito os olhos e se virou lentamente. A mulher no umbral vestia calça, botas, colete com cinto e camisa branca. Ela usava o cabelo recolhido numa rede na nuca e uma gravata branca pendurada em sua mão.

— Algum dos dois pode me ensinar como amarrar isto?— Perguntou baixinho, com os olhos os desafiando a fazer algum comentário sobre a sua roupa. —Devo dizer que não sabia que era tão difícil por roupas masculinas. Jack sorriu. —Você deveria conhecer o Sr. Brummel — disse Jack. Ele lhe garantiria que leva duas horas no mínimo.

CAPÍTULO 12 Eve entregou a gravata para Jack. — Por favor? — Dobra-se assim, logo dá uma volta e logo se... Eu não posso explicar. Sente-se, por favor. Eve sentou-se obediente e Jack se colocou por trás dela e tomou as pontas do laço em cada mão. O calor do seu corpo era agradável, embora ela quase pudesse sentir a tensão nele, que evitava aproximar-se muito. — Logo, aqui a puxa, e a insere por aqui... Deixe-me ver — ela se virou para ele com os braços cruzados — Não está mau. —Obrigada— disse ela. Ela pensava com tristeza que Jack estava diferente naquela manhã. Estava agradável e alegre, mas reservado. E não podia ler seus olhos quando conseguiu vê-los, o que não era fácil. Claro, sabia que lhe preocupava o da noite anterior, quando eles quase... O quê? Fizeram amor? Mas ele não tinha acariciado nem seduzido, apenas a abraçara. Supunha que ele estava surpreso que ela achasse a experiência tão excitante. Ele não parecia nada vaidoso com o efeito que provavelmente produzia em qualquer mulher que tinha o mínimo interesse pelo sexo oposto. Ela se escondeu atrás de um biombo quando a camareira punha a mesa e levava o desjejum — para que não visse vestida como um homem, caso alguém a questionasse mais tarde. Começava a sentir que as suas regras de conduta e os limites que impôs em sua vida começavam a mudar sutilmente e isso a preocupava, era como sentir que poderia tropeçar no chão que pisava e embora não pudesse ver as rachaduras. Era só porque era demasiado fraca para resistir à tentação? Ou que algo tinha mudado? —Você pode vir—disse Jack. E ela veio e sentou-se com o cenho franzido. — O que ocorre? —Jack sentou-se novamente. Você está muito cansada depois de ontem? —Eu estou bem, um pouco rígida, nada mais. É nada. Embora haja algo que eu tenho que pensar e, talvez, discutir com você mais tarde — quando soubesse se estava simplesmente cansada e confusa, ou se precisava pensar sobre a vida e em como vivia. — Onde estão os cavalos? — Em um galpão no caminho para Lyon. Viajaremos até ali com Henry e depois o deixaremos seguir o caminho do correio e nos

iremos por outros caminhos paralelos, — Jack cortou um pedaço de carne e mordeu com o apetite de um homem que fez muito exercício. Eve brincava com uma colher de conservas. — E nos veremos a noite na pousada? —Não. Viajaremos separados e nos encontraremos nos pontos já combinados. Isto tornará mais fácil detectar o perigo, para ver se nos seguem. Henry terminou de mastigar um pedaço de presunto. —Esta manhã eu chamei o nosso agente aqui. Diz-se que Bonaparte está movendo as tropas para a fronteira. Ainda que, lhe disse que não as esperava mais tarde, patrão. —Bem, Wellington, todavia, não esperava os franceses — Jack franziu o cenho —Por isso, nós planejamos esta rota, caso contrário, haveria organizado que os contrabandistas nos pegassem em Calais. Deixou o garfo e olhou para rabanada de pão com manteiga que ela mordiscara. — Coma! Isso não manteria vivo nenhum canário. Os ovos, salsicha, presunto, — empurrou a bandeja em sua direção —Deus sabe quando teremos uma refeição decente. Eve serviu-se obediente até que Jack acenou com aprovação. O perito era ele. Se ele dizia para comer, comeria, mas tinha pouco apetite. Possivelmente por causa da água que tinha ingerido na noite anterior, ou talvez por causa do calor interno que havia começado na noite anterior e se acentuava cada vez que o olhava. Desejo. Deveria sentir vergonha. Mas o que era a vergonha? Ela fixava no seu comportamento. Se não cumpria, trairia a si mesma e somente teria que consultar sua consciência. Mas havia duas pessoas nessa equação. Eve baixou a vista e descobriu que o prato estava vazio. Com seu apetite restaurado, tomou o pão, a manteiga e untou uma rabanada com mel. Tinha que considerar também a consciência de Jack. Suspirou. Uma viagem a cavalo lhe esclareceria a mente e, logo, falaria francamente. Os cavalos que Jack havia contratado eram bons animais e pareciam fortes o suficiente para levá-los até a fronteira. Eve seguiu com a carruagem até que estivera a certa distância do celeiro. Logo os alcançou Jack, que tomou as rédeas do seu cavalo selado e os outros com as provisões, e ela tirou a capa e montou-o. —É precioso— passou a mão no pescoço de seu cavalo baio, enquanto Jack lhe ajustava os estribos — Fazia tempo que não montava um animal tão grande e poderoso. Desde que morreu Louis,

somente montei no estilo cavaleiro em cerimônias ou em tranquilos passeios nas imediações do castelo. —Pode com ele? —Jack montou em seu cavalo negro — Espero que sim, porque temos de cobrir uma distância considerável. Mas ele tinha outra de reserva em caso de ausência. Uma égua tranquila. — Uma sela? — Ela perguntou, indignada. Certamente não. Sentia certo medo de que talvez lhe faltasse prática tanto que não pudesse entender-se e não queria freá-lo. As expectativas Jack com sela reforçou a sua determinação de estar à altura e lhe davam coragem. — Porque você acha agora que eu posso montar este cavalo? — Perguntou. —Porque você tem a coragem, determinação e com certa facilidade inata — respondeu ele — Vamos — virou para sela. —Não acredita em mim? Quando a lisonjeei ou eu não fui honesto com você? —Nunca— Eve fincou os calcanhares nos flancos do cavalo e ficou ao lado dele — Obrigada. —Dá-me, logo, quando seus músculos lembrar a você que há meses que não trabalham assim. —Anos — ela corrigiu. —Anos e, logo você acreditará que sua bunda é uma ferida enorme, os ombros vão doer como o inferno e tudo será culpa minha. —Pois esperarei impacientemente um banho quente — disse ela, sem pensar. E corou, lembrando-se do banho da noite anterior. Mas Jack já tinha avançado irresoluto acima. —Eu não contaria com isso— disse ele. Eve pensou que tinha ouvido mal, pois qualquer estalagem poderia oferecer uma banheira. Jack progrediu de forma constante, mas rapidamente entre as pequenas lagoas e campos no lado oriental do rio largo. Eles cavalgaram, andavam longo passo para descansar os cavalos e voltavam a galopar. Ocasionalmente, ele olhava uma bússola, vendo o sol e parava para estudar um livro negro que guardava no seu bolso. Ao meio-dia, eles descansaram meia hora para comer dos pacotes que levavam nos alforjes, davam de beber aos cavalos e andava com eles pelas rédeas meia hora antes de montarem novamente. Falavam pouco, mas Eve notava o olhar dele de vez em quando. Algo estranho aconteceu com ele enquanto se moviam através do campo. O vento balançou o cabelo, o ar era doce em seus

pulmões e tinha a sensação de tirar um casaco pesado e incômodo, de estar liberando seus membros para que pudesse correr e rir. A realidade que os rodeava, sensação do cavalo debaixo dela, a consciência do homem ao seu lado... Tudo era como uma libertação. Pouco a pouco se deu conta de que era outra vez ela mesma, não a garota que havia deixado a Inglaterra para se casar, nem a Grã-Duquesa com o peso de um país pequeno sobre os ombros, mas ela mesma, Eve que havia sido por dentro. Durante anos, tinha visto o mundo como através de uma máscara e, com o tempo se acostumou a crê que ela era a máscara. Tinha sido mãe, esposa, viúva e Grã-Duquesa. Mas tudo aquilo não era ela. Ela era a mãe de Frederic e ela, Eve, que viveu uma aventura. Jack tirou as rédeas e sinalizou para cima e ela mirou o céu azul e um par de pássaros que sobrevoavam ali. Livre. Era livre. O que queria? O que era importante para ela, para ela em seu interior? Dentro, onde ela era uma mulher... Apesar de que sua euforia começar a diminuir, ao pensar na falta da pousada que os esperasse. Após o pôr do sol sobre os montes de Beaujolais, Jack tirou as rédeas de seu cavalo. —Já basta. Eu não quero que passemos Chalon esta noite. —O quê? Onde? —Eve ficou de pé nos estribos e olhou em volta. Não havia uma fazenda, pousada muito menos hospitaleiro que estava imaginando. —Vamos voltar à estrada principal? Viu com receio que Jack tinha o ar que adotavam os homens quando guardavam um segredo culpável, ou seja, tentando parecer inocente, mas não conseguiu. — E então?— Ela perguntou. —Vamos acampar— admitiu. — Aqui? E o meu banho? —Agora que eles pararam estava bem consciente da dor na bunda e que teria de ficar de pé. —Eu a avisei. Olha, há um grupo de árvores e um riacho. Eve queria um banho quente, queria uma boa refeição e uma cama macia. Queria seu mordomo, seus lacaios, seu cozinheiro suíço e as donzelas. Queria a roupa limpa e macia. Esfregou o pescoço e olhou distraidamente Jack, que havia decido do seu cavalo e explorava a clareira. Na verdade, era bastante agradável. As árvores sussurravam delicadamente na brisa morna, havia boa grama e o córrego fluía limpo sobre as rochas.

E estava também o homem que espreguiçava com o chapéu atirado ao chão. Viu-o tirar o casaco, depois virou e sorriu. Eve lhe devolveu o sorriso e esqueceu suas queixas e seu estômago vazio. Ele era a razão pela qual se sentia tão livre, tão diferente. E ela teria que decidir o que ia fazer sobre isso. —É maravilhoso — disse, e sentiu mais do que viu que ele se relaxava. —Mas não pense que posso descer sozinha, você vai ter que ajudar. Em parte, isso era algo calculado por sua parte, um capricho feminino para que a tocasse, e em parte era verdade. Jack se aproximou e estendeu as mãos. —Passa a perna para este lado e se deixe cair — ele sugeriu. —Não acho que possa passar a perna. Puxou o pé do estribo e passou a perna com dificuldade. O cavalo se moveu impaciente por chegar até a água e a grama, e ela deslizou mais rápido do que elegância nos braços de Jack. Ele tomou-a pela cintura e abraçou-a um segundo antes deixála deslizar para o chão, preso entre seu corpo e o cavalo. Ela estava consciente de cada centímetro do seu corpo. Quando seus pés tocaram o chão, percebeu que prendeu a respiração e alçou os olhos para ele. Seu rosto era inexpressivo. Jack abriu as mãos e se afastou. —Eu vou buscar lenha. Pode dar água aos cavalos? —Sim, claro. Aparentemente, a porta permanecia firmemente fechada. Se o desejava, teria que ser muito explícita, não confiar em indireta ou flertes. Eve desencilhou os cavalos, tomou as rédeas, levou para o rio e amarrou-os num galho grosso com as rédeas longas. O cavalo de carga esperou pacientemente por ela para desatar as correias e fivelas, mas logo ele também estava livre e pastando com os outros. —Não esperava que você fizesse isso — disse Jack, quando ele retornou com uma braçada de troncos. Ele se agachou no meio da clareira, onde era óbvio que os outros viajantes haviam acendidos fogueiras e começou a colocar as lenhas metodicamente com galhos secos e os troncos na base. — Por que não? Eu sou muito capaz — Eve pegou os pacotes de comidas descarregados e encontrou comida e cobertores que estendeu ao lado do fogo. — Podemos comer tudo isso hoje? — Estou morrendo de fome.

—Sempre que deixemos algo para o desjejum — Jack terminou de acender o fogo e se levantou. Observado em torno fazendo sombra com a mão contra o sol para ver melhor os campos que havia entre eles e do rio. Ele olhou para o fogo, aparentemente satisfeito com a coluna de fumaça quase invisível que fazia a madeira seca. Eve dispôs a comida e foi pegar água no córrego. — Fazemos café? — Ele perguntou. — Por que não? —Jack sentou-se em um dos cobertores. — Sabe fazer isso? —Não— Eve lhe passou o pacote de café e começou a cortar o pão e untá-lo com manteiga. Nos últimos minutos havia decidido que diria a Jack, como queria resolver conflitos no seu interior. —Está muito bom— disse Jack, afastou o prato vazio e caiu para trás —Você está com frio? —Não. E a noite vai ser muito quente. Jack, eu não lhe agradeci pela noite de ontem. — Por quê? Por que tirá-la do rio? Sim, você me deu. Quando estávamos no cavalo — ele estava deitado de costas com um joelho erguido e o outro pé colocado sobre ele. —Eu já sei. Quero dizer, logo, no nosso aposento — Eve respirou fundo e lançou um estímulo — Poderia ter me seduzido sem nenhum esforço, e eu acho que você sabe muito bem. Eu estava exausta, vulnerável e havia passado muito medo. Eu quero agradecêlo por não ter tirado proveito disso. Pela manhã teria me arrependido. —Eu sei — a voz de Jack parecia neutra, mas ela já conhecia bem o suficiente para ouvir a tensão nesta. —Agora eu não estou exausta, vulnerável ou com medo— disse ela. E esperou. Parecia que ele levou séculos para reagir. Ele colocou os dois pés no chão, nos cotovelos e, finalmente, sentou-se e a olhou. O sol pintava seu rosto de ouro e rosa. — O que você diz Eve? —Que agora eu me sinto eu mesma. Mais do que eu tenho me sentido em nove anos. E eu vejo claramente o que eu preciso e o que é importante para mim. Eu tenho sido casta desde que meu marido... —Eu sei. Eve, não tem que... —Deixe-me acabar — ela sorriu. Aqui eu não sou a GrãDuquesa, eu sou uma viúva, eu não sou uma mãe. Eu sou apenas Eve. E eu estou sozinha em um lugar bonito com um homem que eu quero, no qual confio e de quem gosto. Jack moveu abruptamente, como se fosse levantar.

Eve imediatamente estendeu a mão para detê-lo. —Eu sou apenas uma mulher que pede a um homem se ele gostaria de fazer amor comigo. Se você disser não, se estiver errada sobre o que eu vejo em seus olhos, o que eu sinto quando está por perto, peço desculpas. Se você mentir para mim, eu saberei e me machucará mais do que o fato de que me diga que não quer fazer isso. —Não quero? Desejo desde a primeira vez que a vi. Eve respirou fundo, aliviada. —Eu quero tanto que dói— continuou ele— mas tenho medo de fazer-te dano. Já pensou? —Homem idiota — disse ela com lágrimas nos olhos. — Eu não penso em nada desde que eu virei e vi você no meu quarto, onde tinha aparecido como num passe de magia. —Isto eu não creio— disse ele sorrindo. —Bem, eu admito que penso muito em Frederic, em Philippe e o ducado, como nós vamos voltar e se eu tenho uma ferida no traseiro. Mas em todos os ocos intermediários penso em você e como quero estar em seus braços e sentir sua boca sobre mim. — Quer pensar melhor hoje? — Ele olhou para ela, todavia com os olhos interrogativos. —Não — disse ela. Quero dormir com você.

CAPÍTULO 13 Jack olhou os grandes olhos marrons cravados nos dele. Ela falava sério e ele acreditava que havia pensado nele todo o dia. Aquilo não era algo que Eve esqueceria facilmente. E para ele, depois de uma vida tratando tais encontros como uma espécie de negócio amistoso ou simplesmente um momento de prazer mútuo, a responsabilidade do que ela lhe oferecia parecia tão pesada como o dever que haviam contratado de proteger sua vida. Ele, por alguma razão não podia entender e temia analisar, o fato era que ela era diferente de todas as mulheres anteriores. —Eve, aqui estamos fora do nosso mundo habitual. O que acontecerá quando voltarmos para a Inglaterra? — Não sei — respondeu ela com fraqueza— Não me importo — negou com a cabeça— Sim, sim eu sei. Então terá que acabar porque não posso arriscar um escândalo. Mas pode ser que jamais cheguemos lá e não quero acrescentar isso à lista das minhas perdas. —Vem — Jack ergueu-se com a sensação de que havia jogado os dados e feito à aposta e que sua vida mudaria para sempre nessa jogada. Que era uma loucura. Ela tinha razão; aquela aventura só poderia durar até que sentissem as ondas do Canal da Mancha debaixo da quilha do seu barco. Como isso iria mudar sua vida? Estendeu a mão e Eve aceitou e ficou em pé. —Deixe-me juntar isso — disse Jack. Sacudiu as mantas, as estendeu, colocou uma em cima da outra e acrescentou um tronco no fogo. Não queria que ela sentisse frio. Intuía que já estava bastante nervosa apesar da força de sua declaração. Quando voltou, ela estava apoiada em um pé e tirava a bota do outro. —Eu farei —ele disse— E você pode ajudar-me com as minhas. Vamos começar por cima. A gravata que havia colocado esta manhã continuava firme no seu lugar. Jack a desatou, a tirou do pescoço e a dobrou em suas mãos antes de aproximar seu rosto e cheirar. Sustentou o olhar sobressaltado dela enquanto enchia os seus sentidos com a fragrância de sua pele. — Mas eu não coloquei perfume esta manhã — ela murmurou. — Eu sei — Jack colocou a gravata no bolso— Eu posso cheirar perfume de gardênias sempre que quiser, mas não posso engarrafar seu odor.

Eve levantou as mãos e começou a desatar o nó da gravata com o rosto sério. Ele queria que se entregasse depressa, queria eliminar o obstáculo da roupa e a tomasse ali mesmo, quando sentia que, no entanto, ainda restava algum controle. Mas se tratava de Eve e para ela essa noite não era algo que seria depressa e ele somente tinha que pensar no prazer dela. Eve tirou a gravata e enterrou o nariz nela, imitando o gesto dele. — Ao homem, ao tecido, ao sabão, a Jack — a dobrou e a guardou no bolso— Para as noites em que precise dormir — comentou. Começou a desabotoar os botões do colete enquanto mordia próprio lábio com ar de concentração. Jack entrelaçou seus braços com o dela e começaram a fazer o mesmo com o colete dela. — Isto é muito estranho — observou— Não há cintas nem laços. É como se tirasse a minha própria roupa. — Ah, é? Ela arqueou as sobrancelhas com um gesto fingido de ultraje e levantou as mãos para afastar a jaqueta dos ombros e depois o colete. O ar quente atravessou o linho da camisa e Jack sentiu que as pálpebras pesavam enquanto considerava o efeito dessa brisa na pele nua, a sua, a dela. Imitando os gestos dela, tirou a jaqueta e o colete e observou o resultado. A calça, que havia escolhido com cuidado, modelava os quadris e as coxas dela, mas, inevitavelmente, era muito grande na cintura. Jack separou os dedos e desabotoou. Ele teve que se aproximar mais. O pulso batia com força. Puxou os extremos do cinto para atraíla para si. Como sustentava o cinto com ambas as mãos não podiam abraçá-la, mas ela se apoiou por vontade própria e levantou o rosto para que a beijasse. Enfim! Ela havia sonhado com seus beijos desde o dia do beco, havia sonhado como seriam, havia se perguntado se seria tão angustiante uma segunda vez. A beijou com gentileza, mas com firmeza. Nem sequer usava as mãos, não precisava. Sua boca explorava a dela e sua língua empurrava os lábios até que ela os abriu com um suspiro de rendição. Eve colocou os braços no pescoço e afundou os dedos em seu cabelo moreno. E a beijou lentamente, como se buscasse conhecer algo, saboreando talvez, como ela saboreava nele o café, o frescor do

aipo que acabara de comer e um sabor que tinha que ser só dele. Jack. Louis quase nunca a havia beijado assim, tomando o tempo, acariciando. Quase dava a impressão que para Jack aquilo fora suficiente, um fim em si mesmo, não uma parte apressada para consumação. Talvez ela pudesse ser mais ativa. Entrelaçou sua língua com a dele e a intensidade da experiência quase lhe deu um susto. Ele soltou o cinto e a abraçou para apertá-la intimamente contra a dureza de seu sexo. Eve se aproximou mais e apertou-se contra ele, esfregando-se como um gato que ansiava carícias. Jack afastou a boca e começou a lamber e morder seu pescoço, a jogou para trás sobre seu forte braço de modo que ela se arqueou como um arco nas mãos de um arqueiro e ele seguiu a curva de seu pescoço até os seios. — É muito bonita. Sua voz estava rouca. Foi descendo por ela e começou a abrir os botões da camisa. — É como ir afastando pétalas de uma rosa para encontrar o centro fragrante e dourado. Quando abriu a camisa, não teve intenção de acariciá-la, se limitou a olhá-la com a mão relaxada em seu tórax. A intensidade de seu olhar minguou a confiança dela. O que olhava? O que via? Certamente não poderia estar à altura de suas amantes, que não pensavam em outra coisa que no modo de fazer seus corpos jovens e seus rostos lisos atraentes para os homens. Sua certeza vacilou. — O que acontece? — ele notou a mudança no mesmo momento e subiu a mão para acariciar a sobrancelha— Está com frio? — Não. Jack, eu já não sou uma garota... — Não — Assentiu ele. — Já vejo. — Estou mais perto dos trinta que dos vinte. Tenho um filho... Ele pôs a mão nos lábios e puxou ela até que estivessem sentados nas mantas. Acariciou os seios contra outra mão e brincou com um mamilo e depois com o outro até que ela gemeu contra sua mão. — É uma mulher, Eve — disse com voz rouca— Uma mulher linda e sensual. Eu sou um homem e o que quero... o que preciso, é de uma mulher. Não uma garota nem uma mulher que queira parecer uma garota. Uma mulher de verdade. Você.

