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TEORIA E PRÁTICA DA NATAÇÃO

autora

JULIANA DE SOUZA SOARES

1ª edição SESES rio de janeiro  2016

Conselho editorial  sergio augusto cabral, roberto paes e paola gil de almeida Autora do original  juliana de souza soares Projeto editorial  roberto paes Coordenação de produção  paola gil de almeida, paula r. de a. machado e aline karina rabello Projeto gráfico  paulo vitor bastos Diagramação  bfs media Revisão linguística  bfs media Revisão de conteúdo  marcelo garcia massaud Imagem de capa  nuk2013 | shutterstock.com

Todos os direitos reservados. Nenhuma parte desta obra pode ser reproduzida ou transmitida por quaisquer meios (eletrônico ou mecânico, incluindo fotocópia e gravação) ou arquivada em qualquer sistema ou banco de dados sem permissão escrita da Editora. Copyright seses, 2016.

Diretoria de Ensino — Fábrica de Conhecimento Rua do Bispo, 83, bloco F, Campus João Uchôa Rio Comprido — Rio de Janeiro — rj — cep 20261-063

Sumário Prefácio 7 1. Introdução à natação 1.1 Introdução 1.1.1 Conceitos 1.1.2  Evolução histórica 1.2  Benefícios da natação 1.2.1  Benefícios da natação para a aptidão física 1.2.2  Benefícios da natação para o desenvolvimento motor, cognitivo e socioafetivo 1.3  Mercado de trabalho

2. Princípios e propriedades físicas

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2.1  Princípios e propriedades físicas aplicadas à natação 2.1.1  Fluxos laminar e turbulento 2.1.2  Propulsão na natação 2.1.3  Tipos de arrasto

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2.1.4  Propriedades físicas da água

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3. Ensino-aprendizagem na natação 3.1 Introdução 3.1.1  Etapas do ensino-aprendizagem 3.1.2  Conteúdos conceituais, procedimentais e atitudinais no ensino da natação 3.1.3  Natação para diferentes faixas etárias: objetivos e metodologias

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4. Técnica dos Nados 4.1 Introdução 4.1.1 Nado crawl 4.1.2  Nado de costas 4.1.3  Nado de peito 4.1.4  Nado borboleta 4.1.5 Nado medley 4.1.6  Saídas e viradas

5. Regras elementares, noções de arbitragem e organização de competições 5.1  Noções de arbitragem e organização de competições 5.1.1  Regras da FINA 5.1.2  Categorias da natação adaptada 5.1.3  Organização de festivais e torneios

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Prefácio Prezados(as) alunos(as), A natação é uma modalidade de exercícios aquáticos praticada desde o início da história da humanidade. Necessário era movimentar-se de alguma maneira na água para atravessar rios e lagos em busca de melhores condições de vida, como também se considerava importante aprender a nadar na Grécia antiga. Ao longo dos tempos, o ato de nadar fez-se presente na preparação militar, na educação de nobres, em momentos recreativos e em competições. Além de ser um esporte com regras específicas e almejar o alto rendimento, a natação está associada a benefícios para a saúde em todas as faixas etárias e representa uma excelente oportunidade de estimulação cognitiva, afetiva e motora em bebês e crianças. É fundamental também compreendermos a importância de se saber nadar para a sobrevivência, especialmente em um país como o Brasil, abundante em rios, lagos, represas e praias. Para que você tenha uma ideia, em 2013 mais de 6.000 mortes no nosso país ocorreram em consequência de afogamento. Geralmente, a natação é estudada identificando-se aspectos históricos, conceitos diversos, propriedades físicas do meio aquático que interferem nos exercícios de alguma maneira, e seu enfoque sob três diferentes situações: iniciação, aperfeiçoamento e treinamento de alto rendimento. Durante sua formação, mesmo que não venha a atuar com natação na sua intervenção profissional, o aluno do curso de Educação Física deve conhecer elementos básicos da natação, como os processos de “ensinar a nadar” e as técnicas de nados consideradas mais eficientes. Nesse livro, serão apresentadas as origens da natação, algumas definições existentes na literatura especializada, a influência das propriedades da água, etapas e recomendações para o processo de ensino-aprendizagem, elementos técnicos dos nados, saídas e viradas, e importantes características relacionadas às competições e suas regras, como as dimensões das piscinas e as provas olímpicas. Bons estudos!

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1 Introdução à natação

1.  Introdução à natação A natação parece ter sido praticada desde o início da história da humanidade, e nesses milhares de anos, os movimentos realizados pelo homem variaram bastante. Identificar alguns aspectos dessa prática ao longo dos séculos possibilita a compreensão de como esse esporte foi adotado em diferentes épocas. Praticar natação traz vários benefícios fisiológicos e para o desenvolvimento motor, cognitivo e socioafetivo, como veremos nesse capítulo. Nadar aprimora nosso condicionamento físico e é especialmente interessante como estímulo ao desenvolvimento infantil. Nesse capítulo, iniciaremos nosso estudo sobre a natação conhecendo alguns conceitos e referências a ela na literatura específica, sendo alguns relacionados ao alto rendimento e outros ao ato de nadar de maneira geral.

OBJETIVOS •  Identificar conceitos de natação; •  Verificar como a natação foi praticada ao longo da história da humanidade; •  Conhecer os benefícios da natação para a aptidão física relacionada à saúde e qualidade de vida; •  Conhecer benefícios da natação para o desenvolvimento motor, socioafetivo e cognitivo.

1.1  Introdução 1.1.1  Conceitos A Federação Internacional de Natação (FINA) conceitua a natação como “ação de autopropulsão e autossustentação na água que o homem aprendeu por instinto ou observando os animais” (ROHLFS, 1999, p.43). Essa definição deixa claro que nadar pressupõe a capacidade de movimentar-se e manter-se flutuando sem auxílio externo. Dessa maneira, uma pessoa que nada somente com o uso de materiais que possibilitam a flutuação não saberia nadar. De acordo com Luz (1999, p. 160), nadar é “uma forma de deslocar-se na água que tenha significado, que esteja de acordo com o nível de interesse, necessidade e etapa de evolução de cada indivíduo”, o que implica em enxergarmos a natação não apenas pela execução dos quatro nados oficiais (crawl,

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capítulo 1

costas, peito e borboleta), mas também possibilitar movimentos diversificados e que estejam relacionados aos praticantes de acordo com suas características e propósitos. Marín (2004) cita que a natação, assim como outras atividades aquáticas, pode ser classificada de acordo com a sua finalidade em: educativa, competitiva, utilitária, recreativa, terapêutica e para a saúde (higiênica). Já Andries Junior et al. (2002) diz que “nadar se refere a qualquer ação motora que o indivíduo realiza intencionalmente para propulsionar-se através da água”. Esses autores ressaltam que há diferença entre o ato de nadar e a natação, sendo o primeiro relacionado a diversas maneiras de movimentação na água e a segunda, um esporte que objetiva, pela realização de movimentos dentro de técnicas específicas, conquistas e vitórias. Nadar, de acordo com o dicionário Infopédia (s/d), significa “sustentar-se e mover-se à superfície ou dentro de um líquido, com movimentos coordenados de braços e pernas”. De maneira geral, podemos entender a natação como uma modalidade esportiva (pois envolve regras e tem características e gestos particulares, além de instituições que a organizam, como a FINA) que pode ser praticada da infância à maturidade, visando a melhoria de aspectos físicos e motores, como o auxílio no desenvolvimento motor em bebês e os ganhos de aptidão física em todas as idades, assim como pode auxiliar no aprimoramento de aspectos cognitivos e socioafetivos. Ainda não podemos esquecer a natação adaptada, modalidade esportiva praticada por pessoas com deficiências diversas, que traz a seus praticantes a possibilidade de maior autonomia, autoestima, autoconfiança e saúde. Também devemos destacar que ser capaz de realizar movimentos diversos com bom domínio do seu corpo na água, sabendo flutuar, reduz os riscos de afogamentos, situação que no Brasil, de acordo com a SOBRASA (2015), resulta na morte de um brasileiro a cada 84 minutos. Os afogamentos constituem-se na 2ª causa de óbito de 1 a 9 anos, 3ª de 10 a 19 anos e 4ª de 20 a 25 anos. Esses dados reforçam a importância de se aprender a nadar e ser capaz de sobreviver em situações de emergência. Com relação ao esporte natação, uma definição relacionada ao alto rendimento é a de Nolasco et al. (2013, p. 232): “esporte aquático que tem como objetivo imediato, para o atleta, vencer uma determinada distância em meio líquido no menor tempo possível”. Em Jogos Olímpicos, as distâncias a serem percorridas pelos atletas são: capítulo 1

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NADO LIVRE

50 m, 100 m, 200 m, 400 m, 800 m (mulheres) e 1.500 m (homens);

NADO COSTAS

100 m e 200 m;

NADO PEITO

100 m e 200 m;

NADO BORBOLETA

100 m e 200 m;

NADO MEDLEY

200 m e 400 m;

REVEZAMENTOS

4 x 100 m livre, 4 x 200 m livre e 4 x 100 m medley.

COMENTÁRIO Nas provas de nado medley o (s) atleta (s) executa os quatro diferentes tipos de nados em uma sequência determinada pelas regras oficiais, que veremos em outro capítulo mais adiante.

1.1.2  Evolução histórica Ao buscarmos referências para uma análise histórica da natação, encontramos a afirmação de que ela foi praticada desde a Pré-História, muito provavelmente por questões ligadas à sobrevivência, especialmente quando o homem era nômade e deslocava-se em busca de alimento e abrigo por longas distâncias e talvez de maneira recreativa, no tempo livre, para refrescar-se e divertir-se. Massaud (2008) cita que o envolvimento do homem com a água pode ter sido de maneira instintiva ou pela observação dos movimentos de outras espécies, principalmente os cães e os sapos. Colwin (2000) diz que os seres humanos nadam a milhares de anos, havendo registros de que as pessoas que habitavam as regiões ao longo do mar Mediterrâneo nadavam muito bem. Certamente os homens se envolveram com o meio aquático, e os registros em grutas e cavernas, bem como os escritos, atestam esse fato. Segundo Catteau&Garoff (1990), no deserto da Líbia, dentro de uma caverna, foi encontrado um desenho que indica, de acordo com os arqueólogos, que o ato de nadar já existia há cerca de 9.000 anos atrás. Outro registro bastante antigo (2.500 anos atrás) é um hieróglifo egípcio descoberto pelo alemão Carl

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Diem que representa um tipo de movimentação bastante similar ao atual nado crawl, com batidas de pernas alternadas e movimentos amplos dos braços (NOLASCO et al., 2013; CATTEAU & GAROFF, 1990). Certamente, o povo egípcio teve na natação uma prática comum, pois sua civilização se desenvolveu ao longo do rio Nilo e o clima na região favorecia as imersões. Já a FINA (s/d) cita a existência de desenhos indicativos da prática de natação entre babilônios e assírios encontrados no deserto de Kebir que se estima serem de 6.000 anos atrás. Vêm da região atual da Itália muitos registros sobre o ato de nadar, especialmente através de desenhos e pinturas, sendo o mais antigo pertencente aos etruscos (2.600 anos atrás). Fenícios e persas também praticaram a natação.

Figura 1.1  –  Piscina em templo egípcio.

Na Antiguidade Ocidental, gregos e romanos apreciaram muito as atividades dentro da água. Foi encontrada em um túmulo grego a representação de cenas de natação e mergulho que tem origem há 2.500 anos. O ato de nadar tem referências em obras clássicas gregas, como a Ilíada e a Odisséia. Os gregos incluíam aulas de natação na educação de seus jovens. Platão, importante filósofo e pensador grego, na sua lei 689, dizia que “o cidadão educado era aquele que sabia ler e nadar”. Os romanos, que situaram o exercício físico como prática fundamental para a preparação de seus soldados, têm em Júlio César um nadador habilidoso: capítulo 1

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após um naufrágio na Campanha do Egito, ele percorreu uma considerável distância a nado até alcançar Alexandria (RAMOS, 1983). De acordo com a FINA (s/d), Júlio César salvou importantes documentos quando isso aconteceu. A civilização romana também adotou um hábito que não distinguia entre as classes mais privilegiadas e os menos favorecidos: a frequência às termas, locais de banhos em temperaturas diversas, mas que também possuíam bibliotecas, espaços para repouso e para treinamento, e onde se praticaram formas de nadar.

Figura 1.2  –  Terma romana.

Já durante a Idade Média, a natação foi muito pouco praticada, sendo uma das explicações para isso a crença da época de que a água disseminava epidemias (Massaud, 2008); porém, Ramos (1983) cita que nos pátios dos castelos os jovens praticavam, além de outros tipos de exercícios, a natação, o que indica que era mais frequente entre os nobres. A partir do século XVI, na Idade Moderna, a natação começa a ser discutida por alguns autores: Em 1538, o professor alemão Nykolaus Wynmann publica o primeiro livro sobre natação, intitulado “Colymbetes, Sive de Arte Natandi Dialogus et Festivus et Iucunduslectu”, no qual defendia o nado de peito da época (com a cabeça fora da água e a ação das pernas com os dorsos dos pés) como o que deveria ser aprendido por todos. Um pouco antes (1531), Sir Thomas Elyot publica “The Boke Named the Governour”, onde defende a natação como importante na educação dos cavaleiros (COLWIN, 2000).

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Durante muito tempo, foi o nado peito o mais utilizado e discutido. Como esporte competitivo, é a partir do século XIX que temos importantes registros, conforme nos apresenta Massaud (2008): •  Em 1810, no Japão, acontece uma primeira competição; porém, não houve registros dos vencedores; •  Lord Byron, pertencente à nobreza inglesa, nada publicamente em 1837, quando algumas provas são organizadas em Londres, incentivando o público em geral a nadar; •  Norte-americanos participam de competição em Londres em 1844 e vencem todas as provas; •  A Associação de Natação Amadora é criada na Inglaterra em 1869, gerando a padronização de regras nas competições; •  1871: registra-se o primeiro recorde mundial, de Winston Cole, que percorreu 100 jardas (cerca de 92 metros) em 1 minuto e 15 segundos; •  1875: primeira travessia do Canal da Mancha pelo capitão inglês Matthew Webb; •  A natação é uma das modalidades olímpicas dos I Jogos Olímpicos da Era Moderna (1896), com as provas de 100m, 500m e 1200m livre para homens. Nas primeiras competições, a maioria dos atletas nadava de lado, realizando uma braçada de peito com os braços submersos o tempo todo. As pernas abriam e fechavam em uma batida alternada ampla (tesoura), de acordo com Colwin (2000). Esse movimento dos braços era conhecido como braçada lateral. Essa forma de nadar foi aos poucos sendo substituída por uma técnica onde um braço era recuperado acima da superfície da água, conhecida como braçada lateral inglesa com o braço emerso, ou “single over armstroke”. Ao reduzir o contato de uma parte do corpo com a água, a resistência foi menor, fazendo com que os tempos para percorrer certa distância diminuíssem. A seguir, um nadador chamado John Trudgen apresenta uma técnica na qual os dois braços, alternadamente, eram recuperados acima da superfície, sendo executada uma batida de pernas do peito a cada duas braçadas “double over arms”. A pernada de peito da época não “combinava” com os movimentos alternados dos braços, mas mesmo assim, foi possível nadar com um pouco menos de resistência. Ainda se tentou outro tipo de pernada, que era executada com a braçada lateral de antigamente: movimentos alternados e laterais com menor afastamento, mas mesmo assim os movimentos apresentavam pouca fluidez. Depois disso, percebeu-se que se não fosse realizada nenhuma ação de pernas, a ação capítulo 1

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contínua de braços alternados seria executada facilmente (COLWIN, 2000), e o desenvolvimento do nado crawl, atribuído ao professor Cavill, ocorreu após a sua percepção dos movimentos de Alick Wickham, nativo das Ilhas Salomão Britânicas que executava os movimentos alternados continuamente. Além disso, nativos da Polinésia (ilhas dos Mares do Sul) apresentavam um nado com os braços emersos e alternados, bem como batidas de pernas alternadas, facilitando a coordenação e a propulsão. Após o advento do crawl “australiano”, no início do século XX, novas técnicas foram adicionadas e temos o nado mais rápido dentre todos até os dias de hoje. O surgimento e aprimoramento das técnicas dos nados você estudará em um capítulo mais adiante. Outro aspecto histórico que você deve conhecer: a Federação Internacional de Natação, a FINA, foi criada em 19/07/1908 no final dos Jogos Olímpicos de Londres. Quanto à natação adaptada (esporte para pessoas com deficiências diversas), Greguol (2010) relata que começou a ser praticada também no século XIX, primeiramente por indivíduos com deficiências auditivas, visuais e intelectuais, e a partir de meados do século XX foi igualmente recomendada para pessoas com problemas motores. 1.1.2.1  Evolução histórica no Brasil A história da natação competitiva no Brasil também inicia no século XIX, mais precisamente no Rio de Janeiro; porém, desde o descobrimento do Brasil identificou-se que os indígenas tinham na água um ambiente bastante familiar, e provavelmente executavam movimentos com os braços alternados e a cabeça fora da água, de maneira similar a outros povos habitantes de regiões costeiras e ao redor de rios e lagos. Nolasco et al. (2013) citam importantes fatos da história da natação brasileira: •  Registros de jornais de 1881 citam a Travessia da Baía de Guanabara, numa disputa entre Theodor John, relojoeiro alemão de 50 anos e Joaquim Antonio Souza, niteroiense de 19 anos. A largada foi na Praia da Armação em Niterói e a chegada na Praça 15 de Novembro, no Rio de Janeiro; •  Em 1885 é construída a primeira piscina brasileira, às margens do Rio Guaíba (RS), denominada “Badeanstalf”, ou “basenho”. A Sociedade Ginástica Deutsher Turneverein foi a responsável com a colaboração de seus associados. No final de 1916, um incêndio destruiu as instalações, reconstruídas em 1953.

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As poucas piscinas existentes no final do século XIX e início do século XX resultaram no ensino inicial da natação feito em cochos, que eram “pranchões de madeira sustentados por tambores”.

•  Em 1895 foi fundada a União de Regatas Fluminense, por dois clubes de Niterói e dois do Rio de Janeiro, que originou a Federação Brasileira das Sociedades de Remo, responsável por organizar as competições promovidas pelos clubes a ela filiados; •  A tradicional “Travessia da Guanabara” surge em 1897, tendo sido disputada até 1943. O percurso total era de 4.100m. Nesse mesmo período, competições de natação em São Paulo eram realizadas no Rio Tietê e na cidade de Santos. É também em 1897 a primeira competição no Rio Grande do Sul, nas águas do Rio Guaíba; •  A Federação Paulista das Sociedades de Remo foi fundada em 1907 e também foi responsável pela organização de competições de natação; •  Em 1908, o nadador brasileiro Abraão Saliture foi o primeiro vencedor de competições sul-americanas, nas distâncias de 100m e 500m nado livre. Esse primeiro evento internacional na América do Sul aconteceu na Argentina; •  Nas décadas de 1910 e 1920, grande parte das provas eram travessias, pela carência de piscinas. Há registros nos estados do Amazonas, Pernambuco e Bahia, além de São Paulo, Rio Grande do Sul e Rio de Janeiro; •  O Comitê Olímpico Nacional, que originou o Comitê Olímpico Brasileiro, foi criado em 1914 e foi responsável por enviar a primeira delegação brasileira de esportes aquáticos (natação, polo aquático e saltos ornamentais) a uma edição dos Jogos Olímpicos, em 1920 (Antuérpia, na Bélgica); •  Em 1916 é criada a Confederação Brasileira de Desportos (CBD), que agregou todas as Federações de esportes do país; •  Em 1919 foi inaugurado, nas dependências do Fluminense Futebol Clube (RJ), o primeiro Parque Aquático do Brasil. Nesse mesmo ano, a Federação Paulista das Sociedades de Remo apresenta um manual regulamentando provas de natação, no qual não se consideravam competições femininas. Porém, na prova “500m rio abaixo” realizada no Rio Tietê, a pioneira Blanche Pironnet Bezerra, venceu 6 homens; •  Em 1922 foi construída uma piscina para os “Jogos Olímpicos Sulamericanos” na Praia Vermelha, bairro da Urca, cidade do Rio de Janeiro.

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Essa competição, organizada pela CBD, foi comemorativa ao centenário da Independência do Brasil, e outra pioneira da natação feminina participou das provas: Violeta Coelho Neto; •  Em 1923 a CBD organiza o Campeonato Brasileiro de Natação, enquanto em São Paulo é realizado o primeiro Campeonato Paulista, com provas de 1.500m para homens; •  Em 1926 é fundada a primeira piscina clorada do Brasil, medindo 33m (tamanho comum na Europa), no Clube Atlético Paulistano, restrita aos associados para sua utilização. Já em 1930, também em São Paulo, surge a primeira piscina com medidas oficiais para competições de natação (25m x 12m), nas dependências da Associação Atlética de São Paulo, com capacidade de público para até 2.500 pessoas; •  O primeiro Campeonato Brasileiro que conta com várias provas e sistema de pontos aconteceu em 1931 no Rio de Janeiro, tendo sido vencido pelo Clube de Regatas Gragoatá de Niterói (39 pontos obtidos); •  Maria Lenk, em 1932, é a primeira representante feminina da natação brasileira em Olimpíadas (Los Angeles). Em Campeonatos Sul-Americanos, as mulheres participam somente em 1935, e Maria Lenk foi o grande destaque vencendo as provas de peito e costas e de revezamento; •  Em 1936, Maria Lenk, nos Jogos de Berlim, é a primeira mulher no mundo a executar o então “estilo butterfly” e Piedade Coutinho, com apenas 16 anos, obtém a 5ª e a 8ª posição nos 400m e 100m nado livre, respectivamente; •  Maria Lenk, em 1939 quebra quatro recordes mundiais, no Rio de Janeiro: 200m peito e 200m borboleta, 400m peito e 400m borboleta; •  Na década de 1950 surgem diversas piscinas pelo país, aumentando o número de praticantes da natação; •  Primeira medalha olímpica brasileira conquistada por Tetsuo Okamoto (bronze nos 1.500m nado livre em Helsinque). Nesse mesmo ano, foi inaugurada a primeira piscina aquecida do país, com 25m, a piscina da Água Branca, em São Paulo; •  Em 1960 é criada a Confederação Brasileira de Natação (CBN) e Manoel dos Santos conquista mais uma medalha olímpica, em Roma: bronze nos 100m livre. No ano seguinte, ele quebra o recorde mundial da prova, no Rio de Janeiro; •  José Sílvio Fiolo bate o recorde mundial dos 100m peito no Rio de Janeiro, na piscina do C.R. Guanabara, tendo como treinador, o Prof. de Educ. Física Roberto de Carvalho Pável;

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•  Na década de 1970 a CNB organiza muitos campeonatos brasileiros, a maioria vencidos por clubes do Rio de Janeiro, sendo que nessa época o Brasil já dominava as provas sul-americanas; •  Na década de 1980 os patrocínios começam a surgir na natação; •  A equipe masculina de revezamento 4 x 200m livre fica com a medalha de bronze nos Jogos Olímpicos de Moscou (equipe: Jorge Fernandes, Marcus Mattioli, Cyro Delgado e Djan Madruga); •  Em 1982, Ricardo Prado é campeão e recordista mundial nos 400m nado medley, nas Olimpíadas de Los Angeles, em 1984, conquista a prata; •  A Associação Brasileira de Masters é fundada em 1984; •  Em 1988, Coaracy Nunes torna-se presidente da CBN, que fica responsável pelos demais esportes aquáticos, surgindo então a Confederação Brasileira de Desportos Aquáticos (CBDA); •  Gustavo Borges fica com a medalha de prata nos 100m nado livre nas Olimpíadas de Barcelona (1982), batendo o recorde mundial dessa prova um ano depois, em Santos – SP, competição que também registrou o recorde mundial obtido pela equipe brasileira nos 4 x 100m livre (Fernando Scherer, Teófilo Ferreira, J. C. Souza Jr. e Gustavo Borges); •  Também em 1993 em Palma de Mallorca, Fernando Scherer sagra-se campeão mundial dos 100m livre; •  Gustavo Borges conquista o bronze nas Olimpíadas de Atlanta (1996) na prova de 100m nado livre e prata nos 200m nado livre, enquanto Fernando Scherer fica com o bronze nos 50m livre; •  Em 2000, nas Olimpíadas de Sidney, a equipe masculina formada por Fernando Scherer, Gustavo Borges, Carlos Jayme e Edvaldo Valério consegue o bronze no revezamento 4 x 100m nado livre, enquanto no Mundial de Masters Maria Lenk (categoria mais de 85 anos) e Gastão Figueiredo (categoria mais de 90 anos) conquistam, cada um, 7 medalhas de ouro; •  Em 2004 (Atenas), oito mulheres integram a equipe brasileira e chegaram a três finais olímpicas, demonstrando evolução técnica: Joanna Maranhão (400m nado medley), Flávia Delaroli (50m livre) e a equipe de revezamento 4 x 200m nado livre formada por Joanna Maranhão, Mariana Brochado, Monique Ferrreira e Paula Baracho; •  Em 2008, em Pequim, o grande momento da natação brasileira em Olimpíadas: Cesar Cielo torna-se o primeiro campeão olímpico da modalidade, vencendo a prova de 50m nado livre com o tempo de 21 segundos e 30 centésimos. Cielo também ficou com a medalha de bronze nos 100m nado livre (47”67); capítulo 1

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•  Em 2008 é realizada a primeira prova da maratona aquática (10 km) para homens e mulheres em jogos olímpicos; •  No Mundial de Roma, em 2009, Cielo conquista seu primeiro campeonato mundial dos 50m, com o tempo de 21”08 (Cesar é tricampeão mundial da prova: 2009, 2011 e 2013 e bicampeão mundial dos 50m nado borboleta: 2011 e 2013); •  Ainda em 2009, Cesar Cielo conquista o recorde mundial dos 50m nado livre em São Paulo, com o tempo de 20”91; •  Em Londres (2012), Thiago Pereira conquista a prata nos 400m nado medley, deixando para trás nada mais, nada menos do que Michael Phelps. Em 2015, Thiago tornou-se o maior medalhista pan-americano, com o total de 23 medalhas conquistadas; •  Ainda em Londres, 2012, Cesar Cielo ficou com o bronze na prova de 50m livre.

