a evangelização na Igreja Primitiva

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A EVANGELIZAÇÃO NA IGREJA PRIMITIVA WELFANY NOLASCO RODRIGUES         Varginha/MG - 2014              

              Refletir sobre a Igreja Primitiva é como buscar água na fonte, procurar chegar mais perto da nascente para beber da água pura, sem as misturas que sofre pelo caminho.    

 

SUMÁRIO INTRODUÇÃO Capítulo I  O CONTEXTO DO CRISTIANISMO  SEGUNDO SÉCULO

ATÉ O

a) Contexto Social b) Contexto Político c) Contexto Econômico d) Contexto Cultural e) Contexto Religioso Capítulo II O COTIDIANO E A EVANGELIZAÇÃO ATÉ O SEGUNDO SÉCULO a) O testemunho social: base da evangelização b) A perseguição e o martírio: testemunho extremo dos cristãos c) O funcionamento das comunidades cristãs: igrejas nos lares d) A liderança cristã: quem foram os Pais e) Os escritos dos Pais: uma forma de discipular e capacitar. CONCLUSÃO BIBLIOGRAFIA

INTRODUÇÃO

A

Igreja Primitiva, a princípio, era uma igreja missionária. A perseguição deu força a este

sentimento. O martírio dos primeiros cristãos era um forte testemunho para a conversão de muitas vidas e o crescimento constante da Igreja. A maior contribuição dada pelos Pais à Igreja, certamente foi a formulação de uma teologia sólida, como ouro escavado num monte. Seus escritos, bem como os escritos sobre a vida dos Pais, determinaram a conduta e as doutrinas da Igreja. Os mosteiros, bibliotecas e escolas teológicas foram importantes meios de difusão da missão cristã. À medida que o tempo foi passando, os Pais foram reconhecidos por seu importante trabalho. Os apologetas prestaram importante serviço de defender a fé dando respostas às heresias que ameaçavam a Igreja. O estudo da Patrística passou por diversos momentos de valorização na História. Na Idade Média, foi dada continuidade ao trabalho sobre os Pais de modo puro e simples, confirmando o que já se fora dito através de cópias de seus escritos. Durante o humanismo, a Patrística foi redescoberta com interesse essencialmente histórico e coleções foram compostas sobre os escritos dos Pais. Já na Reforma, o interesse era teológico. Só reconheciam como

válido o que estivesse de acordo com a Bíblia, com os escritos dos Pais bem como os quatro primeiros concílios da Igreja, que foram aceitos como fiéis à Palavra de Deus. Entre o fim do século XVI e o começo do século XIX, houve grande polêmica entre católicos e protestantes que tinham os Pais como objeto de estudo apologético, para confirmar suas posições doutrinárias. Por isso, grandes coleções foram formadas e as bibliotecas, valorizadas. No século XIX, o estudo da Patrística cresceu muito, porém com perspectiva apenas histórica sobre o passado da Igreja. Atualmente persiste o mesmo interesse e os estudos dos Pais passaram a ser autônomos, embora a Patrística tenha sido considerada como um ramo ora da teologia, ora da história. Esta posição tem sido questionada e hoje tanto os teólogos como os historiadores se interessam pela Patrística. Uma justificativa para este estudo é que hoje a Patrística presta um grande serviço à Igreja, mostrando o valor ecumênico da teologia dos Pais, ressaltando o pluralismo teológico, encontrado tanto nos Pais como nos dias atuais. Em suma, o estudo dos Pais é uma rica fonte para descoberta da teologia bíblica. O objetivo geral do trabalho é investigar a prática de evangelização, pesquisando sobre o período patrístico especificamente até o segundo século, analisando o crescimento da Igreja para aprender como era o modelo evangelístico dos primeiros cristãos. Entre objetivos específicos estão: compreender o modelo de evangelização

na Igreja Primitiva, descobrir como era a organização da Igreja e qual seria o modelo de discipulado e capacitação dos novos convertidos e das lideranças cristãs no período, além de pesquisar sobre o crescimento da igreja no período, apontando pistas para uma evangelização bíblica à luz dos Pais. Neste trabalho, trataremos primeiro sobre o contexto do cristianismo até o segundo século sob o Império Romano, que foi o ambiente que envolvia os Pais. Num segundo momento, falaremos sobre o cotidiano da Igreja neste período, sobre o testemunho social, a liderança, o funcionamento das comunidades de fé, destacando os mártires da Igreja Primitiva, dentre os quais muitos dos Pais estão presentes. O trabalho está organizado em dois capítulos. No primeiro capítulo, O Contexto do Cristianismo até o segundo século a partir do cenário político mundial, sobre as religiões presentes no Império, com destaque especial para a Igreja Primitiva, abordando a institucionalização da Igreja, as religiões no período e suas influências com heresias presentes na Igreja. Para isso, trataremos dos contextos social, político, econômico, cultural e religioso. O segundo capítulo será O cotidiano e a evangelização da Igreja no segundo século. Neste período, o testemunho social dos primeiros cristãos foi a base da evangelização. É interessante pesquisar sobre as formas de lideranças entre os pais apostólicos e o funcionamento das comunidades cristãs e os escritos dos Pais para doutrinar a Igreja.

Dissertaremos sobre a relação do Imperador com os cristãos, sobre a perseguição imperial e a difamação dos cristãos no império. Com certeza, o martírio marcou muito a história da Igreja como uma forma de testemunho extremo. O método de estudo será a pesquisa bibliográfica a partir da bibliografia indicada na disciplina Patrística. Na conclusão, procuramos fazer uma aplicação e desafios para a Igreja, contextualizando a missão com objetivo de dissertar sobre a necessidade de testemunho, refletindo sobre o modelo ideal para a liderança, a necessidade de capacitação adequada e comparar a forma de discipulado dos Pais. A conclusão será um desafio para a Igreja atual fazer missão, seguindo o exemplo da Igreja Primitiva.

Capítulo I O CONTEXTO DO CRISTIANISMO ATÉ O SEGUNDO SÉCULO

O

estudo ou pesquisa sobre o contexto em que viveram os primeiros cristãos contribui ricamente para a compreensão da comunidade, bem como a forma de vida em sua geração. Neste momento, falaremos sobre os contextos social, político, econômico, cultural e religioso que envolveu a Igreja Primitiva até o segundo século. Michael Green explica que houve um contexto muito favorável no primeiro século para que o cristianismo surgisse[1]. Oportunidade tal qual nunca houve nem antes nem depois. Green afirma que a paz romana, o idioma grego com sua influencia cultural e forma de pensar com a liberdade quanto à pluralidade religiosa e à influência do judaísmo no mundo romano foram um campo que possibilitou muitas oportunidades para o cristianismo dentro deste contexto. a) Contexto Social Para entender o contexto em que surgiu o cristianismo e seu crescimento, é preciso conhecer o contexto social da época e para isso podemos contar com inúmeras pesquisas

de autores, entre sociólogos e historiadores que estudaram o período em questão. Uma interessante abordagem sobre o contexto social no mundo cristão primitivo, baseado em documentos da época, é dos professores italianos Giovanni Filoramo e Sérgio Roda no livro Cristianismo e Sociedade Antiga: No curso de sua propagação pelo império romano, o cristianismo teve que se defrontar com a estratificação social que caracterizava o Império, bem como com as justificações étnicas e ideológicas que sustentavam essa espinha dorsal do corpo social. Em geral, ele aceitou a diferenciação existente, inserindo-se na pirâmide da sociedade sem pretensões revolucionárias[2].  

No livro Jesus e as Estruturas de seu Tempo, o autor Émile Morin[3] trabalha a sociedade nos tempos primitivos. De forma interessante, uma análise exgética acontece e cada documento ou evangelho é apontado diante do contexto social, mostrando o mesmo fato de maneira peculiar à linguagem do autor e à época que o texto foi escrito, mostrando sua formação e transformações. O ambiente do cristianismo primitivo eram as cidades. Provavelmente o modelo de cidade conhecido pelos cristãos primitivos era meio urbano e meio rural com pequenas e grandes cidades intercaladas[4]. O cristianismo passou um tempo em que houve intenso crescimento das cidades romanas seguido de outro período de abandono e destruição das mesmas. Mesmo assim, de acordo com Giovanni Filoramo e Sérgio Roda, os cristãos conquistaram as cidades da época marcando um novo período de

cristianização das comunidades com visível prosperidade nas cidades evangelizadas[5]. Segundo Paulo Augusto de Souza Nogueira, no livro Experiência Religiosa e Crítica social no cristianismo primitivo, a vida social no tempo cristão primitivo é marcada por uma diversidade social muito grande devido principalmente à diáspora[6] que espalhou os cristãos por diferentes nações. Outro fator destacado por Nogueira, como difusor de costumes, é a guerra que levava pessoas cativas e trazia soldados de diferentes partes do mundo. Os comerciantes foram também pessoas que ao se converter ao cristianismo levaram a mensagem por todo o mundo[7]. Um dos maiores problemas sociais destacados por Nogueira é a violência muito presente nas palavras dos escritos neo-testamentários e principalmente no Apocalipse[8]. O ambiente social era de constante medo de uma perseguição. A linguagem conseqüentemente era cheia de termos militares, o que mostra a forma de imposição do poder romano sobre a vida das pessoas[9]. Devido a estes fatores, a geografia da presença cristã nas primeiras décadas sofreu transformações que foram positivas para o crescimento do cristianismo. Primeiramente, os cristãos estavam centrados na região de Israel e depois se espalharam para o Egito, Síria, Ásia Menor, finalmente alcançando África e Europa. A grande malha de estradas romanas, o desenvolvimento naval e a unidade política na bacia do Mediterrâneo no primeiro

século facilitavam este deslocamento e aos poucos o espaço cristão foi tomando o formato do Império[10].  Conforme A.G. Hamman, “a geografia cristã é mediterrânea a marítima”[11] entre os séculos I e II. Conseqüentemente a cultura e sociedade deixam de ser apenas no modelo judaico para o grego-romano em expansão com presença cristã principalmente nas grandes cidades do Império[12]. Um testemunho importante sobre a presença dos cristãos no império é fruto da investigação do jovem governador da Bitínia, Plínio, que escreveu: “Há uma multidão de todas as idades, de todas as condições e dos dois sexos, que estão ou estarão em perigo, não apenas nas cidades, mas também nas aldeias e campos onde se espalha o contágio dessa superstição”[13]. A presença cristã primitiva no mundo antigo foi crescendo e se tornando dominante aos poucos a ponto de poderem-se encontrar cristãos nos cantos mais remotos do Império. O sociólogo Rodney Stark fala do Crescimento do Cristianismo em um estudo aprofundado que o cristianismo crescia com uma estatística média de 40% por década[14]. Mesmo considerando as altas taxas de mortalidade da época, bem como as epidemias e martírios, a fé cristã era ascendente[15]. Apesar de reconhecer a dificuldade de se levantar dados estatísticos para o período em questão, Stark formula um quadro com dados interessantes: do ano 40 até o ano 100, o cristianismo cresceu de 1.000 adeptos para

7.530 aproximadamente formando 0,0126% da população. Do ano 100 ao ano 200, subiram para 217.795 cristãos e 0,36% da massa popular. Cem anos depois, já eram 10,5% com aproximadamente 6.299.832[16]. Um interessante fator do crescimento cristão era a população

feminina

majoritária

no

Império[17].

Conseqüentemente na Igreja Primitiva as mulheres eram maioria numa proporção de 15 mulheres para 8 homens tendo a comunidade de Roma como referencial[18]. Diante de uma sociedade onde muitos homens morriam nas guerras[19], havia grande rejeição ao casamento por parte dos homens não cristãos[20] e baixa fertilidade[21] entre os

pagãos

devido

ao

controle

de

natalidade[22],

infanticídio[23] e aborto[24]. Diferentemente deste padrão social, as mulheres cristãs eram numerosas, saudáveis, fiéis e férteis criando famílias inteiras sob a fé cristã[25]. Quanto à localização dos cristãos no período primitivo já dissemos que era abrangente e diversificada nas províncias do Império. Contudo Stark observa que apesar da influência maior dos cristãos ser no mundo grecoromano, sua presença vai crescendo e se tornando muito maior no Egito[26] e circunvizinhanças, possivelmente devido a uma maior tolerância e aceitação da fé cristã. Certamente todo este quadro social tinha como fator provocador o seu contexto político. b) Contexto Político Segundo Martin N. Dreher em A Igreja no Império Romano, o desenvolvimento da história entre Deus e o

homem através dos tempos se confundiu muitas vezes[27]. Dreher declara que a humanidade tem certa facilidade em sofrer a história e muita dificuldade em escrevê-la. Nos dois primeiros séculos, como afirma Dreher, o Império Romano apresentava uma unidade visível na figura do Imperador. O Império se apresentava dividido em províncias imperiais, senatoriais e especiais. Cada uma delas dirigidas por pessoas com títulos apropriados. As províncias tomavam suas decisões em assembléias denominadas concilium. A menor unidade administrativa era a cidade. O Império conseguiu estabelecer uma uniformização da cultura em seu sistema administrativo e assim uma grande comunicação entre as partes do Império. Paz e tranqüilidade foram propiciadas ao Império no período do Imperador Augusto. O historiador Flávio Josefo observa duas fortes causas de instabilidade política na Palestina: a guerra e a religião. A guerra[28], segundo mudanças constantes

dados de Josefo, de governantes

provocava locais e

reconstruções do templo e da cidade de Jerusalém que segundo Josefo, foram destruídos cinco vezes, sem contar sua destruição por Tito[29]. Muitas vezes, a guerra na verdade era uma luta entre facções ou pessoas em busca do poder sobre uma província ou estado. No livro Guerra dos judeus[30], Josefo mostra que na maioria das vezes a guerra era definida por tentativas judaicas de libertação do poder romano. A religião[31]

causava

instabilidade

principalmente

porque

para

os

judeus, embora estivessem sob o domínio romano, regiam sua vida social primeiramente pela lei judaica e depois se possível pela romana e isso provocava constantes conflitos[32]. Durante os 172 anos de dominação sob o Império Romano, os judeus se revoltaram três vezes de forma significativa, resultando dominação e destruição[33].

cada

vez

mais

em

Como afirma Morin, cada estrutura da sociedade está ligada ao poder ou busca o mesmo[34]. Na sociedade judaica, a ordem fiscal estabelecia os impostos romanos cobrados pelo império e os impostos judeus cobrados no templo. A ordem pública era mantida pela polícia judia que protegia a população de invasores pelas legiões romanas. O direito e a justiça contavam com a lei (Torá) seguida pelos judeus e assessorada pelo sinédrio e tribunais romanos para o cumprimento da justiça. No meio judaico, havia uma constante luta pelo poder. Por um lado, quem mandava era César, mas o povo obedecia ao sinédrio, composto de sacerdotes saduceus e fariseus, então estes precisavam controlar a massa para permanecer no poder. Em suma, o ambiente político era de constante conflito. Para manter o poder e a ordem, era preciso estar sempre derrotando alguém e agradando a outros. A crise política chegou a ser tão forte que somente num período de pouco mais de um ano, entre os anos 68 e 69, houve quatro imperadores seguidos.

