serie felling 1

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PERIGOSAS NACIONAIS

PERIGOSAS ACHERON

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Copyright © 2018 A G Moore

Texto: Andressa G. Moreira Revisão: Fabiano Jucá e Hellen Caroline Capa: Murillo Magalhães Diagramação: Denilia Carneiro

Esta é uma obra de ficção. Nomes, personagens, lugares e acontecimentos descritos são produtos da imaginação da autora. Qualquer semelhança com nomes, datas e acontecimentos reais é mera coincidência.

________________________________________________ INESQUECÍVEL A G MOORE

1ª Edição — 2018 ________________________________________________ Todos os direitos reservados. São proibidos o armazenamento e / ou a reprodução de

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PERIGOSAS NACIONAIS qualquer parte dessa obra, através de quaisquer meios — tangível ou intangível — sem o consentimento escrito da autora. A violação dos direitos autorais é crime estabelecido na lei nº. 9.610/98 e punido pelo artigo 184 do Código Penal.

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SUMÁRIO SUMÁRIO Nota da Autora Dedicatória Epígrafe Prólogo Capítulo 1 Capítulo 2 Capítulo 3 Capítulo 4 Capítulo 5 Capítulo 6 Capítulo 7 Capítulo 8 Capítulo 9 Capítulo 10 PERIGOSAS ACHERON

PERIGOSAS NACIONAIS Capítulo 11 Capítulo 12 Capítulo 13 Capítulo 14 Capítulo 15 Capítulo 16 Capítulo 17 Capítulo 18 Capítulo 19 Capítulo 20 Capítulo 21 Capítulo 22 Capítulo 23 Capítulo 24 Capítulo 25 Capítulo 26 Capítulo 27 Capítulo 28 Capítulo 29 Capítulo 30 Epílogo Nota sobre a doença de Henri PERIGOSAS ACHERON

PERIGOSAS NACIONAIS Agradecimentos Sobre a autora Redes Sociais Trecho do próximo livro: Imensurável. Conheça as outras obras da autora:

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Nota da Autora

Este livro faz parte de uma série com 4. Cada livro tem um casal como protagonista, e você pode compreender mais sobre o passado dos mocinhos da série lendo o conto “4 amigos — como tudo começou” aqui mesmo, na Amazon. Estou grata por você já ter chego até aqui, e dado uma chance ao meu primogênito. Que sua leitura seja repleta de emoções e que sua mente se abra para compreender a evolução desse romance do começo ao fim. O livro foi escrito inicialmente por mim em 2015, e teve uma versão anterior a essa com outro nome e outro pseudônimo. Caso reconheça o enredo, continue a ler, pois o livro sofreu alterações PERIGOSAS ACHERON

PERIGOSAS NACIONAIS e reformulações. Nesses três anos com essa história sendo trabalhada, me empenhei a chegar em um ponto onde enfim fiquei satisfeita. Espero que te faça feliz também. Boa leitura!

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Dedicatória

A Deus, pelo amor infinito. A Antônio Carlos, meu avô. Um dia você me devolveu um quadro com nossa foto nos meus 15 anos, dizendo que quem deveria guardá-la é a pessoa que ficaria na Terra após a outra partir. Eis aqui mais um modo de deixá-lo inesquecível nas minhas lembranças, mesmo o tendo ainda em PERIGOSAS ACHERON

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vida. Te amo.

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Epígrafe

INESQUECÍVEL adjetivo de dois gêneros Que não pode ser esquecido; inolvidável, memorável.

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Prólogo

Era começo da madrugada quando percebi que, como fazia nas minhas lembranças, Henri estava demorando a chegar em casa. Vesti um robe por cima da camisola e saí do nosso quarto com uma sensação ruim pairando em meus pensamentos. Clara já dormia serenamente em seu dormitório e eu não conseguia me concentrar em fazer o mesmo. Me preocupava com meu marido. Depois de tanto andar em círculos pela sala, com os braços cruzados na altura do peito e a mente trabalhando a todo vapor, olhei as horas, vendo que já eram 2 da manhã. Fui para o sofá da sala e comecei a fazer o que fazia há anos, quando essa era minha rotina: jogar Xbox aguardando a PERIGOSAS ACHERON

PERIGOSAS NACIONAIS chegada de Henri. Ele chegou 40 minutos depois. Desliguei a tevê com pressa e andei até a porta da frente, ouvindo a chave na tranca. — Henri? — indaguei ao vê-lo entrar. Ele não respondeu, mas entrou apoiando-se aos móveis, cambaleando. Fechei a porta e o segui. — Henri, você está bêbado? — Me aproximei e tentei estabilizá-lo. Porém, quando o toquei, tive uma reação sua que não esperava. — Sai! Eu estou bem! Está tudo bem! — Escapou do meu toque. — Vem, senta aqui. Vou fazer algo para você. — O puxei para o sofá. Meu coração começou a palpitar. Nunca o tinha visto naquele estado e algo me dizia que havia coisas por trás de toda aquela cena. — Não quero nada! Eu não quero nada de você. Você arruinou minha vida! — Henri gritou e me empurrou para o sofá. Meu corpo caiu em choque no móvel macio e PERIGOSAS ACHERON

PERIGOSAS NACIONAIS eu abanei a cabeça para clarear meus pensamentos. Aquele não era meu marido. Ao menos não o que eu recordava ser. — Não sei do que está falando. Me deixa cuidar de você! — insisti, levantando e andando na direção dele, que já estava seguindo rumo ao corredor dos quartos. Puxei-o pelo braço, trazendo seu corpo de encontro ao meu. Chocamo-nos um com o outro e notei seus olhos, banhados de lágrimas e vermelhos, darem lugar a uma ira que jamais havia visto em toda minha vida. Ele me empurrou, fazendo com que eu cambaleasse para trás. — Ela não me quer mais por sua causa! Vadia! Louca! Fique com suas lembranças idiotas! Volta pro galãzinho e me deixa! — E proferindo essas palavras, estapeou-me, gerando uma dor desconhecida para mim. A ardência do tapa me fez recuar e acariciar meu próprio rosto. Eu não entendia; não sabia de quem ele estava falando, mas meus olhos estavam PERIGOSAS ACHERON

PERIGOSAS NACIONAIS em prantos e meu semblante, em choque. O tapa doeu, mas minha cabeça latejava mais do que nunca pela agressão. Não podia acreditar que aquele homem era meu marido, o homem que me fazia juras de amor. — Eu... te odeio, Henri... Você não devia ter feito isso comigo! Ainda tive a coragem de encará-lo, mesmo com o rosto dolorido e lágrimas desenfreadas banhando minha face. Nunca fiz nada para merecer a forma como me tratou naquele dia, e mesmo que fizesse, nada justifica a violência que ele estava me fazendo passar em uma simples noite por motivos que nem ao certo eu sabia. — Se chegar perto, farei mais! Eu perdi! Que se dane! Perdi de novo. A perdi e perdi minha vida! — Henri falou chorando, erguendo os braços enquanto gesticulava sem parar. Após ter dito isto, entrou no nosso quarto e meus batimentos puderam, enfim, ir voltando ao normal. Eu estava tremendo, doendo, chorando. Corri desesperadamente para o quarto de Clara e me tranquei lá. Levei meu celular e fiquei PERIGOSAS ACHERON

PERIGOSAS NACIONAIS ali, tremendo de medo e chorando a noite inteira, sentada com as costas na porta, sem conseguir dormir até o amanhecer. Meu rosto estava pálido, exceto na área em que Henri bateu, onde permanecia inchado e muito vermelho. Encarei-me no espelho do banheiro às 8h da manhã. Clara ainda dormia. Saí do quarto e Henri já não estava mais em casa, mas não sabia se comemorava ou me preocupava. Para onde ele teria ido, eu não fazia ideia. No entanto, aquele dia com certeza me deu respostas que nem precisei procurar.

Fique à vontade. Logo conhecerá uma história. Te contarei a minha história de amor. Não é tão comum quanto pensa, posso garantir. Não, não me apaixonei perdidamente por PERIGOSAS ACHERON

PERIGOSAS NACIONAIS um poderoso homem sem sentimentos, nem fui a mocinha inocente que mal sabia do amor. Eu já amei. Amei com toda minha alma. Mas fui destruída. Perdi tudo e precisei recomeçar. E essa é a história de como tudo foi reconstruído e, enfim, fui amada da forma que mereço.

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Capítulo 1

AMANDA Meses antes.

Sabe aquele dia em que você para tudo e pensa no que passou? Eu estava tendo um desses momentos. Ali, no quarto emprestado no apartamento do meu irmão, foi inevitável fazer uma retrospectiva da minha vida desastrosa. Como começar a te contar minha história? Confesso que não sei ao certo como relatar... Mas se for para contar a raiz de tudo, que seja desde o meu primeiro coração partido. Nunca fui o tipo de garota que chama a PERIGOSAS ACHERON

PERIGOSAS NACIONAIS atenção por onde passa, mas sempre acreditei que um dia poderia ser feliz e ter alguém ao meu lado para compartilhar minha felicidade. Mas a vida vai mostrando que nem tudo é como sonhamos. Com quinze anos meu primeiro namorado de escola me traiu debaixo do meu nariz. Toda a escola cochichava entre os corredores quando eu passava. Foi humilhante, mas a adolescência é assim, cheia de decepções e aprendizados. Aos dezoito eu finalmente encontrei um namorado perfeito. Ele era o cara dos meus sonhos – literalmente –, até conseguir me convencer a perder a virgindade em uma noite, falando no dia seguinte que tudo estava acabado entre nós, pois ele iria para outra cidade estudar. Okay, decepções fazem parte da nossa vida! Mas depois dessa eu me fechei. Decidi que relacionamentos não eram algo primordial na vida de qualquer ser humano, muito menos na minha. Meus pais se separaram na mesma época, fazendo com que meu irmão e eu fôssemos PERIGOSAS ACHERON

PERIGOSAS NACIONAIS chutados para fora de casa como se não passássemos de um fardo. Foi aí que Henri entrou. Eu estava recomeçando. Eu estava bem. Estava trabalhando, em breve entraria na faculdade, mas ele apareceu. Ele me quis, ele perturbou dia após dia até que eu aceitasse sair com ele. Enfim... Me apaixonei. Henri era o sonho de consumo da minha mente imatura. Moreno bronzeado, com um porte autoritário e imponente. Seus olhos cor de mel me faziam derreter enquanto falava coisas doces. Eu cedi, eu me envolvi, eu casei com ele. Aos vinte anos comecei a namorar com ele; aos vinte e dois éramos recém-casados, felizes, apaixonados. Tudo com Henri era maravilhoso, até eu engravidar e dar à luz a uma menina linda com os olhos cor de mel como os do pai, aos vinte e quatro anos. Foi aí que tudo mudou. PERIGOSAS ACHERON

PERIGOSAS NACIONAIS Sabe quando você começa a notar que não é mais tão especial, ou não tem mais o olhar de amor e devoção do seu marido? Sabe quando você nota que ele começa a te evitar e inventar desculpas para não dar toda a doçura que dava antes? Não sei qual foi meu erro, mas foi aos vinte e oito anos – que eu havia acabado de completar – numa noite quente de sábado, que eu soube claramente: Henri me traía há anos. — Alô? Quem quer que seja, é engano. Estou muito ocupada agora. — Uma voz feminina notoriamente bêbada falou ao telefone. Eu tinha ligado para ele pela milésima vez naquela madrugada, pois o maldito ainda não tinha chegado em casa. Aquela postura já tinha se tornado uma rotina torturante em nosso lar. — Henri! Passa pro Henri agora! — gritei. Nossa filha já dormia e eu havia me trancado em meu quarto desde então. — Hummm, ele está ocupado agora. Não pode falar, né, meu amor? Aiii! Não faz assim que PERIGOSAS ACHERON

PERIGOSAS NACIONAIS eu piro! — A mulher respondeu e depois direcionou a fala a alguém que estava com ela. Claramente era Henri. Desliguei o telefone e, sem pensar duas vezes, fiz as malas com tudo que possuía: roupas, acessórios, itens de higiene e sapatos. Estava decidida a ir embora assim que meu marido traidor colocasse os pés dentro de casa. E foi o que aconteceu. O surpreendi na porta da frente, dando um soco em cheio no seu rosto, comunicando que iria embora. Ele não negou ter me traído. Eu soube que meu esposo jamais deixaria Clara ir comigo, pois nem sabia onde poderia morar. Então, decidi ir sem mais discussões, no instante em que ele vetou a saída da criança e, assim que pudesse, voltaria para buscar minha filha. Afinal, ele tinha me traído, mas ainda era pai.

É esse o momento em que chego ao ponto PERIGOSAS ACHERON

PERIGOSAS NACIONAIS crucial da minha história. Eu, ainda deitada sobre a cama no apartamento de meu irmão após dois meses da separação, decidi que aquele dia seria um divisor de águas em minha vida. Até ali, ainda não tinha conquistado nada no âmbito profissional e a frustração me dilacerava. Determinei que voltaria para a faculdade, conseguiria um emprego melhor e faria tudo para me realizar pessoal e profissionalmente, e logo poderia buscar minha filha, Clara. Relacionamentos? Não, obrigada. Eu me sentia forte o suficiente para ser feliz sozinha. E, bem, tinha razão, pois sempre fui determinada em tudo o que fazia e sempre conseguia o que almejava, mesmo com muito custo. Era uma sexta-feira, quando, após muito meditar e refletir sobre tudo que tinha vivido, meu irmão Pedro entrou no quarto de repente. — Mandi, cheguei agora. Vou tomar um banho e sair para encontrar com meus amigos. Devemos ir a algum bar ou boate aqui por perto. Precisa de alguma coisa? Ele jazia de pé, encostado no batente da porta, já arrumado. Confesso que nunca fui de sair PERIGOSAS ACHERON

PERIGOSAS NACIONAIS para baladas, sempre fui estudiosa e centrada, não gostava de bebidas alcoólicas nem de farras nos fins de semana. Por um momento me senti tentada a saber como deveria ser essa vida boêmia, já que, agora que morava em um bairro mais nobre... Deveria ao menos curtir o local. Afinal, estava solteira e sem absolutamente nada para fazer numa sexta à noite. — Preciso sair, posso ir com você? — Absolutamente... Não — Pedro respondeu imediatamente. — Você não vai gostar, fora que eu não estou a fim de ser babá hoje. Então fica aí vendo seus filmes melodramáticos. Se quiser trago um lanche pra você mais tarde, quando eu voltar. Fiquei com um pouco de raiva e fitei fixamente os olhos do meu irmão, tentando criar uma justificativa boa para que ele me levasse. Definitivamente estava decidida a ir a qualquer custo. Pensei em minha filha e no compromisso de buscá-la no dia seguinte. Imediatamente, antes de falar qualquer coisa, reforcei o alarme no celular, mas não desisti da ideia de sair. Era um direito meu, que sempre vivi trancada em casa, vivendo PERIGOSAS ACHERON

PERIGOSAS NACIONAIS para filha e marido, me divertir nem que fosse um pouco. Afinal, Henri fez muito pior quando também saía à vontade e me traía mesmo quando estávamos casados. — Ok, você vai e eu sairei sozinha pelas ruas procurando uma boate, então. — Dei de ombros. — Vou colocar aquele vestido de paetê rosa e passar um batom vermelho que vai chamar atenção de muitos caras na rua... Enquanto eu falava, Pedro, ainda de pé na entrada do quarto, balançava negativamente a cabeça, provavelmente imaginando a cena, e como um irmão protetor e ciumento que era, interrompeu-me em seguida. — Tudo bem! Você pode ir, mas eu te aviso logo que não costumo voltar cedo e, se eu for pra outro lugar, você terá que voltar de táxi, ouviu? — Sua voz era mais em tom de advertência do que de raiva. — Obrigada, irmãozinho! — Fiquei eufórica e pulei da cama. Corri e fui abraçá-lo. — Não irei te decepcionar. Ele sorriu, pois em meio a toda a seriedade PERIGOSAS ACHERON

PERIGOSAS NACIONAIS que demonstrava, me amava e estava disposto a cuidar da única irmã mais nova. Pedro não hesitou em me oferecer um quarto do seu recém-adquirido apartamento no bairro nobre da cidade — que ficava a uma curta viagem do meu antigo lar —, assim que liguei chorando e contando o que o canalha do Henri tinha feito. Ele prometeu que cuidaria de mim e me ajudaria a superar essa fase ruim. Pedro era bem-sucedido e tinha um emprego federal, ganhava bem e conhecia muitos donos de empresas e multinacionais. Desde que eu fui morar com ele há dois meses, tentava encontrar um emprego com seus contatos pessoais, mas ainda não tinha conseguido nada. Algumas horas depois, meu irmão e eu saímos de casa. Pedro tinha um Corolla do ano, de cor chumbo. Fomos nele em direção à boate Drink, que ficava a alguns quarteirões do apartamento, no mesmo bairro em que morávamos. Ao chegarmos, ele passou algumas advertências a mim. — Mandi — me chamou pelo apelido de infância. — Vou me encontrar com alguns amigos. Você entra comigo, mas pode ficar à vontade lá PERIGOSAS ACHERON

PERIGOSAS NACIONAIS dentro. Não me chama a não ser que seja emergência — ponderou antes de prosseguir. — Se eu estiver com alguma mulher, não me chama nem que seja emergência. Acredito que você saiba se virar, não sabe? Ainda não tínhamos saído do carro. Eu apenas desejava que ele aproveitasse sua noite normalmente, sem se incomodar com a minha presença. — Tudo bem, irmãozinho, não vou estragar sua noite, relaxa. Aqui estão as chaves de casa, qualquer coisa eu pego um táxi. Prometo não beber muito, isso se eu beber. — Sorri ao fim da frase, mas na verdade eu pensava em provar de tudo um pouco. Não estava nem me importando se meu irmão me levaria para casa ou não, eu queria independência e pela primeira vez ansiava aproveitar uma boate, já que não conhecera nenhuma na vida. — Ok. Vamos lá, entre comigo. — Ele saiu do carro e me levou até o interior do local. Ao entrarmos, Pedro se dirigiu ao grupo de amigos sentados no bar, que o aguardavam. Sem PERIGOSAS ACHERON

PERIGOSAS NACIONAIS saber muito o que fazer, o segui enquanto admirava o interior daquele local pouco iluminado com feixes de luz e várias áreas vip ao redor de uma pista no centro, onde muitas pessoas dançavam. Ao se aproximar dos amigos, Pedro os apresentou a mim. — Gente, essa é minha irmã, Amanda. — Apontou para mim diante dos três homens. Virou-se para o primeiro — um homem de aparentes 30 anos como ele, com uma barba rala e cabelo bagunçado curto, olhos dourados esverdeados, um belo sorriso, pele branca e porte robusto. — Esse é Nick. — Nick acenou e Pedro logo apontou para o segundo homem ao seu lado, um negro bem afeiçoado que aparentava ser um pouco mais velho, não tão alto quanto Nick, mas com um corpo bastante atlético, cabelo raspado sem barba nem bigodes, olhos escuros, quase imperceptíveis na escuridão da boate. — Esse é o Lucas. — Lucas sorriu e acenou com a cabeça. Por fim, Pedro apresentou o último amigo: PERIGOSAS ACHERON

PERIGOSAS NACIONAIS um homem bem mais alto que os três, beleza jovial, corpo atlético e largo, pele branca bronzeada, cabelos claros longos e rebeldes, olhos azuis quase cinza, braços fortes e um sorriso que faria qualquer garota deitar e rolar só de olhar. — Esse é Tony. — Quando Tony se virou para falar comigo, seu rosto ficou sério. Ele me observou de baixo para cima e soltou um "oi", voltando a beber o que estava ingerindo anteriormente. Me senti um tanto constrangida por estar ali e logo me recolhi em minha insignificância. — Oi. Não vou atrapalhar vocês. Prazer em conhecê-los — proferi rapidamente e saí de perto deles quase que imediatamente, desejando não precisar voltar para aquele "altar de deuses" onde meu irmão acidentalmente estava incluso. Não que meu irmãozinho não fosse lindo, ele era. Mas eu quase poderia crer que ele fez seleção das amizades em uma agência de modelos. Todos eram bastante... Como posso falar? Atraentes. Não que eu perdesse tempo em analisar essas bobagens. PERIGOSAS ACHERON

PERIGOSAS NACIONAIS Caminhei até o bar e pedi uma bebida, afirmei para o barman que queria a mais forte e quente do local. Rapidamente ingeri e senti minha cabeça arder, mas jurei para mim mesma em meus pensamentos, que aquele dia eu aguentaria tudo que fosse preciso. Após beber algumas doses, fui dançar. Sabia que era fraca para bebidas e já nem sentia muito bem a aflição e nervosismo inicial. Não conseguia ver claramente as pessoas que dançavam comigo devido à luz fraca, mas aceitava todos que se ofereciam e dançava até não aguentar mais. Foi quando em um momento, corri os olhos pelo local e notei um dos amigos de meu irmão ao lado dele em algum canto do bar me encarando. Pedro conversava com uma garota mais nova que ele, enquanto seu amigo – o maior de todos – me encarava com olhos cautelosos e curiosos. Talvez eu chamasse sua atenção. Disfarcei para que ele não visse que reparei suas olhadas, mas quando decidi virar o corpo para o lado oposto ao dele, notei esse tal amigo cochichar algo no ouvido do meu irmão. PERIGOSAS ACHERON

PERIGOSAS NACIONAIS Senti um arrepio e minha orelha queimar. Mas querem saber o que eu fiz? Nem me incomodei. Estava bêbada e já tinha dançado tanto que não quis raciocinar nem imaginar o que aquele homem enorme poderia ter dito a Pedro. Alguns se aproximavam e dançavam comigo. É claro que eu aceitava e ria, entretida com eles, deixando meu humor maravilhoso devido à embriaguez ser o condutor daquela noite. Até que... — O que você está fazendo aqui? Virou baladeira? Quando ouvi isso, paralisei. Não, não era ele. Virei e foquei meus olhos embaçados no homem da voz familiar. Era Henri, meu ex-esposo, bem no meio daquela boate que ficava a uma curta viagem de onde ele morava. Aquele maldito não tinha aprendido nada, na mesma hora me lembrei de Clara e não hesitei em avançar e socar o peitoral do meu ex. PERIGOSAS ACHERON

PERIGOSAS NACIONAIS — Cadê minha filha? Com quem ela está? Seu monte de merda, você deixou nossa filha sozinha?! — gritei desesperada enquanto socava o peito dele. Estava numa boate, tinha plena consciência daquilo. Mas eu nunca fiz uma loucura daquelas. Nunca deixei minha filha para me “divertir”. Senti o ódio percorrer por minhas veias. — Ela está com a babá. Relaxa. Eu só quero saber por que você está aqui. Vai pra sua casa! — Henri estava nervoso, dava para notar. Deve ser por ver que eu estava seguindo em frente, aproveitando tudo o que ele negara durante todos os 8 anos em que estivemos juntos. Mas eu não deixaria barato. Não mesmo. Ele pode curtir tudo e eu não? Continuei com meus gritos e socos o xingando de machista e, em seguida, gritei em bom som tudo que ele fez a mim. Depois disso ele me puxou pelo braço algumas vezes, exigindo satisfações e explicações enquanto eu, bêbada, cuspia em seu rosto e depois chorava pedindo para que ele me soltasse. Seu aperto era forte e sua voz estava me deixando tonta e com PERIGOSAS ACHERON

PERIGOSAS NACIONAIS medo. Então, de repente, outro personagem entrou na história complexa que se desenrolava no centro daquela pista: o amigo do Pedro que eu não lembrava o nome. Ele me puxou pelo braço, tirando-me da frente de Henri, depois voltou ao meu ex, dando um soco no meio do seu olho, deixando-o sem reação. Logo após o golpe, ele retornou e levou-me para fora da boate. Seu toque no meu braço era firme, mas gentil. Sem o aperto abusivo que Henri tinha. A verdade era que algumas lágrimas já ardiam em minha face e eu não entendia muito bem nada do que tinha acontecido ali. Por que eu não estava assimilando as coisas? Abri bem os olhos e, mesmo sabendo que aquele homem era amigo do meu irmão, não entendi o motivo dele estar me carregando boate afora. — Ei, eu não quero ir pra casa! Quem é você? Por que está me puxando? Estou sendo expulsa? — Relutei, bêbada, contra o aperto firme dele no meu braço. Ele continuou me arrastando e me colocou no banco do carona em um carro preto. PERIGOSAS ACHERON

PERIGOSAS NACIONAIS Assim que ele entrou do lado do motorista, foi como se o mundo tivesse acionado o “mudo” e um silêncio pacífico reinou, me fazendo dormir imediatamente. — Eu hein... Maluca. — Consegui ouvir antes de ser embalada pelo sono. Após isso, tudo foi um borrão louco e alucinado. Senti alguém me segurando no colo e forcei meus olhos a se abrirem. Estava num quadrado de metal com um homem sendo iluminado pela luz central do quadrado. — Você é meu anjo da guarda? Eu estou no céu? — falei num sussurro e meus olhos foram direto em encontro aos do homem. Logo após indagar, os fechei e voltei a relaxar em seus braços. — Não sou um anjo, mas acho que essa boa ação de hoje pode me dar uma passagem direto para o céu. — A voz firme sussurrou em resposta ao que eu havia perguntado. — Droga, tô falando com uma bêbada inconsciente. Parabéns, Antônio. Quem era Antônio? Enfim, eu estava bastante atordoada ainda, PERIGOSAS ACHERON

PERIGOSAS NACIONAIS então não fiquei me questionando mais nada sobre o estranho. Acontece que ele me levou para a casa de meu irmão e me acomodou no sofá, porém assim que senti meu corpo na horizontal, uma ânsia subiu por meu estômago. Abri os olhos um tanto embaçados e tentei me conter para não sair vomitando pela sala da casa. — Calma, calma, ainda não. Vou pegar um balde! — Notei o homem quando falou perto de mim, de pé. Segurei enquanto pude. Estava um pouco mais consciente e esperei pelo balde. Assim que ele o colocou em minha frente, vomitei imediatamente tudo o que havia dentro de mim. Ele me ajudou, segurando meus cabelos longos enquanto eu, sentada no sofá, apoiada com a cabeça baixa para o balde, vomitava. Depois de ter passado aquele vexame, levantei e corri para o banheiro, consciente da minha vergonha. Tranquei a porta, lavei meu rosto e a boca e me olhei no espelho. Vi a imagem de PERIGOSAS ACHERON

PERIGOSAS NACIONAIS uma mulher destruída pela vida e me senti a pior pessoa do mundo. Como alguém vai se importar com isso? Eu pareço uma mendiga de vestido chique, estou acabada, minha vida é um caos. Diante desses pensamentos, comecei a chorar, amargurada. Meu choro se interrompeu com uma batida na porta do banheiro. — Você está melhor? Já posso ir? — Era a voz de um homem, que eu nem lembrava mais que existia. Virei e abri a porta. O verifiquei de cima a baixo, tentando identificar de onde o conhecia, pois obviamente não lembrava devido ao exagero no álcool. — Quem é você e o que faz no meu apartamento? — perguntei, desconfiada. — Tony, amigo do seu irmão. Já estou de saída, queria apenas saber se estava bem — respondeu enquanto se afastava de mim, creio que por medo do meu olhar raivoso naquele momento. — Tchau. Enquanto ele se dirigia para a porta da saída, minha mente afundava. Eu não queria saber o que PERIGOSAS ACHERON

PERIGOSAS NACIONAIS podia ter acontecido entre nós, só me sentia a pior das mulheres do mundo por estar naquela condição, algo inimaginável até então. Finalmente saí do banheiro, encostei na parede da sala e recomecei a chorar. Não sabia mais o que fazer, estava no meu limite. Escorreguei pela parede até sentar no chão com os cotovelos apoiados nos joelhos e as mãos na cabeça, em total desespero. Tony estava na porta quando se virou e viu essa cena. Ele pareceu pensar um pouco antes de voltar até mim e oferecer um lenço que guardava no bolso. — Por que minha vida é assim? Eu nunca poderei ser feliz na vida? Nem aproveitar uma noite na boate sou capaz! Adolescência arruinada, casamento destruído, e olha você, nem te conheço, mas já estou aqui arruinando sua vida com meus problemas. Meu choro parecia não ter fim. Não queria importunar aquele homem que, por mais que não fosse ninguém conhecido, não parecia ser uma pessoa ruim. Mas mesmo me vendo fazendo uma cena ridícula, ele ficou perto de mim. PERIGOSAS ACHERON

PERIGOSAS NACIONAIS — Fica calma, eu só quero ajudar. Não seria melhor se você fosse dormir agora? Já é tarde e vai ser melhor para sua cabeça, que deve estar doendo por ter bebido tanto. E minha cabeça doía. — Qual o seu nome? Você é real? Isso tudo está mesmo acontecendo? — Ainda um tanto atordoada, engoli o choro. Meus olhos se fixaram nos dele. Um curto sorriso brotou em seu rosto antes de me responder. — Tony. Isso é real, sim... E... Eu já tinha me apresentado antes. — De Antônio? — perguntei enquanto tentava afastar minha mente dos pensamentos negativos. — Sim. — Tony pareceu achar graça. — De Antônio. — O meu nome é Amanda — disse. Tony apenas continuou sorrindo e percebi o que tinha acabado de fazer. Olhei para baixo envergonhada. — Você já sabia, não é? Meu nome. PERIGOSAS ACHERON

PERIGOSAS NACIONAIS Ele assentiu e logo depois seus olhos rolaram para seu relógio de pulso, puxando sua camisa social branca para cima. Mesmo tonta, eu acompanhava Tony com os olhos em cada movimento que fazia, sinceramente não conseguia lembrar de onde tinha visto alguém tão estupidamente lindo em toda a minha vida. Mas logo espantei esses pensamentos quando ele disse que estava tarde, já eram 3h. — Meu Deus! Desculpe, pode ir, vai pra sua casa, não quero te alugar mais! — exclamei, sentindo-me um incômodo para ele, enquanto levantava e o puxava para fora do apartamento. — Obrigada por sei lá o que você fez, e por estar aqui agora também. Tchau. E foi assim que a primeira noite que selou o resto da minha vida, terminou. Com Tony do outro lado da porta, e eu sozinha com minha desgraça dentro do lugar que agora eu chamava de casa.

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Capítulo 2

TONY Talvez você esteja aí idealizando o homem quebrado que nunca desejou amar. Você está enganado. Eu sempre quis amar. Sempre desejei ter um dia o mesmo que meus pais tiveram. Eu era apenas um menino que nada sabia de sentimentos ou relacionamentos, mas notava a forma maravilhosa com que o amor conseguia reinar em minha casa. Sou filho único de pais que se amaram até a PERIGOSAS ACHERON

PERIGOSAS NACIONAIS morte. Mas eu também vi o lado feio de amar. O lado que faz as pessoas sofrerem, faz com que queiram morrer, queiram viver num casulo sem vida ou razão para sair de lá. E foi isso que me convenci de que o amor não era tudo aquilo que eu imaginava. Assim que minha mãe faleceu, quando eu tinha apenas dezenove anos, cheguei em casa depois de ter saído com uns amigos e notei um silêncio atípico no ambiente. Caminhei lentamente por entre os corredores da mansão, dirigindo-me até o quarto de meus pais, mesmo sabendo que eles provavelmente não estariam lá, pois só se trancafiavam no quarto após a janta. Bati à porta cinco vezes e não obtive resposta. Foi quando Claudinha, a empregada de nossa casa, me encontrou ali e veio correndo em minha direção. — Tony, venha! Ele está no escritório. PERIGOSAS ACHERON

PERIGOSAS NACIONAIS Me chamou num sussurro alto, fazendo meu coração apertar. O tom de voz dela parecia cauteloso demais para um dia normal. Algo tinha ocorrido e eu estava me preparando para aquilo. Quando enfim me aproximei da porta do escritório e bati, um susto causado pela voz de meu pai me fez estremecer. — Saia! Não quero ver ninguém se não for minha Letícia! Me virei para Claudinha, que estava com lágrimas nos olhos com as mãos elevadas ao peito, e perguntei: — O... o que houve? Ela respirou fundo, contendo a emoção nítida no olhar, e falou num tom baixo: — Sua mãe, senhor... Sua... Mãe... Eu já havia entendido sem ela ao menos completar a frase, mas, ainda assim, soquei a parede, com raiva do que eu poderia saber. — Minha mãe o quê? — Aumentei o tom da minha voz. — Ela acabou de falecer num acidente de PERIGOSAS ACHERON

PERIGOSAS NACIONAIS carro, menino. Eu... sinto muito. —Abaixou a cabeça e depois se virou, correndo para longe de mim. Sinceramente, naquele momento, tudo em que eu me firmava, acreditava e confiava ruiu. Lágrimas incessantes jorraram por meus olhos, fazendo com que um soluço involuntário escapasse de minha garganta. Ela havia ido embora. Tudo isso dentro das curtas horas em que eu estava longe. Sem pensar direito eu comecei a bater mais forte na porta do escritório do meu pai. Se alguém podia me contar melhor essa história, era ele. Não estava acreditando. Não podia ser. Minha mãe me deu um beijo na cabeça desejando um ótimo dia naquela manhã, seria impossível que ela simplesmente morresse ao fim do dia. — Pai! Abre! Sou eu, Tony. Abre! — gritei e implorei, mas ele não abriu. Entendi, após ter passado onze horas em frente àquela porta, que deveria resolver tudo PERIGOSAS ACHERON

PERIGOSAS NACIONAIS sozinho. Deveria passar o luto e ir ao enterro sozinho. Pois meu pai não abriria a porta. Ele não a abriu. Não antes de 12 dias.

Imerso em pensamentos um tanto conturbados, voltei para minha casa naquela madrugada, após deixar Amanda em casa, como Pedro me pediu. O maluco tem tanto poder de persuasão que me convenceu a cuidar da própria irmã maior de idade e independente, para que ele pudesse sair com uma mulher que havia acabado de conhecer. Confesso que Amanda chamou muito a minha atenção antes mesmo do pedido de Pedro. Eu não conseguia fazer meus olhos desviarem dos dela, como uma hipnose. Por mais distante que ela estivesse de mim. PERIGOSAS ACHERON

PERIGOSAS NACIONAIS O que ela fazia com aquele olhar? Enfim... Notei que a mulher era um problema quando começou a resumir a própria vida no apartamento do irmão. Eu sabia que o cara que a estava tratando com desrespeito na boate era algum conhecido, mas depois do que ela contou, suspeitei de que fosse o ex dela. Fiquei com pena de tudo que me disse, mas não pude ajudar mais do que o que fiz. Infelizmente o amor causa essas coisas nas pessoas, e sinceramente... Para passar por isso, eu estou fora. Já não bastava o que eu presenciei sobre o amor todos esses anos com meu pai. Ainda tive que ver a cena de Amanda sofrendo pelo maldito sentimento. Fora todas as decepções que Bruna – minha melhor amiga – me contava antes de se casar. Definitivamente, amar estava fora de cogitação. Mas ainda assim, estranhei o modo como meus pensamentos foram preenchidos pela imagem PERIGOSAS ACHERON

PERIGOSAS NACIONAIS da irmã de Pedro chorando e contando seu passado, em contraste com a mulher sorridente dançando na boate. Ela era linda demais, preciso admitir. Um corpo esguio, porém com curvas. Muito em forma para quem tinha passado pela experiência de ser mãe, pelo que eu soube. Já saí com mulheres que são mães e todas elas reclamavam de alguma insatisfação com seu corpo. Ainda bem que não passo da primeira noite. Deus me livre ter de encarar a rotina de uma mulher e suas variações de humor. Prefiro ficar com o lado alegre e sedutor. O melhor lado. Bom para mim, bom para elas. Ninguém perde. Assim que cheguei em casa, mandei a mensagem para Pedro: Sua irmã está a salvo em casa. Você me deve seu último suspiro. Tony PERIGOSAS ACHERON

PERIGOSAS NACIONAIS Ele me respondeu agradecendo, e enfim pude dormir em paz. Parei aqui

O sábado começou cedo para mim. Me levantei e corri até a academia do condomínio de mansões onde moro e ali fiquei por duas horas exercitando-me com a mente vaga. Eu sempre gostei da rotina que levo em meu dia a dia. Não preciso me incomodar com ninguém para dar satisfações ou problemas empresariais em pleno sábado. Porém, ao fim das minhas séries de exercícios, ouvi meu celular tocando sobre a mesa onde o havia posto. Caminhei suado, peguei a toalha ao lado do aparelho e enxuguei o rosto antes de atender a ligação: — Alô. — Bom dia, irmão. Era Pedro. — Bom. Ligando essa hora no sábado? Caiu PERIGOSAS ACHERON

PERIGOSAS NACIONAIS da cama? — Ri. Ouvi uma risada sarcástica do outro lado da linha. Atitude típica dele. — Não. Na verdade estou ligando para agradecer por ter cuidado da minha irmã. — A voz dele soou realmente agradecida. Eu sabia pouco sobre a vida dos dois. Conhecia Pedro há um pouco mais de um ano, apenas. Nossa amizade se iniciou por Nick e Lucas, que se conheceram nas noitadas da vida e acabaram por nos apresentar. Mas uma coisa eu posso garantir com toda a sinceridade do meu coração: meus amigos são realmente como irmãos para mim, e Pedro, mesmo estando há pouco tempo na minha vida, já tem se mostrado muito importante. — Não foi nada, boneca. Deu pra curtir a noite? — Ah, se deu! Cheguei agora em casa. Tinha até esquecido que Amanda sairia cedo. Ela até já foi, mas me avisou que estava tudo bem. E amanhã, tudo certo? PERIGOSAS ACHERON

PERIGOSAS NACIONAIS — Sim, todos aí para assistir ao jogo. Certo sim. — Então tudo certo. — Deu uma pausa. — Bom, é isso, barbie. Qualquer coisa… Reprimi uma risada pelo apelido carinhoso. — Pode deixar. Desliguei a chamada. A nossa forma de demonstrar o quanto nos consideramos importantes um para o outro é sempre finalizando a ligação com essa deixa “qualquer coisa...”. O melhor de tudo é que eles são amigos para qualquer coisa mesmo. Qualquer momento. Qualquer motivo. Eles estão sempre lá. E isso sempre me deu forças, de alguma forma. Nunca senti falta daquele sentimento que eu via entre meus pais, porque sempre tive as melhores pessoas ao meu redor. Saí da academia e caminhei lentamente até minha residência. Se tudo desse certo, de tarde eu faria uma caminhada pelo bairro. Sábado era PERIGOSAS ACHERON

PERIGOSAS NACIONAIS definitivamente um dia de exercícios. Entrei em casa, passei pela sala e rumei à cozinha. Minha casa era ampla e clara, sem muitas cores. Os cômodos eram preenchidos por poucos móveis, apenas os mais úteis. Minha cozinha era um dos meus locais favoritos. Passava grande parte do meu dia de folga nela. Não cozinhando, e sim comendo. Não sei cozinhar absolutamente nada. Não que eu não tente, já tentei e realmente não tenho talento para a coisa. Mas sou um homem grande e isso exige uma boa sustância. Adentrei à cozinha já com um sorriso no rosto, me encaminhando para a geladeira. A abri e peguei minha vitamina. A senhora que cuida da minha casa sempre deixa a de sábado pronta em uma enorme garrafa. Abri e andei até a sala ingerindo a bebida. Assim que cheguei, sentei no meu amplo sofá cinza, de frente para a tevê desligada. Sábado era um dia bom, mas um tanto PERIGOSAS ACHERON

PERIGOSAS NACIONAIS solitário, admito. Meus pensamentos voaram até Amanda. Como deve estar se sentindo hoje? Será que se lembra de mim? Um sorriso involuntário dançou por meus lábios na menção dela em meus pensamentos. Foi um tanto engraçado ver sua memória embaralhada e sua situação demasiadamente constrangedora quando me viu mais lúcida. Finalizei a vitamina e logo notei o modo como meus pensamentos estavam sendo direcionados a ela. — Eita. Chega, Tony. Passou, foi ontem, acabou — repreendi-me em voz alta, para ver se a mente colaborava. Estávamos em uma guerra de conflitos.

O verão não é minha estação favorita, mas para exercícios físicos, a mais eficaz. Poucos PERIGOSAS ACHERON

PERIGOSAS NACIONAIS minutos de corrida já tinham feito-me transpirar excessivamente. Troquei a corrida por pequenos trotes e continuei meu trajeto pelos quarteirões. Ao dobrar uma esquina, meus olhos ávidos de pronto notaram quando um carro também a dobrou em alta velocidade, mas o que mais me chocou foi ver que duas pessoas estavam acabando de atravessar bem perto de mim. Não pensei duas vezes ao correr até o começo da pista, puxando-as para a calçada. Acabei me chocando no chão, pela pressa, mas graças aos céus, o carro não atropelou ninguém. Me levantei cauteloso e verifiquei se tinha me machucado, porém mais preocupado estava com as pessoas que acabei salvando de um acidente. Quando levantei os olhos, após verificar a mim mesmo, notei a mulher me analisando de baixo para cima. Quando encarei seu rosto curioso, sorri sem ao menos sentir. PERIGOSAS ACHERON

PERIGOSAS NACIONAIS — Ei! Você nos salvou? Eu queria agradecer. — Foi o que saiu de sua boca. Uau. Ela já tinha me esquecido. Por que essa ideia não me soa tão agradável? — pensei. — Sim, eu as puxei. Aquele carro pegaria vocês em cheio — olhei-a nos olhos e mantive o sorriso. — Acho que sempre nos veremos em situações como essas, não é? Sou Tony, o amigo do seu irmão, lembra? Não contive a curiosidade em perguntar se ela lembrava. Caramba, eu a trouxe para sua casa! Bêbada, seu inútil — Meu consciente me lembrou. Os olhos dela aumentaram de tamanho e suas bochechas coraram. Talvez ela lembrasse, afinal. — Ah, sim. Me lembrei agora. Essa é minha filha, Clara — confirmou e depois olhou para a menina ao lado, que eu ainda não tinha notado por ser bastante pequena. — Diga oi, filha. — Oi. — Clara respondeu com um sorriso tímido. A menina agarrava a mão da mãe como se PERIGOSAS ACHERON

PERIGOSAS NACIONAIS dependesse daquilo para viver, e o fato me intrigou. Não parecia ser uma criança acostumada a se relacionar com estranhos, então me abaixei para, de alguma forma, inspirar confiança para aqueles olhinhos cor de mel tão bonitos. — Oi, Clara. Você é uma menina muito bonita, quantos anos tem? — Tentei engatar uma conversa com a menina. Um curto sorriso nasceu em seu rosto. — Eu tenho quatro. — Mostrou orgulhosa quatro dedinhos a mim. — Hum, isso tudo? Já é uma menina grande! — Arregalei os olhos demonstrando admiração, enquanto Clara sorria nitidamente envergonhada. Estava pronto para conversar mais com a pequena menina, quando ouvi um curto pigarro. Me levantei e foquei a atenção em Amanda, que mantinha uma expressão atônita no rosto. — Bom, precisamos ir. Bom revê-lo, Tony. — Seu tom de voz mostrou claramente que não desejava permanecer por mais tempo na minha presença e isso fez com que eu fechasse o sorriso. PERIGOSAS ACHERON

PERIGOSAS NACIONAIS — Ah, e mais uma vez, obrigada Respirei fundo e me despedi, conformado. — Que nada! Até a próxima, então. Tchau Amanda, tchau Clara. — Acenei, pois no fim da frase elas já estavam rumando em direção à sua casa. — Tchau. — Clara retribuiu o aceno sorrindo e olhando para trás. Não evitei sorrir também, enquanto sua mãe apenas assentiu me dando uma olhadela rápida e se foram.

— Quem é ela? — Bruna perguntou ao telefone. Já era noite e eu não conseguia tirar a cena de Amanda e Clara da minha cabeça. A menina estava em que lugar ontem quando deixei a mãe dela em casa? Mil interrogações pairaram sobre minha mente desde o momento em que as vi e salvei do quase-acidente. PERIGOSAS ACHERON

PERIGOSAS NACIONAIS — Ela é a irmã de Pedro. Não comece com paranoias, Bruna. Te conheço bem. — A adverti. Bruna cismava em dizer que o conselho de meu pai não era nada efetivo e bom. — Mas eu nem disse nada! Você acha que rolou algo? Hum… Uma química no ar? Seu tom curioso me fazia rir. Era assim desde a infância. — Eu sou químico por um acaso, dona Bruna? Nem sei do que está falando. Apenas estou contando que minha mente tem me pregado peças, mostrando a imagem dela por vezes demais. Agora a imagem da menina também me invade. Tenho curiosidade para saber da história delas, apenas isso. Curiosidade. Nada mais. Um curto silêncio do outro lado da linha me fez suspirar arrependido. Ela não entenderia como curiosidade, eu tinha certeza. — Hã… Sei. Essa curiosidade por um acaso… aflora algumas reações masculinas no senhor? Eu estava no sofá, tinha acabado de tomar PERIGOSAS ACHERON

PERIGOSAS NACIONAIS banho e… Bem… A imagem dela surgiu no banho me causando algumas reações… esquisitas demais para um homem feito e não um adolescente imaturo. Pigarreei, disfarçando meu constrangimento. Bruna sempre escolheu bem as palavras quando queria introduzir desejo sexual na conversa. — Bruna, eu realmente não quero falar disso com você. Esse bebê não vai nascer logo não? Seu marido não implica com o modo como cuida da minha vida? Vai satisfazê-lo, Bruninha! — brinquei, jogando o tema da conversa para ela. — Boa jogada, Tony! Boa jogada! Logo sondarei mais desse assunto. Se prepare, senhor Gali! Entre risadas, nos despedimos e encerrei a chamada. Sobre coisas loucas e sentimentais, eu só falava com ela. Mas como não há nada de sentimental em permitir que uma mulher bonita invada meus pensamentos, não senti como se fosse algo errado, do qual eu precisasse me prevenir. PERIGOSAS ACHERON

PERIGOSAS NACIONAIS Mas eu mal sabia as emboscadas em que o destino me colocaria, mais adiante.

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Capítulo 3

AMANDA Pedro aceitou ter a sobrinha nos fins de semana na casa dele, entendia que uma mãe precisava estar próxima de sua filha e facilitava para Clara ficar mais à vontade comigo sozinha. Busquei minha filha na casa de Henri, o antigo lar onde eu morava. Chegando lá, fui recepcionada por um Henri manso, com uma ferida no rosto. Os flashes de cenas da noite anterior insistiam em tomar posse de minha mente, um momento ou outro, mas não associei nada à ferida de meu ex-esposo quando o vi, imediatamente. PERIGOSAS ACHERON

PERIGOSAS NACIONAIS Clara ficou silenciosa por toda a viagem. Na realidade, após a separação, ela não falava mais com tanta frequência. Eu já a havia levado em um médico, mas era apenas uma fase, como todos diziam. Sábado era um dia de descanso para Pedro. Ele ficava geralmente em casa. Comprava comida pronta e jogava videogame — sim, ele ainda joga videogame com a idade que tem. — Eu e Clara passeávamos o dia inteiro pelo bairro. Íamos na pracinha, no shopping e no fim do dia Pedro nos levava à pizzaria. Era o momento do tio interagir com sua sobrinha. E como nos últimos sábados, aquele não foi diferente. Após o almoço com Clara e Pedro, levei minha pequena princesa para a pracinha, no parque e, enquanto estávamos lá, tentei interagir com minha filha e fazê-la falar. — Minha linda, como tem sido na escola? — Bem — respondeu olhando para os pés. — O que você tem aprendido? — Muita coisa — murmurou inexpressiva, PERIGOSAS ACHERON

PERIGOSAS NACIONAIS enquanto se balançava no balanço. Fiquei ainda mais preocupada. Algo de errado estava acontecendo e eu tinha certeza disso. Parei o balanço e agachei até ficar na mesma altura de minha filha. — Filha, você está triste com a mamãe? Papai fica falando algo de mim para você? Clara assentiu tímida e então abaixou seu olhar para os pés. Meu sangue subiu. Se aquele imbecil tivesse contado alguma mentira para Clara... — O que ele fala, filha? Me conta? — Tentei não transparecer raiva em minha voz. Eu sabia que assimilar a separação dos pais aos quatro anos de idade nunca seria fácil, mas tenho tentado de tudo para me manter perto, levado-a no médico, sendo a mesma mãe que eu era, mesmo que longe. O meu azar seria caso Henri não fosse o mesmo pai e falasse alguma merda para ela. — Se eu falar, você vai continuar brigando com ele e nunca mais vai morar com a gente de PERIGOSAS ACHERON

PERIGOSAS NACIONAIS novo? — indagou com o olhar ainda em seus pés. — O quê? Eu prometo não brigar com seu pai, mas preciso que me diga o que ele fala de mim. Concentrei meus olhos nos dela, aguardando o som fino de sua voz entoar a justificativa. — Ele diz que você foi embora porque eu falo demais e desobedeço. Uma singela lágrima desceu dos olhos de Clara enquanto ela falava. Mas que filho da...! Fechei os olhos e respirei fundo. Odiava ter que discutir com Henri, mesmo não sendo mais mulher dele. No entanto, a cada dia me surpreendia com a capacidade dele em ser um mau-caráter. — Mas é claro que não é por isso, filha. Eu jamais deixaria seu pai por algo tão bobo. Vamos pra casa, eu converso com você quando chegarmos lá, te conto tudo e então você vai ficar mais feliz, ok? — Tentei acalmá-la mas, em meu interior, queria chorar com ela. Apesar de tudo, me sentia infeliz por não poder dar uma família estruturada para ela, mas, ao PERIGOSAS ACHERON

PERIGOSAS NACIONAIS mesmo tempo, sabia que ao menos havia tentado. Esforcei-me por longos oito anos de relacionamento. Clara assentiu e a levei pelo braço caminhando até o apartamento, que ficava a um quarteirão de distância. Foi quando, ao atravessarmos, notei que vinha um carro e me senti retesar no meio da rua. Pensei em minha vida, na minha filha e que tudo poderia ruir naquele instante.

Fomos salvas pelo gongo! Mentira, fomos salvas pelo amigo do meu irmão que, coincidentemente, estava passando por ali e nos puxou para a calçada. Não o conhecia bem, mas já tinha notado que o homem possuía alguma pinta de herói. Não era possível que ele estivesse exatamente nos momentos em que eu mais precisava de auxílio. Mas tudo bem, eram as surpresas da vida, PERIGOSAS ACHERON

PERIGOSAS NACIONAIS não? Me surpreendi com a facilidade com que ele, mesmo sendo enorme e forte, conseguiu fisgar a atenção e cativar a confiança da minha filha, a ponto dela sorrir e informar quantos anos tinha — o que não dizia a ninguém, normalmente. — Mas logo afastei os pensamentos daquele fato, quando lembrei quão preocupada estava com o que minha pequena podia pensar sobre as coisas que seu estúpido pai havia introduzido na sua inocente cabeça infantil. Ao chegarmos em casa, Pedro não estava, o que me deixou de certo modo mais aliviada. Sabia que se meu irmão soubesse do que Henri andava fazendo a Clara, ele iria, no mínimo, tirar satisfações. Me sentei com Clarinha no sofá e imediatamente comecei a contar algumas coisas sobre o seu pai. — Filha, o papai mentiu muito feio para a mamãe. Foi uma mentira muito grande que mamãe não podia mais aceitar, então tive de ir embora, pois eu precisava ver outro lugar para você morar comigo. Seu tio Pedro me deixou morar aqui por PERIGOSAS ACHERON

PERIGOSAS NACIONAIS enquanto, até eu encontrar algum lugar bom e então vou trazer você para morar comigo para sermos muito felizes. A culpa de eu ir embora foi do seu pai, não sua. Segurando as mãos da minha filha, confessei de um modo mais cauteloso para que Clara entendesse o que aconteceu realmente. A menina respirou fundo e, mirando-me fixamente nos olhos, respondeu: — Tudo bem, mamãe. Sinto saudades suas. Papai não conta história para eu dormir. A babá é muito legal, mas ela não é você. — Seu tom de voz era triste. Meu coração apertou tanto com aquela declaração, que sem pensar em nada abracei minha filha com todas as forças. Eu só queria voltar a estudar e trabalhar, já seria um bom caminho andado e poderia arriscar pegar Clara para morar comigo em breve. Estava com uma prova de bolsa para a faculdade marcada para a semana seguinte e, durante a semana anterior toda, estudei focada em consegui-la. Teria de levar Clara mais cedo no domingo, se quisesse mais tempo para estudar. Era PERIGOSAS ACHERON

PERIGOSAS NACIONAIS mais um dia que contaria muito para meu sucesso na prova. Fora esse dia, eu só teria a segunda-feira para finalizar meus estudos, pois na terça aconteceria a avaliação. Aquele sábado passou voando. Quando Pedro chegou no fim da tarde em casa, eu e Clara estávamos nos arrumando. Nós três fomos à pizzaria escolhida por Pedro e lá demos muitas risadas, falamos de desenhos animados, contei e ouvi piadas e, no fim, interagimos com as fatias de pizza como se fossem humanas. Tudo para que Clara se sentisse em casa e amada. Após o jantar, Pedro nos levou para casa e entregou um presente que estava no carro, para Clara. Um vestido elegante, para uma ocasião especial, quando houvesse. A cada dia que passava eu não sabia mais como retribuiria tudo que meu irmão sempre fazia por mim, antes mesmo de eu me casar. Um dia certamente eu o retribuiria à altura. Clara é uma menina amorosa e pacífica, uma garotinha cheia de amor e luz. Onde ela passava as pessoas ficavam deslumbradas com sua inteligência PERIGOSAS ACHERON

PERIGOSAS NACIONAIS e pureza. Naquela noite, coloquei Clara para dormir após contar uma linda história e depois fiquei observando-a. Naqueles momentos com minha filha, tinha certeza de que tudo que sofri valera a pena. Pelo sorriso dela, por ela, por sua felicidade, tudo valeu a pena.

O domingo era um dia daqueles todos iguais e monótonos. Levei Clara pela manhã para casa, desculpando-me com Henri pelo horário, dizendo que precisava estudar. Na verdade, não queria discutir com ele na frente de Clara, então combinei de encontrá-lo durante a semana para que nos falássemos, o que de fato era extremamente necessário. Ao chegar em casa, me senti aliviada, pois sabia que teria silêncio para poder estudar. Era o dia do futebol e, com certeza, Pedro estaria na casa de algum amigo assistindo ao jogo em poucas horas. PERIGOSAS ACHERON

PERIGOSAS NACIONAIS Me sentei no sofá, despejando meu corpo cansado da viagem de ônibus e notei meu irmão saindo de seu quarto, rumando à cozinha. — Clarinha já foi? — perguntou. — Sim, hoje eu vou estudar o dia todo, tenho a prova para a bolsa da faculdade na terça. Se eu conseguir, em dois meses me matriculo e começo meu semestre. Ele estava remexendo em algo na cozinha, mas nem me virei para ver o que era. Pedro tinha uma paixão estranha por aquele cômodo. — Humm. Que bom, Mandi. Fico feliz quando vejo que você está se esforçando para mudar de vida, Clarinha merece isso. Você é jovem, bonita, determinada, pode ter o que quiser na vida. Só te digo uma coisa: esquece namoro, relacionamento. Isso não te ajudou nunca na vida, só te prejudicou — alertou com aquela cautela de quem sabe o que diz. Suspirei. Meu irmão nunca namorou, deve ser por isso que preza a liberdade, mas definitivamente eu já tinha anulado esse quesito da minha lista de projetos futuros. PERIGOSAS ACHERON

PERIGOSAS NACIONAIS — Eu sei, irmãozinho lindo. Obrigada pelos conselhos, mas realmente estou focada, não sinto como se meu coração fosse me trair, mas obrigada mesmo assim. O futebol hoje está de pé? Preciso de silêncio para estudar. Foi quando seus passos se aproximaram e ele surgiu com um copo de água na mão, em minha frente. — Ixe. — Coçou a nuca, desconcertado. — Marquei hoje com as tcholas aqui, Mandi, desculpe. O futebol será assistido aqui em casa. Estuda no quarto, tem como? Vou adiantar o almoço. Ah, não! — Meus pensamentos borbulharam no instante em que percebi que seriam quatro homens reunidos no apê de Pedro, ou seja, silêncio zero! Bufei e revirei os olhos disfarçadamente, mas não podia exigir nada, estava morando de favor e meu irmão sempre foi amigo e cuidadoso comigo. — Tudo bem, me viro. — Tentei não soar decepcionada. Imediatamente me levantei, fui para meu quarto e comecei a arrumar meus cadernos e livros PERIGOSAS ACHERON

PERIGOSAS NACIONAIS enquanto meu irmão preparava o almoço. Voltar para a faculdade agora estava em meus planos oficialmente. Abri o armário e tirei uma pequena lista de sonhos a realizar onde havia escrito: 1 — Conseguir um emprego no setor administrativo de uma empresa. (se possível) 2 — Voltar para a faculdade e concluir o curso de Administração. 3 — Comprar/Alugar uma casa para morar com Clara. 4 — Começar uma poupança pessoal para o futuro de Clara. 5 — Nunca, absolutamente nunca mais casar. Era uma lista curta, porém com objetivos difíceis para mim. Estava em um bairro onde não sabia por onde começar. Já tinha espalhado inúmeros currículos pelas empresas das proximidades e nenhuma entrara em contato. Mas algo dentro do meu coração dizia que alcançaria em breve todos esses sonhos. Tinha absoluta convicção de que a sorte sorriria para mim um dia. PERIGOSAS ACHERON

PERIGOSAS NACIONAIS Peguei a lista e fixei-a dentro do meu caderno para que, quando sentisse sono ou preguiça de estudar, pudesse relembrar o porquê de tanta dedicação, então amontoei todo o material e fui para a sala. Coloquei todos os livros e cadernos sobre a mesa da sala de jantar e fui almoçar com meu irmão. Tentei me oferecer para ajudar, mas Pedro, quando cozinhava — quase sempre —, odiava que outra pessoa se intrometesse em suas receitas. Por tal motivo, apenas arrumei a mesinha da cozinha e aguardei até que tudo ficasse pronto, para almoçarmos. — Nossa, maninha, precisa disso tudo para passar numa prova de vestibular? — Pedro perguntou ao ver o monte de livros em cima da mesa de jantar, ao lado da sala. — Sim, é tudo que eu preciso por hoje — respondi, dando de ombros. — Tudo bem, vem, coloque seu prato e vamos comer. Fiz uma macarronada, é rápido e prático. Daqui a pouco os garotos estão aí pra assistirmos ao jogo, se você se sentir incomodada PERIGOSAS ACHERON

PERIGOSAS NACIONAIS me avisa, tá? Me desloquei até a “área restrita do cheff” e me servi de sua iguaria. Para qualquer mortal, “uma macarronada” não era absolutamente nada de mais, porém para meu irmão… é a mais completa e desejosa maravilha! Amo quando ele cozinha, mas ele não precisa saber. — Ok, só assistam sem gritar demais. Acredito que eu consiga me concentrar mesmo assim — concordei, mas em minha mente desejava o silêncio absoluto. Nós dois sentamo-nos à mesa da cozinha e nos deliciamos com a macarronada. Não querendo encher ainda mais a bola de Pedro, mas desde que foi morar sozinho aprendeu diversas receitas e adorava cozinhar. Eu pensava que, se ele não fosse um administrador de hospital, seria um bom cheff. — Vou tomar um banho, depois eu lavo essa louça, ok? — indaguei, deixando a louça na pia e indo até o banheiro, não aguardando sua resposta. — Ok. — Pedro respondeu notoriamente PERIGOSAS ACHERON

PERIGOSAS NACIONAIS mastigando ainda o último pedaço de comida.

TONY Estávamos Lucas e eu em frente à porta do apartamento de Pedro, no qual tínhamos livre acesso na portaria, e eu não parava de pensar se ele estava sozinho em casa ou com sua irmã. Pensamentos doidos como esse realmente não eram típicos de mim. — Hey, minhas princesinhas! Chegaram cedo. Pedro abriu a porta com um sorriso no rosto. — Culpa do Lucas, essa quenga. Chegou lá em casa falando que era às 14h. — comentei ao entrar. Rolei meus olhos de modo cauteloso pelo ambiente. A sala não era tão grande e a cozinha americana era vista por inteiro por quem estivesse próximo à porta principal. — Tranquilo. Me ajudem a preparar algo pro PERIGOSAS ACHERON

PERIGOSAS NACIONAIS lanche. Nick, Lucas, Pedro e eu somos inseparáveis. Sempre estávamos juntos nos fins de semana, como bons amigos solteiros. Só não passávamos as noites juntos pois cada um tinha suas relações temporárias para cuidar. Mas suspeito que se não fosse por esse motivo, até dormir juntos faríamos. Coisa de louco, eu sei. — Vou checar o que tem de bom na tevê antes do jogo. — Lucas disse enquanto pegava o controle e sentava no sofá, ligando a TV e passando de canal em canal. Segui Pedro até a cozinha, tentando ajudar em algo para o lanche. Ele me deu algumas funções complicadas, mas como sabia que eu não entendo nada de cozinha, terminou por me pedir apenas para montar os sanduíches que ele tinha recheado. — Ai meu Deus! — Ouvi uma voz feminina gritar. Levantei meus olhos e, mesmo da cozinha, consegui contemplar uma cena bastante… PERIGOSAS ACHERON

PERIGOSAS NACIONAIS inusitada. Amanda estava com os cabelos úmidos enrolados em um coque no alto da cabeça, e apenas uma pequena toalha adornando seu corpo esbelto, deixando as pernas à mostra. Seu rosto transparecia pavor, e sua mão na altura do peito confirmou que, na verdade, ela tinha se espantado ao ver Lucas na sala de Pedro. Será que ela não sabia que viríamos para o jogo? — Oi. Não se acanhe, delícia. — Lucas sorriu. — Ei, Pedro, não sabia que você estava com uma companhia tão agradável em casa — falou alto, provavelmente para que Pedro ouvisse da cozinha. Não o permiti concluir a frase, pois ao fim dela, estávamos eu e Pedro na sala de braços cruzados lançando um olhar repreensivo para aquele louco que chamamos de amigo. — Ela não é qualquer pessoa, é minha irmã. E tira o olho! Mandi não é pro seu bico — Pedro alertou Lucas e se virou com um olhar culpado para PERIGOSAS ACHERON

PERIGOSAS NACIONAIS a irmã. — Amanda, desculpa, eu esqueci de falar que eles chegaram mais cedo, vai logo pro quarto antes que eu tenha que encher Lucas de porrada. —Ok. — Ela murmurou abaixando a cabeça e correndo para seu quarto. Percebi que o ar estava preso em meus pulmões desde a hora em que a vi assustada encarando Lucas como se ele fosse tratá-la mal. Não sei, mas não gostei da forma como ele falou com ela. Me sentei no sofá ao lado dele, e em seguida Pedro veio, já deixando os sanduíches sobre a mesa de centro da sala. — Ela é a da noite da boate, não é? Quantos anos ela tem? Por que você não me disse que tinha uma irmã tão gostosa?! O que são aquelas pernas grossas? Naquele dia eu mal reparei nela. Contive-me para não xingar meu amigo, e foquei na propaganda que passava na tevê, enquanto Lucas cuspia idiotices. — Ei, cala a boca, maldito! Está falando da minha irmã! Ela tem 28 e eu não quero minha irmã PERIGOSAS ACHERON

PERIGOSAS NACIONAIS na mira de um imbecil como você. — Ouvi Pedro alertar com raiva. — Calma, barbie! Ela é casada ou algo do tipo? Por que não está disponível? — Lucas insistia em perguntar, enquanto eu apenas observava o diálogo dos dois pela visão periférica, quieto, próximo o bastante para prestar atenção em toda a conversa. — Divorciada. — Pedro falou entredentes. — Hum... As divorciadas são as melhores. Amarguradas, feridas, hum... — Lucas dizia numa entonação provocadora, apenas para que Pedro saísse dos eixos. Ele conhecia bem com quem mexia. E não demorou muito para Pedro avançar sobre ele segurando seu pescoço, ordenando que parasse de falar da sua irmã, pois ela não era para nenhuma de nós. — Gente, já era para o Nick vir, não? — Entrei na conversa, acabando com o tema “Amanda”. Os dois se afastaram, mas Lucas mantinha PERIGOSAS ACHERON

PERIGOSAS NACIONAIS um sorrisinho debochado no rosto. Aquele doido amava provocar a todos nós, me deu até um pouco de vontade de rir da cena deles quase se espancando. — É verdade, daqui a pouco ele chega. Vamos prestar atenção, jogo já vai começar — Pedro respondeu, se aprumando no canto do sofá. Amanda já estava vestida com uma bermuda jeans, uma regata branca e os cabelos presos, quando saiu do quarto e se dirigiu diretamente à mesa dos estudos sem olhar para nenhum de nós. Tentei firmar meu olhar na tevê, mas ele teimava em se concentrar na mesa onde a irmã de Pedro se manteve pelos 20 minutos seguintes até a campainha tocar. — Amanda, abre pra mim, por favor. Deve ser o Nick. — Pedro pediu. Ouvi um bufo baixo sair dela, que logo dirigiu-se à porta. Não ouvi a curta conversa que os dois estavam tendo a alguns metros de distância dali, mas pareceu que Nick se saiu melhor que Lucas, PERIGOSAS ACHERON

PERIGOSAS NACIONAIS com Amanda. Eu estava intrigado, e muito, muito preocupado com minha falta de atenção para com o jogo. Será que estava nutrindo algum deficit? Ainda assim, me mantive quieto pois não queria participar de conversas sujas sobre Amanda ou qualquer outra mulher, ali naquele local. Não me parecia… certo.

Longos minutos haviam se passado, e no jogo, nosso time ganhava apenas de um a zero. Nick se mantinha concentrado como se sua vida dependesse daquele jogo, assim como Pedro e Lucas, mas eu não conseguia me manter fito à tela. — Henri? Clara está bem? — Escutei a voz um pouco baixa de Amanda, parecendo estar ao telefone, mas não me virei para conferir. Segundos depois, ela tornou a falar: PERIGOSAS ACHERON

PERIGOSAS NACIONAIS — O quê? Não sei do que você está falando. — O tom tinha baixado um pouco mais. Mas suspirei derrotado, quando ela levantou e andou a passos firmes até o quarto, trancando a porta em seguida. Um grito dela fez com que nós quatro saltássemos do sofá. — E daí?! O que você tem a ver com isso? E se for meu namorado? Se for o meu peguete, meu amigo colorido? Eu posso fazer o que quiser da vida, Henri! Eu estou solteira! Se quiser sair com o time inteiro de futebol, eu posso! Não tenho um marido esgotado por cuidar da filha em casa sem receber atenção pra me preocupar! Se for só esse o motivo da ligação, pode desligar agora! Encarei a Pedro com dúvida e ele apenas deu de ombros e abaixou o volume da tevê, creio que para saber se a irmã estava bem. Minha mente se colocou no lugar de Pedro naquele momento, talvez nossa amizade tenha me dado esse sentimento fraternal por sua irmã. Será que ela estava mal? Quem deveria ter ligado para deixá-la tão nervosa? Seu ex? Estava muito curioso PERIGOSAS ACHERON

PERIGOSAS NACIONAIS e sabia que isso não estava ajudando. Sentia a necessidade de consolá-la mesmo que não fôssemos amigos. Amanda pareceu tão diferente, ela precisava de um ombro amigo. Mas que diabos é esse pensamento de merda, Tony? Foi ali que notei: eu não estava sendo eu. Não quando se tratava de Amanda. Mas, por quê? Em instantes ela saiu e quando chegou na sala, olhou para Pedro com os olhos cheios de lágrimas e disse: — Vou para o terraço do prédio, preciso respirar. Antes que Pedro dissesse algo, ela já tinha saído do apartamento, deixando seu irmão com uma feição confusa e preocupada. — Será que ela vai ficar bem? — Minha voz finalmente se fez ouvir, dirigindo-se a Pedro. — Não sei, pelo que ouvi ela falava com o ex canalha que chamava de marido. Amanda é uma mulher forte, ela vai ficar bem. Sempre fica. PERIGOSAS ACHERON

PERIGOSAS NACIONAIS Tentei assimilar a informação, mas acabei perguntando: — Como assim, sempre fica? Pedro suspirou e, notando que Lucas e Nick já tinham aumentado o volume da tevê e mantinham-se concentrados no jogo, me respondeu. — Ah, ela passou por muitas coisas. Desde os 15 anos vem sofrendo com relacionamentos, logo depois teve a separação dos nossos pais, que a quebrou. Daí Henri a consertou, sabe? O marido dela era como um anjo na sua vida. Casaram, tiveram Clara, mas ele a traía todos os finais de semana, sabendo que tinha uma esposa maravilhosa em casa que tinha desistido de tudo para ser mãe e mulher. Um idiota. Nem sei como consigo falar dele assim, minha vontade é ir até lá e destruir aquele rostinho de galã dele. Eram raros os momentos em que ele se abria e contava algo da família. Me senti bastante privilegiado por isso. — Entendo. — Assenti pensativo. — Ela estava estudando o que aqui? — prossegui nas perguntas. Afinal, Pedro estava respondendo. PERIGOSAS ACHERON

PERIGOSAS NACIONAIS — Prova para a bolsa de estudos da faculdade. Ela trancou a faculdade de Administração no penúltimo ano quando descobriu a gravidez, agora está fazendo de tudo pra voltar. Como ainda não conseguiu um emprego, quer conseguir a bolsa integral para que possa retornar. — Hum... bem esforçada. — Deixei o pensamento sair em forma de palavras, mas logo me repreendi. Pedro não iria gostar. — Esforçada, linda, gostosa, divorciada. — Lucas, que eu jurava nem estar prestando atenção, incrementou com os olhos no alto, provavelmente imaginando Amanda da forma mais indecente possível. —Cala a boca! — Eu e Pedro falamos ao mesmo tempo. Lucas apenas deu de ombros e levantou, dizendo que pegaria algo para beber na geladeira. Pedro me olhou com olhar agradecido, enquanto então ouvimos: — Amanda é uma mulher muito bonita, mas tudo que ela passou só a fez ser mais linda ainda, não só na aparência, mas no caráter. Ela é daquelas PERIGOSAS ACHERON

PERIGOSAS NACIONAIS mulheres que você conhece, aposenta, para tudo e vive só pra ela. — Nick comentou, fazendo todos os olhares da sala se virarem para ele. — Com todo respeito, Pedro. Abri a boca, espantado com a sensibilidade das palavras de Nick. Ele não falava aquele tipo de coisa, e por um momento senti minha garganta secar. Será que ele estava interessado nela? Conheço Nick há tempo demais, meu amigo jamais jogava verde sem querer colher maduro. — Tudo bem, ela é esse tipo mesmo. Mas não está aberta a relacionamentos. Diz que nunca mais vai casar. — Pedro comentou. — Enfim, chega de falar sobre minha irmã, ela não é para o bico safado de vocês. Vamos nos concentrar no jogo. Depois disso, não a vi mais naquele dia. E sinceramente, preferia não ver. Em poucos dias minha mente já havia sido inundada de pensamentos muito agradáveis sobre ela e aquilo não era bom. Não podia ser bom. PERIGOSAS ACHERON

PERIGOSAS NACIONAIS “Esse é um sentimento que não vale apena, filho. Ele sempre te trará sofrimento no final da jornada.” Sempre que eu passava momentos com alguma mulher, era essa voz que me trazia à realidade no dia seguinte, junto com todas as lembranças dos quatro anos traumáticos que meu pai passou após a morte de minha mãe. A última coisa que eu preciso, é viver para conferir se o sofrimento pode mesmo ser real.

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Capítulo 4

AMANDA Depois de engolir, através do telefonema de Henri, o fato de eu ter um “namoradinho”, me estressei tanto a ponto de sair para tomar um ar no térreo do prédio do meu irmão. Provavelmente Clara deve ter contado sobre Tony e o gesto heroico no dia anterior, o que causou uma confusão na mente do meu ex, acusando-me de estar com outro. Como se ele tivesse o direito. A única coisa que ficou em minha mente de verdade, foi o fato da minha filha lembrar o nome dele e contar dele para Henri, fora isso, PERIGOSAS ACHERON

PERIGOSAS NACIONAIS absolutamente mais nada permiti ser absorvido ao deitar naquele domingo. A semana me traria muitas conquistas e eu contava com isso. Na terça, acordei cedo e me arrumei para as provas. Vesti uma calça jeans e uma blusa social básica com mangas dobradas e tecido para fora da calça, cor azul. Olhei-me no espelho do quarto que permitia ver todo o meu corpo e constatei que podia me amar mais e cuidar melhor de mim. Queria poder investir em novas roupas, maquiagens e adereços para que minha autoestima me felicitasse. Eu estava precisando. Chegando na faculdade onde faria a prova, segui até a sala que estava indicada no cartão de inscrição e sentei na última fileira de carteiras, bem no canto esquerdo. Já havia algumas pessoas na sala, mas ainda faltavam 20 minutos para o início das provas. Durante esses 20 minutos, fiz uma revisão básica mental de toda a matéria estudada e, passado esse tempo, uma professora entrou na sala e distribuiu as avaliações. O tempo total para completá-la era de três PERIGOSAS ACHERON

PERIGOSAS NACIONAIS horas. Acabei concluindo em duas horas todas as 50 questões de português, matemática e conhecimentos gerais presentes naqueles papéis. Com um ar de trabalho concluído, entreguei minha prova e saí da sala. Agora devia esperar duas semanas para saber o resultado e então mais dois meses para começar a estudar. Saindo da faculdade, meu celular tocou. — Alô. — O número era restrito. — Senhorita Amanda Lice? — uma voz feminina perguntou. — Sim, em que posso ajudar? — Sou dos Recursos Humanos da empresa Gali Telecomunicações. Gostaria de agendar uma entrevista com o diretor da empresa para a vaga de assessora administrativa que temos disponível. A senhorita tem interesse na vaga? — Sim, mas é claro. Quando é a entrevista? — Hoje às 15h, no sétimo andar. — Passou o endereço completo a mim. — Ok, estarei lá. Obrigada. — De nada. Traga seu currículo atualizado e PERIGOSAS ACHERON

PERIGOSAS NACIONAIS todos os documentos necessários para a admissão, caso passe na entrevista. — Pode deixar. Tchau. Assim que desliguei o telefone, saltei no meio da rua de felicidade. Parecia que tudo finalmente estava começando a se encaixar em minha vida. Uma prova de vestibular bem-sucedida e agora uma entrevista de emprego. Imediatamente liguei para Pedro. — Pedro? Pode falar agora? — Se for rápido sim, Mandi. O que houve? — perguntou preocupado. — Tenho uma entrevista de emprego hoje à tarde, torça por mim! E acho que fui bem na prova pra bolsa de estudos. Queria apenas te falar. — Ah, sim, que bom, mana, fico feliz, você merece! Agora preciso trabalhar, qualquer novidade me manda sms. — Tudo bem, te amo. — Desliguei o telefone e peguei um ônibus para casa. Aquela manhã tinha sido fenomenal para PERIGOSAS ACHERON

PERIGOSAS NACIONAIS mim, e logo após chegar em casa e almoçar, fui para o banho animada para a entrevista que ocorreria logo mais. Coloquei meu melhor terninho preto, com uma blusa social cor de rosa por baixo. Adicionei cordão, anel e pulseira, calcei meu mais belo sapato e me maquiei com o melhor que tinha. Me aprontei da melhor forma que podia e fiquei feliz com o resultado final. Me olhando no espelho, pude contemplar uma nova Amanda, sabia que nada podia abalar minha confiança em mim mesma. Aquela era a Amanda que desejava ser, uma versão confiante e bem-sucedida. Após passar o perfume adocicado que adorava, peguei todos os documentos necessários e os inseri na minha bolsa, partindo enfim para a tão aguardada entrevista.

Cheguei ao prédio da entrevista sorridente e confiante, pois era a primeira para a qual fui PERIGOSAS ACHERON

PERIGOSAS NACIONAIS chamada desde que me mudei para o apartamento do meu irmão. Entrei no elevador e fui ao sétimo andar, como a mulher no telefone havia orientado. Chegando no andar indicado, percebi que tinha candidatos numa sala de espera para a mesma entrevista, mas isso não me esmoreceu, sabia que poderia me sair bem e conseguir aquele emprego finalmente, podendo em breve traçar planos para morar com minha filha. Sentada ali, na sala de espera após me identificar, via cada candidato entrar na sala no corredor em frente de onde eu estava. Todos eles saíram de lá com o rosto confiante, até uma mulher sair sorrindo tanto que me deixou desconcertada. Será que ela foi contratada? O pensamento de que a vaga já tinha sido preenchida fez com que o sorriso, antes confiante, ficasse apreensivo em meu rosto. Já estava nervosa e um pouco ansiosa, pois fui a última a ser chamada. Ainda assim, mantive em minha mente a fé de conseguir o emprego que tanto almejei. — Senhorita Amanda Lice? — A secretária PERIGOSAS ACHERON

PERIGOSAS NACIONAIS do diretor andou até mim seriamente. — Sou eu — respondi levantando da cadeira. — Sinto muito, mas sua entrevista foi cancelada. Já está liberada para voltar para casa. — Bruna, como o seu crachá indicava, disse em um tom de voz desconfortável, fazendo com que eu notasse a tristeza em sua voz ao dar a notícia que acabaria com meu dia por completo. — Como? A vaga já foi preenchida? Não tenho os requisitos? Quando perguntei, senti minhas esperanças se esvaírem. — Preciso falar com o diretor, me deixe pelo menos dizer das minhas experiências! Se depois de tudo ele me quiser fora eu irei — argumentei calmamente, mas minha voz tremia, estava prestes a chorar ali mesmo, na frente da secretária grávida. — Ele não se interessou pelo seu perfil, desculpe. — Apenas disse e se virou em direção à sala do diretor. Eu sabia que aquela era a sala onde as entrevistas aconteceram. Sem pensar, fui atrás de PERIGOSAS ACHERON

PERIGOSAS NACIONAIS Bruna e entrei depois dela. — Senhorita, não pode entrar sem permissão. — Bruna tentou conter-me no momento em que eu adentrava à sala do poderoso chefão. Foi quando levantei o olhar, antes cabisbaixo, até o homem na imponente mesa. Nossos olhares se encontraram, fazendo com que eu sentisse algo percorrer minha espinha, congelando todos os meus nervos e me deixando em modo estático, apenas encarando o homem que eu sempre pensei ser uma pessoa boa, ali, fechando a porta de uma oportunidade para mim.

TONY A terça começou agitada na filial que eu dirigia da Gali Telecomunicações. Era dia de entrevista para uma vaga importante, que sempre prezei em escolher por mim mesmo e não por qualquer outro funcionário da empresa. Depois de encerrar algumas ligações, Bruna, minha secretária PERIGOSAS ACHERON

PERIGOSAS NACIONAIS grávida, prestes a dar à luz, anunciou sua entrada em minha sala naquela manhã. — Com licença, Sr. Gali. Pietra me enviou a lista das candidatas da entrevista de hoje à tarde. Gostaria de deixá-la aqui para que possa avaliar cada perfil antes das entrevistas. — Sim, Bruna, deixe aqui em minha mesa. Bruna se aproximou e deixou os papéis das candidatas onde pedi. Antes dela se virar e sair da sala, perguntei sobre o bebê e quando nasceria, pois não conseguia lidar com o fato de que a barriga dela podia aumentar mais do que já havia crescido. — Ah, Tony, estou apenas aguardando ele querer sair, pois pronto ele já está. O senhor ficará sem mim por seis meses, quem vai aguentar suas rabugices? — Bruna riu enquanto falava comigo. — Bruna, você é insubstituível, mas ainda não decidi o que fazer sobre sua licença. Você merece mais do que seis meses, é uma funcionária muito dedicada. E sobre quem vai me aguentar, acho que terei que comprar um android. — sorri ao final da fala, fazendo Bruna dar altas risadas. PERIGOSAS ACHERON

PERIGOSAS NACIONAIS Sempre fomos amigos, desde que me entendo por gente. Considero-a uma irmã mais nova, e creio que ela também a mim. — Coitado do pobre robô. Precisando de mim, me chame, Sr. Gali, tenho alguns relatórios a adiantar antes de minha licença — concluiu e logo saiu da sala. Desde que meu pai enfim decidiu me dar a direção dessa unidade da Gali, sempre fui amigo de minhas secretárias, nunca misturei o relacionamento profissional com o pessoal. Entendia sobre os processos que a empresa poderia sofrer caso isso acontecesse, por isso mantinha uma amizade superficial com todas as suas funcionárias e funcionários da unidade de BH. Mas Bruna me conhecia há anos e era a exceção. Por coincidência e amizade, Nick trabalhava na minha unidade também, ele era o “Relações Internacionais”, mas isso não o impedia de ser mais do que amigo das funcionárias. Quase todas já tinham frequentado sua cama. Realmente eu não me importava com isso, sabia que Nick era discreto e que dividia bem essas relações dentro da empresa. PERIGOSAS ACHERON

PERIGOSAS NACIONAIS Ao pensar em como Nick podia reagir à nova contratação, o chamei até minha sala pelo ramal telefônico e em cinco minutos meu amigo já entrava nela perguntando o que poderia ter acontecido. — Nada. Sente-se, Nick — pedi, gesticulando para que ele sentasse na cadeira à frente de minha mesa. Nick se sentou e ficou aguardando, olhando em meus olhos. — Bem, Nick, hoje eu terei algumas entrevistas a fazer para a vaga de assessora administrativa. Nessas fichas eu tenho cinco mulheres e dois homens. Você sabe que o mais provável é que eu contrate uma mulher, sempre confiei mais no comprometimento e na organização delas, mas queria pedir encarecidamente que não ficasse com a minha futura funcionária — adverti. — E como ela é? Já sabe quem será? Porque se for muito irresistível não posso garantir nada. — Nick disse com um sorriso malicioso pairando no rosto. — Não, nem conheço as candidatas PERIGOSAS ACHERON

PERIGOSAS NACIONAIS pessoalmente ainda. Queria apenas pedir para que evitasse ao máximo, ou posso ser processado um dia. Já está na hora de você parar com isso e caçar mulher fora do ambiente de trabalho, não acha? — Tudo bem, chefão... Eu vou tentar, tá? — respondeu sorridente. — Ok. Pode ir, tenho entrevistas para fazer daqui a pouco. — Me levantei e fui com Nick em direção à porta, fazendo-o sair. Logo voltei para minha mesa, sentei-me confortavelmente e pus as mãos entrelaçadas na nuca, jogando a cabeça para trás, relaxando. Meus pensamentos pararam por um instante, quando eles voaram até Amanda. Por que eu estava pensando nela? Além de lembrar o quanto ela é linda e forte, eu sentia tanta vontade de saber como ela estava naquele momento. Como ela ficou depois daquele final de semana... Ah, não, Tony, o que você está fazendo? Deixa de ser idiota e pensa em todas as mulheres que já teve, esquece essa separada que, inclusive, é PERIGOSAS ACHERON

PERIGOSAS NACIONAIS irmã de um de seus melhores amigos. Deixe-a em paz! — Minha mente e eu estávamos em embate. Abanei a cabeça, tentando afastar os pensamentos de Amanda e peguei as fichas com os currículos das candidatas que entrevistaria em alguns minutos. — Gabriele... Com experiência, curso de inglês, mora perto... Hum... Boa candidata. Lúcia... Ricardo... Hum... Laura... Plínio... Amanda Lice... Meus olhos paralisaram quando li o último nome na ficha. — Amanda? Não pode ser, deixa eu ver o perfil profissional dela. Solteira — Mentira. Separada — 28 anos, mora perto, ensino médio, superior incompleto, experiência de seis anos como secretária, fluente em inglês, espanhol, italiano e português, excelentes recomendações. Putz, ela tem um currículo ótimo. Seis anos em uma só empresa? Seis anos! Pensei bem, na verdade passei longos minutos ponderando sobre aquele currículo e o PERIGOSAS ACHERON

PERIGOSAS NACIONAIS rumo que meus pensamentos estavam tomando desde o dia em que a conheci. Decidi, por fim, que não entrevistaria Amanda. Eu só precisava fugir dos pensamentos impróprios que tinha com ela. Não conviver com ela durante 9 horas todos os dias úteis da vida me ajudaria. — Bruna, venha até a minha sala — chamei minha secretária pelo ramal e imediatamente ela apareceu. — O que posso fazer, Sr. Gali? — Essa candidata está descartada. Pode avisá-la, quando chegar, que a entrevista foi cancelada, por favor? Bruna pegou a ficha de Amanda e assentiu, concordando e saiu imediatamente da sala. Fiz todas as entrevistas naquela tarde com a mente mais leve. Até que a última candidata entrou e finalmente encontrei nela tudo o que eu procurava para a vaga. Contratei-a imediatamente e a levei até a porta para sua saída. Naquele instante, olhei para o final do corredor, onde a última candidata — e descartada PERIGOSAS ACHERON

PERIGOSAS NACIONAIS — estava sentada, linda e elegante com suas mãos sobre o colo segurando uma pasta de documentos. Fechei minha porta e voltei para a mesa. Tinha tomado a atitude certa, claro, e ninguém precisava saber. Ninguém podia saber que na verdade eu era um medroso ridículo, que vivia com as frases loucas do pai na mente. Não sei por quanto tempo divaguei em pensamentos, mas logo a porta se abriu em um susto. — Sr. Gali, desculpe, ela entrou de repente, eu fiz como o senhor tinha me dito, mas ela entrou mesmo assim. Levantei o olhar e lá estava ela. Meu Deus, eu podia dar as características exatas dos seus contornos para um artista reproduzir e, com certeza, sairia com perfeição. Amanda expirava pesadamente, com os olhos trêmulos e o corpo paralisado enquanto me olhava. — Tudo bem, Bruna, nos deixe a sós — ordenei enquanto meus olhos não se desprendiam PERIGOSAS ACHERON

PERIGOSAS NACIONAIS dos de Amanda. Bruna saiu da sala e o choque ainda estava no rosto da irmã de Pedro, que permaneceu mais alguns segundos calada de pé. — Entendi. Agora eu entendi. — Finalmente ela disse. Mantive a nossa conexão de olhos, e questionei: — O que você entendeu? Posicionei as duas mãos no queixo, apoiando os cotovelos na mesa. — Você não precisa de uma separada, abalada emocionalmente, com uma filha de 4 anos, para se preocupar em sua equipe. Precisa de alguém normal psicologicamente, que possa fazer o trabalho sem poder ser surpreendida por uma ligação emergencial ou um momento de tristeza que a fará chorar por perceber que é a mais azarenta do universo e que não consegue e nunca conseguirá nada do que sonha, pois as oportunidades que teve jogou fora quando era mais nova. — Amanda desabou em palavras, e eu só PERIGOSAS ACHERON

PERIGOSAS NACIONAIS conseguia me sentir um merda. Algo apitou dentro de mim: culpa ao perceber o que tinha feito àquela mulher que, apesar de ser tão forte, estava indefesa, dependendo daquele emprego para seguir adiante na vida. Eu tinha sido um canalha, como todos os homens da vida de Amanda. Imediatamente abri a boca para corrigir o que fiz, me colocando de pé, sem sair do controle. — Desculpe, não é nada disso. Eu já contratei uma das candidatas para a vaga, você não tinha mais o que fazer aqui. Apenas isso, desculpe... desculpe. — Tentei ser o mais profissional possível, pois não queria que ela mexesse com meu emocional mais do que já estava mexendo nos últimos 4 dias. — Você não me deve desculpas, eu é que devo. Fui estúpida em pensar que se eu falasse com o diretor, poderia convencê-lo de minhas capacidades profissionais. Poderia mostrar o quanto sou esforçada e inteligente. Já vou me retirar, espero não precisar revê-lo, Sr. Gali — respondeu friamente. PERIGOSAS ACHERON

PERIGOSAS NACIONAIS Enquanto Amanda virava para sair da sala, eu apenas desejava que ela não fosse embora. Aquela mulher mal tinha surgido na minha vida e já estava bagunçando todo o meu controle. De repente tive uma ideia para mantê-la ali e tentar me redimir pelo que tinha acabado de fazer a ela. — Espere! Amanda, espere um minuto. — Arrastei minha cadeira para trás e andei a passos largos até Amanda, que já estava abrindo a porta do escritório. — Diga. — Ela parou e se virou com o olhar baixo, sem direcioná-lo a mim. — Eu... eu tenho uma vaga de secretária executiva particular. Como você deve ter visto, minha secretária está grávida e vai tirar uma licença em breve, de pelo menos seis meses. Preciso de uma nova secretária. Você se interessa pela vaga? As palavras apenas saíram, sem pedir permissão. Eu tinha plena consciência de que, se ela aceitasse, não tinha volta. Teria que aprender a lidar com aquela coisa estranha que me fazia querer protegê-la. — Sim. — Seu rosto se tornou visível a mim PERIGOSAS ACHERON

PERIGOSAS NACIONAIS novamente. — Tenho interesse, o que eu devo fazer? Inevitavelmente sorri aliviado e a chamei para sentar à mesa comigo. Expliquei as funções do cargo, tudo que estava relacionado ao trabalho e disse que ela deveria estar presente em algumas viagens de negócios e jantares com donos de empresas junto a mim, como uma boa secretária executiva faz. Os olhos de Amanda se arregalaram quando mencionei o salário. Não sei o que deu em mim, mas estava incluindo ocultamente mais metade do valor do salário normal ao seu pagamento, não sabia bem o porquê de ter feito aquilo, mas sabia que a ajudaria muito e não podia negar que tinha muita vontade de ajudá-la. — Então, você é poliglota? — Em um dado momento, perguntei para ela, como se a estivesse entrevistando mesmo com a vaga garantida. — Sim, aprendi primeiro inglês quando eu tinha dez anos, depois espanhol aos 14 e italiano eu fiz aos 17. Tenho diploma dos três, quase todos consegui por bolsas de estudos. Ela contou sorridente, com os olhos reluzindo PERIGOSAS ACHERON

PERIGOSAS NACIONAIS esperança. — Sabe, eu falo italiano. Minha família é de origem italiana — afirmei. — Antônio Gali, não é muito difícil de descobrir a origem desse nome. Ela nunca tinha dito meu nome completo, e era diferente de tudo que eu já ouvi, pois ninguém me chamava assim. Naquele momento adicionei mais uma sensação inédita para a lista. — É, bem comum e bastante italiano. — Sorri, disfarçando o incômodo. Olhei para o relógio e percebi que tinha uma reunião em 30 minutos. — Desculpe, Amanda, mas preciso ir, tenho uma reunião logo mais. Amanhã chegue às 8 horas, Bruna vai te passar todas as funções e tudo que precisará saber. Agora você pode deixar seus documentos no setor de Recursos Humanos no andar abaixo desse, tudo bem? — Sim, obrigada, Tony. Quer dizer, Sr. Gali. Daqui a pouco acostumo — respondeu sorrindo. — Desculpe meu atrevimento, mas o senhor me permite te dar um abraço? PERIGOSAS ACHERON

PERIGOSAS NACIONAIS Apesar de sua feição transparecer inocência, estranhei ao ouvir o pedido dela, mas aquiesci e levantei para ir em sua direção. Não sabia como começar aquilo, então apenas aguardei. Mas logo Amanda chegou perto e me abraçou, envolvendo meu corpo que ao lado do dela parecia de um urso, enquanto agradecia pela oportunidade. Não hesitei em retribuir o gesto, afinal fora totalmente despropositado. Ao abraçá-la, senti seu aroma doce e sedutor. O que constatei naquele abraço, foi que talvez toda a minha fuga do sentimento de meus pais podia estar sendo, na verdade, um preparo. Um preparo para algo que poderia mudar minha vida totalmente. E mesmo que fosse mudada para ruim, se for para ficar naquele abraço, seria o melhor modo ruim de se viver a vida.

O dia seguinte começou cedo para mim, que PERIGOSAS ACHERON

PERIGOSAS NACIONAIS cheguei com uma hora de antecedência na empresa. O motivo? Nem eu sabia ao certo, mas fiquei andando de um lado para o outro dentro da minha sala, como uma criança perdida dos pais, aguardando todos chegarem ao estabelecimento. Não vi Amanda naquela manhã, o que achei bom, dadas as circunstâncias, mas Bruna me informou tudo o que passaria para ela, e em poucas horas concentrei-me em meu trabalho e a esqueci. Em um momento na tarde daquele dia, Nick entrou na minha sala enquanto eu checava alguns emails e contabilizava relatórios em minha mesa. Não prestei atenção a nada do que ele dizia, quando fui surpreendido por duas pequenas palavras: "Amanda" e "Jantar". — O que disse? — indaguei a Nick, completamente atônito. — Eu falei que estava revisando os relatórios do exterior de semana passada... — Não, no final, o que disse sobre jantar? — O interrompi, extremamente curioso. — Ah, convidei Amanda para jantar hoje, e PERIGOSAS ACHERON

PERIGOSAS NACIONAIS olha só, ela aceitou de primeira. Sou macho demais, não sou? — Nick se gabou, alisando o peito. Apenas rolei os olhos e arquejei. — Muito irresistível, mas acho que tínhamos um trato, não se lembra? — ralhei entredentes, encarei-o e o lembrei do fato de termos combinado que ele não sairia com mais nenhuma funcionária. Na realidade, estava furioso, sem entender o porquê. Eu precisava consultar urgentemente um profissional, essa mulher estava inaugurando sensações inimagináveis em mim. — Tudo bem, eu sei, mas é só um jantar, nada de mais. Se surgir algo mais será fora daqui e prometo não deixar ela muito apaixonada, ok? — Nick comentou, piorando as coisas. — Sai fora, Nick, deixa eu terminar meu trabalho. — Passei a mão nos cabelos presos num coque, como uma mania nervosa. — Que você tenha um agradável jantar. Tentei não soar rude, disfarçando meu incômodo com aquela situação. PERIGOSAS ACHERON

PERIGOSAS NACIONAIS — Obrigado, Chefe — agradeceu e saiu do recinto. Eu só queria entender o porquê de Amanda aceitar o convite de Nick, sabendo que ela não queria mais se relacionar com ninguém. Pedro comentou sobre o fato dela estar focada e tudo mais. Como no primeiro dia de trabalho ela aceita um convite para jantar? Ainda por cima do Nick? De fato, eu não conseguia compreender.

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Capítulo 5

AMANDA Meu primeiro dia na Gali foi bem produtivo. Bruna é uma pessoa maravilhosa, e me ensinou tudo com muito afinco durante toda a manhã. Após o almoço daquele dia, Nick estava a caminho da sala de Tony quando me reparou numa das mesas de secretária, próxima à sala dele. — Hey! Amanda, que bom te ver por aqui! — Desviou-se do caminho da sala do amigo, parando em frente à minha mesa. — Obrigada, estou em treinamento para secretária do Sr. Gali — informei sorridente. PERIGOSAS ACHERON

PERIGOSAS NACIONAIS — Sr. Gali? Ele faz questão da irmã de seu melhor amigo chamá-lo de Sr. Gali? Me poupe, Tony é um idiota. — Eu faço questão de chamá-lo assim. É profissional. — O corrigi. Tony preferia informalidade, mas eu fazia questão de me referir a ele como os demais funcionários. — Hum, entendi. Você está livre hoje à noite? Queria jantar num restaurante novo, caso você queira conhecer comigo... Como amigos, é claro. A princípio, suspeitei do pedido de Nick, mas sabia que ele era inofensivo, já conhecia sua fama, e o fato de eu estar com o coração congelado me fazia imune a esses tipos de flertes. Que mal há em ir a um restaurante com um cara? Não vi mal algum, nem intenção maldosa por trás do pedido dele. — Ok, que horas nos vemos? — concordei. — Às oito. Te busco em casa, tudo bem? — Tudo bem. Assim que ele entrou na sala do Sr. Gali, PERIGOSAS ACHERON

PERIGOSAS NACIONAIS virei-me para Bruna, que me encarava de olhos esbugalhados. — Mas eu te falei que ele é um imbecil conquistador, Amanda — advertiu-me num sussurro. — Eu sei, eu não estou interessada em homens no momento. Jantar em um restaurante novo de graça me pareceu bem convidativo. — Soltei uma risada debochada depois de concluir. — Doida, ele vai tentar te levar pra cama, você sabe, não é? — Tudo bem, deixa ele se iludir até o último minuto. — Sorri, pensando em como faria Nick me odiar no final do encontro que ele possivelmente armou pensando que eu cairia feito pato, segundo Bruna disse. Quase me arrependi de aceitar o convite, depois do alerta dela. Realmente não ansiava por homem algum em meu pé. Não que eu fosse alguém super desejável e me sentisse a rainha da cocada preta. Mas não posso ignorar as possibilidades. PERIGOSAS ACHERON

PERIGOSAS NACIONAIS Naquele dia não vi mais ninguém na empresa, nem Tony. Ainda assim me senti tão confiante e feliz pela oportunidade de recomeçar que a vida havia me dado, que cheguei em casa extasiada.

