monografia - ALINE VALE DOS PASSOS

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UNIVERSIDADE DO ESTADO DA BAHIA – UNEB DEPARTAMENTO DE EDUCAÇÃO – CAMPUS I PEDAGOGIA PLENA

ALINE VALE DOS PASSOS

AS IMPLICAÇÕES DAS ATITUDES DOCENTES DIANTE DA INDISCIPLINA DISCENTE: UM ESTUDO DE CASO SOBRE A ESCOLA MUNICIPAL VALE DAS PEDRINHAS.

Salvador - BA 2013

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ALINE VALE DOS PASSOS

AS IMPLICAÇÕES DAS ATITUDES DOCENTES DIANTE DA INDISCIPLINA DISCENTE: UM ESTUDO DE CASO SOBRE A ESCOLA MUNICIPAL VALE DAS PEDRINHAS.

Monografia apresentada como requisito parcial para obtenção da graduação em Pedagogia Plena da Universidade do Estado da Bahia – UNEB. Orientadora: Profª Drª Carla Liane Nascimento dos Santos.

Salvador - BA 2013

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FICHA CATALOGRÁFICA Sistema de Bibliotecas da UNEB Bibliotecária: Jacira Almeida Mendes – CRB: 5/592

Passos, Aline Vale dos As implicações das atividades docentes diante da indisciplina discente : um estudo de caso sobre a Escola Municipal Vale das Pedrinhas / Aline Vale dos Passos . - Salvador, 2013. 140f. Orientadora: Carla Liane Nascimento dos Santos. Trabalho de Conclusão de Curso (Graduação) – Universidade do Estado da Bahia. Departamento de Educação. Colegiado de Pedagogia. Campus I. 2013. Contém referências e anexos. 1.Disciplina escolar - Salvador(BA). 2. Professores e alunos. 3. Educação. 4. Escolas Organização e administração. I. Santos, Carla Liane Nascimento dos. II. Universidade do Estado da Bahia, Departamento de Educação. CDD: 371.1024

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ALINE VALE DOS PASSOS

AS IMPLICAÇÕES DAS ATITUDES DOCENTES DIANTE DA INDISCIPLINA DISCENTE: UM ESTUDO DE CASO SOBRE A ESCOLA MUNICIPAL VALE DAS PEDRINHAS.

Monografia apresentada como requisito parcial para obtenção da graduação em Pedagogia Plena da Universidade do Estado da Bahia – UNEB. Orientadora: Profª Drª Carla Liane Nascimento dos Santos.

Salvador, ______ de _____________ de 2013.

Profª Drª Carla Liane Nascimento dos Santos Universidade do Estado da Bahia - UNEB

Profª Drª Patrícia Lessa Santos Costa Universidade do Estado da Bahia - UNEB

Profª Iêda Rodrigues da Silva Balogh Universidade Estado da Bahia - UNEB

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Dedico este trabalho a todos os professores, coordenadores e auxiliares da educação que foram vítimas de ações ligadas à indisciplina escolar que, assim como eu, vivenciaram conflitos e dificuldades. É possível que hoje, em meio a tantos avanços, os seres humanos possam refletir sobre as suas ações perante as ações alheias e intervir de forma significativa na vida dos cidadãos.

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AGRADECIMENTOS

Agradeço a Deus por está sempre presente comigo me fazendo prosseguir e me dando forças nos momentos mais difíceis desta caminha acadêmica. Agradeço fidedignamente em memória a meu avô Antônio Martins Vale, pelas bases sólidas de valores que deixou pra mim. Acredito que nesta vida meu avô foi a pessoa que mais vibrou a favor do meu sucesso acadêmico. Agradeço a meus pais Ademir Ricardo dos Passos e Célia Maria Vale dos Passos pela vida e por sempre acreditarem em mim com seus olhares confiantes e verdadeiros. Agradeço à minha segunda mãe, que é também a minha madrinha de formatura, Raquel Rosa Vale por todo o estímulo que me deu nos momentos em que mais precisei de ajuda; essa guerreira foi para mim como uma fada madrinha que sempre me estendeu as mãos e me deu o seu ombro amigo. Agradeço a meus tios (as) maternos pelos esforços e exemplos que me passaram possibilitando-me chegar até aqui. Agradeço em especial a meu grande amigo Erasmo Silva Gomes pelo apoio, carinho e dedicação durante toda a graduação. Agradeço à minha amiga Joana Angélica que, por vezes, também me concedeu seu apoio para a concretização deste material. Para os meus irmãos e sobrinhos (as) deixo o meu incentivo para que eles sigam sempre com garra, perseverança e fé rumo aos seus ideais, que a vitória é certa. Agradeço a você Francival Souza de Alencar por chegar e marcar à minha vida neste momento tão especial. Agradeço aos meus colegas de turma de forma geral que também me ajudaram neste processo acadêmico e crescimento como um ser social. Agradeço a meus mestres por todo o processo percorrido até aqui e em especial à minha professora orientadora da monografia, a Doutora Carla Liane, pela colaboração para a conclusão do curso. Suas palavras de incentivo e motivação perpassaram por este material monográfico. Agradeço aos educadores, alunos e funcionários da Escola Municipal Vale das Pedrinhas pelo apoio e confiança que me deram durante as pesquisas de campo, possibilitando, assim, maior empenho e dedicação na construção deste trabalho. ... Na certeza que outras conquistas estão por vir! A todos vocês minha eterna e humilde gratidão.

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“De fato, apesar de sua vida ter sido marcada por conflitos entre a sua concepção do mundo e dos homens e o poder das classes hegemônicas, mesmo assim ele acreditou e foi capaz de fazer mudanças. Sua filosofia lhe custou perseguições, injustiças, decepções e mágoas, mas também, colocou-o sempre á frente dos desafios dos recomeços, que não hesitava em assumir e que só a morte soube limitar”. Luiz Navarro de Britto (1986 p.VIII)

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RESUMO

A presente monografia analisa os desafios e entraves da prática docente diante da indisciplina discente a partir do estudo acerca da Escola Municipal Vale das Pedrinhas. Pretende-se, com isso, investigar de que forma os docentes atuantes nesse espaço organizam suas práticas no sentido de enfrentamento da violência escolar e, mais especificamente, da indisciplina. Este material tem como objetivos perceber e registrar os transtornos escolares provenientes da indisciplina, tendo como questão disparadora deste estudo investigar como os docentes do Ensino Fundamental I de uma escola pública municipal de Salvador, na Bahia, enfrentam a indisciplina escolar. Para responder a tal pergunta, adotou-se como hipótese central a crença provisória que afirma que toda prática pedagógica deve ser integradora para todos os indivíduos envolvidos no processo de ensino e construção do saber, sejam estes alunos indisciplinados ou disciplinados. Dessa forma, foi necessário desenvolver um estudo aprofundado sobre a indisciplina discente e também sobre a possibilidade do educador utilizar a indisciplina dos alunos a favor da educação. O trabalho foi desenvolvido por uma pesquisa de abordagem qualitativa, na especificidade de um estudo de caso, sendo utilizada a observação participativa. As conclusões obtidas evidenciam que apesar de haver uma compreensão docente acerca do entrave da indisciplina escolar, na prática as intervenções aplicadas precisam de um viés formativo a partir de um olhar diferenciado, sendo necessário firmar parcerias com a equipe pedagógica diante dos conflitos vivenciados.

Palavras-chave: Indisciplina escolar; Práticas docentes; Relação professor-aluno.

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ABSTRACT

This monograph examines the challenges and obstacles facing the teaching practice of student indiscipline from the study of the Municipal School of Rhinestones Valley. It is intended, therefore, to investigate how teachers working in this space organize their practices in order to fight against school violence and more specifically of indiscipline. This material aims to understand and record the disorders from school as a matter of indiscipline and triggering this study as teachers of the elementary school, a public school in Salvador, Bahia, face school discipline? To answer this question, it was adopted as a central belief provisional hypothesis which states that all pedagogical practice should be inclusive to all individuals involved in the construction of knowledge and education, these students are disciplined or undisciplined. Thus, it was necessary to develop a detailed study of student indiscipline and also about the possibility of using the educator discipline students for education. This work was developed by a qualitative study, the specificity of a case study, using the participant observation. The conclusions obtained show that although there is an understanding about teaching the obstacle of school indiscipline in practice interventions need to apply a bias training, from a different perspective is necessary to establish partnerships with the teaching staff before the current conflicts.

Keywords: Indiscipline school; Practices teachers; Teacher-student ratio.

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RESUMEN

La presente monografía analiza los retos y obstáculos que enfrenta la práctica de la enseñanza de la indisciplina estudiantil a partir del estudio de la Escuela Municipal de Valle de Piedras. Se pretende, por lo tanto, investigar cómo los profesores que trabajan en este espacio organizar sus prácticas con el fin de luchar contra la violencia en la escuela y más específicamente de indisciplina. Este material tiene como objetivo percibir y registrar los trastornos de la escuela procedentes de indisciplina, siendo el punto de partida de este estudio investigar como los maestros de la escuela primaria, en una escuela pública de Salvador de Bahía, enfrentan a la indisciplina escolar. Para responder a esta pregunta, se adoptó como hipótesis central la creencia provisional que establece que toda práctica pedagógica debería incluir a todas las personas que participan en la construcción del conocimiento y la educación, independiente de si los estudiantes son disciplinados o indisciplinados. Por lo tanto, fue necesario desarrollar un estudio detallado sobre la indisciplina estudiantil, así como la posibilidad de utilizar la indisciplina de los estudiantes en favor de la educación. Este trabajo fue desarrollado por una investigación de enfoque cualitativo, la especificidad de un estudio de caso, utilizando la observación participativa. Las conclusiones obtenidas muestran que aunque hay un entendimiento acerca del obstáculo de la falta de disciplina escolar, en la práctica las intervenciones aplicadas necesitan un sesgo formador desde una perspectiva diferente, siendo necesario establecer alianzas con el profesorado ante los conflictos vividos.

Palabras clave: Indisciplina escolar; Prácticas docentes; Relación profesor-alumno.

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SUMÁRIO

1 INTRODUÇÃO........................................................................................................11 2 TECENDO O PERCURSO METODOLÓGICO DA PESQUISA.............................14 2.1 Os sujeitos da pesquisa.............................................................................17 2.2 A pesquisadora, a instituição e a experiência docente..............................18 2.3 A Unidade Escolar Municipal Vale das Pedrinhas.....................................19 3 DESAFIOS DOCENTES E INDISCIPLINA DISCENTE: EM BUSCA DE ALTERNATIVAS DE ENFRENTAMENTO.................................................................22 3.1 E quem irá direcionar o professor?............................................................29 3.2 A violência e o bulling no contexto da interferência indisciplinar dos sujeitos.............................................................................................................30 4 CONTEXTUALIZAÇÃO DOS RESULTADOS PESQUISADOS A PARTIR DE UM ESTUDO DE CASO NA ESCOLA MUNICIPAL VALE DAS PEDRINHAS...............36 4.1 Como os professores se relacionam com os conflitos da indisciplina dos educandos?................................................................................................................41 4.2 Como os alunos transcrevem a indisciplina escolar e as interferências advindas por tais conflitualidades?..................................................................51 4.3 O que dizem os discentes sobre os seus docentes e suas práticas?.......55 4.4 A indisciplina escolar e a autoestima dos alunos......................................58 4.5 A indisciplina escolar e a instituição familiar no processo educacional entre os sujeitos...................................................................................................................61 5 CONSIDERAÇÕES FINAIS....................................................................................66 REFERÊNCIAS..........................................................................................................69 APÊNDICES...............................................................................................................73 Apêndice I – Roteiro de Entrevista – Professor...............................................73 Apêndice II – Termo de Consentimento Livre e Esclarecido............................78 Apêndice III – Questionário de pesquisa para alunos......................................80 ANEXOS....................................................................................................................83

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1 INTRODUÇÃO

Uma das grandes questões que afeta o cenário educacional contemporâneo referese à indisciplina escolar, levando os estudiosos do tema a elaborar questionamentos de como as práticas docentes são construídas no cotidiano no sentido de enfrentamento à violência, ressignificação dos princípios e valores cultivados no ambiente da escola, assegurando a reprodução dos processos de sociabilidade civilizatória e democrática. Dessa forma, é preocupação deste trabalho transcrever sobre as práticas docentes diante da indisciplina discente, considerando o número significativo de conflitos reproduzidos em sala de aula. Questiona-se de que forma os docentes do ensino básico da Escola Pública Municipal Vale das Pedrinhas em Salvador, na Bahia, enfrentam essas questões e constroem práticas pedagógicas inclusivas, no sentido de assegurar um ambiente escolar participativo, democrático, respaldado na ética do reconhecimento do outro e no combate a sociabilidade violenta.

Sabe-se que os noticiários apontam constantemente atos conflituosos ocorridos nas escolas e nos arredores do ambiente educacional. Tais incidentes normalmente são provenientes de atos de violência ou indisciplina escolar, que muitas vezes está dentro da escola, mas não advém da mesma, ou seja, muitas vezes a instituição educativa acaba sendo apenas uma válvula de escape da indisciplina entre os alunos. Dessa forma, o professor, por sua vez, vê suas aulas inviabilizadas e seus objetivos frustrados.

De acordo com Gauhier e Ribeiro (2012), a cada dia é registrada na polícia pelo menos uma ocorrência de violência relacionada às escolas de Salvador, na Bahia. Constata-se, como exemplo, que todos os dias alunos trocam as carteiras escolar pelos bancos da Delegacia para o Adolescente Infrator (DAÍ), localizado no Bairro de Brotas. De acordo com os dados obtidos, em 2012 foram registradas 138 ocorrências policiais envolvendo estudantes em escolas das redes estadual, municipal e particular, sendo que destas 103 aconteceram dentro de escolas da rede estadual de ensino. Os motivos para esses conflitos vão desde brigas, com lesões

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corporais provocados por disputa de namorados, cortes de cabelo, preferências por times de futebol e tráfico de drogas (CORREIO DA BAHIA, 22/09/2012).

Sendo assim, para atender aos objetivos propostos sinalizando respostas a problemática em questão, tendo em vista que o ambiente educacional deve ser favorável ao aprendizado do indivíduo, após a apresentação introdutória que se segue, no segundo capítulo serão apresentados os percursos metodológicos desta pesquisa a partir das experiências vivenciadas pela pesquisadora, a instituição e a experiência docente. O terceiro capítulo apresenta uma revisão teórica à luz dos principais conceitos inerentes à temática, trazendo como prioridade conceitual a compreensão dos desafios docentes e a indisciplina discente, sinalizando pistas para o seu melhor direcionamento.

Para dar seguimento ao objetivo deste estudo, no quarto capítulo busca-se dialogar com os resultados da pesquisa sobre a indisciplina escolar na Instituição Municipal Vale das Pedrinhas. Assim, foi analisada a docência e sua convivência com os transtornos provenientes da indisciplina, onde os discentes também deixaram pistas para se repensar as saídas acerca de tais conflitos, proporcionando, assim, contribuições no processo de aquisição do saber entre os sujeitos. Para tanto, algumas questões serviram como direcionamento para a presente investigação: quantos educadores não desejariam mediar conhecimentos numa sala onde os educandos se mostrassem participativos e envolvidos com o processo de ensino e aprendizagens? Que professor não gostaria de ver decrescer o índice de indisciplina na turma em que leciona? Por outro lado, será que os educandos ultrapassam os limites que lhes são impostos somente para desequilibrar a estrutura escolar? É possível que haja o lado bom da indisciplina? Como desfecho do presente trabalho monográfico, serão apresentadas no quinto capítulo as considerações finais acerca do papel do docente diante da indisciplina dos educandos no contexto educacional da Escola Pública Municipal de Salvador Bahia. Busca-se aqui, principalmente, suscitar uma reflexão crítica para que os docentes estejam prontos á refletirem diante da indisciplina escolar. Logo, pretendese perceber porque os alunos são indisciplinados e qual a melhor medida a ser tomada entre eles.

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Torna-se necessário que o educador perceba que a reflexão sobre a ausência da disciplina e os comportamentos indevidos dos alunos terá que ser compreendida dentro de vários aspectos, pois uma postura poderá ser vista como uma disciplina natural para uns e inadequada para tantos outros.

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2 TECENDO O PERCURSO METODOLÓGICO DA PESQUISA

O presente capítulo apresenta o percurso metodológico utilizado para responder à problemática da pesquisa, tendo como finalidade transcrever os caminhos construídos a partir das experiências vivenciadas que permitam pensar e repensar a indisciplina escolar e as ações docentes imbuídas neste contexto.

O estudo foi parte da análise bibliográfica realizada a partir da leitura de artigos e livros sobre a temática, tendo como suporte a utilização de debates entre alguns autores sobre as implicações das atitudes do docente educacional diante da indisciplina dos discentes. Para isso, inicialmente levantou-se uma bibliografia básica, das quais foram feitas leituras e fichamentos, destacando as citações relevantes e traçando observações e comentários acerca do que foi lido.

