Material digital FSCE II

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A disciplina que busca trazer temáticas como a formação histórico-cultural da sociedade, as políticas públicas aplicadas, a cultura como instrumento transformador, as novas tecnologias e a ética na sociedade, com intuito de aferir os conhecimentos e aperfeiçoar habilidades e estratégias de leitura, fundamentais para o desempenho pessoal, acadêmico e profissional do aluno.

PROBLEMATIZAÇÃO Tudo se inicia por meio das perguntas, a inquietação da dúvida, o desconhecido. Nesse primeiro momento, é apresentado a você o problema, o desafio ou até uma única questão estimulante com o intuito de provocar o conflito cognitivo, aguçando a sua curiosidade, ao induzir a busca por soluções para esse problema. Você já chegou a se perguntar qual o seu papel na sociedade? Afinal, o que é ética e pra quê precisamos dela?

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Indivíduo que impacta diretamente o contexto social da sociedade em que está inserido o cidadão, pela sua força de trabalho, intelecto. Preparação para o convívio social: respeito as diversidades, questões éticas, entender os valores propostos pelo ambiente profissional. Profissional de sucesso, habilidades socio-emocionais mais desenvolvidas e estruturadas. Trato cultural influencia diretamente a condução, e devem ser respeitadas. Não há uma formação ética engessada. Regras a serem cumpridas, valores familiares, legislação - Constituição, tratado comum a todos os cidadãos. Todas as empresas, de forma descrita ou por um tratado comum, tem padrões éticos de comportamento dentro do espaço corporativo. Se permitir analisar e discutir as convenções tradicionais, refutá-las e encontrar seus prós e contras.

SIGNIFICAÇÃO É a segunda etapa do Ciclo de Aprendizagem. Nela, é apresentado o significado, o objetivo, a relevância e a importância do que se estuda, sempre ancorando os novos conhecimentos sobre os conhecimentos prévios que você possui.

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Conhecer uns aos outros, o que cada um acredita, abrir a mente para diversos temas que regem a sociedade. Contribuição coletiva para uma harmonia do convívio social Diferentes crenças, experiencias de vida, educação, e inserir tudo isso no contexto social Empatia, respeito de opiniões, pensar na questão da intolerância Regras de respeito, coletividade, honestidade, comprometimento, dentro de um contexto coletivo no ambiente de trabalho, uma instituição Convivência organizada e agradável a todos, dentro do ambiente de trabalho, relações com clientes, fornecedores Nenhum ambiente é possível ignorar os fatores individuais, devem ser considerados e respeitados e buscar o propósito comum do trabalho em equipe Compreender as dificuldades dos outros, a forma em que cada um lida com os problemas do dia-a-dia

Vídeo: Nossa Instituição de Ensino Superior (IES) possui 4 pilares que nos norteiam: Cidadão modelo, um exemplo a ser seguido. Tratar das questões relativas a promoção dos direitos humanos, inclusão social, igualdade étnico-racial, diversidade. Estudo e interpretação sobre acontecimentos sociais, políticos, econômicos, culturais e atualização permanente sobre a realidade brasileira e mundial e outras áreas do conhecimento. Relações étnico-raciais; história e cultura afro-brasileira e indígena; reflexão crítica acerca das políticas de afirmação e resgate histórico da população brasileira; políticas públicas de inclusão social; formação da identidade nacional brasileira; políticas educacionais; valorização da diversidade e direitos humanos. Construção de cidadãos melhores e mais atuantes na sociedade, proporcionar a reflexão analítica e crítica sobre acontecimentos socioculturais que permeiam a sociedade contemporânea. Interpretar as relações sociais sobre a compreensão da diversidade, defesa do ambiente, defesa e promoção dos direitos humanos, igualdade étnico-racial. Discutir informações representadas em diferentes formas e conhecimentos disponíveis em situações concretas que possibilite o processo consistente de análise e argumentação sobre os fatos.

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Intervenção solidária na realidade Reconhecer fundamentos: cidadania e democracia Demonstrar respeito aos valores humanos Analisar, compreender e interpretar textos diversos que visam a discussão de acontecimentos socioculturais

EXPERIMENTAÇÃO Desenvolver as competências pessoais e profissionais por meio de vivências e experiências, testando na prática o que foi levantado em teoria. É a hora de você colocar a “mão na massa”, testar, vivenciar e experimentar. REFLEXÃO Deu errado? deu certo? Por que? Vamos entender? Está na hora da Reflexão! Neste momento, você será capaz de decifrar, compreender e estruturar sobre o objeto investigado, a partir de sua experiência e de sua observação.

CONCEITUALIZAÇÃO “De acordo com”, “com base em”... vamos fundamentar. Nessa etapa, você é conduzido a desenvolver seus conceitos, a entrar em contato com os conceitos históricos, filosóficos, teológicos e científicos. Assim, compreende-se que a aprendizagem está fertilizada pela imersão ao permitir um aprofundamento teórico-prático para além da memorização mecânica de informações arbitrárias. A Unicesumar trabalha com princípios éticos e profissionalismo, não somente para oferecer uma educação de qualidade, mas, acima de tudo, para gerar uma conversão das pessoas ao conhecimento e, consequentemente, o desenvolvimento de todas as potencialidades do ser humano. Para isso, nos baseamos em quatro pilares:



Pilar Intelectual

Política Economia e Meio Ambiente O primeiro pilar tem, como propósito, oferecer a constituição de seres humanos com base nas faculdades intelectuais, já que se busca, como missão, a formação integral das pessoas que passam pela instituição. Entre nossos valores essenciais estão a “excelência intelectual e profissional” e o “compromisso com o conhecimento, a aprendizagem e a transformação da sociedade”, por isso, métodos eficientes são criados para que você, aluno, integre-se, verdadeiramente, a rotina diária de conhecimento e aprenda em uma dinâmica metacognitiva, a qual concede ferramentas de reflexão sobre a sociedade, a cultura e a ética. Nesse sentido, o pilar intelectual é de fundamental importância para todas as nossas ações porque remete ao sentido maior de nossa existência como instituição de ensino, ou seja, formar pessoas plenamente aptas para pensar e formar diagnósticos e soluções, a partir de quem somos como seres humanos “sábios”. Política, Economia e Meio Ambiente: o que você tem a ver com isso? Dra. Manuela de Souza Diamico Plano de Estudo * Política * Economia * Meio ambiente Oportunidades de Aprendizagem * A partir do conceito científico de Política, introduzir o debate sobre relações de poder e seus impactos sobre as definições das políticas públicas, aplicação de direito e cidadania e os impactos em nossa vida.

* A partir do Conceito de economia, problematizar as políticas econômicas, seus índices e indicadores e seus impactos sobre a vida dos cidadãos. * Compreender como a problemática ambiental entrou na agenda contemporânea e sua relação com a políticas econômicas, além de debates sobre o papel do consumo. Caro(a) aluno(a), você sabe o que é política e como ela impacta sua vida? Sabe qual é o seu papel enquanto cidadão? Apresentamos alguns dados para reflexão. De acordo com o dicionário Houaiss (2001), Política, do Grego politikos, significa "de, para, ou relacionado a grupos que integram a Pólis". Segundo a etimologia da palavra, política está associada a administração da polís. Mas a política, bem como o Estado, moldou-se no tempo, seguindo a emergência de novas necessidades ou seguindo cada cultura. O sentido clássico dado por Aristóteles estava associado à reflexão sobre a organização, a função e as divisões do Estado e as formas de governo (BOBBIO; MATTEUCCI; PASQUINO, 2004). Assim também os autores clássicos da teoria política escreveram sobre a necessidade do Estado na sociedade civil, tais como Thomas Hobbes (Leviatã, 1651), John Locke (Dois Tratados de Governo, 1689) e Jean-Jacques Rousseau (do Contrato Social, 1762), conhecidos como contratualistas, ou, antes deles, Maquiavel (Comentários sobre a primeira década de Tito Lívio, 1531). Monarquia: O poder do governo é concentrado em uma única pessoa, nessa forma de governo o poder é repassado hereditariamente, e as propriedades inerentes a soberania é concebida diante dos poderes especiais, além da tradição existente. Oligarquia: Corresponde a um regime de governo vinculado ao controle de uma quantidade restrita de pessoas e essas desfrutam de uma série de vantagens devido a sua condição alicerçada no poder. República: Na República os representantes do povo são eleitos pelos próprios, de forma direta ou indireta, a principal característica da República é de estabelecer a justiça e o bem estar comum. Aristocracia: São governos centralizados nas mãos de poucas pessoas, podendo ser nobres ou não. Democracia: Na democracia o representante é escolhido pelo povo através de votação para que assegure primordialmente a vontade popular. Atualmente a democracia é dividida em três poderes: Legislativo, Executivo e Judiciário, que devem ser autônomos e harmônicos. Parlamentarismo: No parlamentarismo as decisões sofrem maior influência pelo parlamento, são eles os responsáveis por indicar um chefe de governo e também um primeiro ministro, sendo assim é possível que o chefe do governo seja um presidente ou um monarca.

Presidencialismo: No presidencialismo o Presidente e seus ministros compõem o Poder Executivo, já os deputados federais e os senadores compõem o Poder Legislativo e por fim todo juiz e magistrado compõem o Poder Judiciário. Os poderes citados devem controlar uns aos outros de forma equilibrada, o chefe do governo nesse caso é o presidente. -

Capitalismo:

Estabelecimento do domínio total ou parcial de todos os meios de produção, independentemente do segmento, tais como: fazendas, indústrias, comércio, serviços desenvolvidos pela iniciativa privada. O controle do mercado é desempenhado pela livre concorrência e a competição. Altos investimentos designados ao desenvolvimento dos setores produtivos, provenientes de capitais privados. Existência de sociedade dividida em classes, sendo uma composta por uma elite dona dos meios de produção, e outra formada por trabalhadores. -

Socialismo:

Controle executado pelo Estado. Monopólio por parte do Estado. O direcionamento dos investimentos é proveniente de órgãos estatais. Não há distinção entre classes, pois todos são donos dos meios de produção. O capitalismo, contemporaneamente, alia-se à forma democrática de governo associada mais à liberdade, enquanto o socialismo, historicamente, alia-se a formas totalitárias de governo (MYLEO, [2020], on-line)². Atualmente, não há dúvidas de que o modelo democrático de governo é o melhor. Fica a discussão sobre como melhorá-lo e o tornar eficiente, diminuindo a morosidade, a burocracia e a corrupção. Para garantir, idealmente, que o Estado não seja corrompido e cumpra sua função de garantir a segurança e, assim, a prosperidade da sociedade, modernamente, ele é dividido em três poderes: um que legisla, outro que executa e o terceiro garanta a justiça. A política, assim definida, envolve a organização social desses poderes (SOUSA, [2020], on-line)³. A partir, principalmente, da década de 90, com a Influência das Nações Unidas nas decisões políticas e econômicas dos países membros, passou-se a associar as problemáticas sociais ao desenvolvimento econômico, inaugurando um tipo de política chamado Bem-Estar Social, já mencionadas e associadas a ele, as políticas públicas. Estas referem-se às ações de Estado para diagnosticar e solucionar os problemas sociais e estão

classificadas por setor e alocação de recursos, segundo Rossini, Rotta e Borkovsk (2017). Veja, a seguir: -

