Lara Adrian - Noite Efemera

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Noite Efêmera Escrito por

Lara Adrian Traduzido e Revisado do Inglês Envio do arquivo: Cleusa Revisão Inicial: Cleusa Revisão Final: Elen Mariano Formatação: Cleusa Imagem: Elica Talionis

Nesta história de fantasia pós-apocalíptica urbana, um romance curto, onde uma mercenária durona, sem coração conhecida como Nisha, é contratada para transportar uma carga misteriosa da exótica Nova Ásia para um bem remunerado cliente. Mas as coisas nunca são o que parecem, em um mundo novo escuro que agora é povoado por humanos e Stranges: metamorfos e telepatas, ninfas e duendes. É uma lição que Nisha aprende muito cedo — uma que a coloca em uma viagem com um homem perigoso, enigmático que vai obrigá-la a enfrentar os pesadelos de seu passado e arriscar seu coração para um futuro que nunca sonhou pode ser dela. Comentário da revisora Cleusa: é uma história curtinha num cenário de fantasia paranormal. Uma heroína forte e capaz de sua obrigação, como era um herói formidável, enigmático. De origem misteriosa e traços ocultos que fizeram dele algo mais que humano. Comentário da revisora Elen Mariano: “Se exponha aos seus medos mais profundos, depois disso, o medo não terá poder nenhum.” Jim Morrison.

Capítulo 1 Pessoas são estranhas[1] Um filósofo do século XX uma vez disse isso, ou pelo menos foi o que me contaram. Enquanto eu dirigia o meu caminhão através da chuva e lama para as docas em Port Phoenix, não pude deixar de pensar como essa observação era adequada. Especialmente agora, cerca de trezentos anos depois que a Terra tremeu sobre seu eixo em 2066 e trouxe todo o tipo de mudanças ao mundo que a humanidade uma vez conheceu. As águas transbordaram em muitos lugares, desapareceram em outros. Massas de terra se moveram, deslocadas por terremotos e erupções vulcânicas, ou soterradas por deslizamentos de terra de vários metros de profundidade. Cidades, outrora grandes desapareceram, a tecnologia e infraestrutura varridas durante a noite. Reinos e governos, corporações e instituições ficaram todos impotentes diante da repentina e irreparável queda financeira global. Os sobreviventes das mudanças do planeta, — uma população estimada em apenas dezenas de milhões de pessoas — fugiu através das fronteiras que já não existiam para reconstruir suas vidas e formar novas comunidades. E, depois de alguns longos milênios se escondendo, vivendo na segurança das sombras, um pequeno número de outros sobreviventes surgiu do pó e escombros deste novo mundo alterado. Eles são os Strange. Metamorfos e telepatas, ninfas e duendes. Malditas aberrações da natureza, pensei comigo mesma quando rodei até parar no estaleiro da entrada e olhei pela janela do caminhão caixa para um par de gárgulas cinzentos de cócoras no topo das altas colunas do portão. Olhei por um longo tempo, apenas para que eles soubessem que não tenho medo deles. O desprezo entre o Strange e eu é bem conhecido e definitivamente mútuo. Quando baixei o vidro, uma das criaturas horrendas empoleiradas acima zombou baixo para mim através da garoa e da noite escura do frio verão. —Nisha, a mercenária, — ele sussurrou, obviamente me reconhecendo quando eu estendi a mão e puxei a corda de um sino de cobre, então esperei que o guarda de plantão viesse e me deixasse entrar. Acima de mim, a pequena besta agachada, baixando a voz para um sussurro grave. — Nisha, a puta de sangue-frio. Divertido, o outro gárgula deu risadinha e moveu-se em seus pés com garras, sacudindo as pesadas algemas de ferro que garantiam que ele e seu companheiro permanecessem em seus postos. Mesmo se não estivessem algemados no lugar, estes duas bestas Strange não podiam me tocar e eles sabiam disso. Prejudicar um ser humano era punido com a morte. Mas eles podiam me odiar. Eles podiam desprezar que fiz a minha vida como uma mercenária, embora sempre preferisse pensar em mim como uma facilitadora. De um modo geral e pelo preço certo sou uma solucionadora de problemas. Quando algo precisava ser feito rapidamente e em silêncio, sem perguntas, as pessoas com o dinheiro e os meios geralmente veem a mim para que isso aconteça. O trabalho desta noite não era diferente. Fui contratada para pegar e transportar um carregamento de carga para alguém que preferiu manter seu negócio confidencial no estaleiro do decadente Porto Phoenix. Não que qualquer um dos humanos miseráveis trabalhando no quintal, ou até mesmo o mais humilde Strange escravizado para trabalhar desse a mínima para o que estava indo ou vindo dos cargueiros de abastecimento que chegavam de todas as partes do mundo. Ainda assim, o meu cliente tinha suas razões, supunha, o que era bom o suficiente para mim. Não precisava saber quem ele era ou o que estava transportando. Tudo o que importava eram os dois cortes de diamante bruto, atualmente escondidos no forro de pele da minha bota e os três que me seriam dados depois de entregar a carga desta noite ao seu destino. O grande guarda humano saiu apressado de seu barraco perto do portão, com um rifle preto de longo alcance pendurado no coldre de couro em seu ombro largo. Apoiei-me e ele me olhou através das barras de ferro enferrujadas, o reconhecimento veio com o levantar de sua sobrancelha por cima da pequena viseira, olhos ávidos que fizeram minha pele arrepiar. — De volta tão cedo, hein, Nisha? — Ele resmungou, olhando de soslaio agora. — Você é uma mulher muito exigida nesses dias. Não que eu esteja reclamando sobre isso, é claro. Eu lhe dei um sorriso que um homem inteligente poderia reconhecer como ódio. — O que posso dizer? O negócio está crescendo. Ele sorriu quando abriu o portão e me deixou conduzir. — Qual é o ancoradouro esta noite? —3-Leste, — disse da janela aberta, a informação indicando as docas de cargas que chegavam da Nova Ásia. Quando o guarda pulou para o estribo do caminhão ao meu lado, dei a ele uma olhada monótona. — Eu sei o caminho. Ele desceu com uma carranca. — Esse cargueiro só chegou há cerca de uma hora. Ainda estão descarregando. Pode demorar um pouco antes que esteja pronto, então se você precisar sair do frio pode subir e vou deixar você sentar-se comigo na casa de guarda. Acenei sem olhar para trás. A chuva gelada estava se tornando granizo, caindo no para-brisa em seixos pequenos. Puxei mais fundo o capuz do meu casaco, dirigi para o porto de águas profundas que há muito tempo era terras desérticas e cidades com arranha-céus — antes que as mudanças no planeta rompessem um enorme abismo de água salgada entre a ilha de

