Constelação apostila 3 -.PDF

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CONSTELAÇÃO FAMILIAR E SISTÊMICA MÓDULO 3

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Índice: Módulo 3: Técnicas Avançadas para sessões individuais, em grupo e on-line 1. Sessões Individuais do cliente com o constelador 1.1. Recursos para constelações individuais (presenciais e virtuais) 1.2. Sessões individuais presenciais 1.3. Sessões Individuais Online 2. Sessões presenciais 2.1. Individual com plateia, em grupo com o constelador e em grupo com plateia 3. Quanto ao objeto da constelação 3.1. Constelação Pessoal 3.2. Constelação com foco educacional 3.3. Constelação Organizacional 4: As instâncias do Aparelho Psíquico Introdução 1. O que é a psicanálise? 2. A gênese da psicanálise e o percurso inicial de Sigmund Freud 3. Um olhar à histeria 4. Conceitos fundamentais da psicanálise freudiana 5. O inconsciente e a primeira estrutura do aparelho psíquico 6. Fases de desenvolvimento psicossexual 7. Complexo de Édipo 8. Conceitos fundamentais sobre o funcionamento psíquico 9. A segunda estrutura (ou tópica) do aparelho psíquico 10. Os contemporâneos a Freud Carl Jung (1875-1961) Melanie Klein (1882-1960) Donald Winnicott (1896-1971) Wilfred Bion (1897-1979) Jacques Lacan (1901-1981)

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Módulo 3:

Técnicas Avançadas para sessões individuais, em grupo e on-line Sessões Individuais do cliente com o constelador A Constelação Individual é oferecida em consultório, numa cena em que apenas o cliente e o terapeuta fazem parte do processo. Pode ser presencial ou on-line. Para o lugar dos representantes, terapeuta e cliente contam com o auxílio de bonecos de constelação ou softwares (onde ofereceremos um treinamento cobrado á parte). No contato pessoal como cliente, o terapeuta pode fazer experiências com a estrutura do processo, como as frases e seus efeitos na percepção corporal, tom de voz e nas outras formas verbais e não-verbais de manifestação, a fim de encontrar um lugar seguro e boas imagens para o cliente. Este trabalho é realizado montando imagens com "bonecos" ou "papéis" no chão ou numa tela virtual, substituindo assim os representantes experimentados pelas pessoas quando a Constelação é de grupo. Supõe-se que só haja o terapeuta (constelador) e o cliente. Na ausência de plateia, é preciso algum recurso para dispor espacialmente os representantes. Como “individual”, incluímos todos os tipos de constelações sem plateia, em que estão presentes só o cliente, ou um casal de clientes, ou pai-filho clientes etc. Na prática, entendemos que continua sendo “particular” (sem plateia) a relação terapeuta-cliente tanto quanto a relação terapeuta-casal de clientes, por exemplo. Conforme os grupos aumentam (por exemplo, uma equipe de 6 pessoas de uma mesma empresa), há um meio termo entre o individual (não há plateia e todos são clientes) e o em grupo (as pessoas representam seus próprios papéis ou podem representar uns dos outros). Não há dúvidas de que a presença da plateia potencializa a constelação. Não havendo plateia, o grupo (como o exemplo do parágrafo anterior) também pode ser um potencializador.

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Entretanto, cada vez mais é aceita e recorrente a realização de constelação sem plateia e de constelação virtual (on-line).

1.1.

Recursos para constelações individuais (presenciais e virtuais) Os recursos mais usados são: - Bonecos: de pano ou estilo playmobil, entre outros (disponível para venda no Mercado Livre e outros), buscar “Bonecos Constelação”, “Bonecos Constelação Familiar” ou ““Bonecos Constelação Playmobil”;

- Desenhos: sobre uma folha e branco, o cliente (preferencialmente) e/ou o terapeuta desenha(m) os lugares para cada membro familiar; - Programas Maquetes 3D e outros recursos digitais: programas usados por coaches e consteladores para distribuir virtualmente os representantes. Pode ser usado presencialmente (com o terapeuta e o cliente olhando para a tela de computador, tablet ou celular), embora o mais recorrente seja usar recursos deste tipo para constelações virtuais (via Skype e ferramentas compartilhadas de transmissão de voz e vídeo). Infelizmente, existem poucos softwares de maquetes 3D que podem ser usados de forma online. O mais famoso entre coaches e consteladores é o http://pt.coachingspaces.com, mas que, até onde sabemos, foi descontinuado pela empresa produtora (que estava criando uma solução alternativa; acompanhe pelo endereço acima). Para outras ferramentas similares, faça uma busca na internet por “Maquetes 3D constelação familiar”, “Maquetes 3D para coaching”, “Coaching online 3D”, “Coaching Spaces similar” e buscas afins. Você pode usar o Skype ou, se preferir uma forma on-line, gratuita e sem cadastro, que transmita voz, vídeo e compartilha a tela do computador, recomendamos o Google Hangouts ou o https://appear.in/. Para outras ferramentas, busque por “Conferência online”, “Videoconferência online”, “Compartilhamento de tela online”, “Alternativas ao Skype” etc. Se for compartilhar sua tela e não tiver um software como o Coaching Spaces, o terapeuta pode usar uma tela de PowerPoint (ou qualquer outra tela) e dispor sobre a tela do programa os bonecos virtuais, movendo-os conforme o 4 Licenciado para - Piera Mocelin - 01038066956 - Protegido por Eduzz.com