A situação política do Império Romano é descrita por Ivo Lesbaupin que faz uma cronologia dos imperadores romanos no primeiro e segundo século: Otávio Augusto (27 a.C. - 14 d.C.), Tibério César (14 - 37), Gáio Calígula (37 41), Cláudio (41 - 54), Nero (54 - 68), Galba (68 - 69), Otão (69), Vitélio (69), Vespasiano (69 - 79), Tito Flávio (79 - 81), Domiciano (81 - 96), Nerva (96 - 98), Trajano (98 - 117), Adriano (117 - 138), Antonino Pio (138 - 161), Marco Aurélio (161 - 180), Cômodo (180 - 193), Septímio Severo (193 - 211) [35].  

c) Contexto Econômico Certamente, o contexto econômico era influenciado pelo contexto político da época. A pompa romana de seus edifícios ‘soberbos’, como disse Josefo[36], davam impressão de grandeza e estabilidade financeira. Além daqueles que exerciam algum ofício religioso, político ou servia o exército, a grande maioria dos livres era de camponeses, artesãos e comerciantes[37]. Devido ao forte crescimento urbano, o comércio era a ascendente nos dois primeiros séculos do cristianismo. Havia um enorme trânsito de comerciantes, indo e vindo principalmente de Roma[38], abastecendo as cidades, vilarejos e fazendas marcados pelo consumismo, segundo o escrito O pastor de Hermas[39].               As estruturas econômicas da Palestina eram bem diferentes. Segundo Émile Morin as propriedades só

eram herdadas pelos homens e deviam permanecer sempre dentro de um mesmo clã[40]. Cultivavam cereais, frutas e legumes; criavam gado e aves, tendo também a pesca

em

grande

importância

econômica.

Muitos

trabalhavam como artesãos em pequenas indústrias ou cooperativas familiares que chegavam a exportar. Fazendo citação

das

palavras

de

Morin

‘Os

ofícios

eram

hereditários’[41]. Também o templo era um lugar de importância comercial devido ao grande número de peregrinos que precisavam de mantimento. O transporte era marítimo e terrestre, sendo o jumento o meio mais usado.               A moeda corrente era de prata, ouro e bronze que devia ser pesada para evitar fraudes. Em Jerusalém, o comércio era mais forte nos grandes mercados ou feiras. Os ricos eram apenas os grandes proprietários de terras, negociantes e a coorte romana. Havia muitos mendigos, escravos e pessoas em situação de pobreza. O povo contribuía para o Templo e também deviam dar esmolas além de pagar três impostos ao império, conforme explica Eduardo Hoornaert[42]: Havia três impostos: um cobrado pelo fiscal do império, outro pelo sacerdote do templo e um terceiro pelo cobrador da casa de Herodes, caso este precisasse de dinheiro para fazer uma guerra ou enfrentar certas despesas. Estes três impostos eram independentes entre si e chegaram a provocar uma situação de penúria geral. Na Galiléia, por exemplo, os camponeses tinham que pagar 25% da colheita de cada produto da terra, além de certas cotas para as tropas...  

Contudo, James Jeffers revela que toda a prosperidade do Império Romano era contrastada pela pobreza e

sustentada pela exploração de outros povos[43] (como judeus),

pela

massificação

dos

camponeses

e

pela

escravidão que representava entre 25 e 40 por cento da população do Império[44]. Entre os escravos se encontrava um número expressivo de cristãos[45]. No Império Romano, os estratos sociais mais oprimidos eram os segmentos claramente pobres e empobrecidos da população rural. Entre esses setores, os que mais sofriam não eram os escravos nos latifúndios, que tinham valor para os amos e eram pelo menos regularmente alimentados, mas sim a massa de camponeses nominalmente “livres”, que não tinham meios de subsistência e que, nas províncias, muitas vezes, também não tinham o status privilegiado de um cidadão romano. Por exemplo, a vida dos camponeses “livres” da Judéia e do Egito era muito pior que a dos escravos em uma grande propriedade [italiana].[46]  

Nas comunidades cristãs, havia pessoas que tinham profissões que não condiziam com os princípios culturais judaicos e foi preciso algumas mudanças de pensamento surgidas mediante a fé e o tratamento dado a pessoas que desejavam participar das comunidades. Não era permitido um cristão seguir a carreira militar por ter que clamar por outros deuses principalmente por causa da forte influência do pensamento de Tertuliano[47]. Com o passar do tempo, muitos militares tornaram-se cristãos e não deixaram a profissão. Outros ofícios reprovados pelos cristãos primitivos eram, por exemplo, as artes mágicas[48] - e tudo o que pudesse ter qualquer aparência ou influência com práticas idólatras, como as artes plásticas que ilustravam muitas vezes os costumes e cultos pagãos da época. Os cristãos

livres exerciam diversos tipos de profissões principalmente braçais, como nos lista Hamman no livro A vida cotidiana dos primeiros cristãos: O trabalho da terra e domar e os ofícios manuais que serviam à coletividade, como escultor, padeiro, carpinteiro, cortador de roupa ou de pedras, oleiro e tecelão, não causavam problema, com a condição de que não se trabalhasse para os templos pagãos[49].  

Um fator econômico da época que marcava muito a vida das famílias era a exploração exacerbada através dos impostos e tributos políticos e religiosos[50] que eram entre

12%

e

50%

do

produto

total[51].

Embora

a

agricultura fosse a base da economia, era desvalorizada pelo comércio e baseada no escravagismo, além de sofrer com a má latifundiários

distribuição dos bens, privilegiando os e a nobreza[52]. Não havia muita

preocupação com a escravidão, pois se esperava a breve volta do Messias. Quanto à situação econômica dos primeiros cristãos, há uma discussão entre diferentes autores que seguem a convenção de uma maioria pobre e de origem escrava ou proletariados e também de autores como Wayne Meeks[53], Filoramo e Roda[54], os quais entendem que numa igreja urbanizada, havia um bom número de pessoas da classe média, além de ricos e pessoas com influência política como na ordem senatorial do Império. Fruto destes fatores econômicos, o contexto social também marca o cristianismo primitivo.

d) Contexto Cultural A história e cultura judaica estavam muito vivas na memória do povo hebreu, mesmo daqueles que estavam longe das terras de Israel. Contudo, essa memória era transmitida predominantemente através da tradição oral. Devido ao fechamento anti-helenista dos judeus, sua cultura era pouco conhecida e menos ainda aceita por outros povos. O grande compilador e difusor da história e cultura judaica foi Josefo. No livro História dos Hebreus, Josefo demonstra certa intenção de defender a cultura judaica especialmente em sua resposta a Ápio[55] na qual apresenta testemunhos de sábios gregos, egípcios, fenícios e babilônios para defender a cultura, principalmente a antiguidade do povo judeu.

costumes

e

Para os cristãos nos tempos primitivos, houve intensa adaptação cultural. Sendo a maioria de fala judaica, teve que experimentar uma nova realidade com a diáspora e com isso o evangelho foi divulgado em grego. O historiador Henrique Cristiano José Matos analisa as três primeiras gerações de cristãos, descrevendo o nível cultural. A primeira geração são os discípulos, que na sua maioria eram pescadores e incultos[56] (cf. Atos 4.13), a segunda geração embora não muito diferente ganha certa colaboração de pessoas mais cultas[57] como Paulo, o mestre da lei (cf. Atos 22.3) e grande escritor neotestamentário e a terceira geração já apresenta certa organização eclesiástica, litúrgica e doutrinária[58], o que mostra um desenvolvimento cultural ou incorporação de

hierarquias religiosas trazidas de outras religiões pelos convertidos ao cristianismo. A

forte

miscigenação

étnica,

conseqüência

das

facilidades de locomoção, proporcionou grande mistura das tradições. O helenismo, com forte impacto de idéias e culturas da Grécia antiga, bem como do idioma grego, sobre as nações dominadas pelo Império Grego, desde Alexandre Magno, seu idealizador, até a conquista romana do Império, influenciou o mundo romano, atingindo muitas regiões, mas jamais conseguiu atingir totalmente a Judéia, Samaria e o Egito. Havia uma intensa resistência ao helenismo principalmente por parte dos judeus[59]. Flávio Josefo é uma testemunha que descreve o contexto cultural dos cristãos na Palestina e outras regiões do Império no primeiro e segundo século[60]. Josefo chega a ser um geógrafo ao descrever as regiões da Palestina e suas delimitações: Galiléia, Peréia, Samaria, Judéia, o lago de Tiberíades e o rio Jordão, destacando Jerusalém[61] e especialmente o templo[62]. Aí se nota uma diferença cultural, religiosa, social e étnica muito grande. Quanto mais perto do templo, melhor era a condição religiosa, cultural, social e étnica como no caso dos nascidos na Judéia e o oposto para os samaritanos[63]. Josefo explica em seu texto a posição dos quatro partidos judaicos: os fariseus, saduceus, essênios e zelotas ou fervorosos[64]. O grupo zelota era considerado guerrilheiro por andar armado e fazer motins defendendo o povo dos cobradores de impostos[65]. Estes partidos

delimitavam o pensamento popular da região, focados na religião judaica e margeados pela cultura grega. Outro fator que segundo Josefo também influenciou a cultura da região palestina nos tempos da Igreja Primitiva foi a dinastia herodiana helenizada[66] que conduzia a cultura local tolerando o judaísmo e impondo os costumes gregos. No restante do mundo já helenizado, segundo Josefo, com o acréscimo e aceitação da fé cristã, alguns conceitos romanos foram aos poucos sendo remodelados pelos cristãos primitivos como a administração dos espaços sagrados[67], da riqueza[68], a concepção do tempo[69] e o

casamento[70]

cristão

adaptando-os

aos

princípios

cristãos como fruto de intensa discussão dos Pais da igreja. e) Contexto Religioso A situação religiosa no Império Romano se apresenta de forma diferenciada embora prevalecessem as religiões de mistério e o culto imperial[71]. O Império era tolerante em relação aos cultos dos povos dominados e somente algumas regiões tiveram seus cultos proibidos. Mas em geral as celebrações que tinham sacrifícios humanos e permitiam orgias eram proibidas pelo Império. Apesar de toda a pluralidade de cultos, o sincretismo (sistema que combinava os princípios de diversos sistemas) preparou o caminho para uma crença monoteísta. Na região da Palestina, quatro principais partidos religiosos judaicos chamavam a atenção do povo à permanência na fé e ao patriotismo fomentava nos judeus o desejo de libertação[72]. Os grupos partidários judeus

baseavam suas posições em aspectos religiosos e políticos. Os saduceus em sua maioria eram sacerdotes, não criam em anjos nem em espírito; parece que eram coniventes com o império para seu próprio bem[73].  Os fariseus eram em

grande

parte

escribas

intérpretes

da

lei

e

influenciavam o povo contra o império[74]. Os zelotas ou ‘zelosos’ foram um grupo que se separou dos fariseus porque embora defendessem as mesmas idéias radicais, esperavam

vencer

o

império

romano

através

da

rebelião[75]. Os essênios foram uma seita puritana, por isso se isolavam do mundo em mosteiros nas regiões desérticas, sendo por isso também conhecidos como piedosos ou eremitas[76]. o

Além destes quatro partidos religiosos, havia também partido político dos herodianos, caracterizado por

defender os interesses do Império principalmente quanto à religiosidade, explorando economicamente do povo que ia ao templo adorar[77]. Segundo Santos, os herodianos se aliaram aos saduceus e fariseus unindo forças para se defender de inimigos comuns com objetivo de fundar um império judaico independente, embora governado por Herodes e sob o poder de Roma, mas somente até que se fortalecessem o bastante para confrontá-lo[78]. Enquanto isso, os judeus espalhados por todo o mundo lutavam para se manter fiéis em meio a diferentes culturas. Internamente também surgiam pequenas seitas e supostos messias[79] que tumultuavam um pouco o pensamento religioso da época. Além disso, havia muita

influência de costumes místicos como a cabala que influenciavam até mesmo decisões políticas da época[80]. Nos primórdios do cristianismo, nos deparamos com um tempo em que a religião deixava de ser uma convicção para se tornar uma obrigação, em que não havia mais lugar para a fé. Os deuses estavam intimamente ligados à política, mas nem a construção de novos templos por Augusto conseguiu reavivar os cultos. O caminho estava preparado para uma forma de religião que viesse a substituir as antigas. Na sociedade judaica, tudo se distinguia segundo os padrões de pureza ou impureza; até mesmo entre as profissões, havia acepção entre impura ou não. Segundo Morin a hierarquia social partia de seu todo dos sacerdotes, levitas até aos escravos pagãos e os samaritanos na sua base[81]. Isso determinava tudo em todos os lugares. O templo era o lugar mais puro que tinham, porém dentro dele havia separações só permitidas de acordo com o nível de pureza do cultuante. As refeições comunitárias judaicas eram basicamente cultuais. Para comer, deviam fazer rituais de purificação e não podiam comer com impuros. Além disso, toda ciência ou cultura era considerada com algum fundamento teológico. A diáspora ou dispersão dos judeus para outros lugares do mundo levou os judeus a todas as partes do Império Romano e um escritor chamado Strabo relatou nos dias do imperador Augusto, que dificilmente haveria algum lugar no mundo onde os judeus não houvessem chegado. O

Egito e a Síria tinham 1 milhão de judeus cada um, na palestina 500 mil, no Império Romano cerca de 1,5 milhão[82]. O povo judeu mantinha sua unidade e esta podia ser vista durante a páscoa quando o povo se reunia em Jerusalém que se tornara um centro político-religioso. Esta união tornou-se um movimento missionário. A pregação judaica era uma crença monoteísta e, em Alexandria, no Egito, o Antigo Testamento foi traduzido para o grego. Em torno das sinagogas, criaram-se os círculos de prosélitos que eram pessoas convertidas ao judaísmo considerados puros por terem se circuncidado e também os tementes a Deus que embora fossem seguidores devotos do judaísmo não tinham se circuncidado[83]. O fato de os judeus não terem a imagem de um Deus os levou à ridicularização da parte do Império Romano contra os judeus que reagiam ideologicamente com o semitismo, que era uma resposta da parte dos judeus contra o helenismo, podendo ser definido como modos e idéias judaicas. Os judeus na diáspora já apresentavam adaptações culturais e no mundo pagão tomaram características próprias frente ao sincretismo cultual do Império e os cristãos prosseguiram, lutando contra estes costumes. De todas as religiões, se destacavam os judeus e cristãos, que não se rendiam à mistura de sua fé com o culto ao Sol. O ambiente religioso na formação do cristianismo primitivo é marcado pela tríade: judaísmo tradicional

palestino, judaísmo da Diáspora e paganismo grecoromano. Essa tríade é explicada pelo autor Henrique Cristiano José Matos em seu livro Introdução à História da Igreja[84] ao mostrar que, no meio judaico palestino, os cristãos configuravam mais com o judaísmo, tendo como principal grupo alvo de evangelização os tementes a Deus. Sobre a religiosidade no Império Romano, Matos descreve

‘o

mundo

pagão’,

dando

as

principais

características religiosas do Império com cinco aspectos principais[85]: - o culto ao imperador, antes se destinava ao personagem do imperador depois de morto, mas, a partir de Calígula (37-41 dC) e Nero (54-68 dC), que reivindicaram a divindade, a pessoa do imperador passou a ser reverenciada como um Deus. - o politeísmo grego e romano, com uma fusão dos deuses destes dois povos com sua cultura dominante que influenciava o pensamento religioso em todo o Império com a imagem da divindade sempre como um astro ou um herói mítico. - novas religiões de mistério procedentes do Egito, Síria e Pérsia, do mesmo modo como o Império difundiam crenças

sua e

politeísmo Império.

religiosidade,

deuses, e

prática

sincretismo

também

importava

proporcionada

próprio

da

religião

pelo no

- as superstições e crenças populares que abrangiam diversas formas de magia, feitiçaria, astrologia e adivinhações. - a filosofia popular, baseada no estoicismo[86] uma escola

filosófica

profundamente

religiosa

que

se

caracterizou essencialmente pela consideração do problema moral. Pregava a impassibilidade em face da dor ou da adversidade, que se fundiu ao cristianismo numa mistura de fé e filosofia. Entre os filósofos cristãos do estoicismo estão Justino, que se converteu aos 25 anos e que buscou mostrar que toda a filosofia estava inspirada do Logos divino. Outro filósofo cristão que também seguiu nesta linha foi Epicteto. A partir daí o estoicismo foi se transformando em estoicismo cristão[87]. Clemente de Alexandria aderiu à mesma tese de Justino. A pessoa mais influenciada pelo pensamento de Clemente

foi

Orígenes,

que

sucedeu

Clemente

e

transformou a escola de catequese em escola de teologia. Tornou-se o mais famoso dos sábios; explicava e palestrava em vários lugares sobre a essência da fé cristã. Manteve-se simples sem nunca negar a fé. Foi preso, torturado e, alguns anos mais tarde, morto devido às seqüelas das torturas. Depois de Clemente e Orígenes, a Igreja não pôde mais deixar de lado a filosofia No início, os primeiros cristãos eram, em sua maioria, pessoas de classe baixa e pouco ou nenhum estudo, possuidores

de

uma



pura

e

sincera.

