CADERNO DE RESUMOS 2017

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CADERNO DE RESUMOS Apoio/Patrocínio:

III CONGRESSO NACIONAL E II CONGRESSO INTERNACIONAL DE LITERATURA E GÊNERO

Da resistência à subversão: corpos que se (trans)formam 10 a 12 de maio de 2017

UNESP – Universidade Estadual Paulista ―Júlio de Mesquita Filho‖ Câmpus de São José do Rio Preto IBILCE – Instituto de Biociências, Letras e Ciências Exatas

CADERNO DE RESUMOS

São José do Rio Preto 2019

Diretora Profa. Dra. Maria Tercília Vilela de Azeredo Oliveira Vice-Diretor Prof. Dr. Geraldo Nunes Silva Programa de Pós-Graduação em Letras Coordenadora: Profa. Dra. Giséle Manganelli Fernandes Vice-Coordenador: Prof. Dr. Alvaro Luiz Hattnher Chefia do Departamento de Letras Modernas Chefe: Profa. Dra. Marilei Amadeu Sabino Vice-Chefe: Profa. Dra. Cláudia Maria Ceneviva Nigro Comissão Organizadora Profa. Dra. Cláudia Maria Ceneviva Nigro Prof. Fernando Luís de Morais (Unesp/IBILCE) Profa. Ms. Geovânia Pereira dos Reis Machado Profa. Dra. Juliane Camila Chatagnier Garcia Profa. Dra. Michelle Rubiane da Rocha Laranja (IFSP) Profa. Dra. Edilene Gasparini Fernandes (FATEC Rio Profa. Dra. Divanize Carbonieri (UFMT) Preto) Prof. Dr. Flávio Adriano Nantes (UFMS) Profa. Dra. Maraíza Almeida Ruiz de Castro Profa. Ms. Manoela Caroline Navas Prof. Ms. Davi Silistino de Souza Prof. Ms. Lucas de Castro Marques Profa. Suelen Najara de Mello Prof. Ms. Leandro Henrique Aparecido Valentin Profa. Dra. Maria Cláudia Rodrigues Alves Alberto Oliveira Junior (Unesp/IBILCE) Profa. Dra. Gisele de Oliveira Bosquesi Comissão Científica Álvaro Luiz Hattnher (Unesp/IBILCE) Juliane Camila Chatagnier Garcia (Unesp/IBILCE) Anselmo Peres Alós (UFSM) Maria Angélica Deângeli (Unesp/IBILCE) Carla Alexandra Ferreira (UFSCar) Maria Celeste Tommasello Ramos (Unesp/IBILCE) Cláudia Maria Ceneviva Nigro (Unesp/IBILCE) Maria Cláudia Rodrigues Alves (Unesp/IBILCE) Divanize Carbonieri (UFMT) Nilce Maria Pereira (Unesp/IBILCE) Edilene Gasparini Fernandes (FATEC Rio Preto) Norma Wimmer (Unesp/IBILCE) Flávia Benfatti (UFU) Pablo Simpson Kilzer Amorim (Unesp/IBILCE) Flávio Adriano Nantes (UFMS/Unesp/IBILCE) Raquel Terezinha Rodrigues (UNICENTRO) Giséle Manganelli Fernandes (Unesp/IBILCE) Roxana Guadalupe Herrera Álvarez (Unesp/IBILCE) Izabel de Fatima de Oliveira Brandao (UFAL)

Adriana Reis Alan Casteluber Bianca Sinibaldi Érika Aidar

Fernando Poiana Isadora Batista Jakeline Porto Jason Guimarães

Equipe de Monitores Julia Almeida Juliana Zuanon Marciele Almeida Monelise Pando

Karina Espúrio Larissa Bueno Lourdes Ribeiro Odair Santana Júnior

Rafaela Banhos Suzel Domini

Organizadores do Caderno de Resumos Profa. Dra. Cláudia Maria Ceneviva Nigro Profa. Dra. Juliane Camila Chatagnier Garcia (Unesp/IBILCE) Prof. Ms. Lucas de Castro Marques Profa. Dra. Michelle Rubiane da Rocha Laranja (IFSP)

Dados internacionais de Catalogação na Publicação (CIP)

Congresso Nacional de Literatura e Gênero (3. : 2017 : São José do Rio Preto, SP) Caderno de resumos [do] 3. Congresso Nacional e 2. Congresso Internacional de Literatura e Gênero [recurso eletrônico] : 10 a 12 de maio de 2017, São José do Rio PretoSP / [Organização de Cláudia Maria Ceneviva Nigro ... [et al.]. – São José do Rio Preto : UNESP/IBILCE, 2019 184 p. Temática do evento: Da resistência à subversão: corpos que se (trans)formam E-book Requisito do sistema: Software leitor de pdf Modo de acesso: http://congressoliteraturaegenero.blogspot.com/2019/04/caderno-de-resumos.html ISBN 978-85-8224-152-3 1. Literatura - História e crítica - Teoria, etc. 2. Identidade de gênero na literatura. 3. Análise do discurso literário. I. Congresso Internacional de Literatura e Gênero (2. : 2017 : São José do Rio Preto, SP) II. Nigro, Cláudia Maria Ceneviva. III. Universidade Estadual Paulista (Unesp), Instituto de Biociências, Letras e Ciências Exatas, São José do Rio Preto. IV. Título. V. Da resistência à subversão: corpos que se (trans)formam. CDU – 8.015 Ficha catalográfica elaborada pela Biblioteca do IBILCE UNESP - Câmpus de São José do Rio Preto Bibliotecária: Luciane A. Passoni CRB-8 7302

SUMÁRIO

Página 26

Programação Geral do Evento Resumos das Conferências

28

Conferência de Abertura BODY POLITICS: GENDER, DEMOCRACY

29 BORDERS

AND

RADICAL

Profª Drª Letícia SABSAY (LSE) Conferência de Encerramento DAMAS DA LITERATURA E DO TEATRO: MULHERES SEM MEDO DE LOBOS! DE LYGIA FAGUNDES TELLES À MADAME CURIE Isabel Ortega MARQUES (Criadora e diretora da Jornada Internacional de Mulheres Escritoras/ Madrid)

30

Resumos das Mesas-Redondas

31

MESA I – GÊNERO E POLÍTICAS QUEER POLÍTICAS DA VIOLÊNCIA CONFRONTADAS POR POLÍTICAS QUEER, OU QUANDO INDIVÍDUOS EMERGEM PELAS BRECHAS Prof. Dr. Daniel do Nascimento e SILVA (UFSC) VIAGEM SOLITÁRIA: MEMÓRIAS DE UM TRANSEXUAL – 30 ANOS DEPOIS: CONSTRUÇÃO IDENTITÁRIA DE UM TRANSHOMEM Prof. Dr. Dánie Marcelo de JESUS (UFMT)

32 32

MESA II – GÊNERO E CINEMA O FEMININO ULTRAJADO EM MEDEIA: DA TRAGÉDIA DE EURÍPEDES À VERSÃO CINEMATOGRÁFICA DE PASOLINI E SUAS PRINCIPAIS REPRESENTAÇÕES ARTÍSTICAS Profª Dra Maria Cláudia Rodrigues ALVES (UNESP/IBILCE) Profª Drª Maria Celeste Tommasello RAMOS (UNESP/IBILCE) Profª Drª Maria Angélica DEÂNGELI (UNESP/IBILCE)

34 34

32

MESA III – GÊNERO E RAÇA À FRONTEIRA: MULHER NEGRA E IMAGINÁRIO COLETIVO Profª Drª Marcela Ernesto dos SANTOS (IFMS) A LITERATURA NEGRO-AFRICANA ENQUANTO RECONSTRUÇÃO HISTÓRICA DO FEMININO Profª Ma. Providence BAMPOKY (UNESP/Senegal)

35 35

MESA IV – GÊNERO E PSICANÁLISE A ESTILIZAÇÃO DO AMOR ROMÂNTICO E AS ENRASCADAS DE GÊNERO NO ―DIÁRIO DE UM HERMAFRODITA‖: RUÍNAS CIRCULARES ENTRE FOUCAULT E BUTLER Prof. Dr. Henrique de Oliveira LEE (UFMT) CORPOS QUE SUBVERTEM A LINEARIDADE SEXO-GÊNEROORIENTAÇÃO E R(EXISTEM) EM BALÉRALÉ, DE MARCELINO FREIRE Prof. Ms. Flávio Adriano NANTES (UFMS)

36 36

MESA V – GÊNERO E AMÉRICA LATINA ESCRITORAS LATINAS NOS ESTADOS UNIDOS: NÃO É POSSÍVEL CALAR VOZES IMPETUOSAS

38 38

Profª Drª Giséle Manganelli FERNANDES (UNESP/IBILCE) A DONZELA GUERREIRA: UM EXEMPLO BRASILEIRO Profª Drª Norma WIMMER (UNESP/IBILCE)

35

37

38

DE CONCEIÇÃO AO CONTROVERSO (ANTI)FEMINISMO DE RACHEL DE QUEIROZ: O QUINZE COMO UMA ―NOVA‖ ENTRADA PARA A LITERATURA ESCRITA POR MULHERES NA AMÉRICA LATINA Profª Ma. Vanessa Costa dos SANTOS (UEG)

39

MESA VI – GÊNERO E FEMININO HOMOSSEXUAL E PATRIOTA: TRÊS VERSÕES DE ROGER CASEMENT COMO PERSONAGEM DE FICÇÃO Profª Drª Mariana BOLFARINE (IFSP) O EFEITO METAFÓRICO DA VIOLÊNCIA: QUANDO O GÊNERO É CAUSA MORTIS Profª Drª Dantielli Assumpção GARCIA (UNIOESTE) MENINAS E MULHERES DE LYGIA BOJUNGA Profª Drª Michelle Rubiane da Rocha LARANJA (IFSP)

40 40

40

41

SIMPÓSIOS TEMÁTICOS

42

SIMPÓSIO TEMÁTICO 2

43

PERFORMANCES DO POLÍTICO E DO ESTÉTICO: GÊNEROS SEXUAIS, ANÁLISE DO DISCURSO E LITERATURA Aline Fernandes de Azevedo BOCCHI – FFCLRP-USP/ FAPESP Dantielli Assumpção GARCIA – UNIOESTE/PNPD-CAPES Jacob dos Santos BIZIAK– IFPR/ FFCLRP-USP O ESPAÇO DA MULHER NA LITERATURA: QUANDO O GÊNERO EXCLUI

44

Dantielli Assumpção GARCIA (PNPD/CAPES, PG de Letras UNIOESTE) LUGAR-COMUM: UMA ANÁLISE DAS VOZES SILENCIADAS DO RAP FEMININO

44

Karen S. S. CONCEIÇÃO (IFPR – Campus Palmas) Orientadora: Dra. Kátia Cilene Silva Santos CONCEIÇÃO Coorientador: Dr. Jacob dos Santos BIZIAK O DISCURSO FEMININO: DIFERENÇAS E SEMELHANÇAS ENTRE A MEGERA DOMADA E 10 COISAS QUE ODEIO EM VOCÊ

45

Janaina Camargo RONCEN (Instituto Federal do Paraná) Orientador: Dr. Jacob dos Santos BIZIAK AS SEMIOSES DO FEMININO NO CONTO ―AMOR‖, DE CLARICE LISPECTOR

46

Dr. Thiago Ianez CARBONEL (UNICEP) ―AVISO DE GATILHO‖: O POLÍTICO E O POÉTICO NO FUNCIONAMENTO DO POEMA-EMPODERAMENTO

46

Aline Fernandes de Azevedo BOCCHI (FFCLRP/USP - El@dis) A ESCRAVIDÃO SOBE AO PALCO: UMA POSSÍVEL LEITURA DA QUESTÃO DE GÊNERO NAS PEÇAS MÃE E O DEMÔNIO FAMILIAR DE JOSÉ DE ALENCAR

47

Maria Domingos Pereira VENTURA (UTFPR) Angela Maria Rubel FANINI (UTFPR) ANGÚSTIA, RESISTÊNCIA, SILÊNCIO E VIOLÊNCIA ÉTICA: CORPOS E GÊNEROS SEXUAIS NA FICÇÃO ROMANESCA DE

48

SARAMAGO Dr. Jacob Dos Santos BIZIAK (IFPR/USP) OS SUJEITOS-GAYS E O RELATO SOBRE SI: O JOGO ENTRE A PRODUÇÃO DOS DISCURSOS E SENTIDOS NO JORNALISMO BRASILEIRO

49

Gustavo Grandini BASTOS (FFCLRP/USP - CAPES DE CAPITU FALADA POR UM HOMEM À QUE FALA NA MARCHA DAS VADIAS

49

Karen Gabriele POLTRONIERI (USP) Prof. Dr. Lucília Maria Abrahão e SOUSA (orientadora) (USP) MASCULINIZAÇÃO, SILENCIAMENTO E OBJETIFICAÇÃO DAS MULHERES NA SEGUNDA GUERRA MUNDIAL

50

Fernando Ribas CAMARGO (IFPR) Orientador: Dr. Jacob Dos Santos BIZIAK ECOS E EFEITOS DISCURSIVOS: COMUNHÃO ESTÉTICA E POLÍTICA ENTRE ―SEJAMOS TODOS FEMINISTAS‖ E ―HIBISCO ROXO‖ DE CHIMAMANDA NGOZI ADICHIE

51

Rafaela Viana SERPA (Instituto Federal do Paraná) Orientador: Dr. Jacob dos Santos BIZIAK SIMPÓSIO TEMÁTICO 3

52

EROTISMO, SEXUALIDADE E GÊNERO NA LITERATURA Luciana BORGES (Universidade Federal de Goiás) ENTRE FLASHES E ALGODÃO SINTÉTICO: CASAMENTO E VIOLÊNCIA SIMBÓLICA EM ―A CEIA DE ANINHA‖ E ―CHECKUP‖, DE AUGUSTA FARO

53

Nívea de Souza Moreira MENEGASSI (Universidade Federal de Goiás Regional Catalão) Luciana BORGES (Universidade Federal de Goiás - Regional Catalão) CORPO ESCRITO – A MULHER ERÓTICA: A POESIA DE MARIA TERESA HORTA

53

Ms. Natália Salomé de SOUZA (PPGEL – UFMT) Dr. Vinícius Carvalho PEREIRA (PPGEL – UFMT) FEMINISMO KING KONG: PAUL B. PRECIADO E VIRGINIE DESPENTES FAZEM AMOR

54

Aléxia BRETAS (Professora adjunta da UFABC) PRISÃO E EMPODERAMENTO: O EROTISMO NA PARÓDIA BÍBLICA DE SARAMAGO

55

Bruno Vinicius Kutelak DIAS (UFPR) EROTISMO E O PODER DO CORPO NA OBRA A CASA DAS BELAS ADORMECIDAS, DE KAWABATA YASUNARI

55

Mina ISOTANI (Universidade Federal do Paraná) SIMPÓSIO TEMÁTICO 5 GÊNERO, MEMÓRIA E CONSTRUÇÃO DA IDENTIDADE NACIONAL NA REPÚBLICA DA IRLANDA

57

Caroline Moreira EUFRAUSINO (PG/USP) Cláudia PARRA (PG/UNESP) Fernando POIANA (PG/UNESP) PROCESSOS DE EMPOWERMENT NAS FEMININAS DE JUNO AND THE PAYCOCK

REPRESENTAÇÕES

58

Claudia PARRA (Unesp/D) A LINGUAGEM POÉTICA DE EAVAN BOLAND

58

Fernando Aparecido POIANA (IBILCE/UNESP) NARRATIVAS WEBSTER

INTERCRUZADAS

EM

BROOKLYN

E NORA

59

Lídia Apolinario PIRES (UFT) EMPOWERMENT AND FEMALE IDENTITY IN DEIRDRE OF THE SORROWS (J. M. SYNGE, 1910) AND A CRY FROM HEAVEN (VINCENT WOODS, 2005)

60

Juliana Figueiredo TOKITA (MA, UNESP/ São José do Rio Preto) Peter HARRIS (UNESP/ São José do Rio Preto) NOS LIMIARES DO CORPO E DA MEMÓRIA: O PERCURSO NARRATIVO EM O ENCONTRO DE ANNE ENRIGHT

61

Caroline Moreira EUFRAUSINO (PG/USP) MEMÓRIA E RESISTÊNCIA NA POESIA DE VONA GROARKE

61

Camilla de Oliveira JORGE (IBILCE/UNESP) VIOLÊNCIA DOMÉSTICA, ÁLCOOL E FAMÍLIA EM DOIS ROMANCES DE RODDY DOYLE Elaine Cristina Rodrigues AGUIAR (UFT)

62

QUEER IRISH NATIONAL IDENTITY IN JAMIE O‘NEILL‘S AT SWIM, TWO BOYS

63

Frandor Marc MACHADO (UFSC) SIMPÓSIO TEMÁTICO 7

64

O FEMININO COMO FONTE DE DOMINAÇÃO Marco Aurelio Barsanelli de ALMEIDA (IBILCE/UNESP) A DOMINAÇÃO FEMININA EM NEIL GAIMAN

65

Marco Aurelio Barsanelli de ALMEIDA (UNESP/São José do Rio Preto) BRANCA DE NEVE NA SALA DE ESPELHOS: REESCRITURAS DO CONTO

65

Denise Loreto de SOUZA (Unesp/Ibilce) CAPITU E LAVÍNIA: DUAS MULHERES, UM MESMO DESTINO?

66

Adriana da Costa TELES (FFLCH/ USP) INVERSÃO DE ARQUÉTIPOS EM JOGOS VORAZES: A POSIÇÃO DE HERÓI ASSUMIDA PELA PERSONAGEM FEMININA KATNISS EVERDEEN

67

Guilherme Augusto Louzada Ferreira de MORAIS (UNESP/IBILCE) O FAZER LITERÁRIO DE LYA LUFT EM O PONTO CEGO: DESNUDANDO A SOCIEDADE PATRIARCAL

68

Mestranda: Solange Arruda da SILVA (UFG-RC) Orientadora: Luciana BORGES (UFG-RC) SIMPÓSIO TEMÁTICO 8

69

ESCRITORAS DO SÉCULO XIX: SUBVERSÃO E CÂNONE Natalia Helena WIECHMANN (IFSP - Barretos) Tais Matheus da SILVA (IFSP - Itaquaquecetuba) UMA SUSAN SÓ MINHA: EMILY DICKINSON, SUSAN GILBERT E A AMIZADE ENTRE MULHERES NO SÉCULO XIX

70

Natalia Helena WIECHMANN (IFSP) O RECONHECIMENTO DA POETISA FRANCISCA JULIA

70

Jaqueline Ferreira BORGES (Universidade Federal de Uberlândia) DESCOMPASSOS NAS BIOGRAFIAS DE JEAN INGELOW Guilherme Magri da ROCHA (Unesp/Assis-Fapesp)

71

A ESCRITA LITERÁRIA DE NÍSIA FLORESTA N‘O BRASIL ILLUSTRADO: ―PASSEIO AO AQUEDUTO DA CARIOCA‖ E ―PRANTO FILIAL‖

72

Priscila Renata GIMENEZ (UFG) ROSALÍA DE CASTRO E A OUSADIA DE ESCREVER

73

Tais Matheus da SILVA (IFSP-Itquaquecetuba/UNESP-Araraquara) KATE CHOPIN E A LIBERTAÇÃO FEMININA EM QUESTÃO NO CONTO ―A HISTÓRIA DE UMA HORA‖

73

Camila Nere MAZINI (Centro Universitário Unifafibe) Nágila Pegoraro CÂMARA (Centro Universitário Unifafibe) NORTE E SUL: GÊNERO E LUTA DE CLASSES NO ROMANCE DE ELIZABETH GASKELL

74

Laisa Alves de VASCONCELOS (UNIFAL-MG) O DISCURSO DA POETISA NARCISA AMÁLIA EM FAVOR DA INSTRUÇÃO INTELECTUAL DA MULHER, NO SEMANÁRIO O SEXO FEMININO

75

Nátaly Rafaele TERNERO(Unifal-MG) bolsista do programa Pibic/CNPq Aparecida Maria NUNES (Unifal-MG) A CONDIÇÃO FEMININA DO OITOCENTOS, NAS PÁGINAS DO SEMANÁRIO ―O SEXO FEMININO‖

75

Aparecida Maria NUNES (Unifal-MG) pesquisadora da Fapemig SIMPÓSIO TEMÁTICO 10 TRANSCRITAS: TRANSGÊNEROS

77

ESCRITAS

DE

TRAVESTIS

E

Jorge MARQUES (Colégio Pedro II) Juliana BERLIM (Colégio Pedro II) TEATRO DE BERNARDO INTERPRETATIVAS

CARVALHO:

DOBRAS

78

Juliana Nascimento Berlim AMORIM (Colégio Pedro II) HISTORIAS DE TRAJES E TRAVESTISMOS NOS ROMANCES ORLANDO DE VIRGINIA WOOLF E QUIM/QUIMA DE MARIA AURELIA CAPMANY Melida Paola Frye CÓRDOBA. (Universidade Estadual de Londrina)

78

CORPOS EM TRAVESSIA: UMA REFLEXÃO DE GÊNERO NAS OBRAS DE MACHADO E ROSA

79

Flávia AMPARO (UFF/ CPII) AS REPRESENTAÇÕES LITERÁRIAS DO TRANSGÊNERO NA NARRATIVA MODERNISTA

80

Marcelo Branquinho Massucatto RESENDE (Unesp Araraquara) A SUBLIME RUÍNA DA MONARCA VAMPIRA EM LÁBIOS QUE BEIJEI, DE AGUINALDO SILVA

80

Jorge MARQUES (Colégio Pedro II) MERCENÁRIA E DE PRÓTESES NOVAS: A OBJETIFICAÇÃO DA TRAVESTI ESTRELA EM NOSSOS OSSOS, DE MARCELINO FREIRE

81

Guilherme Augusto da Silva GOMES (UFU) TRATA-SE DE DAR VIDA À PINTURA: AS IMAGENS DE STELLA MANHATTAN, DE SILVIANO SANTIAGO

82

Carina LESSA (UNESA) ―NÓS SOMOS AS VERDADEIRAS (ASLI) HIJRAS.‖

82

Profa. Dra. Regiane Corrêa de Oliveira RAMOS (FATEC) SIMPÓSIO TEMÁTICO 11

84

O ENFOQUE DAS MASCULINIDADES NA LITERATURA BRASILEIRA Luiz Carlos Santos SIMON (UEL) Renata Beloni de ARRUDA (UEL) AS CRÔNICAS DE LUIS FERNANDO MASCULINIDADES NO CONTEXTO BRASILEIRA

VERISSIMO E AS DA LITERATURA

85

Luiz Carlos SIMON (UEL) A CONSTRUÇÃO DA SUBJETIVIDADE MASCULINA NO CONTO ―CORISCO‖, DE LUIZ VILELA

85

Lucélia CANASSA (PG-UEL) AFINAÇÃO DA ARTE DE CHUTAR TAMPINHAS: EM BUSCA DE UMA POÉTICA DA SOLIDÃO NA CONTÍSTICA DE JOÃO ANTÔNIO Mateus Fernando de OLIVEIRA (PG – UEL)

86

AIDS E HOMOSSEXUALIDADE: A DENÚNCIA DE ROTULAÇÕES E PRECONCEITOS NA CRÔNICA A MAIS JUSTA DAS SAIAS, DE CAIO FERNANDO ABREU

87

Thamiris Yuri Silveira PELLIZZARI (UEL) A CONSTRUÇÃO DAS MASCULINIDADES REPRESENTADA NAS CRÔNICAS DE CARPINEJAR

87

Renata Beloni de ARRUDA (UEL) AS MASCULINIDADES NAS CRÔNICAS DE MARCELO RUBENS PAIVA

88

Fabricia Cristina FLORENCIO (PG-UEL) UM CRIME DELICADO – NARRAÇÃO, MASCULINIDADE E VIOLÊNCIA

89

Larissa Satico Ribeiro HIGA (USP-CAPES) A CRISE DA MASCULINIDADE E A PERFORMATIVIDADE DE GÊNERO NO ROMANCE MEMORIAL DE MARIA MOURA

89

Wilma dos Santos COQUEIRO (UNESPAR/Campo Mourão) Melida Paola Frye CÓRDOBA (Doutoranda em Letras/UEL) A ERUDIÇÃO MÍNIMA DE ADÍLIA LOPES E ANA CRISTINA CESAR

90

Gustavo SCUDELLER (Unifesp) SIMPÓSIO TEMÁTICO 13

91

FEMINISMOS – INTERSECÇÃO ENTRE GÊNERO, CULTURA, RAÇA E CLASSE Alba Krishna Topan FELDMAN (UEM) Luana PASSOS (UNESP/IBILCE/NUPE) IDENTIDADE DA MULHER INDÍGENA E A NARRATIVA DE SI OU, JOY HARJO, A GUERREIRA LOUCA

92

Alba Krishna Topan FELDMAN (UEM-PR) DISCUTINDO O CONCEITO DA MAMMY ESTADUNIDENSE COM PERSONAGENS NEGRAS EM A RESPOSTA (2015) DE KATHRYN STOCKETT.

92

Luiz Henrique dos Santos CORDEIRO (Uem) O CORPO NEGRO IDENTIDADE

COMO

LÓCUS

DA

NEGAÇÃO

DA

93

Érica Fernandes ALVES (UEM) Geniane Diamante Ferreira FERREIRA (UEM) RESISTÊNCIA E SUBVERSÃO EM BECOS DA MEMORIA DE CONCEIÇÃO EVARISTO: (DES) CONSTRUINDO A FIGURA DA ―MULATA‖

94

Sarah Silva FRÓZ (Mestranda Letras-UEMA) AS HAIKUÍSTAS DO YUBA KUKAI

94

Michela Mitiko Kato Meneses de SOUZA (IFMS Campus Três LagoasMS) OMO–OBÁ, HISTÓRIAS DE PRINCESAS E O EMPODERAMENTO DA MENINA NEGRA

95

Luana PASSOS (NUPE/UNESP/IBILCE) CONCEPÇÃO DA IDENTIDADE FEMININA NIPO-BRASILEIRA EM O JARDIM JAPONÊS, DE ANA SUZUKI

96

Clarinda Matsuzaki INUMARU (UEM-PR) THE ROUND HOUSE: A VIOLAÇÃO DO CORPO DA MULHER INDÍGENA, SEUS IMPACTOS PESSOAIS, COMUNITÁRIOS, FAMILIARES E POLÍTICOS.

96

Marcos Vinicius Rodrigues da COSTA (UEM) Orientadora: Alba Krishna Topan FELDMAN (UEM) IDENTIDADE FEMININA ORTODOXA BRASILEIRA

NA

LITERATURA

JUDAICA

97

Daniela GUERTZENSTEIN (PNPD CAPES PPGS DS FFLCH USP) CALAR PARA DAR VOZ: O FORA DE CAMPO OU ESPAÇO OFF EM IMAGENS DE ROSANA PAULINO

98

Leandro PASSOS (IFMS Campus Três Lagoas – MS) SIMPÓSIO TEMÁTICO 16

99

QUESTÕES DE GÊNERO NA LITERATURA INFANTIL E JUVENIL Geovana Gentili SANTOS (UNICID) Vanessa Regina Ferreira da SILVA (COTUCA-UNICAMP/FATEC) AS PERSONAGENS FEMININAS NO UNIVERSO FICCIONAL DE PAULA PIMENTA Dr.ª Geovana Gentili SANTOS (Universidade Cidade de São Paulo –

100

UNICID / Cruzeiro do Sul Educacional) CONSTRUÇÃO IDENTITÁRIA EM SORTES DE VILLAMOR, DE NILMA LACERDA

100

Cecilia Barchi DOMINGUES (UNESP/Assis-SP) Eliane Aparecida Galvão Ribeiro FERREIRA (UNESP-Assis/SP) CORPOS VIOLADOS, CORPOS LIBERTOS: UMA LEITURA DE A CABEZA DE MEDUSA, DE MARILAR ALEIXANDRE

101

Karina de OLIVEIRA (UNIFEV/USC) A BOLSA AMARELA, DE LYGIA BOJUNGA NUNES: A REPRESENTAÇÃO DA INFÂNCIA E A QUESTÃO IDENTITÁRIA

102

Eliane Aparecida Galvão Ribeiro FERREIRA (UNESP-Assis/SP) Thais Oliveira Kalil MODESTO (UNESP-Assis/SP) A DISTOPIA JUVENIL E A PROTAGONIZAÇÃO DA VOZ FEMININA

102

Dra. Vanessa Regina Ferreira da SILVA (Instituto Federal de São Paulo Campos do Jordão – IFSP) A REPRESENTAÇÃO DA MULHER E DA CRIANÇA NA LITERATURA JUVENIL BRASILEIRA: UMA ANÁLISE DE SAPATO DE SALTO, DE LYGIA BOJUNGA NUNES

103

Camila Pozzi GALANTE (FCL UNESP Assis) Eliane Aparecida Galvão Ribeiro FERREIRA (FCL UNESP Assis) A FIGURA DA PRINCESA NO LIVRO CONTOS DA CAROCHINHA, DE FIGUEIREDO PIMENTEL

104

Jesyka Lemos JAQUETA (Ibilce/Unesp) QUESTÕES DE GÊNERO EM SEIS VEZES LUCAS, DE LYGIA BOJUNGA

105

Rosânia Alves MAGALHÃES (UFU) SIMPÓSIO TEMÁTICO 17

106

AS IDENTIDADES RACIAIS, ÉTNICAS, SEXUAIS E DE GÊNERO EM NARRATIVAS DA CONTEMPORANEIDADE Divanize CARBONIERI (UFMT/CUIABÁ) Flávia BENFATTI (UFU/UBERLÂNDIA) RUMOS DA LITERATURA TRANSGÊNERA NOS ESTADOS UNIDOS E NO BRASIL

107

Divanize CARBONIERI (UFMT) NORMATIVIZANDO CORPOS: O PODER DA MÍDIA EM ―NOSSA RAINHA‖, DE MARCELINO FREIRE

107

Gildo Antonio MOURA JUNIOR (UFU) Ana Alice da Silva PEREIRA (UFU) O PAIRED WOMEN E O UNHU COMO ESTRATÉGIAS DE EMPODERAMENTO FEMININO NO ROMANCE AFRICANO NERVOUS CONDITIONS. Cláudia Regina SOARES (Universidade Federal de Mato Grosso

108

- UFMT) MRS.

D@LLOWAY

IN

WEST

TENTH

STREET:

109

(RE)CONFIGURAÇÕES DO FEMININO EM AS HORAS, DE MICHAEL CUNNINGHAM Laís Rodrigues Alves MARTINS (UNESP/FCLAr) AUTORIDADE MATERNA NA ESCRITA NEGRA FEMININA

109

Consoelo Costa Soares CARVALHO (Universidade Federal do Estado de Mato Grosso – UFMT) CONFLITO DE GÊNERO EM BUTTERFLY BURNING DE YVONNE VERA

110

Sheila Dias da Silva LAVERDE (SME/UFMT) THE TWELVE TRIBES OF HATTIE: A TRAGETÓRIA DE UMA MULHER NEGRA E SEUS DESCENDENTES NA LUTA PELA SOBREVIVÊNCIA

111

Flávia Andrea Rodrigues BENFATTI (UFU) GÊNERO, REPRESENTAÇÃO E IDENTIDADE EM CHARLES PERRAULT E ANGELA CARTER

111

Ana Alice da Silva PEREIRA (UFSM) Gildo Antonio MOURA JUNIOR (UFU) VIOLÊNCIA CONTRA MULHER NEGRA ESCRAVIZADA: UM ESTUDO DE UM DEFEITO DE COR

112

Laís Maíra FERREIRA (UFMT) RELAÇÕES DE PODER EM BREATH, EYES, MEMORY DE EDWIDGE DANTICAT: O AGENCIAMENTO DAS PERSONAGENS FEMININAS

113

Ana Flávia de Morais Faria OLIVEIRA (UFMT) A PERFORMATIVIDADE COMO EMPODERAMENTO SUBALTERNO NA PERSONAGEM LUISA REY EM CLOUD ATLAS, DE DAVID MITCHELL

113

Davi SILISTINO (UNESP/IBILCE) A IDENTIDADE DE ORLANDO NO ROMANCE DE VIRGINIA WOOLF E NO FILME DE SALLY POTTER

114

Luana Pereira do VALE (UFU/Uberlândia) DOIS MUNDOS CULTURAIS: IDENTIDADE EM HOW THE GARCÍA GIRLS LOST THEIR ACCENTS

115

Isabel Cristina Rodrigues FERREIRA (UFLA) SEXUALIDADE E IDENTIDADE LÉSBICA EM FLOR, FLORES, FERRO RETORCIDO

115

Carolina Salvino CORRÊA (UFU) Amanda Letícia Falcão TONETTO (UFU) A REPRESENTATIVIDADE TRANS NA INTERNET: UMA ANÁLISE DA NARRATIVA AUTOBIOGRÁFICA DE MANDY CANDY

116

João Paulo A. QUEIROZ (UFU) Carolina Salvino CORRÊA (UFU) GÊNERO E VIOLÊNCIA EM O REMORSO DE BALTAZAR SERAPIÃO, DE VALTER HUGO MÃE

116

Penélope Eiko Aragaki SALLES (Universidade de São Paulo) SEXUALIDADE E DIREITOS HUMANOS NA LITERATURA LATINO AMERICANA

117

Eliseu RISCAROLI (UFT – Brasil) Carlos Henrique BENTO (IFMG – Brasil) LIBERDADE E SUBMISSÃO: A INVERSÃO DE PAPÉIS ―FEMININOS‖ E ―MASCULINOS‖ EM ―LA ESCUELA DE LA CARNE‖ DE YUKIO MISHIMA Bruna WAGNER (UFMT) Henrique de Oliveira LEE (UFMT)

118

SIMPÓSIO TEMÁTICO 18

119

DIÁLOGOS LITERÁRIOS – QUESTÕES DE GÊNERO EM DEBATE Carla Alexandra FERREIRA (UFSCAR) Raquel Terezinha RODRIGUES (UNICENTRO) AMÉRICA EM DIÁLOGO SOBRE QUESTÕES DE GÊNERO Raquel Terezinha RODRIGUES (UNICENTRO/Guarapuava) Carla Alexandra FERREIRA (UFSCar) O FAZER LYGIANO EM A DISCIPLINA DO AMOR: LEITURAS POSSÍVEIS E/OU INTERDITADAS Fabrícia Rodrigues CARRIJO (UFG/ RC) O LIMIAR ENTRE A CONFISSÃO E O SILÊNCIO FEMININO EM THE WISHING BOX, DE SYLVIA PLATH Matheus Torres de OLIVEIRA (Universidade Federal de São Carlos) AS MÁSCARAS FEMININAS EM ―HENRIQUETA EMÍLIA DA CONCEIÇÃO‖, DE MÁRIO CLÁUDIO Luana SACILOTTO (Universidade Federal de São Carlos) A REPRESENTAÇÃO DA MULHER NO SÉCULO XX: UMA LEITURA POLÍTICA DE DIÁRIO DO ÚLTIMO ANO DE FLORBELA ESPANCA Dayse Martins da COSTA (UNICENTRO) Vanessa Aparecida KRAMER (UNICENTRO) O SILENCIAMENTO DE CLEÓPATRA UMA RAINHA RELEGADA AO SEGUNDO PLANO Regiane Maria FERREIRA (UEPG-Pós-graduação) Marly Catarina SOARES (UEPG- orientadora) O QUE É TEORIA QUARE AFINAL? Fernando Luís de MORAIS (IBILCE/UNESP) AS MULHERES E A INTELECTUALIDADE: MONTSERRAT ROIG, FEMINISMO E LITERATURA Katia Aparecida da Silva OLIVEIRA (UNIFAL-MG) CORPO E POESIA, POESIA E CORPO – CORPO-POESIA Douglas Rosa da SILVA (UFRGS) O TRISTE OLHAR EM FRENTE AO ESPELHO: UMA ANALISE SOBRE A REPRESENTAÇÃO DA MULHER NEGRA EM―THE BLUEST EYE‖ DE TONI MORISSON Karla Cristina dos PASSOS

120

120

121

122

122

123

124 124

125 126

Raquel Terezinha RODRIGUES UNIVERSIDADE FEDERAL DE SÃO CARLOS A VOZ DE UMA PERSONAGEM AUSENTE Lisiane SELIGMANN (PUCRS)

126

SESSÕES DE COMUNICAÇÃO INDIVIDUAL

128

A REPRESENTAÇÃO FEMININA NA NOVELA LA HIJA DEL MAR, DE ROSALÍA DE CASTRO

129

Alessandra Hungria da CUNHA (MESTRANDA UNICSUL-SP) A MULHER AUTORA: ANÁLISE DE CONTOS DE AUTORIA FEMININA

129

Ana Letícia Barbosa de Faria GONÇALVES (UNESP - FCLAr) SOBRE AMOR(AS): NOVOS OLHARES SOBRE A HOMOAFETIVIDADE FEMININA NOS CONTOS DE NATÁLIA BORGES POLESSO

130

Ana Luiza Nunes ALMEIDA (Universidade Federal do Rio Grande do Sul) DAS EXPERIÊNCIAS DE BENO E KID: REPRESENTAÇÕES DE GÊNERO EM LUNÁRIO (1988), DE AL BERTO

131

André Luiz Russignoli MARTINES (Universidade Federal de São Carlos – UFSCar) VIOLÊNCIA, REPRESSÃO E TRANSGRESSÃO: O FEMININO EM DOIS ROMANCES CONTEMPORÂNEOS DE LÍNGUA PORTUGUESA

131

Angélica Catiane da Silva de FREITAS (Universidade Federal de Mato Grosso do Sul) A OBRA POÉTICA DE STELA DO PATROCÍNIO, MULHER, NEGRA E INTERNA DE INSTITUIÇÃO MANICOMIAL

132

Anna Carolina Vicentini ZACHARIAS (Instituto de Estudos da Linguagem – IEL/ UNICAMP) THE CHALLENGES OF COMING OUT IN THE AMERICAN HUMAN RIGHTS MOVEMENTS PORTRAYED IN DUSTIN LANCE BLACK‘S WHEN WE RISE

133

Carlos Eduardo de Araujo PLACIDO (Universidade de São Paulo) MULHERES ―MALDITAS‖: AS LÉSBICAS NA POESIA DE

133

BAUDELAIRE Cleidiane Gonçalves FRANÇA (UFG/Jataí) A CONSTRUÇÃO DA HEROÍNA MARGARET HALE, EM NORTE E SUL, DE ELIZABETH GASKELL: A FIGURA FEMININA EM EVIDÊNCIA

134

Daiane de Cássia Martins FAZAN (UNESP/IBILCE - São José do Rio Preto) NÃO VIVERAM FELIZES PARA SEMPRE: A DESCONSTRUÇÃO DE ESTEREÓTIPOS DE CONTOS CLÁSSICOS EM ANA MARIA SHUA

135

Danieli Munique Fontes da SILVEIRA (Instituto de Biociências, Letras e Ciências Exatas – São José do Rio Preto) AUTOBIOGRAFIA DE AMANDINE AURORE LUCILE DUPIN – GEORGE SAND

136

Dolores Aparecida GARCIA (UFMT) Simone Vicente MORAIS (UFMT) ISOLDA E GUINEVERE NA POÉTICA VISUAL DE N.C. WYETH

136

Edna Carla STRADIOTO (IBILCE/UNESP) A ESCRAVIDÃO NA MEMÓRIA DA PERSONAGEM MINTAH, EM FEEDING THE GHOSTS (1997), DE FRED D‘AGUIAR

137

Elis Regina Fernandes ALVES (UNESP/UFAM/FAPEAM) A SEXUALIDADE FEMININA EM NARRATIVAS DE DINORATH DO VALLE E MARINA COLASANTI: O DIREITO DA MULHER À LITERATURA DE AUTORIA FEMININA COMO PROCESSO DE FORMAÇÃO IDENTITÁRIA

138

Enedir da Silva dos SANTOS (UFMS/CPTL) AUTORIA NO LIVRO DIDÁTICO: ENTRE O PERTENCIMENTO DE GÊNERO E A AFIRMAÇÃO ÉTNICO-RACIAL

138

Eudma Poliana Medeiros ELISBON (Ufes/Capes) ARQUÉTIPOS TRANSFIGURADOS DO AFETO EM CLARICE LISPECTOR

139

Geórgia P. ALVES (Programa de Pós-Graduação em Letras da UFPE) NÃO SE NASCE HOMEM: UMA LEITURA DE GÊNERO E RAÇA EM FOREIGNERS (2010) DE CARYL PHILLIPS Gracia Regina GONÇALVES (DLA/UFV)

140

CECÍLIA MEIRELES: ENTRE A POESIA E A TRADUÇÃO

140

Jacicarla Souza da SILVA (UEL) A PRESENÇA DA MULHER NOS SARAUS ARISTOCRÁTICOS MACEDIANOS

141

Jander Antônio de Sá ARAUJO AS MULHERES MOÇAMBICANAS EM NIKETCHE, UMA HISTÓRIA DE POLIGAMIA

142

Jéssica Fabrícia da SILVA (UNICAMP) A REPRESENTAÇÃO DE GÊNERO FEMININO NO ROMANCE O CASAMENTO DE MINHA MÃE (2005), DE ALICE VIEIRA

142

Jucimar LOPES (Fundação Universidade Federal de Mato Grosso do Sul) MULHERES E LUGARES SOCIAIS: UMA LEITURA ANOITECEU NO BAIRRO, DE NATALIA CORREIA

DE

143

Juliana Coetti BASSO (Universidade Federal de São Carlos) A VOZ, A VISÃO E O REVISIONISMO CRÍTICO DA TRADIÇÃO PATRIARCAL EM AS BRUMAS DE AVALON, DE MARION ZIMMER BRADLEY

144

Juliana Cristina Terra de SOUZA (FCLAr-UNESP) ―DESCONTRUINDO UNA‖: UM RELATO EM QUADRINHOS SOBRE A VIOLÊNCIA DE GÊNERO

144

Karina ESPÚRIO (IBILCE/UNESP) A MAÇÃ ENVENENADA: A GUERRA PSÍQUICA ENTRE OS GÊNEROS

145

Leila Aparecida Cardoso de Freitas LIMA (UNESP) INVESTIGAÇÃO SOBRE PROCESSOS DE SUBJETIVAÇÃO E DOS DISCURSOS DA SEXUALIDADE E RELIGIÃO EM JOVENS HOMOSSEXUAIS

146

Leonardo Estrada de AGUIAR (Graduando de Psicologia da UFMT) Henrique de Oliveira LEE (Professor Doutor, do Departamento de Psicologia da UFMT) CECÍLIA MEIRELES AUTORIA FEMININA

E A

LITERATURA BRASILEIRA DE

146

Lorena Santos de ARAÚJO (PPGL/UFES) O GRITO E O SILÊNCIO EM LILI PASSEATA, DE GUIDO GUERRA Lucas de Castro MARQUES (Mestrando PPG-Letras-IBILCE/UNESP)

147

A REPRESENTAÇÃO DO UNIVERSO FEMININO NA DISTOPIA FEIOS (2016), DE SCOTT WESTERFELD

148

Luciana Ferreira LEAL (FACCAT/EE Irene Resina Migliorucci) O PAPEL E A ESCRITA: UMA LEITURA DE ―O PAPEL DE PAREDE AMARELO‖, DE CHARLOTTE PERKINS GILMAN

148

Lucianne Christina Fasolo Normândia MOREIRA (UFPR) E SE EU FOSSE PUTA: REPRESENTATIVIDADE E (TRANS) RESISTÊNCIA NA ESCRITA LITERÁRIA CONTEMPORÂNEA

149

Luiz Henrique Moreira SOARES - Universidade Estadual do Norte do Paraná (UENP) – Campus de Jacarezinho Adenize Aparecida FRANCO - Universidade Estadual do Centro Oeste (UNICENTRO) – Campus Santa Cruz HISTÓRIAS INFANTIS E SUAS REPRODUÇÕES SEXISTAS: DESAFIOS DE UMA ESCOLA DA REDE PÚBLICA DE ENSINO

150

Lunara Galves GONÇALVES A PERDA DE UMA AUTONOMIA MASCULINA EM THE SUN ALSO RISES, DE ERNEST HEMINGWAY

151

Manoela Caroline NAVAS (UNESP/IBILCE- São José do Rio Preto) DIÁLOGOS ENTRE LOUCURA E GÊNERO

151

Maraiza Almeida Ruiz de CASTRO (IBILCE/ UNESP) DAME TU CANTO CIUDAD: LITERATURA CONTRAHEGEMONIA NA MODERNIDADE

FEMININA

E

152

Marcela Batista MARTINHÃO (UFJF) REPRESENTAÇÕES DO FEMININO EM MUJERES QUE CAMINAN SOBRE HIELO

153

Marcelo Maciel CERIGIOLI (FCLAr/UNESP) A RESISTÊNCIA E A SUBVERSÃO NO CONTO OBSESSÃO DE CLARICE LISPECTOR

154

Maria Alice Sabaini de Souza MILANI (UNESP) A MULHER E A LITERATURA: UMA VISÃO DOS CONTOS E ENCANTOS, VENCENDO OBSTÁCULOS NO BRASIL

154

Maria da Solidade Teixeira FERNANDES - Professora Formadora do Programa Todos Pela Alfabetização – TOPA-FAINOR A OPERÁRIA, DONA DE CASA E A DOMÉSTICA, CLASSES SOCIAIS FEMININAS DE PERROT (2016), EM HIBISCO ROXO

155

(2011), DE CHIMAMANDA NGOZI ADICHE Mariana Antônia Santiago CARVALHO – UFC Edilene Ribeiro BATISTA – UFC DUAS IGUAIS SOB O EFEITO URANO, DE FERNANDA YOUNG

156

Marta Maria BASTOS A LOUCURA E A DIFERENÇA: CONTRASTES IDEOLÓGICOS EM MIA COUTO

156

Michelle Aranda FACCHIN (UNESP) UM TETO TODO NOSSO: VISIBILIDADE, RESISTÊNCIA E SUBJETIVAÇÃO EM CLUBES DE LEITURA

157

Michelle Silva BORGES (Universidade Federal de Uberlândia/MG) ABORTO E VIOLÊNCIA OBSTÉTRICA: UMA REFLEXÃO A PARTIR DE TESTEMUNHOS E DA FICÇÃO

158

Milena Mulatti MAGRI (UNESP/IBILCE) A BALADA DE HALO JONES DE ALAN MOORE E SUA CONTRIBUIÇÃO NA ABORDAGEM DO FEMININO COMO REINVENÇÃO DA LITERATURA NOS QUADRINHOS

159

Mônica Rodrigues SUMINAMI (UEMS) EXPANSIÓN DE LA PALABRA DE LA ABUELA EN LA ESCRITURA CONTEMPORARANIA: ANÁLISIS COMPARATIVO DEL TEXTO ―GRITO DE PRIMAVERA‖

159

Nanny Zuluaga HENAO (Disciente UFJF) Ana Beatriz GONÇALVES (Orientadora UFJF) CARTOGRAPHY OF FICTIONAL SPACES AND THEIR INDIVIDUALS IN NEIL JORDAN‘S BREAKFAST ON PLUTO (2007): ‗BELONGING‘, DISPLACEMENT, GENDER, SUBVERSION, AND CULTURAL MEMORY

160

Dra. Noélia BORGES - Instituto de Letras - Departamento de Letras Germânicas (UFBA) AS REPRESENTAÇÕES DO PÁRIA: O SUJEITO (IN)VISÍVEL EM CONTOS DE JOÃO MELO

161

Paloma Argemira da SILVA (Universidade Federal de São Carlos) REPRESENTAÇÕES SOCIAIS DE GÊNERO NA EDUCAÇÃO INFANTIL PÚBLICA NO MUNICÍPIO DE RIBEIRÃO PRETO Patrícia Fuquini DIAS (Universidade de São Paulo)

161

Juliana Cristina Terra de SOUZA (Unesp) REALISMO E GÊNERO: A REPRESENTAÇÃO DA MÃE EM ―DARLUZ‖, DE MARCELINO FREIRE

162

Paulo Ricardo Moura da SILVA (UNESP/São José do Rio Preto) O LIVRO-JOGO COMO FERRAMENTA PEDAGÓGICA

163

Pedro Panhoca SILVA (UNESP-Assis) ―ELAS FALAM MAS NEM SEMPRE SÃO OUVIDAS‖: AS VOZES SILENCIADAS EM UM CURSO DE BACHARELADO EM DIREITO

163

Priscila Aparecida Silva CRUZ (UEMS/ CAPES) AMOR E EROTISMO PRESENTES EM DIADORIM

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Priscila da Silva GARCIA (UNESP/IBILCE) PONTE EM SAÚDE PARA UMA POPULAÇÃO NEGLIGENCIADA

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Renan José da SILVA (Universidade Estadual de Londrina) APONTAMENTOS SOBRE A CONDIÇÃO FEMININA NO CONTO O OURO DE TOMÁS VARGAS, DE ISABEL ALLENDE

166

Rossana ROSSIGALI (UCS) RELAÇÕES DE GÊNERO, SEGREGAÇÃO E ESTRATÉGIAS FEMININAS NO RAP BRASILEIRO

166

Sandra Mara Pereira dos SANTOS (UNESP/Marília) ANA TERRA: DA SUBJUGAÇÃO AO (RE)COMEÇO

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Silvia Jorgina FERNANDES (UEMS-PG) Zélia R. Nolasco dos S. FREIRE (UEMS) IDENTIDADE E GÊNERO EM A PALE VIEW OF HILLS DE KAZUO ISHIGURO

168

Silvia Mara TELLINI (UNESP - São José do Rio Preto) O EU FEMINO NA OBRA DEBAIXO DA MINHA PELE, DE DORIS LESSING

169

Simone Sanches Vicente MORAIS (SEDUC/MT) Dolores Aparecida GARCIA (UNIVAG/MT) ALEGORIA E CARNAVALIZAÇÃO DO CORPO EM O SANTEIRO DO MANGUE, DE OSWALD DE ANDRADE

169

Sirlene Sales MACIEL (UNESP) O ESPAÇO COMO VETOR DE CONSTRUÇÃO DO SENTIDO EM ―LINDA, UMA HISTÓRIA HORRÍVEL‖, DE CAIO FERNANDO

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ABREU Suzel Domini dos SANTOS (UNESP/SJRP) DO CÂNONE À LITERATURA JUVENIL: ADAPTAÇÃO DA LENDA DE DON JUAN POR ALESSANDRO BARICCO

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Tahisa Mara da SILVA (Unesp-Assis – graduanda/bolsista ―PIBICReitoria‖) Dra. Maira Angélica PANDOLFI (Orientadora/Unesp-Assis) DEUS FAZ, O DIABO TEMPERA – RELATO DE PROCESSO CRIATIVO

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Tauane Nunes ALAMINO (Pesquisadora Independente) VERLAINE E RIMBAUD: TRANSGRESSÕES AMOROSAS

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Telma Amaral GONÇALVES (Universidade Federal do Pará) MITOS, LENDAS, CONTOS DE FADAS: DO MARAVILHOSO À REALIDADE, A MISOGINIA E SEUS REFLEXOS

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Therezinha Maria HERNANDES (UNESP/FCLAr) INVISIBILIDADE EM FOCO: A REPRESENTAÇÃO DO CORPO EM ZONG! DE MARLENE NOURBESE PHILIP E CREOLE PORTRAITS DE JOSCELYN GARDNER

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Thiago Marcel MOYANO (DLM/USP) A FEIURA FÍSICA FEMININA NA SÁTIRA DE AFONSO X

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Vanessa Giuliani Barbosa TAVARES (PPGL/UFES/CAPES) DE JULIANA, MATILDE E JURACIS: UM OLHAR SOBRE AS MULHERES DO UNIVERSO LITERÁRIO DE DINORATH DO VALLE

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Vera Lúcia Guimarães REZENDE (PPG Letras IBILCE – UNESP) PARTEIRAS TRADICIONAIS: ALGUEM PARA DIVIDIR A DOR MEMÓRIAS DO SABER FEMININO NO RESGATE AO PROTAGONISMO DA MULHER Zoraide Vieira CRUZ (Universidade Estadual do Sudoeste da Bahia – UESB) Rita Maria Radl PHILIPP (Universidade Santiago de Compostela) Tânia Rocha Andrade CUNHA (Universidade Estadual do Sudoeste da Bahia – UESB)

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SESSÕES DE PÔSTERES

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A ESCRITA DE NATÁLIA CORREIA: RASURA E SUBVERSÃO EM D. JOÃO E JULIETA

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Andrezza J. P. OLIVEIRA (IC- Fapesp - Departamento de Letras, Universidade Federal de São Carlos) Jorge V. VALENTIM (O - Departamento de Letras, Universidade Federal de São Carlos) A HOMOSSEXUALIDADE BROKEBACK MOUNTAIN

NO

CONTO

O

SEGREDO

DE

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Antony Eduardo GALVÃO (UEPG) "FANNY HILL" - AS MEMÓRIAS DE UMA PROSTITUTA ESCRITAS POR UM AUTOR MASCULINO NO SÉCULO XVIII

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Gabriela Fardin FERNANDES (UNESP/IBILCE) Prof. Dr. Peter James HARRIS (UNESP/IBILCE) VIOLÊNCIA OBSTÉTRICA SEGUNDO A PERCEPÇÃO DAS MULHERES QUE A VIVENCIARAM

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Geovânia Pereira dos Reis MACHADO (UNESP/IBILCE) RECONSTRUÇÃO DE IDENTIDADE APÓS O HIV NO LIVRO DEPOIS DAQUELA VIAGEM DE VALÉRIA PIASSA POLIZZI

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Kassia N. M. de LIMA (UEPG) ―MULHERES DE CORPO INTEIRO E SEGURA MÃO‖: UM ESTUDO SOBRE AS IDENTIDADES FEMININAS NA OBRA NOVAS CARTAS PORTUGUESAS

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Marcella Gava GRILLO (Universidade Federal de Viçosa) Gerson ROANI (Universidade Federal de Viçosa) RETRATO DE RAPAZ, DE MÁRIO CLÁUDIO: HOMOEROTISMO E EFABULAÇÃO Renan Augusto BARILI (UFSCar) ANAÏS NIN E O DESPERTAR ERÓTICO DE SUAS PERSONAGENS TRANSGRESSORAS Renata da Silva LEITE (UPE) MULHER NA LITERATURA: REPRESENTAÇÃO DA MULHER ESCRITA PELA ESCRITA-MULHER Tamirys de QUADROS (UEPG)

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PROGRAMAÇÃO 10 de maio de 2017 4ª feira 8h – Entrega de Material – (AUDI A) 9h – Apresentação cultural – (AUDI A) 9h30 – Solenidade de Abertura – (AUDI A) 10h – Conferência de Abertura – (AUDI A) Profª Drª Letícia SABSAY (LSE) 12h – Horário Livre 14h – Simpósios temáticos 16h – Coffee break – (ADUnesp) 16h30 – Mesa Redonda I – Gênero e Políticas Queer – (AUDI C) Prof. Dr. Daniel do Nascimento e SILVA (UFSC) Prof. Dr. Dánie Marcelo de JESUS (UFMT) 18h – Exibição do filme Medea, de Pasolini – (AUDI C) 20h – Mesa Redonda II – Gênero e Cinema – (AUDI C) Profª Drª Maria Cláudia Rodrigues ALVES (UNESP/IBILCE) Profª Drª Maria Celeste Tommasello RAMOS (UNESP/IBILCE) Profª Drª Maria Angélica DEÂNGELI (UNESP/IBILCE)

11 de maio de 2017 5ª feira 8h – Sessões de Comunicação 10h – Coffee break - (ADUnesp) 10h30 – Mesa redonda III - Gênero e raça – (AUDI A) Profª Drª Marcela Ernesto dos SANTOS (IFMS) Profª Ma. Providence BAMPOKY (UNESP/Senegal)

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12h – Horário Livre 13h – Apresentação de pôsteres – (Saguão do Bloco A) 14h – Simpósios temáticos 16h – Mesa Redonda IV – Gênero e psicanálise – (AUDI A) Prof. Dr. Henrique de Oliveira LEE (UFMT) Prof. Ms. Flávio Adriano NANTES (UFMS) 17h30 – Coquetel e lançamento de livros – (ADUnesp) 19h – Mesa redonda V – Gênero e América Latina – (AUDI C) Profª Drª Giséle Manganelli FERNANDES (UNESP/IBILCE) Profª Drª Norma WIMMER (UNESP/IBILCE) Profª Ma. Vanessa Costa dos SANTOS (UEG)

12 de maio de 2017 6ª feira 8h – Sessões de Comunicação 10h – Coffee break – (ADUnesp) 10h30 – Mesa-Redonda VI – Gênero e Feminino – (AUDI A) Profª Drª Mariana BOLFARINE (IFSP) Profª Drª Dantielli Assumpção GARCIA (UNIOESTE) Profª Drª Michelle Rubiane da Rocha LARANJA (IFSP) 12h – Horário Livre 14h – Simpósios Temáticos 16h – Coffee break – (ADUnesp) 16h30 – Conferência de encerramento – (AUDI A) Isabel Ortega MARQUES (Criadora e diretora da Jornada Internacional de Mulheres Escritoras/ Madrid) 18h – Encerramento e Apresentação Cultural – (AUDI A)

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RESUMO DAS CONFERÊNCIAS

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Conferência de Abertura

BODY POLITICS: GENDER, BORDERS AND RADICAL DEMOCRACY Profª. Dr ª. Letícia SABSAY (LSE/Londres) Myriad artistic and political interventions have often been concerned with bringing bodies into the public space as a way to making a claim for social justice or circumventing their intended erasure. From the paper–cut figures of the desparecid@s that form part of the iconographic memory in Argentina to feminist and queer art performances on the streets, from the Occupy movement to recent transversal protests against racism and the current right-wing populist surge. At a moment when the meaning of democracy is under question visvis the hegemony of post-neoliberal forces, I propose a journey animated by some simple, although perhaps haunting, questions: What stories do these bodies tell us? How are we to apprehend the indexical force of their traces? While borders, racialised bodies, sexual regulation and gender justice have acquired renewed significance in light of the current adverse political moment, we need to account for how bodies have become the site of political struggles, evoking the intricacies of a politics of resistance and passion, the work of memory, desire, diaspora spaces, and ultimately, the striking power of the political nature of embodied life. What kinds of knowledge do these traces lingering in our political present produce? Bringing together questions of representation and body politics, these interventions animate my reflection on gender and the possibility of radicalising democracy today.

