Amar-se, respeitar-se e trair-se

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Jennie Lucas - Amar-se, respeitar-se e… trair-se. Tinha sonhado com o dia de suas bodas desde que era uma menina Quando Callie Woodville conheceu seu chefe, o arrumado Eduardo Cruz, pensou que havia encontrado ao homem perfeito. Mas, quando a jogou para fora de sua vida depois de passar sua primeira noite juntos, foi consciente de seu grave engano. Nunca haveria podido chegar a imaginar como ia trocar sua vida em uns meses. 1

Sustentando um feio e murcho buquê de flores, viu-se esperando ao homem com que ia casar se, seu melhor amigo, alguém a quem nunca tinha beijado e do que nunca ia apaixonar se. Eduardo, por sua parte, decidiu tomar cartas no assunto assim que descobriu que Callie ocultava algo.

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Capítulo 1. CALLIE Woodville tinha sonhado toda sua vida com o dia de suas bodas. Com só sete anos, disfarçava-se com um lençol branco sobre a cabeça para representar a cerimônia no celeiro de seu pai. Acompanhava-a então sua irmã Sami, que apenas era um bebê na época. Era um sonho que tinha abandonado durante sua adolescência. Tinha sido uma jovem com grandes óculos, gordinha e fanática por livros. Os meninos nunca se fixavam nela. Foi ao baile de fim de curso com seu melhor amigo, um menino muito parecido a ela que vivia em uma granja próxima. Mas Callie nunca tinha deixado de pensar que algum dia conheceria o homem de sua vida. Acreditava que essa pessoa existia e que algum dia despertaria de sua letargia com um doce beijo. E, tal e como tinha previsto, o homem de seus sonhos acabou por aparecer em sua vida aos vinte e quatro anos. Seu chefe, um multimilionário poderoso e desumano, tinha-a beijado e seduzido. Com ele tinha perdido sua virgindade e também seu coração. Durante essa noite, Callie se tinha deixado levar pela paixão e a magia. Quando despertou ao dia seguinte, o dia de Natal, e viu que seguia entre seus braços e que estava em sua luxuosa casa de Nova Iorque, sentiu-se muito feliz. Pareceu-lhe então que o mundo era um lugar mágico onde os sonhos terminavam por fazer-se realidade. Tinha sido uma noite mágica, mas também muito dolorosa. Tinham passado oito meses e meio após e estava esperando sentada no portal de sua casa em uma rua mastreada e tranquila do West Village de Nova Iorque. O céu estava escuro, como se fora a chover. Havia-lhe dado pena seguir em seu piso vazio e tinha decidido esperar com suas malas na rua. Era o dia de suas bodas. O dia com o que sempre tinha sonhado, mas a realidade não se parecia em nada a seus sonhos. Levava um vestido de noiva de segunda mão e um buquê de flores que havia talhado ela mesma em um parque próximo. Em lugar de véu, levava sua larga juba castanha recolhimento com dois singelos passadores. Estava a ponto de casar-se com seu melhor amigo, um homem ao que nunca havia beijado e ao que não desejava beijar. Um homem que não era o pai de seu bebê.

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Assim que voltasse Brandon com o carro de aluguel, iriam à Prefeitura a casar-se. Depois, empreenderiam juntos a comprida viaje de Nova Iorque até a granja de seus pais no Dakota do Norte. Fechou um instante os olhos, sabia que era o melhor para o bebê. Ia necessitar um pai e seu ex-chefe era um homem egoísta, insensível e mulherengo. Depois de trabalhar como sua secretária durante três anos, conhecia-o muito bem. Mesmo assim, tinha sido o suficientemente parva para cair em suas redes. Viu chegar um carro, era luxuoso e escuro. Não pôde evitar conter o fôlego até que passou frente a ela e desapareceu de novo. Estremeceu-se, não queria nem pensar no que aconteceria se seu antigo chefe se inteirasse de que haviam concebido um bebê durante sua única noite de paixão. –Nunca saberá – sussurrou ela. Tratou de tranquilizar-se. Tinha ouvido que Eduardo estava na Colômbia, inspecionando os trabalhos de Petróleos Cruz em várias jazidas marinhas. Além disso, estava segura de que já se teria esquecido dela. Durante o tempo que tinha trabalhado para ele o tinha visto com muitas mulheres. Ela havia pensado que podia ser diferente, mas se tinha equivocado. –Fora de minha cama, Callie! –havia-lhe dito Eduardo à manhã seguinte–. Fora de minha casa! Oito meses e meio depois, suas palavras ainda lhe faziam dano. Suspirou e acariciou sua barriga. Eduardo não sabia nada da vida que havia criado em seu interior. Ele tinha decidido colocá-la para fora de sua vida e não pensava lhe dar a oportunidade de lutar pela custódia do bebê. Supunha que seria um pai dominante e tirânico. Já o conhecia como chefe. Seu bebê ia nascer em um lar estável, com uma família carinhosa. Brandon, que tinha sido seu melhor amigo dos seis anos, ia ser o pai de seu bebê embora não fora dele. A princípio, tinha acreditado que um matrimônio apoiado na amizade não ia funcionar, mas Brandon lhe tinha assegurado que não necessitavam nada mais. –Seremos felizes, Callie – lhe tinha prometido Brandon–. Muito felizes. E, durante a gravidez, tinha sido o melhor companheiro possível. Baixou a vista e se fixou em sua bolsa do Louis Vuitton. Brandon queria que a vendesse, lhe dizendo que seria ridículo ter algo assim em uma granja. E ela estava de acordo. Eduardo a tinha dado no Natal. Tinha-a emocionado muito com esse detalhe. Surpreendeu-lhe que se deu conta de que ela o olhava 4

cada vez que o via nas cristaleiras. Quando o disse, Eduardo lhe havia assegurado que gostava de recompensar às pessoas que lhe mostravam lealdade. Fechou os olhos e levantou a cara para o céu. Caíram-lhe as primeiras gotas de chuva. Esse ridículo troféu, uma bolsa de três mil dólares, recordava-lhe o duro que tinha trabalhado para essa empresa. Mas sabia que Brandon tinha razão, devia vendê-la. Assim não ficaria nenhuma lembrança do Eduardo nem de Nova Iorque. Esse bebê era quão único que iria conservar desses anos. Estremeceu-se para ouvir um trovão. Também lhe chegavam os sons do tráfico e a sirene distante de um carro de polícia na Sétima Avenida. Ouviu então que lhe aproximava um veículo. Supôs que seria Brandon com o carro de aluguel. Tinha chegado o momento de casar-se com ele e iniciar a viagem de dois dias até o Dakota do Norte. Forçou um sorriso e abriu os olhos. Mas era Eduardo Cruz o que acabava de sair de sua Mercedes escura. Se ficou sem fôlego. –Eduardo – sussurrou ela. Apoiou-se no degrau para levantar-se, mas se deteve. Tinha a esperança de que não se desse conta de que estava grávida. –O que está fazendo aqui? –perguntou-lhe gaguejando. Eduardo lhe aproximou com firmeza e elegância. Sua presença impunha respeito e inclusive temor. Quase podia sentir como tremia o chão sob seus pés. –Sou eu que deveria te fazer essa pergunta a você, Callie. Sua voz era profunda e apenas ficava um pouco de acento de suas origens espanhóis. Foi incrível voltar a escutá-lo. Tinha acreditado que não ia voltar a vê-lo, embora tinha sonhado com ele em mais de uma ocasião. –O que te parece que estou fazendo? –repôs ela enquanto assinalava as malas–. Vou. Odiava que esse homem seguisse tendo tanto efeito sobre ela. –ganhaste. –ganhei? –repetiu Eduardo enquanto lhe aproximava mais–. Está-me acusando de algo? Olhava-a com intensidade. Havia gelo em seus olhos, não pôde evitar estremecer-se. –Não recorda acaso que me despediu e te assegurou além de que ninguém mais me contratasse em Nova Iorque? –recordou-lhe ela. –E? –repôs Eduardo friamente –. McLinn pode cuidar de ti. Depois de tudo, é seu noivo.

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–Sabe do Brandon? –sussurrou um pouco assustada. Pensou que, se sabia o de seu matrimônio, cabia a possibilidade de que soubesse da gravidez. –Quem lhe disse isso? Ele mesmo – repôs Eduardo com um sorriso cínico–. Me contou quando o conheci.



–Conheceste-o? Quando? Onde? Acaso importa? mordeu-se o lábio para ouvir a dureza de suas palavras.



–Mas foi um encontro casual ou… – Suponho que foi um golpe de sorte – a interrompeu Eduardo–. Passei por sua casa e me surpreendeu ver que vivia com seu amante. –Ele não é meu…! –protestou ela sem pensar. –Não é seu o que? Nada, não importa – murmurou ela.



–Gosta ao McLinn viver aqui? –perguntou-lhe em um tom frio–. Sabe que é o piso que aluguei para uma secretária a que em seu momento respeitei? Ela tragou saliva. Tinha estado vivendo em um pequeno estudo de Staten Island para poder economizar e enviar dinheiro a sua família. Mas Eduardo, quando soube, alugou um estupendo piso de um dormitório para ela no centro da cidade. Recordou a alegria que tinha sentido ao sabê-lo. Sentiu então que de verdade lhe importava. Mas depois chegou à conclusão de que o tinha feito para que estivesse mais perto do trabalho e pudesse passar mais horas na empresa. Passou-se toda a semana guardando suas coisas em caixas. Tinha chamado a uma companhia aérea, mas lhe haviam dito que não podia voar estando em tão avançado estado de gestação. –Veio quando eu estava aqui? –perguntou-lhe agora confusa. –Sim, estava na cama – replicou Eduardo com dureza. Lhe fez um nó na garganta. –Ah! –exclamou. Entendeu-o então. Ela tinha estado dormindo em sua habitação e Brandon no sofá. –Não me disse nada. O que é o que queria? Por que veio para ver-me? Eduardo não deixava de olhá-la com seus brilhantes olhos negros. Olhava-a como se não a conhecesse. –por que não me contou que tinha um amante? Por que me mentiu? –Não mentir! – Ocultou-me sua existência. Deixou-lhe que vivesse contigo no apartamento que aluguei para ti e nunca o mencionou. Fez-me acreditar que foi uma pessoa leal. 6

–Dava-me medo lhe dizer isso. - lhe confessou ela–. Tem uma ideia tão radical da lealdade… Assim decidiu me mentir.



–Não, nunca lhe pedi que se devesse viver comigo. Visitou-me por surpresa. Brandon ainda tinha estado vivendo no Dakota do Norte quando o chamou para lhe dizer que seu chefe lhe tinha alugado um apartamento. Ao dia seguinte, recebeu sua visita surpresa. Conforme lhe havia dito então, preocupava-lhe a vida que Callie levava na grande cidade. –Me sentia falta de e ia se ficar sozinho até que conseguisse seu próprio apartamento, mas não pôde encontrar um trabalho e… Um homem de verdade haveria encontrado trabalho para poder manter a sua mulher, em vez de viver de sua indenização por demissão.



–Equivoca-te! –exclamou ofendida–. As coisas não são assim! Durante sua gravidez, Brandon tinha cozinhado e limpado. Esfregava-lhe os pés quando se o inchavam e a acompanhava ao médico. levou-se como se aquele fora seu bebê. –Ao melhor não sabe, mas em Nova Iorque escasseiam os trabalhos para agricultores! – Então, por que veio a esta cidade? E, por que se há ficado aqui? Começou a chover brandamente. As gotas caíam sobre a calçada quente e se evaporavam. –Porque eu queria ficar. Tinha a esperança de encontrar outro trabalho – disse ela. –Mas agora trocaste que opinião e quer ser a esposa de um granjeiro. –O que quer de mim, Eduardo? Vieste sozinho para rir de mim? Claro! Perdoa! Me tinha esquecido comentar lhe repôs fingindo isso inocência–. Sua irmã me chamou esta manhã.



–Chamou-te Sami? –perguntou-lhe com voz tremente–. E, o que te há dito? Esperava que sua irmã não tivesse tido a ousadia de traí-la. –Duas coisas muito interessantes – lhe disse enquanto se aproximava ainda mais a ela–. Está claro que não me mentiu com a primeira. Casa-te hoje. –E? –repôs sem poder deixar de tremer. –Então, reconhece-o? –Tenho posto um vestido de noiva, não posso negá-lo. Mas, a ti que mais te dá? Acaso está molesto porque não te hei convidado? Parece agora nervosa. Está-me escondendo algo, Callie? Algum secreto? Alguma mentira? Sentiu nesse instante uma contração que esticou os músculos de seu ventre. Supôs que não eram contrações de parto, a não ser contrações Braxton-Hicks. Tinha-lhe passado o mesmo uns dias antes e tinha ido direto ao hospital, mas as enfermeiras a tinham mandado de volta para casa.

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Embora a contração que estava sentindo nesse momento era mais dolorosa. levou-se uma mão ao ventre e outra à costas. –Não oculto nada – lhe disse quando se recuperou um pouco. –Sei que é uma mentirosa. O que não sei ainda é até onde está disposta a chegar. –Por favor – sussurrou ela–. Não o jogue tudo a perder. –O que é o que poderia estragar? –Meu-meu… O dia de minhas bodas. –Claro, suas bodas. Sei que estava acostumado a sonhar com ela– lhe recordou Eduardo–. É assim como imaginou? O vestido ficava grande, o sutiã o adornava um encaixe barato e o tecido era uma mescla de poliéster. Olhou então suas flores murchas e as duas velhas malas que tinha detrás dela. –Sim – mentiu ela em voz baixa. –Onde está sua família? Onde estão seus amigos? –quis saber Eduardo. –Casamo-nos na Prefeitura – lhe disse ela levantando o queixo desafiante–. Foi algo espontâneo. Assim é muito mais romântico. –Claro, não te importa como seja as bodas e quão único terá McLinn em mente será a lua de mel – comentou ele com incredulidade. Mas não ia haver lua de mel. Para ela, Brandon era como um irmão. Mas não podia admitir ante o Eduardo que apenas tinha amado a um homem. –Minha lua de mel não é de sua incumbência –repôs então. –Bom, suponho que isto te parecerá romântico. Vais casar te com seu amado e não te importa levar um vestido tão feio nem que se estejam murchando as flores de seu ramo. Quer te casar com ele embora não seja um homem de verdade. –Seja rico ou pobre, Brandon é muito mais homem do que poderá chegar a sê-lo você! Os olhos do Eduardo a atravessaram. Logo que podia respirar quando a olhava assim. – Te levante! –ordenou-lhe então. –O que? –Sua irmã me disse duas coisas. A primeira era verdade. Começou a chover com mais força nesse momento. –Te levante – repetiu ele com impaciência. –Não! Já não sou sua secretária nem sua amante. Não tem poder sobre mim. –Está grávida? –perguntou-lhe enquanto lhe aproximava ainda mais–. É meu o bebê? Ficou sem fôlego ao ver que sabia. Não podia acreditá-lo. Sua irmã a tinha traído e o havia dito tudo a Eduardo. Sabia que Sami estava zangada, mas nunca a teria acreditado capaz de algo assim. Tinha falado com ela no dia anterior. Nesse momento, tinha estado o bastante nervosa e assustada, com a sensação de estar a ponto de cometer o pior engano de sua vida, e decidiu lhe contar seu plano. Zangou-se muito e a acusou de estar enganando ao Brandon para que se casasse com ela e exercesse de pai de seu bebê. Sami acreditava que, embora seu ex-chefe fora um cretino, merecia saber que ia a ter um filho. Tinha-lhe surpresa ver que sua própria irmã pensava que estava sendo egoísta e que suas decisões foram afetar a muitas pessoas. 8

–Está-o? –insistiu Eduardo com mais dureza em sua voz. Sentiu nesse instante outra forte contração. Tratou de usar a respiração para controlar a dor até que passasse, mas não lhe serviu de nada, doía-lhe muito. –Muito bem. Não responda – disse Eduardo com frieza–. De todos os modos, não acreditaria-me nenhuma palavra que saísse de sua boca, mas seu corpo… – acrescentou enquanto lhe acariciava a bochecha e ela tratava de ignorar a corrente elétrica que sentiu por todo o corpo–. Seu corpo não mente. Eduardo lhe tirou o buquê de flores e o atirou ao chão. Tomou suas mãos e segurou elas para levantá-la. Ficou de pé frente a ele, tremendo e sentindo-se mais vulnerável que nunca. –Assim é certo, está grávida. Quem é o pai? –O que? –balbuciou confusa. –É McLinn ou o sou eu? – Como pode insinuar…? –gaguejou ela ruborizando-se–. Sabe que eu era virgem quando… – Isso me disse, mas suponho que também isso era um engano. Ao melhor, estava esperando a te casar e, depois de fazer o amor comigo, foi a casa de seu noivo e o seduziu para te cobrir as costas e ter um álibi se acabava ficando grávida. –Como pode dizer isso? Crie-me capaz de um pouco tão repugnante? –o perguntou doída. –O menino é meu ou do McLinn? –insistiu com impaciência–. Ou é que não sabe? Por que está tratando de me fazer mal? –repôs ela–. Brandon é meu amigo, apenas. –Estiveste vivendo com ele durante um ano. Esperas que me cria que há dormido no sofá? Não, estivemo-nos alternando! –Não me minta mais, ele aceitou a te casar contigo! –Sim, mas só porque é um homem muito bom.

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–Claro – repôs Eduardo em tom zombador–. Por isso se casam os homens, por bondade. Separou-se dele. Custava-lhe respirar e tinha o coração na garganta. –Meus pais não sabem que estou grávida. Acreditam que volto para casa porque não encontro trabalho aqui – lhe explicou com os olhos cheios de lágrimas–. Não posso me apresentar grávida e solteira, nunca me perdoariam isso. E Brandon é o melhor homem que conheci, vai a… Não quero saber nada dele e tampouco me importa sua vida! –interrompeu-a Eduardo–. É meu? Por favor, me deixe, não me pergunte mais –sussurrou ela–. Não quer sabê-lo. Deixa que lhe dê um lar, quero cuidar dela e que tenha uma família.

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–Ela? –repetiu Eduardo em voz baixa. –Sim, é uma menina, mas que mais te dá? Não quer ter nada comigo, me deixou muito claro. Esquece que me conheceu e… – Ficou louca? –grunhiu ele agarrando-a pelos ombros–. Não permitirei que outro homem crie a uma menina que poderia ser minha filha! Quando sai de contas? Soou de repente um trovão. O céu estava repleto de nuvens negras. Sentia-se entre a espada e a parede, a ponto de fazer algo que podia trocá-lo tudo para sempre. Se lhe dizia a verdade, sua filha não ia ter a mesma infância feliz que havia tido ela, vivendo no campo, jogando no celeiro de seu pai e sabendo que todos a conheciam e apreciavam em seu pequeno povo. Não queria que a menina tivesse uns pais que não se suportavam. Eduardo era tirânico e egoísta, mas não podia lhe mentir em um assunto tão importante. 9

–Saio de contas em dezessete de setembro. Eduardo ficou olhando-a fixamente. –Se existir uma mínima possibilidade de que McLinn seja o pai, diga-me isso agora, antes da prova de paternidade. Se me memore em algo assim, pagará por isso. Entende-o? ficou sem respiração. Sabia que seu ex-chefe podia chegar a ser muito cruel. –Não esperaria outra coisa de ti – sussurrou ela. –Destruirei a ti, arruinarei a seus pais e sobre tudo ao McLinn. Está-me escutando? –insistiu cheio de fúria–. Assim mede suas palavras e me diga a verdade. Sou o…? –É obvio! –explorou ela sem poder aguenta-lo mais–. É obvio que é o pai! Você é o único homem com o que me deitei. Eduardo deu um passo atrás e ficou olhando-a fixamente. –Como? Que sigo sendo o único? Pretende que eu acredite nisso? –Por que ia mentir para você? Acredita que eu gosto da ideia de que o bebê seja teu? –replicou ela–. Teria gostado que Brandon fosse o pai. É o melhor homem do mundo e confio plenamente nele. Você, em troca, é um mulherengo viciado no trabalho que não se confia em ninguém e que nem sequer tem amigos de verdade… Se calou ao sentir que Eduardo apertava com mais força seus ombros. –Não iria me dizer sobre o bebê, verdade? –sussurrou ele–. Iria me roubar a minha própria filha e permitir que outro homem fosse seu pai. Queria me arruinar a vida! Sentiu medo ao vê-lo tão fora de si, mas o olhou nos olhos. –Sim! Sabia que estaria melhor sem você! Ficaram olhando-se em silêncio, como dois inimigos a ponto de bater-se em duelo. Durante oito meses, convenceu-se de que Eduardo não queria ser pai. Adorava sua vida de solteiro e seu trabalho. Um menino lhe impediria de seguir com sua vida e acreditava que não poderia ser um bom pai. Mas uma parte dela sempre tinha sabido que não era certo. Eduardo tinha sido um menino órfão que tinha tido que sair aos dez anos de seu país a Espanha natal para viver em Nova Iorque. Sabia que Eduardo Cruz queria ser pai, de quem podia prescindir facilmente era dela, não de um filho ou uma filha. Acreditava que isso era o que lhe tinha assustado. Era um homem rico e poderoso que podia levá-la aos tribunais e conseguir a custódia de sua filha. – Você deveria ter me dito assim que soube que estava grávida. –Como ia fazer o? Despediu-me e não soube nada de ti até agora. –É preparada. Se o tivesse querido, teria encontrado a forma de te pôr em contato comigo. Sentiu outra dolorosa contração. –O que vais fazer agora que te hei dito a verdade? –perguntou-lhe assustada. Eduardo lhe sorriu com frieza, alargou para ela a mão e acariciou sua bochecha. A pesar de tudo, não pôde evitar sentir uma quebra de onda de desejo percorrendo seu traiçoeiro corpo. –Agora que sei, vais pagar pelo que me tem feito, querida – lhe disse em voz baixa. 10

Callie o olhou fixamente, não podia respirar nem pensar quando ele a tocava. Se sentia apanhada. Suspirou aliviada ao ver que chegava Brandon com o carro de aluguel. Eduardo se girou para ver quem era e sussurrou algo em espanhol. Depois, agachou-se para recolher sua bolsa. Antes de que pudesse lhe perguntar o que estava fazendo, agarrou seu braço e atirou dela. –Veem comigo – lhe ordenou. Abriu a porta de seu elegante carro negro e pediu a seu chofer que pusesse em marcha o motor. Ao dar-se conta do que estava fazendo, tratou de liberar-se e apartar-se dele. –Me solte agora mesmo! Mas a mão do Eduardo parecia de aço. A obrigou a sentar-se na parte de atrás e subiu ao carro, sentando-se a seu lado. Olhou-a então aos olhos. –Não vou deixar que volte a escapar com meu bebê. Apesar das circunstâncias, envolveu-a o aroma de sua colônia. Afligia-lhe sua presença. Tinha imaginado situações parecidas durante os anos que tinha estado trabalhando para ele e, muito a seu pesar, seguia sonhando muitas noites com ele. O coração lhe pulsava com força. –Vamos – lhe disse Eduardo a seu chofer. –Não! – replicou ela enquanto olhava para trás. Viu então ao Brandon. Estava de pé junto ao carro de aluguel. Parecia angustiado. –Me deixe voltar, por favor – lhe suplicou entre soluços. –Não – repôs ele com dureza. –Isto é um sequestro! –Chama-o como quiser. –Não pode me manter assim, contra minha vontade! Não posso? –replicou Eduardo–. Ficará comigo até que esclareçamos o tema do bebê.



–Então, sou sua prisioneira? –Ao menos até que meus direitos paternos fiquem formalizados. Esfregou-se a barriga para tratar de controlar a dor de outra contração. –Não posso acreditar que me enganasse como o fez – prosseguiu Eduardo–. Pensei que foi uma pessoa leal, mas já aprendi a lição. –Que lição? Assim que me deitei contigo, passei de ser sua secretária de confiança a uma de tantas garotas que desprezava cada noite. Depois de tudo o que tínhamos passado juntos, como pôde me tratar igual às demais? Por que te deitou comigo? –Estava no lugar apropriado no momento adequado, nada mais – repôs Eduardo. 11

Suas palavras despedaçaram ainda mais seu coração. Tinha estado muito apaixonada por ele e, quando lhe entregou sua virgindade aquela noite, havia pensado que também ele a amava. –Todas as mulheres acreditam que podem me mudar para que deixe de ser um mulherengo. –Suponho que nunca poderá confiar em ninguém o suficiente como para que lhe dar importância de verdade. Desfaz-te das mulheres assim que consegue seu minuto de prazer. –Algo mais de um minuto, se não recordar mal – sussurrou ele com sarcasmo–. O há esquecido? Olharam-se aos olhos e sentiu que se ruborizava. Por desgraça para ela, recordava cada detalhe dessa noite tão apaixonada e sensual. Eduardo tinha acariciado seu inexperiente corpo, tinha-lhe tirado a roupa e beijado cada centímetro de sua pele, tinha-a feito gemer de prazer, gritando seu nome enquanto ele lambia seus seios e a beijava por todo o corpo. Não podia esquecê-lo. –Não sei como pude permitir que me seduzisse – murmurou zangada consigo mesma. –Acredita que eu te seduzi? –repôs Eduardo com meio sorriso–. Não foi assim. Se jogou em meus braços assim que te toquei. Mas, se assim tiver mais tranquila a consciência, chama-o «sedução». –É um…! –começou ela com indignação. –Pode me insultar tudo o que queira – a interrompeu Eduardo–. Suponho que não faria muita graça ao McLinn saber o que tinha passado. Parece-me incrível que estivesse disposto a casar-se contigo quando está grávida de outro homem. Deve estar loucamente apaixonado. –Não está apaixonado por mim! É meu melhor amigo, nada mais – insistiu ela. –Suponho que se sentiria muito culpado – lhe disse enquanto tomava entre seus dedos uma mecha de sua juba castanha–. Teria remorsos ao jogar a perder essa casta e aborrecida relação de tantos anos por uma só noite de pura paixão e luxúria comigo. Separou-se dele para que deixasse de tocá-la. –É tão vaidoso que pensa que… – Sabe por que te tratei como ao resto? –perguntou-lhe Eduardo–. Porque é como as demais. –Odeio-te! Ele soltou uma gargalhada para ouvi-lo, mas seus olhos eram frios como o gelo. –Por fim encontramos algo no que estamos de acordo. Deixou que caíssem livremente as lágrimas que tinha estado contendo. Se deu por vencida. –Só queria que meu bebê tivesse um bom lar – sussurrou–. Mas agora vai a ver-se apanhada entre uma mãe e um pai que se odeiam e que nem sequer estão casados. A gente pode chegar a ser muito cruel. Dirão a ela que é ilegítima, uma filha bastarda… – Como? –replicou Eduardo enquanto a olhava com incredulidade. –Sentirá que seu nascimento não foi um acontecimento feliz, a não ser uma espécie de acidente. Quando, em realidade, nós somos os únicos culpados – lhe disse chorando–. Não quero que sofra. Por favor, Eduardo, deixa que me case com Brandon pelo bem da menina. Ele a olhou durante vários minutos sem dizer nada. Tinha os lábios apertados em uma fina linha. 12

De repente, inclinou-se para diante para lhe dizer algo em espanhol ao chofer. Depois, tirou seu celular e falou com alguém no mesmo idioma. O fazia com muita rapidez para que ela pudesse entender sequer do que estavam falando. Esperava que suas últimas palavras o tivessem convencido. O olhou de esguelha. Seguia sendo tão atrativo como o recordava. Quando terminou de falar, Eduardo a olhou. Havia determinação em seus olhos escuros. –Tenho boas notícias para você, querida. Depois de tudo, você casar hoje. –Vais me levar de volta para o Brandon? –perguntou-lhe aliviada. –Acredita que deixaria que o fizesse? –Mas acaba de dizer… – Sei o que hei dito e é verdade. Você vai casar hoje – lhe disse Eduardo com um sorriso tão frio como o gelo–. Comigo.

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Capítulo 2. CALLIE ficou sem fôlego para ouvi-lo. Parecia-lhe surrealista casar-se com Eduardo. Era o pai de seu bebê, mas também seu ex-chefe, o homem ao que mais desprezava nesse mundo. Olhou-o fixamente, esperando que se explicasse. –Não entendo a brincadeira – lhe disse. –Não é nenhuma brincadeira. –É obvio que o é! Eduardo tomou sua mão esquerda e olhou seu anel de compromisso. Tinha um diamante microscópico. –Não, Callie, este anel sim que é uma brincadeira. –O anel é um símbolo de fidelidade, não sente saudades que você não goste. –Terá um de verdade. –Não me penso casar! – Claro, me esqueceu que foi uma romântica. Terei que fazer as coisas bem – lhe disse com ironia. Ficou horrorizada ao ver que tomava sua mão e ficava de joelhos no carro. –Querida, querida minha, faria-me a grande honra de te converter em minha esposa? Embora estava furiosa, sentiu uma quebra de onda de calor por todo seu corpo e se o acelerou o pulso. –Me deixe em paz! –exclamou enquanto apartava suas mãos. –Tomarei isso como um sim – repôs ele. A chuva repicava sobre o teto do carro e os rodeavam as buzinas de outros veículos e o ruído da cidade. Acabava de dar-se conta de que Eduardo lhe falava a sério, queria casar-se com ela. –Mas você não te quer casar! O há dito a todas as mulheres com as que estiveste! Sempre tive a intenção de me casar com a mãe de meus filhos.



–Sim, mas sua ideia tinha sido te casar com essa rica duquesa espanhola. –Os planos trocam – repôs Eduardo–. Está grávida de mim e temos que nos casar. Disse-o como se fora um castigo para ele e lhe doeu. Levantou o queixo com orgulho. –Vá, obrigado – lhe disse com sarcasmo–. Estou comovida. Faz cinco minutos, acusou-me de não saber quem era o pai e me chamou «mentirosa». E agora quer te casar comigo? –Dei-me conta de que nem sequer alguém como você me mentiria em algo assim. Ficou-me muito claro que a verdade lhe repugna. –É certo, é sua filha, mas não penso me converter em sua esposa. –Que estranho! Quando te encontrei frente a sua casa estava disposta a te casar. –Com o Brandon! Alguém a quem quero muito e em quem confio plenamente. –Não quero ouvir falar mais dele – repôs Eduardo um pouco aborrecido–. Seu amor lhe cega. –Não é um homem rico, mas é bom e seria um pai maravilhoso. Muito melhor que… ficou calada quando sentiu uma dolorosa contração que arqueou todo seu corpo.