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desenvolvimento da sessão. Para recursos com bonecos on-line, recomendamos que o terapeuta tenha pelo menos 4 diferentes: dois grandes (masculino e feminino) e dois pequenos (masculino e feminino). Por ser online, é fácil copiar-colar mais representantes. Para bonecos físicos (pano, playmobil etc.), recomendamos uma variedade grande (de 10 a 12 bonecos, pelo menos, com variação de gênero e tamanho). 1.2. Sessões individuais presenciais Após ter noção exata do objetivo do cliente, o terapeuta começará a dispor os personagens (que podem ser bonecos físicos, virtuais, desenhos ou qualquer outra forma de representação) envolvidos na questão principal trazida pelo cliente. Esses bonecos, normalmente, são a própria pessoa e sua família atual (filhos, cônjuge etc., se for o caso), e/ou também a família de origem, com o pai, mãe, irmãos e às vezes tios e avós. Todos os passos são acompanhados e vivenciados pelo cliente, trazendo profunda compreensão da situação exposta. As sessões individuais de constelação familiar são adequadas para familiarizar o cliente com o método do pensamento sistêmico e das relações humanas e seus conflitos e potenciais. Durante o processo, ocorre uma sinergia muito grande entre terapeuta e cliente, e o processo e qualidade das imagens internas do cliente podem ser atentamente acompanhados pelo terapeuta através da observação corporal, da expressão dos sentimentos secundários e das explicações no decorrer da constelação. A busca interior pela harmonização da situação – a imagem da solução, que acontece com o cliente - é acompanhada cuidadosamente, e, quando existe a ressonância entre a imagem de solução e o sistema envolvido, ambos – cliente e terapeuta – sentem uma concordância imediata. 1.3. Sessões Individuais Online Este modo nada mais é do que todo método aplicado a sessão individual, porém utilizando os recursos de comunicação a distância: skype, hangout, webconferência etc. Cada vez mais, é uma modalidade reconhecida por profissionais de constelação, coaching e outras terapias. O grande diferencial é propiciar atendimento a pessoas que estejam longe dos locais dos consultórios. Pequenos grupos de clientes também podem ser atendidos online: casais, paifilho(a), mãe-filho(a) etc. A dificuldade do online seria para sessões online em grupos maiores (plateias). 5 Licenciado para - Piera Mocelin - 01038066956 - Protegido por Eduzz.com

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2. Sessões presenciais 2.1. Individual com plateia, em grupo com o constelador e em grupo com plateia Existiria diferença entre o trabalho de constelação em grupo e o individual? Os efeitos são os mesmos, embora haja diferença de técnicas. No trabalho em grupo, é solicitado que representantes entre as pessoas auxiliem na dinâmica, fazendo o papel de “personagens” envolvidos da questão do cliente, conforme a disposição solicitada pelo facilitador. Esses representantes comunicarão as sensações que têm no papel e se movimentarão em busca do caminho de solução para a questão. Na constelação individual, o próprio cliente (tentando se colocar no lugar dos outros personagens e de forma orientada pelo facilitador) perceberá as sensações e buscará o caminho de solução.

3. Quanto ao objeto da constelação Vimos, neste Módulo, até aqui, uma classificação quanto: - à dimensão do público (individual, grupos de clientes, com plateia); - ao canal de realização da constelação (presencial ou online). Agora, veremos uma terceira tipificação: quanto ao universo temático da constelação, isto é, quanto à natureza dos relacionamentos e problemas trazidos pelo cliente. Neste aspecto, as constelações podem ser trabalhar com temáticas pessoais / interpessoais (“familiares”, no sentido estrito do termo) ou profissionais (outros sistemas de relacionamento mais relacionados ao trabalho, ao estudo etc.). A temática pessoal / interpessoal é o foco mais frequente da Constelação Familiar e Sistêmica. A partir dos conceitos sistêmicos criados por Hellinger, foi possível outros psicoterapeutas trabalhar e abordar pontos mais específicos nos quais Hellinger não se aprofundou, no campo “profissional”. Neste campo, destacam-se atividades relacionadas ao mundo corporativo (especialmente gestão de pessoas e equipes) e ao mundo pedagógico (escolas etc.).

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Na verdade, é uma constelação sistêmica toda aquela que trabalha com relacionamentos pessoais formados a partir de papeis: pais/conjuges/professores/líderes corporativos etc. e que aborde as dores de uma pessoa em relação às influências dessas relações. Vimos que, para todos os tipos de constelação, quando um dos membros apresenta um sintoma, é sinal de que não está inserido de maneira correta em um grupo social (no sentido amplo do termo). Vimos que todos os sistemas interpessoais podem ser “constelados”; o terapeuta/constelador pode ser um generalista ou se especializar em uma das áreas (por exemplo, ser um “constelador educacional”, prestando atividades de constelação junto a escolas: relações direção-professores, professores-classes, professores-alunos, professorprofessor, aluno-aluno, pais-aluno etc Há uma tendência crescente de valorização do método da constelação e, num futuro breve, provavelmente teremos ainda mais campo de trabalho, mesmo para quem se especializar em nichos menores.

3.1. Constelação Pessoal A constelação individual pode ter um foco em aspectos pessoais do cliente: sua história pregressa, seus relacionamentos pessoais/familiares, suas escolhas para o futuro etc. É o tipo mais comum de constelação. Pode ser feito presencialmente ou on-line, individualmente, em pequenos grupos (por exemplo, um casal) ou em grupo estendido (com plateia).

3.2. Constelação com foco educacional Pedagogia sistêmica é uma corrente da psicopedagogia desenvolvida com bases no trabalho de Bert Hellinger com as constelações familiares e posteriormente desenvolvido por outros teóricos. Vincula-se ao contexto educativo e ao que denominamos campos de aprendizagem. Se algo caracteriza a pedagogia sistêmica é a sua firme proposta de inclusão: a mesma ideia de “pertencimento” a um clã desdobra-se na ideia de pertencimento a um ambiente pedagógico. A Pedagogia Sistêmica se manifesta no contexto educativo. Resulta necessariamente em observar como traduzimos e integramos os princípios que sustentam as “ordens do amor ” para que nos sirvam de orientação e de tarefa escolar como a importância 7 Licenciado para - Piera Mocelin - 01038066956 - Protegido por Eduzz.com

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da ordem (quem veio antes e depois tem a ver com o vínculo entre gerações, isso vale tanto para os alunos como para os professores), a importância do lugar onde cada qual tenha a sua correspondência (tem a ver com os papéis sociais, quem e como é ser pai, mãe, professor, diretor, outros), o valor da inclusão em contrapartida às implicações da exclusão (inclusão em aula, na escola, como um espaço de comunicação em que todos tenham um lugar, ou seja, o pertencimento, bem como a inclusão com o entorno social), o peso das culturas de origem (a fidelidade no contexto do qual viemos, o que também podemos chamar de consciência de grupo de origem) e o significado das interações (todos os membros de um sistema estão vinculados aos outros, e um sintoma pode representar alguma questão que não resulta função para o bem estar coletivo e individual).