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Conferência de Encerramento

DAMAS DA LITERATURA E DO TEATRO: MULHERES SEM MEDO DE LOBOS! DE LYGIA FAGUNDES TELLES À MADAME CURIE Isabel Ortega MARQUES (Criadora e diretora da Jornada Internacional de Mulheres Escritoras/ Madrid) Na literatura, O ―III Congresso Nacional e II Congresso Internacional de Literatura e Gênero‖, e todos os eventos que abram um novo espaço para discutir o gênero feminino, evidenciam e fortalecem objetivos como: alargar as fronteiras do possível e até do que nos pode parecer impossível, ampliar o que sabemos, descobrir recursos adormecidos, oferecer um espaço no qual as mulheres, jovens e menos jovens se encontrem para somar, trocar, distribuir conhecimento, experiências vivenciais. Mulheres, de outros tempos, tempos em que os obstáculos eram tidos como intransponíveis, com muito critério, vencedoras top de linha, estarão desfilando por este espaço. Desde Madame Curie (Polonia), a Lygia Fagundes Telles (Brasil), Malala Yousafzai (Paquistão) e Gabriela Mistral (Chile). A violência física, moral e sexual contra a mulher, infelizmente faz parte de uma realidade que vem crescendo no Brasil e no mundo. Segundo dados de pesquisadores, os crimes contra a mulher são justificados por questões de ordem cultural ou mesmo religiosas. Vivemos em um pais que tem suas raízes na sociedade patriarcal da época da colonização, quando a mulher não saía para trabalhar, tinha pouco acesso aos estudos, se casava cedo, não tinha direito ao voto ou a representação política, e os papéis estavam portanto, bem definidos. A história mostra que as mulheres tiveram conquistas sociais, quando estiveram lutando e protagonizando estas conquistas. A literatura como arte que oferece a possibilidade de ampliar limites desconhecidos, racionalidades ocultas e variáveis que ignoramos. A intenção desta fala é a de oferecer um espaço, que a partir do conhecimento, o indivíduo possa somar, suas vivências, experiências, obstinação a partir da informação. Dar ênfase às descobertas, que mulheres em seu confinamento das ideias, tenham acesso ás novidades, juntamente com escritoras, pesquisadoras, estudiosos, do ato de pensar, registrar nos livros, verbalizarem, energias indispensáveis para impulsionar o processo de mudanças.

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RESUMOS DAS MESAS REDONDAS

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MESA I – GÊNERO E POLÍTICAS QUEER

POLÍTICAS DA VIOLÊNCIA CONFRONTADAS POR POLÍTICAS QUEER, OU QUANDO INDIVÍDUOS EMERGEM PELAS BRECHAS Prof. Dr. Daniel do Nascimento e SILVA (UFSC) Na academia e no mundo mais amplo, assumir uma instância ‗queer‘ tem significado posicionar-se contra normalizações que produzem margens e, para aqueles sujeitos que passa a ocupá-las, estigmas (Lewis & Bastos 2017, Louro 2004, Halperin 1995). Qualquer política queer nascerá dessa forma de posicionamento, o que em parte contradiz fatores que tendem a se associar a movimentos políticos, como a estabilização e a hierarquização. Nesta fala, pretendo apontar alguns problemas com o uso da palavra ‗política‘; a partir desses problemas, intenciono sinalizar formas de adesão queer a formações políticas existentes. Formas de pertencimento à polis, políticas (como ‗policies‘, em inglês) ou a própria política (como ‗politics‘) esbarram não apenas na variabilidade de seu significado na vida social, mas também em políticas que contradizem a própria existência gregária na polis, como é o caso do que chamarei de política da violência (i.e., a ―irracionalidade‖ como agir racional em sociedade). Trarei para o debate um encontro queer de que fui um dos protagonistas, na cidade do Recife. A instância de um assalto, associado à dinâmica burocrática de um boletim de ocorrência, foi confrontada com a ação simbólica de dois indivíduos que se posicionaram de forma queer num espaço heteronormativo, o que produziu um excesso de significação que extrapolou não só a política de contenção à violência, mas também a própria política da violência que tem se disseminado pelas cidades brasileiras. À luz desse episódio e de minha experiência no campo em favelas no Rio de Janeiro, tentarei articular formas de pertencimento político que conjugam existência queer com a vida num mundo violento.

VIAGEM SOLITÁRIA: MEMÓRIAS DE UM TRANSEXUAL – 30 ANOS DEPOIS: CONSTRUÇÃO IDENTITÁRIA E DE UM TRANSHOMEM Prof. Dr. Dánie Marcelo de Jesus (UFMT) Nos últimos anos, tornaram-se cada vez mais comuns estudos sobre a relação gênero-linguagemsexualidade, revelando a complexidade social e política dessa temática no contexto contemporâneo. Tais reflexões nos induzem a discussões relativas à imagem da feminilidade e da masculinidade em nossa sociedade e ao efeito dela em nossa interação cotidiana. Essas imagens inevitavelmente se dão pelo discurso, entendido como forma de prática social que define nossas relações com o outro e

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nossos posicionamentos sociais. Esses discursos são convencionalmente desenvolvidos dentro de um contexto sócio-histórico que ritualiza nossas ações performáticas. É por essa convenção que normas de identificações dos sujeitos são estabelecidas. Contudo, esse processo não é completamente obtido. Daí a necessidade dessas normas serem peremptoriamente reconhecidas para que possam exercer seus efeitos. É por essa perspectiva da linguagem à luz de alguns princípios da teoria queer tais como sexo, identidade, sexualidade, gênero, performatividade, heteronormatividade associado à noção de discurso que analisamos, nesta apresentação, o livro autobiográfico de João W. Nery ―viagem solitária: memórias de um transexual – 30 anos depois‖ com o objetivo de compreender como as identidades de um transhomem são construídas ao longo da narrativa.

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MESA II – GÊNERO E CINEMA

O FEMININO ULTRAJADO EM MEDEIA: DA TRAGÉDIA DE EURÍPEDES À VERSÃO CINEMATOGRÁFICA DE PASOLINI E SUAS PRINCIPAIS REPRESENTAÇÕES ARTÍSTICAS Profª Drª Maria Celeste Tommasello Ramos (IBILCE/ UNESP) Profª Drª Maria Cláudia Rodrigues Alves (IBILCE/ UNESP) Profª Drª Maria Angélica Deângeli (IBILCE/ UNESP) O grego Eurípedes escreveu a tragédia Medeia, por volta de 430 a.C., cujo enredo chocou o público desde aquela época e continua chocando até hoje por conta, principalmente, do infanticídio cometido pela protagonista que mata os próprios filhos para se vingar do marido Jasão que a traíra. No entanto, já na obra de Eurípedes é possível entrever a reação violenta que Medeia arquiteta e executa, movida pelo sentimento do ―Feminino Ultrajado‖, em retaliação ao exílio ou à escravidão aos quais ela e os filhos seriam submetidos. O dramaturgo francês Jean Anouilh, em 1946, recriou intertextualmente a tragédia, ainda na linguagem teatral, e escreveu Medée. O italiano criador plural Pier Paolo Pasolini, em 1969, realizou a filmagem de ―Medea‖, tendo Maria Callas vivido a protagonista nas telas do cinema. Chico Buarque de Holanda e Paulo Pontes também voltaram ao enredo e compuseram Gota d'água, cuja trilha sonora ficou famosíssima. Será que todas essas representações artísticas conservam em suas tramas a questão do ―Feminino ultrajado‖? Suas protagonistas realizam também o infanticídio? A magia ou a feitiçaria seria a arma utilizada por elas para tentar obter seus lugares na sociedade? Ou infanticídio e a feitiçaria teriam sido cometidos por conta de uma maldade extrema, de um grande egoísmo, ou seriam atos de heroísmo diante da opressão da mulher e mãe ameaçada com a escravidão ou exílio seu e de seus filhos, de uma mãe que pensa que ―se não é possível dar vida digna aos filhos, melhor dar-lhes a morte‖? São essas as perguntas que se buscará responder na discussão a ser proposta na presente Mesa-redonda.

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MESA III – GÊNERO E RAÇA

À FRONTEIRA: MULHER NEGRA E IMAGINÁRIO COLETIVO Profª Drª Marcela Ernesto dos SANTOS (IFMS) Esta apresentação tem por objetivo discutir o papel social que a figura da mulher negra ocupa na mente coletiva. Para tanto, com as escritoras Carolina Maria de Jesus e Maya Angelou tentaremos refletir sobre as opressões que assolam esse grupo de mulheres, considerando que as hierarquias de gênero, raça e classe atuaram e atuam como forças arbitrárias que tentam inviabilizar a presença feminina negra no centro dos acontecimentos.

A LITERATURA NEGRO-AFRICANA DE EXPRESSÃO FRANCESA: RESISTÊNCIA E DESCONSTRUÇÃO DE DISCURSO HEGEMÔNICO Profª Ma. Providence BAMPOKY (Unesp/Senegal) Uma das tendências significativas da literatura negro-africana, com especial ênfase para a literatura negro-africana de expressão francesa, é privilegiar a ficção a partir da história, sendo a literatura um instrumento de resistência e de luta de libertação das mazelas coloniais. A intenção dessa literatura que nasceu do ímpeto de mudar os estereótipos e de reabilitar a imagem do continente negro é, de fato, reescrever sua própria história, que não será interpretada como um mero anexo da história ocidental. A partir dessas considerações, o propósito desse encontro é propor uma discussão sobre o percurso da literatura negro-africana de expressão francesa que se formou tanto dentro como fora do continente africano. Embora, produzida na língua do colonizador influenciou o despertar da consciência revolucionária do colonizado e contribuiu, também, para a desconstrução do discurso hegemônico que o ocidente sempre se esforçou a ―impor como o único que se pode manter legitimamente sobre esse continente e suas sociedades‖ (MOURALIS, 2007, p.215).

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MESA IV – GÊNERO E PSICANÁLISE

A ESTILIZAÇÃO DO AMOR ROMÂNTICO E AS ENRASCADAS DE GÊNERO NO “DIÁRIO DE UM HERMAFRODITA”: RUÍNAS CIRCULARES ENTRE FOUCAULT E BUTLER Prof. Dr. Henrique de Oliveira LEE (UFMT) ―O diário de um hermafrodita‖ de Herculine Barbin recebeu pouca atenção quando foi publicado por Auguste Tardieu, com algumas importantes exceções. Depois foi retomado Michel Foucault, que reeditou o texto acrescentando a ele uma coletânea de pareceres e documentos emitidos por médicos, incluindo também um prefácio intitulado ―O verdadeiro sexo‖. Neste prefácio Foucault delineia como chave de leitura para o diário a questão da apropriação da medicina e da justiça sobre a ―verdade‖ do sexo e o situa como um documento ―dessa estranha história do verdadeiro sexo‖. Essa história descreve os processos pelos quais as formas de controle administrativo nos Estados modernos recusou paulatinamente a ideia da mistura de dois sexos em um só corpo, instaurando a compulsoriedade de uma única identidade sexual. Dentro desse contexto, as detalhadas descrições das relações amorosas e da vida sentimental de Herculine presentes no diário passam a compor uma espécie de cenário confuso e ambivalente de onde se deve decifrar o ―verdadeiro o sexo‖. Embora o próprio relato já possa constituir um fato para recusar o gênero como uma simples sobreposição ao sexo biológico, Herculine destacou o perigo das interpretações que procuravam encontrar em sua vida amorosa um elemento final capaz de retirar seu ―verdadeiro sexo‖ de toda sombra de ambiguidade, qual seja, a atribuição de uma natureza ―masculina‖ como causa de seu desejo e amor por Sara. Judith Butler demonstra, em Gender Trouble (1990), como a distinção entre sexo e gênero, que em algum aspecto parece um avanço em relação a assimilação do gênero no sexo, está trabalhando de modo complementar com uma naturalização mais insidiosa e difusa. Portanto, considerando a crítica de Butler, não faz sentido dizer que o gênero é uma interpretação cultural do sexo, se o sexo em si mesmo é algo categorizável em termos de gênero. O objetivo deste trabalho é realizar uma leitura do diário de Herculine Barbin de dentro daquilo que Butler chamou de ―ruínas circulares no debate de gênero‖, no qual todo deslocamento do binarismo entre masculino e feminino parece resultar na reinserção incessante de outros binarismos, tais como cultural e biológico. Nossa indagação é sobre os tipos de binarismos que foram acionados para se pensar a vida afetiva de Herculine Barbin. Examinaremos as objeções de Butler em relação a interpretação de Foucault, em ―O verdadeiro sexo‖, sobre a condição de Herculine Barbin como uma subjetividade que habitava o ―limbo feliz de uma não identidade‖. Por fim conclui-se que não apenas o ―sexo‖ seja uma forma de investimento do poder sobre os corpos para designar um verdadeiro sexo, mas também as forma de estilização das relações amorosas se referem tacitamente a uma noção de

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―verdadeiro amor‖. Ou como diria Butler, ―se homossexualidade pretende designar o lugar de uma heterogeneidade libidinal inominável, talvez possamos nos perguntar se essa não é, ao invés disso, um amor que não pode ou não ousa dizer seu nome.‖

CORPOS QUE SUBVERTEM A LINEARIDADE SEXO-GÊNERO-ORIENTAÇÃO E R(EXISTEM) EM BALÉRALÉ, DE MARCELINO FREIRE Prof. Ms. Flávio Adriano NANTES (UFMS/UNESP/CAPES) O sujeito que ―infringe as normas de conduta‖– sexo-gênero-orientação – estabelecidas social, histórica e culturalmente, passando por uma série de injúrias, assédios e outras intempéries e, ainda assim, continua a circular em espaços público e privado provoca uma forma de resistência a uma prática social que o exclui, o vigia, o silencia e o oculta. Baléralé, 2003, de Marcelino Freire, livro com dezoito contos, provoca uma discussão bastante interessante que dá a conhecer práticas e saberes sobre corpos dissidentes (e/ou vidas precárias) que permeiam essas dezoito narrativas. Nesse sentido, os sujeitos-personagens passam a existir, ganham voz, alocam seu lugar de fala no interior da sociedade que os despreza, os invisibiliza e às vezes os elimina. Pensar acerca desses sujeitos ficcionais e entendê-los, de certo modo, como um ―reflexo‖ do mundo mais empírico, significa dizer que o tratamento dado a essas personagens é o mesmo dado a determinados sujeitos que circulam nas sociedades ao redor do mundo. O que permite tais afirmações é a constante e cada vez maior diluição ou alargamento das fronteiras entre o ficcional e o factual, assim, já não sabemos com nitidez se o escritor fala de si, do outro ou apenas de sujeitos criados por sua imaginação.

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MESA V – GÊNERO E AMÉRICA LATINA

ESCRITORAS LATINAS NOS ESTADOS UNIDOS: NÃO É POSSIVEL CALAR VOZES IMPETUOSAS Profª Drª Giséle Manganelli FERNANDES (UNESP / IBILCE) Este estudo focaliza as obras Borderlands: La Frontera: The New Mestiza (1987), de Gloria Anzaldúa, e When I Was Puerto Rican: A Memoir (1993), de Esmeralda Santiago, a fim de examinar questões históricas, de memória e de identidade abordadas pelas autoras. Anzaldúa mostra a força da mulher, nesse caso, da new mestiza que, por estar entre as duas culturas, assume uma postura de não-subserviência ao status quo. Esmeralda Santiago, por sua vez, aborda a presença americana em Puerto Rico, o papel da mulher naquele contexto social, e a mudança de sua família para New York. Anzaldúa e Santiago mostram a complexidade da constituição das suas identidades híbridas nos Estados Unidos, com textos que apontam para a ruptura de estruturas pré-estabelecidas.

A DONZELA GUERREIRA: UM EXEMPLO BRASILEIRO Profª Drª Norma WIMMER (IBILCE/UNESP) Quando, por meio do jornal, tomou conhecimento do início da Guerra do Paraguai (1864-1870), notadamente da invasão do Mato Grosso, Jovita Alves Feitosa, natural do Ceará, decide apresentarse como ―voluntária da pátria‖, com o objetivo de integrar as forças expedicionárias brasileiras. Para alistar-se, seguindo a esteira de outras mulheres-guerreiras, corta os cabelos e disfarça-se de homem. Denunciada, é impedida de, na condição de soldado, lutar no conflito. A este fato, a opinião pública da época bem como jornalistas e autores de ficção histórica acrescentam muitos detalhes, cuja exatidão nem sempre é verificável. Assim, de modo contraditório, apesar de não ter sido aceita como combatente, Jovita teve sua imagem bastante idealizada e explorada pela imprensa do século XIX como exemplo a ser seguido por homens cujo objetivo era o de fugir ao recrutamento. O objetivo do trabalho a ser apresentado é o de refletir acerca da figura da donzela guerreira e, notadamente, do papel de Jovita no que diz respeito à questão do gênero.

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DE CONCEIÇÃO AO CONTROVERSO (ANTI)FEMINISMO DE RACHEL DE QUEIROZ: O QUINZE COMO UMA “NOVA” ENTRADA PARA A LITERATURA ESCRITA POR MULHERES NA AMÉRICA LATINA Profª Ma. Vanessa Costa dos SANTOS (UEG) A desilusão operada pelos efeitos da Primeira Guerra Mundial torna um imperativo a busca por outro modelo de organização social e artística na América Latina. Nesse cenário, a produção literária da década de 1930 constitui-se como parte dessa resposta. Estreia, nesse bojo, Conceição, protagonista de O Quinze, que aponta nítidas referências de um posicionamento feminista em Rachel de Queiroz. Ao lado disso, há a negação explícita, por parte da autora, em vida, a qualquer filiação ao feminismo. Ainda assim e com o resguardado respeito às posições de Queiroz, pretendo discutir como O Quinze apresenta um apurado crivo feminista e faz Conceição projetar-se no romance com vistas emancipatórias, configurando-se como uma ―nova‖ entrada para a literatura escrita por mulheres na América Latina naquele momento.

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MESA VI – GÊNERO E FEMININO

HOMOSSEXUAL E PATRIOTA: TRÊS VERSÕES DE ROGER CASEMENT COMO PERSONAGEM DE FICÇÃO Profª Drª Mariana BOLFARINE (IFSP) A vida extraordinária e, ao mesmo tempo, polêmica do nacionalista irlandês Roger Casement, condenado à morte por alta traição, continua sendo fonte de inspiração para a criação de obras de diversos gêneros literários: prosa, poesia, teatro e ensaios críticos. Em vida, Casement foi clamado por expor atrocidades cometidas contra a humanidade no Congo Belga e na Amazônia peruana; porém, foi impedido de alcançar status de mártir e herói revolucionário devido a um conjunto de diários de cunho homossexual conhecido por Black Diaries, ou Diários Negros, fortuitamente encontrados pelo Ministério do Interior britânico. O objetivo desta fala é refletir a respeito da representação de Roger Casement como personagem em três romances que desafiam a crença de que patriotismo e homossexualidade são características mutuamente excludentes. O primeiro é At Swim, Two Boys (2001) de Jamie O‘Neill, no qual a homossexualidade implícita de Casement está entrelaçada à revolução por uma Irlanda independente; o segundo é O Sonho do Celta (2011) de Mario Vargas Llosa, romance biográfico que busca representar Roger Casement como um sujeito multifacetado, mas cuja homossexualidade é concebida na forma de sonhos e devaneios, e o terceiro, The Knight of the Flaming Heart (1995) de Michael Carson, retrata Casement como um fantasma, interferindo na vida dos habitantes de Ardfert, no Oeste da Irlanda, principalmente de Tim MacCarthy, cuja mãe se recusa a aceitar sua sexualidade. A fundamentação teórica está baseada na teoria queer, em especial nos escritos de Judith Butler acerca da performatividade, na teoria psicanalítica de Sigmund Freud e nas principais biografias sobre Roger Casement.

O EFEITO METAFÓRICO DA VIOLÊNCIA: QUANDO O GÊNERO É CAUSA MORTIS Profª Drª. Dantielli Assumpção GARCIA (PNPD/CAPES – PPG Letras UNIOESTE) Neste trabalho, da perspectiva teórica da Análise de Discurso, mobilizando as noções de efeito metafórico (PÊCHEUX, [1969] 1997) e gênero (BUTLER, 2003; SAFFIOTTI, 2001), analisaremos um conjunto de notícias jornalísticas acerca do caso de feminicídio de Lucía Pérez, adolescente argentina de 16 anos que foi, no dia 15 de outubro de 2016, drogada, estuprada e empalada em um dos episódios mais brutais de violência contra a mulher na/da Argentina. Entendendo o efeito metafórico como um fenômeno semântico produzido por uma substituição contextual e marcado

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pelo deslizamento entre formações discursivas, pretendemos analisar como as diferentes notícias dizem sobre esse assassinato e produzem metáforas para falar sobre o feminicídio. Nesses textos jornalísticos, a palavra feminicídio, no processo de transferência, desliza para violência machista, violência de gênero, violência contra as mulheres, terrorismo machista, crime hediondo. Ao analisarmos essas notícias, pretendemos, portanto, discutir como as diferentes metáforas funcionam para indicarem ser o gênero a causa mortis de mulheres nas sociedades patriarcais do século XXI.

MENINAS E MULHERES DE LYGIA BOJUNGA Profª Drª Michelle Rubiane da Rocha LARANJA (IFSP) A proposta desta fala é discutir a construção de personagens femininas na obra de Lygia Bojunga, escritora reconhecida principalmente no âmbito da literatura infantojuvenil. É notadamente presente a violência nos enredos quando abordada a questão do gênero. Algumas personagens valorizam a manutenção de conceitos tradicionais, repetindo práticas culturais que reforçam a construção de corpos masculinos e femininos pela normatização, cujo efeito é a exclusão dos diferentes, considerados corpos abjetos (BUTLER, 1993). Quando uma identidade é imposta, legitimando uma ordem compulsória pelo discurso que a inscreve fora do campo social, observa-se a intolerância e a negação de qualquer manifestação identitária não idêntica. Notamos que muitas personagens sofrem com as imposições de padrões adequados ao gênero a que são associadas, contudo, os textos de Bojunga permitem a necessária reflexão acerca de padrões excludentes. Uma vez que a performatização da identidade de gênero ocorre sem limitações, a construção de corpos assume diferentes manifestações de masculinidades e feminilidades, independentemente do sexo biológico (não limitado ao binarismo) e da orientação sexual.

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RESUMO DOS SIMPÓSIOS TEMÁTICOS

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SIMPÓSIO TEMÁTICO 2

PERFORMANCES DO POLÍTICO E DO ESTÉTICO: GÊNEROS SEXUAIS, ANÁLISE DO DISCURSO E LITERATURA Aline Fernandes de Azevedo BOCCHI – FFCLRP-USP/ FAPESP Dantielli Assumpção GARCIA – UNIOESTE/PNPD-CAPES Jacob dos Santos BIZIAK– IFPR/ FFCLRP-USP A proposta deste simpósio é articular fala e escuta de trabalhos que pretendam apresentar leituras, além da dimensão abstrata, do texto literário, trabalhando-o como discurso, ou seja, como inscrição de efeitos linguísticos na história e na ideologia. Buscamos analisar uma politização do estético, no qual o discurso artístico possa ser compreendido a partir de suas condições sócio-históricasideológicas de produção. Entendemos, assim, que as ideias de belo, de estética, de arte podem ser legíveis dentro de um horizonte em que a ideologia se materializa nos discursos, e estes, por seu turno, no trabalho dos sujeitos com a língua. Com isso, pensamos, por exemplo, o trabalho de enunciadores e narradores com a memória; a tensão entre arquivo e interdiscurso; o esquecimento necessário à ação das ideologias; a inscrição dos sujeitos na história; a relação entre estética e política etc. Entendendo que os gêneros sexuais, além de um eixo temático a ser abordado pelas obras literárias, podem ser compreendidos como performance que (des)constrói realidades pelos mais diversos procedimentos discursivos, objetivamos, neste simpósio, receber trabalhos que reflitam sobre a relação entre literatura e gêneros sexuais, a qual coloca em movimento os sentidos históricos que são inscritos nas subjetividades, entre as normalizações e os desejos de subversão. Para tanto, acolheremos trabalhos que analisem diferentes materialidades significantes que tocam na relação gênero, sexualidade, político, estético. Por fim, pretendemos com este simpósio refletir sobre os conceitos, teses e leituras que se convertem no campo literário em objetos de problematizações, almejando analisar o impacto (alcance, significado, repercussão) da discussão contemporânea sobre os gêneros e sexualidades, observando especificamente as contribuições/inquietações do pensamento nos campos da Análise de Discurso, das Literaturas e das Artes. Palavras-chave: Análise de Discurso; Gêneros; Sexualidades; Político; Estético.

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Trabalhos Aprovados

O ESPAÇO DA MULHER NA LITERATURA: QUANDO O GÊNERO EXCLUI Dantielli Assumpção GARCIA (PNPD/CAPES, PG de Letras UNIOESTE) Neste trabalho, da perspectiva teórica da Análise de Discurso e mobilizando a noção de memória (Pêcheux, 1990), analisaremos o texto ―Seis autoras brasileiras quase desconhecidas‖, de Juliana Gomes, publicado na página do projeto ―Leia Mulheres‖ (https://leiamulheres.com.br/). Mostraremos como a circulação desse texto traz à discussão a posição que a mulher ocupa/ocupou na história da literatura e busca romper com a estabilização dos sentidos sobre as relações mulherliteratura, literatura-gênero. O jogo colocado em funcionamento no texto aponta para um choque do acontecimento, isto é, há um jogo de força que visa manter uma regularização pré-existente – o espaço literário é o espaço do homem, é um espaço masculino – mas há também uma tentativa de desregulação, uma tentativa de perturbar a rede dos sentidos, furando uma memória, ―incluindo‖ a mulher no espaço literário e instaurando um acontecimento, o qual marca que há uma literatura de autoria feminina a ser lida, ouvida, discutida. Palavras-chave: mulher; gênero; literatura de autoria feminina.

LUGAR-COMUM: UMA ANÁLISE DAS VOZES SILENCIADAS DO RAP FEMININO Karen S. S. CONCEIÇÃO (IFPR – Campus Palmas) Orientadora: Dra. Kátia Cilene Silva Santos CONCEIÇÃO Coorientador: Dr. Jacob dos Santos BIZIAK Este trabalho visa apresentar uma análise da letra da música da rapper Lívia Cruz, ―Não foi em vão‖, inspirada no poema ―Vai mudar o placar‖, de Elizandra Souza, numa perspectiva da análise do discurso da vertente russa bakhtiniana da Teoria da Enunciação, que destaca a importância do entendimento do papel dos sujeitos da relação interlocutiva para evidenciar as relações de poder estabelecidas por meio do discurso. Ainda como base teórica, utiliza-se o autor Ducrot com a sua teoria da argumentação da língua (ADL), para verificar os encadeamentos argumentativos que revelam o lugar-comum onde estão inseridos os enunciadores, sendo o lugar-comum, crenças tomadas como verdade por uma cultura. A análise tem como objetivo destacar enunciados machistas e opressores presentes nos discursos tanto na letra da música quanto no poema, que envolvem a figura feminina. Enquanto na música a rapper conta a história de uma mulher que se encontra em

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uma relação abusiva e sofre com a violência do seu parceiro, o que culmina em um fim trágico, o poema faz referência à revanche das mulheres face à violência sofrida por esses maridos e companheiros, ou até mesmo pela sociedade. Nos dois exemplos, observa-se a denúncia de que as mulheres são subjugadas por seus parceiros, alimentando um sentimento de desamparo e desencadeando, muitas vezes, uma atitude de vingança. Justifica-se a relevância deste trabalho por encontrar, em ambas as manifestações artísticas e literárias, o sofrimento diário vivido por muitas mulheres que têm suas vozes silenciadas por essas atitudes e discursos opressores, bem como um alerta para as consequências em virtude da violência gerada por esse silenciamento. Palavras-chave: Análise do Discurso; Lugar-comum; Opressão Feminina; Rap.

O DISCURSO FEMININO: DIFERENÇAS E SEMELHANÇAS ENTRE A MEGERA DOMADA E 10 COISAS QUE ODEIO EM VOCÊ Janaina Camargo RONCEN (Instituto Federal do Paraná) Orientador: Dr. Jacob dos Santos BIZIAK O trabalho tem a seguinte proposta: analisar as diferenças e semelhanças entre A Megera Domada, de Wiliam Shakespeare (1593), e o filme 10 things I hate about you (1999). A Megera Domada traz uma critica social em relação à guerra dos sexos, ao casamento, ao machismo e à submissão da mulher dentro de um contexto cultural no qual a obra está inserida. No filme 10 things I hate about you, a sociedade impõe um comportamento padrão em relação à mulher, mas Katherine, a personagem principal, quebra com o conceito de que mulher tem que possuir uma conduta padrão para agradar os homens e aos outros. Diante disso, tentam anular a identidade da protagonista, questionando sua orientação sexual, sua feminilidade e suas capacidades, pois essa mulher atualiza um discurso que permite que ela fale e lute por seus ideais. O filme mostra-a como uma garota com senso crítico aguçado e luta pelo respeito das mulheres, assim não permitindo que o outro anule seu lugar de fala. Então, em ambas as obras, as duas personagens centrais podem ser identificadas como alguém que odeia os homens, mas, ao contrário, elas podem ser interpeladas como sujeitos-mulheres que merecem respeito e devem possuir um lugar na sociedade, no qual a mulher merece ser ouvida. Com isso, as atualizações discursivas revelam maneiras diferentes de se ler o feminino. Inclusive, no filme, a personagem questiona o seu professor, o porquê de só estudar autores masculinos e não estudar autoras femininas como Simone de Beauvoir. Para realizar o estudo das formações discursivas nos quais os filmes se inserem, pretendemos mobilizar conceitos da análise do discurso de Pêcheux, como: sujeito do discurso, interpelação e ideologia. Palavras-chave: Mulher; Identidade; Discurso.

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AS SEMIOSES DO FEMININO NO CONTO “AMOR”, DE CLARICE LISPECTOR Dr. Thiago Ianez CARBONEL (UNICEP) O propósito deste trabalho é apresentar uma análise do conto ―Amor‖, de Clarice Lispector, publicado em 1974, na obra Laços de Família, de Clarice Lispector, tendo por foco a constituição da autoria feminina, nos moldes do que propõe Zolin (2009). O intuito desta leitura é mostrar como o ethos feminino se desdobra na construção da personagem Ana como a projeção das percepções que faziam parte – e, em certa medida, ainda fazem – da performance social do universo feminino no qual a própria autora se encontrava inserida. Para tanto, lança-se mão do ferramental analítico da semiótica de linha francesa, na esteira das propostas de Greimas, Fontanille e Zilbergerg, principalmente no tocante à compreensão do fenômeno da autoria como uma articulação entre a totalidade (―totus‖) das correntes estéticas e tendências de momento (o modernismo da geração de 1945, do qual a autora é representante e expoente) e a unidade (―unus‖) que delimitam o estilo individual da escrita da autora. Nossa hipótese, ainda na linha de raciocínio proposta por Zolin (op.cit.), é a de que estão presentes no texto marcas enunciativas que delineiam o sujeito da enunciação literária e refletem a apreensão das experiências e vivências do sujeito ontológico. Ainda que esta abordagem do autor projetado no texto seja considerada, muitas vezes, uma quebra na ortodoxia das análises literárias, se considerarmos como Pêcheux define ―sujeito‖, levando em conta o papel essencial das interpelações que estruturam a formação de uma subjetividade que não pode ser apreendida sem se levar em conta a soma dos pré-construídos ideológicos, percebe-se a necessidade do olhar sobre os mecanismos por meio dos quais o texto opera como uma extensão do sujeito ontológico quando o ato da enunciação transcende a pura criação literária e alcança o status de posicionamento ideológico, como se pretende demonstrar por meio da análise do conto de Clarice Lispector. Palavras-chave: autoria feminina; análise semiótica; Clarice Lispector.

“AVISO DE GATILHO”: O POLÍTICO E O POÉTICO NO FUNCIONAMENTO DO POEMA-EMPODERAMENTO Aline Fernandes de Azevedo BOCCHI (FFCLRP/USP - El@dis) Como contribuição ao SIMPÓSIO 2 - Performances do político e do estético: gêneros sexuais, análise do discurso e literatura, esta proposta se inscreve nas fronteiras entre os campos da Análise de Discurso, da Teoria e Crítica Literária e dos Estudos Feministas e Queer. Ela intenta, a partir de uma posição teórica situada nesse terreno problemático, produzir uma reflexão sobre a potência do poético na transmissão da experiência da violência, bem como discutir a emergência de um lugar de

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enunciação que ressoe a voz da mulher negra. Neste percurso, priorizamos questões como pertencimento, silenciamento e interseccionalidade, a partir da análise do poema ―aviso de gatilho‖, de Mariana Rocha Arduini, voltando nossa atenção para os rastros de memória que permitem significá-lo como uma escrita de resistência à ―divisão racial e sexual do trabalho de escritura‖. O poema foi publicado no Facebook, na página pessoal da autora no dia 21 de setembro de 2015. Ele teve 532 curtidas, 375 compartilhamentos e 54 comentários até o momento da escrita deste texto. Poema de apenas uma estrofe, ―aviso de gatilho‖ parece ter sido escrito de um fôlego só, com a força da palavra crua que transborda, inunda, num tom que recusa eufemismos em proveito da rispidez e da aspereza. Nele, o tema da violência se apresenta por meio da construção do corpo violentado, que é simbolizado a partir da denúncia da animalização e sexualização do corpo feminino, e de como uma voz coletiva faz ecoar um grito de revolta, reivindicando um lugar social, político e simbólico para o corpo da mulher negra. Suas palavras narram uma experiência traumatizante para o sujeito, a violência sexual: ―aviso de gatilho‖ permite vislumbrar, então, as tantas faces da transferência, pelo poético e pelo político. Assim, procura-se compreender os efeitos de corpo, testemunho e denúncia produzidos em seu modo de simbolização da experiência da violência sexual, constituídos no poema como gesto de resistência à produção ideológica de sentidos que hiperssexualiza o corpo da mulher negra. (Fapesp: 2016/20876-6) Palavras-chave: corpo; testemunho; violência; efeito-poético; resistência.

A ESCRAVIDÃO SOBE AO PALCO: UMA POSSÍVEL LEITURA DA QUESTÃO DE GÊNERO NAS PEÇAS MÃE E O DEMÔNIO FAMILIAR DE JOSÉ DE ALENCAR Maria Domingos Pereira VENTURA (UTFPR) Angela Maria Rubel FANINI (UTFPR) O presente estudo tem como objetivo analisar como são representados os personagens escravos no drama Mãe (1860) e na comédia O Demônio Familiar (1857) de José de Alencar e as possíveis implicações desta representação para os descendentes de negros que foram mantidos nessa condição por mais de 300 anos no país. A análise se dará a partir do viés histórico e da Análise Dialógica do Discurso – ADD de Bakhtin, buscando entender como o contexto social se reflete na construção dos protagonistas. O gênero drama e comédia permitem em sua narrativa que se apresentem diferentes desfechos para homens e mulheres escravizados após a alforria. Apesar dos sentidos das palavras poderem se modificar-se ao longo do tempo alguns parecem aderir como uma segunda pele e influem nos desdobramentos da vida dos que por elas são marcados. Os negros não sumiram de cena com a abolição, eles foram afastados para a periferia das cidades. Dois tipos típicos resultam da abolição: ex-escravas que irão trabalhar nas casas de famílias para sustentarem a si e a sua família e o malandro que só sabia ser escravo e para sobrevier irá viver de pequenos expedientes. Como

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resultado espera-se mostrar que a representação social não é isenta e que algumas vezes carrega em seu bojo preconceitos que podem impedir que os corpos se (trans-)formem e ocupem seu lugar de direito na sociedade. Palavras-chave: análise do discurso; escravidão; gênero; literatura.

ANGÚSTIA, RESISTÊNCIA, SILÊNCIO E VIOLÊNCIA ÉTICA: CORPOS E GÊNEROS SEXUAIS NA FICÇÃO ROMANESCA DE SARAMAGO Dr. Jacob Dos Santos BIZIAK (IFPR/USP) Propomos uma articulação entre a angústia – na perspectiva da teorização lacaniana do Seminário 10 – com o funcionamento discursivo da enunciação, tomando este a partir de referenciais teóricos da análise do discurso pêcheuxtiana, como sujeito do discurso, ideologia, interpelação, esquecimento e silêncio. Entendemos, então, a enunciação como prática distinta da narração, conforme esta é comumente apresentada pela teoria literária tradicional, uma vez que tomar aquela e não esta como dispositivo de leitura da diegese significa levar em conta o entrelaçamento entre língua, ideologia e discurso no processo de interpelação do indivíduo representado na narrativa em sujeito do discurso. Portanto, o enunciador da ficção romanesca fala acreditando ser dono do seu dizer e de que este só pode se processar de uma certa maneira. Ao contrário, a produção de sentidos é sustentada por um vazio, por uma hiância, já que sempre poderia ser outra, desvelando, pelos tropeços na língua, o real desta e da história. Portanto, o dizer depara-se com algo que é condição dos processos de significação: tenta-se apropriar de um objeto, como a língua e a verdade, essencializando-os, quando, na verdade, são suportados pelos efeitos de impossível oriundos da tentativa de inscrição de uma imagem do corpo que fala em um real. Com isso, comparamos dois romances de Saramago – História do cerco de Lisboa e Ensaio sobre a cegueira – com vistas a entender que, na poética do autor, há um aproveitamento estético de uma relação com a língua – portanto, com os reais – que é política. Nela, a construção discursiva de corpos e de gêneros sexuais se dá às custas de um jogo, marcado pelo silêncio, entre ausência e presença de sentidos, no qual, ao contrário de índice de pessimismo sobre a linguagem, é a condição prenhe da poesia e do político: o deslocamento de sentidos. Palavras-chave: corpo; gêneros sexuais; José Saramago.

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OS SUJEITOS-GAYS E O RELATO SOBRE SI: O JOGO ENTRE A PRODUÇÃO DOS DISCURSOS E SENTIDOS NO JORNALISMO BRASILEIRO Gustavo Grandini BASTOS (FFCLRP/USP - CAPES) Nossa proposta é discutir o modo como os depoimentos de sujeitos-gays funcionam no espaço jornalístico, analisando sua constituição como discurso e a forma como afeta a inscrição dos sentidos (PÊCHEUX, 1997, 2010). Compreendemos que as produções dos sentidos, no espaço jornalístico, estão atreladas a ideais de verdade e a compreensão de que o uso dos depoimentos é um recurso importante para reforçar essa evidência, funcionando como elemento que assegura a participação dos sujeitos que vivenciaram determinada situação, produzindo o efeito de pretensa completude na abordagem de determinado assunto. A inscrição dos sujeitos na posição de testemunhas reforça a narrativa do espaço jornalístico como lugar de verdade e plena observação da realidade social. Nosso referencial teórico-metodológico é vinculado aos postulados da Análise do Discurso de linha francesa (ORLANDI, 2004; PÊCHEUX, 1997, 2010) e para as nossas análises selecionamos reportagens publicadas entre 2010 e 2015, na imprensa brasileira, na qual o foco foi a relação entre os sujeitos-gays e o uso dos aplicativos de relacionamento, com destaque para três espaços: Grindr, Hornet e o Scruff. Nossa abordagem pretende refletir: i) o modo como os discursos produzidos nos espaços jornalísticos são apresentados como fatos; e ii) a identificação da inscrição dos relatos dos sujeitos como elemento importante para validar o modo como determinada questão é abordada. Esses dois pontos são problematizados pela análise de reportagens contendo relatos de sujeitos-gays na imprensa brasileira e identificados como elemento fundamental para compreender o funcionamento de uma nova Tecnologia de Informação e Comunicação (TIC) e a produção de modificações em comportamentos, interesses e condições de estabelecer relações entre esses sujeitos, decorrente da utilização desses novos espaços tecnológicos. Palavras-chave: Sujeitos-Gays; Jornalismo; Discurso.

DE CAPITU FALADA POR UM HOMEM À QUE FALA NA MARCHA DAS VADIAS Karen Gabriele POLTRONIERI (USP) Prof. Dr. Lucília Maria Abrahão e SOUSA (orientadora) (USP) Este trabalho tem por objetivo analisar como os discursos de uma personagem do século XIX refletem muito do que se encontra nas mulheres de um movimento feminista deste século. Utilizando de base a teoria da Análise do Discurso de filiação francesa, juntamente com o apoio dos dizeres encontrados nas páginas online do movimento social Marcha das Vadias, pretende-se traçar

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um paralelo de como a inscrição da personagem Capitu da obra Dom Casmurro (Machado de Assis, 1899) é falada e narrada em seu tempo. Machado cria Capitu a partir da voz de um homem – Bentinho – que a define como um mistério de mulher cheia de vertentes e possibilidades, aqui será discutida como efeitos de uma mulher libertária, que mesmo indiretamente constitui alguns sentidos do que é conhecido como feminismo. Em busca de respeito, igualdade de gênero e fim da violência, a Marcha das Vadias é um grande movimento que dá visibilidade e circulação para os sentidos do feminismo e quebra os padrões da sociedade há muito tempo instaurados, o que supomos que Capitu também potencializa como efeito de um dizer sobre a mulher na narrativa machadiana. Ainda assim, trabalhamos com a hipótese de que Capitu apresente traços e dizeres de uma mulher denominada empoderada e se mostre uma personagem que não se deixou interpelar pela ideologia dominante imposta pela sociedade patriarcal de então. Palavras-chave: Análise do Discurso; Capitu; Marcha das Vadias.

MASCULINIZAÇÃO, SILENCIAMENTO E OBJETIFICAÇÃO DAS MULHERES NA SEGUNDA GUERRA MUNDIAL Fernando Ribas CAMARGO (IFPR) Orientador: Dr. Jacob Dos Santos BIZIAK O trabalho em questão é um ensaio final da disciplina de Gêneros Sexuais, Discurso e Literatura, ministrada em 2016, no Instituto Federal do Paraná, para estudantes de Letras. A pesquisa se refere a uma tentativa de abordar a participação das mulheres russas e alemãs na Segunda Guerra Mundial sob a perspectiva dos estudos de gênero, linguagem e discurso, com a base teórica focalizada, principalmente, em Judith Butler (2003), Lúcia Zolin (2009) e Michel Foucault (1988). A pesquisa foi desenvolvida a partir da leitura dos livros A guerra não tem rosto de mulher, de Svetlana Aleksiévitch (2009), e Anônima: uma mulher em Berlin (2008), de autoria não divulgada. Esses livros foram escritos buscando relatar os acontecimentos daquela época, cada qual à sua maneira. Mas, apesar das diferenças entre eles no que se refere ao funcionamento textual e discursivo, ambos possuem algo em comum: foram censurados, pois denunciam a hegemonia masculina em meio à SGM. Por isso, também foi preciso recorrer a Eni Orlandi (2007), a fim de entender como e por que esse silenciamento (censura) aconteceu. Os resultados obtidos permitem analisar que a primeira obra trata da luta das mulheres russas pela assunção de uma performance feminina como sujeito; enquanto a segunda mostra a luta por subverter a ordem estabelecida após a invasão russa, que colocava as mulheres na mera condição de objeto sexual. Além disso, pelo fato de o curso de Letras do IFPR – Campus Palmas ser uma licenciatura, esta análise ajudará, futuramente, a expor nas salas de aula a história das lutas feministas, bem como a repressão e o silenciamento que o machismo

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causou ao longo da História, pois foram mais de 2 milhões de mulheres estupradas pelos russos ao final da SGM, e muito pouco se fala sobre isso. Palavras-chave: censura; mulheres; Segunda Guerra Mundial.

ECOS E EFEITOS DISCURSIVOS: COMUNHÃO ESTÉTICA E POLÍTICA ENTRE “SEJAMOS TODOS FEMINISTAS” E “HIBISCO ROXO” DE CHIMAMANDA NGOZI ADICHIE Rafaela Viana SERPA (Instituto Federal do Paraná) Orientador: Dr. Jacob dos Santos BIZIAK Esta pesquisa estabelece diálogos entre o ensaio ―Sejamos todos Feministas‖, da autora nigeriana Chimamanda Ngozi Adichie, e o romance Hibisco roxo, da mesma autora, utilizando conceitos e ideias trazidas por Michel Pêcheux e Eni Orlandi para elucidar estas correspondências existentes, como os de ideologia e interpelação. Pêcheux nos fala que a linguagem está materializada na ideologia, e esta ideologia causa efeitos de naturalidade nos sujeitos. No romance vemos essa teoria em prática, pois a personagem principal está inserida em um ambiente extremamente machista e patriarcal, de forma que este sujeito foi constituído pela interpelação ideológica, concordando com todas as atitudes e ainda fazendo uso desses discursos como se fossem seus, reproduzindo-os. Estas ideias machistas vão sendo, aos poucos, desconstruídas com a chegada de uma tia que dialoga com conceitos tratados pela escritora em Sejamos todos Feministas. Os sentidos de casamento, submissão, mulher, religião, família vão deslizando, mudando e transformando ao decorrer de toda a obra. A análise, então, tem como objetivo tratar dessas desconstruções de sentido que acontecem quando há contato com outras formações discursivas, de forma a questionar-se o discurso machista e patriarcal, bem como o sujeito que sofre com essa tirania. Palavras-chave: Ideologia; Interpelação; machismo.

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SIMPÓSIO TEMÁTICO 3

EROTISMO, SEXUALIDADE E GÊNERO NA LITERATURA Luciana BORGES (Universidade Federal de Goiás) O campo do erotismo, como manifestação das tensões da vida e da cultura representa possibilidade ímpar de, nos dizeres de Georges Bataille, ―colocar o ser em questão‖. Do mesmo modo, a literatura, enquanto produto de linguagem e criação estética, constitui palco onde se encenam as mais diversas representações de mundo e as mais diversas subjetividades. Desse modo, a relação da literatura com o campo das representações de gênero (gender) – entendido de modo amplo como a construção cultural da diferença sexual – por um lado amplia as possibilidades de leitura e interpretação das identidades de gênero, compreendidas como constructos sociais e linguísticos e, por outro, possibilitam acessar o texto literário para além de sua formalidade. Ressaltando que as performances de gênero e identidade, conforme perspectivas teóricas presentes em Judith Butler, por exemplo, são primordialmente performances discursivas provenientes de atos de criação linguística, a literatura, seja em sua forma narrativa ou poética é um campo profícuo para esse tipo de investigação. Nesse sentido, o objetivo do presente Simpósio Temático é acolher propostas que pretendam analisar como as concepções e relações de gênero se constituem e se manifestam na construção das manifestações do erotismo e da sexualidade no universo literário, como correlações de identidade e poder, estética e política, a partir da materialidade dos textos eróticos, pornográficos ou obscenos em suas diversas modalidades e diferenças tênues ou intensas. Considerando que tradicionalmente relegou-se ao silêncio, ou à impropriedade, a presença das mulheres, das identidades e orientações sexuais vistas como subalternas – gays, lésbicas, transexuais, transgênero, dentre outras – no meio intelectual e artístico, o ST acolhe também propostas que pretendam revisar a tradição e suas estratégias de poder no campo de força do gênero. No intuito de ampliar as possibilidades de compreensão do campo literário, serão aceitas também propostas que tragam o estudo da literatura em intersecção com outras interfaces e modalidades de expressão artística, como o cinema, as artes plásticas e a música, desde que apresentem o objetivo de dimensionar as representações da sexualidade, do erotismo ou da pornografia e do corpo em perspectiva de gênero. Palavras-chave: Literatura; Sexualidade; Erotismo; Pornografia; Gênero.

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Trabalhos Aprovados

ENTRE FLASHES E ALGODÃO SINTÉTICO: CASAMENTO E VIOLÊNCIA SIMBÓLICA EM “A CEIA DE ANINHA” E “CHECK-UP”, DE AUGUSTA FARO Nívea de Souza Moreira MENEGASSI (Universidade Federal de Goiás - Regional Catalão) Luciana BORGES (Universidade Federal de Goiás - Regional Catalão) O objetivo principal desta pesquisa é analisar se os discursos criados em torno do corpo feminino que oprimiram as mulheres desde o início da história da humanidade permanecem executando sua função repressora na atualidade. Estes elementos serão discutidos considerando-se os contos ―A ceia de Aninha‖ e ―Check-up‖, da escritora goiana Augusta Faro Fleury de Melo, conhecida por Augusta Faro. A metodologia utilizada foi a revisão de literatura por se tratar de uma pesquisa de natureza teórica, analítica e descritiva. Para realização desta pesquisa, foram consultados teóricos como Pierre Bourdieu, que avalia as formas de expressão da violência simbólica, Michele Perrot por investigar o silenciamento do corpo feminino e, por fim, Elódia Xavier e sua classificação dos corpos segundo a literatura. Como resultado, percebeu-se que a sociedade patriarcal, desde a Grécia Antiga, instituiu formas para inferiorizar as mulheres, colocando-as em posição subalterna. As protagonistas dos contos em estudo, apesar de independentes, sentem a necessidade de terem um homem ao seu lado a fim de legitimá-las socialmente, conforme as normas sociais vigentes. Observou-se, ainda, que a violência simbólica assolou as mulheres ficcionais a ponto de perderem suas identidades pessoais. Assim, a hipótese de que as várias teorias que vinculam o corpo ao feminino acentuam o preconceito misógino foi ratificada. Palavras-chave: corpo; gênero; feminismo.

