Relatório Parcial FAPESP 28 jan

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UNIVERSIDADE DE SÃO PAULO FACULDADE DE SAÚDE PÚBLICA Av. Dr. Arnaldo, 715 - São Paulo – Brasil - CEP 01246-904

RELATÓRIO PARCIAL DE PESQUISA PROJETO FAPESP 2018/1321

OBJETIVOS DO DESENVOLVIMENTO SUSTENTÁVEL E PROMOÇÃO DA SAÚDE: ESTUDO DE MÉTODOS E FERRAMENTAS DE PESQUISA PARTICIPATIVA

Instituição Proponente: Universidade de São Paulo- Faculdade de Saúde Pública - Av. Dr. Arnaldo, 715 - Cerqueira César, São Paulo - SP, CEP: 01246-904 fone (11) 3061-8100 Instituição Parceira: Instituto Camará Calunga – Rua Osvaldo Eduardo 138, São Vicente/SP CEP: 11330-060 fone (13) 3467 4723 Pesquisador Responsável: Marco Akerman – FSPUSP

São Paulo Janeiro de 2020

EQUIPE DE PESQUISA

Prof. Dr. Marco Akerman (coord)- Departamento de Política, Gestão e Saúde da Faculdade de Saúde Pública - Universidade de São Paulo

Profa. Dra. Rosilda Mendes - Departamento de Políticas Públicas e Saúde Coletiva da Universidade Federal de São Paulo - campus Baixada Santista

Profa. Dra. Maria Fernanda Petroli Frutuoso- Departamento de Políticas Públicas e Saúde Coletiva da Universidade Federal de São Paulo - campus Baixada Santista

Prof. Dr. Paulo Santos de Almeida da Escola de Arte, Ciências e Humanidades Universidade de São Paulo

Profa. Dra. Nina Wallerstein (DRPH, MPH) College of Population Health - University of New Mexico -USA

Cassio Vinicius Afonso Viana- Instituto Camará Calunga e Universidade Federal de São Paulo - campus Baixada Santista

Período de vigência do projeto: 01/02/ 2019 a 31/01/2021 Período do relatório parcial: 02/2019 a 02/2020

MARCO AKERMAN COORDENADOR DA PESQUISA

São Paulo, 28 de janeiro de 2020.

RESUMO Em setembro de 2015 193 países-membro da ONU adotaram o compromisso de implementar ações relacionadas aos 17 Objetivos de Desenvolvimento Sustentável (ODS). Com o intento de apoiar esta agenda global, a Organização Mundial da Saúde (OMS) organizou, em novembro de 2016, sua 9a Conferência Global de Promoção da Saúde, em Xangai, China, com o lema “A Promoção da Saúde no Desenvolvimento Sustentável”. Os resultados desta Conferência convidam à reflexão sobre as conexões entre saúde e os outros 16 ODS, uma vez que o ODS3 já é explicitamente conectado ao setor saúde. Podese afirmar que a OMS inicia este esforço de conexão intersetorial ao lançar nesta conferência uma “mandala” em que estabelece no círculo interno 17 “narrativas” sintéticas relacionadas com a saúde, respectivamente, a cada um dos ODS. A “Declaração de Xangai” estabeleceu três eixos de ação para incluir a Promoção da Saúde no Desenvolvimento Sustentável: “Boa Governança” “Cidades Saudáveis” e “Letramento em Saúde”. Nessa direção, em dezembro de 2017, a OMS organizou uma reunião de consulta em Berlim e estabeleceu o eixo da “mobilização social” como transversal a esses três eixos, e convocou os participantes da reunião a construir “novas narrativas da Promoção da Saúde para o século XXI”. Há de se reconhecer, nesse caso, o esforço de indicar as formulações e as intervenções no campo da promoção da saúde, pactuadas entre os países, desde um ponto de vista global. Entretanto, nem sempre as percepções globais expressam aquelas narrativas que vêm sendo formuladas em outros níveis, nacionais, estaduais, muito menos no nível local. Há autores que valorizam e reconhecem sobremaneira as narrativas locais atreladas à participação ativa das comunidades na gestão de programas globais e nacionais. Deste ponto de vista, essas narrativas seriam “benéficas” e poderiam favorecer intervenções que fizessem sentido para as pessoas e potencializar suas parcerias em seus territórios. A presente investigação se vale de uma experiência consagrada e de longo prazo de um Centro de Pesquisa da University of New Mexico (UNM) na realização de experiências participativas de pesquisa baseadas nas comunidades (Community Based Participatory Research-CBPR). A justificativa deste projeto de pesquisa origina-se, desta forma, da necessidade de ampliar os conhecimentos e desenvolver aportes teórico-metodológicos na perspectiva da promoção da saúde, buscando aprofundar metodologias participativas. Lançaremos mão destes métodos e instrumentos para explorar do ponto de vista de atores locais identificados com alguns dos 17 ODS selecionados e revelar percepções significativas que tenham conexão entre saúde e seu respectivo ODS e indicar possíveis narrativas locais para a Promoção da Saúde no século XXI, com base e raiz em territórios específicos e que dialoguem, interfiram, intercambiam, troquem e modifiquem narrativas globais. Neste momento, em que a Faculdade de Saúde Pública da USP e a University of New Mexico reafirmam a cooperação técnica, iniciada em 1999, e buscam continuar a desenvolver trabalhos conjuntos na ótica da promoção da saúde, destacamos a potencialidade de viabilizar mais um projeto que propicie a troca de conhecimentos e experiências entre instituições nas áreas de ensino e pesquisa em saúde. A esta parceria também se agregam docentes e pesquisadores da Universidade Federal de São Paulo o que permitirá, em curto prazo, traduzir, adaptar e incorporar algumas dessas ferramentas e metodologias que incluem sujeitos envolvidos nos processos investigativos em diversos contextos no Brasil e pode também apontar, em médio prazo, para a perspectiva de construção futura de um projeto multicêntrico envolvendo outras universidades brasileiras com interesse em projetos de abordagem participativa. Neste sentido, o objetivo geral desta pesquisa é produzir narrativas e intervenções no campo da promoção da saúde articuladas aos ODS por meio de métodos e ferramentas participativas de pesquisa. Palavras -chave: Objetivos de Desenvolvimento do Milênio,; Promoção da Saúde; Pesquisa participativa

SUMÁRIO

I. REALIZAÇÕES NO PERIODO.........................................................................................6

II. DESCRIÇÃO DO APOIO INSTITUCIONAL ..............................................................12

III. PLANO DE ATIVIDADES PARA O PRÓXIMO PERÍODO.......................................13

IV. PARTICIPAÇÃO EM EVENTO CIENTÍFICO ............................................................14

V. LISTA DE PUBLICAÇÕES .............................................................................................14

VI. LISTA DE TRABALHOS SUBMETIDOS ................................................................14

ANEXOS.......................................................................................................................17 Anexo 1...........................................................................................................................17 Anexo 2 ..........................................................................................................................18 Anexo 3...........................................................................................................................31

I. REALIZAÇÕES NO PERÍODO Nesse período de fevereiro de 2019 a fevereiro de 2020 foram realizadas as seguintes atividades: 1.

Ciclo Mensal de Reuniões do Comitê de Pesquisa em conjunto com a Instituição

parceira Camará Calunga. O Comitê está composto pelos pesquisadores, núcleo de gestão da instituição, crianças, adolescentes e mães que participam das atividades, conforme pode ser observado no Anexo 1– Tabela de reuniões mensais e participantes e Anexo 3 - Relatório de atividades- Ano 1. 2.

Oficina com parceiros da educação e educadores do Camará Calunga para a

construção do “Rio da Vida”, conforme previsto na metodologia do Projeto. O Rio da Vida é uma ferramenta reflexiva que ajuda a descrever a história de uma parceria ou projeto de pesquisa engajada. Esta ferramenta ajuda a refletir: a) a história e influências que motivam os parceiros a trabalharem juntos; b) as metas, processos e resultados do trabalho em parceria Anexo 3 – Relatório de atividades- Ano 1. 3. Reconhecimento do território da Vila Margarida e México 70 em São Vicente. No dia 10 de junho de 2019. Durante a caminhada entre o Camará e a Escola Municipal de Ensino Fundamental Lúcio Martins Rodrigues, que durou 25 minutos, foi possível observar parte da dinâmica comercial dos espaços e suas diferenciações diante das atividades nos períodos sazonais do ano, pautado pelas estações, verão e inverno. Há por isso, uma dinâmica interessante entre a vida diurna e a vida noturna, quando as pessoas passam a interagir entre elas nos ambientes de comércio e diversão. Contrariando o pensamento comum que a vida litorânea se resume aos períodos do Verão (e suas praias). Há uma efervescência comercial, principalmente pela atuação do setor de serviços (especialmente de alimentos). Boa parte das pessoas consomem suas alimentações nos restaurantes e padarias - comércio - tanto no almoço, como no jantar. Em parte, pela facilidade, mas também pelo preço acessível, especialmente às mães, que muitas vezes exercem seu trabalho distante e com pouco tempo para se dedicar às atividades domésticas, naturalmente. Anexo 3 – Relatório de atividades - Ano 1 . 4. Elaboração e submissão ao Congresso de Ciências Sociais e Humanas em Saúde da Associação Brasileira de Saúde Coletiva, João Pessoa- Paraíba de 26 a 30 de setembro de 2019 a) Abordagens participativas em pesquisa: agir em favor do diálogo e da inclusão b) Direito humano e alimentação adequada e ODS: construções coletivas com

crianças para análise e interferências em periferias (aceito e apresentado em comunicação oral coordenada) No Anexo 2 ver artigo a ser submetido até marco de 2020 5. Revisão bibliográfica concluída para elaboração de dois artigos a serem submetidos até o mês de julho de 2020: a) Objetivos do Desenvolvimento Sustentável no Brasil- 2014 a 2019. O que vem sendo feito, que preocupações, que ações aterrissam no território e tem potencial para melhorar a vida das pessoas, ou apenas retóricas políticas e acadêmicas. b) Pesquisa Ação Participativa com a Comunidade no Brasil: o que temos feito , de que natureza, participativas e emancipatórias?

6. Visita Técnica à University of New Mexico, Albuquerque, EUA

Período: 11 a 20 de outubro de 2019 Atividades Dia 11 de outubro – sexta-feira Reunião no Center of Participatory Research, para apresentação do percurso da pesquisa desde março 2019, seguida de discussão sobre os temas a serem aprofundados e pactuação da agenda de trabalho durante a visita técnica. Participaram desta reunião: equipe do projeto e Nina Wallerstein (CPR–UNM/EUA).

Dia 12 de outubro - sábado Reunião com a Profa Dais Gonçalves Rocha da Universidade de Brasília (UNB) para preparação/ajustes da conferência Contemporary Health Politics in Brazil: The Challenges of Achieving Health Equity in the Americas a ser realizada em 17 de outubro.

Participação no WONCA World Rural Health Conference, que aconteceu de 12 a 15 de outubro no Centro de Conferências de Albuquerque, assistindo a sessão Practical Tools for Community Engagement and Participatory Approaches to Improving Health Inequities coordenada pelas Profas. Laura Chanchien Parajon e Nina Wallerstein, pesquisadoras do grupo Engage for Equity.

Dia 14 de outubro – segunda-feira Reunião com o grupo de pesquisa da Profa. Nina Wallerstein sobre discussão da tradução dos instrumentos da CBPR para o português e língua Navarro que subsidiarão os projetos desenvolvidos com populações que falam estas línguas e alimentarão o site www.engageforequity.org. Visita ao Latin American Institute e reunião sobre parcerias institucionais com a presença de Kathryn McKnight (coordenadora do Latin American Institute), Paulo Dutra e Verónica Plaza (docentes do Latin American Institute), David Dunaway (Department of English Language and Literatures-UNM/EUA), Danielle Gilliam (Global Education Office), equipe de pesquisadores, Dais Gonçalves Rocha (UNB) e Nina Wallerstein (CPR– UNM/EUA). Dia 15 de outubro – terça-feira Discussão da disciplina interinstitucional “Abordagens participativas em pesquisa” cuja primeira experiência acontece a partir da parceria entre FSP/USP, UnB, UFAM, UNM, com Dais Gonçalves Rocha (UNB) e Nina Wallerstein (CPR–UNM/EUA). Reunião para apresentação e discussão da experiência de graduação da UNIFESP/BS com professores do Center for Participatory Research do College of Population Health. Participaram da reunião Magdalena Avila (CPR-UNM/EUA), Verónica Plaza (Latin American Institute), Noell Stone (CPR-UNM/EUA), equipe de pesquisadores, Dais Gonçalves Rocha (UNB) e Nina Wallerstein (CPR–UNM/EUA). Dia 16 de outubro – quarta-feira Apresentação e discussão dos resultados preliminares da pesquisa com o grupo de pesquisa Engage for Equity. Visita a Jemez, acompanhados pela Profa Nina Wallerstein (CPR–UNM/EUA). Jemez é um Pueblo localizado no Novo México, local onde a equipe de pesquisa Engage for Equity realiza diversas investigações. Dia 17 de outubro – quinta-feira Conferência Contemporary Health Politics in Brazil: The Challenges of Achieving Health Equity in the Americas, ministrada pelos Profs Dais Rocha e Marco Akerman

Dia 18 de outubro – sexta-feira Reunião para definição dos próximos passos da pesquisa e encontro com advogado da UNM com vistas à discutir a possibilidade de convênio interinstitucional. Dia 19 de outubro – sábado Reunião de avaliação da visita técnica e próximos passos da pesquisa. Planejamento preliminar da visita da Profa Nina Wallerstein ao Brasil em fevereiro de 2020. 7. Seminário de apresentação e discussão da pesquisa na Columbia University – Nova Iorque a convite do Prof. Dr John Allegranti em 23 de outubro de 2019. 8. Realização do Seminário DIÁLOGOS SOBRE O DIREITO À CIDADE NA PERSPECTIVA DOS ODS na Faculdade de Saúde Pública - USP - 21/03/2019 – com participações de pesquisadores da FSP e de outras universidades brasileiras (UNB, UFABC, UNIFESP), ONG – ACT-Saúde, estudantes de graduação e pós-

graduação. Ver https://www.fsp.usp.br/site/noticias/mostra/13135. Acesso em janeiro de 2020. 9. Disciplina de Pós-Graduação derivada da temática do projeto d epesquisa, A pesquisa articulou com a UNB, a Fiocruz Manaus um projeto de solidariedade com Programa CAPES nota 3 e formatamos em conjunto uma disciplina de pósgraduação ABORDAGENS PARTICIPATIVAS NA PESQUISA EM SAÚDE de 60 horas, 4 créditos, 15 semanas consecutivas no 2º semestre de 2019.para reflexões e debates teórico-práticos sobre Pesquisa Participativa Baseada na Comunidade (CBPR - Community-based participatory research) e Empoderamento. Abordagens participativas e tecnologias sociais centradas em metodologias ativas aplicadas ao contexto da área da saúde, desenvolvimento local no âmbito do SUS, equipamentos sociais e outras políticas públicas. Princípios da educação popular e do empoderamento das pessoas, grupos e comunidades. Instrumental de abordagens participativas no contexto de práticas de acompanhamento, monitoramento e avaliação de ações de projetos, programas e/ou políticas de saúde 10. Criação da Rede Multicêntrica de Pesquisa-Ação Participativa – Projeto Sementes - para elaborar a Plataforma de compartilhamento de ferramentas de pesquisa e práticas de promoção da saúde desenvolvidas com métodos participativos, com base no website “engageforequity.org”, que possa apoiar um futuro estudo multicêntrico envolvendo outras universidades no país (USP, UNIFESP, UFABC, UNB, PUCRJ, UFPI, UFPE, UFG, UCC) , e UNM, EUA., conforme apontado pelo objetivo 4 do Projeto. 11. Oferta de cursos de extensão em Pesquisa-Ação Participativa em 10 a 13 de fevereiro de 2020 como resultado do projeto sementes e liderado pelos pesquisadores do nosso projeto em 5 núcleos: UFPE/Recife; UFG/GN; PUC/RJ; Universidade Comunitária de Chapecó (UNOCHAPECÓ), FSP/USP.