MexiTexas e as encolhidas fronteiras costeiras da América do Norte. Conforme me aproximava do enorme navio atracado no ancoradouro marcado 3L, o cheiro de água salgada e aço e arrotos da fumaça de escape soprou na janela aberta, agarrando-se à minha garganta e ardendo em meus olhos. Desacelerei e fiz uma parada perto da rampa de carregamento, onde quatro grandes, duendes presos estavam carregando uma caixa coberta de lona do navio até o cais. Eles tremiam no mau tempo, suas roupas encharcadas, longas barbas trançadas gotejavam água a cada passo desajeitado. Os burros de carga Strange, os duendes eram constituídos como tanques e capazes de trabalho incansáveis em todos os tipos de climas. Estes quatros caminharam cautelosamente com o recipiente retangular grande — quase com reverência — um deles em cada canto, tomando muito cuidado com ele. Um supervisor humano esperava no fim da rampa, monitorando estreitamente seu progresso. —Tenham cuidado com isso, vocês torrões sem cérebro, — ele latiu. — Um deslize e terei suas costas sangrando! Saí do meu caminhão e fui até o chefe da doca. — Pego o meu agora? Ele resmungou em reconhecimento e passou as costas da mão suja escorrendo sob seu nariz. Com essa mesma mão, então, estendeu para mim, a palma para cima. — Vou ter o meu pagamento agora, Nisha. Cavei no bolso do meu casaco, retirei um chip de pedra rosa nublado e deixei cair na palma esperando. — Aqui está. Um quarto de quilate em rubi bruto, como sempre. Seus dedos gananciosos fecharam em torno da pedra insignificante que representava uma fortuna para ele. A pequena pedra desapareceu um instante depois e não segui a mão para ver onde ele colocou. — O que quer esteja nesta coisa, deixou os meus trabalhadores assustados, — ele me disse, olhando através do granizo para o recipiente que se aproximava do fim da rampa. — O que diabos você está pegando esta noite? —Não sei, e não me importo, — eu disse. — Não sou paga para saber. Ele zombou. — Não, eu acho que não. A maioria das pessoas diz que você venderia sua própria mãe, se fosse o preço certo. —Cruel, — respondi totalmente imperturbável. O insulto era baseado em minha reputação, mais do que em fatos. O que para mim, serviu muito bem. Quanto à minha mãe... Era mais difícil permanecer inalterada ao pensar nela. Foi morta anos atrás, quando eu era apenas uma menina. O pesadelo do dia ainda me assombra, às vezes, mesmo quando estou acordada. Sua morte assombrou o meu pai também, até que seu desgosto finalmente o levou. O chefe da doca não disse mais nada, apenas assistiu comigo quando os duendes cuidadosamente trouxeram a caixa para fora da rampa e a colocaram à nossa frente. O conteúdo se mexeu um pouco quando a caixa repousou sobre o solo, algo de metal batendo tranquilamente de dentro. O que estava lá dentro devia ser pesado — para não mencionar valioso, uma vez que estava protegido contra os elementos da natureza com uma enorme folha de plástico raro e extremamente caro. Armas, imaginei, transportei um quinhão de munições na minha linha de trabalho. Subi no canto da caixa para verificar as ligações sobre a lona plástica. Embora elas parecessem seguras, queria ter certeza antes que dissesse ok para os duendes carregarem o recipiente na traseira do meu caminhão. Quando cheguei para testar as cordas, algo rosnou e começou a se mover dentro da caixa. Algo grande. Algo contido pelo que pareciam ser correntes pesadas e grilhões, mas algo muito vivo.

Capítulo 2 Algumas horas depois, estava sentada em cima de um barril vazio de grãos na parte de trás do meu caminhão, comendo uma lata de farinha de soja hidratada no jantar enquanto esperava as pessoas do meu cliente para ir ao entreposto privado onde estava estacionada e me aliviar de minha mais nova carga. Tinha que admitir, ao menos para mim, estava ansiosa para me livrar dela. Nunca transportei algo vivo antes, e, apesar da minha vontade de transportar todos os tipos de outras coisas, sem pestanejar, de repente estava me perguntando se os três diamantes esperando no final deste trabalho eram pagamento suficiente para o que estava carregando. Mais do que isso, me perguntava sobre o conteúdo do recipiente que estava a poucos passos de distância de mim no caminhão. Especulando sobre o que foi arrastado lá para dentro e o que o meu cliente poderia eventualmente querer com isso. Peguei as instruções que o chefe da doca me entregou antes que deixasse o Porto Phoenix. Elas foram escritas em um pequeno quadrado de pele seca de animais que foi colocada no recipiente a partir do seu ponto de origem. Eu já lera as instruções, três ordens sucintas, escrita por uma mão ousada: Manter o caixote e conteúdo secos todos os momentos. Não insira qualquer coisa no engradado. Não abra em hipótese alguma. Peguei a minha vasilha vazia de soja e pulei do barril. De onde estava vi que havia pequenas lágrimas aqui e ali na lona plástica. Eu sabia que o que estava dentro da caixa grande estava me olhando o tempo todo quando estava na parte de trás do caminhão com ele. Eu senti os olhos em mim, astutos, olhos predatórios. Agora, enquanto andava mais perto do caixote coberto, os pelos finos no minha nuca arrepiaram em advertência. — Dizem que você é mais fria do que o gelo. — A voz profunda masculina e culta soou por trás do plástico dissimulado e da prisão de madeira — Ninguém nunca mencionou que também era muito bonita. Tão sombria e sedutora como a noite em si... Nisha, Sem Coração. Não disse nada no começo. O choque roubou minha respiração e fiquei lá por um longo momento, muda e imóvel. Não esperava ouvir minha carga falar comigo, muito menos que soubesse o meu nome. Ah, achava que era algum tipo de animal na caixa, mesmo agora, sabia que era algum tipo de Strange, mais do que provável, mas o tom suave e elegante na voz me pegou completamente de surpresa. — O que é você? — Chegue mais perto e veja por si mesma. Não tenho nenhum desejo de prejudicá-la, mesmo se eu fosse capaz. Eu bufei claramente desperta do meu estupor por esse convite traiçoeiro. — A única maneira de chegar mais perto de um Strange é para colocar uma pistola contra sua cabeça. —Ah, sim, — disse ele, exalando um suspiro. Correntes soaram e palha farfalhou quando ele se moveu em sua prisão apertada. — Como você ama suas armas, Nisha. Particularmente quando são usadas contra os da minha espécie. Muitos morreram por causa das armas que você coloca nas mãos de homens maus. — Eu faço o que for preciso para sobreviver, — disse sem saber por que senti a necessidade de me defender diante dele. — Estou no negócio de oferta e demanda, isso é tudo. Meus clientes me pagam para entregar coisas que querem. O que fazem com essas coisas não é a minha preocupação. —Hum. — Ele mudou de posição dentro da caixa outra vez, e eu ainda podia sentir aquele olhar avaliador sobre mim. — Então, está dizendo que poderia facilmente vender suas armas de guerra a mim — um Strange— Se eu precisasse e tivesse e os meios para cobrir o seu preço. Eu não o faria, e nós dois sabíamos disso. Olhei para o caixote coberto. — Não preciso justificar o que faço muito menos a alguém como você. Ele soltou um suspiro pesado. — Não, você não precisa. E foi inútil até mesmo perguntar isso. Meu tipo não tem nenhum desejo de travar uma guerra contra o homem. Nós nunca fizemos. —Nunca ganhariam de qualquer maneira, — apontei categoricamente. — Vocês estão em número muito pequeno para isso e muitos de vocês estão escravizados, além disso. Guerras tomam mais do que as armas, você sabe. Tem que ter visão e determinação. Tem que ter líderes e isso é algo que a sua espécie não tem. Se os Strange fossem lutar, deveriam ter feito isso há muito tempo. — Sim. Você está certa, Nisha. — Eu ouvi pesar em sua voz agora e disse a mim mesma que não tinha razão para me sentir culpada por isso. — Mas há aqueles entre a minha espécie que acreditam que, com o tempo, haverá paz. Exalei uma risada sem humor. — É por isso que você está sentado em um caixote com grilhões, prestes a ser embarcado para quem sabe onde e com que finalidade. — Eu sei que está à frente para mim, — respondeu ele, a voz aveludada, profunda, tão calma quanto ouvi até agora. — Não serei escravizado. Não é por isso que me pegaram. Minha captura terá apenas um resultado. — Morte, — sussurrei, ignorando a pontada no peito. Queria ver seu rosto nesse momento — sendo ou não um Strange