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–É muito melhor que eu? –terminou Eduardo por ela–. Eu não sou o suficientemente bom para ser pai. Essa foi sua desculpa para me mentir e te casar com seu amante. –Não é meu amante! – Ao melhor não o é fisicamente, mas o ama e estavam a ponto de me roubar a minha filha. Como pode me acusar de ser desumano, de não ter coração? –perguntou-lhe com desprezo. Callie conteve a respiração quando sentiu uma nova dor no ventre. Faltavam duas semanas e meia para que saísse de contas, mas começava a dar-se conta de que essas contrações eram muito seguidas e fortes, não se pareciam com as Braxton-Hicks da semana anterior. Lhe passou pela cabeça que pudesse estar de parto, mas não lhe parecia possível. Respirou profundamente para acalmar-se. Acreditava que estava assim por culpa do estresse do momento. Ficou de lado no assento para tratar de encontrar uma postura mais cômoda que lhe aliviasse a dor aguda que sentia na parte baixa da costas. –Não quer a este bebê nem quer uma esposa. É o orgulho masculino o que leva-te a… – É nisso que acredita? – Sim, não quer te casar comigo. Acaba de saber o do bebê e não tiveste tempo para pensar no que significa ter um filho e criá-lo. Uma família implica muitas mudanças e sacrifícios. –Acredita que não sei como se sente um menino que se vê abandonado por seus pais, só e sem casa? Callie fechou a boca de repente. Deu-se conta de que Eduardo sabia perfeitamente. –Eu poderia lhe dar a nosso bebê um lar maravilhoso – sussurrou ela. –Sei que o fará – repôs ele –. Sei por que sou seu pai e lhe darei esse lar. Deu-se conta de que não havia forma de ganhar essa guerra. Eduardo não ia renunciar a seus direitos como pai. –Então, o que deveríamos fazer? –perguntou ela completamente perdida e desolada. – Já lhe disse, vamos nos casar. –Mas não posso ser sua esposa – lhe disse com voz tremente–. Não... Não te amo. –Ótimo esse santo do McLinn pode ficar com todo seu amor. Me basta com seu corpo e seu voto de fidelidade. –De verdade quer te casar comigo? Apesar de tudo, não podia esquecer tantos sonhos românticos dos que Eduardo tinha sido o protagonista. Se tinha imaginado muitas vezes que ele a tomava em seus braços e lhe dizia que tinha cometido o pior engano de sua vida deixando-a partir. –Para sempre? Eduardo se pôs-se a rir. Era um som cruel, quase desagradável. –Me casar contigo para sempre? Não. Não quero que minha vida seja um inferno nem estar encadeado a uma mulher em que nunca poderia confiar. Nosso matrimônio durará o tempo suficiente para dar a nossa filha um sobrenome. –Entendo… – sussurrou ela com o cenho franzido–. Como um matrimônio de conveniência? Chama-o como quiser. Começou a considerar a possibilidade um pouco mais seriamente pelo bem da menina.



–Então, seria durante uma semana ou duas? – Digamos três meses. O suficiente como para que pareça um matrimônio de verdade. Além disso, será muito mais singelo para todos que vivamos na mesma casa durante os primeiros meses do bebê. 15

–Mas, onde viveríamos? Já terminou meu contrato de aluguel e você vendeu a casa que tinha no Village. –Acabo de comprar um apartamento no Upper West Sede – lhe respondeu Eduardo. Não podia acreditá-lo. –Decidiu retornar a Nova Iorque porque pensava que já não vivia aqui, verdade? –Comprei-o como um investimento. Mas sim, acertaste. –Isto não vai funcionar – lhe disse ela com o coração na garganta. –Terá que funcionar. Respirou profundamente. Não sabia se seria algo bom para seu bebê, como assegurava Eduardo, ou se a convivência pioraria ainda mais sua relação. –Mas, e se acabar tudo com um divórcio complicado, cheio de acusações e brigas? Isso não beneficiaria a ninguém e seria pior ainda para meu bebê. –Nosso bebê – a corrigiu Eduardo–. Acordaremos os términos do divórcio em o acordo pré-nupcial. Assim, saberemos desde o começo como vai terminar tudo. –Vamos planejar nosso divórcio antes de nos casar? Parece-me muito triste… Não é triste. É uma solução civilizada e o melhor que podemos fazer. E, como não há amor, não haverá nenhum tipo de ressentimento quando nos separemos. Seriam três meses. Callie tratou de imaginar como seria viver na casa de Eduardo. Já não era a menina ingênua e confiada que se apaixonou por ele, mas sabia que ainda tinha poder sobre ela. Seu traidor corpo seguia desejando-o embora sabia que não era bom para ela. –E se me nego? –sussurrou–. Poderia sair do carro, parar um táxi e voltar com Brandon. –Se for tão egoísta para antepor o desejo de estar com seu amante por em cima dos interesses de nossa filha, não terei mais remedeio que questionar suas aptidões como mãe e pedir ante um juiz a custódia completa. Tenho dinheiro e o melhor despacho de advogados da cidade a minha disposição. Perderia. Sentiu outra contração e essa vez a dor foi tão profundo e durou tanto que fechou os olhos enquanto tratava de controlar a respiração. –Acaso me está ameaçando? –perguntou-lhe ela. –Não, só te digo como vão ser as coisas se te negar. –Já chegamos, senhor – anunciou o condutor enquanto estacionava. Callie olhou pela janela e viu que estavam frente aos tribunais. Tinha estado ali no dia anterior para pedir uma licença de matrimônio. Parecia-lhe uma loucura abandonar o seu melhor amigo para casar-se com o Eduardo. Mas se se negava, podia perder a sua filha para sempre. –Então… Depois do divórcio, compartilharemos a custódia? – Se me demonstra que nossa filha te importa mais que seu amante e que é boa mãe, seguro que poderemos chegar a um 16

acordo – lhe disse Eduardo com um frio sorriso–. Tem trinta segundos para te decidir – acrescentou com mais dureza enquanto o chofer lhes abria a porta. Ficou olhando-o com as mãos sobre o ventre. O que mais lhe importava era proteger a sua pequena. Nunca se havia sentido tão apanhada nem tão zangada. –Suponho que não tenho outra opção – sussurrou com voz tremente. –Já sabia eu que entraria em razão – repôs Eduardo com ironia enquanto saía do carro e lhe oferecia a mão–. Vamos, minha prometida, esperam-nos – acrescentou. Dava-lhe medo tocá-lo, mas não ficou mais remedeio que fazê-lo. Tinha uma mão grande e cálida que envolveu por completo a dela. Recordou então quando havia meio doido pela primeira vez essa mão. O diretor geral de Petróleos Cruz estava visitando as jazidas de Bakken, no Dakota do Norte. Callie trabalhava como representante local da empresa. Apresentaram-nos assim que Eduardo desceu de seu helicóptero e o impressionou muito sua presença e seu elegante traje negro. –Hão-me dito que dirige o escritório local e que faz o trabalho de quatro pessoas –lhe havia dito Eduardo com um sorriso que iluminou seu atrativo rosto–. Me viria muito bem uma ajudante como você em Nova Iorque. Tinha-a deslumbrado por completo com seu olhar e com o calor de sua mão. Acreditava que o tinha amado desde esse primeiro momento, mas tudo havia mudado após. Eduardo não parecia o mesmo. Seu rosto refletia mais dureza e logo que sorria. Havia mais enruga em torno de seus olhos. Aos trinta e seis anos, era ainda mais desumano e capitalista do que recordava. Sua beleza masculina era impressionante. Olhou seus olhos negros e se tornou a tremer. Sabia que não lhe resultaria difícil cair de novo em seu feitiço. –Será minha, Callie. Só minha –lhe disse enquanto colocava uma de suas mechas depois de sua orelha. Não pôde evitar estremecer-se ao sentir o contato. Não podia mover-se, estava perdida em seu olhar e nas lembranças. Durante anos, tinha vivido para ele, só para ele. Alguém tossiu atrás dela e rompeu o feitiço. deu-se a volta e viu o Juan Bleekman, o advogado com o que estava acostumado a trabalhar Eduardo. –Olá, senhorita Woodville –a saudou em um tom completamente inexpressivo. –Olá… –gaguejou ela enquanto se perguntava o que faria ali. –Tenho-o tudo, senhor Cruz –lhe disse o advogado a seu ex-chefe enquanto o entregava um papel. Eduardo o abriu e leu por cima os documentos durante vários minutos. –Bem –repôs depois enquanto os entregava ao Callie–. Assina-o. –O que é isso? –perguntou-lhe ela. –Nosso acordo pré-nupcial –lhe respondeu Eduardo. –O que? Como pode estar já preparado? –Pedi ao Bleekman que começasse a elaborá-lo assim que falei com sua irmã esta manhã. –Mas então nem sequer sabia se era verdade o do bebê. Como podia estar pensando já em te casar comigo? –protestou Callie. –Eu gosto de estar preparado. –Sim –repôs ela franzindo o cenho–. Para te assegurar de que vais sair te com a tua. 17

–O único que me interessa é mitigar os riscos –lhe disse Eduardo–. Assina já. Callie revisou o acordo pré-nupcial. Começou a ler o primeiro parágrafo. Calculou que ia demorar ao menos uma hora em lê-lo tudo. Não sabia o que fazer. Viu a quantidade de dinheiro que Eduardo ia lhe dar como pensão alimentícia e manutenção de sua filha. –Está louco? Não quero seu dinheiro! Minha filha vai crescer em um lar seguro e cômodo. Não quero que o dinheiro seja uma preocupação –comentou Eduardo com impaciência–. É que pensa ler cada palavra? É obvio que sim –repôs ela com firmeza–. Te conheço, Eduardo. Sei como… Não pôde terminar de falar, se o impediu a forte dor de outra contração. Cada vez eram mais fortes. Foi então quando se deu conta de que estava de parto. O bebê estava em caminho. Pôs uma mão sobre seu ventre e exalou muito devagar. –O que te passa? –perguntou-lhe Eduardo. Sua voz tinha trocado e a olhava com preocupação. Seus olhos voltavam a ser quentes, tal e como os recordava. O coração lhe deu um tombo no peito ao vê-lo assim. Podia suportar sua frieza e inclusive suas cruéis palavras, mas não seu preocupação nem sua bondade. Tinha um nó na garganta e lhe custava conter as lágrimas. –Nada –mentiu ela–. Apenas quero terminar com isto quanto antes. Tomou a caneta e rabiscou sua assinatura em todas as páginas do acordo. O devolveu então os papéis e tratou de concentrar-se em sua respiração. Tinha que inalar e exalar, inalar e exalar… Tentou que a dor fluíra sem lutar contra ele nem esticar os músculos, mas era impossível. deu-se conta então de que as classes de preparação ao parto eram inúteis, não foram a servir para nada. –Não o tem lido –lhe disse Eduardo um pouco desconcertado–. Não é próprio de você. Estavam em meio da cidade mais buliçosa do mundo, mas não podia ouvir nem ver nada. –Callie, o que é o que te passa? –insistiu Eduardo enquanto lhe tocava o ombro. Tinha tantas dores que não podia falar. –Que te odeio, isso é o que me passa –replicou ela de má maneira. separou-se dele tudo o que pôde. sentiu-se algo melhor quando passou a contração. –Acabemos com esta paródia de bodas de uma vez por todas –lhe disse ela indo para as escadas dos tribunais. –Está bem –repôs ele seguindo-a. Já não parecia preocupado. Lhe adiantou para abrir a porta e viu que seu olhar voltava a ser duro e frio outra vez. alegrou-se. Não podia suportar sua ternura, nem em seus olhos nem em sua voz. Tremiam-lhe as pernas, mas recordou que só seriam três meses. Depois, seria livre. Vinte e dois minutos mais tarde, saíram Eduardo, o advogado e ela com a licença. Sabia com exatidão porque tinha começado a cronometrar seus contrações com o relógio. 18

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–Organizei-o tudo para que nos casemos hoje mesmo em minha casa –lhe disse Eduardo com frieza enquanto lhe abria a porta do carro. Não pôde entrar, o impediu outra forte contração. Ofegando, agarrou o braço do Eduardo. –Não acredito que possa –sussurrou ela. –É muito tarde para que te jogue atrás. –Acredito que… Acredito que estou de parto… – Está de parto? –repetiu enquanto a olhava aos olhos. Callie assentiu com a cabeça. A dor era insuportável, as pernas não a sustentavam… Mas os fortes braços do Eduardo impediram que caísse ao chão. Foi tão agradável sentir-se segura contra seu peito que lhe entraram ganha de tornar-se a chorar. –Quanto tempo leva assim? –perguntou-lhe ele. –Todo Isso dia acredito… – Pelo amor de Deus, Callie! –exclamou zangado–. por que tem que escondê-lo tudo? Doía-lhe muito para responder. –Sánchez! –gritou Eduardo ao seu chofer–. me Ajude! Colocaram-na entre os dois no assento traseiro. Eduardo tomou suas mãos entre as dele. –A que hospital, Callie? Como se chama seu médico? –perguntou-lhe com urgência. O disse e Eduardo repetiu a informação a seu condutor, lhe ordenando que fosse muito depressa. –Não se preocupe, querida –lhe disse enquanto lhe acariciava o cabelo–. Chegamos em seguida. Mas Callie não era consciente de nada, só de sua dor. O chofer voou pelas ruas de Nova Iorque, tomando depressa as curvas e tocando a buzina de vez em quando. Quando se deteve, a porta do carro se abriu de repente e Eduardo gritou a alguém que sua mulher necessitava ajuda. –Ainda não sou sua mulher –sussurrou ela enquanto a metiam no hospital. Uma enfermeira a levou a uma sala para examiná-la e lhe pôr uma camisola do hospital. Eduardo esperava no corredor, gritando como um louco a alguém ao outro lado do telefone. –Já dilataste seis centímetros –lhe disse surpreendida a enfermeira–. Já vem o bebê. vamos chamar a seu médico e te levar a sua habitação. É muito tarde já para te pôr anestesia. –Não importa, só quero que meu bebê esteja bem. Começou outra contração enquanto a levavam a sua habitação, cada uma era pior que a anterior. levantou-se da cadeira para ir a sua cama e sentiu de repente náuseas. Eduardo lhe aproximou rapidamente, tomou o cesto de papéis e a colocou frente a ela bem a tempo. Quando passou a dor, sentou-se na cama do hospital e se pôs-se a chorar. Estava assim pela dor, por medo e por ter que ver-se nessa situação tão vulnerável frente a Eduardo Cruz. –Ajude-a! –gritou-lhe ele à enfermeira–. Tem muitas dores. –Sinto-o –repôs a mulher com um sorriso pormenorizado–. Não há tempo para anestesia. Mas não se preocupe, o médico já vem para… o Eduardo 19

amaldiçoou entre dentes, foi até a porta e apareceu ao corredor pela terceira vez. –Graças a Deus! –exclamou Eduardo pouco depois–. por que demoraste tanto? Entrou então na habitação com um senhor de certa idade e amável sorriso. –Este não é meu doutor! –exclamou ela. Eduardo lhe aproximou e se ajoelhou junto à cama. –Sei. Vem para nos casar, Callie –lhe explicou ele. –Agora? –exclamou com impaciência. –Acaso é mau momento? –repôs Eduardo com meia sorriso enquanto o separava-me da cara seu cabelo empapado em suor–. Está ocupada? –Está autorizado para casar às pessoas? –perguntou-lhe com suspeita ao homem. –É um dos juízes da Corte Suprema de Nova Iorque, Callie – repôs Eduardo renda-se. –Mas, não terá que esperar vinte e quatro horas depois de conseguir a licença? Já o arrumou todo –lhe disse seu prometido. –Sempre te sai com a tua, não? –queixou-se ela.



Eduardo se inclinou sobre a cama do hospital e lhe beijou sua frente suarenta. –Não –lhe disse em voz baixa–. Mas esta vez sim –acrescentou olhando ao juiz–. Estamos preparados. –O doutor chegará em qualquer momento –lhes advertiu a enfermeira. –Então, farei a versão rápida –repôs o juiz enquanto lhe piscava os olhos para gordinha enfermeira–. Quer ser testemunha das bodas? – De acordo –repôs a mulher com certo rubor–. Mas que seja rápido. –Muito bem. Estamos reunidos aqui, nesta habitação do hospital para casar a este homem e a esta mulher. Eduardo Jorge Cruz, aceita a…? Como lhe chamas, querida? – Calliope –respondeu Eduardo com impaciência–. Calliope Marlena Woodville. –Sério? Sinto muito, querida. –Era o nome da protagonista na telenovela favorita de minha mãe – explicou ela. –Agora o entendo –repôs o juiz–. Eduardo Jorge Cruz, aceita ao Calliope Marlena Woodville como sua legítima esposa? –Sim, aceito-a –respondeu Eduardo. Callie sentiu outra contração e se agarrou à camisa do Eduardo. –Date pressa, por favor! –espetou-lhe seu prometido ao juiz com maus modos. –Calliope Woodville, promete amar ao Eduardo Jorge Cruz até que a morte lhes separe? Eduardo a olhou com seus olhos escuros. Sempre havia sonhado com esse momento e estava acontecendo de verdade, mas sabia que tudo era mentira. –Callie? –sussurrou-lhe Eduardo para que respondesse. –Sim –respondeu ela com voz tremente. Eduardo suspirou aliviado, como se tivesse temido que ela se negasse. –Bom, vejo que sua noiva já tem o anel posto –comentou o juiz franzindo o cenho–. Me surpreende que lhe tenha agradável um diamante tão pequeno, Eduardo. Deu-se conta então de que ainda levava o anel de compromisso de Brandon. Horrorizada, tratou de tirar-lhe mas tinha o dedo inchado e não pôde. –Sinto muito, me esquece… Sem dizer uma palavra, Eduardo conseguiu lhe tirar o anel e o atirou ao lixo. 20

–Comprarei-te um anel –lhe disse com firmeza–. Um digno de minha esposa. –Não te incomode –repôs ela com um débil sorriso–. Nosso matrimônio será tão breve que em realidade não importa. Felizmente, o juiz não entendeu suas palavras. –Bom, meninos, deixaremos de lado a parte do anel e saltaremos ao final – interveio o juiz com jovialidade–. Lhes declaro marido e mulher. Eduardo, pode beijar à noiva. Callie ficou sem fôlego para ouvi-lo, tinha esquecido essa parte. Eduardo se voltou para ela e seus olhos se encontraram. Pouco a pouco, inclinou-se para ela e lhe esqueceram todas as dores. Notou que duvidava um segundo quando se viu um par de centímetros de sua boca. Podia sentir o calor de seu fôlego contra a pele. Beijou-a então e sentiu um calafrio por todo seu corpo. Seus lábios eram quentes e suaves. Durou sozinho um instante, mas quando Eduardo se apartou, ela se ficou tremendo. –Bom, parabéns, meninos –lhes disse o juiz–. Já estão casados. Não podia acreditá-lo. casou-se com o Eduardo, era sua esposa. Embora não podia esquecer que só seriam três meses, o acordo pré-nupcial o deixava muito claro. esticou-se quando sentiu o golpe de outra contração. Era uma dor insuportável. Abriu a boca e reprimiu um grito ao ver entrar em seu médico. Jogou uma olhada aos monitores que tinha conectados ao ventre e a examinou. Depois, dedicou-lhe um sorriso. –Para ser a primeira vez, te dá muito bem, Callie. É hora de empurrar –lhe disse. Assustada, procurou a mão do Eduardo e o olhou com olhos suplicantes. –Callie, estou aqui –lhe recordou enquanto tomava suas mãos–. Não vou a nenhuma parte. Gemendo, concentrou-se em seus olhos negros e se deixou levar por eles. Começou a empurrar quando o indicou o médico. Nunca havia sentido tanta dor. agarrou-se às mãos de seu flamejante marido com todas suas forças, mas Eduardo não se alterou e não se separou dela. Estavam rodeados de enfermeiras que não paravam de mover-se, mas ela só tinha olhos para ele. Eduardo era seu ponto focal. Não deixou de olhá-lo e ele tampouco fez-o. E ao final, a dor valeu a pena quando lhe colocaram em seus braços uma preciosa e sã menina de três quilogramas de peso. Olhou-a assombrada, era sua filha. Era o peso mais doce que tinha sentido sobre seu peito. Abraçou-a e a menina a olhou piscando. Inclinando-se por volta das duas, Eduardo beijou sua frente suarenta e depois a cabeça do bebê. Foi um momento perfeito, estavam alheios ao pessoal médico que seguia trabalhando a seu redor. –Obrigado, Callie, pelo presente mais bonito que me têm feito nunca –sussurrou ele enquanto acariciava a bochecha do bebê–. Uma família – adicionou olhando-a com olhos escuros e brilhantes.

Capítulo 3. Eduardo Cruz sempre tinha querido formar uma família diferente a que tinha tido. Sonhava com um lar alegre e caótico, cheio de meninos. Não queria viver sozinho. 21

Tinha o dinheiro suficiente para lhe assegurar um futuro confortável a seus filhos, mas o que mais lhe tinha importado sempre era que crescessem com seus dois pais, umas pessoas responsáveis e carinhosas que não seriam tão egoístas para abandonar a seus próprios filhos. Não tinha visto uma família feliz de verdade até os dez anos. Recordava-o perfeitamente. Tinha sido na loja de comestíveis de seu pequena e pobre aldeia no sul da Espanha. Um elegante carro negro se deteve no caminho e entrou na loja um homem de aspecto muito distinto e rico. O tinham seguido sua esposa e seus filhos. Enquanto o homem lhe perguntava ao lojista como ir a Madrid, Eduardo observou à mulher e a seus dois filhos pequenos. Pediram-lhe um sorvete e ela não gritou-lhes nem esbofeteou. limitou-se a abraçá-los e a acariciar seu cabelo. O homem tirou a carteira para comprar os sorvetes. Depois, sussurrou algo a sua esposa e rodeou sua cintura com o braço. ficou olhando-os estupefato até que voltaram a meter-se em seu luxuoso carro e se afastaram pelo poeirento caminho. –Quais eram? –tinha perguntado ele. –Os duques da Quijota. Reconheci-os pelos periódicos –lhe havia respondido o velho lojista muito impressionado pela visita–. Mas, o que está fazendo você aqui? Já hei dito a seus pais que não se vos confia mais. Agarrou-o pelo pescoço da jaqueta e tirou de seu bolso três barras de gelado. –foste roubar me? Suponho que não poderia esperar outra coisa de alguém de sua família! havia-se sentido humilhado. Tinha fome e não havia comida em casa, mas não os tinha roubado por isso. Tinham-lhe jogado esse dia da escola por brigar, mas seu pai não lhe tinha perguntado o que tinha passado. limitou-se a lhe dar uma bofetada. Tinha estado muito bêbado para fazer nada mais. Sua mãe levava três dias sem pisar na casa. Os meninos da escola se tinham burlado dele, lhe dizendo que nem sequer sua mãe o queria. Quando tinha visto essa família comendo gelados, tinha tido a absurda ideia de que, se levava algo assim a sua casa, também em sua família se tratariam com carinho. Atirou ao chão os sorvetes e saiu correndo. Não parou até chegar a casa. E foi então quando se encontrou a seu pai… Mas Eduardo preferia não pensar em essas coisas. Olhou a seu redor. Tinha um luxuoso carro e inclusive chofer. Se o umedeceram os olhos ao olhar a seu bebê. Só tinha dois dias de idade e dormia tranquilamente em sua cadeirinha enquanto Sánchez os levava a casa do hospital. Sabia que sua infância ia ser diferente, muito melhor. Não ia permitir que o egoísmo dos adultos destruíra sua felicidade. Pensava protegê-la a toda costa e fazer algo por ela, inclusive seguir casado com sua mãe. Olhou ao Callie de sobre olho. Tinha acreditado que ela era a única pessoa em que podia confiar, mas ela o tinha mentido à cara durante anos. E não só a ele. Poucas horas depois do nascimento do bebê, Callie tinha chamado a sua família 22

para lhes contar que estava casada e que tinha tido uma menina. Negou-se a falar com sua irmã e não tinha parado de chorar enquanto falava com sua mãe. Tinha sido difícil vê-la assim e, quando ouviu que seu pai estava-lhe gritando, tirou-lhe o telefone. Sua intenção tinha sido acalmar ao homem, mas não o conseguiu. Franziu o cenho ao recordar as palavras do Walter Woodville. deu-se conta de que era um tirano. Não sentia saudades que Callie se houvesse acostumado a não lhe contar nada a ninguém. Olhou de novo à menina e sentiu como se acalmava seu coração. Levava dois dias contemplando seus dedos diminutos, suas bochechas gordinhas e suas largas pestanas. adorava como franzia inconscientemente sua boca para chupar, inclusive enquanto dormia. Respirou profundamente. Custava-lhe acreditá-lo, mas era verdade. Tinha uma filha e uma esposa. casou-se com o Callie para dar um nome a seu bebê, mas não ficavam de acordo em um. –Maria – lhe disse de repente enquanto olhava ao Callie. Ela se voltou bruscamente. Seus olhos verdes brilhavam como esmeraldas ao sol. –Já te hei dito que não. Não vou lhe dar o nome da esposa com a que sonhava te casar. Lamentou haver contado a que então era sua secretária que sempre tinha sonhado chegando a ser o marido da Maria do Leandros, a formosa duquesa da Alda. –Maria é um nome muito comum em meu país. Era também o de minha tia avó… –Já te hei dito que não! –Não tem motivos para estar tão ciumenta. Nunca cheguei a me deitar com a Maria do Leandros. –Uma sorte para ela –repôs Callie cruzando-se de braços–. Minha filha se chamará Soleil. Cada vez estava mais furioso. Desejava lhe dar o nome de sua tia Maria, a mulher que o tinha acolhido em Nova Iorque e tinha trabalhado muito duro para mantê-lo. Depois, quando esteve trabalhando em um posto de gasolina do Brooklyn enquanto ia ao instituto, ela o tinha apoiado para que não se desanimasse e pensasse que esse trabalho podia chegar a ser um ponto de partida. Depois de que morrera sua tia, passou de conduzir o caminhão da gasolina a ser proprietário de uma pequena empresa de distribuição de hidrocarbonetos. Aos vinte e quatro anos, vendeu-a e se dedicou a escavar poços petroleiros em lugares insuspeitados. Seu primeiro grande achado tinha sido na Alaska e depois em Oklahoma. Após, Petróleos Cruz se converteu em uma multinacional com perfurações por todo mundo. Queria render comemoração a sua tia, mas Callie não dava seu braço a torcer. –Está sendo irracional! –disse-lhe zangado. –Você é o que não se atende a razões. Decidi seu nome faz meses, você já vai lhe dar seu sobrenome. Não vou trocar agora só porque te deseje muito que tem que chamar-se Maria. –De onde tiraste esse nome? De uma telenovela como fez sua mãe contigo? Me deixe em paz –replicou ela enquanto apartava o olhar. Ficaram uns minutos em silêncio. Eduardo respirou fundo e apertou os punhos. Não tinha conhecido a ninguém tão teimoso como sua esposa.