Políticas Públicas

Por Setor: a) Políticas Sociais: destinadas a prover o exercício de direitos sociais, como educação, seguridade social (saúde, previdência e assistência), habitação etc. b) Políticas Econômicas: seu intuito é a gestão da economia interna e a promoção da inserção do país na economia externa. Ex.: política monetária, cambial, fiscal, agrícola etc. c) Políticas de Infraestrutura: dedicadas a assegurar as condições para a implementação e a consecução dos objetivos das políticas econômicas e sociais. Ex.: política de transporte[...]; energia elétrica; combustíveis; petróleo e gás [...] etc. d) Políticas de Estado: visam garantir o exercício da cidadania, a ordem interna, a defesa externa e as condições essenciais à soberania nacional. Ex.: política de direitos humanos, segurança pública, defesa, relações exteriores etc. Por Alocação de Recursos a) Políticas Distributivas: alocam bens ou serviços a frações específicas da sociedade[...] mediante recursos provenientes da coletividade como um todo. [...] Ex.: implementação de hospitais e escolas, [...], salário-desemprego,[...] programas de renda mínima etc. b) Políticas Redistributivas: distribuem bens ou serviços a segmentos particularizados da população, por intermédio de recursos oriundos de outros grupos específicos. [...]. Ex.: reforma agrária, distribuição de royalties do petróleo,[...], política tributária etc. c) Políticas Regulatórias: estabelecem imperativos (obrigatoriedades), interdições e condições, por meio das quais podem e devem ser realizadas determinadas atividades ou admitidos certos comportamentos. [...] Ex.: política de transporte, energia elétrica, combustíveis; petróleo e gás etc. d) Políticas Constitutivas ou Estruturadoras: consolidam as regras do jogo político. São as normas e os procedimentos [...]. Ex.: regras constitucionais diversas, regimentos das Casas Legislativas e do Congresso Nacional etc. No cenário atual, com a queda do chamado bem-estar social, em nome de políticas neoliberais, tem-se problematizado as políticas públicas do setor social, em especial, as reformas na Previdência Social e nas políticas distributivas, relacionadas aos direitos dos trabalhadores, por exemplo, ao salário desemprego, com a diminuição dos direitos trabalhistas, com base nas Reformas Trabalhistas, Lei n. 13.467, de 13 de julho de 2017.

A política permeia todas as instâncias da vida. É por meio dela que se decide quais são as normas e os padrões de convivência entre os cidadãos. Com a complexificação da sociedade, os cidadãos não conseguem mais participar, diretamente, dos rumos que ela tomará como era em Atenas de Aristóteles (ou como fazemos em nossos condomínios, por exemplo). Mas ainda é nosso dever enquanto cidadãos, participar e entender quais são os rumos que os governantes estão tomando, e se concordamos, ou não. No Brasil, a forma de participação política é a Democracia Participativa. Escolhemos nossos representantes, com base em suas propostas políticas. Seu papel, caro(a) aluno(a), é estar antenado(a) nas propostas do governo e em seus significados para a sua vida. Você já parou para pensar em como as medidas discutidas no Senado impactam sua vida, como no caso da Reforma da Previdência? Você concorda?  Economia Você já parou para pensar em Economia para além de suas contas domésticas? De acordo com a Faculdade de Economia e Administração - FEA da USP ([2020], on-line)4 “economia é o conjunto de atividades desenvolvidas pelos homens visando à produção, à distribuição e ao consumo de bens e serviços necessários à sobrevivência e à qualidade de vida”. A ciência econômica está sempre analisando os problemas econômicos: o que produzir, quando produzir, em que quantidade produzir e para quem produzir. Cada vez mais esta ciência é aplicada a campos que envolvem pessoas em decisões sociais, como os campos religioso, industrial, educação, política, saúde, instituições sociais, guerra etc.(O ECONOMISTA, 2009, on-line)5. A Economia é, então, uma ciência social. Ela está atrelada à política, e todas as instâncias da vida se organizam. Marx e Engels (2002) diziam que o fundamento da estrutura social é o trabalho, pois, em função das formas de trabalho e das suas divisões é que as sociedades organizam a distribuição da produção e as regras sociais e políticas que regem a sociedade. A Economia perpassa, então, se pensarmos em nosso cotidiano, o nosso trabalho: Quanto trabalhamos? Quanto ganhamos (salário)? O que fazemos com esse ganho? O salário é baseado no tempo social médio necessário para produzir o que produzimos. Assim, esta contagem parte da média do tempo social de produção, de onde surge o lucro. O que se faz com os salários depende de objetivos, planos e condições concretas. Quando falamos em política econômica, trata-se da forma como o governo trata os ganhos do país. O entrelaçamento entre política e economia dá-se nos objetivos que o governo estabelece para o dinheiro público. Se o governo tem como objetivo principal investir em saúde e educação, o pagamento das dívidas fica em segundo plano. Se o objetivo do governo é sanar as dívidas, então, terá que retrair o investimento em Saúde e Educação, por exemplo.

O grande debate colocado na Economia Política atual está em discurtir se neoliberalismo ou o Bem-Estar atendem melhor aos interesses públicos. Os primeiros fundam-se nas ideias liberais, em que o mercado se autorregula. Os segundos prezam pelo bem-estar da população, com políticas públicas bem presentes, tais como as políticas de previdência social, programas de transferência de renda àqueles abaixo da linha da pobreza, dentre outros programas não só nos países em desenvolvimento, mas principalmente nos desenvolvidos. As grandes crises políticas que vêm acontecendo, na última década, perpassam essa transição e o fim do estado de bem-estar com a substituição pelas propostas de austeridade econômica, como na França, no Chile, e os debates, no Brasil, ainda estão em tramitação. Veja em: Mas por que tantas revoltas? Em Política, vimos que ela se baseia em decisões de governos, que, por sua vez, é movida pelos interesses e jogos de poder. Dentro das principais ações dos governos, estão as políticas econômicas que impactam, diretamente, as políticas públicas, na delimitação de quanto será investido em cada setor. No mundo globalizado, as regras dos comércios internacionais são bastante importantes para as definições das políticas públicas e econômicas dos países membros. Tais regras são definidas pelos organismos internacionais, tais como a Organização das Nações Unidas que define o Índice de Desenvolvimento Humano, que mede a desigualdade dentro do país; a Organização para a Cooperação e Desenvolvimento Econômico (OCDE), que estipula indicadores sociais para mensurar os desenvolvimentos de um país, tais como o índice desemprego, educação, saúde e distribuição de renda; e Banco Mundial, que utiliza o indicador linha da pobreza. Os índices e os indicadores são utilizados tanto para comparações entre países, os rankings, quanto para mensurar quais países são desenvolvidos, ou estão em desenvolvimento e, numa série histórica, se estão melhorando, ou não. O nível de desenvolvimento social e humano de um país reflete o nível de investimento em sua população. Ao analisarmos as medidas de governo, as alterações nos investimentos públicos, devemos estar atentos a estes índices. Você acha que o Brasil investe, suficientemente, em Educação? Acha justo tirar dinheiro da Saúde para pagar dívidas? Qual seria o balanço ideal? Meio Ambiente Aquecimento global, desenvolvimento sustentável, o que você tem a ver com isso? Como suas ações em casa ou no trabalho impactam essas coisas? A chamada Sociedade de Risco (BECK, 2011) está, hoje, diante das consequências impremeditadas geradas pelo industrialismo desenfreado do início da modernidade. Lidar

com esses riscos é lidar com o imprevisível. Não por acaso, temos testemunhado vários incidentes de alta gravidade, nas últimas décadas, como o desastre de Chernobyl como emblemático e inaugurador destes alertas. Ouve-se, hoje, falar sobre os ambientalistas chatos ou as teorias que dizem que aquecimento global não existe. Ou, ainda, opiniões esvaziadas de conteúdos, mas que viralizam na internet. Destacamos que a temática ambiental não surgiu ontem nem foi “inventada” por um ou dois cientistas. A problemática ambiental tem sido debatida, exaustivamente, a nível global, com base em fatos concretos que apontam as consequências nocivas à natureza, aos recursos naturais e aos seres humanos. Muito se tem debatido, desde então, em conferências que contam tanto com cientistas quanto com dirigentes políticos, representantes dos países membros das Nações Unidas. Exemplos de debates importantes: Conferência de Estocolmo (1972); Conferência das Nações Unidas sobre o Comércio e Desenvolvimento, realizados em 1974; Elaboração, pelo PNUMA, do Relatório Brundtland (1987); Conferência do Rio de Janeiro (1992); Conferência Rio + 10, em Johanesburgo (2002); COP-15 (2009), COP 16 (2010). A escassez dos recursos ambientais e consequências nocivas causadas pela exploração desordenada podem ter impactos impremeditáveis em escala global. Por isso, é preciso questionar: Como esses riscos têm sido geridos nos diferentes países e regiões? Quais são os atores envolvidos? Que medidas estão sendo tomadas, global e localmente? As tragédias de Brumadinho e Mariana são claros e recentes exemplos das terríveis consequências causadas por essa exploração inquestionada. Além da responsabilidade governamental, devemos pensar, também, no papel dos cidadãos na sociedade de consumo e o consumo ético. A problemática ambiental, assim, envolve o debate político-econômico nacional e internacional, coletivo e individual (MANEIA et al., 2014), inclusive, as Nações Unidas colocam entre seus objetivos do milênio, na Agenda 2030, as Nações Unidas colocam entre seus objetivos do milênio, na Agenda 2030, o desenvolvimento sustentável em destaque, pois partilha-se da ideia de que sem meio ambiente, sem terra, não há um futuro comum, fazendo analogia ao Relatório Bruntland, de 1987, também chamado de “Nosso futuro comum”. Ramalho e Santos (2010) defendem que “o sujeito social ao incorporar às práticas de consumo, valores como a ética e a responsabilidade, assumem uma postura de politização da ambientalização, significando uma nova cultura de participação política que caracteriza a cidadania do consumidor, capaz de promover transformações socioambientais”. PENSANDO JUNTOS: Nossas opiniões e modos de agir impactam o mundo que nos cerca. Nosso papel como acadêmicos é compreender o contexto político e social em que estamos inseridos, a partir de dados e fontes seguras de informação, e não apenas opiniões infundadas.

Precisamos ter em mente que nossas escolhas, seja em casa, seja no trabalho, têm consequências que não conseguimos mensurar o alcance. Por isso, é importante prestar atenção nas ações governamentais sobre a gestão de recursos e a gestão de riscos para controlar suas ações, por meio do voto por exemplo. Nas ações cotidianas, as escolhas dos produtos que consumimos, a destinação de dejetos e a quantidade de recursos que utilizamos fazem diferença quando contabilizados em conjunto. O que você pode melhorar em seu cotidiano? Para finalizar, gostaria de convidá-lo(a) a assistir ao vídeo a seguir e refletir sobre O que é felicidade numa sociedade de consumo?



Pilar Profissional

Ciência e Tecnologia O conhecimento tem transformado o mundo e o mercado de trabalho. Nesse cenário, novas profissões surgem e, com elas, novas habilidades são exigidas. Cabe a nós, como instituição de ensino, nos preparar para enfrentar esse “novo cenário” dinâmico e inovador, ao proporcionar a você, estudante, mais possibilidades de novos aprendizados que dialoguem com as tendências contemporâneas do conhecimento, do mercado de trabalho e do empreendedorismo, já que trabalhamos para o desenvolvimento das suas habilidades do presente e do futuro. Pensamos sempre na qualidade da nossa estrutura física e pedagógica para formar profissionais valorizados no mercado e prontos a responderem às exigências do sistema de mercado atual. O pilar profissional permeia nossas avaliações internas e as decisões pedagógicas, uma vez que acreditamos que a educação é a “mais poderosa arma de transformação da sociedade” (Nelson Madela). Nossa missão se afirma na busca em formar “profissionais cidadãos que contribuam para o desenvolvimento de uma sociedade justa e solidária”. Os Usos Sociais da Ciência e da Tecnologia Dra. Suelen de Aguiar Silva Plano de Estudo * A noção de campo científico * A emergência da técnica * A sociedade em rede Oportunidades de Aprendizagem * Discutir a noção de campo científico e a sua aplicabilidade. * Problematizar o desenvolvimento e a importância da técnica. * Apresentar as principais características da sociedade em rede.

