#10 Screw Up - Hard Rock Roots - C.M. Stunich

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C. M. Stunich #10 Screw Up Série Hard Rock Roots

Tradução Mecânica: Bia Z. Revisão: Malu Leitura: Anne Pimenta

Data: 04/2018

Screw Up Copyright © 2017 C. M. Stunich

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SINOPSE NETTY Treyjan Charell é mesmo um idiota. O último tipo de cara que eu NUNCA namoraria. Mas ele me salvou das mãos terríveis de uma multidão do rock ‘n’ roll. E o modo como ele golpeia sua guitarra me dá morcegos em vez de borboletas. Se eu pudesse, eu teria apenas um gostinho, apenas uma pequena lambida, e daria o fora de lá antes dele me arruinar. Por outro lado, talvez eu queira ser arruinada.

TREYJAN Netty Forester é mesmo uma cabeça de bagre. Sério, eu não namoraria com ela em um milhão de anos. Mas seu rosto cheio de lágrimas e o calor suave de seu corpo envolvido em meus braços está queimados em minha memória. Ela acha que pode olhar para mim toda de olhos arregalados e inocentes assim, e ir embora ilesa? Se eu pudesse, eu a esconderia de tudo - o sexo, as drogas, o rock ‘n’ roll — afastaria sua alma brilhante da minha reputação, mas essas coisas... elas são uma parte de quem eu sou. A questão é: eu a apresento ao meu mundo ou a deixo ir?

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A SÉRIE Série Hard Rock Roots C.M. Stunich

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Existem demônios escondidos em cada sombra, espreitando em cada esquina. Suas bocas estão abertas e famintas, seus olhos nada além de buracos. Aqui, enterrado atrás dessa cortina, eu estou seguro. Assim que eu colocar o pé lá fora, não sou nada mais do que um lanche. — Não seja uma vadia, — Turner Campbell diz, batendo uma mão no meu ombro e me lançando um sorriso estúpido de comedor de merda que eu venho tentando imitar por, tipo, anos. Ele tem sido meu melhor amigo há séculos, mas metade de mim meio que o odeia. Acho que talvez eu tenha ciúmes ou, dane-se? Eu acendo um cigarro e estreito meus olhos para ele. Fodido estúpido. — Como eu estou sendo uma vadia? — eu mando de volta, agitando minha fumaça e envenenando o ar com fumaça cinzabranca. Quem se importa? As leis antifumo que se danem: cheira como um maldito cinzeiro aqui atrás de qualquer jeito. Misturado com cheiro de bituca de cigarro e maconha, e o cheiro forte de cerveja velha, os bastidores tem cheiro de casa. Claro, eu tipo, cresci em um trailer cheio de lixo com um pai drogado, então minha visão de casa versus a de todos os outros é um pouco ferrada. — Você está se borrando todo, — diz Turner, os olhos castanhos brilhando quando ele simultaneamente me põe de lado, rouba meu cigarro e pega meu lugar na fenda na cortina. De pé aqui atrás, parece que nossa banda, Indecency, ainda é peixe pequeno, como se nós fizéssemos shows em pequenos botecos em LA, e rezássemos para que as vendas de nossos ingressos cobrissem o custo da gasolina. É. Mas foda-se isso. Isso não somos nós mais. Indecency só não é mais famosa que Jesus; nós somos como deuses.

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— Já faz muito tempo desde que fizemos um verdadeiro show, — diz ele, lançando um sorriso convencido em minha direção. Eu cruzo meus braços sobre meu peito e observo-o fumar o cigarro roubado. Eu tiraria sarro dele por usar uma camisa tão apertada e um jeans que ele literalmente comprou no departamento feminino, maaaass, cara, eu as estou usando também. — Você parece que está prestes a mijar na sua maldita calça. — Irmão, se você continuar em cima de mim assim, eu vou puxar essas coisas para baixo e mijar em cima de você inteiro, — eu digo, empurrando-me na parede enquanto o riso estridente de Turner se arrasta atrás de mim. Eu enrolo minhas mãos tatuadas em punhos e considero seriamente colocar uma em seu rosto. Eu e ele, nós lutamos para aliviar o estresse. É apenas o tipo de coisa que fazemos, nossa coisa ou o que quer que seja. Eu juro por Deus, ele ficou muito pior desde que se casou com a vocalista de outra banda, essa deusa do rock chamada Naomi Knox. Ele está tão apaixonado por aquela mina que ele anda por aí como se sua merda não fedesse. — Não o deixe chegar até você, — diz nosso baterista Ronnie McGuire, encostado na parede e fumando um cigarro. Ele sorri para mim, mostrando obturações prateadas. Eu acho que a expressão deveria me fazer sentir incluído, ou alguma merda, mas ele também está casado – com outra baterista. Os iguais, eu acho. Mas se eu tiver que suportar esses babacas convencidos desfilando suas porcarias apaixonadas em todo o lugar, eu vou vomitar. — Sim, baby, não deixe que ele chegue até você, — diz Turner fazendo biquinho, agarrando-me pelo pescoço com um braço e plantando um beijo molhado nojento pra cacete na minha bochecha. — Não se preocupe - Turner irá protegê-lo da grande multidão má do rock. — Fique longe de mim, porra — eu rosno, empurrando-o para longe e parando quando um rugido vem da multidão, afastando a cortina na minha frente, eu vejo uma briga que estourou perto do empurra-empurra, dois caras girando um para o outro e todos perto deles se embaralhando para sair do caminho. É, isso é apenas parte do percurso. Deixo a cortina de volta no lugar. — Apenas outra briga, — eu digo e enfio meus dedos nos bolsos, e finjo que ver meu amigo Jesse dando uns amassos com algum cara

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roadie1, não é totalmente estranho. Quero dizer, não é como se eu me importasse que ele seja gay ou o que for, mas depois de anos vendo-o perseguir mulheres, tê-lo saindo do armário de repente foi um pouco chocante. Ainda estou me acostumando com a ideia dele deixando caras colocarem seus paus em sua bunda. — É melhor eles não começarem nada dessa merda quando estivermos no palco, ou vou chutar seriamente algum traseiro. — Ah, por favor, — diz Turner, revirando os olhos para mim e saindo com outro cigarro. Antigamente, nós estaríamos nos preparando para um show injetando drogas, tomando pílulas, cheirando pó. Mas agora? Ronnie e Turner estão todos, tipo, domésticos, ou seja lá o que for – eles estão abstêmios agora. Por-porra-favor. — Se algo acontecer, ambos sabemos que eu vou ter que cuidar disso. Eu estalo minha língua contra meus dentes, atiro um dedo para cima em saudação e pego o braço da minha guitarra. Turner pode estar nos vocais, mas eu sou o guitarrista - eu defino a porra do ritmo.

Rodie são os técnicos ou pessoal de apoio que viajam com uma banda em turnê, geralmente em ônibus leito, e lidam com cada parte das produções de shows, exceto executar a música com os músicos. 1

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A velha caminhonete cheira a cigarros, lama e os dois velhos Labradores retriever2 que vivem com minha amiga Gloria e seu pai. Já meu suéter de caxemira rosa claro está coberto de pequenos pelos negros. Tanta coisa para a nossa glamorosa viagem a Los Angeles. Quaisquer caras que encontrarmos estão susceptíveis a - literalmente sentir o cheiro caipira por todo lado. Não é que esteja à procura de caras esta noite. Porque eu não estou. Eu não estou. — Você tem certeza que este visual é... apropriado? — eu pergunto quando a caminhonete ronca e estala no estacionamento do Bloodstain3 - sim, o Bloodstain, como se isso fosse mesmo um nome atraente para um local de show de música. Eu aperto as bordas do meu cardigan sobre meus seios e me sinto tão autoconsciente de repente, que meu estômago se torce em nós e salta para minha garganta. Isso fica lá, bem ao lado do meu coração batendo rapidamente. — Você está de brincadeira? Você está tão sexy, Netty, — diz Gloria enquanto ela serpenteia pelas fileiras lotadas procurando um lugar para estacionar. Olhando para ela, eu queria ter aceitado a oferta de um vestido - algo provocante e preto e apertado. Algo com strass. Algo com couro. Eu acho que devo ser a mais ingênua de vinte e cinco anos no estado da Califórnia. — Todos os outros estão vestindo preto, como se eles estivessem a caminho de um funeral. Atrás de mim, as gêmeas - não, não idênticas - dando risadinhas e Kella, mais velha por uma diferença de dois minutos, se inclina sobre a parte de trás do assento para brincar com o meu rabo de cavalo.

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Raça de cachorro. Mancha de sangue. ~8~

— Você parece fofa, como Susie Q4 ou algo assim, — ela diz e então todas riem, claramente às minhas custas. Se essa viagem - planejada e paga por Gloria - não estivesse servindo como sua festa de despedida de solteira, eu estaria recusando o show e gastaria as próximas duas horas sentada no carro. — Eu pareço uma dona de casa dos anos cinquenta, — eu digo com um estalo, ficando ciente que minha saia abaixo do joelho, sapatilhas pretas e blusinha branca não são exatamente o melhor neste lugar. Eu sinto como se estivéssemos entrando em um outro mundo enquanto nós estacionamos em um espaço sortudo perto da frente, diretamente sob um poste de iluminação quebrado. Isso também não é um bom presságio. Eu gemo e inclino minha cabeça para trás contra o assento. Eu não ia dizer nada, mas eu meio que achei que as outras quatro meninas na festa da noiva pareciam - e eu estou falando com uma pequena ironia - putas, por falta de um termo melhor. Quero dizer, como se elas literalmente recebessem dinheiro por sexo. Sentada aqui, olhando para a multidão entrando pelas portas da frente, eu percebo que eu sou a única que vai se destacar de uma forma ruim. — Merda, — eu murmuro e as outras senhoras no carro trocam olhares. Não é frequente que elas me ouçam praguejar. Ou me vejam beber, fumar ou ir a uma festa diferente. Eu não sou uma puritana ou algo assim; eu apenas gosto de relaxar em casa assistindo Netflix com meu gato. Ok. Uau. Isso soou realmente, realmente ruim, não foi? Eu levanto os braços e arranco meu cabelo do rabo de cavalo, sacudindo-o e esfregando-o com meus dedos, e as gêmeas aplaudem e a irmã mais velha delas, Asha, passa uma lata de cerveja sobre o banco de trás. — Você está finalmente pronta para tomar uma bebida? — diz ela, levantando as sobrancelhas loiras para mim na pergunta. De acordo Uma música de Dale Hawkins, grava da em 1957, um dos primeiros estilos de música rock and roll. 4 4

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com Gloria, a bebida antes é necessária porque as - e eu estou citando bebidas dentro do local do show irá levá-la totalmente à falência. Por que pagar dez pratas por um coquetel quando eu posso beber uma Pabst5 que me custa cinquenta centavos na mercearia? Novamente, palavras dela, não minhas. — Estou lhe dizendo - você vai ter um inferno de muito mais diversão se você estiver no brilho. Eu pego a lata em meus dedos, abro para brindar e deixo a pressão do grupo me mover para tomar minha primeira bebida em mais de seis meses. A última vez que tive álcool foi na minha festa de aniversário de vinte e cinco anos. Eu bebi um jarro inteiro de sangria porque Asha me disse que não havia nenhum álcool nela - e eu não podia sentir o gosto. Eu acabei passando a maior parte da noite no banheiro de uma boate, curvada sobre um vaso sanitário e vomitando minhas tripas. Quando eu termino a lata, eu a esmago e a jogo no chão, como todas as outras estão fazendo. — Essa é minha garota, — diz Gloria quando eu deslizo para fora do cardigan rosa e tiro minha blusa da saia. Não faz muita diferença, mas ajuda. — Se eu soubesse que você ia mudar de ideia, eu teria trazido roupas extras. Aqui. — Gloria para e pega a presilha de caveira branca com ossos cruzados de seu cabelo, inclinando-se e prendendo um punhado de meus cachos castanhos cor de mel para trás. Ela sorri maliciosamente para mim, pega sua bandana Lá Vem a Maldita Noiva e a amarra na cabeça. — Pronta? — pergunta ela, mas eu já estou procurando outra bebida. Pronta nem mesmo começa a cobrir o que eu estou sentindo. Por outras palavras, como um cordeiro se dirigindo para um covil de lobos. Eu bebo mais três latas antes de entrar. Se eu soubesse que estava indo encontrar um demônio com jeans apertado e delineador, um homem que iria me cortejar, arruinar e salvar, tudo de uma só vez, eu teria mandado para baixo mais uma dúzia.

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Marca de cerveja. ~ 10 ~

A multidão é abafada e agitada e suada, pressionado por todos os meus lados enquanto eu me esforço para não deixar a bebida no meu copo de plástico derramar por todo o lugar. — Isso me custou o olho da cara, então é melhor você beber! — Gloria diz, apontando para mim enquanto Asha segura sua bebida e puxa sua camiseta regata por cima da cabeça, bem ali no meio da multidão. Eu não estou tentando julgar nem nada, mas... ok, eu estou sendo um juiz. Eu lanço minha bebida para trás e Gloria muda para sua nova camiseta da banda, a palavra Indecency rabiscada em toda ela com letras vermelhas agressivas que se parecem com respingos de sangue. O que é isso com o mundo do rock e sangue? Sangue não é sexy. Eu supostamente sei tudo sobre isso. Eu termino minha bebida em um período de tempo surpreendentemente curto, piscando estupidamente para o copo enquanto a plateia murmura e se mistura, esperando a primeira apresentação entrar no palco neste prédio de armazém velho e abarrotado. Nós estamos em uma parte da cidade que todos os sites turísticos alertaram mais de um milhão de vezes que forasteiros deveriam ficar longe, e ainda assim há uma sensação de camaradagem no ar, essa sensação de união que o preto e o couro e as correntes não me levaram a suspeitar. Ou talvez eu esteja apenas começando a ficar bêbada? — Aqui, — diz Gloria, segurando sua blusa sem manga e sacudindo-a. — Coloque isso. Comprei essa camiseta então você pode usar a minha. — Obrigada, — eu digo cautelosamente, olhando para a blusa branca sem mangas com a rede no centro. Eu a puxo sobre a minha blusinha branca e percebo as gêmeas rolando seus olhos para mim. Desculpe, mas eu coloquei um pequeno sutiã rosa com desenho de borboleta cor de pêssego fofinho embaixo, e eu não estou mostrandoo para o mundo inteiro ver. Eu me sinto um pouco melhor vestindo-o, como se talvez eu não me destacasse tanto. Essa é uma das coisas na qual eu sou realmente, realmente boa - não me destacar. Depois da coisa toda com meu pai e... bem, vamos apenas dizer que eu aprendi que atenção nem sempre é uma coisa boa. Eu preferiria não ter nenhuma do que qualquer negatividade voltada no meu caminho.

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Enquanto eu tomo goles da bebida na minha mão - o gosto é muito pior do que a sangria - as luzes se apagam e as pessoas ao meu redor... elas ficam completamente insanas. Eu não estou realmente “no saber” quando se trata desses tipos de eventos, mas acho que alguma banda mega famosa postou em todas suas redes sociais que eles estariam fazendo um show de abertura aqui esta noite. Felizmente para nós, já tínhamos ingressos. Tudo o que ainda estava disponível no momento da postagem se foi a muito tempo, e já existe uma enorme multidão se formando do lado de fora da área do portão onde as bandas estacionam seus ônibus. Eu acho que elas são tietes ou algo assim? Eu não faço ideia. Eu não me classificaria exatamente como ‘legal’. Eu ouço Justin Bieber em segredo (também com meu gato). Eu paro de tomar a bebida em goles e simplesmente mando tudo para baixo, esperando que meu usual clumsawkwardy (essa é a minha palavra inventada para uma mistura saudável de falta de jeito e constrangimentos - e sim, eu também sou tão careta que eu maquio palavras) não se mostre no centro de uma multidão tão intimidante. Contudo, outra bebida vem em meu caminho através de Kella e seus brincos pendurados de caveiras. Desta vez, quando eu tomo um gole, não tem um gosto tão ruim. Mais alguns goles e na verdade tem um gosto meio que... bom? Eu levo uma mão na minha boca e grito com tudo, com o resto da multidão, gritando sem querer na orelha da noiva. Fantástico. Eu termino a minha mais nova bebida quando um homem no palco - vestindo um terno e gravata, chama a atenção que suas mãos e pescoço são cobertos de tatuagens - introduz sua banda Beauty in Lies, com um sotaque britânico pitoresco, todos os porras intercalados através de suas palavras me fazendo rir. Rir? Ah, inferno não. Netty Forester não ri. Decidindo tirar minhas observações das gêmeas, eu começo a levantar meu punho no ar e saltar com a multidão, tentando não deixar que a obscura neblina no ar me perturbe. Os cheiros duplos de fumaça de cigarro e maconha pairam pesadamente sobre o lugar como smog6 (nós estamos em LA afinal de contas, então a comparação das 6

Neblina com fumaça decorrente da poluição. ~ 12 ~

palavras). Logo embaixo dela, há uma boa mistura de álcool e odor corporal. Mas a partir de agora, estou me sentindo realmente bem, toda sexy e solta e animada. Eu deveria ficar bêbada com mais frequência! Embora eu nunca tenha ouvido antes na minha vida a música que está tocando, eu faço com os lábios as palavras ‘ervilhas e cenouras’ várias e várias vezes, porque eu ouvi uma vez que essa frase faz parecer que você realmente conhece a letra. Tudo ao meu redor, pessoas em botas de couro e... isso é uma capa?, é definitivamente uma capa que vejo lá... dançam e se batem e se jogam para o palco como animais, arranhando para conseguir um pedaço do sexo brilhante que está à venda no palco. Na hora da segunda banda da noite - alguma banda de rock sulista chamada Pistols and Violets - subir no palco, eu já tive mais três bebidas e estou para lá de bêbada e no meu caminho para ser esmagada, e a multidão está agora menos do que humana. É uma cena gloriosamente violenta ao meu redor, esta frivolidade compartilhada de emoção que faz todos os espaços vazios dentro de mim doerem, doerem, doerem. Às vezes, enrolando-me no sofá com uma tigela de pipoca e um gato ronronando faz o mundo inteiro parecer seguro e feliz. Às vezes... eu fico tão sozinha que magoa. Uma briga se desenrola perto do palco e dois caras conseguem abrir caminho contra a cerca de segurança de metal e se embaralham em direção ao vocalista. Ele, na verdade, consegue soltar um deles com um soco bem colocado no intestino antes do cara lançar um soco dele, os seguranças agarram o outro. Para o seu crédito, o homem com o sensual sotaque do sul nunca para de cantar. — Estas coisas são sempre tão violentas? — eu grito para Gloria... justo quando a música termina e há um breve momento de quase silêncio. Várias pessoas ao meu redor riem e eu arrasto os pés nas minhas sapatilhas pretas confortáveis no chão de concreto áspero, e espero que o palco fique escuro. — Está na hora; está na hora; está na hora, — ela fica falando repetidamente, mordendo seu lábio tão forte que sangra. Eu me encolho quando ela põe a mão dentro de sua blusa e ajusta seus peitos monstruosos (se eles fossem reais, eu não tiraria sarro dela, mas eles são implantes, então é um jogo justo). — Eu acho que vou fazer xixi, — ela diz quando há um empurrão visível para a frente, pela multidão.

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Eu me encontro sendo empurrada e pressionada e acotovelada para longe de minhas amigas, enquanto cada pessoa individual da multidão começa a desaparecer nesta monstruosa bolha alimentada com rock ‘n’ roll. As luzes piscam e confetes pretos e vermelhos explodem sobre a multidão, caindo como chuva nos meus cabelos revoltos enquanto eu sinto meu corpo ser esmagado entre o grupo de pessoas na minha frente e os que estão atrás. Eu mal consigo sequer respirar. Ainda assim, a sensação estridente na minha cabeça faz com que tudo pareça bem, talvez até bom, mais como ótimo. Mesmo que eu só conheça a Indecency das manchetes - a banda é realmente mais famosa pelas tramas do mistério dos assassinatos cercando seus membros do que por sua música - eu grito até que minha garganta pareça ferida. — Porra, LOS ANGELES! — um homem grita através do microfone, e eu juro por Deus que a multidão se transforma em um bando de lunáticos delirantes, formigando minha pele com arrepios, fazendo minha boca ficar seca. Essa camaradagem que eu senti antes ainda está lá, mas também há esta pitada selvagem de perigo no ar, como um lobo estalando os dentes, preparando-se para sangrar sua boca na matança. Eu acho que nós deveríamos nos sentir como parte do bando aqui em vez da presa, mas... — Meu nome é Turner Campbell, esta é Indecency, e nós vamos destruir suas FODIDAS CARAS! Ele rosna esta última parte como - continuando a metáfora aqui um lobo raivoso e então ele solta essa pequena risada arrogante antes que as luzes pisquem e revele um homem com cabelo escuro, tatuagens, e calça que é muito mais apertada do que qualquer coisa que eu já usei. — Eu ouvi alguns idiotas gritarem meu nome na outra noite. Me virei e vi que não havia nenhuma pele em seus rostos. O frio da morte simplesmente penetra. Quanto mais eu corro, mais eles perseguem. O vocalista se agacha perto da beira do palco e gesticula para a multidão com uma mão tatuada, deixando as palavras sangrarem de sua boca em uma espécie de fúria arrogante que me faz pensar se talvez eles realmente sejam famosos por causa de sua música. Assim que ele termina a palavra perseguem, ele está de pé novamente e os holofotes sobre sua cabeça escurecem, iluminando dois guitarristas na parte de trás. Um deles tem cabelo escuro curto e uma

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regata preta com uma bandeira de arco-íris na frente, enquanto o outro... Ah. Ah. Ah. Eu de repente acho difícil engolir, minha garganta ficando seca, minha língua ficando grossa. Eu acabei de ver o babaca mais convencido do planeta (e eu achava que o vocalista principal era ruim) e paralelamente me apaixonei por ele ao mesmo tempo. Seus dedos estão pingando com tinta, rasgando as cordas de sua guitarra, enquanto ele detona com o ritmo da música, tocando a música de um deus sombrio com cada dedilhar de sua palheta. O cabelo castanho selvagem está espetado para cima e ele está mordendo a curva grossa e cheia do lábio inferior. Ele anda em volta do palco, balançando a alça de sua guitarra negra elegante e pulando com os joelhos, enquanto o baterista atrás dele golpeia sua bateria e faz a batida soar como chuva sobre um telhado. — Meus pés estão voando quando eu bato forte através do chão. Demônios vindo atrás de mim, com a certeza que eu serei encontrado. Segredos matam e envenenam, nascem esses monstros que eu fiz. Eu sei que está tudo dentro da minha cabeça, então por que diabos não posso ser salvo? O vocalista – o tal de Turner - canta a pleno pulmões as palavras com esse gingado arrogante, agarrando seu pau enquanto ele levanta e sobe em um dos quatro bancos negros baixos que se alinham na frente do palco. Mas não é para ele que eu estou olhando. Claro, ele tem uma tonelada de carisma, mas Hitler também tinha. Sinto muito, não estou impressionada. O guitarrista, por outro lado... Minha pele enrijece, fazendo-me sentir duas vezes mais quente, duas vezes mais suada do que eu estava antes. Lá em baixo - sim, na área vaginal, porque me desculpa, mas não tenho medo de dizer isso - eu sinto uma dor pulsante, como se esse cara me convidasse para jantar, me levasse para um filme, e andasse comigo na praia e eu provavelmente dormiria com ele no quinto ou sexto encontro.

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Eu sou tão fora de moda. A alguns corpos quentes, suados e balançando, a uma distância de mim, uma garota é levantada no ar pela multidão e surfa seu caminho de volta para o bar. Dois outros caras próximos se juntam a ela, levantando-se como demônios alados e levantando voo através de um céu escuro. Eu quase não olho para nenhum deles. Não consigo parar de encarar o homem com a camiseta preta apertada, dois alargadores vermelhos nos lóbulos das orelhas, tatuagens de dália preta nas costas das mãos. Seus olhos são essa tonalidade líquida entre o marrom e o dourado, brilhando com essa terrível sensação de perversidade que me deixa atordoada e aterrorizada ao mesmo tempo. Ele parece o deus brincalhão, Loki, como se ele pudesse causar o fim do mundo e rir sobre isso. É nesse momento que eu percebo que preciso ir o mais longe possível dele que eu puder. Claro, é mais fácil dizer do que fazer. Os alto-falantes estão ressoando a música tão alto que eu sinto que não posso mais ouvir meus próprios pensamentos. É apenas essa banda perversa e suas palavras, sua batida, seu... ritmo. — Eu sinto os espíritos malignos quando eles assombram dentro da minha dor, o tipo de fantasmas que um exorcismo não consegue ou não irá conter. Nem deus ou o diabo os colocou aqui, apenas uma construção da minha própria vergonha. Não há mais ninguém no inferno ou no céu para... CULPARRR! AHHHHH! Enquanto as palavras chegam aos gritos até mim, gritos agudos são imitados por todos na multidão, exceto por mim, eu luto para me virar e ir em direção à porta, o álcool derramando para dentro do meu crânio. Eu acho que houve um pouco de efeito retardado com essas bebidas, como se eu estivesse ficando mais bêbada a cada segundo. Quando as pessoas ao meu redor se aproximam e começam a me içar sobre suas cabeças, leva-me um total de trinta segundos para descobrir que eu realmente estou subindo para o teto e que não é apenas alguma ilusão de embriaguez. Antes de perceber, eu estou rindo, subindo de costas, apoiada por palmas suadas. Nada mal para uma assistente veterinária de Nor Cal, hein? ~ 16 ~

— É evidente que estou louco, mas eu sei exatamente o que fazer. Eu corro e me escondo e luto e grito, nego a verdade e me deixo embebedar na dor. Desesperado para prosseguir, minhas mentiras selvagens que são verdades. Caixão escurecido, dormindo em breve. Estou tão quebrado, tão apodrecido, então não me desenterre. Não. ME-DESENTERRE! Flutuando sobre a bagunça violenta da multidão, eu começo a sentir algo como um pouco menos daquela reconfortante intimidade que notei pela primeira vez quando entrei no lugar. Eu começo a me sentir violada. Mãos e dedos passam pelas minhas pernas, minha bunda, empurram minha saia para cima. Eu estou tão chocada que levo um momento para perceber o que está acontecendo. Esses caras... estão me tocando? Pontas de dedos rastejam por dentro das minhas coxas, e é quando eu realmente começo a ficar louca, batendo e arranhando e chutando. Eu só quero ir sair dessa neste momento. E então eu quero socar alguém. E então chamar os policiais e denunciar assédio sexual ou abuso ou, seja lá o que for isso. A música chega ao fim, as guitarras gritando para mim, implorando-me para voltar para mais um gostinho, apenas uma última lambida neste picolé sujo. Mas em vez disso, aqui estou eu lutando com alguns babacas que não me soltam, que não estão me empurrando pela multidão, mas na verdade estão tentando... enfiar um dedo em mim? Estuprar-me bem aqui no meio deste lugar suado, horrível e nebuloso. — Ei, fodidos! Tire suas malditas mãos desta menina ou eu vou chutar toda as suas bundas juntas! A voz que explode dos alto-falantes... para meu coração. E então, como um tiro de adrenalina no peito, dá um choque para reanimá-lo novamente, deixa-o trovejando e galopando e correndo sob minhas costelas. É do Guitarrista Babaca, eu sei que é. Meus pés se aproximam do chão, e eu tropeço, perdida na multidão, atingindo o cimento com os joelhos. Embaralhando-me para ficar de pé, eu sinto outra mão tatear minha bunda, seguido de risada barulhenta e estridente. Girando, eu de repente queria que não tivesse tirado meu cardigan rosa, para que eu pudesse envolver as mangas em torno dos pescoços desses babacas e estrangulá-los até a morte.