3.3. Constelação Organizacional É uma técnica criada a partir da Constelação Familiar, em que trabalhamos para reproduzir e definir situações ligadas a uma empresa. Trata-se de tendência cada vez mais forte: estima-se que, em um futuro próximo, a constelação terá o mesmo prestígio que hoje o coaching tem nas empresas. A Constelação pode abordar temáticas especialmente relativas às pessoas: cultura e clima organizacional, organogramas, definição de funções, descrição de tarefas (job description), expectativas sobre as pessoas, metas, relacionamento interno à equipe, plano de carreiras e salários, responsabilidades, forma de liderança, recrutamento e seleção, questões sucessórias, promoções de cargos, empatia e comunicação com o cliente, técnicas de vendas, gestão de apoio e de recursos, riscos à saúde do trabalhador, motivação, realização pessoal na empresa, orientação de uma organização em tarefas, tomadas de decisões estratégicas, foco no cliente ou em objetivos etc. A Constelação complementa e apoia o trabalho de consultoria de uma empresa, mas nada impede que, cada vez mais, a Constelação tenha sua atuação única, como técnica independente, não relacionada a outras consultorias, mentoring ou coaching. A constelação ou colocação organizacional pode servir de subsídios para a tomada de decisões relevantes de líderes ou equipes de trabalho. A visão sistêmica aplicada ao contexto organizacional é uma nova maneira de pensar e atuar nas empresas. 8 Licenciado para - Piera Mocelin - 01038066956 - Protegido por Eduzz.com

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Nesse novo campo do saber surgiram as Constelações Sistêmicas (a família como um dos sistemas, mas não só a família; também: escolas, empresas, comunidades e outros grupos sociais), metodologia criada na Europa a partir dos trabalhos de Bert Hellinger. Oferece subsídios para alcançar metas, estabelecer prioridades e estrutura de poder, harmonizar o ambiente nas organizações e fornecer perspectivas de atuação nos processos de trabalho. Através deste método inovador podemos juntos com a direção e o RH de sua empresa, realizar um Diagnóstico Organizacional Sistêmico para solucionar a sua Questão. Tais processos, em geral, trabalham tanto a dinâmica do sistema organizacional quanto o sistema humano. Diagnóstico Organizacional – Estudo do clima, das necessidades e potencialidades do sistema humano e organizacional. Aponta caminhos e orienta as decisões estratégicas e gerenciais da empresa. A constelação organizacional pode ser realizada para grupos abertos fora da empresa, ou grupos fechados “ in company”.

4: As instâncias do Aparelho Psíquico Introdução Os diferenciais que buscamos trazer no curso de constelação: ● Síntese das principais contribuições teóricas e práticas da obra de Bert Hellinger, que é o iniciador da Constelação Familiar e Sistêmica, por meio de material didático realmente metódico; ● Panorama sobre formas de atuação (individual, em grupo, corporativa, presencial, on-line, com/sem plateia etc.); ● Conceitos psicanalíticos que poderão ajudar o constelador em sua futura atuação;

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● Noções sobre como se formar, se desenvolver e construir sua trajetória de atuação como constelador, se esta for a vontade do aluno. Acreditamos que a psicanálise tem contribuições importantes a dar à constelação (especialmente na compreensão profunda do Sujeito e com algumas noções complementares sobre terapia em grupo) e que vão enriquecer o trabalho do constelador. Cada vez mais a constelação tende a se difundir. Porém, trata-se de área do saber ainda incipiente e, por isso, muito aberta a visão e crenças individuais dos consteladores: se, por um lado, isso enriquece este campo do saber, por outro pode gerar uma falsa ideia de que qualquer opinião infundada mereça crédito. A nosso ver, os profissionais que tiverem uma visão mais profunda e relacionada com a psicanálise tendem a se destacar. Mesmo não aplicando conceitos da psicanálise direto aos pacientes, o constelador estará mais preparado para a condução da psicanálise e para compreender a complexidade na formação do sujeitos e dos relacionamentos. Com todo o respeito que devemos reservar aos profissionais consteladores, o que vemos no Brasil é a existência de cursos atuais de formação em constelação que são muito curtos (um fim de semana, via de regra), não trazem nenhum material didático de apoio e são muito baseados em convicções pessoais do professor, além de não serem, muitas vezes, economicamente acessíveis.

1. O que é a psicanálise? Embora não haja um consenso sobre a gênese exata do conceito dentro do contexto histórico, coube a Sigmund Freud a titulação de fundador da Psicanálise na passagem do século XIX para o século XX. Seus feitos, conceitos e ideias estão presentes nas discussões do campo psicanalítico até hoje, o que trouxe profunda influência para o desenvolvimento de inúmeras linhas de estudos desde sua concepção. Conceitualmente o termo psicanálise é utilizado para se referir a um constructo teórico baseado nos preceitos da hermenêutica (campo de estudo, que tem por referência, a explicação que compreende a interpretação de sentidos implícitos, ou seja, possui um caráter investigativo que busca a interpretação do que está além do objeto).

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Nesse sentido, a psicanálise pode ser considerada um campo teórico e um método de investigação e interpretação, que culminam em uma prática clínica dotada de técnicas específicas. Enquanto teoria, pode ser caracterizada por um conjunto de conhecimentos sistematizados sobre a estrutura e o funcionamento da vida psíquica, bem como sua repercussão na vida do sujeito. Como método investigativo, busca a interpretação de conteúdos que são ocultos e/ou inacessíveis às manifestações e ações do indivíduo em sua relação com o meio. Segundo Laplanche e Pontalis (1996), essa disciplina fundada por Freud pode ser dividida em três níveis: ● a) Um método de investigação que consiste essencialmente em evidenciar o significado inconsciente das palavras, ações, das produções imaginárias (sonhos, fantasias, delírios) de um sujeito. Este método baseia-se principalmente nas associações livres do sujeito, que são a garantia da validade da interpretação. A interpretação psicanalítica pode estender-se a produções humanas para as quais não se dispõe de associações livres. ● b) Um método psicoterápico baseado nesta investigação e o especificado pela interpretação controlada da resistência, da transferência e do desejo. O emprego da psicanálise como sinônimo de tratamento psicanalítico está ligado a este sentido; exemplo: começar uma psicanálise (ou uma análise). ● c) Um conjunto de teorias psicanalíticas e psicopatológicas em que são sistematizados os dados introduzidos pelo método psicanalítico de investigação e de tratamento. À prática profissional, portanto, coube a alcunha de análise, ou seja, uma forma de tratamento que se utiliza de técnicas investigativas específicas para o tratamento daqueles que buscam seu autoconhecimento e/ou resoluções e entendimentos das perturbações que assolam a psique humana. Ou, nas palavras de Freud (1922), “chamamos de psicanálise ao trabalho pelo qual levamos à consciência do doente o psíquico recalcado nele”. No artigo "QUE TIPO DE CIÊNCIA É, AFINAL, A PSICANÁLISE", o autor explica que Freud teoriza o campo psicanalítico em dois níveis, explicando que, em um deles, há uma ideia de generalidade. Descreve-se o inconsciente e suas implicações dentro do 11 Licenciado para - Piera Mocelin - 01038066956 - Protegido por Eduzz.com

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aparelho psíquico: os conflitos e angústias provenientes das pulsões e seus destinos na sua relação com a satisfação (ou não) do desejo.

