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UNIVERSIDADE DO ESTADO DA BAHIA-UNEB DEPARTAMENTO DE EDUCAÇAO – CAMPUS I CURSO DE PEDAGOGIA PLENA
Juliana Monteiro da Mota
OS REFLEXOS DA VIOLÊNCIA DOMÉSTICA NO PROCESSO DE APRENDIZAGEM
Salvador-Bahia 2013
JULIANA MONTEIRO DA MOTA
OS REFLEXOS DA VIOLÊNCIA DOMÉSTICA NO PROCESSO DE APRENDIZAGEM
Monografia apresentada comoprérequisito para a conclusão do cursode Licenciatura em Pedagogia Plena da Universidade do Estado da Bahia-UNEB, sob orientação da Prof.ªDrª Patrícia Lessa Santos.
SALVADOR-BAHIA 2013
FICHA CATALOGRÁFICA Sistema de Bibliotecas da UNEB Bibliotecária: Jacira Almeida Mendes – CRB: 5/592
Mota, Juliana Monteiro da Os reflexos da violência domestica no processo de aprendizagem / Juliana Monteiro da Mota . - Salvador, 2013. 72f. Orientadora: Patrícia Lessa Santos. Trabalho de Conclusão de Curso (Graduação) – Universidade do Estado da Bahia. Departamento de Educação. Colegiado de Pedagogia. Campus I. 2013.
Contém referências e apêndices. 1.Violência familiar. 2. Aprendizagem. 3. Escolas públicas - Bahia. I. Santos, Patrícia Lessa. II. Universidade do Estado da Bahia, Departamento de Educação. CDD: 306.8
. 1.
Violência familiar. 2. Aprendizagem. 3. Escolas públicas - Bahia. I. Santos, Patrícia
JULIANA MONTEIRO DA MOTA
OS REFLEXOS DA VIOLÊNCIA DOMÉSTICA NO PROCESSO DE APRENDIZAGEM
Monografia apresentada como prérequisito para a conclusão do cursode Licenciatura em Pedagogia Plena da Universidade do Estado da Bahia-UNEB, sob orientação da Profª Drª Patrícia Lessa Santos.
Aprovada em
de
de 2013.
Banca Examinadora:
______________________________________________________________________ Prof.ªDrªPatricia Lessa Santos- Orientadora Universidade do Estado da Bahia - UNEB
______________________________________________________________________ Prof.ª Universidade do Estado da Bahia – UNEB
_______________________________________________________________ Prof.ª Universidade do Estado da Bahia – UNEB
A todos que um dia tiveram suas vidas marcadas pela violência doméstica, e aqueles que travam uma luta diária defendendo crianças e adolescentes desprotegidos dessa realidade covarde.
AGRADECIMENTOS
Primeiramente agradeço a Deus, que apesar de minhas ausências sempre se fez presente em minha vida, me presenteando com sua graça imerecida, e com uma benção tão querida que espero em meu ventre. Agradeço a Bruno, meu esposo, pela paciência,pela demonstração de amor, respeito e dedicação, eque em dias tempestuosos sempre conseguia me arrancar sorrisos. Aos meus pais que sempre estiveram por perto, me encorajando a permanecer, pelo carinho, afago e correções necessárias. Meus irmãos, Joice, Jeane, Jacirene, Junior e Geovane, que fazem parte de meu sucesso. Aos meus sobrinhos, Geovana, Guilherme, Ana Clara e Júlia, por trazerem tanta luz e alegria para minha vida. Agradeço a minha orientadora, Patricia Lessa, pela paciência em ter aceito me orientar mesmo diante de tantas atividades. Obrigada pelos ensinamentos e motivação. À todos os meus amigos, principalmente aqueles que fiz nesse período de graduação, Iziane Araújo, Zilda Andrade, Nailane Oliveira , Thaiana Carvalho, Ligia e Roberto Lordelo, por todo esse tempo juntos, pela sinceridade severa, e pelos dias de crise de risos. Obrigada a todos que de alguma forma me ajudaram, e me apoiaram apesar de todas as minhas faltas. Sintam-se todos amados!
“Que darei eu ao SENHOR, por todos os benefícios que me tem feito?” Salmos 116:12.
RESUMO
O presente trabalho aborda os reflexos da violência doméstica no processo de aprendizagem, apresentando como esse tipo de violência interfere na vida de crianças e adolescentes, principalmente no contexto escolar. Trata-se de um estudo de caráter exploratório dentro de uma escola municipal de Salvador. Contudo, foi necessário um levantamento literário sobre os conceitos, tipologias e outros que tratasse da violência doméstica, afim de auxiliar neste trabalho e contribuindo com o que foi observado e constatado no âmbito empírico. Verificou-se através de entrevistas com professores e alunos os principais efeitos que a violência doméstica acarreta no desenvolvimento cognitivo do aluno, e como os professores lidam com esse problema no cotidiano escolar.
Palavras-chave: Violência doméstica, Aprendizagem, Vítimas.
ABSTRACT
Thispaperdiscussestheconsequencesofdomesticviolence in thelearningprocess, showinghowsuchviolenceaffectsthelivesofchildrenandadolescents, especially in theschoolcontext. Thisisanexploratorystudy in a municipal school in Salvador. However, it took a surveyonliteraryconcepts, typologiesandothersthataddresseddomesticviolence in ordertoassist in thisworkandcontributingtowhathasbeenobservedandverified in theempiricalscope. It wasfoundthrough interviews withteachersandstudentsthemaineffectsthatdomesticviolence causes cognitivedevelopmentofstudents, andhowteachersdealwiththisproblem in theschoolroutine.
Keywords:DomesticViolence, Learning, Victims.
LISTA DE QUADROS Quadro 1-Identificação dos ProfessoresEntrevistados..........................33 Quadro 2-Percepção dos Professores de Situação de Violência............35 Quadro 3-Tipos de Violência Doméstica..................................................37 Quadro 4-Atitude Diante da Violência......................................................39 Quadro 5- Identificação dos Alunos Entrevistados....................................47
LISTA DE TABELAS Tabela 1-Número de Pessoas por Família................................................48 Tabela 2- Atividade Produtiva dos Pais.....................................................49 Tabela 3- Participação dos Pais na Educação dos Filhos.........................49 Tabela 4- Comportamento Agressivo dos Alunos.....................................51 Tabela 5- Violência Doméstica...................................................................51 Tabela 6- Agressão em Casa.....................................................................52 Tabela 7- Convívio Familiar........................................................................55 Tabela 8- Atividade no Tempo Livre...........................................................55 Tabela 9- Agressão Entre os Pais...............................................................56 Tabela 10- Falta de Alimento em Casa.......................................................58 Tabela 11- Escola e Família........................................................................59 Tabela 12- Família e Formação Escolar......................................................60
LISTA DE GRÁFICOS Gráfico 1- Alunos que se Consideram Vítimas da Violência Doméstica......53
SUMÁRIO
1. INTRODUÇÃO.........................................................................................10
2. CAMINHOS METODOLÓGICOS DA PESQUISA..................................14
3. CONCEITO DE VIOLÊNCIA...................................................................20 3.1
Tipologia de Violência......................................................................23
3.2
Violência Doméstica.........................................................................26
3.3
Violência Doméstica contra crianças e adolescentes......................27
3.4
Principais
tipos
de
Violência
Doméstica
contra
crianças
e
adolescentes...................................................................................... 30
4. PERCEPÇÃO
DOS
PROFESSORES
SOBRE
A
VIOLÊNCIA
DOMÉSTICA DENTRO DE SEU CONTEXTO ESCOLAR......................33 4.1 Os reflexos da Violência Doméstica no processo de aprendizagem- Uma visão na prática docente..........................................................42 4.2A Violência Doméstica na visão das crianças e adolescentes..........46
5. CONSIDERAÇÕES FINAIS.....................................................................62 REFERÊNCIAS......................................................................................65
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1. INTRODUÇÃO
A presente monografia trata de uma questão que vem afetando várias famílias de todas as classes na sociedade, a violência doméstica. Apesar de ser um problema que se inicia no contexto familiar, trataremos aqui de suas consequências no local de aprendizagem, a escola. Assim, temos como tema: os reflexos da violência doméstica no processo de aprendizagem. A violência doméstica não é um fenômeno estático que tem mantido as mesmas características ao longo das últimas décadas, ao contrário, está evoluindo cada vez mais, e apesar de ser um tema que vem chocando a sociedade, a luta contra a violência doméstica está longe de chegar ao fim, já que todos os dias milhares de crianças são agredidas, de alguma forma, dentro de casa (UNICEF, 2006), o que indica o crescimento demasiado dessa ação desacerbada. Como a escola é o local onde a criança passa a maior parte de seu dia, após o contexto familiar, é perceptível que as atitudes desta refletirão o que ela produz em casa. Segundo Ruiz (1985), a família é o agente socializador primário onde a criança aprende a viver, aprende a defender-se e a lutar, a competir e a sobreviver, e mais que tudo isso, aprende a tolerar a frustração e a amar. Portanto, pode-se afirmar que assim como as relações afetivas, a violência tem sua estreia no contexto doméstico, sendo que, este maltrato infantil se caracteriza pela impossibilidade que a criança tem em se proteger, já que a agressão vem de quem deveria estar no papel de defensor. Na violência intrafamíliar ou doméstica, os pais aproveitam os direitos que tem sobre os filhos e abusam dessa autoridade que lhes é atribuída, revestindo sua atitude em cima do caráter disciplinador, colocando a agressão no lugar do diálogo. Usando a violência como método educativo, os agressores não conseguem perceber que ao utilizar a força física, acabam por deixar aberta a possibilidade de repetição dessas atitudes, fornecendo modelos de comportamento aos seus filhos.
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A privação afetiva que algumas crianças sofrem, prejudica a formação de sua personalidade, de seu caráter. Segundo Silva (2004), alguns fatores como carência afetiva, falta de cidadania e modelos positivos, podem contribuir para que crianças e adolescentes cometam violência e se transformem em criminosos. Devido à ausência de afeto, as crianças podem recorrer à violência como forma de chamar à atenção, desrespeitando aos direitos do outro, o que Ruiz (1985) chama de relação causa-efeito, que se caracteriza quando a conduta de um individuo é estimulada por outros elementos em uma situação de ação-reação, ou seja, quando a criança procede de forma agressiva ela está reagindo à forma que atuaram contra ela. A partir dessas informações, esse trabalho é relevante na medida em que a violência doméstica é cada vez mais crescente, envolvendo abusos físicos,
psicológicos,
permanentes
na
vida
abandono da
e
criança,
exploração, afetando
deixando
sua
vida
vestígios emocional,
comportamental e cognitiva, o que possibilita uma incapacidade de socialização, de aprendizagem e de firmar relacionamentos positivos, pois esta se sente menosprezada e merecedora de todo o desafeto vindo dos familiares. Pretende-se com este trabalho, analisar as possíveis consequências que a violência doméstica traz para o processo de aprendizagem, afetando às crianças de várias camadas sociais, e em vários aspectos, já que esta internaliza de forma definitiva o maltrato vindo como abandono, agressões física e psicológica, ou através de negligência. Nessa perspectiva, Coelho citando Lindgren afirma que
a criança retém definitivamente os sentimentos que seus pais têm em relação a ela e à vida em geral. Esses sentimentos serão a base para o conceito que ela formará de si própria (autoconceito) e do mundo. Uma criança que é desprezada aprende a desprezar-se; uma criança que é amada e aceita, tenderá a desenvolver atitudes positivas para a formação do seu autoconceito.” (LINDGREN apud JOSÉ; COELHO, 2006, p.12)
Deste modo, é de suma importância que a criança em seu lar, seja tratada como tal, recebendo compreensão e segurança de seus familiares,
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pois, de forma contrária, esta carrega os efeitos da violência cometida contra ela para o resto da vida, e em aspectos diferentes. Considerando a violência doméstica um problema que vem afetando a criança em seu percurso cognitivo, esta pesquisa tem por objetivo investigar em que medida a violência doméstica influencia no processo de aprendizagem
da
criança
no
ambiente
escolar,
Identificando
suas
consequências e compreendendo seus efeitos na relação da criança com seus pares e com seus professores. Diante dessas análises, percebe-se que é significante um estudo sobre esse fenômeno que vem ganhando força na sociedade, e que reflete em vários aspectos de vida da criança, incluindo o desenvolvimento cognitivo. Considerando esses dados, este projeto tem como norteador a seguinte questão: De que forma a violência doméstica influencia no processo de aprendizagem do educando no âmbito escolar? Assim, será abordada a relação afetiva que a criança tem com seus familiares,
levando
em
consideração
que
esta
reproduz
em
seu
comportamento aquilo que ela vivencia, sendo isso um fator que também contribui para a intervenção no contexto escolar, por meio de dificuldades no quesito aprendizagem. Tratará o papel da escola que deve se unir com a comunidade escolar para pensar em meios de reverter esse quadro, pedindo a colaboração da família, e se colocando no papel de apoio, estando aberta a diálogos, elaborando juntamente com todo o corpo escolar, projetos voltados para o tema, diagnosticando e prevenindo os efeitos da violência. Dessa forma, esta pesquisa está voltada para a sala de aula como um ambiente onde as crianças repetem o que é vivenciado em suas casas, podendo isso afetar ou contribuir para seu desenvolvimento cognitivo. Em sequencia, está apresentadono item2 (dois) a metodologia utilizada para a realização dessa pesquisa. No 3 (três), encontram-se os conceitos teóricos que alicerçam o tema, no item 4 (quatro)estãoexpostosos dados colhidos durante a observação no campo empírico, e em
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seguida,abordamos algumas considerações feitas segundo as análises da teoria aqui mostrada e o que o campo empírico deixou evidenciou.