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Quando a multidão em volta de mim sussurra, eu olho rapidamente sobre meu ombro apenas a tempo de ver o guitarrista puxar rapidamente a alça sobre sua cabeça e arremessar seu instrumento de lado. Sem um segundo de hesitação, ele corre até a beira do palco e se lança para fora dele. A multidão o pega, o surfa direto sobre nós e o deixa cair ao meu lado. Há um momento aí, onde - desculpe, estou ficando cliché aqui, mas não há outro jeito de descrever isso - o tempo para e aqueles olhos castanhos do Guitarrista Babaca encontram os meus. Corrompa-me, quebre-me, deixe-me arruinada, eu penso pouco antes dele lançar seu olhar sobre os aspirantes a estupradores/molestadores e socar um deles tão forte quanto ele pode no rosto. Essa é a última coisa que eu lembro antes de acordar na cama do guitarrista.

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Eu literalmente acordo ao som de uma menina gritando ao meu lado. Meu primeiro pensamento é que há talvez, tipo, um terremoto ou algo assim, como se o San Andreas7 finalmente foi boom e todos nós vamos morrer. Isso me faz levantar rápido, porque merda, se esta casa desmoronar ao nosso redor, eu quero pelo menos morrer usando boxers. Turner sempre diz que quer deixar uma bela maldição nua, mas estou bem com um pouco de dignidade. Quando eu saio correndo da cama e bato no chão com os pés descalços, percebo que não há sinal de tremor, sem janelas quebradas ou detritos espalhados pelo chão. Em vez disso, há apenas luz do sol, cortinas abertas e uma ressaca miserável que me faz desejar que eu tenha sido abstêmio como meus amigos idiotas. — Onde diabos eu estou? — a garota grita para mim, jogando algo na minha direção. Quando me atinge direto na cara, eu percebo que é uma sapatinha velha feia. Porra, por favor, me diga que eu não trouxe alguma vulgar prestes a entrar na aposentadoria comigo ontem à noite! Eu fico tão excitado quando estou bêbado que eu poderia ter trazido para casa um cara sem perceber (embora Jesse provavelmente ficaria muito ciumento). — Você é louca? — eu pergunto, batendo meus dedos na têmpora. Eu gostaria de poder ver para quem eu estava falando - quem eu provavelmente fodi na noite passada - mas a garota está segurando um lençol sobre a cabeça e se mexendo no chão perto da cama, como se estivesse procurando roupas. Quando ela encontra o outro sapato horrível, ela se levanta e o atira na minha direção também. — Por que eu não consigo encontrar minha calcinha? — ela geme e eu me agacho e dou uma olhada embaixo da cama. Nossos olhos se encontram através do espaço estreito, o rosto da garota apenas visível quando ela espia por debaixo do lençol. Bem, merda.

A Falha de San Andreas é uma falha geológica que se prolonga por cerca de 1290 km através da Califórnia. É uma falha famosa por produzir grandes e devastadores sismos, como o sismo de São Francisco de 1906 que destruiu a cidade. 7

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A garota que está olhando de volta para mim definitivamente não se qualifica para aposentadoria. Ela é bonita pra caralho. Meus lábios se curvam em um sorriso e eu encontro seus olhos azuis perfeitos. — Você tem certeza de que estava usando alguma? — pergunto e ela bufa para mim. Bufa. — Ah meu Deus, o que há de errado com você? — ela cospe, levantando-se e enrolando o lençol em torno dela enquanto eu sigo, ficando de pé e sentindo meus lábios se achatarem em uma linha. Meu pau, no entanto, fica duro - e não apenas porque é de manhã. A garota está olhando de volta para mim como se eu fosse uma espécie de coisa horrível. Ela é curvilínea e feroz, mas com essa suavidade calma nela, com todo esse cabelo colorido cor de mel enrolando ao redor de seu rosto. A boca dela é esse laço de brilho rosado liquefeito, e seus mamilos estão duros sob o tecido fino de seu vestido improvisado. Ela é comestível, este pirulitinho doce que eu só quero lamber. É uma pena que esse pedaço sexy só quer chutar minha bunda. — Eu quero meu telefone. Onde está minha bolsa? Você roubou minha bolsa? — ela falou rispidamente, ofegando como se eu já tivesse admitido ter afanado sua porcaria. Honestamente, eu provavelmente lembro menos do que ela sobre o que aconteceu ontem à noite. Eu comprei um pouco de ácido daquele roadie e viajei o tempo todo. — Dê uma olhada em volta e me diga se você acha que eu precisaria roubar a bolsa de alguma mina. Eu cruzo meus braços sobre meu peito e ajo como se eu não desse a mínima que eu esteja nu. Turner não daria, e ele tem sido meu ídolo por mais de uma década. Mas eu meio que desejava que houvesse alguma maneira de eu vestir a calça sem parecer que estava tentando demais. Esta garota está se esforçando o suficiente por nós dois. Ela parece que está prestes a pirar. — Você claramente tem sido mal informado sobre a prática da cleptomania. Muitos doentes são na verdade indivíduos muito ricos. Às vezes, roubar tem pouco a ver com querer ou precisar, e tudo a ver com a adrenalina do momento.

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— Talvez eu esteja conseguindo adrenalina suficiente olhando para você nua? — eu falo lentamente com um sorriso torto, agarrando um maço de cigarro da mesa de cabeceira e acendendo. Quando eu ofereço o maço através da cama em direção à menina, ela olha para mim como se tivesse surgido em mim garras de lagosta. — Eu quero saber o que aconteceu na noite passada, — ela exige, mas a ferocidade em sua voz está um pouco esvaziada quando ela localiza sua calcinha listrada rosa e branca pendurada na lâmpada, na outra mesa de cabeceira. É só quando ela estica a mão para agarrá-la que ela começa a gritar de novo. — Você está tentando me deixar surdo? — eu murmuro em torno do cigarro na minha boca, localizando meu jeans meio enfiado debaixo da cama. A coisa é, ele é muito apertado para simplesmente vesti-lo casualmente. Há manobras que eu tenho que fazer lá em baixo, se você entende o que quero dizer. É como esconde-esconde com um pau e bolas peludas. — Que porra é essa? — a garota pergunta, levando a mão para cima e espalhando seus dedos. A luz ilumina um par de anéis - um caro como merda par de anéis, pela aparência deles. Ou diabos, poderia ser apenas uma joia de mentira? Eu posso ser cheio da grana agora, mas eu cresci tão pobre que Pop-Tarts8 era cinco estrelas. Quando sua mãe é uma policial morta e seu pai um viciado em crack, isso meio que deixa você e sua irmã presos entre as rachaduras. — Eu vou te dizer o que é isso, — ela continua antes mesmo de eu ter chance de falar. Eu me encontro apertando os olhos, mesmo que eu goste do olhar de seus azuis de safira, assim como o lençol em volta de seus mamilos, o cheiro de seu perfume agarrando-se à minha pele. Mas falando sério? Que. Cadela. Mudei de ideia. Ela pode parecer legal pra caralho, mas essa menina é uma cadela total. — Este é um anel de noivado, — diz ela enquanto eu fumo meu cigarro e olho feio para a mulher do outro lado do quarto na minha mansão em Beverly Hills, a que eu compartilho com todos os meus colegas de banda e seus vários cônjuges, almas gêmeas, e tietes. Ainda 8

Biscoito recheado. ~ 21 ~

bem que esse lugar tem cerca de um milhão de fodidos metros quadrados. Pelo menos talvez eu possa tirar essa garota daqui sem que ela tenha que fazer a caminhada da vergonha - minha vergonha, quando todos eles descobrirem que psicopata ela é. — E esta é uma aliança de casamento. — Obrigado pela rapidinha no departamento de educação, mas eu não sou tão estúpido quanto pareço, — eu digo, desviando casualmente para a cômoda e abrindo para encontrar cerca de duas dúzias de calças de moletom pretas idênticas American Giant9. Agora que eu sou rico pra cacete, quando encontro algo que gosto, eu simplesmente compro uma tonelada de duplicatas. Deixa a vida tão mais fácil. Eu tenho um frigobar no canto totalmente abastecido com bebidas energéticas Java Monster, então faço o meu caminho até lá e pego uma enquanto a Mina Gritadora gagueja e olha estupidamente para mim. — Então você é casada, e daí? Acontece. Não se preocupe - eu não vou contar ao seu marido ou esposa sobre isso, ok? — Eu não sou casada, seu Guitarrista Babaca, — ela rosna para mim, virando-se e tentando se vestir debaixo do lençol como uma criança em uma fantasia de fantasma barato. Eu supostamente sei - eu usei o mesmo velho lençol rasgado e manchado durante anos no Dia das Bruxas. Ei, era melhor que nada. Eu continuo fumando meu cigarro, abrindo a tampa da Monster e percebendo enquanto faço que... — Ah, porra, — eu digo e a garota faz este som como dãã. Eu estou usando uma aliança também - uma que combina com a dela. — Los Angeles não tem capelas de casamento instantâneo como Las Vegas, não é? — ela pergunta cautelosamente, e quando eu me viro e vejo que ela já está usando uma saia horrivelmente comedida, uma blusa branca e essa desculpa patética para um salto alto que ela atirou em mim. Esta menina bem aqui, eu não sairia com ela em um milhão de anos, muito menos me casaria com ela. — Claro que tem, — eu digo, sentindo essa náusea desconfortável apertando no meu estômago. Turner iria rir pra caramba se soubesse sobre isso. Deus, porra, oh porra, mas ele nunca me deixaria ver o fim disso. 9

Marca de roupa. ~ 22 ~

— Eu não fiz isso, — a gritadeira diz, balançando a cabeça e chicoteando seu cabelo sexy desgrenhado em uma espécie de coque feio no topo da cabeça. — Sinto muito, mas não. Eu não gosto de clichês, e não gosto de Guitarristas Bacacas. — Você seria tão sortuda, — eu digo quando ela se vira para mim, as narinas inflando, e estreita os olhos. — Adeus, você, seja lá quem for você, — ela diz, girando em seus pés, ombros para trás, coluna reta. Ela marcha para a porta e eu puxo uma calça de moletom o mais rápido que posso. Ótimo. Fico feliz que ela esteja saindo. Porque eu vou jogar esta aliança na privada e eu não vou mais pensar sobre isso - ou ela - novamente.

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— O que significa você ir embora? — eu pergunto, de pé na varanda da frente da maior casa que eu já vi na minha vida. Eu acho que até mesmo chamar a maldita coisa de casa seria apenas um pedaço. É uma mansão, estendendo-se para o céu azul claro da Califórnia com paredes brancas robustas, varandas e um monte de palmeiras de decoração. — Nós estamos a meio caminho de casa, — diz Gloria, e eu ouço risinhos no fundo. — Seu marido disse que ele voaria de volta com vocês dois para o casamento, então nós não achamos que você se importaria. — Gloria, — eu digo tão lenta e cuidadosamente quanto possível, tentando não vomitar por toda parte nos arbustos bem cuidados à minha esquerda. Eu meio que quero fazer, no entanto, apenas para vencer aquele cara lá em cima. Quem ele pensa que é? O presente de Deus para as mulheres? Mais como uma maldição. E eu dormi com ele? Ou talvez não, certo? Eu respiro fundo antes de começar a me afogar em clichês. Garota adorável encontra cara sexy - confere. Garota adorável acorda na cama do estranho citado sem lembrar da noite anterior - confere. Garota adorável descobre que ela de algum modo conseguiu se casar com um guitarrista babaca com cabelo realmente cheio, realmente bonito confere, confere, e mais CONFERE! — Eu não tenho marido, — eu digo cuidadosamente, olhando de relance para cima ao som de passos. Uma mulher com cabelo loiro e óculos escuros está andando em minha direção, uma tatuagem de um coração partido sobre o peito e outro na barriga que diz Real Ugly10. Hã. — Você encontrou sua bolsa, — ela diz, balançando o queixo para a bolsa de mão no chão ao meu lado. Se eu dissesse que não era uma bolsa de pelo branco de cabeça de gato persa, eu estaria absolutamente

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Verdadeiramente Feia. ~ 24 ~

falando uma mentira. — Eu a coloquei perto da porta esperando que você esbarrasse nela. — Garota Óculos Escuros dá uma olhada na minha bolsa que claramente fala muito sobre o quão brilhantemente legal ela é, andando por uma mansão de estrela do rock em Beverly Hills, em nada além de short curto e uma blusa branca aberta sobre um sutiã vermelho... — Quero dizer, não que você pudesse realmente se esquecer dela. — Eu fui uma de suas testemunhas na noite passada, Netty! Você fez isso totalmente. Quero dizer, por uma vez em sua vida, você foi com tudo. Nós todos estamos orgulhosos de você. Você está orgulhosa de mim por eu me casar com um estranho bêbado enquanto eu também estava altamente bêbada?! é o que eu quero dizer. Mas então, Garota Óculos Escuros está parada bem aqui e eu não tenho ideia de quem ela é. Talvez ela seja a verdadeira namorada do Guitarrista Babaca e eles têm um acordo ou algo assim? Espero que não. Ciúme ergue sua cabeça estupidamente irracional e rosna para mim como um dragão de olhos verdes. — Eu vou... ter que te ligar de volta, — eu digo, desejando por uma fração de segundo que eu tivesse um telefone dos anos noventa que eu poderia fechar com um clique em um movimento dramático. Em vez disso, eu aperto os olhos para a tela sob o sol claro ofuscante e desejo que eu tivesse aumentado o brilho o suficiente para realmente ver o que está acontecendo com o meu telefone. Eu tento desligar quatro vezes antes de clicar no ponto certo no smartphone estúpido. Então eu o deixo cair, a um metro do chão, e a tela racha bem no meio. Eu fecho meus olhos contra uma pequena onda de frustração. Meus amigos me deixaram em LA; eu estou de ressaca; eu me casei com um guitarrista babaca na noite passada. As coisas poderiam ficar piores? Eu só espero que minha irmã se lembre de alimentar meu gato. Lembrando os meus modos a tempo, eu me levanto e estendo a mão para apertar a mão da garota. — Netty Forester, — eu digo com um leve sorriso. Garota Óculos Escuros inclina uma sobrancelha bem-feita para mim e então estende a mão. Suas unhas são pintadas de preto com minúsculos crânios sobre elas. Imediatamente, estou intimidada. Não só ela parece que poderia ~ 25 ~

chutar minha bunda, mas também não teria problemas em fazer isso em um short de couro e saltos altos. — Naomi Knox, — ela diz, e então para, como se ela esperasse que alguém inserisse algo sarcástico depois desse comentário. — Desculpe, — eu digo depois de apertarmos as mãos - ela tem um aperto seriamente firme, por sinal. — Eu sei que isso vai soar extremamente atrevido da minha parte, mas você é... a, hum, namorada do guitarrista? Uma segunda sobrancelha bem-feita é prontamente inclinada. — Que porra? — a garota pergunta e então ri. — Treyjan? Inferno, não. — sua boca se aperta um pouco. — Infelizmente, eu sou casada com um idiota ainda maior. Treyjan, Treyjan, o nome dele é Treyjan! Eu coloco um bloqueio sobre essa excitação e jogo fora a chave. Por que eu deveria me importar com o nome dele? Ou se eu sou casada com ele? Ou se nós fizemos sexo na noite passada? Hum. Dãã. Porque essas são simplesmente algumas das maiores coisas que já me aconteceram na história. Quero dizer, desde... bem, toda aquela horrível escuridão no meu passado. Mas não vou pensar sobre aquilo agora, de pé aqui no sol lindo e sentindo o calor aquecer minhas bochechas, banhar meus lábios com luz dourada. — Eu acho difícil de acreditar, — eu digo e ela inclina sua cabeça para mim, fazendo-me corar. — Quero dizer, não a parte casada, mas a parte do maior idiota. — eu rio e o som é forçado e meio estranho, então eu aliso minha saia e me faço sorrir em vez disso. — Você se importa se eu fizer um pequeno inquérito? — Um fodido inquérito? — a garota pergunta, e eu percebo que estou chegando perigosamente perto do território desajeitadamente estranha. Ela gesticula para mim com um antebraço coberto de notas musicais e suspira. — Eu sei o que isso significa. Vá em frente e faça sua pergunta. Bom por você estar sendo toda formal e essas merdas. — Treyjan é casado? — eu pergunto, sendo casual. Eu caí longe disso - em algum lugar no desesperado, carente e intrometido território, mas eu pareço não ser capaz de me fazer parar - e meu corpo não se moverá, então eu não vou tropeçar, cair, senão eu deixaria uma situação ruim ainda pior.

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— Aquele pedaço de merda? — ela me pergunta, puxando os óculos para baixo apenas o suficiente para que eu tenha um vislumbre de um brilho de malícia dos seus olhos marrom alaranjados. — Definitivamente não. Por quê? Você está procurando preencher o papel? — Eu acho que já preenchi, — eu deixo escapar e ela tira seus óculos completamente, dando-me um olhar como se ela tivesse quase certeza que eu sou alguma tiete louca semi raivosa que chegou para fazer uma Yoko Ono na Indecency. Eu rio novamente - outro som muito infeliz. Eu não sou idiota nem nada. Eu não sou completamente desprovida de elegâncias sociais, mas isso? Não há como se preparar para uma coisa tão louca como se casar com uma estrela do rock na festa de despedida de solteira de sua melhor amiga/prima, enquanto você está vestida com uma blusinha coberta com pele de Labrador preto e bêbada com fita azul da Pabst. Não há simplesmente nenhuma maldita maneira. — Eu acho que sou uma daquelas idiotas que se casou em uma capela suspeita ao lado da estrada, — eu digo e levanto minha mão para Naomi poder ver os anéis. Seu rosto assume essa expressão meio divertida e meio irritada. — Eu sou uma dessas idiotas também, — ela diz, levantando sua própria mão para que eu possa ver uma aliança tatuada na mão. É feita de notas musicais, dançando em círculo em volta do dedo anelar. — Casamento triplo em uma capela em Vegas com o baterista da Indecency, baterista da minha banda... e eu. Ela diz esta última parte com os olhos semicerrados, como se ela talvez se arrependesse de sua própria presença lá. — Ah, qual é, babe, este foi o melhor erro que você já cometeu, — uma voz diz, e eu me viro, avistando o outro babaca arrogante que estava no palco na noite passada, o vocalista da Indecency. Eu sou boa com nomes e rostos, o que é bem-vindo, uma vez que graça e agilidade não estão no topo da minha lista de atributos pessoais. Aparentemente, elas não estão na lista de Turner Campbell também. Eu enrugo meu nariz quando ele segura suas... joias da família através de sua calça e exibe perversamente este sexy sorriso malicioso na direção de Naomi. — Isso é vulgar, — eu digo antes que eu consiga me parar. Por mais estranho que seja, eu não vou voltar atrás, no entanto. O cara está sendo bastante rude.

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Naomi olha para mim por um momento como se tivesse crescido chifres em mim e depois joga a cabeça para trás e rugi com gargalhadas. — Ah, eu gosto de você, — ela diz, deixando cair o queixo e então apontando para mim com a armação de seus óculos escuros. — Eu gosto de você, muito. Bem-vinda à Hard Rock Roots. — ela para e aponta para a casa a seguir. — Esse é o nome da mansão. Desculpe antecipadamente por ter que olhar para o pau do meu marido; ele anda por aí nu a maior parte do tempo. Estou no processo de treiná-lo, mas você sabe, não há muito aqui em cima. Naomi dá um tapinha na cabeça dela com seus óculos, joga-me uma piscadela e sai passeando com quadris rebolando que, se eu imitálos, faria eu parecer menos como uma sedutora e mais com uma, bem, uma pata. — Que diabos? — Turner pergunta, mas ele não está falando comigo. Em vez disso, ele segue atrás de Naomi e me deixa de pé sozinha na varanda novamente. Uma brisa do oceano distante se esgueira sobre a parede rodeando a propriedade, farfalhando folhas e provocando minha pele com calor. — Quem diabos é essa? — eu o ouço perguntar assim que o casal se afasta do alcance da voz. — A esposa de Treyjan, — diz Naomi. Eu não fico tempo suficiente para ver a reação de Turner. Eu pego meu telefone, dirijo-me para os portões da frente e começo a procurar a estação Greyhound mais próxima no meu telefone. Eu já estou fora daqui. As pessoas em Los Angeles são loucas. Eu sou sã. Não pertenço aqui. E eu particularmente não pertenço à cama de uma super famosa estrela do rock. De. Jeito. Nenhum.

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Ele sabe. Esse é o meu primeiro pensamento quando desço as escadas e encontro Turner encostado na parede na entrada. O olhar que ele me lança diz com certeza que ele vai começar a falar merda. E esse sorriso... eu quero limpar o chão com esse sorriso. Filho da puta. — O quê? — eu falo rispidamente, elevando-me em seu rosto antes que ele possa vir no meu. — Você é tão desesperado para ser como eu que você saiu e se casou com a primeira garota decente na qual você conseguiu pôr as mãos? E uma capela estilo Las Vegas? Sério? — Por um segundo você pode tentar fingir como se não achasse que o mundo gira em torno de você? — eu rosno para ele, esfregando meu peito e tentando realmente, realmente não pensar sobre o fato de que eu levei um tiro ano passado. Por um franco-atirador. Um francoatirador. Sim, eu realmente não quero falar sobre aquilo. Aquilo, ou isto. — Esqueça a garota. Nós não somos realmente casados. — De acordo com a internet você é, irmão, — diz Turner, jogandome seu telefone. Eu deliberadamente o deixo cair no chão e ele me mostra o dedo do meio. — Ei! Não se afaste de mim. Cara, você viu essas manchetes? Eu o ignoro e dirijo-me para as portas duplas que levam ao que é apenas uma das três piscinas deste conjunto, deslizando um baseado do meu bolso enquanto eu ando e acendendo. Um bom tapa é o que eu preciso, apenas um pouco de THC para manter o mundo suave e fácil. Mm. Um fumo relaxante, uma tarde sozinho, e depois... vou entrar no meu telefone e ver o que tenho estado evitando toda a maldita manhã. Eu. Casado. Rá. E com aquela garota cabeça de bagre? Que estranho? E o que era aquele maldito pelo de cachorro por toda sua roupa? Obrigado, mas não, obrigado. ~ 29 ~

Claro que, quando eu saio, aquela garota está sentada na beira da minha piscina com as pernas nuas dobradas sobre a beira. Uma onda de raiva me ultrapassa, uma raiva selvagem irracional que tem gosto de medo no fundo da minha língua. O que diabos está errado comigo? Eu estou tão assustado com alguma conexão aleatória que eu vou explodir em cima dela e ter um ataque? Eu pego minas todo o maldito tempo. Isso não é de modo algum algo novo para mim - eu só geralmente não, você sabe, me caso com elas antes de dormir com elas. — O que você ainda está fazendo aqui? — eu pergunto, percebendo que eu soo como um completo cretino. Como Turner. Eu sempre quis ser como ele, mas estou meio cansado de todo mundo pensando que eu sou seu clone. Eu não sou. Nem mesmo perto. Quando a Garota Gritante dá uma olhada por cima do ombro e olha para mim, eu suspiro e tento suavizar minha expressão. Depois de um momento, eu me sento ao lado dela e fumo meu baseado. — Isso é maconha? — ela me pergunta com uma voz abafada. Eu dou a ela um olhar e ela morde o lábio inferior. — Deixe-me experimentar. Eu passo o baseado e tento não sorrir quando ela engasga em sua primeira inalação. — Eu tentei sair pelos portões da frente, — ela começa, e então eu percebo que é quase impossível sair desse lugar às vezes. Se nós ficamos quietos por alguns meses, os paparazzis recuam um pouco. Mas com cada novo evento - o novo bebê do nosso baterista, um novo videoclipe, um novo single saindo - eles voltam, como abutres para um cadáver apodrecendo no sol. Não tão agradável. Porra, eu odeio paparazzis. — Seu empresário veio até mim e me disse que arranjaria um transporte. — Arranjar um transporte? — eu pergunto, e tento não rir. — Onde você precisa ir? Eu vou levá-la. — Não, obrigada, — ela diz aérea, passando o baseado de volta e fungando. — O que você quer dizer com não, obrigada? — eu falo asperamente, sentindo aquele medo irritado tomar conta de mim novamente. Não tenho ideia de onde isso veio ou o que significa, mas foda-se. Eu não estou prestes a me sentar aqui e me psicanalisar. Eu ~ 30 ~

pago muito pelo meu terapeuta para fazer isso por mim. — Eu tenho um bom carro; eu sei como me esquivar dos paparazzi. Deixe-me levar sua bunda para casa. — Levar minha bunda? — ela pergunta com uma risada aguda, como se ela achasse que eu sou louco. — Você é tão eloquente, Sr. Charell. — Bem. Então você realmente sabe meu nome, — eu digo, inclinando-me para que eu possa ter uma boa olhada em seu rosto. — Feliz em ouvir isso, já que agora é o seu nome também. Sra. Charell. — Netty Forester, — ela diz com um tom afiado, estendendo a mão para baixo e puxando os anéis do dedo. Quando ela tenta entregá-los a mim, eu não os aceito. Alguma coisa sobre ela devolvendo essas coisas de volta para mim, é apenas triste. Ou talvez seja patético - da minha parte, é. Quem diabos é essa garota? — Fique com eles, — eu digo a ela, recostando-me e inclinando a cabeça para olhar para o céu. Um pequeno fio de branco se move através do azul vazio, como uma alma solitária procurando um amante. Nuvem bundona. Eu não estou sozinho. De modo nenhum. Posso conseguir garotas às dúzias só em andar em um clube e sorrir. Não precisa muito. Eu sou rico; temos diversos discos de platina; Indecency é infame. Todos nos amam. Exceto, aparentemente, Netty Forester. — Não, obrigada, — ela diz novamente, tentando entregar os anéis de novo. Quando eu me recuso a estender a mão e pegá-los, ela mergulha seus dedos no bolso do meu moletom. O toque de sua mão na minha coxa, mesmo através do tecido da minha calça, é assassino. Eu noto que sua respiração dá um puxão ao mesmo tempo que ela solta os anéis na piscina. — Você está louca? — eu pergunto, rompendo o momento entre nós. Eu posso estar carregado no departamento de dinheiro, mas eu cresci paupérrimo. Examinando rapidamente meu extrato on-line do cartão de crédito nesta manhã, eu sei que esses anéis custam mais do que o parque de trailers one eu cresci - com todos os trailers dentro dele. Deslizando da beira da piscina, respiro profundamente e uso a parede para me impulsionar para baixo. Quando eu volto por ar, os dois ~ 31 ~

anéis apertados na palma da minha mão, eu vejo que mais uma vez Netty está tentando fugir. — Ei! Eu vou atrás dela, pegadas molhadas batendo contra o concreto e minha calça de moletom encharcada cai no meu quadril, e meu cabelo cai na minha testa. Eu o empurro para fora do meu caminho, paro na frente dela e bloqueio a entrada com uma mão de cada lado. — Nós não terminamos aqui, — eu digo, notando que seus olhos estão colados ao tecido apertado agarrando meu peito. Atrás de mim, posso ouvir Turner gargalhando estupidamente. Porra, eu quero bater na cara dele. — Quando meu empresário estava arranjando aquele transporte, ele lhe disse que nós realmente nos casamos na noite passada? Está em todos os noticiários. — Noticiário?! — Netty pergunta, sua pele corada transformandose em branco fantasmagórico. Ela balança a bolsa para fora do ombro e acidentalmente - ou talvez acidentalmente de propósito - me atinge bem nas bolas. Eu resmungo e tropeço para trás, agarrando minhas joias preciosas e cerrando meus dentes. — Desculpe, desculpe, desculpe, — ela diz, tateando o telefone para fora da bolsa... e deixando aterrissar no cimento com o som de vidro quebrando. Um longo momento de silêncio se segue quando eu não-tãodissimuladamente verifico minhas coisas. Não. Parece que meu pau vai viver para foder outro dia. — Você é estranha, sabia disso? — eu digo, perguntando-me como esta garota e eu acabamos na cama juntos - quanto mais amarrados. Devo estar ficando louco por aqui, cercado por todos esses casais aos beijos e suas porcarias. Isso é o que é - eu estou lentamente sendo envenenado pela porcaria melosa deles. — Você não pensou em verificar a internet primeiro depois de se levantar? Nossa história está em toda parte. — Eu desligo os dados no meu telefone; eu me recuso a ser cobrada por megabyte de serviço. Você não se importa nem um pouco sobre a neutralidade da rede? — Mega o quê?! — eu pergunto, estendendo a mão e levando a garota pela mão. Tudo o que eu quero fazer é colocar meu fodido anel de volta na palma da mão dela. Em vez disso, eu acabo com essa palma na minha cara. — Jesus fodido Cristo! — eu grito quando os dois anéis caem no chão, um deles rolando sob uma cadeira do pátio por

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perto. Sangue escorre pelo meu rosto em dois riachos vermelhos nítidos, salpicando meus pés descalços. — Você não pode simplesmente tocar alguém sem sua permissão, — diz Netty, mas ela parece um pouco culpada por isso. Ora, ora. Porque? Foda-se ela. — Primeiro, você joga dezenas de milhares de dólares em um anel na piscina. Depois, você me atinge nas bolas. E depois você vai em frente e me dá um soco na cara. Sabe de uma coisa? Que se dane. Eu arranjarei esta porcaria de anulação sozinho. Eu me viro e começo ir em direção à escada, ignorando as expressões curiosas de Turner e Naomi enquanto eu passo como vento. Eles parecem que estão desfrutando da situação. — Espere! — Netty diz, e desta vez ela está realmente me seguindo até a escada. Eu a ignoro, andando silenciosamente pelo corredor até meu quarto e percebo que a minha irmã está de pé na entrada de seu quarto me olhando de forma estranha. Eu a afasto, entro no meu próprio quarto e bato a porta atrás de mim, trancando a fechadura a tempo de impedir Netty de entrar atrás de mim. Então eu lembro que acabei de deixá-la lá fora com minha irmã mais velha, Sydney. Mesmo que ela tenha se casado com o baterista da banda de Naomi, eu sei que ela vai me dar uma dura se ela descobrir sobre isso. — Eu já vi as notícias, — ela me diz quando eu abro a porta e acabo olhando diretamente na cara dela. — Mas aparentemente, sua nova noiva não. — minha irmã empurra o cabelo cor de rosa de algodão doce para longe de seu rosto e gesticula na direção de Netty. Soa legal viver em uma mansão em Beverly Hills grande pra caralho, com todos os seus companheiros de banda, suas famílias, e sua irmã e seu marido, mas... é meio que um maldito não. Eu me inclino contra o batente da porta e cruzo os braços sobre o peito, dando a minha irmã um olhar de eu-não-dou-a-mínima. — Treyjan — ela começa, mas eu estou muito à frente dela. Ano passado, ela se casou com um cara que ela mal conhecia em uma capela em Las Vegas com Turner e Naomi, e nosso baterista Ronnie, e sua garota. Casamento triplo. A pior parte é: eu nem sequer fui convidado. Que tal isso como um tapa na cara?

