M. G. Morgan - Bad Boys Rockers do it Better 02 - Imagem de Mim

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Com a confiança de Kat em Matt destruída, todo seu mundo começa a desmoronar. Mas a história de Matt não é a única coisa que ressurge. Os piores pesadelos de Kat voltam à realidade quando uma jovem de sua antiga cidade vai procurá-la com um desagradável segredo que somente Kat conhece e muito bem. Kat está perdida, dividida entre sua razão e seu coração. Mas quando Matt despeja alguns de seus segredos ela entende suas devastadoras ações. Mas, o que ocorre quando os monstros de seu pesadelo são mesmo muito reais? Quando retornaram para finalizar o trabalho que começaram todos esses anos atrás? O que acontece quando você confiou no homem que antes quebrou seu coração?

T

entei ignorar o aperto de Brody, mas ele insistiu em me agarrar. Como se estivesse preocupado de que se de repente me soltasse eu fugiria e faria algo estúpido. – Vamos tomar um café? – disse ele, mantendo o braço enrolado em volta dos meus ombros enquanto me rebocava para seu carro. – Mas o que acontece com o escritório? Stephanie? Brody me sorriu antes que finalmente não pudesse conter-se por mais tempo e começou a rir. – Viu o rosto de Stephanie quando essa mulher lhe chutou o traseiro? Nunca lhe vi esse olhar zangado em toda minha vida. Ele tinha razão, o olhar no rosto de Stephanie tinha sido absolutamente inestimável. Mas depois de assistir Matt correr do estacionamento atrás da mulher que tinha ajudado a destruir a minha vida, eu simplesmente não podia apreciar todo o humor na situação. Tratei de sorrir, mas sabia que não chegou a meus olhos. Brody apertou meu ombro uma vez, antes de pressionar o botão na chave, destrancando o carro com uma torção. Abriu a porta do passageiro e fez sinal para eu subir. Uma vez lá dentro, eu o vi correndo em direção do lado do motorista e pular dentro. – Por que está fazendo isso? As palavras saíram antes que eu tivesse a chance de contê-las. Brody parou por um minuto, as mãos pairando sobre o contato.

– Realmente não precisa saber a resposta, certo? Balancei minha cabeça lentamente, brotando lágrimas de meus olhos. Engoli em seco, em um intento de guardar isso tão fundo que nunca veria a luz do dia. Mas uma escapou. Deslizou por minha bochecha. Brody se virou e me olhou, com a mão estendida automaticamente para mim. Como se simplesmente pudesse deter as lágrimas ao me tocar. Mas se conteve. Um olhar passou por seus olhos, fazendo seus movimentos rígidos. Suspirou. – Só pensei que poderia fazer isso com um amigo, isso é tudo. Encolheu de ombros e acelerou. O carro saltou para frente, batendo no cascalho a nosso redor enquanto o tirava do estacionamento e se unia ao trânsito. Sustentei o rosto nas mãos enquanto ele ziguezagueava através das ruas da cidade. Não pronunciei uma palavra enquanto estacionava o carro frente a um pequeno café. Inclusive quando fomos para dentro e pegamos uma pequena mesa na janela, não pude encontrar as palavras para lhe agradecer. Sentia-me como se tivesse sido silenciada. Era uma burra. Não havia outra maneira de ver a situação. Fazia a coisa maior que era e tinha jurado que não faria. E o que era pior, tinha-lhe contado meu segredo. Que tinha mantido dentro de mim, sempre. No minuto, que ele tinha pedido que derramasse minhas lágrimas. E no dia seguinte ele tinha se deslocado, atrás de um dos demônios de meu passado. Deveria havê-lo conhecido melhor. Matt não se interessou por mim no instituto, uns poucos anos não fariam isso mudar. – Fui uma idiota, certo? Agarrei a taça de café que Brody me tinha comprado. Nem sequer era normalmente uma bebedora de café, mas hoje queria ser diferente. Queria fazer todas as coisas que

sempre tinha tido medo de fazer. Hoje queria ser qualquer pessoa, menos a patética idiota que era. – Não, não foi uma idiota. Traguei um amargo gole do líquido escuro e assenti com a cabeça com veemência. – Fui. Apaixonei-me por seu encanto... Queria acreditar que eu era especial e que ele viu algo em mim que ninguém mais via... Brody se inclinou sobre a mesa e tentou pôr sua mão na parte superior da minha. – Kat, não pode culpar a si mesma. É uma linda, inteligente, jovem e doce mulher. Se alguém deveria sentir-se mal é ele. Aproveitou-se de você. Fechei os olhos e contive uma profunda pausa. Não podia culpar ao Matt por isso. Aqui só havia um culpado, e era eu. Matt tinha utilizado às mulheres que se lançavam aos seus pés. Eu tinha me comportado como qualquer outra garota por aí. – Não, Brody, equivoca-se. Fui uma idiota. Sabia quem era e quem seguia sendo... estava adulada e lhe deixei nublar meu julgamento... mas... Brody inclinou a cabeça para um lado e me olhou inquisitivamente. – Mas, o quê? – Isso nem sequer é a parte que me mata... Falei de meu passado... disse-lhe o que aconteceu... A expressão do Brody trocou de curiosidade para surpresa em um abrir e fechar de olhos. – Falou da agressão de seu professor?

Observou-me, com confusão nublando seus olhos. – Não entendo? Como foi que inclusive saiu essa conversa? – Bom – detive-me. Nunca tinha contado a Brody toda a história. Como podia dizer-lhe agora, de repente? Ele entenderia? – Bom, essa não é toda a história... Brody me observou fixamente, seu olhar completamente no meu. – Pode-me me contar qualquer coisa, Kat. – Não importa... Pus as mãos com mais força ao redor da taça e deixei cair o olhar, até que me concentrei totalmente no líquido do interior. – Nada disso importa agora. – Kat, se for importante para você, é importante para mim... pode me contar isso tudo. Levantando a taça aos lábios, traguei um pouco de café antes de levantar o olhar e formar um sorriso nos lábios. – De verdade, não é importante. Estarei bem. Esta manhã só foi um pouco surpreendente isso é tudo, mas não é realmente um grande problema. Brody se apartou e se recostou em sua cadeira. – Bom, sempre e quando não culpar a si mesma... Por nada disto. Matt volta para os livros, esta tarde. Não posso permitir que trate meus empregados dessa forma. Não está bem.

Neguei com a cabeça. – Não, não pode fazer isso. Não é sua culpa. Quando Ângela se apresentou hoje, ele parecia tão surpreso como nós. - Inclusive dizer o nome dela era duro. Depois do instituto, tive a esperança de não voltar a vê-la. Não podia apartar o olhar de suficiência que me tinha dado quando tinha respaldado ao Senhor Craigsdale. Pus-me de pé de repente empurrando a cadeira para trás com tanta força que se estatelou contra a parede. – Tenho que ir. Não posso... Tenho que estar sozinha... sinto muito. Corri para fora, para longe de Brody. Ele tratou de me seguir e me agarrou pelo braço, enquanto corria para fora, através da porta. – Kat, espera... Não vá. Sacudi a cabeça, as lágrimas apagando minha visão. Pensar no passado havia me trazido tudo de volta. A dor e a traição que tinha sofrido nas mãos deles. E agora a traição que sentia devido ao Matt. Ter ao Brody me dizendo que não era minha culpa, que não tinha feito o ridículo, era muito. Não queria às pessoas sendo amáveis comigo, era mais do que podia suportar. – Não, deixe-me ir. Tenho que ir. - Endureci a voz e me sacudi livre do agarre de Brody. Minhas pernas me levaram para fora do café e saí à rua. Não olhei para trás. Não queria olhar por cima de meu ombro e ver o olhar no seu rosto. Me odiaria... E não queria ver isso.

P

erambulando pelas ruas deixo que meus pés me levem aonde queiram. Não foi até que olhei ao meu redor que me dei conta de onde estava. Monkey House, agora estava em silêncio. O clube só voltava a vida de noite. Olhei o letreiro pendurando sobre a porta da frente e engoli a dor. Aqui era onde tinha abrandado com Matt. Ele tinha se visto tão vulnerável, muito ferido e prejudicado. E podia entender isso. Sabia o que era estar destroçado, tão destroçado que não tinha mais nada a fazer além de tentar destruir a si mesmo. Se autodestruir. Era fácil continuar para baixo nesse caminho em vez de curar-se. A cura era dolorosa, mas era um tipo diferente de dor. Sabia tudo sobre esse poço negro de desespero. E a última noite, pela primeira vez em minha vida, tinha querido sair. Não queria mais dor. Essa culpa que levava comigo como se eu tivesse pedido o que me tinha ocorrido. Não o fiz. Tinha sido abandonada por todos em minha vida, todos os que me importavam tinham achado mais fácil acreditar na mentira. Exceto quando Matt havia me encontrado. Quando seus dedos limparam as lágrimas de minhas bochechas, tinha me sentido viva outra vez. Havia esperança. Ele tinha acreditado em mim. Não riu ou me disse que provavelmente tinha pedido. Todas as coisas pelas quais estava acostumada. Se fui. Só o entendimento e algo mais. Algo similar. Não o tinha imaginado. Era real. Tinha que sê-lo. Afastando-me do clube, corri. Escapando dos pensamentos em minha cabeça, e o sentimento de que tentei me elevar da superfície. Perigosos pensamentos e sentimentos, uns que não podia confrontar. Não podia perder

meu coração por Matt. Não quando ele se afastou tão rapidamente de mim. O telefone vibrou em meu bolso, diminuindo minha desesperada carreira imprudente através das ruas. Olhando à tela movi para cima as mensagens que estavam filtrando-se. A maioria era de Brody. Querendo saber se estava a salvo. Onde estava? Estava bem? A última era de Maggie. – Precisa vir para casa, imediatamente... há alguém que quer te ver. Meu coração parou em um alto estremecimento. Ele tinha vindo atrás de mim? Possivelmente Matt tinha decidido retornar, não deixar as coisas da forma que estavam... mas isso não tinha nenhum sentido. A forma que ficou quando tinha visto a Ângela, isso era justo algo que terminava contigo. Ela tinha deixado cair uma bomba e Matt parecia em pedacinhos... só Ângela podia fazer isto... era seu presente... como destruir a vida das pessoas. Pus as mãos à obra, em direção ao apartamento. Estava curiosa. Não podia evitá-lo. Queria que fosse Matt, mas no fundo sabia que não havia chance de que fosse ele. Foi atrás de Ângela. O olhar em seus olhos me havia dito tudo o que precisava saber. Se fosse para escolher entre ela ou eu... sempre seria ela. Agarrando o ritmo me permiti imaginar como teria sido se ela não tivesse chegado esta manhã. Matt e eu teríamos ido comer... mas isso não importava mais, inclusive em minhas fantasias não podia lhe fazer estar comigo. Inclusive em minha própria opinião, sabia que não estaríamos juntos, não importa o que pensei que tínhamos compartilhado. Chegando ao edifício entrei e subi as escadas lentamente, meu coração disparando em meu peito. Esse era meu presente, o eterno otimismo. Empurrando a porta, a abri e andei para o centro da sala, antes que a visse. Sentada no sofá, seus pequenos ombros estavam afundados em si mesmo, como se carregasse o mundo, e se

fazia muito pequena. Conhecia esse olhar. Tinha levado um longo tempo para me sacudir e liberá-lo. Mas, quem era a garota? Havia algo terrivelmente familiar nela. Mas não podia pôr o dedo nisso. Parte de mim sentia como se a conhecesse, mas não me frustrava. Maggie se moveu para a cozinha e gesticulou para que a seguisse. Fui com ela, lançando olhadas confusas para trás, sobre meu ombro, para a adolescente sentada no sofá, bebendo de uma xícara. – Quem é ela? - Sussurrei para Maggie logo que pensei que estávamos fora do alcance do ouvido. – Pensei que saberia... parecia conhecer você... diz que foi ao instituto com sua irmã. Voltei a olhar. Não podia sacudir esse sentimento de familiaridade, mas minha mente se negava a cooperar. Estava muito absorta em meus próprios pensamentos sobre Matt e o que tinha ocorrido com Ângela. A última coisa que necessitava justo agora, era outra bomba do passado. Endireitando os ombros voltei a me dirigir para a sala de estar e sentei à mesa em frente da garota. Seu escuro cabelo e comprido pendurava-se em frente de seu rosto como uma cortina, escondendo a maior parte de seus traços. Mas a apanhei me observando, seus grandes olhos escuros e expressivos. Era bonita de longe, muita bonita para gastar o tempo escondendo-se longe do mundo. – Sou... – Cortou-me antes que tivesse oportunidade de continuar. – Kat Faulkner. Sei quem é... Assenti e botei as mãos através do peito. – Mas, não a conheço? Não é justo que saiba meu nome, mas eu não saiba o seu?