14
2.
CAMINHOS METODOLÓGICOS DA PESQUISA
Esta pesquisa tem abordagem qualitativa, reunindo opiniões de vários teóricos especialistas sobre o tema, e apresentando características essenciais ao assunto investigado. Para Oliveira (2002), a abordagem qualitativa apresenta
facilidade de poder descrever a complexidade de uma determinada hipótese ou problema, analisar a interação de certas variáveis, compreender e classificar processos dinâmicos experimentados por grupos sociais, apresentar contribuições no processo de mudança, criação ou formação de opiniões de determinado grupo e permitir, em maior grau de profundidade, a interpretação das particularidades dos comportamentos ou atitudes dos indivíduos. (OLIVEIRA, 2002, p.117).
Neste trabalho foram investigados os efeitos que a violência doméstica
tem
no
ambiente
escolar,
em
especial
na
Escola
MunicipalGovernador Roberto Santos. A abordagem selecionada foi a de caráter exploratório já que esse tipo de abordagem viabiliza ao pesquisador uma investigação futura mais detalhada do assunto (LAKATOS; MARCONI, 2001, p.188) e permite que o pesquisador conheça a realidade investigada. Este trabalho é um estudo de caso, pois visa proporcionar uma visão global do problema estudado (GIL, 2002). Para Ludke
Os estudos de caso visam à descoberta. Mesmo que o investigador parta de alguns pressupostos teóricos iniciais, ele procurará se manter constantemente atentos a novos elementos que podem emergir como importantes durante o estudo. O quadro teórico inicial servirá assim de esqueleto, de estrutura básica a partir da qual novos aspectos poderão serdetectados, novos elementos ou dimensões poderão ser acrescentados, namedida em que o estudo avance.(LUDKE, 1986, p.18).
Nessa perspectiva,esta pesquisa anelou o surgimento de novos dados sobre o assunto, trazendo reflexões embasadas inicialmente nos estudos
teóricos,
esucessivamente
agrupando
essas
informações
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àsobservações das aulas, as entrevistas e as percepções dos alunos e professores em questão. Neste trabalho fez-se o uso da observação participante, que é uma técnica eleita pelo investigador para uma melhor compreensão das pessoas e de suas atividades no contexto de ação (CORREIA, 2009), assim para o avanço desta investigação, foi necessário recorrer à técnica de entrevistas com graus de formalidade diferentes, já que se trata de um trabalho onde os agentes investigados foram crianças, adolescentes e adultos. Fez-se a utilização de entrevistas com uso de um roteiro semiestruturado, onde os informantes da pesquisa foram dois grupos de atores, sendo estes 5 (cinco) professores e 18 (dezoito) alunos. A elaboração das perguntas do roteiro de entrevista semiestruturada foi feita de acordo com o que foi observado no campoempírico, fazendo um apanhado geral da situação, e focando no objeto de estudo deste trabalho. Na entrevista semiestruturada, o investigador tem uma lista de questões ou tópicos para serem preenchidos ou respondidos, como se fosse um guia. A entrevista tem relativa flexibilidade, podendo ser formuladas novas questões no momento da entrevista (MATTOS, 2005). A pesquisa foi realizada nos meses de outubro e novembro de 2012, e o espaço empírico para tal foi a Escola Municipal Governador Roberto Santos. A escola foi fundada em 31 de janeiro do ano de 1979 pelo Governador Dr. Roberto Santos, no início foi levantada no intuito de funcionar os cursos de Crédito e Finanças e Eletricidade como habilitação básica, depois esses cursos foram desativados sendo substituídos pelos cursos de magistério, administração e contabilidade, e logo após foram retirados esses cursos para que a escola só permanecesse com o ensino regular. Localizada no Cabula, bairro bastante populoso de Salvador, que tem por moradores uma mistura de pessoas de todas as camadas sociais, mais em sua maioria as classes de baixa renda. O bairro também é conhecido pelo alto índice de violência, e nas regiões adjacentes ficam os bairros da
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Engomadeira, Tancredo Neves, Saboeiro, e outros que contribuem para a elevação desses dados. A instituição atende a famílias que se encontram em condições vulneráveis socialmente, e conta com atualmente 1.209 estudantes matriculados nos três turnos, que variam em idade de 6 (seis) até 100 (cem) anos, já que no período da noite a escola trabalha com a EJA-Educação de Jovens e adultos. A escola conta com um projeto de prevenção à violência dentro da mesma (A escola pede paz), promovendo atividades interativas, como gincanas, quermesses, passeios, entre outros, que contribui para uma conscientização entre os alunos no que diz respeito a violência entre eles. A coleta de dados foi através de observações, pois esta possibilitou um contato pessoal e estreito do pesquisador com o fenômeno pesquisado, o que representa uma série de vantagens (ANDRÉ e LUDKE ,1986), e por meio de questionário e entrevistas , que “tem como objetivo principal a obtenção de informações do entrevistado, sobre determinado assunto ou problema” (LAKATOS; MARCONI, 2001, p. 196).As entrevistas com uso de roteiro de questões semi-estruturado foram realizadas com professores do turno da tarde da instituição, que atuam com crianças da 1ª a 5ª série, e aplicados aos alunos da 3ª série, atual 4º ano e alunos da 1ª série, atual 2º ano. A seleção dos alunos que responderam às questões foi feita através das informações preventivas que obtivemos da coordenação da escola e dos professores, constatando assim que esses alunos estavam dentro do perfil desejado da pesquisa. Os dados constatados sobre a escola foram coletados por meio de uma conversa prévia coma atualvice-diretora da escola, a Sr.ª Rosana Ferreira, que nos autorizou a observar e efetivar nosso trabalho. No início alunos e professores passaram por um período de observação, onde foi averiguada a forma de relacionamento entre os alunos, seus pares e professor, a atenção e participação nas atividades propostas pela professora em sala de aula, o comportamento do aluno dentro da sala de aula e fora
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dela no momento do recreio, a forma como o professor se manifesta diante dos conflitos na sala de aula. Inicialmente, este trabalho contaria também com a colaboração dos pais desses alunos, já que é uma pesquisa que trata a questão da violência doméstica e suas implicâncias na aprendizagem. Seria feito uma entrevista com esses pais, para que houvesse uma investigação mais profunda sobre o problema, mas por motivos de força maior, optamos por uma investigação voltada apenas para os recursos coletados dos alunos, professores e funcionários, já que a escola apresentou dificuldades em contatar com esses pais, pois segundo a coordenação, raramente eles visitam a escola para tomar nota da situação de seus filhos. O primeiro passo da pesquisa foi uma conversa com a vice-diretora da escola e com a coordenadora pedagógica do 3º ao 6º ano, para que fosse mostrado o tema central desse trabalho, seus objetivos e problema. Esse momento serviu também para que chegássemos a um consenso sobre as turmas que iriam ser observadas. Após essa escolha, foi iniciado um período de observação dessas turmas, onde se pode perceber e obter as principais informações empíricas desse trabalho. O processo de realização das entrevistas foi crítico e turbulento, pois contou com vários agravantes que influenciaram nessa pesquisa. De início, apesar de ser uma escola que também trabalha com crianças, o local não tem um ambiente de recreação e nem um período de recreio, já que as criançastem apenas um momento de 15 (quinze) minutos para o lanche e após isso são orientadas a voltar para a sala de aula onde já iniciam a fazer atividades programadas pela professora. Outro quesito pertinente para citar, é o fato de a escola não ter acesso à livros didáticos, o que chamou à atenção por implicar,segundo os professores,na questão da leitura dos alunos, já que nas turmas que foram observadas, eram raros os alunos que conseguiam ler e escrever de forma clara. Para obter uma conversa mais íntima e confidencial, foi necessário uma série de explicações e conversas informais com os alunos entrevistados, já que estes se sentiam inseguros e envergonhados a
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contarem detalhes de suas vidas domésticas. Vale ressaltar a importância de adquirir a confiança desses alunos um a um, pois as entrevistas foram feitas de forma individual e sigilosa. Sem dúvida a etapa mais difícil deste trabalho foi ter que lidar com crianças e adolescentes em questão, que apresentaram casos de abandono, negligência, ameaças, entre outros, por parte dos pais. Foi difícil também, ter que observar professores que atuam diretamente com esses alunos, e alegam nunca terem percebido que tinham alunos com problemas em casa. Mais complicado ainda, foi entrevistar crianças que num período de 15 (quinze) horas da tarde, ainda não tinham feito a primeira refeição do dia, e se mostravam impacientes e dispersos na sala de aula, o que quase sempre levava a professora a chamar à atenção para que se calassem. Nesta pesquisa, houve um adolescente em especial entrevistado, que se destacou com sua história confidencial narrada por ele mesmo. Trata-se de um garoto de 12 (doze) anos que após muita conversa decidiu se livrar de um segredo que já durava segundo ele, um bom tempo. O adolescente afirmou que os pais são casados e bem casados. Mas, o pai tem uma profissão que o obriga a ficar dias fora de casa, o cargo de caminhoneiro. Segundo o garoto, a mãe aproveita esses dias de ausência do pai, para levar pra sua casa o amante, que por sinal é dono de uma boca de tráfico de drogas no mesmo bairro que o menino mora. Enquanto a mãe mantém relações sexuais com o homem dentro de casa, ela obriga o filho a fazer serviços domésticos. Vale ressaltar que a casa é de apenas um vão, ou seja, o adolescente narrou que presenciava tudo que a mãe fazia com o amante. Quando o amante ía embora, a mãe sentava com o filho e o ameaçava, dizendo que se ele contasse para alguém, ela o rejeitaria para sempre. No momento da entrevista, esse adolescente repetia o verbo “rejeitar” em suas respostas, já que esse se mostrou o maior temor do garoto, ser rejeitado. Dentro desta pesquisa, no processo de aplicação de realização das entrevistas, houve outros casos de falas graves, que serão analisados no capítulo4 (quatro)onde foi feito uma apuração dos dados obtidos com
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leituras minuciosas dos mesmos, validando as partes mais relevantes, para então debater com as afirmações dos teóricos que embasam esse trabalho. As entrevistas foram gravadas, transcritas e examinadas, quantificando as questões fechadas e analisando as questões abertas. Os dados da pesquisa serão apresentados no capítulo de análise empírica por meio de tabelas, quadros e gráficos para uma melhor apuração. Os questionários aplicados se encontram nos anexos dessa pesquisa.
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3.CONCEITO DE VIOLÊNCIA
A violência é um fenômeno que preocupa a humanidade desde os primórdios, onde ela era usada como forma de sobrevivência. Assim, cada vez mais ativa, com o passar dos tempos a violência vem mostrando ser uma prática que sempre esteve presente na trajetória social, munida por intolerâncias e sendo contrária à ética, que faz de seu agente um sujeito racional e consciente, sabedor de seus atos1 (CHAUI,1999). A sociedade do século XVIII utilizava a violência como um meio de punição, sendo a morte a pena máxima que um ser humano poderia receber. Fazia parte desse contexto, eventos regados a todas as especialidades de violência, tais como: mortes públicas, mutilação de membros, massacres, torturas, corrupção, entre outros que tinha como plateia espectadores acostumados com as cenas que já era habitual, nesse sentido, Foucaltelucida:
Nas cerimônias do suplício, o personagem principal é o povo, cuja presença real e imediata é requerida para a sua realização. Um suplício que tivesse sido conhecido, mas cujo desenrolar houvesse sido secreto, não teria sentido. Procurava-se dar o exemplo não só suscitando a consciência de que a menor infração corria sério risco de punição; mas provocando um efeito de terror pelo espetáculo do poder tripudiando sobre o culpado.(FOUCAULT, 1997, P. 49).