12. Supervisão da Pós-Doutorado Pamela Lamarca Pigozi, pelo Coordenador deste Projeto FAPESP: Marco Akerman, que utilizou a metodologia do Projeto para

pesquisar bullying na educação básica “Pesquisa-Intervenção sobre o bullying escolar: estudo de métodos e ferramentas de pesquisa participativa”. Apresentação da pesquisa em Congresso Nacional: O jornal comunitário como tecnologia informativa e emancipadora para o reconhecimento e enfrentamento do bullying entre adolescentes no cenário escolar no Encontro Sudeste da Rede Unida – Observatório Nacional de Políticas Públicas e Educação em Saúde - Linha de Pesquisa Micropolítica e Governos de Si – “MULTIDÃO EM NÓS: EXISTIR PARA RESISTIR”, realizado nos dias 30 de outubro a 01 de novembro de 2019, na Faculdade de Saúde Pública/USP, em São Paulo.

II. DESCRIÇÃO E AVALIAÇÃO DO APOIO INSTIUCIONAL

A pesquisa teve apoio multicêntrico, onde cada instituição contribuiu de acordo com suas possibilidades. São elas: FSP/USP, UNIFESP Baixada Santista, UNM, EACH/USP, CAMARA CALUNGA, FAPESP.

Não tivemos dificuldades para obter o apoio destas instituições no que concerne a facultar horas/pesquisa de seus docentes, cessão de salas para reuniões, uso de equipamentos, softwares para Videoconferências, apoio administrativo par cursos, disciplina e seminários, oferta de material de papelaria para o desenvolvimento de oficinas.

Os recursos da FAPESP possibilitaram a compra de dois laptops, 1 filmadora, diárias e passagens para a realização da visita técnica, a UNM, EUA e Columbia University, e, financiamento de participação em congresso nacional, além de pagamento de apoio para transcrição das gravações dos resultados da Oficina.

Este conjunto de apoio propiciou tranquilidade aos pesquisadores para realizar suas atividades e agregou potência ao seu desenvolvimento a partir do intercambio internacional. Cumpre ressaltar a presteza do “Converse com a FAPESP” e do seu atendimento telefônico sempre que tivemos duvidas em geral, e particularmente, quanto ao a uso do “cartão pesquisa”.

III. PLANO DE ATIVIDADES PARA O PRÓXIMO PERÍODO

As atividades até então realizadas geraram reflexões e questões de pesquisa e ampliaram o nosso leque de investigação:

a)

Como pensar o fortalecimento dos representantes da comunidade no CGP?

b)

Reflexões sobre o uso de ferramentas do CBPR em experiências dessa natureza.

c)

Como se aproximar dos parceiros e atores locais do Camará?

d)

Valorizar as iniciativas do Camará, a exemplo das Assembleias locais.

e)

Pensar em formas e ferramentas de ampliar a voz de crianças e adolescentes na

pesquisa. f)

Pensar na sustentação das parcerias existentes.

Plano de Publicação ao final da pesquisa: 

3 artigos em revista de indexação internacional



1 livro sobre Parcerias, Pesquisa-Ação Participativa e Educação Politica a ser publicado pela Editora HUCITEC.



3 Capítulos de livro organizado pela Organizaçaõ Pan-Americana da Saúde a ser publicado em 2020.



Participação em 2 Congressos Nacionais (Congresso Brasileiro de Politicas da ABRASCO em SP, 26 a 30 de julho de 2020 e outro a ser escolhido)



Participação em Congresso Internacional na Grécia para apresentar o trabalho em conjunto com a Pós-Doutoranda Pamela Pigozi.: The community journal as an informative and emancipating technology for recognizing and confronting bullying among adolescents in a school scenario

IV. PARTICIPAÇAO EM EVENTO CIENTIFICO (beneficio complementar)

Marco Akerman usou seu beneficio complementar para participar da Visita Técnica ao

Novo México, Universidade do Novo México, sob a coordenação da Colega Nina Wallerstein docente desta Universidade e pesquisador deste Projeto aqui relatado (ver, atividade 6). Maria Fernanda Frutuoso, pesquisadora do Projeto, obteve financiamento para apresentar trabalho em Congresso Brasileiro em João Pessoa (ver, atividade 4).

V. LISTAS DE TRABALHOS PREPARADOS PARA PUBLICAÇÃO

1. Direito humano e alimentação adequada e ODS: construções coletivas com crianças para análise e interferências em periferias (aceito e apresentado em comunicação oral coordenada) No Anexo 2, ver artigo a ser submetido até março de 2020. 2. Revisão bibliográfica para publicação de dois artigos: Tema 1 : Objetivos de Desenvolvimento Sustentável no BRASIL. Metodologia: Para a revisão dos artigos foram utilizados os sites de pesquisa “ BVS e Google Scholar”, além de informes, teses e reportagens da ONU, Acervo Digital Rede Nossa São Paulo e Repositório Institucional de algumas Universidades. Os artigos foram pesquisados entre os dias 9 e 20 de Dezembro. Site BVS: ❖

Foram encontrados 164 artigos no total para esse tema. Em seguida, a pesquisa

foi restringida adicionando os filtros “Ano de publicação: 2015 - 2019” e “País/Região como assunto: Brasil.” Logo, foram obtidos 22 artigos. Contudo, os textos “ Saúde da criança na atenção primária: evolução das políticas brasileiras e a atuação do enfermeiro”, “A ativação de Redes Sociotécnicas na Cidade Estrutural/DF, Brasil: Construindo um Território Saudável e Sustentável” e “Atenção primária à saúde no Brasil: conceitos, práticas e pesquisa” aparecem duas vezes, resultando em 19 artigos. Site GOOGLE SCHOLAR: ❖

Foram encontrados 282.000 artigos no total para esse tema. Em seguida, a pesquisa

foi restringida adicionando o filtro “Intervalos específicos: 2015 - 2019”, obtendo 14.000 textos. Por fim, com a expressão exata do TEMA 1 em qualquer parte do texto foram obtidos 10 resultados, sendo 9 artigos e 1 informe. Contudo, após a leitura foi constatado que um dos artigos não era referente ao tema 1, possuindo apenas o assunto em sua referência. Dessa forma, a revisão foi realizada em 9 textos dessa base de dados. Site das Nações Unidas: ❖

Foram selecionados 4 reportagens referentes ao tema central para complementar a

revisão de artigos. Site G1: ❖

Foi selecionado uma série de reportagens em forma de vídeo sobre algumas metas

dos Objetivos de Desenvolvimento Sustentável. Tema 2: Pesquisa Ação Participativa com a Comunidade no Brasil Site BVS: ❖

Foram encontrados 210 artigos no total para esse tema. Em seguida, a pesquisa

foi restringida adicionando os filtros “Ano de publicação: 2015 - 2019” e “País/Região como assunto: Brasil.” Logo, foram obtidos 26 artigos. Contudo, os textos "Então não tenho como dimensionar: um retrato de grupos educativos em saúde na cidade de São Paulo, Brasil”, “Entre desafios e potencialidades: avaliação da participação comunitária em um programa de controle da esquistossomose e de promoção da saúde” e “Liberdade de expressão e de informação: análise dos sites dos principais partidos políticos brasileiros a partir da proposta de Cass Sunstein na obra ´Republic. com 2.0‟ aparecem duas vezes, sendo o último excluído da revisão por não se tratar do assunto, assim como o texto sobre “Percepção das desordens de bairro e pressão arterial em adultos: um estudo multinível de base populacional.” O resultado foi 21 artigos.

Site GOOGLE SCHOLAR: ❖

Foram encontrados 204.000 artigos no total para esse tema. Em seguida, a pesquisa

foi restringida adicionando o filtro “Intervalos específicos: 2015 - 2019”, obtendo 12.700 textos. Por fim, com a expressão exata do TEMA 2 em qualquer parte do tema não foram

encontrados nenhum artigo. Contudo, se retirar o intervalo de tempo 2015 - 2019 da pesquisa avançada, resulta em 2 artigos e 2 livros. O próximo passo foi expandir a busca pelos sinônimos de pesquisa participativa, como: pesquisa-ação e pesquisa-intervenção. Dessa forma, para pesquisa-ação foram obtidos 32 artigos e pesquisa-intervenção 42 artigos. Após a leitura, foram reunidos os artigos que se destacaram sobre o tema 2 e no trabalho que estamos desenvolvendo em parceria com o Camará. Também foram incluídos textos que retratam distintos assuntos para mostrar a forma com que a pesquisa participativa está sendo utilizada como uma abordagem metodologia no Brasil.

ANEXOS Anexo 1. Tabela dos Encontros 2019 Tabela dos encontros - 2019 Data 21 MAR

Local

Evento

Participantes

FSP - USP

Diálogo sobre o direito à cidade na perspectiva dos ODS

Marco, Mafê, Victor

01 ABR

UNIFESP campus Baixada Santista

I Oficina do CGP

Pesquisadores e Equipe do Camará: Rosilda Mendes (UNIFESP BS), Maria Fernanda Frutuoso (UNIFESP BS), Cássio Viana (Camará), Victor Escórcio (UNIFESP BS), Paulo Almeida (EACH USP), João Carlos Franca (Camará), Vanessa Salgado (Camará) e José Eduardo Noronha (Camará)

13 MAI

Sede Instituto Camará Calunga

II Oficina do CGP

Rosilda, Mafê, Paulo, Cássio, Marco, João, Michelle, Carla, Bruna e Graziele

10 JUN

Sede Instituto Camará Calunga e EMEF Lúcio Martins Rodrigues

III Oficina do CGP

Rosilda, Mafê, Paulo, Cássio, Marco, João, Michelle, Carla, Bruna, Ana Flávia, Maria Fernanda, Inês (diretora da escola)

10 JUL

FSP - USP

Reunião da pesquisa

Rosilda, Mafê, Marco

12 AGO

Sede do Instituto Camará Calunga

IV Oficina do CGP

Rosilda, Mafê, Paulo, Cássio, Marco, João, Michelle, Ana Flávia, Bruna e Graziele

16 SET

Sede do Instituto Planejamento Rio da Camará Calunga Vida

19 SET

Parque Estadual Xixová-Japuí

Rio da Vida

Rosilda, Mafê, Paulo, Cássio, Marco, João, Michelle, Giulia Rosilda, Mafê, Paulo, Cássio, Marco, João, educadores do Camará (Guilherme, Graziela, Carol, José, Valéria, Vanessa, Cristian), estagiária

Anexo 2 DIREITO HUMANO À ALIMENTAÇÃO ADEQUADA E OBJETIVOS DO DESENVOLVIMENTO SUSTENTÁVEL: CONSTRUÇÕES COLETIVAS COM CRIANÇAS PARA ANÁLISE E INTERFERÊNCIAS EM PERIFERIAS

Introdução Dietas

nutricionalmente

inadequadas,

frutos

de

sistemas

alimentares

contemporâneos, resultam em diversas formas de má nutrição (Pérez-Escamilla, 2017) que compõe uma sindemia global caracterizada pelas pandemias de obesidade, desnutrição e mudanças climáticas - com seus efeitos sobre a saúde e sistemas naturais (Swinburn et al, 2019). Pensar no manejo deste cenário implica em reconhecer o conceito de Segurança Alimentar e Nutricional (SAN): “direito de todos ao acesso regular e permanente a alimentos de qualidade, em quantidade suficiente, sem comprometer o acesso a outras necessidades essenciais, tendo como base práticas alimentares promotoras de saúde que respeitem a diversidade cultural e sejam ambiental, cultural, econômica e socialmente sustentáveis” (Brasil 2006, p. 01). A SAN é fruto de sistemas alimentares eficientes, sustentáveis e sensíveis à nutrição (FAO, 2019), o que significa pensar nas cadeias de produção à comercialização de alimentos, nos ambientes alimentares e nas práticas alimentares (HLPE, 2017). Assumindo a relação direta entre sistemas alimentares e insegurança alimentar, a pauta da alimentação se relaciona a todos os Objetivos do Desenvolvimento Sustentável (ODS), na medida em que as dietas consumidas são fruto de uma rede complexa e multifatorial que influencia diretamente a disponibilidade dos alimentos, da produção à comercialização; o acesso ao alimento, incluindo as escolhas alimentares; a utilização biológica do alimento e a estabilidade em manter uma dieta adequada quanti e qualitativamente (Brasil, 2013; IPESFOOD, 2019). Tomando a questão da insegurança alimentar nos espaços urbanos, situações de pobreza e desigualdade social interferem diretamente na alimentação dos domicílios, que podem resultar em diferentes gradientes de insegurança alimentar e estratégias para obtenção/aquisição de alimentos. Neste contexto, a produção de saúde nas cidades, especialmente nos territórios periféricos, requer o agenciamento da comunidade para o pensamento crítico e o enfrentamento de situações de violação de direitos, incluindo o

direito humano à alimentação adequada (DHAA), colocando em conexão a Promoção da Saúde (PS) e os ODS em discussões e intervenções locais, que produzam sentido para as pessoas e potencializam suas parcerias nos territórios onde vivem. Na prática, investir em discussões e intervenções locais implica em inverter a lógica hegemônica do trabalho hierarquizado, fragmentado, de forma a valorizar as ações que fortaleçam a participação e a organização social dos diversos setores para organização de redes articuladas de parcerias, que possam ter de fato impacto social (Zacan 2003). Promover a saúde, a SAN e o DHAA implica, de uma ampla perspectiva atuar junto às condições de vida do indivíduo, família e comunidade, com ações que buscam fomentar escolhas saudáveis nos territórios. Cabe pontuar que, no Brasil, somente em 2010 a alimentação foi incluída como direito social fundamental na Constituição Federal (Brasil, 2010). A experiência brasileira na construção de políticas públicas de alimentação e nutrição, tomando como norteador o DHAA e reconhecendo a fome, desnutrição e obesidade como expressão da insegurança alimentar e nutricional aponta para articulações intersetoriais e mecanismos de governança a partir de instâncias de diálogo com a intensa participação da sociedade civil, à exemplo do

CONSEA (Conselho de Segurança

Alimentar), com participação ativa da sociedade civil na formulação e no controle dessas diretrizes (Burlandy, 2011; Leão e Maluf, 2012). Adotar como objetivo fundamental da PS - e da garantia do DHAA - fomentar escolhas saudáveis significa construir ações, iniciativas, programas ou projetos que de fato resultem em fortalecimento dos sujeitos e coletividades. Significa também ampliar a autonomia e o poder dos atores locais e das instâncias locais de gestão; conhecer profundamente as dinâmicas territoriais; estabelecer pactos e parcerias locais; fomentar a participação e as redes de ação intersetorial e interdisciplinar, incluindo novos atores na gestão; desenvolver métodos e técnicas de trabalho, experimentá-los, revisá-los e modificálos. Significa, ainda, criar e recriar sentidos e significados acerca de nossas práticas (Mendes, Fernandez, Sacardo, 2016). Neste cenário, este artigo tem como objetivo analisar a narrativa sobre o DHAA e os ODS, a partir de uma experiência em ações com crianças e adolescentes em periferias urbanas de São Vicente, São Paulo.

