CULTURA CORPORAL INTERFACES COM A PSICOMOTRICIDADE

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Cultura Corporal: Interfaces com a Psicomotricidade

Cultura Corporal: Interfaces com a Psicomotricidade Autor: Leonardo Augusto D’Almeida Barros Como citar este documento: Barros, Leonardo Augusto D´Almeida. Cultura Corporal: Interfaces com a Psicomotricidade. Valinhos: 2016.

Sumário Apresentação da Disciplina Unidade 1: Crianças corpo-vida: trajetórias da cultura corporal e relação corpo/movimento no processo de aprendizagem vivido na escola Assista a suas aulas Unidade 2: Representação e comunicação sociocultural pelo movimento Assista a suas aulas Unidade 3: As diferentes formas de expressão do corpo e sua construção histórica: o brincar com elementos do jogo, do esporte, das lutas, da ginástica Assista a suas aulas

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Cultura Corporal: Interfaces com a Psicomotricidade Autor: Leonardo Augusto D’Almeida Barros Como citar este documento: Barros, Leonardo Augusto D´Almeida. Cultura Corporal: Interfaces com a Psicomotricidade. Valinhos: 2016.

Sumário Unidade 4: Apreciar, executar, criar e refletir: a cultura corporal e as concepções de orientação temporal e espacial Assista a suas aulas Unidade 5: Percepção da formação da personalidade por meio do movimento Assista a suas aulas Unidade 6: Psicomotricidade e o desenvolvimento motor: percepção do esquema corporal e consciência do corpo Assista a suas aulas

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Cultura Corporal: Interfaces com a Psicomotricidade Autor: Leonardo Augusto D’Almeida Barros Como citar este documento: Barros, Leonardo Augusto D´Almeida. Cultura Corporal: Interfaces com a Psicomotricidade. Valinhos: 2016.

Sumário Unidade 7: O corpo lúdico e as descobertas por meio de jogos e manifestações culturais Assista a suas aulas Unidade 8: O trabalho do educador na Educação Infantil: diálogos com as culturas corporais Assista a suas aulas

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Apresentação da disciplina Ao pensarmos em Educação Infantil, provavelmente nos vêm à cabeça inúmeras imagens mentais, como: bebês, crianças, pais que trabalham e precisam deixar seus filhos em segurança, alimentação, higiene, proteção, aprendizado, entre outras tantas ideias. Entretanto, além destas representações, faz-se urgente pensar em corpos em movimento, aprendizado e desenvolvimento a partir da relação entre corpo, mente e cultura. Esta disciplina tem como objetivo incluir os corpos das crianças em todo o processo de ensino-aprendizagem, pois entende-se que os corpos devem ser incluídos e valorizados como inerentes ao processo de desenvolvimento, findando com a dicotomia entre o corpo e a mente, ou físico-cognitivo. 5/219

É importante ressaltar que a formação de um educador que reconhece a importância da criança em movimento coaduna-se com a relação com a cultura, isto é, um corpo cultural em movimento, que é sujeito histórico e de direito, produtor cultural. Este olhar crítico e sensível é que devemos trazer para dentro da escola, atuando com crianças a partir de uma perspectiva de construção de um sujeito, de um corpo inteiro que necessita de experiências ricas e significativas para o seu desenvolvimento integral. Sabemos que as instituições de Educação Infantil, por um longo tempo, foram compreendidas apenas como lugares para cuidar das crianças pequenas, mas hoje nossa sociedade assume que a instituição escolar tem como responsabilidade oferecer um es-

paço rico em estímulos, para que, a partir de diferentes abordagens, as crianças possam vivenciar esta etapa educativa tão importante com qualidade, seja em termos de seu desenvolvimento cognitivo, afetivo, social ou físico. Assim, nosso objetivo é que você possa refletir que planejar atividades para as crianças pequenas perpassa pela compreensão de que elas sentem, pensam e vivenciam o mundo de forma particular e subjetiva. O que exige que o educador atue exercitando uma pedagogia da escuta, o que implica reconhecer a criança com todos os seus sentidos. As crianças possuem uma linguagem específica e própria para se comunicar, e o professor deve reconhecer que esta se relacio6/219

na com os gestos, os choros, afagos, mordidas, palavras, enfim, uma infinidade de linguagens, que Loris Malaguzzi compreendeu com muita propriedade quando escreveu as “Cem linguagens das crianças”. Perceba que os bebês e as crianças encontrarão em seus corpos um mecanismo privilegiado para estabelecer esta comunicação, portanto, o educador não pode furtar-se de perceber como a criança e seu corpo criam, recriam, ressignificam o mundo que as cerca. Estas manifestações serão extremamente importantes, porque manifestam a construção do sujeito e sua relação com o conhecimento/reconhecimento com o mundo que lhe é imediato. Se, por um lado, esta é a beleza da representação do ato educativo na Educação Infantil, por outro é um grande

desafio aos educadores. Por fim, todos nós temos a responsabilidade de trabalhar em conjunto em prol de uma educação de qualidade, não só no sentido de propiciar às crianças um espaço seguro para o seu desenvolvimento, ou ambiente propício à leitura e escrita, mas especialmente na criação de um espaço no qual sejam educados e cuidados seus corpos, suas mentes, sua cultura e sua história. Em nossa disciplina discutiremos os aspectos clássicos da Educação Física relacionados à psicomotricidade, mas também buscaremos compreender que o processo de desenvolvimento físico-motor não está separado do desenvolvimento cultural da criança, da sua consciência corporal e da consciência como sujeito. O respeito pelo 7/219

processo de individualização deve ser a marca da criação do sujeito, o qual possui necessidades educativas, de afeto e ritmos próprios às suas especificidades enquanto seres sociais e como indivíduos.

Unidade 1 Crianças corpo-vida: trajetórias da cultura corporal e relação corpo/movimento no processo de aprendizagem vivido na escola

Objetivos 1. Apresentar as principais características da trajetória psicomotora das crianças. 2. Compreender o que são os estágios de desenvolvimento humano de acordo com Piaget e Gallahue. 3. Conhecer diferentes relações entre os estágios e a vida das crianças.

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Introdução Para iniciarmos nossas reflexões, gostaria de pontuar que o conceito de cultura corporal será o horizonte de análise que permeará todas as construções conceituais que iremos desenvolver ao longo desta disciplina. Assim, para que você já possa se apropriar desta categoria conceitual, apresento que cultural corporal deve ser compreendida como

Acervo de formas de representações do mundo que o homem tem produzido no decorrer da história, exteriorizadas pela expressão corporal: jogos, danças, lutas, exercícios, ginásticas, esporte, malabarismo, contorcionismo, mímica e outros que podem ser identificados como formas de representação simbólica de realidades vividas pelo homem, historicamente criadas e culturalmente desenvolvidas. (SOARES, 1992, p. 38).

O desenvolvimento humano ao qual procuramos nos aproximar é analisado pelo viés educacional, mas também pela ótica da constituição do corpo-infância e do corpo-vida, tal como o debate promovido por tantos teóricos contemporâneos, mas especialmente Arroyo e Silva (2012) e Neira (2008). Nesta trajetória nos interessa perceber que a todo momento somos estimulados e daí a urgência em refletir sobre a função da Educação Física para a Educação Infantil e suas implicações para a constituição das representações imagéticas sobre seus corpos. 9/219

Unidade 1 • Crianças corpo-vida: trajetórias da cultura corporal e relação corpo/movimento no processo de aprendizagem vivido na escola

Neste momento você estudará sobre os estágios de desenvolvimento humano que são inerentes ao processo de desenvolvimento dos seres humanos. Nosso objetivo é analisar, discutir e valorizar o processo de desenvolvimento da criança antes e durante o processo de inserção no contexto escolar. Perceba que estamos apresentando um educador que está atento não somente aos cuidados de segurança e higiene das crianças, os quais são constitutivos da vida na Educação Infantil, mas também de um profissional que está atento aos diferentes referenciais necessários para educar uma criança como um sujeito em processo de desenvolvimento educativo.

Para saber mais Recomendo que você leia o artigo “O CUIDADO E A EDUCAÇÃO ENQUANTO PRÁTICAS INDISSOCIÁVEIS NA EDUCAÇÃO INFANTIL”. Disponível em: . Acesso em 29 set. 2016.

Compreendendo que na Educação Infantil o cuidado e a educação são indissociáveis, refletiremos sobre os arcabouços de Gallahue e Ozmun (2003), Go Tani (1988), Piaget (1977), entre outros, que nos apresentam diferentes momentos no desenvolvimento humano. Assim, perceba que nosso objetivo é estabelecer esta interface entre a cultura corporal

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Unidade 1 • Crianças corpo-vida: trajetórias da cultura corporal e relação corpo/movimento no processo de aprendizagem vivido na escola

e o desenvolvimento motor, o qual pode ser analisado como uma contínua alteração no comportamento motor, durante o processo permanente de aprender a mover-se com controle e competência, ao longo do ciclo da vida, relacionando-se à idade cronológica, mas independente dela, que apenas fornece estimativa aproximada, ocorrendo da interação das necessidades e exigências das tarefas motoras, a biologia do indivíduo e as condições do ambiente. (GALLAHUE; OZMUN, 2003). Estes e outros conceitos serão tratados nesta e nas demais aulas desta disciplina, sempre a partir de diferentes olhares, com exemplos baseados no cotidiano escolar, com o objetivo de enriquecer o seu repertório de possibilidades de atuação na Edu11/219

cação Infantil, e especialmente preocupado com o viés de colocar a criança como centro do planejamento didático-pedagógico.

1. Aproximações do corpo-vida/ corpo-infância O desenvolvimento da criança em suas dimensões biopsicossociais-culturais exige que possamos compreender os fundamentos fisiológicos de seu desenvolvimento para que possamos compreender seu corpo-vida e seu corpo-infância. Uma criança, quando nasce, chega ao mundo com os movimentos reflexos, tais como: o ato de respirar e sugar. Estas ações são relevantes em termos de sobrevivência, mas também como uma das primeiras relações com o mundo.

Unidade 1 • Crianças corpo-vida: trajetórias da cultura corporal e relação corpo/movimento no processo de aprendizagem vivido na escola

De acordo com Garanhani (s/d, p. 2017),

Na pequena infância o corpo em movimento constitui a matriz básica, em que se desenvolvem as significações do aprender, devido ao fato de que a criança transforma em símbolo aquilo que pode experimentar corporalmente e seu pensamento se constrói, primeiramente, sob a forma de ação. A criança pequena necessita agir para compreender e expressar significados presentes no contexto histórico-cultural em que se encontra.

Para saber mais

Os movimentos reflexos são movimentos involuntários que representam estímulos sensoriais nas crianças, especialmente quando nascem. Quando você coloca o dedo na palma da mão de uma criança e ela fecha, é um exemplo de movimento reflexo.

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Unidade 1 • Crianças corpo-vida: trajetórias da cultura corporal e relação corpo/movimento no processo de aprendizagem vivido na escola

Após ao nascimento as interações da criança com o mundo e com o seu próprio corpo tornam-se cada vez mais intensas. Acompanhar o desenvolvimento motor da criança é fundamental tanto para seu processo de maturação, crescimento, como para a aquisição e reorganização psicológica. Este reconhecimento sobre o próprio corpo, como mordidas e agarradas nos pés, contemplação das mãos, entre muitos outros, será fundamental para que as crianças possam construir as habilidades relacionadas ao seu desenvolvimento relacionado ao domínio motor, cognitivo e emocional. Ainda referente a este processo de desenvolvimento, podemos pontuar que

O desenvolvimento físico normal é caracterizado pela maturação gradual do controle postural pelo desaparecimento dos reflexos primitivos, em torno de 4 a 6 meses de idade, como o reflexo de Moro; o reflexo tônico cervical assimétrico (RTCA); o reflexo de Galant; os reflexos plantares; os reflexos orais e pela indução das reações posturais (retificação e equilíbrio). 13/219

Unidade 1 • Crianças corpo-vida: trajetórias da cultura corporal e relação corpo/movimento no processo de aprendizagem vivido na escola

Em uma avaliação dos reflexos primitivos torna-se relevante observar que, mesmo quando presentes na idade esperada, deve-se avaliar se a sua intensidade é adequada para aquela fase. De modo geral, estes reflexos primitivos estarão presentes durante os primeiros seis meses de vida, e serão paulatinamente inibidos, na medida em que padrões de endireitamento e de equilíbrio forem surgindo. Assim, o desenvolvimento motor como processo gradativo de refinamento e integração das habilidades e dos princípios biomecânicos do movimento, de modo que o resultado seja um comportamento motor consistente e eficaz. A eficácia é alcançada na prática de um comportamento. (CARVALHO, 2011, p. 13).

Perceba que todo este processo será fundamental para o desenvolvimento integral da criança. Logo em seu primeiro ano de vida, o desenvolvimento das crianças (em sua maioria) é algo muito dinâmico. Este desenvolvimento, que também é cultural, implica em perceber que a criança começa a manifestar suas primeiras predileções, tais como: o bebê que adora determinado brinquedo começa 14/219

Unidade 1 • Crianças corpo-vida: trajetórias da cultura corporal e relação corpo/movimento no processo de aprendizagem vivido na escola

a perceber diferentes formas de chegar até ele, e cada forma com maior eficiência, então o bebê começa a se arrastar, mas logo depois percebe que pode engatinhar e chegar mais rápido até o brinquedo; neste processo contínuo a exploração sobre o próprio corpo será cada vez mais intensa. O desenvolvimento das funções cognitivas será responsável por influenciar de forma dinâmica a estruturação do pensamento lógico.

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Para saber mais Recomendo que você leia a dissertação “O DESENVOLVIMENTO MOTOR NORMAL DA CRIANÇA DE 0 A 1 ANO: ORIENTAÇÕES PARA PAIS E CUIDADORES”. Disponível em: . Acesso em 29 set. 2016.

Gostaria de chamar a sua atenção que o desenvolvimento motor e cognitivo da criança não depende apenas de aspectos biológicos, mas também dos estímulos sociais e afetivos. A seguir apresento uma imagem sobre o desenvolvimento de um aspecto da motricidade dos bebês.

Unidade 1 • Crianças corpo-vida: trajetórias da cultura corporal e relação corpo/movimento no processo de aprendizagem vivido na escola

Figura 1 – O desenvolvimento do bebê em relação à psicomotricidade

Fonte: http://psicfadeup.blogspot.com.br/2011/07/desenvolvimento-motor.html. Acesso em 29 de setembro de 2016.

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Unidade 1 • Crianças corpo-vida: trajetórias da cultura corporal e relação corpo/movimento no processo de aprendizagem vivido na escola

Para Emmi Pilker, este processo de desenvolvimento da motricidade deveria ser livre, pois a experiência da criança faz com que ela amplie suas experiências e necessidades sobre o próprio corpo.

Enquanto aprende a contorcer o abdômen, rolar, rastejar, sentar, ficar de pé e andar, (o bebê) não apenas está aprendendo aqueles movimentos, como também o seu modo de aprendizado. Ele aprende a fazer algo por si próprio, aprende a ser interessado, a tentar, a experimentar. Ele aprende a superar dificuldades. Ele passa a conhecer a alegria e a satisfação derivadas desse sucesso, o resultado de sua paciência e persistência. (PILKER, 1940, s/p)

Em seus estudos, Pilker percebeu que a criança que se move em liberdade desenvolve autonomia e consciência corporal. Diferentemente de seus antecessores, ela refutou a ideia de que seria papel do adulto “ensinar” à criança as posições para que ela pudesse se desenvolver. O movimento livre implica que a criança não necessita da intervenção direta do adulto, pois isto não será uma precondição para a aquisição dos diferentes estágios do desenvolvimento, do equilíbrio e do movimento em si. Para ela, o fundamental é que a criança esteja em um ambiente que possibilite 17/219

Unidade 1 • Crianças corpo-vida: trajetórias da cultura corporal e relação corpo/movimento no processo de aprendizagem vivido na escola

este processo de experimentação, que permita que a criança tenha iniciativa e reflita sobre o movimento e o corpo. Como você pode analisar, o processo de equilíbrio permite que ela explore seu próprio corpo, bem como vivencie todas as possibilidades de desenvolvimento. Um aspecto que deve ser ressaltado é que a forma como as crianças descobrem o mundo é diversa, pois está relacionada a processos individuais e inscrita no contexto em que cada criança vive. Mas, observe que o corpo-vida cria a ligação entre suas dimensões biológica, social e cultural.

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Para saber mais Recomendo que você acesse os domínios sobre o desenvolvimento da criança. Disponíveis em: Acesso em 29 set. 2016.

É dentro deste mesmo espectro que pensamos no corpo-vida e no corpo-infância de nossas crianças, onde a Educação Infantil é um lócus privilegiado para que a criança possa realmente exercitar o seu momento de ser criança, e isto também implica aprendizagem corporal. Para Arroyo (2012), o corpo-infância apresenta-se em constante disputa pelas

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diferentes instituições, ou seja, o Estado, a escola, a família, a mídia, a religião expressa “marcas e tatuagens históricas das subjetividades e coletivos sociais”. Lembre-se de que este é um corpo biológico e social e o professor deve estar atento a este processo, para que possa compreender a criança como um ser integral.

Para saber mais

Recomendo que você leia o artigo “O corpo-infância nos “exercícios de ser criança” nas aulas de Educação Física na Educação Infantil e nos anos iniciais do Ensino Fundamental”. Disponível em: . Acesso em 29 set. 2016.

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2. Refletindo sobre os estágios de desenvolvimento humano Para que você compreenda o que são estágios do desenvolvimento, é necessário aprofundarmos nossa análise no processo do desenvolvimento humano, pois ele fornece importantes referenciais para os educadores da Educação Infantil. Aponto que a atual crítica sobre este referencial teórico está relacionada à questão de não compreender a criança em seu processo de subjetivação e de formação enquanto sujeito social. A Psicologia do Desenvolvimento exerceu forte influência sobre as propostas educativas ao longo do século XX no contexto brasileiro. Assim, apresentamos, na imagem a

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seguir, dois teóricos dentro desse referencial teórico, Piaget (pirâmide da esquerda) e Gallahue (pirâmide da direita): Figura 2 – Pirâmides comparativas entre Gallahue e Piaget

Fonte: O autor, adaptado de . Acesso em: 10 nov. 2016.

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Para saber mais Piaget foi um grande estudioso do desenvolvimento humano. Em sua teoria ele subdividiu o desenvolvimento humano em quatro estágios. Para que você tenha maior conhecimento sobre ele, recomendo que acesse a reportagem sobre sua biografia. Disponível em: . Acesso em 29 set. 2016.

Para que possamos ser mais assertivos, neste capítulo vamos nos pautar nos dois primeiros estágios da pirâmide baseada em Piaget e nos três primeiros estágios na pirâmide baseada em Gallahue. Assim, observe o quadro a seguir, atente-se que apenas abordaremos as fases correspondentes às faixas etárias presentes na Educação Infantil:

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Quadro 1 - Fases do desenvolvimento para Piaget e Gallahue

Fase do desenvolvimento Piaget

Sensório-motor (0 a 2 anos)

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Características A partir de reflexos neurológicos básicos, o bebê começa a construir esquemas de ação para assimilar mentalmente o meio. As noções de espaço e tempo são construídas pela ação. O contato com o meio é direto e imediato.

Fase do desenvolvimento Gallahue

Fase Motora Reflexiva (0 a 1 ano)

Características Período intrauterino aos 4 meses: Estágio de Codificação de informações. De 4 meses a 1 ano: Estágio de decodificação das informações.

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Pré-operatório (2 a 7 anos)

Denominado também como estágio da inteligência sim- Fase Motora Rudimentar bólica – pois a criança consegue criar símbolos para (0 a 2 anos) representar os objetos e lidar Fase Motora Fundamentalmente com eles. Camental racteriza-se pela interiori(2 a 7 anos) zação de esquemas de ação construídos no estágio anterior.

Do nascimento até 1 ano: Estágio de inibição de reflexos. De 1 a 2 anos: Estágio de pré-controle. De 2 a 3 anos: Estágio inicial (02 a 03 anos) - primeiras tentativas de realização dos movimentos. Estágios Elementar (04 a 05 anos) - aprimora-se a sincronização dos elementos temporais e espaciais, porém os padrões de movimentos são restritos ou exagerados.

Fonte: O autor.

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Compreender estes estágios servirá para ser uma vertente dentro do planejamento escolar relacionado ao desenvolvimento motor, bem como para nos aproximarmos de algumas características que as crianças pequenas poderão apresentar ao iniciarem sua socialização dentro da Educação Infantil. Gostaria de enfatizar que estes estágios não serão vivenciados de forma igual entre todas as crianças, até porque não podemos esquecer que elas possuem experiências múltiplas e características singulares.

diferenças, até por estarem em estágios diferentes. Tani et al. (1988) afirmam que “pode-se dizer que a ordem em que as atividades são dominadas depende mais do fator maturacional, enquanto o grau e a velocidade em que ocorre o domínio estão mais na dependência das experiências e diferenças individuais”. Como podemos perceber, dentro desta corrente teórica denominada de “Desenvolvimentista”, o fator ambiental é preponderante em relação ao cultural.

Conhecer os estágios do desenvolvimento é importante ao educador para que saiba quais os momentos que as crianças podem estar vivenciando. Mas, novamente enfatizo que as fases do desenvolvimento não são um padrão, uma vez que os alunos possuem 24/219

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Para saber mais Go Tani é um estudioso da Educação Física, formado em Educação Física pela Universidade de São Paulo, com mestrado e Doutorado em Hiroshima University. Dedica a sua vida em estudos da Educação Física voltados ao desenvolvimento humano.

Dentro da linha desenvolvimentista, além dos estágios do desenvolvimento, é importante ressaltar que o processo maturacional humano também está pautado nos seguintes itens: • Universalidade: Todas as crianças passarão por todas as fases de desenvolvimento; 25/219

• Intransitividade: Considerar que o desenvolvimento pleno das aprendizagens em cada estágio é fundamental para a consolidação dos estágios subsequentes e, ainda, que as características de cada período são incorporadas de forma qualitativa nas etapas posteriores; • Crescimento: Aumento do tamanho e do volume da estrutura; • Desenvolvimento: Aperfeiçoamento e aquisição de novas funções. Segundo Rosa Neto (2002), o desenvolvimento da motricidade compreende: motricidade fina; motricidade global; equilíbrio; esquema corporal; organização espacial; organização temporal e lateralidade.