Ela acreditava nele, mas não podia responder por que agora beijava seus seios, chupou seus mamilos duros até que ela acreditou que ia chegar ao orgasmo só com isso. Cravou os dedos na camisa dele, sentiu romper o tecido fino e a rasgou mais com atrevimento até que sentiu a pele de suas costas debaixo dos dedos. Jack a deitou, desabotoou a calça e a beijou no quadril, arrastando a calcinha com ela. Quando chegou as botas, lançou uma maldição e virou de joelhos para tirá-las. Continuou sentado e tirou as suas com a mesma força. Quando ela se virou, havia terminado de ficar nua. Olhou seu corpo e ela olhou nos seus olhos, esperando. Em seu olhar havia desejo, calor... e algo tão frágil e tão terno que a deixou de ar. Aquele homem forte, aquele aventureiro, sentia isso por ela. Por ela! — Jack — sussurrou— Faça amor comigo. — Sim — respondeu— Eve... As mãos dela deslizaram para a calça dele. Abaixou com a roupa íntima, liberando seu membro excitado. — Oh, oh! Devia sentir medo. Quanto tempo fazia que seu corpo não recebia a um homem? Seria como voltar a perder outra vez a virgindade? Não importava. Só sabia que queria aquele homem magnífico dentro, unindo-se com ela. Deixou de pensar quando Jack inclinou-se sobre ela, afastou as pernas com o joelho e deslizou os dedos entre ambos para acariciá-la intimamente. — Oh, que doce, que mel! Quando a penetrou com maestria, Eve abraçou a cintura com as pernas e o apertou com força, tão unido a ela que podia sentir seus ossos pélvicos juntos. Enchia-a, completando-a e quando começou suas investidas, ela puxou a cabeça dele para si. Os dois desejavam desesperadamente isso e nenhum tinha interesse em frear o ritmo de sua paixão. Ela sentia ficar mais intenso o ardor dele, empurrando-a para o êxtase, e ela só soube que gritou quando chegou ao clímax e que o som se misturou com o grito dele quando deixou seu corpo. E logo tudo foi silêncio. A lua estava alta no céu quando finalmente se separaram e deitaram-se um ao lado do outro com os dedos entrelaçados, banhados pela luz prateada. Eve estava maravilhada. Não sabia que o ato sexual podia ser tão intenso, tão terno, tão feroz. Era como se houvesse encontrado

seu contraponto. Mal havia falado: alguma palavra solta, respingos de prazer, múrmuros de gosto... Mas ele sabia como levá-la ao êxtase uma e outra vez e o instinto havia guiado as mãos e a boca dela para fazer o mesmo com ele. — Jack... —Sim? —Só Jack. Ele soltou uma risada e ficou sentado. Passou a mão pelo corpo dela. —Tem frio? Sem esperar resposta, levantou-se e começou a fazer fogo. Eve encontrou a camisa e a pôs, mas não havia abotoado. Com o calor da noite e o brilho do fogo, não precisava de nada mais. Abraçou os joelhos e ficou sentada olhando Jack. A luz da lua e o fogo pareciam um homem único... Nu, natural, lindo. Desejou fervorosamente saber desenhar para capturá-lo tal e como era nesse momento. Ele voltou e deitou-se de costas com graça relaxada e inconsciente de um gato grande. Eve ficou sobre os cotovelos para olhá-lo. Apoiou a cabeça em uma mão e passou a outra por seu torso. —O que está fazendo? — Ele perguntou. —Explorando. — Ela desceu os dedos pela linha de penugem abaixo de seu umbigo e continuou descendo pela confusão de cachos escuros. —Aqui não há nada exceto um órgão masculino descansando — Jack parecia divertido enquanto ela o acariciava — E se espera arrastar-me para mais atividade, advirto-a que pode demorar um momento. —Não, não é isto — Eve assegurou com uma risada de satisfação — É que nunca antes pude fazer isto. Já lhe disse que estou explorando. —O que? — Jack ficou sobre os cotovelos e olhou a mão dela em seus testículos. —Isto. Louis sempre ia da minha cama quando terminávamos de fazer amor. Nunca pude examinar um homem nu desse modo, tão próxima. Teu corpo é fascinante — Disse séria. Jogou-se para trás e soprou como uma experiência, intrigada pelo modo em que se contraia a pele dele — Tudo isso é muito sensível, verdade? —Muito — Ele respondeu enquanto ela o acariciava com o dorso de uma unha. — Porque seu marido saia assim?

—Não sei — Eve pensou e se deu conta que nunca antes o havia encontrado. Mas, por outra parte, antes não tinha bases para a comparação — Acredito que talvez considerasse um sinal de debilidade estar nu e vulnerável, e com o pênis mole. Louis sempre queria estar desenfreado, como o leão do escudo de Maubourg, mas eu acredito que é mais mostra de força poder ter confiança como nós — Inclinou-se e beijou impulsivamente o pênis semi-escondido dele. —Vem aqui — Jack sentou-se, a abraçou e deitou com ela ao seu lado — Tem que haver confiança para que duas pessoas façam o que acabamos de fazer. Temos feito amor juntos. Para mim também é novo tudo isso. —Eu sei — Disse adormecida. — Eu também senti: contraponto. —Música, sim. — Eve o ouviu dizer antes de adormecer abraçada com ele. Eve despertou com as mãos dele em seus seios e seu estômago. Adormecida, com os olhos fechados contra a luz do dia, encolheu-se contra o corpo duro que tinha ao lado. —Bom dia — Sussurrou Jack no ouvido dela. Entrou nela com um movimento lento e Eve sobressaltando-se e movendo-se para recebê-lo, relaxou e desfrutou dele movendo-se lentamente em seu interior enquanto a acariciava sem nenhuma presa, concentrado só em dar prazer. Era uma benção, mas ela não podia tocá-lo nem beijá-lo. Exceto de um modo. Apertou os músculos em torno do seu pênis e brincou com o efeito que isso tinha nela e a julgar pelo sobressalto que ele soltou, tinha também em Jack. Era uma benção, um ato lento e sensual. Eve não soube quanto tempo ficaram assim juntos, só que, quando chegou ao clímax, afundaram completamente na sensação que a fazia tremer de prazer em seus braços. Deve ter adormecido outra vez, pois quando abriu os olhos, estava só nos panos, havia água esquentando no fogo e Jack se lavava rio com a água até os joelhos. Eve levantou-se e meteu-se descalça entre os arbustos. Quando virou, Jack clareava-se pelo método de jogar-se na água. Levantou-se e sacudiu-se como um cachorro. —Está fria. Vem — Disse. Alguma vez se acostumaria a olhá-lo? Acostumaria com seu aspecto e o efeito sobre ela? Não eram só as linhas de seu rosto nem o quanto tão lindo era todo seu corpo. O que era tão atraente era que não parecia consciente dessas coisas. E que a enchia de admiração

que um homem tão contido e autodisciplinado, abaixasse tanto a guarda dela. — Mas salte você antes ou voltaremos a... distrair-nos — Eve apertou a camisa com firmeza ao redor de seu corpo. —De acordo — Ele chapinhou até a orelha e se deteve quando chegou ao seu lado — Eu poderia me distrair facilmente. E se não voltassem nunca? E se ficassem para sempre ali? Eve deixou a camisa para um lado e entrou no rio. A água fria bastou para devolvê-la a realidade... perigo, dever e um filho que precisava de sua mãe.

CAPÍTULO 14 Cavalgaram de novo todo o dia, mas com uma parada ao meiodia para seu encontro com Henry em uma pousada do povoado vinheiro de Auxey Duresse, ao sul de Beaune. Jack olhou Eve em certo momento. Ela parecia cômoda na sela, não parecia afetada nem pela aventura no rio em que fizeram amor. A recordação de seu corpo respondendo a ele bastava para enchê-lo novamente de desejo. De vez em quando, impulsionada por algum pensamento, ela girava na sela com os olhos felizes e cálidos e sorria. Ninguém o havia olhado assim e sentiu-se imensamente bajulado quando ela estendeu a mão e o tocou no joelho como se o mero fato de saber que estava ali lhe desse prazer. Henry já estava na pousada quando chegaram, sentado em um banco baixo em uma árvore com um copo na mesa diante dele e uma das criadas flertando com ele. —Lá vêm eles. Trás a comida que pedi para trazer. —Encontrou uma admiradora? — Perguntou Jack. Desceu de seu cavalo e olhou Eve. Não queria ajudá-la e chamar assim a atenção sobre seu sexo, mas não precisou. Ela desmontou com facilidade, estendeu as rédeas e foi sentar ao lado de Henry. O criado sorriu. —Bom dia, senhora. —Está bem? Nenhuma aventura pelo caminho? — Olhou Jack perguntar para Eve quando se afastava com os cavalos para o pátio do estábulo. Quando voltou, Eve estava séria, mas a garota que colocava copos e bandejas na mesa lhe fez guardar silêncio até que ficaram a sós. —Em voz baixa e em francês — advertiu —Problemas, Henry? —Acredito que vi o cunhado da senhora. —Antoine? —Eve empalideceu e Jack pôs uma mão na dela. Eve sorriu e soltou-se, provavelmente envergonhada pela mostra de afeto diante do criado. — Nariz comprido e fino? — Perguntou Henry — Cabelo castanho e uniforme de Maubourg com prata suficiente para ser general? —Esse é Antoine — ela assentiu. — Mas de uniforme?

—Com uma tropa montada detrás da sua carruagem, todos de azul claro e prata. —Esse é nosso uniforme, mas estamos na França. Somos um país neutro, não pode trazer tropas aqui desse modo. —Pode sim Maubourg é agora aliado do imperador — assinalou Jack. Apertou a mão quando Eve cravou sua faca na madeira com raiva. Henry sobressaltou-se. Os dois homens olharam o rosto furioso dela com interesse. Jack nunca havia visto perder os estribos desde que entrara no castelo. —Esse bastardo! — gritou. Olhou Jack, que lhe fazia sinais para abaixar a voz — Oh, muito bem, sei que me aborrecer não serve de nada. Mas esse maníaco não tem direito de nos levar a uma guerra com meia Europa, Philippe é o único que pode fazer isso. Quantos homens estavam com ele? —Uns cinquenta — Calculou Henry — É difícil saber, pois levavam muitas pessoas. —Desculpa — Eve ficou em pé — Não posso comer quando estou tão furiosa. Voltarei em um momento. Olharam-na caminhar para o pequeno rio que desaparecia além do moinho. —Havia montarias registrando todos os veículos que iam para o norte — Acrescentou Henry, arrancando um pedaço de pão e untando-o de patê. Aproximam-se de carruagem, recrutam e marcham. Prova isto, patrão — empurrou o patê para Jack, que começou a untá-lo também no pão enquanto olhava Eve, que contemplava a água de pé com as mãos nos bolsos da calça. —Não fez caso ao que disse a você na pousada, verdade? — perguntou Henry sombrio. — Não deveria fazê-lo patrão, apesar de que seja uma mulher encantadora e muito sozinha. Olhe-a, está resplandecente, mas o que vai acontecer quando chegarem à Inglaterra? —Maldita seja tua língua! — Jack tomou o copo de cerveja e bebeu a metade — É claro que resplandece... está furiosa. —Não, antes disso. O que vi quando havia chegado. Estava suave e resplandecente. E tem olhado no espelho ultimamente? —Se me disser que estou suave e resplandecente, arranco teus pés a tiras — advertiu Jack. —Está mais feliz que nunca desde que era uma criança — respondeu Henry com franqueza. — Só espero que possa continuar assim. Não queremos que acabe tudo em lágrimas.

—Maldito seja! Estamos em plena missão, não há tempo para besteiras românticas. Mas não pôde ignorar as palavras de seu insolente criado. Assim era o que sentia: felicidade. Uma sensação estranha que parecia lembrar momentos há muito tempo atrás. Diferente da satisfação, relaxamento e contento. Algo mais profundo. Algo que ameaçava deixá-lo débil. A prova era que estava ali sentado comendo patê e ouvindo seu criado dando sermão sobre como devia comportar-se com a mulher que... Seus pensamentos se interromperam. Não. Não podia entrar nisso. Não pensaria em Eve mais além do prazer de fazer amor com ela até sua volta para Inglaterra. Não analisaria aquela satisfação estranha, quente e profunda e, desde agora, não poderia especular sobre o que sentiria quando a deixasse em Londres. —Jack? —Ela estava ao seu lado com um sorriso nos lábios. — Tenho amaldiçoado a uma pobre truta e lançado pedra em um nenúfar inofensivo e já me sinto melhor. —Alegro-me — Ele se afastou para deixar um lugar no banco — Coma, a comida está boa. Eve começou a comer com bom apetite. O costume de brincar de modo elegante com a comida havia passado e agora era uma jovem sã que fazia muito exercício ao ar fresco. Jack sorriu ao lembrar um tipo de exercício que havia contribuído para esse apetite e ficou sério antes que Henry percebesse. —A cerveja também está boa — disse. —Sim — Eve tomou um gole —Vamos seguir com a carruagem ou com os cavalos?— Perguntou. —Com os cavalos — Respondeu Jack. Sua intenção havia sido seguir na carruagem, mas o encontro de Henry havia feito mudar de ideia. O príncipe Antoine podia levar essas tropas para Paris como uma mostra visível de sua lealdade ao imperador ou podia tentar montar controles nos caminhos mais para o norte. Ou ambas as coisas. —Henry nos encontrará no ponto de encontro perto da fronteira. Se não chegarmos ali antes do dia dezessete ou se entrar problemas, segue até Bruxelas. Tem provisão para nós? —Sim, suficientes para uma semana se comprar algumas coisas frescas nas aldeias. Ou chegaram com sobra sempre que não tenha que dar grandes voltas. Tem bacon, queijo duro, salame, café e açúcar. Soube que quereria seguir os caminhos secundários quando falasse sobre Antoine e seu exército. Que fará se chover?

—Procurarei uma pousada pequena e escondida — a ideia de fazer amor com Eve em uma cama de penas de ganso era muito atraente. Ainda que outra noite debaixo das estrelas não era menos. Olhou nos seus olhos e adivinhou que ela pensava no mesmo. A jovem ruborizou-se e aproximou a mão do queijo. Henry pôs os olhos em branco. Eve estava sentada observando a carruagem afastar-se pelo caminho poeirento de Beaune. —Ele sabe sobre nós? Ele faz o que você diz? —Jack revisava a carga do cavalo e ela se divertiu que tinha se ruborizado. —É claro que não. Eu jamais falaria disso com ninguém. Mas o diabo insolente me conhece desde muito tempo. Disse que eu estou feliz e que você resplandece. —Oh! — Eve se surpreendeu muito com essa faceta romântica de Henry. Aproximou seu cavalo de Jack — Isso é muito bonito. Mas suponho que tenha sorrido. —Sim. Mas não se preocupe, ele jamais dirá nada. Eve moveu a cabeça. Não, não imaginava Henry fazendo nada que fosse contra os interesses de seu amo. —Mas não sei se gosto de ser tão transparente, ainda que seja com ele — declarou Jack. Montaram os dois e puseram-se em marcha, com Jack levando as rédeas do animal de carga. —Eu não acredito também, mas parece que me equivocava. É uma má influencia para mim, Eve. —Sim? — Perguntou ela. Logo sentiu um vazio interior. Jack tinha uma concentração inevitável. Ela o alterava? Distraia? O fazia mais frágil? Era isso o que preocupava Henry? Cavalgou em silêncio, mortificada, ocupada em examinar sua consciência. Jack era um profissional. Ainda que se sentisse atraído por ela, havia controlado essa atração. Ela que havia atravessado sua armadura. Lembrou-se que ele podia ter se enganado. Ou talvez ela não fizesse nenhum dano e aquele era um exagero. Que ela havia se apaixonado não queria dizer que ele... Eve engoliu saliva com força. Havia se apaixonado? Pensava que simplesmente queria consolo... o consolo físico e o alívio emocional de estar perto de alguém que parecia querer ela. Mas ela o amava. E era um amor impossível. Ela era a grande duquesa e ele

um mensageiro do rei, um aventureiro, ainda que fosse o filho mais jovem de uma boa família, como ela supunha que deveria ser. Não podia falar de seu amor. Olhou os ombros largos e relaxados de Jack. Mas não era sua beleza física o que fazia que ela se sentisse assim, ainda que houvesse sido uma atração poderosa a princípio. Amava o homem que havia debaixo desse exterior firme e competente. E não podia deixar que ele descobrisse. Ela havia dito que aquilo só podia durar até que chegassem a Inglaterra e ele havia se mostrado de acordo. Agora sabia que devia persuadi-lo de outra coisa sem trair seus sentimentos por ele. Não podia perdê-lo tão logo, seria cruel demais. —Eve? — Ele virou-se e ela se deu conta de que havia ficado parada olhando o vazio. — Está bem? —Sim, sim. Perdão, é que estava pensando... Na Inglaterra. Jack se aproximou e tocou sua bochecha um instante. —Você perdeu o seu filho, eu sei. Tentarei lavá-la antes possível para ele. Vamos, temos que passar em Beaune antes de parar de novo. Eve sentiu-se culpada. Frederic. Não havia pensado na reação de seu filho. Nunca devia saber que sua mãe tinha um amante e não podia esperar guardar segredo na Inglaterra, onde estaria baixo do escrutínio da corte e da sociedade. Se Henry pudesse vê-lo, outros veriam também. Havia dito para Jack que jamais se arrependeria de que se tornaram amantes e não podia deixar que descobrisse o que sentia, como havia quebrado sua palavra de não misturar o coração com aquilo. Disse para si mesma com força que havia pessoas que jamais conseguiam consumar seu amor. Ela havia sido afortunada, pois podia tê-lo por um tempo. E esse tempo tinha que ser suficiente. Era preciso. Quatro dias depois, cruzaram a fronteiram ao deixar para trás o rio Sambre pela ponte de Thuin. Os dias eram cálidos, as noites secas e, no entanto não haviam se refugiado em uma pousada. Eve conseguia não pensar frequentemente em seu amor por Jack, dedicar-se a sentir em vez de dar voltas na cabeça e ocultar-se assim o que sentia por ele. Ou ao menos tentava. — O que acontece querida? — ele perguntava às vezes, olhando-a nos olhos. —Diz-me o que é que te faz mal. —Nada — Respondia ela sempre — Só as preocupações — ficava nas pontas dos pés e o beijava até que ele esquecia a expressão que a havia traído. Até a próxima vez.

O dia quatorze começou a ouvir canhonaços. A princípio eram tão longe e irregulares que ela os confundiu com treinos, mas Jack moveu a cabeça. —Estão brigando; escaramuças fronteiriças supõem. Agora temos que ir com muito cuidado. Esquivar de grupos pequenos de tropas francesas se converteu em uma rotina. Jack conhecia os uniformes e tomava notas quando os viam. Às vezes eram vistos, mas Jack punha os cavalos ao passo e não fazia nada para despertar suspeitas de que fossem outra coisa que transeuntes da zona. Ninguém se aproximou para interrogá-los. Fazer amor a luz das estrelas no bosque com o uivo das corujas de fundo ou em prados fofos se converteu em algo completamente natural. Nunca haviam feito amor debaixo de um teto, nem em uma cama e ela não acreditava que perdia nada, pelo que foi uma surpresa quando Jack ficou observando o céu uma tarde. —Vai chover — Disse. Tirou o livro do bolso e estudou um de seus meticulosos mapas. —Sim? — Eve olhou ao seu redor, confusa — Não sou especialista em tempo, mas para mim parece que hoje está igual à ontem. —Não. Vai chover — Jack tomou as rédeas e meteu os cabelos em uma vereda do bosque. Adiante, mais além dos campos, sobressaia o campanário de uma igreja — Ou haverá muito orvalho esta manhã. Ou uma chuva de raios. —Ou uma praga de gafanhotos? — perguntou Eve, que começava a ver aonde iam com aquilo. — Procura uma desculpa para ir a uma pousada. Porque não diz? Acredita que vou acusá-lo de ser brando porque quer banhar em uma banheira e não no rio frio? —Acredito que pode te assustar as coisas que gostaria de fazer quando tiver você sozinha no melhor quarto do “Pescado de ouro” com uma grande cama de pena de ganso — Sorriu Jack. —Ah, sim? — Eve tentou adotar uma expressão severa, mas não conseguiu — Tem uma imaginação muito depravada, senhor Ryder. —Deixa-me escandalizado que entenda dessas coisas — brincou ele —Decida-se o que quererá fazer em uma grande cama de penas? —Ohhh! — Eve fez um careta provocante — Gostaria de tirar a roupa, muito lentamente. Logo pentearia meu cabelo, banharia em água quente com sabão de cheiro, sairia jorrando... — Os olhos de Jack começaram a nublar-se de um modo satisfatório — Secar-me-ia, deitar-me-ia na cama... e cairia adormecida.

Começou a rir ao ver a expressão dele e seguiu a vereda. Este se curvava a uns cinquenta pés acima do caminho principal que cruzava o campo entre eles e o povoado. O instinto a fez olhar para a esquerda. Ali levantava pó por cima das árvores que cobriam a ladeira. Eve tirou as rédeas e levantou a mão para deter Jack, que se aproximava rapidamente. Voltaram ao refúgio de árvores e esperaram. —Soldados — sussurrou Jack. — Soldados franceses a caminho de Charleroi. São muitos. Isto é diferente ao que temos visto até agora. Já suspeitava que a sorte não fosse durar muito. —Corremos perigo com eles? — perguntou Eve; tentou interpretar os uniformes, mas seu conhecimento do tema não era suficiente. —Não, provavelmente não. Alguns ginetes não têm por que se interessar, sempre que nos limitemos a cruzar com ele e não dá impressão de que os vamos seguindo. Observou a longa coluna da infantaria com olhos entrecerrados. —Wellington está reunindo o exército anglo-alemão perto de Bruxelas, mas nossos agentes até pouco não sabiam que a maior parte das tropas estavam para ambos os lados e se mostravam muito vagos sobre o lugar ao que se dirigia Bonaparte. Isso daqui em diante é Fontaine I’Eveque. Amanhã iremos para noroeste e nos dirigiremos para Nivelles. —Não havia me dito nada disso — acusou Eve — E eu estava tão concentrada em nossa aventura que não tinha pensado em nada mais. É óbvio que Bonaparte não vai ficar em Paris limitando-se a enviar partidas à fronteira e também é óbvio que os aliados não vão permitir fazer isso. —Não — Jack escrutinava a planície. — Os canhões estão longe ao norte e ao leste, mas agora são quase contínuos. Acredito que há uma batalha em marcha. —E se vamos para Bruxelas nós vamos nos meter no meio dela. —Talvez. Se não tivermos cuidado. — Jack — perguntou Eve com uma calma que estava longe de sentir —Não está falando disso para não me preocupar? —Sim — Ele reconheceu — Minhas ordens eram levá-la para Bruxelas e parecia mais rápido e seguro que arriscarmos uma viagem por mar. Certamente segue sendo o melhor. Só temos que evitar nos metermos por erro no quartel general de Napoleão ou em terra de ninguém onde entre as duas frentes.

Cravou os calcanhares e lançou os cavalos a trote para o caminho principal. —Amanhã cavalgaremos para marchas forçadas até Bruxelas e esquivaremos dos problemas que encontraremos. Deixaremos a carga e trocaremos com os três cavalos; assim estarão mais descansados e levaremos um dia. —Agora avançamos rápido demais? — perguntou Eve, sentindose culpada — Eu tenho o atrasado? —Não — Jack freou sua montaria. — Temos feito bem em ir a cavalo... o encontro de Henry com Antoine assim o prova. E não me parecia que tivesse sentido forçar os cavalos a uma velocidade que implicaria ter que ir trocando-os com ao longo da viagem. Assim chamaríamos atenção e não me ordenaram que a levasse a Inglaterra esgotada. Podemos estar em Bruxelas amanhã, ainda chegaremos depois de escurecer. —Ou seja, esta noite é nossa última noite no caminho. A última noite a sós com Jack. Em Bruxelas seria diferente, pois ali voltaria a ser a grande duquesa. Ainda que Jack seguisse sendo sua escolta, não poderia ser nada mais. Ele havia pensado nisso? Provavelmente não. Tinha uma missão e as considerações pessoais ocupariam sempre um segundo plano com ele. —Que data é hoje? — perguntou Eve, que queria fixar aquela noite para sempre na memória. —Dezesseis de Junho. Olha, aqui está a pousada. —E minha roupa? — Perguntou Eve. — Não posso enganar ninguém de perto. Jack não parecia preocupado por isso. —Falarei francamente com o pousadeiro e todos os que te olhem e diga que não gosto que minha esposa monte pelo campo com tantas tropas por aqui. Por suposto, se não tivermos pressa por chegar ao leito doente de sua avo em Celles, não faríamos isto, mas você tem insistido e aqui estamos. Eve assentiu. Era uma boa tática afrontar o tema e não levantar suspeitas tentando ocultar que era mulher. Jack esfregou o queixo como se antecipasse que iria se barbear com água quente de sobra. —Comeremos um grande jantar para celebrar nossa última noite em solo francês. Peço champanhe para que possamos brindar pela confusão de nossos inimigos? —Claro — disse Eve sorrindo. Pela confusão de seus inimigos e pela última noite nos braços de Jack.