Reuniam-se

geralmente nas casas, principalmente aos domingos para o culto a Jesus Cristo na memória da sua ressurreição e partilhar o pão. O

gnosticismo

foi

um

movimento

paralelo

ao

cristianismo muito forte na metade do segundo século. Os gnósticos eram sectaristas na maneira de viver, além de levar uma vida ascética. Negavam o corpo entendendo que este aprisionava a alma que deveria ser libertada. Pregavam Jesus como exemplo de gnóstico perfeito, contudo se separavam dos demais cristãos por não acreditarem na ressurreição de Cristo, alegando que se ressuscitasse voltaria para a ‘prisão da alma’ que é o corpo[88]. A gnose era como um bálsamo para a alma das pessoas

porque

tinha

uma

mensagem

de

conforto

emocional e influenciava muito na Igreja. A pressão religiosa e cultural era muito forte. Surgem heresias através de sinais, visões, milagres (eram vistos como algo normal) e diferentes doutrinas de salvação (gnoses) apareciam. Roque Frangiotti, em História das Heresias afirma que judaísmo e helenismo cercavam a Igreja criando tendências como de judaísmos moderados, principalmente com a presença de prosélitos e helenistas, nicolaítas marcados pela ausência de preceitos morais tidos como importantes para os cristãos[89]. A Igreja precisou travar uma grande batalha contra as correntes gnósticas salvação.

para

não

descaracterizar

sua

doutrina

de

Uma série de relatos foi combatida pelos Pais da Igreja. Saturnino descreveu que Jesus não nasceu, e sim apareceu. Basilides que diz que Cirineu, após ter carregado a cruz, foi crucificado no lugar de Cristo e Cerinto afirmou que o mundo foi criado por Virtude (um ser afastado de Deus) e que Jesus é filho de José e Maria, tendo o Cristo encarnado

nele

e

depois

o

deixado

sozinho

para

morrer[90]. Marcião, (filho de bispo) foi expulso da comunidade e se juntou a Valentino que também tinha sido expulso e começou a proclamar que Javé era um deus imperfeito. Este afirmava que o Deus verdadeiro era Jesus e que era totalmente diferente do anterior. Marcião buscou eliminar tudo o que era judeu da Igreja, conduzindo o povo a negar o Antigo Testamento e a confessar o Deus do Novo Testamento. O Montanismo foi um movimento que teve início com Montanus que após seu batismo começou a falar em línguas e seguiu pregando heresias e afirmando que a vinda de Cristo estava próxima. Tertuliano tinha grande influência na Igreja e a defendeu na luta contra os marcisistas e gnósticos, mas por apoiar o movimento montanista, a Igreja o abandonou. Todos os fatos relatados até aqui, mostram o contexto do cristianismo até o segundo século, como foi se formando com o tempo. O contexto da sociedade e a presença cristã no meio social, desde sua influência e localização no Império Romano, mostram um crescimento

expressivo do cristianismo primitivo diante da exploração e perseguição dos dominadores, fruto do contexto político da época.

Economicamente,

também

foi

difícil

para

os

primeiros cristãos conciliar sua nova fé com a pobreza e as profissões consideradas impuras para o cristianismo de então. A cultura da época estudada foi marcada por forte miscigenação resultando também em sincretismo religioso que cercou a vida da Igreja Primitiva. Diante do quadro visto até o momento, pode-se continuar a pesquisa em busca de descobrir sobre a forma de evangelização praticada pela Igreja até o segundo século. A vida diária de testemunho de cada cristão pode ser uma marca da Igreja Primitiva, mas como isso acontecia diante de tantas dificuldades já descritas? A partir desta hipótese continuaremos este estudo em buscas de possíveis respostas.

Capítulo II O COTIDIANO E A EVANGELIZAÇÃO ATÉ O SEGUNDO SÉCULO

A

vida dos primeiros cristãos tem sido motivo de diversos estudos e pesquisas, embora Michael Green afirme que, por muito tempo, o assunto ficou sem estudos consideráveis[91]. O relato mais conhecido e usado é o de Atos dos Apóstolos que descreve a vida da Igreja Primitiva com riqueza de detalhes, mostrando sua rotina e modo de vida. O cotidiano cristão pode ser descrito pelo texto da Carta a Diogneto, que embora não se saiba quem é o autor, entende-se que é de um pagão culto que deseja conhecer melhor o cristianismo e se admirava pelo conhecimento e práticas cristãs[92]. O texto escrito entre 120 e 150 d.C foi encontrado em Constantinopla, no ano de 1436, e serviu para aclarar muitas dúvidas a respeito do assunto e despertar o interesse de muitas outras pessoas pela beleza poética com que descreve o viver cristão primitivo: Os cristãos, de fato, não se distinguem dos outros homens, nem por sua terra, nem por língua ou costumes.  Com efeito, não moram em cidades próprias, nem falam língua estranha, nem têm algum modo especial de viver.  Sua doutrina não foi inventada por eles, graças ao talento e especulação de homens curiosos, nem professam, como outros, algum ensinamento

humano. Pelo contrário, vivendo em cidades gregas e bárbaras, conforme a sorte de cada um, e adaptando-se aos costumes do lugar quanto à roupa, ao alimento e ao resto, testemunham um modo de vida social admirável e, sem dúvida, paradoxal. Vivem na sua pátria, mas como forasteiros; participam de tudo como cristãos e suportam tudo como estrangeiros. Toda pátria estrangeira é pátria deles, e cada pátria é estrangeira.  Casamse como todos e geram filhos, mas não abandonam os recémnascidos. Põem  a  mesa em comum, mas não o leito;  estão na carne, mas não vivem segundo  a carne;  moram na terra, mas têm sua cidadania no céu; obedecem às leis estabelecidas, mas com sua vida ultrapassam as leis;  amam  a  todos e são perseguidos por todos;  são desconhecidos e, apesar disso, condenados; são mortos e, desse modo, lhes é dada a vida;são pobres, e enriquecem  a  muitos; carecem de tudo, e têm abundância de tudo; são desprezados e, no desprezo, tornam-se glorificados; são amaldiçoados e, depois, proclamados justos;  são injuriados, e bendizem; são maltratados, e honram;  fazem o bem, e são punidos como malfeitores; são condenados, e se alegram como se recebessem a  vida.  Pelos judeus são combatidos como estrangeiros, pelos gregos são perseguidos, e aqueles que os odeiam não saberiam dizer o motivo do ódio[93].  

Baseado neste e outros modelos de descrição, é possível estudar sobre a vida dos primeiros cristãos e sua prática evangelizante pesquisando sobre seu testemunho social, sobre quem eram os Pais ou líderes da Igreja, o funcionamento das comunidades nos lares e os escritos dos Pais.  

a) O testemunho social: base da evangelização A

Igreja

Primitiva

era

marcada

por

forte

espiritualidade. Este é o tema e objetivo principal da maioria dos textos patrísticos. Preocupavam-se muito com sua vida espiritual. A própria Igreja era mais piedosa. O centro do movimento cristão nascente é a própria pessoa

de Cristo. A preocupação maior era com a salvação da alma, mais do que com a instituição de uma religião. Segundo Luigi Padovese, alguns fatores interessantes que marcaram a espiritualidade nos Pais ensinam muito para a Igreja de hoje[94]: O martírio era considerado uma forma de alcançar forte grau de espiritualidade pela semelhança na morte. Muitos documentos como as Atas, as paixões e outros documentos posteriores relatam como os mártires eram afrontados enquanto eram martirizados. O martírio deu origem aos santos, visto serem considerados perfeitos por ter alcançado o nível de Cristo. A vida moral no âmbito da sexualidade, testemunho social e financeiro era defendida pelos Pais como forma de viver a verdadeira espiritualidade. O isolamento foi considerado uma forma de purificação do mundanismo. Os anacoretas viviam esse isolamento de forma extrema nos desertos[95]. A cenobítica foi outra forma de busca de samtodade que deu origem aos mosteiros proporcionando vida de isolamento e vivência comunitária[96]. A ascese cristã, ou prática da vida cristã, era marcada pela busca do conhecimento de Deus[97]. As obras dos apologetas destinavam-se também aos não cristãos com o objetivo de defender o cristianismo e alimentar e inspirar a sua fé. A ética orientada aos novos convertidos era seguida com jejuns e abstinências de carnes, vinho e sexo. Além disso, a obra assistencial aos necessitados era muito incentivada. Uma das temáticas que preocupou a fé na

Igreja Primitiva foi o sustento dos pobres em contradição com a riqueza. Muitos Pais da Igreja se pronunciaram quanto às propriedades privadas e o acúmulo dos ricos, pois aquilo que era de todos virou algo privado e negociável. Enrique Dussel afirma que na verdade, o livro de Atos dos Apóstolos é originalmente chamado no grego de Práxis dos Apóstolos, falando sobre a ética da Igreja Primitiva e dos Pais[98]. As experiências da comunidade cristã primitiva podem ser base para orientar a práxis. A essência da vida cristã é a comunidade e somente na comunidade é vivenciada a práxis da ética cristã. A práxis não pode ser experimentada sozinha. É preciso estar junto de alguém. Além disso, a comunidade também proporciona a práxis do Reino que essencialmente é estar junto com Deus. Em conjunto a comunidade cristã promove a comunhão com o próximo e com Deus. O ápice da relação entre a pessoa e seu próximo é explicado pela palavra amor. Mas não é o sentido de amor deturpado em que se ama a si mesmo ou utiliza a palavra amor para falar de coisas negativas. Na Igreja Primitiva, este conceito era muito claro: Eros era o amor com interesse no outro para a satisfação do ego, filia o amor entre pessoas iguais, talvez numa ‘justa’ relação de troca e o ÁGAPE o amor altruísta ao próximo como ele é por si somente, sem qualquer interesse senão o de satisfazer as necessidades de seu próximo.

Na própria cultura grega dos tempos da Igreja Primitiva, o amor não podia ser dado entre diferentes e aquela comunidade de fé rompeu este preconceito em direção ao outro, preferencialmente àqueles desprezados pela sociedade e pela religião. Da mesma forma nos tempos atuais, quando o hedonismo domina o mundo capitalista e a religião se tornou produto de consumo, é preciso, como comunidade de fé, revelar o Amor verdadeiro. Este ágape pode ser praticamente definido como misericórdia, ou melhor, como caridade e como um “respeito-de-justica”[99]. O que marca a práxis do amor na comunidade primitiva é o partilhar do pão. Este fator destaca que o amor praticado pela comunidade não era apenas pessoal, mas chega ao ponto de se tornar radical, quando cada irmão doa o que tem para o seu próximo, além de mostrar seu rosto para o amigo se importa com suas necessidades pessoais. Na Igreja Primitiva, o apoio entre os cristãos era marcado por forte unidade. Tertuliano dizia que Deus justificava os pobres e condenava os ricos[100]. Já Clemente de Alexandria[101] disse em seu escrito: Qual o rico que pode ser salvo?, tentando despertar nova esperança no coração dos ricos, a esperança de salvação e repartição dos bens. Essencialmente, os Pais acreditavam

que

tudo

pertence a Deus e deveria ser utilizado pelo homem de forma justa. Em seus textos, os Pais chegam a condenar a riqueza utilizando muitas citações bíblicas. Para os Pais, um

rico que seja cristão deve utilizar sua riqueza a serviço do reino de Deus ajudando aos mais necessitados. Este fator determinou o testemunho social da Igreja Primitiva porque trabalharam pela justiça acolhendo os necessitados ao seio da Igreja. A solidariedade entre os cristãos e destes para com a sociedade era tão forte que Hoornaert atribui a preferência aos pobres um dos principais motivos do crescimento do cristianismo[102]. Para a teologia da Igreja Primitiva, Deus elegeu os marginalizados para prioridade no plano de seu Reino[103]. Como pessoas desfavorecidas e oprimidas não faltava, o campo de trabalho dos primeiros evangelistas foi fértil e vasto. A comunidade cristã, a princípio, não possuía muitas estratégias missionárias institucionalizadas ou pessoas que tivessem funções hierárquicas, porque todos cumpriam a missão evangelística naturalmente. Contudo, pessoas com capacidade se destacaram no meio dos cristãos para dirigir o povo formando sua liderança eclesiástica.  

b) A perseguição e o martírio: testemunho extremo dos cristãos O historiador Justo González[104] denominou a era da perseguição dos cristãos do primeiro e segundo século de: A Era dos Mártires.  O relato citado abaixo exemplifica a situação e forma do martírio no testemunho dos mártires de Lião: Primeiramente suportaram as brutalidades da multidão. Foram batidos, insultados, importunados. Seus bens foram pilhados,

atiraram-lhes pedras, encarceraram-nos juntos. Eles suportaram tudo que uma populaça desenfreada quisesse fazer sofrer a odiosos inimigos... excitados pelo diabo, que é fera, essas tribos selvagens e bárbaras dificilmente se apaziguavam. Em seu furor, voltaram-se para os cadáveres. Vencidos, não se envergonhavam, sendo incapazes de raciocinar como homens. Uma guarda montada noite e dia nos impedia de sepultá-los. Também expuseram o que as feras e os carrascos haviam deixado dos corpos: aqui carnes em farrapos, lá despojos carbonizados e ainda cabeças cortadas com corpos mutilados. (Atas de Lião)[105]  