Unidade 1 • Crianças corpo-vida: trajetórias da cultura corporal e relação corpo/movimento no processo de aprendizagem vivido na escola

Para Costa (2008, p. 6):

O termo habilidade motora refere-se ao desenvolvimento do controle motor, precisão e exatidão na execução dos movimentos fundamentais e especializados. As habilidades motoras são desenvolvidas e refinadas até o ponto em que as crianças são capazes de utilizá-las com considerável facilidade e eficiência dentro de seu ambiente.

Até aqui, vocês tiveram a oportunidade de conhecer mais sobre o processo de desenvolvimento humano a partir de uma ótica desenvolvimentista. Isso significa que existe apenas esta análise? Logicamente que não! Como apresentado no início do capítulo, é apenas uma das múltiplas lentes com as quais os educadores podem enxergar os seres humanos. É importante ressaltar que o desenvolvimento humano vai além das questões motoras, pois sabemos da relevância dos aspectos culturais sobre o processo de constituição de cada indivíduo. Assim, mesmo refletindo sobre um conteúdo que trata do trabalho com o corpo físico, é fundamental pensarmos no ser humano como um todo integrado e não dicotomizado, o que implica refletir sobre seus aspectos constitutivos (pensar, sentir, agir), rompendo com um “olhar” mecâ26/219

Unidade 1 • Crianças corpo-vida: trajetórias da cultura corporal e relação corpo/movimento no processo de aprendizagem vivido na escola

nico sobre a criança e um ambiente escolar com o objetivo exclusivo de promover o bem-estar físico.

Para saber mais

Recomendo que você leia “As múltiplas linguagens na Educação Infantil”. Disponível em: . Acesso em 29 set. 2016.

Segundo Mattos e Neira (2002), a Educação Física vai muito além de uma determinada disciplina presente no currículo, pois é considerada, hoje, um meio privilegiado, na medida em que abrange a pessoa na sua totalidade. O caráter de unidade da educação por meio das atividades físicas é reconhecido como essencial para o desenvolvimen27/219

to pleno da criança. Chamo sua atenção em perceber que é pela compreensão do próprio corpo, de sua corporeidade, como apontado por Pilker e a motricidade livre, que a criança irá desenvolver os conceitos e o esquema corporal.

Para saber mais Recomendo que assista ao vídeo que irá mostrar o desenvolvimento motor da criança a partir de seus movimentos com liberdade. Disponível em: . Acesso em 29 set. 2016.

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Glossário

Desenvolvimento motor: contínua alteração no comportamento motor, durante o processo permanente de aprender a mover-se com controle e competência, ao longo do ciclo da vida. Fases do desenvolvimento: Períodos nos quais os seres humanos passam em busca do seu desenvolvimento por completo. Estímulos: Acontecimentos externos que favorecem o desenvolvimento das crianças.

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Questão para

reflexão

?

Diante do que estudamos até aqui, você já percebeu que é importante (re)conhecer as crianças que nos chegam na Educação Infantil como seres humanos dotados de uma história de vida, que receberam inúmeros estímulos e estão vivenciando diversas fases de desenvolvimento. Assim, gostaria que você refletisse: qual a importância do professor na Educação Infantil conhecer os estágios de desenvolvimento compreendendo a criança como um sujeito histórico-cultural e de direitos?

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Considerações Finais • Os educadores devem ser conhecedores de informações importantes sobre a trajetória de vida dos alunos até sua chegada à Educação Infantil. • Reconhecer o corpo como uma ferramenta poderosa de conhecimento do mundo faz com que o educador valorize o movimentar das crianças. • É fundamental conhecer e compreender os diferentes autores que estudaram as crianças e elaboraram fases de seu desenvolvimento. • Fazer relações entre o desenvolvimento humano e as características das crianças na fase escolar.

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Referências ARROYO, Miguel G., SILVA, Maurício Roberto da (orgs). Corpo Infância: Exercícios Tensos de ser criança, por outras pedagogias do corpo. São Paulo, Editora Vozes, 2012. CARVALHO, M. V. P. O desenvolvimento motor normal da criança de 0 a 1 ano: orientações para pais e seus cuidadores. Dissertação de Mestrado. Fundação Oswaldo Aranha. Centro Universitário de Volta Redonda: Programa de Mestrado Profissional em Ensino em Ciências da Saúde e do Meio Ambiente, 2011. COSTA, Anderson Dalla. Educação física escolar: uma abordagem desenvolvimentista. São Paulo, 2008 GARANHANI, Marynelma Camargo. O corpo em movimento na Educação Infantil: uma linguagem da criança. Universidade Federal do Paraná. Disponível em: http://www.pucpr.br/eventos/ educere/educere2005/anaisEvento/documentos/pal/PAL001.pdf. Acesso em 13 out. 2016. GALLAHUE, D. L., OZMUN, J. C. Compreendendo o desenvolvimento motor: bebês, crianças, adolescentes e adultos. São Paulo, Phorte Editora, 2003. MATTOS, Mauro Gomes de; NEIRA, Marcos Garcia. Educação Física Infantil: construindo o movimento na escola. Guarulhos, SP: Phorte Editora, 2002. PIAGET, Jean. O desenvolvimento do pensamento: equilibração das estruturas cognitivas. Lis31/219

Unidade 1 • Crianças corpo-vida: trajetórias da cultura corporal e relação corpo/movimento no processo de aprendizagem vivido na escola

Referências boa: Dom Quixote, 1977. PIKLER, E. What Can Your Baby Do Already? Hungary. English translation, Sensory Awareness Foundations’ Winter 1994 Bulletin. 1940. ROSA NETO, Francisco. Manual da Avaliação Motora. Porto Alegre: Artemed, 2002. SOARES, C. L. et al. Metodologia do Ensino de Educação Física. São Paulo: Cortez, 1992 TANI, G., et al. Educação Física Escolar: fundamentos de uma abordagem desenvolvimentista. São Paulo: Editora da Universidade de São Paulo, 1988.

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Unidade 1 • Crianças corpo-vida: trajetórias da cultura corporal e relação corpo/movimento no processo de aprendizagem vivido na escola

Assista a suas aulas

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Aula 1 - Tema: Crianças corpo-vida: Trajetórias da cultura corporal e relação corpo/movimento no processo de aprendizagem vivido na escola. Bloco I

Aula 1 - Tema: Crianças corpo-vida: Trajetórias da cultura corporal e relação corpo/movimento no processo de aprendizagem vivido na escola. Bloco II

Disponível em: .

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Questão 1 1. Os estágios do desenvolvimento humano são: a) Estruturas rígidas onde todas as pessoas passaram da mesma forma. b) São estruturas que possuem relação com a vida das pessoas. c) São estruturas que não possuem relação com a vida das pessoas. d) São estruturas que servem como base de análise do desenvolvimento humano, onde todas as pessoas passarão por essas etapas. e) São suposições sobre o desenvolvimento sem fundamento teórico.

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Questão 2 2. O processo de desenvolvimento das crianças no primeiro ano de vida em sua maioria é: a) Muito lento em relação às outras etapas da vida. b) Muito rápido em relação às outras etapas, exceto em alguns casos específicos. c) Igual a todas as pessoas, não existem razões para ser diferente. d) Muito rápido em relação às outras etapas da vida e igual para todas as pessoas. e) Não existem pesquisas que tratam deste tema.

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Questão 3 3. Para Piaget, a fase sensório-motora ocorre entre o seguinte período da vida da criança: a) De 0 a 1 ano b) De 3 a 5 anos c) De 0 a 5 anos d) De 0 a 2 anos e) De 0 a 7 anos.

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Questão 4 4. Para Gallahue, a fase de 0 a 2 anos é denominada: a) Fase Motora Rudimentar. b) Fase Sensório-motora. c) Fase Motora Fundamental. d) Fase Motora Experimental. e) Fase Operatório Formal.

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Questão 5 5. Em uma análise do desenvolvimento humano a partir de uma linha desenvolvimentista, é importante destacar os seguintes quesitos: a) Universalidade, Criticidade, Crescimento e Desenvolvimento. b) Universalidade, Intransitividade, Crescimento e Cultura corporal do movimento. c) Universalidade, Intransitividade, Crescimento e Desenvolvimento. d) Universalidade, Intransitividade, Criatividade e Desenvolvimento. e) Universalidade, Interdisciplinaridade, Criatividade e Desenvolvimento.

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Gabarito 1. Resposta: D.

3. Resposta: D.

De acordo com a bibliografia, todas as pessoas passarão pelas etapas descritas, salvo casos onde existam limitações intrínsecas ou extrínsecas às pessoas.

De acordo com Piaget, a fase Sensório-motora ocorre na vida da criança entre 0 e 2 anos.

2. Resposta: B. A fase de 0 a 1 ano é uma fase na qual o ser humano se desenvolve de forma muito dinâmica, por exemplo, o fato de controlar os membros do corpo, sentar, engatinhar e até andar.

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4. Resposta: A. De acordo com Gallahue, a fase motora rudimentar ocorre na vida da criança entre 0 e 2 anos.

5. Resposta: C. A Universalidade, Intransitividade, Crescimento e Desenvolvimento são quesitos que devem ser levados em consideração no desenvolvimento humano a partir da abordagem desenvolvimentista.

Unidade 2 Representação e comunicação sociocultural pelo movimento

Objetivos 1. Compreender a importância da cultura no processo de desenvolvimento das crianças. 2. Trazer ferramentas para que os educadores enxerguem as principais informações corporais que os alunos trazem. 3. Reconhecer a importância das características culturais trazidas pelos alunos como fundamentos para as atividades. 40/219

Introdução No item anterior, estudamos o desenvolvimento das crianças a partir de uma visão desenvolvimentista, mas também por uma perspectiva culturalista, que compreende a criança como um ser histórico, cultural, social e de direitos. Neste momento iremos aprofundar a nossa discussão compreendendo o desenvolvimento da criança em um contexto no qual o desenvolvimento da criança e do movimento vai além do ato motor, ou seja, o professor deve transgredir apenas as questões “físicas”, planejando com as crianças atividades que possam desenvolver a criança em sua totalidade (cognitiva, afetiva social e motora). Para começar, é necessário refletir: quando você, educador, está em contato com uma criança (ou um grupo de crianças) brincan41/219

do, jogando, dançando, sua observação indica um “olhar sensível” sobre o desenvolvimento motor, no qual o brincar é um momento privilegiado para o desenvolvimento infantil, isto é, você analisa o desenvolvimento da criança em termos de equilíbrio, força, flexibilidade, mas também em relação à aquisição cada vez mais complexa da linguagem, dos processos de socialização e interação social, entre tantos outros. Ou seja, não estamos observando um sujeito em sua constituição integral e completa. Desta forma, observamos e planejamos vivências que vão além de apenas uma perna que chuta uma bola, uma mão que segura um carrinho ou uma boneca, ou um aglomerado de ossos, articulações e músculos que dança. A partir de agora, você verá que

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existem neste movimento humano, seja ele qual for, signos muito fortes, derivados de experiências advindas de sua cultura. E como deverá ser a comunicação com esta criança? A comunicação deverá ser afetiva, porque planejar experiências para as crianças engloba pensar em sua afetividade. O que implica em pensar em um corpo que adquire cada vez mais consciência corporal e expressividade. Lembre-se de que este movimento é uma forma de estar e viver o mundo. A criança e suas relações culturais permitirão a ampliação do domínio corporal, da lateralidade e da dominância lateral, bem como a organização e orientação espaçotemporal, entre outros. Dentro deste processo, precisamos pensar em vivências para 42/219

crianças que ficam deitadas, que sentam, que engatinham, que andam, pois para cada etapa será necessário compreender suas necessidades de aprendizagem, bem como os brinquedos e materiais mais adequados.

1. O papel da cultura na vida das crianças A criança, desde o momento de sua concepção, já está inserida em um contexto cultural, logo ao nascer este processo ocorre por diferentes vieses. Como exemplo podemos imaginar situações como quando a menina nasce: em alguns casos, logo é colocado um enfeite de berço que remeta ao conteúdo simbólico do que é “ser menina”, por exemplo, uma boneca, uma sapatilha de balé, etc.

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Já com os meninos acontece a mesma coisa, só que geralmente é colocada no berço uma chuteira, uma bola, um carrinho, algum emblema de times de futebol, entre outros. Neste sentido, abordaremos a Educação Física como uma prática educativa que apenas orienta e ensina os saberes corporais institucionalizados de forma mecânica e padronizada.  Aqui gostaria de realizar uma conceituação importante, a cultura corporal ou a cultura corporal do movimento é representada por manifestações como: danças, lutas, jogos, esportes e brincadeiras que externalizam a motricidade humana, e este seria o objeto de estudo da Educação Física. Nessa concepção, a cultura não é só um conjunto de modos de vida, mas também práticas que expressam significados que permitem aos grupos humanos regular e organizar todas as relações sociais. Nessa perspectiva, toda e qualquer ação social expressa ou comunica um significado e, nesse sentido, são práticas de significação, o que indica que cada instituição ou atividade social cria e precisa de um universo próprio, distinto, de significados e práticas, isto é, sua própria cultura (Neira, 2008, p. 06).

Perceba que a cultura envolve aspectos materiais e imateriais do capital simbólico de uma sociedade. Por ser valorativo seu significado, bem como seus signos, depende das características 43/219

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de cada agrupamento social, o que está relacionado com a variabilidade cultural. A cultura é, portanto, uma marca poderosa que acompanhará a criança por toda a sua vida. Os educadores que pretendam formar crianças de acordo com as suas necessidades deverão obrigatoriamente atentar-se a estas questões tão importantes ao processo educativo. Desse modo, ações como brincar, dançar, jogar são formas de expressividade das crianças, em contextos educativos, onde o movimento exprime a cultura corporal de forma própria e singular. Devemos estar atentos que estas ações são intencionais e demonstram as representações que as crianças fazem do seu meio cultural, repleto de sentidos, signos e significados. Este 44/219

processo não é unilateral, ou seja, a criança não está apenas internalizando a cultura, mas ela está produzindo uma cultura de infância própria.

Para saber mais Recomendo que você leia o artigo “REFLEXÕES ACERCA DO CONCEITO DE CULTURA”. Disponível em: . Acesso em 29 set. 2016.

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Para Gomes (2005), o corpo é um elemento-chave de aporte às práticas culturais, assim, o planejamento do currículo da Educação Física, na Educação Infantil, exige que o professor compreenda que seus conteúdos não são mecânicos, ou seja,

lida com o conteúdo “basquetebol” ou “dança”, o objetivo não deve ser apenas chegar às formas institucionalizadas/codificadas de movimentar-se nessas atividades, ou à conceitualização/teorização como ápice do processo de ensino e aprendizagem, porém, abrir espaço também para novas mensagens gestuais, imprevistas e inusitadas (GOMES, 2005, p. 37).

Ao pensarmos no desenvolvimento das crianças, não estamos restritos à questão motora, mas às questões relacionadas à adaptação a um contexto social e cultural.

Para saber mais Recomendo que você leia a reportagem “Como a cultura influencia no desenvolvimento da criança”. Disponível em: . Acesso em 29 set. 2016. 45/219

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Chamo sua atenção para compreender que a linguagem corporal é uma manifestação da cultura. Por isto, pensar em um desenvolvimento motor com qualidade significa desenvolver as quatro capacidades motoras básicas, bem como dialogar com a problematização sobre os aspectos culturais, privilegiando a construção da criança com autonomia e liberdade.

2. A cultural corporal e a cultura dentro da escola A escola não é apenas um prédio físico, mas uma instituição responsável pelo processo de socialização primária das crianças, portanto, para que realmente realize a sua missão educativa de formar seres humanos, 46/219

é necessário o esforço dos gestores e educadores em compreender sua função social na formação das crianças. Daólio (2004, p. 02) afirma que “cultura é o principal conceito para a Educação Física”, uma vez que as manifestações culturais, como já apresentamos acima, são expressões das manifestações culturais. E, quando o professor que atua na Educação Infantil coloca isto em seu horizonte de análise, repensa formas de compreender sua prática pedagógica como complexa e relacionada às outras formas de conhecer e produzir o mundo. Daólio (2004, p. 3) ainda insiste que o professor de Educação Física não trabalha com o corpo ou o movimento de forma apriorística, ou seja, não atuamos com o “corpo em si” e tampouco como “o movimento em si”. “O que irá definir se uma ação corporal

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é digna de trato pedagógico pela educação física é a própria consideração e análise desta expressão na dinâmica cultural específica do contexto onde se realiza”. Assim, compreender o desenvolvimento motor da criança não pode remeter a uma perspectiva tradicional e propedêutica, na qual interessa somente a dimensão da eficiência do movimento, desconsiderando a sua construção cultural, social, política e econômica. O movimento espontâneo da criança não é alvo de ser “corrigido”, “aperfeiçoado” ou “padronizado”, uma vez que dele depreende o processo de aquisição da autonomia da criança.

alteridade. Nesta direção também devemos nos reportar à afirmação de Daólio (2004, p. 10) de que “qualquer abordagem da Educação Física que negue esta dinâmica cultural inerente à condição humana correrá o risco de se distanciar do seu objetivo último: o homem como fruto e agente da cultura. Correrá o risco de desumanizar-se”. Assim, um outro ponto crucial é refletirmos sobre o que é ser criança dentro dos diferentes contextos. Analise a afirmação de Galeano (1999, p. 30)

Podemos refletir sobre as experiências corporais, tais como: colocar a criança em frente ao espelho para que ela possa se reconhecer e começar a criação do conceito de 47/219

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Dia após dia nega-se às crianças o direito de ser crianças. Os fatos, que zombam desse direito, ostentam seus ensinamentos na vida cotidiana. O mundo trata os meninos ricos como se fossem dinheiro, para que se acostumem a atuar como o dinheiro atua. O mundo trata os meninos pobres como se fossem lixo, para que se transformem em lixo. E os do meio, os que não são ricos nem pobres, conserva-os atados à mesa do televisor, para que aceitem, desde cedo, como destino, a vida prisioneira. Muita magia e muita sorte têm as crianças que conseguem ser crianças.

Para o Estatuto da Criança e do Adolescente – ECA (2002), em seu artigo 2º, “considera-se criança, para os efeitos desta Lei, a pessoa até doze anos de idade incompletos, e adolescente aquela entre doze e dezoito anos de idade”.

Para saber mais Recomendo que você leia o ECA. Disponível em: . Acesso em 29 set. 2016. 48/219

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Assim, como você pôde perceber, ser criança não se relaciona apenas com sua idade cronológica, mas tem relações intrínsecas com o que é ser criança na cultura local. Logo, o professor deve saber que atuará junto a crianças com diferentes trajetórias de vida, mesmo que toda a turma tenha a mesma idade cronológica. O que nos leva a questionar: qual a necessidade de valorizarmos o corpo na Educação Infantil?

De acordo com a LDB 9.394/96, em seu artigo 29: “A educação infantil, primeira etapa da educação básica, tem como finalidade o desenvolvimento integral da criança de até 5 (cinco) anos, em seus aspectos FÍSICO, psicológico, intelectual e social, complementando a ação da família e da comunidade”. (Grifo nosso).

Se você respondeu que é muito significativo, está em consonância com nossa discussão, pois o corpo carrega a marca da cultura, pois os corpos-infantis, dependendo de seu contexto social, carregam marcas de discriminação e violência das mais diferentes formas, como raça/etnia, gênero, classe social, entre tantas outras. 49/219

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Para saber mais Recomendo que você leia a LDB e a Lei nº12.796/13, que criou a obrigatoriedade da matrícula das crianças com quatro anos completos na Educação Infantil. Disponível em: . Acesso em 29 set. 2016.

Além de compreender a criança como um ser cultural e valorizar seu corpo dentro da escola, é função da Educação Infantil oferecer espaço rico em estímulos para que as crianças possam se desenvolver da melhor forma. 50/219

A criança fora do contexto escolar anda, cai, chora, ri, bate, apanha, canta, assiste TV, corre, aprende brincadeiras, ensina brincadeira, passeia, brinca, descobre o mundo e o (re)significa. Quando chega o horário da entrada na escola, é impossível que todo esse conhecimento prévio fique de lado, adormecido até a hora da saída. Na verdade, esse conhecimento é o ponto de partida para grande parte das atividades realizadas dentro da escola, sendo assim, é nosso compromisso a sua valorização.

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Para saber mais É importante você, como educador, “passear” no entorno do seu local de trabalho. É fato que os entornos de algumas escolas não são nada convidativos, mas tenha esta experiência, você poderá analisar como é a real cultura em que seu aluno está inserido, e assim poder atuar melhor dentro da escola.

Então vamos lá, o que os educadores que atuam na Educação Infantil podem fazer para serem profissionais que respeitam o corpo e a cultura corporal do movimento dos alunos? Para começar a analisar as possíveis atuações, responda a uma pergunta: O que uma criança vê quando está no parque da escola? Imagino que, provavelmen51/219

te, você está respondendo: o escorregador, o banco de areia, a gangorra, as árvores, salas de aula, mesas e cadeiras, entre tantas outras coisas. Nada disso! A primeira regra é: não seja um educador “vidente”, não tente responder pelas crianças o que elas veem! A resposta para a pergunta acima é simples: Pergunte à criança! Segunda questão importante a ser tratada, segundo Freire (1993), é abolir a famosa abordagem muito adotada nas escolas: “A metodologia do traseiro”, que, segundo o autor, funciona mais ou menos assim: a única relação importante que o educador valoriza no processo de aprendizagem dos alunos é a união das “nádegas” dos alunos com a “cadeira escolar”, isto é, se o aluno

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está sentado e quieto: Fantástico! O educador está feliz, pois controla seu corpo, seu movimento, seus sentimentos e expressões. Controlar o corpo e o movimento é uma forma de controlar as ideias, os questionamentos...

Métodos de confinamento e engorda. Aplicáveis indiferentemente a porcos, vacas, galinhas e homens. Atesta-o a metodologia do traseiro, a mais cruel e frequente nas nossas escolas. Crianças confinadas em salas e carteiras, mais imóveis que os bichos que já mencionei. Como se, para aprender, fosse necessário o contato permanente do traseiro com a carteira. Mas, assim como os nazistas o sabiam, o sistema escolar também sabe. O corpo tem que se conformar aos métodos de controle, caso contrário, as ideias não podem ser controladas. (FREIRE, 1993, p. 114)

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Para saber mais A metodologia do traseiro é um termo utilizado por João Batista Freire, em protesto a inúmeras escolas que negam o direito de movimento das crianças, valorizando apenas o que é produzido dentro da sala de aula, enquanto as crianças estão sentadas. Em seu texto “Métodos de confinamento (como fazer render mais porcos, galinhas, crianças...)”, Freire faz comparações entre as crianças e os demais animais, como vacas e porcos. Espero que este livro traga um “mal-estar” que instigue repensar as práticas docentes.

