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01/09/2017
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USO DE ELETROESTIMULAÇÃO EM PACIENTES NEUROLÓGICOS NIVALDO ANTONIO PARIZOTTO CARLOS EDUARDO DOS SANTOS CASTRO
■ INTRODUÇÃO Este artigo apresenta conceitos já conhecidos, porém pouco lembrados pelos fisioterapeutas, como o eletrodiagnóstico (ED) de estímulo, que proporciona os fundamentos para uma terapia elétrica seletiva nos músculos desnervados em decorrência de lesão nervosa motora periférica (LNMP). Entendese que não há respostas normais em uma LNMP, e sim apenas uma adaptação do sistema nervoso periférico (SNP) para responder aos estímulos externos. Serão desenvolvidos, portanto, conceitos fisiopatológicos das LNMPs e aqueles vinculados ao ED, como as curvas i/T, reobase, cronaxia e acomodação. Assim, será possível estabelecer uma relação de causa e efeito das respostas elétricas dos músculos suprimidos do seu nervo para aplicar o tratamento que possa obter efetividade com as correntes de longa duração. Em outro patamar, as correntes de curta duração deverão ser utilizadas apenas nos músculos cujos nervos estejam conectados e funcionais, permitindo o uso das correntes para facilitação de movimentos nos quadros de lesões centrais, o que antecipa a funcionalidade dos movimentos nesses pacientes. Falar em eletroestimulação (EE) com objetivos de melhora dos movimentos em acometimentos centrais é falar, basicamente, em eletroestimulação neuromuscular (NMES, de neuromuscular electrical stimulation) e em eletroestimulação funcional (FES, de functional electrical stimulation). Por NMES, entendese a aplicação da EE de forma transcutânea a um nervo periférico intacto, que evoca um potencial de ação nas fibras nervosas. NMES é o nome genérico para referir todas as correntes de estimulação excitomotora, incluindo a FES. Por FES, entendese a aplicação de estímulos elétricos a um músculo inervado, mas desprovido de controle motor ou com insuficiência contrátil ou postural, com o objetivo de produzir movimentos funcionais e/ou substituir uma órtese convencional.
■ OBJETIVOS Ao final da leitura deste artigo, o leitor será capaz de: identificar quais são, atualmente, as potencialidades e as limitações da EE quando inserida em um programa geral de fisioterapia voltado aos distúrbios de movimento de origem neurogênica central ou periférica; revisar e sistematizar conhecimentos sobre o uso da EE, notadamente da aplicação da NMES e da FES, nas afecções motoras de origem neurogênica central ou periférica; identificar as diferenças entre a EE para lesões de origem neurogênica central e periférica; elencar os princípios e as técnicas da EE e as características dos estimuladores usados nas lesões de origem neurogênica central ou periférica; discernir os principais programas clínicos e funcionais de estimulação em pacientes neurológicos; reconhecer os novos paradigmas que se apresentam à estimulação neuromuscular.