Os primeiros cristãos não achavam que estavam criando uma nova religião, e sim que vivenciavam o cumprimento das profecias judaicas sobre o Messias. Mas, com o tempo, foi crescendo a diferença entre os judeus que não criam em Cristo e os cristãos judeus. Estes foram, a cada dia mais, deixando de ser judeus para serem cristãos. Esses problemas geravam vários conflitos entre eles. Tanto judeus como cristãos tinham problemas com Roma, o que trouxe inúmeras perseguições aos dois grupos até se concentrar nos cristãos, o grupo mais crescente, sendo que os judeus se limitavam ao seu povo, já os cristãos conquistavam outros povos.              O Império via isso como um risco e sob a ordem de vários imperadores, perseguiram e mataram os cristãos como se fossem perigosos para a humanidade. Quanto ao tempo de perseguição, Ivo Lesbaupin no livro A bem-aventurança da perseguição: a vida dos cristãos no Império Romano[106] mostra que, no primeiro século, houve 6 anos de perseguição e 30 de tolerância e no segundo século, houve 86 anos de perseguição e 14 de

tolerância, o que demonstra que, de acordo com o crescimento cristão, também aumentava o número de martírio. As

autoridades

permaneceram

por

muito

tempo

indiferentes quanto ao cristianismo até surgir Nero. Após a cidade de Roma ter sido incendiada e a culpa ter caído sobre Nero, ele não demorou em colocar a culpa sobre os cristãos. Muitos cristãos foram mortos, queimados, crucificados,

mas

esta

não

foi

considerada

uma

perseguição por motivos religiosos[107]. No governo de Domiciano, houve momentos de tolerância

e

uma

forte

perseguição,

quando

ele

se

proclamou “Senhor e Deus”, exigindo grandes saudações e sacrifícios. Já no domínio de Trajano, um governador que queria Paz e Ordem, foi mais tolerante e dizia que os cristãos não deveriam responder por acusações anônimas. Muitas eram as acusações e, mesmo sabendo da inocência, para não parecer favorável aos cristãos, muitos morreram no governo de Trajano. Aqueles que morreram confessando a fé foram considerados como mártires pela Igreja. A crise entre o Império e a Igreja aumentou com a morte de Marco Aurélio. Depois de uma grande expansão da fé cristã, a Igreja começou a ser perseguida e assim muitos sacrifícios, subornos começaram surgir. O clero foi atacado e os bens da Igreja confiscados. Mesmo diante do fogo, feras e forcas, milhares de cristãos não cederam, deixando belíssimos testemunhos como os de Inácio, Policarpo e Justino. Os cristãos sabiam

que mesmo que gozassem de períodos de paz em alguns lugares, a qualquer momento poderiam ser entregues. Enquanto não eram perseguidos pelo imperador ou entregues aos tribunais por acusadores movidos de inveja, os crentes sofriam grande difamação em todo império. Os boatos tinham duas origens: popular e culta. Entre o povo privado de cultura, corriam suspeitas de imoralidade, vícios e sacrifícios infantis, sendo iniciados ao cristianismo somente os cúmplices destes crimes[108]. Os estudiosos da época refutavam as doutrinas cristãs, vendo os cristãos como rebeldes que se negavam a servir o imperador e ignorantes por servirem um Deus invisível, ao mesmo tempo, Onipotente e interessado na vida humana. Por tudo isso, tanto o povo quanto os filósofos os chamavam de ateus.                           Os cristãos abandonaram as atividades sociais por terem elas ligação com o paganismo, não comiam comidas sacrificadas a ídolos e não faziam parte do exército. Essa separação causava aversão nas pessoas que os cercavam. Mas, de fato, muita coisa da cultura da época era incompatível com a fé em Cristo.                           Para se defenderem dessas acusações, se levantavam filósofos cristãos que argumentaram sabiamente contra cada uma delas. Principalmente Justino, o Mártir[109], que era conhecedor de cada uma das filosofias de sua época, testemunhou ser o cristianismo uma religião correta e defendeu a fé cristã, deixando corajosos discípulos como Taciano[110].

Na medida em que crescia e se estabilizava a Igreja, os cristãos foram deixando marcas de sua fé através de construções de templos, memoriais e diversos objetos artísticos de valor significativo. Todas essas coisas podiam ser feitas enquanto não eram perseguidos, mas eram em seguida destruídas.  

c) O funcionamento das comunidades cristãs: igrejas nos lares Os primeiros cristãos eram, em sua maioria, pessoas de classe baixa e pouco ou nenhum estudo, possuidores de uma fé pura e sincera. Reuniam-se geralmente nas casas principalmente aos domingos para o culto a Jesus Cristo na memória da sua ressurreição e partilhar o pão. Com a conversão de muitos gentios e a conseqüente formação de Igrejas em diversos lugares, os apóstolos começaram a visitar comunidades e a ver o propósito de Deus em anunciar o evangelho por toda parte. Assim a Igreja chegou desde os grandes centros da época até os “confins da terra”, por iniciativa apostólica ou como na maioria das vezes por iniciativas isoladas de cristãos que pregavam

por

onde

negócios,

vocação

iam

movidos

missionária

ou

pelas

viagens

empurrados

de pela

perseguição. Dentre as belas descrições da vida dos cristãos primitivos, Eusébio de Cesaréia deixa um testemunho válido para a compreensão da evangelização e crescimento do cristianismo:

Assim, sem dúvida por uma força e uma assistência de cima, a doutrina salvadora, com um raio de sol, iluminou subitamente toda a terra habitada. De pronto, conforme as divinas Escrituras, a voz de seus evangelistas inspirados e de seus apóstolos ressoou em toda a terra, e suas palavras nos confins do mundo[111].  

A grande maioria das igrejas primitivas eram domésticas. O sistema das sinagogas, descentralizando o culto do templo para as comunidades, foi um precursor deste movimento, contudo não tão forte como as igrejas nos lares dos cristãos. Vicent Branick afirma que nos escritos do Novo Testamento ao falar da ekklesia Paulo não se referia a um lugar, mas sim a pessoas ou ao seu lar como lugar do agrupamento dos fiéis[112]. Segundo Ubirajara Gonçalves, Paulo não utiliza o termo hebraico “Qahal” ou família para se referir ao Povo cristão,

ele

empregado

preferiu na

utilizar

o

“Septuaginta”

termo para

“εκκλσια” se

referir

já a

Assembléia[113]. Também utilizou o termo “αδηλψος”, irmãos mais de cem vezes ao se dirigir aos membros da comunidade cristã. Outro termo utilizado por Paulo é “οικος”, “casa” e suas derivações: “οικοδομη”, “edificar” o irmão ou a comunidade na fé (1T 5,11; 1Cor 10,23; Rm 14,19; 15,2); “οι οικηιοι”, “a família” na fé (Gl 6,10); “οικονομος”,

“administrador”

e

“οικονομια”,

administração, organização dos negócios ou coisas da casa. Várias descobertas arqueológicas comprovam que Clemente de Roma liderava uma igreja doméstica na capital

do

império[114].

A

organização

das

igrejas

primitivas foi primeiramente influenciada por um forte corporativismo marcado pelas formas de associação de estrangeiros nas cidades romanas e pelas sinagogas espalhadas pelo mundo principalmente devido à forte presença judaica nas cidades romanas[115]. A casa era uma unidade conceitual de organização da vida, um modelo administrativo no mundo gregoromano[116]. Quando o cristianismo surge, com seu modelo estrutural familiar com cultos domésticos e uma refeição comum, numa sociedade helenizada onde um novo culto era uma nova atração, os gentios procuraram conhecer os cristãos e são conquistados pelo carisma e testemunho da fé. Como afirma Paulo Augusto de Souza Nogueira em Experiência

religiosa

e

crítica

social

no

cristianismo

primitivo, os cristãos funcionavam como uma rede: “O mais fascinante ao estudar as origens cristãs é que apesar de serem tão diferentes e, em alguns pontos, até divergentes, as

comunidades

se

empenhavam

em

manter

a

comunicação entre elas”[117]. Sobre os evangelistas Green afirma que haviam pregadores ordenados e missionários informais[118]. Os evangelistas ordenados eram os apóstolos, diáconos e presbíteros, todos homens que exerciam estas funções e outras com nomes diferentes de acordo com o contexto. Os missionários informais eram tanto homens como mulheres que embora não tivessem sido ordenados pela Igreja pregavam o evangelho e dirigiam reuniões formando até

mesmo comunidades nos lugares onde estavam ou por onde iam. Segundo John Dominic Crossan, entre os obreiros da Igreja Primitiva, havia os chefes de família que lideravam igrejas em seus lares e os ministros itinerantes que exerciam suas funções profissionais e pregavam por onde iam ou eram evangelistas designados pelas igrejas[119]. Em Jerusalém estava a maior parte dos cristãos, dirigida pelos apóstolos. Nessa cidade, havia vários judeus que tinham influências helenistas e falavam o grego, sendo distinguidos dos outros judeus anti-helenistas. Na Igreja, havia conversos de ambas as posições. Então, houve a necessidade de se nomear os diáconos (de origem helênica) que trabalhavam junto com os apóstolos na área social e administrativa, representando os judeus de origem grega na direção da Igreja.               Segundo a narrativa de Atos dos Apóstolos, a Igreja crescia na comunhão e numericamente mesmo enquanto era perseguida. A perseguição provocou uma dispersão dos cristãos para outras regiões no mundo, expandindo a fé cristã por muitos países. Os cristãos de origem

judaica

pregaram

principalmente

aos

seus

conterrâneos que encontravam, os de cultura grega anunciavam a fé por toda a parte onde iam. No tempo cristão primitivo, as estradas romanas ligavam as nações e proporcionaram o intercâmbio entre partes longínquas da terra, levando o comércio, para a evangelização da Igreja. Isso foi uma estratégia que

proporcionou difundir o evangelho para os quatro cantos do mundo com forte significado de urgência[120]. Sobre a estratégia de evangelização e crescimento, fica claro no Novo Testamento, especialmente em Atos, que a vida de oração e dedicação ao evangelho era a fonte de forças para o espírito missionário. Os autores David Shenk e Ervis Stutzman[121] afirmam que houve uma estratégia que Atos dos Apóstolos descreve como de origem divina, com a visão de Paulo para ir à Macedônia em Atos 16. Contudo, segundo os autores, a cidade de Filipos onde o trabalho começou na região de Grécia, era como uma cabeça-de-ponte[122] de onde foi possível alcançar toda aquela região. Filipos era a principal cidade da Grécia de então sendo o centro do poder político, econômico e cultural com grande crescimento da filosofia e religião, sendo local ideal para expansão do cristianismo. Comumente as cabeças-de-ponte eram as sinagogas das cidades e as pessoas alvo os ‘tementes a Deus’, mas no caso de Filipos, não havia sinagoga, e sim um grupo de pessoas que se reuniam à beira do rio[123]. Ali foi o local estratégico para pregar porque tinha um grupo que já conhecia sua linguagem e a base de sua religião, que era o judaísmo[124]. A mesma estratégia de procurar cidades apropriadas para a difusão da religião e evangelizar primeiramente judeus e tementes a Deus nas sinagogas percebe-se em todo o processo de evangelização na Igreja Primitiva até que um grupo especificamente de cristãos se

reunia

independentemente

do

culto

judeu

preferencialmente em suas casas. A geografia de expansão do cristianismo é explicada por

Hoornaert,

mostrando

as

primeiras

experiências

missionárias da Igreja começando na região da Palestina, centrando

em

Jerusalém

e

prosseguindo

aos

seus

arredores, privilegiando a mesma geografia da diáspora alcançando

as

judeus[125].

comunidades

Prosseguindo,

com

o

maior

cristianismo

número

de

alcançou

a

região da Ásia onde cresceu muito[126]. Principalmente nas regiões da Síria e Egito que são vizinhos de Israel ganhando característica helenizada na Síria e heterodoxa no Egito[127]. A partir de então, a fé cristã chegou à região do Mediterrâneo Ocidental[128], alcançando até mesmo a capital do Império Romano. Entretanto, à medida que alcançava outros povos, Jerusalém foi sendo deixada de lado e por volta do ano 130 tinha um valor mais simbólico para a fé cristã do que a presença da Igreja no local[129]. Quanto à esta estratégia de evangelização, Stark enumera as cidades mais populosas do mundo nos dois primeiros

séculos

e

observa

que

foram

as

mais

cristianizadas pela Igreja, levantando a hipótese de ter sido uma estratégia missionária a seleção das cidades pelo tamanho das mesmas[130]. Os métodos evangelísticos também são citados por Green, quando explica que a evangelização acontecia de forma pública nas sinagogas e em cultos ao ar livre, nos lares dos cristãos, alcançando também seus vizinhos,

através da literatura e de modo pessoal pelo testemunho e pregação cristã[131]. Além disso, a Igreja Primitiva preocupou-se em abranger toda a geografia[132] conhecida da época e usou o máximo de influência possível para chegar desde aos palácios até as masmorras do Império[133]. A motivação dos cristãos era devido a seu sentimento de gratidão[134] a Deus por sua salvação e também um sentimento de responsabilidade[135] e preocupação[136] com as vidas que estavam perdidas e sofrendo. Um tema determinante para esta motivação foi a forte teologia e esperança escatológica[137], que movia os cristãos a pregar o evangelho com urgência. Os

ensinamentos

dados

pela

Igreja

aos

novos

convertidos podem ser percebidos através dos temas da Didaqué eram: a Escrituras, os

ressurreição, testemunhos

o

cumprimento pessoais e

das o

arrependimento[138]. O objetivo de cada pregação era o batismo. Com o batismo, pretendia-se ver o perdão e o arrependimento. A comunidade se declarava o Israel dos finais dos tempos e aceitavam a cruz, iam ao templo, eram unânimes,

partiam

o

pão

de

casa-em-casa

e

estas

refeições tinham caráter de culto. Oravam o Pai Nosso, jejuavam e tinham seus bens em comum. O domingo era tido como o dia do Senhor, quando as pessoas se reuniam em suas casas para celebrar a ceia. Para Hoornaert, a Didaqué era uma ferramenta de trabalho

evangelístico

e

doutrinário

que

movia

os

evangelistas como ‘operários’[139] que agiam por toda parte transmitindo fervorosamente o que acreditavam e discipulando os novos convertidos. Inquestionavelmente a eucaristia era o centro do culto cristão primitivo[140]. Com o tempo, vários outros ritos foram se acrescentando à ceia, formando assim a liturgia cristã. Justino escreveu sobre o culto cristão primitivo no dia de Domingo, sobre a ordem com leitura dos profetas e comentários dos textos dos apóstolos seguidos de uma pregação do sacerdote da Igreja. Enquanto o sacerdote dirigia as orações o povo dizia ‘amém’. Havia ofertórios e esmolas. Os cultos eram curtos devido às perseguições e perigos de serem encontrados reunidos. Havia comemorações semanais, cultos ao nascer do sol e cultos pela noite, nas quais podemos identificar o uso de cânticos, orações formuladas (Pai Nosso) e leitura das Escrituras. Os cultos eram no dia do Senhor e em outros durante a semana. Nas quartas e nas sextas-feiras havia jejuns e vigílias. No domingo, as orações eram feitas em pé conforme a Didaqué[141]. O batismo era realizado de várias formas, não sendo necessária a imersão, bastava a aspersão. Nos batismos “feitos às pressas”, as pessoas direcionavam-se às classes de catecúmenos para que aprendessem a Didaqué e fossem catequizados. A fé começava com a confirmação batismal, era seguida com o aprendizado das fontes

posteriores dos apóstolos muitas das quais tornaram-se bíblicas. A poimênica era conhecida como “cura d’almas” com o significado de cuidado e crescimento de vidas na comunidade[142]. Tinham uma forma de ver a comunidade como um todo além de contemplar a vida pessoal de cada crente. Na igreja, havia pessoas inspiradas por Deus para falar profeticamente aos irmãos, pastoreando seu modo de agir frente às situações da vida enquanto os apóstolos doutrinavam a comunidade como um todo. Desde o início da Igreja, sempre houve um consenso de que a Igreja veio de Cristo. Não havia uma visão de instituição, e sim da fé no Cristo e seus seguidores. No século II, infiltrou um pensamento entre os cristãos de que estes não eram deste mundo, no sentido de ‘cosmos’. Inácio

de

Antioquia

ensinou

uma

eclesiologia

transcendental, a Igreja é representante de Deus na terra. Paralela a esta, havia a eclesiologia histórico-salvífica com a idéia da eleição como vontade de Deus e responsabilizando o homem por aceitar ou não esta vontade[143]. Irineu falava da Igreja como depositária da verdade, responsável pela pregação do evangelho e transmissora do Espírito Santo. Tertuliano começa com o pensamento radical de que, sem a Igreja oficial não há batismo ou salvação e depois se torna montanista, entendendo a Igreja como comunidade carismática[144].