2. A gênese da psicanálise e o percurso inicial de Sigmund Freud Toda a conceituação de base da psicanálise como a conhecemos se remete, indiscutivelmente, ao final do século XIX, por meio de Freud e seus tutores e colaboradores. Portanto, é necessário que se remonte a trajetória do fundador da psicanálise, considerando os personagens históricos que o ajudou no desenvolvimento das ideias iniciais de sua ciência.

Médico de formação pela Universidade de Viena, em 1881, Freud se especializa em psiquiatria, mostrando-se um renomado neurologista. E, em meio a sua clínica médica, passa a se deparar com pacientes acometidos por “problemas nervosos”, o que lhe suscitava certos questionamentos, visto a “limitação” do tratamento convencional oriundo da medicina. Com isso, entre 1885 e 1886, Freud vai à Paris para realizar um estágio com o neurologista francês Jean-Martin Charcot, que parecia demonstrar sucesso no tratamento de sintomas de doenças mentais por meio do uso da hipnose. Para Charcot esses pacientes, ditos histéricos, eram acometidos por distúrbios mentais causados por anormalidade no sistema nervoso, uma ideia que influenciou Freud a pensar novas possibilidades de tratamento. De volta à Viena, Freud passa a tratar seus pacientes com sintomas de distúrbios nervosos através da sugestão hipnótica. Nessa técnica, o médico induz uma alteração no estado de consciência do paciente e, então, realiza uma investigação entre as conexões e condutas do paciente que poderiam estabelecer qualquer relação com o sintoma apresentado. Nesse estado, percebe-se que, por meio de sugestão do médico, é possível provocar o aparecimento e o desaparecimento desse e outros sintomas físicos. Contudo, Freud se vê ainda imaturo em sua técnica e, então, busca entre 1893 e 1896, aliar-se ao respeitado médico Josef Breuer, que descobrira ser possível reduzir os sintomas da doença mental apenas pedindo para que os pacientes descrevessem suas fantasias e alucinações. 12 Licenciado para - Piera Mocelin - 01038066956 - Protegido por Eduzz.com

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Com a utilização das técnicas de hipnose era possível acessar mais facilmente as lembranças traumáticas e, ao dar voz a esses pensamentos, as memórias ocultas eram trazidas ao nível consciente, o que possibilitava o desaparecimento do sintoma (COLLIN et al., 2012). Emblematicamente essa ideias foram possíveis de serem desenvolvidas através do tratamento de uma paciente conhecida como Anna O., a primeira experiência de sucesso por esse sistema de tratamento psicoterápico. Desse modo, Freud e Breuer passam a trabalhar juntos, desenvolvendo e popularizando uma técnica de tratamento que possibilitava a liberação de afetos e emoções ligadas aos acontecimentos traumáticos do passado por meio da rememoração das cenas vivenciadas, o que culminava no desaparecimento do sintoma. A essa técnica de revivenciar cenas traumáticas do passado deu-se o nome de método catártico. Toda essa experiência possibilitou a publicação conjunta da obra Estudos sobre a histeria (1893-1895). Em 1896, Freud emprega, pela primeira vez, o termo Psicanálise, com o intuito de estudar os componentes que formam a psique. Nesse sentido, fragmentar o discurso/pensamento do paciente para poder captar os conteúdos latentes e, a partir daí, destrinchar melhor os significados e implicações presentes na fala do paciente. À medida que a técnica se avançava, alguns pontos de discordância apareciam entre Freud e Breuer, sobretudo na ênfase que Freud estabelecia entre as memórias do paciente e as origens e conteúdos sexuais da infância. Desse modo, em 1897 Breuer rompe com Freud, que segue desenvolvendo as ideias e técnicas da psicanálise, abandonando a hipnose e utilizando a técnica de concentração, na qual a rememoração era realizada por meio da conversação normal, dando voz ao paciente de forma não direcionada (as escolhas aparentemente casuais dos temas livremente trazidos pelo paciente poderiam encaminhar para revelações sobre seu inconsciente). Esta forma seria a precursora do que Freud, depois, denominaria associação livre. “Quando, em nossa primeira entrevista, eu perguntava a meus pacientes se recordavam do que tinha originalmente ocasionado o sintoma em questão, em alguns casos eles diziam não saber nada a esse respeito, enquanto, em outros, traziam à baila algo que descreviam como uma lembrança obscura e não conseguiam prosseguir. [...] eu me tornava insistente - quando lhes asseguravam que eles efetivamente sabiam, 13 Licenciado para - Piera Mocelin - 01038066956 - Protegido por Eduzz.com

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que aquilo lhes viria a mente - então, nos primeiros casos, algo de fato lhes ocorria, e nos outros a lembrança avançava mais um pouco. Depois disso eu ficava ainda mais insistente: dizia aos pacientes que se deitassem e fechassem deliberadamente os olhos a fim de se “concentrarem”—o que tinha pelo menos alguma semelhança com a hipnose. Verifiquei então que, sem nenhuma hipnose, surgiam novas lembranças que recuavam ainda mais no passado e que provavelmente se relacionavam com nosso tema. Experiências como essas fizeram-me pensar que seria de fato possível trazer à luz, por mera insistência, os grupos patogênicos de representações que, afinal de contas, por certo estavam presentes” (FREUD, 1996, p. 282-283). Toda essa trajetória permitiu que Freud desenvolvesse e aprimorasse sua técnica psicanalítica. Desde a hipnose, passando pelo método catártico e, depois, por uma prática provisória conhecida como “técnica da pressão”, na qual Freud pressionava a testa dos pacientes na tentativa de trazer ao consciente os conteúdos inconscientes. Freud percebeu que o ato mecânico por si só representava uma forma de alívio: fazia o sintoma se deslocar de lugar (ir para o sistema da fala/escuta). Mas, além disso, havia o mais importante: refletir sobre o simbólico trazido nesta fala, como chave de entrada para o inconsciente. Eis que surge para Freud a ideia da técnica da associação livre, na qual o indivíduo trazia para a sessão seus conteúdos, sem qualquer restrição ou julgamento e, a partir desses, Freud os investigava, analisava e interpretava, graças à atenção flutuante (conceito empregado pelo autor para a técnica da escuta), na tentativa de relacionar a fala aos conteúdos submersos no inconsciente.