Este material monográfico adota, predominantemente, a abordagem qualitativa, sendo esta um campo de investigação que percorre disciplinas, campos e temas, propaga uma ampla e inconstante história nas disciplinas humanas e suas narrativas são autônomas e diversificadas nas áreas da educação, do trabalho social, das comunicações, da psicologia, da história, dos estudos organizacionais, da medicina, da antropologia e da sociologia (DENZIN e LINCOLN, 2006).

A pesquisa qualitativa tem um sentido diferenciado em cada um dos seus momentos, contudo, pode-se conceituar genericamente tal pesquisa como uma atividade situada que identifica o observador no mundo. Segundo Norman e Yvonna (2006), a pesquisa qualitativa consiste em um conjunto de práticas materiais que transformam o mundo em uma série de ressignificações, inserindo as notas de campo, as entrevistas, as conversas, as fotografias, as gravações e os lembretes. Dessa forma, nessa pesquisa optou-se por uma abordagem interpretativa, estudando os comportamentos entre os indivíduos envolvidos em atos de indisciplina escolar, procurando ressignificar os fenômenos de acordo com os significados que alunos e professores foram emitindo no decorrer das observações.

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Alguns teóricos contextualizam que a pesquisa qualitativa, como um grupo de estudos interpretativos, não privilegia nenhuma prática metodológica de forma isolada. Então, neste sentido, priorizou-se neste estudo a natureza socialmente construída de acordo com a realidade, as vivencias entre a pesquisadora e os discentes analisados, bem como as limitações situacionais que estimularam tal investigação. A palavra qualitativa requer um destaque sobre as características das entidades e dos processos e os significados, que não são examinados ou medidos experimentalmente em termos de quantidade, volume, intensidade ou frequência. Os pesquisadores qualitativos priorizam a natureza socialmente construída da realidade, a íntima relação entre o pesquisador e o que é estudado e as limitações situacionais que influenciam a investigação; exaltam a natureza ampla de valores e procuram soluções para as questões que realçam o modo como à experiência social é criada, adquirindo significação.

Na atualidade, o pesquisador qualitativo, além de analisar a história, desenvolve um fazer nessa história; pressupõe-se que novas narrativas extraídas do campo serão escritas e que refletirão o comprometimento direto e pessoal do pesquisador com o período narrado. Algumas atividades em grupo como a teoria, o método e a análise seguem uma diversidade de significados e definem o processo da pesquisa qualitativa.

Dessa forma, desenvolveu-se aqui uma pesquisa qualitativa na especificidade de um estudo de caso, adotando para a análise a observação participante e pesquisa bibliográfica, além de optar-se pela elaboração de alguns questionários dando seguimento para este material. As formulações foram utilizadas também como técnica de investigação, buscando identificar as relações de indisciplina discente assim como a mediação do educador diante deste conflito.

Buscando ilustrar e atribuir melhor sentido para está pesquisa, segue-se um gráfico representativo do corpo metodológico que compõe este estudo. Tal ilustração explicativa implica dizer que as expressões nele contidas estão interligadas entre si

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e

os

termos

em

destaque

não

podem

ser

interpretados

isoladamente.

Gráfico 01: O eixo central da abordagem qualitativa. Fonte: Pesquisa de Campo, 2012

Buscando fortalecer a estrutura deste material, é importante transcrever um pouco sobre o estudo de caso. Conforme afirma Gil (2012), esse estudo é visto como o delineamento adequado para a investigação de um fenômeno contemporâneo inserido na sua realidade, onde as subjeções entre o fenômeno e o contexto não são claramente percebidos (YIN apud GIL, 2012). Ainda neste âmbito, o autor defende que nas ciências sociais a diferença entre o fenômeno e sua vivência representa uma das conflitualidades com que se deparam os pesquisadores; daí procede a utilização do estudo de caso relacionando-se ás ciências com diversos motivos.

Depreende-se, então, que no estudo de caso a teoria é relevante, pois, durante todo o processo de estruturação e organização, o material observado é direcionado a novas reformulações teóricas. (ALLONES, 2004 apud CAPITÃO e VILLEMORAMARAL). Dizem que o estudo de caso tem em ciências múltiplas as seguintes funções: informar, ilustrar, problematizar e apoiar ou provar formulações teóricas prévias.

O caso analisado neste trabalho estruturou-se a partir de experiências vivenciadas pela pesquisadora durante o ano letivo de 2011 numa turma do terceiro ano do Ensino Fundamental I, onde foi observada uma recorrente inviabilização dos planejamentos com as constantes interferências causadas pelos conflitos advindos da indisciplina escolar. É relevante registrar, nesse contexto, que a pesquisadora em formação também já se enquadrou como aluna da mesma instituição nos anos de

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1989 e 1990, coincidentemente nas antigas terceira e quarta série da Educação Fundamental I, o que reafirma o viés participante da pesquisa.

A pesquisa participante de acordo com Demo (1981), quando aliada á uma ação política consciente, consegue contextualizar conhecimento e transformação. Percebe-se que intervir na realidade proporciona maior eficiência e eficácia se essa intervenção consegue inserir-se no âmbito da pesquisa cientifica coerente. Por outro lado, a pesquisa científica que tão somente: Estuda, mede, experimenta, sistematiza, estuda, mas não se compromete. Faz deste “descompromisso” seu próprio compromisso. Apresenta-se como isento, porque se teria afastado, por força de treino metódico, de qualquer ideologia. Apresenta a academia como um lugar de isenção, onde mora gente acima de qualquer suspeita, cujos estudos são indiscutíveis. Por força de sua isenção produzem influência compulsória (DEMO, 1981, p.235).

Já o estudo participativo, ainda de acordo com o mesmo autor, apresenta três tópicos essenciais que se enquadram no presente material: autodiagnóstico (diagnóstico realizado pelo próprio interessado), a cidadania (ciência a serviço da emancipação) e, por último, a necessidade de organização política da comunidade como meio e fim do processo pesquisado. Nesse sentido, a pesquisa participante acontece assemelhando-se, também, a um projeto de vida e, assim, traz uma preocupação com um tratamento mais verdadeiro com a sociedade, devolvendo-lhes as informações acolhidas, contextualizando sempre teorias e práticas.

2.1 OS SUJEITOS DA PESQUISA

Visando averiguar as inviabilizações das práticas docentes diante da indisciplina dos discentes, foram desenvolvidos alguns questionários com professores do Ensino Fundamental I em uma determinada Escola da Rede Municipal de Salvador, no Estado da Bahia, onde foram apresentadas questões para os professores com intuito de entender as ações docentes diante da indisciplina escolar, além de questões para os discentes, objetivando compreender o motivo das ações indisciplinadas destes na instituição educacional. No decorrer dos questionários, há

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questões relativas ao professor e suas vivencias no âmbito da indisciplina e da violência escolar e como sua prática teórico-metodológica pode minimizar ou favorecer a indisciplina discente.

Os sujeitos da pesquisa foram educadoras, com faixa etária entre 26 e 56 anos, sendo em sua maioria graduadas e algumas especialistas que atuam em uma escola Pública da Rede Municipal de Salvador; uma das professoras leciona na educação infantil e dez no Ensino Fundamental I. A unidade escolar conta também com profissionais que desenvolvem o Programa Mais Educação, que de acordo com dados extraídos no site da SECULT (Secretaria de Cultura do Estado da Bahia), é uma estratégia do governo federal para inserir a educação integral nas instituições públicas brasileiras. O tempo de atuação profissional na área varia de 06 meses a 24 anos; já os alunos entrevistados têm entre 09 e 17 anos, sendo 11 meninos e 08 meninas. Todos os entrevistados são residentes da comunidade local ou moradores de bairros vizinhos à instituição educacional.

Para verificar a prática teórico-metodológica de cada professor, foram realizados questionários com o objetivo de confrontar o discurso do professor com o discurso dos discentes acerca da sua prática em sala de aula; o mesmo foi conduzido por um roteiro previamente elaborado, que buscou produzir dados relacionados ao objeto da pesquisa. O local investigado foi a Escola Municipal Vale das Pedrinhas, na Cidade de Salvador, onde foi realizada a aplicação de questionários semi-estruturados com os alunos, professores e demais funcionários da instituição. Torna-se relevante destacar que a população em análise reside em bairros periféricos e violentos no próprio entorno escolar e que, por vezes, também tinham suas atividades educativas interrompidas por conta de vários tiroteios travados entre a polícia e os marginais locais.

2.2 A PESQUISADORA, A INSTITUIÇÃO E A EXPERIÊNCIA DOCENTE

A autora da presente pesquisa, Graduanda em formação, desenvolveu durante o seu estágio de regência de classe do curso de Licenciatura Plena em Pedagogia, no Campus I na Uneb, atividades docentes no transcorrer do ano letivo de 2011,

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passando por inúmeras dificuldades diante da indisciplina de alguns alunos. O referido estágio foi realizado em uma turma de 3º ano do Ensino Fundamental I, turno vespertino, no período de 14 de março a 15 de dezembro de 2011, e oportunizou à graduanda, que estava ainda no quinto semestre acadêmico, inserirse na realidade escolar, permitindo, assim, a reflexão a partir das teorias estudadas sobre as possibilidades de sua prática no cotidiano educacional, promovendo uma visão crítica sobre o cotidiano nesse ambiente.

Logo, o Estágio de regência de classe foi um momento importante para a escolha do tema em questão, que possibilitou alguns questionamentos sobre as ações necessárias para a construção de uma educação que atenda às necessidades da sociedade. Neste sentido, Lopes Neto (2005) diz que: Hoje em dia, é consenso que a indisciplina e a violência escolar podem ser evitadas, seus impactos minimizados e os fatores que contribuem para respostas violentas mudadas. Segundo Debarbieux e Blaya não se trata de uma questão de fé, mas de uma afirmação baseada em evidencias. Exemplos bem sucedidos podem ser encontrados em todo o mundo, desde trabalhos individuais e comunitários em pequena escola, até politicas nacionais e iniciativas legislativas (LOPES NETO, 2005, p.02).

Diante da resistência da turma e, principalmente, da indisciplina escolar durante o trabalho com algumas atividades programadas para mediação, buscou-se motivá-los expressando que tais exercícios seriam importantes para o prosseguimento de alguns conteúdos didáticos em questão. No entanto, no decorrer dos dias e meses letivos, os resultados não foram positivos, pois a turma demonstrou-se fechada para o desenvolvimento das atividades diárias. A partir desta realidade, as aulas anteriormente pensadas foram muitas vezes dando lugar a outro contexto: “a indisciplina escolar”. Daí procedeu à escolha deste tema monográfico assim como da instituição escolar Municipal para este estudo de caso.

2.3 A Unidade Escolar Municipal Vale das Pedrinhas

A Unidade Escolar Municipal Vale das Pedrinhas (E. M. V. P.), localizada no Bairro do Vale das Pedrinhas, no município de Salvador, na Bahia, foi fundada em 24 de

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outubro de 1988, funcionando nos turnos matutino, vespertino e noturno, atendendo a alunos da Educação Infantil (04 e 05 anos) até o 5º ano do Ensino Fundamental. Devido à deterioração do prédio, advinda de atos de vandalismo da população em seu entorno, bem como a própria falta de manutenção por parte dos órgãos responsáveis e, ainda, pela própria ação do tempo, essa instituição foi demolida para a reconstrução de um novo espaço. Dessa forma, a escola se encontra atualmente em um prédio alugado pela prefeitura Municipal de Salvador, localizado na Chapada do Rio Vermelho, nessa mesma cidade, com instalações provisórias. Tendo em vista que o espaço onde se localiza a escola pesquisada deve ser compreendido como parte integradora das relações firmadas pelos grupos sociais que ali se encontram, cabe aqui fundamentar um pouco sobre o bairro do Vale das Pedrinhas, o qual é bastante populoso e vizinho aos bairros de Amaralina, Rio Vermelho, Santa Cruz, Chapada do Rio Vermelho e Nordeste de Amaralina. As pessoas em sua grande maioria são humildes e convivem cotidianamente com diversos problemas relacionados ao crescimento desordenado da população, possuindo um déficit significativo de infra-estrutura e saneamento básico. De acordo com relatos de alguns moradores, o nome do bairro (Vale das Pedrinhas), deriva de uma antiga pedreira que forneceu matéria prima para as suas habitações. É interessante neste trabalho refletir sobre como as pessoas se relacionam entre si em grupos sociais e familiares. De acordo com Souza (2008), por conta do reflexo de um passado colonial, escravagista e um crescimento sociocultural que sempre priorizou uma parcela da população, a cidade sustenta altos e intensos índices de desemprego, desqualificação profissional, violência, mortalidade, dentre outros fatores. Territorios de exclusão, tais periferias vivem em situação de quasecidade em muitos sentidos do termo: na inexistência de serviços urbanos básicos; no quase exilio forçado de parte de sua população que quase nunca vai ás áreas comuns e tem acesso aos equipamentos públicos da Cidade da Bahia; na precariedade da vida, marcada, muitas vezes, pela violência, pela ausência de lei, pelo desemprego e por muitas outras mazelas. Enfim, pela vida á margem da cidade, da cidade comum, da cidade compartilhada por seus habitantes (RUBIM, apud LIMA, 2002, p.75).

Os autores acima sinalizam a instauração de um sistema perverso de marginalização dos sujeitos que já nascem predestinados a conviverem de forma indisciplinada

cotidianamente,

assim

como

ao

fracasso

educacional.

Tal

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discriminação, como diz Dabrowsky (apud SOUZA, 2008) advém desde a descendência africana e a escravidão até a divisão de classes. A região do Vale das Pedrinhas possui ruas estreitas, sem áreas livres, nem espaços de convivência coletiva apropriados. As casas na sua maioria são simples, em algumas localidades com saneamento básico e instalações ainda muito precárias, além da existência de diversas áreas de invasões (construções sem a devida autorização). Contudo, as ruas na sua maioria já se encontram asfaltadas, o comércio local é bem desenvolvido com quitandas, lojas, mercearias e serviços diversos. Um dos grandes conflitos que a população enfrenta no Vale das Pedrinhas é o tráfico de drogas que por sua vez acaba por inibir ou até mesmo impedir o trânsito de moradores entre as suas ruas vizinhas e principalmente entre os adolescentes e jovens na faixa etária dos 13 anos em diante. Porém, em setembro de 2011 foram criadas três Bases Comunitárias de Segurança na Região do Vale das Pedrinhas, Nordeste de Amaralina e Santa Cruz para proteger os moradores locais, onde, de acordo com dados extraídos do Jornal Globo (2012), vivem cerca de 120 mil pessoas. Sendo assim, a área do Vale das Pedrinhas e a comunidade vizinha passaram a contar com atuação de 360 policiais militares, os quais foram treinados para o desafio de diminuir os índices de criminalidade das comunidades, consideradas perigosas por conta da alta incidência de tráfico de drogas. Na região existem, ainda, igrejas e posto de saúde, além de ficar próximo ao centro de educação Hora da Criança, localizado na Avenida Juracy Magalhães Júnior, e desempenha um papel relevante frente à comunidade local na formação artística e na prevenção de problemas sociais a partir da ocupação de centenas de crianças em vários cursos ligados à arte, dança e teatro, entre outros.

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3 DESAFIOS DOCENTES E INDISCIPLINA DISCENTE: EM BUSCA DE ALTERNATIVAS DE ENFRENTAMENTO

Para transcrever sobre as implicações das atitudes docentes diante da indisciplina discente, será necessário, antes, buscar embasamentos teóricos a partir das interpretações que alguns autores sinalizam como sendo indisciplina escolar. Pretende-se aqui definir a indisciplina escolar no sentido de identificar o tema para buscar subsídios a fim de utilizá-la a favor da educação dos indivíduos envolvidos neste processo de construção de aprendizagens. Espera-se que, ao aprofundar-se neste contexto, o professor identifique os sinais de indisciplina, violência escolar e os conflitos que estão de alguma forma o inquietando em sala de aula e procure meios de administrar coerentemente este inconveniente. Dessa forma, este capítulo busca apresentar as principais abordagens acerca da indisciplina, destacando a amplitude das conceituações acerca deste assunto.

Estudos bibliográficos demonstram que o contexto da indisciplina é complexo e, às vezes, contraditório em suas definições. Constitui-se como algo que acontece em todas as escolas, sejam elas dos grandes centros ou dos bairros mais afastados, entretanto, isso não significa considerar que o problema não tenha solução e que se deve aceitá-lo, uma vez que sua(s) causa(s) estaria(m) dentro e fora da escola, mesmo que se configure mais efetivamente em seu interior. Sendo assim, este é um assunto relevante que vem inviabilizando a prática docente de forma recorrente no cenário educacional brasileiro.

Abaixo são destacados alguns termos acerca da indisciplina escolar; é importante que o leitor questione os divergentes aspectos que envolvem a indisciplina, dando sentido amplo para tal contexto. Por indisciplina compreende-se: “desobediência, rebelião, insubordinação” (BUENO, 2000); “procedimento, ato ou dito contrário à disciplina” (FERREIRA, 2001). Em contrapartida, sobre disciplina refere: 1. Ao regime de ordem imposta ou mesmo consentida;

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2. Ordem que convém ao bom funcionamento de uma organização; 3. Relações de subordinação do aluno ao mestre; 4. Submissão a um regulamento; 5. Qualquer ramo do conhecimento; 6. Matéria de ensino (FERREIRA, 2001, p. 414).