CAPÍTULO 15 —Pela vitória — disse Jack em francês, tocando com sua taça a borda da de Eve. —Pela vitória — repetiu ela. No Golden Fish não havia sala privada, mas uma sala de vigas baixas com mesas. O nível de ruído dos demais comensais era o bastante alto para que eles pudessem falar com voz normal sem medo de serem ouvidos, mas o faziam em francês para chamar menos atenção. Fora continuava o ruído de canhonaços longe. Dentro todos fingiam não se dar conta. No entanto, havia uma excitação febril no ambiente, uma espécie de rumor. Eve perguntou-se se aquela gente queria de verdade que voltasse seu imperador. Onde estavam as tropas de Maubourg? Seguindo Antoine na batalha ou marchando para o norte sem correr perigo? Estavam convencidos de se unirem a causa imperial ou estavam com ele só por obediência? Se estivesse na carruagem quando a pararam, poderia ter convencido de que voltasse ao ducado com suas famílias? Eve suspirou. Não tinha sentido pensar no que poderia haver sido, mas quando chegassem a Bruxelas, haveria o que pudesse conseguir que buscassem esses homens e os tratassem bem. Diante deles havia uma batalha sangrenta, onde morriam homens e eles não podiam fazer nada. Wellington, claro ganharia. Qualquer outra coisa era impensável. —Pela vitória e por nós — acrescentou tocando no doloroso tema como alguém que tem dor moedora e não pode deixar de pensar nisso — Os últimos dias têm sido bons, verdade, Jack? —Sim — ele a olhou por cima da borda da taça e logo tomou um gole — No entanto ainda não terminou. Havia um calor familiar em seu olhar, um calor que fazia com que ela vibrasse por dentro. A antecipação de uma noite passada na grande cama branda conseguia que lhe secasse a boca e era incomodamente consciente da pressão de seus mamilos no colete que restringia. —Uma noite mais — assentiu com rapidez. Uma noite e um dia nos que seriam dele e dela. Um ramalhete a mais de recordações para depois. —E logo Bruxelas e a viagem para Inglaterra.

Jack ficou silencioso quando se aproximou da criada com o pão e um copo de água. Apoiou a mão na dela e apertou com calor. —Frederic ficará louco de alegria quando vê-la. —Ele se lembra de mim — disse ela. —É claro que sim — Jack levou a mão para os lábios e beijou os dedos, ganhou um sorriso sentimental de uma burguesa grossa sentada enfrente com sua família — Diz-me... não com essas palavras, mas pelo modo em que me falou de Maubourg e de você. Não tem dúvidas, os meninos dessa idade não as têm. Sabe que voltará a te ver, sabe que o espera e se sente bastante seguro. É que tem sofrido sabendo que perdeu estes anos de seu crescimento. —Obrigado — Eve piscou para reprimir as lágrimas e apoiou um instante a bochecha na mão levantada dele. Jack sorriu e logo olhou mais além dela e ampliou o sorriso — E se pode saber com quem está flertando? —Detrás de nós há uma dama muito respeitável que é óbvio que pensa que fazemos um bom par. Jack olhou na direção indicada. Eve tinha razão. Na parede havia um espelho antigo, provavelmente um objeto que havia acabado ali procedente de uma das grandes casas do distrito na época do Terror, pois era elegante demais para aquela pousada. O cristal velho era amável e os molduravam como um retrato de amantes com as mãos unidas e as cabeças próximas. Eve, era tão feminina apesar de sua roupa severa de homem, com a trança morena pesada sobre o ombro. Ele só um homem... Jack olhou fixamente. Aquele era ele não poderia ser outro, mas seu reflexo parecia diferente. Mais jovem, mais... completo. O qual era uma besteira. Tinha que ser o efeito do espelho. Mas Henry havia dito que havia mudado e ele sentia-se diferente. Olhou seus olhos no espelho, os olhos de um homem apaixonado. Maldição! Os fechou para ocultar aquela imagem traiçoeira, virou a cabeça com brusquidão e soltou a mão de Eve. Não, aquilo não ia acontecer; ele não ia permitir. Era impossível e aquilo só podia lhe trazer sofrimento. Mas o problema era que sabia que já era tarde. O centro de sua felicidade, a sensação de plenitude que se entrelaçava com o desejo que sentia por Eve, a pontada de dor negra que lhe golpeava a boca do estômago quando pensava em desejá-la... Era a primeira vez que sentia tudo isso. Deixou de ouvir a atividade intensa da sala. Havia se apaixonado, a única coisa que havia jurado que faria nunca. E havia

se apaixonado pela mulher mais inalcançável que poderia haver escolhido depois das princesas reais. —Jack? O que acontece? — Eve o olhava com preocupação. —Nada. Nada importante só era um pensamento. O frango está bom, verdade? —É porco — Ela sorriu —A champanhe sempre produz esse efeito? —Não, não é o champanhe. É puro desejo — respondeu Jack. Viu que ela se ruborizava e sorriu. Era tão modesta e reservada! E, no entanto, quando se tocavam, era também desinibida nas carícias. Era como o resto de seu temperamento. Por fora era distante, autoritária, reservada, por dentro era cálida, vulnerável, carinhosa. —Nós levaremos outra garrafa para cima —ele disse —Tenho ideias perversas sobre o que podemos fazer com o conteúdo. Ela arregalou os olhos. Jack teve que recorrer a seu autocontrole para não dizer-lhe o que sentia ali mesmo. O jantar, a tensão entre eles e o som dos canhonaços, que se tornavam mais débeis e menos frequente a medida que avançava a escuridão, havia se tornado no mundo inteiro. Jack sentia que o abandonava a urgência para ser substituída por uma sensação de antecipação que palpitava em seu corpo com uma intensidade quase orgástica. Essa noite faria amor com Eve e quando o fizesse, seria surpreendente, melhor que todas às vezes anteriores, e, no entanto, isso já não era tudo o que queria. Queria... Não, necessitava observála, ver cada detalhe. Necessitava aprender o modo em que enrugava o nariz quando não gostava do sabor, como sorria quando agradecia a donzela por algo, como mudava a cor dos olhos a luz de velas, como se movia o pequeno sinal da comissura de seu olho esquerdo quando franzia o cenho em um gesto de chateação em resposta a uma palavra brincalhona dele. Foi guardando imagens dela em todos os momentos, o som de sua voz, o de seu riso divertido, a expressão súbita e séria que transformava o seu rosto às vezes e que ele não podia persuadi-la para que explicasse. Guardava e aprendia todas essas expressões como faria com o mapa de um território inimigo ou uns informes importantes para um cliente, armazenando-os para o momento em que isso fosse o único que tivesse dela. O único que pudesse ter jamais.

Eve afastou seu prato com um suspiro de satisfação. Ele serviu os últimos restos da garrafa nas taças e pediu por gestos outra garrafa para a donzela. —Subimos? O quarto já não tinha a banheira nem a água para barbear. O edredom branco que cobria a cama grande de madeira estava afastado em um gesto de convite e no criado mudo e na cômoda, velas ardiam. Um ramalhete de rosas de Junho colocadas no lavatório punha um toque de cor no pálido quarto. —Eve — tentou abraçá-la. —Não —ela levantou a mão para detê-lo —Não, esta noite eu quero fazer amor com você. —E o que é que temos feito até agora? — ele perguntou consciente da excitação que não havia feito senão aumentar toda a noitada em direção desse momento. —Você fez-me amor ou o temos feito junto — ela explicou. — Esta noite quero ser a que dirige. Ele tinha força suficiente para deixá-la marcar o passo? Jack tragou saliva e se deu conta de que queria aquilo. Como não podia falar, assentiu com a cabeça. —Bem — ela ruborizou-se, mas parecia decidida — Tire a roupa —disse. Jack não podia afastar os olhos dela. Tirou a gravata, desabotoou a jaqueta e os deixou cair no chão. Apenas se deu conta de que tirava a camisa ou os sapatos, mas de pronto encontrou-se quase nu, vestido só com a calça. —Tudo — disse ela com voz rouca. Jack estava tão excitado que seus dedos vacilaram um momento nos botões da calça; o desceu e sentiu alívio quando a ereção ficou livre de restrições. Ouviu que Eve dava um suspiro. —Tem-me muito excitado — confessou. —Não se desculpe — ela murmurou —Seu olhar intenso fez crescer ainda mais o membro dele, se aquilo fosse possível — Deitese, por favor. Jack fez o que ordenou. Aquilo era uma experiência nova. O que ela pensava em fazer? O que fez foi passar a torturá-lo tirando lentamente a roupa com intenção clara de enlouquecê-lo. Tirou a paletó e a jaqueta com muito cuidado e os colocou no respaldo de uma cadeira enquanto ele admirava a pressão da calça em suas nádegas e a longitude esbelta das pernas.

Ela tirou as botas com lentidão e continuou com a gravata. Jogou ao lado da cama desatando-a, moveu a cabeça com reprovação quando ele fez movimento de abraçá-la e só seguiu tirando a roupa quando ele deitou-se outra vez. Utilizou a gravata para traçar uma linha pelo corpo dele, distraindo-se um momento nos mamilos e descendo depois para o entre perna. —Tem piedade — ele tentou agarrar a peça e ela a afastou. Jack combateu o impulso de acariciar-se ele com a mão para buscar alívio para aquele tormento. Eve começou a desabotoar a camisa; virou as costas para sair e Jack olhou com os punhos apertados na cama quando o cinturão de couro caiu no chão e ela desceu a calça pelos quadris arrastando com ela o calção. Ali de pé era uma Vênus, branca, suave e deliciosa. Mas não era uma estátua de mármore, senão uma fêmea cálida. Como havia aprendido a ser tão provocativa, tão enganadora? Intuía que ela não havia sido assim com seu marido, que Eve fazia aquilo por e para ele. Incapaz de suportar mais tempo o desejo, levou os dedos a ereção que o atormentava. —Não — ela sussurrou. Aproximou-se para afastar a mão — Não. O proíbo. Sua pesada trança caiu para frente como um pêndulo que ia perder o controle em qualquer momento e apertou os dentes enquanto Eve desatava a cinta e desfazia a trança até que o cabelo formou uma cortina sedosa entre eles. Eve viu Jack apertar a mandíbula e deu-se conta que estava a ponto de perder o controle. Decidiu que havia que passar a ação. A cama afundou um pouco quando subiu no colchão, se ajoelhou e montou Jack a cavalo, deixando que o cabelo caísse como uma nuvem no peito dele. Jack subiu as mãos para tomar os seios e os mamilos, já sensíveis, endureceram-se com o contato dos dedos. Eve pôs as mãos nos ombros e inclinou-se mais para entregar-se as suas carícias e acariciá-lo por sua vez com o cabelo. Entre as coxas sentia o levantar dos quadris dele, que se esforçavam para subir o bastante para possuí-la. Saiu ao encontro e deu um suspiro quando tocou a ereção. Moveu-se para recebê-lo e suspirou com uma deliciosa sensação de plenitude quando seus corpos se uniram; afundou-se até que já não podia descer mais e ele sustentou totalmente dentro dela. Nunca antes tinha feito aquilo, mas a sensação de poder e controlou quando começou a cavalgá-lo tornou-se totalmente viva.

Subia e descia devagar, até que começou a mover-se com mais rapidez até que ele jogou a cabeça para trás e agarrou os quadris com dedos como de ferros. Tinha o corpo em chamas e sentia que perdia o controle; mal foi consciente de que Jack assumia o controle e dava a volta para ficar por cima. Sabia que ele também estava perto, que se continha para arrastá-la consigo; levantou os quadris para continuar o ritmo e sentiu o êxtase no momento em que ele se soltava, lançando um grito, pendurando um momento rígido em cima dela e se deixava cair de novo para estreitá-la em seu abraço. —O que queria fazer com o champanhe? — perguntou Eve mais tarde contra o ombro dele. As velas já estavam gastas, ele havia subido as mantas sobre seus corpos abraçados e haviam adormecido um momento, ainda que despertassem uns momentos para acariciar a pele do outro ou depositar em sua pele os beijos preguiçosos de amantes que tinha se esgotado sem esgotar o desejo de tocar-se. —Perguntava-me como seria o gosto se lambesse em seu corpo — Jack ficou sobre um cotovelo e a olhou. Ele tinha o cabelo bagunçado e parecia satisfeito, mas em seus olhos havia fogo. —De verdade? —ela perguntou — Isso soa bem. —Isso é o que pensei. Mas é uma lástima desperdiçá-lo quando os dois estão cansados demais para concentrarmos em seu sabor. Levaremos conosco. —A Bruxelas? Mas poderemos...? Onde nos hospedaremos? —Afirmo que, onde quer que seja, seu guarda costas acredita ser necessário passar a noite em teu closet. —Armado até os dentes? — ela foi invadida pela felicidade; aquela não seria sua última noite depois de tudo. —Bom, desde agora, armado — disse Jack com masculina petulância. Abraçando-a — E disposto a dedicar a você toda minha atenção. ***** —Ontem teve uma batalha em Ligny — disse a Eve a caminho dos estábulos. A pousada era um enxame essa manhã, com os criados distraídos e o café da manhã lento. Haviam tomado café no quarto sem deixar-se ver muito, tentando ouvir o que ocorria, mas sem conseguir. Jack havia deixado Eve pagando e ido selar os cavalos

com a esperança de conseguir notícias mais coerentes dos garotos do estábulo. —Ligny — Eve franziu o cenho e tentou situá-lo. Jack abriu um mapa dobrado que levava no bolso. —Aqui —assinalou —E em Quatre Bras, ao noroeste. —Quem tem ganhado? —Napoleão, ao que parece. Welligton retrocedeu para Bruxelas. Quatre Bras é uma cruz de caminhos cruciais — ele acrescentou, dobrando o mapa. Montaram e partiram para o norte com um humor sombrio até que saíram do povoado. Depois Jack desatou os pacotes do cavalo de carga e tirou todo excesso das armas, a água e parte da comida. —Cabe isto nos alforjes? — os abriu e introduziu uma fogaza pequena de pão. —O champanhe? O que faz aqui, Eve? Supunha-se que íamos viajar rápido. —Para esta noite —ela insistiu — Prometeu. —Para esta noite — ele assentiu. Com o terceiro cavalo livre de carga, aumentaram a velocidade, sempre a meio galope, observando constantemente o terreno diante deles. Não viram nada, pois os campesinos seguramente haviam ficado perto de suas casas por medo do que poderiam encontrar-se nos finais da batalha, mas ouviam o fogo esporádico a sua direita. Jack se manteve fora dos caminhos principais. —Estamos ao sul de Nivelles — disse uma vez que se puseram ao passo para descansar os cavalos. Ante eles se estendia um bosque e penetraram nele, agradecendo a sombra. O calor agora era abafado, o que sem dúvida anunciava tormenta. Dobraram um cotovelo e se encontraram com as primeiras tropas que viam esse dia. Uma dezena de homens jogados no solo ou de cócoras ao redor de suas trouxas. Perto haviam cavalos cansados que mal tinham forças para coar e espantar as moscas. Os homens estavam sujos, com vendas e os rotos uniformes desfiguravam os tons azul claro e prata do tecido. —Jack! São as tropas de Maubourg — Eve se adiantou antes de terminar de falar sem fazer caso da ordem de Jack para que voltasse para trás. Havia muitos poucos homens, talvez a metade deles houvesse visto Henry, mas estavam ali, eram seus homens e aqueles ao menos estavam vivos.

Ao ouvir os cascos, levantaram a cabeça e levaram as mãos para as armas. Um homem saiu de trás dos cavalos com uma pistola na mão. O canhão apontava o peito dela quanto se deteve. —Antoine!

CAPÍTULO 16 — Fugindo do ducado com seu amante, minha querida irmã? — Perguntou Antoine. A arma não se mexeu. Eve ouviu atrás de seu cavalo Jack bateu no chão com impaciência quando ele apertou as rédeas. O resto dos homens levantou-se e ficou observando. — Eu sou a Grã-Duquesa Eve de Maubourg— disse ela, sem se importar com Antoine e levantando a sua voz para as tropas ouvisse. —Príncipe Antoine não tem direito de levá-los para a guerra ou para violar a nossa neutralidade. — Essa mulher é uma prostituta, uma traidora, que fugiu com o amante, — disse Antoine. —Tire os cavalos e a tragam para mim aqui. Alguns soldados vieram para frente. — Não! Lembrem-se quem eu sou! Eu sou a mãe do seu grande Duque, e agora a minha maneira de conhecê-lo. Os rostos dos soldados não mostraram nada além de cansaço e estresse. Talvez nem mesmo reconhecer essa mulher vestida como um homem de poucas vezes em que a distância pode ter visto em desfiles. — O que foi Jack? Provavelmente nada, para ver o lugar onde Antoine apontou, havia pouco que poderia fazer sem correr o risco de levar um tiro. Então ela ouviu sua voz, calculada para atingir apenas os seus ouvidos. — Joga no chão. Agora, do lado esquerdo. Ela puxou para o lado com um grito, enquanto manteve-se agarrada a sela o suficiente para parar a queda. Quando chegou ao solo, com o cavalo entre seu corpo e os homens, viu o cavalo de substituição a galope à frente, e dispersou os soldados. Ela ouviu um tiro e, em seguida, Jack chegou ao seu lado, com o grande cavalo negro formando um muro entre Antoine e ela. Será que ele tem uma arma? Eve se agachou e olhou debaixo da barriga dos cavalos. Antoine estava procurando uma arma carregada em um coldre e seu cavalo recuou assustado pelos disparos. Três dos soldados estavam avançando para Jack. Eve pulou em seu cavalo e agarrou seus alforjes com a esperança de que Jack tivesse guardado uma arma ali, mas sua mão encontrou apenas o gargalho da garrafa de champanhe. Ela puxou-o para fora, segurou sua mão e jogou o animal a galope. Os soldados

cercaram o grupo de Jack mantido à distância com uma longa faca e atacou Antoine. Este já estava com a segunda arma na mão e apontou para Jack. Eve jogou as rédeas e balançou a garrafa no ar. Quando seu cavalo colidiu com o príncipe, o champanhe bateu em sua cabeça e Antoine caiu inconsciente debaixo dos cascos. — Jack! — tirou as rédeas de seu cavalo para ver que o preto estava caminhando em sua direção entre o grupo de soldados. — Frente! — Jack bateu com a mão na garupa do cavalo e os dois animais se lançaram a galope. — Agacha-se! Eve se esmagou no pescoço de seu cavalo à espera de ouvir tiros de mosquete, a qualquer momento. Mas nada aconteceu. Jack manteve um galope ziguezagueando entre as árvores até chegar ao outro estremo do bosque. Lá mudou para trote e virou em sua sela para ver se os perseguiam. — Jack! — Eve chamou. — Eu tenho que voltar. Eles são os meus soldados, meus homens. Eu não posso ir. — Pode, e você vai — Sua expressão era implacável. — Philippe pode estar morto. E se for esse o caso, quem decidirá no lugar de Maubourg? Frédéric? Você? Não posso arriscar que Antoine possa convencê-los e não pode arriscar sua vida por um grupo de homens que tomaram o caminho errado. — Não — Protestou ela. Mas ela sabia que ele estava certo. Era seu dever. O fato de Antoine ousara trazer os homens para o norte pelo imperador fez temer que Philippe estivesse realmente morto, que a influência moral da sua posição, embora a doença tivesse desaparecido tenha deixando Antoine livre para fazer o queria. Se alguma coisa acontecesse a ela, quem iria ajudar Frédéric, sozinho em um país estrangeiro, mas era um amigo? — Está ferida? — Jack diminuiu o passo. — Não. Somente atordoada. — Bem, continuamos galopando, porem mais lentamente. Como temos apenas dois cavalos e não podemos manter este ritmo. Nesse momento, o cavalo colocou o pé em um buraco de coelho. Eve caiu na grama sem saber o que tinha acontecido e sem fôlego. Ela sentou no chão e viu que Jack já estava ajoelhado ao seu lado. — Repito a pergunta — Ele sorriu. —Está ferida?

— Não — Ela moveu a cabeça e ele a ajudou levantar-se. O cavalo estava com a cabeça baixa e perna esquerda dianteira pendurada inerte. — Maldição! —Jack foi para a sela, sacou a arma sobre o nariz, rosto e começou a recarregar. —Não olhe. — Certamente não é o nosso dia — Disse Eve tremendo. Ela estava segurando a cintura de Jack em seu cavalo negro, que andou bravamente com sua dupla carga. A estrada era irregular, o que tornava mais difícil para manter o equilíbrio. — Pode apostar que sim. Você poderia tentar comprar um cavalo, mas eu duvido; que vamos encontrar um. Hoje vai ser um longo dia. Eles tinham cavalgado e andavam e voltavam a cavalgar durante mais de três quilômetros, até Jack ter certeza que haviam deixado Nicelles a oeste. — Outros sete quilômetros ou mais ate St. Jean e vamos estar perto o suficiente de Bruxelas para ariscar a estrada principal. A viagem parecia eterna com o cavalo cansado. Eve se apoiou nas costas de Jack e colocou seu rosto em seu ombro. O calor que emanava dele deu-lhe uma sensação de segurança e adormeceu. — Eve, desperta — Jack virou em sua sela — Começou a chover. Temos que procurar abrigo. Ela olhou ao redor, surpresa ao ver que estava muito escuro. O céu estava negro, e pesadas gotas de chuva caiam na estrada poeirenta. — Onde estamos? Jack deslizou e estendeu os braços. Ela parou para ajudar. — Quase em Mont St. Jean que está atrás desta colina, mas eu não vou entrar em uma aldeia no meio de uma tempestade sem ver o que acontece. Pode estar cheia de tropas francesas. Ali há um celeiro. — Celeiro — Era uma palavra muito otimista, porque era mais como um galpão com vazamento, mas Eve não ia reclamar quando chovia no momento. Jack tomou o animal, assumiu a sela e amarrou perto de um feixe de palha. O animal chupou com desconfiança, mas quando Jack puxou um balde de água para fora do poço ele bebeu avidamente. — Eve, venha se deitar e dormir um pouco. Ela veio obediente para onde Jack espalhou o paletó na palha e parou abruptamente, assaltada por lembranças. — Eu lhe matei? — Perguntou, ao dar-se conta do que lhe provocava um frio nó no estômago.