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— Obrigado, mas não, obrigado, Sydney. Não preciso ou quero uma palestra neste momento. Ela ergue as sobrancelhas para mim e aperta os lábios com gloss da cor de cerejas maduras. — Uau. Olhe para você, todo grande e durão enquanto a garota que você arrastou para casa ontem à noite está chorando. Ok, não se preocupe, irmãozinho. Sem palestras. Vou deixar você lidar com sua própria merda. Sydney se afasta e bate sua porta na minha cara, deixando-me com uma estranha chorando no corredor. Eu acho que descobrindo que o mundo inteiro sabe que nos casamos na noite passada, é o inferno para essa garota. Eu sei o que Turner faria nessa situação, o que Ronnie faria, o que Jesse faria. Mas eu meio que tenho a porra de zero ideia do que eu deveria fazer. — O que há de errado? — eu pergunto e então corro a língua sobre meu lábio. — Além do óbvio, quero dizer. Eu não fui tão mal assim na situação, fui? Netty levanta o rosto para olhar para mim e não se preocupa em esconder as lágrimas. — Por causa disso, — ela diz, levantando o telefone e me mostrando uma foto dela e eu nos beijando nos degraus da frente de uma pequena capela de casamento, — isso diz a eles exatamente onde eu estou. Ela respira fundo e olha para mim com tanto terror em seus olhos que sinto a bile subindo na minha garganta. — E eles estão vindo.

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O Guitarrista Babaca se senta na minha frente em uma área reservada de um restaurante, estendido sobre o assento como se fosse feito para ele, como se ele tivesse direito a estar aqui, sentando em um jantar comigo e com um milk-shake. Eu não tenho ideia por que ainda estou aqui e não em um ônibus disparando pela estrada para algum lugar desconhecido, algum lugar que eu possa me esconder. Claro, eu terei que encontrar algum jeito de pegar minha irmã e meu gato. Tudo mais pelo qual eu trabalhei tão duramente, eu vou ter que deixar pra lá. Eu poderia dizer tudo isso a Treyjan Charell, o cara que eu supostamente me casei e possivelmente fiz sexo na noite passada. É por isso que ele me trouxe aqui, para este restaurante no meio da cidade com óculos de sol no rosto e um gorro preto empurrado sobre seu cabelo selvagem - como se isso realmente o tornasse discreto. Apesar de eu não ser especialista em tatuagem, não posso dizer quantos caras têm flores de dália preta tatuadas nas costas de suas mãos, mas imagino que uma fã da Indecency poderia avistá-lo a uma milha de distância. — Então, você quer me explicar sobre o que diabos você estava falando? — ele pergunta, mas eu apenas olho de volta para ele porque toda minha história - do começo ao fim - é muito louca para acreditar. Eu sei que se alguém me contasse minha própria história, eu não acreditaria neles. Você tinha que viver para saber. Você tinha que estar lá para entender as profundezas nas quais os seres humanos podem mergulhar, a escuridão em que elas podem viver sem nunca conhecer a luz. Isso é provavelmente o porquê de eu ser tão entediante, careta e fodido agora. Necessidade. Minha dor necessita de normalidade. — Na verdade, não, mas obrigada pelo almoço. Agora que eu estou sentada aqui no meio desse restaurante estranho com todos os caminhoneiros suspeitos, fora da I-511, encostados na bancada pegajosa, eu me sinto melhor. Mais como eu 11

Nome de estrada. ~ 35 ~

mesma. Não que isso importe. Agora que meu rosto está lá fora, estampado através das fotos da mídia social, blogs e sites de notícias, eu tenho que apagar Netty Forester e começar de novo. As razões do porquê poderiam preencher uma história própria. Treyjan franziu o cenho para mim, seus olhos castanhos da mesma cor que a mesa embaixo da toalha de plástico transparente. Essa, também, é tão pegajosa como qualquer outra coisa neste lugar. Parece que anos de esforço de xarope e gordura da grelha tem se fixado sobre todo o restaurante, deixando-o com esse tipo de sensação de encardido e distorcido que me conforta e me enoja. O homem sentado na minha frente, no entanto, não faz nenhuma dessas coisas. Seus músculos são bem definidos, mas eles não gritam esteroides anabolizantes para mim, e a queda suave do cabelo castanho em sua testa suaviza o que poderia, caso contrário, ser um rosto quase bonito demais. Cada linha é perfeita, como se tivesse sido esboçada, apagada e redesenhada até que estivesse perfeita. Gosto de ver um pouco de humano nas pessoas em volta de mim. Tudo o que vejo agora é um completo e total babaca. — Sério? Você vai dizer algo tão ameaçador como ‘eles estão chegando’ e então simplesmente deixa isso assim? Olha, eu sei que você já viu as manchetes sobre toda a merda pela qual minha banda tem passado - mesmo que você não admita gostar de nossa música— O que eu não gosto, — eu interrompo, mas Treyjan apenas continua falando. — Então, você provavelmente pode imaginar que não há muito que me surpreenda mais. Eu fui baleado por um franco-atirador. Em Kansas City, entre todos os lugares. Quero dizer, quem diabos imaginaria isso? Eu bato meus dedos na mesa e espero que a comida chegue aqui logo, então não me sentirei obrigada a falar. Eu pego um pedaço de pelo de labrador preto da minha blusinha e fico com a boca fechada. Sim, ouvi falar sobre Treyjan ter sido baleado por uma bala de um francoatirador diretamente no peito, e eu ouvi falar sobre a conspiração maciça a respeito do CEO da maior gravadora do mundo, Spin Fast Music Group, mas todas esses assuntos, eles não têm nada a ver comigo.

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Treyjan é um artista da música que vende diversos discos de platina. Eu sou uma assistente veterinária. Coisas estranhas podem acontecer com ele e se tornarem notícias mundiais. Coisas horríveis podem acontecer comigo e eu podia desaparecer. O garçom se aproxima e basicamente joga nossos pratos na mesa sem sequer um sorriso. — Por que esse lugar? — eu pergunto e Trey encolhe os ombros casualmente. O movimento fica bem nele, fluido e sem esforço. Eu me pergunto se esse é o verdadeiro ele ou se ele pratica no espelho? — Quando eu era criança, se alguma vez nós saíssemos - o que era raro pra cacete - nós vínhamos aqui. Isso era o melhor que conseguíamos. Uma vez, nós tivemos um jantar de Natal aqui. Eu acho que ainda olho para isso como um progresso, que eu posso me dar ao luxo de comer aqui sempre que quiser. — Treyjan faz uma pausa por um momento. — E, você sabe, não há muitos paparazzi na zona leste de L.A. Pego meu garfo e esfaqueio um dos meus ovos. Eu disse mexidos; eles os serviram malpassados e coberto no molho Tabasco. Ah, bem. É o que é. Eu começo a comer, tentando não ter um ataque de pânico. Se eu entrar em pânico, eles realmente me encontrarão, e eu acabarei vivendo como o personagem na música da Indecency ontem à noite - fugindo de demônios reais e imaginários. — Onde você comia quando criança? Em um iate clube? — ele pergunta e eu levanto rapidamente os olhos para os dele, assistindo enquanto ele pega seu hambúrguer com as duas mãos e corta com uma mordida enorme. Treyjan Charell pode ser atraente e musculoso como o inferno, mas ele é na verdade um pouco baixo. Ainda bem que eu sou realmente muito baixa, então nós ainda combinamos, eu penso e então percebo que estou me comportando como se houvesse alguma coisa aqui entre nós, a não ser equívocos e mistérios. Ainda assim, o cara come como se tivesse dois metros. Eu o vejo colocar o hambúrguer para dentro com cerca de quatro mordidas - e ele tem hambúrgueres duplos. — Você é sempre assim hostil? — eu pergunto enquanto eu pego um bocado de ovo gotejando em Tabasco... e me encontro surpresa que na verdade tem um gosto muito bom. Eu experimento as panquecas em seguida.

~ 37 ~

— Eu normalmente não costumo sair com tietes após shows, — ele diz com essa ginga arrogante que me faz querer apunhalá-lo nos olhos com seu garfo. Eu sei que algumas mulheres acham que foder todos, não quero saber de merda nenhuma, sexy, mas eu não sou uma delas. Quanto mais tempo gasto em torno dos homens, mais me pergunto se eu realmente sou assexuada. Quero dizer, apesar de ser atraída pela parte do pênis. E de admirar as formas fortes e curvas da parte do bíceps de Treyjan. E o fato que nós fizemos sexo na noite passada. Talvez. — Eu não sou uma tiete, — eu digo, tentando não ficar frustrada. — Tanto quanto eu consigo lembrar, a primeira e a última coisa que aconteceu entre nós foi que você gritava para aqueles caras através do microfone... — meus dedos enrolam em volta do meu garfo enquanto eu tento não deixar a noite passada chegar até mim. Se eu não estivesse bêbada, eu teria chamado os policiais e relatado aqueles idiotas. Em vez disso, eu me casei com o guitarrista principal da banda que estava no palco. Brilhante. — E então você socou um deles. — Eu soquei todos eles, — diz Treyjan através de uma boca cheia de batatas fritas. Por mais gostoso que ele seja, isso é simplesmente grosseiro. — Boca fechada quando você mastigar, por favor, — eu digo e ele me dá esse olhar que diz claramente vá para o inferno, cadela. — Bem, — ele continua ainda falando com batatas fritas na boca. Eu realmente quero pular através da mesa e dar um tapa em seu rosto com a barba por fazer... trilhar meus dedos pela linha dura de seu queixo, provocar seu lábio com o meu polegar. Meus mamilos ficam duros sob minha blusa, mas eu ajo como se eu estivesse completamente inalterada. — Eu procurei a merda da anulação online. Se nós dois não estávamos de mente sadia ou qualquer coisa assim, podemos conseguir anular o casamento. Eu não vou anunciar formalmente em nenhuma plataforma legal sobre algum ácido, mas eu acho que podemos apenas dizer que estávamos bêbados. Isso deve resolver. — Isso está bem para mim. Na verdade, quando terminarmos aqui, eu vou embora. Faça o que você precisa fazer. Você realmente não precisa de mim para conseguir a anulação, não é? — Não, — diz Treyjan, e eu me faço sorrir.

~ 38 ~

— Achei que não. — eu paro e olho para meu prato. Por alguma razão, estou achando difícil olhar para os olhos dele. Eles estão circulados com delineador, cerrados e sexy quando eles olham através da mesa para mim com uma pitada forte de travessura faiscando nas profundezas deles. Por mais irritante que ele seja, eu aposto que eu poderia me divertir muito com Treyjan Charell. Talvez eu já tenha feito isso e só não me lembro? — Por que você me convidou para almoçar fora então? Para ver se você conseguiria arrancar meu segredo dos meus lábios? — Eu trouxe você para almoçar porque nunca estive casado antes. Eu talvez nunca volte a me casar. Achei que devia cuidar da minha noiva com uma boa refeição antes dela cavalgar para o pôr do sol. Eu quase sorri com isso. Quase. Mas então vejo um rosto muito familiar olhando para mim através da janela. Eles não estão vindo para mim. Eles já estão aqui.

Meu corpo inteiro fica frio da cabeça aos pés e minha garganta se fecha, cortando minha respiração de forma tão abrupta que eu nem tenho ar suficiente sobrando para suspirar. Não. Memórias cintilam atrás dos meus olhos, mas eu as empurro de volta, lutando com cada contração ofegante do meu peito para respirar oxigênio e expirar a dor. — Nós temos que ir, — eu sussurro para Trey e ele me dá um olhar estranho. — Agora. Por favor. Apenas me tire daqui. Ficando de pé, eu colido com nosso garçom e derrubo vários pratos de comida quente no chão. Não importa. Eu tenho uma visão de túnel nesse momento, e não consigo ver nada além do rosto desse homem, a forma torta de seus lábios e o nariz que foi quebrado muitas vezes.

~ 39 ~

Ele está fazendo andando pela calçada tão despreocupadamente quanto possível, mas eu conheço esse olhar, essa caminhada - não há nada de despreocupado sobre isso, de jeito nenhum. Um olhar frenético ao redor do restaurante não revela absolutamente nenhum outro caminho para fora. Há uma saída de incêndio em um canto, mas está bloqueada por uma cabine cheia de fregueses (me pergunto o quanto ilegal é isso?), então eu decido tentar pela cozinha. Mesmo que eu possa ver a maior parte dela através da janela de serviço, o que não significa que não haja uma porta lá atrás. Enfim, onde mais eu vou? Lá fora? Depois daquele homem? Eu acho que não, merda. Eu começo a correr, mas o garçom agarra a parte de trás da minha blusa, gritando comigo sobre a comida, perguntando-me o que diabos está errado comigo, exigindo que eu pague. Treyjan me solta e nossos olhos se encontram. Nos dele, tudo o que vejo é confusão, mas não há tempo para explicar. Eu começo a correr. Assim que eu atinjo os pisos de azulejos laranjas com crosta da cozinha, vejo que há uma porta dos fundos que está aberta. Duas mulheres velhas com redes nos cabelo e aventais gordurosos estão conversando; eu passo casualmente por elas e continuo correndo. Os sapatos feios confortáveis que eu estou usando não parecem tão bobos agora, não é? Se eu estivesse cambaleando em saltos tão altos quanto o Empire State Building, eu não seria capaz de correr assim, seria? Treyjan me alcança em menos de um minuto, e eu odeio que enquanto eu estou ofegando para respirar, ele está se movendo com essa graciosidade sem esforço, que parece estranha com sua postura arrogante. — Diga-me por que estamos correndo? — ele pergunta, mas como eu realmente preciso de toda minha respiração para continuar me movendo, eu não respondo. Eu também não tenho ideia de onde estamos indo. — Por aqui, — Treyjan diz depois de um tempo, aproximando-se e tomando minha mão.

~ 40 ~

Assim que nossos dedos se conectam, é como se um circuito elétrico acabasse de ser completado, disparando esses volts através da minha mão e para o meu braço, meu peito, reanimando meu coração. Eu juro, eu corro quase duas vezes mais rápido depois disso, meu corpo alimentado por mais de um tipo de adrenalina. Ele nos leva para um beco com uma pequena parede de tijolos no final e então, antes que eu possa registrar o que diabos vamos fazer agora, ele me puxa para frente, envolve suas mãos em torno da minha cintura e me levanta até em cima da parede. Enquanto eu ainda estou sentada lá respirando arduamente e imaginando a impressão de seus dedos contra meu quadril, Treyjan se empurra para cima com um feixe de músculos em seus braços tatuados. Por um momento, o gorro de malha preto na cabeça dele desliza para trás, apenas um pouco, e o sol beija seu cabelo com lábios dourados. Seus olhos brilham com esse entusiasmo pela vida que eu me pergunto se eu alguma vez serei capaz de entender. E a boca dele... o jeito como ele lambe o lábio em frustração faz todo tipo de coisas engraçadas com os músculos da minha barriga. E minha vagina. Essa também. — Ainda está correndo por sua vida? Ou nós estamos de férias aqui? — ele atira, acordando-me do meu estupor. Eu balanço minhas pernas sobre a parede, caio no chão e continuo correndo. Do outro lado da parede há uma área gramada coberta que leva a um pequeno parque. Crianças riem e gritam dos brinquedos de várias cores enquanto seus pais relaxam nos bancos e aproveitam o sol do verão do sul da Califórnia. Eu, eu simplesmente paro ao lado de um bebedouro e bato minha palma no botão prateado, feliz por haver tamanho infantil, então eu posso beber nele enquanto ainda estou de joelhos. Olhando para o lado, eu vejo o jeans apertado de Treyjan esticado sobre a protuberância de sua virilha, e todas aquelas acrobacias engraçadas na minha vagina que estavam acontecendo anteriormente começam a piorar. Treyjan apenas cruza seus braços sobre o peito e olha para mim como se ele tivesse certeza que eu sou uma doente mental foragida ou algo assim. A tatuagem extensa que cobre seu peito espia acima de sua camisa com olhos de esqueleto, observando-me.

~ 41 ~

— Como eu salvei o seu traseiro lá atrás, eu posso ouvir a história agora? — ele me pergunta, mas eu apenas bufo e me levanto, saindo do caminho para uma mãe irritada levantar seu filho até o bebedouro. — Eu não lembro de você salvar meu traseiro, — eu digo, mas Treyjan já está esticando o braço e colocando a palma da mão na minha boca. — Aquele cara do lado de fora do restaurante, o que estava com jeans e óculos, quem era aquele fodido? Porque eu o soquei o mais forte que pude no pescoço, na frente de todo o restaurante. Agora isso prende a minha atenção. Eu olho para Treyjan, piscando rapidamente enquanto eu agradeço ao universo que por uma vez na minha vida, eu não viajei. Eu, Netty Forester. Se eu acreditasse que o universo era capaz de milagres, isso se qualificaria como um deles com certeza. — Você deu um soco nele, no pescoço? — eu pergunto, mas Treyjan ainda fica apenas de pé lá em um uma calça jeans azul desmazelada repleta de buracos e rasgos, três cintos de couro preto com fivelas de metal grande nas formas de crânios, morcegos e uma guitarra drapeando em torno de seu quadril fino como cobras. Suas botas são elegantes e pretas e com fivelas, e sua camisa é cerca de três tamanhos menores. Em suma, Treyjan Charell não passa de tentação perigosa e selvagem. Se eu fosse Eva, ele seria minha maçã. — Então, quem é aquele cara e o que ele fez para você? Para uma mina tão arrogante como você começar a berrar na frente de um estranho provavelmente precisa de muito. Eu aperto meus lábios na palavra arrogante, mas decido deixar isso pra lá. Ainda estou com o fôlego muito curto para começar a dar sermão. — Ele é meu noivo, — eu digo, e isso realmente tem a atenção de Trey. — Você está falando sério? Eu acabei de dar um soco no seu maldito noivo?! Não satisfeita em me chutar nas bolas apenas uma vez, hein? Fale sobre um verdadeiro chute nas bolas. Você trai o seu homem e depois me faz espancá-lo. Inteligente. Eu gosto do seu estilo.

~ 42 ~

Treyjan franze o cenho para mim, sarcasmo escorrendo de seus lábios quando ele começa a se afastar. Mas ele não entende. Ele não entende nada. — Eu não escolhi tê-lo como meu noivo, — eu atiro de volta, curvando minhas mãos em punhos e me sentindo cerca de um milhão de quilômetros de distância do conforto. A vida na qual eu cresci foi toda uma mentira, uma farsa, e o mundo do qual eu fugi é cruel, sombrio e fodido. Aqui estou eu, em pé na frente de um cara que eu posso ou não ter fodido na noite passada - ele ter sido simplesmente o segundo homem na história para mim - que é coberto de tatuagens, que tem uma boca perversa, que é na verdade meio cruel, e agora eu tenho lágrimas escorrendo pelo rosto novamente. — Não, não chore, — ele diz, soando tão aflito quanto no corredor em sua casa. Mas não como alguns caras, como se ele estivesse irritado por eu me atrever a mostrar muita emoção em público ou na frente dele, mas mais como se realmente o machucasse me ver chateada. Ver uma garota chateada é o que eu quis dizer. Eu acho que não importa se essa pessoa seja eu ou não. — Venha, eu vou te dar um cachorro-quente daquela barraca ali se você simplesmente... se você simplesmente parar. Em vez disso, eu sinto aqueles escudos cuidadosamente criados caindo ao meu redor. Vidro quebrado se estilhaça; ele corta. Eu sinto que estou sangrando até a morte no meio de um parque ensolarado na cidade de Los Angeles. Treyjan Charell leva cerca de dois segundos para avançar e envolver os braços em volta de mim, puxar-me para perto e me aconchegar contra seu peito. Ele cheira vagamente a desodorante, sabão para roupa e sabonete - agradável e limpo - mas há essa picada oculta de suor fresco de toda essa correria que acabamos de fazer. Sua camisa está um pouco úmida na frente, onde minha bochecha está pressionada contra ela. Ainda assim, a melhor parte de tudo isso? É o quão gostoso ele é, o quão apertado ele me segura. Há algo mais, também, uma espécie de necessidade enterrada profundamente dentro dele. Tão perto como estamos agora, eu posso sentir isso. Parece antigo e vazio e desesperado, como se me empurrasse para baixo naquele buraco escuro e me deixasse cair para sempre. Embalada apertada assim, eu quase quero.

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— Puta que pariu, — Treyjan amaldiçoa depois de alguns segundos, alarmando-me pra caramba. Eu cresci pensando que palavrões eram puro pecado, mas ao longo dos anos eu aceitei que eles são apenas sílabas com significado, como qualquer palavra lá fora. Dizê-los não te faz pegar fogo na hora; ouvi-los não corrompe a alma. E ainda assim, uau. Treyjan amaldiçoa como um marinheiro que acabou de chegar no porto. — Aqueles bebedores de mijo paparazzi filhos da puta. Eu olho de relance sobre meu ombro e encontro uma horda de pessoas com câmeras apontadas diretamente para nós. — Precisamos cair fora, babe, — diz Treyjan, dando um passo para longe de mim e olhando para baixo com esse tipo de expressão desconcertada no rosto. Por um segundo ali, eu vejo uma pequena fenda na sua fachada de guitarrista babaca. — Maldito seja, você é muito baixa, não é? — ele pergunta, e eu o soco o máximo que posso em seu ombro. Infelizmente, tudo o que isso realmente faz é fazer minha mão doer como o inferno. — Vamos, — ele diz, esticando o braço para baixo para pegar minha mão novamente. A sensação de seus dedos quentes e tatuados se enrolando em torno dos meus é algo que eu acho que jamais poderia esquecer. Nem mesmo se eles me encontrarem. Levarem-me de volta. Fazerem-me ficar. Nem mesmo assim.

~ 44 ~

— Sua esposa é tipo, dócil pra cacete, — diz Turner, parado na entrada da sala de estar. Ele está bebendo uma cerveja com uma mão e fumando um cigarro com a outra. Quando meus amigos dizem que vão ficar abstêmios, o que eles querem dizer é, nenhum cristal, nenhum pó de anjo, nenhum ácido. Cigarro, maconha e álcool são todos ainda parte do jogo. Sim, caminhamos um pouco soltos e tranquilos por aqui. — Ela não é minha esposa, — eu murmuro em voz baixa, pegando um cigarro para mim e acendendo. Nosso empresário - esse pequeno e pálido camarada chamado Milo Terrabotti - sempre parece estar a dois passos de ter um ataque do coração quando ele nos vê fumando aqui. Azar o dele. É a nossa fodida casa - todos os dez mil metros quadrados dela. — Hã. — Turner move seu olhar para mim, brincando com seus piercings no lábio com a língua. Quando ele começa a levantar os dedos - começando pelo meio - eu sei que estou com problema. Cruzo meus braços sobre meu peito enquanto ele recita uma lista. — Primeiro de tudo, você tipo, legalmente se casou com ela. Então, você consumou isso tudo oficialmente e essas merdas. Agora, você está me dizendo que ela está se mudando para a casa. Por favor, diga, irmão, o que nós estamos perdendo aqui que constitui um casamento? — Amor, — eu deixo escapar antes que eu possa me parar. Saco de paus. Eu realmente acabei de dizer essa merda em voz alta? Turner começa a rir, esse som de gargalhada horrível que acaba com a gente em uma briga. A garrafa de cerveja bate no chão e se quebra quando meu melhor amigo me dá uma chave de pescoço e tenta me humilhar na frente da Netty. — Ei, Ronnie! — Turner grita e nosso baterista desce a escada em uma regata larga rasgada e jeans baixo. Sua esposa australiana, uma baterista da extinta banda Ice and Glass, para na entrada ao lado dele, o novo bebê deles mantido firmemente em seus braços. — Você ouviu isso? A única coisa que Treyjan sente falta em seu novo casamento é o amor.

