The Fallen Men 6 - Dead Man Walking (PAPA LIVROS)

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Sinopse Um assassino. Um criminoso. Um psicopata. O executor irlandês do The Fallen Men MC é tudo o que as boas meninas são orientadas a ficarem longe. Mas, eu me encontrei inexoravelmente atraída por sua força gravitacional escura. Queria saber como seria caminhar ao lado da personificação humana da Morte e segurar sua mão, sentir seu beijo e talvez até ganhar seu amor eterno. Mas Priest McKenna é mais velho, frio como o gelo e notoriamente insensível. Então, quais são as chances de que um homem morto ganhe vida para uma pequena e insignificante eu? Quando um serial killer começa a atacar as mulheres de Entrance, BC, e The Fallen sofre outro golpe terrível, Priest decide caçar por ele próprio o assassino. E quando o assassino põe os olhos em mim? Meu próprio psicopata anda entre mim e a morte certa, empurrando-nos a uma intimidade da qual rezei nunca nos recuperarmos.

* Um livro independente da série The Fallen Men. *

Para quem nunca tem medo e sempre se intriga com as coisas que vão esbarrar durante a noite. E a Allaa, por ser minha alma gêmea, minha caixa de ressonância e meu melhor amigo. Bea e Priest serão seus para sempre.

Uma Nota Para os Leitores Este é um romance sombrio. A história de Priest e Bea apresenta violência gráfica, sexo pervertido e assuntos delicados. Além disso, trata de questões de religião, assassinato em série e psicopatia. Se você tiver problemas com algum desses tópicos, não prossiga.

A integridade para os humanos depende da capacidade de possuir sua própria sombra.

Carl Jung.

“Spooky” ––Classic IV “Sleeping On The Blacktop” ––Colter Wall “Bleeding Out” –– Imagine Dragons “Chasing Cars” –– Snow Patrol “(Don’t Fear) The Reaper” –– Blue Oyster Cult “Make It Holy” –– The Staves “Watch Me” –– The Phantoms “Dangerous” –– Royal Deluxe “Can We Kiss Forever” –– “You Want It Darker” –– Leonard Cohen “#1 Crush” ––Garbage “You’re In Love With A Psycho” ––Kasabian “I’m Gonna Do My Thing” –– Royal Deluxe “Dark Side” –– Bishop Briggs “Crazy Town” –– Ozzy Osbourne “Hypnotic” ––Zella Day “Creep” –– Ember Island “Mad Hatter” –– Melanie Martinez “New Blood” –– Zayde Wolf

“Bloodsport” –– Raleigh Ritchie “We Must Be Killers” –– Mikkey Ekko “I Will Follow You Into The Dark” –– Death Cab for Cutie “Graveyard” –– Halsey “Praying To A God” ––Mr. Probz, LUKE “The Groundskeeper” –– David Keenan “Bring Me Back to Life” –– Ht Bristol, Charlie Bannister, Vincent Steele, Nine One One “Are You Even Real?” ––James Blake “Get Right Church” ––Ben Miller Band “Bodies” –– Bryce Fox “bury a friend” –– Billie Eilish “Graves” –– Whiskey Shivers “Angels” –– Khalid “Dust To Dust” –– The Civil Wars “Dear God” –– Lawless, Sydney Wayser “No Shade In The Shadow Of The Cross” –– Sufjan Stephens “Hide & Seek” –– Imogen Heap “The Prayer” –– Bloc Party “Ready Or Not” ––Misha “Book” Chillak ft. Esthero “Become The Beast” –– Karliene “The Killer Was A Coward” –– Dermot Kennedy “White Demon Love Song” –– Vampyre Moon

Capítulo Um Bea

Eu estava usando branco. Mais especificamente, eu estava vestindo uma fantasia de anjo resplandecente com asas de penas agarrando meus ombros e um vestido de seda que flutuava acima dos meus joelhos. Com meus cabelos dourados claros, minhas pequenas feições femininas e minha boca pintada de rosa, Brett havia me dito que eu parecia ter caído do céu. Não me dei ao trabalho de informá-lo sobre a ironia da minha fantasia. Sim, na maioria das vezes, para a maioria das pessoas, eu era Beatrice Lafayette, amante de todas as coisas cor-de-rosa, fofinha e feminina. Por escolha, eu ainda era virgem, enquanto a maioria das meninas lançava sua primeira vez a qualquer um que lhes oferecesse um copo de cerveja morna, e eu era voluntária na Igreja Primeira Luz, onde meu avô tinha sido pastor por décadas. Portanto, se adequava as asas. Ninguém conhecia meu coração sombrio. Este era um segredo particular que abrigava dentro de mim, sensível apenas o bastante para mantê-lo quase vivo.

Crescendo como eu cresci na mansão do prefeito, uma grande casa branca situada no meio de uma cidade relativamente pacata na costa oeste do Canadá, eu não tinha motivos para vivenciar muita violência. Tínhamos um primo, porém, que jogava hóquei em Vancouver, e minha mãe, quando queria visitar sua irmã, mas não gostando muito da companhia, muitas vezes decidia visitála durante um dos jogos do time de Ryker. Eu adorava ir a esses jogos, não porque gostava muito do esporte ou mesmo de minha tia, mas porque adorava assistir às lutas. Elas explodiam abruptamente, como pequenas granadas de violência irrompendo na superfície gelada da arena, de tal forma que de repente me roubaram o fôlego frio dos pulmões. Havia tanta energia no jogo, a força viciosa de atletas experientes batendo uns nos outros. Tudo se movia para mim de uma maneira estranha. Eu sabia que minha mãe notou meu fascínio, a maneira como minhas bochechas coravam de mais do que apenas o frio, e como eu me inclinava para frente em meu assento para estar mais perto da ação. Mesmo quando criança, era inexplicavelmente atraída por essas coisas opostas a mim. Violência e escuridão, imoralidade e crueldade. Eu era uma boa garota cristã com uma obsessão por aqueles que pecavam. O que explicava, de maneira imperfeita, como me senti quando minha irmã mais velha, Loulou, se apaixonou por um ex-presidiário presidente de um MC fora da lei, ao fazer isso, me apresentou a um mundo inteiro repleto de depravação. O Fallen MC parecia mais minha casa do que a mansão do prefeito.

Estas pessoas compreendiam todo o espectro da moralidade e ignoravam as regras e costumes. Adorava a natureza sanguinária de sua vingança, porque ela se originava como um florescimento sombrio causado por sua lealdade profundamente enraizada. A maneira orgulhosa como eles usavam seus erros, da mesma maneira que usavam seus valores, ousando aceitar nada menos do que o pacote completo de quem eles eram. Estes homens, perfeitamente imperfeitos e atraentes exemplares de um macho alfa supremo? Estes homens eram minha kryptonita e minha família. Então, será que foi uma surpresa eu ter passado a amar um deles? Talvez amor não seja a palavra certa. Eu não o conhecia bem o suficiente para isso. Obsessão, provavelmente, era o mais adequado. Ao longo dos anos, o estudei como uma, perseguindo-o o máximo possível sob os olhos sempre vigilantes das minhas duas famílias: de sangue e de motoqueiros, o que não significava tanto quanto eu queria, mas o suficiente para sustentar a vaga imagem que eu tinha deste homem e minha ânsia por ele. Eles o chamavam de Priest. Até onde eu sou capaz de dizer, ninguém sabia seu nome de batismo. Além disso, eu não sabia muito sobre sua história antes de ele aparecer no clube enquanto fugia aos dezessete anos de idade. Ele era natural da Irlanda e conservou um lirismo em sua fala que, obviamente, tentou refrear com a gíria rude e rouca dos motoqueiros. Sua aparência era exatamente como eu imaginava que Deus deveria querer que um homem fosse, concebido de forma tão bela que parecia quase

sobrenatural. Sua beleza era de outro mundo e lançava uma espécie de perplexidade sobre aqueles que olhavam para ele; ele era ao mesmo tempo divino e ao mesmo tempo um convite ao pecado. Um ímã até mesmo para a mais piedosa bússola moral. Olhar para ele quase despedaçou a minha. Seu cabelo vermelho sedoso era comprido, passando sobre seus ombros largos, e os reflexos ao longo da curva de sua mandíbula e lábio superior. Com infinitas constelações de sardas espalhadas em cada centímetro de pele pálida disponível, e o tom de verde em seus olhos que às vezes eu apreciava eram esmeraldas e outras vezes mais escuros, como musgo molhado. Conhecia suas feições tão bem quanto possível, nunca o tendo tocado ou visto em nada menos que uma camiseta, colete de couro e jeans azul. Minha imaginação, que minha mãe e minha irmã há muito chamavam de hiperativa, preenchia os espaços em branco. Outros detalhes foram reunidos durante meus anos vivendo no coração da família Fallen, onde Loulou reinava com seu marido, Zeus, como soberano. Priest era o executor do clube. O traficante da morte. O anjo vingativo enviado para cobrar o custo de trair o MC. Ele era uma pessoa solitária, mas sua companhia era agradável, carismático de uma maneira tranquila que não atraía muita atenção. Eu o tinha visto fazer Cressida rir quando ela estava de luto pelo marido falecido, e o vi tocar com os dedos ásperos na cabeça da menina de Z e Lou, como se a

estivesse ungindo com sua proteção, um cavaleiro a seu serviço desde o nascimento. Sabia que ele não bebia, mas ele fumava cigarros que ele mesmo enrolava. Ele jogava dardos como um profissional, mas era fantasticamente habilidoso com facas e costumava praticar em uma velha cruz podre do tamanho de uma vaca que encostou em uma árvore atrás da sede do clube no complexo Fallen. Uma série de pequenas coisas, como conchas recolhidas ao longo da costa, não eram suficientes para reivindicar a noção de todo o oceano. Mas eu estava desesperada por mais. Por ele. Era uma fantasia que eu entretinha apenas nas horas mais escuras da noite, sozinha na cama com a mão entre as coxas ou quando as tempestades lançavam sombras assustadoras na janela do meu quarto e me faziam pensar em que tipo de monstros habitavam a noite. Era uma fantasia que eu havia determinado, após quatro anos, que deveria deixar de lado. Da mesma forma que crianças fazem depois de certa idade com coisas infantis. Já estava com quase vinte anos. Era hora de seguir em frente. Então, eu estava em um encontro com Brett. Brett Walsh também foi para a Universidade de British Columbia, estudando economia enquanto eu me formava em psicologia. Ele era

bonitinho como um filhotinho de cachorro, ansioso por agradar com um pronto senso de humor. Ele era, eu achava, mais do que seguro. O tipo de homem que uma menina como Beatrice Lafayette deveria namorar. Loulou, protetora como era, até concordou quando Brett me pegou em sua casa para que pudesse dar uma olhadinha nele antes do nosso encontro. Felizmente, nenhum dos Fallen estava lá ou Brett poderia ter feito xixi nas calças. Ele foi gentil, cortês, abrindo a porta do carro para mim, me guiando através da festa de Halloween com uma mão suave nas costas enquanto me apresentava a seus amigos. Eu não tinha amigos da minha idade, e depois de conhecer os estudantes bêbados e tolos da festa, não me admirava o motivo. Eles eram entediantes, previsíveis. E também estava entediada, naquela festa, segurando minha cerveja quente como um adereço social dentro de uma divertida vibração. Além disso não gostava da música pop tocada ou da quantidade de pele que as meninas mostravam, mesmo da forma como os homens interagiam, o sexismo fácil e os comentários homofóbicos trocados como insultos amigáveis enquanto brincavam. Procurei por Brett, que tinha me deixado para ir ao banheiro quase vinte minutos atrás.

Não que eu estivesse controlando o tempo..., mas pensei que em mais meia hora e poderia fazer com que ele me levasse de volta para casa. — Com licença, você viu Brett? — Perguntei a um cara que esperava na fila do banheiro no corredor. Ele interrompeu sua conversa com outro cara abruptamente e ergueu as sobrancelhas enquanto me observava. — Uau. Doeu quando você caiu do céu? Eu poderia te beijar para curar. — Uau, — eu o imitei docemente. — Original. E me virei sem dizer uma palavra, abrindo caminho através da multidão enquanto procurava por ele na casa. Nada de Brett. A inquietação revirou meu estômago. Ele realmente me abandonaria? Suspirei, esfregando minha testa enquanto me dirigia para a varanda de trás para tomar ar fresco. Meu telefone estava queimando um buraco no meu quadril, onde eu o coloquei no cós da minha calcinha por baixo do vestido. Eu queria ir para casa. Eu queria que alguém me pegasse... Loulou, Cressida ou Harleigh Rose porque elas entenderiam ou, mais, Zeus, Bat ou Wrath porque eles socariam Brett na cara por me deixar sozinha. Mas parecia infantil voltar à minha zona de conforto, por mais estranha que essa zona de conforto pudesse ser. Eu tinha vindo para experimentar como seria ser normal, para variar.

Meus olhos se fecharam, enquanto eu me encostava no exterior da casa, com as paredes vibrando com o som da música do lado de dentro. — Isso é um roubo! — Alguém gritou do fundo da lateral da casa. Meus olhos se abriram. — Você está subindo os preços, idiota, — a mesma voz disse novamente, as palavras acompanhadas pelo baque de algo batendo na carne. — Você tem um problema com o preço, pegue suas merdas de outra pessoa, — disse outra voz com falsa benevolência. Uma voz que reconheci como de Brett. Minha pele arrepiou quando a adrenalina correu por mim. Brett estava traficando drogas. Brett. Cabelo penteado para trás, camisa de botão com estampa e calça cáqui passada. Brett vendia drogas no quintal de uma casa universitária em Entrance, BC. De repente, de forma impactante como um soco no plexo solar, eu gostava muito mais dele do que um momento atrás. Por causa disto? Traficar drogas em Entrance, a cidade natal do capítulo fundador do The Fallen MC? Isso é quase tão perigoso quanto se tornou. Meu coração bateu forte contra minhas costelas, batendo para sair. Respirei fundo para acalmar minha empolgação e caminhei com cuidado

até o final da varanda para poder espiar por cima da grade para os homens nas sombras. Brett fez com que o comprador furioso fosse pressionado até a parede com a mão enfiada em seu peito. Seu rosto, geralmente plácido e agradável, estava cheio de fúria. Estremeci, e não foi por causa do ar frio do outono contra minha pele nua. — Não sou eu que estou roubando alguma coisa, cara. Eu pareço um químico para você? Sou apenas o intermediário. Se você quer ficar chapado e não quer outra coisa, você sabe que este é o lugar certo para conseguir, — Brett zombou. — Então, é pegar ou largar. Tenho uma garota lá dentro esperando por mim, e se eu não transar hoje à noite porque a deixei esperando muito tempo, isso é culpa sua, Owen. Arqueei uma sobrancelha refletindo a sua arrogância. Este era nosso primeiro encontro, não havia como eu ir para a cama com ele. Nem pensar que eu ia fazer mais do que beijá-lo. Mas sua arrogância me fez lembrar do The Fallen, daqueles motoqueiros com toda aquela presunção, e novamente, eu me senti intrigada por ele. Brett estava se tornando um homem pior e uma perspectiva mais sexy a cada segundo. — Tudo bem, — Owen murmurou com petulância. — Me dê sete gramas. — Brett, — eu o chamei docemente, me inclinando sobre a grade para que meu cabelo balançasse sobre meus ombros, como nuvens de cachos dourados e asas atrás da minha cabeça. — Acho que está na hora de você me levar para casa.

Quase ri da expressão de choque em seu rosto, do jeito que o paralisou por um momento precioso. Owen aproveitou o tempo para se desvencilhar de seu controle e se esgueirar para a escuridão. Suspirei quando Brett apenas piscou para mim, obviamente procurando uma maneira de jogar com toda a situação. Com um pequeno salto, subi no corrimão e pulei sobre ele, minha saia pegando o vento, então ele avistou minha calcinha de seda branca. Ele engoliu em seco quando eu olhei para ele depois que pousei levemente na grama e fui andando. — Você não é muito discreto, — disse suavemente, quase gentilmente porque me sentia mal por ele de uma maneira estranha, e também porque me divertia que eu o deixasse tão desequilibrado. — Preciso do dinheiro, — ele explicou, com uma carranca agressiva se estabelecendo em suas feições. — A carga horária do meu curso é integral e não tenho tempo para trabalhar. Encolhi os ombros levemente. — Sou estudante em tempo integral, sou voluntária na Igreja Primeira Luz e trabalho. — Você tem o dinheiro de seu pai, — ele apontou, esperando me cortar com a referência ao meu deplorável pai falecido. Eu sorri lindamente para ele, me inclinando na ponta dos pés porque eu era baixa mesmo de saltos, e ele era mais alto. — Brett? Se você mencionar o nome dele novamente, eu lhe mostrarei porque usei esta fantasia como ironia. A confusão se espalhou sobre seu rosto como sombras.

Eu ri, arrancando o suficiente para agarrar sua mão e puxá-lo em direção à rua. — Sabe, não pensei que me divertiria muito esta noite, mas isso foi ótimo. Brett sacudiu a cabeça. — Você é a garota mais estranha que eu já conheci. Não está... com raiva por eu... lidar com isso? A maioria das garotas enlouqueceria. Eu ri dele, me sentindo alegre e adorável. A noite estava clara e fria, as folhas balançando laranja e vermelhas como chamas cintilando no escuro. Estava saindo com um garoto que era muito menos chato do que aparentava, e pensei que poderia deixá-lo me beijar quando me deixasse em casa. — Querido, se eu odiasse todos os homens envolvidos com drogas, não teria uma vida muito boa em casa, — expliquei enquanto o puxava para o meu corpo contra seu carro e envolvia meus braços em volta de seu pescoço. — Você obviamente não conhece muito bem Entrance se acha que sou sua garota boazinha. — Bea, — disse ele lentamente, puxando a ponta dos meus cachos. — Olhe para você. Como você poderia ser outra coisa senão isso? Eu arqueei uma sobrancelha. — E você? Calça cáqui e cocaína? Ele riu então, olhos fechados enrugados, queixo inclinado para trás, e eu gostei dele ainda mais. Quase o suficiente para esquecer minha obsessão de anos por outro homem. Mas não o suficiente. Mesmo assim, pressionada com força por outro homem, senti as correntes ao redor do meu coração puxarem com força como se eu tivesse chegado ao

fim de uma longa viagem e viajado para longe demais dele. Lutei para me concentrar na sensação da camisa de linho de Brett sob minhas mãos, depois me esforcei novamente desejando que fosse de couro sob meu toque. — Eu estou bem vestido, — Brett estava explicando. — É uma festa à fantasia. — Oh? — Eu o empurrei um pouco para estudar sua roupa novamente. — Você é Chandler Bing1 ou algo assim? Acho que se esqueceu do colete de lã. Brett riu de novo, e o som aqueceu meu peito. Era bom ter cem por cento de sua consideração depois de uma vida vivendo na sombra da minha adorável irmã mais velha. Era uma coisa tão simples, a atenção total de um homem, o olhar do homem errado, mas eu me estiquei em direção a ele como uma flor buscando a luz. — Você quer sair daqui? — Ele sugeriu com uma voz gutural enquanto corria os dedos pelas pontas do meu cabelo. — Sim, eu estava indo encontrar você para que pudesse me deixar em casa. Ele franziu a testa e eu ri porque era tão adorável e previsível. — Eu não pretendia dormir com você esta noite, Brett, — eu o informei com falsa solenidade. — Nesse sentido, pelo menos, eu realmente sou uma boa menina. Eu ri levemente enquanto ele balançava a cabeça em confusão. Era incrivelmente bom ser desejada. Tão bom, quase fiquei tentada a deixar ele me tocar. 1 Chandler Muriel Bing é um personagem fictício do sitcom da NBC Friends, interpretado por Matthew Perry.

Talvez eu tivesse se achasse que ele faria certo. Não leve e terno, como convém a uma virgem. Eu não queria nada perto disso. Mãos duras com calos ásperos e dentes fortes com uma mordida brusca. Um homem que tocasse meu corpo não como um instrumento, mas como uma das armas que ele empunhava tão bem. Brett me observou enquanto eu escorregava e entrava no banco do passageiro de seu belíssimo Camaro laranja restaurado, antes de chegar ao lugar do motorista. — Então, o que um cara tem que fazer para chegar perto de você? — Ele disse enquanto se acomodava no carro e dava partida. — Você é o tipo de garota de três encontros antes do sexo? Quase engasguei com o clichê. — Não vou lhe dar um roteiro, Brett. Onde está a graça nisso? Ele me lançou um olhar, mas ficou quieto, obviamente intrigado com o fato de que eu não era tão fácil de manipular como ele pensava anteriormente. Inclinei-me para trás no banco de couro e observei à medida que a chuva começava a pingar contra o para-brisa, gotas grossas como lágrimas. Chovia com frequência no outono e no inverno em Entrance, mas eu me sentia renovada por causa do tempo sempre que ele chegava. A chuva me encantava, a maneira como lavava as coisas e alimentava a terra. Ao crescer na igreja como eu fiz, meus ensinamentos bíblicos tinham dado à chuva uma conotação quase divina e, desde jovem, eu sempre acreditei que ela anunciava coisas

boas. Pois Deus reteve a chuva quando Ele foi injustiçado e a deixou cair depois de uma demonstração de fé. — Você não é um cara tão bom quanto eu pensava inicialmente, — apontei. — Para mim, isso é uma coisa boa. Sua risada era marcada pela amargura. — Não quer saber o quão ruim eu sou. Revirei meus olhos. — Confie em mim, eu já conheci pior do que você. — Não há muito pior do que minha família nesta cidade, acredite em mim. Não estamos aqui há muito tempo, mas você vai aprender. Se é assim, tão atraída por bad boys, tem isso em mim. Corre em nosso sangue. — Mmm, — eu cantarolei, tentando protelar minha risada. — E o que, se posso perguntar, faz com que todos vocês sejam tão maus? Brett me encarou, então parou em um sinal de pare antes de um cruzamento para quatro direções. Havia algo sombrio em seu rosto, quase selvagem que me arrepiou até a espinha. — Os Walshes, — disse ele após um longo momento. — Fazemos as melhores drogas de grife daqui até Saskatoon. O medo passou por mim. — E você pensou em expandir para o oeste? Ele piscou, refletindo, avaliando se deveria confiar em mim. — Talvez. De repente, nosso flerte, o ligeiro frizz da atração caiu entre nós porque eu sabia que esse garoto sentado ao meu lado tinha um desejo de morte ou não tinha cérebro.

— Você já ouviu falar do Fallen MC? — Perguntei baixinho, um pouco acima do tamborilar da água no telhado de metal. — Este é o território de seu capítulo mãe. Não acho que eles vão levar de forma leviana a violação em suas terras, especialmente quando é seu quintal. Brett riu, seus dentes brilhando na escuridão, tingidos de laranja pelas luzes do painel. — Estamos abrindo uma loja em Vancouver há meses, e eles não fizeram porra nenhuma. Não temos medo deles. — Deveriam ter, — eu disse, de repente e de forma inflexível, desinteressada por ele. A estupidez não era sexy. Havia uma diferença entre ser perigoso e estar em perigo, uma linha tênue que Brett parecia não saber que ele estava pisando. — Bea... — ele disse ao meu lado, mas o que quer que ele quisesse me dizer foi perdido em um rugido cacofônico. Em um momento, eu estava olhando pela janela do passageiro, tocando as listras prateadas de chuva no painel de vidro enquanto ouvíamos a música forte de Imagine Dragons fluindo pelos alto-falantes. No seguinte, houve um terrível e ensurdecedor crack e boom. Então tudo que eu senti foi dor. Foi tudo muito rápido para saber exatamente de onde tinha vindo, se Brett tinha perdido o controle do carro na estrada com a chuva ou se alguém tinha nos atingido a toda velocidade. Como eu não podia ver, não tinha nenhum objeto para me salvar da dor que consumia. Era como se eu vivesse dentro de

chamas, porque em todos os lugares ardia. Achei que estivesse gritando, mas então a dor finalmente atingiu seu ápice e o bendito preto desceu. Quando recuperei a consciência, havia vento em meu cabelo e chuva na pele de minha mão direita. Eu estava insuportavelmente fria depois do calor do fogo que me consumiu. Quando tentei me mexer, percebi que meu corpo estava metade dentro, metade fora do carro. Não pela porta. Mas através do para-brisa, completamente quebrado, mas de alguma forma intacto, amassado em volta do meu corpo, macio e afiado. A dor rasgou meu torso enquanto eu me movia, a respiração úmida e barulhenta explodia na minha garganta. Em meio ao nevoeiro da dor e do choque, eu me perguntava se eu ia morrer. Havia sangue em algum lugar. Eu podia sentir o cheiro do cobre. Poderia ser meu. Poderia ser de Brett, que estava em silêncio atrás do vidro esmagado no banco do motorista. Abri a boca para falar seu nome, mas só saiu sangue, sal e ferro na minha língua. Um som me tirou de meus pensamentos. Inclinei minha cabeça, cada minuto de movimento terrivelmente doloroso, para ver um homem caminhando em direção ao carro. Ele era alto, todo de preto, coberto como se estivesse encapuzado.

Fiquei maravilhada ao ver que a Morte estava lá para me receber. Ele caminhou propositalmente, mas não se apressou, nem entrou em pânico. Eu queria gritar para ele se apressar porque havia dor e muito medo em meu coração. Eu não queria morrer. Pensei nisso a vida inteira, imaginei seu abraço, se era quente ou frio, doce ou assustador, mas me encontrei completamente despreparada para isso. Nem sequer tinha vinte e um anos. Tinha uma mãe que já havia perdido seu marido e sua reputação. Uma irmã que já havia passado por mais do que uma pessoa deveria em uma única vida. Elas não mereciam ficar de luto por mim. Ainda não. — Socorro, — resmunguei quando o homem se aproximou. Os dedos da minha mão estranhamente formigando se contraíram enquanto eu tentava alcançá-lo. Ele não disse uma palavra. Em vez disso, com o rosto borrado pelas sombras da noite em uma rua sem lâmpadas, ele sacudiu a cabeça como se estivesse me estudando. Então, de repente, uma explosão com movimentos, e ele estava em cima do carro, os pés com botas pesadas apoiados no capô. Eu choraminguei quando ele se abaixou e estendeu a mão para mim. Morte, morte, morte, pensei freneticamente.

Eu ia morrer. Apenas, as mãos que me alcançaram não eram fantasmagóricas. Elas eram magras, músculos fortes sobre ossos longos, a pele branca contra o preto das tatuagens estampadas nos nós dos dedos, na parte de trás da palma da mão. Com os olhos turvos, pisquei ao ver o Triquetra 2 tatuado em uma das mãos. Eu conhecia esse símbolo. Vida, morte e renascimento. Um soluço rolou por mim e saiu da minha boca, minha saliva rosa explodindo contra o vidro. — Priest, — eu disse asperamente e choraminguei quando algo moveu no meu peito e pareceu me apunhalar através do coração. — Quieta, — ele ordenou calmamente enquanto ajustava seu corpo, se inclinando para frente, os braços descendo para dentro do carro através do buraco que meu corpo tinha feito para que ele pudesse segurar meu peito com cuidado e agarrar meus quadris. Eu chorei quando ele começou a me mover, e parou xingando baixinho. — Tenho que tirar você daqui, — ele disse. — O carro vai explodir. Como se persuadido por suas palavras, meus ouvidos se sintonizaram com o som de gotejamento, o chiado de algo essencial escapando do carro enquanto o sangue escapava de algum lugar acima da minha orelha direita. 2 Triquetra é um simbolo usado no cristianismo, na magia, na bruxaria, na Wicca e em geral no Ocultismo. A triquetra, em latim triquætra, é similar a um tríscele e pode ser interpretada como uma representação do Infinito nas três dimensões ou a Eternidade.

— Fique parada e me dê seu peso. Me deixe fazer o trabalho, — Priest exigiu friamente. Um cirurgião trabalhando. Ele não tinha empatia por mim no momento porque toda a sua mente estava voltada para o problema. Prendi a respiração em resposta, então senti que algo se rasgava de mim como um velcro puxado enquanto ele me içava cuidadosamente através do para-brisa. Ele teve que se ajoelhar para me limpar dos destroços, mas então se virou para sentar em sua bunda e cuidadosamente recolheu meu corpo mole e latejante em seus braços. Ele estava quente e, por um momento, fiquei confusa com isso. Isso não era a morte? Eu não estava a caminho do céu? — Eu pensei que a morte seria mais dura, — admiti enquanto minha cabeça pendia contra seu braço, com minha mente girando nos confins do meu crânio quebrado como bolas de gude soltas. — Oh é, — ele concordou. — Você não está morrendo. — Parece que sim, — eu disse ao perceber que estava chorando e que a escuridão quente em meu olho direito era sangue. — Eu conheço a morte, e não vou deixá-la levar você. Eu fiz uma careta porque tinha certeza de que ele era a própria Morte, mas então a dor aguda em meu peito se aprofundou e eu engasguei antes de esquecer como respirar completamente. Meu mundo ficou preto e branco, depois voltou ao foco enquanto ele nos colocava na calçada a uma boa distância do carro. Houve um estalo calamitoso nos destroços, e o homem só teve tempo de se enrolar sobre mim

protetoramente antes que houvesse um grande estrondo, como se uma cratera tivesse se aberto na terra. Encarei o homem que não era a Morte, mas meu salvador, observando conforme as chamas explodiam atrás dele e sua cabeça formava um halo de fogo. Não era a Morte. Priest McKenna. O executor implacável do Fallen MC. O homem sem coração. Ajoelhando sobre mim como um cavaleiro prometido a me servir, me manter a salvo de todos os perigos. Pisquei para ele, seu cabelo da cor do fogo atrás e me deixei tocar sua bochecha barbuda. — Você me salvou, — consegui dizer, embora minha consciência estivesse indo e vindo. — Não, — ele disse sombriamente enquanto eu fechei meus olhos e deixei minha mão cair no chão, desistindo de minha luta contra a dor para abraçar a escuridão atrás de minhas pálpebras. — Eu fiz isso com você.

Capítulo Dois Priest Esta não é a história de um bom homem.  Uma história de redenção ou salvação.  Não exijo nada do primeiro e não busco nada do último. Esta é a história de um homem sem consciência. Uma parte de mim quer afirmar que também sou um homem sem coração. Mas uma garota muito sábia uma vez me disse: até a morte tem coração. E isso não me tocou? Uma vez, há muito tempo, eu fui mais humano do que monstro. Provavelmente nasci com tendências psicopatas. Minha infância na Igreja apenas os intensificou, arrancando a carne de meus ossos ano após ano até que eu era apenas osso. Quando Zeus Garro, o Prez do The Fallen MC me encontrou, um adolescente ensanguentado, devastado por escorbuto3 e com cãibras por viver no porão de um navio de carga por meses, escondido atrás de caixotes, ele

3 Doença causada por uma grave deficiência de vitamina C na dieta. Os sintomas podem ser hematomas, sangramento nas gengivas, fraqueza, fadiga e irritação na pele estão entre os sintomas do escorbuto.

olhou nos meus olhos e disse que achava que eu era um homem morto caminhando. Ele não estava errado. Ele era de uma comunidade que dava nomes peculiares a seus irmãos, um novo apelido para uma nova vida. Normalmente, eles se desenvolviam de maneira organizacional, um traço ou história engraçada que dava origem a um novo personagem, revestido de couro e tatuado com um crânio lacerado e alado. Não havia esperança para mim. Peguei o nome do monstro que me fez, que me deixou despido até o meu coração sombrio, e o fiz meu. Priest. A doce ironia da minha blasfêmia me emocionou tanto quanto eu poderia estar emocionado com qualquer coisa. Me divertia arrancar a pele de um inimigo dos Fallen e ouvi-los implorar pela absolvição de Deus quando eu tinha feito quase o mesmo em meus momentos mais sombrios e miseráveis. Já sabia, como eles não viam, que eu estava tão perto de Deus quanto eles jamais chegariam. Afinal, era eu quem os escoltava até seu Criador. Eu estava em uma dessas missões naquela noite escura e fria de outubro em Entrance. O outono havia caído rapidamente naquela primeira semana do mês, envolvendo mãos frias e cruéis ao redor dos restos quentes do verão e matando-os em questão de dias. O vento soprava nas folhas em chamas e as arrancou ignóbil de suas árvores. Elas estalaram e brilharam intensamente em

redemoinhos ao redor dos meus pés calçados com botas enquanto eu me encostava na minha Harley FXSTB 2009, a moto preta fosca perfeitamente obscurecida nas sombras da rua suburbana alinhada entre as árvores. Estava vestido de preto para combinar, um moletom sob o meu colete Fallen, luvas de couro e jeans escuros. Não seria bom ser visto ou, pior ainda, notado. Eu estava esperando, e já fazia três horas na calada da noite, quando o resto dos bons cidadãos da cidade já havia adormecido. Não me importei em esperar. Predadores nunca se importam. Era uma parte intrínseca da caça. A calmaria antes da guerra. Não era passivo ou chato. Era a própria tensão, energia ganhando impulso para se libertar no momento certo. Para um homem como eu, a espera era tão inebriante quanto aquele momento antes do primeiro beijo, toda química eletrizante e uma expectativa ansiosa. Não que eu já tenha me sentido assim sobre um beijo. Apenas sobre a mulher que imaginei beijar. A mulher que era toda gentil e amável, completamente desprovida de pecado. Então, meu oposto.