— Eu não sei — Disse Jack com sinceridade que sempre tinha mostrado. Colocou seu alforje para inspecionar por um momento e foi abraçá-la — Ele tentou nos matar — Disse ele. —Qualquer que seja o que você fez foi em legítima defesa. Se você não tivesse corrido para ele, um de nós provavelmente estaria morto agora. Você salvou a minha vida e a sua. — É tio de Frederick — Ela sussurrou — O que eu digo? — Seu tio estava confuso, o que levou algumas tropas para se juntar ao imperador e morreu no campo de batalha. Se Antoine sobreviver, será o perdedor no campo e não estará em posição de fazer acusações sobre duas pessoas que tentaram matar. — Jack acariciou as costas suavemente e a enchia de paz e uma sensação de força. Tranqüilizou-a, jogou a cabeça para trás para ver o rosto dela e pegou uma expressão de ternura que a deixou sem fôlego. Então as palavras desapareceram e seu rosto voltou ao normal, calmo, prático e austero. Mas o brilho de travessura estava ausente de seus olhos cinzentos e em vez disso foi algo parecido com tristeza. — Jack? — Nós dois estamos cansados, — suas pálpebras caíram e escondeu os olhos. —Dorme até que pare de chover. Chove tanto que ninguém vai se dedicar a deslocar tropas agora. — Ok — Ela concordou. Estava cansada demais para tentar descobrir o que havia mudado em Jack. Ele estava lá com ela e no momento nada mais importava. ***** Jack acordou com frio e ficou imóvel com os olhos fechados tentando descobrir o que havia despertado nele. A experiência ensinara-lhe que era melhor observar o seu entorno, antes de revelar que ele estava acordado e tinha uma cicatriz de volta para lembrá-lo. Seu relógio interno lhe disse que era cedo, provavelmente apenas de madrugada. Seu ouvido não detectou nada de incomum. Tinha parado de chover, os pássaros estavam a cantar e o cavalo comendo feno. Perto de seu peito e ouviu a respiração regular da mulher que dormia em seus braços. Enrolado em seus lábios um sorriso involuntário. Não havia nada que poderia ter acendido alarmante. Ele inalou profundamente. Eve: o cheiro de gardênias e uma mulher. Cavalo. Umedeça o solo e pó palha. O cheiro familiar de

bacon. Bacon? Um leve cheiro de presunto frita seu caminho através do ar frio e úmido — Eve — Jack balançou suavemente. — Acorde querida. — O quê? — Sentou-se e escovava os cabelos que tinham escapado de sua trança à noite. Seus olhos se arregalaram. — Alguém está fritando bacon. — Oh, bem. Desjejum— esfregou os olhos e olhou mais uma vez, acordado agora. — O quê? — Fique aqui. Jack levantou-se, descobriu que a faca ainda estava em sua bota e pegou a arma que ele tinha deixado ao seu lado a noite toda. Fora o dia estava úmido e frio. O chão estava molhado, a chuva virou lama argilosa. Jack olhou para o campo ante dele, mas ele estava vazio. Ele transformou o celeiro e até a colina. Abaixo da borda formando a fronteira norte, a terra subiu cerca de cinquenta metros e depois caiu drasticamente. Além do que estabelecem era invisível, mas muitas colunas de fumaça se ergueram. Fogueiras. O vento mudou novamente e levou o cheiro de comida e o som de muitas vozes e comandos. Tropas. — O quê? Francês? —Perguntou Eve ao seu lado. — Eu não sei, não vejo nada. E eu lhe disse para ficar lá. —Eu precisava encontrar um arbusto, então eu tive que sair— disse ela com dignidade. —Será que vamos descobrir quem são eles? Condenando-o a ficar para trás, provavelmente, não ajudaria. — Mantenha-se trás aqui — Jack colocou a arma na mão. —Não usá-la a menos que seja absolutamente necessário ou podemos ter mais de dois exércitos. —Eu posso fazer melhor se eu segui-lo — Disse ela teimosamente, tomando a arma. — Você estará mais segura aqui. Você vai fazer o que eu digo? Por favor? — Eu sei que o seu trabalho para me manter quente e entusiasmada agora, mas não entendo! Alguma coisa mais forte que ele, e Jack a abraçou, ignorando a arma que descansa em suas costelas. — Eu entendo que quase perdi você no rio maldito — Respondeu ele. — Eu entendo que quase perdi você ontem. Não consigo entender você, mulher voluntariosa, independente e mais teimosa do que eu...? Que na época recuperou um pouco de bom senso. Você não consegue entender que você é mais do que um

emprego para mim? — Mais suavizado ele continuou — E se você morrer ou for capturada, vou me punir por isso o resto da minha vida? Eve ofegante abraçou Jack com força e beijou os lábios. — Agora me faça o favor de ficar aqui. — Sim, Jack. A surpresa do seu sussurro quando ela se agachou para descer a encosta. O treinamento e a disciplina mantiveram controlado no que fazer e não no que eles haviam deixado para trás ou o que estava prestes a dizer. Ele caiu no chão, ignorando a lama e veio rastejando até que ele pudesse ver o que estava na encosta abaixo da borda. Uniforme azul escuro cobria o chão abaixo e à direita do caminho que tinha sido deixado na noite anterior. No fundo do vale podia ver uma encruzilhada, além de uma pequena fazenda com casacos vermelhos ao redor. Mais ao longo do cume que escondia conhecia a vila de Mont St. Jean olhou mais casacas roxas. Assim, os franceses estavam entre eles e os aliados do exército e da estrada para Bruxelas. Jack se aproximou um pouco mais. Abaixo e à esquerda tinha a artilharia, com armas apontadas para o aliado de ponta, mas a maioria das tropas foi à direita. De lá, pareciam formigas, centenas de figuras, todos agrupados em torno das fogueiras, outros com os cavalos, armas ou outros que circulam os oficiais. A luz era boa, apesar da nuvem. Porque não havia começado a batalha? Quando ele viu um grupo de cavalos que lutavam para remover o tronco de uma arma presa na lama, ele entendeu o porquê. Bonaparte teve que manobrar sua artilharia e não poderia fazer nessas condições. Quanto tempo leva para secar o chão? Suficiente para que, se fossem rapidamente, poderiam chegar as linhas inimigas antes que o fogo começasse. Jack observou a inclinação do lado esquerdo, afastou-se da borda e voltou rapidamente para o celeiro. Eve encontrou um lugar onde podia ver o campo e estrada. — Eu não vi ninguém — Disse ele. Ela olhou para a roupa enlameada dele, mas não comentou. — Os franceses estão abaixo de nós e os aliados nas colinas em frente e também tem uma fazenda em cativeiro no vale. Se pudermos chegar lá, caminhamos até as linhas para a estrada para Bruxelas.

— Bem — Eve engoliu, mas não mostrou medo, só determinação — O que estamos fazemos? Quinze minutos depois trotou para o oeste, longe dos franceses, com os flancos dos aliados ainda visível nos morros à direita. Eve estava segurando ele determinada a não queixar-se da estrada. Um suspiro de satisfação levou Jack para olhar e viu uma pequena fazenda e um caminho para o vale. — Olha — ele ressaltou — Atravessamos a estrada até lá e seguimos esse caminho para a fazenda que está cercada por tropas aliadas. — É quase um castelo pequeno — Disse Eve apertando os olhos para ver melhor — Eu entendo porque eles querem conquistar os Aliados, desde ali se domina bem o vale abaixo. Jack dirigiu seu cavalo descendo o morro e chegou ao fundo do vale, auxiliado pela floresta. — Desmonte, Eve — Ajudou a descer e, em seguida, estendeu os braços. Venha, vamos para cima, vá à frente. Ela deixou que fizesse confusa, ela se viu sentada em seu colo. Quando o cavalo recomeçou a marcha, ela compreendeu porque ele fez isso. Se houvesse um franco atirador de olho neles, a bala já atingiria as largas costas de Jack e não a sua. — Você tem algo branco que pode agitar agora que estamos próximo? —Ele perguntou. — Só a camisa. — Disse ela. E se você acha que eu vou andar a galope para uma companhia de soldados, quase pelada, você está errado, eles estavam cavalgando quando percebeu o que eles fizeram já era tarde demais para ter medo. — Vilão! —Ela gritou acima do barulho dos cascos. — Queria distrair-me. — Certamente — Ele sorriu. —E deu certo. — Podemos galopar, por favor? — Ela perguntou, tentando não tremer a voz. — Não, eu dou as tropas tempo para ver quem nós somos. — Jack, eu não vou atirar em você. — Nem eu. — Disse ele. Sua voz soou engraçada, quase como se ele gostasse. Os homens eram criaturas estranhas, e o fato de ter sido casada com um, depois de ter dado à luz a outro e ter outro como amante não ajudou em nada para entendê-los. — Olha; viram-nos. — Disse Jack.

Eles se aproximaram das paredes brancas com contrafortes do que parecia ser um grande celeiro que ficava no lado oeste do palácio. Jack não diminuiu seu ritmo enquanto eles se aproximavam da linha de soldados que apontaram suas armas. — Olá! Eve acenou e gritou: — Inglês! Inglês! — Quando o cavalo negro finalmente parou em frente das tropas. — Quem é você? — Questionou o gestor dos guardas pisou na direção deles — Deus do céu! Raven... — Jack Ryder, Evelyn Capitão. Nós nos conhecemos no ano passado no Brook´s, se bem me lembro. — Ryder? Sim, claro, eu esqueci. O que você quer aqui? — O homem parecia disposto a conversar — O nervoso de Eve foi removido. Eu quase podia sentir a respiração do franco atirador, enquanto apontava para as costas de Jack. — Podemos entrar? Escolto uma senhora e eu não quero gastar muito mais tempo sob os olhos dos nossos amigos no morro. — Sim, claro. Há, por aquela porta. Swann irá escoltá-los. Ah, e Ryder, o duque está aqui. — Como se chama? — Eve perguntou, tentando retornar quando eles estreitam a porta para entrarem no celeiro — Raven? É que um apelido? — Um erro, você tem uma memória ruim. Quer saber do Duque? — Você sabe o que? — Nós conversamos — Jack parecia estar se divertindo — Ou, pelo menos podemos dizer que eu estava latindo em algum ponto. Seu acompanhante levou para o outro lado do galpão e de lá para um pátio. Eles estavam realmente em um Château, mas pequeno, e uma quinta de luxo em contrário. Por outra porta, viram um grupo de pilotos. A figura com o chapéu torto e capa preta só poderia ser o grande homem em pessoa. Ele estava cercado por um grupo de oficiais, os quais falaram impacientes. Jack andava para eles e quatro faces viraram para olhar para eles. Eve viu dobradas as sobrancelhas quando ele percebeu que ela era uma mulher. O duque tirou o chapéu. — Senhora. Ao ver que você está indo com este senhor, eu suponho que você não veio para ver um campo de batalha. — Senhora. — Disse Jack. — Eu apresento a Vossa Excelência o duque de Wellington, comandante das forças aliadas.

Eve inclinou o melhor que podia, dada a sua posição. — Excelência; escolto a dama a Inglaterra e eu lamento não ser capaz de apresentá-la adequadamente no momento. O duque descobriu a cabeça e os outros seguiram o exemplo. — Eu presumo que Rav... Ryder leve-os a Bruxelas. — Sim, Excelência. Eu não devo distraí-lo das tarefas que se ocupam. Desculpe-me — Outro erro com o Jack. O que aconteceu lá? — Vamos juntos e vai procurar um cavalo, senhora. Permitamme apresentar-lhe o General barão Von Muffling, e mais Visconde prussiano Dereham, o duque levantou-se ligeiramente nos estribos e os outros oficiais, que eram um pouco mais longe, aproximaram-se educadamente. Tenente Coronel McDonnell. Senhores já têm suas ordens. Temos de defender este lugar a todo custo. Eu confio em você.

CAPÍTULO 17 Com o Duque e o general prussiano cavalgando à frente, atravessamos o pátio e chegamos a uma estrada de fundos, que subiu ao cume. O jovem oficial estava ao seu lado e sorriu alegremente. — Escolheu um dia interessante para visitar-nos, senhora. Eve sorriu e tentou pensar, começando a sentir rasgada, como se tivesse sido espancada com pequenos martelos há horas. Qual foi esse oficial? Ah, sim, Dereham, era visconde e mais velho. — Você deve estar todo molhado e desconfortável depois da noite passada, Major. Dereham encolheu os ombros. — Não consigo pensar em melhores maneiras para se recuperar entre as batalhas, mas duvido que muito em breve não vá pensar em nossos pés molhados. Eve gostava. Com seus cabelos loiros, olhos azuis e expressão de indiferença eram o oposto de Jack, escuro, sério e expressão de um falcão. — Espero que você tenha um bom café da manhã esta manhã. Os franceses estão fritando presunto. — Pão velho e queijo, senhora, molhado com água da chuva. Eu vou dizer aos homens do presunto, ficarão ainda mais enfurecidos com os franceses. — Tenho certeza que vai segui-lo em qualquer lugar com presunto ou sem ele. — Disse Eve com sinceridade. Por baixo daquela fachada alegre, mais como um homem capaz de inspirar lealdade e confiança. — Pare de flertar, — Jack sussurrou em seu ouvido. — Não quero ter que me vencer em um duelo no meio da linha aliada. — Bobagem — Ela sussurrou em seu turno — Não flerto. No momento em que chegou à beira do cume e prendeu a respiração. Antes eles estavam as fileiras das tropas aliadas, molhada, lamacenta, muitos deles com ataduras ou olhar cansado. Passando podia ver alguns rostos, lia-se medo reprimido, determinação e espírito profissional e seu coração se afundou. Quantos vão morrer ali, naquele dia? Os soldados ainda estavam à vista. Alguns deles acenou e gritou alto para o mais elevado. Eve estava prestes a perguntar por que ele enviou tropas ao baixo no vale, havia uma arma. Dereham virou o cavalo e olhou para a estrada onde eles tinham ido embora.

— Por fim, eles estão atacando Hougoumont. O duque tem as tropas lá bastante exaltadas e espero que possa suportar firme — Conduziu seu cavalo — Vamos começar a montar minha senhora. Quanto antes sairmos daqui melhor. No final, quando Jack viu os cavalos fracos e esgotados de sua tropa que eram os únicos disponíveis, desceu de sua montaria e lhe entregou as rédeas. — Ele está cansado, mas eu sei que legitimo. Não deixarei que montes esse bruto — Virou-se para um cavalo gigante cinza — Vamos lá, garotão. Hoje eu estou te fazendo um favor, trazendo-lhe a Bruxelas para um bom estábulo. — Boa sorte — Dereham despediu de Eve batendo a mão no chapéu e estendeu a mão para Jack. Talvez nós nos encontrássemos em uma festa, em Bruxelas, amanhã à noite. Eu mereço uma, afinal, eu perdi o baile da duquesa. — Baile? — Perguntou Eve quando eles estavam longe. — A Duquesa de Richmond imagino — Disse Jack. — Bruxelas estava em festa quando passei na cidade. Tinham vindo todos os políticos e suas esposas do Congresso e tiveram piqueniques, festas... tudo. O Baile na véspera de uma batalha não será de todo surpreendente. Os canhões começaram a atirar por trás deles. Eve olhou por cima do ombro, sabendo que estava dando uma última olhada em um episódio histórico. — Venha — Jack colocou o cavalo a um galope — Eu quero você longe de todos os estilhaços. — Sua Alteza Sereníssima, bem-vinda. Um mordomo, uma governanta, um piso de mármore e uma escadaria. Estava de volta ao mundo real do dever de estado, e da solidão. Eve sorriu, endireitou a coluna, disse que tinha a dizer e procurou alguma expressão no rosto de Jack. Não encontrou nenhuma. Manteve-se meia dúzia de passos para a esquerda com o chapéu na mão e esperou por ela após a cerimônia de boas vindas de acolhimento. — Sua Alteza Sereníssima quer ir para seus quartos? — Eve voltou sua atenção para o Sr. Catterick, um rico banqueiro que aparentemente fazia parte da rede, os agentes e casas de saúde que Jack e seus chefes mantidos durante todo o continente.

Só então o Sr. Catterick estava tentando fingir que a GrãDuquesa estava no saguão não estava vestida como um homem e enlameada. — Obrigada, senhor — Respondeu Eve para Catterick com um sorriso, o sorriso aumentou quando viu Henry deixar a porta na parte de trás da sala — Henry, você está bem. Você tinha me preocupado. — Sim, eu estou vivo e bem, obrigado, minha senhora, e muito melhor agora que eu vejo aqui o patrão e a senhora. Você sabia que existe uma batalha ali? — Obrigado Henry — Disse Jack — Já nos demos conta. As bolsas de sua alteza estão em seu quarto? — Sim — O servo levantou uma sobrancelha ao ouvir o tom de voz, mas entendeu o recado e se retirou para um lado. — Subirei agora — Disse Eve — A empregada estava ao lado dele e apontou para as escadas. — Obrigado, minha senhora. — Obrigada, Alteza Sereníssima. — Com a sua senhora é suficiente. — Estas há muito tempo em Bruxelas? Eve conversou amigavelmente com a mulher até que ela chegou ao seu quarto, uma espaçosa e ornamentada que foi sem dúvida a melhor da casa e onde inúmeras criadas desfaziam a bagagem e uma banheira de água que poderia ser vista através do biombo elaborado. Eve quase jogou todos, mas se absteve. Era uma Grã-Duquesa e tinha que comportar-se como tal e tentar sonhar com que tinham sido os últimos dias. Deitada na banheira tomando chocolate quente enquanto as empregadas cuidavam das toalhas e sabão, esfregando suas costas e pediu vestidos e meias, assumiu um contraste tão grande como o que havia acontecido naquela manhã que teria sido fácil de ser convencida de que teve uma febre e tinha acabado de acordar. — Apenas parece ser um vestido adequado para o dia, senhora. — Disse a Sra. Greaves duvidosa do outro lado do biombo. — Eu acho que perdeu a maior parte das bagagens. O vestido era um que eu tinha comprado em Grenoble com Jack e não era algo que deveria ter vergonha, até mesmo fácil de cortar e modelar. — Sério? — Ela perguntou languidamente. Não importa, esse vestido servirá para o momento, embora eu lamente que não posso me vestir para o jantar. Estou confiante de que o Sr. Catterick não se ofenda.

Limpa, vestida e reanimada por um agrupamento de frios, Eve desceu fingindo uma calma que estava longe de sentir. O som das armas era constante, a rua vislumbrar cenas na rua vista pela janela era caótico. Os funcionários mal escondem seu entusiasmo com a aproximação dos franceses e não custa nada, imagine os homens que ele tinha visto naquela manhã e oficiais foram gentis o suficiente para lutar por suas vidas na lama, sangue e fumaça do inferno. Eles disseram que Bonaparte tinha vencido em Quatre Bras. Será que vai triunfar também em Mont St. Jean? Onde estava Jack? O mordomo, que se materializou ao seu lado quando ela pisou o chão do vestíbulo, informou que o Sr. Catterick ... ah ... e o Sr. Ryder, estavam no estúdio se preparando para sua viagem à Inglaterra — Sua Alteza Sereníssima queria algo? Sir... ah ... Ryder? — Sim, obrigado. Quero consultar um livro sobre a nobreza Inglês se houver na casa. — Certamente, senhora. Se você quiser entrar na biblioteca, permitindo-lhe sugerir que vai ser confortável quando você pegar o livro. Eve sentou em uma mesa coberta com veludo e esperou até que ele colocou antes o livro de couro vermelho. — Graças. Isso é tudo. Ryder. Rycroft... Riddle... Foi o seu polegar para baixo os nomes. Lá estava ele. Lord Charles Ryder, Conde de Felbrigg, falecido. Casado... Crianças... Ryder senhora Amélia casou com Sua Excelência o Senhor Francisco Edgerton Ravenhurst, terceiro Duque de Allington. — Hum —, sussurrou Eve. Olhe de novo, desta vez por Allington. O atual duque Charles era definitivamente muito velho para ser Jack, e sua mãe era senhora Amélia, a mãe dela tinha morrido há dez anos. Ah, lá estava ele, o ex-duque, casou com sua segunda esposa, Lady Amélia, o duque anterior teve dois filhos mais. John Sebastian Ravenhurst Ryder e Belinda, agora Senhora Cambourne. Eve lembra que Jack foi uma forma familiar de John. Assim era, na verdade Lord Jack... Eve franziu o cenho e tentou pensar que era a forma adequada para lidar com o filho mais novo de um duque Inglês. Ah, sim, o primeiro nome. Senhor Sebastian. E sua esposa seria Lady Sebastian. Só que, é claro, ele não tinha mulher.

E não consumir uma vida de aventuras por falta de dinheiro e, a julgar pela maneira como ele tinha falado com Wellington, com alguma familiaridade. Simplesmente pareceu-me desfrutar em apreciá-la. Seu amante era um Lord. O filho de um duque. Uma posição muito respeitada para um amante. Só que ela não se importava se ele era um Lord ou um trabalhador, ela simplesmente o amava. E não era seu amante. Talvez fosse para a sua cama naquela noite, se pudesse fazer sem o risco de um escândalo, mas não seria o mesmo. Como um fugitivo anônimo havia sido apenas Eve e Jack, apenas com a desaprovação de Henry para lembrá-los o que seria o mundo real. Agora ela deve tomar cuidado como olhava para ele e como se dirigir a ele. Quando estava perto, deve ter cuidado para não tocá-lo sem perceber. Quando ficaram a sós, teria sempre o perigo de que o espiassem ou que os ouvissem. O perigo de algo bonito e sincero torna-se um escândalo e escárnio nas colunas de fofocas da imprensa. Fechou o pesado volume e se levantou. Levou o livro ao seu lugar. Ele tinha que subir alguns degraus para chegar, e quando deixou o volume em seu lugar, ficou onde estava imersa em seus pensamentos. Eles tinham viajado com um propósito e agora eles pararam pelo menos temporariamente, tudo parecia estranho. Não tinha controle, foi apenas uma rainha em um tabuleiro de xadrez movida pelos jogadores invisíveis. Fréderic com quem queria estar com mais do que tudo no mundo, mas não pode deixar de pensar se era isso que ela deveria fazer, seu dever, ou estava em Maubourg. — Com que sonha? — Jack estava tão perto que ela se assustou e quase caiu da escada. Estendeu os braços e parou para apanhá-la no ar e depositá-la no chão. — Eu estava pensando sobre xadrez — Disse ela — Não, na verdade, eu estava pensando que talvez devesse retornar a Maubourg. E se Antoine morreu, ou Philippe está de volta lá? E se o rei Luís descobrir que as nossas tropas cruzaram a fronteira e invadirnos? Os franceses gostam de ter uma desculpa. Jack olhou em seus olhos. — Você está dizendo que quer dar a volta agora e voltar com Bonaparte ainda solto? — Eu acho que talvez devesse. — E seu filho?

Ela balançou a cabeça em desespero — Eu sei o que eu quero estar com ele. Mas é certo? Como posso saber o meu dever? — Ao inferno com o seu dever! — Ele explodiu — Eu não me importo nem tenho o Grão-Ducado de Maubourg, mas sei que o meu dever, e levá-la para a Inglaterra e encontrar-se com uma criança que precisa de sua mãe. — Você acha que não é o que eu quero? — Ela perguntou. — Você acha que eu prefiro entrar na política para estar com Fréderic? — Eu não sei. Você quer isso? — Não! Ah, pelo amor de Deus, você não pode ver que eu amo meu filho mais do que tudo no mundo? Mas Maubourg é sua herança. — Se ele perde sua mãe, é irrecuperável, se alguma coisa acontecer com o ducado, os aliados vão consertá-lo. — Possivelmente... quando se dirigiu a todos as coisas importantes têm prioridade. Ou você encontra um bom uso e estaremos indefesos — Eve ficou furiosa com a falta de compreensão do Jack— Acho que eu deveria voltar. Escrever a Fréderic e dizer-lhe que vou encontrá-lo o mais rapidamente possível. Reprimiu um soluço ao imaginar Fréderic lendo uma nota sua. Esperava que Jack encontrasse uma solução que agradasse a todos, mas ele assistiu em silêncio, com os braços cruzados de modo casual, na esperança que passasse a birra. — Não fique aí assim! — Eve empurrou com um dedo. —Diga que você me levará de volta. — E você não faça isso — Respondeu ele, impassível — Eu não sou seu servo, para me empurrar. Não tome um Maubourg. E se você tentar organizar uma viagem dessas, eu te levarei a Inglaterra à força. Eve viu pela primeira vez toda a sua fúria contra ela. Não era sua voz ou seu tom, que eram silenciosos, mas em seus olhos, pedra dura que lançou faíscas. — Oh! Exasperada, assustada com o que leu em seus olhos, Eve agiu sem pensar. Ela ergueu a mão para esbofeteá-lo, mas ele seguiu o seu próprio com uma facilidade quase insultante e agarrou seu pulso. Ambos olharam tão perto de seu peito, subindo e descendo com a respiração dela com raiva, quase tocou sua camisa. De repente, ele agarrou os pulsos e punido-a com um beijo. Mas foi um beijo de raiva e ela reagiu da mesma maneira. Ela flexionou os dedos e arqueou contra ele, lutando pela liberdade, mas descaradamente provocando uma reação. Ele abriu os

lábios para o ataque dele e ele deslizou sua língua para eles com a arrogância. Tudo sobre ela disse numa mistura de amor, raiva e ansiedade que encheu a barriga deixando-a quase selvagem com o desejo. Eve puxou para baixo os dois pulsos, o que surpreendeu o suficiente para deixar Jack. Ela jogou os braços ao redor de seu pescoço e o beijou com tanta paixão quanto podia seu corpo quente contra o dele e pressionando sua ereção. Girava em um convite flagrante até que foi recompensada por um gemido dele. Ele empurrou-a contra as prateleiras e deslizou seu joelho entre as coxas. E nem interrompeu o beijo, no entanto, ainda furioso, devorando uma acalorada discussão que ameaçava fazer Eve esquecer tudo. Era impossível saber o que teria acontecido se não tivesse havido uma batida na porta. Provavelmente teria estado nua na raiva e teria feito amor no tapete turco na biblioteca. Ela se afastou e colocou as mãos aos cabelos e saias. — Saia — Ele assobiou. — Vá agora — Ele se aproximou da mesa onde ela estava antes dele virar as costas para a porta e disse — Vá em frente. — Senhora, Senhor Catterick quer saber se você vai tomar chá com ele. Era o mordomo. Eve olhou sobre seu ombro. Jack parecia absorvido em uma pasta de mapa colocada sobre um suporte, que escondia sua figura. — Claro que sim. Por favor, diga a ele que irei a um momento. — Sim, senhora. E o Sr. Ryder? — Eu vou sair, tenho coisas para corrigir — Contestou Jack bravo — Volto para o jantar — Olhou para Eve. — Henry permanecera aqui — Era uma advertência para não tentar sair — Certamente, senhor. O mordomo se foi e ela se aproximou de um espelho que estava acima da lareira e viu seu rosto corado. Pelo menos teria uma desculpa, pois aquele dia estava muito quente. Recordou-se que as grandes duquesas não se atiravam ao chão, lagrimas de frustração, mais se controlavam e falavam enquanto tomavam chá. Recolheu suas saias e saiu sem se preocupar em olhar para o trás. Havia previsto que esta aventura iria acabar quebrando seu coração, mas que não seria um jogo nervoso na casa de um comerciante, em Bruxelas.