3. Um olhar à histeria Em virtude do contexto histórico apresentado até aqui, a histeria acaba ganhando uma determinada centralidade nos estudos iniciais da psicanálise. Afinal, foram através dessas queixas clínicas que o tratamento desenvolvido por Freud, e influenciados por seus pares, pode seguir evoluindo dentro do arcabouço teórico e prático da psicanálise.

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Nesse sentido, cabe-se reservar um espaço importante dentro da formação para o entendimento dessa patologia, sua etiologia, desdobramentos, formas de intervenção e interpretação, além do tratamento. Pode se dizer que o livro Estudos sobre a histeria (1893-1895) publicado conjuntamente entre Freud e Breuer, foi à obra fundadora da psicanálise, embora os escritos contidos em A interpretação dos sonhos (1900) sejam considerados, por Freud, como sendo o grande livro de fundação da psicanálise. Assim, em Estudos, os autores discutem e introduzem a ideia sobre a doença “(...) como sendo originária de uma fonte da qual os pacientes relutam em falar, ou mesmo não conseguem discernir sua origem. Tal origem seria encontrada em um trauma psíquico ocorrido na infância, em que uma representação atrelada a um afeto aflitivo, teria sido isolada do circuito consciente de ideias, sendo o afeto dissociado desta e descarregado no corpo”. (REVISTA CIENTIFICA ELETRÔNICA DE PSICOLOGIA, 2009). Essa descarga referida está relacionada à formação do sintoma que, em função de um trauma infantil, apresentaria um correspondente na ordem do simbólico, separando o afeto (o evento traumático do passado) de sua representação (os sintomas e repressões/bloqueios atuais). Desse modo, a repressão dos afetos ligados à realização de um desejo provocaria um impedimento que, em virtude da dificuldade de elaboração psíquica em atribuir um sentido à experiência, manifestaria o sintoma no plano somático (corpo), caracterizando o conceito de conversão histérica. Nesse sentido, apresenta-se a ideia de recalcamento (barreira), que isolaria as representações desvinculadas dos afetos em uma “segunda consciência”, subordinada à consciência normal, o que provocaria, dentro de uma cadeia associativa, a transformação dos afetos em sintomas somáticos, daí a denominação conversão. Sendo assim, a utilização do método catártico como forma de tratamento se mostrava eficiente, uma vez que a rememoração das representações isoladas do afeto (evento traumático) era realizada, sendo possível a descarga desse afeto, causando alívio e eliminação do sintoma. A esse movimento de descarregamento deu-se o nome de Ab-reação que, segundo Laplanche e Pontalis (1996), consistiria em um processo de descarga emocional que, liberando o afeto ligado à lembrança de um trauma, anule seus efeitos patogênicos. Seria uma forma encontrada pela psique para recalcar (esconder do consciente) a dor constante de rememorar o trauma. 15 Licenciado para - Piera Mocelin - 01038066956 - Protegido por Eduzz.com

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4. Conceitos fundamentais da psicanálise freudiana “O eu não é mais senhor em sua própria casa”. (Sigmund Freud) Os escritos de Freud certamente mobilizaram a sociedade de sua época na direção da ruptura de paradigmas tão estruturados quanto o próprio contexto histórico vivido na transição entre os séculos XIX e XX. Pelas palavras do próprio autor, seus achados constituiriam a terceira ferida narcísica da humanidade: ● 1ª Ferida: o centro do universo. Através dos estudos de Nicolau Copérnico, pode-se ter o entendimento de que a Terra, e simbolicamente o homem, não é o centro do universo, como se acreditava até então. ● 2ª Ferida: a evolução das espécies: Coube à teoria evolução das espécies de Charles Darwin a responsabilidade pelo intenso duelo ideológico entre criacionistas e evolucionistas, colocando em questão os dogmas da instituição religiosa cristã.

● 3ª Ferida: o inconsciente e o indivíduo “dividido”. Então, Sigmund Freud com a construção conceitual de inconsciente, sugere que as ações do homem são fortemente influenciadas por uma instância psíquica que foge ao entendimento racional e, que em si, apresentam características primitivas, denominada inconsciente.

Nesse sentido, Freud dedica sua vida a desenvolver uma teoria que buscasse compreender os mecanismos que estão por trás do funcionamento da mente. A partir do desenvolvimento de sua técnica e da aplicação clínica, o cientista passa a versar sobre conceitos e ideias que sustentariam sua nova forma de tratar patologias da mente.

5. O inconsciente e a primeira estrutura do aparelho psíquico 16 Licenciado para - Piera Mocelin - 01038066956 - Protegido por Eduzz.com

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Segundo Laplanche e Pontalis (1996), “se fosse possível concentrar numa só palavra a descoberta freudiana, essa palavra seria incontestavelmente o inconsciente”. Não por acaso esses autores tocam na importância desse conceito em como, de fato, a nominação por Freud desse termo revolucionou o entendimento sobre a psique humana. De modo geral o inconsciente é constituído por conteúdos que não estão presentes no nível consciente (ou seja, no nosso racional e naquilo que sabemos que sabemos) e são, por censuras internas, mantidos reprimidos. Trata-se, portanto, de uma estrutura dentro aparelho psíquico que dispõe de leis próprias, a exemplo da comunicação por imagens mnêmicas (lembranças), dentro de uma rede de simbolização. Ou ainda, sua atemporidade, ou seja, para o inconsciente não existe passado ou presente, nem tão pouco a dualidade “sim ou não”. O entendimento desse conceito possibilita a Freud à organização do aparelho psíquico em três instâncias psíquicas, conforme descreve em sua primeira tópica: o sistema Ics/Pcs/Cs. ● Inconsciente (Ics): Constituído por conteúdos reprimidos e que não têm acesso direto ao sistema Pcs/Cs. ● Pré-consciente (Pcs): Instância que mantém conteúdos acessíveis ao nível consciente, ou seja, disponibiliza os conteúdos, mas não pertence à consciência no atual momento. Mantém parte de sua estrutura ligada tanto Ics quando ao Cs.