Desta forma, trago para você uma reflexão sobre um contexto prático. Para isto, vou me remeter à pesquisa de Neira (2008, p. 46-47) e à fala de duas professoras pesquisadas por ele sobre a prática da Educação Física no contexto escolar:

É, não gostei do aquecimento, não do exercício em si, mas da minha colocação. Eu estimulava o exercício, mas não controlava a turma. Estava no meio ao correr, tinha alunos atrás, não conseguia controlar e não tinha a certeza se estavam fazendo aquecimento. 53/219

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Poderia acontecer alguma coisa e isto é fundamental do ponto de vista de organização da aula. Outra coisa que eu não gostei tem a ver com essa questão da organização da aula que é, na parte principal da primeira aula e mesmo na segunda aula, quando do exercício criei dois grupos que se confrontam quando poderia eventualmente criar três ou quatro grupos, isto é, para diminuir a fila de espera e aumentar o empenhamento motor (Profa. A). Não gosto quando eles se pegam, por exemplo, quero incutir uma regra, mas eles estão tão obcecados com outra coisa que apagam, começam aos berros uns com os outros. Eu estou sempre a dizer a mesma coisa, mas eles não compreendem. Eles desorganizam-se. Fazem um jogo assim, um bocado anárquico, faz-me confusão. Acho que é mais isso, a anarquia deles e que eu devo também interferir. É obrigação (Profa. B).

É necessário valorizar o movimento humano em sua beleza e totalidade, utilizando-o como ferramenta de aprendizagem. Outra questão importante a ser analisada vai além da bibliografia educacional, mas também está relacionada ao corpo. 54/219

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A expressão “o corpo fala”, de Weil e Tompakow (1980), deve servir de perspectiva para a observação docente, ou seja, uma forma de exercício de seu “olhar sensível” e que permeia a avaliação diagnóstica do que é ser criança, suas formas de se expressar, suas brincadeiras, suas formas de falar, de brincar, enfim, de todos os indícios de nossa prática pedagógica junto aos alunos. Por último, reflita que quando as crianças estão em movimento, o educador não pode “colocar suas experiências de criança como a experiência correta aos alunos”. Muitos educadores fazem questão de dizer aos seus alunos o que é ser criança, dar palestras sobre do que as crianças brincam, entre outros. Mas, qual o risco dessa prática?

nino e ser menina”, esquecendo que este é um momento de experimentação e construção das representações sociais. Muitos autores se debruçam sobre este tema, como Daniela Finco e Ana Lúcia Goulart.

Para saber mais Recomendo que você leia o artigo “Crianças no tempo presente: a sociologia da infância no Brasil”. Disponível em: . Acesso em 29 set. 2016.

• Atribuir conceitos do que é “ser me55/219

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• Valorização apenas das atividades que o educador realizava e que propõe para os seus alunos. • Transferir seus medos de criança, por exemplo, quando o(a) professor(a) era aluno(a), em uma determinada brincadeira quando era aluno(a), caiu e se machucou; resumo: nenhum aluno pode realizar essa atividade porque é “extremamente perigosa”. Como já apontamos, o corpo é uma das maiores pontes entre a criança e o mundo, então, em momentos de brincadeiras, jogos, danças e fantasias, as crianças apresentam o que para elas é o importante, esta deve ser a premissa para o nosso trabalho com elas. Observar, compreender e valorizar a crian56/219

ça e seus movimentos não significa postular que exista uma “melhor forma de ser criança”, mas de estimar a comunicação sociocultural dos alunos. Este processo exige um empenho do educador em despir-se de preconceitos, com o objetivo de enriquecer o processo de desenvolvimento psicomotor e cultural das crianças, oferecendo uma escola de Educação Infantil rica de estímulos e, acima de tudo, com significados ao aluno. Inúmeros referenciais propõem que a escola seja uma extensão do que acontece fora da escola, mas ainda nós, educadores, insistimos em transformá-la em um lugar à parte do mundo. É importante que os educadores observem as crianças com todos os seus sentidos, para forjarmos estratégicas pedagógicas que permitam que elas constru-

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am sua autonomia, criticidade, de forma a compreender e intervir na realidade em que estão inseridas, construindo uma rede de significados em torno do que se aprende na escola e do que se vivencia fora dela.

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Glossário

Cultura corporal: Significados corporais construídos a partir de experiências vividas pelo ser humano de acordo com sua cultura. Desenvolvimento integral: Físico, psicológico, intelectual e social, complementando a ação da família e da comunidade. Avaliação diagnóstica: Avaliação com o objetivo de avaliar as principais características corporais e culturais dos alunos a fim de ter informações importantes para guiar o processo educativo.

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Questão para

reflexão

?

Daólio (2004) salienta que o conceito de “cultura” é o principal conceito dentro da Educação Física. Assim, refletindo sobre a abordagem da cultura corporal, indique quais são os principais pontos que necessitam ser considerados no processo educativo.

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Considerações Finais • Desde quando nascem, já são embutidos nas crianças significados da cultura corporal do movimento sobre o que é ser menino e menina. • Na escola, não existem apenas corpos em movimento, mas signos culturais importantes impregnados neste corpo, onde um movimento nunca é isolado a ele. • Analisar e valorizar a “visão” que a criança possui dos fatos e significados acima de qualquer pré-conceito do educador, evitando assim distorções no processo educativo. • Observar, compreender e valorizar as questões da cultura corporal do movimento trazidas pelos alunos não significa concordar, mas compreender isso como mecanismo propulsor de conhecimento.

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Referências BRASIL, Lei de Diretrizes e B. Lei nº 9.394/96, de 20 de dezembro de 1996. _______ Estatuto da Criança e do Adolescente: Lei federal nº 8.069, de 13 de julho de 1990. Rio de Janeiro: Imprensa Oficial, 2002. COLETIVO DE AUTORES. Metodologia do Ensino de Educação Física. São Paulo: Cortez, 1992.     DAÓLIO, Jocimar. Educação Física e o conceito de cultura. Campinas, SP: Autores Associados, 2004. FREIRE, João Batista. Métodos de confinamento (como fazer render mais porcos, galinhas, crianças...). In: MOREIRA, W. W. (org) Educação física e esportes: perspectivas para o século XXI. Campinas: Papirus, p. 109-122, 1993. GALEANO, Eduardo. De pernas pro ar: a escola do mundo às avessas. Rio de Janeiro: LP&M, 1999. GOMES, S. (et. alli.). Expressão corporal e linguagem na Educação Física: uma perspectiva semiótica. Revista Mackenzie da Educação Física e Esporte, São Paulo, p. 29-38, 2005. NEIRA, M. G. A Educação Física em contextos multiculturais: concepções docentes acerca da própria prática pedagógica. Currículo sem Fronteiras, v. 8, n. 2, pp. 39-54, Jul/Dez, 2008. WEIL, Pierre; TOMPAKOW, Roland. O Corpo Fala: a linguagem silenciosa da comunicação não verbal: SP: Vozes, 1980. 61/219

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Assista a suas aulas

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Aula 2 - Tema: Representação e comunicação sociocultural pelo movimento. Bloco I

Aula 2 - Tema: Representação e comunicação sociocultural pelo movimento. Bloco II

Disponível em: .

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Questão 1 1. De acordo com a sua leitura, contexto social é considerado: a) A análise da realidade de um determinado grupo a partir de relatórios emitidos pela escola. b) Informações obtidas por órgãos oficiais como IBGE, a fim de relatar situações de risco vividas pelas crianças. c) Análise da realidade a partir de informações obtidas pelos educadores e escola como um todo, a partir do cotidiano escolar, com o objetivo de conhecer a realidade dos alunos. d) Avaliação das necessidades básicas do público atendido pela instituição escolar em entrevistas agendadas com a família dos alunos e comunidade do entorno. e) Textos elaborados com análises das principais características sociais dos alunos, analisando as diferentes realidades que vivemos no Brasil.

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Questão 2 2. De acordo com a LDB 9.394/96, educação infantil, primeira etapa da educação básica, tem como finalidade o desenvolvimento integral a partir do desenvolvimento: a) Físico, psicológico, intelectual e social, complementando com noção de higiene pessoal. b) Físico, psicológico, intelectual e social, complementando com a ação da família e da comunidade. c) Físico, psicológico, intelectual e social, complementando com noções lógico-matemáticas. d) Físico, psicológico, intelectual e social, complementando o letramento. e) Físico, psicológico, intelectual e social, complementando com o ensino das artes.

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Questão 3 3. Item fundamental para compreender uma criança é conhecer suas percepções sobre as coisas. De acordo com o texto, a melhor maneira de identificar o que uma criança vê é: a) Aplicar uma ficha de anamnese. b) Análise do portfólio apresentado pelos educadores dos anos anteriores. c) Avaliar a criança em movimento, de preferência com outros dois educadores, para evitar única opinião. d) Perguntar à criança o que ela vê. e) Não existem ferramentas consistentes para analisar casos como estes.

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Questão 4 4. A expressão “o corpo fala”, de acordo com o texto, significa: a) Que a partir de suas formas de se expressar, mesmo sem saber se comunicar verbalmente, a criança fala a partir de seu corpo. b) Os sons emitidos por diferentes partes do corpo, a partir de diversas acústicas, são maneiras de experimentar o seu corpo. c) O corpo fala, mesmo sem a comunicação verbal, por exemplo, uma criança senta de uma determinada maneira, isso já identifica sua opção sexual. d) As crianças que conseguem falar o nome das principais partes do corpo têm maiores chances de conhecê-lo e utilizá-lo da melhor forma. e) A fala deve ser acompanhada com muito cuidado, pois a partir dela as crianças se comunicam com o mundo.

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Questão 5 5. O ponto de partida para a realização de atividades corporais com crianças da Educação Infantil é: a) A experiência e formação do educador. b) Análise das estruturas físicas das crianças para que não aconteçam acidentes. c) Avaliação inicial por pesquisas realizadas com o conselho de escola, a partir das expectativas da comunidade. d) A partir da experiência das crianças, criando uma conexão com sua cultura corporal do movimento. e) A partir do plano de ensino criado no início do ano.

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Gabarito 1. Resposta: C.

balhamos apenas com suposições.

A análise do contexto social dos alunos possui maior valor quando realizada pelas pessoas envolvidas no dia a dia das crianças.

4. Resposta: A.

2. Resposta: B. Alternativa correta a partir das Informações contidas na Lei de Diretrizes e B. Lei nº 9.394/96, de 20 de dezembro de 1996.

3. Resposta: D. Os educadores precisam compreender os significados do que as crianças veem em seu dia a dia, desta maneira podemos atendê-las da melhor forma, caso contrário tra68/219

A comunicação humana não existe apenas pela fala, o corpo humano se comunica de outras formas, por exemplo, por gestos e olhar.

5. Resposta: D. É importante que os educadores valorizem a cultura corporal do movimento como ponto de partida para os demais aprendizados, pois a partir disso as crianças podem atribuir maiores significados ao aprendizado.

Unidade 3 As diferentes formas de expressão do corpo e sua construção histórica: o brincar com elementos do jogo, do esporte, das lutas, da ginástica

Objetivos 1. Compreender qual a importância das diferentes formas de expressão no desenvolvimento das crianças. 2. Identificar as principais características das brincadeiras, jogos, esportes, lutas e ginástica nas atividades corporais dentro da Educação Infantil. 3. Reconhecer as atividades como ferramentas para potencializar o aprendizado, valorizando a cultura e o desenvolvimento integral dos alunos da Educação Infantil. 69/219

Introdução Até este momento discutimos sobre a importância do movimento humano para a criança, especialmente refletindo sobre este processo relacionado à Educação Infantil. Compreendemos que esta criança é um ser ativo, capaz e protagonista que está em amplo processo de formação tanto biológico como social/cultural. E será o binômio biológico-cultural que significa os movimentos da/para a criança. O papel do educador é perceber e identificar em seu dia a dia estes signos importantes e incorporá-los em práticas significativas com as crianças. Dentro da escola possuímos inúmeras manifestações culturais e esportivas que caminham lado a lado ao desenvolvimento da criança. Segundo Neira (2008), “esse patri70/219

mônio histórico-cultural se fixou pelas expressões hoje conhecidas por brincadeiras, esportes, ginásticas, lutas e danças, entre outras”. Agora você conhecerá diferentes formas de expressão do corpo das crianças, como brincadeiras, jogos, ginásticas e lutas, e relacionando-as às diferentes formas de abordar as brincadeiras, os jogos, a ginástica e as lutas dentro da escola. O intuito desta discussão é que você conheça seus alunos, como eles aprendem, qual o estágio do desenvolvimento em que estão e o que é significativo a eles, pois esse será o ponto de partida. A ideia é que você não fique preso às brincadeiras, jogos, ginástica ou às lutas, mas

Unidade 3 • As diferentes formas de expressão do corpo e sua construção histórica: o brincar com elementos do jogo, do esporte, das lutas, da ginástica

que possa utilizar este conhecimento no trabalho de outras abordagens corporais com seus alunos.

1. A importância das expressões na Educação Infantil Este capítulo utiliza o termo “expressões” porque os jogos, as brincadeiras, as ginásticas, as lutas e as demais manifestações corporais apresentam diferentes formas de expressão corporal, enriquecendo o acervo dos pequenos alunos. Ao mesmo tempo em que são apresentadas aos alunos atividades de cunho específico, é importante ressaltar que o objetivo da Educação Infantil não é “ensinar”, “didatizar” conteúdos de forma específica, mas 71/219

proporcionar um espaço rico e diversificado de estímulos aos alunos, com vivências significativas para que as crianças possam se desenvolver. Dessa forma, é importante, antes de tudo, situar e embasar a prática, pois quando o conteúdo é olhado de maneira fria, é possível que o observador julgue que é preciso apenas reproduzir elementos das brincadeiras, dos jogos, das ginásticas e das lutas. Quando o educador se vê na “obrigação” de cumprir com os preceitos das formas de expressão do corpo, então pode recair em situações tais como: Reproduzo jogos que me eram significativos na minha época escolar. • Reproduzo danças e coreografias da

Unidade 3 • As diferentes formas de expressão do corpo e sua construção histórica: o brincar com elementos do jogo, do esporte, das lutas, da ginástica

moda ou do meu repertório musical, ou ainda apenas são abordadas em datas comemorativas. • Apresento uma modalidade de lutas de uma pessoa que eu conheço, dessa maneira “me livro” desse item tão complexo. • As brincadeiras ficam reservadas aos momentos livres dos alunos (parque, recreio).

lares. Para Neira (2008), é função social da Educação Física escolar proporcionar ao alunado das diferentes etapas de escolarização uma reflexão pedagógica sobre o acervo das formas de representação simbólica de diferentes realidades vividas pelo homem, historicamente criadas e culturalmente desenvolvidas.

• Ginástica? Eles já fazem muita quando brincam, ou pior ainda, o(a) educador(a), com muita força de vontade, mas sem muito efeito, propõe séries de exercícios que são aplicados aos adultos nas academias e locais simi-

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Unidade 3 • As diferentes formas de expressão do corpo e sua construção histórica: o brincar com elementos do jogo, do esporte, das lutas, da ginástica

Para saber mais Marcos Garcia Neira é professor de Educação Física, professor da Universidade de São Paulo. Neira defende que nos tempos atuais, a principal função dos professores, sejam eles de Educação Física ou demais áreas, não é mais desenvolver chutes ou lançamentos, mas sim a análise e reflexão sobre as produções humanas que envolvem o movimento.

As brincadeiras, jogos, lutas, ginástica são muito importantes para o desenvolvimento dos alunos, mas não devem ser abordados como um fim em si mesmos. É importante compreender que são saberes necessários para que cheguemos aos nossos objetivos, ou seja, o ato de criação por parte das crian73/219

ças, que não se coloca como mera reprodutora de movimento e atividades alienadas, ao contrário, torna-se um meio de apropriação destes saberes. O objetivo do educador é que seus alunos se reconheçam, bem como reconheçam os colegas como importantes no seu dia a dia. Ao analisarmos os conteúdos específicos da dança no trabalho com as crianças, encontraremos a coreografia, a consciência corporal, o condicionamento físico, mas também questões fundamentais como ampliação de repertórios, improvisação, a ludicidade, a formação estética, simbólica e cultural. Neste sentido, a criança vivencia a cultura como uma forma de expressão das relações que estabelece com o próprio corpo e com o corpo do outro, expressando em

Unidade 3 • As diferentes formas de expressão do corpo e sua construção histórica: o brincar com elementos do jogo, do esporte, das lutas, da ginástica

seus movimentos suas emoções e sua cultura. No tocante aos aspectos da psicomotricidade, a maturação fisiológica permitirá que o movimento se torne cada vez mais complexo, especialmente no que concerne ao ritmo, às posições, à autoimagem, permitindo uma melhor percepção dos objetos e do próprio espaço. A dança ajudará no desenvolvimento de funções como: a) Esquema corporal: o qual ajuda na formação da representação da imagem que a criança possui sobre seu corpo. Salientamos que a relevância da construção do esquema corporal está diretamente relacionada aos movimentos do corpo, mas também da 74/219

capacidade de agir com o corpo. Uma criança com uma formação adequada do esquema corporal terá reflexos em aspectos como sua grafia, leitura expressiva e harmoniosa, ritmo e cadência no ato da leitura de textos; b) Equilíbrio: o desenvolvimento desta função encontra-se relacionado às aptidões estáticas e dinâmicas, como controle da postura e aquisição da locomoção e sustentação; c) Organização Latero-Espacial: a função da lateralidade será responsável pela função da dominância do ato motor e na consolidação das praxias, organizando de forma adequada suas atividades motoras globais; d) Ritmo: será responsável pela organi-

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zação periódica dos atos motores, influenciando diretamente na capacidade de organização espacial da criança. O ritmo marca diversas atividades humanas, desde o caminhar, até o próprio ato de dançar. Isso não significa que todas as atividades devem ser direcionadas, pois o brincar livre é uma expressão da linguagem e da cultura produzida pela criança, bem como da liberdade em relação ao seu próprio corpo. Esta expressividade perpassa a autonomia que a criança adquire gradualmente, a qual é imprescindível ao seu desenvolvimento. Perceba que aqui estamos lançando mão de conceitos oriundos da chamada Psicomotricidade Relacional, a qual pode ser definida como aquela que acredita que

o corpo não é essencialmente cognição, mas também o lugar de toda sensibilidade, afetividade, emoção da relação consigo e com o outro. É visto como lugar de prazer, de desejo, de frustração e de angústia. Lugar de lembranças de todas as emoções positivas e negativas vividas pela criança em relação com os outros, particularmente, com as figuras parentais. (VIEIRA; BATISTA; LAPIERRE, 2004, p. 27), 75/219

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Para saber mais Recomendo que você leia o artigo a seguir para conhecer mais sobre a Psicomotricidade Relacional. Disponível em: . Acesso em 30 nov. 2016.

A Psicomotricidade Relacional é compreendida como uma ferramenta para a intervenção pedagógica junto ao desenvolvimento infantil. O conceito de ferramenta é muito utilizado no mundo educacional, pois reforça que existe um objetivo maior, onde as atividades são instrumentos para que os educadores possam chegar ao seu objetivo. Outra analogia feita em relação ao termo 76/219

“ferramenta” é que uma ferramenta não faz nada sozinha, mas depende de alguém que saiba usá-la para cumprir a sua função; sendo assim, educadores que conhecem sobre o que estão tratando conhecem as diferentes ferramentas para chegarem aos seus objetivos. As lutas, além de trabalharem as funções motoras acima mencionadas, também permitem que as crianças tenham acesso a esta construção cultural de nossa sociedade. Além de permitirem reflexões sobre a diferença delas em relação a questões associadas à violência. Para Neira (2008), são consideradas temáticas de ensino todas as manifestações da cultura corporal: os esportes midiáticos, os esportes radicais, as danças folclóricas e ur-

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banas, as brincadeiras infantis, os videogames, as lutas, as artes marciais, as ginásticas construídas e a variedade das formas expressivas dessa modalidade, entre tantas outras. Por último, devemos salientar que a ginástica também cumpre uma função educativa importante, à medida que atividades como pular, correr, rolar, saltar, balançar, escalar, equilibrar, rastejar, girar são fundamentais para o seu desenvolvimento. Lembre-se de que a criança constrói o seu pensamento a partir da experimentação corporal, logo, a vivência motora é essencial para a construção do sujeito em sua integralidade.

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Link A importância dos jogos e Brincadeiras na Educação Infantil. Disponível em: Acesso em: 10 nov. 2016.

2. As ferramentas do desenvolvimento psicomotor das crianças Antes de seguirmos, gostaria de ressaltar que o objetivo desta discussão não é dar “receitas” prontas de como se trabalhar com as brincadeiras, jogos, ginástica e as lutas nas escolas, até porque, conforme você já percebeu, a didática relacionada a

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estas temáticas dependerá do contexto educativo no qual você esteja inserido e das próprias crianças que serão protagonistas deste processo. Em contrapartida, também não é possível apenas apresentar informações aos alunos, sem proporcionar a eles subsídios para a sua prática. Utilizando a brincadeira, jogo, luta, ginástica, além das outras manifestações corporais existentes, é muito importante que o ponto de partida seja a sondagem do que é significativo às crianças, por exemplo: se você atua em uma instituição onde algumas brincadeiras populares são significativas para o público, como o pular corda, qual atividade utilizará como ferramenta de ensino? 78/219

Esperamos que você diga: “corda”! Isso não significa que as crianças não tenham a oportunidade de aprender e vivenciar outras atividades, pelo contrário, é nosso dever ampliar o repertório motor e cultural de nossos alunos, mas sempre atentando ao que é significativo para eles.

Para saber mais O repertório motor está intimamente ligado à experiência motora das crianças. Para o educador “ajudar” a criança a possuir um robusto repertório, é importante proporcionar que os espaços sejam ricos em desafios, que as crianças possam conviver com os colegas e possam ter momentos para criar o seu próprio conhecimento.