Nessa linha, percebe-se que a condenação exorbitante era ilimitada, já que a sociedade presenciavaaterrorizadaàs torturas que lhes serviam de lição, aguçando seus sentimentos de justiça e revolta. Para Foucault (1997, p.49), não bastava as pessoas saberem, elas tinham que ver com seus próprios olhos a execução, pois havia a necessidade delas sentirem medo, mas também havia a carência de testemunhas, já que a garantia da punição era a presença de espectadores assistindo e tomando parte dela. 1
... a ação só é ética se realizar a natureza racional, livre e responsável do sujeito e se este respeitar a racionalidade, liberdade e responsabilidade dos outros agentes, de sorte que a subjetividade ética é uma intersubjetividade socialmente determinada .
21
Atualmente, a violência é uma das grandes preocupações das autoridades, inquietando a sociedade que cada vez mais se sente refém desse fenômeno, no qual ainda não se conseguiu encontrar uma solução satisfatória. Como reitera Camacho ao citar Paredes (2006, p.13) o conceito de violência “muda nos diferentes períodos de existência da humanidade e as pessoas compreendem este tema de acordo com seus valores e sua ética”, portanto, é difícil encontrar uma definição exata e universal sobre o tema. Para Chaui (1999),a violência é um ato de brutalidade, sevícia e abuso
físico
e/ou
psíquico
contra
alguém
e
caracteriza
relações
intersubjetivas e sociais definidas pela opressão e intimidação, pelo medo e o terror. Essa visão da autora sobre o tema permite que o conceito de violência seja ampliado, ultrapassando a ideia de que a violência só tem seu manifesto na forma física, cabendo várias outras formas de ações violentas contra a sociedade. Nessa linha de pensamento, Oliven (1989), traz uma nova modalidade de violência, contra a sociedade brasileira:
O aumento da violência no Brasil, a partir de 1964, começa por via institucional. Quando o Presidente Figueiredo, respondendo a uma pergunta de uma criança, afirmou que, se seu pai ganhasse o salário mínimo, meteria uma bala na cabeça, ele não estava fazendo mais do que reconhecer o que todo mundo já sabe: que o salário mínimo é uma incrível forma de violência. (OLIVEN, 1989, p.10)
Essa afirmação corrobora o pensamento de Michaud (1989), ao sustentar quea definição de violência depende dos pontos de vista de cada sociedade, para ele existe a violência que envolve a força física, reconhecida por acarretar estragos, e a violência imaterial, vinculada a ordens normativas, esta modalidade de violência está relacionada a questões culturais e políticas, sendo reconhecida por alguns como uma forma de violência, enquanto por outros, não. A Organização Mundial da Saúde (OMS, 2002) define a violência como “o uso intencional da força física ou do poder, real ou em ameaça,contra si próprio, contra outra pessoa, ou contra um grupo ou umacomunidade, que resulte ou tenha grande possibilidade de
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resultarem lesão, morte, dano psicológico, deficiência de desenvolvimentoou privação”(p.5). Os autores Chaves, Ristum e Noronha (1998, p.1) expõem sua definição de violência: A violência, compreendida como um problema de saúde pública, foi definida como qualquer ação intencional, perpetrada por individuo, grupo ou instituição, dirigida a outrem, que cause prejuízos, danos físicos e/ou sociais e/ou psicológicos. (CHAVES; RISTUM; NORONHA, 1998, p. 1).
Os autores supracitados reconhecem que toda ação que esteja inclusa em qualquer forma de violência, causando qualquer tipo de dano, é intencional, abrangendo àqueles que matam sem intenção de matar, espancam sem intenção de espancar, e assim são reconhecidos diante das autoridades, pelas intenções, e não pelos detrimentos. Em consonância com essa definição, Minayo e Souza (1997/1998) afirmam que“a violência consiste em ações humanas de indivíduos, grupos, classes, nações que ocasionam a morte de outros seres humanos ou que afetam sua integridade física, moral, mental ou espiritual”. (p.513) Desse modo, pode-se concluir quemesmo sendo um fenômeno antigo, não há um registro único de conceitoda violência, já que os autoresaqui referenciados apresentam suas descrições de acordo com as reflexões individuais de cada um, trazendo singularidades e concordâncias a respeito do assunto. Percebe-se que a violência é um problema que vem se agravando cada vez mais na sociedade, e para compreendê-la, Silva (2002) diz que é preciso observar as características pessoais e circunstanciais dos envolvidos, levando-se em conta as condições ambientais, psicológicas e socioeconômicas onde ocorre o fenômeno, pois para o autor, essas questões que estão entrelaçadas, contribuem para o crescimento do problema.
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Santos (1996) contribui com mais um conceito de violência, onde na concepção dele: A violência seria a relação social, caracterizada pelo uso real ou virtual da coerção, que impede o reconhecimento do outro - pessoa, classe, gênero ou raça - mediante o uso da força ou da coerção, provocando algum tipo de dano, configurando o oposto das possibilidades da sociedade democrática contemporânea.(SANTOS, 1996, p. 281).
Nesse contexto, a ideia do autor nos remete a questão da intolerância, seja ela de qualquer tipo, não somente contra um único adversário, mas a grupos sociais, religiosos, entre outros, considerando assim, que enquanto o homem existir, haverá a violência, já que os sentimentos que se exalam contra o outro, são sentimentos humanos. Dessa forma, Filho (2001), ao citarNietzsche, evidencia a violência como algo que pertence ao homem, que precisa ser combatida. Para Marx, a violência passou a ser algo dominável e não inerente ao homem. Para Sposito (1998), a violência vai contra toda possibilidade de relação social, com base no diálogo, pelo uso da palavra, sendo assim um ato que rompe qualquer barreira social pelo uso da força, restringindo com essa interpretação, a violência como aquela utilizada de forma física. Assim, percebe-se que é um grande desacerto relacionar a violência apenas a questão física, já que a violência se subdivide em várias formas, algumas são reconhecidas facilmente por conta de suas sequelas, outras não conseguem ser discernidas pela sociedade como violência, pois os danos sofridos são internos. Da mesma forma que é dificultoso encontrar um conceito exato e comprimido para a violência, assim também ocorre para separá-la. A seguir serãoapresentados alguns tipos de violência e suas classificações.
3.1 Tipologia de Violência Como já foi citado anteriormente, existem vários tipos de violência, ainda que a agressão física seja a mais reconhecida por seus danos
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expostos. Serão classificados aqui, alguns tipos de violência, enfatizando aquela que é alvo deste trabalho, que é a violência doméstica. Será adotada a divisão tipológica elaborada pela Organização Mundial da Saúde (2002), onde esta a principio divide a violência aem três categorias, que posteriormente é dividida para uma melhor reflexão: Violência dirigida a si mesmo (auto-infligida), violência interpessoal e violência coletiva, que estão apresentadas abaixo.
Violência
Auto Dirigida Conduta Suicida
Coletiva
Interpessoal
Auto Abuso Social Família
Política
Comunidade
Econômica
Criança Conhecido Parente Desconhecido Idoso
Fonte: OMS. Relatório mundial sobre violência e saúde (2002).
Conforme a OMS (2002), a violência auto infligida é aquela dirigida contra si mesmo, subdivida em: Conduta suicida, que inclui pensamentos suicidas, tentativas de suicídio, e suicídio; e auto abuso, que inclui atos como automutilação. A violência interpessoal engloba a violência da família, ou violência doméstica, que ocorre na sua maioria, entre os membros da família, e
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parceiros íntimos; e a violência comunitária que é aquela que ocorre entre pessoas sem laços de parentesco, acontecendo fora de casa, por pessoas conhecidas ou não. A violência coletiva se divide em: violência social, política e econômica.A violência social é conhecida por incluir crimes de ódio, cometidos por grupos organizados, violência à multidão e terrorismo. Para Odalia (1991), toda a violência é social, não somente a questão do menor abandonado e da delinqüência, mas também as discriminações raciais, sociais e sexuais.A violência política é aquela que ocorre pelos grandes grupos de pessoas, nações, e que pode levar à guerra, abrange também as fraudes no sistema eleitoral (ODALIA, 1991). Aviolência econômica, tem como motivação o ganho econômico, como por exemplo, ataques que são realizados em países, com o intuito de parar a atividade econômica deste. Ainda para a OMS (2002), a natureza dos atos violentos pode ser física, sexual, psicológica, privação ou negligência. Contudo, vale ressaltar o fato de que há outros tipos de violência que não foram citados acima, entre eles a violência incitada por jogos eletrônicos2. Segundo Ruffo (2012), a violência urbana e violência nos jogos é reflexo uma da outra, já que uma reproduz o que a outra é. Esse tipo de violência é cada vez mais atrativo na sociedade, já que as pessoas tendem a ser seduzidas pelo mercado eletrônico, que investe em novidades que representem o cotidiano da sociedade. Para Murray (1999),
quanto mais construtivo for o ambiente da história, mais oportunidades oferecerão para ser algo mais que a repetição de padrões destrutivos. O objetivo dos ambientes maduros de ficção não é de excluir o material antissocial, senão incluí-lo de modo que o usuário possa enfrentar a ele, dando-lhe forma e trabalho (MURRAY,1999, p.184).
2
Para maior aprofundamento, ver ALVES, Lynn Rosalina Gama. Jogos eletrônicos e violência: o retorno. Disponível em: http://www.ufscar.br/rua/site/?p=2232.
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Assim, Alves (2009) reforça a ideia de que a reprodução de comportamentos violentos não passa pela imitação mecânica destes modelos, sendo que nesse contexto, a violência pode ser representada por linguagens e comportamentos. Não é novidade que todo o tipo de violência pode trazer danos sérios para a vida do ser humano, algumas formas dela surpreendem quando se revela as motivações e as razões para tais atos. Nesse contexto, trataremos a seguir a violência efetiva no âmbito doméstico, conhecida como violência doméstica ou intrafamiliar.
3.2 Violência Doméstica A violência domésticaé um fenômeno que vem afetando cada vez mais a sociedade, pois gradativamente ela vem se mostrando presente em lares, não fazendo acepção de famílias, podendo está ativa em qualquer morada.É um fenômeno bastante complexo e composto por diversos fatores, sejam eles,“sociais, culturais, psicológicos, ideológicos, econômicos, etc.” (COSTA, 2003). Considera-se violência doméstica, qualquer ato, conduta ou omissão que sirva para infligir, reiteradamente e com intensidade, sofrimentos físicos, sexuais, mentais ou econômicos, de modo direto ou indireto (por meio de ameaças, enganos, coação ou qualquer outro meio) a qualquer pessoa que habite no mesmo agregado doméstico privado (pessoas – crianças, jovens, mulheres adultas, homens adultos ou idosos – a viver em alojamento comum) ou que, não habitando no mesmo agregado doméstico privado que o agente da violência, seja cônjuge ou companheiro marital ou ex-cônjuge ou ex-companheiro marital. (MACHADO E GONÇALVES, 2003, PÁG.13).
A violência doméstica se faz diferente dos outros tipos de violência, pois entra em ação dentro do lar da vitima, local esse que deveria ser seguro e acolhedor, tendo como alvo não somente mulheres como muitos acreditam, mas, idosos, crianças, adolescentes e deficientes físicos. Sendo assim,as vitimas desse tipo de violência tem em concordância, o fato de ter dificuldade em se defender.
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No Brasil, dados estatísticos do Fundo das Nações Unidas para a Infância(UNICEF, 2008), apontam que a cada hora cinco casos de violência contra crianças são registrados no país, sendo que a cada dia 129casos de violência doméstica são reportados ao Disque Denúncia 100, incluindo a violência psicológica, física, sexual e negligência contra crianças e adolescentes. Essa informação se agrava quando é considerado o fato de que vários desses crimes nunca chegaram a ser denunciados. Para o Ministério da Saúde (2001), a violência doméstica trata-se de um fenômeno que não obedece a nenhum nível social, atingindo também ambos os sexos, sendo um problema que na maioria das vezes, age de forma silenciosa, já que as vitimas se sentem amedrontadas, e em sua maior parte, não denunciam, tornando-se então refém desse tipo de violência.
3.3 Violência Doméstica contra crianças e adolescentes Logo quando nasce, a criança já está imersa num cotidiano social, onde vive sob o cuidado de sua família. De acordo com o artigo 227 da Constituição Federal, a família é responsável por criar, cuidar, educar, proteger e garantir o desenvolvimentode suas crianças. Mas, nem sempre a criança tem a sorte de ter por perto uma família que atue dessa forma, já que é cada vez mais frequente casos de violência doméstica contra crianças e adolescentes. Apesar dos dados recentes informarem altos índices de violência doméstica contra a criança e adolescente, este fenômeno não é algo novo que surgiu há pouco tempo, mas desde a antiguidade a violência contra as crianças é vista como algo normal, já que os adultos, em especial àqueles que tem a guarda dessas crianças, se sentem no direito e até mesmo no dever de punir em forma de castigos severos. A sociedade se tornou oculta a esse tipo de violência, preferindo não enxergar a gravidade do problema, nesse entendimento, Masson (1996), afirma que:
28 Por muitos anos a sociedade se recusou a reconhecer a profundidade do sofrimento causado a uma criança pela violência doméstica... foi muito mais fácil dizer que tal evento não ocorreu porque, de outra forma, o mundo em que vivemos seria um lugar intolerável de injustiça, crime e sofrimento. (MASSON, 1987, p.65).