CORPO ESCRITO – A MULHER ERÓTICA: A POESIA DE MARIA TERESA HORTA Ms. Natália Salomé de SOUZA (PPGEL – UFMT) Dr. Vinícius Carvalho PEREIRA (PPGEL – UFMT) O corpo da mulher foi objeto de dominação e subjugação por parte do falogocentrismo ao longo da história. Sob uma falaciosa argumentação baseada em aspectos morfofisiológicos, a mulher foi aprisionada em uma teia de impossibilidades: da dita fraqueza do corpo surgiram argumentos para uma suposta incapacidade intelectual, os quais fizeram com que a mulher assumisse cada vez menos uma vida política, cultural e acadêmica, dando a ela a única possibilidade de uma vida privada. Dentro da fisiologia do corpo, a menstruação e a gestação foram fatores determinantes para o

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confinamento feminino; para além dos interditos de inserção social, esses interditos serviram para impedir a existência da sexualidade feminina. Este estudo pretende problematizar, à luz do poema ―Modos de Amar I‖ e dos poemas ―11‖ e ―15‖ da série ―O transfer‖ de Maria Teresa Horta, a ideia estática e geral resultante de uma sociedade falogocêntrica acerca do que é ser mulher. Tentar encontrar a imanência feminina no texto literário se aproxima mais da transgressão de uma linguagem pautada na ordem falogocêntrica do que da busca por uma essencialidade biológica feminina. Pensando nesse corpo feminino, construído no entrelaçamento do corpo biológico e psíquico com a cultura e economia, buscamos compreender as formas com que o erotismo faz parte da vida das mulheres e como ele está inserido na literatura através da lírica de Maria Teresa Horta. Para tanto, discutiremos o erotismo e os interditos impostos ao corpo feminino com base em Bataille (1987), Gilbert e Gubar (2000), Millet (2000), bem como os processos de transgressão do falogocentrismo na literatura através de Derrida (2013), Cixous (1991), e Barthes (1994). Recuperando os espaços da escrita e da sexualidade feminina, observamos que a poesia de Teresa Horta é erótica e, por isso, transgressora dos modos de institucionalização do falogocentrismo, promovendo o empoderamento feminino na literatura. Palavras-chave: maria teresa horta; erotismo; corpo.

FEMINISMO KING KONG: PAUL B. PRECIADO E VIRGINIE DESPENTES FAZEM AMOR Aléxia BRETAS (Professora adjunta da UFABC) ―Nós sempre existimos – mas nunca falamos‖. Colocando-se entre as múltiplas figuras do feminino – estranhas, limítrofes, desviantes – para sempre excluídas do mercado da boa moça, Virginie Despentes assume seu singularíssimo lugar de fala, e proclama, a plenos pulmões: ―escrevo a partir da feiura e para as feias‖. Estupro, prostituição, pornografia e outras tantas impressões e experiências biográficas fornecem o substrato para a redação de sua Teoria King Kong. Avatar de uma sexualidade polimorfa e superpoderosa, King Kong encontra-se além da fêmea e do macho, postando-se na encruzilhada entre o homem e o animal, o adulto e a criança, o bom e o mau, o primitivo e o civilizado. É a possibilidade do híbrido diante da obrigatoriedade do binário. Não por acaso, este mesmo Leitmotif ressoa entre as linhas de Testo Junkie: sexo, drogas e biopolítica na era farmacopornográfica – ensaio corporal de Paul B. Preciado, no qual o autor ratifica a intenção de ―decapitar a filosofia‖, buscando submeter A história da sexualidade de Foucault ao choque provocado em seu corpo pela prática de tomar testosterona. O registro protocolar desta intoxicação voluntária corresponde ao percurso narrado nesta ousada ficção política catalizada por dois eventos quase simultâneos: a morte do escritor Guillaume Dustan e o encontro com Virginie Despentes. Aquilo que começa como a aproximação de duas realidades incompatíveis em um plano que não as

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convém, resulta em um fulgurante lampejo sexo-lítero-filosófico produzido pela leitura cruzada destas duas instigantes versões de ―autoteoria‖ concebidas nos limiares do feminismo. Palavras-chave: Feminismo; queer; testosterona; corpo; autoteoria.

PRISÃO E EMPODERAMENTO: O EROTISMO NA PARÓDIA BÍBLICA DE SARAMAGO Bruno Vinicius Kutelak DIAS (UFPR) O presente trabalho apresenta um estudo a respeito do erotismo, com foco nas personagens femininas, das obras O Evangelho Segundo Jesus Cristo (2010) e Caim (2011), de José Saramago. Nessas narrativas, a paródia aparece como elemento de (re)construção das personagens nas novas versões das histórias bíblicas e um dos elementos que mais recebe destaque é a relação das personagens com o erotismo. Embasados nas teorias de Bakhtin (1996), Bataille (1987) e Whitmont (1991), desenvolveremos a análise a respeito do modo como o erotismo é vinculado ao texto no sentido de ressaltar o feminino, funcionando tanto como fonte de empoderamento quanto de submissão das personagens analisadas. Com o foco em Maria e Maria de Magdala, presentes no novo Evangelho, Eva e Lilith na recriação do Gênesis, exploraremos como cada uma delas se relaciona com as sociedades nas quais estão inseridas, onde o Deus macho e a cultura patriarcal são dominantes. Considerando a representação de cada uma, podemos observar uma evolução no modo como elas se encontram no universo recriado pelo autor português, desde as mais submissas e presas aos dogmas patriarcais, Maria e Eva, embora a última comece seu processo de alforria, àquelas que já se encontram libertas e empoderadas frente a um Deus que regula não apenas a vida espiritual, mas também o corpo de suas criações. Palavras-chave: Saramago; erotismo; feminino.

EROTISMO E O PODER DO CORPO NA OBRA A CASA DAS BELAS ADORMECIDAS, DE KAWABATA YASUNARI Mina ISOTANI (Universidade Federal do Paraná) O poder exercido pelo corpo nu, o frescor juvenil e a decadência física do idoso constroem a complexa relação entre o dominante e o dominado no romance A casa das Belas Adormecidas (1961), de Kawabata Yasunari. O discurso que sanciona as estruturas simbólicas de significação do masculino e do feminino é dissecado e reavaliado no instante da autoconscientização quanto à

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fragilidade da estrutura social, que atribuía ao homem japonês dominância sobre a mulher. Nesse sentido, quando o protagonista Eguchi, de 67 anos, procura uma casa de prostituição, cujo serviço era oferecer aos homens de meia idade a oportunidade de desfrutar a companhia de jovens virgens, a virilidade perdida pode ser retomada no âmbito subjetivo de um encontro sem diálogo, sem interação, sem a regulamentação comumente creditada aos padrões socialmente exigidos. Contudo, a perversão e a sensação de domínio se liquefazem no momento em que, a até então inquestionada identidade do ¨macho¨, se depara com a supremacia do corpo jovem, com a autoconsciência da incapacidade de consumação do ato sexual, transformando o desejo em desespero. Dessa forma, baseado na reflexão do discurso regulamentador e das relações de poder discutidos em Na História da Sexualidade, de Michael Foucault, o presente trabalho tem como objetivo apresentar de que forma o erotismo e o poder do corpo servem de ferramentas para compreendermos a desintegração das representações identitárias, atribuindo ao homem e à mulher novos posicionamentos discursivos, que ultrapassam as definições de gênero. Palavras-chave: erotismo; poder do corpo; mulher japonesa; representação.

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SIMPÓSIO TEMÁTICO 5

GÊNERO, MEMÓRIA E CONSTRUÇÃO DA IDENTIDADE NACIONAL NA REPÚBLICA DA IRLANDA Caroline Moreira EUFRAUSINO (PG/USP) Cláudia PARRA (PG/UNESP) Fernando POIANA (PG/UNESP) Memória e identidade são tropos definidores da literatura irlandesa no século XX e XXI, com desdobramentos que suscitam discussões de gênero em obras que tematizam o desarranjo entre a subjetividade do indivíduo e a rigidez da moral conservadora que define parte de suas vivências. No romance, o tom memorialístico problematiza a relação do sujeito com a sua história, mas também a formação identitária e a relação dela com as questões de gênero. A prosa de Anne Enright é um exemplo disso. Questões semelhantes aparecem nas peças de Sean O‘Casey sobre a história irlandesa vivida no dia-a-dia por indivíduos alheios ao discurso do establishment. Nesse sentido, incorporada à discussão sobre gênero e identidade, surge a discussão em torno de episódios de alterações comportamentais oriundas do processo de empoderamento (RAPPAPORT, 1981, 1984), da atuação feminina irlandesa, que ocasionou a desconstrução do arquétipo convencional promovido pela manifestação nacionalista, uma vez que a atuação dessas personagens, influenciadas por fatores psicológicos como autoestima, temperamento e experiências, revela um maior grau de autonomia e configura um processo pelo qual indivíduos angariam recursos que lhes permitem ter voz, visibilidade, influência e capacidade de ação e decisão (HOROCHOVSKI; MEIRELLES, 2007). Já na poesia, a construção do sujeito lírico nos poemas de Eavan Boland apontam para algumas dessas questões. Dito isso, convidamos professores e estudantes a submeterem trabalhos que, de algum modo, articulem as questões de gênero, identidade nacional e memória a partir da análise de narrativas, peças ou poemas de autores irlandeses. Com isso, espera-se que o simpósio possa fazer uma breve revisão teórica sobre o que se tem debatido a respeito do gênero, principalmente no âmbito dos estudos sobre literatura irlandesa e as relações entre gênero, identidade nacional e memória que nela se estabelecem. Palavras-chave: Literatura Irlandesa; Gênero; Memória; Identidade Nacional.

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Trabalhos Aprovados

PROCESSOS DE EMPOWERMENT NAS REPRESENTAÇÕES FEMININAS DE JUNO AND THE PAYCOCK Claudia PARRA (Unesp/D) Os movimentos pelos direitos civis nos Estados Unidos, sobretudo para mulheres e negros, e o movimento feminista em países emergentes, respectivamente nas décadas de 1960 e 1980, foram agentes importantes na formulação sistemática sobre o conceito de empowerment. A partir da tentativa de uma estruturação teórica sobre o termo, sua utilização tem se propagado para outras áreas além do campo do desenvolvimento social e, na medida que isso acontece, o que se verifica é uma elucidação da compreensão de que tal fenômeno não se relaciona apenas a questões comunitárias ou organizacionais, mas compreende também questões acerca do indivíduo. Uma vez que o termo abarca essencialmente a ideia de mudança, individual empowerment é caracterizado como um processo psicológico, cíclico ou acíclico, proveniente da interação entre o sujeito e o meio, pelo qual o indivíduo adquire conscientização do ―eu‖ como ser apto ou capaz para gerir sua própria vida, valendo-se de seus próprios meios, vontades e/ou princípios. A essência desse percurso é o ato humano em direção a uma mudança do estado passivo para o ativo. Sean O‘Casey, em Juno and the Paycock (1924), uma de suas três primeiras produções no palco do Abbey Theatre, retratou uma família pobre irlandesa que teve sua vida afetada por uma série de influências externas. As personagens femininas, inicialmente, passivas, passam por circunstâncias que lhes conferem mais autonomia, nos possibilitando averiguar noções de empowerment na representação do sujeito feminino irlandês, segundo a definição aqui utilizada. Desse modo, pela via da crítica formalista e sociológica, pretendo comprovar episódios de alterações comportamentais oriundas do processo de empowerment na representação teatral da mulher irlandesa no texto de Juno and the Paycock. Palavras-chave: empowerment; gênero; representação feminina; teatro irlandês; Sean O‘Casey.

A LINGUAGEM POÉTICA DE EAVAN BOLAND Fernando Aparecido POIANA (IBILCE/UNESP) A poesia de Eavan Boland é atravessada por questões de natureza ampla e distinta que acabam se complementando dentro do projeto estético da escritora como um todo. Nela, reflexões de caráter metalinguístico sobre o lugar da poesia na vulgaridade do real e seu papel como forma de leitura e

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reordenação da realidade por meio do recurso ao mito se misturam a versos que meditam sobre a memória, a construção da(s) narrativa(s) da história, a formação da identidade, o papel da linguagem como organizadora lógica dessas questões e os modos de constituição e presença de seu eu-lírico feminino nesse contexto poético. Sendo assim, esta comunicação investiga como essas questões são articuladas no poema ―Mise Eire‖, publicado em The Journey and other poems (1987) e em Selected Poems (1989). O estudo discute como a linguagem poética de Boland é o eixo organizador central desses assuntos de alcance estético e político. Metodologicamente, a análise proposta parte do close reading do poema escolhido para, a partir do exame de sua retórica e imagens, refletir sobre como ele incorpora na sua linguagem discussões sobre gênero, memória e história, nesse caso filtradas por uma perspectiva lírica feminina. Como suporte crítico-teórico, o presente trabalho utiliza as discussões sobre a poesia de Boland publicadas em The Cambridge Companion to Irish Contemporary Poetry (2003), editado por Matthew Campbell, e em Reading Postwar British and Irish Poetry (2014), organizado por Michael Thurston e Nigel Alderman. A partir do close reading de ―Mise Eire‖ e do diálogo com as discussões críticas sobre a poesia de Boland nesses livros, o presente estudo defende que ―Mise Eire‖ concentra muitos dos assuntos definidores dos interesses estéticos e temáticos de parte significativa da obra poética da escritora. Palavras-chave: Eavan Boland; Poesia Irlandesa Contemporânea.

NARRATIVAS INTERCRUZADAS EM BROOKLYN E NORA WEBSTER Lídia Apolinario PIRES (UFT) A presente pesquisa surge a partir da observação de elementos narrativos nos romances do irlandês Colm Tóibín, Brooklyn (2009) e Nora Webster (2014). A primeira obra nos conta a história de Eilis Lacey uma jovem que se vê a caminho para a América em busca de oportunidade de crescimento econômico. No segundo romance conhecemos Nora Webster, uma viúva recente que tenta reorganizar sua vida com os filhos, buscando privacidade diante de sua nova posição social. Duas protagonistas conterrâneas que vivem na metade do século XX, em um período pós-guerra, aparentemente comuns e que possuem suas histórias encontradas. Porém, percebemos que por trás da simplicidade destas protagonistas, o autor apresenta, de maneira sutil e suave, como as mulheres irlandesas aos poucos conquistaram a liberdade que a Igreja Católica e o tradicionalismo irlandês lhes tolhiam. Diante disso, o estudo propõe, utilizando um arcabouço teórico, a análise da construção narratológica de Tóibín, dando atenção ao seu estilo e à utilização de leitmotivs, para, a partir de então, observar a maneira como o romancista aborda em sua escrita, não só a independência relacionada a questões sociais como identitária das personagens ao longo da narrativa, mas também os reflexos dos acontecimentos históricos e a influência da Igreja Católica na

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sociedade irlandesa. Por fim, pretendemos traçar a relação entre a estrutura da obra e contexto sócio histórico abordado para concluirmos nosso estudo. Palavras-chave: Narrador; mulher; Igreja.

EMPOWERMENT AND FEMALE IDENTITY IN DEIRDRE OF THE SORROWS (J. M. SYNGE, 1910) AND A CRY FROM HEAVEN (VINCENT WOODS, 2005) Juliana Figueiredo TOKITA (MA, UNESP/ São José do Rio Preto) Peter HARRIS (UNESP/ São José do Rio Preto) The reinterpretation and protection of Irish traditional literature is an on-going process which lies at the core of defining Ireland‘s national identity. The oral tradition, with its attendant mythology and folklore, is a source of inspiration to contemporary writers, who value their cultural heritage and seek to tell the old stories with new voices. This process was especially intense during the Irish Literary Revival, led by William Butler Yeats. Inspired by the nationalist spirit of that movement, John Millington Synge produced a number of plays on Celtic life and history, including Deirdre of the Sorrows (1910). Almost a century later, Vincent Woods wrote A Cry from Heaven (2005), another play retelling the story of The Exile of the Sons of Uisliu, often referred to as the myth of Deirdre. Our aim is to focus on a salient feature of Irish mythology, the presence of a significant number of powerful, influential female characters. The myth of Deirdre, despite its title‘s reference to Uisliu‘s three warrior sons, actually has a woman as its principal protagonist. The character, known for her rebelliousness, is a symbol of an untameable soul who resists subordination to male domination. Eickhoff (2000, p. 19) argues that the myth of Deirdre is important because it brings hope and strength to those who are willing to defy the ex-cathedra imperium, that is, those supreme dictators who despise human rights in order to satisfy their lust and desire for power. Our analysis focuses on female identity and is based on the concept of female empowerment, as articulated in The Second Sex (Simone de Beauvoir, 1953) and The Madwoman in the Attic (Sandra Gilbert and Susan Gubar, 1979). Key words: empowerment; female identity; Irish mythology; Deirdre.

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NOS LIMIARES DO CORPO E DA MEMÓRIA: O PERCURSO NARRATIVO EM O ENCONTRO DE ANNE ENRIGHT Caroline Moreira EUFRAUSINO (PG/USP) Quando questionada por que a figura do corpo é um tema tão recorrente em seus escritos, Anne Enright respondeu: ―Eu não sei! Não temos outro lugar para estar, certo. Portanto, o corpo está onde estamos, o corpo é o problema. O corpo morre, por isso não é apenas um problema moderno. Tratase de uma questão de longo prazo. Nós não o descobrimos com cirurgia plástica!‖ (Bracken 2011, 22). Desta maneira casual, a escritora chama a atenção para uma de suas melhores técnicas narrativas: sua tentativa de levar o leitor a trilhar um caminho onde nuances de memória e materialidade do corpo são permeadas. O romance a ser analisado aqui é o vencedor do prêmio Booker Prize, O Encontro, publicado em 2007. Na narrativa, os nove filhos da família Hegarty estão se reunindo em Dublin para o velório de seu irmão mais novo, Liam. A narrativa é contada em primeira pessoa por Veronica, uma das irmãs, que está guardando o segredo que ela compartilha com ele - algo que aconteceu na casa de sua avó no inverno de 1968. O Encontro, que traça a dor sofrida por três gerações, poderia inicialmente ser percebido como uma narrativa sobre a morte, uma vez que gira em torno do funeral de um dos membros da família Hegarty. No entanto, como a narração do romance é assumida por Verônica, fica claro que a história não é sobre a morte e sim sobre o viver e o passar de gerações suscitados por memórias que vem a tona através de percepções materiais do corpo. O objetivo aqui é analisar as estratégias narrativas usadas pela narradora para revelar essas memórias. A hipótese é que Anne Enright propõe uma estética feminista em uma tentativa de criar seu próprio estilo narrativo. Palavras-chave: Anne Enright; O Encontro; Irlanda; Mulher.

MEMÓRIA E RESISTÊNCIA NA POESIA DE VONA GROARKE Camilla de Oliveira JORGE (IBILCE/UNESP) O interesse pela literatura irlandesa, sobretudo a poesia, bem como o drama e o romance, vem conquistando seu espaço no meio acadêmico brasileiro. No entanto, apenas em meados do século XX as mulheres começaram a receber notoriedade na Irlanda, antes voltada aos grandes nomes de escritores irlandeses como Jonathan Swift, Oscar Wilde, James Joyce, William Butler Yeats, Samuel Beckett e Seamus Heaney, por exemplo. Autoras como Eavan Boland e Eiléan Ní Chuilleanáin foram escritoras precursoras de maior influência na poesia irlandesa do final do século XX, abrindo caminho para trabalhos de escritoras como de Paula Meehan e Catherine Walsh. Outra voz que tem ganhado importância nesse contexto literário é a da poetisa Vona Groarke. O poema ―The New

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Garden‖ foi selecionado da obra ―X‖, publicada em 2014, para leitura atenta neste trabalho que objetiva discutir os procedimentos que fazem com que a voz da autora Vona Groarke soe singular, com uma linguagem fortemente imagética, em sua superficialidade, e profunda nas sensações que essas imagens e sugestões provocam. Groarke oferece esse poema à artista plástica Helen O‘Leary, trazendo nele uma reflexão do cotidiano e da vida. A proposta do presente estudo é ler a imagem metafórica do jardim como um simulacro da vida em um ambiente que se visita e que simboliza a renovação das forças vitais que permite o fluxo da vida em uma linha reta, assim como as flores que se vão com o verão e renascem após meses com o sol da primavera. Palavras-chave: Vona Groarke; Poesia Irlandesa Contemporânea; Poesia de autoria feminina.

VIOLÊNCIA DOMÉSTICA, ÁLCOOL E FAMÍLIA EM DOIS ROMANCES DE RODDY DOYLE Elaine Cristina Rodrigues AGUIAR (UFT) O presente ensaio tem por objetivo analisar os romances A mulher que ia contra as portas e Paula Spencer, do autor irlandês Roddy Doyle. O primeiro romance, que foi lançado em 1996, apresenta a história de Paula Spencer, uma mulher vítima de violência doméstica e por essa razão acaba se tornando alcóolatra. O segundo romance, publicado em 2006, é uma extensão da obra anterior e apresenta a nova vida de Paula, agora viúva e trabalhando como faxineira, ao mesmo tempo em que tenta se recuperar do alcoolismo e das lembranças das agressões sofridas durante o tempo em que esteve casada com Charlo Spencer. Pretendemos averiguar como o alcoolismo e a violência doméstica afeta a relação de Paula com a sua família e como o processo de transformações socioeconômicas na Irlanda interferiu na vida da personagem. Vale lembrar que os índices de violência contra a mulher ainda são preocupantes, sendo um tema cada vez mais abordado na literatura contemporânea, assim, Doyle nos apresenta a personagem Paula, para representar as inúmeras vítimas de parceiros violentos. Por fim, investigaremos sobre o crime de violência contra a mulher como parte da história da sociedade patriarcal e como o alcoolismo se tornou um problema social e vem sendo combatido pelo governo irlandês. Palavras-chaves: Irlanda; violência doméstica; alcoolismo; família.

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QUEER IRISH NATIONAL IDENTITY IN JAMIE O‟NEILL‟S AT SWIM, TWO BOYS Frandor Marc MACHADO (UFSC) In an article from 2001, Kathryn Conrad presented the process by which homossexuality and other deviant sexualities, as well as queer identities, have been completely excluded from the hegemonic discourses of what constitutes ―Irishness‖ and Irish National Identity. Many prominent Irish queer individuals, such as Oscar Wilde. Roger Casement, Eva Gore-Booth, and Kate O‘Brien have been, for quite some time, uncomfortably (mis)placed in modern Irish history - they were ―Eire-brushed‖, as the term coined by the playwright Brian Merriman suggests. In contemporary Irish literature, issues such as Irish national identity and queer identities have been consciously discussed by Irish writers aware of this schismatic condition between Irishness and queer identities Conrad presents. Jamie O‘Neill has expressed in several interviews that his novel, At Swim, Two Boys, is an attempt to reconcile this apparent split between national and sexual identities. Jodie Medd suggests that At Swim, Two Boys reimagines the historical period in which both modern gay identity and modern Irish national identity were in active elaboration, and puts the 1916 Easter Rising as the central event for this reconciliation. Joseph Valente explains that the novel creates a narrative parallelism that considers the historical, political, and ideological affinities between dissident sexualities and ethnocolonial identity in the Irish context. Thus, this communication intends to present how Jamie O‘Neill‘s At Swim, Two Boys proposes the project of a queer nation through the relationships between Jim Mack, Doyler Doyle, and Anthony MacMurrough and uses the context of the 1916 Easter Rising and the rising Irish nationalism of the period to construct the model of a queer Irish national identity. Palavras-chave: Jamie O‘Neill; Irish National Identity; Queer Sexualities.

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SIMPÓSIO TEMÁTICO 7

O FEMININO COMO FONTE DE DOMINAÇÃO Marco Aurelio Barsanelli de ALMEIDA (IBILCE/UNESP) A mulher, enquanto personagem literária, está intimamente atrelada à condição sociocultural das mulheres de sua época; um reflexo da realidade. A partir dos movimentos feministas iniciados no século XIX, percebemos um crescente empoderamento das personagens femininas, em uma constante evolução rumo à libertação dos laços que as prendem à opressão patriarcal e às regras estabelecidas para seu controle. Esse constante caminhar se registra na literatura contemporânea na medida em que reconhecemos personagens femininas que, não apenas se libertam dos laços masculinos, mas os substituem ao colocarem-se enquanto senhoras de seus atos. Personagens contemporâneas como a estrela Yvaine, de Stardust (2007), e Katniss Everdeen, de The Hunger Games (2008), são exemplos de mulheres que lutam contra a autoridade masculina e, em muitos momentos, assumem o controle da situação e invertem seu papel com o homem, salvando-o ou dominando-o segundo seus desejos. Assim como nos exemplos citados, é também comum que o alvo do embate seja outro ser feminino. Com o homem já dominado, sujeito à autoridade feminina e assumindo um lugar de subserviente, não apresenta mais uma ameaça, não é mais um opositor à dominação, o foco passa a ser o próprio feminino. Dessa forma, proponho uma discussão acerca dessa oposição que se desliga da dualidade homem-mulher, para se apresentar como um confronto mulher-mulher, em uma disputa em que o feminino ao mesmo tempo perde e ganha. Palavras-chave: Feminino; Marculino; Dominação.

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Trabalhos Aprovados

A DOMINAÇÃO FEMININA EM NEIL GAIMAN Marco Aurelio Barsanelli de ALMEIDA (UNESP/São José do Rio Preto) A mulher, como personagem literária, esteve por muitos anos, observando-se poucas exceções, atrelada à ideia de sensibilidade, doçura e fraqueza; qualidades atribuídas ao feminino e à subserviência frente a imagem masculina. Aos poucos, autoras começam a mostrar a força da mulher, principalmente a partir dos movimentos feministas iniciados no século XIX. O empoderamento de personagens não fica restrito a autoras, tendo cada vez mais a participação de autores homens representado a mulher enquanto senhora de si e detentora de uma poderosa voz de comando frente à sociedade e, em especial, à figura masculina. É o que encontramos em muitas das obras do escritor e roteirista britânico Neil Gaiman. Em seus romances, Gaiman explora personagens femininas fortes, sem as quais a jornada do herói, como explicada por Campbell (2007), não seria possível, ou seja, o masculino não pode progredir sem o feminino. Já nos romances em que o herói é um ser feminino, é comum que sua autoridade entre em conflito com a de alguma outra personagem de mesmo sexo. A partir dessas considerações, e por meio da análise dos romances Coraline (2002) e Stardust (2007), gostaríamos de direcionar um olhar mais atento ao modo como a feminilidade e a masculinidade se expressam no universo criado por Gaiman. Dessa forma, ao considerar as histórias de ambos os romances, à luz de algumas ideias de Butler (1990) e de Kolontai (2000), acerca do papel que a mulher exerce na sociedade e de como esse papel lhe é atribuído e cobrado; e de Spivak (2010) sobre as relações de poder entre o dominador e o dominado; temos por objetivo analisar o modo como o masculino e o feminino se relacionam na obra de Gaiman, bem como a forma como o feminino se sobressai enquanto elemento dominador da relação. Palavras-chave: Feminino, Marculino, Neil Gaiman, Autoridade.

BRANCA DE NEVE NA SALA DE ESPELHOS: REESCRITURAS DO CONTO Denise Loreto de SOUZA (Unesp/Ibilce) A presente comunicação tem como objetivo traçar um breve percurso histórico das reescrituras do conto ―Branca de Neve‖ através do tempo, tanto na literatura quanto no cinema, focalizando, principalmente, as transformações sofridas na esfera de ação das personagens. O primeiro registro que se tem desse conto foi realizado por Giambatistta Basile, na Itália, em 1634, sob o título A jovem

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escrava. Na Alemanha, os Irmãos Grimm, em 1812, registraram a narrativa Branca de Neve no livro Contos da criança e do lar, que foi lançado em dois volumes: o primeiro em 1812 e o segundo, de 1815. Elas mantêm relação com o conto ―A Jovem Escrava‖, mas modificam e acrescentam diversos outros elementos. O conto de 1812 é bastante violento, porém, vale ressaltar que, nessa época, os contos eram destinados ao público adulto. Quando os Irmãos Grimm perceberam que seus contos estavam sendo lidos para crianças, reescreveram a história, retirando as passagens que eram consideradas impróprias para as crianças. Esse ato de recontar/ reescrever faz parte do gênero. E o conto ―Branca de Neve‖ já sofreu diversas reescrituras, em diferentes suportes. E o objetivo dessa apresentação é mostrar, por meio de um recorte temporal, as transformações sofridas na narrativa relacionadas aos personagens, para as posteriores versões, de modo a nos atentarmos para elementos ligados ao contexto cultural em que foram produzidas, uma vez que os costumes de uma época e a ideologia também influenciam nas reescrituras, pois não se dissociam da sociedade de que fazem parte. Escolhemos, para a nossa análise, os contos ―A Jovem Escrava‖ (1634), ―Branca de Neve‖ (1812/1815) e o filme Espelho, Espelho Meu (2012). Pretendemos, com essa seleção de reescrituras, perceber quais são os mecanismos de atualização do discurso ao longo do tempo. Palavras-chave: Branca de Neve, conto de fadas, reescrituras.

CAPITU E LAVÍNIA: DUAS MULHERES, UM MESMO DESTINO? Adriana da Costa TELES (FFLCH/ USP) Capitu, personagem de Dom Casmurro, de Machado de Assis, e Lavínia, de Eu receberia as piores notícias dos seus lindos lábios, de Marçal Aquino, têm em comum o fato de serem mulheres enigmáticas e de terem, ao seu redor, homens que se deixaram aprisionar por suas personalidades. Capitu e Lavínia fazem com que Bento e Cauby vivam em função dos sentimentos contraditórios que provocam neles. Por outro lado, essas duas personagens, tão distantes no tempo, colocam em evidência o feminino como um ser sujeito ao discurso e aos desígnios masculinos. Trata-se de algo que nem mesmo a liberdade de Lavínia no trato com a própria vida e com a sua sexualidade consegue resolver. O fim de ambas não deixa de ser semelhante. Capitu termina morta, depois de anos exilada na Suíça. Lavínia permanece internada em um sanatório, no interior do Pará, refugiada em uma personalidade outra que cria para si, em evidente rejeição aos encontros desastrosos que a vida lhe proporcionou. O objetivo dessa comunicação é discutir esse desencontro dramático entre mulheres psicologicamente complexas e homens aquém da possibilidade de compreendê-las. Para tanto, partimos dos pressupostos teóricos de Julia Kristeva e de Antoine Compagnon, que em momentos distintos trataram o texto enquanto fruto de um processo de absorção e transformação. O

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conceito de intertextualidade abole a ideia de fonte ou influência, ao propor que o conjunto literário se encontra em constante diálogo e intercâmbio, revitalizando a tradição. Palavras-chave: Machado de Assis; Marçal Aquino; intertextualidade; feminino; dominação.

INVERSÃO DE ARQUÉTIPOS EM JOGOS VORAZES: A POSIÇÃO DE HERÓI ASSUMIDA PELA PERSONAGEM FEMININA KATNISS EVERDEEN Guilherme Augusto Louzada Ferreira de MORAIS (UNESP/IBILCE – BOLSA FAPESP) Suzanne Collins, nascida em 1962, iniciou uma série intitulada Jogos Vorazes, para jovens e adultos. Jogos Vorazes – o primeiro romance da trilogia –, conjuga a história de Katniss Everdeen, uma garota que vive em um país antiutópico chamado Panem. O país é dominado pela Capital, que realiza anualmente os Jogos para manter lembrada, aos doze distritos, uma revolta que aconteceu vários anos atrás. Então, um garoto e uma garota de cada um dos doze distritos do país são selecionados, por meio da ―Colheita‖, para que participem, obrigatoriamente, de uma batalha em uma arena, na qual devem lutar até a morte, sendo o campeão, portanto, quem sobreviver. Quando Primrose é sorteada, Katniss, desesperada, voluntaria-se para tomar seu lugar, assumindo, com esse ato, a posição de heroína de sua irmã (CAMPBELL, 1997). No decorrer do romance, Katniss reafirma essa posição, agora, não só de sua irmã, não só de Peeta, mas igualmente de si mesma. Consequentemente, resta a Peeta o papel de Grande Mãe. Devido a isso, ocorre uma inversão de arquétipos, porque o modelo heroico foi protagonizado, na Antiguidade Clássica, por personagens masculinas. Baseando-nos em Randazzo (1996) e Meletínski (1998), no que concerne aos arquétipos de Guerreiro-Herói e Grande-Mãe, demonstraremos que, em Jogos Vorazes (2010), esse paradigma é quebrado, ou seja, que as imagens arquetípicas não estão mais fixadas a certos gêneros. Katniss, portanto, configura-se como heroína e o rapaz, ao ser sempre salvo por ela, configura-se como mãe. Essa inversão ocorre, a nosso ver, como espelhamento e consequência da visibilidade cada vez mais acentuada da mulher na sociedade, e também devido aos movimentos feministas (BONNICI, 2007). Por isso, não é de se estranhar a configuração dos personagens da série Jogos Vorazes, isto é, o fato dos arquétipos de herói e mãe serem invertidos. Palavras-chave: Jogos Vorazes; Katniss Everdeen; Arquétipos; Heroína; Feminismo.

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O FAZER LITERÁRIO DE LYA LUFT EM O PONTO CEGO: DESNUDANDO A SOCIEDADE PATRIARCAL Mestranda: Solange Arruda da SILVA (UFG-RC) Orientadora: Luciana BORGES (UFG-RC) A literatura como um importante canal onde se veiculam diferentes discursos, tem se colocado, na modernidade, como um espaço simbólico de incursão de várias questões relativas ao gênero. Nesse sentido, a presente proposta de trabalho tem como objetivo promover um debate em torno do discurso literário empreendido pela escritora Lya Luft, em seu romance O Ponto Cego, numa tentativa de buscar compreender como a representação do lugar social ocupado pela mulher e pela criança, nesta narrativa, coloca em evidência um modelo de sociedade, inscrita no poder fálico, cujo representante soberano é o Pater Familias. Dentro dessa perspectiva, Lya Luft, num engenhoso labor com a linguagem literária, na supracitada narrativa, colocando em evidência o lugar de fala da mulher, projeta uma trama ficcional que coloca em discussão as mazelas da sociedade patriarcal, mais especificamente, no contexto familiar, em que as pessoas, numa relação hierárquica de poderes, apenas cumprem com as determinações sociais que lhes são impostas. É notório sublinhar, que o lar, espaço onde se aflora um universo de contornos tristes, amargos, desarmoniosos, de opressão, de solidão e de afetos minguados, é extremamente capturado pelas lentes de um narradorcriança que, com grande maestria, calcula as perdas e ganhos de seus entes familiares, quais sejam: o pai, a mãe, a irmã, a avó materna, as tias e o tio. A metodologia utilizada em nossa proposta de trabalho centra-se na revisão da literatura, tendo como suporte teórico autoras como: Judith Butler (2010), Joan Scott (1995), Silvana Carrijo (2013), Luciana Borges (2013), Cecil Zinani (2013), Elódia Xavier (1998), Simone Beauvoir (1980), entre outras e outros. Palavras-chave: patriarcado; gênero; opressão.

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SIMPÓSIO TEMÁTICO 8

ESCRITORAS DO SÉCULO XIX: SUBVERSÃO E CÂNONE Natalia Helena WIECHMANN (IFSP - Barretos) Tais Matheus da SILVA (IFSP - Itaquaquecetuba) O fim do século XVIII e o início do XIX são o cenário de surgimento das primeiras manifestações organizadas em prol da igualdade de direitos entre homens e mulheres. O universalismo ilustrado, sob o signo da liberdade, contraditoriamente excluiu da ordem pública os sujeitos que não possuíam os requisitos adequados ao exercício da política e da cidadania. Dentre esses sujeitos, figuram as mulheres e sua exclusão corrobora as bases do Iluminismo na articulação de dicotomias não paritárias pautadas na oposição básica Razão/Natureza (DUEÑAS, 2009). Como filhas ilegítimas do Iluminismo, as mulheres fazem ecoar suas vozes marginais ao reivindicar direitos políticos e o acesso à educação formal, pleiteando o acesso à linguagem e, por conseguinte, à literatura. O direito à literatura, fundamental nas palavras de Antonio Cândido, foi negado às mulheres porque, no paradigma ideológico do século XIX, configura-se como atividade do intelecto e as mulheres, identificadas à Natureza, eram consideradas incapazes de produzir alta literatura. Nesse contexto, as mulheres escritoras começam a construir, na Literatura, um espaço de autonomia e a romper com o silêncio histórico a que foram submetidas. Do mesmo modo que as primeiras feministas conciliam a luta por direitos políticos e o paradigma da feminilidade centrado na esfera doméstica e na maternidade, a expressão literária das mulheres do XIX tematiza o universo feminino, mas promove a subversão dos padrões estéticos permitidos às mulheres por meio de subtextos carregados de críticas e ironias. Shirley Foster (1985) afirma que a utilização do subtexto é um recurso inovador na produção literária das mulheres no século XIX e que põe em evidência elementos subterrâneos da escrita e os transforma nos mais importantes para a interpretação. Essa estratégia de escrita, além de deflagrar o lugar de fala das mulheres, também evidencia o seu não-lugar no cânone literário, uma vez que escrevem sem o suporte de uma tradição literária feminina. Nesse sentido, as mulheres escritoras do século XIX iniciam um amplo processo de subversão: por assumirem o ato da escrita, por utilizarem estratégias discursivas questionadoras e por confrontarem o sistema literário quando reivindicam espaço no cânone. A partir dessa reflexão, esse simpósio convida pesquisadoras e pesquisadores cujos estudos estejam fundamentados na atividade crítica e arqueológica de resgatar as vozes femininas do século XIX a apresentarem suas contribuições para o debate sobre os esforços e as estratégias que essas escritoras precisaram empreender para subverter as normas sociais e literárias de sua época. Palavras-chave: Mulher e literatura; século XIX; escrita de mulheres; subversão; cânone literário.

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Trabalhos Aprovados

UMA SUSAN SÓ MINHA: EMILY DICKINSON, SUSAN GILBERT E A AMIZADE ENTRE MULHERES NO SÉCULO XIX Natalia Helena WIECHMANN (IFSP) Este trabalho pretende analisar dois poemas de Emily Dickinson (1830-1886) que versam sobre a relação de amizade entre mulheres e que, para muitos/as admiradores/as da obra dickinsoniana, são poemas supostamente afirmativos da relação de afeto íntimo entre Emily Dickinson e sua cunhada, Susan Gilbert. São eles o poema J1404, ―To own a Susan of my onw‖, e J84, ―Her breast is fit for pearls‖. Em nossa análise, levaremos em consideração a forma como as relações entre as mulheres nos Estados Unidos do século XIX se davam e a própria relação de Dickinson com o círculo de mulheres para quem ela enviava poemas em suas cartas. Para isso, fundamentamo-nos nos estudos de Smith-Rosenberg (1975) que discutem a importância dessas amizades para que a mulher, naquele contexto, pudesse desenvolver laços sociais, discutir questões da vida em sociedade e se preparar para reproduzir os papéis convencionais de esposa, mãe e cuidadora. O fato de Dickinson se corresponder intensamente com amigas e demonstrar seu afeto em cartas e poemas não deve ser visto, portanto, como algo diferente em relação ao comportamento considerado normal para as mulheres de sua época, mas o que chama a atenção é que é nessa correspondência que se fazem notar os primeiros indícios de uma atitude transgressora para com as regras daquela sociedade, especialmente nos poemas enviados à Susan Gilbert. Para alguns/algumas estudiosos/as que analisam as cartas trocadas entre essas duas mulheres, como Betsy Erkkila (1992), a relação entre Dickinson e a cunhada teria sido, na verdade, intensamente amorosa e até mesmo erótica. A análise dos poemas escolhidos não busca, contudo, concluir sobre a intensidade dessa relação afetiva e, sim, compreender o quanto a ligação com Susan Gilbert funcionava como um apoio significativo para a produção poética de Dickinson. Palavras-chave: Emily Dickinson; Susan Gilbert; amizades femininas; século XIX.

O RECONHECIMENTO DA POETISA FRANCISCA JULIA Jaqueline Ferreira BORGES (Universidade Federal de Uberlândia) Considerando o cenário literário do final do século XIX e início do século XX, temos produções intelectuais de predominância masculina, em que as mulheres pouco habitavam e/ou se inseriam. O

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difícil ingresso à educação fizeram com que as mulheres ocupassem, preponderantemente, os espaços domésticos, com exceção de algumas mulheres que subverteram a ordem e apoderaram-se das produções literárias e intelectuais, como Francisca Júlia (1871 - 1920). Nascida na cidade de Xiririca, hoje conhecida como Eldorado (SP), ela foi reconhecida pela fidelidade ao parnasianismo, pelo rigor na forma e por uma escrita que se afastava de todas as características de uma escrita conhecida como feminina, era reconhecida por escrever tão bem quanto os homens. As produções da poetisa se equiparavam às masculinas principalmente pelo rigor da forma e perfeição dos versos, aspectos exigidos naquele período. Desse modo, o objetivo deste trabalho é refletir sobre a poesia de Francisca Julia e como ela se insere em um espaço intelectual e literário do século XIX, afastando-se do contexto doméstico e assumindo um espaço intelectual em meio a uma sociedade patriarcal. Para tal, analisaremos os quatro livros da poetisa: Mármores (1895), Livro da Infância (1899), Esfinges (1903) e Alma Infantil (1912), consideraremos suas escritas e também o espaço social em que ela se inseria, nos utilizando de estudiosos que tratam a escrita da poetisa, como autoria feminina e também a posição da mulher em um cenário patriarcal, bem como Ramos (1961), Priore (2004), Duarte (2016), Borges (2014), Zinani (2013), dentre outros. Almejamos, desse modo, contribuir para a fortuna crítica da poetisa e dar maior visibilidade aos estudos de escritoras ainda pouco perfilhadas e reconhecidas, bem como Francisca Júlia. Palavras-chave: Francisca Júlia; Poesia; Escritoras do século XIX.

DESCOMPASSOS NAS BIOGRAFIAS DE JEAN INGELOW Guilherme Magri da ROCHA (Unesp/Assis-Fapesp) Jean Ingelow (1820-1897) foi uma escritora inglesa cuja obra é vasta, e compõe-se de romances, coletâneas de poesia e diversos volumes de histórias para crianças. A escritora foi membro da Portfolio Society, formada por autores que se reuniam uma vez por mês e se propunham a escrever sobre um mesmo tema. No fim de sua vida, seus leitores norte-americanos chegaram a escrever uma petição à rainha, para que o nome de Ingelow sucedesse o de Tennyson (1809-1892) como Poeta Laureado. Ela, que tinha status de celebridade na época, conta com somente duas biografias: Some Recollections of Jean Ingelow and Her Early Friends (1901), de autoria desconhecida até há pouco tempo e hoje atribuída a Eliza Straffen, sua irmã, e Jean Ingelow: Victorian Poetess (1972), da romancista galesa Maureen Peters, que, conforme Knoepflmacher (1995), contém uma série de erros fatuais. O volume de Straffen, como pudemos observar em nossa leitura, concentra-se em apresentar uma imagem da escritora como exemplo das virtudes da mulher vitoriana, e não como a prolífica romancista e poetisa que ela, na verdade, foi. Nele, sua vida é descrita como ―singularly retired and uneventful‖ (1901, p. 118). Essa contribuição tem como objetivo apresentar uma possibilidade de

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leitura desses dois livros, levando em conta as discussões de gênero na Inglaterra dezenovista, de modo a questionar a representação de Jean Ingelow neles. Palavras-chave: Jean Ingelow; Literatura de Autoria Feminina; Literatura Inglesa.

A ESCRITA LITERÁRIA DE NÍSIA FLORESTA N‟O BRASIL ILLUSTRADO: “PASSEIO AO AQUEDUTO DA CARIOCA” E “PRANTO FILIAL” Priscila Renata GIMENEZ (UFG) Nísia Floresta Brasileira Augusta (1810-1885), escritora, jornalista e poetisa, foi uma mulher muito atuante no cenário literário e jornalístico brasileiro do século XIX. Dentre suas colaborações para jornais destacamos sua participação no periódico O Brasil Illustrado: Publicação literária, entre 1855 e 1856, depois de ter colaborado permanentemente n‘O Espelho das Brasileiras (1831). Sendo um jornal lançado e dirigido por um grupo de homens jornalistas e intelectuais, Nísia Floresta, já reconhecida escritora e educadora, destaca-se dentre os redatores sendo a única pena feminina do jornal. Considerando os estudos sobre literatura e imprensa no século XIX, bem como aqueles sobre a participação e atuação de mulheres na literatura e no jornal, propomos o estudo de dois artigos de Nísia Floresta, ―Passeio ao aqueduto da carioca‖ e ―Pranto Filial‖, publicados no referido jornal após o lançamento da novela em série ―Páginas de uma vida obscura‖, texto mais conhecido e estudado da autora vinculado ao do Brasil Illustrado. Os artigos que tomamos como corpus são frequentemente mencionados nos estudos biográficos e bibliográficos da escritora norte-riograndense, mas pouco estudados do ponto de vista literário. Com este trabalho pretendemos averiguar o estilo e o comprometimento estilístico da escrita de Nísia Floresta nesses artigos de temáticas específicas e mais curtos que narrativas em série, em comparação com outros nitidamente de cunho literário, como a referida novela. A análise dos textos será dedicada, sobretudo, ao exame dos recursos literários e estilísticos, assim como de marcas de uma escrita feminina e/ou pessoais, da própria autora, presentes na elaboração e escrita dos artigos. Com isso, temos a intenção de reiterar a versatilidade de Nísia Floresta-escritora, a qual marca presença indelével em vários gêneros da produção nacional, tanto na literatura editada em livros quanto na principal mídia do século XIX, o jornal. Palavras-chave: Nísia Floresta; O Brasil Illustrado; recursos literários e estilísticos.

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ROSALÍA DE CASTRO E A OUSADIA DE ESCREVER Tais Matheus da SILVA (IFSP-Itquaquecetuba/UNESP-Araraquara) A escritora Rosalía de Castro tornou-se conhecida no fim do século XIX por sua produção em língua galega, sobretudo pela obra Cantares gallegos, publicada em 1863, em que recupera versos da tradição oral para a composição de poemas que exaltam as belezas da Galiza e denunciam a opressão sofrida pelo povo galego. No entanto, há uma parte significativa da produção rosaliana ausente entre os textos considerados canônicos e que, até os anos 1980, foi negligenciada pela crítica. Trata-se de uma profunda reflexão, presente nos paratextos, na poesia e na prosa rosalianas, sobre ser mulher escritora no século XIX. Em toda sua obra, Rosalía de Castro elabora esteticamente a condição da mulher galega, sujeita à estrutura patriarcal, vítima do abandono gerado pelo intenso fluxo emigratório e impedida de participar da esfera pública ativamente. Essa condição se agrava quando Rosalía reconhece as dificuldades de ser literata na sociedade de seu tempo como mais um índice de opressão da mulher. Ao expor criticamente os padrões de escrita permitidos às mulheres, as especulações a respeito da capacidade destas para temáticas transcendentes e a tutela e/ou coautoria do esposo, a escritora galega desafia-nos a refletir sobre as vozes femininas que permanecem silenciadas devido aos alicerces patriarcais do cânone literário no ocidente. Assim, fundamentados nos Estudos Culturais de Gênero, pretendemos analisar comparativamente o Prólogo e o poema ―Daquelas que cantan as pombas i as frores da obra Follas novas‖, e a crônica ―Carta a Eduarda. Las literatas‖, com o objetivo de identificar as dificuldades da mulher escritora no século XIX e as estratégias discursivas e estéticas de resistência e subversão adotadas pela escritora galega para ocupar um espaço no campo da Literatura. Palavras-chave: Rosalía de Castro; Mulher e Literatura; Feminismo; Século XIX.

KATE CHOPIN E A LIBERTAÇÃO FEMININA EM QUESTÃO NO CONTO “A HISTÓRIA DE UMA HORA” Camila Nere MAZINI (Centro Universitário Unifafibe) Nágila Pegoraro CÂMARA (Centro Universitário Unifafibe) Este trabalho bibliográfico da área de Teoria e Crítica Literária estuda a obra da escritora norteamericana Kate Chopin (1850-1904) com o objetivo de investigar as imagens contruídas no conto ―A história de uma hora‖ que evocam a ideia da busca pela libertação feminina, levando em conta os sentimentos da protagonista que são expressos por meio do narrador. Desse modo, podemos dizer que a imagem feminina construída no conto se opõe às condições vividas pelas mulheres nos século

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XIX, por isso temos ideia de uma libertação. Diante disso, este trabalho busca mostrar a importância das imagens presentes no conto de Chopin, por meio de elementos sensoriais, tais como metáfora, metonímia. Também buscaremos analisar os recursos narrativos utilizados por Chopin para dar mais ênfase a essas imagens, como a mudança de perspectiva, foco narrativo, camuflagem e ironia. Buscaremos relacionar todos esses recursos com a construção da libertação feminina em sua obra. Para isso, investigamos como era desempenhado o papel da mulher na sociedade patriarcal do século XIX e analisaremos os temas recorrentes na obra de Kate Chopin em que diz repeito às ideias sobre o universo feminino daquela época, levando em conta o efeito que esses recursos produzem para a construção das imagens e que traduzem o que está sendo tratado no discurso narrativo. Palavras–chave: Imagem; Kate Chopin; Libertação feminina.

NORTE E SUL: GÊNERO E LUTA DE CLASSES NO ROMANCE DE ELIZABETH GASKELL Laisa Alves de VASCONCELOS (UNIFAL-MG) Comumente conhecido como Era Vitoriana, o período que vai de 1837 a 1901 corresponde ao reinado da Rainha Vitória na Inglaterra e marca uma época de intensa movimentação política, social e cultural. Esse é o cenário utilizado na obra Norte e Sul (1855), romance escrito por Elizabeth Gaskell. A obra retrata a visão de Margareth Hale – uma jovem que se muda com a família do pacato ambiente rural do sul da Inglaterra para a cidade industrializada Milton – sobre o conflito de classes ao ter contato com a indústria têxtil de Mr. Thornton, homem que ela despreza por ser um comerciante. Este artigo tem como objetivo analisar não só o conflito de classes apresentado pela autora, como também o conflito de gênero, uma vez que a personagem central da obra é uma mulher burguesa vitoriana, que foge aos padrões da época e toma frente em situações sociais, normalmente envolvendo homens. Ao quebrar as barreiras de gênero impostas pela sociedade da época, Margareth Hale torna-se peça-chave na tentativa de apaziguar os conflitos entre John Thornton e os funcionários de sua fábrica, ao mesmo tempo que rejeita suas constantes investidas amorosas Palavras-chave: Literatura Vitoriana; Elizabeth Gaskell; Margareth Hale.

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O DISCURSO DA POETISA NARCISA AMÁLIA EM FAVOR DA INSTRUÇÃO INTELECTUAL DA MULHER, NO SEMANÁRIO O SEXO FEMININO Nátaly Rafaele TERNERO (Unifal-MG) bolsista do programa Pibic/CNPq Aparecida Maria NUNES (Unifal-MG) A pesquisa que aqui se apresenta busca revelar a produção feminina do século XIX, mediante o semanário O Sexo Feminino, em sua rede de comunicação entre a Corte no Rio de Janeiro e a cidade de Campanha no sul de Minas Gerais. O viés escolhido centra-se na investigação dos discursos feministas e abolicionistas da escritora Narcisa Amália, na década de 1870, em consonância com as propostas da editora Francisca Senhorinha da Motta Diniz, publicados em forma de artigos no semanário já mencionado. Ao recuperar os textos de opinião de Narcisa Amália, na segunda metade do século XIX, a análise, na temática e no discurso de combate em favor da instrução do sexo feminino deflagrado por Francisca Senhorinha, contribuirá para uma revisão da imprensa no Brasil e para os estudos comparados entre literatura e jornalismo, além do resgate de textos de produção feminina do Oitocentos ainda inéditos. A poetisa Narcisa Amália, portanto, ao se tornar colaboradora com certa assiduidade do semanário O Sexo Feminino, demonstrou não somente ser interlocutora de Francisca Senhorinha, mas também simpatizante da proposta político-ideológica do periódico, em defesa dos direitos femininos, da abolição da escravatura e da democracia. Palavras-chave: Imprensa Feminista no Oitocentos; Semanário O Sexo Feminino; Narcisa Amália.