A Noção de Campo Científico Caro(a) aluno(a), sabe-se que, no decurso da história, os conhecimentos científicos dos homens progrediram. Assim, na antiguidade grega, esses tipos de conhecimentos quase não existiam e os sábios, ao mesmo tempo filósofos, viam andar de mãos dadas a filosofia e a ciência, sendo uma extensão da outra. Ao passo que a ciência buscava explicações dos fenômenos do mundo, entrava em contradição com dogmas da filosofia idealista, criando, assim, um conflito entre a filosofia da época e a ciência, suficiente para que se separassem (SILVA, 2018). Não obstante, a razão humana surge como divisora de águas entre a ciência antiga e a nova. Ganha, então, centralidade a partir do filósofo francês René Descartes (1637), no século XVII, quando apresenta, entre outros tratados, o Discurso do Método. Seu pensamento, todavia, tem como pano de fundo as transformações na Europa, entre os séculos XVI e XVII. A razão é palco para que as ideias sobre o conhecimento científico pudessem ser sistematizadas. A contribuição cartesiana do ponto de vista do método e da fundamentação científica reside na atitude crítica, introduzida pela dúvida, que fornece assunto para longas reflexões acerca dos limites do conhecimento humano e do questionamento da ciência tradicional que permeou a filosofia moderna. É a partir dos limites do conhecimento humano, quer dizer, do imensurável conhecimento humano, que iniciaremos o nosso estudo sobre ciência e tecnologia. A humanidade está acostumada a inventar, produzir e a ter o resultado palpável dessas produções. Inventar objetos, fórmulas, processos, tecnologia, ou seja, a fazer ciência. A capacidade inventiva do ser humano é a condição sine qua non de sua existência. PENSANDO JUNTOS: E você, sabe o que é ciência e para que de fato ela serve? A ciência, de modo geral, representa o conhecimento adquirido por meio de estudos, pesquisas e práticas, com a finalidade de solucionar problemas existentes. A palavra ciência vem do latim scientia, e significa "conhecimento" ou "saber". O saber científico, entretanto, é amplo e complexo, comporta várias áreas do conhecimento humano, nas quais são elaboradas teorias fundamentadas nos seus próprios métodos e pesquisas científicas. Pierre Bourdieu (2004), importante sociólogo francês, lança uma pergunta desafiadora: quais os usos sociais da ciência? Para tentar responder a tais questões, o autor evoca a noção de campo.. Na perspectiva de Bourdieu, as disciplinas do conhecimento humano, que perpassam a história, a filosofia, a ciência, a literatura etc., são objetos de análises com pretensões científicas (BOURDIEU, 2004). Para Bourdieu (2004), há uma história em cada saber e em cada disciplina, por exemplo, há uma história da filosofia, uma história da literatura, e em todos esses campos encontra-se a mesma oposição, o mesmo antagonismo (SILVA, 2018).

Para escapar à alternativa da “ciência pura”, fora de qualquer intervenção do mundo social, e à ciência escrava, sujeita a todas as demandas políticas e econômicas, Bourdieu elabora a noção de campo. O campo científico é um mundo social e, como tal, faz imposições, solicitações etc., que são, no entanto, relativamente independentes das pressões do mundo social global que o envolve. De fato, as pressões externas, sejam de que natureza forem, só se exercem por intermédio do campo, são mediatizadas pela lógica do campo. Uma das manifestações mais visíveis da autonomia do campo é a sua capacidade de refratar, retraduzindo sob uma forma específica as pressões ou as demandas externas (BOURDIEU, 2004, p.21-22). Na perspectiva de Bourdieu (2004), por um lado, o campo científico representa um campo de forças e, por outro, representa um campo de lutas para conservar ou transformar o campo de forças (BOURDIEU, 2004). No entanto, segundo Bourdieu (2004), o que define a estrutura de um campo num dado momento é a estrutura da distribuição do capital científico entre os diferentes agentes engajados nesse campo. O campo é o lugar de constituição de uma forma específica de capital. Este, por sua vez, pode assumir diferentes formas e proporcionar poderes aos seus detentores (SILVA, 2018). De acordo com Muniz Sodré (2014, p.323), “a demanda social e o contexto histórico não explicam a autonomia cognitiva e disciplinar de que se investe um saber em seu desenvolvimento progressivo”. Dito de outro modo, para o autor, o reconhecimento desse processo se torna mais claro quando se recorre à noção de campo empregada por Bourdieu, porque o campo pode ser percebido como um espaço social com suas próprias leis de funcionamento (SILVA, 2018). Em outras palavras, podemos dizer que um profissional, na maioria das vezes, no desenvolvimento de sua carreira, almeja que suas práticas estejam voltadas para a aquisição de autoridade e prestígio. Precisamos, no entanto, repensar nossas práticas profissionais, refletindo de forma ética sobre os impactos de nossa profissão na comunidade em que vivemos, na sociedade, de modo geral, e no mundo. Agora que você conheceu um pouco sobre a ciência e o campo científico do ponto de vista conceitual, adentraremos a contextualização prática do tema! Então, vamos lá! Vivemos em um cenário de expansão e mutação tecnológica no âmbito da informação e do conhecimento. Nesta conjuntura, o Brasil apresenta um desafio peculiar no campo da educação superior, ou seja, formar profissionais qualificados e comprometidos, com habilidades e competências específicas, capazes de seguir e desenvolver as mais variadas mudanças sociais e culturais, de forma adequada e consciente para permitir, assim, a continuidade do desenvolvimento sustentável do país. Nesse cenário, a ciência desempenha preponderante envergadura em nossa vida cotidiana, de modo que seria complicado imaginar o mundo contemporâneo sem os seus feitos, ao longo da história. A ciência, como você sabe, é corresponsável pelas transformações tecnológicas que sustentam as inovações na indústria farmacêutica, por exemplo. Quando

dizemos que ela é a corresponsável, afirmamos que sem o componente humano, sem a sua inteligibilidade, nada disso seria possível. A ciência está em toda parte, além da descoberta de medicamentos e vacinas eficazes, permitiu o desenvolvimento de tecnologias, como os computadores pessoais; os meios de transporte; os meios de comunicação; a internet; os smartphones, entre outros. A ciência é a responsável por dinamizar e organizar a vida em sociedade, ela é responsável pelo progresso e, muitas vezes, pelos retrocessos sociais, por isso, é muito importante que a formação dos profissionais do futuro, leia-se presente, contemple um olhar mais humanizado acerca do ser humano e do ambiente que o rodeia. EXPLORANDO IDEIAS: Ao sair de casa você pode até esquecer a sua carteira, mas dificilmente esquecerá o seu smartphone. É verdade, não é mesmo?! Carregamos na palma das mãos um dispositivo que nos ajuda a organizar e a facilitar a nossa vida cotidiana. E sem falar da mutação que os próprios aparelhos celulares sofreram em pouquíssimos anos. Estamos vivenciando a passos largos o desenvolvimento de tecnologias, cada vez mais, eficientes, que unem praticidade, inteligência artificial e que, além disso, pode nos conectar com o mundo ao diminuir barreiras, a saber, espaço temporais. A Emergência da Técnica Caro(a) aluno(a), nesta aula, você refletirá sobre o desenvolvimento, a importância da técnica e os usos que fazemos dela. É sempre importante nos incluirmos neste processo, porque somos nós com toda a nossa capacidade inventiva e criativa que produzimos técnicas e fazemos uso delas. Nesta discussão, você refletirá sobre a construção social da técnica e como ela permeia a nossa vida cotidiana, assim como as suas implicações e o seu refinamento ao longo do tempo. Homens e mulheres, no decurso da história e de seu desenvolvimento sócio-cultural, buscaram e buscam a resolução de problemas de ordem prática, por meio da utilização da técnica, logo, desde a criação de ferramentas para caçar ou coletar alimentos à construção de abrigos para se proteger de fenômenos naturais, por exemplo. Para Vilém Flusser (2014, p. 69), as revoluções sempre acontecem do ponto de vista das técnicas, assim “tomaram uma pedra na mão esquerda e outra na direita. Isso já é absolutamente misterioso. Talharam a pedra e fizeram progressos colossais”. Na perspectiva de Flusser (2014, p.73), a técnica é neutra; para Pierre Lévy (2014, p.25), a técnica é um constructo cultural que condiciona uma sociedade ao invés de determiná-la. Dito de outro modo, a técnica carrega em si uma potência. E a forma como ela será empregada dependerá do contexto cultural e socialmente construído, das relações de poder estabelecidas e dos usos que serão feitos dela (SILVA, 2018). Nesse sentido, o desenvolvimento de técnicas de informação e comunicação têm colaborado com a compressão espaço temporal, facilitando, assim, os processos comunicacionais, as transações mercadológicas pelo globo e a circulação do capital financeiro. Tais técnicas estão, a cada dia, mais refinadas, convergindo entre si com as múltiplas formas de interação e comunicação, promovidas pela internet.

De fato, você sabe qual a importância da técnica no seu cotidiano e qual o impacto que ela tem na sua vida cotidiana e na sua profissão? É sempre válido lembrar que tudo o que envolve a inventividade humana demanda uma técnica. Neste exato momento, você se apropria de uma técnica e, em última instância, de uma tecnologia. Isso mesmo, ao utilizar o seu smartphone, notebook ou computador de mesa, utiliza uma técnica forjada pelo ser humano. Com o avanço exponencial, digamos, com a mutação tecnológica, adentramos na era do conhecimento ou na sociedade em rede, na qual o conhecimento e a informação podem ser adquiridos e compartilhados de forma ampla e coletiva, na medida em que as tecnologias de informação e comunicação ajudam a simplificar e, muitas vezes, suprimir uma antiga dicotomia existente entre aquele que emite a informação e aquele que recebe. A Sociedade em Rede Sociedade em rede; sociedade informacional; sociedade do conhecimento, entre outras, são termos atribuídos ao desenvolvimento e refinamento de técnicas de comunicação e informação, no contexto das sociedades globalizadas. Na perspectiva de Manuel Castells (2003), o nascimento da sociedade em rede relaciona-se à reestruturação social, proveniente da era da informação. Para Castells (2000, p.427), a sociedade em rede é “constituída de redes de produção, poder e experiência, que constroem a cultura da virtualidade nos fluxos globais os quais, por sua vez transcendem o tempo e o espaço”. Silveira (2017, p.23), por sua vez, além de destacar o papel determinante das tecnologias na vida de cidadãos, governos e empresas, questiona a contradição presente na sociedade informacional. O mesmo sistema que promove e intensifica as relações sociais e comerciais, por meio da comunicação também os controla simultaneamente. Esse modelo tecnológico apresenta consequências sociais, econômicas e políticas que, segundo o autor, precisam ser bem compreendidas (SILVA, 2018). A internet, no contexto da sociedade em rede, é uma rede de comunicação global que se apresenta como tecnologia e também como prática social. Castells (2003) chegou a esta conclusão, ao investigar três processos independentes, ocorridos no final do século XX, e que foram responsáveis pela ascensão da internet como a conhecemos hoje. Os três processos investigados por Castells (2003, p. 8) são os seguintes: a. As exigências da economia por flexibilidade administrativa e por globalização do capital, da produção e do comércio; b. As demandas da sociedade, em que os valores da liberdade individual e da comunicação aberta se tornaram supremos; c. Os avanços extraordinários na computação e nas telecomunicações possibilitados pela revolução microeletrônica. A aderência desses três processos aponta uma nova estrutura social, baseada em redes. Assim, na perspectiva de Castells (2003, p.8), sob tais condições, a internet tornou-se o motor na transição para uma nova forma de sociedade, que ele chama sociedade de rede, e com ela para uma nova economia. Ao correlacionar internet, sociedade e economia, o autor