Poderíamos muito bem ter existido em planetas diferentes. Beatrice Lafayette via tudo através de óculos cor-de-rosa, às vezes literalmente porque tinha o hábito de usar óculos escuros ridículos em formato de coração e flores. Eu vi tudo como era e como seria. Esperando morrer, tingido com a podridão cinzenta do tempo. Ela não era para mim. Até mesmo entreter a ideia de beijar aquela boca rosada como algodãodoce poderia ter sido um dos pensamentos mais perturbadores que já cruzaram minha mente extremamente perturbada. Tentei não me permitir pensar além da possibilidade de um beijo. Porque eu não era um homem suave ou tinha uma alma gentil. Eu era um assassino criado pelas mãos de monstros. Quando fodia, era tão brutal quanto combatia ou tão friamente eficiente quando matava. Gostava de sufocar um belo pescoço para aumentar o prazer, pintar a pele pálida com mordidas vermelhas e brincar com uma boceta até ficar inchada, encharcada de tanto esperma que escorreria por meu pulso que meus parceiros me suplicavam que parasse. Não havia romance ou flores, sem sorrisos íntimos ou... abraços. Todas as coisas que Bea gostaria. Coisas que ela merecia.

Então pensei naquele beijo por um momento fugaz quando me encostei na minha moto, depois pensei o que uma garota de dezenove anos poderia estar fazendo em uma sexta-feira à noite enquanto eu vigiava minha presa. Folhas rangeram atrás de mim, me alertando da presença de alguém. Eu não me virei, nem mesmo vacilei quando um corpo enorme apareceu na minha visão periférica. — Olhei por cinco minutos, mal podia vê-lo no escuro, e eu estava procurando, — Wrath Marsden grunhiu quando cruzou seus braços e olhou para a rua sem vida diante de nós. — Tenho que admitir, você é bom. Estou surpreso que seu nome não seja Ghost. Soltei um exalar agudo que era tanto esforço que eu ia gastar com minha indignação. Wrath moveu-se ao meu lado e minha irritação aumentou. Ele era um grande filho da puta, quase tão grande quanto nosso Prez, Zeus Garro, e chamava a atenção para si mesmo apenas pelo seu tamanho. Eu era alto, musculoso e magro, enquanto meu irmão pesava como um urso. — Não preciso de você aqui, — respondi, abrindo minha faca curva Karambit ao mesmo tempo em que pescava o bloco intocado de madeira de cedro do meu bolso. Toquei a ponta do aço na madeira macia sem pensar, meus dedos a moveram com eficiência e propósito. Não sabia o que esculpiria antes de terminá-la. Minhas mãos falavam com a madeira numa língua que eu não conseguia traduzir na minha cabeça.

— Não, — Wrath concordou, cruzando seus braços grossos sobre seu peito, apoiando seus pés separados em uma demonstração física de que ficaria. — Perguntei ao Prez se eu poderia participar. Acho melhor começar a ganhar meu sustento se eu quiser ficar por aqui. — Como eu disse, — eu repeti friamente. — Eu cuido disso. Ele me ignorou. — Traficantes filhos da puta, hein? Acha que é uma exigência eles serem uns idiotas ou apenas coincidência? Eu não tinha uma resposta para isso. Na minha opinião, a maioria das pessoas era estúpida. — Vender drogas para menores, viciar garotas em cocaína para colocá-las na prostituição. Nós lhe demos um aviso, eles escolheram não dar atenção. — Minha voz mudou perfeitamente para a linguagem dos meus irmãos. Eu era um camaleão, se os camaleões fossem armados até os dentes, garras e intenções mortais. — Ele merece morrer. Todos eles merecem. — E como vai ser? — Wrath perguntou com leve curiosidade, como se estivéssemos discutindo o tempo. Ele era o ex-executor do Berserkers MC, então ele sabia uma coisa ou duas sobre assassinatos. Porém, ele era um poderoso instrumento de força bruta, só músculo e fúria. Nenhuma sutileza em sua tortura, nenhuma arte em seu assassinato. Nunca seria tão bom quanto eu. Muitos não poderiam ser, não importa o quanto tentem. A maioria das pessoas, como Wrath, tinha algum tipo de consciência moral, uma voz na

parte de trás de sua cabeça que sussurrava o que outras pessoas poderiam pensar ou sentir sobre eles. Eu não tinha essa voz. Apenas meus próprios sussurros sombrios ecoando em um vasto abismo negro. — Carro-bomba, — eu disse a ele, olhando para minhas mãos para ver o que elas estavam criando. Era, sem surpresa, uma lápide. Eu tinha o hábito de esculpir e ungir elas com o nome da vítima que ia matar. Havia uma satisfação pacífica em queimá-las depois que o crime foi cometido. — Fazer parecer que houve um mau funcionamento no escapamento. Vai estilhaçar as janelas, o motor e, finalmente, explodir. — Nem mesmo um corpo para enterrar? — Wrath supôs com moderado respeito. — Isso vai mandar uma porra de mensagem. Eu não respondi porque esse era obviamente o objetivo. — Você tem que dar o braço a torcer para os irlandeses, eles têm bolas, — Wrath meditou enquanto mudava de um pé para o outro e estalava os nós dos dedos. Ele estava sempre se movendo, cheio de energia inquieta e raivosa. O ar ao redor dele zumbia como estática e fez minha pele coçar. — Os irlandeses costumam ter. — Eu não tinha lealdade para com meus parentes irlandeses. Podemos ter nos originado no mesmo lugar, mas eu parti por uma boa razão e deixei essa versão de mim mesmo no passado. Os olhos de Wrath estavam fixos em meu rosto enquanto ele me analisava, mas eu não vacilei ou agitei minha boca só porque seu olhar fazia uma pergunta que ele era muito covarde para dar voz.

— Você já teve pesadelos, cara? — Por fim, arriscou. — Já lamentou as pessoas que matou? — Não, — eu disse categoricamente. Silêncio e depois, um momento amargo como uma borra de café no fundo de uma xícara: — Nunca perca alguém como consequência de sua violência. Se perder, vai sonhar com horrores. — Você precisa dormir profundamente para ter sonhos. — Minha voz era metálica, o barulho do meu coração robótico agudo na minha fala. — Eu contorno a superfície do sono, e eu nunca sonho. — Sorte sua, — Wrath murmurou na mesma hora que o céu se abriu e a chuva começou a cair. Se eu tivesse um coração metafórico, do tipo que poetas e artistas falam, eu poderia ter sentido uma pontada em meu peito de algo como simpatia pelo meu irmão Fallen mais novo. Ele amou uma mulher que foi arrancada dele implacavelmente por seus inimigos. Eles tentaram matar os dois, mas só tiveram sucesso com Kylie. Era um pesadelo acordado que eu duvidava que ele tivesse que dormir para sonhar. Eu podia entender isso, mas não conseguia sentir. Simplesmente não tinha nada a ver comigo, então eu não podia me preocupar muito. — Já faz um ano e meio, — eu disse suavemente enquanto meus ouvidos captavam o ronco fraco de um veículo passando pela Everett Drive. — Você deveria superar isso.

Wrath suspirou levemente, seus músculos flexionando com uma onda de fúria, o instinto de me bater para liberar um pouco de sua angústia. Em seguida, ele se deteve, abafando a resposta explosiva. Não ganharia se tentasse lutar contra mim e eu nunca esqueceria que ele havia tentado. Então ele congelou ao meu lado e abafou sua fúria até que ela passou. — Você é um idiota do caralho, — murmurou finalmente antes de soltar um suspiro áspero. — Merda, eu gosto de você de qualquer maneira. Todos os outros filhos da puta me tratam como uma besta raivosa ou um cachorro espancado. Você? Simplesmente não dá a mínima para o meu passado. Encolhi os ombros, a mente concentrada no carro que agora podia ver um laranja cintilante na rua. — Me mostre como você detona o dispositivo, — Wrath pediu, e eu podia dizer que ele estava tentando se aproximar de mim, me alcançar em meu próprio nível. Isso me fez sorrir, mesmo que fosse uma pequena curva apertada da minha boca e uma vibração minúscula de bom humor no meu peito. Eu joguei para ele o telefone descartável. — Testado e aprovado. Clique em enviar quando eles pararem no sinal. Era o meu ramo de oliveira. Minha tentativa de reconhecer sua amizade e aceitá-la. Wrath olhou para mim novamente daquela maneira, arrancando minha pele como um bisturi para descobrir o conteúdo de meu sangue. Ele assentiu

bruscamente, mãos enormes segurando o telefone suavemente, como se eu tivesse lhe dado um presente. Fiquei feliz que ele entendeu. Matar pessoas era minha alegria, e eu tinha passado para ele. No meu mundo, isso praticamente nos tornava melhores amigos. O ronco do velho motor do Camaro ficou mais alto, ocupando todo o espaço aéreo do bairro sonolento. Eu me virei para assistir o carro dirigir até sua morte. O alvo era Brett Walsh, de vinte e dois anos, apenas uma criança na verdade. Mas esse era o ponto. Tínhamos avisado Patrick e Brenda Walsh duas vezes, o que já foi demais, para impedir que a operação deles se infiltrasse em Entrance. Ouvimos que até Javier Ventura, prefeito de Entrance e chefe do cartel mexicano na costa oeste do Canadá, havia feito seu próprio alerta. Eles tinham tomado a decisão consciente da morte por não obedecerem. Já era ruim o suficiente que estivessem negociando suas porcarias em nosso território, mas Brett também tinha vendido para a meia-irmã de King e Harleigh Rose Garro, Honey. Ela tinha apenas dezoito anos, e o clube vinha tentando mantê-la segura e limpa no último ano. Brett arruinou qualquer progresso que eles fizeram com seu pau e sua coca. Ele tinha que pagar.

E eu era o feliz cobrador de dívidas. O carro estava mais perto agora, quase no nível de onde Wrath e eu estávamos velados pela escuridão da noite e carvalhos maciços. Eles estavam indo rápido até a placa de pare, passando em uma faixa de tinta laranja manchada contra a paisagem noturna. Muito rápido, realmente, para ver o interior do veículo escuro. Mas eu era um predador humano. Um psicopata clínico. Percebia mais da metade do que os outros e tinha instintos mais apurados do que uma sala cheia de psicólogos. Então eu vi algo muito brilhante e reluzente como a luz da lua presa em um frasco no banco do passageiro do Camaro armado. Abri minha boca quando minha mão estalou para parar os dedos de Wrath no telefone. Mas aquele bastardo, ele conhecia a morte, e não apenas a acolhia. Ele corria em direção a ela. Seu polegar estava no gatilho antes que eu pudesse dar um tapa em seu punho, e um segundo depois, meu grito foi abafado pelo estrondo e pelo rasgo agudo do carro explodindo. Pela primeira vez em muito tempo, senti meu coração em meu peito, batendo muito rápido, muito forte contra seus limites como um prisioneiro rebelde. Algo estava errado.

O som foi distorcido em meus ouvidos quando empurrei Wrath e corri em direção ao carro. Havia o assobio de gás vazando, o estouro de metal quente descascando da estrutura e o tilintar do vidro caindo do chão. Mas não houve ruídos humanos. Rezei a uma divindade na qual não acreditava desde os nove anos de idade que meus olhos haviam me enganado. Que minha mente, quebrada e distorcida como estava, só a havia transplantado ao local. Pensava nela com frequência, em estranhos momentos, em lugares estranhos, como um fantasma assombrando meus pensamentos. Era isso, eu disse a mim mesmo enquanto rondava em direção ao naufrágio de metal em chamas e contornava a frente do carro. Não era ela. Não poderia ser. Beatrice Lafayette nunca seria vista com um perdedor filho da puta como Brett. Mas não havia como negar o que estava diante dos meus olhos enquanto eu encarava o carro de frente. O vidro de segurança do para-brisa estava cheio de rachaduras, um buraco aberto no meio pelo corpo de uma mulher. Seus cachos loiros apanhados pelo vento,

ondulando

como

uma

bandeira

branca

sobre

seu

corpo

imóvel. Estranhamente, ela estava usando asas, coisas brancas com penas gigantes afixadas em suas costas que murcharam quebradas em sua coluna, a esquerda amassada e emaranhada no buraco de vidro.

Meus olhos ardiam e meu coração latejava. Thump, thump. Thump, thump. Eu me sentia dolorosamente vivo do jeito que imaginei que a maioria das pessoas se sentisse um momento antes de morrer. Era ela. Bea. Minha pequena sombra, a mulher que me notou e me estudou muito. A garota brilhante que me seguia como uma segunda sombra. Lá estava ela. Quebrada e dobrada no carro destruído como um presente aberto de forma selvagem. Respirei fundo que tinha gosto de cinza e chuva, então decidi meu curso de ação. O carro ia explodir. Eu tinha armado dessa forma. E não havia nenhuma porra de inferno ou céu, qualquer destino concebível na terra que eu deixaria este anjo quebrado morrer como um criminoso na rua. Minhas botas aterrissaram com um clamor no capô do carro quando pulei para retirar, quase afogando um gemido fraco. Graças a Deus, ela estava viva. — Priest, — ela disse, sua voz tão leve, tão doce que se desfez como seda rasgada.

Meu coração bateu forte contra minhas costelas, mas mantive a calma. Ela ficaria bem. Eu

a

ignorei

enquanto

murmurava

sem

sentido

conforme

eu

cuidadosamente cortava a asa esquerda de suas costas para que eu pudesse puxá-la suavemente do para-brisa. Ela estava desossada em meus braços, a cabeça pendurada, pupilas totalmente abertas com uma concussão óbvia, mas estava respirando. Eu ouvi sua respiração balbuciar molhada através de seus lábios sangrentos enquanto eu deslizava para fora do capô e afastava rapidamente para longe do carro, meus braços imóveis para que eu não empurrasse seu corpo machucado. Quando eu aferi que estávamos longe o suficiente dos destroços, caí de joelhos e curvei meu torso sobre seu corpo segundos antes do Camaro queimar pela última vez, ofegando ruidosamente e então se despedaçando com a força da explosão. Podia sentir o calor quebrando como uma onda contra minhas costas revestidas de couro. — Você me salvou, — Bea sussurrou, uma mão alcançando meu rosto, os ossos de seu dedo indicador quebrados e saindo através da pele. — Não, — eu protestei, dando a mim mesmo um momento puro para ouvir sua respiração, para sentir ela em meus braços de uma maneira que eu nunca faria novamente. — Eu fiz isso com você. Um momento depois, ela estava apagada como uma luz. Mudei seu corpo na grama, então olhei para cima justamente quando Wrath caminhou em minha direção, arma em punho e rosto feroz com uma careta.

— Que merda de show, — ele grunhiu enquanto se ajoelhava ao meu lado, seus olhos correndo sobre Bea. — Porra, porra. — Vou matar todos eles, — jurei enquanto tirava uma mecha de cabelo ensanguentado do rosto de Bea e tirava minha jaqueta de couro para colocar sob sua cabeça. — Até o último Walsh e cada um de seus associados. — Priest, cara... — Wrath tentou argumentar comigo, mas eu não pude ouvi-lo. Estava singularmente focado em uma coisa. Vingança. Razão pela qual ouvi a tosse e respondi antes que Wrath pudesse fazer qualquer coisa para me impedir. Brett Walsh. É por isso que quando ouvi a tosse, reagi a ela antes que Wrath pudesse fazer qualquer coisa para me deter. De alguma forma a barata havia rastejado do acidente, ou sido arremessada para longe o suficiente para escapar das chamas que agora saltavam do metal, tão alaranjada quanto a tinta carbonizada descascando o exterior. Sua pele estava toda ensanguentada e esfolada. Mesmo à distância, eu podia dizer que havia algo preso em sua barriga, aquele lugar macio que significava uma morte longa e dolorosa se não fosse tratado. Ele merecia isso, mas eu não estava disposto a lhe dar.

Sem pensar, sem sentimentos, frio e programado pela violência, eu estava de pé e perseguindo minha presa. Minha faca Karambit4 deslizou da manga do meu moletom para minha palma. Era bom envolver meus dedos em torno dela enquanto me aproximava do filho da puta doente que colocou Bea em perigo. Que a colocou no meu caminho. Ajoelhei-me casualmente sobre seu corpo quebrado e moribundo e encarei seu rosto. Um olho estava inchado e fechado, mas o outro estava claro, negro de pânico. — Me ajude, — ele gorgolejou. Havia um grande pedaço de metal, provavelmente fundido da porta, em seu lado esquerdo, e suas costelas foram esmagadas pelo impacto contra o volante. Ele estava morrendo. Ignorei seu guincho de dor à medida que me levantava, levando o pé dele comigo enquanto caminhava. Ouvi seu uivo de dor, conforme o arrastava para onde Wrath estava cuidando de Bea. Meu irmão me observou sem julgamento enquanto eu deixava cair o pedaço de merda no chão aos pés dela. Apertei seu rosto em minhas mãos e o forcei a olhar para ela. — Você vê isso? — Exigi friamente, com minha faca em sua garganta, já profunda, mas mantendo o sangue sob controle por pressão. — Vê o que você

4 Karambit- Lâminas curvas como foice afiadas dos dois lados.

fez. Mulheres assim são intocáveis, seu porco filho da puta. Mulheres assim não são para gente como você ou eu. — Não me mate por isso, ela é apenas uma garota, — Brett implorou. — Eu tenho dinheiro. Muito dinheiro! Vou pagar o que você quiser. Porra! Apenas me deixe ir. Soltei uma risada fria e áspera que machucou meu peito e cortei um centímetro em seu pescoço macio como manteiga, derramando sangue em sua frente. — Você cruzou com o Fallen MC, — eu sibilei em seu ouvido, torcendo minha faca apenas para ouvi-lo gemer. — E agora, pessoalmente me aborreceu. Vou acabar com você aqui, e depois vou acabar com sua família e todos que já amou porque esta garota vale mais do que você e sua família miserável juntos. O cheiro forte de urina perfumava o ar enquanto Brett Walsh choramingava e balançava contra mim, lágrimas caindo de seu único olho bom. — Sinto muito, — ele sussurrou. — Eu não sinto, — eu disse, levantando-o no ar pelos cabelos, pronto para acabar com isso. Eu queria sentir seu sangue fluir quente em minhas mãos. Talvez então eu pudesse me livrar da visão de Bea, angelical como a morte celestial apanhada em toda essa feiura. — Priest. — A voz suave e sedosa do meu anjo quebrado cortou meu foco.

Eu olhei para Bea, sua cabeça no colo de Wrath, seus grandes olhos azuis escurecidos de terror e dor. Ela estudava a maneira negligente como eu segurava seu encontro e a intenção mortal em meu olhar enquanto eu olhava de volta para ela. Deixei-a ver as profundezas de minha alma sombria, a determinação absoluta de que eu tinha de matar este filho da puta na frente dela, por ela. Sem palavras, ela inclinou sua cabeça. Um segundo depois, antes que Brett pudesse respirar mais uma vez, minha faca atravessou sua garganta e seu sangue foi derramado no chão, ungindo a terra aos pés de Bea como um sacrifício feito pelos deuses e deusas de antigamente. E através de tudo isso, nós nos encaramos, Bea e eu, presos juntos nesta morte de uma maneira que senti ecoar no futuro de nossas vidas, nos ligando de uma forma que eu nunca seria capaz de esquecer. Então, eu soube, como anteriormente era só curiosidade, que Beatrice Lafayette seria minha.

Capítulo Três Bea O cheiro forte e antisséptico em minhas narinas quando finalmente nadei lentamente da inconsciência para uma vigília dolorosa significava que eu sabia imediatamente onde estava. Os Garros visitavam o Hospital St. Katherine com tanta frequência que brincava com Loulou que deveríamos iniciar um programa de fidelidade. Ela não riu. Na verdade, quando acordei em lençóis de hospital brancos e ásperos com um zumbido residual em meus ouvidos e uma dor latejante como luzes girando sob minha pele, Loulou estava gritando. Minha irmã não gritava. Principalmente porque as pessoas geralmente faziam o que ela pedia. Tinha algo a ver com sua beleza intensa, mas também com sua confiança e bondade silenciosas. Ela era o tipo de mulher que compreendia o poder da mística feminina e havia aprendido há muito tempo a controlá-la. Então, eu fiquei chocada ao vê-la gritando até que eu vi exatamente com quem ela estava gritando. Priest estava parado do lado de fora da porta, as mãos soltas ao lado do corpo, o rosto completamente plácido, embora um Garro apaixonado e zangado estivesse gritando na cara dele.

Ele apenas aceitou. E Zeus, que estava sentado em uma cadeira no canto do quarto, deixou acontecer. — Não há nada que você possa dizer para se desculpar disso, — gritava Loulou, com lágrimas na voz, sua raiva prestes a desmoronar em pura dor. — Não há nada que jamais me faça perdoar você por deixar isso acontecer com ela. Priest piscou. — Calma pequena guerreira, — Zeus avisou baixinho, mas ele não se mexeu da cadeira. — Não diga algo que você não pode retirar. — Ele merece pior do que minhas palavras, — ela chorou dramaticamente, seu braço atirando em minha direção. — Veja o que ele fez com ela! Seus olhos se arregalaram quando ela me viu acordada, observando a cena. — Bea, — ela respirou antes de se lançar na cama. Apesar de sua ansiedade, suas mãos tremulavam suavemente contra meu rosto como asas de borboleta enquanto ela me examinava. — Beatrice. — Ei, — sussurrei, embora minha garganta doesse. — Como está minha irmã favorita? Observei seus olhos azuis, brilhantes como o oceano sob o sol do meiodia, inundados de lágrimas. — Pensei que você fosse morrer antes de mim, — ela admitiu. — E essa é uma tragédia à qual eu não sobreviveria.

— Não seja boba, — eu disse a ela levemente, tentando reduzir sua angústia. — Você já sobreviveu a coisas piores. Loulou fechou a boca contra a força de um soluço e balançou a cabeça vigorosamente. — Não, não. Meu homem, meus bebês e minha irmã. Eu não aguentaria perder nenhum de vocês. — Bem, você não precisa se preocupar com isso hoje, — eu prometi enquanto levantava minha mão direita dolorida, dois dedos presos por uma fratura óbvia, para tocar sua bochecha lisa. — Não estou indo a lugar nenhum. Seu rosto se transformou em uma carranca. — Não, graças ao Priest. — Ei! — A palavra explodiu da minha boca como um dardo. — Não se atreva a culpa-o por isso. — Bea, não seja ridícula. Ele foi literalmente a pessoa que fez isso com você. — E Wrath, — Zeus adicionou preguiçosamente, com alguma sombra em seus olhos enquanto ele olhava para nós, e não consegui decifrar o significado desse olhar. — Foi ele quem executou. — Priest armou tudo. Ele fez o trabalho braçal! — Loulou explodiu. Zeus inclinou a cabeça para o lado e lançou um olhar severo para sua mulher ligeiramente histérica. — Você não conhece todos os detalhes, Lou, e não é típico de você fazer suposições perigosas. Se acalme e você verá o bom senso. Meus olhos dispararam para a porta vazia, me perguntando para onde Priest foi. Eu ansiava por falar com ele, rastejar para o abraço de seus braços fortes e me sentir segura mais uma vez.

Eu sabia, com certeza, que os momentos que passei segurada ternamente contra seu peito eram os únicos momentos de intimidade que eu compartilharia com ele, e desejei, talvez irracionalmente, estar mais lúcida para aproveitar a experiência. Zeus desdobrou seu corpo maciço da cadeira de plástico e se aproximou, com a boca franzida e os olhos semicerrados. Ele geralmente era um homem bastante expressivo, mas havia uma tensão sobre si que eu não conseguia entender. Lou abriu espaço para ele se abaixar ao meu lado, e ele se inclinou tão perto que aqueles olhos prateados com anéis escuros eram tudo que eu podia ver. Uma de suas mãos enormes gentilmente empurrou meu cabelo para trás da minha testa, e quando ele falou, foi naquela voz baixa e íntima, áspera como cascalho que normalmente reservava para Loulou ou seus filhos. — Isso não aconteceu com você por causa de Priest. Isso aconteceu por causa do meu clube e eu. Eu sou o Prez, então sou eu que você deve responsabilizar por esta porra de tragédia, não Priest ou Wrath, está me ouvindo? Eu quase ri de seu martírio porque era tão típico dele assumir a culpa em seus ombros monumentais. Era fácil ver de onde seu filho, King, que fingiu sua própria morte para tirar Z da cadeia, o obteve. O sacrifício corria no sangue Garro. — Não estou com raiva de ninguém, Z, — garanti a ele. — Não sou tão dramática quanto minha irmã, você deve se lembrar disso. — Ei, — Lou protestou, mas havia um sorriso em seus olhos lacrimejantes que falava de sua felicidade que eu estava bem o suficiente para provocar.

— É meio insultante realmente, — eu continuei. — Que vocês dois querem colocar a culpa em qualquer lugar, menos em mim. Fui eu quem decidi sair com Brett. Estupidamente, achei que ele era um cara legal só porque sempre o vi usando calças caqui. — Eu fiz uma careta. — Aparentemente, ele tinha um péssimo senso de moda. — Nós apenas teremos que fazer o Lion examinar qualquer um que te convide para sair no futuro, — Lou decidiu, se inclinando para beijar minha bochecha. — Eu não vou deixar você se machucar assim de novo por qualquer motivo. — Quais são os danos? — Eu perguntei, quase com medo de saber porque, apesar das drogas conectadas ao meu soro, minha cabeça latejava e meu corpo parecia um pedaço de fruta madura demais e muito machucada. — Uma concussão grave, quatro costelas quebradas, uma das quais perfurou seu pulmão, mas não foi ruim o suficiente para exigir cirurgia, dois dedos quebrados e um ombro deslocado. — Caramba, — eu suspirei. — Agora você pode entender por que estou tão chateada. — Loulou fez uma careta para mim enquanto seu polegar fazia círculos na parte interna do meu pulso, apenas para que ela pudesse sentir a segurança da minha pulsação. — Eu posso entender, mas você não pode me proteger de tudo, Loulou. — Até parece, — ela falou. Afundei ainda mais na cama, me sentindo subitamente exausta. — A verdade é que, quando eu pensei que Brett era um bonzinho, ele era chato. No segundo em que ele mostrou seu lado mais sombrio, fiquei intrigada. Não sei

se você pode me salvar de tudo, especialmente da minha própria mente. Acho que gosto de bad boys. — Você não gosta. — Sim eu gosto. — Pensei em Priest e na maneira como ele cortou a garganta de Brett sem remorso. O jeito que ele fez com orgulho silencioso e leal, como um gato matando um pássaro para seu dono. Como eu poderia resistir a um homem que estava tão disposto a matar por mim? — Bem, pare com isso, — Lou retrucou. A risada alta e estrondosa de Zeus interrompeu nossa rixa. Sua cabeça jogada para trás, todo aquele longo cabelo castanho e loiro brilhando na luz artificial amarela. Sua beleza e diversão encheram o quarto com energia fervente que imediatamente me fez sentir melhor. — Pare de rir, Z, — Lou exigiu, mas havia uma corrente de riso em sua própria voz quando ela se inclinou sobre mim para dar um tapa em seu peito. Ele pegou a mão dela e a prendeu no peito sobre o coração enquanto se recuperava o suficiente para dizer. — Tenho que admitir, Lou, você não está exatamente em condições de julgar. Você se apaixonou por mim quando era apenas uma menina. E eu sou tão mal quanto possível. — Você me salvou, — ela o lembrou, mas sua histeria, seu limite ansioso de raiva, foram suavizados sob o peso de seu olhar amoroso. — Nunca foi um homem mau para mim. Apenas meu monstro guardião. Eu os observei, a maneira como o mundo inteiro desmoronou enquanto eles se olhavam. Meus pais não eram apaixonados um pelo outro. Ao contrário

disso, aparência e status eram tudo para eles e, no final, matou meu pai e jogou minha mãe na ruína. Isso, o amor que irradiava como um segundo sol entre Zeus e Lou, isso era o que o amor deveria ser. Puro. Intenso. Uma luz que levava brilho a todos os momentos sombrios da vida. Um que nunca poderia ser extinto. — Vocês dois me inspiraram por anos, — eu disse baixinho enquanto Zeus levava a mão de sua esposa aos lábios para beijar antes de soltar ela. — Então, se eu gosto de bad boys, é basicamente sua culpa. Loulou gemeu, mas Zeus piscou para mim, o que me fez rir, embora doesse nas costelas. — Bea, querida. — Minha mãe, Phillipa, entrou no quarto com uma nuvem de perfume Chanel, segurando um lenço de seda encharcado de lágrimas contra a boca. Atrás dela, consideravelmente mais calmo, estava meu avô. Eu sorri assim que o vi. Eu sempre fiz. Ele sorriu de volta. O pastor Lafayette era a única razão pela qual não mudei meu nome depois que meu pai foi morto pela organização criminosa corrupta com a qual ele estava conspirando. Meu avô falava suavemente e era sábio como os profetas e poetas. Ele refinou o mundo ao seu redor em caminhos claros e emoções destiladas para seus paroquianos, e nunca julgava ninguém, mesmo o criminoso que se casou com sua neta primogênita. — Vovô, — eu sussurrei, de repente uma garotinha muito tímida para fazer amigos que precisavam do meu avô para segurar minha mão.

— Doce Bea, — ele murmurou enquanto se movia para a minha cabeceira e se inclinava para beijar minha testa. Ele cheirava a papel velho, incenso e mirra, a fragrância da igreja e da minha infância. De repente e de forma estranha, tive vontade de chorar. — Se afaste, Michael, — minha mãe exigiu, soluçando através das lágrimas, suas mãos tremulando e flutuando ao meu redor como se ela não tivesse certeza de onde pousar. — Oh, meu Deus, Beatrice, você está absolutamente destruída. O que eu teria feito se tivesse perdido você? — Não é sobre você, — Loulou murmurou. Ela nunca se recuperou da negligência de Phillipa e não conseguia entender, como eu, que Phillipa era frágil. Ela tinha sido uma peça de exibição por tanto tempo que não conhecia nada além de ser amada por sua beleza e comprometida por causa das fofocas. Ela era inofensiva, embora às vezes um pouco irritante. Eu a silenciei, enquanto ela se curvava para beijar minhas bochechas. — Estou bem, mãe, por favor, não se preocupe comigo. — Claro, eu vou me preocupar. Você é minha filha e eu sou sua mãe. — Ela fungou, lançando um pequeno olhar para Zeus. — Estou feliz que aqueles rufiões5 não estejam cercando você. Você precisa de espaço para se curar. Como se fosse uma deixa, sentindo o drama do momento, houve uma onda de trovão no ar, sacudindo as janelas baratas em suas molduras. Era o rugido das Harleys. Dezenas delas.