1.2  Benefícios da natação A natação é um esporte praticado por pessoas com condições físicas diferentes, de ambos os sexos, e recomendada tanto a bebês (especialmente a partir dos 6 meses) quanto a idosos. Muito se lê sobre os benefícios da natação, especialmente para a aptidão física e para o desenvolvimento motor, cognitivo e socioafetivo. A seguir, vamos destacar quais são eles. 1.2.1  Benefícios da natação para a aptidão física A aptidão física pode ser definida como a condição que uma pessoa apresenta para a realização de todas as suas atividades cotidianas de forma satisfatória, sem sentir-se cansada ou fatigada, e preferencialmente possuindo energia para uma situação de emergência que surja. A literatura indica alguns importantes componentes da aptidão física que têm relação direta com a saúde de maneira geral, com a autonomia e independência na realização de atividades diárias, e com a qualidade de vida (já que a saúde é diretamente ligada a ela): aptidão cardiorrespiratória, força dinâmica, resistência muscular, flexibilidade e composição corporal. Vianna e colaboradores, em 2004, realizaram um estudo com mulheres idosas designadas para um de dois grupos: o experimental, que por 12 semanas fez aulas de natação (3 sessões semanais de 50 minutos cada) e o controle, que não foi submetido a nenhum protocolo de exercícios. Foram fei-

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tos testes relacionado à autonomia, como caminhar ou correr 800m, levantar-se do solo e subir e descer degraus, e o grupo experimental apresentou melhorias significativas em todos os itens analisados, o que não aconteceu com o grupo controle. Para os autores, a natação pode ser recomendada para a melhoria da autonomia de idosos. Agora vamos identificar como a prática da natação pode beneficiar a aptidão física: a aptidão cardiorrespiratória está relacionada à eficiência dos sistemas respiratório, cardiovascular e muscular para captação, distribuição e utilização do oxigênio na produção de energia para a contração dos músculos e realização dos exercícios de média a longa duração, feitos em intensidade submáxima e que solicitam grandes grupos musculares ao mesmo tempo. Pense na natação: os nados tradicionais envolvem muitos músculos na sua execução, e em uma aula voltada à população em geral, normalmente a duração é de 30 a 45 minutos. Os alunos realizam diversas atividades em uma intensidade que permita a manutenção do exercício, caracterizando um estímulo para a aptidão cardiorrespiratória. À medida que o aluno vai aprimorando sua resistência, é possível aplicar atividades mais intensas, o que sobrecarregará progressivamente os grandes sistemas orgânicos envolvidos, e trará ganhos na aptidão cardiorrespiratória, geralmente expressos através da medida do consumo máximo de oxigênio que uma pessoa pode captar. Em atletas de natação, para que você tenha uma ideia do quanto é interessante a estimulação sobre o coração, há aumento das câmaras cardíacas e espessamento do músculo cardíaco, o miorcárdio (STAGER & TANNER, 2008). Com relação à força dinâmica e à resistência muscular localizada, primeiramente devemos ter em mente que para as atividades da vida diária, são qualidades físicas vitais, pois precisamos de músculos capazes de exercer tensão para vencer as resistências a eles impostas, como, por exemplo, conseguirmos graças à contração dos músculos dos membros inferiores, subir escadas, atividade que muitas vezes é necessária no dia a dia. Ao nadar, uma pessoa encontra sempre a resistência da água a sua movimentação, considerada uma sobrecarga natural do meio. Isso ocorre pela união das moléculas, que muitos autores denominam de viscosidade. Um aluno de natação terá um estímulo a mais para a realização das ações musculares, e com o tempo perceberá que faz suas atividades com menor sensação de cansaço dos músculos (tanto as específicas da aula como as cotidianas) graças à viscosidade (resistência natural) da água. A flexibilidade é uma qualidade física muito importante na natação de alto rendimento: como exemplo, imagine o quanto é necessária uma grande capítulo 1

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amplitude de movimento dos ombros na braçada do nado borboleta. Os tornozelos dos nadadores de alto nível também apresentam excelente mobilidade. Os ganhos em amplitude, mesmo para os alunos que iniciam a natação ou objetivam aprimorar sua aptidão física, estão diretamente associados com o tipo de movimentação presente na execução dos nados: membros superiores e inferiores realizam movimentos alongados, aproveitando a maior superfície possível para empurrar a água e conseguir uma ótima propulsão. Uma melhor movimentação articular, especialmente dos ombros e tornozelos, pode ser obtida com a realização de braçadas e pernadas, mesmo que o aluno não faça especificamente exercícios de alongamento; porém, para pessoas que têm muita restrição de amplitude nessas articulações, pode ser difícil e custosa a execução de algumas atividades, e talvez seja necessária a recomendação de estímulos diretamente associados ao treinamento da flexibilidade.

Figura 1.3  –  Braçada do nado borboleta.

A composição corporal tem associação com a aptidão física para a saúde porque os exercícios físicos podem auxiliar na manutenção de um percentual de gordura adequado, evitando o sobrepeso e a obesidade, que infelizmente vêm crescendo no Brasil nos últimos anos, independentemente de faixa etária e sexo. Para que possamos manter uma composição corporal adequada, evitando o excesso de gordura corporal, é importante a realização de atividades físicas

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para maior gasto energético, pois ao consumirmos mais energia do que gastamos, caminhamos para o sobrepeso e a obesidade. Ao nadarmos, como muitos músculos são solicitados para a execução dos movimentos, podemos alcançar um alto gasto calórico (dependendo da intensidade e duração da sessão), favorecendo a manutenção de uma boa composição corporal. Para pessoas que já se encontram com sobrepeso e/ou obesidade e que procuram aulas de natação para emagrecer, é importante buscarmos estratégias que diminuam o tempo que ficam na borda da piscina; por exemplo, realizar exercícios na posição vertical, como corridas estacionárias, polichinelos, e outros. Apesar de não ser adequado para a saúde, o maior percentual de gordura facilita a flutuação e, consequentemente, os movimentos propulsivos, especialmente das pernadas, pois os membros inferiores ficam mais próximos à linha de superfície. Dessa maneira, podemos perceber uma maior facilidade para a autossustentação em indivíduos com maiores percentuais de gordura. 1.2.2  Benefícios da natação para o desenvolvimento motor, cognitivo e socioafetivo A natação pode ser iniciada a partir de alguns meses de vida, sendo mais comuns a partir dos 6 meses. Obviamente, com bebês e crianças pequenas o objetivo principal não é ensinar os quatro nados, mas sim proporcionar uma completa adaptação ao meio aquático, fazendo com que os alunos sintam-se confortáveis e familiarizados. Praticar natação desde cedo pode, de fato, auxiliar nos processos de desenvolvimento de diversas habilidades. Um estudo realizado na Austrália ao longo de 4 anos, denominado “Natação na primeira infância” concentrou seu objetivo na identificação de benefícios dessa prática para crianças com menos de 5 anos. Através de questionários respondidos pelos pais e testes específicos realizados com crianças, foi possível identificar que há “diferenças significativas entre o grupo de crianças que nadam e a população normal, independentemente do histórico socioeconômico ou gênero” (Jorgensen, 2013). Em uma revisão de 20 artigos e livros sobre os benefícios da natação para bebês, Raiol&Raiol (2011) identificaram que ela é importante para a socialização, o desenvolvimento de capacidades físicas, da independência e da proatividade. Daibert (2008) apresenta outras vantagens, como o melhor relacionamento afetivo entre pais e filhos (aulas realizadas com os pais sob a orientação

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do professor) e a musculatura dorsal mais desenvolvida entre bebês praticantes de natação. Investigando os motivos que levam os pais a colocarem seus filhos em aulas de natação, Oliveira e colaboradores (2013) identificaram que estão relacionados à integração social, prevenção de doenças e melhor saúde. Os autores também citam outras vantagens, como a maior disposição para realizar outras atividades, aumento da autoestima e da coordenação motora.

Figura 1.4  –  Natação infantil.

Nadar é importante para a sobrevivência, em situações de emergência dentro da água; como atividade individual pode ajudar na superação de limites e desafios e no desenvolvimento da força de vontade; resulta em boa coordenação de movimentos; tem relações diretas com a promoção da saúde; pode auxiliar na recuperação de algumas lesões, segundo ANDRIES JUNIOR et al. (2002).

1.3  Mercado de trabalho No Brasil, há cerca de 2 milhões de piscinas construídas, colocando o país na segunda posição no ranking mundial do mercado dessas instalações, atrás apenas dos EUA, segundo dados da Associação Nacional dos Fabricantes e Construção de Piscinas e Produtos Afins (Anapp) e anualmente são mais 70 mil novas unidades (Borda de piscina, 2014).

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O Atlas do Esporte no Brasil (2013) cita dados da Anapp de 2003 onde estima-se que havia 11 milhões de praticantes de natação pelo país, e nesse mesmo ano cerca de 63.000 atletas estavam registrados na Confederação Brasileira de Desportos Aquáticos (CBDA). Como os afogamentos na infância, entre 1 e 9 anos, constituem-se na segunda principal causa de mortalidade atrás apenas dos acidentes de trânsito (SOBRASA, 2015), espera-se através das campanhas de sensibilização para a prevenção um reconhecimento maior da importância de se praticar a natação e de simplesmente nadar, movimentar-se adequadamente na água, gerando mais procura por aulas dessa modalidade/atividade física. Seja na iniciação, no aperfeiçoamento das técnicas ou no treinamento de atletas, a natação oferece um amplo mercado de trabalho, e através de publicações, cursos, estágios e especializações, a possibilidade de atualização constante para uma ótima intervenção profissional.

SAIBA MAIS •  Para ler na íntegra a pesquisa sobre os benefícios da natação para crianças até 5 anos: . •  Para conhecer um pouco da história sobre as primeiras medalhas da natação brasileira em Jogos Olímpicos: Disponível em: .

REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS ANDRIES JUNIOR, O.; WASSAL, R. C.; PEREIRA, M. D. Natação animal: aprendendo a nadar com os animais. São Paulo: Manole, 2002. BRASIL é o segundo melhor país no mercado de piscinas do mundo. Disponível em: . Acesso em: 16 mar. 2016. COLWIN, C. M. Nadando para o século XXI. São Paulo: Manole, 2000. Dicionário da Língua Portuguesa com Acordo Ortográfico. Porto: Porto Editora, 2003-2016. Disponível em: . Acesso em: 06 mar. 2016. DAIBERT, J. B. C. Os benefícios da natação para bebês. 2008. Trabalho de Conclusão de Curso - Universidade Estadual Paulista, 2008. Disponível em: . Acesso em: 15 mar. 2016.

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GREGUOL, M. Natação adaptada: em busca do movimento com autonomia. São Paulo: Manole, 2010. JORGENSEN, R. Natação na primeira infância: agregando valor aos jovens australianos. Disponível em: . Acesso em: 15 mar. 2016. LUZ, E.R. Natação para bebês (NABE). In: SILVA,C.I.; COUTO, A.C. P. (Org.) Manual do treinador de natação: nível trainee. Belo Horizonte: Edições FAM, 1999. MARÍN, A. M. Atividades aquáticas como conteúdo da área da Educação Física. EFDeportes, Buenos Aires, ano 10, n. 73, junho 2004. Disponível em: . Acesso em: 06 mar. 2016. MASSAUD, M. G. Natação 4 nados: aprendizagem e aperfeiçoamento. Rio de Janeiro: Sprint, 2008. NOLASCO, V. P; PÁVEL, R. C.; MOURA, R. Natação. In: DACOSTA, L. (Org.). Atlas do esporte no Brasil. Rio de Janeiro: CONFEF, 2013. OLIVEIRA, L. R.; ROCHA, C. C. M.; MENDES JUNIOR, F. A. et al. Importância da natação para o desenvolvimento das crianças e seus benefícios. Revista @rgumentam, Faculdade Sudamérica, v. 5, p. 111-130, 2013. Disponível em: . Acesso em: 15 mar. 2016. RAIOL, P. A. F. S.; RAIOL, R. A. As aulas de natação para bebês: capacidades motoras e princípios do treinamento. Educação Física em Revista, v. 5, n. 3, set-dez 2011. Disponível em: . Acesso em: 15 mar. 2016. RAMOS, J. J. Exercícios físicos na história e na arte: do homem primitivo aos nossos dias. São Paulo: Ibrasa, 1983. ROHLFS, I. C. P. M. Aprendizagem em natação (APRENA). In: SILVA, C. I.; COUTO, A. C. P. (Org.). Manual do treinador de natação: nível trainee. Belo Horizonte: Edições FAM, 1999. STAGER, J. M.; TANNER, D. A. Natação: manual de medicina e ciência do esporte. São Paulo: Manole, 2008. SZPILMAN,D; BARROSO, P. A. S.; BARROS, E. et al. Afogamentos - medidas de prevenção em diferentes cenários. Sociedade Brasileira de Salvamento Aquático SOBRASA - Ano 2015 (ano base de dados 2013). Disponível em: . Acesso em: mar. 2016. VIANNA, L. G. et al. Efeitos da natação na capacidade funcional de mulheres idosas. Revista Brasileira de Ciência e Movimento, Brasília, v. 12, n. 3, p. 57-60, 2004. Disponível em: . Acesso em: 14 mar. 2016.

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2 Princípios e propriedades físicas

2.  Princípios e propriedades físicas A imersão no meio aquático traz importantes alterações fisiológicas e biomecânicas. A água, como matéria que é, tem algumas propriedades que a caracterizam e irão interferir diretamente no comportamento de objetos nela imersos, como o corpo humano. Para a natação, diversos fatores devem ser compreendidos e considerados para melhor entendimento dos movimentos lá realizados, das mudanças no funcionamento de grandes sistemas orgânicos, de vantagens e desvantagens que o meio aquático proporciona. Nesse capítulo, veremos os tipos de fluxo e de arrasto (resistência) encontrados pelo nadador, mecanismos associados à propulsão na natação e propriedades físicas como densidade, flutuação, pressão hidrostática; dentre outras, que geram consequências importantes e que devem ser consideradas pelo profissional que atua com exercícios aquáticos.

OBJETIVOS •  Diferenciar os fluxos laminar e turbulento; •  Identificar mecanismos associados à propulsão na natação; •  Conhecer os tipos de arrasto encontrados (forças resistivas); •  Reconhecer as características e efeitos das propriedades físicas: tensão superficial, densidade relativa, flutuação (empuxo), pressão hidrostática, calor específico e refração.

2.1  Princípios e propriedades físicas aplicadas à natação 2.1.1  Fluxos laminar e turbulento As moléculas de água, quando se encontram unidas, sobrepostas e alinhadas de maneira organizada adotam um tipo de fluxo denominado de laminar; por outro lado, quando há perturbação no seu alinhamento, chocam-se de maneira aleatória umas contra as outras, em direções diversas, formando o que é chamado de fluxo turbulento e que podemos visualizar na linha da superfície como “borbulhas” ou “redemoinhos”. Para o deslocamento na água, é fundamental saber que no fluxo turbulento se gasta mais energia, pois há maior resistência a ser vencida.

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Conforme Maglischo (2010), à medida que se movimentam na água os nadadores perturbam o fluxo laminar, que se torna turbulento, pois as moléculas que estavam unidas como “folhas laminadas”, devem se separar para cima, para baixo e para os lados, formando buracos para que o corpo passe. A turbulência não ocorrerá somente próxima ao corpo do indivíduo, pois as moléculas já desorganizadas também irão alterar outras “folhas laminadas” distantes dele, aumentando-a mais ainda. O fluxo turbulento aumenta a pressão à frente do nadador e aos lados de quem está nadando e algumas moléculas aderem à pele; esses fatores reduzem a velocidade frontal e obrigam-no a aplicar mais força para a propulsão. Conforme o indivíduo passa pela água, as porções atrás dele permanecem por certo tempo turbulentas (denominadas de redemoinhos), até que os buracos criados sejam novamente preenchidos. Por isso, a pressão na área atrás do nadador é mais baixa (devido à permanência dos buracos formados), e “suga” o nadador para trás, fator batizado de “cavitação” e “sucção caudal”. Para superar esse efeito da área de menor pressão, o indivíduo deve aprimorar ainda mais sua força propulsiva. O fluxo volta a ser laminar pouco tempo após a passagem do nadador, pois os buracos que haviam sido formados são novamente preenchidos pelas moléculas de água; porém, quando a turbulência e os buracos forem grandes, a reorganização do fluxo em folhas laminadas demorará mais para acontecer e a sucção caudal será maior. Em treinamentos e competições, quando um nadador fica posicionado imediatamente atrás ou ao lado de outro, realizando as braçadas onde há cavitação (turbulência), poderá manter uma alta velocidade com menor esforço, pois a área de maior pressão imediatamente a sua frente é mais alta do que a de menor pressão do indivíduo à frente, fazendo com que ele seja movido para a região de menor pressão. Ao pensarmos nisso, podemos reduzir ou aumentar a exigência de esforço de um aluno nosso, dependendo do seu objetivo e condição física.

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Figura 2.1  –  Demonstração dos fluxos laminar e turbulento. O sinal + indica a área de maior pressão e – a de menor pressão. Disponível em: . Acesso em: 18 mar. 2016.

2.1.2  Propulsão na natação A propulsão está relacionada aos movimentos feitos pelos nadadores para se deslocarem na piscina, vencendo a resistência imposta pelo meio. De fato, reduzir as forças resistivas é fundamental para economizar energia e melhorar a propulsão, percorrendo uma determinada distância mais rapidamente. Para o aluno que pratica natação, visando aptidão física, é fundamental investirmos no ensino de uma boa técnica de nado também, para que ele execute os movimentos gerando menos arrasto, e consequentemente, menor gasto de energia. Os fatores que explicam a propulsão aquática mudaram ao longo dos anos, desde as primeiras competições até os dias atuais. Baseados nas colocações de Maglischo (2010), vamos estudá-las brevemente. •  Teoria da roda de pá da propulsão: durante muito tempo a partir das primeiras competições no século XIX, acreditou-se que para ir à frente eficientemente, os movimentos dos braços deveriam empurrar a água diretamente para trás, totalmente estendidos, como se fossem um remo ou uma roda de pá.

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Figura 2.2  –  A técnica da braçada como “remo” ou “roda de pá”. Fonte: MAGLISCHO, E. W. Nadando o mais rápido possível. São Paulo: Manole, 2010, p. 6.

•  Teoria do arrasto propulsivo: a partir da década de 1960, pesquisadores renomados postularam que para melhor propulsão, os braços deveriam ser flexionados na altura dos cotovelos num primeiro momento, e partir daí estendidos empurrando a água diretamente para trás. Essa teoria ficou conhecida como “teoria do arrasto propulsivo – empurrar direto para trás para ir à frente” e se baseou na terceira lei de Newton (toda ação de um objeto produzirá uma reação de igual magnitude na direção contrária).

Figura 2.3  –  demonstração da braçada segundo a teoria do arrasto propulsivo. Fonte: MAGLISCHO, E. W. Nadando o mais rápido possível. São Paulo: Manole, 2010, p. 7.

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•  Teoria do “movimento sinuoso para trás”: Um pouco depois, a partir da observação dos movimentos de nadadores de alto nível, recomendou-se que o padrão subaquático da braçada simulasse a letra “S”, com movimentos sinuosos e não diretamente para trás. Ao mudarem a trajetória, os nadadores encontrariam moléculas de água paradas ou mexendo-se mais lentamente do que mantendo a braçada diretamente para trás, o que reduziria o gasto energético, dando origem à Teoria do Arrasto Propulsivo do Movimento Sinuoso para Trás. •  Teorias da força de sustentação da propulsão: Em 1971, uma pesquisa realizada por Brown e Counsilman com pontos de luz fixados às pontas dos dedos dos nadadores em uma piscina escura, demonstrou que eles moviam suas mãos no sentido diagonal (movimentos laterais e verticais), rejeitando que os nadadores durante sua movimentação necessitariam deslocar seus braços para trás e consequentemente, refutando o princípio da ação e reação de Newton para explicar a propulsão. Esses pesquisadores usaram como explicação o Teorema de Bernoulli, identificado pelo suíço Daniel Bernoulli, que diz que a pressão em um fluido é mais baixa quando ele se movimenta em um fluxo rápido e mais alta ao movimentar-se em um fluxo lento. Esse princípio é usado para explicar a sustentação de um avião: quando ele se desloca, as correntes de ar à sua frente fazem uma força de arrasto oposta a sua direção, e as asas terão que dividir essas correntes de ar para passar por elas. O formato das asas na parte superior é arredondado e mais longo do que na parte inferior, fazendo com que o ar se movimente mais rapidamente ao passar pela superfície superior e alcance a parte de trás da asa junto com o fluxo de ar que vem de baixo. As moléculas da parte superior que se movem com mais velocidade diminuem a pressão em relação à pressão do ar que está passando por baixo da asa, e os objetos se movem de áreas de maior pressão para as de menor pressão, o que gera sustentação do avião (força exercida perpendicularmente à direção da força de arrasto). Brown e Counsilman usaram esse Teorema para explicar a propulsão nos nados porque as mãos têm o formato similar ao das asas de um avião, e seus movimentos (palmateios) com mudanças de direção seriam propulsivos por gerarem forças de sustentação. Atualmente, não se atribui a esse Teorema a explicação para a propulsão, pois os nadadores, ao se deslocarem, causam separação da camada limítrofe e turbulência, alterando a pressão na parte superior das mãos e reduzindo o diferencial de pressão entre a parte de cima e a parte de baixo, o que reduz a sustentação.