reflete sobre a importância de localizar o processo de transformação tecnológica no contexto social em que ocorre e pelo qual é moldado. Examina também o papel desempenhado pela internet na emergência da nova economia, que traz à baila a transformação da administração de empresas, os mercados de capitais, novas formas de trabalho e a inovação tecnológica. Além da reflexão econômica, Castells (2003) situa sua análise nos aspectos relacionados à expansão da internet, avaliando as formas de sociabilidade online, ao apontar o estudo de formas de participação do cidadão nas redes, por exemplo. Outro aspecto importante a ser levado em consideração é o fato de que a internet apresenta conflitos relacionados à liberdade e à privacidade na interação entre cidadãos, governo e empresas. Esta discussão sobre privacidade, liberdade e segurança de dados na rede foi, recentemente, ampliada e debatida por Silveira (2017). É fato que a tecnologia se faz presente em nosso cotidiano, mas será que estamos fazemos um uso adequado delas? O Exame Nacional de Desempenho de Estudantes (ENADE), ao longo dos seus 15 anos de existência, prioriza, em um dos seus eixos, o Componente Formação Geral, isto é, conteúdos comuns aos cursos de todas as áreas. Desse modo, ciência e tecnologia são dois temas fundamentais para o exercício de qualquer profissão, perpassando todas as áreas do conhecimento humano. No Componente de Avaliação da Formação Geral (ENADE, 2018), apresentam-se várias características relacionadas ao perfil profissional, das quais destacamos as seguintes: * Humanista e crítico, apoiado em conhecimentos científico, social e cultural, historicamente construídos, que transcendam a área de sua formação; * Protagonista do saber, com visão do mundo em sua diversidade para práticas de multiletramentos, voltadas para o exercício da cidadania. Agora, você percebe a importância de acompanhar o que acontece ao nosso redor? Mudanças climáticas, apelo à sustentabilidade, crise na economia do país, corrupção na política, avanços na ciência etc. Além disso, temos um importante suporte da tecnologia para fazermos do nosso lugar um lugar melhor, com ética, responsabilidade e conhecimentos que ultrapassam a nossa formação profissional. Contamos com você para aperfeiçoar o conhecimento científico, social e cultural de nossas comunidades.



Pilar Emocional

Ética, Sociedade e Direitos Humanos Acreditamos que, além da base intelectual e profissional, é preciso desenvolver a inteligência emocional; afinal, somos seres dotados de emoções que, muitas vezes, afetam decisivamente as motivações, os relacionamentos e as decisões que tomamos ao longo da vida. Como disse o escritor Augusto Cury, “o pior cárcere não é o que aprisiona o corpo, mas o que asfixia a mente e algema a emoção”. Partimos do pressuposto de que o ser

humano deve ser visto de forma inteira, integral e, portanto, dotado do físico, da mente e dos sentimentos. Assim, estimulamos você, aluno, a desenvolver a disciplina da mente, do corpo e do tempo. Entre nossos valores essenciais está a “promoção do desenvolvimento emocional”. Ética, Sociedade e Direitos Humanos Dr. Ivan Dias da Motta Plano de Estudo * A emoção de viver na sociedade de nosso tempo: caminhos percorridos para autonomização dos sujeitos históricos * Ética, sociedade tecnológica e Direitos Humanos * Efetividade dos Direitos Humanos: a emoção, ética e ação diante do sofrimento do outro Oportunidades de Aprendizagem * Apresentar uma narrativa do processo de autonomização dos sujeitos históricos. * Problematizar a ideia de Ética e Direitos Humanos na Sociedade Tecnológica de Consumo. * Contextualizar o conceito do pilar emocional a partir dos conceitos de Ética, Sociedade e Direitos Humanos. A Emoção de Viver na Sociedade de nosso Tempo: Caminhos Percorridos para Autonomização dos Sujeitos Históricos O tema da ética, sociedade e direitos humanos, quando visto da perspectiva da emoção humana, é amplo e fundamental para a formação superior em nosso tempo e, por isso, vou convidar você a pensar em um dos possíveis caminhos que os homens percorreram. Lembrando que esse percurso não é linear, mas cheio de idas e vindas e, muitas vezes, anda-se até em círculo. Nessa trilha que percorreremos, partiremos do seguinte ponto: o ser humano é finito e busca a redenção – escapar de um perigo ou de desgraça. Nossos ancestrais refletiram sobre a finitude e buscaram um relacionamento com aquele que eles consideravam ter criado a ordem das coisas em uma época de teocentrismo (Deus como o centro), considerando que o ser que havia criado tudo, de maneira a chegar a um fim e retornar a ele (a salvação e a vida eterna, criada naquele tempo e ainda em nosso tempo presente). A religião é a atividade humana que busca a ligação com o criador, ou a harmonia com a ordem natural das coisas. Havia, por um outro lado, os que refletiam sobre a salvação estar no enfrentamento do medo da finitude (da ideia de que chegaremos a um fim). Viver assim, nessa linha que adotamos, diz respeito a viver com sabedoria. Podemos nos lembrar da filosofia que é a atividade humana de refletir e pensar sobre o mundo. Viver de maneira sábia, sem medo do fim, implicaria também em conviver de maneira harmoniosa e justa com os semelhantes.

Esse segundo pensamento, pode nos levar a pensar sobre a autonomia dos sujeitos na história da humanidade. Essa autonomia se refere a um certo distanciamento daquele que, antes, o fazia dependente, como uma amizade que vai perdendo sua força até se tornar uma lembrança. Esse contexto é importante para entender alguns aspectos: a) estar preparado para mudanças; b) expressar constância emocional mesmo diante das adversidades; c) buscar convivência justa e ética na prática do trabalho e de pertencer a uma comunidade identitária, possuir uma identidade. Ética, sociedade e direitos humanos são reflexões do ser humano na busca pela salvação diante da constatação da finitude da vida. PENSANDO JUNTOS: Pense comigo, viver preparado para o fim seria sabedoria? Ou seja, viver o tempo presente de maneira plena e alegre, sem angústia ou medo do futuro? Então, a princípio, a ideia da soberania divina carregava a concepção de que não havia a possibilidade de alterar a ordenação das coisas. Em um primeiro movimento de busca pela autonomia, tem-se a separação entre dois aspectos: 1). a ordem das coisas na natureza que devem apenas ser contempladas e 2). a sua imitação como forma de intervenção humana sobre a organização da vida coletiva nas cidades (ou seja, a mímese da natureza, que seria a organização da vida coletiva, baseada na ordenação da natureza). Há, portanto, uma separação entre a esfera da contemplação (representada pela religião) e a política, criada pela ação humana. No segundo momento desse movimento de autonomização, quando o cristianismo é universalizado no ocidente, a natureza passa a ser vista como criatura, tanto quanto o homem, à disposição do domínio humano, isto é, afastamo-nos ainda mais do nível de mera contemplação. Esse homem, de 1400 d.c, passa a reivindicar uma autonomia individual em relação à religião, já que o indivíduo pode pensar, o que lhe confere uma dignidade diante da natureza. Essa dignidade, como afirma Pico Della Mirandola, produz um homem soberano, que alcança uma autonomia para o poder político em relação a qualquer poder externo a ele mesmo. Inclusive, a religião passa a ser um instrumento para governar o povo - ela não é mais determinante, mas sim uma ferramenta usada como convir. O poder agora está nas mãos do que tem a força da tecnologia de guerra, ou a força da riqueza, ou a força das trocas mútuas, ou ainda, do alargamento dos laços familiares. O terceiro movimento desse percurso é a autonomização da economia de mercado, como núcleo das relações sociais. O detentor do poder político (adotaremos o termo Estado) passa a sofrer influência da economia, sobre o modo como essa atua nas práticas e nos comportamentos da sociedade. A economia passa a regulamentar o caminho tomado pela sociedade. Essa autonomização da economia de mercado transforma o homo sapiens em homo faber, aquele que está focado na produção, no trabalho, como sentido da existência e importância do homem na sociedade. Neste sentido, tanto a tradição liberal, como a tradição socialista, aplaude o progresso na dominação da natureza. De um lado, para transformação em mercadoria e geração de lucro, de outro, para a dominação das forças produtivas para socialização dos meios de produção e extinção da propriedade privada.

O quarto movimento é a autonomização do processo de aceleração tecnocientífico em relação à própria vida humana. A ideia de progresso tecnocientífico está no centro da narrativa da modernidade. A autonomia para total experimentação sem quaisquer limites, senão aqueles do próprio processo. Não há limite do sagrado, do coletivo (político), do econômico, ou, por fim, do humano. Tudo é passível de ser transformado em objeto da ciência. O homem cria “outros sujeitos” artificiais, inteligentes, capazes de acelerar exponencialmente a dominação da natureza - inclusive a natureza humana - rumo à superação da fronteira da finitude. O tecido social se rompe para abolir o humano, como espécie exclusiva dominante. Nessa trajetória da autonomização, chegamos a um lugar de fala bastante confortável e abundante, embora tenhamos chegado sozinhos e destituídos de nós mesmos. A impressão é que a autonomia trouxe um mal-estar, arrisco dizer: uma redução de escala das nossas perspectivas. Embora sejamos bilhões de humanos vivos, reduzimo-nos, atualmente, a homo-consumens, o homem reduzido à categoria de consumidor, como essencial para esse tecido social. Neste tópico, buscamos construir uma trajetória dos conceitos importantes para uma história do processo de autonomização do homem, na busca de uma ou de várias salvações possíveis da finitude (morte). Tais escapatórias contribuíram com a construção de um processo civilizatório que dominou a natureza e promoveu a abundância de recursos. Também é verdade que produziu um cenário de degradação e lixo que, como nunca na história humana, ameaça a vida planetária e os ecossistemas naturais. No próximo tópico, continuando esta tradição de pensar por si, sem a intervenção ou submissão a um criador. Temos o pensamento de Hans Jonas (2006), com o Princípio Responsabilidade, a partir de uma heurística do medo. Ética, Sociedade Tecnológica e Direitos Humanos Três Leis da Robótica: 1) um robô não pode ferir um humano ou permitir que um humano sofra algum mal; 2) os robôs devem obedecer às ordens dos humanos, exceto nos casos em que tais ordens entrem em conflito com a primeira lei; 3) um robô deve proteger sua própria existência, desde que não entre em conflito com as leis anteriores. Se você não leu, fica a dica, Asimov em seu livro “Eu, robô”, publicado em 1950, lançava essas três leis para a programação de um robô. Posteriormente, Asimov adicionou uma quarta lei antecedendo as demais: “4) um robô não deve agir simplesmente para satisfazer interesses individuais, mas suas ações devem preservar o benefício comum de toda a humanidade”. A pergunta é a seguinte: na sociedade crescentemente e irreversivelmente tecnológica, em que vivemos, seria possível aplicar essas regras éticas ao humano? Mais ou menos assim: um humano não pode ferir um humano ou permitir que um humano sofra algum mal.