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–Callie… Mas viu que tinha os olhos fechados e a cabeça apoiada contra a guichê. Surpreendeu-lhe ver que se ficou dormida em meio de uma discussão. Observou seu formoso rosto. Não levava maquiagem, nunca o fazia, mas sua beleza natural sempre o tinha fascinado, igual as suas curvas que não havia podido esquecer. Durante isso últimos meses, tinha tratado de esquecer sua beleza, mas a realidade afligiu-o ao tê-la tão perto nesses momentos. Acreditava que sua esposa era a mulher mais desejável do mundo. Lhe fez um nó na garganta. Callie tinha dado a luz sem anestesia. Lhe parecia incrível que pudesse ser tão valente e forte. Ele tinha dormido em uma cadeira junto a sua cama, mas ela logo que tinha podido descansar. Ao bebê lhe havia logo começar a mamar e Callie tinha tido que lhe dar o peito muito freqüentemente, quase cada hora. Tinha-lhe devotado sua ajuda Ou a das enfermeiras, mas Callie queria fazê-lo todo ela sozinha. –É meu bebê –lhe tinha sussurrado com gesto cansado–. Precisa de mim. Muito a seu pesar, voltava a sentir admiração e respeito por essa mulher, algo que não teria acreditado possível. Sentimentos que Callie nunca tinha tido para ele, de isso estava seguro. –Ouvi falar de ti –lhe havia dito Walter Woodville dois dias antes–. Espera acaso que te dê obrigado por fazer o que tinha que fazer e te casar com minha filha? – Senhor Woodville, entendo como se sente, mas seguro que pode ver… –O entende? Seduziu a minha filha! Usou-a e lhe desfez dela! –acusou-o o homem–. E, quando se inteirou de que estava grávida, não veio a me pedir sua mão. Limitou-te a lhe levar isso sem mais! Roubaste a minha filha! – Aceitei minha responsabilidade e vou a me encarregar tanto de Callie como da menina. –Responsabilidade! –tinha-lhe espetado Walter com desprezo–. Só pode lhe oferecer dinheiro. Pode que seja o dono de quase todo meu povo, mas sei o que classe de homem é. Nunca poderá ser um bom marido nem um bom pai. E, para sua surpresa, desligou o telefone nesse instante. Ninguém estava acostumado a lhe falar nesses términos, mas tinha visto que esse homem não lhe tinha medo. Supunha que Callie lhe teria falado dele. Parecia-lhe incrível que tivesse chegado a confiar tanto nela. Havia-a desejado desde o começo, mas Callie Woodville era uma parte essencial em sua empresa e em sua vida. Por isso tinha decidido não fazer nada a respeito. Ao menos até a festa de Véspera de natal. Recordou o aborrecido que se havia sentido. Era sua própria festa de Natal e o rodeavam os executivos de Petróleos Cruz, os membros do conselho e suas belas e jovens esposas. Os homens foram de smoking e as mulheres luziam seus melhores ornamentos. Uns falavam dos poços descobertos na Colômbia e outros dos últimos caprichos que se compraram. Não sabia por que, mas se havia sentido de repente perdido, desconjurado. Tinha tudo o que sempre tinha querido. Controlava-o tudo e era forte, mas estava sozinho. Foi então quando a viu o outro lado do salão. Levava um vestido singelo e modesto. Deslumbraram-na de repente seus olhos da cor das esmeraldas. Sentiu que nada era real nem quente nesse salão de baile. E nada importava. Só ela. desculpou-se e despedido rapidamente do homem com o que havia estado conversando. Foi diretamente aonde estava ela e, sem dizer nada, tomou 24

sua mão e saiu do salão. Não resistiu quando viu que a tirava do hotel. Sem querer esperar a sua limusine, tinha parado um táxi para que os levasse a sua casa. Poucos minutos depois, estavam em sua cama. Ali lhe tinha feito o amor toda a noite, tinha-lhe arrebatado sua virgindade e se tinha obstinado a ela como se Callie fora sua tabela de salvação. Nunca havia sentido nada igual e dessa noite de paixão tinha nascido um bebê. Tinha uma filha e uma esposa. Olhou-a com os olhos entrecerrados. Seguia dormindo. Walter Woodville o tinha acusado de seduzir a sua filha, mas acreditava que era Callie a que o tinha seduzido a ele com sua inocência, com seu calidez e com seu fogo. Mas se tinha dado conta pouco depois de que em realidade era uma mentirosa e não ia poder voltar a confiar nela. O único que lhe importava era sua filha. Tinha o cabelo escuro, como ele. Havia sabido que de verdade que era sua antes inclusive de que o confirmasse uma prova de paternidade essa manhã. Estremecia-lhe pensar que, se Sami Woodville não o tivesse chamado para lhe contar a verdade, sua filha estaria vivendo no Dakota do Norte e Brandon McLinn seria seu pai. Embora estivesse apaixonada por outro homem, custava-lhe entender que o tivesse traído assim. Mas já não tinha que confiar nela, para isso havia contratado a um detetive que lhe dissesse tudo o que precisava saber a respeito de Callie. Não demoraram muito em chegar a seu edifício. Sánchez abriu a porta do carro e Eduardo tomou com cuidado à menina. Caminhou devagar para não despertá-la, embalando sua cabeça contra seu peito enquanto o porteiro lhe abria a porta do edifício. Assombrava-lhe quão pequena era a menina. Parecia-lhe muito indefesa e frágil. Tampouco entendia como podia querê-la já tanto. Sua gordinha e grisalha governanta, a senhora McAuliffe, estava-o esperando no vestíbulo. –A habitação do bebê está pronta –lhe disse nada mais vê-lo–. meu Deus, é preciosa! Sabe como sustentar a um bebê? –perguntou-lhe ele. –Como pode me perguntar isso, senhor? Tenho quatro filhos! Tome – respondeu enquanto lhe entregava à menina. tranquilizou-se ao ver que tinha experiência. Foi então quando voltou a sair a a rua. Olhou ao Callie através do guichê do carro. Seguia dormindo. Parecia muito cansada. Quando a levantou em seus braços, Callie se moveu, mas não despertou. 25

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Murmurou algo em sonhos e apoiou a bochecha contra seu peito. Pareceu-lhe que não pesava quase nada. Olhou-a à cara e sentiu algo no peito, algo que não teria podido definir. Foi com ela até o elevador privado. Acabava de comprar esse apartamento de cobertura de dois andares como um investimento. Não tinha tido a intenção de viver nele, mas todos seus planos estavam trocando rapidamente. Pensava deixá-la na habitação de convidados, mas se deteve antes de entrar. deu-se conta de que seria melhor que estivesse no dormitório principal. Era mais ampla, tinha um grande quarto de banho e estupendas vistas da cidade. Além disso, estava junto a seu escritório, que tinha sido remodelado rapidamente para converter-se no dormitório da menina. Foi até sua habitação e a deixou com cuidado na enorme cama. Callie se moveu, mas continuou dormindo. Ele fechou as cortinas e a cobriu com uma manta. ficou olhando-a uns minutos mais. Tinha-lhe assegurado que seu matrimônio só ia durar três meses, mas havia começado a trocar de opinião desde que nascesse a menina. Sua filha era muito pequena e frágil. Eduardo sabia muito bem como era sentir que sua existência não tinha sido desejada, que seus pais não o queriam. Desejava mais que nada que sua filha se sentisse segura e protegida, que tivesse um verdadeiro lar, uma família de verdade. Embora não tinha boa opinião de Callie, sabia que amava a seu bebê. Havia sido muito valente durante o parto e inclusive admirava que se enfrentasse a ele para decidir o nome de sua filha. Apertou os dentes e franziu o cenho. Acreditava que, se Callie podia suportar tão bem a dor, também o faria ele. Decidiu que não ia divorciar se dela. Pensou que os dois poderiam sacrificar-se. Ele renunciaria a ter uma esposa em quem pudesse confiar e Callie renunciaria a seu amor pelo McLinn. Além disso, acreditava que a responsabilidade era mais importante que o amor. Sabia que Callie não ia gostar da mudança de planos. Decidiu que teria que lhe dar um pouco de tempo para aceitar um matrimônio como esse, sem amor. Assim poderia chegar a apreciar o que ele podia lhe oferecer e esquecer o que tinha deixado atrás. Saiu do dormitório e fechou a porta. Temia que, depois dos três meses que tinham combinado, Callie seguisse querendo divorciar-se dele e recuperar sua liberdade. Se chegava o caso, estava disposto a mantê-la prisioneira, como um pássaro em uma jaula de ouro. Era sua esposa e não ia permitir que partisse de seu lado.

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Capítulo 4. CALLIE se endireitou na cama e olhou um pouco desorientada a seu redor. Estava enjoada. Não sabia onde estava nem como tinha chegado a essa cama. Doíam-lhe os peitos e viu que seguia vestida com a roupa que tinha levado no hospital. deu-se conta então de que o pranto de seu bebê a tinha despertado e começou a lhe pulsar o coração com força ao ver que não estava ali. –Soleil! –chamou-a se desesperada enquanto ficava em pé–. Soleil! encheu-se de luz a habitação quando alguém abriu a porta. Não demorou para sentir os braços do Eduardo a seu redor. –Onde está? –perguntou-lhe assustada enquanto tratava de escapar–. Aonde levaste-a? – Está aqui –repôs Eduardo enquanto ia a outra porta e a abria–. Aqui mesmo! O pranto do bebê se fez mais forte. Foi até ela correndo. Viu o berço e chorou de alegria enquanto tomava em seus braços. A pequena deixou de chorar quase imediatamente, tinha fome. Sentou-se em uma cadeira de balanço e começou a levantar sua camiseta, mas se deteve tempo. –Tenho que lhe dar de comer –lhe disse um pouco envergonhada–. Não me olhe. –Já vi seus seios –repôs Eduardo. –Date a volta! –ordenou-lhe com impaciência. Eduardo levantou com resignação as sobrancelhas e se afastou dela. Callie se girou um pouco mais para que não a visse e se preparou para lhe dar o peito. sobressaltou-se ao notar como se aferrava a ela. –Por isso ouço, parece que estava morta de fome –comentou Eduardo. –Não escute! – Sinto-o –repôs ele sem poder conter a risada. Passaram uns minutos em silêncio e Callie se deu conta de que devia desculpar-se. –Sinto o que passou. Despertei e não sabia onde estava –lhe disse ela. –Ficou dormida no carro de caminho a casa e te subi em braços. Não recorda-o? Quão último recordava era que tinham estado discutindo sobre o nome da menina. –Suponho que estava muito cansada –lhe confessou ela. –Não se preocupe. Eduardo estava sendo amável com ela e não sabia como reagir. Levava meses odiando-o, criticando-o ante qualquer de sua família que queria escutá-la. Acreditava que era um imbecil e um insensível, que não merecia ser pai. Mas se tinha dado conta de que ela tinha estado a ponto de lhe roubar o direito que tinha de conhecer sua filha. –Foi um engano não te dizer o do bebê –lhe disse então–. O sinto muito. Poderá me perdoar? – Esquece-o –repôs ele com dureza–. Os dois cometemos enganos, mas formam parte do passado. Nosso matrimônio é um novo começo. 27

–Obrigado –sussurrou ela agradecida. Olhou então a seu redor. O dormitório era precioso. As paredes eram de um amarelo muito suave, havia animais de pelúcia em uma estante e um precioso berço. –É muito bonita. –Encarreguei-me de que redecoraram meu escritório enquanto estávamos no hospital. –Quem o fez? – A senhora McAuliffe –lhe respondeu Eduardo. –Sempre eu gostei muito essa mulher –repôs ela com um sorriso–. A habitação do lado é a de convidados? – Não, é o dormitório principal. –Então, estava dormindo em sua cama? –perguntou um pouco decepcionada. –Sim. Tratou de fingir que não lhe importava ter dormido na mesma cama onde Eduardo Cruz passava todas as noites, só ou em companhia de belas modelos. Trocou à menina de peito com cuidado de não mostrar muita pele. –Bom, logo me diz qual é minha habitação. –Não, Callie. vais ficar te no dormitório principal –repôs Eduardo–. Assim estará perto de nosso bebê. –Então, onde vais dormir você? Não estará pensando que você e eu vamos a… Irei a de convidados –a interrompeu Eduardo.



–Mas não quero te incomodar. –Não o fará –lhe assegurou ele enquanto se aproximava e acariciava a cabeça do bebê–. Quero que esteja aqui, que estejam aqui as duas. –De verdade? É obvio que sim –lhe disse Eduardo–. Sempre sonhei com ter uma família assim para poder protegê-la e cuidá-la. E isso é o que farei.



Seus olhos tinham trocado por completo. Seu olhar era cálido e muito tenro. Ele parecia outro homem. O homem que poderia ter sido se sua infância não houvesse sido tão dura. Sentia compaixão por ele e os restos de um amor quebrado em mil pedaços, mas não podia seguir por esse caminho. –Obrigado por cuidar tão bem de mim e do Soleil –lhe disse ela com um sorriso tremente. –Marisol –repôs ele de repente. –O que? Marisol! É um nome espanhol e uma mescla dos dois nomes que nós gostamos, Soleil e o de minha tia Maria. –Marisol… –provou ela–. Marisol Cruz. –Marisol Samantha Cruz – a corrigiu Eduardo. Olhou-o então com surpresa. –Samantha por minha irmã? –Sim. Esta família está unida graças a ela. 28



–Mas Sami me traiu! –É da família e acabará lhe perdoando-a. - disse Eduardo–. Os dois sabemos que o fará. Olhou-o zangada. Não pensava perdoar nunca a sua irmã por lhe contar a Eduardo o do bebê. Mas, por outro lado, sabia que Sami fazia o correto e ela não. Embora sua irmã não tinha motivos completamente altruístas, tinha chegado à conclusão de que estava apaixonada pelo Brandon. Seu amigo não sabia, estava segura. Deu-se conta de que Brandon merecia ter amor de verdade e que tinha sido egoísta por sua parte aceitar sua proposta de matrimônio. Não entendia como tinha estado tão cega para lhe permitir que se sacrificasse assim por ela. Tinha estado a ponto de arruinar muitas vidas. –Sempre me falava de sua irmã pequena –lhe disse Eduardo colocando uma mão em seu ombro–. Lhe enviava presentes, cartas e dinheiro para a universidade. Seguro que a perdoará. –Tem razão –sussurrou ela com lágrimas nos olhos–. Estava zangada com ela, mas não fez nada mau. Eu sim. fez-se o silêncio. Quando abriu os olhos, Eduardo a olhava com o cenho franzido, quase como se a pudesse entender. olharam-se aos olhos e sentiu algo mover-se em seu coração. –De acordo. –De acordo? Seu segundo nome pode ser Samantha –concedeu ela enquanto tocava a bochecha gordinha e suave de sua filha–. Marisol Samantha Cruz. –Não acredito –repôs Eduardo com um sorriso–. Nos pusemos que acordo em algo? Posso preencher por fim o certidão de nascimento? Assim é –disse-lhe ela lhe devolvendo o sorriso.





Voltaram a ficar em silêncio e olhando-se aos olhos. Depois, Eduardo pigarreou algo incômodo e olhou seu relógio. –São quase as dez. Estará morta de fome –lhe disse ele–. Te prepararei algo. –Você? vais cozinhar? Não sou um completo inútil, se isso for o que pensa.



–Não, mas trocaste muito durante estes últimos meses. Meu ex-chefe não teria podido sequer encontrar sua própria cozinha. Surpreende-me que haja sobrevivido sem mim. –Não foi fácil –repôs Eduardo enquanto ia para a porta–. Desce quando estiver preparada. Callie ficou estupefata. Era estranho ver que podiam ter uma relação amável. Olhou a sua menina e se balançou na cadeira de balanço enquanto a abraçava contra seu peito. Tinha o nariz pequeno, como ela, e a pele cor azeitona de seu pai. ia ser muito bela. 29

Tinha-lhe surpreso ver que Eduardo era capaz de antepor a comodidade de outra pessoa à sua. Nunca o tinha visto assim. Durante esses dois últimos dias, tinha-lhe pedido que se casasse com ele, havia dormido em uma cadeira no hospital, tinha-a levado a sua casa e havia renunciado a seu escritório para convertê-lo no dormitório da menina. Além disso, ia deixar que usasse sua própria habitação e se ofereceu a trocar as fraldas da menina. Nunca poderia haverse imaginado ao Eduardo Cruz, o frio e mulherengo multimilionário, trocando um fralda. Mas sabia que não ia durar, que as coisas voltariam para a normalidade em quanto desaparecesse a novidade. Acreditava que não demoraria para desejar sua liberdade e voltar a ser o mesmo de sempre. Quando acontecesse, retornaria ao Dakota do Norte com seu bebê para estar com sua família, as pessoas que de verdade a queriam. Isso era ao menos o que acreditava. A ligação a sua família pouco depois do parto tinha sido um desastre. Contou-lhes sua situação e sua mãe não pôde conter as lágrimas. Seu pai, em troca, falou-lhe como se o tivesse decepcionado. Era como se renegasse dela. Tinha sido muito doloroso. deu-se conta de que tinha sido um terrível engano não lhes contar que estava grávida. Essa chamada Telefônica tinha trocado algo entre eles. sentia-se distanciada de sua família, como se lhe faltasse um pedaço de seu coração. E também lhe doía que não a apoiassem em um momento tão difícil. Seu pai tinha sido também muito duro com o Eduardo. Não sabia exatamente o que lhe havia dito, mas soube que o tinha tirado de suas casinhas. Ao Walter Woodville nunca tinha gostado da forma em que Petróleos Cruz feito-se com seu povo, trocando-o tudo e convencendo aos jovens para que deixassem as granjas familiares com promessas de um trabalho muito bem pago. E não queria sequer pensar no Brandon. Supunha que teria tornado sozinho a Dakota do Norte. Não sabia o que lhe haveria dito a seus pais nem como se sentia. Ao Eduardo havia como acreditar que fora a casar-se com ela quando estava grávida de outro homem e acreditava que estava apaixonado por ela. Mas Callie sabia que não era assim. Era seu melhor amigo e ela se aproveitou. Decidiu chamá-lo para lhe pedir perdão. Era outra pessoa mais a que tinha ferido. Lentamente, ficou de pé, doía-lhe todo o corpo. Colocou a sua filha no berço enquanto recordava quão doce tinha sido Eduardo com a Marisol. Nesse momento, sentiu que tinha mais em comum com ele que com qualquer outra pessoa. Voltou para dormitório e viu que alguém tinha deixado sobre a cama a mala com roupa nova que lhe tinham levado a hospital. Abriu-a, tomou um conjunto de cachemira rosa e suspirou. Parecia muito caro e era muito suave. Foi incrível poder dar uma larga ducha quente no banheiro de seu dormitório. penteou-se quando saiu e ficou a roupa sobre uma camiseta de algodão branca. Desceu então as escadas. Era o apartamento de cobertura mais luxuoso que tinha visto nunca, como uma mansão no céu. Havia um grande salão no primeiro andar, com chaminé e grandes janelas. 30

–O que te parece? sobressaltou-se para ouvir a voz do Eduardo. girou-se e viu que se aproximava-lhe com duas taças do Martini. Levava calças jeans escuras e uma camiseta negra que não escondia seu musculoso corpo. –É incrível –reconheceu ela–. Não vi nada parecido. –Alegra-me que você goste, porque é teu –repôs Eduardo. Mas era impossível, sabia que estava brincando. Além disso, tendo-o tão perto, não podia pensar em nada mais. –Toma –disse Eduardo lhe oferecendo uma das taças. –Não posso beber álcool, estou-lhe dando o peito –repôs ela. –Sei, sua taça tem suco de frutas. –Obrigado. Tomou a taça e a terminou de um gole. Estava morta de sede e também tinha fome. –Cheira muito bem –comentou ela. –Fiz queijadinhas e arroz. Não sei se você gostará –repôs ele mais sério–. Como me recordaste antes, sou um inútil na cozinha. Callie franziu o cenho, sentiu saudades que se mostrasse de repente tão taciturno. –Passa algo? –perguntou-lhe ela–. Está bem? – Claro, estou bem. Jantamos? Suspirou ao ver que não lhe ia contar o que lhe acontecia e olhou a seu redor. –Viu minha bolsa? Tenho que fazer uma ligação. –A sua família? Não, já liguei do hospital, queria falar com o Brandon. –Não –repôs Eduardo. –Suponho que terá voltado para o Fern e estará preocupado por mim. Eu gostaria saber como… Brandon está bem –a interrompeu Eduardo com frieza–. Acabo de falar com ele. Olhou-o fixamente. –Sério? Não deixava de ligar e me cansei. Respondi sua chamada de faz dez minutos e lhe disse que deixasse de ligar.

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–O que te há dito? – Chamou-me que tudo –repôs Eduardo–. O que lhe há contado de mim? Sentiu que suas bochechas se ruborizavam. –Zanguei-me muito quando me despediu, suponho que te chamei de tudo. O quanto que foi um imbecil, que foi viciado no trabalho, que não tinha coração, que cada dia te deitava com uma mulher distinta… – sussurrou envergonhada–. O sinto. Não deveria ter falado assim de ti. Eduardo lhe dedicou um frio sorriso. –Bom, limitou-te a lhe dizer a verdade. Sou todas essas coisas. E você é reservada, ingênua e muito sentimental. Callie abriu a boca para protestar, mas não disse nada. –Mas suponho que nos teremos que suportar pelo bem da Marisol. Sentiu uma profunda dor em seu coração. Um momento antes, tinha estado enche de esperança, mas acabava de ver que estava sozinha. Não tinha a ninguém de seu 31

lado. Me dê meu telefone –lhe pediu com firmeza. –Não. –Muito bem. Buscarei-o eu.



Saiu do salão e entrou em uma grande cozinha. Viu sua bolsa na mesa de granito, foi pegá-la e rebuscou em seu interior. –Não está aí – lhe disse Eduardo enquanto a olhava. –Onde está? Atirei-o ao lixo. Deixou então de buscá-lo e o olhou aos olhos. –Está-me tirando o sarro? Não vou deixar que ligue para ele – replicou Eduardo. –Não pode fazer isso! –exclamou indignada–. Não tem direito! Sou seu marido, tenho todo o direito do mundo. –Então, comprarei-me outro telefone! –lhe tente provocou Eduardo com os olhos brilhantes. –Isto é ridículo. Não sou sua prisioneira! Não, mas estamos casados e espero que me seja leal. –Brandon é meu melhor amigo! E você é minha esposa. –Como é possível que se sinta ameaçado por ele? Não o entende? – repôs fora de si–. É o homem ao que amas, no que confia, com o que foste casar te faz dois dias e o que tentou converter-se no pai da Marisol. –Só queria me ajudar. –Levam juntos muitos anos, Callie –lhe espetou Eduardo–. Antes inclusive de que conhecesse-te eu. –O que? –perguntou perplexa. –Em Véspera de natal, quando fizemos o amor, não podia dormir contigo em minha cama. –disse-lhe ele. –Então, por que não me pediu que me fora? Decidi sair a dar um passeio e fui até seu apartamento para recolher algumas de suas coisas. Ia pedir te que lhe ficasse comigo. Imagina minha surpresa quando vi que ali vivia um homem. –Que você foi a… Como? Não entendo… Depois de tantos anos juntos, pensei que podia confiar em ti. Mas, só umas horas depois de que me entregasse sua virgindade, dava-me conta de que vivia com seu noivo. Olhou-o boquiaberta. –O que acontece? Não te ocorre nada que me dizer? Ficaste-te sem palavras, não? Brandon não era meu noivo. –Já basta! É que alguma vez deixa de mentir? Vi-o com meus próprios olhos! Mas se só faz umas semanas que decidimos nos casar. –Então, como explica o que me disse? Ou você memore ou me mentiu ele.



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–Brandon nunca mentiria –sussurrou ela–. A não ser que… Se cobriu a boca com a mão. Recordou que tinham decidido no instituto que se casariam o um com o outro se chegavam aos trinta e seguiam solteiros. Para ela, tinha sido só uma brincadeira, mas temia que Brandon o tivesse tomado a sério. Assim que disse ao Brandon que Eduardo lhe tinha alugado um apartamento melhor para viver, seu amigo de toda a vida tinha aparecido em Nova Iorque com sua mala e sem trabalho. Temeu que se deu conta de que estava apaixonada por 32

seu chefe e tivesse querido proteger seu território. Mas lhe parecia impossível. Estava convencida de que para o Brandon, ela era só seu amiga. –Acredito que não o entendeu bem. Brandon só pretendia me proteger, você o asseguro –lhe disse ela–. Nunca houve nada entre nós dois. Deixa que o chame e demonstre-lhe isso. –Ele está apaixonado por ti –repôs Eduardo com um olhar observador –. Ou me está mentindo agora mesmo ou está completamente cega. De um modo ou outro, não deixarei que volte a rir de mim, não vais falar com o McLinn. Nem por telefone, nem por ordenador nem através de seus pais. Entende-o? Não podia acreditar que estivesse sendo tão irracional, lhe encheram de lágrimas os olhos. –Mas o deixei plantado na rua o dia de nossas bodas. merece-se uma explicação! – Viu-te comigo, não necessita nenhuma explicação mais. E, se lhe põe em contato com ele, embora seja uma só vez, terá violado nosso acordo. –Dá-me igual. Fica com sua generosa pensão alimentícia! Não me importa o seu dinheiro! Tampouco te importa a custódia? ficou sem fôlego para ouvi-lo. –O que? Deveria ter lido nosso acordo pré-nupcial com muito cuidado antes de assiná-lo.

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–Estava de parto! Qualquer juiz anularia o que tive que assinar nessas circunstâncias. Custava-lhe acreditar que pudesse ser tão cruel com ela. Mas recordou então de quem se tratava e se sentiu estúpida ao ter cansado em sua armadilha uma vez mais. –Me deixe falar com ele uma vez, só uma vez. Pode escutar desde outro telefone, mas preciso me desculpar com ele – lhe pediu entre lágrimas–. Quando penso no que lhe fiz… – Sim, já imagino o mal que se sente. depois de tudo, meteu-te na cama comigo e concebeu a meu filho em lugar do dele. Mas acredito que Marisol é mais importante que os absurdos desejos românticos de seu coração! Seu tom sarcástico lhe rasgava a alma como o som de umas unhas na piçarra. –Por que te importa tanto? –perguntou-lhe ela–. Nosso matrimônio só durará uns meses. Nem sequer entendo por que queria te casar comigo. Nós dois sabemos que isto não é uma família de verdade e que não pode durar. Lhe conheço bem e sei que este não é o tipo de vida que você gosta –adicionou–. Tem que estar sempre viajando, superando a seus competidores, comprando coisas que não tem tempo de desfrutar e trocando cada noite de mulher. –Minhas prioridades mudaram –repôs ele com frieza. –Pode ser que sim, mas só durante uns dias. Como muito, uma semana. Quanto tempo vai passar antes de que nos abandone? Lhes abandonar? – repetiu furioso–. Não será você a que deixe a Marisol e vá correndo aos braços de outro homem? –Estou farta de seu estúpido ciúmes! E eu farto de que me acusem de que nunca poderia ser um bom marido. É uma lástima para você que esse agricultor desempregado não seja o pai da Marisol! Sim, é uma verdadeira lástima! –exclamou Callie contendo as lágrimas. Tomou seu prato de comida, que não tinha muito bom aspecto, e abriu todos os gavetas até que encontrou um garfo. Foi depois para a porta. –Estes vão ser os três meses mais compridos de minha vida! –exclamou antes de sair. Subiu chorando as escadas para poder comer e chorar em paz com a única pessoa nesse mundo que ainda a queria, seu bebê. 33

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Capítulo 5. Três meses mais tarde Tinham sido três meses muito duros durante os que Callie tinha tido que ver como Eduardo se comportava como um pai perfeito e carinhoso. Marisol tinha ganho muito peso e dormia melhor pelas noites. Durante três meses, tinha-a tratado com cortesia mas também com certa frieza e ela tinha tido que aprender a viver com suas dolorosas lembranças, que a enchiam de raiva durante o dia e a impediam de dormir de noite. Mas por fim tinham terminado esses três meses. Olhou-se no espelho da habitação enquanto subia a cremalheira de seu vestido. Era apertado e prateado e tinha um decote em forma de coração que ressaltava seu busto. ficou os pendentes de diamantes que faziam jogo com seu anel. aproximou-se depois um pouco mais para ficar rímel nas pestanas e pintar-se de vermelho os lábios. Deu um passo atrás quando terminou para ver o resultado. Não se reconhecia. Sempre se tinha visto como uma jovem não muito agraciada e Sempre se tinha visto como uma jovem não muito agraciada e algo rellenita, mas o espelho lhe dizia o contrário. Nunca tinha tido tão bem cuidada sua juba castanha. Brilhava e tinha um aspecto são e lustrosa graças aos tratamentos que se fazia duas vezes à semana na melhor barbearia do Upper West Sede de Nova Iorque. depois de um comprido outono de passeios com a Marisol, tinha os braços e as pernas tonificados e estava em boa forma. Ia ao parque quase todos os dias, embora estivesse chovendo ou fizesse frio. Seu afã era escapar do apartamento de cobertura, onde se sentia inútil e apanhada com um marido que não sentia nada por ela. Dava-lhe a impressão de que já não ficava apenas nada da singela garota de campo que tinha sido. Era a senhora do Eduardo Cruz, o magnata do petróleo, mas não por muito tempo. Ao dia seguinte, terminaria sua sentença de três meses. Marisol e ela seriam por fim livres. Tinha dormido sozinha cada noite nessa enorme cama enquanto Eduardo dormia na habitação de convidados. Este tinha trocado sua rotina e voltava antes do trabalho para poder ficar mais tempo com a menina. Tinha visto como se iluminava sua cara quanto tomava a Marisol em seus braços. De noite, quando o bebê não podia dormir, ouvia-lhe caminhar com ela pelos corredores enquanto lhe cantava uma canção de ninar. Eduardo tinha sido muito educado e nunca havia tornado a lhe falar do Brandon, de sua família ou de qualquer outro tema que pudesse provocar uma discussão. Enquanto jantavam, ele estava acostumado a ler o periódico e falava muito pouco. Ela, em mudança, distraía-se contemplando seus sensuais lábios e tratando de que não o afetasse muito seu quente e masculino aroma. Eduardo não a havia meio doido durante esses três meses. Só esperava dela que cuidasse de sua filha e que o acompanhasse alguma vez a ornamentos benéficos, como ia fazer essa noite. Na alta sociedade nova-iorquina, a temporada de Natal começava a princípios de dezembro com o Baile de Inverno, que arrecadava dinheiro para hospitais infantis da região. Era a última vez que ia vestir se de maneira tão elegante para acompanhar a Eduardo. depois dessa noite, já não ia ter que seguir fingindo que eram um matrimônio feliz. Parecia-lhe paradoxal que sua relação terminasse tal e como tinha começado, com uma festa de Natal. Ao dia seguinte, tal e como indicava o acordo pré-nupcial, ela se mudaria e Eduardo começaria o processo do divórcio. 34

Tinha muito claro que seu marido lhe tinha sido infiel durante esses três meses, o conhecia muito bem. Não era o tipo de homem que pudesse resistir tanto tempo sem deitar-se com alguém. Por outro lado, não era seu assunto o que fizesse ou deixasse de fazer. Ia fazer as malas ao dia seguinte e voltar para sua granja no Dakota do Norte. Tinha jogado muito de menos ao Sami, a sua mãe, ao Brandon e inclusive a seu pai. Mas lhe tinha doído que não a chamassem para desculpar-se. Ela tampouco o havia feito. Sabia que também Eduardo teria estado pendente do calendário, desejando recuperar quanto antes sua liberdade. Tinha sido um bom pai, mas supunha que estaria já cansado de ter que esconder suas aventuras amorosas e não poder trabalhar mais horas. O certo era que lhe tinha surpreso que aguentasse tanto tempo. Não tinha tentado nada com ela durante esses meses. Só tinham tido uma noite juntos, a noite em que conceberam a Marisol. Uma noite perfeita que ela nunca ia esquecer. Recordava o desejo em seu olhar quando a viu o outro lado do salão de baile, o calor de seus lábios enquanto se beijavam no táxi que os levou a toda velocidade a casa do Eduardo. Nunca ia poder esquecer como se havia sentido quando a despiu e começou a acariciá-la, nem o incrível e mágico que tinha sido estar entre seus braços, gritando seu nome, deixando-se levar. Mas tinha chegado o momento de voltar para a casa de sua família e procurar um trabalho. Tinha que esquecer ao Eduardo. Se não, sua vida ia ser muito triste e… – Querida. deu-se a volta para ouvir sua voz. Eduardo a olhava da porta da habitação. Levava um elegante smoking negro e estava tão bonito que o coração lhe deu um tombo. Seus olhos eram tão negros como seu traje e seus rasgos eram perfeitos, como os de uma escultura grega. Ele a olhou de cima abaixo como se a estivesse devorando com os olhos. –Está preciosa –lhe disse Eduardo–. Todos os homens me invejarão esta noite. ruborizou-se para ouvi-lo e não soube o que dizer. Nunca lhe havia dito nada parecido. Era a última noite de seu matrimônio e se sentiu tão torpe e tímida como se fora sua primeira entrevista. –Obrigado. Você-você também está muito elegante. –Tenho um presente para você –lhe disse Eduardo enquanto abria uma caixa de veludo negro que tirou do bolso de seu smoking. ficou com a boca aberta ao ver um precioso colar de esmeraldas e diamantes. –É para mim? Mas, por que? –perguntou confusa. –De verdade não sabe? – É um presente de despedida? – Não –repôs ele com meio sorriso–. Suponho que poderia ser um presente de Natal. Eduardo tirou o colar da caixa e ela levantou sua larga juba e deixou que se o pusesse. Não pôde evitar estremecer-se ao sentir suas mãos na nuca. Quanto terminou, olhou-se no espelho. –É precioso –sussurrou ela com um nó na garganta. Seus olhos se encontraram no espelho e ele deixou de sorrir. –Não tanto como você –lhe disse em voz baixa–. Nenhuma outra mulher está a sua altura. Eduardo estava de pé detrás dela, tão perto que seus corpos quase se tocavam. –Por que está sendo tão amável comigo? por que agora que termina tudo? –perguntou-lhe. –Quem há dito que isto é o final? –repôs Eduardo colocando as mãos em seus ombros. –O acordo pré-nupcial –respondeu ela. Eduardo lhe deu a volta e ela o olhou aos olhos. Havia desejo neles. –É que não sabe o que quero? –perguntou-lhe Eduardo em voz baixa. Sabia muito bem. Queria recuperar sua liberdade. –É obvio que sei. Suponho que terão sido os meses mais compridos de sua vida. –É verdade –repôs Eduardo lhe acariciando a bochecha.