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Figura 2.4  –  Demonstração de como as mãos, por seu formato, provocariam áreas com pressões e velocidades de passagem da água diferentes, gerando forças de sustentação. Fonte: MAGLISCHO, E. W. Nadando o mais rápido possível. São Paulo: Manole, 2010, p. 9.

•  A terceira lei do movimento de newton: Para Maglischo (2010), a lei da ação e reação, proposta por Isaac Newton, pode explicar como se dá a propulsão na natação, mas com uma interpretação diferente da utilizada na década de 60, onde a ação relacionava-se exclusivamente aos deslocamentos dos segmentos corporais para trás e a reação, o deslocamento do corpo adiante. Segundo ele, a “contraforça” produzida pelos nadadores, através dos movimentos diagonais, irá deslocar a água para trás o que produz a força que desloca seu corpo para frente” (p. 15). Apesar de não empurrarem a água diretamente para trás (roda de pá ou remo), ele acredita que a ação de empurrar principalmente para trás gerará força propulsiva para frente. A trajetória diagonal (com movimentos laterais e verticais, os palmateios) dos membros superiores gera menor esforço da musculatura na fase subaquática e uma maior quantidade de água sendo empurrada para trás, havendo aplicação mais eficiente da força; além disso, as mudanças de direção dos braços e das mãos na fase submersa proporciona que o nadador encontre águas mais tranquilas para pressionar, “fugindo” da água que já foi acelerada.

Direção, ângulo de ataque e velocidade As direções adotadas pelos membros superiores e inferiores na realização de braçadas e pernadas nos quatro tipos de nados são fundamentais para a

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compreensão dos padrões técnicos mais eficientes. Segundo Maglischo (1999, p. 305), “em todos os quatro estilos de competição, as mãos dos nadadores deslocam-se predominantemente nas direções lateral e vertical”. Os palmateios usados pelos nadadores parecem ter sido aprendidos de maneira intuitiva, pelo menos entre os que começaram a nadar quando a teoria do arrasto propulsivo era popular, na década de 1970. Outro aspecto que já foi observado é que há mais de uma mudança de direção durante as fases submersas das braçadas, possivelmente para que se encontre água mais tranquila. O ângulo de ataque é definido como “ângulo formado pela inclinação da mão e do braço (ou perna e pé) para a direção em que eles estão se movendo” (Maglischo, 1999, p. 307). Quando o ângulo de ataque é pequeno ou grande demais, a propulsão é diminuída. Um ângulo de ataque de cerca de 40º aumenta bastante a força propulsiva, porque é possível transferir para a água uma maior quantidade de força retrógrada, à medida que ela passa sob a palma da mão do indivíduo, do bordo de ataque (polegar) ao bordo de fuga (dedo mínimo). A partir de estudos de Schleihauf (1978) apud Maglischo (1999), são feitas as seguintes recomendações: 1. Há maior coeficiente de sustentação com ângulos de ataque entre 20º e 50º, auxiliando na força propulsiva porque a borda da mão se movimenta por água mais tranquila, e maior coeficiente de arrasto (aumentando a força resistiva) com ângulo de ataque próximo a 90º; 2. É preferível manter os dedos unidos ou com um afastamento de até 0,32 cm entre eles, para maior força de sustentação; 3. Há maior força de sustentação quando o polegar é ligeiramente afastado da mão. Deve-se evitar a adoção de uma forma achatada das mãos em relação à água, como se fossem remos, e o bordo de ataque deve ser uma superfície pequena e afilada que não movimentará uma grande quantidade de água no início do movimento submerso.

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Figura 2.5  –  Os efeitos de diferentes ângulos de ataque. Fonte: MAGLISCHO, E. W. Nadando mais rápido ainda. São Paulo: Manole, 1999.

Quanto à velocidade, Counsilman e Wasilak (1982) apud Maglischo (1999) pesquisaram a importância dela para a propulsão, identificando que há uma aceleração das mãos do início até o final da fase submersa das braçadas entre os melhores nadadores. Depois, Schleihauf (1986) apud Maglischo (1999) acrescentou outra importante informação: a velocidade não era simplesmente aumentada do início ao fim, e sim a cada mudança importante de direção ao longo da fase submersa, sendo a maior velocidade alcançada na fase propulsiva final, em concordância com o que já haviam dito Counsilman e Wasilak. 2.1.3  Tipos de arrasto A resistência encontrada ao nos movimentarmos na água é denominada de arrasto e é muito mais significativa do que a resistência do ar. De fato, a água é mil vezes mais densa e isso implica que as forças de propulsão devem ser sempre maiores do que as forças resistivas. Como a forma do corpo humano não facilita o deslocamento na água, naturalmente haverá muita resistência a ser vencida, uma vez que os movimentos necessários para abrir os buracos e poder passar pela água, além das mudanças de orientação do corpo, geram turbulência.

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Atualmente, acredita-se que a redução das forças resistivas é um fator mais decisivo para o sucesso na natação do que o incremento das forças propulsivas. Segundo Maglischo (2010, p. 37), os “nadadores que reduzem suas forças resistivas podem aumentar sua velocidade média por ciclo de braçadas (...) sem a necessidade de aumentar o esforço muscular”. Dada a importância de se buscar vencer as forças resistivas, vamos agora conhecer os tipos de arrasto encontrados por uma pessoa que está nadando. De acordo com Stager&Tanner (2008), o arrasto pode ser classificado considerando-se a ação do nadador ou pela sua causa. Quanto ao o que o nadador está fazendo, pode ser passivo, que é a resistência encontrada quando o corpo está fixo, como acontece nos deslizamentos após as viradas, e ativo, que está relacionado à movimentação das braçadas e pernadas. Quanto à causa do arrasto, estudaremos os arrastos de forma, de fricção da pele e de onda. 2.1.3.1  Arrasto de forma O arrasto de forma é causado pela forma e direção do nadador, e é o mais importante. Uma forma simples para compreender esse arrasto é comparar o corpo do nadador, considerado um objeto rombudo, que apresenta superfícies amplas, a um objeto delgado, como uma chapa plana. Ao movimentar-se contra a água, certamente o objeto rombudo provocará uma maior desorganização do fluxo laminar, causando mais turbulência e resistência. Quanto maior o tamanho do objeto, maior é o arrasto de forma, e a adoção de posturas hidrodinâmicas é extremamente importante. Um exemplo é o “streamlining”, posição

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corporal adotada após a largada e viradas que busca reduzir ao máximo a área do corpo contra a camada de água à frente.

Figura 2.6  –  Atleta adotando a posição de “streamlining” após uma virada.

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Maglischo (2010) cita que tanto o espaço que o corpo de um nadador ocupa como as formas que apresenta à água determinam a quantidade de arrasto de forma. Aspectos como o volume corporal e a técnica adequada que possibilita um bom alinhamento corporal lateral e horizontal devem ser considerados. O volume que corpo humano ocupa na água é muito maior do que as formas de peixes e outros animais marinhos cuja região anterior e posterior são afiladas e o corpo é regular. Nosso corpo tem ombros e quadris mais largos do que a região da cintura, e nossos pés são “mais rombudos do que afilados” (p. 41). Ainda quanto à redução desse tipo de arrasto, Stager&Tanner (2008) citam que movimentos desnecessários para os lados, para cima e para baixo devem ser evitados, o que nos leva a recomendar a realização de movimentos baseados na técnica indicada, que veremos mais adiante. Ao ensinar alguém a nadar, é importante lembrarmos que as braçadas, pernadas e a posição corporal devem seguir ao máximo possível os princípios técnicos já conhecidos, a fim de economizar energia e reduzir as forças resistivas do arrasto de forma. A velocidade de nado aumenta esse arrasto, mas no alto rendimento a ideia não é diminuí-la, e sim reduzir a resistência para poder nadar mais rapidamente. Por outro lado, o nado submerso, ou seja, movimentar-se abaixo da linha de superfície, apresenta menor arrasto de forma do que quando nadamos na superfície, pois existe o favorecimento na velocidade de deslocamento submerso em relação à superfície, devido à ausência do arrasto de onda ou de superfície, que conheceremos a seguir. 2.1.3.2  Arrasto de fricção ou friccional A fricção entre a pele de um nadador e a água gera um fluxo de moléculas de água que vão se deslocar junto com a pele durante o movimento dele para frente e exercerão fricção em outras moléculas de água, que também serão movimentadas. Esse tipo de fricção entre as moléculas irá se propagar para outras camadas de moléculas continuamente, até um ponto em que não representarão nenhum efeito sobre o nadador. Denomina-se “camada limítrofe” os fluxos de água que são levados para frente com o corpo, e o nadador terá que fazer mais esforço para acelerar seu corpo, já que carrega consigo uma massa de água a mais. Quando há separação da camada limítrofe, a fricção da pele é zero, e devemos lembrar que o corpo humano, com sua forma pouco hidrodinâmica, provoca afastamento mais precoce dessa camada, sofrendo menor arrasto de fricção do que um objeto delgado; porém, lembre-se que o objeto rombudo enfrenta muito arrasto de forma, então o nadador deve adotar posturas hidrodinâmicas sempre. capítulo 2

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A velocidade de um objeto deslocando-se na água e a área de superfície dele aumentam esse arrasto, e há outro aspecto muito importante que deve ser considerado, especialmente entre atletas de natação: a rugosidade da pele ou o quanto a superfície desse objeto é irregular. Conforme Maglischo (2010, p. 51), “superfícies lisas provocam menos fricção do que superfícies irregulares e reduzem a fricção entre a água e a pele, de modo que os nadadores carregam menos moléculas de água na camada limítrofe”. Então, o arrasto friccional é maior em superfícies mais rugosas, e por isso os nadadores usam roupas especiais e fazem depilação. Sharp e Costil (1989) identificaram que pode haver redução das forças resistivas e menor custo fisiológico (identificado por medidas de lactato sanguíneo, frequência cardíaca, consumo de oxigênio e comprimento de braçadas) com a raspagem de pelos, após compararem o desempenho em testes submáximos de nado peito entre nadadores que depilaram e outros da mesma equipe que não adotaram esse procedimento. Os trajes atuais, dentro das normas permitidas pela Federação Internacional de Natação, e o uso de toucas, são estratégias adotadas para redução da fricção da água contra a pele e os cabelos, apesar de ainda haver controvérsia quanto ao potencial de redução do arrasto de fricção ativo com essas atitudes em relação à raspagem de pelos. Atualmente, os trajes são de tecidos de baixo índice de fricção, que de acordo com Maglischo (2010) têm como vantagem o modelamento do corpo, reduzindo o volume dos peitos e nádegas; porém, a espessura deles pode aumentar a circunferência das partes do corpo e consequentemente, o arrasto de forma. Já as toucas são interessantes para redução da rugosidade da cabeça e dos cabelos, e devem ser confeccionadas com materiais com baixo índice de fricção. De forma ideal, devem encaixar na cabeça de maneira a não haver espaços para acúmulo de água, o que também é válido para os trajes.

COMENTÁRIO Recentemente, a natação de alto rendimento viveu a era dos super trajes de natação, geradores de muitas polêmicas e discussões. Para que você entenda o que aconteceu, vamos ler um pouco sobre a história do desenvolvimento dessas roupas “mágicas” para o desempenho na água. Em 1992, nas Olimpíadas de Barcelona, a Speedo lançou o S2000, traje feito com elastano e microfibra que cobria bastante o corpo, trazendo uma nova concepção para as competições (até então se usava sunga e maiô tradicional). Em 1996, é lançado o Aquablade, modelo que reduzia a resistência em comparação à pele humana e possuía resinas que afastavam a água. Pela primeira vez os membros inferiores foram cobertos em roupas para

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competição. Em 2000, surgiu o Fastskin (Speedo), modelo desenvolvido com muita pesquisa científica e tendo atletas campeões como “cobaias” para os seus testes. Esse traje foi criado a partir de observações feitas da pele dos tubarões, animais que se deslocam com muita velocidade. Na pele desses animais há dentículos similares a aerofólios e sulcos em formato de “V”, fazendo com que a água passe mais rapidamente pelos seus corpos. Além de reproduzir essas características, o modelo era em 3D e não possibilitava espaços para acúmulo de água. Com apoio de profissionais da NASA e de universidades, a Speedo lançou em 2008 o LZR Racer, vestido por 18 dos 19 atletas que quebraram recordes mundiais nesse ano. Além de ser um tecido muito mais fino e com mais elastano, aderindo bem à pele, comprimia os músculos e repelia a água. Sua concorrente Arena lançou o modelo chamado R-Evolution, que reduzia a resistência em 20%. A grande polêmica foi em 2009, quando a marca italiana Jaked lançou um traje à base de poliuretano, que recobria melhor o corpo e fazia com que uma pequena camada de ar fosse retida, o que ajudou na flutuação. Como vimos nos conceitos de natação, a autossustentação, ou seja, a capacidade de flutuar sem auxílio caracteriza o “saber nadar”. Além disso, as roupas eram demasiadamente caras e nem todos os competidores tinham acesso a essa tecnologia. Dessa maneira, a roupa italiana ia contra um princípio básico da modalidade, e a FINA decidiu proibir o uso dos supermaiôs a partir de 2010. Atualmente, as roupas devem ser fabricadas em material têxtil e não podem cobrir

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todo o corpo, indo até a altura dos joelhos.

Figura 2.7  –  O modelo LZR Racer (Speedo).

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2.1.3.3  Arrasto de onda O arrasto de onda é gerado pelo vento ou por outros nadadores (ondas externas) e pela própria movimentação de quem está nadando (ondas internas). Dessa maneira, em uma piscina onde há algumas pessoas nadando, sempre haverá esse tipo de resistência. Conforme Stager e Tanner (2008), têm influência sobre o arrasto de onda: •  A forma, o tamanho e a orientação do corpo (quanto maiores, mais arrasto); •  A velocidade (mais velocidade, mais formação de ondas); •  A aceleração (mais aceleração, menos arrasto de onda); •  A profundidade de imersão (maior profundidade, menor é o efeito desse arrasto). Ao nadar nas raias centrais, o indivíduo sofrerá menos arrasto de onda causado pelos movimentos dos outros nadadores, já que as ondas se dissipam do centro para as extremidades. Uma boa técnica de nado também está associada à menor criação de ondas (imagine entrar com as mãos na água “batendo” na superfície – isso causará ondas). O uso de raias também ajuda na redução dessa resistência, bem como a projeção de piscinas. Segundo Barros (2010), atualmente recomenda-se a construção de piscinas com sistemas de escoamento da água que evitem que a reflexão das ondas nas bordas e que tenham maior espaço entre os nadadores das raias externas e as bordas. 2.1.4  Propriedades físicas da água A água é matéria formada por moléculas compostas de átomos e existe nos estados sólido, líquido e gasoso. Conforme Soares (2002, p. 16), ela apresenta “peculiaridades que a caracterizam e diferenciam do meio aéreo, conhecidas como propriedades físicas”, e é importante que você saiba que têm influência sobre um indivíduo em imersão, tanto em repouso como durante o exercício. A partir de agora, vamos conhecê-las. 2.1.4.1  Tensão superficial A tensão superficial ocorre na linha da superfície (interface entre o ar e a água) devido à atração entre as moléculas no exterior e no interior do meio líquido: as moléculas do interior se unem umas às outras em todas as direções, e as da superfície só podem interagir com as internas. Assim, as moléculas da parte externa são atraídas para o interior do líquido e as da parte interna são espremidas

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ou condensadas pelas primeiras até que haja equilíbrio (Castro & Loss, 2010). Isso resulta na formação de uma espécie de película ou membrana na linha da superfície e explica por que uma agulha, que pela densidade do material tende a afundar, pode flutuar nessa camada do meio líquido. Uma aplicação prática para a natação se relaciona às entradas na água a partir da borda e/ou bloco: é importante passar todo o corpo pelo “buraco” inicialmente criado pelas pontas dos dedos, na posição mais hidrodinâmica possível, evitando gasto desnecessário de energia. Figura 2.8  –  Uma moeda (que pela densidade tende a afundar) flutuando na superfície graças à tensão superficial.

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2.1.4.2  Densidade relativa A densidade relativa é a propriedade física relacionada diretamente à capacidade que um objeto ou pessoa tem para flutuar. Refere-se à divisão de massa do objeto pelo seu volume, e geralmente é expressa em kg/m3 ou g/ cm3. Objetos de menor densidade do que a água tendem a flutuar. A densidade relativa da água doce é de 1g/ cm3, e a da água salgada é de aproxi-

madamente 1,024-1,027 g/cm3, devido à concentração de sais minerais na última. Já indivíduos adultos, na média, têm densidade relativa de 0,974 g/cm3; assim, somos capazes de flutuar logo abaixo da linha da superfície. O que determina nossa densidade relativa é a composição corporal, especialmente os tecidos ósseo, muscular e adiposo. É muito importante que você não confunda densidade com o peso do objeto: o tecido adiposo (e consequentemente uma pessoa obesa) tem menor densidade do que o tecidos muscular e o ósseo; assim, há maior facilidade para flutuação entre pessoas com maior percentual de gordura. As mulheres, que geralmente têm menor densidade óssea, menos massa muscular e maior percentual de gordura do que os homens flutuam com mais facilidade, assim como idosos. capítulo 2

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Alunos que têm baixo percentual de gordura e fazem treinos para hipertrofia muscular apresentarão dificuldades para a flutuação, talvez precisando do auxílio de equipamentos de baixa densidade (como as pranchas e macarrões) para execução de muitos exercícios da natação. A densidade relativa dos ossos é de aproximadamente 1,5; dos músculos, de 1,0; e da gordura (tecido adiposo), de 0,8 g/cm3, o que explica o quanto uma pessoa com maior desenvolvimento muscular e densidade óssea terá dificuldades com a autossustentação. 2.1.4.3  Flutuação A flutuação é caracterizada pela atuação de uma força de baixo para cima, contrária à gravidade, denominada de empuxo, cuja magnitude é maior à medida que a profundidade de imersão aumenta. Descoberta por Arquimedes, a flutuação tem como efeitos diretos: a redução do impacto (na natação, não há impacto sobre as articulações), a descompressão articular (por atuar contrariamente à gravidade), facilidade para realizar movimentos em direção à superfície (e maior esforço para movimentar-se em direção ao fundo da piscina) e sensação de menor peso: com imersão até a cicatriz umbilical, a sensação de redução do peso é de 50%, segundo Ruoti (et al) (2000). Os mesmos autores citam que com imersão até o pescoço, apenas aproximadamente 7,5 kg de força compressiva é exercida sobre os membros inferiores e coluna vertebral. Alterações do equilíbrio que resultam em movimentos de rotação (o indivíduo gira sobre o seu próprio eixo) têm relação com a flutuação: na água, temos o centro de gravidade, localizado próximo à cicatriz umbilical, e o centro de flutuação, no meio do tórax. Como duas forças atuantes sobre um corpo, esses vetores devem estar alinhados verticalmente e não haverá rotação do corpo, mantendo-se uma boa postura. Figura 2.9  –  Sensação de redução do peso devido à ação do empuxo, contrário à gravidade. Disponível em: . Acesso em: 24 mar. 2016.

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2.1.4.4  Pressão hidrostática A pressão hidrostática é uma força exercida de fora para dentro contra os objetos imersos, em todas as direções, e que aumenta com a profundidade (maior profundidade, maior pressão) e densidade do líquido (em líquidos mais densos, como a água salgada, há maior pressão sendo exercida). Descoberta pelo cientista francês Blaise Pascal, essa propriedade física juntamente com o empuxo tem efeitos diretos no sistema cardiovascular, auxiliando as bombas musculares na sua função de promover o retorno venoso (sangue das extremidades para o centro do corpo). Ao facilitar o retorno venoso, há um maior volume de líquido na região central do corpo, possibilitando, após as trocas gasosas, que maior quantidade de sangue seja ejetada a cada sístole (batimento cardíaco) para atender as demandas do organismo. Com maior volume de sangue ejetado (o que é denominado de volume de ejeção), é possível “economizar” o trabalho do músculo cardíaco (miocárdio) ao realizar as contrações que distribuem o sangue arterial (dessa maneira, os batimentos por minuto diminuem). A diminuição dos batimentos por minuto sem prejuízos à circulação sistêmica é chamada de “bradicardia de imersão” e parece estar presente na maioria dos indivíduos em níveis variados. Há menor sobrecarga para o sistema cardiovascular quando as pessoas se exercitam na água, o que não significa menor intensidade e trabalho insatisfatório para melhoria da aptidão física. Além disso, esse efeito implica diretamente em pensarmos em outras formas de controlar o nível de esforço dos nossos alunos dentro da água, pois a contagem da frequência cardíaca (número de batimentos por minuto) pode representar um erro, já que provavelmente ela estará menor do que se fosse no meio terrestre, numa mesma intensidade de esforço (medida pelo consumo de oxigênio, por exemplo). Outro benefício da imersão é justificado pelos efeitos combinados da pressão hidrostática e do empuxo sobre o retorno venoso: a redução de edemas (Ruoti et al., 2000).

COMENTÁRIO Ruoti (et al) (2000) citam que há um direcionamento de cerca de 700 cm3 de sangue das extremidades e vasos abdominais para o tórax e coração, aumentando a pressão atrial direita, o volume de ejeção e o débito cardíaco (quantidade de sangue circulante no corpo por minuto).

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2.1.4.5  Calor específico A água é considerada excelente condutora de calor, e dependendo da temperatura em que está, um objeto nela imerso pode ganhar ou perder calor com facilidade. Quando nos movimentamos, produzimos calor e precisamos trocá -lo com o meio, a fim de manter o corpo em condições adequadas (termorregulação). Nos exercícios terrestres, a principal forma de trocar calor com o meio é através da evaporação, e no meio líquido, por convecção e condução. É fundamental, para a perda de calor na natação, que a temperatura da água esteja menor do que a da nossa pele. A FINA recomenda temperaturas de água entre 25oC e 28oC para exercícios intensos (treinamento) e competições. Como a perda de calor na água é muito rápida, devemos lembrar que bebês e crianças pequenas sentirão frio facilmente, já que se movimentam pouco e produzem menos calor do que jovens e adultos; por isso, as recomendações para o aquecimento da água são diferentes: 30o a 32oC. 2.1.4.6  Refração Ao passar do meio terrestre para o meio líquido, a luz encontra uma “camada fronteiriça” e sofre uma transformação justamente na superfície, onde há a separação entre o ar e a água. Segundo Ruoti (et al), (2000, p. 20), “parte da luz incidente é refletida na fronteira, e a parte que passa para dentro do novo meio pode mudar de direção”. Isso implicará diretamente na qualidade de visualização de movimentos submersos quando estamos fora da água, e o professor de natação deve estar atento a isso: quanto mais afastado estiver do seu aluno, menor será a nitidez da sua visualização; ou seja, a diferença entre o que está

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sendo feito e o que está sendo visto aumenta.

Figura 2.10  –  Refração.