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Ainda pautado na brincadeira de corda, no dia a dia das crianças na escola, a brincadeira pode ser realizada como um fim em si mesma ou como ferramenta pedagógica que leva a determinado ponto. Só relembrando: esta proposta atende às diferentes fases do desenvolvimento humano? Lembre-se, existem inúmeras características que são levadas em consideração, como questões familiares, culturais, religiosas. Sendo assim, alguns exemplos abaixo acabam por se dissolver na rotina de uma escola. Vamos lá: a mesma corda, para as crianças de até dois anos, pode ser uma ferramenta de exploração, algo que “os pequenos” podem pegar, puxar, se pendurar, bater, ou 79/219

seja, usar o seu próprio corpo. Pode ser uma ferramenta para conhecer os diferentes planos (alto, médio e baixo), ou reproduzir as brincadeiras populares da sua região.

Link

Conheça diversas brincadeiras de corda, acessando o link disponível em: Acesso em: 10 nov. 2016.

A partir de dois anos, a mesma corda pode se tornar uma cobra, um cipó ou algo que o próprio grupo define, por exemplo, a corda em uma contação de história. Assim, levar

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em consideração o momento das crianças é central para estimular a questão motora, ao mesmo tempo que traz consigo o simbolismo característico da fase ou faixa etária que está sendo vivenciada por cada criança. Já as crianças acima de quatro anos, com a mesma corda, podem ser estimuladas pelo educador a criar jogos que trabalhem habilidades diversas, como ritmo, saltos, lateralidade etc. Independentemente da faixa etária e local de trabalho, é fundamental que o educador sempre proporcione aos alunos novos desafios motores e que sejam logicamente significativos. O importante nesse processo é a valorização do movimento como construtor de conhecimento e da cultura, já que, muitas vezes, 80/219

a educação é construída com pouquíssimo corpo, como diz João Batista Freire (1989), ao passo que deveria ser feita de corpo inteiro! Quando tratamos de lutas, geralmente nos deparamos com um frenesi causado no contexto escolar, como se luta fosse sinônimo de violência, especialmente se ela for adotada como conteúdo da Educação Infantil. Ao contrário do senso comum, sabemos que estas são atividades ricas nas questões motora e culturais. Assim, se executada por profissionais com a visão de ser humano e não de reprodução ou performance, o trabalho com lutas na Educação Infantil surte benefícios múltiplos, tais como: autoconfiança, valores de paz, concentração, entre muitos outros.

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Na prática da Alfabetização Corporal, isso quer dizer que, desde a Educação Infantil até o Ensino Médio, nossos alunos devem ser respeitados na sua motivação e no seu interesse pela brincadeira, jogo, ginástica e luta. As brincadeiras de pular corda, o pegapega, a cabra cega, bola ao cesto, seja na Educação Infantil, seja no Ensino Médio, são formas de jogo, obviamente cada um dentro de um grau específico de complexidade. Um jogo que no presente é entendido como um espaço de “trabalho” que envolve produção, compromisso, regra, participação e cooperação, mas que abre portas para o futuro, já que se configura também como um espaço fértil de transgressão, de ressignificação, de liberdade, de ruptura com velhas 81/219

fórmulas e de construção e transformação de cultura.

Para saber mais Leia “Os principais conceitos da Alfabetização Corporal”, disponível em Acesso em: 10 nov. 2016.

Independentemente do elemento trabalhado na escola (luta, jogos, ginástica ou dança), é fundamental que o professor seja capaz de trazer significação para as propostas, o que exige a compreensão do processo de aprendizagem como algo dinâmico. Além disso, é importante que o profissional esteja

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despido de qualquer tipo de pré-julgamento ou estereótipos preconceituosos, especialmente se as atividades realizadas não sejam de sua preferência. O ponto crucial é dar voz aos alunos e realizar uma escuta ativa, pois, de acordo com um dos maiores educadores contemporâneos, Paulo Freire (1997), escutar o aluno não significa que você concorda com ele, mas entende estas informações como importantes.

Agora, o mais importante é a qualificação do exercício de sua prática, onde é importante ressaltar que as atividades por si só não são garantia de sucesso e de desenvolvimento. A atuação de um educador atento, embasado e comprometido não com a perfeição dos movimentos, mas com o desenvolvimento pleno das crianças, é a ação mais significativa deste espetáculo chamado educação.

Você percebe o quanto é importante a atuação dos educadores nas práticas corporais na Educação Infantil? Você reconhece a importância das brincadeiras, jogos, lutas e ginásticas como elementos fundamentais no desenvolvimento humano? 82/219

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Glossário

Jogo como ferramenta: Abordagem na qual o jogo não entra como objetivo da aula, mas ferramenta para que os objetivos sejam alcançados da melhor forma. Atividades receitas: São atividades prontas, com conduta rígida, nas quais não são permitidas adaptações à realidade de cada grupo. Construtor do conhecimento: Termo segundo o qual se considera o aluno como protagonista na construção do conhecimento, adaptando as regras conforme as suas habilidades e necessidades.

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Questão para

reflexão

Dentro das escolas de Educação Infantil, quando tratamos de atividades da cultura corporal do movimento, as brincadeiras, jogos, esportes, lutas e ginástica são instrumentos catalisadores da aprendizagem significativa. Assim, reflita como estas práticas ajudariam no desenvolvimento pleno das crianças.

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?

Considerações Finais • O educador precisa desenvolver atividades que tenham qualidade social e estejam focadas no desenvolvimento global da criança dentro da Educação Infantil. • A Educação Infantil deve trabalhar com conteúdos amplos, proporcionando a diversidade de possibilidades e um repertório rico de oportunidades. • É fundamental que em todas as atividades propostas pelo educador, ele tenha um olhar atento ao que é realmente importante para o grupo em questão, para assim escolher a melhor abordagem do conteúdo. • O professor não deve selecionar as atividades a serem realizadas dentro dos jogos, brincadeiras, lutas, ginástica somente a partir de sua experiência ou tendências do momento, mas sim atender inicialmente o que possui maior significado ao público.

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Referências FREIRE, J. B. Educação de corpo inteiro: teoria e prática da Educação Física. São Paulo: Scipione, 1989. FREIRE, Paulo. Pedagogia da Autonomia: saberes necessários à prática educativa. Rio de Janeiro: Paz e Terra, 1997. NEIRA, M. G.; NUNES, M. L. F. Pedagogia da cultura corporal: crítica e alternativas. São Paulo: Editora Phorte, 2008. VIEIRA, J. L.; BATISTA, M. I.; LAPIERRE, A. Psicomotricidade relacional: a teoria de uma prática. 2. ed. Curitiba: Filosofart / CIAR, 2004.

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Aula 3 - Tema: As diferentes formas de expressão do corpo e sua construção histórica:o brincar com elementos do jogo, do esporte, das lutas, da ginástica. Bloco I

Aula 3 - Tema: As diferentes formas de expressão do corpo e sua construção histórica:o brincar com elementos do jogo, do esporte, das lutas, da ginástica. Bloco II

Disponível em: .

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Questão 1 1. Ao trabalhar com jogos na Educação Infantil, de acordo com o texto, o principal risco é: a) Que as crianças se machuquem, causando problemas aos professores. b) Proporcionar jogos tipicamente femininos aos meninos da turma. c) Selecionar jogos a partir somente de experiências vividas pelos professores. d) A falta de materiais adequados para as atividades, prejudicando o desenvolvimento das atividades. e) A falta de espaços adequados para as práticas corporais.

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Questão 2 2. A prática das lutas nas escolas de Educação Infantil pode ser considerada: a) Uma oportunidade para as crianças aprenderem a se defender dos perigos que existem em volta das escolas. b) Uma ferramenta pedagógica importante, pois traz consigo habilidades importantes ao desenvolvimento corporal das crianças, além de aspectos culturais. c) Uma forma de difundir a selvageria dentro das escolas, na contramão de todo trabalho realizado pelos educadores em trazer paz para dentro das escolas. d) Ferramenta fantástica de aprendizado aos alunos, além disso, uma grande oportunidade de encontrarmos talentos para no futuro representar o Brasil. e) O PCN proíbe a prática de lutas dentro das escolas de Educação Infantil, por entender que as crianças ainda não possuem maturação para práticas deste tipo.

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Questão 3 3. A ginástica na Educação Infantil pode ser considerada como: a) Promoção da saúde. b) Aprendizado sobre a importância de ter momentos fitness na vida cotidiana. c) Importante ferramenta de aprendizagem corporal. d) Canal de comunicação entre o mundo dos adultos e o mundo das crianças. e) Importante ferramenta de combate à obesidade infantil e outras tantas doenças que hoje assolam as crianças.

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Questão 4 4. Os materiais são muito importantes para que as diferentes atividades aconteçam. De acordo com o texto, nós, como educadores, devemos levar em consideração as seguintes questões: a) A qualidade do material. b) Se o material está de acordo com a idade das crianças. c) A classificação indicativa escrita nos diferentes materiais para não cometermos atos falhos. d) A quantidade de crianças, para que possamos proporcionar que cada criança tenha a oportunidade de ter pelo menos um material. e) As principais características das crianças para que o material seja uma ponte na construção das brincadeiras e favorecendo o aprendizado e o simbolismo.

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Questão 5 5. De acordo com o texto, a alfabetização corporal deve: a) Apresentar às crianças o alfabeto para que possam aprender a ler e escrever de maneira mais dinâmica. b) Respeitar a motivação das crianças e no seu interesse pelas atividades corporais, assim agindo em seu desenvolvimento de maneira integral.* c) Segundo a dinâmica da alfabetização corporal, quando a criança conhece pelo menos uma atividade que inicie com cada letra do alfabeto, podemos dizer que seu repertório motor está desenvolvido. d) Respeitar o cronograma de aprendizagem, disponibilizado pelo professor, para que as crianças cheguem ao seu objetivo final, a alfabetização. e) Acompanhar o novo plano nacional de educação, onde todas as crianças devam ser alfabetizadas até o final da Educação Infantil.

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Gabarito 1. Resposta: C.

da ginástica e incorporar a ela a ludicidade das crianças.

Se apenas parto das experiências dos educadores, corro o risco de trazer atividades carregadas de verdades absolutas e com um fim pronto.

4. Resposta: E.

2. Resposta: B. As lutas são atividades ricas nas questões motoras, culturais e atitudinais; quando abordadas de maneira correta, tornam-se um componente fundamental para o desenvolvimento integral das crianças.

3. Resposta: C. A ginástica dentro da Educação Infantil é totalmente diferente do universo adulto. É importante apropriar-se das características 93/219

Os materiais facilitam o aprendizado, o principal item que temos que levar em consideração no trabalho motor com crianças é: quais são os objetivos da atividade proposta.

5. Resposta: B. Devemos atentar à motivação das crianças em relação às atividades, pois é o ponto de partida para que os educadores, juntamente aos alunos, possam construir conhecimentos consistente e transformadores.

Unidade 4 Apreciar, executar, criar e refletir: a cultura corporal e as concepções de orientação temporal e espacial

Objetivos 1. Valorizar a cultura corporal do movimento como ferramenta inerente ao desenvolvimento dos alunos da Educação Infantil. 2. Conhecer as principais características da orientação espacial e temporal na vida das crianças. 3. Identificar possíveis atividades que contemplem o trabalho de orientação espacial e temporal de cada grupo. 94/219

Introdução Nossa proposta é que você seja sensibilizado para a atuação na Educação Infantil, que é uma modalidade muito importante para o desenvolvimento integral das crianças. Acredito que você compreenda que a principal linguagem a ser tratada com as crianças é o brincar, porque, além de ser uma prática social, é fundamentalmente a prática mais significativa dentro do seu desenvolvimento.

to escolar, contudo, procuramos uma abordagem que não seja dicotomizada ou que privilegie o cognitivo em detrimento de outras funções, pois temos a crença de que somente compreendendo o indivíduo como um corpo-infância é possível pensar em seu desenvolvimento integral.

É neste contexto que devemos identificar e valorizar as características culturais dos alunos e como sua cultura pode ser agregada ao ensino das brincadeiras, jogos, lutas, entre outras manifestações corporais e culturais. Perceba que estamos privilegiando o desenvolvimento do universo motor das crianças e sua importância no contex95/219

Unidade 4 • Apreciar, executar, criar e refletir: a cultura corporal e as concepções de orientação temporal e espacial

Para saber mais O ato de executar na Educação Infantil vai além do apenas realizar uma atividade corporal, é um conjunto de ações onde estimulamos a expressão das crianças em sua totalidade. Além disso, o executar a partir destes preceitos trabalha na construção da autonomia das crianças. Neste sentido, a cultura corporal e seu processo de alfabetização pelo movimento carregam conhecimentos e representações que permitem que o indivíduo determine sua identidade, bem como crie características que o diferenciam e, ao mesmo tempo, conferem reconhecimento como membro de seus grupos.

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Você, educador, consciente de seu papel dentro da escola, é a mola propulsora do desenvolvimento humano, pois cria oportunidade de as crianças passarem por todas as etapas (apreciar, executar, criar e refletir), como uma grande corrente do aprendizado. Para que você entenda essa grande corrente é importante entender a importância de cada elo, sendo assim, lhe serão apresentadas as principais características da orientação temporal e espacial. Vale ressaltar que o apreciar, executar, criar e refletir é importante em todo o aprendizado motor na Educação Infantil. Sendo assim, vamos explorar esta sequência.

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1. Orientação ou estrutura temporal Perceba que neste momento vamos estudar a orientação ou a estrutura temporal, que deverá desenvolver nas crianças a sua capacidade de adquirir noções de simultaneidade, sequência, ordem, duração, tempo e ritmo. Assim, para que o aluno possa construir estes conceitos é fundamental que os vivencie. Nossa discussão está pautada nas análises de Mattos e Neira (2002), que recorrem aos postulados de Piaget. Devemos nos lembrar que Piaget indicou que as dimensões fundamentais da ação humana são: o espaço e o tempo. Enfatizamos que estas são categorias indissociáveis, isto é, nosso corpo or97/219

ganiza e coordena seus movimentos dentro de uma lógica temporal. Como forma de ilustrar a importância do conhecimento espacial-temporal, Mattos e Neira (2002) apresentam dados obtidos pelo DNER, que indica que a maior parte dos acidentes em ultrapassagens acontece por uma dificuldade no cálculo entre as diferenças de velocidade entre os veículos envolvidos em ação. A estrutura temporal constituída pela criança será responsável por situá-la em função de diferentes eventos, tais como: antes e depois, presente, passado e futuro, processos ciclos e sua respectiva renovação (dia e noite, dias da semana, meses do ano, etc.). A este fluxo contínuo de acontecimentos determinamos de horizonte temporal. Esta

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capacidade desenvolvida será fundamental em seu processo de letramento e alfabetização, para além do movimento. Por isto, a estrutura temporal é um componente proeminente na Alfabetização Corporal. Note que a criança, durante seu cotidiano, mobiliza a todo momento estes conhecimentos, ou seja, as crianças se deparam com situações como: ao atravessarmos uma rua, tem que calcular o espaço da rua e o tempo de chegada do veículo que transita nela, para assim iniciar a travessia. Nossas crianças pequenas possuem inúmeros desafios para compreender as nuances do tempo. Por vezes, encontramos nossos alunos dizendo que ontem será o meu aniversário!; A Páscoa está perto!; Quando eu vou embora? As crianças inicialmente ape98/219

nas são cientes do presente, porque é o tempo que estão vivenciando e experimentando, portanto é necessário criar situações de aprendizagem para que possam extrapolar, captar e discernir a sequência temporal. Na questão motora, vemos a mesma situação. Quem nunca jogou uma bola para uma criança e ela acabou batendo em sua cabeça, e depois da bolada, a criança fecha os braços no movimento de apreensão da bola? No cotidiano da escola, tenho que calcular o tempo que o amiguinho levará para vir com a balança e o espaço que tenho que percorrer para não ser acertado por ele, ou mesmo, calcular a velocidade de um amigo que corre em minha direção para que eu possa desviar e não bater de frente com ele.

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Para que estas noções possam ser construídas é necessário que a criança adquira os movimentos básicos, bem como a consciência das relações no tempo. O que será desdobrado em aprender: • Simultaneidade;

Link Você acha que o brincar é algo importante para as crianças? Confira no site Acesso em: 10 nov. 2016

• Ordem e sequência; • Duração dos intervalos; • Renovação cíclica de certos períodos; • Ritmo: o que exige noção de ordem, sucessão, duração e ordem. O ritmo pode ser motor, auditivo ou visual.

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Em outra analogia em relação ao movimento das crianças, Matos e Neira (2002) apresentam a necessidade de que ele tenha um começo, meio e fim. Por exemplo, em uma brincadeira com bola, uma queimada (ou queimado, carimba ou outro nome, dependendo da região do Brasil onde é jogado), tenho que calcular a distância do adversário para, assim, calcular a força empregada

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no lançamento e a velocidade da corrida, é necessário sincronizar os movimentos a fim de acertá-lo. Desta forma, mesmo bem pequenas, as crianças elaboram cálculos muito complexos para resolver problemas motores.

Para saber mais O professor mediador é aquele que, ao invés de trazer o conteúdo pronto, é aquele que estimula o desenvolvimento de seus alunos. O professor mediador não é o dono do conhecimento, mas um parceiro de atividades que, com sua experiência, abre diversas possibilidades para que junto aos alunos o conhecimento seja construído.

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Já nos é fato que na diversidade de atividades na Educação Infantil, deve-se seguir a máxima segundo a qual as atividades devam ser sempre carregadas de estímulos variados, muita imaginação, valorização de atividades significativas e a participação ativa dos alunos, mesmo bem pequenos, valorizando-os como produtores de conhecimento.

Link

Os simbolismos na Educação Infantil. Disponível em: Acesso em: 10 nov. 2016.

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Assim, Mattos e Neira (2002) apresentam como sugestão de desenvolvimento da orientação temporal atividades que possam permitir: • Aquisição de noções de antes, durante e depois, primeiro, segundo, último; • Percepção de duração; • Apreciação de estruturas rítmicas (rápido e lento); • Velocidade e aceleração.

2. Estrutura espacial O ato de conhecer e explorar os diferentes espaços é fundamental para nos localizarmos. As atividades de exploração dos espaços são, geralmente, muito desejadas pelas 101/219

crianças. Quem nunca ficou com “cabelos em pé” ao encontrar uma criança “enfiada” em alguns lugares que você nunca imaginou que pudesse ser explorado? Exemplos aparecem aos milhares, mas há os clássicos, como guarda-roupas, muros, telhados, entre tantos outros. O que ocorre em algumas escolas é que, infelizmente, a única possibilidade do espaço que as crianças têm a oportunidade de explorar é o local de guardar a mochila e sentar na sala para realizar as atividades do dia. Muitos educadores evitam realizar atividades motoras com medo de as crianças se machucarem, mas já é comprovado que a maior parte dos machucados não acontece em atividades motoras como brincadei-

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ras, jogos e vivências corporais múltiplas. Devemos lembrar que a motricidade livre é fundamental para o desenvolvimento, e as crianças “aprendem a cair” porque experimentam seus corpos e o movimento e assim se machucam menos. Devemos salientar que a lateralidade aparece no processo de maturação neurológica da criança, mas isso, por si só, não garante a sua aquisição. Dessa forma, os alunos provavelmente desenvolverão a orientação espacial no decorrer da vida escolar na Educação Infantil, mas somente sua maturação não garante isso. Sendo assim, nós, como profissionais da educação, temos que atuar como mediadores desse e de outros conhecimentos.

ta uma crítica a este processo em seu texto ‘Métodos de confinamento: como fazer render mais porcos, galinhas, crianças”. O problema nas escolas não é o movimento, muitas vezes é a falta deles. Queremos muito que nossos alunos utilizem o pequeno espaço de uma folha, com motricidade fina de pegar um objeto tão pequeno como um lápis, giz, pincel, pedimos que nossos alunos desenhem utilizando toda a folha ao invés de apenas um pequeno espaço, ou desenterramos os clássicos leve João ao outro lado da folha seguindo a linha pontilhada, mas esquecemos de uma máxima importante, do geral para o específico. Então, que tal pensarmos da seguinte maneira: estimular a exploração de grandes espaços, utilizando grandes músculos, pois

João Batista Freire (1993) nos apresen102/219

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apropriando de uma motricidade geralmente mais fácil aos pequenos traz informações importantes para quando reduzimos a uma folha. Assim, a consciência espacial é a relação que a criança estabelece entre seu corpo e o meio. Nesta direção devem ser desenvolvidos os esquemas relacionados ao sistema visual e ao tático-cinestésico. Para que isto ocorra a criança deverá compreender os sentidos de direção, localização e distância, onde forja a: • Orientação espacial; • Organização espacial; • Compreensão das relações espaciais.

Link

A construção das noções espaçotemporais na Educação Infantil: situações pedagógicas. Disponível em: Acesso em: 10 nov. 2016.

Novamente inspirados em Mattos e Neira (2002), podemos definir estruturação espacial como a tomada de consciência de um corpo no meio ambiente, o que permite que a criança possa localizar, explorar espaços, bem como organizar objetos e movimentá-los no espaço. Sendo assim, apresentamos sugestões de

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estruturação espacial: • Tomar consciência do espaço em que está (isso inclui apropriar-se do espaço da escola); • Perceber o solo como ponto de apoio; • Perceber medidas e a forma dos espaços percorridos; • Ter noção de direção e localização espacial; • Conhecer dentro/fora; • Perceber a direção de um espaço percorrido. Assim, lembre-se de que nosso foco deve ser proporcionar atividades prazerosas, que respeitem os estágios motores dos alunos, de maneira significativa, respeitando sua cul104/219

tura, utilizando atividades como ferramentas para potencializar o desenvolvimento das crianças em um ambiente rico em desafios e convidativo ao conhecimento. Por último, reflita que o desenvolvimento do esquema corporal ocorre pela consciência do corpo como meio de comunicação consigo mesmo e com o meio. O que exige desenvolvimento da motricidade, das percepções espaciais e temporais, e da afetividade. Ainda nesta direção, a criança deve ser capaz de conhecer o corpo como um todo; conhecer o corpo segmentado; controlar os movimentos globais e segmentados; equilíbrio estático e dinâmico e a expressão corporal harmônica. 

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Para saber mais Muitas correntes defendem que as crianças não podem ser divididas em departamentos. Dessa forma, uma atividade em que o educador tem como objetivo estimular experiências artísticas em seus alunos, também estimula a motricidade no ato de pegar um lápis ou um pincel. Sendo assim, quando propor atividades, procure diversificar os estímulos para que seus alunos possam ser enxergados como seres em constante conexão. Lembre-se: não se trata de abordar o movimento pelo movimento, mas uma criança que se constrói como sujeito biológico e social-cultural.