~ 45 ~

— Sai de mim porra, seu pedaço de merda! Eu luto para disputar meu caminho para fora de seu aperto e então me jogo para ele novamente. Como de costume, a merda aumenta até meu lábio estar ensanguentado e Turner estar resmungando e sorrindo através de uma mancha avermelhada nos dentes. É preciso da intervenção de Ronnie para nos apartar de continuar com isso. — O que há de errado em querer um pouco de amor em sua vida? — Ronnie pergunta, gesticulando para mim e fazendo meus dentes se apertarem forte com raiva. Sinto que ambos estão se divertindo comigo agora. — Não é como se você não tivesse ido atrás disso com vigor. — Você sabe, — diz Netty, aparecendo à minha esquerda com sua blusinha branca sem graça, cabelo castanho claro dourado e sem maquiagem no rosto. Comparada com as garotas que eu costumo sair minas roqueiras com cabelo selvagem e tatuadas, ou tietes com vestidos brilhantes e lábios vermelhos - Netty Forester é simples como o inferno. Mesmo parada aqui ao lado de todos nós, ela parece uma tela em branco em uma galeria cheia de pinturas. Mas merda. Eu sei que isso me faz soar como um sacana podre, mas eu tive uma enorme ereção filha da puta segurando-a no parque hoje. Sua boca é cheia, perfeita e brilhante, mesmo sem batom, e o corpo escondido sob essa saia horrível é cheinho e curvilíneo. Seus olhos, eles são da mesma cor que o céu um pouco antes do pôr-do-sol, esse fodido azul de safira que chama minha atenção e me segura lá. No que diz respeito a acordar casado com uma estranha, eu poderia ter escolhido pior. Tipo, muito pior. — Não há nada de errado em querer estar com alguém que você ama. — ela para e arrepios irrompem pelos seus braços nus. Ela estremece e os esfrega com as palmas, fazendo parecer que o arcondicionado está malditamente frio pra cacete (ele está), mas eu vejo aquele brilho de medo nos olhos dela. Esse noivo dela realmente colocou o temor de Deus nela. — Honestamente, um casamento sem amor é sobre como solitária a vida pode ficar. — Nós vamos anular isso, então vocês podem esfriar seus malditos ânimos, tudo bem? ~ 46 ~

— Vocês vão anular?! — Turner pergunta em choque, zombando, colocando uma mão tatuada em sua boca. — De jeito nenhum, porra! — ele aponta para Netty e sorri para mim, e eu sei que se Ronnie não estivesse entre nós dois, eu o atacaria e começaria nossa briga de novo. — Você não vai conseguir nada melhor do que essa garota, Trey. Nós dois sabemos que ela está fora de seu fodido alcance. Quer dizer, confie em suas estrelas da sorte e agradeça a Jesus por essa mina. — quando ele pega um preservativo de Trojan do bolso dele, eu sei que é hora de uma surra — Desculpe se sua mãe te deu o nome depois de uma capa de pau. Ele joga o pacote na minha direção, mas Netty o pega no ar corando, mesmo que ela esteja embrulhando seus dedos em volta dele. — Eu acho que Treyjan é um belo nome, — ela diz com uma espécie gritante de honestidade que eu espero que Turner possa apreciar. A coisa é, se ele soubesse que ela estava carregando um monte de segredos, ele jogaria seu traseiro na rua e lavaria as mãos dela. Nosso ex-baixista e seu melhor amigo, Travis Gaborone, guardaram segredos de nós e esse pesadelo entrou em uma espiral de um reinado de sete anos de inferno. Falando do... filho de Travis, um garoto de sete anos chamado Tyler desce os degraus em seguida. Em uma estranha reviravolta, ele atualmente vive aqui com o resto de nós idiotas. Eu me preocupo todos os dias sobre estarmos ferrando com ele pra caralho, que ele se transforme em uma bagunça inútil e terrível de um ser humano - como Turner. — Nós estamos saindo para um jogo de beisebol, toda essa coisa americana e essas merdas, — diz Turner, colocando o braço em volta do pescoço de Tyler e puxando-o para perto. O garoto finge ficar irritado, mas posso dizer que ele está animado. — Desejem-nos sorte, meus amigos. — Foda-se, — é o que eu digo em vez disso, enquanto ele se dirige para a porta, encontrando-se com Naomi nos degraus da varanda lá fora. Quando eles se olham... anjos, tipo, cantam e essas coisas. Eu cavo minhas unhas nas minhas palmas e bufo. Tanto faz. Todos pensam que eu sou uma espécie de romântico perdido tropeçando por aí e procurando por sua alma gêmea. Na realidade, eu só quero farrear e fazer música e cheirar coca. Eu definitivamente

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não quero uma confusão complicada como Netty Forester na minha vida. — Vamos, vamos encontrar um quarto vazio. Há, tipo, um milhão deles, — eu digo e pego o olhar dos olhos castanhos de Ronnie, e vejo o mais leve fantasma de um sorriso iluminar seus lábios. Idiota. Tá vendo o que eu quero dizer? Todos eles estão torcendo para eu me juntar ao clube casado-com-crianças deles, mas não, obrigado. Não estou interessado. Sinto falta dos bons e velhos tempos quando nós estávamos na estrada dez meses do ano, fodendo uma nova tiete em cada cidade, e fazendo linhas de cocaína no banheiro do ônibus. Mesmo que foi apenas a um ano atrás, parece ser uma fodida eternidade. — Bem, foda-se a buceta seca de uma freira, — diz Lola enquanto eu tento me apertar para passar por ela e o bebê. Seu nome é, quase previsivelmente, Travis Gaborone McGuire. Vai entender. Eu a ignoro, espezinhando os degraus de mármore e ouvindo enquanto os passos suaves de Netty se movem atrás de mim. Depois que nós fugimos dos paparazzi no parque, eu tinha planejado levá-la para uma estação de ônibus. Mas então eu me lembrei de quão malditamente assustada ela estava e a trouxe de volta para cá, para ficar em um dos quartos de hóspede por um tempo. O Senhor sabe que provavelmente eu vou me arrepender pra cacete disso. — Obrigada por me deixar ficar aqui, — diz ela quando eu abro a primeira porta vazia e dou um passo para trás. Imaginei que se o seu time de segurança pode manter fãs enlouquecidas fora deste lugar, quem quer que seja aquele cara era hoje, não terá a menor chance. — Se você não gostar desse quarto, — eu começo, mas Netty já está me acenando que não. — Este quarto servirá muito bem, obrigada, — ela diz, e então entra e bate a porta bem nos meus fodidos dedos.

~ 48 ~

O balcão do meu banheiro tem duas linhas de pó branco de coca, traçadas e prontas para mim. Apertando uma narina, eu me inclino e uso uma nota de cem dólares para aspirar essa merda direto para o meu nariz. Logo que ela atinge meu cérebro, eu me sinto como um gigante entre os homens, como se eu tivesse superpoderes. Mesmo que a Indecency não esteja agendada para começar a gravar nosso novo videoclipe hoje. Não tenho certeza de como eu supostamente tocaria a guitarra com os dedos quebrados. Jesus Cristo. Sacudindo minha mão, eu amaldiçoo Netty fodida Forester baixinho, e me pergunto por que diabos o universo achou que seria engraçado arrastar uma mina estranha para a minha vida quando tudo finalmente tinha acabado de sossegar. O ano passado foi feito de turnês através do país, ferimentos à bala, intriga misteriosa e segredos. De jeito nenhum eu vou deixar esse tempo especial de doze meses ir por essa mesma estrada. De jeito nenhum. Eu me levanto e inalo, enrugando um pouco o nariz e esfregando o rosto com as costas da minha mão. Meus olhos estão avermelhados e eu pareço o inferno. A coisa é, eu não consegui dormir ontem à noite. Toda vez que eu pensava em Netty Forester dormindo em uma cama perto de mim, meu pau ficava duro como um maldito diamante. Eu finalmente me entreguei e bati umazinha, mas isso não me ajudou porra nenhuma. Ainda estou excitado como o inferno. Eu endireito minha camisa e me olho no espelho. Eu poderia me barbear, e talvez as estilistas irão me segurar e tentarão fazer isso para mim nas filmagens, mas não me agrada muito ter um rosto suave de bebê hoje. A aparência áspera fica legal em mim, me faz parecer um autêntico durão. Eu esfrego minha mão sobre o meu maxilar e lanço um sorriso para o meu reflexo. Quando eu me dirijo para fora, para o corredor, Netty está esperando do lado de fora da minha porta, com a mão levantada como se ela estivesse prestes a bater. — O que você quer? — eu cuspo, tentando ignorar o palpitar nos meus dedos inchados e roxos.

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— Eu vim me desculpar, é tudo, — ela diz, os olhos se movendo para baixo, para encontrar minha mão ferida. Pelo menos ela tem a decência comum de parecer mortificada sobre a coisa toda. Eu inclino meu antebraço contra a porta e levanto minhas sobrancelhas, esperando para ver o que mais ela quer. Claramente, há alguma coisa. Netty levanta a mão para tocar o cabelo preso em sua cabeça e limpa a garganta. — Eu sei que isso pode parecer um pedido estranho, mas hoje é o terceiro dia consecutivo que me encontro neste conjunto especifico de roupas... — Este conjunto especifico de roupas, — eu zombo e ela faz uma careta para mim. — Por quê? Blusinhas sem mangas cobertas de pelos de cachorro não estão no seu guarda-roupa habitual? — Você é um homem particularmente desagradável, você sabe disso? — ela pergunta, mas eu já estou avançando para interrompêla. O jeito como ela recua me atrai como abelhas no fodido mel. Eu a sigo pelo corredor até suas costas baterem na porta da minha irmã. Como eu já sei que Sydney está fora durante o dia, eu não hesito em avançar, colocando as palmas das mãos em cada lado da cabeça de Netty e me inclinando mais perto. — Eu posso ser agradável pra cacete, se é isso que você está procurando, — eu sussurro, observando o pulso do lado de sua garganta aumentar, vibrando como as asas de um pássaro contra a fina pele pálida de seu pescoço. Eu sei que estou provocando ela aqui, mas diabos, ela quebrou minha mão, me deu um soco e me atingiu nas bolas. Eu não mereço fazer uma pequena provocação? — Quer ver como seria deitarmos juntos como marido e mulher? — Eu tenho uma arma de choque na minha bolsa, e não tenho medo de usá-la, — ela sussurra, mas sua bolsa não está em nenhum lugar à vista. Quando Netty não faz nenhum movimento para pular fora de debaixo do meu braço, eu levanto e deslizo meus dedos (não quebrados) através do lado de seu rosto. O suspiro que escapa de seus lábios é uma bagunça confusa de emoção, esse maldito suspiro da sua respiração através dos lábios rosa. Eu me pergunto como é o gosto dela? Quero dizer, estou supondo que nos beijamos na outra noite, mas não me lembro de nada. Parece

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uma espécie de tendência neste lugar, esquecer a merda mais importante. Como você acha que Turner e Naomi se conheceram? Uma noite esquecida transformou-se em para sempre. Eu poderia ter isso? Eu ainda iria querer isso se caísse no meu colo na forma de uma garota problemática, estranha e desajeitada? Minha mão desliza para baixo e segura a parte de trás do pescoço dela, puxando-a para mim para um beijo. Esses lábios brilhantes... são tão macios quanto eles podem ser, meu amigo. Nossas bocas se encontram com um roçar lento de pele na pele, e mesmo que eu queira empurrar isso o mais longe que eu puder conseguir, tomar os lábios de Netty nos meus com uma força agressiva e esmagadora, não é o que acontece. Em vez disso, este primeiro encontro de nossas bocas a ser lembrado é tranquilo e gentil, como um fodido beijo de livro de contos de fadas ou algo assim. Eu não beijei ninguém assim desde... bem, talvez eu nunca tenha beijado ninguém assim? Aquele fodido garotinho quebrado e solitário que passava todo seu tempo procurando uma mãe substituta em vez de uma namorada. Beijos inocentes com garotas da minha própria idade nunca realmente aconteceu. Porra, eu nem perdi minha virgindade por conta própria. Meus amigos me empurraram para uma situação embaraçosa aos vinte anos com uma garota que eu nem sequer gostava. Então... acho que, de certa forma, este é sei lá, meu beijo cinco mil e meu primeiro, tudo ao mesmo tempo? Eu vou morrer antes de admitir ter esse pensamento. Meu corpo se inclina para mais perto do de Netty, empurrando contra ela, provocando sua barriga com minha ereção. Ela tem gosto de tempos difíceis e luta, essa doçura corajosa nos lábios que me deixa ofegante e hesitante com o botão do meu jeans. Nós nem sequer beijamos de língua ainda e estou tentando arrancar minhas calças? Mas Jesus, Maria, José, estas calças estão apertadas e meu pau dói e minha cabeça está nadando com cocaína. Estou fazendo amor com a boca de uma garota que eu mal conheço, e ela está ali, me encorajando a fazê-lo, cavando a ponta dos dedos sob meu cinto e enchendo meus pulmões com sua própria respiração ofegante.

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— Ei, cabeção, vamos explodir essa espelunca! — Turner grita do pé da escada. Considerando que ele é o vocalista da banda de rock mais famosa da história, faz sentido que ele se projete alto o suficiente para me deixar surdo. Netty se abaixa um pouco e dá a volta do outro lado do meu braço, as bochechas rosas e seu peito subindo e caindo com respirações violentas e pesadas. Suas pupilas estão dilatadas e eu posso dizer, quando me viro e ando desleixado contra a porta do quarto, que ela me quer tanto quanto eu a queria neste momento. — O que eu ia pedir era, — ela começa sugando uma grande respiração. Eu noto que ela não se esquiva de encontrar meu olhar, não gagueja. Os únicos sinais de sua excitação são os físicos que ela não pode controlar. Esta é uma mulher que está desesperada por manter tudo ao seu redor em uma coleira apertada, de se certificar de que o mundo esteja todo colorido dentro das linhas. Sem linhas errantes, nem rabiscos. Com certeza, eu me qualifico como um fodido rabisco bundão. Pego meu pacote de cigarro e acendo um. — Seria possível você me levar para sair para comprar algumas roupas? Eu tenho meu próprio dinheiro, obviamente, mas eu gosto da ideia de uma van cheia de guarda-costas mais do que eu gosto da ideia de andar por Los Angeles sozinha. Os cílios de Netty tremulam e ela olha para o chão por um momento. O fôlego que ela toma é pesado o suficiente para me sobrecarregar. Como diabos ela ainda está de pé sob todo esse peso? — Eu vou levá-la, — eu digo a ela, e ela parece um pouco surpresa quando levanta o olhar para olhar para mim. — Mas isso vai te custar. — o sorriso que ilumina minha boca é duas partes veneno, uma parte comedor de merda. Essa mistura especial geralmente mata mulheres. Não parece perturbar Netty. — Qual é o seu preço? — ela pergunta, cruzando os braços sob um par de seios extremamente amplos. Quando ela me percebe olhando, ela bufa e faz cara feia para mim. Não importa. Ela pode fazer todas as caras feias que ela quiser; sua expressão agora não apaga o fato de que nós acabamos de nos beijar. — Saia e curta comigo esta noite. — Absolutamente não.

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Eu me endireito e olho para ela, fumando meu cigarro e me perguntando por que eu ainda estou me incomodando em fazer isso, convidar essa mina para sair. O tipo de festa que eu gosto de fazer não parece seu estilo. — Por que não? Você disse que gostava de vans e guardas de segurança? Eu posso garantir ambos. O que você tem a perder, de qualquer jeito? — Minha liberdade, — Netty sussurra e fecha seus olhos azuis, e deixa seu queixo ceder. — Minha vida, minha irmã, meu gato. — eu levanto uma sobrancelha para esse último, mas tenho certeza que ela está falando sério sobre a coisa toda. Faz um cara imaginar. — Ele é apenas um homem, Netty, — eu digo, tentando o meu melhor para não pensar em quão ruim um homem me machucou. Depois que minha mãe morreu, meu pai deixou meu mundo inteiro ir à merda. Ele não foi metade de tão ruim quanto a mãe de Turner e, ainda assim, aquele único homem deixou cicatrizes suficientes no meu coração para me ferir por toda a vida. Não é de se admirar que eu cresci para ser um pequeno bundão mau? A risada dela logo depois é amarga o suficiente para me dar calafrios. — Ele não é apenas um homem, Treyjan, — diz ela, virando-se para longe como se a conversa estivesse terminada. Maldito seja. Eu não acabei aqui. Eu estendo a mão e agarro seu braço, suave o suficiente para que ela não sinta a necessidade de se afastar. — Eu vou levá-la às compras, — é o que eu digo em vez disso. — Mas nós começamos a gravar hoje para o nosso novo vídeo. Venha ao set comigo e iremos depois. — Um set de videoclipe? — pergunta ela, mas há apenas uma hesitação de um segundo antes dela responder. — Está bem então. Não há dúvida sobre a quantidade de alívio em sua voz.

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Há um segundo de silêncio após o diretor gritar ação, apenas tempo o suficiente para Turner se virar com um sorriso malicioso e balançar seu microfone em volta de seu cabo. A bateria de Ronnie começa atrás de mim, esse ruído perverso que me faz pensar em ossos no concreto, um som perturbador sombrio que me deixa num fodido clima para saltar com minha guitarra. Um rápido olhar de relance por cima para Jesse e trocamos um olhar, comunicando-nos desta forma silenciosa que levou anos para aprimorar, uma década na verdade. Ela é reforçada pela dor e sofrimento compartilhados, vivendo através das merdas e prosperando por causa dela. Ele teve uma mãe alcoólatra; meu pai era um viciado em drogas. Nós fomos pobres e negligenciados, e destinados a uma sepultura precoce. Mas a música? A música salvou todos os nossos traseiros. Mesmo que meus dedos doam como um inferno, eu uso a palheta roxa em minha mão para brincar com minha guitarra, enviando esses gritos de rebeldia cantarolado de meu instrumento. Tipo, foda-se o sistema e todos nele. Sem palavras, eu digo ao mundo para chupar meu pau, trazendo a energia demoníaca em minhas mãos à vida, através da minha guitarra. — Eu não sou um idiota? Você não acha que eu sou um? Se eu tivesse puto com você antes, apenas saiba que eu ainda não terminei. — Turner gira em um círculo fechado e se vira para trás, para enfrentar as câmeras como se estivéssemos em um show em vez de enclausurados em um estúdio. Eu faço o mesmo, dando tudo o que tenho. Estamos tentando uma única e perfeita tomada, uma jogada com a música que será quebrada na edição final do vídeo. Claro, toda a coisa estúpida será dublada sobre a música gravada do álbum, mas isso não significa que não haja pessoas ouvindo aqui - que Netty Forester não está ouvindo. — Escute, eu digoooo, sua boca está sempre se movendo, mas não há nada saindo. Não tem algo legal para dizer, então não fale nada. Foda-se, eu supero qualquer argumento que vocês cadelas tapadas tentam para respirar. PAPO FURADO! A verdade apenas parece ser sua bucha de canhão.

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Eu balanço minha cabeça e esmago minha bota no chão de cimento sob meus pés, esticando um espaço pequeno no meio da música para minha guitarra brilhar. Esta música é pesada com ritmos de rock destruidor e solo de metal para compensar a natureza descarada da letra. — Então tranque suas portas e se esconda porque esta revolução tem seus filhos e filhas. Eu sou o culpado. Você pode sentir isso em suas almas? Eu tenho o futuro trancado, não há necessidade de autocontrole. Se é aí para onde estamos indo, então esse pesado fardo que temos pode simplesmente flutuar. Esta parte da música pertence a Ronnie e a mim, levando o público em uma turnê com nossa habilidade. Como rosas vermelhas florescendo em chuva ácida - lindas, mas mortais, apodrecidas. — Eu não sou profeta, mas estou pregando hoje. — Turner acena teatralmente para a câmera. — Prescrito por conta própria, uma dose honesta. Essas verdades nunca são falsas, e meus valores não são uma piada. Não teve o suficiente? Sua moral é uma piada. Eu me sinto um pouco louco, como talvez, Deus, oh baby, há uma luta à frente, nós venceremos. Ei, nosso nome é Indecency e somos fanáticos. — INDECENCY! — Ronnie e eu gritamos nos microfones, nossas vozes grunhindo misturando-se juntas sob a de Turner. Juro por Cristo, música é como pintar - cada camada de tinta acrescenta um destaque aqui, uma sombra ali. Ah, com quem eu estou brincando? São na maioria apenas sombras. — Rock 'n' roll nosso coro, e verdade é tão boa quanto ouro. Me chame de insano, mas eu ainda estarei aqui lutando mesmo quando você for nada além de malditos ossos. Pelo amor de Deus, onde está sua alma quebrada? Se é do inferno que você tem medo, então, seja bem-vindo ao seu novo lar. Meu solo de guitarra rola como uma nuvem de trovão, tomando conta do set com chuva sombria e melancólica. Eu balanço a alça da minha pérola branca Ibanez12 e faço um salto girando que me coloca no meio do palco. Jesse e eu nos encontramos aqui para vibrar nossas notas juntos. Turner nos encontra lá e fica de frente para nós, tocando um pouco de guitarra imaginária e balançando a cabeça, arrasando no palco conosco.

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Marca de guitarra. ~ 55 ~

Então ele gira e estica uma mão para pegar uma guitarra jogada, arremessando a alça sobre a cabeça antes de começar a tocar. Nós três rasgando nossos instrumentos em pedaços enquanto nosso baixista, Josh, entra, emparelhando seu som com a bateria de Ronnie. — Deus ferrou todos vocês, porque estamos cansados de seu controle. Se este mundo é onde eu estou preso agora, apenas saiba - eu estou pegando de volta minha alma. Juntos, levamos a música para suas raízes mais sombrias, direto para o inferno e voltamos. Minha virilha cavalga contra minha guitarra e eu dou uma olhada para cima, e queria poder espiar através da luz brilhante dos holofotes, para encontrar o rosto de Netty Forester. Como eu não consigo ver merda nenhuma, eu apenas coloco um sorriso no meu rosto e cavalgo meu instrumento do jeito que eu gostaria de ter conseguido cavalgar Netty no corredor hoje. Mm. Eu sinto que estou ficando perigosamente perto de cometer um erro estúpido aqui, como se eu estivesse realmente interessado em começar a conhecer esta esposa que eu não quero. Turner ri e solta o microfone no chão. — E isso é tudo pessoal, — ele diz, passando a mão pelo cabelo suado. O diretor grita corta, e todos nós tomamos um minuto para pegar um pouco de água. Sabendo como essa merda geralmente segue, provavelmente teremos quinze minutos para nos acalmar, dez no cabelo e maquiagem para consertar nosso delineador suado, e então vamos fazer isso novamente. Talvez três, quatro vezes. Assim que eu saio do set, Netty está esperando com uma garrafa de água fria. — Embora eu não me qualificaria exatamente como um especialista em rock ‘n’ roll, eu gostei da música. É... um pouco conflituosa, mas suponho que seja o caminho mais fácil de conseguir que as coisas sejam feitas às vezes, não é? Eu pego a água dela e observo quando ela olha fixamente para o teto, meditando em suas próprias palavras. — Você não parece exatamente o tipo foda-se o sistema, — eu digo sarcasticamente, apontando para sua roupa amarrotada. Na van, no caminho para cá, eu a vi alisar a palma sobre suas roupas cerca de uma dúzia de vezes. ~ 56 ~

— Ah, você não faz ideia do que eu sou capaz, — diz ela, sua voz afiada o suficiente, que eu tenho a ideia que talvez eu tenha acabado de ofendê-la. Hum. Ok. — Baseado de onde eu venho, — ela continua, sua voz ligeiramente cantada, quase como se ela estivesse falando comigo debaixo de ondas selvagens batendo, como se ela estivesse se afogando nas lembranças que nublam seus olhos. — Eu não sou apenas uma rebelde; eu sou inimiga do estado. Netty sorri, mas a expressão é tensa, esticada, pegajosa e artificial. Não há nada sobre o que ela acabou de dizer que a faz feliz. — De onde diabos você é, então? Arábia Saudita? Pelo amor de Deus, você parece bastante conservadora para mim. — Eu sou de Utah, — ela bufa e minhas sobrancelhas se levantam. — Bem, isso explica muito, — eu digo e Netty planta suas mãos no quadril, olhando para mim como se eu a tivesse desapontado de alguma forma. — Você é grosseiro e insensível e ainda assim, de alguma forma, eu não acho que seja o verdadeiro você. — Você me conhece por apenas um dia, então, como diabos você saberia? — eu falo asperamente de volta, odiando que ela, de algum modo, conseguiu acertar em cheio. Para ser brutalmente honesto pra cacete, eu não tenho a menor ideia de quem eu sou. Toda a minha vida, eu estive perseguindo Turner Campbell, vivendo em sua sombra, cometendo seus erros. Agora que ele finalmente está conseguindo juntar suas merdas, casou-se com a garota de seus sonhos, desistiu das coisas difíceis, eu não tenho ideia do que fazer comigo mesmo. De jeito nenhum vou contar a Netty qualquer uma dessas merdas. — Você é uma mórmon ou algo assim? — Ou algo assim, — diz ela, e o sabor rouco de sua voz me diz que eu agora acertei em cheio. Bingo, vadias. Eu acendo para mim um cigarro e olho para ela até que ela finalmente me olha de novo. — O quê? — Eu quero quebrar sua casca. — Você quer quebrar minha casca? — ela pergunta e eu atiro um sorriso malicioso em sua direção. — É melhor você pensar em uma comida diferente para o café da manhã então, porque você não vai tirar nada de mim.

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— Não deixe a metáfora te chatear, babe. Apenas aprecie o fato de que eu acho você interessante. — Ah, eu estou tão honrada, — ela diz sarcasticamente enquanto eu passo por ela para voltar para o set. Queria saber se minha nova esposa vai ficar na cidade tempo suficiente para eu, pelo menos, tentar?

