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CONCEITOS DE COMUNIDADE Referências Bibliográficas: POLIVANOV, Beatriz. Reapropriações do Conceito de Comunidade na Contemporaneidade. Revista Latinoamericana de Ciencias de la Comunicación, v.11, n. 21, 2015. SERRA, Paulo. Comunidade e mediatização. Universidade Beira Interior, Covilhã, 2004. Disponível em http://www. bocc. ubi. pt/pag/serra-paulo-comunicacao-mediatizacao com acesso em 27/07/2016. COSTA, Rogério. On a new community concept: social networks, personal communities, collective intelligence. Interface - Comunicação, Saúde, Educação, v.9, n.17, p.235-48, mar/ago 2005.
ÁLVARO, Daniel. Los conceptos de comunidad y sociedad de Ferdinand Tonnies. Universidad de Buenos Aires, papeles del CEIC, Volumen 2010/1, n. 52, Marzo 2010.
Introdução: A gênese dos conceitos de comunidade e sociedade é muito anterior ao surgimento da sociologia como ciência e instituição. - Esta dicotomia entre comunidade e sociedade aparece na história do OCIDENTE em meados do século XIX em algumas teorias (psicológicas, filosóficas, jurídicas, econômicas, etc.) que servem de fundamentos para o que hoje designamos nascimento das ciências sociais modernas. - Ainda assim, estes conceitos excedem o campo das ciências sociais e de outras áreas do conhecimento e chega ao nosso tempo animando uma multiplicidade de debates nos mais diversos campos do saber.
Tonnies (1855 - 1936). Foi o primeiro a abordar esta questão desde uma perspectiva científica buscando trazer um caráter sociológico que acredita ser necessário para a análise das relações humanas de modo geral. Em 1813, Tonnies começa a carreira docente na Universidade de Kiel, onde graduou-se. Em 1909 participa da fundação da SOCIEDADE ALEMÃ DE SOCIOLOGIA junto com Max Weber, Georg Simmel y Werner Sombart de 1922 a 1933. Estudou Filosofia, Teologia, História da Arte e Arqueologia. Teve influências: Hobbes, Spinoza, Marx, Schopenhauer e Nietzsche.
CONCEITO DE COMUNIDADE
Tonnies (1855 - 1936)
Assim, transitou entre os seguintes campos do conhecimento: 1. Etnográfico-antropológico: origem do matriarcado como gérmen mais forte da comunidade que por sua vez é determinada pelo paradigma evolucionista da época.
2. Pensamento Jurídico Moderno: transição entre a tradição (comunidade) e o contrato social (sociedade), ou seja, do caráter corporativo da idade média até o espírito individualista da modernidade. Influências Contrato Social - Hobbes.
3. Filosófico: Platão (República) e Aristóteles (ética) = o argumento ontológico de classificação das diferentes comunidades (casa, aldeia, cidade).
OBS: Tonnies critica a sociedade capitalista de Marx no sentido de de um desejo ou necessidade de ser comunidade.
FENÔMENOS SOCIAIS: são considerados por Tonnies como unidade delimitadas.
Para pensar os 2 conceitos o autor cria categorias úteis: A RELAÇÃO E A UNIÃO (ou UNIDADE) = ambas são expressões da vontade humana e de suas forças (+ ou -) e consideradas como tendo sido produzidas em relações de afirmação recíproca. OBS: sem a interação desses tipos de forças não é possível nenhuma vida em comum. • forças positivas = são a essência da comunidade, ou seja, o espelho da vida verdadeira, real e que se realiza como uma totalidade orgânica. • forças negativas = traduzem uma formação ideal e mecânica, dando sentido ao conceito de sociedade. Tonnies pensa comunidade como oposição a sociedade. Comunidade: não somente aparece primeiro do que a sociedade, senão que é a primeira, não só a mais antiga que a sociedade, mas anterior entre todas as formas de vida em comum. Comunidade é algo harmonioso, enquanto sociedade é um artefato (algo produzido artificialmente).
DEFINIÇÃO METAFÍSICA CLÁSSICA EM UM SISTEMA BINARISTA DE OPOSIÇÕES.