A CONDIÇÃO FEMININA DO OITOCENTOS, NAS PÁGINAS DO SEMANÁRIO “O SEXO FEMININO” Aparecida Maria NUNES (Unifal-MG) pesquisadora da Fapemig Debruçar-se sobre o periodismo do século XIX, de profundas e acirradas transformações no Brasil ainda imperial, é encontrar muitas vezes a voz que ainda ecoa na luta por direitos iguais entre homens e mulheres. Nesse cenário, o semanário O Sexo Feminino, editado e redigido por uma professora do curso Normal, da cidade de Campanha da Princesa, sul de Minas Gerais, em 1873, ganhou destaque e função. Adotando a linha editorial a favor da emancipação da mulher, Francisca Senhorinha da Motta Diniz, de reconhecida cultura e ousadia, conclamou sua leitora a não abdicar do direito à educação intelectual. O semanário, curiosamente, mereceu registro de boas-vindas da imprensa nacional e internacional e a sociedade campanhense acolheu a publicação de Francisca, responsabilizando-se pela sua difusão. A própria editora chegou a confessar que, ao contrário do que previa, teve as ideias aceitas por bons pensadores e amigos do progresso. Surpreendentemente a

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tiragem inicial foi de 800 exemplares, todos vendidos por assinatura. E foi assim que Francisca conseguiu publicar os 45 números de O Sexo Feminino, em um ano de existência em Minas Gerais. Palavras-chave: Francisca Senhorinha da Motta Diniz; O Sexo Feminino; Jornalismo no Oitocentos.

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SIMPÓSIO TEMÁTICO 10

TRANSCRITAS: ESCRITAS DE TRAVESTIS E TRANSGÊNEROS Jorge MARQUES (Colégio Pedro II) Juliana BERLIM (Colégio Pedro II) Até os dias de hoje, a transexualidade e a travestilidade raramente lograram angariar reflexões críticas sistematizadas pelos estudiosos brasileiros da área de Literatura. Dentre os diversos fatores que podem ser apontados para esse estado de coisas, sobressai-se o fato de que ambas as condições desafiam a heteronormatividade. Com efeito, na medida em que ousam quebrar os paradigmas masculino/ feminino, os conceitos em questão transitam por caminhos fluidos, nos quais o corpo (re)constrói-se em (des)limites que questionam o status quo. Dentro de um país forjado a partir de alicerces tão claramente conservadores, como o Brasil, não há dúvida de que essas transgressões constituem elementos que colocam ambas as condições não apenas à margem da sociedade, mas também nas sombras dos estudos acadêmicos. Forçoso é notar, por exemplo, que já há algumas décadas as questões de gênero adquiriram protagonismo dentro dos estudos literários, a partir, sobretudo da denominada ―crítica feminista‖. E se até as masculinidades – ou seja, o estudo do masculino a partir de elementos que fogem do ranço patriarcal – já alcançaram algum espaço na academia, transexualidade e travestilidade ainda constituem espaços quase totalmente inexplorados no campo da crítica literária. Propondo-se como espaço privilegiado para o encontro de estudiosos que se debruçam sobre essas temáticas, o simpósio em questão pretende mapear e analisar criticamente a presença de travestis e transgêneros em textos literários brasileiros ou estrangeiros. Nesse sentido, cabe ressaltar que a proposta abre-se não apenas para o estudo de personagens travestis e transgêneros em textos ficcionais, mas também para textos produzidos por autores e autoras travestis e transgêneros. Dentro da segunda alternativa, cabe então notar que serão aceitos estudos cuja fonte primária sejam textos literários de cunho biográfico, autobiográfico, semibiográfico ou totalmente ficcionalizados. Nessa proposta metodológica, portanto, relato e invenção se irmanam, na medida em que podem ser considerados de cunho literário, não importando o seu caráter verídico ou não. Palavras-chave: Gênero; corpo; travestilidade; transexualidade.

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Trabalhos Aprovados

TEATRO DE BERNARDO CARVALHO: DOBRAS INTERPRETATIVAS Juliana Nascimento Berlim AMORIM (Colégio Pedro II) A mensagem só é considerada verdadeira se o receptor considerar seu emissor portador de verdades. Mas se a linguagem guarda em si os ―micróbios‖ da dissolução, a dispersão ―paranoica‖, a ―lógica do ilógico‖? Como compartilhar dados e fatos concretos? Transitando entre binarismos (ou não), Bernardo Carvalho constrói em seu romance Teatro uma representação instável, em que informações se cruzam, afirmam-se e recusam-se constantemente, em que a figura do narrador em primeira pessoa é em si mesma portadora da dissolução e da corrosão da enunciação. O que é dito é de fato o que se diz? Identidade, verossimilhança, realidade, simbólico são encenados em meio a personagens quase sem nome. Uma delas é Ana C., mulher ou homem, a depender do ponto de vista. A depender de quem narra, de quem interpreta e de quem crê. Palavras-chave: Bernardo Carvalho; linguagem; representação.

HISTÓRIAS DE TRAJES E TRAVESTISMOS NOS ROMANCES ORLANDO DE VIRGINIA WOOLF E QUIM/QUIMA DE MARIA AURELIA CAPMANY Melida Paola Frye CÓRDOBA. (Universidade Estadual de Londrina) A presente comunicação analisa os romances Orlando de Virginia Woolf (1928) e Quim/Quima de Maria Eurelia Capmany (1986). As obras são estudadas de forma crítica-reflexiva. Ao entrar, o leitor se aventura nesse guarda-roupa dos romances e enfrenta questões que distorcem o cânone do sujeito normalizado. Se reflexiona sobre temas como: o gênero, os trajes, a moda e os estereótipos de gênero, travestismos. É pelos textos que se analisam os episódios-chave das obras, nos quais os/as protagonistas transgredem convenções sociais, por meio de trajes até o momento que atinge o travestismo. Dessa forma, estuda-se a incidência das mudanças de vestimenta, de estado social e de gênero como transgressões e normatividade. O exercício de leitura crítica e comparativa entre as obras revela processos mais complexos de comparação das mudanças nos constructos culturais do gênero a partir dos contextos históricos e socioeconômicos de Inglaterra e Espanha que são representantes do sistema tradicional patriarcal ocidental. Algumas preguntas que surgem em esta pesquisa são: Como Orlando e Quim/Quima resistem a ser rotulados/as, de acordo com os estereótipos de gênero, em uma identidade estática e rigorosa. Orlando e Quim são homens ou são

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mulheres? Como poderia definir lhes? Quais são as rações dos protagonistas para travestir-se? Que efeitos causam seus jogos de roupas e de estereótipos de gênero? Palavras-chave: travestismos; gênero; Orlando-Quim/Quima.

CORPOS EM TRAVESSIA: UMA REFLEXÃO DE GÊNERO NAS OBRAS DE MACHADO E ROSA Flávia AMPARO (UFF/ CPII) O presente trabalho pretende realizar um estudo comparativo entre os autores do cânone literário brasileiro Machado de Assis e Guimarães Rosa, a partir da análise de dois personagens emblemáticos: Kalaphangko, o rei que troca de sexo com sua concubina Kinnara no conto machadiano ―As academias de Sião‖, e Diadorim, personagem feminina travestida de homem, que atravessa o sertão como jagunço para vingar a morte do pai, na saga rosiana Grande Sertão Veredas. A temática da transposição de gênero, vista sob um ponto de vista simbólico na obra dos dois escritores, prenuncia questões contemporâneas que estão no cerne de conflitos que ainda hoje trazem à tona discursos morais, científicos e religiosos, que tentam compreender a complexidade da sexualidade humana. Pelo viés literário, a discussão sobre o tema da transexualidade e da travestilidade excede o limite do discurso e revela uma vertente composta por imagens míticas desses corpos em travessia, que atravessam o fluxo das águas nas obras em questão, simbolicamente representando a mudança/a transposição de um estado a outro do indivíduo. A abordagem teórica do presente trabalho contempla a análise de alguns mitos greco-romanos e universais, que vão trazer à tona imagens arquetípicas retomadas como expressão da sexualidade humana. Além disso, procuraremos trazer como reflexão textos da crítica literária sobre os dois autores, como ―O homem dos avessos‖, de Antonio Candido, buscando traçar as linhas mestras do pensamento engajado e crítico de Machado e Rosa em relação à questão de gênero. Palavras-chave: Machado de Assis; Guimarães Rosa; transexualidade; travestilidade.

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AS REPRESENTAÇÕES LITERÁRIAS DO TRANSGÊNERO NA NARRATIVA MODERNISTA Marcelo Branquinho Massucatto RESENDE (Unesp Araraquara) O presente projeto tem por objetivo analisar como as manifestações literárias da figura do transgênero se configuraram na narrativa modernista, mais especificamente no romance Orlando, de Virginia Woolf; no conto ―Frederico Paciência‖, de Mário de Andrade e no conto ―If I were a man‖, de Charlotte Perkins Gilman. A presença da figura do transgênero se faz presente na tradição literária desde a Antiguidade, com as Metamorfoses, de Ovídio, por meio da representação do adivinha Tirésias, que por uma maldição já pertenceu aos gêneros masculino e feminino. No conto de Mário de Andrade há uma experiência transcendental que se evidencia pela linguagem platônica do conto, enquanto que Gilman e Woolf apresentam narrativas em que seus protagonistas vivenciam uma experiência de transcendência física de mudança de gêneros. Partindo das concepções pósmodernas das teorias de gênero e identidades sexuais, pretende-se descortinar de que forma as mencionadas narrativas modernistas foram assimiladas pelo pós-modernismo e como subverteram a tradição literária do duplo por meio da transcendência física de experiências de fluidez de gênero. Para atingir os objetivos propostos, será feita a leitura e análise do romance e dos dois contos. O embasamento teórico para análise se dará pela junção entre textos que versam sobre a teoria do pósmodernismo, modernismo e modernidade, além de estudos de gênero na vertente de queer studies. São vertentes de temas que se complementam discursivamente, constando a leitura, portanto, de autores como Judith Butler, Eve Kosofsky Sedgwick, Diana Fuss e Elaine Showalter, além disso, de textos filosóficos ou teóricos que versam sobre modernidade e pós-modernismo, como Friedrich Nietzsche, Zygmunt Bauman, Andreas Huyssen, Linda Hutcheon, Fredric Jameson e Jean-François Lyotard. A isso se acrescentam textos teóricos sobre o funcionamento da narrativa, como a linha estrutural de Gérard Genette. Palavras-chave: Narrativa; Transgeneridade; Modernismo.

A SUBLIME RUÍNA DA MONARCA VAMPIRA EM LÁBIOS QUE BEIJEI, DE AGUINALDO SILVA Jorge MARQUES (Colégio Pedro II) Ambientado na Lapa de fins dos anos 60, o romance Lábios que Beijei, de Aguinaldo Silva, é uma admirável reconstrução de espaços e indivíduos em ruínas. Num ambiente em que a decadência é a tônica, impera uma figura exótica e fascinante, ímã que atrai a atenção e o fascínio de todos que a cercam: trata-se de Débora, a bicha que voa, lendária travesti cuja alcunha se dá pela habilidade de

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fugir da polícia saltando do alto de prédios. Esta comunicação se dedica ao estudo dessa Monarca Vampira, reedição decrépita de Madame Satã, cuja figura congrega, metonimicamente, a própria Lapa. Lábios que Beijei é, assim, uma obra em que o espaço se reflete nas personagens e vice-versa. Em suas páginas, a travestilidade ressoa forte, na medida em que o tradicional bairro boêmio do Rio de Janeiro é aquele que, mais tradicionalmente, acolhe os indivíduos à margem da sociedade. Nesse sentido, o texto de Aguinaldo Silva alça Débora ao status de protagonista, numa das raras oportunidades em que nas letras nacionais uma travesti assume esse papel. É no corpo decadente de Débora que se reflete o fim de uma era e o soterramento de um bairro, ainda que essa mesma destruição alcem a travesti e a Lapa ao patamar de lendas: sublime ruína que se (des)constrói nas páginas reconstruídas do texto literário. Palavras-chave: Travestilidade; espaço; decadência sublime.

MERCENÁRIA E DE PRÓTESES NOVAS: A OBJETIFICAÇÃO DA TRAVESTI ESTRELA EM NOSSOS OSSOS, DE MARCELINO FREIRE Guilherme Augusto da Silva GOMES (UFU) Os estudos literários e as produções que abordam transgêneros e travestis no Brasil ainda são incipientes. Marcelino Freire é um escritor brasileiro que vem se destacando por apresentar personagens marginalizadas ou excêntricas em sua produção, em especial nos contos. Várias de suas personagens rompem com os padrões hegemônicos identitários, inclusive os de gênero e orientação sexual (cisgênero e heterossexuais respectivamente). Em seu primeiro romance publicado em 2013, Nossos Ossos, uma das personagens é a travesti Estrela, responsável por agenciar os michês, fundamentais para o desenvolvimento da narrativa, e detentora do destino do corpo do garoto de programa assassinado: sua cidade natal, Sertânia, ou o enterro como indigente. O narrador de Nossos Ossos, Heleno, é o protagonista e traz toda história em primeira pessoa, logo a visão trazida e as percepções estão sob o olhar e subjetividade dessa voz. O presente trabalho fará uma análise das cenas que Estrela participa, traçando a construção da visão do narrador a respeito dessa travesti e como ela é apresentada ao leitor, mostrando, principalmente, a objetificação dela. Parte-se da noção desestabilização das identidades na pós-modernidade de Hall (2005) e da nomeação dessas outras identidades que Baumam (1998) formula como ―estranhos‖ para refletir sobre a construção do imaginário social de um grupo de pessoas baseado em preconceitos sociais, profissionais e de sexualidade. Palavras-chave: travesti; identidade; gênero; Nossos Ossos; Marcelino Freire.

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TRATA-SE DE DAR VIDA À PINTURA: AS IMAGENS DE STELLA MANHATTAN, DE SILVIANO SANTIAGO Carina LESSA (UNESA) Stella Manhattan, personagem de Silviano Santiago, que dá título ao romance, transgride vários limites de representação. Apesar da pintura exterior, que busca reproduzir a realidade interna, o sentimento de repressão reivindica a liberdade em várias instâncias sociais, na medida em que a personagem está exilada física e emocionalmente. Sendo assim, interessa-nos então discutir o entrelugar da personagem, que paira entre Eduardo e Stella, público e privado, opressão e libertação. As imagens resultantes dessas ambivalências revelam uma Stella de múltiplos eus, na medida em que todas as categorias são instituições de poder com as quais ela tem que negociar. Diante disso, o presente trabalho busca apresentar uma análise do romance de Silviano Santiago a partir da pluralidade de vozes que se enunciam, a partir das subjetividades que cercam Stella Manhattan. São várias imagens da travestilidade da personagem principal e que, justamente pelo caráter descontínuo e cheio de contradições, restituem-lhe a vida de sua pintura. Silviano Santiago já apontara, em sua teoria sobre a Literatura Anfíbia, que a Literatura Brasileira é pautada pela política, com a qual a estética se funde para dar voz a nossa originalidade. Logo, partindo de tal reflexão, pretende-se apresentar Stella Manhattan como um romance que reivindica o plural, seja em questões estéticas, culturais, sociais ou sexuais, na medida em que esse é o lugar essencial da aceitação da liberdade dos seres humanos. Palavras-chave: Travestilidade; Literatura Anfíbia; Liberdade.

“NÓS SOMOS AS VERDADEIRAS (ASLI) HIJRAS.” Profa. Dra. Regiane Corrêa de Oliveira RAMOS (Fatec) O objeto de reflexão deste trabalho é a transexualidade na Índia. Meu objetivo é trazer para as discussões de gênero no Brasil a contextualização histórica e cultural da comunidade das hijras através da autobiografia The Truth about Me: A Hijra Life Story (2015), de A. Revathi. A literatura hijra está ganhando espaço, ainda que pequeno, no meio literário e sua personagem principal são homens biologicamente que reconstroem seus corpos e lutam pelo reconhecimento social e legal de sua identidade gênero. O contexto histórico e cultural indiano será abordado sob a luz da análise etnográfica de Gayatri Reddy que busca compreender a construção da identidade das transexuais indianas através da interseccionalidade dos marcadores sociais, gênero, cor/raça, classe, geração, região, sexualidade, religião, casta e parentesco, os quais interagem em níveis múltiplos e muitas vezes simultâneos. Além disso, é preciso pensar nos termos izzat (respeito) e asli (real/autenticidade) que permeiam o discurso das hijras em suas autoidentificações ―nós somos as

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verdadeiras (asli) hijras‖. Para compreender as perfomances cotidianas desses sujeitos, utilizarei a obra de Berenice Bento A Reinvenção do Corpo (2006), na qual Bento desconstrói o sujeito transexual universal. É importante apreender o caráter essencial não apenas das culturas, mas também dos vários tipos de indivíduos que configuram cada sociedade. Palavras-chave: Transexualidade; Hijras; Cultura Indiana.

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SIMPÓSIO TEMÁTICO 11

O ENFOQUE DAS MASCULINIDADES NA LITERATURA BRASILEIRA Luiz Carlos Santos SIMON (UEL) Renata Beloni de ARRUDA (UEL) A proposta deste simpósio está centrada na busca de discutir os modos de abordagem das masculinidades na produção literária brasileira a partir de um enfoque interdisciplinar. As discussões a respeito das relações de gênero vêm demonstrando que os papéis tanto masculinos como femininos sofrem, há algum tempo, ajustes que alteram, de certa forma, a própria formação identitária do sujeito. Objetivamos, por meio da análise de textos literários, oferecer e discutir aspectos concernentes às configurações sociais de gênero, em que buscamos destacar a necessidade de questionar as normas sociais que produzem e legitimam as desigualdades entre homens e mulheres, muitas vezes naturalizadas e banalizadas no cotidiano. No que se refere aos estudos sobre as masculinidades e, especificamente, a correlação destes com a literatura reconhecemos que o assunto ainda causa certa desconfiança por parte da academia e que a quantidade de pesquisas que vêm se debruçando sobre a temática torna-se significativa. Nesse sentido, é necessário reconhecer a abrangência da temática masculinidades e eleger desdobramentos que enfoquem objetos de análise em determinados sentidos. Assim, questões como virilidade, paternidade, machismo, violência, hetero/homossexualismo, entre outras, são questões passíveis de análises que tenham como corpus o texto literário. Assim, uma das formas de compreensão das masculinidades está no reconhecimento de temas integrantes de um conjunto maior ou de assuntos correlatos que poderão se apresentar como alternativas mais cativantes para pesquisadores em fase de definição. Desta forma, pretende-se contribuir para a multiplicidade de vertentes nos estudos literários através da articulação de conceitos provenientes de outras áreas do saber, como Sociologia, Psicanálise, Antropologia e História, entre outras. Também é objetivo do simpósio promover maior discussão e propiciar possibilidades de reinterpretar a produção de escritores brasileiros, a partir da inclusão de matéria relevante, porém pouco comum nas investigações literárias, como as masculinidades. Para as discussões sobre as representações literárias focadas nas masculinidades, elegemos um aporte teórico interdisciplinar, abrangendo estudiosos das áreas humanas correspondentes ao assunto, como Badinter, Bauman, Butler, Nolasco e Connell, além dos textos literários nacionais para análise. Deste modo, pretende-se discutir o tema das masculinidades e como este vem sendo representado pelo texto literário, objetivando estimular a reflexão sobre a mudança de atitudes e comportamentos e levando a sociedade a repensar e transformar conceitos arraigados em nossa cultura do que é ―ser homem‖ e o que é ―ser mulher‖, levando muitas vezes a desigualdades e discriminação de gênero. Palavras-chave: masculinidades; literatura brasileira; identidade.

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Trabalhos Aprovados

AS CRÔNICAS DE LUIS FERNANDO VERISSIMO E AS MASCULINIDADES NO CONTEXTO DA LITERATURA BRASILEIRA Luiz Carlos SIMON (UEL) A proposta de reavaliar produções literárias brasileiras de acordo com o debate sobre as masculinidades conduz, com frequência, as atenções para o quadro contemporâneo. Obviamente, pode ser considerado que textos literários de outras épocas – do período modernista, do século XIX e mesmo de antes do Romantismo – constituem material interessante para releitura. No entanto, a intensidade com que o cânone de nossa literatura já foi abordado e também o apelo da contemporaneidade, no que diz respeito às questões das masculinidades, podem provocar certo desequilíbrio na eleição de objetos de estudo nas atividades mais recentes de pesquisa. Assim, acredito que uma época desafiadora para direcionarmos nosso olhar é a segunda metade do século XX que pode ser revista hoje como os antecedentes do conturbado período que vivemos nos dias atuais. O impacto e o êxito adquiridos pela produção de Luis Fernando Verissimo assim como os significados da sintonia com o próprio tempo, característicos da crônica, revelam-se como aspectos ricos a serem reinterpretados. Este trabalho propõe a retomada dos textos do autor publicados desde sua estreia, nos anos 1970, até os anos 1990, para que sejam examinadas as representações do masculino que emergem da capacidade criativa de Verissimo. A articulação destas leituras com as reflexões teóricas sobre masculinidades promove o esboço de apreensão do retrato de uma época. Palavras-chave: masculinidades; crônica; Luis Fernando Verissimo.

A CONSTRUÇÃO DA SUBJETIVIDADE MASCULINA NO CONTO “CORISCO”, DE LUIZ VILELA Lucélia CANASSA (PG-UEL) Este trabalho tem como objetivo analisar as perspectivas da masculinidade em textos literários, mais especificamente em relação à socialização que o homem passa ao longo da vida, bem como questionar o significado de ser homem. O que faz o homem ser homem? Como é a construção da subjetividade masculina em relação a cumprir esse papel que lhe foi designado? Para isso, os contos do escritor Luiz Vilela se mostram favoráveis à discussão. Com um número significativo de contos publicados, habilidoso na técnica do diálogo, o autor se dedica aos retratos das relações pessoais com personagens cotidianos, deslocados, ora urbanos, ora provincianos, além de, com frequência,

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privilegiar narrativas sobre a velhice e a infância. Dessa forma, torna viável a análise das várias masculinidades existentes – hegemônicas ou não. O conto ―Corisco‖, presente no livro No bar, de 1968, é um desses contos, em que é possível trabalhar com a ideia da fragilidade na construção do masculino, e será o texto focalizado para o simpósio. A análise se torna possível por meio da figura de um pai distante, que não fala dos sentimentos e tem o seu papel de ―homem da casa‖ – trabalha na roça em detrimento dos afazeres domésticos que a mulher realiza no âmbito privado. Porém, é através da relação desse homem com o filho e seu cachorro que a análise das construções das masculinidades se torna frutífera, principalmente no que diz respeito à quebra de certo padrão comportamental. Palavras-chave: masculinidades; contos; Luiz Vilela.

AFINAÇÃO DA ARTE DE CHUTAR TAMPINHAS: EM BUSCA DE UMA POÉTICA DA SOLIDÃO NA CONTÍSTICA DE JOÃO ANTÔNIO Mateus Fernando de OLIVEIRA (PG – UEL) Publicado pela primeira vez em 1963, o conto Afinação da arte de chutar tampinhas do escritor brasileiro João Antônio, foi lançado junto à obra Malagueta, Perus e Bacanaço como parte da estreia do autor, hoje, o conto é também parte da compilação Contos Reunidos (2012), que reúne a produção essencial do escritor e desde então contribuiu para um novo olhar sobre a obra de João Antônio. Nesse sentido, busca-se analisar o texto em questão, considerando as teorias do conto num aspecto geral e verificando a aproximação da narrativa de João Antônio com os pressupostos teóricos dos críticos e pensadores desse gênero, com enfoque maior nos posicionamentos de Frank O‘Connor (1963) e Sean O‘Faolain (1972), verificando especificamente a obra de João Antônio na perspectiva desses dois estudiosos do conto. A ausência de um herói e a marca expressiva da solidão na produção do autor faz com que o conto analisado dialogue diretamente com as considerações teóricas de O‘Connor (1963), além do que, diante de um narrador-personagem que representa uma figura masculina reflexiva e insatisfeita com o próprio silêncio, a partir disso, discutem-se os traços memorialísticos e sentimentais apresentados pelo narrador, no que se refere à incapacidade desse narrador-personagem em gerir seus sentimentos, o que coloca em debate a questão das masculinidades no conto de João Antônio, considerando nas personagens a anulação dos sentimentos e as relações sociais masculinas diante da virilidade e dos estereótipos. Palavras-chave: João Antônio; Teoria do Conto; Masculinidades.

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AIDS E HOMOSSEXUALIDADE: A DENÚNCIA DE ROTULAÇÕES E PRECONCEITOS NA CRÔNICA A MAIS JUSTA DAS SAIAS, DE CAIO FERNANDO ABREU Thamiris Yuri Silveira PELLIZZARI (UEL) Refletir masculinidades é também ponderar a respeito de orientações sexuais, seus enfrentamentos e provações, uma vez que a existência de uma masculinidade hegemônica, segundo Connel, abarca a proeminência de masculinidades subalternas, sendo a homossexualidade considerada como tal, já que o homossexual ao ser submetido a ―provas de sua virilidade‖, as quais podem se relacionar a comportamentos grotescos e violentos, tende a falhar, relegando-o a uma posição de discriminação e estigmatização diante de uma sociedade heterossexista e taxativa. Intencionamos realizar abordagem da crônica A mais justa das saias, de autoria de Caio Fernando Abreu, de modo a observar a maneira como se evidencia a homossexualidade e a discriminação em relação a essa orientação sexual, considerando a sociedade (ocidental) heterossexista e estigmatizante. A partir da problematização da questão referente à Aids na crônica evidenciada, propomo-nos a ponderar a respeito do surgimento dessa doença em território brasileiro, de modo a observar sua abrangência (no sentido de propagação do vírus), bem como notar o olhar social e a estigmatização a respeito dos infectados e, diante disso, refletiremos a doença para além dos malefícios causados ao organismo infectado, de maneira a pensar a Aids, também, como doença que deixou ―sequelas mentais‖ provocando a aparição de conceitos estigmatizantes, além de julgamento e taxação dos soropositivos. Sempre refletindo sobre a orientação sexual e a hegemonização da heterossexualidade, trabalharemos o tema à luz de teóricos como: Stearns, Tamagne, Carmo, Nolasco, Badinter, Connel e Masserschimdt, entre outros. Palavras-chave: Homossexualidade; heterossexismo; Aids; masculinidades hegemônicas.

A CONSTRUÇÃO DAS MASCULINIDADES REPRESENTADA NAS CRÔNICAS DE CARPINEJAR Renata Beloni de ARRUDA (UEL) A presente comunicação tem o objetivo de verificar, nas crônicas selecionadas de Fabrício Carpinejar, a representação da construção das masculinidades nos sujeitos. Deste modo, objetivamos, por meio da análise de crônicas literárias, oferecer e discutir aspectos concernentes aos comportamentos sociais referentes ao gênero, em que buscamos destacar a necessidade de questionar, por meio de uma análise crítica e reflexiva, tais normas sociais que produzem e legitimam desigualdades entre homens e mulheres, muitas vezes naturalizadas e banalizadas no cotidiano. Pesquisadores como Judith Butler (2003), Michael Kimmel (1998), Robert Connell

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(2013) iniciam uma série de estudos a respeito da questão de gênero e, dentro deste, alguns vão explorar as configurações da masculinidade, demonstrando o caráter interdisciplinar que envolve a temática. No Brasil, seguindo o contexto múltiplo de áreas de interesse nos estudos sobre masculinidades, encontramos nomes como Sócrates Nolasco (1997), Mirian Goldenberg (2000) e Fátima Cechetto (2004), com pesquisas destinadas ao tema. Assim, pretende-se discutir o tema das masculinidades e como este vem sendo representado pelo texto literário, objetivando estimular a mudança de atitudes e comportamentos e levando os sujeitos a repensar e transformar conceitos arraigados em nossa sociedade do que é ―ser homem‖ e o que é ―ser mulher‖, levando muitas vezes a desigualdades e discriminação de gênero. Palavras-chave: Crônicas; Masculinidades; Carpinejar.

AS MASCULINIDADES NAS CRÔNICAS DE MARCELO RUBENS PAIVA Fabricia Cristina FLORENCIO (PG-UEL) Os estudos sobre as masculinidades ganharam força ao final do século XX, devido ao crescimento do movimento feminista e LGBT. Esses estudos trouxeram diversas reflexões sobre as relações de gênero, proporcionando diferentes questionamentos sobre como se expressam os comportamentos femininos e masculinos. Evidenciar as masculinidades é necessário, tendo em vista que o masculino tem sua posição privilegiada na sociedade, por proporcionar diálogos aos outros estudos de gênero e contribuir para a análise sobre as mudanças de performances que esses indivíduos estão assumindo frente à sociedade. Dentre os cronistas contemporâneos, o que nos chamou mais atenção foi Marcelo Rubens Paiva. Referência em retratar a intimidade, o autor tem representações expressivas e possibilita diferentes ponderações sobre as abordagens de gênero. Serão analisadas duas crônicas: ―O injusto jogo entre fêmeas e machos‖ e ―Três é bom‖. Almejamos apontar como são apresentadas as relações de gênero e de que maneira elas contribuem para eventuais reflexões sobre as novas performances dos indivíduos na sociedade. Para auxiliar nas análises recorreremos aos diversos teóricos do tema, Socrátes Nolasco (1995), Badinter (1993), Del Priore (2013), entre outros. Palavras-chave: Masculinidades; gênero; crônica.

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UM CRIME DELICADO – NARRAÇÃO, MASCULINIDADE E VIOLÊNCIA Larissa Satico Ribeiro HIGA (USP-CAPES) O livro Um crime delicado (1997), de Sérgio Sant'Anna, conta com fortuna crítica significativa. Devido ao caráter aberto, antagônico e polissêmico desse texto ficcional, suas análises variam com relação às abordagens metodológicas e aos embasamentos teóricos utilizados. No entanto, grande parte das leituras do livro centra-se em discussões compartilhadas, tais como: a natureza da obra de arte; os limites difusos entre vida e representação e, ainda, o conflituoso vínculo entre o produtor e o crítico do objeto artístico. Para além da atenção a esses aspectos metalinguísticos, um elemento profícuo para a interpretação dessa história híbrida de Sant‘Anna é a figura do narrador (MELLO, 2010). Assim, esta comunicação apresentará uma análise da identidade narrativa (RICOUER, 1988) de Antônio Martins, levando em consideração não apenas seu estatuto de intelectual, mas também sua posição de sujeito sob suspeita de crime sexual. Acusado (e muito provavelmente culpado) por estupro, o personagem-narrador tece um ponto de vista bem particular, que con-forma seu ‗relato autobiográfico‘ de maneira diferente da que é própria à ―tradição narrativa‖ (GINZBURG, 2012) na literatura brasileira. Nesse sentido, a reflexão sobre as masculinidades e, em especial, sobre a masculinidade hegemônica (CONNELL, 2005) é importante para o entendimento da identidade narrativa de Antônio Martins. A hipótese é de que a relação do crítico teatral com outras personagens – homens e mulheres – e com a sua sexualidade; a violência sexual cometida (?) contra Inês de Jesus e o próprio ato da escrita de sua história constituem maneiras de construção e reafirmação de sua identidade de gênero. Acredita-se, portanto, que a aproximação entre literatura e masculinidades (SIMON, 2016) pode contribuir para a formulação de uma outra chave de leitura de Um crime delicado. Palavras-chave: Um Crime Delicado; foco narrativo; masculinidades.

A CRISE DA MASCULINIDADE E A PERFORMATIVIDADE DE GÊNERO NO ROMANCE MEMORIAL DE MARIA MOURA Wilma dos Santos COQUEIRO (UNESPAR/Campo Mourão, Doutora em Letras) Melida Paola Frye CÓRDOBA (Doutoranda em Letras/UEL) A presente comunicação tem como objetivo analisar a crise da masculinidade e a performatividade do gênero, a partir do romance brasileiro, Memorial de Maria Moura, de Raquel de Queiroz (1992). A escrita e a leitura contemporânea da obra permite um olhar crítico e (des)construtor dos estereótipos ―masculino‖/―feminino. ‖ O retrato do universo ―masculino‖ representa um espaço patriarcal- machista que produz e legitima as desigualdades entre homens e mulheres como um fato

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natural. Nesta obra regionalista, a protagonista dona Maria Moura aprende a agir e ser livre. Com efeito, as estratégias performáticas de ser ―mulher‖ e ser ―homem‖ estão em crise. Então, Maria Moura vai aprender a jogar com os constructos de gênero. Em consequência, surge a hesitação do ser masculino, viril numa sociedade castradora para a mulher. A protagonista consegue desfazer os tecidos patriarcais e construir sua masculinidade defensiva que vá dar uma nova oportunidade de existência. O aporte teórico interdisplinar é variado, mas, como principais teóricos, temos Butler (2001) e Connell (1995). Palavras-chave: Masculinidades; Performatividade de gênero; Crise da masculinidade; Maria Moura.

A ERUDIÇÃO MÍNIMA DE ADÍLIA LOPES E ANA CRISTINA CESAR Gustavo SCUDELLER (Unifesp) As relações entre poesia e erudição não são difíceis de notar na poesia brasileira do último meio século, embora nunca tenham chegado a constituir uma tendência claramente definida. Elas aparecem nas obras de poetas como Jorge de Lima, Mário Faustino e Haroldo de Campos, por exemplo, e podem ser percebidas no traço acentuadamente rebuscado da sua dicção — quase sempre de vocabulário raro e sintaxe difícil — e pela estreita relação que mantêm com a literatura do passado e a cultura dos livros. Mas seria esse tipo de interesse um privilégio de homens? Erudição e estudo teriam se mantido ao longo dessas últimas décadas como prerrogativas exclusivas do universo masculino? Fazendo um rápido exame dos poemas publicados no número 10 da revista Inimigo Rumor, de 2001, dedicada majoritariamente a autoras mulheres, notamos que, também ali, referências à tradição literária são frequentes. Mas são, também, mais recolhidas, e, no caso particular de ―O poeta de Pondichéry‖, de Adília Lopes, e ―Carta de Despedida‖, de Ana Cristina Cesar — uma portuguesa, a outra brasileira — coincidem com gestos que dramatizam o apagamento da voz feminina. Essa, para se fazer ouvir, precisa ceder aos ecos masculinos da tradição até o limite do aniquilamento a fim de repercutir o testemunho mudo de sua interdição. Palavras-chave: poesia; erudição; instituição literária; gênero.

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SIMPÓSIO TEMÁTICO 13

FEMINISMOS – INTERSECÇÃO ENTRE GÊNERO, CULTURA, RAÇA E CLASSE Alba Krishna Topan FELDMAN (UEM) Luana PASSOS (UNESP/IBILCE/NUPE) O feminismo tem sido um instrumento importante para reflexão sobre a dominação patriarcal e questionamento dos aspectos culturais fundacionais na cultura europeia ocidental. No entanto, ao falarmos da intersecção entre gênero, raça, classe e cultura, podemos afirmar, cada vez mais, a existência de diversos feminismos com suas especificidades. Nesse contexto, pensamos na produção literária de mulheres negras, sejam elas brasileiras ou não (árabes, indianas, orientais no geral, indígenas, entre outras) que não tiveram, muitas vezes, acesso aos meios de educação e intelectualismo das linhas teóricas feministas ocidentais, mas que enfrentam aspectos de dupla dominação, na grande maioria tripla dominação, por serem mulheres e por serem não-brancas, pobres, por terem outra cultura que não a considerada padrão, entre outros marcadores de diferença além do gênero. Gayatri Spivak (2010) questiona se o subalterno, no caso a mulher de Terceiro Mundo, conforme o definido por Ahamad (2002), pode falar, uma vez que a mulher é a que mais sofre nos processos de colonização e descolonização. A condição subalterna também diz respeito à mulher indígena e negra brasileira, a quem, diversas vezes, é negado o discurso pela própria mídia, ou a quem é destinado um papel de subserviente, inculta, escrava da família ou da cultura, que dificilmente teria poder de fala. No entanto, percebemos que o discurso e, por conseguinte, a literatura produzida por essas mulheres, é um instrumento rico para resistência. Refletir o discurso do feminino na literatura configura um espaço privilegiado no entendimento das escrituras femininas, da crítica feminina, dos estudos do gênero. O pertencimento da mulher em suas diferentes representações e manifestações simbólicas traz, ao fazer literário, a oportunidade em discutir a voz da Mulher do Terceiro Mundo, permitindo, portanto, delinear o lugar e o modo de enunciação produzidos da fala dessa mulher marginalizada, consequentemente repensar o entrelaçamento dos estudos pós-coloniais e feministas na integração desta pelo gênero, colonização, racismo e pela cultura. Assim, a proposta de nosso simpósio é discutir obras de autoras que, além de sua condição de mulher, marcam suas obras com aspectos que envolvam diferentes raças, culturas, entre outros aspectos que seriam causadores de maiores diferenciações e marginalização. Serão bem-vindos trabalhos que abordem a obras literárias adultas e infanto-juvenis, em língua portuguesa ou inglesa, sob o escopo do arcabouço teórico que dê suporte para análise da temática acima. Palavras-chave: Mulheres do Terceiro Mundo; diferenças culturais; raça; relações de classe.

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Trabalhos Aprovados

IDENTIDADE DA MULHER INDÍGENA E A NARRATIVA DE SI OU, JOY HARJO, A GUERREIRA LOUCA Alba Krishna Topan FELDMAN (UEM-PR) A escrita indígena ainda é novidade no Brasil, embora o número de obras tenha aumentado substancialmente nas últimas três décadas. Um número ainda menor de obras indígenas aborda a escrita de si, ou a autobiografia. Mesmo nos EUA, local com mais tempo de história e literatura indígenas registradas por meio escrito, poucas autoras contaram suas histórias de vida, impressões do mundo, abordaram seus pontos de vida sobre ser indígena e sobre ser mulher indígena. A presente comunicação tem por objetivo discutir como ocorre a representação autobiográfica da mulher indígena em Crazy Brave, a memoir, da escritora Creek /Muscogee Joy Harjo. Stuart Hall (2011) contribuirá para a análise dos aspectos de identidade, enquanto Arnold Krupat (1989) auxiliará com sua teoria no estudo da autobiografia indígena e Deanna Reder (2016) aborda a autobiografia feminina indígena. Observa-se que tanto Harjo quanto outras autoras indígenas, ao abordarem a narrativa de si, assumem a tradição, a ancestralidade e o papel de guerreira para narrar de forma poética sua própria vida e para discutir os problemas, alegrias e tragédias atuais comuns às diversas tribos indígenas das Américas.

DISCUTINDO O CONCEITO DA MAMMY ESTADUNIDENSE COM PERSONAGENS NEGRAS EM A RESPOSTA (2015) DE KATHRYN STOCKETT. Luiz Henrique dos Santos CORDEIRO (Uem) O conceito da Mammy Estadunidense é bastante discutido atualmente. Levando em conta a obsessão que os cidadãos brancos dos Estados Unidos tem com essa figura, é perceptível que sua caricatura está ainda presente naquela sociedade. A relação entre pessoas brancas e negras se torna problemática naquele contexto quando há a presença desta figura icônica, visto que a Mammy continua sendo abordada em obras fílmicas e obras literárias como um objeto a ser utilizado, na maioria das vezes. Deste modo, levando em consideração a narrativa de Kathryn Stockett, A resposta (2015), na qual a voz de personagens femininas negras é posta em evidência, também fica aparente a utilização e, talvez reprodução, das figuras femininas negras como Mammys dentro daquela sociedade. Assim, estudaremos a representação que esta figura traz no romance em questão, além de conceituar historicamente e literariamente como tal imagem veio a se tornar uma referência complicada para as mulheres negras dos Estados Unidos. Para tanto, trabalharemos com os

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referenciais teóricos de Kalová (2013), Schiffer (2014) e Thompson (2014) quanto ao conceito dos estereótipos negros, com Ahamad (2002) que nos traz o conceito de Terceiro Mundo e Mohanty (1991) que discute sobre a mulher neste ambiente. Também utilizaremos Karnal (2010) ao nos dar suporte sobre a escravidão Estadunidense e Said (1990) nos ajudará a entender a outremização ocorrida na sociedade negra. Pretende-se chegar à conclusão de que a figura continua a ser repetida e historicamente afeta a construção da identidade feminina negra nos Estados Unidos. Palavras-chave: Mammy; A Resposta; Terceiro Mundo; Kathryn Stockett.

O CORPO NEGRO COMO LÓCUS DA NEGAÇÃO DA IDENTIDADE Érica Fernandes ALVES (UEM) Geniane Diamante FERREIRA (UEM) O corpo negro sempre foi, desde o momento de encontro do conquistador e dos povos não-brancos, e ainda é a base para as inserções do racismo e discriminação na sociedade. Em se tratando do corpo negro feminino, salienta-se que ele produz o discurso da sensualização, do desejo e da libido e observamos que a aceitação dele como algo indiferente ao caráter das mulheres ainda é um impasse para que as relações humanas sejam igualitárias. Desse modo, a sociedade, encabeçada pela mídia e indústrias de cosméticos e de moda, transmite aos indivíduos uma dura regra que exclui, diversas vezes, as características dos corpos negros como um padrão de beleza: os cabelos encaracolados são rotulados como ‗ruins‘ ou ‗rebeldes‘, estando sempre sujeitos aos alisamentos e clareamentos; os traços negros devem ser suavizados pela maquiagem que suaviza os narizes alargados e lábios muito volumosos; a pele negra é branqueada pela maquiagem que insiste em esconder o escuro e valorizar o tom claro, a moda destinada ao público negro, muitas vezes, é imbuída da ideologia do exótico, do falso multicultural. Tudo isso faz com que o negro tenha dificuldades em aceitar sua negritude, a ponto de buscar incessantemente o branqueamento para que possa pertencer à sociedade que prega, ainda hoje, a eugenia. Assim sendo, este trabalho tem por objetivo analisar dois poemas em língua inglesa que discutem a questão da imposição do branqueamento e o apagamento das características dos corpos negros como meio de aceitação na sociedade, a saber: Kinky Hair Blues, de Una Marson e if your complexion is a mess, de Harryette Mullen. A metodologia se baseia na discussão e aplicação das teorias sobre racismo e discriminação e identidade desenvolvidas por Fanon, Hall, dentre outros. Os resultados revelam que o corpo se figura como lócus da construção da identidade do negro, porém, ele deve negar sua cor e sua identidade para que tenha condições de pertencer à sociedade em que está inserido. Palavras-chave: negro; mulher; identidade.

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RESISTÊNCIA E SUBVERSÃO EM BECOS DA MEMORIA DE CONCEIÇÃO EVARISTO: (DES) CONSTRUINDO A FIGURA DA “MULATA” Sarah Silva FRÓZ (Mestranda Letras-UEMA) O romance Becos da memória (2006), da escritora afro-brasileira Conceição Evaristo, é composto por uma colcha narrativa em que há um entrelaçamento de memórias coletivas e individuais de moradores de uma favela em processo de demolição, ao que se pode induzir o contexto da diegese é de início do século XX, pois contem a presença de indivíduos que vivenciaram as reminiscências da escravidão. Maria-Nova é a narradora personagem, a qual vai tecendo os fios soltos da narrativa, uma vez que será a menina que recontará a sua história e a dos outros moradores. Este trabalho intenciona esquadrinhar a personagem Dora, afim de (des) construir a figura da ―mulata‖ como aquela detentora de um apetite sexual selvagem ―só corpo, sem mente‖ (HOOKS, 1995, p.449). Dentre os b(ecos) da história tem esta mulher que representa a mulata dentro do romance, mas não aquela estereotipada pela mídia e/ou literatura como o ―prato nacional‖ (FREYRE, 2006), diferente das outras personagens femininas do romance, é uma mulher bastante independente, dona de seu corpo e, por conseguinte, dona de sua vida, o que podemos caracterizar como uma subversão e resistência que a condição negra lhe impõe, transgredindo aos estereótipos de gênero, raça e classe. A pesquisa é fundamentada na visão de Joan Scot (1985), Bell Hooks (1995), Stuart Hall (2003) e Frantz Fannon (2008). Palavras-chaves: Corpo, literatura afro-brasileira, empoderamento

AS HAIKUÍSTAS DO YUBA KUKAI Michela Mitiko Kato Meneses de SOUZA (IFMS Campus Três Lagoas-MS) O gênero poético haiku foi desenvolvido intensamente no Japão, no período Genroku, da época Edo, e ganha contornos espontâneos e populares com Matsuo Bashô, no século XVII. Com a vinda dos japoneses para o Brasil, em 1908, o haiku é a maneira encontrada por esses imigrantes para expressar seus sentimentos por estarem distantes do país de origem e para valorizar a beleza da terra que os acolheu. É o que acontece na Comunidade Yuba, com 80 anos de existência, localizada no município de Mirandópolis/SP, a 600 Km de São Paulo/SP, que mantém, entre seus traços culturais, a permanência do haiku. No grupo Yuba Kukai, que se iniciou em 2009 e existe até hoje, as haikuístas são predominantes. A atuação das mulheres do Yuba Kukai na Comunidade Yuba são múltiplas: a secretária e relações públicas; as cozinheiras; a ceramista; a professora de japonês, piano e violino; lavradoras e a mais idosa que hoje apenas comtempla o orquidário. Entretanto todas

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elas vivem e produzem os haikus na fazenda, ou seja, área rural, na qual a importância da Natureza é significativa. É neste sentido, que a comunicação propõe-se a refletir sobre o papel das mulheres do Yuba Kukai e o espaço que ocupam e vivem dentro Comunidade Yuba. Esses papéis e espaços de algum modo influenciam os sujeitos durante o processo de criação, socialização do haiku. Para tanto, serão utilizados poemas produzidos por estas haikuístas, na tentativa de demonstrar a intersecção e relação de seus respectivos papéis e espaços no momento de suas produções. Uma vez que a Cultura japonesa é mantenedora do sistema patriarcal, pensar a produção literária destas haikuístas, de certa forma, responde o questionamento de Spivak (2010) se o subalterno, no caso a mulher de terceiro mundo, pode falar. Palavras-chave: haiku; mulheres; Yuba Kukai.

OMO–OBÁ, HISTÓRIAS DE PRINCESAS E O EMPODERAMENTO DA MENINA NEGRA Luana PASSOS (NUPE/UNESP/IBILCE) Seis meninas africanas, seis princesas africanas. Meninas, mulheres, princesas, rainhas. (Re)Contadas pelos povos iorubas e afrodescendentes, os mitos contidos no livro de literatura infanto-juvenil afro-brasileiro OMO–OBÁ, histórias de princesas (2009), traz modos diferentes da alma e do poder feminino. Fortalecendo, construindo e redescobrindo o poder que cada mulher tem dentro de si, as histórias de Oiá e o búfalo interior, Oxum e seu mistério, Iemanjá e o poder da criação do mundo, Olocum e o segredo do fundo do oceano, Ajê Xalugá e o seu brilho intenso, Oduduá e a briga pelos sete anéis revelam os arquétipos femininos representados pelos Orixás (Ori – cabeça; Xá- protetor: Orişa). A presença de formas de matriz africana na literatura infanto-juvenil brasileira, por meio da incorporação dos mitos primordiais dos povos iorubás, promove não somente a desconstrução de concepções hegemônicas acerca da cultura africana demonizada, mas, também, a possibilidade em analisar de que maneira os personagens femininos em Omo-Obá empoderaram meninas negras em suas buscas e batalhas pessoais ao trazer os arquétipos, a ancestralidade africana na cultura afro-brasileira. Essa ancestralidade é vivenciada na diáspora e está entrelaçada ao ethos por representar uma herança comum, as experiências e os laços que permitem a identificação de uma raiz africana, ou seja, de um tronco ancestral comum (SILVA 2010). A presente comunicação objetiva discutir de que forma Kiusam de Oliveira, mulher e negra, procura empoderar meninas negras em suas buscas e batalhas pessoais ao trazer os arquétipos, a ancestralidade das princesas africanas na cultura afro-brasileira. Palavras-chave: Menina negra, literatura infanto-juvenil afro-brasileira, diferenças culturais

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CONCEPÇÃO DA IDENTIDADE FEMININA NIPO-BRASILEIRA EM O JARDIM JAPONÊS, DE ANA SUZUKI Clarinda Matsuzaki INUMARU (UEM-PR) Identidade, Representação, Mulheres do Terceiro Mundo são conceitos para muitos debates e discussões que surgem nas perspectivas feministas dentro dos estudos literários pós-coloniais. Discutir esses conceitos na obra de várias pensadoras revela o esforço dos estudos feministas póscoloniais para estabelecerem a identidade como relacional e histórica em vez de essencial ou fixa. Alexander e Mohant (1997) observam na introdução em Genealogias feministas, legados coloniais, futuros democráticos: ―Nós duas nos mudamos para os Estados Unidos da América há mais de quinze anos... Não nascemos mulheres de cor, mas nos tornamos mulheres de cor aqui‖ (Alexander e Mohant, 1997, p. xiv). A presente comunicação tem por objetivo analisar uma obra que disserta sobre a imigração japonesa, e em especial, a imigrante mulher em seu contato com o mundo ocidental, evidenciando os processos de construção de identidade dentro de um contexto multicultural e literário, como na obra ―O Jardim Japonês‖ de Ana Suzuki. A obra nos apresenta a história de Namie, filha de um lavrador que comemora seu nascimento plantando um ipê amarelo no seu típico jardim oriental. De acordo com Hall (2007), servirá de aporte teórico para os estudos da identidade. Dessa maneira pretende-se trazer à tona, o sujeito feminino marginalizado e sua representação na literatura.

THE ROUND HOUSE: A VIOLAÇÃO DO CORPO DA MULHER INDÍGENA, SEUS IMPACTOS PESSOAIS, COMUNITÁRIOS, FAMILIARES E POLÍTICOS Marcos Vinicius Rodrigues da COSTA (UEM) Orientadora: Alba Krishna Topan FELDMAN (UEM) As mulheres indígenas constantemente enfrentam a dupla discriminação, pois são discriminadas como indígenas e como mulheres. Discriminação que experimentam não somente da sociedade circunvizinha, mas também dentro de suas próprias comunidades. No romance de Louise Erdrich, The Round House, Geraldine, membro de uma comunidade Ojibwe, é brutalmente atacada e violentada por Linden Lark, um homem branco. Geraldine é violentada por um não-nativo não só por ser uma mulher, mas por ser uma mulher indígena. Sendo assim, o crime cometido por Lark não é apenas um ataque a feminilidade de Geraldine, mas também a sua etnia. Isso mostra que a identidade Ojibwe de Geraldine é altamente relevante, pois é precisamente a origem étnica de Geraldine que a torna vulnerável. Esse trabalho busca analisar o retrato da violação como um ato que tem sérias consequências pessoais, comunitárias, familiares e políticas. Além de mostrar o

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transtorno de estresse pós-traumático de Geraldine, Erdrich mostra como seu marido e filho também são profundamente afetados pelo abuso e de que modo esse fato abala a relação familiar e comunitária. Paula Gunn Allen, em The Sacred Hoop: Recovering the Feminine in American Indian Traditions diz que as mulheres indígenas sobreviveram à guerra, à conquista, colonização, espancamento, estupro, fome, destruição de suas terras, suas casas, seu passado e futuro. Mas, apesar de tudo, lutaram, ensinaram, amaram e venceram. Conclui-se então que, quando uma Mulher Indígena sofre abuso, esse abuso não é apenas um ataque à sua identidade como uma mulher, mas também à sua identidade como nativa. Palavras-chave: Mulher Indígena; Gênero; Abuso.

IDENTIDADE FEMININA NA LITERATURA JUDAICA ORTODOXA BRASILEIRA Daniela GUERTZENSTEIN (PNPD CAPES PPGS DS FFLCH USP) A geografia cultural integra-se à psicologia, à comunicação, à história, à literatura e à sociologia, entre outras ciências, em estudos interdisciplinares, para mapear manifestações culturais, por exemplo: expressões relacionadas à figura da mulher, ao status feminino e a maternidade na literatura de grupos étnicos, doutrinas religiosas, culturas e nos princípios legais e/ou legislações regionais e nacionais. A crítica literária serve para identificar a diversidade dos valores morais e éticos, o (des)respeito à autonomia individual e as crenças que legitimam os valores sexistas, que fundamentam os padrões de pertencimento/inclusão/exclusão de cada pessoa nas diferentes culturas em seus ambientes sociais. Foi realizada uma análise qualitativa, com viés de crítica literária, dos manuais de auto-ajuda judaicos ortodoxos publicados em português. Essa pesquisa empírica analisou níveis de (in)tolerância sexista e outras discriminações e (pre)conceitos relativos a sexualidade. O objetivo principal dessa comunicação é apresentar o "feminismo às avessas". O feminismo as avessas é um paradigma no qual a mulher utiliza a simbologia sexista masculina para dominar o homem. O feminismo às avessas caracteriza-se pela submissão à cumplicidade na perpetuação de práticas decretadas através de uma literatura fundamentada em um universo mítico traduzido através das gerações, que representa o desenvolvimento dessa doutrina através de contínuos confrontos sexistas. A abordagem fundamenta-se no compartilhamento de motivações, causas, ideologias e doutrinas religiosas em redes transnacionais dos meios de comunicação do mercado global. No caso apresentado, a fidelidade dos usuários à produção literária em português restrita para o público de judeus ortodoxos transforma-os em reles do rebanho de suas autoridades literárias, em discípulos desses líderes carismáticos e em membros de suas comunidades globais. Essa pesquisa é importante porque revela o 'abrasileiramento' de uma literatura religiosa e contribui para refletir a sobreposição e interposições de valores, padrões de identidades sexistas de doutrinas

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religiosas transnacionais em relação a princípios que zelam pelos direitos humanos e direitos civis garantidos pela constituição nacional. Palavras-chave: Literatura Brasileira; Judaísmo Ortodoxo; Feminismo; Direitos Humanos.