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Treyjan Charell caminha junto ao meu lado, no final do corredor na Target13, perto das calcinhas femininas. — Eu realmente não preciso de sua ajuda para escolher roupas, — eu digo a ele e ele olha para mim pelos óculos de sol escuros. Ele tem o gorro preto na cabeça novamente e um visual ligeiramente mais moderado do que o esportivo que ele estava para o vídeo clip. — Na verdade, eu não esperava que você sequer entrasse na loja. — Sim, bem, eu sou prestativo assim, eu acho, — ele me diz enquanto eu estendo a mão e pego algumas sacolas plásticas de calcinhas de algodão lisas e brancas. Eu não tenho dinheiro para substituir todas as coisas fofas de rendas e babados que eu estou deixando para trás. Pelo menos, eu sei que minha irmã e eu temos o mesmo tamanho; ela pode ter todos os sutiãs bonitos que eu vou ter que dizer adeus. Meu coração aperta e meus dedos se contraem quando eu penso em ir para o meu telefone. Não há nada no mundo que eu queira mais do que ser capaz de ligar para ela, ouvir sua voz, contar-lhe o que está acontecendo. Obviamente ela já terá visto as notícias, mas ela saberá o que fazer? Ela ainda não tentou entrar em contato comigo, mas se ela entrar... eles poderiam encontrá-la também. — Quando você pensa sobre isso, — diz Treyjan, e sua voz é estranhamente suave, — seu rosto inteiro desmorona. — Penso sobre o quê? — eu digo desinteressadamente, empurrando meu carrinho mais adiante, em direção às prateleiras de sutiãs. Com um tamanho extragrande, eu sei que não há nada aqui que me servirá adequadamente, mas eu não tenho tempo para procurar uma loja especializada ou esperar por um pedido on-line. Eu estou pensando em ir embora logo pela manhã. — Isto. Aquilo. Seja lá qual for o nome do seu demônio. — Seu nome é Jessop Barlow, — eu digo sem querer. Mas na verdade isso realmente não importa porque ele é apenas parte de um

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Loja de roupas e acessórios femininos. ~ 59 ~

problema muito maior. Eu nunca deveria ter ido à polícia; eu deveria ter simplesmente levado Oaklyn e ter dado o fora de lá. Mas dentro do meu peito, eu senti essa necessidade furiosa de ter justiça, corrigir os erros cometidos comigo e tantos outros. Eu queria lutar. Eu me pergunto se estarei pagando por essa decisão o resto da minha vida? — Jessop? Que tipo de nome é esse? — Treyjan - ou Trey, como seus amigos parecem chamá-lo - pergunta. Ainda não consigo descobrir por que ele se importa (ele parece um idiota egoísta) ou o que ele está fazendo aqui comigo, mas eu acho que é melhor do que estar sozinha. Eu sinto muito a falta do meu gato. — É um nome de família, — eu digo, mordendo meu lábio enquanto minha pele se arrepia com lembranças fantasmagóricas. Eu não estou prestes a aprofundar a questão com um completo estranho especialmente não um cuja calça é tão apertada. Obviamente, eu nunca estive com um cara antes, mas eu não posso imaginar sua tranqueira ficar feliz enfiada dentro de todo esse jeans. Ele provavelmente está matando sua contagem de esperma. Mas sua bunda com certeza parece boa, toda cheia e redonda - especialmente para um cara. — Mm, — eu inalo antes que eu consiga me parar. Meus olhos se movem para cima, para encontrar Treyjan olhando por cima do ombro para mim. As duas sobrancelhas escuras se levantam com surpresa. — Você acabou de dizer mm enquanto olha para a minha bunda? — Não! — eu ofego e ele faz uma parada súbita no meio do corredor - e eu continuo indo. Eu acabo batendo o carrinho atrás das pernas dele. — Jesus Cristo, mulher, — ele fala asperamente com os dentes cerrados, virando-se e arrancando o carrinho de mim. — Eu nunca conheci ninguém na minha vida que fosse tão desastrada. Que porra há de errado com você? Você está tentando me matar? — Treyjan para e então deixa aqueles lábios sensuais perversos dele se inclinarem em um leve sorriso. — Ou minha bunda é tão malditamente hipnótica que você não conseguiu ver direito? — Eu não estava dizendo mmm, como gostoso. Eu estava dizendo hum, como um som de confirmação. — Um som de reconhecimento sobre o quão bom é meu traseiro? ~ 60 ~

— Um som de... — eu paro e suspiro, estendendo os braços para esticar minhas mãos sobre meus cabelos. — Quer saber? Tudo bem. Você tem um derrière14 adorável, ok? Eu admito isso. — Um derri-fodido-ère? Uau, você realmente é de Utah, não é? — E de onde você é? Da praia? Você soa como um surfista demente, todo porra, cara e de boa, irmão e maneiro e hang ten15. — eu agito minhas mãos no ar, melodramática e teatral talvez, mas eu estou tão... eu estou simplesmente tão... esse homem me deixa tão irritada. Além disso, minhas bochechas estão vermelhas com vergonha. — Tudo bem, Utah, deixe-me ensiná-la um pouco, — diz ele, retirando seus óculos de sol e enfiando-os no bolso dianteiro esquerdo de sua calça jeans. — Primeiro de tudo, sim, eu nasci no sul da Califórnia. Segundo, eu nunca disse a porra de hang tem na minha vida. Nem uma vez. Turner e eu costumávamos dar surra nos caras surfistas no colégio. — Vocês dois são gêmeos ou algo assim? — eu pergunto e Trey suspira, arrancando o gorro da cabeça e deixando seu cabelo castanho incrível se espetar em todas as direções. Ele coloca tanto produto nele que não é de admirar que não fique liso. É apenas este espalhado selvagem de pontas morenas projetando-se em todas as direções. Agora que ele tirou o gorro, eu posso ver por que ele acha que o gorro pode ajudar a protegê-lo de fãs raivosas: o cabelo de Trey é bastante reconhecível. Ele desafia as leis da gravidade. É como se ele estivesse treinando para situações espaciais com gravidade zero. Ainda assim... eu tenho esse impulso irresistível de passar meus dedos através dele. Eu fiz isso na outra noite? Eu o toquei assim? Ele me tocou? Eu percebo que há muitas perguntas que eu provavelmente deveria estar perguntando a ele - sobre doenças sexualmente transmissíveis, controle de natalidade, etecetera - mas abordar esse assunto significa admitir que poderíamos ter realmente feito sexo. Nenhum de nós lembra muito daquela noite, então não tenho certeza de como até mesmo discutir isso. — Turner é o meu melhor amigo, — diz Trey, as narinas inflando. Posso ver que este é um assunto sensível para ele. — Sim,

14 15

Bunda em francês. Nome proveniente de uma manobra do surf. ~ 61 ~

todo mundo pensa que eu sou apenas o clone idiota dele, o menos bom. Certo. Tanto faz. Talvez eu seja? — Não, — eu digo, balançando a cabeça. — Você se veste parecido, e você fala parecido - e ambos têm realmente sérios problemas com maneiras e etiqueta - mas no fundo vocês não são tão iguais. — É mesmo? Você é terapeuta ou algo assim? — Assistente veterinária. Conheço cachorros. A boca de Trey se torce nesse malvado sorrisinho, e estala a cor castanho escuro do seu olhar na minha direção. — Você é uma cadela, — ele me diz, mas eu apenas sorrio confortavelmente de volta. Eu já fui chamada de coisa pior. — E você é um idiota. — Combinação perfeita então, — diz Trey, parando quando eu estico o braço para pegar um par de sapatilhas brancas confortáveis. Ele desliza suas mãos sobre meus ombros, incendiando cada sentido que eu tenho. O forte calor de seu corpo pressiona minhas costas e o cheiro limpo e picante dele se enrola dentro do meu peito. Eu estou cercada por este horrível, horrível homem e tudo o que posso pensar é que eu queria poder lembrar nosso casamento - e nossa noite de núpcias. — De jeito nenhum, Sra. Charell. Para o clube, eu quero que você use estes, — ele alcança um par de saltos vermelhos e engancha os dedos nos sapatos, — e estes. Treyjan pega minha mão esquerda e pressiona os dois anéis contra minha pele, curvando meus dedos ao redor deles. — Você quer se casar com uma estranha? — eu pergunto, completamente sem fôlego, uma única gota quente de suor traçando seu caminho pela minha espinha. — Eu quero jogar um jogo, — ele sussurra, e eu percebo que sua boca está basicamente pressionada contra minha orelha. Eu posso sentir uma dureza pressionando contra minhas costas que definitivamente não é a longa alça do carrinho de compras. — Você prometeu que sairia comigo. — Eu não prometi quebrar meu tornozelo usando salto alto, — eu sussurro de volta, mas eu não acho que escapa a nenhum dos nossos avisos que eu não me queixo dos anéis. Por que eu deveria? Não pode ser pior do que a última vez que eu me casei. Aperto os anéis com tanta

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força que eles cavam na minha pele. — Pague por todas as minhas roupas hoje, e eu usarei o que você quiser. De jeito nenhum vou para um clube igual a uma mulher no almoço da igreja, não como no show. Vou deixar alguém que realmente sabe o que eles estão fazendo, me vestir esta noite. E então talvez me despir. Ou não. Eu realmente acabei de pensar isso? — Tudo bem por mim, — Trey diz, deixando cair os sapatos em meus braços. Ele então move as palmas para o meu quadril e toma conta de mim em um aperto firme. — Porque eu também quero, porra. Antes que eu possa realmente registrar o que ele está fazendo, Trey desliza o calor quente de sua língua no meu pescoço e, em seguida, dá um passo para trás, deixando esta fria bolsa de ar entre nós. Olhando por na minha bunda.

cima

do

meu

ombro,

eu

vejo

seu

olhar

— Mmm, — ele diz e então levanta um dedo, jogando este terrível sorriso malicioso em minha direção - e este com dois malditos ‘M’. Porra. Não só eu tenho que me preocupar com meu pai e meu noivo indesejável, mas agora tenho que me preocupar com essa estrela do rock estranho e seu comportamento completamente inapropriado. E o quanto eu realmente gosto disso.

— Quem diabos é você? — Naomi Knox exige quando eu desço a escada e a encontro esperando na entrada, os braços cruzados sobre o peito, óculos de sol prateados empoleirados na ponta do nariz. Ela parece completamente hostil parada ali e olhando para mim com olhos da cor de um deserto no pôr-do-sol. Se eu não tivesse coisas muito maiores com que me preocupar, eu provavelmente estaria com medo dela.

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— Quem te deixou entrar aqui? — Hum, — eu digo e paro com uma mão no corrimão, imaginando se essa garota tem perda de memória recente, um distúrbio onde ela não consegue se lembrar dos rostos das pessoas, ou estava só realmente drogada quando ela me conheceu. — Meu nome é Netty For— Ah merda, — Naomi explode, arrancando os óculos e piscando para mim. Ela é cerca de um milhão de milhas mais alta, mesmo com os horríveis saltos altos que estou usando. — A esposa de Trey. Eu lambo meu lábio. — Mas eu não sou realmente... — Quem diabos deixou uma cadela tiete entrar aqui? Sem malditas tietes na casa, — Turner fala asperamente, desfilando arrogantemente para parar ao lado de Naomi e dar uma olhada em mim. — Eu realmente não aprecio as insinuações sexistas na sua linguagem, — eu digo a ele e a boca de Naomi se curva em um sorriso tão perverso e arrogante como qualquer um dos caras que conheci aqui. — E eu não sou uma tiete. — Esta é a esposa de Trey, — diz Naomi, e seu sorriso aumenta quando ela vê minha irritação. — Eu nem sequer o conheço, — eu digo a ela e Turner Campbell me encara, andando em volta de mim e sua esposa em um círculo fechado. — Puta merda. Você o deixou tentar transformá-la em uma rata de clube? Naomi bate no peito dele e dá a ele esse olhar evidente de desgosto que eu aprecio. — Ela está gostosa, Turner. Deixe ela em paz, porra. Eu permaneço ali tão parada quanto eu posso nos saltos altos vermelhos, essa coisa de salto agulha com tiras que claramente foram desenhadas para matar os pés. Junto com um vestido preto brilhante que teria me trazido esquartejada de volta para casa, eu na verdade me sinto realmente... bem. Não é que saltos altos e vestidos curtos realmente significam alguma coisa para mim, mas eu estou mais do que gostando da ideia de que eu possa usar agora e ninguém pode me impedir. Minhas pernas estão aparecendo; meu cabelo está mais curto.

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Estes são dois enormes não-não de onde eu venho. — Para onde vocês dois estão indo? — pergunta Turner, e percebo que ele está falando com Treyjan e não comigo. Eu paro quando seus passos descem os degraus, parando diretamente ao meu lado. Olhando por cima, nossos olhos se encontram e eu sou golpeada com a fome selvagem em seu olhar. Puta merda. — Adorei o vestido, — ele diz, mal reconhecendo o fato de seus amigos estarem parados bem ali, esperando que ele responda sua pergunta. Trey me estuda em vez disso, e devolvo o favor. Seu cabelo selvagem está ainda mais incrível do que estava mais cedo, esse look de roqueiro despenteado que faz meus joelhos ficarem fracos. Ou talvez seja esse suave sorriso se arrastando devagar em seu rosto? Também poderia ser o brilho vibrante do ouro em seus olhos castanhos. — Obrigada, — digo bruscamente, sentindo que estou de repente sem fôlego. Por que eu ainda estou fazendo isso? Eu me pergunto enquanto Trey e eu nos encaramos. Por que eu ainda estou parada aqui? Eu deveria estar em um ônibus, olhando pela janela e observando os quilômetros passarem, colocando distância entre mim e este lugar. Eles encontraram você; eles sabem que você está aqui. E ainda assim... que mal faria uma noite? Não há como Jessop entrar neste lugar - é uma fortaleza forte o suficiente para evitar fãs raivosos. Até mesmo um assassino com sanção religiosa não tem a mínima chance de entrar aqui. Eu penso em Oaklyn novamente, inteiramente sozinha em uma pequena cidade na fronteira de Califórnia/Nevada. Assim que eu estiver segura, assim que eu tiver certeza que eles perderam meu rastro novamente, eu entrarei em contato com ela e nós nos encontraremos. Esse sempre foi o plano. Além disso, não é dela que eles estão realmente atrás. Ela não colocou o profeta na prisão; eu coloquei. Ela não afastou um profeta autoproclamado de seu povo; esta fui eu. O que Treyjan pensaria se soubesse todos os meus segredos? Eu duvido muito que ele estaria olhando para mim assim. — Ei, vocês dois estão surdos ou apenas apaixonados e estúpidos? — Turner pergunta, interrompendo o momento. — Cara, foda-se, — Trey responde, vestido com uma camisa social preta com mangas cortadas. Claro, nenhum dos botões está realmente ~ 65 ~

abotoado, e a camisa está aberta sobre um peito e torso bem definidos. Uma gravata vermelha fica solta em volta de seu pescoço e seu cabelo é um desastre completamente perfeito. Delineador escuro, um delicioso sorriso sórdido estacionado em sua boca perfeita, e eu estou achando quase impossível desviar o olhar. — Vocês todos decidiram se aquietar, então encontrei uma nova amiga para curtir. Treyjan empurra e passa por Turner, pegando meu pulso na outra mão e me puxando para a porta da frente. Eu nunca fui realmente um tipo de pessoa festeira - minha ideia de selvagem é uma noite até tarde no cinema com minhas amigas - mas eu estou disposta a tentar. Eu deixei Gloria, Asha e as gêmeas me arrastarem para o show em primeiro lugar, não foi? Aparentemente, eu talvez seja uma espécie de criança selvagem no fundo - sem minhas inibições, eu estava mais do que disposta a casar com um guitarrista idiota qualquer. Isso, e ficar em uma cidade onde eu sei com certeza que estou sendo caçada. É apenas uma questão de tempo até eles descobrirem um modo de chegar até mim.

Trey me surpreende abrindo a porta do seu carro esportivo, um conversível laranja brilhante com o capô abaixado e um par de assentos de couro preto brilhante na frente. — Esta não é uma van cheia de guarda-costas, — eu o informo, cruzando meus braços sobre meu peito. Não importa quão curiosa eu estou para ver como um encontro com uma estrela de rock pode ser, eu não vou a lugar nenhum sem o time de segurança de Treyjan conosco. Mesmo com eles, essa é uma manobra arriscada. Os homens e mulheres que seguem a Indecency em torno da cidade podem ser pagos para proteger a banda. O homem que vem atrás de mim acredita que ele foi sancionado por Deus para fazer o que for preciso para me encontrar - mesmo que isso signifique matar pessoas inocentes que entram em seu caminho.

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Meu estômago aperta, e por um segundo, eu fico tonta. A enormidade do que estou enfrentando me sobrecarrega, me faz pensar se eu nunca serei verdadeiramente livre do meu passado. Afinal de contas, uma pessoa nunca pode escapar de suas sombras, pode? Elas deixam uma mancha escura onde quer que elas vão. — Não, mas aquela, — Trey diz, recostando-se contra a porta deste jeito casual e desleixado dele, — definitivamente é. — ele aponta para a van preta atrás de nós. A maioria das janelas está escurecida, mas eu posso ver através do para-brisa dianteiro que existem pelo menos dois guarda-costas lá dentro. A coisa é, dois guardas não são suficientes. — Há uma mulher no banco de trás com os braços do tamanho dos troncos de árvore, — Trey me assegura, como se ele pudesse sentir a direção dos meus pensamentos. Eu me volto para olhar para ele, estudando a expressão calma em seu rosto, o sorriso convencido, o jeans apertado e as botas. Ele parece como alguém tirado de um anúncio de revista - definitivamente não é como meu marido. Não, no meu mundo, marido é uma palavra suja, essa coisa chegando ao terrível, agarrando-me no escuro com as mãos suadas e úmidas, hálito azedo. Marido é uma força que eu não posso controlar, um pesadelo que eu não consigo escapar. Marido é a pessoa com a qual eu lutei com todas as forças que eu tinha, de quem eu fugi, coloquei atrás das grades. Marido é um destino inevitável, perseguindo-me como um cão atrás do osso. Assim que me alcançar, eu serei despedaçada. Treyjan encontra meu olhar e eu vejo sua testa enrugar ligeiramente. Eu sou confusa para ele, estranha, desajeitada, esquisita como o inferno. Ele realmente vê algo em mim? Ou ele está apenas curioso? Talvez nunca saberei. — Você vai me fazer me divertir hoje? — eu pergunto, e vejo quando seus lábios recuam em um sorriso. Por um segundo, parece quase genuíno. Mas não, ele ainda é um idiota de merda. — Babe, você pode apostar sua vida nisso. Trey pode achar que ele está sendo espertinho.

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Ele não tem ideia do quão assustadoramente verdadeira essa afirmação é.

Enquanto crescia, acostumei-me a multidões. Minha família era grande, enorme, monstruosa. Mas apesar de eu estar acostumada a me acotovelar com as pessoas, eu não estou, de modo algum, pronta para isso. O armazém convertido está quase além do alcance da minha imaginação, um local duas vezes maior do que o show de rock de duas noites atrás. Duas noites... e tudo pelo o que eu trabalhei tão duro está repousando em um precipício, um corvo escuro feito de presságios. Se essa sombra se estender sobre mim, eu vou morrer. Não, não, eu vou morrer lutando. — Venha, — Trey diz, esticando o braço para pegar minha mão, para me levar pelo clube. É uma bagunça de luzes agitadas e pessoas brilhantes, seus corpos quase nus preparados com tinta corporal fluorescente. Quando passamos através da entrada (uma que completa e totalmente ignora todos os plebeus na fila, obviamente), Treyjan pega dois frascos de uma menina com um cabelo afro amarelo neon. Na luz negra, seus lábios brilham com uma cor rosa exageradamente vibrante. Três passos para dentro do lugar, minha pele já está coberta de suor - mas não apenas do aperto esmagador de pessoas ao meu redor. Como eu disse, em geral, eu tenho literalmente dezenas de irmãos... mas o que nunca tive antes é uma reação a um cara como eu estou tendo com Treyjan. — Tudo bem, escolha o seu veneno, — ele diz quando uma mulher limpa uma banqueta do bar e ele a segura, gesticulando para eu me sentar antes que qualquer um dos outros clientes esperando ao redor do vidro curvo do bar tenha uma chance de roubá-la. — Meu veneno... — eu começo, mas eu sei que ele está falando de álcool. Honestamente, eu realmente não tenho um veneno porque na verdade eu não bebo. O que eu quero dizer é: seja lá o que for que tirou minha dor, tirou meus medos e meu passado, seja lá o que for que me convenceu a caminhar até o altar com uma estrela do rock imbecil. — Algo que tem gosto de merda, — eu digo quando vejo um homem

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pintado de forma extravagante a três banquetas de mim, pedir algo rosa recheado com um bastão fluorescente dentro. — Hã, — Trey diz, dando-me aquele olhar novamente. O que diabos é você? o olhar pergunta, mas eu não estou disposta a explicar o meu raciocínio. Acho que se eu pedir algo que não tem gosto de doce líquido em um copo, então eu não vou acabar nua na cama de um estranho novamente. Parece lógico, você não acha? — Isso é uma piada? Porque se for, ou você tem um gosto péssimo ou um estranho senso de humor. — Não é uma piada, — eu digo a ele, e eu acho que meu rosto está sério o suficiente, pois ele quase acredita em mim. Trey apenas olha para mim por um momento, empurra um cabelo castanho longe de sua testa e encolhe seus ombros musculosos. — Apenas faça para nós algo bom, — ele diz ao barman, e eu estreito meus olhos enquanto vejo o homem ir direto para algo vermelho, vibrante e brilhante na luz negra. — Agora escolha sua cor, — continua Trey, mostrando os dois pequenos frascos de tinta nas mãos. Um é rosa, o outro amarelo. Eu vou para o último e ele me dá mais uma breve sugestão de um verdadeiro sorriso. Alguma parte estranha de mim tem o desejo de esticar a mão e correr a ponta dos dedos pela boca dele, ver se eu posso pegar o sorriso antes dele cair, segurá-lo na minha palma como uma estrela cadente. Eu não sei por que continuo procurando algo para gostar nesse cara. Eu não preciso estar olhando por ele afinal. Há tantas outras prioridades com as quais eu deveria lidar. Primeiro e mais importante: escapar do encalço de Jessop e rezar para que ele e seus ‘guerreiros de Deus’ não sintam meu cheiro. Em vez disso, eu apenas sento na cadeira enquanto Trey abre a tampa da tinta, revelando um fundo redondo macio. Ele se inclina para mim, esse sorriso auspicioso aparecendo em seu rosto. — Posso? Olhando para o frasco na mão dele, é óbvio que ele quer me pintar como o resto das pessoas no clube. Eu olho para o topo brilhante do frasco, preso nos dedos tatuados de Treyjan e não tenho ideia do que pensar. Em casa, uma noitada rebelde incluiria eu ir a uma das outras

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casas das esposas para assistir a um dos filmes oficialmente sancionados do profeta - não havia muitos. Mm. Eu pisco lentamente e então aceno com a cabeça rapidamente. Eu fugi de casa para tentar coisas novas, para viver uma vida diferente. Talvez não seja um despertar espiritual usar tinta corporal e dançar em um clube, mas pelo menos eu tenho a liberdade de experimentar. Liberdade. É a mais intoxicante droga. Mas só porque eu nunca estive apaixonada. Agora, amor e liberdade misturados - este é um cocktail para euforia. Treyjan se inclina mais perto de mim, lambendo o lábio em concentração enquanto estuda meu rosto. Depois de um momento, ele muito suavemente pressiona a tinta no meu ombro esquerdo, deixando uma mancha amarela brilhante. Quando nossos olhos se encontram, ele arrasta para baixo a tinta sobre minha carne, esse movimento lento e agonizante que faz meu coração vibrar selvagemente. Minha pele já quente fica ainda mais quente e minha respiração se recusa a obedecer, entrando de modo irregular e disparada. Quando Trey retira a tinta das costas da minha palma e move para minhas coxas, eu faço o impensável e as abro automaticamente. Ele não hesita, começando na parte mais alta da minha coxa e colocando o frasco contra minha calcinha. O calor dos nós de seus dedos é excitante pra caramba. Enquanto Treyjan escorrega a cor amarela na minha perna, eu começo a tremer. — Relaxa, — ele diz depois de um momento, inclinando-se perto de mim, tão perto que seus lábios mexem meu cabelo. Ele parece quase gentil quando respira essas três sílabas contra meu lóbulo. — Você está tremendo. Trey repousa os dedos da mão esquerda contra meu joelho, enviando estrelas cadentes de cada uma das pontas de seus dedos. Meus olhos caem para estes cinco pequenos locais onde sua pele está tocando a minha. Como relâmpago na escuridão, um lampejo de claridade ilumina os recantos do meu cérebro. Por um instante, apenas um instante, eu consigo me lembrar como era ser tocada por esse homem, interpretada pelas habilidosas manipulações de seus dedos, levada para uma vibrante canção brilhante. Eu empurro a mão de Trey para longe e exalo bruscamente, a batida do meu coração um palpitar incessante na minha garganta.

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Por um momento, nós dois apenas ficamos onde estamos. Eu, sentada com minhas coxas abertas. Trey, parado entre elas. Perto. Perto demais. — Posso fazer sua boca? — ele pergunta, e a insinuação escorrendo de seus lábios é como ácido, corroendo-me, roubando minha apatia e minha indiferença. A esposa do profeta, sentada no meio de uma boate de Los Angeles, em um antro de pecado - com um homem feito de pecado. — Sim. Apenas uma única palavra. É tudo o que eu consigo. Treyjan gira a ponta do dedo em volta da suave almofada circular do frasco de tinta, levantando-a nem sua boca e espalhando cor amarela nos lábios. Na luz negra, os brancos de seus olhos transformam a cor caramelo de sua íris em um céu escuro desprovido de estrelas. Trey joga a tinta no balcão e se inclina, enrolando suas mãos tatuadas ao redor dos meus ombros. Em um quente e habilidoso toque de lábios, ele me beija e espalha a tinta no meu rosto, lançando sua língua dentro da minha boca e dando esse pequeno estalido nítido que rouba de mim um bocado de fôlego e alma. — Pronta para dançar? — ele pergunta quando se afasta e se ergue, a metade inferior de seu rosto num tom amarelo que me faz pensar em tinta derramada. Isso estraga a perfeição de suas características, dá a ele esse aspecto mais humano que faz minha pele parecer estirada e dolorida. — Não, — eu digo e estendo a mão para pegar a tinta rosa do balcão. Tirando a tampa, eu vou para o final da banqueta, uso uma mão para abrir a camisa desabotoada de Treyjan. Assim que seu abdome é exposto, eu pressiono a tinta em seu umbigo... e então faço meu caminho para cima, notando enquanto eu vou que a respiração de Trey está vindo em rajadas cada vez mais rápidas. Olhando e esperando, ele não diz uma palavra, apenas me permite manipular seu corpo até estar tão brilhante e errático como o lugar que nos rodeia, até nós dois sermos apenas telas vivas. De onde eu estou sentada, tenho uma boa visão da coxa coberta no jeans de Trey, a protuberância rígida lá dentro atraindo minha mão em um movimento

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inexplicável. Eu pressiono a palma na dureza de seu pau, através de sua calça e escuto quando ele expira bruscamente pelas narinas. — Porra, — Trey amaldiçoa, levantando o olhar para o telhado de metal escurecido. Ele foi pintado de preto, com estrelas e constelações desenhadas em tinta vibrante reativa à luz negra. Linhas de luzes coloridas caem em fios envolvendo algumas das enormes colunas. O momento não dura o suficiente, mas quando eu retiro minha mão, há um calor definitivo que vem com ela, encontrando-se com as estrelas cadentes do meu joelho, o vibrante brilho do nosso beijo. É como se eu tivesse capturado um pedaço de ardor e o enfiado no meu bolso. — Nada de mmm desta vez? — pergunta ele, e sua voz é tão brincalhona que eu posso ver porque ele tem tantos amigos. Eu aposto que a diversão de Trey te faz querer estar por perto. Se eu tivesse tempo... ou tranquilidade para conhecê-lo melhor. Eu dou um sorriso tenso, mas há essas covinhas nas minhas bochechas que arrasta a expressão ainda mais, em algo real, algo que quase me assusta. — Você mencionou dançar? — eu pergunto quando nossas bebidas aparecem na nossa frente, coloridas e mescladas e cheirando a fruta. Me aproximando para puxar o canudinho azul curvado do meu copo, eu tomo um gole. Como eu temia, é delicioso - e muito perigoso por causa disso. É como o próprio Treyjan Charell. — Vamos, — diz ele, tomando um gole de sua própria bebida e arrastando-me para a fúria selvagem. Música retumba através dos alto-falantes em uma onda latejante, quase neurótica, como a voz de um hipnotizador acalmando a multidão em um estranho estado zen, onde a individualidade escorre para longe e nós nos tornamos uma multidão. A primeira canção que dançamos é uma saltitante bagunça vibrante de pernas e pés e braços agitados. Não é minha praia. Lembra: Netflix, gato, água com gás e groselha. Mas Treyjan tem um espírito contagioso e ele não me deixa me reprimir, movendo meu corpo com o dele, recusando-se a deixar minha timidez entrar no caminho. E de qualquer forma, qual é o objetivo de

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tentar algo novo enquanto está se reprimindo? É como ir para o fim do trampolim e falhar. O único resultado é que você tropeça e cai em uma torção descontrolada de braços e pernas se batendo. Mas se você juntar as mãos, apontar, executar... não há muito barulho. O DJ faz a sequência através do pop saltitante, eletrônica latejante, hip-hop e do rap sujo estridente. Depois de uma meia dúzia de músicas, há uma pausa e, em seguida, uma antiga música pop dos anos noventa sai, deixando a multidão em polvorosa. — Malditos fodidos Backstreet Boys, — Trey diz, sorrindo para mim. Mas eu fui criada em um complexo onde a música secular foi banida. Se eu quisesse ouvir música, eu tinha duas escolhas: um antigo disco de Dolly Parton que eu encontrei em um aparelho empoeirado no porão ou uma fita das irmãs esposas do profeta cantando hinos. E eu quase fui uma delas. Trey pega minha mão direita antes que eu possa protestar. Do jeito que todos a minha volta estão cantando e se balançando, eu sinto como se estivesse à margem, olhando. Esta é uma piada da qual eu não faço parte, algo que eu não entendo. Eu tenho feito o meu melhor para me atualizar com os grandes sucessos das últimas décadas, filmes, livros (eu li Harry Potter pela primeira vez no mês passado e chorei o tempo todo com ele, eu estava tão feliz). Mas isso… — Vamos, Netty Forester, dance comigo, — Trey pede, puxando-me para perto. Eu não resisto. Eu realmente não quero. Nossos corpos se juntam, frente a frente, os montes cheios de meus seios contra o peito plano de Treyjan. Eu o deixo manter uma das minhas mãos presa na dele, a outra repousa em seu ombro. Por mais idiota que ele seja, Trey certamente tem muito carisma. Eu reconheci isso no primeiro segundo que o vi. Aqui, neste lugar quente e úmido, com todos esses estranhos, o sabor amargo da tinta nos meus lábios, tudo me leva para um momento com um estranho tipo de excitação na minha barriga. Pode ser por causa da proximidade do corpo de Trey, o fraco aroma de suor e sabão que emana dele, o fraco sussurro de proximidade celebrada entre nós, uma estranha, mas inevitável atração, que atraiu dois estranhos juntos. Se eu me senti assim na noite do show, não é de admirar que eu fugi e me casei com ele. Eu acabei de conhecer o cara e apesar disso... eu posso sentir um sorriso provocando os cantos dos meus lábios.