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Glossário

Orientação espacial: é a capacidade que o indivíduo tem de situar-se e orientar-se, em relação aos objetos, às pessoas e ao seu próprio corpo em um determinado espaço. É saber localizar o que está à direita ou à esquerda; à frente ou atrás; acima ou abaixo de si, ou ainda, um objeto em relação a outro. Orientação temporal: capacidade de adquirir noções de simultaneidade, sequência, ordem, duração, tempo e ritmo. DNER: Departamento Nacional de Estradas de Rodagem.

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Questão para

reflexão

?

A relação entre ensino-aprendizagem na concepção do trabalho com orientação temporal e espacial, tratando de corpo na cultura corporal do movimento, vai além de apenas realizar uma atividade. É importante dar a oportunidade de ir além, proporcionar que a criança aprecie as atividades, execute movimentos a partir de sua experiência, reflita sobre a sua ação e tenha a oportunidade de criar situações novas a partir de seus aprendizados. Como você acredita que o professor deve planejar estas atividades para garantir o desenvolvimento pleno das crianças? 107/221

Considerações Finais • É fundamental aos educadores compreenderem a importância das concepções da orientação espacial não só em atividades corporais, mas em toda a ação pedagógica. • Os conceitos da orientação temporal são de suma importância no cotidiano escolar e na vida. • A cultura corporal do movimento deve estar presente quando selecionamos atividades que contemplem o estímulo das concepções espaciais e temporais. • Além de apenas proporcionar atividades que trabalhem os conceitos da orientação espacial e temporal, é fundamental que o educador, a partir do olhar da cultura corporal dos alunos, proporcione que as crianças possam apreciar, executar, criar e refletir sobre as atividades executadas.

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Referências FREIRE, João Batista. Métodos de confinamento (como fazer render mais porcos, galinhas, crianças...). In: MOREIRA, W. W. (org) Educação física e esportes: perspectivas para o século XXI. Campinas: Papirus, p.109-122, 1993. MATTOS, Mauro Gomes de; NEIRA, Marcos Garcia. Educação Física Infantil: construindo o movimento na escola. Guarulhos, SP: Phorte Editora, 2002.

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Aula 4 - Tema: Apreciar, executar, criar e refletir: a cultura corporal e as concepções de orientação temporal e espacial. Bloco I

Aula 4 - Tema: Apreciar, executar, criar e refletir: a cultura corporal e as concepções de orientação temporal e espacial. Bloco II

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Questão 1 1. Ontem será o meu aniversário! A partir desta frase tão comum entre os pequenos alunos da Educação Infantil, podemos dizer que é importante realizar trabalhos referentes a: a) Concepções de estrutura espacial. b) Concepções do conhecimento sobre lateralidade. c) Concepções de estrutura temporal. d) Concepções de conhecimento de motricidade fina. e) Conhecimento avançado do calendário, para que possa saber o significado de dia e mês.

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Questão 2 2. No trabalho de conhecimento sobre a estrutura espacial, na analogia ao movimento das crianças é necessário que seja abordado: a) Noção de começo, meio e fim. b) Noção de reconhecimento do corpo em relação ao espaço. c) Noção sobre introdução, desenvolvimento e conclusão de uma aula. d) Noção de músculos agonistas e antagonistas, em relação ao movimento das crianças. e) Fica a critério do educador qual tema será abordado.

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Questão 3 3. De acordo com Mattos e Neira (2002), estruturação espacial é: a) Tomada de consciência de um corpo e características temporais, auxiliando a criança a localizar, explorar espaços, além de organizar objetos e movimentá-los no espaço. b) Tomada de consciência de um corpo no meio ambiente, auxiliando a criança a localizar, explorar espaços, além de organizar objetos e movimentá-los no espaço. c) Tomada de consciência de um corpo no meio ambiente, auxiliando a criança a localizar-se em sua cidade. d) Tomada de consciência de um corpo auxilia a criança a localizar, explorar o espaço da folha, importante nas aulas de artes. e) Tomada de consciência do educador em relação ao corpo das crianças, para que saibamos qual a predominância de escrita dos alunos.

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Questão 4 4. De acordo com João Batista Freire, o maior problema da escola quando pensamos em seus corpos são: a) A falta de espaços adequados para as práticas corporais e na alfabetização corporal. b) O problema nas escolas não é a falta de movimento, mas os períodos em que eles são realizados! Expor uma criança ao Sol do meio-dia é uma afronta aos princípios de ensino-aprendizado. c) O problema central está na formação dos educadores que deixam de lado os corpos das crianças e apenas se pautam em questões higienistas. d) O problema nas escolas é o movimento e seus significados, em sua maioria fora da realidade das crianças. e) O problema nas escolas não é o movimento, muitas vezes é a falta deles. Queremos muito que nossos alunos utilizem o pequeno espaço de uma folha, mas não damos a oportunidade para que eles explorem os grandes espaços.

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Questão 5 5. No texto lido, as concepções temporais e espaciais foram divididas. Em relação ao cotidiano escolar podemos considerar uma prática: a) Correta, pois não devemos abordar todos os temas ao mesmo tempo. b) Incorreta. No cotidiano escolar, a criança não pode ser dividida em fragmentos, uma atividade pode ser ao mesmo tempo um convite para o conhecimento temporal e espacial, isso depende dos objetivos dos educadores. c) Como será abordado é indiferente ao cotidiano escolar. d) Incorreta. No cotidiano escolar, a criança não pode ser dividida em fragmentos, uma atividade deve obrigatoriamente englobar diferentes habilidades, não podemos perder tempo, nossas crianças são muito importantes. e) Depende do local onde as aulas são realizadas. Geralmente, na região Sudeste, as crianças possuem menos experiências, pois vivem em uma cidade vertical. Já as crianças da região Nordeste podem ser mais estimuladas, pois suas experiências motoras são mais refinadas, pois vivem em locais mais abetos.

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Gabarito 1. Resposta: C.

mento.

A orientação temporal é aquela que proporciona à criança noção de tempo, por exemplo, ontem, amanhã, daqui a uma hora. É muito importante que os educadores estimulem atividades desta natureza.

3. Resposta: B.

2. Resposta: A. Na mesma linha de análise utilizada na questão anterior, é fundamental que os educadores proporcionem às crianças noções de começo, meio e fim, diferente de muitos educadores que encerram as atividades propostas sem colocar em discussão estas questões, dando a impressão de que a atividade pode terminar a qualquer mo116/219

Segundo os autores, a criança, a partir de atividades desta natureza, possuem a capacidade de localizarem-se de formas mais consistente em diferentes espaços, habilidades inerentes ao desenvolvimento humano.

4. Resposta: E. O problema não é o movimento, mas a falta dele. Mesmo que um educador não possui grande fundamentação em relação à psicomotricidade humana, mas proporciona espaço para que a criança construa o seu conhecimento com o corpo, traz maiores

Gabarito benefícios às crianças do que educadores, muitas vezes fundamentados, mas que deixam seus alunos somente dentro das salas, em sua maioria, imóveis.

5. Resposta: D. Não entendemos as crianças como seres fragmentados, mas como seres únicos. Nas práticas corporais é importante a variedade de estímulos, favorecendo o aprendizado integral das crianças.

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Unidade 5 Percepção da formação da personalidade por meio do movimento

Objetivos 1. Reconhecer a psicomotricidade relacional como abordagem importante no processo de formação da personalidade da criança. 2. Conhecer as principais diferenças entre a psicomotricidade funcional da psicomotricidade relacional. 3. Aplicar os principais preceitos da psicomotricidade relacional no cotidiano escolar.

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Introdução A psicomotricidade é baseada em diversos estudos que analisam os seres humanos em seu desenvolvimento em suas diferentes atuações. Neste momento, desejo que você se aproxime de estudos que utilizam a psicomotricidade para percepção da formação da personalidade. Certamente que a partir da utilização de um dos instrumentos mais poderosos no desenvolvimento humano, o movimento. Você irá aprofundar seus conhecimentos sobre a Psicomotricidade Relacional. Para iniciar nossa discussão, vamos retomar um pouco sobre a sua origem. A psicomotricidade relacional surgiu a partir da “psicomotricidade tradicional”, conhecida como psicomotricidade funcional. 119/219

Note que o termo psicomotricidade nesta abordagem procura demonstrar a conexão entre o desenvolvimento da motricidade, da afetividade e da cognição (inteligência). Nesta abordagem o enfoque são os gestos e os exercícios analisados e executados de forma técnica, para que a criança possa adquirir competências motrizes. Logo, os exercícios são mecânicos e repetitivos, pois deverão ser aperfeiçoados gradualmente. A psicomotricidade relacional, como já dito acima, é uma vertente da psicomotricidade funcional, ela tem como objetivo principal o desenvolvimento a partir do enfoque social e emocional.   Ganha muita força no meio acadêmico em todas as etapas da educação e vai além disso, hoje é utilizada no meio clínico e em diversas empresas, pois sua capa-

Unidade 5 • Percepção da formação da personalidade por meio do movimento

cidade de analisar conflitos e atuar diretamente na autoestima das pessoas envolvidas em diferentes locais é bem abrangente; assim, independentemente do público ser um aluno, um paciente ou um funcionário de empresa, sua aplicação gera benefícios. Diferente da psicomotricidade funcional, que possui uma metodologia diretiva, em testes a partir de família de exercícios e base na capacidade motora, a psicomotricidade relacional possui uma metodologia não diretiva, em um trabalho que privilegia o brincar e, portanto, potencializa a aprendizagem e o desenvolvimento. Devemos notar que a base teórica que direciona esta prática pedagógica é a via corporal, mas não pela ênfase no movimento repetitivo e mecânico para a aquisição das 120/219

funções motrizes, ao contrário, é a compreensão de que pelo movimento a criança é capaz de se expressar e externalizar diferentes linguagens. Este corpo-infância em movimento irá interagir e encontrar novas possibilidades de estar no mundo e de existir nele criando significação em relação ao meio. Nesta direção, é fundamental perceber que os adultos devem desenvolver uma sensibilidade, uma escuta ativa das crianças, para observar e decidir quais são os pontos de inflexão no desenvolvimento infantil, no qual deverão intervir, ou em quais momentos deverão apenas observar a ação da criança. É por isto que os materiais e os espaços para a atuação com a criança devem ser ricos em possibilidades de experimentações e possi-

Unidade 5 • Percepção da formação da personalidade por meio do movimento

bilidades de exploração. Um ponto crucial é estar sempre atento à segurança da criança, mas isto não significa que os espaços e materiais não devem ser estimulantes e desafiadores. A questão central relaciona-se a criança sentir-se confiante e motivada a explorar o meio e o próprio corpo, a fim de experienciar múltiplas possibilidades. Dentro das escolas de Educação Infantil, os educadores podem se apropriar das informações a partir da psicomotricidade relacional. Quando uma criança não sabe falar, ou ainda, fala, mas não sabe se expressar corretamente, qual o canal principal de comunicação ela utilizará? O corpo! O corpo é sua fala, com ele a criança é capaz de dizer se está triste, feliz, com medo, com dor, com fome, ou seja, o que está sentin121/219

do em determinado momento. Perceba que a linguagem corporal com a criança é perpassada pelo vínculo de afetividade que se forma entre a criança e seu professor. Perceba que os movimentos são análogos a como se todas as crianças estivessem falando (e estão), onde o educador, conhecedor da psicomotricidade humana, possui ferramentas para analisar esse movimento, compreender o que está por trás dele em relação aos seus sentimentos e atua de forma positiva na vida das crianças. A psicomotricidade relacional possui a capacidade de explorar todo o potencial que a criança possui. Além de suas questões motoras ou de questões cognitivas, existe uma base afetiva e emocional.

Unidade 5 • Percepção da formação da personalidade por meio do movimento

Por meio da psicomotricidade relacional foram aprimoradas técnicas onde se utiliza a própria expressão corporal.

1. A psicomotricidade relacional A psicomotricidade relacional foi criada, na década de 1970, por André Lapierre. A psicomotricidade relacional tem sua base na psicanálise e diz respeito à relação primária entre mãe e filho. A psicomotricidade relacional não é uma invenção, sua origem advém de outros conhecimentos, em uma relação com as outras ciências, com o objetivo de desenvolver os seres humanos em sua totalidade. Como o próprio André Lapierre (2002) apresenta, “meu corpo é o lugar onde vivo, sinto e existo”. 122/219

Para iniciar a discussão, a psicomotricidade funcional está ligada à família de exercícios, já a relacional entende o corpo como via principal da aprendizagem e utiliza o brincar como ponte de aprendizado. A psicomotricidade funcional tem como objetivo educar as diferentes condutas motoras, para que a pessoa possa se integrar de forma melhor na vida cotidiana e escolar, surgiu a partir das concepções da Educação Física.

Link

O que é a Psicomotricidade relacional. Disponível em: Acesso em: 10 nov. 2016.

Unidade 5 • Percepção da formação da personalidade por meio do movimento

O professor é usado em muitos momentos como modelo que guia o desenvolvimento das crianças, além da utilização de diversos materiais para a sua prática. A psicomotricidade funcional tem objetivos preestabelecidos durante a aula e guia a execução como modelo. Já a psicomotricidade relacional utiliza-se do brincar, a aprendizagem e o desenvolvimento são potenciados, assim, a criança expressa sentimentos a partir do corpo, trabalhando, entre outros temas, com a formação de sua personalidade. Na psicomotricidade relacional a própria expressão do indivíduo é utilizada para superar suas dificuldades, onde o jogo, o brincar, a brincadeira, são a base no desenvolvimento das crianças Um paralelo com o cotidiano da criança 123/219

deve ser levado em consideração: dentro das escolas de Educação Infantil, as crianças aprendem muito a partir das relações, especialmente aquelas relacionadas: • À sua história • Às relações • A partir das diferenças. Na psicomotricidade relacional o cotidiano também é valorizado, principalmente para a construção da personalidade da criança como um ser que se relaciona, um ser ativo capaz de mediar conflitos e que vê as diferenças como algo normal. E, claro, se pensarmos na construção da personalidade, na Educação Infantil o corpo está presente neste processo obviamente, pois este é um corpo que vive e experimenta múltiplos

Unidade 5 • Percepção da formação da personalidade por meio do movimento

contextos que criam marcas em sua formação e desenvolvimento.

• Agressividade (trabalhar a agressividade positivamente)

É muito importante ressaltar que quando a criança brinca, não apenas se movimenta, ou gasta energia, mas sim estrutura seu aparelho psíquico e forma a sua personalidade. Como já dito, o corpo é o mediador para o desenvolvimento do psiquismo (aspecto da emoção, neuromotor neurolinguístico e neurocognitivo da criança), a partir do comportamento, do movimento. Além disso, o afeto e a emoção são fatores fundamentais para o desenvolvimento das funções psicomotrizes da criança.

• Limites

A psicomotricidade relacional é fundamental para um trabalho profundo no mundo da criança, principalmente abordando os seguintes temas: 124/219

• Autonomia • Frustração • Afetividade, sexualidade.

Para saber mais Muitos educadores evitam tratar do tema sexualidade nas escolas, principalmente na Educação Infantil, entretanto, estudiosos na área quebram paradigmas em relação aos tabus colocados a esse tema com os pequenos e vão além, indicam fortemente este trabalho, pois a Educação Infantil é o período de maior descoberta do corpo por parte da criança.

Unidade 5 • Percepção da formação da personalidade por meio do movimento

É fundamental que o educador saiba que não existe limite para o desenvolvimento da criança, o limite está nela; quanto mais longe ela possa ir, mais longe o educador caminha com ela. Sendo assim, convém mais uma vez ressaltar que o educador esteja despido de qualquer pré-julgamento no trato com as crianças e atue como um mediador do conhecimento e não como um juiz que define até onde a criança pode ir. O objetivo do educador é provocar, facilitar e estimular a utilização de diferentes materiais para que a criança se desenvolva. Enfim, onde está a maior força da psicomotricidade na formação da personalidade da criança? Está na espontaneidade do processo, a criança pensa que está brincando, mas os educadores, com seu olhar clínico, veem 125/219

o movimento como uma ferramenta poderosa e consistente para o desenvolvimento não só motor das crianças, mas também na sua formação afetivo-social.

2. A psicomotricidade relacional na Educação Infantil Até agora você teve a oportunidade de conhecer uma grande vertente da psicomotricidade, a denominada psicomotricidade relacional. Neste momento é importante realizar uma análise voltada ao mundo da psicomotricidade relacional e à Educação Infantil.

Unidade 5 • Percepção da formação da personalidade por meio do movimento

Para saber mais Muitos traços da personalidade que levaremos por toda a vida são definidos até os três anos de idade, período onde a criança está na Educação Infantil. A psicomotricidade relacional dentro da Educação Infantil possui importante relação, pois a criança pode ser ouvida de acordo com todo o seu desenvolvimento, principalmente quando se trata da sua personalidade.

Como a base da psicomotricidade relacional são brincadeiras, é de fácil aplicação dentro das escolas de Educação Infantil, pois quando brincam (e como você sabe, brincar para a criança é coisa séria), você vê o quão rápido as crianças fazem amizades quando estão em uma brincadeira ou jogo. Ressalto que 126/219

o brincar é a linguagem que permeia todas as atividades da Educação Infantil, inclusive estão demarcadas pelos DCNEIs. Quando uma criança está brincando e se aproxima outra criança, os “protocolos” são jogados por terra, não há a necessidade de saber o nome da pessoa que está ao seu lado, ou o time pelo qual ela torce, o importante é que ela entre no universo da brincadeira junto comigo. Sendo assim, para brincar é preciso se “relacionar”, e quando brinca, existe todo um ser complexo que está brincando, tudo o que a psicomotricidade relacional precisa para atuar na vida das crianças.  Como na psicomotricidade relacional não se utiliza a palavra, o olhar, o contato, a forma de se conectar com o outro torna-se imprescindível na relação. Note que o ine-

Unidade 5 • Percepção da formação da personalidade por meio do movimento

ditismo do método reside no fato de que a criança, por meio do lúdico, consegue revelar, de modo natural, o que se passa no seu mundo interior, sem necessidade de qualquer expressão verbal. O educador da Educação Infantil que trabalha com a psicomotricidade relacional, a partir das atividades, trabalha com a criança em sua estrutura psíquica e no decorrer do processo, certamente, irá ajudar de forma efetiva a criança a construir toda a sua personalidade e demais marcas que irão lhe acompanhar por toda a sua vida.

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Link O conceito de psicomotricidade, Prof. Lino. Disponível em: Acesso em: 10 nov. 2016.

O educador, quando trabalha com a psicomotricidade relacional, não atua a partir de uma prática dirigida, mas a partir de jogos, não da forma costumeira, na qual as regras já estão preestabelecidas, cabendo aos participantes respeitá-las passivamente para assim chegarem ao objetivo central. Na psicomotricidade relacional, o fim é apresentado pelo grupo de alunos, no qual eles dirão qual é a finalidade do jogo.

Unidade 5 • Percepção da formação da personalidade por meio do movimento

No decorrer das atividades, o momento espontâneo é algo fundamental no processo de trabalho da psicomotricidade relacional, pois a partir dele as crianças apresentam seus sentimentos, seus conflitos e os conflitos com o grupo, um momento privilegiado para que os educadores possam trabalhar questões importantes ao desenvolvimento infantil, sendo que a fonte é o próprio aluno. Similar à psicomotricidade funcional, a psicomotricidade relacional dentro da Educação Infantil trabalha a partir de materiais diversos (não se desespere caso em sua instituição escolar não tenha diversidade de materiais), onde a criança se relaciona consigo e com os amigos. O educador, neste percurso, observa as crianças e auxilia no processo. 128/219

Para saber mais A psicomotricidade utiliza inúmeros materiais com o objetivo de facilitar o desenvolvimento psicomotor das crianças. Dependendo da faixa etária das crianças, alguns materiais são utilizados. Materiais como bolas de diferentes tamanhos, arcos, cordas, bastões e tecidos são muito explorados nas aulas de psicomotricidade.

No processo de construção da sua personalidade, a criança, dentro da escola, aprende lições importantes para o seu futuro. Dentre muitas, possuímos: • A aceitação de limites • Ajudar a criança a se expressar

Unidade 5 • Percepção da formação da personalidade por meio do movimento

• Auxiliar a criança a ouvir os colegas • Auxiliar as crianças que são tímidas a se expressarem

er os seus alunos não só na questão motora, mas também nas questões de construção da personalidade.

• Ajudar as crianças consideradas líderes a escutarem os demais. Enfim, apesar de a psicomotricidade relacional ser relativamente nova na Educação Infantil, muitos educadores desconhecem a grande ferramenta de trabalho motor, cognitivo e emocional que possuem em suas mãos, cabendo a eles acessá-las. Agora que você já teve uma introdução ao tema, se envolva nesta corrente que entende o corpo das crianças como fonte inestimável de conhecimento, e, acima de tudo, invista parte do seu tempo pedagógico na construção de diferentes formas de desenvolv129/219

Unidade 5 • Percepção da formação da personalidade por meio do movimento

Glossário

Psicanálise: Método desenvolvido por Sigmund Freud, para tratar distúrbios psíquicos a partir da investigação do inconsciente. Neurolinguística: ciência que estuda as relações entre a estrutura do cérebro humano e a capacidade linguística, com atenção especial à aquisição da linguagem. Neurocognição: Área acadêmica que se ocupa do estudo dos mecanismos biológicos relacionados à cognição.

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Unidade 5 • Percepção da formação da personalidade por meio do movimento

Questão para

reflexão

?

É surpreendente a força que o corpo humano possui no desenvolvimento dos seres humanos! Durante nossa discussão, você teve a oportunidade de conhecer a influência do corpo em todo esse processo, embasado em uma abordagem desenvolvimentista e da cultura corporal.

O mais surpreendente é que o corpo também pode ser um veículo que auxilia na formação da personalidade da criança a partir da psicomotricidade relacional. Agora reflita: quando um educador que restringe o corpo da criança ao processo de desenvolvimento impede que a criança cresça e se desenvolva com plenitude? 131/221

Considerações Finais • A psicomotricidade relacional não é uma invenção, mas nasceu de estudos da psicomotricidade funcional. • A psicomotricidade relacional advém da psicanálise, onde entende o corpo como ferramenta de construção da personalidade. • Os materiais utilizados na psicomotricidade relacional são os mesmos que os utilizados na psicomotricidade funcional. • Dentro das escolas de Educação Infantil, a psicomotricidade relacional possui grande força, pois a partir da brincadeira e dos movimentos espontâneos, o educador pode reconhecer as principais necessidades dos alunos e agir de forma direcionada.

