Sob o feitiço do Natal #1

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Sob o Feitiço de Natal Wicked Christimas Wishes 01

Barbara Monajem

Sinopse Propriedade rural inglesa, 1815 O aristocrata dissoluto Lorde Valiant Oakenhurst esconde um segredo sexy e sobrenatural. Como um poderoso incubus,1 ele é capaz de influenciar os outros através de sonhos eróticos. Numa festa exclusiva de Natal, sua última missão é comprometida pela bela, mas mortal succubus Lucille Beaulieu. Embora ainda atraída por sua ex-amante, Val não pode esquecer sua traição... Na esperança de expiar seu passado, Lucie usa seus poderes sedutores para ajudar os casais a encontrar a felicidade. Mas ela é distraída de sua tarefa por seus próprios sonhos deliciosos do sombrio e perigoso Val. Quando as festividades tumultuadas começam, sua paixão é reinvocada, mas pode um pouco de mágica de Natal restaurar sua confiança perdida?

Sob o Feitiço do Natal Escritório em um armazém perto do Tamisa, Londres, dezembro de 1815 — A guerra acabou, — disse Lorde Valiant Oakenhurst. — Eu não estou mais envolvido na atividade. — Você não está em nenhuma atividade mais, — disse o Mestre dos Incubus britânicos, à vontade atrás de sua mesa enorme. — A menos que você planeje voltar ao grupo familiar. Valiant deu um pequeno tremor interno. Ele não apenas achava a propriedade de seu pomposo pai, o marquês de Staves, completamente insuportável, como também não era desejado por lá. Inevitavelmente, ele causava problemas. Muito melhor causar isso em lugares onde suas habilidades incomuns fossem apreciadas. De certa forma, o tempo de guerra o serviu muito bem, mas agora ele queria... Ele não iria conseguir o que, ou melhor, quem ele queria, e isso era irrelevante para essa discussão. Ele olhou furioso, imaginando por que o sujeito irritante ainda usava uma máscara. Identidades secretas não deveriam mais importar. — Você sabe que eu não posso voltar para o maldito redil família.

— Precisamente, assim você pode se tornar útil. Sentese, Lorde Valiant. Sua inquietação me irrita. Isso não vai demorar muito. Valiant deu de ombros e pegou a cadeira oferecida. — Desejamos que você desperte a sensualidade da senhorita Southern, mas não pode haver uma ligação genuína, exceto na imaginação da moça, — disse o mestre. — A virgindade dela deve permanecer intacta. Na verdade, você nem deve tentar beijá-la. Valiant estreitou os olhos. — Ou então o quê? — Ele já teve o suficiente de ser julgado, como se ainda fosse o garoto de quinze anos que foi removido de Eton por desflorar uma virgem respeitável. O mestre não respondeu sua pergunta, apenas dizendo suavemente: — É apenas por duas semanas. — Você lhe enviará sonhos eróticos e lançará olhares de admiração e até ardentes para ela, para fazê-la, er, ter sucos fluindo, por assim dizer. Valiant soprou. — Para que finalidade, se ela permanecer virgem? Eu não gosto de fazer provocação. O mestre deu uma risada divertida. — Você mentiu, trapaceou e assassinou pelo seu país, e ainda se opõe a uma pequena provocação sensual? — A guerra acabou, — repetiu Valiant. — Estou cansado de fazer esses jogos. — Ele estava preso às suas habilidades mágicas ou pelo menos pareciam mágicas quando tentava explicar como elas funcionavam. Muitos homens e mulheres

eram sedutores competentes, mas poucos conseguiam plantar imagens nas mentes adormecidas de seus alvos, tornando-os impotentes pelo desejo. Não é de admirar que incubis e succubis tenham sido vistos como demônios por séculos, mas isso era injusto. Val não queria machucar ninguém. Ele foi forçado a usar suas habilidades de maneiras desagradáveis durante a guerra, mas em tempos de paz, ele não deveria e não usaria. — A guerra nunca termina verdadeiramente, — disse o mestre pesadamente. — A Inglaterra sempre precisará de indivíduos talentosos para protegê-la. — Ele se endireitou e juntou os dedos. — No entanto, isso não é aqui nem ali. A senhorita Southern é uma mulher inteligente, de excelente criação, com uma fortuna moderada, mas se recusa a casar onde não sente afeto. Esperamos que o despertar de seu lado sensual a torne mais receptiva a, er, se apaixonar loucamente. Isso não fazia sentido, mas o mestre nunca orquestrou nada sem uma boa razão. — Por que você se importa que ela se case? — Eu não, mas alguém que eu valorizo, sim. Você não é a única pessoa com obrigações. Como era típico do mestre combinar um lembrete de que alguém foi contemplado com uma demonstração barata de sentimentos. — Como muito comovente. — Valiant zombou. — E se a teimosa Srta. Southern se apaixonar por mim? Você pode

acabar devendo muito mais a alguém valorizado do que agora. Eu aviso, minhas obrigações não se estendem ao casamento. — Então você terá que pisar com cuidado, não é? Embora pensando nisso, o casamento pode ser exatamente o que você precisa, mas não a senhorita Southern. — Ele passou uma folha de papel dobrada sobre a mesa. — Aqui estão suas instruções. Você vai a uma festa de Natal onde Srta. Southern também será convidada. Valiant abriu o papel. — Na propriedade do visconde de Westerly. — Ele deu outro estremecimento interno. Ele podia imaginar as tradições idiotas que devem ser respeitadas, por mais antiquadas que fossem. Seria como estar de volta à família. Ele balançou sua cabeça. — Lorde Westerly me detesta. Ele não vai me querer na festa dele. — Eu acredito que você contornará a situação de uma boa maneira, — disse o mestre. ****

O salão privado de uma pousada em Grub Street, Londres, também em dezembro — Minha querida Lucille, — disse a Mestra dos succubus britânicos. — Que gentil da sua parte me visitar.

— Oui, sou extremamente gentil. — Lucille Beaulieu revirou os olhos. — Para vir aqui, tive que adiar alguns planos muito chatos. A vida está se movendo no ritmo de um burro teimoso. Espero que você queira me dar algo interessante para fazer. Os olhos da Mestra brilharam através das fendas de sua máscara. Ela era quase agradável de lidar agora que a guerra terminara. A Mestra tinha sido extraordinariamente gentil com ela, ajudando-a a se estabelecer na sociedade inglesa, e Lucille fazia questão de pagar suas dívidas. Exceto uma, que ela nunca poderia pagar. Pensamentos receosos também a mantinham acordada à noite. Ela finalmente começou a se sentir segura, mas um inimigo persistente era o suficiente. Uma serva entrou com uma bandeja de chá. Quando a garota se foi, a Mestra serviu a Lucille um prato de chá quente e fumegante. — Você deve despertar o interesse de um certo homem nobre para sensualidade, — disse ela. Lucille fez um pequeno oh. — Faço isso apenas sendo eu mesma. — Aos vinte e oito anos, ela se viu quase ansiando pela aproximação da idade e pela perda do apelo sensual. Não que ela fosse totalmente inútil depois disso, pois nunca perderia a capacidade aparentemente mágica de enviar sonhos eróticos. Mas esses sonhos eram um presente, dando prazer inofensivo ao receptor, enquanto a sedução muitas vezes levava a danos irreparáveis.

— Sim, minha querida, mas este homem é um caso difícil. Ele é um nobre que recentemente retornou da guerra. — Um soldado? — Lucille mal conseguiu manter o desânimo em sua voz. Os soldados haviam levado seus pais para a prisão e a guilhotina quando ela tinha apenas quatro anos de idade. Como um adulto racional que passou anos na proximidade de exércitos, ela deveria estar acostumada a soldados, mas... não. — Já não, pois ele se esgotou, — disse a senhora. — Ele tem trinta e um anos, idade apropriada para se casar, mas se recusa a fazê-lo. O chá não estava mais tão delicioso. — Certamente você não espera que eu case com ele. — Lucille já havia sido casada cinco vezes. Alguns dos casamentos eram legais e outros não, mas todos os maridos tinham sido eliminados, embora não por Lucille quando tinha deixado de ser útil para os poderes constituídos. Ela não tinha amado nenhum deles, mas também não os desejara mortos. — Não, pois deveríamos ser obrigados a matá-lo, não deveríamos? — A Mestra riu. Lucille não riu. Ela havia se juntado aos succubis britânicos como uma jovem revoltada. No começo, ela estava com muita sede de sangue, usando suas habilidades de sedução para fazer o que fosse necessário... mas ver os maridos serem eliminados sem mencionar muitos outros encontrados durante a guerra mudou isso. Ela desejava que

houvesse maneiras de usar seus talentos para ajudar os outros, em vez de prejudicá-los. A mestra deu um tapinha na mão de Lucille. — Foi apenas uma brincadeira. Esses dias já passaram. Você é livre para casar com quem quiser. Como o único homem que Lucille consideraria se casar a desprezava, isso parecia ser improvável. — Casamento pode ser a coisa certa para aliviar seu tédio, mas provavelmente não com Lorde Westerly. — A senhora mexeu o açúcar em seu chá. — Voltando ao assunto em questão, ele é um homem correto e inteligente. Ele era um dos assessores de campo de Wellington e um brilhante decifrador de códigos, mas o desagrado da guerra o afetou tanto que ele quase se tornou um eremita. O desagrado também afetou Lucille, mas de maneira oposta uma necessidade constante de estar com as pessoas, de estar em atividade. — Ele não mostra interesse em mulheres. Ele nem vai gostar de ter uma amante — disse a anfitriã. — E não, ele não prefere homens, nem foi ferido e incapacitado. O problema dele é emocional e deve ser resolvido, e você, minha querida, pode despertar até os casos mais difíceis. Pense nisso como uma maneira de usar seus talentos em uma causa pacífica. Seria um desafio. Poderia ocupa sua mente por um tempo. Talvez isso a ajudasse a esquecer. Mas ela nunca poderia ser perdoada, e era isso que mais importava. — A nobreza está cheia demais de tolos abaixo do padrão, — disse a senhora. — Pelo futuro da Inglaterra, não

se pode deixar que um nobre inteligente se recuse a se casar e continuar sua linhagem. — Ela passou a Lucille um envelope perfumado. — Aqui estão os detalhes. Chegou ao nosso conhecimento que a tia de Lorde Westerly está planejando uma quinzena de festividades de Natal em sua propriedade em Hampshire. Você certamente encontrará uma maneira de participar. Uma festa inglesa no campo para o Natal! Durante a infância, Lucille passou vários anos com uma família inglesa. Azevinho e visco, pudim de ameixa e ganso assado... Recostou-se na cadeira e tomou um gole de chá. Talvez alguns aspectos dessa missão fossem divertidos. ****