5 Rufiões- Bandidos

Phillipa olhou atentamente para Zeus, que encolheu os ombros descaradamente. — Posso ter dito a um ou dois deles que Bea estava acordada. Minha mãe respirou fundo para discutir, mas vovô se adiantou com uma mão suave em seu braço. — Eles estão aqui para prestar seus respeitos, — ele disse suavemente. — Não são apenas a família de Louise. Eles adotaram Bea há muito tempo. Não há espaço para julgamento onde há amor, Phillipa. Suas palavras fizeram o calor acalmar a dor em meus membros e inchar em meu coração até que parecia demais. Mais uma palavra de amor ou amabilidade eu senti que poderia explodir. Nós os ouvimos antes de vê-los. O barulho de botas pesadas no piso laminado, o estremecimento de metal áspero das correntes da carteira e o clamor de vozes masculinas falando baixo, mas áspero, enquanto desciam o corredor para o meu quarto. Eu estava deitada em uma cama de hospital, quebrada e surrada, mas, de repente, parecia Natal. E já estava sorrindo quando o primeiro irmão Fallen virou na porta estreita. Bat Stephens, o sargento de armas, ao lado de Dane Meadows, nosso veterano de guerra recém-retornado, depois Curtains, com seu cabelo vermelho flamejante, desequilibrado por Boner, que avançou atrás dele. AxeMan e Wrath, ambos tão grandes que tiveram que passar pela moldura de lado, depois Skell, tão magro que parecia que deveria ser hospitalizado. Nova estava lá segurando a filha de Loulou, Angel, que olhou para ele com

admiração porque mesmo com um ano de idade, ela conhecia a beleza quando a via, e King, o doce King que voltou, segurando seu novo bebê, Prince, em um braço, e o gêmeo de Angel, Monster, na outra. No momento em que todo o capítulo de Entrance do The Fallen MC tinha se infiltrado no quarto, ele estava embalado como uma lata de sardinhas com homens grandes e o cheiro de couro. Eles se revezaram me tocando, dando espaço para apertar ou dar tapinhas nos lugares do meu corpo que não estavam envoltos em gaze ou gesso. Não respondi a nenhum deles porque estavam todos falando ao mesmo tempo. Quando finalmente se acomodaram o suficiente para eu falar, havia mais pessoas na porta. Harleigh Rose e seu noivo, Lionel Danner, com Cressida e Lila, Cleo, Hanna e Maja. Minhas garotas motoqueiras, as mulheres que me criaram de forma mais precisa do que minha mãe jamais poderia ter feito. Eles turvaram minha visão e eu fiz uma careta, tentando piscar para afastar a obstrução apenas para perceber que estava chorando. Não, soluçando. Grandes lágrimas de alívio e alegria rolaram por mim como as ondas da costa. Nova me provocou por ser um bebê e Boner riu. Buck, o membro mais velho e vice-presidente do clube, deu-lhe um tapa na cabeça e disse para ter algum respeito, embora fosse Nova quem o tivesse dito. Harleigh Rose empurrou Loulou para o lado para que pudesse pressionar minha mão em sua bochecha e me estudar cuidadosamente com seus próprios olhos para se

certificar de que eu estava bem. Cressida agarrou meu único pé livre e o apertou, seus grandes olhos castanhos cheios de lágrimas e amor. Era uma calamidade. Caos total. Eu podia ouvir uma enfermeira no corredor tentando dizer a Lila que muitas pessoas estavam no quarto fazendo muito barulho. Que eu precisava de paz e sossego depois do meu trauma. Ela não sabia nada, Ransom, o prospecto, disse com um olhar feroz que eles eram minha família e eu precisava deles agora mais do que nunca. Eu chorei tanto que pensei que meu coração tinha parado. O doce aroma de cereja com açúcar de Loulou me envolveu quando ela se inclinou para me puxar para seus braços. — Está tudo bem, Bea, — ela sussurrou em meu ouvido. Não consegui parar de chorar por tempo suficiente para explicar a ela que isso era o que eu sempre quis. Mesmo com mamãe e papai, Loulou e eu nunca tivemos realmente uma união familiar, não até que uma bala acertou seu peito e um homem que daria a ela não apenas seu coração, mas toda uma comunidade que nos abraçaria, e nunca, por nada, nos deixaria ir. Talvez Lou pensasse que ela e The Fallen MC eram a razão de quase ter sido morta, mas eu sabia que não. Eles foram a família que me manteve viva e feliz todos os dias. A única peça essencial que faltava era o homem que literalmente me salvou. O homem que se distanciava de sua família, de mim, tanto quanto podia.

Eu senti o vazio em meu peito, aquela pequena seção que eu tinha esculpido como sua quando eu tinha apenas quatorze anos, ecoando vagamente. Priest McKenna tinha um lar em meu coração e eu estava ansiosa para deixá-lo saber disso.

Capítulo Quatro Priest Os ratos gostam de lugares pequenos e escuros. Eles gostam de se esconder, não de correr. Como qualquer viciado em filmes de terror decente sabe, você sempre pode correr, mas não pode se esconder. Não de um monstro. Não de mim. Encontrei Patrick Walsh uma semana depois do acidente de carro se escondendo no Motel Purgatory, uma parada decadente na beira da entrada pintado em vários tons de rosa. Eu passei os últimos cinco dias caçando os elementos inferiores de sua organização incipiente antes de voltar minha atenção para o patriarca. Ele era conhecido por sua fúria cataclísmica, negócios implacáveis e traição à esposa. Esperava que ele fosse um adversário digno. Lamentavelmente, foi tão fácil encontrá-lo que levei um momento para me sentir desapontado enquanto montava na minha moto, olhando para o quarto nove, onde seu contorno estava claramente definido por trás das cortinas transparentes.

Eu ansiava por um desafio autêntico por uma fração de segundo antes de lembrar o quão perigoso alguém como ele poderia ser. Javier Ventura, por exemplo, o notório chefe do cartel, havia aterrorizado o clube por quatro anos, e ainda não tínhamos conseguido desmantelar sua organização ou, pelo menos, matar a porra do filho da puta. Então, eu pegaria leve. Além disso, talvez ele acabasse sendo mais forte do que eu pensava, um lutador astuto que levaria mais do que um único soco para derrubá-lo. A excitação que sentia por estar à deriva de cometer um assassinato era uma coisa psíquica. Ela não me sugava meu corpo, não acelerava meus batimentos cardíacos, nem fazia minha pele suar. Se eu passasse por um monitor cardíaco ou um detector de mentiras, conseguiria enganar os especialistas sem esforço. Foi este comportamento dissociativo que uma das freiras, há muito, muito tempo atrás, me disse que me transformava num pecador. Meu corpo podia executar perfeitamente o que minha mente permitia sem emoções triviais jamais deixando transparecer. Assim, ao caminhar em direção ao motel, eu me sentia calmo, frio e controlado. Minha mente se movia lentamente checando as armas que eu carregava. A arma na minha cintura era apenas para imprevistos. Eu preferia trabalhar com facas, e essas eu tinha em abundância. O bagh nakh6 se fechava sobre os dedos da minha mão esquerda como soqueiras com apenas facas na ponta, o facão que eu usava amarrado nas costas sob meu colete, o par de 6 O bagh nakh, vagh nakh, ou vagh nakhya é uma arma de “punho, garra”, originária do subcontinente indiano, projetada para encaixar nos nós dos dedos ou ser escondida embaixo e contra a palma da mão. Consiste em quatro ou cinco lâminas curvas afixadas a uma barra ou luva e é projetado para cortar a pele e os músculos.

facas de arremesso que eu tinha amarrado na minha panturrilha esquerda, a faca de caça curva presa ao meu cinto, e a faca curta que eu usava em uma corrente em volta do meu pescoço. Aprendi ainda jovem, que vale a pena estar preparado para qualquer eventualidade. Também aprendi cedo, que tinha intimidade com facas. Com uma arma, você pode matar um homem a cento e cinquenta passos sem nunca ver os detalhes de sua expressão. Com uma adaga, podia sentir uma vítima morrer, sua respiração fraca em seu rosto, o sangue se acumulando rico e úmido em sua mão, como seu corpo ficava duro e depois mole enquanto seu pulso enfraquecia. Estava ansioso para esculpir Patrick Walsh. Fazia muito tempo desde que eu tinha sido capaz de me liberar. Um ano desde que eu tinha fatiado e cortado o filho da puta do Sargento Harold Danner por tentar matar King. Meus dedos coçavam para tirar sangue e minha boca se encheu de água. A porta era frágil o bastante, quando eu a arrombei, que explodiu em farpas, o fardo dela voando para dentro do quarto com uma força que golpeou as costas de Patrick. Ele estava rezando. Havia uma velha Bíblia encadernada em couro preto aberta sobre a colcha rosa, as páginas quase inteiras rasgadas por sua mão quando ele caiu. — Porra, — ele amaldiçoou enquanto rastejava para trás.

— Onde você está indo? — Eu perguntei com falsa curiosidade enquanto o perseguia mais para dentro do quarto. — Não há saída nos fundos. Se é a fuga que você quer, terá que passar por mim. — Você é um daqueles babacas que mataram meu filho, — Patrick rosnou, reconhecendo o crânio alado em chamas em meu colete. Isso

pareceu

dar

forças

a

ele,

e

encontrar

um

fiapo

de

coragem. Levantando-se, procurando desesperadamente por uma arma. Ela bateu no carpete duro, levemente magenta, aos seus pés. Ele olhou para baixo, levantando o peito com medo e depois para mim. Eu balancei meu queixo. — Vá em frente. — Você está me dando uma adaga? Ajustando minhas luvas de couro e revirei minha cabeça no pescoço até estalar. — Você não merece morrer rapidamente. A cara carnuda e corada de Patrick, um típico irlandês, se é que alguma vez vi um, amassou como um guardanapo manchado de suor enquanto ele se curvava para pegar a faca. Ele a segurou com o punho, completamente inexperiente. Em seguida, atacou direto, esperando que seu peso fosse suficiente para me surpreender e me fazer cair na armadilha. Era um método de força bruta e idiotice. Desviei um pouco e me preparei. Ele bateu com força no meu ombro, o que o jogou para o lado e caiu desleixado em uma das camas.

Era tão tentador acabar com ele ali contra a cama, mas seria muito fácil. A escuridão insaciável dentro de mim era um buraco negro, voraz pedindo por mais, e eu estava impotente contra a necessidade de alimentá-la. Então, eu o arrancei pelo tornozelo do colchão e seu enorme peso bateu com força contra o piso. Antes que ele pudesse se endireitar, eu virei sua perna no ar sobre meu ombro e o arrastei facilmente até o banheiro. Era mais fácil limpar o sangue no piso laminado do que do carpete. — Maldito bastardo canadense, — Patrick cuspiu enquanto tentava colocar os braços contra o batente da porta do banheiro. Inclinei minha cabeça, o estudando conforme ele lutava contra meu controle, então rapidamente chutei seu braço esquerdo com o salto pesado da minha bota de motoqueiro. O estalo dos tendões se partindo e a rachadura do osso foi tão satisfatório como o urro de dor que foi rasgado dos seus pulmões. — Na verdade, — eu disse a ele em tom de conversa enquanto o puxava pelo chão do banheiro. — Eu sou tão irlandês quanto você. — Então, em um gaélico enferrujado que não usava há anos, o insultei em uma língua que ele entenderia. — Se ao menos tivesse cérebro, o senhor seria perigoso. Notei que a tensão aumentava em seus músculos até que ele se lançou sobre mim. Ele era lento, o excesso de peso e uma mente lenta o tornava assim. Mas eu estava entediado com isso e queria brincar. Então eu o deixei me socar. Pousou mal no canto do meu queixo, minha barba tirando o ferrão do osso com o contato, e força suficiente para virar minha cabeça um centímetro.

Mas a dor cantava através de mim como uma droga, excitante e reta de uma forma que jamais teria o bastante. Uma pequena risada dançou na minha língua enquanto ele tentava atacar novamente. Pulei na ponta dos pés e, pouco antes de seu gancho de esquerda desleixado me acertar, me abaixei e acertei um golpe forte em seu rim direito. Ele se dobrou, com um movimento lento como uma árvore recém-cortada do tronco, sua cabeça bateu no vaso de porcelana cor-de-rosa com uma crosta de sujeira nojenta. Gemendo deploravelmente, ele tentou recuperar seu equilíbrio, lutando pela faca que havia caído no chão quando eu o havia puxado pela porta. Eu pulei levemente enquanto o deixava agarrá-la. Ele estava sangrando de um corte na orelha esquerda. Da mesma forma que Bea sangrou nos destroços, seu belo rosto foi horrivelmente transmutado por sangue. Não tinha me permitido pensar nela desde a última vez que a vi toda machucada, seu brilho natural apagado pelas luzes amarelas artificiais do quarto do hospital. Não me permiti pensar no sangue dela em minhas mãos, literal e figurativamente enquanto a puxava do acidente de carro que eu orquestrei, e não me permiti visitá-la novamente, embora eu tivesse passado todas as noites em sua casa depois que recebeu alta. Eu era um homem que não se permitia muitas coisas, por isso fiquei surpreso com a dificuldade deste esforço em particular.

Tudo em mim me puxava com alguma estranha força magnética em direção à menina delicada com um halo de caracóis que seria eternamente boa demais para mim e, portanto, muito errada para mim. Essa desculpa patética de homem sangrando no chão diante de mim era parcialmente responsável por seus ferimentos. Eu poderia me autoflagelar tanto quanto quisesse pagar penitência por minha própria culpa, mas quem estava lá para extrair ela de Patrick? Eu. É quem. Algo em meu peito inflamou, meu raciocínio lúcido oscilou, e de repente, eu estava sobre ele. O tempo da diversão e dos jogos havia passado. Era a hora de Patrick Walsh conhecer seu maldito Criador. Os ossos de seus dedos triturados sob minha punição ao esmagar a mão dele contra a banheira para soltar sua punção sobre a faca. Ele grunhiu e arfou, saliva voando, e suor brotando em sua testa franzida. Toda essa energia gasta de forma tão ineficaz. Em segundos, ele foi desarmado. Um momento depois, eu empunhava a mesma faca em minha mão, a ponta mais perigosa se inclinou como uma caneta sobre a papa da sua garganta. Logo, eu escreveria a conclusão de seu destino na tinta de seu sangue.

— Isso, — eu disse a ele, um tanto alegre, porra, mas eu amava a caça e aquele momento precioso e tranquilo antes de matar. — É o que acontece com aqueles que perseguem os The Fallen. — Vai se foder, — disse Patrick antes de cuspir em mim, o líquido viscoso pesado demais para alcançar meu rosto ameaçador, então ele caiu pateticamente sobre seu peito arfante. — E seus fodidos Fallens. — Ótimo, embora sejam entediantes últimas palavras. — Inclinei minha cabeça para o lado e girei a faca levemente contra sua carne, provocando uma pequena lesão e uma singular gota de vermelho granada. — Quer tentar novamente? Ele abriu a boca para dizer algo, mas era tarde demais. Com um movimento do meu pulso tão gracioso e avaliado como um movimento de dança, a garganta grossa de Patrick Walsh se abriu facilmente sob a minha faca e suas últimas palavras foram afogadas em um último suspiro gorgolejante. Sentei sobre minhas pernas para ver ele morrer com mais conforto. O sangue fluiu tão rapidamente de sua carne dissecada, correndo como uma torneira quebrada sobre sua camisa branca para o cós da calça preta, ao redor de sua barriga gotejando ininterruptamente, plink, plink, no piso. Observei como suas extremidades ficavam pálidas e manchadas como papel de cera velho, como seu fôlego guinchava, balbuciava, e seu peito dava um último suspiro antes de parar por completo. Quando isso foi feito, eu me permiti um momento de reflexão porque sabia que, se não o fizesse agora, sofreria por isso mais tarde.

— Embora eu ande no vale da sombra da morte, nenhum mal eu temeria, — blasfemei com rouco. — Pois eu não sou mais Seu.

Capítulo Cinco Bea Eles não me deixaram sozinha. A cada minuto durante minha estadia de três dias no hospital e a cada segundo desde que voltei para casa, minha pequena e cor-de-rosa casa histórica7, logo após a Rua Principal, havia alguém ao meu lado. King e Cressida (porque raramente se separavam) com seu doce bebê, Prince, Harleigh Rose, Lila, e minha melhor amiga, Cleo, minha irmã ou minha mãe e meu avô. Os Fallen não ficavam muito tempo, mas alguns vinham para fazer a checagem, e Loulou, numa demonstração de proteção excessiva, até mandava Ransom aparecer de surpresa à noite para garantir que eu estivesse segura. Eu não tinha espaço, não tinha privacidade e, o mais importante, não tinha Priest. Ele era o único em todo o MC de trinta e quatro homens que não prestou homenagem à cunhada ferida do Prez. E isso incluía os idiotas mais geniosos como Heckler, Wiseguy e Skell. Teria sido um sinal de desrespeito de qualquer outro irmão. Zeus teria conversado com eles e eles viriam rastejando pela minha varanda carregando um buquê amarrotado ou um pacote de seis cervejas geladas, como desculpas. 7 No original: Heritage Home - são propriedades residenciais que o governo, normalmente em nível municipal, designa como tendo um “interesse patrimonial especial”. Pode fornecer uma declaração explicando o valor do patrimônio cultural ou interesse da propriedade e uma descrição de seus atributos históricos.

Mas Priest era diferente. Havia temor e reverência em torno do executor do clube. Ele era o traficante da morte, o cobrador de pedágio, então havia respeito ali, mas também um leve desconforto. Morte era uma palavra no vocabulário de todo motoqueiro fora da lei, mas para Priest, era quase um mantra. Os outros homens não conseguiam se relacionar com ele tão facilmente quanto conseguiam um com o outro. E Priest, que eu suspeitava piamente, após anos de investigação, ser um psicopata clínico, não era capaz de se identificar com eles. Portanto, ele recebia uma dispensa especial das regras sociais habituais do clube. Ele entrava e saía como um fantasma, nunca questionado, respondendo apenas a Zeus e, mais recentemente, a King. Eu sempre pensei que para Priest, o amor não era impossível tanto quanto não era transponível. Qualquer que fosse a lealdade ou parentesco que ele sentia por The Fallen e seus irmãos, era comunicado através da ação. Tinha caçado e torturado um homem por Cressida. Tinha espancado um velho inimigo, Warren, que entregara Loulou ao The Nightstalkers MC. Porém, ele apareceria em um leito de hospital ou cantar “Parabéns” com todos os outros em coro em uma das muitas festas realizadas no clube? De jeito nenhum. Estes eram os devaneios de uma garota que era obcecada por um homem misterioso há meia década.

Antes do acidente, me contentava com meus devaneios e minhas fantasias. Eu sentia que minha obsessão seria sempre inconciliável. Mas agora... A crueldade fria nos olhos de Priest quando ele cortou a garganta de Brett e ungiu meus pés com seu sangue. A gentileza de suas grandes mãos mortíferas segurando meu corpo arrebentado contra seu peito, enquanto ele me protegia da explosão do carro e a tensão em sua mandíbula ao mesmo tempo em que olhava para mim, destruído pela visão de meus ferimentos... Isso não tinha que significar alguma coisa? Eu queria perguntar a ele. Eu precisava saber. No mínimo, me senti compelida em agradecer a ele adequadamente. Não apenas porque salvou minha vida e merecia esse respeito, mas porque a psicólogo em formação em mim queria ver como ele reagiria. Como um homem mais acostumado à morte do que a vida reagiria a uma mulher agradecendo por salvá-la? Essa pergunta não questionada ardia em mim como um incêndio florestal. — O que você acha, Delilah? — Murmurei para minha doce pomba de pescoço anelado enquanto a alimentava quando ela pousou no meu ombro. Ela balbuciou feliz em resposta e se envaideceu enquanto eu gentilmente corria um dedo em sua garganta sedosa.

— Acho que ele também pode gostar de mim, — concordei em um sussurro enquanto Harleigh Rose e Loulou riam de algo na minha cozinha. — Acho que está na hora de descobrirmos. Cuidadosamente, eu deslizei para a beira do sofá em que deitei, em seguida, me levantei de uma forma que não agonizasse minhas costelas. Delilah balançava e puxava as mechas do meu cabelo à medida que eu me movia para sua gaiola, mas ela ficou felizmente quieta conforme eu a soltava em seus amplos confins. — Me deseje sorte, — eu disse a ela enquanto fechava a trava. Um miado irregular chamou minha atenção para Sampson, meu gato albino resgatado de um olho só, que estava sentado na porta dos fundos me observando com julgamento. — Não me venha com essa, — eu o repreendi enquanto me movia em direção a ele e pegava meu Converse branco ao lado de sua cauda. — Vou mandar uma mensagem antes que saí. Eu só preciso de espaço. Sampson ergueu o nariz arrebitado para mim e depois se afastou, claramente desapontado. Eu ri baixinho de sua atitude enquanto gentilmente girei a maçaneta da velha porta e a abri apenas o suficiente para deslizar sem que ela rangesse nas dobradiças levemente enferrujadas. Assim que saí, no crepúsculo laranja escaldante da noite de outono, me arrependi de não ter um casaco, mas era tarde demais para voltar atrás. Livre e tonta com isso, eu circulei ao redor da casa para pegar meu fiel Fiat vintage rosa. Era uma desgraça antes dos irmãos trabalharem nela na

Hephaestus Auto porque estava sempre quebrando, exigindo que mandassem alguém me buscar e levar de volta para a oficina para outra sessão de trabalho, mas eu o amava demais para desistir por algo mais prático. Peguei as chaves do carro e da casa que mantinha escondidas em uma pedra falsa na entrada da garagem e escapei. As cortinas tremeram assim que liguei meu carro, mas eu só acenei informalmente para a casa quando me voltei para a estrada e parti. Eu ri quando cheguei à Main Street, e meu aparelho de som finalmente ligou, apropriadamente espalhando Dark Side do Bishop Briggs. Não tinha um destino em mente. Eu só queria ficar sozinha no carro e refletir mais sobre como faria Priest me notar o suficiente para me querer. Depois de parar na Evergreen Gas para abastecer meu carro, Mary, e pegar um saco enorme de pêssegos cristalizados, dirigi ao longo da costa. Nunca deixava de me surpreender o quão linda era Entrance. À leste, as Montanhas Rochosas rebentavam da terra como se fosse a espinha dorsal de grandes dinossauros fossilizados no solo. A oeste, a expansão cintilante do oceano azul sob os penhascos acidentados da costa. Entre os dois, a mata abundante e repleta de vida selvagem acostumada com o homem, frequentemente tínhamos ursos, veados e pumas correndo pelas ruas a caminho de pastos mais verdes. Eu adorava isso, cada centímetro. Foi por esta razão que escolhi ir para a universidade em Vancouver, em vez de morar no campus. Eu queria esta beleza como meu quintal, e o amor de minha família para enfeitá-lo ainda mais.

Possuía tanta bondade em minha vida que era quase vergonhoso o excesso. Apesar de ter crescido amplamente ignorada por meus pais com uma irmã que lutou contra o câncer duas vezes, fui mais abençoada do que a maioria das pessoas jamais seria. Eu era dona de minha casa, graças à herança de meu pai nojento, frequentei uma das melhores universidades do mundo, morava em um dos lugares mais bonitos e tinha a família mais adorável, embora talvez não convencional. Então, por que eu tinha este descontentamento mesquinho? Coloquei um pêssego na boca, saboreando o sabor doce enquanto ele se dissolvia na minha língua e decidi ser honesta comigo mesma. Eu me sentia só. Não me sentia só da mesma forma que muitas vezes me perguntava se Priest era solitário, ou seja, sem camaradagem. Era possível uma pessoa muito popular se sentir essencialmente solitária, mesmo quando era rodeada por um grupo de amigos. Eu me sentia isolada porque estava deliberadamente escondendo a verdade de quem eu era em meu coração das pessoas mais próximas. Sim, eu era uma boa garota, uma loira que frequentava a igreja, recebia notas A, adorava animais e tinha uma tendência séria para todas as coisas rosa e femininas. Mas

era

atraída

para

a

escuridão

como

irrevogavelmente em direção a um buraco negro.

um

planeta

puxado

Eu queria mais do que sol e flores. Queria afiar minhas arestas contra o perigo, testar minha mente contra aqueles que pensavam de forma contraditória em relação a mim. Era a razão pela qual eu estava estudando psicologia criminal. E eu não conseguia decidir o que tinha vindo primeiro, a galinha ou o ovo. Minha obsessão por Priest ou minha obsessão pelo depravado. Como que em resposta, o universo me ofereceu um presente... A visão da moto Harley Davidson toda preta de Priest parcialmente obscurecida atrás de uma lixeira no estacionamento do Motel Purgatory. Instantaneamente, minhas mãos estavam se movendo no volante, virando meu pequeno Fiat para o estacionamento. Estava escuro agora, o pôr do sol era apenas uma mancha de luz cinza suja na borda do horizonte, e o estacionamento estava mal iluminado por três postes, dos quais apenas um estava funcionando. Estremeci ao sair do carro, o medo e o frio se unindo para bombear adrenalina pelo meu sangue. Eu gostava muito disto, eu sabia. A sensação de insegurança. No entanto, cada vez mais ao longo dos anos, eu tinha assumido estes riscos e sabia que um dia, estes tímidos atos não seriam suficientes. Eu quereria mais. Pisquei para a moto de Priest antes de caminhar até o único cômodo iluminado no quarteirão do motel. Em todos os meus anos de convivência com ele, ocorreu-me que ainda não tinha a menor ideia de onde ele morava. Talvez ficasse permanentemente nesta merda de motel.

O pensamento me entristeceu e me impulsionou para a frente. Bati à porta, mas ninguém respondeu. Meu coração estava na minha garganta, e minha pele se arrepiou. Havia algo no ar aqui como estática. Algo que me alertava para não entrar no quarto a todo custo. Então, é claro, eu entrei. A maçaneta girou facilmente na minha mão, mas a porta caiu completamente para dentro quando a abri, o painel inteiro caindo no chão e avisando quem estava dentro da minha presença. Obviamente já havia sido derrubada antes. Eu congelei na porta, com meu pé suspenso no ar. — Olá? — Chamei suavemente. — Priest, você está aqui? Não houve resposta. Apenas o zumbido baixo e gutural do ventilador no banheiro, uma faixa de luz rosa triangulada contra a parede oposta. O ar estava viciado e almiscarado, mas por baixo havia um odor diferente, algo penetrante e antisséptico como o do hospital em que acabei de convalescer. Algo como alvejante. Meu coração estava na minha garganta, bombeando tão loucamente que era difícil engolir. Eu me abaixei para pegar a pequena faca da alça em volta do meu tornozelo, escondida pela minha meia branca com babados. Foi um presente de Priest há muito tempo, depois que quase morri em um incêndio em uma cabana com minha irmã, Harleigh Rose, e Mute. Era um dos dois

presentes que ele já havia me dado. Eu mantive comigo o tempo todo, mesmo quando ia para a cama. Era uma faca plana e reta afixada a uma base de madeira entalhada em uma elaborada cruz celta. Meus dedos se curvaram facilmente sobre o cabo de cruz, então ela ficou equilibrada na minha palma. Esta era a primeira vez que a usaria. Quando me aproximei do banheiro, minhas orelhas doeram tanto que quase vibraram com a pressão. Nada. Com a ponta do sapato, empurrei suavemente a porta do banheiro. Não sei o que esperava, talvez um monstro pulasse de trás da cortina do chuveiro. Nada aconteceu. A cortina rosa berrante do chuveiro estava parcialmente fechada, mas era transparente o suficiente para que eu pudesse ver que não havia ninguém à espreita. O banheiro estava vazio. Sem monstro, sem Priest. Uma onda de vergonha e decepção passou por mim como um fantasma, deixando apenas uma sensação fria e úmida por todo o meu corpo. Como pude ser tão estúpida ao seguir um caminho perigoso na esperança de que Priest estivesse no fim dele? E o que eu esperava que ele fizesse mesmo que estivesse? Ele era um assassino, um psicopata. O que me fez

pensar que ele seria brando comigo? Sair da escuridão e cair na luz de amor por mim? Eu era apenas uma garota. Aparentemente, uma patética com desejo de morte. Meus ombros caíram, e de repente me senti exausta, meus ferimentos e o longo dia me atingindo em um golpe quase mortal. Virei-me para partir quando algo quase imperceptível chamou minha atenção no espelho, apenas um lampejo de luz cor-de-rosa no metal. Aos poucos, meu coração cansado, esmagado pelo peso da minha respiração suspensa volta ao normal, e olhei por cima do ombro para o espelho à minha frente. E gritei. Porque um homem todo de preto estava do outro lado da porta, grudado entre a parede e as sombras lançadas pela porta aberta, de modo que eu não o tinha notado à primeira vista. Foi apenas o clarão revelador de uma arma pressionada contra a madeira apontada diretamente para minha cabeça do outro lado que o denunciou. Eu gritei tão alto que o som pareceu rasgar meus pulmões, despedaçandoos como papel de seda. Só tive tempo para isso, uma única exclamação de pânico, mas foi interrompida pelo homem encapuzado. A porta bateu em mim, me forçando a cambalear para trás no banheiro. Antes que eu pudesse recuperar meu equilíbrio, ele estava sobre mim.

O peso frio de ferro de sua mão envolveu minha garganta com tanta força que eu podia sentir a pressão distinta de cada dedo. Usando seu impulso, ele me forçou contra a parede oposta e me prendeu lá como uma borboleta presa em âmbar. Não sei por que não lutei. Havia algo no ar, algo inebriante e fascinante. Foi no raso suspiro que engoli antes que ele apertasse ainda mais meu pescoço. O cheiro de cravo e tabaco. Meu corpo registrou o cheiro antes da minha mente, relaxando como uma boneca de pano em seu domínio, embora tornasse mais difícil respirar. Porque eu sabia instintivamente, que este homem não me machucaria, mesmo que fosse de sua natureza machucar todos os outros. — Priest, — eu disse asperamente. Seus dedos flexionaram em volta do meu pescoço, em seguida, afrouxaram em um colar macio para que eu pudesse respirar com facilidade. — Você tem um desejo de morte que eu não conheço? — Ele exigiu friamente, balançando a cabeça uma vez, forte o suficiente para deslocar o capuz. Caiu para trás para revelar seus cabelos vermelhos espesso e exuberante e um par lindo de olhos claros e frios. Ele parecia o ceifeiro vindo para recolher meu coração e colocar ele em um cordão que usaria em seu pescoço. Como se quisesse me punir por minha estupidez ao mesmo tempo, queria ser o único responsável por minha dor.

— Talvez, — eu disse a ele honestamente. — Ultimamente, tenho estado... inquieta. — A morte vai pôr um fim a isso com certeza, — ele concordou, mas a tensão em sua mandíbula fez suas palavras estalarem roboticamente contra seus dentes. — Não se pode fazer nada quando se está enterrado. — Na verdade, eu gostaria de ser cremada. Talvez até mesmo ser transformada em uma árvore. Você sabia que pode fazer isso agora? Lila me falou sobre isso. Priest pestanejou para a minha tagarelice. Ele tinha cílios absurdamente longos e encaracolados na cor de cobre fino. — Eu poderia ter matado você, Bea, — disse ele como se eu fosse uma idiota. — Eu poderia ter matado você de tantas maneiras diferentes, e ainda assim teria merecido por ser tão estúpida. O que estava pensando? — Eu imaginei que você estivesse aqui. — Hesitei, então levantei lentamente a mão, como você faria com um cachorro raivoso, e envolvi a levemente no pulso de sua mão que segurava meu pescoço. — Gostaria de te agradecer. Sua hesitação não passou de uma pequena expressão, um franzir da boca, um piscar do olho esquerdo que ele não conseguia firmar, mas eu estava acostumada com Priest. Tinha me tornado uma especialista em ler seus minúsculos tiques e em extraí-los em busca de ouro. — Não há nada para me agradecer. — De repente, ele me soltou e deu um grande passo para trás, a parede em suas costas era a única coisa que o impedia de recuar mais.

Era um espaço estreito. Não havia lugar para nenhum de nós fugirmos e era difícil dizer, naquele momento, quem queria mais fugir. À minha maneira, eu supunha, eu estava aterrorizando Priest tanto quanto ele estava acostumado a ser um terror para os outros. Minha bondade voltada para ele era uma aberração a que ele não estava acostumado. Isso só me fez querer envolver ele no meu amor e nunca o deixar ir. Dei um passo em direção a ele. Ele fez uma careta, seu rosto lindo se contorceu em uma expressão que teria assustado Jack, o Estripador. Funcionou de forma diferente em mim. Senti aquela intensidade aquecer minha barriga, pesar entre minhas pernas. Isso me fez querer sua mão de volta ao redor da minha garganta para que ele pudesse sentir o canto da sereia da minha pulsação e verificar o quanto eu estava afetada por ele. — Claro, que eu tenho que te agradecer, — eu disse suavemente. — Você salvou minha vida. — Eu quase matei você. — Sua voz estava vazia, sem nem mesmo uma sugestão de emoção. Mordi meu lábio e fui em frente. — Às vezes, uma experiência de quase morte pode abrir os olhos. Pode fazer você perceber coisas que nunca pensou no que poderia ou deveria querer.