– Emma... – Virtualmente exalou a palavra e apenas eu escutei. Algo chamou minha atenção e sem sequer realmente pensar estendi a mão e lhe apartei o cabelo do rosto. A contusão se destacou contra sua pele pálida. Ela estremeceu e se sacudiu fora de meu alcance, seu cabelo sacudiu e voltou ao lugar, através de seu rosto, mais uma vez. – Não me toque... - As palavras estavam cheias de emoção. Emoção com a qual estava muito familiarizada. Tremi. Escutar esse tom de alguém mais... era como permanecer dentro de uma ducha fria. – Por que está aqui? - sussurrei as palavras. Não estava nem sequer segura de por que sentia a necessidade de sussurrar, mas era a única forma de conseguir que as palavras saíssem de meus lábios. Sabia o por que de ela estar aqui. Podia senti-lo em meus ossos. Todo meu mundo estava sentando em uma fonte feita de areia. E no momento em que pronunciou essas palavras, entraria em colapso. – Queria saber se é verdade... – Se é verdade o que, Emma? – Se ele realmente... - Engoliu em seco, como se, inclusive, dizer as palavras de algum jeito lhe fariam aparecer. – Se ele realmente tentou... – Baixou a voz em um sussurro. – Te violar... – Seus olhos estavam arregalados e assustados. Lágrimas não derramadas brilharam, escondendo-se logo abaixo de sua íris marrom. – Sim... – A palavra pendurou no ar. Parecia diminuir tudo, a passo de tartaruga. Observei-a liberar uma profunda respiração, como se tivesse estado contendo-a até que lhe desse a minha resposta. – Pensei que era a única... pensei que era eu, que tinha feito algo para merecer isso... disse-me que era minha culpa... – Uma lágrima gorda apareceu, balançando-se a

bordo de suas pestanas antes que, finalmente, rolasse por sua bochecha e caísse em suas mãos. – Não é sua culpa. Nada disto é sua culpa, Emma, tem que acreditar nisso. Ele está doente, é o único que está errado... - As palavras saíram com mais ferocidade do que tinha esperado. Comoveram-me. Sempre era algo que tinha pensado, perguntado, mas nunca havia dito em voz alta. Botar para fora, fez-me sentir bem, inclusive mais livre. – Disse que se alguma vez contasse a alguém me mataria... Suas palavras me surpreenderam. Não era algo com o que o senhor Craigsdale tivesse me ameaçado, mas possivelmente, isso simplesmente devia-se ao fato de que não tinha tido a oportunidade. A Ângela tinha entrado e me apanhou com a regra na mão. E tudo se fez uma bola de neve, desde então. –Fez-lhe isso? – perguntei gesticulando para o hematoma em sua bochecha. Assentiu em lugar de responder e agarrou a jarra da mesa. Sustentou-a em suas mãos e a vi tremer. Era muito jovem e frágil. O que lhe tinha feito estava além do desprezível. –Não podia me desfazer dele... nem sequer podia gritar... o som não podia sair, era como se estivesse congelada... só esperando... esperando... que ele o houvesse... feito... – deteve-se na última palavra. Saltei de meu assento na mesa e sentei ao seu lado com os braços envolvendo-se ao redor de seus magros ombros atraindo seu corpo contra o meu. Eu era a única afortunada. Tinha tido a sorte de me libertar dele. Mas as coisas podiam ter sido diferentes... sustentei-a enquanto chorava, seu corpo sacudindo-se com cada soluço. Ela guardou silêncio e saiu de meu abraço, as mãos automaticamente indo a seu rosto, limpando as lágrimas.

– Como arrumaste isso depois? Ninguém acreditou em você... Encolhi-me de ombros. – Afastei-me o mais rápido que pude. Vim aqui... troquei de nome, e tentei me esconder... obviamente, não fiz um bom trabalho se você me encontrou. – Sorri. – Encontrei você devido a ele... A cor fugiu de meu rosto. – Não entendo? – O senhor Craigsdale tem seu endereço... encontrei-o na agenda de seu escritório depois... Sacudi a cabeça e traguei as náuseas que ameaçavam me afligir. – Possivelmente não pode saber... Quem o diria? Emma encolheu os ombros e me observou com uns grandes olhos marrons, com cuidado. Como se em qualquer momento pudesse perder os estribos e correr ao redor da sala gritando como uma pessoa louca. O som de golpes na porta nos fez saltar, a ambas. Foi rápido, seguido pelo som de Brody dizendo meu nome. – Kat, está aí? Kat? – Soava desconcertado, quase assustado. Levantei-me do assento no sofá e caminhei para a porta. Emma se encolheu contra o sofá e dobrou as pernas contra o corpo, abraçando os joelhos contra o peito. Podia ver o medo em seus olhos, o que me fez perguntar o que exatamente lhe havia dito Craigsdale. Andei até a porta para abri-la e olhei para Brody que parecia confuso, cruzando os braços através no peito, em uma forma defensiva.

– O que está fazendo? Disse que precisava estar sozinha. Empurrou-me para entrar no apartamento e olhou ao redor, para Maggie e Emma. – Ele não me golpeará aqui... – Quem, Brody? O que está acontecendo? –Quando retornei ao escritório havia um homem esperando na recepção. Disse que a conheceu quando era mais jovem, sabia de seu lugar no instituto da cidade... agora sei que não me havia dito toda a verdade. Isso é o por que não confiava em mim, ou não podia, não é verdade? Mas este homem era estranho... havia algo que eu não gostei nele e as perguntas que estava fazendo sobre você... tinha que vir aqui e me assegurar de que estava a salvo... – deteve-se para tomar fôlego. O olhar em seus olhos me feria. Como nunca o tinha visto antes, mas além de mim? Possivelmente Matt fazia mais que ajudar a minha habilidade de confiar. Tinha-me despertado, antes que ele tivesse voltado para minha vida tinha passado o tempo perambulando ao redor de uma neblina. Em realidade nunca vi o mundo a meu redor ou às pessoas nele... até agora. E agora podia ver o Brody claramente e doía. O olhar de desconcerto e a preocupação em seus olhos eram suficientes para me fazer querer explodir em lágrimas. Mas o que me havia dito me conteve. O gelo encheu minhas veias e meus pulmões se contraíram, fazendo o respirar quase impossível. Não podia estar ocorrendo tudo de novo? Realmente tinha me encontrado? Emma tinha enterrado o rosto nos braços e pude ver o tremor atravessar seu corpo. Por que tinha vindo aqui? Tinha vindo atrás dela? Ou era o temor do que poderia ocorrer se ela me encontrasse? – Disse-lhe onde vivia? Brody me disparou um olhar incrédulo.

–Acredita que estou louco? Alguma vez daria seu endereço a um estranho? Ele queria que verificasse seu endereço, mas disse que não podia... confidencialmente... que nem sequer podia lhe dizer se trabalhava para mim ou não... Kat, quem é ele? – Alguém de quem acreditei que tinha escapado... O débil som de meu telefone soando era suficiente para me tirar dos escuros pensamentos que enchiam minha cabeça. Realmente acreditava que podia fugir dele para sempre? Que meu passado nunca mais retornaria para me bater o traseiro? Aparentemente havia... – Tenho que ir... – Emma se levantou de seu assento no sofá e começou a recolher sua mochila do chão. – Você não vai, pode ficar aqui... a ajudarei. Ela sacudiu a cabeça e pude ver as frescas lágrimas que estavam deslizando-se por suas bochechas. – Não, ele virá. Não posso me sentar aqui esperando que me encontre... não quero que me encontre e... – Cortou as palavras abruptamente e passou as mãos por seu rosto. – Simplesmente não posso... – Emma, podemos ir à polícia juntas... não temos que deixa-lo ganhar outra vez. Precisa ser detido... Ela voltou a sacudir a cabeça e tragou com força quando caminhou para a porta. – Não. Não sou como você. Não sou forte. O que acontece se não acreditarem em mim... da mesma forma que não acreditaram em você? – Deixou que sua voz diminuísse até que logo se tornou um sussurro. – Me matará... O olhar do Brody se dirigiu entre nós. – Que diabos está acontecendo? Do que está falando?

– Brody, agora não... – o interrompi e dei um passo para a Emma. – Desta vez será diferente. Agora há duas, terão que nos escutar... – Não. – Precipitou-se para longe de mim e fechou com um golpe a porta principal, desaparecendo pelas escadas. Apressei-me atrás dela. Não podia deixá-la escapar. Tinha vindo a mim em busca de ajuda, simplesmente não podia deixá-la ir, tinha que fazer algo para coloca-la mais a salvo... – Kat, espera... – a mão de Brody se fechou ao redor de meu braço, freando meu progresso. Sustentou-me apesar de que lutei contra seu agarre. – Me diga o que está acontecendo? Quem era ela? – Não entenderia! – Me prove... Sacudi a cabeça e me liberei de seu agarre, meu corpo se apressou a descer as escadas. Olhei atrás e vi a sua triste expressão. Sentia-me mal, ele tinha sido tão bom comigo e eu não poderia lhe contar a verdade. Sempre tinha querido contar às pessoas a verdade, e agora que tinha a oportunidade e não podia me permitir fazê-lo. As palavras se entupiram na parte traseira da minha garganta. E sabia nesse momento que se não o contasse, Brody não estaria ali para mim quando retornasse. Não esperaria que tivesse sentido ou visse a luz ou qualquer analogia que queria dar. Fiz minha escolha e no momento que comecei a descer os degraus essa oportunidade se iria. –Sinto muito... – e parti. Não olhei atrás. Ele me chamou, mas não podia me permitir olhar para trás. Faria minha escolha algum dia... –Emma, espera... – gritei pela jovem que estava procurando. Procurei-a na rua, acima e abaixo, e não havia sinal dela. Hoje possivelmente foi um dia mau... bom com respeito a isso não queria nem pensar.

O telefone tocou em meu bolso quando olhei para a rua na direção que esperava que Emma tivesse tomado. Pegandoo, abri e o pressionei na orelha. – Senhorita Faulker? – A voz masculina me fez me deter. – Sim, quem é? – É do Oficial Kennedy. Tenho a um Matthew Henly na delegacia. Parecia ter seu número em casos de emergência. Pode vir aqui, por favor? Estava emocionada. Matt estava em problemas? O que tinha ocorrido quando perseguiu a Ângela? – Sim, é obvio. Ele me deu o endereço da delegacia. Minha mente era uma confusão de emoções. Meus pensamentos rompendo-se dentro de mim, enquanto eu me dirigia para a parada de ônibus. Inclusive apesar do que tinha se passado, ainda havia algo dentro de mim que me atraía a ele. Queria vê-lo de novo. E tinha que saber que estava a salvo.