Hans Jonas (2006), em “O princípio responsabilidade: ensaio de uma ética para a civilização tecnológica”, publicado, pela primeira vez em, em 1979, apela para uma “heurística do medo”, ou seja, o medo, como uma emoção/sentimento ancestral capaz de despertar, no homem de nosso tempo, um agir responsável e ético para com as gerações futuras e para com a própria presença na natureza. Jonas (2006) propõe que A teoria da ética precisa tanto da representação do mal quanto da representação do bem, e mais ainda quando este último se tornou tão borrado ao nosso olhar, necessitando ser ameaçado pela antevisão de novos males, para ganhar alguma nitidez. Nessa situação, que me parece aquela que estamos vivendo, o esforço consciente para assumir um medo desinteressado, no qual junto com o mal apareça o bem a ser defendido, junto com o infortúnio apareça uma salvação que não faça exigências demasiadas [e por isso] o medo se torna a primeira obrigação preliminar de uma ética da responsabilidade histórica. Jamais deveríamos confiar o nosso destino àquele que considere que essa fonte da responsabilidade, “o medo e o tremor” – naturalmente, jamais a sua fonte única, apesar de muitas vezes ela predominar, com razão, sobre as demais -, não seja suficientemente digna do status do homem (JONAS, 2006 p. 351-352). Jonas (2006) discute acerca da preocupação (ou a falta dela) com relação ao tempo distante, a distância de um futuro catastrófico. A despreocupação pode nos levar a uma irresponsabilidade ante ao porvir. A frase atribuída a Keynes “a longo prazo, todos estaremos mortos”, com a qual ele criticava aqueles economistas que propunham um equilíbrio natural, bastando aguardar por ele, poderia ilustrar esse imobilismo de nossa geração, porque vivemos uma época de abundância na sociedade de consumo. Imaginar que uma sociedade voltada explicitamente à satisfação das necessidades humanas vai alterar, por si só, os potenciais destrutivos embutidos, inevitavelmente, no avanço da ciência e da técnica, é mais que ilusório: é expressão de prepotência. A construção de uma ética histórica deve superar essa irresponsabilidade. A heurística do medo (o medo como um norteador nas tomadas de decisões) deve ser capaz de questionar o objeto (o artefato, a mercadoria, a técnica) e não ser significada por ele. O simples prazer de possuir um objeto, uma mercadoria, leva o consumidor a se apropriar dele sem uma reflexão profunda a respeito do valor que esse objeto tem - não um valor no sentido financeiro, mas um valor sobre a sua relevância, importância. O consumo, portanto, não se dá por necessidade/utilidade, mas consome-se por consumir. O princípio da responsabilidade, a partir da heurística do medo, deverá trazer o despertamento para um consumo consciente e questionador. Por fim, o princípio responsabilidade deve gerar a capacidade de produzir um futuro diferente das utopias imaginadas no passado, mas diferente, também, dos horrores vividos no século XX. Deve-se relevar salvações possíveis, além dos infortúnios possíveis de serem imaginados, a fim de preservar a essência das gerações futuras, para que não nos tornemos consumidores frios e sem vínculos profundos.

Na obra de Hans Jonas (2006), compreendemos que * A Ética pode ser construída não só a partir da esperança de um mundo melhor, mas a partir do medo fundamental da finitude e da repetição dos perigos e tragédias que fizeram parte da história humana; * Não se pode confiar nas promessas das utopias da modernidade, que imaginaram nosso tempo como aquele que, ao dominar a natureza pela tecnociência, garantiria liberdade, igualdade e fraternidade a todos os seres humanos. Não foi essa a constatação histórica do século XX e XXI. A promessa de direitos humanos universais sucumbe, diante da realidade de bilhões de seres humanos, excluídos do sistema de consumo e dos avanços tecnológicos e científicos; * O tempo longo das promessas de realização da felicidade, por meio de direitos, é contrastado pelo tempo da urgência dos excluídos, que morrem antes de ter acesso ao direito de consumir e até mesmo aos seus direitos básicos. Os estudos de Hans Jonas (2006) nos coloca diante de vários conceitos, aos quais precisamos dar sentido e significado, para nossa formação sociocultural e ética, neste viés Emocional, tais como:



Os movimentos do progresso tecnológico provocam mudanças globais na vida da espécie humana e dos indivíduos, como estão nossas capacidades e habilidades para uma ação ou resistência ética?

Exemplo: As inteligências artificiais (o robô de Asimov) já se apresentam como entes (indivíduos) na convivência humana, por meio da chamada internet das coisas (empresa 4.0), o que deve promover um analfabetismo digital para bilhões de pessoas. Em que medida, eu que sou um alfabetizado digital vou me solidarizar com a (des)capacidade do outro?



É possível a existência ética em uma sociedade tecnológica?

Exemplo: a internet foi uma tecnologia revolucionária, a qual permitiria a comunicação global universalmente democrática, atualmente é dominada por 3 grandes empresas monopolistas que controlam conteúdos, acessos e, principalmente, modos de usos da ferramenta, estimulando mais e mais a permanência do tempo de conectividade para fins de mercado. A pergunta é “a tecnologia coloniza a vida humana? ” Por fim, quero trazer para o diálogo algumas afirmações de Baudrillard (2009, p. 59), em sua obra “Sociedade do Consumo”, a qual nos ajuda a pensar a dificuldade de escaparmos da vida reduzida a consumidor. Baudrillard (2009) fala da Dimensão de Salvação que representa o consumo:

No fundo de todas as aspirações, subjaz o refinado ideal de um estatuto de nascimento, de graça e excelência, assediando igualmente o mundo envolvente de objetos. É ele que suscita o delírio e o mundo descontrolado de bugigangas, de gadgets e FEITIÇOS, procurando gravar toda a eternidade de um valor e fornecer a prova da salvação por meio das obras, falta da salvação pela graça. Daí o prestígio muito particular do objeto antigo, sinal de hereditariedade, de valor infuso e de graça irreversível. Quero destacar sua atenção para alguns pontos importantes, nesta ironia do autor:



A metáfora da salvação pelas obras (de pouco valor, porque vem da mobilidade social na escalada do consumo, portanto para classes inferiores) em oposição à salvação pela graça (para aqueles que, por sangue ou cultura, foram predestinados às castas superiores de consumo). A Sociedade de Consumo, nesta metáfora, coloca o capitalismo e a economia como o próprio deus, porque dá sentido e cria a vida dos consumidores;



Na sociedade tecnológica de consumo não há a utopia da democracia, posto que os sujeitos não possuem mais autonomia a não ser para consumir dentro de sua classe.

Ao contrário de Hans Jonas (2006), no Princípio Responsabilidade, a partir de uma heurística do medo, Baudrillard (2009) não vê uma salvação humana para a Sociedade Tecnológica de Consumo, porque, simplesmente, não se tem medo em abundância. Isso quer dizer que não há consciência de que o objeto (artefato/tecnologia) não traz uma vida justa e sábia, mas simplesmente a emoção/sentimento de prazer, até o consumo do próximo objeto, que também não suprirá o vazio das relações humanas. Apenas um evento de dimensões catastróficas ou metafísico poderá interromper o ciclo vicioso do consumo destrutivo. Esse evento pode ser o surgimento de uma nova inteligência que promova a abolição do homem (tal como retratado na trilogia Matrix). Ou, então, no campo teológico, o retorno de Cristo. RESUMO​: Os autores trabalhados neste capítulo nos apontam os limites, que, segundo eles, são quase inescapáveis da dinâmica da Sociedade Tecnológica do Consumo. O processo de dominação da natureza supera a escassez e põe em movimento as forças produtivas, em busca do progresso associado à ideia de abundância e à democracia. Uma sociedade de indivíduos e de acesso a direitos humanos, reduzidos à ideia de consumo. Hans Jonas, diante do cenário do século XX, busca um princípio de Responsabilidade, na emoção/sentimento primário do medo (heurística do medo). O medo seria capaz de promover uma ação consciente contra a colonização da vida pela técnica (tecnociência). A tecnologia que se encontra, atualmente, em um estágio de reivindicação de autonomia, faz a humanidade pensar em humildade científica diante do horror das possibilidades de futuro (obsolescência do humano no planeta).

Diante desta narrativa, a utopia dos direitos humanos universais como um projeto de construção de uma solução para o homem apresenta suas deficiências. Isto, porque, não se apresenta como um projeto ético, já que há uma seletividade entre os humanos que têm e os que não têm acesso aos direitos. Neste momento, a denúncia de Baudrillard é mais aguda, pois posiciona a Sociedade Tecnológica do Consumo como uma refeudalização do mundo. Uma sociedade que contradiz, em tudo, o projeto de liberdade e emancipação do sujeito na história, porque estabelece a volta do estatuto, e não da democracia. Neste sentido, não há valorização da ética no mundo do consumo, pois o padrão de justiça e dignificação é dar acesso aos objetos. Caro(a) aluno(a), a Revolução Científica acarretou na separação entre a natureza e a humanidade. A ética, postulada por Hans Jonas, busca dar, novamente, para a natureza, o status de sujeito da história e, atribuir ao ser humano, a responsabilidade pela vida no planeta. O medo do fim é uma emoção que pode servir de maneira positiva para a construção de uma ética, a qual aponta para a sabedoria, para que a humanidade possa viver e conviver nesse mundo, procurando superar, assim, os efeitos nocivos do consumismo. Veremos, a seguir, o exercício dos direitos humanos nessa nossa sociedade, chamada de pós-moderna, inserida na cultura do consumo. Efetividade dos Direitos Humanos: a Emoção, Ética e Ação diante do Sofrimento do Outro Nos tópicos anteriores, pensamos, juntos, a respeito do processo de autonomização dos sujeitos históricos (o homem e suas qualidades), como um pressuposto para a ideia de liberdade, essencial para um agir ético no mundo. Em seguida, avançamos diretamente para a Sociedade Tecnológica de Consumo, nosso atual estágio, para perguntar se é possível escapar dos perigos da tecnologia de extinção e da condição reduzida ao consumidor, para construir uma ética que nos levasse a uma condição mais digna e respeitosa, na qual o outro não é medido por seu poder de consumo. Neste tópico, vamos trabalhar as duas ideias trazidas nos tópicos anteriores com o escopo de buscar a efetividade dos direitos humanos consolidados e determinados dentro da sociedade pós-moderna. Para tanto, faremos um diálogo entre a identidade emocional do sujeito e os direitos humanos reconhecidos, universalmente, segundo a visão de Bethânia de Albuquerque Assy (2012). A Declaração Universal dos Direitos Humanos, proclamada em 1948, pela Assembleia Geral das Nações Unidas, ganhou repercussão internacional e passou a ser uma orientação jurídica para todas as Nações, como busca e resgate da dignidade da pessoa humana. Mas será que esse reconhecimento universal é capaz de garantir as particularidades de cada sujeito? Para começar nossa conversa, preciso sintetizar para você a origem dos Direitos Humanos no contexto da criação do Estado Moderno (uma sociedade de indivíduos livres e iguais em direitos garantidos pelo Estado):



Os filósofos políticos contratualistas (Hobbes, Locke e Rousseau) entendiam que, antes do Estado de Direito Moderno, o homem viveu em um “estado de guerra”, sendo a liberdade graduada em estágios:

* Liberdade existencial (incondicionada), surge com o homem (âmbito individual); * Liberdade predatória do homem no estado de natureza e na formação de sociedades (âmbito coletivo/grupal); * Liberdade socializada do homem na concepção de Estado, com ações livres, mas condicionadas pela moral.