Para Tonnies SER COMUNIDADE significa agir conforme a natureza humana e a separação desta unidade é artificial e traduz o conceito de sociedade. • "Na comunidade os homens permanecem unidos apesar de todas as seprações e na sociedade permanecem separados apresar de todas as uniões"; • "A essência da comunidade é o fundamento da vida em comum. • A sociedade NÃO POSSUI nenhuma essência, é somente um conceito ideal e mecânico, está sempre em formação porque é fictícia e nominal". • Comunidade = é a vida em comum, duradoura e autêntica, enquanto sociedade é somente uma vida passageira e aparente sempre vinculada a primeira.
A SOCIEDADE É SECUNDÁRIA, vem depois da natureza original da vida comunitária, portanto, é necessariamente ARTIFICIAL ao mesmo tempo que a comunidade é insubstituível. Por isso existe uma CONTRADIÇÃO, quer dizer, a sociedade é "substituta" de algo "insubstituível".
Na prática, a simetria dos conceitos de comunidade e sociedade é aparente, eles não são de igual valor, e é precisamente sobre a base dessa desigualdade, que Tonnies constrói a base da sua teoria.
CONCEITO DE COMUNIDADE
Edward Thompson (1924 - 1993)
O pensamento de Thompson diferencia-se do de Tonnies, uma vez que desfaz a dicotomia comunidade versus sociedade proposta pelo autor. Para Thompson, comunidade é algo heterogêneo, que guarda elementos da tradição e de relações mais antigas, da mesma maneira em que incorpora aspectos novos, não corroborando a ideia de Tonnies de que a comunidade seria substituída pela sociedade. Thompson, ao pensar o fazer-se da classe operária inglesa, percebe que há a permanência de um ethos de comunidade, no seu sentido rural, no modo de vida dessa classe que se funda no meio urbano. As práticas comunitárias não teriam terminado ou sido ultrapassadas, mas estariam vinculadas à classe trabalhadora (Europa - inglesa).
Não se pode perder de vista, para Thompson, a materialidade da cultura: Desse modo, comunidade deve ser vista como uma ARENA DE DISPUTAS, um conjunto de diferentes recursos, onde devemos observar confrontos e negociações, atitudes e valores divergentes. Thompson percebe que haviam conflitos nas comunidades (ao contrário do que se poderia inferir a partir do pensamento de Tonnies). Percebe-se de que forma elementos ligados à vida em comunidade, tais como a coletividade, as tradições e a ajuda mútua são traços que permitem a diferenciação de determinados agrupamentos sociais.
OBS: Thompson parece se afastar da visão dicotômica sobretudo de Tonnies, que opõe comunidade à sociedade. Para o autor, é fundamental a noção de que a comunidade é um “lugar” heterogêneo, marcado pela multiplicidade de pensamentos e costumes, pelas negociações/disputas e pela convivência, conflituosa ou não, de antigos e novos hábitos.
CONCEITO DE COMUNIDADE
Manuel Castells (1942….)
Para Castells, a partir da década de 70 e principalmente de 80, o debate e a criação de “comunidades” ligadas a localidades ganha proeminência. Para o autor Castells, a identidade legitimadora e localmente localizada predominou na modernidade. Castells defende ainda a ideia de que, a partir das “tendências conflitantes da globalização e da identidade” e com “a revolução da tecnologia da informação e reestruturação do capitalismo” (1999:17), a sociedade atual estaria organizada em redes. Em ambientes locais, como a vila ou o subúrbio, “as pessoas se socializam e interagem (...) formando redes sociais entre seus vizinhos”. O autor ressalta, porém, que as “identidades locais entram em intersecção com outras fontes de significado e reconhecimento social, seguindo um padrão altamente diversificado” (CASTELLS, 1999: 79).
Ainda assim, Castells não corrobora a ideia de que “ambientes locais, por si só, (...) induzam um padrão específico de comportamento ou, ainda, justamente por isso, uma identidade distintiva” (1999:79).