— Eu falei que não casaria nunca mais, mas isso não me impede de sair com homens — expliquei ao meu irmão enquanto verificava o armário à procura de uma roupa ideal para aquela noite. — Tudo bem, mas o Nick? Logo ele? Ele não vale o pão que come, você não precisa disso, Mandi. Ele estava parado escorado no batente da porta, tentando me convencer a não sair com seu amigo cafajeste. O ignorei por completo, porque às vezes ele merecia, e encontrei um lindo vestido vermelho de cetim com um decote longo na área dos seios, sem PERIGOSAS ACHERON

PERIGOSAS NACIONAIS mangas, com acabamento nos ombros e comprido. — Esse! É o vestido arrasador para hoje! — Mas você não vai sair com Nick vestida desse jeito nunca! — Pedro bufou após reclamar da roupa. Andou de um lado para o outro no meu quarto, com as mãos passando pela cabeça, parecendo ter um conflito interno — Irmãozinho, não se preocupe, não vou passar a noite com Nick, não vou me apaixonar por ele. Pelo contrário, vou assumir o controle desse jogo hoje à noite. — Parei em frente a Pedro e o acalmei. — Como assim, assumir o controle? Meu irmão estava confuso. Ai Jesus, por que homens acham que somos tolas? — Ele pensa que sou como qualquer uma, pensa que vai me enlouquecer e me ter em sua cama. Vou deixar ele pensar, mas não darei o luxo de realizar nenhum de seus pensamentos. Simples assim! — Eu sabia muito bem o que estava falando. Se tinha uma coisa que eu estava, era PERIGOSAS ACHERON

PERIGOSAS NACIONAIS consciente de tudo que disse e estava prestes a fazer, queria apenas me divertir e ver Nick provar do seu próprio veneno, aproveitando o que todos diziam dele. Entendia que ele não tinha culpa de tudo o que sofri na vida, mas sabia também que homens do tipo dele causavam isso em muitas mulheres. Estava cansada de sofrer a vida inteira e ver todos os homens saírem impunes dela. Era a minha vez de brincar. Estava completamente disposta a isso. — Tudo bem. Faz como quiser, mas se não for pedir muito, sou seu irmão. Você pode me manter informado sobre os seus passos? — Um sorriso malvado surgiu em seu rosto quando pediu. — Eu adoraria ver Nick pirando! — Seu malvado! Quer ver o amigo sofrendo! — Gargalhei. — Vou te deixar informado, pode deixar. Pedro saiu de lá parecendo aceitar melhor a ideia e prontamente comecei a me vestir. Sequei meus cabelos que estavam enrolados em uma toalha, molhados do banho, e depois tirei o robe e inseri o vestido vermelho que me deixou PERIGOSAS ACHERON

PERIGOSAS NACIONAIS incrivelmente sensual. Prendi o cabelo em um coque, deixando algumas mechas caindo sobre o rosto e pus uma maquiagem suave, com batom vinho matte. Quando finalizei tudo, a campainha tocou. Em instantes Pedro bateu à porta do quarto, avisando que seu amigo havia chegado. Os olhos de Nick pareciam saltar das órbitas ao me ver, da cabeça aos pés. Caminhei lentamente em direção a ele, que estava do lado de dentro do apartamento ainda perto da porta, e me aproximei de seu ouvido enquanto o rosto dele permanecia imóvel. — Vamos? — sussurrei, fazendo-o dar um salto para trás. — Claro. Adeus, Pedro. — Acenou para Pedro e ofereceu seu braço para que eu o envolvesse com o meu. Descemos pelo elevador em silêncio e eu só quis rir da feição embasbacada que Nick demonstrava ao me ver. Abriu a porta do carro para mim e segurou minha mão ao colocar-me dentro do automóvel. Dirigiu até o restaurante, novamente abriu as portas e me segurou pelas mãos enquanto PERIGOSAS ACHERON

PERIGOSAS NACIONAIS saía do seu Land Rover. — Obrigada, você é gentil — disse eu, ao descer do carro, fazendo Nick sorrir. Ao entrarmos no lindo restaurante recéminaugurado e elegante, nos encaminhamos à mesa reservada por ele. Os minutos foram longos, preciso admitir. Nick era divertido em alguns momentos, e até legal, mas eu estava entediada e queria voltar pra casa. — Sou o mais novo de meus irmãos — disse ele no meio do jantar, parecendo querer me cativar. — Interessante, quantos irmãos têm? — Dois, todos moram fora do país. — E por que você mora aqui, então? — Realmente estava curiosa. — Gosto daqui, fora que meu pai acha que devo trabalhar duro antes de me mudar com esposa e filho daqui. — Ah, entendi. Ele na verdade quer que você case. — Sim. — Deu de ombros e fez uma careta PERIGOSAS ACHERON

PERIGOSAS NACIONAIS de reprovação. — Que droga. — Soltei sem pensar. Nick parou por um instante e me encarou confuso. Como uma mulher se refere a casamento e filhos como uma “droga”? — Pode ter passado essa informação na mente dele, e não o culpo. Poucas mulheres teriam a mesma atitude que eu. Mas escapou sem querer. —Como assim “que droga”? — Nick perguntou cautelosamente. — Ah, Nick... Ser forçado a algo que não quer é uma droga. E convenhamos, precisar ter uma família para sair do país de uma vez por todas é realmente uma droga! Quem faz isso? — Sorri, tentando explicar. Ele assentiu. — Pensando por esse lado, realmente. Achei que odiasse essa ideia. Sabe, ter filhos e casar... — falou enquanto mexia na comida sobre o prato. — Você quer que eu case com você, Nick? Porque... eu definitivamente não estou a fim — declarei enquanto levantava as duas mãos em sinal PERIGOSAS ACHERON

PERIGOSAS NACIONAIS de defesa, ainda sorrindo para ele, em simpatia. — Claro que não, nem penso nisso! — Ele imediatamente respondeu, mas pareceu ter sido pego de surpresa pelo assunto. Um silêncio incômodo pairou pelo ambiente, que logo cortei. — Ufa! Fico mais aliviada. Não sou contra famílias e nem nada disso — disse enquanto intercalava as pausas mastigando. — Mas já deve saber que sou separada e tenho uma filha, não quero mais nada disso, apenas quero pensar em dar o melhor para Clara e viver livre. — Ok, mude o assunto, não tenho mais nada em mente para dizer. — Nick se rendeu. Qual assunto eu poderia falar? Nick, por favor, vamos embora? — Isso o deixaria um pouco mal, tenho certeza. — Você. Vamos falar de você. Onde nasceu? Como foi sua infância? — inventei algo para disfarçar, estava mais do que entediada com tudo aquilo. — Quer mesmo saber? Está parecendo uma entrevista! — Ele riu. PERIGOSAS ACHERON

PERIGOSAS NACIONAIS — Sempre quis ser repórter, mas sabe como é, a concorrência é dura conosco! — brinquei, fazendo-o rir e se abrir, contando tudo sobre seu passado. Ele começou a sorrir mais e descontrair, o que me deixou mais aliviada. Quase não falei de mim, e apenas perguntei sobre ele. Notei que Nick gostava de contar coisas sobre si. — Eu era um garoto um pouco rebelde, porém nerd. Acredita que eu era do estilo rockeiro? Usava piercing e tudo mais! Na adolescência eu sofria bullying — Nick falou e eu só ria constantemente. — Não acredito! Como vou dormir agora depois da imagem que meu cérebro criou de você desse jeito? — zombei dele. — Dorme comigo, posso tirar essa imagem horrível de você — flertou tão descaradamente que por um minuto nós dois ficamos sérios em silêncio. Percebi ali que meu plano interno estava dando certo, ele estava interessado em mim. E podia arriscar que não era só por uma noite. Gostei de saber que ele finalmente descobriria como é ser PERIGOSAS ACHERON

PERIGOSAS NACIONAIS um canalha completo com alguém e sair ileso, sentindo na própria pele. Tinha certeza do que constatei pois, após a traição do meu marido, passei a analisar mais as pessoas ao redor. Sentia-me como uma investigadora criminal. Tudo para não ser mais enganada. Meu outro lado, o mais afetuoso, dizia que eu não tinha o direito de fazer aquilo, era cruel e sujo. Queria apenas voltar para casa e dormir, me concentrar nos meus objetivos e alcançá-los. O silêncio foi cortado por uma gargalhada minha. — Bom! Muito bom! Mas... ruim! Péssimo. Nick, não acredito que conquista as mulheres assim! — Não conseguia conter o riso enquanto falava. — Ah, não me diga que não se sentiu tentada nem um pouquinho por mim?! —arriscou ele, se gabando e sorrindo. — Sou imune a essas coisas. Vamos, já terminamos. Quero dormir, juro que depois de rir PERIGOSAS ACHERON

PERIGOSAS NACIONAIS tanto só penso na minha cama — afirmei enquanto arrumava as minhas coisas para levantar do assento. — Ok, vamos, já está tarde mesmo, foi divertido. Obrigado pela companhia. — Assentiu olhando nos meus olhos, e nesse momento ambos ficamos sérios. Aquilo estava começando a ficar constrangedor. Após Nick pagar a conta — porque eu sinceramente não faço questão de dividir — e sairmos do restaurante, ele continuou sendo cavalheiro, abrindo a porta do carro para que eu entrasse e saísse, levando-me até a porta do apartamento, sempre afirmando o quanto foi bom o jantar que tivemos. — Podemos repetir mais vezes — soltou, evitando que eu entrasse logo em casa. — Sim, eu te aviso quando tiver um tempinho, ok? — O cortei, estava tão sonolenta que não queria mais ficar ali, queria dormir. Ele então se calou e me observou por um PERIGOSAS ACHERON

PERIGOSAS NACIONAIS tempo, até se aproximar de mim. Se aproximar demais, até. Ele me roubou um beijo! Apenas recebi o beijo com susto e logo o interrompi. —Ei! O que está fazendo? — Afastei-o com as mãos. — Te beijando? — Nick respondeu com um ar de “não é óbvio?”. — Eu disse que queria beijá-lo? Eu liberei esse beijo? Nick, não responda, mas comigo as coisas são como eu quero. Se quisesse beijá-lo, eu o beijaria, ou falaria algo para que me beijasse, mas não quis beijá-lo, não quero beijá-lo. Peço que não repita mais isso, pelo menos não comigo. E entrei, o deixando lá pensando na afronta que cometeu. Os dias após aquele seriam longos e loucos. Por que eu aceitei aquele convite, sabendo onde poderia me meter?

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A noite daquele dia infeliz foi tão horrenda, que nem horas na academia do condomínio onde moro me fizeram extravasar. Eu queria ser uma mosca, uma formiga, para ver como estava sendo aquele jantar. Era curiosidade, uma curiosidade muito aguçada, confesso. Será que ela cederia às investidas dele? Será que Nick conseguiria seu objetivo final com Amanda? Eu sempre soube que, depois de conhecer o lado bom da vida — que eu o apresentei —, seu foco com as mulheres era sempre uma noite regada de prazer. Com Amanda não seria diferente, mas só de pensar nele a tocando… a beijando… Agrrrr! Amaciei meu travesseiro — soquei na verdade — pela décima vez antes de deitar e tentar apagar minha mente daquilo, depois de ter tomado um banho. Foi quando meu celular vibrou sobre o PERIGOSAS ACHERON

PERIGOSAS NACIONAIS criado-mudo. — Nick? Aconteceu algo? — Atendi ao ver o número na tela. — A Amanda aconteceu! Cara, preciso te contar tudo! Pronto, só aquela curta frase já me fez sentar e respirar fundo, imaginando cenas horrendas dos dois juntos. Bom, não curto ser egoísta, se Nick a fizer feliz no fim das contas, é isso que importa, certo? — Não quero saber detalhes da sua vida sexual, Nick! — decretei, não desejando saber nada. — Não! Calma, não desliga! Nós não fizemos nada. Em meu peito, reinou um alívio imediato, o que fez com que eu estranhasse a sensação. — Então o que houve? — indaguei revirando os olhos. — Fomos jantar, conversamos, foi fantástico! Ela é maravilhosa, sensível, amiga, muito interessante e madura. Sorria para mim de uma PERIGOSAS ACHERON

PERIGOSAS NACIONAIS forma encantadora e quando eu brincava ela gargalhava, uma gargalhada que fazia seus olhos se fecharem, nunca a vi mais linda, Tony... Mas então... — Então? — Estava curioso, apenas curioso. — A levei para casa e a beijei. Ela rejeitou meu beijo e disse que não quer que eu faça isso de novo! Como, Tony? Como uma mulher nega o meu beijo?! — Nick parecia revoltado. Reprimi uma risada. Meu Deus, como eu a subestimei! — Nick, para tudo há uma primeira vez. Às vezes ela só quer sua amizade. Aceite ser uma gazela dondoca e se assuma pro mundo! — afirmei por experiência própria, aproveitando para zoar meu amigo. Os conselhos de minha amiga de infância sempre ajudavam a entender melhor as mulheres. — Vai pro inferno, idiota! Mas e agora? Eu a quero, Tony! Eu quero ela toda, para mim, na minha cama, na minha vida! Quero possui-la até cansar! Putz, Tony, eu a quero! — Nick gritou. PERIGOSAS ACHERON

PERIGOSAS NACIONAIS — Se acalma, você está se apaixonando, isso é perigoso. Você já se apaixonou? — Nunca, isso é se apaixonar? Eu acho que não, hein! Mas eu a quero — afirmou convicto. Eu conhecia bem meu amigo. O que havia em seu íntimo era frustração causada pela rejeição. — Amanhã nos falamos, Nick, tenho que dormir — encerrei o assunto e desliguei o telefone. Deitei em minha cama novamente tentando afastar Amanda dos pensamentos. Sabia que ela era especial mas, naquele momento, ao perceber como ela mexeu com Nick, soube que ela era muito mais do que especial. Soube mais ainda que não podia ocupar meus pensamentos com a imagem dela, até que ouvi um alerta em meu celular. Era uma foto dela, tirada espontaneamente por Nick. Respirei fundo ao ver aquilo, Amanda com o vestido longo colado no corpo e decotado de forma sensual. Fiquei imóvel por alguns instantes apenas observando. Droga, o que Nick queria com isso? PERIGOSAS ACHERON

PERIGOSAS NACIONAIS Aquela noite foi longa para mim, as lembranças sobre tudo que presenciei na vida fizeram com que meus pensamentos sobre Amanda enfim fossem embora. Meus pais foram um casal capa de revista, sempre amorosos e unidos. Eu lembrava de quando tinha apenas 10 anos, comecei a admirar o relacionamento deles em uma ceia de Natal. Nesse dia meu pai fez um discurso de orgulho por tê-la e minha mãe sorria de ponta a ponta, apaixonada por ele. A partir daquele dia, comecei a perceber como os dois se tratavam, sempre com carinho e palavras amorosas. Meu pai a presenteava sempre e quando ela ficava doente ele faltava o trabalho para cuidar dela pessoalmente. Até que, um mês após o meu aniversário de 19 anos, minha mãe sofreu um acidente de carro e faleceu. Presenciei o mundo de meu pai ruir pelas suas mãos. Ele não falava mais, não se mexia. Não foi ao enterro e nem trabalhou mais. Assumi as empresas com o vice do meu pai, esperando que tudo voltasse ao normal, mas não voltou. Só após anos de terapia, voltou ao trabalho, mas nunca mais casou e quando conseguiu sair do estado catatônico do choque causado pela perda, PERIGOSAS ACHERON

PERIGOSAS NACIONAIS ele me deixou um conselho: Nunca se apaixone. O amor causa feridas, ele dói. Não vale a pena se ferir dessa maneira, proteja-se dele o máximo que puder. Era uma lembrança daquele dia, e a única coisa que conseguiu falar comigo, era sobre o amor e como ele é cruel com quem o sente. Nunca deixei de seguir o que meu pai ditava, e a partir daquele dia levei como regra cada conselho seu. E ano após ano, ele só me relembrava. Viva, mas não ame. Aproveite, conquiste, mas fuja do amor. E era nisso que me apegava, sendo plenamente realizado em minha vida, até aquele instante.

AMANDA O dia seguinte foi como eu esperava: PERIGOSAS ACHERON

PERIGOSAS NACIONAIS Nick tentando se redimir, me dando um arranjo lindo de flores e um cartão pedindo desculpas. Deixei claro a ele que entre nós só existiria amizade, e foquei em meu trabalho, pois era esse que me ajudaria a ter minha listinha de objetivos enfim alcançados. Recebi mais orientações de Bruna, que fazia me sentir orgulhosa do meu empenho. Me dedicava excepcionalmente em tudo. Em um certo ponto de dicas e conversas, senti Bruna se abrir ainda mais, me dando permissão para que entre nós existisse uma amizade muito bonita. Eu tinha gostado muito dela. — Sabe, Amanda, eu quero pedir demissão. Quero ter meu bebê, e logo após a licença pedir para sair. Não quero deixá-lo em uma creche ou com uma babá. Quero eu mesma cuidar dele, sabe? Quando ele tiver maiorzinho eu volto à ativa. Ela comentou, num momento aleatório. — Nossa, Bruna, isso é bom. Digo, não por te substituir, mas por ver que você quer se dedicar ao seu bebê. Mas não se esqueça de você, estipule uma data certa para voltar a trabalhar, porque senão PERIGOSAS ACHERON

PERIGOSAS NACIONAIS você acaba cedendo e cedendo, até que vê a vida passar e você ficando para trás. Conselho de amiga. — Sim. Pensei nisso. Mas de início é o que eu quero. Jonas precisa de mim. — Bruna disse, alisando a barriga. — Mas não conte a ninguém, ainda não falei com Tony. — Tudo bem. Você o chama de Tony? Juro que sempre a vejo chamá-lo de Sr. Gali — questionei, curiosa. — Na verdade aqui dentro chamo de Sr. Gali. Mas somos amigos, acredite se quiser. Eu o conheço desde que ele tinha 7 anos. Ele não gosta de formalidades comigo, mas eu gosto de ser profissional. — Fico feliz em saber que é próxima dele. Deve conhecer meu irmão, Pedro Luca. — Ah, sim, conheço. Um bom homem também... Fiquei feliz dela conhecer meu irmão, seria uma convidada maravilhosa então na nossa casa. Mas Bruna ficou pensativa de repente, e num ímpeto levantou da cadeira ao meu lado. PERIGOSAS ACHERON

PERIGOSAS NACIONAIS — É... Amanda, preciso dar uma palavrinha com Tony. Qualquer coisa me chama na sala dele, ok? — Ok. Não entendi a fuga repentina do assunto em que eu e Bruna estávamos, mas não fiquei pensando muito nisso. Apenas continuei meu trabalho.

TONY Problemas. A empresa estava com problemas e, como sempre, recaíam sobre mim. Por mais que meu pai hoje esteja gerenciando a empresa no cargo de CEO, lá em Goiás, problemas sempre sobram para mim. No meio daquele telefonema com o vicediretor, braço direito do meu pai, Bruna entrou tempestuosamente em minha sala. Fiz sinal para que aguardasse, enquanto eu finalizava a ligação. PERIGOSAS ACHERON

PERIGOSAS NACIONAIS Assim que concluí, virei-me para ela ainda sentado e pedi para que ela se sentasse também. — É ela, não é? — Foi como o assunto foi iniciado. — Do que está falando, Bruna? Respirei fundo, encarando a moça morena de olhos sagazes. — Da Amanda. Ela é a mulher em quem você ficou pensando no final de semana. Agora faz sentido! Não queria contratá-la. Tem medo de se apaixonar por ela! Não acredito que estou presenciando esse dia! Bruna mantinha um sorriso zombeteiro no rosto enquanto falava, quase cantarolando no momento em que tentei desviar meus olhos dos dela, pensando em algo para dizer. — Bruna, pode agir de forma profissional, por favor? — Senti meu rosto arder. Droga! A última coisa que eu desejava era que outra pessoa soubesse da minha cisma insana. — Ok, Sr. Gali. Está ou não interessado nela? Hein? — entonou com ironia. PERIGOSAS ACHERON

PERIGOSAS NACIONAIS Ponderei as palavras, afinal não teria volta qualquer coisa que eu proferisse ali. Tomei uma respiração pesada e voltei a encarar Bruna, que apenas aguardava minha resposta de sobrancelha erguida. Decidi por fim assumir. — Estou — respondi tão baixo, que mais pareceu um sussurro e logo abaixei os olhos para meus papéis. — Não ouvi. Está ou não está? — Bruna insistiu. Bufei, derrotado e levantei o olhar novamente em sua direção. — Estou! Pronto, Bruna, falei! — gritei. Em meu interior, uma turbulência de sentimentos me dominava. Admitir em voz alta algo que apenas meus recônditos pensamentos sabiam, me deixou desconcertado e nervoso. Bruna abriu um sorriso gigante e correu para me abraçar. Não compreendi o que ela estava intencionando, mas retribuí o abraço, me levantando. PERIGOSAS ACHERON

PERIGOSAS NACIONAIS — Vou te ajudar a conquistá-la — disse. Me afastei do abraço e parei por um momento para organizar meus pensamentos. Então a frase que meu pai falou há anos surgiu em minha mente. — Eu não quero conquistá-la. — Tentei parecer preciso. — Não vem me falar que não quer porque você quer sim! Para de limitar sua vida, Tony. Digo como sua melhor amiga. O amor não se resume ao que seu pai enfiou em sua cabeça. Você precisa amar! Aquela baixinha era autoritária demais. Por que fui admitir meu interesse? — Não, não preciso, Bruna. Sou feliz com a minha vida. Não quero alguém me desgraçando. Até porque ela também não quer relacionamentos. Acabou de se separar e tem uma filha. — Então a desculpa é apenas que ela não vai te querer. Tony, Nick fez tudo errado com ela, mas você pode fazer o certo. Liberei uma risada nervosa. PERIGOSAS ACHERON

PERIGOSAS NACIONAIS — Não posso! E Pedro nunca vai me perdoar se eu magoar sua irmã. — Tentava encerrar o assunto, falhando miseravelmente. Bruna era insistente. — Tudo bem, Tony. Continue nessa sua vida sem amor então. Não digo mais nada. Só te aviso uma coisa: você merece sentir isso. Merece ter o amor de alguém. Você é um homem bom. Bruna se retirou da sala, da mesma forma com que a adentrou, deixando-me pensativo por alguns minutos. Em seguida, voltei às minhas ligações.

— Sim, mas o que pretendem fazer? — falava ao telefone com o diretor da unidade de Recife, uma cidade ao nordeste do País. — Pretendemos fazer uma reunião de emergência para tentar solucionar a origem desse desfalque. Precisamos de você aqui o mais urgente possível. PERIGOSAS ACHERON

PERIGOSAS NACIONAIS — Não posso mandar um representante? Não há possibilidade de me ausentar por três dias durante a semana. — Aguardei o “mas” do homem e depois completei. — Vou amanhã e volto domingo, assim decidimos durante o final de semana sobre o que faremos. Parei aqui Ele concordou de imediato. — Ok, te aviso quando comprar as passagens. Desliguei a chamada e parei para pensar. Recife estava passando por um grande desfalque e apenas nesses últimos dias, depois de não conseguirem solucionar por si só, a cúpula dos diretores decidiu fazer uma reunião urgente. Imediatamente chamei Amanda para minha sala pelo ramal. — Me chamou, Sr. Gali? — perguntou ela ao entrar. A indiquei a cadeira do outro lado da mesa, e ela prontamente se sentou. — Sim, lembra de quando a contratei e falei que às vezes precisaria viajar a negócios comigo? PERIGOSAS ACHERON

PERIGOSAS NACIONAIS — indaguei cautelosamente e ela aquiesceu. — Então, a filial de Recife está com problemas nas vendas, não sabemos se é uma queda comum ou algum tipo de desvio de verba, eu preciso estar lá pessoalmente em reunião com a diretoria e é importante que vá comigo. Sem nem hesitar, ela concordou comigo, como a profissional que é. — Quando partimos? — perguntou. — Amanhã pela manhã — informei. Ela pareceu um pouco surpresa com a viagem repentina e mordeu o lábio enquanto parecia refletir em algo. — Quantos dias ficaremos? — Até domingo à tarde. Tem algum compromisso em mente? — perguntei, mas, no fundo, realmente tinha curiosidade de saber a resposta, não só como seu chefe. — Amanhã é sexta, eu conversaria com meu ex-esposo sobre algumas divergências que andamos tendo, e no sábado eu buscaria Clara para passar o fim de semana. Mas fique tranquilo, vou resolver PERIGOSAS ACHERON

PERIGOSAS NACIONAIS tudo hoje para que não se preocupe. Conte comigo. Ela levantou e andou até a saída, sem nem esperar que eu falasse algo. — Amanda, espere. A viagem é importante, mas acredito que teremos alguns momentos vagos. Leve sua filha, a empresa pagará todas as despesas. — Pois é, eu estava agindo como um maldito babaca se negando a entristecer essa mulher. — Sério? Porque eu não quero atrapalhar levando-a — respondeu lentamente, ainda nitidamente incrédula da proposta que ouviu. — Sim. Pode levá-la. Mais tarde passo as informações sobre o voo. Amanda sorriu feito criança e me agradeceu. — Vou deixar tudo acertado agorinha mesmo, Sr. Gali. Obrigada. Ela então saiu da sala. Imediatamente suspirei, como se todo o ar da Terra tivesse finalmente solto em meus pulmões. Minhas atitudes não estavam condizentes com o que deveria estar. Permiti e pagarei para que minha secretária leve sua filha a uma viagem de PERIGOSAS ACHERON

PERIGOSAS NACIONAIS negócios. Realmente tudo estava confuso e rumando para minha total ruína.

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Capítulo 6

AMANDA Fiquei animada com a viagem que faria, era mais uma oportunidade de mostrar minha competência e, quem sabe, crescer na empresa. Tudo o que queria era evoluir para que, finalmente, minha pequena Clara morasse comigo. Durante aquele dia, tratei de deixar tudo acertado com meu irmão, informando sobre a viagem e que não era para ele se preocupar com isso. Pedi para que ele me avisasse caso recebesse alguma ligação ou precisasse de mim para algo importante. Mesmo à distância, gostava de ajudar meu irmão e retribuir pelo que ele fazia por mim. Após finalizar meus PERIGOSAS ACHERON

PERIGOSAS NACIONAIS preparativos, tanto na empresa quanto nas questões pessoais, faltava apenas uma ligação: Henri. Ainda em minha mesa, no meio da tarde, liguei para ele, que logo atendeu. — Oi Henri, é Amanda. Está podendo falar? Meu coração palpitou forte quando ouvi sua voz, ainda sentia algo por ele que só o tempo poderia apagar, afinal foram 8 anos, infelizmente. — Sim, fale. — Viajarei a negócios amanhã, Clara irá comigo. Meu chefe autorizou e eu faço questão de ter o final de semana com ela, então ligue para a escola e avise que ela faltará amanhã. Às oito em ponto eu passarei aí para buscá-la — falei de uma vez, sem dar a chance de Henri interromper-me com perguntas, mas me surpreendi com sua resposta. — Tudo bem. Ela estará pronta às 8. — Ok, adeus. Ao desligar, respirei pesadamente. Nós só brigamos desde a separação e ele nunca tinha me tratado de uma forma tão seca e fria como naquela PERIGOSAS ACHERON

PERIGOSAS NACIONAIS ligação. Ele já deveria ter alguma mulherzinha para curtir o fim de semana, devia ser isso. Claro, Henri não deixaria Clara vir comigo assim tão fácil se não tivesse algo mais interessante para fazer. É isso. Amanda, esqueça esse idiota, pelo amor de Deus. ES-QUE-ÇA! Meus pensamentos desordenados invadiram minhas emoções. Uma pequena lágrima já descia por meu rosto e meus olhos estavam se fechando para evitar que mais delas saíssem, quando ouvi uma voz. — Você está bem? Ao abrir os olhos, avistei Nick. A última pessoa que desejava ver naquele momento era o homem que achou que me levaria para a cama um dia antes tão facilmente. Porém, espantei esse pensamento negativo sobre ele e decidi dar uma resposta educada. — Sim, estava apenas com saudade da minha filha. E o senhor? O que deseja? Quer que eu anuncie sua chegada para o Sr. Gali? PERIGOSAS ACHERON

PERIGOSAS NACIONAIS — Sim, por favor. E foi o que fiz, chamei-o pelo ramal e anunciei a chegada de Nick. Após ele entrar na sala de Tony, enfim relaxei e afastei meus pensamentos pessoais. Decidi me concentrar em tudo que teria que adiantar para que o dia seguinte não me sobrecarregasse. Era o penúltimo dia de Bruna na empresa, já tinha decidido tirar sua licençamaternidade pois eu já havia aprendido tudo da função. Depois de alguns minutos, recebi uma mensagem em meu celular. “Amanda, por que me trata assim? Não consigo parar de pensar em como seríamos felizes se voltasse para mim. Não paro de pensar em você.” Era de Henri. Mas ele tinha agido com neutralidade há tão pouco tempo. O que mudou? Decidi ignorar a mensagem, pois com certeza, ele agiria como sempre, mudando subitamente seu humor como se nunca tivesse enviado uma PERIGOSAS ACHERON

PERIGOSAS NACIONAIS mensagem como aquela.

Já era fim de tarde e eu tinha conseguido organizar tudo concernente a viagem. Precisava avisar ao meu chefe e informá-lo que não deveria se preocupar mais com qualquer imprevisto de minha parte. Me levantei e dirigi-me até sua sala. Dei uma batidinha suave, que não foi respondida então abri lentamente a porta, tendo de presente uma visão que me tirou o ar. A parede do lado contrário à porta, ficava atrás da mesa de Tony, mas ele não estava ali. Estava de pé, encarando a parede de vidro enorme por onde raios do pôr do sol alaranjado invadiam a sala, dando ao ambiente um ar tão pacífico, que me permiti admirar um pouco antes de chamar sua atenção para mim. — É tão lindo. Digo, esse show de luzes, traz paz. É revigorante, não acha? Tony se virou e me viu próxima à porta, PERIGOSAS ACHERON

PERIGOSAS NACIONAIS admirando o mesmo show que ele. O pôr do sol. Então se voltou à imagem anterior antes de responder: — Sim, digo para mim mesmo essas palavras todos os dias. Me senti ainda mais íntima dele, como se aquele momento e o que ele disse, fossem dignos de pessoas próximas. Respirei fundo e justifiquei minha ida. — Eu... Vim apenas para dizer que está tudo no esquema para amanhã, da minha parte. Gostaria de saber que horas é o voo. Preciso buscar Clara às 8, acha que dá tempo? — perguntei cautelosamente. — Sim, voamos às 10 horas. Passo na sua casa e buscamos Clara, tudo bem? — Tony questionou ainda de olho no sol, que já estava quase todo encoberto no horizonte. — Tudo bem. Obrigada mais uma vez, Sr. Gali. — Tony. Pode me chamar de Tony. — Prefiro Sr... PERIGOSAS ACHERON

PERIGOSAS NACIONAIS — Por favor, Amanda. — Ele se virou e me fitou nos olhos. — Seu irmão é meu melhor amigo, você me conheceu como Tony. Me chame de Tony, por favor? Não tinha saída. Ele insistia na informalidade e, por fim, achei que não seria de todo o mal. Mas Tony ainda era íntimo demais pra mim. — Antônio. Pode ser? Eu gosto de Antônio — sugeri, dando um singelo sorriso. — Tudo bem. — deu de ombros, ainda de olhos ligados nos meus.— Me chame de Antônio. — Ok. Nos vemos amanhã então, já está na minha hora — despedi-me e saí da sala.

TONY Mais cedo naquele dia, minha mente e mesa estava atolada de serviço. Tudo sobre o desfalque em recife, quando Nick entrou em minha sala. — Hey, puto! — disse Nick ao fechar a porta. PERIGOSAS ACHERON

PERIGOSAS NACIONAIS — Oi, o que te traz aqui, boneca? Ele se aproximou e posicionou as duas mãos sobre minha mesa, ainda de pé. — Olha, sei que não viajarei com você nem nada, sei que está atolado de trabalhos e tudo mais. Mas queria que saíssemos hoje. Lucas me ligou, aquele maldito filhinho de papai vagabundo, e por um momento eu consegui esquecer de tudo quando ele disse “festa na piscina no meu apê” para mim ao telefone — falou com um ar de persuasão tão forte que de imediato arregalei os olhos. — Nossa. Você devia ser nosso vendedor! Vou te mandar para Recife, as vendas lá estão horríveis, com você talvez melhore. — Dei uma risada. — Não me diga que não se sentiu tentado a uma festa na piscina cheia de mulheres? Vamos, será sua despedida antes da viagem chata de trabalho. Parei por um tempo e pensei na proposta. Afinal, o que eu tinha a perder? Por um pequeno instante considerei chamar Amanda, mas por outro me lembrei de que tínhamos uma relação PERIGOSAS ACHERON

PERIGOSAS NACIONAIS estritamente profissional e não podia passar disso. Ela é minha secretária executiva pessoal, apenas isso. — Ok, vou à festa. Me passa o endereço por mensagem — enfim respondi. — Tudo bem, te vejo lá. Já está quase no fim do expediente, vou finalizar minhas coisas. Apenas assenti e logo meu amigo se foi. Depois daquilo, fui surpreendido pela entrada abrupta e inesperada de Amanda em minha sala, logo no meu horário sagrado. Eu tinha um ritual louco que tomei por hábito há poucos anos, que era olhar o pôr do sol. Era como se aqueles raios quentes, quando se punham, transmitissem paz e revigorasse minha alma. Sempre que possível, não me negava uma visão daquelas. Mas então ela chegou e complementou minha rotina me fazendo companhia. Por fim, pediu para me chamar de Antônio. Nesse momento senti minha espinha congelar, estava nervoso. Apenas minha finada mãe PERIGOSAS ACHERON

PERIGOSAS NACIONAIS me chamava de Antônio, era pessoal demais para mim. Mas nos lábios dela soou tão… certo. Senti, depois da saída dela de minha sala, que não importava mais nada. Amanda já estava fincando-se sob minha pele.

No dia seguinte, sexta-feira, fui acordado às 7 da manhã pelo despertador, sentindo uma leve dor de cabeça, então me lembrei da noitada imprudente que passei na festa da piscina com Nick, Lucas e Pedro. Ao olhar para o meu lado, vi uma mulher nua dormindo e imediatamente a acordei. — Ei! Não avisei a você sobre dormir aqui? Vamos, acorde! — fui rude. Não gostava de tratar mulher alguma de modo grosseiro, mas existem algumas que não compreendem limites. — Oi? — A mulher acordou lentamente, esfregando os olhos. — A minha única regra é “não durma”. PERIGOSAS ACHERON

PERIGOSAS NACIONAIS Vamos, levante e vá pra sua casa! — continuei sendo desagradável, mas era assim que eu agia quando se tratava de mulheres para diversão. — Tudo bem! Estou indo. Achei que pudesse dormir depois de você pedir pra eu ficar te abraçando de madrugada. Mas já vou então. De imediato me espantei ao ouvir a mulher proferir tal absurdo. — Eu? Nunca peço para me abraçarem! Nem lembro seu nome! Ela se levantou e começou a se vestir, aparentando estar indignada. Era uma morena alta de pele parda e cabelos negros. Permaneci sentado na cama, não compreendendo ao certo o que ela dizia. — Amanda — ela disse antes que saísse do quarto. — Hein? —questionei confuso — O que tem a Amanda? Ela posicionou uma mão na cintura e falou enquanto gesticulava. — É meu nome. Achei que não esqueceria, PERIGOSAS ACHERON

PERIGOSAS NACIONAIS assim que me apresentei você logo me beijou e me trouxe pra cá. Fechei os olhos com força e amaldiçoei meus pensamentos loucos. A que ponto havia chegado por causa do meu desejo louco por ela? — Já pode ir! — rosnei para a mulher com quem passei a noite. Ela se foi e peguei meu celular para imediatamente verificar as horas. Precisava buscar Amanda em 20 minutos. Tomei um banho, peguei as malas e pus no carro. Em seguida apanhei o telefone e liguei para meu chofer. — Bom dia, sr. Gali — ele atendeu. — Bom dia, Gus. Vá para o aeroporto da cidade. Esteja lá às 9. Estarei viajando e quero que traga o carro para minha casa. — Entendido. Estarei lá. — Obrigado. Desliguei e disquei em seguida para Amanda. Ao quarto toque ela atendeu. — Bom dia, Antônio. Senti um choque atravessar minha espinha ao PERIGOSAS ACHERON

PERIGOSAS NACIONAIS ouvir meu nome sair de suas cordas vocais, acompanhado de um bolo na garganta, travando minha voz. — Antônio? — Ei, bom dia! Estou saindo de casa. Se puder me aguardar lá embaixo na porta do prédio, seria bom. — Ok, estou descendo. Até lá. Ela desligou e eu suspirei com o telefone no peito. Vamos, Tony, ela é inofensiva. Que mal pode ter uma mulher deslumbrante te chamar pelo nome que apenas sua falecida mãe usava para se dirigir a você? Nenhum! Claro que nenhum! Espantei esses pensamentos da mente e fui para o carro. Dei uma conferida no meu perfume e no hálito, verifiquei as passagens de avião e então fui buscar Amanda. Ela me aguardava na rua, em frente à entrada do seu prédio com uma mala média. Estava com um vestido de manga curta azul colado no busto até a cintura e depois solto até os joelhos. Cabelo s PERIGOSAS ACHERON

PERIGOSAS NACIONAIS presos em um rabo de cavalo e sapatilhas azuis combinando com o vestido. Reparei em cada maldito detalhe quando me aproximava. Ela estava radiante aos meus olhos. Parei o carro, saí e fui até ela. — Oi. Sorri. — Oi — ela respondeu, retribuindo o sorriso. — Me dê essa mala. Vou colocar lá atrás. Imediatamente me entregou, fiz como havia dito e voltei para abrir a porta do carona para ela. Amanda entrou e se acomodou dentro daquele automóvel que deveria reconhecer por alto. Sentei no banco do motorista e saí com o carro. Ficamos em silêncio por alguns minutos, estava um pouco constrangedor. Aquela cena dela ao meu lado parecia íntima e tão bem encaixada. Como se fosse extremamente normal tê-la casualmente no meu carro. — Me passa o endereço da casa onde vamos buscar Clara — pedi, para quebrar o silêncio. — Chegando lá eu te dou as coordenadas PERIGOSAS ACHERON

PERIGOSAS NACIONAIS — Amanda respondeu, dizendo o nome do bairro. — Ok. Sabia onde era o bairro que me indicou e segui focado até o local, mas em meus pensamentos só havia confusão e um caos complicado de arrumar. Queria conversar com ela, ser flexível e amigo como era com Bruna, para que não pensasse que estou com segundas intenções. Porque, mesmo estando interessado nela, jamais a desrespeitaria ou tentaria conquistá-la sabendo da minha limitação. Nunca a faria sofrer por ter de lidar com alguém tão quebrado quanto eu. Ela merecia alguém melhor. — Você se lembra desse carro? — perguntei enquanto dirigia. Ainda faltava um caminho longo. — Hum... Achei familiar, mas não me lembro não. Eu já estive aqui? — Amanda pareceu titubear entre as palavras. — Naquele dia, eu... Você... Nós? Ah, meu Deus. Ela entendeu tudo errado. Tratei de esclarecer. PERIGOSAS ACHERON

PERIGOSAS NACIONAIS — Não. Não tivemos nada. Acho que você merece saber tudo que aconteceu naquele dia. Quer que eu conte ou se lembra de algo? — Às vezes lembro de uns flashes de cenas. Mas nada muito claro. Me lembro mais do momento em meu apartamento. Que eu me apresentei de novo a você e você se apresentou pela milésima vez achando que eu não lembrava seu nome. — Sorriu. Tentei não me abalar com a forma suave dela ao falar e os sorrisos sempre tão abertos, que transmitiam serenidade. Meu senhor, eu tava reparando em sorrisos serenos? SORRISOS SERENOS? — Então vou contar o que houve — desviei o caminho de meus pensamentos e engatei a conversa. — Logo após você chegar e ir dançar e beber, eu fiquei com seu irmão próximo ao bar. Estava aquecendo... Enfim. Foi quando eu vi você um pouco tonta no meio da pista e alertei seu irmão, que estava com uma menina do meu lado. Ele quase implorou para que eu vigiasse você, pois estava saindo com a tal menina da boate. PERIGOSAS ACHERON

PERIGOSAS NACIONAIS — Nossa, meu irmão é um idiota e eu nem sabia! — Amanda exclamou. — Enfim, ele tem suas razões, não devia nem me levar lá, eu que insisti. Mas me conte, o que aconteceu depois? — Então... Eu fiquei lá de olho em você, pensando que assim que você se entediasse eu te levaria até algum táxi para voltar pra casa. Mas você não se entediava nunca. Até que um homem se aproximou e fez você bater nele. Eu achei que devia te ajudar, você estava quase caindo de tão bêbada. Quando me aproximei, ouvi algo parecido com "o que você está fazendo aqui? Volta pra sua casa!". Ele puxou seu braço e eu tirei você da frente dele e o soquei no rosto. Amanda ficou boquiaberta. Notei ao arriscar algumas olhadas em sua direção, que ela parecia muito surpresa. Apenas sorri e dei de ombros. — Meu Deus, que vergonha! Você bateu nele por minha causa?! — questionou, com as bochechas rubras. — Ele estava te apertando, gritando com você, e você chorava. Desculpa, mas ele mereceu. — Mostrei firmeza. PERIGOSAS ACHERON

PERIGOSAS NACIONAIS O que fiz, faria por qualquer pessoa. Nenhum homem tem o direito de tratar uma mulher daquela forma. — Tudo bem. Respirei aliviado, mas ela logo emendou: — Era meu ex-marido. Foi nele que você bateu. — Você se lembra? — Não, como te disse, apenas algumas cenas. Não sou muito de beber, então devo mesmo ter exagerado pra não lembrar tudo. Mas lembro que no dia seguinte o vi, e ele estava com o rosto machucado. Se alguém tinha intimidade para me mandar pra casa no dia da boate e não era meu irmão, só podia ser ele. — A voz de Amanda estava baixa e tensa. — Eu não sabia, desculpe por bater nele então — me desculpei, afinal, não sabia a relação que eles compartilhavam, apesar de separados. E Amanda parecia pensativa demais. — Não, não se desculpe, ele merece. É um idiota, canalha, imbecil — murmurou entredentes. PERIGOSAS ACHERON

PERIGOSAS NACIONAIS Ficamos em silêncio até Amanda me dar as coordenadas finais para chegar na casa de sua filha. Tentei criar um vínculo maior com ela, mas acabei tocando em um assunto um tanto delicado e preferi não abusar da sorte. Assim que estacionei de frente ao muro baixo da casa, Amanda liberou uma boa dose de ar dos pulmões e se virou na minha direção. — Antônio? — Sim. — Encarei-a. — Obrigada. — Pelo...? — Não entendia exatamente. — Por tudo. Por cuidar de mim no dia da boate, por me levar pra casa, por me salvar no dia seguinte de um possível acidente, por me dar esse emprego. Você está se saindo um anjo da guarda. — Ela sorriu graciosamente. Retribuí o sorriso e apenas assenti. Anjo da guarda estava de bom tamanho.

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AMANDA Estava agradecida ao sair do carro, mas meu olhar de agradecido logo se tornou raivoso. Antes mesmo que eu tocasse a campainha, uma mulher abriu a porta. Era uma loira bonita e elegante, de olhos azuis profundos. — Oi. Você deve ser a Amanda, não é? — a mulher perguntou calmamente. — Sim, posso entrar? — Claro, Henri e Clara estão lanchando na cozinha — ela disse enquanto eu entrava. Me acompanhou até a cozinha. Chegando lá, Henri estava dando cereal na colher para Clara, sorrindo. Quando seus olhos se viraram para mim, o sorriso dele se fechou. A mulher loira se aproximou e deu um selinho na boca dele. Eu tinha razão, ele estava com outra. O que eu estava pensando? Que ele iria implorar meu perdão e meu amor para sempre? Como eu sou idiota. Precisava ir embora logo daquele lugar. PERIGOSAS ACHERON

PERIGOSAS NACIONAIS — Bom dia, Henri — Disfarcei e o saudei. — Bom dia, Amanda. Clarinha, meu amor, vá escovar seus dentes, vou buscar sua mala. — Sim, papai. Tia Lalá vem comigo? — Clara se referia à loira, creio eu. — Sim, princesa, vamos. — Ela sorriu e deu a mão para Clara. As duas foram em direção ao banheiro, deixando-me com Henri a sós na cozinha. — O que é isso? — perguntei, assim que elas saíram de vista. — Isso? Não estou entendendo — Henri desconversou enquanto caminhava em direção ao quarto de Clara para pegar sua mala. — Ela. É sua nova namorada? Não contive a raiva na voz, que estava trêmula. O nervosismo invadindo meus poros. — Não deu pra notar? Achei que eu era o lento para percepções — ele retrucou, dando o mesmo fora que usei contra ele, anteriormente. Eu tinha dito que ele era lento para percepções quando deu um ataquezinho de ciúme por causa de Antônio. Brigamos naquele dia ao PERIGOSAS ACHERON

PERIGOSAS NACIONAIS telefone e não hesitei em afrontá-lo e mostrá-lo que minha vida estava seguindo em frente. Ao ouvi-lo, meu sangue subiu, mas precisava manter a calma. Antônio estava lá fora e não podia presenciar um descontrole meu naquele momento, necessitava sair logo daquele lugar. — Voltamos no domingo à tarde, espero que esteja bom pra você. Aproveite seu dia. — disse secamente e andei em direção à sala para aguardar Clara. Clara chegou, deu-me um beijão no rosto, acompanhado de um grande abraço, me fazendo sorrir. — Mamãe, não te beijei antes pois minha boquinha estava suja — disse apontando para a sua boca. — Tudo bem, meu amor, vamos? Dá tchau pro seu pai e pra amiga dele. — Tchau, papai. Tchau, tia Lalá. Os dois acenaram para ela e foram conosco até a varanda, nos vendo caminhar até o carro. Assim que me aproximei do automóvel, Tony saiu, PERIGOSAS ACHERON

PERIGOSAS NACIONAIS solícito e se ofereceu para guardar as malas. Virei disfarçadamente na direção do meu ex e o notei com os olhos arregalados, espantado. Touchè! — Tio Tony! — Clara correu até ele e o abraçou. Sinceramente, não conseguia compreender como minha filha se afeiçoou ao amigo de meu irmão de primeira. Só que estava ainda me deleitando com a surpresa estampada nos olhos de Henri. Queria que ele provasse um pouco do próprio veneno. Que se dane, tenho o direito de ser vingativa ao menos uma vez! — Clarinha! Como vai essa menina grande?! — perguntou ele ao segurá-la no colo. Eu só assistia a cena. — Bem! Você vai viajar com a gente? — Sim, vamos viajar nós três juntos! Clara então sorriu e o abraçou mais uma vez. Antônio a desceu de seu colo, e logo a coloquei no banco de trás, bem segura em uma PERIGOSAS ACHERON

PERIGOSAS NACIONAIS cadeirinha, antes de pegar sua bagagem. Fechei a porta e fui até meu chefe. Sabia que Henri ainda estava ali, com ou sem a loira. Deus que me perdoasse pela ideia maluca que passou em minha mente, mas não tinha tempo para pensar em consequências. — Antônio, sei que não tenho esse direito, mas você pode me dar um selinho na boca? Me arrependi no momento em que proferi as palavras, estando próxima ao seu ouvido. Estava sendo muito inconsequente. — Oi? — Ele nitidamente se espantou com o pedido, mas levantou o olhar para atrás de mim, provavelmente enxergando Henri. Não sei se ele entendeu o motivo implícito, mas logo me puxou e depositou nos meus lábios um beijo lento, mais do que um selinho, porém sem língua. Ao afastar-se de mim, ele voltou a olhar na direção de Henri, mas eu não virei para verificar meu ex em fúria. — Obrigada, e me desculpe — sussurrei próxima ao ouvido de Antônio e então me afastei dele. Ele pegou a bagagem de Clara e colocou no porta-malas do carro. PERIGOSAS ACHERON

PERIGOSAS NACIONAIS Me senti uma vadia da pior espécie, mesmo sabendo que não fiz nada demais. Só que aquela atitude insana poderia me causar consequências, como ser demitida. Arghhh! Me mantive em silêncio ao entrar no carro, e evitei olhá-lo nos olhos. Estava com vergonha. Às vezes, no começo do caminho, eu o encarava sutilmente, e vi que seus olhos mantinham-se sérios e focados. Assim como seu corpo, ao dirigir, permaneceu firme, inabalável. Frio. Durante o caminho até o aeroporto, Clarinha puxou assunto com Antônio em um dado momento, me fazendo gargalhar de tanto rir. — Tio, eu nunca fui num avião, ele morde? Eu tenho medo, tio, de longe pelas fotos parece um passarinho, ele vai comer a gente? — perguntou ela em toda sua inocência. Foi ali que vi o primeiro sorriso despontar no rosto daquele homem. — Não, princesa, ele não é um bicho, é como um carro, só que bem maior. Pode ficar tranquila PERIGOSAS ACHERON

PERIGOSAS NACIONAIS que não vai sair machucada — respondeu sorridente o tempo todo. — Ah sim — replicou, compreendendo. — Tio, meu pai falou que eu tenho que me comportar como uma mocinha porque mamãe vai trabalhar, você vai trabalhar também ou vai poder brincar comigo? — Clarinha, não pergunte essas coisas, filha! — me intrometi, advertendo Clara. — Tudo bem, Amanda. Eu posso responder. — Tony fitou os olhos rapidamente nos meus e sorriu. Me senti até mais aliviada da culpa. — Vamos a trabalho sim, Clarinha, mas lá você poderá brincar também, terá uma cuidadora com você quando sua mamãe estiver trabalhando e quando estivermos livres vamos fazer muitas coisas divertidas. Um sorriso radiante surgiu em minha pequena. O quê? Ele vai dar atenção à minha filha? Fiquei surpresa pela resposta dele. PERIGOSAS ACHERON

PERIGOSAS NACIONAIS — Oba! Mamãe, eu tenho uma pergunta sobre o papai, posso falar? Ai meu Deus, o que mais pode acontecer hoje que me surpreenda? — Foi o que pensei naquele exato momento. E olha, eu estava certa. — Pode, filha, fala. Eu a olhava pelo espelhinho do carona o tempo todo. — A Tia Lalá sempre cuidou de mim depois que você foi embora, mas ela não beijava meu papai. Só que ontem eles se beijaram e hoje também. Ela é namorada do papai? — seus olhinhos inocentes estavam cheios de conflito e dúvida. Que pergunta! Deus, me ajuda! — Não sei, filha, parece que sim. — Soltei um suspiro um pouco infeliz. Odiava admitir a mim mesma que ainda sentia algo por aquele canalha. — Mas não era pra você beijar o papai? Por que você nunca mais beijou o papai? Senhor, mas que perguntas! Suspirei ao notar PERIGOSAS ACHERON

PERIGOSAS NACIONAIS que não tinha para onde fugir. — Ah, filha... São coisas de adulto. Papai e mamãe não são mais namorados, apenas isso — queria cortar logo o assunto, mas parece que fugir das perguntas de Clara não era uma boa saída, afinal algum dia eu teria que falar sobre isso, só não esperava que fosse logo. A cada dia que passava, tinha mais certeza de que minha filha era extremamente inteligente. — Então... Você não beija mais o papai, papai pode beijar tia Lalá... E você pode beijar o tio Tony? Fiquei estática, olhando para a estrada à minha frente, sem saber o que responder. Eu não queria que minha filha interpretasse aquele pequeno beijo como algo maior, pois não desejava algo maior com Tony, não sentia nenhuma atração por ele, apenas admiração, como um bom amigo e chefe que ele era. Imediatamente me arrependi mais uma vez da estupidez cometida há pouco. Não virei o rosto para ver a reação de Antônio, apenas respondi minha filha. — Filha, depois conversamos — enfim PERIGOSAS ACHERON

PERIGOSAS NACIONAIS encerrei o assunto. Logo chegamos ao aeroporto, fizemos checkin e então decolamos. A viagem toda foi silenciosa. Eu e Clara cochilamos. Tony permaneceu em um assento um pouco distante, concentrado em seu laptop, desde que entramos. Despertei no meio da viagem e sem saber muito o que fazer, peguei meu celular. Vi que tinha duas mensagens que chegaram antes de entrarmos no avião e abri para lê-las. 9:25: Então esse é seu namoradinho? O cara que me bateu na boate. Péssima escolha! Achei que você fosse mais inteligente. E manda minha filha parar de chamá-lo de tio Tony. 9:40: Amanda, por favor, me perdoa, eu não suportei vê-la com outro, eu estou tentando seguir em frente, mas o arrependimento me corrói. Eu te amo, sempre vou te amar.

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PERIGOSAS NACIONAIS Eram de Henri. Eu precisava ser forte, minha filha necessitava de meu apoio. Não podia mais ficar nesse impasse. Decidi ali que, assim que voltássemos, teria uma longa conversa com Henri. O avião pousou e Clara acordou, seus olhinhos ficaram radiantes quando ela olhou pela janela. A menina parecia muito contente em finalmente passear comigo em algum local que não conhecia. Queria apenas dar a ela tudo que sempre sonhou, sem restrições. — Vamos? — Meu chefe nos chamou direcionando-nos pelo caminho do aeroporto até a limousine que nos aguardava do lado de fora. Entramos no carro e nos acomodamos enquanto o chofer guardava nossas bagagens. — Sr. Gali — disse o motorista quando todos já estavam dentro do carro. Antônio sentou de um lado do banco enquanto eu e Clara ficamos no banco de frente a PERIGOSAS ACHERON

PERIGOSAS NACIONAIS ele. — Bom dia, quase boa tarde, Nicolas — ele respondeu. — Confirmando o hotel — então disse o nome. — Sim, confirmado, nos leve para lá, por gentileza. O motorista saiu com o carro e imediatamente me senti surpresa por saber que ficaríamos no melhor hotel da cidade. Eu não poderia permitir isso, já era demais. — Antônio, não seria melhor se eu e Clara ficássemos em um hotel menos... Como posso dizer, mais condizente com nossa situação financeira? —perguntei durante o caminho, com um pouco de timidez. Estava era morrendo de vergonha mesmo! — Absolutamente não. Precisamos estar próximos para que possamos ganhar tempo em todas as reuniões — disse em tom estritamente profissional. — Ah, sim, tudo bem. PERIGOSAS ACHERON

PERIGOSAS NACIONAIS Não era para me sentir daquela forma, mas foi como se farpas congeladas me perfurassem com seu tom de voz. Ele estava frio comigo. E o que eu poderia querer? Que fôssemos amiguinhos? Ao chegarem no hotel, ele seguiu na frente para dar entrada na recepção, enquanto Clara e eu ficamos no meio do hall de entrada absorvendo todo aquele local enorme, lindo e muito elegante. — Vamos? — disse Tony ao voltar para próximo de nós. Assenti e peguei Clara pela mão. Nós três subimos os elevadores para o terceiro andar. Ao sairmos de lá, ele retirou os cartões de acesso do bolso e me entregou o meu. — Seu quarto é o 305, o meu é o 306. Qualquer necessidade, emergência ou dúvida, não hesite em me chamar. A primeira reunião será daqui a duas horas na empresa. Eu te pego em uma hora no seu quarto, ok? — Ok. E a cuidadora? Ela estará aqui? — Sim, assim que eu chegar no quarto vou verificar isso, pode ficar tranquila. PERIGOSAS ACHERON

PERIGOSAS NACIONAIS — Obrigada mais uma vez. Te vejo daqui a uma hora. Ele assentiu sorrindo, mas não tão animado, e seguimos cada um para o seu quarto. Clara permanecia em silêncio até ver que o quarto na verdade parecia um apartamento, tinha sala, banheiro, uma área para se fazer as refeições, closet e um quarto com uma cama king size enorme. — Mamãe, isso é igual aos dos filmes de princesa — Clara exclamou boquiaberta. — Sim, filha, idêntico — também estava boquiaberta. Com Clara tudo era tão surreal, que me permiti aproveitar um pouco do local e brincar com ela. Assim que nos encaramos e olhamos para a cama, tive a ideia. — Pular na cama? — Clara perguntou sorrindo, lendo meus pensamentos. — Pular na cama! — exclamei, animada. Então subimos na king size e começamos a pular e nos divertir como mãe e filha que somos. Nos abraçávamos, pulávamos e gargalhávamos até PERIGOSAS ACHERON

PERIGOSAS NACIONAIS a barriga doer. Quando, um tempo depois, uma batida na porta surpreendeu-me. Corri para abrir e lá estava uma menina de aparentes 18 anos, uniforme branco, cabelos cor de mel e sorriso inocente. — Dona Amanda, sou a babá. Meu nome é Mel. — Oi! Entre, Mel, fica à vontade. Mel entrou e Clara veio ao seu encontro. — Oi, meu nome é Clara. Qual o seu? — perguntou com os olhinhos brilhando por ter uma nova companhia. — Mel, vim aqui para brincar com você, do que quer brincar? — a jovem babá interagia com Clara de uma forma surpreendente. — Boneca. Estou cansada de pular na cama, vou pegar minha boneca — tentou soar mais madura ao desprezar os pulos dados há pouco. — Ok — Mel sorriu. Apenas as observava de longe e sorria, sentia, apesar da minha estupidez, que tudo daria certo naquele fim de semana e minha filha se divertiria PERIGOSAS ACHERON

PERIGOSAS NACIONAIS como nunca. Por outro lado, também me sentia como um incômodo a mais para Antônio. Ele fora extremamente gentil ao permitir que levasse Clara comigo, mais ainda por conseguir a babá. Minha dívida com ele estava apenas aumentando e não queria falhar em nada na minha função. — Ei, Mel — caminhei até a babá. — Oi, dona Amanda. Ela se levantou. Estava brincando sentada com clara no quarto. — Me chame apenas de Amanda, por favor. Quero que fique à vontade para brincar e cuidar de Clara e quando eu voltar me passe tudo o que fizeram, tudo bem? — Sim, dona... É... Amanda — Mel sorriu timidamente. — Ok então, vou me arrumar, pois tenho uma reunião daqui a pouco. As deixei e fui ao banheiro, onde admirei toda a sua extensão. Parecia um quarto e dentro dele tinha uma banheira enorme de hidromassagem, um box e uma parede espelhada que refletia todo o PERIGOSAS ACHERON

PERIGOSAS NACIONAIS ambiente. Me senti no céu. Após admirar tudo aquilo, entrei no box para tomar meu banho rápido, mas jurei que na volta ficaria pelo menos meia hora dentro da banheira. Depois de um dia louco daqueles, precisava relaxar. Já que estava lá, tinha que aproveitar algo, afinal. Mas uma coisa não saía da minha cabeça: O que meu chefe deve estar pensando sobre mim?

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Capítulo 7

TONY Estava na banheira do quarto onde eu me hospedei e minha mente insistia em pensar no beijo que troquei com Amanda. Foi algo tão mínimo. Não deveria me fazer reviver a cena trocentas vezes em pensamento. Meu consciente me alertava, lembrando-me que ela não era ninguém. Apenas mais uma, era o que tentava me convencer. Só mais uma dentre tantas e tantas que eu já tive. Durante o caminho até o aeroporto, refleti sobre aquele pequeno episódio. Obviamente não PERIGOSAS ACHERON

PERIGOSAS NACIONAIS me incomodei nem achei ousado ou atirado da parte dela, querer causar um pouco de ciúme no ex. Não entendo pois nunca tive ciúmes, mas sei o que isso pode fazer com as pessoas. Ela queria apenas mostrar que estava bem e não precisava dele, e aquilo, naturalmente, não deveria me incomodar. O Tony de semana passada não se incomodaria com um maldito roçar de lábios quentes. Mas, enquanto dirigia, me senti mal. Não gostei de ter aquela pequena prova, apenas por nada. Pelo contrário, eu quis tanto continuar. Meu Deus. Queria beijá-la ainda mais. Não apenas beijar, se é que me entendem. Eu já estava duro de imaginar tudo que desejava fazer com ela. Foi quando ali, na banheira enquanto relaxava, que fechei os olhos e me deixei imaginar. Tentava comandar meus próprios pensamentos, mas sentia meu coração apertar de uma forma que nunca senti ao pensar nela. Nos olhos dela, no PERIGOSAS ACHERON

PERIGOSAS NACIONAIS sorriso que ela dava, quando soltou uma gargalhada no carro e seus olhos fecharam, no perfume doce e envolvente que exalava quando estava próxima a mim, no modo dela andar de salto... E em como ela ficaria perfeita sem toda aquela roupa. — Já foi longe demais, Tony! Ela é sua secretária, caramba! Foca no que seu pai te dizia, foca nisso! Finalizei o banho e saí dali o mais rápido que pude. Dizer que sou um cara diferente seria mentira, era óbvio que imaginava todo o tipo de imagem de Amanda, obscena ou não. É um ato bem comum aos homens, alguns só disfarçam. Mas além dessas imagens em minha mente, eu ansiava por mais dela. Queria sua companhia, queria conversar, abraçar, admirar a sua beleza. Mas então uma frase, quase um mantra, invadiu meus pensamentos: Nunca se apaixone, o amor não vale a pena. Era nisso que me apegava e me ajudava a espantar os pensamentos sobre Amanda. PERIGOSAS ACHERON

PERIGOSAS NACIONAIS Enfim comecei a me arrumar. Pus um terno azul-marinho, me perfumei, penteei e prendi os cabelos. Estava nervoso pois veria meu pai. Eram poucas as vezes em que o via no ano, mas ele sempre falava do meu cabelo e em como me achava imaturo por deixá-los longos. Que se dane. Ao menos no meu cabelo consigo mandar. Saí do quarto e chamei Amanda, ficando ali apoiado na soleira da porta. Quando ela abriu, não consegui evitar que meus olhos corressem por todo o corpo dela, que também estava adornado por um terninho azul-marinho, como em combinação ao meu. Irônico. Mas rapidamente me ajeitei e voltei a ser o gelo profissional que era. — Vamos, Amanda? — indaguei a encarando fixamente. Notei seus olhos me verificarem rapidamente e gostei daquilo. — Sim, Antônio. Podemos ir. —Ela deu tchau para sua filha que estava com a babá e saiu comigo em direção à empresa. PERIGOSAS ACHERON

PERIGOSAS NACIONAIS Gali Telecomunicações da cidade de Recife ficava a 10 minutos do hotel onde estávamos hospedados, porém fiz questão de ir de carro. Havia alugado um assim que chegamos e o Range Rover me esperava no estacionamento do hotel. Ao entrarmos no carro, Amanda cortou o silêncio. — Então, você ainda não me falou exatamente o motivo de estarmos aqui. Qual o problema da empresa? Dei partida enquanto respondia. — É complicado explicar, as vendas caíram consideravelmente em pouquíssimo tempo. Precisamos investigar para sabermos se houve desvio de verba ou alguma insatisfação com os produtos que fizeram as vendas caírem. — Ah, entendi. Vou então anotar tudo da reunião de hoje para que mais tarde, se você quiser, possamos juntos analisar os fatos, os números e bolar um plano. — Ela pareceu empolgada e aquilo fez com que o foco dos meus pensamentos fossem apenas os problemas da empresa. PERIGOSAS ACHERON

PERIGOSAS NACIONAIS — Vamos ver primeiro o que nos aguarda nessa reunião, e depois conversamos sobre isso — falei profissionalmente sem desviar os olhos da direção. — Ok.

AMANDA Ao chegarmos na empresa, fomos bem recepcionados por uma mulher magra, de cabelos pretos e pele pálida que estava no salão principal do prédio. Ela veio em nossa direção assim que entramos pelas portas principais. Eu poderia estar julgando mal, mas os olhos dela pareciam querer devorar Antônio por completo. Fiquei sem graça, mas agi da forma mais profissional possível. — Olá, Sr. Gali, que prazer revê-lo! — ela falou diretamente a ele sem me olhar ao seu lado. — O prazer é meu, Felícia, essa é Amanda, minha nova secretária pessoal — Tony disse apontando para mim. PERIGOSAS ACHERON

PERIGOSAS NACIONAIS — Oi — ela falou comigo enquanto me olhava de cima a baixo e logo voltou o foco para Tony. — O que aconteceu com Bruna? — Ela engravidou e entrou de licença para ter o bebê. Felícia, nos acompanhe até a sala de reuniões, por gentileza. Informe ao diretor local nossa chegada. — Ok, antes preciso te informar que seu pai também está presente. Eu apenas acompanhava os dois de uma certa distância, pois percebi que os olhares de Felícia para mim não eram amigáveis. Pela fama que Antônio tem e pelo que meu irmão já falou dele, ele deve ter transado com ela alguma vez na vida, mas acredito que não faça mais isso, é antiprofissional. Ela disse que o pai dele estaria presente. Eu sabia que ele é o Diretor nacional da empresa, mais conhecido como CEO, mas não esperava conhecêlo logo na minha primeira semana de trabalho. Isso deve significar que o assunto é realmente importante, não posso falhar em executar meu trabalho nessa viagem. Caminhamos em direção à sala de reuniões PERIGOSAS ACHERON

PERIGOSAS NACIONAIS que fica no terceiro andar. Ao chegarmos, Felícia anunciou nossa chegada e então entramos na sala. Era uma sala enorme, cinza, com uma mesa oval no meio e ao redor dela havia aproximadamente quinze pessoas sentadas, do conselho da empresa e diretoria. Logo Tony puxou uma cadeira para que eu me sentasse e se sentou ao meu lado. — Bom, já que estão todos presentes, vamos começar logo — disse o homem de idade que ficava na ponta da mesa regendo a reunião. — Sou Douglas Gali, o diretor nacional da empresa, para quem ainda não me conhece pessoalmente. A reunião de hoje é de extrema importância. Eu não poderia vir, porém o meu compromisso foi adiado e imediatamente me dispus a estar aqui e participar desse conselho. Peço que abram suas pastas localizadas diante de cada um de vocês. Vamos começar a analisar os gráficos. Tony ficou silencioso durante a primeira hora da reunião, apenas observando as páginas e ouvindo seu pai e alguns participantes do conselho falarem. — Nesse gráfico da página 6, podemos ver a PERIGOSAS ACHERON

PERIGOSAS NACIONAIS queda brusca em apenas dois dias de todas as vendas de planos telefônicos, aparelhos celulares e instalação telefônica em residências. Uma queda que nossa empresa nunca registrou e que, se formos analisar os gráficos regionais na página 7, veremos que nesse mesmo período não houve quedas em outras regiões do país. Como então apenas aqui em Recife a tivemos? Tony segurou minha mão e olhou em meus olhos. Eu o fitei e seus lábios se moveram. Ele estava querendo me dar algum aviso. Atenção agora, foi o que sibilou. E logo sua mão soltou a minha e seus olhos voltaram ao seu pai. Entendi o recado e fiz anotações, enquanto o diretor geral da empresa analisava os gráficos. — Sr. Gali, nossos vendedores alegaram que houve uma rejeição dos clientes do telemarketing e os vendedores das lojas afirmaram que o movimento caiu não só em nossa loja, mas nas demais ao redor também. Pode estar relacionado ao momento econômico de nossa cidade. Devemos avaliar como o governo tem se portado ou se há PERIGOSAS ACHERON

PERIGOSAS NACIONAIS alguma crise interna acontecendo — um senhor um pouco mais velho que Antônio, sério e forte, disse ao diretor geral. — Frank, é seu nome, não é? — Douglas Gali perguntou. — Sim, sou supervisor geral de vendas da empresa, senhor. — Tem alguma solução? Sugestão para solucionarmos esse problema, além de me informar possibilidades pelas quais ele possa ter sido causado? — Douglas perguntou sério. — Não, senhor, apenas tenho palpites de como isso pode ter acontecido. — Então faça seu trabalho, supervisione as vendas e crie estratégias para que elas subam. A causa da queda será analisada pelo comitê investigativo. Mas obrigado pela opinião — rude e seco, finalizou a intromissão do funcionário, que queria apenas ajudar. Eu vi quando os olhos de Douglas se viraram para Antônio e depois para mim, voltando então para a pasta em sua mesa. Mas o que Antônio com PERIGOSAS ACHERON

PERIGOSAS NACIONAIS certeza não viu é que no momento em que seu pai o olhou, ele estava com a mão na minha, sussurrando em meu ouvido: “você tem alguma ideia do que pode ter acontecido?”. Eu fiquei pálida quando o vi me observar, e só após os olhos dele voltarem aos papéis em sua mesa, respondi discretamente: — Prefiro falar depois. Aquele homem me dava medo. A reunião foi longa, durou duas horas, porém saímos de lá sem conhecer o motivo da queda das vendas, nem com uma solução genial que a aumentasse. Na saída eu caminhei até a porta e Antônio veio após mim, porém percebi seu pai puxá-lo para trás. — Fique, quero falar com você — foi o que ele disse. Ele se virou para mim e assentiu, dando-me a entender que eu deveria esperá-lo do lado de fora da sala. Foi o que fiz, acenei em despedida para o Diretor Geral e saí de lá.

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TONY A reunião estava estática, não andava para frente nem para trás. Eu me peguei admirando Amanda pelo menos umas cinco vezes. O olhar de concentrada que ela faz enquanto analisa os gráficos, o bico que surge em seus lábios quando anota alguma coisa e a ruguinha formada na testa quando alguém fala e ela presta atenção. Tentei disfarçar muitas vezes, mas não consegui, meus olhos me desobedeciam, era involuntário. Por fim eu pus a minha mão na dela, com o intuito de chamar sua atenção, mas senti uma corrente elétrica passar por mim e gelar todo o meu corpo, era uma sensação inédita. Eu estava batendo o recorde de sensações inéditas naquela semana. Precisava me concentrar no trabalho. Ao finalizar aquela reunião de duas horas, caminhávamos em direção à saída quando meu pai me puxou pelo braço. Tudo bem, ele morava em outro estado e quase não nos víamos, era para eu ser mais receptivo e agradável com ele, mas não conseguia. PERIGOSAS ACHERON

PERIGOSAS NACIONAIS Não conseguia conviver com ele sem reviver os anos em que o vi como um zumbi dentro de casa. Os anos em que eu tive que carregar nos ombros toda a responsabilidade da família porque ele se jogou num poço sem fundo. O amava, mas não podia conviver com ele. — Quero falar com você — disse-me, fazendo com que eu ficasse enquanto via Amanda sair pela porta. Todos saíram, ficando apenas nós, eu e meu pai. — Quem é ela? — ele me perguntou, sem rodeios. — Oi, filho, que saudade, como tem passado? Acho que isso precede uma boa conversa, pai — respondi. — Sem enrolação, quem é ela, cadê a Bruna? — indagou rude. — Entrou de licença-maternidade. Ela é Amanda, a nova secretária, tão competente quanto Bruna — falei com autoridade e porte que tinha. — Sente-se — ordenou. PERIGOSAS ACHERON

PERIGOSAS NACIONAIS Sentei e então nos olhamos nos olhos, um de frente ao outro na mesa. — O que sente por ela, filho? Como assim? Meu pai querendo saber sobre meus sentimentos? Já passou da hora disso, eu já estava trancado em paredes de chumbo contra o amor e joguei a chave fora onde nem conseguia ver. O que ele queria com isso? O mais irônico de tudo, era que nunca tínhamos uma conversa normal. Era sempre perguntando se eu estava “praticando” suas regras. — O que sente, Tony, o que sente por ela? — perguntou elevando o tom de voz. — Admiração. Ela é muito competente, apenas isso. Por que me pergunta uma coisa dessas, pai? — Franzi o cenho. — Filho, vi a forma como a olhava. Vi que você a observou por cinco exatas vezes durante a reunião. Por duas vezes você colocou sua mão na dela, falando algo. Filho, eu sou seu pai, você sabe como sofri, você sabe o que o amor faz com as pessoas. Não preciso repetir o que disse há anos, PERIGOSAS ACHERON

PERIGOSAS NACIONAIS não é? Nem parecia que estávamos no meio de um desfalque financeiro na empresa. Tanto assunto para falar e ele só fala nesse maldito sofrimento. Na mesma hora meu coração parecia ter sido esmagado, eu não sabia o porquê, mas senti uma dor miserável nele. Se pudesse arrancá-lo fora para não sentir, eu o faria. — Não precisa, pai, eu não a amo, não estou apaixonado. E ela não se apaixona também, já sofreu muito por amor. Amanda nunca me amaria, então pra que sofrer, não é? Apenas a admiro, você deveria conhecê-la — falei. Tentei passar firmeza nas minhas palavras, mas nem eu mesmo acreditava nelas. Não queria amar, nem me apaixonar, mas tinha ciência de que Amanda estava mexendo comigo de uma forma diferente. — Sendo assim... Quero conhecê-la. Ela pareceu atenta na reunião, gostaria de ouvir o que tem a dizer. Marque com ela um almoço amanhã no meu bangalô da praia. PERIGOSAS ACHERON

PERIGOSAS NACIONAIS — Você está no bangalô? — perguntei. — Sim, você está aonde? — No hotel. Então nos vemos amanhã, no almoço. — Combinado. Saí da sala um pouco tenso pela conversa que quase nunca tenho com meu pai. Eu estava apaixonado? Eu estava amando? Acho que isso é exagero, apenas gosto dela e reconheço suas qualidades, nada demais. Fora que em nenhum momento ela me deu esperança de que podia retribuir qualquer coisa que eu pedisse, então não tinha o que temer, não é? Essas coisas de paixão não acontecem assim do nada. Só nos filmes. E eu definitivamente, não queria sentir nada disso. Amanda me esperava do lado de fora da sala. Estava conversando com a secretária-executiva dali, deveriam estar trocando experiências ou algo do tipo quando as interrompi. — Amanda, podemos ir? PERIGOSAS ACHERON

PERIGOSAS NACIONAIS — Sim, podemos. Descemos o elevador e caminhamos até o carro. Quando saí do estacionamento com o automóvel, lembrei que não tinha almoçado e que estava quase na hora do pôr do sol. Não podia voltar pro hotel e me trancar naquelas paredes sem me sentir revigorado com a visão do sol se pondo, mas Amanda estava comigo e queria ver sua filha. — Se importaria se eu comprasse um lanche e fôssemos à praia agora? É bem rápido. Ela hesitou em responder, abriu a boca e logo fechou, mas então finalmente respondeu. — Tudo bem, só não podemos demorar muito. Um sorriso nasceu em meu rosto Eu queria muito ver o pôr do sol na praia de Recife. Era extraordinário. Meus olhos perceberam pelo canto que Amanda também sorria. De repente ela abriu a boca. — Também quero ver o sol se pôr nesse paraíso — lendo meus pensamentos, me olhou PERIGOSAS ACHERON

PERIGOSAS NACIONAIS sorridente. Eu juro que naquele momento quase perdi a direção do volante. O sorriso dela tem superpoderes, tinha certeza disso. Senti meu corpo derreter por dentro e queimar. O que ela fez ao dizer essa frase? Um dia eu ainda perguntaria a ela. Anotem: Eu estava virando um babaca adolescente. Então paramos numa lanchonete próxima à praia, que também não era tão longe do hotel, e compramos sanduíches e sucos para nós. Claro que eu paguei, jamais deixaria Amanda gastar um centavo, pelo bem do meu cavalheirismo, apesar de ser um maldito pervertido. Ao sairmos da lanchonete, fomos andando até a praia em silêncio. A praia estava vazia, por incrível que possa parecer. Havia apenas alguns jovens tomando banho. Encontramos umas pedras grandes onde poderíamos sentar, elas ficavam na posição mais privilegiada para quem quisesse assistir o pôr do sol. Alguns minutos de silêncio enquanto comíamos, me permitiu respirar tranquilamente PERIGOSAS ACHERON

PERIGOSAS NACIONAIS aquele ar fresco. — Sabe, eu nunca vim à praia — ela comentou ao meu lado, olhando o mar. Quando acabei de mastigar meu sanduíche, abri minha boca para argumentar. Nunca foi à praia? Isso não pode ser possível. — Verdade? Nunca saiu de BH? Ela balançou a cabeça negativamente. — Tudo tem uma primeira vez. Bem-vinda à praia do Nordeste — afirmei sorridente. — Obrigada, estou muito feliz com a recepção. Essa vista compensa completamente as duas horas agonizantes dentro daquela sala de reuniões — disse e logo se corrigiu. — Ops, desculpe, não quis dizer isso. Ri. — Tudo bem, estava chato mesmo. Para te dizer a verdade, se eu pudesse escolher minha profissão, seria salva-vidas — falei enquanto admirava o sol no horizonte. Não era meu sonho de verdade, mas uma vontade insana. Apenas usei daquilo para brincar PERIGOSAS ACHERON

PERIGOSAS NACIONAIS no momento. — Tudo a ver com você. Analisando pelo fato de que me salvou três vezes. Você leva jeito para salva-vidas, e ficaria na praia. Imagina ver o sol se pôr na praia todos os dias? Permaneci sorrindo. Não consegui conter a alegria de poder livrar meus pensamentos de toda a sobrecarga que eu recebo e imaginar minha vida como um salva-vidas. Era uma profissão simples, desvalorizada, mas eu amo a praia. Eu seria feliz, com certeza. Amanda estava ao meu lado sorridente também, então decidi cometer uma loucura. Sabia que entre nós não teria nada. Jamais a obrigaria e isso fere tudo que prezo dentro da unidade de BH, que é o relacionamento entre funcionários. Mas me incomodava o fato de não termos um “nome” certo para aquela relação tão estreita que estávamos plantando. — Amanda, sei que sou seu chefe, amigo do seu irmão e tudo mais... Ela me olhou assustada. Quando abriu a boca para me interromper, decidi concluir logo a frase, PERIGOSAS ACHERON

PERIGOSAS NACIONAIS antes que ela saísse correndo. — Quer ser minha amiga? — respirei e continuei. — Oficialmente falando, tipo a Bruna? Percebi que, ao ouvir a palavra “amiga”, ela relaxou. Não sabia que ela estava tão avessa a relacionamentos assim. — Ufa. Por um mísero instante achei que estava sentada ao lado do Nick. — Nunca, Nick é um bastardo louco. Meu amigo, mas um grande idiota. Ela riu. — Aceito seu pedido. Digo, que mal tem em ser amigo do amigo do meu irmão, que é meu chefe também? Gosto da sua companhia, acredito que serei uma amiga muito útil. — Então, amigos. Apertamos as mãos — meio infantil, admito —, e voltamos a admirar o sol se pondo. Em instantes o horizonte já estava coberto pelo crepúsculo e voltamos em seguida para o hotel. Chegando lá, Amanda e eu subimos juntos. Ela entrou em seu quarto e quando eu estava PERIGOSAS ACHERON

PERIGOSAS NACIONAIS prestes a entrar no meu, fui surpreendido por uma voz. — Oi, lindão, estava com saudades. Quando me virei, deparei-me com Felícia. Ela veio direto do serviço e estava me aguardando no corredor. — Então quer dizer que você e a secretária não dormem juntos? Isso é bom! Posso entrar? Ok, admito que não me relaciono com funcionários, mas quando são da mesma unidade que eu. Em Recife eu tive um pequeno histórico de mulheres na empresa. Sei que é errado, mas elas são ótimas em guardar segredos. Eu não negaria aquela mulher que eu já conhecia. Até porque, meu cérebro tinha que desintoxicar e eu já estava precisando de um pouco de alívio. Abri a porta sem pensar duas vezes e deixei Felícia entrar. Aquela noite foi intensa, Felícia me provou que estava mesmo com saudades e logo após nossas sessões de sexo, fomos tomar banho em PERIGOSAS ACHERON

PERIGOSAS NACIONAIS minha banheira, onde a possuí novamente, firme. No final eu quis permanecer um pouco mais no banho e ela saiu, tinha algum compromisso naquela noite e não podia se atrasar. Quando olhei meu relógio de pulso, já eram 9 da noite. O tempo correu e eu estava muito cansado, queria e precisava dormir. Mas, de repente, escutei alguém bater à porta. Rapidamente me enrolei em uma toalha e saí do banheiro com os cabelos soltos ainda úmidos. — Ele está ocupado, em que posso te ajudar? — Ouvi a voz de Felícia. Segui em direção à porta e vi que era Amanda. Puta merda! — Desculpe, me perdoe mesmo, não quis atrapalhar. Mil perdões. Depois eu volto para falar com Ant... Sr. Gali. Miséria! Ela me viu com uma funcionária! O que pensaria de mim agora?

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Assim que cheguei no hotel, Clara estava a todo vapor brincando com a cuidadora. Ela me passou tudo que as duas fizeram antes mesmo que Mel abrisse a boca. Eu gostava da babá, era uma menina muito prestativa. Então a liberei e fui dar um banho em minha filha. Em seguida conversamos sentadas na poltrona. — Filha, queria te dizer que eu não sou namorada do tio Tony, aquele beijo não foi nada. Somos apenas amigos, tudo bem? — Tudo bem, mamãe, eu gosto dele. Quando poderei sair pra brincar? — Acredito que amanhã poderemos nos divertir, enquanto isso por que não vemos um desenho bem legal na televisão, comemos pipoca e depois dormimos? — Tudo bem, posso escolher o desenho, mamãe? — Claro. Clara escolheu assistir ao filme da Sininho, era sua personagem favorita. Ela dizia que sempre PERIGOSAS ACHERON

PERIGOSAS NACIONAIS quis voar e amava a personagem, pois ela tinha asas lindas. Assistimos até quase às 9 da noite, quando Clara caiu no sono e eu tomei meu banho. Decidi ir ao quarto de Antônio e chamá-lo para o meu quarto, queria comentar sobre as anotações que fiz na reunião, talvez fosse útil. Não sabia o que faríamos no dia seguinte e nem se teríamos tempo para analisar sobre isso. Bati à sua porta e uma mulher vestida, enxugando o cabelo, abriu. Merda, era a tal Felícia que nem me dirigiu a palavra na empresa. Ela estava com ele ali e me disse que Tony estava ocupado. Quando o vi aparecer no fundo do quarto, estava apenas enrolado em uma toalha na parte de baixo. Meus olhos o sondaram por completo, ele era lindo e gostoso demais, mas logo tratei de espantar o pensamento. — Desculpe, me perdoe mesmo, não quis atrapalhar. Mil perdões. Depois eu volto para falar com Ant... Sr. Gali. — Quase o chamei pelo nome, sem formalidades. Não queria que ela me confundisse com as mulheres que ele pegava, não PERIGOSAS ACHERON

PERIGOSAS NACIONAIS sou dessas. Saí correndo e entrei no meu quarto. Fechei a porta e me recostei nela, ofegante. Naquele momento senti um frio estranho gelar meu peito, como uma aflição. Era a adrenalina, estava espantada com o que vi, só podia ser isso. Não pensei que ele era desse tipo, tudo bem ser galinha e tudo mais, eu sabia da sua reputação... Mas as funcionárias da sua própria empresa? Isso é errado. Logo a imagem dele apenas de toalha invadiu minha mente. Meu Deus... Ele é lindo e muito, muito, muito sarado. Por um pequeno instante me permiti sonhar com aquele abdômen musculoso e toda aquela altura e porte. Que mal tinha? E o que são aqueles cabelos selvagens? Tentei espantar o pensamento, logo depois me recompus e fui eu mesma analisar minhas anotações na área de leitura do quarto. Sim, tinha uma pequena área com uma mesa, cadeira e livros. Comecei a ler minhas anotações quando bateram à minha porta. Fui atender e dei de cara com um Tony preocupado, de bermuda cargo cinza PERIGOSAS ACHERON

PERIGOSAS NACIONAIS e blusa regata branca. Ele estava lindo, com os cabelos despenteados de uma forma sexy caindo pelos ombros. Não preciso dizer que tudo ficou ainda melhor quando foquei em seus olhos azuis cristalinos, que transmitiam culpa. — Queria esclarecer o que viu — disse. — Não tem o que esclarecer. Quem sou eu para te exigir isso? — menti, eu queria que ele me esclarecesse. — Mesmo assim vou falar. Posso entrar? — Seu olhar exalava cautela, enquanto falava. — Claro, entre. Ele entrou e eu o trouxe até o pequeno escritório, onde mostrei minhas anotações. — Fui até seu quarto, pois queria que visse isso. São as anotações de hoje — comentei mostrando os papéis. Ele as pegou. Cruzei os braços e o aguardei olhá-las. — São ótimas — exprimiu analisando. — Eu tenho quase 100% de certeza de que tudo isso é uma fraude. — O que disse? — Me encarou. Ele pareceu PERIGOSAS ACHERON

PERIGOSAS NACIONAIS não ter entendido. — Fraude. Parece que essa queda toda é uma fraude. E das grandes, deve ter muitos funcionários envolvidos. Desde vendedores e instaladores de linha até chefes de setores financeiros e segurança. — Por que diz isso? — Porque eles projetaram tudo com perfeição, não deixaram rastros nem nas lojas. Acredito que devemos nós mesmos ir em pelo menos algumas lojas e instalar câmeras avulsas de segurança no caixa e na sala da gerência. — E se não for fraude? Isso nos fará perder muito tempo. — Se não for fraude, vamos saber do mesmo jeito. Confirmaremos que o problema é uma crise financeira ou qualquer outra coisa apenas vendo os vídeos das câmeras de segurança. — É genial, Amanda. Vamos dizer tudo isso ao meu pai amanhã. — Amanhã? — O que ele estava falando? — Não te disse? Meu pai nos convidou para almoçar no seu bangalô amanhã. Ele quer conhecêPERIGOSAS ACHERON

PERIGOSAS NACIONAIS la melhor. Palavras dele — Ele sorria de modo genuíno. — Tudo bem. Mas só vou com Clara. Ela ficou o dia todo aqui hoje, quero que saia amanhã, se não for incomodar. Me senti uma abusada por condicionar algo que deveria ser obrigação minha, mas ele mesmo me deu a oportunidade de trazer minha filha. Não dava simplesmente para deixá-la no quarto o tempo todo. — Ok. Sem problemas — Tony garantiu. — E... Amanda, queria falar que não durmo com funcionárias. Sei que pensa o contrário, mas é que eu fazia isso apenas quando não era da mesma unidade que eu. Nunca fiquei com ninguém da empresa em Belo Horizonte. E não quero mais sair com ninguém da empresa toda a partir de hoje. Ele era bem direto e sincero. Respirei aliviada. Não sei por quê, mas saber que ele não fazia isso com frequência me deu mais ar para respirar. Assenti. PERIGOSAS ACHERON

PERIGOSAS NACIONAIS — Tudo bem, já disse que não me deve explicações. Mas te digo que daria a você esse mesmo conselho como sua amiga. Ainda bem que se conscientizou a tempo. — Sorri. Já estávamos sentados em cadeiras perto da mesinha do escritório, conversando como amigos de longa data. — Posso te perguntar uma coisa? — Fitou os olhos nos meus, concentrados. — Sim. Respirou fundo e estreitou o cenho. — Como é se apaixonar? — Arregalei os olhos em espanto e ele logo emendou. — Sabe, amigos falam dessas coisas, não? — Me lançou um sorriso tímido. Naquele momento me senti de frente a um garoto de 15 anos. Ele nunca amou? — Nunca se apaixonou? — perguntei incrédula e ele negou com a cabeça. — Bem... Nem na escola? Alguma menininha nunca o fez pirar? — Eu estudei na escola até os dez anos, depois só estudava em casa, não sei o que é paixão. Só lembro como os meus pais tratavam um ao PERIGOSAS ACHERON

PERIGOSAS NACIONAIS outro. Eu queria viver aquilo um dia. Mas, com a maturidade, mudei de ideia. Eu não queria constrangê-lo em perguntar tudo da sua família e do seu passado, então decidi falar do amor como eu o conhecia. Talvez ele estivesse até começando a gostar de alguém. Sei lá, aquela mulher lá que estava com ele. Quem sabe? — O amor é meio maluco. Você começa sentindo um nervosismo estranho quando está com a pessoa amada, depois começa a te faltar ar nos pulmões, você deseja proteger e estar ao lado dela o tempo todo... Quando percebe, já se encontra numa situação em que tudo que a pessoa quer, você faz. Essa pessoa se torna tudo para você — falei quando me lembrei de tudo que senti desde que conheci Henri. — Meu pai uma vez disse que o amor dói. Nos machuca e não vale a pena sentir, se a dor vier logo em seguida — ele comentou pausadamente olhando o teto, recordando. — Seu pai é um homem muito sábio — concordando, proferi e ele me fitou sério. — Realmente o amor nos deixa vulneráveis e nos faz PERIGOSAS ACHERON

PERIGOSAS NACIONAIS sofrer quase em toda a sua totalidade. Não quero que meu amigo sinta essa dor. A palavra “amigo” ainda não estava saindo com naturalidade. Como se algo pairasse entre nós e não fosse amizade. — Sério? Bruna sempre me disse que eu preciso amar. Ela é minha amiga de infância. Mas na empresa nos relacionamos apenas profissionalmente. — Abanou a cabeça. — Nem sei como estou falando tão abertamente sobre isso contigo, nem com meus amigos consigo comentar, mas… sei lá. — Bruna é especial. Uma garota adorável — afirmei. — E sobre conversas íntimas, eu sou um túmulo. Fechei a boca como um zíper e ele riu. — Sim. Ela é... Obrigado pela conversa. Então é isso. Te vejo amanhã? — encerrou o assunto e logo se levantou para sair. Eu estava tão à vontade que não queria que ele saísse, mas não podia arriscar nossa amizade com bobagens... Mesmo assim, minha boca não me PERIGOSAS ACHERON

PERIGOSAS NACIONAIS obedeceu. — Quer vinho? — Ofereci e me arrependi em seguida. O que eu estava fazendo? — Quero sim. Você tem? — Ele parou e voltou até mim. — Tenho, venha comigo. Então o levei na saleta onde ficavam os frigobares e louças. Pegamos duas taças, uma garrafa de vinho e nos sentamos à mesa. — Quer que eu peça um jantar? Estou com muita fome — inquiriu sorridente. Aquele sorriso de menino dele é uma graça. — Seria ótimo. Eu também tenho fome. Ele foi até o telefone e pediu uma janta para dois. Pediu a sugestão do chefe para o dia. Eu sabia que a sugestão do chefe era sempre o prato mais caro, mas estava com fome demais para reclamar, afinal ele estava sendo cavalheiro e eu gosto de ser tratada como sou. Uma dama. Enquanto a comida não chegava, ficamos conversando bobagens e bebendo vinho. — Pedro tem sérios problemas com roncos. PERIGOSAS ACHERON

PERIGOSAS NACIONAIS Vocês são amigos e não sabia disso sobre ele? Que péssimo amigo você é! — comentei em algum momento, sorrindo. — Não tenho culpa, sempre peço para ele dormir de conchinha comigo, mas ele prefere as mulheres. Quer que eu saiba como? — Ele ria da própria piada e por um instante me peguei admirando seu sorriso branco e lindo novamente. Esse homem não tem defeitos? — Eu não ronco, sou uma dama até dormindo! Meu ex-marido teve muita sorte, mas preferiu vagabundas na rua quando tinha uma mulher que não ronca em casa! Quem faz essa loucura? — Eu jamais faria! Prezo a tranquilidade do meu sono! — Tony riu e depois se calou por um instante, ficando sério. — Seu ex foi o cara mais estúpido que eu conheci. Você sem dúvida é o tipo de mulher que faz caras como eu se apaixonarem. Ou seja, a mulher-maravilha! Ele não estava mais sorrindo. Seus olhos estavam cravados nos meus, como se estivesse hipnotizado. Isso não foi uma piada. Antônio falava PERIGOSAS ACHERON

PERIGOSAS NACIONAIS sério. Eu precisava quebrar esse clima quente que estava me envolvendo. — Pena que não faço mais questão que se apaixonem por mim! — Gargalhei, quebrando a tensão do momento. Ele abriu um sorriso pequeno nos lábios no instante em que alguém bateu à porta. Ufa, salva pelo gongo. Ele foi buscar a janta e paramos de conversar, focando apenas no salmão maravilhoso que estávamos comendo. Após terminarmos, nos despedimos. — Obrigada pelo jantar — agradeci. — Obrigado pela companhia. — Tony se levantou da cadeira e caminhou em direção à porta do quarto. Virou-se e olhou seus pés. Parecia contido. Vi novamente o menino de 15 anos transparecendo. — Você... Me daria um abraço... De amigo? — Arqueou uma sobrancelha e sorriu. Eu gostava dele, achei fofa a forma como ele pediu um simples abraço que não pude negar, PERIGOSAS ACHERON

PERIGOSAS NACIONAIS apesar de enxergar algo mais por trás do pedido. Seu rosto era sexy até sendo fofo, então o abracei. Ao sentir seus braços ao meu redor, me senti familiarizada, como se eu estivesse em casa. Isso me deu medo e logo me afastei dele e me despedi. Assim que fechei a porta, suspirei. Eu não tenho interesse nele. Por que senti isso que senti em seu abraço? Somos apenas amigos, só amigos. E claro, chefe e funcionária. Parece tão clichê, como num filme hollywoodiano, mas o que estava começando a nascer em mim não era nada bom. Naquele momento eu só queria tê-lo conhecido há dez anos. Talvez minha realidade hoje fosse outra.

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Capítulo 8

AMANDA Aquele sábado começou cedo. Eu e Clara acordamos às 8 h, nos trocamos e descemos para tomar café no restaurante no hotel. — Nossa, mamãe. Aqui é mesmo enorme, não acha? — Clara disse ao ver a imensidão do restaurante. — Sim, filha, mas você não veio aqui ontem? — Não, eu e tia Mel comemos no quarto mesmo, ela achou mais seguro. — Gosto ainda mais da Mel agora. — Sorri. — Vamos nos sentar, pequenininha? PERIGOSAS ACHERON

PERIGOSAS NACIONAIS Nos sentamos e saboreamos de tudo um pouco, que o buffet oferecia. Depois começamos a conversar. Queria dar uma atenção a mais para minha filha, ela sentia falta das nossas conversas. — Mamãe, Mel falou que aqui tem um parquinho para crianças, me leva até lá? — Filha, hoje vamos almoçar na casa do pai do tio Tony, ele nos convidou. Mas prometo que na volta vamos fazer algo bem divertido, talvez ir nesse parque que você falou. Enquanto terminávamos de conversar, Tony se aproximava. — Bom dia, flores do dia! — Oi, tio Tony! — Clara saiu do assento e correu para abraçá-lo. — Oi, princesinha, como foi seu dia ontem? Ela se afastou e ele manteve as mãozinhas dela nas dele. — Não muito divertido, mas legal. Quero que hoje seja melhor. — Será. Vamos almoçar no meu pai, sua mãe já te disse? PERIGOSAS ACHERON

PERIGOSAS NACIONAIS — Uhum, e depois ela me prometeu que vamos nos divertir. — Claro, vamos sim — concordou. Ele se sentou e Clara voltou para o seu assento. Fiquei incomodada, sei que pedi tempo para me divertir com ela, mas não significava que ele tinha de estar presente. Não gosto de ser uma sobrecarga para ninguém. — Não precisa ir conosco, Antônio. Eu levo Clarinha a algum parque ou até aqui mesmo no hotel, tem um parquinho aqui. Estava tentando não criar um vínculo maior entre Tony e minha filha também, afinal somos apenas amigos. — Tudo bem, como quiserem — respondeu formalmente. Tá, admito que achei que ele insistiria, sei lá. Na verdade eu gosto da companhia dele, e já até me permiti supor situações onde o que havia entre nós não era uma amizade ou relação de trabalho. Ele estava despertando um interesse proibido em mim, fazendo-me pensar seriamente sobre tudo que PERIGOSAS ACHERON

PERIGOSAS NACIONAIS pontuei como objetivos futuros. Será que daríamos certo como casal, nem que fosse casual? Não seria cedo demais para pensar numa coisa dessas? Não que eu queira namorar ou casar com ele, claro que não quero. Mas imaginar beijar aqueles lábios intensamente... Nossa, eu queria muito isso. Não preciso me apegar sentimentalmente, apenas sentir os lábios dele mais uma vez, e de verdade. — Tudo bem... Pode ir conosco, sua companhia seria bem-vinda, afinal somos amigos. — Sorriu, revogando o que disse anteriormente. — Tudo bem então, amiga. — Oh, céus, ele foi bem irônico com esse “amiga”. Ainda me lançou um sorriso de canto que me fez corar. Estava um pouco quente aquele dia, não? — Eu quero muito que tio Tony vá. Você também é meu amigo, não é, tio? — Clarinha entrou no assunto, me livrando do flerte constrangedor. — Mas é claro! Você é uma amiga especial. — Tony respondeu, ainda me olhando firme. PERIGOSAS ACHERON

PERIGOSAS NACIONAIS Sorrimos e eu fiquei um pouco aérea. O que mudou nesses últimos dias? Estava me sentindo estranha, notando mais a forma como ele me olhava. Seus olhos desejosos não podiam ser apenas coisa da minha cabeça. Finalizamos nosso café da manhã entre conversas e gargalhadas, quando Tony sugeriu algo. Ainda eram 9h30min da manhã, tínhamos tempo antes de irmos para a casa do seu pai. — Que tal irmos um pouco à piscina? Tem uma enorme aqui no hotel, e é descoberta! — Eu quero! — Clara imediatamente respondeu, levantando os bracinhos para o ar. Ai, droga. Vim completamente despreparada para isso. — Acha que é uma boa ideia? Eu não trouxe biquíni — lamentei. — Vamos ver um para você aqui na loja do hotel. — Tony decretou. Oi? — Aqui tem uma loja de biquínis? — Estava surpresa, o que mais aquele hotel poderia ter? PERIGOSAS ACHERON

PERIGOSAS NACIONAIS — Tem sim, vamos lá. Fomos rapidamente até a loja e, enquanto eu escolhia os modelitos de biquínis, Clara e Antônio ficaram na área infantil, jogando algum tipo de videogame para clientes. Não escolhi nenhum muito caro, até porque, eu o pagaria. Não estava com muito dinheiro, mas mesmo se meu chefe pagasse, o pediria para descontar do meu salário. Não é justo ser bancada até em itens de lazer. Fui ao vestuário e experimentei o modelito que mais me interessou, só que não estava cem por cento certa de que era bom. Chamei a atendente, e pedi que ela convocasse minha filha e Antônio para darem uma opinião. Ainda estava dentro da cabine, quando ouvi: — Senhora, sua filha e seu esposo já estão aqui. Ela estava falando comigo? Abri uma fresta da porta e vi Clarinha ao lado de Antônio. Ela sorria radiante e quando levantei o olhar para ele, o notei dar de ombros levemente PERIGOSAS ACHERON

PERIGOSAS NACIONAIS enquanto fazia um bico desentendido. Provavelmente ele também deve ter sido pego de surpresa com essa história de “esposo”. Eu sabia que não era nenhuma modelo da victoria secrets, mas tinha um corpo bem cuidado. Sempre prezei por isso. Então na minha impulsividade, abri a porta por completo e dei uma giradinha, permitindo que ambos verificassem aquele biquíni em mim. Provoquei um pouquinho, confesso. — Que tal? — perguntei. — Está linda, mãe! — Clarinha bateu palmas e pulou animada. Olhei para Antônio, que mantinha a mão no rosto, tampando a boca numa forma analítica enquanto seus olhos pareciam me devorar de baixo para cima. Ele, porém, nada disse. — O biquíni ficou perfeito, senhora, vai levar? — A atendente perguntou. Foquei no que ela dizia. — Sim, mas achei que ficou um pouco pequeno na parte de baixo, sei que é fio dental e PERIGOSAS ACHERON

PERIGOSAS NACIONAIS tudo mais, mas queria maior, tem como trocar? — Eu achei bom. — A voz firme e grossa de meu chefe finalmente ecoou, sem me olhar diretamente. Sorri. Creio que ele apreciou bastante a vista, sim? — Claro — respondi ironicamente. — Mas quero maior. Quase supliquei para que trocassem. A realidade era que fio dental não fazia muito meu tipo. — Infelizmente não tem como, apenas o mesmo tamanho nas duas peças. Ponderei minha decisão por uns segundos, e cheguei a um veredito. — Então... Antônio, procure algum short pra que eu use com esse biquíni, por favor? — Vireime para ele, e notei que ele mantinha seus olhos longe de mim. — Antônio? — Oi, sim, sim, verei agora. — Saiu rapidamente dali. Eu hein, será que mexi tanto com ele assim? PERIGOSAS ACHERON

PERIGOSAS NACIONAIS Não achei que estaria causando tanto reboliço em sua mente. Afinal, ele é lindo, cavalheiro, educado e pode ter a mulher que desejar. Não se “abalaria” comigo assim. Concentrei-me então em Clara, que ainda estava ali, aguardando. — Mamãe, papai colocou um maiô na minha mala, mas queria um short como o seu, posso? — pediu com os olhinhos do gatinho de botas. — Sim, minha linda. Vamos ver um pra você. Em alguns minutos Tony voltou com um shortinho de tecido vermelho florido. Sorri ao ver que ele tinha bom gosto. Vesti e o caimento era perfeito. Amei. Mostrei a eles, que também adoraram. — Linda! — Clara e Antônio disseram ao mesmo tempo. — Obrigada, vou levar — falei dirigindo-me à atendente. — Ok, algo mais? — Ela perguntou. — Um short para minha filha. Vai lá, PERIGOSAS ACHERON

PERIGOSAS NACIONAIS Clarinha, escolher. — Vamos, princesa. — Ele a chamou e juntos voltaram para a loja. Retornei à cabine, tirei meu biquíni e me vesti. Ao sair e voltar ao hall da loja, Antônio e Clara já estavam no caixa pagando pelas compras. Andei rapidamente até eles. — Ei! Eu quero pagar! — adverti-o, em voz baixa. — Não, jamais deixaria minha esposa pagar por um presente. — Piscou. — Espertinho. Vai ter volta — sussurrei. — Mamãe, tem que ver meu short, é lindo, é da Sininho! Clarinha pulava de alegria. — Que legal, lindona, vamos pro quarto nos aprontar! — afirmei, e após Antônio finalizar os pagamentos, subimos juntos e cada um foi para seu quarto. Minha filha e eu tomamos um banho rápido e nos aprontamos para irmos até a piscina. Eu com meu biquíni novo, junto com o short, e Clarinha PERIGOSAS ACHERON

PERIGOSAS NACIONAIS com seu maiô e short da Sininho. Ao finalizarmos e pegarmos nossas bolsas com as toalhas, meu celular apitou. Estou apenas aguardando vocês. — era Antônio. Fique na porta, estamos saindo agora. — Respondi E assim fizemos. Saímos e ele já estava na porta nos aguardando. Descemos até o térreo e ele nos guiou até a área de lazer, onde havia um parque para crianças, e mais à frente uma área com duas piscinas enormes. Uma infantil e uma adulta. Antônio nos deixou à vontade e seguiu para a piscina adulta. — Uau! — Clara exclamou. — Me dê sua bolsa, Clarinha, vou guardar para que entre. Peguei a bolsa e escolhi uma das mesas que tinha ao redor da piscina para acomodar nossos PERIGOSAS ACHERON

PERIGOSAS NACIONAIS pertences. Logo depois, coloquei Clara na piscina infantil e fui até o guardião da área. — Olá. Você fica vigiando as crianças, não? — Ele assentiu. — Aquela é minha filha, eu estarei na piscina maior. Caso precise, pode me chamar, ok? — Sim, senhorita. Faço com todo prazer. — Os olhos dele correram pelo meu corpo, fazendo-me corar. Eu tinha mel por um acaso? Simplesmente agradeci e me retirei dali caminhando até a piscina de adultos. Enquanto eu caminhava até lá, vi uma cena que me deixou intrigada. Antônio já estava apenas de sunga, andando até a borda, quando uma mulher morena muito linda o parou. Ele sorriu e ambos trocaram algumas palavras antes de entrarem juntos na piscina. Tive que respirar duas vezes. Ela não era funcionária da empresa, então eu não precisaria afastá-los. Se bem que ansiava por isso. Não gostei da forma como ele sorriu pra ela, pareceu tão íntimo. Agrrr, droga! Precisava tirar essas ideias loucas da mente. Ele é solteiro e pode olhar e PERIGOSAS ACHERON

PERIGOSAS NACIONAIS conversar com quem quiser! Enquanto eu sou apenas uma separada que precisa de mais foco na vida! Deixa o homem viver, Amanda! — Meu subconsciente me alertou. — Pela escadinha? Temos o tobogã e o trampolim, se quiser. — Uma voz masculina avisou às minhas costas. Me virei e vi o guardião da piscina dos adultos. Uma estrada completa de mau caminho. O que eu fiz para conhecer tantos homens assim em um final de semana? — Obrigada, prefiro a escadinha — respondi gentilmente e entrei na piscina. O guardião se virou e voltou ao seu posto. Antônio mantinha-se nadando ao lado de sua companhia que acabara de conhecer — ou não — enquanto eu nadava sozinha. Às vezes nossos olhares se encontravam e então eu sorria e desviava meus olhos dele. Depois de curtir um pouco e relaxar, saí da água e me deitei em uma espreguiçadeira, a fim de PERIGOSAS ACHERON

PERIGOSAS NACIONAIS tomar um pouco de sol. Porém meus olhos teimavam em acompanhar a novela que acontecia à borda da piscina. Antônio estava com os braços e costas apoiados na borda, enquanto a mulher o prendia colocando os braços um de cada lado do corpo dele. Notei quando os dois se olharam por um tempo e falaram alguma coisa. Em seguida ele a beijou. Respirei fundo. Ele a tinha beijado. Um beijo daqueles dignos de óscar, do mesmo jeito que eu imaginei ele me beijando. Não era para eu me sentir mal ou ter raiva, porém não aguentei ver aquilo. Na minha frente?! Era uma falta de… de… Ah! Dane-se. Eu não ficaria assistindo. Por um impulso fui até o guardião da piscina. Ele se manteve intacto no amor por tantos anos ficando com muitas mulheres, eu consigo fazer o mesmo. Por que não? — Oi —disse ao guardião. —Acho que não PERIGOSAS ACHERON

PERIGOSAS NACIONAIS fui educada. Me chamo Amanda. Ele arqueou uma sobrancelha e me olhou de cima a baixo. — Tudo bem. Me chamo Ricardo. — Queria me redimir, você me recomenda o tobogã ou o trampolim? — Tentei lançar um olhar sexy a ele, que respondeu com um sorriso de canto. Eu estava um pouco enferrujada. — O trampolim é muito mais perigoso, mas eu gosto de perigo. Okay, estava dando certo. — Olha, eu também gosto. Essa piscina fica aberta a noite toda? Você poderia me dar umas aulas de como saltar no trampolim? — flertei. — Essa não, mas a coberta dentro do hotel fica. Posso dar aulas sim, pra você é grátis. — Deume um sorriso aberto. — Então, me dá seu telefone que te ligo lá pelas 22 h? — Ok, grava aí. Peguei meu celular no local onde o tinha PERIGOSAS ACHERON

PERIGOSAS NACIONAIS guardado e salvei o telefone de Ricardo. Despedime e fui ao encontro de Clara. No caminho flagrei Antônio anotando o telefone da mulher com quem que ele estava no celular; disfarcei e passei direto por eles até chegar em minha filha. — Vamos, querida, temos que nos aprontar para o almoço. Ela estava se divertindo na piscininha, porém imediatamente saiu. — Tá bom, mamãe. — Clara sempre era obediente.