Assim, compreende-se que para a sociedade era mais viável não reconhecer a violência doméstica como algo provedor de sofrimento na vida da criança, já que nela só era visto aquilo que favorecia os adultos. Na idade média, as crianças não eram notadas, e não havia uma preocupação com elas, para Ariés (1978), “(...) essa sociedade via mal a criança, e pior ainda o adolescente. A duraçãoda infância era reduzida a seu período mais frágil, enquanto o filhote dohomem ainda não conseguia bastar-se; a criança então, mal adquiria algumdesembaraço físico, era logo misturada aos adultos, e partilhava de seustrabalhos e jogos. De criancinhas pequenas ela se transformavaimediatamente em homem jovens sem passar pelas etapas da juventude (...)”(ÁRIES, 1978, p.10).
Nessa percepção, nota-se que a criança só era percebida quando se misturava com os adultos, sendo indiretamente obrigada a amadurecer, tornando-se um adulto, mesmo sendo criança. No século XVIII, as crianças passam a ser vitimas de atos punitivos, e nesse período, os castigos contra as crianças se tornaram mais bárbaros, GUERRA (1998). Para DIDONET (1994), a vontade do adulto tinha sempre que prevalecer, havendo assim um abuso de poder por parte do adulto para com a criança, epor conta dessa autoridade, “foram praticadas atrocidades contra as crianças, desde a imposiçãoautoritária de modos de ser, pensar e agir, até os castigos físicos, a escravidãodoméstica, a mutilação de membros, a opressão moral, inclusive o direitosobre a vida do filho(...) à criança era negado o direito de falar, de opinar, deter „vontades‟. Sua opinião não era levada em consideração, porque se pensava que ela não sabia nada, não tinha experiência. Sua vontade não eraatendida se fosse diferente da vontade do adulto. Os adultos(pais ouresponsáveis) é que sabiam e determinavam o que ela deveria fazer, quando, por quanto tempo”. (DIDONET.1994, p.4)
Na atualidade, a violência doméstica é considerada um fenômeno social, que é um problema da sociedade, já que todas as famílias estão sujeitas a esse tipo de infortúnio. A relação familiar do individuo é crucial na
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formação de seu caráter, sendo esta a primeira ligação social do sujeito, responsável pela transmissão de valores e ideias que influenciam no comportamento da criança. Diante disso, a violência doméstica passa a ser um problema não só daqueles que trabalham com crianças, mas também da sociedade, já que abate vários lares. Vale ressaltar que esse tipo de violência não escolhe classes, já que pode acontecer em qualquer lar, inclusive entre aqueles que têm um maior poder aquisitivo, que segundo Cordeiro (1986), nessa camada social, embora houver registros de todos os tipos de violência, a psicológica predomina, mostrando que é mito a ideia de que a violência doméstica só acontece em classes desfavorecidas, que para Silva (2002, p.78)
há uma proporção equilibrada entre as diferentes classes, permitindo-nos dizer que a violência intrafamiliar é essencialmente democrática em sua disseminação, não há distinção de raça, credo, etnia ou classe social. O observado revela que a visibilidade é maior nessa faixa da população, por acionar os serviços públicos como forma de defesa/denúncia.(SILVA, 2002, p.78).
Desta forma, percebe-se que a diferença entre a violência cometida pelas classes altas e menos favorecidas, é que enquanto uma trata procurando ajuda de profissionais como psicólogos, a outra encontra como saída a denúncia. Assim, fica claro que todas as crianças estão sujeitas a esse tipo de maltrato, levando suas consequências também para o contexto escolar, sendo a escola importante nesse processo, já que esta ensina a criança a adquirir determinados valores, tais como a compaixão e a dor alheia, bem como valorizar a vida, não só a sua, mas a dos outros. Ainda existem hoje, pais que abusam da autoridade sobre os filhos, levando na maioria das vezes à agressão, o que afasta cada vez mais a criança e o adolescente do âmbito doméstico, facilitando assim, a inserção deste jovem na criminalidade, já que este se sente revoltado, traído por aqueles que deveriam estar no papel de protetores, (NASCIMENTO, 2002) articula que quando a violência vem dos pais para com os filhos, a dor da
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violência é tão mais intensa e, portanto, traumática, quanto maior é o amor que o violentado endereça ao outro que o deseja destruído.
3.4 Principais tipos de Violência Doméstica contra crianças e adolescentes
A violência doméstica também é subdivida, pois existem várias formas de atuação desta no ambiente doméstico. Para Azevedo e Guerra (2001), existem várias formas de violência doméstica contra a criança e adolescente, sendo estas: Violência Física, Violência psicológica, Violência sexual, Negligência e Abandono. A violência Física é o tipo de violência doméstica mais reconhecida pela sociedade, por deixar marcas evidentes. De acordo com o Conselho Municipal de Direitos da Criança e do Adolescente de Campinas (CMDCA, 2007, p. 5) a violência física é “tudo quevai desde um tapa até o espancamento, deixando marcas evidentes, chegando ou não a fatalidade da morte”. Para o Laboratório de Estudos da Criança (LACRI, 2005) da Universidade de São Paulo(USP), a agressão física contra crianças e adolescentes no ambiente doméstico, corresponde a 26,5% no Brasil, sendo uma das formas mais comuns de violência, podendo variar entre palmadas a espancamentos, levando até a homicídios. Já a violência Psicológicaé considerada a mais difícil de identificar, pois esta bloqueia todos os esforços de auto aceitação da criança, deixandoa deprimida. Para (NASCIMENTO, 2002), O que se tem na violência psicológica é um estado de comoção no qual o outro leva o eu a submergir na dor da perda de si mesmocomo objeto da sua própria pulsão e desejo. O ato que humilha diz ao sujeito que nada há nele para ser amado pelo outro e também por ele mesmo. (NASCIMENTO, 2002, p.56)
Nessa modalidade, a criança é humilhada, rejeitada, desrespeitada e até punida. Nesse caso, não existem marcas corporais visíveis, mas
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emocionalmente causa danos permanentes. Ainda para o (LACRI, 2005), esse tipo de violência equivale a 18,9% de casos no país. Violência Sexual: De acordo com o Código Penal Brasileiro (art. 224), a violência é sempre presumida em menores de 14 anos, deficientes mentais ou quando a pessoa não pode, por qualquer outra causa, oferecer resistência. Segundo (GUERRA, 2004), a violência sexual é caracterizada como: um ato ou jogo sexual, em uma relação hetero ou homossexual, entre um ou mais adultos e uma criança ou adolescente, tendo por finalidade estimular sexualmente esta criança ou adolescente, ou utilizá–la para obter uma estimulação sexual sobre sua pessoa ou de outra pessoa" (GUERRA, 2004, p. 13).
Segundo o (LACRI, 2005), esse tipo de violência corresponde ao menor índice no país, que é de 14,2%, estimando que 10% dos homens e 20% das mulheres de todo o mundo já sofreram abuso sexual na infância. Essa estimativa se agrava, já que grande parte dos casos de violência sexual no país não são anunciados, pois as vitimas se sentem coagidas, amedrontadas a denunciar, tornando mais difícilpara as autoridades a descoberta do crime. A organização Mundial da Saúde considera a pedofilia como a preferência sexual por meninos e/ou meninas pré-púberes ou no inicio da puberdade. É um crime que atinge o físico, emocional e psicológico da criança, e pode levar a vitima aóbito. A negligencia é uma das formas mais frequentes de violência contra crianças e adolescentes. Caracteriza-se pela falta de assistência básica à sobrevivência do individuo, normalmente as mães são as que mais cometem a negligência, por estar sempre em contato com a criança. (Revista Psique, n° 30, p. 42). A negligência pode ser física, emocional e educacional, causando fortes sequelas na vida da criança.Essa forma de violência equivale a 40,2% do índice de violência doméstica no Brasil (LACRI, 2005), sendo a mais comum, pois aquele que a comete, em sua maioria não a reconhece como uma forma de violência. O abandono também é uma forma de negligência, já que envolve o abandono emocional, o desinteresse pela
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criança e a privação dos cuidados necessários que a criança necessita para o seu desenvolvimento. Diante dessas modalidades de violência doméstica, percebe-se que não é apenas a violência na forma física que causa dor e sequelas na vida da criança e adolescente. Nessa percepção, Nascimento (2002), diz que “aviolência para o sujeito violentado, além de um fenômeno sociocultural ou legal, é um trauma doloroso que comove e irrompe a estruturação psíquica do seu eu, do seu ser, da sua vida”(p.59). Nesse sentido, compreende-se que a violência doméstica, vista pelos pais e responsáveis como forma de disciplinar e corrigir, por menor que seja, pode causar sérios danos na vida do individuo, sendo o primeiro, a sensação de insegurança dentro de casa, já que a agressão vem de quem deveria estar no papel de protetor. Conclui-se que a violência, independente de sua divisão, sendo ela de qualquer modalidade, é um problema social, que afeta várias áreas da vida da criança.
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4. PERCEPÇÃO DOS PROFESSORES SOBRE A VIOLÊNCIA DOMÉSTICA DENTRO DE SEU CONTEXTO ESCOLAR
Neste capítulo serão mostradosos resultados adquiridos com a análise dos dados coletados na Escola Municipal Governador Roberto Santos. De início, será exposto o perfil dos professores entrevistados, para que haja um melhor entendimento das informações que serão apresentadas no decorrer do trabalho.
Quadro 1
Identificação dos Professores Entrevistados
Professora A Identificação Idade Sexo Formação
Turma em que atua Estado Civil Período de experiência na profissão Período que trabalha na escola
B
C
D
E
57 anos Feminino Curso superior completoPedagogia 4º ano
42 anos Feminino Curso superior completoPedagogia 2º ano
32 anos Feminino Curso superior completoPedagogia 3º ano
29 anos Feminino Curso superior completoPedagogia 3º e 5º anos
44 anos Feminino Curso superior completoPedagogia 6º, 7º e 8º anos
Solteira 27 anos
Casada 10 anos
Solteira 1 ano
Solteira 8 anos
Casada 16 anos
25 anos
1 ano
6 meses
6 meses
10 meses
Fonte: Pesquisa de campo
É válido afirmar que todas as cinco professoras expostas na tabela acima, são contratadas e efetivadas na escola. Percebe-se que elas são formadas no curso de Pedagogia e que há uma diferença considerável no
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período de experiência de cada uma, o que não influenciou muito nas respostas quando se foi questionado o que elas entendiam por violência. Abaixo, algumas falas: Falta de Deus no ser humano. (Professora A) Tudo aquilo que prejudica e destrói o ser vivo. (Professora B) Ato violento, ou seja, coação tanto física quanto psicológica. (Professora C) A violência é um ato de desrespeito com o outro ou grupos, e pode manifestar-se de forma física, psicológica ou simbólica. (Professora D) Agressão física ou mora contra uma pessoa. (Professora E)
Nessas falas, fica evidente que as respostas são bem divididas. Diante de uma pergunta direta sobre o que cada uma entendia por violência, a professora “A” trouxe uma resposta com termos religiosos, onde não ficou claro sua opinião sobre o assunto. As demais professoras concordaram que a violência vai além da agressão física, que pode ser manifestada de outras formas prejudicando o indivíduo em vários aspectos de sua vida. Na questão seguinte, foi solicitado que as informantes da pesquisa expusessem o entendimento delas por violência doméstica, já que esta é a temática principal desse trabalho. Segue as respostas: Agressão por parte da família, aquela que deveria ser a base de tudo, fornecendo amor, respeito e carinho pela criança. (Professora A) Aquela praticada em casa, pelos familiares. (Professora B) Coação no âmbito familiar. (Professora C) A violência doméstica é aquela que ocorre no ambiente doméstico, e geralmente inclui pessoas do mesmo grupo familiar. (Professora D) Falta de respeito pelo membro da família, que pode ser verbal ou física. (Professora E)
As respostas acima mostram que as docentes entram em concordância no que se diz respeito ao âmbito que se é praticado esse tipo
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de violência. É notório também, que apesar de não terem especificado os tipos de violência que pode ocorrer no ambiente doméstico, todas tem uma opinião formada sobre o assunto, ainda que não sendo um conhecimento aprofundado, mas deixam claro que é um fenômeno que pode atingir qualquer família, independente de sua classe social, como já foi explicitado neste trabalho por Silva (2002, p.78). Abaixo será expostaum quadro com uma questão fechada, onde foi dada a oportunidade de as professoras expressarem suas opiniões sobre o assunto requisitado:
Quadro 2 Percepção dos professores de situação de violência
Você percebe situações de violência no cotidiano escolar: Entre funcionários Professora
Entre alunos
(diretor, professor, etc.)