O dicionário Caldas Aulete (1964, p. 1246) registra no verbete disciplina os seguintes significados: 1. Instrução e direção dada por um mestre a seu discípulo; 2. Submissão do discípulo à instrução e direção do mestre; 3. Imposição de autoridade, de método, de regras ou preceitos; 4. Respeito à autoridade, observância de método, regras ou preceitos; 5. Qualquer ramo de conhecimentos científicos, artísticos, linguísticos, históricos, etc.: as disciplinas que ensinam nos colégios; 6. O conjunto de prescrições ou regras destinadas a manter a boa ordem resultante da observância dessas prescrições e regras: a disciplina militar; a disciplina eclesiástica.

Logo, subentende-se que a indisciplina corresponde ao descumprimento dos itens relacionados neste contexto, ou seja, à quebra das regras que são impostas aos alunos, o desrespeito para com a autoridade etc

Nesse mesmo sentido, Yves de La Taille (1996, p.10), apresenta outra definição sobre a indisciplina esclarecendo que: Se entendermos por disciplina comportamentos regidos por um conjunto de normas, a indisciplina poderá se traduzir de duas formas: 1. a revolta contra estas normas; 2. o desconhecimento delas. No primeiro caso, a indisciplina traduzse por uma forma de desobediência insolente; no segundo, pelo caos dos comportamentos, pela desorganização das relações.

Sintetizando os termos, a indisciplina escolar se apresenta como a transgressão das normas

pré-determinadas

pela

instituição

escolar

e

demais

legislações

correspondentes, como o Estatuto da Criança e do Adolescente – ato infracional. Significa o desrespeito.

A indisciplina, enquanto desafio à formação de professores, transformou-se num dos problemas que mais afeta os educadores na contemporaneidade. Esse conflito deve ser administrado no intuito de identificação de suas causas, possibilitando ao futuro professor a aquisição da competência para responder ao plano pedagógico. Tal

25 resposta requer do docente a implantação de uma “ordem” e uma “paz” natural, priorizando a motivação dos sujeitos envolvidos na construção do saber, levando em consideração, principalmente, o perfil escolar dos indivíduos.

Para Martins (2009), o âmbito da indisciplina e a violência nas escolas são contextualizados a partir de vários aspectos socioculturais. O autor cita alguns como: a falta de motivação dos indivíduos para a aprendizagem, as consequências do consumo desmedido, as mudanças nas estruturas familiares e o desemprego, as condições econômicas, as variadas condições de acesso aos bens de consumo e outros conflitos advindos da família, das relações em grupo e da própria (re) inserção social.

De acordo com França (1996), conceitua-se o ato indisciplinado como o comportamento que não corresponde com as leis e normas impostas por uma comunidade, um gesto que descumpre o que foi prometido e, por este motivo, entende-se como uma desordem no que foi antes pré-estabelecido. Sendo assim, quando os discentes se colocam em desacordo e quebram as normas firmadas na instituição escolar, estes são nomeados como alunos indisciplinados por seus professores e demais membros da unidade educativa. A indisciplina entre os educandos é responsável por vários conflitos e atos violentos que impossibilitam um ambiente adequado para á construção da aprendizagem entre os sujeitos. A nossa juventude adora o luxo, é mal-educada, despreza a autoridade e não tem o menor respeito pelos mais velhos. Os nossos filhos hoje são uns verdadeiros tiranos. Não se levantam quando uma pessoa idosa entra, respondem aos pais e são simplesmente maus (SÓCRATES 470-399 a.C. apud CASTRO, 2011 p.13).

Segundo Castro (2011), a citação acima denota comportamentos gerados a partir de conflitos de indisciplina entre a juventude contemporânea, porém são fatos que já aconteciam há séculos. Contudo, essas ocorrências ganharam novas proporções e carecem de estudos recorrentes nesse contexto.

A indisciplina é um assunto bastante debatido e necessita de um saber teórico e prático amplo e, principalmente, da vivência desses conflitos, os quais são assuntos desmotivadores para os educadores de forma geral, tanto das escolas públicas

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quanto particulares. O termo conceitual relacionado com a indisciplina escolar é bastante complexo porque permitem visões amplas e atingem grande parte de indivíduos envolvidos nesse aspecto.

De acordo com Vasconcelos (1997), os responsáveis pelas instituições educativas do país vêm priorizando as abordagens ligadas aos conflitos geridos pela indisciplina entre os discentes. Alguns educadores, devido à insatisfação proveniente das experiências destes atos conflituosos, têm abandonado a profissão. A partir de vivências com alunos indisciplinados é possivel destacar que esse é um fator relevante na ausência da construção de aprendizagens entre os sujeitos e na evasão escolar, além de constituir o fracasso recorrente do planejamento relacionado aos conteúdos pretendidos para serem administrados pelo professor em sala de aula. Esse tópico reforça a necessidade de aprofundar sobre os conceitos ligados a indisciplina escolar e torna mais relevante a proposta desta pesquisa.

Freire (1996), ao tratar de assuntos sobre o caráter das relações, da experiência social, da comunicação, dos sonhos, da raiva e do amor, em seu livro pedagogia da autonômia, diz acreditar que o educador deve conhecer o dia-a-dia do aluno porque, segundo ele, é nessa realidade que o aluno desenvolve seus instintos e desabrocha a indisciplina. Portanto, para interpretar a indisciplina que surge nos indivíduos convém, antes, identificar o próprio ser humano de forma singularizada, é quando se percebe a indisciplina como um comportamento e não como um determinante “empreguinado” de uma pessoa.

Quando se evoca a indisciplina, focaliza-se o desrespeito às regras estabelecidas, conforme explica Araújo (1996). Para ele, nem todas as regras obedecem a um princípio de justiça, concluindo que a indisciplina pode ser um sinal de autonomia; essa pode ser considerada imoral ou não, se representa um protesto em relação à autoridade; neste caso, o aluno pode não se sentir obrigado a cumprir a regra. Isto quer dizer que o aluno que é considerado indisciplinado não é necessariamente imoral.

Por outro lado, Aquino (1996) afirma que a indisciplina escolar se configura enquanto um problema interdisciplinar e transversal à pedagogia, pois ultrapassa o

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âmbito estritamente didático-pedagógico, devendo, portanto, ser tratada pelo maior número de áreas das ciências da Educação. Além desse caráter interdisciplinar e transversal, o autor defende a necessidade de um olhar sócio-histórico do fenômeno, pois a escola não pode ser encarada como uma instituição independente e autônoma em relação ao contexto sócio-histórico, ou seja, o que ocorre em seu interior tem articulação aos movimentos exteriores a ela, além de as práticas escolares deverem ser concebidas como testemunhas e protagonistas das transformações históricas.

De acordo com Passos (1996), a indisciplina escolar está relacionada a alguns significados como, por exemplo, ousadia, criatividade, inconformismo ou resistência. Isso não implica em desconsiderar a importância da disciplina, mas apenas em colocá-la em um plano secundário para que se fortaleça o que está em um plano anterior a ela, que é a aprendizagem e o saber decorrente da relação com a mesma. A autora também destaca a importância de se analisar os múltiplos aspectos envolvidos na indisciplina em sala de aula, como as estruturas de poder na escola, as pressões e expectativas dos pais e as concepções dos professores em relação à construção do conhecimento, ou seja, a importância de se avaliar o agir dos sujeitos e da instituição nas suas ligações com o contexto social, pois é essa interação que vai compondo as dimensões a serem analisadas quando se estuda a dinâmica expressa no cotidiano escolar.

Outra forma de abordar a indisciplina é apresentada por Carvalho (2003), que aponta para a necessidade da explicitação do vínculo entre a noção de disciplina como área do conhecimento e como comportamentos/procedimentos para entender os problemas envolvidos, uma vez que este vínculo é próprio e específico da relação escolar. Além disso, uma noção de disciplina como ordenadora e padronizadora do comportamento recai em uma crença de que exista um único tipo de comportamento disciplinado que se define independentemente do contexto, o que não é verdadeiro.

Para Passos (1996, p.121), uma forma de compreensão dos questionamentos que envolvem a indisciplina na escola seria: Através do conhecimento sobre o que ocorre em toda a realidade escolar, ou seja, entendê-la no contexto das práticas que “fazem” o

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dia-a-dia das escolas. Isto porque a prática pedagógica é estruturada a partir dos quadros de referência ideológicos, morais e sociais de todos os envolvidos na dinâmica escolar: professores, diretores, alunos, pais, funcionários etc. Tais quadros se cruzam com todo o universo simbólico cultural (de valores, crenças, representações) que dão sentido a suas atitudes e comportamentos.

O estudo sobre a indisciplina na sala de aula deve envolver, portanto, a análise de múltiplos aspectos, tais como: “as estruturas de poder na escola, as pressões e expectativas dos pais, as concepções dos professores em relação à construção dos conhecimentos, modelo de gestão, formação dos professores entre outros aspectos” (PASSOS, 1996, p. 126).

Lajonquiére (1996) contextualiza que a chamada indisciplina escolar é também conhecida como “o mal da educação” e a essa atribui a decadência na aprendizagem e caracterizando-a por exemplo, como um simples ato entre os alunos de não querer emprestar um acessório escolar para um colega, bem como outros incidentes mais graves. E assim esses acontecimentos vão adentrando as salas de aula e ganhando destaques dos mais diversos, onde os conteúdos didáticos acabam sempre cedendo o lugar para os conflitos e atos de violência e conturbações causadas pela ausência da disciplina entre os alunos. Nesse sentido, Ornellas e Radel (2010, p. 22) afirmam que: A banalização da tragédia e do horror dos atos violentos possivelmente é um agravante para essas repetições inscritas de várias maneiras, seja pela mídia televisiva e escrita, seja pelas imagens, seja pelos gestos e olhares, dentre outros, que ferem o principio de convivência e respeito à diferença da criança, do adolescente, do adulto e do idoso.

Dessa forma, a violência e a indisciplina escolar são uma ameaça que se anuncia a todo instante no dia a dia e, consequentemente, impossibilitando a construção do saber nas escolas onde, ainda de acordo com a imprensa escrita (2012), o corpo docente também já se tornou vítima dos atos de violência escolar. Tendo em vista a complexidade e a multiplicidade de interpretações que o próprio conceito de indisciplina aborda, percebe-se que a mesma dependerá das vivências de cada aluno e seus contextos de inserção.

Embora muitos estudiosos já tenham questionado sobre a indisciplina do aluno e a punição cabível com intuito de torna-lo disciplinado e “restabelecer” a ordem em sala

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de aula, sabe-se que este assunto ainda requer uma visão ampliada, já que muitas dúvidas ainda permeiam tais atos conflituosos. Sendo assim, é importante que o docente compreenda o ato que por ele é tido como indisciplina, haja vista que uma ação de autonomia do aluno pode também ser confundida como indisciplina escolar, fazendo com que possa ser visto como tal, mesmo que não seja indisciplinado,

No que se relaciona aos conceitos de indisciplina definidos pelos docentes, foi evidenciado por Cunha (et al, 2009), que a mesma não está limitada apenas pelas quebras de normas e regras de bom comportamento do aluno padrão, mas também está interligada ao sujeito que não aprende, não compreende o conteúdo, que não tem motivação ou é desinteressado. Entre as categorias priorizadas para esta definição estão as de conduta, motivação e aprendizagem. Por ouro lado, para Vasconcellos (1997), o professor ao se perceber dentro do conflito disciplinar acredita que não pode intervir e, sendo assim, se posiciona optando por livrar-se do aluno ao expulsa-lo da sala de aula.

Os autores confirmam que a escola idealiza um público alunado que esta a cada dia menos próximo da realidade e tal idealização, por sua vez, acaba limitando os docentes quanto à suas práticas em sala. Neste contexto, os sujeitos indisciplinados acabam sendo excluídos, já que os educadores não sabem lidar com essa problemática. Argumentou-se, portanto, que a sociedade vê a indisciplina como uma coisa ruim. Na ação, os sujeitos rotulam a indisciplina nas mais variadas possibilidades destacadas pelos próprios alunos, assim como pelos educadores e ainda é um comportamento não aconselhável.

A indisciplina analisada nas instituições educativas está ligada à falta de significância que os alunos percebem diante dos conteúdos didáticos que lhes são atribuídos frente à necessidade imediata. Creio que ensinamos demais e os alunos aprendem de menos e cada vez menos! Aprendem menos porque os assuntos são a cada dia mais desinteressantes, mais desligados da realidade dos fatos e os objetivos mais distantes da realidade da vida dos adolescentes (WERNECK apud ECCHELI, 2008, p.201).

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Conduzir os alunos ao aprendizado fazendo com sintam-se motivados pela aquisição da aprendizagem é um desafio para os profissionais da educação e um caminho relevante para minimizar a indisciplina na sala de aula. Os professores almejam alunos que, além de respeitar os seus semelhantes, consigam se inserir em atividades que requerem concentração e esforço para o processo de construção do saber.

Sabe-se que alguns educadores priorizam o silêncio em sala de aula, mas, em comum acordo com este material de estudo, pode se afirmar que o silêncio não garante a aprendizagem entre os sujeitos. A aprendizagem significativa é fruto de tarefas que requerem arguições de diferentes percepções frente ao assunto em questão através de discursões e debates constantes. Provêm deste contexto duas indagações que merecem relevância: o público alvo deve demonstrar interesse espontâneo pelos conteúdos trabalhados em sala de aula ou é atribuição do docente utilizar metodologias para despertar a motivação e diminuir o índice de indisciplina escolar? A motivação está em transpor os próprios limites ou atingir objetivos singulares?

3.1 E QUEM IRÁ DIRECIONAR O PROFESSOR?

Sabe-se até aqui que a indisciplina escolar inviabiliza as práticas docentes e, também, que o professor precisa intervir com determinação e eficiência para dar continuidade à suas atividades. E como fica esse educador ao final de cada atividade docente? Como são tratadas suas angústias e aflições quando não consegue se superar? Segundo Menezes e Gazzotti (1999), a profissão de professor requer inúmeros sacrifícios, porém quase não se vê reconhecimentos. Sabe-se que todo o processo de educar busca sempre mais e não se acomoda e nesse sentido as autoras destacam que: Assim, educar é uma profissão de fé; uma profissão que vislumbra com a possibilidade de uma situação quase divina, pois nela transformam-se/formam-se outros indivíduos á semelhança do profissional educador, os limites são infinitos. Essa plenitude de possibilidades pode conduzir o profissional educador aos céus, mas

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também pode conduzi-lo a um inferno pessoal (MENEZES e GAZZOTTI, 1999, p.373).

Quando se percebe que as metas nem sempre irão se concretizar, é possível que o profissional sinta-se insatisfeito e é exatamente neste instante que provavelmente ele também se percebe sozinho, embora existam alguns órgãos apropriados para dar apoio os profissionais da educação, a exemplo dos vários cursos de extensão e formação continuada, que por si só não conseguem dar o suporte emocional para as constantes limitações sofridas por estes educadores em ação.

Por outro lado, as autoras sinalizam que negar a existência das adversidades é uma forma de passar por cima dos conflitos sem ter que efetiva-los, já que, segundo este contexto, transpassar as adversidades acarretaria frustrações. Assim surge o termo Burnout1 que, conforme este estudo é o nome dado à dor de um profissional encarcerado entre o que pode fazer e o que efetivamente consegue desenvolver (entre possibilidades e limitações). Dessa forma, há mais um entrave preocupante, pois sem condições favoráveis para exercer a profissão, o professor também começa a desenvolver problemas e se sentirá esgotado.

De acordo com o Plano Estadual de Educação da Bahia (2004), faz parte dos objetivos e metas do Ensino Fundamental a implantação de projetos que pretendam valorizar e qualificar os educadores no âmbito educacional. Se a equipe pedagógica, as políticas públicas e a instituição familiar apoiarem o professor frente aos conflitos advindos do espaço escolar, este ganhará forças para garantir um processo educacional pautado, principalmente, no respeito das adversidades socioculturais entre os alunos envolvidos.

3.2 A VIOLÊNCIA E O BULLYING NO CONTEXTO DA INTERFERÊNCIA INDISCIPLINAR DOS SUJEITOS

1

A Síndrome de Burnout é definida por Maslach e Jackson (1981) como uma reação à tensão emocional crônica gerada a partir do contato direto e excessivo com outros seres humanos, particularmente quando estes estão preocupados ou com problemas. Cuidar exige tensão emocional constante, atenção perene; grandes responsabilidades espreitam o profissional a cada gesto no trabalho. O trabalhador se envolve efetivamente com os seus “clientes”, se desgasta e, num extremo, desiste, não aguenta mais, entra em burnout (MASLACH; JACKSON, 1981, p. 21).