O

ônibus chegou a minha parada e ao descer senti novamente a brisa da tarde, era um alívio depois dos momentos difíceis pelo qual acabei de passar. Depois de uma profunda pausa comecei a andar em passos firmes. Não tinha pensado em mais nada a não ser em Matt. Havia algo nele que invadia minha mente. Como algum tipo de vírus que deslizava dentro de mim e lentamente me tirava o controle. Não podia evitar. Parte de mim queria simplesmente dar meia volta e ir para casa. Queria lhe dar o troco, lhe ferir da forma que ele me tinha ferido. Mas como podia lhe culpar? Era adulta, tinha tomado minhas próprias decisões e seria infantil fazer a alguém mais responsável por meus enganos. Parei em frente a um edifício antigo, estudei o seu exterior enquanto tratava de me recompor e voltar a agir com sensatez. Pela minha visão periférica, pude notar um homem com uma câmara pendurada no seu pescoço e podia dizer pela maneira em que estava olhando ao seu redor que estava procurando outros membros da imprensa... Obviamente alguém tinha passado a informação que Matt estava aqui... alguma coisa me dizia que sair daquele ambiente não ia ser nada fácil. Outro escândalo era a última coisa que ele necessitava agora. Isso se adaptava a sua imagem de menino mau, mas tudo que está acontecendo no momento é só um pouco diante do que aconteceria com o sua empresa. Qual era seu limite, não sabia. Mas estava segura de que tampouco queria tomar uma decisão. Se quisesse manter a carreira, então precisava resolver isto com o máximo de cuidado. E se isso significava fazer o impossível, então acabaria por encontrar uma forma de fazêlo um pouco mais possível.

Subindo os degraus, tentei passar ao lado do fotógrafo com indiferença. Ele me deu um olhar divertido, de certo modo estudando meu rosto antes de voltar a examinar a câmera. A recepção estava tranquila e tive que me esforçar para chamar a atenção de um dos atendentes, literalmente tive que ficar na ponta dos pés para me inclinar no alto do balcão. Ele apareceu com uma careta e um meio sorriso em seus lábios. – Posso ajudá-la? – Recebi uma ligação de um funcionário, do Oficial Kennedy, procurando o Matthew Henley. Sua expressão se voltou curiosa quando tirou o telefone do gancho. – Qual é seu nome? – Kat Faulkner. Falou em voz baixa ao telefone durante uns poucos minutos e ao desligar gesticulou para os bancos alinhados a parede oposta. – Sente-se, por favor, Kennedy estará com você em uns minutos. Assentindo me dirigi aos assentos e me sentei com as costas pressionadas contra a parede.

– Tivemos que pôr o fotógrafo para fora... receio que não podermos ajudar com relação a publicidade. – Não chamei à imprensa... alguém mais deve ter feito. Com ele rondando lá fora, está dificultando meu trabalho. – Bom, tudo está se tornando muito mais difícil. Outro casal chegou, posso vê-los pela câmera de segurança.

Deixei cair à cabeça em minhas mãos e resmunguei. Simplesmente era o tipo de situação que rapidamente podia sair do controle. Não tinha experiência suficiente com este tipo de cenário e isso significava que o que tinha que ser feito estava além das minhas possibilidades. Stephanie saberia. Passou pela minha cabeça chamá-la e lhe pedir conselho, mas com rapidez desprezei a ideia. Isso poderia se tornar um problema futuramente e ser usado contra mim. Não sabia o que fazer, mas Stephanie tinha seus métodos e não queria ficar lhe devendo um favor. Uma pequena mulher apareceu na porta dirigindo-se à área de espera atrás do balcão. Sua expressão era severa e apesar de eu ser mais alta, havia algo intimidante nela. Levantei-me, e ao ver-me ela saiu para a sala de espera. Seu cabelo castanho estava penteado para trás acrescentando um toque de severidade ao seu olhar. Podia imaginá-la sendo muito atraente se sorrisse. Mas trabalhar neste tipo de ambiente obviamente não lhe trazia felicidade e relaxamento. – Senhorita Faulkner, me siga, há alguns papéis que precisará preencher... Caminhei logo atrás dela, enquanto a mesma sumia mais uma vez por trás das geladas portas de vidro. Os escritórios mais à frente estavam mais ocupados do que esperava e não pude evitar desfrutar das cenas desenvolvendo-se diante mim. Não era minha primeira vez em uma delegacia de polícia. Ver tudo se desdobrando em minha frente me levou de volta ao passado. A delegacia de polícia era um imóvel pequeno, tinha quase uma sensação claustrofóbica. O aroma do forte café, que obviamente tinha sido feito horas antes de servir, fez com que me sentisse enjoada, como se eu sentasse e esperasse que alguém viesse me tirar as algemas, por que sentiram a necessidade de me algemar? Não sabia. Não lutei ou pus algum tipo de argumento quando os policiais chegaram à escola pela tarde. Estava muito zangada, uma espécie de ansiedade congelada que bateu em mim, me deixando triste.

Recordei a sensação de quase morte de meus membros enquanto caminhava pela delegacia de polícia até a cela onde tinham me deixado para esperar que meus pais viessem me pegar. Não importava a quem tentei explicar minha história, já que eles não queriam escutá-la. O Senhor Craigsdale era um membro honorável da comunidade e de toda forma, os professores simplesmente não aceitariam que eu estivesse lhe acusando de alguma coisa. Era incomum... Ou pelo menos, fez com que ninguém mais falasse disso. – Senhorita Faulkner, está me escutando? Levantei a cabeça quando a voz da policial finalmente chegou aos meus pensamentos e me fez voltar ao presente. – Sinto muito, estava com o pensamento em outro lugar. Sua expressão era séria quando se sentou e me fez gestos para sentar a sua frente. – Olhe, esta é uma situação séria, necessito de toda sua atenção para isto... Matthew está potencialmente com um montão de problemas. – O que aconteceu? Suspirou e olhou abaixo à pilha de papéis frente a ela. – Seguiu à Senhorita Ângela até sua casa, causou um tumulto do lado de fora da casa dela, e atacou alguém que foi em sua ajuda. Cobri a boca com a mão, muito chocada pelo que ela falou. Não parecia possível, Matt não era assim, por que atacaria a alguém? Entendia sua necessidade para ver seu filho, mas recorrer à violência... isso não soava como o Matt que tinha me segurado em seus braços a noite anterior. – Tem que haver algum tipo de engano... Matt não atacaria a alguém... não é esse tipo de... – O quanto conhece o Matthew Henley? Encolhi meus ombros, insegura de como podia responder a essa pergunta sem soar ridícula. Na realidade

não o conhecia. Não nos encontramos por alguns anos, não até que retornei a minha vida... mas isso não prova o que sentia. E havia algo em meu interior que se sentia como se conhecesse o Matt. Conhecia-lhe de uma forma que não podia ser explicada, conhecia-lhe de uma forma que ninguém mais entenderia com certeza. – Estudamos juntos e lhe represento no escritório para o qual trabalho. Sorriu com simpatia e levantou um arquivo de aspecto bastante considerável da pilha em sua mesa de trabalho. – Este é seu histórico. Tem muitas infrações menores, principalmente de brigas e no final a maioria dessas queixas foram retiradas. Mas suponho que isso é o que acontece quando se é famoso. – Podia ouvir a irritação em sua voz. Com certeza ela tinha um problema com as pessoas como Matt, que escapava das coisas com certa facilidade. Podem me chamar de ingênua, mas não estava disposta a condenálo simplesmente porque tinha uma acusação contra ele. Ao diabo por esta definição, eu era uma má pessoa. Tinha também uma acusação, por algo que nunca tinha feito, mas isso não mudava o fato de que se via meu nome na base de dados da policia, assim meu nome também estava manchado. – Disse que eu tinha que assinar uns papéis... Talvez seja melhor que os assine e chame meu cliente aqui. Sua expressão se endureceu quando falei e fechou o arquivo com uma pancada. Folheou vários formulários antes de finalmente deixar cair outros tantos diante de mim. – Assine, aqui e aqui. – Fez um gesto com o dedo e deixei meu nome rabiscado na página. – Será notificada das datas da corte e todo o resto se a Senhorita Lansbury quiser apresentar defesa. Levantei e me virei quando escutei o som de uns passos aproximando-se. A cabeça do Matt estava baixa enquanto o oficial o levava para frente e a contra gosto retirava suas algemas. Somente depois que o soltaram ele me encarou. Mas o que quer que ele tenha visto refletido em meus olhos, o fez dar um pequeno passo para trás.

Agradeci a Oficial Kennedy e sacudi a mão. A expressão em seu rosto ainda era de uma incredulidade enquanto me observava sair da sua sala com o Matt me seguindo. Só lembrei-me dos fotógrafos ao chegarmos bem próximos da porta de saída. Estava tão zangada que considerei deixar Matt caminhar por aí fora, considerei permitir ao fotógrafo tirar todas as fotos condenatórias que ele queria para que acabasse a carreira de Matt. Mas desisti. Pondo a mão em seu braço detive seus passos, peguei o telefone em meu bolso, disquei o número da empresa de segurança e passei nossa localização. Uma vez que alguém havia me prometido que os homens de segurança chegariam em menos de dez minutos parei e me voltei para Matt. Ele estava de pé em frente a mim, me olhando com atenção, como se a qualquer momento eu pudesse enlouquecer e lhe atacar. Mas estava cansada. Uma parte de mim queria lhe bater, lhe ferir fisicamente da forma com que me tinha ferido emocionalmente, mas não podia. Seu olhar estava atormentado e algo quebrado em seu sorriso. – Kat, sinto muito... não deveria... Levantei a mão para lhe silenciar. – Não quero escutá-lo, Matt. Agora não. Não posso fazer isto. Ele sacudiu a cabeça e se deixou cair em um dos assentos que se alinhavam na parede. Sentei ao seu lado e fixei o olhar na parede mais adiante. Tudo o que tinha que fazer era esperar que a segurança chegasse e então poderíamos ir. Uma vez que ele se instalasse em um hotel, eu poderia ir a casa e tentar me recompor. Para não falar nos problemas que seriam as notícias que Emma e Brody tinham me passado. – Sei que não quer escutar, mas tenho que lhe dizer isso, não posso permitir que este silêncio continue entre nós. – Não. Não me importa quanto culpado se sinta. Não me importa o que tem que compartilhar comigo para que consiga

aliviar seu peito. Só preciso resolver isto e depois não teremos que nos ver de novo. – Mas como vai ser se quero vê-la novamente? O que aconteceu não terminou aqui? Levantei e caminhei para longe, mas ele me seguiu. – Matt, você sabe que não é justo. O que pode esperar de tudo isto? – Minha voz se elevou com cada palavra dita até que o oficial sentado atrás da mesa tossiu, como que pedindo para que baixasse a voz. – Kat, a vida não é justa, ambos sabemos disso... Mas há algo importante que preciso lhe dizer... – Matt, pare! – levantei as mãos e tapei minhas orelhas. Era um gesto infantil, mas era a única coisa em que podia pensar para fazê-lo parar. Agarrou meus braços com força me fazendo ofegar e o olhei com medo nos olhos. Era um lado dele que não conhecia. Mas então, como podia dizer que realmente conhecia ao menos um lado dele? Cada parte de Matt era nova para mim. A dúvida começava a arrastar-se enquanto o olhava. Sacudiu-me brandamente para tirar os pensamentos desagradáveis que tomavam conta da minha cabeça. – Ele está aqui... Craigsdale está aqui. Ele foi a pessoa a quem eu agredi. Embora saiba que Craigsdale tinha seguido Emma, escutar esta confirmação de alguém que lhe conhecia, de alguém do meu passado e que conviveu com ele, me surpreendeu de novo. Sentia-me presa, como se ele estivesse caindo lentamente sobre mim. Primeiro se aproximou de Brody para pedir informações de onde me encontrar e agora Matt o tinha visto. Tinha terminado em uma briga entre os dois. Eu era a seguinte. Podia senti-lo. Mas não estava segura de que poderia lutar contra ele. E o que aconteceria se ele pegasse primeiro Emma? – Fez isso a outra garota... voltou a fazer e não pude lhe deter.