● Consciente (Cs): Instância que se relaciona os estímulos/informações provenientes do mundo externo e do mundo interno. É responsável pela percepção, atenção e raciocínio .

Fases de desenvolvimento psicossexual As investigações na prática clínica de Freud, bem como sua estruturação teórica, abordam, em grande parte, as causas e funcionamentos das neuroses.

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Segundo Laplanche e Pontalis (1996) a neurose pode ser definida como “afecção (doença) psicogênica em que os sintomas são a expressão simbólica de um conflito psíquico que tem raízes na história infantil do sujeito, e constitui compromissos entre o desejo e a defesa”. Desse modo, por meio de seus estudos, Freud concebe que a maioria dos desejos reprimidos possuem referências nos conflitos de ordem sexual, vivenciados na tenra infância, na qual as experiências traumáticas configuravam a origem dos sintomas atuais. Esquema: Traumas de ordem sexual na infância > Reprimidos (recalque) > Sintomas atuais Esse pensamento gera a ruptura de um paradigma na época, uma vez que as ideias relacionadas ao “sexual” estariam associadas apenas à reprodução. Freud coloca o desenvolvimento sexual, desde o início da vida, como parte fundamental da evolução psíquica da vida humana. E, a energia associada aos instintos sexuais recebe, por Freud, o nome de libido. Nesse sentido, o entendimento de uma evolução psicossexual a partir do nascimento e orientado pelo direcionamento da libido passa pela busca do prazer no próprio corpo. Sendo assim, Freud postula fases de desenvolvimento sexual, as quais têm o direcionamento dos instintos sexuais a determinadas áreas do corpo e que promovem prazer (porém, um trauma pode fazer com que o desenvolvimento psíquico “trave” em uma das fases): ● Fase oral: zona erotizada é a boca. ● Fase anal: zona erotizada é o ânus. ● Fase fálica: zona erotizada é o órgão genital. ● Período de latência: interesses sexuais são sublimados, direcionados a outras áreas, culturais, sociais, etc. ● Fase genital: zona erotizada encontra-se externa ao corpo. É importante colocar que essas fases de desenvolvimento não são lineares e/ou estanques, nem tão pouco acontecem em períodos exatamente como a idade cronológica. Há sim um entendimento de uma evolução de cada fase dentro de uma zona esperada, contudo longe de ser preconizada ou descrita com total exatidão. Aliás, as

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consequências provenientes de cada fase podem (e vão) deixar marcas permanentes no funcionamento psíquico do sujeito. 8. Complexo de Édipo Um processo muito importante e marcante, e que permeia essas fases de desenvolvimento, é o complexo de Édipo. Trata-se de um conceito tão complexo quanto à referência ao seu nome. Sua origem tem referência no mito grego de Édipo, o qual, em linhas gerais, é responsável (“sem saber”) por matar seu pai e casar-se com sua mãe. “Sem saber”: inconsciente (para Freud, o ato de Édipo representaria uma pulsão de prazer / poder no ego infantil em formação). Essa analogia descreve o comportamento infantil, a nível simbólico, no qual o menino tem a mãe como objeto desejado, e seu pai como seu rival. Desse modo, ele quer ser como o pai e ter sua mãe (revivenciando a fase de proteção uterina ou mesmo a proteção substituta do aleitamento, que, além da sobrevivência nutricional, oferecia-lhe o prazer dos órgãos orais, muito sensíveis na fase inicial do desenvolvimento). Caso o desenvolvimento ocorra de forma saudável, o menino perceberá a possibilidade da perda do amor do pai e, então, desinvestará a mãe como objeto de desejo, e passará a buscar outro objeto desejado, podendo assim, ingressar no mundo cultural e social: desejar uma carreira, um relacionamento afetivo externo etc. Considerando a figura da menina, as figuras parentais são invertidas, há o desejo pelo pai e a competição com a mãe, caracterizando o Édipo feminino ou, segundo o psicanalista Carl Jung, complexo de Electra.

9. Conceitos fundamentais sobre o funcionamento psíquico Alguns conceitos são fundamentais para que se tenha embasamento e entendimento dos constructos teóricos de Sigmund Freud. Para que possamos evoluir na compreensão da teoria, é fundamental que algumas questões sejam postas. A existência da pulsão na teoria freudiana pode ser traduzida como um “(...) representante psíquico das excitações provenientes do interior do corpo” (ZIMERMAN, 1999). Ou seja, há uma tensão somática que busca sua descarga por meio de um objeto. A pulsão pode ser pensada sobre quatro aspectos: 19 Licenciado para - Piera Mocelin - 01038066956 - Protegido por Eduzz.com

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● Fonte: parte corporal de onde advém o estímulo. ● Magnitude: quantidade energética (força) da descarga. ● Finalidade: objetivo e/ou necessidade da busca pela satisfação. ● Objeto: o qual ou pelo qual a pulsão atinge sua finalidade. Freud ainda caracteriza a pulsão de acordo com o entendimento do aparelho psíquico, enunciando que é possível uma configuração na qual, “(...) as pulsões do ego (também denominadas como de “autopreservação”, cujo protótipo é o da “fome”) e as sexuais (ou de “preservação da espécie”), sendo que, após sucessivas modificações, mais precisamente a partir do clássico trabalho Além do princípio do prazer, de 1920, ele estabeleceu de forma definitiva a dualidade de Pulsões de Vida (ou Eros) e Pulsões de Morte (ou Tânatos), que, em algum grau, coexistem fundidos entre si”. (ZIMERMAN, 1999, p.77). Outro importante entendimento é que o funcionamento psíquico pode ser pensado sobre três pontos de vista: ● Econômico: no que se refere à quantidade energética que alimenta os processos psíquicos. ● Tópico: entendimento de um conjunto de lugares, ou seja, constituído de sistemas diferenciados quanto à natureza e ao funcionamento (Ics e Cs). ● Dinâmico: justamente por transmitir forças e afetos dentro dos sistemas. Ainda em relação ao funcionamento psíquico, a percepção e/ou a relação com as experiências do mundo externo, e interno, pode ser altamente perturbadora e desorganizadora. Em função disso, a psique cria mecanismos para lidar com essas emoções dolorosas, e assim proteger o aparelho psíquico contra as diversas formas de sofrimento, em prol da sobrevivência. Criam-se, assim, os mecanismos de defesas. Eis alguns dos mecanismos utilizados por subjetividades neuróticas.