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RESUMO Nesse capítulo pudemos identificar que diversas teorias foram propostas para explicar a propulsão na natação. Com a tecnologia e a possibilidade de filmagens embaixo da água, atualmente sabe-se que as trajetórias de braços e pernas (direção), além dos ângulos adotados pelas mãos e pés (ângulos de ataque), e a velocidade das mãos e dos pés são aspectos muito importantes para a propulsão. Outro fator relevante estudado e que pode dificultar o movimento na água foi sobre o arrasto e suas subdivisões. Identificar os tipos de resistência e conhecer os mecanismos que podem reduzi-las certamente trará economia de energia e deslocamento mais eficiente, seja para o aluno que pratica natação visando melhorar sua aptidão física, seja para o atleta que precisa reduzir os tempos obtidos nas suas respectivas provas. Finalizamos nosso capítulo com as propriedades físicas do meio aquático, que trazem importantes alterações fisiológicas e biomecânicas e devem sempre ser consideradas pelos professores e treinadores de natação. O conhecimento das particularidades e características da água é vital para o sucesso de qualquer programa de exercício aquático e nos ajuda a entender diversas situações que acontecem com a imersão, como, por exemplo, a sensação de leveza, as alterações no equilíbrio, a dificuldade de visualização de fora para dentro da piscina, o esforço aumentando para inspirarmos, entre outros. Espero que esse capítulo tenha auxiliado no esclarecimento de diversos efeitos e situações que acontecem durante os exercícios e até mesmo na condição de repouso dentro da água.

SAIBA MAIS •  Para conhecer a história dos trajes de natação: . •  Para ler sobre as teorias da propulsão: MAGLISCHO, E. W. Nadando o mais rápido possível. São Paulo: Manole, 2010. Disponível em: .

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REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS ANDRIES JUNIOR, O.; WASSAL, R. C.; PEREIRA, M. D. Natação animal: aprendendo a nadar com os animais. São Paulo: Manole, 2002. BARROS, R. M. L. Biomecânica da natação: considerações sobre a seleção de modelos. Revista Mackenzie de Educação Física e Esporte, v. 9, I suplemento I, p. 60-63. CASTRO, F. A. S. ; LOSS, J. F. Forças no meio líquido. In: COSTA, P. H. L. (Org.). Natação e Atividades Aquáticas - Subsídios para o ensino. São Paulo: Manole, 2010, p. 34-46. COLWIN, C. M. Nadando para o século XXI. São Paulo: Manole, 2000. MAGLISCHO, E. W. Nadando o mais rápido possível. São Paulo: Manole, 2010. MAGLISCHO, E. W. Nadando ainda mais rápido. São Paulo: Manole, 1999. RUOTI, R. G.; MORRIS, D. M.; COLE, A. J. Reabilitação aquática. São Paulo: Manole, 2000. SHARP, R. L.; COSTILL, D. L. Influence of body hair removal on physiological responses during breaststroke swimming.MedSci Sports Exerc, 21 (5), p. 576-580, 1989. Disponível em: . Acesso em: 18 mar. 2016. SOARES, J. S. Diferença dos efeitos da hidroginástica e da ginástica localizada sobre a flexibilidade em mulheres adultas. 2002. 109 f. Dissertação (Mestrado em Ciência da Motricidade Humana)-Universidade Castelo Branco, Rio de Janeiro, 2002. STAGER, J. M.; TANNER, D. A. Natação: manual de medicina e ciência do esporte. São Paulo: Manole, 2008.

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3 Ensinoaprendizagem na natação

3.  Ensino-aprendizagem na natação Aprender a nadar é fundamental em qualquer idade, seja para a prevenção de afogamentos, que no Brasil têm índices elevados entre crianças e jovens, principalmente; seja para o desenvolvimento motor, cognitivo e socioafetivo; para a melhoria da aptidão física; ou para se tornar um atleta do esporte “natação”. É importante diferenciar entre os processos de iniciação, de aperfeiçoamento e de treinamento em qualquer modalidade esportiva. No meio aquático diversos autores têm feito recomendações acerca dos conteúdos e objetivos para diferentes momentos do envolvimento do homem com a água, e os primeiros passos devem assegurar um amplo domínio do meio aquático; ou melhor, do corpo em relação ao meio, possibilitando segurança, autossuficiência e prazer. As diferentes etapas, ou caminhos, que um profissional de natação escolhe para ensinar seus alunos a nadarem, de maneira geral, não diferem muito entre diversos especialistas, e nesse capítulo veremos quais são eles, bem como recomendações úteis para o trabalho com faixas etárias diferentes, como bebês e adultos.

OBJETIVOS •  Identificar etapas e objetivos do ensino-aprendizagem na natação; •  Conhecer os conteúdos conceituais, procedimentais e atitudinais que podem ser desenvolvidos com a prática da natação; •  Verificar as recomendações da literatura para o ensino da natação em diferentes contextos.

3.1  Introdução Para iniciarmos a compreensão sobre aspectos relacionados ao “ensinar a nadar”, adotaremos como referências dois livros brasileiros: “Metodologia da natação” (2004), de David Machado; e “Natação animal” (2002), de Orival Andries Junior, Renata de Campos Wassal e Maurício Duran Pereira. 3.1.1  Etapas do ensino-aprendizagem Os autores acima indicados subdividem o processo de ensino-aprendizagem na natação em cinco etapas iguais; porém, com alguns nomes sendo ligeiramente

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diferentes, e por isso vamos analisar os caminhos recomendados por eles. É importante que você tenha em mente que muitas vezes, ao trabalhar uma atividade para desenvolver, por exemplo, a consciência sobre a respiração aquática, solicitará de seus alunos habilidades de flutuação; assim, os caminhos podem se misturar e não são obrigatoriamente etapas isoladas, com uma sequência rígida a ser seguida. Além disso, devemos sempre respeitar o ritmo de cada aluno, estando atentos ao modo como ele se relaciona com o meio, às possibilidades diversas de movimentação, à intimidade (ou repulsa) que ele tem com a água, pois os processos de ensinar não devem ser rígidos, padronizados, mecânicos; pelo contrário, devemos tentar individualizar o ensino, atendendo as características, necessidades, preferências e objetivos de nossos alunos. Machado (2004) recomenda sempre que a iniciação seja realizada em piscina rasa (profundidade na qual o aluno consegue tocar os pés no fundo da piscina e a cabeça fica para fora d’água), que sejam planejadas brincadeiras e jogos, e considera importante que o professor fique o máximo possível dentro da piscina. As etapas que ele recomenda e seus respectivos objetivos são: Conhecer a piscina (ambiente interno e externo), perceber a

ADAPTAÇÃO AO MEIO LÍQUIDO

resistência da água aos movimentos, sentir-se confortável (sem rigidez muscular e tensão facial), iniciar os primeiros contatos da face com a água, realizar algumas imersões da face; Como objetivo final, o aluno deverá ser capaz de flutuar nos diferentes decúbitos (ventral, dorsal, lateral) e também na

FLUTUAÇÃO

posição vertical. Para tal, será necessário desenvolver a imersão completa da cabeça (rápida ou prolongada), o bloqueio respiratório, a abertura dos olhos sob a água; Esse autor considera a respiração “a alma do aprendizado”, e sugere que a imersão da cabeça, rápida e prolongada com bloqueio respiratório seja bem trabalhada antes de se ensinar

RESPIRAÇÃO

a mecânica respiratória específica: inspirar pela boca e expirar pela boca e/ou nariz. Além da educação respiratória, que compreende a respiração específica, o aluno deverá executar a respiração frontal, lateral e bilateral;

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Essa etapa se refere aos movimentos realizados pelo aluno dentro da água, e o autor recomenda que primeiramente sejam experimentadas formas de deslizar (impulsão a partir dos toques dos pés na borda ou no chão), que ele denomina de noções de propulsão (com crianças usamos a expressão “imitar um foguetinho” ou “super-homem”). Depois, exercícios diversos de propulsão de pernas e de braços, que podem ser feitos sem desloca-

PROPULSÃO

mento (apoio na barra ou borda ou em pé – braços), com auxílio do professor ou de um material flutuante, e finalmente sem ajuda. Para o autor, após a execução e domínio básico dos movimentos isolados, deve-se solicitar a combinação deles, primeiramente em pequenas distâncias e com material de apoio. Aos poucos, o material é retirado e as distâncias aumentam, e nesse momento haverá domínio básico de algum dos nados (dependendo dos movimentos que foram ensinados);

MERGULHO ELEMENTAR

Atividades visando a entrada dos alunos na piscina a partir da borda, iniciando com saltos variados em pé, até a execução de exercícios introdutórios à entrada de cabeça na água.

Para Andries Junior e colaboradores (2002), nadar é uma habilidade que deve ser adquirida, sendo necessário que o indivíduo passe por um processo de adaptação e de aprendizagem. Os autores também diferenciam “nadar” e “natação” (p.10): “o nadar refere-se a formas variadas e diversificadas de interação do sujeito na água, sem a intenção de resultados desportivos”. Para eles, um indivíduo adaptado relaciona-se bem com a água, incorpora mecanismos de flutuação, respiração e locomoção, além de dominar várias possibilidades de entrada no meio aquático. Como proposta para a iniciação ou adaptação ao meio, criaram nomes de animais relacionados a cada uma das etapas, adotando a ludicidade em oposição à concepção tecnicista que dominou por muitos anos no ensino da natação. Devemos também, segundo os autores, diferenciar as estratégias para crianças e adultos, pois nada impede que apliquemos um jogo na iniciação para os últimos, mas devemos estar atentos ao tipo de atividade selecionada. As etapas são assim denominadas:

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Usando como analogia ao iniciante o personagem do rati-

PRIMEIROS CONTATOS COM A ÁGUA OU “CONRATOS N’ÁGUA I”

nho, que nos primeiros momentos na água tinha medo, mas se adaptou muito bem com os estímulos adequados. Assim, os objetivos são conhecer o ambiente, perceber a força da flutuação atuando sobre o corpo, imersões da face, abertura dos olhos sob a água mantendo a boca fechada, e devem ser programadas brincadeiras e outras atividades que estimulem a imaginação, especialmente com crianças; A respiração aquática, como já vimos anteriormente, deve sempre ser feita pela boca (inspiração) e boca e/ou nariz (expiração). Captar o ar deve ser um processo rápido, e se

RESPIRAÇÃO, COM O PERSONAGEM “RESPIREFANTE II”

fosse feito pelo nariz, poderia causar desconforto e irritação com a entrada de água nas cavidades nasais. O personagem utilizado aprendeu a mecânica respiratória aquática no aniversário do “Conratos” primeiramente assoprando a velinha, e depois, ao entrar no lago, seu corpo afundou e ele se assustou quando Conratos também entrou, gritando de medo. Com o grito, saíram bolinhas (expiração). Para isso, devemos lembrar que na etapa anterior ele já realizava imersões com os olhos abertos e sabia bloquear o ar; Onde o professor leva os alunos a imaginarem que são o “Tatu”, que num domingo estava com seus amigos cavando buracos e não notou que começava a chover. Os buracos foram invadidos pela água e o tatu, que dominava a

FLUTUAÇÃO OU “FLUTATUAÇÃO III”

respiração quando seus pés tocavam no chão, se encolheu como uma bola e viu que seu corpo flutuava. Conforme foi percebendo que seu corpo sofria uma força de baixo para cima na água (o empuxo), experimentou novas possibilidades: de lado, de costas, com o abdome para baixo, em pé. Novamente, note a importância de aquisição de habilidades anteriores, como as imersões na água e o domínio tanto do bloqueio respiratório como da respiração (Respirefante);

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Etapa na qual é apresentada a pulga Propulgão, do reino da Pulolândia, que adorava dar seus pulos, mas nunca sabia onde iria aterrissar. Um dia, caiu no meio do lago, e apesar de saber flutuar (pois às vezes se refrescava

PROPULSÃO OU “PROPULGÃO IV”

deitada próxima às margens) viu que para retornar ao solo precisava se movimentar, e começou a mexer as patas, identificando também que movimentos mais fortes ajudariam no seu deslocamento. Diversas atividades que envolvam deslizamentos, impulsos e movimentos das pernas e braços devem ser aplicadas nessa etapa; O tigre Tigrulf, da Ásia, que num dia de muito calor, quando já estava bastante cansado de andar à procura de água para se refrescar, avistou um lago. O tigre sabia andar

ENTRADA NA ÁGUA OU “TIGRULF V”

pela água, imergir com os olhos abertos, respirar e flutuar, mas nesse dia encontrou um obstáculo: um degrau entre a borda e o lago (terra e água). Após refletir um pouco, Tigrulf sentou-se no degrau, virou de costas para o lago e começou e com o apoio das patas no degrau desceu lentamente até a água. Depois dessa primeira experiência, vivenciou outras formas de entrar na água.

Usando o imaginário, os autores sugerem que o trabalho inicial permita uma ampla exploração do espaço e do corpo na piscina, oportunizando vivências de flutuação, respiração e locomoção. Você deve ter percebido que os objetivos das etapas sugeridos por Machado (2004) e Andries Junior e colaboradores (2002) são praticamente os mesmos, e também há a sugestão de brincadeiras no livro do primeiro autor. Santana et al. (2003) revisaram as sugestões de alguns autores, além dos citados acima, sobre os caminhos para se ensinar a nadar: Palmer, em 1990, defendeu a importância da segurança dentro da piscina, indicando a importância de se ensinar a sobreviver na água, antes e independentemente de dominar algum nado em particular; Lima (1999) inclui atividades de saltos, sobrevivência e salvamento nas suas recomendações e Turchiari (1996) frisa que devemos ser cautelosos quanto ao potencial de aprendizagem dos alunos na iniciação, especialmente com crianças entre 3 e 6 anos. Outro aspecto fundamental apontado por Massaud &

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Corrêa (2004), é que nas aulas de natação sejam oportunizadas atividades em grupos, visando cooperação e possibilitando a socialização, tornando a atividade importante também para a formação integral dos alunos. 3.1.2  Conteúdos conceituais, procedimentais e atitudinais no ensino da natação A partir da reforma educacional no Brasil em 1996, foram publicadas diretrizes e referências para a prática pedagógica, objetivando ir além do “aprender a fazer” (conteúdo procedimental) com a inclusão de aspectos conceituais (“o que se deve saber”) e atitudinais (“o que se deve ser”). A Educação Física com todas as suas possibilidades de movimentação corporal, através da ginástica, dos jogos, do esporte, das lutas e das danças deve explorar as dimensões conceituais e atitudinais também, já que o “saber fazer” associado ao aspecto procedimental foi uma preocupação exclusiva e principal da área ao longo de muitos anos, com uma concepção bastante mecanicista e esportivista. Na natação, durante muito tempo a concepção dominante objetivava tão somente o produto final: ensinar os nados. Para isso, lançava-se mão de exercícios repetitivos e abordagens tradicionais que nem sempre atendiam às características de todos os aprendizes, gerando desmotivação e desinteresse. A detecção de talentos e a execução cada vez mais aprimorada dos gestos específicos dos nados, saídas e viradas, enquanto objetivo principal da natação, não valorizava as experiências diversificadas de exploração do ambiente e do corpo no ambiente (meio aquático). Atualmente, publicações diversas enfatizam a importância de levarmos os alunos a vivenciarem estímulos variados, possibilidades de flutuação e de locomoção no meio aquático, enriquecendo a relação do ser humano com a água (Andries e Junior et al., 2002; Santana et al., 2003;FERNANDES & LOBO DA COSTA, 2006). No ensino da natação, fica claro que o conteúdo procedimental está relacionado a ensinar o que fazer, como a respiração aquática, as diferentes possibilidades de flutuação e de propulsão, a coordenação de elementos como braçadas, pernadas e respiração, a aprendizagem de saídas e viradas. E quanto aos conteúdos conceituais? Quais conceitos podem ser trabalhados nas aulas de natação? No nosso primeiro capítulo, por exemplo, vimos brevemente a evolução dos nados a partir das competições na Inglaterra, no século XIX: por que não incluir a experimentação dos movimentos daquela época nas nossas aulas, explicando a evolução do esporte? Quando nosso aluno sente frio porque está parado

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na borda, podemos dizer a ele que a água “retira” calor do nosso corpo muito rapidamente, conforme vimos na propriedade física “calor específico”. Para facilitar a flutuação, podemos orientar a captar o ar e mantê-lo nos pulmões (bloqueio respiratório) verificando o quanto essa manobra deixa o corpo mais próximo da superfície se comparada a expirar o ar quando está flutuando: com ar nos pulmões, aumentamos o volume corporal na região do tronco e há uma pequena alteração na densidade corporal (a retenção do ar, que possui uma densidade equivalente a 0,001 g/cm3, favorece a flutuabilidade, pois o ar retido nesse momento faz parte do sujeito e contribui para uma ligeira redução da densidade corporal), facilitando a autossustentação. Logicamente, muitos conceitos não serão abordados com crianças pequenas e deverão ser trabalhados à medida que elas apresentam capacidades cognitivas para compreensão desses fatores; porém, ao experimentarem variadas ações e posições do corpo, as aulas de natação favorecem a estruturação do esquema corporal com a percepção do próprio corpo, bem como possibilita a melhoria da noção de espaço graças à exploração do meio aquático com o corpo de diferentes formas (et al., 2007). Quando nossos alunos começam a praticar algum dos nados, e falamos sobre determinada regra para eles, estamos trabalhando um conteúdo conceitual; por exemplo: ao chegar na borda nadando crawl, o toque na parede deve ser realizado com alguma parte do corpo, mas, normalmente é efetivado com apenas uma das mãos, em função das características do nado, enquanto no nado peito, obrigatoriamente ambas as mãos deverão tocá-la. E os conteúdos atitudinais? Reflita: como a natação poderá auxiliar no desenvolvimento de qualidades relacionadas ao modo de agir das pessoas? As atividades em grupo favorecem a socialização, a cooperação, o respeito aos limites físicos e psicológicos dos colegas, sendo excelentes recursos para as aulas, especialmente com crianças e jovens. Quando um professor intervém com uma criança pequena que se recusa a dividir um brinquedo com outra, está auxiliando na formação do respeito mútuo, pois cada uma tem a sua hora para brincar, e da solidariedade, quando são estimuladas a dividir os objetos durante a aula ou no tempo livre para recreação (geralmente, nos minutos finais da sessão de natação). Com a inclusão de torneios e festivais para crianças maiores (a partir de 6-7anos) e adolescentes, podemos fomentar o fair play, a disciplina às regras (que podem ser adaptadas) e a capacidade de suportar resultados adversos, aprendendo a perder e valorizando a prática esportiva, como um processo e não como um fim. Como você pode perceber, é possível e importante que o professor de natação enxergue na sua prática pedagógica muito além de “saber fazer”, incluindo estímulos cognitivos, sociais e afetivos nas suas aulas.

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3.1.3  Natação para diferentes faixas etárias: objetivos e metodologias Ensinar a nadar requer estruturação dos objetivos, estratégias e métodos que serão utilizados, idealmente diferenciados de acordo com a faixa etária e nível de habilidades aquáticas dos nossos alunos. A partir desse momento, faremos uma revisão sobre as indicações de alguns autores para a organização de aulas, começando com as direcionadas a bebês. Primeiramente, é importante que você identifique a classificação proposta por Gallahue & Ozmun (2005) para a o desenvolvimento motor, pois o ideal é que as classes de natação respeitem a capacidade de aprendizagem de tarefas de acordo com a maturação das crianças. Assim, temos a seguinte divisão:

DO NASCIMENTO A 1 ANO DE 1 A 2 ANOS

Dominância dos movimentos reflexos, e com o passar dos meses iniciam os movimentos rudimentares;

Etapa dos movimentos rudimentares, inicialmente muito grosseiros e de baixa coordenação;

Movimentos fundamentais (com subdivisões em função da

DE 2 A 6 ANOS

progressão da idade) que se recomenda serem trabalhados isoladamente. Ex.: chutar, rebater, arremessar, girar;

A PARTIR DE 7 ANOS

Habilidades motoras especializadas, onde é possível a combinação de movimentos fundamentais.

O professor de natação deve estudar as características e possibilidades de aprendizagem de acordo com as faixas etárias a fim de adequar as atividades e estratégias, facilitando o processo de ensino-aprendizagem na natação e evitando desestímulos por excesso de exigências ou por tarefas demasiadamente simples e sem progressão. Além das faixas etárias apresentarem diferenças quanto ao potencial de aquisição de habilidades, também devemos considerar na natação o nível de adaptação da criança à água, pois poderemos ter, numa mesma idade, alguns alunos extremamente adaptados e outros com pouca intimidade com o meio capítulo 3

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aquático. Assim, a divisão ideal de turmas de natação deveria considerar a idade e o nível de habilidades aquáticas.

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3.1.3.1  Natação para bebês A natação para bebês deve estar fundamentada no desenvolvimento motor, cognitivo e socioafetivo, uma vez que devemos respeitar a capacidade de aprendizagem em função de aspectos maturacionais. Do nascimento em diante, apresentamos caraterísticas e potenciais para a realização de tarefas que se relacionam diretamente ao amadurecimento do organismo. Quando não se considera o nível de prontidão para a aprendizagem; isto é, o momento correto para ensinarmos determinadas habilidades graças ao potencial de assimilação da criança, provavelmente estaremos cometendo erros no processo de ensino-aprendizagem.

Figura 3.1  –  Bebê em imersão.

Há indicações diferentes na literatura quanto à idade ideal para o início da natação, mas o que se percebe é que os objetivos são bastante similares, tendo como meta final a ampla adaptação do bebê ao meio aquático e a estimulação diversificada para auxiliar no desenvolvimento de maneira geral. Damasceno (1994) propõe a natação para bebês com as turmas entre 6 e 24 meses e 2 a 3 anos, diferenciando os objetivos em respeito à prontidão para a aprendizagem. Para as crianças menores, sugere que apliquemos atividades de adaptação ao meio aquático e ao ambiente físico (piscina), de imersão com

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e sem auxílio, abertura dos olhos sob a água, mudança de decúbito (ventral e dorsal), flutuação, movimentos de pernas (similares a pedaladas) intencionais, movimentos de braços e pernas simultâneos, entradas na água a partir da borda, sopros na água (“bolinhas”), saída da piscina com auxílio a partir da borda. Já a partir de 2 anos, é importante observar a evolução de estímulos iniciais, como as entradas e saídas da piscina, bem como a capacidade de flutuação e propulsão e a combinação de destrezas como rolar, submergir, emergir, nadar, atravessar aros, saltar de formas diferentes. Segundo esse autor, a natação para bebês enquanto concebida como atividade-meio deve “fornecer os estímulos adequados em quantidade e qualidade necessárias ao desenvolvimento, que garantam um amadurecimento psiconeurológico inicial profundo e harmonioso em todas as áreas” (p. 84). Luz (1999) defende o respeito à “prontidão aquática”, que se refere aos momentos adequados para aprendizagem de habilidades específicas. A prontidão aquática está intimamente relacionada ao desenvolvimento de maneira geral, e, portanto, à maturação. Para ela, é possível que os bebês iniciem aos 3 meses, idade na qual já há melhor sustentação da cabeça, facilitando o manuseio da criança na piscina, além de diversos outros aspectos que podem facilitar as atividades realizadas; porém, pode ser mais prudente que o ciclo de vacinas esteja completo para doenças que têm transmissão através do contato direto com pessoas infectadas, com suas secreções ou com objetos que tenham sido contaminados por elas, o que ocorre aos 6 meses com a terceira dose da vacina combinada pentavalente, que protege contra difteria, tétano, coqueluche, meningite e outras infecções (Guia do Bebê, s/d), já que nem sempre podemos garantir que o ambiente da piscina e suas adjacências tenha uma boa higienização regularmente. De qualquer maneira, para os bebês, a presença da mãe e/ou pai é muito importante pela segurança emocional por eles transmitida, além de fortalecer ainda mais os vínculos emocionais entre eles. A autora defende o amplo uso de brinquedos diversos, contagem de histórias, brincadeiras e músicas, recomendando atividades para familiarização com a água, equilíbrio com e sem auxílio, flutuação, balanços e giros, inversões, entradas e saltos, controle respiratório (bloqueio), imersões, movimentos de pernas e braços. É importante que esses objetivos direcionem o ensino da natação até os 6 anos de idade, respeitando a prontidão aquática e possibilitando, assim como preconiza Damasceno, auxiliar no processo de desenvolvimento motor, cognitivo e socioafetivo.