CAPÍTULO 18 Eve não se lembrava de ter derramado uma lágrima desde o dia em que Louis levara Fréderic a uma escola na Inglaterra, deixando-a chorar em um frenesi na sala de aula, com uma lousa das crianças, apertada em suas mãos. Chorar era uma fraqueza imprópria que havia aprendido com vida. Agora, na cama, quando as criadas foram embora, com uma única vela na mesa de cabeceira, inclinou a cabeça sobre o travesseiro e deixou as lágrimas fluírem por suas bochechas. Da rua vinha o ruído de gargalhadas, aplausos e gritos. A notícia de que tinha chegado a partir das oito e meia os franceses foram derrotados. Rumores iniciais haviam dado lugar a meados de fatos confirmados vindo mensageiros mais e mais. Os prussianos estavam pressionando, duramente no leste e os franceses estavam em retirada com a Velha Guarda lutando ainda para permitir que o imperador fugisse do país. O jantar tinha se tornado uma celebração da especulação, de grande alivio. Ela estava tentando dizer que, independentemente do destino dos seus irmãos, agora Maubourg seria seguro. Alguém precisa explicar ao rei Luís XVIII, porque o seu vizinho tinha invadido com uma pequena tropa de homens, mas o monarca tinha questões mais prementes na época. E no jantar, Jack tinha mostrado distante, formal. Era o que tinha que fazer, é claro, e pensou que poderia quebrar seu coração. Esfregou o rosto, com raiva de si mesma por ser tão fraca. Há muitas coisas para festejar. Jack não lhe deixou opções para fazer o que ela realmente queria. Em poucos dias, veria Frederic, abraçaria seu filho. Teria noticias do Ducado e com sorte da recuperação de Philippe, a Europa estava salva depois de anos de guerra... e ela só conseguia pensar no rosto de Jack, a sensação de sua boca, quente e com sua raiva por ele, que algo mágico tinha ido embora para sempre. O relógio deu uma batida. O ruído nas ruas começou a diminuir, ou talvez as pessoas se mudassem para a Grande Plaza para comemorar. Eve apagou a vela. Tinha viagem no dia seguinte, tinha que dormir. ****** Abriu os olhos na escuridão com a sensação de que as paredes se fechavam sobre ela.

Então, sabia onde estava, no túmulo, na cripta. O terror apoderou-se dela, levantou as mãos e empurrou desesperadamente a rocha inabalável, que não cedeu um milímetro. Derrotada, tremendo de medo, se inclinou para trás, com os cabelos soltos sobre os ombros. No silêncio, quebrado apenas pela respiração áspera, veio o som das batidas das rochas acima. Louis. Louis tinha vindo buscá-la. Em meio ao pânico encontrou outro pensamento e se agarrou a ele. Jack. Não Louis. Jack. Ele teria dito que, havia prometido resgatá-la. A pedra deslizou mais luz entrou e viu os dedos segurando a laje. — Jack! — Ele sorriu dando forças. — Você veio. Sem dizer uma palavra, ergueu-a contra o peito e escondeu o rosto em seu ombro não queria ver nada, enquanto ele carregava pelas sepulturas, passando perto das sepulturas, subindo as escadas ar e liberdade. Eve fechou os olhos com um suspiro e se permitiu conduzir à paz. Quando voltou a abriu os olhos, uma vela acesa em cima da mesa, ela descansou a bochecha contra um pano branco que estava molhado e apegou a um corpo quente e masculino. — Jack? — Virou-se para vê-lo desorientado — Eu estava sonhando. Tive um pesadelo, mas você entrou nele como prometido. Mas era um sonho. O que ele estava fazendo lá? Estava zangado com ela e ainda estava lá, segurando-a em seus braços. Jack olhou para os olhos pesados de sono dela e sentiu uma onda de ternura que submergiu qualquer outro sentimento que o levou para o quarto. Quando ele tinha ido com ela na cama, beijou sua bochecha e sentiu-a salgada. Havia a feito chorar. Ele a amava, nada poderia mudar isso, e ele temia que nunca nada mudaria. Ela franziu a testa e ele beijou-a para endireitá-la. — Não enrugue a testa, eu vim para dizer que estou arrependido. Estava dormindo, então eu fiquei. — Mas... — Sua reputação esta segura. Todo mundo pensa que somos muito protetores contigo, considerando que nós ganhamos a batalha, mas Henry dorme em uma cadeira no corredor e eu, como supões, estou sentado em seu vestíbulo com uma espingarda. Eve riu. — Eu é que deveria pedir desculpas, não você. Eu fui uma idiota por hesitar agora, quando concordei em ir para a Inglaterra e não pretendia fazer com que você fosse contra as suas ordens.

— Você não fez. Estava com raiva e tenho exagerado. Como explicar a violência de sua reação, se ele mesmo não entendia? Provavelmente tinha a ver com apaixonar-se contra todo o sentido e razão. Não admirava que já não entendesse a si mesmo. — Imaginar-te em perigo me dá medo — Confessou afinal — Não estou acostumado a ter medo e isso me deixa irritado. Ela franziu o nariz e ele adivinhou que tentou não rir dele. — Irritável? É assim que chama? Realmente não tem medo nunca? Não é perigoso? — Sim. Claro que tenho. Muitas vezes. Quero dizer medo por outra pessoa, medo de não poder fazer nada a respeito. — Oh, eu entendo. — O rosto dela se iluminou — Quer dizer, como eu tenho medo de Frederic? Por mim tento ser corajosa, mas, embora seja irracional, me preocupo muito por ele. Mas ele é meu filho. Quero-o. — Voltou a franzir o testa. Era quase uma pergunta. Jack podia responder honestamente e torná-la envergonhada de sua declaração de amor não apropriada ou poderia pensar mais rápido e aprender a não entrar em conversas íntimas sobre sentimentos nesta hora. — Com os clientes que me aconteceu. — Ele disse levemente. — Eu fico de proteção. — Oh! —A confusão que se foi, substituída por uma ligeira arrogância. —E você é amante de muitos deles? — Só das mulheres — Tentou provocá-la. — O quê? — Ela perguntou. — Uma ou duas — Confessou ele, ciente de que ele estava queimando seus navios. Porem aquela aventura era tudo que eu poderia ter com ela, iria acabar logo e era melhor deixar uma saída. — Eu entendo. Quer dizer que eu sou a última de uma longa lista? — Eve, eu nunca lhe disse que era virgem — Jack sentiu que a conversa se tornou incontrolável. Ela escondeu o rosto nas mãos e seus ombros começaram a tremer. —Eve, querida, não chore. Não queria dizer isso. Não há uma longa lista, apenas um... Maldita seja! Eu não sou um santo. Seus tremores pioraram, levantou os olhos cheios de lágrimas. Risos. — Dizer-me que era virgem? — Ela riu — Sabe, não acho que teria enganado nem por um momento. — Enxugou os olhos com a manga da camisola. — Não tenha medo, não esperava que houvesse

se reservado para mim. Na verdade. — Acrescentou com um brilho travesso nos olhos — Alegro-me que não seja. Jack a abraçou. — Vá dormir. Já é tarde e amanhã vamos para a Ostend. Eu quero você em um barco antes da metade do exército britânico decidir voltar para casa. — Você não vai ficar? — Ela perguntou. — Só para dormir. — Até você cair no sono — Disse ele, resignado com a dor agridoce de tê-la tão perto, talvez pela última vez. — Isso é o que eu digo a Frederic — Murmurou ela —Ele abraçou-a contra o peito. — Eu não vou cantar uma canção de ninar. — Não? — Ela parecia já meio adormecida. — Não. Jack inclinou-se mais confortavelmente em seu peito e deitouse. Até aquele momento nunca havia compreendido a necessidade de abraçar as mulheres. Depois de fizer amor e logo adormecia. Mas agora, enquanto Eve estava descansando em seus braços, sentiu uma calma liquidada em seus ossos, apesar de saber que nunca poderia ter isso de novo. Esse era o amor. Não poderia ser de outra forma. ****** — É este o caminho para Eton? — Eve perguntou, tentando ler os sinais do treinador — Não. Londres. — Mas eu não quero ir para Londres, eu quero ir para Eton para ver Frederic. — Ela olhou para Jack, indignada — Você sabe. — E as minhas instruções são para levá-la a Londres — Eve abriu a boca para protestar, e ele sacudiu a cabeça. —Nós temos uma casa linda para você no coração de Londres, mais elegante. Eu te levo lá, então fale com o escritório de Foreigh e se você ainda quiser, vá para Eton amanhã, quando estiver descansada. — Mas eu não quero descansar! Passei quatro horas no maldito barco e agora vou passar mais horas trancada no carro. Comparado com os dias andando e dormindo sob as estrelas, estou muito relaxada. E sem sexo para deixá-la lânguida e preguiçosa, sem vontade de fazer nada, mas se enroscar nos braços de Jack, até que um dos dois começar as acaricia irresistíveis que, inevitavelmente, acabou em êxtase e a exaustão. Ela o queria, mas Jack tinha sido muito cauteloso, desde que subiram no barco que os esperava em Ostend.

Então, ela agora estava ansiosa e nervosa quando parou para pensar, sentia-se infeliz sobre o futuro. Incentivou a idéia de ver Fréderic, mas agora tinham tirado esse presente e sabia que estava reagindo como uma criança que era dito para esperar até o dia seguinte para os seus doces. E não toleram o pensamento. — Sem chance — Sorriu Jack. — O quê? — Ordene-me que a leve a Eton. — Suponho que não tenha medo de alguns funcionários de Whitehall, certo? — Ela abriu os olhos, mas Jack apenas sorriu. — Eu pensei que você tivesse entendido o conceito de dever — Disse ele. — E eu entendo. Porem não importa muito que retarda em um dia de minha chegada em Londres? — Sim — Jack pegou um tabuleiro de xadrez de viagem — Isso fará com que passe longo o tempo. — Não, obrigada, eu não quero jogar xadrez. Por favor? Leveme para o meu filho, Lord Sebastian. Isso chamou sua atenção. Jack deixou a placa cuidadosamente no banco ao lado dele e recostou-se. — Então era isso que fazia na biblioteca do Sr. Catterick. Eu não uso o meu título quando trabalho. — Por quê? — Porque me faz menos invisível. Eu sou duas pessoas diferentes, Eve. O Lord Sebastian Ravenhurst não a conheceu e eu duvido que conheça — Por quê? —Ela perguntou de novo tirando os sapatos e sentou-se impacientemente sobre as pernas. — Lord Sebastian é um libertino e jogador e não anda na mesma sociedade que frequentam as grandes Grã-Duquesas mesmo que não estejam em visita oficial. — É por isso que você brigou com seu pai? — Na verdade, não. Meu pai recusou meus esforços para ser um filho responsável, aprender sobre suas propriedades e tornar-me útil, bem. Isso me deu mais dinheiro do que eu poderia sonhar e enviou-me para Londres para me tornar, em suas palavras, um "libertino". — Mas por quê? Eu não entendo — Eve inclinou-se e pôs a mão em seu joelho. —Diga-me, eu entenderia. — Acho que é porque eu estava decepcionado com Charles, meu irmão, e não queria admitir. Eu sou muito parecido com meu

pai, eu sou provavelmente como ele esperava que fosse Charles. Mas Charles é... quieto, isolado, delicadamente. Meu pai alegou que ele era perfeito em todos os sentidos e ver-me para sempre sem contraste revelaram que ele estava errado. Quando eu tinha dez anos e meu irmão vinte anos, percorria a cavalo pelos campos, sem medo de cair ou ter ossos quebrados, e pressionava meu pai para me ensinar esgrima e tiro. Charles se recolhia em seu estúdio para ler poesia. Aos dezesseis anos, eu tive problemas com todas as meninas da área e Charles teve que ser arrastado aos bailes e forçá-lo a falar com uma mulher. E assim por diante. O contraste era muito extremo, mas meu pai tinha um senso de primogenitura muito forte e não podia admitir que me quisesse mais, assim tinha que fingir o contrário. Eu tive que sair. — Que coisa horrível! — Ela disse — Por que as pessoas não podiam aceitar uns aos outros como eles são? — Você joga muito bem a sua casa e sua família? Jack deu de ombros. — Eu tinha dezoito anos e queria ver o mundo. Eu não me fechei em casa. Eu estava indo para ver meus irmãos, mas por poucos dias de vez enquanto. E meu pai tinha um conforto constante que as pessoas comparam a seu filho mais velho tranquilo com o mais novo e rebelde. — E por que você não está bêbado em um jogo do clube no momento? —Ela perguntou. — De mim não esperam nada além de gastar dinheiro e decorar eventos sociais. Eu fiz o meu melhor. Eu posso gastar muito dinheiro e eu posso estar bem em festas. Mas eu estava entediado. Assim encontrei um amigo que estava sendo chantageado por uma excamareira por causa de algumas indiscretas cartas de amor. Uma coisa levou à outra e descobri que eu gostava mais do Jack Ryder do que do Lord Sebastian Ravenhurst. — E agora é a mesma pessoa, mas com dois nomes? — Ela perguntou — Lord Sebastian não cresceu com Jack Ryder? — Talvez — Ele olhou em seus olhos. — Mas isso não faz diferença para você ou para mim. A Grã-Duquesa Eve Maubourg não pode ter um caso com um jovem filho mais do que podem tê-lo com um mensageiro do rei. — Isso não é o que eu queria saber — Ela mentiu — Foi apenas uma curiosidade. Eu não gosto de segredos e mistérios. Na verdade, ela foi ferida. Ele não queria continuar a aventura. Por quê? Ela acreditava que o fim seria triste, tanto quanto ela, mas,

além disso, ele teve de admitir ser um libertino. Amar e deixá-lo, deve ser tão familiar para ele como a caça e a sedução. Só que não houve caça ou sedução, quando poderia ter feito. — Como chamo você agora que estamos na Inglaterra, Mr. Ryder ou Lord Sebastian? — Eu sou Jack Ryder. Como eu disse você não conhece o outro. — Não o convidam para as melhores festas? — Aos filhos dos duques convidam a todas as partes, embora as boas mães aconselhem seus filhos a não jogar cartas com eles e suas filhas que não flertar com eles. Simplesmente escolho não ir — Olhou pela janela novamente — Estamos agora em Greenwich. Uma hora e você está quase em casa, em Londres. Eve suspirou. Mesmo se eu pudesse convencê-lo, já era tarde demais para ir para Eton, então tem que passar por tudo de Londres antes de vir para Windsor Road. — Não suspire. É uma boa casa. — Como você sabe? — Eu escolhi. — Sério? Estava muito ocupado antes de partir. — Eu tinha comprado para mim. Minhas salas em Albany começaram a revelar-se muito pequena. Mas não tenho pressa para mudar-me. Todos os funcionários são de confiança, contratados pelo Ministério das Relações Exteriores para estas ocasiões. — Então você nunca viveu lá? — Não. Isso, pelo menos, teve sorte. Não gostava da idéia de viver rodeada pelo mobiliário de Jack, de seu gosto, da sua vida quotidiana. Eve obrigou-se a falar de trivialidades de fofocas de Londres, e a última hora da viagem foi bastante agradável. Ele pensou que era como se patinasse em um mar congelado calmo sob eles, apenas visível através do gelo os tubarões. ***** — Chegamos — Jack abriu a porta do carro e pulou. Ajudou Eve dando-lhe o braço e a levou até a porta da casa, cuja cor verde escuro brilhou no sol da tarde. Jack levantou a mão em direção à aldrava de bronze pesado, mas a porta foi aberta antes de chegar a utilizá-lo.

— Sua Alteza Sereníssima, bem-vinda, — um mordomo imponente com cara de boxeador os fez ir para o corredor e se afastou. À sua frente, no chão de azulejos pretos e brancos, uma criança forte, com pernas longas, com um tufo de cabelo castanho. Os olhos de amêndoa repousavam sobre a dela, que ficou parado por um momento paralisado, incapaz de acreditar no que viu. Então Eve caiu de joelhos e abraçou seu filho. — Oh, Frederic, você está aqui!

CAPÍTULO 19 — Mãe! A pressão dos braços da criança em torno de seu corpo quase a deixou sem fôlego. Esta não era a criança que vira pela última vez. Estava mais velho do que se poderia vislumbrar o jovens no qual se tornaria. Jurou para si mesma que não voltaria nunca a se separarem. Com um esforço afastou-se e sentou-se sobre os calcanhares para encarar o filho. — Como você cresceu! — Conseguiu dizer. —A comida não é muito boa—, confidenciou em inglês perfeito sem sotaque que lhe surpreendeu. —Porém eu compro nas lojas — olhou para ela solenemente. —Você está igual na minha memória, mãe. —Alegre-me — Eve lutava para não tremer a voz. —Foi muito bem em responder a todas as minhas cartas. —Eu senti sua falta — ele mordia o lábio inferior, dividido entre a necessidade desesperada em preservar a sua dignidade como um adulto e uma vontade de abraçar sua mãe e não deixá-la ir nunca. — Vai voltar em breve? —Nós dois voltaremos Maubourg quanto à situação na França ficar tranquila e possamos viajar sem susto — hesitou —Você sabe que o tio de Philip está doente? O garoto balançou a cabeça. —Eu não sei se agora está melhor ou pior. E eu temo que o tio Antoine foi ... Ferido no tumulto da invasão de Bonaparte. Demasiada informação. Eve falava com joelhos no chão, segurando os braços de seu filho e com medo de soltá-lo se aquilo lhe resultava ser um sonho, afinal. Soltou-o com esforço e tentou levantar-se. Suas pernas tremiam. Duas mãos estenderam para ela e Eve tomou-as nas dela. —Obrigado, Frederic... E o Sr. Ryder. Eles ficaram um momento, unidos como uma família. Enquanto Eve pensou nisso, soltou a mão de Jack como se queimasse. Fréderic deixou-a ir e estendeu a mão para Jack. —Sr. Ryder, bem-vindo de volta. Obrigado por cuidar de minha mãe. Jack apertou as mãos solenemente. —Alteza Sereníssima tem sido um prazer. Fico feliz em vê-lo tão bem. A última vez que vi você estava um pouco verde.

—Cogumelos— disse a mãe de menino —Eu sei. O Sr. Ryder gentilmente me disse os detalhes horríveis. — Seu filho deu uma risadinha. —Eu estava muito doente. Você sabia que esta casa é do senhor Ryder? —Sim. É muito gentil de sua parte para emprestá-lo — Olhou em volta. O mordomo boxeador estava em pé como uma estátua no canto. Um par de lacaios também grandes também se achava firmes ao pé da escada e por trás delas, havia um grupo de criados. —Você já está aqui por muito tempo? —Cheguei ontem de manhã e já conheço todos eles — disse Frederic com ar importante. —O mordomo é Grimstone. E os lacaios são Wellings e O’Toole. E a Senhora Cutler é uma ótima cozinheira. E Fettersham é sua donzela pessoal. Uma mulher alta vestida de negro pisou para frente e se curvou. — Os levo ao seu quarto, Sereníssima alteza? —Basta como “senhora”— disse Eve automaticamente. —Sim, por favor. Tirarei o chapéu e eu vou descer logo, meu filho. E vamos tomar um chá. Você cuida do Sr. Ryder, certo? Quase tropeçou nas escadas, porque ela ficava olhando para trás para verificar se o seu filho ainda estava lá. Pouco antes de perder a visão, ela viu Frederic pegar a mão de Jack e puxá-lo para o que Eve assumia ser o salão. — Está bem, minha senhora? Questionou sobre sua nova criada. —Ok, obrigado. Tem sido uma jornada difícil. ******* No final demorou mais em retornar para baixo do que esperava. O vestido estava sujo e o cabelo embaraçado. A Fettersham custou encontrar uma muda completa de roupa em sua limitada bagagem e na cozinha teve um erro ao enviar água fria em vez de quente. Meia hora depois, Eve desceu e encontrou Fréderic sentado sozinho em uma mesa cheia de bolos e biscoitos. O menino levantouse para vê-la. —Você pode servir o chá, obrigado, Grimstone — disse ao mordomo. —Onde está o Sr. Ryder? — Perguntou, sentando na frente de seu filho. —Ele se foi. Eu posso fazer um bolo, mãe?

Ela assentiu distraidamente. Um lacaio deixou o bule e a jarra de leite na mesa ao lado dele — Onde terá ido? —Eu não sei mãe. Oh, disse para lhe pedir desculpas e... —O menino franziu a testa em concentração— disse que já te dissera adeus e que era melhor ir embora agora que seu trabalho já fora feito e que não queria causar complicações. E lembre-se dele se você tiver um pesadelo — Fréderic pegou um pedaço de bolo — Mãe, você acha que quis dizer que não pensa em retornar? —Não fale com a boca cheia— disse ela automaticamente — Sim, creio que o Sr. Ryder não vai voltar. Se tinha ido sem dizer uma palavra e sem um beijo. Só ficava uma pressão de sua mão quando os três estiveram unidos no vestíbulo e a certeza de que adoraria, que iria sentir falta dele e o desejaria o resto de sua vida. —É uma pena — Frederic pegou um pedaço de bolo, olhou para ele e mordeu. Olhou a Eve com lágrimas nos olhos — Eu gosto dele, vou sentir falta. —O conhece muito pouco— disse sua mãe, que não entendia porque ele estava tão afetado. —Isso não é verdade. Ele veio me ver três vezes em Eton e tivemos longas conversas. Ele queria saber tudo sobre o castelo, meus tios e você. Eu disse a ele que eu não me lembrava de muita coisa, mas ele disse que eu sou inteligente e se eu tentasse, lembraria muitas coisas, e eu o fiz e foi muito emocionante. Ele disse que eu estava ajudando-o na sua missão, e gostaria de enviar mensagens codificadas. E ele fez. — O fez? Como? — E por que não lhe havia dito que poderia também enviar mensagens? —Passavam por seus agentes nas Relações Exteriores. E quando a primeira chegou foi enviada a Grimstone para me levar. Dizem que é um mordomo, mas Creio que é um guarda-costas, certo? Porque a primeira mensagem do Sr. Ryder disse que não havia perigo e que eu tinha que ser cuidadoso e o senhor Grimstone começou a me acompanhar em todos os lugares. No início os garotos se metiam comigo, mas depois pararam porque Grimstone lhes ensinou boxe. — Como lhe ocorreu preocupar-se desse modo? —Eve perguntou. —E se eu soubesse lhe escreveria, eu também enviaria uma mensagem.