Hampshire, algumas semanas depois Pouco antes do anoitecer, em 23 de dezembro, Lorde Valiant Oakenhurst cavalgava em um bosque a uma curta distância de Westerly House. O que estava prestes a fazer ele não fazia há séculos, e na última vez teve a sorte de não se matar no processo. Desta vez, ele estava um pouco melhor preparado. Ele não arruinaria suas boas roupas no processo, porque essa era a Inglaterra, não a França da época da guerra, então ele não precisava de um disfarce perfeito. Hoje ele escolhera propositalmente uma camisa surrada e um casaco muito

grande que ele não daria a um cavalariço. Ele pegou duas gravatas e as colocou convenientemente prontas para uso. Então ele tirou uma pistola carregada do alforje, mirou com muito, muito cuidado e atirou no próprio braço. Inferno! Foi apenas um arranhão, mas doía tanto quanto da última vez. Seu cavalo, anteriormente uma montaria de cavalaria, deve ter esquecido o seu treinamento, pois se assustara com o barulho repentino, bufando e se arrastando, e Valiant quase colidiu contra uma árvore. Amaldiçoando, ele o controlou, mal impedindo que as gravatas escorregassem no chão. Ele tirou o casaco arruinado, enrolou-as no braço novamente e as amarrou o mais apertado possível com a mão livre e os dentes. Ele ainda estava sangrando, mas teria que fazer. Ele virou o cavalo e partiu para a Westerly House. **** Ao

anoitecer,

uma

carruagem

carregando

Lucille

Beaulieu e sua nova amiga, Theodora Southern, atravessaram os portões da Westerly House e avançaram lentamente pela estrada. Tinha sido muito fácil de organizar. Uma olhada na lista de convidados que a Mestra lhe havia fornecido e ela sabia quem escolher. Ela e Theodora se moviam em círculos diferentes, mas ocasionalmente elas compareciam ao mesmo baile em Londres. Uma avaria na carruagem diante dos portões do vicariato onde Theodora morava com os pais e uma falha no eixo que levaria mais de uma semana para

consertar era uma manobra óbvia para qualquer pessoa experiente nestes jogos. Os Southerns não teriam sonhado em afastar uma dama abandonada, e Theodora era educada demais para admitir que não se lembrava de conhecer Lucille. Ela sucumbiu prontamente, permitindo que a desconhecida se tornasse sua amiga, e até pareceu satisfeita quando Lucille sugeriu acompanhá-la à festa em casa rural. A facilidade desses jogos, que teria sido um alívio durante a guerra, agora deixava Lucille bastante enjoada. Ela tentou se concentrar nos aspectos positivos dessa jornada. Toda casa de campo tinha suas tradições. Talvez as damas acompanhassem os cavalheiros em busca de um tronco de Yule. Elas poderiam ajudar a entregar presentes e comida para os inquilinos na propriedade de Lorde Westerly. Ela ansiava pelo conforto das tradições. Da vida familiar, que ela nunca conhecera de verdade. Desde os quatro anos de idade, quando os soldados levavam seus pais para sempre, ela sempre fora a pessoa adotada por famílias na França, depois na Espanha e, por fim, na Inglaterra, o que era um sofrimento, nunca pertencendo verdadeiramente a família. Ela seguiu o olhar de Theodora pela janela da carruagem. Westerly House ainda não havia aparecido, mas em uma pequena elevação estavam as paredes caídas de uma abadia. — Essas são as famosas ruínas românticas? — Lucille perguntou. Tão sombria e desolada, assemelhando-se a sua vida. Ela gostava de Theodora, uma mulher calma e pacifica, segura do seu valor, mas não mantinha o queixo erguido, e

com um animado senso de humor. Tão... bem equilibrada. Em outras palavras, o que Lucille não era e não sabia como ser. A parada de Theodora e seu pequeno movimento da cabeça mostraram que seus pensamentos estavam em outro lugar. — Sim, eles não são lindas? Como em um romance gótico. — Um homem alto apareceu, subindo a elevação em direção às ruínas, e ela pronunciou um suave “Oh”. O coração de Lucille afundou. Se perguntou, a julgar pelas pequenas nuances no discurso de Theodora, se ela tinha uma tendência romântica por Lorde Westerly. Theodora havia lhe dito que ela havia decidido há muito tempo se casar por amor ou não casaria. Talvez fosse por isso. — É Lorde Westerly? — Lucille perguntou. — Não posso ter certeza por trás, — disse Theodora após outra parada. Isso quase certamente era uma mentira. — Eu não o vejo há vários anos. Ele tem a altura e a estrutura certas, no entanto. Evidentemente, ele residia firmemente na memória e no coração de Theodora. Ela não achava que Theodora tinha alguma esperança de se casar com Lorde Westerly, se ele a quisesse, poderia ter proposto há muito tempo, pois eles se conheciam desde a infância e, no entanto, o coração de Lucille se apertava ao pensar em seduzir o segredo de amor sua nova amiga. Era uma traição, e Lucille não queria mais nada disso.

Ela achava que não seria um feliz Natal para Theodora. A tia de Sua Senhoria, tinha convidado um número de jovens damas elegíveis na esperança de que ele iria tomar uma delas como esposa, e o papel de Theodora era ajudar como uma espécie de anfitriã secundária. — Ele é uma bela figura de homem, — murmurou Lucille. — Ele era um soldado, — disse Theodora. — Talvez isso mantenha um homem em bom estado. Talvez eu possa despertá-lo sem seduzi-lo, pensou Lucille. Isso não seria tão desprezível. — Talvez eu deva flertar com ele, — timidamente. — Isso deixará essa tia brava, não?

disse

ela

— Você é uma pessoa estranha, Lucille, — disse Theodora francamente, mas ela estava sorrindo. — Primeiro você se convida para a festa de alguém e depois faz planos para irritá-la. Lucille riu. — Eu sou realmente ruim, n'est ce pas?2 Mas não sou um perigo para essas coisas jovens que ele escolherá. Eu não deseja se casar novamente, é apenas para me divertir. Você acha que haverá muitos homens bonitos? — Infelizmente não, — disse Theodora. — Conheço todos da lista de convidados. Lady Westerly, — que era tia de seu senhorio, — fez questão de garantir que todos os convidados do sexo masculino fossem casados, ineptos ou entediados. Essa não era a melhor das notícias, mas se Lucille flertasse com os outros homens também, sua concentração

em Lorde Westerly não seria óbvia. Se ela lhe enviasse sonhos sensuais também, seria suficiente. Não seria a boa comida, bebida e festas que manteriam sua mente fora de coisas que preferia não pensar. E o melhor de tudo, nada para lembrá-la da missão atual. **** Era apenas uma milha ou mais, mas quando Lorde Valiant chegou à Westerly House, ele não precisou fingir que estava se sentindo um pouco mal. Estranho como a falta de qualquer perigo real roubava um dos seus controles sombrios de sempre. Ele instou o cavalo a subir o caminho até onde um cavalheiro e duas damas pairavam do lado de fora de uma carruagem, enquanto lacaios descarregavam baús e caixas de chapéus. Pareceu um momento ideal para uma chegada dramática até que ele vislumbrou um familiar par de olhos violeta. Ele piscou, tão surpreso e oprimido pela memória que cambaleou na sela. Ele a fixou. Era verdadeiramente Lucie. Droga, iria explodir o mestre. O que ela estava fazendo aqui? Uma onda de raiva o levou ao tempo de guerra. Mas não era o que parecia. De volta a missão. Quando ele desceu do cavalo, as pessoas correram da carruagem. — Ladrões da estrada, — ele resmungou, segurando o braço machucado e tropeçando em um joelho, sentindo sem

ver o desprezo no olhar de Lucie. — Feriu-me no braço. — Céus, que horror! — A outra dama correu para a frente, era uma inglesa comum, e não um succubus. — Lorde Westerly, envie um homem por um médico, — ela ordenou. — James, Charles, ajude esse pobre homem a entrar em casa. — Lorde Valiant Oakenhurst? — perguntou Lorde Westerly, quando dois lacaios pousaram os baús que carregavam e correram para ajudar. — O que diabos você está fazendo em Hampshire? — Levando um tiro, — Valiant murmurou. — É apenas um arranhão. — Ele fechou os olhos como se estivesse sentindo uma dor agonizante, o latejar em seu braço não era nada comparado em ver Lucie novamente e os reabriu. — Eu poderia perguntar o mesmo de você. — Eu moro aqui, — disse Lorde Westerly. — O que diabos que você disse? — Val infundiu surpresa tingida com repugnância em sua voz, jogou o braço bom sobre os ombros de um dos lacaios e aproveitou ao máximo a entrada cambaleante na casa. **** O que em nome de Deus e todos os santos Val estava fazendo aqui? Lucille ficou horrorizada quando um criado ajudou seu ex-amante a entrar na casa, enquanto o outro corria para os estábulos para enviar um cavalariço por um médico. Ela sempre se perguntara sobre o passado dele, o que ele poderia ser a julgar pelos muitos papéis que ele havia desempenhado.

Agora ela sabia, e um fio frio de medo invadiu seu interior. Oakenhurst era o nome de família do Marquês de Staves. Val não era apenas um espião e assassino, mas um homem de poder e influência na Inglaterra. Considerando que ela era uma traidora da França, o país de nascimento, e da Inglaterra, que lhe dera santuário, e Valiant Oakenhurst era o único que sabia. Que nome incomum era Valiant, mas apropriado. Ela o conhecia por vários nomes, mas durante a intimidade deles, ele era simplesmente Val. Mas por que um homem de alto nascimento usaria uma manobra desesperada para entrar em Westerly House? A última vez que ele deu um tiro no braço, quase sangrou até a morte. Lucille sabia porque tinha sido ela quem salvou a vida dele. Ela captou aquele lampejo de raiva nos olhos dele. Ele ainda a odiava, embora a guerra tivesse acabado e a França tivesse sofrido uma derrota amarga. Ele a seguiu por meses após a traição e a observou durante o primeiro exílio de Napoleão. Ela vivia na expectativa diária de uma morte violenta. Depois de Waterloo, ela esperava que tudo acabasse. Ultimamente, ela quase começou a acreditar que estava segura. Evidentemente não. Nada disso importava mais, nunca entenderia o inglês brutal e descomplicado que ele era. Ele certamente veio aqui por causa dela, mas como sabia que ela estaria aqui? E o que ele pretendia fazer?

Uma pergunta horrível bocejou diante dela. Ela estava preparada para tirar a vida dele para salvar a sua? **** Valiant não matava ninguém por vários meses. Com a guerra terminada, ele não precisaria, mas sentiu um desejo breve e furioso de voltar a Londres e matar o mestre. Ele não queria lidar com Lucie. Exceto na cama. Ele pensa que tinha parado de querer isso. Um incubus deveria ter uma certa resistência natural, mas quando se tratava de Lucie, ele era tão suscetível quanto qualquer outro homem. Mais ainda, porque ele havia se apaixonado irremediavelmente, idiotamente, por ela e depois ficou arrasado quando ela arruinou sua missão, avisando um espião francês, ajudando na fuga do homem. Comparado a essa dor, o buraco no braço de Val era uma mera pontada, e, no entanto, ele protegera Lucie da morte que ela merecia correndo o risco de sua própria vida. O mestre sabia disso? Val tinha sido enviado aqui como algum tipo de teste? Ele deitou-se nos travesseiros, furioso. Ele não dava a mínima para as razões do mestre. Sua vida era dele agora, mas se soubesse que Lucie estaria aqui, teria procurado um método menos perigoso de entrar na festa. Ele já havia se recusado a deixar o médico sangrá-lo. Seu ferimento de bala foi um mero arranhão que ele fizera o trabalho muito melhor desta vez, mas não podia se dar ao luxo de se prejudicar ainda mais. A missão de repente começou a importar.

Por um golpe de sorte, Srta. Southern, a moça que ordenara a Lorde Westerly, acabou sendo uma boa enfermeira. Isso o surpreendeu; ele esperava um servo na melhor das hipóteses ou uma mulher suja e desajeitada na pior das hipóteses, já que todo mundo sabia sobre sua reputação com as mulheres. Ele deitou-se nos travesseiros, esperando parecer inofensivo, e tentou mascarar o latejar em seu braço com pensamentos eróticos. Theodora Southern não era o tipo de mulher que o atraía. Ela era bonita o suficiente, mas totalmente sem dolo. Talvez ela não achasse homens sexualmente atraentes. Ele provavelmente poderia mudar isso temporariamente, mas por enquanto parecia tão inútil quanto no escritório do Mestre dos Incubus Britânicos. A rebelião fervia dentro dele. Ele já estava cansado de ser manipulado... mas, por enquanto, até que soubesse o que estava acontecendo, ele poderia fazer o que lhe fora dito. — Você é um homem teimoso, Lorde Valiant, — disse a Srta. Southern depois de se despedir do médico. — Você dormirá bem e se sentirá muito melhor pela manhã, se você tomar o láudano que o médico deixou para você. Ele a olhou por baixo dos cílios, latente da melhor maneira possível. — Tenho certeza que você está certa, senhorita Southern, — ele falou, — mas eu prefiro continuar na posse de... todos... meus poderes. Ele a fez corar? Ele não sabia dizer à luz das velas.