Métodos

Este artigo é um recorte da pesquisa „Objetivos do desenvolvimento sustentável e promoção da saúde: estudo de métodos e ferramentas de pesquisa participativa‟ (FAPESP 2018/13215-9), que vem sendo desenvolvida em parceria pela University of New Mexico (UNM); Faculdade de Saúde Pública e Escola de Artes, Ciências e Humanidades da Universidade de São Paulo; Instituto Saúde e Sociedade do campus Baixada Santista da Universidade Federal de São Paulo (UNIFESP-BS) e Instituto Camará Calunga (Camará). Trata-se de uma investigação qualitativa baseada no modelo conceitual CBPR (community based participatory research - pesquisa participativa baseada na comunidade), desenvolvido pela UNM. Este modelo conceitual norteia a identificação e análise de relações e práticas cooperativas entre parceiros em diversas áreas, a partir de quatro domínios: a) contexto, b) processos de parceria, c) intervenção e pesquisa e d) resultados. Na prática, o modelo representa as principais características de uma parceria de qualquer projeto, seu contexto social e a gama potencial de resultados mais importantes, além de objetivos de médio e longo prazo, como empoderamento, democracia do conhecimento, equidade em saúde e justiça social (WALLERSTEIN, DURAN, 2010; KASTELIC et al, 2018). Considerando os princípios da CBPR, no que diz respeito ao diálogo entre os sujeitos envolvidos, implicados no processo de pesquisar e no enfrentamento das desigualdades sociais, na primeira etapa desta investigação foi criado um Grupo Gestor (GG) com o intuito de aproximar pessoas para a tomada de decisão e condução de todas as etapas da pesquisa, bem como para o aprofundamento teórico dos temas da investigação. Uma das primeiras atividades do GG foi identificar as parcerias do Camará, que desenvolve ações com crianças e adolescentes nas periferias de São Vicente, São Paulo. A cidade de São Vicente, pelo olhar enviesado dos colonizadores, é conhecida como a primeira cidade do Brasil, entretanto, seu suposto pioneirismo histórico não garante um desenvolvimento justo e sustentável de garantia de direitos humanos básicos no âmbito da saúde, educação ou habitação/moradia. Indicadores do Estado de São Paulo ilustram alguns aspectos da vulnerabilidade da cidade, colocando São Vicente no grupo de municípios com baixos níveis de riqueza e indicadores de longevidade e escolaridade insuficientes, com 27,8% da população em situação de vulnerabilidade média, 4,4% alta e 16,1% muito alta (SEADE 2014). No ano de 2015, São Vicente apresentou mortalidade infantil de 14,4; valor próximo à média da região da Baixada Santista (14,6) que apresenta as maiores taxas do estado (SEADE 2016).

Neste cenário, o Camará tem 20 anos de produções coletivas na luta pela defesa e garantia de direitos humanos de crianças e adolescentes. Desde sua fundação, em 1997, enquanto uma organização da sociedade civil, investe fortemente na mobilização comunitária em articulação com as políticas públicas. Com a missão institucional de promover a defesa dos direitos humanos, especialmente de crianças e adolescentes, nos diversos lugares e territórios em que elas vivem, intenciona – e tem garantido – a produção de experiências referenciais de cuidado, formação crítica, pesquisa, intervenção, que incidam na formulação de políticas públicas de infância e juventude. O Instituto é espaço de produções coletivas com a UNIFESP-BS desde 2011. A parceria em análise neste artigo é com o Curso de Nutrição na proposição de ações com crianças e adolescentes sobre a temática da insegurança alimentar, da fome e do DHAA desde 2016. As ações resultaram da articulação de dois projetos: o Projeto de extensão Saberes e sabores: a Nutrição em diálogos que propõe vivências interdisciplinares englobando os possíveis – e potentes - diálogos sobre alimentação e o Projeto Terra Sonâmbula, que discutiu o direito à terra em sua perspectiva relacionada à moradia e à alimentação, inserindo a alimentação como eixo temático transversal nos espaços educativos do Camará, que se dedicam a pensar processos de alfabetização integral.

Resultados e discussão O contexto: as assembleias comunitárias como espaço de leituras diagnósticas coletivas sobre alimentação e relação com os ODS As experiências e experimentações de fazeres coletivos, na parceria em análise, parte da histórica construção das ações do Camará, tendo como prerrogativa os papéis decisivos da sociedade civil sob as políticas que interferem e, muitas vezes, determinam, as realidades sociais. O Instituto desenvolve uma metodologia de gestão por meio de assembleias comunitárias de crianças e adolescentes que, nos espaços escolares ou domésticos de seus territórios, sentam-se em roda e vivem experiências críticas e coletivas de formação. Essas assembleias, sempre no período noturno, mobilizam crianças, que ressignificam a ocupação de seus territórios para produzir experiências que acabam por instituir suas primeiras práxis democráticas: processos reflexivos de suas condições diárias, suas problemáticas sociais e das condições de seus territórios.

As assembleias comunitárias se aproximam da aposta de “criar espaços coletivos democráticos, onde de fato se tomem decisões, se negociem conflitos e se projetem reformas estruturais e funcionais de caráter democrático. Isso não seria uma nova forma de se fazer política?” (CAMPOS, 2015, p. 48). Assim, reconhecemos nessas ocasiões o exercício de espaços coletivos de sujeitos com capacidade de análise crítica e de intervenção em seus territórios, desmistificando o lugar da criança e do adolescente como aqueles que não podem ou não alcançam a maturidade crítica de leitura de territórios ou que sejam incapazes de produzir interferências estruturais em suas realidades. O dispositivo das assembleias vai se tornando um importante espaço de formação para todos os atores envolvidos, pois convoca a “abertura, da parte dos adultos, para escutar esses novos interlocutores [as crianças], e, sobretudo, na coragem de ser desafiado na sua posição inabalável frente a ela, a de ser o único que tem o poder de definir as situações” (CASTRO, 2013, p. 106). Ao exercitar a roda com as crianças e adolescentes para uma formação, simultaneamente vai-se construindo democracia. Estamos dizendo claramente da imediata necessidade de, nessas lutas, aliarmos a desconstrução do adultocentrismo e o fortalecimento de metodologias de participação que deem conta da linguagem e da temporalidade das crianças em suas leituras de mundo. A observação participante desse dispositivo nos diversos territórios que o Camará atua foi servindo de referência para ampliar as discussões produzidas ali para a temática da alimentação que foi sendo demandada e pautada pelas crianças e adolescentes que frequentam e participam dessas experiências. A vivência real da experiência da fome e da insegurança alimentar foram os disparadores iniciais para os contatos e parcerias que foram sendo construídos com a UNIFESP-BS e as ações compartilhadas entres os dois projetos citados, sempre pactuadas nas assembleias, envolveram docentes, estudantes, educadores, crianças e adolescentes. Tomando o tema central da alimentação, as assembleias viabilizam leituras diagnósticas coletivas, sobre a insegurança alimentar, a fome e o DHAA, que se relacionam a todos os ODS e anunciadas explicitamente no ODS 2 (Acabar com a fome, alcançar a segurança alimentar e melhoria da nutrição e promover a agricultura sustentável). Ainda que o Brasil, em 2014, tenha saído do Mapa da Fome, o que significa que atingiu uma prevalência de desnutrição inferior à 5% da população, se reconhece que presença da fome em famílias sem emprego estável, residente na periferia dos centros

urbanos (Graziano, 2018). É neste contexto - da complexidade da alimentação nos territórios onde estas crianças vivem - que a parceria em análise apostou na desafiadora tarefa de aprofundar a discussão sobre os determinantes da SAN e os ODS, como um importante norteador e balizador da luta pelo DHAA. Neste sentido, nas assembleias configuraram-se como o espaço de reconhecer a disponibilidade de alimentos que as crianças têm em seus territórios, a partir da construção coletiva de atividades de mapeamento dos pontos de venda de alimentos; discussões sobre o abastecimento de gêneros alimentícios e as forças que influenciam esse abastecimento (como, por exemplo, as dinâmicas do narcotráfico na região) e as limitações que essas forças trazem no repertório alimentar de suas famílias. As crianças residem em territórios em áreas insulares e continentais, distantes do centro comercial da cidade, o que interfere diretamente na disponibilidade de estabelecimentos comerciais de venda de alimentos que, no geral, são de pequeno porte, com pouca variedade e preços abusivos. Na descrição dos locais que comercializam alimentos, as crianças descrevem comidas de rua e locais que se destacam, como por exemplo, lanchonetes que vendem sanduíches ou açaí e locais que vendem doces. Quais possibilidades podem ser pensadas a partir desses referenciais trazidos pelas crianças? Que experiências coletivas podem ser pensadas a partir disso? Quais outras linhas de força que podem compor essa rede? Desta forma, as crianças iniciam reflexões sobre os ambientes alimentares como mediadores entre o sistema alimentar e as práticas alimentares e dependentes do contexto geográfico, econômico, político e sociocultural de onde vivem. Coloca-se em pauta, o ODS 9 (Construir infra estruturas resilientes, promover a industrialização inclusiva e sustentável e fomentar a inovação), ODS 11 (Tornar as cidades e os assentamentos humanos inclusivos, seguros, resilientes e sustentáveis) e ODS 16 (Promover sociedades pacíficas e inclusivas para o desenvolvimento sustentável, proporcionar o acesso à justiça para todos e construir instituições eficazes, responsáveis e inclusivas em todos os níveis). Discussões importantes para compreender que possibilidades existem como produção alimentar para autoconsumo, em periferias urbanas,

aproximam esta leitura

diagnóstica ao ODS 12 (Assegurar padrões de produção e de consumo sustentáveis), ODS 13 (Tomar medidas urgentes para combater a mudança climática e seus impactos), ODS 14 (Conservação e uso sustentável dos oceanos, dos mares e dos recursos marinhos para o desenvolvimento sustentável) e ODS 15 (Proteger, recuperar e promover o uso sustentável

dos ecossistemas terrestres, gerir de forma sustentável as florestas, combater a desertificação, deter e reverter a degradação da terra e deter a perda de biodiversidade). Os territórios em análise apresentam, muitas vezes, solo contaminado por dejetos químicos e ausência de saneamento básico em moradias precárias, como favelas, palafitas e áreas de ocupação. Os espaços do mangue são, para as crianças e adolescentes, lugar de lazer e fornecem o caranguejo, consumido e comercializados pelas famílias. Ao pensarmos sobre o acesso aos alimentos nos territórios onde as crianças residem, necessariamente precisamos construir discussões que perpassam a renda e o trabalho. O trabalho é uma temática que atravessa muito fortemente a vida de crianças e adolescentes em vulnerabilidade urbana, a inserção precoce no trabalho informal vai se tornando uma necessidade cada mais urgente, e é a partir destes cenários que vamos construindo a leitura da renda e da estabilidade financeira das famílias (a partir dos próprias crianças) e como podemos ir acompanhando e construindo saídas para a inserção de uma rede social de apoio, e a depender da gravidade dos cenários, a construção coletiva desta rede. Anunciamse, aqui, o ODS 1 (Acabar com a pobreza em todas as suas formas, em todos os lugares), ODS 8 (Promover o crescimento econômico sustentado, inclusivo e sustentável, emprego pleno e produtivo e trabalho decente para todas e todos) e ODS 10 (Reduzir a desigualdade dentro dos países e entre eles). No contexto dos territórios onde estas crianças e adolescentes vivem, a garantia a participação em programas de transferência condicionada de renda é tema para discussão. Como pode ser o auxílio e apoio para garantia a participação em programas assistenciais federais? Os programas contribuem, em que medida, para diminuir a fome? E para a compra de alimentos? O trabalho infantil determina um cenário de insegurança alimentar ou sacia a fome? Essas análises vão compondo a discussão sobre a construção de políticas públicas efetivas para a garantia do DHAA. As inserções e mapeamentos de território, como ainda os relatos cotidianos das assembleias vão servindo de substrato para a leitura de como os alimentos, se disponíveis, podem ser utilizados em cenários supostamente insalubres de moradia, do não acesso à água potável ou saneamento básico - ou gás de cozinha. Associam-se o ODS 3 (Assegurar uma vida saudável e promover o bem-estar para todas e todos, em todas as idades), ODS 6 (Assegurar a disponibilidade e gestão sustentável da água e saneamento para todas e todos)

e ODS 7 (Assegurar o acesso confiável, sustentável, moderno e a preço acessível à energia para todas e todos). Neste contexto, problematizam-se quais medidas crianças e adolescentes podem tomar em práticas de higiene e conservação, por exemplo, dos alimentos a que tem acesso. Práticas que vão reconhecendo a criança e o adolescente como sujeitos ativos e críticos em suas realidades: o cenário onde crianças cozinham e são responsáveis pela alimentação dos irmãos mais novos, bem como redes de apoio de vizinhos na ausência dos pais, em virtude de suas longas jornadas de trabalho (muitas vezes em subempregos ou empregos informais). Ilustram o ODS 4 (Assegurar a educação inclusiva e equitativa e de qualidade, e promover oportunidades de aprendizagem ao longo da vida para todas e todos), ODS 5 (Alcançar a igualdade de gênero e empoderar todas as mulheres e meninas) e ODS 8 (Promover o crescimento econômico sustentado, inclusivo e sustentável, emprego pleno e produtivo e trabalho decente para todas e todos). Estes aspectos, junto a um cenário de absoluta fragilidade de vagas em creche por exemplo, vão ampliando a leitura que as crianças fazem para o cenário que produz a fome em seus territórios e reconhecendo a profunda instabilidade a que estão submetidos. E são os espaços coletivos das assembleias que vão garantindo lugar de acolhimento e de pensamento coletivo para a interferência positiva neste cenário, pelas mãos daqueles que fazem essa discussão, vão ampliando a leitura que as crianças fazem para o cenário que produz a fome e a insegurança alimentar em seus territórios e reconhecendo a profunda instabilidade a que estão submetidas. Ao exercitar esta parceria, nos deslocamos do adultocentrismo, por meio de metodologias de participação que deem conta da linguagem e da temporalidade das crianças em suas leituras de mundo.

Dos processos da parceria: fortalecimento, sustentabilidade e interferências A parceria entre a UNIFESP-BS e o Camará nos convida a pensar a fome e o DHAA nas periferias urbanas vulnerabilizadas, e a ampliar nossa compreensão desses conceitos nas experiências micro territoriais. Diante de indicadores populacionais que apontam para a redução da fome, em especial no Brasil, e da necessidade imperativa de discussão sobre o acesso à terra, produção, distribuição e consumo de alimentos, como pensar, nestes espaços, em ações de encontrem lugar e efeitos na discussão, mas também

que produzam experiências que analisem e ressignifiquem a relação com a comida e com a fome e que inspirem mudanças concretas no cenário de não-acesso ao alimento? Sendo pesquisadores e educadores que reconhecem na infância e na juventude espaço potente de produções inventivas, com investimento em mudanças processuais e estruturais, o desafio tem sido construir coletivamente com crianças, adolescentes e jovens ações coletivas referenciais para a formulação de políticas públicas, isto é, conviver com aqueles que vivem a experiência da fome, com situações de violação do DHAA, construir possibilidades de compreensão e análise crítica da produção dessa experiência e propor ações que desloquem a subalternização ou o conformismo malthusiano 1 deste cenário. A discussão atual a respeito da fome e do DHAA implica em problematizar a pobreza e todos os elementos relacionados à cadeia de produção de alimentos em uma complexa rede de determinantes. Esta multifatorial produção da fome convida a todos a construírem análises críticas que possam ir desde as micropolíticas cotidianas, até a produção de efeitos e provocações nas macropolíticas, sejam elas em micro, meso ou macro regiões. É neste sentido que esta experiência de fazeres coletivos com crianças e adolescentes, e suas respectivas redes de cuidado e proteção, podem produzir referências metodológicas ou influências nas políticas públicas que atravessam as temáticas afim. Esta intenção tem como prerrogativa os papéis decisivos que a sociedade civil tem sob as políticas que interferem e, muitas vezes, tão fortemente determinam, as realidades sociais. Quando se afirma neste lugar de incidência nas políticas públicas, investe profundamente na importância de integrar as instâncias não só de formulação, mas de controle social, bem como contribuir com educação permanente de trabalhadores e educadores sociais. Ao passo que vem interferindo, ao longo de sua história, na crítica e na luta pela garantia de direitos, com o recorte específico da infância e adolescência, tem uma posição de assim fazer a partir de metodologias de convivência e formação política com as crianças e adolescentes, convidando-os à participação efetiva e dialógica das políticas locais, bem como provocando os atores institucionais das políticas à escuta das realidades e experiências desses sujeitos, que sempre estão em situação de violação de direitos.