A
Sim
Não
B
Sim
Não
C
Sim
Não
D
Sim
Sim
E
Sim
Não
Fonte: Pesquisa de campo
Nesta questão, as docentes afirmam que a violência dentro da escola entre os alunos é muito grande. Apesar de a maioria ter reconhecido a existência da violência somente entre os alunos, a professora “D” assegurou que percebe situações de violência também entre funcionários da escola. Vejamos abaixo a opinião das informantes sobre o assunto: Percebo que os alunos se agridem por qualquer motivo. Se xingam e brigam a todo o momento, não respeitam o professor e muito menos os funcionários. (Professora A)
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É interessante dizer que os alunos vivem em situações de extrema pobreza, e são carentes em diversas áreas, o que possibilita esses tipos de violência. (Professora B) É rotina na escola haver conflitos entre os alunos, seja de agressão verbal ou física. É triste falar isso, mas eles não tem limites. (Professora C) Eu considero como violentas as relações que não exercitam a alteridade. É necessário se colocar no lugar do outro para sabercomo o outro está sofrendo com a situação. No início, quando cheguei nessa escola, demorou um tempo para que os outros professores me aceitassem, pois eles me enxergavam como mais uma recém formada sem experiência. Mas com o tempo fui ganhando respeito tanto dos meus colegas de profissão, como dos meus alunos. (Professora D) Infelizmente a violência entre os alunos é cotidiana e eu não vejo nenhuma medida por parte da sociedade e nem da comunidade escolar para que isso acabe. (Professora E)
Apesar de a escola trabalhar com um projeto que vise amenizar o índice de violência entre os alunos, os professores se queixam do aumento desacerbado das agressões no âmbito escolar, mostrando ainda que o sentimento que se tem a esse respeito é que não é percebível nenhuma providencia por parte da escola, dos pais e funcionários para que se tenha um resultado favorável nessa condição. Importante ressaltar o argumento da professora “B”, quecontribui com uma fala considerável, quando diz que a pobreza e as carências desses alunos oportunizam eles a se agredirem, e essa ideia corrobora com a afirmação da professora “D”, quando afirma que existe a necessidade de se colocar no lugar do outro para saber o que este está passando. A esse respeito, Nóvoa (2006) diz que a verdadeira semente da violência é a pobreza e a intolerância.Assim, fica evidente também para as informantes que a questão social e emocional tem um peso significativo para esse agravante de violência escolar. Outro fato pertinente nesta questão, são as falas semelhantes quando se trata da relação de respeito dos alunos para com os professores e funcionários. Fica óbvio que além dos problemas com a violência dentro do ambiente escolar que os professores e funcionários tem que combater, ainda
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temque ficar atentos para a falta de respeito dos alunos, o que agrava ainda mais a situação em que a escola se encontra. As professoras informantes foram questionadas se em sua turma elas já notaram algum aluno que estivesse sendo vítima da violência doméstica. Diante dessa indagação, elas responderam:
Não. Nunca percebi em nenhum deles. (Professora A) Sim. Consegui perceber através do comportamento agressivo do aluno na sala de aula e fora dela, na hora do lanche, após isso conversei com ele e foi confirmado para mim o caso de violência dentro de casa. (Professora B) Não. (Professora C) Sim. Consegui estabelecer com meus alunos uma relação de confiança, e geralmente quando estão com problemas em casa me contam. (Professora D) Não.(Professora E)
Em consonância com essa pergunta, foi aplicada uma questão fechada sobre os possíveis tipos de violência doméstica que esses alunos seriam vítimas, para tanto, vejamos as respostas abaixo:
Quadro 3 Tipos de Violência Doméstica Quais os tipos de violência doméstica você acredita que seus alunos sofram? Professora Negligência Sexual
Física
Psicológica Social
A
X
B
X
C
X
D
X
E
X
Fonte: Pesquisa de campo
X
X
X
X
X
X
X
X
X
Outros
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Analisando estas respostas, notamos que houve uma contradição perceptível por parte das docentes, já que as professoras “A”, “C” e “E” quando perguntadas se já perceberam algum aluno em suas classes que estavam sendo vitima de violência doméstica, responderam que não, mas na tabela acima, quando foram levadas a apontarem os principais tipos de violência doméstica que elas acreditavam que seus alunos sofriam, a professora “A” marcou a violência social, a professora “C” marcou a negligência, e a professora “E” surpreendeu optando pela negligência, sexual, física, psicológica e social como os tipos de violência doméstica mais sofridas por seus alunos. Essa verificação nos levou a refletir que as professoras informantes tem uma ideia vaga do que seja a violência doméstica, sabendo elas que esse tipo de problema perpassa a agressão física, mas ainda assim, diante das respostas contraditórias, percebemos que ao menos 3 (três) dessas 5 (cinco) professoras não conheciam os variados tipos dessa violência que é cada vez mais frequente na sociedade. Um fato que também é válido ressaltar, é que essas docentes em questão, de inicio responderam que não haviam percebido nenhum aluno vitima desse tipo de violência, o que nos leva a considerar que muitos professores hoje se encontram atuando nas salas de aula com um despreparo em saber lidar até mesmo com os mínimos problemas apresentados em sua turma. Se um professor não consegue se relacionar basicamente com seu aluno ao ponto de perceber quando este está com problemas, com certeza aconexão dentro da sala de aula entre professor-aluno não será das melhores. Sabemos que a questão de desmotivação do professor na sala de aula vai além dos muros escolares, pois envolve fatores financeiros, cultural, entre outros que contribui para o desinteresse em seu ambiente de trabalho. Segundo Freitas (2011), a UNESCO realizou uma pesquisa com o propósito de descrever o perfil do professor brasileiro nas escolas privadas e públicas. Foram entrevistados 5.000 (cinco mil) professores, e o resultado chegou a ser lamentável, já que foi constatado que 45% dos professores entrevistados
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nunca tiveram a oportunidade de conhecer um museu ou foram somente uma vez, 40% nunca assistiram a uma peça teatral, 25% jamais foram ao cinema e, por fim, em plena revolução técnico-científica-informacional, aproximadamente 60% dos professores não têm acesso à internet e não possuem correio eletrônico. A falta de investimento na educação, salários baixos, e falta de reconhecimento profissional, são alguns dos fatores que elevam a baixa estima desses profissionais que, muitavezes, nem tem consciência de seu despreparo na sala de aula. Nesse contexto, as docentes informantes dessa pesquisa forma questionadas sobre a forma em que elas se posicionam em sala de aula quando reconhece seu aluno como vitima da violência doméstica. Abaixo segue o quadro com as respostas:
Quadro 4 Atitude diante da Violência
Professora
A
Ao descobrir um caso de violência doméstica em sua classe, como você se posiciona diante de tal situação? Com indiferença Trabalhando em por não conjunto com a reconhecer o Sem saber escola, problema como como agir dialogando com familiar a família e com o aluno X
B C
X X
D E
X X
Fonte: Pesquisa de campo
Respectivamente foi solicitado que as professoras comentassem suas respostas:
40 Faço o possível para chamar a escola para fazermos um trabalho em grupo, pedindo a presença da família para conversarmos, e tento ajudar a resolver o problema. (Professora A) Me esforço para trabalhar junto com a escola, mas sei que na maioria das vezes a escola não nos dá esse suporte, então trago sempre para meus alunos assistirem vídeos com exemplos de superação, para que assim eles possam se espelhar e perceberem que com a ajuda necessária, todos podem superar os problemas. (Professora B) Realmente não sei como me posicionar diante de tais problemas. Não me sinto preparada para isso. (Professora C) Como já citei anteriormente, eu sempre busco conversar com meus alunos sobre diversos assuntos que fazem parte de nossa vida cotidiana. Infelizmente a violência acaba sendo uma pauta frequente em nossos diálogos. (Professora D) Assumo até mesmo para a escola que não sei como devo agir diante de tamanho problema. Como não recebo um apoio mais atuante, infelizmente prefiro não saber desses casos, e quando percebo desconverso, pois fico sem ideias de como me comportar diante disso. (Professora E)
Tais respostas, só fazem reforçar a ideia do despreparo profissional e emocional do professor para lidar com tais situações. O que termina agravando esse quadro de violência, já que o aluno se vê sem suporte em casa e na escola, sendo que em casa, além de não receber nenhum apoio, ainda é vitima dessa violência covarde, levando esses indivíduos a buscarem fuga nas ruas, e entrando em um mundo onde não há saídas, o mundo das drogas e do crime(NASCIMENTO, 2002). Vale ressaltar também, que a escola deve trabalhar em comunhão com o professor e a família, não deixando a responsabilidade dos problemas dos alunos apenas para os professores resolverem, não fazendo com que a violência dentro e fora da escola seja banalizada, como um problema em que já está imerso e aceito pela sociedade. Algumas das professoras acima apresentaram queixas sobre o fato de a escola não dar o suporte adequado que elas necessitam para tratar desses conflitos. Uma delas, a professora “B” afirmou que ela própria toma as medidas que acha coerente, levando vídeos com testemunhos de pessoas que superaram problemas como estes, gesto que para ela deveria ser feito em conjunto com a escola, apesar de que os professores podem ser
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uma ponte de ligação entre o aluno e os órgãos responsáveis em aplicar as devidas penas aos agressores. Neste mesmo contexto, as docentes foram interrogadas sobre as atitudes que a escola toma para prevenir ou combater a violência doméstica, em sequência vejamos as respostas: O que eu vejo mesmo a escola fazer é marcar reuniões com as famílias para conversar sobre essas questões, mas percebo que quase sempre os pais não estão presentes nessas reuniões. (Professora A) Somente palestras e encontros com os pais, o que não vejo resolver muito, pois os alunos ficam dispersos e normalmente os pais não vem para as reuniões. (Professora B) A escola trabalha em conjunto com o conselho tutelar e com os alunos agressivos. (Professora C) A escola desenvolveu recentemente um projeto denominado “A escola pede paz”. Os efeitos desse projeto ainda são insuficientes pois as famílias não se envolveram muito. (Professora D) A única coisa que vejo a escola fazer é chamar os pais para conversar, mas a maioria desses pais não vem, e a escola logo esquece do assunto, pois a escola não tem dado conta da violência que acontece dentro da instituição, logo não dará conta do que acontece nas casas dos alunos. (Professora E)
Essas respostas representam o desespero dessas professoras que se sentem desvinculadas com a instituição, já que esta não toma nenhuma posição para mudar este quadro. Para Menezes3 (2007): Numa sociedade violenta, a escola deve se contrapor abertamente à cultura de agressões. As situações que dizem respeito a questões internas devem ser tratadas nos conselhos de classe, identificando responsabilidades, garantindo reparações e promovendo formação. (MENEZES, 2007).
Assim, pode-se afirmar que mesmo o problema sendo uma questão intramuros da escola, seus resultados são reproduzidos também na sala de aula, o que passa a ser mais uma adversidade onde a escola deve se posicionar chamando para perto os órgãos responsáveis, trabalhando em conjunto com os professores, alunos, funcionários e família, ou seja, a
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Disponível em http://planetasustentavel.abril.com.br/noticia/educacao/conteudo_246452.shtml
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comunidade escolar deve atuar de forma participativa em defesa de seus alunos.