— Como você quiser. — Ela colocou o copo na mesa ao lado da cama. — Vou deixar aqui para você com um pouco de cerveja para lavá-lo do gosto vil, que eu tenho certeza que tem. Devo ir jantar agora, mas um criado estará aqui em breve com um pouco de mingau. A menos que você queira recusar isso também? Ele sorriu para ela, o mesmo sorriso que havia ferido muitos corações. — Não, eu prefiro permanecer pelo menos em parte nas boas graças da minha enfermeira. — Não tem nada a ver com minhas boas graças, — disse ela, — mas sim com seu bem-estar. — Que gratificante, — ele ronronou, — ao saber que você tem meu bem-estar no coração. — É claro, — disse ela, e teria saído às pressas, mas ele levantou a mão. — Diga-me, — disse ele. — Conheço Lorde Westerly desde os dias de Eton e reconheci Lady Westerly, sua tia, mas quem é a outra moça que estava ao ar livre quando cheguei? — Madame Beaulieu é minha amiga de Londres. A carruagem dela quebrou perto da casa dos meus pais, então, em vez de ficar com eles, ela optou por vir comigo para aqui. Então era assim que Lucie conseguira uma manobra padrão, mas ela devia saber que ele descobriria e reconheceria como tal. Ele deixou a senhorita Southern partir. Ele certamente teve algum efeito nela. Depois que seus passos firmes desapareceram, ele saiu da cama e foi até a valise. Colocou a

pistola sobressalente sob as cobertas e uma faca embaixo do travesseiro, embora duvidasse que pudesse usá-las. Ele voltou para a cama para esperar. Ele cochilou até que uma criada chegou com o mingau. — Todo mundo está jantando? — Ele perguntou. — Não há outros inválidos além de mim? — Sim, meu lorde. Não, meu lorde — disse a garota, corando enquanto fazia uma reverência e saía. Ele bebeu o mingau e se permitiu dormir, razoavelmente certo de que Lucie ficaria fora do caminho por pelo menos algumas horas. Ela não foi até ele em carne, mas invadiu seus sonhos. **** Lucille tentou se concentrar em despertar o interesse de Lorde Westerly, mas seus tentativos esforços de flerte encontraram indiferença. Ela não sabia o que fazer com ele. Ele era mal educado e mais retraído do que qualquer um que ela já conhecera. Ela deveria persistir, sempre persistia até que suas missões tivessem sucesso, mas não conseguia parar de pensar em Val. — Como está seu paciente? — ela perguntou quando Theodora correu para a sala pouco antes do jantar, como se tivesse se vestido as presas. — Razoavelmente bem, mas teimosamente se recusando a tomar o láudano para dormir, — disse Theodora. — Lorde Westerly, ele disse que vocês eram amigos em Eton. As narinas de Seu Senhorio se contraíram. — Nós nos conhecemos de Eton.

Ah, então eles não eram amigos talvez não gostassem um do outro. Isso pode explicar as medidas desesperadas de Val, embora se ele quisesse matar Lucille, poderia ter feito isso facilmente em Londres, na França ou na Espanha durante a guerra. Por que aqui e por que agora? Lucille fervilhava de impaciência durante todo o jantar, seguido pelo chá. Ela descobriu a localização do quarto de Lorde Valiant, perguntando a Theodora se ela pretendia checá-lo antes de se recolher. — Suponho que devo — disse Theodora. — Eu gostaria de não precisar. — Mas por quê? — Perguntou Lucille. — Ele é um homem bonito, n'est ce pas? — Sim, mas... ele me deixa desconfortável. Ele tem um ar imprudente sobre ele. Não que eu não tenha encontrado muitos libertinos, não se pode evitá-los em Londres, mas Lorde Valiant é diferente. Sou grata por não haver visco na casa, pois ele é precisamente o tipo de homem que tentaria prender alguém embaixo do ramo de beijos. — Sem visco? Eu não tinha notado. Não há nada por aqui mesmo, Lorde Westerly desaprova os beijos de Natal? Theodora ficou vermelha. Se já não era óbvio que ela tinha uma tendência para o homem, agora estava claro. — Não, há muito visco, mas Lorde Westerly ordenou que fosse retirado. Sua tia está chateada, porque ela queria que ele tivesse a oportunidade de beijar todas as jovens que convidou sem comprometer nenhuma delas. Talvez ela fique

aliviada com a decisão dele agora que Lorde Valiant está aqui. Não acho que Lorde Westerly goste dele. Seu Senhorio surgiu atrás deles. — Não, não gosto, — disse ele, seco e firme como sempre. — Ele é completamente amoral no que diz respeito às mulheres. Eu irei com você se for checá-lo. Ele não é verdadeiramente amoral, pensou Lucille, desejando que ela pudesse defender Val em voz alta. Ela não deveria querer defender um homem que provavelmente pretendia matá-la, mas sempre fora uma tola em relação a Val. A amoralidade era comum entre os incubis, outra das razões pelas quais eles eram vistos como demônios e eram excelentes espiões, mas Val tinha seu próprio código de honra, mesmo que não fosse o mesmo que os outros homens. Succubis também eram boas espiãs, mas esse era um modo de vida vazio, muito pior para uma mulher do que para um homem. Lucille não aguentava mais. Deu boa-noite a Theodora e Lorde Westerly e ficou olhando pela porta do seu quarto quando eles entraram em um quarto no final do corredor. Logo eles emergiram e se retiraram para suas respectivas câmaras. Lucille carregou uma de suas pistolas, escondeu uma faca em seu xale e partiu pelo corredor. Quando chegou à porta de Val, ela hesitou, tentada a invadir. Ela supunha que ele não a esperasse de arma na mão, pronto para atirar nela, mas nunca se sabia. Além disso, ela era uma mulher civilizada agora, e era mais educado bater.

**** — Entrez, — disse Valiant em francês, jogando a moeda mais uma vez. Até agora, seus arremessos haviam chegado de cara por Westerly e coroa por Lucie. Os dois queriam se livrar dele. Dessa vez, surgiu coroa e Lucie entrou, apontando uma arma para ele. — Eu gostaria de atirar em você, — disse ela em francês. Valiant abriu o braço bom, a mão bem aberta. O outro braço, envolto em bandagens, estava à vista. A forma da arma mostrava-se claramente sob o lençol, mas longe de sua mão. — Me contemple inteiramente estou à sua mercê. — Lembro-me da última vez que você disse que isso não nos levou a lugar algum, — disse ela. Então, por que ele sonhou com ela várias vezes nas últimas horas? Ela era especialista em enviar poderosos sonhos eróticos tão bons ou melhores que ele e, se ela pretendia distraí-lo, conseguiu. Seu pênis estava tão impotente quanto o resto dele quando se tratava de Lucie. Ele acordou cheio de desejo, quente e excitado, e retirou todas as cobertas, mas não o esfriou. — Levaria se eu não estivesse um pouco em condições, — disse ele. — Eu não deixaria uma sanguessuga me cobrir, então se estiver melhor amanhã. — Deus o ajudasse, ele estava pronto para ela agora. A visão dela subindo em cima dele o fez estremecer de desejo. Ele enterrou esse pensamento e acenou com a mão cansada. — Quando eu estiver bem de novo, você não conseguirá resistir.

Seu peito inchou. — Eu não estou tão ansiosa pela morte que me tomaria com o seu poder. Ele se permitiu apreciá-la, lembrou-se do cabelo castanho espalhado sobre o travesseiro, imaginou chupar aqueles seios exuberantes novamente e agarrar o traseiro perfeito... Lamentando, perguntou: — Nem mesmo a 'pequena morte'? Ela não sorriu. — Por que você está aqui? — Isso depende do motivo de você estar aqui. Ela levantou a arma. Inferno e condenação,

ela

realmente quis dizer isso. Era difícil de acreditar que uma vez ela dissera que o amava. — Certamente não vim visitar Lorde Westerly, — disse ele. — Não podemos suportar ver um ao outro. — Então por quê? — Ela rosnou. — A guerra acabou. Você teve muitas oportunidades para me punir. Agora é hora de me deixar em paz. — Não tenho liberdade para dizer por que estou aqui. — Atrasado, ocorreu-lhe que ela estava com medo. Ele havia esquecido o medo dela. Ela sempre atuou bem, mas não gostava de ser espiã e temia os soldados acima de todos os inconvenientes durante uma guerra, para dizer o mínimo. Ela deveria saber agora que não tinha motivos para temê-lo. Ele a amava e sempre amaria, o que ela era, o que ela tinha feito. Se ele tivesse sido um verdadeiro patriota, ele a teria matado eras atrás.

— Minha missão não tem nada a ver com você. Acredite, Lucie, se eu soubesse que você também estaria aqui, não teria atirado em mim mesma. — Ele pensou em dar um sorriso sedutor, mas decidiu não fazê-lo. Ela acenou com a mão com desdém. — Gostaria de poder acreditar em você, mas é um homem inteligente. Poderia ser apenas uma manobra dentro de uma manobra. — E a sua também. Não gosto mais de estar em desvantagem do que você. — Você não está em desvantagem. — Ela cuspiu as palavras. — Você é um inglês em seu próprio país e filho de um marquês. Muito bom que ele era. Seu pai há muito o deserdara. Sua família não viria em seu auxílio, nem sofreria se soubesse de sua morte. Um espião vivo era uma necessidade lamentável, um morto apressadamente esquecido. — Você também tem uma arma carregada e uma faca, e talvez mais armas que eu não possa ver, — disse ela. — Minha arma não é o único instrumento que está carregado e pronto, como você já deve ter notado agora. — Seu pênis fez uma tenda do lençol, mas não havia sentido em dizê-lo para desistir. — Se você está em desvantagem, acho que não é por escolha. Você pode atrair qualquer homem que queira para a sua cama. Você poderia ser uma duquesa agora, se quisesse. Ela estremeceu visivelmente. — Já tive o suficiente de maridos.

— Vamos direto ao ponto, Lucie. Por que você está aqui? — Não tenho mais liberdade para dizê-lo do que você. — Ela abaixou a pistola. — Mas eu esperava aproveitar o Natal inglês no campo. O azevinho e a hera, o tronco de Yule e a torta de amora. — Você gosta de todas essas bobagens? — Oui, eu gosto muito. — Seus olhos se arregalaram com surpresa genuína, algo que raramente se via dela. Ela era encantadora quando estava sendo ela mesma. — Você não? — Deus não. Não posso suportar isso, mas eu não vim aqui para estragar sua diversão e juro por minha honra que não quero lhe fazer mal. Imediatamente sua guarda voltou a subir. — Isso não é coincidência. Mas prometo não te matar. Ele assentiu. Maldito ele fosse se deixasse um dos planos do mestre prejudicar Lucie, mas não poderia protegê-la se ela não acreditasse nele. — Passe-me aquele láudano para dormir, não é isso? — Ele indicou o copo em cima da mesa ao lado da cama e a observou por cima da borda enquanto ele lentamente bebia tudo. — Não sei o que mais o médico colocou nessa mistura suja, mas espero estar morto para o mundo por várias horas. Em outras palavras, a vida dele estava nas mãos dela. Seus olhos, atentos e desconfiados, deixaram claro que ela entendia. Ela não atiraria nele, mas havia maneiras de fazer a morte de um homem drogado parecer natural, e um espiã como Lucie conhecia todas elas.

— Quando você decidir confiar em mim, — disse ele, — talvez possamos descobrir por que estamos realmente aqui. **** Ele é o tipo de homem que faz sua jogada, Lucille disse a si mesma. Ela poderia tê-lo matado, e ninguém suspeitaria de seu jogo sujo. Ele sabia disso, e ainda assim arriscou tudo ao jogar os dados. Ela tinha sido como ele uma vez por necessidade, mas não era mais tempo de guerra, e ela queria ser uma Lucille diferente. E, no entanto, um olhar para ele e ela estava perdida. Incubis nasceram para deixar alguém sem fôlego com o desejo. Ela tinha o mesmo efeito nos homens que ele nas mulheres, mas não foi isso o que a atraiu para ele. Era que ele a fazia querer ser ela mesma, a fazia querer tanto que não podia deixar de ceder. Ele tinha tanta certeza de si mesmo, deitado ali com sua ereção empurrando o lençol, seus olhos zombando não apenas do desejo dela, mas de seu amor. Não era justo. Ela correu de volta para o quarto e subiu na cama, tremendo de frio e uma combinação de raiva e consternação. Já era ruim o suficiente ela querer fazer amor com ele, mas isso era natural, um fenômeno compreensível. Muito pior, ela queria confiar nele, como ele pediu. Ela queria estar segura com ele novamente. Quão estúpido! Depois do que ela havia feito com ele, nunca poderia estar à vontade diante dele, nunca poderia escapar do medo e da