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Referências LAPIERRE, André; LAPIERRE, Anne. Trad. PEREIRA, M. E. O Adulto Diante da Criança de 0 a 3 anos – Psicomotricidade Relacional e Formação da Personalidade. Curitiba: UFPR: CIAR., 2002 LAPIERRE, André; AUCOUTOURIER, Bemard. Fantasmas Corporais e Prática Psicomotora. São Paulo: Ed. Manole, 1984.

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Unidade 5 • Percepção da formação da personalidade por meio do movimento

Assista a suas aulas

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Aula 5 - Tema: Percepção da formação da personalidade através do movimento. Bloco I

Aula 5 - Tema: Percepção da formação da personalidade através do movimento. Bloco II

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Questão 1 1. A psicopedagogia relacional teve sua origem a partir da: a) Fisiologia b) Pediatria c) Psicologia d) Psicanálise e) Educação Física.

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Questão 2 2. Durante uma aula de psicomotricidade funcional o educador é visto como: a) Modelo b) Guia c) Mediador d) Coordenador e) Observador.

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Questão 3 3. Nas atividades realizadas com base na psicomotricidade relacional de maneira geral não são utilizados: a) Materiais b) Espaços diversos c) Fala d) Expressões corporais e) Relacionamento.

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Questão 4 4. O objetivo de educar as diferentes condutas motoras é atributo da? a) Psicanálise b) Psicomotricidade Funcional c) Cultura Corporal d) Psicomotricidade Relacional e) Educação Infantil.

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Questão 5 5. A grande semelhança que facilita o trabalho da psicomotricidade relacional na Educação Infantil é porque as duas valorizam: a) O Brincar b) A Higiene c) Inserção da criança no Ensino Fundamental d) As famílias silábicas e) Os jogos de regra.

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Gabarito 1. Resposta: D.

identificação e resolução de conflitos.

Segundo estudiosos da psicomotricidade relacional, sua origem advém de diversos estudos, inclusive da psicanálise.

4. Resposta: B.

2. Resposta: A. Diferentemente da psicomotricidade relacional, a psicomotricidade funcional utiliza-se do professor como modelo para que os alunos entendam as atividades e cheguem aos objetivos da aula.

3. Resposta: C. Na psicomotricidade relacional, as expressões possuem mais força do que a fala. As relações durante as atividades auxiliam na 140/219

A psicomotricidade funcional, advinda da Educação Física, tem como objetivo o desenvolvimento humano e a educação das diferentes famílias motoras das pessoas.

5. Resposta: A. A psicomotricidade relacional possui muita força dentro das Escolas de Educação Infantil, pois utiliza-se das brincadeiras e dos movimentos espontâneos como base para seus estudos.

Unidade 6 Psicomotricidade e o desenvolvimento motor: percepção do esquema corporal e consciência do corpo

Objetivos 1. Valorizar a percepção de esquema corporal como inerente ao desenvolvimento motor das crianças. 2. Introduzir nos conteúdos escolares atividades que estimulem a consciência do corpo por parte das crianças. 3. Compreender o aprendizado de esquema corporal e consciência do corpo como um processo complexo, utilizando diversos estímulos para seu êxito. 141/219

Introdução Sua trajetória até este momento da disciplina foi repleta de provocações relacionadas ao desenvolvimento humano. Inicialmente, as características do desenvolvimento humano a partir de uma visão desenvolvimentista, logo após foram apresentadas as principais características culturais das crianças, e as características da psicomotricidade funcional e relacional, dando maiores subsídios às discussões sobre a importância do corpo no desenvolvimento das crianças. Neste tema você terá contato com informações que vão mais a fundo no desenvolvimento motor das crianças, é fundamental que você mergulhe em seu conteúdo sem esquecer-se de tudo o que foi trabalhado até então. Quem nunca ouviu a seguinte música den142/219

tro das escolas de Educação Infantil: “Cabeça, ombro, joelho e pé”? Ou melhor, quem nunca cantou ou dançou a canção? Esta música infantil tão comum na maioria das escolas de Educação Infantil remete ao conhecimento mesmo que de forma superficial. Ao tratarmos de corpo e a criação de seus esquemas, a Educação Infantil tem como objetivo a exploração do movimento humano, suas principais funções e uma questão fundamental engendrada pela relação entre a criança e o meio em que vive. Mais uma vez é importante lembrar que para que tudo isso aconteça, todos nós, como participantes da educação das crianças, devemos proporcionar um espaço rico dentro das instituições escolares, proporcionando a exploração dos espaços, das

Unidade 6 • Psicomotricidade e o desenvolvimento motor: percepção do esquema corporal e consciência do corpo

brincadeiras, das danças, ou qualquer outra manifestação corporal, além da utilização de diferentes materiais, por exemplo, brinquedo e sucatas, com diversos estímulos e valorizando o aprendizado e o relacionando com os demais alunos. As atividades corporais (não exclusivamente praticadas nas aulas de Educação Física) possuem um papel primordial no aprendizado e, consequentemente, no desenvolvimento dos indivíduos, estimulando as funções psicomotoras que formarão a base e darão sustentação para a aprendizagem, auxiliando assim o desenvolvimento global das crianças. De acordo com Negrine (1986), para que os movimentos possam ser realizados, devem ser levados em consideração alguns aspec143/219

tos: 1. Consciência dos diversos segmentos do corpo por meio de exercícios apropriados para a formação corporal (esquema corporal); 2. Exercícios para ação corporal e que possam desenvolver a flexibilidade e equilíbrio; 3. Exercício para a coordenação fina e grossa; 4. Exercício de lateralidade; 5. Exercícios para percepção espaçotemporal. É importante ressaltar que os conteúdos apresentados anteriormente estão dividi-

Unidade 6 • Psicomotricidade e o desenvolvimento motor: percepção do esquema corporal e consciência do corpo

dos por questões didáticas, entretanto, no cotidiano escolar, o ser-brincante brinca de lateralidade, certamente isto também engloba a motricidade. Sendo assim, é importante pensar nos seres humanos em todo o momento a partir de sua totalidade, principalmente quando se trata de crianças. Dessa maneira, você está pronto para iniciar este tema, fundamental ao desenvolvimento psicomotor, pois a partir de estudos e análises referentes à importância do estímulo e aprendizado de esquema motor, do equilíbrio, da coordenação motora (coordenação motora fina e coordenação motora grossa), da lateralidade e do espaço-tempo, daremos grandes condições de atuar na motricidade, cognição e questões afetivas 144/219

das crianças.

Link

As crianças têm muito o que aprender na creche. Disponível em: Acesso em: 10 nov. 2016.

Unidade 6 • Psicomotricidade e o desenvolvimento motor: percepção do esquema corporal e consciência do corpo

1. Esquema motor No processo de desenvolvimento psicomotor das crianças, o item esquema motor possui grande influência. Muito além da canção infantil que inicia este tema, quando trabalhado a partir de um viés educacional, o conhecimento de esquema corporal ultrapassa apenas o conhecimento da nomenclatura e conhecimento do sistema muscular, mas adentra na exploração da “perfeita máquina” chamada corpo humano. No desenvolvimento psicomotor, a partir do esquema corporal, a criança tem a oportunidade de conhecer as diferentes partes do seu corpo, e ainda melhor, reconhecer e experimentar quais as diferentes possibili145/219

dades de movimentação da(s) parte(s) estudada(s). Além disso, é capaz de aumentar a noção da imagem do corpo e dos meios de ação que estabelecem, com a memória, a formação do esquema corporal, explorando, assim, seu corpo de forma lúdica.

Para saber mais O esquema corporal é muito importante no desenvolvimento humano, principalmente na fase da Educação Infantil. Esquema corporal pode ser definido como conhecimento das diferentes partes do corpo e a organização das diferentes estruturas corporais que auxiliam a criança em sua capacidade funcional.

Unidade 6 • Psicomotricidade e o desenvolvimento motor: percepção do esquema corporal e consciência do corpo

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Para que todo este aprendizado aconteça, existe melhor forma de conhecer as estruturas corporais e a apropriação de esquemas motores do que oferecer à criança a possibilidade de treinar algo que melhor sabe fazer? Sem dúvida, a resposta é o Brincar!

quenos.

Lembre-se de todo o conteúdo que você teve a oportunidade de estudar até agora, neste momento leve-o para seu local de trabalho como educador (se você ainda não possui um, faça um exercício simples, imagine), não importa se seu local de trabalho é grande ou pequeno, está ao ar livre ou é um local coberto, se possui espaço específico para atividades corporais ou não, o mais importante é que este espaço (ou espaços) favoreça diversidade de estímulos aos pe-

Ao entrar na sala de aula, a cada dia o educador propõe uma forma diferente para as crianças entrarem na sala. Por exemplo, em um determinado dia, o educador fica em pé na entrada da sala com as pernas abertas e todos os alunos devem “resolver o problema” apresentado por ele, ou seja, entrar na sala, utilizando o seu corpo de maneira adequada.

Para estimular os alunos, não é preciso criar “algo de outro mundo”, suas ações para fazer com que as crianças possam explorar suas estruturas corporais podem ser bem simples, por exemplo:

Unidade 6 • Psicomotricidade e o desenvolvimento motor: percepção do esquema corporal e consciência do corpo

2. Equilíbrio Equilibrar-se é um desafio que acompanha as crianças desde muito cedo, o ato de ficar sentado sem apoio, além do fortalecimento muscular, exige muito equilíbrio. Com o decorrer do desenvolvimento das crianças, o ficar em pé, andar e mais para frente, o correr, são grandes testes de equilíbrio. Todos nós falamos de equilíbrio, mas, afinal, qual o seu conceito? “Equilíbrio é a noção de distribuição do peso do corpo em relação ao centro de gravidade, pode ser trabalhado estática e dinamicamente” (TOLKMITT, 1993).

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Para saber mais O estímulo do educador ao aluno em relação ao conhecimento do corpo e os trabalhos de equilíbrio são fundamentais para o desenvolvimento das crianças, mas vai além disso. Estudos dizem que este trabalho auxilia na prevenção de acidentes como batidas e quedas, sendo fundamental para a independência da criança.

No desenvolvimento psicomotor, o equilíbrio é determinante para o sucesso da criança, seja no mundo das brincadeiras, jogos, danças, entre outros.

Unidade 6 • Psicomotricidade e o desenvolvimento motor: percepção do esquema corporal e consciência do corpo

3 Coordenação motora Tão importante para a vida das crianças, a coordenação está presente desde o ato de andar, correr, saltar, ao ato motor fino de pegar um lápis em movimento de pinça para escrever algo. É importante lembrar que, não somente na coordenação motora, mas em todos os itens que compõem o conhecimento de esquemas corporais, as características cognitivas são inerentes ao processo. Você se lembra de que “não é somente uma perna que chuta uma bola”, mas um ser humano por completo em suas características motoras, cognitivas, afetivas e culturais. A Coordenação Motora Global, também 148/219

conhecida como motricidade ampla, é considerada a possibilidade de controle e organização da musculatura ampla para a realização de movimentos complexos, conhecimento e controle do próprio corpo e de suas partes (imagem corporal, esquema corporal e conhecimento corporal), envolvendo principalmente o trabalho de membros inferiores, superiores e do tronco. Pegar ou lançar uma bola, bater corda, saltar de um arco para o outro são exemplos que para nós são simples, mas para os pequenos que estão se desenvolvendo é um desafio que deve ser estimulado de diferentes formas para sua resolução. Já a Coordenação Motora Fina é a capacidade de controlar pequenos músculos para exercícios refinados. A motricidade fina é a

Unidade 6 • Psicomotricidade e o desenvolvimento motor: percepção do esquema corporal e consciência do corpo

movimentação de pequenos músculos de forma ordenada. No trabalho psicomotor dentro das escolas de Educação Infantil é importante levar em consideração a seguinte máxima: “Em atividades motoras, comece do amplo e depois vá ao específico!”

Link A importância do Brincar. Disponível em: Acesso em: 10 nov. 2016.

Para que a criança consiga trabalhar sua motricidade fina, é necessário estimular sua motricidade grossa. Como você espera que uma criança tenha um movimento tão específico de pegar um lápis com dois dedos, se você, educador, não valoriza os movimentos amplos como o correr, saltar, pegar, lançar, amassar, dobrar, entre outros estímulos diversos? Assim, volto a enfatizar: proporcione uma grande variedade de movimentos para que os pequenos sejam estimulados a cumprir movimentos específicos.

4. Lateralidade a) Sabemos que já trabalhamos os temas lateralidade e tempo e espaço, 149/219

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mas faz-se necessário abordá-los novamente. b) Limpe o seu joelho esquerdo! c) Todos os alunos para o lado direito! Esses são exemplos relativamente simples do cotidiano que expressam o quanto a lateralidade está presente em nossa atividade como educadores. Mais do que conhecer o que é “direita e esquerda”, a lateralidade proporciona o conhecimento do corpo por parte da criança, em uma conscientização simbólica, interiorizada dos dois lados do corpo, localização em relação ao espaço, diante de objetos e outras pessoas. Como diversas vezes ressaltamos neste curso, principalmente na Educação Infantil, as atividades corporais trazem fundamentos 150/219

para outros aprendizados presentes no processo de escolarização. Reconhecer o seu corpo, viver o que é direita e esquerda, reconhecer o seu lado preferencial, entre outros estímulos relacionados à lateralidade, auxiliam na localização de atividades em uma folha, ou ainda, na construção da escrita, evitando assim o espelhamento das letras.

5. Espaçotempo Analisar o espaço é começar com algo mais íntimo do que saber calcular um determinado local. Já parou para pensar que o ponto de partida é a própria criança? Certamente que sim, pois a todo momento, durante nossa discussão, lhe foram apresentadas diversas

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formas enfatizando que a criança está no centro de todo aprendizado. Sendo assim, faça as seguintes perguntas aos seus alunos: Qual o meu espaço, qual o espaço do outro, de qual espaço eu faço parte? O ponto de partida para que possamos conhecer o espaço que ocupo é conhecendo o espaço que o meu corpo ocupa. Parece algo simples, mas podemos apostar que, mesmo você sendo uma pessoa adulta, possui dificuldade para reconhecer as reais proporções de seu corpo.

Para saber mais A organização espacial vai além da capacidade de explorar diferentes espaços. Estudos agregam também a ela a capacidade de a criança situar-se em diferentes locais, orientar-se e movimentar-se em um determinado espaço. Além disso, engloba conhecimentos como as relações de diversos fatores, como: perto, longe, em cima, embaixo, dentro, fora, entre outros.

Agora a definição de organização temporal pode ser entendida como a capacidade que a criança possui de relacionar ações em determinado tempo. Os itens descritos acima são fundamentais para o desenvolvimento psicomotor e a per-

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cepção do esquema corporal das crianças. Juntos, formam um grupo de habilidades que impulsionam o conhecimento corporal das crianças. Talvez você esteja pensando agora: • Na teoria tudo é muito claro, mas como fazer na prática? Ainda seguindo a linha de não apresentar receitas, mas possibilidades, convido você a refletir: Você quer realizar uma atividade simples, mas muito interessante? Se você nunca realizou esta atividade, faça, pois o resultado estético e pedagógico é sensacional; agora, se já realizou, experimente novamente com um novo olhar. A atividade que lhe será apresentada (lem152/219

brando que atividades são ferramentas para ensinar algo) servirá para apresentar aos alunos todos os itens elucidados neste item. Pegue uma folha de papel que se aproxime do tamanho dos alunos, peça que um aluno se deite nesta folha e que um ou mais alunos contorne o seu corpo. Logo após faça o inverso, proporcionando que os alunos se reconheçam como corpo. Após o desenho, deixe que as crianças “se contemplem”, e proporcione a elas uma aula teórica, explique o que significa cada pedaço do grande “raio x” do seu corpo. A partir daí a prática irá depender do seu objetivo, o importante é que o tema central “o corpo humano”, percepção do esquema

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corporal e consciência do seu corpo seja trabalhado.

Link

Trabalho de alunas do 4º ano Magistério (esquema corporal). Disponível em: Acesso em: 10 nov. 2016.

Durante as atividades, você pode pensar em brincadeiras, jogos, ritmos, ou qualquer outra manifestação corporal que contemple o equilíbrio, a lateralidade, exploração do espaço, vivências a partir da motricidade grossa ou fina, enfim, de acordo com seus objetivos, claro, relacionando com a cultura corporal do movimento e analisando de acordo com o estágio de desenvolvimento 153/219

dos alunos. Após a realização das atividades específicas, quando retornarem à sala, você, educador, pode estimular que as crianças pintem quais partes do corpo foram utilizadas. Percebe como as coisas se encaixam? Finalizando, vale muito a pena dizer que as habilidades citadas neste tema não necessariamente são trabalhadas de forma separada. Você, como educador que não apenas reproduz atividades, mas conhece sobre seres humanos, terá a capacidade de escolher os melhores caminhos para o desenvolvimento integral de seus alunos. A partir de tudo o que foi estudado até agora, suas possibilidades de ter uma ação mais eficaz na vida das crianças aumentam

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a cada momento. Agora você será preparado para valorizar ainda mais a criança como protagonista de seu aprendizado; sendo assim, após realizar as atividades deste tema, mergulhe no próximo, onde será trabalhado um tema inerente à vida das crianças, o lúdico.

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Glossário Motricidade fina: É considerada a movimentação de pequenos músculos em ações complexas, como escrever, por exemplo. Equilíbrio: Noção de distribuição do peso do corpo em relação ao centro de gravidade. Sistema muscular: formação pelos músculos esqueléticos, tendões, bandas fibrosas através das quais os músculos estão unidos aos ossos e às outras estruturas.

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Questão para

reflexão

?

O aumento da percepção do esquema corporal e consciência do corpo ocorre a partir de um conjunto de ações no cotidiano escolar que levam as crianças a serem estimuladas a reconhecer o seu corpo, saber diferenciar suas partes e ir além disso, explorar as diferentes possibilidades de ações deste corpo. Como em todos os itens já trabalhados até este momento, a possibilidade de uma escola de Educação Infantil desafiadora, com educadores que medeiam esse processo de aprendizado a partir de variedades de atividades, é o diferencial no desenvolvimento psicomotor dos alunos. Assim, reflita sobre outras atividades que poderiam ser realizadas para promover o desenvolvimento global das crianças. 156/221

Considerações Finais • O aumento da percepção do esquema corporal vai além do conhecimento dos nomes dos membros do corpo humano. • A partir do conhecimento do esquema corporal, a criança começa a melhorar sua própria visão e como ela se localiza no meio ambiente. • Além de evitar quebras e acidentes, o conhecimento de equilíbrio propõe autonomia às crianças, para que possam explorar o mundo de forma segura e eficaz. • É importante que quando trabalhada a coordenação motora na Educação Infantil, o educador pense em atividades que vão de concepções dos movimentos amplos para os movimentos específicos.

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Referências LAPIERRE, André; LAPIERRE, Anne. Trad. PEREIRA, M. E. O Adulto Diante da Criança de 0 a 3 anos – Psicomotricidade Relacional e Formação da Personalidade. Curitiba: UFPR: CIAR., 2002. LAPIERRE, André; AUCOUTOURIER, Bemard. Fantasmas Corporais e Prática Psicomotora. São Paulo: Ed. Manole, 1984. NEGRINE, Airton. Educação Psicomotora: A Lateralidade E A Orientação Espacial. Porto Alegre: Pallotti, 1986. TOLKMITT, Valda Marcelino. Educação Física: uma produção cultural. Curitiba, PR: Módulo, 1993.

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Aula 6 - Tema: Psicomotricidade e o desenvolvimento motor: Percepção do esquema corporal e consciência do corpo. Bloco I

Aula 6 - Tema: Psicomotricidade e o desenvolvimento motor: Percepção do esquema corporal e consciência do corpo. Bloco II

Disponível em: .

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Questão 1 1. A partir do conhecimento de esquema motor, a criança: a) Conhece as diferentes formas de estimular os músculos em atividades laborais. b) Participa de estudo científico que avalia o nome dos membros e suas ligações. c) Vivencia diferentes atividades, proporcionando conhecimento do corpo com o objetivo de promoção da saúde e prevenção de doenças que assolam o universo infantil. d) Conhece as diferentes partes do seu corpo, reconhece por inúmeras vivências possibilidades de movimentação e aumenta a noção da imagem do corpo e dos meios de ação. e) Participa de dinâmicas corporais que proporcionam às crianças noção do corpo a partir de explanações consistentes por parte do educador.

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Questão 2 2. Muito importante para construção de esquema corporal e consciência de corpo, as relações entre perto, longe, em cima, embaixo, dentro, fora estão intimamente ligadas ao? a) Conhecimento de coordenação motora grossa. b) Conhecimento de equilíbrio. c) Conhecimento do espaçotempo. d) Conhecimento de coordenação motora fina. e) Conhecimento de esquema motor.

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Questão 3 3. Na Educação Infantil, em uma visão psicomotora, a noção de conhecimento do corpo vai além do conhecimento da nomenclatura de suas partes, mas sim a partir de: a) Vivências motoras, proporcionando aos alunos momentos de pesquisa em diferentes plataformas, aumentando assim seu repertório conceitual. b) Vivências culturais que possuem força contemporânea com o objetivo de apresentar aos pais o que há de mais atual em termos de manifestações culturais rítmicas. c) Vivências motoras e culturais, proporcionando aos alunos momentos de exploração do corpo, conhecimento de suas possibilidades de ação em seu cotidiano, em um aprendizado integral. d) Conteúdo cuidadosamente elaborado com o objetivo de enriquecer o repertório motor dos alunos com atividades apresentadas pelos educadores e reproduzidas pelos alunos. e) Atividades motoras complexas e importantes ao desenvolvimento integral dos alunos, a partir de base nacional de desenvolvimento motor, material de apoio ao enriquecimento motor de todas as crianças de nosso país. 162/219

Questão 4 4. De acordo com o texto, o conhecimento de distribuição do peso do corpo em relação ao centro de gravidade é atribuído ao: a) Esquema motor b) Equilíbrio c) Tempo-espaço d) Lateralidade e) Coordenação motora fina.