4.1 Os reflexos da Violência Doméstica no processo de aprendizagem- uma visão na prática docente
Crianças e adolescentes com histórias de vidas marcadas por adversidade, tendem a viver experiências negativas na escola (SANTOS, 2002). Nesse sentido, procurando um entendimento mais detalhado sobre a questão da violência que acontece no âmbito familiar,questionamos os docentes que são informantes dessa pesquisa,se dentro do entendimento delas a violência doméstica interfere no processo de aprendizagem do aluno, e como interfere? Elas responderam: Com certeza mexe muito com a aprendizagem e no convívio com os colegas de sala. (Professora A) Os alunos ficam com baixa concentração, baixa estima e desestímulo e isso reflete no que eles aprendem. (Professora B) Eles ficam muito agressivos e desconcentrados. (Professora C) Certamente. Qualquer sujeito que vive em situação de violência não consegue desenvolver-se plenamente. (Professora D) Sim, obviamente ele não terá a mesma vontade de participar do processo de aprendizagem como os outros alunos. (Professora E)
As falas acima não surpreendem, já que não é novidade que os alunos reproduzem na escola o que eles vivenciamem casa, como já foi citado neste trabalho, esses reflexos é o que Ruiz (1985) chama de causaefeito. Nessa mesma linha, foi feita uma pergunta mais direta para essas professoras, onde foi solicitado que elas expusessem suas opiniões sobre como esse tipo de violência refletia na sala de aula, elas comentaram:
43 A criança fica com um aproveitamento péssimo na sala de aula, pois não presta à atenção em nada que o professor fala, parecendo até que estou falando em outra língua, fora que o comportamento é lamentável. (Professora A) O aluno vitima desse tipo de violência fica desinteressado a aprender alguma coisa e fica desmotivado até mesmo a brincar com os outros colegas, e quando brincam é só agredindo o outro, xingando, o que acaba levando ele a não aprender nada, porque para ele, não existe razão para aprender. (Professora B) A primeira coisa que percebo é a indisciplina por falta de comunicação entre o professor e a família. Quando chama os pais eles não vem, então não tem como o professor se virar pra resolver essas questões sozinho. (Professora C) Os alunos violentados apresentam dificuldade em relacionar-se com o grupo, seja porque acabam tendo um comportamento violento, seja pela timidez. (Professora D) Interfere de todas as formas possíveis. Os alunos ficam agressivos, xingam os colegas por qualquer razão, não conseguem fazer silêncio na hora da explicação, são várias formas que atinge esses alunos na sala de aula. (Professora E)
Estas respostas só fazem afirmar o que já foi exposto aqui neste trabalho, e corrobora com (AZEVEDO e GUERRA, 2001) quando chama à atenção para os sinais de alerta visíveisna criança ou adolescente quando está passando por esse tipo de problema, como: -Desconfiança exagerada; -Medo excessivo; -Mudanças abruptas e frequentes de humor; -Comportamento agressivo, destrutivo, ou passivo, submisso; -Choro excessivo; -Problemas de relacionamento com colegas; -Tentativa de suicídio, depressão, pesadelos, sono perturbado; -Mau desempenho escolar; -Dificuldades de aprendizagem não atribuída a problemas físicos.
É fato que a criança e o adolescente estão passando por uma fase de desenvolvimento, e necessitam de um ambiente harmonizado para que haja certo equilíbrio nessa etapa de sua vida, sobre isso Weiss (2004, p.23) comenta:
44 aspectos emocionais estariam ligados ao desenvolvimento afetivo e sua relação com a construção do conhecimento a expressão deste através da produção escolar (...). O não aprender pode, por exemplo, expressar uma dificuldade na relação da criança com sua família; será o sintoma de que algo vai mal nessa dinâmica.(WEISS, 2004, p. 23)
Nesse sentido, fazendo uma análise com as informações trazidas pelas professoras, percebemos com clareza que um ambiente familiar agressivo e hostil, pode sim prejudicar além das relações sociais, o desenvolvimento cognitivo, físico e afetivo do indivíduo, afetando assim seu processo de aprendizagem, já que o aluno se mantém desconcentrado na sala de aula e sem motivação para aprender. Se tratando da violência doméstica, é bastante difícil conseguir arrancar da vítima uma confissão do que ela sofreu, já que o agressor conta com o silêncio como um aliado, pois normalmente o algoz ameaça o indivíduo levando-o a sentir-se envergonhado e com medo de contar a alguém. Justamente por esse fator, os profissionais que trabalham diretamente com crianças e adolescentes devem estar atentos aos sinais de alerta, pois as crianças pedem socorro através de gestos, comportamento, e ações, o que acaba confundindo àqueles que acreditam que o pedido de ajuda vem somente através da fala. Por isso a necessidade de o profissional ser cauteloso e estar preparado para enfrentar situações como essas no ambiente escolar, já que qualquer atitude imprudente, podeacabar comprometendo a vida de uma criança, que em sua maioria, não tem meios para se defender. As docentes informantes reconheceram seu despreparo para lidar com tais situações, e culparam a escola por na maioria das vezes não dá o devido apoio que elas necessitam.Para isso, solicitamos às mesmas que cooperassem com suas opiniões, nos dizendo o que a escola pode fazer para contribuir com a diminuição da violência doméstica, assim elas responderam: Acredito que a escola precisa chamar os pais para perto, conversando sempre com eles, conversando também com os alunos por meio de debates e palestras. (Professora A)
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Conversando com os pais e alunos, sempre trazendo palestras e cursos de capacitação para os professores. (Professora B) Fazendo reuniões com os pais e alunos. (Professora C) Antes de tudo a escola precisa preparar-se melhor para compreender o conceito de violência doméstica e buscando ações preventivas para desenvolvermos. (Professora D) Deve conhecer melhor o perfil dos pais, e desenvolver palestras para os pais e alunos. (Professora E)
De acordo com essas respostas, é válido reafirmar a necessidade que essas professoras sentem em fazer um trabalho conjunto com a comunidade escolar, o que inclui os pais de seus alunos. Como já foi citado, para elas, a negligência que os pais apresentam em relação à seus filhos, é o que mais impede a escola de atuar de forma segura combatendo e até mesmo prevenindo esse tipo de transtorno que acaba abalando todos os aspectos da vida do indivíduo. Para finalizar, pedimos que as docentes citassem de 3 (Três) a 4 (quatro) palavras que para elas, significa o que a violência doméstica reflete no aprendizado e na formação do cidadão. Como foi solicitado, segue as respostas: Desamor, desrespeito, desmotivação. (Professora A) Desestímulo, desmotivação, baixa autoestima. (Professora B) Indisciplina, déficit de aprendizagem, desrespeito. (Professora C) Baixa autoestima, negligência, desconcentração. (Professora D) Depressão, baixa autoestima, desinteresse. (Professora E)
Essas falas resume as consequências da violência doméstica no processo de aprendizagem, já que trouxemos aqui depoimentos de professoras que atuam na sala de aula e vivem diariamente com questões de indisciplina, agressividade, negligência, desconcentração, entre outros, que para elas são reflexos do que essa violência faz com seus alunos, destruindo parte de suas vidas e levando-os a um mundo de desinteresse,
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sendo o maior deles o de aprender. Em seguida, veremos depoimentos de possíveis vítimas da violência doméstica.
4.2 AViolência Doméstica na visão das crianças e adolescentes Neste trabalho, já foi citada a opinião de vários teóricos, e professores atuantes em uma prática cada vez mais real no contexto educacional de hoje. Para uma pesquisa mais profunda sobre o tema, optamos em aplicar um questionário a um grupo de 18 (dezoito alunos), onde nosso objetivo foi o de obter informações sobre o cotidiano desses jovens, procurando resquícios de possíveis vítimas da violência doméstica, ligando a relação que estes jovens tem com suas famílias, com seus colegas de classe, com seu (sua) professor (a), e sua relação com a aprendizagem dentro do contexto escolar. Para tanto, iniciaremos nossa análise com o quadro abaixo onde está exposto o perfil desses alunos na percepção deles próprios.
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Quadro 5 Identificação dos Alunos Entrevistados:
Meninas:8
GÊNERO
De 7 à 12 anos
IDADE
SÉRIE
Meninos: 10
2º ano Fundamental:8
RELIGIÃO
Católicos:2
MÚSICA PREFERIDA
Pagode: 10
4º ano Fundamental: 10
Candomblé:1 Evangélico:1
Rap:3
Gospel:2
Não tem: 14
Todos os tipos:2
Fonte: Pesquisa de campo
Como já está exibido no quadro 5, nossos alunos informantes desta pesquisa estão dentro da faixa que vai da infância à adolescência, com as idades de 7 (sete) à 12 (doze) anos, sendo que 10 (dez) deles estão cursando o 4º ano do ensino fundamental, e 8 (oito) cursam o 2º ano do ensino fundamental. Questionados sobre o tipo de religião de cada um, 14 deles afirmaram não ter religião, 2 disseram ser católicos, 1 evangélico, e 1
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adepto do candomblé. Sobre as músicas que eles costumavam escutar, 10 desses alunos disseram só escutar pagode, 3 rap, 2 música gospel, e 2 declarou ouvir todo tipo de música. Para as professoras desses alunos entrevistados, algumas dessas respostas provém de influências de convívio com os pais, como religião e música preferida,já que segundo as docentes, a maior parte dos pais desses alunos não permitem que eles tenham liberdade dentro de casa, o que os levam escutar e seguir àquilo que os pais querem. Dando sequência a nossa análise, iremos categorizar as questões fechadas, avaliando-as em seguida. Tabela 1
NÚMERO DE PESSOAS POR FAMÍLIA QUANTIDADE DE PESSOAS POR FAMÍLIA 1-3 pessoas
NÚMERO DE RESPOSTAS 4 alunos
22, 3%
4-6 pessoas
11 alunos
61%
7-9 pessoas
3 alunos
16,7%
TOTAL
18 alunos
100%
PORCENTAGEM
Fonte: Pesquisa de Campo
De acordo com as informações acima, percebemos que apenas 4 (quatro) dos 18 alunos tem uma família com menos de 4 pessoas morando na mesmas casa, sendo que 61,5% desses alunos disseram que moram em casas com uma média de 4 a 6 moradores, e 16,7% afirmaram ter de 7 a 9 pessoas dividindo o mesmo teto. Nesse contexto, procuramos saber se os pais ou responsáveis por esses alunos trabalham, vejamos as respostas:
Tabela 2
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Atividade produtiva dos pais Seus pais/ responsáveis trabalham? Sim
Não
TOTAL
17 alunos
1 aluno
18 alunos
Fonte: Pesquisa de campo
Respectivamente foi perguntado a esses alunos as possíveis profissões desses responsáveis, onde foi citado várias, entre as mais mencionadas estão os cargos de empregada doméstica, pedreiro, cozinheira, babá, caminhoneiro, cobrador, mecânico e vendedor ambulante. O que ainda nos leva a refletir sobre o perfil social desses alunos, que no geral são jovens de classe baixa que na grande maioria habitam em casas alugadas, e em bairros dominados pelo tráfico de drogas, já que o dinheiro que os pais recebem, mal dá para sobreviver, o que não deixa de ser uma violência para essas crianças e seus responsáveis, a chamada violência social. No próximo ponto, questionamos a esses informantes se seus pais/ responsáveis costumam ir a escola para saber como está o comportamento. Eles responderam:
Tabela 3 Participação dos Pais na Educação dos Filhos Seus pais/ responsáveis costumam vir a escola para saber como está seu comportamento? Sim
15 alunos
Não
3 alunos
TOTAL
18 alunos
Fonte: Pesquisa de campo
Essas informações divergem com as falas das professoras, pois a maioria delas apresentaram queixas pela falta anual desses pais. Questionados sobre os motivos da vinda desses pais à escola, as respostas
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foram idênticas, já que àqueles que disseram que os pais eram presentes, afirmaram que essa presença ocorria porque as professoras chamavam esses pais em particular na escola. Perguntado os motivos para as professoras chamar esses pais, alguns alunos disseram que a maior razão eram as notas baixas, outros afirmaram que era pelo mau comportamento, e a maioria deles confessou que não dava o recado aos pais, pois sabiam que o motivo da chamada era porque eles aprontaram na sala de aula. E os 3 alunos que confessaram a ausência dos pais, justificaram dizendo que os pais não tinham tempo para estar na escola assiduamente, pois eles não podiam faltar trabalho, só estando disponíveis aos finais de semana, completando assim o pensamento das docentes que se sentem prejudicadas por não ter acesso à esses pais, o que acaba levando-as a chamá-los em particular de 3 a 5 vezes por ano, para contar com a presença destes de 1 a 2 vezes anualmente. Esses dados constatam o índice de negligência que esses alunos sofrem, já que esses pais delegam seus papéis à escola, deixando o papel de educar, disciplinar e até mesmo aconselhar, aos professores, só que a família deve ser o espaço indispensável para garantir a sobrevivência e a proteção integral dos filhos e demais membros, independentemente do arranjo familiar ou da forma como se vêm estruturando (KALOUSTIAN, 1988). A esses alunos foi perguntado:
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Tabela 4 Comportamento agressivo dos alunos Você costumabrigar ou discutir com alguém de sua casa? Sim
8 alunos
Não
10 alunos
TOTAL
18 alunos
Fonte: Pesquisa de campo
Àqueles que responderam sim, que costumam brigar em casa, foi perguntado com quem eles são habituados a isso, e os motivos para tal. Todos coincidentemente disseram que brigam e discute bastante com os irmãos, já os motivos foram diversos, como disputar os canais da televisão, seja quando um dedura os erros do outro para os pais, ou quando não querem dividir tarefas domésticas. Em sequência, perguntamos:
Tabela 5 Violência Doméstica Você já sofreu violência em sua casa por causa de: Sexualidade
Não- 18 alunos
Sim- 0 aluno
Opção religiosa
Não- 18 alunos
Sim- 0 aluno
Opção musical
Não-18 alunos
Sim- 0 aluno
Trabalho
Não-18 alunos
Sim- 0 aluno
Drogas
Não-18 alunos
Sim- 0 aluno
Outros/ Justifique.