vergonha. Se ela não estivesse segurando uma arma nele, não seria capaz de encontrar seus olhos. No entanto, agora, como se a Inglaterra e a França estivessem novamente em guerra e os espiões voltassem a se encontrar, ele jogou a luva para provocá-la, para fazê-la correr riscos em troca. Mas porque? Se ele não queria matála, por que estava aqui? Ela não se permitiu pensar em Val. Ela sonhava com ele, apesar de sonhos eróticos tentadores que a deixavam suando, mesmo na noite fria, dolorida e insatisfeita. Estes eram o produto de sua própria imaginação, ou ele os enviou? Ele estava realmente morto para o mundo, ou isso tinha sido outro truque? Para o inferno com ele. Ela poderia frustrá-lo com a mesma facilidade, mas se recusava a combater fogo com fogo. Seu trabalho era despertar Lorde Westerly, não jogar com Lorde Valiant Oakenhurst. Ela pretendia cumprir sua própria missão e aproveitar o Natal do campo inglês. **** Val acordou de um nevoeiro drogado e encontrou Lorde Westerly de pé ao lado de sua cama. Ele piscou o sono. A julgar pela luz que penetrava através das cortinas da janela, era de manhã. — Eu ainda estou vivo. — Ele conseguiu sorrir sob os olhos frios e cansados de seu anfitrião. Westerly tinha sido criticado quando jovem, mas a guerra o havia melhorado,

pensou Val. — Você veio me matar? — Ele certamente parecia capaz disso. — Eu sou um soldado, não um assassino, — disse Westerly. — Considerando que eu sou um assassino, — disse Val. — Há um vasto abismo entre nós. Westerly deu de ombros. — Na verdade não. Nós dois servimos a nosso país. Trabalhos diferentes requerem métodos diferentes. Por um longo momento, Val ficou suspenso de surpresa. — Como você é caridoso. — Não, sou realista, — disse Westerly. — Não seja idiota, Oakenhurst. Eu costumava ser auto íntegro, e você nunca teve qualquer moral, mas eu, pelo menos mudei. Não tenho nada contra você, desde que deixe em paz a senhorita Southern. Val mal se conteve de erguer sobrancelhas insolentes. Ele estava acostumado a ser um idiota com membros de sua própria classe. Exigiria que a prática mudasse. Na voz mais educada possível, ele disse: — Você tem interesse nela? O rosto de Westerly se endureceu ainda mais. — Ela é uma convidada e uma amiga valiosa. Não a deixarei desconfortável. Outra longa pausa, durante a qual Val tomou uma decisão. — Isso me deixa em apuros. Westerly ficou ainda mais frio, realmente mortal.

— Pelo seu bem, espero que você pretenda me dizer o porquê. — Eu provavelmente não deveria. — Val sentou-se, estremecendo quando as bandagens moveram em seu braço. — Não que eu me importe mais com segredo. Não estamos em guerra. — Ele suspirou. — Alguém quer que a senhorita Southern se case. — O quê? — Westerly estava compreensivelmente perplexo. — Qual alguém? — Eu não sei. Alguém a quem meu espião mestre deve um favor. Me dê aquele copo de cerveja pequena, sim? — Westerly obedeceu. Val tomou um longo gole e fez uma careta. — Eu poderia usar algo decente para beber. — Mais tarde. Por que alguém se importaria que a Srta. Southern se casasse? Certamente isso é assunto dela. — Talvez alguém pense que ela seria mais feliz casada do que solteira. A maioria das mulheres é. Meu mestre espião se recusa a revelar sua identidade, mas ele é da nossa classe. Suponho que ele conhece alguém relacionado à senhorita Southern e se preocupa com ela. — Ele soltou um longo suspiro. — Minha missão ridícula é despertar seu interesse pela sensualidade, na esperança de que ela escolha, como meu mestre de espionagem disse, se apaixonar e se casar. Fui proibido de beijá-la. Houve um silêncio, enquanto emoções ilegíveis corriam pelo rosto de Westerly. — Você está falando sério, não está?

— Eu não conseguiria inventar algo tão absurdo, — disse Val. — Você não precisa parecer que gostaria de me matar. Ela não é meu tipo de mulher. — O que me leva à minha outra preocupação, — disse Westerly. —Madame Beaulieu, que eu diria que é do seu tipo de várias maneiras. Quem é ela? Val fez uma careta. — Uma ex-espiã. — Eu pensei que fosse. — Westerly fez uma pausa. — Eu a conheci antes, embora não me lembrasse bem de onde. Acho que talvez ela não fosse francesa na época, mas espanhola. Val assentiu. — Ela é francesa de nascimento, mas depois de perder os pais, foi adotada na Espanha e, eventualmente, enviada para a Inglaterra. Ela pode interpretar uma inglesa ou espanhola convincente, se quiser. Ela trabalhou para o nosso lado, se isso importa para você. — Isso poderia não ser a verdade. Ela certamente estava trabalhando para a França quando destruiu a missão de Val. Ele a observara depois disso até que a guerra terminasse, temendo a perspectiva de ter que matála, mas ela nunca mais ultrapassou o que ele podia ver de fato, ela havia feito um trabalho perigoso e altamente eficiente para a Inglaterra. Ele ainda não entendeu qual jogo ela estava fazendo agora. — Eu não ligo para quem ela trabalhou, — disse Westerly. — Ela não é o tipo de mulher com quem eu quero que a senhorita Southern se associe.

— Certamente, as amigas da senhorita Southern, não são da conta dela? — Val reprimiu uma risada ao olhar furioso de Westerly. — Talvez ela esteja entediada por ser uma virgem pura e intocada. Talvez ela goste da excitação de ter um tipo de amiga mundana. Talvez quem quer que ela deva se casar esteja totalmente certo sobre suas necessidades e desejos. — E talvez você deva se importar com a língua antes que eu perca a paciência, — disse Westerly. — Há algo malditamente caótico aqui. Não acredito na história de um colapso de carruagem na frente do vicariato, assim como em sua história de ladrões de estrada. — Também não acredito, mas ela se recusou a me dizer por que está aqui. — Ele riu. — Ela tentou flertar com você? Talvez alguém queira que você se case também. — Então eles podem ir para o diabo. Vou deixá-lo ficar aqui o tempo suficiente para convencer seu mestre de espionagem de que você fez o seu melhor, mas em troca terá que fazer algo por mim. **** A véspera de Natal passou rapidamente. Lucille ajudou Theodora a fazer enfeites de mesa com azevinho e alecrim. Todos eles procuraram em uma floresta o tronco de Yule, que foi arrastado para a casa por servos e colocado na grande lareira. As convidadas chegaram, cinco jovens damas conversando com seus pais, bem como alguns homens despreocupados para manter os números equilibrados. Lorde

Valiant desceu do quarto, com os cabelos negros, pensativo e irresistivelmente romântico, olhando com o braço na tipoia. Os jovens damas sussurraram e suspiraram. Seus pais sussurraram também. Os pais fizeram uma carranca para Lorde Westerly e as mães enviaram olhares chocados ou reprovadores para sua tia. No andar de baixo, Lucille captou o som de vozes elevadas no quarto ao lado do dela e parou para escutar. — Lorde Valiant é o pior tipo de luxúria, — a voz de um homem rosnou. — Deus sabe por que ele tem esse efeito sobre as mulheres, mas ele é extremamente perigoso. Mande sua serva arrumar suas coisas. Não terei minha filha na mesma casa que ele. — Mas, querido, acabamos de chegar, — disse sua esposa. — Tinha esperanças de que Lorde Westerly se apaixonasse por nossa Anne. — Ah, essa era Lady Shaw, uma agradável matrona que Lucille encontrou uma ou duas vezes durante a temporada. — Ele não vai se apaixonar por nenhuma garota que esteja olhando para Oakenhurst, — disse seu marido, Sir Digby, um velho com uma barriga grande e um olhar errante. — Estou começando a ter minhas dúvidas sobre Westerly, também, permitindo que aquele libertino esteja sob seu teto. — Mas, querido, Lorde Valiant foi baleado por ladrões de estrada. Lorde Westerly não podia deixá-lo sangrando até a morte na porta. — Não há nada de errado com o nobre hoje, tanto quanto e iremos. — Ao som de passos irados, Lucille se apressou a

descer as escadas, mas não com rapidez suficiente para escapar de Sir Digby, que se esforçou ao máximo para ultrapassá-la antes de descer em busca de Lorde Westerly. Meia hora depois, Sir Digby, sua esposa e filha entraram na carruagem e foram embora. Theodora, constatou, que ouvira toda a briga. — Lorde Westerly pareceu gostar, — disse ela à Lucille. — Ele perguntou a Sir Digby se ele temia que a moral de sua filha fosse tão relaxada quanto a dele. Não sei como consegui deixar de rir. — Para uma inocente, Theodora não ficava facilmente chocada. Todos se reuniram na sala de estar antes do jantar. Lady Westerly pediu desculpas pela partida abrupta, mas Lorde Westerly levantou a mão para silenciá-la. — Bobagem, — disse ele. — Eles foram embora porque eu me recusei a mandar Lorde Valiant embora. Eu não podia, com toda consciência, fazê-lo. Em primeiro lugar, ele ainda está se recuperando do ferimento e, em segundo lugar, é véspera de Natal. — De fato, teria sido totalmente contrário à caridade cristã, — disse Theodora. — Em vez disso, você mandou Sir Digby e sua família embora! — Exclamou Lady Westerly. — Isso não é caridade cristã. Pense em sua pobre esposa e filha. A noite estava caindo e há ladrões de estrada por aqui. — Eu não os mandei, — disse Lorde Westerly. — Sir Digby escolheu partir, e há uma pousada respeitável a apenas alguns quilômetros de distância. — Quando Lady Westerly

começou a protestar, ele interrompeu, seu tom severo e cortante. — Eu sugiro que você abandone o assunto. Você não gostaria que eu perdesse a paciência e afugentasse o resto de nossos convidados. Nesse preciso momento, Lorde Valiant entrou. Sem dúvida, ele estava ouvindo do lado de fora. — Que pena. — Ele lançou um olhar avaliador. — Que lindas jovens e suas mães deliciosas. Entre os suspiros, rubores e murmúrios furiosos que se seguiram a sua entrada, Val se aproximou de Lucie. — É Natal, querida, — ele sussurrou em francês. — Vamos dar uma trégua. — Só se dar uma trégua durante uma guerra, — ela respondeu. — Estamos em guerra? — Não é da minha conta sabê-lo, — ele disse. — Nem minha, — ela retrucou. — Não? Você parecia uma guerreira na noite passada. Não fui eu quem apontou... pistolas... ontem. Ela se esforçou para manter o sorriso sob controle. Ela desejava rir... Mas não adiantava desejar. — Venha, Lucie, — disse ele. — Pelos bons tempos. Você quer tanto quanto eu. Ela deu de ombros e se afastou, não porque pensava que isso o enganaria, mas porque precisava pensar em questões práticas, como a vida e a morte, em vez de quanto queria subir em cima dele e torná-lo dela. — Que homem terrível — disse Lady Westerly em seu ouvido, assustando-a. — Ele fez uma sugestão obscena para

você? — Claro, — disse Lucille. — É claro, e o hipócrita do Sir Digby também. Mas não pense que isso me incomoda. Sou viúva, por isso não fico facilmente desconcertada. — Ela sorriu gentilmente para Lady Westerly dividida entre o constrangimento de ser mundana e o desejo de ser uma sábia viúva. — O que Lorde Valiant fez que lhe deu uma reputação tão terrível? — Ele arruinou uma jovem inocente. — Lady Westerly baixou a voz para um sussurro chocado. — Quando ele tinha apenas quinze anos! Lucille deu um murmúrio escandalizado. O pai dele, o marquês de Staves, encontrou um marido para a pobre menina. Não que eu aprove o comportamento dela, lembre-se, mas é preciso apenas olhar para Lorde Valiant para perceber que tudo foi culpa dele. Não consigo pensar no que meu sobrinho está pensando em permitir que ele fique. — Lorde Valiant não é mais um estudante tolo, — disse Lucille. — Certamente ele sabe que não deve seduzir donzelas inocentes. — O pai o deserdou — disse Lady Westerly, sombria. Lucille não precisou fingir surpresa. — Oh, certamente que não! — O Marquês de Staves é um nobre correto e sensato. Ele não faria tal coisa se não acreditasse que seu filho tinha ido além dos limites. Eu ouvi os rumores mais terríveis... Oh! Tenho uma excelente noção do que fazer. — Um olhar

ardiloso cruzou seus traços apertados, mas o mordomo pareceu anunciando o jantar, de modo que Lucille não conseguiu ouvir qual era a excelente noção. Logo se tornou aparente esta noção. Lady Westerly, ao pé da mesa, desconsiderava as boas maneiras e falava alto e demais sobre a louvável carreira de seu sobrinho, pintando-o como um nobre herói de guerra. — Chega, tia — disse Lorde Westerly. — Eu sou apenas um dos sortudos que emergiram vivos do matadouro e inteiro. — Parece que Lorde Valiant também teve sorte, — disse ela. — Caro Lorde Valiant, você também esteve fora da Inglaterra nos últimos anos. Diga-nos o que você fez? Val recostou-se na cadeira. Seus maravilhosos e longos cílios oh, como Lucie amava esses cílios que escondia o desafio em seus olhos. — Eu era um espião. Sussurros chocados correram ao redor da mesa. O sorriso de Lady Westerly ficou presunçoso. — E de vez em quando, um assassino, — disse Val. Um dos pais indignados ficou de pé. — Isso é inaceitável! — Tudo a serviço de Deus e do país, — Val murmurou. — Necessário, sem dúvida, mas de maneira não oficial, — disse um jovem corado. — Esse trabalho deve ser deixado para os homens mais baixos a quem se trata naturalmente. — Oh, isso veio naturalmente para mim, — disse Val com um sorriso absolutamente encantador. Novamente, foi preciso todo o controle de Lucie para não sorrir.