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Questão 5 5. Para o desenvolvimento psicomotor dos alunos na Educação Infantil, é importante que se leve em consideração: a) A presença de educador físico, pois a partir de sua formação os alunos conseguirão se desenvolver de forma integral. b) Não é necessária a obrigatoriedade de um educador físico, entretanto é necessário que o educador tenha formação de psicomotricidade com ênfase na Educação Infantil. c) Não é necessária a obrigatoriedade de um educador físico, entretanto é necessário que o educador conheça os principais preceitos da psicomotricidade, tenha em seu poder um manual de desenvolvimento humano e pelo menos 300 horas de vivências motoras, pois o educador não pode ensinar aquilo que não conhece. d) A presença de educador físico é necessária somente em períodos de mentoria, pois no cotidiano, o educador é capaz de trabalhar com a psicomotricidade, a cultura corporal do movimento e, principalmente, atuar na realidade de seus alunos, valorizando o corpo como ferramenta de desenvolvimento.

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Questão 5 e) Não é necessária a obrigatoriedade de um educador físico, entretanto é necessário que o educador conheça os principais preceitos da psicomotricidade, da cultura corporal do movimento e, principalmente, da realidade de seus alunos, valorizando o corpo como ferramenta de desenvolvimento.

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Gabarito 1. Resposta: D. O conhecimento de esquema motor vai muito além do conhecimento das partes do corpo, principalmente na Educação Infantil, onde a vivência e a experimentação são base para o conhecimento corporal, de sua imagem e formas de utilizá-lo no cotidiano.

2. Resposta: C. De acordo com o sexto tema, as relações entre perto, longe, em cima, embaixo, dentro, fora estão intimamente ligadas ao conhecimento de espaço e tempo, conteúdo inerente ao desenvolvimento motor.

3. Resposta: C. 166/219

Oportunizar aos alunos a possibilidade de exploração do seu próprio, colocá-lo em movimento, pensando nos alunos de forma integral (cognitiva, afetiva, motora e cultural), é a base de uma formação consistente utilizando a psicomotricidade na escola.

4. Resposta: B. Dentre as alternativas, o equilíbrio é o maior responsável (não o único) pelo estímulo aos alunos em aprender sobre a distribuição do peso do corpo em relação ao centro de gravidade.

5. Resposta: E. Um educador, mesmo que não formado em Educação Física (isso não significa que

Gabarito a presença de professores de Educação Física dentro das escolas não seja importante), mas estudioso do desenvolvimento humano e atento às principais características culturais dos alunos, é totalmente capaz de fazer um trabalho corporal agregador com crianças da Educação Infantil.

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Unidade 7 O corpo lúdico e as descobertas por meio de jogos e manifestações culturais

Objetivos 1. Valorizar as atividades lúdicas como inerentes ao desenvolvimento das crianças na Educação Infantil. 2. Reconhecer as principais características das atividades lúdicas e atividades direcionadas. 3. Criar relações importantes entre as atividades lúdicas e o cotidiano escolar.

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Introdução Quando conversamos com as pessoas, percebemos que cada uma possui diferentes habilidades que a destacam em meio a uma multidão. Alguns sabem cozinhar muito bem, outros produzem artesanato. Você que está nos lendo, dentre tantas habilidades, certamente é um comunicador por excelência. Agora responda: qual a maior vocação das crianças? Ou melhor, o que elas melhor sabem fazer? Certamente você está dizendo, BRINCAR! Diferente da forma com que os adultos pensam, para as crianças brincar é um assunto sério que dominam com maestria! Para que as mais impressionantes brincadeiras aconteçam, não importa se a criança possui grandes espaços ou não, materiais adequados ou pura adaptação, ela sempre encon169/219

tra boas razões para protagonizar uma boa brincadeira. Em todos os momentos, o livre brincar da criança sempre está acompanhado de muito simbolismo, onde a criança é protagonista na construção do seu conhecimento. É importante dizer que os aspectos culturais estão enraizados no mundo do lúdico, onde, na maioria esmagadora de vezes, as brincadeiras são reproduções do mundo em que ela vive, interagindo com sua realidade e, ainda melhor, a ressignificando. Freire (2002), em sua obra “O jogo: entre o riso e o choro”, nos relata que quando uma criança está brincando, para ela não existe a distinção entre os dois mundos (o mundo real e o mundo da brincadeira), o autor diz que enquanto brinca, ela está “realmente”

Unidade 7 • O corpo lúdico e as descobertas por meio de jogos e manifestações culturais

vivendo o mundo da brincadeira, totalmente envolvida como protagonista no roteiro de sua história. Quando um adulto (detentor da razão?) interfere na brincadeira, como, por exemplo, a mãe bloqueando a brincadeira dizendo que está na hora da criança tomar banho, não está interrompendo simplesmente uma atividade, está retirando abruptamente a criança do mundo em que estava inserida. A citação acima ilustra o quanto é importante o brincar e o lúdico para a criança. Vamos lembrar que esta é a linguagem mais relevante da criança. Pensando nisso, os adultos muitas vezes esquecem o quanto é importante o brincar e a brincadeira na vida das pessoas, temos a obrigação de respeitar algo tão importante para as crianças, e nós, 170/219

educadores, podemos (e devemos) ir mais longe, proporcionar momentos para que as crianças possam explorar o universo lúdico em toda a sua riqueza. Dentro das escolas, no planejamento dos educadores, deve-se pensar em espaços privilegiados (quando é dito espaço, não significa espaço físico), para que a brincadeira, o lúdico e a possibilidade de construção de diversos conhecimentos a partir da brincadeira aconteçam. A partir do lúdico, os educadores conseguem obter informações privilegiadas e em primeira mão das crianças, nas quais a sua conduta a partir disso certamente será mais eficaz no processo de desenvolvimento e construção do conhecimento.

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Os educadores que fazem isso não proporcionam um prêmio às crianças que obedecem ou cumprem com uma determinada tarefa, mas utilizam o brincar como parte integrante em seu planejamento de atividades. Desta maneira, todas as crianças têm a ganhar, principalmente porque elas são consideradas como o centro do nosso processo. A partir de agora você terá contato com a origem e definição de lúdico, e a sua importância dentro da escola, especificamente na Educação Infantil. Bons estudos!

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1. O lúdico A palavra lúdico tem origem no latim “ludus”, que quer dizer “jogos” e “brincar”. O lúdico está relacionado a uma forma de aprendizado prazerosa, na qual a criança demonstra o seu jeito de ser relacionado ao contexto sociocultural em que ela está inserida. Diversos autores valorizam o lúdico como parte importante do desenvolvimento dos seres humanos, dentre eles Piaget (1967, p. 20), que diz: “Por meio de uma atividade lúdica, a criança assimila ou interpreta a realidade”.

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Para Vygotsky (1984, p. 40), “É enorme a influência do brinquedo no desenvolvimento de uma criança. É no brinquedo que a criança aprende a agir numa esfera cognitiva, ao invés de uma esfera visual externa, dependendo das motivações e tendências internas e não por incentivos fornecidos por objetos externos”.

Para saber mais Lev Semenovitch Vygotsky nasceu em 17 de novembro de 1896, foi um professor de literatura e muito interessado em psicologia. Pensador importante em sua área e época, foi pioneiro no conceito de que o desenvolvimento intelectual das crianças ocorre em função das interações sociais e condições de vida, sua obra é muito estudada até os dias atuais. Foi descoberto pelos meios acadêmicos ocidentais muitos anos após a sua morte, que ocorreu em 1934, por tuberculose, com apenas 37 anos de idade.

O lúdico e as atividades lúdicas possuem grande força no processo de desenvolvimento humano, pois são grandes facilitadores tanto na construção de sua personalidade, como no progresso de cada uma das suas funções importantes, como as psicológicas, intelectuais e morais. 172/219

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Huizinga (1951) diz que, ainda que a brincadeira infantil deixe de ser séria, quando uma criança brinca, ela o faz de modo bastante compenetrado. E você, educador, qual a importância do lúdico na sua prática pedagógica? Você o considera como importante, como apenas ocupação do tempo livre ou como prêmio às crianças que obedeceram? Desejo que você reflita sobre este tema rumo à valorização e certamente à maior inclusão de atividades lúdicas no seu cotidiano educacional. Lembre-se: o papel fundamental da Educação Infantil é o desenvolvimento da criança pelo brincar. Assim, se suas crianças brincam em todos os momentos, esteja seguro de que elas estão fazendo exatamente o que deveriam. 173/219

Todos os educadores devem ser provocados pela força da ludicidade, para que valorizem o lúdico em ações diárias, pois a ludicidade não ajuda apenas as crianças, traz também inúmeras contribuições aos adultos. Dentro da escola, o educador tem grandes responsabilidades na renovação das práticas escolares. Cabe a ele trabalhar na melhoria da qualidade geral do ensino, estudando práticas já existentes ou desenvolvendo novas práticas que permitam aos alunos desenvolverem e construírem o seu próprio conhecimento. Enfim, ludicidade tem importância fundamental para a construção do conhecimento. Na Educação Infantil não há como pensar em prática pedagógica sem que haja a presença do lúdico. Dessa maneira, o próxi-

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mo subitem apresentará a importância do lúdico na Educação Infantil.

2. O lúdico na Educação Infantil Em todo momento em nossa discussão foi ressaltada a importância da valorização das principais características culturais dos alunos, e o quanto é importante utilizar essas informações como ferramentas facilitadoras ao aprendizado significativo dos alunos. As brincadeiras e jogos lúdicos são fantásticos apresentadores destas características, pois elucidam aos educadores as principais características das crianças.

pelo corpo e por suas atitudes, a partir das atividades lúdicas, apresenta conteúdos fidedignos espetaculares. Encontramos, em inúmeras escolas de Educação Infantil, brinquedotecas muito bem estruturadas, que servem como uma vitrine para os pais que venham conhecer a escola, mas em seu dia a dia não são utilizadas pelas crianças.

Muito mais do que questionários ou fichas de avaliação, a real expressão da criança 174/219

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Para saber mais Os estudos relacionados à importância do brincar e do brinquedo para o desenvolvimento na infância vêm crescendo há anos entre os educadores pelo mundo. Em 1976, foi realizado em Londres o 1º Congresso sobre empréstimo de brinquedos. Logo após, outros congressos importantes ocorreram, como em 1981, o II Congresso de Brinquedotecas, em Estocolmo; em 1987 - Congresso Internacional de Toy Libraries, no Canadá; em 1990, V Congresso Internacional de Brinquedotecas, em Turim, e em 1993, Encontro Mundial sobre o brincar, na Austrália. Fonte: Acesso em: 10 nov. 2016.

O objetivo aqui não é defender ou não que existam brinquedotecas, é sabida a realidade de muitas escolas, o objetivo aqui é defender fortemente que os momentos lúdicos tenham um espaço privilegiado no cotidiano das instituições escolares, favorecendo a todos os envolvidos neste processo: • Favorecendo aos alunos, que podem “exercitar” sua habilidade de criar, recriar, reproduzir sua realidade e interagir com os colegas. • Favorecer aos educadores, pois a partir da análise das atividades lúdicas, possam conhecer mais seus alunos(as) e assim ser mais assertivos em suas atividades. • Favorecer as instituições educacio-

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nais, pois realmente cumprirão com seu objetivo de proporcionar possibilidades múltiplas de desenvolvimento dos seres humanos. Outra característica importante das atividades lúdicas dentro da escola é apresentada por Vygotsky (1984). Os elementos fundamentais da brincadeira são: a situação imaginária, a imitação e as regras. Segundo o autor, sempre que brinca, a criança cria uma situação imaginária onde assume um papel, que pode ser, inicialmente, a imitação de um adulto observado. Imagine um adulto que possui a profissão de mecânico e seu filho sempre o vê trabalhando. Quando esse menino estiver brincando livremente nos momentos lúdicos, qual profissão você imagina que virá à ca176/219

beça desse garoto? Claro que ele também brincará de outras profissões, mas quem está mais próximo de seu mundo é o mecânico.

Link

Vygotsky versus Piaget – Teorias. Disponível em: Acesso em: 10 nov. 2016.

Essas informações são muito importantes no processo de ensino-aprendizagem! Quando pensamos em desenvolvimento psicomotor, não vemos apenas pernas chutando uma bola, ou mãos penteando o cabelo de bonecas, nós vemos seres humanos dotados de sentimentos, cultura, desejos

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por trás desse ato motor. As atividades corporais, por si só, são capazes de fazer com que as pessoas mostrem quem “realmente são”.

Para saber mais Persona vem do teatro grego, eram máscaras nas quais um único ator era capaz de interpretar diferentes personagens. No mundo contemporâneo, utilizamos o termo persona para ilustrar os diferentes personagens que vivemos em nosso cotidiano. Quando as pessoas estão em atividades corporais, é como se suas máscaras (ou personas) caíssem e a pessoa mostra quem realmente é.

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Com as crianças é tudo mais simples, pois elas ainda não assumem diferentes máscaras sociais, mas se mostram como realmente são. Mas as atividades corporais, principalmente as lúdicas, nos trazem informações mais profundas do que realmente as crianças pensam e sentem. Embasados em Teixeira e Figueiredo (1970), existem inúmeros motivos pelos quais os educadores (neste caso, na Educação Infantil) valorizam e utilizam as atividades lúdicas no processo de aprendizagem dos pequenos: 1 - As atividades lúdicas correspondem a um impulso natural da criança, e neste sentido, satisfazem uma necessidade interior, pois o ser humano apresenta uma tendência lúdica;

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2 - O lúdico apresenta dois elementos que o caracterizam: o prazer e o esforço espontâneo. Ele é considerado prazeroso, devido à sua capacidade de absorver o indivíduo de forma intensa e total, criando um clima de entusiasmo. É este aspecto de envolvimento emocional que o torna uma atividade com forte teor de motivação, capaz de gerar um estado de vibração e euforia. Em virtude desta atmosfera de prazer dentro da qual se desenrola, a ludicidade é portadora de um interesse intrínseco, canalizando as energias no sentido de um esforço total para consecução de seu objetivo. Portanto, as atividades lúdicas são excitantes, mas também requerem um esforço voluntário; 3 - As situações lúdicas mobilizam es178/219

quemas mentais. Sendo uma atividade física e mental, a ludicidade aciona e ativa as funções psiconeurológicas e as operações mentais, estimulando o pensamento e ainda articulando o raciocínio; 4 - As atividades lúdicas integram as várias dimensões da personalidade: afetiva, motora e cognitiva. Como atividade física e mental que mobiliza as funções e operações, a ludicidade aciona as esferas motora e cognitiva, e à medida que gera envolvimento emocional, apela para a esfera afetiva. Assim sendo, vê-se que a atividade lúdica se assemelha à atividade artística, como um elemento integrador dos vários aspectos da personalidade. O ser que brinca e joga é, também, o

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ser que age, sente, pensa, aprende e se desenvolve. Para que você possa se fundamentar melhor em relação ao universo lúdico, é importante saber diferenciar o jogo pedagógico do jogo lúdico. Muitos educadores se veem na obrigação de “pedagogizar” todas as atividades na escola; nesse “desespero educacional”, os educadores apresentam jogos nos quais não podem sair do script inicial! Imagine isso para uma criança da Educação Infantil, cheia de vida, imaginação e vontade de criar, sendo podada por isso. Na Educação Infantil, com a grande variedade de abordagens e necessidades dos alunos, o equilíbrio é o sucesso. É importante apresentar algumas diferenças entre o jogo pedagógico e o jogo lúdico. 179/219

O jogo pedagógico possui as seguintes características: • Grande força pedagógica • Objetivo de alcançar um objetivo (ou objetivos) específico(s) • A intenção de provocar aprendizagem significativa • Estimular a construção de novo conhecimento • Despertar o desenvolvimento de uma habilidade operatória à intervenção do indivíduo nos fenômenos sociais e culturais e que o ajude a construir conexões. Já as atividades lúdicas possuem as seguintes características:

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• Levar o indivíduo ao prazer, • Estimular a imaginação • Diversão • Entretenimento • Fim em si mesmo • Pode ser reiniciada a qualquer momento.

Link Exemplo de estudos de jogos lúdicos e pedagógicos com o tema meio ambiente. Disponível em: Acesso em: 10 nov. 2016.

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O jogo no processo de ensino-aprendizagem atua a partir de seu caráter desafiador, pelo interesse do aluno e pelo objetivo proposto, sempre levando em consideração a maturidade da criança para superar seu desafio, as características culturais dos alunos e seus principais significados, e nunca quando o educando revelar cansaço pela atividade ou tédio por seus resultados. Em outras palavras, “mate o jogo, antes que ele morra sozinho!”

Link

Corpo e movimento na Educação Infantil. Disponível em: Acesso em: 10 nov. 2016.

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O lúdico é uma estratégia insubstituível que pode (e deve) ser usada como combustível na construção do conhecimento humano, pois sua grande força impulsiona o desenvolvimento das diferentes habilidades operatórias, elucida como a criança realmente é, trazendo informações “limpas” (sem interferências) de como a criança realmente é, quais são seus reais desejos (mesmo sendo pessoas tão pequenas). Além disso, é uma importante ferramenta de progresso pessoal. Além de todos os benefícios apresentados, é importante ressaltar que as atividades lúdicas também contribuem para a construção e desenvolvimento da personalidade das crianças.

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O lúdico no processo de ensino-aprendizagem não pode ser um privilégio, mas sim uma necessidade real, pois leva o educando a tomar consciência de si, da realidade e a esforçar-se na busca dos conhecimentos, sem perder o prazer em aprender. É garantido que os alunos que aprendem brincando são os mais dedicados, pois internalizam o processo de aprendizagem de uma maneira que poucos fazem, porque vivem o momento. Para tanto, é necessário e urgente habilitar o educador para que este elemento tão necessário à formação da aprendizagem do educando possa ser inserido como aspecto indispensável na interação do relacionamento educando-aprendizagem.

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Finalizando, vale mais uma vez ressaltar que, para que o desenvolvimento psicomotor da crianças, seja ele estimulado pelo lúdico, por brincadeiras ou jogos direcionados ou por qualquer outra abordagem, só realmente acontecerá se o ambiente escolar favorecer o desenvolvimento dos alunos, incluindo ao aprendizado a mente das crianças (cognitivo), seus corações (questões afetivas), sua vida (questões culturais) e seus corpos (questões motoras). Dessa forma, invista o seu tempo de estudos e no cotidiano escolar, invista em espaços importantes em seu planejamento para que este aprendizado aconteça.

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Glossário Lúdico: Palavra derivada do latim “ludus” que significa “jogos” e “brincar. Pedagogizar: Prática comum nas escolas de criar caráter de ensino às diferentes práticas do cotidiano escolar. Persona: Máscara do teatro grego que possibilitava a um único ator representar inúmeros personagens.

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Questão para

reflexão O lúdico na Educação Infantil não é um privilégio, mas um componente obrigatório dentro das escolas. O lúdico é um mergulho que a criança faz em relação ao mundo da diversão, alegria e aprendizado.

?

Os educadores da Educação Infantil devem proporcionar momentos exclusivos ao lúdico, para que as crianças possam exercitar a imaginação e terem a oportunidade do aprendizado em múltiplas esferas, inclusive na formação da personalidade. Reflita porque há propostas educativas voltadas para crianças que não privilegiam o brincar como centro da aprendizagem. 184/221

Considerações Finais • Diversos autores defendem o lúdico como ferramenta importante para o desenvolvimento integral do ser humano, principalmente na fase de Educação Infantil. • Quando uma criança está brincando, está realmente inserida no mundo das brincadeiras. O educador deve respeitar esse momento das crianças e, além disso, estimular que seja uma prática comum dentro das escolas. • As atividades lúdicas são instrumentos poderosos de informação aos educadores, pois fazem com que a criança apresente a sua cultura, sua visão de mundo e seus desejos. • Os jogos pedagógicos são ferramentas fundamentais para alcançar diferentes objetivos, entretanto, as possibilidades de proporcionar os jogos lúdicos na Educação Infantil proporcionam que a criança desenvolva diversas habilidades.

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Referências FREIRE, J. B. O jogo: entre o riso e o choro. Campinas, Autores Associados, 2002. HUIZINGA, J. Homo ludens. São Paulo: Perspectiva, 1999. PIAGET, Jean. A psicologia da inteligência. Lisboa, Fundo de Cultura, 1967. TEIXEIRA, Mauro Soares. FIGUEIREDO, Jarbas Sales. Recreação para todos: manual teoria e prática. 2. ed., São Paulo: Obelisco, 1970. VYGOTSKY, L. S. A formação da mente. São Paulo: Martins Fontes, 1984.

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Aula 7 - Tema: O corpo lúdico e as descobertas por meio de jogos e manifestações culturais. Bloco I

Aula 7 - Tema: O corpo lúdico e as descobertas por meio de jogos e manifestações culturais. Bloco II

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Questão 1 1. O termo lúdico advém: a) De ludus, termo do latim que significa brincadeira sem significado. b) De ludus, termo do grego que significa jogo. c) De ludus, termo do latim que significa jogos e brincadeiras*. d) De ludicidade, que significa ocupar o tempo livre. e) De ludus, termo do latim que significa fonte de atividades.

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Questão 2 2. Para Piaget, por meio da atividade lúdica: a) A criança assimila ou interpreta a realidade * b) Os educadores podem avaliar as crianças de forma quantitativa c) A criança não assimila a sua realidade, mas prepara esquemas mentais para passar de estágio de desenvolvimento. d) A escola promove integração entre os participantes e avalia a realidade do grupo. e) Piaget não estudou o lúdico.

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Questão 3 3. De acordo com o que você estudou no tema, o lúdico deve possuir espaço no planejamento do educador: a) Privilegiado, pois o brincar faz parte da vida da criança. b) Moderado, pois a Educação Infantil não possui mais um viés assistencial, sendo assim, devem ser trabalhadas questões educacionais. c) Privilegiado, após as atividades pedagógicas os alunos merecem um prêmio para se divertirem. d) As brincadeiras não necessitam entrar no planejamento, pois já fazem parte do cotidiano. e) Fica a critério de cada educador incluir ou não as atividades lúdicas no seu planejamento.