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A teoria malthusiana, disseminada e defendida por Thomas Malthus, apontava a fome como lei natural da vida, como forma de reduzir o número de pessoas e de garantir o equilíbrio diante do aumento da população, da limitação da terra e da produção de alimentos. A partir de uma leitura fatalista da história da humanidade, resultante de um processo de seleção natural e regulação demográfica, até meados do século XX, a fome era considerada um tabu (Ziegler, 2013).

Os Conselhos de Políticas Públicas, espaços institucionais garantidos à sociedade civil no controle social dessas políticas no Brasil, têm sido lugares aos quais o trabalho do Camará exerce pressão, incluindo o CMDCA (Conselho Municipal dos Direitos da Criança e do Adolescente), Conselho de Assistência Social (CMAS) e, recentemente, o CONSEA. Com a estratégia de integrar e conectar as experiências, leituras, diagnósticos e análises produzidas pelas crianças, adolescentes, jovens e suas famílias, em seus territórios, aos debates e formulações da política pública municipal, o Instituto vai ganhando espaço e disseminando essas metodologias participativas em esfera estadual, além de filiar-se a redes nacionais e internacionais, trabalhando diariamente na formação política de crianças e jovens para que ocupem e pautem esses espaços a partir de suas experiências cotidianas. Premiadas, na categoria Ações e Experiências do Prêmio Nacional do Movimento Nacional dos Direitos Humanos – MNDH (2015) e reconhecidas como de impacto nacional no Prêmio Itaú-Unicef Educação Integral (201?), as metodologias participativas e o trabalho articulado do Instituto vem ganhando força e atraído parceiros na construção de outras possibilidades de análise, produção e mobilização. A partir de 2016, o fortalecimento dos projetos que se aproximam mais fortemente da temática do DHAA, tem encontrado parceria e respaldo com a UNIFESP-BS. Ora, o deslocamento ético-político de reconhecer a criança e o adolescente como sujeito de direitos traz consigo um profundo rigor ético na construção de escutas inclusivas e de práticas qualificadas. Estas que são apostas para a amplificação do poder democrático e político dos diferentes sujeitos inseridos no campo social. Com visibilidade àqueles que têm sido sistematicamente desautorizados no campo político, as crianças tem sido cada vez mais reconhecidas como aquelas que incitam e fortalecem diversas outras reflexões no campo social fazendo-se efetivamente sujeitos de enunciação de seus próprios direitos, ou da violação deles. Este rompimento de cadeias de silenciamento e análise crítica das realidades locais podem ir se tornando importantes aliados na garantia de políticas de SAN e de combate à fome. Com o reconhecimento dessas potencialidades, desde 2018, a UNIFESP-BS, o Camará e a Prefeitura Municipal de São Vicente tem trabalhado conjuntamente na formalização de um convênio tripartite que tem como objetivos fortalecer ações coletivas de crianças e adolescentes na produção de experiências referenciais que incidam nas políticas públicas e produzam efeitos de transformação nas desigualdades exorbitantes de seus territórios.

A produção de projetos coletivos de atores institucionais municipais, pesquisadores, professores e estudantes de graduação e pós-graduação e crianças e adolescentes de territórios vulneráveis tem se mostrado um dispositivo potente de produção coletiva de analisadores do DHAA e da fome nestas periferias. E este convênio firmado inspira-se, dentre outras experiências, nas produções de projetos-pilotos e metodologias de formação e vivências nessas temáticas.

Considerações finais A análise dos dois primeiros domínios do modelo CBPR - do contexto e dos processos da parceria em foco, entre Camará e UNIFESP-BS, indica uma experiência de formação de atores locais: estudantes, docentes, educadores, crianças/adolescentes e familiares, para a mobilização e discussão sobre o DHAA e os ODS em áreas periféricas da cidade de São Vicente. A pesquisa, ainda em andamento, avançará na discussão dos terceiros e quarto domínios do modelo CBPR, intervenções e resultados, respectivamente. A narrativa sobre a fome e o DHAA anuncia a necessidade de problematizar a pobreza, as desigualdades sociais e os elementos relacionados à cadeia de produção de alimentos em uma complexa rede de determinantes que se aproximam a todos os ODS e ilustram a Agenda 2030. Ressalta-se que o deslocamento ético-político de reconhecer a criança como sujeito de direitos traz consigo um profundo rigor ético na construção de escutas inclusivas e de práticas qualificadas. A produção de projetos coletivos entre os diversos atores tem se mostrado um dispositivo potente de produção coletiva de analisadores do DHAA e da fome, por meio das assembleias comunitárias nos territórios e das ações curriculares de ensino/extensão com crianças nos locais onde vivem. Os espaços coletivos das assembleias vão garantindo lugar de acolhimento e de pensamento coletivo para a interferência positiva neste cenário, pelas mãos daqueles que fazem essa leitura.

Referências BRASIL. Emenda Constitucional nº 64, de 4 de fevereiro de 2010. Altera o art. 6º da Constituição Federal para introduzir a alimentação como direito social. Diário Oficial da União 2010; 4 fev.

BRASIL. Lei nº 11.346 de 15 de setembro de 2006. Cria o Sistema Nacional de Segurança Alimentar e Nutricional – SISAN com vistas a assegurar o direito humano à alimentação adequada e dá outras providências. Diário Oficial da União 2006; 18 set. BRASIL. O direito humano à alimentação adequada e o sistema nacional de segurança alimentar e nutricional. Brasília: ABRANDH, 2013. 263 p.: il. BURLANDY, L. A atuação da sociedade civil na construção do campo da Alimentação e Nutrição no Brasil: elementos para reflexão. Ciência e Saúde Coletiva, Rio de Janeiro, v.16, n.1, p.63-72, jan. 2011. CAMPOS, G.W.S. Um método para análise e cogestão de coletivos. São Paulo: Editora Hucitec, 2015. CASTRO, L.R. O futuro da infância e outros escritos. 7letras: Rio de Janeiro, 2013. FAO, IFAD, UNICEF, WFP and WHO. 2019. The State of Food Security and Nutrition in the World: Safeguarding against economic slowdowns and downturns. Rome, FAO, 2019. GRAZIANO, J. O problema da fome não está na produção de alimentos - entrevista. Revista Radis 186: 23-24, 2018. HLPE. High Level Panel of Experts on Food Security and Nutrition. Nutrition and food systems. A report by the High Level Panel of Experts on Food Security and Nutrition of the Committee on World Food Security. Rome: HLPE; 2017. IPES-FOOD. International Panel of Experts on Sustainable Food Systems. Towards a common food policy for the European Union the policy reform and realignment that is required to build sustainable food systems in europeu. Europe: IPES-FOOD, 2019. KASTELIC, S.; WALLERSTEIN, N.; DURAN, B.; OETZEL, J. Socio-ecologic framework for CBPR: development and testing of a model. In: WALLERSTEIN, N.; DURAN, B.; OETZEL, J.; MINKLER, M. (eds) Community-Based Participatory Research for health: advancing social and health equity, 3rd edition, San Francisco, Jossey-Bass, 2018, 77-94. LEÃO, M.; MALUF, R.S. A construção social de um sistema público de segurança alimentar e nutricional: a experiência brasileira. Brasília: ABRANDH; 2012.

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Social



Versão

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Anexo 3

ATIVIDADES DO PROJETO “OBJETIVOS DO DESENVOLVIMENTO SUSTENTÁVEL E PROMOÇÃO DA SAÚDE: ESTUDO DE MÉTODOS E FERRAMENTAS DE PESQUISA PARTICIPATIVA”

ANO 1

São Paulo

2019 FACULDADE DE SAÚDE PÚBLICA - UNIVERSIDADE DE SÃO PAULO DEPARTAMENTO DE POLÍTICA, GESTÃO E SAÚDE MARCO AKERMAN (coord)

UNIVERSIDADE FEDERAL DE SÃO PAULO - CAMPUS BAIXADA SANTISTA DEPARTAMENTO DE POLÍTICAS PÚBLICAS E SAÚDE PÚBLICA ROSILDA MENDES MARIA FERNANDA PETROLI FRUTUOSO

ESCOLA DE ARTE, CIÊNCIAS E HUMANIDADES - UNIVERSIDADE DE SÃO PAULO PAULO SANTOS DE ALMEIDA

UNIVERSITY OF NEW MEXICO -USA NINA WALLERSTEIN (DRPH, MPH) COLLEGE OF POPULATION HEALTH; DIRECTOR, CENTER FOR PARTICIPATORY RESEARCH

INSTITUTO CAMARÁ CALUNGA UNIVERSIDADE FEDERAL DE SÃO PAULO - CAMPUS BAIXADA SANTISTA CASSIO VINICIUS AFONSO VIANA

LISTA DE ILUSTRAÇÕES Imagem 1 - Atividade de acolhimento “Eu e os ODS” - março, 2019……………………....6 Imagem 2 - Modelo CBPR - abril, 2019…………………………………………………......9 Imagem 3 - Primeira Oficina do Conselho Gestor da Pesquisa - abril, 2019.……………....10 Imagem 4 - Mural da atividade - abril, 2019.…………………………………………….... 10 Imagem 5 - Mural da atividade - abril, 2019.…………………………………………….... 10 Imagem 6 - Apresentação dos novos membros do CGP - maio, 2019. ................................ 12 Imagem 7 - Atividade realizada com membros do CGP - maio, 2019 …………………..... 13 Imagem 8 - Projeto realizado pelo Camará - maio, 2019.……………………………......... 15 Imagem 9 - Reunião do Conselho Gestor da pesquisa - maio, 2019.……………………... 16 Imagem 10 - Apresentação dos membros do Conselho Gestor da Pesquisa - maio, 2019... 16 Imagem 11 - Apresentação dos membros do CGP - maio, 2019 ………………………..... 17 Imagem 12 - Mapa da distância entre o Camará e a EMEF Lúcio Martins Rodrigues - junho,

2019.………………………………………….……………………………………………18 Imagem 13 - Mapa da distância entre o EMEF Lúcio Martins Rodrigues e a Comunidade

México 70 - junho, 2019.………………………………………….…………………....... 18 Imagem 14 - III Reunião do CGP - junho, 2019.………………………………………….. 19 Imagem 15 - Uma parede da Vila México 70 - junho, 2019………………………………... 20 Imagem 16 - Igreja Internacional da Graça de Deus, Vila México 70 - junho, 2019……... 20

Imagem 17 - Bar do Cidão, Vila México 70 - junho, 2019.…………………………….... 20 Imagem 18 - Rua da Vila México 70 - junho, 2019.…………………………………...… 21 Imagem 19 - Almoço dos membros do CGP na Vila México 70 - junho, 2019…………. 21 Imagem 20 - Vila México 70 - junho, 2019…………………………………………….... 21 Imagem 21 - IV oficina do CGP -agosto, 2019.……………………………………….…. 23 Imagem 22 - Planejamento para a atividade “Rio da vida” - agosto, 2019.…………........ 25 Imagem 23 - Convite para participar da atividade “Rio da vida” - agosto, 2019................ 25 Imagem 24 - Entrada da Trilha de Curtume no Parque Estadual Xixová-Japuí – setembro, 2019.... ............................................................................................................................................27

Imagem 25 – Paisagem da trilha – setembro, 2019..............................................................28 Imagem 26 – Mesa do café da manhã – setembro, 2019......................................................28

Imagem 27 – Momento das apresentações – setembro, 2019...............................................29 Imagem 28 – Momento das apresentações – setembro, 2019...............................................31 Imagem 29 – Discussão dos grupos – setembro, 2019.........................................................32 Imagem 30 – Discussão dos grupos – setembro, 2019........................................................ 32 Imagem 31- Discussão dos grupos – setembro, 2019.......................................................... 33 Imagem 32 – Preparação para Confecção do Rio – setembro, 2019.................................. 36 Imagem 33 - Avaliação dos grupos – setembro, 2019..........................................................36 Imagem 34 - Margens azuis e vermelhas – setembro, 2019................................................37 Imagem 35 – Iniciando o Rio – setembro, 2019...................................................................38 Imagem 36 – O rio se desenhando – setembro, 2019.......................................................... 39 Imagem 37 – Nosso rio – setembro, 2019.............................................................................40 Imagem 38 - As margens que confinam o Rio – setembro, 2019.........................................41

SUMÁRIO

1. APRESENTAÇÃO……………………………………………………………...……...5 2. PROCESSO DE PESQUISA ………………………………………………….……...6 2.1 Março ……………………………………………………………………………... 6 2.2 Abril ………………………………………………………………………………..8 2.3 Maio …………………………………………………………………………….... 11 2.4 Junho ……………………………………………………………………………....18 2.5 Julho ………………………………………………………………………………23 2.6 Agosto…………………………………………………………………………...….…….24 2.7 Setembro …………………………………………………………………….…….27

3. QUESTÕES DE PESQUISA PARA PROSSEGUIR ……………………………….41

1. APRESENTAÇÃO Este é o primeiro relatório parcial do projeto “Objetivos do desenvolvimento sustentável e promoção da saúde: estudo de métodos e ferramentas de pesquisa participativa”, uma parceria entre a Faculdade de Saúde Pública – Universidade de São Paulo, Universidade Federal de São Paulo – campus Baixada Santista, Escola de Artes, Ciências e Humanidades – Universidade de São Paulo, University of New Mexico - USA e Instituto Camará Calunga. O projeto te m como objetivo geral produzir narrativas e intervenções no campo da promoção da saúde articuladas aos Objetivos de Desenvolvimento Sustentável (ODS) e faz uso de métodos e ferramentas participativas de pesquisa. Além disso, pretende aplicar a perspectiva de “Engage for Equity” (ligado ao Centro de Pesquisa Participativa da University of New Mexico) de reflexão e auto-avaliação de atores sociais de modo a analisar e fortalecer parcerias e intervenções no campo da promoção da saúde. Neste sentido, as narrativas locais seriam “benéficas” e poderiam favorecer intervenções que fizessem sentido para as pessoas e potencializar suas parcerias em seus territórios. Dessa forma, este Relatório apresenta os resultados parciais da pesquisa e as ações efetuadas até o momento, buscando fornecer uma oportunidade para rever a experiência, refletir as atuais práticas de parcerias e discutir como alcançar os resultados desejados. Boa leitura!

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2. PROCESSO DE PESQUISA 2.1 MARÇO DE 2019 DIÁLOGOS SOBRE O DIREITO À CIDADE NA PERSPECTIVA DOS ODS Faculdade de Saúde Pública - USP - 21/03/2019 Neste evento as discussões foram iniciadas com uma atividade de acolhimento propondo que os participantes escrevessem em uma folha com giz de cera suas relações com os ODS intitulada “Eu e os ODS”, em seguida foi feito um painel onde as folhas foram expostas. O grupo se mostrou heterogêneo onde as relações de cada pessoa com os ODS eram bem diferentes, com alguns já tendo trabalhado muito com o tema e outros distantes da temática. O Prof. Marco propôs criar uma lógica de alinhamento a partir disso.