— Não é de admirar que seu nobre pai te deserdou, — disse um segundo pai. — Como você pode admitir descaradamente um trabalho tão infame? — Por que não posso? É a verdade — disse Val. — Mas não é um tópico adequado para os ouvidos das mulheres, — disse um terceiro pai, mais brandamente. — Por que não? — Lorde Westerly interpôs. — Talvez as mulheres devam saber o que os ingleses fizeram a serviço de seu país. — Seus olhos estreitos e tom cortante demonstraram raiva, rigidamente reprimida, mas não raiva de Val. — Talvez, em vez de pensar apenas em bailes, vestidos e joias, eles devam entender o que esses homens sofreram e sacrificaram por causa delas. — Definitivamente, não. — O segundo pai balançou a cabeça grisalha. — Isso prejudica suas delicadas sensibilidades. — Não me importo de saber, — disse Theodora. — Prefiro possuir conhecimento do que sensibilidades delicadas. — Eu acho que quero, também, — uma das jovens damas disse timidamente, e foi imediatamente silenciada por sua mãe. — Talvez, minha querida, mas não sobre espiões e assassinos, — disse seu pai, o mais brando. Se Lucille não conhecesse Val do passado, ela poderia não ter percebido que, sob sua frente insolente, ele estava se divertindo muito. ****

Ele veio até ela à meia-noite, silencioso e sombrio, com a intenção de ser uma pantera. Envolvida em suas roupas de dormir, ela apertou o invólucro com força contra a aproximação dele. O que acontecera com ela? Ela fora ousada com os homens, nunca tímida. Ela tinha sido ousada com ele... Não mais. Ela o amava, mas havia feito uma escolha há muito tempo, uma escolha que significava perdê-lo, mas manter sua honra, e viver com isso a transformara em uma sombra de seu antigo eu. Ele tinha suas próprias noções de honra. Ela não achava que ele quebraria uma trégua. Ele entrou no quarto dela, fechou a porta e se encostou nela, observando-a. No momento em que seu coração batia forte e o desejo se acumulava em seu corpo, a ansiedade e o arrependimento a atormentavam. — Por que você fez isso? — Ela perguntou. — Por que se expor à maldade deles? Ele sorriu, todo travesso agora. — Eu não tenho a liberdade de dizer. Ele estava tentando irritá-la. Ela conseguiu dar uma risada zombeteira. — Para ganhar minha simpatia, funcionou. Eu queria dar um tapa neles. — Como sempre, ele roubou a respiração dela, sua resolução, sua própria alma. Ela tinha que decidir agora. Ele se aproximou e tomou a decisão, ilusão de que era, das mãos dela.

— Eu não vim aqui por simpatia. — Ele a puxou contra ele e a beijou com força. O prazer tomou conta dela, o mesmo de sempre, escuro, quente e irresistível. Nenhum outro homem teve esse efeito nela. Oh, como ela sentia falta dele. Ela deu um soluço minúsculo e passou os braços em volta do seu pescoço, bebendo-o como uma andarilha sedenta no deserto que finalmente encontrou o oásis. Depois de beber a água do deserto, seguirei em frente. Mas ela não queria pensar nisso, então se dedicou a beijá-lo. Ela desabotoou-lhe o colete e puxou a camisa dele gentilmente por cima da cabeça, passando-a pelas bandagens do braço esquerdo. Ajoelhou-se, desabotoou as calças dele e as empurrou para baixo. Ele saiu dela, e ela foi para as suas roupas íntimas. O membro dele saltou, grosso, pesado e pronto para ela. Ela pegou na mão, inalou seu perfume almiscarado e deu uma longa e lenta lambida. Ele estremeceu, mas deslizou a mão nos cabelos dela e a levantou. — Adorável Lucie, — ele sussurrou, — tão doce quanto o vinho de cereja. — Ela estremeceu com o som da voz dele. Ele não era como os outros homens, calado e ofegante ou difundindo obscenidades. Enquanto fazia amor, Val murmurava palavras de paixão e cortejava possessividade. Ela sempre se emocionou com o som da voz dele. Como nenhuma outra, ela pensava, a pontada reminiscente enviando uma pequena e fria flecha no calor do desejo. Ele começou a soltar os botões de sua roupa de dormir, e ela sabia que ele a teria despido lenta, meticulosamente e de

maneira tentadora com seu único braço bom, mas ela tinha medo de fazer uma parada por medo de que a flecha iria forçar seu caminho em direção ao frio que cresceria mais e destruiria o pouco que restava para eles. Ela deixou cair o robe, puxou a camisola por cima da cabeça, e empurrou-o para a cama. Ela veio atrás dele, bebendo de sua beleza viril. Eu te amo, ela pensou, mas não ia dizê-lo, porque ele não iria acreditar, provavelmente não queria nem ouvir. Ela não deveria pensar nisso, deveria apenas se perder no prazer por essa curta e doce trégua. Ela brincou com ele, esfregando-o contra seu núcleo, pulsando insuportavelmente, e ele puxou o rosto dela para o dele e a beijou novamente, possessivo e seguro. Ela se afastou, ofegante, para guiá-lo dentro dela. Ah. Ela fizera isso com muitos homens, mas com Val era diferente. Com ele era tão certo. Um braço estava gentilmente contra o quadril dela enquanto a outra mão vagava. Pele contra pele, bocas, braços e mãos, os seios dela contra o peito duro, cada impulso de carinho, cada aumento e queda de uma troca de prazer final. De amor. Não, não era mais amor. Não podia ser, mas ela não tinha forças para resistir, e então o ritmo deles se acelerou, e ela não conseguia mais pensar. Atordoada com o calor de sua união, ela aumentou o ritmo, sem pensar, subindo a crista ao prazer. Ele estocou forte, e ela sentiu seu clímax e se deixou explodir de felicidade.

Quando ela se deitou nos braços dele depois, a pulsação diminuiu gradualmente, e a realização a atingiu. Exceto pelo primeiro carinho, ele não disse mais nada a ela. Sem sussurros, sem murmúrios ou rosnados ou... qualquer coisa. O contentamento foi drenado dela. Não havia nada certo sobre isso. Ela tinha sido uma tola em pensar que isso significava algo mais para ele do que uma cópula rápida. Ela rolou para longe. — Só desta vez pelos velhos tempos, mas não posso mais fazer isso. Como você disse, não é mais tempo de guerra. Não posso ser uma succubus sem uma boa causa. As sobrancelhas dele se juntaram. — Você não está sendo uma succubus comigo, assim como não estou sendo um Incubus. Somos apenas Lucie e Val. — Não, — disse ela, — há muito entre nós para isso. Ele se deslizou da cama, esbelto, forte e bonito. — Estamos aqui juntos. Não precisa haver nada entre nós, exceto... isso. Dois corpos nus e duas almas guardadas. Eles nunca poderiam confiar um no outro, e sem isso havia apenas esse prazer que, apesar de maravilhoso, não a atraía mais sem amor. Ela desejou poder ser inocente como Theodora, que optou pelo amor verdadeiro ou nada. Ela pegou sua camisola e a colocou sobre a cabeça. — É como ser uma succubus. Não quero mais fazer isso.

Ele pegou suas roupas, mas não as vestiu. Talvez fosse muito difícil com apenas um braço bom mas ela não podia oferecer ajuda. Ela não arriscaria em tocá-lo novamente. — A partir de agora, quero usar meu poder para enviar sonhos para ajudar as pessoas, a fazer apenas o bem, — disse ela. — Vou me concentrar na minha missão. Ele deu de ombros, a indiferença em sua postura e seu olhar. Ele era um ator competente, mas ela temia que isso não fosse uma pose. — Espero que seja menos ridículo que o meu, — disse ele. — Não é segredo que vale a pena guardar. Meu mestre espião me enviou para despertar os sentimentos sensuais da senhorita Southern. Lucie parou no meio da colocação do robe. — O que? Por quê? — Alguém a quem meu mestre de espionagem deve um favor quer que a senhorita Southern se case e acredita que se ela sentir a atração da sensualidade, será mais provável que se apaixone. — Ele riu desagradável. — Você não precisa parecer tão chocada. Eu não vou seduzi-la. Ela não é meu tipo de mulher e, mesmo que fosse, fui aconselhado a não fazê-lo. — Sua missão não teve nada a ver comigo? Você não recebeu ordem de me matar? Ele revirou os olhos. — Como já te disse, eu não sabia que você estaria aqui. — Isso não me tranquiliza, — disse ela. Mesmo se ele estivesse dizendo a verdade, isso não significava que não

receberia ordens para matá-la em breve. Isso não significava que isso não fosse um teste de sua lealdade à Inglaterra. — Minha missão é muito parecida com a sua. Devo despertar o interesse de Lorde Westerly no sexo feminino, na esperança de que ele deseje se casar e seguir seu linhagem. Val torceu o nariz com um sorriso de escárnio. — Você pretende seduzi-lo? Qual era o negócio dele? Ele não poderia estar com ciúmes. — Não, porque acho que Theodora o ama. Mesmo que ele não tenha interesse nela, seria demais trair uma amiga. Seu desdém ficou amargo. — Uma amiga que você cultivou para vir aqui. — Ela é minha amiga, no entanto, — disse Lucie, doendo por dentro por tudo que ela não podia dizer. Eu não queria te trair. Eu não tive escolha. — Você está desperdiçando o que chama de lealdade, — disse ele, indo para a porta. — Westerly me pediu para tentar deixar seus convidados desconfortáveis. Ele não os convidou e não os quer aqui. Ele não está interessado em casamento. Uma breve tristeza por Theodora passou pelo coração de Lucie, e depois se encheu novamente com sua própria miséria. — Você não sabe nada sobre minha lealdade, — disse ela. Ele deu de ombros novamente. — Eu sei o suficiente. — Ele saiu.

Ela trancou a porta atrás dele, se jogou na cama e chorou. Que expressão estranha, ela pensou, quando finalmente chegou ao estágio de exaustão. Seu coração ainda residia em seu peito, e não pretendia mudar de ideia sobre amar Val. Ela deveria ter pensado melhor antes de fazer amor com ele; apenas abriu feridas antigas. Ele a desprezava. Ele não mesmo queria entender. **** Que idiota ele tinha sido. Ele acreditava que nada restava entre eles, exceto a atração animal. Ele pensou em compartilhar algum prazer com ela, nada mais. Ele deveria saber que eles não poderiam ceder à sua paixão física, sem que as emoções se abrissem e estragasse tudo. Ela não o amava. Ele já sabia disso; sabia há anos. Um incubus não deveria ser tão suscetível, não deveria se importar tanto, mas o fato era que ele se apaixonara de uma vez por todas, e nada mudaria isso. Depois que ele percebeu a desesperança de tudo, deveria ter voltado à lógica. Considerando a agonia pela qual passara, primeiro por causa da traição e depois com medo de ter que matar Lucie, ele deveria ter aproveitado a chance de uma explicação ou de uma discussão legal e racional do que ela havia feito e por quê. Em vez disso, seu coração machucado assumiu o comando e ele zombou dela. E a aborreceu. Lágrimas brilhavam em seus olhos quando ele saiu. Ela sem dúvida merecia, mas isso não

significava que ele gostava de ser quem a fazia chorar. Ele a julgara morta para todos os sentimentos ternos. Após a traição, ela o evitou completamente. Ela se recusara a olhá-lo nos olhos como uma tola, já que isso a tornava tão boa quanto uma traidora confessa. Poderia ser... que ela o evitasse por um sentimento de vergonha? Por que ela reivindicaria lealdade, a menos que sentisse que ele a julgara mal? Ou essa alegação era apenas outro ato? Oh, inferno. Como ele poderia saber? Talvez ele devesse acabar logo com isso e partir. Ou talvez ele devesse descobrir o que realmente estava acontecendo. A esperança, massiva e provavelmente injustificada, cresceu com ele. Ele ficaria um pouco mais, pelo menos até que soubesse o verdadeiro motivo pelo qual fora enviado para Westerly House. **** Eventualmente, Lucille adormeceu. Ela acordou na manhã de Natal determinada a progredir em sua missão, mas mesmo uma traidora e um ex-espião não conseguiam evitar de enviar sonhos na igreja, embora muitas pessoas tendessem a cochilar durante o sermão. Ela riu ao pensar no mal que alguém poderia criar. Que pena que ela não pudesse compartilhar a piada com Val, mas teve que ficar longe dele. Ela se vestiu e foi com o resto da festa em um estado de espírito piedoso e moderado. Val não veio. Ele ficou em seu quarto, citando seu ferimento como uma desculpa.