A autonomia da razão humana impõe uma vontade de agir de acordo com uma lei própria (lei moral) e não uma lei externa (natural ou divina). A liberdade condicionada para ser exercida, fora de um estado de guerra, precisa de um garantidor. Esse movimento desencadeou o Artefato Humano do Contrato Social para transformação da sociedade em um Estado Democrático de Direito, que garantisse os direitos naturais do homem e expandisse esses direitos humanos, conforme esse modelo se estendesse para toda a humanidade;



O Estado Democrático de Direito é a forma de organização do povo sob o ordenamento jurídico como expressão da moral coletiva. Organizar os direitos humanos naturais ou culturalmente criados, a partir da ordenação de leis, garantiria a superação tanto da violência da natureza que exige a luta de todos contra todos, como do estado de escassez dos recursos naturais.

A pergunta que fica é a seguinte: esse “Projeto de Salvação” juridificação da liberdade e a distribuição dos direitos humanos chegou a todos os povos? Deu certo para quem? Se você fizer um balanço histórico dos séculos XIX e XX, constatará que o modelo deu certo para os que acompanharam o movimento de mercado, aqueles que se tornaram proprietários de produções de bens de consumo. Mas não deu certo para a natureza que sofreu (e sofre) grande exploração. Ademais, não deu certo para aquela grande parte da população que foi excluída da condição de proprietária, ou mesmo da condição consumidor desses bens produzidos. A conclusão, portanto, é a de que há uma seletividade de acesso aos Direitos Humanos Universais.

A filósofa e professora Bethânia de Albuquerque Assy (2012), descreve os Direitos Humanos como uma ficção necessária, ou seja, há a existência da Declaração Universal dos Direitos Humanos, reconhecidos internacionalmente e que são transportados para o direito interno, por meio da Constituição Federal de 1988, em seus diversos artigos. Mas por serem ficcionais esses direitos perdem a importância? Deixam de ter efetividade? Não. Muito embora seja uma ficção, não deixa de ter uma efetivação normativa dos direitos declarados. Ainda que o direito não alcance os injustiçados sociais, poderão reivindicá-los juridicamente, buscando, assim, a igualdade. Diante deste cenário, quem é o responsável pela ineficácia dos Direitos Humanos? Para Bethania Assy (2012), a ineficácia está intimamente ligada à injustiça social, ou seja, à estrutura violenta de poder que nega acesso aos direitos econômico, racial, político, cultural, dentre outros. Esse movimento gera uma seletividade de direitos, já que alguns têm acesso a eles, enquanto outros não. Mas, como garantir a eficácia dos Direitos Humanos para os cidadãos que estão segregados socialmente? Ela observa que, na luta contra a segregação social, há uma temporalidade de urgência, a qual deve ser combatida de imediato, pois revela um sujeito concreto que necessita, emergencialmente, da intervenção e da garantia de direitos descritos no campo teórico. Não somente por meio da judicialização destes direitos, mas, principalmente, por meio do reconhecimento deste sujeito como agente político. Assy utiliza como base teórica para o reconhecimento do sujeito a Teoria do Reconhecimento de Axel Honnet, a qual afirma que a dignidade é construída a partir do valor social. Em outras palavras, o olhar do seu semelhante atribui valor à pessoa. Esse olhar não garante apenas o reconhecimento físico, mas emocional, pois há a construção da identidade do sujeito como agente atuante na sociedade, trazendo a importância desse indivíduo diante da garantia de direitos básicos contemplados na Constituição. Assy, em seu artigo intitulado “A dignidade dos invisíveis – invisibilidade social, reconhecimento e Direitos Humanos” (2012), afirma que o sujeito se torna seguro do valor social de sua identidade por meio do reconhecimento recíproco dos que com ele interagem. “Tal reconhecimento, por parte da comunidade, por meio da concessão de direitos, leva-o a uma atitude positiva para consigo mesmo” (2012, p. 25), de forma que a negação de reconhecimento dos direitos desse sujeito o torne incapaz de construir um respeito próprio e social, enfraquecendo o sentimento de pertencimento a um grupo social, fundamental aos Direitos Humanos. PENSANDO JUNTOS: O que você, aluno, pode fazer para modificar essa realidade e garantir a efetividade dos Direitos Humanos aos injustiçados sociais? Como fazer para resgatar a identidade deste sujeito frente aos Direitos Humanos já consolidados? Como você reage diante da negação dos direitos humanos a uma pessoa que você visualiza no seu cotidiano? Para Assy (2012), é preciso colocar esse sujeito como protagonista na modificação da sua realidade social para, assim, alcançar sua emancipação. Nesse sentido, Hanna Arendt (apud Assy, 2012) descreve, na construção da Teoria da ação política, que os sujeitos

existem politicamente quando eles agem diante de uma causa conjunta. A ação em conjunto produz singularidade, porque no momento da luta pelo coletivo a pessoa se destaca individualmente. Dessa forma, ganha performance como agente atuante na sociedade, no sentido do reconhecimento de sujeito público e social. Assim, a relação entre pertença e experiência é fundamental para a construção da efetividade dos Direitos Humanos. Bethania Assy (2012) continua seu diálogo ao afirmar que todos somos corpos envolvidos no processo de segregação social e que esta precarização de direitos atinge a todos, mas de maneira diferente. Como exemplo, podemos citar a violência nas favelas que, dentro do microcosmos do morro, está geralmente atrelada ao tráfico de drogas, mas que atinge a sociedade periférica com assaltos, latrocínios, homicídio, sequestros, dentre outros crimes. Mas, como é possível a modificação dessa realidade e a eficácia dos Direitos Humanos aos segregados? Assy (2012) defende, no artigo nomeado “A moldura de uma existência cosmopolita: cultivo de sentimentos públicos, uma leitura Arendtiana”, que o cultivo de sentimento público produz uma agenda concreta capaz de dar voz e ação a este sujeito marginalizado ao garantir sua visibilidade social e efetividade dos Direitos Humanos. Assim, para chegarmos ao fim de nossa trajetória, vamos retomar nosso propósito e pensar a Ética, a Sociedade e os Direitos Humanos sob a perspectiva de um pilar emocional. Você e eu podemos considerar algumas perplexidades e inquietações que podem apontar para um horizonte de respostas aos nossos problemas sociais, ético e jurídicos: 1. Há um cenário de seletividade dos Direitos Humanos que não estava previsto; 2. Com Jonas e Baudrillard, vemos dois lados extremos para “fugir” das consequências da sociedade de consumo: o apelo ao medo, como instrumento de tomada de consciência; a escapatória do consumismo exacerbado apenas por conta de uma grande tragédia ou de uma intervenção divina. Assim, a formação sociocultural e ética, a qual tem, como fundamento, o pilar emocional, deve considerar, em seu desenvolvimento emocional: * a consciência e a resiliência emocional diante das mudanças sociais; * a expressão das emoções vividas e presenciadas pela empatia, na busca pela resolução dos conflitos/problemas do nosso tempo; * a atuação na sociedade como motivação ao pertencimento humano. Luc Ferry (2006) aponta para três atitudes importantes para uma vida adulta madura, que busca pela igualdade de acesso aos direitos humanos, ou seja, advindas de um humano que aprendeu a viver respeitando os direitos humanos:

1. a exigência do pensamento alargado: consiste em buscar, na singularidade do outro, aquilo que é universalmente bom e belo. Em outras palavras, buscar novos horizontes de significação nas diferentes visões e formas de existência; 2. a sabedoria do amor: está em amar a singularidade do indivíduo, não olhar como característica universal encontrável em qualquer ser. Nesse estado de encantamento pelo que o sujeito tem de único, o temor da morte se esvai ou perde força; 3. o luto do ser amado: é sábio quem vive preparado para a morte daqueles a quem ama, vivendo sem mentiras e exercendo o perdão no tempo presente, que afinal é a dimensão eminentemente humana (o aqui e o agora). Nessa trajetória, a liberdade e a resiliência são elementos fundamentais para se pensar uma vida que escape à necessidade do uso da violência contra o outro. Além disso, pensar de maneira a não se diluir na dominação e aniquilação do outro para própria sobrevivência. Do ponto de vista emocional, a capacidade de situar-se conscientemente dentro de uma Sociedade Tecnológica de Consumo sem ser diluído ou reduzido à condição de homo-consumens é essencial para a efetividade dos direitos humanos. ●

Pilar Espiritual

Cultura e Arte A arte é um um fenômeno social que compõe a cultura, é responsável por humanizar o ser humano e refinar suas emoções, incitando a empatia, a consciência e o senso crítico por meio de suas diversas experiências, as quais causam sensações, anseios, ideias e revoluções. É pela arte que retratamos nosso cotidiano, quem somos, o que desejamos, o que achamos belo e ao que resistimos.Há, na bíblia, um trecho, em que Jesus diz “uma pessoa não vive só de pão, mas de toda a palavra que vem da boca de Deus” (Mateus 4:4)”. Nesse sentido, o pão representa o alimento físico e, o conhecimento, o alimento para a alma. Ao partir desse princípio, trabalhamos o tema de forma mais genérica, não focando na religião, mas sim na espiritualidade como um pilar necessário para a constituição de um ser integral.No pilar espiritual, abordamos a cultura e a arte como um refúgio de transformação, a chave para ampliar nossa visão de mundo e nos impulsionar para o autoconhecimento e reconhecimento do próximo, conhecer a si é saber atuar enquanto cidadão. Ética, Cultura e Arte Me. Juliana Garcia de Mendonça Hanke

Plano de Estudo * Cultura, arte e a formação da cultura brasileira * As manifestações culturais e artísticas no Brasil

* Cultura e arte na formação da sociedade Oportunidades de Aprendizagem * Socializar acerca da formação da cultura brasileira e do papel da arte nesse processo; * Compartilhar diferentes manifestações artísticas e culturais que compõem a nação brasileira; * Desafiar o(a) aluno(a) a refletir a respeito da importância da arte e da cultura na formação do sujeito, enquanto cidadão e profissional, inserido na sociedade. Cultura, Arte e a Formação da Cultura Brasileira Juntos, vamos trilhar um percurso que propõe uma reflexão sobre os diferentes povos, línguas e nações – a miscigenação que é a beleza do nosso país. Somos um país de grande extensão territorial e cultural, no qual há belezas que, por vezes, nos passam despercebidas. Precisamos enxergá-las e aprender com o que temos em mãos. A princípio, vamos percorrer um caminho que nos esclarece do que se trata a cultura, indo em direção à composição da cultura brasileira para chegarmos até a arte e entendermos sobre o que se trata e, como ela pode nos influenciar, enquanto seres humanos, nas diversas áreas – enquanto cidadãos e profissionais. No decorrer da sua leitura, procure colocar-se como agente dessa história, pensando em como a cultura, a arte e o conhecimento sobre elas pode interferir em sua formação. Pense em sua formação enquanto cidadão atuante e responsável pela sociedade e enquanto profissional. Como tal conhecimento poderia agir sobre a sua atuação profissional? O termo “cultura” desperta muita discussão por estar entre aquilo que é natural e o que é artificial, ou seja, entre a ação do mundo sobre nós e a nossa sobre o mundo (EAGLETON, 2011). Seu sentido pode se limitar ou alargar ao ser relacionado a atividades intelectuais em geral, ou a atividades relacionadas à arte – música, pintura e literatura. Segundo Maria Elisa Cevasco (2003), no decorrer do século XIX, a palavra “cultura”, que antes se referia ao treinamento de faculdades mentais, tornou-se referente à sociedade que se encontra em um processo acelerado de transformação. Em um sentido mais genérico, cultura diz respeito a reunião de condutas, tradições e crenças de um certo grupo social. Compreender a que se refere o termo “cultura”, faz-se necessário para sabermos que a cultura de um povo deve ser conservada com grande cuidado. Entretanto, diferentes nações se influenciam mutuamente, originando novas histórias, tradições e expressões artísticas, transformando e se agregando a culturas. Apesar de a globalização ser conceituada apenas por volta de 1980, não se trata de um acontecimento que tenha um marco propriamente inicial, mas diz respeito a esse fenômeno amplo de integração gradativa, que acontece desde a época das grandes navegações. Tal fenômeno afeta a cultura no sentido de costumes e ações, mas também a cultura artística, a cultura no sentido de acesso à literatura, pintura, música e afins, pois ela permite uma grande troca entre diferentes culturas.