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De acordo com Porto (2010), a conceituação do fenômeno da violência obriga a distinção e a classificação de diferentes tipologias como ponto crucial para essa questão social, logo, esse exercício compõe a violência física e simbólica. Sendo assim, o autor destaca que se deve também levar em conta as formas e os sentidos que a violência assume em seu processo de concretude. Sob este enfoque, poder-se-ia falar da violência como forma de dominação, da violência como forma de sobrevivência, da violência como afirmação da ordem institucional-legal, da violência como contestação desta mesma ordem, da violência como forma de manifestação de não cidadania, de não relação social (Wieviorka, 1997), da violência como forma de manifestação de insegurança, do medo etc. (PORTO, 201, p.21).

Percebe-se, dentro deste contexto, que a indisciplina escolar pode se inserir como uma violência embutida no interior das salas de aula e que a violência aparece como um grupo social para questionar padrões normativos. Sendo assim, a equipe pedagógica deverá pensar sobre esse sujeito e a ação violenta priorizando resignificar tal questionamento e, principalmente, o sentido desta para o aluno em questão, caso contrário, de acordo com experiências vivenciadas em formação, este sujeito

poderá,

consequentemente,

internalizar

os

seus

insucessos

como

possibilidades e verdades absolutas para dar sentido a seu próprio fazer no mundo, sem ao menos conhecer outros viés de conduta. O resultado educacional „global‟ dos conflitos gerados pela indisciplina e violência escolar terá que superar algumas considerações equivocadas: primeiro que a violência não é um problema característico das escolas, segundo que essa ocorre esporadicamente, havendo escolas mais propicias à difusão da indisciplina e por último que esses fenômenos não podem ser eliminados por medidas repressivas e de coação. Amado (etal, apud MARTINS, 2009) acredita que a ação pedagógica preventiva contra a violência e a indisciplina requer modificação da forma da construção do saber num modelo cooperativo de aprendizagem que incentive a conscientização das atitudes e os valores positivos. Acerca de estudos relacionados à violência escolar, Abramovay (2003) destaca que no Brasil, durante a década de 1990, intensificou-se a preocupação com a violência nas escolas, não apenas como fenômeno de origem externo às instituições

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escolares (causas exógenas), ainda que se dê prioridade ao conflito do narcotráfico, à exclusão social e às ações de gangues.

Dentre alguns tipos de violência transcritos por Abramovay (2003), na literatura norte-americana o olhar recai sobre gangues, xenofobia e bullying2. Na Europa, principalmente na França, os estudiosos têm-se dedicado à pesquisa das incivilidades no meio escolar através da descrição empírica. Dûpaquier (apud, ABRAMOVAY, 2003) refere-se a delitos contra objetos e bens, intimidações físicas e verbais, descuido com os espaços coletivos a instigação por símbolos de violência, comportamentos destinadas a provocar medo e atos ilícitos.

De acordo com Marriel (2006), a recorrência de bullying nas escolas tem se tornado um assunto frequentemente contextualizado nos últimos anos, tanto no Brasil quanto no exterior. De acordo com a autora, o termo em inglês relaciona-se com um sinônimo utilizado para retratar a violência e ocorre nas relações entre pares, enfatizando, principalmente, o ambiente escolar, além de caracterizar o bullying por atitudes repetitivas de opressão, tirania, agressão e dominação de pessoas ou grupos frente a outros grupos subjugados a partir do domínio dos primeiros. Seguindo essa linha de definição, Lopes (ARAMIS et al, apud MARRIEL, 2006, p. 03) diz que: Trata-se de indivíduos valentes e brigões que põem apelidos pejorativos nos colegas, aterrorizam e fazem sofrer seus pares, ignoram e rejeitam garotos da escola, ameaçam, agridem, furtam, ofendem, humilham, discriminam, intimidam ou quebram pertences dos colegas, entre outras ações destrutivas.

Percebe-se, a partir do material pesquisado, que os alunos, quando vítimas do bullying, normalmente são pessoas com dificuldades para reagir frente às conflitualidades e tendem a retrair-se. Foi possível perceber que as atitudes provindas da indisciplina escolar e da violência contribuem para o conflito da evasão entre os sujeitos, já que, por vezes, os sujeitos insultados não suportam a pressão à qual são submetidos.

2

De acordo com Neto* (2005), bullying está relacionado com ações agressivas, intencionais e consecutivas, que ocorrem sem motivos por um ou mais individuo (os) contra outro(s), causando dor e angústia, sendo executadas dentro de uma relação desigual de poder.

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É relevante dizer que, segundo Marriel (2006), a instituição educacional e os educadores podem se tornar personagens agentes de violência a partir de ações conteúdistas e impositivas, onde tais assuntos adentram na vida dos alunos destituídos de significado para a vida dos sujeitos envolvidos no processo do saber. Dessa forma, é importante dizer que a prática educacional necessita de transformações constantes e visões macrossociais, já que o discurso educativo prioriza a resolução de conflitos entre os alunos.

Torna-se necessário diferir a violência na escola, a violência à escola e a violência da escola. No âmbito de tais diferenciações, Charlot (2002) transcreve que a violência na escola é aquela que se concretiza no interior do ambiente escolar; por outro lado, quando um grupo de meliantes adentra a instituição para acertos de contas entre ocorrências do bairro e os elementos ali inseridos, esta poderia ter se concretizado em qualquer outro lugar. A violência à escola está relacionada à natureza e as atribuições da própria instituição educacional (atitudes agressivas aos professores, alunos e ou destruição do patrimônio escolar).

Abramovay (2006, p. 09) diz que é preciso visualizar a violência escolar num nível amplo incorporando: 1. Violência física: é aquela que pode matar, consiste em ferimentos, golpes, roubos, crimes, vandalismo, droga, tráfico, violência sexual; 2. Violência simbólica ou institucional: que se mostra nas relações de poder na violência verbal entre professores e alunos, por exemplo; 3. Violências verbais: insultos, xingamentos, grosserias, humilhações; 4. Incivilidades : caracterizam-se pelo micro violências, humilhações, falta de respeito.

Sendo assim, todos os sujeitos envolvidos no processo de construção de caráter humano, aqui especificamente falando da Educação Fundamental, em algum momento, ao deparar-se com a indisciplina escolar, terá a necessidade de refletir inserindo-a em tais aspectos, caso contrário, o educador poderá se tornar um agravante social na vida desses indivíduos por ter optado por uma ação indiferente na vida de tal cidadão.

Amado (2001), ao falar da competência do educador a partir da (in)disciplina na sala de aula, diz que este assunto requer um olhar elevado, já que os conflitos advindos

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a partir de atitudes indisciplinares por um lado não deixam de ser um sintoma de que algo vai mal na prática docente e por outro ângulo é, também, um motivo forte para se repensar essa mesma prática, reinterpretando o mundo em que vivemos, bem como as novas exigências que se fazem à escola, à população escolar e ao futuro que, coletivamente, se quer construir.

Dessa forma, conforme transcreve Amado (2001) é importante reconhecer a necessidade de uma formação de professores que leve em consideração a indisciplina escolar e sua complexidade. Torna-se necessário, por isso, que o professor, desde a formação inicial, aprenda a colocar na balança os seus próprios atos e práticas de modo a ajuizar a sua adequação tanto de acordo com os fins e objetivos da educação quanto aos alunos que verdadeiramente possuem.

Contudo, no interior das escolas, cotidianamente observa-se que a indisciplina é conceituada tão somente como um comportamento indevido ou como uma sinalização de rebeldia ou transgressão de normas e, até mesmo, como falta de educação ou desvalorização do profissional educacional. Assim, é importante refletir os conceitos, até aqui sinalizados, buscando embasamento em outros teóricos para perpassar por essas condutas normalmente praticadas pelos discentes, priorizando não resolver a indisciplina escolar e sim aprender a utilizá-la a favor da educação.

Já que este estudo de caso tem como uma das estruturas firmadoras a pesquisa participante, vale, também, comentar sobre a indisciplina discente; acredita-se que trata-se da ação dos sujeitos que se apresentam de forma contrária às normas que lhes são impostas com a intencionalidade de apontar alguma insastifação ou insignificância por fatos cotidianos destacados pelos individuos. Dessa forma, os atos conflituosos necessitam de um olhar diferenciado para que os demais procedimentos possam ser prosseguidos.

Este capítulo visou contemplar alguns conceitos sobre a indisciplina na sala de aula analisando sobre diferentes teóricos e aspectos, abordando os questionamentos relacionados com a temática nas instituições escolares, evidenciando que os educadores, pais de alunos, responsáveis e toda a sociedade em torno das

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instituições educadoras estão vivenciando conflitos gerados a partir da indisciplina e violência entre os sujeitos.

No capítulo seguinte serão apresentados os resultados da pesquisa de campo a partir de prática docente, os princípios relevantes para a diminuição do índice da indisciplina na educação contemporânea dentro da concepção dos educadores envolvidos no processo de ensino e aprendizagens. Sabe-se, portanto, que os conflitos vivenciados pelos educadores, no que se relaciona com a indisciplina educacional, é desafiador, já que estes questionamentos têm crescido no cotidiano escolar proporcionando recorrentes insatisfações.

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4 CONTEXTUALIZAÇÃO DOS RESULTADOS PESQUISADOS A PARTIR DE UM ESTUDO DE CASO NA ESCOLA MUNICIPAL VALE DAS PEDRINHAS

Para dar seguimento a este trabalho, foi fundamental debater os resultados da pesquisa sobre a indisciplina escolar na Instituição Municipal Vale das Pedrinhas. Dessa forma, foi necessário ir a campo pesquisar a prática docente e as atitudes dos discentes envolvidos no processo. Sendo assim, apresentam-se, aqui, os resultados obtidos em campo, confrontando a prática docente e a concepção de alguns educadores sobre a indisciplina escolar, enfatizando os princípios relevantes para a diminuição do índice da indisciplina na educação contemporânea dentro da concepção dos professores envolvidos no processo de ensino e aprendizagem.

Os

educandos

responderam

a

um

questionário

contendo

questões semi

estruturadas que retrataram as indagações sobre o aluno e sua auto percepção no âmbito da indisciplina e da violência escolar. Os discentes foram selecionados por seus respectivos professores e foi sugestionado pela pesquisadora que as escolhas feitas pelas educadoras fossem firmadas a partir dos alunos que mais se envolviam em conflitos em sala de aula.

Os alunos são jovens entre 09 e 17 anos de idade, de ambos os sexos, que vivem, em sua maioria, nos arredores da instituição escolar. No primeiro momento da pesquisa os alunos, ao se dirigirem a direção para a resolução do questionário, mostravam-se inquietos e apreensivos com a possibilidade de estarem falando de si, porém, no transcorrer do exercício, estes foram mostrando-se cada vez mais receptivos e interessados em participar da atividade educativa. É relevante destacar que, depois de alguns dias, os próprios alunos resolveram se voluntariar para participar da pesquisa.

Já os educadores, por sua vez, foram sujeitos entre 26 e 56 anos, porém nem todos os questionários entregues foram respondidos. É importante ressaltar que os docentes mostraram-se satisfeitos com a escolha do tema em questão e foram em

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sua maioria receptivos com o desenvolvimento da atividade. Os demais funcionários da instituição – direção, coordenação, secretária, porteiro, auxiliar entre outros – também deram suas parcelas de contribuição para este material.

Ao iniciar o processo de resolução dos questionários entre os alunos, um dos fatores recorrentes foi o alto número de alunos que com frequência são encaminhados para a direção escolar por conta da indisciplina. Diante deste fato, ao adentrar a sala da direção com um dos alunos para resolver um problema gerado em sala, quem obtém como resposta da coordenação escolar: [...] Não precisa mais conversar com o aluno (Y), quanto a sua indisciplina na sala de aula, o mesmo levará um comunicado e só poderá regressar a unidade escolar com um responsável e, se vier sem este, não poderá assistir às aulas.

Em contrapartida, na direção da escola já consta em fácil acesso um bloco de comunicados que já ficam aguardando pela chegada dos alunos indisciplinados para serem entregues aos seus responsáveis. Porém, ao questionar os professores sobre os instrumentos utilizados por eles para minimizar o comportamento inadequado entre os alunos, a maioria deles respondeu que considera o diálogo, a conversa, a orientação, a análise da necessidade dos alunos em questão, o desenvolvimento de palestras e o resgate de valores como instrumentos imprescindíveis para a resolução dos conflitos gerados pela indisciplina escolar. De acordo com Vasconcellos (1997), a sensação de “não poder” pode ser um dos fatores epistemológicos á serem confrontados. O educador internalizou a ideia de não possuir estrutura e não poder solucionar os conflitos indisciplinares, já que tais conflitos estão no outro.

Encaminhar o aluno para a direção escolar parece ser a única medida eficaz, porém nada mais é do que transferência do problema, adotada pelos educadores da instituição constantemente. Mas, será mesmo que direcionar esses alunos para a direção escolar soluciona os transtornos indisciplinares? E os alunos o que pensam dessa medida? A direção da escola consegue administrar esses problemas sem sobrecarregar as suas demais funções diárias?

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Uma das educadoras, ao adentrar a sala da diretoria escolar e vê cinco alunos sentados para conversar na direção quanto a seus comportamentos na sala disse: “(...) Nossa! Como essa sala está florida hoje!” Já os alunos parecem ser indiferentes à situação por eles vivenciada. A direção escolar, por sua vez, parece ficar sobrecarregada, mas sem alternativa a não ser dispensar este aluno, solicitando o seu retorno no dia seguinte com um responsável a fim de comunicar o fato a suas famílias.

Durante o período em que foi feita a observação na instituição também foi possível encontrar alguns responsáveis pelos alunos procurando a direção para conversar sobre os comunicados que receberam. Quanto à postura de passividade por parte dos educadores destaca-se que: A dificuldade de aceitação do diferente tem sido a tônica do “fazimento” do Brasil. Ao longo de nossa história multiplicam-se exemplos de discriminações e de exclusões daqueles que não correspondem a um “perfil” definido segundo padrões estéticos e culturais preestabelecidos (LEITE apud SCOLARO, 2010 p.204).

Dessa forma, acredita-se que, quando o educador adota como conduta a exclusão do aluno da sala para minimizar a indisciplina, esse professor também demonstra que já desistiu do seu aluno. Sabe-se que o docente precisa de ajuda para administrar estes entraves, porém não se pode resolver um problema causando tantos outros. Nesse sentido, enfatiza-se que: É certo que as famílias deveriam educar seus filhos. Isso seria o ideal e todos assim o desejam, tanto o mundo da “ordem” quanto o dos “lares destruídos”. Mas, sabemos também da impossibilidade que o mundo da “desordem” tem de se manter junto a seus filhos, por já se constituírem de famílias abandonadas pelos poderes públicos e não terem oportunidades sociais, nem direitos. O Estado falhou em sua primeira função, ser elo aglutinador entre os brasileiros, fortalecendo a unidade familiar e sua relação com a sociedade da qual é parte (LEITE apud SCOLARO, 2010 p.205).

Quando o professor encaminha o aluno para a direção e esta por sua vez manda o aluno para casa, está apenas devolvendo para os responsáveis dos sujeitos um problema que, mesmo sabendo que também são de ordem familiar, as famílias podem não saber solucionar. Contemplar um espaço afetivo em sala de aula pode ser uma das possibilidades para se romper as barreiras, ultrapassar os limites e

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derrubar concepções tradicionais. Formar uma equipe educativa capacitada para levar o aluno a pensar sobre as suas próprias condutas é um dos caminhos a ser tomados a favor da disciplina na sala de aula. Evidencia-se a necessidade de o processo educativo dar especial atenção ao domínio afetivo, não só como meio de facilitação de aprendizagem cognitivas, mas também, acima de tudo, com objetivo de promover no aluno o desenvolvimento de aspectos fundamentais para a participação social, relacionar com sua afetividade, como por exemplo, o sentido de autonomia e de participação na promoção do próprio desenvolvimento; a necessidade de buscar o equilíbrio pessoal quanto ao binômio dependência-independência; o reconhecimento das necessidades emocionais e sentimentos próprios e de outras pessoas; a prontidão para arriscar-se em áreas novas e para correr o risco do fracasso; a capacidade para o uso construtivo do poder etc. (LÜCK, 1979 apud LÜCK & CARNEIRO, 1983, p.22).

Desde as primeiras intervenções realizadas na Escola em questão, nutriu-se uma necessidade enorme de compreender e deixar uma parcela de contribuição significativa na vida dos sujeitos ali inseridos. Logo, a pesquisadora passou a cumprimentá-los sempre cuidadosamente; quando os alunos precisavam de apoio, olhava-os nos olhos e se permitia escutá-los com atenção. Ao final das atividades docentes, eram escolhidos os três alunos que mais haviam causado entraves durante a aula propondo-lhes uma conversa em grupo para estimulá-los a melhorar suas condutas nos dias seguintes.

Em um dos finais de tarde enquanto conversava com os alunos, percebeu-se que as lágrimas desciam dos olhos de um deles enquanto explicavam seus vários contextos. Sabe-se que não foi possível fazer muita coisa, já que este trabalho não se estendeu por mais de dez meses, porém, ao voltar à instituição para fazer a pesquisa objetivando a construção da então monografia, foi surpreendente a recepção por parte dos jovens, o que facilitou gradativamente o trabalho aqui explicitado.