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Especialmente quando percebo que ele está murmurando a letra da música sob sua respiração. Quando eu lanço um olhar para ele, ele não parece nem um pouco culpado. Em vez disso, ele canta mais alto, alto o suficiente que as pessoas ao nosso redor comecem a se juntar, e também o resto da multidão. A música chega ao fim com uma boa parte do clube entoando a letra. Treyjan me rodopia mais uma vez, uma última girada que me mostra um rosto familiar parado na multidão. Eu suspiro e dou um passo para trás quando Jessop Barlow, meu noivo, vem direto para mim.

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O rosto de Netty fica tenso quando o homem do restaurante se dirige para nós, parecendo tão fora de lugar com um casaco preto fechado com botão branco que eu estou surpreso que eles sequer o deixaram passar pela porta. Ele é como um interruptor que desliga toda a energia do lugar, um frio pano úmido apagando o fogo entre mim e Netty. E porra, preciso deste fogo, desta chama para aquecer minhas mãos frias. Quero dizer, merda, eu estou feliz, meus melhores amigos estão encontrando amor e começando famílias, e toda essa porcaria, mas onde isso me deixa? O que eu faço quando não sou o guitarrista da Indecency? Quando não sou apenas a sombra de Turner? Jesus, eu sei que uma mina estranha e desajeitada não é a resposta a todos os meus problemas, mas também maldito seja se eu deixar algum fodido intimidar minha esposa. Eu avanço e passo na frente dela, mas ela estende uma mão e coloca sua palma na minha barriga. — Apenas espere, — ela sussurra, e tão abarrotado quanto o clube está, tanto quanto o lugar está saltando e girando e suando ao nosso redor, eu juro que estou apanhando o som selvagem e violento da respiração dela, o acelerar de seu coração. Ou talvez, o velho romântico em mim está imaginando toda a maldita coisa? Inferno, faria mais sentido no âmbito da minha vida se eu estivesse apenas pirado e imaginando que Netty não era nem mesmo real em primeiro lugar. — Irmã Izatt, — diz o homem, e eu juro por Deus, se eu tipo, acreditasse em espíritos e premonições e todas essas merdas, eu veria a escuridão ondulando para fora da boca desse homem. — Este cara é seu irmão? — eu pergunto, mas Netty me ignora completamente. Eu percebo quando olho para ela, que ela está tremendo por toda parte - mas não como ela estava naquela banqueta, quando eu estava deslizando a tinta corporal em sua pele pálida. Isso é diferente. Toda essa interação, cheira a medo. E ainda assim, a pequena morena baixinha mantém o queixo levantado, ombros para trás e olha para este homem com um olhar que

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poderia rivalizar com Naomi Knox no seu pior. Netty pode estar com medo, mas não está prestes a recuar também. — Sr. Barlow, — ela responde, sua voz tão fria e gelada como o gelo seco saindo das bebidas nas mãos dos frequentadores próximos. De alguma forma, há uma pequena bolha se formando ao nosso redor, como se ninguém em seu juízo perfeito quisesse se envolver nesta merda tóxica. Considerando como o ano passado foi - a turnê do inferno, uma explosão em um dos nossos shows, todos os segredos que surgiram borbulhando do passado para nos envenenar - você acharia que eu estaria fugindo também, ficando o mais longe possível de 'Netty Forester' que eu pudesse. Em vez disso, não consigo me mover. Parece que eu não vou a nenhum lugar. — Você gostaria de ir lá para fora, para que possamos ter uma palavrinha? — o homem pergunta, seus lábios torcidos e seu nariz inclinado para um lado. O fato de Netty ter dito que ele era seu noivo é perturbador, porque, você sabe, esse cara parece o maldito Guardião da Cripta. Como se ele tivesse, tipo, cem anos ou alguma merda assim? Essa primitiva espécie de proteção cresce em mim, fazendo-me cerrar os dentes e enrolar minhas mãos em punhos dos meus lados. Por um lado, esse cara quase com certeza conhece Netty muito melhor que eu. Por outro lado, nós estamos tecnicamente casados e toda essas merdas. Eu não deveria defendê-la ou algo assim? Ou isso não é bastante feminista da minha parte? Porra, eu deveria deixá-la lidar com sua própria merda? Tudo o que sei é que eu realmente gosto quando alguém sempre me apoia em uma briga. — Na verdade, não, eu prefiro não. Com base em minhas ações, você não acha que está claramente óbvio qual é a minha posição aqui? — Netty engole em seco e olha na minha direção, seus olhos azuis escuros e sombreados na estranha luz do clube. Mas sua boca está cheia e iluminada pela tinta. A maneira como ela desce através de seu queixo é como um marcador, um lembrete físico do nosso beijo. Com base na repulsa gravada no rosto dele, acho que o vovozinho tem alguma ideia do que estávamos fazendo. Ótimo. Talvez então ele possa ver que de jeito nenhum ele poderia satisfazer essa mulher como eu.

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Minha boca se curva de lado em um sorriso malicioso. — Além disso, — ela diz, voltando sua atenção para ele, mantendo a voz forte e firme. — Estou tendo uma noitada com meu marido. — Seu marido está morto, — o homem – foda-se se eu consigo me lembrar do seu nome - diz, e sua voz é tão fria como pedra. Agora eu estou seriamente confuso. Temos noivos e maridos mortos? Que diabos está acontecendo aqui? — E você tem uma obrigação com seu profeta e suas irmãs esposas para ser selada. Netty agarra uma bebida de um cara qualquer ao nosso lado e joga no rosto do homem, tomando minha mão antes que ela comece a correr, empurrando seu caminho através do brilhante mar colorido de dançarinos. Os dois guarda-costas do prédio interrompem o cara antes que ele possa ir atrás de nós. — Eles o pegaram, babe, — eu digo, mas Netty apenas lança este olhar cauteloso em minha direção, a pintura colorida em seus lábios enfatizando a queda acentuada de seus lábios cheios, linhas de preocupação gravadas em seu rosto. Mesmo na luz fraca do clube, eu posso ver que há muito mais nisso do que os olhos podem ver, uma merda claramente estranha que eu seria um idiota para me envolver. — Não é só ele, — diz ela quando paramos perto da saída. — Se ele está aqui então há outros. Provavelmente uma dúzia. Talvez mais. Os olhos de Netty se fecham e eu posso ver o subir e descer de seu peito em pânico. E porra. Eu me sinto tão mal por ela. Se ela tivesse ficado bêbada e se casado acidentalmente com algum outro idiota, algum roadie ou algum cara da multidão, seu rosto não seria espalhado pela internet. Quem quer que seja que está perseguindo-a, eu os guiei direto para ela. — Precisamos sair daqui, — ela continua após tomar um momento para respirar. Quando ela olha para cima, ela pode ver que meu pequeno time de segurança está de volta, assumindo lugares aleatórios e despreocupados próximo ao clube. Ano passado, eu tinha uma equipe dez vezes maior que essa - e mesmo isso não foi o suficiente para me impedir de ser baleado. Qualquer que seja a porcaria com a qual Netty esteja lidando, se ela simplesmente me contasse, eu poderia ajudar. — Você os mandou estacionarem por perto? — Se tiver feito, você vai voltar para a casa comigo?

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— Tempo suficiente para arrumar minhas malas, — ela me assegura, e eu cruzo meus braços sobre o peito. Não vou deixá-la ir sem, pelo menos, tentar ver que tipo de fantasmas a estão caçando. Às vezes, tudo o que é preciso para realizar um exorcismo é emprestar um ouvido. — Não. Fique. — eu estendo a mão e pego sua mão novamente, deixando aquela sensação que surgiu entre nós no bar explodir quente e selvagem em todo o lugar em que nossa pele toca. — Nós nos sentaremos junto à piscina e você pode me dizer o que está acontecendo com você. Netty tenta puxar sua mão do meu aperto, mas eu enrolo meus dedos mais apertados, espremendo-os dentro dos meus. — Seja o que for isso, o que iria doer se me contasse? No pior dos casos, você gasta algumas horas extras na mansão, e depois, se você decidir que não há motivo para ficar aqui, então eu vou contratar alguns guarda-costas para escoltá-la para onde quer que você queira ir. Netty levanta seus olhos para os meus, respira profundamente e suspira. — Se eu te contar a história, você nunca acreditará nela. — Babe, meu melhor amigo conseguiu engravidar uma bilionária psicótica. Quando ele disse que tudo o que ele queria era seu filho e não ela, ela o atropelou com seu carro e o matou. Não acho que haja uma história que você possa me contar que eu não vá acreditar. Netty ainda parece cética, mas ela para de tentar afastar sua mão de mim. Bom. Porque, embora ela seja desajeitada e esquisita e estranha, eu estou interessado. Quero dizer, pelo menos, eu gostaria de saber por que o ex-marido da minha esposa... acabou morto.

Assim que voltamos para Beverly Hills, eu me troco para um calção de natação vermelho e pego duas cervejas da geladeira, indo para fora para encontrar Netty com um biquíni sexy com estampa de zebra rosa e ~ 78 ~

preto. Eu não tenho que me perguntar de onde ela o conseguiu claramente ele pertence a minha irmã, porque ela é a única mulher nesta casa com peito suficientemente grande para emprestar algo à Netty e, na verdade, servir. Ao contrário de quando eu tinha visto esse traje específico em Sydney, eu estou excitado pra caralho ao ver essa garota nele. — Esta é a primeira vez que eu já usei um biquíni, — ela diz enquanto eu entrego a ela uma garrafa de cerveja marrom gelada e me sento na beira da piscina retangular. Ela é cercada por palmeiras, balançando suavemente na brisa quente do verão. Todo o pátio cheira a jasmim e cloro, e a área está banhada por um suave brilho dourado dos fios de luz que se estendem entre as árvores e envolvem seus troncos. Felizmente, nós somos as únicas pessoas aqui fora. De uma das varandas acima de nós, eu posso ouvir um baixo sussurrar de música clássica do piano. Provavelmente Lola e Ronnie. Ambos são bem talentosos nas teclas de marfim. Além disso, eles gostam de tocar música instrumental quando estão fodendo. Não afoga os gritos de prazer de Lola, mas esse é o preço que pagamos por vivermos juntos assim. — Primeira vez, — eu digo e mergulho minhas pernas na água morna, sentando perto o suficiente de Netty que posso sentir o cheiro doce de seu cabelo, sentir o calor quente de seu corpo contra minha coxa. — Você costuma usar maiô então? — eu pergunto, mesmo que ela esteja me dando um olhar crítico e eu estou fazendo um exame rápido nela. Droga. Seu corpo é redondo e curvilíneo em todos os lugares certos: uma onda generosa de quadril, seios redondos cheios atrevidos e elevados em seu peito, esse cabelo marrom cor de mel balançando gentilmente em torno de seus olhos. — Você sabe, quando você não está me atingindo nas bolas ou me socando no rosto, você é bem bonita. O rosto de Netty cora, mas o aperto crítico de seus lábios não desaparece. — Por que você está sentado tão perto de mim? Você sempre coloca sua perna peluda contra a carne nua de uma estranha?

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— Sempre que tenho chance, — eu digo com um leve sorriso, inclinando minha cerveja contra meus lábios. Netty aparentemente não se apaixona por besteira como muitas outras garotas que conheci ao longo dos anos. Ela se afasta vários centímetros de distância de mim e levanta os braços para furtivamente mexer com as tiras da parte de cima do biquíni. — E não, eu normalmente não uso maiô. Eu apenas nunca nado. — O que você faz então? — eu pergunto e coloco minha garrafa no cimento entre nós. — Você não se diverte e você não vai a shows, não nada, não dorme com estranhos, não use biquíni. O que você faz, Netty Forester? — minha vez de dar a ela uma olhada, desfruto a tinta manchada no canto de seus lábios. Colocando isso ali, esse foi o destaque da minha noite. — Ou eu deveria dizer... Irmã Izatt? — Não diga isso, — ela diz de repente, bruscamente, suas palavras cortando o ar noturno como uma faca. — Não me chame assim. — Netty finalmente toma um gole da cerveja que eu trouxe para ela, inclinada para trás em uma palma, seus dedos brincam no pavimento enquanto ela fecha os olhos contra a escuridão do céu. Eu adoraria olhar as estrelas com ela e toda essa porcaria, mas porra, isto é Los Angeles e não há malditas estrelas. Há poluição atmosférica e luzes da cidade perto demais. — Eu não sou mais Irmã Izatt. Nunca fui... eu nunca realmente fui Irmã Izatt de modo nenhum. — Você é, tipo, parte de algum culto ou algo assim? — Ou algo assim. — Foda-se isso. Não. — eu puxo uma perna para fora da água e descanso meu cotovelo contra ela, observando o jogo das luzes contra o rosto de Netty. — Vamos, se você não pode conversar com seu marido, então com quem você pode conversar? — eu pergunto. Deveria ser uma piada, mas fica tão pesado sobre os ombros de Netty que ela cai para a frente, deixando a bebida de lado, e colocando o rosto em suas mãos. — Eu acho que o casamento é uma maldição, — diz Netty com a boca pressionada nas palmas das mãos. — É uma forma de tortura. — Ei, depois de ver alguns dos meus irmãos se amarrarem, eu não vou negar isso, — eu digo, mas Netty simplesmente levanta o rosto tão devagar, olha para mim tão atentamente, que pela primeira vez na minha vida, eu realmente me sinto um pouco envergonhado.

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— Meu último marido, — ela começa e eu paro, fico completamente imóvel, fecho minha grande maldita boca. Eu sinto que o que quer que ela esteja prestes a me dizer, é um privilégio para eu saber. Tipo, ela está tendo uma chance aqui. Não tenho certeza por quê. Eu não acho que há muito sobre mim que inspira confiança em alguém. Eu sou o extra de Turner, seu companheiro. Eu sou o guitarrista que toca as notas que ele escreve, o amigo que segue e apoia em segundo plano. Eu não sou o personagem principal de ninguém. Eu definitivamente não sou o interesse de alguém. Quem diabos seria estúpido o suficiente para se apaixonar por mim? — Eu ajudei a enviá-lo para a prisão. Ele foi... ele foi assassinado por outro preso. — Ah merda. — isso é tudo o que posso pensar para dizer. Não consigo ler a linguagem corporal de Netty, a intensidade silenciosa de sua voz ou as sombras escuras em seus olhos. Ela está chateada porque seu marido está morto? Por causa de seu papel nisso? Ou ela nem se importa? — Ele era um homem importante para muitas pessoas. O fato de ele estar morto, eles nunca me deixarão em paz. Eles acham que eu traí todos eles fazendo o que eu fiz - contando aos policiais, testemunhando contra ele. — Pelo o quê? — eu pergunto e Netty range os dentes e fecha os olhos por um momento. — Casamento com menores de idade, casamento forçado, estupro. Jesus maldito Cristo. — Minha família vive em um complexo na fronteira da Califórnia com Nevada. Eles são uma ramificação da igreja FSUD, praticando sua própria versão da religião. — Que diabos é FSUD? — eu pergunto, porque tipo, eu não tenho nenhuma maldita pista. — Igreja Fundamentalista de Jesus Cristo dos Santos dos Últimos Dias. — uma pausa. — Mormonismo. — outra pausa e ela olha para mim e tenta ter uma leitura da minha expressão facial. — Poligamia, Treyjan. Eu era casada com um homem que se proclamava ser um profeta, um homem quarenta anos mais velho que eu, um homem com quinze outras mulheres. ~ 81 ~

— Que porra fodida? — eu exclamo, sentindo o sangue escorrer do meu rosto. Quando eu disse a Netty que queria ouvir seu segredo, eu certamente não esperava isso. Tudo bem, tudo bem, eu posso admitir: talvez sua história seja estranha o suficiente para rivalizar com uma que minha banda passou no ano passado. — Eu tinha doze anos, selada para o profeta - isso significa espiritualmente casada na igreja, ligada a ele por toda a eternidade. — o modo que ela está olhando para mim neste momento, eu posso dizer que ela está séria pra caralho. Sua boca carnuda e perfeita está pressionada em uma linha firme e reta, e suas mãos estão tremendo no colo. Eu... não tenho a maldita ideia de como eu deveria reagir a essa afirmação. — Quando eu escapei, eu o denunciei. Eles o prenderam. As autoridades me colocaram na proteção de testemunhas. Netty gira o pé na água, fazendo pequenas ondulações com os dedos dos pés. — Eu nasci Martha Hamblin Price, casei com Rigby Izatt. Mas por dentro, o tempo todo... — ela coloca a mão no peito e fecha os olhos. — Eu era Netty Forester. Esta sou eu, quem eu sou, quem me tornei. Esse é meu verdadeiro nome. — Então... — eu começo, percebendo que as pontas dos meus dedos estão cavando na minha perna com tanta força que minhas unhas estão tirando sangue. — Quem é o cara do clube, o noivo? — Depois que Rigby morreu... — Netty começa, e ela verdadeiramente parece um balão vazio, como se cada palavra que sai de sua boca estivesse roubando um pouco de seu ar. — Meu pai disse que ele recebeu um testemunho de Deus de que ele deveria tomar o lugar de Rigby e liderar a congregação. Ele me prometeu a um dos velhos capangas de Rigby - Jessop Barlow - para garantir sua lealdade. Há um longo momento silencioso onde os sons distantes da cidade filtram para dentro de nossa pequena fatia do paraíso, sirenes cortando através da noite e quebrando o feitiço. Eu arranco meu olhar fixo do rosto de Netty para olhar para a superfície imóvel da piscina. Uau. Essa merda é pesada - e tão fora do meu alcance. Não sei nada sobre cultos religiosos estranhos. Mas acho que o que eu conheço é trauma. Tive meu quinhão, obrigado. Sydney e eu perdemos nossa mãe, vivemos em um trailer cheio de lixo com nosso pai viciado. Meus amigos e eu começamos a Indecency, mas nosso baterista, Ronnie, perdeu seu

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primeiro amor em um acidente de carro e entrou numa espiral de uma enorme depressão. Ele bebia, fodia e se destruía para superar, e nos fez assisti-lo morrer em uma lenta morte agonizante. Como se isso não bastasse, três anos depois, nós perdemos nosso baixista, Travis Gaborone. Então, quando nós finalmente, finalmente conseguimos organizar nossa merda, fomos assolados com os restos da porcaria que Travis deixou para trás - sequestros, assassinatos, tiroteios, explosões. Então, por que eu estou sentado aqui com a língua amarrada, como se eu não tivesse ideia do que dizer? — Eles são seus 'Guerreiros de Deus', homens e mulheres que vão colocar uma bala em um policial se isso significa promover a vontade do profeta. Eles são assustadores porque não têm medo de nada - nem prisão, nem morte. Netty tira as pernas da água e se levanta. Eu sigo atrás dela, percebendo enquanto eu vou que nós estamos os dois basicamente nus. Tipo, seria preciso um esforço zero para soltar nossas roupas, fundir nossos corpos... mas a última coisa que parece que ela quer fazer é me foder. Quero dizer, merda, por que iria querer? Depois de toda a porcaria que parece que os homens a fizeram passar em sua vida, não me surpreenderia se ela decidisse passar para o outro time. — Você tem um plano ou algo assim? — eu pergunto, enfiando um polegar na cintura do meu short e me recostando. Netty me observa, deixa seus olhos escorregarem pelo meu corpo como se ela estivesse tentando me desfrutar por inteiro. Definitivamente há um flash de algo lá - interesse, curiosidade, confusão. Eu gostaria muito mais de ver suas pupilas se dilatarem, sua respiração acelerar, seu pulso começar a trovejar. Não. Esta mina tem um inquebrável fodido controle. — Fugir, — ela diz simplesmente, como se fosse sua única escolha. — Chegar o mais longe e o mais rápido que eu puder antes deles perceberem que eu não estou mais morando aqui com você. — Netty me dá um sorriso forçado e levanta o queixo, braços ao lado dela, e mesmo que ela nunca tenha usado um biquíni antes, ela fica bem nele, completamente à vontade em seu corpo. — Droga, — eu digo, estendendo a mão de repente e enfiando os dedos sob seu queixo. Eu me inclino lentamente, pairando os meus lábios sobre os dela, tão perto que não há espaço para uma brisa de verão quente se esgueirar entre nós. — Não imagino você como uma fugitiva. — nossas bocas se conectam em calor lento e doce. O ~ 83 ~

movimento é controlado o suficiente para que, se ela quisesse, Netty poderia facilmente se afastar de mim. Ela não se afasta. Em vez disso, ela ergue os braços, como se ela fosse colocá-los em volta do meu pescoço. No entanto, eu não quero que ela me toque mesmo que meu pau seja um maldito granito no meu short - e recuo de repente, colocando um pequeno espaço entre nós. — Você parece mais uma lutadora para mim, — eu digo a ela, e então me viro e mergulho diretamente na piscina. No momento que eu apareço para pegar ar, ela se foi novamente e há um sentimento oco e vazio dentro do meu peito. Porra. A primeira garota que eu já conheci que simultaneamente me deixou coçando a cabeça, amaldiçoando seu nome e imaginando distraidamente como diabos seria se nós não fossemos estranhos casados por acidente... mas amigos e amantes ligados com um propósito. Hã. Acho que esse tipo de felicidade tranquila a não está nas cartas para mim, não é? Eu mergulho de volta na água e tento esquecer tudo sobre Netty Forester.

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As roupas que comprei na Target cabem perfeitamente dentro da mochila preta sobre meu ombro, uma garrafa de água de metal enfiada em uma rede de malha de um lado, uma faca colocada em um fácil acesso no bolso frontal raso. Eu não quero ter que usá-la em qualquer um, cortar sua carne e assistir o fluxo de seu sangue quente e pegajoso pela lâmina. No entanto, se eu precisar, eu farei. Prefiro tirar a vida de Jessop - ou perder a minha - do que voltar ao complexo. Porra. Eu respiro fundo e tento acalmar meus nervos, olhando ao redor do quarto de hóspedes chique na qual eu estive e tentando não sentir... bem, nada. Eu não preciso estar me preocupando com o que pode acontecer na estrada, temendo um confronto que pode ou não ocorrer, e eu definitivamente não preciso estar pensando em quão boa a sensação da boca de Treyjan é contra a minha. Essa linha de pensamento não me levará a lugar nenhum. Deslizando minha mão através do edredom azul na cama, eu paro na sala de estar adjacente e verifico meu cabelo no espelho. Na noite passada, depois que eu deixei a piscina, eu voltei aqui para cima e usei um tubo de tinta para transformar meus cachos loiros cor de mel em uma cor escura. É a primeira vez que eu tingi meu cabelo - tem havido um inferno de muitas primeiras para mim ultimamente - e a diferença é surpreendente. Eu quase não reconheci a mulher na camiseta regata da Indecency, jeans apertado e botas (eu percebo que uma mudança de guarda-roupa não poderia ferir na minha busca pelo anonimato), mas eu gosto dela. Ela parece ousada, alguém que apostaria tudo na aposta certa. Bom para ela. Ela deve ser muito corajosa. Eu saio pela porta, fechando-a cuidadosamente atrás de mim e lançando uma rápida olhada no quarto de Treyjan. Ele está dormindo lá dentro? Ou ele está deitado acordado, pensando em mim? Ele está se tocando? Eu esfrego meu polegar contra o par de anéis em meu dedo, debatendo sobre se eu deveria ou não ficar com eles. Se eu os vendesse, eles me dariam uma boa vantagem com minha nova vida, um pé-de~ 85 ~

meia para eu seguir em frente até encontrar um emprego e me instalar. O dinheiro que eles trariam também poderia servir como um fundo de emergência, no caso de Jessop e os outros conseguirem me encontrar de novo. Ao mesmo tempo... não parece certo ir embora com algo que não pertence a mim. Eu não tenho a ideia de onde estes anéis vieram, mas talvez Treyjan possa precisar deles algum dia para dar à sua verdadeira noiva. Eu os retiro e os coloco em uma mesa lateral no corredor. No meu caminho pela grande e curva escada para a entrada, eu cruzo com Naomi. Ela está usando uma enorme camiseta que diz Amatory Riot em toda a frente - o nome de sua banda. De acordo com Treyjan, eles estão no processo de gravação de um novo álbum, algo angustiante e sombrio e cheio de pura raiva feminina. Eu não sou particularmente muito de rock 'n' roll, mas quando ele sair, eu definitivamente vou levar uma cópia e pelo menos dar uma chance. — Netty? — ela pergunta, apertando os olhos para mim quando nós paramos no mesmo degrau e olhamos uma para a outra. Naomi tem um copo do que parece um suco de laranja em uma mão, suas pernas nuas e pálidas sob a longa camiseta. Eu duvido que ela esperasse encontrar alguém cedo a essa hora. — Eu gosto da nova cor do cabelo. — ela para quando percebe a mochila nas costas e os dedos trêmulos que eu tenho enrolado em torno de uma das tiras. — Para onde você vai? — Eu não tenho certeza, — digo a ela honestamente, tentando sorrir, ser agradável mesmo que hoje pareça qualquer coisa, menos isso. Parece como o começo de um novo pesadelo - vagando pelo país sem dinheiro, sem lugar para ir, sem ideia se eu vou ser emboscada, amarrada e arrastada de volta para o Complexo Price Canyon. — Mas... você pode dizer a Treyjan que eu deixei os anéis na mesa no corredor? Naomi continua a olhar para mim, seus olhos castanhos alaranjados aparentemente brilhantes o suficiente para penetrar a espessura do meu crânio, cavar no meu cérebro, rasgar-me com um único olhar. Essa mulher é realmente um pouco assustadora, não é? Eu acho que é sua intensidade, essa habilidade artística para mergulhar no mundo e arrancar emoções escondidas. Aposto que sua música é realmente muito brilhante. — Ele sabe que você está indo? Eu faço meu sorriso se esticar um pouco mais, mas quanto mais tempo ele fica, menos real ele parece. Hoje não é um bom dia para ~ 86 ~

mim. Eu sinto falta da minha irmã (e do meu gato), sinto falta da casa que construí nos últimos sete anos. Eu sinto falta desse distante sentimento quase inatingível de ser livre. — Ele sabe, — eu asseguro a ela, dando outro passo para baixo, um pé mais perto da porta... e a caçada. Eu serei a presa navegando cuidadosamente o pincel, usando cada truque no livro para se esconder. Para fugir. ‘Droga, não imagino você com uma fugitiva.’ — Certeza que você não quer ficar aqui por um tempo? Parece que vocês dois têm uma forte fodida química. — Naomi dá um gole no suco novamente e inclina a cabeça para o lado, para me estudar. Seu cabelo loiro está revolto e despenteado, mas tem esse descontraído olhar casual de eu não dou a mínima, que eu muitas vezes vejo Gloria passar horas tentando alcançar no espelho. Eu tenho a sensação que Naomi Campbell não gasta um maldito segundo nele. Aposto que ela acorda todos os dias estando assim, como uma espécie de deusa do rock ‘n’ roll. — Eu... — eu quero dizer algo que me alivie da minha culpa, algo como eu gostaria de poder, mas eu não posso. Embora isso não seja verdade, não é? Eu tomo minhas próprias decisões. Eu posso. Eu estou fazendo a escolha de ir embora, não estou? Isso é algo que eu esqueço às vezes, que eu tenho escolhas. Em casa, eu nunca tive. — Não importa, tanto faz, — Naomi diz com um bocejo, acenando a mão com desdém. — Estou apenas cansada e falando umas merdas. Trey é um idiota tão grande quanto Turner. Tolerar essa porcaria, é preciso um grande esforço. — ela me dá um malicioso sorriso sexy e uma saudação. — Boa sorte, Netty Forester. Ela continua a subir os degraus, aparentemente inconsciente que ela teve um efeito profundo sobre mim. Escolhas. Liberdade. Ao fugir e desistir de tudo pelo o que eu tenho lutado, estou deixando o complexo ditar minhas ações facilmente, se eu ainda estivesse morando lá, na casa de Rigby Izatt com quinze outras mulheres, todas elas desesperadas para afirmar o domínio delas sobre mim, assim como o marido delas. Ainda assim, um casamento bêbado ocasional com uma estrela do rock de grande nome não é a resposta para meus problemas ~ 87 ~

também. Eu continuo a descer os degraus lá para fora, para falar com um dos guarda-costas patrulhando a propriedade. Fiel à sua palavra, Trey já falou com eles e eles estão prontos para me levar para qualquer lugar onde eu queira ir. A coisa é, o que eu quero agora é ficar aqui e ver o que acontece com essa química sobre a qual Naomi estava falando. Se ela pode ver, então significa que não é apenas tudo da minha cabeça. Treyjan e eu realmente temos alguma coisa acontecendo. Talvez seja apenas físico, mas e daí? Eu nunca tive um relacionamento físico positivo com um homem em toda a minha vida. E eu gostaria de ter. Eu realmente, realmente gostaria. Ainda assim, quando aquela van desliza a porta para abrir, eu me encontro entrando e fechando meus olhos, contando os minutos, horas, semanas, anos que podem levar para eu ser verdadeiramente livre.