Ao se tratar da cultura brasileira, é preciso levar em consideração a sua formação, desde a chegada dos colonos portugueses em nosso país. Sendo assim, ela é baseada em três etnias principais e na influência de alguns outros povos. Mencionamos, em primeiro lugar, os portugueses, por terem deixado a mais evidente de todas as heranças, a nossa língua. Outras heranças são a religião católica, o calendário, o carnaval, as festas juninas e o folclore; nas artes, temos influência na literatura, pintura, escultura, música, arquitetura; na culinária, a cachaça, a feijoada, a jaca e, até a manga, são vindas dos portugueses. A nação indígena também tem influência na nossa língua, principalmente, na denominação de animais, plantas nativas e de uma série de regiões do nosso Brasil. O curupira, o saci-pererê e a iara são partes do nosso folclore, assim como outras lendas, oriundas da cultura indígena. Há influência na culinária, tanto no consumo dos alimentos – mandioca, erva-mate, açaí – como na preparação de pratos com pirão. O uso de alguns objetos caseiros, como as redes de descanso, também advém da cultura indígena. Os africanos, trazidos para o nosso país de forma tão brutal, também deixaram sua marca no legado da nossa nação. Grande parte da música popular brasileira tem, como base, os costumes desse povo. Há influência na dança, na culinária, no próprio idioma, nas religiões como o candomblé e a umbanda e no uso de instrumentos musicais, além da capoeira. A grande miscigenação presente no Brasil, nos séculos XIX e XX, leva os colonos a uma tentativa de “branquear” a população e a cultura, por isso, houve um grande incentivo a imigração – vieram italianos, portugueses, alemães e japoneses. Essas nações também tiveram influência sobre a culinária, a língua, as artes, o folclore e a religião – em suma, todos os aspectos que compõem uma cultura e um povo. Somos uma construção plural. No Brasil, existem comunidades indígenas e quilombolas que buscam sobreviver e manter vivas as suas heranças culturais, lutando para não perderem a história que lhes foi passada de geração em geração. Sua presença faz parte da nação que o Brasil é. Ainda hoje, inúmeros são os impasses no território nacional sobre as terras ocupadas pelas comunidades indígenas. Como discutido no ENADE 2019, a demarcação das terras indígenas não abarca apenas questões políticas e territoriais, mas também afeta diretamente o aspecto cultural. Ter suas terras demarcadas permite aos índios usarem-nas para suas atividades produtivas; isso viabiliza elementos tanto materiais como simbólicos que são imprescindíveis para que seus legados culturais sejam transmitidos de geração a geração. Trata-se da manutenção da cultura de toda uma comunidade. Por um outro lado, a África é, por vezes, pensada como um único país, visto de maneira homogênea, como se ali houvesse uma única cultura. Tal postura apenas é um reforço para a exclusão social do sistema de artes visuais da produção africana. Essa visão limitada que o considera um continente miserável e arcaico, cujas artes se resumem ao artesanato e a produção a um sistema manufatureiro, suprimem toda uma expressão dessa região (ENADE 2018). Esse olhar, em certa medida, corrompe também a nossa visão e desacredita a contribuição que o povo africano teve para a constituição de quem somos hoje.

A arte é um componente da cultura e um fenômeno social (NUNES, 2003). Responsável por humanizar o ser humano e refinar suas emoções, auxiliando na tratativa com o próximo e trazendo consciência. É forma de expressão, transmissão de emoções, sensações, anseios, ideais, revoluções. Ela retrata o que vivemos, quem somos e o que almejamos. É forma de ir a favor ou contra o sistema, de manifestar uma opinião e de enaltecer o que há de belo. Expressão de angústia e de contentamento, um autoconhecimento. Quanto a literatura, por exemplo, Todorov (2009, p. 23) afirma que ela “amplia o nosso universo, incita-nos a imaginar outras maneiras de concebê-lo e organizá-lo”. É capaz de nos trazer uma outra perspectiva que nos permita compreender o mundo e o indivíduo, de maneira a encontrar uma maior compreensão de nós mesmos. Ela pode nos transformar de dentro para fora. Tem-se aí a função humanizadora da literatura. Não apenas a literatura, mas as outras manifestações artísticas também são expressão da alma, do contexto social, da cultura, elas retratam o ser humano. Até então, caro(a) aluno(a), tratamos da multiplicidade de aspectos que compõe uma única cultura. Encontramos, na arte, um lugar de refúgio e transformação. Cultura e arte podem ampliar nossa visão de mundo e nos impulsionar para o conhecimento sobre nós mesmos e sobre o nosso lugar. Conhecer a si é saber atuar enquanto cidadão, conhecer seu lugar é poder atuar enquanto profissional, tratando com respeito, com valorização e com ética toda a comunidade a que pertencemos e a nós mesmos. As Manifestações Culturais e Artísticas no Brasil Nessa seção, você poderá conhecer, de maneira breve, a cultura do Brasil – arte, culinária, tradições e religião. A intenção é que você perceba a vastidão da beleza das nossas manifestações artísticas, de tradições e costumes, de forma a ser introduzido no assunto, o qual é muito mais amplo e não pode ser contido nessas poucas páginas. Espera-se que o pequeno histórico da arquitetura, do cinema e da música, e que a diversidade folclórica, religiosa e culinária abram seus olhos para que entenda que a vida em coletividade faz parte de quem somos. Dessa forma, ao entendermos a cultura na qual estamos inseridos, somos levados a olhar para o lado e agir pensando em sociedade, pensando no bem comum, orientados pela ética, seja numa sala de aula, com o seu vizinho, dirigindo uma grande empresa, construindo uma campanha de marketing. A arte plástica, no Brasil, teve momentos marcantes, como o estabelecimento da Escola de Belas Artes no século XIX, a Semana de Arte Moderna em 1922 – que também marcou a literatura nacional. No século XX, despontaram inúmeras tendências na pintura, a saber, pontilhismo, abstracionismo, expressionismo, cubismo, futurismo, dadaísmo, surrealismo, pop art e minimalismo. Arquitetura, culinária, folclore, cinema, música e religião são algumas das expressões culturais e artísticas que também sofreram transformações e que compõem a cultura brasileira. A seguir, você pode conferir uma breve apresentação de algumas delas. Conforme Mello et al. (2019), a arquitetura brasileira tem influência dos índios, dos colonizadores portugueses e dos povos da África. Entretanto, nas regiões mais distantes do litoral, a influência dos colonizadores era menor, prevalecendo a arte tipicamente brasileira.

Da arquitetura indígena, cuja marca é o uso de materiais vegetais, passamos pela arquitetura colonial, cujas estruturas eram feitas de alvenarias de pedra e de tijolos, seguindo o padrão fixado pela Coroa, de maneira a lembrar as pequenas cidades de Portugal; traços da arquitetura barroca também estão presentes, em especial, na arquitetura sacra erguida na segunda metade do século XVI. A arquitetura neoclássica tem relação com o movimento iluminista, voltando-se aos modelos clássicos gregos e romanos – sua presença intentava trazer requinte à arquitetura brasileira; chegamos, enfim, à chamada arquitetura eclética, que recebia uma influência internacional, desenvolvida a partir de uma mistura de estilos, incluindo o uso de ferro forjado. São Paulo é a cidade que mais vivenciou as transformações da arquitetura nacional – as construções de taipa deram lugar às de tijolos e, posteriormente, às de concreto armado. Cada região do Brasil recebeu a presença marcante de determinados povos, tais presenças influenciaram a culinária de cada uma das regiões. As diferentes regiões apresentam comidas típicas, preparadas de acordo com tradições passadas de geração em geração. O Sul, por exemplo, é conhecido pelos famosos churrascos e pelo chimarrão, há também a grande produção de vinho, as caldeiradas de peixe, tortas de maçã e o barreado. O tutu de feijão, a feijoada são exemplos da culinária típica do Sudeste. Os pratos com peixes como pacu e dourado, do Centro-oeste. Quanto ao Nordeste, podemos citar a manteiga de garrafa, a rapadura e o charque – a Bahia tem uma forte influência da culinária africana – pratos como vatapá, sarapatel, cocadas, quindim. Em contrapartida, o Norte do país tem muita influência indígena em sua culinária, como o consumo do tacacá, do açaí, do cupuaçu e da graviola. O folclore é uma parte muito importante da cultura, pois envolve, principalmente, lendas e mitos, mas também cerimoniais religiosos, provérbios, vestimentas e adornos, cantigas, danças, festas, artesanato, medicina popular e afins. Do carnaval às cavalhadas, das festas juninas aos fandangos de tamanco, as lendas sobre o Curupira e sobre a Iara, mãe das águas, todas são expressões de fantasias, medos e anseios do ser humano, seja para lidar com seus problemas ou fugir deles. O cinema é considerado uma das sete artes. Seu início, no Brasil, data em1896, cuja primeira exibição foi em Petrópolis, Rio de Janeiro. Uma década depois, com os avanços da energia elétrica no Brasil, o cinema avançou também. A princípio, os polos exibidores eram São Paulo e Rio de Janeiro, mas alcançou outras capitais na década de 1920. Entre os anos de 1930 e 1950, segundo a ANCINE (2017), o cinema nacional passou a se inspirar no modelo hollywoodiano. As criações de órgãos desse setor possibilitaram, ao cinema brasileiro, uma presença mais marcante no mercado nacional. No entanto, com a extinção deles, em 1990 por Fernando Collor de Mello, estagnou-se a produção do cinema nacional. Apenas em meados dessa mesma década surgiram “as bases de um novo modelo de fomento à cultura, agora apoiado no financiamento indireto e na renúncia fiscal” (ANCINE, 2017, p.13) – Lei Rouanet (1991) e Lei do Audiovisual (1993).