CALAR PARA DAR VOZ: O FORA DE CAMPO OU ESPAÇO OFF EM IMAGENS DE ROSANA PAULINO Leandro PASSOS (IFMS Campus Três Lagoas – MS) A artista plástica Rosana Paulino, desde o início de sua carreira, destaca-se por sua produção voltada a questões sociais, étnicas e, principalmente, de gênero. Suas obras provocam reflexões acerca da mulher negra na sociedade brasileira. Fabris (1995), observa que, se a Paulino não interessa a gravura enquanto possibilidade linguística, esta, no entanto, é fundamental em sua estratégia imagética, pois lhe permite disseminar o estereótipo, apresentando a singularidade como a construção por adição, como uma verdadeira montagem física e psicológica. Nas obras da ―Série Bastidores‖ (1997), a artista traduz a violência simbólica que aparece nas linhas que costuram ora as bocas, ora as gargantas dos retratos de mulheres negras. De acordo com Ana C. (2012), há a formação de mulheres negras estampadas sem voz; estreita relação do silêncio, do lugar de opressão. Convém destacar que a escritora e crítica Conceição Evaristo (2010) comenta que a mulher negra, pode cantar, dançar, cozinhar, se prostituir, mas escrever, não, escrever é uma coisa; é um exercício que a elite julga que só ela tem esse direito. Para a escritora, o exercício da escrita é um direito que todo mundo tem. Como o exercício da leitura, do prazer, como ter uma casa, como ter a comida. A literatura, para Evaristo (2010), é feita pelas pessoas do povo, ela rompe com o lugar prédeterminado. Ao tomar por base a crítica da escritora, qual seria, então, o lugar da mulher – negra – artista plástica? De que forma o significante artístico da ―Série Bastidores‖ suscita questionamentos de conteúdos problemáticos sobre o lugar e o poder fazer da mulher negra? Nesta comunicação, propõe-se verificar a relação entre a estratégia de composição poética da artista Rosana Paulino: o fora de campo ou espaço off (DUBOIS, 1994), e o conteúdo particular de opressão e de violência da mulher negra no Brasil. Palavras-chave: gênero; mulher negra; artes plásticas.

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SIMPÓSIO TEMÁTICO 16

QUESTÕES DE GÊNERO NA LITERATURA INFANTIL E JUVENIL Geovana Gentili SANTOS (UNICID) Vanessa Regina Ferreira da SILVA (COTUCA-UNICAMP/FATEC) Com este simpósio, procuramos abrir um espaço para refletir sobre a representação de gênero – entendido como uma construção histórica, social e cultural que visa delinear um protótipo de comportamento de homens e mulheres em uma determinada sociedade e em um tempo - na literatura destinada a crianças e jovens. Para desenvolver esta reflexão, podemos recorrer a diferentes autores e obras do sistema literário infantil e juvenil que, com suas personagens e fazer literário, tratam de questões relacionadas à representatividade masculina e feminina convencionalmente estabelecida e imposta como padrão pela sociedade. No âmbito brasileiro, na sua fase inicial, por exemplo, a literatura para os jovens leitores foi concebida como instrumento doutrinário e esteve repleta de personagens-modelo que buscavam retratar comportamentos cívicos e morais exemplares, tais como em O livro das crianças (1897), de Zalina Rolim; Poesias Infantis (1902), de Olavo Bilac; Alma infantil (1912), de Francisca Júlia. A partir de Monteiro Lobato, os estereótipos de gênero são questionados e surgem personagens que não se prendem a um padrão único de comportamento, sobretudo as femininas, como bem representa Emília e Narizinho, no Sítio do Picapau Amarelo. Somam-se a estas aquelas personagens de A fada que tinha ideias (1971), de Fernanda Lopes de Almeida; A bolsa amarela (1976), de Lygia Bojunga Nunes; História meio ao contrário (1979) e Bisa Bia, Bisa Bel (1982), de Ana Maria Machado etc. Na atualidade, as questões de gênero encontram refúgio em obras que, cada vez mais, reforçam a necessidade de se romper com a padronização de comportamento: Menino brinca de boneca? (1990), de Marcos Ribeiro; Até as princesas soltam pum (2008), de Ilan Brenman e Ionit Zilberman. Mas, por outro lado, na literatura de massa – aquela que sua produção e consumo partem do jogo da oferta e da procura do mercado consumidor – nota-se a retomada de um discurso de submissão afetiva da mulher (jovem e adulta), como em Estilhaça-me (2011), de Tahereh Mafi e O Segredo de Ella e Micha (2014), de Jessica Sorensen. Com base nesse rico movimento de representatividade literária das questões de gênero na literatura infantil e juvenil, este simpósio receberá propostas de comunicação em que se analise e discuta a representação ideológica – conservadora ou subversiva – dos papéis convencionalmente delineados a homens e mulheres. Palavras-chave: literatura infantil e juvenil; gênero; representação de personagens femininos e masculinos.

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Trabalhos Aprovados

AS PERSONAGENS FEMININAS NO UNIVERSO FICCIONAL DE PAULA PIMENTA Dr.ª Geovana Gentili SANTOS (Universidade Cidade de São Paulo – UNICID / Cruzeiro do Sul Educacional) A presente comunicação tem por objetivo analisar a presença da tradição dos contos de fadas nas obras para o público juvenil de Paula Pimenta (1975-) e, concomitantemente, a construção da personagem protagonista feminina. Autora conhecida pelas séries ―Fazendo Meu Filme‖ e ―Minha Vida Fora de Série‖, Paula Pimenta também ocupa papel de destaque no cenário editorial brasileiro por criar histórias protagonizadas por adolescentes que vivem situações similares às das princesas dos contos de fadas em seu cotidiano, tal como em ―Princesa Adormecida‖ (2014), ―Cinderela Pop‖ (2015) e ―Princesa das Águas‖ (2016). Considerando o posicionamento de Paula Pimenta frente ao arquivo literário (Maingueneau) e tendo em conta que a escolha por um determinado gênero não é alheia à construção do sentido da obra, mas, antes, determina um conceito sobre o fazer literário, analisar-se-á como estas obras de Paula Pimenta corroboram um ideário de amor e o desejo infantil de ser uma princesa. Palavras-chave: Contos de Fadas; Literatura Juvenil; Paula Pimenta.

CONSTRUÇÃO IDENTITÁRIA EM SORTES DE VILLAMOR, DE NILMA LACERDA Cecilia Barchi DOMINGUES (UNESP/Assis-SP) Eliane Aparecida Galvão Ribeiro FERREIRA (UNESP-Assis/SP) O presente trabalho tem por objetivo, a partir dos pressupostos teóricos da Estética da Recepção (ISER, 1996, 1996; JAUSS, 1994), apresentar uma análise da obra Sortes de Villamor, de Nilma Lacerda (2010), na qual se considera a temática da construção identitária e as disposições do leitor implícito. Justifica-se a escolha da obra, pois com sua inclusão nos acervos do Programa Nacional Biblioteca na Escola (PNBE), acredita-se que a maioria das escolas públicas a disponibilizam em suas Salas de Leitura e/ou bibliotecas. Justamente, essa disponibilidade conduz o pesquisador à análise e reflexão acerca de suas potencialidades estéticas tanto para atrair e cativar o jovem à leitura, quanto para, por meio da reflexão, formá-lo como leitor crítico. Constrói-se, neste texto, a hipótese de que sua temática associada à afirmação ideológica de seus protagonistas é atraente para o jovem leitor também em fase de definição de sua identidade. Parte-se do pressuposto de que o enredo, embora retrate o Rio de Janeiro do século XIX, revela-se atual e, pela leitura, exerce função

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social, pois problematiza questões contemporâneas, como: o papel da mulher na luta contra a opressão social, política, econômica e religiosa; a liberdade de expressão entre os jovens, bem como o livre arbítrio. Apesar dessas qualidades, vale refletir se a trama, pelo seu discurso, possui potencialidades ou não para promover o papel humanizador da literatura, conforme Candido (1995). Ainda, se, pelo contato com a história, o jovem pode romper com seus conceitos prévios sobre destino e relações igualitárias em sociedade. Palavras-chave: PNBE; Literatura juvenil; Nilma Lacerda; acervo.

CORPOS VIOLADOS, CORPOS LIBERTOS: UMA LEITURA DE A CABEZA DE MEDUSA, DE MARILAR ALEIXANDRE Karina de OLIVEIRA (UNIFEV/USC) Temáticas tabus, tais como a violência sexual, as guerras, a morte, questões de gênero, dentre outras, tardaram a ocupar não apenas o cenário da literatura juvenil brasileira, mas também o de outras nações, como é o caso da Galícia, comunidade autônoma do Estado Espanhol. Foi, sobretudo, a partir do final do século XX e início do século XXI, período de inovações nas produções literárias juvenis contemporâneas, em particular, no que confere à criação de projetos editoriais e gráficos, é que se pôde observar certa recorrência quanto ao emprego desses temas. Nesse sentido, esta comunicação tem o intuito de apresentar um recorte de nossa tese de Doutorado – um estudo comparado a respeito das temáticas mais frequentes em narrativas juvenis contemporâneas brasileiras e galegas –, por meio de uma análise da obra A cabeza de Medusa (2008), ganhadora do Prêmio Fundación Caixa Galicia de Literatura Xuvenil, de autoria da aclamada escritora Marilar Aleixandre – uma ficção que desnuda o universo da violência sexual e simbólica vivenciadas pelas protagonistas Sofía e Lupe. A leitura da narrativa é realizada a partir de adaptações da grade de análise elaborada por João Luís Ceccantini (2000) e a fundamentação teórica deste trabalho está embasada em estudos de Pierre Bourdieu (2005), Alice Áurea Penteado Martha (2010), Carmen Ferreira Boo (2013), Blanca-Ana Roig Rechou (2015), entre outros. Finalmente, espera-se observar e comentar os diferentes tratamentos oferecidos às jovens protagonistas tanto no contexto familiar quanto no social, constatando se a narrativa quebra ou não com paradigmas preestabelecidos sobre a violência contra a mulher. Palavras-chave: literatura juvenil galega; narrativa juvenil contemporânea; temática tabu; violência sexual e simbólica.

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A BOLSA AMARELA, DE LYGIA BOJUNGA NUNES: A REPRESENTAÇÃO DA INFÂNCIA E A QUESTÃO IDENTITÁRIA Eliane Aparecida Galvão Ribeiro FERREIRA (UNESP-Assis/SP) Thais Oliveira Kalil MODESTO (UNESP-Assis/SP) Este texto objetiva, a partir dos pressupostos teóricos da Estética da Recepção (JAUSS, 1994; ISER, 1999 e 1996), apresentar uma análise da obra A Bolsa Amarela, de Lygia Bojunga Nunes (Pelotas, RS, 1932), por meio da qual se considera a representação da infância e a questão identitária. Sua trama retrata a história de Raquel, personagem protagonista que passará por distintas vontades em sua infância, entre elas a vontade de crescer, ser menino e ser escritora. A história é bastante cativante, pois apresenta ao leitor, fatos imaginativos intercalados de fantasia e realidade, o que pode contribuir com sua própria formação como sujeito crítico, pois requer, na leitura, sua reflexão acerca das relações humanas em sociedade e em âmbito familiar. Lygia Bojunga Nunes, em todas suas publicações, recebeu selo de Ouro da Fundação Nacional do Livro Infantil e Juvenil – FNLIJ, como O Melhor para a Criança e o Jovem. Obteve reconhecimento internacional com o Prêmio Hans Christian Andersen, considerado o Nobel da Literatura Infantil e Juvenil, além do prêmio ALMA (Astrid Lindgren Memorial Award), a maior premiação mundial instruída em prol da literatura para crianças e jovens. Todos seus livros foram premiados nacionalmente e internacionalmente, além de serem traduzidos em vinte idiomas diferentes. Justifica-se, então, que sua produção seja considerada como objeto de estudo. Como a obra A Bolsa Amarela destaca-se por ser dotada de esteticidade, constrói-se a hipótese de que possui potencialidades que podem contribuir para a formação do gosto literário do jovem leitor. Palavras-chave: Leitura e formação do leitor; Estética da Recepção; Representação da Infância e questão identitária.

A DISTOPIA JUVENIL E A PROTAGONIZAÇÃO DA VOZ FEMININA Dra. Vanessa Regina Ferreira da SILVA (Instituto Federal de São Paulo - Campos do Jordão - IFSP) Nos últimos anos, a produção literária destinada ao público jovem ganhou uma projeção inusual no mercado editorial brasileiro com a publicação de obras juvenis distópicas. Embora a ficção não utópica já figure no cenário literário desde o século XIX e apresente obras clássicas como Admirável Mundo Novo (1931), de Aldous Huxley; 1984 (1948), de George Orwell e Fahrenheit 451 (1953), de Ray Bradbury, entre outros; não deixa de ser significativa a recepção alcançada pelas distopias juvenis contemporâneas tanto no mercado editorial quanto no gosto do público-alvo. À guisa de ilustração pode-se destacar o sucesso das trilogias literárias publicadas por Suzanne Marie Collins,

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Veronica Roth e Bárbara Morais, sendo essa última o centro de interesse do presente trabalho. Embora a produção da escritora brasiliense não tenha alcançado o mesmo êxito das duas autoras norte-americanas referenciadas, neste trabalho, optou-se pela produção de Morais uma vez que, até o momento, a autora é a única voz nacional que conseguiu um certo sucesso junto aos leitores brasileiros. Atendo-se à primeira obra da Trilogia Anômalos, A ilha dos dissidentes (2013), pode-se observar que o cenário ficcional construído pela autora deixa em evidência um conjunto de assuntos relacionado à questão de gênero como a ruptura do modelo familiar nuclear; a inclusão de personagens masculinos que se caracterizam com um perfil feminino e a protagonização da personagem feminina como uma heroína na trama distópica, fato não observado nas distopias literárias da literatura para adultos. Embora tais elementos estejam contextualizados com os atuais paradigmas de gênero, observa que eles não se apresentam como significativos para a compreensão da trama. Ao contrário, tais questões são representadas por meio de diálogos, muitas vezes soltos, levando, assim, ao questionamento da pertinência dessa representação de gênero no universo ficcional em questão. Palavras-chave: Distopia juvenil; representação feminina; A ilha dos dissidentes.

A REPRESENTAÇÃO DA MULHER E DA CRIANÇA NA LITERATURA JUVENIL BRASILEIRA: UMA ANÁLISE DE SAPATO DE SALTO, DE LYGIA BOJUNGA NUNES Camila Pozzi GALANTE (FCL UNESP Assis) Eliane Aparecida Galvão Ribeiro FERREIRA (FCL UNESP Assis) O trabalho apresentando tem por finalidade fazer uma análise crítica da obra Sapato de Salto (2006), de Lygia Bojunga Nunes, visando detectar a representação da mulher e da infância na literatura juvenil brasileira. Justifica-se a escolha da obra, pois revela-se em sintonia com a contemporaneidade ao tratar de temas polêmicos, como abandono, abuso sexual, violência, prostituição, homossexualidade, homofobia, trabalho infantil e discriminação social. Essas questões, embora sejam consideradas como adequadas somente ao público ―adulto‖, muitas vezes perpassam a realidade de muitos jovens pelo Brasil afora. Na obra de Nunes (2006), a personagem principal, Sabrina, uma menina órfã de 11 anos que vive em um abrigo para menores, ao ser adotada por uma família, passa a ser explorada pelo casal Gonçalves e Matilde tanto sexualmente, quanto como serviçal em tarefas domésticas. Uma vez retirada desse espaço, a jovem convive com o preconceito e a exploração sexual. Assim, com base em Cândido (1995), Ferreira (2009), Lajolo e Zilberman (2005), Ceccantini (2008) e Funck (1994), pretende-se compreender o universo social retratado na obra de Lygia Bojunga Nunes, bem como a função social da literatura. Mais especificamente, com base nos pressupostos teóricos da Estética da Recepção (ISER, 1991 e 1996; JAUSS, 1994), buscase compreender se a obra Sapato de Salto (2006) possui potencialidades que permitem ao seu

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público leitor emancipar-se, rompendo com conceitos prévios e ampliando seus horizontes de expectativa. Palavras-chave: Lygia Bojunga Nunes; gênero; representação; literatura juvenil.

A FIGURA DA PRINCESA NO LIVRO CONTOS DA CAROCHINHA, DE FIGUEIREDO PIMENTEL Jesyka Lemos JAQUETA (Ibilce/Unesp) Contos da Carochinha é uma compilação brasileira, de 1894, realizada pelo jornalista e escritor Figueiredo Pimentel, de histórias da tradição oral, provindas de diversos países e direcionadas ao público infantil pela extinta Editora Quaresma. O livro contém uma ―escolhida coleção de sessenta e um contos populares, morais e proveitosos‖, segundo as apresentações de suas primeiras edições, sendo alguns bastante conhecidos, como A Bela Adormecida no Bosque, O Gato de Botas, Branca como a Neve, e outros mais desconhecidos do público brasileiro, como O Castelo de Kinast e O Tapete, o Óculo e o Remédio, por exemplo. Desses sessenta e um contos, cerca de vinte apresentam a participação da personagem princesa em seu enredo, ora como filha de algum monarca, ora sendo uma jovem comum que se casa com um nobre. Considerando a época em que foi realizada a primeira publicação do livro e o fato de ter sido reeditado inúmeras vezes, por mais de cem anos, sem que ocorressem grandes transformações em seu conteúdo original, pretende-se, neste trabalho, analisar as principais visões a respeito do gênero feminino presentes nas histórias estudadas, por meio da representatividade de personagens femininas intituladas princesas. É sabido que essas histórias são provenientes de tempos bem mais recuados que o final do século XIX, quando a primeira edição dos Contos da Carochinha foi lançada, mas o fato de elas terem sido escolhidas para ser reescritas e publicadas, na época, e de terem alcançado sucesso entre o mercado consumidor, pode revelar muito sobre as expectativas e os pontos de vista a respeito da mulher, que a sociedade da época apresentava e que os pais dos pequenos leitores esperavam — e que podem perdurar até os dias atuais. Palavras-chave: princesa; mulher; literatura infantil; contos da carochinha.

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QUESTÕES DE GÊNERO EM SEIS VEZES LUCAS, DE LYGIA BOJUNGA Rosânia Alves MAGALHÃES (UFU) Este trabalho reflete sobre Seis vezes Lucas, de Lygia Bojunga tomando por base os estudos sobre gênero. A narrativa apresenta questões relacionadas à traição, o medo e as relações familiares das personagens. Para tanto, recorremos a teorias que definem gênero. Segundo Pierre Bourdieu (2011), a sociedade funciona como uma máquina simbólica que confirma a dominação masculina torna-a dispensável de justificativas diante de posturas machistas. O autor expõe que, a divisão social do trabalho é a responsável pela delimitação entre atividades e espaços que cabe a cada um dos dois sexos. Para a filósofa Judith Butler (2003), o gênero é uma produção social, por isso, não deve ser visto como a inscrição cultural de significados num sexo previamente dado, mas como um aparato de produção, no qual os próprios sexos são estabelecidos. Neste contexto, Lygia Bojunga apresenta formas de representação das masculinidades, como o pai do garoto Lucas que o proíbe de chorar ou sentir medo; ou a mãe do garoto, mulher omissa e submissa às atitudes arbitrarias do pai. Neste trabalho procurou-se compreender a ideia da construção das masculinidades, investigando a relação dos personagens em suas ações, que relevam o papel assumido por ambos os sexos no contexto sociocultural. Referências Bibliográficas: BORDIEU, Pierre. A dominação masculina. Tradução Maria Helena. 10ª ed. Rio de Janeiro: Bertrand Brasil, 2011. BUTLER, Judith P. Problemas de gênero: feminismo e subversão da identidade. Tradução de Renato Aguiar. Rio de Janeiro: Editora Civilização Brasileira, 2003. Palavras-chave: Gênero; masculinidades; contexto sociocultural.

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SIMPÓSIO TEMÁTICO 17 AS IDENTIDADES RACIAIS, ÉTNICAS, SEXUAIS E DE GÊNERO EM NARRATIVAS DA CONTEMPORANEIDADE Divanize CARBONIERI (UFMT/CUIABÁ) Flávia BENFATTI (UFU/UBERLÂNDIA) Este simpósio propõe discutir a construção de identidades de gênero (novas masculinidades e feminilidades) e raciais, étnicas e sexuais. Busca-se uma reflexão sobre o construir-se, sustentada por teóricos como Judith Butler, Adrienne Rich, Gayatri Spivak, Michel Foucault, Anthony Giddens, b. hooks, Pierre Bourdieu, Andrea Nye, Jerome Bruner, dentre outros. Tais teóricos desnudam discursos socialmente fabricados, possibilitando uma leitura crítica que vai ao encontro das personagens que circulam dentro de narrativas literárias. Dessa forma, torna-se possível avaliar como as identidades vinculadas às várias formas de masculinidades, feminilidades, sexualidades e etnicidades são culturalmente traduzidas dentro do contexto literário. Butler opõe sexo e gênero e entende a reivindicação discursiva como uma possibilidade de nomear-se feminino, masculino, homossexual, lésbica, queer, entre outros. Rich, ao afirmar que a escolha heteronormativa pode ser problematizada pela imposição da ―heterossexualidade compulsória‖, justifica, assim, o peso de o homem ―ter‖ que demonstrar uma masculinidade viril que sustente uma força e um poder conferidos a ele ao longo da história das sociedades patriarcais. Spivak, ao questionar se o subalterno pode falar, faz emergir a problemática do poder que pretende destituir os considerados ―menos favorecidos socialmente‖ de um empoderamento, silenciando-os. Foucault nos convida a lutar contra essa ordem de saber e de verdades impostas. Giddens (2002) propõe uma reflexão sobre mudanças que ―em aspectos íntimos da vida pessoal estão diretamente ligadas ao estabelecimento de conexões sociais de grande amplitude‖ (p. 36). Já b. hooks, quando trata do desafio de enfrentamento do sexismo na vida negra, propõe uma reavaliação sobre gênero e etnia. Bourdieu (2010), quando teoriza sobre a sexualidade, aponta para o fato de que o ―ato sexual é pensado em função do princípio da masculinidade‖, trazendo uma importante contribuição para se pensar a mulher dentro das sociedades patriarcais. Nye, teorizando a respeito do feminismo heterossexual, acredita que a mulher, em se tratando de sua sexualidade, utiliza-se de um recurso de conquista chamado de ―submissão ativa‖: uma estratégia feminina na conquista de seus ideais liberais. Por fim, Bruner (2002) nos mostra que ―é através da narrativa que criamos e recriamos o nosso ser, que é um produto de nosso dizer e não alguma essência a ser investigada nos recessos da subjetividade‖ (p. 86). Vislumbrando, portanto, um panorama de possibilidades interpretativas em narrativas modernas e pós-modernas, pode-se fazer surgir epistemologias que contribuam para um olhar não discriminatório e inclusivo. Palavras-Chave: Narrativa; Identidade; Gênero; Raça; Sexualidade.

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Trabalhos Aprovados

RUMOS DA LITERATURA TRANSGÊNERA NOS ESTADOS UNIDOS E NO BRASIL Divanize CARBONIERI (UFMT) O objetivo deste trabalho é estabelecer uma discussão a respeito da situação da literatura transgênera (ou simplesmente literatura trans) nos Estados Unidos e no Brasil. Trata-se de um exame ainda introdutório, apresentando alguns comentários que parecem delinear os rumos da produção e recepção desse gênero literário, sobretudo nos Estados Unidos. Ainda que no Brasil a mesma atenção crítica não pareça estar sendo dada à literatura trans, é inegável que a maior visibilidade que sujeitos transgêneros estão adquirindo na sociedade vem sendo acompanhada da publicação de textos autobiográficos e biográficos. Nessa investigação de um possível estado da arte inicial, emergem questões relevantes para a formação de qualquer campo literário, envolvendo a identidade dos autores, as características das obras e a formação de um público específico. Palavras-chave: literatura transgênera; estado da arte; campo literário.

NORMATIVIZANDO CORPOS: O PODER DA MÍDIA EM “NOSSA RAINHA”, DE MARCELINO FREIRE Gildo Antonio MOURA JUNIOR (UFU) Ana Alice da Silva PEREIRA (UFU) Este trabalho consiste em uma análise do conto ―Nossa Rainha‖, de Marcelino Freire, buscando perceber a mídia em seu poder de normatização sobre os corpos. A narrativa é construída a partir do desejo insaciável de uma menina de nove anos, pobre, negra e do morro, de tornar-se a apresentadora de televisão Xuxa. Tal desejo remete à Xuxa como um modelo supremo de normatividade construído pela mídia, em que ela se comporta como representação perfeita e acabada de feminilidade; o corpo, os gestos, as roupas, carregam marcas de uma juventude e uma beleza padrão, afinal, branca, loura, rica e de olhos azuis. A partir desse desejo da criança de se tornar a Rainha dos Baixinhos podemos analisar o controle exercido pela mídia na construção de uma identidade idealizada, reforçando assim, preconceitos raciais e sociais, além da falta de representação de outros modelos como de pessoas negras e pobres na mídia. Essa marginalização do negro na sociedade é representado pelo posicionamento da mãe acerca de seu sonho, ao que ela considera a ideia absurda e aponta que a menina deveria ―[...] sonhar com os pés no chão‖, fala que

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permite ver uma falta de referenciais de representação do negro e consequente tentativa de adequação a um padrão que é, tradicionalmente, representado pelo branco. Palavras-chave: mídia; representações sociais; identidade racial.

O PAIRED WOMEN E O UNHU COMO ESTRATÉGIAS DE EMPODERAMENTO FEMININO NO ROMANCE AFRICANO NERVOUS CONDITIONS. Cláudia Regina SOARES (Universidade Federal de Mato Grosso – UFMT) Este trabalho discute o empoderamento feminino no romance africano Nervous Conditions (1998) da autora zimbabuana Tsitsi Dangarembga. Para lidar com a questão do empoderamento, vamos destacar o uso recorrente de temas em comum usados por diversas autoras africanas em seus romances, os quais chamaremos de temas compartilhados. Assim, através dos temas compartilhados empregados no romance de Damgarembga, podemos analisar o procedimento chamado de paired women, que Stratton (1994) define como uma estratégia narrativa que coloca duas personagens femininas próximas afetivamente, como antíteses uma da outra. Em resposta ao domínio masculino, uma submete-se passivamente e a outra resiste ativamente. Também contribui como uma forma de lutar contra esses domínios o Unhu, que seria uma forma de amizade solidária, na qual há compaixão, empatia e respeito entre as personagens femininas, fazendo com que se ajudem e sobrevivam à opressão. Em nossa exposição, buscaremos primeiro definir o empoderamento feminino e investigar o procedimento de paired women (tradução seria algo como mulheres emparelhadas) - unhu na literatura africana feminina, que é também um fator que irá contribuir, em nossa análise, para observar como as personagens lidam com a dominação masculina patriarcal e colonial (ou dupla-opressão), em seus esforços de subvertê-la. Em seguida, usaremos as categorias de análise de personagens femininas defendidas por Uwakweh (1995), que são as mulheres que escaparam, as aprisionadas e as rebeldes, e estudaremos como se dá o encadeamento das vozes femininas, obedecendo ao paired women em Nevous Conditions. Palavras-chave: Paired Women, Unhu, Empoderamento Feminino, Tsitsi Dangaremba.

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MRS. D@LLOWAY IN WEST TENTH STREET: (RE)CONFIGURAÇÕES DO FEMININO EM AS HORAS, DE MICHAEL CUNNINGHAM Laís Rodrigues Alves MARTINS (UNESP/FCLAr) Pode-se considerar o romance As horas (The hours, 1998), do escritor estadunidense Michael Cunningham (1952 --), como uma das produções de destaque no âmbito literário contemporâneo. A referida obra, vencedora do prêmio Pulitzer de 1999, e posteriormente transposta para o meio audiovisual por David Hare em 2002, nutre uma relação simbiótica com o livro Mrs. Dalloway, (1925), de Virginia Woolf, posto que não apenas o revisita, mas o atualiza. O autor norte-americano retoma reflexões desenvolvidas pela escritora inglesa referentes à sexualidade, gênero, condição feminina, — apenas a título de ilustração —, e as transpõe para o contexto atual, potencializando-as. Essa postura alinha-se à da estética pós-moderna, a qual questiona fronteiras e faz um apelo às diferenças e aos excêntricos. Partindo dessas considerações, intenta-se, nesta comunicação, demonstrar como a narrativa pós-moderna As horas promove uma desarticulação da concepção de identidade unívoca, isto é, do que se entende por sujeito do Iluminismo, e concede destaque a personagens ex-cêntricas, como o poeta homossexual e soropositivo Richard, por exemplo, bem como propicia uma abertura a novas configurações do feminino. Para tanto, propomos uma análise da personagem Clarissa Vaughan, procurando demonstrar como essa figura pode ser vista como representante do sujeito pós-moderno, de identidade cingida. O aporte crítico compreende obras da teoria da narrativa e obras de teorias feministas. Eis algumas das selecionadas: A identidade cultural na pós-modernidade (1992), Poética do Pós-modernismo (1988), Feminisms (1991) e Amor Líquido (2003). Palavras-chave: As horas; Narrativa contemporânea; Pós-modernismo; Identidades.

AUTORIDADE MATERNA NA ESCRITA NEGRA FEMININA Consoelo Costa Soares CARVALHO (Universidade Federal do Estado de Mato Grosso – UFMT) O tema maternidade no contexto literário é marcado por representações vinculadas a epistemologias patriarcais em que a condição de ser mãe é naturalmente imposta à mulher, devendo ser aceita sem hesitação. Referindo-se, especificamente, à representação da maternidade da mulher negra, a questão adquire contornos ainda mais complexos. A imagem dessas mulheres-mães são vinculadas ao contexto histórico escravocrata, de corpo-procriação, corpo-objeto de prazer e de mãe de leite dos filhos dos seus senhores. Essas mulheres-mães, nem são representadas. Partindo dessas premissas, o objetivo desse artigo é demonstrar, a partir da análise dos contos ―Quantos filhos Natalina Teve?‖ e ―Isaltina Campo Belo‖, da escritora negra Conceição Evaristo, como as personagens-protagonistas

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lidam com a questão da maternidade subvertendo noções hegemônicas que permeiam o ato de ser mãe na nossa sociedade. Para tanto, tomamos como mote da discussão uma questão fundamental: a escrita de autoria negra feminina enquanto lugar de enunciação e auto-representatividade. Palavras-chave: maternidade, mulher-negra, literatura.

CONFLITO DE GÊNERO EM BUTTERFLY BURNING DE YVONNE VERA Sheila Dias da Silva LAVERDE (SME/UFMT) Yvonne Vera é uma das mais notáveis escritoras que surgiu no Zimbábue e na África, nas últimas décadas. Em Butterfly Burning (1998), a história se passa em pleno período colonial, quando imperava no Zimbábue o sistema do Apartheid, semelhante ao da África do Sul, e se centra em Phephelaphi, uma jovem que sonha ser enfermeira, numa época em que às mulheres africanas negras e pobres simplesmente não era permitido estudar. O leitor é convidado a testemunhar a tragédia da jovem que se esforça para atingir a integridade e independência, mas é traída por uma gravidez indesejada que a impede de continuar seu curso. Phephelaphi, sem alternativa, pois a faculdade de enfermagem, recém-aberta para mulheres negras, jamais a aceitaria estando grávida, recolhe-se a uma parte árida da cidade e usa um espinho para abortar o feto. Resolve voltar para Fumtamba, o homem com quem ela convive, que usa de violência para oprimi-la, obrigando-a a manter relações sexuais com ele. Ela acaba por engravidar uma segunda vez. Seu último recurso é o suicídio. O objetivo deste trabalho é demonstrar como a autora retrata as tentativas de resistência dessa personagem e todo o esforço de Phephelaphi por sua liberdade, trazendo à tona um problema universal atual que muitas mulheres enfrentam, independemente de sua origem étnica ou histórica. Ao final de nossa análise, percebemos que a gravidez para ela é algo que a impede de ser uma mulher livre e realizar seu desejo de se tornar a primeira enfermeira negra do país. Portanto, ela não aceita essa gravidez, ou seja, não aceita que seu corpo não seja regido por ela mesma, preferindo interromper a gravidez e por último tirar a própria vida. Parece-nos que ela deseja tornar evidente que é dona de seu próprio corpo e que só a ela mesma seu corpo pertence. Vera elabora uma narrativa de aniquilação, retratando as tentativas de resistência e de superação da personagem, que, apesar de resistir a tanta opressão imposta a ela, habita um mundo limitado e acaba sendo autodestruída. Este estudo se dá pelo viés dos estudos pós-coloniais. Palavras-chaves: exclusão feminina; conflito de gênero; Yvonne Vera.

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THE TWELVE TRIBES OF HATTIE: A TRAGETÓRIA DE UMA MULHER NEGRA E SEUS DESCENDENTES NA LUTA PELA SOBREVIVÊNCIA Flávia Andrea Rodrigues BENFATTI (UFU) The Twelve Tribes of Hattie (2013), de Ayana Mathis, narra a história de uma mulher negra, Hattie, que se muda da Geórgia (sul dos EUA) para a Filadélfia (norte) em busca de melhores condições de vida e dignidade, após fugir com sua mãe e irmãs, de uma violenta política racial que assassinou seu pai. Na Filadélfia, Hattie tem os seus dois primeiros filhos, gêmeos, aos dezesseis anos. Nesse momento sente-se feliz e otimista; no entanto, os gêmeos morrem de pneumonia e todos os seus sonhos se desfazem. Levando uma vida de miséria e privações com um marido que mente, trapaceia e a trai, perambulando de bar em bar todas as noites, Hattie cria nove filhos e uma neta (os dois primeiros, gêmeos, morrem ainda bebês) e sua vida se resume em dar de comer e vestir aos filhos, não sobrando mais espaço para sentimentos de amor e afeto. Em função disso, torna-se uma mulher rude, mas de forte personalidade que não se deixa abater pelas vicissitudes, mantendo-se firme no propósito de alimentar e vestir sua prole. O romance refere-se aos seus doze descendentes e suas vidas privadas que tomam rumos diferentes, cada qual lutando pela sobrevivência. A autora, ao nos apresentar cada descendente em uma série de narrativas interligadas, discute gênero, sexo, religião, poder, discriminação, traição e culpa, temas que serão abordados, de forma sucinta, nesta apresentação, que se baseará nas teorias de b. Hooks (1996), Foucault (1999) e Spivak (2014), dentre outros. Palavras-chave: Mulher Negra; Descendentes; Sobrevivência.

GÊNERO, REPRESENTAÇÃO E IDENTIDADE EM CHARLES PERRAULT E ANGELA CARTER Ana Alice da Silva PEREIRA (UFSM) Gildo Antonio MOURA JUNIOR (UFU) O objetivo deste trabalho é comparar o conto ―Barba azul‖, de Charles Perrault, e uma releitura contemporânea de tal história, escrita por Angela Carter e intitulada ―The bloody chamber‖. O texto de Perrault é descrito como conto de fadas e, assim, remonta às narrativas orais, de origem imemorial, que são posteriormente organizadas e publicadas pelo referido autor. O conto de Carter, por sua vez, é considerada uma narrativa contemporânea de língua inglesa, e é publicada pela primeira vez em 1979. A escrita da autora preserva os mesmos personagens do conto com o qual dialoga, no entanto, as representações presentes acerca de cada um deles são marcadamente distintas. A partir desses registros, o trabalho tem como foco investigar as representações de

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feminino e masculino presentes em cada conto, discutidas pelos pressupostos teóricos de autores tais como Simone de Beauvoir e Elizabeth Badinter. Além disso, a partir do conceito de performatividade de gênero de Judith Butler, busca-se a compreensão da expressão do gênero como prática reiterativa e que reflete as expetativas sociais postas sobre os sujeitos. Adota-se uma abordagem discursiva de análise, e desse modo, percebe-se nos discursos veiculados nas obras a construção de um ideal de sujeito referente a cada gênero, e que, impossível de ser absolutamente obedecido, traz à luz as contradições dos personagens, nos deslocamentos em seu processo dialético de adequação e resistência. Logo, as identidades são formadas nesse entrelugar, em resposta às representações exigidas socialmente, cuja análise possibilita buscar as condições de produção dos textos, e também pela possibilidade de afastar-se de dito ideal. Palavras-chave: gênero; identidade; contos de fadas; discurso.

VIOLÊNCIA CONTRA MULHER NEGRA ESCRAVIZADA: UM ESTUDO DE UM DEFEITO DE COR Laís Maíra FERREIRA (UFMT) Este trabalho tem como objetivo tratar da violência contra a mulher negra escravizada. Para tanto, analisaremos algumas cenas do romance Um defeito de cor (2006). Nesse romance, a escritora mineira Ana Maria Gonçalves dá voz à africana Kehinde, também chamada pelo nome cristão de Luísa. Pela voz da protagonista inúmeros acontecimentos são trazidos à tona e entre eles estão as agressões cometidas contra a mulher negra. Assim, Kehinde, primeiramente, narra o estupro cometido por guerreiros de um grupo africano, que violentaram sexualmente a mãe da personagem. Posteriormente, Kehinde também relata a violência que sofreu quando já estava escravizada no Brasil. Em terras brasileiras, a protagonista-narradora foi violentada sexualmente pelo ―sinhô‖ José Carlos. Kehinde ainda discorre sobre as agressões que outras escravizadas sofriam. Verenciana, por exemplo, teve os olhos arrancados pela esposa do ―sinhô‖ José Carlos, depois que ele a engravidou. Logo, a violência sofrida por todas essas personagens é decorrente de discursos proferidos por aqueles que se consideravam superiores, ou seja, os brancos, mais precisamente, os homens brancos. Em razão das diferenças raciais e de gênero, os homens brancos acreditavam que as mulheres negras eram obrigadas a aceitar passivamente as suas ordens e, consequentemente, a concretizar os desejos carnais dos senhores. Diante do exposto, podemos concluir que, ao narrar os atos de violência, Kehinde torna-se porta-voz das mulheres que foram e ainda são vítimas de uma sociedade patriarcalista. O referencial teórico será dado pelos estudos pós-coloniais e decoloniais, com ênfase nos conceitos de colonialidade do poder de Quijano (2005) e heterarquias de Grosfoguel (2011). Palavras-chave: identidades de gênero; identidades de raça; subalternização.

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RELAÇÕES DE PODER EM BREATH, EYES, MEMORY DE EDWIDGE DANTICAT: O AGENCIAMENTO DAS PERSONAGENS FEMININAS Ana Flávia de Morais Faria OLIVEIRA (UFMT) Com dupla nacionalidade – haitiana e estadunidense – Edwidge Danticat é atualmente uma das vozes mais expressivas da diáspora. Sua escrita transita entre histórias ficcionais e não ficcionais, elucidando questões de gênero, raça, classe e nacionalidade. Na obra Breath, eyes, memory (1994), seu primeiro romance, notamos uma grande preocupação da autora em retratar a grande violência contra as mulheres do Haiti e o trauma coletivo que essa violência pode causar. A narrativa retrata as graves consequências de três gerações de mulheres que eram submetidas a cruéis testes de ―pureza‖, prática que consistia na averiguação manual da virgindade das moças haitianas. Dessa forma, o romance se torna um espaço narrativo de questionamento de hierarquias de gêneros permeadas na sociedade do Haiti. Utilizando teorias da decolonialidade e os estudos de gêneros (Gender studies), esse trabalho tem o objetivo de demostrar como Danticat representa as relações de poder e desigualdades entre os gêneros masculino e feminino e o agenciamento das mulheres em resistir a essas relações e desigualdades, alargando as rupturas do pensamento hegemônico patriarcal. Palavras-chave: relações de poder; resistência, Edwidge Danticat

A PERFORMATIVIDADE COMO EMPODERAMENTO SUBALTERNO NA PERSONAGEM LUISA REY EM CLOUD ATLAS, DE DAVID MITCHELL Davi SILISTINO (UNESP/IBILCE) No presente trabalho analisamos de que maneira Luisa Rey, representante da subalternidade, é capaz de lutar contra a hegemonia machista no capítulo ―Half-Lives: The First Luisa Rey Mystery‖, do romance Cloud Atlas, de autoria de David Mitchell. Além disso, demonstraremos como a personagem se opõe a uma sociedade que enxerga as categorias sexo e gênero como indissociáveis; e, enfim, interpretaremos as ações da personagem por meio do conceito de performatividade (BUTLER, 2015), ferramenta de empoderamento dos subalternos. Na narrativa em perspectiva, Luisa Rey trabalha como jornalista em uma revista da California, Estados Unidos no ano de 1975. Em meio a uma sociedade machista, repleta de homens ocupando o espaço profissional, seja nas editoras, nos cargos políticos ou em outra profissão, a personagem desponta como uma força ativa, imponente e corajosa. Luisa traz, assim, uma performance de gênero que combate as ideologias sexistas do período. Fugindo do pensamento de que o gênero estaria atrelado necessariamente com o

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sexo, Luisa luta por seus direitos de expressão e de igualdade de oportunidades por meio de uma performance de gênero que rompe com o binarismo feminino/masculino. E, de fato, o conceito de Butler referente a performatividade nos auxilia a compreender que a identidade de gênero na personagem é uma construção por meio das falas, atitudes e ações, as quais objetivam demarcar a posição e a importância dos subalternos. Para o desenvolvimento da pesquisa, utilizamos Butler (2015) e Foucault (1980) para entender o funcionamento e as distinções entre as categorias sexo, gênero e desejo; e especificamente Butler (2015) para poder analisar a personagem em termos do recurso da performatividade de gênero. Portanto, propomos nesse estudo analisar a forma como Luisa demonstra sua identidade de gênero e as consequentes implicações para uma sociedade hegemônica machista. Palavras-chave: Performatividade; Gênero; Cloud Atlas; David Mitchell.

A IDENTIDADE DE ORLANDO NO ROMANCE DE VIRGINIA WOOLF E NO FILME DE SALLY POTTER Luana Pereira do VALE (UFU/Uberlândia) Este trabalho tem como objetos de estudo o romance de Virginia Woolf, Orlando (1928) e a adaptação da mesma obra para o cinema por Sally Potter Orlando – A Mulher Imortal (1993). Através deste, será analisado como se dá o processo de construção da personagem híbrida Orlando no romance e no filme. Orlando é a história de um jovem inglês com origens monárquicas que atravessa os séculos numa jornada em que transita de um sexo para o outro em busca de sua liberdade individual e do reconhecimento de sua poesia. A personagem transita durante cerca de 400 anos e irá vivenciar a Era Vitoriana, período marcado pelo pudor, puritanismo e hipocrisia da burguesia vitoriana que confisca e encerra a sexualidade que terá como único objetivo reproduzir, nas palavras de Michel Foucault (1976). Ademais, pretende-se analisar como se dão as relações de poder da sociedade perante a figura feminina no final do século XIX e início do século XX. Virginia Woolf é uma importante figura do feminismo e que através de suas obras dá voz às mulheres no início do século XX. A autora considera a mente do artista andrógina, portanto Woolf constrói uma personagem híbrida em Orlando. Por sua vez, na releitura pós-moderna de Sally Potter para o cinema assim como na obra de Woolf, percebe-se essa construção de uma personagem híbrida, múltipla, em busca de sua liberdade como sujeito individual perante uma sociedade repressora em relação às mulheres e a busca de sua liberdade sexual. Palavras-chave: sexualidade; Virginia Woolf; Sally Potter; Orlando; híbrida.

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DOIS MUNDOS CULTURAIS: IDENTIDADE EM HOW THE GARCÍA GIRLS LOST THEIR ACCENTS Isabel Cristina Rodrigues FERREIRA (UFLA) Julia Alvarez, autora de How the García Girls Lost Their Accents (1991), explora a realidade de imigrante da família García que emigra da República Dominicana para os Estados Unidos em 1960, em uma circunstância política de ditadura naquele país. Essa mudança não diz respeito somente ao deslocamento geográfico, político, social e econômico, pois eles desfrutavam de prestígio social e econômico em sua terra natal, mas também às mudanças culturais significativas que afetam a construção da identidade de gênero e étnica, principalmente das filhas do casal García (Carla, Sandra, Yolanda e Sofia). As personagens sentem as pressões e os conflitos, internos e externos, de habitar dois mundos culturais distintos, o dominicano e o estadunidense, e cada uma responde a essa situação de forma particular e única. Gayatri Spivak (2010), ao questionar o silenciamento das vozes subalternas como o que tentam fazer com as vozes das García nos dois espaços (público e privado), traz um importante argumento para discutir e refletir sobre a condição das irmãs, tanto na perspectiva de gênero com na étnica. Ainda, bell hooks (2005), apesar de focar seus estudos nos desafios e realidades das mulheres negras, apresenta argumentos sobre gênero e etnia que ampliam as discussões promovidas por Spivak. Finalmente, ao analisar, no romance How the García Girls Lost Their Accents, as quatro filhas do casal García, busca-se, como objetivo de trabalho, entender como Julia Alvarez discute a formação identitária dessas personagens nesses dois mundos culturais diversos, tomando como perspectiva teórica Spivak e hooks. Resulta que as personagens lutam e resistem contra as concepções de gênero e étnica das duas culturas, mostrando com isso o ―entrelugar‖ que ocupam. Palavras-chave: identidade; culturas; Julia Alvarez.

SEXUALIDADE E IDENTIDADE LÉSBICA EM FLOR, FLORES, FERRO RETORCIDO Carolina Salvino CORRÊA (UFU) Amanda Letícia Falcão TONETTO (UFU) Este trabalho consiste em analisar o conto Flor, flores, ferro retorcido, que compõe o livro “Amora” (2015) de Natalia Borges Polesso no que diz respeito à descoberta sexual e busca por identidade de gênero. Neste trabalho são analisados os estereótipos da mulher lésbica desde o passado até a contemporaneidade, além das questões de normatividade, interpelação e heteronormatividade compulsória. Faz-se necessária, também, a reflexão sobre os pré-conceitos padronizados atrelados à mulher lésbica e a lesbianismo, como em que a mulher que se relaciona

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com outras mulheres é lida como sendo ―masculina‖ ou o ―homem da relação‖ caso ela se identifique com a vestimenta ou em outros aspectos socialmente construídos e considerados masculinos. Palavras-chave: Identidade Lésbica; Sexualidade; Contemporaneidade.

A REPRESENTATIVIDADE TRANS NA INTERNET: UMA ANÁLISE DA NARRATIVA AUTOBIOGRÁFICA DE MANDY CANDY João Paulo A. QUEIROZ (UFU) Carolina Salvino CORRÊA (UFU) Esta comunicação tem por objetivo explorar a autobiografia de Amanda Guimarães, também conhecida como Mandy Candy sob o viés da representatividade. Como parte da análise proposta, uma investigação sobre a perspectiva da Mandy Candy e seu processo de identificação é de fundamental importância, levando em conta teorias de gênero e perspectivas teóricas sobre sexualidade como as de Judith Butler e Guacira Lopes Louro. Tais perspectivas fundamentam a análise realizada a fim de encontrar relações entre a fala de uma trans e as propostas de performatividade, performance e sexualidade. As análises irão partir do pressuposto do gênero autobiográfico, em que são apenas mostrados fragmentos da experiência de quem escreve, podendo não contemplar a totalidade da discussão e, possivelmente, nos forçando a pesquisar mais a fundo a vida da autora. Espera-se encontrar divergências com as propostas teóricas, possivelmente tendo que trazer à discussão as diferenças da perspectiva da academia e o senso comum, podendo até verificar a relevância de tais discussões para a representatividade trans. Palavras-chave: representatividade; trans; Amanda Guimarães; Mandy Candy.

GÊNERO E VIOLÊNCIA EM O REMORSO DE BALTAZAR SERAPIÃO, DE VALTER HUGO MÃE Penélope Eiko Aragaki SALLES (Universidade de São Paulo) As desigualdades entre os gêneros reforçam uma estrutura social injusta entre os homens e mulheres, que validam a superioridade de um sobre outro. E como forma de manutenção de um status ou ordem, atribuem poderes desiguais aos gêneros e uma distribuição diferente de direitos e deveres. Mesmo em ambientes em que se pressupõe igualdade, é possível encontrar a diferença na distribuição do poder entre homens e mulheres. É preciso ressaltar que a dinâmica dessas relações é

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recortada por uma assimetria que, inclusive, leva à violência, o que faz com que seja recorrente a prática de ações violentas contra as mulheres nas sociedades em que predominam essa desigualdade. Tendo isso em vista, o presente trabalho pretende analisar como a violência contra mulher é construída e justificada no romance o remorso de baltazar serapião do escritor português valter hugo mãe. Pretendemos mostrar como a violência contra a mulher é abordada dentro do romance e analisar algumas situações em que ela acontece. Através do relato de baltazar serapião entramos em contato com um universo peculiar em que os abusos e a exploração sexual pelos homens, a violência e a opressão contra as mulheres são constantes e ganham contornos absurdos e cruéis. Para analisar tais aspectos, partimos dos estudos de Joan Scott, Judith Butler, Veena Das, Maria Filomena Gregori e outros pesquisadores sobre o tema. Palavras-chaves: gênero; violência; mulher; valter hugo mãe; literatura portuguesa contemporânea.

SEXUALIDADE E DIREITOS HUMANOS NA LITERATURA LATINO AMERICANA Eliseu RISCAROLI (UFT - Brasil) Carlos Henrique BENTO (IFMG - Brasil) A literatura tem se constituído num campo frutífero de reflexão sobre temas que se fortaleceram nas últimas duas décadas, sobretudo aqueles afetos à sexualidade, à homo\lesbo\trans\xenofobia e direitos humanos. Perceber como a literatura trata\ou a mulher, os lgbt, os estrangeiros, a sexualidade, o não lugar, suas variantes sejam elas benéficas ou maliciosas e a quem servem, nos desafia a canalizar o olhar, os sentidos e a reflexão sob o manto dos direitos humanos, um desafio incomensurável dos tempos atuais de exacerbação da violência simbólica, física, psicológica, estatal e intra países. Compreender o outro em sua condição bio-psico e político-social é um requisito necessário para ter com ele uma relação de troca, de afeto, de aprendizagem, de construção, de percepção e escrita de como estamos construindo um comportamento visceral considerando as diferentes manifestações políticas, religiosas, sexuais, territoriais e culturais. Nesse sentido, a presente comunicação discutirá como a sexualidade e os direitos humanos aparecem na literatura latino americana tomando como pressuposto a narrativa; os conflitos; o lugar do\a autor\a; a sua escrita e o publico a quem se dirige; as limitações e avanços das políticas; a formulação de teorias que explicam, reforçam, desconstroem as praticas sexuais como direito de identidade\gênero num cenário de ‗não identidade‘, de ‗pos verdade‘. Palavras-chave: sexualidade, gênero, direitos humanos, America Latina.

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LIBERDADE E SUBMISSÃO: A INVERSÃO DE PAPÉIS “FEMININOS” E “MASCULINOS” EM “LA ESCUELA DE LA CARNE” DE YUKIO MISHIMA Bruna WAGNER (UFMT) Henrique de Oliveira LEE (UFMT) ―La escuela de la carne‖ (2013), de Yukio Mishima, narra passagens de uma fase da vida da protagonista Taeko Asano, uma empresária do ramo da moda no Japão dos anos sessenta. Cercada por um ambiente de luxo e extravagância, Taeko, aos 39 anos, mantém uma vida de liberdade financeira, social e sexual. A narrativa traz uma atmosfera em que coabitam os costumes e imposições da sociedade tradicional japonesa com a modernidade que concede as mulheres uma maior flexibilidade, mas que ainda apresenta velhos preconceitos. A protagonista apresenta uma série de atributos que podem ser considerados pertencentes ao gênero masculino, porém, também são apresentados a nós alguns personagens masculinos que ocupam uma posição oposta. Entre esses personagens se destaca Senkitchi, amante de Taeko. No romance Senkitchi se vê ocupando um papel de dependente de sua ―protetora‖. Após a constatação desses elementos, podemos perceber que o romance ―La escuela de la carne‖ nos apresenta recursos para uma discussão acerca da inversão de papéis enquadrados como pertencentes ao universo feminino e/ou masculino. Esse substrato nos faz refletir como a mulher vem conquistando um espaço mais igualitário em relação ao ocupado pelo homem e também como velhos pensamentos pertencentes ao imaginário coletivo das sociedades em relação a divisão de papéis por gênero estão refletidos dentro da obra. O presente trabalho busca fazer intersecções entre os lugares ocupados pela protagonista e seu amante, bem como mostrar que, mesmo estando em uma posição de maior prestígio, Taeko ainda sofre pelo fato de ser mulher. Para embasarmos nossa discussão utilizaremos como aporte teórico autores como BUTLER (2003), elucidando sobre a noção de gênero e o enquadramento binário em que este se encontra relacionado, BEAUVOIR (1970), falando sobre os fatos e mitos do gênero feminino e HARAWAY (2004), como apoio para os debates a respeito do feminismo. Palavras-chave: Gênero; Feminino; Inversão de Papéis; Yukio Mishima.