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Sentado à beira do vaso sanitário, eu uso meus dentes para ajudar a puxar o torniquete apertado no meu braço. Assim que vi os anéis na mesa do corredor, eu sabia que Netty tinha ido embora. Eu nem tive que falar com o chefe da segurança no andar de baixo para descobrir que ela havia aceitado minha oferta. Então é isso, eu acho, eu penso e pego a seringa na minha outra mão, e agito-a para remover as bolhas. Sentado aqui sozinho assim, drogando-me sem ajuda de ninguém no banheiro, tem uma espécie de qualidade realmente triste e patética. Meus meninos e eu costumávamos ficar drogados juntos. Era nossa praia, quase um ritual de ligação. Agora, simplesmente parece que sou um perdedor de vinte e tantos anos tentando muito encontrar um propósito em um ritual vazio. Com uma carranca, eu atiro a seringa na pia e arranco o torniquete. — Maldição e que se foda, — eu rosno e me levanto, e saio batendo o pé para o corredor. — Você e sua abstemia estão arruinando a porra da minha vida, — eu digo a Turner quando eu o encontro de pé ao lado de sua porta, esperando por Naomi. Ele me dá uma olhada e sorri como o fodido idiota autoconfiante que ele é. — Ora, ora, ora, já de luto pela perda de sua esposa sexy e jovem, hein? Você sempre foi meio pateticamente romântico. Eu permaneço lá por cerca de dois segundos e então me atiro sobre ele, eliminando minha raiva em meu melhor amigo do jeito que eu tenho feito desde que nós éramos vizinhos, juntos naquele parque de trailer de merda. A parte triste é, eu realmente era melhor do que ele na época. Adivinha se ele não é o sortudo agora. Eu sei que estou sendo essencialmente uma cadela chorona no momento, mas ei. Que seja. Eu sou uma estrela do rock, certo? Eu tenho a prerrogativa de ser um merdinha de vez em quando, não é? Assim que Naomi sai, nós terminamos a luta e nos afastamos um do outro, ofegantes e suando, e encarando um ao outro até os lábios de Turner se curvarem em um sorriso. Meu melhor amigo julga os caras pelo quão forte eles batem, então ele geralmente está sorrindo no momento que acabamos com nossos confrontos, como se eu tivesse ~ 89 ~

mais uma vez me provado para ele. Ele não parou de ridicularizar o marido da minha irmã até que os dois entraram em uma briga e Turner levou um soco de Dax bem no rosto. — Sério, vocês dois andaram brigando novamente? — Naomi pergunta quando ela sai do quarto em um shortinho de couro e uma regata branca solta com um sutiã rosa brilhante por baixo dela. — Vocês dois não estão filmando de novo hoje? — Sim, e daí? Não significa que não podemos mostrar um ao outro um pouco um amor bruto de irmão, certo? — ele estica a mão para mim e tenta bagunçar meu cabelo com o punho enquanto Naomi revira os olhos. — Jesus, você quer se divorciar para que vocês dois possam se casar em vez disso? — Poderia ser, — diz Turner e eu o empurro e franzo o cenho, — porque eu acho que Trey está com o coração partido agora que sua esposa o deixou. Onde ela iria de qualquer maneira? — ele pergunta e eu corro meus dedos pelo meu cabelo e tento especificamente não pensar sobre Netty Forester neste momento. — Não importa, — eu digo quando começamos a andar pelo corredor em direção à escada. — Não é como se eu a conhecesse mesmo. Porra, eu nem sequer me lembro de ter feito sexo com ela. — Plagiador, — diz Turner, como se ele estivesse realmente querendo o meu sangue fervendo nas minhas malditas veias. A primeira vez que ele e Naomi passaram a noite juntos, ele também estava drogado pra caramba para se lembrar. Acho que eu realmente sou apenas um clone Campbell. — Coma um pau, — eu digo a Turner, empurrando-o para passar e descendo a escada três degraus de cada vez. Agora que estou aqui fora, eu estou realmente arrependido de não me drogar no banheiro. Tão triste e patético quanto ficar drogado sozinho soava, parece ser duas vezes mais triste e patético aqui embaixo. Assim como tem sido por meses. Eu realmente achei que ser famoso, ganhar dinheiro, levar Indecency ao próximo nível, que tudo isso seria suficiente. Ou eu estou muito danificado para ser feliz com o que eu tenho... ou eu realmente sou apenas outro romântico desesperado procurando sua alma gêmea. Quero dizer, não que havia alguma maneira de eu achar que aquela garota estranha e tímida era algo mais do que uma aventura acidental.

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Eu pego um cigarro e acendo, apertando o rosto ao perceber o nosso empresário, Milo, sentado na sala de estar com uma menina de cabelos escuros no sofá na frente dele. Eu só posso ver a parte de trás da cabeça dela, mas me dá a impressão de ser vagamente familiar. — Ei, olha, sua noiva está de volta, — diz Turner, batendo no meu ombro o suficiente para me fazer tropeçar. O olhar que eu o atiro para ele é puro veneno. — Acho que havia algo sobre esse pau minúsculo que apelou pela simpatia dela, sabia? Tipo, quem mais se casaria com um cara com um pau de dez centímetros? — Eu tenho um pau de dezoito centímetros, seu pedaço de merda, — eu digo e gesticulo para Naomi com meu cigarro. Claramente, Turner está delirando porque Netty tem cabelo loiro cor de mel. Essa mina na sala de estar é morena. Então, foda-se ele por fazer meu coração pular e minhas palmas ficarem coçando. — Pergunte à sua esposa - ela já o viu. Desta vez, nossa luta aumenta vários graus, mas pelo menos meu melhor amigo está prestando atenção em mim. Parece melhor do que ficar à margem, olhando para um monte de idiotas apaixonados desfilando suas alegrias por aí para o mundo ver. Até mesmo nosso novo baixista, Josh Drake, tem uma namorada agora. Nosso guitarrista Jesse Decker, ainda dorme por aí como uma prostituta viciada em crack, mas ele está entusiasmado com o fato de que ele finalmente saiu do armário agora. Ele está gostando de ser uma vagabunda. Acho que talvez eu esteja apenas farto disso. — Turner, — Naomi fala rispidamente e eu recuo da briga, e levanto minhas palmas em falso rendimento. Se ele vier para mim de novo, vou puxar uma Netty Forester e socá-lo nas bolas. — Relaxa. Trey e eu fodemos uma vez. Deixe isso para trás. — Que diabos? — Turner pergunta, jogando sua mão em direção ao sofá. — Você realmente quer trazer essa merda na frente do seu marido e da nova esposa de Trey? — Turner, essa não é-, — eu começo, olhando por cima e percebendo que, de fato, a morena na regata, jeans e botas é realmente a mesma garota com cabelo cor de mel, com pelo de cachorro em toda a sua blusa. Puta merda. — Que diabos você está fazendo aqui? — eu explodo antes que eu possa me parar. Turner dá um risinho e eu atiro para ele uma cara feia maléfica que diz claramente cale a maldita matraca, seu idiota. — Existe algum lugar onde possamos ir e ter uma conversa rápida? — pergunta Netty, levantando as sobrancelhas ligeiramente. Eu ~ 91 ~

penso sobre a noite passada, sobre o quão suave e vulnerável estava o rosto dela, sentada junto à piscina e eu queria que tivesse feito, tipo, algum tipo de tentativa de confortá-la, colocando meu braço em volta dela, falar coisas. Ela precisava disso, eu acho, e eu não fiz merda nenhuma. — Conversa rápida, — diz Turner enquanto rouba meu cigarro ainda queimando do chão de mármore, fazendo nosso empresário se encolher quando ele vê que estamos fumando aqui dentro de novo. — Código pra foda gostosa, hein? — Você está testando seriamente minha paciência, — eu murmuro para ele, voltando meu olhar para Netty e tentando classificar entre medo e emoção. O fato de que ela foi embora e voltou deve significar... alguma coisa. Mas eu espero que ela não esteja esperando muito de mim, porque nós ainda somos estranhos. Quero dizer, eu nem conheço essa mina. Se ela voltou correndo esperando por uma reunião romântica, então eu poderia estar transformando seus sonhos em pó. Ao mesmo tempo, eu não posso, mas espero que ela realmente tenha voltado por mim. — Vamos dar um passeio rápido, — eu digo a ela, movendo-me pela sala de estar e notando a mochila que eu comprei para ela, colocada no sofá. Ela ainda está planejando ir embora? Talvez ela realmente não tenha voltado mesmo, apenas teve que fazer um pequeno desvio ou algo assim. — Você encontrou aquele Jessop de novo? — eu pergunto calmamente, abrindo a porta dos fundos e pisando para fora, em outra manhã de verão sufocante. É o dia perfeito para descansar junto à piscina e ficar bêbado. Em vez disso, nós estaremos presos naquele fodido estúdio sem janelas novamente. — Dez minutos, Sr. Charell, — grita Milo, pouco antes de eu fechar a porta e cortá-lo completamente. — Para onde você vai? — Netty pergunta casualmente, enfiando os dedos nos bolsos de seus jeans. Eu não consigo tirar os olhos dos strass decorando sua bunda. Quando ela me vê olhando, o canto de sua boca se contrai com diversão. — Mmm? — Com tipo, quinze ‘M’ no final, — eu digo e Netty abre seu sorriso levemente. — Você esqueceu alguma coisa na sua saída? — eu pergunto casualmente, procurando no meu bolso pelos anéis. Quando eu os estendo, ela levanta a palma da mão e me deixa colocá-los em sua mão. Meus dedos esfregam contra sua pele, fazendo-a ofegar. Eu sinto isso também, quando eu a toco, todas estas pequenas emoções quentes

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dançando entre nós, como notas em uma canção realmente thrash16, uma melodia que fala de lugares sombrios e corpos nus. — Eu os comprei para você. Eu posso não me lembrar, mas você pode muito bem ficar com eles. — Eu... eu comecei a pensar sobre o que você disse, — ela me diz, deslizando os anéis de volta. Não tenho ideia por que ela faz isso, mas porra, eu também estou usando o meu. Posso também. Nós podemos não conhecer um ao outro, mas o mundo já sabe que nos casamos. — Sob eu ser uma lutadora... Netty e eu seguimos para a esquerda, longe da piscina, onde eu posso ouvir Sydney e Dax rindo juntos. Eu já os flagrei fodendo na cozinha, em uma poltrona e na lá na frente contra umas das vans de segurança. Praticamente não quero voltar a ver essa merda novamente. Na próxima vez, acho que minhas retinas podem acabar pegando fogo. — Eu trabalhei duramente desde que deixei Price Canyon para construir uma vida para mim. — ela estica a mão e trilha seus dedos através da ampla folha cerosa de alguma planta cujo nome eu não faço ideia. Quando nós compramos a casa, o quintal já estava preparado À perfeição e, você sabe, obviamente, nenhum dos nossos traseiros gordos saem aqui fora e cuida dessa porcaria. — Eu consegui um bacharelado em ciência animal, consegui minha certificação de assistente veterinária. — Netty e eu viramos à esquerda novamente, no muro de pedra que rodeia a propriedade, continuando circulando o terreno. A maldita casa ocupa a maior parte do lote, mas há algum espaço verde mais do que a maioria das pessoas têm nesta área. — Eu estava pensando em ir à escola de veterinária também. Se eu deixar Jessop e esses malditos guerreiros de Deus acabarem com Netty Forester, então eu estou essencialmente dando a eles controle. Eu não vou fazer isso nunca mais. Minha vez de sorrir enquanto eu giro a aliança de casamento ao redor do meu dedo. — Você acha que eu poderia... talvez eu poderia ficar aqui enquanto eu tento descobrir isso? Eu quero me manter neste caminho e ir pelas vias legais, mas a única maneira que eu vou ser capaz de fazer isso é se eu tiver tempo. Podem ser meses ou... mais tempo para ter tudo isso resolvido. — Você viu o tamanho desta casa, — eu digo a ela quando nós contornamos o canto e acabamos na passarela que atravessa uma 16

Estilo musical, heavy metal. ~ 93 ~

grande área ajardinada ao lado da rua de tijolos. — Nós poderíamos fazer caber um exército aqui. Desculpa, irmão, eu digo a mim mesmo e dou uma olhada de relance, e vejo o sorriso ligeiramente tenso se assentando na boca de Netty. Aqui está ela, basicamente pedindo minha ajuda e eu encolho os ombros. Que porra está errado comigo? — Você sabe, hã, — eu digo quando chegamos ao fim da passarela... e avistamos Ronnie e Lola se pegando contra a lateral da van. Eu retiro um cigarro e ofereço um para Netty antes de me lembrar que ela não fuma. — Eu gostaria que você ficasse. — eu dou um tapinha na parte de baixo do pacote contra minha palma por hábito. — Honestamente, eu meio que... você parece legal de se ter por perto quando você não está me socando nas bolas. Eu gostaria de ajudá-la ou alguma outra coisa. Você sabe, se você quiser que eu dê uma surra naquele Jessop idiota, eu ficaria mais do que feliz em acabar com o traseiro dele. — Eu também tenho uma irmã, — continua Netty, sorrindo quase timidamente. Simplesmente tenho a sensação de que essa mina nunca sente nada além de estar envergonhada. — E um gato. Eu levanto uma sobrancelha enquanto fumo meu cigarro, ignorando os movimentos de mão obscenos que Turner está fazendo para mim da varanda. — Você quer trazer seu gato e sua irmã para cá também? — Se não for muito problema, — ela diz, inclinando a cabeça ligeiramente para o lado, seus novos cachos escuros deslizando sobre um ombro nu. Por alguma razão, é o suficiente para me detonar. Meu coração começa a bater em um ritmo maluco, e meu pau se endurece quase dolorosamente, preso dentro do jeans apertado. Filho da puta. Se Netty realmente vai estar andando por aí, eu talvez tenha que começar a usar calças de moletom ou algo assim. — Claro, tudo bem, pode ser, — eu digo, sentindo minhas palmas ficarem repentinamente suadas. A última vez que tive esse nervoso em torno de uma garota, eu era um cara virgem de vinte anos tentando descobrir o que diabos fazer comigo mesmo. Agora, eu tenho vinte e nove anos de idade, experiente, pra lá de vivido e ainda assim... eu sinto uma pequena tontura quando olho para os olhos azuis de Netty, refletindo de volta a perfeição do céu sem nuvens acima de nossas cabeças.

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Tenho a sensação que Turner não fica nervoso com nada, nem com Naomi Knox. Por alguma razão, esse é um pensamento reconfortante. Eu acho que há pelo menos alguma coisa individual sobre mim. — Obrigado, Trey, — diz Netty, e ela ergue os braços como se estivesse prestes a me dar um abraço. Quando ela faz isso, ela derruba o cigarro aceso da minha mão e de algum modo acaba jogando-o diretamente no meu pescoço. — Jesus, porra, — eu gemo e coloco uma mão sobre o local queimado na minha garganta, dando à mina estabanada um olhar estranho. — Desculpe, desculpe, — ela diz, e mesmo que eu me encolha quando ela ergue as mãos desta vez, a sensação de suas palmas deslizando sobre a parte de trás do meu pescoço é... tipo, tranquilizante pra cacete. Chamas disparam através de mim, queimando um caminho direto para o comprimento dolorosamente duro do meu pau. Mas realmente, a coisa que mais me surpreende é o modo como seus lábios estão quando ela se inclina na ponta dos pés e me beija na bochecha. — Obrigada, — ela diz novamente, e por alguma razão, isso simplesmente faz toda a maldita coisa - queimação, bolas e tudo - parecer que vale a pena.

Pela próxima semana e meia, Netty vem para todas as sessões de estúdio quando nós trabalhamos no vídeo, de pé ao lado com Naomi ou Lola, dando goles nas latas vermelho e prata de refrigerante gelado e observando-me como se ela realmente estivesse interessada no que eu estou fazendo. Pelo que eu posso dizer, ela realmente não parece gostar de música rock, de jeito nenhum, e ainda assim... na sexta-feira seguinte depois que a filmagem acabou, ela aceita um convite para jantar e acaba cantando suavemente as palavras da música enquanto ela examina o menu. Vendo Netty Forester cantar, — Eu não sou um babaca? Você não acha que eu sou um? em um tipo de voz suave e angelical é muito malditamente hilário. Ela canta como se estivesse em um coro da igreja ou alguma coisa da qual, eu não sei, talvez ela fizesse parte em algum momento? Nós gastamos a boa maioria dos últimos dez dias apenas

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conversando, mas na verdade eu não tive coragem de lhe fazer perguntas sobre o complexo. Ela trata essa parte de sua vida como se fosse um pesadelo que é melhor deixar esquecido. Tenho que respeitar isso. — Olhe para você, memorizando as letras como a própria tiete, — eu digo e ela levanta um olhar cético na minha cara. Estou batendo uma faca de carne na mesa e observando-a, hipnotizado pelo golpe rápido do meu próprio coração. Eu gosto de como ele acelera, gagueja, me deixa tonto quando estou olhando para Netty. — Eu não sou uma tiete, — diz ela, fechando o menu cuidadosamente e colocando-o sobre a mesa. — Eu sou a esposa de uma estrela do rock. Nós dois rimos. Nossos passeios são todos sobre a internet, os blogueiros e os colunistas de fofocas tentam desesperadamente dar sentido a essa garota que surgiu na minha vida de repente. Francamente, eu estou no mesmo barco. Eu não tenho ideia do que fazer desta mulher. A única coisa que eu realmente tenho certeza é que desde que ela apareceu, eu tenho sido muito menos solitário. Isso, e eu também estou coberto de hematomas e arranhões da meia dúzia de vezes por dia que ela me machuca. É praticamente constante, porra. Ela só parece gostar de me irritar intencionalmente. O problema é, quando nós lutamos, tudo o que acontece é que eu fico excitado como o inferno e começo a suar. Não entendo. — Você sabia que eu fui votado Menos Provável a Nunca se Casar na revista Rollin' Strong no mês passado? — Sério? — Netty pergunta, levantando os arcos escuros de suas sobrancelhas. Ela mesmo as tingiu, também. Elas são da mesma cor rica e escura de seu cabelo, deixando tons rosados em suas bochechas e fazendo com que ela pareça estar usando blush mesmo que ela nunca coloque maquiagem. — Eu daria esse prêmio ao seu amigo, Sr. Campbell, se ele ainda não estivesse casado. Você... você é muito doce. Parece óbvio que alguém eventualmente vai apanhá-lo. — Você quer dizer, do jeito que você fez? — eu brinco e ela para de estender seu guardanapo no colo, focando esses olhos de safira no meu rosto. Uma tensão se estende entre nós, uma que eu sinto como se estivéssemos evitando desde que ela pediu para ficar na casa comigo. Nenhum de nós tem realmente admitido que dormimos juntos e desde

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que, você sabe, nós não conseguimos lembrar, eu acho que isso não importa. Ainda assim, não penso que nenhum de nós possa negar nossa atração um pelo outro. Ela queima como um fodido fogo selvagem, e eu sinto que está me comendo por dentro. Eu me pergunto se Netty pode ver o quanto ela me afeta? — Eu suponho, — ela diz cautelosamente e então há um breve momento de prorrogação quando o garçom vem para pegar nossos pedidos. — Você sabe, — Netty continua assim que ele se afasta. — Minha irmã está voando amanhã. Pedi a Naomi para pegá-la, já que Jessop não se importa sobre ela de uma maneira ou de outra. Sinto que estaria colocando-a em risco desnecessário se eu fosse. — Ela tem o Sr. Lábios de Xoxota com ela, certo? — eu pergunto e Netty estreita seus olhos para mim. Eu sorrio maliciosamente para sua expressão irritada e cutuco sua perna sob a mesa com meu mocassim listrado em preto e branco. Essa é minha ideia de me vestir adicionando uma camisa preta parcialmente abotoada a uma gravata vermelha e jeans. Esta churrascaria exigente tem um código de vestimenta, mas eles decidiram deixar o jeans contanto que eu use uma jaqueta emprestada. Eu acho que eles simplesmente não estão dispostos a me irritar - é o quão grande a nossa banda se tornou. Eu me sinto como um maldito deus metade do tempo que estou em público. Antigamente, eu não podia pagar a gasolina para dirigir para este lugar, e muito menos um jantar caro de carne. — O nome do gato é Willow17, seu idiota. O primeiro lugar que eu morei depois de deixar Price Canyon tinha salgueiros no quintal. Eu nunca os tinha visto antes e os achei lindos. É um apelido completamente inocente. — Apenas mostra o quão suja você realmente é por dentro, — eu digo e Netty faz beicinho, chutando-me debaixo da mesa. Ela acaba derramando um copo de água por todo o lugar, mas isso parece ser parte do percurso com essa garota. Depois de ter tudo limpo, ela finalmente toma um gole de seu vinho, fechando os olhos com o gosto. Ela admitiu para mim que gosta de tomar uma bebida ou duas com o jantar, quase com culpa, como se

O nome do gato que ele fala é Pussy Lips (Lábios de Xoxota), e o nome que ela fala é Pussy Willow (pussy pode significar xoxota e gato e willow é uma árvore, um salgueiro). 17

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isso de algum modo a tornasse uma pessoa ruim. Eu disse a ela que costumava ficar muito bêbado, apagado, pelo menos cinco dias por semana, e isso pareceu ajudá-la a colocar as coisas em perspectiva. — Você acha que poderíamos ir à praia depois disso? — ela pergunta, surpreendendo-me. — Você não está com medo de Jessop? — eu pergunto, observando enquanto suas narinas se dilatam com uma profunda respiração. — Com sua equipe de segurança, com... você, — ela acrescenta suavemente, — eu sinto como se eu pudesse lidar com ele se eu precisar. Minha boca se curva em um sorriso que de modo algum é um sorriso malicioso. Por dentro, meu coração vibra de um jeito que nunca admitirei a ninguém. Eu acho que posso ter me apaixonado pela minha própria esposa. Quão estranho é isso?

Depois do jantar, Netty e eu nos dirigimos para Huntington Beach no meu conversível e eu juro, meus olhos estão colados nos cabelos escuros dessa mina, batendo em seu rosto. Em um semáforo, eu acabo esticando a mão e afastando alguns deles de seus lábios. O modo que sua boca se abre quando ela olha para mim... é malditamente mágico. Cara, você está tão perdido, digo a mim mesmo enquanto nós aceleramos, e Netty inclina a cabeça para trás, levantando os braços e deixando o calor correr sobre ela, com esse olhar em seu rosto que chega muito perto do êxtase. Eu gostaria de ver se eu conseguiria levá-la a isso, fazer seus lábios se abrirem e seus olhos se ampliarem com prazer. Pelo o que eu pude perceber, não parece que ela tenha tido muita experiência com sexo. Eu estaciono em um espaço calmo perto de alguns chuveiros ao ar livre e desligo o motor, o dourado do pôr-do-sol banhando toda a

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paisagem em cores. A areia branca parece mais brilhante, a água mais azul. Ou é isso ou eu estou desmaiando, e eu só... não quero saber o quão duro Turner talvez me dilacere se ele descobrir que estou fazendo as mesmas coisas que um garoto adolescente com sua primeira namorada. Eu salto sem abrir a porta, e Netty sai toda lenta e decente, seu vestido cor do vinho tinto, a renda na bainha brincando ao redor de suas panturrilhas pálidas ao vento. — É tão bonito, — ela diz suavemente, de pé na calçada e olhando sobre a grade, estudando as ondas quebrando e o céu sangrando com uma reverência que eu gostaria de ter. Esta garota não é ingênua nem nada, mas ela aprecia o mundo de uma maneira que eu nunca apreciei, nem mesmo quando criança. No momento em que eu era um ser consciente e pensante, eu também era um idiota desiludido e apático. — A primeira vez que vi o oceano, eu tinha doze anos, já era uma mulher casada... — Netty suspira e eu vou para o capô do carro e ela se senta ao meu lado. — Você teve uma família adotiva ou algo assim? — eu pergunto, tirando um maço de cigarros e acendendo. — Mais ou menos. Por causa de toda a publicidade em torno do caso com Rigby, e a ameaça de retaliação da congregação, eu me mudei muito. Mas sabe de uma coisa? Eu tive sorte. Cada lugar que eu vivi depois de sair do complexo era melhor do que onde eu tinha estado. — Você usou vestidos do campo e deixou crescer o cabelo e tudo isso? — eu pergunto, imaginando se eu estou sendo insensível. Mas eu quero saber mais sobre Netty. Merda, eu quero saber tudo e não sei por quê. Ela é apenas interessante, eu acho, completamente diferente de qualquer pessoa que eu já conheci. — Na verdade, sim, Treyjan, eu usei. — Quando você se casou, — eu começo e então não tenho ideia do que dizer depois disso. — Você viveu com seu marido? Ou ficou com seus pais? — Eu o ataquei na minha noite de núpcias e escapei, — ela explica, olhando para o colo com um longo e profundo suspiro. — Nunca tive, na verdade, vida com ele como marido. Eu engulo com força e cruzo um braço sobre meu peito, queimando meu cigarro na brisa.