A hipótese do autor é de que, para isso acontecer, faz-se necessário um processo de mobilização social, isto é, as pessoas precisam participar de movimentos urbanos (não exatamente revolucionários), pelos quais são revelados e defendidos interesses em comum, e a vida é, de algum modo, compartilhada, e um novo significado pode ser produzido (CASTELLS, 1999:79). Para Castells, as “comunas culturais de cunho religioso, nacional ou territorial parecem ser a principal alternativa para a construção de significados em nossa sociedade”.
Elas teriam três características principais: (1) aparecem como reação a tendências sociais predominantes, às quais opõem resistência em defesa de fontes autônomas de significado; (2) constituem identidades defensivas que servem de refúgio e são fontes de solidariedade, como forma de proteção contra um mundo externo hostil (3) são construídas culturalmente, isto é, organizadas em torno de um conjunto específico de valores cujo significado e uso compartilhado são marcados por códigos específicos de auto-identificação (1999: 84).
OBS: COMUNIDADE = como forma de resistência à globalização, “à formação de redes e à flexibilidade” e “à crise da família patriarcal”, constituindo “abrigos, mas não paraísos” (CASTELLS, 1999: 84-85). É importante ressaltar que essa resistência se daria ou por opção, quando os sujeitos ideologicamente não concordam com os novos valores e maneiras de funcionamento do mundo pós-moderno, ou por exclusão, quando os sujeitos de fato não têm como sobreviver decentemente nesse mundo seguindo as suas regras.
CONCEITO DE COMUNIDADE
Zygmunt Bauman (1925….)
As comunidades na alta modernidade estariam relacionadas à construção de dois significados principais: o de resistência e o de identidades defensivas. Bauman (2003) parece também entender “comunidade” segundo esses dois aportes. Mas o autor discute sobre em que medida seria viável (ou até mesmo desejável) uma volta à vida em comunidade na alta modernidade. A questão mais importante apontada por Bauman é a tensão que se dá entre a falta de liberdade e o sentimento de segurança que seriam características inerentes da vida comunitária. Se, por um lado, a noção de comunidade esteve sempre atrelada a aspectos positivos – às vezes utópicos – de pertencimento a um grupo, união e solidariedade – um verdadeiro “paraíso perdido” –, por outro, na comunidade, o indivíduo gozaria de muito menos mobilidade e liberdade. Bauman retoma a concepção clássica de comunidade e as sensações a ela vinculadas, como afetividade, pertencimento e segurança, contrastando-a com o sentimento de pouca autonomia e liberdade que também seriam inerentes a ela. Daí surgiria o paradoxo: queremos ter o conforto e a segurança que a comunidade pode trazer, mas, ao mesmo tempo, não queremos abrir mão da liberdade conquistada na vida em sociedade. Bauman ressalta que “o que quer que ‘comunidade’ signifique, é bom ‘ter uma comunidade’, ‘estar numa comunidade.
Bauman trabalha com a ideia de que a comunidade seria ou um “paraíso perdido” (projeção para o passado) ou um paraíso ainda esperado (projeção para o futuro), mas não, na sua concepção clássica, algo que existisse nos dias de hoje. Diz o sociólogo: “A ‘comunidade realmente existente’, se nos achássemos ao seu alcance, exigiria rigorosa obediência em troca dos serviços que presta ou promete prestar” (2003: 9-10). Portanto, a proposta de Bauman não é analisar as supostas comunidades existentes, mas sim pensar se, na atual conjuntura do mundo globalizado, é válida a tentativa de se criarem comunidades que mantenham as sensações evocadas pelas “comunidades” do passado, para restaurar um sentimento de proteção e solidariedade entre os indivíduos, lembrando que com isso se perderia liberdade.
O autor defende, portanto, que há dois modelos de comunidades diferentes, “muitas vezes misturados e confundidos no ‘discurso comunitário’ hoje em moda” (2003: 68): o dos “fracos e despossuídos”, que se veem obrigados a escolher entre liberdade e segurança, e o da elite, que é construído e desconstruído, de acordo com sua vontade, já que ela poderia, ao menos em parte, comprar sua segurança.