Não-18 alunos
Sim- 0 aluno
Fonte: Pesquisa decampo
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Tabela 6 Agressões em casa Você já foi agredido fisicamente, ou apanha frequentemente de alguém de sua casa? Sim
18 alunos
Não
0 aluno
Fonte: Pesquisa decampo
Como foi unanime as respostas, pois todos responderam que já foram agredidos ou apanham frequentemente dentro de suas casas, procuramos saber quem é/foi o agressor , e o motivo para tal. Eis algumas respostas pertinentes a serem citadas aqui:
Apanho direto, só é eu aprontar um pouquinho que meu pai me bate com o que vê pela frente. (Aluno A) Minha mãe me bate quando eu apronto. (Aluno B) Quando faço alguma coisa errada, minha mãe ou meu pai me bate (Aluno C) Apanho muito quando eu abuso, mas meus pais são bons, eles são muito carinhosos comigo. (Aluno D) Quando eu vou pra rua escondido, pulo o portão sem ninguém ver pra entrar em casa, mas meu pai sempre me pega depois e me dá umas pancadinhas, eu choro e fico com raiva dele, mas depois passa e eu faço de novo. (Aluno E) Meu pai e minha madrasta me batem quando eu apronto, fico na rua até tarde. (Aluno F) Minha mãe, meu pai, minha irmã[...] só é chegar na hora de eu fazer o dever de casa, se eu errar uma letra eu apanho na cara. Todo dia é isso, eu já vou pra casa com medo, porque não gosto de apanhar na cara. As vezes fica marcado, e meu pai bate com a sandália em minha cara, isso dói muito. (Aluno G) Só é algum vizinho reclamar de mim, dizendo que eu tava na rua, apanha eu e minha irmã, porque ela é a mais velha e tem que me deixar em casa, se eu sair, apanha eu e ela. (Aluno H)
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Essas falas confirmam que os pais e responsáveis dessas crianças utilizam a força, a agressão física e a opressão como formas de castigar seus filhos por algo que eles fizeram que estava fora de suas regras e normas, atitudes essas que traumatiza. Como por exemplo, a afirmação do aluno “H”, que confessou os métodos que seus familiares usam para fazê-lo estudar. Avaliando sua fala, percebemos a dimensão da ferida que essa criança sente, afirmando que dói muito, o que com certeza deve machucar mais emocionalmente. Após esta novas perguntas aprofundaram essa questão, como segue: Para você, o que é violência doméstica? A esta pergunta novamente a unanimidade se fez presente, pois todos responderam que não fazia ideia do que seria a violência doméstica, o que levou alguns a se arriscarem citando uma à duas palavras que para eles respondiam a questão, sendo elas: ofensa, bater, morte, briga, facadas, castigo. Para tanto, explicamos rapidamente o que seria esse tipo de violência, e perguntamos se eles se sentiam vítimas dela. Abaixo, as respostas no Gráfico1 para melhor entendermos: Gráfico 1
Alunos que se consideram vítimas da violência doméstica 80% 70% 60% 50% 40% 30% 20% 10% 0% Sim
Não
Não sabe
Fonte: Pesquisa de campo
Constatamos com as informações acima, que nenhum aluno soube responder o que seria a violência doméstica, mas quando questionados se
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eles se sentiam vítimas, apenas dois alunos responderam que sim, sendo que um deles justificou sua resposta afirmando se sentir ameaçado pela mãe diariamente. Desses, 13 alunos disseram não se sentir vítima, e 3 alunos afirmaram estar em dúvida, não sabendo responder a essa questão. Percebemos assim que esses alunos, que afirmaram na questão anterior serem agredidos fisicamente em casa, e afirmaram em outra questão que os pais não se faziam presentes em sua formação, na grande maioria não se consideram vítimas, e sim os culpados por receberem esse tratamento, já que dos 18 alunos que assumiram apanhar com frequência em suas casas, todos justificaram essa repressão como sendo uma punição pelos seus atos. Chama bastante à atenção a fala do Aluno G, que disse apanhar no rosto a chineladas todos os dias no momento de fazer a lição de casa. Levando-se em consideração que se trata de uma criança na faixa de 7 a 12 anos, vale mencionar novamente o fato de essa criança refletir na escola tudo que ela passa em casa, atentando que para cada ato agressivo dos pais, existe uma justificação de culpa, o que acaba nos revelando uma realidade bastante estudada e pouco mudada. Esses alunos que moram em bairros de alta periculosidade, confessaram em sua maioria que apanham porque saem para brincar nas ruas, escondido dos pais, portanto confessam sua culpa e se sentem no dever de serem punidos pelos abusos. A esse respeito, Niskier4(2011) diz:
O direito, que muitos adultos acreditam ter, de castigar crianças, tanto física quanto psicologicamente, estrutura-se no discurso de que a criança apanha porque merece. Isso leva a vítima a acreditar que é merecedora de maus-tratos. Da palmada, que nada mais é do que uma pancada, à tortura de ser seviciada com uma colher em brasa, o caminho pode ser, muitas vezes, mais curto do que parece.(NISKIER, 2012).
Só reafirmando o que já foi mencionado neste trabalho, crianças e adolescente que passam por situações como às informadas acima, só pode 4
Disponível em http://www.sbp.com.br/show_item2.cfm?id_categoria=52&id_detalhe=4051&tipo_detalhe=s
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reagir de forma agressiva, passando a maior parte de seu tempo tentando se defender, mostrando ser uma pessoa que não é, e sucessivamente sendo prejudicada em seu processo de aprendizagem, já que a concentração, a auto estima, e o comportamento foram afetados. Dando continuidade a nossa pesquisa, os alunos foram questionados sobre o convívio familiar, vejamos as repostas: Tabela 7 Convívio Familiar Você considera que tem um bom convívio familiar? Sim
Não
18 alunos
0 aluno
Fonte: Pesquisa de campo
Respectivamente perguntamos:
Tabela 8 Atividade no tempo livre O que você faz no seu tempo livre fora da escola? Fazendo tarefas domésticas
3 alunos
Em casa assistindo TV
7 alunos
Vai para a casa de outros responsáveis Fica em casa no computador
2 alunos
Na rua brincando
2 alunos
Em casa estudando
2 alunos
TOTAL
18 alunos
Fonte: Pesquisa de campo
2 alunos
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Percebe-se que ainda não recebendo o tratamento adequado, os alunos consideram que tem um bom relacionamento familiar com os outros membros de sus casa. Sobre o que fazem nos momentos vagos, 7 alunos responderam que ficam em casa assistindo desenhos, 3 fazem tarefas domésticas, 2 ficam em casas de outros responsáveis pois os pais não permitem que fiquem em casa sozinhos por conta da idade, 2 ficam no computador de suas casas, 2 ficam na rua, e 2 ficam em casa estudando. Eles aproveitam o tempo livre de formas parecidas, pois a grande maioria fica em casa, sendo que boa parte desses só tem a companhia dos irmãos mais velhos, já que os pais trabalham durante o dia. Perguntamos a esses alunos: Tabela 9 Agressão entre os Pais Você já presenciou algum tipo de agressão entre seus pais/ responsáveis? Sim
Não
TOTAL
9 alunos
9 alunos
18 alunos
Fonte: Pesquisa de campo
Para os que responderam sim, questionamos se eles sabiam as razões para as brigas, abaixo algumas falas que se destacaram:
Minha mãe fica no bar com as amigas, e quando ela chega em casa meu pai reclama, aí minha mãe bate nele e ele desconta. Teve uma vez que minha mãe deu queixa de meu pai na polícia, mas meu pai não foi preso não. (Aluno A) Quando meu pai chega em casa bêbado, ele acorda minha mãe pra bater nela, aí ela começa a gritar e chamar os vizinhos, mas depois meu pai fica bom de novo e passa. (Aluno B) Minha mãe bebe e quando chega em casa meu pai bate nela. (Aluno C) Meu pai usa drogas e quando ele chega em casa drogado minha mãe bate nele e meu pai desconta. (Aluno D)
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Meu pai bate na minha madrasta sem ela ter feito nada, e ela desconta e os dois ficam em casa se batendo. (Aluno E) Meu pai tem outra mulher e minha mãe sabe, mas quando ele recebe dinheiro, ele sempre dá a maior parte pra outra mulher, aí minha mãe bate nele. Teve uma vez que minha mãe apertou nas coisas dele até ele desmaiar, ele foi pro hospital e depois sarou. (Aluno F)
Mais outros alunos confessaram ter presenciado agressão entre os pais, e quando questionados sobre os motivos, disseram que não sabiam, só viam que eles brigavam. As falas acima chegam a ser absurdas para crianças, mas para elas esses conflitos já estão inseridos em suas rotinas, o que acaba interferindo no seu processo de desenvolvimento, pois esses pais passam uma referência de família equivocada, falida e agressiva, levando seus filhos a futuramente seguir seus exemplos. Mas, enquanto esses jovens não chegam a fase adulta, enfrentam no dia a dia as dificuldades em se relacionar, em se comportar, em entender o que lhe está sendo ensinado, atitudes que deveriam estar acessíveis à essas crianças, mas pelo convívio conturbado e hostil, passa a ser inatingível e cada vez mais raro. É certo afirmar que nem toda criança que é vítima de um lar agressivo se torna agressiva, pois essa informação depende também dos elementos que constituem a personalidade da criança, pois para Pesceet al (2008, apud Bronfrenbrenner, 1979; Garbarino, 1999,p.24), o comportamento agressivo e destrutivo, depende de alguns elementos que constituem a criança e seucontexto: gênero, temperamento, competência cognitiva, idade,família, vizinhança, sociedade e cultura. O temperamento, no nívelindividual, exerce uma importante influência no desenvolvimentoinfantil, uma vez que influencia em como a criança pensa e sente osacontecimentos a sua volta.(PENSCE, 2008; BRONFRENBRENNER, 1979; GARBARINO, 1999, p.24).
Portanto, é imaturo generalizar a violência doméstica como a única causa da agressividade na sala de aula, pois existem outras razões que interfere nesse processo de formação de personalidade da criança e adolescente.
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Perguntamos à essas crianças se na opinião deles, o que leva um pai, mãe ou responsável a agredir seus filhos. A maioria deles responderam que o que motiva os pais a agredirem seus filhos é o fato de o filho abusar em casa, e aprontar na rua. Mais uma vez, esses alunos se culpam o tempo todo, se sentem na obrigação de serem agredidos por seus possíveis erros. Dando continuidade, perguntamos se em casa eles tem acesso a computador, livros e notícias. Dos 18 alunos entrevistados, 16 afirmaram que em suas casas só tinham acesso a notícias por meio da televisão, e os outros dois disseram que tinham computador em casa e que seus pais os deixavam livres para acessarem o que eles mais gostavam. Todos afirmaram ter livros e revistas em casa, mas não tem o costume de ler. Abaixo, mais uma pergunta: Tabela 10 Falta de alimento em casa Você já passou pela situação de falta de alimento em sua casa? Sim
Não
TOTAL
6 alunos
12 alunos
18 alunos
Fonte: Pesquisa de campo
Nessa questão, foi percebível o nível de constrangimento que os alunos apresentaram para responder. Todos baixavam a cabeça e paravam pra pensar, como se fossem revelar um segredo, portanto, vale afirmar que os alunos que responderam que nunca faltou alimento em suas casas, deixaram transparecer que sim, que já faltou em algum momento alimentos em suas casas. Desses 6 alunos que assumiram a falta de alimento em suas casas, houve um que revelou no momento da entrevista, que havia tomado café de manhã, e estava só aguardando o horário do lanche pra ele almoçar, pois em sua casa não tinha comida, e a mãe o mandava para a escola todos os dias, porque sabia que lá ele teria o que comer. Para essas crianças, falar de alimentação era o limite da humilhação, pois seus rostos mudaram no momento da pergunta.
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Ao serem perguntados sobre a nota que eles daria a escola, numa escala de 0 a 10, 10 (dez) alunos atribuiu à escola a nota 10 e justificaram dizendo que gostam da escola, 4 (quatro) alunos avaliou a escola com a nota 5 (cinco), disseram que a escola é boa, mas falta muita água e por conta disso eles ficam sem aula. E os outros 4 alunos deram a nota 7 (sete) a escola, pois afirmaram gostar do ambiente, mas o ciclo de violência nos corredores contribuiu para que a escola perdesse pontos.