— Querer não é necessário. Fique satisfeita com o fundamental. Esperar por mais só lhe trará sofrimento. — Foi isso que aconteceu com você? — Perguntei, chocada com minha audácia. Meu suspiro foi interrompido quando Priest avançou de repente, sua mão de volta na minha garganta, desta vez me trazendo para mais perto em vez de me afastar. Não acho que ele estava ciente da maneira como seu polegar roçava minha jugular para frente e para trás, testando meu pulso. Minha boca estava aberta, o hálito quente se espalhando em seu rosto, tão perto que eu poderia ter contado as sardas de canela em suas bochechas se tivesse uma luz melhor. Eu podia sentir o gosto dele em minha língua, as especiarias, o leve amargor do tabaco. Gostaria de saber qual seria seu sabor selvagem, de animal ou de homem. Inconscientemente, minhas costas se arquearam para nos aproximar, mas ele mantinha uma distância prudente entre nós. — Você não sabe nada sobre mim, Bea Lafayette, — ele rosnou, sua voz tão abrasiva que causou arrepios em minha pele. — Acha que pode me seguir como uma pequena sombra e que eu não notaria? Eu percebo tudo. Mesmo as meninas sem cérebro na cabeça. Procurei não deixar o insulto chegar, mas meus pais sempre chamaram Loulou de esperta, a linda, melhor do que eu em todos os aspectos. Eu não me importava em ser bonita, embora as pessoas parecessem julgar que eu tinha me tornado mais bela. Importava-me com a minha inteligência.

Me agarrei à capacidade da minha mente do jeito que um homem desesperado, se afogando, se agarra à borda de um navio. Era a base da minha confiança, o ponto crucial sobre o qual eu queria que minha vida dependesse. Então me condenou que, de certa forma, Priest estivesse certo. Por isso me amaldiçoava que, de certa forma, Priest estivesse certo. Tinha sido uma idiota em me esgueirar por um quarto de motel assustador em busca de um assassino, mesmo que eu conhecesse esse assassino desde que eu era uma menina. Tinha sido idiota ao pensar que ele poderia se importar comigo. Uma gargalhada amarga desabou entre nós como fumaça tóxica. A carranca de Priest se estreitou, os vincos entre suas sobrancelhas negras como chifres nas sombras. Ele agitou um pouco minha cabeça como se fosse para chocalhar algo solto. — Você não dá a mínima para a sua segurança, mas se importa com o que eu penso sobre você. Esse é o problema. Eu existo. Sou uma ferramenta valiosa. Mas eu não sou um homem. Não como você pensa que sou. Não espere nada assim de gente como eu. Está me entendendo? Não há nada aqui, e não haverá nada aqui porque eu não tenho nada para dar. Engoli em seco contra a onda de decepção que rastejou por trás da minha língua, amarga como bile. Algo em minha expressão deixou Priest ainda mais frustrado, seu polegar cavando profundamente em meu pulso. Ele me estudou com aqueles olhos misteriosos sem piscar por um longo minuto, o único som era o som áspero da minha respiração e o baque do meu coração errático que eu tinha certeza que nós dois podíamos ouvir.

— Você é uma eejit, — ele finalmente disse rispidamente, seus olhos fixos nos meus de um verde tão pálido que mesmo nas sombras pareciam brilhar. Vagamente, eu me lembrei de eejit era uma gíria irlandesa para idiota. — Porque há um povo que se preocupa com você e está disposta a jogar tudo fora por nada. Você fode com sua vida, fode com a deles. Não acha que sua família já passou o suficiente? — Eles sentem o mesmo por você, — eu disse uma vez que encontrei minha voz, em algum lugar nas profundezas da minha barriga turbulenta. — Todo mundo se preocupa com você, Priest. Não... não é só eu. Houve um segundo, se eu piscasse eu teria perdido, quando algo como fome passou por seus olhos. Não era um desejo visceral, físico, mas algo mais metafísico. Ocorreu-me que o maior medo e desejo de Priest era aceitar o amor e o conforto. Talvez ele temesse que isso amolecesse suas arestas, como se uma faca estivesse muito perto da chama. Talvez ele tenha sido queimado por ela no passado e carregasse as cicatrizes sob sua pele como uma armadura. Ou, o pior de tudo, pensei, talvez ele nunca tivesse experimentado nenhum tipo de amor. — Amar-me é um destino pior do que a morte, — ele me advertiu, eclodindo de tal forma que mais uma vez ele era uma escultura viva, respirando. Senti suas palavras como um golpe no meu peito. Eu sofria por esse homem, esse homem que acreditava merecer tão pouco. Antes que pudesse me conter, recuei um pouco, apenas o suficiente para afrouxar o aperto de Priest na minha garganta, e então cambaleei para frente,

desajeitadamente lançando minha boca na dele. Eu caí desajeitadamente, minha boca se separou em torno do seu lábio inferior surpreendentemente adocicado. Eu estava beijando-o. Beijando Priest. Como se atingisse uma pedra, meu corpo se inflamou em chamas que consumiam tudo. Os pensamentos queimaram até se tornarem cinzas e tudo o que restou foi o calor, fixado no ponto de nosso contato. Por um momento glorioso, a amplitude de um instante monumental do meu coração, Priest me deixou beijá-lo. No seguinte, houve um breve flash de dor no meu lábio, depois eu estava me movendo. Com a mão na minha garganta ainda, ele me impulsionou de volta contra a parede, e com uma estranha mistura de gentileza e rigidez, me puxou para frente e me empurrou de volta, como se quisesse ressaltar seu ponto de vista. Então ele estava do outro lado do corredor estreito, olhando para mim como um animal acuado, cruel e inquieto. Olhávamos um para o outro sob a luz rosada e encardida. Notei, enquanto lambia meus lábios, que ele tinha me mordido em sua pressa de escapar. O odor de cobre explodiu em minhas papilas gustativas. Minha mão voou até minha boca, o polegar até o pequeno vergão quebrado em meu lábio inferior. A ponta do meu dedo claro saiu manchado de vermelho.

Observei as pequenas evidências de sua violência entre os olhos de Priest. Havia uma quietude vibrante em sua postura, uma formação de músculos e uma energia potencial apenas esperando para entrar em ação. Ele apontou sua cabeça ligeiramente para a esquerda, estreitando os olhos enquanto me contemplava. Lentamente, deliberadamente, eu trouxe meu polegar de volta à minha boca e delicada como um gatinho, lambi o sangue da minha pele. Ele rosnou. Um ronronar baixinho, quase inaudível, rolando por seu peito. Como se uma corda nos conectasse, eu me peguei tremendo com a vibração daquele som e soltei um zumbido ressonante de prazer. Priest se afastou da parede ligeiramente, então parou, como se estivesse preso entre duas cordas de duelo. Eu quase o tive. Tão perto. Eu estava brincando com uma criatura que era mais monstro do que homem, mas nunca me senti mais viva. Mais excitada. O lugar entre minhas coxas que nunca havia me interessado muito estava escorregadio com a umidade, as pontas dos meus seios estavam tão enrugadas que latejavam. Eu quase o tive. Meu coração batia forte como as asas de um beija-flor enquanto levava meu polegar escorregadio de saliva de volta aos lábios e propositalmente manchava o sangue sobre minha boca como um batom macabro.

Seu peito estava claramente arfando agora, grandes respirações calculadas arrastadas para seus pulmões em um esforço para acalmar a besta que residia lá dentro. Eu queria tanto que ele viesse e se lançasse com tanta força sobre mim, que tremia por ele. Ainda assim, ele não se moveu. Minha língua apareceu lentamente, timidamente, para cutucar a ferida enquanto eu assumia uma posição mais lânguida contra a parede, os músculos relaxados, a cabeça levemente inclinada para o lado para expor minha garganta. Do jeito que um lobo submisso faria com seu alfa. O ar ficou elétrico por uma fração de segundo antes de ele se mover, sinuosamente, predatório, perseguindo os três passos pelo corredor. Sua mão subiu até meu pescoço ao mesmo tempo em que baixou a cabeça para aproximar sua boca à minha. Ele não me beijou. Ao invés disso, ele pegou cautelosamente meu lábio rachado entre seus dentes e puxou levemente. Uma gota de sangue se juntou da ferida, e Priest, sensualmente, quase indolente, lambeu-a da minha boca. Ofegante, abri a boca naturalmente, implorando por mais. E pela primeira vez em todos os anos em que o conheço, o Priest cético e controlado, cedeu.

Meu Deus, ele comeu na minha boca como se fosse uma fruta deliciosa, lambendo meu sangue derramado, mergulhando mais fundo para provar a borda acetinada da minha língua com a dele, explorando minha boca. Ele comeu como se fosse dele para devorar. Eu fiz ruídos baixinhos, gemendo e sem vergonha que não consegui controlar. Eu estava desesperada para tocá-lo, porém muito preocupada que isso quebrasse esse momento perfeito e o alertasse de seu controle. Então apenas fiquei ali, presa à parede pela mão forte em volta da minha garganta, afirmando pressão o suficiente para fazer meu sangue palpitar. E eu o deixei me beijar. Eu o deixei me arruinar com tanta convicção nesse beijo, longo e luxurioso, que soube que nenhum outro me faria sentir assim. Eu precisava disto. Priest com sua necessidade sombria e feroz. Sua mente fria e calculista travada como chifres de batalha com os meus. Senhor, porém, eu me esqueceria de tudo o que eu sabia que existiria para sempre neste abraço cruel e reivindicativo. E então, acabou-se. Mesmo que nossos únicos focos de contato tivessem sido nossas bocas fundidas e aquela mão tensa e nervosa em meu pescoço, meu corpo sentia-se coberto por água gelada quando ele se afastou. Observei, imóvel ainda enredada no tremor daquele beijo destruidor, enquanto ele limpava aquela boca cruel e adorável com a palma de sua mão. Como se ele precisasse se livrar do meu gosto de seus lábios.

Caramba, isso doeu. Encarou-me de forma tão desapaixonada, que me perguntei se eu teria alucinado todo esse abraço. Quando ele se moveu, estava de volta ao banheiro, seus movimentos eram controlados e equilibrados enquanto ele desaparecia atrás da porta. Espreitei através da fenda fina entre a porta e suas dobradiças quando ele afastou a cortina do chuveiro para trás e se dobrou para recuperar algo pesado da bacia da banheira. Momentos depois, reapareceu com uma grande forma de plástico preto envolto em seu ombro largo. Não havia como confundir a forma de um corpo dentro dele. Ou o leve respingo de sangue sobre a fita branca que o mantinha fechado. Na mão não ocupada em manter o corpo morto equilibrado em seu ombro, Priest segurava uma bolsa de couro, com a parte superior branca de uma garrafa de alvejante que saía da borda. Eu me empurrei para a parede com minha mão no estômago à medida que ele passava por mim no espaço estreito, sem hesitar. Nem um piscar de olhos ou o reconhecimento de minha presença. Sem um único olhar para trás, Priest passou por cima da porta quebrada do quarto e saiu com seu cadáver ensacado para dentro da escuridão da noite. Eu o observei ir com meus dedos quebrados inconscientemente mergulhados no sangue do meu lábio rasgado, ungindo o gesso com sangue. Não tinha gosto de sangue na minha boca. Parecia fé, como se fosse uma divindade desnaturada. Experimentava este sabor, como a aurora, porque tinha gosto de nós.

Capítulo Seis Bea

Quando eu era pequena, Deus era meu melhor amigo. Eu era uma criança solitária. Minha irmã estava quase sempre no hospital, meus pais preocupados com suas respectivas vidas sociais, nossa rotação de babás europeias sendo a única presença constante em minha vida. Então, meu avô se tornou meu vínculo familiar mais próximo e com ele veio Deus. Ele foi o primeiro amor do meu avô, antes mesmo da minha avó, que faleceu quando eu tinha apenas seis anos. O primeiro livro importante que li foi a Bíblia e então, quando terminei e expressei interesse em mais, meu avô me deu o Alcorão, os três textos sagrados do Judaísmo chamados de Tanach e os Sutras do Budismo. Ainda me lembro de ser pequena, minhas pernas muito curtas para chegar ao chão quando me sentei nos bancos, chutando minhas sapatilhas Mary Janes para frente e para trás enquanto questionava ao meu avô todas as questões espirituais da minha juventude. Havia um Deus ou Deuses diferentes para religiões diferentes?

Por que Deus deixou as pessoas morrerem? Para onde eles iam? Por que havia tanto sofrimento se Deus era bom? Por que Deus deixou que Loulou ficasse tão doente? Meu avô não se importou com minhas perguntas críticas. Ele era paciente, calmo e cheio de gratificação ao falar sobre seu Deus cristão. Ainda mais tarde, depois que Loulou foi diagnosticada pela segunda vez com Linfoma de Hodgkin, depois que nosso pai bateu nela por amar o homem errado e a expulsou de casa, depois que ele próprio foi revelado como corrupto e assassinado a sangue frio, meu avô afirmou que Deus era bom, mas não me castigou por me distanciar do Senhor. Quando eu era adolescente, Deus não foi meu melhor amigo. Eu havia me livrado desse romantismo junto com a minha percepção de que meu pai era um herói e minha mãe uma princesa, bem como aquela noção infantil de que pessoas boas merecem coisas boas. Aprendi a verdade da vida. Que não havia grande poder cuidando de você, nenhum destino predeterminado nas estrelas que controlavam sua vida ao pé da letra. A vida era mais sorte do que destino, mais escolha do que subjugação. A vida era simplesmente o que você fazia dela. E estava determinada a fazer a minha feliz, não importando os contratempos.

Ainda assim, eu frequentava o culto da Igreja da Primeira Luz todos os domingos para ouvir meu avô pregar sobre os melhores pontos de sua religião, sobre amor e caridade, sobre comunidade e aceitação. Adorava me sentar no mesmo banco da frente que ocupava quando era menina, fechar os olhos, balançar as pernas e ouvir aquela cadência melódica e reverente de sua voz tirando sabedoria da Bíblia. Amava o silêncio ecoante pairando nos picos e torres da velha estrutura de pedra e a veneração que emanava das paredes como se anos de adoração tivessem imbuído o tijolo e a argamassa de sentimento sensível. Acalmava aquela escuridão inquieta em meu peito, como uma canção de ninar para meus demônios. Eu também amava a comunidade. O rebanho de meu avô não virou as costas para minha mãe e para mim depois do escândalo da morte de meu pai. Longe disso, eles apareceram em nosso pequeno bangalô alugado depois que fomos expulsas da mansão do prefeito e trouxeram com eles comida e apoio sem fim. Então a Primeira Luz continuou sendo parte integrante da minha vida. Me sentei no banco da frente enquanto meu avô terminava seu sermão sobre abraçar o amor-próprio. Minha mãe estava ao meu lado, lindamente vestida, nem um fio de cabelo fora do lugar, mas eu podia ver o brilho em seus olhos quando as palavras ressoaram nela tão profundamente quanto em mim. — Não se conforme com o padrão deste mundo, mas seja transformado pela renovação de sua mente, — vovô citou Romanos 12:2 e então olhou para a multidão daquela maneira que ele faz de alguma forma olhando todos simultaneamente nos olhos. — Não devemos ser todos exatamente iguais para

viver uma vida digna da graça de Deus. Em vez disso, devemos seguir o caminho que nossos corações traçaram para nós, para que possamos encontrar a realização de maneiras mais do que apenas espirituais, mas igualmente profundas. Considerei isso quando ele disse sua bênção final, e todos ecoaram. — Amém, — antes de se dispersarem em seus grupos sociais. Fiquei chocada ao perceber que estava me conformando com uma velha seita de crenças e costumes sociais que não eram mais relevantes. Eu não era a segunda filha do prefeito, a boa menina relegada às sombras. Eu tinha coisas importantes para oferecer ao mundo, coisas bonitas e complicadas tão exclusivas para mim quanto minha própria impressão digital. Eu tinha acorrentado meus pensamentos sombrios e desvios naturais como uma besta raivosa dentro do meu peito e nunca dei espaço para respirar. Isso me fez pensar se aquelas predileções tinham ficado mais fortes por causa da minha negligência e agora, temperamentais e grandes demais para aquela gaiola, elas batiam de forma imprudente na porta para minha alma morrendo de vontade de sair. Naturalmente, minha mente foi para Priest e nosso beijo no dia anterior. Meus dedos traçaram a ferida cicatrizante em meu lábio enquanto eu me lembrava de sua ferocidade pura acoplada quase contraditoriamente com sua contenção. Ele era um homem tão poderoso, forte o suficiente para quebrar meu pescoço com um toque de suas mãos tatuadas, mas em vez disso, ele só me acorrentou com uma. Ele me deixou sentir toda aquela violência considerável controlada tenuemente. Se o controle provinha ou não de sua

lealdade ao clube ou de sua falta de desejo por mim, eu não tinha certeza, mas a romântica em mim esperava que fosse a primeira opção. A lealdade era um obstáculo que podíamos superar. Eu sabia que minha irmã ficaria louca por eu ficar com Priest, mas no final, ela quereria que eu fosse feliz. E depois daquele beijo, o que eu sempre me perguntei secretamente se solidificou em uma crença real de que Priest era o único homem a me ajudar a quebrar as restrições de minha conformidade e explorar quem eu realmente era. Não me envergonhou admitir que estava com muito medo de viajar aqueles recessos potencialmente ameaçadores da minha alma sem um homem destemido ao meu lado segurando minha mão. — Bea. Afastei meu devaneio para olhar para Seth e Tabitha Linley. Eles eram o casal mais bonito que eu já tinha visto fora do clube, e também o mais gentil. Eles foram essenciais para manter minha mãe unida depois de tudo que aconteceu com meu pai. Fiquei de pé para envolver Tabitha em um abraço que cheirava a seu perfume com cheiro de doce. Minhas costelas doeram quando ela me apertou, assim que eu sibilei. — Oh, sinto muito, Bea! — Sou eu, — admiti timidamente. — Eu sempre esqueço que leva um tempo para as costelas cicatrizarem.

Seth estalou a língua, com sua bela sobrancelha morena franzida. — O que nós falamos sobre você se cuidar? Está sempre colocando os outros em primeiro lugar. — É o que diz o médico. — Levantei uma sobrancelha para ele, então olhei para Tabby. — Vocês dois são as pessoas mais generosas que conheço. Tabby passou a mão por meu cabelo, um gesto que sempre me deixava satisfeita. — Os semelhantes se atraem, suponho. — Mas, honestamente, Bea, o que você estava fazendo com um rapaz tão desagradável? — Seth perguntou, a preocupação madura em sua voz baixa. — Não é típico de você se meter em problemas. — Ele estava usando calças passadas, — eu disse com um encolher de ombros envergonhado. — Pensei que fosse um dos bons. Ambos piscaram para mim antes de Tabby explodir em gargalhadas e Seth sorrir, balançando a cabeça exasperado. — Você tem um gosto estranho para companhia às vezes, — Seth admitiu afetuosamente. — Isso é verdade, — eu admiti. — Nunca gostei muito de pessoas da minha idade e, claro, quando experimentei para ver o apelo, o tiro saiu pela culatra. Na verdade, Cleo era uma das minhas melhores amigas e a única com uma diferença de idade de cinco anos. Eu sabia por meus estudos que não era incomum que crianças criadas por pais ou responsáveis mais velhos tivessem dificuldades com sua própria faixa etária e, embora eu tivesse quatorze anos quando Loulou se casou com Zeus, foi essa comunidade que cuidou de mim

mais do que meus pais fizeram. Esse desvio da norma foi algo que os terapeutas tentaram consertar, citando-o como um desajuste à sociedade. Pessoalmente, eu gostava muito. — Estava me referindo mais à gangue criminosa com a qual sua irmã se juntou, — Seth corrigiu, mas sua voz não tinha nada do julgamento desdenhoso que eu tantas vezes ouvi em referência aos Fallen na igreja. — Não posso dizer que entendo o apelo, especialmente para uma garota boa como você. Lutei contra o meu estremecimento por ser referida pela milionésima vez como a garota boa, o adjetivo mais morno que se deve conhecer e, portanto, para mim, era um insulto. Coloquei um sorriso falso no rosto. — Eles são um pouco rudes, mas os diamantes também são antes de serem lapidados. — Fofo, — Tabby me provocou levemente enquanto acariciava meu cabelo. — Eles já pegaram o criminoso, a família daquele menino? — Eric perguntou, contornando Seth para me dar seu próprio abraço. Eu sorri para ele. Baseado apenas em sua aparência, Eric era o homem menos bonito da igreja. Ele usava seu cabelo escuro comprido e desgrenhado sobre seus olhos escuros, deixando brilhar na luz uma argola de ouro em sua sobrancelha esquerda. Eu ainda não o havia visto usar nada além de preto, e ele tinha uma tatuagem nas pontas de seu polegar esquerdo que dizia “Me chame de seu papai do céu”. Sendo apenas alguns anos mais velho que eu e, embora nós tivéssemos conhecido através da igreja por anos, não foi até que ele se tornou

assistente em uma de minhas aulas de psicologia criminal no ano passado que nos tornamos próximos. Seth e Tabby imediatamente deram um pequeno passo para longe dele como se ele cheirasse mal, e de certa forma, ele cheirava. Ele cheirava a rebelião e novas ideias, como uma brisa fria varrendo a igreja quente com cheiro de mirra. — Hum... — Mordi meu lábio enquanto hesitava, pensando no corpo que Priest havia levado para fora do Motel. — Eu acho que estão trabalhando nisso. Aparentemente, seus pais se separaram e se esconderam. — Porra. — Eric estremeceu dramaticamente, então lançou a Seth e Tabby um pequeno olhar astuto enquanto envolvia uma mão em volta da minha cintura e me puxava para seu lado. — Talvez eu tenha que me mudar para protegê-la até que eles sejam encontrados. Revirei os olhos com sua afirmação, mas os Linleys não ficaram impressionados. — Isso seria incrivelmente inapropriado, — disse Tabby afetadamente. — Qualquer coisa, Bea poderia vir para ficar conosco. — Oh, mesmo? — Eric ergueu uma sobrancelha. — E como você a protegeria? Batendo com a Bíblia na cabeça de qualquer intruso? — E você? — Seth questionou friamente. — Vai matar eles com seu olhar? — Basta, — eu disse, rindo para acalmar a tensão. Minhas três pessoas favoritas na Primeira Luz nunca foram capazes de se dar bem, e eu estava

acostumada com a tensão crepitante. — Eu não preciso de ninguém me protegendo. Pelo menos uma vez, todos eles pareciam concordar em seu descaramento de minhas palavras. — Vamos lá, Bea, — Eric disse com uma risadinha que mexeu com a longa franja em sua testa. — Você provavelmente pesa uns cinquenta quilos. Eu levantei meu queixo com altivez, mas não havia como negar a verdade. Eu era esbelta, tinha ossos pequenos e uma constituição delicada, sem as curvas arrepiantes que minha mãe e minha irmã possuíam. — Querida, você realmente deveria ter um homem com você em casa. Apenas no caso, — Tabby se preocupou, alisando meu cabelo para trás. — Eu posso cuidar de mim mesma muito bem, obrigada, — eu disse afetadamente, mas as palavras estavam amargas com desonestidade. A verdade é que eu ocupava um espaço estranho entre ser uma donzela em apuros e saber o suficiente sobre os males do mundo para perceber minha própria vulnerabilidade. Eu tinha o clube. Os Fallen nunca deixariam que nada acontecesse comigo se estivesse sob seus cuidados. Mas eu não queria que os homens viessem em meu resgate. Eu queria ser uma durona como Harleigh Rose, que sacrificou sua própria segurança e felicidade para proteger sua família, como King, que fingiu sua própria morte para tirar seu pai da prisão, como Lila, que se infiltrou em uma quadrilha de tráfico humano para derrubar Irina Ventura.

Eu queria ser a heroína, não a isca virginal ou a loira burra que morre primeiro em todos os clichês de filmes de terror. Irritada de maneira incomum, eu abri um sorriso tenso para meus amigos e ofereci minhas despedidas abruptas. Observando minha mãe do outro lado do púlpito onde ela estava falando com o vovô, levantei meu queixo em direção à porta para que ela soubesse que eu a encontraria do lado de fora. Assim que peguei ar fresco, me senti melhor. Eu suguei um punhado daquele ar marinho limpo e salgado e me inclinei pesadamente contra a parede de pedra áspera ao lado das portas duplas de carvalho. — Queria falar com você. Meus olhos se abriram e, instantaneamente, entrei numa espécie de postura defensiva. Uma mulher estava a um metro à minha esquerda. Ela era de meia idade com os vincos macios no rosto que falavam do envelhecimento natural e uma cabeça cheia de cabelos ruivos e brilhantes que contradiziam os primeiros. Eu soube quem ela era instantaneamente porque, além dos cabelos avermelhados, ela se parecia exatamente com seu filho. — Brenda, — eu disse, minha voz sem emoção com o choque. Ela inclinou a cabeça em reconhecimento, mas, por outro lado, continuou a mexer nas alças de sua grande bolsa preta. A pele da minha nuca formigou com a tensão e alerta. Forcei meu corpo a relaxar casualmente contra a parede, esperando que minha fachada de indiferença mostrasse confiança quando eu não sentia nada.

— Como posso te ajudar? — Eu perguntei. Brenda torceu as alças da bolsa com tanta força que o couro rangeu no aro. — Bem, eu queria dizer que sinto muito, de verdade, pelo que aconteceu. — Um pequeno soluço interrompeu seu pedido de desculpas com forte sotaque. — Meu menino... ele era um bom menino. Realmente. A compaixão penetrou em meu coração, e fiquei com pena dela. — Eu o achei bom o suficiente para sair com ele. Foi um pequeno consolo, mas ela sorriu tremulamente para mim. — Tentamos por mais, mas ele era filho único. Um menino tão bom. Balancei a cabeça cuidadosamente. Havia manchas pretas sob seus olhos por falta de sono e provavelmente de nutrição. Com bordas vermelhas, injetadas de sangue e disparando em volta do estacionamento de forma irregular, seus próprios olhos falaram muito sobre seu estado mental. Eu me perguntei em que estágio de luto ela estava percorrendo o que eu sabia sobre o trabalho do luto de Freud e a evolução da teoria do luto desde então. Quando ela enfiou a mão na bolsa de repente, eu congelei de apreensão, pronta para gritar por ajuda. Mas ela apenas pegou um maço amassado de cigarros Marlboro. Suas mãos tremiam tanto que seus dedos úmidos de suor quebraram o primeiro pedaço de tabaco em dois. Uma risada aguda e fina perfurou sua segunda tentativa de tirar um do pacote, mas no momento em que ela colocou com sucesso o bastão de câncer aceso entre os lábios, sua energia intermitente diminuiu como um balão vazio.

— Desculpe, uh, você quer um? — Ela ofereceu com um sorriso fraco. — Comecei essa merda quando eu tinha onze anos. Não vou parar agora. — Não, obrigada. Ela assentiu com a cabeça uma vez, então novamente, quase para si mesma. — Sim, bem, eu queria dizer umas palavrinhas para você. Sobre esta guerra que desencadeamos com o seu clube. — Eles não são meus, — eu rebati automaticamente, chocada que ela pensasse assim e aquecida por ela pensar. Outra risada aguda. — Bem, diga isso ao cara que deixou cair as bolas do meu Patrick em um pote de vidro ontem à noite. Parecia que eles ficaram desolados, chateados por não só termos fodido em seu precioso território, mas com uma de suas vadias. — Não sou uma das vadias deles, — repeti o sentimento com um gesto para o colar de pérolas e o vestido de gola branca. — Pareço a mulher de um motoqueiro para você? — Não. — Ela deu uma tragada ridiculamente profunda no fumo e, em seguida, expeliu ele rapidamente, a fumaça obscurecendo seu rosto contraído. — Mas claramente meu Brett viu algo em você para gostar além da coisa de garota certinha que você tem. E esses motoqueiros fazem coisas ruins por pequenos motivos, mas tornaram isso pessoal. — Você tornou isso pessoal quando, sem querer, atacou a cunhada do Prez do Fallen. Ela piscou, colocando o cotovelo afiado sob a mão para apoiar a mão que segurava o cigarro. Embora ela estivesse cansada, eu podia ver como ela

poderia ter sido bonita uma vez, até mesmo forte e poderosa. A rainha de um império criminoso. Isso me lembrou de ter cuidado. Estávamos fora de uma igreja e ela tinha muito a perder, mas não dessa forma que as pessoas agiam de maneira mais precipitada? Imaginei o que Loulou faria se alguém tirasse Zeus ou seus bebês dela, e um calafrio de medo passou por mim. — Interessante, isso, — ela meditou, chupando seu cigarro. — Você não é muito bonita, mas isso é muito poder para uma garotinha. Você pode usá-lo agora para tirar eles das minhas costas. Inclinei minha cabeça para a esquerda, inconscientemente adotando o hábito de Priest. — Por que eu faria isso? Os lábios de Brenda franziram como se eu a tivesse forçado a chupar um limão. — Porque você matou meu filho. — Você está iludida se pensa que eu o matei. Você fez isso quando não deu ouvidos aos avisos dos Fallen. Pode ser de fora da cidade, mas a reputação deles deveria tê-los feito pensar melhor. O primeiro aviso deveria ter expulsado vocês da cidade. Isso é com você e seu marido. — Você o matou também, — ela continuou, sua voz quase coloquial, embora cada centímetro de seu corpo firme falasse de sua tensão e angústia. Então, eu percebi que ela estava se equilibrando na fronteira entre a negação e a barganha em sua dor. Suspirei cansada, sentindo a dor em minhas costelas e uma coceira muito grande dentro de meus dedos engessados. — Ouça, se você quiser me atacar, faça isso logo. Há cerca de duzentos fiéis lá dentro que vão me ouvir assim

que eu gritar, mas se você vai, vamos colocar o show na estrada. Estou cansada. — Eu não vou atacar você, garota boba. — Brenda balançou a cabeça e jogou a cinza do cigarro antes de se mover na minha direção. Eu a deixei porque aquele sentimento estava de volta. O crescimento glorioso de algo como uma flor escura em meu peito rompendo a crosta da minha alma, em busca da luz. A adrenalina jorrou. Na parte de trás da minha língua tinha gosto de ferro, de sangue. Isso me lembrou de Priest. Ela parou quando nossos dedos do pé se tocaram, meu sapato de verniz de salto alto Mary Janes com suas botas de couro de bico fino. Então ela me estudou. Senti seu olhar em meu cabelo, ao longo da curva em forma de coração do meu rosto, no brilho que eu usava em meus lábios. Senti seu peso de forma invasiva em minha pele, me tocando onde seu filho apenas sonhara. Finalmente, ela mostrou os dentes para mim em uma aparência de sorriso e agarrou minha mão com força. Sua pele estava fria e úmida e as pontas de suas unhas estavam amarelas de tanto fumar. — Vá até eles com um acordo, — ela disse suavemente, seu comportamento anterior apenas uma memória. Agora, sua realeza criminosa estava em pleno vigor. — Se eles vierem atrás de mim, diga a eles que meu pessoal vai organizar uma guerra de gangues em grande escala, certo? Tenho a sensação de que você é boa em correr para sua irmã mais velha para fofocar. Faça isso e eu não irei para você e para os seus, combinado?

Houve uma queimadura aguda e irradiada na minha mão, segurado com força pela dela. Meu olhar se abaixou para assistir enquanto ela apagava o cigarro no meio das costas da minha mão. Levei tudo em mim para não vacilar. Em vez disso, coloquei um olhar frio de volta em seu rosto maníaco e disse. — Este é o terceiro aviso, Brenda. Eu recomendo que o ouça quando não ouviu os outros. Saia da cidade o mais rápido possível e nunca mais volte para Entrance. Na verdade, não volte para o Canadá. Essa é toda a ajuda que você receberá de mim. Mesmo assim, eles ainda podem te caçar pelo que você já fez. Antes que ela pudesse responder, uma onda de vozes saiu das portas abertas da igreja ao nosso lado. A sombra do pesado carvalho nos obscureceu brevemente de vista, mas logo, a congregação se espalhou no gramado da frente longe o suficiente para eles nos verem. Instantaneamente, um murmúrio baixo percorreu a multidão. Brenda e eu permanecemos próximas, quase como amantes, mas os devotos vestidos de cores pastel sabiam melhor do que isso. De repente, homens de terno e gravata nos cercou. Isso teria me feito rir em outras circunstâncias. Eu estava tão acostumada com homens de coletes de couro me defendendo, alfas corpulentos com armas em punho. Era comovente e ligeiramente ridículo ver aqueles cristãos bons e devotos ameaçarem alguém agora porque pensavam que eu estava em perigo. Apenas provou que os heróis vinham de todas as formas e tamanhos. — Tudo bem, Beatrice? — Seth perguntou educadamente, mas havia uma aflição em seu tom de ameaça.