Enquanto o processo de desenvolvimento da pesquisa procedia, um dos alunos fez a seguinte explanação: [...] Professora Aline, se eu fosse o professor daqui faria com que os meninos estudassem e aprendessem a ler e escrever. Também não os deixaria entrarem na malandragem e diria sempre pra meus alunos

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que: a porta vai ficar aberta para vocês aprenderem a ler e estudar toda vez que quiserem.

Esse aluno possui 17 anos, encontra-se no quinto ano do ensino fundamental e não frequenta a escola assiduamente porque trabalha para ajudar com as despesas da família. Quanto a seu desempenho na sala, infelizmente ele encontra-se com várias dificuldades nos conteúdos didáticos, não acompanha o ritmo das tarefas regularmente. Contudo, vale destacar que este indivíduo trabalha no ramo comercial e consequentemente se destaca em algumas atividades de matemática, é um aluno desinibido e gosta de conversar muito na sala de aula sobre inúmeros assuntos.

Um diálogo que impressionou durante parte deste processo e merece ser eternizado aqui, haja vista que este material seguira por vários anos para os educadores que optem por desvendar a indisciplina com a intenção de melhorar a educação entre os jovens, foi: – Colega você não sabe o que aconteceu lá em casa ontem! (em plena segunda-feira) – O que? – Faltou comida lá em casa ontem, velho!

Aquela fala representou muito mais até do que a própria fome que o jovem havia vivenciado no dia anterior e respondeu muita coisa sobre o aluno, de apenas 10 anos, que mal começava a aprender a ler e já era visto como um aluno indisciplinado diante de suas atitudes indevidas no seu contexto diário na escola.

Foi impossível não compreender, após tal episódio, as várias ocorrências praticadas pelo aluno, bem como as tarefas sem fazer, as agressões rotineiras deste para com os demais colegas da turma, além de uma série de deslizes acometidos pelo referido aluno. É importante contemplar aqui que o aluno apresentou evoluções significativas ao final do ano letivo. Por outro lado, o aluno não tinha muito o apoio familiar nas suas atividades diárias e sempre chegava à escola sem os seus acessórios para a aquisição das tarefas.

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Dessa forma, ainda referindo-se ao aluno citado, foi fundamental, durante o transcorrer do ano letivo, ajuda-lo através do suporte de materiais necessários para o seu melhor desempenho escolar. Elevar a autoestima do aluno citado, também foi uma forma de motiva-lo quanto à suas atitudes em sala de aula. Porém, algumas vezes, certamente por tantos outros motivos, esse indivíduo apresentava sinais desmotivação pela aquisição do saber na instituição educacional.

4.1

A

DOCÊNCIA

E

SUA

CONVIVÊNCIA

COM

OS

TRANSTORNOS

INDISCIPLINARES

Os profissionais de educação da unidade pesquisada vivenciam vários conflitos durante o desenvolvimento de suas atividades docentes diárias. Um dos fatores relevantes neste contexto foi sua passividade diante das atitudes indisciplinadas dos educandos ali inseridos. Ao perguntar às docentes como elas convivem com o transtorno da indisciplina e da violência escolar, foi constatado, pela maioria das respostas, que as professoras utilizam o encaminhamento dos alunos para que a direção escolar tome as providencias cabíveis, sendo essa a estratégia mais desenvolvida no ambiente educacional. Já a equipe gestora da unidade, por sua vez, não comentou o assunto e apenas atribuiu os conflitos indisciplinares a falta de limites e dos valores entre os alunos.

Neste sentido, será importante que o professor construa, em sua sala de aula, possibilidades de conviver com a indisciplina escolar entre os alunos sem retirá-los do seu ambiente de aprendizagem. Já os alunos devem tomar consciência de seus atos através de orientações dadas pelo próprio docente. Assim, o profissional estará criando um ambiente interativo de ensino e construção dos diversos saberes. As sanções não podem ser tomadas como mecanismos de exclusão da clientela do jogo, escolar, pelo contrário, se prestam a inclusão de todos. É tarefa dos educadores garantir uma escola de qualidade para os indisciplinados ou não. A inclusão, pois, passa a ser o dever prioritário de todo professor preocupado com o valor social de sua prática e, ao mesmo tempo, com compromisso e competência profissional (AQUINO, 1999, p. 45).

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Quando se fala de indisciplina escolar, é essencial destacar que, a conduta do professor é extremamente importante, tanto para melhorar a disciplina entre os alunos como também para agravar tal fenômeno. Porém, não se pretende, com este trabalho, apontar culpados pela indisciplina escolar, mas sim explicitar formas de intervir diante do comportamento inadequado dos alunos.

Para Vasconcellos (2004), é necessário remeter o aluno à reflexão e correção do desvio de conduta, sem, com isso, deixar de lado o direito do aluno de acesso e permanência na escola (art. 206 inciso I da Constituição Federal, Art. 3º, inciso I da Lei n. 9.394/96), nem permitir vexame ou constrangimento ao aluno (Art. 232 da Lei n. 8.069/90). Tessaro (2009), diz que se deve superar a síndrome do encaminhamento, onde o professor sempre encaminha o aluno á direção sem nem sequer tentar solucionar o conflito. Sendo assim, o direcionamento recorrente do aluno reafirma apenas a transferência de responsabilidades entre os sujeitos.

Cunha (et al, 2009), destaca que o método da repressão contra a indisciplina contempla

apenas

indivíduos

indisciplinados

que

temem

às

autoridades.

Normalmente as regras impostas pelos educadores nas instituições escolares são direcionadas por sistemas arbitrários de punição e recompensa, sem, contudo, levar em consideração as opiniões destes alunos sobre as significâncias destas imposições para eles. A prática autoritária e de coação para conter a indisciplina e manter a ordem poderá trazer consequências gravíssimas, já que entra em conflito com a construção da autonomia entres os seres.

Quando indagados sobre os motivos da incidência da indisciplina entre os alunos em suas salas, os professores variaram suas opiniões entre a falta de respeito ao outro, o distanciamento familiar no ambiente escolar, a falta de educação doméstica, a ausência de valores morais entre os alunos e a conversa paralela entre os alunos. Alguns educadores entrevistados não acreditam que podem reverter a indisciplina escolar entre os sujeitos porque a instituição familiar fracassou entre os valores morais e o amor por seus filhos. Logo, percebe-se que este público já chega a tal ambiente rotulado pelos fracassos provindos da sua estrutura familiar, o que, de certa forma, acaba por agravar os transtornos nas escolas.

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Na perspectiva de Lapo e Bueno (2003), as frustrações dos professores correspondem a um conjunto de experiências conflituosas e expectativas que não se concretizam, ocasionando até o abandono da profissão.

O contexto social dos

sujeitos e o modo como está organizado o sistema educacional destacam a insatisfação dos educadores com o trabalho docente. Percebe-se que o professor não possui o controle de sua prática docente nem escolhe as condições em que ela irá acontecer.

Por outro lado, acreditar no aluno, assim como em suas atribuições, pode trazer um resultado favorável na motivação educacional, já que consiste em uma expressão de afeto e possibilita um elemento positivo sobre o desempenho do indivíduo. Guimarães (apud ECCHELI, 2008) diz que o elogio enriquece o sentimento de autoeficácia e impulsiona a autonomia da determinação quando direciona os alunos aos progressos obtidos a partir de um exercício ou aquisição de um novo saber, dando a possibilidade de assegurar o interesse do educando. Dessa forma, se o professor quiser promover a motivação em sua sala de aula, deve elaborar atividades que possibilitem os alunos ao sucesso a partir do seu primeiro contato.

De acordo com Vasconcellos (1997), quando os educadores optam por atribuir a culpa da indisciplina e da violência escolar às famílias, ao sistema e à ausência dos valores morais, estes estão apenas esvaziando suas competências existenciais e profissionais e, consequentemente, perdendo o senso critico. O professor não pode se colocar como indiferente para com a sua responsabilidade dentro do sistema educacional, já que desse modo ele perde também a sua autoridade, sendo o mesmo não responsabilizado por nada. “A situação em que o professor fica é profundamente ambígua: de um lado, está justificando, pois „não é com ele‟, mas de outro, percebe-se absolutamente impotente...” (VASCONCELLOS, 1997, p.236).

Sabe-se até aqui que a indisciplina e a violência escolar acabam por inviabilizar a prática educacional e seus efeitos dificultam a relação professor-aluno. Diante deste contexto, foi questionado para os educadores como os mesmos vivenciam o transtorno da indisciplina e da violência escolar. Dessa forma, uma das educadoras, a coordenadora da instituição, esclarece:

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... É muito difícil conviver com o transtorno que a indisciplina discente nos causa nesta unidade escolar. As crianças em sua maioria não respeitam mais os adultos e, para manter a disciplina na escola, é preciso que a direção esteja sempre conversando com os alunos e, também, com os seus responsáveis.

Novamente esse argumento transfere de forma indireta o conflito indisciplinar para a direção escolar, porém esse depoimento foi deixado pelo grupo de apoio pedagógico da instituição, ou seja, a educadora que descreveu a situação é a mesma pessoa que desenvolve a conversa com os “alunos indisciplinados” quando os mesmos chegam à direção. Sendo assim, a partir deste argumento, procedeu-se uma nova inquietação: Será que o próprio elemento gestor de tal instituição não está contribuindo para que as educadoras adotem, preferencialmente, a medida do encaminhamento dos alunos indisciplinados para a direção da escola? Segue-se uma tabela retratando os depoimentos deixados pelas professoras.

Educadoras entrevistadas

Relação dos comentários fornecidos pelas educadoras sobre o transtorno da indisciplina e da violência escolar

Professora A

Causa interferências no desenvolvimento da aprendizagem dos educandos.

Professora B

Aumentam a falta de respeito e o índice de ameaças entre os alunos, além de atingir todas as demais atividades de sala,

Professora C

Causa um sentimento de dor.

Professora D

Não vê dificuldade diante da indisciplina, já que tem uma postura rígida em sala de aula e, assim, controla melhor a sua turma sem, contudo, aplicar castigos e punições nos alunos.

Professora E

A indisciplina causa transtorno no ambiente escolar.

Coordenação escolar

A indisciplina traz transtornos de toda ordem na unidade escolar.

Direção

A indisciplina proporciona a falta de limites entre os educandos.

Secretária

A indisciplina escolar significa que o aluno está precisando de ajuda.

Quadro 01: Relatos dos transtornos provindos da indisciplina e da violência escolar de acordo com as educadoras entrevistadas. Fonte: Pesquisa de Campo, 2012.

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Com base nas respostas obtidas sobre os transtornos indisciplinares e suas interferências no cotidiano docente, surgiu a seguinte questão: Você, professora, consegue minimizar a indisciplina em suas aulas? Justifique a sua opinião. O quadro 2, a seguir, mostra na mesma ordem dos relatos anteriores as transcrições fornecidas pelas docentes:

Educadoras entrevistadas

Relação de comentários fornecidos pelas educadoras quanto à minimização da indisciplina e da violência escolar ou não por parte das professoras

Professora A

Sim, consegue minimizar a indisciplina, porque, além das suas atividades diárias, desenvolve brincadeiras e apresentações incentivando a criatividade entre a turma.

Professora B

Sim, consegue minimizar a indisciplina entre os alunos atuando de forma rigorosa, falando com firmeza, separando as aulas dos momentos das brincadeiras e solicitando, sempre que possível, a ajuda da família.

Professora C

Sim, consegue interferir na indisciplina quando utiliza os jogos e as atividades que abordem os conteúdos de forma mais indireta.

Professora D

Sim, diminui o índice indisciplinar provavelmente pelo tempo de serviço e a experiência adquirida ao longo deste tempo.

Professora E

Algumas vezes sim, porém esta ficando cada vez mais difícil devido ao aumento da agressividade e agitação entre os alunos.

Coordenação escolar

Direção

Secretária

Sim, desenvolvendo um trabalho voltado para a inserção de valores éticos e morais onde os alunos possam perceber e respeitar as diferenças alheias. Sim, reduz a indisciplina escolar através de atividades com dinâmicas e músicas entre os alunos.

Sim, consegue minimizar a indisciplina a partir da vigilância e orientação para com os alunos.

Quadro 02: O docente quanto à minimização da indisciplina e da violência escolar. Fonte: Pesquisa de Campo, 2013.

De acordo com as afirmações prestadas na tabela acima, todas as educadoras responderam que conseguem minimizar e interceder de alguma forma para

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contornar ou reduzir a indisciplina e a violência escolar entre os alunos. Sabe-se que a instituição educacional é um espaço formador de caráter e, portanto, tem também a função de conscientizar os alunos sempre que se fizer necessário. Neste mesmo sentido Graciani (2001, p 77), transcreve que: [...] O conhecimento humano é um processo sempre em construção; a prática social, refletida pelos próprios sujeitos em todas as dimensões, articulações e inter-relações, é fonte privilegiada, sem ser única, do novo conhecimento; o educando, como sujeito do processopolítico pedagógico só aprenderá a sentir, sentindo; a agir, agindo; a perceber, percebendo; a criticar, criticando e a pensar sobre a ação, pensando.

A indisciplina escolar, tema central deste trabalho, foi, também, conceituada pela equipe educacional pesquisada e a próxima tabela específica na mesma ordem de respostas a definição dos respectivos docentes acerca do tema indisciplina escolar. Entrevistados

Como você, professora, define a indisciplina escolar?

Professora A

É algo que está aumentando a cada dia, já que os envolvidos com os conflitos estão sempre preocupados com seus direitos, mas os deveres não estão sendo priorizados.

Professora B

Relaciona-se com todas as atitudes que transgridem as regras, que atrapalha o desempenho de uma determinada atividade e a falta de respeito dos alunos.

Professora C

É algo que incomoda muito o desenvolvimento das atividades em sala de aula, é não saber ouvir, não saber parar na hora solicitada e estar sempre provocando os outros com brincadeiras fora de hora.

Professora D

Falta de respeito às normas.

Professora E

Não respondeu.

Coordenação escolar

Falta de limites entre os alunos.

Direção Secretária

Advém da falta de educação doméstica pautada em valores. É a falta de limites, a desobediência, a falta de atenção e falta de amor entre os educandos.

QUADRO 03: O conceito da indisciplina escolar de acordo com as educadoras entrevistadas. Fonte: Pesquisa de Campo, 2012.

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Observa-se, nas transcrições das educadoras, que a realidade da indisciplina e da violência escolar vem afetando constantemente o cenário educacional. Dessa forma, é importante que os profissionais da educação reflitam para atuar em suas salas de aula com o propósito de interceder nos atos conflituosos, buscando alternativas educativas para amenizar os problemas vivenciados frequentemente, caso contrário, o cenário educacional ficará cada vez mais inseguro e as demais atividades pedagógicas estarão sempre prejudicadas. Estamos vivendo um momento social onde fica clara a necessidade de serem restabelecidos limites na educação das crianças e dos jovens. Há uma grita geral nesta direção, perpassadas por um certo consenso de que eles precisam se “enquadrar”. Frutos de uma geração de adultos que perderam os “mapas de ser pai”, e de uma sociedade altamente complexa e em profunda transformação, marcada por uma crise de valores sem precedentes, parece não haver dúvidas desta urgência (VASCONCELLOS, 2004, p.44).

No que se refere à instituição educacional e seu processo educativo, faz-se necessário que a equipe pedagógica, mantenha estratégias reflexivas diante da indisciplina e da violência escolar, já que esses conflitos sempre permearão as salas de aula. Sabe-se que, o crescimento da violência e da indisciplina escolar coloca em evidência que as ações e esforços desempenhados para minimizar a indisciplina e os demais conflitos ainda são insuficientes.

Entrevistados Professora A Professora B Professora C

Como a escola pode contribuir na formação do indivíduo no âmbito da indisciplina ou da violência escolar? Através de palestras, trabalhos e conversas com os pais. Criar regras, mostrar a necessidade de segui-las, os caminhos existentes e incentivar os educandos a não agir com violência. A educadora deverá ser a primeira a cumprir as regras e se impor diante das medidas disciplinares a serem seguidas.

Professora D

Através da implantação de projetos relacionados a esses temas, desenvolvendo palestras e reunião com os pais.

Professora E

Através do cumprimento de documentos como o regimento escolar e trazendo regras e normas para serem cumpridas.

Coordenação escolar Direção Secretária

Promovendo a valorização do individuo. A partir da formação educacional, e do debate entre as partes. É necessário muito diálogo entre os alunos e também a contribuição das famílias desses alunos na educação dos mesmos;

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Porteiro

Adotando um tipo de punição específica contra esses sujeitos indisciplinados.

QUADRO 04: Contribuição educacional para a formação dos alunos diante da indisciplina e da violência escolar. Fonte: Pesquisa de Campo, 2012.