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–Três meses de espera… Três meses infernais –a interrompeu ele. Lhe encheram de lágrimas os olhos ao ver que tinha estado certa. –Bom, esta noite termina.



–Sim, assim será –repôs Eduardo sem deixar de olhá-la com intensidade. Tremendo, Callie apartou a vista. –Estou pronta –lhe disse. –Estupendo –repôs Eduardo sorrindo enquanto lhe oferecia o braço–. Senhora Cruz… Tomou seu braço contendo o fôlego e deixou que a acompanhasse até o vestíbulo. despediram-se da senhora McAuliffe, que ficava ao cuidado do bebê. Eduardo tirou um casaco de peles de cor branca e o colocou sobre os ombros. estremeceu-se então ao recordar o sonho que tinha tido a noite anterior, quando tinha imaginado seu corpo nu sobre o dela. Tremendo, apartou-se tudo o que pôde dele enquanto desciam à rua no elevador. Na limusine, não pôde deixar de pensar no perto que estava dele, o pouco espaço que havia entre os dois. O Baile de Inverno se celebrava em um maravilhoso hotel ao lado de Central Park. Entraram do braço, mas tratava de manter as distâncias. Os tetos eram muito altos e havia maravilhosos frescos pintados neles. Mas ficou mais extasiada ainda ao ver a maravilhosa decoração invernal do enorme salão de baile. Havia luzes brancas penduradas de impressionantes árvores nuas. O inverno era sua estação favorita e aquilo lhe pareceu um bosque de fadas. Mas sua fantasia se veio abaixo quando viu os convidados. Todas as mulheres eram formosas e magras e entre os homens estavam os mais capitalistas da cidade. sentia-se desconjurada. Tampouco se sentia a gosto no apartamento de cobertura do Eduardo, mas era muito mais duro estar nesses ambientes e comparar-se com todas essas mulheres esbeltas e belas que olhavam a seu marido. –Conhece-as? –sussurrou-lhe ela. –A quem? –A todas essas mulheres que lhe estão olhando. –Não –repôs ele enquanto olhava às preciosas modelos. Perguntou-se se lhe estaria dizendo a verdade ou se tratava de protegê-la para não ferir seus sentimentos. Supôs que estaria desejando divorciar-se para não ter que dar explicações a ninguém e continuar com suas conquistas. Sabia que três meses sem sexo era muito tempo para um homem como Eduardo, mas não para ela. Só tinha tido uma experiência sexual em toda sua vida. Sabia que seu matrimônio era uma farsa e que não tinha direito a ter ciúmes, mas não gostava de imaginá-lo com outra mulher. Mas, para sua surpresa, Eduardo não olhava às belas mulheres que enchiam o salão, só parecia ter olhos para ela. –Quer tomar algo? Estava nervosa e assentiu com a cabeça. Quando Eduardo retornou com uma taça para ela, a bebeu de um gole. –Cuidado! –advertiu-lhe Eduardo com um sorriso–. Esse ponche é mais forte pelo que parece. Mas Callie estava farta de ser boa. –me traga outra taça, por favor –lhe pediu ela–. Por esta noite, quero ser algo imprudente. –Como quer –repôs Eduardo com um sensual sorriso. Quando voltou com sua taça, olhou-a com tal intensidade que não pôde evitar ruborizar-se. Durante semanas, mostrou-se muito distante, como se fora uma empregada de sua casa, mas essa noite a estava olhando de verdade, quase como se desejasse lhe arrancar o vestido, beijá-la e conseguir que perdesse por completo 36

a cabeça. Mas não acreditava possível. depois de tudo, Eduardo a tinha deixado e não era nada para ele. –Obrigado –repôs aceitando a taça–. Como se chama esta bebida? Rudolph. –Rudolph? Como a rena da Santa Claus? por que? Porque te porá o nariz vermelho e voará toda a noite –repôs Eduardo rindo. Surpreendeu-lhe sua resposta e sorriu. bebeu-se a segunda taça de um gole enquanto Eduardo seguia observando-a. –sofreste alguma vez ressaca? Não –lhe confessou ela.

– –



–Quer ter ressaca amanhã? Atraiu-lhe a ideia, assim teria uma distração para não pensar no divórcio. –Pode que sim –sussurrou ela. Começou a soar então a música da orquestra e Eduardo lhe ofereceu seu mão. –Dança comigo. –Não, por que não o pede a outra mulher? Todas parece te conhecer. –Muita gente me conhece –repôs Eduardo. –por que não acabamos de uma vez com esta farsa? Não faz falta que o negue, sei que tiveste amantes durante nosso matrimônio. –Quem te há dito isso? Ninguém, mas como não tivemos relações sexuais, supus que… equivocaste –a interrompeu Eduardo.

–Pois te



Durante um bom momento, olharam-se o um ao outro. –Está-me dizendo a verdade? –sussurrou ela–. Mas é impossível. Seguro que houve alguém! – Assim que isso é o que pensa de mim – murmurou Eduardo–. Acredita que te pediria fidelidade a você e eu não faria o mesmo? Acredita que eu seria capaz de romper nossos votos matrimoniais? – Por que lhe surpreende? Conheço-te, Eduardo. É impossível que não tenha estado com nenhuma mulher durante estes três meses, sobre tudo quando se equilibram sobre você lá onde vai! –repôs ela–. Já tem o que queria. Marisol leva o seu sobrenome e seus amigos saberão o que fez o melhor para nossa filha, não os surpreenderá que nosso matrimônio não dure muito. –por que acredita que não lhes ia surpreender? –perguntou-lhe Eduardo. –Me olhe! –replicou zangada–. E olhe para você! Eduardo franziu o cenho e a olhou de cima abaixo. havia-se sentido muito bela em casa com esse vestido, mas se deu conta de que enfatizava sua curvilínea figura. Sobre tudo quando se comparava com as estilizadas mulheres do baile. –Não o entendo –repôs Eduardo. –Esquece-o! –replicou com impaciência ela–. De todos os modos, já não importa. Foi para a porta, mas ele apanhou sua mão antes de que pudesse ir-se. Tirou-lhe a taça da mão e a entregou a um garçom. –Nunca te traí, Callie –lhe disse Eduardo enquanto a abraçava. –Mas, que razões poderia ter para me ser fiel? Se tiver que perguntá-lo é que não me conhece absolutamente – repôs–. Dança comigo. Tinha o coração na garganta. Sabia que não era boa ideia e se sentia muito vulnerável. Aquela noite era a última, não podia baixar o guarda. Mas não se pôde resistir. –De acordo, mas só um baile –sussurrou então. Eduardo a olhou e a sujeitou contra seu corpo. 37



Começaram a dançar, rodeavam-nos outros casais no centro do salão e milhares de luzes brancas. Ele a sustentava muito perto de seu torso e podia sentir seu calor. Fechou os olhos e, sem saber por que, sentiu-se segura. Era como se houvessem retrocedido no tempo até aquela mágica noite de um ano antes. Passaram duas horas dançando. Era como um sonho, só tinha olhos para ele enquanto se deixava levar pela música. Estavam sozinhos em meio de um bosque de conto de fadas. Foi então quando se deu conta de que o amava. De feito, nunca tinha deixado de amá-lo. Ficou imóvel, olhando fixamente aos outros casais. –O que te passa, querida? –perguntou-lhe Eduardo com doçura. sentia-se enjoada e sobressaltada pelo que acabava de descobrir. Não podia acreditar que pudesse ser tão parva para cair de novo em suas redes. –O que é o que está tratando de fazer comigo? –perguntou-lhe ela–. O que está fazendo? Eduardo se deteve também e a olhou aos olhos. Depois, acariciou sua bochecha. –Posso-te dizer o que estou a ponto de fazer –lhe disse então–. vou beijar te. Ficou imóvel e sem respiração enquanto via como se aproximava a boca de Eduardo. Sentiu o calor de seus sedosos lábios e de seu fôlego rodeando-a como o mais sedutor dos abraços. Transmitiu-lhe seu desejo nesse beijo, que parecia tão forte como o dela e se estremeceu ao sentir sua áspera pele enquanto lhe acariciava a juba e baixava depois por suas costas. Beijava tão bem como o recordava. Havia uma paixão em seus lábios e em suas mãos que não lhe ofereciam sozinho prazer, também lhe falavam de eternidade. E, muito a seu pesar, soaram umas palavras em sua cabeça que não podia negar. «Quero-te, Eduardo. Nunca deixei de te amar», disse-se então sabendo que era a verdade. –Desejo-te, Callie –murmurou ele então contra sua pele. Sabia que era certo, poderia vê-lo em seus olhos escuros e sentiu de repente vontades de chorar. –Como pode me torturar assim quando tudo terminará amanhã? Já me entreguei totalmente a ti no passado e me jogou fora como se fora uma bolsa de lixo! deu-se meia volta e saiu correndo do salão de baile. Cruzou o vestíbulo sem deterse recolher seu casaco no guarda-roupa. Saiu a rua sem olhar e um táxi esteve a ponto de atropelá-la enquanto cruzava para meter-se em Central Park. Tudo estava nevado, era uma paisagem irreal, recordou-lhe à decoração do hotel, mas esse parque era real, perigoso e frio. Não podia deixar de chorar. Seguiu correndo e secando-os olhos com as mãos. Pouco depois, notou que a seguiam. deu-se a volta e viu o Eduardo. Correu mais depressa ainda, mas seus sapatos de salto não eram o melhor calçado para a neve. Não queria que a alcançasse e que pudesse ver em seus olhos que ainda o amava. Mas tropeçou com a raiz de uma árvore e caiu. Eduardo lhe aproximou depressa para ajudá-la a levantar-se. –Vete, me deixe –lhe disse chorando–. me Deixe em paz! Crie que é descartável para mim? –perguntou-lhe Eduardo com Isso seriedade pensa? –Não só o penso, sei.



–Acaba de dar a luz –grunhiu Eduardo zangado–. Não sou nenhum bruto, não ia a te forçar a nada. –É obvio que não, sobre tudo quando tem a todas as modelos desta cidade fazendo fila frente a sua porta. Como vou competir com isso? Me há dito você mesmo que estava desejando te divorciar de mim! – meu Deus, Callie! –replicou Eduardo–. É que não sabe quanto te desejo, quanto tempo levo assim? Levo um ano te 38

desejando e te esperando. Um ano… –Não –sussurrou ela com incredulidade–. Não pode ser certo. –Como pode não sabê-lo? Não te deste conta? Nem sequer trataste de me tocar, nenhuma só vez. E não me olhava… –Foi uma mãe primeiro e preferi te dar tempo –lhe disse com ternura–. Quão último precisava era que eu tratasse de te seduzir quando logo que dormia pelas noites. Não necessitava um amante, a não ser alguém que te ajudasse, um bom pai. Ela o olhou fixamente. –E o foste –lhe disse emocionada–. O melhor pai que Marisol poderia haver tido.



Eduardo a abraçou, parecia muito aliviado. –Obrigado –sussurrou contra seu cabelo. –De verdade me desejava? –sussurrou ela. Eduardo soltou uma gargalhada. –Tentei não fazê-lo e me convencer de que o que passou não significava nada. Me ajudou um pouco pensar que foi uma mentirosa e que estava com outro homem, mas não podia te esquecer. Não houve nenhuma outra mulher da noite que esteve em minha cama –lhe disse então–. Entende o que te estou dizendo? Nenhuma outra mulher. –Mas aconteceu um ano e vi nas revistas umas fotos tuas com essa duquesa espanhola… É muito bela, mas me deixou completamente frio –lhe confessou Eduardo.



As lágrimas seguiam caindo por suas bochechas enquanto olhava a seu marido. –Não pode ser verdade… Todo um ano? Não acredita em mim? –disse-lhe Eduardo abraçando-a de novo–. Crie então isto. Baixou a cabeça e a beijou uma vez mais.

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Capítulo 6. Apesar da neve e o frio que os rodeava nesse escuro rincão de Central Park, Callie sentiu uma explosão de calor em seu interior. Murmurando palavras em espanhol, Eduardo a apertou ainda mais contra seu peito. O vento gélido de dezembro os rodeava, mas apenas o sentia, só era consciente de seus lábios e seu desejo. O beijo se fez cada vez mais apaixonado. Callie jogou a cabeça para trás para estar mais perto ainda dele. Era incrível sentir seu corpo forte e firme contra o dela. Com um suave gemido, rodeou o pescoço do Eduardo com seus braços. Já não sentia a neve fria sob seus pés nem ouvia o ruído do tráfico. Era uma noite geada e escura, mas não em seu interior. Eduardo acariciou seus braços e depois suas costas nua. A necessidade a dominava por completo e sentia que ia deixando um rastro de desejo por tudo seu corpo. Não deixaram de beijar-se durante muito tempo, não teria podido dizer quanto.De vez em quando, recordava o que tinha passado uma noite de inverno como aquela. Só tinha passado um ano e tinha sofrido muito, mas não podia apartar-se dele. Enredou os dedos no cabelo do Eduardo. Era o homem mais forte e masculino que tinha conhecido. Fazia que se sentisse feminina e delicada entre seus braços. Sua boca a devorava e ela estava totalmente a sua mercê. Eduardo se apartou de repente. Estava sem fôlego. Tirou o celular de sua calça e marcou um número. –Sánchez –disse sem deixar de olhá-la–. Frente ao hotel, na esquina. Pendurou o telefone, guardou-o e tomou em seus braços. –Não faz falta que me leve –lhe disse surpreendida–. Não tenho frio. –Me deixe fazê-lo. Relaxou-se então contra seu torso e deixou que a levasse em seus braços. Sentia-se muito ligeira, como em uma nuvem. Quando chegaram à calçada, deixou-a em no chão com cuidado. –Obrigado –sussurrou ela com voz tremente. Embora não estava tremendo de frio, Eduardo se tirou a jaqueta do smoking e a colocou sobre seus ombros nus. –Não me dê obrigado. Isto é o que quero fazer, cuidar de ti, Callie. Tragou saliva para ouvi-lo. Tinha a boca seca e o coração lhe pulsava com força. Começou então a nevar, podia ver grossos flocos de neve contra a luz das luzes. Parecia-lhe incrível que não tivesse estado com ninguém durante tudo um ano e mais incrível ainda que a desejasse a ela. –Callie, sabe o que vou fazer quando chegarmos em casa, verdade? O custava respirar e sentiu que se enjoava. Eduardo a desejava tanto como ela a ele. 40

Já tinha passado pela mesma situação um ano antes. A alegria e a angústia dessa noite tinham estado a ponto de acabar com ela. E estava tão perto de voltar a ser livre… Mas se deu conta de repente de que não queria estar sem Eduardo. Abraçou-o e pegou a cara a sua camisa branca, escutando o batimento do coração de seu coração. Permaneceram assim, abraçados e em silêncio, enquanto caíam os flocos de neve sobre suas cabeças. –Já chegou o carro –lhe anunciou Eduardo com a voz carregada de desejo. Enquanto Sánchez se baixava para lhes abrir a porta, Eduardo tomou sua cara entre as mãos para beijá-la, mas ela se apartou no último momento. –Não posso –sussurrou angustiada. –Não pode? por que? Porque amas a outro homem? subiram ao carro. Não podia deixar de olhá-lo. Estava tão bonito que lhe encolheu o coração. Desejava estar com ele, mas sabia que não era boa ideia. –Tenho medo –lhe confessou–. Isto não era parte do trato. Nosso matrimônio não é real. Em realidade, temia que lhe rompesse por completo o coração, mais ainda que a primeira vez. –Por que diz isso? Disse-me isso você nos tribunais, quando nos deram a licença de matrimônio e… Não, foi você a que o chamou «um matrimônio de conveniência». E o é, mas nunca disse que não fora a ser um matrimônio em todos os sentidos. Prometi-te ser fiel e o tenho feito, mas não posso seguir te desejando o resto de minha vida e não fazer nada a respeito. –Não tem que fazê-lo, amanhã faz três meses que nos casamos. Nosso matrimônio terminou, não? Não –repôs Eduardo com firmeza–. Não haverá divórcio.

– –



Callie sentiu que o tempo se detinha. –Mas disse que só seriam três meses! –protestou ela. –Troquei que opinião. Desde que sustentei a Marisol pela primeira vez, dava-me conta de que tinha que trocar meus planos e que nosso matrimônio seria para sempre. É a melhor maneira de criar a nossa filha. Pensei que você também daria-te conta. –Mas disse que te divorciaria de mim –sussurrou ela–. Me prometeu que nosso matrimônio era só para que nossa filha fora legítima, para lhe dar você sobrenome. –Deveria estar contente –repôs Eduardo com frieza–. Sendo minha esposa, tem tudo o que possa necessitar. Uma fortuna a sua disposição, formosas casas, criados, roupa e joias. –Mas o que passa com…? O que acontece a gente a que quero? Quererá a seus filhos, não necessita a ninguém mais –replicou ele de maus modos.



–Nem-meninos? –gaguejou ela–. mais de um? Eu não gostaria que fora filha única. Marisol necessita irmãos.



Olhou-o fixamente, recordando a dura que tinha sido a infância do Eduardo em Espanha. Sua mãe o tinha abandonado para ir-se com seu amante e seu pai, sentindo-se humilhado, pegou-se um tiro na cabeça. Aos dez anos, Eduardo foi se viver com sua tia avó María, que vivia em Nova Iorque. Desde sua morte, estava completamente sozinho. Não tinha a ninguém.

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Não podia imaginá-lo que era não ter família. Por muito que lhe incomodassem as estritas normas de seus pais e muito mal que se levasse às vezes com sua irmã, era mil vezes pior ver-se abandonado por todos aos dez anos. O compadecia, mas estava muito zangada para dar seu braço a torcer. –Esperas que acesse sem mais? Só porque quer que sigamos casados para ter mais filhos? – Quero que Marisol se sinta querida –lhe disse Eduardo com firmeza–. Desejo que se sinta segura e protegida em um lar feliz e com seus dois pais. Não vamos divorciar nos. Horrorizada, Callie o olhou fixamente. Não podia sequer imaginá-lo que significava seguir sendo a esposa do Eduardo para sempre. Era como um pesadelo. Fascinava-lhe sua certeza e determinação. Por um lado, acreditava que seria melhor para a Marisol, mas não se via capaz de seguir casada com ele amando-o como o amava. Estava condenando-a a passar toda sua vida amando-o em segredo sem ser correspondida. Não sabia se podia sacrificar desse modo seu coração, sem esperança de ser amada. –Minha família tem que estar presente na vida da Marisol e na minha. Jogo de menos a meus pais, a minha irmã e a… Se deteve antes de terminar, mas o fez muito tarde. –E ao Brandon McLinn, é obvio –continuou Eduardo com uma careta de desagrado. –Não deveria ter me proibido que o chamasse ou o visse. Aceitei porque pensava que seriam sozinho três meses. –Já sabia eu que não o foste esquecer. Deteve-se a limusine e Sánchez lhes abriu a porta. Não entendia por que se o tomava tudo tão mal e seguia mostrandose ciumento. Entraram no vestíbulo e Eduardo nem sequer a olhou. A paixão de Central Park parecia haver-se evaporado como a fumaça. Apertou o botão do elevador e esperaram sem tocar-se. Eduardo se voltou de repente para ela com os punhos fechados e o cenho franzido. –Dei-te muito tempo –lhe espetou zangado–. Queria te dar espaço para superar o passado e aceitar sua nova vida como senhora do Eduardo Cruz, mas me equivoquei. Deveria ter reclamado faz tempo o que me pertence. Callie o olhou com os olhos muito abertos. –Não pode… Eduardo a abraçou e a beijou com força, apaixonadamente. Tratou de apartar-se dele, mas não pôde. abriu-se a porta do elevador e ele a tomou em seus braços. –Esta noite, esposa, volto para minha cama –lhe disse com firmeza. Antes inclusive de que se fechasse o elevador, Eduardo já a tinha apanhada entre a parede e seu corpo, beijando-a como nunca a tinham feito. Já havia decidido que de nada lhe ia servir resistir. De fato, nem sequer podia pensar. Rodeou seu pescoço com os braços e o beijou com a mesma paixão e desejo que ele. Podia sentir quanto a desejava, era evidente através do fino tecido de seu smoking. Todo seu corpo desprendia um mormaço. Cada vez a beijava mais apaixonadamente, era uma sensação incrível. Soou de repente o timbre do elevador e se abriram as portas. 42

Voltou a tomá-la em seus braços e cruzou com ela o amplo vestíbulo. Não deixou de olhá-la nem um segundo com seus intensos olhos negros enquanto subia a escada. –Já estão em casa! Que logo hão…! A senhora McAuliffe ficou boquiaberta ao vê-los assim e desapareceu tão rapidamente como tinha aparecido frente a eles no corredor. Por uma vez em sua vida, Callie não se sentiu envergonhada. Não lhe importava. Eduardo a levou até o dormitório principal e a deixou aos pés da cama. Olhou então o colchão. Tinha dormido sozinha durante três meses, mas soube que essa noite seria distinta. Seu marido lhe acariciou o cabelo e depois a bochecha. Não deixava de estremecer-se. Eduardo lhe tirou a jaqueta do smoking que tinha usado para protegê-la do frio e a deixou cair ao chão. Acariciou então a pele nua de seus ombros e a beijou muito lentamente. Seus lábios eram suaves e quentes, mas também podiam ser firmes e duros. Sentia que todo seu corpo estava em chamas e se derretia seu interior. Eduardo levou as mãos a suas costas e sentiu que lhe baixava a cremalheira. De repente, também o vestido caiu a seus pés. Dando um passo atrás, Eduardo a olhou à luz da lua. –É preciosa –sussurrou–. Levo tanto tempo te esperando. Muito tempo… Se tirou a gravata e ela começou a lhe desabotoar a camisa, mas lhe tremiam as mãos. Com impaciência, Eduardo se tirou a camisa sem desabotoá-la. ficou sem fôlego ante a beleza de seu torso. Os músculos de seu peito eram fortes e definidos. Igual a seus largos ombros e seus abdominais. Lhe aproximou de novo e acariciou seus quadris, não deixava de olhá-la como se queria devorá-la. Era muito excitante e se sentiu feminina e desejável, esquecendo seus complexos. Eduardo grunhiu algo, agarrou seus quadris e a levou até a cama, sentando-se e ajudando-a a que ela se colocasse escarranchado sobre ele. Beijou-a então com ferocidade e lhe devolveu o beijo com a mesma intensidade, ofegando ao senti-lo contra sua pele. Eduardo tomou seus seios nas mãos e ela sentiu como se esticavam seus mamilos. Nunca o tinha desejado tanto. Desabotoou-lhe o prendedor e viu que afogava um gemido ao ver seus seios cheios, muito maiores do habitual. Começou a acariciar sua pele nua com os dedos e Callie sentiu uma corrente de eletricidade por todo o corpo, desde seus mamilos até os dedos dos pés. –É preciosa… –sussurrou de novo. A cama estava iluminava por luz chapeada da lua. Era como se os dois estivessem em seu próprio mundo mágico. Eduardo a tendeu no colchão sem deixar de olhá-la. Depois, levantou-se e se tirou as calças e a roupa interior. Ficou sem respiração ao ver seu marido completamente nu e tão seguro de si mesmo. Parecia um guerreiro de lenda ou um rei bárbaro e feroz. Aproximou-se dela e começou a tremer ao vê-lo assim. Não pôde evitar sentir certa preocupação ao ver sua imponente ereção, temeu que fora a lhe doer depois do parto e que não fora capaz de fazer o amor com ele. Conteve o fôlego enquanto lhe acariciava a bochecha e beijava lentamente seu pescoço. Inclinou para trás a cabeça e se deixou levar pelas sensações. Eduardo beijou então um de seus seios, depois o outro. Todo seu corpo estava em tensão, não aguentava mais. 43

–É minha, Callie. Só minha –lhe disse enquanto a olhava com seus olhos escuros–. diga-me isso. –Sou tua –sussurrou ela. E sabia que era assim. Tinha pertencido ao Eduardo desde que este lhe deu por primeira vez a mão e a converteu em sua secretária. Beijou-a lentamente, seduzindo-a pouco a pouco até separar seus lábios e jogar com sua língua. Enquanto isso, Eduardo ia acariciando seu estômago com uma mão, baixando-a até o quadril, roçando o bordo de sua calcinha e conseguindo que se estremecesse uma vez mais. Sua mão se movia muito lentamente, baixou até sua coxa e voltou a subir entre suas pernas. Era uma agonia quase insuportável, conteve o fôlego… Mas Eduardo a fez esperar um pouco mais e se distraiu com seus seios. Não o suportava. Suspirou e atirou dele, estava desejando sentir seu peso sobre o corpo. Quando notou que voltava a emprestar atenção a sua calcinha, começou a tremer. Era desesperador a lentidão com que a acariciava. Sabia que estava jogando com ela. Foi então quando por fim atirou lentamente de sua roupa interior para despi-la e só escutou o sussurro da fina seda sobre sua própria pele. Eduardo se tombou sobre seu corpo e voltou a beijá-la. Podia sentir seu membro contra a pélvis e se estremeceu. Cada centímetro de seus corpos parecia unido pelo desejo, o suor e a paixão. Só faltava a união final e já não ia demorar em chegar. Desejava-o, mas também temia que lhe fizesse mal. Eduardo deveu dar-se conta porque se deslizou em seu interior muito devagar, só uns centímetros. ficou sem fôlego. Estava preparada para recebê-lo, mas lhe custou um pouco que seu corpo voltasse a adaptar-se a ele. Foi muito tenro com ela e desapareceu muito em breve qualquer desconforto. Era incrível senti-lo em seu interior. Tão maravilhoso como a primeira vez… foi então quando recordou o que tinham esquecido e abriu muito os olhos. –O preservativo! –É verdade, me tinha esquecido… –repôs Eduardo enquanto abria a gaveta da mesinha. Mas a olhou então e voltou a fechá-lo. –Já não os necessito, querida. Nunca mais –lhe disse–. É minha esposa e me encantaria te deixar grávida agora mesmo. –Agora? –repetiu ela com os olhos como pratos. Mas era muito cedo para pensar nisso. –Não, não estou preparada para… Temos oito dormitórios e quero o enchê-los. disse. Mas não sabia se estava disposta a comprometer-se ainda mais com ele. deslizou-se de novo dentro dela e Callie fechou os olhos, gemendo de prazer. Nesses momentos, não lhe custava sonhar e pensar que tinha tudo o que sempre tinha querido. Era muito difícil tratar de raciocinar nesses instantes. Aferrou-se a seus fortes ombros, lhe cravando as unhas na pele enquanto arqueava as costas. Todo seu corpo estava em tensão, necessitava mais, um pouco mais. Queria que ele a enchesse por completo e passar a eternidade entre seus braços, unida a ele. Foram intensificando o ritmo de seus movimentos, cada vez o sentia mais dentro dela e esteve a ponto de gritar de prazer. Mas inclusive nesse instante, a realidade se entremeteu. Já tinha cometido esse mesmo engano uma vez e não queria repeti-lo. –Preservativo –sussurrou sem fôlego. Durante uns segundos, Eduardo a olhou fixamente, mas fez o que lhe havia pedido. Parecia zangado e tratou de acalmá-lo para desfrutar ao máximo desse momento. 44



–Obrigado –sussurrou ela. –Não me dê –repôs isso ele colocando um dedo sobre seus lábios. Agarrou seus quadris e se deslizou dentro dela. Callie ficou sem fôlego. Esqueceu nesse instante no que tinha estado pensando, só existia o presente e esse homem. Notou um estremecimento muito profundo, um tremor em seu interior que a dominou por completo. Sentia como ia aumentando a tensão até fazer-se insuportável. Jogou para trás a cabeça e deixou de respirar. Fechou os olhos e gritou. Foi uma sensação incrível, de absoluto prazer. Ele não demorou para alcançar o clímax, investindo-a com força uma última vez antes de deixar-se levar e gritar também. deixou-se cair sobre ela, suarento e exausto e ela o abraçou contra seu peito. –É minha e não demorará para lhe render –lhe sussurrou Eduardo. Olhou-o aos olhos. O coração lhe pulsava com tanta força como se o fora a sair do peito. ficaram médio dormidos. Estava muito feliz entre seus braços, ali sentia-se segura. Sabia que Eduardo tinha razão, era dele e seu coração já se rendeu fazia muito tempo.