medonho — para determinar se o pensamento de morrer o assustava ainda que um pouco. Não parecia assustado, e mantive minha posição, cerrando minhas mãos ao longo do corpo, ao invés de estendê-las para mover a lona que o escondia. — Você sabe que será morto. —Eventualmente, sim, — disse ele, sem um traço de medo ou tristeza. — Sinto que minha morte pode servir a um propósito maior. Eu balancei a cabeça, sem saber se ele podia me ver ou não. Por alguma razão, apesar de tudo o que sabia e sentia sobre sua espécie, a sua aceitação me incomodou. Mais do que me incomodou, me irritou. — Você está apenas desistindo. Não tente fingir que tem alguma coisa a ver com a honra. — Às vezes, Nisha Sem Coração, há um bem maior a ser adquirido para morrer do que há em viver. Para mim, certamente. Vou para o meu destino de bom grado. Soltei uma risada aguda. — Bem, então, acho que faz com que seja muito corajoso, ou muito estúpido. Eu me lembrei de que ele não era o meu problema. Seu destino, — se acolhido de braços abertos ou não — com certeza não era a minha preocupação. Fui até lá e peguei a minha vasilha vazia de soja, meus movimentos apertados com o agravamento. — Eu já tive bastante conversa instigante para uma noite, —disse a ele, mais do que pronta para ficar longe dele e passar o resto da espera na frente da cabine sozinha. — Descanse. Seu outro passeio será em breve. Pulei para fora da parte de trás do caminhão e fechei as portas, selando ele dentro.

Capítulo 3 Adormeci na cabine. O sonho me acordou como sempre faz. Não os pesadelos violentos que tinha desde a morte de meus pais, mas o que começou logo depois e me visitou mais vezes do que gostava. Desta vez, tudo parecia mais vivo tão real, que senti como se pudesse varrer com a minha mão diante de mim e tocá-lo. O céu ensolarado. Oceano azul reluzente. E eu, voando alto acima de tudo, correndo e deslizando sobre um vento suave em direção a um horizonte infinito. Acordei sobressaltada trêmula e ofegante. Era uma reação habitual. Apenas o pensamento de voar me aterrorizava. O ato em si não era natural, se alcançado nos trovejantes, agora obsoletas, máquinas de metal das décadas passadas, ou praticada por aqueles Strange mais raros que não necessitavam de nenhuma invenção do homem para voar. Voar era não era algo que já fiz ou alguma vez quisesse fazer. Desesperada para purgar as sensações perturbadoras, me empurrei no banco do motorista e procurei o relógio de pulso que ficava preso ao volante. Era do tipo antigo de corda, os únicos dispositivos que ainda funcionavam sem manutenção na era pós-tecnologia. Verifiquei as mãos enluvadas sobre o sorriso do rato preto-e-branco[2]. — Merda. — Adormeci por mais de duas horas. O caminhão estava quieto. Nenhum movimento no armazém e nenhum sinal de meu cliente que vinha para pegar a estranha carga de minhas mãos. —Quanto tempo antes que possa pegar meu pagamento e sair daqui? — Eu resmunguei, saindo do meu caminhão para ir ver as coisas ao redor. Ouvi o som áspero, seco de falta de ar assim que abri as portas. —Você está bem?— Perguntei entrando e pisando cautelosamente em direção à caixa coberta. Não houve resposta, apenas uma rodada adicional de tosse e um chiado de terrível sonoridade. — Está machucado? Percebi que nem mesmo sabia o nome dele, não que eu precisasse. Nem eu precisava correr para o cantil e pegar a água quando ele começou a arquejar asfixiado, mas isso foi exatamente o que eu fiz. Disse a mim mesma que era apenas razoável para me certificar que o Senhor Honra-E-Bem-Maio permanecesse vivo o tempo suficiente para o meu cliente matá-lo, já que foi o que ele alegou que tanto queria. Voltei e saltei para a traseira do caminhão. Ele estava ofegante agora, sugando o ar, cada respiração soava mortalmente seca. Com o cantil em uma mão corri para o caixa e puxei um canto da lona. — Tenho água. Você precisa de... Minha voz fugiu quando levantei o plástico da frente do recipiente de madeira. Um olhar dourado me olhou por uma fresta entre as tábuas pregadas da caixa. Ele me assustou, penetrante e intensamente, enviou um calor, rápida espontaneamente no núcleo do meu ser. Tão rapidamente, os olhos dourados estavam fechados quando ele se virou de volta para a escuridão de sua cela e seu chiado cresceu mais violento. — Fique longe, — ele rosnou das sombras. Sua garganta rosnava com cada sílaba, soando tão seca como cinzas. — Deixem-me. Isso vai passar. Murmurei uma maldição baixa sob a minha respiração, sabendo que ele estava muito pior do que ele queria que eu achasse. Eu fui ate a caixa, retirei a lona. As poucas lacunas que separavam as pranchas de madeira estavam tão apertadas nem mesmo o meu dedo mindinho seria capaz de deslizar através de delas. De jeito nenhum eu poderia conseguir que o cantil chegasse até ele sem quebrar a caixa. E que estava fora de questão. — Espere, — eu disse. — Eu tenho uma ideia. Atirando a correia do cantil de cima do meu ombro, eu lancei para o lado da caixa e subiu para o topo da mesma. Trouxe o cantil e tirei a rolha. Abaixo mim, os olhos brilhantes citrinos seguiam todos os meu movimento pelas fraturas estreitas na madeira. Cada terminação nervosa do meu corpo formigava, me avisando que algo estranho e poderoso espreitava logo abaixo do lugar onde eu estava sentada. — Aproxime-se, traga sua boca até aqui, — eu disse a ele, mais um comando do uma solicitação. — Pare de ser nobre e tome a bebida. —Nisha. — Meu nome era apenas um sussurro nas sombras abaixo. — Você conhece as regras. Engoli em seco, recordando muito bem as instruções que me foram dadas para este trabalho. Instruções que toda a lógica e minha experiência diziam para seguir. Mas, então, ele tossiu novamente, um desfibramento profundo alçado de seus pulmões e nem a lógica nem a experiência me prepararam para a preocupação que tinha com ele nesse momento. Inclinei-me e trouxe a boca do cantil aberto para a maior lacuna no topo da caixa. — Beba. Pensei que ele fosse recusar de novo, mas depois ouvi o movimento, o senti se aproximar mais para onde eu esperava. Seus olhos presos nos meus. Eu senti uma onda quente do sopro de sua respiração através da fenda e o toque na minha mão. Dentes brancos brilharam quando ele entreabriu os lábios perto da fenda na madeira e esperou por mim para derramar a água na boca.