Ao chegar ao bangalô do sr. Douglas, Clarinha e eu estávamos um pouco intimidadas com o local. Sinceramente, eu não sabia o que esperar daquele almoço. Nós três entramos pela porta principal e fomos recebidos por uma empregada que nos levou até uma área de lazer atrás da casa. Douglas estava sentado aguardando-nos em uma mesa grande, PERIGOSAS ACHERON

PERIGOSAS NACIONAIS coberta com algo parecido com um guarda-sol, porém muito maior. Trajava óculos escuros e roupa informal. Logo que nos viu chegar, levantou e nos cumprimentou. — Bem-vindos! Filho. — Abraçou o filho. — Amanda. — Deu um beijo em meu rosto. — Clara. — Agachou e beijou sua cabeça. — É um prazer estar aqui, Sr. Douglas — falei, sem saber muito como agir. — Sua casa é muito bonita. — Clara completou. — Obrigado, meninas, sentem-se. Já estão trazendo o almoço logo, logo. — Ele respondeu e todos nos sentamos. Após as primeiras apresentações e conversas básicas, fazendo Antônio falar um pouco sobre Clara e eu ao seu pai, o almoço chegou. Era churrasco. — Eu amo churrasco! — Clarinha articulou empolgada. Como sempre, minha filha atrai a atenção com seus comentários tão puros. PERIGOSAS ACHERON

PERIGOSAS NACIONAIS — Ama? Fico muito feliz em agradar uma donzela tão bonita. — Douglas respondeu e ela sorriu. Antônio parecia um pouco deslocado do ambiente. Não sabia muito bem como era a relação dos dois, mas pelo que já tinha notado, não era tão boa quanto poderia ser. O almoço acabou e Clara foi para a piscina do bangalô com os empregados a vigiando, enquanto Antônio e eu permanecemos com Douglas. Aquela era a hora de falar de negócios. — Então, Amanda, Tony me disse que é uma excelente secretária e que tem uma ideia muito boa sobre o caso da queda das vendas. Assumi minha postura profissional. — Sim. Agradeço o elogio, mas apenas dou o meu melhor. Sobre o caso da queda das vendas, trouxe esses papéis que estive analisando e ontem dei minha ideia ao seu filho sobre como solucionarmos esse problema matando dois coelhos com uma cajadada só. Vamos saber se isso foi uma fraude, apenas insatisfação ou qualquer coisa relacionada aos clientes em si com esse plano. PERIGOSAS ACHERON

PERIGOSAS NACIONAIS — Interessante. Me conte. Comecei a contar e às vezes Antônio acrescentava algumas coisas. Douglas parecia maravilhado com o que eu dizia. Ele ficou espantado com a ousadia da proposta de instalar câmeras clandestinas e foi bem positivo durante a conversa. — Amanda. Você tem qual formação acadêmica? — Parei a faculdade de Administração no sexto período. Mas estarei voltando no próximo semestre. — Tenho uma proposta a fazer. — Ponderou com as duas mãos enlaçadas sobre a mesa. — Diga. — Apenas sorri, aguardando. Estava um pouco nervosa, tinha acabado de entrar na empresa e “propostas” nem sempre eram coisas boas. — Quero você responsável por esse caso. Mude-se para cá. Te darei uma casa, um carro e pagarei sua faculdade. Você entrará em treinamento para ser a vice-diretora dessa unidade. PERIGOSAS ACHERON

PERIGOSAS NACIONAIS — O quê?! — Antônio perguntou parecendo se espantar. O encarei, seus olhos azuis sondavam o pai com aparente questionamento. Algo tinha por trás daquilo, mas eu ainda estava um pouco chocada para perceber. Surpresa era pouco para expressar o que ouvira naquele instante. Mas logo vieram em minha mente os obstáculos. Minha filha, mesmo que fosse comigo, estaria muito longe do pai e de todos os familiares. A prova que fiz da faculdade, abriria mão de uma bolsa caso tivesse ganho, mas e se nada desse certo e eu fosse demitida? Voltaria à estaca zero novamente. A verdade é que eu não queria ter aquilo tudo tão fácil, parecia surreal. Não queria que fosse assim, queria conquistar aos poucos. Senti um aperto no peito ao pensar em deixar minha cidade, mas realmente precisava pensar. — É uma proposta maravilhosa e tentadora, mas... — comentei pensativa. — O que tem a perder? Precisamos de alguém de confiança. Tony confia em você, não confia? —O CEO inquiriu e se virou para o filho ao PERIGOSAS ACHERON

PERIGOSAS NACIONAIS perguntar. Também o fitei. Ele estava olhando para um ponto distante, respirando pesadamente parecendo pensar em coisas aleatórias. — Sim — respondeu de forma seca. Finalmente mirou o pai, mas os olhos dele demonstravam surpresa, só que de uma forma triste. Não gostei muito daquele clima. — Eu posso pensar e responder depois? — propus. — Tudo bem. Quatorze dias. Duas semanas. — Douglas foi direto. — Ok. Em 14 dias te dou a resposta final — afirmei séria, olhando-o nos olhos. — Bom... Acho que já vamos, pai. Está quase anoitecendo. — Antônio interveio na conversa e se levantou. Já eram 5 h da tarde, a conversa foi longa. — Clara ainda está na piscina? — indaguei a ele. — Vou verificar. — Ele foi atrás de Clara. Estavam apenas Douglas e eu ainda na mesa, PERIGOSAS ACHERON

PERIGOSAS NACIONAIS em um silêncio absoluto, quando Douglas decidiu falar. — Sabe, Amanda... Meu filho Tony é um bom garoto, mas ele sempre terá essa vida de farras e muitas mulheres. Não é capaz de se apaixonar e nem sustentar um relacionamento. Isso o impede de amadurecer em algumas áreas. Mas prefiro que ele seja assim. Já você, ele me disse que viveu experiências dolorosas na vida, isso a faz madura e admirável. Eu preciso de alguém assim na direção de Recife. Preciso de alguém que possa subir mais, quem sabe um dia ser até meu braço direito. Vejo potencial em você. Vi naquela sala de reuniões e vi ainda mais nessa mesa aqui. Espero mesmo que decida aceitar minha proposta. Apenas ouvi com atenção e não respondi de imediato. Sentia-me tentada, mas era como se o meu coração reagisse involuntariamente contra aquilo. Não estava certa da decisão. — Sr. Gali, agradeço os elogios. Meu sonho é me realizar profissionalmente. Mas preciso decidir racionalmente e não movida pelo momento. As emoções momentâneas nunca colaboraram PERIGOSAS ACHERON

PERIGOSAS NACIONAIS muito em minha vida e preciso realmente saber que passo estou prestes a dar. Mas darei sua resposta conforme combinamos, em 14 dias. Antônio já estava voltando com Clara. Ela parecia feliz e me fez sorrir radiante ao vê-la. — Mamãe, eu brinquei no parquinho, foi superincrível, até escorreguei no tobogã da piscina. Obrigada por me deixar vir aqui. — Sua voz entusiasmada fez todos sorrirem. Clarinha amou aquele lugar. — Sim, agora precisamos ir. — Abaixei e dei um beijo na sua testa. — Pai, obrigado pelo almoço e pela conversa. — Antônio agradeceu. — Foi um prazer. Espero vê-las novamente em breve — falou enquanto íamos embora. — Adeus! Obrigada. — Acenamos em despedida. Em seguida voltamos para o hotel.

TONY PERIGOSAS ACHERON

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Assim que as deixei no hotel, pedi que se aprontassem para sairmos mais tarde e fui sozinho para a praia assistir ao pôr do sol. Meus pensamentos ainda estavam conturbados com o que aconteceu nessa tarde, eu precisava de paz. Assim que cheguei e encontrei um local propício, me sentei admirando aquela paisagem perfeita. Imediatamente, seus pensamentos se voltaram para a proposta do meu pai para Amanda. Por que logo ela? Ela estava bem comigo, não queria dividi-la. Que babaquice eu tô pensando? Eu preciso esquecê-la. Mas como? É impossível não pensar naquele sorriso lindo, no olhar paradisíaco dela, no seu jeito de argumentar, no seu jeito de andar, nela de biquíni... Ai meu Deus, eu nunca vou esquecer isso. E eu nem a amo, mas já estou sofrendo. Meu pai tem razão, não posso deixar isso acontecer. Será melhor ela vir pra cá e me deixar viver minha vida como sempre foi. Ela é forte, sabe se cuidar. Quando menos percebi o sol já havia se posto PERIGOSAS ACHERON

PERIGOSAS NACIONAIS e uma pequena lágrima solitária tinha descido do meu olho. Sequei-a rapidamente e voltei para o hotel. Não me lembrava da última vez que tinha derramado uma lágrima. Logo tratei de afastar o pensamento de Amanda, tinha prometido diversão para Clarinha, não podia deixá-la na mão. Assim que cheguei no hotel, fui ao meu quarto e me aprontei para o passeio. Saí e me dirigi até a porta das duas mulheres que fariam minha noite mais divertida — Tio Tony! — Clarinha abriu a porta e pulou em meus braços quando me viu. Era inevitável não sorrir na presença daquela menina. — Vamos nos divertir? — perguntei. — Vamos! — Clara disse ainda em meu colo. Amanda logo surgiu, trancando a porta após me dar boa noite. Segui com Clara no colo até o elevador e Amanda veio atrás. As levei até o carro e disse que era surpresa o local onde iríamos. Amanda ficou em silêncio por todo o caminho e Clara cantarolava PERIGOSAS ACHERON

PERIGOSAS NACIONAIS suas músicas favoritas. — Chegamos! — exclamei ao parar o carro de frente a um parque de diversões. Aquele era o lugar perfeito onde poderíamos marcar a viagem com diversão. Virei o rosto e notei os olhos de Clarinha brilharem. — Mamãe, isso é irado! — exclamou ao sairmos do carro. — Onde aprendeu essa palavra? — Amanda perguntou com um sorriso nos lábios. — Com tio Tony. Ele disse que é o mesmo que muito legal. — Clarinha respondeu e depois piscou para mim, que retribui a piscadinha. No bangalô eu a ensinei a palavra, quando a fui buscar na piscina. Conversamos um pouco e me encantei ainda mais com seu jeitinho puro e esperto. Amanda riu de nós dois. Já eram sete da noite quando chegamos lá. Amanda foi na frente e comprou os bilhetes tão rápido que nem consegui propor pagar. Clara brincou em todos os brinquedos que sua idade PERIGOSAS ACHERON

PERIGOSAS NACIONAIS permitia e Amanda tirava muitas fotos. Eu levei minha câmera, gostava de usá-la para registrar momentos importantes. Decidi que aquele seria e também tirei fotos, filmei e peguei algumas espontâneas. Às vezes Amanda e eu trocávamos olhares, mas logo desviávamos, focando apenas em Clarinha. Hoje foi um dia bem intenso. Amanda não é tão imune a mim quanto pensei. E se ela soubesse como meus pensamentos são recheados de coisas sobre ela… Por fim vimos uma cabine fotográfica. — Vamos! Quero tirar fotos! — Clara nos puxou até a cabine. — Ai, filha... Só você mesma! — Para de ser velha, Amanda, deixa a menina se divertir — caçoei dela. Fomos para a fila, entre risadas e brincadeiras. Ao chegar nossa vez de entrar na cabine, Amanda sugeriu que fossem ela e Clara e depois Clara e eu, mas a menina fez o olhar do gato de botas e beicinho pedindo para nós dois PERIGOSAS ACHERON

PERIGOSAS NACIONAIS entrarmos com ela. Menina esperta! — Por favorzinho? Venham! — Tudo bem! — Nós dois respondemos ao mesmo tempo e nos entreolhamos sorrindo. Entramos juntos na cabine. Como possuíamos dois bilhetes que valiam uma foto cada, programamos para saírem duas fotografias repetidas com as poses que faríamos lá dentro. A foto era dividida em 4 partes, então fizemos 4 poses diferentes. A primeira mandando língua para a câmera. A segunda revirando os olhos com a boca aberta. A terceira sugerida por mim, foi apontar o dedo como uma arma para a câmera e fazer cara de mau. A quarta foi sugerida por Clara; ela pediu um beijo nosso, um em cada bochecha sua, e assim fizemos. Ao sair da cabine, Clara pegou as duas fotos. — Uma pra mamãe e uma pro tio Tony — declarou ao nos entregar. Encarei aquela fotografia e algo em meu peito se aqueceu. Seria uma boa forma de lembrar PERIGOSAS ACHERON

PERIGOSAS NACIONAIS delas, caso Amanda aceitasse a proposta e ficássemos longe. Já tinha me afeiçoado muito à Clara. A achava uma menina muito inteligente e tão amorosa, que a cada abraço dela me sentia renovado. Já eram 9 h da noite, então sugeri que voltássemos para o hotel. Amanda não negou, Clarinha bocejou, e voltamos. Nós três passamos o caminho de volta ao hotel cantando as músicas que Clara escolhia da playlist do meu carro, o que rendia boas gargalhadas e imitações baratas dos cantores famosos. Ao chegarmos no hotel, fomos logo para o andar de nossos quartos, mas antes que eu entrasse no meu, Amanda me chamou. — Antônio? Me virei, Clarinha já dormia em seu colo. — Amanda? Ela respirou fundo e sorriu antes de dizer: — Queria agradecer por tudo. Você tem sido um ótimo amigo e um belo anjo da guarda. Te PERIGOSAS ACHERON

PERIGOSAS NACIONAIS conhecer trouxe sorte à minha vida. Veja só onde eu estou? Há 10 dias eu estava desesperada, sem saber o que fazer da vida e agora estou pensando numa proposta de vice-diretoria de uma empresa! Obrigada de coração. Me comovi com as palavras dela. Eu estava sendo egoísta em querê-la para mim, sem pensar no que seria melhor para ela. Relembrei o dia em que nos conhecemos e tudo que aconteceu desde então. — Não foi nada, tudo é mérito seu. Eu que tive sorte de estar na hora e no local corretos. Ela sorriu e assentiu. Logo entrou em seu quarto. Entrei no meu, me recostei na porta ao fechála e dei um longo suspiro. Segui rumo a um banho. Daria uma volta na rua, não sei. Não queria ligar para a mulher que conheci na piscina, apesar de saber que poderia ter uma noite regada à sexo sem amarras com ela. Fomos diretos hoje cedo, porém não me sentia animado para aquilo. Estava… Não sei. Saí do banho e já estava vestido com uma PERIGOSAS ACHERON

PERIGOSAS NACIONAIS calça jeans, sem blusa, quando alguém bateu à porta. Assim que a abri, me espantei. Era ela. Os olhos de Amanda correram por meu corpo e logo fiz o mesmo, notando que ela não parecia pronta para dormir. — Amanda?! Não esperava você, entre! — Abri espaço para que ela entrasse. Adentrou ainda muda e se sentou na beira da cama logo na primeira parte do quarto. — Está de saída? Não queria incomodar — disse parecendo um pouco envergonhada. O que será que ela queria àquela hora vestida daquele jeito no meu quarto? Deveria ser alucinação minha. Meu Deus, como ela está sexy! Preciso parar de olhar diretamente pra ela, senão vou acabar possuindo-a aqui mesmo. Eram meus pensamentos tortuosos sobre sua pouca roupa. Ela estava apenas com um blusão e dava para notar um biquíni debaixo dele. — Na verdade eu sairia daqui a pouco, mas o que precisa? — tentei manter neutralidade na voz. — Queria falar sobre hoje cedo. Da proposta PERIGOSAS ACHERON

PERIGOSAS NACIONAIS que seu pai me fez — se expressou em tom baixo e tímido, olhando para os pés. Sua voz suave estava penetrando minhas células auditivas, causando um arrepio em minha pele, instantâneo. Sentei ao lado dela na cama e a olhei nos olhos. — Quer sentar à mesa? Não podia deixar claro minha vontade de devorá-la ali, então arrisquei o cavalheirismo. — Não, estou confortável aqui. Ah, Amanda... Você não está facilitando... — Então me diga, o que quer falar sobre a proposta? — O que você acha? É meu amigo, meu chefe, está na empresa desde sempre, quero sua opinião. Sua mão correu por sobre a cama e esbarrou na minha. Meu autocontrole querendo simplesmente sumir daquele lugar. PERIGOSAS ACHERON

PERIGOSAS NACIONAIS — Sinceramente, Amanda — falo ou não falo pra ela que eu não quero que ela aceite? — É uma oportunidade de ouro, todas as pessoas que meu pai alguma vez propôs algo parecido estão na empresa até hoje. Acho válido aceitar, mas... — Mas? — Ela se virou e ficou de frente a mim, posicionando uma coxa sobre o colchão. Engoli em seco. — Eu já me afeiçoei a você, à sua amizade. Não queria que viesse. — Droga, eu tinha mesmo dito? — Você gosta de mim, Antônio? Da minha amizade? — inquiriu e se aproximou lentamente, ainda olhando em meus olhos. Respirei fundo, ela era irmã do meu melhor amigo, tinha um foco, não estava em meu alcance. — Sim, é... Não quero parecer egoísta nem nada, mas... Não consegui responder até o fim, porque ela simplesmente me beijou. Logo correspondi, tomando seus lábios com voracidade e desejo, ansiando que aquele momento não fosse uma PERIGOSAS ACHERON

PERIGOSAS NACIONAIS alucinação. E que Deus me ajudasse, eu faria tudo o que ela me permitisse sem arrependimento algum. A faria minha. Hoje, amanhã, enquanto a vontade dentro de mim não for saciada. Eu me doparia de Amanda.

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Capítulo 9

AMANDA Eu o beijei. Beijei mesmo e beijaria de novo se pudesse reviver a cena. Não me arrependo, ele é sexy ao extremo e sua boca praticamente me chamava. Não estou nem aí se ele vai me achar vulgar ou atirada, só preciso dele aqui, agora, hoje. Quando decidi me aprontar para ligar para o homem da piscina, pensei bem e algo se acendeu em minha mente: Era minha última noite naquele lugar, e talvez não houvesse outra chance de mostrar para Antônio que sim, eu o desejava. Não pedi permissão para beijá-lo, já sabia que ele permitiria. Convivi com o mesmo homem PERIGOSAS ACHERON

PERIGOSAS NACIONAIS por oito anos e consigo reconhecer o desejo em um. Os olhos de Antônio chamuscavam quando me fitavam de cima a baixo. Era desejo, intenso e cru. O beijo dele é sedutor, hábil, lento e absolutamente incrível. Meu corpo inteiro se arrepiou e se encheu de excitação em resposta, apenas por sentir sua língua na minha boca, movendo-se lentamente num ritmo sensual e lascivo. Seu gosto é viciante, inebriante, misturado ao cheiro másculo e amadeirado que exalava do seu corpo, me deixando calorosa, desejando por mais. Era pra ser só um beijo, eu queria apenas um beijo. Mas estava desejando que ele me tomasse por completo. Literalmente. Quando o ar enfim faltou, paramos para respirar. Nossas testas estavam grudadas uma na outra e nossos olhares se encontraram. Senti como se todo o calor que meu corpo guardava viesse da chama daqueles olhos. Naquele momento eu queria mais, eu o queria. PERIGOSAS ACHERON

PERIGOSAS NACIONAIS — Amanda... Eu... — Tentou dizer, ofegante. Eu entendi na mesma hora o recado, se não entendi não estava interessada em entender mais nada. — Não precisa pedir permissão — falei antes dele concluir sua frase e abri o primeiro botão do meu blusão. Ele me olhou de baixo pra cima com adoração, também me queria. Foi quando sorriu maliciosamente, me beijou novamente abrindo ferozmente meu blusão, arrebentando alguns botões, e me deitou em sua cama. Tudo nele exalava poder, virilidade e masculinidade. — Compro outro depois — murmurou, então começou a beijar e acariciar todo o meu corpo. Ele é maravilhoso. Como eu nunca me senti tão viva assim? Antônio acariciava meu corpo, beijava minhas curvas, e aos poucos tirava meu biquíni. Ele me admirou em silêncio por alguns instantes quando me despiu por completo. Tomei coragem, mesmo sentindo os batimentos de meu PERIGOSAS ACHERON

PERIGOSAS NACIONAIS coração retumbarem frenéticos em nervosismo, e tratei de despi-lo rapidamente, deixando-o apenas de roupa íntima. Pouco tempo depois ele começou a me devorar por completo. Iniciou por meu pescoço, depositando beijos e mordiscos molhados, descendo lentamente. Seu corpo sobre o meu era quente, e sua barba roçando por minha pele fez com que a excitação e a sensibilidade em mim aflorassem ainda mais. Ele traçou uma linha com sua língua quente do meu colo até minha virilha e quando chegou próximo à fonte do meu prazer, levantou um pouco o rosto pra me olhar. Seus olhos estavam inundados de desejo, então ele deu um sorriso de canto. Maldito safado! Eu apenas me deleitei, enquanto ele me adorava nos locais mais sensíveis. Minha mente já estava turva, sem pensamentos coerentes, apenas recebendo tudo o que ele queria me dar. Depois da tortura que sua boca me fez passar, ele começou a acariciar o interior das minhas coxas. Seus dedos hábeis traçaram um caminho PERIGOSAS ACHERON

PERIGOSAS NACIONAIS lento até meu ponto sensível onde, ao chegarem, continuaram a me torturar. O que mais me deixava ofegante era o seu olhar. Ele sempre me olhava fixamente. Mas eu queria mais, mais dele. Precisava têlo por inteiro. — Antônio... Pelo amor... De Deus... — Ofeguei. — Por favor, vai? — Hã? — O maldito se fez de desentendido. Rolei os olhos e isso fez com que ele soltasse suas mãos de mim. Ficou de pé e cruzou os braços. — O que foi? — indaguei, confusa. — Tsc, tsc. — Ele estalou a língua, meneando a cabeça em negação. — Ah, Amanda… Você não sabe onde se meteu. Eu estava ali, exposta, nua, com a respiração ofegante. Sério mesmo que ele me largou ansiosa por mais e vai ficar me olhando com essa cara de mandão? Bufei. — Acho que já podemos ir aos finalmente… O que acha? — Meu tom foi baixo, sedutor. PERIGOSAS ACHERON

PERIGOSAS NACIONAIS Ele meneou a cabeça mais uma vez e deitou sobre meu corpo, sem pôr peso, apoiando com os braços na cama. — Calma, meu anjo. Quem brinca com fogo tem que se queimar. Ahhhhh grrr, eu parecia uma louca ansiosa. Voltamos a nos beijar de modo intenso, avassalador. Agarrei suas costas enquanto ele pressionava seu corpo sobre o meu, me fazendo sentir todo seu desejo por mim ali, bem nítido. Depois de um tempo ele levantou O vi próximo da cama, de costas, tirando a última peça que faltava de seu corpo e abrindo a embalagem do preservativo. Ainda fora do seu ângulo de visão, ele ordenou: — Se vire de bruços pra mim. Sua voz arrepiou minha espinha e logo o obedeci. O senti se aproximar e tocar meu corpo lentamente, me ajustando a posição favorável para ele. Com meus joelhos na cama, sem cerimônias o PERIGOSAS ACHERON

PERIGOSAS NACIONAIS senti dentro de mim. Meu Pai do Céu, que homem é esse? Eu já não me lembrava como era um momento tão íntimo com alguém, e naquele instante, com ele, pareceu que estávamos acostumados àquilo. Como se a vida inteira já nos conhecêssemos intimamente. Espantei os pensamentos sentimentais demais, para focar no modo como ele me fazia sua. Não foi sutil. Não foi delicado. Foi como eu ansiava e esperava. Forte. Duro. Fundo. Suas investidas eram tão intensas que, além dos nossos gemidos, o som que dominava o ambiente era o espalmar de nossos corpos. Eu senti o êxtase querer me invadir com poucos segundos dele em mim. Pareceu que finalmente eu tinha encontrado o encaixe perfeito. Pena que era só por aquela noite. Ficamos naquele modo por um tempo, e PERIGOSAS ACHERON

PERIGOSAS NACIONAIS depois, com uma maestria absurda, ele girou meu corpo, ainda unido ao dele, me posicionando em sua cintura. Ele encostou-me numa parede e continuou com o mesmo afinco. Nossos olhos estavam abertos encarando um ao outro, frente a frente. — Isso. Quero que me veja marcando você. Você não sabe o que está me causando, Amanda. — Aproximou-se da minha orelha e continuou. — Hoje você é minha e não me peça para parar. Quero continuar sentindo seu corpo no meu até quando eu quiser. Ele continuou falando algumas palavras sujas em meu ouvido, enquanto nossos corpos ditavam as regras. Nunca pensei que ouvir sacanagens na cama fosse tão excitante. Eu estava entregue, não tinha mais nada que eu pudesse fazer. Antônio me deixou drogada com esse cheiro de homem, misturado ao suor de sexo que seu corpo liberava. Estava fascinada em ver aqueles cabelos enormes balançando junto com ele enquanto me possuía. Eu gemi alto, gritei, enfim cheguei ao clímax e cravei minhas unhas nele. PERIGOSAS ACHERON

PERIGOSAS NACIONAIS Ele também era falante e barulhento, logo se libertou comigo ainda em seu colo. Minha respiração ainda estava ofegante e a mente, embaralhada pelo que acabara de acontecer. Ele me posicionou na cama e depois de fazer tudo que precisou, voltou e se deitou ao meu lado. — Uau. — Consegui dizer. — Uau. — Ele repetiu ofegante. Viramos de lado e ficamos nos olhando. Não sei o que deu em mim naquele momento, mas novamente senti que éramos conhecidos de longa data. Me sentia à vontade. Eu levei minha mão até seus cabelos dourados enquanto fitava o mar azulado do caribe em seus olhos. Ele é lindo demais. — Eu gosto dos seus cabelos. — Eu sempre prendo nessas ocasiões — comentou ele, parecendo querer justificar o fato de estarem soltos. Sua voz ainda estava um pouco rouca, tomada pela adrenalina do que fizemos. — Quebrei sua regra — brinquei. PERIGOSAS ACHERON

PERIGOSAS NACIONAIS A verdade era que eu estava tentando camuflar o modo como nosso ato anterior mexeu comigo. Ainda ansiava que meus batimentos cardíacos e minha respiração voltassem ao normal. — Acho que quebrar minhas regras é sua missão na Terra. — Ele brincou sorrindo. Não me lembro ao certo quanto tempo ficamos nos olhando, acariciando um ao outro. Mas não resistimos e logo estávamos nos entregando novamente. — Eu não vou cansar nunca disso — disse ele, me beijando ao final. — Não quero que canse. — Estava sendo sincera. Quando acabamos vi meu relógio, já eram 2 da manhã. Pensei em Clara, mas Mel já estava avisada que precisaria dormir. Ainda bem que não liguei para o cara da piscina. Deitamos um pouco, Antônio e eu, na sua cama. Eu posicionei minha cabeça em seu peitoral duro e musculoso enquanto acariciava sua barriga, PERIGOSAS ACHERON

PERIGOSAS NACIONAIS contornando cada gominho de seu abdômen, pensando somente em como tudo aquilo veio a acontecer. Ele me abraçou e, com um braço apoiado debaixo da cabeça, fitou o teto, pensativo. — Clara está com a babá? — perguntou. — Sim. Por quê? — Dorme comigo? Pode voltar cedo pro quarto, mas pelo menos fica um pouco, tudo bem? — Titubeou. — Somos amigos, amigos fazem essas coisas, certo? — pediu e, por fim, sorriu. Eu não queria me envolver mais. Antes, isso daria uma brecha para me apaixonar, mas hoje eu estou imune. Mesmo ciente de como fiquei abalada com tudo. Isso também o faria se apaixonar, talvez, mas ele é o cara mais imune ao amor que conheci, pelo pouco que já notei. Então que mal tinha em ficar? Somos amigos, nada mais. — Tudo bem. — Liberei um sorriso e continuei aconchegada a ele. Era estranho pensar que éramos chefe e secretária. Não me sentia como sua funcionária e sim como sua amiga. Ele devia estar pensando em PERIGOSAS ACHERON

PERIGOSAS NACIONAIS como acabar com tudo no outro dia, sei que não vai adiante com nenhuma mulher e nem liga no dia seguinte. Era para eu estar feliz, pois não queria compromisso com ninguém. Mas me sentia estranha. Um pouco... Decepcionada. Cochilamos, mas durou poucas horas, pois um pouco antes de amanhecer o dia, lá pelas 5 h da manhã, me despertei e levantei, começando a juntar meu biquíni do chão. Precisava de um banho urgente. Antônio devia ter percebido que levantei, pois logo acordou também. Veio até mim por trás e começou a beijar minha nuca, pescoço e ombros, mordiscando e causando arrepios em minha pele. Meu Deus, esse homem é insaciável! Me virei, mas acabei deslizando no biquíni e caindo no chão por cima do tapete. Isso não foi empecilho para Antônio, que fez do chão a nossa cama naquele momento. Dessa vez nossa intimidade foi mais lenta e cheia de carícias. Ele me beijava e afundava em mim, me olhando nos olhos. A cada instante, seu rosto sério me presenteava com o mar azul. Eu não PERIGOSAS ACHERON

PERIGOSAS NACIONAIS entendia porquê ele fazia questão dos olhos fixos nos meus, mas aproveitei para memorizar seu rosto tomado pelo desejo e o êxtase daquele momento para quando não nos víssemos mais. Por fim, o segurei firme, não querendo que ele saísse de perto. — Você é tão viciante. Estou arruinado, Amanda — revelou com a testa grudada na minha e olhos fechados, sério. Não tive o que responder. Só pude relaxar e apreciar aquele momento, pois jamais voltaria. Nos levantamos após ter nossas respirações reguladas e Antônio me chamou para tomarmos banho juntos em sua banheira. O dia em breve nasceria e eu precisava ir. Enquanto tomávamos banho, conversamos sobre diversos assuntos, inclusive nossa aventura repentina. — Nunca imaginei que uma certinha toda focada como você fizesse tanto barulho! Meu Deus, da próxima vou te amordaçar! — disse ele sorrindo enquanto se ensaboava. PERIGOSAS ACHERON

PERIGOSAS NACIONAIS — Você não fica muito atrás não, teremos duas mordaças! — falei jogando espuma na cara dele. Pronto, eu já me sentia melhor com toda a descontração. O bom da nossa “amizade” era essa falta de pudor mesmo depois do que fizemos. Mais uma vez parecíamos conhecidos de longa data. — Agora, sério. Eu já tinha imaginado isso algumas vezes. Fiquei decepcionado com a falta de imaginação do meu cérebro. Meu Deus... Não se compara… Ele estava brincando, mas eu entendi bem o que disse. — Pervertido! Tinha pensamentos libidinosos sobre mim! — Não tenho culpa! É meu instinto! — Riu enquanto eu batia no seu braço. — Confesso que hoje eu tive... Por isso vim aqui. Ele abriu a boca, em espanto. — Você já estava arquitetando tudo! Maquiavélica! — Fez uma carranca e depois riu. PERIGOSAS ACHERON

PERIGOSAS NACIONAIS — Mas é claro. Eu tenho todo o controle. Ha ha! — Tentei dar uma gargalhada maléfica, sem sucesso. Ele arqueou uma sobrancelha, se aproximando mais de mim. — Vamos ver seu controle então. — Começou a me fazer cócegas. E caramba... Isso é meu ponto fraco. — Para... Por favor... Me rendo! Bandeira branca!... Para — falei gargalhando. Céus, parecíamos duas crianças! Mas admito que nunca tive aquilo, aquela plenitude de sentimentos bons e constantes com a mesma pessoa. Antônio parou e me virou pra ele. Olhou em meus olhos e então me beijou. Dessa vez eu senti algo a mais nesse beijo. Um aperto no peito. Oh, não. Saímos da banheira, ele pegou a toalha e começou a me secar como se eu fosse uma criança. Apreciei esse gesto dele e me deixei levar. Depois de seca eu me virei e agradeci. Ele simplesmente PERIGOSAS ACHERON

PERIGOSAS NACIONAIS sorriu. O sorriso de Antônio era o destaque do seu rosto másculo e imponente, com traços fortes que lhe davam um ar de superioridade, mas quando o sorriso brotava, parecia apenas um menino feliz. Seu sorriso era muito jovem e o deixava ainda mais lindo. Retornando ao quarto, ele pediu para que deitássemos mais um pouco até amanhecer e eu fiquei. Em pouco tempo cochilamos novamente. Mas meu coração… Ah, não, esse continuou trabalhando incansavelmente contra tudo o que eu projetei em minha mente. Por mais que eu quisesse controlar tudo a minha volta, ele estava conseguindo fazer com que as coisas ficassem descontroladas. E eu senti medo. Apenas medo ao imaginar aonde meu coração poderia me levar.

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Capítulo 10

AMANDA Dormi um pouco e, quando acordei, eram quase 7 da manhã. Decidi voltar ao meu quarto, aquele era o último dia em Recife e precisava deixar tudo organizado, fora que ansiava também estar com minha filha antes que ela acordasse. Antes de sair da cama, meus olhos foram até Tony, que dormia como um anjo ao meu lado. Ele fazia um biquinho deitado de bruços, com seu rosto pressionado no travesseiro. Suspirei e o admirei por um tempo, sabendo que o que tivemos acabou, fora apenas aquela noite. PERIGOSAS ACHERON

PERIGOSAS NACIONAIS Por impulso deixei um beijo na cabeça dele antes de sair, não sabia muito bem como me portar numa situação dessas, afinal sempre tive namorados e o último foi meu esposo. Definitivamente não sabia o que fazer depois de uma noite daquela, sem nenhum compromisso. Peguei uma blusa dele e a vesti, pois a minha estava rasgada. Saí do quarto em passos suaves para não despertá-lo e ao chegar no meu quarto, percebi que Clara e Mel dormiam tranquilamente. Ao constatar que elas não despertariam logo, sentei no sofá próximo à cama e comecei a repensar a noite maluca que passei. E agora? Sei que não devo esperar que ele me ame ou algo assim. Não quero isso, não quero um namorado nem nada. Mas eu acho que se ele me ignorasse eu não gostaria. Será que ele faz isso com todas? As ignora no dia seguinte? Caramba, foi um erro. Como vamos olhar um para a cara do outro agora? E na empresa? Meu Deus, Amanda! Pensa antes de fazer uma loucura dessas outra vez! Minha inexperiência gritava. Jamais dormi PERIGOSAS ACHERON

PERIGOSAS NACIONAIS com alguém sem ser um namorado. Não sabia o que fazer. Precisava conversar com alguém. Já sei... Bruna. Bruna já tinha provado ser uma boa amiga em poucos dias de empresa, além de ser amiga de Tony desde a infância. Quem melhor que ela para aconselhar? Bom dia, Bruninha, espero não incomodar. Se estiver acordada teria como me ligar? — enviei a mensagem. Alguns segundos depois um bip anunciou uma mensagem em seu celular. Claro. Vida de recém-mamãe começa na madruga! Estou fazendo o bb dormir e já te ligo. Nasceu na sexta. Que alegria! Sorri ao ler a mensagem. Estava feliz por Bruna. Queria muito visitar seu bebê, mas sabia que ela precisava de espaço. Era muito cedo PERIGOSAS ACHERON

PERIGOSAS NACIONAIS ainda. Enquanto esperava a ligação de Bruna, fui arrumar minha mala, dobrando e guardando as roupas. Quando finalizei, o telefone vibrou e me dirigi ao banheiro para atender. Não queria acordar Clara. — Bruna. Bom dia! — Oi, Amanda. Me conta, como está a viagem? — Boa, conseguimos criar uma solução para o problema da unidade daqui. Mas estou ligando por outro motivo. A resposta demorou alguns segundos. — Ai meu Deus. O que houve? — Eu e Antônio... Nós... Ah, você sabe... — estava morrendo de vergonha. — Ah. Meu. Deus! E como foi???? Recostei-me na parede fria do banheiro e deslizei até sentar no chão. Suspirei pesadamente, pois precisaria falar em voz alta o que acabara de fazer havia poucas horas. — Bruna... Foi demais. Muito bom. A gente PERIGOSAS ACHERON

PERIGOSAS NACIONAIS parecia ter uma conexão tão intensa, sabe? Depois parecíamos como adolescentes tomando banho na banheira, um implicando com o outro... Mas, Bruna... Estou no meu quarto agora. Ele está no dele, dormindo. Ainda nem nos vimos agora de manhã. Queria saber como devo agir. Eu nunca fiz isso antes. Sei que ele nunca se comprometeu com alguém, não sei se ele vai me tratar mal ou me ignorar, sabe? Ele sempre ignora as mulheres no dia seguinte? Acorda e manda elas embora? Desatei a tagarelar. Estava nervosa, confusa, perdida. — Calma, Amanda, respira. Ele mandou você embora depois do sexo, é isso? — Não, ele pediu pra que eu dormisse com ele. Falou que queria que eu ficasse ao lado dele, como amigos. — Hum... Amanda... — Bruna deu uma pausa.— Tony nunca dorme com alguém. — Como assim? Nunca dorme? Mas então o que ele faz? — Estava surpresa. Meu coração querendo pular para fora da PERIGOSAS ACHERON

PERIGOSAS NACIONAIS caixa torácica. — Nunca dorme, Amanda. Depois do sexo ele paga um táxi e dispensa a mulher. Ele nunca dorme com ninguém, nunca dormiu. Ele sempre me dizia que isso era para que ninguém esperasse algo mais do que ele estava disposto a dar. Mas ele pediu pra que você dormisse. Pra mim isso é novidade. — Mas ele disse que era como amigos. — Tentei ignorar o sentimento de euforia em meu peito. — Independente disso. Ele não abre exceções. Eu o conheço desde sua primeira mulher. Ele definitivamente não dorme. Parece que ele sente algo por você. Basta saber se você também sente. Sente? Ela parecia saber bem do que falava. Será que ele já falou algo de mim a ela? Ah, não, obviamente. O mundo não gira ao redor do meu umbigo. — Eu... Não sei. Foi apenas uma noite. É pouco para dizer e pra mim ainda é cedo. Não quero me relacionar com ninguém. Não quero PERIGOSAS ACHERON

PERIGOSAS NACIONAIS sofrer nem fazê-lo sofrer. O que eu faço, Bruninha?? As minhas mãos suavam. Imediatamente as passei em meu cabelo em sinal de confusão. — Seja sua amiga. Aja naturalmente. Se ele insinuar que a quer, você saberá e então pode decidir se o quer ou não. Agora, uma coisa eu tenho certeza, ele não vai te ignorar. Relaxa. Sabe aquela onda de alívio que invade e nos traz plenitude com apenas algumas palavras? Eu finalmente estava em paz. Pelo menos me ignorar, ele jamais faria, segundo Bruna. — Ufa. Minha preocupação era essa. Clara gosta muito dele e estamos nos dando bem, sabe? Não queria um clima chato entre nós. — Não terá esse clima. Fique tranquila. Amiga, o bebê acordou, vou dar de mamar. Qualquer coisa me manda sms. Beijo. — Beijo. Obrigada, Bruninha. Desliguei o telefone e saí do banheiro ainda pensativa, porém mais aliviada. E se ele se apaixonar por mim? Eu não posso PERIGOSAS ACHERON

PERIGOSAS NACIONAIS corresponder a isso. Não quero isso. Mas... Por que eu sinto esse calor subindo no meu corpo quando imagino ele comigo? Fico tão feliz ao lembrar de ontem. Caramba, será que eu estou gostando mesmo dele? Mas é tudo tão diferente... Não me lembro como é sentir essas atrações há muito tempo... Ai Meu Deus... O que eu faço? Sentia-me imatura ao cogitar sentimentos tão profundos da parte dele, mas já queria me preparar para o pior ou, quem sabe, o melhor. Voltei ao banheiro. Lavei o rosto, escovei os dentes e coloquei uma roupa fresca para começar o dia. Um short soltinho e uma blusinha regata. Conferi o relógio. Já eram 7 e meia. Alguém bateu à porta. Ao abrir, me surpreendi com um Antônio sem blusa, com apenas uma bermuda cargo, de mãos nos bolsos, olhando para os pés. Ao me ver ele pareceu não pensar, andou em minha direção e me puxou para um beijo. Um longo beijo quente cheio de palavras não ditas. Ele entrou enquanto me beijava e fechou a porta com um dos pés. Apenas correspondi e comecei a abraçá-lo e acariciar sua nuca enquanto o beijava. O beijo se intensificou e PERIGOSAS ACHERON

PERIGOSAS NACIONAIS ele me pegou no colo, segurando-me pelas coxas, colocando as mãos por dentro do meu short. Completamente entregue, entrelacei as pernas na cintura dele e o abracei. Lembrei que tínhamos plateia e afastei o beijo, sussurrando em seu ouvido: — Minha filha e a babá estão aqui. Comporte-se. — Ofeguei, cheia de desejo. — Desculpe, não consegui me conter. Vamos recomeçar. — Ele me soltou com calma e andou de volta até a porta sem abri-la. Deu um sorriso e estendeu a mão. — Bom dia, amiga! Aquele sorriso safado! Eu estava ficando derretida por cada sorriso dele, e isso não era bom. Sorri timidamente em resposta, então vireime para olhar na direção da cama e vi que Clara e Mel ainda estavam dormindo. Aproximei-me de Antônio com coragem, dei um tapinha na sua mão estendida, abaixando-a, e sussurrei: — Não importa. Vem. Deixei-me levar pelo desejo e alegria em ver que ele não me rejeitou como esperado, e o beijei PERIGOSAS ACHERON

PERIGOSAS NACIONAIS com todas as forças. Nossas línguas pareciam ter ensaiado um ritmo intenso e profundo. Nosso beijo era cheio de carícias, entre mordidas e risadas abafadas. Estava feliz, e o queria ainda mais. Quando enfim o beijo se acalmou, me afastei e segurei delicadamente o rosto lindo dele, fitandoo nos olhos. — Bom dia, Antônio. — E dei um sorriso aberto. Ele retribuiu o sorriso e me abraçou. Senti seus batimentos acelerados quando meu rosto se acomodou em seu peito naquele gesto. Nós dois éramos uma confusão só, eu poderia apostar nisso. — Amanda. Eu não sei fazer isso — murmurou, ainda abraçado a mim. — Isso o quê? — Afastei-me dele e indaguei confusa. Aquele geladinho na barriga voltou com toda força. O que será que ele diria?

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Quando acordei naquela manhã, Amanda já tinha saído do quarto. Pela primeira vez senti falta do calor do corpo de alguém ao meu lado, como se ali, fosse o lugar dela. Nunca acreditei em almas gêmeas ou pessoas que nascem destinadas para alguém, mas não havia outra explicação para tudo aquilo. Quando ela mostrou que me queria, nem que fosse apenas por aquela noite, senti meu coração palpitar, me avisando que eu provaria dela e não conseguiria ter mais de outra pessoa. E foi o que aconteceu. Eu sabia que para ela era apenas desejo sexual, coisa que passa. Mas para mim foi mais, foi uma descoberta que passei a vida inteira desejando saber. Inédito, era a palavra que poderia descrever como foi vê-la ser minha, e dormir ao meu lado, como se fosse algo comum e rotineiro para nós dois. Assim que levantei da cama, aprontei minha mala e me arrumei rapidamente. Precisava vê-la e ser claro com ela sobre o que está causando em mim. PERIGOSAS ACHERON

PERIGOSAS NACIONAIS Agora que eu sei como é sentir essa coisa louca que me invade e me causa torpor e alegria, não quero viver sem isso. Não mais. Conversaria com ela, seria sincero e transparente. Poria todas as cartas na mesa, disposto a tudo para que ela seja minha. Eu a faria minha, dali por diante. E não me importa o que eu precise fazer.

Depois de não resistir a um cumprimento normal, agarrando Amanda deixando claro minhas vontades, nos acalmamos e revelei o que queria dizer. Que eu não sabia nada do que estava sentindo. Passei uma mão na nuca, num gesto nervoso, e franzi as sobrancelhas ao dar as devidas explicações. PERIGOSAS ACHERON

PERIGOSAS NACIONAIS Ela tinha questionado ao que eu me referia. — Isso que estamos fazendo. Não sei o que é, mas preciso que saiba que pra mim é inédito. Você é diferente. Não sei se estou fazendo o certo. Amanda apenas assentiu pareceu pensar. Pensar demais, para meu gosto. — Vamos combinar algo então. É novo pra mim também, então que tal falarmos sempre a verdade um pro outro? Somos amigos antes de qualquer coisa — propôs. Fiquei aliviado com sua proposta. Não foi uma negativa, mas não foi uma promessa de eternidade. Ela é realmente muito inteligente, o que faz com que eu a queira ainda mais. — Boa ideia. Posso começar? — pedi colocando as mãos novamente nos bolsos frontais da bermuda. Estava nervoso e ansioso para falar o que tanto invadia meu peito e pensamentos. — Pode. Vamos sentar à mesa. Vou pedir o café da manhã aqui no quarto. — Tudo bem. Amanda ligou para o serviço do hotel e fez o PERIGOSAS ACHERON

PERIGOSAS NACIONAIS pedido. Então sentamos à mesa que ficava numa saleta próxima, ainda dentro do quarto. — Comece — Amanda sugeriu a mim. Estavam um de frente ao outro na mesa redonda de mogno. Os meus pensamentos a todo vapor, enquanto ela me olhava com profundidade, aguardando. — Então. — Titubeei. — Eu te desejava desde o dia em que te vi naquela boate — Se é para contar a verdade, lá vai. Ela parecia surpresa. — Estou parecendo algum maníaco? Estou parecendo o Nick? — Fiquei confuso pensando na possibilidade de ter dito algo inconveniente. — Não, você nunca agiu como um. Então tudo bem. — Ela riu, tranquilizando-me. — Só fiquei surpresa, aquele dia eu estava um pouco fora de mim. Assenti e me permiti relembrar a cena. Ela dançando, nossos olhos se cruzando esporadicamente. Suspirei. — Mas seus olhos me encantaram. Acho que você tem superpoderes. O que faz com os olhos e o PERIGOSAS ACHERON

PERIGOSAS NACIONAIS sorriso? É algum truque? —indaguei sério. Não me surpreenderia caso ela possuísse algo sobrenatural, ninguém nunca fez-me sentir assim antes. — Como assim? — Franziu o cenho, confusa. — Meus olhos e meu sorriso? Não, não sou uma bruxa ou feiticeira. Por que diz isso? Esboçou um sorriso de menina. Ela fica imperfeita em algum momento? Porque se a resposta for não, vai ser bem complicado impedir o misto de sentimentos agradáveis sobre ela. Eu já tinha falado demais, me sentia um garoto ingênuo. — Esse negócio de falar a verdade está sendo mais constrangedor pra mim do que pra você Ela arregalou os olhos e respondeu: — Prometo que respondo o que me perguntar depois. Tudo. — Levantou a mão direita em sinal de promessa. — Ok. — Cedi e decidi falar logo tudo que sentia. Seja o que Deus quiser. — Não sei o que faz PERIGOSAS ACHERON

PERIGOSAS NACIONAIS comigo, Amanda. Mas é estranho. Quando você me olha fixamente eu sinto meu corpo amolecer. — Gesticulei durante o discurso. — E quando sorri, sinto um choque me percorrer por inteiro junto com algo gelado ao mesmo tempo. Não tenho a mínima ideia do que isso seja... Mas ontem... Ontem eu me senti tão extasiado com você, como se finalmente a peça que faltava em mim estivesse ali comigo, se encaixando. Pronto, falei. Suspirei aliviado. — Estou achando que isso tudo pareceu com aqueles adolescentes que nutrem uma paixão secreta pela professora… E se declaram nos banheiros da vida, se é que me entende. Acrescentei. Fechei os olhos, já tinha falado besteira demais. Onde estava meu autocontrole? — Não! — Amanda sorriu e seus olhos me sondaram um pouco antes dela continuar. — Nossa... Preciso absorver tudo isso. Comigo... Não sei o que dizer, mas comecei a sentir algo diferente quando o beijei na frente do meu ex, o beijo de mentirinha. Mas ignorei, achei que fosse normal. Daí viemos pra cá, nos divertimos tanto... PERIGOSAS ACHERON

PERIGOSAS NACIONAIS E ver você olhando o pôr do sol, falando sobre suas coisas comigo naquela praia... Me conquistou, sabe? Eu queria mesmo ser sua amiga, até ver você quase nu de toalha na cintura, naquele dia com a mulher da empresa no seu quarto. Caramba... Comecei a desejar você ali... Timidamente nos meus pensamentos. Mas ontem... Eu senti exatamente a mesma coisa que você disse que sentiu. Parece estranho, não é? E para a minha surpresa, mesmo sendo experiente em relacionamentos, eu não tenho a mínima noção do que eu estou sentindo. Acho que teremos que descobrir juntos, se você estiver disposto. — Completou enquanto a encarava ouvindo tudo que ela dizia. Era essa atitude que eu admirava em Amanda. Ela parecia não ter medo de nada. Era transparente e sincera. Quer? Quer. Não quer? Tudo bem. Um silêncio reinou entre nós. Porém, alguns segundos depois, o quebrei. — Estou com um pouco de medo. Preciso que saiba disso. Mas eu quero muito saber o que PERIGOSAS ACHERON

PERIGOSAS NACIONAIS estamos sentindo... Nossa, me sinto um maldito virgem falando essas coisas. Quem diria? — Ri de mim mesmo. — Ok. Temos 13 dias. Ou não — afirmou tranquila. Chegamos ao ponto chave. Prazos. Era algo com prazo e aquilo não me deixava nada feliz. Mas, como não podemos ter tudo, levei na esportiva. — Já está valendo? Só me fala se no trabalho amanhã eu posso beijar você? Porque eu provavelmente vou querer — comentei com um sorriso de canto. — Vou pensar no seu caso, Antônio. — Ela sorriu com um ar autoritário. O café da manhã chegou e na hora que recebemos a comida, Clara abriu seus olhinhos na cama e Mel — a babá — também. Já eram mais de 8 h da manhã. Aquele dia seria bem cheio. — Bom dia, princesinha! — Amanda foi até Clara e beijou sua testa. — Bom dia, mamãe. — Ela levantou e seus PERIGOSAS ACHERON

PERIGOSAS NACIONAIS olhos me notaram enquanto eu levava as coisas para a mesa — Tio Tony está aqui? — Sim, filha, veio tomar café conosco. — Eba! — A ouvi chamar pela babá. — Vem, tia! — Bom dia, estou indo. Sorri sozinho ao ouvi-la. Essa menina mal sabia que em poucos dias já tinha cativado um espaço muito especial no meu coração. Durante o café da manhã, com todos sentados à mesa, não consegui evitar estar sorridente, dirigindo meu olhar para Amanda o tempo inteiro. Estava surpreso com o misto de sentimentos bons que apenas estar ali, com ela, me causava: o conforto e a sensação de liberdade. Ela pareceu tentar disfarçar, mas retribuía cada olhada minha, reprimindo um sorriso de canto. — Vamos embora que horas, mamãe? — Clara quebrou o silêncio. — Daqui a pouco, temos que estar no aeroporto às 11 h, o voo sai às 12 h — Amanda respondeu. PERIGOSAS ACHERON

PERIGOSAS NACIONAIS — Vocês já prepararam as malas? — perguntei. — Eu arrumei tudo pela manhã, falta só Clarinha tomar um banho e se aprontar, não é, filha? — Sim! Estou com saudade do papai, mamãe — respondeu e abaixou a cabeça, aparentando um pouco de tristeza por estar longe do seu pai. A observei e fiquei sério. Querendo ou não, o pai de Clara sempre estaria ali entre nós de alguma forma. Eu não queria que meu recente e não compreendido relacionamento com Amanda atrapalhasse isso, mesmo tendo um pouquinho de receio, afinal, eles foram casados por anos. Era todo um pacote que vinha junto com ela, mas naquele momento eu não quis pensar no risco que isso poderia me causar. Só queria continuar sentindo. — Tudo bem, filha, é normal sentir falta de seu pai, não fique triste. Ele deve estar com saudades também. Quer ligar pra ele antes de irmos? — Amanda sugeriu à Clara. PERIGOSAS ACHERON

PERIGOSAS NACIONAIS — Quero! Ao finalizarmos o café da manhã, Amanda dispensou Mel, a levando até a porta. Ela despediuse de nós e se foi. — Agora quero falar com o papai! — Clara saltou pelo quarto, animada com a ideia. Me senti um pouco fora do ambiente e, sem saber muito o que fazer, dirigi-me à porta principal. — Vou deixá-las sozinhas para sua ligação, daqui a pouco venho para darmos uma volta antes de irmos para casa, ok? — comuniquei a elas. Amanda assentiu e em seguida saí do quarto. Era tudo novo para mim, não podia lidar com aquilo ainda. Mal conseguia assimilar meus sentimentos, menos ainda ter que compreender outro homem na vida delas. Creio que em breve tudo se resolverá, e no que eu puder ajudar, farei. Parabéns, Tony, você mal passou uma noite com a mulher e já quer tomar sua vida inteira nas costas. Ri sozinho enquanto zombava de mim mesmo, antes de deitar na minha cama e aguardar. PERIGOSAS ACHERON

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AMANDA Assim que Antônio se foi, fiquei um pouco incomodada. Ele agiu de forma tão neutra que eu não conseguia ler seus olhos e suas atitudes, me pareceu apenas um amigo qualquer naquele momento. Clara pegou o celular, entregando em minha mão; então teclei o telefone de Henri, pus no vivavoz e ele logo atendeu: — Amanda? — Não, papai, sou eu! Estou com saudades! — Minha princesinha! Eu estou morrendo de saudades, quando vamos nos ver? — Hoje, daqui a pouco voamos, mamãe disse que até às 15 h eu chego aí. — Que bom, sinto sua falta. Não liguei por causa do código de área e estive ocupado, fico feliz que me ligou. Como tem sido a viagem? — Muito boa, papai! Ontem eu, mamãe e tio PERIGOSAS ACHERON

PERIGOSAS NACIONAIS Tony nos divertimos muito no parque de diversão! Tiramos até foto, vou mostrar a você quando eu chegar. Clarinha e sua boca grande e inocente. Eu contive uma risada, ao imaginar a reação de Henri do outro lado da linha. — O tio Tony está no mesmo quarto que vocês? Ele esteve com vocês em tudo, é? — Ele pareceu se corroer de ciúmes. — Não, ele dorme no quarto do lado, mas estava com a gente em tudo sim. Conhecemos até o pai dele! Muito legal a casa dele, papai, tem piscina, parquinho, brinquedos... — Que interessante, filha! Quando você chegar, termina de contar, sua mãe está aí? Quero falar com ela. — Sim, vou passar. Te amo, papai! — Te amo, filha. Clarinha estava radiante por ter falado com o “canalhenri”e me deu o celular para que falasse com ele. Sinceramente estava sem vontade alguma, tanto que revirei os olhos antes de tirar do viva-voz PERIGOSAS ACHERON

PERIGOSAS NACIONAIS e colocá-lo no ouvido. — O que quer, Henri? — Você. Por favor, Amanda, me diz que esse Tony não é nada seu! Eu não suportaria perdê-la para esse modelinho capa de revista! Eu te amo! Esse final de semana foi um divisor de águas em minha vida, eu mudei, quero que a gente converse, pelo bem de nossa filha. — Henri, não lhe devo explicações. Tchau. Desliguei. Lá, bem no fundo, ainda sentia algo por aquele imbecil. Sabia que não era amor, pois ninguém consegue amar genuinamente alguém que só se aproveita da sua bondade. Só que era essa “compaixão”, ou sei lá o quê, que me impedia de mandá-lo para o inferno. Eu evitava discutir com ele na frente de Clara, mas ela já tinha presenciado alguns batebocas. Era inevitável, Henri não media palavras e quando eu via, já estava debatendo. Respirei fundo para anular meus pensamentos dessa parte negativa da minha vida e PERIGOSAS ACHERON

PERIGOSAS NACIONAIS focar na minha filha e no que eu acabei recebendo nessa viagem: Uma chance de recomeçar. Antônio era um bônus, meu Senhor… E que bônus. Nunca imaginei que me envolveria com alguém tão rápido, mas parecia tão certo… Ele me dava paz, e o que eu mais necessitava naquele momento, era de paz. Dei um banho em minha filha e a arrumei, ela parecia uma princesinha. Levamos o vestido que Pedro deu. Clara usaria ele na volta para casa. Passados alguns minutos, já estávamos prontas. Antônio voltou ao nosso quarto e pegou as bagagens, entregando ao serviçal de hóspedes do hotel. Descemos pelo elevador em silêncio. Faltava apenas 1 h para irmos até o aeroporto, então ele deu uma sugestão. — Que tal irmos na loja do hotel e comprarmos alguns presentes? Abri a boca para negar, não podia mais gastar nada. — Eu amo presentes! Vamos! — Clarinha arregalou os olhos e pulou animada, antes que eu dissesse qualquer coisa. PERIGOSAS ACHERON

PERIGOSAS NACIONAIS — Antônio... Não precisa se incomodar — sussurrei. O elevador abriu e nós três seguimos em direção à loja. — Eu não me incomodo, vamos lá. — Ele nos guiou. Ao entrarmos na loja, Clara logo saiu correndo e foi para o setor infantil. Antônio riu da atitude dela e seus olhos me encontraram. Eu estava pensando ainda no que aconteceu mais cedo. — Está tudo bem? — Abraçou-me por trás, alisando meus braços em um gesto carinhoso. Respirei fundo. — Não está. Foi aquela ligação que fiz pro Henri. Estava nítido o receio na minha voz. — E como foi? — perguntou, mas logo completou — Não que você precise me contar… Me virei e o fitei nos olhos. Aqueles olhos tão sinceros e límpidos. — Tudo bem. — Sorri. — Ele se diz arrependido e quer me reconquistar. Disse que esse PERIGOSAS ACHERON

PERIGOSAS NACIONAIS final de semana o mudou e quer que a gente tente de novo, pelo bem da Clarinha. — Logo a frustração em minha voz se tornou nítida. — Como ele ousa? Eu ainda estou processando os absurdos que ouvi. Ele mantinha as mãos em meus braços, mas os olhos sondaram meu rosto por completo antes de sua boca se abrir e proferir as palavras que viram a seguir. — E... O que pensa em fazer? — inquiriu, parecendo apreensivo. Ele se calou e ficou me olhando parecendo querer ler minha alma. Eu queria dar uma resposta bem específica, então o puxei para atrás de algumas araras de roupas adultas e sussurrei em seu ouvido: — Você acha que eu seria idiota o bastante para aceitar a proposta de Henri e voltar pra ele? — Não. — De pronto respondeu. — Você é a mulher mais inteligente que eu conheço. — Pois é. Minha única preocupação é saber do que ele seria capaz para me ter de volta — revelei e depois dei um selinho nele. — Porque PERIGOSAS ACHERON

PERIGOSAS NACIONAIS agora mesmo é que eu não tenho nenhuma vontade de voltar pra ele. O sorriso de menino brotou em seus lábios e eu me senti aquecida apenas ao vê-lo sorrir. Fomos ao encontro de Clarinha com as mãos unidas, como uma resposta. Ao nos aproximarmos de Clara, notei que ela tinha escolhido várias roupas do cabide para experimentar. — Clarinha! Que bagunça é essa, filha? — a repreendi. Ela quase saltou em susto no meio das araras infantis e virou estendendo os cabides. — Mamãe, eu quero provar. Eu amei todos esses. Deixa eu vestir, por favor? — E fez aquele olhar cativante de novo. Como negar, Senhor!? — Só vestir. Não garanto que levarei todos. — Eba! Vem, mamãe, me vestir. Tio Tony fica aí. Só meninas podem entrar. Mas eu venho pra mostrar a roupa pra você, está bom? — Ok — Antônio bateu continência. — Daqui não saio sem sua ordem. PERIGOSAS ACHERON

PERIGOSAS NACIONAIS Nós três rimos e depois Clara e eu nos encaminhamos para as cabines. Minha filha vestiu animada o primeiro vestido. Era bege com babados na saia e um elástico que marcava a cintura. Era lindo. Ao sairmos da cabine, fomos mostrar a Antônio que estava com sua câmera aguardando. Assim que a menina apareceu, ele a fez desfilar como numa passarela e filmou cada detalhe. — Vamos lá, nossa modelo Clara com seu vestido bege da princesa... — Ele não sabia que nome de princesa poderia citar. Nem preciso dizer como fiquei maravilhada com aquele gesto dele, não é? O homem estava me envolvendo de todas as formas. — Bela. — Clara disse baixinho. — Claro! A princesa Bela! Aplaudam! — E os vendedores da loja estavam todos ao redor aplaudindo, enquanto ela desfilava fazendo pose de princesa, segurando as laterais do vestido e sorrindo. Foi assim com todos os que ela PERIGOSAS ACHERON

PERIGOSAS NACIONAIS experimentou, um show de diversão e uma grande aula sobre as princesas da Disney. Meu chefe filmava tudo. Pelo menos uma parte da viagem seria gravada. — Mamãe, quero esses três! — Clara mostrou-me no final, os três vestidos que escolheu. O bege, um azul e um verde que, segundo ela, era da Sininho. — Filha... — Agachei e falei no seu ouvido. — Mamãe não pode comprar os três. Escolhe um e a gente leva, tudo bem? Você sabe que, se eu pudesse, levaria todos, não é? Ela assentiu, estava triste, mas sempre fora compreensiva. Ela era extremamente obediente. — Quero o da Sininho — escolheu e então um sorriso nasceu em seus lábios. — Ótimo. — Levantei, peguei o vestido e fui ao caixa pagar. Tinha uma fila curta no caixa, e avistei de longe Clarinha ao lado de Antônio. Aguardei minha vez e, assim que paguei pelo vestido, olhei ao redor para ver se os dois ainda estavam lá. Um bip em PERIGOSAS ACHERON

PERIGOSAS NACIONAIS meu celular chamou minha atenção. Raptei a Clarinha um instante. Nos espere do lado de fora da loja. Já já nos vemos. — Era dele. Sorri curiosa, querendo saber o que eles aprontavam, mas obedeci ao pedido dele e fui até o lado de fora da loja. Sentei-me em um banco e aguardei. Após alguns minutos, finalmente os vi saindo. — Finalmente! O que tanto compravam? — perguntei ao vê-los saírem juntos, Clarinha com uma sacola e Antônio com outra. — Mamãe, tio Tony comprou pra mim! — Veio saltitante e me entregou a sacola. Semicerrei os olhos na direção de Antônio, que se aproximou fazendo uma feição inocente. — Antônio, você é incontrolável. — Abri e vi o vestido na sacola dela. — Obrigada. Esse é o vestido da Bela? PERIGOSAS ACHERON

PERIGOSAS NACIONAIS — Sim. Ela escolheu. E não precisa agradecer, é um gesto pela companhia dela nesse fim de semana — afirmou sorridente. Eu já estava ficando sem graça pelos gestos tão lindos da parte dele. Não queria que pensasse que a noite de ontem e tudo que conversamos hoje o deram liberdade para me paparicar. Mas algo eu precisava admitir, Antônio era magnífico, em todos os aspectos. Seria difícil minha rotina com ele ao lado, todos os dias. —Ok, então, vamos? Eles assentiram e seguimos até o carro. Durante o caminho, Clarinha fez todos cantarem a música da Frozen em alta voz. Peguei meu celular e gravei aquele show. Após acabarmos de cantar, mandei uma mensagem para meu irmão. Chegaremos hoje, devemos aterrissar às 15 h. Não se preocupe, Tony nos levará para casa. Fora ele mesmo quem insistiu em nos levar, então concordei pois não queria dar trabalho para Pedro. PERIGOSAS ACHERON

PERIGOSAS NACIONAIS — Passa o vídeo pra mim, vou colocar na minha videoteca. — Ele pediu. — Agora! Recebe aí — Enviei imediatamente para o celular dele. Ele o lançou na minha mão para que aceitasse. — Feito! — falei ao concluir. Ao chegarmos no aeroporto, um dos motoristas da empresa já estava lá para pegar o carro de Antônio. Ele o entregou, nós três entramos e logo fizemos o check-in. Embarcamos no avião e o voo partiu na hora certa. O trajeto foi tranquilo. Nos sentamos na mesma fileira e descansamos por toda a viagem. Ao chegarmos em Belo Horizonte eram quase 15 h. Descemos, buscamos nossas malas e ao caminharmos até o hall, paramos para admirar uma moça sentada tocando violão. Sua voz era melodiosa, linda. Muitas pessoas que passavam por ali, paravam para admirar. A canção era “Here comes the sun — The Beatles” Ficamos ali, unidos, absorvendo a letra da canção. PERIGOSAS ACHERON

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Lá vem o sol, lá vem o sol E eu digo que está tudo bem Queridinha, tem sido um inverno longo, frio e só Queridinha, parece que foram anos desde que esteve aqui Lá vem o sol, lá vem o sol E eu digo que está tudo bem Queridinha, os sorrisos estão voltando aos rostos Queridinha, parece que foram anos desde que esteve aqui Lá vem o sol, lá vem o sol E eu digo que está tudo bem Queridinha, eu sinto aquele gelo está lentamente derretendo Queridinha, parece que foram anos desde PERIGOSAS ACHERON

PERIGOSAS NACIONAIS que ficou claro Lá vem o sol, lá vem o sol E eu digo que está tudo bem Lá vem o sol, lá vem o sol Está tudo bem

A canção preenchia meus poros, causando paz em meu interior. Estávamos eu e Antônio lado a lado, e Clarinha na minha frente, sendo abraçada por mim. A vidraça ampla atrás de nós, permitia que a luz do sol incidisse próximo de onde estávamos, como em resposta àquela canção que dizia que o sol estava vindo. Me aproximei mais do homem ao meu lado, e como um ímã, ele envolveu um braço em meu ombro, me aconchegando e depositou um beijo no topo da minha cabeça. Eu estava aquecida, como se o sol finalmente chegasse na minha vida. PERIGOSAS ACHERON

PERIGOSAS NACIONAIS Respirei fundo, inalando seu cheiro envolvente e absorvendo o calor do seu corpo, para quando não estivéssemos lado a lado. Doía me confessar, mas eu sentiria falta dele, caso aceitasse a proposta. A música acabou, e muitos aplaudiram a menina, inclusive nós. — Amei essa música, mamãe! — Clarinha pulou em meu colo enquanto caminhávamos até a saída. Um pouco mais à frente, avisei alguém familiar. — Antônio, Pedro está logo ali. Queria que não soubesse de nós ainda, quero conversar com ele com calma, tudo bem? — sussurrei ao lado dele para que apenas ele escutasse. Sua resposta foi um aceno, concordando. — Pedro! — Acenei alegremente com a mão ao ver meu irmão se aproximando. Clarinha também acenou e caminhamos os três em direção a ele. — O que você faz aqui? — indaguei PERIGOSAS ACHERON

PERIGOSAS NACIONAIS enquanto o abraçava. — Não está feliz em me ver? — retrucou, parecendo desconfiado. — Tio Pedro! Estou com o vestido que você me deu! — Clarinha pulou no colo dele, que a recebeu de braços abertos. — Ficou lindo, Clarinha! Vamos pro carro? Eu vou levar você e sua mamãe pra casa. Vamos dar um descanso ao Tony. — Declarou e no fim piscou para o amigo, que sorriu em troca. — Mas por que não avisou que vinha? — insisti em perguntar. Queria mais alguns minutos ao lado dele, que mal tinha? — É, eu as levaria com o maior prazer, Pedro. — Antônio disse cordialmente. Meu irmão aparentou estranhar essa nossa proximidade, mas comentou tranquilo: — Viu? — Apontou para ele. — É por isso. Ele sabe que está cansado, mas esse jeito heroico de querer ajudar a tudo e a todos não aceitaria que eu viesse até aqui. PERIGOSAS ACHERON

PERIGOSAS NACIONAIS Todos rimos e Pedro completou: — Fora que hoje temos uma noite só dos solteiros. Meu amigão aqui precisa descansar... Planejamos tudo, Tony, você vai adorar! Antônio deu um meio sorriso e me olhou de soslaio. Retribuí o sorriso com desânimo, mas logo cortei o assunto. — Então vamos, não é? — disse a todos. — Obrigada, Antônio, pela viagem. Mesmo sendo a negócios, agradeço pela estadia e por sua hospitalidade. Estava sem graça com o comentário do meu irmão e quis logo sair dali. Nem eu estava me compreendendo, talvez fosse eficaz um tempo longe dele para assimilar melhor as coisas. — Não foi nada. Nos vemos amanhã na empresa. — Meu chefe respondeu. Fiquei ainda mais confusa ao ouvir aquilo. Então ele iria mesmo à festa. Foi duro constatar, mas se tem algo que sou boa, é em pescar as coisas no ar. Clarinha, Pedro e eu fomos para o carro, não PERIGOSAS ACHERON

PERIGOSAS NACIONAIS antes de Clara dar muitos beijos no rosto de Antônio e agradecer pela viagem e pelo presente.

No caminho até a casa de Henri... — E aí, Mandi, quais são as novidades? Como foi a viagem? — Pedro perguntou enquanto dirigia. — Algumas coisas sobre a empresa. Nada muito divertido. Em casa te conto os detalhes. — Olha, tio! A foto que tiramos na cabine do parque no sábado! — Clara esticou seus bracinhos para mostrar a foto em que eu e Antônio beijávamos seu rosto. Foi a foto que recortei para que ela levasse e guardasse de recordação daquele dia. Pedro observou a foto de relance, então minha filha a guardou. — Espere aí, deixa eu ver essa foto de novo, Clarinha — Pedro pediu. Ela a mostrou novamente. PERIGOSAS ACHERON

PERIGOSAS NACIONAIS — Linda, não é? — Clarinha comentou animada, enquanto eu permanecia em silêncio, olhando a estrada pela janela. — Aham. Linda — respondeu num tom sério. Virei o rosto para ver melhor a cena, e depois que Clara guardou a foto, ele me olhou de rabo de olho. — Rum. Devolvi o olhar e abaixei a cabeça. Sabia que haveria muitas perguntas assim que chegássemos em casa. Pedro é sagaz. — Temos mesmo que conversar em casa, Amanda. Bufei. Ele e essa mania de ser meu pai. — Vai ficar me chamando de Amanda agora? Relaxa, irmãozinho. — Sorri, mas não olhei em seus olhos. Chegando na casa de Henri, deixei claro que queria evitar a qualquer custo dar de cara com meu ex. Não queria que ele me afetasse justo no momento em que me sentia tão recuperada de todas as suas traições e palavras amargas. — Pedro, leva ela você, por gentileza? Minha PERIGOSAS ACHERON

PERIGOSAS NACIONAIS capacidade de ser neutra e educada na frente do Henri já zerou — pedi, dentro do carro. — Tudo bem. Mas se ele pisar fora da faixa comigo, não respondo por mim — respondeu firme. — Vamos, Clarinha. O tio tirou Clara da cadeirinha, pegou sua mala e a levou até seu pai. Henri não demorou a atender a campainha. De longe avistei a feição dele murchar quando viu que era Pedro, e não eu, a entregar nossa filha. Logo meu irmão retornou em silêncio, entrou no carro e deu partida. E em mim só vinha o frio, o frio que senti quando me distanciei daquele homem que era a amostra do próprio sol. Minha vida estava uma bagunça.

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Capítulo 11

AMANDA No caminho para casa, permaneci encostada no meu assento, pensativa. Não queria ver Henri. Dar de cara com meu ex-esposo poderia abrir feridas e causar mais dor em meu coração. Ele não era como Antônio, que me deixava tão alegre, tão em paz. Não mesmo. Senti que, naquele momento, o que mais precisava era de mais uma dose de Antônio. Mas ele podia não estar acostumado àquilo e seria melhor dar espaço, logo decidi que só o veria no dia seguinte, no escritório. Ainda imersa em pensamentos dentro do carro, um bip me chamou atenção no celular. PERIGOSAS ACHERON

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Ainda quero conversar com você. Não vou desistir. — Henri Idiota. — Amanda... Sei que está cansada e pensativa... Mas que raio de foto era aquela que Clara me mostrou? Eu vi ali uma família feliz, não um chefe e sua funcionária com a filha. — Pedro mostrou-se curioso questionou sem delongas. — Ah, maninho... Uma longa história. Somos amigos — respondi, sucinta. — Tudo bem, temos tempo. Assim que chegarmos em casa, tome um banho e me conte tudo. Sobre o trabalho, sobre essa sua amizade com Tony. Tudo. Em concordância, apenas assenti engolindo em seco. Pedro tinha uma autoridade ao falar, como se fosse um pai, não havia como desobedecer. Nós permanecemos em silêncio pelo resto do caminho até a casa. Assim que chegamos, fui direto guardar as PERIGOSAS ACHERON

PERIGOSAS NACIONAIS coisas da mala no armário, mas recebi outra mensagem. Torci para não ser o canalhenri de novo. Oi! Chegou bem? — Era Antônio. Sorri ao abrir a mensagem e respondi de pronto. Cheguei sim. Clara está na casa dela e eu e Pedro acabamos de chegar em casa. Ok. Guardei o celular com um sorriso pairando no rosto e voltei a organizar minhas roupas, colocando-as no armário. Pedro foi para o seu quarto direto, disse que cochilaria, mas que não deixaria de conversar comigo mais tarde. Tomei um banho e fiquei vagando em meus pensamentos. PERIGOSAS ACHERON

PERIGOSAS NACIONAIS Ah… Quem diria que você ocuparia meus pensamentos assim? Logo eu que jurei nunca mais sentir nada tão envolvente por algum homem. Mais uma vez meu coração me pregou uma peça, mas com você eu serei cautelosa, somos dois aprendizes nessa loucura toda e está sendo tudo tão rápido... De um dia pro outro, como pode? Ri como boba no box, enquanto me lavava. Eu sabia que ele estava sentindo algo especial por mim, pois demonstra com facilidade. Isso é uma vantagem. Tinha até a outra quarta à noite para pôr meus sentimentos em ordem e então decidir o que faria da minha vida. Ah... Eu estou com saudade dele... Ele me faz tão bem. Me permiti suspirar de saudade e anseio. Ao sair do banho decidi, por impulso, enviar uma mensagem para ele. Sinto sua falta :( Fiquei encarando a tela por longos segundos, PERIGOSAS ACHERON

PERIGOSAS NACIONAIS mas logo deixei de lado e voltei ao meu quarto. Enquanto penteava meus cabelos, a mensagem dele chegou. Estava pensando em você agora. Sinto sua falta também Ah é? E no que pensava? Algo bom né? Espero que sim Amanda a controladora! Hahaha. Sim, pensava em como eu estou maluco deixando você preencher quase todos os meus pensamentos. Ai, meu Deus! Ele podia dificultar um pouco as coisas, não? Que merda hein? Sinto dizer PERIGOSAS ACHERON

PERIGOSAS NACIONAIS que você está também fazendo um ótimo trabalho de invasão de mentes. Pelo menos na minha está rsrsrs Isso é bom! Acaba de se tornar meu lugar favorito. Sua mente! Pois pra mim sua mente ainda não é meu local favorito senhor Antônio... Quero invadir outros lugares Posso saber quais lugares são esses, senhorita Amanda... Só pra verificar se por acaso você já não os invadiu. Hahaha bobinho... Não falarei jamais! Hahaha! risada maléfica PERIGOSAS ACHERON

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Ok... Estou gargalhando nesse exato momento. Como faz isso? Está me controlando à distância!!! Superpoderes de invasão. Acabo de invadir seu humor. Ao enviar essa mensagem, estava rindo alto sozinha no quarto, quando Pedro entrou. — Aconteceu alguma coisa aqui? — falou da porta do quarto, correndo os olhos pelo cômodo. — Nada, estou conversando com alguém — respondi e levantei o celular. Antônio respondeu à mensagem. Viu? Eu sabia que tinha superpoderes desde sempre!!! Hahaha Logo respondi. PERIGOSAS ACHERON

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Pedro está aqui querendo fuxicar o assunto. Vou conversar com ele e já volto. Beijo Travei o aparelho e pedi para que Pedro sentasse na cama ao meu lado e ele obedeceu. — Vamos lá... Me conta tudo, como foi essa viagem, porque odeio estar por fora das coisas. — Já sentou intimando-me. — Tudo bem... Começo com o dia em que fomos buscar Clara para ir pro aeroporto... Então... Comecei a falar sobre Antônio e eu, e o pedido repentino do beijo em frente à casa de Henri. Pedro ouvia com atenção, claro que ele riu dizendo imaginar a cara que Henri deve ter feito e tudo mais, mas ainda assim estava atento. Ocultei detalhes da noite de amor que passei com seu amigo, mas deixei explícito que passamos a noite juntos e Pedro ficou de boca aberta. Ao concluir tudo, fiquei quieta, esperando que ele absorvesse as informações. PERIGOSAS ACHERON

PERIGOSAS NACIONAIS — Então... O que acha disso tudo? — não me contive e acabei perguntando. — Quero matar o Tony! Você é minha irmã! — Rolei os olhos ao ver que ele deixou o ciúme protetor falar mais alto. — Ele a seduziu? Bufei e cruzei os braços. Mal sabia ele que todo o plano de conquista veio de mim. — Acha que sou inocente, irmãozinho? Pelo contrário… Bem… Quem acabou se mostrando interessada fui eu. — Dei de ombros, com um sorriso enviesado no rosto. A realidade deve ter atingido a mente do meu irmão, pois ele pareceu refletir por um longo tempo antes de dizer alguma coisa a mais. — Meu Deus... Eu... Caramba... Loucura total! E claro que um milagre também! Conheço Tony há algum tempo, por causa da empresa e tal, mas como amigo apenas há um. Eu sempre soube que ele não dorme com as mulheres e tudo mais... — Parou, se aproximou de mim, segurou meu rosto e fitou-me nos olhos. — Ele está se apaixonando por você, Amanda Lice. Sabe o peso disso? Tem noção de tudo que fazia Tony para nunca querer PERIGOSAS ACHERON

PERIGOSAS NACIONAIS amar e então você chega e… Buum! Quebra tudo e o conquista!? — Apaixonado? Acho que não. Por que acha isso? — Senti algo apertar meu peito. Era medo. — Porque ele não faria nada com você se não tivesse algum interesse, no mínimo, impossível de controlar. — Soltou meu rosto devagar. Respirei fundo, absorvendo a informação. Pedro deveria saber bem do que estava falando, não é? — Não... Ele não me deu detalhes sobre essa blindagem absurda dele. Eu devo me preocupar? — Senti receio, ele diria se algo estivesse errado, não diria? — Acredito que não. — Pensou um pouco, antes de continuar a falar. — Acho que você deve se empenhar em fazê-lo feliz, tenho certeza que ele fará o mesmo. Ele nunca amou para que não sofresse. Só conversava essas coisas comigo, eu não gostaria que ele finalmente se apaixonasse e depois você o fizesse sofrer. Isso não é um jogo PERIGOSAS ACHERON

PERIGOSAS NACIONAIS como o daquela noite com Nick, não, né? Porque, Amanda, Tony é um cara muito bom, não merece isso. O que mais me surpreendeu foi o fato de meu irmão não pensar em nenhum momento nos meus sentimentos, e sim no amigo intocado pelo amor. A coisa deveria ter sido mesmo muito séria. — Claro que não, seu doido! Somos amigos e eu realmente gosto dele. Quero descobrir esse sentimento novo e diferente. Agora, sobre ele sofrer ou não... Tem outra coisa que eu quero contar. Antes mesmo que Pedro falasse algo, comecei a contar da proposta que recebi de Douglas Gali e que tinha até quarta à noite da outra semana para responder. — Putz! Isso sim é uma merda gigante! — Pedro exclamou. — Pedro, já estou acostumada. Estava tudo indo bem demais. Na minha vida não dá tudo certo. Quando dá certo de um lado, tem que dar errado do outro — lamentei. — Mas você já sabe se vai aceitar? Porque, PERIGOSAS ACHERON

PERIGOSAS NACIONAIS Mandi... Isso é uma puta proposta! — É... Eu sei. Estou pensando. Tem várias coisas que me prendem ainda. A faculdade, se eu passar, não irei, se nada der certo em Recife eu volto à estaca zero. Clara vai ficar longe do pai porque eu a levarei, tem o documento do divórcio que ainda não saiu. Pedro me interrompeu. — Ah, que bom que falou. Sobre divórcio, uma mulher ligou do cartório na sexta, disse que falta apenas mais uma assinatura dos requerentes. Disse que se vocês assinarem em até 15 dias, a certidão sai na semana seguinte. — Que ótimo. Vou resolver isso. Menos uma preocupação. — Suspirei Enfim o clima estava mais leve, não gosto de esconder nada de Pedro. Só que a feição dele se tornou um pouco alerta, como se lembrasse de algo. Ih, lá vem bomba. — Amanda, eu fiquei feliz por você e por Tony... Mas hoje nós planejamos uma noite dos solteiros na boate nova que inaugurou. Fechamos a PERIGOSAS ACHERON

PERIGOSAS NACIONAIS boate para apenas convidados. Claro que terá mais mulheres do que homens... Mas, se quiser, ponho seu nome na lista. Arregalei os olhos. Ele estava me convidando? Sem pressão? Uau. — Quer que eu vá? Ele me encarou com uma feição obvia. — Se você não for eu proíbo Tony de ir. Será algo bem particular e ele sabe muito claramente sobre o que rola nessas festas. Assenti, compreendendo. — Pode colocar então. Eu irei. Mas não diga a Antônio. Farei surpresa. — Tudo bem. — Deu uma piscadela. Ele saiu do quarto sorrindo, realmente parecia estar feliz por mim. A conversa foi longa, e quando dei por mim, já eram quase 20 h. Então mandei uma mensagem para o invasor dos meus pensamentos.

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PERIGOSAS NACIONAIS Pedro já sabe de nós Poucos segundos depois tive a resposta. Que bom, estava agoniado pra que ele soubesse Você vai na noite dos solteiros que seus amigos planejaram? Vamos lá, Amanda. Você é esperta, esse pode ser um teste. Pedro disse que é impossível que ele vá e não faça nada por lá, se ele for… Não concluí o pensamento, a mensagem chegou. Sinceridade? Queria te ver. Não estou animado para boate hoje. E mais uma vez me surpreendi com a PERIGOSAS ACHERON

PERIGOSAS NACIONAIS sinceridade crua dele. — Tá difícil achar defeito, meu querido — falei a mim mesma ao ler aquela mensagem. Você não precisa se privar por minha causa. Vamos nos ver amanhã. Relaxa que eu não vou ficar chateada se for na boate e pegar alguma mulherzinha rsrs. Não temos nada sério, estamos nos conhecendo, certo? Mentira, ficaria chateada sim, mas não podia simplesmente pedir para um cara que conhecera há uma semana e estava acostumado com a vida de mulherengo para deixar tudo e ficar apenas comigo, por mais que eu odiasse a ideia contrária. O mesmo se aplicaria a você? Pq se sua resposta for sim, saiba que eu não gostaria nada de dividi-la. E PERIGOSAS ACHERON

PERIGOSAS NACIONAIS não estou afim mesmo de ir à boate. Não quero outras mulheres. É precipitado? Meu peito quis explodir. Precipitado? Ai, Senhor… Não me deixa ficar tão animada... Acho que falei merda. Pq as palavras estão saindo sem passar pelo meu cérebro? — ele enviou em seguida. Apenas sorri como uma criança ao ler a mensagem. Se não for à boate com seus amigos vou me sentir mal. E vou em outra boate pegar uns carinhas QUE MERDA AMANDA... Tá eu vou... Controladora! Kkkk PERIGOSAS ACHERON

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Ri de mim mesma e logo fui me arrumar para a noite. Escolhi um vestido azul tifany tomara-quecaia, colado até o meio das coxas. Complementei com um sapato de salto super alto branco. Fiz uns cachos em meus cabelos e os deixei soltos. Finalizei o look com uma maquiagem marcante nos olhos e passei gloss nos lábios. Pedro foi na frente. Eu queria fazer surpresa a Antônio e fui logo depois, de táxi. Chegando lá, os amigos do meu irmão já estavam entretidos. Tentei me esconder e procurálos primeiro. Ali estão eles. Vou observar um pouco antes de aparecer — pensei ao encontrá-los. Fiquei observando meu alvo e os meninos por algum tempo. Antônio vestia uma calça jeans preta e uma polo importada verde escura, seus cabelos estavam soltos, jogados para um dos lados. Lindo demais. Suspirei. Notei que ele não bebia nada alcoólico. Isso PERIGOSAS ACHERON

PERIGOSAS NACIONAIS me surpreendeu, achava que ele bebia de tudo. Os garotos saíram um para cada canto e ele ficou recostado no bar, rindo deles olhando para os demais dançando na pista e azarando as mulheres, quando uma bela loira parecida com uma Barbie falsificada se aproximou dele, acariciou seu peito de modo descarado e sussurrou em seu ouvido. Assisti de longe e uma pontadinha de ciúmes surgiu ao assistir aquela cena. Só uma pontinha, ele era livre, não era? Ele pode ter quem quiser, Amanda, para de ser tola, vocês são só amigos coloridos. Foi quando o vi assumir um rosto sério, afastando a Barbie dele e balançando a cabeça em negativa. Trocaram algumas palavras, mas ele sempre assumia uma negativa. Ela fez biquinho e saiu de perto. De repente ele pegou o celular e o manuseou. Logo senti o meu vibrar. Aqui tá um saco! O que vc ta PERIGOSAS ACHERON

PERIGOSAS NACIONAIS fazendo? Ri, ainda escondida detrás de uma pilastra. Assistindo a um filme. Ta na cena em que uma barbie atirada se joga no galã numa balada. Mas ele a ignora Nossa. Que específica. Quer companhia? Ele não pareceu desconfiar da minha narrativa. Não, vai se divertir. Dança um pouco, quem sabe não encontra a mulher dos seus sonhos hoje? De longe o vi quando leu a mensagem. Ele passou a mão pelos cabelos em frustração e PERIGOSAS ACHERON

PERIGOSAS NACIONAIS estreitou os olhos. Depois balançou a cabeça enquanto digitava a resposta. Tá tudo bem? Eu fiz algo de errado? Te disse que não sei como isso funciona. Relaxa, apenas curta sua noite. Dance por mim. Ele parou de responder e voltou a observar as pessoas dançando. Não muitos segundos depois, colocou o aparelho no bolso da calça e saiu dali em direção aos amigos.

TONY Eu já estava me tornando um otário de carteirinha. Tava na cara que ela não me queria, e eu nem sabia o que tinha feito de errado. PERIGOSAS ACHERON

PERIGOSAS NACIONAIS Mulheres. Estava frustrado, sentindo uma dor estranha no peito pelas suas mensagens tão neutras e frias, então segui seu conselho, indo até a pista de dança. Estava tocando uma batida eletrônica. Encontrei Lucas e Pedro. De imediato ficamos zoando entre nós. Mal passaram-se alguns segundos, e senti alguém pulando atrás de mim, tapando minha visão me fazendo encurvar o corpo para o lado pelo modo como me puxou. — Opa! Vou acabar caindo em alguém. — Achei graça daquilo, ainda com o corpo encurvado para o lado para que as mãos conseguissem tapálos. Não tenho culpa de ser bastante alto. — Quem é? — perguntei. — A infiltradora de mentes. — Ela sussurrou ao pé do meu ouvido, usando uma voz sensual que imediatamente reconheci. Para descrever exatamente o que eu senti naquele momento, só assemelhando a uma manhã PERIGOSAS ACHERON

PERIGOSAS NACIONAIS de sol depois de uma noite de tormenta. Foi um alívio imediato em meu peito. — Hum... Acho que, na verdade, deve ser a controladora! — Dei uma risada e ela decidiu se deixar ver. Assim que a vi, não me contive e a abracei suspendendo seu corpo do chão, o que a fez rir como criança. Queria apenas matar a saudade. Estávamos há quanto tempo longe? Algumas horas… Viu que absurdo? Lucas e Pedro olhavam a cena sorridentes e recebi aquilo como um incentivo. Assim que a desci, não hesitei em beijá-la, um beijo cheio de saudade reprimida. Sorrimos entre os beijos e, por fim, a abracei novamente. — Você é muito espertinha! — Ri enquanto brincava com ela, tocando com o indicador na ponta de seu nariz. — Não. Sou controladora! — me corrigiu e sorriu. Então nos viramos para os outros dois, que assistiam à cena. PERIGOSAS ACHERON

PERIGOSAS NACIONAIS — Bom, fiquem à vontade. Vamos, Lucas? — Pedro disse para nós, deu uma piscadinha para Amanda e puxou Lucas, atônito com o que acabara de ver. Depois que eles se afastaram, fomos dançar na pista, animados, apenas nos olhando e sorrindo um para o outro, quando começou uma música mais tranquila. — Essa música diz muito do que ando sentindo. — Amanda sussurrou em meu ouvido. Sorri, atento a letra para quando iniciasse e a puxei para mais perto. Sei inglês e foi fácil distinguir a tradução na hora, pois não conhecia a música. Quando chegou a uma parte específica da canção, Amanda começou a cantar junto, me olhando fixamente dançando para mim. Essa mulher é minha ruína. "Então me ame como você ama, me ame como você ama Me ame como você ama, me ame como você ama PERIGOSAS ACHERON

PERIGOSAS NACIONAIS Me toque como você toca, me toque como você me toca O que está esperando?" Estava ficando maluco e já não consegui me conter em ficar com ela apenas ali, dançando. A puxei para um canto da boate, pronto para demonstrar o quanto a desejava e sentia sua falta. — Eu vou acabar enlouquecendo aqui, se continuar me olhando desse jeito. Vamos para minha casa? — sussurrei em seu ouvido enquanto beijava seu pescoço. Ela ofegou, passando imediatamente a mão pelo meu corpo, me trazendo mais para perto dela. — Vamos — disse e imediatamente saímos juntos da boate. Durante todo o caminho, ficamos com uma mão entrelaçada e, de vez em quando, trocávamos olhares cúmplices. Ao chegarmos na minha casa, assim que passamos pela porta, eu já não podia mais conter o desejo latente de tê-la novamente pra mim. A PERIGOSAS ACHERON

PERIGOSAS NACIONAIS trouxe para perto e a beijei de modo avassalador. Amanda retribuiu, fazendo com que nossos lábios ditassem as regras e assumissem a responsabilidade de mostrar o quanto nos queríamos. Eu a desejava mais do que nunca. Fomos tirando nossas roupas pelo caminho. Ansioso, eu não quis esperar chegarmos ao quarto, a casa era grande e me sentia dependente dela naquele momento. — Aqui — disse ao parar em um corredor da casa. A posicionei encostada na parede e tratei de despi-la por completo para que tivesse acesso ao seu corpo. Depois a beijei no pescoço, desci por seu colo, chegando até seu ventre e retornei à boca. — Você será minha bem aqui hoje — falei com meus lábios nos dela enquanto a posicionava em meu colo. — Bem aqui nessa parede. — O que está esperando? — Ela enlaçou as pernas na minha cintura, ofegante de desejo. Ah, mulher… Eu estava perdido, louco, viciado, mas não PERIGOSAS ACHERON

PERIGOSAS NACIONAIS perdi tempo e logo estávamos nos entregando um ao outro. Amanda gemia, ofegava e falava frases que faziam meu ego chegar às nuvens, enquanto eu me aprofundava em seu interior. Senti suas unhas nas minhas costas, arranhando enquanto eu mordia seu ombro, ainda entregue àquele momento íntimo e profundo que compartilhávamos. Não era só sexo, eu já tinha plena consciência disso. Amanda, a cada toque, a cada proximidade, se infiltrava permanentemente em minhas veias. Eu já pertencia a ela. Era o que cada batida descompassada do meu coração, retumbava em resposta quando eu pensava nela. Dela. Dela. Dela. Eu já era dela. PERIGOSAS ACHERON

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Capítulo 12

AMANDA Uma coisa eu podia garantir com toda a certeza: Aquele homem estava mexendo comigo. Antônio, com seu jeito intenso e verdadeiro, unido à pessoa maravilhosa que ele era dia após dia, estava fazendo com que minha mente me tapeasse, tirando-me do foco de meus objetivos. Eu não queria um romance, não estava pronta para aquilo ainda, mas, mesmo assim, permitia e queria que ele estivesse perto. Depois das nossas loucuras no corredor da casa, repetimos tudo no quarto até estarmos exaustos. Cada vez que eu sentia suas carícias, seus PERIGOSAS ACHERON

PERIGOSAS NACIONAIS beijos quentes marcando meu corpo, só conseguia perceber como aquilo parecia certo. Quando nos extasiamos, fomos tomar um banho de banheira. Parece que aquela virou nossa rotina e eu estava adorando. Após a banheira estar devidamente cheia, entramos e relaxamos abraçados, sentindo nossos batimentos sincronizados. O peito forte de Antônio tocava as minhas costas. Eu me encaixei perfeitamente ali, naquele abraço. Mesmo sendo menor e delicada, era como a peça correta para ele. Tudo parecia certo. — Nunca pensei que estar assim com alguém fosse tão bom — a voz dele ecoou pelo ambiente. — Nunca pensei que estaria assim com alguém tão rápido. — Somos meio loucos, né? — Riu. — Dois malucos completos. Mas eu bem que estou gostando dessa loucura. — Eu estou amando. Virei-me de frente para ele e encarei fixamente seus olhos azuis tão transparentes e PERIGOSAS ACHERON

PERIGOSAS NACIONAIS sinceros. Sua afirmação fora tão simples, mas absorvi com ânsia, guardando dentro de mim aquelas palavras. Logo voltamos a nos beijar apaixonadamente e, em instantes, mais uma vez me entreguei a ele. Nós nos encaixávamos. Dois pedaços quebrados, que se tornavam um completo. Eu estava me apaixonando. Simples assim. Depois de me sentir completamente saciada dele, senti fome. Ele também afirmou estar faminto, e juntos saímos da banheira, nos secamos e fomos para a cozinha. Ele me emprestou uma camisa — que ficou enorme, mas ok. — e colocou apenas uma toalha seca enrolada na cintura. Eu seria obrigada a vê-lo me seduzindo sei lá por quanto tempo mais, pode isso? Assim que preparamos o suco e os sanduíches, fomos para a sala comer. Antônio tinha um X-box e eu adorava jogar nele. Só precisava saber se tinha algum jogo que eu estava familiarizada. Enfim encontrei um e o convidei para uma partida. PERIGOSAS ACHERON

PERIGOSAS NACIONAIS — Sabe que eu vou te humilhar no jogo, não sabe? — Antônio perguntou cautelosamente e me lançou um sorriso de canto. Estávamos sentados no sofá em frente a tevê, já saciados da fome. Se ele pensou que me cativaria com o sorriso, estava muito enganado. Naquele momento ele tinha me desafiado. — Veremos! Começamos a jogar. Era uma cena engraçada, joguei primeiro mostrando minhas habilidades e ele jogou depois. Revezávamos para ver quem se saía melhor. Em uma das minhas vezes, ele me surpreendeu com poucas palavras. — Preciso filmar isso! Ninguém vai acreditar que minha mulher joga melhor que eu! — Correu rumo ao quarto. Fiquei estática. Minha mulher. Ele havia dito minha mulher! Ok, foi só um modo de dizer… Foi só um modo de dizer, não é? — pensei, ainda surpresa, e um tanto contente por aquilo. PERIGOSAS ACHERON

PERIGOSAS NACIONAIS Assim que ele retornou com uma câmera, brinquei, disfarçando o fato de ainda estar mexida com o que ele havia dito. — Ah, para, tá moleza esse joguinho. Filma à vontade, depois eu filmarei sua cara de derrota! — zombei dele, rindo. —Ha ha ha ha, filma minha risada maléfica também! Parecíamos dois adolescentes? Sim, mas eu não estava nem aí. Ele gargalhava durante toda a filmagem, e quando minha vez acabou, ele apoiou a câmera próximo dali para que filmasse a sua vez. Enquanto ele jogava, decidi jogar também, mas de outras formas. Comecei a alisar as costas dele, tentando distrai-lo. — Ah, meu bem... Pra que me vencer? — falei, enquanto o abraçava no sofá, dando beijos pelo seu pescoço. — Vamos nos divertir de outra forma. — Não vale, controladora! Está tentando me controlar de novo! Isso é jogo sujo — retrucou com os olhos atentos ao jogo, tentando manter a concentração. PERIGOSAS ACHERON

PERIGOSAS NACIONAIS — Adoro jogo sujo. — Por fim sussurrei com uma voz sexy no ouvido dele. Ele parou, pausou o jogo e lançou o controle no chão. Não parecia tão controlado de si mesmo. — Vai me pagar, controladora. — E me agarrou ali mesmo no sofá. Só que não era um casal qualquer. Éramos Antônio e eu, então uns amassos nos guiaram até muito mais. Ele me abraçava com força, enquanto investia contra mim. — Vai me pagar por me fazer perder no jogo — disse num rosnado. — Eu. Nunca. Gostei. Tanto de...Pagar por algo — respondi acompanhando seu ritmo intenso, sem fôlego. Acho que seria sempre assim, onde faiscava virava incêndio. Depois de chegarmos ao clímax, deitamos ainda nus no sofá e ficamos nos olhando, enquanto acariciávamos o rosto um do outro. — Eu venci, HAHAHA! — exclamei PERIGOSAS ACHERON

PERIGOSAS NACIONAIS sorridente. — Não me importo! Ha ha ha! — ele retrucou. Dei um tapinha brincalhão no ombro dele, enquanto me abraçava. Ele então levantou, soltando-me de seu abraço e se posicionou de frente a mim no sofá. — Olha, pelo que eu vi hoje mais cedo com aquelas mensagens suas, terei que te obrigar a fazer uma promessa. — Mantinha uma expressão séria. Estranhei a mudança repentina de humor e fiquei séria também. — A câmera está filmando de prova, hein! — completou ele e logo ficou alerta. — Ela filmou tudo que fizemos! — Tudo bem, não me importo — Sorri, eu confiava nele. — Me fala, o que é? Ele respirou fundo e, parecendo um cavalheiro do século XIX, segurou minhas mãos e disse em bom som: — Repita comigo: Eu prometo... — Eu prometo — repeti. PERIGOSAS ACHERON

PERIGOSAS NACIONAIS — Que nunca machucarei. — O que é isso? — inquiri. Realmente estava tudo muito confuso. — Apenas repita. — Ele respondeu. — Que nunca machucarei. — Os sentimentos de Antônio Banelli Gali em toda a minha vida. — Os sentimentos de Antônio Banelli Gali em toda a minha vida — repeti por fim. Mas senti, no mesmo instante, que eu não deveria tê-lo prometido, só ainda não sabia o porquê.