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Figura 3.2  –  Aula com os pais na piscina.

Um aspecto importante abordado pela autora é a temperatura da água: bebês e crianças pequenas tendem a perder calor ligeiramente mais rápido do que outras faixas etárias, até pelo seu potencial reduzido de movimentação na água (especialmente na fase inicial); assim, a temperatura da piscina deve ser de 30°C a 32°C até 3 anos e de 29°C a 32°C entre 3 e 6 anos. Raiol e Raiol (2001) indicam que na prática da natação para bebês (até 3 anos) deve ser feita com o uso de jogos e brincadeiras; ou seja, os aspectos lúdicos devem ser contemplados. Estimular o desenvolvimento da coordenação motora fina e grossa através de diversos movimentos e materiais; auxiliar na estruturação do esquema corporal pela vivência de variadas posições e ações do corpo e na noção de espaço pela exploração do meio ambiente; estimular o equilíbrio e a lateralidade usando giros, saltos e mergulhos; aguçar a percepção dos sentidos; estão entre os objetivos para esta faixa etária.

PERGUNTA Como atividade de reflexão sobre o conteúdo de natação para bebês, você considera adequado que crianças de 6 meses a 3 anos estejam agrupadas numa mesma turma de natação para bebês? Se vimos no início desse tópico que as capacidades para realização de atividades respeitam o desenvolvimento, e crianças de 1 a 2 anos estão numa etapa diferente das crianças de 3 anos (movimentos rudimentares x fundamentais), será que colocá-las numa mesma turma é interessante para estimular ainda mais seu desenvolvimento motor, cognitivo, afetivo e social? Resposta: se observarmos a divisão das habilidades motoras propostas por Gallahue; Ozmun (2005) que foi citada nesse capítulo, podemos concluir que a prontidão para aprendizagem e o comportamento motor, além do afetivo e cognitivo, apresentam um aprimoramento. Entre 1 e 2 anos, as crianças se encontram na etapa de movimentos rudimentares; de 2

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a 3, no início das habilidades motoras fundamentais. Dessa maneira, as turmas de natação para bebês não deveria misturar crianças de 6 meses com aquelas que têm mais de 2 anos.

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3.1.3.2  Natação infantil O Estatuto da Criança e do Adolescente delimita como infância o período do nascimento até 11 anos; e como vimos, usualmente as turmas de natação para bebês compreendem crianças até 3 anos. Dessa maneira, agora veremos algumas indicações de conteúdos e estratégias para crianças a partir dessa idade até o final da infância. Venditti Junior e Santiago (2008) citam que o ensino da natação entre 3 e 6 anos deve conter sempre elementos lúdicos, pois estes possibilitariam a descoberta livre do ambiente (meio aquático e piscina) com maior alegria, prazer e participação. Ao propiciarmos brincadeiras, oportunizamos situações de saúde, segurança, lazer e recreação, independentemente do nível de habilidade aquática. Os autores sugerem 12 diferentes brincadeiras, respeitando o desenvolvimento dos alunos (geralmente, as crianças de 5 e 6 anos têm mais coordenação, equilíbrio e tônus muscular do que as menores) para a aplicação delas e ressaltando a importância do professor como mediador do processo de ensino-aprendizagem.

Figura 3.3  –  Uso de brinquedos para estimulação dos alunos.

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Rohlfs (1999) denomina “aprendizagem da natação” ao período em que o aluno será estimulado a dominar satisfatoriamente a flutuação, a respiração e a propulsão, indicando que se inicie a partir dos 4 anos. A autora sugere como estratégia de ensino seguir os caminhos, ou etapas, propostos por David Machado e recomenda muita atenção à motivação, com práticas divertidas e amenas, que levem à eliminação completa de qualquer tensão durante a imersão na água e confiança total do aprendiz. Segundo Greco; Benda (1999), a partir de 7 anos deve ser oportunizado o refinamento das habilidades motoras fundamentais, visando que sejam aperfeiçoados e combinados com bastante diversidade. Assim, é nesse momento que podemos iniciar o ensino dos nados; porém, conforme os autores citam, é partir de 10 anos de idade que a técnica dos nados deve começar a ser aperfeiçoada. 3.1.3.3  Natação para adolescentes, adultos e idosos Independentemente da idade, sempre que um aluno inicia as aulas de natação e tem pouca intimidade com o meio aquático, devemos proporcionar estímulos diversificados para a sua completa adaptação. Conforme ele progride, aumentamos a complexidade dos exercícios e solicitamos a combinação de mais movimentos. Se num primeiro momento ele irá treinar a respiração aquática, com a sua evolução solicitaremos que coordene pernadas com respiração, braçadas com respiração, até um momento em que conseguirá realizar os movimentos dos nados sem tensões desnecessárias e sentimentos de frustração por não conseguir realizar determinadas atividades. É interessante ter turmas com níveis diferentes de solicitação em função das habilidades aquáticas dos alunos, especialmente com relação aos nados. Assim, uma divisão básica consistiria em agrupar indivíduos que não sabem nenhum nado objetivando inicialmente a aprendizagem do crawl e costas; e oferecer turmas de aperfeiçoamento do crawl e costas e aprendizagem dos nados peito e borboleta para alunos mais avançados. Dessa maneira, o professor pode planejar melhor suas aulas e atender às características dos grupos com organização, eficiência e segurança. Para adultos, Massaud e Corrêa (2008) ressaltam que o professor deve estar muito atento às características dos seus alunos, adotando um planejamento flexível e o diálogo constante, com uma metodologia na qual o aluno é um sujeito ativo do seu aprendizado. Outro aspecto apontado pelos autores se refere à motivação dos alunos: o professor deve ser um incentivador e usar exemplos de sucesso na aprendizagem, pois não é raro que indivíduos adultos não se sintam capazes de aprender a nadar. Além disso, aspectos como medo e

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vergonha podem dificultar a aprendizagem. Uma sugestão muito interessante dada por eles é a filmagem da primeira aula, possibilitando uma comparação conforme ele progride e adquire novas habilidades aquáticas; além disso, o professor deve investigar quais são as expectativas dos seus alunos, seus objetivos e metas, para assim, planejar melhor suas aulas e aumentar o sucesso do seu planejamento. Massaud e Corrêa (2008) identificam 3 possíveis turmas para indivíduos adultos: 1. Adaptação, que inclui atividades explicadas anteriormente quando vimos as indicações para crianças (deslocamentos diversos, descontração facial, visão subaquática, equilíbrio, atividades de sobrevivência, respiração, saltos, rolamentos, vivências de pernadas e de braçadas; 2. Adulto já adaptado, que podem ter como objetivo aprimoramento de suas habilidades aquáticas, aprendizagem de nados mais “complexos” (normalmente, nado de peito e borboleta), melhoria do condicionamento e até mesmo preparação para testes de aptidão física em concursos. Os autores sugerem que se inicie o refinamento das habilidades pelo nado crawl, seguido do nado de costas, nado de peito e borboleta; porém, ressaltam que essa não é uma sequência rígida, e sim uma organização da metodologia de trabalho; 3. Adultos que já sabem nadar, tendo como exemplo ex-atletas que retornam após um certo período sem praticar a natação e que talvez se motivem, com as aulas, a participar de torneios e competições na categoria master.

Figura 3.4  –  Adulto nadando peito.

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Devemos ter em mente que os aspectos que são considerados para os adultos também se aplicam aos idosos; porém, as características do envelhecimento devem ser sempre lembradas na elaboração e condução das aulas. A redução da força, da flexibilidade, da coordenação motora, do equilíbrio, da aptidão cardiorrespiratório e de outras capacidades físicas, associadas a decréscimos auditivos e visuais, podem estar presentes em maior ou menor grau nos alunos a partir da maturidade. Dessa maneira, além de ensinar a nadar, caso esse seja o objetivo do indivíduo, devemos priorizar a melhoria da aptidão física de maneira global, pois está diretamente ligada à realização das atividades da vida diária, como vestir-se, banhar-se, deslocar-se, com autonomia e independência, fator primordial para a qualidade de vida satisfatória. Rabelo et al. (2004) enfatizam que as atividades físicas praticadas por idosos devem ter como metas retardar o processo de envelhecimento, possibilitando que tenham uma vida normal e com mais qualidade. Graças às propriedades físicas do meio aquático, os autores destacam que exercícios nesse ambiente têm ganhado popularidade e trazem muitos ganhos aos seus praticantes. Ao conduzirem um estudo com duração de 12 semanas subdividindo os participantes em grupo experimental (aprendizagem da natação, 3 sessões semanais de 50 minutos cada) e grupo controle (não realizou exercícios físicos), esses autores verificaram entre os participantes do grupo experimental melhorias significativas nos resultados dos testes que compõem a Bateria de Testes de Atividades da Vida Diária (AVD) padronizada por Andreotti & Okuma em 1999. Ao mesmo tempo, o grupo controle não apresentou nenhum aprimoramento. Para que você tenha uma ideia do benefício dessa prática, os testes que compõem a Bateria são: caminhar/correr 800 metros, sentar-se e levantar-se da cadeira e locomover-se pela casa, subir degraus, subir escadas, levantar-se do solo, habilidades manuais e calçar meias; todos relacionados a movimentos que são feitos no dia a dia. Na natação para adultos e idosos, além da aprendizagem, podemos ter um “grupo de elite”, composto por indivíduos que nadam bem, tendo sido ou não atletas, e que decidem ou são incentivados a participarem de competições na categoria masters, atualmente muito popular inclusive no Brasil. Segundo Devide (1999), a natação masters está em expansão desde a década de 1970 em países como Estados Unidos, Japão e Canadá, e a primeira competição no Brasil aconteceu em 1980, no Clube de Regatas do Flamengo, por uma iniciativa da Federação Aquática do Rio de Janeiro (FARJ), considerada o berço da natação masters no país. Nessa ocasião, a competição foi dirigida a pessoas acima

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de 30 anos de idade, pensando não só no retorno de ex-atletas, mas também na participação de adultos e idosos que tinham domínio de algum nado e quisessem competir (ABMN, s/d). Com a criação da Associação Brasileira de Masters de Natação (ABMN), em 1984, essa categoria se desenvolveu e cresceu em todo o país. De acordo com Mongmomery; Chambers (2013, p. 14), “uma aula de natação de masters é uma sessão de treinamento estruturada, acompanhada por um treinador ou instrutor profissional e aberta a nadadores adultos de todos os níveis”. Para eles, os programas direcionados aos nadadores masters incentiva-os a terem estilos de vida fisicamente ativos em um ambiente seguro e recreativo, cabendo ao professor responsável selecionar os métodos de treinamento adequados, ensinar os nados com a sua mecânica adequada, auxiliar no estabelecimento de metas individuais e conjuntas com os atletas e zelar pela aplicação das regras da modalidade. Esses autores recomendam que ao iniciar um programa de natação visando competir, os atletas dessa categoria destinem de 20 a 30 minutos, 3 a 4 vezes por semana para o seu treinamento; ao passo em que pessoas que já têm maior aptidão física e prática em sessões de treinamento (exercícios físicos) podem começar com sessões de 40 a 60 minutos, na mesma frequência semanal dos novatos. A categoria masters é destinada aos indivíduos a partir de 20 anos (pré-masters, até 24 anos) e de 25 anos ou mais (com as categorias organizadas em intervalos de 4 anos: 25-29 anos; 30-34 anos; e assim por diante). Para a ABMN (2014, p. 1), um dos seus principais objetivos e finalidades é estimular “a busca da aptidão física, da amizade, e do congraçamento”. 3.1.3.4  Natação adaptada A prática de esportes, incluindo a natação, para pessoas com deficiências se popularizou em diversos países a partir da II Guerra Mundial, e as primeiras competições em Olimpíadas aconteceram em 1960 (Roma). Greguol (2010, p. XIII) cita que “quer seja com finalidade de lazer, saúde ou profissional, a natação deve ser encarada como uma alternativa viável, exequível e extremamente benéfica”. Estima-se que 14,5% da população brasileira apresente algum tipo de deficiência intelectual, sensorial, motora ou múltipla, sendo a deficiência entendida como uma condição que leva a pessoa a ter algum tipo de restrição em um ou mais dos fatores acima citados. O percentual de brasileiros que apresentam algum tipo de deficiência sinaliza para a importância da construção de espaços adequados à prática esportiva por essas pessoas, requisitando que as capítulo 3

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instituições de ensino superior auxiliem na formação de profissionais capacitados bem como que mais políticas públicas de incentivo ao esporte adaptado sejam elaboradas e implantadas. Na natação adaptada, o Brasil é uma potência: após Londres (2012) havíamos conquistado 83 medalhas, sendo 28 de ouro, 27 de prata e 28 de bronze, ficando atrás apenas do atletismo, que tem até agora 109 medalhas em Jogos Olímpicos. Daniel Dias, o maior destaque da equipe nacional, tem 15 medalhas olímpicas e recebeu 3 vezes o “Laureus” como para-atleta do ano, que é o Oscar do esporte (2009, 2013 e 2016).

Figura 3.5  –  Daniel Dias, o maior representante da natação paraolímpica brasileira. Disponível em: . Acesso em: 28 abr. 2016.

Greguol (2010) destaca uma série de benefícios na prática da natação, e muitos têm relação direta com as propriedades físicas do meio aquático, como o fortalecimento da musculatura respiratória, a facilitação circulatória, a sensação de peso reduzido, o relaxamento físico e mental, além de aspectos relacionados à autoestima e autoconfiança. A autora ressalta estratégias que os professores devem adotar com esse público, tais como: estabelecer uma relação pessoal com os alunos, perguntar e tirar dúvidas sobre a deficiência diretamente com o praticante (quando ele tem condições), proporcionar alternativas para pessoas com restrições sensoriais ou motoras, usar uma linguagem de fácil compreensão, ter interesse sincero pela vida e bem-estar do aluno. Estabelecer metas que podem ser alcançadas e acompanhar o progresso de seus alunos, proporcionando feedback constante, também são atitudes positivas para a permanência dos indivíduos nos programas de exercícios.

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RESUMO Nesse capítulo vimos algumas sugestões para a iniciação à natação. Como você deve ter percebido, é fundamental com crianças que sejam planejadas brincadeiras, pois as aulas ficam mais motivantes e interessantes. O professor deve estar atento ao período de desenvolvimento dos alunos, principalmente ao trabalhar com bebês e crianças pequenas, a fim de evitar atividades muito complexas e que possam trazer frustrações. A completa adaptação ao meio aquático permitirá que as habilidades de respiração, flutuação e propulsão sejam bem desenvolvidas, gerando futuramente maior facilidade para realização de exercícios voltados à aprendizagem dos nados. Devemos lembrar que a natação tem importância direta na sobrevivência (prevenção de afogamentos) e pode auxiliar no aprimoramento da aptidão física. Para evitarmos que as aulas se tornem monótonas, o uso de músicas, jogos, brinquedos diversos e a contagem de histórias são estratégias que devem ser usadas com crianças e jovens, mas não há impedimento para a aplicação de alguns jogos e brincadeiras com adultos e idosos, desde que não sejam demasiadamente infantis. Também vimos que há alguns caminhos, denominados de etapas, que diversos autores sugerem para o ensino da natação. Como são referências, não podemos considerá-las obrigatórias, mas certamente auxiliam na organização das nossas aulas e na determinação de metas a serem alcançadas respeitando as habilidades aquáticas dos nossos alunos. Fechando nosso capítulo, seja no processo de aprendizagem ou de aperfeiçoamento (crianças maiores, adolescentes, adultos e idosos) e competição (categoria masters), o profissional de natação responsável pelas sessões deve considerar as características, necessidades e objetivos dos participantes, proporcionando segurança, motivação e autoconfiança, e conquistando cada vez mais pessoas para a prática da modalidade e conquista dos seus diversos benefícios.

SAIBA MAIS •  Site com notícias, artigos e links sobre natação infantil: . •  Cartaz com recomendações para o professor de natação infantil: . •  Opiniões médicas sobre natação para bebês: .

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•  Site da Associação Brasileira de Masters: .

REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS ANDRIES JUNIOR, O.; WASSAL, R. C.; PEREIRA, M. D. Natação animal: aprendendo a nadar com os animais. São Paulo: Manole, 2002. ASSOCIAÇÃO BRASILEIRA DE MASTERS DE NATAÇÃO. Estatuto 2014. Disponível em: . Acesso em: 28 abr. 2016. ASSOCIAÇÃO BRASILEIRA DE MASTERS DE NATAÇÃO. História da ABMN. Disponível em: . CORRÊA, C.R.F; MASSAUD,M.G. Natação na Idade Escolar. Rio de Janeiro: Sprint, 2004. CORRÊA, C.R.F; MASSAUD,M.G. Natação para Adultos. Rio de Janeiro: Sprint, 2008. DAMASCENO, L.G. Natação para bebês: dos conceitos fundamentais à prática sistematizada. Rio de Janeiro: Sprint, 1994. DEVIDE, F. P. Associação Brasileira de Masters de Natação: divisora de águas na história da natação master do Brasil. Movimento, ano V (11), 1999/2, p. 33-44. FERNANDES, J. R. P.; LOBO DA COSTA, P. H. Pedagogia da natação: um mergulho para além dos quatro estilos. Rev. Bras Educ. Fís. Esp., 20 (1), p. 5-14, jan/mar, 2006. GALLAHUE, D. L.; OZMUN, J. C. Compreendendo o Desenvolvimento Motor: em bebês, crianças, adolescentes e adultos. São Paulo: Phorte, 2005. GRECO, P. J.; BENDA, R. N. Aprendizagem e desenvolvimento motor I (ADEM). In: SILVA,C.I.; COUTO, A.C. P. (Org.) Manual do treinador de natação: nível trainee. Belo Horizonte: Edições FAM, 1999. GREGUOL, M. Natação adaptada: em busca do movimento com autonomia. São Paulo: Manole, 2010. GUIA DO BEBÊ. Vacina pentavalente. Disponível em: . Acesso em: 28 abr. 2016. LUZ, E.R. Natação para bebês (NABE). In: SILVA,C.I.; COUTO, A.C. P. (Org.) Manual do treinador de natação: nível trainee. Belo Horizonte: Edições FAM, 1999. MACHADO, D. C. Metodologia da natação. São Paulo: EPU, 2004. MACEDO, N. P.; MERIDA, M.; MASSETTO, S. T.; GRILLO, D. E.; MERIDA, F. Natação: o cenário no ciclo I do Ensino Fundamental nas escolas particulares. Revista Mackenzie de Educação Física e Esporte, 6 (1), p. 111-123, 2007. MONTGOMERY, J.; CHAMBERS, M. Nadando com perfeição. São Paulo: Manole, 2013.

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4 Técnica dos Nados

4.  Técnica dos Nados Quando assistimos a competições de natação entre adultos, especialmente de alto rendimento, como em campeonatos nacionais, sul-americanos, mundiais e olímpicos, percebemos que os atletas apresentam movimentos corporais usando boa amplitude de braçadas e pernadas, bem coordenados e com padrões de execução bastante similares em provas do mesmo nado, tanto no sexo feminino como no masculino. Os movimentos bem realizados resultam em menor gasto energético, o que é considerado vital para o aproveitamento das forças propulsivas geradas pela ação muscular dentro da água. Seja ao ensinarmos alguém a executar os nados oficiais, ou ao programar exercícios que refinem mais os movimentos específicos da natação, devemos estar atentos às recomendações relacionadas à técnica dos nados; ou seja, aos aspectos que englobam a melhor posição corporal, as ações de braços, pernas e respiração, e a coordenação de todos esses elementos. Nesse capítulo, identificaremos as recomendações da literatura para os movimentos e ações corporais que possibilitam redução das forças resistivas, com consequente economia de energia e melhor aproveitamento das forças de propulsão, resultando em um comportamento motor aquático satisfatório.

OBJETIVOS •  Identificar a origem dos nados crawl, de costas, de peito e borboleta; •  Conhecer as técnicas indicadas pela literatura para os nados crawl, de costas, de peito e borboleta; •  Verificar a composição e transições do nado medley; •  Identificar os movimentos corretos para a realização das viradas e da saída (entrada na água a partir do bloco de partida).

4.1  Introdução Quando um indivíduo aprende a nadar seguindo as recomendações quanto à colocação e uso mais adequados dos braços e pernas, economiza energia e seu esforço para vencer a água é menor; ao contrário, aquele aluno que apresenta movimentos grosseiros contra o meio aquático, ou desnecessários, terá

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que vencer uma maior resistência e cansará mais rapidamente para percorrer uma mesma distância. Através da observação e análise de grandes nadadores foi possível identificar aspectos comuns nos seus movimentos e agrupá-los em posição corporal e da cabeça, técnica de braçadas, técnica de pernadas, respiração e coordenação do nado (braços, pernas e respiração). Para nosso estudo, abordaremos os nados isoladamente, contando a sua origem e verificando as indicações sobre os movimentos adequados para sua ótima execução. 4.1.1  Nado crawl 4.1.1.1  Origem Determinar precisamente a história da natação é uma tarefa relativamente difícil, pois ela se confunde com a origem da humanidade (MASSAUD, 2008) e não podemos deixar de pensar que provavelmente muitos fatos importantes não foram registrados, ou os registros foram perdidos, dificultando uma pesquisa mais abrangente. Os nados competitivos atuais têm sua base técnica aperfeiçoada recentemente, sendo o crawl o mais rápido de todos, e por isso é empregado nas provas de nado livre. Provavelmente, a braçada do nado crawl, caracterizada primeiramente como “movimentos alternados com o braço emerso” (COLWIN, 2001) foi praticada desde a Antiguidade, pois há a citação a este tipo de movimentação em textos gregos e romanos. A “braçada emersa” é caracterizada pela recuperação dos braços sobre a superfície da água; ou seja, temos duas fases distintas: fase submersa e fase aérea. Como na Idade Média acreditava-se que a água era um local potencialmente relacionado à disseminação de epidemias, este tipo de movimento foi deixado de lado, preferindo-se um nado de peito, com a cabeça sempre fora da água, o que foi praticado durante séculos. O nado crawl tem origem na Austrália (crawl australiano) e segundo Handley, um importante membro da comunidade da natação norte-americana, surgiu após Arthur (“Tums”) Cavill, que pertencia a uma família de nadadores (Syd, Dick e ele) e cujo pai era seu técnico (Fred Cavill), ter vencido seu irmão Syd Davis ao nadar com as pernas amarradas e a braçada emersa. Posteriormente, foi vencido pelo mesmo irmão ao desamarrá-las e executar os movimentos de pernas da época, que eram batidas laterais e alternadas que não proporcionavam continuidade ao nado. Um pouco antes, o próprio Syd havia contado à

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família que numa viagem à Samoa, competiu com uma nadadora que impôs a ele uma grande dificuldade, e que para sua surpresa não executava pernadas. Observando-a, amarrou suas pernas e viu que isso possibilitava um nado mais rápido, independentemente do tipo de braçada usada (COLWIN, 2001). Massaud (2008) relata que no episódio em que Tums vence o irmão com as pernas amarradas, Dick, o outro irmão nadador, demorou a acreditar no que tinha visto, mas depois de algumas repetições verificou que de fato era possível nadar mais rapidamente sem a realização de pernadas laterais e alternadas, e com os braços emersos. O que Dick percebeu é que a aplicação adequada de força geraria aumento na velocidade, e isso explicava por que a batida de pernas “alternada” da época era errada. O que faltava? Identificar um movimento de pernadas correto. Dick, então, lembrou-se de ter visto um nadador de Rubiana, chamado Alick Wickham, usar movimentos retos de pernadas, que ele havia aprendido com nativos do Ceilão, e resolveu testar a união deles com as braçadas alternadas emersas. Logo após encontrar essa combinação, um campeonato de 100 jardas seria realizado, e mesmo sem tempo hábil para o aperfeiçoamento da nova técnica, Dick executou-a, e mesmo sendo ultrapassado no final da prova porque a braçada ainda não estava completamente aprimorada, impressionou a todos com a rapidez desse novo “estilo”, que invadiu a Europa rapidamente e chegou aos Estados Unidos em 1904. 4.1.1.2  Técnica do nado crawl O nado crawl é o mais rápido entre os quatros nados competitivos, e um ciclo dele é caracterizado pela realização de um movimento completo com o braço direito, um com o esquerdo e uma quantidade variável de pernadas (2, 4 ou 6) a cada ciclo de braçadas. Segundo Maglischo (2010), o ritmo mais comum compreende 6 pernadas para cada ciclo de braçadas, mas há aqueles que usam duas batidas, duas batidas cruzadas (perna que se movimenta para baixo é oposta ao braço que está iniciando a fase propulsiva), quatro batidas e quatro batidas cruzadas. A respiração é lateral ou bilateral (ambos os lados). Para os pontos principais de uma boa técnica de nado, adotaremos a sequência proposta por Massaud (2008): posicionamento do corpo e da cabeça, respiração, pernadas, braçadas e coordenação do nado.