Dei-lhe apenas um gole, não querendo apressar antes que ele estivesse pronto. Seus lábios fecharam em um rugido profundo que vibrou através da grade e em meus ossos. E então se tornou o rugido mais alto. A grade retumbou debaixo de mim, tremendo e sacudindo. Pulei fora bem a tempo de assistir a coisa toda explodir diante de mim, pranchas de madeira fragmentando em todas as direções, ficando nada mais do que palitos. O espécime Strange dentro do recipiente explodiu para fora da grade destruída em um borrão brilhante, iridescentes escalas azul-e-preto e imensas, garra nas pontas de asas. A cabeça grande de dragão se virou para mim, enorme boca escancarada, os olhos dourados, olhar muito mais feroz na luz da minha plataforma do que foram nos limites escuros da caixa. Aterrorizada, pulei para trás, em seguida, empurrei meus pés e procurei a pistola no coldre no meu cinto. Mãos tremendo, preparei para uma rodada e levantei a arma na minha frente para mirar sobre a besta. Ele se foi agora. Em seu lugar havia um homem. Um Metamorfo. Totalmente nu e impressionantemente bonito. Era alto e musculoso, sua pele quente, bronzeada beijada pelo sol. Cabelo negro-azulado caía abaixo em torno de seus ombros em ondas grossas, brilhantes. Olhos ternos, citrinos pareciam enxergar através de mim quando ele caminhou para frente, sem se deter pela arma que eu segurava diretamente em linha com a cabeça. — Pare ou eu atiro, — eu avisei. — Não pense que não vou te matar. Ele deu uma sacudida leve de cabeça e continuou a avançar, ritmos fáceis que devoraram a distância entre nós. Não disparei nele e suponho que ele adivinhou que não faria. Com suave força, ele levou a mão e passou os dedos em torno do cano da minha arma, lentamente a baixou ao meu lado. —Você me enganou, — murmurei, perguntando por que deveria me sentir picada por isso. —Não, — ele respondeu, com a voz tão macia quanto tinha ouvido a noite toda. — Meus captores negaram me dar água e eu estava morrendo de sede. Você me salvou. Você... surpreendeu-me. Foi há muito tempo desde que fui surpreendido pela bondade, particularmente em um ser humano. Ele sorriu e acariciou minha bochecha. Quando eu virei o rosto, envergonhada do prazer que correu através de mim com apenas o seu agradecimento e leve toque. Pegou meu queixo e gentilmente me chamou a olhar para ele. — Eu acho que, Nisha Sem Coração, que apesar do que você leva os outros a acreditarem, você é, na verdade, muito gentil. Suas mãos eram quentes e firmes quando embalou meu rosto e me trouxe para ele. Beijou-me, um roçar doce e terno de seus lábios em toda minha boca. Todos os meus sentidos despertaram para ele como se tivessem passado fome por isso, — o beijo de um Strange— toda a minha vida. Poderia beijá-lo a noite toda. Talvez eu beijasse se não fosse o barulho repentino de um veículo se aproximando fora do armazém. —Meu cliente,— eu consegui ofegar quando me afastei do Metamorfo que era esperado que eu entregasse aos seus pretensos assassinos naquele momento. Ouvi o barulho de cascalho, o guincho agudo de freios... O duro tum-tum de duas portas do veículo se fechando. — Eles estão vindo para você. Ele acenou com a cabeça solenemente e se afastou de mim. Voltou para os restos despedaçados da caixa de carga e os grilhões quebrados que tinha caído durante a sua mudança. Ele não ia lutar contra os homens que vinham para ele agora. Não ia me ameaçar ou tentar negociar sua liberdade. Era nobre e orgulhoso e eu nunca fiquei tão lívida na minha vida. —O que diabos você pensa que está fazendo? — Na verdade, deveria ter me feito a mesma pergunta. Eu fiz, mas tinha uma fração de segundo para decidir meu próximo passo, uma decisão que iria definir o curso do meu futuro, ali mesmo. Entrego a minha estranha carga a seus captores, recolho o meu pagamento, em seguida passo para o próximo trabalho e o próximo depois desse? Ou jogo tudo para o ar e ajudo um Metamorfo louco escapar de uma morte que ele não temia nem ressentia? Eu amaldiçoei sob a minha respiração e corri para pegar algumas roupas pessoais no meu baú de abastecimento que ficava na parte de trás do meu caminhão. Um casaco de lã que eu encontrei estava comido pelas traças em alguns lugares e o jeans azul antigo foi usado por um homem morto no passado, mas ambos eram grandes o suficiente para cobri-lo. Quem quer que fosse. —Qual é o seu nome? — Perguntei a ele, puxando a roupa às pressas para fora do baú. Fora do armazém, podia ouvir os homens do meu cliente se aproximando da porta. Eu joguei um duro olhar para o estranho homem atrás de mim. — Seu nome, caramba! — Eu sou Drakor, — respondeu ele franzindo a testa para mim. Eu joguei o casaco e calças para ele. — Se vista Drakor. Vamos dar o fora daqui. Seus olhos dourados estavam tristes com a compreensão. — Você não sabe o que está fazendo, Nisha. —Diga-me sobre isso. — Empurrei minha arma no coldre enquanto vestiu a roupa. — Precisamos nos apressar se vamos correr mais que esses caras. — Nisha. — Ele veio até mim, vestido como um mendigo, mas seu belo rosto estava sereno. Enquanto olhava para ele, estava tentada a chama-lo de majestoso. — Isso pode ser um erro muito caro para você. Balancei a cabeça, esperando esquecer alguns de meus próprios receios. — Nós precisamos ir agora. Vamo s, Drakor.