Como já mencionado anteriormente, a música brasileira teve influência das diferentes etnias. A sigla MPB, atribuída à Música Popular Brasileira, apareceu nos anos de 1960, mas não há como determinar o momento em que ela surgiu e nem querer que ela seja imutável e apresente sempre o mesmo sentido. Outras representações da nossa música nacional são o Choro – uma mistura de danças de salão europeias com ritmos africanos –, a Bossa Nova, posteriormente tivemos o movimento da Jovem Guarda (1965) com o rock nacional e uma forte representatividade da camada jovem e sua luta por um espaço reconhecido na sociedade. Além desses estilos, podemos nos lembrar do Tropicalismo (1967 e 1968), com a mistura de diferentes estilos, quebrando as rígidas barreiras tradicionalmente construídas entre pop e folclore, alta cultura e cultura popular, tradição e vanguarda (MELLO et al., 2019). Assim como todos os outros pontos citados até então, essa miscigenação cultural que forma a nossa história também originou uma grande diversidade religiosa. Apesar de ser um país majoritariamente cristão, o catolicismo não é mais a religião oficial do Estado, como fora até a Constituição Republicana de 1891, a qual tornou o Estado laico. Ademais, a nossa Constituição Federal garante a liberdade de culto às diferentes religiões, criminalizando a intolerância, pois doutrinas como espírita, candomblé, umbanda, santo daime, esoterismo, tradições indígenas, judaísmo, neopaganismo, budismo e islamismo estão presentes em nosso território nacional. Apesar de o cuidado da Constituição em garantir a liberdade de culto, a intolerância religiosa aparece de forma crescente. A lei nº 7.716/89 (Diário Oficial da União) estabelece punições para infrações advindas de discriminações ou preconceitos concernentes a raça, cor, etnia e religião (MELLO et al., 2019). Triste quadro que reforça a necessidade de compreendermos melhor a nossa cultura e ampliar nosso campo de visão para valorizar e respeitar a diversidade. PENSANDO JUNTOS: Consideremos que concordar e respeitar são duas atitudes diferentes. Dessa forma, você acha que respeitar a diversidade cultural poderia prejudicar ou ameaçar a sua cultura? Nós pudemos compreender um pouco mais sobre o Brasil, sua história e suas faces. Cada um dos aspectos que constituem a história do nosso país revelam a influência de diferentes etnias, costumes e do próprio tempo. Veremos, a seguir, mais diretamente, a interferência da cultura e da arte na formação da sociedade. Cultura e Arte na Formação da Sociedade Nessa última seção, pensamos na constituição do ser humano enquanto corpo e alma/intelecto, sobre a necessidade de se alimentar “espiritualmente”. A literatura, os museus, a arte urbana compondo a sociedade e o sujeito nela inserido. Formar o cidadão é formar o profissional e, formar essas duas facetas de um mesmo homem é cuidar da manutenção, da preservação e do crescimento da cultura e da comunidade social.

O trecho em que Cristo menciona que “uma pessoa não vive só de pão, mas de toda a palavra que vem da boca de Deus” (Mateus 4:4) é muito simbólico. Vamos deixar um pouco de lado o termo “Deus” para que possamos ser justos e respeitar o maior número de pessoas possível nesse raciocínio. O ser humano é constituído por um corpo físico e uma alma (ou podemos chamar de intelecto se assim preferir). Partindo desse pressuposto, fica evidente a necessidade de o sujeito se alimentar, todo ele, todas as partes que o constituem – o pão sendo o alimento físico e o conhecimento, a arte sendo o alimento para sua alma/intelecto. Sendo assim, as artes e a literatura seriam como alimento para a alma (MELLO et al., 2019). A literatura é alimento para a alma, mas ela também tem um caráter transgressor (CANDIDO, 2011), no sentido de que ela nos leva a pensar fora da caixa, a questionar, a não aceitar passivamente – “sendo objeto da literatura a própria condição humana, aquele que a lê e a compreende se tornará [...] um conhecedor do ser humano” (TODOROV, 2009, p.92) – conhecer a condição humana leva-nos a uma série de reflexões. Ainda segundo Todorov (2009, p.82), “pensar e sentir adotando o ponto de vista dos outros, pessoas reais ou personagens literárias, é o único meio de tender à universalidade”. Estamos falando sobre a capacidade que a arte literária tem de nos fazer olhar ao próximo com o devido respeito, atribuindo-lhe o devido valor, em outros termos, de maneira ética. É por esse motivo que Todorov (2009) assegura ser necessário encorajarmos a leitura dos jovens por todos os meios – inclusive por livros que não são considerados alta literatura. Motivar a leitura de clássicos como Os Três Mosqueteiros e também de best-sellers como Harry Potter: Os romances populares levaram os jovens a leitura e lhes possibilitaram reflexões acerca do mundo, mas não apenas isso, como também abrem as portas para leituras cada vez mais complexas. Nos nossos dias, o público de jovens leitores busca obras que estejam ligadas a fenômenos culturais que não se restrinjam apenas ao livro, mas que se estendam para outros suportes: filmes, vídeos, teatros, músicas, games, HQs, séries – produtos que relacionem cultura e consumo. É importante entendermos, assim, que o brasileiro tem o hábito de ler, em especial, os jovens (MELLO et al., 2019). Infelizmente, o número de brasileiros que apresenta dificuldade em sua leitura aumenta a cada ano, muito em função dos meios de comunicação de massa – por exemplo, a televisão. É importante tratarmos da televisão que faz parte do comportamento contemporâneo não reflexivo, retrata a época de fragmentação e liquidez mencionada por Bauman (2004), na qual o acesso à informação é muito mais fácil, no entanto, ocorre de maneira superficial, carregada de imagens, revelando a existência de problemas de continuidade e fixação em comunidades de ideias. Os sujeitos se amoldam e mudam com muita frequência, as identidades acabam por ser afetadas diretamente pelo processo de globalização e pelos novos meios de produção e consumo. A televisão é um meio de comunicação em massa que veicula informação, mas é necessário ter em mente que tais informações são transmitidas de maneira rasa – o acúmulo de inúmeras informações que levam a lugar nenhum.

O fato é que, esse é o contexto em que estamos inseridos, gostemos disso ou não. Precisamos ter consciência, enquanto cidadãos e profissionais (independente da área) de que há a necessidade de filtrar e escolher o que absorver de tudo o que nos é oferecido. Não se trata de condenar ou negar a existência desses meios de produção e consumo. Eles têm sua importância e relevância – permitem que muitos tenham acesso a um conteúdo que talvez nunca teriam –, mas cabe a nós a consciência do que fazer com o que recebemos e ensinar as gerações seguintes a não serem superficiais e desnutridas culturalmente, recebendo com passividade, sem reflexão, sem consciência, sem crescimento, sem respeito e sem ética. Todas essas mudanças e nuances são reflexo das alterações sofridas pela sociedade. Dessa maneira, é importante que entendamos a relevância da arte para a formação da sociedade. A arte é uma construção social e, nesse sentido, existem inúmeros impasses com relação a sua definição – ela é profunda e permite que o indivíduo tenha percepções sobre si e seu próximo, é reflexo de sentimentos e experiências de vida, dialoga com os diferentes sentidos e significações, é compreendida a partir da bagagem vivida e experiências que cada um carrega, portanto, seu significado é único para cada pessoa. Para que olhemos para frente e sejamos capazes de construir nossa história como indivíduos e enquanto sociedade, é necessário voltarmos nossos olhos para o passado, para as raízes e bases que nos constituem. Cabe aqui tratarmos de patrimônio cultural – algo que é desvalorizado e desconhecido por muitos. Nossas cidades históricas e sítios arqueológicos podem ser considerados patrimônio cultural, acervos museológicos, documentais, bibliográficos, as práticas e domínios da vida social, o que inclui ofícios, expressões artísticas, festividades. O conhecimento cultural desperta-nos o entendimento e o interesse acerca da nossa própria cultura e da cultura do outro, levando-nos ao respeito. CONCEITUANDO: Patrimônio Cultural diz respeito aos bens simbólicos e tecnológicos desenvolvidos pelas sociedades. Em outros termos, remete aos agrupamentos de conhecimentos e feitos de uma comunidade, reunidos no decorrer de sua história, compondo sua identidade. Uma vez me disseram que o ser humano não nasce sabendo pensar. Assim como ele precisa aprender a ler e a escrever, ele também precisa aprender a organizar seus pensamentos. O conhecimento da identidade cultural e da arte nos oferece conteúdo para que nos organizemos enquanto seres no mundo, mas essa constituição requer ensinamento e mediação, não extrairemos nada do nada, por isso participar de uma comunidade cultural é tão necessário. Os espaços museológicos podem contribuir com a construção desse conhecimento. Segundo o ENADE 2018, são espaços que permitem o acesso a memória coletiva, reconstruindo os trajetos dos grupos sociais. De acordo com o Instituto Brasileiro de Museus, o museu desperta sensações, ideias e imagens, reiterando valores necessários para o ser humano, por meio do seu acervo. Ademais, é um local que estimula descobertas e aprendizados, “nele se amplia o conhecimento e se aprofunda a consciência de identidade, da solidariedade e da partilha” (INSTITUTO BRASILEIRO DE MUSEUS, s.d.), não apenas isso, mas a dimensão humana

e a história das cidades são recuperadas, pois, muitas vezes, são esquecidas, por conta da agitação e do consumismo do dia a dia. A formação e transformação da sociedade são constantes, por isso precisamos olhar para uma expressão que tem ganhado espaço. Por exemplo, o grafite; de acordo com o Brasil Escola, é considerado uma expressão artística urbana, manifesta em espaços públicos, inscrita em paredes. Surgido em Nova Iorque, nos Estados Unidos, na década de 1970, depois de jovem deixarem suas marcas nas paredes da cidade, posteriormente passaram a usar técnicas e desenhos. Chegou no Brasil no final dessa mesma década, em São Paulo. Tal expressão é ligada em especial ao Hip Hop e vem como uma maneira de demonstrar a opressão vivida principalmente pelos mais desfavorecidos, a realidade das ruas. Assim como as outras expressões artísticas, o grafite também sofreu mudanças, os artistas brasileiros passaram a dar seu próprio toque, indo além do grafite norte-americano. Existe muita polêmica em torno dessa arte urbana. Marginalizada e comparada à pichação, tem ganhado espaço nos dois sentidos, de ser considerado e valorizado e de surgirem espaços físicos para a sua exposição – em Paris, no ano de 2016, foi inaugurado um Museu de Arte Urbana destinado às artes em grafite. No Brasil, temos artistas conhecidos nessa área como a dupla Os Gêmeos, Eduardo Kobra e Nina Pandolfo. A arte urbana é extensa e não tem um ponto inicial e final, assim como o grafite, a música, a dança, o teatro e a poesia de rua se manifestam e ganham espaço nas cidades transformando-as. (D’ANGELO, 2018). Esperamos que as discussões trazidas nessa unidade tenham despertado seu interesse acerca de conhecimentos do mundo, da história passada e presente da nossa cultura e arte e, que somado aos conteúdos apresentados nas demais unidades, possa cooperar para a sua formação, enquanto cidadão atuante na sociedade e profissional consciente no mundo. O que você tem com isso? Pense como cidadão. E enquanto profissional? Como esse contexto influencia sua vida, como pode contribuir com sua formação? Cabe a você agora, meu (minha) caro(a) aluno(a), decidir o que fará com tudo que lhe foi apresentado – arquivar em sua memória algumas informações a mais, ou permitir que a sua fome seja despertada e alimente, assim, ainda mais o seu “espírito”. AÇÃO Hora de produzir! Aqui, você é desafiado a criar, a organizar seus conhecimentos, a sintetizar e a apresentar soluções. Realiza-se a aplicação dos aprendizados nas situações profissionais da área estudada, seja por meio da atividade profissional, seja no compartilhamento dos comportamentos a serem mudados e, principalmente, os que devem ser mantidos e multiplicados.

AVALIAÇÃO

Um dos aspectos mais impactantes na vida acadêmica: a avaliação é essencial para analisar o planejamento do ciclo de aprendizagem. Nessa fase, estimula-se, sempre que possível, o exercício metacognitivo, ou seja, a reflexão do conhecimento do próprio conhecimento à avaliação, à regulação e à organização dos próprios processos cognitivos.
Material digital FSCE II

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