■ ESQUEMA CONCEITUAL
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■ ELETROTERAPIA: ASPECTOS PRELIMINARES O paciente candidato ao uso da EE pode se beneficiar, principalmente, de quatro tipos de ações terapêuticas produzidas por esse recurso, que atendem a quatro problemas distintos (Quadro 1). Quadro 1
AÇÕES, OBJETIVOS E TIPOS DE ELETROTERAPIA AÇÃO TERAPÊUTICA
OBJETIVOS DE TRATAMENTO
TIPO DE ELETROTERAPIA INDICADO
Iontoforética
Introdução de drogas no organismo
Corrente contínua (ou galvânica)
Vascular
Reparação de tecidos
Correntes diadinâmicas Correntes interferenciais EE de alta voltagem Microcorrentes
Analgésica
Controle da dor: eletroanalgesia
Estimulação elétrica nervosa transcutânea
Excitomotora
Produção de contração muscular
Corrente farádica (CFar) Corrente russa (CR) Corrente australiana (Aussie) Estimuladores neuromusculares
As formas de pensar e de proceder – quando se pretende inserir a EE no plano de tratamento de um paciente neurológico – começam, necessariamente, com a avaliação fisioterapêutica inicial dos casos a serem tratados. Assim, devese sempre iniciar a avaliação por um diagnóstico fisioterapêutico ou cinéticofuncional. Em fisioterapia, diagnosticar é determinar a natureza exata da disfunção, limitação, debilidade, incapacidade ou deficiência do paciente, especialmente daquela relacionada aos movimentos – identificando as prováveis causas, os sistemas, os órgãos e os tecidos envolvidos. Além do diagnóstico, devese levantar as necessidades especiais de intervenção terapêutica para cada caso, pois somente assim é possível tomar decisões clínicas acertadas e planejar tratamentos mais efetivos. Tais necessidades podem envolver: alívio de uma dor; reparo dos tecidos; facilitação da produção de movimentos mais eficientes. Fica claro, portanto, que é impossível programar um bom tratamento eletroterápico sem que antes seja feita cuidadosa avaliação de cada caso com possível indicação de EE. Não há como selecionar e programar o melhor conjunto de recursos terapêuticos a ser usado em determinado paciente sem antes saber as características fisiopatológicas e as repercussões estruturais e funcionais daquilo que se está tratando. Para identificar as características fisiopatológicas de um caso, primeiramente devese ter o seu diagnóstico clínicomédico, isto é, sua Classificação Internacional de Doenças (CID); então, devese estudar o paciente a partir das seguintes ações:1 ouvir a sua queixa principal; coletar os dados sobre a história da sua moléstia atual; investigar história clínica pregressa e associada; realizar exames objetivos mais indicados ao caso, como: provas de função muscular manual; goniometria; provas sensóriomotoras e funcionais; exame da postura e da marcha. No exame fisioterapêutico inicial, é essencial saber (para programar a EE) se o paciente apresenta uma lesão motora de origem periférica ou central.1 Devese realizar avaliação eletrodiagnóstica antes de se instituir uma intervenção eletroterápica para os pacientes portadores de: neuropatias ou LNMPs – neuropatias diabéticas, compressão de raízes nervosas ou de nervos periféricos motores); patologias musculares (miopatias ou distrofias). Embora um paciente neurológico possa se beneficiar de diferentes terapêuticas (Quadro 1), a ênfase deste artigo será dada à ação excitomotora da eletroestimulação (EE), isto é, a aplicação da NMES e da FES.
ELETROESTIMULAÇÃO NEUROMUSCULAR A aplicação da estimulação elétrica de forma transcutânea a um nervo periférico intacto evoca um potencial de ação nas fibras nervosas, induzindo uma troca eletroiônica que faz com que o músculo se contraia com o objetivo de restaurar, manter ou melhorar sua capacidade funcional. Usase o acrônimo NMES para referir programas de estimulação feitos em ambiente clínico (programas clínicos de estimulação).
ELETROESTIMULAÇÃO FUNCIONAL A aplicação de estímulos elétricos a um músculo inervado, mas desprovido de controle motor ou com insuficiência contrátil ou postural, tem como objetivo produzir movimentos funcionais e/ou substituir uma órtese convencional. O acrônimo FES deveria ser reservado, ou seja, utilizado somente nos casos em que a estimulação é aplicada em situações de uso
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Portal Secad funcionais e/ou substituir uma órtese convencional. O acrônimo FES deveria ser reservado, ou seja, utilizado somente nos casos em que a estimulação é aplicada em situações de uso efetivamente funcional como a marcha eletricamente assistida (programas funcionais de estimulação).