—Sr. Ryder disse que a mensagem tinha que ser curtas e que não queria te preocupar. Mas eu estou mais velho o suficiente para entender e começar a cuidar de mim mesmo. Você está resmungando, mãe? —Sim. —Mas ele tinha razão, verdade? Havia perigo. Não creio que tio Philippe está apenas doente, acho que eles tentaram envenená-lo, como me fizeram com os fungos. — Frédéric! —É o tio Ladrão, certo? É bonapartista — os olhos claros da criança a olharam solenemente por cima de outro pedaço de bolo. —Sim. Eu nunca pensei em lhe dizer tudo isso ao mesmo tempo, mas temo que o tio Antoine tenha sido muito... Tolo. E pode está... Ferido. —Sr. Ryder disse que tentou construir foguetes para o imperador e que tentou matar a nós dois e levou as tropas a França, então eu creio que vou ter de escrever ao rei Luís e dizer-lhe que o sinto, eh? E que pode ser que esteja morto, mas não sabemos com certeza. Eve tomou o cálice com as mãos trêmulas e tomou um gole de chá, mas não ajudou muito. — Quando ele disse isso? —Agora, antes de sair. Ele disse que tinha a informar-me da missão porque provavelmente você não o faria por preocupação de mãe. —Eu posso pegar um biscoito de amêndoa? —Você vai ficar doente— disse ela, distraída. —E ele disse que você foi uma heroína, que se inteirou dos foguetes e lhe ajudou a entrar na fábrica e lutou com os agentes do Tio Ladrão e que lhe salvou a vida, —o biscoito foi embora e o garoto encostou-se cadeira com um suspiro de satisfação — E eu não tinha que me preocupar se você parecesse chateada com alguma coisa porque que o passou muito mal e descobriu que estou bem fará que fique mais chateada, porque a emoção e o alívio funcionam dessa maneira. — O que te disse? — Eve pegou um bolinho de amêndoa e comeu-o com desespero. O açúcar era bom para os desgostos, não? —Eu gosto dele — repetiu o garoto — E creio que ele gosta de mim. E quando eu o vi olhar para você antes, eu pensei que talvez você gostasse dele também. E agora que foi — prendeu o em seu dedo do pé no tapete Aubusson — Eu gostaria de ter um amigo assim, eh?

—Sim. Seria um bom amigo — disse Eve, enchendo o copo de seu filho. Jack parecia ter se arranjado bem dando a notícia a Frederic, muito melhor do que ela teria feito. Ela estava zangada com ele, sim, mas aquilo era parte do papel que ele tinha assumido quando resolveu levá-la para a Inglaterra. Era parte de sua missão. Ela não havia falado a seu filho do perigo, mas Frederic estava pronto e teria sabido que o mordomo era um guarda-costas. E na ausência de informação, ficara preocupado. Jack o tinha misturado na aventura e tratou-o como um jovem inteligente, e assim tudo havia sido compreensível e emocionante. Que pai maravilhoso poderia se tornar para Frederic! — Mãe! —Você derramou o chá. —É verdade. Eve deixou o copo e esfregou seu colo. Um pai para Frederic. Percebeu que estava pensando em se casar com ele e isso era impossível. — O que você acha mamãe? —Eu estou sonhando com algo que não pode acontecer— disse ela. Agora vamos tirar os sapatos, sentar e conversar até fiquemos roucos. Três dias se passaram antes que eles começaram a receber convites. Três dias em que Eve e seu filho conversaram até ficar roucos, ela comprou roupas novas e explorou a casa até que se tornou como uma segunda casa e bem conhecido de todos os criados. Eve logo percebeu que Grimstone não era o único guardacostas, os lacaios maiores nunca ficavam muito longe da porta de qualquer sala onde estavam o filho e ela. Agarrava-se a ela como moluscos quando saiam de casa e se recusam educadamente esperar na carruagem quando entrava em um estabelecimento. Ela decidiu falar com o mordomo, —Estamos em Londres. Creio que não haverá perigo. Prince A... A fonte de perigo pode inclusive estar morta. —Mas os seus agentes seguirão aqui, minha senhora — Grimstone disse em sua voz profunda —Acaba de chegar isto do senhor para você, senhora. —É do Sr. Ryder? Eve pegou com impaciência o envelope na bandeja de prata. Quebrou o selo e leu as três linhas que continha. A letra era preta,

tombada, indisciplinada, um completo contraste com os métodos de operação de Jack. Ou seria a escrita de Lorde Sebastian? As tropas voltaram para casa com o corpo de A. Ele tinha um ferimento de bala nas costas. Disparada a curta distância. P. melhora a cada dia. Mostre-a Grimstone e assuma que os agentes ainda estão aqui e pode ser que, todavia ainda não saibam de sua morte. Estava assinada com um J, uma maiúscula com floreios na parte inferior da página. Eve entregou a nota para o mordomo, que a leu com os lábios franzidos e a devolveu. —Claro, que seus próprios homens lhe atiraram — disse ele. — Eles não gostaram que lhes convertessem em traidores, e menos em vista do que tinha acontecido. E P. será o governante, senhora? —Sim, meu irmão, o príncipe Philippe — Eve dobrou o papel e colocou-o na bolsa. Era tudo que eu tinha de Jack — Irei dar a notícia a Frederic. O menino estava em seu lugar preferido, a cozinha, tirando doces do cozinheiro. Eve tentou imaginá-lo de volta ao castelo. Não foi difícil. Em menos de uma semana seria o tirano da cozinha, os criados se dedicariam a polir a armadura para atuar com elas e ele certamente vai tentar ensinar cricket1 para o povo. — Filho, eu tenho notícias de Maubourg. Tio Filipe está se recuperando. — Então, podemos voltar em breve? —O garoto perguntou com a boca cheia de geléia de amora. — Quando o Ministério das Relações Exteriores me diga que é seguro viajar. Vamos escrever ao seu tio? Depois dessa carta, Eve escreveu outra para o Ministério das Relações Exteriores perguntando pela viagem e, embora não recebesse nenhuma resposta a essa pergunta, veio uma série de convites. O Príncipe Regente, padrinho de Fréderic, implorou a honra de sua companhia em uma recepção em sua honra em Carlton House, dois dias depois. — Oh, Deus! Ela se lamentava com Fettersham. Acho que isso significa plumas.

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 É um esporte que utiliza bola e tacos, cuja origem remonta ao sul da Inglaterra, durante o século XVI. Considerado por muitos um esporte parecido com o basebol 

—Sim, senhora— respondeu a criada. Mas os aros já não se usam — acrescentou com um gesto de desapontamento. O traje que encomendou ontem pode ser apropriado. — Bem, graças a Deus. Já está muito difícil andar com as condenadas plumas no penteado para ter que se preocupar além que os aros esmaguem em todas as pequenas mesas cada vez que uma se move. O vestido chegou da costureira, na manhã da recepção, juntamente com um jogo de plumas de avestruz. — Valha-me Deus, as cinturas subiram! —Eve protestou quando a criada fechou o vestido. Há muito pouco espaço para o peito. —Creio que se trata disso, minha senhora — observou Fettersham, tirando dos ombros para que eles ficassem seguros. — Felizmente você tem ombros bonitos, senão, creio que esse estilo não resultaria decente. Olharam o efeito no longo espelho. O vestido, um verde pálido de amêndoa, caía desde o peito até o osso do tornozelo. Eve não lhe convencia tampouco que fosse decente mostrar tanto o tornozelo, ainda que admitisse que as saias mais volumosas eram encantadoras. A bainha era enfeitada com fitas de cetim da mesma cor e a textura ressaltava sutilmente contra a seda, toda a metade inferior da saia foi bordada com coroa de flores. O padrão se repetia nas mangas bufantes e o V profundo do decote estava coberto de rendas, que de alguma forma ajudavam a preservar a decência. —Muito chamativo — disse a criada. —Claro que sim. Não me lembro bem dele nas provas. Luvas longas de pele de cabrito com renda na parte superior para coincidir com o corpete, sapatos simples de pele, um xale de gaze nos braços e o peso das plumas completaram o vestuário. Eve decidiu que era elegante o suficiente para a ocasião e perguntava-se o que opinaria Jack. Ela, por sua vez, congratulou-se porque durante o dia, só conseguia pensar nele uma dúzia de vezes. As noites eram mais difíceis, pois então dava voltas na cama e desejando o som de sua voz, a carícia de suas mãos e o calor de sua boca. Fettersham sacou os brincos de diamantes, colar e pulseiras fornecidos por Rundell & Pontes, uns dos joalheiros mais disposto a atender a Grã-Duquesa, em troca de que ela aceitasse que obtivesse o beneficio da publicidade desse fato. — Mãe? —Frederic perguntou da porta — Eu posso ver? Entrou na sala.

— Está ótima! — Ele gritou. —Mas como dançara com as plumas? —Não tenho que dançar — explicou. Ela parou para beijá-lo. — E você irá para a cama quando Hoffmeister de diga? —Sim, mãe. A chegada do secretário particular de Eton havia restabelecido a rivalidade entre o alemão e o mordomo. Frederic amenizava os confrontados com o qual Eve tentava dizer que era a arte de governar precoce, mas ela queria manter a autoridade de Hoffmeister em relação às horas de ir para cama e períodos de estudo. Carlton House era tal e como ela tinha visto em fotos. O Regente era um homem natural e espontâneo e empenhado que ela passasse bem. Ele insistiu em acompanhá-la nos corredores lotados e apresentá-la a uma pessoa após a outra até que lhe deu voltas na cabeça. Explorava as salas com a vista, mas não havia homens altos, e perigosos de olhos acinzentados e um sorriso travesso. —Eu perdi minha prática nestas coisas— confessou ao Lorde Alveney. Meu cunhado, o príncipe Philippe está doente há vários meses, a corte tem estado muito tranquila. Por favor, senhor —, virou-se e sorriu para Regente, peço que você não negligencie os outros convidados por mim. Eu desfrutei muito observar as salas em sua companhia, mas eu antecipo que vou ser muito impopular se monopolizá-lo. O regente sorriu, corou um pouco e saiu depois de dar-lhe um tapinha no braço e promessa de lhe mostraria mais tarde o Conservatório. —Bem, senhora— sorriu Alveney. Eve se viu livre para responder com a chegada de uma jovem que se chocou com ela e lhe torceu as plumas. — Oh, céus! Você é a grã-duquesa, não nos apresentaram e eu faço isso. Oh! Mas, olhe, há quarto de descanso, por favor, Alteza Sereníssima, se nós entramos aí, com certeza podemos voltar a colocá-las... Eve sorriu para Alveney com ar de desculpas e se deixou levar para o quarto de descanso, que estava vazia, exceto por uma garota com um kit de costura, sais aromáticos e uma garrafa de bebida. —Fora — disse a jovem para a criada. A mulher saiu, a estranha fechou a porta e olhou para Eve com olhos cinzentos furiosos.

Uma agente de Antoine? Ali na casa do regente? Eve foi para a cômoda, na esperança de encontrar uma tesoura ou outro objeto pontiagudo. — O que você quer? —Ela perguntou calmamente — Eu sei que você está fazendo para o meu irmão e eu quero que você pare imediatamente.

CAPÍTULO 20 —Seu irmão? —Eve olhou para os olhos cinzentos da mulher. — Você é irmã de Jack? —Sebastian— A mulher parecia muito zangada. —O conheço por Jack. —Ah, a mesma coisa. Eu não me importo como... —Não é a mesma coisa — disse Eve, com firmeza. — E eu não faço nada para o seu irmão e eu não tenho feito nada para justificar seu comportamento. — Tens quebrado seu coração — respondeu a outra. — Bobagem! Isso é uma sandice. Seu irmão saiu de minha casa há uma semana sem dizer uma palavra. Não houve nenhum desentendimento e eu não o tinha despedido. Coração partido! Quanto melodrama! Se Jack Ryder tem algo para me dizer, sabe onde estou. —Vocês foram amantes — disse a mulher. —Não, não se preocupe em negar. Ele não disse nada sobre você. Eu só sabia que eu estava na França em uma missão. Então veio me ver e estava mudado. Algo dentro dele estava ferido. Eve descobriu que a cabeça começava a doer, e também os pés com os sapatos novos. —Oh, sente-se, por favor. Qual é seu nome? —Belinda. Lady Belinda Cambourne. Eu sou uma viúva. Não deveria estar aqui, porque eu ainda estou de luto. Mas eu amo meu irmão e eu o conheço muito bem. E ele está sofrendo muito. —Mas... Bel levantou a mão para silenciá-la. — Ninguém iria notar, exceto, possivelmente, você — olhou a Eve com manifesta antipatia. — Quando está em uma de suas missões, quando é Jack, é frio, calmo e tranquilo, mas seus olhos há alegria de viver. Quando é Sebastian, é o melhor irmão e mais amável que se pode imaginar — Bel dirigindo outro olhar de antipatia a Eve — Mas agora, algo se perdeu, o riso se foi. O calor interior se foi. Ele veio até mim e foi muito gentil, como sempre. Perguntei-lhe o que aconteceu e ele riu e me disse que nada, uma missão cansativa na França. — Bem, aí o tem — disse Eve. —Eu perguntei a Henry — continuou o Bel — e me disse que Jack teve um caso com você. Ele disse que os dois sentiam como

pessoas apaixonadas e que tinha avisado a Jack que nada de bom poderia vir disso. —Se o seu irmão decide não falar de sua vida pessoal, eu certamente não vou fazer — Como é que as pessoas apaixonadas? Ela o amava, mas Jack... Se ele a amava, ele não teria deixado desse modo. Não é? — E você não se importa? Henry disse que salvou sua vida. —Sim, é verdade. De repente, já não podia mais. Tinha que falar com ele, dele e aquela mulher irritada, que tinha seus mesmos olhos o queria o suficiente para tê-la sequestrado no meio de Carlton House. —E sim, nós fomos amantes. E eu nunca tive outro, se acha que durmo com todos os homens atraentes que cruzam o meu caminho — acrescentou — E eu tive que pedir-lhe porque ele era muito galante e cavalheiro. Sabíamos que podia durar apenas enquanto estávamos na França. Não posso me ariscar nesse escândalo. Nós dois sabíamos. Bel agora observava em silêncio. Pelo menos já não parecia tão zangada. —Eu me apaixonei por ele. Não era minha intenção, mas eu não poderia evitar isso. Eu o amo muito. — E então...? Bel foi franzindo a testa — Ah, com certeza, você pensou que era apenas o mensageiro do rei, um guarda-costas. Não admira que tenha se demitido quando veio para a Inglaterra. —Eu sabia que era mais do que isso. Mas qual é a diferença? Eu o amaria mesmo que ele fosse o filho de um peixeiro. Como eu disse, eu não o despedi, ele me deixou. Não me quer ou não teria ido assim, sem uma palavra, apenas com uma mensagem que deixou com meu filho. Bel mordeu os lábios, pensativa. — Valeu à pena? —Tê-lo como amante valia todo esse sofrimento? — Sim! Sim — disse Eve com mais suavidade. Mas ele nunca disse que era mais do que apenas uma aventura. —Você disse que o amava? —Não, claro que não. Você consegue imaginar dizendo um homem que o ama quando você sabe que ele não te ama? Que humilhação de ver a compaixão em seu rosto, o tatá que terá que usar para se livrar! —Se ele também te ama, não. Como você pode ter certeza que não a ama? Eu não entendo o amor. Eu não estava apaixonada pelo

meu marido e nem tive amantes. Mas eu conheço a meu irmão e sei que sofre e sente falta de você. — E por que ele me deixou assim? Isso me machucou. —Eu suponho que pensou uma ruptura era melhor para você. Eu imagino que seria difícil falar em particular em uma casa cheia de criados e com seu filho lá —,Bel disse pensativa —Você quer se casar com ele? —Sim— Eve disse sem pensar. —Sim, claro que eu queria. —E ele não pode pedir isto a viúva Grã-duquesa, certo? Suponho que não está na etiqueta. Terá que ser você que lhe diga que o ama e lhe peça. —Mas... E se diz que não? —Eve fechou os olhos ao pensar. Ela quase podia ouvir a voz fria e profunda dele escondendo sua alegria ante aquela idéia absurda. — E se disser que sim? —Bel respondeu. —Você não saberá até tentar, porque, acredite, Sebastian é orgulhoso demais para implorar uma mulher que já deixou claro que não quer compromisso. E você fez, certo? —Claro que sim. Ele nunca teria aceitado se pensasse que iria me apaixonar. Por que você sorri? —Perguntou indignada. — Eu sorrio ao imaginar que tenha de pedir ao libertino de meu irmão se quer fazer amor com uma mulher bonita — explicou francamente. — Então é um libertino? —Ele tinha dito, mas tinha preferido a pensar que ele estava se referindo às corridas de cavalos e jogos de cartas e não as mulheres. —Sim— disse sua irmã. —Mas duvido que, desta vez está a procurar consolo em outro lugar. —Oh. —E, minha senhora... —Eve. Por favor, me chama de Eve — aquela mulher era alguém que queria para amiga. —Eve. Há algo que Sebastian não lhe diria jamais, mas vou confiar um dos meus irmãos, dar-se-ia igual que os confie aos dois. Nosso meio—irmão... — É o duque? —Sim. Charles. Nunca se casará. Sebastian, provavelmente o sucederá um dia, além de tudo, é dez anos mais jovem. Mas se você tiver um filho juntos, o jovem será duque certamente. —O duque está doente? —Incapacitado? Ah... —Perturbado?

—O Duque não sente atração por mulheres. Não as acham sexualmente atraente. Você entendeu? —Ah. Sim, isso não é privado? —Sim. Já vê quanto eu confio em você. —Mas eu conheci outro caso e que o homem casou para ter um herdeiro. —Charles leva oito anos confinados em sua propriedade em Northumberland, muito feliz com seu amante, que, aos olhos do resto do mundo, é seu secretário. — Ah! —Eve pensou sobre isso. —A idéia do título não faz diferença para mim. —Bem— sorriu Bel. Mas pode ser que para Sebastian sim, não é? Só que ele não iria falar isso nunca, porque é muito leal a Charles. — O que você acha que devo buscá-lo e declarar-me? A Eve lhe parecia o mais aterrorizante que já tinha feito. Não queria imaginar se ele dissesse não. —Creio que convencerei a me acompanhar ao baile de máscaras de Lady Letheringsett depois de amanhã, e se você não é capaz de encontrar uma desculpa e fizer isto ali, eu lavo minhas mãos dos dois. —Mas eu não sou convidada... — o plano de Bel começava a ser tão difícil de resistir como seu irmão. —Então venha comigo e eu lhes apresento. Seguro que já chegou. Convidar-lhe-á, não tema. —Mas se Jack souber e não ir. —Acredite em mim, lhe direi do desgosto que eu tenho porque a Grã-Duquesa Eve declinou o convite e, assim, sentirá seguro. E agora vamos ver se podemos corrigir as plumas. ***** — Não tem que disfarçar-se? Frederic perguntou obviamente desapontado. Ele estava sentado na cama de Eve assistindo Fettersham fazer o penteado para acomodar a meia máscara que iria por. —Não, apenas as máscaras. E no meio da noite a tiramos. A máscara era bonita. Levantou-a para que a criada atasse as fitas do cabelo para prendê-la com firmeza. Era coberta com peninhas douradas que faziam seus olhos parecem mais brilhantes. O vestido de chiffon de seda amarela era bronze, com um decote generoso. Naquela noite, ele usava para Jack.

— Jóias, minha senhora? Fettersham ofereceu a seleção, que já tinha enviado os joalheiros. Diamantes, naturalmente, ou âmbar para combinar com o vestido. Eve hesitou e escolheu diamantes em conjunto de ouro com um diamante de pino em forma de caneta para o cabelo. Tal e como pretendia, brilhava como uma oferenda a um homem cujos escrúpulos tinha que vencer. Tinha seduzido uma vez em seu próprio território e, agora, no dela, no mundo dos salões de dança e etiqueta, sentia aumentar a sua confiança. Ele diria que sim. —Sr. Ryder vai gostar do vestido— disse Frederic. —Acho que você está muito bonita. —Obrigado. Por que você acha que ele vai estar lá? —Porque você está vermelha, mãe. — Criança insolente! — Ela o repreendeu — Vá para a cama! ****** — Que vestido tão fabuloso! —Lady Bel se acercou de Eve quando ela entrou no baile. —E uma máscara tão linda! Se não fosse porque eu a estava esperando, não a teria reconhecido. É maravilhoso deixar o luto, apesar de que terei muitos problemas se minha mãe souber, pois na realidade faltam mais de quatro semanas. Puxou Eve para um lado da lotada sala. — Não é uma idéia brilhante? — disse que quando chegaram a um aposento quase silencioso — Por causa das máscaras, não anunciam a ninguém, assim ele não suspeitará de nada. — Onde está? Eve esticou o pescoço para ver. Não o conseguiu até que a multidão se afastou e viu um homem alto e moreno vestido de preto com uma máscara preta no rosto. A camisa branca foi tudo o que quebrou a cor preta. O teria reconhecido em qualquer lugar e saber que, apesar do sorriso de seus lábios relaxados e de sua atitude natural, não queria estar ali, que essa noite era um castigo que tinha concordado para satisfazer sua irmã. —Eu o deixei ali e o fiz jurar que me esperaria — disse Bel. — Logo atrás da cortina que existe uma sala de descanso e tem a chave na fechadura. — Você conhece o estado de todos os aposentos de descanso de Londres? — Perguntou Eve divertida, apesar do nervosismo. — Suspeito que você tenha muito flertes. Bel corou.

—Eu sou aborrecida e casta... E sem pretendentes — disse ela— Vamos lá, é todo seu. E boa sorte. Eve virou-se para se aproximar de Jack por trás. Deteve-se o observando. Ele havia cortado o cabelo e se podia ver sua pele no pescoço. A recordação da sensação da pele sob os dedos a deixou sem fôlego. Havia muito barulho entre as conversas e a orquestra estava a tentar seus primeiros acordes, que tinha certeza que ele não tinha ouvido o som fraco de seus passos no chão de madeira, mas quando chegou ao ponto onde podia tocá-lo apenas estirando a mão, ele se afastou da parede e se virou. — Você — disse suavemente. —Jack — Eve estendeu a mão, mas ele não aceitou. — Eu tenho que falar com você. — Isto é obra de Bel, certo? —Sua boca era uma linha dura e Eve percebeu que ele estava furioso. —Sua irmã me disse que você estaria aqui, Jack... Mas não, esse não era Jack Ryder. Ali, no esplendor do baile, com seu traje requintado e anel de sinete brilhando na mão, estava o outro, o homem que não conhecia — Lorde Sebastian, por favor, eu creio que há um aposento de descanso justo aí. —Ok— ele puxou a cortina, abriu a porta e esperou por ela para entrar. — Quer girar a chave? Eu não quero que nos interrompam — ela olhou ao redor. Havia um sofá contra a parede, duas poltronas, uma lareira de mármore e nada mais. — Jack... Sebastian. Como te chamo? —Nada — respondeu ele bruscamente. —Você partiu sem dizer adeus. Eve disse, como um prelúdio e ele tomou isso como uma acusação. —Foi melhor assim. Confiava em evitar esta conversa. — Que conversa? Como você sabe o que eu quero dizer? —Achei que você ia mudar de idéia ao terminar a nossa aventura — disse ele com voz neutra — Eu tampouco quero que termine, mas eu sei que é mais inteligente. A única possível para duas pessoas em nossas circunstâncias. —Não. Não é isso que eu quis dizer. Concordo com você, uma aventura é impossível aqui — ficou satisfeito ao ver que o tinha surpreendido —Mas, igual a você, eu gostaria que não fosse.