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Capítulo 7. CALLIE despertou com um sobressalto. Não sabia que hora era, mas acreditava ter ouvido o bebê. levantou-se da cama meio dormida e sorriu ao recordar o que tinha passado, mas viu que Eduardo não estava ali, foi-se. Jogou uma olhada ao relógio que havia sobre a chaminé. Eram as três da amanhã. Não sabia onde poderia estar e não entendia que se foi depois de ter recuperado sua cama como o tinha feito essa noite. Se ruborizou ao recordá-lo. Não ia poder esquecê-lo. Ouviu de novo o pranto do bebê. Correu por ela e tomou em seus braços. –Já passou, já passou… Está bem –lhe sussurrou para tranquiliza-la–. Mamãe está aqui. Já estou aqui. Levou-a a cadeira de balanço e começou a lhe dar o peito. Não podia deixar de olhá-la, era preciosa. Recordou então o que Eduardo lhe havia dito. Essa casa tinha oito habitações e queria encher as de meninos. Não podia sequer imaginar como seria viver em uma casa cheia de meninos como Marisol e com um marido que a quisesse. Mas sabia que a realidade era muito distinta e não sabia se poderia seguir casada com o Eduardo sabendo que nunca a amaria como ela a ele. Haveria sexo, isso não o duvidava, mas não acreditava que fora suficiente para ela. Eduardo lhe havia dito que era dela, de ninguém mais. Mas lhe custava imaginá-lo apaixonado por alguém e preocupando-se com outra pessoa que não fora ele mesmo. Marisol tinha sido quão única tinha conseguido esse tipo de atenção. Não sabia se sua filha e a paixão seriam suficiente base para um matrimônio quando eles dois tinham valores tão diferentes. Quando a menina dormiu, deixou-a com cuidado no berço para não despertá-la. Supôs que dormiria ao menos até as sete ou as oito. Cada noite dormia um pouco mais. E esperava que assim também ela pudesse descansar. Essa noite tinha dormido muito bem nos braços do Eduardo, ao menos até que despertou e viu que estava sozinha na cama. Não deixava de pensar no que lhe havia dito. Queria que fossem uma família, mas não sabia se ia funcionar. Cabia a possibilidade de que Eduardo chegasse a amá-la como ela o amava. Fechou confusa os olhos, não sentia saudades que ele a visse como uma ingênua e uma sentimental. Voltou para seu escuro dormitório perguntando-se onde estaria a essas horas da noite. Pensou que possivelmente tivesse baixado à cozinha para comer algo. Colocou uma bata e desceu as escadas, mas a cozinha estava escura e vazia. Voltou para a planta superior e escutou então a voz do Eduardo na habitação de convidados. –Nada trocou –dizia a alguém–. Nada. Aproximou-se da porta com uma mão sobre a boca e a outra sobre seu coração. –Não volte a chamar –grunhiu ele antes de pendurar o telefone. Pensou que possivelmente se tratasse de uma antiga amante e que por isso se foi do dormitório, para que sua esposa não pudesse ouvir a conversação. Sabia que estava sendo irracional, mas tinha medo. Eduardo lhe tinha assegurado que não tinha havido nenhuma outra mulher da noite que passou com ela. Esse homem não era perfeito, mas sabia que não era mentiroso, justamente o contrário. Podia chegar a ser tão honesto que às vezes roçava a crueldade. –O que faz acordada? sobressaltou-se para ouvi-lo e viu que a olhava da porta. –Levantei-me para lhe dar de mamar a Marisol e vi que te tinha ido –repôs ela parecendo nervosa. 46

–Fui para não despertar, não podia dormir –assegurou Eduardo. –Vá, sinto muito. por que? Estava roncando ou algo assim? Não, não durmo bem acompanhado. Nunca pude fazê-lo. –Alguma vez? –perguntou-lhe surpreendida. –Ouviste alguma vez que uma mulher se ficou dormindo em minha cama?



–Não –repôs timidamente–. A verdade é que foi conhecido pela rapidez com a que te desentendia de seus amantes, a verdade. Eduardo se apoiou no marco da porta e baixou a vista. –Custa-me baixar o guarda –lhe confessou. –Inclusive comigo? –Sobre tudo contigo –sussurrou Eduardo enquanto levantava a vista para olhá-la. A penumbra do corredor lhe impedia de ver a expressão de seu rosto. Mas podia distinguir uma incipiente barba e seus olhos pareciam mais escuros. Tinha aspecto de pirata, um pirata sexy e perigoso. Sem pensá-lo, pô-lhe uma mão em seu torso nu. Só tinha posto as calças de um pijama de algodão. –Posso fazer algo para te ajudar a dormir? –perguntou-lhe. ruborizou-se ao dar-se conta de que sua pergunta podia soar muito descarada. –Me refiro a um copo de leite morno ou algo assim. –Não –repôs ele–, mas obrigado. ficou calada uns segundos antes de lhe perguntar o que queria saber. –O ano passado, quando fui a sua casa, por que não me mandou embora para poder dormir? –sussurrou ela. –Não foi uma mais, Callie. Foi importante para mim e queria que ficasse. –Sério? –sussurrou ela–. por que? – Não sabe? –perguntou-lhe enquanto abraçava-a e lhe levantava o queixo para olhá-la aos olhos–. Necessito, Callie – acrescentou com um sorriso que sempre conseguia derretê-la. Eduardo olhou a sua mulher na penumbra do corredor. Suas bochechas rosadas, seus olhos da cor das esmeraldas e seu cabelo comprido e ondulado. Era sexy, doce e muito desejável. Acabava de estar com ela e já a desejava outra vez. Queria mais. Viu que lhe encheram os olhos de lágrimas. –Necessita-me? –repetiu Callie–. Mas pensei que só queria me ter aqui pelo bebê. –Não é a única razão –repôs ele aproximando-se um pouco mais a ela. Callie estava tremendo e abriu a boca para dizer algo, mas não o fez. Não parecia atrever-se. –Quero ficar contigo e ser sua esposa –disse então em voz muito baixa. O coração lhe deu um tombo para ouvi-lo. –Querida… –Mas não penso ignorar a meus amigos nem a minha família para que você não sinta-se inseguro. –Segue me jogando em cara que te proibisse falar com o Brandon McLinn? Sim, não permitirei que o siga fazendo. –Te esqueça dele, Callie –lhe disse com firmeza e um pouco decepcionado. –Não. É meu amigo. –Seu amigo? –repetiu zangado–. Me disse que tinham estado prometidos desde o instituto e que, embora te tivesse deitado comigo, eu não era nada para ti e foste desfazer de mim. Lamentou em seguida haver-lhe dito. Callie lhe aproximou, parecia algo incômoda. 47



–Tem uma explicação –lhe assegurou ela–. O dia da festa de graduação, Brandon e eu fizemos um pacto. Se não estávamos casados aos trinta, nos casaríamos o um com o outro. –Mas se só tem vinte e cinco anos. –Sei. Começo a pensar que ao melhor Brandon se sentia um pouco ameaçado por ti. Viu de repente que tudo tinha sentido. –Não estava apaixonada por ele, verdade? –perguntou-lhe então–. Brandon queria desfazer-se de mim e funcionou – adicionou enquanto se passava a mão pelo cabelo–. Usou depois a gravidez como desculpa para conseguir o que queria. Callie parecia muito confusa. –Ele me quer, é verdade, mas como a uma irmã! Como pude ser tão tolo? –disse fora de si.



Essa formosa noite, quando fizeram o amor pela primeira vez, quando o entregou sua virgindade, tinha pensado que sua relação poderia ser diferente. Mas tinha descartado essa preciosa conexão fazendo caso às insinuações de seu rival. –Brandon McLinn está apaixonado por ti –lhe disse então–. O vi em seus olhos. –Não, estaria tratando de me proteger –protestou Callie. –Pode que você esteja cega e não veja seus verdadeiros sentimentos, mas eu não estou-o –repôs ele com firmeza–. Não voltará a falar com ele nem com sua família. –O que? –exclamou Callie–. O que tem que ver minha família com tudo isto? Não podia explicar-lhe sem descobrir o que tinha estado lhe escondendo por seu próprio bem. –Sou seu marido e tem que confiar em mim e me obedecer. –te obedecer? –repôs Callie cruzando-se de braços–. Em que século vive? Pode que seja meu marido, mas já não é meu chefe! –Estou tratando de proteger a nossa família. Tenho minhas razões, Callie. me acredite –lhe pediu ele enquanto acariciava com suavidade sua bochecha. Ela fechou os olhos e sentiu que se estremecia, mas deu um passo atrás. –Não –repôs Callie–. Quero ser sua esposa. Mas tenho que ver minha família e a Brandon. –Poderia te levar aos tribunais –lhe ameaçou ele–. O acordo pré-nupcial… Muito bem, faz-o. me denuncie –repôs ela. Callie se tinha dado conta de que era um farol, não ia denunciar a sua própria esposa, à mãe de seu bebê. Os dois sabiam. –Não vou permitir que… –Não te pedi permissão. Simplesmente, estou-lhe isso dizendo. Preciso ter relação com minha família e também com o Brandon. E quero que conheçam a Marisol. Vou em casa visitar minha família e, se quiser, pode te divorciar de mim ou me denunciar. Deu-se conta de que lhe tinha ganho a partida.

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Mas seguia sem poder esquecer nem perdoar a maneira em que seus pais tinham tratado Callie quando ligou para eles para lhes anunciar o nascimento de sua neta. Depois da chamada, ficou-se chorando e repleta de dor. Não podia esquecê-lo. Sempre tinha sonhado tendo uma família própria, uma em que reinasse o amor e não podia permitir que ninguém lhe fizesse sofrer a Callie como o haviam feito seus próprios pais. Olhou-a e lhe ocorreu uma ideia. Sabia que era algo reprovável, mas era por seu bem. –Não pensaste que talvez não queiram verte? –perguntou-lhe–. Brandon McLinn não te ligou durante os últimos três meses e sua família não devolveu-te a chamada que lhe fez. Viu que tinha conseguido semear a dúvida em sua mente. –Não posso culpá-los - disse Callie–. O que fiz foi uma grande decepção para meus pais… – Não diga isso. tiveste um bebê e te casaste. São boas notícias e, quando tratou das compartilhar com eles, fizeram-lhe isso passar muito mal. –Sei que te parecerá que foram cruéis comigo, mas conseguirei que me perdoem –lhe disse Callie com os olhos umedecidos pelas lágrimas–. Tenho que tentá-lo. –Por que não lhes escreve uma carta antes de chamá-los? Se te apresentar sem avisá-los, como pode saber se forem reagir bem? E se lhe dão com a porta na sua cara? De verdade quer correr esse risco? Callie estava pálida e o olhava fixamente. –Lhes escreva antes de ir –insistiu ele–. É a melhor maneira de organizar suas ideias. –Bom, pode ser que tenha razão. Morreria se me dessem com a porta na minha cara. Ou se negassem a ver a Marisol. Embora isso nem sequer posso imaginá-lo –disse com um pouco de tristeza–. Você acha que deveria escrever também a Brandon? Eduardo suspirou e assentiu com a cabeça. –De acordo, farei-o –lhe disse Callie sorrindo–. Obrigada por me ajudar. Não sei o que faria sem você. Nunca a tinha visto tão formosa como nesse preciso instante. Hipnotizado, acariciou sua bochecha e logo a abraçou. Sentiu seus suaves seios contra seu torso e o envolveu o aroma floral de seu cabelo. –Já te disse que não quero que me dê obrigado –lhe sussurrou ao ouvido. Sobre tudo porque não ia deixar que suas cartas chegassem a ninguém de sua família nem ao McLinn. –É minha mulher, Callie, e faria algo para te manter a salvo e feliz. –Com quem falava por telefone? –perguntou-lhe ela de repente. –Como? – Prometi-me que não ia perguntar o, que não era meu assunto, mas… – Querida… –sussurrou ele com um doce sorriso. Callie era completamente transparente. Era algo que gostava muito dela. –Acreditava que estava falando com outra mulher? Me passou pela cabeça. Todas essas mulheres lhe desejam e… só desejo a uma mulher –disse olhando-a aos olhos–. Sou teu e só teu, querida. Nunca te trairia, Callie. 49

– –Mas eu

–De verdade? Estava falando com um competidor –lhe disse ele sem lhe mentir do tudo.



Callie suspirou aliviada e o abraçou, apertando a cara contra seu peito nu. Supôs que tinha ouvido sozinho o final de sua chamada Telefônica. De haver escutado toda a conversação, não lhe teria preocupado que estivesse falando com outra mulher. A realidade lhe teria doído mais ainda. –Tenta te pôr em contato com minha esposa uma vez mais e te arrependerá de havê-lo feito –havia dito ao McLinn. –Não pode evitar que a veja. Nós dois sabemos que não poderá fazê-la feliz –o tinha respondido o outro homem fora de si. Eduardo levava meses evitando que Callie recebesse as cartas e as chamadas do McLinn. Este tinha chegado inclusive a tentar lhe entregar um novo telefone móvel em um sobre acolchoado, mas seu guarda-costas o tinha interceptado a noite anterior, enquanto Callie se preparava para o baile. Tinha-lhe zangado tanto sabê-lo que decidiu levantar-se e chamar o McLinn a altas horas da madrugada. O jovem granjeiro o tinha ameaçado chamando à polícia e denunciá-lo por sequestro. Não lhe preocupava a polícia, mas sim que McLinn retornasse a Nova Iorque. Não ia poder evitar que esse homem se aproximasse-lhe de Callie quando estivesse pela rua. Precisava fazer algo para evitá-lo. Das bodas, tinha-lhe encarregado a seu detetive que seguisse a pista de sua esposa e de toda sua família. Eduardo tinha queimado as cartas que lhe tinham enviado seus pais e inclusive as flores de sua irmã. Ao princípio o tinha feito porque não confiava em Callie. E tinha seguido depois porque tratava de protegê-la. Durante esses meses, as coisas tinham voltado para a normalidade e o pai de Callie já não mostrava seu aborrecimento nas cartas, mas Eduardo não se confiava. Recordava que inclusive seus próprios pais tinham tido seus dias bons. Não queria que ninguém voltasse a lhe fazer mal. Mas uma voz em seu interior lhe recordava que essa não era a única razão. Ainda o doíam as palavras de seu pai. Tinha-o acusado de não ser o suficientemente homem para lhe pedir a mão de sua filha. Acreditava que nunca ia ser um bom marido nem um bom pai. Para o Walter, como para muitos outros, Eduardo era um tirano egoísta e exigente, o homem poderoso ao que todos obedeciam e desprezavam ao mesmo tempo. Tratou de convencer-se de que não necessitava o respeito desse homem, mas não ia permitir que ninguém insultasse a sua esposa. Abraçou a Callie um pouco mais forte e respirou profundamente. Começava a confiar de novo nela, mas em ninguém mais. levou-se muitas decepções na vida para permitir que alguém voltasse para abandoná-lo. Separou-se dela e a olhou. Callie o observava com o cenho franzido. A camisola lhe tinha aberto um pouco e apareciam seus avultados seios. Foi consciente nesse instante do que era o que necessitava. 50

–O que foi o que me disse antes? Sabe acaso como me ajudar a conciliar o sonho? Callie se ruborizou ao escutar sua sugestão. Tomou sua mão e a levou de volta à habitação. Empurrou-a contra a cama com cuidado. Pensou que parecia um anjo à luz da lua, com seu cabelo castanho em uma trança e sua pálida pele. Beijou-a apaixonadamente e ela não demorou para responder com o mesmo fogo, como se não tivessem feito já o amor umas horas antes. Deu-se conta de que a desejava mais ainda. Callie o acariciou com suas delicadas mãos, percorrendo seu torso nu, os ombros e as costas. Era uma sensação incrível. E não pôde conter um gemido quando acariciou sua entre perna por cima das calças do pijama. Agarrou sua mão para detê-la. –Se seguir assim, não vou durar muito –lhe sussurrou ele. –Ninguém te está obrigando a esperar –repôs ela com um misterioso sorriso. –Querida… –sussurrou enquanto se desatava as calças e a baixava um pouco. A Callie lhe foram os olhos a sua ereção e tomou em suas mãos. Era incrível. ficou sem fôlego e o coração pulsava a mil por hora. Queria estar dentro dela e sentir que eram um. –O que está…? –gemeu ele. Callie o olhou com os olhos cheios de desejo e necessidade enquanto atirava dele. –Tome, me faça tua –sussurrou. Não podia esperar mais. Callie era preciosa e estava em sua cama, esperando-o… Não se tomou sequer o tempo necessário para despir de tudo. Não podia. Deslizou-se entre suas coxas e ela gemeu e se aferrou a seus ombros. Seu rosto refletia a intensidade e a angústia do êxtase. Pensou durante um segundo que lhe tinha feito mal e tratou de retirar-se, mas ela o deteve. –Não –sussurrou Callie lhe cravando as unhas na carne e começando a mover as quadris–. Mais. Fez o que lhe pedia e ela gemeu de prazer. Aumentou então a intensidade e a rapidez dos movimentos até que o cabeceira da cama golpeou com força a parede. –Para! –sussurrou ela com os olhos muito abertos–. Não desperte ao bebê! Não pôde evitar tornar-se a rir e lhe deu um tenro beijo na frente. Agarrou os quadris de Callie para controlar melhor seus movimentos e fazê-lo mais lentamente. Sem saber por que, deulhe a impressão de que ver-se forçado a guardar silêncio não fazia a não ser aumentar o prazer. Era como se estivessem fazendo um pouco proibido. Seguiram assim, cada vez com mais intensidade até que ela se aferrou a seus braços e ouviu seu grito silencioso. Não demorou para chegar ele também ao êxtase e todo seu corpo se estremeceu. Foi uma sensação maravilhosa, uma explosão de prazer. Deixou-se cair sobre ela. Algum tempo depois, não teria podido dizer quanto, deu-se conta de que podia estar lhe fazendo dano com seu peso. Foi um momento precioso e teve inclusive a sensação de que poderia chegar a dormir… Começou a afastar-se dela, mas Callie o agarrou por braço. –Fica comigo –lhe pediu. Duvidou um segundo, sabia que não seria capaz de dormir a seu lado. Mas nesse momento, não podia lhe negar nada. tombou-se a seu lado e a atraiu para seu torso. 51

Callie o olhou então aos olhos. –Quero-te –sussurrou ela. Suas palavras o surpreenderam. –Quero-te, Eduardo –repetiu abraçando-se a seu torso–. Nunca deixei de te amar e nunca o farei. Acariciou-lhe o cabelo sem saber o que dizer. Essas palavras eram um presente repentino e precioso. Nunca as havia dito a ninguém nem tinha querido que se as dissessem, mas nesse momento, pareceu-lhe o mais doce para seus ouvidos e autêntico veneno para seu coração. Deu-se conta de que cada vez tinha mais que perder e mais que proteger. A abraçou com força. perguntou-se se seguiria amando-o se soubesse o que havia feito. –O que te parece se passarmos o Natal no sul da Espanha? –perguntou-lhe de repente com forçada alegria–. Tenho uma casa na costa, perto do povo onde nasci. O que diz? O que mais gostava dessa ideia era estar a milhares de quilômetros do Brandon McLinn. Lhe sorriu meio dormida. –Iria a qualquer lugar contigo –sussurrou Callie. Emocionou-lhe ver que sua esposa tinha um espírito generoso e um coração crédulo. Ela conhecia seus defeitos melhor que ninguém. E apesar de tudo, o queria. Pensou que era o melhor presente que lhe tinham feito e o que menos se merecia. Ela ficou dormindo em seus braços e ele se distraiu olhando as luzes da cidade pela janela. A pesar do frio desse dezembro, a confissão do Callie havia conseguido derreter seu coração. Era como um quente sol para um homem que tinha passado sua vida médio congelado. Decidiu nesse instante que nunca deixaria que se fora de seu lado. Não queria perdê-la. Não ia deixar que acontecesse.

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Capítulo 8. SENTADA junto à piscina e com vistas ao Mediterrâneo, Callie tratou de convencer a seu pálido corpo para que se bronzeasse sob o quente sol de Espanha. Marisol estava tornando-a sesta dentro da luxuosa casa. A encantava esse lugar. Seguia muito branca, mas nunca tinha sido tão feliz. Tão feliz e tão triste ao mesmo tempo. Levavam quatro meses longe de Nova Iorque. Seu arrumado marido os havia levado por todo mundo em seu jato privado. Tinha visitado lugares com os que tinha sonhado desde sua infância. Tinham passado o Natal na Espanha. O dia de Véspera de natal tinham celebrado com um jantar romântico uma espécie de aniversário da primeira vez que tinham estado juntos. Quando despertou à manhã seguinte, Eduardo já não estava. Foi procurar à menina e desceu ao salão para descobrir uma obscena quantidade de presentes sob a árvore. De pé a seu lado estava ele, disfarçado com um traje de Santa Claus e uma barba branca. Marisol se tinha posto-se a rir ao vê-lo e ela também. Seu pai lhe havia comprado os brinquedos mais caros e mais roupa da que ia poder usar, mas a menina se limitou a jogar com o papel que o envolvia. –Vê o que passa quando te gasta muito dinheiro em um bebê, Santa Claus? –disse-lhe ela. –Sim –repôs ele–. E também tenho algo para ti, senhora Claus. Perdão, queria dizer «senhora Cruz». Colocou a mão em seu saco e lhe deu um chaveiro com seus iniciais. Parecia de ouro e diamantes. –É precioso. Mas, como me dá de presente algo assim? Vai dar medo perdê-lo… –repôs ela. –O chaveiro não é o presente, a não ser a chave –lhe disse ele–. Sal à rua. Embora seguia em pijama, fez o que lhe pedia. ficou boquiaberta ao ver o que lhe esperava no jardim da casa, um flamejante Rolls-Royce. –Seu prateado recordou a ti –murmurou Eduardo aproximando-se dela por detrás–. Levava um vestido da mesma cor a noite do Baile de Inverno. Brilhava como uma estrela. Voltou-se para olhá-lo e lhe tirou a barba branca. –E cada dia me parece mais bela ainda, senhora Cruz –adicionou ele lhe acariciando a bochecha. Ficou nas pontas dos pés e lhe deu um beijo com todo o amor que sentia por ele. Não se deteve até que Marisol começou a retorcer-se e a queixar-se. Sorrindo, se separou do Eduardo. Acreditava que era melhor que a menina não a visse beijando a Santa Claus. –Obrigado –lhe disse com lágrimas nos olhos–. Mas agora meu presente te parecerá muito pouco. –O que me compraste? Uma pastilha de sabão e uma gravata muito feia – brincou ela. 53



–Sim? Que bem, justo o que precisava –repôs ele. Em realidade, tratava-se de uma taça para o café que Marisol e ela haviam feito juntas. Tinha-a decorado com os rastros das pequenas mãos de seu bebê. Sabia que ia encantar lhe. –Te ter a ti como esposa é o único presente que necessito, Callie –lhe disse Eduardo com seriedade. Estava feliz, mas seu sorriso desapareceu quando recordou o oco que tinha em sua vida. –Pensei que hoje por fim me ligaria minha família –lhe confessou muito triste–. É Natal… Não se preocupe, querida, seguro que falará logo com eles.



Mas levavam já muitos meses ignorando-a. Tinha-lhes enviado uma carta cada semana com fotografias da Marisol e de sua vida na Europa. Nelas os falava da menina e de tudo o que lhe passava. Também lhes tinha confessado o que sentia pelo Eduardo. Tinham sido cartas em as que lhes tinha deixado seu coração, por não tinha tido nenhuma resposta deles. Seu marido viajava com frequência por todo mundo, mas freqüentemente o acompanhavam elas duas. Estava sendo uma experiência incrível conhecer tantos lugares distintos. Tinham passado o dia de São Valentín em Paris, em uma luxuosa suíte com vistas a torre Eiffel. Eduardo a tinha surpreendido ali com um jantar romântico. Se estremeceu ao recordar o champanha, os morangos banhados em chocolate e os ardentes beijos que tinham compartilhado. Uma de suas últimas viagens tinha sido a Itália. Alugaram em Veneza um palácio com vistas ao Grande Canal e compartilharam um romântico passeio em gôndola. Sorriu ao recordar que Marisol tinha provado seu primeiro sorvete em Roma. Tinha sido incrível compartilhar essas aventuras em família. Ela tinha crescido em uma granja e nunca tinha viajado com seus pais. Nunca poderia haver-se imaginado que ia ter uma vida como aquela, tão internacional e glamorosa. Começava a entardecer e a suave brisa do Mediterrâneo balançava as palmeiras do jardim. Jogou a cabeça para trás para contemplar o céu azul. Fechou os olhos e deixou que o quente sol da Espanha a enchesse de energia. Deu-se conta de que levavam sete meses casados e ainda não se havia ficado grávida, embora Eduardo não se cansava de tentá-lo. Cada noite, depois de fazer o amor, Eduardo a abraçava até que se ficava dormindo. Depois se ia ao quarto de convidados para dormir sozinho. Não gostava de despertar e ver que ele não estava a seu lado, mas era a única queixa que tinha. Sua vida era perfeita com sua nova família. Mesmo assim, sentia falta da outra família, a que tinha no Dakota do Norte. As cartas não tinham servido de nada e pensou que tinha chegado a hora de fazer algo drástico. –Callie! Abriu os olhos e sorriu ao ver que lhe aproximava Eduardo. Levava posto um traje de banho e lhe foram os olhos a seu musculoso torso e a seus fortes braços. Tinha uma forma tão sensual de andar e mover-se que conseguia seduzi-la ainda sem tentá-lo. –Eu gosto de verte aqui, junto à piscina –lhe disse Eduardo enquanto contemplava seu diminuto biquíni–. Mas não tem calor com toda essa roupa? Ela se tornou a rir. –Sempre me diz o mesmo. Fez-o em janeiro, quando a chuva nos surpreendeu e não podia deixar de tremer. Estava geada e começou a me tirar a roupa dizendo que devia ter calor! –queixou-se ela entre risadas. 54

–Só quero que saiba que sempre estou disponível para te ajudar com a roupa –disse-lhe com fingida inocência–. Quer te dar um banho comigo? Seu olhar o fez suspeitar que o banho terminaria com eles dois nus e na cama. O calor de seus olhos sempre conseguia deixá-la sem fôlego. adorava ver que seguia lhe parecendo atrativa depois da gravidez e não deixava de dizer-lhe nem de demonstrar-lhe –De acordo –repôs sorrindo. Eduardo atirou dela para que se levantasse e se meteram na água. Era agradável refrescar-se depois de ter estado tomando o sol. Nadaram uns minutos. Depois, ele a tomou em seus braços e a beijou. aferrou-se a ele com todas suas forças, saboreando a incrível sensação de ter seu musculoso corpo contra o seu. Amava-o com todo seu coração. E, embora ele não o havia dito ainda, estava convencida de que era só uma questão de tempo. –Querida, te deixar um pouco sozinha –lhe sussurrou Eduardo então. –Por que? –repôs ela–. aonde vai? Ao Marrakech, tenho pendente um negócio importante. –A Marrocos? Quanto tempo estará ali? Isso é o mau, tenho que tratar com um empresário que é bastante imprevisível. As negociações poderiam durar um dia ou uma semana.



–Uma semana? Uma semana na casa sem você? Não vou suportar o… Eu também te sentirei falta de você.