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Figura 4.1  –  Execução da inspiração no nado crawl.

Posição do corpo e da cabeça Um bom posicionamento do corpo nesse nado implica no adequado alinhamento horizontal, melhor visualizado em vista lateral. Conforme Maglischo (2010), a posição horizontal do corpo mais correta é caracterizada por pernadas “estreitas”, não muito profundas, cabeça alinhada com o tronco naturalmente e costas (tronco) “razoavelmente retas”. Massaud (2008) recomenda, quanto à posição da cabeça, que o olhar seja direcionado para um ponto à frente e ao fundo da piscina, com o nível da água na parte superior da testa, e Maglischo (2010) cita que geralmente a linha da água está no meio da cabeça em provas mais longas e em nadadores que têm mais dificuldades para flutuar, enquanto naqueles que flutuam mais facilmente e participam de provas rápidas a linha da água fica mais próxima da região capilar. Podemos resumir o bom alinhamento horizontal como a posição na qual o nadador encontra-se o mais paralelo possível à linha da superfície. Outro aspecto fundamental quanto à posição do corpo é o alinhamento lateral, que é melhor identificado visualizando o nadador por cima ou por baixo. Nesse nado, os movimentos amplos das braçadas e a respiração lateral resultam em “rolamentos” dos ombros, que na realidade são pequenas oscilações para os lados executadas por todo o corpo.

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Quando quadris e pernas encontram-se dentro dos limites dos ombros durante o giro da cabeça para um dos lados, pode-se considerar que há um bom alinhamento lateral (MAGLISCHO, 2010).

Respiração Quando o rosto está imerso, a expiração deve ser executada pela boca, pelo nariz, e/ou boca/nariz. Para inspirar, deve-se aproveitar o rolamento lateral do tronco, naturalmente realizado em acompanhamento às braçadas, e caso necessário, realizar um pequeno movimento com a cabeça para o lado, lembrando que o ar deve ser captado pela boca. Massaud (2008) indica que o momento correto para a inspiração é quando um dos braços executa o apoio (ou varredura para baixo) e o outro está finalizando a braçada e iniciando a recuperação por sobre a linha da superfície. Ao respirar nas braçadas pares (a cada 2, a cada 4, e assim sucessivamente), a respiração será sempre para o mesmo lado (lateral) e nas ímpares (a cada 3, a cada 5, e assim sucessivamente, haverá alternância dos lados (bilateral). Na respiração bilateral, Massaud (2008) indica algumas vantagens, como maior simetria nas braçadas, possibilidade de controlar os adversários de ambos os lados (e também de se orientar, especialmente se pensarmos em águas abertas, como em lagoas e no mar), e torna mais fácil o rolamento do tronco para ambos os lados, tornando as braçadas mais eficientes. O ritmo respiratório pode ser classificado em 2x1 (respiração na segunda braçada), 3x1 (respiração na terceira braçada); e daí por diante (Massaud, 2008). É interessante observar que ao manter por mais tempo a cabeça na água, provavelmente o aluno cansará mais rapidamente, por reduzir a frequência de captação do oxigênio durante o nado; porém, perturbará menos seu alinhamento corporal, o que pode ser interessante em alguns exercícios visando o bom posicionamento do nadador.

Pernadas As pernadas do nado crawl são denominadas de “pernadas de adejamento”, e se caracterizam não somente pela alternância dos movimentos para cima e para baixo, mas também por direções laterais. Conforme Maglischo (2010, p. 100), “as pernas se movimentam para baixo e para o lado, e para cima e para o lado, na direção do rolamento do corpo”.

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Com os pés em flexão plantar (dedos para trás) e ligeiramente em inversão (dedos para dentro), o momento de maior propulsão ocorre na fase descendente (para baixo). As pernadas devem ser executadas a partir da articulação do quadril, evitando uma flexão exagerada dos joelhos. Para Massaud (2008) ao final da fase descendente, o pé deve estar a uma profundidade aproximada de 30 a 35 cm abaixo da linha da superfície. Maglischo (2010) cita que ao movimentar a perna para baixo, há também um ligeiro direcionamento para trás, enquanto na fase ascendente, que para ele tem como principal função o retorno da perna para uma nova batida propulsiva para baixo, o movimento é para cima e para frente, com o joelho mantido em extensão e pernas e pés relaxados.

Braçadas A braçada no nado crawl é determinante e representa a maior força propulsiva, podendo ser analisada nas seguintes etapas: entrada e deslize, varredura para baixo ou apoio, agarrre, varredura para dentro ou tração, varredura para cima ou finalização e recuperação (MAGLISCHO, 2010).

Entrada e deslize A mão deve entrar na água ligeiramente voltada para fora, a partir das pontas dos dedos, orientada em uma linha imaginária à frente da cabeça e na direção do ombro. Na entrada, o cotovelo encontra-se levemente flexionado e acima da mão. Após a entrada, a mão deve “deslizar para dentro da água, à frente, de lado, com a palma da mão ligeiramente voltada para fora” (MASSAUD, 2008, p. 48). Conforme Maglischo (2010), após a entrada o braço deve ser estendido logo abaixo da linha da superfície, para frente e para dentro, e um pouco antes que o deslize seja completo, a palma da mão deve ser direcionada para baixo.

Varredura para baixo (ou apoio) e Agarre A varredura para baixo é caracterizada pelo direcionamento da mão em direção ao fundo da piscina, inicialmente com o cotovelo estendido, para depois flexionar-se gradativamente. Durante a flexão do cotovelo, pode haver um ligeiro direcionamento da mão e do braço para fora, natural, que não deve ser enfatizado pela pessoa que está nadando. A varredura para baixo termina quando o

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cotovelo, antebraço e braço ficam alinhados e voltados para trás, posição denominada de “agarre” (MAGLISCHO, 2010). Na posição de “agarre”, a flexão do cotovelo é de cerca de 90º e a profundidade da mão de aproximadamente 50 a 70 cm em relação à linha da superfície. A mão, o antebraço e o braço, quando vistos de frente, localizam-se para fora da linha do ombro e voltados para trás. A partir do agarre é iniciada a fase propulsiva da braçada, que veremos a seguir.

Varredura para dentro (ou tração) A partir do agarre, a palma da mão deverá ser orientada lentamente para dentro e para trás, e o movimento deve ser acelerado do início ao final. A varredura para dentro consiste no deslocamento da mão “para baixo, para dentro e para cima, simultaneamente, até que esteja ao nível da linha média do corpo, ou a tenha ultrapassado” (MASSAUD, 2008, p. 50). Quando a mão é direcionada para dentro, Maglischo (2010) recomenda que a ação persista até que ela fique sob a linha média do corpo, pois assim provavelmente o nadador encontraria “novo segmento de água mais lenta para empurrar para trás na varredura para cima” (p. 94), e a maior parte dessa impulsão seria feita abaixo do corpo, resultando em maior eficiência.

Varredura para cima e finalização Maglischo (2010) cita que esse é o movimento que gera mais propulsão na braçada. Após completar a varredura para dentro, o indivíduo de direcionar a mão, antebraço e braço “para trás, para fora e para cima, com a mão e o braço vindo de baixo do corpo em direção à superfície da água” (p. 95). Essa varredura é iniciada a partir do momento em que a mão passa por baixo da linha média do corpo, e tanto a palma da mão como o antebraço devem empurrar a água para trás, como se fossem um remo. Quando há extensão do cotovelo nessa fase, ela é mínima, pois o antebraço deve permanecer orientado para trás até o final desse movimento. Ao aproximar-se a mão da parte anterior da coxa, e com a palma voltada para dentro (para a coxa), o cotovelo deve ser flexionado e romper a linha da superfície, iniciando a recuperação.

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Recuperação A recuperação é feita com os braços relaxados, por cima da linha da superfície, e se inicia com a elevação do cotovelo da água. Ao longo da recuperação, as mãos serão novamente projetadas à frente para o início de um novo ciclo. Lembre-se que a recuperação é iniciada a partir da flexão do cotovelo, que é a primeira parte do corpo que deixa a água (MASSAUD, 2008).

Coordenação do nado O correto posicionamento e combinação entre os movimentos de braçadas, pernadas, rolamento do tronco e respiração são fundamentais para uma boa coordenação do nado e consequentemente, para a redução da resistência e melhor aproveitamento da propulsão, de acordo com Massaud (2008), que sugere ficarmos atentos à coordenação entre braços/braços e braços/pernas.

Coordenação braços/braços Indivíduos que nadam provas de meio-fundo (200m) ou fundo (400m, 800m e 1500m) geralmente realizam a entrada de um braço na água quando o outro está acabando a varredura para dentro, o que favorece o rolamento para o lado do braço que está na fase propulsiva e o alongamento do braço que entra na água auxilia na aquisição de uma postura hidrodinâmica, reduzindo o arrasto. Já os velocistas (50m e 100m) apresentam uma frequência maior de braçadas (realizam mais braçadas ao longo desse percurso) porque reduzem o alongamento na entrada de uma mão na água para iniciar a varredura para baixo enquanto o outro braço está executando a varredura para cima. Mesmo que isso represente maior gasto energético, a ideia é o desenvolvimento de velocidade para braçadas mais rápidas.

Coordenação braços/pernas A classificação do ritmo de pernadas por ciclo de braçadas é geralmente expressa como “crawl dois tempos”, onde dois movimentos de pernas (direita e esquerda) são feitos a cada ciclo; “crawl quatro tempos”, com quatro pernadas para cada ciclo de braçadas; e “crawl seis tempos”, com 6 movimentos de pernadas a cada ciclo de braçadas. capítulo 4

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Quando a pernada não é “cruzada”, ou seja, oposta ao braço que está se movimentando, espera-se como boa coordenação que o ponto final do movimento para baixo de perna coincida com a aplicação final de força da varredura para cima (finalização da braçada), segundo MASSAUD (2008). 4.1.2  Nado de costas 4.1.2.1  Origem Conforme descrito por Massaud (2008), num primeiro momento o nado de costas era uma variação do nado de peito invertido, realizado em decúbito dorsal, com os braços simultâneos. Com o tempo, percebeu-se que a alternância de braçadas com a recuperação delas acima da linha da superfície deixaria o nado mais rápido. Entre as décadas de 1930 a 1960, o nadador de grande influência para esse nado foi Adolph Kiefer, que realizava braçadas submersas logo abaixo da superfície, diretamente para os lados e com os braços retos. Na recuperação, também com os braços retos, os movimentos eram para os lados e para baixo. Esse estilo mudou a partir da década de 1960, graças às filmagens submersas que identificaram que os melhores nadadores de costas faziam uma braçada cuja puxada submersa era caracterizada por uma flexão inicial do cotovelo e na sequência sua extensão (padrão do tipo S), e na recuperação os braços eram direcionados não para os lados, mas sim para trás (acima) da linha da cabeça (MASSAUD, 2008). Atualmente, o nado de costas é bastante parecido com o crawl, sendo algumas vezes chamado de “nado crawl invertido” (MONTGOMERY; CHAMBERS, 2013). 4.1.2.2  Técnica do nado de costas O nado de costas é bastante parecido com o crawl, só que executado em decúbito dorsal. Uma das evoluções recentes nesse nado é o aproveitamento da fase submersa com as golfinhadas, respeitando-se o limite estabelecido pelas regras para competições, que é de 15 metros. Maglischo (2010) diz ser evidente que possa ser desenvolvida maior rapidez no deslocamento nessa posição corporal com a realização das pernadas submersas. Para identificação da sua técnica, manteremos a divisão apresentada no nado crawl.

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Posição do corpo e da cabeça

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Um bom alinhamento horizontal implica em uma posição horizontal do corpo, com um ligeiro afundamento dos membros inferiores para evitar que os pés saiam da linha da superfície na pernada para cima. A cabeça deve estar relaxada, em uma posição natural, com os olhos voltados para cima, e a linha da água passando logo abaixo das orelhas. Assim como no nado crawl, um alinhamento lateral adequado deixa quadris e pernas dentro da amplitude da largura dos ombros e uma pequena oscilação para os lados é esperada em função dos próprios movimentos de braços alternados (MAGLISCHO, 2010; MASSAUD, 2008).

Figura 4.2  –  A nadadora AlexiusLard com o início da braçada do lado esquerdo.

Respiração Devido à posição do corpo em decúbito dorsal, acredita-se que os nadadores não precisam praticar um determinado ritmo respiratório, e que as experimentações que fazem naturalmente irá gerar um padrão de respiração individual; porém, a inspiração é sempre pela boca e quanto à expiração, pode ser preferível executá-la pelo nariz para evitar entradas de água pelo mesmo (MASSAUD, 2008).

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Caso o professor queira que o aluno adote um ritmo respiratório, pode solicitar que ele inspire quando o braço direito estiver na fase aérea (recuperação) e expire quando esse mesmo braço estiver na fase submersa, realizando as ações propulsivas.

Pernadas As pernadas desse nado também são denominadas de “pernadas de adejamento” e são bastante similares aos movimentos do nado crawl, com a diferença básica de que a aplicação de força deve ser na fase ascendente, ou seja, na batida para cima. Acompanhando o rolamento dos ombros para a execução das braçadas, as pernas se movimentam para baixo, para cima e ligeiramente para os lados (pernadas diagonais). Na fase ascendente, que é propulsiva, o movimento é um “chicotear” a água, iniciado por uma leve flexão do quadril e continuado com uma extensão do joelho com os pés em flexão plantar. Os dedos do pé atravessam ligeiramente a linha da superfície. Na fase descendente, iniciada no final da batida para cima, o movimento é iniciado com o quadril estendido até que a perna passe por baixo da linha do corpo, quando é suavemente flexionada para que a fase ascendente comece. Recomenda-se que até o final da batida para baixo o joelho e quadril estejam estendidos e que o pé seja mantido em uma posição natural (MAGLISCHO, 2010).

Braçadas Para o reconhecimento da técnica de braçada, veremos as suas subdivisões: entrada e deslize, primeira varredura para baixo ou apoio, agarre, primeira varredura para cima ou tração, segunda varredura para baixo ou finalização, segunda varredura para cima, e finalização e saída. É importante ressaltar que a segunda varredura para cima é realizada por nadadores mais habilidosos; ou seja, nem todos a executam. •  Entrada e deslize Quando um braço estiver completando a segunda varredura para baixo, o outro entra na água totalmente estendido e imediatamente à frente da linha do ombro, com a palma da mão direcionada para fora, permitindo o deslize para dentro da água com a borda primeiramente (MAGLISCHO, 2010). Na entrada na água, é o dedo mínimo quem primeiro a toca.

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•  Primeira varredura para baixo (apoio) Essa varredura não é considerada propulsiva, e sua função é possibilitar um adequado posicionamento para que possa ser aplicada força propulsiva a partir de então. Conforme Maglischo (2010, p.163), “o braço deve ser movimentado para frente, para baixo e para fora até que esteja voltado para trás contra a água”. O cotovelo é flexionado gradualmente até cerca de 140º a 150º (MASSAUD, 2008). Essa varredura deve ser feita evitando-se colocar muita força, pois a ideia é que ela seja preparatória para o momento seguinte, que inicia de fato a ação de propulsão. •  Agarre Quando o braço se movimentou para baixo e para fora até ficar voltado para trás contra a água, o agarre está caracterizado. Geralmente, o braço está a 45 cm a 60 cm de profundidade em relação à linha da superfície, e o cotovelo flexionado em 90º, com o punho em posição neutra e a mão alinhada com o antebraço, de acordo com Maglischo (2010). •  Primeira varredura para cima ou tração Maglischo (2010) cita que essa varredura é bastante parecida com a varredura para dentro do nado crawl, sendo caracterizada por um movimento semicircular de todo o braço. A partir do agarre, quando o cotovelo está flexionado a 90º, o braço deve ser aduzido (fechado) direcionando-o para trás, para dentro e para cima. Braço, antebraço e palma da mão empurrar a água para trás como se fossem um único bloco, e deverão acelerar o movimento a partir dessa varredura. Segundo Massaud (2008), ao longo desse movimento a mão deve estar alinhada com o antebraço. •  Segunda varredura para baixo ou finalização No final da varredura para cima, o braço deve ser direcionado para baixo e para trás bem abaixo da coxa, até que a mão atinja uma profundidade de cerca de 30 cm com o cotovelo completamente estendido (Massaud, 2008). Conforme descrito por Maglischo (2010), “essa segunda varredura deve ser uma extensão do braço para trás, para baixo e um pouco para fora, tendo início durante a transição da varredura precedente e continuando até que o braço esteja complemente estendido e bem abaixo do corpo”. Alguns nadadores de alto nível ainda executam após a extensão do cotovelo uma rápida rotação medial com o antebraço e realizando mais uma ação propulsiva (segunda varredura para cima) em vez de relaxarem e começarem a recuperação aérea. capítulo 4

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•  Segunda varredura para cima Quando se completa a varredura para baixo, há um movimento para cima, para trás e para dentro com a mão, mantendo-se o cotovelo estendido que é completado até que o braço esteja próximo da coxa em seu deslocamento para a superfície da água. Quando essa varredura é realizada, ela também está relacionada à finalização da braçada submersa. •  Relaxamento e liberação da mão da água; saída Quando a mão se aproxima da parte posterior da coxa, o indivíduo deve parar de empurrar a água e a mantém voltada para a coxa, para que a superfície seja rompida a partir do dedo polegar com menos arrasto possível. Ao longo da fase aérea, o cotovelo permanece estendido e a recuperação deve ser feita por sobre a cabeça para reduzir a ocorrência de desalinhamento do corpo (MASSAUD, 2008).

Coordenação do nado •  Coordenação de braços/pernas Conforme Massaud (2008), uma boa coordenação é obtida quando no ponto máximo da batida de perna de um lado para cima, a braçada do mesmo lado esteja executando o empurrão final, e são feitas 6 pernadas a cada ciclo de braçada (1 braçada para o lado esquerdo e uma para o lado direito). •  Coordenação de braços/braços O ideal é que ao entrar na água com o braço direito, o esquerdo esteja finalizando a segunda varredura para baixo. Quando o braço esquerdo estiver concluindo a segunda varredura para baixo e a segunda varredura para cima (se for realizada), o direito começará a primeira varredura para baixo (apoio) até o agarre. 4.1.3  Nado de peito 4.1.3.1  Origem Conforme vimos no início desse capítulo, o nado de peito foi largamente praticado durante muitos séculos, especialmente a partir da Idade Média (século V d.C.) até meados do século XIX, sendo a cabeça mantida fora da água a fim de evitar contaminações de acordo com as crenças da época. O primeiro livro de natação publicado por NicolausWynman em 1538 citava esse nado como “o

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nado científico que todos deveriam aprender”. No século XVII, o francês Thevenot escreveu um livro no qual recomendava a prática da braçada desse nado em pé, quando as pessoas estivessem imersas com a água na linha dos quadris (COLWIN, 2001). Nessa época e um pouco antes (séc. XVI), a cabeça era mantida ereta e fora da água, e nas pernadas a força era aplicada com os dorsos dos pés. Colwin(2001) cita que no começo do século XIX uma batida “sapo” das pernas começou a ser utilizada, na qual os tornozelos ficavam em dorsiflexão e a força era feita pressionando as solas dos pés contra a água. Outra forma de pernada consistia em um movimento cuneiforme (“V”), onde as pernas eram afastadas e depois estendidas, para então serem fechadas. Em competições, durante muito tempo esse nado foi executado em submersão, ocasionando muitos desmaios pelo exagero dos nadadores em permanecerem nessa posição, o que foi mudado a partir de 1950 através de regras que garantiram que a maior parte das provas fosse executada na superfície (MASSAUD, 2008). Entre as inovações desse nado, recentemente foi introduzido o aspecto ondulatório, em que os ombros sobem acima da linha da superfície da água. De acordo com Montgomery; Chambers (2013), o pioneiro foi o técnico húngaro Josef Nagy, no final da década de 1980 e início de 1990. ©© WIKIMEDIA.ORG

Figura 4.3  –  Nado de peito. Prova feminina no Mundial de Kazan (2015).

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4.1.3.2  Técnica do nado de peito Esse nado é o mais lento dentre os competitivos, pois seus movimentos são submersos, precisando sempre vencer muito arrasto, e a recuperação das pernas representa um momento de muita desaceleração, exigindo que os nadadores façam mais força para recuperar a velocidade a cada ciclo de braçada/pernada. Segundo Maglischo (2010, p. 189), “todos os nados de competição remanescentes se desenvolveram a partir dele”. No nado de peito a maior força propulsiva vem da ação das pernas, e por isso veremos sua técnica antes dos movimentos dos braços. Uma outra importante característica desse nado é que na fase submersa, após a saída e as viradas, os movimentos são diferentes em relação aos outros nados, o que veremos mais adiante.

Posição corporal Até bem recentemente, era praticado com o corpo em uma posição plana (estilo plano ou convencional), sendo mantido na horizontal e na superfície a cada ciclo de braçada/pernada. Na respiração (frontal), evita-se elevar o tronco para que o quadril não abaixe, e ela é executada apenas pela elevação (inspiração) e abaixamento (expiração) da cabeça. Conforme a recuperação do braço é realizada (braços para frente), a cabeça retorna à agua. Massaud (2008) cita que pela necessidade de manter seu corpo em uma posição horizontal, o nadador que adota a posição plana executa uma maior flexão do quadril (coxa sobre o tronco), levando mais água para frente e aumentando o arrasto. A partir da década de 1980, com a introdução do estilo ondulatório (também denominado de nado de peito golfinho e nado de peito europeu), na inspiração os ombros também saem da água, gerando um afundamento do quadril, a flexão do quadril é menor (menos arrasto), os braços são recuperados (levados à frente) bem próximos da superfície ou até mesmo por cima dela (sem tirar os cotovelos), com o retorno da cabeça para dentro da água somente no final dessa fase. O estilo ondulatório é o mais utilizado nas competições atualmente (MASSAUD, 2008).

Respiração A partir do agarre, ao longo da varredura para dentro, a cabeça sai da água e a inspiração deve ser realizada; porém, alunos não atletas costumam aproveitar

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a força de sustentação gerada na varredura para fora para captar o oxigênio, considerando essa fase mais fácil para elevar o tronco e inspirar. Durante a recuperação a expiração deve ser realizada. Obrigatoriamente em competições, a respiração é feita a cada ciclo de braçadas (ação e recuperação).