De acordo com Abramovay (2002), quando as punições são colocadas de forma arbitrária, a escola acaba por optar pelo exercício da violência simbólica para com a sua clientela. A violência, nesse caso, seria exercida mediante consentimento, pelo uso de símbolos de poder que não necessitam do recurso da força física, nem das armas, nem do grito, mas que silenciam protestos (ABRAMOVAY, 2002, p. 142).

É importante destacar que, no período de estágio de regência de classe (2011), foi muito comum perceber e acompanhar o processo de punição dos alunos devido à indisciplina escolar, através de comunicados para os pais comparecerem à escola e suspensões, porém, quando suspensos e já do lado de fora do portão da unidade escolar, esses alunos, na maioria das vezes, agiam de forma ainda mais agressiva e até desenvolviam atitudes de vandalismos no próprio entorno escolar, ou até mesmo ameaçando os demais colegas e/ou a professora que o encaminhou para a direção.

Tendo em vista que as motivações iniciais deste estudo foram provenientes de aflições quanto à pesquisadora e sua impotência diante de algumas atitudes ligadas à indisciplina escolar, surgiu a seguinte indagação: Existe o lado bom da indisciplina entre os alunos? O que os discentes querem retratar com tais atitudes comportamentais? Enquanto educadora, a pesquisadora acredita que os conflitos provenientes da indisciplina escolar têm muito mais a dizer do que a própria conduta indevida por parte do aluno em questão.

Por outro lado, quando as educadoras que participaram deste estudo foram questionadas (Existe o “lado bom da indisciplina”? Justifique a sua resposta), dos os 10 questionários respondidos, 06 professoras afirmaram que não conseguem visualizar a indisciplina dos alunos de maneira positiva, 02 das restantes afirmaram ainda não ter pensado a respeito e apenas 02, em comum acordo com a pesquisadora em formação, transcreveram que acreditam que exista o lado positivo

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no âmbito da indisciplina escolar. Sendo assim, torna-se relevante transcrever as duas justificativas favoráveis à indisciplina escolar de acordo com as duas docentes:

Para a Coordenadora escolar: [...] A indisciplina nos mostra como as influencias externas: as drogas, a falta de limites, a formação de gangs, entre outros fatores, vem tendo uma grande repercussão nas escolas.

Para a professora: [...] Existe sim, o lado bom da indisciplina, já que, através desta podemos constatar se há algum problema ocorrendo com o aluno indisciplinado.

Espera-se que o profissional de educação tenha um olhar ampliado diante das impossibilidades de desenvolver as práticas pedagógicas cotidianas frente à indisciplina e demais conflitos provindos a partir desta. A sensação de impotência precisa ser superada a partir de alternativas que superem as conflitualidades entre os alunos. De acordo com Scolaro (2010), os transtornos e a indisciplina escolar devem ser solucionados, e não negligenciados, e é possível que se possa promover o entendimento e compreensão entre as divergências, criando espaços harmônicos. A sala de aula e a escola não estão desvinculadas da problemática do resto da comunidade e da sociedade, porém têm sua autonomia relativa. De imediato, eu não tenho condições de mudar as pessoas e (ou) o mundo; entretanto, de imediato, eu posso mudar a maneia de me relacionar com as pessoas e com o mundo! Isto não é tudo, mas é um passo importante e de minha responsabilidade (VASCONCELLOS, 1997, p.241).

Acredita-se que os educadores, de maneira geral, ainda precisam refletir muito sobre suas atuações e práticas frente à indisciplina escolar visando, assim, incluir os sujeitos de maneira significativa nas atividades pedagógicas. É relevante dizer, também, que, por vezes, o problema passa pela sala de aula, mas não advém da mesma. Sendo assim, sabe-se que a escola não pode resolver todos os problemas e a família, assim como a comunidade, precisa unir-se à escola para fortalecer os vínculos educativos em função de uma educação de qualidade para os alunos inseridos no processo de construção do saber.

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É fundamental olhar o sujeito indisciplinado além das suas condutas incoerentes para poder ajudá-lo, de alguma forma, a repensar suas ações em função da responsabilidade educacional com o outro enquanto formador de caráter. Neste mesmo aspecto, Libâneo (1994) destaca que o exercício do educador é uma prática social e que, através da ação educacional, o professor intervém na realidade social dos sujeitos. Perguntou-se para as professoras: Você acredita que o professor algumas vezes pode ser o motivo da indisciplina dos educandos? Por quê?

Entrevistados

Você acredita que o professor algumas vezes pode ser o motivo da indisciplina dos educandos? Por quê?

Professora A

Acredito que sim, quando não há um planejamento adequado das aulas e, também, quando o educador não se preocupa em dialogar ou envolver os alunos amistosamente.

Professora B

[...] Não sei se o correto é culpar o professor, mas acho que, se o professor não tiver equilíbrio emocional, um pouco de dureza às vezes, os alunos acham que podem fazer o que quiserem e não são orientados para o mundo real. O professor não faz somente o que quer, ás vezes ele tem que fazer mesmo que não seja da sua vontade.

Professora C

Professora D

Sim, quando este não desenvolve um bom planejamento ou se tiver um olhar diferenciado sendo indiferente a situação da indisciplina. Sim, já que o professor é um exemplo, sendo assim, quando o educador não tem uma postura de “domínio” sobre a turma à tendência é aumentar a indisciplina. Uma frase que usamos muito aqui na escola é “ser firme com doçura”.

Professora E

Não respondeu.

Coordenação escolar Direção

Sim, quando o professor não consegue controlar a falta de respeito entre os alunos. Não acredita nesta possibilidade

Quadro 05: O professor e a indisciplina escolar. Fonte: Pesquisa de Campo, 2012.

A partir dos resultados obtidos nesta pesquisa acerca do professor e a motivação da indisciplina escolar dos educandos, é correto afirmar que a maior parte dos educadores confirmou ter sim alguma reponsabilidade diante da indisciplina escolar dos seus discentes. Em contrapartida, a direção desta instituição não atribuiu nenhuma motivação da indisciplina para os educadores envolvidos no processo de construção do saber. É fundamental que o educador tenha comprometimento com a educação que se propõe a desenvolver e reflita cotidianamente sobre as ações de

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seus alunos, no sentido de buscar alternativas para administrar as intercorrências da indisciplina e da violência escolar na sua sala.

4.2

OS

DISCENTES

E

SUAS

OPINIÕES

SOBRE

OS

TRANSTORNOS

INDISCIPLINARES NA ESCOLA

Com a intenção de analisar os dados obtidos durante a pesquisa, buscando compreender o que pensam os alunos a partir da ação dos professores diante da indisciplina escolar para a construção da aprendizagem, além de entender a importância das decisões do educador frente à indisciplina na relação professoraluno, foram confrontados os discursos dos professores com os dos educandos, no sentido de perceber se a indisciplina pode ser utilizada para resgatar os sujeitos em questão. Perguntou-se para os alunos pesquisados se eles cumpriam as regras estabelecidas pela unidade escolar, onde 10 deles afirmaram que sim, os outros 09 disseram que não cumprem as regras pré-estabelecidas pela instituição. Sobre os transtornos disciplinares e os limites, Zagury (2001, p.17) enfatiza que: É fundamental acreditar que dar limites aos filhos é iniciar o processo de compreensão e apreensão do outro. [...] Ninguém pode respeitar seus semelhantes se não aprender quais são seus limites e isso inclui compreender que nem sempre se pode fazer tudo o que se deseja na vida. É necessário que a criança interiorize a ideia de que poderá fazer muitas, milhares, a maioria das coisas que deseja, mas nem tudo e nem sempre. Essa diferença pode parecer sutil, mas é fundamental, entre satisfazer o próprio desejo, ainda que, por vezes, prejudique alguém.

Os Parâmetros Curriculares Nacionais – PCNs – (1997) transcrevem que, as normas e regras são interpretadas como ações que norteiam padrões de conduta a serem desenvolvidos entre os grupos. Depreende-se desta leitura que a aprendizagem de valores e atitudes ainda é pouco exercitada no fazer pedagógico, porém os PCNs, deixam claro que, o comportamento entre os discentes está diretamente interligado com as atitudes, normas e valores dos alunos envolvidos na aquisição do saber. Todavia, o educador deve ter em mente que um comportamento indevido do aluno, não servirá como reflexo atitudinal de alguém.

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Têm-se por vezes, no cotidiano, comportamentos incoerentes, contraditórios, distanciados das atitudes e valores que se acreditam corretos. Isso implica dizer que a coerência absoluta não existe, e na formação de atitudes vive-se um processo não linear. Assim o fato de duas crianças brigarem não significa que sejam violentas ou que estejam desenvolvendo a atitude da violência como traço de sua personalidade. Ou ainda quando uma criança quebra uma planta para brincar, não se pode deduzir imediatamente que tenha uma atitude de desrespeito à natureza (PARAMETROS CURRICULARES NACIONAIS, 1997, p.45).

Dessa forma, a convivência de alunos e professores é uma forma de ambos colocarem-se um no lugar do outro e, assim, refletirem ações respeitando, principalmente, as diferenças entre as partes.

Ao dar seguimento ao processo de pesquisa de campo, os alunos foram questionados sobre o que acham da forma como os seus professores reagem diante da indisciplina escolar. As respostas foram bastante diversificadas; alguns acreditam que as atitudes docentes quando recorrerem à direção escolar é a mais certa, já que quando a diretora adentra à sala de aula todos os alunos ficam “quietos”; observouse, também, os que ficam aborrecidos com a forma como suas professoras se utilizam para chamar á atenção, justificando que as docentes gritam com eles e estes, por sua vez, não gostam de gritos; 03 alunos disseram não saber responder a este item; 01 aluno colocou que às vezes gosta do direcionamento da professora outras vezes não; 01 dos entrevistados disse que acredita ser ruim, já que o professor não pode tratar mal nem desfazer-se das pessoas; alguns alunos disseram, ainda, que ficam de castigo. Nesse sentido, Alves (2000, p. 23), destaca: Professores muito rígidos ou muito permissivos, regras de convivência que não ficam explícitas, falta de habilidade para a negociação, preconceito e/ou discriminação de qualquer tipo (gênero, etnia, religião, classe social, etc.), tendência á homogeneização, envolvimento de alunos com drogas, interferência dos meios de comunicação, distanciamento entre a escola e a comunidade e as famílias dos alunos, são alguns dos fatores que, segundo a literatura, propiciam a violência na escola.

Ainda de acordo com Alves (2000), a escola não é apenas o lugar onde explode a violência de uma parte dos educandos, mas, também, contribui com sua existência. Alguns dos alunos entrevistados reafirmaram isso quando responderam que seus educadores gritam, ficam nervosos, se tornam agressivos diante da indisciplina. Contraditoriamente, alguns dos educadores afirmaram que a instituição escolar

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desenvolve projetos relacionados a esses temas, com palestras e reuniões com os pais. Para Tessaro (apud Zagury, 2009), dar limites é ensinar a tolerar transtornos no presente priorizando o futuro, onde ao se deparar com os transtornos da vida, o sujeito consiga supera-los com equilíbrio e maturação.

Quando indagados sobre as suas posturas na instituição escolar enquanto alunos disciplinados ou indisciplinados, 10 alunos responderam que se consideram indisciplinados e 09 responderam que são disciplinados. Ou seja, mais da metade dos entrevistados sabem que infringem as normas impostas pela instituição educativa e não demostraram nenhuma dificuldade em confirmar isso. Um dos alunos, além de se dizer indisciplinado, justificou que sua indisciplina estava direcionada ao seu baixo desempenho obtido durante o ano letivo. Tessaro (apud, ZAGURY, 2009), afirma que, no que se refere ao aluno, o fraco aproveitamento dos conteúdos escolares e, consequentemente, o seu fracasso, podem ser, sim, a principal causa da indisciplina escolar. Para Alves (2000, p.22):

A escola poderá tratar dessa questão: desde que dotada das condições necessárias de infraestrutura, recursos humanos qualificados e um projeto pedagógico adequado, a escola pode contribuir para a melhoria significativa na qualidade de vida daqueles que se utilizam dos nossos serviços.

Acredita-se ser fundamental que os políticos, assim como a sociedade envolvida no processo de construção do saber, busquem investir melhor na educação, equipando as instituições educacionais. Contudo, há que se pensar, também, em preparar o aluno quanto ao cuidado e a conservação adequada de tais equipamentos; como já foi dito anteriormente, a instituição escolar estudada está estabelecida, atualmente, em um espaço cedido, portanto, improvisado para os alunos ali inseridos.

Nesse sentido, observou-se que essa escola sofre com a ausência de alguns acessórios básicos para o desenvolvimento do processo educacional como, por exemplo, uma área de lazer apropriada para os discentes. Sendo assim, indagou-se aos alunos sobre o que eles mais sentiam falta em sua escola entre as opções: biblioteca, passeios, quadra de esporte, amigos, participação familiar, área de lazer, brincadeiras, professor, policiamento, nada.

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A tabela a seguir representa as respostas dos alunos quanto às carências vivenciadas por eles de acordo com as alternativas apontadas. É importante destacar que os alunos tiveram a opção de marcar quantas opções fossem necessárias de acordo com as suas próprias convicções de carências.

Biblioteca

Índices de respostas dadas pelos alunos representados por asteriscos *****

Passeios

************

Quadra de esportes

**********

Amigos

********

Participação familiar

*******

Área de lazer

********

Brincadeiras

**********

Professor

*********

Policiamento

*******

Nada

**

Alternativas

Quadro 06: tabela de carências vivenciadas de acordo com os discentes pesquisados da unidade escolar. Fonte: Pesquisa de Campo, 2012.

De acordo com o resultado obtido com este questionamento, percebeu-se uma carência dos alunos no que refere ao lazer, brincadeiras e quadra de esportes; os sujeitos também pontuaram uma carência no quadro de professores da instituição, que pode, também, estar relacionado à falta de duas professoras que estavam afastadas da instituição no período de desenvolvimento desta pesquisa. De acordo com o Plano Municipal de Educação – PME – (2010), no seu tópico 2.2 sobre as Diretrizes, a escola, enquanto um ambiente propício à construção do saber é responsável pela aquisição do conhecimento disseminando-o e possibilitando condições para transformar este saber, atendendo às demandas da sociedade em questão. Dessa forma, segundo o PME (2010), a instituição educacional requer condições propícias à aprendizagem das crianças e dos jovens com mais de 14 anos com elementos didáticos, tempo e espaço adequados para cada faixa etária.

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É importante dizer que a instituição escolar precisa pensar e desenvolver ações no seu projeto educativo que abarquem metodologias para compreender a indisciplina dos alunos e, portanto, busquem alternativas para interagir com tal conflito. O educador deverá estar apto a repensar sua pratica docente e a reconfigurar sua aula cotidianamente se quiser estimular o saber entre os alunos.

Ao indagar aos discentes sobre como eles se relacionavam com os demais colegas no ambiente escolar, 11 alunos responderam que se relacionam bem entre si e 08 responderam que nem sempre procede desta forma. Ao perguntá-los se já haviam agredido algum colega na sala de aula, apenas 05 disseram nunca ter agredido ninguém,

14

alunos

afirmaram



terem

agredido

colegas.

Segundo

o

questionamento, além de contra argumentar o primeiro, também significa dizer que para estes indivíduos a agressão não está ligada a forma de se relacionar entre si. Entre os entrevistados, 06 deles disseram também já terem agredido aos seus professores em sala de aula e 13 afirmaram nunca terem atuado dessa forma.

4.3 O QUE DIZEM OS DISCENTES SOBRE OS SEUS DOCENTES

Perguntou-se para os indivíduos se eles respeitavam seus professores, com o que apenas 01 aluno disse não respeitar; 13 alunos responderam que respeitam as suas docentes; 05 alunos relataram que algumas vezes respeitam suas educadoras. Ao perguntar se eles recebiam bons exemplos das suas professoras, entre os 19 entrevistados, 16 afirmaram positivamente, 02 responderam que não recebem bons exemplos e um aluno não respondeu a este item.

Tendo em vista que a compreensão das ocorrências indisciplinares é um desafio que se percebe no cenário educacional contemporâneo, uma das perguntas mais importantes do questionário foi a seguinte: Para você aluno (a), a indisciplina é causada por quê? Vale ressaltar que esse questionamento procedeu a partir de uma sequencia de itens optativos para marcações de acordo com a relevância dos significados que o aluno pesquisado atribuiu para as respostas dadas, podendo, porém ser marcado mais de um tópico.

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Índices de respostas dadas pelos alunos representados por asteriscos

Percepção Pela forma como o professor conduz as atividades docentes Porque as pessoas são mal educadas. Pelas condições financeiras Por falta de participação da família Por falta de organização da escola Não houve resposta

*** ******** *** ******** *

Quadro 07: Os motivos da indisciplina de acordo com os alunos entrevistados. Fonte: Pesquisa de Campo, 2012.