                          A Igreja era basicamente organizada com bispos, presbíteros e diáconos, podendo variar de acordo com a localidade. Com o tempo, foi tomando formas mais institucionalizadas. Quando voltamos para a situação das comunidades e surgimento do episcopado monárquico, por volta de 130-140, o entusiasmo do cristianismo estava desaparecendo. Estávamos a caminho da institucionalização. Um grande defensor do episcopado monárquico

foi

Inácio

necessário

obedecer

de ao

Antioquia, bispo

acreditando

para

receber

ser a

salvação[145]. Nesta época, já surgiam formas mais rígidas de organização e nos deparamos com o episcopado monárquico. presbíteros

O e

clero

era

diáconos.

composto

Todos

por

deveriam

um

bispo,

obedecer

e

submeter-se aos líderes, aparentemente começando a era da Igreja clerical, quando o culto já não tinha todo aquele entusiasmo de antes.  

d) A liderança cristã: quem foram os Pais O título ‘Pai’ surgiu na Igreja Primitiva, quando os bispos e outros líderes receberam o nome respeitoso de ‘Pais’. Segundo André Benoit, os Pais eram considerados como fontes da verdade, sendo estudados com finalidade doutrinal e dogmática[146]. Para o autor Luigi Padovese o termo ‘Pai’ é conceituado como o gerador de alguma coisa ou tradição até se generalizar o uso dirigindo-se aos líderes da Igreja[147].

Christopher Hall em seu livro Lendo as Escrituras com os Pais da Igreja fala sobre os critérios utilizados na antiguidade para definir um Pai[148]. Para trazer uma definição concisa do que é um Pai da Igreja, Hall define o termo ‘Pai’ como aquele que dá origem ou aquele que ensina e ‘filho’ conseqüentemente é quem aprende. As características básicas para se identificar um Pai da Igreja são: Antiguidade: o período dos Pais está entre os anos 96 com a primeira epístola de Clemente e o ano 750 com a morte de João de Damasco. Contudo neste trabalho nos atemos somente aos Pais da segunda e terceira geração de cristãos que vai até o segundo século. Santidade de Vida: algo que chega a ser discutido devido ao comportamento questionável de alguns Pais, principalmente no que diz respeito à tolerância religiosa. Doutrina Ortodoxa: os Pais foram teólogos e deviam estar de acordo com as Escrituras e com a tradição da Igreja. Aprovação Eclesiástica: ser reconhecido pela Igreja. Este item pode ser questionado porque alguns Pais não foram reconhecidos pela Igreja por sua heterodoxia,[149] o que nos ensina que precisamos ser humildes para ouvir e aprender com quem pensa diferente. Os Pais podem ser classificados em Pais Apostólicos (que

se

seguiram

aos

apóstolos),

Pais

Apologistas:

(defensores da fé cristã no século II), Pais do século III e

Pais nicenos e pós-nicenos (que atuaram durante e depois do I Concílio em Nicéia). No caso deste estudo, nos interessam apenas os Pais dos dois primeiros séculos da era cristã. Os Pais do primeiro século até meados do segundo foram os que se seguiram aos apóstolos e por isso são chamados de Pais Apostólicos: Clemente viveu em Roma entre os anos 30 e 100 quando encerrou sua vida martirizado pelo imperador Domiciano. A tradição católica o considera o quarto papa e acredita que o texto de Filipenses 4.3 faz citação de sua pessoa com o um colaborador do apóstolo Paulo[150]. Inácio viveu em Antioquia da Síria por volta de 117, quando foi martirizado pelo imperador Trajano[151]. Seus textos foram escritos no caminho de Roma onde seria morto. Opunha-se às heresias gnósticas e foi o primeiro a fazer distinção entre ancião e bispo. Hermas, um simples comerciante cristão considerado por Eusébio e Orígenes o mesmo Hermas citado por Paulo em Romanos 16.14, provavelmente foi um judeu que tenha sido escravo, viveu em Roma do final do século I ao início do século II[152]. Barnabé viveu em Alexandria no final do século I ao início do século II[153]. Papias foi bispo de Hierápolis entre os anos 60 e 130 e segundo João[154].

alguns

historiadores

conhecido

do

apóstolo

Policarpo foi bispo em Esmirna e viveu entre os anos 69 e 160, possivelmente tenha conhecido o apóstolo João, sendo seu discípulo[155]. Sua apologética chamava à unidade entre cristãos defendendo a catolicidade da Igreja, combateu as doutrinas de Marcião e o docetismo. Policarpo foi martirizado sob o imperador Antonino Pio e a notícia de sua morte provocou muita emoção entre os cristãos, originando o escrito Martírio de Policarpo a mais antiga narração de um martírio[156]. Os Pais do século II são conhecidos como Pais Apologistas por serem defensores da fé cristã diante de heresias e variações doutrinárias no cristianismo primitivo como passamos a descrever: Quadrato viveu em Atenas onde foi bispo no início do século II. Sua apologia faz um contraste, diferenciando cristianismo,

judaísmo

e

paganismo,

dirigindo-se

especialmente ao imperador Adriano[157]. Aristides, contemporâneo e conterrâneo de Quadrato, também viveu em Atenas no início do século II. Sua Apologia tem forte influência paulina, sendo a mais antiga visto que o texto de Quadrato foi perdido[158]. Justino Mártir viveu na Palestina, em Éfeso e em Roma entre 100-165. Estudante de Filosofia era também um professor leigo itinerante acreditava que o cristianismo era a verdadeira filosofia e que através de Jesus o ser humano conhece a verdade. Sua apologia baseava-se na profecia, nos milagres e na ética cristã. Justino morreu decapitado em Roma[159].

Taciano foi discípulo de Justino e viveu na Assíria, Síria e Roma entre os anos 110-172[160]. Defendia a prioridade temporal do cristianismo sobre outras religiões, mesmo assim Taciano posteriormente aderiu ao gnosticismo. Atenágoras viveu em Atenas no século II, seguidor da filosofia de Platão[161]. Teófilo foi bispo em Antioquia em 181. Era polêmico e severo contra os filósofos pagãos, escreveu uma apologia contra o politeísmo, principalmente contra a divinização de homens como deuses e sua imoralidade associada à religião pagã[162]. Melito foi bispo de Sardes em 190. Produziu a primeira lista cristã dos livros do Antigo Testamento e escreveu cerca de vinte outros textos que foram perdidos[163]. Hegesipo, um judeu convertido ao cristianismo que viveu na Síria, Grécia e em Roma no século II.  Culpava o judaísmo por todas as heresias que se infiltravam no meio cristão[164]. Tertuliano de Cartago, nascido em 155 em Cartago na África se converteu ao cristianismo em 193 vivendo em Cartago. Era advogado e depois foi ordenado sacerdote e foi um defensor árduo da fé cristã utilizando métodos de argumentação jurídica[165]. Além dos Pais, houve mulheres que se destacaram na Igreja Primitiva. Segundo Christopher A. Hall, em uma interessante

dissertação

sobre

as

‘Mães

da

Igreja’,

argumenta que muitas mulheres exerceram papel de

destaque entre os Pais. Na Igreja Primitiva havia mulheres que profetizavam (pregavam) e eram diaconisas[166]. A mulher ganhou espaço na Igreja aos poucos. Principalmente

em

movimentos

como

o

montanismo,

mulheres como Priscila e Maximila exerceram papel de grande influência. Posteriormente o que logo se destaca é que a mulher não podia ter acesso às Escrituras e muito menos assumir alguma responsabilidade, a não ser a do lar. O Patriarcado Eclesiástico[167] tem como ponto de partida que a mulher é herege. Tendo sido criada para funções auxiliares e quem fosse contra a tradição da Igreja era um herege. O resultado foi a marginalização inevitável da mulher na Igreja. Interessante

que

Christopher

Hall

inicia

sua

dissertação perguntando: “E quanto às mães da Igreja?”, fazendo justiça ao não ignorar a influência de mulheres que abandonavam tudo, mesmo tendo filhos para se dedicar à formação da fé cristã. Várias personagens são citadas como Marcella, que aprendia sobre as Escrituras perguntando a Jerônimo; Paula, que chegou a aprender hebraico para cantar salmos e ler textos da Bíblia; Melânia, que leu diversas vezes muitas grandes obras de outros Pais; Olímpia, a diaconisa de Constantinopla que distribuía seus bens aos pobres. E Macrina que foi responsável pela formação e educação de seus irmãos que vieram a ser bispos e ela provavelmente o teria sido se não fosse mulher. Inúmeras outras mulheres entre os Pais da Igreja seriam descobertas se houvesse mais literatura[168].

Alguns conversos que se uniam à fé cristã tinham dificuldade de deixar muitos de seus pensamentos, cultura, ou falta de interpretação

cultura, trazendo alguns problemas de das Escrituras. Houve duas principais

correntes de pensamentos hereges que tentaram seduzir a Igreja: o gnosticismo e os ensinos de Marcião. Ambos negavam a criação, o nascimento virginal de Cristo, a ressurreição e o juízo final. Estes davam explicações filosóficas (misturadas ao cristianismo) para tudo.               Os Pais apologistas foram responsáveis pela defesa da fé cristã que era atacada por grupos hereges, bem como o estabelecimento das principais doutrinas do cristianismo nos séculos I e II. A maior controvérsia foi sobe a dupla natureza de Cristo. Até se firmar o pensamento sobre

Cristo,

consideradas grupos[169]:

muitas heresias.

doutrinas Luigi

surgiram

Padovese

e

foram

lista

esses

O adocionismo primeiramente através de Hermas tem a característica de aceitação de Cristo como Messias sendo apenas adotado como Filho após sua ressurreição[170]. A heresia adocionista negava a trindade afirmando que Cristo era adotado por Deus para ser seu enviado[171]. O ebionismo, influenciado pelo judaísmo, negava a divindade de Jesus[172]. Este era um tipo de adocionismo que acreditava na adoção de Jesus como Filho e Messias no momento do seu batismo[173]. Eusébio de Cesaréia afirma que a origem do nome ebiom com significado hebraico de

pobreza é apropiado por causa da pobreza doutrinária dos seus ensinos sobre Cristo[174]. O marcionismo foi um grupo conhecido pelo líder Marcião que rejeitou a influência judaica e até o Antigo Testamento para crer em outro Deus diferente e bondoso manifestado em Jesus Cristo[175]. O gnosticismo tem definição ainda polêmica entre os estudiosos, contudo no período em questão o que mais marcava sua característica como heresia é que negava o nascimento corpóreo de Cristo. A gnosis era a sabedoria e conhecimento

oculto

baseado

na

antiguidade,

preocupando-se mais com o valor místico da religião do que sua moral. Daí percebe-se o forte confronto com o cristianismo[176]. O modalismo fazia separação entre o Pai e o Filho acreditando, contudo que o Filho é apenas um nome dado ao próprio Pai e o Espírito uma referência posterior ao Filho[177]. O docetismo[178] foi uma heresia de origem gnóstica que afirmava que Jesus não tinha nada de corpóreo e nem teria nascido de Maria, mas através dela. Marcionitas e Valentianos foram líderes gnósticos que defendiam esta doutrina. O

tema

cristológico

foi

discutido

por

muitos

pregadores. Inácio de Antioquia ensinava a união das duas naturezas[179]. Melitão de Sardes fala da encarnação de Cristo

como

o

homem

perfeito

composto

das

duas

substâncias[180]. Irineu combateu o pensamento gnóstico

e marcionista, escrevendo a história da salvação sob uma ótica cristã enfatizando a unidade de Deus e deste com o homem[181]. Como fruto de toda essa preocupação teológica por parte da Igreja, muitos mestres surgiram no segundo século e, dentre eles, quatro tiveram grande importância: Irineu de Leão, um pastor, preocupado em manter e ensinar a sã doutrina; Clemente de Alexandria, um sábio pensador

que

usou

a

filosofia

para

confirmar

a



cristã[182]; Tertuliano de Cartago, um apologista defensor das Escrituras, mas que acabou por se juntar a um grupo de

montanistas

considerados

pela

Igreja

como

hereges[183]; por último, um discípulo de Clemente, que foi Orígenes de Alexandria, um mestre e discipulador de novos

convertidos,

muito

conceituado

por

seus

conhecimentos e que uniu aos seus ensinamentos, muitos ensinos

de

Platão,

desviando-se

da

chamada

‘sã

doutrina’[184]. Houve dois pólos político-religiosos marcando as divisões entre Oriente e Ocidente nas grandes cidades de Antioquia na Síria e Alexandria no Egito. Nesses lugares que foram referências da Igreja, muitos teólogos se reuniam discutindo as doutrinas cristãs. A Escola Teológica de Alexandria fazia sua exegese pelo método alegórico ou simbólico e a escola de Antioquia pelo

método

histórico-gramatical.

Os

teólogos

de

Alexandria, liderados por Cirilo, acentuavam a divindade de

Jesus

e

os

de

Antioquia,

liderados

por

Teodoro

de

Mopsuéstia, destacavam a sua humanidade. Com o objetivo de confirmar a autoridade da Igreja e de seus líderes, muitos Pais da antiguidade defenderam a hierarquia da Igreja, buscando sempre centralizar a Igreja Cristã sob a autoridade do Papa e direcionada a Roma como centro da fé. Os

ministérios

dos

padres,

bispos,

resbíteros

e

diáconos é considerado originado com o colégio apostólico, fundado pelo próprio Senhor Jesus que teria colocado Pedro como líder dos demais apóstolos e estes sucessivamente estimularam outros líderes que foram assumindo seus lugares através das gerações. Vários pais como Inácio (107) e Clemente Romano (101), Orígenes (254), Clemente de Alexandria (215), Tertuliano (222), Irineu (202), Dionísio (171) atestam que Pedro esteve realmente em Roma presidindo a Igreja já como instituição organizada. A hipótese de Pedro ter sido o primeiro papa da Igreja também foi defendida por Caio, Cipriano,

Agostinho,

Optato,

Jerônimo

e

Sulpício

Severo[185]. Segue uma lista tradicional dos primeiros papas da Igreja até o ano 200[186]: S. Pedro, 42 – 67; S. Lino, 67 – 78; S. Cleto, 78 – 91; S. Clemente, 91 – 100; Santo Evaristo, 100 – 109; Santo Alexandre I, 109 – 119; S. Sixto I, 119- 128; S. Telésforo, 128 – 139; Santo Higino, 139 – 142; S. Pio I, 142 – 150; Santo Aniceto, 150 – 162; S. Soter,

162 – 170; Santo Eleutério, 170 – 186; S. Vitor, 186 – 197; S. Zefirino, 197 – 217. Embora a sucesão apostólica seja tema de debate e não seja aceita pela igreja protestante é fato que estas pessoas existiram e foram líderes ou Pais da Igreja Primitiva, por isso é válido sua citação. Na verdade, as igrejas no tempo primitivo não tinham a institucionalização que se pensa ao falar de igreja hoje. Era algo mais informal e acontecia não em templos, mas nas casas dos fiéis convertidos. e) Os escritos dos Pais: uma forma de discipular e capacitar. Devido ao surgimento de heresias através de sinais, visões, milagres (vistos como algo normal) e diferentes doutrinas de salvação (gnosis) que apareciam, a Igreja precisou travar uma grande batalha contra as correntes gnósticas

para

não

descaracterizar

sua

doutrina

de

salvação. Desde então, muitos textos começaram a ser escritos com esta preocupação principal de doutrinar a Igreja. Quando o ainda jovem cristianismo se depara com o estoicismo profundamente religioso, fundiu-se a este numa mistura de fé e filosofia[187]. O conhecimento da filosofia foi uma importante ferramenta para que textos fossem escritos definindo a maneira cristã de pensar. Essa preocupação é clara em diversos textos como, por exemplo, na Didaqué: 1.Vê que ninguém te seduza deste caminho da doutrina, pois te ensina o que não é de Deus. 2. Porque se podes levar todo o

jugo do Senhor, serás perfeito; mas se não podes, faze o que podes. (cap. VI.1,2)[188]  

Patrologia é o estudo da história da literatura cristã antiga sendo considerada disciplina filiada da teologia por sua característica apologética. Este estudo foi crescendo aos poucos na teologia porque, durante certo tempo, excluiu muitos autores e vários Pais foram considerados heréticos pela Igreja de Roma. Com o Renascimento e o surgimento da imprensa, muitos textos foram descobertos e divulgados. O interesse pela antiguidade cresceu muito, aumentando a pesquisa histórica e a coleção de textos. Para os teólogos reformadores, a regra maior era a fidelidade às Escrituras, por isso buscaram nos autores confirmações de suas doutrinas. Os escritos cristãos foram transmitidos de várias formas. A utilização inicial de códices muitas vezes limitados a um só rolo indicava a baixa renda dos primeiros cristãos.