— Inteiramente apropriado, — disse um dos pais detestáveis. — A esse homem não deve ser permitido passar através do limiar de uma igreja. Lucie não pôde conter sua indignação. — Por que não? Ele cumpriu seu dever. Você não tem o direito de julgar se ele está além da redenção. — Todos devem ser bem-vindos na igreja, — disse Theodora. — Eles certamente estão na paróquia de meu pai. — Vocês estão aqui, — disse Lorde Westerly, silenciando a todos. A antiga igreja de pedra, era tudo o que restava da abadia de muito tempo atrás, estava enfeitada de verde, o coral entusiasmado, embora um pouco inseguro, o vigário era um tipo gentil de homem. Lucille se viu refletindo sobre o significado do Natal. Paz da terra, aos homens de boa vontade. Não deveria ser um tempo para perdoar? Para novos começos? Mas não poderia haver um novo começo com Val. Quando voltaram para casa, ela pensou em enviar sonhos para Lorde Westerly. Ela não queria. Talvez em alguns dias ela conseguisse despertar o interesse necessário, mas duvidava disso. Ela poderia ser uma succubus por nascimento, com o talento mágico ou o que quer que desse esses poderes, mas não era mais uma succubus no coração. Não que isso impedisse todos os outros homens da casa, hóspedes e servos de olhá-la com desejo impotente. Exceto Val, que resolveu fixar seu olhar sombrio e ardente nas moças mais jovens restantes, obtendo o resultado de que outra

família encontrou uma desculpa para interromper sua estadia na casa. Lucille se jogou nos prazeres da estação: comida e bebida, charadas, passeios no campo, passeios pelos jardins e uma visita às ruínas da abadia. Lorde Westerly descobrira os restos de uma vila romana sob as ruínas e cavara um grande buraco perto de uma das paredes. Ele negligenciou seus deveres como anfitrião, passando cada momento livre lá. Mas o tempo estava nítido e claro e a companhia agradável em sua maior parte. Era quase como os natais que ela passara na Inglaterra quando menina. Se ela pudesse dormir bem! Sonhos sombrios invadiam suas memórias mentais da Revolução, de soldados levando seus pais, de sua vida como filha adotiva na França, Espanha e Inglaterra, de cinco maridos mortos como espiões... e, repetidamente, do escárnio de Valiant e seus olhos desdenhosos. Ele estava arruinando tudo! Se não fosse por suas missões inúteis e sem sentido, ele não estaria aqui, e ela poderia estar se divertido... Eles nunca foram convidados a fazer algo tão ridículo antes. Parecia uma brincadeira cruel. Certamente ara uma perda de tempo. Depois de uma ou duas noites, sonhos melhores começaram a aparecer no sono dela. Seu suave erotismo a confortou, lembrando-a dos dias e noites de lazer depois que ela cuidou dos ferimentos de Valiant. Se estes sonhos eram dele, o que ele estava tentando fazer? Ele deveria estar enviando sonhos para Theodora, então por que eles viriam com tanta força para Lucille? Era de se esperar algum efeito

sobre os outros, uma vez que succubis e incubis tendiam a inflamar todos ao redor, mas não nessa extensão. Além disso, ele sentia apenas desprezo por Lucille. Ele não enviaria seus pensamentos e imagens impregnados de ternura e amor. Uma noite, ela se viu presa em um sonho tão cheio de lembrança que só poderia ter vindo de Val. Eles estavam em Paris, uma cidade perigosa para os dois, e ele riu do perigo e a fez rir também, infectando-a com uma alegria louca e delirante. Ela cedeu ao sonho como tinha feito na realidade, deixando as mãos quentes e hábeis dele e a língua implacável levá-la ao êxtase de novo e de novo. Como ela poderia resistir a um contraste tão grande com seus pesadelos, com um poder sedutor e um abandono total à vida vibrante e sensual? Durante suas horas de vigília, ela não conseguia parar de pensar nele, relembrando o tempo que passaram juntos, revivendo a empolgante excitação de fazer sexo proibido, lembrando com alegria e lágrimas o prazer lânguido das semanas que haviam passado de férias em uma vila no sul da Espanha, brincando de ser marido e mulher. Então ela percebeu que não estava apenas lembrando que estava respondendo aos sonhos que ele lhe enviara, oferecendo-lhe suas memórias, lembrando-o de seu amor, mesmo que apenas em seus sonhos. Ele reconheceria o que ela estava fazendo e a desprezaria por tais táticas. Ela se deteve imediatamente. O último dia do ano foi preenchido com planos para um evento mais bizarro.

— Nós realizamos dois rituais de wassail aqui, — explicou Lorde Westerly. — O primeiro é na véspera de ano novo. Homens da vila e fazendas próximas vêm limpar a casa dos espíritos malignos. Lorde Valiant revirou os olhos. — Eles fazem o mesmo na propriedade do meu pai. Um bando de idiotas se arrasta pela casa, depois cantam e bebem até o esquecimento. Minha mãe odiava todas as botas sujas e comportamento alto e rude, mas como era costume, ela tinha que aturar isso. — Entendo os sentimentos de sua pobre mãe, mas é preciso manter as tradições, — disse Lady Westerly. — Como se deve continuar com o sobrenome. — Ela lançou um olhar sombrio para o sobrinho que não cooperava. — Qual é o outro ritual de vela? — Lucille perguntou. — Esse acontece no pomar na décima segunda noite, para afastar os maus espíritos das macieiras, para onde eles supostamente fugiram depois de sair de casa. — Lorde Westerly deu um de seus raros sorrisos. — Botas enlameadas e comportamento rude são o deleite de um garoto. Quando criança, essa era a minha tradição favorita de todas. — Em nossa aldeia, temos um ritual semelhante indo de pomar em pomar, — disse Theodora. — Nossas árvores suportam bem e a cidra é excelente, portanto, é preciso presumir que funciona. Valiant revirou os olhos novamente, mas ele tinha assumido um olhar travesso tão reminiscente do passado que

Lucie sentiu vontade de chorar. Ele se divertia com os riscos de ser um espião. Ela não. Ela se dedicou a decorar o Salão Principal com verdura fresca e a adicionar temperos a dois caldeirões enormes de cerveja. Ela pretendia aproveitar cada pedacinho deste Natal, não importa o quê. **** Estava na hora de agir. Val tinha sido paciente por quase uma semana, e ele teve o suficiente. Obediente ao pedido de seu anfitrião, ele havia flertado com as donzelas restantes, mas elas ou seus pais eram feitos de coisas mais severas do que as que haviam partido. Uma jovem, uma ruiva tempestuosa, encontrou um visco e fez o possível para prendê-lo em uma alcova. Ele a obrigou a dar-lhe um beijo, mas também a advertiu para não tentar a mesma tática em Lorde Westerly. — Ele é um sujeito muito particular. Ele não se casará com uma mulher que me perseguiu. — Ela se desvencilhou e disse que era engano. Val gostava de uma das outras dama, a senhorita Wedgewood, que parecia ter cérebro e senso de humor. Ele tentou enviar sonhos para Srta. Southern, mas as lembranças de Lucie continuavam atrapalhando. Ele deu asas à sua imaginação erótica para voar até ela durante a noite e, se alguns de seus pensamentos terminassem nos sonhos da senhorita Southern, isso seria suficiente. Ele achava que

Lucie poderia estar respondendo da mesma forma, mas se assim fosse, sua sensualidade era repleta de melancolia e dor. Desde o dia de Natal, ele tentara mencionar suas missões, mas Lucie se recusara a falar com ele. Ela não acreditava em coincidências mais do que ele, mas estava ignorando essa como se não importasse. Isso não era como ela; ela tinha sido uma espiã eficiente ao mesmo tempo. Val teria que pensar pelos dois. Os escritórios dos succubus e Incubus pareciam operar separadamente, mas ele há muito se perguntava se essa era outra tática, outro método para manter em segredo as identidades do mestre e da mestra. Se os dois sabiam o que estava acontecendo, qual era seu verdadeiro propósito? Westerly era uma causa perdida, e mesmo que Theodora Southern começasse a se apaixonar, teria que ir a outro lugar para fazê-lo. Se o mestre e a mestra soubessem da traição de Lucie, eles poderiam ter resolvido o problema. Se eles soubessem que Val se apaixonara por ela e se recusava a traí-la, eles poderiam ter se livrado dele também. Se eles não sabiam nada disso, então ele não sabia do que se tratava, mas essas chamadas missões lhe deram uma desculpa para trabalhar com ela novamente. Se Lucie pensava que tinha terminado com ele, estava muito enganada. Se ela agiu por lealdade, ele queria saber... para quê. Ou para quem. Se ela possuía um sentimento de vergonha, ele queria saber. Se ela ainda o amava... Ele estava ficando muito à frente de si mesmo, mas era assim que a esperança funcionava. Como uma semente,

plantou-a, nasceu folhas e cresceu, sem levar em consideração a possível seca que estava por vir. Ele precisava de uma abertura, uma maneira de forçá-la a lidar com ele. Ele nunca esperou por uma oportunidade, então começou a criar uma. Ele considerou os sentimentos de seu anfitrião e os dispensou. Ele também considerou os sentimentos de Lucie e decidiu que o fim justificava os meios. Ele se afastou para encantar a tia de Westerly. A noite chegou, com mesas e bancos de cavalete montados no Salão Principal. A sala estava enfeitada com vegetação e, após o wassail, os visitantes foram regalados com comida e cerveja quente e condimentada. Val teve que admitir que, devido aos esforços combinados de Lucie e Theodora, as celebrações de Natal tinham realmente tomado uma nota festiva. Se ele e Lucie estivessem em boas condições, ele poderia realmente ter se divertido. Apenas Lorde Westerly parecia menos do que satisfeito. Ele olhava com raiva para Lady Westerly, que o chamava para as enormes portas da frente, onde ele cumprimentaria os wassailers. — Ela ainda está tentando me pintar como um herói de guerra, — ele rosnou para Val. — Ela convenceu os moradores, que incluem alguns soldados do meu regimento, a acrescentar uma nota militar ao ritual deste ano em homenagem ao meu glorioso retorno da batalha. —Que humor o dela, — disse Val, bancando o inocente. — Então envie-a para morar em uma de suas outras casas quando a festa terminar.

— A única maneira de me livrar dela é se me casar, me envolvendo com outra mulher ignorante, — disse Westerly. — Acho que eu gostava dessa tradição. — Ainda carrancudo, ele caminhou até as portas. Val se aproximou de Lucie e murmurou em francês: — Chérie, acho que você não vai gostar desse costume especial de Natal. Seu peito inchou. — Você deve estragar tudo para mim? Vá embora. — Lucie, isso é importante. Estou tentando avisá-la, acredite ou não, na bondade do meu coração. Ouça-me desta vez. **** A bondade do seu coração? Esse sentimento não existia. Ela balançou a cabeça e se afastou. Por que ela não deveria gostar dessa tradição? Irritada, ela foi até Theodora, que estava fazendo uma verificação de última hora das mesas onde os foliões seriam servidos com comida e bebida depois de expulsarem os maus espíritos. Lucille certamente não gostava desse aspecto do ritual. Ela não acreditava em espíritos malignos, mas muitas pessoas, se soubessem dos sonhos que ela poderia enviar, a veriam como um. Seria isso o que Val quis dizer? Ela estremeceu com o vento gelado, que pioraria quando as portas se abrissem. Os wassailers ainda não haviam chegado; certamente havia tempo de buscar um xale. Ela foi em direção à grande escada.