A partir das respostas obtidas observou-se que, entre as opções respondidas, houve empate de opiniões acerca da indisciplina sobre as alternativas que relatam a falta de educação das pessoas e a falta de organização da escola. [...] a família é o primeiro espaço de referencia, proteção e socialização dos indivíduos, independente das múltiplas formas e desenhos como se apresente atualmente [...] e não cabe a escola nem nenhuma outra instituição [...] substituir a família no atendimento á criança: ao contrário, como aliados da família devem fortalecê-la (CENPEC, 1998, p.51).

Por outro lado, os alunos também afirmaram que a falta de organização do ambiente escolar e sua má estruturação acabam por contribuir para as intercorrências da indisciplina entre os sujeitos. A mediação de conflitos escolares pela equipe pedagógica da instituição educacional é imprescindível no processo de resolução das interferências nesse ambiente. Sendo assim, Chrispino (2007, p. 24) descreve que a mediação das conflitualidades no espaço escolar:  Apresenta uma visão positiva do conflito, rompendo com a imagem histórica de que ele é sempre negativo.  Constrói um sentimento mais forte de cooperação e fraternidade na escola.  Cria sistemas mais organizados para enfrentar o problema divergência ➔ antagonismo ➔ conflito ➔ violência.  O uso de técnicas de mediação de conflitos terá consequências nos índices de violência contra o patrimônio, incivilidades, etc.  Melhora as relações entre alunos, facultando melhores condições para o bom desenvolvimento da aula.  Desenvolve o autoconhecimento e o pensamento crítico, uma vez que o aluno é chamado a fazer parte da solução do conflito.  Consolida a boa convivência entre diferentes e divergentes, permitindo o surgimento e o exercício da tolerância.

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Acredita-se que, quando o aluno atribui à falta de organização da instituição educacional com a recorrência da indisciplina e violência escolar, está buscando uma alternativa para mostrar a sua indignação frente à atitude passiva do educador, ainda que o próprio indignado seja também o indisciplinado. A tabela a seguir relaciona a qualificação do professor de acordo com a avaliação do aluno para com ele:

Como você qualifica seu (sua) professor (a)? Alternativas de respostas

Respostas obtidas

Disciplinado

*********

Indisciplinado

*******

Não sabe ou não respondeu

**

Disciplinado e indisciplinado

*

Quadro 08: qualificação docente na concepção discente. Fonte: Pesquisa de Campo, 2012.

Como aponta a tabela acima, entre os 19 questionários respondidos, 09 alunos acreditam que os seus professores são pessoas disciplinadas, 07 alunos veem seus educadores como indisciplinados, 02 alunos não responderam e um entre os 19, vê seu educador disciplinado e indisciplinado. Sabe-se que o número de alunos que pontua seu professor como indisciplinado, mesmo não tendo superado o número dos alunos que acreditam que seus docentes são disciplinados, é bastante alto. Esse dado acaba por trazer à luz um questionamento preocupante no cenário educacional: Se o aluno vê seu professor como indisciplinado e este também é visto pelo seu docente como indisciplinado, será que nesse caso os dois grupos (aluno/professor) não estão andando na contramão? Como tais indivíduos vão alcançar as metas educacionais se estão em caminhos opostos?

Acredita-se que, para o processo educacional fluir de maneira significativa na vida dos sujeitos envolvidos, é fundamental que haja entendimento, compreensão, amor, doação, confiança, entrega, renuncias, dentre tantas outras coisas. Questionou-se aos alunos pesquisados como eles visualizavam seus professores dentre cinco opções: amigo, confidente, exemplo, apenas professor, problema. É importante destacar que, os alunos tiveram opções de assinalar mais de uma alternativa entre as respostas.

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A partir das respostas fornecidas, pode-se dizer que, mesmo os alunos sendo indisciplinados, já que um dos critérios de preenchimento deste questionário, foi que o professor escolhesse os alunos que mais se envolviam em conflitos nas suas salas de aula, 10 alunos acreditam que seus professores são seus amigos, 05 acreditam que os professores são exemplos para as suas condutas, 05 definiram seus docentes tão somente como professores e apenas 01 aluno vê seu professor como um problema.

4.4 A INDISCIPLINA ESCOLAR E A AUTOESTIMA DOS ALUNOS

Muito se transcreve sobre a indisciplina escolar, violência, transgressão de normas entre tantos outros termos referentes às conflitualidades ocorridas no ambiente escolar. Mas, e o que dizer a respeito da autoestima desses alunos? De acordo com Ferreira (1989), autoestimar-se se refere a dizer o que se pensa sobre si mesmo. Logo, há que se considerar as atitudes indisciplinares dos indivíduos como uma resposta sobre o que estes possuem internalizado sobre si.

Neste aspecto, no período de estágio de regência de classe em 2011, um dos alunos quando estava em um dos seus momentos de distração, comentou com seu colega: – Você é um macaco preto e pelo que eu saiba os macacos não vão à escola! – Se eu sou um macaco preto você é um macaco branco! – Em seguida este aluno, um pouco desconfortável, olhou para si mesmo e calou-se, mostrando se bastante abalado com o que acabará de escutar do seu colega de sala.

No dia seguinte ao ocorrido no pátio, o aluno não compareceu à escola e quando retornou observou-se que o mesmo procurou um lugar bem afastado dos seus colegas para se acomodar. Porém, por muitas vezes o aluno ofendido em primeiro lugar no diálogo exposto acima ficava inquieto e sem conseguir se concentrar nos seus conteúdos didáticos. Muito do que se percebeu nas conversas dos adolescentes revelava o quanto a autoestima é imprescindível na vida dos alunos

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em formação. As relações interpessoais são construídas aos poucos e uma construção sólida poderá refletir de forma favorável na vida dos estudantes. Caso contrário, de alguma maneira, os indivíduos tendem a representarem suas emoções interiores a partir de condutas equivocadas em sala de aula.

Questões como colocar apelidos nos colegas, faltar com respeito, entre outras tantas atitudes que os alunos vivenciam em sala de aula, interferem muito em suas relações dentro e até fora do ambiente escolar, além de, também, levar este sujeito a evadir-se do ambiente educacional. Com isso, na instituição de ensino, o educador precisa esta atento para trabalhar a auto-estima entre a turma. Scolaro (2010) diz que a falta de apoio, o descaso e o desinteresse do educador pelo seu discente poderá trazer inúmeros conflitos no que se relaciona com a autoimagem e da autoestima. A criança só poderá sentir seu valor e amor-próprio quando possuir esse sentimento genuíno de estima. A autoestima é construída a partir da referencia recebida dos adultos mais próximos. Quando adulta essa criança só poderá amar seus semelhantes se tiver aprendido a amar a si mesma (GHANEM, apud SCOLLARO, 2010, p.13).

De acordo com Scolaro (2010), não se pode dizer com precisão se atitudes do ambiente escolar foram influenciadas pela aquisição da autoestima e autoimagem dos alunos, contudo, esses discentes deixam transparecer que não detém uma imagem afirmativa de si, o que um dos alunos reafirmou com os olhos tristes quando, numa aula de história abordando profissões, o mesmo se colocou da seguinte forma: – [...] Eu só queria dizer que já sei que quando eu crescer não terei profissão, porque eu sou burro e não sei ler, além do mais, minha mãe também não sabe ler e ela não vai poder me ensinar. Eu não tenho pai e no ano que vem eu vou sair da escola e não vou ter como ganhar esse dinheiro para ajudar em casa.

Vale salientar que tal aluno não acredita no seu potencial e tem internalizado que a escola não representa e não acrescenta nada além do cartão da Bolsa Família e do Vale Gás que servem para colaborar nas despesas de casa. Se um sujeito estiver

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todos os dias num ambiente que para ele não tem significados, é certo que ele vai apresentar inquietude, buscando fazer ali naquele espaço coisas que para ele venham a ter sentido, como conversar com os colegas sobre esportes, as ocorrências do bairro e apelidar aos demais colegas, entre tantas outras interferências provocadas pelo mesmo no transcorrer do ano letivo.

Por observar, no percurso de estágio de regência de classe em 2011, que na instituição analisada a insegurança em torno da comunidade local foi fator agravante diante da indisciplina e da violência escolar entre os alunos, indagou-se para os educadores: Os alunos já abandonaram essa instituição educacional por conta da insegurança ou por medo de vir à escola? Se possível justifique a sua resposta. No quadro a seguir seguem-se as respostas das professoras.

Entrevistados

Já houve alunos que evadiram desta instituição por conta da insegurança ou por medo de vir à escola?

Professora A

Não sei

Professora B

Não tenho essa informação

Professora C

Não tenho essa informação

Professora D

Sim, no corrente ano letivo (2012), uma aluna abandonou a escola por causa de ameaças sofridas por uma ex-aluna.

Professora E

Não respondeu essa questão

Coordenação escolar

Alguns alunos já abandonaram por problemas na comunidade que embora não teve nenhuma ligação com a escola, acabou interferindo o processo educacional deste educando.

Direção

Sim, por um colega se sentir ameaçado pelo outro, por qualquer motivo.

Secretária

Não respondeu essa questão.

QUADRO 09: A insegurança educacional e o índice do abandono discente de acordo com os educadores entrevistados. Fonte: Pesquisa de Campo, 2012.

Percebeu-se, com os dados obtidos, a incidência de evasão escolar por conta da indisciplina ou da violência ainda que a maior parte dos entrevistados não tenha conhecimento sobre tal informação. Outro dado que merece destaque é a interferência dos conflitos decorrentes de violências no bairro entre os sujeitos e a sua significação dentro do ambiente escolar. De acordo com Charlot (apud ABRAMOVAY, 2006) essa intercorrência pode ser classificada como violência na

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escola que, embora possa ocorrer dentro do ambiente escolar, não estar vinculada às atividades escolares, ou seja, iniciou-se extramuros da instituição educacional e findou-se dentro da mesma.

Abramovay e Castro (2005), por outro lado, destacam que a escola é compreendida pelos discentes como um caminho para a obtenção de um maior capital social e cultural. Todavia, será importante que a instituição escolar seja capaz de compreender os novos valores e ideias que surgem com as modificações sociais. Já Abramovay e Rua (apud ABRAMOVAY e CASTRO, 2005) destacam que se a escola funcionar como um “passaporte de entrada e aceitação na sociedade” bem como meio de atribuição e crescimento pessoal, esta será, para os jovens, como um norteamento, visando o exercício da cidadania. Porém, as autoras esclarecem que a escola também é um dos instrumentos por meio do qual se operam a exclusão e a seleção social. Dubet (apud ABRAMOVAY e CASTRO, 2005) afirma que a escola, direta ou indiretamente, interfere na rotina do aluno, além de funcionar como um espaço público onde se discute e internaliza os diversos saberes escolares.

4.5 A INDISCIPLINA ESCOLAR E A INSTITUIÇÃO FAMILIAR NO PROCESSO EDUCACIONAL ENTRE OS SUJEITOS

De acordo com Castro e Abramovay (2005), a forma como a instituição familiar interage na vida dos seus filhos reflete diretamente nas atitudes destes. Dessa forma, a imposição de limites irá estabelecer os valores e a inserção social do aluno no meio por ele vivenciado.

A partir da convivência com os alunos no período de estágio de regência de classe em 2011, constatou-se que a grande maioria dos pais não acompanha nem participam da vida de seus filhos. Por outro lado, de acordo com os alunos analisados, alguns pais buscam compensar a ausência de tal participação na sua vida escolar fazendo a maioria das suas vontades em bens matérias consumíveis, sempre que possível.

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Sabendo da importância da família dos indivíduos para a resolução dos transtornos ocorridos a partir da indisciplina e da violência escolar, buscou-se obter informações acerca da participação dos pais na vida escolar dos discentes. Sendo assim, indagou-se aos educadores acerca do índice de acompanhamento dos responsáveis dos discentes no que se relaciona à participação educacional. O quadro que se segue retrata em percentagens o acompanhamento dos pais dos alunos de acordo com as professoras entrevistadas:

REPRESENTAÇÃO EM PERCENTAGENS

NÚMEROS DE RESPOSTAS REPRESENTADAS POR ASTERÍSCOS

100%

*

75%

*

50%

*****

25%

***

0% Quadro 10: Índice de acompanhamento dos pais na vida escolar dos alunos de acordo com as educadoras entrevistadas. Fonte: Pesquisa de Campo, 2012.

Constatou-se, a partir dos resultados obtidos, que a metade dos professores pesquisados conta com 50% da participação dos pais dos alunos na instituição escolar na vida dos indivíduos envolvidos no processo de construção do saber. Embora esse resultado não seja satisfatório, pode-se considera-lo como relevante quando se leva em conta tantos outros fatores conflituosos que acabam interferindo na possibilidade de uma melhor participação dos pais na vida dos seus filhos.

Questionou-se para a equipe pedagógica entrevistada, qual é o papel da família na formação moral e nos valores do ser humano e foi possível perceber, a partir das respostas emitidas nos questionários, que todos os educadores responderam que a instituição escolar não poderá acrescentar valores para os sujeitos se a família deste não estiver comungando com a escola. Então, os educandos acreditam que a família é à base de todo o processo educacional. Os gráficos a seguir representam os termos mais utilizados como respostas dos educadores quanto à interferência da família e a construção de valores na vida dos alunos de forma a facilitar a visualização dos resultados obtidos.

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Gráfico 02: Papel principal da família. Dados da Pesquisa, 2012.

Gráfico 03: Diversidades de sustentação da família para com os sujeitos. Dados da Pesquisa, 2012

Gráfico 04: Família motivadora do respeito e atitudes dos alunos. Dados da Pesquisa, 2012.

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Gráfico 05: Família como principal instituição educadora dos sujeitos. Dados da Pesquisa, 2012

Castro e Abramovay (2005), neste mesmo sentido, reafirmam que as equipes pedagógicas das instituições criticam a família quanto ao papel desta na formação ético-existencial dos seus filhos. De acordo com este estudo, os educadores acreditam que a instituição familiar deveria investir melhor na educação dos indivíduos; a omissão da família é contextualizada pelos professores como um elemento agravante das conflitualidades ocorridas na escola.

A presente pesquisa analisou que a falta de limites entre os alunos acaba sendo a resposta pela ausência familiar e de um bom acompanhamento na vida dos indivíduos. Por outro lado, sabe-se que os pais muitas vezes não possuem opções para tal participação na vida dos jovens, já que estes, por sua vez, precisam sair em busca de garantir o sustento familiar. Daí provém um conflito recorrente e mais amplo entre família, escola e indisciplina escolar na formação dos valores dos alunos em questão. Eis que surge a chamada “transferência de responsabilidades” entre as partes família e escola / escola e família.

Alguns relatos de experiências a partir de entrevistas de estudiosos a cerca dos jovens e suas estruturas familiares afirmaram que: A escola desvaloriza os pais, e os pais acabam transferindo suas responsabilidades para a escola, entregando seus filhos em suas mãos “A família esta transferindo para a escola toda a responsabilidade de educar, e educar não é uma responsabilidade só da escola”. Isso é motivo de critica, uma vez que se considera que deva haver uma parceria entre escola e família, onde a primeira complementa a educação dada pela segunda: “Eu acho que a família

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é muito importante na vida dos jovens. E a escola seria um complemento, com informações. Mas a base é a família” (ABRAMOVAY E CASTRO, 2005, p.18).

Assim sendo, nota-se que, as duas instituições (escola e família) não conseguem caminhar sozinhas, e que tal relação é complexa quando se direciona a autoestima dos sujeitos para melhor administrarem as suas condutas no ambiente escolar. Portanto, há que abrir mão do jogo de culpabilidade indisciplinar dos alunos entre as instituições envolvidas a favor do processo educacional entre os jovens e refletir sobre alternativas para o enfrentamento da indisciplina e violência escolar.

Tudo o que foi posto até aqui leva à reflexão sobre o processo de formação do conhecimento, que se trata de um caminho longo de aprendizagens, com a interferência das atitudes voltadas para os conflitos provenientes da indisciplina escolar e de ações de violências ocorridas na sala de aula entre os alunos. Contudo, existem alguns questionamentos que ainda precisam de um longo caminho de estudos para que sejam esclarecidos.

No entanto, não foi possível responder como os professores e a equipe pedagógica poderá resolver a problemática da ausência de valores e da violência escolar presentes na sociedade contemporânea se a instituição familiar estiver embasandose na escolarização como tarefa de educar os alunos. A educação inclusiva deverá mirar para a mudança de alguns paradigmas educacionais nas instituições escolar e familiar onde os alunos, pais e professores possam repensar juntos os valores, pautando-se na construção e reconstrução constante de valores.

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5 CONSIDERAÇÕES FINAIS

No transcorrer deste trabalho monográfico, questionou-se a indisciplina escolar, a violência e o bullying na sala de aula pautando-se, principalmente, nas atitudes docentes diante de tais conflitos e, neste sentido, desenvolveu-se uma pesquisa de campo, que corroborou dados com a análise de questionários e observâncias acerca da indisciplina escolar e a angústia vivenciada pelos educadores relacionada a essa temática.

A reflexão no âmbito da indisciplina escolar surgiu a partir de experiências vivenciadas pela pesquisadora em formação e advindas de atos conflituosos entre os alunos da Instituição Municipal Vale das Pedrinhas no ano de 2011. Porém, para refletir sobre a indisciplina escolar na relação professor-aluno, foi imprescindível compreender, através das teorias, que os indivíduos, quando demonstram tais atitudes, tem muito mais a dizer do que a própria transgressão de normas praticadas por estes.