Em

geral,

os

escritos

eram

de

transcrição

particular, passando de um para o outro. Esses textos eram colecionados por líderes e comunidades. Era muito comum às pessoas anotarem homilias de pregadores famosos enquanto estes falavam e depois reproduzir os textos. Deste

modo,

a

cultura

no

meio

cristão

difundiu-se

naturalmente. Para se proteger de heresias, a Igreja se beneficiou da formação de um cânon oficial do Novo Testamento, formado basicamente dos Evangelhos, os escritos de Paulo

e

dos

apóstolos.

A

este

cânon

foi

unido

o

Antigo

Testamento. Também, foi definido o Credo Apostólico como uma fiel afirmação de fé, firmada no que os apóstolos de Jesus Cristo haviam recebido do Senhor e transmitido à Igreja. A formação do Cânon demorou aproximadamente trezentos

anos,

mas

sua

circulação,

bem

como

as

discussões dos Pais sobre os textos foram definitivas. Muito se discutiu sobre os textos presentes num tempo de muitas heresias. Critérios foram estabelecidos para verificar a fidelidade e autenticidade dos textos. Outros livros como O Pastor de Hermas, o Apocalipse de Pedro e a Didaqué não foram aceitos no cânon da maior parte das comunidades. Alguns livros como Hebreus, Tiago, 2 Pedro, 2 e 3 João, Judas e o Apocalipse foram questionados e depois aceitos. Certamente os Pais da Igreja trabalharam muito para reconhecer e formar o cânon que hoje temos em mãos. O texto O Pastor de Hermas, segue padrão apocalíptico[189]. Com forte chamado a penitência e relata diversas visões sendo que, na terceira visão, uma torre se levantava sobre as águas; daí o autor, que possivelmente seria

um

judeu

convertido

ao

cristianismo,

teve

o

entendimento de que os ricos se colocavam sobre os pobres como aquela torre que estava sobre as águas[190]. Visto que um pouco da vida de cada um dos Pais já foi citado

anteriormente[191],

abaixo

relatamos

alguns

escritos principais deixados pelos Pais falando de forma

concisa sobre os mesmos de acordo com a bibliografia encontrada[192]. Clemente de Roma escreveu a carta aos Coríntios na qual ressalta a sucessão apostólica, ensinando como a Igreja deve se organizar e viver em paz uns com os outros[193]. Inácio escreveu as cartas Aos Efésios, Aos Magnésios, Aos Trálios, Aos Romanos, Aos de Filadélfia, Aos de Esmirnia e A Policarpo[194]. Hermas escreveu suas visões e parábolas no texto O Pastor que teve larga aceitação por sua maior preocupação moral do que doutrinária[195]. Barnabé Escreveu a Epístola de Barnabé por volta de 134-135[196]. Papias Escreveu cinco textos dos quais só restam fragmentos, entre estes está a Exposição aos oráculos do Senhor, citada nos textos de Irineu e de Eusébio[197]. Policarpo colecionou as cartas de Inácio e escreveu o texto Epístola aos Filipenses. A notícia de sua morte provocou tanta emoção entre os cristãos que originou no escrito Martírio de Policarpo, a mais antiga narração de um martírio[198]. Quadrato

escreveu

o

texto

Apologia

citado

por

Eusébio, contudo perdido[199]. Aristides escreveu Apologia, sendo a mais antiga visto que o texto de Quadrato foi perdido[200]. Os escritos de Justino Mártir, foram Primeira Apologia, Segunda Apologia, Diálogo com o judeu Trifon, e outros

dois

textos

perdidos

Contra

Heresias

e

Contra

Marcião[201]. Taciano escreveu os textos Diatessaron ou Harmonia Evangélica por ser uma compilação dos quatro evangelhos em um só e o Discurso aos Helenos[202]. Atenágoras escreveu em estilo clássico a Apologia da Ressurreição dos mortos[203]. Teófilo escreveu o texto A Autólico[204]. Melito compôs uma lista cristã dos livros do Antigo Testamento e escreveu cerca de vinte outros textos que foram perdidos[205]. Hegesipo compôs o texto Memoriais foi perdido, mas coletou informações sobre a história da Igreja Primitiva como

argumento

apologético

da

apostolicidade

da

mesma[206]. Tertuliano de Cartago foi o primeiro teólogo cristão que escreveu em latim, que era popular na metade ocidental do Império e por isso seu pensamento influiu notavelmente sobre toda a teologia ocidental.  Escreveu diversos textos: Prescrição aos hereges, Contra Marcião, Contra Praxeas,   Aos pagãos, Apologeticum (a sua obra, mas conhecida), O testemunho da alma, Contra Escápula, Contra os judeus,  Contra Hermógenes, Contra os valentinianos, O baptismo, Scorpiace, A carne de Cristo, A ressurreição

da

carne, 

A

alma,  Aos

espectáculos,

O

vestido

das

mulheres,

paciência,

penitência,

A

À

esposa,

A

mártires, A

oração,

exortação

Os A da

castidade, A monogamia, O véu das virgens, A coroa, A

fuga na perseguição, A idolatria, O jejum, A pudicícia, O manto[207]. Os destacam

escritos por

comunidade,

considerados suas

como

mais

orientações por

importantes

sobre

exemplo,

a

a

vida

Didaqué

se na traz

prescrições sobre batismo, santa ceia, jejum, oração, liderança, como guardar o domingo, entre outras. A Didascalia é um texto do qual se preservaram alguns pedaços, tendo o mesmo teor da Didaquê. de

As Atas dos mártires foram guardadas com o objetivo valorizar a perseverança cristã em tempos de

perseguição.

Uma

comunidade

era

destacada

pela

memória de um martírio na localidade. A difusão dos escritos cristãos deve-se principalmente aos Apologistas, que como designa o nome, se ocupavam na defesa da fé cristã refutando com escritos de dentro para fora da Igreja. Estes respondiam não somente as dúvidas

do

povo

como

também

às

controvérsias

levantadas por grupos dissidentes e outras manifestações religiosas. Seu discurso foi de grande importância porque ajudou a consolidar as bases da fé cristã em suas principais doutrinas. Os apologistas buscavam argumentos sólidos para a fé já estabelecida pelos Pais[208]. Os Pais da Igreja, se preocupavam muito com a formação da fé da comunidade em que estavam inseridos, ou para qual remetiam seus escritos. Eram escritos voltados para o interior da Igreja. Muitas vezes refletiam as necessidades das pessoas motivando-as a buscar, através

da fé, uma solução para as dificuldades e perseguições enfrentadas. Os primeiros Pais como Clemente de Roma, Inácio, Hermas, Barnabé de Alexandria, Papias e Policarpo, todos do primeiro século e início do segundo, escreveram epístolas e comentários sobre os evangelhos. No segundo século, surgiram os primeiros Apologistas como Quadrato, Aristides, Justino Mártir, Atenágoras, Teófilo e Hegesipo. No século terceiro, outros deram continuidade como Irineu, Clemente e Tertuliano[209]. Ao se referir ao Antigo Testamento, os Pais Apostólicos o interpretam de forma alegórica dando simbolismos à Igreja. Já os Apologistas iniciados por Justino e Irineu desenvolvem

uma

personagens

bíblicos

hermenêutica comparando-os

tipológica à

sobre

pessoa

de

Cristo[210]. Para a evangelização, estes textos foram ferramenta de capacitação e influência do pensamento cristão sobre a sociedade, causando um efeito eficaz para a eficiência do evangelismo na Igreja Primitiva.  

CONCLUSÃO “Por isso um escriba versado no reino dos céus é semelhante a um pai de família que tira do seu depósito coisas novas e coisas velhas” (Mateus 13.52)

A  

Igreja faz história. Na verdade, a história também fez a Igreja e esta assumiu diversas características durante os tempos, transformando e sendo transformada. Lamentavelmente não é muito falado sobre Patrística ou sobre a comunidade cristã primitiva na Igreja atual. Estamos cheios de novidades para procurar um tesouro escondido ou preocuparmos com coisas antigas em nosso velho baú de saudades. Um povo sem memória é um povo sem futuro. Precisamos reler as histórias de nossos precursores que prepararam o caminho para que o Evangelho chegasse até nós, para aprendermos a fazer a Missão e vermos que hoje temos mais facilidades do que impedimentos. Isto porque muitas barreiras já foram derrubadas por nossos Pais na fé. Manter essa consciência da importância histórica da Igreja fortalece o vínculo de fé e ensina o compromisso com as decisões atuais que refletirão no futuro. A ruptura histórica descaracteriza a igreja e enfraquece suas bases,

não restando mais o que reconstruir nem histórias para contar. Então não haverá mais o que fazer. A conseqüência maior é que o caráter transformador da Igreja é perdido como o sal que perde seu sabor. O que cremos e pregamos hoje com tranqüilidade foi motivo de estudo, discussão, sofrimento e morte para nossos Pais no passado, por isso não pode ser ignorado. Interessante destacar que muitos dos Pais foram pessoas bem instruídas; alguns foram até mesmo intelectuais, oradores fluentes, escritores, poliglotas, grande filósofos e de uma forma geral pessoas capacitadas para influenciar a sociedade através da Palavra de Deus. A teologia se utiliza destes estudos para compreender a si mesma, pois tudo que hoje é pregado e ensinado surgiu há muito tempo podendo encontrar suas raízes nos Pais da Igreja. Temas teológicos atuais como, por exemplo, o da pobreza não é apenas atual ou originário das Teologias de Libertação, pois os Pais da Igreja dissertaram amplamente sobre o assunto. Também a atual teologia feminina encontra reforço na Igreja Primitiva, contudo o machismo era tão evidente no tempo da compilação do Novo Testamento, que as passagens onde constavam mulheres foram alteradas e raramente, quando deixadas, foram inseridas outras palavras para desqualificar as mulheres. Em sua história, a Igreja passou por momentos extremos entre divisões do Oriente e Ocidente, de uma Igreja perseguida pelo Império com pregadores e bispos

sendo martirizados até uma Igreja Imperial de dominadores político-religiosos. Em todos estes momentos, os Pais foram homens e mulheres que se destacaram por aproveitar a oportunidade que o momento proporcionava e por lutar pela verdade da Palavra de Deus. Deste os tempos primitivos, a Igreja mudou muito. Nota-se principalmente as revoluções nas quais a Igreja foi por vezes protagonista, por vezes ‘vítima’ e outras expectadora passiva dos acontecimentos que geraram a sociedade e a acontecimentos,

Igreja de inúmeras

hoje. No decorrer dos foram as adaptações,

reformulações e divisões do rebanho cristão mundial, demonstrando que a cada geração novas situações fazem a igreja sofrer diferentes padronizações, porém o Evangelho ainda é o mesmo. Por isso, é importante reler o passado para construir um futuro melhor. Talvez se a Igreja tivesse olhado mais para suas histórias teria mais zelo ao agir, teria sido menos poderosa, porém vencedora, principalmente se buscasse mais de sua origem na cruz onde não importam estado, nobreza, tronos ou títulos porque é o centro do Reino de Cristo. A Igreja

tem

o

poder

de

fazer

mediação

nos

relacionamentos entre família e sociedade, sendo ela mesma uma comunidade social e familiar. Por isso, a Igreja tem condições de educar e promover a descoberta de meios que valorizem a vida com propostas que dêem ao ser humano a capacidade de acreditar e ser feliz. Como

cristãos, devemos ir ao encontro dos que sofrem buscando e levando cura para suas vidas e a Igreja deve preparar-se para receber terapêutica.

estas

pessoas

como

uma

comunidade

O cristianismo de massa dos dias atuais precisa aprender a ver os cristãos como um todo e ao mesmo tempo atendê-los pessoalmente. A prioridade para a Igreja deve ser as vidas e não sua teologia, princípio e regras ou até mesmo sua programação muitas vezes, ativista. A vida humana deve ser o centro e o valor maior da missão. É preciso levantar a poeira de fatos alarmantes que fazem com que a sociedade atual esteja em tamanho conflito que desafia a Igreja a agir em inúmeras áreas de sua missão. Atualmente, industrialização

desde das

o

forte

cidades,

o

êxodo contínuo

rural

até

a

crescimento

tecnológico e das comunicações em contrapartida com o desemprego, a desigualdade social e inúmeras doenças psíquicas que afligem a sociedade, são preocupações que levam  a destacar o imenso desafio da Igreja atual. Contudo, da mesma forma que a sociedade, a Igreja também sofreu transformações e interferências negativas nos últimos tempos e infelizmente parece que perdeu o foco de sua missão. A maior herança que a era patrística deixou para a Igreja, além da teologia organizada e os maravilhosos escritos dos Pais, a tradição de espiritualidade e o desejo de ser fidedigna à Palavra de Deus. Os Pais foram os primeiros cristãos depois do período da Igreja Primitiva a

interpretar a Bíblia. Por isso, é importante se aproximar deles, pois estavam mais próximos da realidade do contexto bíblico especialmente do Novo Testamento. Sendo assim, estudar os Pais ajuda no entendimento bíblico. Vimos no primeiro capítulo sobre O Contexto do Cristianismo até o Segundo Século, a realidade social de muitas lutas e diversidade, o contexto político de guerras e dominação, o contexto econômico de exploração e miséria, o contexto cultural de forte filosofia e sobreposição de culturas principalmente sobre grupos minoritários e o contexto religioso marcado pelo politeísmo e perseguição religiosa. Mesmo diante de situações adversas, o cristianismo encontrou forças para expandir como uma semente que nasce na fenda de uma rocha e se transforma em uma árvore frondosa com capacidade de romper a penha. A sensibilidade de perceber as oportunidades foi determinante para o sucesso deste período da história da Igreja. Olhando para o contexto atual do mundo, o que vemos são desafios em proporções maiores devido à globalização, mas também possibilidades maiores ainda. Além disso, a Igreja hoje é uma instituição conhecida e reconhecida excluindo a possibilidade de perseguições a não ser em raríssimas exceções. No segundo capítulo, estudamos sobre O Cotidiano e a Evangelização da Igreja até o Segundo Século, destacando que o testemunho social era a base da evangelização

marcada por solidariedade e vida ética exemplar diante da sociedade. A perseguição e o martírio mostram o testemunho extremo dos cristãos primitivos de forma determinada pela sua fé, não temendo nem a morte quanto mais às dificuldades contextuais para a evangelização. O funcionamento das comunidades cristãs era nos lares com igrejas que começavam com a conversão de alguns judeus tementes a Deus e gentios simpatizantes formando congregações que se reuniam nas casas dos conversos. A liderança cristã foram os Pais da Igreja conhecidos assim por seu cuidado paternal para com a Igreja determinando a identidade e doutrina da Igreja Cristã para sempre. Sobre os escritos dos Pais, percebemos que o rico legado deixado por estes foi decisivo para o discipulado e capacitação do povo cristão de forma tão definitiva que permanece até hoje. Diante

de

todas

as

informações

coletadas,

destacamos que a evangelização na Igreja Primitiva era algo muito natural, fazia parte do cotidiano de vida da comunidade de fé. Tinham uma visão do coletivo com grande sensibilidade e interdependência um do outro e uma visão abrangente do mundo com abertura para conhecer e transformar a sociedade. Dentre os fatores citados,

o

testemunho

social

e

o

martírio

são

impressionantes demonstrando que não havia limites para o amor expressado entre os cristãos primitivos. A Igreja hoje é desfiada a melhorar seu testemunho social para formar bases à evangelização e os cristãos

aproveitarem as oportunidades bem como a liberdade que têm

para

a

proclamação

do

evangelho.