TONY Estava me sentindo uma criança com medo de andar na montanha-russa e sair passando mal, mas era o que meu coração sentia. Medo de ser ferido. Quando meu pai fez o pedido para que eu PERIGOSAS ACHERON

PERIGOSAS NACIONAIS jamais me deixasse levar pelo amor, foi quase que uma súplica da sua alma. Esse pedido foi a primeira conversa que tivemos em quatro anos após a morte da minha mãe, que o destruiu completamente. Hoje, ele vive apenas com sua casca, perambulando por aí, pois por causa do amor que sentia por ela, grande parte dele também se foi naquele fatídico dia. Eu senti a dor, mas não sabia como era estar no lugar dele. Meu pai sempre foi muito amigo meu, sempre me deu os melhores conselhos e usou de sabedoria em todas as fases da minha infância e adolescência, explicando-me cada passo que eu podia e precisava dar. Eu continuamente o segui, e foi por tê-lo sempre seguido, que acatei sua ordem sobre não amar. Realmente não queria a parte dolorosa, mesmo sentindo um calafrio percorrer minha espinha depois que Amanda prometeu nunca causála. Era como se, de alguma forma, fosse inevitável sofrer. PERIGOSAS ACHERON

PERIGOSAS NACIONAIS Mas não. Eu não queria. — Pronto. É isso, agora eu tenho sua promessa e poderei cobrar. — Dei de ombros. Amanda ficou séria, mas logo me abraçou e ficou ali, em silêncio. — Farei o possível para cumprir, mas por que me pediu isso? — indagou. Aquele era o momento de ser verdadeiro com ela. Não dava mais para esconder. — Porque eu sinto que estou me apaixonando por você — admiti enquanto a abraçava e acariciava suas costas. — Eu tenho quase certeza e agora, mais do que nunca, sinto medo. O amor dói, eu cresci ouvindo isso do meu pai, e agora eu estou permitindo meu coração vivenciar esse sentimento novo. Isso é complicado pra mim — assumi, sério. Ela se afastou de meu abraço e sondou meus olhos por um longo tempo. — Obrigada, eu não sei o que dizer... Promete cuidar de mim e nunca trair minha confiança? PERIGOSAS ACHERON

PERIGOSAS NACIONAIS — Prometo, sou bom em lealdade — garanti. E realmente sou bom nisso. Jamais seria desleal aos meus próprios sentimentos. — Então demos mais um passo hoje, certo? Queria aproveitar e saber sobre a história do seu pai, por quê ele dizia essas coisas acerca do amor para você — Amanda perguntou cuidadosamente. Aquela era uma área delicada, mas se eu a queria comigo, precisava ser transparente. Contei tudo a ela, até perceber que a câmera ainda filmava. Desliguei-a. Nós dois conversamos sobre diversos assuntos ainda no sofá, quando fomos tomados pelo sono. Amanda adormeceu nos meus braços, e em algum momento da madrugada, acordei e a levei em meu colo para a cama. Vê-la tão serena dormindo, só fazia meu peito apertar de uma forma nova, como se eu estivesse a cada dia descobrindo algo novo sobre esse sentimento. Mas eu tinha uma única preocupação: Onde isso tudo vai dar? PERIGOSAS ACHERON

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Uma semana se passou desde aquele domingo. Amanda e eu estávamos a cada dia mais unidos e desfrutávamos desse novo sentimento que reinava entre nós. Era intenso e profundo. Eu sabia que não tinha mais volta. Fui o primeiro a chegar na empresa segundafeira. Estava animado para rever Amanda e para colocar tudo em ordem. Os funcionários foram chegando aos poucos e eu já estava na ativa em minha sala, verificando documentos e números, quando alguém abriu a porta. Era Nick. — Bom dia, chefão. Posso entrar? — Claro, entre, Nick. Nick entrou e se sentou de frente a mim, do outro lado da mesa. — Primeiro quero te passar os contatos internacionais que fiz na sexta, estão todos aqui nesses papéis. — Ele entregou alguns papéis grampeados. — Segundo, você está comendo a PERIGOSAS ACHERON

PERIGOSAS NACIONAIS Amanda? Os meninos falaram comigo naquele dia da boate algo sobre isso, mas não acreditei. Semana passada não percebi nada demais entre vocês. — Primeiro, obrigado pelos contatos. Segundo, não estou comendo a Amanda. Estamos nos relacionando de uma forma diferente. — Um sexo fixo — reafirmou. — Sabe que não precisa amenizar a situação pra mim. Vai me dizer que aposentou as bolas agora? — Vê se te enxerga, Nick. Continuo macho, imbecil. Ele riu. — Macho… Macho… Baita vovô do INSS, isso sim. Esconde o ouro dos amigos, tenho que ficar sabendo da fofoca pelos outros. Tenho que ficar tricotando que nem mulher por aí pra saber que meu amigo estacionou de vez. Ele tinha razão, não comentei com nenhum deles sobre ela, ainda. — Você ficou chateado? Eu sei que se interessou nela — perguntei, mas realmente estava preocupado com meu amigo. PERIGOSAS ACHERON

PERIGOSAS NACIONAIS — Me interessei. Mas você sabe como sou, não é? Parti logo pra outras, se é que me entende. — Nick deu uma risadinha marota. — Então tudo certo. Qualquer coisa, sabe que pode contar comigo não é, irmão? — Estendi a mão em menção a um aperto. — Claro, meu gato dos cabelos sedosos! Voltarei ao trabalho. Boa sorte, Tony. — Retribuiu o aperto. Ao chegar na porta, ele teve um sobressalto. — Lembrei uma coisa! Voltou até mim. — Fala logo, qual a quenguice? —Dia 20 de julho é a festa da véia. Me avisou ontem, só tô confirmando. — Balançou a mão no ar, referindo-se ao assunto como algo sem muita importância. — 20 de julho de novo? Sua vó quer tomar posse do dia do amigo de vez, né? A avó de Nick era uma senhora baixinha e rechonchuda de 74 anos. Desbocada e festeira nata, todos os anos comemorava seu aniversário no dia PERIGOSAS ACHERON

PERIGOSAS NACIONAIS 20 de julho, mesmo fazendo dia 15. Ela dizia que o melhor dia para se comemorar é o dia do amigo, já que a melhor amiga dela era ela mesma. — Fazer o quê? Dona Euzira é dona Euzira. — Nick deu de ombros. — Conseguiu avisar aquele gastador do Lucas? Todos têm que comparecer, inclusive ele. — Ainda não, mas você sabe que ele vai, nem que apareça descendo de helicóptero no fim da festa. Lucas nunca perde as festas da vó — disse. — Então tudo certo. Vai trabalhar logo, Nick. Fingi ralhar com ele. — Vai pro inferno, chefe de merda. — Levantou o dedo do meio na minha direção, que só ri. Assim que ele saiu, Amanda chegou. Ao entrar, eu estava verificando os papéis que Nick me deu, mas quando olhei para ela, parei e sorri, admirando-a. Era inevitável. — Bom dia! — Boa noite, né, estou atrasada. Queria PERIGOSAS ACHERON

PERIGOSAS NACIONAIS justificar. Eu estava pronta pra sair e, quando cheguei no ponto do ônibus, ele tinha acabado de passar, passou mais cedo hoje e eu o perdi, tive que esperar outro. Desculpas — lamentou. — A partir de amanhã te busco em casa — afirmei com toda a autoridade de chefe. — Para evitar atrasos, é claro. Amanda era bastante insistente quanto às suas vontades. Não queria que eu impusesse nada além de seu próprio alcance e eu não a obrigaria a aceitar tudo que eu estava disposto a oferecê-la. —Ah, sim, estritamente profissional — ironizou ela. — Absolutamente. Ficamos em silêncio, com os olhos conectados. Amanda de pé, próximo à porta, e eu sentado diante de minha mesa. Não cansava de admirá-la. Ela parecia mais linda a cada dia. Em meu íntimo, cada pulsação ambicionava mais e mais dela. Um sentimento totalmente singular. — Tem algo diferente no seu rosto. Deixa eu PERIGOSAS ACHERON

PERIGOSAS NACIONAIS ver, vem aqui. — Quebrei o silêncio, falando sério. Amanda sabia que eu estava jogando, podia ver isso nos seus olhos. Ela veio, e ao se aproximar, virou o rosto para os lados para que eu visse o que tinha de errado. — Algo errado? — perguntou abaixando, enquanto eu segurava seu rosto, visualizando cada parte. — Hum... Na verdade... Não. — Então a beijei. Um beijo intenso e profundo como sempre, deixando gosto de quero mais. — Você só está mais linda e perfeita do que ontem. Isso é progressivo? — Acredito que seja, mas só você consegue perceber. — Ela sorriu. — Ufa. Ainda bem! — Retribuí o sorriso. Ela me olhou com profundidade mais um pouco, e depois retomou sua compostura. — Bom, tenho que trabalhar, Antônio. Precisando de mim é só chamar. — Tudo bem. — A puxei novamente para mais um selinho antes dela sair da sala. PERIGOSAS ACHERON

PERIGOSAS NACIONAIS Já estava encrencado. Me sentia completamente apaixonado por ela. Esse efeito que ela tem sobre mim, tão repentino... Como eu adoro isso.

BRUNA Vida de recém mamãe é difícil. Poderia vir junto com a criança, um manual de instruções. Eu estava exausta! Quando entrei de licença-maternidade pensei logo em Tony e se tudo daria certo com a secretária nova. Fiquei radiante ao notar que tudo estava dando mais que certo e além de ter uma funcionária competente, ele estava encontrando o amor pela primeira vez. Sempre desejei que isso acontecesse com meu amigo, ele é um homem maravilhoso e merece ter tudo o que a vida pode oferecer. Estava arrumando o quartinho de Jonas, meu bebê, quando o celular tocou. PERIGOSAS ACHERON

PERIGOSAS NACIONAIS — Alô? — atendi. —Sou eu, Bruninha, Amanda. Precisava conversar com você, está ocupada? Opa, novidades. Adorava quando Amanda me ligava. — Não, Jonas está dormindo, pode falar, como tem se saído na empresa? —Bem, tudo está em ordem, nada de mais. E seu bebê, quando poderemos visitar? Saí do quarto do meu filho, para não fazer muito barulho e sentei no sofá na sala. — Semana que vem marcarei um dia de visitas, aviso a vocês. Ele está muito comilão, não me dá descanso, mas eu estou amando essa vida de mãe, ele me revigora. E você com Tony, como estão? A ouvi suspirar pesadamente. — Bruninha, nós estamos vivendo algo tão intenso, sabe? Em poucos dias eu estou me sentindo tão diferente. Não consigo resistir a ele, me sinto como uma adolescente. — Espera aí, Amanda, está entrando outra PERIGOSAS ACHERON

PERIGOSAS NACIONAIS ligação, só um minuto. Coloquei a ligação de Amanda em espera e atendi a outra. — Tony? — Bruna, que saudade! — Eu estou também, semana que vem vou marcar um dia de visitas para ver o Jonas, quero que venha! — Irei com certeza. Bruna, quero contar algo. — Pode falar, mas fala logo que estou com outra ligação na linha de espera. — Estou apaixonado pela Amanda. Sei que nunca senti isso antes e não posso ter tanta certeza, mas... Ela me faz tão feliz e completo, deve ser amor, não deve? Oh, céus. Os dois já estavam loucos um pelo outro! — Calma aí, já volto. — Retomei a ligação dela — Amanda? —Oi, tô aqui. — Então, um conselho. Cai de cabeça, Tony PERIGOSAS ACHERON

PERIGOSAS NACIONAIS é um homem honesto, leal e responsável. Se eu fosse você eu diria logo o que sente a ele. — Dizer que estou me apaixonando? Que o amo ou algo assim? Mas não sei se tenho certeza. — Só um minuto, Amanda, já volto. — Retomei a chamada dele. — Tony? — Oi, Bruninha, fala. — Isso é amor sim, não tenha medo, Amanda é uma mulher que sofreu muito, mas é sensível e forte, ela o fará feliz, não tenha medo. Agora espera um instante. — Retomei a de Amanda. — Amanda, diga logo ao Tony que você o ama, sem medo nem receio. Ele vai gostar de ouvir, acredite em mim. — Bruninha, você está falando com a Amanda? Ai, caramba! O que eu faço agora? — Putz!... Estou. Finge que não ouviu isso, pelo amor de Deus, não mudei a chamada aqui. — Tudo bem! — Ele riu. — Mas admito que amei o que escutei agora. — Sei... Agora deixa eu desligar e falar com ela. Tchau, Tony. PERIGOSAS ACHERON

PERIGOSAS NACIONAIS Desliguei a chamada de Tony e voltei à Amanda. — Amanda, diga a ele como se sente, se sente paixão, diga, se sente amor, diga. Ele merece saber. — Eu direi, Bruninha, obrigada, você tem sido uma amiga e tanto! Semana que vem visitarei o bebê. Beijos! — Beijos, tchau. Ufa! E pensar que eu achei há poucos minutos ser mãe complicado. Complicado mesmo é ser amiga de duas pessoas apaixonadas.

AMANDA Eu estava com meu fôlego renovado, após a ligação que fiz a Bruna. Sinceridade e verdade são sempre os melhores ingredientes em qualquer relacionamento e sou a prova viva de que, com PERIGOSAS ACHERON

PERIGOSAS NACIONAIS Henri, não deu certo pela simples ausência desses fatores. Antes de ir até a sala de meu chefe, lembrei de algo importante e enviei uma mensagem para meu ex. Oi, você deve ir ao cartório para assinar um último documento para liberar a certidão de divórcio. Ainda não assinou? Ele prontamente respondeu. Amanda, precisamos conversar primeiro, por favor me dê uma chance. Não respondi a mensagem, já estava decidida a virar essa página. Ignorara Henri todos os dias desde a viagem e queria investir no que Antônio e eu estávamos vivendo, pois naquele momento era o que me fazia mais feliz. PERIGOSAS ACHERON

PERIGOSAS NACIONAIS Como numa telepatia, ele me chamou pelo ramal e em segundos entrei em sua sala. — Me chamou, Antônio? — perguntei ao entrar. — Sim, se aproxime. Me aproximei e ele tirou uma sacola debaixo da mesa e estendeu em minha direção. — É pra você, comprei lá no hotel, espero que goste. Fiquei surpresa! Era por aquilo que sumiu com Clara no último dia. — Não precisava... Eu não posso aceitar, você já fez muito por mim. — Não contive a timidez, ele estava fazendo demais. — Por favor. Aceite. Eu comprei esse cartão também, mas ainda não escrevi, então... — Deu de ombros. Peguei o cartão da mão dele e o verifiquei, ainda constrangida pelo presente. Nunca fui tão paparicada antes. — Que pintura linda! Meu Deus... Amei o cartão, nem precisa escrever — disse admirada. PERIGOSAS ACHERON

PERIGOSAS NACIONAIS Era uma linda pintura do pôr do sol de Recife. Uma lembrança perfeita daqueles dias magníficos no paraíso. — Eu quero escrever algo, depois eu prometo que te dou — respondeu. — Tudo bem... Então deixa eu ver o que tem nessa sacola aqui... — afirmei abrindo a sacola, e ao estender o vestido, fiquei boquiaberta. — Meu Deus, Antônio... É... Esplêndido, maravilhoso... Eu... — Não precisa dizer nada, só use esse vestido hoje à noite, vamos jantar — intimou. Sorri, o encarando com admiração. Ele não precisa fazer mais nada, eu estou me apaixonando loucamente... Tem como ficar mais perfeito esse homem? Ele me fazia ficar encantada com cada gesto para me agradar, acompanhado do sorriso meigo que lançava toda vez que me olhava. — Aceito seu convite e o vestido, mas, por favor... Pare de me mimar, senão ficarei malacostumada! — Ri. — Não me importo, desde que se malPERIGOSAS ACHERON

PERIGOSAS NACIONAIS acostume do meu lado, eu fico feliz. — Deu de ombros e sorriu. Estávamos de pé, frente a frente. Num impulso o abracei e fui retribuída com um abraço protetor. — Antônio... Eu... Quero dizer algo. — O olhei nos olhos. — Diga. — Ele engoliu em seco, parecendo apreensivo. Aquele não era o local certo para dizer que eu o amava, sim? Porque não tinha mais dúvida. Todos os sintomas indicavam que era amor, um amor repentino, veloz, inesperado, porém tão forte e intenso. Eu me sentia parte daquele homem e não queria mais estar longe. — Não. — Ponderei. — Sei que gosta de criar momentos especiais, então direi no jantar essa coisa importante que tenho para dizer. Leva sua câmera, vamos filmar e colocar na nossa videoteca! — Concluí animada. — Deve ser muito importante para entrar na PERIGOSAS ACHERON

PERIGOSAS NACIONAIS nossa videoteca! — Ele respondeu sorridente. — Sim, é. Agora vou almoçar, pedi comida. Vou comer aqui na empresa mesmo, estou relendo documentos da época da Bruna. Queria ver se você podia me liberar uma hora mais cedo, preciso dar uma passada no cartório para assinar o último papel do divórcio — pedi cautelosamente. Ainda estávamos abraçados, porém nos olhando diretamente. — Eu te chamaria para almoçar, mas tudo bem. — Deu de ombros — Sobre sair mais cedo... Por ser algo que me interessa extremamente, eu deixarei. — Deu uma risada e depois um selinho na minha boca. Me afastei e logo senti a ausência do seu calor. Precisava me recompor. — Obrigada! Vou indo então... — Saí da sala. Ele acenou e voltou ao trabalho. Aquele dia passou rapidamente. Nós não nos falamos mais até minha saída, que fui em sua sala apenas para me despedir e combinar o horário do PERIGOSAS ACHERON

PERIGOSAS NACIONAIS jantar. Desci do prédio da empresa e peguei um ônibus para o cartório, que ficava um pouco longe dali. Sentei no banco, encostada na janela e, ao olhar para fora, percebi que o sol estava começando a se pôr aos poucos. Lembrei de Antônio e de como estava me apaixonando rapidamente por ele. Logo pensei na minha filha, e na vontade que eu tinha de tê-la perto de mim outra vez. Acho que seríamos felizes juntos, nós três. Não que eu idealizasse casamento ou qualquer coisa do tipo, mas fiquei muito contente ao ver como ela adorou meu chefe, e isso era bom. Muito bom. Chegando ao cartório, fui logo atendida e assinei o papel. — A outra parte já assinou? Henrique Barros Portela? — perguntei à atendente ao entregar os papéis com minha assinatura. — Ainda não, senhora. Ele tem até sexta para assinar, senão o documento entrará em atraso. — Tudo bem, falarei com ele. Retornei para casa e decidi que depois ligaria PERIGOSAS ACHERON

PERIGOSAS NACIONAIS para Henri, não estava com paciência para discutir com ele naquele instante. Só conseguia pensar em Antônio. Tomei um banho e fui para o quarto. Meu celular estava no criado-mudo e, quando me deitei na cama, de toalha, apenas para dar uma relaxada antes de me arrumar para o jantar, ele tocou. — Alô? — Amanda Lice de Almeida Portela. Sou Douglas Gali. Pode falar? Caramba, tinha esquecido disso. — Sim, senhor Douglas. Boa noite, como vai? — Bem, estou ligando apenas para lembrá-la de que preciso de sua resposta até quarta à noite, pois na quinta pela manhã teremos uma reunião do caso em Recife. Estarei lá e gostaria que estivesse também. — Tudo bem, pode deixar. — Então te aguardo. Boa noite. Tchau. — Tchau. Aquilo trouxe uma aflição ao meu peito. Comecei a pensar sobre a proposta e afastei os PERIGOSAS ACHERON

PERIGOSAS NACIONAIS pensamentos de meu chefe e o sentimento que compartilhamos. Precisava pensar racionalmente, sem minhas emoções no controle. A semana anterior havia sido tão intensa entre nós, que por um momento esqueci do prazo da proposta. Levantei, abri o armário e peguei o caderno de estudos com a lista dos meus objetivos. O li duas vezes e, imperceptivelmente, uma pequena lágrima deslizou por meu rosto. Doía pensar em afastar-me dele, logo quando prometera jamais machucá-lo, porém também doía ver que podia, talvez, estar cometendo o mesmo erro, anulando-me pelo amor. — Ah, Antônio... Por que você apareceu na minha vida agora? Infelizmente eu terei que pensar baseada nas minhas metas escritas aqui. Não posso falhar comigo mesma. — Pensei em voz alta.

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Capítulo 13

TONY Ao avistá-la saindo do prédio onde morava, fiquei admirado em ver como aquele vestido tinha ficado perfeito nela. Saí do carro e fui abrir a porta do carona para que ela entrasse. — Boa noite, minha controladora linda — disse ao abrir a porta e a dei um beijo. — Boa noite, meu chefe lindo — ela respondeu, sorriu e entrou no carro. Eu estava eufórico, desde a ligação que fiz à Bruna, pois sentia que finalmente seria correspondido sobre todos os sentimentos que me invadiam. Amanda diria que me ama e enfim, PERIGOSAS ACHERON

PERIGOSAS NACIONAIS poderíamos dar mais um passo nessa relação louca que temos. Fomos a um elegante restaurante italiano escolhido por mim, jantamos e conversamos sobre muitos assuntos, demos diversas risadas descontraídas e eram nesses momentos que tinha ainda mais certeza de que a queria perpetuamente ao meu lado. Tudo parecia precipitado, mas o pavor que me assolava ao imaginar uma vida longe dela só podia ter um motivo. Amor. — Acho que está na hora de eu dizer a coisa importante, trouxe a câmera? — declarou ao finalizar a sobremesa. — Trouxe, vou pegar no carro. — Me levantei e me dirigi ao automóvel. Durante o trajeto, tentei conter a euforia dentro do meu peito. Ela tinha usado de uma mania minha — que era filmar momentos especiais — para fazer daquele momento, também digno de ser chamado “especial”. PERIGOSAS ACHERON

PERIGOSAS NACIONAIS Retornei já filmando antes de me aproximar da mesa, falando algo baixinho para que somente a câmera gravasse o áudio. Ao me aproximar de Amanda, narrei: — Amanda Lice, minha controladora, dirá algo importante nesse exato momento e, como não poderia ser diferente, filmaremos para que isso seja lembrado no caso dela não querer repetir nunca mais na vida as mesmas palavras — descontraí, sentando-me na mesa. Ela riu, ao ouvir minhas palavras. Nós dois nos encontrávamos numa área reservada do restaurante, com privacidade para conversas descontraídas e filmagens, como estávamos fazendo. — Bobinho. Vou falar — ela se arrumou, passando a mão na roupa, e pigarreou. — Bom, estamos no dia 15 de maio de 2015, são exatas 21h47min. Estou aqui com Antônio Gali, meu chefe e atual par romântico. Venho falar à câmera e a qualquer pessoa que possa assistir... Um pouquinho da minha história. Sou separada, tenho 28 anos e passei por muitas experiências ruins na PERIGOSAS ACHERON

PERIGOSAS NACIONAIS vida, minha última foi um relacionamento de 8 anos que me presenteou com uma filha linda de 4 anos, mas infelizmente meu ex-esposo me traía quase todas as noites dos fins de semana desde que nossa filha nasceu, me deixando em casa jogando Xbox enquanto aguardava sua chegada. — Deu uma risada fraca. — Eu nunca suspeitei, acreditava na cara de pau dele e confiava tanto que meu amor por ele me cegava. Então, um belo dia descobri tudo e enfim... Decidi nunca mais amar. Saí de casa e fui morar com meu irmão, moro com Pedro há quase 3 meses e decidi que começaria a trabalhar, voltaria à faculdade e, assim que me estabelecesse, pegaria minha filha para morar comigo outra vez... Acontece que conheci esse senhor aqui. Aponta a câmera para você, Antônio. Ainda aturdido e ansioso para o fim de seu discurso, virei a câmera para mim, dei um sorriso e acenei, depois retornei para Amanda. — Esse lindo e encantador senhor se tornou meu anjo da guarda, me salvou de um vexame numa boate, me defendeu dos amigos galinhas, me salvou de um quase acidente na rua, me contratou PERIGOSAS ACHERON

PERIGOSAS NACIONAIS em sua empresa e me levou para resolver um problema com ele em Recife, que me rendeu uma proposta de promoção absurda com a qual sempre sonhei. Acontece que esse senhor, o senhor Antônio Gali, em poucos dias conseguiu mudar toda a minha vida pessoal e profissional, apenas faltando uma pequena área que eu jurei que ninguém jamais tocaria novamente. Meu coração. Amanda pausou e tomou fôlego. Parecia extremamente nervosa, mas seu semblante era determinado. — Mas hoje, Antônio, aqui com você, eu tenho certeza de que você me preenche por completo e posso dizer com todas as letras nos quatro idiomas que eu falo... EU TE AMO. Paralisei. Não conseguia distinguir bem o sentimento, mas estava atônito, sorrindo enquanto filmava a declaração dela. As emoções conflitavam-se dentro de mim, devido àquelas palavras tão ao ponto e profundas. Não esperava que fosse tão direta, tão perfeita, tão… Apaixonante. Após a conclusão, precisei também falar, PERIGOSAS ACHERON

PERIGOSAS NACIONAIS então virei a câmera para mim e finalizei dizendo: — Também a amo, Amanda Lice! — Usei da sua mesma entonação, com o nome completo. — Amo mesmo e nada mais importa a não ser esse amor, só quero te fazer a mulher mais feliz do universo. Meu Deus, eu estou amando! Isso realmente precisa ser gravado! — Já nem me importava muito com a câmera, aproximei-me de Amanda e comecei a enchê-la de pequenos beijos enquanto ainda filmava. Aquela seria uma cena marcante na videoteca. Finalizei a gravação, apoiei a câmera na mesa e uni minhas mãos sob o queixo, encarando-a admirado, em silêncio. Finalmente encontrei a dona do meu coração. Me sentia patético, mas não a deixaria. Ela precisava saber que seria minha para sempre, independente de qualquer circunstância. Não tinha mais volta. — Você me deu o maior presente que eu poderia receber — afirmei, quebrando o silêncio PERIGOSAS ACHERON

PERIGOSAS NACIONAIS entre nós. Seus olhos estavam brilhando, um pouco marejados enquanto apenas me encarava sorrindo. Num ímpeto se aproximou de mim, puxou minha mão para si e deitou com o rosto sobre ela. — E eu ganhei um anjo da guarda que é meu amor e meu chefe — rebateu suave, sua voz como sinos angelicais aos meus ouvidos. Eu queria fazê-la minha. Levá-la para minha casa e marcar todo seu corpo, enquanto a chamava de “minha”, de modo oficial… Qual seria o nome apropriado para o que tínhamos? Hã… Um namoro? — Quer ser minha namorada? Acha cedo pra isso? — pedi, usando a mão livre para segurar a dela. O sorriso não abandonava seu rosto. —Sim, quero ser. Na verdade não acho mais nada, minha cabeça está rodando, só sei que te amo — disse e riu. Acho que está na hora de consumarmos esse “título”. PERIGOSAS ACHERON

PERIGOSAS NACIONAIS — Então, vamos embora, namorada? — Levantei, e assim que ela também o fez, apoiei o braço ao redor da cintura dela. — Sim, vamos pra minha casa hoje, quero ver uns filmes, topa? — Tudo bem. Vamos lá. Bom, meus planos de possui-la até cansar talvez tivessem que ser transferidos. Estava curioso para chamá-la de namorada enquanto a fazia minha. Incrível como a descoberta do amor muda totalmente qualquer um que se veja dominado por ele. Eu nunca pedi ninguém em namoro, nem permissão para algo cogitaria solicitar. Tinha ciência de meu poder de sedução e de tudo que já realizei na vida. Mas ali, naquele momento, não era qualquer pessoa. Era a mulher a quem entreguei um sentimento tão puro e genuíno. Mesmo parecendo um jovem imaturo, quis fazer as coisas bem feitas. Se era algo novo, deveria ser tratado como tal. E, pelo visto, deu certo. Ao chegarmos na casa de Amanda, Pedro já estava lá. PERIGOSAS ACHERON

PERIGOSAS NACIONAIS — Pedro, eu e Antônio vamos ver filmes, quer ver conosco? Ele saía da cozinha, onde acabara de jantar, quando nos viu. — Sério? Não... Vou dormir. Mas sabe? Gosto de ver vocês juntos. — Estamos namorando — revelei, testando a carícia da palavra em meus lábios. Pedroca arregalou os olhos, quando falei aproximando-me dele e dando um tapinha nas suas costas. — Que isso, sério? Fico feliz em saber! — exclamou. Uau… Não achei que seria tão fácil com ele. Logo ele, sempre tão cauteloso e protetor com a irmã. Pedro estava indo em direção ao quarto quando virou e nos deu uma advertência. — Só não fiquem íntimos demais na minha casa, sabem do que estou falando. Sou um irmão à moda antiga. Ah, tá. Sei. PERIGOSAS ACHERON

PERIGOSAS NACIONAIS Rimos assentimos, já acomodados no sofá. Pedro foi dormir, enquanto minha namorada e eu víamos filmes, entre beijinhos e declarações. Há algumas semanas, eu riria caso visse essa cena, mas naquele dia, ali ao lado da mulher possuidora dos melhores sentimentos que eu já pude produzir em mim, era de fato, uma cena feliz. Nós éramos um casal irreverente e bem sincronizado. Eu agia sempre sincero e carinhoso com ela, e Amanda sempre sorridente e amorosa. Estávamos completamente loucos um pelo outro, era nítido para quem quisesse ver. A hora foi passando, acabei dormindo lá mesmo, com Amanda em seu quarto, comportandome como um namorado à moda antiga por respeito a Pedro.

AMANDA A manhã de terça foi agitada. Antônio teve reuniões com alguns sócios, enquanto eu fazia PERIGOSAS ACHERON

PERIGOSAS NACIONAIS todas as anotações. Pela tarde liguei para a faculdade, pois era o dia em que o resultado da bolsa de estudos sairia. — Boa tarde, gostaria de saber a porcentagem da bolsa de estudos da vestibulanda Amanda Lice? — solicitei. — Boa tarde, verificarei, aguarde. — A atendente se calou por um tempo. — 80 por cento, senhorita. A aluna deve efetuar a matrícula em dois meses. Agosto será o início do semestre. — Obrigada, estarei me matriculando. Assim que desliguei, fui correndo contar a novidade a meu namorado. Queria compartilhar a alegria. Ainda estava assimilando bem essa loucura de estar “namorando” depois de tantos anos. — Chefe! Tenho uma notícia maravilhosa! — disse ao entrar na sala dele sem avisar. Meu namorado — tô adorando isso! — se surpreendeu ao me ver assim, tão animada, entrando em sua sala. — Nossa! Desembucha então, mas não me PERIGOSAS ACHERON

PERIGOSAS NACIONAIS assusta assim da próxima vez que entrar. — Riu. — Exagerado! — Retribuí o riso. — Consegui 80 por cento de desconto na faculdade! Levantei os braços, sorridente. — Isso é muito bom! Pode se matricular até quando? — Em dois meses, caso eu me matricule. — Abaixei a voz no fim da frase. Para quem sabe ler, o pingo é letra, certo? Essa minha “incerteza” fez com que Antônio fechasse o sorriso. — Bom... Parabéns, Amanda, eu preciso finalizar uns documentos aqui... Depois nos falamos — parabenizou-me sério e focou nos papéis sobre a mesa. O choque das suas palavras secas me golpeou, percebi a possibilidade dele ter entendido naquele momento a gravidade do que estávamos vivendo e que tudo poderia ser arruinado se eu aceitasse a proposta do pai dele. Saí da sala em silêncio, um pouco chateada PERIGOSAS ACHERON

PERIGOSAS NACIONAIS pela atitude dele. Mas quem era eu? Uma mulher com sonhos que não podia simplesmente largar tudo por amor novamente. Eu já tinha feito isso uma vez, será que ele não compreendia? Eu mal sentei-me à mesa onde trabalho e ele me chamou pelo ramal novamente. Cheguei em instantes e fechei a porta da sala dele. — No que posso ser útil, senhor? — inquiri de pé, com as mãos nas costas em uma posição profissional. Já que era para ser seco, eu também seria. — Para com isso, Amanda, vem aqui. Por favor, me desculpe pelo tratamento que te dei agora há pouco. Andei a passos lentos na sua direção, ele levantou e abriu os braços para que eu me aconchegasse em seu tronco forte e sempre quente. — Você sabe como está sendo difícil pra mim essa história de se apaixonar e... Pensar em te perder está acabando comigo — lamentou, com tom triste. Simplesmente o abracei forte. Queria que PERIGOSAS ACHERON

PERIGOSAS NACIONAIS tudo se resolvesse num passe de mágica, mas a vida não é tão simples assim. — Está ainda mais difícil pra mim. O pior é que tudo diz pra eu aceitar e te deixar aqui, mas... — Mas...? — Ele acariciava meus cabelos. Por que dói tanto imaginar meus dias sem sua voz firme em meus ouvidos? Sem seu carinho tão protetor? — Eu... Eu quero que tudo dê certo entre a gente, dói pensar em estar longe disso, do seu calor, do seu abraço, dos seus beijos — sussurrei, ainda abraçada nele, mantendo os olhos fechados e exalando seu aroma delicioso. — Então fique. — Ele me afastou e segurou meus braços, olhando em meus olhos. — Fique e eu te darei tudo que meu pai te prometeu. Eu não tenho vice nessa unidade, você será a primeira vicediretora. Compro um apartamento pra você e pago sua faculdade. Te dou o que for preciso, mas fique. Fique, Amanda... Fique... Meu amor. A voz dele tremulava, bem no fundo. Como se ele se esforçasse para manter o porte imponente PERIGOSAS ACHERON

PERIGOSAS NACIONAIS mesmo pedindo algo tão… profundo. Senti meus olhos arderem ao ouvi-lo me chamar de “amor”, não conseguia ignorar aquele pedido, então simplesmente o beijei apaixonadamente, cada beijo dizia o quanto estávamos ligados. Havia mais do que sentimento, era uma ligação rara que a vida colocou entre nós. Mesmo se estivéssemos a quilômetros de distância, sentiríamos a força do amor do outro. — Amor... Você me chamou de amor. Nunca amei tanto ser chamada assim — comentei por fim, com o olhar para o alto, focado no dele. — Nunca chamei ninguém de amor, espero que nunca precise chamar outra pessoa jamais — enunciou dando aquele sorriso de canto que me derretia por inteira. — Quero te chamar de algo inédito também... —comentei pensativa, me deixando levar pelo momento único. — Pode ser amor. Não me incomoda o fato de você já ter chamado outro antes disso. O que importa é o agora. Que palavra descreveria melhor o sentimento entre nós? PERIGOSAS ACHERON

PERIGOSAS NACIONAIS Faz sentido. Céus, eu o amo. — Tudo bem, amor. — Ri. — Viu? Adorei. Agora vamos trabalhar porque hoje eu e minha namorada vamos a um bar country — informou. Senti que ele passou por cima da apreensão, tentando não dar ênfase no assunto que poderia causar momentos tristes entre nós. — Sua namorada? Nossa, me apresente essa mulher magnífica que roubou seu coração — brinquei. — Ela é linda e tem um sorriso encantador. Onde ela chega a luz entra... E é um pouco controladora também — replicou sério, mas ao fim deu uma risadinha. Foi inevitável a risada que escapou de mim. — Que coincidência! Meu namorado acabou de dar uma de controlador, me convocando a um bar country. — Fiz cara de espanto. Ele envolveu seu braço na minha cintura, me colando ao seu corpo e roçou sua barba em meu pescoço até seus lábios alcançarem minha orelha. PERIGOSAS ACHERON

PERIGOSAS NACIONAIS — Aprendi com a melhor. Leva as roupas para trabalhar amanhã com você quando eu for te buscar, porque vai dormir lá em casa hoje. Amanhã é o seu dia decisivo, quero estar ao seu lado o máximo que eu puder — sussurrou deixando beijos por minha pele em seguida. Impossível não obedecer desse jeito, viu? — Mandão. — Dei um tapinha no braço dele, que se afastou um pouco para me encarar nos olhos. — O que eu posso fazer? — Fez um biquinho. — Estou com saudades. Suas mãos habilidosas percorreram pontos sensíveis em meu corpo. Minha mente já estava turva. — Eu também — acrescentei fechando os olhos, recebendo a carícia. — Seu irmão nos empatou ontem. Mas ainda temos hoje. — Podemos dar o troco quando for a vez dele — sugeri ainda grudada a ele. — Com certeza. PERIGOSAS ACHERON

PERIGOSAS NACIONAIS — Nos vemos mais tarde então, seu fominha! — O afastei. — Ok, meu amor. — Ele sorriu e me levou até a porta, como um exímio cavalheiro. Assim que saí da sala dele, encostei-me à porta do lado de fora e suspirei. Eu precisava me concentrar... Precisava me decidir logo. A cada dia estava ficando mais difícil e eu estava quebrando todas as regras que estipulei a mim mesma. Voltei ao meu trabalho, dispersando os pensamentos loucos e apaixonados por temas sérios naquele momento. Foi quando, num momento aleatório, estava na minha mesa redigindo alguns termos de contrato no computador, que meu celular apitou. Amanda, precisamos conversar, é sério, me liga. — Henri Ah meu Deus, será que algo aconteceu com Clara? PERIGOSAS ACHERON

PERIGOSAS NACIONAIS Nós fizemos um acordo ao nos separarmos, de que eu não ligaria durante a semana para minha filha, para não causar nenhum abalo emocional à pequena. No fim de semana comigo, Henri também não ligaria. Era uma forma de Clara se acostumar com os dois separadamente. Mas se fosse algo urgente, esse acordo estava quebrado e eu precisava saber se minha filha estava bem. — Henri? Algo aconteceu à Clara? — Foi a primeira coisa que eu perguntei ao ligar para meu ex e ele atender imediatamente. — Ela está na escola. Me escuta apenas, Amanda. Senti um alívio, pelo menos não era nada grave. — Fala logo, que estou no trabalho. — Ok. Eu quero te pedir perdão por tudo que te fiz, me arrependo demais, você não sabe como tem sido difícil pra mim viver dia após dia vendo que perdi o meu bem mais precioso, que me custou tanto para ter. Você, Amanda, foi a pessoa que mudou minha vida. Me lembro ainda quando nos conhecemos, você me evitava em tudo, demorei PERIGOSAS ACHERON

PERIGOSAS NACIONAIS meses para convencê-la a sair comigo... E hoje, se for preciso, vou insistir para tê-la de volta. Eu preciso de você, meu amor. Eu fui estúpido e infantil achando que você não me queria mais depois que nossa filha nasceu, pois sua atenção era exclusiva para ela. Eu pensei que não se importava mais comigo e comecei a beber e te trair achando que me completaria. Mas não, me sinto vazio, apenas você me completa, me dá mais uma chance? Aquele discurso era novo. Respirei fundo, organizando minhas ideias para saber exatamente como o responderia. — Henri, eu te amei, te amei tanto que não cabia no meu peito. A base do relacionamento é a comunicação e a verdade. Você não se comunicava e mentia. Isso pra mim não tem volta. E agora que eu estou me curando, conseguindo juntar os cacos disso tudo, não quero me ferir novamente me arriscando a te dar uma chance. Fora que em dois dias sairei do Estado, pretendo aceitar uma proposta que recebi da empresa e voltarei assim que tudo estiver certo por lá para buscar Clara. Seja feliz, Henri, eu te perdoo. PERIGOSAS ACHERON

PERIGOSAS NACIONAIS Então desliguei. Senti um alívio no peito ao perdoar Henri, isso era essencial para que minha vida avançasse. Sinceramente, não queria aceitar a proposta de Douglas, queria ficar com o homem que iluminou meus dias escuros e viver esse amor, mas o medo e a dúvida me consumiam. Ele nunca amou, podia estar sentindo outra coisa e pensar que era amor, assim, quando isso acabasse, eu me machucaria. Deixar uma proposta decisiva na vida por um amor não estava nos meus planos. Eu precisava de solidez. Após pensar bem nisso, decidi que aquele dia seria o melhor que passaria com Antônio. Faria de tudo para que fosse uma despedida inesquecível, pois no dia seguinte aceitaria a proposta de Douglas. No fim da tarde, fui até a sala dele e juntos assistimos o pôr do sol abraçados, em silêncio. Não queria que fosse uma despedida e meu coração, aflito, só ansiava permanecer naqueles braços por toda a vida. — Vamos, amor? — Sua voz me chamou PERIGOSAS ACHERON

PERIGOSAS NACIONAIS atenção, quando estava dispersa em pensamentos ainda abraçada a ele, olhando pela janela. — Sim! Vamos. — Sorri. Antônio me deixou em casa e marcou de me buscar em meia hora. O bar abria cedo e ele queria aproveitar bastante as danças country comigo. Tomei banho, deixei meu cabelo solto e largado, coloquei uma blusa preta com um blusão colorido quadriculado por cima e um short. Claro que não podiam faltar as botas. Meu namorado estava básico, uma blusa vermelha, um chapéu de Cowboy, uma calça desbotada e botas. Fomos felizes e sorridentes no carro dele até o bar e lá já chegamos animados e dançando. Dançamos muito por horas, cantávamos as músicas e vira e mexe nos beijávamos apaixonadamente. As canções, na sua maioria eram de acordo com o ambiente, mas depois de um tempo, algumas mais populares, variadas e leves começaram a tocar. PERIGOSAS ACHERON

PERIGOSAS NACIONAIS Eu estava abraçada a ele, aconchegada em seu peito, quando uma música deu início e ele sussurrou em meu ouvido: — Acho que é minha vez de dizer que essa música diz tudo o que sinto. Lembrei da surpresa na boate no domingo, ele usou as mesmas palavras para, daquela vez, se declarar com uma música. Permaneci ali, atenta, enquanto ele arriscava cantar em inglês com Jason Mraz, a música “I’m yours” Bem, você acabou comigo e pode apostar que senti isso Tentei ficar frio, mas você é tão quente, que derreti Caí nas rachaduras, agora estou tentando me recompor Antes que o frio passe, eu darei o meu melhor E nada, além de uma intervenção divina, vai me parar Eu acho que é a minha vez de ganhar ou PERIGOSAS ACHERON

PERIGOSAS NACIONAIS aprender algo Mas não vou mais hesitar, não mais, não mais Isso não pode esperar, eu sou seu Bem, abra sua mente e veja como eu Considere outros planos e caramba, você se libertará Olhe para seu coração e encontrará amor, amor, amor Então por favor não, por favor não, por favor não Não precisa complicar Porque nosso tempo é curto Esse é, esse é, esse é nosso destino, eu sou seu! Absorvi cada letra, cada palavra. Meus olhos arderam imediatamente, ao notar como estávamos envolvidos. Ele era meu, e eu só queria que as coisas fossem diferentes. A noite estava perfeita, logo disfarcei o PERIGOSAS ACHERON

PERIGOSAS NACIONAIS conflito de sentimentos e fomos caçar uma mesa para sentar e comer algo. — Fica aí, amor, vou pedir algo pra nós. — Antônio disse, apontando uma mesa para que eu sentasse. Assenti e fui até lá. Em poucos minutos ele voltou com alguns aperitivos no prato. — Por enquanto, até a comida chegar. — Sorriu se sentando e oferecendo os pastéis. — Hummm, amo pastel — proferi, pegando um do prato. Nos dedicamos a deliciarmo-nos com aquele pastel dos deuses. Ao finalizarmos, ficamos esperando a comida num silêncio sepulcral. O peso da decisão sempre estava lá entre nós. — Amanda, eu queria dizer algo a você sobre meus sentimentos. Não quero parecer chato e meloso, nunca fui disso, mas... Com você tudo é tão diferente... Eu preciso dizer isso. Ele quebrou a tensão que dominava o ambiente, me fazendo como uma menina ao ouviPERIGOSAS ACHERON

PERIGOSAS NACIONAIS lo. Amava-o tanto, tão rápido, que até estranhava a sensação. — Diga, meu amor. Eu não te acho meloso nem chato, você é tudo que eu preciso na dose certa. — Sorri, incentivando. — Então lá vai... Eu sempre disse que meu coração estava trancado entre paredes gigantes e que nunca me apaixonaria, que ao colocar meu coração nessa prisão eu lancei a chave fora, onde não conseguiria nunca buscar... Sabe... Eu acho que você achou as chaves porque eu me sinto tão liberto! Oh, meu Deus! Os olhos dele brilhavam. Sempre fora sincero comigo, mas pela primeira vez, expressou seus sentimentos de uma forma absurdamente clara. Não tinha como deixar de me maravilhar. — Meu amor! Você é... Meu Deus... Por que não te conheci há dez anos? — Acho que você não teria chance, eu estava de luto, começando a administrar uma empresa sem saber nada. Estava sem cabeça para romance. PERIGOSAS ACHERON

PERIGOSAS NACIONAIS Deu de ombros, e notei seus olhos perderem um pouco o brilho anterior. Deve ter sido uma fase ruim. — Hum... Deixa eu te perguntar algo. Você se ofereceu para ajudar seu pai esses anos todos, se tornou diretor e nunca passou disso? Digo... Não que seja ruim, mas você é o único herdeiro das empresas Gali Telecomunicações, deveria estar ao lado do seu pai como vice-presidente, não acha? Ele passou as mãos pelos cabelos soltos, pensativo, soltou uma boa dose de ar e me fitou profundamente. — Ah... Eu me ofereci sim, amadureci muito com essa decisão, estudei Administração e Economia, aprendi muito com a prática também, mas nunca quis forçar meu pai a me dar mais do que eu já tenho. Não temos um relacionamento muito agradável como pai e filho por causa disso. Não pelo dinheiro ou cargo, mas porque eu decidi por mim mesmo tomar a frente de tudo, pois ele estava abalado emocionalmente. Se eu não fizesse isso a empresa ruiria ou seríamos roubados até o último centavo. PERIGOSAS ACHERON

PERIGOSAS NACIONAIS — Ele nunca disse o porquê de não te promover ou te levar pro lado dele na presidência? — Estava curiosa. — Na verdade, há dois anos tivemos uma conversa, ele veio com um papo de que eu sou inteligente e faço tudo certo, mas não sou cem por cento maduro para assumir a presidência. Eu não entendi, mas não retruquei, afinal não havia pedido nada a ele. Nossa, esse pai dele é mesmo duro como pedra. — Que chato... Não ficou mal por ele ter me oferecido algo tão grande em tão pouco tempo? Eu precisava perguntar. Sabia que Antônio não era dado a inveja ou ciúmes, ele me parecia muito maduro para aquilo, mas não consegui me conter. — Fiquei pelo fato de me afastar de você. Mas fiquei feliz em saber que você está sendo valorizada como merece. Meu pai tem um olho clínico para pessoas em potencial, ele nunca erra uma promoção desse nível. Como eu te falei antes, todos os que receberam propostas parecidas com a PERIGOSAS ACHERON

PERIGOSAS NACIONAIS sua estão fiéis na empresa até hoje, são pessoas gratas e fiéis. Então... Não fiquei mal, não. — Hum... Entendi. O garçom chegou com o jantar e o assunto se encerrou ali. Depois, voltamos para a área do bar e da pista e dançamos mais um pouco, até decidirmos voltar para casa. — Vem, vou te levar em um lugar antes de irmos lá pra casa. — Ele me puxou pelo braço de modo animado. Colocou-me no carro e entrou logo depois. Dirigiu até um local um pouco deserto do bairro em que morávamos, uma pista de chão e um morro. Subimos o morro por alguns minutos até chegarmos no cume. Ao estacionar, Antônio destravou os cintos dele e me ajudou com os meus. Em seguida falou: — Chegamos. Vamos? Ainda silenciosa assenti, e saímos do carro. Ele me levou a um monte alto de onde era possível ver a cidade quase em sua totalidade. Era um show de luzes distantes, a vista era maravilhosa PERIGOSAS ACHERON

PERIGOSAS NACIONAIS e, com o contraste do céu estrelado, parecia tudo uma pintura magnífica. — Meu Deus, Antônio... Isso é lindo! — Vem, encosta aqui comigo. — Ele me puxou e me posicionou na frente dele, recostado no capô do seu Dodge, abraçando-me. — Esse lugar é meu esconderijo, eu venho aqui sempre que me sinto sozinho ou fico com saudades da minha mãe. Ela me trouxe aqui um dia antes de morrer. A voz dele estava firme, mas senti o esforço que fazia para controlar as emoções. Notei, naquele momento, a importância daquela confissão e pensei que aquele tipo de assunto não era algo banal para ele. Me senti importante por estar ali, ouvindo-o. — E você está se sentindo como, agora? — perguntei. — Apaixonado e com saudade dela. — Suspirou. — Sinto tanta falta dela, queria que estivesse aqui para que eu contasse isso tudo que estamos vivendo. Ela era tão sorridente e alegre, Amanda, onde ela chegava a tristeza ia embora. Nunca a vi chateada ou emburrada, era a alegria em forma de gente. Sempre amorosa e carinhosa PERIGOSAS ACHERON

PERIGOSAS NACIONAIS comigo e meu pai. — Qual era o nome dela? — Letícia. E não podia ter outro nome, pois Letícia significa alegria. Ela era a alegria em pessoa — disse, admirando o céu. Nos calamos por um instante, então, tocada com tudo aquilo, me virei, fiquei de frente para ele e segurei seu rosto. — A cada dia me surpreendo mais com sua sensibilidade. Nunca acreditaria se me contassem que você é assim por dentro. Eu estou amando quem você é por dentro, amando muito. Ele deu um sorriso tímido e não evitei beijálo. Um beijo cuidadoso que mostrava adoração e cuidado, um beijo sensível e lento. Ele era meu lar, e a cada dia me sentia mais e mais amada. Ao fim, encostamos nossas testas uma na outra e nos olhamos. — O que você fez comigo? — perguntamos em uníssono e depois rimos. PERIGOSAS ACHERON

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Capítulo 14

TONY Naquele momento eu não pensei mais em nada, apenas no grande amor que nos envolvia. Voltamos a nos beijar, dessa vez um beijo quente com carícias íntimas e envolventes. Puxei Amanda para dentro do carro e recostei os bancos para que nos acomodássemos ali. Então continuamos a nos beijar e nos acariciar apaixonadamente, quando Amanda interrompeu. — Eu nunca fiz amor no carro — disse tímida. — Eu nunca fiz amor no carro em cima de uma montanha — respondi sorridente. PERIGOSAS ACHERON

PERIGOSAS NACIONAIS — Eu nunca fiz amor no carro numa montanha, vestida de cowgirl. — Ela sorriu. — Eu nunca fiz amor no carro na montanha vestido de cowboy com minha namorada. — completei e nós dois gargalhamos. — Você venceu! — ela falou. Logo o clima ficou sério e quente. Amanda começou com suas carícias no meu rosto, me beijando como se não houvesse amanhã. O beijo era cúmplice, profundo e envolvente. Um beijo de adeus. Eu não queria um adeus, mas eu a queria. Após o beijo, ela abriu minha calça e me acariciou. Sem precisar dizer nada, apenas encarando seus olhos que davam ordens implícitas, permiti que fizesse o que quisesse comigo. Levantei as mãos em sinal de rendição, deitei no banco e deixei minha namorada à vontade. Minha namorada. Minha. Meu amor. Logo sua boca foi capaz de me causar PERIGOSAS ACHERON

PERIGOSAS NACIONAIS prazeres inimagináveis, de formas que nem se eu descrevesse cada detalhe, conseguiria transmitir a perfeição. Eu não conseguia parar de gemer e murmurar sei lá o quê pra externar o que eu sentia naquele momento, Amanda fazia pressões nos pontos certos, investia de um modo intenso, fazendo com que eu ansiasse por muito mais daquele ato. Quando enfim não me contive e cheguei ao ápice, ela afastou-se e notei sua garganta se movimentar. Não, ela não tinha feito aquilo. Puta merda… Não dá para descrever o sentimento pré-histórico que se apossou de mim ao notar que o seu interior estaria repleto da minha marca. Me apaixonei mais, tem como? — Eu te amo — falei. — Ama o prazer que eu te dou, isso sim — ela brincou. — Amo também, mas amo mais ainda a mulher que me causa tudo isso. —Ri. PERIGOSAS ACHERON

PERIGOSAS NACIONAIS Ela passou a mão por meu corpo, chegando ao local onde sua boca acabara de marcar. — Eu amo muito isso aqui. Me lançou um sorriso enviesado, que fez com que eu arqueasse uma sobrancelha desafiadora em resposta. — Só essa parte? E todos esses dois metros e dez cheios de músculos? — provoquei alisando meu corpo. Era uma discussão muito insana, mas eu sabia bem onde nos levaria. —Hum... — Ela ficou pensativa, me analisando de cima a baixo. — Amo cada centímetro dos seus dois metros e dez — disse, subindo as carícias pelo meu corpo. Eu já estava duro de novo, de tanto desejo nessa mulher. — Então vem cá. Senta aqui, pois estou cheio de fome de Amanda. Agarrei aquele corpo pequeno e delicado, posicionando minha namorada sentada sobre mim, com as pernas abertas. Eu já estava deitado no PERIGOSAS ACHERON

PERIGOSAS NACIONAIS banco arriado do carro e a deixei à vontade para guiar a partir dali. Amanda ama estar no controle. Ela mal sabe que já possui todo o controle sobre mim. Em instantes já estávamos seminus, com nossas intimidades expostas. Amanda começou nos guiando em um movimento intenso de vai e vem, fazendo pressão e ofegando do jeito que só ela sabia fazer. Me sentir em seu interior quente, sendo envolvido por ela era algo colossal. Como se a vida inteira nada do que eu tivesse experimentado fosse suficiente. Até sua chegada. Ela era mais que suficiente. Nosso amor durou um bom tempo, e mesmo ela estando no controle, eu a estimulei de todos os modos possíveis para que chegássemos ao clímax juntos daquela vez. Amava ver seu rosto tomado pelo prazer. Quando esse momento chegou, nos PERIGOSAS ACHERON

PERIGOSAS NACIONAIS abraçamos até nossa respiração voltar ao normal. — Amor? — chamei. — Oi, gostoso. Ela não sabe o que faz com meu ego me chamando assim. Esses elogios fazem com que eu me sinta um deus grego. — Você é a única que faz com que esses momentos sejam tão maravilhosos. Não sei, eu tenho sorte de ter te encontrado. Ela, aconchegada sobre mim com o rosto no meu pescoço, suspirou. — Eu que tenho, amor. Eu que tenho. Ficamos mais um tempo conversando e rindo. Depois nos vestimos para retornarmos à minha casa. Chegando lá, fomos direto para a cozinha. — Hum… Estou com fome. Gastei muita energia — brincou, risonha. Abri a geladeira e peguei alguns iogurtes. — Toma, não é bom comer coisa pesada essa PERIGOSAS ACHERON

PERIGOSAS NACIONAIS hora — afirmei. Bebemos os frascos de iogurte e fomos para meu quarto. — Amor, vamos ver algum filme? — sugeriu assim que adentramos o cômodo. Olhei-a fixamente e balancei a cabeça, afirmando um não. — Mas por quê? — Ela se fingiu de inocente. — Você acha que, correndo o risco da mulher que eu amo ir embora, e de isso aqui — Apontei pra ela e pra mim — ser uma despedida... O que eu desejo muito que não seja... Acha que não farei de tudo pra ficar pra História? Arqueei uma sobrancelha e dei meu sorriso de canto. O sorriso que faz a calcinha dela encharcar, com certeza. Viu? Falei! Ela já estava mordendo os lábios e esfregando as pernas uma na outra vindo até mim, como se desfilasse. — Você, Antônio Gali, é muito fominha! Sorte a sua que eu tô afim de te saciar! PERIGOSAS ACHERON

PERIGOSAS NACIONAIS Perfeição. É a palavra que define essa mulher! — Vamos marcar alguns locais da casa hoje. Topa? — sugeri, abraçando-a e sussurrando em seu ouvido. — Topo. Com você eu topo tudo! — Me encarou, sorrindo, e eu a joguei na cama a fim de iniciarmos nossa maratona de sexo. Mas agora não era mais sexo, era amor. Seus olhos castanhos brilharam, me encarando de baixo pra cima. Eu estava de pé, admirando-a deitada enquanto me aguardava. Jamais imaginei que um dia estaria tão ansioso pra estar com alguém. Não só pelo sexo, mas pelo contato. Pela proximidade. Sentia como se meu corpo fosse dependente do seu toque. Seus gestos de amor eram anestésicos. Destruíam qualquer barreira minha. Subi na cama e comecei sendo bonzinho e arrancando suas roupas devagar. Beijei cada ponto do seu corpo antes de começar a lamber sua pele deliciosa. Assim que ela ficou nua, eu me despi por PERIGOSAS ACHERON

PERIGOSAS NACIONAIS completo e comecei a lambê-la, começando em sua perna. Corri meus lábios por ela e lambi sua panturrilha. Sei que lá é um ponto sensível, quase na dobra do joelho, então investi nisso. Depois fui subindo e troquei de perna. Enquanto uma eu beijava e lambia, a outra eu acariciava com as mãos. Beijei o interior das coxas antes de chegar próximo à virilha. — Ahhh, meu gostoso. Você me deixa sedenta só com esses carinhos! — Ela falou num gemido delicioso. Continuei, calado, com minhas carícias, até chegar na sua entrada. Pulei-a de propósito e ouvi um gemido frustrado de minha controladora. Calma, amor, vou chegar lá! Lambi seu umbigo e tracei uma linha suave com a língua até o vale entre seus seios. Agarrei-os com as duas mãos e massageei antes de deliciar-me com eles. Depois de um tempo dando atenção naquela área, eu subi mais e a beijei. Nosso beijo era quente, nossas línguas se entrelaçavam com desejo e fúria. PERIGOSAS ACHERON

PERIGOSAS NACIONAIS Assim é o nosso amor, ardente, avassalador. Segurei seu corpo o abraçando pela cintura, espalmando minhas mãos em suas costas e a posicionei deitada de barriga pra cima, com o corpo em diagonal na cama. Levantei suas pernas e as deixei bem abertas para mim. Pedi um minuto e fui colocar o preservativo. Ela estava ofegante de prazer só com minhas carícias. E eu não aguentava mais, precisava me enterrar logo naquela mulher. E foi o que fiz nos minutos seguintes, tendo em resposta suas frases recheadas de elogios, seus gemidos e ofegares que me faziam subir ao céu e voltar. Nossa intimidade durou o máximo possível, Amanda era insaciável. Eu tenho muita sorte. Quando finalizamos, nos levantamos nus, e fomos até a sala de estar. Peguei uma bebida sem álcool para passarmos um pouco de tempo até estarmos preparados pra outra. Quando começamos, eu a deitei na mesinha de centro e PERIGOSAS ACHERON

PERIGOSAS NACIONAIS marcamos aquele local. Não finalizei. Puxei-a e encaixei seu corpo no meu comigo de pé. Andei com ela em meu colo até chegarmos na cozinha. Encostei seu corpo na geladeira, deixei uma perna dela no chão e segurei a outra no ar. — Posição nova — eu disse. E também marcamos aquele local da casa, indo até o fim. O quarto lugar da casa foi a poltrona do meu escritório particular. Levei minha linda até o escritório, que ela ainda não conhecia, e mostrei cada cantinho dele. — Nossa, é lindo esse lugar, amor — disse maravilhada. — Aqui é como uma minibiblioteca também, tem todos esses livros. Eu já li todos que estão nessa estante. — Mostrei uma estante cheia de livros do teto ao chão, em uma das paredes. — Uau, amo ler. — Também amo, amor. Mas nesse instante eu quero te apresentar essa linda cadeira. — Eu a PERIGOSAS ACHERON

PERIGOSAS NACIONAIS dirigi até a poltrona onde sento para ler. Ela riu da minha apresentação à cadeira. — Vem, linda! — Sentei e posicionei ela em cima de mim, e nos amamos ali mais uma vez. Não enjoava nunca da forma como ela agia naqueles momentos. Como eu enjoaria? Sinto uma atração irresistível por essa mulher. Acho que nem morrendo eu perderia esse fogo. Durou bastante tempo daquela vez, e já cansados, chegamos ao clímax batendo nosso recorde juntos. Voltamos para a cozinha, fizemos um lanche leve e fomos dormir, já perto das três da manhã.

Eu acordei cedo, na verdade nem dormi, mas estava pouco me importando com isso. Não queria nem que esse dia chegasse pra não pensar na maldita resposta que Amanda daria ao meu pai. Decidi acordá-la da melhor forma. PERIGOSAS ACHERON

PERIGOSAS NACIONAIS Devorando seu corpo com minha língua. Vai que ela desiste de me deixar? Que merda, Tony! Tá dependente demais, hein? SIM, EU TÔ! Enquanto eu, após subir sobre ela e chegar ao centro do seu prazer, me deleitava, minha mulher foi acordando e já me saudou com excitação, mostrando sua reação às minhas carícias. — Ah.... Bom... Diaaaaa. — Ela tentava dizer enquanto gemia. Assim que eu acabei, levantei e me deitei ao seu lado. — Ainda tá cedo, amor, mas bom dia. Dá pra dormir mais um pouco, vem. — Puxei-a pros meus braços e adormecemos juntos. Só sei dizer que eu desejava que o dia não acabasse.

AMANDA PERIGOSAS ACHERON

PERIGOSAS NACIONAIS Após noite intensa e apaixonante e todo aquele bom dia da madrugada, meu namorado e eu dormimos juntinhos. O relógio apitou às 8 da manhã, despertandome. — Amorzinho, acorda. — Beijei e sussurrei no ouvido do meu lindo. Ele abriu os olhos lentamente, se espreguiçou e sorriu. — Bom dia. — Hoje é um dia decisivo, vamos trabalhar, vem, levanta. — Puxei-o carinhosamente pra fora da cama. — Levanto... Mas só se tomar banho comigo! — Espreguiçando-se, respondeu ao levantar. — Então precisamos ir logo, vem. Corri até o banheiro com ele a tiracolo, tomamos banho de chuveiro, enquanto implicávamos um com o outro e ríamos. — Você está começando a ficar controlador, hein? Estou te obedecendo sem nem retrucar! — Brinquei durante o banho. PERIGOSAS ACHERON

PERIGOSAS NACIONAIS — Tive aulas com você, a maior controladora que existe na face da Terra! — Idiota! Apenas faço as coisas de uma forma que ninguém consegue me contrariar. — Ri. — Simples assim! — Me agarrou e beijou meu pescoço, subindo para a orelha e acabando em minha boca. — Acho que assim não trabalharemos hoje, mocinho. — Interrompi o beijo. — E ela tenta me controlar mais uma vez! — falou rolando os olhos, enquanto desligava o chuveiro e saíamos de toalha. — Bobo! Nos arrumamos e fomos para a empresa. Entramos abraçados nos entreolhando, enquanto caminhávamos por toda a Gali até chegarmos em nossas respectivas salas. Os funcionários que já tinham chegado e nos olhavam sorridentes, cochichando entre si. Assim que organizei minha mesa, peguei o celular e liguei para Bruna. Precisava conversar com alguém sobre tudo que estava assolando minha PERIGOSAS ACHERON

PERIGOSAS NACIONAIS cabeça confusa. — Bruna? Bom dia. — Oi, Amanda, bom dia, o que me conta de novidade? Já se decidiu? — Sim, decidi, Bruninha. Vou aceitar a proposta do Douglas. Por dentro eu estava suando frio. — Mas e o Tony? Amiga, o coração dele vai se quebrar em pedaços! O meu também... — Eu sei... Mas eu preciso aceitar. A vida toda fui guiada pelas minhas emoções e sentimentos e olha no que deu! Eu preciso aceitar, se tiver que ser a gente vai ficar junto um dia. — Amanda... Eu não te entendo. Você tem certeza de que quer isso? Eis a pergunta de um milhão de dólares. — Não quero, não tenho certeza, mas aceitarei. Vou agora pedir um voo pras 4 da manhã de amanhã. Chegarei antes da reunião sobre o caso da queda em Recife. PERIGOSAS ACHERON

PERIGOSAS NACIONAIS — Amanda, me diz apenas uma coisa: você o ama? Disse a ele que o ama? Suspirei ao pensar em tudo que havia vivido naqueles dias com ele. Era amor, sim, de um modo mais intenso, como nunca sentira antes. — Amo, Bruna, amo muito, como nunca mais pensei que amaria. Eu nunca me apaixonei tão rápido assim, amiga, nunca mesmo. Tenho medo desse sentimento jamais deixar meu peito, mas não posso permitir que isso me guie. É a oportunidade da minha vida — argumentei com Bruna, tentando convencer a mim mesma. —Tony me contou que te fez uma proposta parecida com a do pai, mas para que você ficasse aqui em Belo Horizonte. Por que você não aceita? — Ah, amiga... Ele me fez a proposta apenas porque o pai fez primeiro, fora que é mais para me manter por perto do que por mim mesma. Não quero crescer assim, não parece justo. — Putz, te entendo, amiga. Pensa bem antes de qualquer coisa para não se arrepender. — Eu precisava conversar com você sobre PERIGOSAS ACHERON

PERIGOSAS NACIONAIS minha decisão, alguém precisava saber. Hoje eu vou falar com Douglas de noite, informar minha decisão e depois ligarei para Antônio e falarei com ele. — Boa sorte então, Amanda. — Obrigada. Um beijo, amiga. Assim que finalizei a ligação, comprei minha passagem pela internet, imprimi o comprovante e o guardei em minha bolsa. Fui até a sala de meu chefe verificar se ele precisava que adiantasse algo para ele. Não gostaria de deixar trabalho acumulado, já que iria embora no dia seguinte. — Meu amor, tem algo que eu possa fazer? — perguntei ao entrar na sala dele. Ele estava sentado, imponente, à sua mesa, apenas mexendo no computador. — Não, linda, estamos devagar essa semana, está tudo tranquilo. Almoça comigo hoje? Aqui perto tem um restaurante ótimo. Levantou o olhar na minha direção e sorriu. Quando meu coração vai parar de falhar uma batida com esse sorriso? PERIGOSAS ACHERON

PERIGOSAS NACIONAIS — Tudo bem, meio-dia então vamos. Vou voltar para minha mesa. Te amo. — O fiz sorrir ainda mais, lançando um beijinho no ar, e saí de sua sala. A hora passou voando. Antônio e eu fomos almoçar. Decidimos ir caminhando até o restaurante, que ficava próximo da empresa. — O tempo hoje mudou, mais tarde deve chover — comentei ao olhar o céu, de braços dados com ele, caminhando até o restaurante. — É verdade, com certeza chove, o céu chega a estar preto — afirmou. Logo chegamos ao restaurante e escolhemos uma mesa no canto, apenas para nós dois. Coloquei minha bolsa na cadeira, enquanto Antônio sentava. — Vou ao toalete, já volto — avisei a ele, que assentiu. — Vou adiantar nosso pedido — informou.

TONY PERIGOSAS ACHERON

PERIGOSAS NACIONAIS Amanda se foi e, depois que fiz o pedido, o celular dela começou a tocar. Fiquei indeciso em atender ou não. E se for algo importante? Se for uma ligação urgente? Clara, ela deve precisar de algo, tinha de atender. Peguei o celular na bolsa de Amanda e vi que a chamada era de Bruna, então decidi atender e pregar uma peça nela. Quando abriria a boca para dizer algo, Bruna começou a falar antes. — Amanda, calma, só me escuta. Sei que decidiu ir pra Recife e deixar tudo para trás, mas eu tenho que falar com você antes. Preciso conversar com você, não posso deixá-la pegar seu avião de madrugada sem antes conversar contigo. De preferência antes de você falar com Douglas. Me liga mais tarde, quando sair da empresa, tá? Como? Ela… Me deixaria mesmo? Estava sem reação ao que acabara de ouvir, senti meu peito comprimir-se com a revelação, mas decidi abrir a boca e dizer alguma coisa. PERIGOSAS ACHERON

PERIGOSAS NACIONAIS — Bruna... Sou eu... Tony. Um suspiro de lamento fora ouvido do outro lado da linha. — Ah meu Deus... Tony... Eu não queria que... — Tudo bem, Bruna, não precisa se incomodar. O fato da minha melhor amiga não me avisar que a mulher que eu amo vai me abandonar não muda em nada a minha merda de vida. Amanda está no banheiro, estamos almoçando. Não direi que você ligou, não diga a ela que eu sei disso, por favor — respondi de forma seca e profissional, como o antigo Tony sempre fazia. — Desculpas... Eu ligo depois. — Desligou. Fechei os olhos e respirei fundo. Só queria ter o poder de voltar no tempo e apagar tudo que vivi naqueles dias. A dor de amar estava começando a invadir meu peito e as palavras do meu pai sobre isso surgiam em minha mente de forma agressiva. Quando Amanda voltou do banheiro me viu estático, sentado com seu celular na mão, encarando-o. PERIGOSAS ACHERON

PERIGOSAS NACIONAIS — Amor? Alguém me ligou? — Ela perguntou e se sentou. Saí do transe e a olhei. Teria que disfarçar a decepção no tom de voz. — Bruna. Ela ligou, mas quando fui atender já tinha desligado. Deve tentar ligar de novo depois — falei calmamente, ansiando por algum tipo de explicação espontânea por parte dela. — Então tudo bem, vamos comer? — Sorriu, pegou o celular e o guardou. Simulei um sorriso que não fez com que Amanda desconfiasse, provavelmente, pois ela nada falou. O garçom chegou com a comida e logo almoçamos em silêncio. Por fim, paguei a conta e fomos juntos, ainda em silêncio, para o escritório. Chegando na minha sala, Amanda decidiu entrar comigo. Quando fechou a porta, ela pôs seus dedos no meu queixo e perguntou: — Você está bem? Não, Amanda, eu estou destruído, será que não vê? PERIGOSAS ACHERON

PERIGOSAS NACIONAIS Mas decidi não explodir ali, apenas respirei fundo. — Amanda, lembra que prometemos que seríamos sinceros, sempre falando a verdade? — A recordei. — Sim, lembro — respondeu e encolheu a mão para si. Ela deve ter entendido implicitamente o que eu lembrei, pois envolveu-se com os braços, como se de alguma forma, eles a aquecessem. — Então, serei verdadeiro mais do que nunca agora. Desde aquela noite que passamos em Recife eu nunca menti pra você ou escondi meus sentimentos, fui sincero dizendo que não sou experiente em relacionamentos e no amor. Mas, sabe, Amanda, agora eu fiquei com medo. Medo disso tudo, de toda essa verdade acabar, ruir de vez e eu nunca mais sentir isso na vida. Me diz que não preciso ter medo. Me diz que não vai me deixar. — Respirei fundo, fechando os olhos. — Sei que hoje é o dia da sua decisão e preciso que me escolha. — Concluí, não conseguindo conter as lágrimas que nasceram em meus olhos. PERIGOSAS ACHERON

PERIGOSAS NACIONAIS Seu olhar pareceu piedoso, e em segundos se encheram de lágrimas também, antes que abrisse a boca para me dar sua resposta final.

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Capítulo 15

TONY Ainda de pé, em frente a ela no meio da sala, eu aguardava sua resposta. — Eu quero você, não sei o que decidir, mas, ainda assim, eu fiz a escolha. Vou pra Recife, aceitarei a proposta do seu pai, mas isso não significa que nosso amor acabou. Eu estarei sempre aqui e quero que sempre vá lá me ver. Não sei como faremos isso, mas... Se tiver que ser, será. Ela não parecia tão certa daquilo, mas se sua certeza da nossa relação dependesse de mim, eu confirmaria o que precisasse. Um pequeno alívio se apoderou de meu peito PERIGOSAS ACHERON

PERIGOSAS NACIONAIS ao escutar aquilo, mesmo que não fosse o tipo de relacionamento que sonhava levar. — Então... Não precisamos terminar nosso namoro de poucos dias? — Abri um curto sorriso. — Não, não vamos terminar. Apenas vamos nos ver menos, mas vamos continuar. — ela me confortou. Nos abraçamos, sentindo ambos o calor e os batimentos cardíacos um do outro. Naqueles momentos, só queria que as coisas fossem mais simples, mas se era o melhor para ela, eu deveria apoiar. Decidi que daria a ela essa chance e não tentaria impedi-la, mesmo sabendo que seria difícil pela distância. Estava disposto a tudo por ela. No fim do dia não conseguimos ver o sol se pondo. Deixei Amanda em casa e dei um beijo de despedida apaixonado nela. Decidi não entregar o cartão-postal do pôr do sol que já havia escrito. Prometi a mim mesmo que, quando nos víssemos novamente, o faria, e ela decidiu que passaria a noite organizando suas coisas para a viagem e ajustando tudo com meu pai. Apenas concordei, como um bom namorado faria, e a deixei sozinha PERIGOSAS ACHERON

PERIGOSAS NACIONAIS para isso. Voltei para minha casa feliz de um lado, mas sentindo uma aflição do outro. Deveria ter sido o susto de perdê-la, provavelmente passaria logo.

AMANDA Ao chegar em meu quarto, deitei sobre a cama e meu celular tocou. Era Bruna. — Fala, Bruninha, me ligou? — Liguei cedo, mas decidi ligar agora, pois sei que está em casa. — Tudo bem, o que tem pra dizer? — Amanda, você não precisa aceitar a proposta de Douglas, na realidade você pode aceitar, mas não precisa concordar com todos os termos, faça uma contraproposta! — Bruna falava animadamente. — Como assim, Bruna? — Uma chama de esperança acendeu em meu peito. PERIGOSAS ACHERON

PERIGOSAS NACIONAIS — Coloque os seus termos, o que você faria se fosse a dona da empresa? — Ah, eu colocaria o Antônio como o vicepresidente ou me juntaria a ele para sermos diretores da Gali Recife, para que ficássemos juntos. — Nem pensei ao responder. — Sugira isso! Diga a ele que aceita ser a vice-diretora de lá, se Antônio for o diretor com você. Se ele colocar a diretoria da unidade de BH como empecilho, vocês podem sugerir dirigir as duas unidades daqui da cidade mesmo, fazendo viagens periódicas a Recife apenas para verificar os números. Daí o atual diretor continua lá apenas para manter a ordem e cumprir o que vocês determinarem. — É uma boa ideia. — Um calafrio percorreu minha espinha. — Bruna, acha que ele vai aceitar? — De imediato, não, mas ele vai analisar e te ouvir. Se esses forem seus termos, ele deve pensar bem antes de negar, afinal, ele precisa de você, não precisa? Ai, meu Deus. Seria essa uma chance de não sair perdendo em nada? PERIGOSAS ACHERON

PERIGOSAS NACIONAIS — Sim. Farei isso, mas falarei amanhã. Vou até lá participar da reunião e ver como tudo anda, depois conversarei com Douglas e veremos no que dá. — Isso, amiga, vai dar tudo certo! — Obrigada, Bruninha, vou agora tomar um banho que daqui a pouco Douglas liga, o poderoso chefão! — Ri. — Ok, qualquer coisa me fala, beijos. — Beijos. Desliguei aliviada, realmente o plano de Bruna era ótimo e pouparia o amor que sinto por Antônio, além de dar oportunidade para ele crescer e se preparar para assumir a empresa futuramente. Tomei um banho rápido, vesti meu pijama e fiquei aguardando a ligação de Douglas Gali. Após alguns minutos de espera, ele ligou. — Alô. — Amanda, novidades? —Sim, senhor Gali. Irei amanhã para Recife. — Fico feliz em saber que tomou a melhor decisão. A reunião é às 8 aqui na empresa, já estou PERIGOSAS ACHERON

PERIGOSAS NACIONAIS aqui em meu bangalô. Fez sua reserva no hotel ou quer que eu adiante para você? — Fiz sim, amanhã conversamos, gostaria de avaliar alguns termos da minha admissão, tudo bem? —Sim, claro, vejo você amanhã. — Até amanhã. Depois de desligar, comecei a arrumar as malas. Arrumei para três dias, não sabia qual seria a decisão de Douglas, então não precisava levar muitas coisas. Estava confiante de que tudo daria certo. Às 23 h me deitei para cochilar. Teria que acordar cedo, pois o voo era às 4 h da manhã, até que naquele momento, meu telefone tocou. — Fala. — Amanda, por favor, volta pra mim! — Henri chorava do outro lado da linha. — Henri, você está bem? Parece bêbado. — Eu bebi porque você não me quer, volta pra mim, Amanda, eu te amo! Ah, não… O que fiz para merecer isso? — Henri, vai pra casa cuidar da nossa filha, PERIGOSAS ACHERON

PERIGOSAS NACIONAIS ela não merece um pai bêbado. — A babá está lá, ela está bem, mas não paro de beber até você voltar pra mim, preciso de você! Senti medo, ele nunca foi de fazer ameaças ou pôr em risco sua saúde por minha causa. Desliguei o telefone apavorada, não conhecia esse lado de Henri, ele parecia arrasado, mas eu não podia me deixar abalar. Liguei para a casa dele, tentaria falar com a babá. — Alô. — Oi, aqui é Amanda, mãe da Clara, você é a babá? — perguntei sem rodeios. — Sim, no que posso ajudar? — Vigie bem Clarinha, por favor, Henri está bêbado. Me ligou sem conseguir falar coisa com coisa e preciso que a mantenha segura, por favor. — Oh... Ela está dormindo, eu a vigio sim, pode ficar tranquila — A babá pareceu preocupada, pela voz. — Bom. Obrigada. — Tudo bem, tchau. Fiquei um pouco mais tranquila, mas não PERIGOSAS ACHERON

PERIGOSAS NACIONAIS conseguiria dormir mais depois daquilo tudo. Ouvi um estrondo do lado de fora, fui até a janela e vi uma tempestade absurda caindo do céu, com relâmpago por todos os lados. — Putz... voo com chuva. Que sorte! Fiquei um pouco receosa sobre meu voo e, de tanto pensar nisso, acabei cochilando. Acordei de madrugada, me arrumei e peguei as malas. Quando fui para a sala, Pedro chegava em casa. — Isso são horas, irmãozinho? — perguntei. — Estava por aí, e você, já vai pro aeroporto? — rebateu. — Vou sim, você me emprestaria seu carro? Está chovendo muito, não quero molhar a mim e a bagagem esperando táxi. — Tudo bem, sei que dirige bem. Se eu não estivesse tão cansado, te levaria, sem problemas, mas toma aqui. — Lançou as chaves a mim. — Vai e deixa no estacionamento do aeroporto, coloca as chaves em meu nome nos armários de pertences que ficam no primeiro andar de lá. Eu busco de manhã. PERIGOSAS ACHERON

PERIGOSAS NACIONAIS — Obrigada, maninho, você é o melhor — agradeci e saí de casa. Ao entrar na garagem, decidi ligar para Antônio antes de sair com o carro. Eu preciso dar mais um adeus antes de viajar. Ele deve estar dormindo, mas vou falar que o amo mais uma vez. Afinal, não sei o que me espera em Recife. Entrei no carro do meu irmão, guardei minha bagagem e peguei o celular. Aguardei alguns toques, mas logo a voz rouca e sonolenta do meu amor acariciou meu ouvido. — Oi, amor. Respirei fundo, controlando a vontade de largar tudo e ir até ele. — Antônio, eu… Queria me despedir. Sei que dará tudo certo e vamos ficar juntos, mas precisava reforçar que o amo, o amo demais. — Ah, Amanda… — ele sussurrou, mas o cortei em seguida. — Me deixe terminar, por favor — funguei, contendo as lágrimas. — Eu nunca vou esquecer PERIGOSAS ACHERON

PERIGOSAS NACIONAIS tudo o que passamos, cada um dos momentos lindos. Eu te amo, por favor, não me esqueça, viu? — Por que diz isso? Você não vai voltar? É isso? Eu não sabia responder, não tinha mais certeza de nada, só sentia uma aflição enorme no peito, como uma premonição. — Eu… Sempre voltarei por você. Sempre. Haja o que houver, passe o tempo que for. Mesmo se você quiser me deixar ou… — Minha voz embargou. — Não sei, Antônio, eu não sei de nada, só preciso dizer que te amo. Nunca vou te esquecer. — Amor… Quer que eu vá? Quer que… — Não. — Mais uma vez o cortei. — Preciso dar esse passo sozinha. Eu amo você. — Também amo você. Você é a pessoa que me ensinou o verdadeiro sentido da vida, Amanda. A única coisa que eu peço, é que não me deixe aqui. Eu vou atrás de você no inferno, se necessário. — Eu vou esperar, amor. Desliguei e me debulhei em lágrimas. Mesmo PERIGOSAS ACHERON

PERIGOSAS NACIONAIS tentando confortá-lo, eu não podia garantir que aquele relacionamento à distância permaneceria. E se ele sentisse falta de uma mulher e quisesse alguém? Doeria demais, mas não o proibiria. Saí com o carro e dirigi lentamente em direção ao aeroporto, pois a chuva me deixava quase cega e a pista estava bastante escorregadia. Consegui controlar as lágrimas, para não me atrapalharem e foquei no trajeto. A rua não tinha muitos carros, mas estava encharcada pela chuva. Quando estava na metade do caminho, meu celular tocou. Achei que poderia ser Antônio. Não vi o nome, apenas atendi e coloquei no viva voz. — Amanda, não vai embora, eu te amo! — Era Henri. — Henri, estou dirigindo, indo pro aeroporto, me deixa em paz! — Amanda, por favor, vou me matar se você for embora, preciso de você!!! — A voz dele estava embargada. Meu coração acelerou em preocupação e comecei a tremer, detestava imaginar ser o motivo de qualquer problema e não podia deixar Clara sem PERIGOSAS ACHERON

PERIGOSAS NACIONAIS pai. Naquele momento percebi que meu ex-esposo precisava de ajuda profissional, ele não estava bem. — Tudo bem, Henri, se acalma, vou ficar com você, ok? Onde você está? — menti. — Na rua, na chuva, num bar aqui no centro. — Não estou te ouvindo direito, espera aí. E no momento em que virei meus olhos para o telefone que estava no banco do carona para tirar do viva voz, o sinal da avenida se fechou, mas não notei de imediato. Continuei dirigindo sem os olhos na estrada, quando percebi dois faróis vindos rapidamente de um cruzamento, na minha direção. Por impulso, acelerei e desviei para a segunda pista, fazendo o carro capotar dando três voltas e cair em meio à pista da contramão. Estava inconsciente, com a cabeça sangrando sem parar e meu telefone estava quebrado, porém ligado. — Amanda? Que barulho foi esse? Amanda? — Henri perguntava do outro lado da linha. E foi a última coisa que ouvi, porém não PERIGOSAS ACHERON

PERIGOSAS NACIONAIS consegui sequer responder. Minha cabeça doía, girava e senti um líquido quente percorrer meu rosto. Eu não estava mais lá.

TONY Algo não estava bem. A sensação de “perda” que meu peito sentia não podia ser normal. Fiquei andando de um lado para o outro no quarto, após a ligação de Amanda, torcendo para que um milagre acontecesse e ela desistisse da viagem. Mas outra coisa aconteceu, e não foi um milagre. Quando me ligaram do hospital, avisando que Amanda Lice de Almeida Portella estava sendo atendida pela emergência, mal troquei minhas roupas e corri como um louco dirigindo rumo ao local. Liguei para Pedro, que demorou a atender, mas não hesitou em ir até o hospital também. PERIGOSAS ACHERON

PERIGOSAS NACIONAIS Passei em sua casa e o busquei, mas não conseguia proferir palavra alguma. Minha controladora estava correndo risco de vida, pelo que entendi. E se algo acontecesse a ela, eu jamais me perdoaria. — Cadê ela? Onde ela está, o que houve? — perguntei desesperado à recepcionista, dando os dados de Amanda, assim que chegamos. — Ela está sendo atendida, chegou inconsciente, porém viva. Peço que aguarde as informações que formos recebendo. Sente-se na sala de espera, por favor. Pedro estava sentado nessa sala de espera, enquanto eu pedia informações. — Tudo bem, eu sou o namorado dela. Por favor, não hesitem em me informar seu estado. — Tudo bem, fique tranquilo. Me sentei, ainda em desespero, já chorando por pensar que o amor da minha vida corria risco de vida ou podia sofrer sequelas do acidente, mas não tinha noção do que realmente havia acontecido. PERIGOSAS ACHERON

PERIGOSAS NACIONAIS Pedro tocou meu ombro, a fim de me consolar. — Ei... Como ela está? Fica calmo, vai dar tudo certo, Amanda é forte, ela vai sair dessa. Pedro era assim, por fora uma fortaleza. Mas eu sabia que ele deveria estar pirando por causa dela. — Ainda não falaram nada, teremos que aguardar. Estou tentando ficar calmo, mas não dá. Ficamos ali, aguardando. Alguns minutos depois, vimos um homem entrar no hospital, acabado, com o cabelo bagunçado, gritando. — Minha Amanda!!! Cadê minha Amanda?! — Ele gritou com a atendente. Pedro e eu nos aproximamos dele e o seguramos pelos braços. Ele estava fora de si, e chamava Amanda de “minha”. Pelo olhar raivoso de Pedro, aquele deveria ser o ex que eu não recordava bem da feição. Só o tinha visto em duas ocasiões. Uma na boate escura e outra à distância. — O que faz aqui? Já se olhou? Vai pra casa, PERIGOSAS ACHERON

PERIGOSAS NACIONAIS Amanda está em boas mãos! — Pedro falou furioso. — Mãos de quem? Desse riquinho meia-boca aí? — retrucou apontando para mim. — Ela é minha esposa! Não assinei papel nenhum de divórcio, então sou o responsável por ela, me soltem! Pedro e eu trocamos um olhar cúmplice. Odiei ouvir aquela merda, mas precisava me controlar. Pedro soltou Henri — esse era o nome do canalha — e fiz o mesmo. — Olha só, se fizer vexame ou qualquer coisa que me irrite, eu trato de fazer com que você seja o próximo paciente acidentado a ser atendido aqui. — Meu cunhado ameaçou, apontando o indicador para o rosto de Henri. Eu sabia bem que Pedro tinha plena capacidade de fazer uma coisa daquelas. Me contive e permaneci calado, nós três nos sentamos e aguardamos por algumas horas. Um médico se aproximou da área de espera. — Parentes de Amanda Lice de Almeida? PERIGOSAS ACHERON

PERIGOSAS NACIONAIS — Eu. — Pedro, Henri e eu levantamos ao mesmo tempo. O médico olhou para nós e se aproximou. — Bom, o estado de Amanda é estável. Tivemos que induzir o coma devido ao inchaço causado pela concussão. Não sabemos exatamente quando ela acordará. Teremos de aguardar. Senti meu chão desaparecer, estava preocupado e frustrado. Levantei e me encarreguei de bancar qualquer despesa do hospital e perguntar tudo que podia sobre o estado de Amanda ao médico. Estava me odiando por não tê-la impedido. Podia, ao menos, ter me oferecido para levá-la, mas minha necessidade de deixá-la livre para assimilar e decidir tudo por si falou mais alto. Assim foram os oito dias seguintes: espera, agonia e ansiedade. Eu soube que Henri ligava todos os dias para o hospital, perguntando do estado de Amanda. Pedro e eu a visitávamos sempre que permitido. No oitavo dia, recebemos a notícia de que Amanda acordara e corremos para o hospital. PERIGOSAS ACHERON

PERIGOSAS NACIONAIS Meu coração mantinha apenas uma esperança: Dela voltar para mim saudável e bem. Saber que não morreu e se recuperava bem era meio caminho andado. — Ela está bem, a lesão desinchou e Amanda reage normalmente. Esteve acordada por pouco tempo, mas o suficiente para termos certeza de que ela terá uma sequela. — Doutor Jay explicava a nós três. Sim, o maldito do ex insistiu em estar. — Que tipo de sequela? — perguntei. — Perda da memória. Quando ela acordou pela primeira vez, dizia não se lembrar do acidente. As lesões cerebrais em casos de choques são ocasionadas pelo golpe e contragolpe do cérebro com o crânio — explicou o médico. — As fibras que conectam os neurônios são lesionadas e alteram o funcionamento mental. São encontrados em casos de capotagem de carros. Muitas vezes, as lesões corporais são leves, mas as cerebrais, graves. Isso acontece justamente pela movimentação da massa cerebral durante os choques que ocasionam a concussão. Não sabemos quanto e o que ela PERIGOSAS ACHERON

PERIGOSAS NACIONAIS esquecerá. Pode se esquecer do último dia, da última semana, mês ou ano... Ou até anos. Não consegui esconder o choque em meu rosto com aquela notícia. Tudo o que eu não precisava, era que ela simplesmente esquecesse de mim. Por que o ar ficou tão rarefeito? Por que meu peito doía? Eu precisava sentar. — Então... Ela vai ficar bem, mas terá esquecido um período do passado? — Henri perguntou. — Provavelmente. Teremos que fazer mais testes com ela assim que acorde, para saber se não será amnésia retrógrada, que é quando esquece apenas um período passado, ou amnésia anterógrada, fazendo-a esquecer tudo de tempos em tempos. Por exemplo, ela vai viver o dia e amanhã pode esquecer, daí viverá o amanhã e depois de amanhã esquecer de novo. Temos que ter certeza de que isso não acontecerá com ela. Por isso ela deve ficar um tempo em avaliação conosco, pois isso é PERIGOSAS ACHERON

PERIGOSAS NACIONAIS raríssimo. — O médico disse. — Ela nunca mais terá as memórias de volta? Depois que ela acordar, podemos vê-la? — Pedro perguntou. — Em casos em que não há morte de neurônios, a recuperação da memória acontece, mas quando neurônios morrem... Não. Podem vê-la agora. Ela está apenas dormindo, mas podem vê-la um de cada vez. Eu ainda estava estático, sentindo a dor daquela notícia batendo forte em meu peito. Ela poderá se esquecer de nós. O primeiro a visitá-la naquele dia foi Henri, pelo grau de parentesco. A atendente pareceu confusa ao ver o marido e depois o namorado dela ali, afinal já estava acostumada com as visitas diárias minhas a Amanda.

HENRI Aquela era minha chance. PERIGOSAS ACHERON

PERIGOSAS NACIONAIS Se o riquinho babaca pensa que vai ter tudo o que quer na vida, como sua maldita riqueza, está enganado. Amanda é minha, e esse acidente está dando a chance do destino devolvê-la para mim. Entrei na sala e a vi enfaixada em toda a cabeça, deitada, dormindo na maca. Ao lado dela, em uma mesinha, tinha uma sacola transparente com o telefone e a carteira dela. O hospital não liberou seus pertences a nenhum parente desde o dia do acidente. Antes de falar com ela, ainda desacordada, peguei seu telefone. — Vou apagar tudo, mensagens, fotos, vídeos, ligações... Ela pode esquecer dele e voltar pra mim. Depois da limpeza, sentei-me ao lado de Amanda e lamentei. — Meu amor... Quem sabe a vida não está nos dando mais uma chance? — Beijei-a na testa e saí do quarto. A vida tem dessas coisas, eu recuperaria minha esposa, por bem ou por mau.

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TONY Assim que o idiota saiu, Pedro entrou rapidamente, a beijou na cabeça e disse que estaria lá todo o tempo para ajudá-la e que a amava demais. Isso foi o que ele me disse ao sair, falou que foi rápido para dar mais tempo na minha vez. Eu estava tremendo, minha garganta fechada, com medo do que poderia encarar dali em diante. Entrei e sentei ao lado dela. Foi inevitável controlar as emoções então comecei a chorar, enquanto segurava suas mãos. — Meu amor, eu te amo tanto, mas não pude te proteger dessa tragédia. Eu poderia ter me oferecido pra te levar, mas quis te deixar à vontade, fui um tolo. Agora você está aqui, podendo ter esquecido de tudo entre nós... — Tentei suavizar a respiração. — Como eu te amo... Não me deixa, por favor... Sua aparência frágil e semblante sereno não mostravam reconhecimento algum à minha voz. PERIGOSAS ACHERON

PERIGOSAS NACIONAIS — Não importa o que aconteça, você sempre voltará para mim e não irá me esquecer, não é isso? Fechei os olhos, controlando as últimas lágrimas antes de sair do local. Levantei para ir embora antes que tudo doesse mais ainda, quando então senti um aperto em minha mão. Amanda tinha apertado os dedos nos meus. — Ai meu Deus, vou chamar o médico. — Saí correndo até a sala principal e fiz o que devia. Henri e Pedro levantaram da cadeira ao me ver. — O que houve? Ela acordou? — Pedro perguntou. — Não, ela apertou meu dedo quando segurei a mão dela, vem, ela deve acordar logo — contei animado e notei Henri revirar os olhos. Aguardamos o médico chegar e o seguimos até o quarto em que Amanda estava. Ele verificou os batimentos cardíacos e os olhos dela, que começavam a abrir. Do outro lado da maca estávamos Eu, Henri e Pedro, nessa ordem de proximidade. Amanda abriu os olhos e os correu PERIGOSAS ACHERON

PERIGOSAS NACIONAIS por todo o quarto. O silêncio só não era completo porque as batidas do meu coração pareciam altas até para um surdo. — O... o que... aconteceu? — Ela proferiu com a voz ainda rouca e fraca. — Você sofreu um acidente, como já havia dito. Se acalme, estamos cuidando de você — o médico explicou. Ela semicerrou os olhos e percorreu pelo ambiente. Respirou fundo, parecendo muito confusa, e senti minha mão suar, ansioso para seu reconhecimento. Ela não me esqueceria, eu tinha fé. Foi quando viu os três homens ao lado dela na cama. Olhou cada rosto e, por fim, sorriu. — Pedro — o chamou. — Irmãozinho. — Sou eu, maninha, que bom que se lembra de mim. — Aproximou-se dela e acariciou sua mão. Ela olhou para o homem ao lado dele. — Henri… PERIGOSAS ACHERON

PERIGOSAS NACIONAIS Logo seria eu, logo seria eu. Pedro deu espaço para que Amanda visualizasse todos da melhor forma, e se afastou. — Estou aqui, amor, estou aqui, vai ficar tudo bem — Henri disse, se aproximando e também segurando a mão dela. Cínico. Ela então olhou para mim, que estava mais próximo dela. Seus olhos semicerraram-se, verificando meu rosto. Lembra, amor. Por favor… Lembra?! — Você... Eu não... Quem é você? — perguntou a mim. Naquele momento meu coração despedaçou. Como uma lâmina afiada, senti suas palavras percorrerem meu corpo, rasgando-me em pedaços. Enfim senti a dor da perda, a dor que meu pai sentia e quis que o filho evitasse. Eu tinha certeza de que era aquela dor, mas disfarcei. Ela não tinha culpa. Encarei o médico, e o notei abanar a cabeça em negação. Aquela era uma dica, eu não deveria PERIGOSAS ACHERON

PERIGOSAS NACIONAIS dizer quem era, de fato. Henri e Pedro me olharam com receio, transparecendo curiosidade pelo que eu diria. Segurei a mão dela com cautela e puxei uma boa dose de ar aos pulmões antes de dizer qualquer palavra. Coragem, Tony. — Eu... sou... — Engoli em seco, as palavras cortavam. — Eu sou seu chefe, você é minha melhor funcionária.