Imagem 1 - Atividade de acolhimento “Eu e os ODS” - março, 2019. Em seguida, houve a fala Para anunciarmos possíveis protagonismos para a Universidade de Julia Nogueira - UNB. Foram pontos marcantes: - O histórico de discussão da Promoção de Saúde pari e passo com a discussão dos Objetivos do Desenvolvimento do Milênio/Objetivos do Desenvolvimento Sustentável; - A perspectiva da saúde individual, comunitária e planetária; - A possibilidade da universidade como lócus de vanguarda pedagógica, científica e tecnológica; - O reforço do papel de universidades socialmente referenciadas e de projetos pedagógicos que envolvam metodologias participativas e estratégias de aproximação de estudantes à discussão dos ODS; - Ver a universidade como um “Laboratório de experimentação”, dinamizar conhecimento e estratégias para gerar desenvolvimento voltado aos ODS;

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- A saúde como mercado e a necessidade de explicitar os conflitos de interesse na parceria público-privado, na relação universidades-indústrias (alimentícias, farmacêuticas) no financiamento de pesquisas e projetos - os determinantes comerciais da saúde; - A universidade promotora de saúde como algo novo e desafiador, ela apresenta a postura dialógica e aberta, modelos participativos, lideranças horizontais e a importância de um trabalho em rede num mundo interconectado e global como facilitadores desse desafio. Algumas falas trouxeram experiências da Unicamp (ODS 8 - trabalho decente e crescimento econômico), dos diferentes departamentos da FSP/USP e da ACT - Aliança de controle do tabagismo. Destaque para a ACT que, desde 2006, atua na promoção de políticas públicas voltadas para a temática. Há uma rede - ACT Promoção de Saúde - com interlocução de diversas frentes com por exemplo a Aliança para Alimentação Saudável. O GT Agenda 2030 monitora a implantação da agenda e publica Relatórios Luz. No momento, a ACT prepara um curso de advocacy, em fase de finalização, com início em breve. O Prof. Francisco Comaru faz uma síntese das apresentações e comenta sobre uma fala de alguém da comunidade que associa os ODS ao „conto da carochinha‟ apontando como os ODS parecem utópicos para quem ouve e está em um território de fragilidade social. O Prof. Marco finaliza a discussão com ânimo para identificar as ações promissoras que os presentes realizam - com possível divulgação no Relatório Luz de 2019 e convida a todos para realizar o curso de advocacy com um encontro ao final do curso. Um grupo de e-mail será criado para compartilhar ideias, projetos e manter viva a discussão sobre a agenda 2030. PENSANDO SOBRE: O lugar da Universidade e a experiência da UNIFESP/BS: - Quais as potencialidades, desafios e limites da experiência da UNIFESP/BS como um espaço voltado à promoção de saúde e à discussão dos ODS? - Entre o triunfalismo e o pessimismo, como construir ações com - e pesquisar com - as pessoas vulnerabilizadas e as Instituições parceiras que temos trabalhado? OBS: Victor, estudante de psicologia da UNIFESP era o único estudante de graduação presente. Um analisador. - A alimentação dialoga com todos os ODS. Como incorporar essa discussão na matriz curricular do Curso e explicitar a complexidade da alimentação contemporânea? Como discutir a alimentação como tema interdisciplinar e comum? Pensando o projeto Objetivos do desenvolvimento sustentável e promoção da saúde: estudo de métodos e ferramentas de pesquisa participativa: - O olhar para a parceria UNIFESP/BS e Camará pode potencializar as ações compartilhadas, criar possibilidades e propiciar a sustentabilidade da parceria e da presença da Universidade nos territórios de São Vicente; - Como comunicar o ODS 10 - Reduzir a desigualdade dentro dos países e entre eles e a meta 10.2 (promover a inclusão social, econômica e política de todos, independentemente 38

da idade, gênero, deficiência, raça, etnia, origem, religião, condição econômica ou outra) para uma comunidade em situação de violação de direitos, em tempos de desmonte de políticas públicas e aumento da desigualdade? - Destacamos abaixo o cenário atual do Relatório Luz: “As medidas fiscais pró-cíclicas adotadas pelo Brasil têm resultado em retrocessos sociais, econômicos e ambientais e violado direitos básicos da população brasileira à alimentação, à saúde e à educação, entre outros, ao mesmo tempo em que aprofundam as desigualdades de gênero, raça e etnia, e renda (ver capítulos ODS 1, 2, 4, 5, 8), impossibilitando o cumprimento do ODS 10. Exemplo disso, e um fator determinante e contrário à implementação da Agenda 2030, é a Emenda Constitucional 95/2016 que congela os gastos públicos, inclusive os sociais, por 20 anos. Enquanto se exacerbam os níveis extremos de desigualdade, o Governo Federal segue ignorando opções como a tributação progressiva e a auditoria da dívida pública, cuja amortização e juros alcançaram 519 bilhões de reais em 2017, ou 34% do PIB do mesmo ano. Os retrocessos já apresentados nesta publicação representam barreiras para que se alcance e se sustente progressivamente, até 2030, o crescimento da renda dos 40% da população mais pobre a uma taxa maior que a média nacional, como previsto na Meta 10.1. Entre 2001 e 2014 a renda média dos 40% mais pobres variou acima da média nacional, caindo gravemente a partir de 2015: na variação 2016/2017, os 40% mais pobres perderam mais do que a média. Importante destacar que a concentração de renda do 1% de brasileiros super ricos é a maior do mundo. Em 2017 estes recebiam, em média, 36,1 vezes mais que a metade da população com os menores rendimentos (R$ 754). Os 10% mais ricos detiveram 43,3% do total de rendimentos do país, enquanto os 10% mais pobres detinham somente 0,7%. Os dados regionais também revelam desigualdades: no Nordeste essa razão foi de foi 44,9 vezes e na região Sul, 25 vezes. Tal realidade é um desafio também para alcance da Meta 10.2. ” (GRUPO DE TRABALHO DA SOCIEDADE CIVIL PARA AGENDA 2030. Relatório Luz da agenda 2030 de desenvolvimento sustentável - síntese. Disponível em: ). 2.2 ABRIL DE 2019 PRIMEIRA FASE DO CBPR: PENSANDO O CONSELHO GESTOR DA PESQUISA- CGP Atividade: Primeira Oficina do CGP. Data: 01 de abril de 2019 - 13h45 à 17h00. Local: UNIFESP campus Baixada Santista. Participantes: Pesquisadores e Equipe do Instituto Camará Calunga: Rosilda Mendes (UNIFESP BS), Maria Fernanda Frutuoso (UNIFESP BS), Cássio Viana (Instituto Camará), Victor Escórcio (UNIFESP BS), Paulo Almeida (EACH USP), João Carlos Franca (Camará), Vanessa Salgado (Camará) e José Eduardo Noronha (Camará).

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Objetivo: Apresentar o Projeto para os participantes e iniciar a definição do Conselho Gestor de Pesquisa (CGP). 13:30 às 13:45 - Café de Boas Vindas. 13h45 às 14h15 - Apresentação dos participantes. Os participantes da oficina se apresentaram e cada um explicou onde e como atuam, entre eles o fundador do Camará, educadores do Instituto e pesquisadores. 14h15 às 14h35 - Apresentação breve do Projeto de Pesquisa. O projeto e o modelo CBPR foram apresentados aos participantes. Na apresentação foi mostrado a importância em investir em questões que se relacionam à produção de saúde e objetivos do desenvolvimento sustentável (ODS) por meio de parcerias participativas e a ampliação de um estudo multicêntrico no país com o intuito de formar uma grande rede. Foram apresentados também os métodos, a constituição de um CGP, oficinas no território com aplicação do método CBPR e assembleias de restituição de resultados parciais.

Imagem 2 - Modelo CBPR - abril , 2019. 14h35 às 15h00 - O que é o Conselho Gestor da Pesquisa? Quem participa? Com o intuito de pensar a formação do conselho gestor da pesquisa foi explicado o que é o CGP e como ele funcionará a partir de sua formação, foi enfatizada a importância do CGP para aprofundar a discussão sobre o tema estudado num processo coletivo de pesquisa. 15h00 às 16h15 - Identificação inicial das parcerias. Aos participantes foram distribuídas tarjetas para que identificassem as parcerias do Camará. 40

Imagem 3 - Primeira Oficina do Conselho Gestor da Pesquisa - abril, 2019. A atividade resultou no mural.

Imagem 4 - Mural da atividade - abril, 2019.

Imagem 5 - Mural da atividade - abril, 2019. Houve muitas dúvidas quanto à definição de parceria/parceiros e não houve consenso em todos os apontamentos, por parte da equipe do Camará com a indicação de

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que há maior confiança em alguns dos parceiros, quando comparados à outros e que uma parceria pode estar fragilizada em algum momento e fortalecida em outros. A definição de parceria emergiu como uma discussão importante para o grupo e para a pesquisa. O grupo apontou como parceiros: Trabalhadores resistentes do município, da saúde, assistência social e educação; Universidades e Instituições: UNESP, UNIFESP e CLACSO - Conselho Latino-americano de Ciências Sociais. JUBRA e galera do Itaú; Escolas públicas: EMEF Lucio e EMEF Meireles; Defensoria pública; Rede Eureca e coletivos de resistência “sem amarras” Para saber mais sobre o EURECA: HYPERLINK "https://www.camaracalunga.com/eue" https://www.camaracalunga.com/eue HYPERLINK "https://www.youtube.com/watch?v=In-NFX8vx_g"

https://www.youtube.com/watch?v=In-NFX8vx_g O grupo enfatizou que a mais importante parceria se dá com os adolescentes, jovens, crianças e familiares. 16h15 às 17h00 - Avaliação da Oficina e Encaminhamentos. Como encaminhamentos tivemos a definição dos membros do Camará e dos territórios para o CGP. João se dispôs a indicar nome a partir do diálogo com a equipe de educadores.

2.3 MAIO DE 2019 O PRIMEIRO ENCONTRO DO CGP Data: 13 de maio de 2019. Local: sede Instituto Camará Calunga, São Vicente Participantes: Rosilda, Mafê, Paulo, Cássio, Marco, João, Michelle, Carla, Bruna e Graziele. Objetivo: Iniciar os trabalhos do Conselho Gestor de Pesquisa (CGP). Registro: Mafê e Michelle. A PROSA COMEÇA Na primeira reunião do CGP, os educadores do Camará ficaram com a tarefa de indicar mais pessoas para compor o Conselho. Era, então, um encontro de apresentação dos novos membros do CGP e a primeira reunião com o grupo completo. João faz um breve preâmbulo iniciando os trabalhos. Em seguida, todos recebem uma folha sulfite com espaços para responder: - Meu nome é: - Minhas expectativas são: 42

- Pesquisa participativa é: - Parcerias são: A GALERA SE APRESENTA Para uma rodada de apresentação, compartilhamos as duas primeiras questões da folha, nome e expectativas:

Imagem 6 - Apresentação dos novos membros do CGP - maio, 2019. Além dos pesquisadores oficialmente cadastrados no projeto na FAPESP, farão parte do CGP João, Michelle, Carla, Graziele, Bruna e Ana Flávia, que não estava presente no encontro. Porque essas pessoas no CGP? As pessoas foram convidadas nas assembleias. Os que estão no CGP desejam participar. Carla representa as famílias. É mãe de duas crianças que frequentam o Camará (Renan de 10 anos e Ana Carla de 4 anos), moradora da Vila Margarida – Vila. Participa há 3-4 anos das atividades do Camará e hoje faz parte do projeto de dança. Já participou das viagens e era uma das mulheres do grupo das sextas-feiras, quando preparavam a refeição para os participantes das atividades do Camará e proseiam. Já foi ao LD em 2017 e no mês passado, para aprender a fazer sushi e yakissoba. Bruna, 10 anos, representa as crianças. Mora no bairro do Quarentenário – Quarenta e participa das atividades do Camará. Foi à viagem de Buenos Aires, participar do Fórum Mundial de Pensamento Crítico da CLACSO. Graziele, 12 anos, é moradora da Vila e foi à Buenos Aires. Comentam sobre a cidade limpa, a qualidade do transporte público - o ônibus 5: grande, sem catraca, com todos os passageiros sentados, não se espera muito no ponto. Não entenderam muito do Fórum, só as palavras mais parecidas com o português. Comentam da manifestação do Eureca que fizeram em Buenos Aires. Participará também do CGP a Michelle, 26 anos, educadora do Camará e moradora da Vila. Serão três pessoas da Vila – território com ações há mais tempo, consolidadas, conta muito da história do Camará e duas do Quarenta – primeiro bairro da área continental. As assembleias acontecem às 43

segundas e quartas, respectivamente. Graziele conta do grupo de 10/12 meninas da Vila, sem adultos, que se reúne semanalmente na casa da Kaiane e discutem assuntos levados às assembleias. Durante as apresentações conversamos um pouco sobre o que é uma pesquisa. A escola pede trabalhos e muitas vezes usa o termo pesquisa, sem aprofundar, sem pensar sobre o que significa pesquisar. Pesquisar o que? O que nós queremos saber é o mesmo que vcs querem saber? Não é só uma opinião, é para ir além. A PESQUISA PARTICIPATIVA E AS PARCERIAS... Em seguida, falamos sobre as duas questões seguintes, pesquisa participativa e parcerias:

Imagem 7 - Atividade realizada com os novos membros do CGP - maio, 2019 Alguém associa a palavra pesquisar com pescar. O inglês research (pesquisar de novo, não necessariamente o novo). O espanhol investigación, que remete a investigar. Falamos sobre um interesse comum, um caminho comum, uma chegada comum ou talvez com partida comum porque não se sabe onde e como chegar. O Eureca aparece como exemplo. É o bloco carnavalesco – Eu reconheço o Estatuto da Criança e do Adolescente que as pessoas presentes descrevem como o lugar que vai quem está mais disposto a lutar: crianças, adolescentes, adultos. Todos que participam do Camará são convidados a compor o bloco e tradicionalmente, fazem um “mini” desfile nos territórios para chamar a atenção das pessoas. Alguém lê a letra do samba enredo de 2019: Ô ô ô ô Camará chegou!! O Camará chegou!!! O Camará chegou!!! Sou Camará, exijo respeito 44

Bato no peito, sou cidadão A minha história faço do meu jeito Sou resistência, trabalho e união (2x) Seu moço, escute a minha voz Clamando por sua atenção Não quero ser um filho da opressão Quero brincar, ter cultura e educação Cada viagem, uma experiência Sou criança Meu futuro é agora, e é aqui Luto pela liberdade Trago a força dos ancestrais Sou jovem não aceito violência Trago a minha irreverência Eu não bato continência (bis) Deixa-a caminhar E seguir o seu destino Com a luz do meu olhar Cuidado, emancipação Defender nossos direitos Meu compromisso com a nova geração Vem, me dê a mão "Nós precisamos de você nesse cordão" Os envolvidos no Eureca contam que este samba foi feito em parceria entre crianças, adolescentes/jovens, sendo que cada trecho é a fala de um destes grupos. Músicos, crianças, adolescentes, adultos, educadores estiveram juntos durante um dia (07/02), seguido da gravação em estúdio. Uma caminhada coletiva para o enredo: Crianças e jovens na construção da cultura e dos direitos sociais, que ficou com a cara de todos, a partir dos deslocamentos para o estúdio, da negociação das palavras que representassem as crianças/adolescentes, entre outros. A palavra JUNTO aparece várias vezes nas expectativas. Falamos sobre os 22 anos do Camará, a aproximação da Mafê desde 2017 e da aproximação recente de Rosilda, Marco e Paulo. Como podemos construir algo junto? Alguém comenta sobre as parcerias que não queremos e dá o exemplo do Abraço na lagoa do Quarentenário, evento que foi discutido na reunião do CMDCA, com a presença do conselho tutelar, vereadores e conselheiros sobre os significados das parcerias, uma vez que os estudantes são convocados para sair da escola e participar do ato simbólico de abraçar a lagoa, sem nenhuma discussão. A pesquisa irá olhar para as parcerias do Camará para além da opinião. Importante refletir sobre com que posso contar, com quem poderia contar nos territórios. Alguém conta sobre o mercado na Vila e da parceria para captação de recurso usando a nota fiscal paulista. Ninguém pede porque acredita que o pode dar problema com o governo, mas é uma parceira urgente para a sustentabilidade do Camará. Como sustentar o 45