Siga-me e não discuta. Ele resmungou algo escuro em uma língua que não entendia, mas quando pulei da parte de trás do caminhão, ele estava ao meu lado. Bati a porta e joguei o cadeado em algum lugar. Fiz-lhe sinal para subir enquanto eu corria para o lado do motorista. Entrei e ele tomou o assento do passageiro. —É melhor você se segurar, — disse, olhando nos espelhos do meu lado enquanto os homens do meu cliente começaram a abrir o armazém nos portão atrás de nós. Eu joguei o caminhão em marcha à ré e vi quando os rostos dos dois homens iluminaram com a surpresa, então o medo, quando perceberam o que estava para acontecer. Eu olhei para Drakor, sentado ao meu lado observando silencioso. Ele provavelmente pensou que eu perdera a mente. Os Céus sabiam, estava começando a me perguntar a mim mesma. — Tudo bem, aqui vamos nós. Eu pisei no acelerador e o caminhão disparou para trás, fora do lugar, o olhar dos homens do meu cliente lutando para conter-nos. Eu endireitei o veículo e coloquei-nos no caminho e dirigi para a noite escura e fria... Em conjunto.

Capítulo 4 Eram seis horas ao norte de Port Phoenix antes de me atrever a ir mais lento mesmo que só um pouco. Faróis escuros do caminhão perfurando profundamente a escuridão à nossa frente, olhei pelas janelas laterais, tentando ter uma ideia de onde podia estar. A noite era insondável em todos os nossos lados. Nada além de estrelas invadindo o deserto e vasta floresta nas margens do asfalto da estrada raramente usada. Ninguém atrás de nós, também, o que percebi era a melhor sorte que poderíamos esperar no momento. Não supus que a sorte fosse durar para sempre. Hoje à noite eu coloquei um alvo gigante na minha cabeça e foi num negócio com poderosos, pessoas perigosas, tempo suficiente para saber que um golpe como o que eu tinha acabado de puxar não deixariam de ser incontestável. —Você parece cansada, — disse Drakor do meu lado. Ele estava mais tranquilo na viagem agora. Pensativo, pensei tê-lo pego olhando para fora na escuridão mais de uma vez desde que estávamos na estrada. Eu sabia que ele devia estar tão exausto como eu, ele confiou em mim ao longo da unidade de Porto Phoenix, seu corpo estava esgotado depois de sofrer com a fome e sede durante o cativeiro. Romper com a caixa consumiu energia adicional. Mas não acho que fosse qualquer quantidade de cansaço físico, estava tão imóvel e aninhado. Sua mente estava sobrecarregada, talvez o seu coração também. — Eu estou bem, — eu disse a ele. — E nós precisamos nos manter em movimento. —Não Nisha.— Na minha visão periférica, vi as sobrancelhas escuras sobre o canário amarelo de seus olhos sagazes. — Eu quero que você descanse. Encontre um lugar para parar o veículo agora. Havia um ar de comando em sua voz que quase me fez obedecer simplesmente por instinto. Quase. — Não podemos nos dar ao luxo de parar até que colocarmos mais distância entre nós e os homens do meu cliente. Eles já poderiam estar nos seguindo agora, ganhando de nós. Temos de empurrar para frente. Ele estendeu-se através da cabine, seus dedos fortes e elegantes fechando sobre a minha mão que estava trancada em um aperto de morte no volante. — Nisha, não iremos mais longe até que descanse. Não é um pedido. Eu se olhei para ele, surpresa com sua arrogância. — Até onde eu sabia, eu sou a única a dar as ordens por aqui. A menos que alguém morreu e te fez rei, vou lhe agradecer se se sentar e me deixar lidar com a situação. Ele tirou a mão da minha e me encontrei imediatamente lamentando o vazio deixado em seu lugar. Drakor se acomodou em sua poltrona e olhou para fora da janela. — Meu pai passou cem cinquenta e sete anos depois de séculos de um reinado pacífico e nobre. — Eu joguei um olhar afiado para ele. — Desculpe-me? Você está dizendo o que eu acho que você está dizendo? Ele suspirou com remorso e olhou para mim. — A morte de meu pai me fez Rei dos Strange. Ou teria, se tivesse sido realmente digno de aceitar o manto da responsabilidade. Qualquer um dos meus irmãos mais velhos teria sido muito mais adequado, mas ambos estavam mortos com a guerra contra a humanidade no momento em que o meu pai levou seu último suspiro. Eu era pouco mais que um menino estúpido, incapaz para governar. Eu bati num barranco na estrada velha em ruínas e tive que manobrar para manter o meu caminhão no curso. Quando eu fui capaz, olhei para ele de novo, incrédula. — Se não assumiu o lugar de seu pai todo esse tempo, quem fez? —Eu tinha doze anos quando abandonei o meu poder de reinar. Acreditava que nossa espécie seria mais bem servida por alguém além de mim. — Ele resmungou então, uma exalação suave, irônico. — Aparentemente alguém em minha terra natal sentiu a necessidade de ter certeza de que eu nunca mudasse de ideia. Suspeito que foi alguém no tribunal que me traiu com a pessoa que a contratou. Fiquei indignada não só pelo pensamento de Drakor sendo vendido por um traidor sob seu próprio telhado, mas também pela noção de que ele teria tão prontamente aceitado. — Então, você está disposto a se deixar morrer em vez de correr o risco como rei? Ele me olhou por um momento muito longo, uma tempestade parecendo preparar sob o polido dourado de seu olhar. — Estava disposto. — E agora? — Eu perguntei a ele. — Muita coisa mudou desde que eu estava algemado dentro daquela caixa e sendo enviado através do oceano para este lugar, Nisha. Agora eu me encontro questionando um monte de coisas. Embora fosse contemplativo e difícil de ler, senti o tremor de sua determinação abaixo de seu comportamento calmo. Ele daria um adversário perigoso, eu não tinha dúvida. Sua bondade e intelecto fariam dele um formidável, mas justo governante. —Parece-me que você poderia melhor servir o seu povo por ser o líder de que necessitam Drakor, não um mártir. — É mesmo? — Ele sorriu, apenas a mais sutil curva de sua boca sensual. — Eu acho que você pode ser mais sábia do que qualquer um dos meus conselheiros e assessores Nisha, Sem Coração. Por alguma razão eu não virei para examiná-lo, pisquei de alguma forma ao ouvi-lo se referir à fria reputação que eu me orgulhei por tanto tempo. Eu não era insensível, não quando ele veio a mim. Eu olhei em Drakor e senti como se todo o meu