■ LESÕES NERVOSAS MOTORAS PERIFÉRICAS Antes de se iniciar o tratamento para LNMP, é necessário encaminhar o paciente para a realização de um conjunto de testes EDs, uma vez que as LNMPs podem determinar importantes distúrbios de excitabilidade elétrica nos nervos e nos músculos, tornando os indivíduos incapazes de responder a determinados estímulos elétricos, especialmente aos de tempo de duração (T) muito curto. Os testes EDs mais importantes, realizados para avaliar e acompanhar a evolução de um caso de LNMP, são:1 ED de estímulodetecção, mais conhecido por eletroneuromiografia (ENMG); ED de estímulo, composto por: provas de excitabilidade galvanofarádica ou ED clássico, com levantamento das curvas de resposta neuromuscular de “i” em função do “T” (i/T); ED de curvas intensidadeduração (curvas i/T), incluindo a cronaximetria. É de responsabilidade do fisioterapeuta a realização do ED de estímulo para orientar a eletroterapia em casos de LNMPs. Já a ENMG é, essencialmente, um diagnóstico médico que estuda a atividade elétrica da unidade motora. Com ela, podese investigar, entre outras coisas, o estado da atividade elétrica inerente aos nervos e músculos, a velocidade da condução nervosa à musculatura e a extensão e a gravidade dos problemas neuromusculares.1 O ED clássico e o ED de curvas i/T complementam a ENMG investigando as condições de excitabilidade de um nervo ou de um músculo a correntes que produzem respostas padronizadas e conhecidas.1 Embora seja atualmente o exame mais preciso para determinar a natureza, a importância e a localização de uma LNMP – por conta de seu desenvolvimento tecnológico –, a ENMG não orienta quanto à melhor forma de tratamento elétrico para o caso. Somente o ED de curvas i/T, feito com correntes retangulares e exponenciais de T variável, é capaz de auxiliar na escolha da forma mais efetiva de EE para tratar os casos de LNMP. Esse teste permite a realização de uma eletroterapia seletiva nos casos de desnervação parcial de uma musculatura.2 Desse modo, apenas depois de realizado esse exame é que o paciente portador de LNMP poderá ser encaminhado para o tratamento eletroterápico mais indicado para o seu caso. O objetivo de estimular um músculo desnervado é exercitálo eletricamente em um esforço para mantêlo saudável, enquanto os axônios lesados se regeneram e voltam a reinerválo. A hipótese é que, se um músculo desnervado for mantido em estado de saúde satisfatório e puder ser exercitado enquanto estiver desnervado, a recuperação funcional ficará facilitada após a reinervação. Os pacientes portadores de LNMP apresentam: paralisia flácida; diminuição ou abolição de reflexos tendinosos; atrofia muscular neurogênica; distúrbios de excitabilidade neuromuscular. Os distúrbios de excitabilidade neuromuscular em paciente com LNMP podem ser mais ou menos graves, dependendo do grau de comprometimento do nervo periférico. O músculo pode apresentar um grau variável de fraqueza e atrofia, dependendo dos quadros de lesões, que podem ser: leves (neuropraxias); moderadas (axonotmeses) – ocorrem em função de uma desnervação parcial reversível; graves (neurotmeses) – instalase um quadro de completa flacidez e paralisia, resultante de uma desnervação total dos músculos. Nos casos de desnervação parcial, mesmo aquelas mais graves, o objetivo da eletroterapia é produzir facilitação, reeducação e fortalecimento muscular. Nos casos de desnervação total por neurotmese, de nada adiantarão as técnicas eletroterápicas se o paciente não passar, antes, por um tratamento cirúrgico reparador da lesão nervosa. Existem outras maneiras muito mais efetivas, práticas e baratas – como as órteses, os exercícios passivos e as mobilizações articulares, por exemplo – para manter ou ganhar amplitude articular em situações de desnervação total. Quanto à atrofia muscular neurogênica, ela será inevitável e irreversível, mais cedo ou mais tarde, nos casos de desnervação total não tratadas cirurgicamente. Logo, questionase por que tentar deter um processo de atrofia de uma musculatura totalmente desnervada se a sua inervação perdeu toda a capacidade de regeneração e os músculos não têm mais um suprimento nervoso mínimo capaz de reconduzilos a uma atividade voluntária funcional. Por esse motivo, não há indicação da EE nesses casos antes de que seja feito um reparo cirúrgico da inervação.