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Capítulo 16

AMANDA Eu não sei como vim parar aqui. Despertei ouvindo uma voz, alguém dizendo algo sobre amor, mas não reconheci. Quando abri os olhos, vi uma confusão à minha frente; um médico, meu irmão, meu esposo e um homem enorme e misterioso, de olhos azuis profundos e um olhar triste. Nunca o vi, mas ele parecia amigável. Ao reconhecer todos, exceto o último homem, me senti melhor, não estava com ninguém tão estranho. Meu esposo e meu irmão estavam ali do meu lado. Passei os dois dias seguintes fazendo testes de memória. Segundo o enfermeiro que cuidava de mim, eu sofri um PERIGOSAS ACHERON

PERIGOSAS NACIONAIS acidente de carro e perdi fragmentos dela. — Qual a última cena que se lembra? Um momento especial. Eu forcei um pouco a mente alguns dias após acordar e veio a imagem da última coisa que eu me lembrava. — Estou numa festa, uma festa infantil, estamos batendo parabéns, eu, Henri e Clara, nossa filha. No final dos parabéns ela assopra uma vela. A festa era da Sininho e a vela era de dois anos, minha filha fez dois aninhos. E depois tudo ficou preto e eu abri os olhos nesse hospital — contei. —Quantos anos você tem? — 26. — Que dia foi a festa da sua filha? De dois anos. — 20 de fevereiro de 2013. — Amanda, você perdeu dois anos da sua memória. Estamos em 31 de maio de 2015. Fiquei espantada, achei que o dano na minha memória fosse pouco. Eu precisava entender tudo que aconteceu nesse tempo que perdi. Depois que o PERIGOSAS ACHERON

PERIGOSAS NACIONAIS enfermeiro foi embora, almocei no quarto mesmo, e de tarde Pedro veio me visitar. — Boa tarde, cabeçuda! — Ele entrou, falando animado. — Cabeçuda? — Sim, agora esse é seu novo apelido, como se sente? — Melhor, novinha em folha. Fiquei sabendo hoje que perdi dois anos da minha memória, e por enquanto não tive mais nenhuma perda dos últimos acontecimentos desde que eu acordei nesse hospital. — Então... Você não se lembra de nadinha? — O olhar do Pedro estava em conflito. — Apenas do aniversário de dois anos da Clara pra trás. Ele suspirou coçando a cabeça, parecia triste. — O que foi? — perguntei. — Quer que eu atualize os acontecimentos? Ou Henri já te atualizou? — Não, ainda não atualizei, mas vou atualizar agora. — Henri disse ao entrar de repente. PERIGOSAS ACHERON

PERIGOSAS NACIONAIS — Gente, o que aconteceu pra vocês se olharem assim? — Percebi um olhar fatal entre os dois. — Calma, irmãzinha, deixa seu esposo contar tudo. — Pedro afirmou e depois virou para Henri. — Não é, cunhado? Vai contar tudo? — Claro... Minha princesa. — Henri se acomodou ao meu lado na cama. — Depois do aniversário de dois anos da Clara, tudo ficou na mesma, você cuidava dela e eu trabalhava. Clarinha cresceu rápido, ela é linda e inteligente. Mas há uns meses você cismou que queria trabalhar e voltar a estudar, discutimos e eu tive uma crise de ciúmes. Você decidiu se separar de mim assim, sem mais nem menos. Eu sofri demais, você morou um tempo com Pedro e conseguiu um emprego na Gali Telecomunicações, mas é claro que vai largar o emprego e voltar comigo para nossa casa. Vi Pedro abrir um pouco a boca e franzir o cenho na direção de Henri. Algo estava errado. Logo ele me encarou e começou a falar. — Amanda, escuta, você passou com 80 por cento de bolsa pra faculdade, recebeu uma proposta PERIGOSAS ACHERON

PERIGOSAS NACIONAIS de diretoria com apenas 4 dias de empresa e foi o presidente nacional que a ofereceu! Você estava indo pro aeroporto rumo a Recife pra aceitar a proposta, quando sofreu o acidente. Você não precisa voltar a ser dona de casa apenas, você pode ser mais, tem potencial. Seu emprego é ótimo, você ganha bem e Tony te trata com todo o respeito que merece. Naquele momento, lembrei do homem presente no dia em que acordei. Ele disse que era meu chefe. — Quem é Tony? Meu chefe? O cara que estava aqui? — perguntei. — Sim, você lembra de algo sobre ele? — Os olhos de Pedro pareciam esperançosos. — Na verdade lembro de quando acordei, ele disse que eu era sua melhor funcionária. — Ah... — exprimiu. — Enfim, peça demissão e volte para casa comigo. — Henri concluiu. Eu amava meu marido, de coração, mas não estava me sentindo bem com essas coisas que ele PERIGOSAS ACHERON

PERIGOSAS NACIONAIS disse. Se eu tenho um bom emprego e posso voltar a estudar, ele deveria me apoiar, não me prender dentro de casa. Concluí que devia ser por isso que eu me separei, ele parecia possessivo demais. — Henri, quero ficar aqui onde estou, trate de alugar uma casa por aqui, quero voltar ao trabalho e à faculdade. É uma oportunidade boa pra mim e preciso crescer. Um sorriso se abriu nos lábios de Pedro. — Babaca, minha irmã é dona do nariz dela, inútil! — Ele disse a Henri. — Babaca? Acho bom a gente estar em concordância, cunhadinho! — Henri ralhou com ele. — Gente, chega. Ainda ficarei mais uns dias aqui, precisam avaliar mais o meu cérebro, mas Pedro, trate de ver se ainda tenho meu emprego e Henri, alugue uma casa o mais perto possível, o quanto antes, e traga Clara para que eu a veja. — Ok. — Os dois falaram e saíram do quarto. Que confusão... Eu perdi dois anos e quando PERIGOSAS ACHERON

PERIGOSAS NACIONAIS começo a saber sobre minha vida, me vejo em uma discussão. Quero trabalhar e estudar, quero crescer e parar de depender de Henri e, pelo visto, eu fiz isso muito bem antes do acidente. Não vai ser um marido possessivo que irá me impedir. — Amanda? — Pedro apareceu na porta novamente, depois de um tempo. — Oi, Pedro... Ele se aproximou de mim e sentou na cadeira ao meu lado. — Gostaria de falar com você, já que o idio... o seu marido já foi. — Pode falar, sou toda ouvidos. — Então... Queria falar sobre o Tony, seu chefe. Ai meu Deus... ele estava aqui quando acordei, Henri queria que eu pedisse demissão, agora Pedro quer falar dele... Será que ele e eu... ai meu Deus, não. Me sinto uma vadia agora. — Pode falar, irmãozinho. — Ele e você criaram um laço muito grande PERIGOSAS ACHERON

PERIGOSAS NACIONAIS de amizade nos 20 dias que trabalharam juntos. Você é a secretária executiva pessoal dele. Ele gosta muito mesmo de você...Como amigos. Então eu queria que, quando voltasse ao trabalho, fosse legal com ele. Ele te trata bem e te respeita, então... Só seja legal com ele — pediu. Se tenho uma característica que nunca mudou ao longo dos anos, é minha capacidade de captar mensagens subliminares no ar. Sentia que Pedro me escondia algo, mas daria tempo para que me contasse. — Então eu ainda tenho um emprego? — respondi radiante, disfarçando a desconfiança. Eu queria mesmo trabalhar. — Sim, ele disse que você tem seu emprego garantido, e que, caso se saia bem, vai te tornar a vice-diretora dele. — Pedro sorriu. — Uau! Meu Deus, eu não podia receber notícia melhor, obrigada, maninho. Você e ele são amigos, não é? — Sim, somos, melhores amigos. — Percebi, você só defende amigos que PERIGOSAS ACHERON

PERIGOSAS NACIONAIS valem a pena. — Lhe presenteei com um sorriso e ele sorriu de volta. Depois da visita de Pedro naquele dia, eu fiquei mais feliz, não sei, senti uma paz no meu coração. Parece que finalmente as coisas se ajeitariam para como estavam antes do acidente. Tenho meu marido de volta, minha filha, meu emprego e a faculdade, o que mais eu poderia querer? Os dias passaram rápido, os médicos me garantiram que meu problema não era progressivo e que eu não sofreria nenhuma futura perda de memória, foram apenas os dois anos anteriores ao acidente e isso me confortou, pois eu poderia voltar ao normal com minha vida. Henri trouxe Clarinha apenas no dia da minha alta, 3 de junho. — Princesa! Como você está grande! — Eu admirei minha filha, que agora estava dois anos maior do que minha última lembrança dela. — Mamãe, estava com saudades, vamos morar juntas de novo? — Ela me abraçou. PERIGOSAS ACHERON

PERIGOSAS NACIONAIS — Sim, filha, vamos! — Eu estava de pé, minha cabeça já não tinha ataduras, apenas um pedaço raspado de cabelo, que eu cobri facilmente com o outro lado. — Amor, vou deixar ela um pouco aí, enquanto chamo o médico para te liberar. — Henri comentou da porta e logo saiu. Olhei minha filha mais uma vez. Ela estava tão linda, com um vestido bege que lembrava uma das princesas da Disney. — Amei o vestido, filha! Deixa você mais linda ainda! — Claro que amou, mãe, você me ajudou a escolher. Mas foi Tio Tony que comprou. — Tio Tony? Aí tinha coisa! — É, do seu trabalho, ele é muito legal, eu gosto dele. — Ah, sim... ele é legal sim — afirmei, tentando entender qual o nível de amizade que eu tinha com esse Tony, que deve se chamar Antônio, Tony é apelido, com certeza. Um dia eu perguntaria PERIGOSAS ACHERON

PERIGOSAS NACIONAIS a ele. — Vamos? — Henri entrou na sala com o médico. — Aqui está sua alta, Amanda. Todo o diagnóstico e os remédios que deve tomar caso sinta uma dor de cabeça muito forte, ok? — Doutor Jay era atencioso o tempo todo comigo. — Obrigada, doutor. Saímos do hospital com toda a equipe acenando para nós. Eles diziam que eu era uma paciente muito forte e que mesmo que eu tenha perdido um fragmento da memória, eles não se surpreenderiam se algum dia eu voltasse a me lembrar. O que talvez fosse impossível, já que até então nada acontecera, mas eu tinha esperanças. Chegamos na nossa nova casa alugada. Henri foi dirigindo seu carro devagar pelas ruas. Nossa casa era simples, com dois quartos, um pequeno quintal, garagem, uma sala grande, cozinha e um banheiro apenas. Era aconchegante. Henri disse que foi muito difícil conseguir aquela casa, pois tudo era muito caro. PERIGOSAS ACHERON

PERIGOSAS NACIONAIS Ao entrarmos, tudo já estava arrumado, minhas roupas e os móveis, o quarto de Clara, tudo estava em seu lugar. — Meu amor, gostou da casa nova? — Henri me abraçou por trás e me deu um beijo. — Sim, adorei. — Eu tinha que fazer valer a pena essa nova chance na vida. Henri estava me tratando muito bem, até demais. Parecia que se redimia por alguma coisa toda vez que fazia algo por mim, eu parecia um bebê indefeso nos seus braços quando me abraçava, mas até que estava gostando. Aquele dia passou voando, eu liguei para a empresa e me comunicaram que estava tudo certo para minha volta no dia seguinte. Confirmei local e horário e me animei de pensar que finalmente voltaria à ativa. Henri não gostava da ideia, mas ele me entendia, era um bom esposo. — Meu amor, hoje eu faltei para te buscar, mas amanhã vou ter que ficar até tarde no trabalho para compensar as horas, tudo bem? — Henri informou quando estávamos deitados, prontos para dormir. PERIGOSAS ACHERON

PERIGOSAS NACIONAIS — Tudo bem... — Respirei fundo antes de continuar. — Eu sei que tive alta hoje e não posso fazer muito esforço, mas só tive ferimentos na cabeça, meu corpo está normal... Será que podíamos... Fazer amor? — Eu pensava nisso desde o dia em que acordei, imagina passar mais de 10 dias sem sexo? Não dá, né? Não sei como fiquei separada e sem sexo antes de perder a memória, mas enfim. — Ah, meu amor, podemos, mas eu estou um pouco cansado, fica por cima, tudo bem? Deita em mim que te abraço pra não se esforçar muito. — Henri murmurou, desanimado. Nossa, aquilo me quebrou, nem parecia me desejar, era mais frio que um congelador e me deixou mal com essa atitude... Mas, não sei porquê, eu tive a impressão de que podia ser bom, então aceitei. Fizemos, na verdade eu fiz e então ele dormiu. Pensa num sexo murcho? Foi assim... Mas eu o amo, ele é meu marido e quem sabe não fosse melhor na próxima noite? PERIGOSAS ACHERON

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TONY Terceiro copo. Quarto. Quinto. Sexto. Eu não bebia. Não depois de saber que a bebida causou a morte da minha mãe. Sempre evitava beber, eram raras as vezes que cedia. Mas lá estava eu, com a única coisa alcoólica que tinha em minha casa: Vinho. — Ah! Acaba logo! Acaba! — Joguei a taça longe, fazendo com que se quebrasse em vários pedacinhos de vidro, na parede. Por que essa dor enorme não acaba? Era assim que era amar? Era disso que me protegi a vida inteira? Essa era a maldita dor? Andei pela sala, desolado com as mãos nos PERIGOSAS ACHERON

PERIGOSAS NACIONAIS cabelos de forma desesperada. Ela não se lembrava de mim. Simples assim. Por que a vida tinha de ser tão injusta? Por que tinha de fazer com que pessoas como eu sofressem? Não, eu não me achava o super-homem ou melhor que ninguém, mas nunca, jamais fiz mal a alguém na proporção que estava recebendo. Será que isso tudo foi devido aos corações que já quebrei? Será que é uma maldição? Meu pai estava agorando meu relacionamento? Não acredito nessas coisas, mas o que mais poderia definir essa mudança repentina no quadro da minha história? Eu e Amanda seríamos felizes. Tinha certeza disso. Poderíamos namorar aos fins de semana, eu não me incomodaria com isso. Quero vê-la feliz, crescendo em todas as áreas da vida sem medo de ser reprimida. Mas quando menos esperamos, a vida mostra PERIGOSAS ACHERON

PERIGOSAS NACIONAIS que não é assim que se joga. Sentei-me no sofá e abracei meus joelhos enquanto mergulhava nas memórias que tínhamos juntos. — Eu ainda as tenho, Amanda. Deve valer de algo, não? — falei com o além, talvez ele me ouvisse. Eu possuo as memórias. E são suficientes para mim e para ela. Quem me dera poder revivê-las e mostrar como nosso amor é maravilhoso e tão… certo. Lágrimas continuaram jorrando de meus olhos como uma cachoeira, enquanto meu peito saltava entre soluços causados pela dor. Eu era a dor em pessoa. Eu era a dor por inteiro. Quando o doutor negou com a cabeça no momento em que ela perguntou-me quem eu era, entendi que não podia revelar a verdade, e na hora que saímos do quarto, eu e Pedro procuramos saber o porquê. — Se tudo der certo, ela lembrará das coisas PERIGOSAS ACHERON

PERIGOSAS NACIONAIS no decorrer do tempo. Em breve já poderá lembrar de tudo, mas caso não lembre… Melhor é evitar conflitos mentais que podem causar dor e exaustão nela. Amanda pode não compreender e a realidade das suas memórias entrarão em colapso. — Então não posso contar que o maldito do ex-esposo não vale o pão que come? — Pedro indagou, com os braços cruzados e cenho franzido. — Ainda não. Ela se lembra de uma realidade diferente da que vivia. Vamos aguardar para que se recorde aos poucos. — Tudo bem. — Garanti. Mas não estava tudo bem. Não podia contar nada pra ela, nem visitá-la mais. Apenas garanti que as despesas do hospital fossem pagas por mim até o último dia de atendimento dela, e fui para casa. — Tem certeza de que vai ficar bem? — Pedro tocou meu ombro, quando me virei para ir embora. Estávamos na recepção do hospital, poucos minutos após saber o diagnóstico da Amanda. PERIGOSAS ACHERON

PERIGOSAS NACIONAIS — Não, Pedroca, não ficarei. Mas estou vivo. Farei o possível para permanecer. — Tentei sorrir. Seu rosto transparecia compaixão pela minha situação, mas eu sabia que ele nunca teve ninguém e jamais entenderia o que é perder quem se ama. — Vai lá. Tire o seu tempo, irmão. E foi o que eu fiz, vindo para casa. Ainda imerso em lembranças, viajei até o dia em que a vi pela primeira vez, na boate. Como poderia existir exemplar feminino mais perfeito que ela? Lembrei de quando Pedro afirmou em um dia, que ninguém jamais faria sofrer quem ele ama. Eu tinha o mesmo sentimento pela sua irmã. Nunca, jamais a faria sofrer ou aguentaria ver alguém causando sofrimento a ela. Mas agora, não me restava mais nada. Apenas cacos. E o desejo de que ela se recorde de mim algum dia, nem que seja apenas para entender como eu a amo. PERIGOSAS ACHERON

PERIGOSAS NACIONAIS Isso já me faria viver tranquilo.

AMANDA O dia seguinte amanheceu com um sol lindo na minha janela. Henri já havia saído e deixado Clara na escola. Um recado dele no criado-mudo ao lado da cama dizia que a babá a buscaria e cuidaria dela até eu voltar do trabalho. Fiquei tranquila por ele ter pensado em tudo. Era um ótimo pai. Me arrumei, coloquei meu terninho azul favorito, meu perfume doce de costume e uma maquiagem suave. Peguei o ônibus e fui para o trabalho. Eu já tinha recebido o endereço por mensagem de Pedro. Chegando lá, fui recebida com aplausos e boas vindas, parece que todos gostavam de mim. Uma mulher simpática veio me abraçar sorrindo. — Amanda! Quebrei meu resguardo para suas boas vindas! Vou te mostrar sua nova sala e tudo que precisa saber sobre o trabalho — disse PERIGOSAS ACHERON

PERIGOSAS NACIONAIS animada. — Obrigada... Mas... Qual é seu nome? — perguntei, afinal, eu nunca a vi na vida. — Bruna. — Ela entristeceu o olhar alegre. — Esqueci do detalhe da memória, desculpe, mas somos grandes amigas, venha! Fiquei feliz ao lado dela, ela me transmitia algo bom. Ao chegar nas salas ao fim do corredor, ela mostrou a sala do meu chefe. A minha ficava exatamente ao lado. Era uma sala ampla com uma mesa enorme perto da janela, e que janela! Era algo colossal que ia de ponta a ponta, dava pra ver toda a cidade dali, sempre quis uma sala com janelão. — Uau... Que sala linda... E essa janela... Adorei — falei enquanto entrava e andava pelo ambiente. — Essa é sua mesa, decore como quiser, mas Tony já deixou sua marca aqui também, olha esse porta-retrato, que lindo. — Bruna pegou um portaretrato que tinha um tipo de cartão-postal com uma pintura do pôr do sol que me deixou profundamente emocionada. PERIGOSAS ACHERON

PERIGOSAS NACIONAIS Ao me aproximar da imagem, senti algo ardendo no meu peito quando concentrei minha mente ali... Sei lá, um aperto estranho. Não notei quantos segundos haviam se passado, mas de repente senti minha bochecha umedecer. Uma lágrima desceu dos meus olhos. — Amanda, está tudo bem? — Bruna perguntou, enxugando a minha lágrima. — Sim... Eu só... Não sei, me emocionei com a pintura, eu amo o pôr do sol. — Ainda não confiava nela pra dizer essas coisas profundas, parecia tipo um pressentimento. Ela assentiu, aparentemente desanimada pelo meu jeito de agir com ela, e saiu da sala, deixandome sozinha para absorver tudo aquilo. Me sentei na cadeira e olhei ao redor por um bom período. Era tudo novo, não me recordava de absolutamente nada daquele local, e me sentia inútil por isso. Não sei quanto tempo passou, mas uma pontada estranha no peito, me aflingia estando ali, PERIGOSAS ACHERON

PERIGOSAS NACIONAIS naquele lugar. Tomei o remédio pra dor que o médico me orientou, mesmo sendo dor no peito e não na cabeça. Os dias a partir daquele, com certeza, seriam longos.

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Capítulo 17

TONY Bruna queria contar tudo para Amanda, mas não podia. Ela me prometeu que não contaria nada. Desde que Amanda acordou depois do acidente, sem se lembrar de mim, não voltei para visitá-la no hospital. Meu coração ficou em pedaços. Naquele dia não fui trabalhar, não podia, não conseguia. Dias foram se passando, e ao imaginar minha vida arruinada por causa do amor que sentia por Amanda, senti-me amargamente arrependido de tudo que fiz. Todos os dias depois do trabalho ia para minha casa e afundava-me na cama. PERIGOSAS ACHERON

PERIGOSAS NACIONAIS — Eu mereço isso! Mereço. Estou pagando pelos meus pecados, por ter quebrado muitos corações na vida — falava para mim mesmo. — Ah, pai, você torceu por isso, não é? — esbravejei ao vento. Alguém deveria levar a culpa, e eu não aguentava mais saber que ela não retornaria para mim. Ficava na cama remoendo e revivendo as lembranças, concentrado para que nunca se apagassem de mim. — Os vídeos! — lembrei. — Vou ver os vídeos. Levantei-me em um pulo da cama e me sentei à mesinha do escritório particular que tinha em casa. Liguei o computador e abri a pasta onde estava a nossa videoteca. Comecei a assistir na ordem que filmamos. Primeiro o vídeo de Recife, Clarinha desfilando com os vestidos, depois o vídeo em que cantamos no carro com Clara, o vídeo jogando videogame com a declaração no final e os beijos intensos, acrescidos da nossa intimidade e, por fim, o vídeo do restaurante... Quando o vídeo do restaurante começou, eu PERIGOSAS ACHERON

PERIGOSAS NACIONAIS já estava em prantos. Foi como se as lágrimas que contive por toda a vida enfim encontrassem sua libertação depois que Amanda entrou na minha vida. E emoção foi tanta, mas tanta, ao ouvir mais uma vez o discurso de como Amanda se apaixonou por mim, que meu peito não podia suportar tanta dor. ... Esse lindo e encantador senhor se tornou meu anjo da guarda, me salvou de um vexame numa boate, me defendeu dos amigos galinhas, me salvou de um quase acidente na rua, me contratou em sua empresa e me levou para resolver um problema com ele em Recife, que me rendeu uma proposta de promoção absurda com a qual sempre sonhei. Acontece que esse senhor, o senhor Antônio Gali, em poucos dias conseguiu mudar toda a minha vida pessoal e profissional, apenas faltando uma pequena área que eu jurei que ninguém jamais tocaria novamente. Meu coração. Mas hoje, Antônio, aqui com você, eu tenho certeza de que você me preenche por completo e posso dizer com todas as letras nos quatro idiomas que eu falo... PERIGOSAS ACHERON

PERIGOSAS NACIONAIS EU TE AMO. Enquanto assistia aquele vídeo, entregue em saudade, resolvi pensar na nossa última ligação. Ela disse que sempre voltaria para mim e quando falei que iria atrás dela no inferno, ela respondeu que me aguardaria. Decidi que não me entregaria tão fácil, precisava dela. Então aceitei a ideia de tentar ser amigo dela de novo, mesmo que tivesse voltado para o ex e não lembrando de mim. Seria um bom amigo. Quem sabe um dia, de tanto olhar para meu rosto, ela não lembrasse de algo? Os dias se passaram lentamente. Amanda ainda estava internada, quando Pedro telefonou. — Fala aí, amigo. — Oi, Pedro, Amanda está bem? — Sim, seu amorzinho está bem, o problema da memória não é progressivo, em breve ela terá alta. Estou me corroendo pra contar tudo a ela, mas os médicos aconselharam a não dizer ainda. Pode deixá-la estressada à toa, pois ela não lembra. Ela PERIGOSAS ACHERON

PERIGOSAS NACIONAIS obrigou o marido canalha a alugar uma casa aqui perto, disse que vai continuar trabalhando e fará a faculdade, será que a vaga dela na sua empresa ainda está de pé? Foi quando vi uma oportunidade de estar perto dela e não hesitei. — Claro. Só peço que não fale o que tivemos pra ela, por favor, sei que está querendo falar, mas ela não lembra e quero respeitá-la. Quero ser amigo dela. Ah, pretendo colocá-la em breve como vicediretora, se tudo der certo. Ainda estava doendo, mas eu precisava ser forte. — Tudo bem, então. Obrigado, parceiro! Torço pra ela lembrar de você. Nesse dia, estava em minha sala trabalhando como louco, fazia de tudo para não pensar em Amanda, mas com a notícia de que ela voltaria para a empresa, tratei de arrumar uma sala para ela, grande e digna de uma diretora com a mesma visão do pôr do sol que a minha tinha, ou seja, coloquei-a ao meu lado. Liguei para Bruna para avisar do retorno dela e pedi que ela estivesse presente PERIGOSAS ACHERON

PERIGOSAS NACIONAIS quando isso acontecesse. No fim daquele dia, abri a gaveta da mesa e vi o cartão-postal do pôr do sol pintado de Recife. Decidi colocá-lo num porta-retrato e deixar como enfeite na mesa de Amanda. Com certeza ela adoraria. O grande dia chegou. Amanda voltou para a empresa e Bruna estava com ela, mostrando tudo e ensinando novamente as funções do cargo. Eu não quis sair da minha sala, estava nervoso como um adolescente, mas não queria ser mal-educado. Quando estivesse desocupada, falaria com ela. Estava pensativo, admirando a rua pela janela, de costas para a minha mesa, quando alguém entrou na sala lentamente. Aquele perfume doce invadiu todo o ambiente, era ela. Antes que eu me virasse, ouvi sua voz dizendo: — Com licença, desculpe entrar assim... Eu queria agradecê-lo, Sr. Gali, pela segunda oportunidade — proferiu em tom profissional. Eu absorvia cada palavra como se dependesse PERIGOSAS ACHERON

PERIGOSAS NACIONAIS delas para viver. A amava mais do que imaginava. Virei-me e a observei de cima a baixo rapidamente. Abri a boca, mas o som não saía. Depois de muito esforço, consegui falar. — Não precisa se incomodar, amo... Amanda. Eu separei a sala do lado pra você. Caso precise de ajuda, pode me chamar. Você em breve será minha vice-diretora, Pedro falou? — Sério? Eu não esperava que... — Sério sim — a interrompi. — Você é capaz de muita coisa. Vai, com certeza, se readaptar rapidamente. — Obrigada mais uma vez, Sr. Gali. — Eu odiava quando ela falava assim comigo, que saudades de ouvir Antônio ou amor. — Senhor Gali não, por favor, Tony. Somos amigos — a corrigi, queria que ela se sentisse confortável comigo. — Hum... Eu não me lembro de você, mesmo sabendo que somos amigos, não sei se me acostumo a te chamar de Tony... Na verdade eu quero perguntar algo ao senhor, quer dizer, a você PERIGOSAS ACHERON

PERIGOSAS NACIONAIS — entonou cordialmente e eu só conseguia olhar aquela boca e se recordar dela na minha. — Pode perguntar o que quiser — falei, com receio do que viria. — Seu nome é Tony mesmo? Não seria um apelido para Antônio? — O olhar curioso dela me fez sorrir. Ali estava minha velha Amanda. — Sim, é apelido de Antônio. Minha mente, já me pregando peças, suplicava por meu nome saindo de sua boca. — Então te chamarei de Antônio. Prefiro, tudo bem? É um meio termo. — Ela sorriu... E eu fui possuído por uma euforia descomunal, ao notar aquele sorriso. — Claro. — Tentei não comemorar na frente dela. — Antônio está ótimo. Meu sorriso de babaca não saía do rosto. Quando a gente ama, qualquer coisinha é motivo para risos desnecessários. Já tinha aprendido. — Então... É isso, Antônio, vou pra minha sala. O que precisar, estarei à disposição — disse e PERIGOSAS ACHERON

PERIGOSAS NACIONAIS saiu. Ah, Amanda... Minha Amanda... Se você soubesse como nos amávamos, como éramos um com o outro... Mas preciso me concentrar na amizade, serei apenas isso pra você... Lembre-se logo de mim… Torci ao vê-la sair. Os médicos do hospital disseram que Amanda talvez nunca lembrasse daqueles dois anos perdidos. Teríamos de esperar e acreditar. Estive lá depois da sua alta, para verificar sobre as cobranças do hospital. Nada mais justo arcar com elas, uma vez que seu acidente foi causado rumo a uma viagem de trabalho. Indenizei-a também pelo acidente, achei que deveria. Comprei um carro novo para Pedro, que não queria aceitar, mas não teve escolha. Agora, sobre o nosso amor... Eu ainda tinha um fio de esperança cada vez que lembrava do que vivemos. Foi tão intenso e verdadeiro, não podia ter se perdido assim na mente dela, ou podia? O dia passou voando, Amanda não foi mais PERIGOSAS ACHERON

PERIGOSAS NACIONAIS na minha sala nem eu na dela, queria evitar constrangimentos. Se fosse lá à toa, ela poderia me achar um babaca qualquer, e não queria isso. Então chegou o momento mais maravilhoso do dia, o pôr do sol. A hora que mais amo, quando me sinto livre e em paz. Posicionei-me, olhando para fora da janela, assistindo aquela cena maravilhosa pela milionésima vez, sem nunca enjoar. Notei logo alguém entrando na sala, mas não me virei de imediato. Depois de alguns instantes de admiração com o pôr do sol, uma voz quebrou o silêncio. — É tão lindo. Digo, esse show de luzes, traz paz. É revigorante, não acha? Um arrepio percorreu minha espinha ao ouvir a suavidade daquela voz. Então virei e vi Amanda próxima à porta, dentro da sala, admirando a mesma cena que eu. O pôr do sol. O destino é louco e tive de virar à imagem anterior e sorrir, pela coincidência. — Sim, eu digo para mim mesmo essas PERIGOSAS ACHERON

PERIGOSAS NACIONAIS palavras todos os dias — respondi. Sabia que aquela cena já tinha acontecido, queria que Amanda também lembrasse, então ao ouvi-la falando exatamente as mesmas palavras da primeira vez, decidi responder também com as mesmas palavras. — É estranho. — entonou suave e isso me fez virar novamente, olhando em seus olhos. — O que é estranho? — questionei, esperançoso. Ela balançou a mão no ar, olhando ao redor. — Déjà-vu. Acabei de ter um. Sabe, como se você já tivesse vivido isso? Dizem que são coisas do subconsciente — afirmou tranquilamente. — Ou pode ser uma memória voltando? — sugeri, em dúvida. Ela me encarou confusa. — Você acha que... Essas visões repentinas podem ser memórias? Já vivemos essa cena? — indagou aparentando estar repleta de curiosidade. Digo ou não? — Ponderei meus pensamentos. PERIGOSAS ACHERON

PERIGOSAS NACIONAIS — Acho que talvez possa ser sim, já vivemos essa cena. — Me aproximei um pouco dela e abaixei o tom de voz. — Exatamente igual. — Finalizei olhando em seus olhos, com esperança dela conseguir lembrar. — Mas não me lembro, como pode? Minha memória não me ajuda, não vai voltar. — Balançou a cabeça, descrente. — Tenho que me atentar a essas pequenas visões. — Olhou para o teto, refletindo. — Aconteceu algo hoje cedo também, já que somos amigos, você podia me ajudar a entender. Aquilo já era demais. Ela não lembrava, não adiantava forçar. Amanda, não me faça contar sobre nós, por favor. Não quero destruir sua vida e sua recuperação dessa maneira. Não posso ser tão egoísta. — Fala, se puder ajudar, eu ajudarei. — Suspirei. — Sente-se. Ela se sentou e eu também o fiz. — Você deixou uma foto em um portaPERIGOSAS ACHERON

PERIGOSAS NACIONAIS retrato na minha mesa, parecia uma pintura do pôr do sol na praia, certo? — Sim, é uma pintura do pôr do sol na praia. — Sorri. Imediatamente fui invadido pelas lembranças de nós dois. Notei um curto sorriso nascer nos lábios dela ao me ver. — Então, quando eu peguei aquela foto, me senti como se já tivesse ido lá, senti algo no meu peito, estranho, sabe? Quando dei por mim, estava chorando. Tentei manter a concentração e a neutralidade ao ouvi-la, mas por essa eu não esperava. Meu fio de esperança... Algo dentro dela estava voltando para mim, podia sentir isso. — E o que você acha que deve ser? — perguntei. — Não sei, não me lembro de ter ido à praia na minha vida, pode ser algum pressentimento, eu sempre fui um pouco sensitiva. Lembrei que não deveria falar demais. — É, pode ser. PERIGOSAS ACHERON

PERIGOSAS NACIONAIS Ela passou as mãos pelas coxas, como se estivesse um pouco constrangida pelo assunto e depois se levantou. — Então é isso... Não deve ser nada de mais. Bom, já deu minha hora, até amanhã. — Acenou e saiu da sala. Fiquei abobado com tudo aquilo. O que a vida estava fazendo comigo e com ela era algum tipo de pegadinha? Se for, não estava achando graça nenhuma. Quando percebi que a empresa já estava vazia, coloquei o DVD com os vídeos no computador. Decidi que os veria todos os dias para nunca esquecer do que vivemos e sentimos um pelo outro. Após assistir tudo, o guardei no cofre e fui pra casa. Tomei um banho e dormi. Aquele dia me rendeu muitas emoções.

AMANDA Depois daquele dia de trabalho, fui para casa PERIGOSAS ACHERON

PERIGOSAS NACIONAIS pensando nos acontecimentos do dia, mas logo espantei o pensamento quando vi Clarinha vindo em minha direção, correndo sorridente. — Mamãe! — Ela pulou em meus braços e me beijou. Uma babá ruiva e jovem vinha atrás dela com um sorriso fechado. — Senhora, aqui está tudo que fizemos hoje. — Ela entregou um papel em minhas mãos. Parecia um relatório. — Obrigada, está liberada... Qual o seu nome? — perguntei. — Katerine, mas pode me chamar de Kate. Sou a nova babá, seu esposo me contratou após o acidente que houve com a senhora. — Tudo bem, fique à vontade, Kate, nossa casa é sua. Até amanhã. — Tchau, senhora. Depois que Kate se foi, Clara e eu assistimos desenho e brincamos um pouco. Logo depois, Clara adormeceu e logo a coloquei em sua cama. Tomei um banho e decidi esperar Henri. Eu queria tentar PERIGOSAS ACHERON

PERIGOSAS NACIONAIS mais uma vez, uma noite maravilhosa com meu marido. 22 h, nada de Henri chegar. 23 h, 00 h... Desisti e fui dormir, nem jogar Xbox passou pela minha cabeça. Estava cansada, um pouco aflita por não ter lembrado de nada desde o dia em que saí do hospital e ansiosa para que o dia seguinte me trouxesse boas coisas. Durante a madrugada, percebi Henri se acomodando ao meu lado na cama, mas não falei nada e dormi novamente.

Um lindo pôr do sol em uma praia. Sinto a areia nos meus pés, é tranquilizante. O sol já está quase sumindo e ouço uma risada suave. Me viro e não vejo o rosto da pessoa que sorri, mas vejo o seu sorriso, um belo sorriso de canto com os dentes brancos e brilhantes, uma boca macia e bem desenhada e um calor forte no meu peito. PERIGOSAS ACHERON

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Despertei em um susto. — Amor, está tudo bem? — Henri abriu os olhos e me confortou, preocupado. — Sim, tudo, foi um sonho. Eu não tenho sonhos desde o acidente, hoje foi o primeiro. Ele alisou meu rosto e me olhou com ternura. — Quer falar como foi? Respirei fundo, talvez ele me ajudasse. — Eu estava em uma praia vendo o pôr do sol. Quando olhei pro lado, vi um sorriso, mas não vi quem era — contei, um pouco assustada. Henri ficou alguns segundos em silêncio, antes de falar. — Não foi nada, amor. — Me abraçou. — Deve ter sido algum filme ou novela que viu, ou apenas sua imaginação. Sua voz transparecia um pouco de temor. Eu não era boba, ele parecia ter medo do meu sonho. PERIGOSAS ACHERON

PERIGOSAS NACIONAIS Mas… Por quê? Amanheci e fui trabalhar novamente. Todos os dias eram iguais. Em casa Henri me tratava bem, mas não me agradava sexualmente. No trabalho, Antônio me tratava com respeito e ensinava tudo que eu precisava para me sair bem, junto com Bruna. Em duas semanas enfim recebi a promoção de vice diretora, oficialmente. — Parabéns, Amanda! — Os funcionários me parabenizavam na sala de reuniões onde meu chefe fez o anúncio. — Obrigada, pessoal, obrigada. — Sorri com alegria, profundamente grata por mais um passo em minha carreira. Nunca achei que poderia ser tão rápido, mas acredito que esse tipo de coisa acontece. Raramente, mas ocorre. E, por sorte ou destino, a afortunada fui eu. — Amanda, vamos sair para comemorar? — Antônio aproximou-se e sugeriu. — Os funcionários, todos — completou, me dando a entender que fora tudo com as melhores intenções. PERIGOSAS ACHERON

PERIGOSAS NACIONAIS Ele sempre era gentil e cavalheiro, nunca tive do que reclamar. Ninguém da empresa nunca me desrespeitou. — Tudo bem, preciso avisar meu esposo — concordei. Ele virou o rosto por uns segundos e depois voltou a sorrir para mim. — Tudo bem, vai lá e depois me fala. — Após dizer, voltou para a sua sala e eu segui para a minha. Assim que entrei no meu local de trabalho, sentei-me à mesa com o peito ardendo de felicidade. Era algo que precisava compartilhar com Henri. Então o liguei. — Amor, está podendo falar? — perguntei quando ele atendeu. — Sim, amor, fala. — Fui promovida, o pessoal da empresa vai sair pra comemorar hoje. Você vai ficar até tarde no trabalho de novo ou vem comemorar comigo? — Promovida? Mas já? Quanto vai receber? Odiava essa coisa de competição. Já era a PERIGOSAS ACHERON

PERIGOSAS NACIONAIS quinta vez que ele falava em diferenças de salários entre nós. Mesmo que eu deixe claro que na nossa casa não há isso, é tudo nosso. — Depois falamos disso. Vai ou não vai? — Vou esticar um pouco, mas apareço lá, me manda o endereço por mensagem. — Ok, te amo. — Também. Pus o telefone no peito e aquela pulga atrás da orelha ainda não conseguia sair. Porém, mantive a alegria e euforia com a notícia da promoção e fui avisar meu chefe que iria. Entrei na sala de Antônio com um sorriso radiante. — Hey! Eu vou pra comemoração! — cantarolei fazendo uma dancinha animada. Quando ele me notou, gargalhou da minha espontaneidade. — Que bom! Só não dance assim na frente dos demais funcionários, pode assustar! — zombou de mim. Nossa relação apesar de respeitosa, estava PERIGOSAS ACHERON

PERIGOSAS NACIONAIS bastante estreita. Eu gostava muito dele e vira e mexe descontraíamos com algumas piadas sem graça alguma. — Bobo! Estou tão feliz, já fiz a matrícula na faculdade, agora sou vice-diretora da empresa, minha filha me dá mais orgulho a cada dia e meu esposo vai me acompanhar hoje na comemoração! Me sinto muito feliz! — soltei, alegremente. O sorriso dele se fechou lentamente. Ele, que estava no meio da sala, de pé, desviou os olhos, antes concentrados em mim, focando-os em qualquer ponto em sua mesa. — Seu esposo vai? — perguntou sério. — Sim, claro. Algum problema com ele? — inquiri, um pouco incomodada. Não era novidade que Henri odiava meu emprego e todos que conviviam comigo nele, mas achei que não era recíproco. — Não, só... Você sabe que ele não gosta de mim, né? — justificou, pondo as mãos nos bolsos frontais da calça. — É... Sei, mas ele não vai lá pra te ver, vai PERIGOSAS ACHERON

PERIGOSAS NACIONAIS pra me acompanhar. Deixa de ser velho, Tony, por que não leva uma mulher também? Parece até que você não vive! — tentei brincar. Minha sugestão fez com que ele semicerrasse os olhos na minha direção. Por um momento curto, mantivemos uma conexão direta e sobrenatural, algo tão esquisito que causou um alvoroço singular no meu estômago, acompanhado do descompasso em meu coração. O que estava acontecendo? Quebrei o contato visual, não compreendendo o motivo de ter dito algo do tipo para ele. Não parecia certo. — Não ligo pra mulheres, Amanda. Eu ligo pra isso aqui, trabalho! — Ele alterou um pouco a voz, mostrando seriedade. Ainda assim, tensa pelo que senti, insisti em tentar descontrair novamente e acabei cometendo mais uma gafe, mesmo inconsciente daquilo. — Ui! Desculpa, chefe. Se quiser conversar sobre isso... Ela não te ama, é isso? — Não é isso. Amanda, eu não quero falar PERIGOSAS ACHERON

PERIGOSAS NACIONAIS disso com você. Sei que somos amigos, mas... Por favor, não. — Foi seco. — Tudo bem... Quando quiser falar, sabe que sou sua amiga. Quero o seu melhor. — Ok, nos vemos mais tarde então — me cortou. Saí um pouco desapontada da sala e voltei para a minha. Ao sentar-me novamente, virei os olhos para a parede que separava Antônio de mim e senti uma tristeza estranha no peito. Eu queria ajudar meu amigo e chefe, mas não sabia como. Apesar da conexão notória que tive há poucos minutos com ele, tratei de ignorar. Então meus pensamentos voaram até o sonho que já se repetia por 14 dias seguidos. Aquele sorriso... Não me é estranho. Refleti e finalmente decidi pesquisar na Internet sobre distúrbios de memória e sonhos repetitivos. Após muito procurar, achei um artigo científico que tinha uma afirmação curiosa. PERIGOSAS ACHERON

PERIGOSAS NACIONAIS Para quem sofreu perda de fragmentos da memória, há uma pequena possibilidade de ter as memórias mais marcantes guardadas no subconsciente. Muitas vezes essas imagens tentam retornar para a memória do tempo presente em forma de sonhos ou visões esporádicas. É bom fazer uma análise médica para que se tenha certeza de que o sonho ou visão realmente fez parte de uma memória perdida. Fechei os olhos depois de ler aquilo e voltei novamente ao sonho. Um sorriso lindo e cativante, uma praia e um pôr do sol. Sorriso. Praia. Pôr do sol. Assim que abri meus olhos, eles foram de imediato para a foto da pintura que Antônio colocou em minha mesa. Em instantes, numa sagacidade comum para mim, juntei as peças. Era ele, só podia ser ele. PERIGOSAS ACHERON

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Capítulo 18

AMANDA Não contei a ninguém sobre minhas suspeitas. Decidi investigar por mim mesma até descobrir quem estava escondendo algo ou mentindo para mim. Odiava mentiras, só de pensar que podia ser lesada sobre os dois anos perdidos da minha vida, senti um embrulho no estômago. O que poderia acontecer que me surpreendesse? Por fim, decidi observar as atitudes de todos ao meu redor, começando pela comemoração por minha promoção naquela noite. Telefonei para a babá avisando que chegaríamos tarde e dando permissão para que PERIGOSAS ACHERON

PERIGOSAS NACIONAIS dormisse em casa com Clara. A babá se disponibilizou imediatamente, como sempre fazia, deixando-me aliviada por tê-la. O dia passou correndo e quando eram seis horas da tarde, todos se preparavam para irem juntos à comemoração. Decidiram ir a um restaurante jantar e depois finalizar a noite com chave de ouro em uma boate. Eu, claro, não estava com cabeça para esse tipo de coisa. — Ah, gente, não precisa, vamos apenas jantar e pronto — reclamei. — Deixa de ser idosa, você agora é vicediretora, vamos comemorar com estilo! — disse Nick, cutucando-me com o ombro no meu. Nick e eu criamos um laço singelo de amizade, eu até o aconselhava quando o assunto era mulheres. — Não sou idosa, idiota. Apenas tenho marido e filha, não posso simplesmente curtir uma boate sem mais nem menos. — Seu esposo não ia também? — Nosso chefe entrou no assunto. PERIGOSAS ACHERON

PERIGOSAS NACIONAIS Nós descíamos o elevador com mais dois funcionários, além de nós três. Bianca, a assessora administrativa e Pietra, a chefe do RH. — Vai, mas ele vai chegar um pouco tarde — respondi, desanimada. Queria que ele participasse mais das minhas coisas. Mas eu precisava entender de uma vez por todas que Henri seria o mesmo de sempre, fissurado em trabalho. — Relaxa, Amanda, vamos aproveitar o momento — Pietra soltou. — Isso, afinal, hoje é sexta! — Bianca completou. Todos demos uma risada leve e então o elevador se abriu. — Nos vemos no Konisses, tudo bem pra vocês? — Antônio perguntou a todos. Todos concordaram, e eu assenti. Cada um pegou seu carro. Eu, que ainda não tinha um, fui com Pietra no dela. Os homens já estavam no restaurante. Assim que chegamos ao local, admirei a beleza e requinte do restaurante, PERIGOSAS ACHERON

PERIGOSAS NACIONAIS mas meus pensamentos apenas focavam em como pagaria uma conta caríssima que provavelmente teria naquele simples jantar. Afinal, ainda não tinha nem recebido meu primeiro salário, e o que tinha de indenização pelo acidente usamos para adiantar meses do aluguel da casa. — Amanda, não chamou Pedro pra comemorar? — Nick indagou. Pedro… Depois que saí daquele bendito hospital mal tenho dado atenção ao meu próprio irmão. Tomara que ele não se incomode com isso. — Hum... Não chamei, ele e meu esposo não tem se entendido muito bem, então preferi deixar pra lá. — Seu esposo parece um cara difícil. — Nick murmurou e depois olhou de rabo de olho para Tony, que fixava os olhos em qualquer ponto do cardápio em suas mãos. Percebi a atitude de Nick e pensei que aquela olhada poderia significar algo mais do que simplesmente uma mera olhada. PERIGOSAS ACHERON

PERIGOSAS NACIONAIS — Na verdade ele não é o cara mais amoroso nem mais gentil do mundo, mas o amo — afirmei, séria. Ao ouvir isso, Antônio estremeceu levemente, fechando as mãos. Eu notei, claro, mas fingi não ter visto. — Afinal, é meu esposo. Tenho que amá-lo até que a morte nos separe — complementei e sorri no final. — Ou até que ele arruíne com tudo. — Nick falou baixinho, mas eu estava atenta a tudo e escutei. — O que disse, Nick? — Sentia que ali estava algo oculto. Ele balançou a cabeça em negativa, olhando para os lados. Debochado! — Nada, pensei alto. Afinal, os casamentos geralmente acabam com a morte ou uma decepção forte. Como sei que é uma mulher decente e digna, jamais decepcionaria seu esposo... Já ele não posso garantir, pois não o conheço — tentou corrigir a PERIGOSAS ACHERON

PERIGOSAS NACIONAIS gafe. — Entendi... — Suspirei e tentei aceitar aquela explicação. Não devia ser nada de mais. — Vamos pedir logo, estou com fome! — Tony, escolheu algo? — Nick chamou a atenção do amigo. Ele assentiu, chamou o garçom e fez o pedido. Estava pensando que eu escolheria, pois pagaria o jantar, não? O jantar fluiu tranquilo, entre risadas e brincadeiras sobre as pessoas da empresa, algumas imitações bizarras que Nick fez da senhora da faxina e os absurdos que Pietra escutava diariamente. Antônio surpreendeu a todos quando imitou o seu pai, dando ordens em reuniões importantes. — O que você está dizendo contribuirá para a resolução deste problema? Pois então guarde seu comentário para você — dizia ele com uma voz mais grossa do que a normal e um olhar superior, imitando seu pai, que eu ainda não conhecia. Todos caíram na gargalhada e, apesar PERIGOSAS ACHERON

PERIGOSAS NACIONAIS daquele restaurante ser extremamente requintado, os donos não se incomodaram com a descontração, afinal era Antônio Gali um dos ilustres clientes sentados à mesa.

TONY Descontrair, fingir que está tudo bem. Era meu mantra. Estava insuportável ter que conviver ao lado dela sem tocá-la ou dizer qualquer coisa que sinto. E naquele dia, em especial, pareceu que Amanda estava me provocando com seus questionamentos e sua forma de falar do marido. Quanta raiva do canalha eu sentia! Todos estavam à vontade e sorridentes, quando a maître se aproximou de nós, exatamente ao meu lado e de Amanda, que estávamos no fim da mesa. Eu na cabeceira e ela na lateral. — Bom revê-los por aqui! Estão aproveitando bem o jantar? — Ela intercalava o PERIGOSAS ACHERON

PERIGOSAS NACIONAIS olhar entre Amanda e eu, depois olhou a todos. Foi uma péssima ideia escolher o mesmo local onde fizemos o último vídeo. O vídeo da declaração de amor. — Sim, está tudo uma delícia, não poderia ficar melhor! — Amanda respondeu sorridente. — Nós é que agradecemos, senhorita, fico feliz com a satisfação dos senhores. — Mirou a todos, que assentiram sorridentes. Eu apenas torcia para que ela não lembrasse de Amanda e não comentasse nada. — Senhora. — Amanda corrigiu delicadamente a maître, que fez cara de confusão, enquanto todos nos calamos. — Não entendi, senhorita. — Ela realmente parecia confusa. Abaixei a cabeça com olhar desconcertado e comecei a mexer na comida. — Sou casada. Por isso não sou senhorita, e sim senhora. — Levantou suavemente a mão com a aliança e sorriu. Acompanhei tudo com a visão periférica, PERIGOSAS ACHERON

PERIGOSAS NACIONAIS porém ao vê-la levantar a aliança, subi lentamente o rosto tentando mandar uma mensagem subliminar para a maître Ela, porém, correu rapidamente os olhos para as minhas mãos e, percebendo que eu não tinha aliança, corou parecendo constrangida. Balbuciou um “Me desculpe, com licença” e se retirou. Naquele instante, me arrependi de ter escolhido aquele restaurante. Não sei se Amanda notou algo, mas ela parecia demasiadamente atenta. Um silêncio com sabor de abismo reinou na mesa, até que foi quebrado com a chegada de alguém. — Perdão pela demora, boa noite a todos. — Henri se aproximou, deu um selinho em Amanda e se sentou de frente a ela. — Boa noite — todos, incluindo eu, o cumprimentamos. Depois daquele fato, o jantar ficou mais silencioso, apenas contendo alguns comentários de Nick para quebrar o gelo e Henri falando sobre o orgulho de ser esposo de Amanda, esfregando isso PERIGOSAS ACHERON

PERIGOSAS NACIONAIS na minha cara o tempo todo. Apenas fingi sorrir e adorar o jantar. Desejava que tudo logo acabasse, e aquela pontada afiada no meu coração cicatrizasse. Será que terei de esperar muito para isso? Quando enfim todos finalizaram, Amanda puxou sua bolsa. Notei que ela estava achando que pagaria. Eu não seria eu se permitisse. — Ei, não acha que vai pagar, não é? — a interrompi. — E não vou? — perguntou. — Não, a conta será debitada diretamente da conta da empresa, é um brinde pela sua promoção. Ouvi um bufo baixo sair da boca do homem perto de mim, o “marido” dela. — Então tudo bem. — Ela deu de ombros e sorriu. — Vamos? — disse a Henri. — Não... Vamos para a boate, não vamos? — Pietra lembrou. Henri olhou fulminante para Amanda como quem diz “não-me-obrigue-a-isso”. PERIGOSAS ACHERON

PERIGOSAS NACIONAIS — Vão vocês, Henri e eu estamos cansados, vamos para casa. Qualquer coisa, se mudarmos de ideia, encontramos vocês lá. — Ok, estaremos na Drink — Bianca informou. — Ok — ela respondeu. Mais um lugar para me torturar com lembranças de nós dois. A boate Drink foi onde nos conhecemos, onde Amanda bebeu até cair e eu a levei para casa. O local onde tudo começou. A última coisa que eu desejava era reviver o início da minha queda. — Acho que vou para casa também, estou indisposto — informei, desanimado. — Nananinanão! Você vai à boate conosco. Quero meu amigo de volta, chega dessa vida aí — Nick exclamou, quase enfiando o dedo no meu rosto. Nick era sem noção até tentando me animar! Amanda despediu-se formalmente de todos nós e se foi com Henri. — Tudo bem, mas não precisava falar essas PERIGOSAS ACHERON

PERIGOSAS NACIONAIS coisas na frente dela! — o repreendi. — Por quê? Ela não lembra mesmo! Pra ela você sempre foi esse adulto sem graça e velho! Nem parece que há menos de dois meses você não passava sequer dois dias sem ter uma mulher diferente na sua cama! — Nick se manifestou, petulante. — Acho melhor irmos logo, vocês estão parecendo dois pirralhos. — Pietra interrompeu e Bianca concordou com ela. Aquilo estava mesmo parecendo um debate sem rumo algum. — Vamos, podem ir na frente, vou apenas trocar uma palavrinha com a maître — avisei e todos se foram. Tentei me manter firme, pois queria contar um pouco sobre o que aconteceu comigo para ela. Não que devesse alguma explicação, mas seria bom para eventuais momentos futuros. Levantei e caminhei até ela, que estava em sua posição habitual, observando a movimentação do estabelecimento por alto. PERIGOSAS ACHERON

PERIGOSAS NACIONAIS — Olá novamente — falei ao me aproximar. Meu rosto mantendo a seriedade do assunto. — Olá — respondeu, ainda um pouco desconcertada. — Então... Sobre o episódio que houve na mesa, queria contar algo... — contei tudo sobre o acidente, sobre o emprego e sobre a comemoração da noite. A funcionária do restaurante ficou estática e descrente com tudo aquilo. Chegou a sentir dó de mim. Aquilo só me lembrava o quão miserável eu estava. Sinceramente aquele não estava sendo meu dia. — Meu Deus, eu lamento tanto! Senhor Gali, o senhor deve estar sofrendo demais, mil perdões pelo meu infeliz comentário. — Surpresa, tapou a boca. — Não tem do que se desculpar, você não sabia. Mas está sabendo agora. — Arrisquei um sorriso falho. Me despedi dela e fui para o meu carro. PERIGOSAS ACHERON

PERIGOSAS NACIONAIS Antes de dar partida, recostei a cabeça no assento e suspirei fortemente. Está mais difícil do que parece fazer tudo isso, seria mais fácil não vê-la novamente... Nunca mais. Em meio àquela reflexão decidi que precisava dar um basta na solidão que comandava minha vida. Iria, ou ao menos tentaria, curtir a noite na boate.

AMANDA Um tempo depois de sair do restaurante, chegamos em casa. Clara já dormia e a babá ressonava em um colchão ao chão no quarto dela. Decidi que aquela noite seria decisiva. Estava de saco cheio de sexo baunilha e sem graça. Ao entrar no meu quarto, após cada um ter tomado seu banho, Henri e eu começamos a nos trocar lentamente. Ele colocou uma cueca para dormir, estava quente, apesar de já ser inverno, e eu PERIGOSAS ACHERON

PERIGOSAS NACIONAIS fiquei nua, me aproximando lentamente com um olhar sensual e fatal para meu marido, que já estava recostado na cama. — O que está fazendo? — ele perguntou. — Tentando algo diferente. Não diga nada, apenas obedeça — respondi suavemente, arriscando uma voz sexy. — Tudo bem. Subi na cama e comecei a acariciar o corpo dele, começando pelos pés, subindo lentamente, beijando toda a área nua do corpo, passando direto pela cueca, pois decidi tirá-la por último. Quando cheguei na boca dele, o beijei ferozmente enquanto ele retribuía. Eu estava com um fogo por dentro, precisava ser saciada do modo certo e se não fosse naquele dia, não sei o que faria! Quando desci para finalmente tirar sua cueca, parei. — O que significa isso? — alternava os olhos entre o membro flácido e os olhos do meu marido. — Eu estou com muitos problemas na cabeça, deve ser por isso que nada aconteceu... — PERIGOSAS ACHERON

PERIGOSAS NACIONAIS Henri tentou se defender, mas aquilo me matou. Lágrimas jorravam dos meus olhos sem nem pensar em um motivo aparente. Naquele momento, comecei a suspeitar de que talvez ele pudesse ter outra mulher. Não era possível que depois de tudo o que fiz, nada, simplesmente nada acontecesse! — Você não me deseja! Eu fiz todo esse showzinho pra você nem sequer conseguir me pegar de jeito! — gritei indignada. — Vai acordar Clara! — rebateu. — Que se dane! Deixa ela saber que o pai é um broxa! Quer saber? Vou pra boate! Decidi de modo repentino. Sei que Henri odeia quando saio sozinha, então faria exatamente o que ele odeia. Me levantei e caminhei até o armário. Comecei a remexer os vestidos. Ainda batia o pé, descontroladamente no piso, quando Henri tentou me abraçar por trás. — Não, amor, vem, vou me animar, vamos ter uma noite inesquecível! A, há! Queridinho, não sou boneca de pano, PERIGOSAS ACHERON

PERIGOSAS NACIONAIS me poupe! — Não quero! Não ouse me tocar! — alertei, mas ele continuou tentando me agarrar. — Amor, não precisa ser radical, nós transamos quase todo dia! — argumentou. Agora ele tinha ido longe demais, eu não queria transar, queria amor, queria o momento, o interesse. — Cala a boca e, se tentar me impedir, não respondo por mim! — retruquei ainda escolhendo o vestido, quando vi um maravilhoso branco rendado. Era lindo, perfeito! — Esse! É perfeito. — Me arrumei, coloquei o cabelo de lado, passei uma maquiagem marcante e um perfume doce. Coloquei algumas joias e um salto enorme nos pés. Só queria caprichar para que meu marido se arrependesse amargamente pelo que fez. Ao finalizar, virei para ele, que estava com cara de bunda, sentado na cama. — Pronto, estou indo. Não me espere. Me dê as chaves do carro. — Na mesa da sala — respondeu PERIGOSAS ACHERON

PERIGOSAS NACIONAIS desanimado, porém conformado que já tinha perdido aquela batalha.

TONY Fui para a boate, mas não contive os pensamentos intensos sobre Amanda e despejei todo meu sofrimento no bar. Naquele dia decidi beber, queria sentir o que era ficar bêbado de verdade pelo menos uma vez, já que quase nunca bebia. — Mais uma tequila? — O barman perguntou, após eu ter ingerido rapidamente a sexta seguida. — Só mais... — Solucei. — Mais uma — pedi. Mais uma tequila foi a descida para o abismo. Fui dançar sem saber exatamente o que estava fazendo e com quem. Dancei com várias mulheres diferentes, todas elas dispensava quando olhava atento e via que não era Amanda. PERIGOSAS ACHERON

PERIGOSAS NACIONAIS — Puto, o que foi, você bebeu? — Nick se aproximou de mim em um dado momento. — Só um... Pouquinhozinhoinho. Falava fazendo sinal com os dedos e fechando os olhos. — Putz, você está bêbado! — lamentou. — Quero esquecê-la, Nick! Tenho que virar homem de novo! — esbravejei com a voz de bêbado que estava, porém determinado. — Fica perto de mim, vou arrumar alguma mulher e trago outra pra você, mas vê se vai até o fim e não dispensa, tudo bem? — Ooook! — Fiz sinal com o polegar. Fiquei em um canto próximo à pista de dança, enquanto aguardava Nick voltar com alguma mulher para mim, que irônico! Nessa hora senti falta de Lucas, ele sim era um cara que jamais passaria por aquilo. Naquele momento ele devia estar em uma viagem quente com várias mulheres ao redor. — Que inveja, Lucas, que inveja! — gritei para mim mesmo. PERIGOSAS ACHERON

PERIGOSAS NACIONAIS — Inveja de quem? — A imagem de um anjo reluzente, maravilhoso, surgiu na minha frente. Céus, era a mulher mais linda e perfeita que já vi. Deveria ser alguma alucinação, com certeza. — Você é re-real? — Gaguejei e toquei o nariz dela com o indicador. — Putz! Antônio, você está bêbado! — Ela contorceu o rosto e afastou-se um pouco de mim ao perceber meu bafo de bebida. — Isso pareceu bem real, hein? Você é uma anjinha muito ousada! — afirmei lentamente, encurvando o corpo na direção dela e cambaleando ao final. — Opa! Segura! Vem, vem comigo. — Ela me estabilizou e me posicionou ao seu lado, apoiando o meu braço nos ombros dela. — Eu quero dançar! Ei, garota! Me deixa curtir a noite! Vou falar pro meu amigo que você é uma moça má! — Tentei debater com o anjo, mas ela me levava até a saída da boate. De repente, ela parou e virou para mim PERIGOSAS ACHERON

PERIGOSAS NACIONAIS novamente. Ainda não a enxergava bem, pela parca luz, mas parecia muito com minha controladora. — Quer dançar? Então tá, vamos dançar apenas uma música e depois você vai pra casa. Vai acabar sendo expulso ou caindo no chão de tão bêbado — ralhou comigo. Soltei uma risada involuntária. — Vai dançar comigo, garota? Anjos sabem dançar? — Ainda um pouco tonto, perguntei encarando-a. — Sim, anjos dançam, agora vamos lá na pista e depois, casa! — Soou autoritária. Okay, meu dia seria salvo por um anjinho ousado e iluminado. Então eu estava bem.

AMANDA Meu Deus... O que eu estou fazendo? Ele não diz coisa com coisa! Quando cheguei na boate, ele foi a primeira pessoa que enxerguei. O cabelo solto e a altura não PERIGOSAS ACHERON

PERIGOSAS NACIONAIS me permitiam ver mais ninguém. Me aproximei tentando apenas interagir, estar perto de alguém conhecido, mas tive a surpresa ao vê-lo pra lá de bêbado. Enquanto andávamos até a pista de dança, ele cantarolava as músicas errando quase todas, quando repentinamente disse algo que chamou a minha atenção. — Alguém já te disse que você está sendo muito controladora? Me lembra muito minha namorada. — Soluçou. — Namorada não, exnamorada agora — dizia, levantando o indicador no ar. Eu sabia que ele não era fechadão à toa! Algo tem nisso, e eu vou descobrir! — Então você tinha uma namorada, Antônio? — o indaguei quando chegamos à pista de dança. Assim que eles começamos a dançar, começou a tocar uma música mais lenta, com uma letra romântica. Ele levou sua mão à minha cintura e eu coloquei as minhas no pescoço dele, atenta para PERIGOSAS ACHERON

PERIGOSAS NACIONAIS que ele não caísse. Então ele fechou os olhos e se deixou levar pela música, cambaleando às vezes. — Apenas minha ex-namorada me chamava de Antônio... E minha falecida mãe. — Abaixou até meu ouvido e sussurrou. Aquele sussurro me fez arrepiar. — E agora eu — respondi ao pé do ouvido dele. Ele permaneceu com a cabeça apoiada no meu ombro, como se estivesse quase sem forças. — E agora você, o anjo que apareceu na minha noite — murmurou lentamente. — E ainda mais com o cheiro dela. Meu coração começou a bater forte, demais até. Então um calor estranho subiu no meu estômago, revirando-o. O que estava acontecendo? Pensei que seria melhor desviar daquele clima envolvente. — Eu gostei dessa música — falei para tentar mudar o assunto. Tentar. — Ela também amava — respondeu ainda de olhos fechados, encurvado, apoiando o queixo no ombro dela. PERIGOSAS ACHERON

PERIGOSAS NACIONAIS — Você a amava muito? — ousei perguntar. Algo dentro de mim me dizia que aquilo estava muito estranho, que eu precisava saber mais, ao mesmo tempo de que poderia me surpreender com as respostas. Ele demorou um pouco para responder. Após um período de tempo, o escutei fungar. Ele estava chorando? Ah, meu Deus, ele está chorando! Concluí ao afastá-lo e olhá-lo nos olhos. Uma pontada de dor tomou meu peito, dando vontade de chorar com ele, mas não o fiz. Apenas decidi que aquela era a hora de levá-lo para casa, quando, de repente, Nick se aproximou. Até então eu não o tinha visto, então acenei para que ele fosse embora e balbuciei um “deixe comigo”. Estava sentindo muita pena dele, achei que indo até a boate todos da empresa poderiam aproveitar, mas ao ver meu chefe tão vulnerável, não resisti e decidi cuidar dele. Algo dentro de mim ordenava aquilo. — Vamos, garotão, já para casa. Onde estão PERIGOSAS ACHERON

PERIGOSAS NACIONAIS suas chaves? — O apoiei em meu ombro, como antes, e caminhamos para fora da boate. Ele tirou a chave do bolso e apertou o botão num click. Um Dodge preto reagiu ao comando, fazendo com que eu soubesse que aquele era o carro. Coloquei-o no banco do carona, peguei as chaves e fui para o banco do motorista. Sabe quando a gente não tem certeza do que está fazendo, mas sente que deve? Eu sentia isso. Ao dar partida, olhei para ele, com as lágrimas secas no rosto e os olhos fechados. — Eu ainda a amo. A amarei por toda a minha vida — falou baixo, quase num sussurro. Absorvi aquela informação, e algo mudou dentro de mim. Senti vontade de abraçá-lo, dar carinho a ele, porém, graças aos céus, ele fechou os olhos e pareceu cochilar. Você é casada, Amanda, esse homem não devia mexer com você desse jeito, ainda mais depois de descobrir que ele ama outra mulher. Isso é falta de sexo bom, deve ser, está te deixando PERIGOSAS ACHERON

PERIGOSAS NACIONAIS sensível demais! Era o que minha mente julgava enquanto eu dirigia o carro dele depois de vê-lo tão vulnerável. — Me fala onde fica sua casa, pelo menos consegue me dar essa informação? — perguntei, acordando-o. Ele abriu os olhos lentamente e respondeu com a voz embargada. De imediato liguei o GPS do carro e o levei até seu condomínio. Era uma mansão enorme em um condomínio chique. Assim que aproximei-me do portão, ele imediatamente se abriu. O segurança que ficava na cabine acenou quando o encarei. Naquele momento tudo ficou confuso. Não era para ele me parar? Ele nem me conhecia! Estacionei em frente à casa dele, como me indicou e, ao desligar o carro, tive outro déjà-vu. Droga, provavelmente eu já estive aqui. Estou ficando com medo do que posso descobrir. Antônio ainda parecia lento, mas já estava um pouco acordado. Saí do carro, dei a volta, abri a porta dele e o sacudi. Ele voltou a si e ao me olhar, PERIGOSAS ACHERON

PERIGOSAS NACIONAIS pareceu assustado, como se tivesse pensando finalmente com clareza. Não deve ter enxergado meu rosto, pois a luz do poste atrás me ofuscava, mas levantou lentamente do assento e esfregou os olhos. Deu um salto para trás ao me ver. — Am-Am-Amanda? — Me analisou da cabeça aos pés. — Sim, sou eu. Parece que parou de achar que sou algum tipo de anjo. Você estava bêbado demais na boate, resolvi te trazer para casa. Sei lá, acho que foi meu instinto materno falando mais alto — justifiquei-me dando de ombros, com os braços cruzados. Estava começando a ficar encabulada, ele me olhava de um modo tão intenso, como nunca olhou antes. Sua mão foi até a cabeça, ele coçou a nuca e, parecendo um pouco desconcertado, estendeu a outra mão na direção da sua casa. — Quer... Quer entrar? Já me sinto um pouco melhor, mas... Um pouco enjoado. Quer comer ou beber algo? —perguntou parecendo medir palavras. Estava nervoso, era nítido. PERIGOSAS ACHERON

PERIGOSAS NACIONAIS Mas… Era só eu ali. Não tinha motivo para nervosismos. — Tudo bem, eu depois devo ir pra casa depois, não quero chegar muito tarde — avisei. Ele assentiu e entrou, abriu a porta para mim como um cavalheiro e seguiu atrás. Indicou a cozinha e a sala, e pediu que eu o esperasse no sofá enquanto ele pegava algo na cozinha. Aguardei quieta, sentada no sofá, enquanto ele tomava um remédio para ressaca e bebia algo para neutralizar a dor de cabeça. Meus pensamentos atordoados, pois temia que as visões, sonhos, dejà-vus fossem memórias. E temia mais ainda que a mulher da história de Antônio fosse eu. Mas precisava averiguar mais. Corri os olhos pela sala, precisava descontrair com algo. — Então você tem um Xbox? — gritei para que ele ouvisse. — Quer jogar? — ele respondeu. — Hum... Posso? — realmente gostava disso. PERIGOSAS ACHERON

PERIGOSAS NACIONAIS — Pode, escolhe o jogo que já, já estarei aí. Em instantes ele vinha com alguns sanduíches em pratos, me servindo.

TONY Preparei alguns sanduíches enquanto desanuviava minha mente. Amanda estava na minha casa novamente, com o vestido que a presenteei, sem nem saber como nos amávamos há um mês atrás. Assim que voltei para a sala, tentei uma conversa amigável. Aquela situação estava ficando estranha demais para meu gosto. Me sentei próximo dela, no sofá e a servi. — Não sabia que jogava — menti. Peguei o sanduíche e o ingeri. — Na verdade nunca gostei, mas meu esposo tem um desse. Desde que começou a demorar a chegar em casa por conta das horas extras, eu PERIGOSAS ACHERON

PERIGOSAS NACIONAIS ocupei meu tempo aprendendo a jogar... E, não quero me gabar, mas sou muito boa — contou, sorridente. — Acredito nisso. — Liguei o jogo e a deixei à vontade. — Pode jogar. — Não quer jogar também? — Não, quero ver se você é boa mesmo — menti mais uma vez, queria apenas admirá-la. — Ok. — Ela começou a jogar, intercalando as fases com o sanduíche. Aquilo parecia mais uma miragem. Era uma sacada muito sagaz do destino fazer com que Amanda me “socorresse” justamente como fiz com ela assim que nos conhecemos. Ri mentalmente dessa ironia, mas não contive a curiosidade em perguntar algo que já estava me incomodando. Eu não sabia se Henri a tratava bem, e aquilo me corroía por dentro. — Seu esposo ainda chega tarde do trabalho? — perguntei em um momento aleatório, realmente queria saber. — Sim, mas hoje e ontem ele chegou cedo, PERIGOSAS ACHERON

PERIGOSAS NACIONAIS estava fazendo hora extra pelos dias que foi me visitar no hospital. Sei... Cara de pau, ele devia ter mudado, aproveitado sua segunda chance. Aquilo me deixou furioso. — Ah, sim — disse apenas. — E você, quando namorava, via sua namorada sempre? Sua pergunta me assustou. Mas… Como? — Como sabe que eu namorei? — questionei com os olhos arregalados ao lado dela. — Você estava falando muito dela na boate, até chorou — respondeu, ainda fitada no jogo. Maldição. Como escaparia daquele questionário? Amanda é esperta demais... — Meu Deus... Eu chorei? Que... droga! O que as pessoas vão pensar de mim? — Ri. Não era muito resistente para bebidas e não me lembrava muito do que disse na boate. PERIGOSAS ACHERON

PERIGOSAS NACIONAIS — Foi fofo, na verdade, dá pra ver que você a amava muito. O que houve com ela? Desculpa perguntar. Somos amigos, certo? — Amanda, que naquele momento mais parecia uma investigadora do FBI, tentava sondar a história. Mas de mim não tiraria muitas coisas, querida Amanda. Não é assim que desejo que saiba de nós. — Sim, somos amigos, mas acho que já tinha dito que não gosto de falar dela — rebati, sério. Ela mantinha-se concentrada na tevê, porém atenta demais à nossa conversa. — Que pena. Porque eu realmente queria saber sobre ela. Além do cheiro e do fato de te chamar da mesma forma como te chamo — disse suavemente. Merda! Que mico maior eu posso ter cometido? Estou com receio do que posso ouvir. — O que mais eu falei enquanto estava bêbado? — Não contive a apreensão nas palavras. — Que eu cheiro como ela e quando te PERIGOSAS ACHERON

PERIGOSAS NACIONAIS chamei de Antônio, você disse que apenas ela e sua mãe o chamavam assim... Ah, tocou uma música que eu gostei muito na boate e você também disse que ela gostava. — Love me like you do — proferimos em uníssono. Enchi o peito de ar e soltei lentamente, não tinha como negar o fogo que sentia ao vê-la, ao estar ao lado dela, ao ouvi-la. Queria tanto que ela lembrasse… Não que descobrisse, mas que lembrasse. Amanda pausou o jogo e virou-se na minha direção. — Antônio, era eu? — ela perguntou, séria. Sua feição curiosa e determinada me chocou, os olhos castanhos profundos eram indagadores. Eu não sabia o que dizer, estava sofrendo e sabia o que aquela conversa podia acarretar em meu peito: dor, mais dor e mais dor.

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Capítulo 19

TONY Sabe quando a gente nota que há algo regendo o universo e que aquele momento exato foi arquitetado? Eu sentia como se tudo fosse uma grande construção e a pergunta da Amanda, chave para o encaixe crucial daquela obra. Ponderei meus pensamentos por tempo demais, até que ela pigarreou, tirando-me de devaneios aleatórios. Não, eu não poderia ser tão egoísta. Ela não lembra, contar não mudaria nada. — Amanda, eu... Desculpe, não quero falar PERIGOSAS ACHERON

PERIGOSAS NACIONAIS dela. Acabei sendo um pouco rude, dando cabo ao assunto, fazendo-a temer ao arregalar os olhos pelo meu tom de voz. Ela abaixou a cabeça, nitidamente envergonhada. — Desculpe a mim, estava sendo intrometida e tudo mais... É que... Odeio mentiras e sinto que estão escondendo algo de mim. Quando eu o conheci, no hospital... — O quê? — a interrompi. Será que ela sentiu algo? Tudo era uma grande loucura, mas não podia ficar ali sem nem saber se ela lembrou ou ao menos cogitou algo entre nós. — Você estava sério, não me lembrava de você e depois, quando comecei a trabalhar contigo, ainda não lembrava e sempre o via sério... Ou, quando sorria, eram gargalhadas abertas. — O que tem isso tudo? Aonde quer chegar, Amanda? — perguntei, curioso. — Eu... — ela suspirou. — Vou contar. Na noite em que entrei na minha sala pela primeira vez PERIGOSAS ACHERON

PERIGOSAS NACIONAIS e vi aquela foto do pôr do sol e... Depois, no mesmo dia, quando assistimos o pôr do sol na sua sala e eu tive aquele déjà-vu... Eu tive um sonho. — E... Como foi esse sonho? — continuei a indagar, olhando sério nos olhos dela. Ela tornou a falar, gesticulando e olhando ao redor, como se voltasse ao sonho. — Eu estava na praia, vendo o sol se pondo, sentada em algum lugar com os pés na areia, e então ouvi uma voz. Quando virei, não vi o rosto, mas vi o sorriso, um sorriso de alguém que eu não conhecia e nunca tinha visto. Como eu pude sonhar com algo que nunca vi? Aquilo me deixou nervoso, passei as mãos por meus cabelos longos e olhei para tudo ao redor da sala, menos para Amanda. — Então... Eu pesquisei e descobri que, quando as memórias são muito marcantes e a gente passa muito tempo pensando nelas, elas ficam no subconsciente e mesmo que acontecesse algo como o que aconteceu comigo, algumas dessas lembranças que o subconsciente guarda podem aparecer como sonhos ou visões — ela concluiu. PERIGOSAS ACHERON

PERIGOSAS NACIONAIS Meu peito ardia… A ansiedade corroendo meus ossos. — E então? — finalmente a olhei. — Então achei que você fosse o dono do sorriso. Mas é loucura, não é? Afinal, somos amigos e já éramos antes, deve ser isso — Amanda finalizou. Ah, Amanda... Como eu queria contar... Mas jurei não atrapalhar sua nova vida, eu te amo tanto, mas não posso fazer isso. Você não se lembra e não me ama, se afastaria de mim se eu contasse tudo. — Sim, deve ser. Fica tranquila, não foi nada disso que me contou. Só está se lembrando de mim, pois me viu muitas vezes e sou a pessoa mais próxima a você que não lembrou assim que acordou. É normal associar essas visões a mim — a tranquilizei. Por dentro, permanecia em cacos. — É, deve ser. Fui idiota... Vou pra casa, já é tarde. — Eu te levo, me sinto melhor já. — Tem certeza? PERIGOSAS ACHERON

PERIGOSAS NACIONAIS — Sim, te levo. A levei até a boate para buscar o carro de Henri e depois a segui até sua casa para garantir sua segurança. Voltei para minha casa frustrado. Não aguentava mais tudo aquilo, estava deixando meu interior em pedaços ter Amanda tão perto e não poder acariciá-la ou beijá-la, nem dizer que a amava. Jurei a mim mesmo e fiz Pedro jurar que não contaria nada sobre nós a ela. Assim que cheguei em casa, deitei em minha cama e logo adormeci. Talvez nos sonhos as coisas pudessem ser diferentes.

AMANDA Aquela noite foi bem confusa. Minha mente estava em conflito com as informações que me davam e as coisas que eu sonhava ou imaginava. Sempre fui uma pessoa inteligente, apesar de achar que algumas outras pessoas têm o poder de me PERIGOSAS ACHERON

PERIGOSAS NACIONAIS manipular. Ultimamente tenho notado como estou sendo manejada semelhante a uma boneca de pano. Vivendo tudo o que me disseram para viver. Entrei em casa ainda um pouco pensativa sobre aquela noite. Eram coincidências demais. Mas como estava muito cansada, decidi dormir logo e voltar a pensar nisso no outro dia.

Um restaurante chique, com muitas pessoas ao redor, uma mesa onde estávamos apenas eu e alguém de frente para mim. Uma câmera. Eu estava falando algo para a câmera... No fim de tudo, o sorriso, aquele mesmo sorriso.

Acordei em um susto, percebi que já era tarde, 10 da manhã, e meu esposo não estava na cama. PERIGOSAS ACHERON

PERIGOSAS NACIONAIS Me levantei calmamente e caminhei para o banheiro. Lavei o rosto, escovei os dentes e me dirigi à cozinha. — Mamãe! Bom dia! Vamos brincar hoje, é sábado! — Clara correu para meu colo ao me ver entrar na cozinha. — Bom dia, filha. Vamos sim. Cadê seu pai? Ela apontou um dedinho para o quintal. — Lá fora, ele está falando no telefone com alguém. — Tudo bem, vamos lanchar, daqui a pouco ele volta. Comemos fartamente naquela manhã e fomos para o sofá assistir desenhos. Henri entrou na sala e nos viu. — Bom dia, meus amores! — Ele deu um beijo na testa de Clara e depois um selinho em mim. — Bom dia, vamos levar Clara no parquinho hoje? — perguntei. Ele coçou a nuca, pensativo. — Só se for rápido, hoje vou sair com meus PERIGOSAS ACHERON

PERIGOSAS NACIONAIS amigos à noite. — Me encarou com uma sobrancelha desafiadora arqueada. — Ah, é? E para onde querem ir? Posso saber? — indaguei, mas não sentia nem um pingo de ciúme. — Não pode não. Você curtiu ontem, minha vez hoje. Infantilidade reina nesse senhor! Apenas dei de ombros e voltei a fitar a TV. — Tudo bem, depois do almoço então vamos pro parquinho e em seguida você nos deixa em casa e vai sair com seus amigos — ironizei. — Ótimo. Nossa família estava longe de viver em harmonia, Henri estava mudando a cada dia que passava, tornando-se mais distante e arrogante. Mas quando eu ameaçava afastar-me, ele pirava e fazia de tudo para me agradar. Era um mimo momentâneo, mas, ainda assim, eu não queria desistir deles, pensava antes de tudo em Clara e em como sua vida podia ser melhor tendo os pais unidos. PERIGOSAS ACHERON

PERIGOSAS NACIONAIS Depois do almoço fomos para o parque. Brinquei com minha filha, enquanto Henri nos observava cautelosamente e às vezes atendia telefonemas. Não desconfiava mais dele, na realidade confiava até demais. Pensava que os problemas que tínhamos poderiam ser devido a estresses, porque mal ou bem, ele nunca me rejeitava. Sabia que ele tinha defeitos, mas trair minha confiança com outra mulher, já era demais. Achava que o problema dele poderia ser qualquer coisa, menos isso. Mas sabe quando nosso sexto sentido apita? Eu teimava em acreditar que não tinha nada. Que a cena do dia anterior não foi influenciada por ter outra mulher no meio, mas a curiosidade em saber sobre o que ele falava, gritou em mim. Me aproximei lentamente dele por trás, que falava eufórico ao telefone, e acabei ouvindo uma parte da conversa. — Em breve, espera ela vacilar que eu chuto ela fora, dessa vez quem vai sair por cima serei eu! — Com quem fala, Henri? — O interrompi. PERIGOSAS ACHERON

PERIGOSAS NACIONAIS Sobre o quê ele falava? Ele desligou e se aproximou de mim. — Ninguém importante, meu amor, é do trabalho. Querem me derrubar, mas sabe como eu sempre consigo me dar bem, não sabe? — Ele alisou meus braços enquanto me envolvia em um abraço. — Sei... Vamos pra casa? — Não acreditei muito, mas também não quis saber mais. Minha confiança nele estava oscilante. Depois que Henri nos deixou em casa e se foi, dei um banho em Clarinha, brincamos um pouco mais, lanchamos e assistimos filmes. De vez em quando os meus pensamentos voavam até o sonho que tive aquela noite. Depois de sonhar com o sorriso e o pôr do sol todos os dias, finalmente o sonho variou. Não sabia como podia acontecer tudo aquilo, ainda mais com o mesmo sorriso nos dois sonhos, mas queria muito saber. Então, quando não lembrava do sonho, pensava no meu chefe, em como ele é bonito, forte PERIGOSAS ACHERON

PERIGOSAS NACIONAIS e em como devia estar sofrendo pela sua amada. Ah meu Deus, Amanda... não pensa nele, você é CASADA! Notei naquela noite, que meu coração palpitava quando pensava nele, ele estava tão indefeso no dia anterior, tão sensível, tão... Absurdamente admirável e lindo. Decidi afastar os pensamentos de Antônio quando percebi que minha filha dormira em meu colo no sofá. Peguei-a nos braços e coloquei em seu quarto. Fui para meu próprio quarto e deitei na cama. Minha mente estava cansada e a cabeça começou a doer. Imediatamente tomei o remédio que foi receitado e voltei a deitar, até que dormi.

Estou em um banheiro, numa banheira, nua. Olho ao redor e vejo espumas, a banheira é grande e requintada, sinto a água no meu corpo. Uma espuma atinge meu rosto; quando limpo, olho para PERIGOSAS ACHERON

PERIGOSAS NACIONAIS frente e o vejo, também na banheira, nu, coberto de espuma e gargalhando para mim. Não vejo seus olhos, mas seu corpo e seu sorriso me invadem, sinto uma alegria absurda preencher meu peito. Eu estou feliz... Com ele.

Acordei novamente assustada, como nos dias anteriores, mas daquela vez… Eu chorava. — Eu... Estava feliz. Não pode ser... Eu tinha alguém e esse alguém não era Henri. — falei baixinho e olhei para o lado, percebendo que Henri ainda não chegara. — Henri, vou esperar. Ele terá que me contar. Vesti um robe por cima da camisola e saí do nosso quarto com uma sensação ruim pairando por meus pensamentos. Clara dormia serenamente em seu dormitório e eu não conseguia me concentrar em fazer o mesmo. Me preocupava com meu marido e com o que podia descobrir. Depois de tanto andar em círculos pela sala PERIGOSAS ACHERON

PERIGOSAS NACIONAIS com os braços cruzados na altura do peito e pensamentos a todo vapor, olhei as horas, eram 2 da manhã. Fui para o sofá da sala e comecei a fazer o que fazia há anos, quando essa era minha rotina: Jogar Xbox aguardando Henri chegar em casa. Ele chegou 40 minutos depois. Desliguei a tevê com pressa e andei até a porta da frente, ouvindo a chave na tranca. — Henri? — indaguei ao vê-lo entrar. Ele não respondeu, entrou apoiando nos móveis, cambaleando. Fechei a porta e o segui. — Henri, você está bêbado? — Me aproximei e tentei estabilizá-lo. Mas quando o toquei, tive uma reação sua que não esperava. — Sai! Eu estou bem! Está tudo bem! — Escapou de meu toque. — Vem, senta aqui, vou fazer algo pra você. — O puxei para o sofá. Meu coração começou a palpitar. Nunca o tinha visto naquele estado e algo me dizia que havia coisas por trás de toda aquela cena. PERIGOSAS ACHERON

PERIGOSAS NACIONAIS — Não quero nada! Eu não quero nada de você, você arruinou minha vida! — Henri gritou e me empurrou para o sofá. Meu corpo caiu em choque no móvel macio e abanei a cabeça para clarear meus pensamentos. Aquele não era meu marido. Ao menos não o que eu recordava ser. — Não sei do que está falando, me deixa cuidar de você! — insisti, levantando e andando na direção dele, que já estava seguindo rumo ao corredor dos quartos. O puxei pelo braço, trazendo seu corpo de encontro ao meu. Chochamo-nos um com o outro e notei seus olhos, banhados de lágrimas e vermelhos, darem lugar a uma ira que jamais havia visto em toda minha vida. Ele me empurrou, fazendo com que eu cambaleasse para trás. — Ela não me quer mais por sua causa! Vadia! Louca! Fique com suas lembranças idiotas! Volta pro galãzinho e me deixa! — e proferindo essas palavras, estapeou-me gerando uma dor PERIGOSAS ACHERON

PERIGOSAS NACIONAIS desconhecida para mim. A ardência do tapa me fez recuar e acariciar meu próprio rosto. Eu não entendia, não sabia de quem ele estava falando mas meus olhos estavam em prantos e meu semblante, em choque. O tapa doeu, mas minha cabeça latejava mais do que nunca pela agressão. Não podia acreditar que aquele homem era meu marido, o homem que me fazia juras de amor. — Eu... Te odeio, Henri... Você não devia ter feito isso comigo! Ainda tive a coragem de encará-lo, mesmo com o rosto dolorido e lágrimas desenfreadas banhando minha face. Nunca fiz nada para merecer a forma como me tratou naquele dia, e mesmo que fizesse, nada justifica a violência que ele estava me fazendo passar em uma simples noite por motivos que nem ao certo eu sabia. — Se chegar perto, farei mais! Eu perdi! Que se dane! Perdi de novo, a perdi e perdi minha vida! — Henri falou chorando, erguendo os braços enquanto gesticulava sem parar. Após ter dito isto, entrou no nosso quarto e PERIGOSAS ACHERON

PERIGOSAS NACIONAIS meus batimentos puderam enfim ser audíveis. Eu estava tremendo, doendo, chorando. Corri desesperadamente para o quarto de Clara e me tranquei lá. Levei meu celular e fiquei ali, tremendo de medo e chorando a noite inteira sentada com as costas na porta, sem conseguir dormir até o amanhecer. Meu rosto estava pálido, exceto na área em que Henri bateu, onde permanecia inchado e muito vermelho. Encarei-me no espelho do banheiro às 8 h da manhã. Clara ainda dormia. Henri já não estava mais em casa, mas não sabia se comemorava ou me preocupava. Para onde ele teria ido, eu não fazia ideia, mas aquele dia, com certeza, deu muitas respostas a mim sem nem ao menos perguntar. — Pedro? Pedro! — Minha primeira reação foi ligar para meu irmão. — Oi, maninha, o que houve? Sua voz está trêmula. Está chorando? — respondeu preocupado, como o superprotetor que era. Enxuguei o rosto, com ódio e tristeza PERIGOSAS ACHERON

PERIGOSAS NACIONAIS retratados nas lágrimas que escorriam dos meus olhos. — Me busca agora! Busque a mim e à Clara aqui em casa, agora, depois te conto tudo — pedi. — Ok, vou agora — respondeu e desligou. Em 20 minutos, Pedro chegou e eu já tinha acordado Clara e a vestido. Eu, no entanto, coloquei apenas um short e uma blusinha para agilizar. Entramos no carro do meu irmão. Ele percebeu a vermelhidão no meu rosto de imediato, mas o encarei seriamente, queria falar daquilo longe de Clara. O caminho até a casa de Pedro foi silencioso. Chegando lá, coloquei Clara no quarto e fui com meu resgatador até o quarto dele. Revivi as cenas, contando tudo o que aconteceu na noite anterior: o tapa, as ligações suspeitas, tudo. Depois de ouvir meu irmão xingar trinta palavrões e quase socar a parede, com raiva, ele perguntou: — Mas por que você estava esperando ele às 2 da manhã acordada? PERIGOSAS ACHERON

PERIGOSAS NACIONAIS — Ainda bem que eu estava! Imagina o que ele teria feito a mim se eu dormisse? Estávamos de pé, eu encostada na parede e ele andando de um lado para o outro. — Tem razão... Eu vou matá-lo! Que ódio eu tenho daquele filho da puta, nunca podia ter concordado com essa loucura! — Pedro... Concordado com o quê? Que loucura? — Ai meu Deus, do que ele estava falando? Senti o coração acelerar, o ar faltar. Estava aflita para saber. Odiava ser ocultada das coisas e ficar parecendo uma idiota para quem sabia da verdade. — Ah... Que se dane, vou contar. — Pedro suspirou e continuou andando de um lado até o outro do quarto, com a mão na cabeça. — Você se separou do Henri porque ele te traía, te traía descaradamente! Então você não tinha dinheiro, nem pra onde ir. Eu te acolhi, você morou aqui. Tenho os livros que você usava pra estudar, vou te mostrar. — Ele pegou os livros que guardou em seu próprio armário e me deu. Analisei as páginas e PERIGOSAS ACHERON

PERIGOSAS NACIONAIS então vi a lista dos objetivos que escrevi. — Você queria isso pra sua vida: Foco, trabalho, carreira. Um dia você decidiu ir comigo pra boate, para a Drink. Lá apresentei meus amigos. Entre eles, Tony. Tony nunca namorou, nunca nem sequer se interessou por nenhuma mulher além de sexo, ele nunca dormiu uma noite inteira na vida com nenhuma mulher, sempre a descartava depois. Sei que parece cruel, mas ele teve motivos profundos na vida para ser assim, feridas profundas, que mesmo não contando ao certo o que são, eu sei que existem. Daí você naquela noite bebeu demais, eu estava com uma garota e ele estava sem ninguém no bar, e como ele não é de beber, pedi pra que te vigiasse pra mim. Naquele momento tapei a boca em espanto. Não sabia o que esperar. Meu coração acelerou ainda mais, eu sentei na beira da cama para digerir tudo. — Calma, ele cuidou de você naquela noite como se fosse eu. Te trouxe pra casa e então foi pra dele. Daí, na semana seguinte, você foi numa entrevista para a empresa dele. Ele não sabia que PERIGOSAS ACHERON

PERIGOSAS NACIONAIS você era uma das candidatas, mas ao te ver, decidiu te colocar como sua secretária pessoal. Viu que você tinha potencial e tudo mais, daí vocês começaram a ser amigos, isso até fazerem uma viagem pra Recife, onde foram resolver problemas da unidade de lá. Clara também foi. Não sei o que aconteceu lá, mas vocês voltaram diferentes e na semana seguinte estavam namorando. Eu levei um baque forte, achei que você estava brincando com ele, pois não queria relacionamentos e achei que ele estava louco, pois nunca ficou com ninguém assim, você foi a primeira. Era nítido o amor entre vocês, mesmo rápido e inesperado, o amor ardia em seus olhos e você era feliz. — Uma lágrima caiu dos meus olhos ao ouvir aquilo. — Então... Veio o acidente, você não lembrou dele e ele decidiu não atrapalhar sua vida, queria que você gostasse dele como amigo naturalmente e não sendo influenciada por uma história que não lembrava. Henri se aproveitou da situação para voltar pra você. Eu aceitei pela Clarinha, mas não achei que ele fosse arruinar essa chance, achei que ele faria certo dessa vez... E Tony... Bom, ele ainda te ama muito, mas está conformado em ter só sua amizade. É isso. PERIGOSAS ACHERON

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Não conseguia falar nada, estava chorando, boquiaberta. Nem se eu me esforçasse sairia algum som da minha garganta. Não sei por quanto tempo fiquei ali, chorando, sentindo aquela aflição no peito, mas quando enfim consegui falar, contei das visões. — Eu... Então os sonhos e as visões... Realmente eram ele. — O quê? — Pedro perguntou, sentando ao meu lado. Contei sobre os dejà-vus e dos sonhos que tive, falei da pesquisa que fiz e de tudo que descobri. Pedro sorriu e me abraçou. — Amanda, isso é um milagre! Meu Deus... Tony vai enlouquecer com isso. — dizia, animado. — Não! Não conte a ele que eu sei e nem nada. Preciso investigar mais, preciso me sentir mais segura, quero saber se eu sinto algo por ele, sei lá... Ter certeza de que isso pode voltar — implorei. — Tudo bem. Estou com você para o que precisar. — Ele reforçou o abraço e me confortou. PERIGOSAS ACHERON

PERIGOSAS NACIONAIS — Mas hoje vamos denunciar esse canalha do Henri, ele te bateu! Respirei fundo, aquele era mais um dos problemas que eu tinha que enfrentar de peito aberto. — Tudo bem, vamos. Quem sabe a vida finalmente entraria nos seus eixos?

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Capítulo 20

AMANDA O domingo passou como um borrão, e deixei para denunciar Henri na segunda-feira, não estava apta emocionalmente para tal. No dia seguinte cedo, mandei Clara para a escola e voltei para casa para me arrumar e ir trabalhar. Enquanto pensava em como agiria no trabalho, me preocupei com Henri, ele estava muito alterado e fora de si, dizia coisas sem sentido que me assustaram. Mas ainda assim, achava que o certo era denunciá-lo. Depois pensei em Antônio. Preciso saber mais, preciso de mais provas PERIGOSAS ACHERON

PERIGOSAS NACIONAIS de como foi nosso relacionamento e de tudo que passamos, sinto algo estranho quando estou ao lado dele, ele me faz sorrir, me sinto protegida e em casa. Isso deve ser resposta do meu coração ao que passamos um dia, mas não posso arriscar, tenho um marido perante a lei e preciso pensar muito bem antes de tudo. Não direi nada por enquanto. Foi o que decidi. Ao chegar no trabalho, percebi que não tinha ninguém no escritório e optei por ir à cozinha para tomar café. Quando me aproximei, ouvi cochichos, eram as duas faxineiras da empresa conversando. — Eu sinto tanta pena pelo que ele tá passando, parecia que eles estavam tão felizes. — É, eu juro que ele tinha mudado mesmo, nunca o vi com ninguém e de repente aparece namorando com ela. Com certeza ele gosta dela, viu como ele ficou depois do acontecido? —Outro dia eu peguei ele chorando depois do expediente, todos já tinham ido embora e ele ficou na sala. Estava assistindo algo no computador, vi pelas persianas que ele chorava. PERIGOSAS ACHERON

PERIGOSAS NACIONAIS Levei a mão à boca, surpresa pelas informações. — Coitado, pena que não podemos ajudar em nada, ele merece ser feliz, é um chefe tão bondoso e responsável. — É verdade. Dei meia volta, assustada, não queria acreditar que elas estavam falando de Antônio e do que ele passou por minha causa. Sentia-me mal e incomodada. Parecia que uma ferida no meu peito se abrira quando Pedro contou toda a verdade. Mas precisava averiguar mais, precisava saber mais.

PEDRO Naquela segunda não fui trabalhar, tirei uma folga acumulada e fui atrás de Henri. Ao tocar a campainha da antiga casa de Amanda, não obtive resposta. Provavelmente ele tinha ido trabalhar. Decidi ligar para o trabalho dele, e descobri que também não fora. O que será que podia ter PERIGOSAS ACHERON

PERIGOSAS NACIONAIS acontecido? Ainda com raiva percorrendo minhas veias, pulei o muro e arrombei a porta da sala, chequei todos os cômodos e pareceu que estava tudo intacto, como se Henri não tivesse nem dormido lá. Claro, farrista como ele, deveria estar com alguma amante qualquer. Mas mesmo achando que Henri estava farreando e nem sequer foi pra sua casa à noite, ainda assim me preocupei. Liguei para o celular dele, não queria ter que falar com aquele imbecil pelo telefone, mas era minha última alternativa. Depois de 6 toques, ele atendeu. — Alô. — Oi, canalha, aqui é o Pedro, onde você está? Fez-se um pequeno período de silêncio e depois Henri ofegou. — Cara, eu me arrependo do que fiz, mas mereço uma punição, não se preocupe comigo. Em breve se livrarão de mim. E assim, Henri desligou a ligação. PERIGOSAS ACHERON

PERIGOSAS NACIONAIS O que ele quis dizer com “em breve se livrarão de mim”? Preciso informar Amanda agora!

AMANDA Estava já há alguns momentos revisando relatórios financeiros dos últimos períodos da empresa quando meu celular tocou. — Oi, Pedro. — Oi, maninha, olha só, é o Henri. Senti meu peito gelar. — O que tem ele? — No fundo me importava, não queria o seu mal, apesar de tudo. — Ele está estranho, bom... Almoça comigo hoje. Vou contar tudo do início. — Ok, nos vemos lá. Pedro desligou e imediatamente senti uma angústia dominar meu corpo. Henri podia ser descontrolado e possessivo, mas nunca quis que ele fosse infeliz, pelo contrário, com a separação ele poderia ser livre para ter quem quisesse, mesmo PERIGOSAS ACHERON

PERIGOSAS NACIONAIS que fosse preso, quem sabe? O que poderia ter acontecido de tão grave para Pedro precisar almoçar comigo para contar tudo? As horas se arrastaram e, no almoço, Pedro parecia preocupado, não falou nada nos primeiros minutos. —Vamos, Pedro, desembucha! — supliquei, impaciente. Ele bufou e me olhou de um modo preocupado. — Acho que Henri precisa de ajuda. Franzi o cenho, questionando o que ele acabara de dizer. — Sei que parece estranho, mas ele parecia transtornado, a voz dele no telefone estava grogue e triste e, por fim, disse que em breve nos livraremos dele. Realmente, esse tipo de declaração não era típica dele. — Mas você ligou pra ele do nada? — Não, eu queria tirar a limpo o que ele fez com você. Fui até a casa dele, ele não estava, liguei PERIGOSAS ACHERON

PERIGOSAS NACIONAIS pro trabalho dele, não estava também, então invadi a casa. Percebi que estava tudo intacto, nem roupa de cama bagunçada achei, era como se ele não tivesse nem dormido lá e então me preocupei e liguei pro canalha. Fiquei boquiaberta. Pelo que eu pouco notava, dava pra ver como as ideias dele mudavam de modo repentino. Era como se algo se apossasse da mente dele num momento, e no outro ele ficasse normal, como se nada tivesse acontecido. — E-então... Acha q-que ele?… A conclusão que cheguei não foi nada boa. — Sim, acho que ele pode se matar ou cometer alguma coisa semelhante. — Pedro disse com firmeza. Meu irmão estava na minha frente, separado de mim por uma pequena mesa quadrada onde a comida que escolhemos, estava quase intacta. Não sentia fome, ainda mais depois de chegar àquela conclusão. — Preciso avisar Antônio, vou atrás do PERIGOSAS ACHERON

PERIGOSAS NACIONAIS Henri, tenho que impedi-lo. — Me levantei rapidamente da cadeira, estava desorientada. — Calma! Calma. Eu aviso o Tony depois. Consegui rastrear a ligação que fiz agora há pouco pro celular do Henri, ele está num prédio na avenida principal, vamos juntos até lá, ok? Pedro levantou e me conteve, segurando meu braço. — Como rastreou? Ele passou as mãos no cabelo, nervoso. Seus olhos azuis estavam tempestuosos, nublados. — Eu paguei uma fortuna por um aplicativo que rastreia ligações, tudo bem? É isso. Pode ser útil um dia. Achei estranho demais esse comportamento de meu irmão, mas não contestei, não havia tempo para isso. — Obrigada, Pedro, vamos agora. — Calma, vamos comer primeiro, acredito que se ele tivesse feito algo você já teria recebido a ligação. — Me acalmou. Suspirei. Meu irmão tinha razão. Não podia PERIGOSAS ACHERON

PERIGOSAS NACIONAIS levar ao extremo e ficar sem me alimentar por causa de uma suspeita. Logo sentei novamente à mesa e o encarei com mais alívio no olhar. — É verdade. Almoçamos. Comi pouco pois todo aquele tema estava me causando náuseas e rapidamente fomos até o local indicado pelo rastreador. Era o prédio mais alto de toda a avenida e, por incrível que pareça, ao olhar o topo, enxerguei uma pessoa próxima à borda. Só podia ser ele. — Deve ser ele ali, Pedro, vamos, rápido. Pedro assentiu e subimos todo o prédio sem dificuldade alguma. Não quis saber como Henri conseguiu entrar lá, mas ao passar pela segurança, apenas avisamos que tinha um homem tentando se matar no topo e fomos liberados para subir. Os seguranças acionaram os bombeiros enquanto pegamos o elevador. Ao chegar no terraço, o enxerguei e logo gritei. — Henri!!! Henri estava em cima da mureta, pronto para PERIGOSAS ACHERON

PERIGOSAS NACIONAIS se lançar de barriga para baixo ao chão, quando virou o rosto e me viu. Pedro e eu caminhamos lentamente em sua direção, mas num dado momento eu pedi que meu irmão ficasse apenas olhando. Continuei indo, com toda cautela até ele. — Vai, vai embora, não mereço sua compaixão! Estiquei minha mão, estando há uns três metros de onde ele estava, por segurança. — Desça daí, Henri, desça, preciso falar com você! Você não pode cometer essa loucura! Tem uma filha, tem pessoas que te amam, por favor, não faça isso! Ele enxugou as lágrimas que desciam desenfreadas do seu rosto e eu torcia para que não acabasse daquele jeito. Meu Deus, ele não via como aquilo era loucura? — Minha filha tem a você, tem o seu irmão e o riquinho. Ninguém me ama, Amanda! Como alguém pode amar um ser desprezível que bate na PERIGOSAS ACHERON

PERIGOSAS NACIONAIS esposa, trai com uma amante há anos? Quer saber a verdade? Eu nunca fui fiel a você, achei que te amava, mas nunca consegui dispensar ela, ela sempre foi meu amor verdadeiro, desde a infância. Sempre ficamos juntos, ela queria que eu me casasse com ela, mas aí conheci você, a conquista demorou tanto que achei que te amava. Nos casamos, mas percebi que nunca a esqueceria, vivi com você e com ela por todos esses anos, ela sempre entendendo e aceitando. Quando finalmente você me largou, dei graças a Deus, logo coloquei ela pra morar comigo e estávamos bem, mas então você teve que conseguir um namoradinho e me encher de ódio. Jurei pra mim mesmo que te reconquistaria, olha que egoísmo! A dor nas palavras dele, fez com que eu chorasse, surpresa. — Então houve o acidente, você não sabe como eu fiquei feliz em ver a cara do riquinho quando você não o reconheceu, era minha chance. Prometi a todos que cuidaria de você e que tentaria de tudo pra te fazer feliz, mas então... Ela me deixou, depois de 20 anos, ela me deixou. Disse PERIGOSAS ACHERON

PERIGOSAS NACIONAIS que sumiria pra nunca mais me ver novamente! — A voz dele embargara em meio às lágrimas. — Eu fiquei fora de mim, você sonhando com o riquinho e a minha outra mulher me abandonando. Percebi como sou idiota, egoísta e maldoso. Amanda, por favor, preciso fazer isso, minha vida não tem mais sentido! Quando ele acabou, eu já soluçava. Lágrimas de dor não só pelo que Henri dissera, mas por ver que ele não daria uma chance à sua própria vida. Não queria vê-lo morto. Nunca quis seu mal. — Henri, isso não é motivo pra tirar sua vida. A vida é a maior dádiva de Deus, não se condene ao fazer isso, você pode ter um futuro maravilhoso, ainda dá tempo. — Dei um passo à frente, indicando que tentaria impedi-lo. — Não! Eu já decidi. Me deixa! — Ele espalmou as mãos no ar, impedindo-me de continuar. Sua aparência era derrotada, sem luz. Os olhos dele já tinham sido entregues à morte. Não tentei mais me aproximar dele, com medo da sua reação, então apenas fui me afastando PERIGOSAS ACHERON

PERIGOSAS NACIONAIS aos poucos, com a mão na boca e as lágrimas caindo. Meu peito parecia querer saltar da caixa torácica. Henri pegou um celular no bolso e ligou para a polícia dando seus dados pessoais, avisando de um suicídio na avenida principal. Desligou e então se jogou. —Nããããããão! — gritei com todas as forças, mas já era tarde. Henri não quis lutar pela sua vida. Ele já havia perdido as esperanças de ser feliz. Pedro e eu descemos rapidamente. Ele, me carregando, pois eu chorava de modo desolado pelo pai de minha filha. Jamais imaginara um fim daquele. E como nunca notei que Henri não era feliz? Como não percebi que ele tinha gatilhos suicidas? Chegando ao solo, evitei a visão do que restou de Henri, pois apenas em imaginar já sentia náuseas. Passei direto e entrei no carro de Pedro. PERIGOSAS ACHERON

PERIGOSAS NACIONAIS Ao dar partida, ele quebrou o silêncio. — Foi escolha dele, não se culpe. Encarei os olhos do meu irmão, mas o que ele disse contrastava com o que seu olhar mostrava. Pedro também tinha lágrima nos olhos, mas se controlava para não desabar na minha frente. Ele era assim. Eu sabia que ele, por mais que odiasse Henri, também não conseguiu resistir àquela cena. Controlava-se para não demonstrar dó e sentimentos de afeto na minha frente, para ser minha fortaleza. Aquilo me fez chorar ainda mais… Até alguém para desabafar Henri provavelmente não tinha. Ainda assim assenti, ainda muito abalada, e pedi para que Pedro me levasse em outro lugar, apenas para espairecer até me sentir forte e voltar ao trabalho. Fiquei por algumas horas sentada em uma praça próxima da empresa, pensando em tudo que me lembrava da vida. Forcei minha mente levando a todas as memórias de Henri. Em como ele era amável e solícito quando nos conhecemos, como foi cavalheiro no nosso primeiro jantar, como me PERIGOSAS ACHERON

PERIGOSAS NACIONAIS acarinhava na noite de núpcias, prometendo ser o homem dos meus sonhos, como chorou emocionado ao saber que seria pai e em todos os momentos dele comigo e Clara, como família. Chorava pelo meu falecido marido. Ele pensou em tudo para que ninguém fosse culpado de seu suicídio. Então, como um flash, algumas imagens da memória perdida após o aniversário de Clara surgiram em minha mente. Comecei a lembrar. Não foram muitas cenas, apenas algumas memórias mais importantes daquele ano, e nada mais. Mas para mim, foi um avanço. Ao entardecer, decidi voltar para a Gali Telecomunicações, tinha deixado minhas coisas lá e precisava avisar tudo a meu chefe. Poucos minutos antes, recebi a ligação do hospital, onde deram o óbito de Henri e confirmaram o suicídio. O enterro seria no dia seguinte. Ao chegar na empresa, percebi que os funcionários já tinham ido embora. Fui para a minha sala e peguei meus pertences. Sem querer, esbarrei no porta-retrato do PERIGOSAS ACHERON

PERIGOSAS NACIONAIS pôr do sol, que caiu no chão e quebrou, revelando uma parte escrita atrás. Ainda trêmula por tantas emoções naquele dia, peguei o papel e o li: “Amanda, meu amor. É estranho escrever para você, sabendo que está tão perto de mim na sala da frente. Mais estranho ainda, pois nunca escrevi para mulher nenhuma, então lá vai. Sei que já falei sobre meus sentimentos por você inúmeras vezes, mas quando te vejo, é como se fosse a primeira vez novamente. Quando você me chama pelo nome, eu sinto que seu coração é o meu lar. Todos os nossos momentos juntos só reforçam a cada dia que na minha vida só existe você, apenas você. Eu te amo e para mim tem que ser você, sem motivo, sem razão, apenas tem que ser você, sempre você. Te amarei até não mais respirar.” Era de Antônio... Para mim. A data dizia que ele escreveu antes do acidente e ali estava uma prova da relação que tínhamos. Mesmo imersa em PERIGOSAS ACHERON

PERIGOSAS NACIONAIS uma tristeza profunda por causa de Henri, senti uma ponta de esperança ao ver aquele pequeno cartão. Optei por guardá-lo para algum momento futuro e fui até a sala dele, do meu chefe. Ao me aproximar da sala, ouvi soluços e sons que pareciam choro, abri devagar a porta e o vi.