Pernadas Até a década de 1960 a pernada era realizada em forma de cunha, desenhando-se um “V” invertido, até que James Counsilman, em 1968, provou que esse tipo de ação não empurrava a água para trás, e sim para os lados. Juntamente com o atleta do nado de peito ChetJastremski, o treinador Counsilman desenvolveu uma nova pernada, onde a ação se assemelha a uma “chicotada estreita”, atualmente usada pela maioria dos atletas (MAGLISCHO, 2010). Para compreensão dessa pernada, usaremos a divisão proposta por Maglischo (2010): recuperação, agarre, varredura para fora, varredura para dentro, levantamento e deslize das pernas. •  Recuperação A recuperação das pernas se inicia assim que a varredura para dentro da fase propulsiva da braçada termina, e apresenta dois movimentos articulares: flexão dos joelhos e flexão dos quadris. Primeiramente, os joelhos (ligeiramente afastados) são flexionados com os pés em dorsiflexão e levados para frente até que os braços sejam estendidos para frente e a cabeça esteja para baixo e direcionada para a superfície. A partir daí, os quadris são flexionados, objetivando aproximar os pés das nádegas, quando é realizada uma eversão (pés para fora) e um afastamento dos joelhos até que ultrapassem a linha dos ombros. É importante frisar que os nadadores de peito precisam de uma ótima flexibilidade na articulação tíbio-társica, justamente pela combinação da dorsiflexão e eversão recomendada para o agarre (apoio). Uma importante observação se refere à flexão dos quadris (coxa sobre o tronco): deve-se evitar muita amplitude nesse movimento, pois o exagero aumenta o arrasto. Maglischo (2010), cita que Belokovsky e Ivanchenko, em 1975,observaram uma amplitude de flexão entre 34º a 50º em atletas do nado de peito ondulatório, enquanto Sanders (1996) observou em nadadores neozelandeses uma flexão dos quadris com amplitude entre 54º e 68º.

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•  Agarre Com os pés em dorsiflexão e eversão, o agarre é caracterizado pela posição onde os pés, após serem direcionados para fora (e às vezes para trás) ficam voltados diretamente para trás contra a água. Nesse momento, a flexão dos joelhos é de 60º a 70º e dos quadris, de 40º a 50º. A partir daí, inicia-se a varredura para fora. •  Varredura para fora Essa etapa da pernada é constituída pela extensão dos joelhos e quadris, com as pernas sendo orientadas para trás e ligeiramente para fora. Quando a extensão está quase completa, os pés devem ser movimentados para baixo e para dentro para que seja realizada a varredura para dentro. •  Varredura para dentro Após a extensão dos joelhos e quadris, as pernas devem estar orientadas para baixo, e as solas dos pés se voltam uma para a outra (inversão). As pernas deverão ser direcionadas para dentro até que estejam entre a largura dos ombros. Logo após a varredura para dentro, os atletas projetam seus pés em direção à superfície, e unirão pés e pernas, direcionando as pontas dos dedos para trás (flexão plantar) e para dentro (inversão). Com os membros inferiores estendido e ocupando a menor área possível contra a água (posição hidrodinâmica), a ação principal a partir desse momento será a braçada. Massaud (2008) denomina de “sustentação” o direcionamento dos pés para cima após a varredura para dentro.

Braçadas •  Varredura para fora ou apoio Antes dessa varredura, os membros superiores encontram-se estendidos e unidos à frente do corpo, com as palmas das mãos voltadas para dentro. Direcionando os braços para fora e para o fundo (ligeiramente), à medida que ocorre a abertura dos mesmos, as mãos se voltarão gradualmente para fora até que ultrapassem a linha dos ombros. Nesse momento, conforme descreve Massaud (2008), exercerão pressão para os lados e para baixo, atingindo o agarre. •  Agarre Nessa fase, que é uma transição entre a varredura para fora e a varredura para dentro, os cotovelos devem estar flexionados entre 30º a 40º, “de forma

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que os braços e as mãos alcancem uma orientação retrógrada” (MASSAUD, 2008, p. 152). A profundidade dos braços nessa etapa é de cerca de 50 a 80 cm. •  Varredura para dentro ou tração A varredura para dentro é um “movimento de pressão do antebraço, inicialmente para dentro e para baixo, e também para dentro e para cima”. Haverá nessa ação uma flexão do cotovelo e uma adução dos ombros, unindo-se as mãos à frente da linha dos ombros. Nessa etapa, as mãos e antebraços devem estar alinhados e a flexão do cotovelo, ao finalizar o movimento, é de aproximadamente 80º. Conforme Massaud (2008, p. 154), “nesta fase, o bordo de ataque passa a ser o polegar e o de fuga, o dedo mínimo; ou seja, o inverso da fase inicial da braçada”. •  Recuperação Após a varredura para dentro, os membros superiores são direcionados para frente de 3 diferentes maneiras: com as mãos ligeiramente abaixo da superfície, na superfície ou sobre ela (sem retirar o cotovelo da água nessa opção).

Coordenação •  Coordenação braços/pernas Segundo Massaud (2008), podemos caracterizar a coordenação de braços e pernas pelos movimentos alternados entre eles, já que durante a varredura para fora e varredura para dentro dos braços (momentos propulsivos das braçadas), as pernas ficam estendidas (recuperação); quando a recuperação da braçada é iniciada, as pernadas começam sua fase lenta de recuperação e ao final da recuperação dos braços, as pernas estão na fase rápida da sua recuperação. Completando, na fase de ação (propulsiva) das pernadas, os braços se encontram no final da sua recuperação. Há três tipos possíveis de classificações para a coordenação entre braços e pernas: deslizante (quando completa um ciclo de braçada e pernada, o nadador mantém seu corpo estendido por alguns instantes, executando um pequeno deslize); contínua (não há a execução do deslize, e o ciclo de braçada e pernada é iniciado sempre que a braçada do ciclo anterior tem sua recuperação finalizada); e superposição (quando as pernas se unem na varredura para dentro, antes da sua recuperação, os braços já se encontram no final da varredura para fora ou apoio). capítulo 4

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4.1.4  Nado borboleta 4.1.4.1  Origem De acordo com Massaud (2008), esse nado evoluiu a partir da década de 1930, quando alguns nadadores viram que poderiam realizar o nado de peito com mais velocidade se recuperassem os braços por cima da linha de superfície, o que não obstruía a regra, já que os membros superiores movimentavam-se simultaneamente. Essa braçada, de borboleta, tornou as provas do nado de peito bastante interessantes, pois havia uma mistura de estilos dentro da piscina: havia os que nadavam submersos, outros combinavam os dois estilos, e também os que faziam esse nado borboleta-peito acima descrito. Posteriormente, com a realização das pernadas de golfinho ao invés das do peito clássico, os atletas viram que o nado ficava bem mais rápido, e em 1955 o nado borboleta (braçadas de borboleta e pernadas de golfinho, as golfinhadas) foi oficializado e as competições incluíram provas específicas dele. 4.1.4.2  Técnica do nado borboleta Segundo Maglischo (2010), o nadador Jack Sieg e seu treinador David Armbruster (EUA) são os criadores desse nado, considerado por muitos atletas como o segundo mais rápido, ficando atrás somente do crawl. Evoluindo a partir do nado de peito, sua braçada assemelha-se à abertura das asas de uma borboleta e suas pernadas “imitam” o movimento dos golfinhos e são chamadas de golfinhadas.

Posição corporal De acordo com Maglischo (2010), não se torna necessário descrever uma posição corporal para esse nado, pois em função das ondulações a cada ciclo de braçadas, o nadador muda o tempo todo de posição. Mesmo tendo que vencer mais arrasto ao ondular pela água, se o nadador adotasse uma posição horizontal, a propulsão seria menor pela redução da velocidade média por ciclo de braçada. As ondulações corporais, ao contrário do que muitas pessoas acreditam, não se devem a movimentos para cima e para baixo dos quadris, e sim às elevações da cabeça e dos ombros, principais responsáveis pelo movimento ondulatório que aumentará a força propulsiva da pernada. A esse efeito,

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Maglischo (2010) denominou de “onda corporal reversa”, pois possibilita “que a força decorrente da batida para baixo da primeira golfinhada acelere o nadador rapidamente para frente” (p. 143).

Respiração A expiração é realizada quando o nadador está com o rosto dentro da água e a inspiração é feita logo após, com a elevação da cabeça. Alguns especialistas recomendam que a inspiração seja feita com o queixo sendo mantido na água, mas Maglischo (2010) recomenda que os nadadores a realizem tirando os ombros e tronco da superfície, mantendo a cabeça em uma posição natural; ou seja, a inspiração requer que o tronco seja elevado acima da água, e não que a cabeça seja direcionada para cima e para trás. Massaud (2008) indica algumas possibilidades de classificação da respiração: •  1x1: respiração na primeira braçada, que não é indicada para iniciantes; •  2x1: respiração na segunda braçada; •  3x1: respiração na terceira braçada; e assim por diante.

Pernadas As pernadas são realizadas com movimentos simultâneos dos membros inferiores, em trajetórias ascendentes e descendentes. Massaud (2008) descreve que a pernada descendente começa com o calcanhar alinhado à superfície e a partir de uma leve flexão dos quadris e dos joelhos, para posterior extensão da perna de maneira vigorosa. A flexão plantar e a inversão são importantes para melhor aproveitamento da pressão exercida pelos dorsos dos pés e pelas pernas, e a profundidade da pernada para baixo é de cerca de 40 a 50 cm abaixo da linha da superfície. Na pernada para cima, os joelhos permanecem estendidos, e os pés realizam uma pressão sobre a água a partir das plantas dos mesmos, em flexão plantar. Massaud (2008) cita que há duas concepções sobre a pernada ascendente, sendo uma que preconiza para esta fase a recuperação total, com a articulação do tornozelo e a musculatura relaxadas, e outra que recomenda que seja feita força para propulsão a partir da pressão das pernas e das plantas dos pés contra a água.

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Braçadas Subdividiremos as braçadas em: entrada e deslize, varredura para fora e agarre, varredura para dentro, varredura para cima (finalização) e recuperação. •  Entrada e deslize Segundo Maglischo (2010), na entrada das mãos na água ocorre também uma batida para baixo das pernas, e por isso essa etapa é mais adequadamente identificada como “entrada, deslize e batida para baixo” da primeira golfinhada. Os braços entram na água à frente do corpo, separados entre si na distância da largura dos ombros ou um pouco menos, com as mãos orientadas para fora (as bordas das mãos, do lado dos dedos polegares “cortarão” a água na entrada). Depois, são estendidos para frente e um pouco para fora, logo abaixo da linha da superfície, ao mesmo tempo em que a batida para baixo das pernas é completada (o afastamento entre os braços não deve ser maior do que a largura dos ombros). •  Varredura para fora (apoio) e agarre Esta varredura não é propulsiva e visa preparar os braços para o fornecimento de força que virá na próxima etapa. Na varredura para fora os braços são levados para os lados estendidos até que ultrapassem a largura dos ombros, momento em que serão ligeiramente flexionados (cotovelos) com as mãos voltadas para trás (agarre). Conforme Maglischo (2010, p. 134), “as palmas das mãos devem girar para fora durante a varredura para fora, de modo que estarão voltadas para trás quando o agarre for executado”. •  Varredura para dentro Com movimentos dos braços para trás, para fora, para baixo e para dentro a partir do agarre, o nadador deve acelerar progressivamente a braçada. Essa trajetória descreve “um longo movimento semicircular que termina quando as mãos estão quase juntas por baixo do corpo” (Maglischo, 2010, p. 136). Massaud (2008) lembra que esse movimento, no início, também deve ser feito com os cotovelos mais altos (flexionados) do que as mãos, que são direcionados para a linha mediana do corpo e para o fundo. A varredura para dentro é a primeira fase propulsiva desse nado, e geralmente é nela que começa a elevação da cabeça e dos ombros para a inspiração.

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•  Varredura para cima - Finalização Nessa fase, as mãos e braços são direcionados rapidamente para fora, para trás e para cima na direção da superfície. As palmas das mãos e os antebraços são usados como “remos”, empurrando a água para trás (Maglischo, 2010). Outro ponto a ser destacado é quanto à flexão dos cotovelos: nessa etapa, eles ainda permanecem ligeiramente flexionados, ou com uma extensão mínima. Essa fase acaba quando as mãos estão próximas da coxa, seguindo-se do relaxamento / liberação das mãos da água e recuperação. •  Recuperação Ao parar de empurrar a água para trás com os antebraços, e tendo as mãos próximas das coxas, o nadador deve direcionar as palmas para dentro, para que na saída da água haja menos arrasto. Primeiramente, saem da água os braços e cotovelos, seguidos pelos antebraços e mãos. A partir daí, os cotovelos geralmente são completamente estendidos(é uma questão de estilo do nadador). Os membros superiores continuam sua trajetória circular acima da água até que estejam novamente em frente aos ombros, para nova entrada e continuidade do ciclo de braçadas (fases aquática e de recuperação).

Coordenação braços/pernas Conforme descrito por Massaud (2008), para cada ciclo de braçadas são feitas duas golfinhadas com seus pontos máximos descendentes assim combinados: •  Na entrada dos braços ou no início da varredura para fora, tem-se a primeira pernada para baixo; •  Na varredura para cima, é feito mais um movimento descendente das pernas.

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Figura 4.4  –  A nadadora Nina Dittrich no momento de inspiração e recuperação dos braços acima da superfície.

4.1.5  Nado medley O nado medley combina os quatro nados acima descritos em uma sequência rígida determinada pelas regras oficiais, e pode ser executado individualmente ou por equipes (revezamento medley). No medley individual, a sequência é borboleta, costas, peito e livre, enquanto no revezamento, inicia-se pelo nado de costas, continuando com os nados de peito, borboleta e livre. Cabe lembrar que a regra prevê que o livre no Medley, não poderá ser nenhum dos nados anteriores. Veremos a seguir como devem ser as transições entre os nados na prova individual; ou seja, do borboleta para o costas, do nado de costas para o nado de peito, e do nado de peito para o livre (crawl).

Do nado borboleta para o nado de costas Após tocar a parede simultaneamente com as duas mãos, o nadador tira rapidamente uma das mãos (a mão que corresponde ao lado para o qual vai girar o corpo), flexionando o cotovelo, por dentro da água e junto ao corpo. Quando

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está fazendo isso, os membros inferiores estarão sendo flexionados e dirigidos à borda, com o corpo na posição lateral. A partir daí, o outro braço é retirado da borda e é feita a flexão do cotovelo, levando-o para cima e para trás da cabeça. Nessa etapa deve ser realizada a inspiração, e a seguir o nadador irá direcionar as mãos umas para as outras, submerso, unindo-as à frente do corpo, mantendo os pés na parede com joelhos e quadris flexionados (90º). O nadador muda a posição do corpo para decúbito dorsal e empurra vigorosamente a parede, o nadador estende joelhos e quadris e aproveita a impulsão gerada com o corpo estendido realizando golfinhadas até que rompa a linha de superfície e inicie o nado.

Do nado de costas para o nado de peito Há três possibilidades: a virada aberta, a virada de cambalhota para trás e a virada de Naber modificada.

VIRADA ABERTA

Após o toque na parede com uma das mãos, é feito um rolamento do corpo para o mesmo lado do braço que fez o toque, com os joelhos e quadris flexionados e o corpo sendo direcionado lateralmente à borda. O braço que tocou na borda é direcionado para frente, a fim de encontrar com o outro braço que se encontra logo abaixo da superfície; a partir daí, braços e pernas são estendidos.

VIRADA DE CAMBALHOTA PARA TRÁS

O toque da mão deve ser feito a aproximadamente 40 cm de distância da superfície e com os dedos das mãos direcionados para baixo. É feito um rolamento para trás com o corpo, bem grupado, e quando as pernas e pés passam por cima da cabeça em direção à borda, deve-se flexionar o cotovelo do braço que tocou a borda, para depois estendê-lo à frente até que encontre o outro que já se encontrava além da linha da cabeça. A seguir, é feita a impulsão com os membros inferiores e a extensão do corpo.

VIRADA DE JABER OU JABERREPARE (FIGURA ABAIXO MODIFICADA)

A mão toca a parede um pouco abaixo da superfície (15 a 20 cm) e o nadador começa a flexionar seus quadris e joelhos com o braço de contato flexionado e os dedos das mãos voltados para baixo. A cabeça é elevada acima da superfície, momento propício para a inspiração e logo após o braço de apoio é retirado por cima como o cotovelo flexionado, ao mesmo tempo em que as pernas estão passando por baixo do corpo, um pouco antes dos pés tocarem a parede. Ao tocar os pés na parede, os braços se encontram à frente do corpo e é feito o impulso com a extensão dos joelhos e dos quadris.

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Figura 4.5  –  A virada de Jaber modificada. Fonte: MASSAUD, M. G. Natação 4 nados: aprendizado e aprimoramento. Rio de Janeiro: Sprint, 2008, p. 209.

Do nado de peito para o nado crawl Essa virada é feita da mesma maneira em que foi descrita na transição do nado borboleta para o nado de costas, com a diferença básica da posição corporal após os movimentos na parede e a colocação dos pés na mesma, pois após empurrá-los vigorosamente e estender o corpo com as mãos unidas à frente em decúbito lateral, o corpo é girado para baixo para adotar a posição do nado (decúbito ventral). São feitas golfinhadas ou pernadas do crawl na sequência, antes de se iniciar o nado na superfície. 4.1.6  Saídas e viradas Após realizar muitos testes, Maglischo (2010) indica que é possível reduzir os tempos de uma prova em 0,10 s quando se melhora a técnica de saída e 0,20 s a cada piscina percorrida com o aprimoramento das viradas. O autor ressalta que é importante incluir treinos visando a melhoria das saídas, viradas e das chegadas para todas as distâncias competitivas, mas aponta que nas provas longas os benefícios de otimização desses movimentos são ainda mais significativos. Para análise das técnicas utilizadas nessas importantes fases, devemos lembrar que para a execução dos nados crawl, de peito e borboleta, as saídas são feitas de cima do bloco de saída, quase sempre com as pernas alternadas (saída do atletismo) e para o nado de costas, a saída é realizada também com apoio no bloco, porém dentro da piscina.

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Saída de cima do bloco Atualmente, vemos o amplo uso de uma técnica inspirada na saída das provas rápidas do atletismo, com os pés em afastamento ântero-posterior, descrita por Maglischo (2010) como “saída com os pés desnivelados”. O pé que fica à frente deve ter seus dedos posicionados sobre a borda da frente do bloco, e o pé que fica atrás pressiona a parte inclinada do bloco de partida, atrás. Com a cabeça para baixo, o nadador agarra o bloco na borda frontal com as duas mãos. Quando é dado o sinal de partida, deve ser feito um movimento “para cima e para trás sobre o bloco com as mãos, para fazer com que o corpo se movimente para frente, em direção à água” (Maglischo, 2010, p. 236). Neste momento, as mãos devem ser direcionadas para cima, por baixo do queixo, e uma impulsão com a perna de trás é feita, seguida por um impulso com a perna da frente. Na trajetória aérea, recomenda-se que primeiramente o corpo fique alinhado, para depois ficar carpado e então alinhado para a entrada na água a partir das pontas dos dedos.

Saída do nado de costas Na posição preparatória, aguardando o sinal de “aos seus lugares”, os indivíduos ficam dentro da água, de frente para a parede e segurando a barra ou as alças que existe no bloco. Os pés devem estar totalmente submersos, com os joelhos flexionados e os quadris dentro da água. Quando ouvem “a seus lugares”, seus braços ficam flexionados e direcionados para fora, a cabeça baixa, com o olhar dirigido para a calha a sua frente, e os quadris devem ser elevados ao máximo sem que os pés rompam a linha da superfície, mantendo-se as nádegas próximas dos calcanhares. Os pés podem estar alinhados ou ligeiramente afastados (um deles um pouco mais acima do outro). Quando é dado o sinal de partida, deve-se “tracionar para cima ou empurrar para baixo e para trás contra a barra de saída com as mãos (...), de modo que possam levantar um pouco o tronco para fora da água, antes de afastarem o corpo da parede” (Maglischo, 2010, p. 247). A cabeça deve ser lançada para cima e para trás, e à medida que o corpo vai se afastando da parede, os braços devem ser estendidos para frente contra a barra de saída. A partir daí os braços são retirados da barra de saída e lançados para cima e por sobre a cabeça rapidamente. Na trajetória aérea, observa-se que as costas ficam arqueadas (hiperextensão), formando um arco, e é importante tentar manter todo o corpo para fora da água nessa fase. A entrada na água é feita a partir

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das mãos, com os membros superiores unidos e estendidos, a cabeça entre eles e os membros inferiores também em extensão. A ideia é que cada parte do corpo entre na água pelo mesmo ponto inicial tocado pelas pontas dos dedos.

Viradas •  Virada olímpica do nado crawl Adotando a análise da virada de Massaud (2008, p. 87), os movimentos e ações são descritos a seguir: 1. A velocidade do nado deve ser aumentada com a aproximação à borda para facilitar a cambalhota (rolamento); 2. Os braços são unidos ao longo do corpo do nadador logo após a realização da última braçada antes da virada; 3. Invertem-se as mãos e uma pernada de golfinho impulsiona para a realização da cambalhota; 4. Quando os pés tocam a borda, os braços devem estar estendidos à frente para a realização do impulso; 5. É feito um deslize com a extensão vigorosa dos joelhos e quadris, com o corpo em decúbito lateral e os braços estendidos à frente em posição hidrodinâmica (mãos sobrepostas e orelhas entre os braços); 6. O nadador adota a posição de decúbito ventral e realiza golfinhadas submersas antes de iniciar o nado propriamente dito. •  Virada olímpica do nado de costas A virada do nado de costas é a mesma do nado crawl; porém, ao se aproximarem da borda, os nadadores devem mudar de decúbito dorsal para ventral durante a última braçada do nado, ainda na posição original. A outra pequena diferença ocorre após a cambalhota, que quando finalizada já proporciona que o nadador esteja em decúbito dorsal, a posição do nado. A partir daí, o impulso dado pressionando a parede deve ser feito com os braços estendidos e direcionados para frente, realizando também golfinhadas para depois iniciar o nado. •  Virada do nado de peito Esse nado apresenta uma característica única: a técnica submersa após as saídas e viradas é realizada apenas na sua execução, e é denominada de “Filipina”.

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Você lembra que descrevemos um pouco acima as viradas do nado medley individual? Tanto o nado borboleta como o nado de peito requerem que as mãos toquem a borda simultaneamente, e haverá um direcionamento por baixo das pernas até que os pés toquem a parede, enquanto um braço está embaixo da água e apontado para frente e para baixo, e o outro virá ao seu encontro sendo retirado da borda em uma trajetória por cima e por trás da cabeça do nadador. Assim que os braços se encontram e o corpo adota uma posição hidrodinâmica, aproveita-se o impulso gerado pela força do empurrão contra a borda (deslize ou deslizamento) e a “filipina” é iniciada. A filipina compreende três movimentos submersos: uma braçada ampla, uma golfinhada e uma pernada do nado de peito. A braçada ampla é o primeiro movimento, iniciado virando-se as palmas das mãos para fora e direcionando os membros superiores para os lados e para trás com os cotovelos estendidos até que mãos, cotovelos e ombros estejam quase alinhados num prolongamento lateral da linha do ombro. Nesse momento, há uma adução dos cotovelos, que se flexionam e são levados ao encontro da região lateral do tronco. Quando os cotovelos se unem ao tronco, os antebraços e mãos são direcionados para trás e para cima até que haja uma extensão do cotovelo. Em algum momento a partir do início da braçada ampla, é executada a única golfinhada permitida (só pode ser uma). Aproveita-se o impulso gerado pela combinação desses dois movimentos (braçada ampla com golfinhada) e depois é iniciada uma pernada específica do nado, ao mesmo tempo em que as mãos são levadas por baixo do corpo para frente, possibilitando que após a fase propulsiva da pernada, os braços estejam unidos e estendidos à frente do corpo, rompendo a linha da superfície e iniciando o nado a partir de um ciclo de braçada. •  Virada do nado borboleta No nado borboleta, a virada é a mesma executada no nado de peito, mas não há filipina, e após o deslize aproveitando o impulso gerado pelo empurrão dos pés contra a parede, o nadador executa golfinhadas com o corpo estendido.