ATIVIDADES 1. Sobre as ações terapêuticas e seus respectivos tipos de eletroterapia, correlacione as colunas. (1) Ação analgésica (2) Ação excitomotora (3) Ação iontoforética (4) Ação vascular
( ) Correntes diadnâmicas, correntes interferenciais, EE de alta voltagem e microcorrentes. ( ) EE nervosa transcutânea. ( ) Corrente contínua (ou galvânica). ( ) Corrente farádica, corrente russa, corrente australiana e estimuladores neuromusculares.
Assinale a alternativa que apresenta a sequência correta. A) 1 – 4 – 2 – 3 B) 1 – 4 – 3 – 2 C) 4 – 1 – 2 – 3 D) 4 – 1 – 3 – 2 Confira aqui a resposta
2. Analise as afirmativas sobre a EE na LNMP. I – A ENMG é, essencialmente, um diagnóstico médico que estuda a atividade elétrica da unidade motora. Com ela, podese investigar, entre outras coisas, o estado da atividade elétrica inerente aos nervos e músculos, a velocidade da condução nervosa à musculatura e a extensão e a gravidade dos problemas neuromusculares. II – A ENMG, em função do seu desenvolvimento tecnológico, atualmente é um exame mais preciso do que o ED para determinar a natureza, a importância e a localização de uma LNMP, orientando a melhor forma de tratamento elétrico. III – O ED clássico e o de curvas i/T complementam a ENMG, investigando quais são as condições de excitabilidade de um nervo ou de um músculo a correntes que produzem respostas padronizadas e conhecidas.
Quais estão corretas? A) Apenas a I e a II. B) Apenas a I e a III. C) Apenas a II e a III. D) A I, a II e a III. Confira aqui a resposta
3. Os pacientes portadores de LNMP apresentam A) paralisia flácida, diminuição ou abolição de reflexos tendinosos, atrofia muscular neurogênica e distúrbios de excitabilidade neuromuscular. B) paralisia flácida, aumento de reflexos tendinosos, hipertrofia muscular neurogênica e distúrbios de excitabilidade neuromuscular. C) hipertonia espática, diminuição ou abolição de reflexos tendinosos, hipertrofia muscular neurogênica e distúrbios de excitabilidade neuromuscular. D) hipertonia espática, aumento de reflexos tendinosos, atrofia muscular neurogênica e distúrbios de excitabilidade neuromuscular. Confira aqui a resposta
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■ EVIDÊNCIAS CIENTÍFICAS DO EFEITO DA ELETROTERAPIA NAS LESÕES NERVOSAS MOTORAS PERIFÉRICAS Os efeitos da EE na recuperação neuromuscular ainda são controversos. Recentemente, demonstrouse, em experimentos animais, que a EE pode prejudicar a recuperação funcional e acentuar atrofia das fibras musculares em ratos após axonotmese.3 Os resultados do estudo, de GigoBenato e colaboradores,3 reabriram a discussão sobre a efetividade do EE no tratamento do músculo desnervado, além de levantarem uma importante questão: a EE é segura e deve ser indicada para a reabilitação humana? Acreditase que essa discussão deve ser amplamente divulgada. Considerase a relevância e a importância de muitos estudos que relataram resultados positivos usando EE em recuperação do músculo desnervado.4,5 No entanto, os aspectos metodológicos tornam difícil a comparação entre esses estudos e o citado anteriormente.3 Algumas particularidades são extremamente pertinentes e devem ser observadas por pesquisadores da área, como: tipo de lesão do nervo; protocolos de estimulação (tempo de estimulação, parâmetros elétricos, tipos de eletrodos, etc.); período de início e de interrupção da estimulação; espécies animais utilizadas. Recentemente, vários estudos de diversas partes do mundo demonstraram que a EE pode afetar de forma diferente os nervos e os músculos após a lesão. Kostrominova e colaboradores6 mostraram que músculos permanentemente desnervados e submetidos a EE tinham massa e força preservadas. No entanto, esses músculos expressam as moléculas de adesão de células neurais apenas em fibras musculares atrofiadas. Tal resultado mostra que as forças de tensão geradas pela EE foram suficientes para