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● Recalcamento: determinados conteúdos (produtos das experiências vividas de modo desorganizador) são reprimidos ao nível inconsciente, ficando limitados pela barreira do recalque. ● Formação reativa: na tentativa de proteção do ego em virtude de uma sinalização de desejo, o indivíduo age de maneira oposta àquilo que deseja, justamente para não confrontar-se com esse aspecto que, a nível consciente, pode ser fortemente atacado. Exemplo de alguma pessoa extremamente doce, terna, quando na verdade esconde uma agressividade muito grande, que busca inconscientemente compensar ou ocultar. ● Regressão: trata-se do retorno a vivenciar algum ponto regresso que demonstra uma expressão mais primitiva, ou seja, determinada reação que vai além das consequências esperadas. Isso ocorre devido ao fato de que a motivação da regressão é acompanhada de um significado passado. ● Projeção: como nome diz, o indivíduo projeta seus conteúdos que não são aceitáveis em si (de modo inconsciente) no mundo externo e, em geral os ataca, sem perceber que aquelas questões são, de fato, suas. Ex.: criticar nos outros comportamentos que o indivíduo quer esquecer que também são seus. ● Racionalização: há a construção de um discurso argumentativo puramente racional, na tentativa de lidar com as angústias que assolam o ego. Ou seja, a toda ação que não é passível de explicação, coloca-se uma justificativa com uma tentativa de racionalização muito precisa que valide o comportamento do indivíduo. Como posto, essas defesas são encontradas em sujeitos que possuem um desenvolvimento egóico mais consistente, considerando-se uma forma de funcionamento neurótica. Em última instância, sujeitos “saudáveis” lidam bem com as formas de defesa acima, que, quando exageradas, configurariam-se neuroses. Existem outros mecanismos mais arcaicos e que remetem a um desenvolvimento mais primitivo, portanto, psicótico. Como por exemplo, a cisão, idealização, identificação projetiva, entre outros mecanismos, que implicam em transtornos mais sérios de identidade, via de regra resultados de eventos mais graves da infância e que os mecanismos tradicionais de defesa não conseguiriam dar conta, precisando por

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vezes o indivíduos se desmembrar em dois para conseguir suportar a dor (como no caso de transtornos de natureza esquizofrênica).

11. Os contemporâneos a Freud É fato que a psicanálise de Freud influenciou o campo de estudos de diversos profissionais interessados, e que, essa temática, vinha ganhando espaço dentro da comunidade científica no início do século XX. Nesse sentido grandes autores puderam contribuir com o crescimento dessa área do conhecimento, desenvolvendo visões muito particulares e teorias tão revolucionárias quando às presentes na gênese da psicanálise. Nomes como Karl Abraham, Sandor Ferenczi e Wilheml Reich não são incomuns de se encontrar na literatura psicanalítica. A passagem desses autores, embora tímida aos olhos da história, certamente influenciou as ideias de Freud. Eles foram personagens marcantes dentro do universo psicanalítico e que subsidiaram a gestação de conceitos presentes nas teorias dos autores que veremos a seguir. Observe que muitos não eram psicólogos ou médicos, o que reforça a defesa de Freud e de outros grandes nomes em defender a psicanálise como ofício leigo (como também ocorre no Brasil), isto é, livre para qualquer profissão ou profissional que tenha realizado um curso livre na área. Carl Jung (1875-1961) Médico suíço, Jung segue a especialização na área da psiquiatria e, no início no século XX, tem contato com o trabalho e as teorias de Sigmund Freud, o qual se alia para o desenvolvimento de diversos estudos no campo psicanalítico. Freud tinha um apreço muito grande ao jovem, que se mostrava promissor na área, sendo considerado pelo pai da psicanálise como sendo um futuro sucessor de seus feitos, assumindo, inclusive, a cadeira de presidente da Associação Psicanalítica Internacional (IPA).

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Contudo, à medida que os estudos avançam, Jung mostrava alguns recorrentes desentendimentos com relação à teoria freudiana, principalmente no tocante às questões relativas ao trauma sexual; enquanto Freud criticava os interesses do jovem colega a atributos relativos ao campo mitológico, espiritual que envolvia o indivíduo e a imaginação. Desse modo, Jung rompe com o grupo psicanalítico e, então, passa a desenvolver seu próprio constructo teórico conhecido como Psicologia Analítica. E é nesse sentido que a contribuição da Jung se dá à psicanálise. Por meio dos estudos de mitos e símbolos, Jung compreende as semelhanças culturais como sendo resultantes de conhecimentos e experiências compartilhadas entre a espécie ao longo da história. Desse modo, o autor parte da ideia de existência de uma memória coletiva que constituía uma psique humana atemporal, sobre a forma de símbolos, os quais Jung denominou arquétipos. Com isso desenvolve a ideia de uma parte inconsciente dentro de cada um de nós que vai além das experiências individuais, a essa atribui o conceito de “inconsciente coletivo”. Nas palavras do criador, “O inconsciente individual repousa sobre uma camada mais profunda... Eu a chamo de inconsciente coletivo” (CARL JUNG) Melanie Klein (1882-1960) Vienense, Klein foi analisanda de Ferenczi e Abraham e, certamente por influência desses, pode ter embasamento para o desenvolvimento de sua obra. Com uma trajetória profissional importante na Hungria e na Alemanha, é em Londres, na Inglaterra, que Klein vai estabelecer seu nome entre os grandes contemporâneos de Freud. As principais contribuições de Klein vieram a partir da prática clínica com crianças e bebês, sendo pioneira, e original, em suas concepções, ideias e teorias. Desenvolve técnicas psicanalíticas próprias para o manejo com crianças, introduzindo o conceito do entendimento simbólico nos brinquedos e jogos.