Respirou profundamente e decidiu lhe contar seu plano. –Mas seria o momento perfeito para visitar meus pais. Poderia ir no outro avião e… Como? –repôs Eduardo franzindo o cenho. –Estive escrevendo a minha família cada semana durante quatro meses, mas não serviu que nada, tenho que ir vê-los. Eduardo a olhou fixamente e lhe deu a impressão de que estava mais pálido. –Não, não pode ir –disse com firmeza. –Por que? –repôs indignada. Já tinha suposto que ia ter que brigar com ele e estava preparada para isso. –Que mais te dá que vamos? Você estará em Marrocos. –Ia propor te que lhes viessem Marisol e você comigo. Marrakech é precioso em abril. –Esse não era o plano que me explicou faz uns minutos –lhe disse ela com suspeita. –Os planos trocam. Olharam-se aos olhos. A água da piscina os balançava ligeiramente. A brisa era algo mais forte e agitava as palmeiras. Chegava-lhes até ali o rugido do mar e os sons das aves marinhas. Estava rodeada de beleza, mas não podia seguir ignorando o vazio que tinha em seu coração. –Jogo muito de menos, Eduardo –lhe disse com lágrimas nos olhos–. Não sei que mais posso fazer para conseguir que me perdoem. –Pensei que foi feliz aqui –repôs ele com um tom de recriminação. –E o sou, mas os sinto falta da cada hora, todos os dias. É como um buraco em meu coração –reconheceu com as lágrimas rodando por suas bochechas–. Não posso suportar seu silêncio. Sinto-me perdida sem eles. Eduardo a olhou durante um bom momento. Depois, fechou os olhos e exalou. –De acordo –lhe disse em voz baixa. 55





–Parece-te bem? –Não quero que veja o McLinn, mas sim a seus pais e a sua irmã. –Posso ir ver os o Dakota do Norte? –sussurrou ela sem poder acreditar-lhe ainda. –Não, não quero que estejam tão longe de mim, mas eu tenho que estar em Marrakech amanhã… – Assim devo pospor minha visita, não? – Não –repôs Eduardo enquanto lhe levantava brandamente o queixo–. Alugarei um jato privado que recolha a sua família. Se querem vir, encontraremo-nos com eles manhã no Marrakech. O que te parece? Olhou-o surpreendida, sem saber o que dizer. –Assim poderá vê-los e eles terão a oportunidade de me conhecer –lhe disse Eduardo apartando a vista–. Não só como o multimilionário que possui os jazidas de petróleo de seu povo, mas sim como seu marido e o pai de Marisol. Parece-te bem? – Parece-me fenomenal! –exclamou ela. Abraçou-o com força e o beijou uma e outra vez. Beijou suas bochechas, a frente, a queixo… –Eduardo, quero-te tanto! Obrigado, meu amor, obrigado! Seu marido parecia a escultura de um deus grego. Nunca se cansava de contemplar seu musculoso corpo. As gotas de água que cobriam sua pele bronzeada brilhavam ao sol. Agarrou-a pela cintura para levantá-la e ela o rodeou com suas pernas. –Esta vez, sim deixarei que me dê obrigado… –lhe sussurrou Eduardo. Beijou-a então apaixonadamente sob as palmeiras e o quente sol de Espanha. Muitas horas mais tarde, Eduardo contemplou a sua esposa enquanto dormia nua em seus braços. Passava já da meianoite e se deu conta de que desejava dormir com ela. Não só queria lhe fazer o amor, essa parte era fácil. Callie lhe parecia uma mulher muito bela e acreditava que qualquer homem a desejaria em sua cama. Recordou a emoção que havia sentido sua esposa ao poder por fim falar por telefone com seus pais essa mesma tarde. Tinha estado tão contente que nem sequer lhe tinha chamado a atenção que a seus pais surpreendesse saber dela ou o fato de que estivesse vivendo na Espanha. Tinha havido muitas lágrimas a ambos os lados da linha Telefônica e os Woodville tinham aceitado a tomar o avião que tinha fretado e a unir-se com eles em Marrocos. Tinham passado as seguintes horas organizando outros detalhes da viagem. Callie estava louca de alegria e, depois de deitar ao bebê, tinha-o levado a cama com uma lhe sugiram sorriso. Depois de fazer o amor, tinha-a sujeito entre seus braços até que se dormiu, era algo que fazia sempre. Olhou com tristeza a seu redor. Ele também tinha tratado sem sorte de conciliar o sonho, mas sempre lhe acontecia o mesmo. Depois de fazer o amor, sentia-se completamente depravado e em paz, mas o sonho desaparecia no preciso instante em que fechava os olhos. Nunca tinha podido dormir com nenhuma das mulheres com as que se havia deitado. Até esse momento, nunca lhe tinha preocupado não poder fazê-lo. Tinha pensado que seria distinto com Callie, mas nem sequer com ela sentia que podia baixar por completo o guarda. Suspirou ao ver que tampouco essa noite ia poder dormir com ela. Teria que levantar-se e ir-se à habitação de convidados. Mas queria dormir com sua esposa e, mais que nada no mundo, queria merecê-la. Das bodas, fazia todo o possível para que sua família estivesse a salvo e feliz. Tinha apoiado Callie em todos os sentidos. Exceto em um. Nenhuma de suas cartas tinha chegado a sair dessa casa e tampouco tinha deixado que chegassem a suas mãos as de sua família. 56

Sentiu um calafrio ao pensar no que tinha feito. Não sabia se Callie o perdoaria quando o descobrisse. Esperava que entendesse seus motivos. Mas quando viu essa tarde como chorava Callie na piscina, derrubou-se. Temia o que ia passar quando falasse com seus pais e descobrisse o que fazia. Era possível que o serviço de correios extraviasse uma carta, mas não dezenas delas. Deu-se conta de que teria que contar-lhe ele antes de que o descobrisse. Acreditava que era melhor que permitir que fora Brandon McLinn, por exemplo, o que o dissesse. Estava farto de sentir sempre o fantasma do McLinn espreitandoos. Era como se acreditasse que, o dia menos pensado, Callie se fartaria de estar com um homem como ele e decidisse deixá-lo. Sentia que Brandon McLinn estava esperando entre as sombras esperando que ele cometesse um engano para lhe arrebatar ao Callie. E temeu que lhe ocultar a verdade a sua esposa fora o engano que pusesse em perigo sua relação. Angustiado, abraçou ao Callie com mais força. Seus pais e sua irmã já voavam para ali, mas seu detetive estava tendo problemas para localizar ao Brandon McLinn. Temia que houvesse descoberto onde viviam e estivesse já na Espanha, mas recordou que estavam a ponto de sair em umas horas para Marrocos. Entristeceu-lhe ver a cara de Callie, dormindo a seu lado. Ela confiava nele e sabia que ele devia fazer o mesmo. Não podia seguir investigando a sua família nem ao Brandon McLinn, sabia que tampouco era boa ideia revisar seu correio eletrônico nem controlar suas chamadas telefônicas. O que necessitava de verdade era relaxar-se e confiar nela. E confiar também no resto do mundo. Mas não podia. Para ele, era como voar às cegas. Se não o controlava tudo, sentia que não poderia evitar uma catástrofe nem manter a sua família a salvo. Precisava estar seguro de que ela nunca o deixaria, que nunca ia romper seu coração nem o da Marisol. Tratou de acalmar-se concentrando-se na tranquila respiração de Callie e fechou os olhos, mas todo seu corpo estava tenso e o sonho não chegou. Sentou-se na cama e viu que começava a amanhecer. Escutou o suave canto dos pássaros e o rugido do mar. passou-se as mãos pelo cabelo. Queria merecê-la, confiar nela, amá-la. –Eduardo? –sussurrou ela de repente colocando uma mão em suas costas. Deu-se a volta e viu que Callie o olhava com os olhos cheios de emoção. –O que te passa? –perguntou-lhe preocupada. Olhou-a de cima abaixo. Estava nua e confiava plenamente nele. O pareceu tão formosa… –Sonhei que me deixava –lhe respondeu em voz baixa. Callie abriu muito os olhos e se incorporou na cama. – Isso não vai acontecer nunca –repôs abraçando-o e atirando dele para que voltasse a tombar-se. –Meus pais também se queriam ao princípio –lhe disse enquanto lhe acariciava a juba–. Quiseram ter um filho e construíram uma casa. Mas depois se foram distanciando e os segredos e as mentiras acabaram com esse amor. Minha mãe conheceu outro homem e meu pai nunca o superou. Callie tomou com carinho suas mãos. –Isso não nos vai passar - lhe assegurou ela. Apartou o olhar para a janela, para as luzes cinzentas do amanhecer. –Foi um sonho… –insistiu ele. Callie o olhou confusa, franzindo o cenho. –Mas você nunca dorme, não sonha –murmurou. voltou-se para olhar a sua bela esposa. Era muito boa pessoa e confiava em todo mundo, embora não o merecesse. Respirou profundamente e se estremeceu. –Agora sim –sussurrou ele.

Capítulo 9 57

CALLIE estava tão nervosa que não podia deixar de mover-se enquanto saíam do aeroporto Marrakech. Eduardo, que conduzia o carro no que viajavam, acariciou seu joelho para tratar de acalmá-la. –Sinto-o –repôs ela olhando o de sobre olho–. É que estou tão nervosa e emocionada… – Sim, sei –repôs Eduardo com um sorriso. Mas o doce gesto logo que durou e voltou a concentrar-se na estrada, agarrando com força o volante. Sentiu saudades que estivesse preocupado pela reunião de trabalho que tinha esse dia. Era algo que não estava acostumado a lhe afetar tanto. Não entendia por que parecia tão tenso. girou-se para olhar a Marisol, que ia em a parte de atrás do carro. Detrás deles ia outro veículo com seu pessoal e os guarda-costas. Passaram por diante de umas muralhas do século XII, também se via a medina e um deserto cheio de Palmas. Voltou-se para olhar de novo a seu marido, o homem mais bonito do mundo. Levava um traje escuro e era tão moreno que parecia um xeque. Ela se havia posto um caftán comprido de cor arroxeado. sentiu-se como uma princesa árabe a seu lado. Era o dia mais feliz de sua vida. Acreditava que já não tinha motivos para seguir estando triste. –Obrigado –lhe disse ela por enésima vez. Eduardo lhe dirigiu um olhar de sobre olho. –Deixa-o já, Callie. –Não sabe o que isto significa para mim. –Digo-o a sério, não me dê obrigado –insistiu um pouco irritado. Saiu da estrada principal e se aproximou de uma guarita. Eduardo lhe disse algo em francês ao guarda de segurança e se abriu a grande porta metálica. Entraram então pelo caminho que conduzia até um enorme riad, o típico palácio marroquino. Tinha dois novelo e estava rodeado de jardins. Viu estilizadas palmeiras rodeando uma grande piscina que brilhava sob o sol. A grande casa tinha uma mescla da arquitetura tradicional marroquino com um toque de glamour francês. Apareceu ao guichê estirando a cabeça para poder vê-lo tudo. Era uma casa preciosa. –O que é isto? – Foi um hotel nos anos vinte, mas agora pertence a Kasimir Xendzov, que nos deixou isso para que o utilizemos durante nossa estadia no país. –Ele não vai estar aqui? – Não –repôs Eduardo. –Mas… Não entendo por que não vive nesta mansão –comentou surpreendida. –Não gosta de estar na cidade, prefere viver como um nômade no deserto – explicou-lhe Eduardo com um sorriso–. Como esses xeques das novelas de amor que tanto você gosta. –Mas ele é russo, não? Sim, a gente daqui o chama «o czar do deserto».



–Sério? E como é? – Quem? Kasimir? Frio e desumano como seu irmão. Recorda ao Vladimir Xendzov? – O príncipe Vladimir? O homem que nos roubou o negócio do Yukón? – Sim. Em realidade não é um príncipe, embora ele diga o contrário. Mas sim, são irmãos e se aconteceram os últimos dez anos tratando de destruir o um ao outro. –Isso é horrível! –exclamou horrorizada. –Sim, mas me ajudará a conseguir o que quero. –Esse Vladimir era um corrupto e homem muito perigoso. Recordo-o perfeitamente –lhe disse ela um pouco preocupada–. Crie que é boa ideia pactuar com seu irmão? Não se preocupe. Aqui estamos a salvo. Kasimir é nosso anfitrião e sua honra está em jogo. 58



Estacionou frente à porta, desceu-se do carro e lhe entregou as chaves a um criado que os tinha saído a receber. Callie o seguiu com sua filha de sete meses em seus braços. Podia ouvir a água de uma fonte próxima. Levantou a vista para contemplar melhor a impressionante casa e viu uma sombra em movimento depois de umas cortinas. –Está aqui? –sussurrou ela um pouco assustada. Eduardo assentiu com a cabeça e ela se estremeceu. Entrou na casa com a menina apoiada em seu quadril. Seguiam-na seu marido e os guarda-costas. O desenho da casa por dentro era de inspiração árabe, com tetos planos e mosaicos nas paredes. Havia arcos em vez de portas e decorações florais e geométricas em móveis e tetos. Era impressionante. Viu um pátio interior com muitas novelo e flores. Respirou profundamente ao atravessá-lo. Era maravilhoso estar ali e escutar a água da fonte mesclada com o canto dos pássaros. Ouviu então um grito de mulher. Girou-se depressa e instintivamente levantou o braço para proteger a sua filha de um perigo invisível. Mas não havia nenhum perigo, a não ser sua irmã, que corria para ela. –Sami! –exclamou Callie. Viu então que também estavam seus pais. –Mamãe! Papai! Callie, minha Callie… –sussurrou sua mãe chorando enquanto a abraçava–. É seu bebê? Minha neta? Sim, é Marisol –respondeu Callie com a voz carregada pela emoção do momento. Sua mãe não deixava de chorar enquanto abraçava a Sami, a Marisol e a ela. Seu pai lhes aproximou então e as abraçou a todas com seus largos braços. O surpreendeu ver que ele também estava chorando. Era a primeira vez que o via assim. –Joguei-lhes tanto de menos! –disse-lhes Callie. Olhou ao Eduardo pela extremidade do olho. Estava a certa distância, observando-os. –Foi culpa minha –lhe disse seu pai–. Não deveria te haver escrito essa carta tão desagradável, mas estava muito zangado. Sua mãe não deixava de chorar e já sabe que não posso pensar com claridade quando está chorando. Não sente saudades que não tenha querido saber de nós… A seu pai lhe quebrou a voz e não pôde seguir falando. Não sabia a que se referia, mas estava tão feliz nesses instantes que não quis perguntar-lhe Marisol, ao ver todos esses adultos chorando a seu redor, gemeu com uma careta um pouco assustada e olhou a sua mãe de sobre olho. –Tudo está bem, carinho –disse Callie sorrindo–. Por fim está tudo bem, não lhe preocupe. Jane Woodville estendeu os braços para sua neta com lágrimas rodando por seus bochechas gordinhas. Viu então quanto se parecia Marisol a sua avó. –Posso? –perguntou a Callie sua mãe. Entregou a Marisol para que a sustentara. A menina ficou uns segundos um pouco assustada, mas Jane não demorou para ganhar sua confiança. 59

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Uns minutos mais tarde, foi sua tia Sami a que quis sustentá-la e depois, o avô Walter. Marisol se tinha acostumado em seguida a eles e não demorou para rir. Olhou então a sua família, parecia-lhe impossível que tivesse estado separada deles durante sete meses. Eram as pessoas mais boas que conhecia e os queria com loucura. À exceção de seu marido. Olhou com adoração ao Eduardo, mas seguia sem aproximar-se deles. –Mari-Marisol… –pronunciou seu pai com um pouco de incerteza. Callie se voltou para ele, sorrindo e com os olhos cheios de lágrimas. –Marisol Samantha Cruz –lhes disse Callie. –Puseste-lhe meu nome? –replicou Sami para ouvi-lo–. Então, há-me perdoado embora te traísse como o fiz? Acreditava que estava fazendo o correto ao chamar a seu ex-chefe, mas a verdade é que não queria que te casasse com o Brandon –lhe confessou–. Como pode me perdoar? – Porque fez o correto –repôs Callie–. Eduardo e eu estávamos destinados a estar juntos e, graças a ti, estamos. Somos muito felizes. Felizes de verdade. Olhou de novo a seu marido, não sabia por que não lhes aproximava. Pareceu-lhe muito estranho. Sua mãe, que estava a seu lado, também o olhou. –Quer-te, carinho –disse Jane em voz baixa. –Como sabe? Pela forma em que lhe olhe –repôs sua mãe enquanto o apertava a mão–. Me custa acreditar que estejamos em Marrocos. Sempre lhe hei dito a seu pai que queria viajar e ver o mundo e ele me dizia que o faríamos assim que fora grátis. O avião privado do Eduardo foi a resposta a minhas orações.



As duas mulheres puseram-se a rir e se abraçaram de novo. Passaram o resto da tarde falando e rindo enquanto os criados do Kasimir Xendzov lhes serviam comida e bebidas. Eduardo se manteve em todo momento fora do grupo até desaparecer algum tempo depois para preparar a reunião de negócios com seus ajudantes. Seu comportamento tinha ao Callie completamente desconcertada. Supunha que só tratava de lhe dar um pouco de espaço com sua família, mas estava preocupada. Era como se Eduardo não fora consciente de que essa era agora também sua família. Depois de um delicioso jantar de cuscuz e cordeiro, Callie lhes deu as boas noites a seus pais e a sua irmã. Estavam muito cansados por culpa da viagem e o desajuste do horário e os acompanhou a suas luxuosas habitações. Depois, deu- uma mamadeira a Marisol e a meteu em um berço que haviam instalado junto a seu dormitório. Pela primeira vez em todo o dia, ficou sozinha. Aproximou-se da cama. Era muito grande e estava coberta com almofadões azuis e belos tecidos bordados. Ouviu um ruído atrás dela e, sobressaltada, deu-se a volta. Eduardo a olhava da porta. Estava muito sério e preocupado, como se estivesse preparando-se para receber más notícias. –Aqui está! –disse-lhe ela franzindo o cenho–. Onde estiveste? por que não deveste falou com minha família? Não queria me entrometer –lhe explicou Eduardo. 60



–Mas agora você também é parte da família. Eduardo fechou a porta e lhe aproximou. Parecia tenso. –Sua família não é rica. Cada vez estava mais confusa, não entendia por que trocava de tema. –Não, não o é. E agora estão ainda pior. A granja de meus pais teve um par de anos bastante difíceis, com más colheitas e… – Mas, mesmo assim, vos querem –a interrompeu Eduardo aproximando-se um pouco mais. –É obvio que sim –repôs desconcertada–. Somos família. Não parecia muito convencido. –Sempre acreditei que o dinheiro era o que unia a uma família, que uma boa situação econômica é o que fazia que a gente se quisesse o suficiente como para ficar. Ao Callie lhe fez um nó na garganta. –O dinheiro não tem nada que ver com tudo isso. Acaso não sabia? Eduardo dedicou-lhe um breve sorriso. –Alegra-me que pudesse acontecer tempo com sua família hoje, mas agora tenho que seguir trabalhando para preparar a reunião de amanhã com o Xendzov –lhe disse–. Que descanse. Foi para a porta e ela ficou olhando-o atônita. Era a primeira noite que não se deitava com ela na cama para lhe fazer o amor e abraçá-la depois até que ficasse dormindo. Eduardo se deteve antes de abrir a porta e se girou para ela. –Temos que falar –lhe disse a contra gosto–. Falaremos amanhã e logo já veremos –adicionou com um suspiro–. depois disso, já veremos se ainda… Seu voz se apagou, não terminou a frase. Durante um bom momento, olhou-a fixamente sem dizer nada. Depois, deu-se a volta e fechou a porta da habitação. Custou-lhe dormir essa noite sem o Eduardo a seu lado. Pela manhã, desceu depressa a tomar o café da manhã para poder vê-lo, mas não o encontrou. Disseram-lhe que tinha saído de madrugada com sua equipe de colaboradores e advogados para preparar a reunião com o misterioso Xendzov Kasimir. Pareceu-lhe estranho. Eduardo lhe tinha deixado muito claro que queria falar com ela, embora não sabia do que se tratava. Ficou pensativa um segundo e lhe ocorreu então do que podia querer falar com ela. Ao melhor, Eduardo ia dizer lhe por fim que a amava. Emocionou-lhe a ideia. Estava segura de que tinha acertado. Passou uma manhã muito agradável com seu bebê e sua família, tomaram o café da manhã no jardim, deram um passeio pela propriedade e nadaram na piscina. Depois da comida, enquanto seus pais e Marisol dormiam a sesta, Sami e ela decidiram explorar os zocos do Marrakech. Enquanto passeavam as duas irmãs pelas ruas estreitas e caóticas da medina, Callie sentiu que sua felicidade era completa. Visitaram vários mercados ao ar livre, olhando todos os postos de abajures de cobre, vasilhas de terracota, túnicas bordadas e colares de coral. Olhava cada pouco seu novo celular para ver se Eduardo a tinha chamado. Estava sendo uma tarde muito agradável. Havia-se coberto a cabeça com um chapéu rosa de asa larga, levava uma blusa ligeira e uma saia larga. Sua irmã olhava tudo com os olhos muito abertos, foi como retornar à infância. Sami e ela estavam acostumada imaginar aventuras como aquela e percorrer todos os rincões da granja juntas. 61

De repente, ficou imóvel no meio do mercado. Tinha tido uma sensação muito estranha na nuca, como se alguém a observasse. Deu-se a volta, mas só viu o Sergio García, seu guarda-costas. Seguia-as a certa distância. Eduardo nunca a deixava ir a nenhuma parte sem guarda-costas. Seguiu com a mesma sensação toda a tarde, não sabia por que. –Então, de verdade me perdoa? –perguntou-lhe de repente Sami. Estavam as duas de joelhos, olhando uns abajures. Callie olhou com uma sorriso a sua irmã. –Faz muito tempo que te perdoei. O dia que decidimos qual ia ser o nome da menina. Sami franziu o cenho, como se lhe custasse acreditá-lo. –Mas se me tinha perdoado, por que não respondia minhas cartas? Callie se endireitou muito confusa. –Escreveu-me? Quando? –Um montão de vezes! Inclusive te enviei flores! Mas só soubemos de ti o dia que nasceu Marisol, quando nos chamou. E, após, nada, nenhuma palavra. Entendo que estivesse zangada com Brandon ou comigo, mas deveria ter falado com mamãe e papai! Callie a olhou boquiaberta. –Mas escrevi cartas todas as semanas! E lhes enviei centenas de fotos! – Nunca nos chegou nada, Callie. Sentiu um calafrio pelas costas. –Que estranho! –sussurrou–. Bom, já não importa, verdade? – acrescentou com uma débil sorriso. –Estávamos preocupados com ti. Foi um alívio que ao menos nos chamasse do hospital quando nasceu a menina. Brandon voltou para casa dois dias mais tarde e estava muito aborrecido. O que nos disse nos fez pensar que lhe haviam sequestrado ou algo assim. –Por certo, que tal com o Brandon? passaste muito tempo com ele? Sami ruborizou-se. –Sim. –Está apaixonada por ele–lhe disse então. Sami a olhou fixamente e depois, pôs-se a chorar. –Sinto-o –sussurrou secando-os olhos–. Faz anos que o quero, sempre o quis. E ele, em troca, estava apaixonado por ti… Callie negou com a cabeça para ouvi-lo. –Não, Sami. Parece que tenho que explicar-lhe a todo mundo ultimamente. Brandon e eu só somos amigos! Sami se pôs-se a rir. –É tão parva como o era ele, Callie! – Como o era? As coisas hão trocado então? –perguntou a sua irmã pequena–. Há dito a Brandon o que sente por ele? –Ainda não –reconheceu Sami baixando a olhar–. Me dá medo. Passamos muito tempo juntos ultimamente, patinando sobre gelo, olhando as estrelas, fazendo recados… Uma vez, quase me pareceu que ia a me beijar, mas depois se deu a volta e começou a me falar de ti. –Sério? –perguntou-lhe Callie sentindo-se muito culpada–. Suponho que me odiará. –Odeia ao Eduardo, não a ti. –Então, por que não me tem escrito para ver como estou? – sussurrou Callie sem entender nada. Sami a olhou como se tornou louca. –Escreveu-te um montão de cartas, vi-as, Callie. Voltou a sentir uma estranha sensação, como uma nuvem negra sobre sua cabeça. Cada vez estava mais preocupada. Parecia-lhe incrível que sua família não tivesse recebido nenhuma de suas cartas e que tampouco lhe tivessem chegado 62

as deles. Tratou de não pensar nisso e se voltou para o Sami. Deveria lhe dizer o que sente.



–Mas e se não sentir o mesmo? –perguntou-lhe Sami muito preocupada–. E se ri de mim? – Não o fará –a tranquilizou Callie–. A vida é curta, não perca nem um dia. Chama-o agora mesmo. –Tem razão. Sami a olhou aos olhos e a abraçou com força. –Obrigado, Callie –lhe disse–. vou voltar para a casa para ligar e falar com ele. Não me posso acreditar que por fim vá fazer o… Callie chamou o Sergio. –Por favor, acompanha a minha irmã à casa –pediu ao guarda-costas. –E a você, senhora Cruz –repôs o homem. –Não, eu ainda não terminei de fazer umas compras. –Mas não posso deixá-la aqui sozinha, senhora. –Estarei bem –lhe assegurou Callie com impaciência enquanto olhava a seu ao redor–. Aqui não há nenhum perigo, está cheio de gente. O guarda-costas não parecia muito convencido, tirou seu celular para falar com alguém em espanhol. Quando pendurou, voltou-se para o Sami com uma sorriso. –Sim. Posso levá-la a casa, senhorita –disse Sergio ao Sami. –Obrigado –repôs Callie surpreendida de que fora tão razoável–. Importaria-te levar estas bolsas de volta à casa? – É obvio que não, senhora –lhe respondeu García–. Mas fique nesta zona do mercado, de acordo, senhora Cruz? – Farei-o, não se preocupe. Deu-lhe um abraço a sua irmã. –Acredito que Brandon e você parecem o um para o outro –lhe sussurrou ao ouvido. –Obrigada –lhe respondeu Sami–. Te quero muito, Callie. despediu-se dos dois e fico sozinha. O ar do mercado estava cheio dos exóticos aromas das especiarias. Também cheirava a couro, a flores e a fortes perfumes orientais. Não terminava de acreditar-se que estivesse sem guarda-costas e sem a menina. Nem sequer estava com seu marido. Encontrava-se sozinha em meio desse remoto mercado e em um país desconhecido para ela. depois de tantos meses, essa repentina liberdade produziu uma sensação embriagadora. Sorriu e ignorou os gritos de quão vendedores tratavam de captar sua atenção. Passeou pelo mercado, sentindo-se suave como uma pluma enquanto continuava comprando presentes. Já tinha brinquedos para a Marisol e lembranças para sua família e para o Eduardo. Não queria perder a oportunidade de vê-lo tudo. Fixou-se então em uma estrela esculpida em madeira. Recordou a grande afeição do Brandon, a Astronomia. Era algo que sempre lhe tinha aborrecido. Sentiu que lhe encolhia o coração ao lembrar-se dele e recordou o que sua irmã lhe havia dito. Brandon lhe tinha escrito várias vezes, Sami havia visto as cartas. Sentiu de repente que lhe custava respirar com normalidade. Elevou a vista ao céu e viu um bando de pássaros que o cruzava nesse instante. –Callie. Conteve o fôlego para ouvir essa voz. Pouco a pouco, deu-se a volta. Brandon McLinn estava frente a ela. O tempo se deteve seu redor. Destacava entre a multidão com seu chapéu vaqueiro, uma camisa a quadros de flanela e calças texanas. –Por fim! –disse-lhe Brandon aproximando-se dela com os olhos cheios de lágrimas–. Encontrei-te. –Brandon? –sussurrou ela com um nó na garganta–. De verdade é você? – Sim –repôs com um sorriso enquanto agarrava seus ombros–. Estou aqui. –Mas, o que está fazendo em Marrocos? Como me encontraste? – Bom, consegui-o que milagre –repôs mais sério–. Certamente, esse malnascido de Cruz não me pôs as coisas nada fáceis. –Não fale assim dele! –protestou ela. Brandon parecia surpreso ao ver que o defendia.

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–É que o odeio, não o odeia você? Disse-me que era um mulherengo sem coração, que era cruel e que não confiava em ninguém, que só lhe importava o dinheiro… Era doloroso ouvir o que ela mesma lhe havia dito sobre o Eduardo. sentiuse muito mal. –Bom, em realidade não é assim –lhe disse–. mudou. –Vá, parece que sofre o síndrome de Estocolmo, como todos os sequestrados. estive muito preocupado por ti, Callie. Deixei que te levasse de meu lado e não pude fazer nada para te salvar. Callie abriu muito os olhos. Suas palavras a tinham surpreendido. –Acaso se sente culpado? – Jurei que te buscaria por toda parte até que você e seu bebê estivessem de volta em casa, a salvo e livres. –Mas estamos a salvo e somos livres, Brandon. Nosso matrimônio teve um começo difícil, mas foi muito bom com nós duas. –Bom? –repetiu Brandon fora de si–. Esse homem me vigiou durante meses! Quando Sami me disse que se ia ao Marrakech, saí de casa em metade de a noite para que não me visse o detetive que vigia minha casa. Fui a Denver e comprei um bilhete de avião. estive em um hotel desta praça, seguindo seus movimentos graças às mensagens de Sami. –Então, sabia que estava no mercado, não? Foi você o que me observava. Tinha a estranha sensação de que alguém me vigiava. –Tinha a esperança de que ficasse sozinha para poder me aproximar –lhe disse seu amigo–. Levo meses tratando de me pôr em contato contigo. Hei-te escrito, chamei-te, tentei-o tudo. Em dezembro, chamou-me em metade de a noite para me ameaçar. Eu lhe disse que ia chamar à polícia de Nova York, assim decidiu te tirar do país. Durante estes últimos quatro meses, não tinha nem ideia de onde poderiam estar! Callie recordava perfeitamente a noite que surpreendeu ao Eduardo falando com altas horas da madrugada com um competidor. Foi então quando lhe propôs de repente que se fossem a Espanha. E, durante esses meses, nunca a perdia de vista nem a deixava sair sem guarda-costas. Eduardo sempre lhe dizia que só queria que estivesse a salvo. –Prometi-me mesmo que não te abandonaria, que trataria de te encontrar –o disse Brandon–. foi desesperador ver que esse homem te tinha prisioneira e não conseguia te liberar. «Prisioneira?», repetiu-se Callie sem poder acreditar o que ouvia. Tinha uma terrível sensação de mal-estar no estômago. Começava a temer que Eduardo não queria lhe falar de amor. –Sempre soube que esse homem não te convinha –prosseguiu Brandon–. Soube do primeiro momento, quando me contou que te tinha alugado um apartamento no Village. Soube então que Eduardo te desejava e, pelo som de você voz, ficou muito claro que você foste permitir que te seduzira. –Assim decidiu lhe dizer que estávamos comprometidos a noite que se aproximou do apartamento e te viu ali –lhe recordou ela. –Limitei-me a lhe dizer a verdade. Estávamos comprometidos. Recorda o que acordamos no instituto? Se nenhum dos dois se casava antes dos trinta… – Mas isso foi uma brincadeira! – Nunca foi uma brincadeira para mim, mas parece que para ti sim –lhe disse Brandon olhando-a fixamente–. Eu lhe queria, Callie. Quero você desde que fomos meninos. Sentiu um nó na garganta ao recordar sua infância. Tinham passado muitas noites do verão perseguindo vaga-lumes ou vendo os foguetes do dia da festa nacional. E, embora não lhe interessavam essas coisas, estava acostumado a passar horas olhando estrelas com o telescópio do Brandon. Acreditava que havia sido uma infância maravilhosa. –Deveria havê-lo sabido. Sinto muito, mas eu não sinto o mesmo por ti –lhe disse com um nó na garganta. 64

–Sim, já me dei conta –repôs Brandon com meia sorriso–. E hei começado a pensar que deveria encontrar a alguém que me amasse de verdade, não só como a um amigo. Rompia-lhe o coração vê-lo assim. –Brandon… Mas o importante agora é obter que voltem para casa o bebê e você. Conseguiremo-lhe um bom advogado. Por muito dinheiro que tenha Cruz, o juiz verá que não pode seguir casada com ele, que te enganou… Não, Brandon, não o entende… Não tenha medo. Apoiaremo-lhe em todo momento. Tanto sua família como eu estaremos contigo a cada passo e… Mas estou apaixonada por ele, Brandon –o interrompeu ela para conseguir que a escutasse–. O quero com todo meu coração e faria algo para que o me amasse do mesmo modo.