Matt me olhou surpreso, fazendo que os círculos escuros sob seus olhos destacassem em marcado contraste com seu pálido rosto. – Sabia que ele estava aqui? Por que não me disse isso? Kat, o que acontece se for atrás de você? E o que diz respeito a alguma outra garota? O oficial no balcão nos observava de relance. Podia sentir ele me examinando com seu olhar como se arranhasse através de minha pele. Queria gritar para ele desaparecer. Que fosse observar outras pessoas, mas me contive. Deixeime cair nos assentos de plástico e foi minha vez de pôr a cabeça entre as mãos. Inclusive desde que Matt tinha retornado a minha vida tudo se tornou muito complicado. – Olhe, quando a segurança chegar aqui e o ponha a salvo dos olhos curiosos da imprensa, lhe contarei tudo. Mas não aqui, não agora. Dois oficiais uniformizados de segurança escolheram esse momento para passar pela porta de entrada, avaliaram o ambiente durante uns minutos, discutindo suas opções com o resistente oficial na recepção. E em uns poucos minutos estávamos sendo escoltados para uma porta lateral em um beco, onde um carro preto com vidros escuros permanecia a espera. Matt me lançou um sorriso. – Não exatamente discreta não é verdade? Ri, mas não era uma autentica risada. A vida era muito complicada para deixar-se levar e desfrutar da situação. E sem importar com quanta força o tentasse não podia tirar o medo de que o Senhor Craigsdale estava aqui por uma razão muito mais sinistra que só querer ficar em dia com o passado...

A

entrada do hotel estava tranquila enquanto registrava Matt sob um nome falso. O funcionário estava nos esperando enquanto nos dirigíamos ao elevador. Sorriu-me com um olhar amistoso, mas podia sentir seu mal-estar ao ter uma celebridade como Matt hospedado em seu estabelecimento. Não podia culpa-lo, a reputação de Matt de longe era de prestígio, mas não alterava o fato de que este hotel tinha as melhores equipes de segurança que estivessem disponíveis para nossa empresa. Entramos os três no elevador permanecemos em um incômodo silêncio enquanto, o éramos levados à suíte Pent House. No momento que as portas se abriram virtualmente entrei do reduzido espaço do elevador para o espaçoso vestíbulo. A grande porta no final do corredor era única deste andar. O funcionário tirou um cartão magnético do bolso e desbloqueou a porta antes que eu tivesse uma oportunidade de chegar ali. Fez-nos um gesto para entrar e logo ficou em pé ao lado, observando como analisávamos nosso redor. – Deduzo que isto satisfaça todas suas necessidades? – Sim, isto está bom. – Matt soava genuinamente impressionado, enquanto perambulava pelo salão e desaparecia em um dos dormitórios. – E os seguranças estão discutindo os planos no caso da imprensa sondar se ele está aqui? O funcionário assentiu com a cabeça, me sorrindo meio sem graça o que era menos que amistoso. Parecia que a única pessoa com a que estava disposto a ser amigável era o homem com dinheiro.

– Sim, mas pode ficar segura de que ninguém de meu hotel informará que ele está aqui. Protegemos a privacidade de nossos hóspedes. Assenti e lhe dei meu mais parecido olhar de negócios. Ou ao menos isso é o que esperava que fosse. Sabendo como eu provavelmente estava mais perto de uma careta. Ou isso ou pareceria alguém tendo um derrame cerebral. Supor que sabia o que estava fazendo, era muito mais difícil do que pensei que seria. Matt reapareceu um momento depois com um amplo sorriso no rosto. – Tem que ver o tamanho do banheiro, é maior que minha antiga casa. Era como um menino emocionado no Natal, e me partiu o coração ao vê-lo assim. Certamente tinha ficado em hotéis como este antes? Era um dos músicos mais ricos no mundo... Não tinha nenhum sentido... Como podia ser novo para ele? Recordei o sórdido motel que tinha pegado seu violão e só serve para aumentar a confusão na minha cabeça, quanto mais tempo passava com o Matt mais pergunta tinha. – Se isso for tudo, então, deixarei que continue com suas explorações. – Devolveu seu sorriso a Matt antes que saísse. Uma vez que a porta se fechou, a expressão de Matt trocou. – Pensei que nunca sairia. – Deixou-se cair no sofá levantando as pernas e colocando os pés sobre a refinada mesinha em frente a ele. – Então isto é o suficientemente tranquilo para você? Assenti e me dirigi para o lado oposto do quarto, me sentando com cuidado na borda de um banco que estava em frente ao bar. As prateleiras de vidro detrás estavam cheias de todo tipo de garrafas de bebidas, uma em particular me chamou a atenção. A garrafa de uísque imediatamente trouxe lembranças de Matt deitado nu no sofá na sala de trás do Monkey House. Não podia tirar isso de minha cabeça. Ele e a

garota, com tanta facilidade acreditei quando me disse que nada tinha acontecido entre os dois. Gostaria de acreditar, queria que fosse o homem com que tinha sonhado tantos anos antes na escola. A forma com que sempre tinha me protegido da ira de Ângela... Alguém assim tinha que ser bom. Ele não mentiria para mim. Sacudindo a cabeça o peguei me olhando. – O que? – Minha voz era dura, mais dura do que tinha tentado, mas não era algo que só pudesse controlar. Agora já tinha falado, e ele sabia pelo tom de minha voz quando terminei que queria a verdade. Agora só a verdade bastaria. – Sinto muito. Ri, um som curto e amargo. – Sente? O quê? Não fez nada pelo que estar lamentado? O olhar do Matt era suave e gentil. Era o tipo de olhar reservado para alguém frágil e que não queria fazer mal. Mas já era muito tarde para a dor, já tinha acontecido. E apesar de saber que ele não me devia nada, nem sequer me devia uma explicação, ainda assim queria uma. – Sinto muito se fiz mal a você, não foi minha intenção. É que... Encolhi-me, dei de ombros e cruzei os braços sobre o peito. – Está bem, eu o entendo. Ela tem um filho com você. Matt se levantou e começou a andar freneticamente ao redor da pequena mesa. – É muito mais que isso. Quando disse que eu estava agindo como meu pai. Não quero ser esse homem. Preferiria me matar a ser como ele. Suas palavras me surpreenderam ainda mais. Matt nunca tinha mostrado nenhum lado de emoções fortes e destrutivas ao extremo como agora. O que o seu pai tinha feito para que ele agisse dessa maneira? Tinha considerado

odiar a meus pais depois do incidente com o Senhor Craigsdale e a forma como se negaram a escutar. Mas ainda assim não podia chegar ao ponto de realmente odiá-los. Não os entendia e estava segura de que não podia lhes perdoar. Mas o que Matt sentia. Isso era diferente. – Matt? – Mantive a voz baixa e suave. Não queria lhe fazer uma surpresa ou fazer com que se esconda novamente. Sentia que ele já tinha passado muito tempo escondendo a verdade. Escondendo o que realmente sentia. Isso poderia apodrecer uma pessoa por dentro, fazer com que se sentissem doentes ou inclusive coisa muito pior. – O que seu pai lhe fez? Soprou quase ironicamente e passou as mãos pelo cabelo. – É uma dessas pessoas que nunca deveria ter sido permitido que tivesse filhos. Minha mãe nos abandonou quando eu tinha sete anos. Suponho que se cansou de apanhar dele e dos constantes danos emocionais, gostava de levá-la à loucura sabe? Gostava de bater em sua cabeça, fazia com que se sentisse inútil. Lembro a noite em que se foi, era como se estivesse no interior de meu cérebro. Queria me levar, tentou me levar, ficou em silencio por um minuto como se visse algo que só ele pudesse, estremeceu de repente e fechou os olhos antes de continuar. – Ele bateu nela até que estivesse certo de que ela não voltaria de novo. Eu era um menino, o que poderia fazer? A via tão pequena e triste no chão da cozinha. Segurou sua mão e só gritava e reclamava que não ia levar seu filho. Que ela só poderia conseguir o inferno fora de sua casa, mas que de maneira nenhuma seria comigo. Os olhos do Matt continuavam fechados enquanto recordava do seu pai. Podia ver cada polegada de sua dor gravada em seu rosto. – Prometeu-me que voltaria e me levaria quando pudesse. Mas nunca o fez, suponho que não podia correr o risco e não a culpo. – Deteve-se de novo por um segundo. – Não quero culpá-la, mas ela saiu e eu não.

– Então ele se voltou contra você... Você foi seu foco. Matt assentiu com a cabeça e abriu os olhos. – Quando ela se foi era como se ele me culpasse por sua partida. Uma vez os professores viram os hematomas e pensei que finalmente estaria salvo, mas ele escondeu com bastante facilidade. Para todos outros ele parecia muito agradável, amável, simpático, suponho. De todos gostava, não podiam acreditar em um menino que nem sequer falava do que aconteceu. E depois, ele se assegurou de deixar hematomas em lugares que ninguém jamais veria... – Matt, sinto muito... Nunca soube. Olhou-me, as lágrimas brilhavam em seus olhos, mas as engoliu. Inclusive ainda estava se mostrando resistente, inquebrável. E não precisava fazê-lo. Mas como podia falar para alguém que estava bem abalado? Estava prestes a chorar e se mostrar zangado, que não precisaria ser forte sempre. Ele não acreditaria em mim. –Ângela o investigou. Ela sabia o que estava acontecendo e sentiu pena de mim. É o por que de nos separarmos, não queria sua compaixão, não queria a compaixão de ninguém. Passou a me olhar de forma diferente depois de saber a verdade, quando viu por conta própria o que meu velho pai estava fazendo. E isso não era algo que eu podia suportar. Foi exatamente nessa noite que deixei a cidade e estive andando por ai. Ele veio ao meu encontro uma vez, quando se inteirou de meu êxito. Algo sobre uma parte disso sendo devido a ele. Matt se dirigiu ao bar e pegou a garrafa de uma das prateleiras de vidro. Bateu com um copo na mesinha e o encheu até que derramou. – Tampouco quero sua compaixão, Kat, isso não é algo que possa suportar – levou o copo aos lábios e bebeu um profundo gole. Estendi a mão, pressionando brandamente sobre a dele retirando o copo de sua boca. Não sentia compaixão por ele e ele não sentia por mim. Fomos duas pessoas que tinham passado por coisas terríveis.