Camará? As pessoas podem estar nesse processo de sustentação? Organiza-se uma campanha para doação. A questão da sustentabilidade financeira do camará é uma questão e a aproximação entre as pessoas na pesquisa significa olhar, também, para esta questão. Como a pesquisa pode ajudar neste aspecto? Falando sobre os territórios vivos, de Milton Santos, pensamos que estar nos territórios é ver coisas, discutir, perguntar. Alguém conta que Valéria vê uma operação no viaduto e pergunta do que se trata no Comitê Municipal de Assistência Social. É uma operação, segundo o diretor de proteção especial do CRAES, aos moldes da operação dignidade do Guarujá, para cercar, retirar e triar a população de rua. Comentam sobre o distanciamento da associação de moradores do bairro, pela proximidade da associação com o tráfico e sobre a presença de filhos de traficantes nas ações do Camará, sem nenhuma articulação com este grupo. Falam que não há nenhuma aproximação com a igreja, sendo que no passado já tiveram aula de dança do ventre nos espaços da igreja. O QUE EU LEVO PRA CASA? Em seguida, na parte final do encontro, respondemos, no verso da folha em que registramos nossas expectativas, o que havia ficado da manhã do grupo: Levo um pouco mais de conhecimento do Camará, um pouquinho mais de comprometimento com o que vocês fazem, mais entusiasmo pelo que vamos fazer juntos. Estudar e analisar mais o território para que possamos fazer troca de conhecimentos, quais as parcerias que já temos e as que poderíamos ter? Vontade de estudar mais. Foi bom ter conversado com todo mundo, o jeito da conversa e o tempo da conversa. Foi bom conhecer pessoas novas, sobre assuntos variados, olhar com outros olhos sobre os territórios. Expectativa de ação concreta, oportunidade de compartilhar conhecimento e experiências, colaborações. Crianças falaram coisas muito bonitas e simples, dá pra fazer mais coisa do que parecia, com cada um participando, fica menos abstrato e mais legal. Uma experiência muito importante porque conversar com vocês foi muito importante. Obrigado e é isso, muita disposição e conhecimento. A compreensão de que a pesquisa pode ter uma “função” de enraizar a experiência do Camará nos territórios e fortalecer a legitimidade/visibilidade da organização na cidade. Inquietação/ansiedade, curiosidade para conhecer os territórios vivos, vontade de prosseguir, não é um processo simples. A alegre, inédita e desafiadora mistura de professores, crianças, educadores, adolescentes, adultos. Bora pensar e fazer juntos. Só tem um jeito de saber: experimentar. 46

Entre os Méxicos, Entre o jeito e o tempo da conversa OS COMBINADOS O que faremos juntos? Encontros mensais, todas as segundas segundas-feiras do mês, talvez alternando manhã e tarde porque Bruna tem aulas pela manhã. Para o próximo encontro, dia 10/06: sairemos da sede do Camará, às 8:30h, para uma caminhada na Vila até o EMEF Lucio Martins Rodrigues, onde realizaremos nosso encontro com convite à direção e coordenação pedagógica da Escola. Na caminhada, teremos um roteiro de observação do território. No Lúcio falaremos sobre a pesquisa (“para saber mais o que é”) e sobre o que o Camará tem planejado para 2019. Alguém comenta sobre a importância de pensar/conhecer os territórios. Na Vila e no Quarenta muitos moram em palafitas. No Rio de Janeiro, há a rede das Marés, barracões, mas palafitas para produção de arte. Como não há lugar fixo do Camará nos territórios, deseja-se construir um barracão na Vila e Quarenta e criar a Olimpíadas das Marés para dar visibilidade ao que se produz nesses lugares, mapear o que acontece com a realização de um documentário (Querô), da UNESP, das famílias. As histórias dos moradores, as histórias da dragagem, as fotografias. Nos contam que uma análise da água da maré encontrou contaminação por cocaína e pela substância da pílula do dia seguinte. João busca o flip chart e nos conta um pouco sobre um dos projetos do Camará.

Imagem 8 - Projeto realizado pelo Camará - maio, 2019. A inovação na lógica aos moldes do ensino-pesquisa-intervenção para a escola. Ter uma sala do Camará na escola. Não é sala de aula. Como as ações/temas conversam com a base curricular mínima? SOBRE NOMES, EXPECTATIVAS, PESQUISA PARTICIPATIVA E PARCERIAS 47

SOBRE O CONSELHO GESTOR DA PESQUISA

Imagem 9 - Reunião do Conselho Gestor da pesquisa - maio, 2019.

Imagem 10 - Apresentação dos membros do Conselho Gestor da pesquisa - maio, 2019.

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Imagem 11 - Apresentação dos membros do CGP - maio, 2019.

2.4 JUNHO DE 2019 PERCURSO NO TERRITÓRIO DA VILA MARGARIDA E MÉXICO 70 Data: 10 de junho de 2019. Local: sede Instituto Camará Calunga e EMEF Lúcio Martins Rodrigues. Participantes: Rosilda, Mafê, Paulo, Cássio, Marco, João, Michelle, Carla, Bruna, Maria Fernanda, Inês (diretora da escola). Graziele estava doente. Objetivo: Conhecer o território da Vila Margarida e a escola. Registro: Paulo e Marco. 09h - Planejamento no Camará Calunga para a atividade. 09h30 - Saída para considerações sobre o território (Vila Margarida e México 70). Destino: Vila Margarida. Durante a caminhada entre o Camará e a Escola Municipal de Ensino Fundamental Lúcio Martins Rodrigues, que durou cerca de 25 minutos, foi possível observar parte da dinâmica comercial dos espaços e suas diferenciações diante das atividades nos períodos sazonais do ano, pautado pelas estações, Verão e Inverno. Há por isso, uma dinâmica interessante entre a vida diurna e a vida noturna, quando as pessoas passam a interagir entre elas nos ambientes de comércio e diversão. Contrariando o pensamento comum que a vida litorânea se resume aos períodos do Verão (e suas praias). Há uma efervescência comercial, principalmente pela atuação do setor de serviços (especialmente de alimentos). Boa parte das pessoas consomem suas alimentações nos restaurantes e padarias - comércio - tanto no almoço, como no jantar. Em parte, pela 49

facilidade, mas também pelo preço acessível, especialmente às mães, que muitas vezes exercem seu trabalho distante e com pouco tempo para se dedicar às atividades domésticas, naturalmente.

Imagem 12 - Mapa da distância entre o Camará e a EMEF Lúcio Martins Rodrigues junho, 2019. 10h - Na EMEF Lúcio, fomos recebidos pela Diretora da Escola, Profª Inês. Ela nos recebeu na Biblioteca da Escola (que estava trancada). Reunimo-nos e nos apresentamos pessoalmente; depois foi realizada uma breve apresentação do projeto de pesquisa (Marco), pontuando os aspectos fundamentais de parcerias e construção conjunta dos resultados. A Escola passou por uma municipalização e conta com cerca de 700 alunos registrados, mas mantém a presença regular de cerca de 500 alunos. A Diretora nos relatou sobre as dificuldades das atividades educacionais da escola e sua constante “batalha” na educação diária, muitas vezes solitária. Solitária pelo apoio governamental, bem como, pela própria sociedade local. Ações conjuntas com o Instituto Camará Calunga. A Diretora afirmou que uma das condições positivas tem sido a realização de parcerias como aquela realizada com o Instituto Camará Calunga (ICC) para integração e participação de alguns jovens da escola. Contudo, não ficou clara a forma de participação e inclusão possível e acessível aos alunos. 11h - Saímos da EMEF Lúcio e nos dirigimos à Comunidade México 70 caminhando por cerca de 20 minutos. Nesse percurso, pudemos perceber uma nova concepção do território, caracterizada pela amplitude da vulnerabilidade arquitetônica e de infraestrutura do local.

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Imagem 13 - Mapa da distância entre o EMEF Lúcio Martins Rodrigues e a Comunidade México 70 - junho, 2019. Na Vila México 70, foi possível fazer contato com moradores e colher histórias sobre as dificuldades do dia-a-dia e as injustiças sociais produzidas por um sistema endurecido pelo viés impositivo e autoritário que despreza fatores da realidade das pessoas da localidade, como pudemos constatar pela fala de moradora. Pudemos visitar as moradias que chegam às margens do chamado “Mar Pequeno”, onde as crianças e moradores vivem em estado de vulnerabilidade. 12h15 - Almoço na Comunidade México 70 dos integrantes da equipe. 14h - Após o almoço, retornamos caminhando à sede do ICC para uma reunião de encaminhamentos e considerações finais dessa atividade (retrospectiva). a) Na fala do João (ICC) pode-se confirmar o olhar do autoritarismo das autoridades judiciais da região da Baixada Santista, especialmente com o preconceito contra a população da Comunidade México 70, desvirtuando qualquer possibilidade de respeito e da legitimidade esperada do Poder Público. b) Ausência de técnicas de aproximação entre a comunidade e a escola, de forma atrativa e participativa. c) Necessidade de integração entre os ODS - Objetivos do Desenvolvimento Sustentável. d) Críticas à “Justiça Reparativa” - utilizada pelo Poder Judiciário de São Vicente. Pela Justiça Reparativa: “Conhecida como uma técnica de solução de conflitos que prima pela criatividade e sensibilidade na escuta das vítimas e dos ofensores”. Técnica que vem sendo utilizada e incentiva no Poder Judiciário nacional há cerca de 10 anos, de forma a permitir alternativa de solução de conflitos, o que merece ainda mais aprofundamento empírico de seus resultados. 14h45 - Finalização da atividade, com a perspectiva de novo encontro para 08/7/2019. Começando… Combinando o que vamos fazer hoje na caminhada: “como será que eles lidam com as dificuldades? ”

Imagem 14 - III Reunião do CGP - junho, 2019. “Para mim que moro ali, tem muita coisa que eu não conheço ainda” - Carla.

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Imagem 15 - Uma parede da Vila México 70 - junho, 2019. Que lugar é esse que meus pés estão pisando?

Imagem 16 - Igreja Internacional da Graça de Deus, Vila México 70 - junho, 2019. “Vocês vão ver muita igreja, bar e salão de beleza” - Michelle.

Imagem 17 - Bar do Cidão , Vila México 70 - junho, 2019. Aqui tem também a fábrica da Panco, mas eles não contratam gente do bairro.

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Imagem 18 - Rua da Vila México 70 - junho, 2019. “Estamos sós” disse a diretora. “A barca da Educação precisa de todos juntos”

Imagem 19 - Almoço dos membros do CGP na Vila México 70 - junho, 2019. E portinhas vendendo doces e ultra processados. A Inês se despediu de mim olhando para os 4 meninos sentados no banco: “agora vou pegar pesado, vou mostrar o meu lado policial”.

Imagem 20 - Vila México 70 - junho, 2019 53

2.5 JULHO DE 2019 UMA REUNIÃO DA PESQUISA PARA ORGANIZAR OS PRÓXIMOS PASSOS Estivemos juntos hoje, Rosilda, Mafê e eu na minha sala da FSP. Almoçamos antes uma comida gostosa e depois trabalhamos até as 17:30. Melhores momentos: Refletimos sobre as nossas reuniões mensais no Camará e compreendemos que estamos numa fase organizativa da pesquisa em conjunto com o Comitê Gestor, onde somos 4 membros acadêmicos e 6 membros comunitários. Este Comitê não está contemplado no Modelo Original do CBPR e fica como uma invenção da nossa pesquisa/projeto. Esta pesquisa/projeto que visa fortalecer parcerias de modo participativo toma como base a parceria existente entre o CAMARÁ e a UNIFESP Baixada Santista há aproximadamente 10 anos. Nosso projeto visa fortalecer esta parceria existente e ampliar e fortalecer a rede de parceiros do Camará. Como iniciativa nesta direção de ampliação faremos no dia 12.8.2019 o "Rio da Vida" (ver, anexo o roteiro da atividade) na Escola que visitamos e nos reunimos com sua diretora. O Rio da Vida irá sistematizar com a metáfora do rio o curso, as correntezas, os afluentes, as pedras dos rios, etc, da parceria Camará-Escola. Testamos o Questionário a ser aplicado com informantes-chaves da pesquisa/projeto e dos parceiros. Mafê irá incluir as nossas sugestões e circular a nova versão entre a gente. Já temos dois produtos oriundos da pesquisa que Rosilda e Mafê submeteram ao Congresso de Ciências Sociais e Humanas da ABRASCO que irá ocorrer em setembro em João Pessoa: (1) Abordagens participativas em Pesquisa: Agir em favor do diálogo e da inclusão; (2) Direito Humano e alimentação adequada e ODS: construções coletivas com crianças para a análise e interferências em periferias. Mafê lidera esforços, com nosso apoio, no sentido de ampliar este segundo trabalho submetido ao Congresso para virar um artigo. Combinamos submeter dois artigos até o fim do segundo semestre: (1) Um artigo de revisão sobre ODS e Brasil 2014-2019: o que vem sendo feito?; que preocupações?; ações que aterrizam e tem potencial para melhorar a vida das pessoas ou apenas retóricas políticas e acadêmicas?; etc. (2) Brasil e CBPR: temos feito? De que natureza? Genuinamente participativas e emancipatórias? etc. Paulo e Marco formam uma dupla para o primeiro artigo e Ro, Mafê e Cássio um trio para o segundo artigo. Revisitamos os 4 objetivos da nossa pesquisa (ver, abaixo) e vimos que já tocamos com nossas ações até o momento no Objetivo 1 com a elaboração dos diários, por exemplo; no Objetivo 2 com o Rio da Vida que será feito na Escola; no Objetivo 3 com a criação do Comitê Gestor da pesquisa; no objetivo 4 com o "projeto sementes" que congrega várias IES do Brasil que fazem CBPR. REVENDO OS OBJETIVOS DO PROJETO

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1. Produzir narrativas e intervenções no campo da promoção da saúde articuladas aos Objetivos de Desenvolvimento Sustentáveis (ODS) por meio de métodos e ferramentas participativas de pesquisa; 2. Aplicar a perspectiva de “Engage for Equity” (ligado ao Centro de Pesquisa Participativa da University of New México) de reflexão e autoavaliação de atores sociais de modo a fortalecer parcerias e as intervenções no campo da promoção da saúde; 13/08/2019 Yahoo Mail - breve síntese da reunião de pesquisa de 10 de julho de 2019 2/2 3. Traduzir, adaptar e compartilhar diferentes métodos, ferramentas de pesquisa participativa nos distintos contextos investigados; 4. Criar um desenho de Plataforma de compartilhamento de ferramentas de pesquisa e práticas de promoção da saúde desenvolvidas com métodos participativos, com base no website “engageforequity.org”, que possa apoiar um futuro estudo multicêntrico envolvendo outras universidades no país.

4.6 AGOSTO SEGUNDO FASE DO CPBR: O RIO DA VIDA Data: 12 de agosto de 2019 de 9h00 às 11h30. Local: Instituto Camará Calunga. Participantes: Rosilda, Mafê, Paulo, Cássio, Marco, João, Michelle, Ana Flávia, Bruna Graziele E Giulia. Objetivo: Organizar a atividade Rio da Vida com parceiros. Registro: Rosilda e Cássio. Recuperando nosso encontro passado A reunião começou com a presença de todos os integrantes do Conselho Gestor, com exceção de Carla, que está trabalhando nos horários de nosso encontro e possivelmente não poderá mais participar conosco. Marco iniciou o encontro com a pergunta: como estamos? Todos pareciam bem, mas alguns haviam dormido pouco, como Ana Flávia que ficou “pensando em coisas” ...