Uma centelha de interesse brilhou através de mim com isso. Seth sempre pareceu perfeitamente entediante antes. — Tudo bem, — eu assegurei com um largo sorriso, dando um passo alegre para longe de Brenda que balançava os cachos em volta da minha cabeça. — Sra. Walsh estava apenas perguntando sobre nossa igreja. — Ah. — Vovô apareceu do lado de fora das portas da Primeira Luz, tão calmo e majestoso como sempre em sua batina. — Bem, o coração de Deus está sempre aberto para aqueles que estão dispostos a se arrepender de seus pecados. Brenda piscou para ele como se nunca tivesse visto um pastor antes, então se virou para mim. — Se lembre do que eu disse. Não queremos que nada de ruim aconteça a essas pessoas boas. Ao meu redor, minha comunidade se movia inquieta, o som parecia de penas eriçadas. — Eu aprendi há muito tempo que coisas ruins acontecem com todo mundo, — eu disse a ela enquanto lentamente começava a se afastar, ainda me encarando. — Desta vez, acho que vou garantir que aconteçam com a pessoa certa.

Capítulo Sete Bea

— É por isso que os serial killers Barbie e Ken são dois dos casos mais interessantes, — eu disse ao microfone, minha voz ligeiramente seca depois de falar por quase trinta minutos direto. — Eles destacam nosso ponto cego social. Eles eram jovens, lindos e aparentemente apaixonados um pelo outro. Por que eles recorrem à violência? Fiz uma pausa para deixar minhas palavras penetrarem, e Eric me deu um sinal positivo ao ajustar ligeiramente o som de sua posição atrás da divisória, na mesa de som. — O que todos nós precisamos entender é que, para muitos psicopatas, a violência não é o último recurso. Precisamos reformular nosso pensamento para que fique mais parecido com o deles. Para um serial killer ou um psicopata clínico, a violência não é algo que eles são forçados a fazer por causa de circunstâncias infelizes que agem contra eles. Por sua própria natureza, os psicopatas não sintonizam com a frequência da sociedade. O ambiente deles não age sobre eles da maneira que agiria com você ou comigo. Por exemplo, está provado que os humanos podem cheirar o medo no suor. Se você entrasse em uma sala cheia de pessoas assustadas, rapidamente, mesmo sem saber por que, você também seria afetado por isso. A exceção a

esta regra é – nada surpreendente – os psicopatas. Por qualquer razão, eles não são afetados, e isso acontece em tantos outros tipos de situações de pressão ou influência social. Compreendendo isso, você sabe que a violência não é uma reação, é um impulso. A necessidade disso está sempre presente no seu cérebro. Embora nem todos os psicopatas sejam violentos, porque existe um espectro como na maioria das coisas na psicologia moderna, as que se sentem possuídas por ela. Eles só precisam de uma oportunidade, de uma abertura, para deixar que esse instinto se apodere. Recostei-me na cadeira e rolei minha cabeça no pescoço para aliviar a tensão de ficar sentada por muito tempo em uma posição. Há muito tempo, chutei meu Converse, tirei meu cardigã branco felpudo e amarrei meu cabelo com a fita rosa que sempre usei amarrada no pulso. Meus olhos se fixaram no pôster na parede à direita da porta. Era uma foto minha vestida com um minivestido rosa com o mesmo laço segurando o topo dos meus cachos loiros. Eu estava com um dedo nos lábios, sangue falso nas bordas e uma faca mal escondida nas costas. No outro lado escrito "Pequena Senhorita Homicida". Ainda me surpreendia que eu tivesse meu próprio podcast, sobretudo porque ele estava começando a se tornar incrivelmente popular. Inicialmente eu trabalhava nos bastidores da sala de som da UBC, mas depois da primeira temporada, Eric e eu alugamos um espaço acima do Honey Bear Café em Entrance e o convertemos em um estúdio. Conseguimos patrocínio para montá-lo fabulosamente nas cores pink, branco e cartazes de filmes de terror vintage. Era a minha casa longe de casa. Meu lugar feliz, onde o sombrio e minha luz interior se uniam de forma tão bela quanto o yin e o yang.

— É por isso que acho casos como Paul e Karla particularmente fascinantes, — concluí. — Porque mostra nossa loucura em acreditar que os monstros devem ser feios e deformados por traumas. A verdade é muito mais arrepiante. Algumas pessoas nascem monstros, e são ainda mais perigosas do que aquelas que são criadas pelas circunstâncias. Eric tocou nosso single no alto-falante para sinalizar o fim da transmissão. Coloquei um sorriso no rosto para que meus ouvintes pudessem ouvir. Eles gostaram do contraste da minha personalidade animada com o conteúdo mórbido do meu programa. — Obrigada por se juntar a nós nesta segunda-feira assassina em Pequena Senhorita Homicida, — eu cantei. — Na próxima semana, falaremos sobre Belle Gunness, a mulher que foi casada com o assassino. Esperei que Eric sinalizasse, então desliguei meu microfone e tirei o pesado fone de ouvido da minha cabeça. Uma longa mecha de cabelo loiro ficou presa no plástico, e eu resmunguei baixinho enquanto o desembaraçava. — Você não está bem hoje, — Eric notou enquanto entrava na cabine e empoleirava seu traseiro na beirada da mesa. — Suas costelas estão incomodando? Eu simultaneamente balancei minha cabeça e me livrei do fone de ouvido, jogando-o sobre a mesa para que eu pudesse correr minhas mãos sobre meu couro cabeludo dolorido. Meu cabelo era espesso o suficiente para me dar dor de cabeça sem a adição dos fones de ouvido, então eu estava acostumada com a dor depois de um episódio. — Não, estou bem. Foram semanas estranhas.

Eric fez uma careta. — Entendo. Quase morrendo em um acidente de carro e depois sendo abordada pela mãe do seu encontro? Estranho é um eufemismo. — Produzimos um programa sobre assassinato e estudamos psicologia criminal, — observei secamente enquanto me levantava e me espreguiçava languidamente. — Teria que ser muito mais estranho do que isso para me perturbar. — Touché. — Ele me observou enquanto eu passava por minha curta rotina de alongamento. Mesmo que seu cabelo caísse em seus olhos, eu percebia o interesse em seu olhar. Sua língua brincava com o anel de prata atravessando seu lábio enquanto ele me estudava com fome. Há algum tempo brincava com a ideia de me convidar para sair e somente a minha manobra hábil havia impedido que a oportunidade surgisse. — Tia Bea, — uma voz doce e gutural chamou do corredor, e um momento depois, minha irmã apareceu segurando seu filho, Monster, em seu quadril. Atrás dela, Cleo carregava minha sobrinha, Angel, enquanto Cressida, Harleigh Rose, Lila, Maja, Tayline e Hannah vinham atrás. Minhas garotas motoqueiras. Instantaneamente, Eric foi esquecido conforme eu saltava em direção a minha família e as abracei um de cada vez. Se eu abracei Cressida um pouco mais do que as outras, era apenas porque ela esteve fora por quatro meses, e eu sentia sua falta como uma louca.

— Como está meu sobrinho mal-humorado hoje? — Perguntei quando me aproximei de Loulou por último. Nós nos beijamos ruidosamente na bochecha antes de me curvar para fazer um carinho sobre a bochecha macia de Monster. Ele fez uma careta para mim, mas não levei para o lado pessoal porque essa era basicamente sua expressão fixa. Eu ri quando ele grunhiu e enfiou o punho no meu cabelo para que pudesse agarrá-lo com seus dedinhos fortes. — Desculpe, — Lou disse sem se desculpar. — Ele é um monstrinho possessivo e gosta de coisas bonitas. — Você acha que eu sou bonita? — Eu murmurei para ele antes de dar um beijo rápido em sua bochecha gordinha da qual ele imediatamente recuou. — Eu também acho você muito bonito. — Não é? — Minha irmã declarou com orgulho. — Assim como seu pai. Harleigh Rose bufou enquanto batia suavemente em Lou com seu quadril. — Vamos torcer para que ele cresça mais bonito do que aquele velho. — Se ele é feio, o que isso faz de você como filha dele? — Loulou respondeu docemente. HR mostrou a ela o dedo do meio e todas rimos. Pela primeira vez em dias, eu me senti confortável, aquela inquietação desconcertante desaparecendo. Este era o mundo que eu conhecia; este era o meu lugar seguro. Estas pessoas – estas mulheres ferozes e femininas – se reuniam ao meu redor porque era o que faziam durante ou após tempos difíceis.

— O que vocês estão fazendo aqui? — Perguntei enquanto Maja envolvia um braço em volta do meu ombro e me puxava para seu lado para que ela pudesse beijar o topo da minha cabeça. — Noite das meninas, — ela declarou. Maja era a Old Lady de Buck há vinte anos. Ela levava a sério seu estilo de motoqueira desde os cabelos rebeldes da Farrah Fawcet até o seu salto agulha nos pés. Nunca a tinha visto em nada menos que calças jeans e saltos altos deslumbrantes a qualquer hora do dia, mesmo quando a merda com o clube batia no ventilador, e todos os outros pareciam um lixo. Ela era nossa matriarca em um grupo principalmente de jovens Old Ladies e suas amigas, mas ficava confortável em ocupar um lugar secundário para Lou, que era tecnicamente superior porque era casada com o Prez, e até mesmo Cressida, que tinha ocupado brevemente esse papel quando King assumiu a liderança enquanto Zeus estava na prisão. Eu a amava com uma ferocidade que eu não sentia por minha própria mãe, provavelmente porque, ao contrário de Phillipa, Maja estava disposta a lutar com unhas e dentes por seus entes queridos, e ela não aceitava merdas de ninguém, nem mesmo de Buck. — Não temos uma desde que Cress voltou para casa, — Lila apontou enquanto pegava a mão de Cressida para dar um beijo doce. — Já era hora da nossa festinha. — A cadela nem merece depois de nos abandonar por meses, — disse Tayline enquanto remexia em sua enorme bolsa e mostrava pacotes de pipoca, Twizzlers e um punhado de doces. — Mas eu farei qualquer coisa que envolva lanches, e os irmãos estão na Igreja está noite de qualquer maneira.

— Oh, cale-se. — Cress riu, jogando seu longo cabelo castanho dourado por cima do ombro para lançar um sorriso megawatt para sua melhor amiga. — Você chorou quando cheguei em casa. — Eu não chorei. — Chorou sim. — Harleigh Rose assentiu sabiamente. — Vi com meus próprios olhos. — Você provavelmente estava muito ocupada beijando seu novo noivo para ver alguma coisa, — Tay rebateu. — Ela tem razão, — Hannah concordou. — Eu também vi, — disse Lila, e ergueu a mão. — E antes que você faça algum comentário sobre como eu estava muito ocupada beijando Nova para notar, ele nem estava lá quando te vimos. Além disso, a ressurreição de King e o retorno de Cressida definitivamente garantem os beijos, mesmo que seja apenas por um minuto. Tay franziu os lábios em aborrecimento. Todas nós rimos dela. — Porra, vocês são uma bagunça, — Eric disse atrás de nós, me assustando porque eu tinha me esquecido totalmente dele. — Desculpe Eric, — eu disse com um estremecimento. — Esta é minha irmã e seus bebês... — Hesitei sobre como me referir ao resto da minha tribo. Cleo respondeu por mim. — E o resto da família dela. Eric ergueu a sobrancelha com piercing. — Família eclética.

Cleo deu uma risadinha, o que me fez dar uma segunda olhada para ela, mas ela estava muito ocupada olhando para Eric. Oh... ok, então. — Vamos lá. Ransom virá buscar os bebês em sua casa em uma hora, — Lou disse, ajustando Monster em seu quadril. — Então seremos apenas nós, meninas. — E Benny, — acrescentou Cress. — Carson está oficialmente no clube agora, então ele estará na reunião, e eu não queria que Benny se sentisse excluído. — Incrível, — Tay cantou. — Você acha que ele poderia trazer uma focaccia8 do La Gustosa? Benito Bonanno era o namorado de Carson Gentry, e os dois muitas vezes acabavam em reuniões de clube por causa de suas várias conexões com o grupo. O principal era que eles eram os melhores amigos de Cressida, embora ela tivesse sido professora deles no ensino médio. A outra é o fato de que Carson era meu primo, e parecia que ultimamente ele estava pensando em se tornar um candidato a The Fallen. — Como você é tão pequena? — Hannah exigiu, acenando para a nossa amiga diminuta antes de apontar para suas lindas curvas. — Você come como um cavalo e eu como uma dama. Devíamos ter os números opostos. Tay rasgou o embrulho da barra de chocolate Mr. Big com os dentes, então deu uma mordida absurdamente grande enquanto dava de ombros.

8 Focaccia é um pão de origem italiana, achatado e macio, em geral coberto com sal grosso, azeite e alecrim. Na Itália, é consumido tanto no desjejum, como aperitivo ou antepasto.

— Você é perfeita, — disse a Hannah, que tinha quarenta e poucos anos, mas afirmava todos os anos em seu aniversário que tinha trinta e cinco. — Vamos sair daqui antes que Eric descubra todos os nossos segredos, porque nenhuma de vocês consegue manter a boca fechada. Elas protestaram enquanto eu as conduzia para fora, beijando Angel com Cleo enquanto caminhávamos. Quando todas elas saíram, olhei por cima do ombro para Eric, que estava me estudando com uma intensidade assustadora. — Tudo certo? — Eu perguntei. — Você está com alguns hematomas no pescoço, — disse lentamente, levantando da mesa e caminhando em minha direção com os olhos fixos na minha garganta. Prendi a respiração enquanto ele cuidadosamente colocava a mão sobre a minha garganta, a palma primeiro, depois dedo a dedo, como se ajustasse aos hematomas. Minha respiração prendeu em minhas vias respiratórias com o olhar escuro em seus olhos, algo retorcido como metal quente, afiado e empenado. Eu nunca tinha visto Eric com esse olhar, como algo que não fosse humano. — Quem fez isto? — Ele perguntou com uma voz tão pesada que parecia pressionar o ar dos meus pulmões. — Ninguém, — eu disse enquanto tentava tirar seus dedos do meu pescoço. Por um segundo, ele resistiu, seu aperto aumentou seus olhos brilharam, mas então ele me soltou. Eu tropecei ligeiramente para trás, com minha mão na minha garganta, e olhos arregalados.

— Você nunca foi uma boa mentirosa, — ele me disse categoricamente enquanto cruzava os braços sobre o peito e me encarava com aqueles olhos sombrios. — E você é? — Eu questionei, arqueando uma sobrancelha para seu comportamento estranho. Um silêncio curioso vibrou entre nós como uma nota discordante. — Escute, ninguém me atacou, ok? Estou bem. Além disso, não é da sua conta. — Finalmente disse, me movendo para o sofá para pegar minha bolsa e casaco. — Vejo você na próxima semana. — Sem beijo? — Perguntou porque eu era afetuosa, e quase sempre o abraçava e beijava em sua bochecha em saudação ou despedida. Deslizei para ele um olhar de soslaio enquanto colocava meu casaco. — Hoje não. 

 Demorou duas horas, cinco pizzas devoradas, três episódios de Inferno Sobre Rodas e quatro jarras das margaritas incrivelmente fortes de Lila para que o assunto fosse abordado. Quase fiquei aliviada quando isso aconteceu. Era apenas uma questão de tempo e eu estava ansiosa para tirar isso do caminho.

―Então Priest e Wrath tentaram matar você, ― Tay disse em tom de conversa enquanto esfregava sua barriga inchada e continuava a comer da tigela de pipoca encaixada no colo de Maja. — Sabe, com aqueles dois, estou surpresa que você tenha sobrevivido. Cressida estremeceu. — Ei, nós sabemos que eles não tentaram matar Bea. Esses dois podem ser assustadores, mas conquistaram nosso respeito um milhão de vezes. — Não brinca, — Harleigh Rose acrescentou, se inclinando para frente no sofá onde ela estava aninhada com Lila fazendo uma carranca para Tayline. — Eles nos amam. Eles não machucariam conscientemente a porra de um fio de cabelo em nossas cabeças. Olhei para Loulou, mas ela estava mordendo o lábio inferior, visivelmente silenciosa quando geralmente era a primeira a defender qualquer um dos irmãos do clube. — Foxy? — Hannah perguntou, parando em sua tarefa de trançar meu cabelo. — Você tem um problema com aqueles dois por causa disso? A pausa foi tão leve, apenas meio segundo, mas ressoou pela sala como a batida de um gongo. — Não, — disse ela lentamente, olhando para os meus pés em seu colo enquanto pintava meus dedos dos pés de rosa claro. — Não, eu não tenho nenhum problema com eles. Wrath não sabia o que estava fazendo. Ele é novo e está ansioso para provar seu valor depois de trabalhar com um clube que tentou nos derrubar. Mas Priest... ele deveria saber melhor. Ele nunca cometeu um erro como este antes.

— Então, você vai odiar ele por isso? — Eu exigi, ficando tensa com tanta força que meus músculos doeram, e Cleo se mexeu esparramada no meu lado esquerdo. — Ele é humano, Loulou. Todo mundo comete erros. Sua boca se formou naquela linha teimosa que me irritou durante toda a minha vida, porque isso significava que nada do que eu dissesse a alcançaria. Tayline suspirou dramaticamente. — Certo, admito que disse aquilo por dizer, mas não estava falando sério, Lou. Priest... é Priest, ele praticamente admite que não tem um coração, mas isso não é verdade, e você sabe disso. Aposto que ele ficou assombrado com o que aconteceu. — E aposto que você não tornou tudo melhor quando gritou com ele, — acrescentei, apenas para torcer a faca. — Ou quando você o impediu de ver Bea, — acrescentou Harleigh Rose. Lou se inclinou para dar um tapa em sua coxa, mas o dano já estava feito. — Você está brincando comigo? — Perguntei, quase sem jeito, porque eu não podia acreditar que minha irmã seria tão cruel. Ela não era uma pessoa mesquinha. Teria sido tão fácil, quase clichê, com as muitas provações e aflições em sua vida amadurecer seu lado obscuro e letal, mas em vez disso, ela tinha ficado suave como borda de veludo. Ela era gentil e boa, bela em todos os sentidos que eu sabia que uma pessoa poderia ser. — Por que você faria uma coisa dessas? — Cleo perguntou suavemente, sempre suave porque ela era uma garota ponderada e atenciosa.

Benny congelou com uma colher de sorvete a meio caminho da boca. — Lou, isso não é típico de você. — Ela estava te protegendo, — Lila disse solidária, mas com um olhar reprovador em seus olhos amendoados. — Pelo menos, ela pensou que estivesse. — E quem estava protegendo Priest? — Rebati, de repente com muito calor e me sentindo muito sobrecarregada. Me levantei, deixando cair o esmalte em toda a toalha ao lado no colo de Lou, esbarrando em Cleo e arrancando meu cabelo dolorosamente das mãos de Hannah. Subitamente, detestando esta situação e a intimidade dela. Porque agora me parecia muito falsa, depois da crueldade da minha irmã. Será que todos nós estávamos apenas brincando de ser uma comunidade, uma família? Porque eu sabia depois de meus pais, e agora com os Fallens exatamente o que era e o que não era uma família. — Nunca imaginei que você fosse cruel, — sussurrei para minha irmã pelo fato de que algo como uma decepção tão brutal estava sufocando minha garganta. — Mas você deixou Priest fora daquele quarto de hospital onde nossa família e o clube se reuniam como sempre fazem quando alguém está ferido. Você tirou isso dele, e ele não merecia isso. Finalmente, o impacto de suas ações pareceu atingir Lou como uma tonelada métrica de tijolos. Suas feições estalaram no meio, a tristeza se infiltrando pelas fissuras.

— Não é possível escolher que tipo de mal um homem pode ser ou de que maneira a revolta é aceitável para você. Se apaixonou por um homem que a maioria das pessoas consideraria um monstro, — eu a lembrei. Instantaneamente, a raiva acendeu seu rosto resoluto. — Zeus é o melhor homem que conheço. Ele faz tudo pela nossa família. — Priest também! — Eu gritei, quase vibrando com algo que parecia mais do que apenas raiva pelo executor irlandês. Parecia raiva por mim. Como se Lou estivesse me atacando ao julgá-lo. Porque eu me identificava secretamente com a mente fria e sombria de Priest, como o corredor vazio e rangente de uma casa assombrada? Ou porque me identifiquei secretamente tanto quanto a dele, a única pessoa que se atreveu a andar naquele corredor assustador? — Como você pode tolerar a maneira como alguém age sem nem mesmo tentar entender sua motivação? — Eu perguntei a ela. — Não somos mais as pessoas que éramos, Loulou. Nossas vidas não são só preto e branco. É injusto de sua parte julgar Priest porque ele não faz sentido para você. — E ele faz para você? — Seus olhos se estreitaram, raspando minha pele com seus dentes e unhas como a casca de uma laranja, tentando ver dentro da minha carne. — Talvez, — eu ousei, colocando minhas mãos em punhos nos quadris, tentando parecer banal com chinelos de pelúcia e uma camiseta de dormir branca. — Querida, — Cressida disse suavemente, levantando de seu assento onde estava amamentando Prince. Ela o entregou gentilmente a Harleigh Rose, que

o pegou ansiosa, quase com reverência, e então se moveu para me pegar frouxamente em seus braços. Eu olhei em seu rosto bonito e tentei não me deixar influenciar pela sabedoria em seu olhar. — Você sabe que eu tenho um fascínio por ele. Ele é um homem quebrado, mas suas peças são lindas. É difícil não ficar intrigada. — Não importa como eu me sinto, — eu desafiei, embora meu coração palpitasse. — O que importa é que Lou deve desculpas à Priest. Olhamos uma para a outra, minha irmã e eu. Se ela ficou surpresa por eu não ter cedido à sua teimosia do jeito que eu costumava fazer, por mais adversa que eu fosse, não demonstrou. Em vez disso, nós fixamos os olhos, meus apenas dois tons mais claros que seu azul-celeste, e erguemos um muro entre nós. Se o muro tivesse um nome, seria Priest McKenna. A campainha escolheu aquele momento para soar. — Eu atendo, — declarou Cleo, levantando instantaneamente e praticamente mergulhando em direção à porta para escapar da tensão. — Salva pelo gongo, — Harleigh Rose murmurou para Lila, que deu uma risadinha. — Ei, Bea, você tem um presente, — gritou Cleo enquanto voltava para a minha sala de estar com uma caixa longa e achatada de papel nos braços. — De um admirador secreto! Pisquei, mas as mulheres ao meu redor explodiram em uma enxurrada de comentários provocadores e risadas. — Quem é esse? — Benny me perguntou. — Você nunca disse nada.

— Não há nada a dizer, — respondi calmamente, tentando impor a esperança que me destrói o interior do peito. Poderia ser? Priest? Não. Não, claro que não. Ele não era um homem de flores e romantismo. Ele era um homem de juramentos de sangue e de sedução calculada. Mas ele já havia me dado presentes antes. Dois. A adaga da cruz celta que sempre guardei comigo e o nó Dara 9 de madeira entalhada que eu guardava na minha caixa de lembranças na mesinha de cabeceira. Ele tinha me dado aquele nó depois de Loulou, Harleigh Rose, e eu escapamos do incêndio na cabana de Zeus quando eu tinha apenas treze anos. Loulou ficou inconsciente em estado crítico em uma cama de hospital, e Priest me encontrou, enrolada em uma bola no chão, no canto do banheiro para deficientes soluçando. Ainda não sei como ele me achou, e quando o fez, desapareceu quase que instantaneamente. Quando abri a porta mais tarde, depois de me desidratar seriamente, depois de lavar meu rosto vermelho, encontrei o nó Dara no piso do lado de fora da porta em cima de um bilhete amassado. Com letras muito pesadas e vincadas, ele tinha escrito: você não é fraca.

9

Mais tarde, sozinha no quarto ao lado de Lou em coma enquanto Zeus fazia uma de suas pausas raras para tomar banho e comer, eu pesquisei o significado do nó no meu telefone. Força e poder. Agarrei com tanta força em minhas mãos nos dias seguintes, que a força de minha mão rachou uma das partes de madeira finamente esculpidas. Mas isso ajudou. Ele jamais falou sobre o presente, nem mesmo fez alusão a ele. Mesmo assim, eu sabia que era dele, esculpido por suas mãos manchadas de sangue tatuadas. Ele estava sempre talhando alguma coisa, com lascas de madeira presas nas pontas de seu cabelo e no tecido da calça jeans. Mesmo aos treze anos foi estranho imaginar aquelas mãos grandes e assassinas esculpindo algo só para mim. — Abra, abra, — Cleo exigiu sem fôlego enquanto ela inclinava através de nosso piquenique no chão com as mulheres e Benny deitados no chão contra os travesseiros e um contra o outro tentando me alcançar. Eu me ajoelhei no tapete, fazendo pouco caso do Sampson, enquanto colocava a caixa no meu colo. Meu gato bateu na caixa com as garras estendidas e fez aquele miau quase que rachando as orelhas novamente. — Shhh, — eu disse a ele. — Você está sendo rude na frente de nossos convidados. Como se o defendesse, Delilah resmungou de sua gaiola.

Minha trança inacabada caiu em desordem em volta do meu rosto quando me inclinei para retirar cuidadosamente o papel de embrulho preto. Meus dedos encontraram uma pequena nota colada na caixa abaixo dela. — “E quando ele entrou em sua casa, agarrou uma faca, pegou sua concubina e a dividiu, [junto] com seus ossos, em doze pedaços, e a enviou para todas as costas de Israel”, — Murmurei, recitando a citação de Juízes 19:29. Olhei para minhas garotas motoqueiras para avaliar suas reações, mas todas elas tinham o mesmo olhar de incredulidade pendente. O ar na sala estava tenso, mas, ainda assim, como a calma antes de uma tempestade oceânica. Meus dedos tremiam levemente quando eu lentamente cortei a fita com a ponta de minha unha e depois removi a tampa. O papel caiu para revelar um delicado lenço de papel, escuro no centro. O único som era a respiração e um miado de Sampson que parecia ser uma coisa física, uma serpente mostrando suas presas. Minha mão tremia, minha respiração gaguejava, porque de alguma forma, eu sabia que o que quer que estivesse dentro da caixa não era um presente. — Espere, Bea, — sussurrou Harleigh Rose, porque estávamos todas presas neste momento assustador. — Me deixe ligar para o Lion. Mas não esperei, porque o papel já estava se abrindo e dentro dela havia algo que tornava a hesitação impossível. A mão e o antebraço de uma mulher, a pele ao redor dos dedos rachada e tingida de amarelo de cigarro.

Eu sabia antes de começar a gritar exatamente de quem era o braço. Alguém matou Brenda Walsh e me enviou um dos pedaços.

Capítulo Oito Priest

Eu estava distraído. O que não era totalmente incomum. As reuniões da Igreja na sede do clube nunca eram exatamente fascinantes, a menos que tivéssemos uma merda séria à nossa porta. Desde que Irina Ventura foi morta e o sargento Danner foi condenado por matar o policial Gibson entre uma série de outros crimes, a vida se acomodou em uma rotina entediante que a maioria das pessoas identificava com felicidade. Eu estava entediado. Meu olhar se fixou no vitral atrás de Zeus conforme as vozes zumbiam ao meu redor. Eu o coloquei lá. Aquele vitral. Quando comecei a fazer dinheiro de verdade com o clube, mandei alguém enviar da Irlanda. O vidro tinha se rachado, estava com manchas e desbotado em alguns lugares, mas era fácil de ser consertado. Agora a janela que havia assombrado minha juventude em um tipo de igreja completamente diferente estava pendurada em meu porto seguro, uma capela somente para os motoqueiros rebeldes que pregavam a fraternidade e a lealdade, que não rezavam a nenhum deus a não ser a eles mesmos.

Foi uma outra forma de blasfêmia que me custou muito. Então, eu estava entediado, mas o tédio era um prenúncio de paz e disse a mim mesmo para aproveitá-lo. A verdade é que não foi a aversão ao tédio que me deixou desconcertado de forma pouco habitual. Não, eu estava distraído como um corvo com a merda de um objeto brilhante, sendo esse objeto brilhante a coroa dos cabelos dourados intensos de Bea Lafayette. Não era exatamente a primeira vez que eu ocupava meus pensamentos com a garota de fita rosa no cabelo. Na verdade, eu imaginava – porque eu estava entediado e, reconhecidamente, obsessivo – a primeira vez havia sido há dois anos, três meses e vinte e sete dias. Isso aconteceu um dia quando ela estava comendo um pêssego. Era uma coisa tão inocente, inofensiva, e ela, uma menina tão ingênua, relativamente inócua. Nada sobre a situação despertou minha atenção. Estávamos comemorando um aniversário. As mulheres trouxeram um bolo, e nós trouxemos a bebida. Todos estavam felizes, conversando e rindo enquanto rock clássico bombeava através dos alto-falantes da casa de Z à beira-mar. Eu estava até me divertindo, conversando com Smoke e Bat sobre os novos avanços na tecnologia das armas. Mas então, algo sobre a maneira como ela se esforçava para comer aquele pedaço de fruta atraiu meu olhar do outro lado da cozinha lotada da casa do Garro. Havia uma faca em uma mão, uma faca com cabo de marfim, e a fruta suculenta na outra. Entre seus pequenos dentes quadrados, Bea cortou metodicamente a frágil polpa e dividiu em partes que caíram do centro do caroço em sua palma. A fruta apresentava uma tonalidade muito madura, a

junção da casca separou-se facilmente, com o suco salpicando através de seus dedos para descer pela parte inferior delgada e pálida de seu antebraço. Assisti arrebatado quando ela terminou de dizimar o pêssego, depois levou a faca até sua boca cheia, e sua pequena língua rosa passou perigosamente perto da borda para recolher o líquido doce em sua boca. Gananciosa por seu sabor, ela segurou com a mão pegajosa que levava a fruta no alto e arrastou cuidadosamente a faca pelo braço, recolhendo o suco para que ela pudesse lamber novamente. Eu queria ser a faca. Foi, sem dúvida, o ato mais sexy que eu já testemunhei. Eu me senti como um voyeur parado na cozinha de uma casa de família cobiçando a garota de dezessete anos com uma nuvem de cabelo dourado branco tão brilhante quanto um halo ao redor do rosto enquanto ela comia docemente uma fruta. Então ela fez algo que poucas pessoas fizeram com sucesso. Ela me surpreendeu. Observei com a cabeça ligeiramente inclinada, alerta como um pássaro preparado para o voo, enquanto ela passeava pelo ladrilho na luz, pés dançantes com dedos com unhas pintadas de rosa. Durante esse tempo, ela não fez contato visual comigo, e isso foi realizado cuidadosamente. Foi a maneira como alguém evitava os olhos de um animal potencialmente perigoso, mesmo quando eles se aproximavam. Com essa faca, agora lambida, ela furou um pedaço de fruta e, casualmente, apenas uma rotação preguiçosa do cotovelo e do pulso, estendeuo na minha direção.

Eu olhava para o pêssego, o brilho dele parecia a boca pálida de Bea. Se alguma vez anteriormente houvesse um momento que parecesse mais uma encruzilhada, uma daquelas decisões intensamente cruciais na vida, quando o som e o tempo se arrastam lentamente até cair um zumbido, eu não conseguia me lembrar. O pêssego havia se tornado um fruto proibido, como a cobiça de Eva pela maçã. Eu não acreditava em sinais, presságios ou mitos, religiosos ou não. Acreditava no poder da ação e no desejo básico. E mesmo sabendo que era uma ideia idiota, queria saborear a mesma fruta que lustrou os lábios doces de Beatrice Lafayette. Então, cruzei minha mão grande e fria sobre seu pulso, fazendo-a estremecer ligeiramente de medo ou expectativa. Seus olhos brilharam nos meus, fugazes e prateados como um peixe preso em uma rede, lutando para escapar. Deixei que ela olhasse em meu próprio olhar, deixei que ela visse o eco da escuridão ali, e então me inclinei para frente para arrancar o pêssego da faca com meus dentes. Prendendo a respiração quase imperceptível ela observou enquanto inclinei minha cabeça para trás para liberar o pedaço em minha boca. Sem mastigar, eu gentilmente peguei a faca e perfurei o pedaço macio de outra parte antes de entregar sua faca. Alimentá-la teria sido demais, mas, naquele momento, observá-la comer a mesma coisa ao mesmo tempo que eu parecia terrivelmente íntimo.