Não somos vítimas, de algum jeito não mais. Mas meu coração doía por ele, doía pelo menino que tinha sido quando seu pai lhe roubou essa infância. O olhar do Matt se encontrou com o meu, senti a energia que passou entre nós. Formou-se um nó em meu estômago que seguiu até meu peito, me roubando o fôlego. Fomos duas peças de um quebra-cabeça. Havia sentido a redenção entre seus braços naquela noite que compartilhamos. Mas agora, agora era diferente. Ele deixou cair o copo na mesinha e o uísque derramou manchando o felpudo tapete. Quando se aproximou de mim, não me encolhi de dor ou me afastei, mesmo com uma voz dentro de minha cabeça dizendo que eu deveria fazer isso. Que precisava afastar-me, que isto não estava bem, lembreime do que ele tinha feito, mesmo assim não podia negar o que vi em seus olhos, ou a chama de desejo e algo mais que nos rodeava. Queria prová-lo só mais uma vez. Provar a sensação maravilhosa que ele podia me oferecer, e que eu podia lhe dar. – Kat? – Sua voz era rouca, virtualmente rouca e ele certamente estava cheio de perguntas. Com dúvidas. – Quero isto – me aproximei dele me apoiando na ponta dos pés para esmagar minha boca contra a sua, senti o sabor do uísque em seus lábios e quando ele se abriu envolvendo minha boca como um fogo. Beijei-lhe com força, colando meu corpo ao seu, quase em desespero e fazendo com que minhas mãos tremessem enquanto tentava desabotoar sua camisa. – E eu também, mas... – Suas palavras eram como um balde de água fria sobre mim, me fazendo parar. Fiquei sem entender e tentei me afastar para longe, mas ele me deteve. – Deixe-me ir. – Minha voz era baixa e cheia de ira, estava dirigida mais a mim mesma, como podia ter sido tão estúpida outra vez? Minha mente imediatamente vagou uma e outra vez, a habitual viagem de culpa. Era uma idiota. Que diabos estava pensando? Depois de tudo o que tinha acontecido? – Kat? Kitty Kat, não...

– Não me chame assim. Não volte a me chamar assim. Só me deixe ir. – Me encolhi tentando afastar do seu abraço e fui até o sofá pegando o casaco que tinha descartado anteriormente. Vesti enquanto me dirigia à porta. As lágrimas de vergonha e ira ardendo em minha garganta. Matt me seguiu, sua mão segurou a porta tentando evitar minha saída. – Isto foi um engano e fez bem em pará-lo... – Kat, não entende. Não me detive porque não te quisesse, detive-me por que... Mas neguei com a cabeça e levantei as mãos como se com isso pudesse afastar suas palavras. Não queria saber o motivo. Já podia imaginar um milhão de razões pelas quais se deteve, e nenhuma delas era algo ao que poderia fazer frente ou com as que lutarem justo agora. Puxei a porta para abri-la, Matt se afastou dela e me observou enquanto eu tentava não correr pelo corredor até o elevador. Não queria que me visse chorar. Queria ao menos manter essa humilhação para mim. Ao menos merecia isso. Meus dedos pressionaram contra o botão freneticamente uma e outra vez até que finalmente as portas se abriram e entrei. Apoiando as costas contra a parede do elevador as lágrimas começaram a descer pelo meu rosto. A expressão confusa no rosto de Matt apareceu no espaço rapidamente antes do fechamento das portas. E apesar de que tentei ocultar as lágrimas soube pelo seu olhar que ele as tinha visto.

O

apartamento estava muito escuro quando finalmente cheguei em casa. Procurei as chaves duas vezes antes que, por fim, conseguisse colocá-las na fechadura e abrir a porta. Procurei com as mãos automaticamente na escuridão o interruptor da luz. A sensação das mãos de alguém pressionando contra minhas costas e me empurrando até que eu estava deitada no chão enviou um arrepio de medo a me percorrer. Um pequeno chiado de terror escapou de mim enquanto caía ao chão, procurando algo, algo para me ajudar a ver na escuridão. Algo que me ajudasse a captar um brilho de quem estava no apartamento comigo. Mas eu sabia quem ele era antes de falar, a essência pungente de sua colônia invadiu minhas narinas simultaneamente colocando a mordaça e as lágrimas correram pelo meu rosto. O aroma de sua colônia ficou gravado em minha memória, estampada para sempre. Conjurei imagens fiéis desse dia, a sensação de ajuda que se lançou sobre mim enquanto ele me esmagava debaixo de si. O som de seus passos através do chão me fez engatinhar para trás tão rápido como podia até que minhas costas golpearam a borda do sofá. Seu punho enrolou em meu cabelo enquanto me arrastava para cima. – Katherine, que agradável vê-la de novo. – Soltou as palavras contra minha cara e pude sentir o cheiro do álcool em seu hálito. Contorci-me em suas mãos quando ele me jogou no sofá e me empurrou para baixo no assento. Ele sentou ao meu lado, com uma mão casualmente andando em círculos na parte de trás do meu pescoço quando ele se inclinou sobre

mim. Sentou-se a meu lado, uma mão distraidamente percorrendo em círculos através da parte traseira de meu pescoço quando se inclinou sobre mim. – Como tem passado? – O que está fazendo aqui? Vá embora ou eu... – Ou o que? – Sua risada me fez saltar. Seus dedos cravaram em meu pescoço apertando com bastante força para trazer as lágrimas a meus olhos. Quando se inclinou sobre mim um pouco mais, sorvi uma profunda pausa de medo esperando o pior. Em seu lugar acendeu o pequeno abajur, o delicado resplendor da luz banhando a sala de um quente amarelo. Seu rosto estava bem em frente a mim, o sorriso se estendeu por seus lábios, o mesmo que tinha usado anos antes. O olhar em seus olhos estava cheio de saudade e desespero. Deixou cair o olhar ao circular decote de minha camiseta. – Bem, bem, cresceu linda, não é? Quase estou contente de não ter conseguido saborea-la naquela época. Tenho a sensação de que agora desfrutarei muito mais. – Não! – gritei e me puxei de seu agarre, lutando com meus pés enquanto tratava de pôr distância entre nós. Mas ele estava preparado para mim. Suas mãos capturaram minhas pernas enquanto eu estava deitada no chão debaixo dele. Subiu sobre mim como alguma espécie de predador a ponto de golpear contra sua presa. Mas agora eu era maior, já não era presa. Não seria sua vítima nem agora nem nunca e não havia nenhuma maneira que eu fosse deixa-lo vencer. Lembrei-me do olhar aterrorizado em seus olhos quando ele tinha dito a Emma o que ele tinha feito. Este monstro tinha destruído a minha vida e agora ele também tinha destruído a vida de outras meninas. Eu não podia deixá-lo se safar. No segundo que pressionou seu corpo contra o meu, sai e lhe dei um murro. O som de minha mão conectando com sua mandíbula teve um satisfatório rangido. Gritou,

cambaleando para trás quando agarrou um lado do rosto. Podia ver o sangue em seus lábios enquanto saía engatinhando de debaixo dele. Mas se recuperou mais rápido do que tinha antecipado. Saí de novo, mas suas mãos golpearam as minha a um lado quando deu uma bofetada, em todo o rosto. As estrelas explodiram atrás de meus olhos, deixando minha visão imprecisa. Senti suas mãos agarrando minha garganta, a pressão construindo enquanto me cortava o ar. Arranhei-o e golpeei, minhas pernas opondo-se e agitando-se enquanto tratava de afastá-lo de mim. Mas quanto mais forte ele se pressionava mais fraca me sentia. Sabia, que se permitisse que a escuridão me devorasse, as coisas terríveis que me faria. Eu não deixaria que isto ocorresse. Era mais forte que isso. – Quando terminar contigo, vou procurar a Emma e lhe direi o que fiz contigo. Foi seu brilhante raio de esperança. Quando souber que ninguém consegue escapar de mim... Seu peso desapareceu de mim. Tossi, minha garganta sentindo-se em carne viva enquanto tentava aspirar grandes baforadas de ar. O bordo da escuridão escapou de minha visão, rodei para um lado e depois me levantei sobre meus joelhos. Matt se elevava sobre o Sr. Craigsdale, que tinha se enrolado em uma bola no chão. Estava encolhido de medo, um que atormentava a aqueles que ele acreditava que eram mais fracos que ele. Mas quando estava em frente a alguém forte caia em pedaços. Matt se agachou e arrastou o Craigsdale para cima, antes que lhe desse um murro, gritei, com lentidão tratando de me arrastar sobre meus pés. – Matt, não, deixe-o... Matt deixou-o cair imediatamente e girou para me ver de frente. Deslizou pelo chão até meu lado me ajudando a me pôr de pé e me sentar brandamente no sofá. Voltou-se para onde Craigsdale tinha estado, mas o ancião já tinha ido. A porta principal estava aberta e não podia ouvir ninguém nas

escadas. Ele estava bem e realmente se foi, por agora ao menos. – Que diabos aconteceu? Como entrou? – A ira brilhou nos olhos do Matt enquanto envolvia seus braços ao redor de meus ombros e me atraía contra seu peito. Não lutei com ele, não queria e se fosse sincera comigo mesma estava contente pelo consolo. – Estava me esperando. Quando cheguei em casa e abri a porta ele saltou sobre mim no corredor. Como sabia? – Olhei para ele. – Não sabia... a segui até aqui devido à má forma como saíram as coisas no hotel... não a queria deixar assim... e quando o vi... – A voz de Matt se apagou e a fúria era negra em seus olhos. Agarrou-me com mais força e pude sentir a bola de seu punho em minha camiseta. – Obrigada. – Pronunciei as únicas palavras que pude. Tinha me salvado. Eu o tinha salvado uma vez, tinha tido sorte. Mas desta vez não podia mentir. Sabia que se Matt não se aparecesse quando o fez, Craigsdale teria tido sorte exatamente no que queria. Não era bom ou justo, e sabia que algumas mulheres me olhariam e me achariam fraca por não lutar contra ele. Mas simplesmente ele era mais forte. Quando me golpeou havia sentido como se o interior de minha cabeça estivesse em chamas. Não podia competir com isso. – Não tem que me agradecer por fazer algo que qualquer outro em minha posição teria feito. Olhei minhas emoções borbulhando em mim até que estava segura de que transbordariam. – Ninguém faria o que fez... A expressão de Matt se endureceu, ele sabia exatamente do que eu estava falando e não podia negar. Eu estava certa. Ela não tinha tentado me ajudar. Fez completamente o contrário, no intuito de destruir minha vida. Parte de mim sempre se perguntava, realmente, o fiz para me odiar? Faria o mesmo se tivesse ocorrido com alguma outra pobre estudante

em minha situação? Era a amargura em seu comportamento porque Matt rompeu com ela? – Não vou deixa-la aqui esta noite. – Estarei bem. Agora não precisa se preocupar comigo, Matt. Não retornará, não esta noite de qualquer maneira. – Não, não vai ficar aqui. Precisa estar em algum lugar que ele não a possa encontrar. – O que realmente preciso fazer é encontrar a Emma. Vai atrás dela. Já lhe fez bastante dano. Não posso permitir destruí-la completamente. Veio até mim por ajuda e a defraudei... Matt sacudiu a cabeça. – Kat, se ela realmente quisesse sua ajuda estaria aqui... – Tinha medo, não posso culpá-la por fugir. De verdade. Mas agora lhe conheço melhor, e não deixarei que os mesmos enganos que tive ocorram a ela, preciso encontrá-la. Matt tirou o telefone de seu bolso e me estendeu. – Então só tem uma opção. Precisa chamar à polícia para lhes contar tudo, estarei aqui esta noite porque testemunhei tudo o que tentou lhe fazer. – Matt absorveu uma profunda pausa em um intento de tranquilizar seu temperamento. – Se fizer isso poderia perdê-la para sempre, ela pensa que as pessoas não acreditarão da mesma forma que nunca acreditaram em mim, e Craigsdale a ameaçou. Diz que a matará se abrir a boca. – Esse bastardo! – Matt ficou de pé e começou a passear de um lado para o outro. – Quem diabos pensa que é? O que lhe faz pensar que pode fazer esse tipo de coisas e escapar delas? – Mas conseguiu fugir, cada vez consegue fugir. Um pequeno som no dormitório fez-nos deter e nos olhar um ao outro. Pus-me de pé com lentidão e saí para o corredor