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SIMPÓSIO TEMÁTICO 18

DIÁLOGOS LITERÁRIOS – QUESTÕES DE GÊNERO EM DEBATE Carla Alexandra FERREIRA (UFSCAR) Raquel Terezinha RODRIGUES (UNICENTRO) O Simpósio ―Diálogos Literários – questões de gênero em debate‖ tem por objetivo refletir sobre as questões de gênero presentes no texto literário em seus diálogos com os campos da cultura, memória, história e sociedade, respeitando as especificidades das diferentes correntes teóricas que fundamentam as leituras trazidas pelos membros deste simpósio. Destaca-se o caráter teóricoprático do simpósio e abre-se à possibilidade de uma abordagem transdisciplinar entre literatura e outras artes. A proposta do simpósio surgiu da necessidade de uma abertura para as várias possibilidades de abordagem do tema, que estão em consonância com a pluralidade necessária para os estudos de gênero na atualidade. Ferreira e Rodrigues (2013) ao pensarem sobre a questão de gênero na narrativa contemporânea apoiam-se em Bonnici (2007) quando esse argumenta que certas categorias e alguns termos são como elementos limitadores e não servem mais para tratar os estudos de gênero. Judith Butler (2003), por exemplo, apresenta uma proposta de revisitação dos estudos feministas e, por conseguinte, a crítica literária feminina. É seguindo essa linha apresentada pelos dois teóricos e discutidas por Ferreira e Rodrigues que o simpósio Diálogos literários propõe essa revisitação e discussão das teorias sobre gênero no texto literário. Palavras-Chave: Gênero; Literatura; Diálogos literários.

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Trabalhos Aprovados

AMÉRICA EM DIÁLOGO SOBRE QUESTÕES DE GÊNERO Raquel Terezinha RODRIGUES (UNICENTRO/Guarapuava) Carla Alexandra FERREIRA (UFSCar) Porta-vozes das mulheres negras de um modo geral, Maya Angelou e Conceição Evaristo trazem em sua poética um canto em que todas se reconhecem. Ao representarem a mulher negra, discutem sentimentos de identidade que transcendem fronteiras políticas estabelecidas, bem como suas literaturas nacionais, no sentido de resistir ao silenciamento por que passam. Assim, esse trabalho propõe a leitura dos poemas ―Alone‖ de Angelou e ―Eu-Mulher‖ de Conceição Evaristo sob a perspectiva dos estudos de raça e gênero. Ambas as autoras, por meio de sua arte, apresentam a figura feminina em resistência à discriminação por que passam por serem mulheres e por serem negras. Essa proposta será guiada pelas discussões apresentadas por Badinter (2005) sobre os rumos que o feminismo tomou a partir da década de 1990, pelas reflexões de Judith Butler (1990) para o conceito de mulher na trajetória feminista e pela declaração de Bonnici (2007), ao apresentar o posicionamento de Butler e seus desdobramentos, sobre a presença, na contemporaneidade, de vários feminismos e entre eles o das mulheres negras. Palavras-chave: mulheres negras; resistência; raça; gênero.

O FAZER LYGIANO EM A DISCIPLINA DO AMOR: LEITURAS POSSÍVEIS E/OU INTERDITADAS Fabrícia Rodrigues CARRIJO (UFG/ RC) Pretende-se com esta comunicação verificar a partir da lavra artística de Lygia Fagundes Telles, notadamente o livro A disciplina do amor (2010) a relevância de se pontuar um ―álbum de leitura‖, especialmente, sob o foco de suas narradoras-personagens e de posse destas narrativas, observar se haveria ou não uma prática de leitura e/ou até mesmo uma escritura mais comprometida com a questão de Gênero. Ao observar, detidamente, a materialidade constituinte das narrativas de Lygia Fagundes Telles, nota-se quase sempre referências, alusões, à palavra escrita, à leitura, à memória– leituras possíveis e ou interditadas paras as mulheres, personagens de sua ficção. A partir destas leituras e/ou das leituras realizadas pelas personagens lygianas, se entrevê que elas são (des)veladoras de séculos e séculos de preconceito contra as mulheres, quando não destinadas ao anonimato, cerceadas sobre o quê, quando, onde e com que finalidade poderiam ler. Enveredar pelo

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bosque ficcional de Lygia Fagundes Telles (para recorremos aqui a uma acepção tomada como empréstimo de Umberto Eco) é trilhar por entre caminhos obscuros, não raras vezes, interdito até para as próprias personagens e/ou narradoras; quase sempre fadadas ao anonimato, a serem um ―Ser do Outro‖ primeiro do pai, depois do marido e/ou na falta deste, a figura viril mais próxima, um irmão, um cunhado, nunca como um ‗Ser em Si Mesmo‘ como assim já o dissera Simone de Beauvoir (1980). Ou ainda, em alguns casos, o desejo da escrita fica circunscrito ao silêncio, aliás, ali se resguarda; a palavra ‗não-dita‘, mas sentenciada no gran finale, na hora da partida. Palavras-chave: Gênero; Álbum de Leitura; Lygia Fagundes Telles.

O LIMIAR ENTRE A CONFISSÃO E O SILÊNCIO FEMININO EM THE WISHING BOX, DE SYLVIA PLATH Matheus Torres de OLIVEIRA (Universidade Federal de São Carlos) O objetivo deste trabalho é investigar como se articula esteticamente o conto The Wishing Box, de Sylvia Plath, a fim de compreender a leitura autobiográfica empregada por parcela da recepção da escritora. Partindo dos pressupostos de PhillipeLejeune (2009) acerca da autobiografia e das escritas de si, observaremos como esse texto plathiano é mobilizado formalmente e responde ao horizonte de expectativas (JAUSS, 1994) da escrita confessional norte-americana do início da década de 1960. Além disso, busca-se pensar historicamente essa forma literária, visando observar como a escrita confessional está diretamente ligada à tensão entre o público e o privado consolidada durante a Guerra Fria, articulando-se como um contradiscurso à falsa ideologia de privacidade daquele contexto, bem como endereça importantes questões a respeito de gênero, sobretudo no que tange as mulheres. Desse modo, por meio das contribuições de Deborah Nelson (2002), busca-se compreender as potencialidades desse texto plathiano para além de seus rastros autobiográficos, mas também como o mesmo figura críticas que perpassam o corpo, a submissão e ao escrutínio da mulher norte-americana durante a Guerra Fria. Além disso, ampliando o espectro de sua fortuna crítica, partindo do singular ao plural, será possível observar o diálogo de Plath com a tradição literária feminina (SHOWLATER, 1999). Palavras-chave: Sylvia Plath; escrita confessional; gênero.

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AS MÁSCARAS FEMININAS EM “HENRIQUETA EMÍLIA DA CONCEIÇÃO”, DE MÁRIO CLÁUDIO Luana SACILOTTO (Universidade Federal de São Carlos) A obra dramática ―Henriqueta Emília da Conceição‖ (1997) de Mário Cláudio, é estudada por meio de uma análise de cunho sócio-histórica, a partir das personagens Henriqueta e Teresa Maria de Jesus, na qual o objetivo é pontuar os aspectos estéticos de construção das personagens femininas e homoafetivas, além de demonstrar como se articularam estas máscaras dentro de uma sociedade patriarcal, tendo como cenário a conjuntura portuguesa do século XIX. Transportando para as malhas da ficção, o autor aproveita este contexto para ficcionalizar as maneiras como tais incidências interferem nas histórias dessas duas personagens, marcadas pelo trágico e pelo melodramático. Parte-se de um ponto de vista feminista e dissertativo em torno da mulher, como os desenvolvidos por Simone de Beauvoir (2014), Ruth Silviano Brandão (2006) e Marilena Chaui (1984), busca-se traçar um diálogo com a Teoria do Teatro Moderno, de Peter Szondi (2003), bem como com as ideias do ensaísta português Pedro Barbosa (1982). O corpus possui dois níveis de análise: um focado no elemento externo (o social e o histórico) e no que isso infere na dramaturgia, considerando o período estudado; e, outro, na efabulação das máscaras femininas e o papel desempenhado pelas personagens.Espera-se dos resultados uma reflexão sobre tal construção das personagens femininas, vistas por um criador masculino, focalizando a análise nos papéis sociais desempenhados por elas, seja pelo viés da mulher prostituta, seja pelo viés da mulher lésbica. Procura-se, portanto, unir as inquietações da ficcionalização do gênero com as implicações estéticas do drama. Palavras-chave: crítica feminista; teatro; Mário Cláudio.

A REPRESENTAÇÃO DA MULHER NO SÉCULO XX: UMA LEITURA POLÍTICA DE DIÁRIO DO ÚLTIMO ANO DE FLORBELA ESPANCA Dayse Martins da COSTA (UNICENTRO) Vanessa Aparecida KRAMER (UNICENTRO) Neste trabalho objetivamos analisar Diário do último ano (1982) da escritora portuguesa Florbela Espanca pelos três níveis de leitura propostos por Fredric Jameson em O inconsciente político: A narrativa como ato simbólico (1992). Tais níveis de leitura que partem do nível mais superficial ao mais complexo do texto literário. No primeiro nível, lemos o texto como uma escrita de si, em que é narrado por uma voz individual o drama de Bela, uma virgem próxima da morte. Nesta primeira etapa, a leitura proposta está focada na narrativa do texto memorialístico. No segundo nível,

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ampliamos nossa leitura para os grandes discursos da História presentes na narrativa; o estereótipo da mulher na sociedade portuguesa do final do século XIX e início do século XX. Finalmente, no terceiro nível nos voltamos para a ideologia da forma para entender como Florbela Espanca tratou em sua obra de temas acerca do universo feminino como o casamento, a maternidade e a sensualidade por um viés distanciado e transcendente ao seu tempo, percebendo como o texto memorialístico configura-se enquanto forma e conteúdo. Além da interpretação proposta por Jameson, a fundamentação teórica perpassará autores como Philippe Lejeune (1975), Clara Rocha (1992), Marcelo Duarte Matias (1997), os quais tratam da escrita de si, para pensarmos os motivos que levaram a escritora a optar pelo texto memorialístico e como a obra configurou-se nas mãos de uma poetisa. Palavras-chave: Diário; Florbela Espanca; Memórias.

O SILENCIAMENTO DE CLEÓPATRA UMA RAINHA RELEGADA AO SEGUNDO PLANO Regiane Maria FERREIRA (UEPG-Pós-graduação) Marly Catarina SOARES (UEPG- orientadora) O presente trabalho tem como objeto de estudo a tragédia Antônio e Cleópatra (2001), do dramaturgo inglês Willian Shakespeare, traduzida pela crítica teatral brasileira Barbara Heliodora, a peça tem como centro a paixão entre a rainha Cleópatra e o general romano Marco Antônio. Procura-se analisar na obra o silenciamento vivenciado pela personagem Cleópatra, a escolha deste tema justifica-se por meio de reflexões em que na literatura a figura feminina foi por diversas vezes subjugada e colocada de lado em relação à figura masculina, sendo assim ―o texto literário é sempre confusão de vozes‖ (BRANDÃO, 1989). Para tanto, observa-se que apesar de a maioria das Cenas ocorrerem no Egito, Cleópatra é apresentada como uma co-protagonista (HELIODORA, 2001) em seu próprio território, sua personagem aparece sem a presença de Antônio em apenas quatro cenas, contra onze dele isoladamente (HELIODORA, 2001), em que se evidenciam falta de atitude e comportamento de submissão da rainha em relação ao general romano. Com isso, busca-se mostrar como ocorre o silenciamento da personagem feminina na peça refletindo acerca do papel da mulher no Antigo Egito e na era shakespeariana, por meio do campo de estudos sobre cultura e feminismo. Para embasar a pesquisa utilizar-se-á das concepções de Heliodora (2001), Branco e Brandão (1989), Culler (1997), Richard (2002), Scott (1999), Butler (1998), Hall (2002). Palavras-chave: Cleópatra; feminismo; Shakespeare.

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O QUE É TEORIA QUARE AFINAL? Fernando Luís de MORAIS (IBILCE/UNESP) Embora questões de raça e de gênero já tenham sido extensivamente discutidas e contem com um aporte teórico próprio a cada uma delas, uma teoria que abarque as especificidades atreladas à intersecção identitária dessas duas categorias e que promova uma estratégia de leitura que as articule ainda não é conhecida no contexto acadêmico brasileiro. Proponho, portanto, trazer à ribalta as ideias de reconceptualização dos estudos Queer lançadas por E. Patrick Johnson (2005) em seu texto “Quare” studies, or (almost) everything I know about queer studies I learned from my grandmother, que constituem as bases do que se convencionou chamar nos Estados Unidos de Teoria Quare. Fundamentado nesta perspectiva analítica ainda pouco explorada, pretendo focalizar alguns hiatos deixados pela Teoria Queer em pontos em que não é capaz de acomodar questões encaradas especificamente por lésbicas, bissexuais, gays e transgêneros negros. Ao apresentar tais reflexões, ilustro, a partir do poema Through the fire, do autor negro-gay norte-americano Thomas Grimes, como essa confluência de identidades reivindica o lugar da diferença, conduzindo a um despontamento de leituras mais apuradas da identidade quare, forçosamente refreada, coibida e subjugada ao anonimato e ao ostracismo por regimes hegemonicamente instituídos baseados em categorias estritas de gênero e raça. Palavras-chave: Identidade de raça e gênero. Teoria Queer/Quare. E. Patrick Johnson. Through the fire. Thomas Grimes.

AS MULHERES E A INTELECTUALIDADE: MONTSERRAT ROIG, FEMINISMO E LITERATURA Katia Aparecida da Silva OLIVEIRA (UNIFAL-MG) Entre 1977 e 1980, Roig publica um conjunto de textos que abordam a questão da ausência feminina nas artes e ciência, discutindo a história das mulheres e sua inserção no campo literário. O primeiro texto desse conjunto foi o artigo ¿Por qué no ha habido mujeres-genio? (1977), publicado na revista Vindicación Feminista. Nele, a partir de uma situação cotidiana, um diálogo com um intelectual francês, discute-se o lugar da mulher no âmbito da criação intelectual, rebatendo a proposição da ideia de que não seria possível haver mulheres gênio. Posteriormente, esse artigo foi recuperado e transformado em ficção aparecendo, em 1980, no romance L’hora violeta, surgindo como parte de uma conversação ao longo de uma carona que recebe a personagem Norma de um jovem casal francês. No romance, porém, a fim de manter a verossimilhança ficcional, as referências a obras e intelectuais que tratam da questão são omitidas. Por fim, publica-se, ainda em 1980, a obra

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ensaística de Roig ¿Tiempo de Mujer?, na qual é inserido um apartado intitulado, novamente ¿Por qué no ha habido mujeres-genio?, porém, dessa vez, o texto composto de três partes, é mais desenvolvido e trata das possibilidades da produção intelectual feminina desde diferentes pontos de vista, recorrendo a pensadoras como Virginia Woolf ou Simone de Beauvoir. Dessa forma, o presente trabalho propõe uma análise das três versões desse texto, considerando seu processo de criação, já que foi reescrito em três ocasiões e em formatos de divulgação distintos, além da proposta de releitura da história das mulheres e de sua capacidade intelectual e artística. Palavras-chave: Montserrat Roig; Feminismo; Mulher e Literatura; História das mulheres.

CORPO E POESIA, POESIA E CORPO – CORPO-POESIA Douglas Rosa da SILVA (UFRGS) Perspectivas de caráter singelo, plural e movediço: sob o prisma do poético, a palavra, a letra, a deformidade do signo ocasiona violência. A partir de poéticas inscritas na contemporaneidade, todas registradas sob a autoria feminina, busca-se, maiormente, examinar algumas das múltiplas subjetividades acerca do corpo propostas pelo palavreado poético dado pelas mulheres, visto que, na problematização pela compreensão do contemporâneo, há uma urgência pela expressão de corporalidades distintas que não estão mais orientadas para a subserviência imposta pela estrutura androcêntrica. É observado que os poemas, dados de modo temporalmente indisciplinado e em locução com a singularidade do ser, faz culminar na leitura do corpo-poesia, que se calca em lacunas, violências, rachaduras no que é tido verdadeiro. Neste seguimento, constata-se que há uma re-inauguração autêntica de uma poesia que se constitui no olhar bambeado entre o público e o privado, traço que expõe o poema entre limiares que já não se cartografam numa única via, portanto, há o indício de uma fuga do que se denomina hegemônico. Para análise, volta-se para o bojo de teorias contemporâneas que elencam, em híbrido, corpo-imagem-linguagem. Efetua-se, a partir disto, uma explanação possível mediante aos corpos que se arrebatam junto, inerente e imageticamente ao poema. No conclusivo, constata-se que o corpo-poesia, na acepção de contravocábulo, se fortalece por intermédio do âmbito poético. O corpo-poesia é, assim, um forareal – e possível – corpo para as mulheres. Palavras-chave: Poesia; Corpo; Subjetividades.

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O TRISTE OLHAR EM FRENTE AO ESPELHO: UMA ANALISE SOBRE A REPRESENTAÇÃO DA MULHER NEGRA EM “THE BLUEST EYE” DE TONI MORISSON Karla Cristina dos PASSOS Raquel Terezinha RODRIGUES UNIVERSIDADE FEDERAL DE SÃO CARLOS O presente estudo tem como objetivo analisar o livro ―The Bluest Eye‖ (1970), romance da escritora Toni Morrison, pelo viés da representação da mulher negra na literatura norte-americana. A narrativa que tem como personagens principais três garotas negras entre 9 e 12 anos, narrada por meio das memórias de infância da mais nova é permeada por suas reflexões a cerca da construção de sua identidade enquanto mulher negra. Possibilitando a análise aqui proposta, pautada na construção desta narradora como expressão do impulso utópico da autora de representar a condição subalternizada da mulher negra norte-americana dos anos quarenta. Para tanto, é necessário contextualizar historicamente o a época em que se passa a narrativa e o momento histórico em que a o livro foi lançado, no ano de 1970, período de intensa efervescência na luta pela conquista dos direitos civis dos negros norte-americanos e analisar as estratégias de contenção usadas pela autora para expressar seu questionamento social sem comprometer a narrativa. Para tanto, tomaremos por base o discurso da personagem/narradora Claudia em articulação com as teorias literárias desenvolvidas por Fredric Jameson, uma análise do contexto histórico em que a narrativa se passa, estudos pós-coloniais e estudos sobre ―solidão da mulher negra‖. Palavras-chave: Literatura feminina negra; Toni Morrison; Direitos civis; Fredric Jameson.

A VOZ DE UMA PERSONAGEM AUSENTE Lisiane SELIGMANN (PUCRS) Maus, (1980), de Art Spiegelman, foi a primeira narrativa gráfica a ganhar um prêmio Pulitzer em 1992. A história é sobre a dificuldade de um cartunista em visualizar e retratar o testemunho de seu pai, Vladek, sobrevivente de Auschwitz. O relato que edifica a história de Maus é um relato com noções masculinizadas e paternais, já que o protagonismo é de pai e filho. No entanto, uma personagem que não participou das entrevistas que serviram de base para a criação de Maus é sempre mencionada: Anja Spiegelman, a mãe de Art e esposa de Vladek. Maus é dominado pela ausência da voz de Anja e pela destruição de seus diários. Ainda assim, Anja é sempre rememorada pelo filho ou pelo marido, suas falas são imaginadas por Art ou relembradas por Vladek. Dessa forma, Anja é uma constante presença visual mas nunca verbal. Após Anja tirar sua própria vida, ela

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teve seus diários de sobrevivente de guerra queimados. Anja Spiegelman foi silenciada duas vezes e ela representa a subalterna das subalternas (MERINO, 2010). Spivak (1942) diz que a mulher como subalterna não encontra meios de falar, e quando tenta, não consegue se fazer ouvir. Nesta história, e fora dela, Anja assume papel de ―viúva‖. Além disso, Marianne Hirsch (1997) sugere que como o legado de Anja foi destruído, Maus pode ser considerado como uma tentativa de pai e filho para encontrar a perspectiva perdida da mãe. Por isso, este trabalho se propõe a organizar e analisar os pedaços constituintes da história de Anja presentes em Maus e (re)construí-los, a fim de encontrar sua perspectiva e devolver sua voz. Esta investigação será feita levando–se em consideração a linguagem específica das narrativas gráficas e referencial teórico relativo a essa arte, à memória e aos estudos de gênero. Palavras-chave: Memória; Gênero; Narrativa Gráfica.

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RESUMOS DAS SESSÕES DE COMUNICAÇÃO INDIVIDUAL

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A REPRESENTAÇÃO FEMININA NA NOVELA LA HIJA DEL MAR, DE ROSALÍA DE CASTRO Alessandra Hungria da Cunha (MESTRANDA UNICSUL-SP) O presente trabalho pretende apresentar um estudo sobre as figuras femininas na novela La Hija del Mar de Rosalía de Castro1858, poetisa do Romantismo Espanhol. A novela é divida em vinte capítulos nos quais aborda temas frequentes no que diz respeito ao universo feminino, tais como o amor, a natureza e a liberdade. A novela analisada remete à história de duas mulheres e tem como prisma da construção a identidade de gênero e o domínio do feminino, que se mantém desde o começo ao final da novela, enquanto que os homens ocupam um lugar secundário. Abordaremos nesse trabalho como se constitui o papel da mulher, abordando os seus principais paradigmas e os ideais de postura feminina esperada, uma vez que Rosalía transcende a sua própria obra mostrando seus ideias sobre a mulher e obsessões pessoais, adquirindo um valor social, cultural e político que num contexto de literatura normalizada como a galega, fazendo uma defesa reivindicativa aos direitos das mulheres a vida intelectual. Trataremos a condição da mulher a dependência social e econômica com respeito ao marido, sua indefesa perante a justiça, e o jogo do trabalho que a mantém presa a casa, La Hija del Mar traça o perfil da mulher do século XIX. Palavras-chave: Romantismo Espanhol; Rosalía de Castro; Novela; Feminismo.

A MULHER AUTORA: ANÁLISE DE CONTOS DE AUTORIA FEMININA Ana Letícia Barbosa de Faria Gonçalves (UNESP - FCLAr) O presente trabalho tem como objetivo central a leitura crítica de contos de autoria feminina a partir da abordagem teórica feminista fundamentada principalmente na obra crítica The Madwoman in the Attic, de Sandra M. Gilbert e Susan Gubar. Entende-se que este viés teórico se apresenta como uma rica via de acesso a aspectos relevantes do texto que se vinculam à condição da mulher autora dentro da sociedade a que pertence. Foram selecionadas sete escritoras de nacionalidades e contextos biográficos diversos, cujas obras datam do fim do século XIX até o fim do século XX. As autoras estudadas e seus respectivos contos são: Kate Chopin: ―The Storm‖ e ―The Story of an Hour‖; Charlotte Perkins Gilman: ―Yellow Wallpaper‖ e ―If I were a man‖; Katherine Mansfield: ―The Singing Lesson‖ e ―A Dill Pickle‖; Doris Lessing: ―To room nineteen‖ e ―Wine‖; Angela Carter: ―The Company of Wolves‖ e ―The Werewolf‖; Alice Munro: ―Boys and Girls‖ e ―Post and Beam‖; Marina Colasanti: ―A Moça Tecelã‖ e ―De Água nem tão Doce‖. A análise pretendeu compreender aspectos relacionados à linguagem, história e construção de personagens, relacionando estes elementos a problemáticas centrais desveladas pela crítica feminista. Entende-se que a variedade

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ampla deste corpus possibilita uma visão panorâmica de questões de gênero que cercam autoras mulheres e suas produções artísticas em uma sociedade patriarcal em que a cultura é detida e determinada pelo masculino. Palavras-chave: autoria feminina; contos; teoria feminista.

SOBRE AMOR(AS): NOVOS OLHARES SOBRE A HOMOAFETIVIDADE FEMININA NOS CONTOS DE NATÁLIA BORGES POLESSO Ana Luiza Nunes Almeida (Universidade Federal do Rio Grande do Sul) A literatura pode ser vista como um espaço alternativo de ocupação feminina e de performatividades homoafetivas, pois se percebe que é um instrumento significativo de transmissão de culturas e ideologias. A partir do estudo que leva em consideração corpo e sexualidade como significantes produtores de novos discursos, se busca entender as estratégias narrativas utilizadas pela escritora para desenvolver o tema em seus contos e refletir sobre as tensões, subversões e intervenções engendradas no espaço literário brasileiro contemporâneo. Se quer identificar de que forma as escritoras constroem protagonistas homoafetivamente inclinadas, abordando um tema ainda estigmatizado na literatura. Nesse sentido, o objetivo é analisar o tema refletindo sobre a possibilidade de pensar o gênero a partir da subversão de uma de suas matrizes de inteligibilidade que é o desejo heterossexual compulsório. Para tanto, é preciso pensar a importância do corpo em trânsito pelos diversos espaços em um processo de reconstrução subjetiva e afetiva e, também, na legitimação dos discursos que são oprimidos pela normatização heteropatriarcal. A coletânea foi escolhida porque permite a problematização de identidades fixas que são embutidas nos sujeitos contemporâneos, entendendo a urgência em pensar esses sujeitos a partir da noção de identificação, a qual desestabiliza o sistema binário e propõe uma reflexão de novas possibilidades identitárias. Os contos não condicionam as protagonistas à rotulações e definições padronizadas, permitindo o trânsito dos corpos – pelas descobertas e escolhas – em sexualidades que lhes são interessantes em determinados movimentos espaço-temporais. Palavras-chave: Homoafetividade; lésbica; feminismo; discurso.

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DAS EXPERIÊNCIAS DE BENO E KID: REPRESENTAÇÕES DE GÊNERO EM LUNÁRIO (1988), DE AL BERTO André Luiz Russignoli Martines (Universidade Federal de São Carlos – UFSCar) Na ficção Lunário (1988), assim como em outras de suas obras, o escritor português Al Berto aborda a questão de gênero a partir das práticas corporais dos sujeitos representados, tais como os andróginos Beno e Kid, personagens que vivenciam experiências de transgeneridade e resistência sexual ao longo da narrativa, a despeito dos valores heteronormativos ainda vigentes no Portugal pós Revolução dos Cravos (1974). À luz das reflexões de Joan Scott (1995) sobre o gênero, relaciona-se a experiência contracultural dos anos de 1960 e 1970 às representações feitas pelo autor, no sentido de questionarmos a fixidez da noção de gênero, bem como o binarismo que a subjaz, por meio das relações estabelecidas com o contexto histórico-social no qual Al Berto se insere. Com um estilo de linguagem de alto teor lírico, possibilitando determinada abrangência de significação, as personagens constroem suas subjetividades marcadas pelo signo da multiplicidade do desejo e por experiências que performatizam (Butler, 2003) práticas dissidentes do corpo, o que nos leva à reflexão de uma desconstrução e uma reelaboração de valores de gênero na escrita de Al Berto. De tal modo, nota-se a inserção dessas subjetividades transgressoras, as quais não se fundamentam em perspectivas normativas ou identitárias, mas, antes disso, reelaboram valores sociais hegemônicos trazendo, juntamente, a necessidade de narrar suas vivências baseadas em uma ontologia de contestação às normas de gênero. Palavras-chave: gênero; performatividade; corpo; Al Berto; Lunário.

VIOLÊNCIA, REPRESSÃO E TRANSGRESSÃO: O FEMININO EM DOIS ROMANCES CONTEMPORÂNEOS DE LÍNGUA PORTUGUESA Angélica Catiane da Silva de Freitas (Universidade Federal de Mato Grosso do Sul) A proposta é uma análise comparativa entre dois romances contemporâneos de língua portuguesa: Sinfonia em Branco (2001), de Adriana Lisboa, e o remorso de baltazar serapião (2006), de Valter Hugo Mãe. O objetivo é abordar as diversas formas de violência de gênero a que são submetidas as personagens femininas de ambos os romances, vítimas de violência física, psicológica e moral, além do silenciamento no seio familiar ao qual são expostas; procurando demonstrar o diferente tratamento que cada um dos autores dá ao tema. Enquanto as personagens de Lisboa procuram sobreviver aos traumas da violência a que são submetidas, fazendo de seus próprios corpos um espaço de transgressão às regras sociais impostas às mulheres; no romance de Mãe, cuja história se passa na Idade Média, a misoginia e a violência contra o feminino são levadas ao extremo, não

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sendo permitidas às personagens mudanças em seus trágicos destinos. Não é à toa que uma vaca (a sarga) adquire o estatuto de personagem na obra, sendo, algumas vezes, usada como parâmetro de comparação com as mulheres da casa. Nesse romance, o uso da hipérbole e do deslocamento temporal para falar da condição feminina faz do livro um grito, uma denúncia da, ainda, ―subterrânea‖ voz das mulheres. Palavras-chave: Romance contemporâneo; violência; feminino.

A OBRA POÉTICA DE STELA DO PATROCÍNIO, MULHER, NEGRA E INTERNA DE INSTITUIÇÃO MANICOMIAL Anna Carolina Vicentini Zacharias (Instituto de Estudos da Linguagem – IEL/ UNICAMP) Stela do Patrocínio (1941 – 1992) foi uma mulher pobre, negra e interna de ambiente manicomial a partir dos 21 anos e até a data de sua morte. Durante o período de internação, recebeu tratamento de choque, medicamentos para tratar o diagnóstico de esquizofrenia e sobreviveu à superlotação da Colônia Juliano Moreira, localizada em Jacarepaguá, Rio de Janeiro, Brasil. Devido aos avanços da luta antimanicomial, a referida Colônia passou a receber a artista plástica Neli Gutmacher e seus alunos em um projeto que visava aplicar arte como terapia. Stela foi uma das internas que participou das atividades, solicitando um gravador para que, nele, pudesse registrar a maneira como entendia o mundo, as relações e o cotidiano no manicômio, sua situação enquanto sujeito e enquanto mulher negra interna de um hospital psiquiátrico. Esses registros foram por ela denominados ―falatório‖. Suas falas foram transcritas, organizadas e publicadas postumamente como livro de poemas intitulado Reino dos bichos e dos animais é o meu nome (2001) e, além de sugerirem pausas poéticas e serem marcadas por recursos literários, como figuras de linguagem e de pensamento, entre outros, também traz reflexões de gênero, raça e questionamentos acerca do sistema psiquiátrico brasileiro.O presente projeto visa, portanto, analisar sua poesia a partir de um estudo interdisciplinar, que discute autoria feminina (Virginia Woolf, Sandra Gubar e Susan Gilbert), autoria negra (Frantz Fanon e Zilá Bernd), ambientes manicomiais (Michel Foucault, Erving Goffman, Jurandir Freire) e a consolidação do cânone literário como um dos espaços de manutenção da ordem vigente. Palavras-chave: Stela do Patrocínio; poesia brasileira; gênero; raça; manicômio.

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THE CHALLENGES OF COMING OUT IN THE AMERICAN HUMAN RIGHTS MOVEMENTS PORTRAYED IN DUSTIN LANCE BLACK‟S WHEN WE RISE Carlos Eduardo de Araujo Placido (Universidade de São Paulo) Dustin Lance Black is an American screenwriter known for composing LGBTQ characters who constantly face discrimination against their sexuality. In his last writing production, the television short series: When we rise (2017), his many characters tally directly with personal and political struggles while attempting to found different types of American Human Rights movements. Black (2017)‘s basic plot ranges from retelling the main occurrences generated during the Stonewall riots of 1969 in USA to the legalization of same-sex marriage by the their Supreme Court in 2015. In fact, Black‘s dramatic plotting and setting of the LGBTQ civil rights movement in the United States encompass an enormous scope of LGBTQ‘ diverse struggles to gain proper representability and legal rights. For this reason, the main objective of this research was to investigate Black (2017)‘s characters‘ struggles for social recognition, against social exclusion, homophobia and the criminalization of homosexuality. Both his protagonists as well as his deuteragonists (Welch, 2011)‘s sexuality are constructed transiently (AUGÉ, 2010), fluid (Bauman, 2013) and fragmentary (BLANCHOT, 2015). These characteristics do not only represent his characters‘ unstable and moveable sexuality, but they also display their struggles against different types of discrimination and the fighting development against them. His main screen narrator (Butte, 2008), Cleve Jones, is out of the closet (Sedgwick, 1990). However, his ―outness‖ intensified his personal and political struggles, forcing him to get in the closet now and then. Keywords: LGBTQ Human rights; Sexual exclusion; Homophobia.

MULHERES “MALDITAS”: AS LÉSBICAS NA POESIA DE BAUDELAIRE Cleidiane Gonçalves França (UFG/Jataí) O século XIX colocou a mulher no processo de produção, ela foi trabalhar nas fábricas, longe do ambiente doméstico ao qual sua imagem sempre esteve associada. O poeta francês Charles Baudelaire (1821-1867) constrói em sua poesia personagens femininos com traços masculinos, uma mulher ―heroína‖ e ―moderna‖, especialmente capaz de atitudes heroicas. Para ele, a modernidade é aquela que coloca todas as pessoas como serviçais da nova classe dominante, a burguesia, e que faz da mulher apenas uma mercadoria do prazer sexual. Segundo Walter Benjamin, em Baudelaire, a lésbica é a heroína da modernidade (KOTHE, 1991, p. 113), heroína de traços másculos e conduta desviante perante a sociedade burguesa que prega a moral e os bons costumes. Nesse sentido, a

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comunicação que apresentarei consiste em investigar a figura da mulher nos escritos do poeta francês, que as descreve como ―fêmeas malditas‖. Em 1845 Baudelaire anunciava a amigos o lançamento de um livro de poesia lírica chamando Les Lesbiennes. O livro sobre o amor entre duas mulheres foi intitulado, depois de 1857, As flores do mal e apresentavam os poemas sobre a mulher lésbica. Diante disto espero demonstrar a luz dos estudos de gênero e das contribuições advindas da História Cultural, que o poeta ao escrever seus versos sobre as mulheres lésbicas não deixa de intervir na esfera pública abrindo o debate sobre os papéis disponíveis para cada um na modernidade. Nos escritos de Baudelaire as mulheres representam a perda da natureza, que surge como aspecto chave da modernização. A mulher andrógina, a lésbica, a prostituta, a mulher sem filhos, todas indicam novos temores e novas possibilidades, levantando questões, ainda que elas não dessem resposta, tais como a erotização da vida na metrópole. Palavras-chave: Baudelaire; Mulheres; Lésbicas; Poesias; História.

A CONSTRUÇÃO DA HEROÍNA MARGARET HALE, EM NORTE E SUL, DE ELIZABETH GASKELL: A FIGURA FEMININA EM EVIDÊNCIA Daiane de Cássia Martins Fazan (UNESP/IBILCE - São José do Rio Preto) Neste trabalho, objetivamos a análise da construção da heroína Margaret Hale, em Norte e Sul (1854-1855), da escritora britânica vitoriana Elizabeth Gaskell, com especial atenção para a posição/espaço que é conquistado a duras penas pela personagem, enquanto mulher e militante da causa operária, tendo em vista as grandes dificuldades de se ter vez ou voz em um ambiente dominado por homens e opressões de toda a natureza. Trabalharemos, principalmente, com a observação dos ideais de liberdade, emancipação e justiça empreendidos pela heroína (inimagináveis para uma mulher do século XIX), uma vez que a referida personagem não aceita as condições que lhe são impostas, a saber: os ideais de feminilidade, a hipocrisia que permeava as relações da sociedade vitoriana com relação aos papéis das mulheres e das trabalhadoras, em plena Revolução Industrial (tempo da escrita romanesca). Para isso, trabalharemos com as reflexões históricas de (HOBSBAWN, 2007), em A era das revoluções. Ademais, olharemos com cuidado para a formação da classe operária (principalmente para as mulheres operárias), discutidos por (THOMPSON, 1989), em A formação da classe operária inglesa: a força dos trabalhadores. Para a discussão sobre os papéis das mulheres e, consequentemente, da heroína, consideraremos as observações de (WOOLF, 1929), contidas no ensaio intitulado Um teto todo seu, além das ponderações de (STEVENS, 2002), em A operária do Romance Inglês e estadunidense do século XIX. Desse modo, procuraremos, com todo esse exercício, responder a uma das questões mais

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importantes de nosso trabalho: a heroína conquista, de fato, seu espaço ou é apenas tolerada, por meio de um falso acolhimento, pela sociedade da época representada no Romance? Palavras-chave: construção da heroína; Norte e Sul; sociedade vitoriana.

NÃO VIVERAM FELIZES PARA SEMPRE: A DESCONSTRUÇÃO DE ESTEREÓTIPOS DE CONTOS CLÁSSICOS EM ANA MARIA SHUA Danieli Munique Fontes da Silveira (Instituto de Biociências, Letras e Ciências Exatas – São José do Rio Preto) Marcia Espinoza-Vera (2010) já mostrou como escritoras latino-americanas reduzem às situações humorísticas e paródicas as relações tradicionais do feminino estabelecidas pelo modelo de sociedade patriarcal. A escritora argentina Ana María Shua está dentre essas escritoras. Retomando os contos de fadas clássicos, Shua produz narrativas quebrando estereótipos e trazendo uma reflexão sobre o discurso patriarcal dominante no conjunto de microrrelatos reunidos em Versiones (terceira parte do seu livro Casa de Geishas). Com um tom humorístico, a figura feminina não é construída como a mulher que busca a sua felicidade em um bom casamento, antes sim é delineada como capaz de tomar decisões, responsável por seus próprios atos, com ambições e desejos próprios Dessa forma, o objetivo deste trabalho é observar a desconstrução dos discursos recebidos (discursos de poder, de dominação, da intimidade doméstica, do imaginário masculino sobre a mulher como ser sexual) no conjunto de microrrelatos citados para constatar uma reflexão presente na escrita feminina de Shua: o texto permite uma leitura lúdica e descompromissada, mas essa dupla leitura faz parte de um jogo textual que criptografa uma ideologia revolucionária. Além do estudo já citado, utilizaremos também o trabalho de Larrea (2004), que reflete sobre a transformação das imagens estereotipadas e desautomatização de clichês sacralizados pela nossa cultura. Portanto, esperamos mostrar como a quebra de estereótipos desautomatiza a visão de imagens cristalizadas no imaginário social; estas imagens nos eram impostas e, muitas vezes, silenciava a figura feminina, porém esta ganha uma voz forte e dominante para ser ouvida por todos. Palavras-chave: Feminino; Estereótipo; Desconstrução;

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AUTOBIOGRAFIA DE AMANDINE AURORE LUCILE DUPIN – GEORGE SAND Dolores Aparecida Garcia (UFMT) Simone Vicente Morais (UFMT) O presente trabalho – resultado parcial de uma pesquisa de doutorado em andamento em Estudos de Linguagem, na UFMT – tem como corpus a obra de Amandine Aurore Lucile Dupin que adotou, no século XIX, o pseudônimo de George Sand. Na época, a mulher não poderia se expor na literatura, a não ser com textos ―cor de rosa‖, cujo reflexo político era inócuo. A pergunta, para uma situação que se iniciava, era até que ponto a autora conseguia, na obra literária, defender causas femininas – pois não se declarava feminista – na voz de George Sand. A mulher corajosa, então, inspirou um estudo bibliográfico e qualitativo, cujo objetivo é buscar as idiossincrasias na simbiose entre a mulher/defensora do feminino e George Sand/defensor da mulher em uma sociedade que a desqualificava como sujeito da História. O romance intitulado Histoire de ma vie, escrito no período de 1847 a 1855, expõe um pacto autobiográfico construído por George Sand, que se constituía em 5 volumes.A pesquisa mobiliza a noção de pacto autobiográfico, adotada por Philippe (2008). Teremos como fundamentação Bakhtin (2014), Maurois (1956), Sand (1945, 1947), Ricoeur (2014), no intento de conseguir-se este profundo mergulho na intimidade e consequentemente na autenticidade do pseudônimo, ou seja, um homem diante das posições femininas. O resumo copila algumas abonações retiradas do romance Histoire de ma vie, para, em seguida, refletir sobre a comunhão que a autora conseguiu ou não, realizar em sua arte uma questão de gênero e alteridade. Palavras-chave: autobiografia; autenticidade; questão de gênero.

ISOLDA E GUINEVERE NA POÉTICA VISUAL DE N.C. WYETH Edna Carla Stradioto (IBILCE/UNESP) Nesta comunicação são examinadas as ilustrações do artista norte-americano N.C. Wyeth (18811945) para as personagens de Isolda e Guinevere no clássico inglês The Boy’s King Arthur (1880) de Sidney Lanier, e que foram realizadas pelo pintor em 1917. Newell Convers Wyeth (1882-1945), conhecido como N.C. Wyeth, tornou memoráveis as imagens de vários clássicos da literatura, e é reconhecido como um dos nomes de destaque dos Anos Dourados da ilustração literária nos Estados Unidos (1870-1950). O livro The Boy’s King Arthur é uma adaptação de Lanier (1842-1881) para as crianças das famosas histórias do Rei Arthur e os Cavaleiros da Távola Redonda, que, por sua vez, têm origem em lendas que compõem a obra Le Morte D’Arthur (1485), atribuída a Sir Thomas Malory. A adaptação conta com dezessete ilustrações de Wyeth, das quais duas são de Isolda e outras duas, de Guinevere. Apesar de o livro enfocar o universo medieval do romance de cavalaria,

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Wyeth explorou, com relação a essas personagens, as cenas românticas entre Tristão e Isolda e aquelas que descrevem a comoção do Rei Arthur ao lado do corpo (morto) de Guinevere. Assim, será discutido no trabalho até que ponto as escolhas do autor se aplicam aos interesses do público infantil, ao qual o texto é endereçado, e, especialmente, como implicam em questões de gênero, considerando as maneiras por meio das quais se dá, visualmente, a representação e construção estética das personagens. Palavras-chave: Isolda, Guinevere; Rei Arthur; N.C. Wyeth; ilustração

A ESCRAVIDÃO NA MEMÓRIA DA PERSONAGEM MINTAH, EM FEEDING THE GHOSTS (1997), DE FRED D‟AGUIAR Elis Regina Fernandes Alves (UNESP/UFAM/FAPEAM) Nesse trabalho analisar-se-á o romance Feeding the Ghosts (1997), do anglo-guianense Fred D‘Aguiar, verificando como a personagem protagonista Mintah, escrava jogada ao mar no navio Zong durante a passagem intermédia que conseguiu se içar de volta ao navio e tentou organizar um motim, rememora os fatos ocorridos dentro do navio e sua vida como escrava após conseguir sair viva dele. As memórias da personagem mesclam-se às memórias coletivas da escravidão em Maryland e na Jamaica, e a memória histórica do navio Zong (navio que realmente existiu, cujo capitão jogou 132 escravos doentes ao mar para conseguir o dinheiro do seguro) é recontada sob a perspectiva dessa personagem, uma jovem mulher que não se curva diante da crueldade do capitão do navio e tenta impedir que seus colegas escravos não sejam atirados vivos ao mar. Nesse sentido, a metodologia foca nas considerações da obra A memória coletiva (2006), de Maurice Halbwachs. Porém, sem conseguir salvá-los, Mintah carrega para sempre a memória de suas mortes e já na Jamaica, idosa, esculpe 131 carrancas que os simbolizam. São os fantasmas que ela alimenta dia a dia com a culpa. A protagonista havia escrito um diário que denunciava a crueldade do capitão, mas que não foi ouvido no tribunal. Com isso, conclui-se que Mintah, ao longo de sua vida como escrava, é atormentada pelas memórias das mortes que presenciou e do motim que falhara, nunca mais conseguindo chegar sequer perto do mar, por ele representar sua incapacidade de agência diante da escravidão e de sua barbárie. Palavras-chave: memória; escravidão; Feeding the Ghosts; Mintah.

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A SEXUALIDADE FEMININA EM NARRATIVAS DE DINORATH DO VALLE E MARINA COLASANTI: O DIREITO DA MULHER À LITERATURA DE AUTORIA FEMININA COMO PROCESSO DE FORMAÇÃO IDENTITÁRIA Enedir da Silva dos Santos (UFMS/CPTL) O período que separa a publicação de O vestido amarelo (1976), de Dinorath do Valle de Contos de amor rasgados (1986), de Marina Colasanti é de uma década, mas não uma década qualquer, pois sob o Brasil pesavam as tormentas da ditadura militar, cujos efeitos ecoavam socialmente no posicionamento de qualquer cidadão engajado. Durante esse período da história, a literatura produzida por mulheres cresceu, de acordo com os apontamentos de Nelly Novaes Coelho (1993) e passou a ser mais significativa para a representatividade feminina, trazendo não apenas temáticas próprias desse universo, mas fazendo-se ouvir diante das tensões de um mercado editorial machista. O objetivo deste trabalho é refletir como o aumento das obras escritas por mulheres possibilitou a ocupação de um espaço predominantemente masculino e ampliou o direito das leitoras à literatura e, consequentemente, a uma formação identitária que se distanciava dos padrões estabelecidos pelas preponderantes vozes masculinas impostas pelo mercado editorial. Nesse contexto, a sexualidade aparece nas narrativas curtas de Dinorath do Valle e Marina Colasanti expondo tensões próprias do universo feminino, como o despertar da sexualidade na menina e a busca pelo próprio prazer. Para fundamentar as reflexões utilizamos os escritos de Antonio Candido sobre o direito à literatura e suas funções na sociedade, Pierre Bourdier acerca da dominação masculina, além das pesquisas da professora Regina Dalcastagnè sobre o mercado editorial brasileiro. Palavras-chave: narrativa; feminina; sexualidade.

AUTORIA NO LIVRO DIDÁTICO: ENTRE O PERTENCIMENTO DE GÊNERO E A AFIRMAÇÃO ÉTNICO-RACIAL Eudma Poliana Medeiros Elisbon (Ufes/Capes) O combate ao sexismo nos livros didáticos passou a compor a agenda do Movimento Feminista desde a década de 1980, por admitir a atuação desse objeto cultural enquanto instrumento ideológico de poder e controle social. Especificamente sobre a literatura, o livro didático sempre foi, reconhecidamente, o divulgador e legitimador de um cânone literário burguês, masculino e branco, entretanto, alguns avanços são observáveis, ainda que a adesão ou a incorporação da perspectiva de gênero não seja integral. O Movimento Negro no Brasil, sobretudo a partir da promulgação da Lei 10.639/03, que prevê a obrigatoriedade do ensino da História e da cultura afro-brasileira em escolas brasileiras, também exigiu a democratização dos discursos e o reconhecimento da escrita afro-

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brasileira e, mais uma vez, o mercado editorial viu-se obrigado a adequar-se, minimamente, a esses novos paradigmas. Nesse sentido, ignoradas nesse processo de intersecção entre a afirmação da subjetividade de gênero e o processo de afirmação da herança cultural e de pertencimento étnicoracial, as autoras negras permanecem silenciadas. Para Conceição Evaristo, a escrita negra feminina distingue-se da escrita dos homens brancos, dos homens negros e das mulheres brancas. Trata-se de uma subjetividade própria marcada pelo racismo e sexismo que acaba por influenciar no ponto de vista do texto e num modo próprio de produzir e de conceber os textos literários, fundamental no processo de afirmação da herança cultural e de pertencimento étnico-racial e de gênero. Assim, se existe uma literatura feminina que não se codifica aos moldes da masculina, também existe uma literatura feminina negra que não se codifica aos moldes da literatura feminina branca e precisa ser prestigiada pelas coleções didáticas, sendo o objetivo central deste trabalho verificar em que medida os textos de autoras literárias negras, brasileiras ou estrangeiras, são contemplados nas quatro coleções didáticas de língua portuguesa mais adotadas no PNLD 2015 para o Ensino Médio. Palavras-chave: livro didático; literatura negra; autoria; relações de gênero.

ARQUÉTIPOS TRANSFIGURADOS DO AFETO EM CLARICE LISPECTOR Geórgia P. Alves (Programa de Pós-Graduação em Letras da UFPE) O que aprendemos quando experimentamos o amor? E até onde pode nos reconstruir – ou consolar – a filosofia? O que ainda pode-se esperar de coisas tão complexas e presentes na existência e experiência humanas como a visão falocêntrica imposta pelo domínio patriarcal? O que mulheres e homens buscam saber sobre o amor no lugar do não-consolo da filosofia? Ana, personagem de Clarice, vive o espanto que está entre a liberdade da hora mais perigosa do dia e da verdade de ter filhos e marido. Não falamos apenas do consolo da filosofia, descrito em O dorso do tigre, de Benedito Nunes, mas da reconfiguração dos mitos que da análise que resgata a obra de inevitáveis conexões em outras partes do mundo com Virgínia Woolf (Inglaterra) e Katherine Mansfield (Alemanha). A temática, presente em outros contos, marcou uma época de opressão disseminada contra a mulher, principalmente nos anos 1950 e 1960, por fortes interesses sociais, políticos e econômicos. A figura da dona-de-casa pacífica, perfeita e dedicada, ou, como diria Laura Mulvey em O prazer visual do cinema narrativo, produz conceitos que são mantidos como antagonistas, sobre os quais a visão não mudou muito da década de 1970 para cá, a exemplo da ―mulher sexualmente madura‖ em oposição à ―boa-mãe‖. Ecos do século XVI, da França do Rei Luís XV, e dos contos de fadas de Charles Perrault? O trabalho quer reverberar a ressignificação dos mitos. Ambas as épocas guardam uma proliferação de textos com protagonistas femininas, em propósitos diametralmente opostos. É possível dimensionar a transfiguração dos arquétipos do afeto ou imaginar o impacto do conto publicado na revista Senhor pela autora Clarice Lispector? Ellen H.

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Douglass trata da necessária reconfiguração dos mitos em ―Para uma mitologia feminista no século XX‖ (publicado em Organon, n. 16, 1989). Palavras-chave: Lispector; Transfiguração; Arquétipos.

NÃO SE NASCE HOMEM: UMA LEITURA DE GÊNERO E RAÇA EM FOREIGNERS (2010) DE CARYL PHILLIPS Gracia Regina Gonçalves (DLA/UFV) Caryl Phillips é uma voz que tem atravessado fronteiras entre o documental e a ficção no âmbito da teoria Pós-colonial e da Diáspora. Nascido em São Cristóvão e educado na Inglaterra, suas narrativas reconstroem dramas pessoais de personagens socialmente deslocados e/ou violentados no que tange às categorias de gênero e raça. Este trabalho leva em consideração o alcance da crítica de Phillips do projeto colonial em Foreiners (2010), um registro biográfico de figuras representativas projetadas em meio às ansiedades ligadas às negociações com sua origem e inserção social. Focalizarei aqui o relato ―Made in Wales‖, uma história que reconta o nascimento e a queda de uma lenda do pugilismo inglês, Randolph Turpin. Tendo sido o primeiro homem negro a ganhar um título continental na Europa, Phillips acompanha a construção deste mito, bem como o impacto de sua história em termos de sua apropriação por parte do estado por motivações nacionalistas. O autor registra também uma sequência de glórias e infortúnios que marcaram a trajetória do lutador. Phillips se propõe a demonstrar esta negociação entre territórios e seus impactos ao longo das gerações seguintes. Acredito que a história apresente uma crítica em torno do mito e de sua assimilação, expondo a vulnerabilidade tanto da nação branca, quanto negra. Estudos sobre biografia e masculinidade, como de Sócrates Nolasco e Elisabeth Badinter, bem como a crítica do poder em Foucault, entre outros, darão suporte a esta pesquisa. Palavras-chave: Diáspora africana; Masculinidade; Biografia.

CECÍLIA MEIRELES: ENTRE A POESIA E A TRADUÇÃO Jacicarla Souza da Silva (UEL) A poetisa Cecília Meireles (1901-1964) representa, sem dúvida, um dos poucos nomes femininos que integram o cânone literário brasileiro. Ao fazer parte desta plêiade hegemonicamente masculina,

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a crítica tradicional atribui-lhe rótulos, como forma de diferenciar/distanciar a sua obra da produção dos autores modernistas de sua época. Neste sentido, pouco se fala das múltiplas facetas cecilianas, as quais evidenciam uma poetisa muito além do efémero e do etéreo. Como forma de revisitar a sua produção, pretende-se com esta comunicação destacar a atuação de Cecília Meireles no campo da tradução. Dentre o significativo número de textos que a poetisa traduziu para a língua portuguesa, vale ressaltar A canção de Amor e de Morte do porta estandarte Cristóvão Rilke (1947), de Rainer Maria Rilke, feito a partir da versão francesa de Suzanne Kra, com a assistência de Paulo Rónai; Orlando (1948), de Virginia Woolf, publicado pela Editora Globo, de Porto Alegre; Bodas de sangue (1960) e Yerma (1963), de Federico García Lorca, publicados pela Agir, do Rio de Janeiro; os poemas ―Sete poemas de Puravi‖, ―Minha bela vizinha‖, ―Conto‖, ―Mashi‖ e ―O carteiro do rei‖, de Tagore, publicados em edição comemorativa do centenário do autor (1961), bem como Çaturanga (1962), também do poeta indiano, publicado pela editora Delta, no Rio de Janeiro; além de alguns poemas israelenses, reunidos em Poesia de Israel (1962), com ilustrações de Portinari, em edição da Civilização Brasileira, do Rio de Janeiro. Com base nas teorias da crítica feminista, espera-se neste trabalho discutir dois terrenos ainda pouco explorados no que diz respeito à produção de autoria feminina: a relação entre gênero e tradução e a atividade da autora de Vaga Música como tradutora. Palavras-chave: mulher; tradução; Cecília Meireles.

A PRESENÇA DA MULHER NOS SARAUS ARISTOCRÁTICOS MACEDIANOS Jander Antônio de Sá Araujo Por meio da presença da figura feminina nos saraus aristocráticos e das indumentárias que as personagens da obra de Macedo usam para compor o figurino, em A Moreninha, e do cenário a partir da festividade lítero-musical, há toda uma performance por trás das ações da protagonista Carolina, considerada a mais bela mulher morena da festa. De acordo com o panorama histórico no século XIX, o sarau teve duas funções que parecerão, de certo modo, opostas aos verdadeiros fins da arte segundo os valores de poetas e escritores de hoje: uma, a de ornamento social e mundano; outra, a oratória, a de instrumento de ação cívica e militante, fazendo às vezes dos grandes discursos. Como ornamento mundano, criou a poesia recitada nos salões literários predominantes, desde a aurora do Romantismo até o fim do século: o declamador e o improvisador, confundindo-se ambos, muitas vezes, num só, pois, na realidade, o segundo nada mais era do que desdobramento do primeiro. A capital do Rio de Janeiro foi palco de transformações que impregnariam o cotidiano das pessoas as quais, usufruindo diretamente ou não das novas possibilidades oferecidas pela urbanização, passaram a interagir com os modelos de conduta das classes mais abastadas e, não

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raras vezes, passaram a tê-las por referência. Baseado no estudo do medievalista Paul Zumthor, enfatizar-se-á a análise das relações entre a recepção e o discurso, a voz, corpo e a interação entre performer e público oitocentista feminino nos salões literários narrados pelo autor em estudo. Palavras chaves: sarau, mulher, performance, oralidade e Joaquim Manuel de Macedo.