— Por que estamos aqui? Perguntou Jack. A máscara negra dava um aspecto diferente, mais distante, mais perigoso — Em uma sala fechada? Pela uma última vez, talvez? Eve se adiantou em meio a rumores de seda e gaze, porque precisava estar mais perto, ver seus olhos mais claramente. E logo se encontrou nos seus braços e ele a beijou os lábios para silenciar seu suspiro de protesto. Droga! Achava que era feito de ferro? O havia pegado de surpresa, com sua guarda baixa, e ela se acercava envolta em seda e plumas e uma nuvem de perfume que enfatizava o aroma sutil e falava de pecado, doçura e pele muito macia. Ele a queria e continuava desejando-a em agonia desde a noite de Bruxelas. Havia esperado que isso melhorasse, mas piorara. Havia acreditado que era apenas luxúria e tentou acalmá-lo do modo mais óbvio. Mas, descobriu que seus pés não queriam cruzar o limiar da discreta casa do prazer que tantas vezes tinha sido cliente. Se fosse luxúria, somente poderia acalmá-la essa mulher, a única que não poderia ter. Mas não era a luxúria. Era o amor. Tinha encontrado a força para fazer o que devia e agora ela estava tirando todo o controle no rosto, como se isso importasse, como se não houvesse preferido cortar os pulsos de sair daquela casa sem dizer adeus. Ele tinha ido ao Gabinete de Guerra e os fez muito feliz com as notas dos foguetes, em seguida, fez todos os esforços para deixar para trás Jack Ryder até que sua loucura se havia convertido pelo menos numa agonia controlável. E agora ela aparecia com o seu calor, o aroma e sua presença e ele perdia o controle. Raiva, luxúria, ou puro desespero? Jack não sabia e, com o corpo de Eve colado contra a dele, sua boca úmida e macia sob a sua, parou de pensar. Jogou-a no sofá quase bruscamente e começou a se despir. Estava tão excitado, desejava-a muito, que quase não pode baixar sua calça. Tirou com impaciência e ouviu seu suspiro quando o viu. Havia esquecido o seu corpo assim ou aquilo era resultado de dias de abstinência? Mas Eve não demonstrava nenhum medo, nem de sua raiva ou nem de seu tamanho. Tirou-o, o atraiu para si, levantou o vestido e anágua e abraçou-o com as pernas. Estava úmida para ele, trêmula, com o aroma de sua excitação alimentando-o ao ponto que pensou que iria perder o controle antes de penetrá-la.

Não houve nenhuma sutileza, nenhum dos dois procurou isso, somente a posse e o abandono. Ela gritou quando entrou sem preliminares, mas era um grito primitivo, triunfante, exigente, e ele respondeu, entrando com força no centro dela uma e outra vez até que gritou seu nome e começou a tremer em torno de seu membro e ele de alguma forma encontrou a força para sair antes do tremor de orgasmo ela o conduzisse ao seu.

CAPÍTULO 21 Eve recuperou sentido com o peso de Jack ainda e o braço duro do sofá cravado nas costa de um modo muito incômodo. Tinha calor, eles estavam suando, lhes custava respirar e nunca sentira um prazer físico assim. La fora, o volume de ruído da música e convidados se chocou contra a porta, dentro só se ouviu suas respirações ofegantes. Jack levantou a cabeça lentamente para olhar em seus olhos. A máscara negra lhe dava um ar quase sinistro, mas as linhas duras da boca e dos lábios tinham suavizado à espreita na sombra de um sorriso. Baixou com um suspiro a testa para apoiar na dela, que fechou os olhos. —Esta abstinência não nos fez muito bem, certo? —Ele perguntou. —Não, parece que não... Eu não posso respirar. Ele ergueu-se e sentou-se a seus pés com a cabeça jogada para trás. Eve se levantou até ficar aconchegada no lado oposto do sofá, longe o suficiente para não sentir seu calor e reprimir a tentação de se inclinar para beijá-lo e começar de novo. —E, curiosamente, eu não vim aqui para isso. — Não? —Quero fazer-te uma pergunta. E dizer-te algo. Eu preciso de você tanto que dói estar sem você — aí estava, o havia dito bruscamente, sem nenhuma sutileza que havia ensaiado. E a palavra que ela havia jurado que ele iria usar... A palavra amor, e não queria sair de sua boca sem alguma indicação prévia de que ele sentia o mesmo. —Eve... —Não, deixe-me terminar. Eu não queria sentir isso. Não se trata apenas de fazer amor, ainda que seja maravilhoso. Quando te pedi para ser meu amante, fui sincera nas minhas razões, no que eu te disse. Disse que estava com um homem ao qual desejava, em quem confiava e que gostava. Pensava que queria o prazer físico, conforto físico, um homem forte para me segurar. Tudo isso é verdade. E então eu descobri que eu não posso viver sem você. —Eve — ele tinha a cabeça e olhou para suas mãos juntas como se elas contivessem a resposta. —Eve, você me honra e... Mas isso não faz diferença para o nosso problema, porque agora você está de volta aos olhos do público, é impossível que tenha um amante, se não quiser criar um escândalo.

—Jack, por favor, olhe para mim — ele levantou a vista e olhou. Ela sentou-se com as mãos postas. —Você não entende. Eu estou pedindo a você que case comigo. Ele ficou em silêncio por um tempo. Então ele se levantou com a mesma graça violenta que ela tinha visto quando ele lutava. — Você está louca? —Perguntou do outro lado da pequena sala. —Não. Falo sério — sua reação foi assustadora. Esperava uma surpresa, certamente, um argumento. Não hostilidade aberta. — Já se esqueceu quem é? —Eu sou uma grã-duquesa viúva. Mas eu não sou de sangue real. Meu pai era um conde francês e minha mãe era filha de um conde Inglês. Você é filho de um duque. Não há disparidade entre as nossas famílias — havia pensado muito sobre isso. Se Louis podia se casar com ela, ela podia se casar com Jack. — Que conveniente que tenha descoberto quem eu sou! —Ele respondeu friamente — O que terias feito se fosse apenas o Sr. Ryder, agente e aventureiro? — Eu não tenho nenhuma ideia — disse ela. —Aprendi a necessitar de Sr. Ryder, mas não sabia quanto iria me doer a estar longe de você até que eu cheguei aqui. Como vou saber o que faria se não fosse Lorde Sebastian? —Mas nem o Sr. Ryder e Lorde Sebastian tem um título. Como você pode consertar isso? Criará um Maubourg2 para mim? —Você não precisa de um título, você já tem um. Mas o que ocorre? Não quer se casar comigo? Existe outra mulher? Afinal, ele não havia dito as palavras mágicas. Ela o amava e esperava que, quando o pedisse em casamento, ele confessasse o seu amor, mas não havia sido assim. Parecia que havia se equivocado. — Não, ninguém mais — Jack deu dois passos, chegou ao canto da sala e ficou frustrado com o espaço confinado — Não crê que talvez prefira ser eu que a quem peça em casamento? Já ocorreu a você que eu tenho uma vida, ou melhor, dito duas, neste país? Os casamentos nas famílias reais são tomados por razões dinásticas. Para os herdeiros... Aqui já existe. Para alianças internacionais, eu não posso lhe dar nenhuma. Pela fortuna, estou certo de que meus recursos são insignificantes em comparação com os teus. O que não é para que a dama em questão possa apreciar as atenções de seu amante, sem causar um escândalo.                                                              2

 Título 

—Mas isso não é... Eu já disse, eu preciso de você. Eve se levantou. Sua cabeça dava voltas. Aquilo não tinha que ser assim. Ela disse o que sentia, tinha feito uma oferta honrada, boa para ambos, e ele a jogou na cara. Começou a ficar com raiva. —Isso é muito lisonjeiro, minha senhora, mas, como você sabe, eu tenho um emprego e se mudar para perto dos Alpes para atender as necessidades sexuais de uma senhora, por mais encantadora que seja não entra nos planos de minha vida. Eve esbofeteou-lhe com força e ele não tentou detê-la. Ela assistiu com debilidade a marca vermelha da sua mão em seu rosto. —É muito mais do que sexo— ela sussurrou — muito mais. Eu pensei que você sentia o mesmo. Eu estava errada. Sinto muito. Desculpe-me, sinto muito ter falado. Irei embora. —Eve — Jack lhe agarrou o braço com força para que não se soltasse. — Eve. O que sinto por você vai além do que aconteceu nesta sala. Você só estava cumprindo com teu dever, fosse qual fosse o custo para você. Eu cheguei e dei a você excitação, liberdade e afeto. Agora eu não sou o que quer, nem posso dar o que você precisa. Sou Inglês. Vivo aqui, meu lugar é aqui. Que tenho objetivos, uma identidade, independência. Não posso renunciar a tudo isso para ir para um país que não é meu, onde não tenho nenhum papel, onde a minha vida tem as limitações da pessoa com quem me casei. —Se você me amasse, não diria isso— disse ela. O silêncio entre eles parecia encher a sala. A música se apagou e as vozes que rugiam atrás da porta enquanto o som do mar tornouse um sussurro. —Se te amasse, a resposta seria a mesma coisa — disse ele. Não posso me enjaular na vida que me oferece. Acabaria por feri-la. Creio que você tem que voltar para Maubourg, Eve. Leve Frederic, já pode viajar com a escolta que dará as relações exteriores. Vá embora e me esquece. Eve tremia tanto as mãos que mal conseguia abrir a porta. Finalmente consegui e se virou para olhá-lo uma última vez. — Como eu poderia esquecer? Ela sussurrou. — Eu te amo. Era seguro dizer, pois ele não poderia ouvi-la, já que a orquestra terminava uma peça particularmente ruidosa entre os aplausos entusiasmados. Os dançarinos que saíam da pista a rodearam e a afastaram da porta. ******

— Eve! —Bel puxou seu braço —Vem sentar-se — levou-a para uma cadeira num aposento —O que aconteceu? Eve só podia balançar a cabeça. As palavras a haviam abandonado. —É preciso beber alguma coisa — Bel olhou em volta. —Por que nunca há um garçom quando você precisa dele? Theo! Dois copos de champanhe imediatamente. E um copo de brandy— empurrou o garoto para o meio da multidão. Theo é o meu primo — explicou. — Há dito que não? Eve concordou. — Por quê? Por que há dito não? —Porque ele não me ama, Creio. Porque não quer terminar como um apêndice de sua esposa em um país estrangeiro. — Disse-lhe que o amava? Não? Eve abanou a cabeça. Um sussurro que se podia ouvir não contava. — Por que não? —Bel perguntou. —Porque eu pensei que se daria contar de que o propunha por isso e então ele disse que não me amava, assim, que sentido tinha isso? — Ele disse isso? —Bel perguntou. —Com estas palavras? —Ele disse que não iria se casar comigo e depois disse que sua resposta seria a mesma me amando ou não me amando. Creio que — Eve sacudiu a cabeça, demasiado atônita com toda a experiência para confiar mais em sua memória. Theo voltou novamente seguido por um garçom. Bel tomou um copo de brandy, colocou na mão de Eve e tomou dois copos de champanhe da bandeja. —Obrigado, Theo. Esperou que seu primo se retirasse. —Beba-o. Eve bebeu o brandy, ansiosa que algo adormecesse a dor e Bel tomou o cálice e lhe passou a taça de champanhe. —Eu vou ficar bêbada— protestou Eve. —Ótimo. Se eu fosse você, ficaria irritaria um pouco e iria para casa. Não faz sentido esperar que a remoção de máscaras, você ficarás infeliz — Bel sorveu um gole do seu copo. —Pode ser que melhore amanhã. —Eu duvido. O peguei. —Bem. Ambas beberam em silêncio.

—Aí está Lorde Gowering — disse Bel. O da máscara quadrada vermelha e preta com um ombro mais alto que o outro. Dirige a todos os agentes nas Relações Exteriores, ainda que vendo, ninguém iria chamá-lo de um chefe de espionagem. Sinto-me tentada aproximar lhe dizendo que devia despedir do meu irmão por não ter cuidado bem de você. O homem alto avançava em sua direção. — Apresenta-me a ele — disse Eve. Bel olhou para ela surpresa, mas se aproximou do homem. Este tomou a mão de Eve. —Eu esperava vê-la aqui, Sereníssima alteza. Tenho entendido que temos que lhe dizer obrigado pelos projetos de armas muito interessante. Espero que tenha se recuperado sem problemas da viagem. —Perfeitamente recuperada, obrigado. Tanto que desejo sair imediatamente para o continente com o meu filho. Creio que o mordomo e lacaios da minha residência atual são os seus agentes. Gostaria que me emprestasse-os para a viagem. —É claro minha senhora— ela apontou uma cadeira ao seu lado e o homem sentou-se nela. Naturalmente, haverá dificuldades com a burocracia, mas não esperávamos que quisesse voltar tão cedo. —Estou preocupado com meu irmão, o regente — disse Eve. — E meu filho está ansioso para voltar também. —Muito bem, senhora. Vou enviar os papeis amanhã de manhã. Desejo-lhe uma viagem rápida e segura e esperamos voltar a vê-la em Londres quando as condições de viagem são um pouco menos... Emocionantes. Ele se despediu com uma mesura. Bel olhou para Eve. — O que eu vou dizer para Sebastian? —Nada. Bel, obrigado por seu apoio e sua amizade. Teria gostado muito em tê-la como uma irmã. —E eu também. Ah, Eve, não renuncie a ele! — Bel pegou a mão dela e apertou. —Creio que eu penso sobre a minha razão e fazer isto — Eve ergueu-se. Você pode dizer nossa anfitriã que eu tenho uma dor de cabeça e tive que sair? — Vacilou com a mão de Bel na sua. —Adeus. Cuide bem dele. Antes de deixar a multidão, captou as palavras de despedida de Bel. —Mais bem irei para aquecer as orelhas.

****** Jack permaneceu onde estava, após a partida de Eve, esperando o vermelho do rosto diminuísse o suficiente para mostrarse em público. No dia seguinte, certamente teria marcas de dedos em forma de contusões. Ela o havia espancado com a intenção de machucar e tivera sucesso. Não sabia como ele tivera forças para fazer a coisa certa e rejeitá-la. Pelo menos ela não tinha dito que o amava, porque ele não achava que poderia lidar com isso. Ela estava sozinha naquele castelo grande, quem poderia culpá-la? O que eles compartilhavam era uma revelação para ela, mas não conseguiriam recriar os sentimentos num mundo rotineiro na vida da corte. Casar-se seria um desastre e ele a amava demais para correr esse risco. Deveria ser ele quem tivesse uma posição e riqueza para oferecer, não ela. Não podia comprá-lo como um brinquedo e um marido não era algo que poderia atirar fora quando estiver cansado dele. E deixar a Inglaterra? Deixar a mansão com as terras que havia herdado de seu avô materno, o campo, os grandes vales e colinas verdes em um país estrangeiro, onde não teria outro papel a não ser o de companheiro? Ele queria que as crianças que fossem inglesas, e não exilados em outro país onde o irmão por parte de sua mãe tinha um estatuto muito superior ao seu. Droga! Ela deveria ter adivinhado tudo isso e não havê-lo pedido. Ele era um inglês, e não um gigolô estrangeiro... —Ou seja, ainda está aqui— Jack olhou nos olhos de Bel — Isso vai deixar uma marca — observou, aparentemente com satisfação. Acercou-se para lhe tocar a bochecha. —Graças. Eu não preciso de uma segunda opinião sobre isso — respondeu ele —Suponho que você é a culpada por essa situação idiota. —Eu sugeri o baile e esta sala— disse Bel, ele sentou-se no sofá — A culpa pela situação idiota é toda sua. —Você acha que eu deveria ter aceitado a oferta de Sua Alteza Sereníssima, certo? —Desde que você a ama, eu teria pensado que seria mais lógico. — Quem te disse que a amo — Ele viu a armadilha que ele intensificado. — Acabei de fazê-lo, certo?

—Eu tinha adivinhado, e eu queria ajudá-los. Não lhe ocorreu que ela o ama? Ou estão os dois tão determinados a pensar que tudo isso é apenas o sexo que não vêem o que tem na frente de seus narizes? Você realmente acha que uma mulher vai fazer algo tão difícil como pedir a um homem para casar com ela se ela não o ama? — Ama-me? —Jack descobriu que lhe falhavam as pernas, então ele se sentou em uma cadeira em frente de sua irmã. —Maldita coisa! —Ele tirou a máscara e atirou-a ao chão. Eve o amava? Ele a amava, assim que não era impossível, era apenas algo que não se atrevera a contemplar. Ela queria que seu toque, sua companhia, sua amizade... Não era tudo o que queria? Pensou em seu rosto quando ela se virou para ele com a mão sobre a chave da porta. O que havia dito ao mover meus lábios sem que pudesse ouvi-la acima do som da música? Ele havia aprendido a ler os lábios de seu trabalho como um espião, mas ele precisava de muita concentração. Tratava-se de Eve, ela merecia essa concentração. Ele fechou os olhos e olhou para a imagem dos seus lábios se movendo. “Como eu posso esquecer? Eu te amo”. — Por que eu não me disse? —Sua irmã era uma mulher e talvez pudesse explicar o mistério. —Porque é tímida, porque estava com medo de rejeição, porque pensou que o idiota de seu amante iria perceber sem ter que lhe dizer claramente. — Oh! —Bem, o que você vai fazer a respeito? —Bel perguntou depois de alguns minutos de silêncio. Jack olhou para a máscara preta deitada a seus pés. —Nada.

CAPÍTULO 22 — O quê? Jack, você gosta dela, agora sabe que ela te ama, e você diz que não vai fazer nada? — Bel, ela é uma grã-duquesa. Eu sou um filho menor. —"De um duque", disse ela. — Sua formação como descendente de uma das casas mais antigas da Inglaterra, é tão boa quanto qualquer um neste país. Você sabe o que você é Sebastian John Ryder Ravenhurst? Você é um esnobe. — Um o quê? —”Um esnobe”— Bel repetiu —Um esnobe em sentido inverso. Você se recusa a justificar a sua posição, a defender o que é porque ela tem um título. Um título por casamento, e não nascimento, não se esqueça. Um dia desses, você poderia ser Duque. Seu filho vai estar seguro. — Bel! — Você acha que eu não entendo a situação do nosso irmão? Se você está feliz, eu não vou julgar. E você é um cavalheiro Inglês, os de Maubourg deveriam ser grato por ter você como um padrasto do seu grão-duque — Jack estava em silêncio. — Então? O que você vai fazer agora? Bel perguntou. —"Nada” — repetiu ele. —"Nada” — sua irmã se levantou e olhou para ele com as mãos nos quadris — Nada. Porque o seu orgulho não vai aceitar que você tenha que estar sempre um passo atrás de sua esposa em funções do Estado. Porque não quer mudar seu estilo de vida. Porque as pessoas podem falar. Eu deveria aquecer suas orelhas, Sebastian, mas não adianta eu dizer isso a você. Bel saiu e fechou a porta. Jack ficou ali, observando os painéis pintados e tentando esclarecer seus sentimentos. Sua cabeça doía e seu coração doía. Ele estava deitado no sofá e com um gemido e descobriu que cheirava a Eve. O orgulho, o status, compromisso, amor. Um quebra-cabeça que não sabia como resolver. ****** — Quanto tempo eu posso ficar em Maubourg? —Frederic perguntou quando o carro cruzou a ponte de Londres. —Até o ano que vem. Isto não é o fim da escola, você sabe que seu pai quis educá-lo como um cavalheiro Inglês. Eve continuou guardando suas coisas para a viagem: os livros nos bolsos da porta, seu xadrez de viagem no banco e alguns

trabalhos na sua sacola de bordado. O assento de Fréderic estava cheio de pacotes de cartas, livros, um apito de madeira e um livro que Hoffmeister insistiu que ele levasse. — Porque meu pai não me deixava ir para casa de férias? — Acho que é porque queria que você fosse muito Inglês, — disse Eve. —Assim, quando você fosse mais velho que você teria todos os contatos diplomáticos e seu Inglês seria perfeito. — Eu senti sua falta. — E eu de você— disse Eve. Na verdade, suspeitava que Louis quisesse que seu filho crescesse com menos influência do sexo feminino, ou, com o aumento da influência de Napoleão, sentiu dúvidas ao se casar com uma mulher metade francesa. Fréderic assentiu. — E eu posso estudar com o tio Filipe e aprender a ser um grão-duque. — Sim, meu amor — ela sorriu com lágrimas de orgulho nos olhos. Ontem à noite, ocupada com os preparativos para a viagem, não teve oportunidade de verter as lágrimas que lhe enchia o coração até que chegou à sua cama, onde, finalmente, sozinha, chorou por aquilo que poderia ter sido e agora nunca seria. —Tio Philippe é um bom governante, certo? —Sim. —Mas não entende de esportes, aventuras e outras coisas, eh? —Não, eu não acho que ele está interessado— seu cunhado era o intelectual da família. — Eu gostaria que você se casasse com Mr. Ryder. — Fréderic! O que faz você pensar...? — Eu pensei que você o amava. E ele gosta de você, com certeza. Eu não entendo por que você não pediu para se casar com ele. — Possivelmente porque eu sou uma grã-duquesa— disse ela. O garoto balançou a cabeça. — Eu tenho pensado nisso, mas ele é filho de um duque, certo? Um dos meninos Eton reconheceu-o e disse-me. Eu sei que há muito tempo que você não está na Inglaterra — disse ele. — Mas é uma família muito importante. Você acha que eu deveria escrever-lhe e dar-lhe permissão? — Fréderic!