~ 99 ~

— Você... — novamente, outra pergunta insensível morre em meus lábios e decido apenas fechar a boca. — Ele me estuprou? — ela pergunta, e eu me encolho. — Não. Ele tentou, no entanto. Ele se forçou em mim, segurou-me, ele... — as narinas de Netty se dilatam e ela toma outra respiração profunda, a fina alça de seu vestido deslizando pelo braço. Eu estendo a mão e levanto-a de volta com um único dedo enganchado. — Eu lutei com ele e fugi. Mas isso não significa que ele não fez isso com outras garotas. Ele tinha uma esposa de quinze anos que já estava grávida. E eu sei, de fato, que quando uma de suas esposas tentou fugir, Jessop e seus homens a arrastaram de volta e a estupraram enquanto Rigby observava. Ele os chamava de ‘portadores de sementes’, e dizia que era importante para homens proeminentes na igreja procriarem, que era a vontade de Deus. — Que diabos? — eu exclamo, tentando esconder o horror no meu rosto. Com certeza, essa é a última coisa que Netty precisa de mim agora. Mas quando ela olha e me vê boquiaberto para ela, ela sorri suavemente. — Parece uma novela de ficção, não é? Agora que estou longe daquele ambiente, eu mal consigo pensar sem esse sentimento desesperado e sem esperança caindo sobre mim. Nos últimos anos, eu estive lendo minha cota de romances de horror e suspense. Na maioria das vezes, eles não chegam nem perto de corresponder aos horrores que nós aguentamos em Price Canyon. — Você teve dificuldade em fazer a transição para a vida aqui fora? — eu pergunto, mas Netty já está balançando a cabeça. — Não. Não, de jeito nenhum. No meu coração, eu sempre soube que não pertencia àquele lugar. Para te dizer a verdade, eu acho que as únicas pessoas que estão felizes lá são os portadores de sementes, o profeta e aqueles em seu círculo íntimo. Todos os outros são dispensáveis. Até o momento em que eu me casei, eu já tinha perdido três irmãos. Eles simplesmente os colocaram na parte de trás de caminhonetes e os levaram para fora do complexo, para despejá-los. Os homens mais velhos não conseguem lidar em ter homens jovens em volta para competir por esposas. — Netty, — eu digo, e minha voz é surpreendentemente suave e estranha. Eu olho de relance para trás para ver se meus guarda-costas estão dentro da distância de serem ouvidos. Felizmente, parece que um dos caras ainda está na van, o outro encostado na cerca da calçada

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fingindo jogar no telefone. Ou merda, talvez ele realmente esteja jogando no seu telefone? — Pelo menos parece que você conseguiu resolver suas coisas. — Eu consegui, — diz ela, sorrindo novamente. E esse olhar em seu rosto, isso me faz sentir culpado por ainda estar interessado nela. Quem diabos sou eu para corromper esta mina? Meu mundo é sexo, drogas e rock 'n' roll. E Netty, ela é tão limpa e puritana. Ela sabe o que quer na vida e ela rala muito para conseguir. Eu provavelmente ferraria com ela até se eu tentasse namorá-la. — E sabe de uma coisa? Você é o primeiro quase-namorado que eu já tive. — Quase-namorado? — eu pergunto, inclinando-me para apagar meu cigarro contra a areia. — Quando eu fiz dezoito anos, eu só... eu acho que eu queria provar a mim mesma que eu realmente estava no controle de tudo minha vida, meu futuro, meu corpo. Eu conheci um cara na biblioteca e— Você pegou um cara em uma biblioteca? — eu pergunto, ficando em pé e virando meu rosto para Netty, inclinando meu quadril contra o carro enquanto eu olho para ela com uma sobrancelha levantada. — Você realmente é uma boa menina, não é? — Talvez isso não seja o que eu quero ser agora, — diz ela, e eu juro, eu fico com arrepios na espinha quando ela olha para mim. — Eu só fiz sexo duas vezes - e não consigo lembrar da noite que nós fizemos. Então… — Você está dizendo que quer ser uma menina má? — eu pergunto, afastando um pouco mais de cabelo do rosto de Netty. Eu pareço não conseguir me fazer parar de tocá-la. — Essa é uma cantada horrível, Sr. Charell, — ela me diz e eu me levanto e estico a mão para pegar a mão dela. Netty reflete por um momento e depois coloca sua mão na minha. Agradeço aos malditos deuses que não há nenhum paparazzi – ou fanáticos religiosos – em volta para ferrar com este momento. — Isso foi uma cantada realmente de merda. — Não foi uma cantada, apenas uma pergunta, — eu digo em voz baixa, levando-a para a areia e em seguida, puxando-a para baixo para se sentar ao meu lado. Eu puxo minhas botas para fora e depois de um ligeiro segundo de hesitação decido retirar meu jeans também. Minha

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boxer parece bastante como um short, certo? — Então, você quer ser má comigo, Netty Forester? — Será que tirar minhas sapatilhas e mergulhar na água com uma estrela do rock com boxer me faz má? Porque se assim for, então eu suponho que poderia dizer sim a essa pergunta. Eu empurro meu jeans de lado e me viro para ela, inclinando-me quando ela se inclina para trás e coloca a palma para baixo na areia. — Ser má pode significar que vai estar com seu marido. Você está no jogo, Sra. Charell? — Naomi Knox manteve seu nome, — Netty me diz seriamente, — e eu tenho visto o jogo do casamento em ação na propriedade. Você pode me chamar de Srta. Forester. — Droga, mas você é mesmo uma merdinha, — eu digo, lambendo meu lábio. Os olhos de Netty seguem o movimento, sua mão deslizando para cima em meu braço, para o meu pescoço, dedos enroscando no meu cabelo. Ela puxa um pouco forte demais, mas eu não estou nem aí. Tudo que eu quero fazer agora é beijar sua boca pra caralho. Fechando a distância entre nós, eu esmago nossos lábios juntos e deslizo minha língua para dentro de sua boca. O som de prazer que eu recebo em resposta faz com que tudo valha a pena. Netty se derrete em mim, deixando-me trabalhar nela com lentos movimentos sensuais da minha língua. Eu provo cada polegada de sua boca, marco-a com a minha língua, o sabor doce do vinho de sobremesa que tivemos no jantar persistindo em minhas papilas gustativas. Ela puxa meu cabelo ainda mais forte, trazendo-a outra mão para enrolar as unhas em meu pescoço. Juntos, nós nos movemos para a frente para que ela se deite de costas e eu estou em cima dela, embalando meu corpo entre seu quadril e sentindo o calor quente de seu núcleo contra o tecido fino da minha boxer. Eu pressiono contra ela e a sensação do meu corpo no dela faz Netty abrir suas coxas para mim, enrolar as pernas em volta do meu corpo. Eu apanho um punhado de seu sedoso cabelo escuro na minha mão e o puxo, combinando a intensidade do aperto dela em mim. Pelos primeiros minutos, Netty deixa eu beijá-la, deixa-me mordiscar seus lábios, deslizar minha língua em seus dentes, beijá-la como se ela fosse preciosa pra caralho. Mas então, é como se ela acabasse de ganhar vida, dominando, me beijando. É tão quente que eu decido virar e realmente deixá-la assumir o comando. Nossos corpos naturalmente

~ 102 ~

mudam de posição até que ela está me montando, afastando seu próprio cabelo de seu rosto, então ela pode me beijar com uma ferocidade que deveria ser surpreendente, mas apenas meio que... não é. Quero dizer, porra, Netty é calma e pura e reservada, mas ela também é meio que durona. Como eu disse, uma lutadora. Quando Netty se afasta, suas pupilas estão dilatadas e seus lábios estão vermelhos e brilhantes. Eu sei que ela pode me sentir duro e pronto sob dela, pressionando para cima contra sua abertura. Entre nós dois, temos o tecido fino da minha boxer e sua calcinha nos separando. É isso. — Uau. Talvez isso seja o porquê de nós termos decido nos casar? — ela pergunta, e eu sorrio, observando quando ela se afasta e se levanta, estendendo a mão para mim. — Tenho a sensação de que havia outra razão ainda melhor. — Você acha que nós fizemos sexo antes de chegarmos à capela? — ela pergunta, e suas bochechas ficam rosa. — Onde? Eu encolho os ombros e começo a recuar, em direção ao sussurro distante do mar. Está ficando mais escuro a cada minuto, a luz vermelha alaranjada mergulhando na água e deixando-nos com um céu azul marinho. Netty segue atrás de mim e eu paro, inclinando-me em direção a ela para sussurrar em seu ouvido. — Em-qualquer-fodido-lugar, — eu digo, pressionando meus lábios em sua orelha. — Nós poderíamos fazer aqui, se nós quiséssemos. Quando você está realmente na de alguém, você pode fazer isso funcionar onde quer que você queira. — Aqui? Eu acho que não, — diz ela, mas ela não soa inteiramente segura de si mesma. Eu pego a mão de Netty e a puxo para as ondas comigo. Água corre pelas minhas pernas, espumando contra minhas panturrilhas e tentando me lembrar da última vez que vim para a praia, que estive no oceano, que fiz algo com uma garota além de festejar e foder. Não há um monte de lembranças Definitivamente, foi há muito tempo.

~ 103 ~

vindo

à

mente

aqui.

E agora eu estou me perguntando o que diabos eu venho fazendo com a minha vida? Porque se não fosse isso, então qual era o ponto? Quando Netty – meio que inevitavelmente - tropeça e cai na água, eu corro para pegá-la em meus braços e sinto a batida de seu coração contra o meu peito. Ela olha para mim por um longo momento calculado e, então se inclina para frente para me beijar na boca. É quase uma inevitabilidade que acabamos em meu conversível esta noite.

~ 104 ~

Treyjan e eu voltamos para o conversível e gastamos alguns minutos limpando a areia de nossos pés. Ele diz que não se importa se nós sujarmos todo seu carro chique, mas eu preciso de algo para fazer, para me dar um momento para pensar. Quem diria que decidir se fazer ou não sexo com o marido poderia representar uma menina com tal enigma? Sua boca, porém, sua boca, sua maldita boca. Beijar Treyjan é como ouvir rock ‘n’ roll e comer chocolate amargo ao mesmo tempo. É como acender um fogo dentro de um coração frio e observá-lo rugir para a vida. É... além de qualquer metáfora que minha cabeça confusa consiga pensar no momento. — Você está bem aí? — Trey me pergunta, sua voz mais rouca e grossa que o habitual. Eu basicamente admiti que eu queria fazer sexo com ele novamente, é claro que ele está animado. Ele tem sido um cavalheiro (meio que sarcástico e idiota) toda a semana, mas ele está claramente interessado. — Muito bem, — eu lhe digo da minha posição no capô do carro. Trey está sentado no assento do passageiro, tirando os últimos grãos de areia da sola do pé. Ele faz uma pausa para olhar para mim, seu cabelo castanho maluco desgrenhado pelo vento - e pelos meus dedos, é claro. — Além do fato de estar molhada. Essa declaração deixa as sobrancelhas de Trey subindo pela testa, sua boca se abrindo um pouco em choque. Merda. — Não assim, — eu digo, pegando um punhado da minha saia molhada e agitando-a sobre ele. Sua boca se transforma em um sorriso sensual mesmo assim. — Você realmente é uma menina má, não é? — pergunta ele, estendendo a mão para pegar a minha. Trey me puxa para seu colo. Isso é tudo o que é preciso, na verdade, para me explodir completamente. Meu batimento cardíaco vai às alturas, e essa umidade que eu acabei acidentalmente de me referir, ensopa quente e excitada entre minhas coxas.

~ 105 ~

— Treyjan, — eu digo, mas sinto que estou sendo varrida pelo oceano, levada para o mar. Trey desliza de costas para o assento e me leva com ele, fechando a porta atrás de nós. O assento do passageiro é bastante espaçoso, mas comigo sentada em seu colo assim, não há muito espaço entre nós. — Embora eu não tenha nenhuma ideia se usamos uma dessas na última vez... — ele começa levantando uma camisinha com o logotipo de sua banda nela - uma cabeça de bode com a língua para o lado e X nos olhos - e entregando em minhas mãos. Mas eu não tenho a menor ideia do que fazer com isso. Quero dizer, intelectualmente, eu entendo, mas... minhas mãos estão tremendo novamente e não consigo fazê-las parar. — Nós provavelmente devemos usar isso desta vez, você não acha? — Eu não tenho vontade de ter filhos, — digo a ele, e falo sério. Um dia, talvez eu mude de ideia, mas depois de ver minha mãe e suas companheiras irmãs esposas se transformarem em máquinas de fábrica de reprodução, não estou particularmente interessada em me procriar. Provavelmente eu deveria fazer um teste. É lógico que se eu me casei sem saber disso, eu talvez tenha feito algumas escolhas ruins com meu corpo também. — Eu também não, — Trey diz, pousando as mãos no meu quadril e me puxando para trás o suficiente para ele conseguir alcançar e puxar sua boxer para baixo. A visão de seu pau duro se curvando para fora de sua cueca é... intrigante. Imediatamente, eu estendo minha mão para tocá-lo e Trey agarra meu pulso. — Você não vai fazer sua, tipo, coisa desajeitada/estranha comigo, vai? Porque eu não acho que meu pobre pau pode lidar em ser socado. — A palavra é clumsawkwardy, Treyjan, — eu digo calmamente, o vento brincando com meu cabelo, o som das ondas quebrando atrás de nós. A noite caiu sobre a cidade, deixando o brilho das luzes distante como uma estranha imitação moderna de estrelas. — E se você quer fazer sexo comigo, você tem que me deixar tocá-lo, não é? — Porra, esposa, — ele sussurra, e pela primeira vez há muito tempo, a palavra na verdade não me faz sentir enjoada no estômago. Ela soa quase sexy nos lábios cheios e perfeitos da estrela do rock. — Vai fundo então, — ele diz, levantando as mãos, palmas para fora como se ele estivesse se rendendo. Eu gosto disso, a ideia de Treyjan se entregando para mim.

~ 106 ~

Eu deixo cair minha mão direita em seu pau e enrolo meus dedos ao redor dele, surpresa em quão suave e mesmo assim firme é a pele. Quando eu o aperto, Treyjan suga uma respiração aguda e eu posso ver claramente que eu realmente tenho o controle completo sobre ele agora. — Com quantas garotas você já esteve? — eu pergunto, e ele só me dá esse olhar, como por favor, não me faça responder isso. — Nenhuma tão estranha como você, — é como ele decide me responder. Eu sorrio e me inclino, mas o caminho de Trey está muito à minha frente, agarrando a parte de trás da minha cabeça e me puxando para um longo beijo quente, girando sua língua na minha boca enquanto eu faço o mesmo no seu eixo, torcendo minha mão ao redor do comprimento dele. Eu devo estar fazendo algo certo porque ele geme contra meus lábios e levanta o quadril, empurrando meu corpo em seu colo. Pressionando o preservativo de volta em sua mão, eu deslizo meus lábios de sua boca para a leve barba por fazer em sua mandíbula, beijando ao longo dela até encontrar sua orelha. Trey solta esse gemido longo e profundo quando mordisco a orelha, lembrando-me de repente que estamos sentados no meio de um estacionamento com uma van cheia de guarda-costas e guerreiros religiosos caçando minha bunda. Nós não deveríamos estar fazendo isso aqui. Mas acho que Treyjan está certo - quando você está atraído por alguém, você pode fazer isso funcionar. Eu quero fazer isso funcionar agora... tão desesperadamente. Tão, tão desesperadamente. — Coloque-o, — eu sussurro contra sua orelha, querendo ver se ele vai seguir minha liderança. Ele coloca. Eu tenho uma estrela do rock... um marido?... envolto em torno do meu mindinho neste momento - e eu adoro isso. Isto é basicamente o exato oposto de qualquer coisa que alguma vez aconteceu no complexo. Os homens lá não dão a mínima com o que uma mulher quer. Suas esposas não são mais do que bens móveis, e suas necessidades não são consideradas importantes nem um pouco. É por isso que eu levei minha irmã, Oaklyn, quando eu fui embora, agarrei-a da cama e a fiz fugir comigo. Ela também estava noiva para casar com o profeta. ~ 107 ~

Mas ela está fora e ela está livre e amanhã, eu vou vê-la e contar a ela tudo sobre isso. Eu me inclino para trás um pouco, observando quando Treyjan desliza o látex pelo seu eixo, a cor vermelha brilhante do material atraindo toda a atenção no carro para seu membro. Eu acho que ele gosta disso também, do jeito como meus olhos são atraídos para seu corpo, seu rosto. Posso sentir meus mamilos duros como pedras debaixo do meu vestido enquanto eu me sento de joelhos e empurro minha calcinha para o lado. Realmente é muito mais fácil do que deveria ser para nós nos conectarmos assim, deslizarmos juntos em uma única pessoa. Parece quase predestinado, natural. Talvez me casar com algum estranho qualquer não foi a escolha mais inteligente que já fiz... mas não parece como uma coisa ruim agora. Na verdade, meio que parece como uma benção. Ou eu poderia apenas estar excitada, tem isso também. Treyjan me puxa para a frente até eu estar montada nele, encontrando meus olhos por um breve momento antes dele me guiar para baixo e fazer contato entre nós. Quando ele encontra a maciez quente da minha abertura, eu suspiro e caio para a frente, engolindo-o completamente dentro do meu corpo, correndo minhas palmas para cima em seus braços tatuados até encontrar seus ombros. Nossas bocas se chocam e Treyjan desliza suas mãos em volta da minha cintura e me puxa para frente. Ele me segura apertado quando começo a me mover, usando o prazer percorrendo através do meu corpo para guiar meus movimentos. O vento brinca com meu cabelo ao redor de ambos nossos rostos enquanto eu rebolo em Trey, as sensações desconhecidas entre nós fazendo minha pele ficar quente e tensa, escorregando minha carne com suor. Eu me sinto de repente como se eu não conseguisse o suficiente dele, como se eu jamais pudesse ser capaz de chegar perto o suficiente. — Monte em mim, esposa, — ele diz contra meus lábios, silenciando meus gemidos, beijando-me forte e profundamente, tomando conta da minha boca com a dele. A mão direita de Trey se move para o meu peito, espremendo o montículo macio através do tecido, escovando o polegar sobre o mamilo endurecido e ativando essa necessidade feroz dentro de mim. Em um conversível em uma praia pública, eu cavalgo o guitarrista principal da Indecency e decido que talvez ele não seja um completo

~ 108 ~

idiota afinal de contas. Quero dizer, ele é meio um babaca rude e tudo mais, mas se isso é algo que podemos fazer juntos como marido e mulher, então eu acho que posso estar disposta a ignorar isso. Com uma respiração profunda, eu sento mais profundo, empurrando seu corpo um pouco mais fundo entre minhas coxas. Quando Trey olha para mim, eu me deleito com a sensação dele entre minhas pernas, movendo-me mais rápido, girando meu quadril até o prazer se enrolar na minha barriga, faz-me sentir como se eu pudesse perder a cabeça se eu não conseguir alcançar isso, correndo e girando e afastando-se de mim. Minhas pálpebras flutuam e minha cabeça cai para trás, as mãos de Trey no meu quadril, a única coisa me mantendo em movimento. Ele me guia para o precipício do meu próprio prazer e me deixa cair sobre a beirada antes dele fazer o mesmo por ele, dando-me o único orgasmo que já tive com um homem ali mesmo à beira da Costa da Califórnia. Eu acho que minha decisão de ficar aqui foi certa. Pelo menos, é o que penso até descobrir que minha irmã está desaparecida.

Trey e eu não conversamos no caminho de volta para a mansão, mas eu posso vê-lo sorrindo por todo o caminho, o vento brincando com seus cabelos espetados e bagunçados em um frenesi enquanto nos dirigimos para Beverly Hills, e paramos nos portões de segurança com a van atrás de nós. Eu me encontro mordendo o lábio, brincando com meus cabelos, tentando encontrar alguma liberação para toda a energia dentro de mim. Fazer sexo com Treyjan foi... bem, foi malditamente incrível pra caramba. — Nossa, olha quem voltou, — diz Turner quando saímos do carro e nos dirigimos para a varanda. Ele está sentado lá sem camisa com um jeans escuro e fumando um cigarro. — Ei Naomi! — ele grita quando nós subimos os degraus e Trey para, dando a ele um olhar. — Eles finalmente foderam!

~ 109 ~

— Cara, que diabos? — Trey diz, olhando de relance para mim. Mas honestamente? A esta altura, eu ainda estou montando o êxtase e simplesmente não me importo que o vocalista da banda de Trey seja um babaca irritante. Naomi estava certa: ele é definitivamente pior do que Trey. — Eu diria para ignorá-lo se eu achasse que isso ajudaria, mas, francamente, ele nunca para. — Pergunte-me sobre a época que ele perdeu a virgindade - aos vinte anos, veja bem. Foi um fodido espetáculo. — Turner espeta seus cigarros nas pedras aos nossos pés e sorri maliciosamente enquanto nós entramos, passamos por Naomi Knox que está sorrindo e tentando fingir que ela não está curiosa sobre o nós que estávamos fazendo lá fora. — Vou pegar sua irmã às dez, certo? — ela pergunta quando nos dirigimos para a escada, e eu me pergunto o que diabos vamos fazer lá em cima. Nós vamos conversar? Fazer aquilo novamente? Eu deveria ir no meu quarto e ligar para Oaklyn? Eu não faço ideia. — Certo. Eu dei a ela seu número e disse a ela para lhe enviar uma mensagem, mas ela pode ser um pouco destrambelhada. Eu ligarei para ela mais tarde e confirmarei. — Parece bom, — Naomi diz, levantando uma sobrancelha loira e indo lá para fora para sentar com Turner. Quando Trey e eu chegamos lá em cima, há este momento estranho onde terminamos parados entre sua porta e a minha. Ele age como se não estivesse nem aí, apoiando-se contra a porta com o ombro e passando a língua em seu lábio - o típico bad boy canalha desleixado. Isto quase não se traduz em sua expressão facial, no entanto. Seja lá o que ele está tentando ser, Treyjan Charell tem um coração sensível dentro daquele cofre tatuado nele. — Você quer entrar no meu quarto? — ele pergunta, olhando-me de cima abaixo e depois deixando um sorriso sorrateiro brincar em seus lábios. — Quero dizer, estamos casados e tudo isso, então não seria exatamente um escândalo. — Você disse a Turner que queria amor, — eu digo, inclinando minha cabeça para o lado enquanto eu o estudo. — No seu casamento. Você acha que podemos... chegar lá um dia? Treyjan cora ligeiramente, matando toda essa coisa de bad boy com todo esse rubor se espalhando por suas bochechas.

~ 110 ~

— Eu sei que nós acabamos de nos conhecer, mas se eu vou estar por aqui e não vamos apenas passar algum tempo juntos, mas também dormir juntos, por que não tentar? Ele apenas olha para mim como se tivesse crescido uma segunda cabeça em mim. Eu percebo que para um playboy estrela do rock, isso pode ser um pouco demais para lidar. — Pense nisso, — eu digo a ele e alcanço a maçaneta da porta do meu quarto. — E fale comigo pela manhã. Sem esperar por uma resposta, eu entro e deixo a estrela do rock boquiaberta atrás de mim.

Na parte da manhã, Oaklyn me manda uma mensagem logo antes de seu voo partir. Eu acordo a tempo suficiente para enviar uma mensagem de volta e então imediatamente adormeço. Já faz um tempo desde que eu consegui não só dormir, mas fazer isso sem uma única preocupação de que Jessop ou seus homens pudessem me encontrar. Aqui dentro, eu estou segura. Quem me dera eu poder falar o mesmo por minha irmã. Poucas horas depois, eu acordo com uma chamada recebida no meu telefone e descubro que é de Naomi Knox. Merda. Eu queria me levantar para vê-la, mas olhando a hora, eu vejo que ela provavelmente já está no aeroporto. — Ei, — ela diz assim que eu atendo o telefone, — Netty, eu preciso que você vá encontrar o empresário da Indecency, Milo, e peça a ele para ligar para um homem chamado Brayden Ryker. Eu me sento e me encosto na cabeceira acolchoada, franzindo minha sobrancelha diante da ansiedade na voz dela. Isso não pode ser bom. Isso não pode ser bom de jeito nenhum. Eu tento racionalizar isso em minha mente, dizendo a mim mesma que talvez haja um problema com um fã raivoso ou algo assim. Mas eu sei que é mais do que isso.

~ 111 ~

Eu sei bem disso. Há um buraco de medo no meu estômago quando eu aperto uma mão sobre minha boca e me inclino para frente, forçando-me a respirar fundo. Depois de um momento, eu me sento de volta e atiro meus pés ao lado da cama. — Ok, — eu digo a ela, indo para a porta sem perguntar por que. Naomi Knox é uma mulher capaz, e se ela está me pedindo para fazer isso com toda a devida seriedade, então eu com certeza vou fazer isso. — Ei, — Trey diz assim que eu saio do quarto. Quando eu o vejo parado ali com jeans rasgado preto e branco, delineador nos olhos e um penteado totalmente ridículo, posso dizer que ele está me esperando por um tempo. — Podemos conversar? — Trey, — eu digo, e imediatamente ele parece notar o som estranho na minha voz. — Naomi quer que eu peça a Milo para ligar para Brayden Ryker. — Suas sobrancelhas se levantam e a porta ao meu lado se abre, revelando o baterista - Ronnie, eu acho que é o nome dele. O modo como ele olha para mim... tem um verdadeiro medo em sua expressão. — Eu vou encontrar Milo, espere, — diz Ronnie, deixando-me no corredor com Trey. — Eu não quero que você entre em pânico, mas eu encontrei a bagagem da sua irmã no aeroporto... mas nenhuma irmã. — O quê? — eu pergunto, o coração martelando, tentando racionalizar o medo. Oaklyn poderia estar no banheiro, certo? Ela poderia estar falando com um funcionário em um balcão. Ela poderia... — Como você sabe que é a bagagem dela? — Porque há um gato branco e preto em um transportador bem ao lado dela. Netty, as identificações têm o nome da sua irmã nelas. Um momento depois, outra chamada entra no meu celular. — Espera, — eu sussurro, a voz rouca enquanto eu atendo. Mas eu já sei quem será e o que eles vão dizer. — Irmã Izatt, — diz a voz do meu pai, suave, arrogante e onipotente. O mero som dela me faz sentir tremer os joelhos. Meus olhos se levantam e encontram os de Treyjan, e mesmo que mal nos conheçamos, ele parece sentir que eu poderia necessitar de ~ 112 ~

algum suporte agora. Atravessando o corredor, ele coloca um braço em volta da minha cintura e me guia para sentar no chão ao lado dele. O limpo aroma de sabão de sua pele na verdade ajuda a colocar um pouco de confiança em minha voz quando eu respondo. — Onde diabos ela está? — eu pergunto, e meu pai apenas suspira, como se eu fosse uma criança impossível, uma merecedora de punição. — Oaklyn está bem. Ela está de volta com sua família. Na verdade, eu sinto como se tivesse recebido um testemunho do Pai Celestial. Ele quer que eu a sele para Jessop Barlow. — Se você tocar um fio de cabelo da cabeça dela, eu vou matar você, — eu digo a ele, e não é uma ameaça - é uma promessa. — Nós amaríamos vê-la em casa, Martha. Você tem muito pelo que responder, você sabe. Eu sinto que se você viesse rápido, Jessop talvez não queira assumir duas novas esposas ao mesmo tempo. Eu acho que ele preferiria mais você do que sua irmã, você não concorda? O som dele desligando na minha cara é o mais sombrio e mais ameaçador som do mundo. — Você está bem? — Trey pergunta, mas eu não estou. Meu coração está acelerado, e minha alma está doente. Se eu quiser proteger minha irmã - eu daria minha vida por ela - então eu tenho que ir para Price Canyon. Não há como contornar isso. — Não, — eu digo a ele, olhando para o meu marido e desejando que ele fosse mais do que um estranho, imaginando se ele seria capaz de me ajudar, se eu poderia me apoiar nele. Eu acho que vou descobrir. — Minha irmã... ela está de volta ao complexo, — eu digo a ele, e eu realmente não preciso me explicar. Posso ver o flash de compreensão em seu rosto bonito. Fechando meus olhos, eu respiro profundamente e tento formular um plano. No meio do meu medo e dor, a vingança fica pesada e quente dentro de mim. Eu não vou deixá-los machucar minha irmã - e eu não vou deixálos me machucar também.

~ 113 ~

Meu marido disse que ele me reconhecia como uma lutadora; eu nunca estive tão desesperada para provar que alguém está certo.

Continua...

~ 114 ~
#10 Screw Up - Hard Rock Roots - C.M. Stunich

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