A sensação percorreu meu corpo, desgastando meus nervos até que me senti exposto. Não era um homem que escolheu se emocionar. Não era eu. Mas fiquei ali por mais um momento enquanto mastigava e engolia junto com Bea, e quando me virei bruscamente e deixei a casa sem outra palavra, estava com o coração acelerado. Então, foi isso. O momento em que finalmente notei Beatrice Lafayette e quando a obsessão oficialmente começou. Mas isso foi antes de ela me beijar. Me beijar. Um sorriso irônico puxou a ponta dos meus lábios enquanto eu pensava sobre sua surpreendente audácia e coragem. Uma coisa tão pequena e tão corajosa, tão disposta a mergulhar de cabeça em águas profundas e sombrias. Despertou algo dentro de mim ao saber que ela julgava que eu valia alguma coisa, que valia essa ousadia. Digno de bondade. Era estúpido, os pensamentos de uma menina inexperiente especulando inocentemente sobre aquelas coisas que ela sabia que viviam debaixo de sua cama à noite. Eu me perguntei, um tanto perversamente, como ela reagiria se eu realmente estendesse a mão e a agarrasse por aquele tornozelo leve e cheio de babados um dia e a arrastasse até minhas profundezas.

Meu pau estremeceu com o pensamento. Interiormente, reprimi minhas fantasias proibidas, lutando para encontrar aquele oceano de consolo calmo e insensível que vivia no centro da minha alma. Irritou-me que Bea pudesse despertar tantas ondas nele. E me fez desejar ir contra algo que não fosse ela, algo maior do que nós dois que alguns poderiam ter chamado Deus ou destino ou algo inútil como isso. — Priest, irmão, — King murmurou, batendo com o punho no meu. — O que está em sua mente? Eu olhei para cima para ver todos me observando e soube que haviam me perguntado sobre o assunto em questão. Meu cérebro percorreu os últimos cinco minutos, em busca de respostas. — Não vejo como o que se passa nessa rez 10 seja da nossa conta — disse finalmente, enquanto minha memória evocava o que ouvi com a metade de um ouvido. — O Thunderbird Squad nunca foi um problema para o clube, mas eles também nunca foram amigos. Um punhado de irmãos acenou com a cabeça, pensando, sem dúvida, nos últimos dez anos e em todas as merdas com as quais lidamos sozinhos. Onde estava o T-Squad quando Ventura estava vendendo mulheres, quando o sargento Danner estava correndo solto com sua força corrupta? — Eles têm seus próprios problemas lá fora, — Zeus reconheceu enquanto cruzava suas mãos enormes, com os anéis brilhando na luz fraca. — A rez é separada de Entrance, inclusive da região. Não sabemos que merda eles têm lá, e aposto que não fazem a menor ideia do que temos “aqui”. — Sim, — concordei. — Então por que fundir os dois agora? 10 Rez- gíria para reserva indígena norte-americana.

A verdade é que eu não me importava com as pessoas, a menos que estivessem dentro do clube e, mesmo assim, algumas delas eu ignorava completamente. Eu não era como eles, mas podia fingir, tenho fingido minha vida toda. A maneira como eles falavam, a arrogância, o praguejar e o traje de motoqueiro. Era o meu melhor disfarce. Não podia dizer que era eu, porém, não até os ossos. Eu ainda era assombrado pela aflição do sotaque irlandês nos cantos da minha fala e acordava todas as manhãs com uma prece gravada em minha língua esperando para ser dita, embora já tivesse passado décadas desde que acreditei no Todo Poderoso. Eu tinha uma coleção de máscaras, perfeitamente expostas. Elas não escondiam nada porque eu não era nada. Simplesmente, eu dava às pessoas o que elas queriam ver. E eles gostavam. Os mais próximos a mim podem deduzir a verdade, que eu era um psicopata altamente funcional, mas mesmo eles não me contrariavam. Esta era a magia de ser o que as pessoas querem que você seja, enquanto a outra forma desaparecia em segundo plano. Eles não invadem sua privacidade e não o julgam como a criatura alienígena que você é. 

Os lábios de Bat se comprimiram, e sua mandíbula cerra. — Alguém assassinou uma de suas mulheres, mãe de três filhos, a sangue frio. Olhei para Kodiak, perguntando-me se ele sentia alguma simpatia pelo grupo das First Nations11, embora não se tratasse de sua simpatia. Ele nunca disse merda alguma sobre sua criação em uma pequena rez no Alasca, mas possuía uma tatuagem tribal que levava a sério e um par de costumes que às vezes presenciávamos que representavam sua herança. De todos os irmãos, era provavelmente o mais misterioso de todos. Não falava muito, e mantinha a maior parte para si mesmo. Não era surpresa que eu tenha gostado muito dele. — Alguém a deu de comer aos lobos, — Curtains confirmou, pálido e trêmulo. Ele era um camarada ruivo, mas pálido como se nunca tivesse visto o sol. Mesmo nas viagens, ele usava seu capacete ou um boné surrado da Hephaestus Auto para proteger sua palidez do beijo ardente do sol. Ele estava branco como cera agora, enquanto acessava algumas fotos em seu computador e o virava para mostrar a todos nós. — Ele pregou um versículo bíblico datilografado em uma árvore ao lado dos restos do corpo dela. “Que paz pode existir, se as prostituições e as feitiçarias de sua mãe Jezabel são tantas?” 11 First Nations - Primeiras Nações é um termo usado para descrever povos indígenas no Canadá que não são Métis ou Inuit. Os povos das Primeiras Nações são habitantes originais da terra que agora é o Canadá, e foram os  primeiros a encontrar contato, assentamento e comércio europeu sustentado.

Zeus apertou uma das mãos, depois soltou, flexionando com tanta força que as veias e tendões se destacaram em relevo. — Temos um assassino por aí matando mães, eu tenho um problema com isso, — rosnou ele. — Não dou a mínima que não é uma das nossas mulheres. Quando eu tirei este clube daquele pedaço de merda do Crux, jurei que manteria Entrance segura para todos. — Elas não moram em Entrance, — Heckler reclamou. — É o que acabamos de dizer. — E se fosse Hannah? — King perguntou, como sempre, acertando no coração daqueles homens. Ele olhou de relance para Skell, Bat, Axe-Man e Ciclope, para cada irmão com família fora dessas quatro paredes. — E se fosse Winona, Mary ou Cleo e Tayline? Não permitimos merdas como esta. — Só agora que temos um pouco de paz, — Kodiak falou de modo incomum, sua voz rouca com desuso, mas plana com racionalidade. — Se começarmos a nos inscrever em cada guerra da província, vamos nos queimar. — Viva livre, morra lutando, — Zeus o lembrou do lema do clube, mas não era na voz de poder absoluto. Ele queria a discussão e estávamos acostumados a dar a ele nossas opiniões. Não sairíamos daqui até que fosse resolvido e aceito pela maioria. Era assim que Z funcionava, mesmo que não fosse o padrão MC. Foi por isso que fiquei doze anos atrás, quando saí daquele cargueiro esquecido por Deus e encontrei Zeus em um corredor estreito entre caixas de transporte. Ele deu uma olhada em mim e me ofereceu um café. Nem esperou para ver se eu o seguiria, apenas deu meia-volta e seguiu em frente, sabendo de alguma forma que o seguiria.

Ele era o tipo de homem que liderava como um general, não como um rei. Primeiro em batalha, liderando qualquer tipo de ataque na ponta da faca. — Vamos votar, irmãos, — sugeriu ele. — Mas eu digo já, estou disposto a ajudá-los. Se algo acontecesse com minha família, eu aceitaria qualquer ajuda que pudesse conseguir e me certificaria de recompensar o ofertante, não é mesmo? Houve alguns murmúrios e acenos de cabeça, mas uma comoção fora das portas fechadas da capela nos despertou a todos para algo maior. Instantaneamente, o cabelo da minha nuca se arrepiou. Porque eu podia ouvi-la. Bea. Ninguém tinha uma voz assim, doce e suave como mel derramado de uma jarra. Eu estava de pé, recuando da mesa para poder saltar sobre ela, colocando uma mão na madeira como alavanca e pular. Curtains e Blade se afastaram para me dar espaço suficiente para que eu pousasse com um estrondo no outro lado entre suas cadeiras. Porque aquela voz doce se elevava em sinal de alerta e me chamava para ela como se houvesse algum link direto entre nós, alguma fronteira que só ela podia alcançar. Estava abrindo as portas antes que alguém pudesse chegar lá.

Bea estava dentro da sede do clube rodeada pelas mulheres motoqueiras, com as lágrimas escorrendo pelo seu rosto, a voz elevada enquanto exigia que Ransom e Carson a deixassem entrar na reunião. Rapidamente, examinei seus ferimentos, mas além da pequena tala em sua mão esquerda, ela parecia ilesa. O grande nó em minhas entranhas, tão complicado quanto o Dara, se desfez. — Que merda está acontecendo? — Zeus exigiu atrás de mim. Instantaneamente, Lou foi até ele e se acomodou em seus braços, mas eu ignorei tudo o que ela disse suavemente em seu ouvido. Porque Bea estava lá e algo estava errado. Os alarmes ainda estavam tocando, soando tão alto na minha cabeça que achei que fosse explodir. Cansado de esperar, de não saber o que estava matando por amedrontar tanto Bea, segui em frente até me aproximar e exigir friamente. — Diga. Seus lábios se separaram, tão rosados e macios que quase me distraí, mas ela não me falou. Ela me mostrou. Ergueu a caixa nos braços e puxou a tampa. Dentro, um antebraço perfeitamente decepado. Houve xingamentos e suspiros ao meu redor, mas eu apenas analisei o membro dissecado em busca de pistas.

Outrora pertencera a uma mulher, óbvio por causa dos pelos castanhos ralos que cobriam o antebraço, unhas cuidadosamente cortadas e o anel de prata em seu dedo médio. Tinha sido cortado de forma limpa, então o assassino usou uma serra, a única ferramenta que poderia fazer um trabalho decente, embora árduo, de desmembramento. Em uma inspeção mais detalhada, parecia que o doador tinha até mesmo limpado as bordas do braço com um bisturi ou uma tesoura, removendo as extremidades irregulares de carne e tendão, e que tinham levado tempo para drenar a maior parte do sangue para que a caixa não ficasse uma bagunça encharcada. — Isso é fodido, — disse Curtains cerca de dois segundos antes de vomitar no boné. — Maldade de merda, é o que é, — disse Kodiak ao meu lado, estudando o membro com a mesma fria determinação que eu. — Não é fácil cortar um corpo. Você tem que ser fodido da cabeça para gastar tempo e energia fazendo algo assim. — É ela, — Bea sussurrou, baixinho, só para mim. Uma única lágrima caiu de sua pálpebra inferior, amplificando o azul profundamente saturado de sua íris. Observei enquanto ele tremia na beirada e depois caía pela suave inclinação de sua bochecha pálida. Mesmo com tudo acontecendo, eu queria lamber aquela lágrima de sua pele e provar sua tristeza. Ela ficava ainda mais bonita quando chorava. — Brenda Walsh, — continuou piscando lentamente, relutante em quebrar o contato visual mesmo por um segundo. — Mãe do Brett. — Jesus Cristo, — Boner murmurou em algum lugar atrás de mim.

— Me conte tudo, — Zeus exigiu. — Foi entregue na minha casa. Cleo atendeu à porta, mas ela disse que ninguém estava por perto e que a caixa estava nos degraus. Ela entrou e a deu para mim. — Bea hesitou, lambendo os lábios secos. — Achou que era um presente de um admirador. E Bea achou que poderia ter sido um presente meu. Pequena Sombra boba e excessivamente romântica. Balancei minha cabeça levemente, com a mandíbula cerrada. Ela suspirou suavemente em resposta, como um encolher de ombros audível e tímido. — Então você tocou e Cleo também, — King confirmou, com seu telefone pressionado na orelha, e outro braço ao redor de Cressida. No telefone, ele disse. — Sim, Lion? É melhor você descer aqui. Temos um problema. Eu estava muito ocupado pensando a ponto de me distrair com qualquer conversa sem sentido emocional que se seguiu. Kodiak estava certo. Isto foi muito cauteloso. Quem assassinou Brenda Walsh havia planejado não apenas o assassinato, mas as consequências. A intenção era claramente enviar à Bea um presente, um sinal de seu afeto ou proteção. Não era o ato de um estranho, mas de um admirador. Alguém estava de olho nela. Alguém a vigiava. Mas desde aquele momento em que vi Bea desmontar lindamente um pêssego com o fio afiado de uma faca, também a estive seguindo. Perseguição

suave, nada prejudicial. Todas as noites como um relógio, eu corria até sua casa em minha corrida diária, parando para conferir enquanto verificava as grandes janelas, passando pelas cortinas gaze esvoaçantes, para a casa bem iluminada que Bea transformara em seu lar. Eu a observava por exatamente cinco minutos enquanto ela falava com sua pombinha ou perseguia seu gato caolho, enquanto dançava naquela sala de estar atrozmente rosa com Cleo quando elas tinham suas festas do pijama semanais, ou quando fazia o jantar como uma obediente filha de sua mãe. Era como assistir à televisão, ficar parado, mas inegavelmente intrigado à medida que observava sua humanidade, bondade e personalidade radiante mais brilhante do que a luz amarela contra a noite escura. Saber que outra pessoa estava assistindo isso, sintonizando em um canal que há muito considerava meu, fez o aperto tênue que eu segurava em minha sanidade vibrar e estremecer. Eu o encontraria, porque sabia que era um ele. Bea era a catnip12 para as aberrações, tarados e depravados; um coração sombrio envolto em um laço cor-de-rosa. Claro que ela tinha atraído outro assassino, atraído para a sua luz na escuridão como uma traça sádica para uma chama. Eu o encontraria e, quando o fizesse, iria desmembrá-lo assim como ele desmembrou Brenda, só que faria isso com minhas próprias mãos e dentes. Ele matou como um presente para uma mulher que não era dele. Ele 12 Catnip – Uma erva da família da hortelã, Nepeta cataria. Irresistível para os gatos, suas propriedades moderadamente estimulantes podem desencadear uma grande variedade de comportamentos que podem ser descritos coletivamente como alucinógenos, mas também felizes.

ainda não sabia que ela já foi reivindicada por um psicopata, e eu não a entregaria por nada. Antes que eu pudesse controlar o impulso, minha mão se estendeu ao redor do longo e delicado pescoço de Bea. Houve suspiros, mas eu não me importei, nem mesmo quando uma mão pesada tentou me empurrar pelo ombro. Eu só me importava com ela. A garota com o laço rosa e das coisas sombrias que espreitam por trás daqueles olhos azul-claros. Precisava senti-la viva, sua pulsação batendo contra minha carne para acalmar a intenção fria e assassina que se apoderou de cada centímetro de meu corpo, desde o picar do couro cabeludo até o apertar dos meus dedos dos pés. E Bea? Ela não vacilou. Claro, ela não titubeou. Ao invés disso, ela me observou sem pestanejar enquanto levantava lentamente sua pequena mão e a pressionava com força sobre a sua garganta. Através de mim, senti algo quente passar onde eu estava gelado, ardendo por todas as cavidades geladas do meu coração até queimar. Até que fui iluminado como uma velha casa e rapidamente caí no fogo dela. — Irei te manter segura, — eu disse com uma voz que soou estranhamente como um juramento. Uma promessa quando a última promessa que eu havia feito era de não fazer mais promessas. — Todos os que me conhecem me temem, e os que ainda não me conhecem, vão aprender a me temer.

Capítulo Nove Priest

— O diabo é que você vai, — disse Loulou, empurrando Bea e eu de modo que fui forçado a soltar sua mão se não quisesse machucar seriamente minha Pequena Sombra. — Você é quem quase a matou. — Ela precisa de um homem ao seu lado, — King reconheceu, dando um passo ao meu lado em uma demonstração de solidariedade que significava muito para mim quando não deveria. — Quem fez isso, fez por ela. Loulou me lançou um olhar desconfiado, mas Bea enfiou o dedo no ombro dela e sibilou. — Nem pense nisso, Lou. Pisquei despreocupado para Loulou. — Você acha que eu machucaria sua irmã? Ela ergueu o queixo e cruzou os braços sobre o peito. — Acho que nas circunstâncias certas, você pode machucar qualquer pessoa. Todos à nossa volta ficaram quietos, curiosos. Era um impasse entre a rainha do clube e seu assassino de aluguel. A tensão era palpável no ar, mas não fez nada para despertar meu sangue. O que me importava se Louise Garro gostava ou não de mim? Este era meu clube muito antes de ter sido dela e seria para o resto da minha vida. Eu tinha vivido para o The Fallen quando não

tinha mais nada para viver, e morreria por isso, por eles, até mesmo por esta cadela me encarando, porque essa era minha definição de lealdade. De amor, se eu tivesse algo em meu coração metafórico para dar. — Eu te machucaria mais rápido do que ela, — disse finalmente, entediado agora. Tirei a faca do bolso e a abri para limpar sob minhas unhas. — Prefiro fazer mal a qualquer outra pessoa do que a Bea. Sabia que se olhasse para minha Pequena Sombra então, haveria esperança estampada em seu rosto, e não queria reconhecer que a tinha colocado ali. Eu estava falando a verdade, mas ela estava disposta a ler mais a fundo. Os pensamentos eram ecos de emoção. Eles nunca foram eloquentes, mas transmitiam o ponto de vista. Em minha experiência, as palavras eram ainda mais inúteis. Loulou me entendeu de uma forma que Bea não conseguia porque ela estava muito envolvida. Os olhos de Lou brilharam. Ela sabia o que eu era, um assassino frio como pedra, e sabia o que eu tinha a oferecer, obsessão, não amor. E ela não queria isso para sua irmã. Não poderia culpá-la. — Acho que isso é razoável, — ela concedeu, olhando por cima do meu ombro para o marido. — Mas eu ainda não quero você com ela por isto. — Lou, — Zeus resmungou. —Priest é um dos melhores irmãos que temos. Você a quer segura, então ele é o homem certo. — O melhor, — eu corrigi. Bat abafou uma risada atrás de uma tosse.

— Eu poderia fazer isso, — disse Kodiak em seu tom monótono. — Não sou tão bom quanto Priest, mas poderia mantê-la segura. Um grunhido saiu da minha garganta antes que eu pudesse pensar em conter o impulso e, de repente, eu estava dando três passos pela sala para chegar no rosto do grandalhão. — Foda-se, que você vai. Eu sou o filho da puta mais assustador deste lugar. Se vale de alguma coisa, é isto. — Talvez você esteja muito envolvido, — King sugeriu suavemente. — Nunca vi você perder a cabeça com um irmão assim antes. Minha sobrancelha se curvou no alto da minha testa. — Ah? Você acha que isso é perdendo a minha cabeça, mesmo? Cleo estremeceu atrás de seu pai, Axe-Man, e se aproximou dele, fazendo com que um sorriso severo cruzasse meu rosto. Eu queria bater no meu peito, mostrar meus dentes e usar minhas facas para provar a todos eles o quão malditamente perigoso eu era. Se algo maligno viesse atrás de Bea, eles teriam que passar por mim primeiro, e eu duvidava que esperassem alguém que pudesse se igualar à profundidade de sua depravação moral golpe por golpe. — Priest, — Bea disse suavemente, movendo-se em minha direção com a mão estendida. Fiquei imóvel, vibrando como uma corda puxada com tensão quando ela colocou a mão no meu peito. Isso me fez perceber que eu mal estava respirando e quase não piscava. A necessidade de proteger trouxe o animal para fora do homem. Apertei minha mão sobre a dela sobre meu peito e grunhi para ela.

Ela sorriu suavemente para mim. — Nós nem sabemos ao certo o que está acontecendo. Vamos supor que seja menos sobre mim e mais sobre Brenda Walsh. — Havia um versículo da Bíblia, — Cressida acrescentou. — Dentro da caixa. A energia entre os irmãos aumentou, testosterona vazando pela sala como gás. — Como a mulher que virou comida dos lobos, — Curtains lembrou desoladamente. — Na rez. — O quê? — Loulou perguntou, virando-se nos braços de Z para fitar seu rosto perturbado. — Há outro assassinato como este? Ele acenou com a cabeça severamente, acariciando sua barba como fazia quando estava perdido em pensamentos. — Sim, o líder do T-Squad mandou avisar hoje. Aconteceu na semana passada, mas eles mantiveram em segredo. — Pode ser Ventura? — Axe-Man se perguntou em voz alta. Era estranho vê-lo segurando sua filha delicadamente, estranho pensar que um homem que eu vi uma vez atirar um machado a dez metros direto na testa de um inimigo, cuidando de alguém mais vulnerável do que ele. Isso me deu uma pausa porque me fez pensar: se Axe-Man poderia fazer isso, eu também poderia? — Ele já nos atacou de todos os ângulos antes, — Bat concordou. — Mas isto não tem a assinatura dele. Sugiro que chamemos Dane para entrar nisto. Ele passou anos traçando perfis no exército, quem melhor para nos ajudar agora? — Ele não faz parte do clube, — Skell murmurou.

— Não seja um idiota racista, — Nova rebateu, envolvendo um braço em volta da cintura de Lila para não quisesse atacar fisicamente seu irmão. — Ele é um bom homem. Afirmo, se ele quiser um lugar no clube, é o tipo de homem que devemos acolher. — Ele tem habilidades, — Curtains concordou, quase ansiosamente porque ele era um gênio, e o talento o excitava. — Nós definitivamente poderíamos usar isso. — E também tem um bom coração, — Lila falou lentamente. — Ele precisa da irmandade. Ele está... está lutando desde que voltou do Oriente Médio. — Ele começa respondendo algumas perguntas sobre o que diabos ele realmente fez lá, e estou receptivo a isso, — Zeus afirmou. — Mas não está em discussão agora. Estamos falando sobre uma mulher assassinada aqui. Vamos manter o foco. — Na minha experiência com Javier, — Lila saltou, a autoridade clara porque por algum motivo, o bastardo tinha evitado assassiná-la quando teve a chance uma vez. — Ele não se esconderia atrás de besteiras religiosas. Bea se remexeu e percebi que ela ainda segurava aquele maldito braço. Minhas mãos seguraram seus quadris para virá-la em direção à mesa de sinuca à nossa esquerda, entendendo a dica, depositou a caixa suavemente no feltro como se fosse uma bomba. Eu não tirei minhas mãos quando ela terminou. Elas ficaram bem no ângulo sutil de sua cintura em direção aos quadris. Quase tão bom quanto a sensação do cabo de uma faca contra minha palma.

— Não risque ele ainda, — disse Zeus, dando um passo à frente para colocar delicadamente uma mão de advertência em meu ombro. — Vamos esperar até que Lion chegue para tirar quaisquer conclusões. — Besteira religiosa? — Falando do diabo. Lion abriu a porta do clube para Lysander Garrison, o irmão afastado de Cressida. O ambiente ficou sem graça como um refrigerante velho. — O que ele está fazendo aqui? — Zeus exigiu. Lion lançou a ele um olhar despreocupado enquanto caminhava em nossa direção e parou em Bea, verificando-a visualmente. Quando ele estendeu a mão para tocá-la, eu estalei meus dentes para ele. Ele revirou os olhos, mas não tentou colocar a mão nela novamente. — Sander é meu cara. Ele está trabalhando para mim agora. — Porra, o quê? — Boner perguntou, sobrancelhas erguidas. — Você confia naquele filho da puta? Lion nivelou seu habitual olhar severo para o irmão mais novo. — Com a minha vida. Agora, o que é isso sobre um versículo da Bíblia? Houve um assassinato no mês passado nos arredores de Vancouver que teve algo a ver com religião. Os detalhes foram abafados, mas posso me aprofundar neles. — Faça isso — pediu Zeus enquanto Lila passava a Lion uma nota que devia ser o versículo. Elas tiveram o bom senso de colocar ele em um saco Ziploc preservando as digitais.

— Foi de uma prostituta morta em East Hasting. Acontece o tempo todo. A única coisa que o fez se destacar foi alguma citação do Antigo Testamento escrita com seu sangue na parede. — Ele está evoluindo — Bea disse baixinho, depois pigarreou quando todos olharam para ela. — Se a prostituta foi sua primeira morte, escrever com sangue na parede é desleixado, não premeditado. Ele me enviou uma nota digitada e obviamente sabia sobre minha história com Brenda Walsh. Isso sugere reflexão. Talvez a primeira morte tenha sido um acidente ou um impulso... — ... mas isso foi espalhafatoso, — terminei por ela. Ela olhou para mim com um leve sorriso, satisfeita por estarmos na mesma página. — Exatamente. É a evolução clássica de um serial killer. — Um serial killer — Tayline disse categoricamente. — E agora? — Eu diria que isso cobre o espectro — Boner concordou. — Não dê azar, — disse Nova. — Nós nem sabemos se esse assassino louco é o mesmo. — Parece que sim, — admitiu Lion. — Mas escute, precisamos envolver a polícia aqui, Zeus. Se for um serial killer se movendo entre elementos criminosos e municípios, eles precisam saber. — Que se foda os porcos. — Wiseguy disse o que todo mundo estava pensando. Claro, a seita corrupta do Departamento de Polícia de Entrance foi eliminada quando derrubamos o sargento Danner, mas isso não significava que nenhum de nós gostasse dos homens de azul. Com exceção de Lion

Danner, que nem era mais policial, mas detetive particular, via de regra, os motoqueiros não aceitavam bem a autoridade. Especialmente depois que Zeus foi preso por meses por um assassinato que não cometeu. Olhando para o nosso Prez, vimos sua mandíbula trabalhar sob sua barba enquanto ele olhava para a esposa e depois para Bea, que ainda estava perto de mim. Eu podia sentir o calor de seu ombro tocando meu peito esquerdo como uma marca ardente. E dei boas-vindas à dor. — Faça isso, — ordenou como eu sabia que faria porque nossas mulheres estavam em perigo, e ele faria tudo ao seu alcance para ter certeza de que estivessem seguras. — Ligue para o policial Hutchinson e resolva isso. O resto de

vocês,

desapareçam. Não

precisamos

que

eles

vejam

o

clube

completo. Lion, Bat, Buck e Courtains ficam. Voltaremos a reunir a Igreja amanhã. Com um murmúrio baixo de concordância, todos começaram a se mover, alguns dos irmãos parando para murmurar palavras para Bea. — Não vou me afastar, porra, — eu disse a Zeus. Ele me encarou, me estudando daquela maneira que ele fazia para avaliar a alma de um homem. Finalmente, seus lábios se contraíram. — Sim, irmão, eu percebi. — Você vai voltar para casa conosco esta noite. — Loulou disse à Bea, pegando suas mãos e puxando-a para fora do meu alcance. Eu grunhi para ela, mas ela me ignorou. — Você não pode ficar sozinha em casa quando algum canalha sabe onde você mora.

— Tenho certeza de que Priest ficaria comigo, — Bea sugeriu, me olhando por cima do ombro. Eu sabia pelo aperto escuro e pegajoso de seu olhar que ela estava se lembrando de como eu cortei a garganta daquele filho da puta do Brett Walsh aos pés dela depois que ele a colocou em perigo. Eu sabia que estava imaginando com alguma alegria sombria o que eu poderia fazer com essa nova ameaça contra ela. Meu pau se mexeu. Era quente pra caralho ver aquela maldade em um rosto tão angelical. Muito inebriante para saber que acendi essas paixões sombrias. Ela ficou fascinada com o que todos os outros viam em mim e temiam. Como qualquer homem poderia resistir a isso? — Não, — Lou declarou com toda sua autoridade de rainha motoqueira. — Você é minha irmãzinha e vai ficar comigo. Ninguém passa por Zeus. Bea mordeu o lábio inferior rosado e cheio enquanto olhava para mim novamente com uma pergunta em seus olhos. Eu a encarei implacavelmente. Não fazia sentido discutir com sua irmã sobre isso. Ela não gostava de mim com sua irmã, nem mesmo minha proteção era boa o suficiente. E estava acostumada a conseguir o que queria com um homem como Zeus enrolado em seu dedo mindinho. Então, eu não discutiria.

Apenas passaria a porra da noite inteira na praia ao lado de sua casa, olhando no escuro, protegendo minha obsessão de quem quer que tentasse tirá-la de mim. Na verdade, eu esperava que eles ousassem tentar, porque meus dedos estavam coçando pelo toque quente do sangue, e minhas facas também estavam com sede. A boca de Bea se comprimiu em uma linha fina, mas em seus olhos brilharam semelhante ao de contentamento, e eu sabia que ela me entendia. Foi a única razão pela qual concordou em ficar com a irmã. Nós dois sabíamos que eu estaria observando. Mas só eu sabia que esta não seria a primeira noite em que perseguiria Bea Lafayette no escuro.

Capítulo Dez Bea

Eu não conseguia dormir. Nenhuma surpresa nisso. Não tinha Sampson enrolado no travesseiro ao meu lado porque os gêmeos Garro eram alérgicos a gatos, e eu não tinha o murmúrio ressonante de Delilah ecoando suavemente pela minha casa. Claro, isso não tinha muito a ver com minha insônia, mas com o fato de que um serial killer pode ou não ter me escolhido como sua obsessão. Olhei pela janela aberta, passei pelas cortinas de linho esvoaçantes do quarto do segundo andar dos Garro, para a noite repleta de estrelas. Outra razão pela qual sempre escolhi Entrance em vez de Vancouver. Havia quase zero de poluição luminosa em nossa pequena cidade situada na base das montanhas na última baía do oceano antes que a terra assumisse o controle de cristas cobertas de neve. Conseguia ver a constelação de Andrômeda no céu claro de outono e pensei em sua história, em paralelo com a minha. Sacrificada por um monstro marinho, ela foi enforcada, a clássica donzela em apuros à espera de um herói para salvá-la.