— É uma questão de etiqueta, — continuou o rapaz. —Eu tenho que perguntar a tio Filipe, porque o Sr. Ryder é muito mais velho que eu. — Vinte anos. — Em idade suficiente para ser um pai e jovem o suficiente para ser divertido, — disse o menino solenemente. —Fréderic, me prometa que não vai escrever. — Claro? Mas se você mudar de ideia, diga-me, mãe. Fréderic encontrou seu telescópio de bolso e tentou usá-lo com o veículo em movimento. Eve se recostou na cadeira. Bel acreditava que Jack a amava e seu filho sentia o mesmo. Ela esperava que ele o fizesse. Mas ele nada tinha dito. Estavam todos errados? Ou ele ocultou isto deliberadamente? ****** Dois dias depois, Eve ainda estava sem resposta para a pergunta. Viajando a uma velocidade razoável, com um dos servos sentado no banco ao lado do motorista, armado com uma espingarda e o outro com Grimstone montados um em cada lado do carro. Não tinha havido problemas ou situações de perigo aparente. Aparentemente, os ardis de Antoine tinham morrido com ele. Eve olhou para o campo, contrastando a Inglaterra com Maubourg. Teve a impressão de nunca ter encontrado um lar. O palácio francês era uma memória distante, viveu pouco tempo na Inglaterra antes de se casar com Louis e Maubourg tinha sido dela, pelo casamento. Jack parecia muito Inglês. Não tinha certeza do que aquilo significava, mas tinha visto uma mudança nele desde que chegou à Inglaterra, uma sensação de que estava em casa, que poderia tomar uma respiração profunda e relaxar. E ela lhe pediu para parar com tudo isso sem pensar no que poderia ser, sem nem mesmo perguntar quanta terra tinha e se ele era muito apegado a ela. Havia caído no amor sem vê-lo no contexto. Como esperava entendê-lo? Como saber o que ele renunciaria por ela? ****** Enquanto a carruagem se deslocava pelas calçadas de Lyon, três dias depois, Eve percebeu que não conseguiu compreender Jack. Não deveria ter-lhe proposto casamento, tinha que ter dito que o amava e que estava esperando sua resposta. Eu deveria ter encontrado uma maneira de indicar que ele poderia propor

casamento... Se ele me amava. E ele não deveria ter começado isso sem pensar em quanto poderia mudar seu estilo de vida e se encaixar no seu. Ainda não sei como ele conseguiu isso. Através da janela da carruagem viu o Ródano, o rio em que teria morrido se não fosse por Jack. —Não falta muito— disse a Frederic, espirituosa, e chegou a pensar em maneiras de encontrar compromissos. Mas como? Era seu filho, seus deveres... e um país centenas de quilômetros da Inglaterra. Fréderic abriu os olhos para ver o castelo à distância e começou a procurar lugares familiares, coisas que pudesse reconhecer. Grimstone estava à frente, a cavalo para avisar de sua chegada. Pouco depois os guardas começaram a se destacar em uma fila em ambos os lados da porta e as pessoas da cidade e vieram correndo para ver o que estava acontecendo. A carruagem parou e o lacaio colocou os degraus e estendeu a mão para Eve. —Não— disse Frederic —Desculpe-me, senhora — disse com uma dignidade que ela não sabia que possuía. Saiu primeiro e, de pé ao lado da porta estendeu a mão, fazendo uma pequena cerimônia para o aparecimento dela. Olhou para ela com orgulho. Orgulhoso de si, orgulhoso dela e orgulhoso de estar em casa. Orgulho. Eve foi deixada para trás quando Philippe veio até a porta e caminhou para seu sobrinho. Frederic foi ao encontro do tio. — Sua Alteza Sereníssima, bem vinda a casa, o homem curvouse para o rapaz e logo a dignidade de Fréderic se foi, e jogou os braços ao redor de seu pescoço. — Tio, estamos de volta! Ele se virou — Mãe, olha, tio Philippe está bem. — Isso eu vejo— Eve aproximou-se e estendeu as mãos a seu cunhado. Mas sua mente estava ocupada por uma palavra. Orgulho. Orgulho e honra. Tão importante para os homens e tão fácil de esquecer para as mulheres que amavam.

— Sinto muito ter deixado você — ela murmurou ao seu cunhado quando lhe deu o braço para entrar na sala de jantar mais tarde. — Foi a melhor escolha — Seu lugar era com Fréderic e seu curso alterou os cálculos de Antoine. O regente a instalou na cadeira ao lado da sua na mesa redonda que a família utilizava ao jantar sozinha. Agora eram só os três, já que a esposa de Philippe tinha morrido há anos sem filhos. —Você está bem — observou Philippe quando os servos serviram a sopa e se retiraram — fez bem sair daqui. — Pela primeira vez em mais de nove anos — disse ela — Sim, foi uma mudança. E os longos dias passados no exterior foram encorajadores. —Eu nunca entendi por que você não tinha ido antes. —Louis preferiu não viajar. —Louis está morto há quase dois anos — lembrou o cunhado suavemente— Você tem sido muito obediente aos seus desejos. Sim, isso era verdade. A regra que Frederic deveria estar na Inglaterra, a regra de que ela não deveria viajar ... No entanto, Philippe foi um governante competente e não precisava dela o tempo todo enquanto Frederic só estava lá de férias. E o resto do tempo, seu filho estava na Inglaterra. De repente, ela foi capaz de encontrar um compromisso em sua mente, um plano que pudesse presentear a Jack. Ele poderia recusar isso... E a ela. Mas tinha que tentar. —Fréderic, Philippe — os dois estavam envolvidos numa discussão apaixonada sobre a tática de Napoleão em Waterloo envolvendo saleiros, um pote de mostarda e um rolo de pão e a olharam —Você se importaria muito em voltar à Inglaterra? — Quando? —Philippe pareceu surpreso, mas o menino abriu um largo sorriso. —Amanhã. Eu tenho que fazer alguma coisa, — Fréderic sorriu. Ver alguém. Eve se ofereceu a Grimstone levar outra escolta, assumindo que eles ainda estivessem cansados da viagem, mas o chefe recusouse a ouvir isso. —Eu a acompanho onde quer que vá, disse. Para onde vamos agora, senhora? —A Inglaterra — disse ela com firmeza. —Voltamos para Londres.

— Sim, senhora — o mordomo conseguiu inexpressivo — O que vos digo. Em Londres, então.

mostrar-se

****** Eve não partiu até à tarde do dia seguinte. Em parte porque queria ver Fréderic redescobrindo o castelo e em parte porque queria garantir plenamente que Philippe estava bem, mas também porque ela estava determinada a repetir o percurso que tinha feito com Jack e parar na mesma estalagem. E se quisesse chegar absurdamente cedo para o primeiro, tinha de adiar a partida. Não sabia o que ia fazer quando chegou à parte onde eles dormiam sob as estrelas, mas achou que pensaria no devido tempo. Eram seis horas quando a carruagem depositou a Grã-Duquesa de Maubourg no limiar de uma das pousadas mais humildes. O proprietário a recebeu, e piscou um pouco por vê-la tão cedo, mas desta vez não a reconheceu e se limitou a lamentar que o marido não viajasse com ela e de lhe assegurar que a sala estava livre. Havia mais convidados, mas esperava-se um grupo de caça, dois dias depois. Mas era bom que a senhora poderia ter o alojamento para si e para acender um fogo na sala, ela tinha certeza que estava ameaçando chuva e a temperatura começou a cair. A chuva veio torrencial e assim fez Eve pensar na noite antes da batalha. Mas agora ela estava em uma sala quente e seca e não em um abrigo de palha. O fogo lançou uma luz vermelha nas paredes brancas e ouviu as vozes dos homens da taberna. Lá, estava sozinha e poderia pensar em Jack. Desta vez tinha que fazer isso direito. E foi pra cima da cama que eles tinham compartilhado e pensaria nele quando fosse para a cama. Eve sorriu. O que pensaria Jack se a visse repetir agora com nostalgia seus passos através da França? Será que a consideraria uma tola ou entenderia? A chuva caiu forte, quase como se a pequena estalagem fosse um barco em mar revolto, com ondas batendo nas laterais. Se estiver chovendo no dia seguinte, eles não poderiam sair. Curiosamente, a ideia do atraso não a incomodava. Tinha tomado uma decisão, voltaria com Jack e sabia que ele estaria lá quando chegasse. Fora eles ouviram passos, a porta se abriu e o anfitrião chamou o menino do estábulo. Talvez um viajante apanhado na tempestade. Eve deixou o livro que lia e foi afastar a cortina. À luz das lanternas

irregular no vento, ela viu o menino, coberto com um saco, levando um grande cavalo para o estábulo. Seu proprietário, um homem alto coberto com um manto, já estava no abrigo da varanda. Um viajante solitário. Parecia que ela já não estaria sozinha. Eve deu de ombros. Ela não se importava. Chamaria um dos lacaios para manter as aparências. — Que surpresa, meu senhor! —Recebeu o estalajadeiro ao recém-chegado. —Avante, avante. É uma noite terrível, mas pelo menos você tem um ambiente aconchegante e seu antigo quarto. Por aqui, senhor, por aqui. Aparentemente, ele era um viajante conhecido. Mas Eve ficou surpresa que o proprietário parecesse pronto para entrar na sala sem falar com ela. —Aqui, senhor. A porta se abriu e uma figura alta encheu a sala. A água caiu do manto e formou uma poça a seus pés. O homem tirou o chapéu, que não tinha sido capaz de evitar que o cabelo molhasse preso à cabeça. Eve se levantou. O viajante olhou cansado, com olheiras e linhas nos cantos de sua boca que ela podia jurar que eram novos, mas ao vê-la empalideceu e sua pele branca pálida claramente destacou o arroxeado de quatro dedos. —Jack. Oh, meu Deus, Jack! Atravessou a sala e se jogou em seus braços, e ele abaixou a cabeça e seus lábios se encontraram.

CAPÍTULO 23 — Senhora! Senhora? Ei, você não pode entrar aí... Senhor! Grimstone veio da taverna com os punhos cerrados, mas parou com uma surpresa quase cômica ao ver Jack. — Obrigado, Grimstone. A senhora está segura comigo. Os guardas se afastaram sorrindo. —Se precisar de algo, estamos na taberna. —Você pode tirar minhas botas — disse Jack, sustentado em um pé e Grimstone tirou primeiro uma bota depois a outra. — Estalajadeiro! Um banho quente logo que possível, por favor— ordenou Eve. —Você está encharcado. Você vai pegar algo sério. Jack tirou o casaco e a jaqueta, colocou-os nos braços de Grimstone e se virou para ela. —Eu sou forte o suficiente para suportar um pouco de chuva. —Você parece um rato meio afogado, venha para o fogo. Jack tomou-a nos braços e se dirigiu para as escadas. Eve viu que os presentes sorriam e enterrou o rosto no ombro de Jack, envergonhada e animada ao mesmo tempo. — Esqueça a água quente — Jack disse sobre seu ombro. — Chamarei mais tarde. — Jack! — Ela estava protestando quando ele empurrou a porta com o ombro e a deixou em pé dentro do quarto. Eve fechou a porta— Pode dizer-me o que você está fazendo aqui? Houve um acidente? Onde está Fréderic? E você já tinha que ter chegado a Maubourg. —Sim, nós chegamos ontem. Fréderic está com seu tio. — O que você está fazendo aqui?— Jack ainda estava pingando água. — Eu vou para a Inglaterra. — Mas por que você está aqui? — Eu queria dormir na mesma pousada que usamos juntos. Assim, deixei o castelo, esta tarde. Ele sorriu. — Por que voltar? Você deixou para trás o seu chapéu? —Não— ela não poderia fazer piadas sobre isso tinha que dizer já — Eu queria te ver e dizer que estou arrependida. Eu fiz muito mal — não podia suportar ser o foco dos olhos cinza inteligentes que parecia ver através dela. —Eu pensei sobre o status e o que fazer como a grã-duquesa, não o que queria fazer como uma mulher. Eu

feri o seu orgulho, fiz exigências sem pensar sobre o que você queria ou precisava. Eu não disse que você o mais importante — as palavras ficaram presas em sua garganta. Atrever-se-ia a dizer-lhe? Uma vez ditas não poderia retirá-las. Mas ele não perguntou. E o coração de Eve afundou. — Você não vai perguntar o que eu faço aqui? — Ele perguntou. — Eu supus que você tem vindo por causa da tempestade. — Não, vim aqui. Eve, você não acha estranho que esta aqui? — Bem, é claro. Você deveria estar em Londres. — Eu deveria estar onde você está — disse ele gentilmente. Ele pegou a mão dela e puxou-a para ele — Eu queria passar uma noite aqui antes de ir para o castelo. Uma noite para recordar a primeira e preparar o meu discurso. — Discurso? — Ela se sentiu estúpida, tonta. Uma pequena voz sussurrou que isto ia bem, mas não se atreveu a acreditar. — O discurso que se ajoelhar no chão e beijar sua mão — e se ajoelhou diante dela e levou a mão dela aos lábios. —Em que eu te digo que te amo e peço-lhe para casar comigo — esperou pacientemente, seus lábios curvados em um sorriso sobre as articulações. — Mas você disse... — Ela o interrompeu — Você me ama? — Eu te amo, deveria ter dito em Londres, mas eu deixei meu orgulho ficar no caminho dos meus sentimentos. Reagi sem pensar em como poderíamos fazer funcionar e sei que podemos. — E eu nem sequer pensei que nós tivéssemos que pensar sobre como funcionar. Eu só o queria em minha vida. Minha vida antiga como se poderia exigir que se encaixasse na corte em Maubourg. — Temos que inventar uma vida nova. — Oh, sim, uma nova vida com Jack, ele a amava. — Você tinha que me dizer algo importante — ele a lembrou. — Que eu nunca disse a um homem — disse ela —Eu amo você — colocou uma mão em seu ombro e tomou o outro para as contusões em seu rosto — Eu te amo com todo meu coração e eu quero me casar com você— e de repente era fácil dizê-lo — Eu te amo. Eu te amo. Jack levantou-a nos braços e a levou para a cama. Ela olhou por cima do edredom branco macio. — Você tem que se aquecer, está encharcado. —Tenho a intenção de me aquecer rapidamente.

Ele tirou a gravata e a camisa e ela se ajoelhou na cama para ajudar. Ela colocou a mão em suas calças e Jack se afastou e terminou o strip-tease. — Há. Agora você pode aquecer. — Antes se seque — sussurrou Eve. — Dispa-se— Jack pegou uma toalha, impaciente, e começou a esfregar o cabelo sem olhar para ela. Eve saiu da cama e começou a despir-se com pressa. Quando terminou, Jack jogou a toalha molhada sobre a pilha de roupas no chão, sentou na cama e puxou-a até que ficou entre suas pernas. — O que você propõe que façamos agora? —Ele perguntou. —Isto — Eve colocou as mãos em seus ombros e ajoelhou-se na beira da cama, escarranchada sobre ele, apertou-lhe as coxas e seu púbis logo acima de sua ereção latejante. Moveu-se para encontrar o ângulo correto e ele segurou-a pela cintura. Ela o levou para dentro com um movimento forte, de possuir e ser possuído. Eles ficaram imóveis olhando-se nos olhos, com os seios apertados no peito e esfregando seus mamilos. Ela se inclinou para frente e todo o seu peso caiu sobre a cama abraçados, com ele deitado de costas. Jack virou-se com um grunhido e beijou e lambeu cada centímetro dela. — Eu amo você — sussurrou em seu ouvido —Eu te amo. — Eu te amo — disse ela. O seu beijo engoliu suas palavras e seu fôlego. Penetrou mais fundo e mais forte do que ela teria acreditado possível e começou a se mover, enlouquecendo, com o corpo arqueado abaixo dele, as pernas, abraçando seus quadris e nádegas empurrando os calcanhares para baixo. —Eu te amo. Eve não sabia qual dos dois tinha falado, o mundo tornou-se apenas uma noite de veludo preto e ela virou-se no espaço, o prazer que inundou o corpo dela foi um presente dele, pois ela deu-lhe todo o amor de seu coração, e ele sussurrou seu nome na intensidade do orgasmo e caiu em seus braços, seus corpos abraçando ainda. ****** Jack estava ciente de que umas mãos cobriam seus ombros com os cobertores. Ele abriu um olho e viu-se enrolado confortavelmente no peito de Eve. Uma bênção. Ele estendeu sua

língua e lambeu o bico rosa, e foi recompensado com um pequeno grito e riso. Ele mudou de posição e dedicou mais atenção ao mamilo. —Jack... Agora não. Temos que comer. — É necessário? — Sim, Eve sentou-se — Fizemos amor um monte de vezes e eu estou morrendo de fome. — Tudo bem. Chame — disse ele. As pernas o sustentaram até o cabo do sino. Puxou-o e colocou a camisa e as calças — Onde? Aqui? —Sim — Eve estava fora da cama e procurava suas roupas, protestando que a toalha estava molhada. Colocou o vestido sem se preocupar com as roupas intimas e foi fazer uma trança no cabelo. Bateram à porta. Jack enfiou a cabeça e encontrou Grimstone, sua expressão era tão vazia que era até insolente. — Comida. Vinho. Aqui rápido. — É uma hora da manhã, houve uma pausa. —Eu encontrarei alguma coisa. Jack fechou a porta e encostou-se nela. — Sabe que horas são? — Eu ouvi pobre Grimstone! — Desculpe. Está muito cansada? — Não — ela disse. Dormi um pouco depois da última vez. — Eve, nós temos que falar antes de chegarmos a Maubourg — Você tem que decidir como vamos fazer antes de falar com Fréderic e seu cunhado. Ela se levantou e foi limpar a pequena mesa, onde eles iriam comer. — Eu acho que podemos ficar na Inglaterra, enquanto Fréderic está na escola e aqui nas férias, mas eu não sei se você tem terras na Inglaterra, — balançou a cabeça. —Eu estou envergonhada. Eu nunca perguntei por sua casa. — É um bom acordo, —Jack pensou em Knightsacre, que tinha sido negligenciada, a propriedade precisava de uma mulher para retornar à vida. — Minha propriedade é chamada Knightsacre. Eu gosto dela, está no oeste. Terra verde, suave, colinas, rios limpos. Você pode aprender a tornar-se dona da casa. Tem 300 anos, mas sem torres ou masmorras. Por anos eu a tenho negligenciado: está esperando você. — Oh, sim. Eu posso imaginá-la e imaginar-te voltando para casa, subindo os degraus de uma mansão inglesa para torná-la a

nossa casa. Mas o que você vai fazer quando você estiver em Maubourg? Você não ficará entediado? Bateram à porta e Grimstone entrou com o que foi encontrado na cozinha e deixou-o sobre a mesa. — Senhor, está bem assim? — Sim, obrigado. Agora vá para a cama. — Estamos nos revezando na guarda. Nós não queremos deixar sem proteção com a Sra. Eve aqui — inclinou-se e saiu. Jack pegou uma cadeira e esperou Eve organizar bandejas de pão, queijos e frios. —Se você está preocupada comigo ficando entediado, isso significa que tenho de trabalhar? Eu esperava trazer um chapéu elegante e estar sempre um passo atrás de você nas cerimônias. Eve teve que enfrentar o estranho, porque ele parecia preocupado. — Desculpe, foi uma piada — Eu pensei que eu posso ser o tutor de Fréderic, ensinar tiro, esgrima e equitação também. E talvez eu possa fazer algo para promover a agricultura, cultivo de flores para o perfume é bom, mas as culturas de grãos são fatais. Ela pegou a mão dele. — Você vai ser o pai, não tutor dele, e ele adorara passar o tempo com você. — Obrigado — tomou um gole de chá e franziu o cenho — Isso vai parar o seu trabalho para o governo? —Conclui meu trabalho privado. O Governo terá que vê-lo. Eu não posso fazer nada que possa atrapalhar meu compromisso com o ducado. — Nem nada perigoso— disse ela. Ele arqueou as sobrancelhas. — Oh, esta bem, todos nós sabemos que é divertido — Mas nada de resgate de nenhuma Senhora— insistiu nisso. — Tudo bem. —Jack... Sim? — Antes, quando nós fizemos amor, você teve cuidados. Hoje à noite, você não se preocupou. Eu gostei mais ainda. Mas isso significa que você não se importa que nós tenhamos família? — Eu gosto muito — Bem, —ela sorriu. —Um menino e uma menina? — Um menino e duas meninas — ele corrigiu — Temos de manter os números encontrados e se as meninas parecerem com você, vai ser fantástico.

— Tudo bem. Seria maravilhoso se nós começamos a nossa família hoje. — Quando poderemos nos casar? —Ele perguntou, preocupado. Eles não podiam permitir nenhum escândalo. Eve fez uma careta. — Duas semanas — disse — Vou dizer ao arcebispo que devemos consertar o problema. — Faça-o em três — sugeriu — Assim, podemos trazer convidados da Inglaterra. Vou começar a lista. Eles levaram o caderno e lápis para a cama e começaram a planejar o casamento. — Quem te entrega? — Perguntou Jack. Ela respondeu em um sussurro. Ela tinha a cabeça em seu ombro e olhos fechados. Jack a beijou na testa e deixou-a dormir. A Eve não tinha ocorrido que pudessem reconhecê-la. Sua primeira visita e, na noite anterior tinha dado a ele uma sensação de segurança. Mas quando se levantou na manhã seguinte e encontrou Grimstone e dois lacaios de pé discutindo o estado de botas de Jack com o estalajadeiro, também uma grande mulher, várias criadas e o menino do estábulo. — Senhora — disse o proprietário, muito sério — devo dizerlhe que minha mulher a reconheceu. Eu só quero dizer que aqui somos fortes apoiadores da casa ducal e preferíamos cortar a língua a espalhar boatos. Você pode ter certeza de nossa discrição. Eve sentiu os joelhos dobraram, mas Jack apertou a mão do homem. — Vocês estão todos convidados para o casamento —disse ele— Grimstone, cuide dela. — Ah, sim, e você tem um brasão de armas para colocar na porta— olhou para Eve — Eu posso fazer isso, certo? — Fréderic. Você terá que perguntar a ele. — É melhor que pedir permissão para casar com você, você não acha? — Ele perguntou, quando a levou para dentro do carro. — Ambos permanecerão paralisados com vergonha — protestou Eve. — Bobagem. Vou ser muito solene, chamá-lo pelo título e encantá-lo. Então brindaremos com o melhor conhaque de Napoleão. — Jack, ele tem nove anos! — Eu disse o melhor conhaque— ele sorriu e abanou a cabeça. —Agora me diga sobre as pessoas que eu devo conhecer.

— Bem, desde que você enviou Grimstone com antecedência, acho que toda a corte. O primeiro é Philippe... ****** Os esperava toda a corte e a guarda de honra. Jack ajudou-a a descer com o som de trombetas e os aplausos da multidão. — Como você sabia? — Ele murmurou, apontando para o povo da cidade. — Eu não sabia, mas é claro que esta é uma ocasião especial. — Eu vou desenhar um uniforme, — disse Jack enquanto caminhavam solenemente até onde os esperava Philippe. Fréderic abriu um largo sorriso ao seu lado — Algo duro e preto com apenas um toque de prata. — Não precisa meu amor— Eve acenou para a multidão que aplaudiu e apoiou a outra mão no braço de Jack. Sentia-se tão orgulhosa que pensou que iria flutuar — Ocorreu-me um lugar e um título apropriado para você e não leva uniforme. — Não? — Não — ela disse quando chegou ao pé da escada — Mestre de alcova. Jack parou e olhou para ela e ela se perguntou por um momento se a piada o tinha ofendido. Em seguida, ele atirou o chapéu para a multidão, tomou-a nos braços e a beijou na boca. Quando a multidão gritou sua aprovação, levantou os lábios apenas o suficiente para sussurrar: — Um posto vitalício, eu suponho. Aceito com todo o meu coração.

FIM

SOBRE A AUTORA: Louise Allen nos diz: "A regência é minha paixão. Eu acho uma era infinitamente fascinante, cheia de contrastes e mudanças, de perigos, de luxo, elegância e miséria. As liberdades que as mulheres tinham escandalizavam seus avôs vitorianos, no entanto, viviam sem códigos sociais que tanto intrigam e assustam agora. Os homens na sociedade poderiam fazer fortuna com cartões e morrer em um duelo perigoso, tudo em 24 horas. Tudo é tão diferente, com o glamour do passado dourado, e ainda os personagens parecem chegar e nos tocar agora. Eu vivo na Inglaterra, em uma aldeia em Bedfordshire com meu marido. Ele não tem certeza se fica lisonjeado ou alarmado quando lhe digo que ele é a inspiração de todos os meus heróis românticos! Sempre que possível, fujo para a nossa casa na costa de North Norfolk ou Londres, para explorar as ruas com um guia para 1.808 na mão. Minha resolução cada vez que eu inicio um novo projeto é planejar com cuidado, tomar notas e escrever primeiro um montante dos planos de forma disciplinada e ordeira. O que inevitavelmente acontece é que a história vai sendo escrita na minha cabeça até que esteja completamente fora de controle, enquanto o andar do meu estúdio se torna um mar de livros abertos, gravuras e mapas, e eu me vejo sentado sob as luzes do carro, murmurando um diálogo. Neste ponto eu tenho que começar a escrever, sabendo que o herói e a heroína vão assumir todas as minhas tentativas de sabotagem à disciplina. É, afinal, a história. Meus primeiros romances históricos foram co—escritas com uma amiga: Francesca Shaw. Nenhum novo romance com Francesca Shaw por algum tempo, mas ainda aparecem como separatas de vez em quando e está listado na página dos meus livros.
Louise Allen 01 - Um Oponente Perigoso

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