TONY Desde que cheguei na empresa não falei nem soube nada sobre o resto do fim de semana de Amanda. Ainda estava pensando sobre o que houve na sexta, a forma com que ela cuidou de mim e como nos demos tão bem em um momento descontraído. Quase pensei que ela poderia lembrar de tudo e voltar a ser como antes, mas a realidade bateu na minha mente e eu precisava trabalhar focado. Passei o dia inteiro centrado em minha sala. Tentaria esquecer. Na sexta estava focado em esquecê-la e a partir daquele dia faria de tudo para isso. Mas falhei miseravelmente. PERIGOSAS ACHERON

PERIGOSAS NACIONAIS Amanda não veio falar comigo, deu uma sumida durante a tarde da empresa e aquilo me preocupou. Pedro me ligou e disse que ela teve uma emergência e me explicaria depois. A realidade era que ela estava agindo como se nada tivesse acontecido enquanto eu ficava na minha, passando o tempo. No final do expediente, enfrentei uma luta interna sobre assistir ou não os nossos vídeos no computador, mas perdi contra mim mesmo, revendo cada mísero momento quando pensei que todos os funcionários já tinham saído do andar. Já estava quase no final, quando enquanto meus olhos repletos de lágrimas acompanhavam o vídeo, a porta se abriu lentamente. Ao perceber que Amanda era quem estava ali, parei o vídeo imediatamente e limpei o rosto. — Hum... O que deseja? — perguntei, controlando a voz embargada. Ela me olhava com cautela, de pé numa posição profissional. Mas seus olhos estavam tristes. PERIGOSAS ACHERON

PERIGOSAS NACIONAIS — Desculpe incomodar, eu queria avisar sobre minha saída repentina de hoje. Pedi para que ela sentasse, Amanda o fez e me contou tudo. Quando ela chegou no momento da morte de Henri, fiquei chocado e sem reação. Não acreditava que ele seria capaz disso e Amanda estava com o rosto cheio de lágrimas ao dizê-lo. Me levantei, e como o cavalheiro e amigo que sempre demonstrei ser, fui até ela. — Meus pêsames, posso abraçá-la? — pedi. Estava sendo egoísta pensando apenas nos meus sentimentos o dia inteiro, quando ela só queria ajudar o ex a não tirar a própria vida. Me sentia mal com aquilo, precisava ajudá-la. Ela assentiu e logo a abracei. Aquele momento não era para romances, era um momento doloroso e a consolei como um amigo faria. Fazia um pouco de ideia da dor que estava sentindo por ele. Perder alguém sempre será como uma faca afiada no peito. A sensação de vazio em um canto onde só a pessoa morava dentro de si. PERIGOSAS ACHERON

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AMANDA Agradeci mentalmente por tê-lo ali e por me apoiar, envolvendo-me em seus braços acolhedores. Sozinha eu jamais saberia o que fazer. Ele se afastou e me olhou nos olhos. — Eu... Quero ajudar. Vou na recepção pegar o telefone da capela para providenciarmos um velório adequado. — Ele não esperou resposta e logo saiu da sala, deixando-me só. Sentei novamente, com os ombros caídos, cansada pelo dia que passei. Em meio a tudo aquilo, lembrei que ele estava chorando quando eu cheguei ali e então, por curiosidade, fui até o computador e vi que o arquivo de vídeo estava em um DVD. Abri o leitor de CD e peguei o DVD que estava lá. Guardei na bolsa e voltei ao meu lugar. Me senti mal por ter feito aquilo, mas era preciso, poderia ser algo importante em relação a PERIGOSAS ACHERON

PERIGOSAS NACIONAIS nós e eu precisava saber. Ele voltou e juntos acertamos tudo sobre enterro e velório. Antônio me deixou em casa no final de tudo e me senti ainda mais grata por ser ele a pessoa a me ajudar. O passo mais difícil era avisar Clara quando chegasse em casa, e foi mesmo difícil. Clara chorava sem cessar, gritava, escondia o rosto, ela estava muito triste pela perda do pai. Não a contei que foi suicídio, apenas acidente. Minha filha era muito pequena para entender sobre esse tipo de morte. Aquele foi o dia mais doloroso e chocante das nossas vidas, mas precisávamos ser fortes, pois Henri nunca mais voltaria.

*O personagem Henri é portador de um PERIGOSAS ACHERON

PERIGOSAS NACIONAIS transtorno psicológico chamado Borderline. Saiba mais no fim do livro.

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Capítulo 21

AMANDA Haviam-se passado 4 dias desde o enterro de Henri. Acho incrível como familiares dos confins da terra surgem de repente em caso de morte. Eu estava lá com Pedro, e Antônio também foi, nos dando apoio e consolo. Agradeci por tê-los naquele momento, pois realmente eu não sabia mais o que faria a seguir, precisava colocar minha mente em ordem. Pedro me consolou durante o sepultamento até que, de repente, começou a ficar nervoso, olhava de um lado pro outro e esfregava as mãos. — Mandi, não tô muito legal. Vou para casa. PERIGOSAS ACHERON

PERIGOSAS NACIONAIS Eu já sabia quando ele estava tenso, e mesmo não sabendo o porquê, entendi quando ele quis ir embora sem mais nem menos. Pedi que levasse Clara, que insistira em dar um último adeus ao pai, mas parecia cansada, e ele assim o fez. Sorte que meu chefe estava lá e ficou ao meu lado, me levando para casa depois. Após todo o processo do enterro, eu vi a dita cuja um pouco mais distante do aglomerado de familiares, chorando e sendo consolada por outra mulher, que devia ser sua amiga. Me aproximei dela, solícita, e pedi a Antônio que me aguardasse do lado de fora do cemitério. — Oi, Laira — disse ao encontrá-la. Laira arregalou os olhos inchados de tanto chorar, mas não disse nada. — Laira está passando por uma fase de tristeza profunda, essa perda só piorou o estado psicológico dela. — A amiga, uma mulher negra absurdamente linda e esguia, tomou as rédeas da situação. — Sou Valentina, a melhor amiga da Laira. — Me cumprimentou com dois beijos. — Prazer, Valentina. Sou a esposa de Henri. PERIGOSAS ACHERON

PERIGOSAS NACIONAIS Não estou aqui para julgar Laira, nem prejudicar seu estado emocional. Eu soube da verdade da relação deles, quero dar meus pêsames e pedir perdão por ter sido o pivô da ruína do relacionamento deles no passado. Fui sincera. Henri foi o culpado desde o início, não Laira. Ela era uma criança quando eles se conheceram, ela o amou esse tempo todo. Merecia meu perdão e compaixão. Laira me abraçou e se debulhou em lágrimas, pedindo perdão e repetindo que o amava. Trocamos telefones e prometi que a visitaria sempre que pudesse para ajudá-la no que fosse preciso. Eu sentia essa necessidade em meu coração. Fiquei de folga por 4 dias e aproveitei para ver a papelada da poupança pessoal de Henri. Ele havia guardado uma boa quantia em dinheiro, suficiente para comprarmos um apartamento simples para Clara e eu. Ainda não tinha verificado o DVD que peguei na sala de meu chefe. Não tinha cabeça para isso, mas estava chegando a hora. Naquela tarde, eu arrumava algumas coisas PERIGOSAS ACHERON

PERIGOSAS NACIONAIS na sala da casa do meu irmão, onde estávamos hospedadas até a papelada da casa sair, quando a campainha tocou. Era Antônio. Não o via há dias, e foi como se parecesse uma eternidade. A ciência do que passamos juntos somado ao meu desejo natural reprimido, fazia com que as batidas do meu coração se agitassem ao encarar aquele lindo mar em seus olhos azuis. — Boa tarde. Não queria incomodá-las, mas eu precisava saber como estavam e se precisam de alguma ajuda. Não pude e não quis falar por telefone, desculpe. — Disse ele, educadamente, quando abri a porta. — Tudo bem, entre. — Dei passagem. Ao entrar, pareceu desconcertado. Senti que ele queria falar algo, mas se continha. — Está tudo bem? É algo na empresa? — perguntei. — Sim e não — disse. — Na verdade eu vim te dar uma notícia. Do nada um embrulho no meu estômago me PERIGOSAS ACHERON

PERIGOSAS NACIONAIS deixou nervosa e enjoada. Eu não estava pronta para admitir que alguns flashes de memória estavam retornando por meio de sonhos e déjà-vu, mas também não queria que Antônio sofresse mais do que já devia ter sofrido por mim. — Venha, sente-se aqui no sofá. — Guiei-o. Clara estava brincando no quarto e ainda não tinha percebido a presença de Antônio em nossa casa. Nos sentamos e aguardei. — Diga. — Bom, é que... — Ponderou. — Meu pai tinha te proposto a diretoria de Recife e a chefia no caso da queda das vendas, como já te informei. — Assenti. — Só que ontem ele me ligou e disse que quer que eu vá pra lá definitivamente e que você fique aqui. Claro que terá ajuda e eu sempre estarei por aqui de tempos em tempos, mas já é uma promoção a mais pra você. O que acha? Antônio falava olhando pro chão, entrelaçando as mãos num gesto aparentemente receoso. PERIGOSAS ACHERON

PERIGOSAS NACIONAIS Eu não sabia o que dizer. Pedi uma explicação detalhada e ele contou que não encontrou alguém de confiança para guiar a investigação, e como eu não me lembrava da ideia, só restava ele. Eu ficaria em Belo Horizonte como diretora enquanto ele cuidaria das coisas por lá. Okay, admito que tenho assimilado o serviço com uma velocidade imprescindível e tenho exercido papeis de liderança naturalmente lá dentro, antes mesmo de me tornar vice dele. Mas... Uma pontada começou a nascer no meu peito, senti algo ser cravado lá dentro, mesmo sem entender muito bem o que se passava. Eu não estava nem aí pra minha promoção. Eu só conseguia ouvir a parte que ele disse sobre ir embora pra Recife. Ele. Vai. Embora. Pra longe. PERIGOSAS ACHERON

PERIGOSAS NACIONAIS Por que meu peito dói ao pensar nisso? — Eu... — Tentei falar, ofegante. — Não consigo... Respirar... — Apontei para meu peito. — Dói. Eu puxava fortemente o ar aos meus pulmões, mas eles não me obedeciam. Antônio finalmente me olhou nos olhos, com medo, e segurou meu rosto. — Ai meu Deus, o que você tem? Está pálida! Dói muito? — Ele esfregou meu colo numa massagem circular. — Deita aqui no sofá. Vou pegar um copo de água. Segurou meu corpo e o posicionou deitado no sofá, deu um salto e correu até a cozinha. A dor ainda estava lá. O ar ainda faltava. Continuei a massagem no mesmo local onde ele a iniciou, até seu retorno com a água. — Toma, bebe um pouco, depois prende a respiração por 30 segundos e respira devagar quando voltar. — Me orientou. Obedeci. PERIGOSAS ACHERON

PERIGOSAS NACIONAIS Quando os 30 segundos acabaram a dor estava indo embora. Não sei o que pode ter sido isso, mas eu precisava ter forças para falar o que eu sentia. — Antônio — chamei-o já sentada, recostada no sofá. — Oi — respondeu ao meu lado. Seus olhos assustados pelo que acabara de acontecer, me fitavam com receio. — Por favor. — Respirei fundo. — Não vá. — Tomei mais uma dose de ar e senti uma fina lágrima descer de um dos meus olhos. — Não me deixa sozinha. Eu disse tudo isso olhando diretamente nos olhos dele, que me lembram o mar do Caribe. Azuis, cristalinos, verdadeiros, transparentes. Todos me enganaram esse tempo todo, há mais de um mês desde que perdi minhas memórias, mas ele não. Ele foi a única pessoa que fez de tudo para me ajudar, mesmo sabendo como poderia ser doloroso. Não o queria longe de mim. Não o queria. PERIGOSAS ACHERON

PERIGOSAS NACIONAIS — O... Que... — Ele titubeava entre as palavras, um pouco surpreso com meu pedido. — Não estou entendendo... — Balançou a cabeça em negativa. — Quero que fique — repeti. Por um impulso, me aproximei dele e acariciei seu rosto barbado. Ele fechou os olhos, provavelmente curtindo a sensação de minhas mãos em sua pele. Meu Deus… Eu precisava saber como era… Como me sentia... Quando Antônio os abriu novamente, eu enxerguei algo mais. Suas pupilas estavam dilatadas e uma chama diferente ardia neles. — Não aguento mais, Amanda. — Segurou meu rosto e tocou seu nariz no meu, cerrando os olhos. — Eu te amo, eu te amo, eu te amo demais. Não aguento mais ter que ficar longe. Me perdoa por ser fraco e não respeitar seu luto nem seu tempo, mas eu te amo, Amanda. Nada nem ninguém vai mudar isso nunca. Vou levar esse amor comigo até além da vida. PERIGOSAS ACHERON

PERIGOSAS NACIONAIS E me beijou. Clic Lá no fundo da minha mente eu ouvi esse som. Algo se encaixou na hora em que os lábios de Antônio tocaram os meus. Eu não sabia o que estava sentindo, nem nada da nossa história, mas eu sabia que aquele homem enorme, forte, lindo e rústico era meu lar. Eu estava novamente em casa.

TONY No dia anterior a visita que fiz a Amanda, recebi o pedido de meu Pai. Ele estava preocupado com Amanda e tinha ciência do nosso relacionamento sem eu nem ter dito nada. Não jogou na minha cara o sofrimento que o amor me causou, mas ordenou que eu me afastasse. Que aquilo seria melhor pra mim. Em vinte e nove anos de vida, nunca precisei PERIGOSAS ACHERON

PERIGOSAS NACIONAIS tomar decisões baseadas no que me orientavam. Claro, sempre avaliava e decidia o melhor. Mas decidia por mim. Por minha vontade. Meu coração ordenava que eu ficasse perto de Amanda, mas após o final de semana conturbado e a semana de luto que se sucedeu… Não tinha mais esperança alguma. Foi quando, mesmo em meio a um vale escuro sem solução, eu vi uma luz. E foi justamente quando ela me pediu para ficar. Seus olhos denotavam sentimento, mesmo que sua expressão e suas palavras não correspondessem a ele. A Amanda lá de dentro, a que um dia fora minha, estava falando alto. Num impulso a beijei, e finalmente me senti completo outra vez. A dor e o espaço vazio que meu peito acomodava estava acabando comigo dia após dia. Não consegui mais suportar ao ouvir minha Amanda proferir aquelas palavras tão profundas, eu sentia que as palavras não vinham do cérebro e sim do coração. Ela ainda me amava. Em algum lugar ali PERIGOSAS ACHERON

PERIGOSAS NACIONAIS dentro, mas me amava. Desde a perda da memória dela, me mantive afastado para não influenciar negativamente na vida dela. Estava apagado de sua memória e ela tinha um marido e uma filha para se preocupar. Quando Henri faleceu, afastei os pensamentos egoístas de ter Amanda de volta, pois não era certo com alguém que acabara de ser sepultado, ter sua mulher nos braços de outro tão rapidamente. Mas naquele momento, apenas 4 dias após o sepultamento de Henri, não consegui me conter. A queria mais do que nunca e respeitaria qualquer decisão que ela tomasse após falar tudo o que sentia por ela e o que passamos juntos. Depois, caso ela deseje, mostrarei os vídeos, que graças a uma mania de menino que possuo em gravar tudo que desejo, aqueles vídeos seriam, a partir daquele dia, as memórias perdidas de Amanda. O beijo findou-se e nos olhamos fixamente, absorvendo toda aquela informação repentina do momento que acabamos de vivenciar. — Antônio, quero te contar uma coisa. PERIGOSAS ACHERON

PERIGOSAS NACIONAIS — Diga. — Segurei suas mãos e aguardei. — Eu tenho tido aqueles déjà-vu que te disse, mas também tenho sonhado com algumas coisas. Depois comecei a juntar as peças e perceber que em alguns momentos as pessoas tentavam esconder algo de mim. Até Pedro me contar realmente tudo o que houve entre nós. Fiquei boquiaberto. Meu amigo prometera não contar nada a Amanda, por que não cumpriu? — E o que Pedro disse? Ela abaixou o olhar, parecendo tímida. — Tudo. Nossa viagem para Recife, nosso namoro, como nos relacionávamos. Como parecíamos apaixonados. — Lágrimas começaram a descer de seus olhos, acompanhado da voz embargada. — Eu não queria te magoar, eu só queria lembrar. — Shhhhiu... Calma, meu amor — A consolei, enxugando as lágrimas que deslizavam pelo rosto dela. — Você não teve culpa de ter sofrido aquele maldito acidente. Na verdade, eu fui o culpado, apenas paguei por não tê-la protegido e PERIGOSAS ACHERON

PERIGOSAS NACIONAIS a acompanhado até o aeroporto naquele dia. Eu queria te dar espaço pra pensar e não queria te pressionar em nada. Me perdoa. Ela levantou o rosto, descrente. — Você não teve culpa, meu Deus… Você nunca teria culpa. — Respirou fundo e enxugou as lágrimas. — Eu encontrei algo na sua sala uns dias atrás. A observei enquanto ela levantava e ia até uma gaveta de um dos móveis da sala e retirava uma pequena capa de CD de dentro. — Achei isso por lá. O que é? — perguntou. — Desculpe por ser enxerida. Fiquei petrificado. Como ela conseguiu os vídeos? Mas por dentro, senti aquele bendito alívio. Enfim poderia mostrar as provas de tudo que passamos. Tomei coragem para o que fiz a seguir. — Quer assistir? São vídeos nossos. — Levantei e andei até ela. Amanda assentiu, com as bochechas rosadas — tão linda! — até que uma voz infantil se PERIGOSAS ACHERON

PERIGOSAS NACIONAIS instaurou no ambiente. — Tio Tony! — Clarinha acabara de sair do quarto e me avistou de pé na sala. Correu e saltou em meus braços, me abraçando forte. — Clarinha, minha princesa. Como você está? — Eu estava com saudades. Você quase não veio me ver mais. Ainda somos amigos? — perguntou com brilho nos olhos. Meu Deus, eu amava aquela pequena. — Mas é claro que somos! Mais do que a Sininho e o Peter Pan! — Mais? — Os olhinhos dela se arregalaram cintilantes. — Muito mais — Beijei sua testa e a desci do colo. Amanda acompanhava-nos com os olhos. Acho que a relação com sua filha também era novidade para ela. Ah, doce, Amanda… Nada vai me impedir de mostrar tudo sobre nós, cada pequeno detalhe. PERIGOSAS ACHERON

PERIGOSAS NACIONAIS Estou determinado em cumprir essa meta.

AMANDA Olhei para aquela cena, estupefata com a intimidade que meu ex-talvez-futuro-namorado tinha com minha filha — que confusão! Na verdade, fiquei maravilhada com mais uma qualidade positiva que descobria em meu chefe. — Bom, vamos comer alguma coisa, está na hora do lanche! — exclamei animada. Ele e Clara sorriram e me acompanharam até a cozinha. Após um lanche descontraído, minha filha voltou ao quarto para continuar assistindo seus desenhos, como sempre fazia. Antônio me pediu que o acompanhasse até a porta, para que fosse embora. Estávamos do lado de fora do apartamento, com a porta encostada, quando ele indagou: — Como Clarinha tem absorvido tudo isso PERIGOSAS ACHERON

PERIGOSAS NACIONAIS do pai? Cocei a nuca, um pouco constrangida em me lembrar de como minha criança tem absorvido tudo. — No dia em que contei ela ficou péssima, até ontem estava chorosa e triste. Mas hoje acordou melhor, disse que o papai está com Papai do céu, então está protegido. — Dei de ombros. — Clara é inteligente demais, fico abismado com ela. — Ele sorriu. Um sorriso aberto e genuíno. — Ela é — concordei. — Teria como assistirmos o vídeo amanhã? Clara passeará com Pedro durante o dia e então poderemos ver com calma. Quando quer que eu retorne à empresa? Ele me fitou fixamente nos olhos e pôs as mãos nos bolsos de sua calça. Não deixei de notar como meu corpo reagiu ao reparar com mais afinco sua estrutura física. — Tudo bem. Venho aqui amanhã pela manhã, então. Sobre a empresa, não se preocupe, volte semana que vem. — Se aproximou de mim e PERIGOSAS ACHERON

PERIGOSAS NACIONAIS depositou um beijo na ponta do meu nariz. Fiquei parada, absorvendo seu cuidado. Ele segurou firme meu rosto, em seguida. — Eu te amo — disse fechando os olhos, enquanto recostava a testa na minha e balançava o rosto, fazendo nossos narizes roçarem num gesto carinhoso. Apenas sorri. Conseguia sentir o amor penetrando meu coração no momento em que ele proferiu aquelas palavras. — Até amanhã. — Me afastei, despedindome. — Até. Antônio se foi. Tornei a entrar em minha casa com o coração num misto de sentimentos. Ao mesmo tempo que estava ainda triste pelo falecido esposo, sentia-me feliz por ter Antônio por perto. Era uma felicidade que eu não conseguia evitar, simplesmente sentia. Não queria me culpar por isso. Logo, ao pensar em Henri, me lembrei de Laira. PERIGOSAS ACHERON

PERIGOSAS NACIONAIS Preciso entrar em contato com ela. Quero saber tudo que Henri me ocultou todos esses anos. Preciso ajudá-la, ela não parecia nada bem. Imediatamente sentei no sofá da sala e verifiquei o número de Laira no meu celular. Disquei e, no terceiro toque, alguém atendeu. — Alô. — Alô, aqui é Amanda Lice. Falo com Laira? — Não. Aqui é Valentina, a amiga dela. Lembro de você, Amanda. Tudo bem? — Tudo caminhando, Valentina. Gostaria de agendar uma visita a Laira, não quero perturbá-la, mas quero muito ajudar de alguma forma e entender tudo que eu não soube todos esses anos. Valentina pareceu respirar fundo. — Amanda, desculpe, sou a psicoterapeuta dela também. Laira está num quadro de depressão profunda no momento. Ela não tem se alimentado nem dormido bem. Peço que aguarde um tempo, pois estou tratando pessoalmente dela. Após ver melhora no seu quadro clínico, te ligo e marcamos uma visita. Tudo bem? PERIGOSAS ACHERON

PERIGOSAS NACIONAIS — Tudo bem. Onde ela está sendo tratada? Em algum hospital ou clínica? — Não, está hospedada em minha casa, perto do centro. — Ah, perto, então. Estou morando próxima ao centro também, na casa do meu irmão. Conheço bem o bairro. Quando ela estiver melhor me avisa então, por favor. — Pode deixar. Então uma luz acendeu-se em minha mente. — Ah, Valentina! Tive uma ideia melhor! — Qual seria? — Ela parecia curiosa. — Será que você, como amiga e doutora dela, não prefere vir falar comigo? Acho até melhor, para não incomodar Laira. — Por mim tudo bem, também quero entender algumas coisas. Amanhã às 18 h, pode ser? Aceitou de imediato e aquilo me deixou tão feliz. — Perfeito. Vou passar o endereço de onde estou via sms. Beijo. PERIGOSAS ACHERON

PERIGOSAS NACIONAIS Após desligar, fiquei um pouco mais aliviada. Sentia que devia ajudar Laira de alguma forma. Algo dentro de mim a ordenava. O restante do dia foi um borrão. Cuidei de Clara como de costume, cozinhamos juntas o jantar e depois fomos para a cama dormir. Ela passou a dormir ao meu lado, para que não ficássemos sozinhas. A perda de Henri ainda era muito recente para a menina. O sono não quis chegar na minha mente, eu meditava em tudo que ocorrera naquele dia. Meu cérebro ainda não conseguia se lembrar de nada nitidamente, mas conseguia sentir, sempre fui uma mulher sensitiva. Acreditava em meu sexto sentido, ou no milagre do sentimento poder falar mais alto que a razão. Se tudo isso que aconteceu hoje foi realmente parte do meu passado esquecido, eu preciso continuar e insistir nessa realidade. Fui enganada por Henri mais de uma vez e ninguém me contou nada. Me esconderam a verdade. Ninguém teve um motivo real, apenas Antônio. Nele eu acredito, pois mesmo se quisesse, jamais poderia me contar tudo PERIGOSAS ACHERON

PERIGOSAS NACIONAIS que vivemos. Se não fossem os déjà-vu e os sonhos eu jamais me lembraria dele, jamais me aproximaria dele novamente, nem cogitaria desejálo como desejo. Permiti-me imaginar aqueles olhos azuis como o mar caribenho e suspirei deitada em minha cama. O desejava. Mas aquela Amanda era a Amanda de dois anos atrás, ainda um pouco reprimida e contida nas palavras, a Amanda que aceitava sua condição ainda não tinha sido alertada pelos seus sonhos e objetivos de forma tão clara. Aquela Amanda ainda tinha como prioridade ser mãe acima de tudo. Aquela Amanda queria trabalhar e estudar, mas esse ainda não era seu foco principal. Aquela Amanda pensava em sua filha antes de qualquer coisa. Não podia simplesmente mudar toda minha vida por causa de um desejo insano.

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Capítulo 22

AMANDA O dia seguinte chegou, com ele pude contemplar os olhinhos cor de mel da minha filha preciosa se despedir de mim para passear com o tio. Ao deixá-la na porta do carro de Pedro, ela me abraçou. — Mãe, quero dizer uma coisa — Demonstrou receio. — Diga, filha... Eu admirava minha pequena a cada dia mais. — Você cresceu tanto, está tão independente... Eu te amo, filha. — Meu coração encheu-se de emoção ao notar como ela crescia rápido. PERIGOSAS ACHERON

PERIGOSAS NACIONAIS — Eu te amo muito, mãe — Clara respirou fundo. — Sinto falta do papai. — Abaixou os olhos. Eu sabia que minha filha sofreria por muito tempo, afinal Henri podia ter sido péssimo marido, mas sempre amou e cuidou da filha como devia. Nunca negou seu papel de pai. — Filha, papai está longe agora, infelizmente ele não voltará, mas você tem a mim para sempre. Eu vou ser tudo pra você. Serei sua mãe e seu pai, serei sua amiga e sua irmã, serei seu tudo. Eu já estava em lágrimas. Andava muito sensível ultimamente. Pedro assistia a tudo calado. Sabia que seu desejo mais do que nunca, era ver sua irmã e sobrinha felizes outra vez. — Vamos, Clarinha. Hoje vai ser dia de diversão com o tio Pedro! — Pedro tentou animála. Clarinha beijou meu nariz e entrou no carro. Ao retornar para casa, espantei pensamentos negativos sobre a perda de Henri ou como minha PERIGOSAS ACHERON

PERIGOSAS NACIONAIS filha assimilaria tudo com o tempo, e fui tomar um banho, mas antes abri meu armário para verificar se tinha cera depilatória na minha necessaire. — Hum... Escova de dentes... Cotonetes... O que é isso? — Espantei-me ao ver um pacote de absorvente interno lacrado bem ao fundo da bolsa. No mesmo momento a realidade bateu. Ainda não tinha usado sequer um absorvente após o acidente. Mentalmente fiz as contas. Fazia pouco mais de um mês da ocorrência do acidente, talvez meu ciclo menstrual tivesse ocorrido na semana anterior ao evento e agora estava em atraso, nada de mais. Ou não. — Meu Deus... Será? — Bati na própria testa, espantada. — Mas se eu sofri o acidente e ninguém falou nada, deve estar tudo bem, não é? Comecei a suar frio, peguei a cera depilatória que estava logo ali próxima aos absorventes e fui tomar meu banho. Ao sair do banho, ainda de toalha, fui PERIGOSAS ACHERON

PERIGOSAS NACIONAIS surpreendida pela campainha tocando. Ao ouvir a campainha tocar, gritei “já vai!” e corri para o quarto. Arrumei-me rapidamente e coloquei um vestidinho leve lilás. Retornei à sala, abri a porta principal e sorri. — Antônio, bom dia! — Olhei radiante para meu chefe, que estava a cada dia mais deslumbrante aos meus olhos. Ele vestia uma camisa básica e uma bermuda cargo, seus cabelos estavam presos em um coque bagunçado dando um charme lindo ao seu visual. — Bom dia, Amanda. — Ele se aproximou e estendeu o buquê antes escondido detrás do corpo. — Meu Deus! — Fiquei espantada com aquele tratamento tão carinhoso e peguei delicadamente as flores. — Obrigada! O abracei e ele depositou um breve beijo em minha cabeça. — Vem, vamos entrar. — Me afastei e permiti a entrada dele na casa. Quando o vi passar pela porta, percebi o quanto já o notava com outros olhos naquele dia. PERIGOSAS ACHERON

PERIGOSAS NACIONAIS Seu aroma amadeirado fresco exalava no ambiente, me deixando com palpitações. E seu tamanho... Notei com mais cautela que ele era muito alto e grande, a porta quase não suportou sua imponência e altura ao passar por ela. Ele era realmente lindo. — Vou... Guardar as flores. — Decidi quebrar o silêncio constrangedor causado pela admiração ao vê-lo. — Hum... Fica à vontade, pode sentar ali no sofá. Ele assentiu e caminhou até o sofá. Amanda, para de ser idiota, não tem motivo pra ficar assim toda nervosinha e cheia de calor — repreendi a mim mesma em pensamento. Depositei as flores em um jarro com água na cozinha, e voltei à sala. — Bom... — ponderei. — Quer tomar café? — perguntei a ele, ainda de pé. Ele estava verificando o celular quando fiz a pergunta. Virou-se e me lançou um olhar penetrante de admiração antes de dar qualquer PERIGOSAS ACHERON

PERIGOSAS NACIONAIS resposta. — É... Não precisa se incomodar, comi algo em casa. — Sorriu. Deu aquele sorriso de menino, aberto e radiante, que os dèja-vus me mostravam. Constatei ali, que tinha acabado de me encantar com o sorriso dele. Meu Deus... Eu não estou normal... Está calor aqui. Aproximei-me lentamente de Antônio. — Vamos ver os vídeos então? — sugeri. Ele assentiu. Bom, que se inicie o que tiver de ser.

TONY Havia acordado cedo naquela manhã, empolgado em ver Amanda e juntos finalmente nos entendermos. Minha esperança era tanta, que levantei e saí para correr um pouco e conter a PERIGOSAS ACHERON

PERIGOSAS NACIONAIS euforia, precisava relaxar. Ao voltar para minha casa, tomei um banho e saí com o carro em direção à casa dela, não sem antes passar em uma floricultura e lhe comprar um belo buquê de flores coloridas. Quando a vi tão linda naquele vestido, meu desejo se aflorou. Estava resistindo para não tomála para mim de uma só vez. Os pensamentos desordenados por estar ali com ela faziam com que me sentisse um garoto imaturo novamente. Era como se estivesse tentando conquistá-la outra vez. Levei flores, agia de modo gentil e cavalheiro, não estava sendo inconveniente… Tudo para que ela me aceitasse e quisesse estar comigo. No dia anterior, informei meu pai sobre a decisão. Não me afastaria de Amanda. Por um tempo, pensei que poderia ser bom, mas quando a vi vulnerável, me pedindo para que ficasse com ela… Meu coração despedaçou-se. Não conseguiria. Amanda pegou o DVD guardado na gaveta do móvel da sala e ligou a TV. Inseriu o disco no aparelho e pegou o controle, sentando-se ao meu PERIGOSAS ACHERON

PERIGOSAS NACIONAIS lado em seguida. Ela estava estática ao meu lado, aparentando não saber muito bem o que dizer ou fazer, então me olhou de soslaio. Não sei se ela percebeu como eu estava esperando ansioso para que o vídeo começasse, mas segurou minha mão. Me virei em sua direção, foquei os olhos da mão de Amanda na minha até seu rosto e sorri, soltando um leve bufo nervoso. — É agora que você saberá de tudo. Ela deu play. — Vamos lá, nossa modelo Clara com seu vestido bege da princesa... — Bela. — Claro! A princesa Bela! Aplaudam!

AMANDA Ansiosa, nervosa, confusa, era o que me definia. Estava atônita e sem reação ao ver todas aquelas cenas. Era eu ali, era eu, minha filha e meu PERIGOSAS ACHERON

PERIGOSAS NACIONAIS chefe protagonizando aqueles vídeos. — Ah, para, tá moleza esse joguinho. Filma à vontade, depois eu filmarei sua cara de derrota! Ha ha ha ha, filma minha risada maléfica também! — Ah, meu bem... Pra quê me vencer? Vamos nos divertir de outra forma. — Não vale, controladora! Está tentando me controlar de novo! Isso é jogo sujo. — Adoro jogo sujo. — Vai me pagar, controladora! Quando o vídeo da guerra do videogame começou, eu ri. Achava engraçada a descontração que havia entre nós e o relacionamento leve que tínhamos. Porém, meu sorriso se fechou no momento em que começamos o amasso no sofá. — Posso pausar? — pedi a Antônio. — Sim, claro. Pausei o DVD e coloquei as mãos nos joelhos, um pouco envergonhada por perceber o que aconteceria naquele vídeo. — Nós... Hum... Nós... Você sabe...? — perguntei um pouco receosa para Antônio. PERIGOSAS ACHERON

PERIGOSAS NACIONAIS Ele sorriu de canto e segurou as minhas mãos. — Sim. Já te afirmo que foi muito gostoso. Ri, mas de nervoso. — Você é sempre assim tão direto e claro? — Semicerrei os olhos em sua direção. — Você sempre gostou dessa minha característica. — Deu de ombros. Meu Deus! Eu precisava pensar. Pensar. Levantei, andei um pouco pela sala e depois voltei a olhá-lo, que permanecia sentado enquanto me aguardava, recostado relaxadamente no sofá. — Quero ver o resto do vídeo. — Decidi. Sentei-me novamente. Logo começou a passar a cena em que nos amamos no sofá da sala. Corei e não tive coragem de encarar os olhos dele naquele momento. Após esse vídeo, começou um de um restaurante. ... Esse lindo e encantador senhor se tornou PERIGOSAS ACHERON

PERIGOSAS NACIONAIS meu anjo da guarda, me salvou de um vexame numa boate, me defendeu dos amigos galinhas, me salvou de um quase acidente na rua, me contratou em sua empresa e me levou para resolver um problema com ele em Recife, que me rendeu uma proposta de promoção absurda com a qual sempre sonhei. Acontece que esse senhor, o senhor Antônio Gali, em poucos dias conseguiu mudar toda a minha vida pessoal e profissional, apenas faltando uma pequena área que eu jurei que ninguém jamais tocaria novamente. Meu coração. Mas hoje, Antônio, aqui com você, eu tenho certeza de que você me preenche por completo e posso dizer com todas as letras nos quatro idiomas que eu falo... EU TE AMO. Depois ele se declarava. Naquele vídeo eu contava tudo. Uma lágrima pesada deslizou pelo meu rosto quando o vídeo se encerrou. Não consegui conter a emoção… Eu estava realmente feliz com ele. Ainda com os olhos fitos à tela, sussurrei desacreditada: PERIGOSAS ACHERON

PERIGOSAS NACIONAIS — Eu... Meu Deus... Nós... Meu olhar era de espanto com o que tinha visto. E só em saber que ele deve ter visto os mesmos vídeos por inúmeras vezes, fazia com que meu peito doesse ainda mais. — Nos amávamos muito. — A voz grossa, dolorida e pesada de Antônio instaurou-se. O choque daquela palavra, Amor, me fez estremecer ainda sentada no sofá. Eu não sentia aquilo, não lembrava daquele sentimento, mas sabia que o que vi no vídeo foi real. Eu o amara intensamente. De quebra, ainda soube mais um fato da memória perdida, a veracidade da traição de Henri e o período que morei com meu irmão. Eu quero saber como é, eu preciso saber se o que eu sinto agora pode se tornar amor. Eu quero dar uma chance a ele. — refleti. — Antônio? Me levantei, colocando-me de pé diante dele e estendi uma mão em sua direção. Ele me encarou com o cenho franzido, estranhando a atitude, porém deu a mão a mim. PERIGOSAS ACHERON

PERIGOSAS NACIONAIS Logo nós dois estávamos de pé, um de frente para o outro. — Preciso te dizer que, por mais que eu me esforce, eu não consigo mesmo lembrar de tudo aquilo, não consigo entender como algo tão intenso não faz parte de minhas lembranças…

TONY Enquanto ouvia aquelas palavras, sentia a mesma sensação que me dominou nos últimos dias: dor. Sofri a cada dia lentamente, relembrando-me do amor que vivemos e do amor que ainda sentia e que nunca poderia apagar do peito, por minha amada Amanda. — Amanda — a interrompi. — Não quis que assistisse ao vídeo para tentar me amar ou querer voltar pra mim. Reconheço que não se lembra e que precisa levar a vida como desejar. — Acariciei seu rosto com delicadeza, prendendo uma porção dos cabelos escuros e longos dela atrás da orelha. — Eu só queria não te esconder mais nada, já que de PERIGOSAS ACHERON

PERIGOSAS NACIONAIS qualquer forma você veria os vídeos. Pedro é seu irmão e pode atestar tudo o que eu disse. Não tenho nenhum interesse egoísta com relação a você, apesar de ainda amá-la com toda a minha alma e minhas forças. Sua respiração se tornou pesada, e seus olhos correram pelo recinto antes de voltarem a mim. — Eu... — Segurou meu rosto e o focou em minha direção. — Quero tentar. Minha mente estava conturbada com o misto de sentimentos, mas ao ouvir da boca da mulher que amo a palavra “tentar”, foi como nascer de novo. Finalmente vi uma luz no fim do túnel. Naquele momento não quis mais falar do passado. O que passou não mais importava, eu estava recebendo uma nova chance e faria tudo dez vezes melhor para reconquistar o amor da minha vida. —Tentar? — Meus olhos brilharam, com toda certeza e um sorriso espontâneo surgiu em meus lábios. Amanda riu de modo contido, provavelmente pela minha reação contente. PERIGOSAS ACHERON

PERIGOSAS NACIONAIS — Sim. — Levantou os braços em sinal de rendição. — Pode me beijar à vontade agora — disse sorrindo. Não precisei ouvir a ordem duas vezes, imediatamente a segurei pela cintura e pus uma mão em sua nuca quando a tomei para mim em um beijo lento, provocante, contendo toda a saudade e o sentimento que reprimi durante o tempo em que estive longe dela.

AMANDA Retribuí o beijo com vontade. O desejava e a vontade de agarrá-lo estava dominando todos os meus sentidos. Não queria me culpar por estar recém-viúva ou por não me guardar por mais tempo até saber exatamente o que sentia pelo meu chefe. Aquela Amanda queria Antônio ali, naquele momento. — Como eu estava com saudades dessa sua boca deliciosa — disse ele enquanto me beijava, faminto. PERIGOSAS ACHERON

PERIGOSAS NACIONAIS Eu apenas sorria recebendo suas carícias. Fazia tempo que minha mente não lembrava o quão bom é se sentir verdadeiramente desejada. Henri jamais fazia-me sentir assim. Pelo menos nos últimos anos de minha memória e nos últimos momentos após o acidente. Antônio parou de me beijar e mirou fixamente em meus olhos castanhos. — Merda, não sei como devo agir. Quero fazer amor com você e não sei se irá me achar atirado se eu sair arrancando sua roupa. — Virou o rosto de lado, em confusão. Comecei a rir, pois na verdade eu estava tímida e esperava que ele conduzisse tudo do jeito que quisesse. — Desculpa por rir, é que você é tão fofo. Faça o que quiser, estou tímida pra tomar alguma iniciativa, desculpe. — Abaixei o rosto de leve, corando. Aquela Amanda de dois anos atrás jamais se imaginaria numa situação tão inusitada. Eu era aquela Amanda. PERIGOSAS ACHERON

PERIGOSAS NACIONAIS Seus olhos percorreram meu corpo de modo fugaz, enquanto suas mãos mantinham-se em meu rosto, até que ele finalmente tomou as rédeas. Pegou meu corpo delicado e me levou até a parede da sala próxima aos quartos, me prensando lá. Agarrei a cintura dele com as pernas enquanto meus braços envolviam seu pescoço. Eu o queria ainda mais. Ele me beijou enquanto me devorava em cada parte do corpo descoberto delicadamente, adorando e venerando-me por completo. — Não sabe como sonhei com isso — disse enquanto lambia o meu pescoço, me fazendo arfar. — Não sabe como eu te amo — continuou a dizer enquanto eu apenas ouvia, gemendo. Então comecei a sentir meu interior se aquecer, fazendo com que eu ansiasse por seu toque. Não conseguia crer no que apenas seus beijos e carícias inocentes estavam causando em mim. — Eu quero você agora, logo. Por favor — PERIGOSAS ACHERON

PERIGOSAS NACIONAIS ofeguei, num pedido ousado. Ele afastou o rosto de meu pescoço e me olhou, arqueando uma sobrancelha. — Tem certeza? Assenti, arrisquei uma olhada sexy para ele e mordi o lábio inferior. Ele acompanhou cada ato meu, com os olhos escuros em desejo. — Mulher, mulher… Vem cá. — Puxou-me até o sofá circular da sala de Pedro. Um sofá diferente, mais confortável, que ficava na ponta da sala. Começou a tirar meu vestido enquanto me venerava. Eu, deitada, apenas o permitia conduzir. — Você está ainda mais linda do que eu me lembro — disse ele ao terminar de me despir. Sorri. Meu sangue estava todo nas minhas bochechas. — Sua vez. — Levantei a blusa dele, que deu permissão elevando os braços. Ele sentou ao meu lado, me permitindo tirar sua roupa. PERIGOSAS ACHERON

PERIGOSAS NACIONAIS — Uau. Você é um maldito gostoso! — exclamei ao ver seu torço definido. Me repreendi mentalmente, não queria falar em voz alta. Ele riu. — Sou todo seu, minha linda. — Agarrou-me pela cintura e despiu-me por completo, deixandome completamente nua. — Agora vou amar você todinha nesse sofá e depois vamos repetir até dizer chega, porque não aguento mais essa droga de celibato! Sua voz grossa me fez arrepiar. Imediatamente ele levantou, enquanto tirava as suas peças de baixo. Quando encarei seu corpo do modo como veio ao mundo, arregalei bem os olhos, um pouco receosa. Ele não era… Como posso dizer? Não era como eu estava acostumada. Era mais. Ah, era mais. Bom, se já o tive intimamente antes, tudo ficaria bem, sim? PERIGOSAS ACHERON

PERIGOSAS NACIONAIS Ele deitou sobre mim, ali no sofá e levou seus lábios em todos os pontos sensíveis do meu corpo, me fazendo ansiar por mais e muito mais do que apenas beijos úmidos. Quando ele desceu para minha intimidade, eu estava ansiosa, mas ainda tímida. Ele porém, não me permitiu sentir nada além de prazer, quando invadiu-me com os lábios, e depois usando as mãos. Eu só conseguia sentir posse por ele. Ele era meu. Meu chefe. Meu Antônio. Meu amante. Meu. — Eu te quero. Agora. — Implorei, num gemido ansioso. Ele levantou o rosto e sorriu, soltando os cabelos em seguida, mexendo neles com uma mão. Meu Deus! Que visão. — Você está ansiosa, hã? Assenti, reprimindo um sorriso. PERIGOSAS ACHERON

PERIGOSAS NACIONAIS Em instantes o senti sendo meu, por completo com suas investidas rápidas e rítmicas. Nos entregamos sem reservas ou pudor, àquele momento. — Você é a mulher da minha vida — sussurrou em meu ouvido, aprofundou suas investidas e depois foi diminuindo a velocidade. Durante todo o ato, sempre nos entreolhávamos, apenas desviávamos quando éramos tomados pelo prazer intenso. Chegamos juntos ao ápice e depois fomos para o quarto, onde, após um tempo curto, continuamos a matar a saudade que nossos corpos possuíamos um do outro. Era inevitável dizer que sentia saudades. Meu corpo ansiava pelo dele, como numa conversa sobrenatural, que por mais que meu cérebro não compreendesse, eu notei. Depois daqueles momentos, ele me posicionou deitada na cama. — Vamos descansar um pouco, amor — disse. PERIGOSAS ACHERON

PERIGOSAS NACIONAIS Nos acomodamos, abraçados e ofegantes, aguardando as batidas do coração voltarem ao normal. — Não consigo nem dizer como amei estar contigo hoje. — O abracei na cama, dizendo sorridente.— Prometo que pode ser assim sempre, se você quiser. — Me olhou com ternura, senti que era mesmo o que ele queria. Me sentia tão bem, como se tudo fosse certo, enfim. Fomos tomar banho juntos e descansar por, pelo menos, uma hora antes de almoçar. Depois do descanso, preparamos juntos o almoço, entre risadas e brincadeiras. — Não acredito que você nunca fritou um ovo! — Exclamei rindo, enquanto temperava o feijão. — Juro! Só sei preparar coisas fáceis. Sanduíches, pães, essas coisas. Mas sou um bom aprendiz, aprendo tudo! — Ele replicou. Me sentia bem, estava feliz ali com ele. Ele queria me agradar, ser útil e, de alguma forma, mostrar que se importava comigo, eu via aquilo. PERIGOSAS ACHERON

PERIGOSAS NACIONAIS — Mas agora é sério. Não precisa mesmo de ajuda? — perguntou se aproximando de mim por trás e abraçando meu corpo frágil. — Definitivamente você não está ajudando com esse carinho todo — Ri. — Carinhos são a minha especialidade, ainda mais em certos locais. — Desceu a mão, deslizando da barriga dela até mais abaixo, acariciando. — Ah... Meu Deus... — Recebi a carícia, satisfeita. Abaixei o fogo do feijão e virei-me para Antônio. Caminhamos até o balcão da cozinha e começamos a nos beijar. — Assim não vamos comer hoje — murmurei entre beijos. — Eu já estou satisfeito, muito bem alimentado — replicou. Ri abertamente, soltei os cabelos dele, que antes estavam presos novamente, e os sacudi. Olhei para a obra completa que era meu chefe ex-talvezfuturo-namorado e sorri ao admirar seu rosto bem traçado, em conjunto com seus olhos azuis PERIGOSAS ACHERON

PERIGOSAS NACIONAIS cristalinos e a boca bem delineada, envolvida pela barba aparada. Ele era a cada dia mais lindo aos meus olhos. — Você é lindo. Eu gosto do seu cabelo assim, solto — disse numa voz baixa e amorosa. Ele me puxou pela cintura, agarrando e grudando meu corpo ao seu, e sorriu. — Ahhh! Não tem como deixar de amar você. Meu Deus...

TONY O amor é assim, muda completamente o comportamento das pessoas. Eu, que antes era rude com as mulheres com quem me relacionava, agora estava mais para romântico paparicador, mesmo não sabendo muito sobre relacionamentos. Voltamos a nos beijar, e logo os beijos se tornaram intensos e convidativos para outras coisas, mas Amanda os conteve. PERIGOSAS ACHERON

PERIGOSAS NACIONAIS — Vou queimar a comida! — Depositou um selinho na minha boca e se afastou. — Depois a gente continua. — Lançou uma piscadela sexy em minha direção. Eu, que agora estava de costas, com o corpo apoiado no balcão pelas duas mãos, segurando-o enquanto admirava a mulher alvo de meu amor, sabia que em minha mente existia apenas uma palavra para definir o que aquela manhã significou para mim: TUDO. Sabia que, por mais que eu tentasse, um dia sucumbiria e diria tudo o que passamos para Amanda, mas não imaginava que esse momento chegasse tão cedo, e ainda fechasse com chave de ouro com situações sensacionais que me relembrou o quanto sou viciado, além de apaixonado, por ela.

AMANDA Alguns minutos depois, estávamos comendo à mesa, quando o meu novo celular tocou. PERIGOSAS ACHERON

PERIGOSAS NACIONAIS — Alô — atendi. — Oi, Amanda? — Sim. — Aqui é Valentina, estou ligando apenas para confirmar nossa conversa logo mais. Vou trabalhar até às 17 e depois vou direto praí, tudo bem? — Tudo ótimo, estarei em casa sozinha, poderemos conversar à vontade. — Combinado, beijo! — Beijo. Desliguei e sorri relembrando que começaria minha boa ação. Valentina me ajudaria a me aproximar de Laira naquele momento difícil. Não queria ver o mesmo fim que Henri procurou, na mulher que foi alvo de seu amor a vida toda. — Antônio? — perguntei assim que voltou à mesa. — Hum? — Ele murmurou mastigando a comida, fitando seus olhos nela. — Eu decidi ajudar Laira, sabe, a ex-amante do Henri. — Contei, um pouco desconcertada. PERIGOSAS ACHERON

PERIGOSAS NACIONAIS Queria inseri-lo na minha vida, para tentar ser como era antes, mesmo sem saber como realmente foi minha convivência com ele. Mas pelos vídeos, percebeu que éramos como melhores amigos. Ele engoliu a comida lentamente e tomou um gole do suco de maracujá. — Você tem um coração enorme. Poucos fariam isso. Acho isso maravilhoso. Sério. Se tudo que Henri falou foi verdade, ela deve estar passando por maus bocados agora. Precisa de ajuda também. — Foi o que eu pensei. Sabe, ela não teve culpa e eu, quando a vi no enterro, me comovi muito com o estado dela. Você tinha que ver, ela estava arrasada, em prantos, estava destruída. Meu Deus... Não desejo aquilo pra ninguém. — Eu sei bem como é — Comentou abaixando os olhos, mas logo pareceu notar o que disse. — Desculpe, não era pra ter mencionado isso. — Tudo bem. — Dei de ombros. — Aconteceu, não há pra onde fugir. E você também foi muito bondoso em não tomar qualquer atitude PERIGOSAS ACHERON

PERIGOSAS NACIONAIS contra Henri… Nem todo mundo agiria assim. Ele pareceu pensar um pouco no que eu disse, antes de responder. — Isso não anula a vontade que eu tive de matá-lo todos os dias ou raptar você para mim, conta? — Riu, e eu o acompanhei. — Mas falando sério, sou humano, foi horrível… Enfim, passou, certo? Assenti. O passado realmente não era algo bom para ser mencionado. Finalizamos o almoço e juntos decidimos assistir a algum filme. Eu estava me sentindo como uma adolescente com seu primeiro amor. Antônio era atencioso e se precavia com tudo. Ele me passava segurança, às vezes até exagerava um pouco nos cuidados. — Cuidado! — disse ele ao perceber que eu não alcançava o controle do Home Theater na parte superior do rack. — Deixa que eu pego. O filme continuou, entre pequenas pausas para carinhos e beijos entre nós. Me deixei levar pelo hoje, sem me preocupar com o amanhã. Ainda estava incerta de meus PERIGOSAS ACHERON

PERIGOSAS NACIONAIS sentimentos, apenas queria dar uma segunda chance a nós e esperar para ver no que daria. A tarde estava terminando, quando Antônio se despediu naquele sábado e deu um beijo caloroso em meus lábios, dizendo que sentiria saudades. Meu coração estava aquecido. Suspirei contra a porta quando a fechei. Depois fui tomar mais um banho pois o dia foi longo. Precisava me aprontar para receber Valentina. Durante o banho, meus pensamentos foram inundados pelo dia maravilhoso que passei ao lado do meu chefe. Logo algumas imagens do período perdido de quando minha filha ainda tinha dois anos retornaram à tona em minha memória. Dos dois anos inicialmente perdidos, eu já possuía nove meses de volta. Sorri. Sorri, pois estava progredindo, mas queria ir a um médico a fim de obter uma avaliação melhor. Às vezes ainda tinha algumas tonturas e vertigens, precisava ver se estava tudo bem. Ao sair do banho e me aprontar, o celular tocou. PERIGOSAS ACHERON

PERIGOSAS NACIONAIS — Alô. — Mandi! Podemos voltar? Clara está aqui no último brinquedo do parque e está cansadinha. Tony já foi? Se entenderam? — Pedro perguntou animado. — Calma! — Ri. — Meu Deus, isso tudo é animação por causa de Tony? Pode vir sim, ele já foi. E nos entendemos sim, depois converso contigo com calma. Manda um beijo pra minha princesa. — Tá bom. Daqui a pouco estamos aí. Beijo. — Tchau. Depois de alguns minutos, a campainha tocou. Ao abrir a porta, olhei bem a mulher diante de mim. Valentina era semelhante a uma modelo de passarela, com belos olhos verdes e pele negra, magra, com cabelos ondulados negros até a metade das costas. Com certeza faria qualquer homem rastejar aos seus pés. — Seja bem-vinda, Valentina. — A recebi, solícita e sorridente. Enfim entenderia um pouco mais do que PERIGOSAS ACHERON

PERIGOSAS NACIONAIS Henri viveu.

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Capítulo 23

AMANDA — Obrigada, Amanda — Val depositou um beijo em meu rosto e entrou. Pedi para que conversássemos no sofá, de modo descontraído. Ao sentarmos, após eu oferecer um lanche com algo para beber a Valentina, começamos a falar de Laira. — Eu não sei como ajudar, mas quero muito. Henri falou antes da sua morte que sempre amou Laira desde a infância. — Sim, eles se amavam. — Ela respirou fundo antes de concluir. — Eu tentei nos últimos PERIGOSAS ACHERON

PERIGOSAS NACIONAIS meses abrir a mente dele e tratar o transtorno borderline que ele tinha, mas foi muito difícil, ele não queria aceitar que precisava de ajuda e eu nem podia tratar dele por ser uma pessoa próxima, mas mesmo assim o fiz. Fitei fixamente em seus olhos esverdeados. — Você conhece Laira há muito tempo? — indaguei. — Sim, eu nasci e morei até os quatorze anos aqui em BH, a conheci na escola, éramos melhores amigas. Depois que voltei para a cidade, nos aproximamos novamente, e foi quando percebi que ela e Henri eram duas pessoas com sérios problemas psicológicos. Estou de volta aqui há apenas um ano. — Valentina sorria, transmitindo confiança a mim. — Ah, entendi. Como deve saber, eu perdi dois anos da minha memória, então não posso afirmar sobre o comportamento de Henri nesse período, mas antes disso eu já via a forma como ele tentava conter certas atitudes. Às vezes ele parecia muito descontrolado, chegava muito tarde em casa. — Laira e Henri estavam juntos desde PERIGOSAS ACHERON

PERIGOSAS NACIONAIS sempre. É uma tristeza falar isso aqui, para você, mas... Ele a amava mesmo. O amor dele por ela era muito genuíno, apesar dos problemas. Não posso detalhar o estado mental de Laira nesse momento pois, por mais que seja minha amiga, ainda é minha paciente, mesmo contrariando toda a ética, pois não consegui deixá-la como estava. Mas sobre Henri posso contar tudo que sei, pois ele já se foi. — Sua voz abaixou o tom no fim da frase, em lamento. — Como acha que posso ajudá-la? Ela precisa de companhia, dinheiro, remédios? — Evitei saber mais sobre Henri. Eu não sentia raiva, nem rancor. Era como se realmente tivesse passado por cima daquela lacuna. — Não, tenho suprido todas as necessidades financeiras dela, mas sua companhia e seu perdão mais pra frente podem ajudá-la a aceitar, dentro de sua mente, que não precisa se culpar mais. Seria bom que vocês, pelo menos, tentassem criar um vínculo de amizade, nem que fosse apenas superficial. É bom para ela saber que você a entende e quer ajudá-la. Admirei a imponência na voz de Valentina. PERIGOSAS ACHERON

PERIGOSAS NACIONAIS Ela tinha classe e firmeza ao falar sobre assuntos que entendia bem e uma pose convicta que transmitia muita confiança. — Então é o que eu farei. Me fale de você, Valentina. Preciso conhecer você também, né? Afinal, sou uma pessoa que adora fazer novas amizades e já que estamos aqui... — Dei de ombros, sorrindo. — Ah, eu sou uma psicoterapeuta formada na UFRJ com honras, fui financiada no fim do meu curso por um político importante do Rio de Janeiro, que investiu em mim e, devido à ajuda dele, hoje possuo uma rede de consultórios no Rio e aqui em Belo Horizonte. Mas passei por poucas e boas até chegar onde estou. Conversa vai, conversa vem, nós já estávamos gargalhando, conversando sobre assuntos supérfluos, descontraídas, sentadas no sofá. Após um tempo, a porta da sala, que fica na outra extremidade do ambiente onde estávamos, abriu-se. — Mamãe! Mamãe! — Clara entrou correndo e gargalhando em minha direção. — O tio PERIGOSAS ACHERON

PERIGOSAS NACIONAIS vai me pegar! Ele é um zumbi, um monstro, mamãe! Rapidamente pulou em meu colo escondendo-se de Pedro que, antes de aparecer na porta, deu um rugido grosso do corredor. — Ahhhhhhhh! Eu vou comer seu cérebro!!! — Apareceu andando lentamente, estendendo as duas mãos para a frente e olhando para o alto, como um zumbi apartamento adentro.

PEDRO O passeio foi bom, calmo e muito proveitoso. Torci o dia inteiro para que minha irmã e Tony se ajeitassem logo. Não que eu me incomode de tê-la na minha casa ou qualquer coisa com relação a ela, mas eu via como meu amigo estava sofrendo. E de sofrimento eu fiz pós, até me tornei mestre. Não desejo o que vivi a ninguém. Assim que chegamos ao meu prédio, ainda dentro do elevador, fingi ser um zumbi para PERIGOSAS ACHERON

PERIGOSAS NACIONAIS implicar com Clara. Ela sempre curtia minhas imitações. Foi então quando entrei em meu apartamento, que notei ela saltar para o colo de Amanda. — Ahhhhhhh! —A menina gritava. — Calma, filha! Ele não vai te pegar! — Amanda abraçou-a. — Para, Pedro! Vai assustar a garota! — gritou para mim, rindo. Comecei a rir e parei com a imitação barata de zumbi, mas assim que me posicionei perto de minha irmã, vi que tinha uma outra componente sentada no sofá. Imediatamente minha feição se fechou, tornando-se séria. Encarei a mulher, rindo internamente das desgraças do destino com minha vida. Aquilo não deveria estar acontecendo, não daquele jeito. Imediatamente o rosto dela também se fechou e seus olhos arregalaram-se na minha direção. Pois é, querida. Lembra de mim? Amanda, ainda com Clara no colo, olhava a cena sem entender. PERIGOSAS ACHERON

PERIGOSAS NACIONAIS — Pedro — pigarreou. — Esta é Valentina, lembra que eu mencionei sobre a psicoterapeuta do Henri e da Laira? — Virou-se para Val. — Valentina, esse é meu irmão, Pedro. Sorriu. Mas nós dois não estávamos sorrindo. Ficamos sem reação. Parecia um filme pausado. Eu de pé ao lado de Amanda, que estava sentada no sofá, e Valentina de frente para Amanda e eu, sentada e paralisada, também no sofá. — Prazer em conhecê-lo! — Valentina levantou e estendeu a mão. Oi? Como assim “prazer em conhecê-lo?” Meu rosto com certeza demonstrou minha confusão mental, porém apertei a mão dela com firmeza. — P-prazer... É, o prazer é todo meu — disse ainda um pouco desconcertado. Assim que Val soltou minha mão — que parecia queimar — , Amanda quebrou o clima tenso do ambiente. — Bom, estávamos conversando, maninho. PERIGOSAS ACHERON

PERIGOSAS NACIONAIS Vai tomar um banho enquanto a gente acaba de conversar, porque você deve estar exausto do passeio de hoje, né? — inquiriu tranquilamente. Eu, ainda fitando Valentina, assenti e me retirei dali em silêncio. Entrei em meu quarto, ainda em choque pelo que presenciei. Eu a reconheceria do outro lado do mundo. Eram ainda os mesmos traços, a mesma beleza, os mesmos olhos carinhosos, mas ainda assim, era diferente. Mas ainda era ela. Era ela. Na minha casa. No meu sofá. Na minha vida novamente. Porém, não na minha cama. Não da forma como imaginei o reencontro. Sentei na minha cama, sentindo meus batimentos cardíacos desenfreados, e refleti sobre a forma como ela me tratou, fingindo não me conhecer apesar dos longos anos. Isso fez com que eu jurasse a mim mesmo que ela não me afetaria. PERIGOSAS ACHERON

PERIGOSAS NACIONAIS Não mais. Nunca.

AMANDA — Eu, hein? — falei olhando para onde meu irmão acabara de sumir. — Estranho. Não liga pra ele não, Val, às vezes ele é meio antipático assim mesmo. Valentina parecia um pouco aérea, mas sorriu e assentiu. Logo voltou a conversar comigo tranquilamente. — Bom, voltando ao assunto... A noite chegou e Valentina foi embora. Pedro não saiu do quarto até ser chamado para o jantar e Clarinha, após o banho, ficou brincando com suas bonecas no meio da sala, enquanto eu preparava a comida. Durante a janta, com todos à mesa, não me PERIGOSAS ACHERON

PERIGOSAS NACIONAIS contive e perguntei: — O que foi aquilo? — Olhei para Pedro. Estava com minha língua coçando desde quando Valentina foi embora. Ele não agiu de uma forma muito comum ao lado dela. — Aquilo o quê? — Agiu como se não tivesse feito nada. — Aquela atitude mal-educada com Valentina. Ela é um amor, sabia? Ele rolou os olhos. — Me poupe, Amanda. Opa, ele me chamou Amanda. Então não estava animado para conversas. Decidi mudar o assunto. — Tony e eu vamos tentar — soltei um tempo depois, entre as garfadas. Clarinha comia quieta, apenas nos assistindo. — Opa, boa notícia. Finalmente vou ver aquele puto sorrindo de novo. Não aguentava mais choramingo no meu ouvido. Irmãos são uma bênção, mas tem dias que PERIGOSAS ACHERON

PERIGOSAS NACIONAIS parecem estarem “virados”. Acho que Pedro estava tendo um desses dias. — Ah, sério que ele ficava falando as coisas pra você? — Estava mesmo curiosa, queria saber mais do meu chefe. Pedro bufou. — Só queria saber de você. Nem um "e aí, parceiro, como vai?", ou um "cara, tá precisando de alguma coisa?". Não... Apenas "Amanda tá bem?", ou "como ela tem falado da empresa pra você?”, “acha que ela vai gostar de mim?". Tony já estava no nível babacão master! Não me contive, ri alto e meneou a cabeça em negativa. — Para de falar assim dele, ele é um fofo e muito amoroso comigo. — Corei. — E você daqui a pouco tá babacão também. Aposto que em breve vai estar caidinho por um rabo de saia e vai entender tudo que Antônio passa! Ele largou os talheres no prato e me encarou firme. — Vii intindi tidi qui intini pissi — PERIGOSAS ACHERON

PERIGOSAS NACIONAIS resmungou, me repetindo com voz fina, rolando os olhos. — Tá amarrado! Só consegui rir daquela atitude do meu irmão, mas torcia para que ele fosse feliz. Pedro merecia ser feliz em tudo que desejasse, com alguém ao lado ou não. Após o jantar, todos fomos dormir, estava cedo, mas o dia para Pedro e Clara foi cansativo. Coloquei minha pequena para dormir ao meu lado na cama, não sem antes contar uma história e pedir proteção ao Papai do céu pela vida dela. Ela era o porto seguro da minha vida, a certeza de que tudo valia a pena. Após Clara pegar no sono, peguei o celular e decidi mandar uma mensagem para Antônio. Oi, já dormiu?

TONY Meu dia foi simplesmente extraordinário. PERIGOSAS ACHERON

PERIGOSAS NACIONAIS Depois da manhã e tarde que passei com Amanda, meu fôlego se renovou. Ainda tinha um longo trajeto a seguir, e isso incluía conquistá-la e fazê-la sentir tudo o que sinto por ela. Eu queria estar em tudo na sua vida. Tudo. Passei o resto do dia em casa, treinando na minha academia particular, após ter saído da casa dela. Precisava extravasar a tensão que me dominava, a ansiedade de ser finalmente feliz com Amanda e toda a vontade que tinha de prendê-la em mim para nunca mais soltar. Consegui relaxar tarde da noite, depois tomei um banho e fui deitar. Estava em minha cama pensando se deveria ligar para ela ou não, quando a mensagem chegou. Logo visualizei, sorrindo, com o corpo recostado à cama. Ainda não, fazendo?

o

que

está

Nada, senti sua falta agora, rs. — Ela respondeu. PERIGOSAS ACHERON

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Ao ler a mensagem, esfreguei os olhos para verificar se era realmente aquilo que lera. Estava tudo começando a se encaixar finalmente. Poderia tentar ser feliz com o amor da minha vida. Eu sinto sua falta como sinto a falta do ar para respirar. Você tem meu coração, Amanda. Queria que ela sentisse as palavras lá, onde estava. Eu me sinto honrada, obrigada por não desistir de mim. Eu te amo com tudo que sou, jamais desistiria. Pode me ligar? — pediu. PERIGOSAS ACHERON

PERIGOSAS NACIONAIS Em vinte segundos ela já atendia minha chamada. — Oi. — Oi, anjo — respondi. — Eu estou quase dormindo, fica comigo, sua voz me conforta. — Amanda pediu, com a voz cansada. — Claro, sempre. Quer que eu fale sobre o quê? — Sei lá, conta uma história. Vou colocar no viva-voz. Ri mas logo pensei numa história magnífica para contar. — Lá vai... Era uma vez uma menina muito linda, ela era a princesa mais perfeita que todo o reino presenciou. Um belo dia ela se magoou com muitas pessoas do reino e tentou fugir. — Ah... — Amanda lamentou. Sua voz era dengosa, como de uma menininha. — Daí ela conheceu um príncipe de outro reino, um príncipe forte, alto e muito bonito, que nunca na vida havia se apaixonado. Eles se PERIGOSAS ACHERON

PERIGOSAS NACIONAIS apaixonaram, pois o destino quis assim e juntos foram os melhores rei e rainha que os dois reinos já viram na história. Fim. Quando finalizei, não ouvi sua resposta. — Amor? — perguntei e então ouvi a respiração pesada atravessando o telefone. Apenas sorri e desliguei. Mandei uma mensagem dizendo “te amo” e também adormeci, em seguida.

AMANDA Oito dias se passaram desde aquele fim de semana. Eu me sentia feliz, apesar das circunstâncias, e a cada dia me admirava mais com o homem que Antônio revelava ser. Porém, também a cada dia daquela semana, suspeitava cada vez mais da anormalidade do meu estado de saúde. Na segundafeira senti enjoo matinal ao sentir o cheiro do café na cafeteira. Na terça tive vertigem ao subir o PERIGOSAS ACHERON

PERIGOSAS NACIONAIS elevador da empresa, na quinta vomitei antes de dormir, colocando toda a comida para fora, e no sábado senti uma vontade absurda de comer Yakissoba, o que não costumava comer normalmente. A segunda chegou novamente e então decidi ir ao hospital onde fui internada após o acidente, para tentar entender o motivo de tantos sintomas aleatórios. — Oi, doutor Jay. Voltei aqui para que me explicasse melhor sobre os exames que fiz após o acidente — relatei todos os sintomas que me assolavam havia alguns dias, quando o doutor me recebeu. O médico pegou meu prontuário, que ainda estava nos arquivos do hospital, e prontamente me informou sobre o acidente. — Aqui está escrito que você não sofreu nenhuma sequela no corpo, foi apenas a batida na cabeça pelo vidro lateral do carro durante a capotagem, você estava de cinto de segurança, então seu corpo não sofreu nada, foi amortecido pelo airbag. Apenas a cabeça sacolejou PERIGOSAS ACHERON

PERIGOSAS NACIONAIS lateralmente durante o acidente, quebrando o vidro da porta do motorista e causando arranhões superficiais no corpo e aquele sangramento na cabeça. Quando se internou aqui, cuidamos do primordial, que foi seu cérebro. O resto do corpo recebeu atenção, mas os exames superficiais alegaram normalidade e o exame sanguíneo não mostrou nenhuma alteração hormonal. — Mas... Então, o que pode ser? Será devido à perda da memória? — Pode ser, mas isso te causaria apenas algumas tonturas vagas, e nessa altura do campeonato, não mais. — Doutor Jay pigarreou e sentado comigo à mesa em seu consultório, olhoume nos olhos. — Me desculpe pela indiscrição, mas você teve relações sexuais após o acidente? Eu, no fundo da minha mente, suspeitava de que talvez pudesse ser aquilo. Mas não... Não poderia ser. — Sim, mas... Eu sempre tomei anticoncepcional injetável. Era para aguardar minhas regras virem e tomar a próxima dose — afirmei. PERIGOSAS ACHERON

PERIGOSAS NACIONAIS — E elas vieram? — Ele perguntou, cauteloso. — Hum... Não. O doutor se levantou de sua mesa e foi até um armário na lateral do consultório. Pegou um teste de gravidez e entregou a mim. — Faça e depois volte aqui. Congelei, com aquilo na mão. — Mas... Não pode ser, eu... Meu marido morreu, não posso estar grávida. Não posso. — Minha voz começou a embargar. Pensei em Antônio e em como ele ficaria decepcionado se eu estivesse esperando um filho de Henri. O médico sorriu solícito e afagou meus ombros. — Se acalme, vamos tirar essa dúvida hoje. Vá ao banheiro, faça o teste e depois vemos o que podemos fazer por ti. Assenti e sai da sala. Meus pensamentos estavam embaralhados, minha visão turva com lágrimas ameaçando sair e o coração em frangalhos. Não era possível que logo PERIGOSAS ACHERON

PERIGOSAS NACIONAIS quando tudo começava a caminhar, algo fosse acontecer. Eu amaria meu filho caso estivesse grávida, mas não poderia obrigar Antônio a aceitar uma criança que não era dele. Fui ao banheiro, fiz o teste e esperei as benditas barrinhas vermelhas. Positivo. Respirei fundo e retornei lentamente à sala do Doutor Jay. — E então? — Ele perguntou assim que me viu entrar. — Positivo — respondi com a voz fraca. — Sente-se. Se acalme. Me sentei e fiquei encarando aquela barrinha contendo a resposta da minha vida a partir daquele dia. Não podia acreditar que aquilo estava acontecendo. — Me disse que tomava anticoncepcional injetável, não? — O doutor indagou. Afirmei com a cabeça. — Mas isso é o que se lembra. Na verdade, não sabe se parou de tomar. PERIGOSAS ACHERON

PERIGOSAS NACIONAIS E era verdade, eu sabia que fiquei dois meses separada de Henri antes de conhecer Antônio. Eu poderia ter parado de tomar o medicamento, cortando o efeito. Ou talvez já não o tomava há mais tempo. Pena que não me lembrava. — Pode ser. — Vamos fazer uma ultrassonografia agora. Temos vaga disponível para daqui a 20 minutos. Aqui está o pedido. Após o exame, pode ir direto nessa doutora aqui. — Anotou o nome da Ginecologista e Obstetra no papel. — Ela vai te dar o melhor atendimento. Não contive o sorriso pela generosidade do doutor. Ele estava sendo muito solícito e isso me acalmava de alguma forma. — Obrigada. — Peguei o pedido e fui.

— Hum... Temos um bebezinho muito lindo aqui — revelou a mulher que fazia a ultrassonografia intravaginal. PERIGOSAS ACHERON

PERIGOSAS NACIONAIS Encarei a tela, vendo aquela manchinha branca tão perfeita. — É? Ele está bem? Está saudável? — perguntei preocupada, queria que tudo ficasse bem com meu bebê, independente de quem fosse o pai. — Sim, é saudável. Vamos ouvir o coraçãozinho. — Ela ligou o som do aparelho e em instantes, uma batida rítmica, rápida e frenética ecoou pelo ambiente. Lágrimas escorreram pelos meus olhos ao ter a prova auditiva do ser que carregava em meu ventre. — Meu Deus... Vou ser mãe de novo — falei com a voz embargada. — Sim. Quer saber a idade gestacional? — Sim, por favor. Ela começou a anotar alguns dados pertinentes ao bebê no computador e então se virou para mim. — Oito semanas. Com margem de duas semanas para menos ou para mais. Pelo que sei, parece mesmo um bebê de 8 semanas gestacionais. PERIGOSAS ACHERON

PERIGOSAS NACIONAIS 2 meses. Imediatamente meu cérebro fez as contas. Batia exatamente com o dia do acidente. Não era possível. Não tinha como ter sido nesse dia, se sofri um acidente, era para não estar grávida. Ou era? Ainda um pouco chocada com o exame em mãos, após aguardar o resultado, liguei para a única pessoa que poderia me confortar: — Oi! — disse ao ouvir a voz dele do outro lado da linha. — Oi, meu amor, como foi no médico, está tudo bem? — Antônio perguntou parecendo preocupado. — Sim, não era nada demais. Apenas quis ouvir um pouco da sua voz. Estava sentada no salão principal do hospital, assimilando ainda a minha realidade. — Ah, tá... Já posso te buscar? Como se sente? — Um pouco enjoada e emotiva, mas logo passa. — Pausei e respirei. — Antônio, me diga PERIGOSAS ACHERON

PERIGOSAS NACIONAIS uma coisa. Nós fazíamos muito sexo sem proteção? Ele pareceu pensar um bocado antes de responder. — Como? Se fazíamos sem camisinha? Fizemos acredito que poucas vezes. Não dá pra saber exatamente, pois nós fizemos sexo muitas vezes, muitas mesmo. Mas uma vez você me disse que tomaria a pílula do dia seguinte. Por quê a pergunta? Ah, então eu não tomava nenhum medicamento. Concluí. — Por nada, só curiosidade. Daqui a pouco te ligo para me buscar. Beijo. — Beijo, anjo. Desliguei. Antônio insistira que todos os dias me buscaria em casa e me levaria do trabalho para lá no fim do expediente. Ele queria garantir minha segurança. Achava aquilo um tanto protetor demais, mas não reclamo. Ainda em busca de respostas, fui até o andar da maternidade e procurei pela doutora indicada PERIGOSAS ACHERON

PERIGOSAS NACIONAIS pelo doutor Jay. Ela estava de plantão naquele dia e me atendeu prontamente, após liberar duas gestantes. — Bom dia, querida. Sente-se. — Bianca era seu nome, uma jovem senhora de pele pálida e rosto fino, magra, com um olhar carinhoso e sorriso amigável. Me sentei e entreguei o exame para a médica. — Gostaria, antes de tudo, de explicar minha situação para a senhora — disse à doutora. Bianca assentiu. Contei tudo o que sabia, do relacionamento com Antônio antes do acidente, do acidente, da perda da memória, do ex-marido e da descoberta recente da gravidez. — Uau. Sua vida dá um livro! — Bianca exclamou, por fim. Tive de rir abertamente pela primeira vez no dia. Aquela médica fazia-me sentir bem. — Quero entender se há possibilidade desse filho ser do meu namorado de antes do acidente e não do meu esposo depois. Pois, se eu estou de 8 semanas, não tem como ser do meu ex-esposo, pois PERIGOSAS ACHERON

PERIGOSAS NACIONAIS só transei com ele três semanas após o acidente, se não me engano. Um frio se apossou de minha espinha, me fazendo sugar uma boa dose de ar aos pulmões, a fim de controlar meu nervosismo. Aquela resposta poderia mudar tudo.

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Capítulo 24

AMANDA A doutora avaliava cautelosamente os dados fornecidos por mim e pensava sobre isso. — Sim, há uma possibilidade. — A solução acendeu como uma lâmpada em sua mente, pela sua expressão. — Você pode ter sido copulada no dia do acidente ou no dia anterior. Não me lembrava. Queria poder afirmar quando foi, mas não podia. — Bom... Verei isso depois com calma, então. Só dessa possibilidade existir eu fico mais aliviada. — Sorri. O resto da consulta foi inteiramente sobre os PERIGOSAS ACHERON

PERIGOSAS NACIONAIS cuidados e os acompanhamentos que teria de fazer a partir daquele momento. Ao fim, a doutora receitou algumas vitaminas para que eu tomasse durante a gravidez e marcou uma próxima consulta, com uma nova ultrassonografia, para o mês seguinte. Assim que saí do consultório, enviei uma mensagem para Antônio, avisando que poderia me buscar. Queria contar para ele antes de todos. Estava com medo? Sim, muito, mas precisava ser verdadeira. Tinha um relacionamento com ele e relacionamentos só funcionam com a verdade.

TONY Estava na minha sala sem muito o que fazer devido o movimento tranquilo, quando a secretária do andar da diretoria solicitou entrada. — Senhor Gali, uma candidata à estagiária em Relações Internacionais está aguardando para entrevista. PERIGOSAS ACHERON

PERIGOSAS NACIONAIS Proferiu de pé numa pose profissional. — Ué? Não seria Nick a fazer essa entrevista? — indaguei surpreso. — Sim, mas ele entrevistou uma candidata anterior a essa e depois simplesmente saiu pra almoçar. A menina está esperando. Nick e seus desleixos. Estava a cada dia mais impaciente com a irresponsabilidade do meu amigo em algumas coisas. Custava entrevistar as duas candidatas e depois ir almoçar? — Ok, manda ela entrar que eu entrevisto. A secretária saiu e, em instantes, uma mulher baixinha, magra, com olhos grandes, de traços fortes e cabelos loiros ondulados entrou em sua sala, vestindo um terninho social. Ela estava com salto alto, mas mesmo assim, devia estar com no máximo 1,65 de altura. — Com licença, senhor Gali — disse ao se aproximar. — Fique à vontade. Como se chama? — gesticulei para que ela se sentasse e ela obedeceu. — Larissa. Larissa Mendes — disse ao se PERIGOSAS ACHERON

PERIGOSAS NACIONAIS sentar. Pedi o seu currículo e fiquei um tempo analisando-o. Larissa se saía bem em todas as perguntas e me deixava maravilhado com sua desenvoltura e perspicácia. — Tem experiência com contabilidade. Muito bom. Está com notas altas no curso? — perguntei durante a entrevista. — Sim, sou uma aluna muito dedicada. Na minha experiência anterior tenho ótimas referências, se quiser pode ligar para minha antiga gerente, que ela falará tudo sobre mim — Larissa dizia, aparentemente sorridente e confiante. Uma mulher bem confiante de si, pensei. — Bom, gostei de você. Por tudo que vi no currículo e tudo que me informou, está contratada. Só peço que tenha paciência com seu chefe, o responsável pelo setor de Relações Internacionais. Ele é um pouco difícil de lidar. Você tem jeito com as pessoas? — indaguei, atento. — Sim, nunca arrumei problema nos meus PERIGOSAS ACHERON

PERIGOSAS NACIONAIS trabalhos. Possuo uma personalidade forte, mas sei onde é meu lugar. Prometo contribuir muito com a empresa. Assenti e passou todas as informações pertinentes a salários, benefícios e carga horária para a nova estagiária de Nick. Logo informei a Larissa onde ficava o setor de Recursos Humanos e passei um ramal para a atendente de lá, informando que a nova estagiária estava indo para admissão. — Muito obrigada, Senhor Gali. — Larissa se levantou e estendeu a mão em menção a um aperto. Apertei sua mão pequena e sorri em resposta. Liberei sua nova funcionária e recebi em seguida a mensagem de Amanda. Sai correndo como um velocista e em minutos estava buscando o amor de minha vida, que me aguardava na porta do Hospital. Amanda entrou no carro e me deu um breve beijo antes de partirmos para a empresa. — E aí, amor? Como foi? — perguntei enquanto dirigia. PERIGOSAS ACHERON

PERIGOSAS NACIONAIS Amanda parecia nervosa. Tamborilava os dedos nas coxas. — Vamos comer algo primeiro, aí te conto. — ela sugeriu. Senti uma onda de preocupação me invadir, mas concordei e então dirigi até um restaurante para almoçarmos. Era um restaurante requintado, que já tinha visitado algumas vezes. Nos sentamos próximo da janela em uma mesa para dois, ela ficando de frente para mim. Enquanto saboreavam a comida, Amanda parecia pensativa demais. Apenas aguardei o que ela tinha para dizer. — É... Como foi de manhã na empresa? Fiz falta? — perguntou, jogando conversa fora. Estava começando a ficar desconfiado. Primeiro ela me liga mais cedo e pergunta algo sem pé nem cabeça, depois fica silenciosa e diz que contará algo, mas quando estamos finalmente em um bom momento, me pergunta trivialidades. Repousei os talheres no prato, limpei a boca com o guardanapo e sorri. PERIGOSAS ACHERON

PERIGOSAS NACIONAIS — Pra mim fez, mas se sua preocupação é com trabalho acumulado, fique tranquila. Hoje foi bem calmo — garanti. Um silêncio sepulcral se instaurou no ambiente e o nervosismo de Amanda se tornou mais evidente. — Hum... Antônio? Eu não tirei os olhos dos dela. — Oi? — O que faria se eu estivesse grávida? Assim... Apenas uma suposição. — Ela apoiou o cotovelo na mesa e encostou o queixo na mão, aguardando minha resposta. Grávida? Minha mente imediatamente se invadiu com a imagem de Amanda barriguda gerando um filho meu, então sorri. Era uma pergunta fácil. — Eu amaria ser pai — falei sorrindo. Amanda engoliu em seco. Por que parecia não gostar muito da ideia? Então ela abaixou os olhos e voltou a remexer na comida com o talher, PERIGOSAS ACHERON

PERIGOSAS NACIONAIS quando disse: — É que... Eu estou... — Parecia constrangida. A voz de Amanda dizendo que estava grávida ecoou em minha cabeça então a ficha caiu lentamente, deixando-me branco como um papel e boquiaberto. Seria possível? — G-g-grávida? — gaguejei. Ela assentiu. — Eu... Vou... Ser pai? Existe essa possibilidade? — perguntei, interessado. Eu queria mesmo saber. Afinal, sabia que tivemos relação algumas vezes sem preservativo, então havia uma pequena possibilidade. — Bom, a princípio não existia, mas então a obstetra me informou que, se o bebê foi “fabricado” no dia do acidente ou no dia anterior, pode ser que seja seu. A idade gestacional é de 8 semanas e bate exatamente com o dia do acidente. Podendo ter uma margem de erro de duas semanas pra mais ou pra menos, mas na ultrassonografia pareceu ser de PERIGOSAS ACHERON

PERIGOSAS NACIONAIS 8 semanas mesmo. — Amanda falava devagar, parecendo ter medo da minha reação. Só que ela se surpreendeu. Com certeza se surpreendeu. Porque não havia o que temer… Eu estava completamente maravilhado. — Ai, Deus! Amanda, jura que eu vou ser pai? — indaguei eufórico. — Deixa eu ver a ultra? Amanda riu levemente e pegou o papel do exame. Deu em minhas mãos e mostrou o pequeno embrião na foto. — Aqui... O bebê — indicou. Simplesmente segurei o pedaço de papel negro contendo a ultrassonografia com as mãos trêmulas inundadas de emoção ao saber que seria pai. Não apenas pai, mas pai de um filho da mulher que amo. — Não... Puta merda... — balancei a cabeça, desacreditado. — Amanda, isso não é alguma piada, né? Porque se for, você vai ser obrigada a ser torturada por mim vivendo apenas de sexo até engravidar de verdade — a alertei, temeroso. Amanda levantou as sobrancelhas em PERIGOSAS ACHERON

PERIGOSAS NACIONAIS desafio. — Acho que eu sobreviveria muito bem com esse tipo de tortura. — Sorriu. — Mas não, não é piada. Estou mesmo grávida. O mundo tinha parado de girar naquele instante. Senti meus olhos arderem. Eu ainda fitava a imagem do meu filho, em mãos. — Droga, tô sensível... Vou ser pai mesmo... Vou ser pai — dizia para mim mesmo em voz contida. — Amor, tem noção do que é isso? Não... Você não deve ter. Levantei os olhos para Amanda, que parecia apreciar o momento. Estava feliz demais, aquilo era… Um presente da vida. Uau… Não me contive e levantei, estava nervoso andando de um lado para o outro, passando a mão pelos cabelos soltos, próximo à mesa onde estava sentado com Amanda, que assistia a tudo calada. Um garçom, vendo o movimento, aproximou-se cautelosamente, solícito. — Senhor Gali, algum problema? Eu não respondi, estava ainda um pouco em PERIGOSAS ACHERON

PERIGOSAS NACIONAIS transe. Aquela novidade mudou totalmente minha vida. — Ele está bem, não é nada. Pode se despreocupar — Amanda afirmou ao garçom. Ele assentiu e se retirou. — Antônio? — Ela levantou-se e parou de frente a mim. A encarei, com os olhos arregalados pelo espanto da notícia e, depois de alguns segundos, despenquei nos braços dela, abraçando-a fortemente. Como a amava! Como amava esse bebezinho! Meu Deus… Eu seria mesmo pai de uma criança. Logo pude sentir algumas lágrimas escorrerem por meu rosto, acompanhadas de um soluço involuntário que escapou da minha garganta. — Não acredito... Isso não pode estar acontecendo comigo. Eu não mereço... Eu sou um filho da mãe, o que eu vou ensinar pro meu filho? Olha pra mim, chorando como um bebê! — dizia com o rosto afundado no pescoço de Amanda. Seríamos uma família. PERIGOSAS ACHERON

PERIGOSAS NACIONAIS Ela, eu, Clarinha e nosso bebê.

AMANDA Fiquei absurdamente surpresa com a reação de Antônio à notícia da gravidez. Ele sequer cogitou a dúvida da paternidade e aquilo me deu muito mais ar para respirar. Meu medo era que ele temesse não ser o pai. Na verdade, eu ainda temia, mas saber que ele agiu como um homem disposto a arcar com as consequências comigo, me fez gostar ainda mais dele. Eu ainda o acarinhava e passava suas mãos pelas costas dele, tentando acalmá-lo. De todas as possibilidades, aquela nunca havia passado pela minha mente. Vê-lo chorando de emoção, não contendo as palavras embaralhadas que saíam desenfreadamente na hora do nervosismo. — Calma, vai dar tudo certo. Estamos juntos nessa — o consolei. Senti ele aproximar o rosto do meu ouvido. PERIGOSAS ACHERON

PERIGOSAS NACIONAIS — E agora? Como eu vou sair desse lugar com a cara vermelha de choro? Vão me achar uma barbie chorona. Não contive o riso, uma risada alegre e aberta, e me afastei dele para olhar seu rosto. Ele cruzou os braços e abaixou a face, deixando os cabelos cobrirem provavelmente com vergonha da cena e demonstração desse lado tão frágil dele. Parecia um menino birrento. Me aproximei e levei a mão até o cabelo dele, prendendo-o detrás da orelha e levantando o seu rosto pelo queixo lentamente, fazendo com que o mar azul de Antônio encontrasse com o meu olhar acastanhado. — Você está ainda mais lindo, mais homem e mais maravilhoso com essa cara vermelha cheia de lágrimas. — Meu peito se aqueceu de forma profunda ao vê-lo assim. Ele arriscou um sorriso de canto e me puxou para mais perto. Segurou meu rosto e me encarou com profundidade. — Estamos juntos nessa, é o que diz? Quero PERIGOSAS ACHERON

PERIGOSAS NACIONAIS que case comigo. Nosso filho ou filha terá os pais juntos pra sempre. Ao ouvir esse pedido que mais parecia uma ordem, estremeci. Não estava pronta para esse passo. Casamento é algo muito sério, acabara de sair de um pela segunda vez e não queria, nem se o amasse, entrar em outro agora. — Antônio, vamos voltar para a empresa e conversamos melhor. Não quis parecer fria, mas percebi o olhar dele perder um pouco do brilho. Também notei que ele tentou disfarçar sua decepção pelo que acabara de dizer a mim. Então apenas assentiu, pagou a conta e juntos fomos embora para a empresa.

— Mas que merda, hein? Tô esperando você há séculos, Barbie. — Nick disse ao nos ver chegar na sala de Antônio, onde o esperava. — O que faz aqui, Nick? — ele perguntou, enquanto caminhava e sentava em sua cadeira. Me sentei em um sofá próximo à mesa de PERIGOSAS ACHERON

PERIGOSAS NACIONAIS Antônio e fiquei assistindo aos amigos. — Você fez a merda de contratar uma estagiária quando eu já tinha acabado de contratar outra! — falou impaciente, ainda de pé, encarando o amigo apoiado em sua mesa. Notei Antônio refletir um pouco antes de responder. — Era para ao menos ter avisado, a menina ficou te aguardando para a entrevista sem saber de nada — explicou à Nick. — E agora? — replicou. Nosso chefe respirou fundo, uniu as duas mãos as entrelaçando e levando-as ao queixo de forma pensativa, enquanto apoiava os cotovelos no braço da cadeira giratória. — Não sei. Verifica se ela tem alguma outra experiência no currículo e transfere ela de setor. Não precisa cancelar a contratação dela, eu a achei muito competente. Nick bufou. — Competente é a que eu contratei — ele simulou uma silhueta feminina no ar. — Se é que PERIGOSAS ACHERON

PERIGOSAS NACIONAIS me entende. A feição de Antônio ficou imediatamente brava. Socou a mesa, como se estivesse martelando. — Não acredito, Nick! Contratou a estagiária pela beleza? Tu não presta mesmo... Estou quase te demitindo! Nick levantou as mãos no ar. — Não, chefe! Desculpe — ele começou a se explicar. — Também é linda, mas muito competente na área profissional. Juro. Eu apenas via a cena e continha as risadas para mim. Nick era incorrigível, estava para nascer alguém que o colocasse nos trilhos. — Vai logo, Nick, resolva isso e depois me passa. — Antônio encerrou o assunto. Ele assentiu e saiu da sala, mas antes se despediu de mim, que o respondi com um sorriso. Assim que ele se foi, me levantei do sofá e caminhei até aquele homem lindo por quem estava começando a nutrir sentimentos fortes, ficando de pé atrás dele, quando o tal estava sentado em sua PERIGOSAS ACHERON

PERIGOSAS NACIONAIS cadeira, tenso. — Calma, Nick vai resolver isso. — Massageei seus ombros em tentativa de relaxar sua tensão. Antônio jogou a cabeça para trás e fechou os olhos, recebendo a massagem que eu fazia delicadamente. — Não sei o que seria de mim sem você — disse ele. Sorri, continuando minha missão. — Digo o mesmo. Você tem sido meu salvavidas — afirmei entre as massageadas que dava em meu chefe. — Ah... Isso é bom. — Ele soltava o ar e gemia com a carícia. — Vem cá, amor. — Abriu os olhos e me puxou para sentar em seu colo. Me sentei de lado e aconcheguei meu rosto no peito dele, que começou a acariciar meus cabelos e braços. — Quando eu não achava que podia ser mais feliz, você me presenteou com mais um motivo de felicidade. Obrigado — disse num sussurro rouco PERIGOSAS ACHERON

PERIGOSAS NACIONAIS que me fez arrepiar. — Eu não sei o que dizer — respondi, também sussurrando. — Shiiiiu — ele me cortou. — Não diga. Não precisa. Apenas fique em meus braços e nunca mais vá embora. Naquele instante senti em meu íntimo, lá no fundo do meu coração, que não conseguiria viver longe dele outra vez. Ele era meu lar.