Meus dentes cerraram dolorosamente, mas a dor me acalmou. Eu não queria ser inútil, à espera que alguém me atacasse ou que alguém me salvasse. Estávamos no século XXI, e queria ser uma mulher no comando do meu próprio destino. Joguei fora os lençóis e caminhei até a janela, tremendo com o vento cortante que assobiava através da vidraça aberta. Sabia quem veria quando olhasse para as rochas da praia envidraçadas pelo oceano. Um homem que as pessoas pensavam ser um monstro que eu sentia em meus ossos era realmente o homem pronto para me salvar de qualquer tipo de dano. Era difícil distinguir sua forma no escuro, mas a lua era um espelho redondo no céu, refletindo a luz prateada na água cintilante e na forma esguia e longa de Priest. Estava treinando algumas séries de sequências de luta ou atirando facas, eu não conseguia distinguir. Mas eu sabia que queria estar lá embaixo, aprendendo a me defender, não no quarto como uma princesa em uma torre. Então, o mais silenciosamente possível porque Zeus dormia com um olho aberto, desci as escadas, peguei uma das grandes jaquetas brancas de Lou do gancho perto da porta e um par de suas botas felpudas grandes demais. — Levou mais do que eu imaginava. Assustando-me, com um pequeno guincho saindo dos meus lábios enquanto tropecei na bota que estava tentando calçar. Olhando para cima por meu cabelo enquanto me equilibrava, vi Zeus esparramado em uma de suas

cadeiras de couro da sala. O luar mal o alcançava, mas eu podia distinguir suas feições, o brilho baixo de prata em seu olhar. Suspirei pesadamente. — Já sinto por Monster e Angel. Eles não vão se safar de nada nesta casa. O sorriso de Zeus brilhou nas sombras. — Não perco muito nesta casa e no meu clube. Quando você se importa com algo, presta atenção nisso. Eu me importo com você, Bea. Você é o único ponto brilhante que minha garota tem em sua família, embora Phillipa esteja aprendendo, vou dar crédito a ela. Meus lábios se torceram, afiados como um cabide quebrado na minha boca. — É, bem, Lou merece o melhor. Zeus moveu seu grande corpo para a frente na cadeira, as mãos penduradas entre as coxas abertas. — Porra, ela merece. Mas não me engane, pequena Bea, o amor que tenho em meu coração por você não é só porque você é irmã da minha esposa. Tem muito mais a ver com você como mulher, está me ouvindo? Não pense que eu não conheço uma garota amável como você Algo se virou no meu instinto. Senti-me doente e com o coração aquecido, envergonhada por precisar de uma confirmação independente e assustada por, de alguma forma, ter suscitado o respeito de um homem maior do que a vida. — Por que você está cuidando a porta? É para manter os bandidos fora ou eu dentro? — Ousei, colocando as mãos nos quadris. Uma risada baixa e enfumaçada escapou dele. — Você se parece com Lou dizendo isso. Nah, eu não vou julgar você. Eu me apaixonei por Lou quando ela era mais jovem do que você agora. Certo, meu filho de dezoito anos namorou sua professora. Eu sou muitas coisas, mas um hipócrita de merda não

é uma delas. — Ele fez uma pausa, então se ergueu da cadeira com muita graça para um homem tão grande e veio até mim. Meu pescoço dobrou para trás em um ângulo estranho para manter o contato visual e ele se abaixou para me tocar levemente no queixo com os nós dos dedos tatuados. — Tenho uma teoria sobre vocês, boas meninas, porque tenho experiência com uma só minha. Uma boa mulher vê o que há de bom em todos os tipos. Ela vasculhará as profundezas de um corpo até encontrar algum raio de luz, não importa o quão sombria e destruída uma alma possa ser. É apenas da natureza dela. — Ele olhou para a grossa aliança de casamento em seu dedo e um sorriso de lembrança apareceu em seu rosto. — Assim como é da natureza de um homem alquebrado correr em direção à sua luz. Se você me perguntar, há um tipo especial de yin e yang nisso. Dois corações unem um amor como esse. Pisquei para ele, com vontade de chorar. Neste momento, não sabia se alguma vez tinha me sentido tão vista. A voz dele estava rouca e triste enquanto continuava. — Mas você tem que saber, pequena Bea, um amor como esse cicatriza tanto quanto cura, não é mesmo? Você não sai vivo disso. Você acha que Cress teria algum tipo de vida se meu filho, King, morresse de verdade naquela noite nos penhascos? Respirei fundo enquanto balançava minha cabeça, lembrando do espectro de uma mulher que ela tinha sido naqueles meses desolados quando todos nós pensamos que ele estava morto. — Sim, — Z confirmou suavemente. — Então saia por aquela porta, quero que o faça sabendo que duvido que a mesma doce menina volte por ela novamente.

Lutei para respirar com a pressão do meu coração inflado batendo forte no meu peito, então eu apenas sorri e bati minha mão levemente no peito tatuado de Z. Recuando em direção à porta, coloquei minha mão na maçaneta antes de encontrar ar para acrescentar. — Se alguma vez eu tiver algo tão lindo quanto o amor que você e Loulou compartilham, Z, eu me considerarei uma das pessoas mais sortudas do planeta. Você provavelmente ficaria surpreso com o sacrifício que estou disposta a fazer por algo tão belo. Nem todas as histórias de amor se desenrolam na luz. Alguns dos melhores romances ocorrem no véu das sombras. O sorriso de Z era brilhante e leve como um raio contra seu rosto moreno. — Eu não duvido disso. Balancei a cabeça, sorrindo ligeiramente quando me virei e deixei a casa quente para a noite fria e escura.

Era início de novembro e havia um cheiro de neve no ar, um formigamento na parte de trás do meu nariz que brincou com um inverno branco. Eu me encolhi sob a jaqueta grande, abraçando-me enquanto percorria o caminho de terra batida. O silêncio das ondas beijando suavemente a margem era a única trilha sonora para a noite clara, me acalmando enquanto caminhava em direção ao que eu ardentemente rezava para que fosse meu futuro. Ele não parou à medida que eu me aproximava, mas eu não tinha dúvidas de que soube que eu estava ali observando-o.

Parei a um metro de distância, com meus olhos fixos em seu corpo quando seu ombro direito recuou, o torso mal seguindo, e então lançou para frente, o apito fino da faca cortando o ar apenas um pouco mais alto que o assobio do vento na água. Houve um baque quando atingiu o alvo, um tronco tombado de uma árvore alojado nas rochas. — Belo arremesso. Priest não se virou para mim nem reconheceu minha presença. Em vez disso, ele avançou sobre a praia para recuperar as cinco facas enterradas profundamente na madeira e marchou de volta. Esperei e observei, acomodando-me em um tronco úmido. Ele jogou primeiro com a mão direita, depois com a esquerda. Na próxima rodada, começou de costas para o alvo, seu olhar fixo longe de mim, e então em uma enxurrada de movimentos eficientes, ele girou e soltou, cada faca caindo infalivelmente em uma mancha escura e vagamente circular na árvore. — Você é muito bom, — elogiei novamente, embora soubesse que Priest não precisava de validação para suas habilidades. Não, ele era o tipo de homem que precisava de validação para as coisas que acreditava ser incapaz de fazer. Ternura. Amor. Felicidade. Endireitei meu corpo frio e rígido do tronco e caminhei pela praia até o ponto em que ele estava. Quando voltou, era como se eu fosse um

fantasma. Parou bem na minha frente e virou as costas para encarar o alvo novamente. — Eu me pergunto... — comecei suavemente enquanto me atrevia a dar o último passo mais perto e pressionar meu peito levemente em suas costas. Ele não vacilou, mas eu podia sentir a tensão em seu corpo poderoso. — Se você seria tão bom se eu fizesse isso. Houve uma breve hesitação e eu sabia que ele estava decidindo. Não se conseguiria, ou não, enfrentar meu desafio. Não, isso era brincadeira de criança para ele. Decidir se entraria neste jogo comigo, se se entregaria a mim da maneira que ansiava por me entregar a ele. Não senti nada além de esperança iluminando meus ossos, vibrando como uma nota alta na batida do meu coração desde que ele me agarrou pela garganta e jurou me proteger na frente de todo o clube. Ele me queria. Ele tinha que querer. Não havia como um homem como ele se comprometer com alguém, a menos que fosse levado a isso, a menos que essa pessoa destruísse sua mente fria e clara e conseguisse se firmar sob sua pele de ferro. Prendi a respiração enquanto fazia a escolha e prometi a mim mesma que iria embora se ele dissesse não. Eu pararia de perseguir o pobre homem como sua sombra e o deixaria viver sua vida. Prometi a mim mesma que encontraria uma maneira de viver a minha, fora dessa obsessão febril que eu tinha por ele,

uma obsessão que queimava tanto em meu coração que me aquecia até mesmo na noite fria em uma praia árida. E então ele falou. — A chuisle mo chroí13 — disse Priest no que imaginei ser gaélico. As palavras, embora indecifráveis para mim, continham apenas elogios calorosos e íntimos em sua voz fria e baixa. Uma justaposição que me fez estremecer com algo mais do que a noite gelada. — Se você se atrever a me desafiar, pelo menos faça um desafio digno. Thunk. Thunk. Thunk. Thunk. Uma breve pausa para sua risada de forma livre que me aqueceu como conhaque. Thunk. Todas as cinco facas delineando o círculo escuro na madeira perfeitamente. Engoli em seco quando ele se virou contra mim e, de repente, eu estava em seus braços, as pernas automaticamente envolvendo em torno de sua cintura, suas mãos debaixo da minha camisola, geladas e fortes quando ele segurou meu traseiro nu. — Isso, — disse ele guturalmente, os olhos marcados com selvageria enquanto olhava para os meus. — Isso é um desafio do caralho. Segurar você em meus braços e me concentrar em qualquer outra coisa.

13 A chuisle mo chroí- Meu coração é amado;

Engoli, mas meu coração parecia preso na minha garganta, batendo tão forte que parecia que eu estava sufocando. — Você poderia se concentrar em mim em vez disso. O sorriso de Priest não foi dócil. Cortava seu rosto com sardas, lábios vermelhos demais para um homem, abrindo sobre seus dentes brancos como uma ferida sobre um osso. Quando eu toquei meus dedos na ponta de seus lábios, ele estalou para mim, apertando em seu forte abraço por um instante antes de me soltar. A dor passou por mim, seguida rapidamente pelo calor que me cavava a coluna vertebral. — Você não quer cem por cento do meu foco, Pequena Sombra. Não saberia como lidar comigo. Mergulhei mais profundamente em seu abraço, pressionando minha virilha até seu tronco, numa tentativa de aliviar a tensão que eu sentia enroscada ali, apenas esperando a primavera. — O que você faria? — Ousei perguntar, imagens vívidas, quase violentas, da paixão se transformando e se desfazendo em minha mente como um caleidoscópio quebrado tingido de vermelho. Suas pálpebras baixaram, seus olhos fechados. — Só seja grata por não ter minhas facas comigo agora. Estremeci com tanta força que ele teve que me segurar mais firme em seu corpo para que eu não caísse de seu colo. — Oh. Sua risada era sinistra, o mesmo sibilo das facas lançadas no ar. — Oh, — ele concordou. — Você não está pronta para isso. Pode nunca estar pronta para isso.

— Para você, — confirmei, observando os demônios perseguindo diante de seus olhos. Eu apertei minhas pernas em volta de sua cintura e deslizei a mão com cuidado na lateral de seu cabelo espesso e surpreendentemente macio. Ele se encolheu levemente, os olhos escurecendo com luxúria e algo como pânico, como se meu toque fosse algo a temer. — Estou pronta para você há anos. E rapidamente, Priest voltou ao homem que apresentava a todo o mundo. Frio, intratável como as facas que ele cobiçava. Ele me largou sem consideração, mas esperou até que eu caísse de pé antes de se afastar de mim para recuperar suas facas. — É verdade, — gritei para ele por cima de uma rajada de vento. — Há anos que o vigio. Desejo você há anos. Priest fez uma careta enquanto caminhava através do vento, o cabelo voando sobre seu rosto, a jaqueta de couro se abrindo para revelar o moletom da Hephaestus Auto por baixo. Ele caminhou direto para mim, suas facas encaixadas entre os nós dos dedos de sua mão direita. Quando ele as ergueu, a ponta de duas facas na minha garganta, eu apenas levantei meu queixo mais alto no ar para dar a ele espaço no meu pescoço. Seus olhos brilharam e um rosnado baixo saiu de sua garganta para se perder no vento. — Não tenho medo de você, — disse a ele, minha voz rígida, as palavras lançadas entre nós como uma luva. — Você pode tentar me assustar o quanto quiser, Priest. Eu gosto disso.

Engasguei suavemente quando sua outra mão envolveu minhas costas e me puxou contra ele. Podia sentir cada centímetro firme de suas coxas e a protuberância espessa em sua virilha que estava dura só para mim. Ele se curvou diante de mim, seu rosto se aproximando e ficando carregado como nuvens de tempestade avançando. — Não me provoque. Não sou um garoto inexperiente enrolado em seu dedo mindinho. Nem sequer sou um homem. Mato por esporte, amo a dor e a porra da morte no meu cotidiano. Você brinca comigo, Bea, brinque sabendo que brinca com um monstro, algo mais morto do que vivo. Arruinarei você, — ele prometeu. Arqueei meu pescoço na ponta das facas, senti-as pegando e atraindo com força para minha pele. Meu coração batia rápido e forte na pele tensa como um tambor, mas minha voz estava segura enquanto eu respondi: — Então me arruíne. A noite esfriou, quando inalei bruscamente ao mesmo tempo em que Priest me puxou ainda mais e depois a única coisa que eu podia provar era ele. Quente o suficiente para queimar, as bordas de minha língua se enrolando no calor, e minhas inibições se desintegrando em cinza, ele se alimentou da minha boca. Seu gemido rolou através de mim, sombrio e profundo como um grande dragão reivindicando seu precioso tesouro. Ao me enrolar, ele me aproximou mais conforme saqueava, cauteloso apenas com a mão que segurava as facas, inclinado com uma pressão precisa na lateral do meu pescoço para que eu pudesse sentir a ameaça, mas não sentisse nenhuma dor. A sensação do aço ali e o ferro pressionado grosseiramente na minha barriga queimou como o bafo do dragão na minha garganta para aquecer o ápice das minhas coxas.

— As coisas que quero fazer com você, — ele rosnou enquanto se afastava apenas o suficiente para correr o nariz ao longo da minha mandíbula, descendo a linha da minha garganta até o lugar onde suas facas encontraram minha carne. Engasguei quando minuciosamente sacudiu a faca à medida que a puxava para longe. Uma gota quente de sangue brotou, sobre o ferimento e começou a escorrer por meu pescoço. O açoite quente da língua de Priest estava lá, expulsando o sangue e sua trilha, seus lábios vibrando deliciosamente contra a minha pele ao mesmo tempo em que gemia sua aprovação. — Você tem um gosto tão bom, — murmurou quando chupou meu pescoço com força suficiente para deixar um hematoma. Estremeci conforme seus dentes arranharam a carne sensível e escorregadia. — É muito bom ter alguém como um anjo nessas mãos ensanguentadas. — Afastando-se para sorrir ameaçadoramente. — Parece uma blasfêmia te abraçar assim. Pressionei meus quadris contra sua ereção, corando com a minha devassidão, mesmo quando disse. — Ou isso é uma faca em seu bolso ou a blasfêmia te excita. Senti sua risada aguda contra meus lábios durante um beijo intenso, como um sinal simbólico após sua afirmação. — Foda-se sim, isso excita. Minha risada morreu quando ele abriu a boca sobre a minha e roubou gemidos da minha garganta. Nós nos beijamos lá naquela noite escura na praia até o amanhecer clarear as estrelas do céu e tornar a água opaca e cinza como chumbo. Eu estava tão excitada que podia sentir a mancha escorrendo pela minha coxa. Meus mamilos ficaram enrugados formando botões firmes que doíam por causa da força de seus dedos. Havia uma evidência nas exigências

sexuais do meu corpo que eu não sabia como dar voz com palavras, então eu apenas gemia não articuladamente ao gritar levemente contra o longo e duro corpo de Priest. Uma mão se enroscou na parte de trás do meu cabelo e puxou com força suficiente para meus olhos se abrirem. Olhei para ele, os lábios úmidos se separaram para o meu suspiro ofegante, fixados em posição por seu controle e por meu próprio desejo exigente. Ele olhou para mim avidamente com uma pergunta na peculiaridade de sua sobrancelha. — Não sei como você faz isso comigo. — Faço o quê? — Me faz sentir, — disse ele, como se isso em si não fosse trágico. — Pensei ter caçado todas as emoções até a extinção. — Não, — argumentei, suavizando em seu aperto para mostrar o quanto eu confiava nele, mesmo que ele não confiasse na bondade de si mesmo. As raízes do meu cabelo doíam e a faca na minha garganta ainda era uma presença poderosa. — Você sentiu por Cressida quando King partiu. Você caçou o sargento Danner para ela, para Zeus, para que ela pudesse se livrar de seu fardo e ele pudesse ficar livre da prisão. Sua boca endureceu, mas a severidade apenas tornou sua beleza mais palpável. — Entendo de vingança. Eu entendo o conceito de olho por olho. — Entende de proteger as pessoas que você gosta, — reformulei, estendendo a mão mesmo quando ele estremeceu, para colocar minha mão em sua bochecha, passando meus dedos por sua barba. — É por isso que passou a noite inteira aqui.

Seus lábios se contraíram em um rosnado. — Ninguém irá te machucar. Ninguém tocará em você, — ele se interrompeu com uma maldição sufocada em gaélico. — Ninguém, a não ser você, — terminei. Ele me olhou desconfiado como se eu fosse um espelho erguido em seu rosto e não confiasse nos demônios que via em seu olhar. — Ninguém, exceto eu, — finalmente concordou com uma solenidade que parecia um juramento feito a Deus. — Ótimo, — eu disse casualmente, me esforçando para não o assustar com a exuberância que sentia em meu peito, meu coração uma bola saltitante contra as paredes de minhas costelas. — Agora, você acha que poderia me ensinar um pouco desse trabalho sofisticado com a faca? Para o caso de você não poder estar lá, quero saber como me defender. — São seis da manhã, — disse categoricamente. — Você deveria estar na cama. — Com você? — Perguntei esperançosa, pulando na ponta dos pés para poder sorrir mais perto de seu rosto, na esperança de cegá-lo com isso para que se esquecesse de si mesmo. — Não. Suspirei dramaticamente. — Ah, tudo bem. Mas eu quero aprender. Suponho que, se você não quiser me ensinar, eu poderia pedir ajuda a Wrath no Box N Burn...

Instantaneamente, eu estava nos braços de Priest novamente, seus dentes sobre a forte pulsação em meu pescoço da maneira que um animal reivindicaria sua companheira. — Não. — Então, você vai me ensinar, — eu ofeguei enquanto ele mordeu com força, em seguida, lambeu a dor com um longo golpe de sua língua. — Eu vou te ensinar, — confirmou relutantemente enquanto colocava a mão em minha garganta e acariciava minha pulsação. — Porque você não é fraca. Vou te ensinar a desenvolver com aquela faca que te dei como deve ser e te ensinarei a se defender usando apenas sua mente e corpo. Mas você deve saber, de agora em diante, não haverá um momento em que estarei ausente quando você precisar de mim. Posso ser mais morto do que homem, mas ainda posso te perseguir. Não tinha certeza, mas quando Priest se virou para definir um tronco como alvo mais próximo para eu praticar, observei seus movimentos frios e eficientes, me perguntei se essa não foi a coisa mais romântica que alguém já me disse.

Capítulo Onze Bea

Onze dias, onze partes do corpo. Como se o braço não bastasse. O assassino os colocou em todos os lugares que eu não podia evitar. Um dia, na entrada da garagem da casa de Zeus e Loulou (deixando Zeus e Priest com acessos de raiva, um quente com isso e outro gelado). O próximo, entregue em minha classe durante minha aula de Psicologia Anômala por um estudante que alegou que alguém lhe pagou cinquenta dólares para me entregar o pacote embrulhado para presente. Outro na varanda da minha casa, um na biblioteca enquanto eu estudava, outro na delegacia de Entrance enquanto eu prestava meu depoimento para a polícia, outro no estacionamento da delegacia de Vancouver quando estava lá para dar uma narrativa dos eventos. Partes do corpo em todos os lugares. Não abria mais os pacotes, mas os policiais me pediram para identificar as partes do corpo por meio de fotos quando me entrevistavam após cada entrega. Eles grampearam meu telefone, enviaram policiais nos meus

itinerários de costume para casa do Garro, e informaram a universidade sobre a situação. Em todos os lugares, as pessoas me observavam, na esperança de pegar o assassino. Em dez dias, eles não chegaram nem perto. O policial Hutchinson, um amigo do MC e um dos policiais veteranos em Entrance, disse a Zeus que um criador de perfis alegou que o assassino era provavelmente

um

homem

de

meia-idade

que

sofria

socialmente,

especificamente com mulheres, então descontava sua agressão e desejos sexuais reprimidos em suas vítimas femininas. Eu pesquisei assassinos e psicopatas por tempo suficiente em meus estudos e em meu tempo livre para saber que o perfil era um modelo, que eles aplicavam a quase todos os serial killers antes de coletar mais detalhes. A presença da polícia em minha vida não me deixou mais segura. Priest, sim. Fiel à sua palavra, ele me perseguia. Loulou não gostou, mas Priest agia como se ela não existisse. Onde eu ia, ele ia, seguindo-me como se fosse sua profissão. Eu sabia que ele trabalhava tecnicamente na Hephaestus Auto, que suas mãos habilidosas o transformaram em um dos melhores mecânicos da oficina, mas nos últimos dez dias, esteve comigo quase todos os momentos, exceto no domingo, na Igreja First Light. Não discutimos isso, mas Priest certificou-se de que outro irmão estivesse disponível para o dever na igreja. Eu sabia que havia algo ali, algo sinistro em sua memória e sua conexão com a religião,

mas não pressionei. Não sou estúpida. Ele estava apenas começando a alimentar a ideia de algo a mais comigo, de forma delicada, e não havia como eu ameaçá-lo fazendo perguntas invasivas, descascando velhas feridas. Divertia-me ver como meus amigos e colegas de universidade reagiam ao homem de cabelos longos e ruivos com tatuagens com temas de morte estampados em toda a sua pele com sardas. Aqueles que tiveram a coragem de olhar para ele por mais de um segundo foram recebidos com aqueles olhos frios, claros, sem pestanejar e intraduzíveis. Ele sempre se sentava junto à porta da sala de aula, coxas grossas espalhadas no pequeno assento, mãos grandes demais para a pequena mesa presa ao lado direito. Quando estava entediado, ele assobiava, e um único professor reclamou por causa disso, em resposta foi submetido a seu olhar feroz. Tive que divulgar uma autorização da polícia permitindo que ele ficasse comigo na sala de aula. Psicopata, a professora Wells me lembrou calmamente após ler a nota e devolvê-la, eram camaleões que imitavam nossas próprias emoções. Eles compreendiam o sentimento apenas em resumo, não em identificação pessoal. Seja qual for a confiança que eu tenha depositado neste homem, ela me incitou a reconsiderar. Eu sorri para ela, dei-lhe um tapinha na mão e passei meu rabo de cavalo enrolado sobre meu ombro, uma vez que praticamente havia saltado de volta para meu assento. Foi bom saber que meu diagnóstico de poltrona 14 sobre Priest como psicopata foi confirmado por um profissional. E quando a professora olhou para Priest?

O diagnóstico da poltrona é um termo usado profissionais diagnosticam alguém que nunca trataram.  14

quando

profissionais

ou

não

Ele pegou a pequena faca com a qual ele usava para limpar debaixo das unhas e depois piscou, piscou para ela. Eu não pude evitar a risada na minha garganta, embora a tenha escondido atrás da mão. Foi uma hora estranha. Eu estava assustada e inquieta, constantemente vigilante ao meu redor, encontrando tempo todos os dias para treinar com Priest. Eu não dormia em minha própria casa ou estive cercada por minhas coisas por quase duas semanas. Sampson estava hospedado com King e Cressida, e eu ia todos os dias alimentar Delilah. Mas eu tinha Priest. Finalmente. Se alguém pode reivindicar a posse de um homem como ele. Às vezes, ele olhava para mim como se eu não existisse. No começo, doeu ver isso, porque eu podia sentir meu coração batendo forte cada vez que olhava para ele. Mas então eu analisei mais de perto e percebi que ele só me ignorava quando estava focado em uma tarefa, quando estava garantindo que estávamos seguros. Era isso que o tornava tão selvagem e brilhante. Ele não deixaria nada interferir em seu compromisso. Pode não ser o sonho de uma garota trivial, mas eu estava loucamente emocionada por ser a obsessão desse psicopata em particular.

Outras vezes, nos raros momentos que passamos sozinhos, eu via um lado do executor irlandês diferente do que já vi antes. Ele não era afetuoso, porque não tinha isso nele. Na verdade, era mais intenso, quase assustador. Mas seu foco estava todo em mim. Como se todo o seu mundo tivesse se reduzido às dimensões do meu corpo, e seu único motivo na vida fosse chegar ao fundo da minha alma. Era estimulante, tão aterrorizante e intenso quanto ser o foco do serial killer religioso e apenas levemente diferente. Tentei não me deter muito tempo nas semelhanças. Se aprendi algo em meus anos estudando psicologia, foi a evitar a todo custo o autodiagnostico. — Bea. A voz de Eric se infiltrou no meu devaneio, mas demorei um segundo piscando lentamente para sair dos meus pensamentos e me concentrar no homem de cabelo escuro parado ao meu lado, na minha mesa no estúdio de som. Eu sorri para ele. — Oi, querido, como você está? Sua carranca era feroz quando ele se agachou para que pudesse ficar no mesmo nível dos meus olhos na cadeira. Ele virou meu assento para encará-lo, então se apoiou contra os braços, efetivamente me prendendo. Imediatamente, meus olhos se voltaram para a porta, sabendo que Priest estava lá fora atendendo a uma ligação de Lion. Ele não gostaria que Eric estivesse tão perto, e não tenho dúvidas de que deixaria isso claro para ele se voltasse para testemunhar essa cena.

— Mas que diabos, Bea? — Eric exigiu, movendo uma mão para o meu joelho para dar uma pequena sacudida. Sua mão estava quente na pele nua entre minhas meias até o joelho e a minissaia. Meu olhar se fixou na cruz pintada com tinta nas costas de sua palma. — Você está basicamente sendo seguida por um louco, e não me procura, porra? Eu pensei que éramos próximos. — Nós somos, — concordei com um sorriso brilhante, esperando distrai-lo enquanto me movia ligeiramente para trás na minha cadeira para que sua mão caísse. — Mas tenho tudo sob controle. — Bea, você tem um metro e sessenta e talvez uns cinquenta quilos com pedras nos bolsos, — observou irritado. — Como diabos você vai se defender? Curvei-me mais perto dele, vendo a maneira como seu olhar caiu em meus lábios brilhantes e arranquei a faca de seu coldre fino ao redor da minha coxa. Quando pressionei a faca até sua garganta, ele se inclinou, com os lábios separados. Meu sorriso cortou minhas bochechas dolorosamente, largo e bonito. — Não julgue um livro pela capa, Eric. Era a última pessoa que eu presumiria que faria isso. Você e eu sabemos que os monstros se escondem em todos os tipos de embalagens. — Então, você é um monstro agora? — Perguntou secamente, mas sua garganta trabalhou duro enquanto ele engolia contra a pressão do aço. Eu me afastei com uma risada leve e espalhei minhas coxas para encaixar a faca cuidadosamente de volta no coldre rosa. Eric me observou com olhos escuros.

— Não, — eu falei enquanto jogava meus cachos por cima do ombro e cruzava as pernas afetadamente. — Mas é melhor você acreditar que eu sei jogar com o melhor deles. Invocado como um demônio pela simples menção a ele, Priest surgiu na porta. Eu me permiti lançar um longo e reverente olhar para ele. Em seu colete Fallen e um casaco de inverno de cashmere grosso que eu sabia que Cressida tinha comprado para ele no Natal do ano passado, ele parecia um pagão pouco civilizado, seu cabelo puxado em um coque bagunçado na nuca, com pedaços caindo em seu rosto carrancudo, e uma mecha caída emaranhada em seus cílios ruivos. Nunca tinha visto um homem com cabelo assim, um vermelho escuro profundo que parecia sangue derramado e ferrugem e complementava perfeitamente as sardas cor de canela cobrindo cada centímetro visível de sua pele. Eu podia ver o cabo de sua faca de caça curva no coldre em seu quadril sob a jaqueta aberta e a lama grudada em suas botas pesadas de motocicleta das noites passadas na praia e na grama do quintal de Zeus. Todo o seu corpo poderoso se inclinou ligeiramente para frente como se fosse um vento uivante, preparado e pronto para atacar a qualquer provocação e, vendo Eric, tão perto de mim, ficou ainda mais tenso, uma arma letal humana. — Se afaste porra, — ordenou em uma voz que era ao mesmo tempo entediada e ameaçadora, como se a ideia de impor suas palavras fosse muito fácil de suportar e ele estivesse irritado por ter que verbalizá-las. Eric olhou por cima do ombro, irritação em cada centímetro de seu corpo, então congelou quando avistou o grande ruivo. — Nem mesmo estou a tocando. Qual é o seu problema, cara?

Priest inclinou a cabeça para o lado em um movimento que era mais animal do que humano. Ele estudou meu amigo com um olhar longo e sem piscar, não disse nada deixando seu silêncio enfatizar seu pedido original. Eu não interferi. Eu tinha visto homens alfa operarem o suficiente para saber que precisavam de espaço para mijar nas coisas que sentiam ser deles. Se tornava mais fácil lidar com eles depois de concluído. Além disso, eu estava muito ocupada pensando no fato de que Priest estava apostando essa reivindicação em mim. Eric olhou de volta para mim, escolhendo – sem saber – ignorar a ameaça à porta. — Ouça, Bea, eu só queria que você soubesse que eu te protejo. Pode vir ficar comigo, se quiser. Eu tenho uma arma e licença, não teria que se preocupar comigo. — Você acha que ela tem que se preocupar comigo? — Priest perguntou em um tom monótono que dificilmente se tornava uma pergunta. Eric, o tolo e doce Eric, ignorou-o novamente. Em vez disso, ele colocou a mão no meu joelho para me sacudir um pouco e me implorou com seus olhos escuros e arregalados. — Não faça nada precipitado só porque se sente insegura. — Você realmente é um filho da puta estúpido, — Priest continuou, impassível. — Então, eu lhe direi mais uma vez para que entre no seu pequeno cérebro. Se. Afaste. Porra. — Ouça, idiota, — Eric começou a dizer, levantando para que pudesse se virar.

Ele não teve a chance. Priest apareceu tão de repente que não consegui entender como isso aconteceu. Ele estava ali, pressionado contra as costas de Eric, o braço em volta do pescoço em um estrangulamento, o calcanhar da bota chutando as longas pernas de Eric, então ele se dobrou impotente no abraço apertado. — Parece que seu amigo deseja morrer, Pequena Sombra, — Priest disse calmamente enquanto Eric lutava contra o aperto, as mãos arranhando o braço de Priest até sangrar. — Devo interpretar a porra de uma fada e conceder seu desejo? — Priest, — eu disse, tentando conter a luxúria aquecendo meu tom. — Ele é meu amigo. Sua sobrancelha vermelha subiu em sua testa. — Ele quer transar com você. Eric gorgolejou em protesto. Priest apertou seu abraço. — Talvez, — eu consenti. — Mas se você matasse todos que quisessem dormir comigo, estaria muito ocupado matando pessoas e eu nunca veria você. Ele piscou para mim, mas percebi a forma como sua boca firme se contraiu com humor. — Eu trabalho rápido, — ele me informou. — Não tenho dúvidas, — concordei, me divertindo muito, enquanto meu amigo estava claramente em perigo. — Ainda assim, por que você não o coloca no chão? Não tenho muitos amigos e gostaria de manter os que tenho. Priest considerou isso por um longo momento conforme Eric ficava com um tom surpreendente de vermelho. Finalmente, ele abaixou a cabeça ligeiramente para sussurrar terrivelmente no ouvido de Eric. — Eu não dou

avisos. Sou o homem que eles mandam assim que a ameaça é apresentada. Sou o homem que termina o trabalho. Conte suas fodidas estrelas da sorte que hoje, por ela, estou exercitando o controle. Eric engasgou ao cair no chão, segurando-se com força em uma das mãos e gritando de dor. Eu queria ir até ele, mas do jeito que Priest continuava pairando sobre ele, olhos escuros e fixos em sua presa, decidi que era melhor não ficar entre um predador e sua refeição. Eu me contorci em meu assento, esfregando as coxas para aliviar a dor entre elas. Eu o queria. Oh, mas eu o queria ferozmente mais do que jamais desejei qualquer outra coisa. Na verdade, recordei, ao ver Priest cruzar os braços e ranger os dentes para Eric, que pensava que não entendia direito o significado da palavra “desejar” até conhecer Priest. — Acabou de brincar? — Eu o provoquei, incapaz de conter meu sorriso ensolarado. Os olhos de Priest se voltaram para os meus e o ódio em seus olhos se transformou em algo tão escuro quanto, mas totalmente diferente. Era o tipo de escuridão em que você quer cair. — Não. — Mas sua postura se ajustou ligeiramente, ombros puxando para trás, peso se acomodando em seus calcanhares, então eu sabia que a ameaça iminente havia passado. — Só porque você tem um programa para fazer e, Lion vai me ligar de volta em cinco minutos.