ser fosse feita de emoção e despertou sensações, não a lógica, o medo e a desconfiança que martelava em mim desde uma idade muito jovem. Eu me importava com ele. Se eu não tomar cuidado com meus passos, temo que poderia muito facilmente me encontrar apaixonada por ele. —Você tem algum lugar que você pode ir? — Perguntei a ele, a necessidade de orientar meus pensamentos de volta para a situação em mão. — Não será seguro para qualquer um de nós na estrada por mais tempo do que temos que estar. Ele balançou a cabeça triste. — Existe um enclave da minha espécie escondido nesta região do novo continente. Eles não foram ainda descobertos pelo homem. Nenhum ser humano esteve lá, mas se eu os pedisse nos forneceriam abrigo. Não tinha certeza se eu estava pronta para pensar em contar com o Strange para qualquer forma de proteção, mas não disse isso a ele. — Sabe especificamente onde estão? — O lugar já foi chamado de Colorado. —Não é muito longe daqui, — eu disse, reconhecendo o antigo nome de longo tempo antes de eu ter nascido, quando a maior parte desta terra foi composta de fronteiras invisíveis e unindo áreas conhecidas como estados. — Eu posso levar você lá. Drakor pareceu considerar por um momento. — Na região sudoeste do lugar, há moradias antigas construídas na encosta de um penhasco. Tribos de seres humanos viveram lá, antes de seus irmãos modernos os expulsarem e usar o lugar como parque. Agora, são os Strange que o habita. Balancei a cabeça e pus os olhos de volta na estrada. Mesmo que quisesse colocar outro par de horas atrás de nós antes de paramos para descansar, meus braços estavam pesados e meus olhos estavam queimando de olhar para a escuridão. —Eu tenho alguns mapas antigos, — eu disse. — Talvez devêssemos parar e ver se podemos descobrir onde o povo se encontra. Drakor me deu um aceno de cabeça de acordo em silêncio. Desacelerei o caminhão entrei num desvio vazio numa velha estrada, levando-nos em direção a um matagal de bosques a várias centenas de metros da estrada.

Capítulo 5 Acendi uma lâmpada à vela e trouxe-a para onde Drakor estava estudando uma das dezenas de mapas históricos assim eu continuei ao lado de meu caminhão. Sentei-me ao lado dele no chão. — Aqui é onde estamos agora, — eu disse, apontando para a área acima uma cidade fantasma conhecida como Flagstaff algumas centenas de anos atrás. Movi o meu dedo no mapa e sob seu olhar afiado seguindo o caminho na diagonal nordeste indicando no gasto e frágil de papel. — Esta é a fronteira do antigo Estado do Colorado. A área que você me contou seria mais ou menos em torno deste canto. As estradas entre aqui e lá não são boas. Ainda vai levar um par de dias para chegar lá. Quando olhou para mim, senti uma questão queimando em seus olhos inquietantes. Balancei a cabeça lentamente, respondendo antes que pudesse me perguntar. — Não vou ficar, uma vez que chegamos lá. Não posso. Sou humana e não pertenço lá. — Suas sobrancelhas negras juntaram. — E se quisesse que você ficasse? E se exigisse? Sorri, sem estar satisfeita com seu tom de voz, possessivo imperial. — Gostaria de lembrar que você pode ser o rei dos Strange, mas não sou um dos seus assuntos. Ele estendeu a mão e segurou meu rosto. — E se te disser que não acho que estarei pronto para deixar você ir por alguns dias mais? Mal resisti à vontade de virar a cara para o berço acolhedor de sua palma. Com uma força que não sabia que tinha, me afastei de seu toque e coloquei meu foco de volta no mapa. — Nós vamos precisar parar para abastecer mais cedo ou mais tarde. Geralmente alguém nas aldeias tem um tanque ou dois que podem ser trocados por... — Nisha. — Ele puxou o mapa e lançando-o longe, obrigando-me a olhar para ele. — Se você não aceitar a minha ajuda, então para onde você vai? Você não pode voltar para sua antiga casa. Sua antiga vida já se foi. —Eu sei,— eu disse. — Não posso voltar para qualquer coisa que eu sabia antes. As palavras do que aconteceu hoje vão viajar rápido. Tudo o que posso fazer é continuar me movendo agora, descobrir como fazer o meu caminho. E irei. Eu não tenho medo do desconhecido Drakor. Eu sei o que é ruim no mundo. Sobrevivi ao pior. Eu não vou correr e me esconder de nada nunca mais. Meus olhos ardiam com as memórias do meu passado. Tentei piscar as lágrimas, mas não as vi. Ele olhou para mim, sua proposta no rosto impressionantemente bonito. — O que você perdeu, querida Nisha. Balancei a cabeça, pronta para encerrar o assunto antes que ele pudesse arrancar o meu coração. Mas os olhos de Drakor eram calorosos e com as mãos confortando enquanto acariciava meu cabelo. As memórias cresceram dentro de mim até que não poderia mantê-las presas. —Minha mãe, — comecei, então respirei firme. — Ela morreu quando eu tinha quatro anos de idade. Ela, meu pai e eu estávamos morando no país na época. Eu não me lembro de muito sobre esse tempo, só que um dia cães infernais invadiram nossa casa e nos perseguiram até a floresta. — Cães infernais. — A expressão Drakor endureceu. — Ah, Deus, Nisha. Eles são criaturas viciosas, o pior de nossa espécie. Eu sabia tudo sobre eles, é claro, como a maioria da humanidade. Cães infernais vivem por sangue e são mais comumente empregados como rastreadores. Com a suas hediondas duas cabeças, garras como navalhas afiadas e velocidade incrível, são poucos que podem escapar deles — humanos ou Strange. —Meu pai correu comigo em um braço, a outra mão em volta do pulso de minha mãe. — Soltei um soluço silencioso. — Um momento ela estava com a gente, o seguinte, ela se foi. Ela virou-se para trás e tentou levar os cães do inferno longe de nós. Ainda posso ouvir seus gritos em meus pesadelos. Drakor me abraçou e não tive qualquer força para resistir. Debrucei-me contra seu peito, ouvi o tambor estacionário do seu batimento cardíaco. Seus braços eram fortes em torno de mim, seus lábios suaves quando pressionou um beijo no topo da minha cabeça. — Meu pai ficou destruído com a perda da minha mãe. Acho que me vendo só fez pior, porque, com o meu cabelo preto e olhos azul escuros, eu o lembrava de muito ela. Meu pai se culpava por colocá-la em perigo, mas nunca me disse nada. Vivíamos com medo de todos os Strange depois disso. Impregnou em mim que não pude confiar em ninguém. Não importa quem, eu sempre olho por mim mesma. — E assim, do seu desespero você surgiu corajosa e forte, — murmurou enquanto levantou meu rosto em sua direção. Ele me beijou longo, lento e profundo. Quando seus lábios deixaram os meus viu a necessidade quente em seu olhar. — Você é linda Nisha. Você é tão exótica como a noite que você foi nomeada. Ergui-me e acariciei sua mandíbula quadrada. — Minha mãe me deu o nome em sua língua. Ela se chamava Jariat. As sobrancelhas arqueadas Drakor era quase indescritível e suave, deu um grunhido sonoro divertido. — O que é isso? —Nada, — disse ele, acariciando minha bochecha.— É um nome muito antigo, de um povo muito antigo. Nome bonito. Levantei-me para o meu cotovelo. — Existe alguma coisa que você não sabe?