deter a atrofia das fibras musculares. Contudo, esse efeito protetor sobre a massa muscular foi seguido pela redução da expressão de fatores de reinervação nessas fibras. Foram usados eletrodos implantados para estimular o extensor longo dos dedos, e a estimulação foi distribuída ao longo de todo o dia. Baptista e colaboradores7 aplicaram EE diretamente sobre nervos lesados. A estimulação elétrica nervosa transcutânea (TENS, do inglês transcutaneous electrical nerve stimulation), após lesão por esmagamento em camundongos, levou a nervos com sinais morfológicos de regeneração prejudicados. Foram observados: mais axônios com axoplasma escuro; sinais de edema; citoarquitetura menos organizada; poucas fibras mielinizadas e mais finas; aumento do número de núcleos de células de Schwann. Dow e colaboradores8 encontraram um efeito protetor sobre a área da fibra muscular somente quando os músculos foram estimulados ao longo do dia, com intervalos não superiores a 8 horas entre as sessões. A EE pode ser muito efetiva nos casos clínicos de desnervações parciais, inclusive para manter amplitude de movimento (ADM) articular, reverter quadro de atrofia e reeducar a musculatura por meio do acionamento de vias proprioceptivas de integração sensóriomotoras, produzindo contrações musculares ativas – embora involuntárias – e mantendo a integridade muscular enquanto o nervo se regenera.
■ ELETRODIAGNÓSTICO DE ESTÍMULO Quatro provas eletrodiagnósticas proporcionam uma ideia geral das condições de excitabilidade dos nervos e dos músculos, conforme seguem:2,9 derivada do ED clássico (galvanofarádico) – prova de excitabilidade farádica; derivadas do ED de curvas i/T (em que se analisam os chamados pontos indicativos do ED de curvas i/T): reobase; cronaxia; acomodação. O ED é aplicado com uma técnica monopolar de eletrodos: sobre o ponto motor do músculo, é colocado um eletrodo ativo tipo caneta (negativo) – para facilitar sua localização e seu isolamento – e um eletrodo dispersivo do tipo placa grande (positivo) – para fechar o circuito elétrico de estimulação.9 A Figura 1 traz a representação da técnica monopolar de eletrodos.
Figura 1 – Técnica monopolar de eletrodos para a realização do ED: um eletrodo tipo caneta (polo negativo) no ponto motor do músculo abdutor curto do polegar (nervo mediano) e um eletrodo de placa metálica de alumínio, acoplado com esponja vegetal e fixado com faixa elástica ao antebraço. Fonte: Arquivo de imagens dos autores.
PROVA DE EXCITABILIDADE FARÁDICA Quando se realiza a prova de excitabilidade farádica, procurase saber se o músculo responde ou não a um trem de pulso de curta duração (1ms). Se houver resposta, significa que se trata, provavelmente, de uma neuropraxia sem alteração de excitabilidade. Nesse caso, o paciente pode ser tratado com as técnicas de estimulação neuromuscular.9 Por outro lado, o músculo desnervado que não responde ao excitante farádico também não irá responder à estimulação com pulsos de duração ainda mais curtos – caso de todas as correntes usadas para estimulação neuromuscular que, como o próprio nome diz, pressupõem integridade nervomúsculo.2 O Quadro 2 descreve como realizar e interpretar a prova de excitabilidade farádica. Quadro 2
PROVA DE EXCITABILIDADE FARÁDICA O QUE SE BUSCA
PARÂMETROS
Tipo de corrente
CFar típica
Tipo de onda
Triangular
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Triangular
Parâmetros
Intensidade da corrente ou amplitude: menor necessária para produzir uma contração mínima* Duração do pulso: 1ms Intervalo de repouso: 20ms Frequência: 50Hz Ciclo ON/OFF: 1/1s
Tendência em caso de lesão
Hipoexcitabilidade: o músculo lesado precisa de mais corrente para responder Anexcitabilidade: não há resposta à estimulação
*Por contração mínima, entendese uma contração mínima visível do músculo que está sendo estimulado; ms: milissegundos; Ciclo ON/OFF = tempo ligado/tempo desligado.