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Imagem 21 - IV oficina do CGP -agosto, 2019. Recuperamos o último encontro com o relato de reunião feito pelo Paulo, trazendo frases que consideramos significativas e importantes do último encontro. Nos sentimos contemplados ao ler e ver os mapas com nossos trajetos à Vila Margarida, inclusos no relato. Seguir adiante Perguntamos, porque não conseguimos concretizar nossa agenda com a Escola Municipal Lúcio Martins Rodrigues “Descaso, desinteresse mais do que conflito, não sabem compreender o valor das articulações...” explica João. Ele recupera um pouco as delicadezas dessa relação, e Cássio complementa que isto faz parte um pouco da história com a escola. Muitas vezes, outras forças parecem falar mais alto e a escola tem posturas reativas aos trabalhos desenvolvidos já em parceria, e evita dialogar. João ressalta que é importante dar um tempo e retomar a conversa, amarrando com outras agentes, e até mesmo da necessidade que a Secretaria de Educação se envolva mais ativamente buscando desburocratizar a relação. Ressalta ainda que o período eleitoral se aproxima e que é importante que entendamos esse contexto para fazer leituras mais críticas de situações como essa. Refletimos sobre o papel das escolas, são instituições punitivas e o fazem com naturalidade. Muitas vezes tem dificuldades em compor com outras propostas, além do que, há muita disputa política entre secretarias. A escola é espaço de “assédio” pelos candidatos. Como o Camará é identificado como grupo crítico que não tem vinculação com nenhum partido político, sofre consequências, como a burocratização na entrada na escola para realização de atividades, por exemplo. A escola é “um importante espaço e temos feito esforços para ampliar essas parcerias”. Nesse sentido, o Camará “tem tido contato com outras escolas, informando um pouco dos encontros que aconteceriam nas próximas semanas em diversas escolas para a articulação, principalmente, com o Serviço de Convivência e Fortalecimento de Vínculos – serviço que o Camará executa em relação de convênio com a Secretaria de Assistência Social. João lembrou também, que a Escola Municipal Prefeito José Meireles incluiu o Camará em seu projeto pedagógico, 56

voluntariamente, a partir de chegadas e construções coletivas que foram sendo feitas no processo. Ampliando a visão de parcerias Essas relações nos fazem ver a necessidade de incluir outros atores no processo de pesquisa. Pensamos em realizar um evento para realizar o Rio da Vida com parceiros da Educação no Parque Estadual Xixová-Japuí. Esta proposta amplia nosso escopo e dá oportunidade de conhecer outras formas de aproximação com as instituições de educação do território. Outras pessoas e instituições foram citadas e elencadas para participar do evento, como se vê abaixo:

Imagem 22 - Planejamento para a atividade “Rio da vida” - agosto, 2019. O trabalho da equipe gestora da pesquisa passou por organizarmos essa lista primeira de convidados para o Rio da Vida, que seguiria como uma espécie tematização com as parcerias na educação. A partir dessa primeira lista, nos dividimos para organizar o convite, enviar os ofícios necessários e preparar o encontro no próximo dia 19 de setembro de 2018. A equipe administrativa do Camará tratou de cuidar dos convites e ofícios a serem enviados e o grupo gestor marcou reunião para o dia 16 de setembro para acertar como detalhadamente o evento acontecerá. O agendamento do Parque e um auditório do mesmo pode ser feito visto a parceria que está em construção para aprofundamento das questões ambientais, temática que o Camará vem se reaproximando nos últimos meses, fazendo amarrações com os processos educativos. Cássio cuidou da arte do convite e eles foram enviados pela administração do Camará.

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Imagem 23 - Convite para participar da atividade “Rio da vida” - agosto, 2019.

2.7 - SETEMBRO DE 2019 OFICINA “RIO DA VIDA” “O rio da vida das parcerias do Camará é uma verdadeira corredeira, cheia de trancos e barrancos, mas também é feito de paisagens bonitas” - João.

Imagem 24 - Entrada da Trilha de Curtume no Parque Estadual Xixová-Japuí – setembro, 2019.

Quando eu e Rosilda chegamos ao parque encontramos Mariza e Alexandre (gestores do parque) que nos indicaram o lugar onde seria a atividade. Logo após retirar o 58

café do carro e preparar a mesa para servi-lo, caminhamos em direção à entrada da trilha de curtume. Fizemos um trecho da trilha até chegar em um local com uma grande estrutura, um esqueleto de alguma construção sobre a qual Rosilda comentou que poderia ser algo relacionado com captação de água, ao fundo havia uma grande chaminé que também podia ser vista da entrada da reserva. Decidimos retornar ao auditório e lá os gestores já nos aguardavam para uma conversa. Nos perguntaram sobre a atividade do dia e depois começaram a explicar sobre o parque. É um parque de preservação de trechos da Mata Atlântica, em um contexto de um território com intensa urbanização, localizado em uma área que abrange uma parte do município de São Vicente e de Praia Grande. Dentro de sua área há duas trilhas oficiais de nível médio, uma é a trilha do curtume que é por dentro da reserva, a outra é a do surfista e não tem o acesso regulado por estar dentro do bairro do Japuí e em uma propriedade particular. As duas saem na praia do Itaquitanduva, considerada o principal atrativo do parque. Existe também a praia de Paranapuã, da comunidade indígena, que é restrita por conta das aves migratórias que vivem ali. Na conversa nos contaram sobre o curtume e as construções que vimos na trilha. Em 1914 havia uma fábrica de couro naquela região, chegou a receber o prêmio de melhor couro do mundo, era chamada de curtume que é o nome dado ao processo de curtição do couro. O curtume recebia matéria prima do antigo matadouro de Santos, localizado na Avenida Nossa Senhora de Fátima. A fábrica entrou em decadência a partir da década de 1970 com a desativação do matadouro e os altos custos envolvidos no transporte de matéria prima de outras cidades. Também nos falaram sobre algumas casas que surgiram no entorno da fábrica, algo próximo de um bairro operário que abrigava cerca de 400 trabalhadores, suas gerações ainda permanecem ali no entorno. Contaram um pouco sobre a história do processo de preservação do parque. O que mais me chamou a atenção no relato foi o esforço empregado – de caráter afetivo – pelos moradores do bairro do Japui, quanto os moradores da Prainha para solicitar a preservação da região e os caminhos de mobilização coletiva percorridos até a elaboração do Plano de Manejo em 1993. Tendo em vista a relação da população com a área de reserva, há alguns anos o parque tentava fornecer um curso para formação de monitores locais que se concretizou a partir de alguns diálogos tecidos pelos gestores com profissionais que aceitassem fazer a formação gratuitamente e em um horário acessível para trabalhadores.

Imagem 25 – Paisagem da trilha – setembro, 2019. 59

● Apresentação Após a conversa com Marisa e um breve passeio pelo entorno da reserva, preparamos uma mesa com café da manhã para os convidados que ficou disponível durante toda a atividade, proporcionando momentos de descontração e interação entre os participantes.

Imagem 26 – Mesa do café da manhã – setembro, 2019. A sala foi organizada com as cadeiras na disposição de um círculo para facilitar o diálogo e o contato visual entre os participantes. Para conhecer os sujeitos presentes foi proposto uma breve rodada de apresentação para falar um pouco sobre as razões,

motivações e as dificuldades de participar do processo. Imagem 27 – Momento das apresentações – setembro, 2019. O João do Camará iniciou as apresentações fazendo uma breve reflexão a importância da presença de cada parceiro pois, levando em consideração que alguns iriam precisar sair mais cedo, era importante registrar a vontade de compor e também não deixar passar as dificuldades cotidianas que existem nos processos de articulação entre as instituições, organizações e serviços. Comentou que o Camará está completando 22 anos

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de trabalho na cidade e está passando por um momento de avaliação (re)construção de suas parcerias. Marco, professor da Faculdade de Saúde Pública, comentou que atua na área da Saúde, explicou sobre os eixos de ensino-pesquisa-extensão que vem norteando as universidades e que tinham um pouco de relação com a atividade do dia. Falou sobre outros jeitos de fazer pesquisa, ciência, pesquisando com as pessoas, construindo parcerias, fomentando a participação da população na produção científica, pensando nas potencialidades dos encontros, em atividades que podem ser feitas em articulação para o fortalecimento dos diversos agentes que estão em diálogo na rede, mas principalmente em como podemos construir projetos juntos. Rosilda, professora da UNIFESP e participante do grupo de pesquisa que está conduzindo a atividade. Comentou que estava feliz por estar presente e ter a oportunidade de conhecer o espaço do parque que é tão próximo de nós e ao mesmo tempo desconhecido. Maria Fernanda, professora do curso de nutrição da UNIFESP e também compõe a equipe do grupo de pesquisa. Alessandro, assistente de direção da escola Carolina Dantas (Catiapoã - SV), comentou sobre processos administrativos da semana (a mudança do quadro docente, construção do mapa de salas, entre outras preparações para o próximo ano letivo) e o quanto a urgência de resolução destes era uma das dificuldades encontradas para garantir a presença na atividade. Mas estava ali, presente e feliz em poder participar da atividade, principalmente por compreender enquanto um espaço que possibilita o fortalecimento da relação entre o Camará e a escola, bem como as ações planejadas. Vitória, Giulia e Beatriz são estudantes da Saúde Publica e também participam do projeto. Cássio, psicólogo de formação e está no Camará há quatro anos e faz parte da equipe do projeto de pesquisa. José, psicólogo e trabalha no Camará. Valéria, pedagoga de formação e faz parte da equipe do Camará. Graziela, faz parte da equipe do Camará. Hanna, residente da FIOCRUZ no Rio de Janeiro e está fazendo estágio no Camará. Cristian, faz parte da equipe do Camará. Carine, educadora do Camará. Claudia, diretora da escola Maria Mathilde (Japuí - SV), sua articulação no Camará estava iniciando. A fala de apresentação do projeto lhe chamou a atenção por lhe apresentar outras formas de fazer pesquisa, com isso recordou de um professor que durante a faculdade sempre dizia que seja qual for a pesquisa, a intencionalidade sempre tem que estar voltada para o próximo. Em 1998, ainda enquanto estudante de biologia da UNESP, começou o trabalho de elaboração e execução do plano de manejo do Parque Japuí-Xixová, a principal inovação deste trabalho era o fato de ser o primeiro parque com área marinha 61

incluída no plano de proteção e antes da Aldeia Paranapuã se assentar, aquela região do parque, em específico, era um espaço de fomento de atividades de educação ambiental. Relatou um pouco sobre a questão do frágil pertencimento que a população do bairro tinha em relação à cidade de São Vicente, as dificuldades de trânsito e deslocamento, o “esquecimento” do bairro por parte do poder público municipal e a estreita relação com o município da Praia Grande por conta de proximidade. Apesar do Japuí estar próximo do centro da cidade, é considerado Área Continental por conta de sua geolocalização, contribuindo para aprofundar o sentimento de não pertencimento, pois também fica muito distante dos bairros continentais da cidade. A partir destas questões iniciou com a população um trabalho de resgate da história do bairro para o fortalecimento da identidade local. Conheceu o Camará através de um Centro recreacional de contra turno escolar que já não existe mais. Também relatou a carência de atividades contra turno no bairro, assim como incentivo à cultura para os jovens e adolescentes. Após a apresentação da Claudia, João comentou que está em busca de articulação com os Centros de Convivência da Assistência Social para o desenvolvimento de atividades dentro da escola, pensando na questão do resgate da identidade da história do bairro e possibilidades de consolidação dessa aproximação com o colégio. A intenção é proporcionar diálogos entre a política de Educação e Assistência Social. Seguindo com as apresentações, Guilherme se apresentou comentando que era assistente social de formação e trabalhava no Camará. Nathalia, assistente social de formação e relatora da atividade. Odebergue, representante do Parque Estadual Xixová-Japuí, está no lugar da Marisa que precisou ir à uma reunião na Praia Grande, manifestou a disposição do parque em receber novas atividades. Leonardo, estuda licenciatura na UNESP, estagia no Camará e na escola Maria Mathilde. Vanessa, psicóloga de formação, faz parte da equipe gestora do Camará, trabalha na Área Continental e comentou sobre o quão é interessante essa articulação com o Japuí e a compreensão do bairro enquanto parte da Área Continental. Falou sobre seu trabalho no quarentenário, onde faz assembleias comunitárias e trabalho dentro da escola com o grupo percussivo AfroCalunga. “Podemos construir algumas pontes, para além dessas que cercam o Japuí”. “Dificilmente a gente fala não para o João”, assim iniciou a fala a representante da Secretaria de Saúde do Município de São Vicente e funcionária do Departamento de Infecções Sexualmente Transmissíveis (IST) /AIDS. Se colocou como uma parceira do Camará, Conselheira Consultiva e responsável pela articulação com a Secretaria de Saúde para o fortalecimento e acompanhamento das atividades que o instituto encabeça na cidade.

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E por fim, Viviane se apresentou, trabalhou no Camará por 19 anos, se aposentou no meio do ano e está transitando pela UNIFESP, mantendo sua proximidade com o Camará… buscando estabelecer algumas pontes.

Imagem 28 – Momento das apresentações – setembro, 2019. ● Aquecimento

“Nenhum ser humano é uma ilha isolada, todos fazemos parte de um arquipélago ou pertencemos à um continente” - Marco. Ilha, Área Continental, Área Insular, pontes, limites entre municípios, mar, trilha, reserva ambiental… Marco falou sobre o quão interessante era perceber quantas metáforas relacionadas com a natureza foram utilizadas durante as apresentações para expressar um pouco sobre as relações presentes ali e era justamente através da metáfora de um rio, o rio da vida, que a atividade provocava a pensar as parcerias do Camará. “Todos sabemos que trabalhar junto não é fácil, há momentos em que a correnteza fica mais forte, tem pedras no meio do caminho, às vezes a gente navega o barco, outras ele fica parado e esse é o rio da vida” explicou, então, que a proposta da atividade é utilizar o rio da vida para se perceber e entender como circulamos entre nossas redes, parcerias e sujeitos. Rosilda falou que o convite havia sido feito especialmente para as escolas, pensando em trabalhar a temática da educação, mas também se entende que independente da área de atuação dos parceiros presentes há um trabalho com/na educação, seja a formal ou a informal, que é contínua e permeia os espaços de nossas vidas cotidianas. A presença de sujeitos inseridos na área da saúde ou da administração e cuidado do parque era um fator importante para pensar a educação em outras áreas. Foi proposto um esquenta para a confecção do rio, era um convite para a reflexão individual e coletiva sobre como trabalhamos com a educação em nossas práticas? Quais parcerias fazemos em nosso cotidiano de atuação? Para isso, dividiram os participantes da grande roda em cinco grupos, cada um contendo de três a cinco pessoas e com mais ou 63

menos 30 minutos de diálogo, a intenção era de refletir sobre os questionamentos realizados. Após a divisão, Maria Fernanda passou pelos grupos reforçando a explicação da proposta. Imagem 29 – Discussão dos grupos – setembro, 2019. Imagem 30 – Discussão dos grupos – setembro, 2019.

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Imagem 31 – Discussão dos grupos – setembro, 2019. A divisão dos grupos foi um momento que fiquei um tanto perdida, sem saber para onde ir e pensando em como tentar garantir o máximo de registro possível da discussão individual de cada um. Pensei em “abandonar” o grupo no qual fui designada e circular um período de tempo em todos os grupos, mas optei por garantir o aprofundamento da discussão em dois grupos: um com a minha presença e outro com o gravador. Para deixar o gravador, tentei escolher um que tivesse um representante de escola… por fim acabei dando preferência onde a Cláudia (diretora da Maria Mathilde) estava, pensando no fato de ser uma parceria que o Camará está iniciando e por ser uma das participantes que precisaria se ausentar antes da confecção do rio. Quanto a minha presença observadora, fiquei no grupo ao qual fui designada. O grupo em que eu estava se reuniu no estacionamento à céu aberto, estavam nele o Cássio, a Vanessa e a Hanna. Me aproximei e percebi que a discussão já havia iniciado, Hanna contava um pouco sobre sua experiência da residência no Rio e o funcionamento da política de saúde de lá, ao mesmo tempo nos perguntava como as coisas funcionavam por aqui. Resolvi fazer alguns registros fotográficos dos outros grupos e quando retornei Rosilda havia se juntado à nós. A conversa desta vez tinha como pauta um relato do Cássio sobre a administração de um surto feito por crianças e educadores do Camará durante sua experiência de estágio e a percepção que teve naquele momento sobre como o aprendizado é coletivo, um processo de troca entre diferentes sujeitos presentes em uma experiência. “Todos os dias acontecem muitas ao redor do Camará e percebo o quanto essas coisas determinam de algum modo as atividades realizadas e as interpretações das instituições que trabalham/ou não com a gente” Alguém então perguntou: quando foi a primeira vez que vocês se nomearam educador? Cássio respondeu que só quando ele deixou de ser estagiário que foi quando sentiu mudança de função no Camará, já não era mais estudante de psicologia, era um psicólogo formado e em formação. Conforme foi mantendo a relação com o instituto e exercendo atividades com as crianças, também foi construindo essa identidade de educador.