Ele se inclinou e beijou-me mais uma vez. — Tenho vivido por um tempo muito longo. Não pude deixar de aprender algumas coisas. Mas você... Você é uma maravilha para mim, Nisha. Estou impressionado por tudo o que estou aprendendo com você. Nunca sonhei que poderia gostar tão profundamente de um ser humano. —Nem eu, de um Strange, — sussurrei, meu coração dolorido com a emoção, o meu corpo vibrando com o desejo. Nossos lábios se encontraram novamente, com uma paixão que nenhum de nós parecia capaz de negar. Drakor me despiu com cuidado enlouquecedor, sua boca saboreando cada centímetro da minha pele nua. Sua própria roupa veio fora com pressa e então estava em cima de mim, ombros e braços grossos puro músculo, o peito nu suave como veludo sob meus dedos móveis. Coloquei minha mão em torno de seu pescoço e o puxei para baixo por cima de mim. Sua boca apoderou com uma necessidade feroz quando nossos corpos se uniram quentes e ansiosos. Encheu-me, me deu mais prazer do que eu já tinha conhecido. Nós lançamos sobre em um emaranhado de pernas lisas e mãos insaciáveis um com o outro, mesmo depois de nós dois descem uma versão arrasadora. Ele era selvagem e magnífico e mesmo que eu passasse mil noites em seus braços, sabia que ainda teria fome por mais. Ansiava por mais dele e por tudo o que nunca teria mais uma vez chegássemos ao nosso destino e diríamos adeus. Quando nós colocamos lado a lado, olhou nos meus olhos com o mesmo desejo que eu não senti pesando meu próprio coração. —Nisha, — murmurou. — Meu Deus, eu nunca esperava você. Nunca esperava sentir nada disso. Não deveria sentir. Você é humana, e eu não sou. — Eu sei. — Balancei a cabeça, tentei sorrir, apesar de ferida. Ele roçou os lábios em mim, um beijo doce e terno. — Você é humana... E eu não importo. Quero estar com você, onde quer que você precise estar. Eu te amo e todo o restante não importa. Engoli em seco, incerta se eu ouvi corretamente. — Você o quê? —Eu amo você, — ele disse e me beijou de novo, com mais firmeza agora. Um beijo alegando e queimando através de mim como fogo. Comecei a dizer a ele que sentia da mesma maneira, mas então eu ouvi algo terrível soa a distância. Um uivo baixo, vindo de algum lugar no escuro lá fora. Depois outro e ainda outro. Todo o sangue parecia escorrer da minha cabeça e revolver em meu estômago, frio como gelo. Drakor olhou para mim, seu olhar austero. — Cães infernais.

Capítulo 6 Nós mal tivemos tempo de nos vestir e voltar para a cabine do meu caminhão antes que os uivos dos animais soassem perigosamente perto. Virei o motor e amaldiçoei quando a maldita coisa estalou e sufocou. Tentei novamente. Ele tossiu para a vida fraco, sacudindo como se fosse seus últimos suspiros. E foi aí que eu notei a agulha do medidor de combustível. —Merda.— Alcancei o painel de controles e bati os medidores velhos temperamentais, esperando que a agulha tivesse apenas ficado presa como tantas vezes fez enquanto eu estava dirigindo. Depois de algumas batidas se moveu um par de graus mais profundo no negativo. — Estamos praticamente sem combustível. Na minha pressa para colocar distância entre nós e os homens do meu cliente em Port Phoenix, deixei de fazer a mais básica verificação do sistema. E, no meu estado de fadiga depois de tantas horas ao volante, consegui nos conduzir no meio do nada. Com cães infernais no nosso rabo. Outro uivo soou em algum lugar na escuridão lá fora. —Eu acho que nós podemos ir mais dez quilômetros. Podemos ir mais fundo no deserto, tentar ultrapassá-los. — Peguei a alavanca de câmbio e comecei a colocar o caminhão na estrada. A mão de Drakor me parou. —Nisha, não há tempo. O caminhão será apenas um estorvo no final. — Ele pegou a minha mão na sua e me puxou pelo assento para deslizar para fora da porta do lado do passageiro com ele. — Vamos. —Nunca vamos conseguir, — eu disse enquanto corremos para longe do som dos cães infernais aumentaram. —Você está forte o suficiente para voar? —Estou, — respondeu. — Mas não seria capaz de levá-la muito longe. Temos que correr. Tentei me livrar de sua mão, mas ele não me deixou ir. — Drakor, me escute. Você tem que ir embora. Você tem que me deixar aqui e se salvar. Ele amaldiçoou algo escuro e desagradável e me puxou para um ritmo mais rápido. A floresta era um campo escuro, um labirinto de altos pinheiros e amoreiras espinhosas. Rasgamos por eles incertos de onde devíamos ir, exceto tão longe quanto possível dos cães infernais. Cada segundo que me sentia esperançosa de que poderíamos escapar parecia que os animais estavam mais perto. Seus gritos e grunhidos ecoavam na floresta até nós em várias direções. —Drakor, por favor,— eu sussurrei ferozmente. — Nós não podemos ficar longe deles. Eles são muitos vão nos pegar. —Então vou ficar e lutar contra eles, — ele murmurou com força, não diminuindo sua marcha. Assim que ele disse um dos cães de duas cabeças explodiu fora da escuridão e lançou-se a Drakor. Soltei a mão na súbita colisão de corpos. Ouvi o angustiante som da luta, o estalar das mandíbulas do animal. O rasgo da vulnerável carne e tendões. — Drakor! — Eu gritei, angustiada de pensar em seu sofrimento. Tudo de uma vez, as chamas subiram para a noite. Na iluminação abrupta, vislumbrei Drakor na sua forma de dragão, a densa floresta na frente dele, mas nada noite interminável em suas costas. Ele assobiou uma pluma de fogo no ataque ao cão infernal incinerando a besta. Outro chegou a ele com dois conjuntos de dentes rangendo-o e foi igualmente incendiado. Duas das criaturas terríveis foram para baixo, mas mais três atrás deles. E Drakor já havia deslocado para trás em um homem. Estava ofegante e suando, mostrando as linhas tensas de seu rosto. Meu coração afundou como uma pedra no meu peito. A mudança consumiu seu poder. — Nisha, atrás de você! Eu me virei e encontrei com dois pares de olhos selvagens fixos em mim das cabeças de um enorme cão infernal que estava apenas a um braço de distância. Ele mostrou os dentes terríveis, presas enormes, patas traseiras curvadas e pronto para saltar. Não podia correr. Não havia para onde ir. Peguei minha arma, mas era tarde demais. O cão infernal pulou em mim. Ele me derrubou, me enviou cambaleando pelo ar da noite escura. Esperei sentir o golpe esmagador da terra chegando contra meu corpo. Isso não se concretizou. Em vez disso, eu caí, caí e caí... em um vazio negro. Um abismo tão profundo e largo era tudo que eu podia ver. Uma voz — Nisha! — Drakor rugiu de algum lugar no alto. Ecoou nas pedra da parede do abismo que me rodeava. — Nisha, não! Todos os meus medos de voar - o terror inexplicável de encontrar-me no ar pressionado em mim como um peso de chumbo. Eu caía rapidamente. De algum lugar dentro de mim, eu sabia que era o meu medo que iria destruir-me agora. Não o cão do inferno que tinha lançado sobre a borda comigo e desde então caiu fora da minha vista, então eu estava sozinha. Pensei na minha mãe, que se sacrificou para que meu pai e eu pudéssemos viver. Pensei no meu pai que morreu do coração partido porque o destino a tirou de seus braços.