Percebe-se, aqui, que a prática pedagógica do educador não deve ser dissociada das relações socioculturais que permeiam os indivíduos. Nesta perspectiva, torna-se relevante que o professor veja seus alunos como sujeitos dotados de conflitos e problemas, que estão a interagir no mundo em constante processo de transformações. Compreender as atitudes dos educandos e não fazer julgamentos prévios é o primeiro direcionamento para intermediar e resolver a quebra de normas no ambiente escolar. Evidenciou-se que os pré-julgamentos do professor para com o aluno, só anulam as possibilidades de enfrentamento das conflitualidades advindas a partir da indisciplina e da violência escolar.

O educador deve estar comprometido com a educação, buscando alternativas, novos saberes e estar em constante formação, a fim de participar e acompanhar os avanços da sua turma, pois não cabe mais o ensino tradicional e descontextualizado na sala de aula e na sociedade que compõe o sujeito no seu mundo. Constatou-se, ao longo deste percurso acadêmico, que o professor é o sujeito fundamental no

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processo de formação do seu aluno e do acompanhamento da sua personalidade como participante do grupo social em que vive.

Sabe-se que investir na formação do professor é essencial para as transições que permeiam suas práticas teórico-metodológicas em sala de aula; é relevante que os educadores percebam a importância da utilização da indisciplina escolar a favor da educação na formação humana e que estejam atentos aos hábitos conflituosos que circundam o ambiente escolar.

Para que exista uma relação de respeito pautada principalmente nos valores do ser humano, é necessário que haja uma prática pedagógica que atenda as prioridades das relações professor X aluno, para que se possam valorizar os sinais emitidos pelos sujeitos nos momentos de dificuldades que eles vivenciam e, a partir de então, reintegrá-los no espaço educacional como elementos fundamentais em processo constante de formação no mundo.

A escola age de forma equivocada quando vê os alunos de maneira fragmentada, passando a investir no aspecto cognitivo do sujeito, sem perceber o indivíduo como um ser atuante no mundo. Sendo assim, as práticas de construção dos saberes nas instituições escolares não podem continuar valorizando tão somente o acúmulo do conhecimento sem significado no contexto vivenciado pelo aluno.

Contudo, sabe-se que a escola pesquisada está localizada em um bairro periférico de Salvador, na Bahia, e com dados comprovados de altos índices de violência e criminalidade provenientes da grande incidência de tráfico de drogas no local; com isso percebeu-se que a violência local acaba por disseminar e repercutir no ambiente escolar, já que alguns alunos além de relatarem esses transtornos constantemente no seu dia-a-dia acabam imitando algumas atitudes de violências e conflitos, por eles vivenciados no decorrer das atividades de classe. Tais imitações acontecem a partir dos apelidos pejorativos que os indivíduos utilizam uns com os outros, até as mais graves agressões físicas e ameaças recorrentes ocorridas entre os alunos.

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Um dos momentos mais difíceis deste estudo foi à comprovação da passividade do profissional da educação frente à indisciplina escolar dos alunos, confirmando que o professor, enquanto mediador do conhecimento deve buscar meios para possibilitar a participação ativa dos educandos no processo de construção do saber, já que, se o educando adquirir autoconfiança e respeito por si mesmo e pelo o outro, o desenvolvimento das demais atividades diárias e de sua autoestima será, consequentemente, significativo. Cabe ao educador em exercício do saber possibilitar a construção de uma disciplina favorável ao ambiente formativo dos alunos indisciplinados e vítimas de violências, percorrendo o mundo do educando, valorizando e destacando suas significâncias no espaço educacional e despertando, principalmente, o amor próprio entre os seres.

Esta pesquisa conseguiu perceber e contemplar as diversas percepções dos docentes sobre a importância da disciplina em sala de aula para a realização das demais atividades escolares. Pode-se perceber através dos argumentos dos entrevistados que houve confronto entre o que foi dito pelos professores e pelos alunos, sendo notória a dissonância, pois alguns alunos sentem-se rejeitados pelos educadores e buscam na indisciplina uma possibilidade de serem assistidos de alguma forma, ainda que seja na utilização dos tradicionais castigos.

É importante que na sala de aula haja espaço para o diálogo, principalmente para os alunos indisciplinados e violentos, assim, esses terão a possibilidade de repensarem suas atitudes de conflitos, desrespeito, intolerância, e a falta de cooperação, tornando o ambiente educacional favorável à aquisição do saber. Do contrário, este ambiente será cada vez sempre propício às práticas repetitivas de bullying e violência escolar, formando, assim, alunos cada vez mais passivos, violentos e sem amor ao próximo e para consigo mesmo. Conclui-se, portanto, que o olhar do educador para com o seu aluno e com seus atos no ambiente escolar é uma das alternativas que irá fazer toda diferença dentro deste processo.

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PASSOS, Laurizete Ferragut. A Indisciplina e o Cotidiano Escolar: Novas Abordagens, Novos Significados. In: AQUINO, Julio Groppa (org.). Indisciplina na Escola: alternativas teóricas e práticas. São Paulo: Summus, 1996. p.117-127. PORTO, Maria Stela Grossi. Sociologia da Violencia. Brasilia: Verbana, 2010. REVAULT d‟ ALLONES, C. Os Procedimentos Clínicos nas Ciências Humanas: Documentos, Métodos, Problemas. São Paulo: Casa do Psicólogo, 2004. SCOLARO, Maria Elvira N. Laranjeira. Escola, Para Que Te Quero? Marcas da Escola em Adolescentes Privados de Liberdade. Salvador: EDUNEB, 2010 SECRETARIA MUNICIPAL DE EDUCAÇÃO. Programa de Educação Integral – Mais Educação. Disponível em Acesso em 05 nov 2012 às 08:18h. SOUZA, Tatiane dos Santos. O Lugar da Região Nordeste de Amaralina em Salvador: Interfaces Entre Centro e Periferia. In: Encontro de Estudos Multidisciplinares em Cultura, III, Faculdade de Comunicação/ UFBA, 2008. TESSARO, Rita. Indisciplina na Escola: Educar ou Reprimir? Revista de Educação do Ideau (REI), v. 4, n.9, jul/dez 2009. Semestral. VASCONCELOS, Celso dos Santos. Os desafios da Indisciplina em Sala de Aula e na Escola. Publicação: Série Idéias n.28. São Paulo: FDE, 1997. VASCONCELOS, Celso dos Santos. Disciplina: construção da disciplina consciente interativa em sala de aula. São Paulo: Libertad, 1994. ______. Enfrentando situações de conflito: o desafio da indisciplina em sala de aula. Anais do XVIII Congresso Nacional da Educação da AEC, Natal, p. 4448,2004. WERNECK, Hamilton. Ensinamos Demais, Aprendemos de Menos. Petrópolis: Vozes,1987. ZAGURY, Tânia. Relação Professor/Aluno: Disciplina e Saber. Revista Pátio, ano 2, p. 9-12, fev/abr 1999.

74

APÊNDICES

APÊNDICE I

UNIVERSIDADE DO ESTADO DA BAHIA CURSO DE LICENCIATURA PLENA EM PEDAGOGIA DISCIPLINA: TCC2 PERÍODO: 9º SEMESTRE TURMA: 2008.2 ALUNA: ALINE VALE PASSOS

PROFESSOR (A): Sou aluna do curso de pedagogia e estou desenvolvendo uma pesquisa para conclusão do meu trabalho monográfico. Neste sentido preciso humildemente da sua participação respondendo algumas questões: Professor (a): ____________________________________________________ Formação acadêmica: _____________________________________________ Instituição: _______________________________________________________ Turma de atuação: ________________________________________________ Tempo de atuação: _______________________________________________

1. Questiona-se aqui como você professor (a) vivencia o transtorno da indisciplina e da violência escolar? ________________________________________________________________ ________________________________________________________________

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________________________________________________________________ _______________________________________________________________ 2. Quais são as suas atitudes diante do quadro da indisciplina entre os educandos? ________________________________________________________________ ________________________________________________________________ ________________________________________________________________ ________________________________________________________________ ________________________________________________________________ 3. Você consegue minimizar a indisciplina em suas aulas? Justifique sua resposta: ________________________________________________________________ ________________________________________________________________ ________________________________________________________________ ________________________________________________________________ ________________________________________________________________ 4. Em sua opinião qual é o papel da família na formação moral e dos valores do ser humano? ________________________________________________________________ ________________________________________________________________ ________________________________________________________________ ________________________________________________________________ 5. Quais são os principais motivos da indisciplina na sua sala de aula? ________________________________________________________________ ________________________________________________________________ ________________________________________________________________ 6. Existem alunos que ao adentrarem a instituição escolar não respeitam aos professores e nem tão pouco respeitam as regras. Quem é o responsável por este incidente? ________________________________________________________________ ________________________________________________________________ ________________________________________________________________ 7. Como você professor (a) define a indisciplina?

76

________________________________________________________________ ________________________________________________________________ _______________________________________________________________ 8. Quais são os instrumentos utilizados por você professor (a) para minimizar o comportamento indisciplinar entre os alunos? ________________________________________________________________ ________________________________________________________________ _______________________________________________________________ 9. De que forma esses alunos respondem a metodologia que você adota para minimizar o índice indisciplinar na sua sala de aula? ________________________________________________________________ ________________________________________________________________ ________________________________________________________________ 10. Como a escola pode contribuir na formação do individuo no âmbito da indisciplina ou da violência escolar? ________________________________________________________________ ________________________________________________________________ _______________________________________________________________ 11. As famílias participam da vida escolar dos educandos? De que forma? ________________________________________________________________ ________________________________________________________________ ________________________________________________________________ ________________________________________________________________ 12.

Como

a

comunidade

local

recepciona

esta

unidade

escolar?

________________________________________________________________ ________________________________________________________________ _______________________________________________________________ 13. A instituição escolar desenvolve atividades na escola com a comunidade fora dos horários de atividades dos alunos? Justifique: ________________________________________________________________ ________________________________________________________________ _______________________________________________________________ 14. No quadro abaixo marque o índice participativo dos pais ou responsáveis na vida escolar dos alunos:

77

________________________________________________________________ ________________________________________________________________ _______________________________________________________________

100%

75%

50%

0,25%

0%

participativos

participativos

participativos

participativos

participativos

15. Alunos já abandonaram essa instituição escolar por insegurança ou medo de vir para a escola? Se possível justifique a sua resposta: _________________________________________________________________ _________________________________________________________________ _________________________________________________________________ _________________________________________________________________ _________________________________________________________________ 16. Os conflitos gerados a partir da indisciplina e ou violência escolar prejudica o desenvolvimento dos conteúdos didáticos com qual das percentagens abaixo? 100%

75%

50%

0,25%

0%

17. Você acredita que o professor algumas vezes pode ser o motivo da indisciplina dos educandos? Por quê? ________________________________________________________________ ________________________________________________________________ ________________________________________________________________ ________________________________________________________________ ________________________________________________________________ 18. Existe “o lado bom da indisciplina”? Justifique: ________________________________________________________________ ________________________________________________________________

78

________________________________________________________________ ________________________________________________________________ 19. Qual questionamento você acrescentaria para este material? ________________________________________________________________ ________________________________________________________________ ________________________________________________________________

OBRIGADA PELA SUA PARTICIPAÇÃO

79

APÊNDICE II

UNIVERSIDADE DO ESTADO DA BAHIA – UNEB DEPARTAMENTO DE EDUCAÇÃO – CAMPUS I

TERMO DO CONSENTIMENTO LIVRE E ESCLARECIDO

A graduanda do Curso de Pedagogia da Universidade do Estado da Bahia- UNEB, Aline Vale dos Passos vem, por meio deste comunicado, informar aos Responsáveis pelos Educandos matriculados na instituição escolar Municipal do Vale das Pedrinhas, acerca da pesquisa intitulada “Indisciplina Escolar e Práticas Docentes” tema da monografia que será realizada no período de outubro a novembro do ano de 2012. Tal pesquisa visa investigar o tema da indisciplina escolar e as práticas docentes a partir da percepção dos educandos e educadores com vistas a subsidiar o projeto politico pedagógico em parceria com o corpo docente desta instituição. Desta forma, contamos com a autorização de VSa. Quanto à participação das crianças e/ou adolescentes sob sua responsabilidade na pesquisa indisciplina escolar e as práticas docentes de crianças, adolescentes e jovens do contexto escolar da Escola Municipal do Vale das Pedrinhas. Tal ação permitirá obter informações sobre as principais demandas existentes entre crianças e jovens no que tange à indisciplina escolar e as práticas docentes, de modo á sinalizar possibilidades de intervenção e enfrentamento dessa questão. Serão perguntadas questões sobre a temática da indisciplina escolar e as práticas docentes, de forma particular, individualmente, em um espaço reservado. Entretanto, esclarecemos que as crianças e ou adolescentes não estão obrigados a responder as perguntas caso não queiram ou se sintam desconfortáveis. Vale destacar, ainda, que como forma de manter o sigilo das informações, eles não precisam se identificar no momento da entrevista. A Pesquisadora da UNEB se compromete em resguardar a confidencialidade das informações obtidas e assegura o direito de interromper a entrevista a qualquer momento, caso o entrevistado se sinta incomodado ou desconfortável com alguma questão. Para tanto solicitamos o preenchimento dos dados abaixo. Eu

_______________________________Responsável

pelo

aluno

(a)

_____________________________________ o (a) autorizo a participar da Pesquisa

80 “Indisciplina Escolar e Práticas Docentes” a ser realizada nas dependências da instituição escolar Municipal do Vale das Pedrinhas pela pesquisadora da Universidade do Estado da Bahia, caso seja da sua vontade e interesse. A Pesquisadora coloca-se à disposição para atendimento a qualquer tempo de VSa. Prestando as informações e ou esclarecimentos necessários. Comprometemo-nos a cumprir os requisitos da Res. CNS 196/96 e suas complementares bem como garantir o respeito às diretrizes do Estatuto da Criança e do Adolescente- ECA.

Desde já agradecemos a compreensão,

Aline Vale Passos. Pesquisadora em graduação.

Professora Doutora Carla Liane Orientadora da Pesquisadora

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APÊNDICE III

CARO (A) ESTUDANTE: Sou aluna graduanda do curso de pedagogia e estou desenvolvendo uma pesquisa para conclusão do meu trabalho monográfico. Neste sentido preciso humildemente da sua participação respondendo algumas questões para uma conceituada conclusão deste trabalho: INSTITUIÇÃO: _______________________________________________________ ALUNO (A): _________________________________________________________ ENDEREÇO: ___________________________________________________________________ ___________________________________________________________________ IDADE: _______________

TURMA: _____________________

1. Você se relaciona bem com os seus colegas? ( ) Sim

( ) Não

2. Você já agrediu algum colega na sala de aula? ( ) Sim

( ) Não

3. Como você se qualifica? ( ) disciplinado ( ) indisciplinado 4. Você cumpre com as regras impostas pela escola? ( ) Sim

( ) Não

5. Você respeita seu (sua) professor (a)? ( ) Sim

( ) Não

6. Você acha que recebe bons exemplos de seu professor? ( ) Sim

( ) Não

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7. Para Você a indisciplina escolar é causada por quê? a) ( ) Pela forma como o professor conduz as atividades docentes. b) ( ) Porque as pessoas são mal educadas. c) ( ) Pelas condições financeiras. d) ( ) Por falta de participação da família. e) ( ) Por falta de organizações da escola. 8. Você gosta da forma como seu (sua) professor (a) desenvolve as atividades escolares? ( ) Sim

( ) Não

9. Você se relaciona bem com o seu (sua) professor? ( ) Sim

( ) Não

10. Você já agrediu algum professor (a) na sala de aula? ( ) Sim

( ) Não

11. Como você qualifica seu (sua) professor (a)? ( ) disciplinado ( ) indisciplinado 12. Seu professor (a) é seu: ( ) amigo ( ) confidente ( ) exemplo ( ) apenas professor ( ) problema 13. Na sua escola você sente falta de: ( ) biblioteca ( ) quadra de esporte ( ) área de lazer

( ) professor

( ) nada

( ) policiamento ( )

( ) amigos

( ) brincadeiras

passeios ( ) participação familiar. Questões abertas: 14. O que é indisciplina escolar para você?

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___________________________________________________________________ ___________________________________________________________________ ___________________________________________________________________ 15. O que seu professor faz quando ocorre indisciplina na escola? ___________________________________________________________________ ___________________________________________________________________ ___________________________________________________________________ 16. O que você acha da maneira que seu professor age diante da indisciplina? ___________________________________________________________________ ___________________________________________________________________ 17. Qual medida você acredita ser mais justa para diminuir a indisciplina ___________________________________________________________________ ___________________________________________________________________ OBRIGADA PELA SUA PARTICIPAÇÃO.

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ANEXOS

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monografia - ALINE VALE DOS PASSOS

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