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Postula a existência de um ego rudimentar presente em recém-nascidos. A pulsão de morte, tal qual a pulsão de vida, seria inata e acompanharia o indivíduo desde o nascimento, marcando sua existência pelo constante conflito entre essas pulsões. Ainda, descreve alguns mecanismos de defesa mais primitivos dos postulados por Freud, mostrando funcionamentos mentais arcaicos, marcados por regressões ainda mais potentes. Além disso, concebe “(...) a mente como um universo de objetos internos que estão relacionados entre si através das fantasias inconscientes, constituindo a realidade psíquica” (ZIMERMAN, 1999). Nesse sentido, descreve à forma com a qual esses objetos se apresentam à criança (objetos totais e/ou parciais), e o caráter simbólico que eles podem suscitar (bom, mau, persecutório...). Originalmente propõe uma conceituação ao desenvolvimento psíquico diferente da ideia evolutiva (fases de desenvolvimento psicossexual) de Freud. Klein sugere a noção de posição, nominando-as de esquizoparanóide e depressiva, o que trará grandes repercussões ao entendimento das teorias psicanalíticas. Soma-se a esses as importantes discussões referentes à inveja e gratidão, além da culpa e reparação. Donald Winnicott (1896-1971) Médico pediatra inglês de renome é o primeiro a receber os conteúdos psicanalíticos e utilizá-los em sua prática médica. Portanto, é muito influenciado por Freud e Klein e, em virtude das peculiaridades da sua profissão, acaba por desenvolver um olhar às crianças, sobretudo na relação com seus pais, justamente por trabalhar com crianças separadas de suas famílias em virtude da Segunda Guerra mundial. Para Winnicott o meio exerce uma influência fundamental para o desenvolvimento psicoemocional da criança. Nesse sentido, cria e determina conceitos como integração, como sendo uma tendência que é inata ao humano, uma busca que vai desde a não-integração (nascimento) – num estado de dependência absoluta – até a personalização, na qual há o entendimento de que a pessoa habita seu próprio corpo. Nesse processo é fundamental que haja uma adaptabilidade ao meio externo, e para tanto, faz-se necessário à existência de um meio seguro, que o sustente e possibilite 24 Licenciado para - Piera Mocelin - 01038066956 - Protegido por Eduzz.com

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uma maneira de lidar com sua agressividade inata, promovendo sentido à sua existência. Cabe, nesse contexto, a utilização do conceito de mãe suficientemente boa, capaz de fornecer ao bebê tudo aquilo que é fundamental ao seu desenvolvimento, sem que lhe haja excesso ou falta. Para auxiliar o bebê dentro desse processo de desenvolvimento, Winnicott sugere a existência de fenômenos e objetos transicionais, ou seja, elementos subjetivos ou concretos que possibilitem o bebê a realizar a transição entre seu universo imaginário e o mundo real externo. E, dependendo das experiências vivenciadas nessa fase, seria possível a constituição de um verdadeiro, ou falso, self, termos igualmente desenvolvidos por Winnicott em sua obra. Wilfred Bion (1897-1979) Nascido na Índia desenvolveu praticamente toda sua obra na cidade de Londres, vivendo seus últimos anos em Los Angeles, nos Estados Unidos. Médico dedicado especializa-se em psiquiatria, porém é notória sua formação humanística, desenvolvendo estudos no campo da Filosofia, Teologia e Letras. Como psicanalista foi igualmente brilhante trazendo contribuições geniais no tocante ao desenvolvimento do trabalho com psicoterapia de grupos, além de desenvolver uma teoria do pensamento. Durante a Segunda Guerra, Bion desenvolve um trabalho experimental com grupos na ala de reabilitação militar onde tratava seus pacientes. Por conseguinte, estudou grupos terapêuticos em diversas clínicas e em seu próprio consultório. Consegue, com isso, elaborar a ideia de que no grupo existem funcionamentos que vão de encontro às práticas conscientes e inconscientes. ( Aqui já podemos associar, no caso, a ideia de Campo Morfogenético, de Sheldrake). Soma-se a esse a ideia de um funcionamento mental, ou mentalidade grupal, na qual seria constituída das contribuições individuais de cada integrante. Desse modo, o grupo poderia ser um lugar de contingências às diversas reações regressivas vividas no grupo, como a perda do afeto, dependência, entre outros. 25 Licenciado para - Piera Mocelin - 01038066956 - Protegido por Eduzz.com

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Fortemente influenciado por Klein, Bion acaba por aprofundar parte de seus estudos na dinâmica dos pacientes psicóticos, demonstrando seu interesse, nesse contexto, nos distúrbios relacionados à linguagem, pensamento, conhecimento e comunicação. Desse modo, pôde desenvolver uma teoria muito própria sobre o pensamento. Nesse sentido, o pensar, enquanto ação permite que se crie um mecanismo para lidar com as frustrações primitivas. Sendo assim, se o ódio resultante desses desapontamentos arcaicos for menor que a capacidade do ego de suportá-los, haverá um encaminhamento, por meio do pensamento, de um desenvolvimento psíquico saudável. Caso contrário, o pensamento não será uma possibilidade, culminando-se em agitação motora e somatização desse ódio não elaborado.

Jacques Lacan (1901-1981) Médico psiquiatra nascido na França, Lacan é um fiel contemporâneo de Freud em sua construção teórica, o que não significa que não tenha proposto discordâncias e/ou repensado alguns paradigmas psicanalíticos até então. Com interlocuções entre a filosofia, arte, literatura e, sobretudo a linguística, Lacan cria um modo muito próprio de entender a psicanálise, bem como desenvolver sua prática clínica. Uma de suas primeiras ideias revolucionárias estaria no entendimento de que o inconsciente não seria uma manifestação do “Eu”, mas sim do “Outro”. Ou seja, o sentido de si seria constituído pela percepção do outro, sendo a linguagem proveniente do outro o agente formador dos nossos pensamentos mais profundos. Sendo assim, quando criança, o indivíduo é exposto a inúmeros significantes (sinais e códigos) os quais permitem a apreensão e vivências de sensações que ajudam no desenvolvimento de autonomia para operar no mundo. Contudo, os significantes são provenientes do mundo exterior, do outro, o que constitui esse universo interior a partir da linguagem, ou discurso, do Outro. Lacan ainda discorre sobre o entendimento do sujeito como objeto de estudo clínico, como sendo compostos por três ordens, conceitualmente tratado como imaginário, simbólico e real.

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