Pensei em Drakor, um Strange nobre homem que eu não queria amar, mas não conseguia viver sem. Não queria que ele sentisse a mesma dor de meu pai. Egoisticamente queria passar o resto dos meus dias nos braços protetores de Drakor, a destino não importava quanto tempo podia nos conceder. Muito acima de mim agora, eu o ouvi me chamar de novo. Eu o vi saltar sobre a borda do penhasco, não em forma de dragão, mas como o homem que eu amava. Gritei, com o coração partido e horrorizado. Algo caiu longe de mim naquele momento. Senti meus medos secarem e o redemoinho na brisa que correu em volta de mim quando me deixei cair. Assisti mergulho de Drakor na minha direção na escuridão vazia, e algo dentro de mim balançou livre de suas forças. Fechei os olhos e quando abri novamente não estava caindo mais. Estava flutuando. Estava voando, suspensa sobre o vento da noite, meus braços e tronco coberto de penas brancas gloriosas. E havia Drakor debaixo de mim agora, suas asas enormes espalhadas como se fosse me pegar, pairando quando eu estava no meio do cânion imenso que se abria, tanto quanto o olho pode ver.

Capítulo 7 Com compreensão silenciosa, voamos juntos para o outro lado do cânion, deixando o restante dos cães infernais e os recém-chegados homens do meu cliente olhando para nós em decepção. Drakor e eu pousamos em terra firme como um. Ele sacudiu suas escamas e eu assisti em assombro como a plumagem de neve que me cobria do meu bico brilhante para o topo dos meus pés garras imergia para trás em minha própria pele. — Uma águia,— disse Drakor, maravilhado em sua voz profunda. — Eu poderia ter imaginado. — Como é que você poderia? — Perguntei. — Eu não sabia até agora. Seu sorriso era um pouco presunçoso. — O nome de sua mãe Nisha. — Jariat? — Balancei a cabeça. — Não entendo. — Como eu disse, é um nome muito antigo, um nome mítico. Segundo a lenda, Jariat era um belo pássaro que se tornou um ser humano por amor a seus filhos. Levei um momento para processar tudo o que eu estava ouvindo, tudo o que tinha acabado de aconteceu. — Você está me dizendo que minha mãe era um Strange? Você acha que ela era a Jariat da lenda? — Ele abaixou a cabeça e me beijou com tanto amor que fez meu coração doer.— Temos uma vida inteira para entender tudo isso. Poderíamos partilhar para sempre, Nisha, se você tem a mim. Sorri para o seu rosto bonito. — Gosto do som disso. —Há apenas uma coisa. — Ele ficou muito sério então. — Eu vou fazer algumas mudanças na forma que meu pai reinava. Vou precisar de alguém, alguém corajosa, honr ada, cuja opinião eu valorizo sobre qualquer outra, para ficar ao meu lado quando eu recuperar o trono de meu pai. Engoli em seco, orgulhosa dele e de sua esperança para o futuro, poderíamos construir juntos. — Você quer que eu faça parte da sua corte? Seu aceno de assentimento não poderia ter sido mais real se sua cabeça estivesse envolta com uma coroa. — Não posso me imaginar me tornando rei, a menos que você esteja comigo Nisha. Como minha rainha e chefe do conselho. Joguei meus braços em torno dele e lhe dei um beijo exultante. Ele riu. — Vou levar isso como um sim? —Sim!— Eu chorei. — Eu te amo, Drakor. Então, sim, sim! Sim para o que você deseja de mim. Ele rosnou com interesse puramente masculino. — Agora, eu gosto do som disso.

Capítulo 8 Drakor e eu passamos duas semanas no enclave dos Strange que habitavam nos rochedos ocultos do que foi o sudoeste do Colorado. Uma vez que ele recuperou sua força da luta contra os cães infernais e os maus tratos por seus captores, viajamos de volta para a costa juntos para começar o resto de nossa jornada em direção ao futuro que nos aguardava em sua terra natal na Nova Ásia. O ar estava fresco naquele dia, mas o sol estava alto, seus raios nos aqueciam enquanto estávamos em terra firme e olhávamos para o vasto oceano azul à frente de nós. Drakor de mão dadas comigo num fácil aperto. — Você está pronta Nisha? Olhei para o rosto do meu amante, meu companheiro, meu rei e sorri. — Estou pronta. Ele me deu um aceno de cabeça e soltou a minha mão. Com um encolher de ombros poderosos se transformou. Juntei-me a ele na mudança, dando sacudindo como um cachorro jogando fora de água e observando com brotavam as maravilhosas penas brancas em uma plumagem gloriosa. Meu dragão olhou para mim e eu pensei que poderia vê-lo sorrir. Dei-lhe um aceno de cabeça-de-bico. Juntos, pisou fora da borda íngreme de terra. E nós voamos.

Fim

Incentive as revisoras contando no nosso blog o que achou da historia do livro. http://tiamat-world.blogspot.com.br/

[1] People are strange – frase de uma das canções mais famosas de Jim Morrison,músico e poeta, considerado por muitos filósofo do final dos anos 60. http://letras.mus.br/the-doors/11481/ [2] Relógio do Mickey Mouse, de acordo com a autora, bastante resistente.
Lara Adrian - Noite Efemera

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