AS MULHERES MOÇAMBICANAS EM NIKETCHE, UMA HISTÓRIA DE POLIGAMIA Jéssica Fabrícia da Silva (UNICAMP) Este trabalho de pesquisa tem como objetivo a elaboração de uma análise sobre as (des)semelhanças entre as mulheres do Norte e do Sul de Moçambique, apresentadas no romance Niketche: uma história de poligamia, da moçambicana Paulina Chiziane. Para tal, como se trata de um romance narrado em primeira pessoa, a perspectiva trabalhada partirá das considerações da narradoraprotagonista Rami. No entanto, para uma análise que busque evidenciar as nuances das mulheres moçambicanas, e dando dimensão maior a este universo feminino, faz-se necessário um estudo que focalize também as outras personagens femininas da obra, que são as esposas-amantes de Tony (marido da protagonista): Julieta, Luísa, Saly e Mauá Saulé. É interessante notar que as relações extraconjugais de Tony constroem-se de forma alegórica e funcionam como um mosaico cultural de Moçambique, já que cada mulher representa uma região e, dessa forma, uma cultura diferente deste país. Desse modo, é de suma importância para a compreensão do procedimento narrativo, entender o duplo movimento colonizador sofrido por Moçambique por parte de portugueses e árabes e a posição da mulher em África e em um contexto global geral. A reflexão aqui formulada é relevante graças ao processo articulado entre estrutura narrativa e percepção da formulação dessa mimetização da sociedade moçambicana, fomentando, destarte, a(s) identidade(s) da(s) mulher(es) moçambicana(s). Palavras-chave: Paulina Chiziane; identidade; narrativa; mulher.

A REPRESENTAÇÃO DE GÊNERO FEMININO NO ROMANCE O CASAMENTO DE MINHA MÃE (2005), DE ALICE VIEIRA Jucimar Lopes (Fundação Universidade Federal de Mato Grosso do Sul) O objetivo deste artigo é propor uma reflexão acerca da construção da identidade feminina no romance infanto-juvenil O casamento de minha mãe (2005), de Alice Vieira. A discussão e o debate acerca de temas relacionados ao gênero têm sido constantes na realidade contemporânea. Refletindo

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sobre questões ligadas ao gênero feminino, determinado por princípios patriarcais, percebe-se a formação de inúmeros valores que norteiam o padrão estético e formas de propagação de modelos comportamentais. Nos contos de fadas, por exemplo, a função educativa leva os leitores a perceberem um modelo ideal feminino dentro dos valores e padrões estabelecidos pela sociedade religioso-patriarcal. No contexto atual, alguns movimentos sociais que questionam o estereótipo de mulher, segundo os preceitos patriarcais, têm conseguido visibilidade. Do mesmo modo, na literatura infanto-juvenil pode ser observada a transição de valores sociais em relação ao gênero feminino em algumas obras, que embora recentes, tornaram-se clássicas. Na configuração dessas narrativas, a mulher exerce papel de uma personagem que deixa a posição frágil e passiva e assume um posicionamento ativo no universo literário, adquirindo independência e autonomia. A partir desses pressupostos, será elaborada uma análise da configuração narrativa do romance em questão para verificar como as personagens mulheres são caracterizadas e o papel desempenhado no enredo a fim de representarem modelos femininos para os jovens leitores. Palavras-chave: Gênero feminino; Literatura infanto-juvenil; Alice Vieira.

MULHERES E LUGARES SOCIAIS: UMA LEITURA DE ANOITECEU NO BAIRRO, DE NATALIA CORREIA Juliana Coetti Basso (Universidade Federal de São Carlos) Este trabalho tem como objetivo analisar as personagens femininas exploradas pela autora portuguesa Natália Correia em seu romance Anoiteceu no Bairro, de 1946, levando-se em consideração o período do Estado Novo, emergente em Portugal, a partir da década de 1930, contexto em que a sociedade portuguesa se viu imersa num período de autoritarismo, antiliberalismo, repressão e censura. Além desse cenário no contexto social geral, houve a criação de instituições que visavam consolidar os ideais da ditadura de Salazar como a Mocidade Portuguesa Feminina (1937 - 1974), que deveria marcar limites às jovens para que mantivessem virtudes cristãs e caseiras (PIMENTEL, 1998). É nesse contexto que se desenvolve um olhar crítico por parte da escritora, que ficou conhecida pela sua postura contrária a todos os meios de repressão daqueles que, de alguma forma, foram atingidos pela censura do Estado Novo, nomeadamente com relação ao universo feminino. Isso pode ser observado em algumas de suas obras produzidas durante o período ditatorial, tais como Anoiteceu no Bairro (1946), Breve História da Mulher (1947) e A Madona (1968). Objetiva-se analisar, aqui, como esse olhar crítico da autora se consolida nas personagens do romance proposto, levando-se em conta o contexto no qual se integram, a partir da ideia de gênero apontada por Simone de Beauvoir (1949) e quais são, na perspectiva da autora de Anoiteceu no Bairro, os possíveis desfechos para as personagens que se encontram submersas nesse cenário

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patriarcal e para aquelas que, de alguma forma, indicam um papel reivindicativo na construção de seu próprio futuro. Palavras-chave: Natália Correia, literatura portuguesa, gênero.

A VOZ, A VISÃO E O REVISIONISMO CRÍTICO DA TRADIÇÃO PATRIARCAL EM AS BRUMAS DE AVALON, DE MARION ZIMMER BRADLEY Juliana Cristina Terra de Souza (FCLAr-UNESP) A presente comunicação tem por objetivo analisar brevemente de que modo a narração no romance As brumas de Avalon (The Mists of Avalon, 1982) contribui para o processo de revisionismo crítico – ou desleitura - da tradição lendária e mítica patriarcais empreendido na obra da escritora norteamericana Marion Zimmer Bradley. A interface de abordagem teórico-crítica utilizada se alinha às teorias e críticas feministas, particularmente The Madwooman in the Attic (1979), de Sandra Gilbert e Susan Gubar e Um teto todo seu (A Room of One’s Own, 1929), de Virginia Woolf. A perspectiva feminista da re-visão segue os pressupostos de Adrienne Rich em ―When We Dead Awaken: Writing as Re-Vision‖ (1972). A luta de re-visão é o ato de olhar para trás e ver com novos olhos, ler um texto antigo a partir de uma nova direção crítica. A atitude revisionista de Bradley, de libertação das poéticas patriarcais, possibilita a crítica das convenções herdadas e a criação de uma nova tradição, agora feminina. Em sua escritura Bradley efetua uma desarticulação nas figurativizações em torno do feminino presentes na tradição literária. A narração em As brumas de Avalon é um procedimento utilizado pela escritora a fim de ressignificar os episódios da Matéria da Bretanha, em especial quanto às formas de representação das personagens femininas. Palavras-chave: narração; revisionismo; desleitura.

“DESCONTRUINDO UNA”: UM RELATO EM QUADRINHOS SOBRE A VIOLÊNCIA DE GÊNERO Karina Espúrio (IBILCE/UNESP) Este trabalho tem como seu objetivo principal tratar de questões relacionadas à violência de gênero, à cultura do estupro e à culpabilização da vítima na história em quadrinhos ―Desconstruindo Una‖ da artista Una. O intuito é discutir esses temas partindo da combinação entre imagens e palavras,

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característica dos quadrinhos, tentando provocar a derrubada de clichês do senso comum relacionados à mulher. Esses clichês podem ser, por exemplo, de que a mulher é a culpada por agressões sofridas e de que deu motivo para ser violentada. A inglesa Una, a personagem principal, passa por vários acontecimentos que a diminuem como mulher. Ela sente medo, tem muitos traumas e se vê como uma sobrevivente, pois não é aceita no meio em que vive. Sofre na escola com o slutshaming, movimento que oprime e diminui a mulher por suas escolhas sexuais, e vê que as mulheres precisam ter força para lutarem contra os ataques sofridos cotidianamente. O livro, ainda, faz um paralelo das histórias de violência sofridas por Una com a das mulheres atacadas pelo estripador de Yorkshire, na Inglaterra. Essas mulheres, muitas vezes são consideradas coadjuvantes nesses crimes, enquanto muitos endeusam o criminoso criando, a título de exemplo, biografias e filmes sobre ele. Dessa forma, alimenta-se a fetichização desses crimes sexuais. Então, a partir do que foi exposto, pretende-se examinar a hipótese de que, na obra estudada, as imagens e as palavras contam a história de Una, cotejando a trajetória dessas mulheres vítimas do estripador de Yorkshire, provocando a reflexão sobre esses problemas, fazendo com que as mulheres se unam para que sejam ouvidas e jamais silenciadas. Palavras-chave: Gênero; Violência contra a mulher; Vítimas de estupro.

A MAÇÃ ENVENENADA: A GUERRA PSÍQUICA ENTRE OS GÊNEROS Leila Aparecida Cardoso de Freitas Lima (UNESP) Embasados em pressupostos da Teoria e Crítica literária apresenta-se esta proposta de reflexão sobre a obra A maçã envenenada, de Michel Laub, publicada pela companhia das letras em 2013. O objetivo concentra-se em uma visada analítica na postura da personagem Valéria, bem como do narrador protagonista. Lembra-se, no entanto, que tudo que se sabe de Valéria passa por uma visão confusa e perturbadora do narrador de focalização autodiegética, conforme Genette (1979); assim, o comportamento do protagonista merecerá cuidadosa atenção. Os métodos empregados restringem-se ao recurso da pesquisa na área da teoria e crítica literária. Mediante a presença do trauma, além do sentimento de culpa que perpassa o narrador até o momento da enunciação, os estudos psicanalíticos de Sigmund Freud também serão fontes relevantes para a pesquisa. Chama-se a atenção a forma diferenciada com que o amor é retratado nas personagens de Michel Laub – o amor entre o narrador e Valéria, conforme afirma Freud (1930), de tão intenso gera a necessidade da anulação do outro como forma de subsistência. Essa maneira angustiante de amar ganha proporções destruidoras em Valéria, sendo que dessa forma, levanta-se a hipótese de que os sentimentos aparentemente iguais, assumem proporções diferenciadas mediante as implicações de gênero. Com semelhante visada no

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texto de Laub, pretende-se compreender como certos mecanismos psíquicos – amor, trauma, sentimento de culpa - atuam em um homem e em uma mulher no caótico cenário contemporâneo. Palavras-chave: Narrador; Valéria; Gênero; A maçã envenenada; Michel Laub.

INVESTIGAÇÃO SOBRE PROCESSOS DE SUBJETIVAÇÃO E DOS DISCURSOS DA SEXUALIDADE E RELIGIÃO EM JOVENS HOMOSSEXUAIS Leonardo Estrada de Aguiar (Graduando de Psicologia da UFMT) Henrique de Oliveira Lee (Professor Doutor, do Departamento de Psicologia da UFMT) A presente pesquisa tem por objetivo investigar os processos de subjetivação de jovens cristãos homossexuais por meio de entrevistas semiabertas, no intuito de apreender por meio dos relatos de experiências dos participantes como se dá a articulação, seja por meio de sínteses e conflitos, entre a orientação sexual e a orientação religiosa, bem como os elementos que permitem a cada indivíduo a realização de tal arranjo. Uma vez que, a princípio, tanto os discursos religiosos sobre a homossexualidade, quanto os discursos articulados pelos movimentos LGBT com relação ao cristianismo são antagônicos, faz-se necessário pensar sobre as múltiplas relações e arranjos realizados individualmente por cada sujeito, considerando de modo especial a maneira como cada um realiza as combinações de elementos provenientes desses discursos. A pesquisa se encontra em fase de revisão bibliográfica e de delineamento mais detalhado da metodologia que será adotada para a coleta de dados, embora, tem se cogitado o uso de entrevistas individuais e o dispositivo de grupos focais com os participantes da pesquisa. De modo geral, experiências preliminares anteciparam que será encontrada três formas de síntese entre a vivência da orientação homossexual e a prática religiosa: jovens que se abstenham das práticas religiosas pela realização da sua orientação sexual; jovens que se abstenham das práticas sexuais em detrimento da participação religiosa; ou ainda, jovens que conciliem estas duas instâncias, sustentando tanto a sua prática sexual homoerótica quanto as práticas religiosas. Palavras-chave: Subjetivação; Discurso; Homossexualidade; Religião; Psicologia.

CECÍLIA MEIRELES E A LITERATURA BRASILEIRA DE AUTORIA FEMININA Lorena Santos de Araújo (PPGL/UFES) Este trabalho tem como objetivo apresentar a importância da escritora Cecília Meireles no cenário literário brasileiro, tendo em vista o pouco destaque que é dado às poetisas nesse campo. Sendo

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assim, Cecília Meireles, poeta da segunda fase do modernismo, herdeira de características simbolistas, e também jornalista, pintora, folclorista professora, desenvolveu na sua obra as temáticas que permeiam aspectos como o misticismo, transcendência, intimismo, espiritualidade, deixando-nos um vasto legado de diferentes formas de se fazer poesia. Ainda que em manuais da literatura brasileira o enfoque nas autoras mulheres seja pouco, o que demonstra subjugada a literatura de autoria feminina no país, Cecília teve notoriedade nesse âmbito. Estudiosos como Darcy Damasceno, Eliane Zagury, Leodegário de Azevedo Filho, além do crítico Alfredo Bosi e o consagrado escritor Mario de Andrade, exploraram as particularidades da obra poética da autora e como ela conseguiu alcançar um significativo espaço na poesia brasileira, sendo, inclusive, a primeira mulher a conquistar um prêmio da Academia Brasileira de Letras, com a obra Viagem (1939). A autora escreveu desde poesias dedicadas à infância, a exemplo da obra Ou isto ou Aquilo, a poema de tema social, como a produção literária de grande importância Romanceiro da Inconfidência. Dessa forma, constata-se o enriquecimento que a obra da autora trouxe à literatura do país. Palavras-chave: Cecília Meireles; Literatura brasileira de autoria feminina; Poesia brasileira.

O GRITO E O SILÊNCIO EM LILI PASSEATA, DE GUIDO GUERRA Lucas de Castro Marques (Mestrando PPG-Letras-IBILCE/UNESP) A comunicação tem como objetivo abordar o processo de silenciamento sofrido pela personagem Lili, protagonista do romance Lili Passeata (1985), de Guido Guerra, escritor e jornalista baiano. O livro trata das reflexões e reavaliações críticas das utopias da geração dos jovens politizados dos anos 1960, que enfrentaram a ditadura civil-militar de 1964, momento conturbado da história do país. A história é composta por trechos do diário de Lili Passeata, que escreve, em tom melancólico, suas memórias da juventude de luta contra a repressão dos primeiros anos do regime ditatorial, com avaliações de seus atos durante a militância frente às passeatas, bem como das transformações de sua vida adulta, após o casamento com Antonio Serafim, que procura mantê-la longe de tudo e de todos que possam evocar lembranças da época de resistência. A obra alterna em fragmentos os diários de Lili, os relatos de um jornalista que investiga sua história em meados de 1977, relatos de personagens que testemunharam as ações da jovem, trechos de matérias jornalísticas, boletins policiais, autos de inquérito da política, dentre outros textos em que emergem os diferentes pontos de vista sobre os acontecimentos e sobre as atitudes do passado de Lili. Com essa estrutura, o romance caracteriza-se pelo que Candido (1987) define como uma justaposição de recortes, experimentação literária que marcou as narrativas brasileiras das décadas de 60 e 70. Segundo Chaves (2003), a fragmentação, a montagem e os pontos de vista múltiplos têm sido relacionados com a impossibilidade de uma visão coerente e de representação dos acontecimentos em sua

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totalidade, tendo em vista a forte repressão e censura do período da ditadura, que impossibilitou a construção de uma visão coerente da sociedade. Por meio da escrita de seu diário, Lili luta contra o processo de silenciamento (ORLANDI, 2007), marcado pelo controle do marido e pela autocensura, na busca da ressignificação de suas experiências. Palavras-chave: Lili Passeata; Guido Guerra; silenciamento.

A REPRESENTAÇÃO DO UNIVERSO FEMININO NA DISTOPIA FEIOS (2016), DE SCOTT WESTERFELD Luciana Ferreira Leal (FACCAT/EE Irene Resina Migliorucci) O presente trabalho busca, sob o enfoque nas questões de gênero, examinar como se dá a representação das personagens femininas na distopia Feios (2016), de Scott Westerfeld. O livro conta a história de um mundo totalmente sustentável e futurista, em que os carros voam, uma pílula escova os dentes e ser feio é apenas algo passageiro. Na adolescência, aos 11 anos, os jovens são levados à Vila Feia, onde permanecem até os 16, quando recebem uma cirurgia plástica completa, para deixar de ser feio e passar a ser perfeito, passando a morar na Nova Perfeição, um lugar onde a festa dura 24h e todos são felizes e perfeitos. Tally, protagonista feminina, desvendará mistérios ocultos pela sociedade futurista em que vive. O cenário da trama é estruturado de forma totalmente nova e o desfecho da narrativa realmente provoca surpresa no leitor. O objetivo é pensar a questão da sexualidade e o papel social da mulher nesta obra literária distópica, pensar a diferença entre os sexos e como a condição feminina na distopia ecoa na sociedade atual. Podemos verificar na narrativa em análise que as atribuições de diferentes ―tipos‖ de mulher são pré-definidas por uma sociedade que dita os comportamentos femininos. Como aporte teórico, buscaremos em Bordieu (2009) compreender como a lógica de dominação masculina se instala e se reproduz por meio dos homens e das instituições, legitimando a visão androcêntrica. Palavras-chave: personagens femininas; papel social da mulher; distopia; Feios.

O PAPEL E A ESCRITA: UMA LEITURA DE “O PAPEL DE PAREDE AMARELO”, DE CHARLOTTE PERKINS GILMAN Lucianne Christina Fasolo Normândia Moreira (UFPR) O presente trabalho busca apresentar uma leitura do conto ―O Papel de Parede Amarelo‖, da escritora e ativista feminista norteamericana Charlotte Perkins Gilman. Publicado em 1892, este

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conto se enquadra no gênero epistolar e se dispõe como uma narrativa em primeira pessoa de uma mulher norteamericana que é encerrada em uma casa alugada durante três meses por seu marido médico após o diagnóstico por ele de ―uma ligeira têndência histérica‖, como a narradora escreve. O confinamento dito terapêutico impõe completa passividade e inclui a proibição à narradora de toda e qualquer atividade estimulante – inclusive escrever em seu diário e cuidar de seu bebê, o que gradualmente a leva à loucura. A obra, que é uma narrativa rica em estratégias ficcionais e linguagem simbólica, teve uma recepção mista na época de sua publicação. Muitos leitores consideraram-na assustadora, algo terrível demais para ser publicado. De forma interessante, aqueles que elogiaram o conto o fizeram com base na sua suposta representação precisa da histeria da mulher. De acordo com o que a própria Gilman afirmou em um ensaio, não foi seu objetivo escrever um relato realista tampouco algo aterrorizante e incompreensível, mas sim lidar com a questão do tratamento da histeria em vigência na época. A partir de uma base teórica calcada na teoria literária feminista, este trabalho fará uma análise de ―O Papel de Parede Amarelo‖ que leve em conta o contexto histórico e social no qual se insere e que, ao contrário das interpretações de contemporâneos de Gilman, ofereça uma visão do conto que faça jus a sua complexidade. Palavras-chave: literatura; loucura; feminismo.

E SE EU FOSSE PUTA: REPRESENTATIVIDADE E (TRANS) RESISTÊNCIA NA ESCRITA LITERÁRIA CONTEMPORÂNEA Luiz Henrique Moreira Soares - Universidade Estadual do Norte do Paraná (UENP) – Campus de Jacarezinho Adenize Aparecida Franco - Universidade Estadual do Centro Oeste (UNICENTRO) – Campus Santa Cruz A literatura contemporânea pode ser considerada um espaço de choque de ideias e perspectivas. Nesse espaço, regido por disputas e lutas por sentidos e significações, as palavras possuem tanto o poder de legitimar ou reforçar estereótipos, quanto o de criar novas representações de mundo. Longe de ser apenas uma mera representação da realidade, a produção literária recente incorpora novas vozes, há o experimentalismo de novas formas textuais, novos modos de retratar o tempo e o espaço, além de uma maior subjetividade na construção de enredos e personagens. Partindo desse pressuposto, o presente trabalho pretende analisar o processo de (trans)resistência no livro E se eu fosse puta (2016), da travesti e escritora, Amara Moira. A partir de pequenos textos, publicados originalmente no blog da autora, o livro traz a escrita biográfica como forma de (trans) resistência às violências – simbólicas e físicas – que as travestis sofrem historicamente, narra a experiência da prostituição e o processo de transição da autora. O trabalho também indaga sobre as formas de

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representações de personagens travestis na literatura brasileira, (construídas sempre como o ―outro‖ nos discursos sociais), a representatividade e a resistência na produção cultural contemporânea. Palavras-chave: estereótipos; representatividade; resistência.

HISTÓRIAS INFANTIS E SUAS REPRODUÇÕES SEXISTAS: DESAFIOS DE UMA ESCOLA DA REDE PÚBLICA DE ENSINO Lunara Galves Gonçalves Este trabalho é o resultado de uma investigação realizada com professores de educação infantil e dos anos iniciais da rede pública de ensino do Município de Santa Fé do Sul, com o objetivo de analisar a prática pedagógica desses diante do uso da literatura infantil como um recurso pedagógico que pode contribuir para desmistificar os pré-conceitos historicamente estabelecidos no meio social, principalmente no que diz respeito à questões que envolvem as masculinidades e feminilidades heteronormativas. Como referencial teórico utiliza-se a autora Tânia Brabo em sua acepção acerca do processo de democratização (que se deu mais como uma democracia política que uma democracia social) e do acesso precário às discussões de gênero no âmbito escolar em uma conjuntura em que o neoliberalismo redefiniu a educação em termos de mercado. Para tanto, foram realizados entrevistas semiestruturadas com professores, análise do Projeto Político Pedagógico da instituição (que apesar de esboçar características humanísticas, no que se refere a pluralidade, ainda é insuficiente da temática de gênero e acaba reproduzindo as desigualdades entre gêneros, bem como os processos de discriminação, reforçando a educação sexista), a fim de verificar e compreender como se deu o processo de seleção de textos literários que são utilizados em sala de aula, além de pesquisa ao acervo de livros disponíveis sobre a temática. Como devolução social dessa pesquisa, está prevista a construção de um novo Projeto Político Pedagógico, onde será proposto novos projetos, que agreguem ao currículo a abordagem dessas questões através do uso de literaturas que visem as desconstruções sexistas, contribuindo para a construção de um espaço de aprendizagem democrático. Palavras-chave: Educação; Gênero; Literatura Infantil.

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A PERDA DE UMA AUTONOMIA MASCULINA EM THE SUN ALSO RISES, DE ERNEST HEMINGWAY Manoela Caroline Navas (UNESP/IBILCE- São José do Rio Preto) O presente trabalho tem como objetivo apresentar uma leitura sobre a feminização dos personagens masculinas no romance The Sun Also Rises (1926), do escritor norte-americano, Ernest Hemingway. O autor é conhecido por representar nessa obra o que foi lido até agora como a expressão máxima de masculinidade (bulls, balls. andbooze). Mas um olhar mais atento revela que, na verdade, as representações construídas são constituídas ao longo do romance por várias ―humilhações masculinas‖ e transgressões da imagem do macho. O termo bitched tem como origem uma carta trocada por Hemingway e Fitzgerald após o lançamento do romance Tender is the Night (1934), na qual Hemingway sugere Scott esqueça sua tragédia pessoal porque ambos são bitched desde o início. Ao longo da carta podemos entender que o termo refere-se, possivelmente, que essa pessoa talvez seja, em algum aspecto, ferida, castrada desde o começo. Assim, o termo tem como significado o processo da condição de ―ser feminizada‖. Como será discutido, os processos de representação no romance The Sun Also Rises onde as personagens masculinas são ―feminizados‖, ou seja, são submetidos a uma passividade ou falta de empoderamento, revelam que as leituras feitas sobre a obra focando que as construtos masculinos são incorruptíveis, devem ser revistas. Serão abordados trechos e passagens do romance para que se possa interpretar em quais aspectos os personagens masculinos são submetidos à transgressão da imagem dos cojones, e como isso está intrínseco à obra de Hemingway. Para tanto, será utilizado proposições feitas por Onderdonk (2006) sobre a identidade em The Sun Also Rises, bem como utilizaremos a base histórica dada por Hobsbawm (1995) para que se possa melhor entender as relações de consequência da Primeira Guerra Mundial nesses sujeitos. Palavras-chave: Ernest Hemingway; feminização; The Sun Also Rises.

DIÁLOGOS ENTRE LOUCURA E GÊNERO Maraiza Almeida Ruiz de Castro (IBILCE/ UNESP) Esta comunicação tem por objetivo abordar a intersecção da temática da loucura com os estudos de gênero e o modo como estes temas são tratados nos textos literários de diferentes autores ao longo do tempo. A discussão se deterá nos seguintes contos: A doida, de Carlos Drummond Andrade (1951); Sorôco, sua mãe, sua filha, de Guimarães Rosa (1962), e Dôia na Janela, de Roberto Drummond (1975). Em suas considerações sobre a história da loucura, Michel Foucault afirma que, na Idade Média, os loucos circulavam livremente pelas ruas — e daí surge a imagem do louco como

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indivíduo errante, que vaga pelos espaços de sociabilidade —, pois, filosoficamente, compreendia-se a loucura como uma contraparte indissociável da razão: aos loucos era revelada uma verdade ocultada aos demais indivíduos, assim, a loucura era entendida em sua relação com a sacralidade e a lucidez. Posteriormente, com o advento e a crescente valorização do racionalismo, a loucura passou a ser relegada ao plano do sonho e do erro e o louco tornou-se um excluído e oprimido socialmente. Como parte de uma minoria, coube ao louco o lugar do silenciamento e das internações em clínicas psiquiátricas. É notável que os loucos, diversas vezes, são representados literariamente como indivíduos conflituados, buscando encontrar ou afirmar uma identidade no ambiente social em que estão inseridos e a linguagem da loucura é uma forma de resistência e de denúncia diante da opressão e da violência sofridas. Neste momento, portanto, a temática da loucura vincula-se aos estudos de gênero, na medida em que problematiza o lugar da mulher, do negro, do índio, dos homossexuais, etc., em uma sociedade que busca aniquilar a identidade desses indivíduos. Espera-se estabelecer um fundamental debate que auxilie na compreensão do modo como o fazer literário deflagra a loucura e as questões de gênero. Palavras-chave: loucura; gênero; opressão.

DAME TU CANTO CIUDAD: LITERATURA FEMININA E CONTRAHEGEMONIA NA MODERNIDADE Marcela Batista Martinhão (UFJF) Este trabalho pretende refletir sobre a articulação entre corpo em movimento e literatura feminina como potencialmente contra hegemônica, em um mundo literário e cultural historicamente dominado pelos homens. Para tanto, partimos da leitura crítica da obra Dame tu canto ciudad (2012), da poeta colombiana Marta Quiñónez, no qual percebemos uma voz autônoma, da experiência subjetiva do ser mulher nos grandes centros urbanos na atualidade. Os espaços territoriais que são ocupados e significados pelas pessoas estão envoltos a teias ideológicas e de relações de poder, que cerceiam, delimitam e segregam um ou outro grupo social de acordo com o discurso hegemônico. Com base nesse preceito, a sociedade marcada pelo patriarcalismo histórico, que sempre diferenciou e atribuiu valores aos corpos dicotomizados em femininos/masculinos, não brancos/brancos, possui como eixos centrais o silenciamento e exclusão cultural da mulher, sobretudo da mulher colonizada não branca latino-americana. Nesta perspectiva, as mulheres sempre foram relegadas ao trabalho doméstico, ao âmbito do privado – núcleo social que reproduzia toda contradição e assimetria de raça, classe e gênero –, enquanto que os homens ocupavam as esferas intelectuais e culturais da urbe. Através da tomada do poder da palavra e do discurso urbano tipicamente dominado pelos homens, esta obra de Marta Quiñónez, reinventa a experiência feminina nos grandes centros urbanos, através de uma voz própria e subjetiva. Como poeta mulher negra

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latino-americana, que vive na cidade Medelín há vinte e cinco anos rodeada por seus livros, escritura e amigos que se fizeram sua família, Marta Quiñónez desloca as ideologias hegemônicas sobre a literatura feminina. Parte de suas próprias batalhas e embates diários em uma abordagem brutal da grande cidade para as mulheres, tomando a palavra para si, dando voz a subjetividades múltiplas da experiência feminina dos grandes centros urbanos cinzentos. Palavras-chave: Marta Quiñónez; poesia feminina colombiana; territorialidade patriarcal.

REPRESENTAÇÕES DO FEMININO EM MUJERES QUE CAMINAN SOBRE HIELO Marcelo Maciel Cerigioli (FCLAr/UNESP) O objetivo deste estudo é analisar as representações do feminino no romance espanhol Mujeres que caminan sobre hielo (2014), de Gloria Ruiz. Essa obra nos apresenta três grandes amigas vivendo em um vilarejo ao norte da Espanha em plena ditadura franquista. Numa sociedade asfixiante onde as mulheres possuem muitos deveres, poucos direitos e nenhuma liberdade, Julia, Eve e Maru precisam tomar difíceis decisões para sobreviver e conseguirem conquistar a sua identidade com todas as restrições impostas pelo governo e vigiadas por todos. As protagonistas são indivíduos fragmentados, que em sua imagem exterior são submetidos a padrões e valores pré-concebidos e internamente seguem repletos de indagações sobre si mesmos, sobre como agir diante dos outros e como se apresentar socialmente. Seguindo o pressuposto de que a obra literária pode constituir um modo de representação da realidade e ampliando-o em direção às questões de gênero, para a análise utilizamos uma reflexão sociológica na abordagem do texto literário. A fundamentação teórica para este estudo se baseia nos estudos da narrativa e artigos científicos sobre o romance, a representação e os estudos de gênero. Como resultados preliminares, o estudo mostra o processo de construção de identidade das protagonistas para sobreviver, desempenhar a sua cidadania, trabalhar e ao mesmo tempo poder exercer a sua sexualidade perante as restrições que eram impostas ao gênero feminino no país nesse contexto. Palavras-chave: Representação; Feminino; Literatura Espanhola.

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A RESISTÊNCIA E A SUBVERSÃO NO CONTO OBSESSÃO DE CLARICE LISPECTOR Maria Alice Sabaini de Souza Milani (UNESP) Esta comunicação tem por objetivo analisar, no conto em questão, a trajetória de resistência e subversão da protagonista na consolidação de sua identidade e independência. A narrativa centra-se, inicialmente, no relacionamento entre Jaime e Cristina e posteriormente, na paixão de Cristina por Daniel. Cristina, na condição de narradora protagonista, vale-se de um recurso recorrente nos contos claricianos, ou seja, escreve sobre o fato algum tempo após tê-lo vivido. Tal distanciamento temporal entre o viver e o narrar permite que a protagonista não apenas relate sua trajetória, mas também reflita sobre os acontecimentos que propiciaram sua resistência e a subversão em relação a dominação masculina. A escolha do foco narrativo de onisciência seletiva, por meio do qual, o leitor toma conhecimento dos outros personagens via protagonista é um recurso que colabora para intensificar a dramaticidade do conto que retrata com bastante detalhes o comportamento dos homens em relação a Cristina que como um objeto foi transferida das mãos do pai, para o marido e posteriormente ao amante. Nesse sentido, é notável que o amante é um elemento de transgressão, pois, ironicamente, ao tentar educá-la, ele acaba por despertar na protagonista a necessidade de ela se firmar como sujeito. Ainda é interessante observar que Cristina, em sua relação com Daniel abandona a mulher resignada e objetificada para subverter essa posição, tanto em relação a Jaime quanto com relação a Daniel, e atingir seu empoderamento no momento em que decide abandonar Daniel. Este trabalho de cunho bibliográfico tem como embasamento teórico Beauvoir (1980), Bourdieur (2002), Butler (2003) entre outros. Palavras-chave: Obsessão; Resistência; Subversão.

A MULHER E A LITERATURA: UMA VISÃO DOS CONTOS E ENCANTOS, VENCENDO OBSTÁCULOS NO BRASIL Maria da Solidade Teixeira Fernandes (Professora Formadora do Programa Todos Pela Alfabetização – TOPA-FAINOR O arquétipo da mulher, na história da humanidade, desde os primórdios, era relegado a segundo plano em quaisquer circunstâncias por onde transitava. Na literatura não foi diferente. O termo literatura significa, segundo consta no dicionário Aurélio (2012, p. 1188), conjunto das obras literárias de um país ou de uma época; escritos narrativos, históricos, críticos, de eloquência, de fantasia, de poesia; conjunto de folhetos literários populares, que os livreiros originalmente dependuravam em cordéis. No Brasil, as mulheres contribuíram com seus escritos para a formação

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literária. Entretanto, é preciso considerar que grande parte da produção feminina se encontra ausente da história da Literatura e, dessa maneira, desconhecida dos leitores. As dificuldades foram enormes para vencer as barreiras, pois, era vista como um ser frágil, criada para obedecer aos homens da família e seguir fielmente o que determinava a Igreja. Porém, num determinado momento, resolveu modificar o estado de coisas em que se encontrava e, começou a expor ousadamente seus pensamentos e assim, fez com que fosse ouvida. O movimento feminista engajado por ela ajudou a ampliar o campo das Letras. O que a princípio era produzido em segredo passou a ser exposto para que todos pudessem ver, ouvir, ler e comentar. Dos doze autores mais lidos no mundo, 92% são homens e 2% são mulheres, conforme consta no site Estante virtual. O objetivo deste artigo é refletir sobre a história da mulher brasileira, no movimento literário brasileiro. É uma revisão bibliográfica com base em alguns autores como Brandão (2006), Duarte (1996), Azevedo (2003), dentre outros. Após análise e reflexão conclui-se que, a situação da mulher brasileira, mesmo em pequeno número, que trilhou o caminho no campo das Letras, foi difícil, mas esta soube, com muita braveza, sobressair e demonstrar sua verdadeira e corajosa forma de perceber o mundo por meio da Literatura. Palavras-chave: Literatura; Brasileira; Mulher.

A OPERÁRIA, DONA DE CASA E A DOMÉSTICA, CLASSES SOCIAIS FEMININAS DE PERROT (2016), EM HIBISCO ROXO (2011), DE CHIMAMANDA NGOZI ADICHE Mariana Antônia Santiago Carvalho – UFC Edilene Ribeiro Batista – UFC O romance Hibisco Roxo (2011), da nigeriana Chimamanda Ngozi Adiche, narra, a partir da perspectiva da personagem Kambili, as descobertas da adolescente ao sair do ambiente opressor que é o seu lar. Debaixo da autoridade paterna, a menina possui uma visão limitada de como a mulher pode se expressar na sociedade, pois sua mãe, Beatrice, é um indivíduo oprimido e silenciado pelo marido. A historiadora Michelle Perrot, em seu livro Minha História das Mulheres (2016), divide as mulheres em três classes: a operária, a dona de casa e a doméstica. Na obra há as três performances. Tia Ifeoma, uma professora universitária viúva que cria sozinha seus três filhos e que é uma ativista sobre equidade de gênero e sincretismo religioso; a Beatrice, mulher submissa e silenciosa; e Sisi, a doméstica da casa de Beatrice, responsável por preparar o veneno que a patroa colocará gradativamente para Eugene, esposo violento. Objetiva-se, através da análise do texto literário, identificar as performances femininas presentes na narrativa de Hibisco Roxo (2011), recorrendo-se aos pressupostos desenvolvidos por Michelle Perrot (2016) e verificar teórico-bibliograficamente de maneira pontual na obra. Esta comunicação representa um recorte de uma dissertação de mestrado

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em desenvolvimento em Literatura Comparada a respeito do pós-colonialismo e relações de gênero presente na obra já citada da nigeriana Adiche. Palavras-chave: Classes sociais femininas; Michele Perrot; Hibisco Roxo, de Chimamanda Ngozi Adiche.

DUAS IGUAIS SOB O EFEITO URANO, DE FERNANDA YOUNG Marta Maria Bastos O presente trabalho analisa como ocorre a relação homo afetiva entre as duas personagens: Helena e Cristiana, do romance O efeito urano (2001), de Fernanda Young, numa visão contemporânea em que as relações afetivas ganham voz na escritura de mulheres. Apesar de viver um casamento hetero aparentemente normal, na intimidade, Cristiana revela-se uma mulher insatisfeita em busca de aventuras sexuais com várias parceiras, até que surge Helena, por quem se apaixona perdidamente. Dividida, Cristiana se questiona se vale a pena trocar um casamento seguro por uma paixão incomum. Nesse triângulo amoroso, ao mesmo tempo em que a narrativa revela o grau de passionalidade que rege as escolhas da personagem principal, em alguns momentos ela faz uma reflexão da relação acerca do masculino e feminino, dessa mistura de papéis que envolvem as concepções amorosas e sexuais na atualidade. Desse modo, pretende-se compreender quem é esse sujeito que aparece na ficção, o gênero, sexo, a linguagem, bem como a presença do mito dentro da realidade. Para compor essa discussão acionamos David Le Breton em Adeus ao corpo (2003); Beatriz Preciado em Manifesto contrassexual (2014); Georges Bataille em O erotismo(2013) Stuart Hall em Identidade e Pós-Modernidade (2002); Judith Butler em Problemas de gênero (2013), Sara Salih em Judith Butler e a Teoria Queer (2013), Junito de Souza Brandão em Mitologi grega, entre outros. Palavras-chave: Identidade; Homo afetiva; Teoria Queer.

A LOUCURA E A DIFERENÇA: CONTRASTES IDEOLÓGICOS EM MIA COUTO Michelle Aranda Facchin (UNESP) A presente comunicação objetiva apresentar uma análise que liga a ideia da loucura à representação da mulher no contexto ideológico patriarcal. Para desenvolver a reflexão proposta, o estudo se baseia nos estudos literários, que envolvem a produção dos contos de Mia Couto, e na teoria foucaultiana, História da loucura na idade clássica (FOUCAULT, 1978). O conto ―Rosalinda, a

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nenhuma‖, da coletânea Cada homem é uma raça (COUTO, 2013), dialoga com a ideia da loucura como algo que foge aos padrões, ameaçando a ordem e, por isso, precisa ser banida, resolvida e combatida. Assim como exposto na obra de Foucault, Rosalinda é uma mulher que age de maneira diferente do comportamento socialmente aceito e, desse modo, ameaça a constância patriarcal. As gargalhadas de Rosalinda incomodam a ordem representada no conto, o que resulta na sua internação pelas autoridades da cidade, sendo justificada pela sua falta de juízo e, portanto, pela sua impossibilidade de conviver com os outros. Pretendemos demonstrar como a sanidade está ligada à ideia de retidão e luto pela morte do marido de Rosalinda, em oposição às gargalhadas da mulher, relacionadas com a loucura, com a falta de juízo e a sua inabilidade de manter-se em sociedade. Esse conto expressa a anulação pela qual a mulher pode passar, incluindo não só a sua relação com o casamento, o que também é descrito no conto em questão, mas à sua eterna fiscalização pelos olhos das autoridades de uma sociedade machista. Concluímos que esse conto lança uma crítica aos rótulos tradicionais, às obviedades sociais e ao encarceramento da mulher considerada louca por ir na contramão da ideologia patriarcal. Palavras-chave: Mia Couto; loucura; mulher.

UM TETO TODO NOSSO: VISIBILIDADE, RESISTÊNCIA E SUBJETIVAÇÃO EM CLUBES DE LEITURA Michelle Silva Borges (Universidade Federal de Uberlândia/MG) Que é o ato da leitura, senão a incorporação da subjetividade de seus protagonistas e a indivisível produção dos sentidos?! Pensado como monumento, seria o livro e, consequentemente, a literatura, um legado consciente ou inconsciente das palavras mudas, sobre o qual se expõe uma ordem do discurso. Assim, a partir de Le Goff (1990), ao propor a necessidade de demolir a construção e analisar as condições sob as quais se produzem os documentos-monumentos, é que esse trabalho focaliza sua atenção no consenso, atravessado por relações de poder, da predominância masculina nos processos literários, que vai desde quem escreve e se estende na escolha de quem o lê. Posto isso, norteando-se pela asserção de Virgínia Woolf (2014), ao exteriorizar a escassez de adequações às mulheres para a produção literária, que deram conta também da ausência de reflexões femininas sob um determinado sentido, isto é, o das mulheres, procura-se, então, destacar o surgimento de clubes de leituras criados sob o propósito de privilegiar, com exclusividade, a escrita das mulheres. Percebidos como uma das marcas da sociedade contemporânea, bem como herança das conquistas feministas, tais grupos, constituídos majoritariamente por mulheres, miram, na linha de seus efeitos, a subversão da velha ordem do discurso de produção literária masculina. Posição, obviamente, promotora da construção de um pensamento crítico e, de forma indissociável, dos processos de subjetivação de suas integrantes balizados pelas interpretações de si mesmas. Além disso, sob o

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respaldo do exercício foucaultiano (2014), no que diz respeito as relações de poder, entende-se que tais espaços, ao se reinventarem sob a idiossincrasia literária instituída, figuram como um local de protesto, onde, através de suas práticas, sujeitos e impulsos, ousam as mulheres a se posicionarem do outro lado das relações de forças que atravessam e compõem, também, o universo da literatura, apregoando-se, assim, como interlocutoras irredutíveis. Palavras-chave: Literatura; ordem do discurso; feminismo; leia mulheres; subjetivação.

ABORTO E VIOLÊNCIA OBSTÉTRICA: UMA REFLEXÃO A PARTIR DE TESTEMUNHOS E DA FICÇÃO Milena Mulatti Magri (UNESP/IBILCE) A participação da mulher no controle reprodutivo se exerce a partir de uma posição ambígua. Se por um lado, cabe quase que exclusivamente à mulher o controle de sua fertilidade e a manipulação de métodos anticoncepcionais, por outro, a responsabilização e o ônus de uma gravidez indesejada ainda recai, na grande maioria dos casos, sobretudo, nas mulheres. Ainda assim, muitos são os países que não garantem o aborto como um meio possível de controle do processo reprodutivo, alijando a mulher de um direito capaz de garantir sua integridade física diante de um procedimento médico que, uma vez aplicado em condições adequadas, contribui significativamente para sua qualidade de vida. A privação de atendimento médico em casos de aborto – espontâneo ou não – é enquadrada como uma das formas de violência obstétrica, tal como aponta a Defensoria Pública do Estado de São Paulo. Com base nessa discussão, propomos a análise em conjunto de dois textos distintos. No campo ficcional, abordaremos o romance A estrela sobe, de Marques Rebelo (1939), no qual a protagonista – uma jovem ambiciosa que ascende socialmente ao se consagrar como cantora de rádio – realiza um aborto clandestino e adoece. Este desfecho da protagonista é sugestivamente apresentado como uma forma de condenação moral da personagem. Já fora do campo ficcional, pretendemos abordar o testemunho de mulheres que sofreram violência obstétrica e violência de gênero durante a ditadura militar brasileira e que foram recolhidos pela Comissão Nacional da Verdade, cujo relatório final foi publicado em 2014. Levantamos como hipótese inicial que a interdição da mulher ao direito pleno do controle reprodutivo por meio da proibição do aborto é pré-condição para a violação do corpo da mulher em situações limites, como relatadas nestes testemunhos. Procuraremos entender estas questões a partir do conceito de biopolítica, de Michel Foucault. Palavras-chave: Aborto; violência obstétrica; violência de gênero; testemunho.

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A BALADA DE HALO JONES DE ALAN MOORE E SUA CONTRIBUIÇÃO NA ABORDAGEM DO FEMININO COMO REINVENÇÃO DA LITERATURA NOS QUADRINHOS Mônica Rodrigues Suminami (UEMS) A subversão existente na linguagem praticada nos quadrinhos se fundamenta na necessidade da reinvenção. A linguagem se modifica, obedecendo a ideia de que não quer chegar à finitude que é capaz de levá-la à morte e, consequentemente ao vazio. Tal ideia, fundamentada em Foucault, oferece à linguagem a possibilidade de atualizar-se a fim de evitar o malfadado fim, qual seja, de não ser mais contínua e presente. É certo que a obra a balada de Halo Jones de Alan Moore traz essas possibilidades foucaultianas, permeando-se por uma visão feminina do próprio autor em suas personagens. Assim, tal artigo parte do pressuposto em demonstrar que a transgressão existente na linguagem encontra razão numa narrativa gráfica, qual seja, dos quadrinhos, haja vista que estes representam uma forma de duplicação, que se perfaz pela narrativa e pela própria ilustração que, ao mesmo tempo que se repetem, se complementam numa tentativa de permanecerem, ou melhor, de se resistirem no campo da literatura. Na medida em que a linguagem encontra guarida na narrativa gráfica, esta se permite mudar em torno de si numa miscelânea de acontecimentos, fazendo com que o próprio ato de escrever o quadrinho se constitua na própria formação da literatura e como tal legitimando sua possibilidade de existência. Portanto, a escrita da narrativa gráfica se subsumi numa transgressão, mais precisamente numa desobediência a uma imposição predeterminada de que a literatura seria ilimitada. Tais aspectos ainda se situam dentro de representações femininas, demonstrando uma ligação entre a narrativa gráfica, a linguagem e a literatura. Vale dizer que essa recusa em aceitar tal atitude, demonstra que a literatura é finita e que luta para não esmorecer, reinventando-se, a fim de resistir-se pela narrativa gráfica que se revela literária pela repetição sobre esse vazio que se pretende fugir. Palavras-chave: Feminino; Foucault; Linguagem; Literatura; Quadrinhos.

EXPANSIÓN DE LA PALABRA DE LA ABUELA EN LA ESCRITURA CONTEMPORARANIA: ANÁLISIS COMPARATIVO DEL TEXTO “GRITO DE PRIMAVERA” Nanny Zuluaga Henao (Disciente UFJF) Ana Beatriz Gonçalves (Orientadora UFJF) En una relación abuela-mujer, en constante complementación y expansión a través de los factores que se establecen en la transferencia de los códigos culturales, en un país como Colombia donde la

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se asume la trietnia con perspectivas diaspóricas con una fuerte huella de africanidad, los dos personajes, la abuela y la mujer, habitaran el mismo sujeto y darán a la mujer como representante de la abuela – la ancestra –, la posibilidad de construirse en la expansión desde la relación con los códigos de la abuela, para abrirse de formas incluyentes a la heterogeneidad de las nuevas mujeres, instaurando de esta forma en la palabra escrita diversas formas de creación como una actividad constante e ininterrumpida. Es estar siempre haciendo efectivas nuevas posibilidades de la escritura en femenino, una invitación a concebir la voluntad creadora como constante autoinventora, un fluir de vida, es la voluntad de trasformación, de crecimiento, de dar forma, esto es crear y en el crear esta incluido el destruir. El análisis de la expansión de la palabra de la abuela acrecentará la oralidad ancestral en su forma simbolizada – la escritura – posibilitando el encuentro con otros rastros memorias lejanos territorialmente y cercanos ancestralmente, permitiendo en la interlocución la consolidación de la memoria cultural más allá de la asignación de roles y los cánones de belleza. Palabras-claves: Mujer; Memoria; Ancestralidad; Trietnia; Colombia.

CARTOGRAPHY OF FICTIONAL SPACES AND THEIR INDIVIDUALS IN NEIL JORDAN‟S BREAKFAST ON PLUTO (2007): „BELONGING‟, DISPLACEMENT, GENDER, SUBVERSION, AND CULTURAL MEMORY Dra. Noélia Borges – Instituto de Letras, Departamento de Letras Germânicas (UFBA) The aim of this paper is to examine the urban geography of the fictional spaces and the individuals constructed by Neil Jordan in Breakfast on Pluto, a film adaptation of Patrick McCabe‘s novel (1988), in light of socio-anthropological and cultural perspectives. The film is the story of Patricia ―Kitten‖ Brady, a young transgendered woman who searches for her birth mother in London. It takes into account the relations of the main character with two different places – his hometown, Tyreelin, and London and the way his Irish identity is portrayed. While the ending of Breakfast on Pluto is whimsical, a relationship between queerness, racial Otherness, and exile in London appears essential in order for the Irish characters to transcend the conflict in the North as well as the oppressive Catholic society that they leave in search of freedom. It also intends to identify whether alienation, rejection, loneliness, subversion, memory and displacement of individuals are present in the film. A few questions should be answered: To what extent the concept of culture, gender and identity is related to urban spaces in the film? To what extent modernity interferes in the local in terms of cultural practices, urban geography, interests and modus vivendi? Do the past and the cultural memory live well together with the different modern advances? Keywords: space; individuals; gender; queerness; displacement; memory.

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AS REPRESENTAÇÕES DO PÁRIA: O SUJEITO (IN)VISÍVEL EM CONTOS DE JOÃO MELO Paloma Argemira da Silva (Universidade Federal de São Carlos) O objetivo desta comunicação é analisar dois contos do escritor angolano João Melo, autor que produziu significativas obras configuradas em contos com temáticas sobre a mulher submissa frente ao homem e as questões de identidade do país. Os contos elegidos para essa comunicação são ―O Feto‖ de Os Filhos da Pátria; (2008) e ―Maria‖ de O dia em que o pato Donald comeu pela primeira vez a Margarida (2006). Estes contos foram selecionados com a finalidade de refletir a personagem feminina a partir da abordagem da subalternidade (SPIVAK, 2010), da diferença (BRAH, 2006) e da figura do pária (VARIKAS, 2014), considerando que a análise desses contos é relevante para produzir fortuna crítica sob as obras de João Melo, bem como pensar a personagem feminina dentro de outra perspectiva literária, uma vez que os angolanos sempre sofreram com a dominação europeia na construção de sua literatura. Como aporte teórico, elegem-se aqueles sobre a teoria pós-colonial (LEITE, 2003; MATA, 2007, 2012, 2013; BONICCI, 2009) e outras de cunho analítico-literário (CANDIDO, 2008; TODOROV, 2003, LARANJEIRA, 1995), buscando-se analisar, nos contos eleitos, alguns dos efeitos da colonização e as subordinações em que as personagens dos contos estão inseridas. Enquanto sujeito (in)visível, procuraremos analisar a construção de determinadas personagens, tentando sublinhar a ideia de nacionalidade que se encontra nas entrelinhas das tramas, sobretudo, a partir das experiências vividas sob o signo da diferença. Palavras-chave: João Melo; Identidade; Diferença.

REPRESENTAÇÕES SOCIAIS DE GÊNERO NA EDUCAÇÃO INFANTIL PÚBLICA NO MUNICÍPIO DE RIBEIRÃO PRETO Patrícia Fuquini Dias (Universidade de São Paulo) Juliana Cristina Terra de Souza (Unesp) Para elaborar este trabalho, ancoramo-nos no conceito de representação social do estudioso romeno Serge Moscovici (1985). Segundo este autor, as representações sociais se constituem a partir normas e padrões construídos e estabelecidos coletivamente para induzir a comportamentos socialmente aceitos, em um esforço para aproximá-los da realidade. Ao internalizar e admitir estes comportamentos como verdadeiros, o indivíduo passa a reproduzi-los, contribuindo para a manutenção das relações sociais vigentes. É importante pontuar, ainda, o caráter dinâmico que

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Moscovici afirma ter as representações: as pessoas são influenciadas pelo exterior, mas também podem ressignificar as informações que recebem e transformá-las. A partir desses pressupostos, buscamos pensar as representações de gênero (conceito de Joan Scott) no Ensino Infantil (alunos com idade de 0 a 5) em duas instituições públicas no Município de Ribeirão Preto. O Ensino Infantil é o primeiro momento de socialização de uma criança. É, muitas vezes, o momento em que ela entra em contato com restrições de acordo com o sexo biológico que possui. Os professores, imbuídos da representação social do que é ser ―homem‖ e do que é ser ―mulher‖, em certas ocasiões, acabam por censurar o comportamento dos pequenos. Busca-se com isso, formar ―homens‖ e ―mulheres‖ que se encaixem nas representações estabelecidas e desempenhem os papeis sociais esperados. Este posicionamento contribui para manter as desigualdades entre os gêneros existentes atualmente. O presente trabalho é resultado da primeira parte da pesquisa. Neste momento, a metodologia consiste na revisão bibliográfica sobre o tema e tem como objetivo levantar questionamentos e refletir sobre tal situação dentro das escolas. Assim, além de Moscovici e Scott (1995), a discussão apresentada será embasada pelos trabalhos de Bourdieu (1989), Foucault (1975), Moreno (1999), Louro (1997 e 2002), Becchi (2003), Faria (2007), Finco (2004 e 2009) e Vianna (2006). Palavras-chave: representação social; gênero; educação infantil, Ribeirão Preto.