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Brandon a olhou fixamente. Estava muito pálido. –Lembro perfeitamente como é sentir-se assim, Callie –lhe disse ele em voz baixa. Suas palavras a emocionaram tanto que pôs-se a chorar e o abraçou com ternura. –Sinto-o muito –lhe disse–. me Perdoe. Por um momento, Brandon aceitou o consolo de seus braços e seguiram abraçados. –Como pode amar a um homem como ele? –perguntou-lhe Brandon–. Aceito que não me queira , mas esse homem te manteve prisioneira, Callie. Como pudeste escolher a essa besta cruel e egoísta entre todos os homens da terra? – Não o conhece, Brandon. Teve uma infância muito dura. Não é egoísta nem cruel. Entendo que lhe pareça isso, mas Eduardo tem um grande coração e… Não terminou a frase. Alguém separou ao Brandon de seus braços e se ficou sem fala. –Não toque a minha esposa! Callie se girou e se encontrou com o rosto do Eduardo, distorcido pela ira. –Não, Eduardo, não! –gritou-lhe ela para detê-lo. Mas ele não a ouviu. Levantou o punho e lhe deu um murro tão forte na mandíbula que Brandon caiu desabando no chão –Não! –gritou ela de novo. O zoco seguia cheio de gente e todos os olhavam. Eduardo levantou de novo o punho e foi para o Brandon. Callie correu para eles para detê-los. –Não! Eduardo se voltou então para olhá-la, fulminando-a com seus olhos de fogo. Viu que estava fora de si. –Ficou aqui com ele, verdade? –espetou-lhe em um tom acusador. –Não, é obvio que não! –repôs indignada. Olhou a seu marido e só podia pensar em como a tinha estado mentindo à cara durante meses. Esse homem tinha causado muita dor a sua família. Tratou de acalmar-se e respirar fundo. ajoelhou-se ao lado do Brandon para ver como estava. Seguia inconsciente, mas lhe pareceu que estava bem. Ficando de pé, olhou ao Eduardo. –Como ia Brandon a ficar em contato comigo? É um detalhe que conhece melhor que ninguém, verdade? Eduardo a olhou aos olhos.

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–O que queria? O que te há dito? Queria me ajudar a voltar para o Dakota do Norte e me divorciar de ti.



–E o que lhe disse? –perguntou-lhe Eduardo. –O que crie que lhe hei dito? –exclamou zangada–. Lhe disse que não! Estou casada contigo e temos uma menina. Quero-te! É obvio que lhe disse que não. É que te tornaste louco? Eduardo agarrou seu braço e a separou das olhares da gente. Levou-a por um labirinto de ruas estreitas até onde tinha o carro estacionado. Abriu a porta, colocou-a dentro e ligou o motor. Não voltou a falar até que saíram à estrada. –Encontrei-te em seus braços, Callie. Olhou-o sem entender seu ciúmes. –Tratava de consolá-lo! Eu confiava em ti… O que? Que confiava em mim? –repôs ela com lágrimas nos olhos–. Nunca confiaste em mim! fui você prisioneira, mantiveste-me isolada de minha família. Acreditava que não o descobriria? Eduardo a olhou e não disse nada.

– –

–Quando penso em todo o tempo que passei escrevendo essas cartas, preparando com ilusão as fotos… E você deixava que o fizesse sem enviar-lhe . - Eduardo voltou a concentrar-se na estrada. ficou em silêncio, apertando os lábios. –Nem sequer está tratando de negá-lo –sussurrou ela com lágrimas rolando por suas bochechas. –Lhe ia contar isso hoje mesmo, por isso disse ao García que podia te deixar ali sozinha. Queria te dar uma surpresa no mercado e ir jantar contigo para que pudéssemos falar em privado. Acreditei que assim ia ter a oportunidade de te fazer entender… – Não se preocupe, entendo-o muito bem! –interrompeu-o ela furiosa. –Estava tratando de te proteger, de nos proteger aos três. –Brandon me disse que o tinha vigiado. Também o fez comigo? E com minha família? Eduardo a olhou um instante, depois apartou os olhos. –Keith Johnson me mantinha informado. –Keith Johnson? –repetiu sem poder acreditar-lhe. - O detetive que usa em Petróleos Cruz para obter informação sobre seus competidores e seus inimigos? O que sou eu? Uma competidora ou uma inimizade? – Você é minha esposa –disse Eduardo com firmeza–. Só queria que estivesse a salvo. Estava tão confusa que se sentia intumescida, não sabia o que pensar. –A salvo! – O que queria que fizesse? Permitir que outro homem destruísse nosso matrimônio? Doía-lhe a garganta. Fechou os olhos um instante. –Não, já o destruíste você –sussurrou então. Seguiram em silencio até chegar à entrada do palácio onde se alojavam. –Deixamos ao Brandon ferido em meio desse zoco… –lhe disse ela então com angústia. –Enviarei a alguém para comprovar se estiver bem –repôs Eduardo com frieza–. Não queremos que seu amigo se sinta abandonado e sozinho. Eduardo estacionou o carro, desligou o motor e saiu. Callie não se moveu. Ficou olhando a casa, os maravilhosos jardins e as palmeiras junto à piscina. Parecia-lhe um paraíso. Mas ela se sentia morta por dentro, não podia reagir. Eduardo abriu sua porta e lhe tendeu a mão. –Vamos, querida. Deixou que a tirasse do carro e a levasse da mão até a casa. Dentro, tudo estava tranquilo. 66

Supôs que seus pais e a menina seguiam dormindo, só se ouvia o murmúrio suave da fonte. Fixou-se na mão que sujeitava a sua, tão forte e protetora como sempre. Mas tudo tinha mudado em umas horas. Essa mesma manhã, havia-se sentido feliz, todos seus sonhos se estavam fazendo realidade. –Por que fez isso? –perguntou-lhe ela enquanto atravessavam o pátio interior do palácio–. por que? – Estou cansado, Callie –repôs Eduardo–. Cansado de tentar te manter a meu lado e sentir que estou fracassando. Cansado de saber que, faça o que faça, não será suficiente. –Eu não tenho feito outra coisa que te querer. –O amor está bem –lhe disse ele com os olhos brilhantes–. Mas não troca nada. Ela o olhou fixamente, não podia acreditar o que estava lhe dizendo. –Isso é o que pensa? – Não o penso, sei –repôs Eduardo com seriedade. Callie sentiu que era o final, tinha conseguido gelar por completo seu coração. –Tinha razão em uma coisa –lhe disse ela–. Brandon estava apaixonado por mim. Mas te equivocaste no resto. É um pai maravilhoso, Eduardo, mas um marido terrível. Ouviram que se aproximavam uns criados pelo corredor e Eduardo a meteu em seu dormitório, fechando a porta em seguida. –Sempre soube que algum dia descobriria como sou em realidade –lhe disse Eduardo em voz baixa. Não podia deixar de chorar. –Queria-te, Eduardo –sussurrou com voz tremente–. Te quis de verdade. –Queria-me? –repetiu Eduardo com angústia. –Faria algo para conseguir que você também me quisesse–-lhe disse ela–. Algo. Com um profundo suspiro, Callie levantou a vista e o olhou aos olhos. –Mas não vou ser sua prisioneira –acrescentou tirando-se seu anel e entregando-lhe com uma mão tremente–. Assim tampouco posso ser sua esposa.

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Capítulo 10. FOI como um forte murro no estômago que deixou ao Eduardo sem respiração. Quando tinha visto Callie abraçada ao McLinn, tinha sido como estar vivendo seu próprio pesadelo e ver que era real. Nunca havia sentido tanta fúria. O entraram vontades de matar a esse homem com suas próprias mãos e poderia havêlo feito se Callie não o tivesse evitado. Deixou-se cair na cama com a vista perdida no anel de diamantes. deu-se conta nesse instante de que ver Callie com outro homem não tinha sido o pior que lhe podia passar, o pior era que ela queria deixá-lo. De algum modo, sempre tinha sabido que esse dia ia chegar. E era quase um alívio vivê-lo e não ter que seguir perguntando-se quando ia acontecer. Fechou o punho sobre o anel. –Começarei amanhã mesmo o processo de divórcio –lhe disse com um nó na garganta. –O que? –repôs Callie. –Farei o que deveria ter feito faz tempo –acrescentou olhando-a aos olhos–. Deixarei-te livre. As lágrimas molhavam seu pálido rosto, mas seguia sendo preciosa. –Não posso viver com um homem que não confia em mim, alguém que tenta controlar todos os aspectos de minha vida. –Entendo-o –repôs ele com um triste sorriso. Callie estava tão pálida que parecia um fantasma. –Não pensei que me fosses deixar ir tão facilmente –reconheceu ela. Tratou de ignorar a terrível dor que o consumia por dentro. –Estou cansado de estar sempre me perguntando o que estará pensando ou o que estará fazendo –lhe disse com frieza–. Cansado de esperar a que chegue o dia em que veja como sou e me deixe para sempre –acrescentou ficando de pé e acariciando sua bochecha–. É quase mais fácil assim. –E Marisol… –sussurrou Callie. A dor que sentia em seu peito se fez mais intenso ainda. –Sempre vamos ser seus pais e, por seu bem, trataremo-nos com respeito. Pagarei sua pensão e compartilharemos a custódia. –De acordo –lhe disse ela olhando-o um pouco aturdida–. De acordo. –E se houver outro menino… –sussurrou ele com um sorriso triste–. Esta vez sim me o dirá, verdade? Sim, é obvio.



–Muito bem. Sua família e você podem voltar para os Estados Unidos amanhã mesmo. Viu que Callie tremia todo o corpo. –E Brandon? Claro –repôs com uma careta–. Já me há dito alguma vez que ele é um membro mais de sua família, verdade? Eu, em troca, nunca o hei sido. Callie tragou saliva e o olhou com um gesto suplicante. –Não-não vais fazer lhe danifico, verdade? Estendendo a mão, Eduardo acariciou sua juba castanha. Embora sabia que era a despedida, seguia fascinado por pela beleza de Callie. Sobre tudo nesse momento, quando ia perde-la para sempre. 68



–É obvio que não. Não sou um monstro –repôs–. Agora já não tenho nenhuma razão para lhe fazer dano, nosso matrimônio terminou. Somos livres. –Livres… –sussurrou Callie. Não tinha podido esquecer as duras palavras do McLinn. Esse homem acreditava que não ia ser um bom marido para ela e que nunca ia poder fazê-la feliz. Se deu conta de que ele também o tinha sabido. McLinn tinha razão. Mesmo assim, tinha tratado de manter Callie a seu lado, apesar de saber que nunca seria capaz de amá-la como ela se merecia. De fato, nem sequer podia dormir com ela na mesma cama. –Sim, é livre –repôs ele–. Marisol ficou dormindo na habitação de seus pais. Quer vê-la? Callie não respondeu, limitou-se a olhá-lo. Mas ela não suportava contemplar tanto dor em seu formoso rosto. Tinha que terminar de uma vez por todas com aquilo e pensou que era melhor que fora rápido. Tomou a mão inerte de sua esposa, tirou-a do dormitório e a levou até o jardim. deteve-se então e a olhou. Ainda havia lágrimas em suas pálidas bochechas. –Sinto-o –sussurrou ela–. O sinto muitíssimo. Eduardo suspirou e a estreitou entre seus braços. Callie apoiou a cara contra seu coração. –Não queria que tudo terminasse assim… –lhe disse ela com voz tremente. Pensou em todos os enganos que tinha cometido desde o começo e em todas as coisas que teria trocado se tivesse podido, mas a verdade era que não sabia como fazê-lo. Não podia confiar em ninguém. E menos ainda em alguém a quem amava. –Não foi tua culpa, a não ser minha. Só minha –repôs ele lhe acariciando o cabelo. Lhe fez um nó na garganta para ouvir que Callie começava a chorar de novo. Não o suportava e, como tinha feito sempre, ignorou seus sentimentos. Levantou seu delicado queixo e sorriu. –Mas nosso matrimônio não foi um fracasso total, verdade, Callie? Não, há sido maravilhoso. –Demo-lhe um sobrenome a nossa filha e terá sempre um bom lar. –Sim, mas em duas casas separadas –repôs Callie. Abriu a boca para falar, mas se calou. Não queria que ela notasse debilidade em sua voz. Durante um bom momento, permaneceram em silêncio. Eduardo fechou os olhos, deixando que o envolvesse o aroma de seu cabelo. Se estremeceu ao sentir a doce suavidade de seu corpo contra o seu, sabendo que a sustentava entre seus braços por última vez. Embora era o mais difícil que tinha feito em sua vida, sabia que devia deixar que se fora e evitar assim que os dois seguissem sofrendo. –Bom, vais voltar para casa e ser feliz ali, como foi sempre – lhe disse ele enquanto lhe secava as lágrimas com ternura. –Sim, é verdade –repôs Callie sem deixar de chorar. 69



Sabia que lhe custava pronunciar essas palavras e lhe emocionou ver que ela também tratava de ser forte. antes de refletir sobre o que ia fazer, tomou sua cara entre as mãos. –Mas antes de ir, tem que saber algo importante que nunca te hei dito –o sussurrou Eduardo olhando-a aos olhos–. Te Amo. Viu que Callie continha o fôlego. –Te amo como nunca quis a ninguém –confessou ele baixando o olhar–. Mas não sei como te amar sem te fazer dano, sem que os dois soframos. Por isso tenho que deixar que vá. Seguiram olhando-se aos olhos. E, embora era uma despedida, sentia que nunca tinham estado tão unidas nem tão conectadas suas almas como nesse instante. –Sinto não ter podido te amar como te merece –lhe disse Eduardo–. Sempre soube, desde o começo, que não te merecia e que, cedo ou tarde, daria-te conta e… Callie o interrompeu ficando nas pontas dos pés e beijando-o. Seus lábios eram suaves e doces, mas não deixavam de tremer contra sua boca. Sentiu o calor de seu corpo contra o seu e despertou seu desejo com mais força que nunca, como um rio transbordado que o percorria por dentro. Não pôde afogar um gemido enquanto a abraçava para senti-la mais perto ainda de seu corpo. Beijou-a apaixonadamente, seus lábios tinham um sabor doce e salgado ao mesmo tempo, possivelmente pelas lágrimas que tinha derramado. Não o deixava claro. O único que sabia era que a estava beijando por última vez e que tinha que obter que esse instante durasse para sempre. Tinha que beijá-la como nunca o tinha feito, para que a lembrança se ficasse indelével em seu coração. Eduardo enredou os dedos em sua larga juba sem deixar de abraçá-la. Seus corpos estavam fundidos em um só e seguiram beijando-se junto à fonte do pátio como se não houvesse ninguém mais no mundo. Sentiu a suavidade de seu corto entre os dedos e o embriagou seu aroma a flores e a baunilha. Foi baixando depois as mãos por suas costas, nunca se cansava de tocá-la. Era uma mulher pequena, delicada e feminina que tinha conseguido conquistá-lo por completo. Seguiu beijando-a com tanta paixão como angústia. O desejo apagou de sua mente a realidade desse duro momento e só pôde pensar em quanto a necessitava. Separou-se dela e olhou seu formoso rosto enquanto tratava de recuperar o fôlego. Também havia desejo em seus olhos verdes. Sem dizer nada, tomou em seus braços e a levou em silencio até sua habitação. Sabia que a levava por última vez a sua cama. Deixou-a sobre o colchão e começou a despi-la com a única luz que os proporcionava a lua que penetrava pelas grades da janela. Tirou-lhe primeiro a blusa, lhe beijando o pescoço, os ombros e os braços enquanto o fazia. desfez-se depois da saia e acariciou suas suaves pernas nuas. Beijou-a depois nos joelhos, tinha aprendido que era um de seus pontos mais sensíveis. Tirou-lhe o prendedor de encaixe branco e acariciou seus seios, lambendo-os depois até que Callie ficou sem fôlego. –Callie –lhe suplicou com emoção–, me olhe aos olhos. Ela fez o que lhe pedia e o olhou com os olhos cheios de lágrimas. Baixou-lhe então sua calcinha muito lentamente. Ele seguia completamente vestido e foi descendo por seu corpo sem deixar nem um centímetro de sua pele sem beijar. 70

Quando chegou a suas coxas, dedicou-lhe toda sua atenção a sensível cara interna, subindo lentamente por eles até chegar a seu sexo. Deixou que ela sentisse então seu quente fôlego entre as pernas. Seu aroma o tentava, era incapaz de resistir. Separou suas coxas com as mãos e a provou. Era doce e suave como a seda. Começou a colocar sua língua sobre o centro de seu prazer e sentiu como todo seu corpo se retorcia de prazer. Callie tratava de apartar os quadris, como se não pudesse suportar a intensidade das sensações, mas ele a sujeitou com força contra a cama, obrigando-a a aceitar o prazer que podia lhe proporcionar com a língua. Não deixou de fazê-lo até sentir que começava a tremer. Foi então quando deslizou um dedo em seu interior sem deixar de beijar a da maneira mais íntima possível e Callie se aferrou aos lençóis de algodão e arqueou as costas. Sentiu como se levantava seu corpo do colchão e se esticava cada vez mais até que explorou, gritando com força e movendo-se descontrolada, completamente vulnerável e entregue. Viu com satisfação seu rosto, sabendo que lhe tinha dado esse prazer. Também tinha chorado de dor por sua culpa, mas era um alívio saber que era capaz também de lhe fazer gritar de alegria. –Amo-te –lhe sussurrou então sua esposa. Tomou sua cara entre as mãos com muitíssima ternura. –Sei. Beijou-a apaixonadamente, podia sentir quanto o desejava Callie. Embora seguia completamente vestido com seu traje negro, tombou-se sobre ela para que pudesse sentir sua ereção, dura e palpitante, entre as coxas. Ela gemeu e se aferrou a seu pescoço quase com desespero. Tratou de lhe tirar a gravata, mas lhe tremiam muito as mãos. Eduardo se apartou e o fez ele mesmo. Em questão de segundos, estava tão nu como ela. Sem dizer uma palavra, beijou-a e seguiu acariciando-a, lhe dizendo com suas mãos e sua boca o que não sabia como explicar com palavras. Tombou-se sobre ela e sentiu seus suaves seios contra seu torso. Encaixavam à perfeição, como duas peças de um quebra-cabeça. estremeceu-se ao sentir a suave e úmida pele dessas coxas contra sua ereção. Callie não deixava de ofegar excitada, retorcendo seu corpo e agarrando seus quadris com as mãos para senti-lo por fim dentro dela. Era impossível resistir. Mas não queria deixar-se levar, ainda não. Era difícil manter-se longe do que mais desejava em sua vida, mas era a última vez e desejava alargar ao máximo esse momento. Sabia que, enquanto Callie estivesse em seus braços, não teria que enfrentar-se à angústia e a dor que o esperavam ao outro lado, no mundo real. Não teria que enfrentar-se a horrível solidão que ia sentir sem ela. Callie acariciou suas costas. Não podia ignorar a maravilhosa sensação desses grandes peitos contra seu torso. Podia sentir seu calor e como continha o fôlego. 71

Agarrou os ombros de Callie e fechou os olhos, tratando de resistir um pouco mais, mas ela o conhecia muito bem. Começou a mover-se debaixo dele enquanto sugava o lóbulo de sua orelha e acariciava a parte posterior de suas coxas, por debaixo das nádegas. Podia sentir quanto o desejava e, sem forças para seguir resistindo, rendeu-se. Seu corpo tomou as rédeas e se afundou com força dentro dela. Foi incrível, nunca havia sentido um prazer tão intenso. Todo seu corpo estava em tensão e se deixou levar até obter as cotas máximas de prazer. Logo que podia controlar-se e temeu que tudo terminasse muito logo, queria alargar o máximo possível esse último encontro de seus corpos. Tinha que fazê-lo. Sabia que não ia poder viver sem ela. Tombou-se de barriga para cima sem soltá-la para que Callie ficasse sentada escarranchada sobre ele. Deixou que ela controlasse o ritmo e a velocidade dos movimentos. Depois desses meses compartilhando cama, a que tinha sido sua virginal secretária se converteu em uma ardente e sedutora mulher. Tinha pensado que lhe seria mais fácil controlar-se com ela sobre ele, mas o estava acontecendo justamente o contrário, estava mais excitado ainda. Não podia deixar de olhar como se balançavam seus grandes seios enquanto ela o montava, conseguindo estar cada vez mais dentro dela. Ao final, Eduardo fechou os olhos e se aferrou à cabeceira. Cada vez era mais intenso, mais excitante e rápido. E ela estava tão úmida… Sem poder fazer nada para evitá-lo já, Callie o empurrou até um abismo de prazer. Agarrou seus quadris com as mãos e sentiu como lhe acelerava o pulso quando Callie jogou para trás a cabeça e gritou de prazer. Olhou seu belo rosto transformado pelo êxtase e não pôde resistir por mais tempo. Com uma última investida, explodiu dentro dela, alcançando os dois o clímax ao mesmo tempo. Callie se derrubou em cima dele e se abraçaram, suarentos e felizes, completamente satisfeitos. Algum tempo depois, Eduardo a sustentou entre seus braços e essa vez se deu conta de que era uma sorte saber que não ia poder dormir a seu lado. Assim poderia abraçá-la toda a noite e contemplar seu doce rosto à luz da lua enquanto dormia. Era uma sensação incrível senti-la em seus braços, tão cálida e bela. O pesavam as pálpebras e fechou os olhos. Deu-lhe um beijo na têmpora. Como sempre, seu cabelo cheirava a flores e a baunilha. Queria-a tanto que sentia que esse amor poderia chegar a matá-lo. Queria abraçá-la toda a noite, saborear cada hora, cada minuto… Eduardo se despertou sobressaltado. A luz do amanhecer entrava pela janela e se deu conta de que, por primeira vez, tinha conseguido dormir junto a sua esposa. Presa do pânico, deu-se a volta na cama. O lado de Callie estava vazio. 72

Pela primeira vez também, tinha sido Callie a que o tinha abandonado em metade da noite. Tinha-o deixado e soube então que assim ia estar o resto de sua vida. Completamente sozinho.

Capítulo 11. CALLIE se sentou à mesa da cozinha. Estava de volta na granja de seus pais e tinha em suas trementes mãos os papéis do divórcio. –Será algo rápido e indolor –lhe tinha assegurado seu advogado quando se os entregou–. marquei com um adesivo amarelo os lugares onde tem que assinar. Tudo estava já muito bem estipulado no acordo pré-nupcial. Compartilharão a custódia e o senhor Cruz foi muito generoso com a pensão alimentícia e de manutenção. Será a mulher mais rica de todo o condado de Fern. Menos mal que não todos os casos de divórcio são tão rápidos nem tão fáceis. De outro modo, minha escrivaninha estaria em quebra –tinha acrescentado com um sorriso. Mas não lhe parecia rápido e muito menos, indolor. Olhou a sua filha, caminhava pela cozinha com ajuda de um velho andarilho que tinham usado três gerações de bebês de sua família. Apesar das lágrimas, não pôde evitar sorrir ao ver quão contente estava sua pequena. –P-papá? –perguntou Marisol. Callie deixou de sorrir e olhou de novo os papéis. –Muito em breve, meu amor –lhe disse com um nó na garganta–. O verá amanhã. Marisol iria ao dia seguinte a Nova Iorque para passar a semana com o Eduardo e ela teria que suportar sete compridos e dolorosos dias sem sua filha. As coisas trocariam à semana seguinte e seria Eduardo então o que estaria sozinho. Ele tinha sido justo e muito generoso ao permitir que Callie pudesse viver em Dakota do Norte. Usavam o avião privado do Eduardo para transladar à menina. Não sabia como foram fazer o quando chegasse o momento de que Marisol começasse a ir à escola, mas estava segura de que o solucionariam pelo bem de sua filha. Conforme estava aprendendo, o dinheiro podia resolver qualquer problema. Exceto o que acontecia com ela. Callie não queria seu dinheiro. Queria-o a ele, seguia apaixonada pelo Eduardo, mas ele a tinha deixado partir. Não tinha visto o Eduardo durante os dois meses que tinham acontecido desde que se fora do Marrakech com sua filha, com o Brandon e com sua família. Após, só tinham estado em contato através de seus respectivos advogados. E a senhora McAuliffe era a que se encarregava de recolher ou lhe levar a Marisol cada semana. Callie não o tinha visto, mas sonhava com ele cada noite. Recordava muito bem as últimas horas que tinham acontecido juntos, quando se tinham beijado junto a fonte dos jardins do Marrakech. Depois, faziam o amor com mais paixão que nunca e com total desespero, conscientes sem dúvida os dois de que era a última vez que estavam juntos. O que melhor recordava era o momento no que lhe havia dito por fim as palavras pelas que tinha tido que esperar tanto tempo. 73

Era um momento que guardava em seu coração. –Quero-te como nunca quis a ninguém –havia dito Eduardo–. Mas não sei como te amar sem te fazer dano. Tinha sonhado durante muito tempo com essas palavras, mas nesses momentos lhe doía as recordar, eram como um veneno. Tinha chorado durante semanas, até que ficou sem lágrimas. Mas não se arrependia da decisão que tinha tomado, não podia viver sendo sua prisioneira. Duas lágrimas caíram sobre os papéis do divórcio. Quando retornou a casa, uma parte dela tinha desejado estar de novo grávida e ter assim ao menos uma razão para falar com seu marido. Mas também essa esperança se tinha desvanecido. –Mamãe –a chamou Marisol com sua meia língua. Tinha os mesmos olhos escuros de seu pai e a olhava com preocupação. Secou-se os olhos e dedicou a sua filha um sorriso tremente. –Tudo está bem, não se preocupe, carinho. Só tinha que assinar os papéis e dar-lhe a seu advogado. Assim, voltaria a ser Callie Woodville. Algo brilhante atraiu sua atenção, era o chaveiro de ouro e diamantes que lhe havia agradável Eduardo. Tinha suas iniciais de casada. Parecia desconjurado na modesta cozinha, mas não tanto como o que tinha chegado à granja o dia anterior. Tomou sua taça de café e se aproximou da janela da cozinha. Apartou a cortina e viu, ao lado da velha caminhonete de seu pai, seu flamejante Rolls-Royce prateado. Era surrealista vê-lo ali, junto aos campos de cevada. Fechou os olhos. Nunca acreditou que fora a ter a força necessária para deixar a Eduardo. Mas tampouco tinha acreditado possível que ele a deixasse partir. E sabia que tinha seguido adiante com sua vida. Já tinha visto fotos de Eduardo em uma revista do coração. Estava em um traje de gala benéfico em Nova York com a jovem duquesa espanhola. perguntou-se se acabaria casando-se com ela quando seu divórcio fora oficial. Era um pensamento muito doloroso e, por primeira vez, entendeu de verdade como se teria sentido Eduardo quando acreditou que ela estava apaixonada pelo Brandon. Deu-se conta de que era muito difícil deixar livre à pessoa que mais amava nessa Terra. Mas Eduardo o tinha feito e sabia que ela devia fazer o mesmo. Ouviu o motor de um veículo aproximando-se pelo caminho e voltou a aparecer a a janela. Sorriu ao ver o Brandon e a Sami no carro dele. O coração de seu amigo não tinha demorado para recuperar-se. Desde que voltassem de Marrocos, Brandon tinha encontrado em Sami o amor que tinha estado procurando. E no dia anterior, tinha-lhe pedido a sua irmã que se casasse com ele. Seus pais tinham tomado a notícia com certa preocupação ao princípio, mas depois viram que se amavam de verdade e estavam muito contentes por eles. A notícia do compromisso se estendeu rapidamente pelo condado de Fern, e graças à publicação de sua mãe em Internet, já sabia também o resto do mundo. 74

Callie estava muito emocionada. Parecia-lhe incrível que seu melhor amigo e sua irmã estivessem comprometidos e pensassem casar-se em setembro desse mesmo ano. Quando os viu entrar pela porta, recebeu-os com um sorriso. –Estejam comprometidos ou não, a mamãe e a papai não gostou que acontecesse a noite fora de casa, Sami –advertiu a sua irmã pequena. –Mas se tiver sido totalmente inocente! –protestou Brandon ruborizando-se–. Bom, quase totalmente inocente… Estivemos na colina do McGillicuddy para poder ver melhor o cometa, longe das luzes do povo –lhe disse Sami–. Havia tantas estrelas… Sua irmã parecia estar em uma nuvem.



–Brandon conhece todas as constelações e suponho que perdemos a noção do tempo… Bom, a ver se tiver sorte explicando-lhe a papai –repôs Callie.



–Mas papai sabe que pode confiar no Brandon –protestou Sami–. Igual a confio eu. Brandon olhou a sua prometida com amor em seus olhos, tomou sua mão entre as de ele e a beijou com ardor. Callie se sentiu de repente como uma intrusa em sua própria cozinha. –Bom, deveria ir falar com ele, Sami –os interrompeu ela algo incômoda. –Onde está? Nos campos de cevada? Não, no de alfafa que há ao lado da estrada principal – repôs Callie.