até a porta. Quando vi as luzes apagadas, tinha achado que Maggie tinha ido, mas possivelmente estive equivocada. Poderia estar aqui todo o tempo e não vir a me ajudar? Não soava como algo que ela faria. Coloquei a mão sobre a porta quando a mão do Matt se fechou sobre a minha. – Não sabemos quem é ou o que é? – sussurrou freneticamente quando comecei a empurrar a porta aberta. – Provavelmente não é nada. – Mas não sentia como nada. O coração martelava no peito enquanto empurrava a porta um pouco mais e a abria. Minha mão apalpou com o passar do interior da parede até que encontrei o interruptor da luz e o acendi. O estalo de luz encheu o quarto, iluminando a cama e a penteadeira. O armário permanecia a um lado e algo abaixo a um lado dele me chamou a atenção. Dei mais um passo no quarto, Matt sombreando meus passos, pôs sua mão protetora sobre meu ombro. Primeiro reconheci as sapatilhas, tinha-as recordado desde mais cedo no dia. Seu jeans estavam descoloridos e quando entrei mais no quarto ela se encolheu de novo nas sombras da esquina. – Emma? Saltou e enrolou seu corpo mais perto de si. Parte de mim se perguntava inclusive como podia respirar nessa posição com os joelhos bloqueados contra seu peito. – Emma, sei que é você. Está bem, está a salvo, agora pode sair. Olhou-me, seu cabelo escuro estava caído sobre rosto obscurecendo seus olhos de mim. Mas podia dizer estava aterrorizada. Sua respiração estava vindo pequenos ofegos e podia ver os tremores que corriam por corpo.

seu que em seu

– Ele estava aqui. – Sua voz era pequena, pouco mais que um sussurro. Estava cheia de emoção controlada, enquanto me olhava.

Agachei-me frente a ela e lhe estendi a mão. Por um instante pareceu retroceder longe de mim inclusive mais. – Mas agora se foi... – Sinto muito, conduzi ele aqui até você. Se não tivesse fugido então ele não teria tentado. – Sua voz desvaneceu enquanto se quebrava. – Shhh, Emma, não é sua culpa. Não pode se culpar por isso. Se quisesse, teria vindo e teria me encontrado quando quisesse. Não causou isto. – Pensei que ele havia, já sabe... – afastou o cabelo da cara e seus olhos brilharam com lágrimas não derramadas. – Mas não o fez. Matt aqui me salvou. – Fiz um gesto para o Matt que ficou atrás na porta. Quase como se ele entendesse que não deveria haver mais gente na situação. – Queria ir e lhe ajudar, mas não podia... simplesmente não podia me mover. Sacudi a cabeça e me inclinei para ela lentamente para tomar sua mão na minha. – Não, fez bem em ficar onde estava. Foi melhor que ele não soubesse que estava aqui. Emma assentiu lentamente quando deslizou para frente e logo se lançou a meus braços, nos golpeando para trás no chão. Abraçou-me com força como se temesse que em qualquer momento me limitasse a desaparecer em uma nuvem de fumaça. Quando finalmente me soltou, me sentei e lentamente me levantei. Ela me seguiu e se levantou suavemente, com as mãos abraçando seu peito. – Não tinha aonde mais ir, assim me coloquei de novo aqui quando todos outros se foram. – Como entrou? – Minha mente seguiu de volta aos momentos antes que Craigsdale tivesse aparecido e sabia que a porta principal tinha sido trancada.

– A janela da sala dá à escada de incêndios. – Olhou ao chão e esfregou a ponta de suas sapatilhas contra o tapete. Um pequeno sorriso apareceu em meu rosto. Fazia minha própria participação equitativa em lugares para me esconder quando tinha fugido pela primeira vez de casa. Quando não tinha aonde ir faria algo para encontrar refúgio e comida. O pensamento me golpeou. Quando ela tinha comido pela última vez? Tinha que estar faminta. – Emma, está com fome? Deve estar faminta. Quando comeu pela última vez? Encolheu de ombros e seguiu olhando para o chão. – Eu na realidade não recordo... – Mas tem fome? Ela assentiu e foi o único estímulo que necessitei. Dirigime à cozinha deslizando junto a Matt, que estava em pé na porta. Minha mão roçou seu peito e encontrei lhe pressionando forte por um segundo. O corredor era estreito e não havia nenhum lugar que pudesse passar sem ser esmagada contra seu corpo duro. No momento em que lhe toquei meu coração disparou. Recordei a sensação de seu corpo contra o meu. A forma que seus braços se ajustaram ao meu redor, me fechando em uma jaula nada mais que ele. Sentia como um extremo subindo de cabeça e tropecei levemente, me empurrando inclusive mais forte contra ele. Olhando-o captei a visão de algo escuro refletido em seus olhos. Algo escuro e possessivo. Parecia que o queria, e sem importar o que tinha ocorrido entre nós antes pela tarde, ele ainda me queria. Confusa, me afastei dele, meus pés me levando para trás pelo corredor e à cozinha. Minha respiração era estranha e meu coração continuou martelando contra minhas costelas. Estava segura de que em qualquer segundo martelaria tão forte, que minhas costelas se romperiam permitindo que meu coração saltasse para fora de meu peito.

Dando uma profunda pausa abri a geladeira e olhei o conteúdo no interior. Estava virtualmente vazia. Os únicos artigos restantes: um ovo e uma parte de queijo que tinha visto dias melhores. Estremeci e tentei não ter nauseia quando o aroma do leite podre me golpeou no nariz. Fechando a geladeira olhei ao redor, procurando algum tipo de inspiração. A mão do Matt serpenteou ao redor de minha cintura me girando até que eu estivesse de frente para ele. Manteve seu agarre sobre mim, como se temesse me sustentar com mais força. Como se pudesse me fazer pedaços com seu agarre. – Deixei o meu pessoal de segurança estacionado na rua. Sempre poderíamos fazer uma viagem de carro para ir a um lugar onde lavar o carro ou algo assim. Se você gostar. Era perfeito. O único problema que tinha era que não sabia se Emma confiaria em estar perto de alguém como Matt. Não só era um estranho, mas também depois de sua experiência com o Craigsdale e desde minha própria experiência, sabia como era difícil confiar nos homens. – Eu posso perguntar. Saí de seu agarre, minha pele doía onde me havia tocado. Era a última coisa que queria fazer. No círculo dos braços do Matt era onde me sentia mais segura, não tinha esquecido nossa briga de antes. Sentia-me envergonhada por me comportar da forma que fiz. Ele havia me despido sua alma e eu tinha reagido me jogando para ele. Mas depois de minha reunião com o Senhor Craigsdale, o argumento e todos meus temores a respeito de Matt me usando pareciam repentinamente sem importância. Ele tinha me salvado. Isso tinha que contar para algo. Certo? Emma tinha ido até o corredor. Seus olhos eram amplos e assustados quando seu olhar se lançou para trás e adiante. Queria abraçá-la e lhe dizer que tudo estaria bem. Que poderíamos fazer tudo melhor. Mas sabia melhor que isso. Nem tudo podia ser arrumado com um abraço e algumas simples palavras. Ela tinha um comprido caminho diante de si e ao final, tudo dependeria de como fosse forte.

– Não tenho nada que valha a pena comer em casa. Mas meu amigo Matt se ofereceu a nos levar a uma lanchonete. Olhou-me durante uns segundos, como avaliando suas opções. – Matt é o que a salvou de... ele? Assenti, com o rosto solene. – Sim, é ele. Pareceu pensar nisso antes de assentir lentamente. – Está bem. Podia ver quanto lhe custou só me dar essa resposta. Tão longe como me concedesse, se alguma vez voltasse a pôr os olhos no Sr. Craigsdale de novo, o mataria. Não podia permitir que fizesse coisas como essas. Não podia permitir que tirasse a inocência de alguém.

O

carro era grande com dois assentos na parte de trás um frente ao outro. Sentei-me em um lado, com Emma junto a mim. Matt se sentou frente a nós, sua jaqueta de couro se mesclava à perfeição com o revestimento de couro do carro. Seus escuros olhos me olhavam atentamente, capturando cada expressão que cruzava por meu rosto. Podia sentir seu olhar em mim enquanto passava a mão por minha garganta. Sentia-me irritada e calor irradiava desse jeito ao passar minha mão pela pele danificada. Devia ter usado cachecol. Amanhã estaria coberta de hematomas. Mas um cachecol não esconderia os hematomas de meu rosto. Se tivesse sorte, maquiagem poderia fazer desaparecer a pior parte, mas não era seguro. O carro estacionou na fila do guichê de pedido para viagem e Matt abriu a janela. Esta zumbiu ao baixar-se lentamente, revelando centímetro a centímetro do colorido menu. Girando-me para Emma a olhei atentamente. Ela estava repassando com seus olhos tudo o que estava escrito no tabuleiro. Quando a buzina soou e uma mulher nos perguntou nosso pedido, Emma rapidamente respondeu. Eu pedi um hambúrguer com queijo e batatas fritas, a mulher me persuadiu a aumentar meu pedido para um grande, assegurando que era mais barato. Aceitei, depois de tudo, o grande refrescante sorvete poderia acalmar minha dolorida garganta. Matt falou firmemente. Olhei-o pela extremidade do olho ao mesmo tempo que seu encanto saía a reluzir. Mas não foi até que o carro chegou ao guichê de pagamento que atuou como realmente era. Em uns segundos tinha à mulher comendo na palma de sua mão. Ela ria com nervosismo e paquerava com ele, movendo suas pestanas.

Enroscou seu cabelo castanho encaracolado em seu dedo e tratei de suprimir um sorriso. Sempre tinha assumido que era uma atuação que Matt usava quando queria. Mas vendo-o atentamente comecei a dar conta que não era um ato absolutamente. Era apenas ele mesmo. Não era encantado porque precisava sê-lo, era porque era sua forma de tratar a cada mulher. Fazia-a sentir especial e isso era algo admirável. Pôs uma nota de cinquenta dólares em sua mão e sorriu antes que o carro avançasse. O olhar no rosto da mulher era de total surpresa. Era uma gorjeta enorme e recordei o trabalho de garçonete que tinha tido. As gorjetas eram extremamente importantes e uma gorjeta assim grande aumentaria qualquer que fosse seu salário semanal. –Isso foi lindo de sua parte – disse ao abrir meu canudinho e colocá-lo na tampa de minha bebida. Os cubos de gelo giravam dentro do copo de plástico e imediatamente levantei meus lábios e tomei um grande gole, o frio intumesceu o interior de minha boca. Fechei meus olhos ao sentir deslizar para minha garganta aliviando a dor. Matt encolheu de ombros, abriu seu hambúrguer e o mordeu. Seus olhos se ampliaram momentaneamente ao ver Emma mastigando o último de seu primeiro hambúrguer. Tinha outro na bolsa de papel sobre seu colo. Ela procurou dentro da bolsa e agarrou um punhado de batatas fritas e rapidamente as meteu em sua boca. Pensei em lhe dizer que comesse com calma, mas rapidamente pensei melhor. Sabia o que era estar faminta. Não saber de onde poderia vir sua refeição seguinte. Assim se ela queria meter à força sua comida não ia lhe dizer que não. Além disso não queria fazêla pensar que a estávamos olhando. Tinha começado a relaxar lentamente e não queria afastá-la novamente. – Sei o que é viver só de gorjetas, quando seu salário não vale a pena para sair da cama, mas tem que fazê-lo, porque não tem outra opção. – Ele agarrou seu copo de plástico e tomou um grande gole de refresco. Assenti com a cabeça.