REALISMO E GÊNERO: A REPRESENTAÇÃO DA MÃE EM “DARLUZ”, DE MARCELINO FREIRE Paulo Ricardo Moura da Silva (UNESP/São José do Rio Preto) Sob muitos aspectos, o escritor contemporâneo Marcelino Freire coloca em cena, em seus contos, elementos constitutivos da realidade sociocultural brasileira, sobretudo no que diz respeito a certas precariedades socioculturais, processos de marginalização e práticas violentas que marcam a nossa sociedade, não somente nas últimas décadas, mas também ao longo dos séculos. Sob esta perspectiva, a obra de Marcelino Freire se insere nas dinâmicas do realismo contemporâneo brasileiro, que não tem as pretensões de objetividade, de neutralidade e de objetividade científica conferidas aos moldes representacionais realistas do século XIX, mas, ao contrário, lança-se ao desafio de encontrar novas expressões representacionais do real. Nesses termos, nosso trabalho busca compreender criticamente a representação da mãe no conto ―Darluz‖, presente no livro BaléRalé (2003), de Marcelino Freire, a partir das relações entre realismo e gênero. A narradora de ―Darluz‖ apresenta um discurso que busca esclarecer os motivos que a levam a dar seus filhos a estranhos logo após o parto, diante da precariedade e da miséria que marcam sua vida, porém, sem qualquer crise de consciência. A argumentação da narradora sobre os motivos para abandonar seus filhos, inicialmente, choca-se com o conceito de mãe que está presente no imaginário cultural, em que a mãe é a mulher, delicada e cuidadosa, que ama incondicionalmente seus filhos. A partir da

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argumentação da narradora, em sua condição de mulher-mãe, o conto ―Darluz‖ parece apontar para uma crítica das relações familiares da classe média, bem como das condições materiais deploráveis das classes baixas. Palavras-chave: Gênero; narrativa contemporânea; realismo.

O LIVRO-JOGO COMO FERRAMENTA PEDAGÓGICA Pedro Panhoca Silva (UNESP-Assis) Livros interativos são muito utilizados em aulas e incentivam o interesse pela leitura e pela produção textual. Um deles pode ser o livro-jogo, narrativa não linear existente desde a década de 1940 em diversas formas, como contos (como ―Exame da obra de Herbert Quain‖, de Jorge Luis Borges), livros especiais que proporcionavam ao aluno o aprendizado independente de professor ou tutor (creditado ao psicólogo behaviorista B. F. Skinner) na década de 1950, ―literatura ramificada‖ do grupo literário Oulipo na década de 1960, considerados os protótipos dos livros-jogos do final da década de 1970 (como as séries Tunnels and Trolls, Choose your own adventure e suas várias subséries) cuja estrutura inspirou as que são conhecidas e utilizadas cotidianamente. Após o grande destaque e ascensão do livro-jogo no mercado editorial na década de 1980 (com as aclamadas séries Advanced Fighting Fantasy e Lone Wolf) e a consequente criação de livros-jogos nacionais nos anos 1990 (títulos desprovidos de séries com altas tiragens) houve sua escassez no editorial em nosso país até o final dos anos 2000, com sua retomada acontecendo no final da década passada até os dias de hoje. Tais obras podem facilitar a assimilação de conteúdos e interesses em temas diversos e refletem as condições concretas do aluno, enquanto os conteúdos revelam a profundidade de penetração desse em situações adultas, se bem utilizadas. Palavras-chave: Livros-Jogos; Leitura; Produção Textual; Aprendizagem.

“ELAS FALAM MAS NEM SEMPRE SÃO OUVIDAS”: AS VOZES SILENCIADAS EM UM CURSO DE BACHARELADO EM DIREITO Priscila Aparecida Silva Cruz (UEMS/CAPES) A formação acadêmica em Direito é uma produção discursiva que acontece em meio à rede de saber-poder, diante disso, o presente estudo teve como objetivo examinar os modos de subjetivações praticados por um curso de Direito da Universidade Estadual de Mato Grosso do Sul, unidade universitária de Paranaíba, analisando quais vozes são representas e ouvidas nesse processo

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formativo, investigando em que medida o curso de Direito silencia as mulheres e de que forma as resistências são manifestadas. O caminho metodológico consistiu na realização de entrevistas semiestruturadas com discentes formandos do curso de Direito, buscando compreender quais as percepções desses acerca das relações de gênero produzidas no currículo do curso. Trata-se de resultados parciais de dissertação de mestrado, desenvolvida junto à Universidade Estadual do Mato Grosso do Sul (UEMS). A metodologia do trabalho se inscreve num campo pós-estruturalista, apoiado nos Estudos Feministas, tendo como instrumento de produção de discurso a entrevista semiestruturada, permitindo que houvesse a compreensão histórica dos símbolos culturais que perpassam e produzem as relações de saber e poder que mobilizam os discursos sobre gênero, auxiliando na compreensão sobre ser mulher no curso de direito e as relações de poder e saber que perpassam a construção do currículo de um curso jurídico. Para tanto, operaremos com a análise do discurso, constituindo princípios que orientarão as análises dos efeitos do poder nos discursos científicos, construindo assim uma arqueologia. Com isso, será possível aprimorar as discussões acerca da construção pedagógica que vise a formação de operadores do Direito comprometidos em fortalecer a luta pela igualdade real no campo do gênero. Palavras-chave: Gênero. Currículo. Discursos. Subjetividades.

AMOR E EROTISMO PRESENTES EM DIADORIM Priscila da Silva Garcia (UNESP/IBILCE) Diadorim é personagem de Guimarães Rosa que intriga aos que se propõe a encarar a leitura de mais de 600 páginas de Grande Sertão: Veredas (2001). Mesmo aos que já conhecem o final da obra, se surpreendem com a personagem e seu parceiro Riobaldo. Os pequenos momentos em que os sertanejos estão a sós, as pequenas demonstrações de amor e carinho deles trazem situações de amor e erotismo declarados, como um encanto, por toda a personagem e a beleza de seu olhar. O decorrer desta leitura nos lembra de outro conhecido casal, porém machadiano – Capitu e Bentinho – e a relação de amor entre ambos, fazendo do olhar da amiga de infância ser conhecido até hoje: o que levou o desejo do menino e a confissão de culpa (ou não) da traição. Outro olhar conhecido é de Medusa, aquela que, por vezes aparece bonita, outras como mulher feia, mas em ambas com cabeleira de serpente e olhar de matadora que petrifica a todos que a encaram. O que há em comum entre essas três mulheres? O que há nesses olhares petrificantes e nessa beleza tentadora? Com uma análise baseada em Diadorim, vamos percorrer as veredas e entender como o amor e o erotismo estiveram presentes no casal do sertão, aproximando em momentos propícios a outros personagens. Como base teórica, traremos a concepção de "beleza meduseia" de Mário Praz (1996) focando na dualidade prazer e dor. Sobre o erotismo, amor e o sexo, Octávio Paz (1995) auxiliará nossa análise,

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e outros pertinentes. Pretende-se, assim, ter mais suportes para compreender essa figura tão complexa que é Diadorim, tanto para Riobaldo quando para nós. Palavras-chave: Diadorim; erotismo; amor.

PONTE EM SAÚDE PARA UMA POPULAÇÃO NEGLIGENCIADA Renan José da Silva (Universidade Estadual de Londrina) Nossa sociedade patriarcal composta de princípios morais, tende a negligenciar a população LGBTT, esta, que exposta a inúmeras vulnerabilidades como agressões físicas, reações sociais, violência psicológica, acabam necessitando de uma assistência em saúde que as[o] atendam de forma integral e humana, visto que essa parcela da população muitas vezes passa despercebida pelo sistema de saúde. A residência multiprofissional em saúde da mulher da Universidade Estadual de Londrina (UEL), abriu portas para o trabalho realizado pela equipe multiprofissional da Unidade Básica de Saúde (UBS) localizada no município de Cambé Paraná, onde a população de travestis da cidade de Londrina Paraná, vem sendo atendida pela equipe de residentes. Desta forma durante os atendimentos eram consideradas todas as necessidades e aspectos físicos, emocionais e sociais dessa população. A primeira consulta contava com o acolhimento inicial da psicóloga e a realização de testes rápidos para doenças sexualmente transmissíveis por parte dos enfermeiros, diante disso as consultas seguiam o fluxograma de atendimento criado pelos residentes intercalando as consultas com a médica clínico-geral, em sala própria para atendimento e suscitando a importância de uma ambiência acolhedora e humanizada. Com esse trabalho buscamos integrar essa parcela da população no sistema de saúde, garantindo o acesso, universalidade e integralidade do atendimento, agregando os conhecimentos dos diferentes profissionais ali envolvidos. Conclui-se com essa experiência uma excelente oportunidade para prevenção e promoção da saúde para essa população negligenciada, por meio da união dos diferentes profissionais ali envolvidos essa ponte em saúde permitiu uma intervenção humana, integral, harmônica e universal entre os profissionais e as pacientes atendidas, a fim de quebrar paradigmas e tabus. Palavras-chave: travestis; saúde; integralidade.

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APONTAMENTOS SOBRE A CONDIÇÃO FEMININA NO CONTO O OURO DE TOMÁS VARGAS, DE ISABEL ALLENDE Rossana Rossigali (UCS) O presente trabalho tem por objetivo estudar aspectos concernentes à condição feminina a partir das personagens do conto O ouro de Tomás Vargas, da escritora chilena Isabel Allende. Transcorrendo na localidade de Água Santa, a narrativa orbita em torno do sovina, mulherengo, brigão e falastrão Tomás Vargas, sua esposa, Antonia Sierra, que, além de trabalhar arduamente para criar os seis filhos, apanha do marido, e Concha Díaz, a amante grávida de Tomás, a qual, sem outra opção, vai morar junto com a família dele. Previsivelmente, esse fato gera grande comoção e rejeição por parte de Antonia Sierra. Contudo, é o que irá, posteriormente, desencadear uma mudança de atitude por parte das duas mulheres, que acabarão por se unir, reinventando as relações de poder e rompendo com a dominação masculina. Este texto perscruta os motivos que deram causa ao círculo de dependência ao qual se submetiam essas mulheres, bem como as razões que possibilitaram seu ulterior esfacelamento. O aporte teórico utilizado para o desenvolvimento desta comunicação apoiase em diversos autores, dentre os quais Márcia Hoppe Navarro, Rita Terezinha Schmidt e Lúcia Osana Zolin. Palavras-chave: O ouro de Tomás Vargas; condição feminina; poder patriarcal.

RELAÇÕES DE GÊNERO, SEGREGAÇÃO E ESTRATÉGIAS FEMININAS NO RAP BRASILEIRO Sandra Mara Pereira dos Santos (UNESP/Marília) A pesquisa realizada teve como um dos seus objetivos analisar os discursos utilizados pelos(as) cantores(as) de rap, nos quais eles e elas relacionam significados de feminilidades e masculinidades com as temáticas que compõem as letras das canções dessa modalidade musical. Para a compreensão das relações de gênero, analisei algumas canções do mencionado estilo musical e considerei as concepções de gênero de dez cantores e cinco cantoras entrevistados por mim no Estado de São Paulo. Por fim, ainda participaram desse processo analítico as observações que realizei em eventos de rap. Reitero que frequentemente os sujeitos do gênero masculino aparecem nos raps, por exemplo, relacionados ao mundo do trabalho no espaço público e à violência urbana, e as pessoas do gênero feminino às vivências nos espaços domésticos e às dimensões afetivas/conjugais. As questões no que tange a relação de gênero no rap brasileiro ficam explícitas na medida em que muitos cantores e cantoras constroem os temas centrais das canções segregando

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pessoas do gênero feminino e masculino de certos espaços, representações e experiências sociais. Essa forma de separação revela uma prática na qual diversos(as) compositores(as) seguem normas de um modelo de sociedade patriarcal, que é constituído pelos diferentes significados que os gêneros possuem nas relações sociais. Assim, nesse estilo musical, não raramente, as principais temáticas das músicas são representativas e reproduzem relações de poder e desigualdades nas relações de gênero. No entanto, é relevante destacar que também existem no rap estratégias femininas contra a inferiorização e segregação do gênero feminino, visto que ocorrem formas de resistência ao tratamento hegemônico das interações de gênero que são articuladas conjuntamente aos discursos tradicionais. Palavras-chave: Rap; Relações de Gênero; Segregação e Estratégias Femininas.

ANA TERRA: DA SUBJUGAÇÃO AO (RE)COMEÇO Silvia Jorgina Fernandes (UEMS-PG) Zélia R. Nolasco dos S. Freire (UEMS) Esta comunicação refere-se ao projeto de pesquisa desenvolvido junto ao Programa de PósGraduação em Letras da Universidade Estadual de Mato Grosso do Sul (UEMS) e visa analisar e refletir acerca da vida da personagem Ana Terra. Figura emblemática e caracterizadora da obra O Tempo e o Vento (1949), do escritor gaúcho Érico Veríssimo, que retrata através de fatos transformadores de sua existência a trajetória nada fácil da maioria das mulheres daquele período. Devido à extensão da obra e sua reiteração, o recorte deste estudo recairá sobre a primeira parte do romance O Continente, mais especificamente o capítulo homônimo à personagem aqui retratada. Buscar-se-á dessa forma, apontar alguns fatos da vida de Ana Terra e a forma como a marcaram e foram propulsores à sua transformação. Refletir-se-á ainda sobre o fato de que, mesmo imersa em uma sucessão de acontecimentos traumáticos, uma transformação positiva se passa com a personagem, levando-a inevitavelmente a adotar novos rumos em sua vida e na de sua família, num processo de resistência à colonização patriarcal. À luz dos estudos de gênero analisar-se-á os cruéis atos de violência contra a mulher, a subjugação feminina e a imposição do poder patriarcal retratados pelo escritor, tendo como aporte teórico a obra de Judith Butler (2015) e os estudos de Lúcia Osana Zolin (1999) e (2005). Destaca-se ainda, a relação estabelecida entre os fatos que ocorrem em sua vida e o vento, formando uma espécie de ligação entre esse fenômeno e a memória feminina. Observa-se a importância dada a esta relação, desde a abertura do romance com a frase ―Sempre que me acontece alguma coisa importante, está ventando‖. Assim, pretende-se analisar os principais fatos propulsores da transformação da vida de Ana. Através de leituras efetuadas,

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constata-se que essa obra de Erico Verissimo tem uma importante contribuição para as transformações tão esperadas e almejadas por todos. Palavras-chave: Gênero; feminismo; subjugação feminina.

IDENTIDADE E GÊNERO EM A PALE VIEW OF HILLS DE KAZUO ISHIGURO Silvia Mara Tellini (UNESP - São José do Rio Preto) No primeiro romance de Ishiguro, Etsuko, mulher de meia idade nascida em Nagasaki, divorcia-se de Jiro, casando-se pela segunda vez com Mr. Sheringham, quando passa a viver em uma casa de campo na Inglaterra. A narrativa se inicia com o estereótipo do suicida-japonês, reiterado na Europa ocidental, com a revelação de que sua filha mais velha, Keiko, se enforcou. A partir da tragédia, a narradora passa a relembrar o tempo em que viveu em Nagasaki, quando conheceu uma mulher chamada Satchiko, cuja trajetória parece espelhar o próprio percurso de Etsuko. Enquanto critica o suposto instinto suicida japonês, razão da fatalidade sofrida pela filha ―puro-sangue oriental‖, também celebra ironicamente a ―verdadeira beleza‖ bucólica da paisagem dos campos ingleses. As ironias perpetradas em seu discurso, não muito confiável, vão revelando situações de conflitos. Esta leitura discute as tensões identitárias presentes em A Pale View of Hills (1982), pelo viés de construções culturais, referentes ao papel do estrangeiro oriental e da mulher, examinando as categorias binárias de oriente/ocidente e mulher/homem, eminentes a partir das relações narradas por Etsuko. Sua estória se localiza tanto no Japão ocupado, durante o período da segunda guerra, como também na Inglaterra do pós- segunda guerra. Discute-se, assim, o ocidente do colonizador não somente como força que equaliza a fictícia imagem do oriente com a do lugar originário daquele inferiormente humano, exótico e selvagem, como também se aborda as construções restritivas engendradas nos papéis da mulher, uma vez que se lhe é outorgado permissão à existência como segundo sexo acidental, no contexto patriarcal. Tais construções são abordadas a partir das teorias de Said (1978), Spivak (1999) e Butler (1990). Palavras-chave: A Pale View of Hills; identidade; gênero.

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O EU FEMINO NA OBRA DEBAIXO DA MINHA PELE, DE DORIS LESSING Simone Sanches Vicente Morais (SEDUC/MT) Dolores Aparecida Garcia (UNIVAG/MT) O trabalho aqui apresentado está inserido dentro de uma pesquisa de doutoramento na área de Estudos de Linguagem iniciado no ano de 2017, na Universidade Federal de Mato Grosso, em que pretende apresentar e discutir as principais temáticas, dentro da autobiografia da autora inglesa Doris Lessing. Mas, para este resumo, pretende-se refletir uma dessas temáticas, o eu feminino, dentro da obra Debaixo de minha pele (1994). Apoiaremos nossas discussões em Butler (2003), Haraway (2004), Laqueur (2001), Citeli (2001), Lejeune (2014) e outros. Doris Lessing debruça o seu olhar para as diferenças que recaem sobre o eu feminino. Mulheres que aprenderam que o papel da mulher era gestar e educar seus filhos, mas não lhe ensinaram a desempenhá-lo sem ter que abdicar da identidade anterior, a do eu feminino muito anterior à do eu materno. A vida na Rodésia do Sul (África) deixou a mãe de Doris obcecada pela necessidade de educar a filha seguindo um sistema rígido de regras comuns à sociedade britância e este fato na verdade colocou Doris desde menina sob a condição de submissão e obediência. Entretanto, o que se observa nesta obra é que mesmo com essa educação repressora, a autora conseguiu transgredir as fronteiras do impossível, uma vez que o contexto no qual estava inserida ainda era regido pelos moldes patriarcais. Doris Lessing conseguiu tratar de temas que foram além dos horizontes masculinos e que, na verdade conferem autonomia e autoafirmação às mulheres. Mulheres essas que ainda hoje se encontram presas muitas vezes por estigmas que foram instaurados ainda em tempos anteriores. Palavras-chave: eu feminino; educação-repressora; autonomia.

ALEGORIA E CARNAVALIZAÇÃO DO CORPO EM O SANTEIRO DO MANGUE, DE OSWALD DE ANDRADE Sirlene Sales Maciel (UNESP) Oswald de Andrade em ―O santeiro do mangue – mistérios gozosos em forma de ópera‖ escrito entre 1936 e 1950, apresenta um poema dramático que foi construído por fragmentos, flashes, poemas líricos, diálogos, orações, músicas, entre outros gêneros que se misturam e apresenta ao leitor um mistério a ser revelado, que deve ser montado como um quebra-cabeças e, com isso, adquire ambiguidades e plurissignificações que remetem à crítica da sociedade capitalista. O presente trabalho pretende analisar a alegoria e a carnavalização do corpo e apreender de que forma o corpo no poema-drama, a partir do feminino prostituído, revela sobre as questões do sagrado e do profano. O corpo que é tido como sagrado pelo cristianismo e que, portanto, deve ser intocado e

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puro, adquire uma contradição: por ser corpo é também profano e passível das paixões terrenas. Esse corpo feminino é historicamente vinculado aos preconceitos de gênero. Na obra, essa dialética do corpo é utilizada por alegorias que representam o bem e o mal, e por meio de ironias e risos o autor vai tecendo críticas ferozes à hipocrisia, ao utilitarismo burguês, entre outros. Neste sentido, o cômico anda junto com o trágico, e as questões apresentadas tomam a praça pública da discussão antropofágica e fragmentada do corpo que foi colonizado. A alegoria e a carnavalização do corpo adquirem uma conotação de crítica social e de apontamento de perspectivas a partir de uma revelação ao avesso do teatro medieval. Palavras-chave: alegoria; carnavalização; corpo; antropofagia.

O ESPAÇO COMO VETOR DE CONSTRUÇÃO DO SENTIDO EM “LINDA, UMA HISTÓRIA HORRÍVEL”, DE CAIO FERNANDO ABREU Suzel Domini dos SANTOS (UNESP/SJRP) Esta comunicação tem por objetivo analisar a construção do espaço no conto ―Linda, uma história horrível‖, de Caio Fernando Abreu, presente no livro Os dragões não conhecem o paraíso, observando sua relação com a constituição das personagens e, também, com o arranjo de sentidos possíveis para o texto narrativo. O conto destacado apresenta uma dimensão física do espaço que serve à caracterização de uma dimensão mental e/ou afetiva das personagens, de modo que se torna possível estabelecer uma leitura crítica voltada para a articulação do espaço doméstico – lugar em que a narrativa se desenvolve – como vetor de construção do sentido em sua acepção social, sobretudo vinculada às questões de gênero. Considerando essa premissa, o presente trabalho focaliza a figura da mulher idosa, bem como a do homossexual, e explora a forma como Caio Fernando Abreu se vale de uma elaboração minuciosa do espaço para potencializar a problematização das forças opressivas disseminadas dentro de uma estrutura social tradicionalista e patriarcal, descortinando-as. O drama existencial vivenciado pelas personagens do conto evidencia como a opressão exercida pela sociedade acaba por interferir na liberdade individual. Nesse sentido, pode-se afirmar que o autor coloca as minorias em primeiro plano, dando voz àqueles que foram recalcados pela estrutura social. Palavras-chave: Caio Fernando Abreu; Espaço; Gênero.

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DO CÂNONE À LITERATURA JUVENIL: ADAPTAÇÃO DA LENDA DE DON JUAN POR ALESSANDRO BARICCO Tahisa Mara da Silva (Unesp-Assis – graduanda/bolsista ―PIBIC-Reitoria‖) Dra. Maira Angélica Pandolfi (Orientadora/Unesp-Assis) Esta comunicação resulta de um projeto de iniciação científica intitulado ―Representações do Convidado de piedra e do banquete fúnebre na literatura donjuanesca‖, orientado pela Dra. Maira Angélica Pandolfi. Para essa comunicação, pretende-se apresentar alguns resultados parciais sobre a simbologia da estátua de pedra em uma das obras selecionadas como corpus do projeto. Trata-se da adaptação da lenda de Don Juan ao público infanto-juvenil, por Alessandro Baricco (2010). Como abordagem metodológica realizamos, em um primeiro momento, a análise da rede intertextual que o autor se utiliza para, posteriormente, adentrarmos na releitura proposta sobre o simbolismo da estátua de pedra na obra em questão. Como resultados, observamos que esse simbolismo está diretamente relacionado a uma proposta pedagógica que visa fomentar reflexões dialéticas acerca de ―condutas éticas‖ ou sobre a ―dimensão moral‖ em situações do cotidiano que envolvem as escolhas e os limites. Como suporte para a compreensão da rede intertextual tomamos como fundamento o conceito de biblioteca do autor, explicado por Tiphaine Samoyault. Como suporte teórico para a compreensão do gênero adaptação utilizamos a obra de Linda Hutcheon, Uma teoria da Adaptação. Também se constatou que a recriação donjuanesca de Alessandro Baricco é demarcada por um registro bufo, fortemente influenciado pela tradição italiana das commedias dell‘arte. Ainda que em sua versão prevaleça a danação do herói esta parece ganhar um caráter insólito quando contrastada com versões clássicas da tradição literária donjuanesca. Palavras-chave: La historia de Don Juan explicada por Alessandro Baricco; literatura infantojuvenil; Adaptação.

DEUS FAZ, O DIABO TEMPERA – RELATO DE PROCESSO CRIATIVO Tauane Nunes Alamino (Pesquisadora Independente) O trabalho em questão apresenta o processo criativo da peça teatral ‗Deus Faz, o diabo tempera‘, que se construiu a partir de referências literárias, musicais, autobiográficas, imagéticas e arquetípicas. A princípio, o desejo era criar uma intervenção cênica inspirada apenas na confluência entre os Orixás e Pombagiras da Umbanda e textos de Guimarães Rosa; no entanto, o próprio trabalho fez emergir a necessidade de se propor uma reflexão sobre o feminino, encontrar rupturas com padrões sociais trazidos pelos temas abordados e, além do resultado cênico, trazer também a possibilidade de registrar e disseminar as informações encontradas na pesquisa. Para realizar o

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trabalho fizemos análise do conto Desenredo (Tutaméia: terceiras estórias, 2001), relatos pessoais sobre os temas inerentes ao trabalho, visitas a terreiros, participação em cursos de Danças dos Orixás (posteriormente disseminados por nós em novas oficinas), utilizando também como referencial teórico estudos literários sobre o conto de Guimarães Rosa, conceitos da antropologia teatral e as danças dos orixás, discussões de gênero do ponto de vista social e religioso sobre as pombagiras. O trabalho se iniciou durante Iniciação Científica com bolsa Capes, foi tema de conclusão do curso de Artes Cênicas da UEL em 2012 e se concretizou no ano de 2016 com a com a Cia. Do Santo Forte, fora do meio acadêmico, como trabalho artístico profissional. Presentemente, o objetivo é seguir propagando a discussão de gênero levantados pelo trabalho e a função dos arquétipos da Umbanda dentro do ponto de vista artístico e social. Palavras-chave: Pombagira; Teatro; Discussão de Gênero.

VERLAINE E RIMBAUD: TRANSGRESSÕES AMOROSAS Telma Amaral Gonçalves (Universidade Federal do Pará) Paul Verlaine (1844-1896) e Arthur Rimbaud (1854-1891), ambos poetas franceses que se tornaram referência na literatura francesa, conheceram-se em 1871 em Paris, onde iniciaram um relacionamento amoroso que se prolongou por três anos de muitas atribulações e turbulências. Examinar a trajetória amorosa do par, o apaixonamento, a vida em comum, a produção poética, os conflitos, as interferências familiares, os desencontros, a separação, enfim, as experiências no campo da afetividade/sexualidade, permite refletir sobre o caráter transgressivo da relação que se contrapõe a heterossexualidade compulsória vigente, desafiando as hierarquias sexo/gênero. Esta força disruptiva em relação à norma que configura um complexo jogo de forças e tensões é o foco desta comunicação, fruto de projeto de pesquisa por mim desenvolvido sobre a vida amorosa na passagem do século XIX para o XX. Meu objetivo aqui é examinar através da perspectiva antropológica a história amorosa de Verlaine/Rimbaud, analisando seu impacto na vida privada do par, bem como a repercussão para a sociedade da época em que ambos viveram e na qual foram figuras expressivas na literatura poética. Pretendo, desta forma, interpretar/entender/contextualizar as relações amorosas de ontem, o que me permitirá estabelecer algumas conexões com a atualidade. Palavras-chave: homossexualidade; heterossexualidade; relações amorosas.

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MITOS, LENDAS, CONTOS DE FADAS: DO MARAVILHOSO À REALIDADE, A MISOGINIA E SEUS REFLEXOS Therezinha Maria Hernandes (UNESP/FCLAr) Um os pilares da moderna educação baseada no respeito do feminino, atualmente, consiste em não estimular, no imaginário infantil, a perpetuação da figura de princesas frágeis, passivas, sempre necessitando de que um homem as salve. Não obstante o esforço para remodelar ou criar personagens de forma a refletir os ideais e anseios feministas, como em Malévola, nova versão cinematográfica de A Bela Adormecida, as narrativas tradicionais são ainda muito apreciados. A recente polêmica surgida sobre a nova versão de A Bela e a Fera pelos estúdios Disney, em razão de um possível relacionamento entre os personagens Lumière e Horloge, aponta um holofote sobre a homoafetividade, mas, em contrapartida, levanta uma cortina de fumaça sobre a condição feminina retratada nesse conto supostamente infantil, mas que, além de possuir relações tanto com o mito de Psiquê quanto com a narrativa de O Barba Azul, carrega uma mensagem subliminar de que a mulher pode salvar seu agressor, numa das dimensões da síndrome de Estocolmo.O objetivo deste trabalho é apontar, por meio de exemplos contidos em várias narrativas tradicionais, a ocorrência de crimes contra a mulher, bem como a permanência de uma visão ainda baseada no binômio maniqueísta heroína X bruxa, reforçando paradigmas comportamentais, de controle e de inferiorização do feminino, bem como a naturalização da violência.A fundamentação se baseia especialmente no Direito (Direitos Humanos, legislação brasileira), e subsidiariamente em textos teóricos sobre a literatura maravilhosa. Assim sendo, mesmo nas modernas adaptações de contos de fadas, há que se atentar para elementos mais ou menos velados, e que podem, de alguma maneira, ser absorvidos como naturais, contribuindo para a perpetuação de estereótipos que resultam na manutenção da cultura machista e patriarcal, que se busca evitar. Palavras-chave: contos de fadas; misoginia; mensagens subliminares.

INVISIBILIDADE EM FOCO: A REPRESENTAÇÃO DO CORPO EM ZONG! DE MARLENE NOURBESE PHILIP E CREOLE PORTRAITS DE JOSCELYN GARDNER Thiago Marcel Moyano (DLM/USP) O século XXI tem assistido crescentes discussões que imbricam questões de gênero e póscolonialismo tanto na literatura quanto nas artes e humanidades. Nestas, nota-se uma sensível preocupação interseccional, na qual categorias de gênero, raça e etnia são projetadas como igualmente relevantes na releitura e apreensão da História e sua tessitura narrativa. Levando-se em

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consideração o projeto colonial e seu consequente entrecruzamento das noções de território e propriedade na diáspora dos povos africanos através do Atlântico, nota-se hoje uma crise na representação em que se vêem obliteradas as várias subjetividades destes indivíduos então tidos como mercadoria. Este trabalho tem por objetivo analisar a coleção de gravuras e instalações Creole Portraits (2002-03; 2007; 2009-10) da canadense-caribenha Joscelyn Gardner, bem como a coleção de poemas Zong! (2008) de Marlene NourbeSe Philip. Em ambos os trabalhos percebe-se uma utilização estratégica da invisibilidade na tentativa de representar corpos escravizados sem recair em armadilhas essencialistas. Interessantemente, ambas se utilizam de rastros do arquivo da diáspora africana no Caribe como ponto de partida para suas obras: ao passo que Gardner recolhe trechos dos diários de Thomas Thislewood, um capitão do mato inglês na Jamaica do século XIX, NourbeSe Philip se apropria de atas do processo jurídico Gregson vs. Gilbert, no qual se reporta, em uma disputa monetária com uma empresa de seguros, o assassinato deliberado de aproximadamente 150 escravos a bordo do navio negreiro Zong, em 1781. A fim de atingir os objetivos aqui expostos, contribuições de teóricas do gênero, estudos afro-americanos e caribenhos como Saidiya Hartman, Natasha Tinsley, Judith Butler, entre outras, servirão de aporte teórico para esta investigação. Palavras-chave: Diáspora; Caribe; Gênero; Corpo; Invisibilidade.

A FEIURA FÍSICA FEMININA NA SÁTIRA DE AFONSO X Vanessa Giuliani Barbosa Tavares (PPGL/UFES/CAPES) A mulher é tida como a personagem central da literatura trovadoresca galego-portuguesa, sobretudo pelas descrições femininas idealizadas e sublimadas – ainda que misóginas - dos dois gêneros principais, as cantigas de amor e de amigo. Por sua vez, no gênero satírico, conhecido como escárnio e maldizer, figuram as mulheres cuja aparência física se distanciava dos conceitos concernentes à beleza na sociedade medieval peninsular, relegando a essas personagens representações completamente depreciativas, picarescas e, por vezes, animalizadas. Com base nisso, o trabalho estuda a feiura física feminina em duas cantigas satíricas do rei e trovador medieval Afonso X (1221 - 1284), ―Nom quer eu Donzela Fea‖ (B 476) e ―Achei Sancha Anes encavalgada‖ (B 458), fundamentado em estudos interdisciplinares: crítico-literários, filológicos e históricoculturais. Desse modo, verifica-se que ambas as composições manifestam descrições que escarnecem as mulheres por sua aparência física imprópria às convenções estéticas do período, o que possibilita a constatação de que a literatura satírica afonsina, bem como toda a poesia satírica galego-portuguesa, apesar de lúdica, se configura como um discurso misógino, o qual, ao apontar a feiura das satirizadas, se convertia um instrumento de denúncia e regulação da aparência feminina na sociedade peninsular. Propõe-se, assim, uma contribuição para a compreensão dessas cantigas e

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do antifeminismo medieval, os quais oportunizam uma reflexão acerca da condição feminina contemporânea e das imposições estéticas às quais as mulheres ainda hoje estão sujeitas. Palavras-chave: Feiura feminina; Sátira galego-portuguesa; Afonso X; Escárnio e maldizer.

DE JULIANA, MATILDE E JURACIS: UM OLHAR SOBRE AS MULHERES DO UNIVERSO LITERÁRIO DE DINORATH DO VALLE Vera Lúcia Guimarães Rezende (PPG Letras IBILCE – UNESP) O presente trabalho aborda as narrativas escritas por Dinorath do Valle protagonizadas por mulheres. Professora e escritora atuante na cena cultural do Noroeste Paulista, várias vezes premiada em concursos literários nacionais e internacionais nas décadas de 70 e 80, Dinorath do Valle atuou também em jornais e emissoras de rádio como jornalista e cronista. A rotina diária na sala de aula e nas redações, estreitou seu contato com o dia a dia dos moradores de sua cidade, sobretudo os mais simples e socialmente excluídos. Tais impressões, aliadas à sua infância pobre se transfiguraram em contos protagonizados pela gente simples da periferia urbana de São José do Rio Preto, onde viveu. Esta comunicação debruça-se sobre algumas de suas protagonistas, mulheres de espírito livre, senhoras de seus corpos mas fadadas a destinos trágicos. Adúlteras ou prostitutas, elas buscam o prazer sem culpa num ambiente dominado pela pobreza, maridos submissos e amantes casuais. Amparados por estudiosos da literatura feminina entre eles Dalcastagnè (2005) e (2012), e Coelho (1993), busca-se compreender até que ponto estas narrativas representam a visão crítica da autora em relação à sociedade que, moldada por valores patriarcais, condena e pune quem escapa ao código de comportamento institucionalizado. Palavras-chave: Mulher; Protagonista; Narrativa.

PARTEIRAS TRADICIONAIS: ALGUEM PARA DIVIDIR A DOR - MEMÓRIAS DO SABER FEMININO NO RESGATE AO PROTAGONISMO DA MULHER Zoraide Vieira Cruz (Universidade Estadual do Sudoeste da Bahia – UESB) Rita Maria Radl Philipp (Universidade Santiago de Compostela) Tânia Rocha Andrade Cunha (Universidade Estadual do Sudoeste da Bahia – UESB) Durante séculos o parto foi considerado um cuidar privativo ao gênero feminino, realizado por parteiras; mulheres cujos conhecimentos eram práticos, transmitidos de geração a geração. Com o advento da medicina, o parto se institucionalizou enquanto saber médico, masculino, seguro e

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científico e consequente marginalização de práticas sociais cujas bases não sejam científicas. A mulher passa a ser considerada não mais como um sujeito ativo e consciente, capaz de gestar e parir de acordo com seus desejos, mas objeto passível do escrutínio médico e das instituições formais do cuidado. A submissão da mulher ao controle médico-hospitalar na hora de parir parte de uma visão patriarcal acerca do corpo feminino, como uma natureza a ser ―domesticada‖ pela cultura – que no caso seria a cultura biomédica, relega a mulher a sujeito sem poder sobre seus corpos e decisões violando seus direitos humanos. Representando o que poderíamos denominar como violência obstétrica e de gênero. O presente estudo faz parte de uma secção de tese de doutorado da autora com o objetivo de promover uma reflexão teórica sobre importância das memórias do saber das parteiras como imprescindível à superação da violência obstétrica e consequente resgate do protagonismo feminino no momento da parturição. As leituras vêm permitindo observar que com o gradual desaparecimento das parteiras, e de seus saberes empíricos, das cenas de parto e consequente valorização do enfoque tecnicista que prima pela racionalidade e pela ausência da humanização da assistência no atendimento às gestantes e parturientes, abriu espaço para violência obstétrica. Uma violência ainda silenciada, principalmente por seu aspecto relacionado ao gênero. Palavras-chave: Parteiras Tradicionais; Saberes; Violência Obstétrica.

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RESUMOS DAS SESSÕES DE PÔSTERES

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A ESCRITA DE NATÁLIA CORREIA: RASURA E SUBVERSÃO EM D. JOÃO E JULIETA Andrezza J. P. Oliveira (IC- Fapesp); Jorge V. Valentim (O) Departamento de Letras, Universidade Federal de São Carlos O presente trabalho resulta da pesquisa que objetiva analisar a peça D. João e Julieta da escritora portuguesa Natália Correia, refletindo sobre o olhar inovador por ela tecido para desconstruir duas personagens do cânone dramático. Observa-se, assim, o ato subversivo através da escrita que apresenta outro prisma dentro do espaço teatral português, onde a presença de mulheres escritoras ainda é pouquíssimo estudado. Importante autora do cenário português, Natália Correia, sempre engajada, sobretudo, com a busca da liberdade política e social para as mulheres, nunca se calou perante a ditadura salazarista, tanto que algumas de suas obras foram obscurecidas pela censura. Nesse contexto, encontra-se a obra central de nossa pesquisa, escrita em 1959, e só vinda a público 40 anos depois, em 1999, ou seja, seis anos depois da morte da autora. O cânone dramatúrgico invocado reflete uma preocupação sobre a tradição, no entanto, esta não é resumida na imitação ou glorificação dos ícones tradicionais, antes percebe-se um movimento de rasura, ao invocar duas personagens que têm seus espaços consagrados pela dramaturgia e pelo cânone literário, e de desconstrução, ao desestabilizar determinados lugares já fixados: de um lado, o shakespeariano, com a famosa personagem Julieta, de outro a figura de D. Juan, relido como D. João, personagem da dramaturgia mundial e considerado um mito moderno (WATT, 1997). Na concepção nataliana, Julieta guia D. João, o seduzido, e este se entrega ao amor e à morte, subvertendo, assim, os modelos canônicos dessas duas figuras emblemáticas. Em vista disso, a autora esboça e propõe uma outra tradição, não com marcas masculinistas, mas com a atuação primordial da personagem feminina, afinal, são as mulheres que praticam e conduzem a ação. A fim de chegar ao nosso objetivo, utilizamos um referencial crítico-teórico que se debruça sobre o cânone; além de estudos sobre as personagens revisitadas; e também sobre a escrita de autoria feminina no cenário português. Palavras-chave: Escrita de autoria feminina; Teatro português; Natália Correia.

A HOMOSSEXUALIDADE NO CONTO O SEGREDO DE BROKEBACK MOUNTAIN Antony Eduardo Galvão (UEPG) Neste trabalho pretende-se analisar a homossexualidade masculina na literatura, em especial, no conto O Segredo de BrokeBack Mountain, de Annie Proulx. A sua primeira publicação foi numa revista norte-americana intitulada The New Yorker, no ano de 1997, em 1999, recebeu uma versão mais longa para um livro de contos de Annie Proulx. No Brasil, a versão em 2006 e, em seguida,

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deu origem ao filme O Segredo de Brokeback Mountain, de Ang Lee. O objetivo deste trabalho é problematizar os discursos padronizantes acerca da sexualidade e de gênero. A metodologia a ser utilizada neste trabalho é o levantamento bibliográfico e análises de textos literários dando ênfase na produção da escritora Annie Proulx, que aborda sobre a homossexualidade na literatura. Juntamente com os estudos de produção literária da autora, serão realizadas leituras teóricas, referentes à construção de gênero, como, por exemplo, Judith Butler, Guacira Louro e Joan Scott, bem como outros autores que tratam sobre a literatura queer. Espera-se entender como os personagens homossexuais têm a sua representatividade dentro da literatura e, a partir disso, entender melhor como ocorrem as relações homoafetivas. De acordo com Hall (2002), as identidades são criadas socialmente e não dadas naturalmente. Sendo assim, identidades de sexualidade e de gênero, são suscetíveis a mudanças a partir das representações culturais. Segundo Louro (2004), ―os sujeitos que cruzam as fronteiras de gênero e de sexualidade talvez não ‗escolham‘ livremente essa travessia, eles podem se ver movidos para tal por muitas razões, podem atribuir a esse deslocamento distintos significados‖, portanto, é relevante retomar os traços culturais e políticos dos investimentos vindos dos discursos sociais no que diz respeito à definição do que são os ―diferentes‖. Palavras-chave: literatura e gênero, identidade, homoafetividade na literatura.

"FANNY HILL"- AS MEMÓRIAS DE UMA PROSTITUTA ESCRITAS POR UM AUTOR MASCULINO NO SÉCULO XVIII Gabriela Fardin FERNANDES (UNESP/IBILCE) Prof. Dr. Peter James HARRIS (UNESP/IBILCE) O painel tem como objetivo apresentar a obra inglesa "Fanny Hill, or Memoirs of a Woman of Pleasure", de 1748-49, escrita por John Cleland, e fazer algumas considerações sobre o fato de que os relatos da intimidade de uma personagem feminina foram escritos por um autor masculino. O painel é resultado da leitura crítica do texto original e de pesquisa embasada em livros de teoria literária e feminista que apresentam observações relevantes sobre o primeiro romance erótico/pornográfico publicado na Inglaterra. Fanny Hill, como ficou mais conhecido pelo público, é um romance epistolar do século XVIII, no qual a personagem principal, Fanny, conta suas experiências sexuais como prostituta. A obra foi alvo de muita polêmica quando publicada e a situação continua a mesma até hoje. Fanny Hill já foi adaptada para série de TV, peças de teatro e diversos filmes. Entretanto, são as adaptações literárias escritas por autoras femininas, inspiradas pelo romance original, que instigam o leitor mais crítico: estas autoras prometeram dar uma voz à Fanny. Questiona-se, então, se não era isso que Cleland fez ao escrever seu primeiro romance. Segundo Wolf (2012), o livro tinha como objetivo ensinar os homens daquela época a deixar uma mulher excitada, sendo assim, não era uma obra destinada ao público feminino, mas aos leitores

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apenas. Isso indica, portanto, que há muito para se refletir sobre a representação do ponto de vista feminino escrito a partir do imaginário masculino na obra. Palavras-chave: Literatura Inglesa; John Cleland; romance erótico.

VIOLÊNCIA OBSTÉTRICA SEGUNDO A PERCEPÇÃO DAS MULHERES QUE A VIVENCIARAM Geovânia Pereira dos Reis Machado (UNESP/IBILCE) Sob o olhar das mulheres em suas narrativas autobiográficas, construiu-se esta dissertação. O objetivo principal foi compreender, à luz da perspectiva de gênero e dos direitos reprodutivos, os fatores intervenientes das práticas de assistência aos períodos gravídico-puerperal, com foco na violência obstétrica. Trata-se de uma pesquisa qualitativa, a qual utilizou a Metodologia Comunicativa Crítica, e como aportes teóricos: Jürgen Habermas, Paulo Freire e sua teoria da dialogicidade, segundo o dialogismo de Bakhtin, e de gênero o Feminismo Dialógico de Lídia Puigvert. As participantes da pesquisa foram nove mulheres que tiveram assistência a seus partos financiada pelo Sistema Único de Saúde. O instrumento de coleta de dados foi roteiro de relato comunicativo e a coleta ocorreu de 19/05 a 15/12/2015. Utilizou-se o nível básico de análise dos dados proposto pela metodologia, onde os elementos transformadores e exclusores encontrados nos relatos foram analisados nas categorias mundo da vida e sistema. Os resultados mostraram maior quantidade de elementos exclusores ligados ao sistema e se destacam: maus tratos, procedimentos inadequados no parto, falta de orientação profissional, falta de apoio na amamentação, discriminação de classe e raça. Os elementos transformadores estão relacionados ao mundo da vida e foram poucos, destacando-se: apoio da família, presença do acompanhante, empoderamento, consciência de luta coletiva. De maneira geral, esta dissertação anuncia e faz a denúncia de um sistema público de saúde e de um grupo de profissionais que nele atuam na prática de violência obstétrica na assistência à saúde da mulher, contrariando as propostas de humanização, violando os direitos reprodutivos enquanto direitos humanos fundamentais. E os atendimentos são baseados em relação de poder desiguais entre os gêneros, e também no âmbito socioeconômico, étnico e racial. Palavras-chave: Violação dos Direitos Humanos; violência obstétrica; saúde materna.

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RECONSTRUÇÃO DE IDENTIDADE APÓS O HIV NO LIVRO DEPOIS DAQUELA VIAGEM DE VALÉRIA PIASSA POLIZZI Kassia N. M. de Lima (UEPG) Este trabalho pretende analisar a reconstrução de identidade feminina no livro Depois daquela viagem, de Valéria Piassa Polizzi, publicado pela primeira vez no ano de 1997, ao decorrer dos anos foi traduzido em vários países, como na Itália, em Portugal, na Espanha e entre outros. A Autobiografia de Valéria foi a primeira a falar da história do HIV, portanto, ela é trabalhada, ainda nos dias atuais, em escolas chamando a atenção de jovens e adultos. Este trabalho tem como objetivo mostrar a reconstrução de identidade, o antes e o depois da vida da autora, após adquirir o vírus. A metodologia utilizada é análise de texto com base em referencial teórico concernente à teoria da literatura e com base também à reflexão teórica de textos e autores que tratam do tema identidade – Stuart Hall, Judith Butler, Joan Scott, Bauman entre outros além da leitura minuciosa do livro Depois daquela viagem, objeto de estudo desta pesquisa. Espera-se compreender como acontece a reconstrução identitária e a partir disso conhecer o antes e depois do HIV na vida de Valéria. Segundo Hall (2000), ―As perspectivas que teorizam o pós-modernismo têm celebrado, por sua vez, a existência de um ‗eu‘ inevitavelmente performativo. Ou seja, a cada minuto que passa você é um sujeito diferente, pois a cada atividade diferenciada, muda a posição do sujeito. De acordo com Derrida (1981), há uma ‗emergência repentina de um novo ‗conceito‘ que não se deixa mais – que jamais se deixou – subsumir pelo regime anterior‖ (DERRIDA, 1981, apud HALL, 2000, p.104). Sendo assim, precisa-se primeiramente de uma desconstrução para depois ser feita uma reconstrução. Ainda de acordo com Hall (2000), as identidades são criadas socialmente e não dadas naturalmente. Exatamente pelo motivo de que o sujeito sofre mudanças de acordo com a sociedade, ou seja, ele é assujeitado por ela. Palavras-chave: Identidade; reconstrução de identidade; HIV.

“MULHERES DE CORPO INTEIRO E SEGURA MÃO”: UM ESTUDO SOBRE AS IDENTIDADES FEMININAS NA OBRA NOVAS CARTAS PORTUGUESAS Marcella Gava Grillo (Universidade Federal de Viçosa) Gerson Roani (Universidade Federal de Viçosa) O trabalho conta analisar Novas Cartas Portuguesas (1972) de Maria Isabel Barreno, Maria Teresa Horta e Maria Velho da Costa, contribuindo com os estudos que abarcam livros de autoria feminina na Literatura Portuguesa, partindo dos estudos de gênero ao entendermos que a configuração do livro perpassa a noção de mulher e os papéis que a mesma assume na sociedade. Também intenta

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perceber como a arte literária se apropria e reescreve a visão da mulher, esclarecendo as dificuldades vivenciadas e criticando o mundo desigual por meio de uma narrativa bastante inovadora e polêmica. Este trabalho fundamenta-se na possibilidade de ampliar-se a discussão a respeito da obra, marco na literatura portuguesa, ao dar voz às mulheres contestando o poder patriarcal dentro de um período conturbado da história de Portugal. Em um primeiro momento da metodologia, tem-se uma revisão bibliográfica, procurando explorar dois conjuntos de estudos, correspondendo tanto às análises teórico-críticas que sondaram as linhas de força da obra estudada, quanto pelos referenciais teóricos oriundos da crítica feminista, entendendo que a mesma se constitui também como espaço de leitura e análise de obras de autoria feminina. Espera-se, a partir da análise da obra, perceber a construção das identidades femininas nas diversas narrativas que compõem a obra, assim como essa identidade parte de um eu-tu-nós feminista nessa escrita a seis mãos, também explorando a presença de núcleos temáticos em torno dos quais a narrativa se organiza, tais como os relacionamentos, o corpo e o erotismo. Dessa forma, entende-se que estudar a ótica feminina na literatura não serve só aos estudos literários, mas tem um papel social ao pôr em questão a discussão de gêneros e a representação feminina na literatura. Palavras-chaves: Identidades Femininas; Literatura Portuguesa; Gênero.

RETRATO DE RAPAZ, DE MÁRIO CLÁUDIO: HOMOEROTISMO E EFABULAÇÃO Renan Augusto Barili (UFSCar) Este trabalho analisa o romance Retrato de Rapaz, do escritor português Mário Cláudio, procurando observar as ocorrências e as representações das relações homoeróticas como forma de efabular e transcender um certo tipo de cânone, rasurando conceitos e normas heteronormativas préestabelecidas e desconstruindo uma determinada linha de pensamento hegemônico que visa rotular a literatura homoerótica como ―marginal‖. O romance, lançado em 2014, é o segundo livro pertencente a uma ―Trilogia dos afetos‖, que visa retratar relações afetivas entre pessoas com idades muito distintas. Essa trilogia iniciou-se em 2008, com a publicação da novela Boa Noite, Senhor Soares, e encerrou-se, em 2015, com a obra O Fotógrafo e a Rapariga. A grande rasura operada em Retrato de Rapaz centra-se no envolvimento passional do pintor Leonardo da Vinci com um de seus discípulos, Salai. Assim fazendo, não se poderá repensar o cânone como a partir de uma rasura, já que, com esta efabulação, ela contribui para uma desconstrução de um certo paradigma que excluiria a possibilidade de um homem envolver-se sentimentalmente com outro? Sendo assim, o ícone canônico Leonardo da Vinci pode ser pensando de uma maneira que transcende os padrões, as leis e, até mesmo, toda a ideologia heteronormativa. Em suma, pressupõe-se que as relações homoeróticas podem ser trabalhadas a fim de que a imagem de Leonardo da Vinci, como cânone, transcenda de

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maneira positiva e construtiva os moldes clássicos solidificados, contribuindo, assim, para a visibilidade de textos literários com ênfase sobre as incidências homoeróticas. Palavras-chave: Homoerotismo; Ficção portuguesa contemporânea; Mário Cláudio.

ANAÏS NIN E O DESPERTAR ERÓTICO DE SUAS PERSONAGENS TRANSGRESSORAS Renata da Silva Leite (UPE) O erotismo, inerente a condição humana, surgiu em conjunto com a sociedade e passou a delineá-la. Mediante seus mais diversos e amplos significados, é bastante comum aparecer associado a temas como amor, desejo e sexo podendo variar de acordo com a evolução do termo e contexto inserido. Será considerado aqui não apenas essas categorias óbvias de estudo do Eros mas, limitando-nos ao recorte temporal do século XX, a proposta é explorar o Erotismo presente no imaginário feminino do período e seus símbolos. Tomaremos como objeto de estudo a obra publicada em 1969, Delta de Vênus, da autora Anaïs Nin, a qual tem como cenário uma decadente Europa no final da década de 1940. A partir dos conceitos filosóficos de Bataille e Lúcia Castelo Branco será traçado um paralelo entre a construção e evolução do erotismo na referida obra. Será analisada ainda a escrita erótica feminina da autora Anaïs Nin e suas características, além do perfil e a presença de suas personagens femininas e transgressoras no contexto e recorte temporal determinados. Em linhas finais temos, então, uma série de figuras transgressoras criadas pela autora, que apesar de passarem pelos conflitos íntimos dos interditos se apresentam mais propensas à liberdade e ao conhecimento de seus desejos e cada vez mais distantes da preocupação com o pecado. Não podemos esquecer que essas personagens se aproximam bastante da personalidade da própria autora, temos aqui Anaïs Nin como pioneira não apenas na literatura erótica feminina do século XIX, mas também na sua escolha de vivenciar o erotismo e essas transgressões, não apenas em seus escritos, mas principalmente em sua vida, em sua arte erótica. Palavras-chave: Anaïs Nin; Delta de Venus; Literatura; Erotismo; Transgressão.

MULHER NA LITERATURA: REPRESENTAÇÃO DA MULHER ESCRITA PELA ESCRITA-MULHER Tamirys de Quadros (UEPG) Busca-se, nesta pesquisa, verificar como se dá a construção da personagem feminina-protagonista na obra Jogos Vorazes, de Suzanne Collins, atentando-se para a maneira com que a mulher-autora

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representa e constrói a mulher-personagem no decorrer do livro. Procura-se analisar como a mulher é retratada na literatura, pois o livro torna-se o ―(...) agente do processo de socialização, admitindose, assim, o postulado de sua influência sobre o leitor.‖ (ROSEMBERG, 1975, p. 138), fazendo-se necessário este tipo de pesquisa. A mulher-escritora ganhou seu espaço na cena literária a partir do século XVIII, fato considerado um apocalipse literário em que as mulheres que, antes consumiam os romances, passaram a produzi-los. Segundo Stevens (2009), este processo alterou as ordens socioeconômica, política e cultural da época em que os principais autores eram homens, dando início a um processo de ―feminilização‖ da literatura. Visto isso, procura-se identificar essa voz feminina na literatura e como a mulher representa seu gênero na obra selecionada. A partir disso, viabiliza-se valorizar o feminino e a sua dimensão histórica, atentando-se para os novos e necessários modos de pensar, falar e escrever. A partir do material teórico selecionado, busca-se estabelecer uma discussão acerca da história da mulher na literatura, suas dificuldades e avanços neste campo cuja autoria masculina predomina. Palavras-chave: representação; escrita feminina; personagem feminina; autoria feminina.
CADERNO DE RESUMOS 2017

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