–Não se preocupe –interveio Brandon tomando a mão de Sami–. Irei contigo. Viu que ele tirava do bolso as chaves de seu carro e lhe ocorreu uma ideia. Brandon e Sami já foram para a porta. –Esperem. Detiveram-se e a olharam de uma vez. Callie se aproximou da cesta onde havia deixado seu chaveiro e o entregou a eles. –Quero lhes dar isto –lhes disse. –Como? –exclamou Sami atônita–. Seu carro? – Por que? –perguntou Brandon com o cenho franzido. –É-é um presente de compromisso. –Sério? Não pode ser! –disse-lhe Sami. –Não queremos nada dele –repôs Brandon–. Meu carro funciona muito bem. –Aceita-o como uma espécie de compensação pelo murro que te deu–-lhe disse Sami esperançada a seu prometido. Mas não conseguiu convencê-lo. Brandon seguia franzindo o cenho. –Por favor, aceita o presente –lhe pediu Callie–. Eu não gosto de olhá-lo. Dói-me… ficou sem palavras ao recordar o dia de Natal. Eduardo se tinha vestido com um traje da Santa Claus e lhe tinha agradável esse Rolls-Royce. Deu-se conta de que tinham chegado a ser muito felizes. –Brandon, se não o quer utilizar, podem vendê-lo e usar o dinheiro como queiram –lhes disse Callie. O jovem casal olhou o chaveiro de ouro e diamantes. –Poderíamos comprar um terreno –comentou Sami. –Ou uma granja –sussurrou Brandon–. De acordo, aceitamo-lo –lhe disse então–. Obrigado, Callie. Obrigado por ser a melhor amiga que tive. Saíram felizes e iludidos da cozinha e foram correndo até onde ela tinha estacionado o Rolls-Royce, perto do estábulo. Podia ouvir sua conversação e suas risadas de ali. –Damo-nos uma volta com ele antes de vendê-lo? –sugeriu- Brandon a Sami. 75

–Sim, por que não vamos pela estrada até o outro lado do povo? –repôs sua noiva–. Quero ver a cara da Lorene Doncaster quando me vir neste carro. –E não se preocupe por seu pai. Não se zangará quando vir que passaste toda a noite fora de casa. Explicarei-lhe que foi culpa das estrelas e… Deixou de ouvir suas vozes quando se afastaram com o carro pelo caminho. A sós na cozinha, Callie voltou a sentar-se à mesa e olhou os papéis do divórcio. fixou-se na assinatura do Eduardo e se deu conta de que tinha que fazê-lo. Tomou a caneta com mão tremente e olhou a linha vazia baixo a assinatura do que ainda era seu marido. Custava-lhe acreditar que seu matrimônio só tivesse sido um engano que havia durado já nove meses. Suspirou e fechou os olhos. Depois, uma hora mais tarde, recebeu uma chamada que mudou tudo. –Bom, hoje temos feito muitos progressos. À mesma hora a semana que vem? Eduardo assentiu com a cabeça enquanto ficava a jaqueta. Saiu da clínica do psicólogo e respirou profundamente. Era um maravilhoso e ensolarado dia de junho em Manhattan. –Senhor? –saudou-o Sánchez enquanto lhe abria a porta de seu Mercedes negro. –Não, acredito que vou dar um passeio. –Muito bem, senhor. Eduardo caminhou lentamente pela rua, sentindo o sol na cara e escutando o canto dos pássaros. Um grupo de colegiais com uniformize idênticos passou correndo e rindo a seu lado. Fez-lhe recordar um livro que tinha lido a Marisol quando só tinha dois semanas de idade, o conto do Madeline, uma menina que vestia um uniforme similar. Pensou em como se riu sua esposa ao vê-lo lendo um livro a uma menina recémnascida. Deteve-se de repente na calçada com uma forte dor no peito. Tratou de respirar e acalmar-se. Ia ver a Marisol muito em breve. Já tinha seu avião preparado em um aeroporto privado aos subúrbios da cidade. Jogou uma olhada a seu relógio. Supôs que a senhora McAuliffe já iria caminho a esse aeroporto, preparada para fazer a comprida viaje até o Dakota do Norte e retornar em seguida com a menina. Sua governanta ia ver a que logo ia converter se em seu ex-mulher, a pessoa com a que sonhava cada noite. Ficou olhando as árvores verdes e frondosas da calçada. Recordou que tinham estado igual em setembro, quando foi até o West Village para falar com Callie e ver se era verdade o que lhe tinha contado sua irmã. O mesmo dia que se converteu em marido e pai. Lhe fez um nó no estômago ao recordá-lo e lhe tiraram as vontades de voltar para trabalho. Tinha dedicado toda sua vida e sua energia à empresa e não sabia muito bem para que. Era multimilionário, mas invejava a seu chofer, que voltava cada noite a sua acolhedora casa do Brooklyn, onde o esperavam uma mulher que o amava e seus três meninos. Eduardo tinha um enorme apartamento de cobertura no Upper West Sede, o bairro mais exclusivo de Nova Iorque. Estava cheio de obras de arte e móveis caros, mas quando se ficava sozinho, atormentavam-no as ausências de sua esposa e de sua menina. Apertou com frustração os punhos. Não sabia se seguia sendo sua esposa ou não. Não entendia por que Callie estava demorando tanto em assinar os papéis. Já haviam passado duas semanas desde que os assinasse ele e a espera o estava deixando louco. 76

Queria terminar de uma vez por todas com aquilo. Cada dia que seguia casado com o Callie era um dia mais de dor e incerteza. Não podia evitar perguntar-se se ainda haveria alguma possibilidade de que Callie o pudesse ter perdoado. Mas logo se dava conta de que não era possível. Supunha que já estaria comprometida com o Brandon McLinn e planejando a bodas. Estava seguro de que McLinn tinha conseguido seu objetivo graças a sua lealdade inquebrável. Sabia que esse homem encaixaria muito melhor no mundo de Callie. Algo que ele não tinha obtido. Por isso não entendia que não tivesse assinado ainda os papéis. Estava muito confuso e se sentia todo o tempo como se caminhasse sobre a corda frouxa e sem rede. Desde que Callie o deixou no Marrakech para voltar para a granja de seus pais, não tinha querido saber nada dela. Havialhe dito a seu detetive que abandonasse o caso e lhe tinha pedido a seus advogados que não lhe dessem notícias dela. foram contatar com ele assim que o advogado de Callie lhes devolvesse os papéis assinados por ela. Mas ainda não tinha recebido essa chamada e não podia evitar sonhar com que ainda tivessem uma possibilidade de reconciliação. –Ouça! Sobressaltado, viu que uma menina vestida de uniforme lhe dava uma fotografia. –Te tem deixado cair isto –lhe disse a colegial. Tomou a foto. Nela estavam Callie e Marisol. A tinha feito ele em sua casa da Espanha. A menina tinha então três meses e meio e seu doce sorriso deixava entrever seu único dente. Callie levava o gorro da Santa Claus que lhe tinha tirado a ele. Sorria e lhe brilhavam muito seus olhos verdes, cheios de amor. ficou sem respiração ao ver a foto. –Obrigado –lhe disse à menina com um fio de voz. –Sei o que se sente quando perde algo –repôs a pequena–. Tome cuidado. A menina se despediu alegremente e se afastou correndo com seus amigas. Foi um momento de absoluta claridade que conseguiu lhe abrir os olhos. Ele tinha sido quem lhe tinha pedido a Callie que se fora. Também havia começado ele os trâmites do divórcio. Queria que fora livre porque sabia que merecia a alguém melhor, mas se deu conta então de que tinha outra opção. Podia trocar ele e converter-se em um homem distinto, um que pudesse ser merecedor de seu amor, um que não tratasse de controlá-la, um que pudesse confiar plenamente nela. Eduardo ficou absorto olhando o tráfico dessa rua, pensando que possivelmente seu passado não tinha por que condicionar como era seu futuro, que ele podia ser dono de sua vida e escolher ser de outra maneira. Sentiu uma renovada esperança em sua alma. deu-se conta de que tinha sido capaz de lhe dar a Callie a liberdade que se negava a si mesmo. Esperava poder trocar seu modo de ser. O divórcio não era definitivo ainda e possivelmente estivesse ainda a tempo. Perguntou-se se seria capaz de lhe pedir uma segunda oportunidade. O pediria então a sua esposa, não a sua prisioneira. Aferrou-se com força à foto e se deu a volta. Encontrou o Sánchez onde o tinha deixado, embora já tinha ligado o motor para voltar para casa. Meteu-se correndo no assento de atrás.

77

–Ao aeroporto! –ordenou-lhe sem fôlego–. Tenho que ir ver minha esposa! É urgente! Sánchez lhe dedicou um sorriso enorme. –Sim, senhor! –repôs enquanto pisava no acelerador. Eduardo tirou seu celular para avisar à senhora McAuliffe sobre a mudança de planos. Mas, antes de que pudesse fazê-lo, recebeu uma ligação. Viu que era Keith Johnson. Franzindo o cenho, rechaçou a chamada. Chamou a sua governanta. Uns minutos depois, enquanto cruzavam a ponte do George Washington, seu telefone soou de novo. Viu que era o número de seu advogado e sentiu um calafrio. Fechou os olhos assustado. Não, não queria saber se ela… Não podia ser. Quando seu telefone soou uma terceira vez, baixou o guichê e o jogou no rio Hudson. Tinha decidido que não era muito tarde para mudar e ia lutar para conseguir o que queria. Quando chegou ao aeroporto, seu avião estava esperando-o. Uns minutos depois, ia a caminho ao Dakota do Norte. A sua aeromoça surpreendeu que rechaçasse o Martini. Sempre se tomava um quando voava. Estava tão nervoso que passou horas dando voltas pelo reduzido espaço do avião, pensando no que ia dizer a Callie. Tratou de escrever seus sentimentos em um papel, mas não gostou do resultado. Esperava que, quando a visse, lhe ocorresse o que tinha que lhe dizer. Estava muito inquieto e a viagem lhe estava parecendo eterna. Teria gostado que o avião pudesse ir mais rápido. distraiu-se vendo entre as nuvens como as verdes colinas da Costa Leste pouco a pouco foram desaparecendo e aparecia a paisagem plana e marrom das pradarias do norte. Quando por fim aterrissaram no pequeno aeroporto aos subúrbios do Fern, notou que lhe tremiam as pernas ao baixar a escadaria. Tinha estado ali em uma ocasião, o dia que conheceu Callie. Então tinha estado rodeado de empregados e assistentes e esse dia, em mudança, estava sozinho. Sentia-se algo torpe sem ninguém que o ajudasse, era como se tivesse esquecido como dirigir-se por si mesmo no mundo real. Antes de sair do aeroporto, deteve-se em uma loja para comprar a Callie umas flores e uma caixa de bombons. Não havia ninguém mais no estabelecimento, mas o dependente demorou mais de cinco minutos em sair detrais do balcão para atendê-lo. Mas Eduardo não lhe disse o que pensava de sua atitude nem lhe contou quem era. Não queria chegar a esse povo como se lhe pertencesse. O que mais lhe importava era encaixar, formar parte do mundo de Callie se ela o permitisse. Não pôde acontecer completamente desapercebido. Quão jovem o recebeu na empresa de aluguel de veículos o reconheceu ao ver seu nome no cartão de crédito. –Eduardo Cruz? –perguntou-lhe boquiaberta–. O Eduardo Cruz de Petróleos Cruz? – Sim, mas não o use em meu contrário, por favor –repôs ele com um sorriso–. Eis -perdi meu telefone. Não saberá por acaso como ir à granja de os Woodville? A casa do Walter e Jane Woodville? – Claro que o sei–-lhe assegurou a jovem–. Vivem no cruzamento entre a estrada rural 12 e o caminho do antigo condado. Eu fui à escola com sua filha –acrescentou–. Ontem mesmo a vi dando uma volta com o Rolls- Royce… – Obrigado. A ela é a que venho a ver –lhe disse Eduardo. –Mas ela não está em casa. Lamento ser a que o diga, se for seu amigo, mas ontem sofreu um acidente de carro. Eduardo sentiu que ficava sem respiração. –O que? O carro ficou destroçado –disse a jovem com tristeza.



Um acidente de carro, não podia acreditá-lo. Recordou nesse instante como se tinha sentido ao inteirar-se de que sua mãe tinha morrido em uma traiçoeira estrada da Costa del Sol. Sentiu um estremecimento por todo o corpo. 78

–Não pode ser –repôs com um fio de voz–. Esse carro é muito seguro… – Havia uns meninos em bicicleta em meio da estrada. Seu prometido se desviou para não golpeá-los e o carro se estrelou contra um poste de telefone. ouvi que está em estado crítico no Hospital Geral. Eduardo se agarrou ao mostrador, falhavam-lhe as pernas. –Quem é seu prometido? Quem é? – Brandon McLinn. Não esperou para ouvir nada mais. Agarrou um mapa do mostrador e saiu dali. –Senhor Cruz, de verdade que o sinto… Se meteu correndo no carro de aluguel e foi direto ao hospital, conduzindo pela auto-estrada a cento e sessenta quilômetros por hora. Sabia que iria ao cárcere se o parava a polícia indo a essa velocidade, mas não importava-lhe. Só sabia que não podia perdê-la, não quando se sentia tão perto… A angústia apoderou-se dele. deu-se conta de que poderia ter estado com ela todo esse tempo, perseguindo-a e tratando de convencê-la para que o perdoasse, tentando converter-se no homem que ela se merecia. Lamentou ter perdido tanto tempo tratando de controlar suas vidas. deu-se conta então de que era esse controle o que não existia, não o amor. Não podia mantê-la completamente a salvo, não podia controlá-lo tudo. Também tinha aprendido que não podia obrigar a ninguém a querê-lo nem podia conseguir, por muito que o quisesse, que alguém seguisse amando-o toda a vida. Umas pessoas se foram, outras morriam. Mas acreditava que o amor podia seguir vivo. Podia escolher amar a Callie contudo seu coração e com todas suas forças, apesar dos defeitos dos dois e até que a morte os separasse. Isso era o que tinha eleito. Em uma ocasião, havia- dito a Callie que o amor não mudava nada. Mas se tinha dado conta de seu engano. O amor mudava tudo. Agarrando o volante, rezou para chegar a tempo a seu lado. Não podia sequer imaginar que Callie não estivesse bem. Sua filha não podia crescer sem uma mãe e ele não podia viver sem sua esposa. Pisou mais ainda o acelerador para ir tão rápido como o permitia o carro de aluguel por essa deserta estrada. «Não me deixe», rezou Eduardo em silêncio. «Não me deixe».

79

Capítulo 12. TINHA sido uma noite horrível e um dia muito comprido. Callie se levantou da cadeira onde tinha estado sentada durante horas, junto a a cama de sua irmã no hospital. Precisava tomar um café ou algo de ar fresco. Ainda levava postos as calças de moletom morados e a mesma camiseta do dia anterior. recolheu-se o cabelo em um acréscimo para estar mais cômoda. Todos tinham acontecido a noite em vela e esse dia, depois de comer, alguns tinham deixado que os vencesse o esgotamento. Brandon estava aninhado em uma cadeira ao outro lado da cama de Sami. Seus pais se haviam ficado dormidos no sofá e Marisol roncava ruidosamente contra o peito de seu avô. Callie saiu da habitação com cuidado para não despertar a ninguém. Quando se viu por fim no corredor, respirou fundo e se deixou cair contra a porta, tampando-a cara com as mãos. Sentia que tudo tinha sido por seu culpa. Se não lhes tivesse agradável o carro, não teriam tomado o desvio a través do povo para prová-lo e nunca teriam tido esse acidente. Tinha os olhos cheios de lágrimas e deixou que rolassem livres por suas bochechas. Felizmente, o pior já tinha passado e sua irmã ia recuperar se. Era um grande alívio saber que ficaria bem, mas as lágrimas não eram só de alegria. Tinha uma boa razão esse dia para sentir-se mais triste e angustiada. Uma razão pessoal. Fechou os olhos, jogava muito de menos ao Eduardo. Tinha saudades seu formoso rosto, o intenso brilho de seus olhos escuros e sua voz. Quase podia ouvi-la nesses instantes, com seu leve acento espanhol. –Onde está minha esposa? Onde está, maldita seja? –gritou alguém não muito longe de ali–. Quero vê-la agora mesmo! deu-se conta de que conhecia essa voz, sonhava com ela todas as noites. Pouco a pouco, Callie abriu os olhos e se girou. Foi então quando viu o Eduardo discutindo com as enfermeiras ao fundo do corredor. Seu cabelo negro estava bastante despenteado e seu traje, muito enrugado. Nunca o tinha visto com um aspecto tão descuidado. Parecia fora de lugar, mas tão arrumado como o recordava. –Eduardo –o chamou ela então com o coração na garganta. Ao final do corredor, Eduardo se voltou para ela e a viu. Com um soluço, foi para ele correndo e ele fez o mesmo. Abraçaram-se e foi então quando Callie teve a certeza que aquilo não era um sonho. Entre seus braços protetores, sentiu que se desvaneciam o medo e a comoção das últimas vinte e quatro horas. Já não tinha que ser forte para sua família e pôs-se a chorar. –Callie, Callie… –sussurrou Eduardo enquanto beijava sua frente–. Está bem! Graças a Deus… Se separou dela e a olhou. Viu que lhe brilhavam os olhos como se estivesse também a ponto de chorar. Depois, voltou para abraçá-la com força, como se não fora a soltá-la nunca. Pela primeira vez em dois meses, Callie sentiu que voltava a respirar. Chorou então de alegria ao estar de novo entre seus braços. –Está a salvo –sussurrou Eduardo lhe acariciando o cabelo enquanto apertava a cara contra seu torso–. a salvo. Secando-os olhos, olhou-o com confusão. –Mas o que está fazendo aqui? Pensei que estava em Nova Iorque. –Acreditaria-me se te dissesse que estava por aqui e decidi vir a verte? Sorriu ao ouvi-lo. 80

–Trouxe-te floresça e bombons –adicionou Eduardo enquanto olhava a seu ao redor algo confuso–. Sei que estão aqui por alguma parte… Maldita seja! Onde os deixei? Tinha estado tão preocupada com o do acidente de sua irmã, que lhe tinha esquecido que a menina tinha que ir-se com seu pai. –Já sei por que está aqui. vieste a recolher a Marisol, claro –lhe disse ela. –Não, vim por ti –repôs Eduardo olhando-a fixamente e tomando seus mãos–. Volta comigo, Callie. me dê outra oportunidade. –O que? –repôs perplexa. –Sei minha esposa, me deixe ser seu casal, estar a seu lado. me permita que passe o resto de minha vida te amando e tratando de me merecer seu amor. –Mas… –gaguejou ela. –Chego muito tarde, não? – Muito tarde? Eduardo olhou a alguém que estava detrás dela. –Vejo que já me esqueceste. Deu-se a volta e viu que Brandon os observava da porta da habitação. Franziu o cenho e desapareceu. –Do que está falando? –perguntou- Callie ao Eduardo. –A garota que me atendeu na empresa de aluguel de carros me contou o de seu acidente. Também me disse que te vais casar com o Brandon –lhe contou ele com olhos tristes e um sorriso que não convencia a ninguém–. Suponho que deveria te felicitar. Callie não sabia o que dizer. –Não sabe… –sussurrou ela enquanto seu coração se enchia de esperança–. O anúncio do compromisso está na página Web de minha mãe e inclusive o publicou o periódico local esta manhã. Mas não sabe… Eduardo negou com a cabeça. –Não sei nada. Despedi-me de meu detetive faz dois meses e proibi a meus advogados que me falassem de ti. Inclusive me tenho desfeito de meu celular! – Sério? De seu celular? –perguntou-lhe incrédula. –Sim, estava zangado com ele –repôs Eduardo com um sorriso–. Sigo fazendo algumas tolices, mas meu psicólogo acredita que ainda há esperança para mim… – Seu psicólogo? –Sim, falar do passado ajudou a entender as decisões que tirei que adulto. E também sei por que tinha tanto medo a me apaixonar por ti –lhe disse Eduardo–. Porque te quero, Callie. Lhe quero tanto… Brandon é um bom homem e sei que te fará feliz. Ela lhe aproximou um pouco mais e lhe levantou o queixo. –Brandon e eu não estamos juntos. Está comprometido com minha irmã. Pouco a pouco, Eduardo levantou a cabeça. A perplexidade só durou um segundo, depois sorriu de alegria. –Com sua irmã? –repetiu esperançado. –Sim, lhes dei de presente o carro ontem e tiveram o acidente pouco depois – lhe contou ela–. Nos assustamos muito. foi uma noite horrível, os médicos não sabiam se ia recuperar se. Perdeu muito sangue. Mas a operação desta amanhã foi muito bem e nos hão dito que ficará bem. Só necessita muito descanso. –Graças a Deus –sussurrou Eduardo enquanto a abraçava–. Assim é ela a que vai casar se com o Brandon. Sempre me caiu muito bem sua irmã. Apertou a bochecha contra sua camisa e pôs-se a chorar. –Desde que ocorreu, acordei-me muito de ti. Desejava que estivesse aqui para me abraçar e me dizer que tudo ia sair bem. –Querida! –exclamou Eduardo abraçando-a com força–. Sei que sou egoísta e cruel. Haverá momentos no futuro nos que lhe entrarão vontades de me dar um murro, mas me dê uma oportunidade mais para te amar. me aceite e não 81

voltarei a me separar de seu lado. Abriu a boca para responder, mas ele colocou um dedo sobre seus lábios. –Antes de me dar sua resposta, deixa que termine minha exposição… A beijou então com todo o amor que sentia por ela, para Callie não ficou nenhuma dúvida de seus sentimentos. E havia também tanta paixão depois de meses separados que sentiu que lhe tremiam as pernas. Quando se separou dela, olhou-o emocionada. –Fica comigo, Eduardo –sussurrou sem poder conter as lágrimas–. Não me deixe nunca. Seus olhos escuros se encheram de alegria e felicidade. –Callie… – Te amo –lhe sussurrou ela. Eduardo a beijou de novo. Durante tanto tempo que algumas enfermeiras pigarrearam quando passaram a seu lado e lhes sugeriram que se buscassem um lugar mais apropriado para esse tipo de afazeres. Foi então quando Eduardo decidiu apartar-se. –Oxalá tivesse feito as coisas de outra maneira desde o começo – sussurrou ele contra seu cabelo–. Me teria encantado te oferecer umas bodas de verdade, lhe pedir a sua mão a seu pai… Sabe que inclusive tentei te escrever um poema no avião que me trouxe para o Dakota do Norte? – Sério? – Sim, um poema de amor –o confessou ele. –Um poema de amor do grande Eduardo Cruz –repetiu ela rendo–. Isso eu adoraria lê-lo. –Não te deixarei fazê-lo, não quero que te ria de mim. –A verdade é que preciso rir –lhe disse ela um pouco mais séria enquanto acariciava sua áspera bochecha–. E nós dois sabemos que, cedo ou tarde, me o vai dar. –Sim, farei-o –repôs Eduardo enquanto tomava sua cara entre as mãos–. Lhe o vou dar tudo. Tudo o que tenho. Tudo o que sou. Para o bom e para o mau –lhe prometeu ele. –Na saúde e na enfermidade, todos os dias de minha vida… – sussurrou ela. Ficou nas pontas dos pés e o beijou outra vez. Era maravilhoso voltar a estar assim com ele, saber que podia beijá-lo quando quisesse. Era seu marido… Callie abriu muito os olhos de repente e deu um passo atrás. –O que ocorre, querida? –perguntou-lhe ele preocupado. –Assinei ontem os papéis do divórcio! –exclamou desgostada–. Não, Eduardo. O que tenho feito? Estamos divorciados! Mas ele não reagiu como esperava, mas sim se pôs-se a rir. Levantou-lhe com ternura o queixo e secou com um polegar suas lágrimas. –Meu amor, é a melhor noticia que podia me dar. –O que? por que? –perguntou surpreendida. –Assim temos a oportunidade de fazê-lo bem esta vez –lhe sussurrou Eduardo ao seu ouvido. Era uma cálida noite de finais de julho quando Callie saiu ao alpendre traseiro da granja. Seu pai a estava esperando na penumbra. Walter Woodville se voltou então para ela e ficou sem fôlego ao ver sua filha maior vestida de noiva. –Está preciosa, carinho –lhe disse emocionado. Callie olhou timidamente seu vestido de encaixe cor marfim. Era curto e com voo, uso anos cinquenta. 82

–Toda graças a mamãe. Ela adaptou o vestido da avó para que pudesse usá-lo eu. –Sua mãe sempre consegue que tudo pareça mais belo. E você também o faz –lhe disse ele com lágrimas nos olhos–. Estou tão orgulhoso de ser seu pai. Está preparada? Caminhou arranca-rabo a seu braço a curta distância que os separava do lugar onde ia celebrar se a cerimônia. A lua crescente brilhava sobre os campos de cevada de seu pai. Era uma noite tranquila e mágica. As vaga-lumes também contribuíam com sua luz a que o ambiente fora ainda mais mágico. Enquanto caminhavam para o celeiro, pôde ouvir as cigarras na distância. Levava em uma mão um ramo de margaridas rosas. voltou-se um instante para olhar a casa onde tinha crescido. Era pequena e o exterior necessitava uma mão de pintura, mas era acolhedora, cálida e estava cheia de boas lembranças. Olhou o balanço do alpendre, as flores vermelhas de sua mãe nos vasos de barro. Havia tanto amor naquele lugar… –Só espero que saibamos fazê-lo tudo bem –sussurrou a seu pai. –Bom, não será assim, carinho –repôs ele sorrindo. –Então, espero ao menos que vá a metade de bem que a vós. Walter Woodville colocou sua mão sobre a dela. –com certeza que sim, pertencem um ao outro. É um bom homem. Callie teve que aguentar-se para não tornar-se a rir. Seu pai tinha aprendido a apreciar ao Eduardo depois de passar com ele três dias pescando em Wisconsin. Também tinha ajudado que seu prometido lhe tivesse pedido a mão de sua filha em matrimônio. Inclusive Brandon e Eduardo tinham conseguido enterrar a tocha de guerra. Também seu amigo tinha ido a Wisconsin, junto com um montão de tios e primos. Não tinha compreendido muito bem como tinham conseguido cercar amizade, mas acreditava que tinham ajudado muito as cervejas que se beberam uma noite juntos ao fogo. –Como vamos casar nos com as irmãs Woodville, decidimos que tínhamos que ser aliados –lhe havia dito Eduardo com um sorriso. Ganhá-la aprovação e o carinho de sua mãe tinha sido muito mais fácil. Eduardo era o maior admirador de sua comida e não se cansava de elogiar especialmente seus bolos de frutas. –Embora não viria nada mal que me dessem mais netos quanto antes –o havia dito sua mãe com um pouco de acanhamento. –Sim, senhora –tinha respondido Eduardo enquanto olhava ao Callie com um grande sorriso. Lhe encheram os olhos de lágrimas ao recordá-lo. Por fim estava segura de algo que a tinha tido distraída durante dias. Estava desejando poder dizer-lhe a Eduardo. –Não chore! –sussurrou-lhe seu pai–. Sua mãe nunca me perdoaria isso se tirar a perder a maquiagem. –Não estou chorando, papai –repôs Callie enquanto piscava para conter as lágrimas. Passaram ao lado do lugar onde foram ter o banquete. Havia uma pista de baile iluminada por tochas e geladeiras portáteis cheias de cerveja e o melhor champanha. Chegaram à porta do celeiro e se detiveram. Começou a marcha nupcial e todos os pressente ficaram em pé para olhá-la, mas ela só tinha olhos para o Eduardo. Esperava-a ao final do corredor, estava muito bonito e seus olhos se iluminaram quando a viu. A seu lado estavam o padrinho e a dama de honra, aos que sozinho ficavam dois meses para casar-se. A perna de Sami não estava de tudo 83

curada e ainda tinha que usar uma muleta, mas resplandecia de felicidade. Faziam planos para comprar uma pequena granja quando o seguro os desse a indenização do acidente. Lhe fez um nó na garganta ao ver tão felizes a duas das pessoas que mais queria no mundo. Ela também o era. Esse dia ia casar se com seu melhor amigo. Mas Eduardo não era só seu melhor amigo, também era sua alma gêmea, seu amante, o homem no que confiava plenamente e o pai de sua filha. O homem com o que queria dormir todas as noites e com o que queria despertar cada manhã. O homem com quem queria brigar e fazer amor. O homem com que queria rir e ao que ia amar durante o resto de sua vida. –Queridos amigos –começou o pároco–, estamos aqui reunidos hoje… Enquanto pronunciava as mágicas palavras que os converteriam de novo em marido e mulher, Callie olhou ao Eduardo. Havia muito amor em seu rosto e devoção em seus olhos. –Quem entrega a esta mulher para casar-se com este homem? – perguntou o lhe oficiem. –Sua mãe e eu –repôs Walter com voz tremente. Beijou a seu pai e sorriu ao ver sua mãe na primeira fila e com a Marisol em seu regaço. Enquanto avançava a cerimônia, Callie escutou o suave vento balançando a cevada e se estremeceu quando Eduardo lhe leu os votos com sua bela voz. Foi consciente de cada instante e não pôde evitar que lhe tremessem as mãos quando se intercambiaram as alianças. Sorriu ao dar-se conta de tudo o que simbolizava esse anel. Estava desejando lhe contar que sua família seguia crescendo. Depois das bodas, queria lhe dizer que ia voltar a ser pai. O novo bebê ia a nascer em fevereiro. Decidiu que lhe sussurraria a boa notícia ao ouvido durante seu primeiro baile. Tinham toda a vida por diante e nunca tinha sido tão feliz. Pensou que estaria bem passar ali o verão, o outono em Nova Iorque e o inverno na Espanha. Mas quando chegasse o momento de que nascesse o bebê, sabia que só havia um lugar onde queria estar, em seu lar. Olhou ao Eduardo e se deu conta de que ele era seu lar. Quando estava em seus braços, sentia-se de volta em casa. Estivesse onde estivesse. –E você, Calliope Marlena Woodville, toma a este homem como seu legítimo marido, para o bom e para o mau, na riqueza e na pobreza, para amá-lo e respeitá-lo até que a morte os separe? Callie se voltou para olhar a sua menina, a sua família e a seus amigos. Era exatamente como sempre tinha imaginado que seria suas bodas. Fechou os olhos, respirou fundo e recordou todos os sonhos impossíveis que havia tido de menina. Logo os abriu, olhou ao Eduardo e pronunciou as palavras que tinham o poder de converter todos esses sonhos em realidade.

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Fim

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Amar-se, respeitar-se e trair-se

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