Era uma noite de julho de 2015, quando cometi a loucura de, pela primeira vez, dormir na casa de Antônio e deixar minha filha na casa de Pedro, aos cuidados da babá. Nós passamos uma noite magnífica de intimidade e conversas pessoais, onde ele contou novamente sobre seus pais, revelando seu passado e tudo o mais que, segundo ele, eu não recordava. Revelou também que não hesitou em ficar quando seu pai pediu que ele fosse PERIGOSAS ACHERON

PERIGOSAS NACIONAIS para Recife, pois eu o havia pedido para permanecer aqui. Dentre as conversas que aconteceram, ele perguntou: — Amor, você nunca me falou de seus pais, sabia? Para mim era difícil mencioná-los. Provavelmente não estava pronta para falar sobre isso, mas ali com Antônio decidi me abrir. Não éramos apenas um casal novamente, agora teríamos um filho juntos. — Meus pais se divorciaram quando eu tinha 18 anos. Foi uma briga feia pelo dinheiro da casa onde morávamos. Eles venderam a casa, dividiram o dinheiro e foram cada um para um canto. Minha mãe foi curtir a vida e meu pai levou sua namorada de 20 anos na época, para morar com ele longe de nós. Antônio me abraçava debaixo da coberta, tentando passar conforto e compreensão pelo que eu revelava. — O que houve com você, então? Onde foi PERIGOSAS ACHERON

PERIGOSAS NACIONAIS morar? — perguntou calmo e deu um beijo em minha cabeça. Eu estava recostada em seu peito nu. Cutucar feridas do passado não era muito bom, mas levei uma boa dose de ar aos pulmões antes de falar. — Pedro. Às vezes penso que Pedro amadureceu muito rápido. Ele estava juntando dinheiro desde sei lá quando. Eu nunca perguntei o porquê dele juntar tanto dinheiro, mas assim que nossos pais se separaram, ele me contou que tinha um bom dinheiro guardado e que poderíamos morar de aluguel, deixando a casa paga por um ano inteiro — pausei. — Foi o que fizemos, a princípio. Eu arrumei um emprego de secretária em uma boa empresa e Pedro continuou a faculdade pública de administração, enquanto nas horas vagas estagiava e trabalhava em dois lugares diferentes. Não me pergunte como ele sobreviveu, mas nunca me faltou nada. Ele revelou que Pedro sempre se comportou como um irmão protetor, até antes de me conhecer. Realmente nunca teria irmão melhor que ele. — Pedro é meu ídolo a partir de hoje. Me PERIGOSAS ACHERON

PERIGOSAS NACIONAIS lembra de quando visitá-lo, beijar aquele pé chulezento dele — brincou e eu ri. — Eu queria ter tido a garra dele, sabe? Mas logo conheci Henri e... Bom... O resto você já sabe — concluí. — Sim. Nunca mais entrou em contato com seus pais? — Apenas quando casei. Liguei pra eles avisando do casamento. Meu pai me desejou felicidades pelo telefone e minha mãe simplesmente disse “ah, que bom”. Não sei exatamente em qual momento eles deixaram de se importar comigo e com Pedro, mas eu não sentia o amor deles há muito tempo antes da separação. Realmente tudo que eu sou devo ao meu irmão. Por isso nunca reclamo quando ele me pede algo ou quando precisa de mim. Não hesito em ajudá-lo. Morei com ele mais jovem, morei com ele recentemente, antes de te conhecer, moro de novo com ele agora. Meu irmão nunca me diz não e eu fico só pensando quando será o momento dele parar de querer salvar a pátria e pensar em sua própria felicidade. PERIGOSAS ACHERON

PERIGOSAS NACIONAIS Antônio ficou pensativo. Pareceu pensar em inúmeras coisas antes de falar. — Realmente, Pedro é o líder. De nós quatro, eu, Nick, Lucas e ele, quando Pedro ordena, todos fazem. Há algo nele que nos faz obedecê-lo. Deve ser essa coisa paterna que ele tem desde sempre com você — afirmou sério. — Deve ser. Ele já tem 30 anos quase e ainda não se apaixonou, nem encontrou alguém legal pra dividir a vida. Não que eu ache que ele precise disso pra ser feliz, mas eu sempre imaginei Pedro como aqueles paizões de família, sabe? Com a casa cheia de filho pra cima e pra baixo. Dando bronca, botando moral ou até mesmo imitando zumbi, como faz sempre com Clara. Ele seria um bom esposo e pai. Tenho certeza. — Bom saber, porque eu não sei nada dessa coisa de ser pai. Vou pedir uns conselhos pro Pedroca. Enquanto isso... Deixa eu dar um beijinho nesse forninho quente que tá com o bebê mais lindo da face da Terra — falou abaixando o corpo até alcançar meu ventre. Ao chegar lá, depositou muitos beijinhos e PERIGOSAS ACHERON

PERIGOSAS NACIONAIS carinhos que me fizeram rir e admirar. Céus, eu estava a cada dia mais envolvida por ele. Seu cuidado e o modo como me tratou desde sempre que me lembro, só mostrava veracidade em tudo que dizia. — Vou te contar um segredo, bebê. A mamãe é muito gostosa e infelizmente não será só sua. Eu vou deixar você ter o corpo dela por um tempo, mas é emprestado, por que esse corpinho é só meu, tá bom? — falou dirigindo-se ao bebê. — Meu Deus... Já sei que vai ter ciúme da criança — afirmei, sorrindo. Ele levantou o rosto para ela, fazendo cara de sonso. — Ciúme, eu? Não sei nem o que isso significa, né, bebê? — Voltou ao bebê. — Viu? Eu sabia que ia concordar com papai. Só balancei a cabeça achando engraçado toda aquela euforia dele com a criança. Um dia conversamos sobre questão da paternidade, mas Antônio foi taxativo quando falou: “eu te amo, te dou prazer e te quero. Eu sou o pai e ponto”. PERIGOSAS ACHERON

PERIGOSAS NACIONAIS Depois daquilo não discuti mais e aceitei de bom grado, afinal, ele queria assumir o filho como dele, mesmo com as pequenas dúvidas que ainda circundavam a minha mente. — Vem cá. — Agarrei seus cabelos, levantando-os até minha altura. — Ai... O cabelo não, princesa. O cabelo é sagrado! — disse ao sentir o puxão. — Quero beijo — disse olhando em seus olhos. Ele estava com o corpo sobre o meu, sem forçar o peso, enquanto eu falava. — Apenas beijo? — Então ele roçou sua masculinidade em minhas coxas. — Tô afim de te dar isso aqui. Quer? — E devorou minha boca naquele instante. Nossa língua começou uma dança lenta e sedutora com sabor de desejo, que fez com que eu ansiasse por mais dele imediatamente. — Quero — confirmei após o beijo. — Você que manda. — Então ele se posicionou e começou a estocar sensualmente, PERIGOSAS ACHERON

PERIGOSAS NACIONAIS enquanto intercalava as reboladas. — Vem... Me faça sua... O sexo entre nós era sempre daquela forma, surreal. Magnífico, novo. Nunca parecia velho ou monótono. Amávamos dar prazer um ao outro e conseguíamos nos conectar ainda mais nesses momentos. Após nós dois tomarmos um banho, vimos que já era tarde da noite e decidimos deitar e dormir. — Amor... Eu esqueci que semana que vem tem o aniversário da avó do Nick — lembrou ao verificar o calendário no celular antes de se deitar novamente. — Tudo bem. Todos vão? — Sim, você vai conhecer o Lucas pela segunda vez. Não se assuste — brincou. — Tudo bem. — Sorri. — Você estará lá, então não tenho nada a temer. Depois disso, nos aconchegamos e ficamos nos acariciando até o sono bater. No dia seguinte, um sábado, nós dois PERIGOSAS ACHERON

PERIGOSAS NACIONAIS acordamos cedo, pois decidimos juntos sair com Clara para o shopping. Lá tinha um parque de diversões bem completo, o que poderia animá-la. — Eu amo muito a Clarinha. O que acha que ela vai dizer sobre a ideia do irmãozinho ou irmã? — Antônio perguntou, enquanto subíamos o elevador do prédio de Pedro a fim de aprontá-la para o passeio. — Sei que a ama, dá pra ver. Acho melhor esperarmos um pouco. Não sei como ela reagiria — respondi. Ele assentiu e então chegamos ao andar. Eu já tinha a chave de casa, então não precisei bater nem tocar a campainha. Ao entrar, percebi o silêncio. Pedi a Antônio, em um sussurro, que aguardasse sentado no sofá da sala, enquanto ia verificar se Clara estava acordada no quarto. Ao chegar no aposento, vi que minha filha ainda dormia, mas a babá, que devia estar ao lado dela, não se encontrava. Será que ela tinha ido embora cedo?, pensei. Decidi ir ao quarto do meu irmão, para avisar PERIGOSAS ACHERON

PERIGOSAS NACIONAIS que já tinha chegado e sairia com Clara e Antônio. Mas, ao abrir a porta, surpreendi Pedro totalmente pelado, com os lençóis bagunçados pela cama e, ao lado dele, Kate, a babá, também nua. Não acredito! — pensei com raiva. — Com a babá, Pedro? Sério? — dei um grito, fazendo com que os dois saltassem da cama e despertassem. — Ai, merda. Não foi como você pensou, Mandi... Eu estava só... — Cala a boca! — o cortei. — Você! — apontei para a babá. — Está demitida, nunca mais te contrato. — Me desculpe, senhora, eu... — Ela tentou argumentar. — Demitida! E se algo acontecesse com minha filha durante a madrugada? Se ela acordasse antes de todos e não visse ninguém? Pior... Se ela vem ao quarto do Pedro e é presenteada com a mesma visão que eu? VOCÊS SÃO LOUCOS?! — esbravejei. Eu estava muito, muito estressada ao ver PERIGOSAS ACHERON

PERIGOSAS NACIONAIS aquilo. A babá, muito constrangida, levantou-se e catou suas roupas. Já estava andando em direção à porta do quarto, onde eu estava, quando foi contida. — Ei! Vai sair assim? Coloca a roupa que meu homem está na sala. Não quero ele vendo essa pouca vergonha! — Apontei o indicador para o corpo nu dela. Ela assentiu e começou a se vestir ali. Pedro assistia a tudo sentado, quieto, na cama. Devidamente vestida, Kate saiu do quarto, pegou seus pertences e foi embora sem dizer mais nada. A vergonha que ela sentia, provavelmente falou mais alto. Eu ainda estava de frente à cama de Pedro, com os braços cruzados o fitando séria, quando Antônio entrou no quarto. — Hahaha! Espertinho! Quando a gente não acha que pode se surpreender com seus recordes, você bate mais um! Comer a babá, Pedro? A menina tem o quê? 18 anos? — Ele riu, zombando do amigo. — Acho que 19, mas são todas iguais. — PERIGOSAS ACHERON

PERIGOSAS NACIONAIS Deu de ombros. — Meu Deus... — sussurrei e balancei a cabeça em negação. Por que homens são assim? — Mandi, não vou tentar me defender, sei que foi errado e que Clarinha devia ter sido vigiada. Mas você reparou a roupa daquela garota? Quem vai trabalhar de babá vestida daquele jeito? Juro que tentei respeitar e tudo mais, o direito é dela, mas aí do nada ela começou a dar bandeira, fazia umas caras sexys e me atentava... Apenas dei o que ela queria. Juro que eu fiz ela me dizer claramente o que queria e ouvi com todas as letras, "quero que você me fo...” — Eca, Pedro — o cortei. — Não me dê detalhes! Você é meu irmão! Pedro riu da minha reação e se levantou. Vestiu a cueca, uma bermuda e passou por mim e Antônio em direção à cozinha. — E vocês, aproveitaram muito? Pouco? Intermediário? — perguntou ele da cozinha, enquanto abria a geladeira. PERIGOSAS ACHERON

PERIGOSAS NACIONAIS Antônio e eu voltamos para a sala e nos entreolhamos. Sorrimos cúmplices e assentimos. Era hora de Pedro saber da gravidez, finalmente. — Maninho lindo. Pedro parou imediatamente o que estava fazendo — o seu sanduíche — e olhou semicerrando os olhos em direção a mim, pela parede aberta da cozinha americana. — Maninho lindo? Que bicho te mordeu? Antônio reprimiu uma risada e se sentou no sofá, quieto. — Nada. Bom... Temos uma notícia. Foi quando Pedro ficou estático feito gesso, ao retornar para a sala no exato momento em que pronunciei as palavras “tio” e “grávida”. — Pedro? Entendeu o que eu disse? — perguntei um tempo depois. O olhar dele estava longe. Reflexivo — Putz, era pra ser... Eu vou ser tio de novo — falou enfim. — Tio de um filho meu. Finalmente vamos ser família, mano! — Antônio se levantou do sofá e PERIGOSAS ACHERON

PERIGOSAS NACIONAIS foi abraçar o cunhado. Pedro, ainda um pouco aturdido com a notícia, recebeu o abraço e depois encarou o amigo, segurando em seus braços. — Tu sabe o que minha irmã passou esses anos todos, não sabe, pela saco? — Firmou a voz e indagou a ele, que ficou sério, porém assentiu. — Se eu souber que minha irmã derramou uma mínima lágrima, do tamanho de um espermatozoide sequer, ou que você a magoou ou que não está sendo um bom pai... Juro que, além de acabar com a nossa amizade, você vai ter uma séria conversa com meus punhos. Tá ouvindo, maldito?! Ai, meu Deus. Rolei os olhos para aquela cena ridícula de irmão mais velho. Antônio assentiu. — Pedro, para de palhaçada. Você sabe mais do que ninguém o quanto ele me ama e quer me proteger — entrei no meio deles. — Sei... Mas tá avisado. — O largou e virouse para mim. — E você se cuida. Quero meu sobrinho ou sobrinha muito saudável e forte. — PERIGOSAS ACHERON

PERIGOSAS NACIONAIS Finalmente desfez a carranca e sorriu, dando um abraço em mim. — Parabéns, Mandi. — Obrigada, maninho. Eu te amo muito. Um dia, quem sabe, não será você tendo filhos? Ele logo afastou o abraço e enrijeceu. — Acho que não. — E voltou para a cozinha a fim de finalizar o sanduíche. Não entendia ainda o motivo dele fugir quando falávamos de um futuro com esposa e filhos. Eu, hein. Encarei o pai do meu bebê, sem entender muito e demos de ombros, conformados. Logo fomos acordar Clara e em alguns minutos já tínhamos nos aprontado, lanchado e saído para o passeio. — Tio Tony, você é namorado da mamãe de novo? — ela perguntou no carro, durante o trajeto. Ah, minha pequena… Só você mesmo! Antônio sorriu. — Sim, e dessa vez é pra sempre — falou. Também sorri e afaguei a mão, a que não estava no volante, do meu namorado em um gesto PERIGOSAS ACHERON

PERIGOSAS NACIONAIS de gratidão e conforto. Clarinha ficou feliz e logo começou a tagarelar sobre princesas, Sininho, Frozen e outros clássicos da Disney. O passeio daquele dia foi incrível. Primeiro, fomos ao parque dentro do shopping. Brincamos de bate-bate, simulador 6D, carrossel, jogos de corrida e muitos outros que Clarinha fazia questão de brincar. Após algumas horas nós almoçamos e depois fomos ao cinema ver um desenho que estava em cartaz. Clara quis falar durante todo o filme e Antônio conseguiu convencê-la a ficar quieta com a pipoca. Deu certo e nós três conseguimos assistir ao filme em silêncio. Após o cinema, Antônio quis fazer algumas compras para mim, o bebê e Clara. Mesmo não sabendo o sexo, ele queria comprar algo. Já não me sentia tão constrangida com suas atitudes espontâneas e o segui onde quis. Enquanto andávamos pela loja de bebês e crianças, ele puxou conversa. — Amor, o que sua intuição diz sobre o sexo? PERIGOSAS ACHERON

PERIGOSAS NACIONAIS Eu, que estava vendo uma sessão de bodys divertidos, parei e fiquei pensativa antes de responder. — Acho que amaria se fosse menino ou menina. Tanto faz. Por quê? — É que... Eu sempre tive um sonho reprimido depois que minha mãe faleceu, de... Se um dia eu tiver uma filha mulher, colocar o nome dela — falou um pouco receoso. Olhei para seu rosto tão límpido e transparente, e só pude sorrir. — Por mim tudo bem. Letícia é um lindo nome — o confortei, sabia que doía o peito do meu namorado ao falar de sua mãe. Na noite anterior, já tínhamos falado sobre todas as dores passadas. O beijei. — Obrigado — disse ele olhando em meus olhos e então continuamos o passeio pela loja. Por fim, ele comprou dois bodys. Um branco, escrito "Cópia reduzida e autenticada de papai e mamãe", e outro com os dizeres "Não perturbe. Jogando videogame com o papai". PERIGOSAS ACHERON

PERIGOSAS NACIONAIS — Meu Deus... Você é uma figura. — Ri, enquanto lia os dizeres dos bodys. — Só li verdades. — Antônio deu de ombros e riu. Virou-se para minha filha. — Vamos, Clarinha? Clarinha estava no setor para crianças maiores. Ela escolheu algumas roupas e ele fez questão de comprá-las. — Vamos, tio. — Ela deu as mãos a nós, mas não perguntou nada sobre as roupas de bebê. Ela estava muito entretida, escolhendo suas próprias roupas, para imaginar qualquer hipótese, suponho. Fomos lanchar no fim da tarde e, ao nos deliciar com o lanche, Antônio olhou um pouco adiante e pareceu assustado. —Aquele não é Pedro? — Chamou minha atenção. —Onde? — Olhei na direção apontada e também fiquei surpresa. — Quem será aquela mulher? — É... A Valentina — respondi um pouco em PERIGOSAS ACHERON

PERIGOSAS NACIONAIS choque. — A psicoterapeuta da Laira. Mas o que será que ela quer com Pedro? Será que estava querendo falar comigo? Não fazia sentido algum. — Não sei. Vamos observar, eles parecem discutir algo. Pedro e Valentina não pareciam estar em uma conversa amigável e, do nada, ele se virou, dando as costas para ela, saindo a passos largos pelo shopping. Val bateu as mãos nas coxas e foi atrás dele. Ao alcançá-lo, puxou seu braço, mas Pedro se soltou, falou algo para ela e se foi, deixando-a estática no fim da praça de alimentação, sozinha com as mãos na cabeça, em sinal de preocupação. — Depois vou falar com ele — comentou e Antônio concordou. Tinha caroço naquele angu. Ao finalizarmos o passeio, Antônio nos levou para sua casa a fim de passarmos a noite lá, com ele. Clarinha entrou animada e saiu correndo até a TV. PERIGOSAS ACHERON

PERIGOSAS NACIONAIS — Vamos ver Sininho? — perguntou dando pulinhos. Me aproximei, depositei minha bolsa pelo sofá e abaixei na sua altura. — Filha, mais uma vez? Você já vai fazer cinco anos em breve. — Por favooooor? — suplicou unindo as mãozinhas. Então aquele dia acabou com nós três unidos como uma família assistindo desenhos, devorando pipoca e rindo à toa.

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Capítulo 25

AMANDA O dia do aniversário da avó de Nick chegou e, com este dia, muitas surpresas e descobertas. Antônio, Clara e eu fomos juntos no carro dele para a fazenda onde seria realizada a comemoração. A fazenda ficava em uma cidade vizinha, a algumas horas de distância de Belo Horizonte e era estonteante em seus hectares. Nick e Pedro foram juntos, enquanto Lucas alugou um helicóptero para ir com sua namorada da vez, pelo que meu namorado informou. A avó de Nick aguardava na soleira da porta enorme do casarão, até que viu os nossos carros se PERIGOSAS ACHERON

PERIGOSAS NACIONAIS aproximarem. Antônio foi o primeiro a saltar porta afora e correr para o outro lado. Abriu a porta para mim e me retirou, pegando-me no colo. Ele andava protetor em excesso. — Não precisa! Consigo descer! — reclamei. — Precisa sim, tem que tomar cuidado com nosso bebê. Você pode cair dessa altura toda. — Colocou-me no chão e abriu a porta de trás para retirar Clara. — Tio, que lugar lindo! — ela exclamou, espantada com o belo sítio decorado. A casa era enorme, muito semelhante às usadas em novelas de época, e a área externa estava toda decorada com bandeirinhas penduradas no alto, ligadas de árvore em árvore. A decoração era caipira. Ainda era meio-dia, porém a festa mesmo seria à noite. — Vó Euzira! — Antônio recebeu o abraço da senhora, que foi imediatamente até onde estávamos. PERIGOSAS ACHERON

PERIGOSAS NACIONAIS — Meu neto gigante! A cada ano mais gostoso, as mulheres que se cuidem! E esse cabelo? Quando vai cortar? Já falei que na minha época homem que se prezava andava de cabeça raspada ou batidinho com gel. Esse cabelo todo é muito afeminado pro meu gosto — ela dizia ao afastar-se do abraço. Reprimi uma risada e Clara também. — Ela diz isso todos os anos — ele virou-se na minha direção e comentou, logo retornando sua atenção à avó de todos. — E não fale assim comigo, agora sou homem de uma mulher só. Te apresento minha namorada e sua filha. — Fez as devidas apresentações. Ela me olhou com carinho e me deu um abraço apertado. — Você foi a feiticeira então? — Euzira, após me cumprimentar, questionou. Feiticeira? — Como assim? — Estava achando engraçado o jeito dela. Espontânea e desbocada como o neto. PERIGOSAS ACHERON

PERIGOSAS NACIONAIS — Nick me disse uma vez que uma mulher lançou um feitiço para Tony, que fez ele se aposentar — falou descaradamente. — Nick nos contou tudo sobre você! — riu. Todos riram das palavras dela enquanto eu só abanava a cabeça sorridente com aquele clima acolhedor. Entramos enfim. Pedro e Nick chegaram logo atrás, mas estacionaram um pouco mais distantes. Antônio chegou a comentar sobre um chalé onde moravam as filhas recatadas dos funcionários da fazenda. Parece que Nick adorava revê-las. Quando eles enfim chegaram no interior da casa, todos nós já estávamos numa conversa aberta, sentados à mesa, já almoçando. — Já roubaram meus avós de vez, né? — Nick comentou. — Para de graça, netinho lindo. Como vai meu Dominic? — Euzira perguntou com uma voz melodiosa. Ele andou ao lado de Pedro até nós. — É, Dominic. Você que nos abandonou, PERIGOSAS ACHERON

PERIGOSAS NACIONAIS nunca mais deu notícias. Já se aposentou como Tony também? — Frederico, seu avô, complementou. — Quantas vezes eu tenho que falar que me chamo Nick? Dominic foi uma forma do capeta me infernizar. Soprou o maldito nome no ouvido do meu pai e ele registrou, mas é Nick, caramba! — esbravejou ao se sentar. — Boa tarde, gente, desculpe a falta de educação. Vó, vô — Pedro cumprimentou os avós de consideração e se sentou. Ele me contou apenas uma vez sobre os avós de Nick. E foi depois de eu conhecer seus amigos. — Você deve ensinar bons modos ao seu amigo, Pedro Luca — Frederico sugeriu entre as garfadas. — Dominic anda muito nervoso, tenho percebido apenas por esses últimos minutos aqui. Antônio deu uma gargalhada contida, ao meu lado e todos focaram nele. — O que houve, Tony? — Euzira perguntou. Ele acabou de mastigar, limpou a boca e apontou o garfo na direção de Nick. PERIGOSAS ACHERON

PERIGOSAS NACIONAIS — Nick tá estressado mesmo. Contratamos uma estagiária... — Ah, não! Não vai começar a falar da maldita! — Nick interrompeu. — Ah, fala, quero saber tudo! — A avó deu risada e pediu. Eu ainda não conhecia a bendita estagiária, mas para tirar Nick do sério, merecia meus parabéns. — Bom... — meu namorado prosseguiu, mesmo vendo o amigo ficar com a cara mais emburrada da face da Terra. — Contratei uma estagiária no mesmo dia em que Nick já tinha contratado outra, daí falei pra ele transferir a menina que eu contratei pra outro setor. Então ele foi conversar com a menina e descobriu que ela é uma versão dele, só que de saia. Daí tá assim, implicando com a coitada. Todos riram, mas Nick permanecia emburrado. — Ah, filho, isso é tesão reprimido. Essa menina deve ser muito atraente — seu avô PERIGOSAS ACHERON

PERIGOSAS NACIONAIS comentou, fazendo as risadas aumentarem. — Tesão reprimido... A garota é a bruxa em forma de miniatura da Cachinhos Dourados. Baita anãzinha marrenta. Quero é que vocês mandem a garota embora, é isso que eu quero. — Ah, mas não mando mesmo. — Antônio zombou do amigo. — E eu adoraria ver as cenas de gato e rato de vocês — acrescentei. — Antônio, me apresenta ela semana que vem? — pedi a ele. — Claro, amor. Você vai gostar. A menina é muito inteligente. Claro que é, eu que a contratei — gabou-se. —Miti intiliginti — Nick murmurou, zombeteiro. — Só quero manter distância. Ainda bem que ela tá no financeiro. Todos focaram em seus almoços por um tempo, até que Euzira quebrou o silêncio. — Pedro, meu amor, você está muito calado. Tudo bem contigo? Ele, que estava finalizando sua comida, largou os talheres e olhou ao redor. Todos o PERIGOSAS ACHERON

PERIGOSAS NACIONAIS encaravam curiosos, inclusive eu. Ainda não tive uma conversa aberta e séria com ele. Queria questionar o porquê de estar tão absorto ultimamente. — Tudo ótimo. Apenas passando por uns problemas no hospital. Farei uma prova de promoção em breve, poderei ser promovido a administrador-supervisor — disse tranquilamente, num modo mecânico. Mas eu o conhecia. Sabia que escondia algo. Ah, maninho… — Que ótimo, filho! — ela o parabenizou. — Você, sempre esforçado. Parabéns. Pedro agradeceu e logo todos fomos servidos com a sobremesa, até que um barulho fez com que ficassem atentos. Instantes depois, o motivo do barulho entrou na sala de jantar. — O homem mais gostoso da face da Terra chegou! E aí, vó, com saudades do seu diamante negro? — Um homem negro, alto e forte entrou exibindo-se, vestido como cowboy. PERIGOSAS ACHERON

PERIGOSAS NACIONAIS Deveria ser o Lucas. — Meu neto! Vem aqui dar um abraço na sua vó. Que saudade, meu neguinho tentação! — Euzira abraçava o homem. — Ah, quero que conheçam minha namorada. Patrícia! — gritou. — Bora, Patrícia, vem aqui conhecer a família. Naquele momento eu fiquei bem feliz. Ao menos um amigo do meu namorado e do meu irmão estava comprometido. Uma ruiva sem muitas curvas e magrinha entrou tímida, de calça jeans, botas e camisa quadriculada, com os cabelos em um rabo de cavalo alto, no local. Lucas deu um beijo nela e a levou até Euzira e Frederico, na cabeceira da mesa. Após as devidas apresentações e todos almoçarem e comerem suas sobremesas, cada um recebeu a tarefa de ajudar em alguma parte da ornamentação da festa. Antônio, Clarinha e eu pendurávamos as lamparinas pelo salão. Pedro pregava os objetos decorativos nas paredes, Nick e Lucas buscavam as PERIGOSAS ACHERON

PERIGOSAS NACIONAIS caixas com as bebidas no galpão e colocavam na cozinha, e Patrícia recortava enfeites de papel. — Fiquei feliz por mais de um amigo estar namorando, afinal — comentei com Antônio. Estávamos em um espaço do lado de fora da casa, onde seria a recepção dos convidados. — Lucas namora hoje e amanhã termina. Não deve estar nem há uma semana com essa garota. Que pena, queria que ele crescesse. É o mais velho de nós, porém o mais infantil. Refleti bem. Não o conhecia então não poderia julgá-lo, mas ainda assim gostei de ver alguém dando chance a relacionamentos. Meus pensamentos eram cada vez mais fortes sobre meu namorado e começava a sentir que enfim estava me apaixonando por ele. Mas ainda queria esperar, era cedo para decidir sobre um sentimento tão forte. — Me ajuda aqui, meu lindo — pedi a ele, enquanto subia a escada para pendurar a lamparina. Antônio virou-se para ajudar a me segurar no momento em que deslizei o pé no degrau e estava prestes a cair. Por pouco o pior não acontecia. Ele PERIGOSAS ACHERON

PERIGOSAS NACIONAIS me segurou nos braços e, muito aflito, colocou-me sentada em uma cadeira. — Meu Deus, amor! Quase morro do coração, não faz mais isso não. Fica aqui quietinha que eu penduro tudo! — dizia rapidamente, com a respiração ofegante. Ele parecia transtornado. Meu Deus, tudo bem que seria um tombo feio, mas não era pra reagir como se eu fosse de porcelana. — Ei! Antônio... — tentei chamar sua atenção. Ele juntou todas as lamparinas, alheio ao meu chamado, e colocou numa caixa perto da escada, organizando ali, murmurando que ele mesmo as penduraria. — Antônio!!! — gritei, e finalmente ele me ouviu, puxou uma cadeira e sentou ao meu lado. Clarinha abria as lamparinas de papel e adiantava o serviço enquanto isso. O encarei sem entender. Por que estava agindo daquela forma? Mas alguns segundos de silêncio foram suficientes, logo ele começou a PERIGOSAS ACHERON

PERIGOSAS NACIONAIS falar. — Amor... Nosso bebê, ele não pode sofrer nada, tá entendendo? Nada! — explicou, preocupado. Sua testa estava franzida, seu olhar… revolto. Eu precisava respirar, não era a primeira vez que suportava seus cuidados excessivos. — Calma! Meu Deus... Antônio, eu não estou gostando dessa maneira que você está agindo. Quer me proteger até de um alfinete, eu me sinto uma inválida, me sinto uma inútil que não consegue fazer nada sozinha. Obrigada por me salvar, realmente foi necessário, mas não precisa me interditar e me proibir de correr os riscos que eu quero, a vida é assim, feita de aprendizado e riscos. Não quero que fique me pegando no colo pra subir ou descer do carro, não quero que me segure no elevador da empresa por causa do balanço, não quero que fique me dando esporro por poucas coisas. Poxa, será que consegue me entender? — Estava triste, pois em meio a tanto sentimento bom, isso era a única coisa que me afastava dele. — Estou sufocando. PERIGOSAS ACHERON

PERIGOSAS NACIONAIS Ele respirou fundo. Me olhou de modo tão intenso que me senti despida, mas nada disse. Simplesmente deixou os enfeites sobre a mesa, levantou e saiu caminhando pelo gramado. Em meu peito, uma dor horrível. A última coisa que eu desejo na vida é magoá-lo.

TONY Eu não conseguia entendê-la. Só pensava que, se estivesse ao lado dela no carro no dia do acidente, ela não perderia a memória. Se tivesse lutado por ela desde o início, ela não teria morado com o ex-marido e sofrido com ele. Se eu não fosse covarde como tinha sido até o dia em que vimos os vídeos, muitos desastres teriam sido evitados. Por isso eu não a entendia. Não queria e não permitiria que ela sofresse de novo. PERIGOSAS ACHERON

PERIGOSAS NACIONAIS Ainda mais agora, esperando um filho ou filha meu. Se já a protegia com toda a alma antes, agora a protegeria com o impossível. Imediatamente me levantei, coloquei as coisas que estava segurando dos enfeites em cima da mesa e fui caminhar pela fazenda. Deixei Amanda e Clara sozinhas, enquanto tirava um tempo para mim. Um tempo para pensar. Enquanto caminhava pelo vasto espaço gramado do local, pensava comigo mesmo se estava fazendo a coisa certa. Se realmente não estava sendo protetor demais, meloso demais... Apaixonado demais. — Mas eu não sei o que fazer, droga! — exclamei ao vento. Não queria perdê-la, mas tê-la sufocada e se sentindo mal era ainda pior do que saber que ela estava longe. As palavras que Amanda proferira foram duras, porém as absorvi com maturidade e fiz o que devia ser feito. Dei espaço a ela. A inexperiência em relacionamentos gritava PERIGOSAS ACHERON

PERIGOSAS NACIONAIS em meu peito e, ao imaginar viver uma vida inteira ao lado da mulher que amo, errando e me desculpando sempre, sabia que não a faria feliz como queria. — Preciso dar espaço, preciso deixá-la respirar — repetia o mantra, enquanto me acalmava em minha caminhada. Parei perto do estábulo e admirei os cavalos sendo selados, enquanto outros corriam pelo espaço cercado reservado a eles. — E aí, meu neto? Como tem passado? Assim que ouvi a voz, me virei. Era Frederico, vindo de perto dali. Ele apoiou-se na cerca, ao meu lado. — Precisando de um conselho sábio — respondi pensativo, enquanto meus olhos fitavam o céu. — Diga no que esse velho cheio de histórias pode ajudar. Desabafei e contei a Frederico a história de amor de minha vida e de Amanda. Contei desde o dia da boate até o pedido de horas atrás que ela me PERIGOSAS ACHERON

PERIGOSAS NACIONAIS fez e, por fim, bufei e disse: — Então estou aqui sem saber absolutamente nada do que fazer. Frederico deu um tapa amigável nas minhas costas, forradas por uma camisa leve de algodão, e sorriu. — Mulheres são complicadas, meu caro... Muito complicadas. Ri fraco e prendi os cabelos em um coque antes de virar de frente para Frederico e encará-lo nos olhos. — E o que fazer? — perguntei curioso. — Ah, meu filho... Quando me casei com Euzira, passamos os primeiros anos de casados em um mar de pétalas de rosas. Uma maravilha. Muito amor, muita virilidade... Se é que me entende. Mas, assim que tivemos Venâncio, as coisas mudaram um pouco. Euzira vivia sensível. Eu não entendia mais nada do que ela queria, isso quando não mudava de ideia a cada minuto. Percebi que, por mais que tentasse ajudar, eu só a atrapalhava. Eu escutava atento à experiência do meu avô PERIGOSAS ACHERON

PERIGOSAS NACIONAIS de consideração. Pensava que Nick tinha sorte de tê-lo em sua vida desde sempre. — Sua mulher está grávida do segundo bebê e isso já afeta muito seus hormônios. Imagina a pessoa perder a memória e do nada descobrir que está grávida de um homem com quem nem lembra de ter se relacionado? E ainda bem que você é um bom homem, mas e se fosse uma pessoa ruim? Como ela lidaria com tudo isso sozinha e ainda tendo a filha mais velha pra criar? Pensando por esse lado, me coloquei no lugar de Amanda e a resposta foi: “eu não saberia o que fazer ou enlouqueceria de vez”. — Pense que a mente dela ainda está muito confusa, mas pelo que percebi há um amor muito bonito entre vocês. Ela te ama. — Tem certeza? — Arregalei os olhos em espanto e perguntei ao senhor à minha frente. — Com toda a certeza. É nítido o sentimento mútuo que compartilham. Algo único e, com certeza, duradouro. Dê tempo a ela. Sugira um espaço pra que ela pense e coloque as coisas em ordem. Você não precisa se afastar dela nem do PERIGOSAS ACHERON

PERIGOSAS NACIONAIS bebê, mas a deixe à vontade para decidir como levar a vida. Mulheres gostam de um pouco de controle e gostam de se sentir importantes. Eu não queria dar esse espaço a Amanda. Queria prendê-la a mim e nunca mais libertá-la. Era tanto amor, que não cabia em meu peito. A amava além do que qualquer pessoa poderia imaginar.

A festa foi divertida e cheia de momentos alegres. Dona Euzira foi a noiva caipira e seu Frederico, o noivo. Os dois comemoravam e festejavam como dois adolescentes em plena puberdade. Todos os amigos do casal foram prestigiá-los, acompanhados de Nick e nós, seus amigos, que já estávamos por lá. Pedro logo arrumou uma caipira para curtir a noite. Nick foi no mesmo embalo. Lucas e Patrícia sumiram no meio da festa e eu suspeitava de que eles podiam estar brigando ou se pegando por aí. Clarinha brincava nos atrativos e fez vários amiguinhos durante a festa. Dona Euzira se PERIGOSAS ACHERON

PERIGOSAS NACIONAIS apaixonou pela menina e ficou ao lado dela o tempo todo, quando não estava bebendo ou dançando. — Vamos dar uma volta, amor? — sugeri à Amanda. Tinha decidido ir com calma, e ela parecia mais tranquila depois do tempo que dei naquela tarde a ela. Ela assentiu e me deu sua mão. Caminhamos e nos afastamos um pouco do movimento da festa, aproximando-nos do casarão, que estava fechado para convidados. — Quero te mostrar uma coisa. — Arrastei Amanda, eufórico, para dentro da casa. Entramos sorrindo e cheios de carinhos no casarão. A guiei até o segundo andar e, juntos, entramos em um quarto. O quarto de Nick. Nesse quarto havia uma parede negra toda rabiscada em giz de cera, contendo diversos recados de seus amigos e algumas fotos coladas. — Esses somos eu e Nick, com 15 anos. — Mostrei uma foto de nós dois fazendo "muque" PERIGOSAS ACHERON

PERIGOSAS NACIONAIS com os braços finos de adolescentes para o alto e peito nu sem nenhum gominho aparente. — Vocês evoluíram. — Amanda riu. Logo começamos a ler os recados, entre eles as zoações dos amigos. “Nick gosta de meninos!” “Dominic é mongol e não sabe beijar na boca!” “A Juliana deu um fora no Nick e ficou com Tony.” Amanda encarou boquiaberta, semicerrando os olhos na minha direção. Levantei as mãos em sinal de rendição. — Não tive culpa, Nick era um trouxa e eu só tinha 16 anos na época, acho — falei em minha defesa. “Nick virgem!!!” “Nick finalmente pegou alguém aos 21 anos de idade!” — O que foi isso? — Amanda sinalizou o recado sobre a virgindade de Nick. PERIGOSAS ACHERON

PERIGOSAS NACIONAIS Sorri, relembrando. — Ele era lerdo demais. Assim que descobriu que era bonito e que as meninas eram interessadas pelo jeitinho todo tímido dele, começou a conquistar finalmente as garotas e aos 21 virou homem. — Dei de ombros. — Queria que visse um pouco disso pra saber da nossa história. Tudo bem que tem mais Nick que eu aqui, mas é uma forma de te mostrar meu passado. Amanda sorriu.

AMANDA Passei a tarde inteira, pensando se não tinha ido longe demais, mas vi que deu certo meu pedido de tempo para respirar, pois Antônio voltou mais calmo e menos protetor que antes. Quando nos aprontamos para a festa, notei que ele se segurava para não me proteger de coisas pequenas, ou me repreender por bobagens. Mas ali, naquele quarto, eu apenas quis unirPERIGOSAS ACHERON

PERIGOSAS NACIONAIS me a ele até o mundo acabar. Sabia que aquele calor no peito que sentia toda vez que ouvia a voz grossa e sexy de meu namorado não era algo passageiro. Sabia que toda vez que ele me presenteava com o mar do caribe ao olhar-me, poderia derreter o polo norte com o calor que gerava dentro de mim. Já estava entregue a ele e compreendia que era irreversível. Não precisava me lembrar de nada para isso. — Quero tanto você — sussurrei agarrando a camisa de cowboy dele, encarando-o nos olhos. Um sorriso enviesado nasceu em seu rosto. Lindo! — Vem, tem um esconderijo. — Levou-me até os fundos da casa, no andar de baixo, onde havia um pequeno quarto que estava sendo usado como depósito. Acendeu a única luz amarela do local e fechou a porta. Lá dentro, começamos a rir da situação constrangedora em que nos encontrávamos. PERIGOSAS ACHERON

PERIGOSAS NACIONAIS — Meu Deus, me sinto uma colegial. — Me sinto um fugitivo da lei — ele completou rindo. — Vem me pegar então, bandido! — Brinquei, arriscando uma voz sexy. — Só se for agora. — Então ele me tomou para si. Em uma fração de segundos, fizemos amor loucamente em uma posição não muito confortável dentro do quartinho, de pé, encostados na parede. Calávamos um a boca do outro para que os gemidos não fossem ouvidos por quem passasse perto dali, e após longos momentos de intimidade, nós, super suados e ofegantes, saímos do quartinho como dois fugitivos, de mansinho. Depois conversamos. Antônio me pediu que revelasse tudo o que andava sentindo e assim o fiz. Por fim, decidimos ir com calma em nosso relacionamento e ele disse que me deixaria respirar, porém ainda seríamos namorados. Ele não me pressionaria nem sufocaria, me deixaria à vontade e, no momento certo, PERIGOSAS ACHERON

PERIGOSAS NACIONAIS retomaríamos a mesma conversa. O fim da festa foi maravilhoso e, ao amanhecer, todos retornamos para nossas casas e nossas vidas. Duas semanas se passaram e o “tempo” que demos um ao outro, ainda estava no ar. Nos víamos no trabalho, mas não rolava mais beijinhos, amassos, nem sexo. Eu sentia falta, obviamente, mas era um namoro racional apenas por um curto período, para que soubéssemos exatamente o que fazer dali por diante. Estava eu em minha sala na empresa em uma manhã, quando senti a dorzinha da saudade de meu chefe apertar, como vinha ocorrendo todos os dias. — Ah, chega disso, não aguento mais. — Levantei-me da mesa e decidi ir até ele e voltar ao que éramos antes. Mas o que eu falo? Que eu o amo? Comecei a pensar se o sentimento que nutria por ele poderia ser amor. Eu o quero e o desejo, sinto sua falta, me preocupo, me sinto segura, me sinto feliz, não me PERIGOSAS ACHERON

PERIGOSAS NACIONAIS imagino sem ele e... Nossa... Eu o quero para sempre. Putz, eu o amo sim. Admito que demorei um pouco para entender que o que sentia por Antônio era amor, sim. Os medos do passado e as inseguranças me deixaram reprimida e receosa quanto ao futuro e ao sentimento novo que estava experimentando, mas agora eu sabia e tinha certeza de que era ele, sim. O homem que queria ao meu lado para sempre. — Vou lá agora, finalmente. Preciso dizer tudo a Antônio — falei comigo mesma e caminhei para fora da sala.

TONY Duas semanas. Eu estava a ponto de ter um colapso. Mas, ainda assim, aguardava nossa conversa ansiosamente. Pensava em Amanda ao acordar, durante o dia, ao dormir, em todos os instantes. Só PERIGOSAS ACHERON

PERIGOSAS NACIONAIS queria que nosso “tempo” acabasse logo. Estava digitando alguns contratos calmamente em minha sala, quando a porta se abriu. — Felícia? — Espantei-me ao ver a recepcionista da unidade de Recife na minha frente. — Oi, docinho. Estou a trabalho, não me tente com essa carinha logo cedo. — Aproximou-se sensualmente de mim e depositou alguns papéis em minha mesa. Mas… O que ela queria? — Hã? — Não entendi. — O que faz aqui? — Estou de férias. Como eu já viria pra cá, seu paizinho querido que, por sinal, é um homem muito cavalheiro, me pediu pra entregar esses papéis. Demoraria muito enviando por malote e não tinha como ser via e-mail. — Deu de ombros. — Entendi. — Peguei os papéis e comecei a analisá-los. Eram documentos importantes. — Quem te deixou entrar? — questionei enquanto verificava o conteúdo dos documentos. PERIGOSAS ACHERON

PERIGOSAS NACIONAIS Era o resultado da investigação sobre as quedas das vendas em Recife. Meu pai tinha conseguido outra pessoa para seguir o plano inicial e descobriram que realmente houve fraude. Me admirei pois ele só me informou naquele instante, quando tudo já fora encerrado. — A secretária. Informei quem era e ela me deu permissão. Ela deu a volta e ficou de pé, detrás da minha cadeira. Não estava me sentindo confortável com ela ali, tão próxima. Mas ainda assim, permaneci olhando os papéis até entender o seu conteúdo completo. — Então... Já que estou aqui... Podemos relembrar os velhos tempos — disse, abaixando-se e sussurrando em meu ouvido. Ah, então era por isso que veio pessoalmente! Pigarreei, desconcertado, e me levantei. — Felícia, fico feliz pelo seu favor em trazer esses papéis, são realmente importantes. Mas não estou interessado em nada mais, sou PERIGOSAS ACHERON

PERIGOSAS NACIONAIS comprometido. Falei, fitando-a nos olhos a uma distância considerável. Ela rolou os olhos, andou até onde eu estava novamente e enlaçou os braços em volta de meu pescoço. — Tá bom, finjo que acredito. Estou com saudades da sua potência, gostosão. — Tentou me beijar, porém desviei. Minha paciência chegando no limite. — Ah, para de se fingir recatado! — Agarrou a blusa branca que eu usava e deixou uma marca de batom na gola. — Olha que sexy, posso marcar você todinho! — falou sorrindo. — Que merda, Felícia! Sai, sai daqui! Não queria ser rude, mas você não entende nada! — Afastei-a e corri para o banheiro dentro da minha sala. Minha vida não estava ruim, mas não queria inserir um problema na lista. A droga da gola não ficava limpa nem por um decreto, e ao tentar limpar, acabei sujando ainda mais. Decidi tirá-la. PERIGOSAS ACHERON

PERIGOSAS NACIONAIS Pediria outra pelo telefone a alguém. Escutei a porta do escritório se abrir, se eu estivesse com sorte, não precisaria ser rude novamente com aquela mulher e naquele instante ela estaria indo embora, porém, no exato momento em que eu saía do banheiro, de calça social, sem blusa, segurando a camisa nas mãos, o cenário se tornou um inferno. Amanda estava na porta e entrou, fechando-a em seguida, e ao ver a cena na sua frente, o seu rosto de radiante passou a abatido em segundos. — Não acredito — pronunciou lentamente. Foi quando notei Felícia deitada no sofá do canto da sala, apenas de lingerie. Onde estavam as roupas dela? Fiquei estático na porta do banheiro. Voltei a encarar Amanda, que sofria com o olhar e então apertei os olhos, respirando fundo. — Amor, sei que parece clichê, mas realmente não é nada disso que está pensando. — Amor? — Felícia se levantou e andou até Amanda, com olhar de desdém. — Então essazinha aí que você falou em Recife que jamais comeria é PERIGOSAS ACHERON

PERIGOSAS NACIONAIS seu amor? — Cala a merda da boca, Felícia! — esbravejei e me dirigi até Amanda, preocupado, a passos largos. Felícia levantou as mãos rendida e fez uma cara de falsa ofendida. Amanda parecia paralisada, como se aquilo fosse tão inacreditável, que fez meu coração se encher de pânico, a cada passo que eu me aproximava mais dela. Uma fina lágrima escorreu de seus olhos. Ela soluçou, parecendo querer desabar, mas se manteve firme antes que eu encostasse nela. — De novo, não — falou espalmando a mão para que eu parasse, e saiu da sala.

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Capítulo 26

AMANDA Saí da empresa arrasada e tomei a liberdade de voltar pra casa. Não estava me sentindo bem depois da cena que presenciei. A única coisa que me agoniou, foi o fato de eu ter confiado tanto no amor de Antônio, sendo incapaz de desconfiar de sua integridade. Droga! Eu já fui traída! Passei um casamento inteiro sendo corneada, e a última coisa que eu queria era repetir a dose. Algo em meu peito latejava em dor, ao relembrar a cena fatídica. PERIGOSAS ACHERON

PERIGOSAS NACIONAIS Eu confiava tanto, mas tanto nele… O que aconteceu então? Cheguei em casa, e fui direto atrás de meu irmão em busca de algum conselho. — Pedro? Irmãozinho? — Caminhei pelo local, chamando-o. Pedro havia dito que ficaria alguns dias em casa esperando a tal transferência de cargo. Ele havia passado na prova e aguardava as ordens a seguir. Optei por entrar no quarto dele, com um pouco de receio sobre o que veria. Fazia pouco tempo que o vi nu com a babá na cama. Repetir a imagem não seria nada legal. Mas, ao abrir, levei um susto ao ver meu irmão sentado no chão, com a cabeça apoiada na cama, dormindo, e uma garrafa de uísque vazia perto de seu corpo, acompanhada de um copo, também vazio. Sobre a cama havia muitos papéis, papéis que eu sentia muita curiosidade em ler, porém me aproximei dele e sussurrei em seu ouvido: — Ei, Pedro, acorda. PERIGOSAS ACHERON

PERIGOSAS NACIONAIS Pedro nitidamente estava de ressaca, porém abriu os olhos lentamente e os focou em mim. — Para de gritar, pelo amor de Deus — tapou os ouvidos em um gesto involuntário e balançou a cabeça. — Levanta daí, Pedro, o que aconteceu, por que você está assim? Ele se levantou lentamente, passando a mão pelo corpo e se arrumando. Sentou-se na cama em cima dos papéis emaranhados e amassados. Seu rosto era de alguém abalado pela vida, triste e cheio de mágoa. Ao me olhar, sondou meu rosto por alguns segundos. Tentei não parecer tão triste e abatida. — Eu estou bem, mas você não está. O que aconteceu na empresa hoje? — tentou fugir das perguntas que eu com certeza, faria. Deixei os questionamentos sobre sua situação para depois, sentei-me ao lado dele e bufei. Não queria ter que contar tudo o que aconteceu e tudo que estava em minha mente para Pedro, porém precisava desabafar e pedir uma opinião, afinal não PERIGOSAS ACHERON

PERIGOSAS NACIONAIS me sentia segura sobre nada do que acontecera na minha vida desde o acidente. Minha cabeça era um absoluto caos. — Peguei Antônio com outra na sala dele. Pedro se espantou. — O quê?! — gritou. — A secretária da unidade de Recife veio pra cá. Andei averiguando e descobri que eles tiveram um caso por lá. Pelo que me pareceu, estavam bem entretidos. Cheguei na hora H. Contei com lágrimas nos olhos. Não queria acreditar que aquilo que vi realmente estava prestes a acontecer. Achava que podia ser a falta de sexo, talvez. Estávamos há duas semanas sem nos tocar e Antônio talvez pudesse se sentir ansioso por isso. Mas não era motivo para me trair após ter ditos tantas e tantas vezes que me amava. Eu não entendia esse tipo de amor. — Algo está estranho nessa história — Pedro comentou, pensativo. — Como assim? — Me deixa tomar um banho e uns PERIGOSAS ACHERON

PERIGOSAS NACIONAIS analgésicos e então vou procurar saber melhor disso tudo, tá, maninha? — Acariciou meu rosto. Sorri. —Tudo bem. — Levei os olhos até os papéis na cama. — O que são esses papéis? Pedro suspirou. Fitou os papeis com desânimo e balançou a mão no ar. — Apenas papeis. Lixo. Vou jogar fora. Um dia te falo sobre eles, ok? Assenti e o vi juntar os papeis de forma desordenada e jogá-los dentro de uma caixa de sapatos. Pedro em seguida fez o que pretendia, enquanto eu comia algo na cozinha. A fome que sentia pelo princípio da gravidez era enorme e poderia causar um grande prejuízo na geladeira do meu irmão. Pelo menos eu ajudava nas despesas. Enquanto comia, pensava sobre minhas memórias perdidas. Já havia conseguido lembrar de um ano e meio de memórias e tentava ao máximo lembrar mais. Porém, meu esforço fora em vão. — Bom, vamos resolver seu problema. — PERIGOSAS ACHERON

PERIGOSAS NACIONAIS Um Pedro apenas de cueca saiu do banheiro e se apoiou no balcão da cozinha americana. Que mania! — Ei, coloca uma roupa. Eca. — Caçoei do fato de estar seminu. Ele deu de ombros, pegou uma maçã na fruteira e a abocanhou. Apenas ri e balancei a cabeça em negação. Realmente meu irmão seria sempre o mesmo. Impetuoso e protetor. — Me diga o que achou de toda essa coisa da traição? — Me sentei do outro lado da bancada, de frente a ele. Ele terminou de mastigar a maçã e a engoliu. — Acho que Tony não faria isso. — Só? Apenas acha que ele não faria? — Olha, maninha, se ele fizesse, não seria na sala do lado da sua, dentro da sua própria empresa. A barbie sempre prezou essa coisa de conduta dentro da empresa, de não dormir com funcionárias. A de Recife, com certeza, foi exceção, afinal ele nem é de lá, então pode ter feito algo com ela, sim. PERIGOSAS ACHERON

PERIGOSAS NACIONAIS Ainda assim, eu estava desconfiada. — Ele é todo certinho, como você mesmo disse. Não dorme com funcionárias, porém comigo dormiu. Não faz nada dentro da empresa, porém comigo fez. Como você justifica? Não consigo anular minhas desconfianças através dos seus argumentos, Pedro. Pedro pensou por um segundo, apontou o indicador no meu nariz e sorriu. — Aí é que está. Você foi a única, a primeira que o fez quebrar as próprias regras. O maldito te ama e, mesmo odiando ter que admitir isso, não merece uma porrada desfiguradora do seu irmão. Já tentou ouvi-lo? Já tentou saber o que aconteceu? Não, pensei. — Eu não quero ouvir. Tenho medo do que vou ouvir. Ficou tudo muito claro assim que entrei naquela sala e... Apenas não quero ouvir — balancei a cabeça, fechando os olhos. Pedro deu de ombros e voltou para o quarto murmurando “eu tentei”. Será que tinha alguma explicação para PERIGOSAS ACHERON

PERIGOSAS NACIONAIS aquilo?

TONY Já era fim da tarde quando me preparava para ir embora. Estava cansado e derrotado. Jamais desistiria de Amanda e de seu amor, mas por que as coisas tinham que ser tão difíceis? Mais cedo liguei para Bruna, contei o acontecido e ela me jurou que faria algo ao meu favor. Se Amanda não me ouviria, ao menos Bruna pode falar sobre quem realmente sou. Ela é uma amiga leal. Saí da empresa sem falar com ninguém e liguei para meu pai. Ele ouviria todo o meu ódio por ter mandado alguém que arruinou com minha vida em míseros minutos. Estacionei o carro na vista sobre o monte na cidade, onde minha mãe me levava na infância e onde levei Amanda algumas vezes para vermos as estrelas. Lá era um bom local para esbravejar e PERIGOSAS ACHERON

PERIGOSAS NACIONAIS xingar meu genitor. — Alô? — Douglas atendeu. — O responsável pela minha infelicidade se encontra? — ironizei. — Ah, você. Que bom te ouvir, filho. Lembrou que tem pai? — Infelizmente. Preciso apenas que saiba de umas coisas e que nunca mais me ligue após isso. Ouvi sua respiração pesada. — Diga, filho. — Eu estou apaixonado pela Amanda, aquela que conheceu, e você já sabia disso. Eu a amo com tudo o que sou, com todas as minhas forças e nunca, tá me ouvindo? Nunca a trairia, nunca a faria mal e nunca a abandonaria. Eu te odeio por mandar Felícia até aqui, te odeio por saber que ela sente uma paixão platônica por mim e te odeio por achar que eu cairia no papinho dela. Sei que fez tudo bem pensado, pai, eu o conheço e não adianta negar, mas saiba que acabo de renunciar tudo que leva o nome Gali. Empresa, carro, apartamento, casa, tudo. Não sou mais seu filho a partir de hoje PERIGOSAS ACHERON

PERIGOSAS NACIONAIS e, se for pra ser pobre, sem um teto pra morar e sem herança, mas com ela ao meu lado, eu prefiro ter apenas o amor dela. Pois é o amor que me faz feliz, é o amor que me dá força, é o amor que me mantém de pé nessa maldita vida que eu vivi até encontrála. Estava nervoso, precisava me conter um pouco mais. — Filho, eu não... — tentou se explicar, porém o interrompi mandando-o para lugares muito específicos e desliguei. Respirei fundo e fiquei ali, contendo minha fúria sobre a desordem que estava minha vida.

AMANDA Clara chegou naquele fim de tarde da escola. Agora estudava em horário integral, pois despedi a babá. Nós duas ficamos fazendo deveres e estudando sentadas à mesinha de escritório em meu quarto quando, ao escrever a data no trabalho de PERIGOSAS ACHERON

PERIGOSAS NACIONAIS minha filha, me lembrei que o dia seguinte era aniversário de Pedro. Ele faria 30 anos. — Filha, amanhã é aniversário do seu tio e eu esqueci completamente! — Vamos fazer surpresa pro tio? — ela perguntou animada. — Vamos pensar em algo. Preciso falar com Antônio — suspirei. De alguma forma, teria que falar com ele. — O tio Tony vem? Eu quero que ele venha! — Clarinha perguntou. — Acredito que sim, flor, ele vem. Vou ligar pra ele. Deixei minha pequena brincando após os deveres no quarto e fui até a sala ligar para ele. Pedro estava no quarto, provavelmente dormindo após a ressaca. — Amor? — Sua voz fez-se ouvir logo no primeiro toque. — Antônio, amanhã é aniversário de Pedro, veja como reunir os amigos e vamos fazer um bolo, algo aqui em casa mesmo, em segredo — disse, PERIGOSAS ACHERON

PERIGOSAS NACIONAIS seca. Ele demorou alguns segundos para responder. Parecia pensativo. — Vamos poder conversar? — Não sei, amanhã veremos. Teria como resolver isso pra mim? Vou pedir o bolo e comprar algumas coisas amanhã cedo. — Tudo bem, eu faço o que pedir. Que horas será a comemoração? — Umas oito da noite acho que tá bom. Não vamos demorar muito, pois Pedro não é chegado a festas. Só pra não passar em branco mesmo. — Tudo bem, meu amor. Eu te amo, tá? Senti meu peito se aquecer, a vontade de dizer que também o amava me invadia, porém precisava ser forte até ter tudo claro. — Obrigada, Antônio, nos vemos amanhã. Desliguei a chamada, mas meu telefone tocou em seguida. — Alô? — Amanda? Aqui é Bruna, lembra de mim? PERIGOSAS ACHERON

PERIGOSAS NACIONAIS Desculpe o horário. Bruna, minha colega de trabalho. Eu gosto dela. — Sim! Lembro sim, Bruna, tudo bom? — Tudo. Eu queria falar sobre o Tony, desculpa ligar apenas pra isso, mas eu não sabia se iria se lembrar de mim ou querer falar comigo. — Tudo bem, Bruna, eu gosto de você. Pode falar, fica à vontade. Então sentei no sofá e escutei o que Bruna dizia. — Bom, não vou falar que ele te ama. — Quando ela disse, gelei. O que então Bruna teria para dizer? — Porque o amor é algo que se pode sentir a quilômetros de distância. Não preciso confirmar, você sente que ele a ama. É algo nítido. — E realmente era, sentia o amor dele. — Então só queria dizer que você deve dar uma chance a si mesma de ser feliz. Ele não a trairia. Pode ter errado em confiar que Felícia não faria nada de mais, pode e errou. Mas homens são idiotas e se nós mulheres formos sempre agir radicalmente por PERIGOSAS ACHERON

PERIGOSAS NACIONAIS tudo, vamos viver em pé de guerra, pois os homens nunca vão saber ao certo como nos sentimos ou como nos agradar, não é verdade? Respirei sorrindo. Ela tinha razão. — Sim, pior que é verdade — respondi. — Então, Amanda, sugiro que converse com ele. Tente ver em seus olhos a verdade e a sinceridade. Tony não tem por que mentir. Ele ficou tanto tempo sofrendo por não tê-la de volta, acha que faria algo tão terrível agora que a tem? Fazia todo o sentido o que Bruna e Pedro falaram naquele dia. Eu precisava ouvi-lo e ler em seus olhos a verdade. — Obrigada, Bruna. Queria aproveitar sua ligação e convidar você e sua família a virem aqui amanhã, no aniversário do Pedro. — Opa! Pedroca vai envelhecer? Gargalhei internamente. Bruna realmente andou muito ao lado de Antônio durante toda a vida, até parece um dos amigos dele. Ele me contou tudo sobre a amizade que compartilham nas últimas semanas e eu achei o máximo. PERIGOSAS ACHERON

PERIGOSAS NACIONAIS — Sim, vamos fazer uma surpresa amanhã, aqui no apartamento dele, às 8 da noite. Venha! — Vamos, sim, vou falar com meu esposo. — E o bebê? — Grande e guloso, já tem até manha! Amanhã vamos nos ver, daí te mostro como ele está forte e lindo! — Ah, eu adoraria vê-lo! Até amanhã, Bruninha! — Até. Após a ligação, fiquei mais tranquila. Realmente o que Bruna disse me fez pensar. Antônio, pelo que eu conhecia, jamais me trairia. Ao menos era o que ele me fazia sentir e pensar. Tinha ciência que a nossa relação era além do sexo, do físico. Era algo que causava dependência. O amor, era o amor. O dia seguinte chegou e logo cedo Pedro saiu para caminhar. Ele parecia entediado em casa sem nada a fazer. Não o parabenizei, fingi que nem lembrava. Se bobear nem ele mesmo lembrava do próprio aniversário. PERIGOSAS ACHERON

PERIGOSAS NACIONAIS Assim que acordei, fui com Clarinha na confeitaria perto do prédio onde morávamos. Lá encomendaram o bolo e doces para mais tarde. Depois recebi uma ligação de Antônio, avisando que nos buscaria para irmos juntos comprar os refrigerantes. Ao ouvir a voz daquele homem, tremi dos pés à cabeça. Parecia sempre a primeira vez, o primeiro toque, o primeiro contato. Jamais deixaria de me sentir desejosa por ele. O amava e o queria a cada dia mais. Em instantes, ele chegou. A ida ao mercado foi tranquila. Clara nos distraía falando sobre a escola, seus amigos e coisas que havia aprendido. Antônio tinha o dom de atrai-la a uma conversa espontânea e infantil. Enquanto isso, eu apenas os admirava. Lembrei que já estava com praticamente três meses de gestação e na semana seguinte começaria minha faculdade e tinha uma ultrassonografia para fazer. — Antônio. Ele virou o rosto para me olhar, porém PERIGOSAS ACHERON

PERIGOSAS NACIONAIS continuou atento ao trajeto, empurrando o carrinho de compras com as mãos. — Oi, amor. — Semana que vem começo as aulas, estou empolgada. Tem também uma ultra marcada, vai querer me acompanhar? Ele parou o carrinho no meio do corredor e semicerrou os olhos em minha direção. — Você cogitou a possibilidade de eu não ver meu bebê na ultra? — perguntou, descrente. Dei de ombros e ri. — Claro que não, quis apenas confirmar — falei, sem graça. Clara estava dentro do carrinho, alheia à nossa conversa, com uma boneca Barbie na mão, enquanto comprávamos as coisas para a festa. Antônio tentava a todo custo roubar nem que fosse um beijinho meu, porém me mantive firme e, por fim, disse que conversaríamos mais tarde na festa. — Tenho algo pra te contar — ele comentou ao subirmos o elevador do prédio de Pedro com as sacolas nas mãos. PERIGOSAS ACHERON

PERIGOSAS NACIONAIS — O quê? Antônio respirou fundo e olhou para o teto do pequeno cubículo. — Não sou mais diretor da empresa, larguei tudo. Senhor! — Como!? — perguntei espantada. — Liguei pro meu pai. Essa coisa da Felícia tem dedo dele, eu posso sentir. Falei que preferia mil vezes ficar com você do que com a empresa e ele podia tentar o que quisesse, que não me faria desistir de te amar. Ah, não… Aquilo já era demais. Fiquei furiosa e revoltada! — Mas como você foi estúpido! Não se larga uma empresa de família por um motivo tão bobo! Antônio, seu pai depende de você! E se foi ou não ele a armar isso tudo, que se dane. Muda alguma coisa? Não muda, então segue a vida! Meu Deus, eu não acredito que você foi tão infantil. Ao menos deixou ele falar? Ele meneou a cabeça em negação, PERIGOSAS ACHERON

PERIGOSAS NACIONAIS constrangido. — E se não foi ele? Você nem o deixou falar? Foi quando ele me encarou firmemente de forma desafiadora, e imediatamente fui atingida pelo significado daquele olhar. Eu também não o havia deixado falar. Fiz com ele o mesmo que ele fez ao pai. — Droga. Eu também fui infantil, né? — suspirei. — Não, amor da minha vida. Não foi — me consolou, tocando meu rosto. Nossa, eu me senti horrível naquele momento. Precisava passar por cima daquela situação para que tudo voltasse ao normal entre nós. Juntos caminhamos nós três até o apartamento. Chegando lá, pedi minha filha que ficasse um pouco no quarto, pois falaria algo com tio Tony. Ela prontamente obedeceu dizendo que faria alguns desenhos. Nos sentamos no sofá e então começamos a conversar. — Antônio, eu... PERIGOSAS ACHERON

PERIGOSAS NACIONAIS — Tudo bem, eu preciso pedir perdão antes de qualquer coisa. Fui babaca deixando aquela idiota achar que teria alguma chance e não notei claramente suas investidas. Ela sempre foi daquele jeito e eu juro que achei que respeitaria o limite, mas então ela tentou marcar minha gola e isso pra mim foi a última gota. Ele estava virado de frente para mim. Seus olhos azuis transparecendo nada mais do que a verdade. — Não precisa me contar, tudo bem. Eu acredito em você. — Sério? — Me olhou incrédulo. — Porque eu posso colocar o vídeo da câmera de segurança pra você assistir, se quiser. Suspirei, cansada. — Olha, eu estou farta dessas loucuras que têm acontecido na minha vida desde o acidente. Já fui enganada e apenas tive medo de ser enganada de novo. Só quero que me prometa sempre me respeitar e nunca me dar motivos pra desconfiar de você. Preciso que prometa também que vai conversar com seu pai de novo. Não quero você e PERIGOSAS ACHERON

PERIGOSAS NACIONAIS ele mal um com o outro. Ele bufou e desviou os olhos dos meus. — Isso eu já não sei. — Então nada feito. — cruzei os braços, irredutível. — Hã? Ele tenta nos separar e você quer que eu volte a falar com ele? — Não. Quero que tenha um relacionamento ao menos maduro com ele. Ele pode ser o homem mais desprezível do mundo, mas ainda é seu pai. Eu não tive um bom exemplo de pais, mas você pode mudar isso, vocês ao menos ainda se falam quando necessário. Não deixe o tempo passar, pode ser sua última chance. E aquilo era verdade. Às vezes eu só queria que meus pais fossem menos frios e tentassem uma reaproximação. Quem sabe não poderíamos voltar a ser ao menos, apoiadores uns dos outros? — Tudo bem, mas vou fazer no meu tempo, ok? — Arqueou uma sobrancelha, indagando. — Tudo bem, amor — sorri satisfeita. E sim, o chamei de amor de propósito. Meu PERIGOSAS ACHERON

PERIGOSAS NACIONAIS Deus, eu amo esse homem! Ele notou a palavra em destaque, pois seu rosto entrou em alerta. — A... Você me chamou de amor? Com todas as letras? — Aproximou-se de mim e segurou meu rosto, deslumbrado. — Sim, seu bobo. — Revirei os olhos e dei um empurrãozinho nele. — Droga, eu te amo, seu idiota! Você conseguiu me conquistar, ok? Agora não abuse da sorte, pois eu sou durona, hein? — Apontei um dedo em sua direção. Ele riu. — Eu sei, minha linda, você é muito durona mesmo, tão dura que já me deixou duro aqui de saudade. Podemos partir para a reconciliação? — sussurrou se aproximando novamente. — Shiiiiiu, sai pra lá. Clara está no quarto, seu pervertido! — Bati de leve no ombro dele, enquanto ria. — Tá, mais tarde então, depois da festinha do Pedroca? — Fez cara de pidão. — Não adianta fazer essa cara de cão PERIGOSAS ACHERON

PERIGOSAS NACIONAIS abandonado pedindo pra ir pra casa, não! Vou pensar no seu caso, o aniversário é do meu irmão! — argumentei. Mas sim, eu estava ansiosa. Meu Deus, o queria logo! Num gesto impulsivo ele me agarrou e me encheu de beijos ali no sofá mesmo, enquanto eu ria da sua intensidade. — Me solta, seu bruto! Clara vai aparecer aqui e ver tudo! — Deixa ela ver que eu te amo, que você é e sempre será minha! — Continuou a depositar beijos no meu rosto e pescoço. Tentei me soltar, mas ele é grande, forte e muito irresistível, então preferi me render e correspondê-lo. Começamos a nos beijar de modo apaixonado, com promessas para algo mais. Um beijo que tinha gosto de casa, de reconciliação. O amo, e finalmente tinha dito a ele.

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Acariciava minha pequena barriga de grávida, ainda imperceptível, enquanto andava para cima e para baixo, enchendo bexigas e arrumando a casa para a pequena comemoração de Pedro. Consegui, por um milagre, convencer meu irmão que precisaria do apartamento até às 8 da noite e que Antônio iria me visitar. Pedro entendeu que eu queria ter um momento de conversa com ele, então disse que curtiria um pouco na rua e depois voltaria para casa. — Meu bebê. Já te amo tanto — cantarolei sorridente, olhando para a barriga. Por um momento me deixei imaginar como seria a aparência do bebê. Será que seria como eu, com os olhos castanhos e cabelos cor de mel, ou seria como o pai? Ao pensar no pai os pensamentos voaram até Antônio e seus olhos azuis, mas também lembrei-me de Henri, que tinha olhos cor de mel como os de Clara. Logo em seguida lembrei-me de Laira e em como me preocupava com a sua saúde mental. Meus pensamentos foram interrompidos pelo PERIGOSAS ACHERON

PERIGOSAS NACIONAIS toque da campainha. Já eram 7 da noite quando, ao abrir a porta, deparei-me com Valentina do outro lado. — Valentina? Estava surpresa, não a esperava ali. Ela sorriu, parecendo um pouco tímida. — Desculpe não avisar que viria. Eu te liguei, mas só dava desligado. Queria te contar as novidades sobre o quadro de Laira. Se não puder falar agora, eu volto e nos vemos outro dia. — Nossa! Deixei o celular desligado carregando e esqueci! Entre, por favor, não me atrapalha em nada, estou organizando uma pequena festinha. Mas me diga, como Laira está? Os olhos de Valentina brilharam ao falar da melhora da amiga. Com certeza ela a amava muito. — Nossa, Amanda. Eu fiquei tão feliz hoje pela manhã, quando ela pediu para sair e dar uma volta na rua. Já foi um grande avanço e eu precisava compartilhar com alguém. Desculpe te encher com isso, mas não tenho muitos amigos confiáveis. Você se mostrou tão solícita que achei PERIGOSAS ACHERON

PERIGOSAS NACIONAIS que podia... — Que isso. Não precisa se incomodar. Em mim terá uma amiga a hora que precisar. Fico também feliz com o avanço de Laira e torcendo pra que em breve possamos nos ver. Pedro sempre me elogiou pelo coração generoso, apesar de não ser boba, eu amava ajudar as pessoas. Valentina olhou ao redor e então perguntou num tom de voz mais baixo. — Está sozinha? Enquanto ela falava, eu prendia bexigas umas nas outras com as mãos, mas parei e encarei minha nova amiga. — Clara está no quarto e meu irmão saiu. Percebi Valentina relaxar o corpo lentamente. Algo tem. E eu sanaria minha dúvida naquele momento. — Então, Val. Posso te chamar assim? — perguntei e Valentina assentiu sorrindo. — Você já conhecia meu irmão? Vi os dois no shopping um dia desses. Desculpa perguntar, é que me pareciam PERIGOSAS ACHERON

PERIGOSAS NACIONAIS íntimos. Pareciam discutir algo. Ela arregalou os olhos e pigarreou, parecendo constrangida. — Na verdade, eu... Porém o som da campainha nos interrompeu. Pedi licença e fui atender. Eram Antônio, Nick e Lucas. Dei um beijo no meu namorado e falei para os demais ficarem à vontade. — Amor, chegou cedo — sussurrei no ouvido de Antônio em meio ao abraço que trocamos. — Viemos pra ajudar. Você não pode ficar se esforçando muito, sozinha. Revirei os olhos e me afastei. — De novo isso? — Cruzei os braços. Ele se fez de desentendido. — De novo o quê? Para de bobeira, mulher, deixa os machos te ajudarem. — Apontou para os amigos que já estavam colocando a mão na massa. Ri e assenti. Seguimos até Valentina, então o PERIGOSAS ACHERON

PERIGOSAS NACIONAIS apresentei a ela. — Esse é meu namorado, Val. Antônio. — Apontei para Val. — Essa é a doutora de que te falei, amor. Valentina. Os dois se cumprimentaram e logo Lucas chegou no meio da conversa. — Opa! Carne nova no pedaço! Prazer, Lucas. Ou lindo, tesão, bonito e gostosão, se preferir. — Estendeu a mão para Valentina, que estava sentada no sofá. Meu Deus, ele era mesmo louco! Ela riu e o cumprimentou. — Prazer, Valentina. Mas eu sou noiva, obrigada. — Poxa. Não vai vir nenhuma solteira pra festa do Pedroca? — perguntou ele, a ninguém específico. Val se remexeu no assento, eu notei, e enquanto os homens continuavam a conversar, arrumando as coisas, ela se aproximou de mim novamente. — Bom, acho melhor ir. Conversamos mais PERIGOSAS ACHERON

PERIGOSAS NACIONAIS outro dia. Ha há! Quero juntar as peças do meu quebracabeças, linda. Vai ficar sim. — Não! Fica, por favor. Quase não terá mulheres e os homens vão ficar falando sacanagens, já conheço. Fica e me faz companhia, não vai me incomodar não — respondi de modo educado. — Hum... Acho melhor não, não quero estragar a festa. Ninguém nem me conhece. — falou um pouco tímida. — Mas eu conheço, ah, para. Fica aí — insisti. A verdade era que eu suspeitava de algo entre ela e meu irmão, mas como era mais esperta sempre, agia por baixo dos panos até confirmar as suspeitas. Sem querer me gabar, mas eu sou muito mais sagaz do que todos imaginam. — Tudo bem — Valentina aceitou. — Só não demorarei muito pois, logo, logo meu noivo me ligará perguntando onde estou. — Ótimo, fica à vontade que vou preparar os PERIGOSAS ACHERON

PERIGOSAS NACIONAIS lanches. — Eu ajudo! — Ela levantou solícita e foi comigo até a cozinha.

TONY — Eu já falei que o patrão vai dar um chilique quando chegar e ver um monte de gente aqui no apê dele — Nick comentou conosco, enquanto prendíamos as bolas e enfeites pelo local. — E essas boiolices? — Apontou para as bolas. — Tinha que ser coisa da Amanda. Lucas riu enquanto eu fiquei sério. — Não fala da minha mulher, trepador de quinta. — Cara, eu esperei tanto tempo pra ver Tony pior que pneu arrastado no asfalto por uma mulher — Lucas gargalhava. — Agora tô achando uma comédia, cara. Muito pau mandado, muito otário. Lancei um olhar afiado na direção dele. Ele PERIGOSAS ACHERON

PERIGOSAS NACIONAIS não tinha papas na língua. — Tá achando o quê? Lembra que eu ainda sou o maior de todos e o mais forte, uma apertadinha nesse teu pescoço fino de donzela e você paga por toda merda que já disse na vida — deixei a ameaça no ar. Lucas levantou as mãos em rendição. — Ok — falou calmamente. — Tudo bem, calma. Quero ver quem é o próximo. Estamos ficando velhos, daqui a pouco o amigo para de subir com muita frequência, vamos ter de estacionar. Quem vai querer ficar sozinho? Eu que não. Balancei a cabeça em negativa. — Vocês não valem nada. E aquela sua namorada, Lucas? — Mandei pastar, tava muito chata — disse, dando de ombros. — Isso aí, mano. Tem que mostrar pra mulher quem é que manda — Nick comentou. — Eu aposto todos os meus órgãos vitais que, quando vocês aposentarem, serão os maridos PERIGOSAS ACHERON

PERIGOSAS NACIONAIS mais babões do mundo. Vou dar babador de casamento pra cada um. — Cruz-credo! — Nick fez o sinal da cruz no peito. — Tá amarrado! — Lucas uniu as mãos e olhou para o céu, numa prece. Em instantes, começaram a chegar os convidados. Já eram 8 da noite e Pedro ainda não tinha dado sinal de vida nem avisado que chegaria. Eu ficava ali, apenas olhando Amanda organizar tudo de longe, para não atrapalhar, ansioso para nossa pós-festa.

AMANDA Todos estavam curtindo a festa sem o aniversariante, bebendo e comendo, quando meu celular tocou. Abaixei o som e pedi silêncio a todos. — Alô? — Oi, Mandi, já conversaram? Preciso do PERIGOSAS ACHERON

PERIGOSAS NACIONAIS apartamento. — Hã... Sim, sim. Vamos até dar uma saidinha agora, pode ficar tranquilo que eu tranco tudo. — Ótimo, bom passeio. — Beijo, tchau — disse e encerrei a ligação. Acenei para que todos se unissem no meio da sala e falei em voz baixa: — Ele está vindo, vou apagar as luzes e vamos ficar todos aqui perto do sofá. Quando ele chegar e acender, a gente dá o susto. Todos concordaram, porém Nick resmungou. — Viadagem ridícula... Mas o patrão merece. Todos riram e ficaram nas suas posições. A sala era ampla, tinha dois espaços. O local perto da porta, que era como uma recepção ampla com alguns quadros na parede e alguns aparadores, e mais adiante o outro espaço com os sofás, TV e mesa de jantar. Desliguei o celular e corri para trancar a porta. Voltei e fiquei ao lado do meu namorado após apagar as luzes. Todos ficaram cochichando PERIGOSAS ACHERON

PERIGOSAS NACIONAIS em silêncio, aguardando a chegada de Pedro.

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Capítulo 27

PEDRO Mais cedo, naquele dia, deixei Amanda à vontade com meu apartamento e saí para me distrair. Era meu aniversário. Uma data que não me importo de lembrar a cada ano que passa, mas ainda assim, uma realidade da qual não posso fugir. Me distraí com inúmeras atividades, e quando começou a noitecer, peguei Jenifer em casa e a levei até a minha. Jenifer é uma bela ruiva cheia de curvas que me fornece noites casuais. Somos fixos, quando um precisa do outro, estamos disponíveis. E bem… Naquele dia eu precisava aliviar a tensão. — Vamos, a noite é só nossa, hoje —falei ao PERIGOSAS ACHERON

PERIGOSAS NACIONAIS abrir a porta do carro para a mulher sair. Subimos juntos trocando beijos e amassos dentro do elevador. Meu corpo já estava em combustão, queria chegar logo em casa, tomá-la para mim e aliviar toda a tensão do dia péssimo que foi meu aniversário. Minha solução sempre se resumia em mulheres. Finalmente o elevador chegou ao andar de destino. Saímos eufóricos do cubículo e caminhamos rapidamente até a porta certa, onde enfim poderíamos fazer o que desejávamos. Abri lentamente a porta, torcendo para que Amanda já tivesse saído. — Ótimo, ninguém em casa — sussurrei quando avistei o escuro silencioso. Sem pensar duas vezes trouxe Jenifer para dentro, fechei a porta e pressionei aquela linda mulher na parede, onde começamos a nos beijar loucamente. Minhas mãos percorriam o corpo da ruiva e em instantes tirei sua blusa e seu sutiã, depositando PERIGOSAS ACHERON

PERIGOSAS NACIONAIS beijos quentes em todo o seu corpo descoberto, ainda no escuro. Em um momento acendi a luz para guiar-me melhor, porém não virei para trás. Jenifer estava com os olhos fechados, recebendo as carícias eróticas que eu dava e gemendo a cada toque. A beijava ardentemente e acariciava o corpo da mulher, enquanto mordiscava seus lábios e pescoço. No momento em que parei para tirar a própria blusa, levei um susto Ouvi alguém batendo palma três vezes, rindo. Quando notei que não estava sozinho, saltei de susto. Jenifer me acompanhou, assustada, tampando os seios com a mão. — Olha, eu sabia que nosso patrão garanhão era o maior comedor de todos, mas fazer show com plateia assistindo... Foi demais, Pedroca. Sou teu fã, assina aqui, ó. Virei e dei de cara com Nick com a blusa levantada, me mostrando as costas onde eu deveria “supostamente” assinar algum autógrafo. Levei a mão até a testa, irritado e PERIGOSAS ACHERON

PERIGOSAS NACIONAIS constrangido. Então lembrei que a ruiva estava sem blusa e me coloquei na frente dela. Xinguei um palavrão sem nem pensar. — Coloca a blusa logo... Jen...Jas... — Não lembrava o nome da bendita. — Jenifer — ela respondeu e logo se abaixou para catar a blusa e a vestir. Fiz o mesmo, colocando a minha, e finalmente parei para olhar todos que estavam enfiados no canto da minha sala. — Ma... Que que tá acontecendo? — perguntei. Todos começaram a cantar parabéns, inclusive a ruiva que veio comigo, que acabou caindo no momento descontraído. Aquilo tudo era uma festa surpresa. Eu ainda estava furioso, odiava ter um momento como aquele interrompido, mas era por uma boa causa, então puxei a mulher que estava em meu encalço pela mão e fui cumprimentar as pessoas que estavam ali me prestigiando. Tony, Amanda e Clara foram os primeiros PERIGOSAS ACHERON

PERIGOSAS NACIONAIS que saíram dali e vieram até mim. — Desculpa, maninho, não sabia que tinha planos e... — Relaxa, Mandi. Clarinha não viu nada, viu? — Não, eu tapei os olhos dela — sussurrou cúmplice. Assenti. — Depois eu empato vocês também e tá tudo certo. Ela e meu cunhado riram. — Parabéns, mano. Você é como um irmão, desejo tudo de bom pra ti — Tony me abraçou. — Obrigado. Em seguida abaixei para agarrar minha sobrinha inocente. — Parabéns, tio! Que papai do céu te dê muitos anos de vida — Clara pulou no meu colo e beijou minha bochecha. — Obrigado, princesinha. — Coloquei-a no chão e beijei sua testa. PERIGOSAS ACHERON

PERIGOSAS NACIONAIS Alguém soltou a música e logo o movimento voltou ao normal, segui cumprimentando as pessoas. Logo fui até Lucas, que estava ao lado de Tony. — Tu não perde tempo, sou seu fã número 2, porque o 1 é o Nick. Parabéns, putão! — Ele me deu um forte aperto de mão e um abraço em seguida. — Valeu. Já não estava tão mal-humorado depois de falar com meus amigos mais íntimos. Depois segui cumprimentando os outros poucos convidados, mas ao chegar num canto do sofá, me deparei com a imagem de alguém. — Ora ora ora... — debochei. Vejam só se meu dia não poderia ficar melhor? Ironicamente falando, é claro. — Sua irmã me fez ficar — Valentina logo se explicou. — Ah, parabéns. Pensei bem. Ela estava ali, então o que custa agir com cortesia? — Obrigado. Não vai me dar um abraço, PERIGOSAS ACHERON

PERIGOSAS NACIONAIS não? — Abri os braços de pé, enquanto Valentina, sentada, me encarava de baixo para cima. Ela pareceu ponderar um pouco meu pedido, mas é claro que não negaria um abraço ao aniversariante do dia. Então se levantou e me abraçou. Eu sorria zombeteiro enquanto a abraçava. Logo desci a mão das costas de Valentina até sua bunda. Fiz com a finalidade de provocá-la. E funcionou. Ela se contorceu e afastou o abraço, lançando um olhar mortal em minha direção, que rebati com um rolar de olhos. Logo saí de perto dela e voltei propositalmente a dar atenção à bela mulher que levara para outras finalidades. A festa rolou tranquila. Os homens, como sempre, conversavam sobre futebol, sexo e se gabavam de seus últimos feitos, enquanto as mulheres colocavam a conversa em dia, falando sobre sei lá o quê. Tentei ignorar que meu tormento de anos a fio estava ali, sentada no sofá, constrangida por uma atitude insana minha. Mas que se dane! Se não PERIGOSAS ACHERON

PERIGOSAS NACIONAIS quisesse me ver, não ficava. E logo diverti-me com meus amigos, jogando conversa fora.

AMANDA A campainha tocou e de pronto atendi. Era Bruna com o esposo e o filho em um bebê conforto. — Oi, Bruna! Nossa, que bom que veio! — Eu tô feliz por vir aqui. Esses são meu filho e meu esposo. — Apontou para o homem ao seu lado. — Onde está Pedro? — Menina, você tinha que ter vindo mais cedo. Perdeu a maior cena! — contei rindo. — Sério? Me conta então depois. Vamos ali rapidinho falar com Pedroca. — Piscou para mim e sorriu. Bruna se foi com sua família e eu fiquei olhando para toda aquela festinha que organizei. Senti-me orgulhosa. Sabia que no fundo Pedro tinha amado a surpresa. Adorava quando alguém PERIGOSAS ACHERON

PERIGOSAS NACIONAIS lembrava dele. Tudo bem que ele quase estragou se pegando com a mulher que trouxe. Por sinal, uma mulher que nunca vi na vida, mas são coisas da vida. Não pude evitar notar como Valentina ficou constrangida quando viu a cena. Deixando os problemas dos outros de lado, percorri com os olhos pelo ambiente e os pousei no homem mais alto e parrudo do aglomerado de pessoas. Fiz uma checagem de baixo para cima, começando pelos sapatos estilosos nos pés e subi até suas pernas torneadas pouco destacadas pela calça que, mesmo um tanto larga, não suportava algumas partes fortes de seu corpo. Meus olhos percorreram a cintura. Ele estava com o braço levantado, apoiando em algum móvel no instante em que olhei naquela direção. Sua blusa, um pouco levantada pelo movimento, mostrava um trajeto suave de pelos na linha do umbigo que me fez morder os lábios ao imaginar o restante daquele corpo másculo sobre mim. Mas a checagem não parou aí. Subi um pouco mais e percebi como a camisa demarcava seu peito forte, suspirando. Para PERIGOSAS ACHERON

PERIGOSAS NACIONAIS acabar meu momento de admiração, lá estava aquele belo rosto barbado. Pelos loiros em tons mesclados preenchiam a face do homem que sugava todo o meu oxigênio. Os lábios desenhados e os olhos tão sinceros e cristalinos como o mar do Caribe em conjunto com todo aquele cabelo que caía em seu rosto. Cabelo que vira e mexe era lançado para trás num gesto involuntário, porém sensual. Então ele sorriu. Admirava de longe o meu homem, o homem que amava, e não consegui conter o desejo que se apossou de meu corpo. Antes passei os olhos pela sala e vi que minha filha estava ao lado de Bruna, com Jonas, seu bebê, sentados no sofá em uma conversa animada em meio às músicas. Instantaneamente segui a passos largos até Antônio, alheio à minha presença, imerso na conversa com seus amigos até sentir um toque no ombro. — Amor, preciso de uma ajudinha. — Fiquei nas pontas dos pés e sussurrei próximo ao ouvido PERIGOSAS ACHERON

PERIGOSAS NACIONAIS dele. — Algum problema? — Ele devolveu, preocupado. — Venha. Segurei sua mão e o guiei até o banheiro, de modo discreto para que ninguém percebesse o que pretendia em plena comemoração social. Assim que entramos no amplo cômodo, fechei a porta e a travei. Posicionei-me encostada contra a porta e respirei fundo. — Amor, o que houve? Tá passando mal? Enjoada? Com azia? Desejo? — Ele perguntava com os olhos arregalados e preocupados. Ai, amorzinho… Te amo tanto! Fechei os olhos e sorri. Em seguida, estendi a mão espalmada na direção do meu namorado, pedindo para que ele aguardasse. Logo minha respiração voltou ao normal e enfim o encarei. — Não estou passando mal, mas estou com desejo — afirmei séria e depois levantei o canto do lábio num sorriso sugestivo. PERIGOSAS ACHERON

PERIGOSAS NACIONAIS Antônio franziu o cenho ainda um pouco confuso, porém ao me olhar melhor, pareceu entender o que eu queria dizer. — Opa... Eu estava brincando naquela hora, a gente pode esperar até mais tarde ou amanhã. Tudo bem, amor — disse e depois me puxou para si, em um abraço carinhoso. Não aguentei com aquilo, pois gerou ainda mais fogo em minhas entranhas. Afastei-o, espalmando a mão em seu peito e o olhei nos olhos. — Quero você. Agora — falei decidida. Ele sorriu. Claro que não me negaria nada, ainda mais sexo. Então quando comecei a beijá-lo, ele logo retribuiu. Se dependesse de mim, faríamos tudo naquele banheiro, mas Antônio estava mais racional e não permitiu que eu me despisse. Ele apenas me deu prazer com as mãos enquanto me beijava e me permitiu chegar ao ápice para aplacar a vontade louca que me preenchia. Aquele homem um dia ainda me faria cometer sérias loucuras, não poderia ser normal PERIGOSAS ACHERON

PERIGOSAS NACIONAIS tanta beleza e um poder de persuasão tão magnífico pertencerem ao mesmo homem.

VALENTINA Não tinha a mínima noção do porquê aceitei ficar na festinha particular de Pedro. Sinceramente, eu precisava de algum tratamento pois quem faz esse tipo de coisa é masoquista. Não que eu sinta algo por ele, mas não dá pra simplesmente apagar o passado da gente. Bom, eu achava que não dava, pois pra ele era como se nada tivesse acontecido. Pedro bebia cerveja animado com os amigos, enquanto papeava. A mulher que veio com ele estava sentada em seu colo, também envolvida na conversa. Eu nem sabia se eles tinham alguma coisa, mas parecia que não era nada sério. Fiquei ali isolada no canto do sofá, sem muito a fazer enquanto assistia os demais convidados. Vi a filha de Amanda próxima a mim e PERIGOSAS ACHERON

PERIGOSAS NACIONAIS decidi dar atenção à pequena menina, que estava deslumbrada com o bebê de uma outra mulher ao meu lado. — Oi! Tudo bem? — Aproximei-me de Clara. Ao menos sabia o nome dela. Clara sorriu e me respondeu radiante: — Oi! Meu nome é Clara, você é amiga do meu tio Pedro? Passou longe, viu, lindona? — Não, não somos amigos — respondi. — Você gosta de bebês? Está tão animada com o bebezinho. — Sim, eu amo bebês. Minha mãe vai ter um bebê. Eu, ela e tio Tony vamos morar em uma casa muito bonita e alegre, junto com meu irmãozinho ou irmãzinha. Mamãe falou que eu vou ser uma boa irmã mais velha. Você acha que eu vou ser uma boa irmã mais velha? Clara desatou a tagarelar. Me pareceu que o assunto da gravidez de Amanda era algo recente para a menina. Parecia tão empolgada que me fez PERIGOSAS ACHERON

PERIGOSAS NACIONAIS sorrir. — Eu acho que você já é uma boa irmã. Olha como você cuidou direitinho desse menino do seu lado! Parabéns — a elogiei. — Obrigada — Clara corou. — E você, tem bebês? Fechei o sorriso. Falar de bebês era um tanto delicado, mas no momento em que ia responder à Clara, ouvi um barulho estrondoso. Socos na porta do banheiro. — Não acredito que estão fazendo isso no meio da minha festa! — Pedro espancava a porta do banheiro, mas não estava chateado, apenas parecia fazer cena. — Bora, saiam daí! Logo seus outros amigos começaram a bater à porta, juntos. — Se Pedroca não pode, ninguém pode! — O loiro gritou. — Eu também tô na seca hoje. Tem lugar pra mais um? — O negro adicionou. Os três começaram a rir como crianças e eu só pude revirar os olhos pela cena infantil. Até que PERIGOSAS ACHERON

PERIGOSAS NACIONAIS a porta se abriu e Amanda saiu com um olhar mortal direcionado ao irmão. Tony, seu namorado, saiu logo atrás. — Precisam fazer esse escândalo? Tem crianças aqui! — Tony repreendeu ninguém específico. — Tivesse pensado nas crianças na hora que quiseram fazer o ritual de fabricação de mais crianças lá no banheiro, mano — O loiro deu de ombros, ainda rindo. Mas eles não ficaram nem cinco minutos lá dentro, gente! Quanto exagero! — Não houve nada, okay! Vamos voltar com a festa normalmente! — Amanda acalmou a todos, gesticulando para que ninguém focasse nela e no namorado. Foi aí que eu ri. Queria ter conhecido Amanda naquela época, tenho certeza de que a amaria tanto quanto estou gostando de me aproximar dela hoje.

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AMANDA Fiquei vermelha como um tomate pela brincadeira de Pedro com os garotos. Ele era incorrigível! Mas assim que me aproximei dele para me desculpar, fui cortada. — Vamos logo cantar esse parabéns e liberar o pessoal porque quem quer aliviar aqui sou eu! — Me pegou pelo pulso, levando-me até a cozinha. — Aonde tá o bolo? Ele não aparentava estar chateado nem furioso… Só, talvez, nervoso. Inquieto. — Na geladeira. Desculpe, Pedro, os hormônios da gravidez... — Cala a boca, Mandi. Não tô chateado por saber que se pegaram no meu banheiro durante a minha festa. Ninguém aqui é santo. — Então por que tá com essa cara de mau? — Cruzei os braços e encarei seu rosto. Pedro passou a mão nos cabelos e suspirou, olhando para o teto, antes de abrir a geladeira e PERIGOSAS ACHERON

PERIGOSAS NACIONAIS retirar o bolo de lá. — Coisas — disse em voz baixa, porém pude escutar. — O quê, maninho? Não gostou da surpresa? — Não é isso, tá tudo lindo, legal, gostei. Obrigado. — Pausou, pensativo. — É que eu tô tenso e ainda não tive o que queria hoje, entende? Ele me lançou um olhar cúmplice, logo entendi que estava se referindo a sexo e à mulher que chegou com ele no apartamento. — Entendi. Vou pegar um refrigerante e o fósforo para a vela. Minutos depois todos estavam em volta da mesa de jantar cantando parabéns para Pedro, como se fossem colegas de escola. Era algo simples e um pouco infantil talvez, mas aquele momento talvez fizesse com que o coração um pouco congelado pela vida dura que ele levou se aquecesse e olhasse com compaixão para as pessoas ao redor, que abriram mão de um pouco do seu tempo para prestigiá-lo naquele dia. Isso incluía Valentina. Uma pessoa que eu PERIGOSAS ACHERON

PERIGOSAS NACIONAIS precisava investigar mais. O bolo foi servido, os convidados começaram a ir e Valentina foi uma das primeiras a se despedir de todos com um simples aceno envergonhado. Me deu um beijo e um abraço e se foi. Fiquei um pouco com Jonas, o bebê de Bruna, no colo, enquanto conversávamos sobre diversos assuntos relacionados à maternidade, filhos, vida a dois e muito mais. Os amigos de Pedro foram os seguintes a se despedir, deixando o recinto. Antônio sugeriu que Clara e eu dormíssemos em sua casa para deixar a noite para Pedro e sua convidada. Ele conhecia bem o amigo. Pedro me agradeceu pela iniciativa e, se despediu de nós, que fomos os últimos a deixar o apartamento apenas para ele e sua convidada. Ao chegar na casa de Antônio, eu, que estava com Clarinha dormindo no colo, sentada no banco de trás do carro, pedi para que ele a levasse para seu quarto de hóspedes, enquanto tirava as bolsas com algumas sobras da festa e algumas coisas pessoais do veículo. PERIGOSAS ACHERON

PERIGOSAS NACIONAIS Já em casa, após nos entregarmos um ao outro com saudade e ânsia, relaxamos juntos abraçados na cama, comentando sobre o dia que passamos. — Uau, cansei, essa festa acabou comigo. — Comigo também, estou bastante cansado. Acho que é a idade — ele brincou. Rimos juntos e logo começamos a nos beijar apaixonadamente. Nossas línguas deslizavam de maneira sensual, enquanto o beijo se aprofundava e dava abertura para carícias íntimas e provocadoras. Me coloquei no colo dele, posicionando as pernas uma de cada lado com meu corpo virado na sua direção. — Eu já disse que te amo hoje? — perguntei. Ele fez uma cara de confusão disfarçada, arqueando uma sobrancelha e respondeu: — Hum... Não. Você me ama, é? Balancei a cabeça positivamente, enquanto pressionava os lábios, fazendo um rosto fofo para meu namorado. Envolvi seu pescoço com os dois braços e dei um beijo em seu nariz. PERIGOSAS ACHERON

PERIGOSAS NACIONAIS — Eu te amo demais, demais, demais, demais. Meu Deus, parece que eu vou explodir! — Brinquei. Antônio sorriu, e em qualquer lugar do mundo esse sorriso causaria o mesmo efeito dentro do meu peito. Alegria, euforia, felicidade. Ele segurou meu rosto, acariciando meus cabelos e os colocando para trás. — Você me faz tão feliz. Já nos amamos, vamos ter um bebê em breve, somos felizes, acho que falta apenas uma coisa. Não entendi bem o que ele quis dizer e perguntei: — E o que seria? Ele ainda sorria. — Quer ser minha esposa? Casa comigo, Amanda? — pediu com um olhar tão profundo e sincero que senti uma pontada de tristeza pelo que diria a seguir. — Ainda não. Não sinto que quero casar agora. O brilho nos olhos dele deu uma leve PERIGOSAS ACHERON

PERIGOSAS NACIONAIS apagada. — Por quê? — Sua voz era um sussurro. Respirei fundo, sentei-me novamente ao lado dele, saindo do seu colo, e o encarei. — Já nos amamos, já somos felizes. Não precisamos de um papel pra oficializar nada, entende? Eu fui casada por oito anos, não quero ter esse peso agora. Não sei, apenas não quero. Eu tinha ciência de que Antônio jamais seria Henri. Ele era mil vezes melhor, mas ainda tinha o medo e as coisas que sempre desejei e não conquistei por estar casada e presa. Por mais que o ame, não convivemos tempo o suficiente juntos. Eu não me sinto ainda segura, ele precisa entender. O que parece que não aconteceu, pois Antônio só assentiu e se levantou. — Quer ver um filme? — Tentou descontrair de alguma forma para aplacar a decepção no tom de voz. Ah, meu anjo da guarda… Não fique magoado comigo! Tentei passar por cima daquele PERIGOSAS ACHERON

PERIGOSAS NACIONAIS constrangimento, usando a proposta dele de assistir ao filme como motivo para empolgação. — Sim, vamos! — respondi animada. Então aquele dia encerrou-se conosco agarradinho no sofá, vendo um romance meloso, com intervalos longos de demonstração de amor. Queria que ele entendesse que nossa história estava apenas começando.

A semana seguinte começou bastante movimentada. Mas logo na segunda foi meu primeiro dia na faculdade, e Antônio fez questão de me levar e buscar. — Não precisava me trazer, amorzinho — disse a ele, durante o trajeto. — Trago e venho buscar. Tem que pensar no nosso bebê e não ficar andando por aí sozinha. O mundo está muito perigoso — Antônio foi irredutível e sério em suas palavras. PERIGOSAS ACHERON

PERIGOSAS NACIONAIS — Tudo bem. Às vezes me irrito com essa proteção toda, mas também acho fofo. Tô ficando meio doida, acho que são os hormônios que me deixam sensível. Meu lindo riu. — Tomara que sejam eles mesmo. Assim que chegamos em frente ao enorme prédio, combinamos certinho de eu avisar quando a aula acabasse, para que ele viesse me buscar. Antônio pareceu muito feliz pela minha conquista e me deu vários beijos antes de eu descer do carro, dizendo o quanto estava orgulhoso. Em instantes entrei ali, onde uma nova parte da minha vida estava recomeçando.

TONY Assim que deixei minha namorada na faculdade, voltei rapidamente para casa. Queria fazer alguma coisa de útil enquanto a aguardava. Clara já estava no Pedro e isso era motivo de PERIGOSAS ACHERON

PERIGOSAS NACIONAIS tranquilidade para Amanda. Enquanto eu aguardava, comia alguma coisa deitado no sofá da sala, quando meu celular tocou. — Amanda? — atendi sem ao menos ver o nome. — Sou eu, amorzinho, que tal um alívio pelo telefone? — Nick, imitando uma voz feminina, zombou. — Ah, é você, Nick! O que quer? Esperei Nick parar de rir do outro lado da linha para depois pigarrear. — Sério, Tony. Agora que você tá no meio dessa boiolice de se apaixonar, se aposentou e entende esses negócios sentimentais, posso compartilhar com você uma coisa? Um segredo. — Ai ai... Lá vem bomba. Fala, princesinha. — É que eu tava aqui em casa, sem muita coisa pra fazer, segunda-feira à noite e tal... Peguei um livro qualquer na biblioteca e comecei a ler, só que era de poema. — Tá, e aí? Ele demorou um pouco pra responder. PERIGOSAS ACHERON

PERIGOSAS NACIONAIS — Teve um aqui que eu não entendi. Você que ama deve entender. Posso falar? Suspirei. Aquele tipo de rotina não fazia parte de Nick. O conheço há anos e nunca o ouvi falando de poemas, versos ou coisas sentimentais demais. Nem quando era nerd. — Nick, você está bem? — Tô! O que te faz pensar que eu tô mal? Tô parecendo mal? Tô parecendo estranho? Tá, muito, pensei. — Não. Fala logo essa merda aí. Nick coçou a garganta e recitou: Amor é fogo que arde sem se ver, é ferida que dói, e não se sente; é um contentamento descontente, é dor que desatina sem doer. É um não querer mais que bem querer; é um andar solitário entre a gente; é nunca contentar-se de contente; é um cuidar que ganha em se perder. É querer estar preso por vontade; é servir a quem vence, o vencedor; é ter com quem nos mata, lealdade. PERIGOSAS ACHERON

PERIGOSAS NACIONAIS Mas como causar pode seu favor nos corações humanos amizade, se tão contrário a si é o mesmo Amor?* Um silêncio sepulcral reinou na ligação. — Tá aí, bebê? — Nick perguntou. — Putz, que merda, Nick, você quer que eu te explique o amor, é isso? — Não! Eu só tava lendo essa porcaria de poema, daí não fez muito sentido e.... Ah, que se dane, sabia que você não ia ajudar. Esquece, tchau. — Calma, tchutchuca! Vou explicar. Me fala uma frase de cada vez que eu explico, ok? E assim Nick fez. Eu estava achando estranho esse questionamento dele, de repente, mas jamais deixaria meu amigo pensando que eu não me importava. Após dizer o que achava de tudo, Nick concluiu: — Então amar é a mesma coisa que lixo nenhum! Porque se você não consegue identificar, mas sente, e sempre quer estar mais feliz do que se está, querer se prender no outro e ainda achar PERIGOSAS ACHERON

PERIGOSAS NACIONAIS aquilo o máximo, e ser leal à pessoa que pode te matar, eu prefiro ficar de boas comendo geral. — Ufa, eu tava achando que você não voltaria nunca! — zombei. — Tá, parceiro, valeu pela explicação. A partir de hoje odeio poemas. — Vai ler um drama, um suspense, sei lá. Aquelas coisas nerds que você lia quando era virgem enquanto eu pegava suas amigas — caçoei mais ainda, gargalhando. Nick me mandou tomar vocês imaginam aonde, e desligou. Só consegui rir sozinho deitado no sofá. Definitivamente Nick estava esquisito.

AMANDA A aula começou e as primeiras horas foram maravilhosas, consegui lembrar muita coisa que eu tinha estudado há anos atrás. No intervalo enviei PERIGOSAS ACHERON

PERIGOSAS NACIONAIS uma mensagem para Antônio avisando a hora que ele poderia me buscar. Não adianta, mesmo com toda a intimidade e o amor entre nós, eu não queria aparentar “peso” demais para ele. Sentia-me um fardo em alguns momentos e por isso odiava quando percebia que meu namorado vivia apenas por mim. Isso não era certo, ele precisava pensar nele também e parar de ser tão solícito. Quem sabe assim não me sentiria mais à vontade e exterminaria o sentimento chato que se apossava da minha mente? Mas tive uma surpresa quando, ao fim da aula, Antônio simplesmente deu um ataque de ciúmes quando viu um colega de classe me ajudando a descer as escadas do lado de fora, pois começou a chover e estava escorregadio. Ele pirou, foi grosso com o homem e me tomou pelo braço, me carregando até o carro. Nunca o vi daquele modo. Realmente foi surpresa. O homem em questão trabalhou comigo há alguns anos, na mesma empresa onde conheci Henri. Era um colega antigo, que já estava casado PERIGOSAS ACHERON

PERIGOSAS NACIONAIS com dois filhos lindos. Naquele momento eu odiei a atitude de Antônio e sua cautela exagerada. Realmente não esperava que ele agisse desse modo, tão impulsivo. Quando entramos no carro, a voz dele ficou mais branda. — Amor, eu... — Não. Fala. Comigo. Agora — o cortei pronunciando cada palavra pausadamente. Ele fechou a boca e ligou o carro. Todo o trajeto até o apartamento de Pedro foi feito em silêncio. Estava de cabeça quente e não queria falar nada que me levasse ao arrependimento. Ele deveria estar sem saber o que dizer, pois a crise de ciúmes que deu foi tão infantil que deve tê-lo causado vergonha. Ao estacionar na calçada do prédio, quebrei o silêncio. — Vou subir sozinha. Obrigada por me trazer, Antônio. Depois conversamos. Não dei tempo nem dele se retratar, pois me retirei rapidamente e corri para dentro do prédio PERIGOSAS ACHERON

PERIGOSAS NACIONAIS com minha bolsa na mão.