SAIBA MAIS Links para assistir uma animação indicando os movimentos dos nados: •  Nado crawl .

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. . •  Nado de costas . . . •  Nado de peito . •  Nado de borboleta .

REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS COLWIN, C. Nadando para o século XXI. São Paulo: Manole, 2001. MASSAUD, M. G. Natação 4 nados: aprendizagem e aperfeiçoamento. Rio de Janeiro: Sprint, 2008. MAGLISCHO, E. W. Nadando o mais rápido possível. São Paulo: Manole, 2010. MONTGOMERY, J; CHAMBERS, M. Nadando com perfeição. São Paulo: Manole, 2013.

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5 Regras elementares, noções de arbitragem e organização de competições

5.  Regras elementares, noções de arbitragem e organização de competições A natação competitiva, como esporte que é, tem regras que são estabelecidas pela Federação Internacional de Natação (FINA), periodicamente revistas e passíveis de alterações, nos Congressos Técnicos dos Campeonatos Mundiais. As regras devem ser obrigatoriamente seguidas em competições oficiais, e incluem desde as dimensões das piscinas até os procedimentos que devem ser seguidos para a organização das séries, os trajes permitidos, a composição da arbitragem e as normas para realização dos nados. Além das regras oficiais, é interessante conhecer algumas sugestões para a organização de torneios, situação que pode ser necessária em algum momento da sua vida profissional, seja em academias, clubes e escolas. No final desse capítulo veremos as categorias da natação adaptada; ou seja, como os atletas são classificados de acordo com as suas deficiências.

OBJETIVOS •  Identificar as dimensões recomendadas para piscinas de competição; •  Conhecer as regras oficiais da FINA; •  Reconhecer as categorias da natação adaptada; •  Verificar itens mínimos para organização de festivais e torneios.

5.1  Noções de arbitragem e organização de competições Antes de identificarmos as regras oficiais da natação de acordo com a FINA, é importante que você reconheça as dimensões oficiais para as piscinas de competição, de 25 metros (piscina curta) e de 50 metros (piscina olímpica). Apenas em competições realizadas nesses comprimentos de piscina é que a FINA reconhece recordes mundiais. Há uma tolerância de até 0,3 cm a mais no comprimento (25,03 e 50,03) porque as placas que registram o toque para a cronometragem eletrônica são instaladas na parede de cada lado da piscina. A precisão no comprimento é verificada

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por um oficial indicado pela Federação local, ou pela Confederação (como a Confederação Brasileira de Desportos Aquáticos – CBDA), ou pela FINA. Quanto à profundidade, em piscinas que têm blocos de partida é solicitado no mínimo 1,35 metros numa extensão de 1 metro a partir da parede a até 6 metros, pelo menos. O restante da piscina deve ter pelo menos 1 metro de profundidade. A largura mínima entre as raias deve ser de 2,5 metros, e deve haver um espaço de pelo menos 20 cm entre as bordas laterais da piscina e as duas raias externas (primeira e última). Quanto ao bloco de partida, é indicada uma altura entre 50 a 75 cm do nível da água e a inclinação no local de apoio dos pés não pode ultrapassar 10º. Em uma piscina oficial também é necessária a marcação de uma linha escura no fundo, finalizada por uma marcação transversal a ela (“T”), que deve estar a 2 m da borda. O “T” de fundo tem um comprimento de 1 metro e é bastante importante para que o nadador se certifique de que a borda está próxima, nos nados que são executados em decúbito ventral. Os flutuadores em uma piscina com 8 raias são da cor verde nas de posição 1 e 8, da cor azul nas posições 2, 3, 6 e 7, e da cor amarela na 4 e na 5. A uma distância de 5 metros de cada um dos extremos da raia os flutuadores devem ser da cor vermelha. Na marca de 15 metros (ponto máximo no qual o atleta deve romper a superfície), a cor dos flutuadores deve ser diferente da cor preconizada para a raia, assim como em piscinas de 50 metros deve ser de outra cor na distância de 25 metros. É importante que as raias estejam completamente estendidas. Para o nado de costas, devem ser colocados indicadores de viradas (cordas suspensas com bandeiras) a 5 metros de distância da borda, em uma altura entre 1,80 m a 2,50 m acima da linha da água.

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Figura 5.1  –  A piscina das Olimpíadas de Pequim, onde Cesar Cielo conquistou a primeira medalha de ouro para o Brasil nos 50 m nado livre.

5.1.1  Regras da FINA As regras da FINA estão agrupadas em seções de acordo com o tema principal, sendo aplicadas aos demais esportes aquáticos, com pequenas diferenças entre eles: •  Idade máxima dos árbitros (65 anos na natação); •  Os trajes permitidos; •  Publicidade permitida nas competições; •  Normas para substituições, desclassificações e faltas; •  Proibição do fumo nas dependências dos parques aquáticos; •  A apresentação de protestos nas competições; •  Programação dos campeonatos mundiais (provas e distâncias); •  Premiação concedida; •  Pontuação concedida em provas individuais e revezamentos nos Mundiais; •  Permissão de adoção de regras locais para distribuição das categorias por idade;

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•  Organização de competições, com a indicação do número mínimo de componentes da arbitragem designados pelo Bureau da FINA para Jogos Olímpicos e Campeonatos Mundiais (regra SW 1, primeira específica da natação); •  Atribuições específicas dos componentes da arbitragem (SW 2); •  Composição das séries eliminatórias, semifinais e finais (SW 3); •  Normas para a partida das provas, como o comando “Take your marks” em Olimpíadas e Mundiais (SW 4); •  Regras para os nados livre (SW 5); de costas (SW 6); de peito (SW 7); de borboleta (SW 8); medley (SW 9), que estão descritas a seguir; •  Itens constantes das provas, como a obrigatoriedade de terminar o percurso na mesma raia em que foi iniciado e a organização dos revezamentos (SW 10); •  Registro de tempo (SW 11); •  Normas para os recordes mundiais (SW 12); •  Procedimentos para registros de tempo em aparelhagem automática (SW 13); •  Piscinas de competição: disposições gerais, dimensões e equipamento automático de cronometragem (FR 1 a FR 4).

Figura 5.2  –  Bloco de partida do Campeonato Mundial de Kazan, 2015.

Para o nosso estudo, veremos a seguir as regras para os nados, com algumas observações ao final de cada tópico.

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SW 5 - Nado Livre SW 5.1 - Nado livre significa que numa prova assim denominada, o competidor pode escolher qualquer modalidade, exceto nas provas de medley individual ou revezamento medley, nado livre significa qualquer nado diferente do nado de costas, peito ou borboleta. SW 5.2 - Alguma parte do nadador tem que tocar a parede ao completar cada volta e no final. SW 5.3 – Alguma parte do nadador tem que quebrar a superfície da água durante a prova, exceto quando é permitido ao nadador estar completamente submerso durante a volta e numa distância não maior que 15 metros após a partida e cada volta. Nesse ponto, a cabeça deve ter quebrado a superfície da água. *Lembre-se que a distância máxima permitida para o deslocamento submerso é de 15 metros, e que nas provas de nado livre qualquer nado pode ser realizado.

SW 6 - Nado de Costas SW 6.1 – Antes do sinal de partida, os competidores devem alinhar-se na água, de frente para a cabeceira de saída, com ambas as mãos colocadas nos suportes de agarre. Manter-se na calha ou dobrar os dedos sobre a borda da calha é proibido. Quando o suporte de partida para o nado costas estiver sendo usado na saída, os dedos de ambos os pés devem estar em contato com a borda ou com a placa de toque do placar eletrônico. Curvar os dedos dos pés na parte superior da placa de toque é proibido. (Recomendação após o Congresso Extraordinário da FINA em Doha, Qatar, 2014). SW 6.2 – Quando o suporte de partida do nado costas estiver sendo utilizado, cada inspetor na cabeceira de saída deve instalar e remover após a saída. (Recomendação após o Congresso Extraordinário da FINA em Doha, Qatar, 2014). SW 6.3 - Ao sinal de partida e quando virar, o nadador deve dar um impulso e nadar de costas durante o percurso exceto quando executar a volta, como na SW 6.4. A posição de costas pode incluir um movimento rotacional do corpo até, mas não incluindo os 90º a partir da horizontal. A posição da cabeça não é relevante. SW 6.4 - Alguma parte do nadador tem que quebrar a superfície da água durante o percurso. É permitido ao nadador estar completamente submerso durante a volta e por uma distância não maior que 15 metros após a saída e cada volta. Nesse ponto a cabeça deve ter quebrado a superfície.

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SW 6.5 – Quando executar a volta, tem que haver o toque na parede com alguma parte do corpo na sua respectiva raia. Durante a volta, os ombros podem girar além da vertical para o peito após o que uma imediata contínua braçada ou uma imediata contínua e simultânea dupla braçada pode ser usada para iniciar a volta. O nadador tem que retornar a posição de costas após deixar a parede. SW 6.6 - Quando do final da prova, o nadador tem que tocar a parede na posição de costas na sua respectiva raia.

ATENÇÃO Conforme exposto na regra 6.3, o “rolamento dos ombros”, com movimentos suaves para os lados (que vimos no capítulo anterior) não pode alterar a posição predominante do nado, que é em decúbito dorsal. O nadador não pode mudar para decúbito lateral. A distância máxima para o nado submerso é de 15 metros também.

SW 7 - Nado de Peito SW 7.1 – Após a saída e em cada volta, o nadador pode dar uma braçada completa até as pernas, durante a qual o nadador pode estar submerso. Uma única pernada de borboleta é permitida em qualquer momento antes da primeira pernada de peito após a saída e após cada virada. (Recomendação após o Congresso Extraordinário da FINA em Doha, Qatar, 2014). SW 7.2 - A partir da primeira braçada após a saída e após cada virada, o corpo deve ser mantido sobre o peito. Não é permitido ficar na posição de costas em nenhum momento exceto quando da volta, após o toque na parede onde é permitido girar de qualquer maneira, contanto que quando deixar a parede o corpo deve estar na posição sobre o peito. A partir da saída e durante a prova, o ciclo do nado deve ser uma braçada e uma pernada, nessa ordem. Todos os movimentos dos braços devem ser simultâneos e no mesmo plano horizontal, sem movimentos alternados. SW 7.3 - As mãos devem ser lançadas junto para frente a partir do peito, abaixo ou sobre a água. Os cotovelos deverão estar abaixo da água exceto para última braçada antes da volta, durante a volta e na última braçada antes da chegada. As mãos deverão ser trazidas para trás na superfície ou abaixo da superfície da água. As mãos não podem ser trazidas para trás além da linha dos quadris, exceto durante a primeira braçada, após a saída e em cada volta.

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SW 7.4 – Durante cada ciclo completo, alguma parte da cabeça do nadador deve quebrar a superfície da água. A cabeça tem que quebrar a superfície da água antes que as mãos virem para dentro na parte mais ampla da segunda braçada. Todos os movimentos das pernas devem ser simultâneos e no mesmo plano horizontal sem movimentos alternados. SW 7.5 - Os pés devem estar virados para fora durante a parte propulsiva da pernada. Não são permitidos movimentos alternados ou pernada de borboleta, exceto o descrito na SW 7.1. É permitido quebrar a superfície da água com os pés, exceto seguido de uma pernada de borboleta para baixo. SW 7.6 - Em cada virada e na chegada da prova, o toque deve ser feito com as duas mãos separadas e simultaneamente, acima, abaixo ou no nível da água. No último ciclo do nado antes da virada e no final da prova, uma braçada não seguida da pernada é permitida. A cabeça pode submergir após a última braçada anterior ao toque, contanto que quebre a superfície da água em qualquer ponto durante o último completo ou incompleto ciclo anterior ao toque.

ATENÇÃO A golfinhada permitida na fase submersa, após a saída e nas viradas, pode ser feita conforme a preferência do nadador: antes de iniciar a braçada ou ao longo dela, ou ainda na finalização da mesma. Na execução da filipina, o nadador que rompe a linha da água após a marcação de 15 metros não é desclassificado.

SW 8 - Nado de Borboleta SW 8.1 – A partir do início da primeira braçada, após a saída e em cada volta, o corpo deve ser mantido sobre o peito. Pernada submersa na lateral é permitida. Não é permitido ficar na posição de costas em nenhum momento, exceto quando da volta, após o toque na parede é permitido girar de qualquer maneira, quando deixar a parede o corpo deve estar na posição sobre o peito. SW 8.2 - Ambos os braços devem ser levados simultaneamente à frente por sobre a água e trazidos para trás simultaneamente por baixo da água durante todo o percurso, conforme SW 8.5. SW 8.3 – Todos os movimentos para cima e para baixo das pernas devem ser simultâneos. As pernas ou os pés não precisam estar no mesmo nível, mas não

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podem alternar um em relação ao outro. O movimento de pernada de peito não é permitido. SW 8.4 - Em cada virada e na chegada, o toque deve ser efetuado com ambas as mãos separadas e simultaneamente, acima, abaixo ou no nível da superfície da água. SW 8.5 - Após a saída e na volta, ao nadador é permitido uma ou mais pernadas e uma braçada sob a água, que deve trazê-lo à superfície. É permitido ao nadador estar completamente submerso até uma distância não maior do que 15 metros após a partida e após cada virada. Nesse ponto, a cabeça deve quebrar a superfície. O nadador tem que permanecer na superfície até a próxima volta ou final.

ATENÇÃO Como nas regras dos nados livre e de costas, a distância máxima permitida para o nado submerso é de 15 metros. Observe que a regra deixa claro que movimentos do nado de peito não são permitidos.

SW 9 - Nado medley SW 9.1 - Na prova de Medley individual, o nadador nada os quatros nados na seguinte ordem: borboleta, costas, peito e livre. Cada nado deve percorrer um quarto (1/4) da distância. SW 9.2 - Nas provas de revezamento Medley, os nadadores nadam os quatro nados na seguinte ordem: costas, peito, borboleta e livre. SW 9.3 - Cada nado deve ser finalizado de acordo com a regra aplicada a ele. *Conforme vimos no capítulo 4, o nado medley possui uma sequência obrigatória que é diferente entre a prova individual e por equipes, e os nados devem ser praticados de acordo com as suas regras. 5.1.2  Categorias da natação adaptada Na natação adaptada são feitas algumas alterações nas saídas, viradas e chegadas. O atleta pode receber auxílio para se posicionar antes da saída e até mesmo iniciar a prova de dentro da piscina, quando sua limitação o impede de ficar sobre o bloco. Atletas com deficiências visuais recebem um aviso quando estão se

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aproximando das bordas através de um bastão com ponta de espuma, e os que são completamente cegos nadam com um óculos opaco. As provas são: •  Nado livre: 50m, 100m, 200m e 400m; •  Nado de costas, de peito e borboleta: 50m e 100m; •  Nado medley: 150m (costas, peito e crawl, em classes com maiores deficiências) e 200m (borboleta, costas peito e livre); •  Revezamentos 4x50m (livre e medley) e 4x100m (livre e medley). Nos revezamentos as equipes devem ser montadas levando em consideração a soma das classes dos nadadores, como descrito a seguir: •  4x50m livre e 4x50 medley: equipes somando até 20 pontos; •  4x100m livre e 4x100m medley: equipes com até 34 e com até 49 pontos. Para classificação de um atleta, são feitos testes de força muscular, mobilidade articular e testes motores (dentro da água) e acuidade visual. Nas deficiências físicas, atletas com maiores deficiências ficam nas classes menores, que sempre iniciam com a letra S (swimming), SB (peito), SM (medley). Deficientes visuais e mentais estão nas categorias iniciadas pela letra B. As classes de 1 a 10 são para deficientes físicos, de 11 a 13 para deficientes visuais e a classe 14 é destinada às deficiências intelectuais. Abaixo, confira a divisão detalhada das classes: •  S1: afetação muito grave de tronco e nas 4 extremidades; •  S2: afetação grave de tronco e nas 4 extremidades; •  S3: afetação de tronco e extremidades superiores e afetação grave de extremidades inferiores; •  S4: afetação de tronco e afetação grave de 2 ou mais extremidades; •  S5: afetação de tronco e 2 ou mais extremidades; •  S6: afetação leve de tronco e afetação de 2 ou mais extremidades; •  S7: afetação grave de 2 extremidades; •  S8: afetação de 2 extremidades, afetação grave de uma extremidade ou afetação grave de diversas articulações; •  S9: afetação de uma extremidade ou diversas articulações; •  S10: afetação leve de 1 ou 2 extremidades ou comprometimento leve de 1 ou diversas articulações; •  B11: ausência da percepção de luz nos dois olhos (completamente cegos); •  B12: capacidade de reconhecer a forma de uma mão; •  B13: campo visual reduzido, mas com bastante visão; •  B14: deficientes mentais.

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5.1.3  Organização de festivais e torneios O site Portal da Educação Física (2013) cita que na natação é frequente a organização de três diferentes tipos de eventos: a demonstração, o festival e a competição. Nos festivais, o objetivo principal é realizar uma demonstração das habilidades aquáticas adquiridas pelos alunos após um determinado tempo de prática, podendo ser estabelecida uma periodicidade em função do planejamento da escola, academia e/ou clube. Além de motivar os participantes, a demonstração possibilita que pais e familiares acompanhem o progresso das crianças, no caso da natação infantil. Brindes e prêmios são bem-vindos, e não há regras rígidas, recomendando-se que os participantes estejam organizados por idade e nível de habilidades aquáticas. Os professores e outros funcionários que participam da organização devem zelar pela segurança e para que o programa preestabelecido seja completado, sendo facilitadores do processo. Nos festivais, a demonstração das habilidades envolve situações de competição entre pessoas da mesma idade e sexo (eventos age groups) e/ou as disputas nas quais independentemente do sexo e idade, o que vale é o tempo em que o indivíduo apresenta numa determinada prova para que dela participe; ou seja, as pessoas vão competir juntas se apresentarem faixas de tempo entre as indicadas para determinada distância e nado (eventos time groups). Por ser um festival, além de brindes e sorteios, as medalhas geralmente são distribuídas, indicando-se que para cada prova nadada, o participante receba uma medalha, que pode ser de ouro, prata ou bronze dependendo da faixa de tempo (a organização determina um tempo mínimo e máximo correspondentes ao ouro, prata e bronze). Alguns festivais não adotam a diferenciação dos tipos de medalhas, e os profissionais envolvidos na arbitragem devem orientar e educar para as regras, evitando punições. Os cronometristas são fundamentais nos festivais, os alunos também podem ser chamados de “nadadores” e a cobrança de taxas de inscrição é facultativa. As competições devem respeitar as regras estabelecidas pela FINA, mesmo que sejam realizadas para o público interno (alunos de uma mesma academia). Em cada prova definida pela organização, haverá a definição dos três melhores tempos para premiação. Os competidores são divididos por sexo, idade e a prova da qual participará e podem ser chamados de “atletas” ou “nadadores”. Além disso, os árbitros devem ser chamados de acordo com as suas funções (árbitrogeral, árbitro de partida, árbitro de nado, etc.), e não deve haver flexibilidade

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nas regras. Nas competições, podem ser estabelecidos recordes do campeonato para que em futuras edições se tornem metas a serem alcançadas. Corrêa e Massaud (2007) listam tópicos importantes que devem ser considerados quando se intenciona realizar algum evento de natação, seja para o público interno ou externo. Primeiramente, o objetivo do evento norteará as ações necessárias para que sua realização seja um sucesso. Se há intenção de captação de novos alunos, por exemplo, os autores indicam que durante o evento promoções devem ser divulgadas (ex.: isenção de matrículas), e aconselham que os organizadores evitem qualquer prejuízo aos atuais alunos. Quando o evento visa divulgar uma “marca”, como pode acontecer quando se inaugura uma escola de natação e outras atividades físicas, é interessante pensar em “contaminar” a cabeça das pessoas com a marca, usando principalmente a logomarca em faixas, camisas e bonés. Nesse tipo de evento, a visibilidade é ponto-chave. Ao planejar um evento, não deixe de considerar o tempo de duração do mesmo, faça uma estimativa inicial de custos e analise se o espaço disponível, bem como a infraestrutura disponível, serão adequados a sua proposta e objetivos. A divulgação interna e externa e o treinamento da equipe que trabalhará também são fundamentais para o sucesso do evento, conforme Corrêa e Massaud (2007). Quando o evento planejado envolve competições, é sempre importante estabelecer quem serão os componentes da arbitragem e quais são suas atribuições, além de disponibilizar o regulamento em local visível. Na ficha de inscrição, deve haver um espaço destinado ao Termo de Responsabilidade, no qual o competidor dá sua ciência sobre o tipo de atividade e o esforço físico necessário, afirmando que encontra-se em condições para participar do evento em questão. Assim como em competições oficiais, é necessária a presença de um anunciador, que fará as chamadas dos competidores, o anúncio dos resultados e de outras informações para o público em geral, como a ordem das provas e a divulgação de eventuais patrocinadores, por exemplo. O importante, em qualquer evento, é um cuidadoso planejamento prévio e o acompanhamento atento durante a sua realização, para que não haja problemas que atrapalhem o seu andamento.

RESUMO Encerramos esse livro identificando importantes regras da natação competitiva. Mesmo que você venha a atuar com natação num contexto apenas de iniciação, reconhecer os regulamentos e identificar as dimensões oficiais para piscinas olímpicas são pontos relacionados à atuação nessa área.

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Vimos também as regras com validade até 2017 (são atualizadas a cada 4 anos) para os nados livre, de costas, de peito, borboleta e medley, que devem ser aplicadas também em torneios internos e competições interacademias quando a intenção é a superação de tempos e de adversários, ao contrário do que acontece em festivais e demonstrações, onde é possível a flexibilização das regras e há mais liberdade na organização das atividades. Outro tema associado à regulamentação da natação abordado neste capítulo foi a divisão de classes na natação adaptada, modalidade paralímpica de muita representatividade para o Brasil e de especial importância para a inclusão de deficientes no mundo esportivo. Respeitando o tipo de deficiência, a natação adaptada possibilita a participação de pessoas com limitações motoras, visuais e intelectuais de maneira justa e coerente. Chegamos ao final do nosso livro didático, e espero que para você, prezado aluno, ele não sirva somente para o estudo da disciplina, mas também desperte curiosidade para descobrir e investigar mais sobre a natação, esse esporte fascinante que representa uma ótima oportunidade para o ingresso no mercado de trabalho, através de estágios, e que traz muitos benefícios aos seus praticantes, além da sua importância para a sobrevivência na prevenção de afogamentos!

SAIBA MAIS •  Regras oficiais da FINA 2013-2017: . •  Site com postagens diversas sobre regras da natação: .

REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS CORRÊA, C. R. F; MASSAUD, M. G. Natação: da iniciação ao treinamento. Rio de Janeiro: Sprint, 2007. PORTAL DA EDUCAÇÃO FÍSICA. Evento em natação: demonstração, festival e competição. Disponível em: . Acesso em: 01/07/2013.

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