A

institucionalização pode ser amenizada através de cultos e grupos de estudos nos lares que levem a religiosidade para o contexto real da vida das pessoas formando elos de comunhão. A liderança cristã atual a exemplo dos Pais deve definir seu papel como formadores de vidas, preocupando-se um pouco mais com o doutrinamento e formação

moral

das

comunidades

de



para

uma

consistência ideal da fé cristã. O mais interessante no período estudado é que cada crente era um missionário comprometido com a proclamação do evangelho. Muitos escritos foram surgindo para divulgar e estabelecer a doutrina cristã. Havia a preocupação constante de manter a experiência de Cristo viva em cada cristão. Da mesma forma que, naquele tempo, hoje a Igreja pode adentrar nas ‘vias romanas’ do mundo e proclamar o evangelho. Conhecer os Pais da Igreja é como dar continuidade aos relatos de Atos dos Apóstolos, ou melhor, à galeria de heróis da fé em Hebreus 11 que descreve os sofrimentos, a vitória e a fé de homens e mulheres que formam uma ‘nuvem de testemunhas’ (Hb. 12.1) para a Igreja de hoje, ensinando perseverança e valorização da fé em Cristo que também sofreu pela verdade. Podemos concluir que o sacrifício dos Pais valeu a pena para que a Igreja fosse verdadeiramente apostólica, ou seja, uma Igreja marcada por homens e mulheres que,

marcados por sua fé em Cristo, estavam dispostos a marcar a história com seu testemunho e se preciso fosse com seu próprio sangue. “E que mais direi? Faltar-me-ia o tempo para contar de... [tantos outros] Os quais, pela fé, venceram reinos, praticaram a justiça, alcançaram promessas, fecharam as bocas dos leões, Apagaram a força do fogo, escaparam do fio da espada, da fraqueza tiraram forças, na batalha se esforçaram, puseram em fuga os exércitos dos estranhos. As mulheres receberam, pela ressurreição, os seus mortos; uns foram torturados, não aceitando o seu livramento, para alcançarem uma melhor ressurreição; E outros experimentaram escárnios e açoites, e até cadeias e prisões; foram apedrejados, serrados pelo meio, tentados, mortos ao fio da espada; andaram vestidos de peles de ovelhas e de cabras, desamparados, aflitos e maltratados (Dos quais o mundo não era digno), errantes pelos desertos e montes, e pelas covas e cavernas da terra. E todos estes, tendo tido testemunho pela fé, não alcançaram a promessa, provendo Deus alguma coisa melhor a nosso respeito, para que eles, sem nós, não fossem aperfeiçoados”. (Hebreus 11.32-40).

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  [1]  GREEN, Michael. Evangelização na Igreja Primitiva. São Paulo: Editora Vida Nova, 2ª Ed. 1989. pp. 11-26.

[2]               FILORAMO, Giovanni; RODA, Sérgio. Cristianismo e Sociedade Antiga. São Paulo: Paulus, 1997. pp. 87.

[3]               MORIN, Émile. Jesus e as Estruturas de seu Tempo. 4º ed. São Paulo: Paulinas, 1998.

[4]               FILORAMO, Giovanni; RODA, Sérgio. Cristianismo e Sociedade Antiga. São Paulo: Paulus, 1997. pp. 15.

[5]               Id., ibid., pp. 16. [6]               NOGUEIRA, Paulo Augusto de Souza. Experiência religiosa e crítica social no cristianismo primitivo. São Paulo, Paulinas, 2003. Coleção Religião e Cultura. pp. 146,147.

[7]               Id., ibid., pp. 147. [8]               NOGUEIRA, Paulo Augusto de Souza. Experiência religiosa e crítica social no cristianismo primitivo. São Paulo: Paulinas, 2003. Coleção Religião e Cultura. pp. 227-238.

[9]               Id., ibid., pp. 233. [10]               GONZÁLEZ, Justo. Uma História do Pensamento Cristão. Vols. I e II. São Paulo: Cultura Cristã, 2004. pp. 46,47.

[11]               HAMMAN, A.G. A vida Cotidiana dos Primeiros Cristãos (95197), São Paulo: Paulus, 1997. pp. 12.

[12]               STARK, Rodney. O crescimento do cristianismo. São Paulo: Paulinas, 2006.pp.146-156.

[13]               BITÍNIA, Plínio o Moço governador da. Apostolado Veritatis Splendor: PERSEGUIÇÕES 1: CARTA DE PLÍNIO O MOÇO AO IMPERADOR TRAJANO. Disponível em http://www.veritatis.com.br/article/1225. Desde 09/06/2003. Acesso em 12/05/09.

[14]               STARK, Rodney. O crescimento do cristianismo. São Paulo: Paulinas, 2006. pp. 14-16.

[15]               STARK, Rodney. O crescimento do cristianismo. São Paulo: Paulinas, 2006. pp. 96,97.

[16]               Id., ibid., pp. 17. [17]               Id., ibid., pp. 111,112. [18]               Id., ibid., pp. 113. [19]               Id., ibid., pp. 119-120. [20]               Id., ibid., pp. 127-130. [21]               Id., ibid., pp. 133.

[22]               Id., ibid., pp. 138. [23]               Id., ibid., pp. 134. [24]               Id., ibid., pp. 135. [25]               Id., ibid., pp. 139-144. [26]               Id., ibid., pp. 21-23. [27]               DREHER, Martin N. A Igreja no Império Romano. São Leopoldo: Sinodal, 1998. Coleção História da Igreja v. 1.

[28]               VV.AA. Flávio Josefo: uma testemunha do tempo dos Apóstolos; (tradução I. F. Leal Ferreira; revisão Josué Xavier). São Paulo: Paulinas, 1986. (Documentos do mundo da Bíblia; 3) pp.  85-89.

[29]               FLÁVIO JOSEFO. História dos Hebreus. Rio de Janeiro: CPAD, 1990. pp. 1.384.

[30]               JOSEFO, Flávio. Guerra dos judeus: Livro VII. Curitiba: Juruá, 2003. §191, pp. 44.

[31]               VV.AA. Flávio Josefo: uma testemunha do tempo dos Apóstolos; (tradução I. F. Leal Ferreira; revisão Josué Xavier). São Paulo: Paulinas, 1986. (Documentos do mundo da Bíblia; 3) pp. 76,78.

[32]               FLÁVIO JOSEFO. História dos Hebreus. Rio de Janeiro: CPAD, 1990. pp. 935-942.

[33]               CROSSAN, J. D. O nascimento do cristianismo: O que aconteceu nos anos que se seguiram à execução de Jesus. São Paulo: Paulinas, 2004, pp. 222.

[34]               MORIN, Émile. Jesus e as Estruturas de seu Tempo. 4º ed. São Paulo: Paulinas, 1998.

[35]   LESBAUPIN, Ivo. A bem-aventurança da perseguição: a vida dos cristãos no Império Romano. Petrópolis: Vozes, 1975. pp. 11.

[36]   FLÁVIO JOSEFO. História dos Hebreus. Rio de Janeiro: CPAD, 1990. pp. 1.042-1.065.

[37]  CROSSAN, J. D. O nascimento do cristianismo: O que aconteceu nos anos que se seguiram à execução de Jesus. São Paulo: Paulinas, 2004, pp. 256-259, 264-270.

[38]   Id., ibid., pp. 20-22. [39]   Id., ibid., pp. 158-160. [40]               MORIN, Émile. Jesus e as Estruturas de seu Tempo. 4º ed. São Paulo: Paulinas, 1998. pp. 29.

[41]               Id., ibid., pp. 29. [42]   HOORNAERT, Eduardo. O movimento de Jesus. Petrópolis: Vozes, 1994. pp. 54.

[43]               JEFFERS, James S. Conflito em Roma: ordem social e hierarquia no cristianismo primitivo, SP, Loyola, 1995.pp. 16-20.

[44]               JEFFERS, James S. Conflito em Roma: ordem social e hierarquia no cristianismo primitivo, SP, Loyola, 1995.pp. 138-140.

[45]               Id., ibid., pp. 35-37. [46]               CROSSAN, J. D. O nascimento do cristianismo: O que aconteceu nos anos que se seguiram à execução de Jesus. São Paulo: Paulinas, 2004, pp. 222.

[47]               Id., ibid., pp. 89,90,101-115. [48]               FILORAMO, Giovanni; RODA, Sérgio. Cristianismo e Sociedade Antiga. São Paulo: Paulus, 1997. pp. 97-100.

[49]               HAMMAN, A.G. A vida Cotidiana dos Primeiros Cristãos (95197), São Paulo: Paulus, 1997. pp.  47,48.

[50]               STEGEMANN, Ekkehard W. & STEGEMANN Wolfgang. História Social do Protocristianismo. Os primórdios no judaísmo e as comunidades de Cristo no mundo mediterrâneo. [traduzido por Nélio Schneider]. São Leopoldo/São Paulo: Sinodal/Paulus, 2004. pp. 24.

[51]               Id., ibid., pp. 140-149. [52]               Id., ibid., pp. 42,43,58-70. [53]               MEEKS, Wayne A. Os primeiros cristãos urbanos: o mundo social do apóstolo Paulo. São Paulo: Paulinas, 1992. pp. 86-90.

[54]               FILORAMO, Giovanni; RODA, Sérgio. Cristianismo e Sociedade Antiga. São Paulo: Paulus, 1997. pp. 15.

[55]               Id., ibid., pp. 1.129-1.160. [56]               MATOS, Henrique Cristiano José. Introdução à História da Igreja (vol.1). Belo Horizonte: O Lutador, 1997. 5ª edição. pp. 32.

[57]               Id., ibid., pp. 41-45. [58]               Id., ibid., pp. 47-53. [59]               FLÁVIO JOSEFO. História dos Hebreus. Rio de Janeiro: CPAD, 1990. pp. 1.123-1.125.

[60]               VV.AA. Flávio Josefo: uma testemunha do tempo dos Apóstolos; (tradução I. F. Leal Ferreira; revisão Josué Xavier). São Paulo: Paulinas, 1986. (Documentos do mundo da Bíblia; 3) pp.  21-33.

[61]               FLÁVIO JOSEFO. História dos Hebreus. Rio de Janeiro: CPAD, 1990. pp. 1.292-1.296.

[62]               Id., ibid., pp. 1.296-1.302. [63]               Id., ibid., pp. 79,80. [64]               Id., ibid., pp. 44-46. [65]   HOORNAERT, Eduardo. O movimento de Jesus. Petrópolis: Vozes, 1994. pp. 62.

[66]               FLÁVIO JOSEFO. História dos Hebreus. Rio de Janeiro: CPAD, 1990. pp. 55-70

[67]               Id., ibid., pp. 124-131. [68]               Id., ibid., pp. 132-186. [69]               Id., ibid., pp. 235-279. [70]               Id., ibid., pp. 187-234. [71]               CLOUSE, Robert; PIERARD, Richard; YAMAUCHI, Edwin. Dois reinos: a igreja e a cultura interagindo ao longo dos séculos. São Paulo: Cultura Cristã, 2003, pp. 35-38.

[72]               Id., ibid., pp. 17-20. [73]               SANTOS, João Batista Ribeiro dos. Dicionário Bíblico. São Paulo: Editora Didática Paulista, 2006. pp. 452.

[74]               BOYER, O. S. – Pequena Enciclopédia Bíblica, Editora Vida, 1995. pp. 264.

[75]               Id., ibid., pp. 651,652. [76]               CAMARGO, Nelson José de (org.). Atlas Bíblico. São Paulo: Editora Didática Paulista, 2007. pp. 35.

[77]   HOORNAERT, Eduardo. O movimento de Jesus. Petrópolis: Vozes, 1994. pp. 47,48.

[78]   SANTOS, João Batista Ribeiro dos. Dicionário Bíblico. São Paulo: Editora Didática Paulista, 2006. pp. 209.

[79]               FLÁVIO JOSEFO. História dos Hebreus. Rio de Janeiro: CPAD, 1990. pp. 1.101-1.106.

[80]               Id., ibid., pp. 1.065-1.068. [81]               MORIN, Émile. Jesus e as Estruturas de seu Tempo. 4º ed. São Paulo: Paulinas, 1998.

[82]  STARK, Rodney. O crescimento do cristianismo. São Paulo: Paulinas, 2006. pp. 96,97.

[83]   GREEN, Michael. Evangelização na Igreja Primitiva. São Paulo: Editora Vida Nova, 2ª Ed. 1989. pp. 24.

[84]               MATOS, Henrique Cristiano José. Introdução à História da Igreja (vol.1). Belo Horizonte: O Lutador, 1997. 5ª edição. pp. 18, 31-37.

[85]               Id., ibid., pp. 35. [86]               SANTOS, João Batista Ribeiro dos. Dicionário Bíblico. São Paulo: Editora Didática Paulista, 2006. pp. 156.

[87]   MORA, José Ferrater. Dicionário de Filosofia. vol. II. São Paulo: Loyola, 2001. Pp.846.

[88]               MANZANARES, César Vidal. Dicionário de Patrística. Aparecida: Editora Santuário, 1995. pp. 112-115.

[89]   FRANGIOTTI, Roque. História das Heresias (séculos IVII). Conflitos ideológicos dentro do Cristianismo. São Paulo: Paulus, 1995. pp. 10-13.

[90]   BETTERSON, Henri. Documentos da igreja Cristã. São Paulo: ASTE/Simpósio, 1998. pp. 77-81.