Na ausência de resposta à estimulação, é indispensável realizar o ED de curvas i/T, incluindo a investigação da reobase, da cronaxia e da acomodação para se determinar os melhores parâmetros de estimulação de um caso de LNMP.
REOBASE A reobase (corrente de base) tem o mesmo valor da prova de excitabilidade galvânica. É o mínimo de intensidade – de tempo de estímulo teoricamente infinito (em fisiologia, de algumas centenas até 1.000ms) – necessária para provocar despolarização das membranas das células e potenciais de ação para a contração do músculo. Abaixo do valor da reobase (em miliamperes [mA]) não há contração.9 O Quadro 3 descreve como realizar e interpretar a prova de curva i/T para analisar a reobase. Quadro 3
REALIZAÇÃO E INTERPRETAÇÃO DAS CURVAS I/T DO ELETRODIAGNÓSTICO PARA ANALISAR REOBASE O QUE SE BUSCA
PARÂMETROS
Tipo de corrente
Galvânica ou contínua
Tipo de onda
Pulso quadrado
Parâmetros
Intensidade da corrente ou amplitude: menor necessária para produzir uma contração mínima Duração do pulso: 1.000ms Intervalo de repouso: 2.000ms
Tendência em caso de lesão
Em uma EE com pulso longo e de crescimento rápido, um músculo com inervação normal apresenta resposta viva, brusca e rápida Alterações qualitativas: contração lenta (vermiforme); inversão polar (contrai mais com polo positivo) e deslocamento do ponto motor Alterações quantitativas: hipoexcitabilidade ou anexitabilidade
Com as provas de excitabilidade farádica e galvânica, que correspondem ao que se convencionou chamar de ED clássico, já se pode determinar o grau de reação de degeneração (RD) que ocorre em músculos submetidos à desnervação.9
Reação de degeneração A RD é uma resposta lenta ao estímulo galvânico (corrente direta interrompida) e nenhuma resposta à estimulação farádica. Em casos mais graves, é a ausência de respostas tanto à estimulação galvânica quanto à farádica.9 O Quadro 4 apresenta os estados de RD indicados pelos excitantes galvânicos e farádico no ED clássico. Quadro 4
ESTADOS DE REAÇÃO DE DEGENERAÇÃO INDICADOS PELOS EXCITANTES GALVÂNICO E FARÁDICO NO ELETRODIAGNÓSTICO CLÁSSICO RD
FARÁDICA (< 1ms; F = 50Hz) Respostas do músculo à EE com trens de pulsos de curta duração
GALVÂNICA (> 100ms) Respostas do músculo a pulsos isolados de longa duração
Normal (inervação normal)
Contração sustentada (tetânica)
Contração viva, isolada e brusca.
Parcial (degeneração parcial das fibras nervosas)
Resposta dimínuida
Hipoexcitabilidade. Contração isolada parcial, diminuída e lenta.
Total (degeneração de todas as fibras, mas os músculos mantêm elementos contráteis)
Sem resposta
Hipoexcitabilidade. Contração muito diminuída e lenta (vermiforme).
Absoluta (degeneração absoluta; músculos com grave atrofia e fibrose)
Sem resposta
Sem resposta.