Em seguida,
questionamos:
Tabela 11 Escola e família Você acha que sua escola ajuda na convivência com sua família? Sim
18 alunos
Não
0 aluno
TOTAL
18 alunos
Fonte: Pesquisa de campo
Os alunos não souberam justificar suas respostas, apenas afirmaram que a escola contribui para a convivência com a família. Para a questão da interação família/escola, aplicamos esta pergunta de múltipla escolha:
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Tabela 12 Família e formação escolar A sua família (pais/responsáveis) participam de sua formação na escola? Sim
14 alunos
Não
2 alunos
Não participa muito
2 alunos
Está sempre presente nas atividades Acompanham notas, estudos, etc
5 alunos
Algumas vezes vão as reuniões
9 alunos
Outros
0 alunos
8 alunos
Fonte: Pesquisa de campo
Através dessas informações, novamente notamos uma contradição com os dados obtidos pelas professoras, onde elas afirmam que esses alunos não são assistidos por seus pais. Questionamos aos alunos informantes, como eles costumam resolver um conflito com um colega de escola, e pedimos que eles justificassem suas respostas. A maioria deles respondeu que resolve na base da conversa porque fica mais fácil, uma minoria que corresponde a 11% desses alunos, disseram que não tem paciência para conversar, e que chama logo para briga. Então perguntamos se os pais deles costumam conversar com eles, quando se viam diante de algum conflito. Para esta questão, as respostas foram divididas, sendo que 60% dos alunos disseram que os pais conversam, mas não justificaram como se dá essa interação, e 40% deles disseram que não, que os pais não tem tempo para conversa. Vale destacar que esta foi uma questão aberta, onde foi dado a esses alunos a oportunidade deles se justificarem, mas nenhum quis falar sobre o assunto. Para finalizar, pedimos que os alunos citassem de 3 a 4 palavras que para eles representasse as consequências da violência doméstica em sua formação escolar. A principio obtivemos respostas com palavras desconexas
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e sem sentido, mas levamos em consideração que se trata da visão deles e não nossa, assim destacamos algumas falas:
Revolta, vingança, atrapalha nos estudos. (Aluno A) Revolta, tristeza. (Aluno B) Maltrata, destrói corações, causa tristeza. (Aluno C) Medo, tristeza. (Aluno D) Droga, álcool, bate nas pessoas. (Aluno E) Bate, dá murro, pontapés. (Aluno F) Pega a faca, bate, mata, briga. (Aluno G) Ódio, separação, infelicidade. (Aluno H) Faz maldade com as crianças, espanca e amedronta. (Aluno I)
Diante dessas falas, fica a impressão que a violência doméstica deixa na vida da criança e do adolescente. Como eles citaram, ela destrói, maltrata, expande tristezas e traz infelicidade. São jovens que em sua maioria não se sentem vítimas, mas sim a causa do problema, e que além de tudo, tem zelo por suas famílias, mencionando em todo o momento que seus pais são bons, que o relacionamento que se tem dentro de casa é bom. Percebe-se nas falas o tom de medo que é expressada nelas, e isso foi apenas uma conversa com duração de poucos minutos, o que nos leva a refletir o que essas crianças suportam dentro de suas casas, e quão habituadas a essa convivência elas estão, trazendo para a escola dificuldades que tem origem doméstica, e estudam numa escola em que os profissionais não conseguem dar conta da violência interna. Seria oportuno trazer para essa pesquisa apenas as impressões do professor, aquilo que ele vivencia dentro de seu contexto de trabalho, mas com certeza as informações trazidas por esses alunos nos leva a repensar no modelo de família atual, nos leva a olhar o outro com mais atenção, já que a escola deve ser trabalhada em conjunto.
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5. CONSIDERAÇÕES FINAIS
No presente estudo, tratou-se dos efeitos da violência doméstica como uma implicação na aprendizagem. Por ser um fenômeno que vem atingindo a sociedade de forma gradativa, a violência doméstica ainda é um problema complexo que acarreta várias questões, como sociais, culturais, psicológicos e outros. Sua diferença para os outros tipos de violência, é que esse tem sua estreia dentro do lar da vítima, proporcionando a esta uma sensação de insegurança, desespero e tristeza. Nesse trabalho, trouxemos os possíveis conceitos da violência doméstica de acordo com os teóricos que embasaram essa pesquisa, foi mostrado também a tipologia desse fenômeno, já que por se tratar de violência as pessoas ainda assimilam o termo com a agressão física, não tomando conhecimento que dentro desse processo, ainda existem outros vários tipos de violência doméstica inseridos nesse contexto, como a violência psicológica, sexual, negligência, entre outros que acarreta danos seríssimos na vida do indivíduo, podendo ser carregados para sempre. Tivemos a oportunidade de efetivar essa pesquisa numa escola municipal de Salvador, onde pode-se observar e conversar com um grupo de professoras e alunos. Nessa etapa, foi iniciada a entrevista perguntando as professoras sobre o entendimento delas por esse tipo de violência. Através das respostas das docentes foi constatado que estas apenas tinham uma ideia inicial do que seria a violência doméstica, mas algumas ainda caiam no equívoco de achar que a violência doméstica era apenas a agressão física contra seus alunos, já que a agressão deixava resquícios aparentes, pois o aluno não precisava anunciar algo que todos estavam vendo. Ainda assim nos deparamos com uma professora que confessou preferir não saber, já que esta se sentia despreparada para lidar com o problema, sendo para ela mais viável a omissão. No decorrer da pesquisa, o que foi apresentado com as ideias dos teóricos foi comprovado no processo de prática na sala de aula. As docentes testificaram que seus alunos refletem na sala de aula tudo aquilo que eles vivenciam em suas casas, sendo assim prejudicados em sua aprendizagem
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pela falta de concentração, motivação, e com comportamentos cada vez mais agressivos com seus pares. Foi contestado também por essas informantes, o papel da escola em meio aos problemas da sala de aula já que, para as professoras, a escola era omissa às necessidades dos alunos e dos professores, fazendo apenas aquilo que ela achava que cabia a ela, que era chamar os pais e responsáveis para reuniões que quase sempre não acontecia, pois a ausência desses pais era frequente no âmbito escolar. Diante dessas indagações, pôde-se refletir na inversão de papéis que ocorre hoje nas escolas, já que os pais delegam à escola a obrigação de educar e disciplinar seus filhos, por sua vez, a escola não se esforça para fazer um trabalho em conjunto com toda a comunidade escolar, deixando assim, as questões da sala de aula para o professor resolver. Em meio a tantas obrigações, o professor ainda se vê obrigado a tratar de problemas familiares de seus alunos, e isso sem nenhuma preparação, pois como já foi declarado pelas docentes, a maioria delas, apesar da quantidade de tempo atuando em sala de aula, não se veem preparada para lidar com casos de violência doméstica em suas classes, e a escola não fornece cursos, palestras e nem reuniões docentes para instruílas a se comportar de forma adequada, correndo assim o risco dessas docentes tomarem qualquer atitude precipitada e pôr em risco a vida dessas crianças. Entretanto, conversamos também com os respectivos alunos dessas professoras, que se mostraram leigos no que se referia à violência doméstica, mas do decorrer da entrevista, apresenta ser possíveis vítimas de vários tipos dessa violência, como negligência, agressão física e até mesmo a violência psicológica. Fazendo uma análise com a falas das professoras, percebemos que esses alunos se mostravam agressivos na sala de aula, com um aproveitamento de aprendizagem decadente, pois a sua grande maioria não sabem ler e escrever, e não se mostram incomodados com esse fato, já que apresentam um comportamento péssimo dentro da sala de aula. Aprofundando mais um pouco com os alunos, compreendemos que eles não se sentiam vítimas da violência doméstica, ao contrário,
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acreditavam que os “castigos” dado pelos pais e responsáveis, eram punições por algum ato que contrariasse as regras dos pais. E assim, podese refletir que esses alunos já se estavam habituados a essa convivência, afirmando terem uma boa relação familiar e apresentando afeto pelos pais. Encontramos nos pais, descritos por seus filhos, pessoas que na sua maioria davam exemplos de bebedices, drogas e brigas, sendo estas dentro do âmbito familiar. Com este trabalho concluímos que a violência doméstica interfere sim não só na questão do aprendizado do aluno, mas em toda sua formação escolar, e em todos os aspectos de suas vidas. Ainda que sendo usada para corrigir mau comportamento, e ainda que aplicada como forma de punição, esse tipo de violência pode implicar de maneira contrária, atraindo cada vez mais crianças e adolescentes para fora de casa e garantindo sua inserção no mundo da criminalidade, já que estes jovens podem se sentir revoltados com tantas atrocidades vindas de pessoas que deveriam estar no papel de protetores. Não pretendemos com este trabalho apresentar resultados definitivos, até porque a violência doméstica vem se qualificando no decorrer dos tempos, pois o modelo que se tem de família e educação também vem se transformando. Mas, o que almejamos aqui é colaborar para uma reflexão mais atenta a este tema, mostrando que não é preciso uma investigação profunda nas escolas para encontrar crianças que são vítimas de violência dentro de suas casas. É necessário expandir esse tema dentro do contexto educacional, para que a comunidade escolar procure meios de prevenção e até mesmo conhecer e saber conceituar este problema, pois nos deparamos com professoras desesperadas que confessaram seu despreparo, e que este trabalho pôde possibilitá-las a perceberem outras crianças em suas classes que são vítimas de descaso, abandono e negligência, que são tipos de violência doméstica, mas que essas profissionais não conseguiam enxergar por conta da inaptidão, assim como parte da sociedade atual que não tem ideia do que a violência doméstica pode fazer na vida de um indivíduo.
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APÊNDICES
Questionário aplicado aos professores da Escola Municipal Governador Roberto Santos
1. Identificação: Nome: Idade: Sexo: Formação: Turma: Estado Civil: Período de experiência na profissão: Período que trabalha na escola: Você tem filhos? Quantos? 2. O que você entende por violência? 3.Qual seu entendimento de violência doméstica?
4.Você percebe situações de violência no cotidiano escolar: a) Entre alunos b) Entre os demais funcionários (diretor, professor, etc.) Comente:
5. Você já notou em sua turma algum aluno que sofre de violência doméstica? Como você conseguiu perceber? 6.Para você, o que leva esses pais/responsáveis a agirem com violência contra seus filhos?
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7.Como você se posiciona em sala de aula diante de tal situação? a) Com indiferença por não reconhecer o problema como familiar. b) Sem saber como agir. c) Trabalhando em conjunto com a escola, dialogando com a família e com o aluno. Comente.
8. Quais atitudes a escola toma para prevenir ou combater a violência doméstica? 9. Esse tipo de violência interfere no processo de aprendizagem do aluno? Como?
10.Quais os tipos de violência doméstica você acredita que esses alunos sofram? ( ) Negligência ( ) Sexual ( ) Física ( ) Psicológica ( ) Social ( ) Outros
11. Em sua opinião, como esse tipo de violência reflete na sala de aula? 12. O que a seu ver, a escola pode fazer para contribuir para a diminuição da violência doméstica? 13. Cite 3 ou 4 palavras que para você representam as consequências da violência doméstica para o aprendizado e formação do cidadão.
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Questionário aplicado aos alunos do 4º ano do ensino fundamental da Escola Municipal Governador Roberto santos
Identificação Nome: Idade: Sexo: Série: Religião: Tipo de música favorita:
1. Quantas pessoas moram com você? Justifique quem são. 2. Seus pais/ responsáveis trabalham? Qual a profissão? 3. Seus pais/responsáveis costumam vir a escola para saber como está seu comportamento? ( ) Sim ( ) Não / Porquê? 4. Você costuma brigar ou discutir com alguém de sua casa? ( ) Sim ( ) Não Quais os motivos? 5. Você já sofreu violência em sua casa por causa de: ( ) Sexualidade ( ) Opção Religiosa ( ) Opção Musical ( ) Trabalho ( ) Drogas ( ) Outros/ Justifique. 6. Você já foi agredido fisicamente, ou apanha frequentemente de alguém de sua casa? ( ) Sim ( ) Não / Porquê? 7.Você considera que tem um bom convívio familiar? ( ) Sim ( ) Não/ Justifique. 8. O que você faz nos seus tempos livres fora da escola? 9.Você já presenciou algum tipo de agressão entre seus pais/responsáveis? ( ) Sim ( ) Não / Justifique.
10. Para você, o que é violência doméstica?
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11. Você se sente vitima desse tipo de violência? ( ) Sim ( ) Não / Justifique 12. Em sua opinião, o que leva um pai/mãe/responsável a agredir o filho? 13. Em sua casa você tem acessoa computador, livros, notícias? 14. Você já passou pela situação de falta de alimento em casa? ( ) Sim ( ) Não 15. Em uma escala de 0 a 10, que nota você daria a sua escola? Porquê? 16. Você acha que sua escola ajuda a convivência com sua família? ( ) Sim ( )Não / Justifique.
17. (Múltipla Escolha)A sua família (pais/ responsáveis) participam de sua formação na escola? ( ) Sim ( ) Não / Como? a) b) c) d) e)
Não participa muito Algumas vezes vão as reuniões Está sempre presente nas atividades Acompanham notas, estudos, etc. Outros / Justifique
18. Como você resolve um conflito com um colega de escola? Justifique. 19. Seus pais/responsáveis costumam conversar com você quando se veem diante de um conflito? Como eles agem? 20. Cite 3 ou 4 palavras ou frases que para você representam as consequências da violência doméstica na sua formação escolar.