[91]   GREEN, Michael. Evangelização na Igreja Primitiva. São Paulo: Editora Vida Nova, 2ª Ed. 1989. pp. 7.

[92]   http://www.veritatis.com.br/article/3653 (acesso em 13/06/2009) [93]   Carta a Diogneto. São Paulo: Vozes, 2003. [94]   PADOVESE, Luigi. Introdução à Teologia Patrística. São Paulo: Loyola, 1999. pp. 139-148.

[95]

Os anacoretas são precursores dos grupos monásticos. Embora sejam poucas as fontes que comprovam sua origem, estes grupos estiveram presentes em regiões desertas do Egito, Palestina e Ásia Menor. Suas práticas eram: isolamento quase total, abstinência sexual, prática de penitências, trabalho manual e ausência de um superior.

[96]

A palavra cenobítica vem do grego Koinós bíos que significa vida comum. Este era outro precursor do monaquismo. A cenobítica era um estilo de vida em que pessoas anacoretas se juntavam para compartilhar a busca pela santidade formando comunidades.

[97]  A busca da virtude através de práticas espirituais bem como abstinência de coisas impuras é chamada de ascese. Ascético é a pessoa que busca esta prática.

[98]   DUSSEL, Enrique. Ética comunitária. Petrópolis, RJ: Vozes, 1986, pp. 17.

[99]    DUSSEL, Enrique. Ética comunitária. Petrópolis, RJ: Vozes, 1986, pp. 20.

[100]  Id., Ibid. pp. 198-201. [101]  Id., Ibid. pp. 72,73. [102]   HOORNAERT, Eduardo. O movimento de Jesus. Petrópolis: Vozes, 1994. pp.  90,91.

[103]   Id., Ibid. pp.  94-96. [104] GONZALEZ, Justo L.; A Era dos Mártires, 3ª ed. São Paulo, Edições Vida Nova 1986, Uma história ilustrada do Cristianismo, vol.1.

[105] BETTERSON, Henri. Documentos da igreja Cristã. São Paulo: ASTE/Simpósio, 1998. As Atas de Lião. pp. 40-43.

[106] LESBAUPIN, Ivo. A bem-aventurança da perseguição: a vida dos cristãos no Império Romano. Petrópolis: Vozes, 1975. pp. 25.

[107]  HOORNAERT, Eduardo. O movimento de Jesus. Petrópolis: Vozes, 1994. pp. 109.

[108]  GONZALEZ, Justo L.; A Era dos Mártires, 3ª ed. São Paulo: Edições Vida Nova 1986. Uma história ilustrada do Cristianismo, vol.1.

[109]  MANZANARES, César Vidal. Dicionário de Patrística. Aparecida: Editora Santuário, 1995. pp. 137-139.

[110] Id., ibid., pp. 194,195. [111] CESARÉIA, Eusébio de.

História Eclesiástica. Tradução Wolfgang Fischer. São Paulo: Fonte Editorial, 2005. pp. 50,51.

[112] 

BRANICK, Vincent. A igreja doméstica nos escritos de Paulo. Trad. Gilson Marcon de Souza. São Paulo: Paulus, 1994. pp. 11-17.

[113]   GONÇALVES, Ubirajara. A Igreja Doméstica a Partir da Lumen Gentium. Dissertação de mestrado em Teologia na Pontifícia Faculdade de Teologia Nossa Senhora da Assunção. São Paulo: 2008. pp. 46,47.

[114]   JEFFERS, James S. Conflito em Roma: ordem social e hierarquia no cristianismo primitivo, São Paulo: Loyola, 1995. pp. 91-121.

[115]   Id., Ibid. pp. 20-26,57-71,90-121 [116]   STARK, Rodney. O crescimento do cristianismo. São Paulo: Paulinas, 2006. pp. 212-225.

[117]   NOGUEIRA, Paulo Augusto de Souza. Experiência religiosa e crítica social no cristianismo primitivo. São Paulo, Paulinas, 2003. Coleção Religião e Cultura. pp. 125.

[118]   GREEN, Michael. Evangelização na Igreja Primitiva. São Paulo: Editora Vida Nova, 2ª Ed. 1989. pp. 207-218.

[119]   CROSSAN, J. D. O nascimento do cristianismo: O que aconteceu nos anos que se seguiram à execução de Jesus. São Paulo: Paulinas, 2004, pp. 401-419.

[120] BERNARDINO, Ângelo Di. Dicionário patrístico e de antiguidades cristãs [tradução por Cristina Andrade]. Petrópolis: Vozes, 2002. pp. 549.

[121]  SHENK, David W., e STUTZMAN, Ervin R. Criando comunidades do reino. Modelos neotestamentários da implantação de igrejas. Trad. de Castilho, Rubens. Campinas: Cristã Unida, 1995. pp. 43-45.

[122]  Cabeça-de-ponte é um termo do exército para denominar os locais específicos onde fica o exército para ter fácil acesso aos  lugares de combate.

[123]  Sobre os ‘tementes a Deus’ veja na página 22 com notas de rodapé. [124]  SHENK, David W., e STUTZMAN, Ervin R. Criando comunidades do reino. Modelos neotestamentários da implantação de igrejas. Trad. de Castilho, Rubens. Campinas: Cristã Unida, 1995. pp. 44.

[125]   HOORNAERT, Eduardo. O movimento de Jesus. Petrópolis: Vozes, 1994. pp. 105-110.

[126]   HOORNAERT, Eduardo. O movimento de Jesus. Petrópolis: Vozes, 1994. pp. 111-120.

[127]   Id., Ibid. pp. 121-127. [128]  Id., Ibid. pp. 128-134. [129]   HOORNAERT, Eduardo. O movimento de Jesus. Petrópolis: Vozes, 1994. pp. 109.

[130]   STARK, Rodney. O crescimento do cristianismo. São Paulo: Paulinas, 2006. pp. 147-154.

[131]   GREEN, Michael. Evangelização na Igreja Primitiva. São Paulo: Editora Vida Nova, 2ª Ed. 1989. pp. 239-269.

[132]   Id., Ibid. pp. 315-317. [133]   Id., Ibid. pp. 317-322. [134]   Id., Ibid. pp. 290-296. [135]  Id., Ibid. pp. 296-301. [136]   Id., Ibid. pp. 301-309. [137]   Id., Ibid. pp. 322-326. [138]   A Didaqué ou O ensino do Senhor através dos doze apóstolos. Tradução de José Gonçalves Salvador. São Paulo: Imprensa Metodista, 1980. Coleção Padres Apostólicos, vol. II.

[139]   HOORNAERT, Eduardo. O movimento de Jesus. Petrópolis: Vozes, 1994. pp. 123,124.

[140]   MANZANARES, Cezar Vidal. Dicionário de Patrística. Aparecida: Santuário, 1995.

[141]   A Didaqué, ou Doutrina dos Doze Apóstolos é um livro utilizado para catequizar os novos convertidos, com as doutrinas e costumes da Igreja Primitiva.

[142]               CLINIBELL, Howard J. Aconselhamento Pastoral: modelo centrado em libertação e crescimento; tradução de Walter O. Schlupp e Luís Marcos Sander. São Leopoldo: Sinodal, 1987.

[143]  PADOVESE, Luigi. Introdução à Teologia Patrística. São Paulo: Loyola, 1999, pp. 185-187.

[144]  Id., ibid., pp. 100,101. [145]  MANZANARES, Cezar Vidal. Dicionário de Patrística. Aparecida: Santuário, 1995.pp. 125.

[146]  BENOIT, André. A Atualidade dos Pais da Igreja. Tradução de Dirson Giênio Vergarra dos Santos. São Paulo: ASTE, 1966. Capítulo primeiro: O Recurso aos Pais. pp. 11-34.

[147]  PADOVESE, Luigi. Introdução à Teologia Patrística. São Paulo: Loyola, 1999, pp. 17-41. Capítulo I: Nascimento e Desenvolvimento da Disciplina Patrística.

[148]  HALL, Christopher A. Lendo as Escrituras com os Pais da igreja. Viçosa: ULTIMATO, 2002. Capítulo Terceiro: Quem são os Pais. pp. 45-57.

[149] Heterodoxia é variedade de doutrinas ou as diferenças de princípios doutrinários que não seguem os dogmas da Igreja.

[150]  MANZANARES, Cezar Vidal. Dicionário de Patrística. Aparecida: Santuário, 1995. pp. 72,73.

[151]  Id., ibid., pp. 124,125. [152]  Id., ibid., pp. 170,171. [153]  Id., ibid., pp. 50,51. [154]  Id., ibid., pp. 170. [155]  Id., ibid., pp. 178,179. [156]  Sobre o Docetismo veja mais adiante na página 42. [157]  MANZANARES, Cezar Vidal. Dicionário de Patrística. Aparecida: Santuário, 1995. pp. 184,185.

[158]  Id., Ibid., 1995. pp. 38. [159]  MANZANARES, Cezar Vidal. Dicionário de Patrística. Aparecida: Santuário, 1995. 137-139.

[160]  Id., Ibid., pp. 194,195. [161]  Id., Ibid., pp. 46. [162]  Diogo Pereira da Silva. De Vera Sapientia Et Religione: Uma Análise dos Fundamentos do Pensamento de Lactâncio. Revista Gaîa. Laboratório de História Antiga / UFRJ. Ano V – 2008. Coordenador: Prof. Dr. André Leonardo Chevitarese. Rio de Janeiro: LHIA, 2008. pp. 112-117.

[163]  MANZANARES, Cezar Vidal. Dicionário de Patrística. Aparecida: Santuário, 1995. pp. 153.

[164]  Id., Ibid., pp. 120. [165]  Id., Ibid., pp. 198-200. [166] HALL, Christopher A. Lendo as Escrituras com os Pais da Igreja. Viçosa: ULTIMATO, 2002. pp. 46-51

[167]  O conceito de que somente o homem é imagem de Deus e por isso o sacerdócio só pode ser exercido por  homens, chamados Pais ou Padres da Igreja, pode ser chamado de Patriarcado Eclesiástico. SANTINON, Ivenise Teresinha Gonzaga. As relações de poder nas pastorais do catolicismo romano pós-Concílio Vaticano II. Um estudo de gênero a partir do trabalho das mulheres na Arquidiocese de Porto Velho-RO. São Bernardo do Campo, Tese de Doutorado em Ciências da Religião, Programa de Pós-Graduação em Ciências da Religião, Faculdade de Filosofia e Ciências da Religião da Universidade Metodista de São Paulo. 2009. pp. 141.

[168]  HALL, Christopher A. Lendo as Escrituras com os Pais da igreja. Viçosa: ULTIMATO, 2002. Capítulo Terceiro: Quem são os Pais. pp. 45-57.

[169]  PADOVESE, Luigi. Introdução à Teologia Patrística. São Paulo: Loyola, 1999, pp. 45-59. Capítulo II: Os Padres e a Cristologia.

[170]  FRANGIOTTI, Roque. História das Heresias (séculos IVII). Conflitos ideológicos dentro do Cristianismo. São Paulo: Paulus, 1995. pp. 17.

[171]  MANZANARES, César Vidal. Dicionário de Patrística. Aparecida: Editora Santuário, 1995. pp.  11.

[172]  Id., Ibid. pp. 86,87. [173]  FRANGIOTTI, Roque. História das Heresias (séculos IVII). Conflitos ideológicos dentro do Cristianismo. São Paulo: Paulus, 1995. pp. 19,20.

[174] CESARÉIA, Eusébio de. História Eclesiástica. Tradução Wolfgang Fischer. São Paulo: Fonte Editorial, 2005. pp. 100,101.

[175]  MANZANARES, César Vidal. Dicionário de Patrística. Aparecida: Editora Santuário, 1995. pp. 149-150.

[176]  Ibid. pp. 112-115. [177]  PADOVESE, Luigi. Introdução à Teologia Patrística. São Paulo: Loyola, 1999. pp.  64-66.

[178]  PADOVESE, Luigi. Introdução à Teologia Patrística. São Paulo: Loyola, 1999. pp. 47.

[179] MANZANARES, César Vidal. Dicionário de Patrística. Aparecida: Editora Santuário, 1995. pp. 124-126.

[180]  MANZANARES, Cezar Vidal. Dicionário de Patrística. Aparecida: Santuário, 1995. pp. 153.

[181]  Id., Ibid. pp. 127,128. [182] Id., ibid., pp. 70-72. [183] Id., ibid., pp. 198-201. [184]  Id., Ibid., pp. 162-166. [185]  LESBAUPIN, Ivo. A bem-aventurança da perseguição: a vida dos cristãos no Império Romano. Petrópolis: Vozes, 1975. pp. 11..

[186]  FAUS, J. Ignácio González. “Nenhum bispo imposto” (S. Celestino, papa). As eleições episcopais na história da Igreja. São paulo: Paulus, 1996.

[187]  O estoicismo foi uma escola filosófica que se caracterizou essencialmente pela consideração do problema moral. Pregava a impassibilidade em face da dor ou da adversidade.

[188]  A Didaqué ou O ensino do Senhor através dos doze apóstolos. Tradução de José Gonçalves Salvador. São Paulo: Imprensa Metodista, 1980. Coleção Padres Apostólicos, vol. II. pp. 75

[189]  MANZANARES, César Vidal. Dicionário de Patrística. Aparecida: Editora Santuário, 1995. pp. 170-171.

[190]  http://www.veritatis.com.br/article/628 [191]  Sobre a vida dos Pais veja nas páginas 29-31. [192] ALTANER, Berthold & STUIBER, Alfred. Patrologia. Vida, Obras e Doutrina dos padres da igreja. São Paulo: Paulinas, 1988.

[193]  MANZANARES, Cezar Vidal. Dicionário de Patrística. Aparecida: Santuário, 1995. pp. 72,73.

[194]  Id., Ibid., pp. 124,125.

[195]  Id., Ibid., pp. 170,171. [196]  Id., Ibid., pp. 50,51. [197]  CESARÉIA, Eusébio de. História Eclesiástica. Tradução Wolfgang Fischer. São Paulo: Fonte Editorial, 2005. pp. 111.

[198]  MANZANARES, Cezar Vidal. Dicionário de Patrística. Aparecida: Santuário, 1995. pp. 178,179.

[199]  Id., Ibid., pp. 184,185. [200]  Id., Ibid., pp. 38. [201]  MANZANARES, Cezar Vidal. Dicionário de Patrística. Aparecida: Santuário, 1995. pp. 137-139.

[202]  Id., Ibid., pp. 194,195. [203]  Id., Ibid., pp. 46. [204]  Diogo Pereira da Silva. De Vera Sapientia Et Religione: Uma Análise dos Fundamentos do Pensamento de Lactâncio. Revista Gaîa. Laboratório de História Antiga / UFRJ. Ano V – 2008. Coordenador: Prof. Dr. André Leonardo Chevitarese. Rio de Janeiro: LHIA, 2008. pp. 112-117.

[205]  MANZANARES, Cezar Vidal. Dicionário de Patrística. Aparecida: Santuário, 1995. pp. 153.

[206]  Id., Ibid., pp. 120. [207]  Id., Ibid., pp. 198-200. [208] ©Encyclopaedia Britannica do Brasil Publicações Ltda, 1998. [209] WALTON, Robert C. História da Igreja em Quadros. São Paulo: Editora Vida, 2000. Quadros 3,4, 5 e 6.

[210] FIGUEIREDO, Dom Fernando Antônio. Curso de Teologia Patrística III. Petrópolis: Vozes, 1990. pp. 14.
a evangelização na Igreja Primitiva

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