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Para responder à pergunta, Vanessa nos contou um pouco de sua história. Falou que dava aulas de circo em um abrigo onde sua mãe era educadora, justamente no momento em que o Camará estava iniciando suas atividades… então, através das aulas de circo, conheceu o instituto e começou a participar de algumas das formações. Em um dado momento começou a trabalhar como Agente de Campo de Redução de Danos em escola e debaixo das pontes, mas ainda não se identificava enquanto educadora. “Sustentar um trabalho desses tem relação com a história que você tem, com o corpo, as situações da vida e como você lida com elas”. “Não tem como dizer qual foi o momento que me percebi educadora, porque isso aconteceu em diversos momentos que estavam relacionados com o espaço e função que eu ocupava”. Comentou sobre o trabalho com as malocas na cidade, que desencadeou em assembleias comunitárias entre elas, em um programa de rádio e um jornal deles para eles. Então, a partir de suas experiências, compartilhou que é difícil chegar em um espaço com um papel pronto... se nomeando educadora, é necessário viver antes sem precisar nomear, para depois construir uma percepção sobre o trabalho realizado. “Percebo que as épocas mais frias do Camará são as épocas em que não conseguimos exercitar nossa solidariedade”. Vanessa e Cássio comentaram que solidariedade, cumplicidade, trabalho com pares são elementos fundamentais para sustentar o trabalho do instituto, assim como um sujeito com um corpo que precisa de certa elasticidade para suportar as demandas que chegam. Vanessa narrou um período que o instituto ficou sem ficou sem verba e apoio para sustentar as atividades. Recordou que ficou meses sem receber e foi trabalhar como vendedora em uma loja no centro. Durante seu horário de almoço o João a visitava e, fingindo que era arquiteto, sentavam em um biombo para elaborar um projeto para captação de recursos. “A gente tenta articular as redes, mas também produzimos uma bagunça quando é necessário”, com isso o Camará tem momentos de maior abertura e diálogo com os serviços, mas também momentos de isolamento quando há uma necessidade de tencionar as relações institucionais-burocráticas no seu limite, pois há uma tendência à “burocratização” da relação como um recurso para dificultar as articulações… Tanto Vanessa como Cássio avaliavam que muitos desses momentos se davam principalmente por conflitos de ordem afetiva que são transferidos para o Camará, como exemplo usaram uma situação de um diretor que por uma indisposição com uma criança acabou fechando as portas da escola para o instituto. Nossas ações acompanham as ondas políticas e conjunturais” das mais diversas escalas de governo. *** O grupo no qual solicitei para deixar o gravador se reuniu dentro do auditório começou apresentando o que cada um fazia. Claudia comentou sobre seu plano de carreira, estava há um ano na direção da escola e no cargo efetivo de diretora não poderia mais dar aulas, mas poderia ser realocada em outras escolas. Marco comentou um pouco sobre sua formação, a polaridade que há entre a medicina e a saúde pública e as diferentes concepções de saúde que as duas áreas tem. Julia se apresentou como estudante de saúde pública e comentou sobre um projeto que faz participa que circula as cidades do interior pensando em atividades de promoção da saúde entre diversos grupos populacionais. Viviane falou sobre sua estadia no Camará por 19 anos, mas que agora tentava circular 66

entre alguns espaços, comentou sobre sua experiência com Cartografias Sensíveis e que pretende investir nessa temática, clínica aberta e disciplinas que está fazendo na USP. Marco explicou sobre o intuito da atividade de hoje e perguntou para Claudia sobre “Como tem sido as suas experiências como educadora na região?”, ela fornece uma resposta vaga “é complicado” e se direcionando para Viviane comenta “você que já trabalhou na prefeitura deve saber como é” e a resposta vem pronto “é que sempre trabalhei nas instituições, mas pensando na sua desmontagem, fechamento de hospital psiquiátrico… comer pelas bordas foi um jeito que arranjei para lidar com alguns problemas”. Com esse diálogo teve o início de um debate sobre a individualização de alguns problemas, que ao não serem compartilhados, não se deslocam para uma dimensão coletiva, onde teremos a possibilidade de perceber que outros sujeitos também sofrem com as mesmas questões que nós e se fortalecer para criar uma resposta. A individualização também colabora para que a gente assuma um lugar de controle no qual acaba por produzir impotência quando encontramos alguns entraves no percurso. Comentaram sobre a necessidade de ter um corpo mais poroso, que se adapte e tenha estratégias de comer pelas bordas. Claudia falou sobre as dificuldades que é estar no lugar de professor ou na equipe gestora de uma escola, saber que existe verba para desenvolver atividades e capacitar os profissionais e ao mesmo tempo não ver esses subsídios fornecidos, para além da pressão política e cobrança de resultados. Seu afeto pelo bairro era grande. Falou sobre as estratégias que buscava para concretizar alguns projetos e as dificuldades que tinha com o assédio de políticos da região, que sempre ofereciam o financiamento para algumas atividades, mas com a moeda de troca de divulgação de seu nome para campanha política. Também comentou sobre situações complicadas vivenciadas com o narcotráfico da baixada, que tem uma base próximo ao colégio e que gera situações com troca de tiros e ações da polícia militar durante o horário de aula. Toda a equipe que trabalha com ela se sentia sozinha. “Você que falou sobre comer pelas bordas, como seria em uma situação dessas? ” Marco perguntou para Viviane, que logo respondeu: “nestes jogos de poder a gente tentava mostrar que tinha força através da ocupação de várias instâncias coletivas, como espaços de conselhos, porque se ficar no um a um eles deitam e rolam no abuso de poder”, então comentou sobre uma situação com uma escola em que as crianças pulavam os muros para furtar livros, para resolver a situação chamaram o tráfico que foi ameaçar as mães… uma das soluções que o grupo escolheu como caminho foi levar a situação para instâncias maiores que a escola, como a diretoria de ensino. Claudia começou a se despedir do grupo e então Marco comentou sobre algumas atividades que a USP oferecia durante os períodos de férias para profissionais da rede de ensino com o intuito de formação continuada… uma das possibilidades era construir com o Camará essa proposta para que esses cursos fossem replicados na baixada. Claudia achou importante tal iniciativa e se mostrou interessada, após isso agradeceu à todos do grupo e se retirou. ● Avaliação dos grupos

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Passado o tempo para as discussões entre os grupos retornamos ao auditório, mais precisamente para sua parte externa onde havia uma mesa grande com um papel craft estendido para que fosse confeccionado o rio.

Imagem 32 – Preparação para Confecção do Rio – setembro, 2019.

Imagem 33 – Avaliação dos grupos – setembro, 2019. Foi sugerido que os participantes fizessem uma breve avaliação sobre a discussão que ocorreu nos grupos. “Legal, por oportunizar de conhecer o trabalho realizado pelo Camará”. “Intenso e doloroso, um depoimento de obstáculos intensos que podem causar uma certa sensação de impotência, mas que ao mesmo tempo carrega possibilidades bem potentes de trabalho”. “Nosso grupo foi bem diverso, a gente não se conhecia, então 68

começamos por se apresentar, conhecer o que cada um faz e depois discutir sobre violência, educação e a necessidade de estar mais juntos, se fortalecer, principalmente nesses tempos em que estamos vivendo”.

● Confeccionando o Rio “A ideia é retratar um rio porque ele corre, tem limites, obstáculos, mas ainda sim corre, passa, muda, se expande…”

Imagem 34 – Margens azuis e vermelhas – setembro, 2019. “A questão não é a margem configurada, mas esses atalhos, essas coisas pequenas, ramificações, desse fluxo que tem pedras, galhos, matas…”. Essa frase verbalizada durante a avaliação dos grupos foi a deixa para que se iniciasse a confecção do rio, pois logo Rosilda sugeriu: “Como a gente coloca tudo isso aqui nesse papel? ”. Todos presentes começaram a se movimentar, pegar as canetas, os lápis, giz de cera e a desenhar o rio. “Que cor vai ser esse rio? ”, “Do jeito que você quiser” então surgiram duas margens, uma vermelha e outra azul. “Aqui o que é? É a margem? ”, “Não, esses são aqueles braços sazonais que as vezes nem chegam no rio, não tem força e morrem antes, podem ser intermitentes também”. “Vamos fazer umas ilhotas! ”. O instrutor do parque entre algumas falas e outras comentava um pouco sobre os termos técnicos dos elementos e fenômenos que ajudam a constituir um rio. “Como chamam as pedras que ficam no meio do rio? ” Alguém perguntou e em tom divertido ele respondeu “São pedras! Mas tem também os

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assoreamentos, que são os acúmulos de areias e detritos que criam umas ilhas no meio do rio”, “Vamos fazer umas ilhotas aqui então! ”. “Vou desenhar umas instituições aqui, às vezes elas atrapalham um pouco o curso do rio” “Olha! Uma canoa! Aliás, são várias canoas” entre as canoas estava a frase: com quantos saberes se faz uma canoa? “Precisa abrir aquele rio ali” alguém falou apontando para um afluente estreito, “Ou podemos fazer uma represa” foi uma outra sugestão para o mesmo afluente. “Esse rio está começando gordo e emagrecendo…” “Aqui vou desenhar umas crianças, que são as que estão no mundo” o local era uma margem afastada de um afluente que tentava chegar no rio principal.

Imagem 35 – Iniciando o Rio – setembro, 2019. “Às vezes a gente é a Dory do procurando o Nemo, estamos sozinhos perdidos e encontramos um grupo de tartarugas que nos ajudam a chegar em algum lugar” “Vamos fazer uma ponte aqui! ” E logo alguém sugeriu que do lado da ponte poderia existir uma “cidade não planejada” Eis que surgem algumas dúvidas durante o processo: “Esse rio que a gente está montando… é nosso rio ou é um rio que passa por nós? ”. Alguém responde “Pode ser as duas coisas, o nosso rio e o rio que passa por nós e nos obriga a mudar alguma coisa de acordo com o lugar no qual a gente se encontra nele”. “Isso deve ser a tentativa de um afluente” comentaram sobre um traço inacabado. Havia um braço do rio escrito UNIFESP e logo alguém questionou: “A UNIFESP está entrando ou saindo do rio? ” e alguém responde: “ela pode ser uma pororoca”. A pororoca é um fenômeno sazonal que decorre do encontro das águas do rio e do mar e potencializado pelas mudanças de lua, provoca ondas gigantes com uma correnteza “Podia 70

fazer uma barragem de castores para representar as barragens naturais da vida” assim, iniciou uma pequena discussão sobre os castores e suas barragens… imagem ligada fortemente à alguns desenhos animados, “tem barragens que são feitas pelos animais, pela natureza e tem barragens que são feitas pelo homem”. Os castores constroem barragens com galhos, pedras e troncos de árvores para viver em comunidades, “você consegue imaginar o que é construir uma casa, uma concretude no meio do rio? No meio do movimento constante? ”.

Imagem 36 – O rio se desenhando – setembro, 2019. Conforme foi a barreira inicial da manifestação da oralidade foi se desmontando e tornando-se mais orgânica, os participantes ligados ao Camará se empolgaram com as canetas, tintas e giz de cera e começaram a trazer alguns elementos sobre as relações que permeiam a instituição. “Tem as pessoas que atravessam a ponte, olham e nunca mais voltam”, outra pessoa complementa: “Tem as que botam o pezinho na água, mas nunca entram, por mais que a gente fique incentivando”, mas tem também “as pessoas que estão no barco e nos acompanham” ou “as que navegam sem mergulhar e os mergulhadores”. Os mergulhadores são importantes pois “as vezes a gente olha a superfície, mas não faz ideia que lá no fundo está acontecendo um milhão de coisas”. Alguém do Camará comentou “A gente quer uma cachoeira que é o mês de setembro, outubro e novembro… onde a gente só cai”, cachoeiras podem conter pedras no seu fim ou um lindo poço para nadar “mas tem a cachoeira do Bolsonaro que vai ter um monte de pedras lá embaixo”.

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“As crianças podem ser um cardume de Nemos e Dorys”, desenharam então vários peixes no rio, eram as crianças que participavam da bateria. Começou uma série de sugestões de desenhos de criaturas mitológicas, alguém comentou “Piratas? Piratas tiram as coisas do patrão! Se são bons ou maus ai é uma definição complicada, não sei, depende de que lado você está da história”. “Tem que desenhar uma Lula Livre aí também! ”.

● Que rio era esse?

Imagem 37 – Nosso rio – setembro, 2019. Após o “término” do rio, todos nós paramos para contemplar o que estava materializado no papel craft. Digo término entre aspas pois a produção era mais um retrato de um trecho do rio do que uma nascente ou foz. Então perguntaram: Que rio era esse? “É a vida, está fluindo”. Algumas pessoas manifestaram que ficaram se perguntando isso durante boa parte da atividade “será que é uma rio que já existe?”. Foi perceptível que conforme os participantes se apropriaram da proposta, se empolgaram e participaram mais ativamente na criação do rio, respondendo a pergunta: é nosso, esse rio é o nosso rio. O rio tinha barragens colocadas pelas políticas aproveitadoras e pelos conflitos que se estabelecem nas relações humanas, mas também barragens que são 72

construídas por nós para delimitar as relações. Havia um navio de arte, cultura e dança que navegava pelas águas turbulentas e ultrapassava com certa destreza os bloqueios em seu caminho, com a certeza que nas margens arborizadas que sustentam o rio encontraria um porto para atracar quando precisasse. Comunidades de crianças, adolescentes e parceiros próximos ficavam nas margens, construindo cotidianamente seu próprio sustento, revelando a interação entre bicho-homem-natureza e nos colocando uma questão metafórica: com quantos saberes se faz uma canoa? É a observação, interação, troca, experimento, intercâmbio cultural que se transformam e saberes tradicionais. A visão sobre o rio também pode mudar de acordo com a origem do observador, diferentes percepções sobre os integrantes da atividade: pessoas que nasceram na serra e pessoas que nasceram no mar, diferentes modos de vida. O que leva todos nós à alguns questionamentos: Como podemos ajudar as pessoas a atravessar, percorrer, nadar, mergulhar ou usufruir deste rio? Como juntar diversos desejos individuais para produzir vontades, desejos e ações coletivas, de resistência?

Imagem 38 – As margens que confinam o Rio – setembro, 2019. “O Neruda tem uma frase em um livro que é assim: Por que o rio corre para o mar se nele vai se suicidar? Não é suicídio, mas um encontro das águas”. Esse rio é um conjunto de representações... como unir essas representações em um comum? O Rio desta atividade é uma metáfora que nos ajuda a pensar sobre o que pode ser a produção do lugar comum, dialogando coletivamente, enquanto equipe, sobre as coisas que eram sugeridas e quais eram importantes de se representar. “E até pensando na frase do Neruda, eu escuto e penso de uma forma contrária. Supondo que esse rio é um corpo… quando esse corpo encontra o mar, ele não se suicida, ele está em encontro com todo o coletivo, é como se o mar fosse o todo. Talvez a gente pense que vai se suicidar porque a gente perde as características que nos individualizam, mas se for pensar no rio e na vida que nele existe… o propósito de todo o rio é encontrar o mar, porque é o momento que ele fica livre, fica grande e encontra todas as outras vidas que tem lá”.

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3. QUESTÕES DE PESQUISA PARA PROSSEGUIR a) Como pensar o fortalecimento dos representantes da comunidade no CGP? b) Reflexões sobre o uso de ferramentas do CBPR em experiências dessa natureza. c) Como se aproximar dos parceiros e atores locais do Camará? d) Valorizar as iniciativas do Camará, a exemplo das Assembleias locais. e) Pensar em formas e ferramentas de ampliar a voz de crianças e adolescentes na pesquisa. f) Pensar na sustentação das parcerias existentes.

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Relatório Parcial FAPESP 28 jan

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