–Sim, também sei, tive trabalhos verdadeiramente difíceis depois de... — Calei-me vendo que Emma prestava atenção em nossa conversa com interesse. Suspirou e baixou seu hambúrguer. –Não precisa deixar de falar. Não ficarei louca ou algo do gênero. Escutar a respeito de como foi adiante é bom. Significa que há uma vida depois de tudo. Sorri. – Há uma vida depois de tudo. Desperdicei muito tempo estando amargurada e me perdi de muitas coisas geniais. Estava tão desesperada tratando de que me ocorresse algo que o fizesse pagar, que ignorei a verdade. Eu continuava aqui, ele não tinha me quebrado. Podia ter a vida que quisesse se realmente quisesse. Assentiu e tomou seu hambúrguer novamente mastigando pensativamente, refletindo minhas palavras. Não estava certa de se o que lhe havia dito era algo correto ou não. Mas era o que podia lhe dizer. Ela tinha que ter a esperança de que tudo ficaria bem. Sem esperança não havia muito neste mundo a que agarrar-se. – Como foi que terminou sendo uma estrela de rock? – Dirigiu sua atenção novamente a Matt. Ele ficou surpreso por um momento, balbuciando e tossindo tratou de recompor-se antes de finalmente responder: – Vou dizer. Foi uma dessas estranhas histórias onde alguém é descoberto trabalhando em um bar. Eu estava fazendo minhas usuais apresentações, o pagamento prestava, mas queria que minha música saísse dali, quando uma pessoa caminhou para mim, ofereceu-me um cartão de apresentação e me pediu que ligasse no dia seguinte. Emma estava sentada diante de sua poltrona, limpou as mãos cheias de gordura em seus jeans. – E o chamou? Matt riu.

– Bom, estou aqui agora não? Não, se for honesto, pensei que era uma dessas estranhas brincadeiras. Mas o cara retornou, queria saber por que não o tinha chamado e disse que havia trazido um de seus chefes. Quando a apresentação terminou seu chefe me ofereceu um contrato no momento. – A voz do Matt foi se apagando ao recordar algo que preferiria esquecer. Eu estava morrendo por lhe perguntar o que estava mal, mas com a Emma no carro não queria bisbilhotar muito sua vida. O carro estacionou fora do hotel que tinha reservado para ele e Matt se moveu para sair. – Por que estamos aqui? – perguntei completamente confundida. – De maneira nenhuma vai ficar esta noite em seu apartamento, nenhuma das duas. E este lugar tem a melhor segurança, você mesma disse. – Sorriu, foi um sorriso rápido, mas fez que meu coração desse voltas. Como podia discutir com ele? Se fosse só eu, estaria feliz de retornar a meu apartamento, mas com a Emma? Não poderia garantir sua segurança ali. Ao menos aqui no hotel, Craigsdale não tinha forma de chegar a ela. Não disse nada e saí do carro. Emma me seguiu e caminhamos para a grande porta giratória de cristal. Ela permaneceu em silêncio até que chegamos à suíte Pent House em que Matt ficava. – Se estiverem de acordo, posso ir dormir? – Sua voz era baixa e cheia de temor, ao olhar a redor. Matt respondeu primeiro, com um ligeiro sorriso em seus lábios. – Está segura, há um quarto ali, acredito que encontrará tudo o que necessita. Este lugar se encarrega de tudo, e me refiro a tudo. Emma lhe deu um pequeno sorriso antes de desaparecer no quarto que ele tinha indicado. Virando-me para o Matt, olhei-o mais que o necessário. Levantando uma sobrancelha de forma muito peculiar, inclinou sua cabeça de lado. O olhar

de diversão lentamente desapareceu de seu rosto ao ver o que estava refletido em meus olhos. – Não tinha que fazer isto. – Sei. Quis fazer. Assenti e me afastei dele. Não ia cair derretida ante qualquer química que se criasse entre nós. Matt tinha sido claro e não ia pressionar, estava cansada de jogos e para ser honesta, doía muito me pondo constantemente a sua mercê. – Kat? – Sua voz era lenta, rouca. Sua mão em meu ombro me fez congelar e contive a respiração. Virou-me para estar frente a ele e lutei para não me aproximar e tocá-lo. – Tem um poder sobre mim que não posso evitar. – Sinto muito. – Não, não é algo pelo que precise se desculpar. Eu sou quem deveria senti-lo. Nunca me senti assim antes, e se for honesto, não estou certo do que deveria fazer com isto. – Posso ir se você quiser. – Só de pensar em me afastar agora era insuportável, mas devia fazê-lo por ele. Se isso significava que a vida retornaria a ser simples sem sentimentos complicados para ele, então o faria. Mas no fundo sabia que nada mudaria o que sentia. Levaria isso comigo, sem que importasse o que acontecera entre nós. – Não quero que vá. Eu gosto de você, mas não quero lhe machucar e não posso lhe prometer que não a machucarei de novo. – Então não... não me machuque, só fica comigo, é tudo o que quero. Matt suspirou e levantou as mãos para seu cabelo. Quando voltou a me olhar e viu no profundo de meus olhos, algo se acendeu dentro dele. Podia ver as engrenagens trabalhando dentro de uma máquina. Queria que me escolhesse, mas não a seu pesar. E isto estaria a cargo dele. Não queria converter-se no que foi seu pai e tinha muitas complicações que o estavam remoendo.

Fechei meus olhos e uma lágrima deslizou entre minhas pestanas. Não podia lhe pedir isso. Não seria egoísta. Se o amava, não lhe pediria que destruísse uma parte dele, uma parte que eu amava. Inclinou-se para me beijar e eu pressionei meus dedos sobre seus lábios, mantendo-o só a uns centímetros de meu rosto. Seria tão fácil beijá-lo. Tão somente deixá-lo me beijar e me perder em seu sabor. Poderíamos estar juntos só por uma noite, mas na manhã não teríamos nada, só dor e remorsos. E amanhã à noite estaríamos novamente no mesmo apartamento. Um círculo vicioso de dor e prazer sem fim. Sem solucionar nada, simplesmente fazendo que tudo seja pior e mais difícil. – Não posso. – Minhas palavras saíram em um suspiro. Mantive meus olhos fechados. Era uma covarde, não podia olhá-lo nos olhos e lhe dizer que não. Um olhar para ele e desmoronaria minha resolução. Saí de seu abraço e fui. Tomando uma funda respiração, caminhei através do saguão e fui para o outro quarto de hóspede da suíte. Meu coração fazia eco em meus ouvidos, impedindo de escutar algum outro som. Matt bloqueou a porta do quarto antes que tivesse a oportunidade de fechá-la. Sujeitou-me com as costas contra a porta e me segurou. A intensidade de seu olhar ardente me atravessou. – Você não pode, mas eu sim. Amar é doloroso, é um trabalho difícil e não penso que queira tomar esse risco... mas ao vê-la se afastar. Não quero deixar ir, Kat. Cometi enganos suficientes em minha vida para saber que deixar ir seria o pior de todos. Se isto doer, doerá para ambos... Ele devorou meus lábios, suas mãos enredando em meu cabelo. Sua boca movendo-se para baixo, do queixo até meu pescoço, seus dentes roçando minha suave pele; isto atraiu um suspiro e um ligeiro gemido de mim. Matt achou que era um sinal, pressionando seu corpo sobre o meu. – Me diga que quer isto, Kat. Diga-me que necessita de mim da mesma forma em que eu necessito de você.

– Eu quero você. – Duas pequenas palavras e estava perdida. Duas pequenas palavras para selar meu destino e as disse com um sorriso em meu rosto e meu coração palpitando como louco.

N

os afastamos rapidamente da porta e fomos em direção a cama. Minhas panturrilhas roçaram a borda da mesma, antes que Matt me empurrasse sobre minhas costas. Ofeguei quando ele subiu em cima de mim, sua boca encontrando a minha, uma vez mais. Nosso beijo foi profundo, sua língua persuadindo meus lábios a abrir-se até que ele pôde inundar-se dentro de mim. Envolvi meus braços ao redor de seu pescoço, minhas pernas levantando-se automaticamente para lhe permitir recostar-se contra mim. Movemo-nos juntos, ambos ainda vestidos. As mãos de Matt percorriam meu corpo, deslizando pelo meu pescoço até meus ombros. Ele moveu-se de novo, suas mãos encontrando minhas costelas e a borda de minha camiseta. No segundo que suas mãos se deslizaram por debaixo da fina capa de material, suspirei. Suas mãos queimaram através de minha pele, surrupiando pequenos suspiros de meus lábios. Suas mãos se moveram mais abaixo, seus dedos cravando-se em meus quadris enquanto me levantava e lentamente trabalhou em minhas calças e calcinhas as atirando para baixo, até que pôde desprender-se delas. Apertou os dedos contra mim, movendo-se lentamente, seu olhar escuro observando atentamente meu rosto. Arqueei-me contra ele, empurrando os quadris para cima com seu toque. Era como a eletricidade fluindo através de mim. Cada contato me roubava o fôlego. Apertei os punhos na colcha de cetim, com a esperança que me mantivesse ancorada. Empurrou contra mim, seus dedos trabalhando meu corpo, me enviando mais alta. Meu corpo cantou para ele, podia me tocar como tocava o violão, perfeito e apaixonado.

Minha pele ficou fria e logo se esquentou enquanto seguia tentando me agradar. Estava segura de que em qualquer momento simplesmente explodiria. Os sentimentos que evocavam em mim tinham que ir a alguma parte, não podia mantê-los dentro de mim por mais tempo. Gritei, a mão do Matt cobriu minha boca afogando meu grito de prazer. A cor explodiu atrás de meus olhos, correram em serpentinas de luz enquanto me encurvava e levantava contra ele. Minha pele foi e veio com a sensação. Deitei-me na cama, minha respiração entrecortada. Matt se moveu para cima e sobre mim. Como ele conseguiu descartar a sua roupa tão rápido, estava além de mim. Só estava contente de que tivesse feito. Ele empurrou contra mim, centímetro a centímetro de satisfação. Enquanto estava enterrado dentro mim, rolamos até que eu estivesse em cima dele. Tirou minha camiseta, desenganchando o sutiã e lançando ambos ao chão. Não era algo a que eu estava acostumada, e por um momento me senti envergonhada. Mas Matt rodou seus quadris empurrando-se em mim. Agarrou minha cintura, me movendo com ele e em questão de segundos meus olhos rodaram para o fundo da minha cabeça. Ele me encheu por completo. Cravei meus dedos em seu peito enquanto nos movíamos juntos. Meus gemidos estimulando-o sucessivamente. O suor brilhava em sua pele bronzeada. Matt nos envolveu outra vez, até que estivesse posicionado em cima de mim. Seu grunhido de necessidade ressonando em meus ouvidos enquanto se enterrava dentro de mim até que não havia outro lugar para ir. Seus movimentos se tornaram ferozes, alimentados pela sensação de meu corpo em torno do dele. – Kat, eu te amo. – Suas palavras saíram como um grunhido rouco antes que se precipitasse sobre mim e me desse um beijo. Seus dentes roçaram contra meus lábios. Gozei com ele, então. Seu corpo voltando-se mais duro no interior do meu, quando chegou a seu clímax. Nós nos abraçamos enquanto o prazer se vertia sobre nós.