CRONAXIA A cronaxia é o mínimo de tempo necessário para excitar o tecido muscular usando uma amplitude de estímulo igual a duas vezes o valor da reobase.9 O Quadro 5 descreve como realizar e interpretar a prova de curva i/T para analisar a cronaxia. Quadro 5
REALIZAÇÃO E INTERPRETAÇÃO DAS CURVAS I/T DO ELETRODIAGNÓSTICO PARA ANALISAR CRONAXIA O QUE SE BUSCA
PARÂMETROS
Tipo de corrente
Contínua ou galvânica
Tipo de onda
Pulso quadrado
Parâmetros
Intensidade da corrente ou amplitude: dobro do valor da reobase Intervalo de repouso: 2.000ms
Tendência em caso de lesão
Quanto maior a cronaxia, mais grave a lesão Valores de referência: 30ms = desnervação total
Em um músculo normalmente inervado, é a fibra nervosa que reage ao estímulo elétrico, enquanto que, no músculo desnervado, a reação é da fibra muscular. Os nervos têm cronaxias menores do que os músculos e, por isso, os músculos inervados têm cronaxia curta (classicamente, valor 50 a 100ms) são os de primeira escolha para estimular músculos que sofreram LNMP.10 O Quadro 6 descreve como realizar e interpretar a prova de curva i/T para analisar a acomodação. Quadro 6
REALIZAÇÃO E INTERPRETAÇÃO DAS CURVAS I/T DO PARA ANALISAR ACOMODAÇÃO O QUE SE BUSCA
PARÂMETROS
Tipo de corrente
Exponencial (pulsada)
Tipo de onda
Pulso exponencial (de crescimento lento)
Parâmetros
Intensidade da corrente ou amplitude: menor necessária para produzir uma contração mínima Duração do pulso: 1.000ms Intervalo de repouso: 2.000ms
Tendência em caso de lesão
Diminuição
Índice ou coeficiente de acomodação Índice de acomodação (índice alfa) = valor da acomodação ÷ valor da reobase O Quadro 7 traz a especificação dos valores do índice de acomodação. Quadro 7
ESPECIFICAÇÃO DOS VALORES DO ÍNDICE DE ACOMODAÇÃO Valor do índice alfa
Resposta
Entre 2,7 e 6
Músculo normal (não há alterações de excitabilidade produzida por LNMP)
Entre 1 e 2,7
RD parcial
Igual a 1
RD total
Em equipamentos cuja forma exponencial de corrente é gerada a partir de pequenos pulsos discretos quadrados, esperase que o valor de alfa normal seja um pouco menor (entre 2 e 2,5). Os equipamentos nacionais que se destinam ao ED têm essa característica. Calcular o índice alfa com 500ms (alfa500), e não com 1.000ms, parece resolver esse problema. Segundo Fernández:9,10 alfa500 entre 1,5 e 2,5 – inervação normal; alfa500 entre 1,1 e 1,5 – desnervação parcial; alfa500 igual a 1 – desnervação total.
ANÁLISE DAS CURVAS I/T A realização do ED de curvas i/T e o tratamento seletivo com pulsos exponenciais de longa duração são de responsabilidade do fisioterapeuta. Esses procedimentos sempre devem ser realizados em casos de LNMP; para tanto, utilizamse equipamentos que: permitam uma variação no tempo de duração da passagem dos pulsos quadrados e exponenciais (de 0,01 a 1.000ms); incluam um gerador de CFar. As curvas i/T são levantadas e analisadas para medir a excitabilidade de músculos e dos nervos. Em uma técnica padronizada para obtêlas, pulsos quadrados e exponenciais de duração variável são aplicados, com técnica monopolar e eletrodo ativo negativo, no ponto motor do músculo testado. A intensidade necessária para produzir uma contração mínima é determinada para cada T de estímulo. Essa relação é plotada em um gráfico (Figura 2A e B), e as curvas são analisadas.
Figura 2 – Curvas i/T do ED de um músculo com excitabilidade normal (A) e de outro com excitabilidade alterada por LNP (B). Traço contínuo = pulso quadrado; traço pontilhado = pulso exponencial. Fonte: Arquivo de imagens dos autores.
A Figura 2A representa as curvas i/T frente a pulsos quadrados (de crescimento rápido) e exponenciais (de crescimento lento) de um músculo com inervação intacta. Notase que: há resposta em todos os pontos da curva, isto é, há contração muscular induzida em todas as durações de pulsos usadas; a reobase é de 8mA e a cronaxia está entre 0,1 e 0,2, indicando excitabilidade normal (