— Aonde você vai? — perguntou Theodora. — Eles estarão aqui a qualquer minuto. — Pegar um xale, — disse Lucille. — Muito bem, — disse Theodora com um olhar preocupado, — mas seja rápido. A família inteira deve se reunir aqui. Lucille assentiu e correu escada acima. Ela mal chegara ao topo quando um grito veio do ar livre. — Wassail, wassail, deixe-nos entrar! — Ela acelerou pelo corredor até o quarto de dormir, procurou em seus pertences um xale, envolveu-o ao som distante do canto e voltou para a escada. O som de botas marchando a congelou. Gritos peremptórios e militares a paralisaram. Os soldados estavam aqui! Atordoada, com a mente desesperada, ela voltou para o quarto e se armou. Era tudo uma trama? Todos eles sabiam quem e o que ela era? A festa em casa era uma armadilha e o assalto foi uma fraude? **** Val subiu correndo as escadas. Ela estava caindo em sua mão ainda melhor do que ele havia planejado. A única vez que ele viu Lucie perder o controle foi quando soldados franceses marcharam para a cidade onde ela vivia como uma viúva recente, aguardando sua próxima missão. Ele a segurou tremendo em seus braços até que eles se foram, e ela contou a ele sobre o dia em que os soldados levaram seus pais.

— Ho! Para onde você está indo? — Chamou o líder dos foliões. — Todo mundo fica aqui, a salvo dos espíritos malignos. — Eu sou um espírito maligno, — Val disse de volta, e continuou. Isso levantou alguns gritos alegres. Os wassailers adoravam ter alguém real para perseguir. Ele correu para o corredor, experimentou o quarto de Lucie e depois alguns outros. Abaixo, Westerly iniciou seu discurso obrigatório, mas não durou muito. — Droga, Lucie, onde você está? Deixe-me levá-la ao ar livre, longe desses tolos. — O silêncio o cumprimentou. — Lucie, eles não são soldados de verdade. Ele a pegou então, o menor suspiro atrás dele. Ela estava do lado de fora da porta de outra sala, uma pistola na mão. Pelo menos ela não estava apontando a arma para ele neste momento. — Eu sei disso, — disse ela, mas sua voz tremia. — É uma sorte, porque sou grande demais para caber em uma valise. — Ela se escondera em uma valise naquele dia fatídico em que seus pais foram apreendidos, e um dos servos tinha certeza de que ninguém a encontraria. Val riu e arrancou a arma de sua mão sem resistência. Ele pegou uma capa atrás da porta e a rebocou em direção a uma escada secundária nos fundos da casa. — Atrás deles! — Veio um rugido vindo de baixo, seguido de um barulho horrendo.

— O que é isso? — Ela tremeu e depois se recompôs. — Eu sei. Não são paus, espadas e baionetas, mas panelas e frigideiras. Theodora me contou. — E gongos, marretas e pinças — disse Val, levando-a pelas escadas, pela cozinha e noite adentro. **** Lucie levou muito tempo para perceber que Val havia planejado essa fuga. Ela deveria saber desde o início. — Onde estamos indo? — Ao pomar, como bons espíritos malignos, — disse ele, — e depois a algum lugar quente. Ele sabia exatamente para onde estava indo. Ele jogou a capa sobre os ombros dela e a empurrou através do pomar escuro, depois deu uma volta brusca, levando-a através do prado às ruínas da abadia. Ele caminhou confiante pela escuridão, pulou no poço que Lorde Westerly cavou e a jogou para baixo. De um lado do poço, um braseiro de carvão brilhava. Duas cadeiras de madeira estavam colocadas confortavelmente diante dela. Ele a colocou em uma delas. Ela ficou de pé novamente. — Você planejou esta escapada. — A fúria borbulhou nela. — Apenas a parte militar, — disse Val. — O resto que você está ouvindo lá em cima, correndo pelas escada em vez de simplesmente se apegar a mim, foi fortuito. Sorte de Incubus.

Ela soprou. — O braseiro? As cadeiras? — Westerly vem aqui à noite. Costumava haver apenas uma cadeira. Ele piscou. — Eu me pergunto de onde veio a segunda. Ela queria dar um soco nele. — Não contente com a reprodução de um truque estúpido e me privando de desfrutar de uma tradição de Natal, agora você mentiu para mim. — Ela foi até a borda do poço e soltou para cima para a relva, ficando emaranhadas pelas saias. Ele pulou ao lado dela. — Eu não menti. — Ele ofereceu uma mão. Ela recusou, soltando as saias sem a ajuda dele, ficando de pé e se limpando. — Você se aproveitou do que sabia de mim. — Venha, Lucie. Você foi uma espiã por anos. É o que os espiões fazem. — Não somos mais espiões, — ela falou. — Foi você quem disse que a guerra acabou. — É, minha querida, mas eu sou o mesmo Val. — Ele a puxou em seus braços, beijando-a com força, mordiscando sua orelha, acariciando seu pescoço, seu hálito quente a queimando na noite fria. Ela se derreteu no calor dele, jogando a cabeça para trás, tremendo enquanto a língua dele se abaixava e seus mamilos se endureceram em resposta. — Eu sempre farei o que for preciso, — ele sussurrou. Ela se afastou.

— Não foi punição suficiente me atormentar por anos? Me seguir e vigiar constantemente, me ameaçar com a morte? — Ela saiu furiosa caminhando pelo prado. Ele a perseguiu. — Que escolha eu tive? Não podia deixar que uma agente francesa continuasse operando. Ele pensou que ela era uma agente francesa? Claro que ele pensara. Que outra conclusão ele tirara? — Então por que você não me matou e acabou logo com isso? — Infelizmente, eu estava apaixonada por você. Eu não poderia simplesmente matá-la a sangue frio. Ela sabia que ele não a amava mais, mas isso doía. Ela nunca se arrependeria de se apaixonar por ele. — Você acha que estava sendo atormentada? — Ele disse. — E eu, acordando todas as manhãs me perguntando se era o dia em que eu descobriria que não tinha mais escolha? Que você entregou algumas informações aos franceses e, portanto, eu teria que matá-la. — Eu... Eu nunca pensei sobre isso dessa maneira. Ele soltou um suspiro. — Eu tive pesadelos com isso, Lucie. — Sinto muito, Val. Também tive pesadelos. — Ela os imaginou em suas camas separadas, cheias de pesadelos. — Para um incubus e um succubus... — Irônico, não é? — Seu sorriso era torto e triste. Ela assentiu tristemente.

— Mas a guerra acabou agora. Tudo acabou. Por que você não pode me deixar em paz? — Eu estava deixando-a em paz, — disse ele. — Mas aqui estamos, cada um com uma missão ridícula. Você não quer saber o porquê? — Não particularmente. Eu terminei de espionar. — Graças a Deus eles estavam se aproximando da casa. — Mas peço desculpas por causar seus pesadelos. Você está certo em me desprezar. — Eu não te desprezo, — disse ele alegremente. — É verdade que fiquei decepcionado, com o coração partido na época, mas agora sou todo admiração. Não é fácil espionar nos dois lados. Eu poderia não a ter pego se você não tivesse me evitado tão claramente, e eu nunca a peguei novamente. Ela abriu a boca para corrigi-lo, mas eles já haviam chegado em casa. Val bateu nas grandes portas da frente. Tarde demais, ela pensou. Ela nunca espionara dos dois lados e não teria mesmo se tivesse sido tão inteligente quanto ele supunha. Quão legal e sem emoção ele era. Quão prático. Ele havia deixado o coração partido e a guerra para trás, como se nenhum deles tivesse importância. Ela não podia ser assim. Tudo o que ela fez, ela fez por paixão ou obrigação. Ela juntou sua capa sobre si mesma e sua compostura com ele mudou. — Oh, graças a Deus, — disse Theodora quando um lacaio abriu as portas e os deixou entrar. — Eu estava preocupada com você. Eles não conseguiram encontrá-la em nenhum lugar lá em cima.

— Estávamos possuídos por espíritos malignos, — disse Lucille, rindo quando ela entrou. Foi uma risada muito boa, digna de uma succubus e ex-espiã, não de uma tola confusa e apaixonada. — Mas nós os enganamos, — disse Val. — Nós os trouxemos para as ruínas de Lorde Westerly. — Onde havia uma cadeira para cada um deles — disse Lucille, passando a capa de Val as mãos do lacaio. — Sentaram de frente ao braseiro para se aquecerem, — disse Val. — E lá ficaram eles. Todos riram e aplaudiram, e Lorde Westerly estreitou os olhos para Val, mas Theodora lhes serviu cerveja quente e temperada. **** Até agora, tudo bem, pensou Val, mas não era o suficiente. Mas, sob muitos aspectos, foi realmente muito bom. Lucie tinha falado com ele, e não apenas isso, ela havia trabalhado com ele, mesmo que a tenha superado. Quando eles entraram na casa, ela assumiu a liderança como profissional. Esta era a Lucie que ele conhecia de antigamente. Ela ainda não havia engolido à outra isca. Sim, ele tinha certa admiração pela esperteza, mas não era desprovido de honra, nem perdoara o passado. Se ele se permitisse pensar nisso, ficaria tão furioso quanto no dia em que ela deixara o espião francês escapar.

Ela realmente estava trabalhando nos dois lados? Ela não negou... mas ela estava prestes a fazê-lo quando ele bateu na porta? Havia pelo menos duas outras possibilidades. Opção um, que ela estava inteiramente do lado francês, mas ele achava isso difícil de acreditar, porque seu excelente trabalho para os ingleses superava em muito a missão que ela estragara para Val. Não era só isso, por que ela não voltou para a França depois da guerra? Por que ela ainda estava aceitando missões de sua mestra inglesa? Opção dois, ela trabalhava apenas para os ingleses; nesse caso, destruir a missão dele era um assunto pessoal. Ou ela queria vingar-se dele, embora, por quê, ele não tinha noção, ou ela se apaixonou pelo agente francês que planejara matar. Ele riu de si mesmo, um Incubus agitado porque uma succubus havia sido infiel. Ele estava pensando como um homem comum com ciúmes. Ele poderia enganá-la novamente? Ele duvidava, mas isso não o impediria de tentar. Ele decidiu fazê-lo esta noite. Estranho como a temporada de Natal poderia ser agradável sem que seu pai fizesse pronunciamentos autocráticos e insistisse em ser obedecido enquanto os irmãos humildemente concordavam, a mãe tentava manter a paz e a irmã, que não tinha permissão para soltar seu espírito maligno e sensual, corria para o quarto dela em lágrimas.