TONY — Imbecil. Idiota — xinguei a mim mesmo dentro do carro, esmurrando o volante. — Ah, meu Deus... Por que é difícil se controlar? Por quê? Ele a tocou de um modo cuidadoso demais. Meu Deus, ele a segurou pela cintura! Nunca fui impulsivo nem ciumento. Consegui suportar ver a mulher que amo com o ex sem cometer loucura alguma, mas eu estava recebendo uma nova chance da vida. Era injusto ter qualquer indício de que poderia perdê-la. Eu morria de medo disso. Em meio aos pensamentos turbulentos, retornei para casa e me lembrei do que disse a Nick sobre o amor. O expliquei que amar vai além de pensar em si mesmo. Amar é se doar, é às vezes se anular até, para deixar o outro feliz. Amor é confiança, PERIGOSAS ACHERON

PERIGOSAS NACIONAIS amizade, respeito. De uma vez só feri a amizade, desrespeitei e desconfiei de Amanda ao ver um homem desconhecido próximo demais. Meu interior sabia que jamais seria traído ou magoado de propósito por ela. Então por que agi de modo tão imaturo ao vê-la naquela situação? Estava chovendo, ele poderia estar apenas a ajudando. Meditava sobre minha atitude, deixando a água do chuveiro lavar toda a minha vergonha e levá-la para o ralo, juntamente com a imaturidade. Já era hora de amadurecer e virar homem de verdade que consegue, sim, fazer uma mulher feliz ou ao menos oferecer momentos alegres durante a convivência. Se eu a quero para toda a vida, preciso aprender a lidar com as mais diversas situações. O cuidado demais, o ciúme, que apesar de não ser algo rotineiro, me dá medo. Nessas horas meu pai seria de grande ajuda se não tivesse se tornado um idiota. Assim que saí do banho, fui surpreendido pelo celular tocando de modo insistente sobre a PERIGOSAS ACHERON

PERIGOSAS NACIONAIS mesinha da sala. Corri para atender, porém não reconheci o número. — Alô. — Senhor Antônio Gali? — Sim. — Aqui é do Hospital Geral do Coração de Goiás. Seu pai, Douglas Gali, sofreu uma parada cardíaca e está internado. Você é o único parente nos contatos telefônicos dele. Mesmo estando em outro estado, ficaria viável vir o mais rápido possível? Meu coração acelerou. As palavras de Amanda soaram em minha mente. “Pode ser sua última chance”. — Eu vou pegar o próximo voo. Assim que encerrei a ligação após perguntar tudo que precisava saber, enviei uma mensagem para Amanda, me desculpando e avisando da viagem repentina. Passei toda a direção da empresa para ela, afinal era a vice-diretora, e arrumei as malas. Se aquela fosse a última chance para que meu PERIGOSAS ACHERON

PERIGOSAS NACIONAIS pai e eu nos resolvêssemos, eu não a perderia.

AMANDA Clara e eu já estávamos deitadas quando o celular apitou. — Cadê esse telefone? — resmunguei, esticando a mão até o criado-mudo, tateando na pouca luz. Assim que o encontrei e li a mensagem de Antônio, fiquei muitíssimo preocupada. Imediatamente deixei de lado qualquer mágoa boba e respondi a mensagem. Tudo bem, não hesite em me mandar notícias e avisar assim que chegar em Goiás. Farei minha parte por aqui. Te amo muito. Boa sorte com seu pai. — O que houve, mamãe? — Clara perguntou PERIGOSAS ACHERON

PERIGOSAS NACIONAIS no momento em que tornei a deitar. — Seu tio Tony, filha. Vai precisar viajar com urgência. Deite, está tudo bem — respondi, acarinhando minha filha. Clara adormeceu em instantes, porém fiquei pensando em Antônio e em como ele deveria estar preocupado e nervoso. Queria estar com ele, mas a empresa precisava de mim e agora tinha a faculdade também. Fora que, se eu fosse, teria que ver alguém para cuidar de Clara, pois Pedro já havia retornado à sua rotina de trabalho. O dia seguinte amanheceu nublado, porém sem chuva. Após mandar Clara para a escola, tomei um banho e sentei-me na banqueta da cozinha para tomar café. Optei por preparar torradas e chocolate quente, deixando um pouco para meu irmão, que ainda não acordara. — Bom dia — Pedro, ainda sonolento e esfregando os olhos, me cumprimentou assim que saiu do quarto e me viu. — Bom dia, dorminhoco. Muito trabalho hoje? — perguntei. PERIGOSAS ACHERON

PERIGOSAS NACIONAIS Pedro respondeu que não e pediu licença para ir ao banheiro. Ao retornar, sentou-se ao meu lado e começou a ingerir o que eu havia separado para ele. — Hoje irei apenas em dois hospitais. Moleza. Chego cedo em casa. — Ah, bom saber. Pode buscar Clara pra mim? Talvez eu demore hoje, pois Antônio foi pra Goiás e a empresa vai ficar sob meu comando. — Fazer o que em Goiás? — perguntou Pedro, surpreso. — O pai dele teve uma parada cardíaca. — Puta merda, que horror. Terminamos de lanchar em silêncio. Pedro concordou em buscar a sobrinha na escola e me deixou mais tranquila. Em pouco tempo, cada um seguia rumo ao seu trabalho. Ao chegar na Gali Telecomunicações, percebi um alvoroço cujo motivo não sabia qual era. Segui ao meu andar e notei alguns funcionários cochichando e outros com um olhar desesperado. Segui até a recepcionista e a saudei. — Bom dia, querida. PERIGOSAS ACHERON

PERIGOSAS NACIONAIS — Bom dia, senhorita Amanda. — Qual o motivo da movimentação dos funcionários, saberia me dizer? O olhar dela era temeroso. Apenas balançou a cabeça, negando. — Onde está o Nick? Vou perguntar a ele, com certeza saberá me informar. — Desceu tem dez minutos, foi na contabilidade. — Ok. Vou lá. Fiz o trajeto retornando ao elevador e apertei o botão do andar da contabilidade. Chegando lá, encontrei todos em silêncio, mas de algum canto do setor eu conseguia ouvir gritos. — Celina, querida. Onde está Nick? — perguntei à recepcionista do andar. — Na sala da senhorita Mendes. — Apontou para minha esquerda. — Segue reto, terceira à direita. — Ok, obrigada. Segui a passos lentos até a sala, e os gritos coincidentemente foram aumentando de volume. PERIGOSAS ACHERON

PERIGOSAS NACIONAIS Quando toquei na maçaneta da pequena sala da assistente contábil, presenciei a cena. — Eu não sou uma máquina, seu almofadinha imbecil! Arregalei os olhos, com a porta ainda entreaberta. — Eu, imbecil? Checar os últimos números da empresa é sua obrigação, seu serzinho desprezível esquecido pelo Biotônico Fontoura! — Nick rebateu. — Não quando um maldito idiota vem te dar ordem como se fosse dono de tudo, Dominic! — Larissa argumentou. — É Nick! Droga de anã marrenta... — aproximou-se dela, mesmo estando separados pela mesa, e direcionou o indicador em seu rosto. — Olha aqui, garotinha, se não chegar com esses cálculos em duas horas na minha sala, eu trato de fazer com que fique nesse setor pro resto da vida! — Falarei todas as suas malditas ameaças para o senhor Gali, assim que eu tiver a chance. A respiração dos dois emanava ódio e enchia PERIGOSAS ACHERON

PERIGOSAS NACIONAIS o ambiente, de tão pesada que estava, até que decidi pigarrear, atraindo os olhares dos dois. — Desculpa atrapalhar o espetáculo, mas Nick, me aguarde na sala do senhor Gali, por gentileza? — pedi. Ele, envergonhado, assentiu e saiu. Não sem antes de passar à porta, virar e lançar mais um olhar de ódio na direção de Larissa. — Ele já foi. Bom, podemos conversar? — pedi para a jovem assistente. Larissa assentiu, entrei e fechei a porta. — Me desculpe, dona Amanda, é que... Levantei a mão na direção dela, antes de me sentar, cortando-a. — Não sou dona de nada. Apenas Amanda ou senhorita Amanda, ok? — Ok. Fique à vontade. Me acomodei no assento e respirei fundo. Não dava para ignorar tamanha discussão no meio do horário de trabalho. — Bom, Larissa, não é? — Ela assentiu e então prossegui. — Dá pra ver que não gosta do PERIGOSAS ACHERON

PERIGOSAS NACIONAIS Nick, mas por qual motivo se rebaixa a tão pouco dando corda às suas provocações e xingando no ambiente de trabalho? Larissa bufou, sentada do outro lado da mesa. — Me perdoe, mas é que com ele eu não consigo me controlar. Ele consegue me fazer odiálo tanto, a ponto de querer voar naquele pescoço de modelinho da Calvin Klein que ele tem e torcer — dizia entredentes —, mas torcer tanto, até acabar com ele. Acredita que me pediu um balanço periódico completo pra agora? Assim, no meio do mês, do nada! Meu Deus, ela o odiava mesmo! — Nick às vezes passa dos limites, mas você precisa se manter afastada pra que ele não afete seu desempenho na empresa. Eu, na realidade, estou aqui pra saber por que andam todos afobados? Larissa me olhou fixamente nos olhos e suspirou em lamento. — Parece que as ações caíram devido à internação do senhor Douglas. Tem gente já louca desesperada, achando que vai ter corte de PERIGOSAS ACHERON

PERIGOSAS NACIONAIS funcionários e tudo mais. Que absurdo! — Mas gente! Claro que não. Quem disse isso? Antônio foi resolver tudo por lá, ver como o pai está. Fora que aqui somos apenas uma unidade, não somos a sede, temos que aguardar o que eles vão dizer pra nós. — Eu pensei nisso, mas tem gente que prefere levar boato adiante. — Ela deu de ombros. — Bom, prazer falar contigo, Larissa. Gostei de você. Pouca gente tem colhões pra encarar o Nick no nível que às vezes ele merece. Apenas cuidado, ok? — Obrigada, senhorita Amanda. Vou ter cuidado, sim. Me levantei e retirei-me da sala. Voltei para meu andar, porém segui até a sala de Antônio, onde Nick ne aguardava. — A anã fez minha caveira, né? — Nick perguntou assim que entrei na sala. Ele estava sentado no sofá do canto da sala. — Não, me falou como é a convivência de PERIGOSAS ACHERON

PERIGOSAS NACIONAIS vocês. Disse que tá caidinha por você — inventei, apenas para ver qual seria a reação de Nick. — O quê? — Nick gritou, espantado. Já vi filmes mais clichês, Nick. Me poupe. — É, ué. Vai dizer que não pegaria? Ela é linda, esforçada, gente boa... — Bate na madeira, Amanda! Cancela essas palavras da sua boca, que Deus Pai não ouça você elogiando aquele projeto de minion chato demais. Morro de medo dela se apaixonar por mim, tá maluca? Bebeu no caminho? Cuidado com a gravidez, hein, álcool e bebê não combinam! Não aguentei, gargalhei intensamente, ao perceber que sim, ele teve a reação que eu esperava. — Tá rindo do quê? Ela falou isso mesmo? Não é possível! O que eu fiz pra merecer tanta cruz na vida, senhor! — Colocou as mãos na cabeça e dramatizou, olhando para o teto. — Calma, Nick. O mundo não gira ao seu redor e ela não está interessada em você. Relaxa. Acho que se tem uma pessoa no mundo que eu PERIGOSAS ACHERON

PERIGOSAS NACIONAIS apostaria até meu último fio de cabelo que talvez, se quisesse, conseguiria fazer você ficar de quatro, é a Larissa. Me sentei na cadeira do meu namorado, e ele ficou lá, no sofá. — Amanda, olha só. Somos amigos — levantou e apontou para si e depois para mim. — Eu e você. Não estraga nossa amizade, tá? Por que me mandou ficar te aguardando aqui? Imediatamente lembrei-me do assunto mais sério e indiquei a cadeira para Nick sentar, de frente a mim. Ele logo obedeceu. — Sabe das notícias que estão correndo pela mídia, sobre Douglas? — Nick assentiu. — Estarei na frente da empresa enquanto Antônio não volta, mas preciso da sua ajuda em algumas coisas. Por exemplo, mais tarde tenho uma ultrassonografia marcada. Quero que saiba de tudo o que acontecer na minha ausência e que a partir de agora saia pela empresa acalmando o povo. Não quero ninguém histérico e esquecendo de trabalhar. Nick bateu continência. PERIGOSAS ACHERON

PERIGOSAS NACIONAIS — Sim, chefa! Só isso? Sorri com a brincadeira de Nick. — Sim, só isso. Ele saiu da sala e eu fiquei ali por um tempo, sentindo aquele ambiente que era repleto do cheiro do meu namorado, com seus toques pessoais. Já estava morrendo de saudades e preocupação com ele e seu pai. As horas seguintes passaram de modo veloz e, após o almoço, me preparei para ir à consulta do mês, onde faria também a ultrassonografia. Pedi um táxi e, durante o caminho até a clínica, pensei novamente em Antônio. Até aquele momento ele ainda não tinha dado notícias nem ligado. Será que estava tudo bem? Peguei o celular e enviei uma mensagem. Amor, como está tudo aí? Estou preocupada. Em poucos segundos recebi a resposta. PERIGOSAS ACHERON

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Não se preocupe, logo te informo de tudo. Te amo. Respirei fundo e soltei o ar lentamente. Ao menos ele havia me respondido. A angústia de não saber o que estava acontecendo não era nada boa, mas precisava confiar nele e deixar as aflições de lado, pelo bebê. Assim que a consulta pré-natal se encerrou e fui encaminhada para a sala exclusiva onde seria realizada a ultrassonografia, sentiu um leve tremor, quase imperceptível, no baixo-ventre. — Opa... Será que já quer dar sinal de vida, meu bebê? — perguntei, alisando a barriga. A gestação estava na sua 13ª semana e mesmo sendo aparentemente impossível sentir o movimento do pequeno feto dentro do útero, jurei a mim mesma que o movimento era sim do meu bebê em resposta à minha aflição. Ele estava querendo acalmar a mamãe naquele momento tão difícil. Ao ver meu pequeno frutinho no monitor do PERIGOSAS ACHERON

PERIGOSAS NACIONAIS ultrassom e ouvir da doutora que estava tudo passando excelentemente bem, relaxei ainda mais, concentrando-me apenas em dar meu melhor para que os dias fossem produtivos, pois em breve veria o amor da minha vida novamente.

*Poema de Luis Vaz de Camões (Amor é um fogo que arde sem se ver)

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Capítulo 28

TONY A vida é mesmo uma passagem. A passagem em uma estrada longa e solitária onde você só pode finalizar o trajeto deixando tudo o que conquistou pra trás e carregando consigo a sua essência. De que adianta ter milhões na conta do banco, casas, bens, poderes, se nada disso, absolutamente nada te fará viver nem que seja um segundo a mais quando for a sua hora de morrer? Quando é a nossa hora, nada pode atrasar ou adiantar. É pra ser. Assim que cheguei em Goiânia — Goiás e PERIGOSAS ACHERON

PERIGOSAS NACIONAIS rumei ao hospital onde meu pai estava internado, meu coração palpitava de modo frenético. Era medo, tensão, saudade. Sim. Eu sentia saudade do pai que eu tive antes da morte da minha mãe. Sentia saudade da nossa amizade, da nossa cumplicidade. Ele sempre sabia o que me dizer e me dava os melhores conselhos. Daí que eu tirei a conclusão de que a morte não mata só quem se vai com ela. Mata quem se deixa morrer aos poucos por estar ao redor. Meu pai morreu há dez anos, quando o corpo da minha mãe foi enterrado. O pai que ele era, o marido, o homem se foi, ficando apenas a casca fria e vazia, que após anos de terapia conseguiu seguir “em frente”, porém nunca mais foi o mesmo. É preciso dar um basta nisso e será hoje. Não vou permitir que a morte leve meu pai sem que ele saiba o que sempre significou pra mim. Sem saber que eu ainda lembro o ser humano incrível que ele foi. Ele precisava saber. Chegando lá, um grupo enorme de repórteres PERIGOSAS ACHERON

PERIGOSAS NACIONAIS e jornalistas aglomeravam-se em frente ao local e assim que eu saí do táxi, vieram direto até mim. — Com licença. O que o senhor tem a dizer da internação de seu pai? O ataque cardíaco foi devido aos estresses da empresa? Uma repórter começou a perguntar e eu senti vontade de lançá-la longe. Mas apenas meneei a cabeça, dando uma negativa, e adentrei o hospital. Tem gente que não tem mesmo noção de que em certos momentos não se deve forçar serviço. A primeira coisa que eu fiz, ao chegar, foi procurar o médico responsável pelo atendimento ao meu pai. Ele me mostrou em prontuários e explicações o seu quadro e disse que o pior já havia passado, mas que ele precisaria permanecer para um check-up e ficar em repouso por um tempo. Segui até o quarto onde ele estava internado e toquei a maçaneta fria de inox da porta lentamente. Girei-a e abri a porta, colocando minha cabeça dentro do recinto antes de entrar, verificando se ele estava dormindo ou apenas repousando. Estava dormindo. PERIGOSAS ACHERON

PERIGOSAS NACIONAIS Entrei e fui até ele. — Ah, pai... — lamentei enquanto segurava sua mão ao lado da cama. Puxei uma cadeira e sentei ao seu lado. Suspirei e depositei um beijo na sua mão frágil. Eu ainda não estava preparado para perdê-lo e, ao ouvir do médico que o pior já havia passado, um alívio imprescindível se apoderou de meu corpo. — Queria que tudo fosse tão diferente, pai. Queria que jamais tivesse me afastado. Me rejeitado. Eu queria que você estivesse perto para ver o homem que seu filho se tornou. Tudo o que eu amadureci por todos esses anos — respirei fundo. — Mas ainda dá tempo. Você ainda está aqui. Podemos fazer certo dessa vez. Senti sua mão apertar a minha naquele instante, então uma fina lágrima desceu de meus olhos. — Sei que ainda está fraco. Mas eu estou aqui. Independente de tudo, pai. Não vou deixar você. Me lembro até hoje os momentos que passamos na minha infância. Sabe o dia em que aprendi a ler na escola? Lembra? PERIGOSAS ACHERON

PERIGOSAS NACIONAIS Sorri relembrando o momento. —Papai! Papai! — Eu vinha correndo assim que cheguei em casa do colégio. Pulei no colo de meu pai que, ao me ouvir, levantou-se e abriu os braços para me receber. — Filho! Que alegria! Aconteceu algo novo hoje? — Sim, papai. Eu aprendi a ler! Eu aprendi, agora pareço com você, papai! Posso te ajudar! Ele riu de maneira aberta. — É, Tony? Vai ajudar o papai no trabalho? — Sim. Eu vou ler todas as letras do mundo! — gritei orgulhoso. Meu pai me abraçou forte e beijou o topo de minha cabeça. — A cada dia mais inteligente. Você me dá muito orgulho — ele sussurrou, me olhando nos olhos. Ao relembrar a cena, mais lágrimas caíram de meus olhos sem que eu percebesse. Douglas PERIGOSAS ACHERON

PERIGOSAS NACIONAIS sempre fora um excelente pai. O maior incentivador do meu futuro. E minha mãe, sempre tão generosa e amorosa. Minha mente me levou até o dia em que ela leu um livro sobre o amor. Eu tinha apenas oito anos. Eu estava deitado em minha pequena cama infantil. Ao meu lado, Letícia, minha mãe, acariciava meus cabelos loiros com ternura, enquanto contava uma linda história para eu dormir. — O coelho pai então perguntou ao coelho filho: O quanto você me ama? O coelho filho respondeu: Te amo até o fim da estrada que leva ao riacho. — Nossa, mamãe. É muita coisa — comentei, deslumbrado. — Sim, mas então o coelho pai disse que amava o coelho filho até além do riacho. O filho achou que era muito amor e, como estava um pouco sonolento, deitou-se no colo do pai e olhou para o céu, quando viu a lua. O coelho filho então disse: Papai, eu te amo até a lua. PERIGOSAS ACHERON

PERIGOSAS NACIONAIS — E o filho ganhou? O que o papai respondeu? — perguntei. — O coelho filho bocejou, cansado. Seu pai pensou que realmente até a lua era uma boa distância de amor. Então beijou a testa do filho e, no momento em que o menino adormeceu, sussurrou: Eu te amo até a lua. Ida e volta. — Eu te amo até a lua, ida e volta, mamãe. — Eu também, pequeno Antônio. Eu também. Acabei adormecendo entre lembranças e lágrimas. Quando acordei, meu pai já estava sentado na cama, acordado e comendo algo que a enfermeira havia levado. — Boa tarde, filho — ele disse com a voz ainda fraca. — Boa tarde, pai. Como se sente? Ele respirou fundo. — Um pouco melhor. Foi apenas um susto. — E que susto. Precisamos conversar. Me levantei e me estiquei. Dormir sentado é bastante desagradável e eu queria estar bem para PERIGOSAS ACHERON

PERIGOSAS NACIONAIS conversar com meu pai. — Tudo bem, filho — ele disse e depois liberou a enfermeira. — Obrigado, pode se retirar. Ela saiu e ficamos a sós no quarto de hospital. Aquele era o momento em que eu falaria tudo e não deixaria nada para depois. Assim que tomei fôlego para começar a falar, meu celular tocou. Peguei-o e percebi ser uma mensagem de Amanda. Ela estava preocupada, claro que estaria. Eu esqueci completamente de mantê-la informada. Respondi a mensagem com um sorriso no rosto e guardei o celular. — Era ela? — Douglas perguntou. Me sentei ao seu lado novamente, no banco que eu ocupava anteriormente, e assenti. — Sim, pai. Era ela. Ele sorriu fraco. — Você a ama mesmo, não é? Aquele era o momento de colocar tudo às claras. PERIGOSAS ACHERON

PERIGOSAS NACIONAIS — Sim, eu a amo mais que a minha própria vida, pai. E gostaria de saber por que, após tantos anos, ainda insiste em dizer que o amor é algo ruim? Ele me encarou de modo firme e pigarreou. — Filho. Eu estive agora há pouco entre a vida e a morte. Se tem algo que a gente aprende com isso é deixar o orgulho de lado e abrir o coração. A única coisa de que me arrependi foi de ter lhe dado uma falsa ilusão do amor, devido ao meu sofrimento pessoal. Acabei sendo um pai péssimo e fazendo atrocidades com você, que na época era apenas um jovem imaturo. Me perdoe. Permaneci sério e compenetrado, prestando atenção a tudo o que ele me dizia, apenas assentindo e confirmando nas horas certas. — Quando me ligou falando do que Felícia fez, eu... Me senti mal. Me senti tão imbecil por têla autorizado a levar documentos importantes a você, que pensei que jamais o veria novamente. Pensei naquele momento que o havia perdido pra sempre. Eu não armei nada com ela, mas a liberei para ir até você, pois eu sabia que ela daria em PERIGOSAS ACHERON

PERIGOSAS NACIONAIS cima como sempre fez e, se você realmente estivesse amando, não cairia. Isso serviu para que eu soubesse que você realmente a ama e que o amor que sente é o que eu sentia por sua mãe. Meu pai parou de falar. Sua voz embargou e, ao fitá-lo nos olhos, percebi que chorava de modo controlado. Já fazia dez anos, mas ao citá-la ele ainda sente. Ele ainda chora. Isso pra mim é incrível. Afaguei sua mão. — Tudo bem, pai. O que você fez foi ruim, pois depois de tudo que eu fiz pra ter Amanda de volta, aquilo me complicou muito. Mas já passou e está tudo bem. Eu a amo sim. Tanto que não importa o que me diga, pai. Nada conseguiria apagar esse sentimento. Por um lado, até te agradeço, pois se eu não fugisse do amor como sempre fiz, talvez estivesse infeliz com outra pessoa. — Não, filho. O que eu fiz foi péssimo. Nenhum pai pode privar o filho de amar. A vida é feita de amor. Sem amor, nada faz sentido. Eu fiz você viver uma vida sem sentido por dez anos. Me PERIGOSAS ACHERON

PERIGOSAS NACIONAIS perdoa? Ele segurou firme em minhas mãos. Eu não estava esperando que nossa conversa franca fluísse tão facilmente. Nem que ele confessasse sem toda a capa de orgulho o que fez a mim por todos esses anos. Aquilo causou um aperto em meu peito, mas não de dor. De libertação. Eu estava me sentindo livre e o peso que ele lançou sobre mim, finalmente estava se esvaindo. Tomei fôlego e sorri. — Te perdoo. Agora mais ainda, pois o senhor será avô. — Mesmo? — Seus olhos refletiram a surpresa pela notícia. —Terei um netinho ou uma netinha? — Sim. Ainda não sabemos o sexo, mas quero você por perto, pai. Vem pra Minas? — Eu também pensei nisso, filho. Vou chamar o escrivão e transferir a direção-geral da empresa para você. A partir de hoje você será o CEO da Gali e eu vou me aposentar. Sei que você é capaz e pode assumir tudo com perfeição, ainda PERIGOSAS ACHERON

PERIGOSAS NACIONAIS mais com uma mulher inteligente como Amanda ao seu lado. Vou pra Minas, sim. Quero estar perto de você novamente, meu filho — tomou fôlego e, após alguns curtos segundos calado, começou a chorar. — Quero viver meus últimos anos perto de você. Eu te amo. Não contive a emoção nos meus olhos e chorei também. Então o abracei. Abracei-o tão forte como nunca fiz nos últimos dez anos. Eu finalmente teria meu pai ao meu lado. Não apenas como pai, mas como amigo, parceiro. Como avô e companheiro. Parecia um sonho. Me afastei e limpei as lágrimas. — Bom — sorri —, parecemos duas cachoeiras, mas valeu a pena eu ter vindo até aqui. Não sei o que teria feito se tivesse morrido, pai. Eu não... — Shiiiiu — ele me cortou. — Estou aqui, Tony. Estarei até o fim dos meus dias ao seu lado. Obrigado por me aceitar. Por me perdoar. Ficamos conversando um pouco mais até anoitecer, e depois fui para o hotel. Deixei avisado no hospital que me ligassem em qualquer PERIGOSAS ACHERON

PERIGOSAS NACIONAIS circunstância e garanti que estaria alerta a tudo sobre meu pai. Cheguei cansado no quarto e, após um banho morno relaxante, me deitei nu na cama. Estava um pouco quente e eu estava sozinho mesmo. Suspirei e pensei na minha princesa. Amanda... Minha Amanda. Você mudou a minha vida. Ao lembrar dela, me levantei e fui buscar meu celular, que estava no bolso da calça que eu vestira mais cedo. Peguei-o e retornei até a cama, me deitando de modo despojado, enquanto verificava se havia alguma mensagem. Não havia. Abri o whatsapp. Mandei “oi” pra ela. Eram quase onze da noite e provavelmente Clara já estava dormindo. Em dois minutos ela respondeu. Oi amor, como foi tudo aí hoje? Eu não queria falar por letras. Fiz uma ligação de vídeo. PERIGOSAS ACHERON

PERIGOSAS NACIONAIS Logo a imagem um pouco escura dela surgiu na tela. Amanda estava de camisola de cetim, com os cabelos soltos e um sorriso maravilhoso nos lábios. Percebi que estava sentada na cabeceira da cama de casal do seu quarto. — Amor, onde está Clara? Ela virou o celular para o lado e a imagem de Clarinha dormindo profundamente um pouco adiante surgiu na tela. Depois voltou a focar em si. — Ela dormiu tem um tempo. Não mandei mais mensagens, pois achei que pudesse estar ocupado ou com seu pai. Mas estou morrendo de curiosidade pra saber tudo — ela disse. Não pude evitar sorrir ao relembrar o dia que passei. — Meu pai e eu nos entendemos. O perdoei e em breve ele voltará para Minas. Agora sou o CEO da empresa e ele vai se aposentar. Ela arregalou os olhos, surpresa. — Nossa, quanta coisa! Hoje foi a ultrassonografia. Depois mando uma foto legal pra você ver o bebê — Amanda disse animada. Logo PERIGOSAS ACHERON

PERIGOSAS NACIONAIS pareceu correr os olhos pela tela com o rosto um pouco curioso. — Você está pelado? Eu sorri. — Estou. Aqui está calor e como estou sozinho... — Dei de ombros. — Está sozinho, é? — Ela mordeu o lábio inferior lentamente e, com a mão livre, deslizou uma alça da camisola para baixo. — Não faz isso, Amanda — suspirei. Aquela mulher conseguia me seduzir sem esforço e só naquele olhar que ela me lançou através da tela, enquanto deslizava a alça da camisola pra baixo, me fez delirar. Minha situação já estava bastante comprometedora. Voltei a encará-la na tela. O rosto dela estava inundado de desejo e eu só queria estar ao seu lado agora. — Se prepara, pois eu vou voltar faminto. Vou te deixar dolorida de tanto que vou cansar você. Vou matar toda a saudade numa noite só. — Meu Pai... — Ela arregalou os olhos. — PERIGOSAS ACHERON

PERIGOSAS NACIONAIS Promessa é dívida, hein? Vou cobrar. Amanda sorriu. Nos despedimos e, após desligar, tomei mais um banho frio e fui dormir. Estava ansioso para voltar para casa. Tudo enfim começava a se ajeitar em todas as áreas da minha vida. No dia seguinte, foram realizados todos os exames necessários em meu pai. Eu precisei apenas estar presente quando o escrivão da empresa chegou, para me transferir o poder total dela e depois meu pai me liberou para retornar a BH. Fiquei preocupado com ele, mas sua saúde estava melhor e ele me garantiu que ajeitaria tudo com calma para morar perto de mim. Então comprei minha passagem aérea para a madrugada seguinte e retornei. Antes de entrar no avião, enviei uma mensagem para Amanda, dizendo a hora que eu chegaria. Queria vê-la antes de todos e, assim que eu chegasse na cidade, correria pra sua casa. O voo foi tranquilo e, no horário esperado, cheguei na cidade. Era cedo ainda, mas assim que PERIGOSAS ACHERON

PERIGOSAS NACIONAIS eu desembarquei e desci ao salão principal, lá estava ela. Os olhos de Amanda se encontraram com os meus e rapidamente acompanhei com o olhar sua corrida até mim. Ela correu de modo urgente e, assim que se aproximou de mim, liberei minhas malas no chão e segurei seu corpo contra o meu. Abracei-a tão forte que suspendi seu corpo durante o abraço. — Meu Deus, isso tudo é saudade? — falei enquanto a agarrava. — Muita. Muita saudade, meu amor — ela parou, me olhou nos olhos e começou a depositar muitos beijos carinhosos no meu rosto. — Meu Pai... Eu te amo tanto... Não sabe o que aconteceu antes de eu dormir. Afastei-a um pouco antes de encará-la. Será que houve alguma coisa ruim? — O que houve? Ela sorriu. E foi seu sorriso que fez meu coração ficar mais calmo. — Eu me lembrei. — Seus olhos estavam enchendo-se de lágrimas. — Eu me lembrei da PERIGOSAS ACHERON

PERIGOSAS NACIONAIS noite em que nos conhecemos. Foi tudo tão... real. Fiquei ansiosa pra te contar. Me lembrei da boate, de Henri, de você batendo nele e me trazendo bêbada pra casa. Lembrei que você parecia um anjo e me tratou com respeito naquele dia. Eu... — as lágrimas começaram a cair — ...Eu te amo tanto, ainda mais agora, ao lembrar disso. Amanda me abraçou forte novamente e eu retribuí, afagando suas costas enquanto beijava o topo de sua cabeça. Fechei os olhos e respirei fundo. Finalmente ela havia lembrado algo sobre mim. Em curtos dias aprendi lições valiosas sobre a vida. A maior delas é que você sempre vai colher o que plantar. Meu pai estava recebendo uma chance nova da vida, mas poderia ter sido diferente. E eu, estava enfim, após meses de agonia apenas aguardando que ela lembrasse o mínimo que fosse de mim em sua vida, feliz e aliviado porque sim, tinha sido paciente e aguardado seu tempo, sem pressioná-la. Eu só podia ser grato a Deus por mais esse sinal de que eu escolhi o melhor. Eu escolhi amá-la PERIGOSAS ACHERON

PERIGOSAS NACIONAIS até o fim dos meus dias.

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Capítulo 29

AMANDA Cinco meses se passaram. Já era Janeiro, verão, época de calor e mais um ano novo havia iniciado. 2016. Já estava com oito meses de gestação e morava em minha casa, comprada após a morte de Henri. O bebê que eu esperava estava grande e forte. O sexo foi descoberto quase no sexto mês de gestação, pois o bebê sempre cruzava as pernas. Foi um dia de muitas emoções para Antônio e eu. Estávamos eufóricos, sentados na sala de espera do consultório onde seria feita a ultrassonografia. — Amor, será que hoje vamos saber? — PERIGOSAS ACHERON

PERIGOSAS NACIONAIS perguntou ele, num misto de curiosidade e ansiedade. — Tomara que sim, não aguento mais essa agonia — respondi, acariciando a barriga. Em instantes fui chamada para a sala. No momento em que a doutora começou o procedimento e a imagem do bebê invadiu a tela, Antônio ficou hipnotizado, como em todas as vezes que via o bebê através daquele exame. — Hum... Temos novidades dessa vez — a doutora falou. De imediato sorri. — Diga que vamos saber o sexo? — Exatamente, descobrimos finalmente o sexo do bebê. — Graças a Deus! — Meu namorado suspirou. — E qual é? Ela mexeu o aparelho na minha barriga e posicionou em um local específico, depois congelou a tela do computador onde a imagem estava sendo passada e apontou para o órgão genital do bebê, um pouco embaçado, mas que ela PERIGOSAS ACHERON

PERIGOSAS NACIONAIS entendia. — Parabéns, papais, vocês estão esperando uma linda menina! Antônio e eu nos entreolhamos sorridentes. — Letícia — dissemos juntos. O nome não foi um problema, pois havia achado excelente colocar o nome de minha filha como o da avó, mãe de Antônio. Nem preciso dizer que, para ele, aquele dia rendeu muitas lágrimas e beijos na minha barriga, né? Quase prestes a ter o bebê, eu sofria com o verão. Estava quente demais e, mesmo que não abrisse mão de trabalhar, contra a vontade de Antônio por pura preocupação com Letícia, às vezes faltava um dia ou outro para não arriscar. Nós dois continuamos morando em casas separadas. O pai dele, Douglas, mudou-se para Belo Horizonte e estava morando no mesmo condomínio que o filho. Antônio, agora CEO da Gali Telecomunicações, vivia trabalhando demais. Eram PERIGOSAS ACHERON

PERIGOSAS NACIONAIS muitos documentos, relatórios, problemas internacionais e nacionais que vinham para ele. Havia muitas coisas acumuladas, pois seu pai já não vinha desempenhando tão bem suas atividades como gostaria, em seus últimos meses de gestão. A melhor decisão foi mesmo passar tudo para as mãos do filho. Estava eu em minha casa, numa tarde ensolarada com Clarinha, brincando de caçapalavras, quando a campainha tocou. Ao abrir, me deparei com Bruna. Bruna foi escolhida a dedo para ser madrinha de Letícia. Não havia amiga melhor. Ela acompanhou todo o relacionamento e deu conselhos de ouro para nós dois. — Bruninha! — A abracei. — Entre! Bruna estava com Jonas em um carrinho. Seu filho, agora bem maior, dormia como um anjo. — Amanda, minha amiga. Tony me ligou dizendo que não se sentia muito bem. Vim ver como está, se precisa de alguma ajuda. A indiquei o sofá para que Bruna sentasse e PERIGOSAS ACHERON

PERIGOSAS NACIONAIS ela o fez. — Antônio é tão exagerado — respondi sem graça. — Não quero te incomodar, amiga, sei que vida de mãe é desgastante e você ainda está fazendo aqueles freelancer de assistente lá na Gali. Não se preocupe comigo. — Não, me preocupo sim. Para de bobeira. Sabe como eu gosto de me sentir útil. Sobre a Gali, Tony tem feito um excelente trabalho. E vocês, quando vão juntar os trapos? O bebê não vai nascer tendo duas casas, não é? Pais juntos, porém separados, é isso? — Bruna brincou. Assunto delicado e bastante complexo. Dei um sorriso contido. — Não entendo. Por mim nós morávamos juntos, não me incomodaria em nada, eu o amo. Mas ele insiste em casamento. Prometi a mim mesma que não me casaria outra vez. E estamos ainda solidificando tudo entre nós, entende? Eu não tinha lembrado mais nada depois da noite em que conheci Antônio na boate, e aquilo me desanimou pois esperava que, ao menos me recordasse do início do sentimento entre nós. Ainda PERIGOSAS ACHERON

PERIGOSAS NACIONAIS sentia essa lacuna em minha mente. Bruna assentiu séria e suspirou. — Olha, sei que se amam. É impossível ignorar o sentimento que exala de vocês quando estão juntos. Mas pense comigo, Tony teve um passado obscuro e abriu mão de tudo quando se apaixonou por você, mas você não consegue se livrar desse pensamento bobo de não casar. Por quê? Bruna sempre tão sensata. Relaxei no sofá e encarei minha barriga protuberante. — Não sei, Bruna. Quero ver se vai dar certo, não temos nem um ano juntos ainda, muita coisa pode mudar. Já percebi que ele é muito ciumento, mesmo se controlando. Teve um dia na faculdade que ele falou poucas e boas pra um amigo casado meu! Fora as pequenas coisas que ele pensa que eu não percebo, sabe? Acho que pra casar tem que ter muita certeza, não só amor. Por mim eu não casaria nunca mais. Mas eu o amo, eu sei que vai feri-lo ficar comigo por longos anos sem sermos casados, mas ainda não sinto que é a hora. Entende? Um papel não muda o que somos um para o outro. PERIGOSAS ACHERON

PERIGOSAS NACIONAIS Bruna ficou olhando, pensativa. — Entendi. Sabe que eu acredito muito em vocês, não é? Acho que seriam muito felizes juntos. Casados. Vamos ver se Tony para de bobeira então e, pelo menos, pergunta se quer que morem juntos, né? Dei de ombros. — É. Eu aceitaria. Só não faço a proposta eu mesma, pois não quero parecer desesperada pra prender homem, sabe? Confio nele, sei que ele me ama, pra mim isso basta. — Mas estar juntos na mesma casa faria bem ao bebê — Bruna completou. — Com certeza. — Levantei. — Aceita um suco? Clarinha! Vem falar com a tia Bruna! — chamei minha filha que, ao perceber que eu receberia visitas, fugiu para o quarto a fim de brincar. Clarinha saiu correndo e abraçou Bruna, depois fez carinho em Jonas. — Tia Bruna, tudo bem? — perguntou risonha. PERIGOSAS ACHERON

PERIGOSAS NACIONAIS — Tudo ótimo, Clarinha! E você? — Estou de férias da escola. Mamãe tá me ensinando muitas coisas legais todos os dias sobre a minha irmãzinha, pra quando ela nascer. Clara sentou no sofá e, sorridente, falava. — Mesmo? Você vai cuidar bem da sua irmã? — Vou, vou trocar a fralda, vou dar banho. Sou uma menina grande, sei ajudar. Bruna riu. — Verdade, você vai ser uma excelente irmã, Clarinha! Fui preparar um lanche para minha filha e Bruna. Nos deliciamos sentados à bancada da cozinha conversando sobre temas onde eu poderia incluir minha filha que estava animada para conversar. Depois de um tempo, após o lanche, a campainha tocou. Estava estranhando tantas visitas em apenas um dia, mas fui atender mesmo assim. Era Valentina. Valentina e eu solidificamos a amizade PERIGOSAS ACHERON

PERIGOSAS NACIONAIS durante os últimos meses, porém ainda suspeitava de que Valentina escondia algo de mim. Sempre quando eu perguntava do seu noivo, percebia o semblante de Val esmorecer e ela mudava o assunto. Sobre Laira, consegui visitá-la duas vezes e sua melhora foi surpreendente. Apesar de ainda não sair muito de casa, Laira estava conseguindo superar aos poucos o luto. Mas a feição de Valentina naquele momento era de se assustar. Ela estava chorando, ofegante. — Ah, meu Deus. O que houve, Val? Tá tudo bem? Entra! — Abri passagem para a amiga entrar. Valentina logo sentou no sofá, cumprimentou Bruna e Clara e deu um sorriso contido ao bebê. — Quer água? — perguntei. — Aceito — respondeu, ainda ofegante. Depois de retornar com a água e esperar Valentina bebê-la e se acalmar, todos os olhos da sala viraram-se para Val. — Desembucha. O que houve? — perguntei, já sentada ao seu lado, afagando seus braços. Valentina secou as lágrimas e abriu a boca. PERIGOSAS ACHERON

PERIGOSAS NACIONAIS Estava nervosa, trêmula e esfregando as mãos uma na outra para criar coragem para falar. — Eu... Eu... Não sei o que eu faço da minha vida. Ai meu Deus. Nesses meses que convivi com ela, nunca a vi tão aflita. Estava com medo do que ouviria. — O que aconteceu, Val? Pode contar conosco. Eu e Bruna somos de confiança — frisei. Ela respirou fundo. Olhou nós duas seriamente. — Eu vou ter de cancelar meu casamento. Não entendi muito bem, fiz uma expressão que demonstrava total confusão. Pedi para Clara ir ao quarto brincar e depois tornei ao assunto. — Mas isso é grave? Valentina tentava respirar com mais calma, ainda olhando para as mãos no colo. — Não, mas o motivo pelo qual eu terei de cancelar é grave. Eu estou morrendo de medo — ela disse com a boca tremendo. PERIGOSAS ACHERON

PERIGOSAS NACIONAIS Parecia realmente nervosa e aflita aos olhos de quem a visse ali. — Mas então... Qual foi o motivo? — perguntei, acariciando seus cabelos ondulados. Ela abriu a boca algumas vezes para falar, depois a fechou. Parecia estar ganhando coragem. — Eu estou grávida. — Valentina disse de uma vez e em seguida se debulhou em lágrimas. Chorava incessantemente, de soluçar. Nunca havia visto alguém tão desesperada como Valentina na vida. Ela chorava tanto, que os olhos estavam vermelhos e inchados. Bruna a olhava com compaixão, segurando o filho no colo. Eu me aproximei mais dela e a abracei. — Mas... desculpe me intrometer. Um filho não é algo grave. Você acha que Juliano não quer filhos? — perguntei, afagando minha amiga. Val fungou e me encarou. — Ele... — Tampou o rosto —... o filho não é dele. Bruna e eu exclamamos “oh” ao mesmo PERIGOSAS ACHERON

PERIGOSAS NACIONAIS tempo, assustadas. — É, isso mesmo que vocês estão pensando. Eu o traí. — Ela começou a chorar novamente. Já vinha percebendo algumas coisas estranhas acontecendo com Valentina havia um tempo, mas nunca achei que ela tivesse coragem de trair seu noivo. Ela sempre se mostrou correta e generosa, uma pessoa boa e amiga. Essa notícia foi um choque. — O pai... Já sabe? — Bruna perguntou receosa. Valentina transformou o rosto em puro ódio. Meu Deus, eu não queria estar em sua pele. — Não quero falar dele. Eu fui idiota entrando nesse problema sozinha, eu vou dar um jeito de sair — respondeu firme. — Precisava apenas... Contar pra alguém. — Você não está pensando em... — comecei, porém fui interrompida. — Sim. É a única maneira de eu apagar de vez tudo e casar com Juliano. Me arrependo tanto... Fui tão desleal, ele não merecia... — logo Valentina PERIGOSAS ACHERON

PERIGOSAS NACIONAIS chorava outra vez. Aquilo estava estranho e eu descobriria como posso ajudá-la. Uma mulher não deve simplesmente achar que aquilo é a melhor solução antes de ponderar todos os fatos. Eu já estava muito apegada a Valentina, estava sofrendo por ela. Após consolá-la, me despedi de Bruna e em seguida de Valentina, que pediu segredo sobre o que contara. A noite chegou e Antônio foi até minha casa, como fazia quase todos os dias. Ele chegou à noite, um pouco tarde e bastante tenso. Entrou usando a chave que possuía e se esparramou no sofá, exausto. Eu tinha acabado de colocar Clara para dormir, quando saí do quarto para ir ao banheiro e levei um susto ao vê-lo no sofá, com a blusa social aberta e a calça desabotoada, juntamente com os olhos fechados e o corpo relaxado, deitado em sinal de cansaço. — Meu Deus! — Levei a mão ao peito. — PERIGOSAS ACHERON

PERIGOSAS NACIONAIS Que susto, nem avisa que chegou. — Mmmmmmmmmm — ele murmurou ainda de olhos fechados. “Deve estar acabado, coitado”, pensei e segui para a cozinha. Bebi um copo d'água, depois fui ao banheiro fazer xixi. Esse último período da gravidez me deixava com a bexiga em trabalho intenso. Após sair do banho, me sentei ao lado de Antônio e toquei seu ombro. — Amor, amor — chamei. — Hum...? — ele respondeu. — Vai tomar um banho e descansar, você parece morto. Um sorriso lento nasceu em seus lábios quando ele abriu os olhos. — Estou acabado. Hoje na empresa não restou nada de mim. Me dá carinho, amor? — pediu, manhoso. — Dou sim, mas vamos primeiro pro banho, pois você está todo suado e cheirando a papéis guardados — brinquei. PERIGOSAS ACHERON

PERIGOSAS NACIONAIS Ele levantou-se lentamente e tirou toda a roupa na sala mesmo, andou um pouco sonolento até o banheiro e, sem trancar a porta, entrou no chuveiro, mesmo com cueca. Começou a despertar com a água em temperatura ambiente descendo sobre o corpo e, e assim que levantou os olhos, me viu, já nua, na porta do banheiro. — Acho que vou me juntar ao meu homem — afirmei, numa voz lenta e sensual. Imediatamente pude notar que ele já estava pronto para mim. Lambi os lábios de desejo por ele. Sentia como se toda vez que o visse nu, fosse a primeira. Fosse a última. Caminhei lentamente até ele e ofeguei ao entrar no box. O desejava a cada dia mais e mais, e os hormônios da gravidez só atiçavam mais esse desejo todo. Começamos a nos beijar lentamente. Antônio rodeava sua língua de modo faminto e lascivo na minha boca e eu retribuía com ardor. O beijo foi acompanhado de carícias pelo meu corpo, me fazendo sentir o coração acelerar com seu toque. PERIGOSAS ACHERON

PERIGOSAS NACIONAIS O beijo, o toque, o corpo dele me aqueciam instantaneamente. Era praticamente involuntário o calor que subia em meu corpo ao perceber e me familiarizar com o dele. Ele tivera um dia intenso de trabalho e estava esgotado, merecia relaxar. — Amor — afastei o beijo. — Apenas sinta. Pedi e desci suas mãos pelo corpo esculpido e forte de Antônio, agachando. Ao chegar onde eu queria, sorri. Amava dar prazer ao homem que amo, e amava mais ainda as reações dele ao receber minhas carícias. Pouco tempo depois, quando ele enfim estava saciado e relaxado, continuamos nosso banho cheio de promessas para mais tarde. Saímos do box nos enxugamos. Ele me pegou ainda úmida no colo e correu comigo para o quarto; parecia ansioso. — Calminha, lembra o que a obstetra disse do sexo — o alertei no momento em que ele me posicionou na cama. — Vamos fazer apenas as posições permitidas, amor. Mas vou te dar prazer gostoso. 1 PERIGOSAS ACHERON

PERIGOSAS NACIONAIS - Porque eu te amo — ele levantou um dedo no ar, depois levantou mais um. — 2 - Porque você tá gostosa demais com essa barriguinha de grávida, esperando minha filha. 3 - Porque eu morro de tesão nesse corpo maravilhoso e sou o cara mais sortudo da face da Terra por ser o único que pode tê-la à vontade. 4 - Sou possessivo sim, você é só minha sim e relaxa que agora vou me afundar em você até cansar. Sua voz rouca e sexy me fez gemer ansiosa ao ouvir cada argumento dele. O desejava tanto, mas tanto, que sabia que ao seu lado seria feliz sem me importar com mais nada. Então apenas relaxei e recebi tudo o que ele queria me dar. Imediatamente ofeguei ao sentir seu rosto de barba mais aparada descendo pela minha barriga, causando arrepios. Logo ele estava na fonte do meu prazer, me estimulando e sendo magnífico como sempre. Mesmo chegando ao ápice somente com aquelas carícias, ele queria me satisfazer ainda mais, então me posicionou de um modo permitido para grávidas, e em instantes o senti dentro de mim. PERIGOSAS ACHERON

PERIGOSAS NACIONAIS Nossos gemidos e ofegares eram confundidos naquele quarto. Não podia evitar a satisfação que sentia toda vez que tínhamos momentos íntimos como aquele. Eu o amava demais. Para sempre.

TONY Eu queria dar a ela esse prazer para sempre. Assim que saí de dentro dela e a levantei, abracei seu corpo e acariciei sua barriga. — Eu te amo tanto. — Eu te amo ainda mais — Amanda completou. Trinquei os dentes. Era sempre o mesmo orgulho pré-histórico que sentia ao ouvi-la dizer que me ama. Amanda conseguia me fazer esquecer de tudo, naquele momento eu só queria ter o corpo da mulher que amo fundido no meu novamente. — Sua vez — ordenei. Então deitei, já preparado apenas aguardando PERIGOSAS ACHERON

PERIGOSAS NACIONAIS Amanda subir em cima de mim. Daquela vez, chegamos juntos ao clímax e deitamos um ao lado do outro para respirar e repor as energias. Foi então que, depois de um tempo, já abraçados na cama, começamos a falar um para o outro sobre o dia. — Amor, eu estou preocupada. Você está trabalhando muito e, quando vem pra cá, chega muito cansado. Bruna não estava ajudando? Suspirei. — Sim, ela ajuda muito, mas ficaram tantas coisas acumuladas, meu anjo. Eu tô enlouquecendo com tudo que tenho que fazer, cortar, mudar. Está me tirando do sério — revelei baixinho, enquanto acariciava os cabelos de Amanda. — Daqui a pouco nossa filha nasce. Melhor evitar um pouco o estresse. Que tal trazer alguma coisa do trabalho pra casa e aqui a gente trabalha juntos? Não estou todos os dias lá, mas posso fazer algo daqui. Neguei com a cabeça. — Não. Casa não é lugar de trabalho. Não PERIGOSAS ACHERON

PERIGOSAS NACIONAIS quero virar um maníaco daqueles pais de família que não dão atenção para os filhos nem pra esposa por causa de trabalho que trouxe pra casa. Daqui a pouco tudo fica melhor, amor, relaxa, tá? — a confortei. E era verdade. Estava tudo muito pesado e sacrificante, mas eu preferia chegar mais cedo ou sair um pouco mais tarde do que trazer trabalho para casa. Tanto na minha quanto na dela, quero que seja um lugar de paz. Amanda aninhou sua cabeça em meu peito e a senti sorrir. Um dia ela falou que amava saber que eu pensava na nossa família acima de tudo, e é o que tenho tentado fazer sempre. Priorizar minhas três princesas. — Amor, lembrei de algo. Sabe a Valentina? Minha amiga psicoterapeuta? — Lembro. — Ela estava muito mal hoje. Veio chorando aqui pra casa, descobriu que estava grávida e quer abortar. Está desolada. O noivo dela é estéril, ela PERIGOSAS ACHERON

PERIGOSAS NACIONAIS admitiu que o traiu, mas está arrependida. Não sei como posso ajudá-la. Ah, não… Que situação! Arregalei os olhos, surpreso. — Como assim? Ela traiu o noivo com quem? — Não sei. Estava muito mal. Com raiva, com os nervos à flor da pele. Ela passou por tanta coisa na vida, tadinha. Merece ser feliz. Sempre teve tudo com tanta dificuldade, abriu mão de um amor de adolescente, de alguém que a amava tanto pra poder investir no seu futuro. Tudo pensando em sua família, sabe? Eita, caramba… Eu conheço essa história. — Ela... Teve um amor na adolescência? — Teve, outro dia me contou mais ou menos a história. Então Amanda contou tudo o que Valentina tinha dito a ela. Não pude evitar ficar nervoso. Estava reconhecendo a história, já a tinha ouvido, mas não pela Valentina. Ponderei sobre revelar para Amanda a PERIGOSAS ACHERON

PERIGOSAS NACIONAIS coincidência louca que eu guardava como segredo, e decidi contar. — Amor, preciso te contar algo — disse, por fim. — Seu irmão vai me matar, mas não aguento mais esconder isso de você.

AMANDA Depois que Antônio revelou o tal segredo a mim, levantei e jurei que mataria meu próprio irmão. Naquele momento quis ir até ele e degolá-lo, mas faria isso mais tarde. Estava esperando um bebê, não podia me estressar muito. Tentei deixar os problemas para o dia seguinte, onde eu e Antônio faríamos de tudo para resolver o mal entendido (ou não) que houve com Valentina antes que fosse tarde demais. Agora finalmente estava tudo claro sobre minhas suspeitas. Deitei novamente junto a ele, relaxando PERIGOSAS ACHERON

PERIGOSAS NACIONAIS apenas curtindo mais um dia onde me sentia completa e realizada. Logo teríamos nossa bebê, e se tudo desse certo, moraríamos na mesma casa para construir nossa família.

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Capítulo 30

TONY — AHHHHHHH! — Amanda gritou às quatro da manhã, quando sentiu uma pontada grave em seu ventre. Eu havia pedido há uma semana para que morássemos juntos, e agora vivia com ela todos os dias em minha casa no condomínio onde sempre morei. Reformei o quarto ao gosto dela e fiz o mesmo nos quartos de Clara e de Letícia. Faltava uma semana para completar as 40 de gestação e Amanda optou pelo parto normal. Não sabia muito bem como essa contagem funcionava, mas entendia que seria pego de surpresa em algum PERIGOSAS ACHERON

PERIGOSAS NACIONAIS momento. Estávamos felizes juntos, como uma família. Saltei da cama, desesperado, e corri de um lado para o outro. — O que foi? Ai meu Deus, o que eu faço? — indaguei. — Me leva pro hospitaaaaaaaaaaaal — ela tentou dizer, mas gritou gemendo de dor. Aquela cena estava tomando tudo de mim. Ela parecia ter sido atropelada por um trator e eu estava estático, sem saber como começar. Passei a mão nos cabelos em sinal de desespero e coloquei uma camiseta e uma bermuda. Tinha mania de dormir apenas de cueca. Amanda estava colocando sua roupa já separada para um caso de emergência, no criado-mudo ao lado da cama. Peguei a bolsa do bebê e de Amanda, levei até o carro e retornei para pegá-la e colocá-la no veículo. Ao pôr Amanda no banco de trás no carro, acomodada, corri para acordar Clara e a arrumei para ir conosco. PERIGOSAS ACHERON

PERIGOSAS NACIONAIS Assim que dei partida no carro, Amanda respirou fundo. — Liga pro Pedro. Vamos deixar Clara lá. Ela parecia controlar a respiração, num ritmo intenso. — Ele não está aqui. Esqueceu? Vou ligar pra Bruna. E foi o que fiz. Ligou para Bruna e coloquei no viva-voz. Ela concordou solícita em olhar Clara, enquanto Amanda fazia seu parto. Deixei Clara na casa de Bruna e rumamos ao Hospital. Chegando lá, Amanda foi direcionada à sala de pré-parto para todos os procedimentos padrão. Orientaram-me a permanecer na sala de espera, e assim fiz, avisando através de ligações a todos os parentes, amigos e familiares que minha filha nasceria. Fiquei algumas horas aguardando, até que uma enfermeira foi até onde eu estava. — Está na hora, papai. Quer acompanhar o parto? Não pensei duas vezes. PERIGOSAS ACHERON

PERIGOSAS NACIONAIS — Sim. Acompanhei a enfermeira até a sala de parto. Lá, após vestir os trajes adequados, posicionei-me ao lado de Amanda e segurei sua mão. A cada grito dela, meu interior gelava. Estava suando de nervosismo e ansiedade. Nunca presenciei tal cena e estava admirado com a força da minha mulher ao trazer um filho ao mundo. Depois de longas contrações, gritos e forças, Letícia nasceu. — Quer ajudar a cortar o cordão, papai? — a obstetra perguntou. O misto de emoções que inundou meu peito naquele instante, ao ver minha pequena bebê pela primeira vez, fez com que meus olhos marejassem. Assenti. Minha voz estava embargada de emoção. Segui as instruções e cortei o cordão umbilical que ligava Letícia à Amanda. Depois a bebê foi levada para a lateral da sala e colocada em um respirador. Me sentei na banqueta ao lado da maca onde Amanda estava, ainda fraca, e sorri, afagando sua PERIGOSAS ACHERON

PERIGOSAS NACIONAIS mão. — Ela é linda, meu amor. Obrigado, eu te amo tanto — disse a ela. Amanda sorriu, ainda um pouco extasiada pelo momento que passara. — De nada. Estou morta, queria um hambúrguer gigante — soprou. Ela é realmente única e incrível. Imediatamente sorri. — Você acabou de parir e pensa em hambúrguer? Estávamos nós dois suados, com os olhos cheios de lágrimas, emotivos demais porém com o senso de humor firme. — Claro! Meu estômago está vazio. Quero comer. Após esse momento de descontração, pediram para que eu me retirasse pois terminariam de tratar de Amanda e Letícia.

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PERIGOSAS NACIONAIS As primeiras semanas após o nascimento de Letícia foram recheadas de visitas. Para a surpresa de Amanda, recebeu uma carta de sua mãe. Eu insisti em procurá-la apenas para avisar que a filha estava bem e teria mais uma filha, com a permissão de Amanda. A mulher não quis nem saber, disse que depois falaria com ela. A carta realmente foi uma surpresa. Já o pai, apareceu pessoalmente parecendo arrasado. Ele prometera a Amanda que faria de tudo para se reaproximar dela e do irmão em breve, mesmo morando muito longe. Eu não era o melhor exemplo de filho que perdoa o pai, apesar de ter aceitado de bom grado o perdão do meu, mas incentivei-a a seguir sem mágoas. Nossa vida juntos merecia. Era uma tarde, ainda de verão. Amanda, Clara, Letícia e eu estávamos na área de lazer do condomínio. Clara e Amanda mergulhavam na piscina enquanto eu brincava com Letícia nos braços. Sabe, nunca tive dúvidas de que era o pai PERIGOSAS ACHERON

PERIGOSAS NACIONAIS dela. Jamais duvidei desde o momento em que soube de sua existência. Eu sentia. O sentimento paterno inflava sempre em meu peito quando, como naquele momento ali na beira da piscina, Letícia arregalava os imensos olhos azuis como o mar do Caribe e dava uma risada banguela gostosa. Letícia era um bebê feliz. O que mais eu poderia querer? — Gosta de rir pro papai, né? — Toquei o queixinho dela. — Você gosta, né? Ela gargalhava ainda mais ao ouvir minha voz. Dizem que antes mesmo de nascer, os bebês criam vínculos com seus pais através das conversas, e se tem algo que eu investi pesado, foi em bater papo com essa princesinha. — Alguém traz um babador pra esse pai, gente! — gritou Amanda, aproximando-se com Clara. Todos rimos. Clarinha sentou ao meu lado, na cadeira debaixo do guarda-sol, e estendeu os braços. PERIGOSAS ACHERON

PERIGOSAS NACIONAIS — Posso segurar minha irmãzinha? — pediu carinhosa. A posicionei devagar nos braços dela e fiquei bem próximo, tomando conta. — Ela é tão fofinha! — disse Clara. — Vocês duas são lindas — comentei orgulhoso. Ela sorria encarando a linda bebê em seus braços, até que em um momento, levantou o rosto em um semblante sério e olhou para mim. — Tio. A Letícia é sua filha. Vai te chamar de papai... Eu... — titubeou envergonhada. — Posso te chamar de papai também? O mundo com certeza parou de girar por um segundo naquele instante. Eu já a amava como filha, já fazia de tudo pela família linda que possuo, mas com aquele pedido, meu coração inundou-se de emoção naquele instante. Apesar de amá-la como minha, não queria tomar o lugar de Henri. Não sabia se era certo. — Tem certeza? — perguntei para a menina. Ela balançou a cabecinha confirmando, PERIGOSAS ACHERON

PERIGOSAS NACIONAIS fazendo seus cabelos cor de mel se agitarem ao vento. — Tenho. Quero ser sua filha também — completou. Fiquei maravilhado com as palavras que saíam da boca de Clara. Ela sempre demonstrou ser absurdamente inteligente, então, sem pensar outra vez, assenti. — Sim, minha filha. Pode me chamar de pai. Clara deu um sorriso enorme, capaz de iluminar a galáxia inteira. Amanda estava ali perto e pareceu orgulhosa ao presenciar a cena. Veio até onde eu estava e me beijou, depois retornou à piscina a fim de se refrescar um pouco mais. Após posicionar Letícia de volta ao carrinho, avistei naquela manhã ensolarada uma pessoa familiar se aproximando da área onde estávamos. — Como estão minhas netinhas mais lindas? — Douglas caminhava sorrindo. Desde que se mudou para Belo Horizonte, tornou-se o homem que tanto negou ser por anos. PERIGOSAS ACHERON

PERIGOSAS NACIONAIS Sua experiência de quase-morte o ensinou a valorização dos pequenos momentos e agora agia como um avô babão e coruja com Clara e Letícia. No instante em que proferia o nome da neta mais nova, seus olhos teimavam em marejar. Era saudade. Mas ele sabia que aquela pequena bebê era uma outra Letícia. Sempre dizia para mim que faria de tudo para que a nova Letícia fosse feliz ao extremo e a protegeria de qualquer mal. — Vovô! — Clara correu para os braços de Douglas. Ela já o chamava de avô desde o primeiro instante em que ele veio para a cidade onde moramos. — Princesinha linda! Como está hoje? Ela estava sorridente em seu colo. — Eu tô bem. Peguei Lelê no colo e agora tio Tony é meu pai! — arregalou os olhinhos e sorriu contente. — Viu, vovô? Eu e Lelê temos o mesmo papai! Mesmo que eu não mereça, ele insistia em dizer quão orgulhoso da minha conduta ele era. PERIGOSAS ACHERON

PERIGOSAS NACIONAIS Nesse pequeno período de tempo, nos meses que estava morando ali no mesmo condomínio que nós, dizia que admirava a bondade do meu coração. Eu não sabia o que responder, apenas me esforçava para nunca deixar alguma área de minha vida deficiente. Fazia de tudo para ser um bom filho, um bom pai, um bom homem para Amanda e um bom líder na empresa. — Fico muito feliz, minha linda. Douglas abaixou e liberou Clara de seu colo. Então ele andou até o carrinho onde há pouco depositei minha filha de poucos meses e a observou. Sua pele clara e seu rosto redondinho, semicoberto por cabelos dourados, realçados por seus intensos olhos azuis, estavam focados em Douglas naquele instante. E eu, ao lado, apenas assistia. — Saudade do vovô? — perguntou. Letícia soltou uma curta gargalhada e balançou as perninhas e os bracinhos. Admirei a cena de coração alegre. Jamais imaginei que veria algo semelhante acontecer um dia. Eu, feliz ao lado de uma mulher com duas PERIGOSAS ACHERON

PERIGOSAS NACIONAIS filhas amadas, meu pai ao lado, sempre presente nos momentos importantes, e o amor inundado e intenso ardendo em meu peito a cada dia. Só pude sorrir. — Fica um pouco com elas, pai? — pedi. Ele concordou e então me levantei, dei a volta na grande área em volta da piscina e fui até o chuveiro que ficava à beira. Me molhei e lancei-me na água. Amanda estava na beirada, admirando nossas filhas, quando cheguei e a agarrei por trás. — Tá aí fazendo o quê, minha gostosa? — sussurrei em seu ouvido. — Para com isso, amor. Estamos perto das crianças — repreendeu-me, porém riu. — As crianças estão com meu pai. Agora eu... — Deixei que ela notasse meu estado debaixo dágua, ao roçar meu corpo no seu. Amanda fechou os olhos, recebendo a carícia. — Ai meu Deus... Estou pagando até hoje pelo período do resguardo. Por que você é tão insaciável? — Virou de frente para mim. Não me faça perguntas difíceis, minha linda. PERIGOSAS ACHERON

PERIGOSAS NACIONAIS Com minha mente já inundada de cenas, grudei meu corpo enorme no seu frágil e pequeno e encostei nossas testas. — Porque eu esperei demais. Agora que a gente pode fazer à vontade, eu não quero perder nenhuma chance. E porque eu te amo e te desejo mais do que nunca. Tá bom pra você? Seus olhos brilhavam. — Tá ótimo pra mim. Fechamos a piscina só pra nós? — sussurrou. — Não, mas podemos. — Arqueei uma sobrancelha sugestivo. — Tive uma ideia — Amanda sorriu maliciosamente. Saiu da água e pediu que meu pai levasse as meninas para dentro de casa. Clara estava cansada e Letícia, dormindo. Ele concordou e se foi com elas. Amanda voltou, fechou a grade externa da área da piscina e pulou dentro dela. A vi se aproximando por baixo d'água e aguardei. Mas Amanda não emergiu ao chegar perto de mim. Tocou a única peça de roupa que eu vestia e PERIGOSAS ACHERON

PERIGOSAS NACIONAIS abaixou, acariciando-me em seguida. — Ai meu Deus! — murmurei e olhei para os lados, com medo de sermos vistos. Não havia ninguém ao redor. Estava tudo bem fechado e cercado. Amanda levantou e limpou o rosto. — Gostou do carinho? — Enlaçou seus braços em meu pescoço. — Eu já disse que você é a mulher mais incrível do mundo? — perguntei mantendo um aperto firme no seu corpo. — Hoje não. — Minha mulher riu. Não me canso jamais de repetir como ela é preciosa na minha vida. Toquei a ponta do seu nariz. — Pois então saiba. Eu amo cada pequeno toque seu, meu amor. Amo suas carícias e seus olhares. Amo esses olhos castanhos inundados de desejo olhando pra mim. Me sinto o maioral. Me sinto o cara mais gostoso da face da Terra. Ela fez um biquinho, cruzando os braços. — Mas você é o cara mais gostoso da face da PERIGOSAS ACHERON

PERIGOSAS NACIONAIS Terra. E é meu. Cada vez que ela se declarava, poderia ser com um “eu te amo” ou com algo semelhante ao que acabei de ouvir, sentia que meu peito podia explodir com o poder dessas palavras. Nunca me acostumaria com o efeito que ela tem sobre mim. Peguei-a no colo e a coloquei sentada na beirada da piscina. Sem pensar duas vezes, fiz com ela o mesmo que fez a mim, minutos antes. — Antônio... e se alguém nos... ahhh, que delícia... E era sempre assim, mesmo depois de tudo que já vivenciamos, passamos e enfrentamos. Sempre estamos dispostos a recomeçar e nos amar, como se o amanhã não existisse. Depois de alguns atos insanos, saímos da piscina, tomamos uma ducha e entramos em casa. — Ainda bem que ninguém nos viu — Amanda sussurrou ao passar pela sala. — É, vamos nos arrumar logo, daqui a pouco Letícia acorda — a alertei. Trocamos as roupas e voltamos para a sala. PERIGOSAS ACHERON

PERIGOSAS NACIONAIS Como um sensor, Letícia acordou chorando com fome. Douglas acabou despertando também, devido ao choro do bebê e Amanda a tirou do carrinho para amamentá-la. E eu fui até Clara, que estava no quarto, acordei-a e a coloquei no banho. Assim era minha rotina de pai de família, e eu estava completamente apaixonado.

Tempos se passaram e todos estávamos reunidos em um jantar, comemorando o retorno de Amanda à empresa e um ano desde o acidente. — Caramba, passou tão rápido, né? Já fez um ano que Amanda perdeu a memória. — Nick comentou durante o jantar. — É verdade, me lembro até hoje como Tony ficou desolado — Pedro incluiu. — Um ano mudou completamente todas as nossas vidas — Valentina acrescentou, dando um singelo sorriso. PERIGOSAS ACHERON

PERIGOSAS NACIONAIS Já que todos estavam falando, decidi falar também. — Eu só tenho a agradecer por essa mulher maravilhosa que tenho ao lado — comecei. — Minha melhor amiga, minha melhor funcionária, minha parceira, minha mulher, mãe das minhas filhas e dona da minha felicidade. Você foi o melhor presente da vida pra mim, meu amor. — Segurei em suas mãos. — Eu não vejo a hora de vermos nosso futuro juntos, eu te amo tanto. — Mas é um pau mandado mesmo... — Nick zombou. — Somos os únicos blindados dessa mesa, Nick. Essa virose de aposentadoria não vai nos atingir tão cedo — Lucas acrescentou. Todos deram gargalhadas. — Fico tão feliz em ver vocês felizes, torci tanto por isso — Bruna comentou. — Eu queria falar algo — Meu pai, atento a tudo, finalmente se pronunciou. Já me sentia feliz em ter todas as pessoas que amo e admiro reunidas em um jantar como aquele. PERIGOSAS ACHERON

PERIGOSAS NACIONAIS O que mais poderia ocorrer para incrementar a alegria? Acho que Amanda também estava extasiada, apenas aproveitando o momento, pois só sorria sem muito a dizer, mas eu via as emoções cruzando pelos seus olhos. — Pode falar, pai. — Diga, sogro — Amanda comentou sorridente. — Bom — pigarreou. — Quero agradecer à Amanda por entrar em nossas vidas. Não só mudou a vida do meu filho, como mudou a minha também. Sei que na vida nunca sabemos ao certo o que acontecerá e temos de aproveitar todas as circunstâncias e oportunidades impostas pelo caminho, mas... Essa mulher aqui é a mulher mais forte que conheci. — Amanda já estava enxugando as lágrimas que desciam por seus olhos, eu sabia que ela já estava à borda. — Ela tomou uma decisão pensando no seu melhor e no melhor para a sua filha, largou a vida que levava com o ex-marido e lutou por si mesma. Ano que vem ela se forma, agora é vice-diretora de uma multinacional, mãe de duas meninas lindas, futura esposa do meu filho, PERIGOSAS ACHERON

PERIGOSAS NACIONAIS assim espero, e uma sobrevivente das artimanhas da vida. Mesmo não tendo recuperado todos os fragmentos de memória, não se prendeu a isso e seguiu em frente. Eu quero dizer que a admiro e agradeço por mudar nossas vidas. Abracei minha amada, pois ela merecia mais do que uma homenagem ou um jantar. Amanda sussurrou agradecimentos enquanto eu a abraçava com carinho, enxugando suas lágrimas. — Minha mulher merece um brinde! Ela é uma lutadora! — Ergui a taça, propondo o brinde. Todos brindamos pela vida dela, seu retorno à empresa e sua luta pela vida. As memórias posteriores à noite da boate nunca retornaram à mente de Amanda. As imagens dos nossos dias passados em Recife, dos momentos que passamos juntos com Clara e da nossa noite de amor nunca mais retornaram, mas de uma coisa Amanda tinha certeza e sempre dizia para mim: o futuro lhe pertencia.

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Era uma tarde refrescante de inverno, quando percorri a sala e olhei maravilhado para a foto de família que fizemos em um estúdio fotográfico. Nela estavam eu, Amanda, Letícia e Clara, abraçados, sorrindo e felizes como sempre. Suspirei ao lembrar em como minha vida mudou em pouco mais de um ano. Lembrei das lágrimas, dos sorrisos, do amadurecimento e do aprendizado. Consegui controlar mais os ciúmes, a proteção exagerada. Consegui me dedicar à Gali e deixar a empresa de vento em popa, e alcancei com esforço, o sonho de dar tudo que sempre quis para a mulher que amo. — Meu tesouro, vou viver o resto dos meus dias por vocês — sussurrei ao olhar o quadro preso na parede. Depositei um beijo na foto e me afastei dela, sentindo apenas gratidão. A vida é engraçada. Nos prega peças e nos faz querer muitas vezes desistir de tudo. Mas quando passamos a entender a imensidão à nossa PERIGOSAS ACHERON

PERIGOSAS NACIONAIS volta, as conquistas que podemos alcançar e os sonhos que podemos realizar, tudo se expande, se abre, se clareia. Viva cada dia como o último, lute, se esforce, ame, dedique-se, pois o futuro pertence a quem se atreve a ir atrás dele. Sempre levando o amor dentro de si, porque de todos os sentimentos humanos que podemos ter, o amor é e sempre será o maior deles. "Agora, pois, permanecem a fé, a esperança e o amor. Porém o maior desses é o amor." (1 Cor. 13:13 — Bíblia Sagrada)

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Epílogo

Tony e Amanda viveram felizes para sempre, com suas filhas e seu amor a cada dia mais forte. Não, esse não foi o fim da história. No aniversário de um ano de namoro deles, Tony a convidou para jantar, levando sua amada no melhor e mais caro restaurante da cidade. Após todo aquele romantismo, ele a pediu em casamento. Amanda disse não. Na realidade, os argumentos dela foram exatamente esses: Não precisamos casar. Você sabe que já sou sua e você é meu. Um papel não vai mudar em nada os nossos sentimentos. Vamos ficar como estamos. Eu estou feliz assim. PERIGOSAS ACHERON

PERIGOSAS NACIONAIS Mas a realidade era que aquela promessa da lista que escrevera ainda estava em sua mente. No segundo aniversário de namoro, Tony tentou novamente. Queria garantir que sua namorada fosse sua perante a lei. Ele queria, sentia necessidade de casar com ela de qualquer forma. Ouviu mais uma vez o "não". No terceiro ano, ele jurou para si mesmo que ela aceitaria. Levou-a para viajar de helicóptero. Ainda no ar, foram até um enorme campo gramado de um famoso estádio de futebol. No gramado estava escrito em pétalas de rosa com letras gigantes: “Casa comigo?”. Mais uma vez, Tony recebeu uma negativa. Os argumentos de Amanda eram sempre os mesmos. Ele nem perguntava mais o por quê. Apenas fechava o rosto e voltava para casa com ela. No quarto ano, ele fez melhor. Levou-a para uma cidade cenográfica onde, durante o passeio, inesperadamente atores começaram a coreografar em volta deles, e por fim, um grupo se aproximou, fazendo serenata e cantando "Marry You" para os PERIGOSAS ACHERON

PERIGOSAS NACIONAIS dois. A resposta de Amanda? Um balançar constrangido de cabeça. No ano seguinte os dois foram parar na TV, conhecidos pelo Brasil inteiro como o casal que nunca se casa, mas cujo noivo faz o pedido todos os anos. Deram entrevistas, fizeram sessão de fotos... Mas nada de Amanda aceitar o pedido de casamento de Tony. Passaram-se estes anos de namoro e no sexto aniversário, ainda de madrugada, depois de uma intensa noite de amor, Amanda perguntou: — Qual vai ser o pedido desse ano? Ah, parabéns pra nós, amor! Seis anos de união não é pra qualquer um. Tony a abraçou, deitado com ela na cama. — Obrigado, meu anjo. — Depositou um beijo no topo de sua cabeça. — Quem diria que eu estaria há seis anos com a mesma mulher, e sem vontade nenhuma de mudar essa realidade? Esse ano não farei nada. PERIGOSAS ACHERON

PERIGOSAS NACIONAIS — Nada? — Amanda arregalou os olhos em espanto. — Nada. Me conformei. Desisto de te pedir em casamento — disse, dando de ombros. — Por quê? Amanda sentou na cama, prendeu o lençol na altura do seio e, com o cenho franzido, aguardou a resposta dele. — Porque eu já sei a resposta. Mas sabe, amor? Desde o início, desde o primeiro pedido de casamento, eu sempre tive em mente que aquilo não nos faria melhores nem mais unidos. Minha vontade sempre foi apenas de te chamar de esposa, te dar meu nome, colocar uma puta aliança enorme no seu anelar esquerdo e acordar todos os dias falando para mim mesmo o quanto eu me sinto orgulhoso e feliz em ter uma esposa maravilhosa, que me deu duas filhas que amo mais que tudo e que vai ser sempre assim enquanto eu viver. Sempre pensei nisso, mas hoje eu entendo seu lado. Ainda quero casar, mas te entendo. Não vou insistir e levar mais um não. — Riu. Amanda sorriu e acariciou o rosto do homem PERIGOSAS ACHERON

PERIGOSAS NACIONAIS a quem entregou de corpo e alma seu coração. Suspirou, então disse: — Eu aceito. — Eu sei que não. Mas... — Tony parou no meio da frase, percebendo o que acabara de ouvir. — Você disse “aceito”? Ela assentiu, sorrindo. — Sim. Aceito. — Ah, não! Isso não está acontecendo! — Balançou a cabeça em negação. — Cadê as câmeras? É uma piada, né? Amanda começou a gargalhar. — Claro que não, meu amor. Você é tão bobo. Eu disse sim, vamos nos casar. Isso tudo que me falou agora, além dos anos que estamos juntos, me fez pensar e decidir. Quero casar com você. Mas tem que ser com aquelas tralhas todas de véu, vestido branco e o que for, hein! Tony estava boquiaberto. — Repete que vai casar comigo? — Levantou e foi até a sacada da casa com Amanda a tiracolo. — Ei, vizinhos! Amanda vai se casar PERIGOSAS ACHERON

PERIGOSAS NACIONAIS comigo! Ela gargalhava intensamente. — Eu vou casar contigo! — repetiu ela, gritando para todos ouvirem. Não tinha ninguém da vizinhança na rua, mas só em gritar em alto e bom som que aceitava o pedido dele, Tony abraçou forte sua amada e a levou de volta para a cama. — Agora um amorzinho gostoso pra comemorar. Três meses depois, chegou o grande dia. Tony já estava no altar da igreja, contando os minutos para a chegada de Amanda. Ao lado, todos os amigos com suas respectivas esposas a postos, homens de um lado e mulheres do outro. Cada um em um degrau da escadaria enorme do altar. — Finalmente, hein, barbie, convenceu o sargento! — Nick provocou o amigo. — Só não te xingo e te mando para, você conhece bem o lugar, por respeito ao local em que estamos — Tony rebateu. PERIGOSAS ACHERON

PERIGOSAS NACIONAIS — Perdi a aposta. Torci pra Amanda dizer não de novo. Agora vou ter que fazer greve de sexo. Minha mulher vai me matar — Lucas disse e sua esposa do outro lado do altar escutou. — Arranco "ele" fora — ela sibilou, apontando para o ventre dele. Lucas entendeu o murmúrio e ficou quieto, sério. — Pau mandado de uma figa — Nick zombou de Lucas em voz alta. — E quem é que manda no seu? — sua esposa perguntou, retrucando a frase do marido. — Tô de olho! Nick arregalou os olhos e parou de rir. — Você, amorzinho. Você manda, linda. Te amo. — Mandou um beijo pra ela no ar. Tony ria dos amigos. Passe o tempo que for, eles eram sempre os mesmos e sabia que a amizade seria por toda a vida. O único que não estava rindo era Pedro. Sua esposa estava entre as madrinhas também, mas com 38 semanas, gestante do quarto filho. Ele permanecia ao lado dela, acariciando sua barriga protuberante. PERIGOSAS ACHERON

PERIGOSAS NACIONAIS — Relaxa, amor, vai pro seu lugar. Daqui a pouco sua irmã chega. — Não. E se você passar mal? Olha essas escadas... E se você cair? Se a bolsa estourar? Até eu te socorrer, o bebê já nasceu e saiu correndo por aí. Daqui não saio, daqui ninguém me tira. — Foi categórico. — Tá bom, meu lindo. Eu te amo — ela concordou, orgulhosa, e os dois permaneceram lado a lado no altar. A marcha nupcial começou a tocar, anunciando a chegada da noiva tão esperada. — Finalmente! — Tony disse, aliviado, olhando para o céu. O casal de noivinhos entrou. Sua filha Letícia era a noivinha, acompanhada do filho mais velho de Pedro. Logo atrás, espalhando pétalas de rosas, vinha Clara, que já era uma moça de quase doze anos, em um belo vestido branco, de cabelos longos presos pela metade, sorridente. Então a noiva fez sua entrada. Amanda estava chorando, porém sorria como PERIGOSAS ACHERON

PERIGOSAS NACIONAIS uma criança em seu belo vestido tomara que caia branco, cravejado de diamantes por toda a sua extensão. Usava véu e grinalda, um buquê lindo de lírios e deslizava lentamente pelo tapete vermelho, indo em direção ao amor da sua vida. — Usa o lencinho, Tony — Nick alertou ao ver Tony se debulhando em lágrimas. Ele riu e obedeceu, pegando o lenço. Enxugou as lágrimas de alegria e recebeu sua noiva no altar. A cerimônia foi rápida e logo após o “sim”, foram consagrados marido e mulher, selando a união com um beijo. Durante a festa, após receber os cumprimentos de todos os amigos e convidados, Tony, Amanda e as crianças se reuniram em um espaço ao ar livre, ainda na festa, com seus outros amigos casados e respectivos filhos. — Pai, pai! — Clara correu até Tony e o abraçou forte. — O que foi, filha? — ele perguntou, preocupado. PERIGOSAS ACHERON

PERIGOSAS NACIONAIS — O Maurício, aquele imbecil, não para de me irritar! — ela resmungou, cruzando os braços e rolando os olhos. Tony semicerrou os olhos e os focou na direção de Nick. — Dominic, mantenha seu filho adolescente cheio de espinhas e hormônios longe da minha princesinha! Nick estava desatento, porém ao ouvir seu nome, alertou-se. Sua esposa segurou forte em sua mão, o confortando. — Vai lá, lindo — disse ela. Ele foi até o filho, que já estava emburrado, sozinho em um canto do vasto espaço gramado. — Maurício, filho — chamou-o. — Oi. — Clara está dizendo que você a está irritando — aproximou-se do seu ouvido, cochichando. — Ela tá falando a verdade ou tá de doce? Maurício riu. — Eu só quis dar um beijinho no rosto dela. PERIGOSAS ACHERON

PERIGOSAS NACIONAIS Só isso. Coisa boba. Nick deu dois tapinhas em suas costas. — Mas tu é meu filho mesmo. Muito macho, isso aí. Finge que eu te dei uma bronca e vai lá pedir desculpa para ela na frente do Tony. Ele assim o fez. O filho mais velho de Pedro brincava com as outras crianças de pique-esconde, enquanto sua irmã de três aninhos não largava a perna do pai, envergonhada. — Vai brincar, minha linda — Pedro abaixou e falou com a menina. — Não quelo, papai. Quelo ficá com voxê. Ele a pegou no colo e a abraçou. O mais novo estava com os avós. Lucas e sua esposa participavam de conversas agradáveis com Amanda. — E vocês, quando vão encomendar um bebê? Ela sabia da condição dos dois sobre ter filhos. PERIGOSAS ACHERON

PERIGOSAS NACIONAIS — Pra quê? Não basta essa filharada dos tcholas espalhada por aí, não? — Lucas rebateu a pergunta. — Em breve, Amanda. Eu quero — sua esposa completou com doçura. — Não vão se arrepender. É uma delícia — acrescentou Amanda. Ao fim da festa, houve a jogada do buquê, que caiu no colo de uma funcionária da empresa. Amanda e Tony se despediram de todos e foram na limousine de recém-casados em direção ao hotel, onde passariam a noite de núpcias antes de viajarem para as ilhas Cayman. Após a primeira noite como marido e mulher, os dois se acariciaram, deitados na cama, sorrindo feito crianças. — Finalmente, oficialmente minha — Tony sussurrou e beijou a ponta do nariz dela. — Finalmente, oficialmente e eternamente sua — ela rebateu. — Eu te amo ainda mais do que antes. Me surpreendo com esse amor a cada dia, pois só PERIGOSAS ACHERON

PERIGOSAS NACIONAIS cresce. O que mais me deixa feliz é saber que, mesmo me esquecendo, ainda me amou novamente. Obrigado. Ela sorriu, orgulhosa com o comentário de seu esposo, abraçando-o com força. — Não dá pra esquecer o que está gravado no coração, meu amor. Você, em mim, foi inesquecível. Ele sugou uma boa dose de ar aos pulmões. Nunca esqueceria todos os momentos em que passou ao lado dela. O amor deles já estava gravado na tábua de ambos os corações, e ela tinha certeza de que não poderia ser diferente. Seu marido era, sempre foi e será o homem da sua vida. — Eu te amo ainda mais e mais, Antônio Gali. — E eu infinitamente mais, Amanda Gali. Selaram seu amor com mais um beijo. E foi assim, entre tantas reveses que a vida dá, que um amor inesquecível sobreviveu às reviravoltas do destino. PERIGOSAS ACHERON

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FIM

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Nota sobre a doença de Henri Henri era portador de um tipo de distúrbio de personalidade: Transtorno de Personalidade Borderline: Indivíduos instáveis em suas emoções e muito impulsivos, com esforços incríveis para evitar abandono (até tentativas de suicídio). Têm rompantes de raiva inadequada. As pessoas à sua volta são consideradas ótimas, mas frente a recusas tornam-se péssimas rapidamente, sendo desconsideradas as qualidades anteriormente valorizadas. Costumam apresentar uma hiperreatividade afetiva, em que as situações boas são ótimas ou excelentes, e as ruins ou desfavoráveis PERIGOSAS ACHERON

PERIGOSAS NACIONAIS são péssimas ou catastróficas. Elas temem o abandono real ou temido, com frequência vivenciam sentimento crônico de vazio e reação pungente ao estresse, protagonizando sucessivas ameaças (ou tentativas) de suicídio e automutilação. O modus operandi desses pacientes traz um sofrimento enorme tanto para si próprios, bem como para os que com eles convivem. Uma só palavra mal colocada, uma situação inesperada sem relevância ou uma leve frustração pode levar o borderline a um acesso de raiva e ódio que duram em média poucas horas. Outra característica importante é que o borderline nem sempre sabe lidar com o êxito. É comum que eles abandonem ou destruam seus alvos e metas justo quando a perspectiva de alcançá-los é real e próxima. Fonte de pesquisa: http://www.minhavida.com.br/saude/temas/transtornode-personalidade-borderline Sobre o suicídio: Gostaria de citar algumas curiosidades sobre suicídio: PERIGOSAS ACHERON

PERIGOSAS NACIONAIS 1- O suicídio mata mais jovens atualmente do que o vírus do HIV. 2- O Brasil é o 8º País com maior índice de suicídios no mundo. 3- Os métodos mais usados para o suicídio incluem enforcamento, estrangulamento ou sufocação, disparo de arma de fogo e pesticida, independentemente da faixa etária e do gênero analisados. 4- Rio Grande do Sul tem a maior taxa de suicídio do Brasil. 5- Mortes por suicídio são cerca de três vezes maiores entre homens do que entre mulheres. Como evitar o suicídio? Perceba os sinais nas pessoas ao seu redor: 1 – Frases de alarme: Quero sumir, quero morrer, não aguento mais. 2 – Mudanças inesperadas: Alguém tinha um hobby e abandona tudo, era supervaidoso e fica desinteressado. A mudança de comportamento é o momento em que a gente se aproxima da pessoa PERIGOSAS ACHERON

PERIGOSAS NACIONAIS para saber o que está acontecendo, porque quem sabe dividindo ela vai entender que é só uma fase. 3 – Depressão e drogas: O maior coeficiente de suicídio se dá por transtorno de humor associado ao uso de substâncias psicoativas, mais da metade dos casos de suicídio. Depressão e consumo de álcool e drogas é responsável pelo maior número de mortes no mundo inteiro", afirma o psiquiatra Jair Segal. 4 – Pode não ser só "aborrescência": Existe uma falsa ideia de que a depressão atinge mais pessoas adultas. O adolescente apresenta outros sintomas, ele vai se trancar no quarto, não vai falar com ninguém, e isso vai ser entendido como fenômeno da adolescência normal, já que ele não consegue expressar seu sofrimento de uma forma clara. 5 – Preto no branco: Para o deprimido, o mundo deixa de ser colorido, é preto e branco. Ele tem baixa autoestima, desinteresse por todos e fica muito voltado para ele mesmo", explica o psiquiatra Aloysio Augusto d'Abreu. Quando em depressão severa, a pessoa se isola dos outros e não PERIGOSAS ACHERON

PERIGOSAS NACIONAIS vê motivos para continuar viva. É um alerta de urgência. 6 – Bom demais para ser verdade: A simulação de melhora é comum em diversos casos de suicídio, então, se uma pessoa que normalmente é deprimida parecer subitamente alegre, é importante acompanhá-la para garantir que ela não tentará o suicídio. O QUE VOCÊ PODE FAZER POR UMA PESSOA SUICIDA? Segundo o psiquiatra da Rede Brasileira de Prevenção do Suicídio Carlos Felipe Almeida D'Oliveira, o ideal é conversar com a pessoa e não deixá-la sozinha. Ao conversar, procure não falar muito e ouvir mais, já que muitas vezes a pessoa só precisa ser ouvida. "Se possível, acompanhe-a a um profissional de saúde e peça orientação", diz. Outra medida é retirar acesso de ferramentas potencialmente destrutivas dentro de casa - como armas, remédios e substâncias tóxicas - para evitar o uso delas em um impulso. PERIGOSAS ACHERON

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Fonte de pesquisa: http://revistagalileu.globo.com/Sociedade/noticia/2014 sinais-de-comportamento-suicida.html

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Agradecimentos

Esse é o momento para dizer para todos, incluindo a quem já leu o livro de um modo “diferente” antes. Sabe… Eu, quando comecei, nunca pensei que desejaria levar essa vida a sério. A escrita. Confesso que, quando usava o pseudônimo anterior, eu levava tudo na esportiva, como se não fosse uma profissão e sim um impulso, uma ideia momentânea… Mas então eu escolhi parar com isso. Parar de levar na brincadeira e fazer de qualquer jeito, para que sim, eu viva disso, por mais complicado e difícil que seja a escrita e a vida de um escritor iniciante no Brasil. PERIGOSAS ACHERON

PERIGOSAS NACIONAIS Não estou mostrando isso aqui para que fiquem com pena ou desejem seus sentimentos, jamais apelaria desse modo. Quero apenas dizer que sim: Valeu a pena. Esse é o primeiro livro da série que consegui reescrever em 45 dias. 45 dias que foram difíceis, corridos, sem tempo pra fazer muita coisa, mas que me deram um retorno IMPAGÁVEL! Cada comentário de vocês, leitores antigos ou novos do Wattpad, me encheu de energia e motivação para continuar e continuar… Sem vocês não valeria o esforço. Sim, vale a pena insistir na plataforma, quando tenho pessoas tão especiais ao meu lado. Agradeço ao meu esposo, que mesmo demorando a compreender a grandeza do que escrever significa para mim, me deu apoio incondicional quando eu contei que pretendia reescrever os livros. Ele é quem diz todo orgulhoso para todos os nossos amigos, que sou escritora (risos), ele quem fica anunciando aos quatro ventos o quanto se orgulha de eu finalmente ter encontrado PERIGOSAS ACHERON

PERIGOSAS NACIONAIS algo de que gosto de fazer. Obrigada, amor. Agradeço ao meu filho, Samuel, de apenas quatro aninhos, que entende quando eu peço silêncio para trabalhar. Às vezes ele também pega o laptop e senta ao meu lado, dizendo que vai trabalhar também. Obrigada, meu amor, por mais que não esteja lendo isso agora. Agradeço à Poliana Cunha, meu anjo em forma de gente. Ela quem me divulga nas redes sociais, quem me ajuda nas artes, quem me incentiva e me escuta quando quero chorar. Você vale mais que qualquer pedra preciosa. Você é única! Eu te amo! Agradeço às meninas do grupo do whatsapp, Divas da Dê, que acompanharam essa transição de perto, desde junho do ano passado até agora, e não me abandonaram quando mais precisei. Vocês são valiosas demais pra mim! Agradeço à Talita Laquimia, que se disponibilizou a conferir o arquivo final comigo para ver se estava tudo okay. Amo você, muito obrigada por ser tão parceira e incentivadora! PERIGOSAS ACHERON

PERIGOSAS NACIONAIS Agradeço aos grupos de amigos autores ASD e DDP, pois a união na literatura é tudo! Agradeço a você, leitor do wattpad. Você que já tinha lido esse livro antes e a cada capítulo comentava comigo ou aqui dizendo que estava muito melhor. Você, leitor novo, que leu com ânsia e paixão e deixou comentários carinhosos me mostrando o quanto a história te cativou. E você leitor do Amazon, por ter dado uma chance ao meu livro! Vocês são muito especiais! Agradeço por último, mas não menos importante — pelo contrário, o mais importante — , a Deus, meu Pai Eterno e grande amigo, que elucidou minha mente para que eu fizesse algo que o agradasse, que mostrasse a força do amor de um modo romântico e valioso. Ele é quem me motiva mais a cada dia, quem me dá força e ideias mirabolantes para que você esteja lendo qualquer coisa que eu venha a escrever. E por fim, agradeço a todos, todos, todos. Sem vocês isso não seria nem metade do que PERIGOSAS ACHERON

PERIGOSAS NACIONAIS é hoje. Obrigada Andressa Gomes — A. G. Moore.

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Sobre a autora A. G. Moore é o pseudônimo para Andressa Gomes. Uma carioca romancista apaixonada por contos de fadas. Sua paixão pela leitura e escrita nasceu junto com sua alfabetização e de lá não parou mais. Porém, apenas há poucos anos decidiu embarcar no sonho da escrita profissional, dando vida a enredos românticos e enigmáticos que sua mente desde sempre projetara. Hoje ela é casada, tem dois filhos e se esforça diariamente em busca da realização dos seus sonhos.

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Redes Sociais Email: [email protected] Facebook: Andressa Gomes Autora Página: A. G. Moore Grupo do facebook: Andressa Gomes — A. G. Moore

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Trecho do próximo livro: Imensurável.

“A semana inteira Pedro e eu tentamos pensar em como faríamos para continuar o que tínhamos. Tinha que dar certo. A gente se amava! O amor supera tudo, não é isso que vemos nas novelas? Na véspera da minha partida, me entreguei a ele. Não entendia muito bem o que estava entregando naquele momento, mas o amor que fizemos ficou marcado em mim para sempre. Até que nossa separação iminente chegou e eu me mudei, confiando que as cartas que trocaríamos seriam suficientes para sustentar nosso amor pelos próximos anos. Dizem que o amor tudo suporta, tudo espera e tudo crê. Os anos se passaram, eu fiz meus 15, 16, 17 anos e, durante esse tempo, Pedro e eu sempre nos escrevemos.

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PERIGOSAS NACIONAIS Até que o resultado do vestibular que eu tinha feito saiu. Dediquei meus últimos anos a dar meu melhor e conseguir me formar em uma universidade pública. Na minha mente sempre vinha a vergonha que passara na infância ao não ter o suficiente para comprar frutas, alimentos e demais itens para minha casa. Minha mãe sempre trabalhou muito, mas nunca estudou. Eu seria diferente. Consegui passar em sexto lugar na faculdade de Psicologia na UFRJ — Universidade Federal do Rio de Janeiro. — Filha, que orgulho! — Minha mãe me abraçou dentro do meu pequeno quarto na mansão dos patrões dela. — Obrigada, mãe. Minha vida vai mudar, você vai ver! Enquanto nós duas começávamos a projetar o futuro, minha mãe revelou apenas uma preocupação. — Filha, aquele garoto já sabe que você ficará pelo menos mais uns anos por aqui? Meu sorriso esmoreceu. Eu amava Pedro com todas as minhas forças, e mesmo sabendo que nossos planos poderiam mudar, confiava que poderíamos passar por tudo juntos. Mas veio o medo, o receio dele não querer esperar ou estar ao meu lado. — Não. Ele acha que eu voltarei para BH. Minha mãe segurou minhas mãos sobre a cama, e me olhou com ternura.

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PERIGOSAS NACIONAIS — Filha, ouça sua mãe. Sei que se gostam e tudo mais, mas você não pode deixar o menino preso a você por todo esse tempo. Ninguém sabe o futuro. Não o iluda, deixe o garoto viver sua vida. Se um dia tiver que ser, será. Eu sabia que ela estava com a razão. Ela sempre tinha a cabeça no lugar para tudo. Por muitas vezes já tinha pensado o mesmo, sobre não aprisioná-lo a mim. — Vou escrever pra ele agora, mãe. Ela assentiu e saiu do quarto. Me levantei e sentei na cadeira da escrivaninha que tinha no canto do local e pus-me a escrever. Eu precisava pensar…

Não queria deixá-lo, mas também não podia obrigá-lo a ficar comigo à distância.”

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Conheça as outras obras da autora: Gênero Chicklit Sapatilha Mágica



Minha

O que você faria se pudesse retornar uma hora no tempo, no momento que quisesse? Lorena sempre foi o tipo de mulher regrada e esforçada. Tem seu trabalho, seu apartamento, suas melhores amigas. O que mais ela poderia querer? Mas quando a data de seu aniversário se aproxima, o inesperado acontece: Azar. Logo na vida da pessoa mais comum do universo, os dias começam a ser cheios de catástrofes, sendo uma PERIGOSAS ACHERON

PERIGOSAS NACIONAIS delas um quase atropelamento causado por um motoqueiro misterioso. Quando completa 25 anos, ganha um par de sapatilhas mágicas e começa a acreditar que sim, nem tudo está perdido. Até ter de conviver com sua nova rotina cheia de magia e o motoqueiro, que agora parece aparecer em sua vida como um carma. A raiva logo se torna em curiosidade, que em dias transforma-se em paixão. Lorena se apaixona por um homem cuja rotina e passado são escondidos. Será a magia da sapatilha capaz de ensinar Lorena a lidar não só com os mistérios da sua própria descendência, mas sim, também os da paixão?

O diário milionária

de

uma

recém

Alessa é uma mulher divertida, com uma PERIGOSAS ACHERON

PERIGOSAS NACIONAIS personalidade forte, trabalhadora e atrapalhada. Sua vida sempre foi previsível e simples, até que um incidente a faz receber visitas de seu passado não compreendido e uma grande responsabilidade cai por seus ombros: Agora ela era milionária. O que faria se se tornasse herdeira de um grande império milionário da noite pro dia? Ela não sabia o que fazer, mas sua vida nunca mais foi a mesma depois da morte de seu avô. Agora ela teria que se mostrar digna de seu império milionário em apenas 1 ano e 3 meses. O que Alessa não esperava era ter que conviver com um homem arrogante como seu instrutor, desafiando sua paciência ao cumprir sua missão. Uma história romântica com uma pitada de humor e muitas descobertas desse novo mundo em que Alessa nunca se preparou para entrar.

Conto — Acende a Luz? PERIGOSAS ACHERON

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Clarissa Monteiro é estudiosa e reservada. Com muito sacrifício conseguiu passar pra UFF Universidade Federal Fluminense, no Rio de Janeiro, em medicina. Tudo está bem até ela perceber que a faculdade é uma versão hard da escola, onde os babacas populares ditam as regras da sociedade. Sem intenção de se arriscar, se torna a nerd invisível do canto das aulas. Até que um dia decide ir na sua primeira festa, a festa das luzes, onde ninguém consegue ver ninguém. Lá ela acaba sendo escolhida para o quarto escuro, onde passa meia hora com um cara que se identifica e acaba beijando. Antes das luzes acenderem e ela finalmente conhecer o homem encantador que acabou de beijar, ela foge. Illan é o cara mais popular da faculdade. Rico, independente e rei das festas, vai se surpreender com a menina que conheceu na festa dentro do quarto. Mas o que ele não sabe é que na real, ela o odeia. Illan cria uma fixação por Clarissa ao descobrir que ela é a garota que fugiu e fará de PERIGOSAS ACHERON

PERIGOSAS NACIONAIS tudo para conquistá-la.

Conto — 4 amigos: Como tudo começou — Série Feelings 0 Como entender quando uma amizade para a vida toda nasce? Saiba como esse sentimento sublime uniu a vida de quatro homens para sempre.

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serie felling 1

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