Ficamos recostados nos braços um do outro. Minha respiração voltando lentamente ao normal. Matt se apoiou sobre um cotovelo, olhando para a linha de meu corpo. Seus dedos brincavam distraidamente ao longo da curva de meu peito, surrupiando pequenos arrepios de mim até que finalmente tive que tomar seus dedos em minha mão. – Isso me faz cócegas. – Sorri preguiçosamente para ele enquanto me estendia. Meu corpo se sentia satisfeito, contido e algo mais. Não era como a última vez que fizemos sexo. Tinha sido algo mais primitivo desta vez. Sabíamos segredos um do outros, nossos defeitos também. Esta vez não havia nenhum lugar onde esconder-se. E uma parte de mim sabia que amar Matt traria dor. Nós dois sabíamos. – O que vamos fazer agora? – Não queria fazer a pergunta, mas pendurava entre nós. Não queria arruinar o momento, mas não havia outra maneira. Nós dois precisávamos de uma ideia de onde tudo isto nos conduziria... – Não vou mentir. Quero ver meu filho. Se for meu filho. Sentei-me e levantei as mantas ao redor de meu corpo nu. – O que quer dizer com ‘se’? – É Ângela. Não posso confiar nela, nunca pude. Parece estranho que de repente saia um filho do nada, logo agora que estou bem. Onde estava meu filho todos os anos em que eu não era nada? – Mas certamente não ia mentir a respeito disto. Não quando é tão fácil conseguir um teste de DNA. – Acredito que ela está contando com minha culpa e minha necessidade de demonstrar que não sou meu pai para passar por isto. Perguntei-lhe a respeito de uma prova, aí ela enlouqueceu. Lançou todo tipo de acusações contra mim.

Jurou que nunca o voltaria a ver se pressionasse com esse assunto. Matt tombou de novo na cama e apertou as mãos no rosto. Como se cobrindo seus olhos pudesse apagar o mundo e seus problemas. Passei a mão por seu braço. Às vezes tudo o que uma pessoa precisa é um aviso de que não está tão só como pensa que está. – Então, o que vai fazer? – Tenho que contatar o meu advogado, ver o que pode fazer. – E se isso não funcionar? – Matt se encolheu de ombros. – Não posso lhe dar as costas, não se existir a possibilidade de que ele seja meu. Não vou ser meu pai. Assenti com a cabeça. – Você não é seu pai. Não parece em nada com ele. Matt sorriu e agarrou minha mão na sua. – Uma coisa que sei, é que se tiver você, todo o resto é manejável. Não pedi esta vida, tudo o que queria fazer era criar música. Mas amar você é como respirar. É uma parte de mim. – Ele baixou o olhar. – Acredito que sempre foi você, só que não sabia. Inclinando-me sobre ele apertei meus lábios contra os seus. – Sei o que quer dizer. Eu também te amo. Nunca pensei que seria capaz de dizer isso a ninguém. Nunca deixei ninguém entrar, até que... Matt tomou em seus braços e me atraiu para o seu lado, seu corpo enroscando-se ao redor do meu, protetoramente. Fechei os olhos e me deixei ir à deriva. Amanhã viria em breve e traria seus próprios problemas.

O

quarto ainda estava escuro quando abri os olhos e olhei a meu redor. Por um momento estava confusa, até que tudo correu de volta a mim. Rolei na cama. Apoiei a mão no espaço vazio onde Matt deveria estar. A cama estava fria, como se ele não tivesse estado nela durante um tempo. Sentei-me e olhei ao redor, não podia ouvir nada, e não havia luz no banheiro. Saindo da cama agarrei o robe que estava pendurado na parte de trás da porta. Meus pés estavam acolchoados brandamente sobre o pesado tapete. Ao abrir a porta olhei para o corredor. O tênue resplendor das luzes na área principal da suíte Pent House me atraiu para diante. Mas não havia nenhum sinal de Matt. Dirigi-me à porta da Emma e a abri cuidadosamente, esquadrinhando na escuridão a pude ver enterrada sob as colchas e respirando com dificuldade. O som de uma porta fechando me fez correr de volta à sala de estar. Matt cruzava sigilosamente a habitação. Olhei-o por um segundo antes que me visse. Deu um salto e logo sorriu antes de caminhar para mim. – O que está fazendo? – Poderia lhe perguntar o mesmo. Onde estava? – Encolheu-se de ombros e tomou minha mão me conduzindo de novo ao quarto. – Necessitava um pouco de ar. Tenho minhas melhores ideias durante a noite e tive uma ideia fantástica para uma nova canção. Queria tentar relaxar um pouco e caminhar sempre me ajudou. Colocou-me de novo na cama antes de tirar lentamente suas roupas. Subiu de novo na cama, nu, e deslizou para

perto de mim. Suas mãos estavam frias e estremeci quando se apertou junto a mim. – Estava preocupada que eu fosse embora? – Bom, o que eu deveria pensar? Acordei e você tinha ido. É obvio que me preocupei. – Sorri suavizando minhas palavras. Meu coração se desacelerou a um ritmo normal enquanto nos abraçávamos, seu quente fôlego em minha nuca. Afastou o cabelo de meu rosto e beijou lentamente meu pescoço. Não me doeu tanto como o tinha feito antes. Uma parte de mim não podia deixar de perguntar-se para onde tinha escapado Craigsdale. Conhecendo-o não pararia, era certo que voltaria até que tivesse êxito ou eu o detivesse para sempre. Mas não tinha nem ideia de como poderia fazer isso. Fechei os olhos e fiz todo o possível para bloquear os pensamentos de minha mente. A última coisa que precisava eram mais pesadelos. Com o Matt perto de mim tudo ao redor deixava que minha mente vagasse pelos pensamentos mais felizes até que finalmente caí em um sonho profundo.

A

mão de Matt acariciou lentamente contra a pele de meu pescoço e me despertou. A luz se filtrava através das cortinas meio fechadas, banhando o quarto em um suave resplendor rosado. Virei-me e o olhei nos olhos. O olhar de ira estava de novo em seus olhos, logo que viu os hematomas em meu pescoço e rosto. – Está realmente tão ruim? – Minha mão foi automaticamente à minha garganta riscando a linha ardente onde as mãos de Craigsdale tinham estado envoltas ao redor de minha garganta. – Ele merece morrer pelo que lhe fez, Kat. Você não pode continuar fugindo desse tipo de coisa. – Eu sei. – Suspirei e me sentei, com as mãos puxando de forma automática as cobertas ao redor de meu corpo. – O que fez a Emma, você a viu. Ela está em pedaços, mas ainda está indo. Se eu fosse ela, e... – Fiz uma pausa e engoli em seco. – Não estou certa de poder ser tão forte como ela. – Você é. Neguei com a cabeça. – Não, eu não sou. Tive sorte. Não acreditei assim na época, mas escapei. Ela não o fez. Mas ela precisa de ajuda e precisa de um fim. Não estou segura de como posso ajudá-la. Tem tanto medo de que ninguém acredite. Mas sua vida não é a minha, ela sozinha tem que dar-se conta disso. Seus pais acreditaram, os meus estavam cegos. Eles não queriam pensar que algo tão horrível tinha acontecido com sua filha. Era mais fácil pensar que estava mentindo. Assim não tinham que sentir a dor dessa maneira. – Então, por que não entra em contato com seus pais? Para que venham aqui. Estou seguro de que estão

preocupados com ela, por onde está. As crianças não só escapam e a ninguém importa, bom os seres queridos não o fazem de todo modo. A voz de Matt estava cheia de remorso ao dizer essas palavras finais. Saber que seu pai nunca o tinha amado doía. Cortava-o até a medula, via-o refletido nele cada vez que tinha que falar de seu pai. O som dos golpes na porta nos fez saltar. – Que demônios? – Matt saltou da cama e começou a atirar roupas. Segui-o enquanto os golpes continuavam. Saí ao corredor e Emma colocou a cabeça fora de seu quarto. Olhoume com grandes olhos assustados. Sabia o que lhe preocupava, mas não tinha tempo para acalmá-la. – É a polícia, abram! Meu coração saltou em minha garganta afogando meu ar. Que demônios estava acontecendo? Por que a polícia estava aqui? Trouxe-me lembranças de quando me prenderam. Não estavam interessados nas súplicas de uma jovem. Eu era culpada e isso era tudo. Fiquei gelada quando Matt abriu a porta e olhou para eles. Dois policiais o agarraram duramente movendo-o para trás na sala. Vários mais entraram e começaram a revirar o quarto. Um deles me entregou uma ordem, mas minha mente havia parado até quase deter-se. Queria perguntar, o que estava acontecendo? Por que estavam aqui? Mas não podia. Nem sequer podia abrir a boca. – O que estão fazendo? Que diabos está acontecendo? – Matt lutou contra o agarre do policial. – Matthew Henley, está preso por tentativa de assassinato, algo que diga... – Suas palavras se confundiram uma atrás de outra enquanto tratava de algemar Matt. Ele lutou mais duro, sacudindo-se livre de seu agarre e correndo para mim.

– Kat, isso não é verdade. O que estão tratando de me acusar, não o fiz! Juro! Você me conhece, Kat, você me conhece! Atiraram-no ao chão, empurrando seu rosto para o tapete grosso até que suas palavras se afogaram. Finalmente tudo fez clique em seu lugar. Era como se o mundo de repente caísse de novo em foco. – Do que estão falando? Matt não faz mal a ninguém, muito menos tentativa de assassinato! Tentativa de assassinato de quem? Arrastaram ao Matt a seus pés, mas isso não lhe impediu de lutar. – Não fiz nada de errado. É um engano. – Matt, vou consertar isto. Tem que ser um engano. – Não há engano, senhorita? – O oficial de polícia alto bloqueou minha visão de Matt enquanto o tiravam da casa. – Senhorita Faulkner, sou a representante de imprensa do senhor Henley. – Bom, Senhorita Faulkner, o senhor Henley procurado como suspeito de tentativa de assassinato.

é

– Quem? A quem tentou assassinar se estava comigo ontem de noite? – Bati a ordem ao redor diante de mim. – O senhor Jacob Craigsdale... O som de seu nome congelou o sangue em minhas veias. Não era possível. Não podia ser possível. Não havia maneira de que Matt faria isso. Tinha estado comigo, exceto. A lembrança da cama vazia apareceu em minha mente como um traidor. – Ele não poderia. Ele não faria isso, não ao Jacob Craigsdale, tem que haver algum engano? – Nao. Está no UTI com trauma cerebral extremo. Ninguém tem certeza de que ele vai sobreviver. Tudo isto poderia converter-se rapidamente em um homicídio.

Não sabia o que dizer. Vi os policiais arrastarem Matt para o elevador. Seu rosto, enquanto o arrastavam para dentro, não era o rosto de um homem que cometeria um assassinato. Não era possível, tinha que haver algum engano. Matt era inocente, tinha que sê-lo. O policial se afastou enquanto continuavam vasculhando o quarto. Estava vagamente consciente de como eles se moviam ao meu redor. E mesmo assim fiquei congelada. Craigsdale estava na UTI. Uma parte de mim sentia um tipo de satisfação. O homem que assombrou meus pesadelos por anos, finalmente teve o que merecia. Mas mesmo que isso fosse contaminado. Não queria que tudo isto viesse à custa de Matt. Eu confiava nele, mas não pude tirar a dúvida persistente que deslizou dentro da minha mente e plantou a semente. Matt tinha saído ontem à noite enquanto eu dormia, disse que me amava e a ira em seus olhos quando viu o que Craigsdale tinha me feito, não podia olhar em seus olhos a noite anterior, quando tinha me salvado. Se ele me amava, até onde permitiria que esse amor o empurrasse? Era eu uma tola ao confiar nele? Não sabia de mais nada. Estava total e completamente destroçada. Amar Matt era prazer e dor, só que parecia ser mais dor que prazer...

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