Lorde Westerly havia superado seu mau humor e agora tentava lidar cordialmente com seus hóspedes. Ao contrário do pai de Val, cuja atitude altiva aumentava a distância das classes mais baixas, a preocupação genuína de Westerly a diminuía. Alegria e... Val não conseguiu pensar em nada, mas a alegria do Natal enchia o Salão Principal. Um contentamento inesperado e totalmente desconhecido tomou conta dele. A vegetação era realmente festiva, o pudim de ameixa e as tortas de carne moída eram uma delícia saborosa, a cerveja quente e condimentada excelente, e quando ele ergueu o copo para Lucie em um brinde silencioso, ela não se virou. **** Lucie brindou com ele em troca. O que quer que tenha acontecido entre eles no passado, eles eram velhos amigos, e era Natal. Além disso, ela o queria. Na cama. Novamente. Esse era um dos grandes inconvenientes de um ser uma succubus. Não que as mulheres comuns não experimentassem luxúria, é claro que sim, mas era parte integrante do ser de uma succubus. Ela convidou-o quando não queria e, quando o queria, ficou no caminho do senso comum. Na verdade, como muitos homens, na verdade. Deveria ser ainda mais difícil para um incubus. Ela olhou para Val. A ruiva estava agitando os cílios para ele. Até os pensamentos

sensuais da Srta. Wedgewood estavam escritos em seu rosto. Val rolou seu olhos para Lucie de: me salve. Ela soprou. Ele a enfurecia regularmente e, apesar dos riscos para ambas as missões, ela acabara na cama com ele. Por fim, a folia terminou, os wassailers foram embora e todos se retiraram para a noite. Ela vestiu a roupa de dormir, andou na ponta dos pés pelo corredor e bateu na porta dele... sem resposta. Ele estava dormindo? Não estava lá? Estava com outra mulher? Que desconcertante. Em tempos de guerra, ela teria tomado como certa a sedução com outra mulher. Se fazia o que era necessário. Agora, a própria ideia a aterrorizava. Ela não devia se permitir tais sentimentos. Ele certamente não tinha nada com ela, e um incubus gostava de seus prazeres. Ele poderia ter decidido ceder e deflorar a ruiva ou aquela garota Wedgewood que parecia a mais sensata. Ele abriu a porta apenas o suficiente para espiar. — Oh. É você? — Ele fez um gesto com a cabeça e o queixo. O desejo bateu nela. Como um movimento simples e despreocupado do queixo poderia ter esse efeito? — Quem você estava esperando? — Ela tentou parecer fria e não afetada, enquanto seu coração batia forte e o calor se acumulava em seu núcleo. Ele fechou a porta. — Essa ruiva está se incomodando. — Os lábios dele se curvaram como se tanto o ciúme quanto a desejo estivessem

escritos em seu rosto. Que irritante, independentemente dele ter visto através dela ou meramente fingido. — Do que você gostaria hoje à noite, meu amor? — Ele perguntou. — Devo estar à sua mercê ou você ao meu? Ela estava completamente à sua mercê, e seus olhos mostraram que ele sabia disso. O orgulho cresceu dentro dela. — Não. Eu vim para esclarecer as coisas. — Maldito seja, levou todo o seu controle para permanecer imóvel. Ela estava quase se contorcendo de desejo. As sobrancelhas dele se ergueram. — Oh? — Tenho uma confissão a fazer, — disse ela. — Eu não sou tão inteligente quanto você pensa. — Meu pênis é indiferente à esperteza. — Ele a puxou com força contra si, deixando as prioridades de seu membro cintilantemente claras. — Prefere o calor apertado e úmido. Ela estremeceu com o pensamento de seu pênis empurrando dentro dela e suas respostas pulsantes. Ela deslizou as mãos pelo peito dele e enlaçou os braços em volta do seu pescoço. Talvez ela devesse simplesmente ceder e esquecer a verdade. Seus lábios se tocaram, sua respiração se misturando. — É inteiramente amoral? — Ela perguntou contra a boca dele, sua voz rouca. — Infelizmente, sim, — disse ele. — Você se importa? — Ele levantou a camisola lentamente até seus quadris.

— Meu calor úmido é tão ruim, — disse ela, e depois deixou escapar: — mas nunca espionei dos dois lados. Uma pausa, quase imperceptível, e então ele perguntou: — Devo tomar você de ambos os lados? — Suas mãos escorregou entre suas pernas, uma na frente e outra atrás, espalhando a evidência de seu desejo. Ela se contorceu e ofegou. Seus dedos deslizantes a acariciavam, a enlouqueciam... O que era exatamente o que queria, pois ele sussurrou: — De que lado você espionou, amor? Ela se virou para sair, mas voou para ele imediatamente, puxando sua camisa das calças. — O que isso importa? A guerra acabou agora. Ele puxou a camisa por cima da cabeça. — É o que dizem, — disse ele entre os dentes, e removeu a camisola dela. Ele a beijou com força, um ataque aos sentidos e ao controle dela. Como se ele a possuísse. Como se ela fosse totalmente dele. — Querida Lucie, deleite do meu coração. — Ele segurou um seio e acariciou-o. — Minha doce Lucie, tesouro da minha alma. — Ele acariciou seus mamilos até os dois seios incharem e formigarem e doerem. Até que seu coração e alma incharam também... — De que lado? — Ele perguntou novamente. Não, não perguntou, mesmo quando ele beijou um seio e depois o outro, chupou um mamilo e outro, indo e voltando, murmurando: — Este lado... ou aquele?

Fogo com fogo. Ela abriu os botões de sua calça e pegou o membro dele na mão, despertando-o para a loucura em troca. — Certamente isso é óbvio para um homem inteligente. Ele se libertou dos dedos dela, tirou as calças e a empurrou para a cama. — Não se a mulher for muito mais inteligente, — ele rosnou e afastou as pernas dela, cutucando suas partes íntimas com uma coxa poderosa. — Não se o trabalho dela para os franceses não for apenas inestimável, mas invisível. Ela o guiou até seu interior com um gemido de êxtase. — Eu já te disse, — ela ofegou. — Eu não sou tão inteligente. Ele começou a entrar e sair dela com movimentos lentos e fortes. — Não? Então, o que você é, meu amor, meu anjo, minha alma? Ela o beijou, se importando tanto que doía, e disse a verdade. — Eu sou uma mulher que paga suas dívidas. Ele deixou que cavalgassem por um tempo, deixou que cavalgassem um ao outro e depois disse: — O que mais? — Eu sou leal. — Ela respondeu seus impulsos, acariciando-o com seu núcleo, desejando que ele entendesse. — A quem? Para você, sempre e para sempre. Mas se ela dissesse, ele não acreditaria. Ela tentou mostrar a ele com todos os seus

movimentos, com todos os seus gritos de prazer. — Oh, Val. — No meio do êxtase, ela nunca foi capaz de dizer nada além de seu amado nome. Seus impulsos se aceleraram. Sua respiração ficou dura, sua voz insistente. — A quem? Ela se contorceu embaixo dele. Ela se empurrou para ele. Para você. — Empurre novamente. — Você, Val. Você. Ele estava correndo para o clímax e ela também. — Para quem? — Ele estava empurrando forte, correndo para vencer. — Diga-me, Lucie. Diga-me agora. Para quem? — Para aqueles que amo, — disse ela, e gozou. **** Ele desistiu e soltou-se, enterrando-se completamente dentro dela. Nunca haveria outra mulher para ele, mas pelo menos não tinha dito isso. Um impasse. Uma gravata. Droga, ela era boa demais. Aqueles que ela amava. Ele saiu dela e se recompôs. — Eu fiz algo para chateá-la? Que foi que deu errado? Ela se virou para ele, com a testa franzida. — Você me chateou com frequência, mas foi bom para mim. Um desafio. É uma das coisas que amo em você, Val. Amo, não amava? — Mas você amou mais alguém. — Ele soou para si mesmo como uma criança mimada e mal-humorada. Ele quase rolou para o outro lado, quase se cobriu com o cobertor

e se forçou a dormir. Esquecer tudo pelo menos até de manhã. — Não! — Ela disse. — O que lhe deu essa ideia? — Você me traiu, — disse ele, virando-se de lado para encará-la, determinado a descobrir a verdade de uma vez por todas. — Você disse ao francês amaldiçoado que eu estava lá por ele. Você o deixou fugir. — Você ia matá-lo. Eu não tive escolha. — Não teve escolha? Era meu trabalho matá-lo. — Era o meu salvá-lo, — disse ela. — Eu pago minhas dívidas. Ele olhou para ela. Ela não estava apaixonada pelo espião francês? — Que maldita dívida? — Vida, — ela disse. — Eu devia a ele a minha vida. Ele era o servo que me salvou quando os soldados levaram meus pais. Não só isso, ele me levou para sua mãe, que me adotou, que me achou um refúgio mais seguro na Espanha e que acabou planejando me mandar para a Inglaterra. Eu devia tudo a eles. Ele rolou de costas, encarando as sombras no teto. Ela não estava apaixonada pelo bastardo. Ele soltou um suspiro longo e extático. — Oh, Lucie. Por que você não me contou? — Como eu poderia? Você ainda o teria matado. Ele pensou sobre isso. As sombras mudaram à luz das velas e faíscas estalaram na lareira. — Sim. Eu não teria escolha.

— Fiquei acordada a noite toda, tentando encontrar outra saída, mas não havia uma. Sabia que você me odiaria para sempre, mas eu teria me odiado mais se o tivesse deixado morrer. — É compreensível, — disse ele, inclinando a cabeça para saborear seus exuberantes cabelos castanhos e olhos violeta. — Lealdade, de fato. Peço desculpas por acreditar em algo menos de você. — Você não precisa, — disse ela. — Eu poderia ter fingido inocência com mais alguém, mas não com você. Eu não conseguia nem encontrar seu olhar. Eu esperava que você me matasse, mas na época não importava. Eu estava morta por dentro de qualquer maneira. — Eu nunca te odiei, Lucie, — ele confessou finalmente. — Eu não podia, não importa o quê. — Eu tentei compensar você e a Inglaterra, — disse ela. — Eu me aterrorizei com algumas das missões lunáticas que assumi. Ele estremeceu ao pensar que poderia tê-la perdido tão facilmente, que nunca poderia ter descoberto a verdade. — E eu a aterrorizei ainda mais, perseguindo-a constantemente. A guerra causou estragos conosco e com inúmeros outros. — Ele rolou para encará-la novamente e a puxou para seus braços. — Querida, eu sempre te amei, e sempre amarei. — Oh, Val, — disse ela, acomodando-se contra ele, seus corpos entrelaçados, um ajuste perfeito. — Eu também te amo. Nós pertencemos um ao outro. Sempre foi assim.

— De fato, meu amor... Mas agora é diferente. Nós não temos que roubar nossos momentos de paixão. Não precisamos mais fazer esse jogo. — Por fim, ocorreu-lhe a verdade. — Oh, inferno. Nós fomos tão tolos. Por isso nos mandaram para cá. **** A sonolência começou a reivindicá-la, mas ela piscou. — O que? — Er... sua mestra mencionou alguma coisa sobre casamento? — Ele apertou o braço sobre ela. — Não de Lorde Westerly, mas seu. — Só isso... — Ela acordou completamente com o brilho em seus olhos escuros. — Ela disse que o casamento poderia aliviar o meu tédio, e que eu poderia escolher meu próprio marido desta vez. — Dentro dela, algo floresceu e cresceu. — Oh! O que seu mestre espião disse? — Da mesma forma que o casamento pode ser exatamente o que eu precisava e, claro, ele estava certo. Ele sempre está. — Minha mestra também, — disse Lucie. — Você acha que eles sabem de tudo? — Talvez, — ele disse, — mas eu não me importo. Eles alcançaram seu objetivo. Lucie, você poderia aturar outro marido de forma permanente dessa vez? Vamos partir dessa festa tediosa e encontrar um lugar próprio. Uma fonte de alegria transbordou dentro dela. — Eu gostaria disso, Val, mas...

— Mas o quê? — Ele exigiu. — Não há objeções. Você é minha. E eu sou seu, e se observarmos nossa aparência, obedecemos claramente às ordens de cima. — Sim, o que significa que não podemos ignorar completamente nossas missões. Minha mestra disse-me que agora eu poderia usar minhas habilidades mágicas de maneira pacífica. Acho que a guerra prejudicou Lorde Westerly, e uma esposa, a esposa certa, é exatamente o que ele precisa. E me aproximei da senhorita Southern e acredito que devemos tentar ajudá-la também. — Muito bem, — disse Val. — Eu faço isso se você estiver junto. Mais alguma coisa? Ela sorriu para ele. — Sim, meu querido. Você terá que aturar algumas tradições de Natal. Você pode até aprender a apreciá-las. — Ela garantiria que ele gostasse. — Por você, eu vou fazer isso, — disse ele. — Mas você não dirá a nossa filha que ela não pode ter um espírito sensual e maligno, sim? Meu pai fazia isso com minha irmã todos os anos. — Claro que não, — disse ela. — Até convidaremos sua irmã para o Natal, para que ela possa ser agora. Ele sorriu. — E você não dirá ao nosso filho que ele não pode subir no telhado para insultar os wassailers. Ela se afastou. — Não posso prometer isso, Val. Ele riu e a puxou para perto novamente.

— Também não posso prometer. Quer se casar comigo, Lucie? — Sim, Val, eu quero. — Ela se envolveu em torno dele e soltou um suspiro profundo. Uma vez, há muito tempo, ela tinha pensado nele como seu porto seguro, ela não estivera muito segura, mas era um perfeito refúgio, mas parecia que ele sempre estivera tão à deriva quanto ela. Agora ela também poderia ser o porto dele. Paz na Terra, aos homens de boa vontade... O novo começo pelo qual eu tinha esperado, finalmente, havia chegado.

Notas

[←1] A palavra "incubus" ou íncubo (do latim, in-, "sobre") é considerado alguém que está em cima de uma outra pessoa. Já um "succubus" vem de uma alteração do antigo latim succuba significando prostituta. A palavra também é considerada uma derivação do prefixo "sub-", em latim, que significa "em baixo, por baixo", e da forma verbal "cubo", ou seja, "eu me deito".

[←2] Não é isso?
Sob o feitiço do Natal #1

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