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Questão 4 4. De acordo com o texto estudado, as brinquedotecas nas escolas são: a) Importantes, pois é uma forma de divulgar os trabalhos da escola. b) Não são importantes, pois não agregam às questões pedagógicas do cotidiano escolar. c) Importantes, mas não devem ser tratadas como ambiente pedagógico, mas sim de descompressão das energias das crianças. d) Não são importantes, pois o lúdico não agrega valor ao desenvolvimento das crianças. e) Importantes ao desenvolvimento das crianças, sendo assim, devem ser melhor utilizadas, não só como vitrine da instituição.*

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Questão 5 5. As atividades lúdicas dentro das escolas de Educação Infantil: a) Favorecem aos alunos que podem reproduzir as atividades apresentadas pelos educadores. b) Favorecem aos alunos que podem “exercitar” sua habilidade de criar, recriar, reproduzir sua realidade e interagir com os colegas. * c) Desfavorecem aos alunos, pois fogem do trato pedagógico necessário para a formação das pessoas. d) Favorecem aos educadores, pois enquanto as crianças brincam, pode ser adiantado o preenchimento do diário de classe. e) Favorecem a instituição escolar, pois possuem mais força para negociar com a comunidade a compra de materiais adequados para a qualidade da educação.

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Gabarito 1. Resposta: C.

4. Resposta: E.

A palavra lúdico advém de ludus, palavra que vem do latim e significa jogos e brincadeiras.

A brinquedoteca não é apenas um espaço da escola, ou uma vitrine para que as pessoas possam observar, é um espaço rico para que as crianças possam aprender e vivenciar o lúdico.

2. Resposta: A. Em seus estudos, Piaget diz que enquanto a criança participa de atividades lúdicas, assimila e interpreta a realidade em que vive.

3. Resposta: A. O que a criança melhor sabe fazer? Brincar! Sendo assim, a escola deve proporcionar espaço privilegiado para essa prática.

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5. Resposta: B. As atividades lúdicas vão além do apenas brincar, com o lúdico as crianças são capazes de exercitar sua habilidade de criar, recriar, reproduzir sua realidade, e ainda mais, interagir com os colegas.

Unidade 8 O trabalho do educador na Educação Infantil: diálogos com as culturas corporais

Objetivos 1. Reconhecer a importância de um novo profissional que acompanha a evolução do mercado de trabalho. 2. Valorizar o trabalho do Educador de Educação Infantil como um promotor do desenvolvimento motor e agente de difusão da cultura corporal. 3. Promover uma Educação Infantil que prepara as crianças para o futuro sem esquecer-se do momento atual, favorecendo o desenvolvimento pleno das crianças. 194/219

Introdução Durante toda a discussão, você teve a oportunidade de perpassar por inúmeras possibilidades de interação entre criança, corpo, cultura e conhecimento. Agora é fundamental reconhecer e valorizar o trabalho do educador como agente catalisador de todo esse processo de desenvolvimento das crianças na fase de Educação Infantil. Para lhe provocar um pouco mais, responda as perguntas abaixo. Por que valorizar a figura do professor de Educação Infantil como alguém capaz de reconhecer o corpo da criança como parte fundamental do seu desenvolvimento? Por que valorizar a figura do professor de Educação Infantil como um alfabetizador corporal? 195/219

Ou ainda, por que valorizar a figura de um professor de Educação Infantil como alguém que analisa, identifica a cultura de seus alunos e valoriza sua cultura corporal do movimento como marcas importantes e informações inerentes ao processo educativo? Existem inúmeras possibilidades de resposta, mas a mais importante é definida de maneira extremamente simples: Para mudar a vida das crianças! Tenho certeza de que você tem internalizado que o trabalho pedagógico na Educação Infantil articula de forma indissociável tanto o cuidar como o educar. Estas são faces de uma mesma moeda, logo, um profissional qualificado compreende este processo e o respeita na sua ação com as crianças.

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A concepção de educador atualmente vai muito além do simples fato de transmitir ou ensinar conteúdos, além de avaliar alunos se alcançaram determinado nível de conhecimento ou ministrar determinada aula de acordo com sua disciplina. Lembre-se: o conteúdo da Educação Infantil, se é que podemos chamá-lo assim, é o brincar. O mundo atual necessita de pessoas que atendam diferentes necessidades respeitando as especificidades e singularidades dos indivíduos. Um garçom não é mais a pessoa que serve a refeição aos seus clientes, atualmente também é especialista em vinhos que harmonizam com a comida; os corretores imobiliários não são mais as pessoas que levam seus clientes para conhecerem casas, hoje, muitos profissionais se des196/219

tacam, pois assumem o papel de consultores, analisando as principais características e necessidades de seus clientes e não mais apresentam casa, mas sim lares, não vendem mais imóveis, eles vendem sonhos. Na educação, mesmo com a rejeição de muitos, a realidade segue a mesma linha. Os profissionais que estavam acostumados apenas a “passar conteúdos”, ou se você preferir os termos críticos de Perrenoud (2000, p. 23), serem meros “dadores de aulas”, hoje se veem frente às necessidades cada vez mais complexas e que exigem uma qualificação muito mais abrangente e específica do que aquela em que os professores que ensinaram as gerações anteriores. Assim, é fundamental que os profissionais da educação percebam sua profissão como algo mais

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amplo, complexo e dinâmico. Na educação, a exigência de sair da sua “zona de conforto” é imprescindível para uma educação de corpo inteiro. Educadores “de sala” hoje também são responsáveis pelo desenvolvimento motor das crianças, além disso, devem ser grandes conhecedores da cultura onde esses alunos estão envolvidos, e acima de tudo, devem conhecer sobre seres humanos, seguindo a máxima de Freire (1997, p. 20), onde diz que a “criança aprende mentalmente o que faz fisicamente, ou seja, coloque suas crianças em movimento, não somente para gastarem energia, mas para se desenvolverem”.

na; você, especialista em Educação Infantil, está acima de uma abordagem higienista, com todas as suas atribuições relacionadas aos alunos nos âmbitos da higiene, proteção, estimulando as crianças ao autoconhecimento. É importante que você possa reconhecer-se como um ser integrante de um grupo, reconhecido e valorizado em seus saberes e práticas. Engajado em desenvolver práticas relacionadas à motricidade humana e as principais características da alfabetização corporal e da valorização da cultura corporal do movimento.

Por esse motivo você está aqui, lendo essas palavras e participando desta discipli197/219

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Link A criança em seu mundo! Mario Sérgio Cortella. Disponível em: Acesso em: 10 nov. 2016.

1. O papel do educador como agente de desenvolvimento da cultura corporal Boa parte das discussões caminha no sentido de que os educadores, além de ensinar os conteúdos teóricos, mesmo que na Educação Infantil, estes conteúdos sejam relativamente flexíveis e perpassados pelo lúdico. A função de ensinar e estimular todas as 198/219

crianças sobre a possibilidade e a capacidade de se comunicar corporalmente favorece a práxis do conhecimento humano.

Para saber mais O termo práxis é muito utilizado na bibliografia que trata de questões corporais na escola. Como o corpo é excluído do processo pedagógico, ou, ao contrário, as características conceituais são muitas vezes abolidas das atividades corporais, a proposta é que corpo e mente, conceitual e atitudinal, conceitual e prática, possam caminhar juntos rumo ao desenvolvimento integral das crianças.

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Ao mesmo tempo que lhes são atribuídas as novas funções, os educadores da Educação Infantil, muitas vezes, rebatem dizendo que “não são especialistas na linguagem do corpo”. Isso é a mais pura verdade, junto à “falta de muitos não receberam estímulos em sua fase escolar, tampouco em sua formação no Ensino Superior”, mas, mesmo assim, são responsáveis por fazerem a mediação entre os conhecimentos socialmente construídos e os alunos, aqueles que vão para a escola aprender o que fora dela não se aprende. A realidade nos mostra que ensino e aprendizagem estão intimamente ligados, até porque não existe ensino se não houver aprendizado. Outra questão inerente é definir “quem aprende com quem”. Será que 199/219

realmente o educador é “o detentor” do conhecimento única e exclusivamente porque possui título “superior” e experiência de vida?

Para saber mais Por muito tempo o educador foi considerado o “mestre”, o detentor do poder, onde cabia aos alunos apenas escutarem para poderem aprender algo. Os famosos “tablados ou palcos” no início das salas de aula não eram apenas para que o educador tivesse mais visão da sala, mas também para demonstrar a sua “superioridade” em relação aos alunos. Com o advento da Escola Nova, o professor “desceu” e começou a se relacionar com os alunos no mesmo plano, facilitando assim as conexões e aprendizado.

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Na temática do corpo, movimento, a cultura corporal do movimento e principalmente a importância do professor são os focos deste último tema. Sendo assim, a missão dos educadores é apresentar e integrar as crianças à cultura corporal, ampliando seus conhecimentos e alargando as possibilidades do se movimentar, de interagir com os amigos.

possibilidade de viver uma vida mais ativa e saudável.

Acreditamos que a partir deste olhar, as crianças que souberem utilizar seus corpos e se comunicarem a partir dele terão, provavelmente, mais possibilidades de inserção e interação social.

Enquanto o senso comum, ao avistar crianças com seus corpos em atividade, pode imaginar que elas estejam “apenas” brincando, jogando, dançando ou lutando, nós, educadores que conhecemos a psicomotricidade, a cultura corporal do movimento, a alfabetização corporal, vemos o espetáculo do desenvolvimento humano acontecendo e utilizamos as ferramentas aprendidas com

Podemos supor que as crianças e jovens analfabetos corporalmente são excluídos, marginalizados e pouco compreendem as relações do corpo em movimento com a 200/219

O que precisa ser valorizado por nós, educadores, é um corpo como um movimento que é uma forma de expressão e aprendizado, devemos pensá-lo não apenas como um ato mecânico de reprodução das culturas, mas como uma das pontes mais importantes entre ser humano/cultura/aprendizado.

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o objetivo de proporcionar um aprendizado integral às crianças. Em atividades corporais proporcionadas pelos educadores na Educação Infantil, seja no parque, ou no pátio, um dos objetivos é sistematizar e dar intencionalidade a um jeito de fazer o movimento e a cultura, uma vez que pretende contribuir para que este movimento seja carregado e impregnado de vida, conhecimento, cultura e de um estilo de vida fisicamente ativo e consciente, com crianças que são protagonistas e, portanto, construtoras de seu conhecimento. Na prática, muitas são as possibilidades e muitos são os conteúdos de uma possível abordagem, cabe ao educador selecionar as melhores para os determinados momentos do cotidiano escolar. Lembre-se de que 201/219

a educação é uma construção social e depende de seus atores, logo, o caminho ideal para cada turma, cada criança, depende de vivência, do contexto em que elas e você, educador, estejam inseridos. O ideal é fazer das aulas momentos que valorizam o corpo na Educação Infantil, guiadas por educadores que valorizam o corpo como comunicação com o mundo, um espaço onde cada criança possa se conhecer melhor, conhecer o seu corpo e suas possibilidades, e, em se conhecendo, que possam ser capazes de fazer suas escolhas, forjando a autonomia necessária para a busca de uma vida mais recheada pelo prazer do “movimento”, de SE MOVIMENTAR. Dessa forma, o educador atua como facilitador desse aprendizado, sempre respei-

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tando, apoiando e intervindo quando necessário. O julgamento e intervenção sobre o que é certo ou errado é outro quesito a ser discutido quando refletimos sobre educadores e sua atuação na Educação Infantil. Devemos nos questionar sobre o que é ser menino, o que é ser menina, as atividades que são adequadas para cada gênero, atividades com cunho religioso, atividades culturais, entre outros, pois estas são questões complexas e de fundamental importância no dia a dia dos educadores. Espero que você perceba que um caminho que seja mais adequado, provavelmente, seja o bom senso e uma postura dialógica com as crianças, sua família e os demais membros da comunidade escolar. 202/219

Outra questão importante a ser ressaltada, quando falamos de educadores, é a imparcialidade na escolha das atividades. Lembramos que são ferramentas para que possamos chegar ao nosso objetivo, mas inúmeros educadores ditam ou selecionam brincadeiras, jogos, danças que fizeram parte do seu cotidiano, atuando como imposição de uma cultura dominante, cabendo aos alunos apenas reproduzirem e acatarem as regras do professor. Com o objetivo de evitar conflitos, o diálogo inicialmente com os alunos e com a comunidade é fundamental para o sucesso do processo. Não devemos pensar que, por se tratar de crianças pequenas, que elas são incapazes de escolher e deliberar. Nunca se esqueça que elas são sujeitos históricos e de

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direito, e o exercício da escolha, do escutar a opinião dos demais colegas, é um processo fundamental para o exercício da cidadania.

2. O que esperar das novas gerações na Educação Infantil? O maior sonho de qualquer educador é agir positivamente na vida das pessoas. Questões salariais são importantes, qualidade de trabalho e outras reivindicações pertinentes de uma categoria sempre estão em nosso horizonte de análise, mas a oportunidade de ver que seu trabalho foi bem feito e impactou positivamente a vida das pessoas é o maior pagamento que o educador pode receber. Alguns podem pensar: “Isto tudo é muito bonito, mas não enche 203/219

a barriga de ninguém, o importante é dinheiro no bolso!” Este argumento é verídico em sua totalidade, pois somos uma categoria profissional, tal como tantas outras, e o reconhecimento social e salários compatíveis com nossa qualificação são deveres de qualquer sociedade que se pretenda “educadora”. Contudo, sabemos que esta não é a única motivação dos educadores, pois, quantos de nós, apesar de condições não ideais, ao ver uma criança crescer e se desenvolver como uma pessoa melhor, potente, ativa, crítica, não se sente feliz e realizado? Podemos inferir que isto ocorre porque as crianças e nossos alunos, de um modo geral, são fruto do nosso trabalho, e esta ação dialética de formação e transformação age tanto sobre

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eles como sobre nós. Nosso principal compromisso deve ser garantir e criar meios para que todas as crianças que passam para a Educação Infantil tenham a oportunidade de se desenvolver integralmente, como sujeitos históricos, culturais, plenos, potentes e de direitos. Além dos cuidados básicos como a higiene, alimentação e segurança, que são muito importantes para o crescimento, os educadores devem romper a abordagem higienista e criar a possibilidade de proporcionar à criança viver o agora, e, ao mesmo tempo, ser preparada para o futuro é muito importante.

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Link

A história da Educação Infantil. Disponível em: Acesso em: 10 nov. 2016.

Outra questão fundamental sobre a Educação Infantil de qualidade é um olhar atento às questões motoras, pois sabemos de sua influência sobre as demais áreas do conhecimento, assim, é fundamental proporcionar à criança meios de desenvolvimento que sejam compatíveis com a sua singularidade. Neste mesmo sentido, lembre-se de que a avaliação na Educação Infantil serve para observar e retratar o desenvolvimento das crianças em sua integralidade, isto quer

Unidade 8 • O trabalho do educador na Educação Infantil: diálogos com as culturas corporais

dizer que ela deve ser avaliada a partir de si mesma, sendo respeitado o seu momento e estimulando o seu contínuo desenvolvimento. A avaliação não serve para classificar ou homogeneizar o processo de aprendizado, ao contrário, confere um status de especificações das diferenças e traços característicos de cada criança e, ao mesmo tempo, de pertencimento a um determinado grupo social. A atuação do educador na Educação Infantil implica forjar práticas onde os alunos possuem a oportunidade de serem compreendidos como seres biológicos, mas também culturais, podendo expressar-se a partir de sua história, realizando o que Paulo Freire (1997) sinalizava como proporcionar que a criança vivencie a sua realidade, compreen205/219

da-a e a transforme. Com o embasamento da psicomotricidade, da cultura corporal e da alfabetização corporal, a Educação Infantil é aquela que possibilita à criança utilizar o seu corpo como ferramenta de desenvolvimento e comunicação com o mundo, além de ter a oportunidade de poder brincar livremente e expressar seus desejos, sentimentos e sonhos. O lúdico que perpassa a educação com crianças precisa estar impregnado nas práticas e no próprio éthos educativo. Para que tudo isso aconteça, é fundamental que as crianças possam ter a oportunidade de encontrar educadores comprometidos e qualificados para atuarem de forma investigativa e instigante com seus alunos, buscando práticas pedagógicas inovadoras e

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criativas que atendam às necessidades das crianças. Um educador que atue como um companheiro, um mediador do conhecimento e do desenvolvimento amplo e pleno destes sujeitos em formação.

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Glossário Zona de conforto: Termo utilizado pela psicologia e Programação Neurolinguística para ilustrar local ou estado de estagnação do ser humano, impossibilitando-o de se desenvolver. Abordagem Higienista: Abordagem que se preocupa com a higiene das pessoas, com o objetivo de evitar doenças. Práxis: A união entre a teoria e a prática.

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Questão para

reflexão

?

O mundo mudou e a educação deve acompanhar essas mudanças! Com as mudanças na forma de conhecimento, nas relações, tecnologias, a forma de trabalho passou por uma revolução, não havendo espaço às pessoas que são “as especialistas”. Na educação o processo é similar, os educadores devem assumir um papel polivalente, onde estão envolvidos com a educação e o desenvolvimento integral dos seres humanos e não apenas para transmitir o seu conhecimento. Reflita: o que você acredita que seja necessário para uma formação integral do educador na Educação Infantil? 208/221

Considerações Finais • O mundo mudou e a Educação deve acompanhar essas mudanças. • O educador contemporâneo é aquele que rompe o estereótipo de especialista em determinada área e toma uma postura na qual entende que trabalha com seres humanos e não somente com conteúdos preestabelecidos. • A Educação Infantil deve ser aquela que valoriza a criança não somente na questão biológica, mas também entende a criança como um ser cultural e social. • Uma Educação Infantil que respeita a criança garante a ela espaços importantes para que o livre brincar seja garantido.

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Referências FREIRE, J. B. Educação de corpo inteiro: teoria e prática da Educação Física. São Paulo: Scipione, 1989. FREIRE, Paulo. Pedagogia da Autonomia: saberes necessários à prática educativa. Rio de Janeiro: Paz e Terra, 1997. NEIRA, M. G.; NUNES, M. L. F. Pedagogia da cultura corporal: crítica e alternativas. São Paulo: Editora Phorte, 2008. PERRENOUD, P. Dez novas competências para ensinar. Porto alegre: Artes Médicas Sul, 2000.

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Unidade 8 • O trabalho do educador na Educação Infantil: diálogos com as culturas corporais

Assista a suas aulas

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Aula 8 - Tema: O trabalho do educador na educação infantil: Diálogos com as culturas corporais. Bloco I

Aula 8 - Tema: O trabalho do educador na educação infantil: Diálogos com as culturas corporais. Bloco II

Disponível em: .

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Questão 1 1. De acordo com o texto, o novo profissional é aquele que: a) Se especializa em somente uma área de atuação. b) É o profissional que não possui uma visão ampla de mercado, sendo assim, não vê a necessidade de estudar. c) É a pessoa que entende o mercado como amplo, havendo a necessidade de conhecer diversas possibilidades de ação, oferecendo um serviço de qualidade.  d) Não existe a necessidade de pensar em novas possibilidades de ação, pois o mercado se mantém como antes. e) É o profissional que está disposto a abolir as abordagens tradicionais que só atrasam a evolução do mercado.

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Questão 2 2. A necessidade de uma Educação Infantil diferenciada parte do pressuposto de que: a) A partir da liberdade pedagógica, cada escola faz o que é de seu interesse com o objetivo de educar as crianças. b) De expandir a atuação da escola, incluindo nela informática e diferentes tecnologias.  c) De uma Educação Infantil além do cuidado e segurança, onde a criança é vista como um ser complexo. d) De expandir a atuação da escola, incluindo nela a alfabetização e letramento.  e) De uma Educação Infantil pautada principalmente no cuidado e segurança, onde a criança é vista como um ser complexo.

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Questão 3 3. O termo analfabeto corporal remete-se à: a) Incapacidade da pessoa em reconhecer o seu corpo em sua funcionalidade e como uma ferramenta de comunicação com o mundo. b) Incapacidade da pessoa em reconhecer o nome das principais partes do corpo e sua funcionalidade. c) Incapacidade da pessoa em reconhecer o nome das principais partes do corpo pela falta de conhecimento de leitura e escrita. d) Incapacidade da pessoa em reconhecer seu corpo pela má gestão de materiais nas escolas. e) Incapacidade das pessoas em reconhecer o seu corpo, pelo simples motivo de que as escolas não possuem materiais adequados à sua prática.

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Questão 4 4. O ideal para as novas gerações que passarão pela Educação Infantil, quando se trata de questões corporais, é que terão a oportunidade de vivenciar: a) O seu corpo em plenitude, conhecendo sua estrutura, aplicando-a aos esportes e lutas. b) O seu corpo como ferramenta de desenvolvimento e conhecimento e construção de sua cultura. c) O seu corpo como ferramenta de aprendizagem e reprodução da cultura dos educadores envolvidos. d) O seu corpo como um ser biológico que se desenvolve exclusivamente a partir de estímulos motores. e) O seu corpo como ferramenta de desenvolvimento a partir das diretrizes da Secretaria de Educação, estabelecidas em seu conselho deliberativo.

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Questão 5 5. A utilização da práxis com o objetivo de estimular as características práticas do desenvolvimento psicomotor: a) Os conteúdos trabalhados a partir do diálogo entre o educador e cultura corporal devem ser abordados a partir da cultura esportiva. b) A utilização da práxis, com o objetivo de trabalhar conteúdos teóricos com o objetivo de estimular a competência leitora e escritora nas crianças. c) De metodologia específica com conteúdos teóricos, inerentes ao desenvolvimento intelectual da criança. d) Estímulo da práxis, objetivando desenvolver a união entre teoria e prática rumo ao desenvolvimento de leitura e escrita das crianças. e) A utilização da práxis com o objetivo de desenvolver a união entre teoria e prática rumo ao desenvolvimento psicomotor das crianças.

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Gabarito 1. Resposta: C. Atualmente, em todas as áreas, o profissional é aquela pessoa capaz de ter conhecimentos múltiplos para conseguir atender da melhor forma o seu público.

2. Resposta: C. A Educação Infantil deve ir além do cuidado e segurança, mas atender a questões pedagógicas que auxiliam no desenvolvimento da criança e a preparam para os desafios do Ensino Fundamental.

3. Resposta: A. A alfabetização corporal favorece a criança em diversos aspectos, entre eles, proporcio217/219

nar à criança a capacidade de reconhecer o seu corpo e saber como utilizá-lo da melhor forma na vida.

4. Resposta: B. O corpo da criança deve ser tratado em características biológicas, mas ir além disso, reconhecê-lo como construtor de cultura, desse modo, os educadores atendem da melhor forma as necessidades das crianças.

5. Resposta: E. A práxis é muito utilizada nas atividades corporais, pois estimula que os educadores vão além somente das características corporais, mas também trabalhando com a união entre a teoria e a prática, rumo ao de-

Gabarito senvolvimento integral das crianças.

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CULTURA CORPORAL INTERFACES COM A PSICOMOTRICIDADE

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