— Tão gracioso, — eu disse, impassível, embora meus lábios tremessem. — Posso começar a trabalhar então? Priest inclinou a cabeça em concordância, mas em vez de sair, ele se agachou para olhar para Eric, que estava massageando seu pescoço e olhando para seu agressor com ódio revelado. Priest o estudou como um cientista com um inseto no microscópio, sem dúvida detalhando todas as suas falhas óbvias. Finalmente, ele sorriu aquele sorriso de palhaço de horror e se lançou para agarrar Eric pelo pescoço novamente. Antes que ele pudesse reagir, Priest abriu sua faca com um puxão afiado de seu pulso e pressionou a ponta na pele exposta entre as clavículas de Eric acima de sua camiseta. Outro movimento rápido e ele estava abrindo um corte de centímetros de comprimento na pele ali. — Primeiro erro, — Priest entoou naquela voz de operadora plana. — O único que você vai conseguir. Eric tentou se afastar, mas Priest o soltou, fazendo meu amigo cair desajeitadamente

de

lado

novamente. Então

Priest

limpou

a

faca

ensanguentada na cabeça de Eric e girou nos calcanhares para sair sem olhar para trás. — Uau, — eu sussurrei, cambaleando. — Sem brincadeira. Aquele cara é um maldito psicopata, — Eric exclamou enquanto se levantava, os dedos pressionados na ferida que sangrava levemente em sua garganta. Uma risadinha vertiginosa ferveu na minha garganta, borbulhando de um lugar escuro e aquecido em meu interior que Priest nunca deixava de atiçar em

chamas. Eu me senti drogada pela exibição de vilania dele, completamente seduzida por sua demonstração de domínio implacável. Eu era dele. Ele pode não ter dito com palavras, poderá nunca dizer. Mas por mim tudo bem. Às vezes, ações valem mais. E ele disse que eu pertencia a ele. O anjo da morte do Fallen havia me reivindicado e de repente eu tinha passado de propriedade de ninguém para propriedade de Priest. Era difícil conter a força do meu sorriso puxando minhas bochechas enquanto eu observava Eric se endireitar e me encarar como se eu fosse a responsável. Acho que eu era. Dei de ombros e joguei meu cabelo por cima do ombro, girando minha cadeira para trás para que pudesse ficar de frente para o microfone e me acomodar para o programa. — Eu disse que não preciso da sua proteção. — Está brincando comigo? — O queixo de Eric caiu. — Você precisa de proteção contra aquela... aquela aberração. — Ei, — eu rebati. — Chame-o assim mais uma vez, e eu juro pelo Pai Celestial, que vou te derrubar onde você está. Eric piscou para mim, em seguida, inclinou a cabeça para trás e caiu na gargalhada. — Porra, — finalmente disse enquanto enxugava as lágrimas de seus olhos. — Só você poderia me fazer rir depois de algo assim.

— Eu não estava brincando, — eu fiz beicinho, irritada por ser constantemente subestimada. As mulheres que usavam rosa eram tão capazes de se defender quanto as mulheres de couro e jeans. Na verdade, eu senti que isso me dava uma vantagem. Deixe-os me subestimar, eu ficaria muito feliz em provar que estavam errados com um lindo sorriso e minha faca mortal. Infelizmente, meninos estúpidos que cresceram alimentados com papéis de gênero estereotipados e misoginia em um berço de ouro não entendiam isso. Levantei meu queixo no ar como Loulou faria e o ignorei. Eric suspirou. — Ah, vamos, Bea. Não seja tão sensível. Eu sou aquele que acabou de ser atacado por seu cão de guarda selvagem. — Se você acha que isso foi ruim, como você planejava me proteger de um serial killer? — Eu rebati enquanto colocava meus fones de ouvido. — Pare de chorar. Ele o advertiu, afinal de contas, e você realmente não deveria me tocar assim sem permissão de qualquer forma. Estamos no século XXI, o consentimento é tudo. Agora, está pronto para começar o programa? — Não me diga que você está... o quê? Gostando desse cara? — Eric se aventurou em silêncio, quase como se não pudesse acreditar no que estava dizendo. — Bea, querida, há uma diferença entre estar clinicamente interessada na psicologia de serial killers e psicopatas e ter uma fixação por eles, romantizá-los. Sabe disso, certo? — Você não sabe nada sobre Priest, — refutei, verificando minhas anotações sobre o episódio.

Ele ficou quieto por um longo tempo. — Claramente, eu também não sei muito sobre você. Achei que fosse uma boa menina cristã, mas você é muito mais do que isso, não é? — Mulheres são criaturas complicadas, — eu disse em resposta. — Somos amigos há alguns anos, Eric, mas isso não faz de você um especialista. — Eu poderia ser, — ele disse calmamente, a voz tensa pelo peso de sua esperança. — Se você deixasse. Talvez eu não seja um cara tão bom quanto você pensa que sou. Isso me torna mais intrigante? Eu podia sentir seu olhar fixo em mim, mas me recusei a entrar em algum impasse infantil. Eu não fiz nada de errado e, pelo menos na minha mente, Priest também não. Isso me levou a imaginar, com leve apreensão, se havia um limite que Priest poderia cruzar que seria demais para eu lidar. Pensei no meu sangue fervendo enquanto ele cortava a garganta de Brett por me colocar em perigo e eu sabia, com fria certeza, que não havia.

  — Tudo bem, vamos encerrar o episódio de hoje com nossas perguntas e respostas mensais, — eu disse ao microfone, minha voz passando sobre as palavras, saltitante e leve. — Se você é novo aqui, os ouvintes enviam suas perguntas por e-mail e meu produtor, Eric, as lê para nós discutirmos. Você está pronto, Eric?

Dizia muito sobre meu amigo que ele permaneceu profissional durante todo o episódio sobre Richard Ramirez, embora eu sentisse seu olhar atento sobre mim com mais frequência do que nunca. Provavelmente ajudou que Priest permaneceu do lado de fora da porta, talvez assobiando algo no corredor para se manter ocupado. — Certo, primeira pergunta para a Pequena Senhorita Homicida, — Eric se preparou. — Qual serial killer você teria mais medo de encontrar? Sorri porque o tema dessa pergunta reaparecia todos os meses. — Bem, acho que já respondi a perguntas semelhantes antes, mas devo dizer novamente, porque vale a pena repetir – Ted Bundy. — Girei uma mecha de cabelo enquanto pensava no serial killer mais famoso do mundo. — Ele era prolífico e mesmo no final, incrivelmente difícil de prender. Uma vez afirmou que escolhia suas vítimas apenas vendo-as voltando da universidade para casa. E era tão charmoso e bonito quanto impiedoso e sem remorsos. Todas essas características essenciais de um psicopata são claras nele, mas o que o torna mais assustador aos meus olhos é que foi tão capaz de se adaptar à cultura social normal. Ele tinha uma namorada, ajudou a criar uma criança, e tinha amigos que o respeitavam. Fiz uma pausa, olhando para longe enquanto pensava sobre a diferença entre alguém como ele e alguém como Priest. Havia uma honestidade em Priest. Olhar para ele era saber que você estava olhando para um homem mais perto dos mortos do que dos vivos. Cada centímetro dele gritava monstro, vilão, anormal. Não havia remorso naqueles frios olhos verdes, nenhuma animação na boca carnuda e firme e na mandíbula pontiaguda. Ele estava vazio e mortal como uma arma viva.

Mas assassinos como Bundy eram lobos em pele de cordeiro. Eles se escondiam à vista de todos, gostavam de jogar e provar que eram mais espertos do que qualquer outra pessoa. Como o serial killer que parecia estar brincando comigo. — Bundy me assusta porque ele prova que monstros não vivem apenas no escuro, — eu terminei suavemente, minhas palavras perseguidas por uma música assustadora que Eric tocou nos alto-falantes. — Hum, Bea? — Eric disse após uma breve pausa onde ele olhou para a lista de perguntas enviadas por nossos ouvintes. — Há algo aqui. Fiz uma careta, mas os cabelos da minha nuca se arrepiaram. — Como assim? — Quero dizer, essa pergunta é estranha, — ele disse lentamente. — Leia para mim. — Você já olhou embaixo da cama antes de dormir? — Eric leu com relutância. — Já olhou embaixo da sua mesa antes de se sentar em sua cadeira de veludo rosa e falar sobre assassinatos como uma princesinha pervertida? Mil agulhas tatuaram o medo em minha pele simultaneamente. Eric olhou para cima de sua tela em meus olhos, espelhando minha expressão horrorizada. Eu não respirei, o ar congelou em meus pulmões. Não pisquei, meus olhos secos pelo turbilhão de ansiedade que parecia me varrer em seu vendaval.

Apenas me movi, lentamente como se contra uma atração gravitacional. Meus pés vestidos com Converse empurraram contra o tapete fino, arrastando minha cadeira para longe do balcão que era minha mesa, e então me curvei.. Para baixo. Para baixo. Para baixo. Cabeça espiando nas sombras embaixo da mesa. E lá estava ela. O décimo segundo pedaço de Brenda Walsh, apresentado como um presente no décimo segundo dia de Natal. Sua cabeça decepada em um saco selado amarrado. Um grito saiu de meus pulmões como um velcro rasgado, o som lançado através da sala violentamente de modo que se chocou contra as paredes. Um segundo depois, a porta do estúdio abriu e ricocheteou com tanta força contra a parede que balançou para trás. Priest interrompeu seu avanço com a lateral de sua arma erguida, olhando pelo vidro enquanto entrava na sala em passos largos. Eu ainda estava gritando, curvada na cadeira, o cabelo meio obscurecendo meu olhar enquanto observava Priest vir atrás de mim. Eric tentou se mover para minha parte fechada da sala ao mesmo tempo em que meu psicopata, mas Priest o empurrou para o lado casualmente, mas de forma enérgica, Eric voltou para sua cadeira e depois tombou no chão.

Então Priest estava lá, puxando-me da cadeira para seus braços, empoleirando-me em um quadril enquanto se agachava para ver o horror debaixo da minha mesa. Eu me agarrei a ele como se fosse uma videira, tão apertado que provavelmente lhe dificultei a respiração. Mas eu não me importei, e ele não reclamou. Se eu pudesse, eu teria rastejado sob sua própria pele e morado lá. Ele era o único lugar onde eu me sentia segura. Eu queria fazer de seu corpo meu endereço, e de sua alma minha casa. Priest rosnou tão alto que era quase um rugido, retumbando através dele para dentro de mim. Observei quando ele baixou a arma, enfiou ela na cintura e abriu seu antigo telefone. — Lion, eles enviaram outro pedaço filho da puta daquela vadia para o estúdio, — Priest disse tão friamente que estremeci. — Traga uma unidade aqui, porra, agora, antes que eu mate quem deu àquele filho da puta acesso a este estúdio. Sua cabeça virou para o lado, prendendo Eric no lugar onde ele estava vindo em nossa direção. Ele empalideceu tanto que me preocupei que estivesse tendo um ataque cardíaco. Priest fechou o telefone com o queixo, em seguida, deslizou ele em seu bolso ao mesmo tempo que me abaixou no chão, empurrando-me para trás enquanto ele se encaminhava para Eric. — Priest, não, — protestei pouco antes de ele bater Eric na parede com um braço prendendo em seu peito e uma faca apontada para sua garganta.

— Quem diabos tem acesso a este lugar? — Ele demandou. — Só Bea, eu, Sra. Appleton, porque ela é dona do prédio e talvez... — ele engasgou quando Priest pressionou a faca com mais força em seu pomo de adão. — Talvez Catherine! Ela dirige o Honey Bear Café. — Você deixou alguém entrar aqui que não deveria? — Priest perguntou enquanto corria a faca pelo pescoço, tão perto que ele recolheu as pontas da barba por fazer de Eric no aço. — Ou talvez, seja você. Obcecado pela linda Bea, sem chance no mundo de ter uma chance com ela, então recorre a merdas pervertidas como essa para chamar sua atenção? Hã? — Outro golpe de faca abriu um corte fino ao longo da sua mandíbula, abaixo da orelha até o queixo. Priest se mexeu para passar o polegar firmemente sobre a ferida apenas para ouvir a maldição de dor de Eric. — Ah, qual é? Fale e talvez eu o mate rapidamente. Não acredito muito em misericórdia, mas podemos fazer uma negociação. — Vai se foder! — Eric praguejou. — Priest. — Minha voz estava pesada, tão pesada que deteve sua mão empunhando a faca. — Pare com isso. Eric não teve nada a ver com isso. Ele é meu amigo. Um bom homem e um bom cristão. Por favor, coloque ele no chão. — Você acha que só porque ele ora a Deus, ele é um bom homem? — Priest questionou friamente. — A religião ensina você a pecar e se preocupar com as consequências depois. Ensina a pedir um perdão que sempre será concedido pela graça de Sua bondade, não importa o crime. Arrependa-se, arrependa-se. Pecado, pecado.

Priest estalou os dentes tão perto do rosto de Eric que parecia que poderia arrancar um pedaço dele. Eric tremia tanto que seus ombros e cabeça bateram com força contra a parede. Lá embaixo, houve uma grande comoção, e imaginei que eles tivessem ouvido meu grito, chamado a polícia e estavam subindo. Isso, ou, com sorte, Lion estava chegando. — Você está certa, — Priest concluiu com um ronronar baixo e ameaçador. — O idiota não tem coragem de fazer algo assim. Mas poderia ter ajudado quem fez isso. E eu vou descobrir. — Priest. — Tentei novamente, avançando para colocar a mão em suas costas. Ele olhou para mim por cima do ombro, seus olhos uma massa rodopiante de violência tingida de verde. Ele tinha ido para a escuridão dentro dele, tão pronto para matar Eric que era quase uma conclusão precipitada. Eu estremeci levemente enquanto movia minha mão sobre o couro de seu colete, sentindo os músculos acolchoados e duros como ferro, tensos em suas costas. — Priest, — sussurrei suavemente enquanto as botas trovejavam escada acima no corredor. — A violência não é justiça a menos que você prove que tenha fundamento. Ele inclinou a cabeça bruscamente para o lado, aquele gesto que o fazia parecer tão atroz. — O que eu me importo com a justiça? Ele assustou você, tocou em você. Mesmo que não tenha feito isso, o que é um tiro no escuro, eu ainda quero que sofra.

— Eu não quero, — afirmei, acariciando suas costas nas pontas de seu cabelo para que eu pudesse dar um puxão, na esperança de aterrar ele com meu afeto. — Deixe-o ir, por favor. Eu só quero ir para casa. Com você. Priest hesitou, todo o seu grande corpo vibrando de indecisão enquanto ele lutava contra seus impulsos. Eric mal respirava, olhos arregalados e escurecidos de medo. Finalmente, depois de um momento indefinido, Priest se voltou para Eric, estudou seu rosto e, em seguida, recuou para lhe dar uma cabeçada. Eu engasguei quando ele se afastou, Eric desabando contra a parede, segurando seu nariz quebrado enquanto o sangue jorrava em sua frente. Ele estava xingando, as palavras distorcidas pelo sangue em sua boca. Olhei para Priest, que estava me observando em busca de uma reação, sua respiração calma e regular, seu rosto em repouso, mas seus olhos brilhando como o gume de uma faca à luz do fogo. Estar com Priest era como adotar um animal selvagem. Eu poderia tentar domesticá-lo, treiná-lo, até amá-lo, mas no final do dia, ele ainda era um animal selvagem com dentes e garras ferozes. Era de sua natureza usar isso. E estava na minha, eu acho, permitir que ele usasse. Estendi minha mão para ele em resposta à sua pergunta silenciosa. Ele olhou para ela, então a afastou enquanto erguia a sua para envolver minha garganta e me trazer para perto. Pressionando sua testa contra a minha, sua respiração suave e perfumada contra meu rosto. Eu relaxei.

Contra todas as probabilidades, com uma cabeça decepada presa sob minha mesa por um louco e meu amigo sangrando ao meu lado, relaxei contra Priest e permiti me sentir calma pela presença de alguém que era um monstro para todos, mas um homem para mim. Quando Lion, Bat, Dane, Boner e Wrath apareceram na porta, não nos movemos. Eles ficaram boquiabertos por um momento, emudecidos pela ternura de Priest em relação a mim. Eu vi Boner olhar de nós para Eric. — Pelo menos há sangue, — disse em um sussurro encenado para Bat. — Caso contrário, acharia que algo possuiu o bastardo. — Estou achando que alguma coisa tem, — Bat murmurou de volta, seus olhos negros pensativos sob as sobrancelhas franzidas. — Chega de abraços, — Wrath grunhiu quando ele finalmente entrou na sala. — A porra da cavalaria está aqui. Vamos ao trabalho. Priest se afastou, empurrando-me atrás dele como parecia acostumado a fazer. — Pegue aquele. — Ele sacudiu a cabeça para Eric. — Acho que ele precisa de uma conversinha. Alguém vá ter outra com a Sra. Appleton e Catherine Prescott. Hoje conseguiremos respostas sobre esta maldita festa.

Capítulo Doze Priest

Novembro sempre foi uma merda. Ventos uivantes corriam sobre o oceano, coletando água gelada em velocidade antes de jogar tudo na costa, mergulhando-nos no nevoeiro, chuva e, às vezes, granizo. Era uma daquelas noites. O céu estava cercado de nuvens cinzentas de ferro acolchoadas, o ar cheio de gotas finas de chuva gelada. Estava muito frio, muito molhado para um homem passar a noite ao ar livre praticamente dormindo na praia. Mas eu não era apenas um homem. Sentei-me debaixo de um enorme guarda-chuva que enfiei no tapete grosso de areia molhada, minhas costas se apoiaram contra um tronco empapado, o colarinho do meu colete se encostou à minha garganta e meu queixo aconchegado à gola do meu capuz. Eu estava com frio, mas principalmente seco. E eu gostava do som da chuva batendo com fúria contra o fino guardachuva de nylon, e dos estilhaços de vidro das ondas que se lançavam sobre a costa rochosa. Era tudo violência e temperamento, tudo paixão. Fez-me sentir

humano sentar ali no meio de tudo isso e deixar que a natureza me espancasse até sentir algo. Antigamente, uma noite como esta teria me feito lembrar como era viver dentro do meu próprio corpo, o que sempre me levou a mais. Era a chave na fechadura da porta que segurava minha humanidade em seu cofre dentro do meu peito. Sentimentos de qualquer tipo só me levavam a mais sensações. O frio das minhas mãos, ligado ao frio do sangue em minhas veias, o enrugamento da minha pele até o meu coração atrofiado. Lembrava-me por que eu estava neste estado, não apenas quebrado na forma como tinha sido criado e nascido, mas na forma como eu tinha crescido. Usava os nomes dos mortos em cada dedo como anéis que nunca removeria. Estas eram heranças dos mortos dignos. Alguns eu tinha matado e outros por outras mãos. Diziam que os serial killers tinham muitas vezes lembranças, lembranças de suas mortes. Uma perversão, eles chamavam. Eu chamava de memória. Recusava-me a esquecer aqueles cuja morte me tocou de maneiras boas e más. Era a minha maneira de adicionar cicatrizes dignas às outras que crivaram minha pele como pesadelos na pele. Havia minha mãe e meu pai, tão pobres que, quando morreram, não havia dinheiro para um enterro adequado. Eu mesmo cavei a terra, arrastei seus corpos pela areia que se transformou em lama com a chuva, feliz porque a umidade tornava seu transporte mais liso, e então os joguei em suas valas. Eu

pulei atrás deles, caindo na lama até os tornozelos que sugou minhas botas como as mãos de demônios tentando me persuadir a ir atrás de meus pais. Eu pulei para que pudesse organizá-los do jeito que eu tinha visto em funerais anteriores, mãos sobre o peito, pálpebras fechadas. Parecia a coisa lógica a se fazer. Disse algumas palavras em oração que pareciam erradas na minha boca, mas quando voltei para casa, com as coxas tremendo de cansaço de lutar contra a lama a cada passo, havia me esquecido de suas mortes e segui em frente com minha vida. Não adiantava ficar me remoendo sobre os mortos. Não sei onde aprendi isso ou se foi um refrão que nasceu em meu cérebro como o sal do mar. Era bom, no entanto, eu reivindicar a filosofia porque minhas duas irmãs, Danae e Keelan, de cinco e três anos respectivamente, morreram dois dias depois de meus pais. Eu as enterrei também. Elas morreram porque meus pais eram pecadores. Isso me foi dito pelo padre O’Neal, o padre local de nossa paróquia e o homem que por fim me levou para o santuário da igreja quando eu fiquei órfão. Usava seu nome no dedo médio entre os nomes de meus parentes mortos em ambos os lados, escrito em gaélico, a tinta esmaecendo agora, tão velha e malfeita que meu irmão, Nova, que dirigia o estúdio de tatuagem do Fallen, implorou para refazer para mim.

Eu não deixei. As tatuagens que eu usava queimadas na minha pele não eram arte. Não eram nem cicatrizes. Eram dores vivas, dores que escolhi ver todos os dias porque as vivi todos os dias. Esta era a minha tortura autoinfligida. Tive a mesma oportunidade com relação à dor. Eu gostava de dar apenas um pouco mais do que gostava de receber. Isso me lembrava, mesmo depois de todos os horrores da minha vida, que eu estava vivo, pelo menos para sentir isso. Tudo que eu conhecia era a angústia, então ela se tornou minha única alegria. Eu a sentia agora, sentado nessa praia escura, com frio nos ossos e dor no peito. Normalmente, não doía, ficar sozinho nas sombras. Estando sozinho eu estava a salvo. No controle do meu próprio ambiente, separado do escrutínio e do fluxo emocional dos outros. Era acompanhado que eu sofria. Então, por que eu sentia ácido em minhas gengivas, correndo pelos músculos enquanto me sentava no vento e na chuva e pagava meu próprio tipo de penitência. Por que me sentia tão só de uma maneira que nunca tinha me sentido antes? Sozinho de uma forma que me parecia profana e errada.

Sem pensar, olhei para janela do quarto de hóspedes no segundo andar da casa de Z. O quarto estava escuro, com a noite escura entre nós, mas eu tinha os olhos de um predador, e vi o que estava na janela entre as cortinas. Bea. Observando-me. Sempre. Sempre da maneira como eu a observava. Deveria ter me chocado, as semelhanças entre nós, pequenas semelhanças entre duas personalidades tão diferentes. No entanto, isso não chocou. Isso ressaltou por que eu não acreditava em religião. Na noção arcaica do bem contra o mal, céu contra inferno. Porque eu era a morte e o diabo, governante do submundo da vida, e Bea? Nem mesmo um anjo caído do palácio de Deus poderia ser tão brilhante e requintado como ela. Como era possível que pudéssemos sequer coexistir no mesmo planeta, muito menos entrar em algo que fosse mais do que isso? Isso era mais do que tudo. Antes dela, tinha vivido apenas para sentir a dor que era minha redenção e só então, depois de Zeus, para servir à única família que eu realmente conhecera. Agora, eu ainda vivia para eles.

Mas se eu tivesse um coração metafórico no meu peito, ele só batia por ela. Mo cuishle15. Minha pulsação. Eu a observei através da chuva, incapaz de ver sua expressão, mas sabendo de alguma forma que ela estava me chamando, uma sereia me atraindo mais profundamente em nossa fantasia compartilhada. Pisquei com força e desviei o olhar. Ela era minha, minha de uma forma que ecoava a cada batida do meu coração, mas ela podia ser minha propriedade sem sexo, sem maiores intimidades. Eu podia protegê-la até meu último suspiro, acompanhá-la através de sua vida da maneira que ela gostava de me seguir quando podia. Posso apenas existir como ela existia, e o prazer disso, de não estar totalmente sozinho, seria suficiente para mim. Muito mais do que suficiente. Ter mais era pecar de uma forma que até eu, como um pecador experiente, hesitava em fazer. Porque eu a arruinaria. Eu a evisceraria até que ela trouxesse a cabeça de um homem morto, só porque ele a havia prejudicado. Eu queimaria suas inibições até que ela me implorasse para profanar todos os lugares santos de seu corpo com minha língua, meu pau e a borda fria do meu aço. 15 Uma expressão que vem do irlandês, significa “meu pulso”, no sentido de “pulsar do coração”. Mas pode significar “querida”.

Roubaria toda a sua bondade, guloso como eu era por ela, ganancioso e depravado como eu tinha nascido e fui criado. Consumiria toda a sua alma até que ela fosse apenas uma casca. Viva, mas morta. Como eu. E não havia destino pior do que a morte para minha sombra ensolarada. Então, eu evitei a minha natureza, esquivei-me das armadilhas da tentação, e todos os dias segurei toda a minha vontade de ferro para não ceder ao monstro dentro de mim que ansiava por apenas uma amostra de sua carne. Um gosto nunca seria o suficiente. Meu pau endureceu em meu jeans só de pensar. Mesmo vendo aquele filho da puta do Eric tocando seu joelho como se tivesse o direito de saber a textura de sua pele nua quase me mandou a uma fúria da qual eu não poderia me recuperar. Eu queria cortar sua garganta por querê-la e, enquanto ele sangrava, trepar com Bea na mesa ao lado de seu corpo para que ela pudesse vê-lo morrer e saber que eu sempre a manteria a salvo dos outros, mesmo que a verdadeira ameaça à sua segurança estivesse entre suas pernas. Isso me fez sentir muito melhor quando coloquei minhas mãos no filho da puta mais tarde no clube. Quando eu o pendurei no teto e o trabalhei como um saco de pancadas humano. Normalmente, eu gostava das minhas facas, mas às vezes os punhos, íntimos e dolorosos batendo na carne de um homem, me satisfaziam.

Infelizmente, ele não sabia de nada. Ou não sabia fazer nada. Ele parecia saber demais sobre Bea. O suficiente para me fazer pensar se eu não era o único em sua vida com uma obsessão. Eu e o serial killer. Eric não se adequava ao perfil do assassino, mas eu não confiava tanto em psicologia quanto confiava em minha própria intuição. E algo me disse que aquele pequeno canalha não estava tramando nada de bom. Eu o alertei para ficar longe dela, mas me abstive de matá-lo naquele momento ou ameaçar fazer isso se ele não desse o fora de sua vida. Bea gostava do idiota por algum motivo e, embora normalmente eu não desse a mínima para o que as pessoas pensavam, a ideia de fazer aquele rosto bonito franzir a testa em decepção, deslizou pelas teclas do piano da minha espinha. Quando voltei a olhar para a janela, minutos depois, uma verificação de rotina, Bea ainda estava lá. E a luz estava acesa. Pisquei, esperando que a imagem fosse uma miragem, uma alucinação lançada pelo diabo para me tentar inexoravelmente para o único pecado que eu já temi. Mas ela ainda estava lá na janela. Mesmo com a luz de fundo, era óbvio o que ela estava fazendo. Despindo-se. Minha boca ficou seca enquanto eu a observava, incapaz de desviar meus olhos. Ela se movia devagar, segura, mas hesitante, como se nunca tivesse tirado a roupa para alguém antes.

Meu pau virou pedra instantaneamente com o pensamento. Ela era conhecida como a boa menina e tinha apenas vinte anos, mas o pensamento de sua virgindade nunca realmente passou pela minha cabeça. Eu não permiti. Agora, queimava minhas sinapses, deixando imagens sinistras marcadas em minha consciência. A visão de seu rosto conforme eu dava a ela o único prazer que ela já conheceu. Minhas mãos sujas, manchadas de sangue e ásperas pela violência em toda aquela carne pura, mapeando-a para que eu pudesse reivindicar cada centímetro seu como minha. Empurrando para dentro daquele calor apertado e ininterrupto, então puxando para ver seu sangue manchando meu pau. Porra, minha pele queimava como se eu estivesse sendo consumido pelo fogo, já nas entranhas do inferno, onde eu pertencia por querer, precisar, foder e possuir e arruinar Bea Lafayette. Ainda assim, eu assisti, afastando as fantasias da minha cabeça para que eu pudesse aproveitar o momento. A boa e pequena Bea se despindo para o grande homem mal. Primeiro, ela tirou o roupão de um ombro, depois o outro. Estremeceu delicadamente com a corrente de ar da janela, e eu sabia que seus mamilos seriam pequenos pontos duros apenas implorando por meus dentes. Seu cabelo caiu sobre o ombro, cortinas de ouro pálido de seda se separando sobre seus seios enquanto ela olhava para a camisola e então, dolorosamente devagar, juntou a bainha para puxar o pano sobre sua cabeça.

Meu pau chutou com uma pulsação própria, batendo brutalmente contra a armadilha da minha calça jeans, precisando se enterrar naquele corpo doce e apertado. Cristo, ela era linda pra caralho. Todos os membros longos e finos, uma cintura estreita que se alargava delicadamente em quadris arredondados emoldurando uma barriga lisa e plana. Eu sabia, sem ver, que ela teria uma penugem de pêssego sedosa abaixo daquele pequeno umbigo. Que a pele da parte interna das coxas seria tão pálida que eu poderia traçar as veias azuladas com minha faca e senti-las latejar na ponta da minha língua. Eu estava de pé, o guarda-chuva se soltou quando saí debaixo dele. O vento me deu um tapa no rosto, atingindo-me como pontas de faca com a chuva gelada. Eu não me mexi. Observei com tanta atenção que meus olhos queimaram. Bea afastou o cabelo do peito, revelando as curvas suaves e pequenas de seus seios e os mamilos duros que eu ansiava por sentir sob os dentes. Um rosnado estava na minha garganta, retumbando por mim. Aquele monstro, aquela besta, aquela coisa que não era humana dentro de mim rugia e rugia. Pegue-a, pegue-a, pegue-a. Destrua, destrua, destrua.

Tudo que eu podia imaginar era seu sangue virgem na minha pele, meu pau bagunçado com seus sucos. Tudo que eu conseguia pensar era o quanto eu poderia deixá-la mais suja. Queria pintar seu rosto doce com meu esperma, morder sua pele pálida até que machucasse como um pêssego e alisar meu corpo melado coberto de suor sobre o dela até que ela cheirasse a mim, a nós. Eu cerrei meus dentes, a dor me aterrando. Então ela se moveu de novo, tão docemente, tão hesitante, tão virginal. Uma pequena mão subiu de sua barriga, entre seus seios, em seguida, desceu completamente além da minha vista, sob a moldura da janela para descansar apenas onde seu Deus – o bastardo sortudo – sabia onde. Peguei o canivete do bolso e enfiei a ponta no centro da palma da mão, esperando que me acalmasse, me chamasse de volta à racionalidade. Porra, mas a dor só me lembrava que a dor pode ser boa, que havia prazer nisso e que minha doce Bea não sabia disso ainda, mas eu poderia mostrar a ela. Eu poderia ensiná-la. Não, não ensinar, não era paciente o suficiente para isso. Eu a mostraria dando o exemplo, eu a levaria lá para que ela pudesse ver por si mesma como eu poderia fazê-la sentir-se bem quando eu fazia coisas ruins à sua linda pele. Agora, corajosa, sabendo que ela me tinha como um peixe segurando a linha, ela voltou a seduzir-me. Um passo mais perto do vidro, seus peitos foram pressionados rente ao vidro frio, trazendo sua forma redonda e suas pontas mais escuras para uma definição mais clara.

Eu estava me movendo. Minhas botas bateram com força na areia molhada, chutando-a para cima atrás de mim enquanto eu perseguia os grãos sobre as rochas, depois sobre a trilha batida até a casa de Z. Evidentemente, ele acionou o alarme e trancou a porta, mas eu não me importei. Bea teria que estar no Fort Knox, porra, para me impedir de invadir e fodêla. Contornei o lado da casa, estudei qual caminho eu tomaria, então saltei para a grade da varanda, agarrei a beirada do beiral com as duas mãos e saltei no telhado íngreme. Os ladrilhos estavam escorregadios sob minhas botas pesadas, mas me concentrei na janela que sabia que ficava na lateral da casa, a janela onde Bea estava nua para mim, e me direcionei para lá rápido. A parte mais difícil era pular na lateral do telhado do alpendre no ângulo reto para pegar a janela com uma boa fixação. Nem pensei nisso, não claramente. Eu apenas pulei. Foi calculado, mas Bea não sabia disso. No momento em que eu peguei a borda da vidraça em uma mão e me adaptei para me levantar com as duas mãos, o guincho de ansiedade dela me alcançou através do vidro. Eu me segurei nas palmas das mãos, os braços estalando de tensão enquanto olhava no vidro para o rosto assustado de Bea. — Boo, — eu disse, articulando dramaticamente, caso ela não pudesse me ouvir por causa do barulho do vento.

Sua expressão congelada e ansiosa quebrou no meio e deu lugar a aquele sorriso que me iluminava de dentro para fora. — Abra, — eu disse a ela. Eu era mais forte do que a maioria, mas o vento forte e o ângulo estranho da saliência tornavam difícil manter minha posição. A boca rosada de Bea fez um pequeno '‘o’' enquanto tentava destrancar e levantar a janela. Entrei no quarto, ainda semiduro, até sentir o cheiro doce e frutado dela no ambiente, e então fiquei novamente como pedra. Antes que ela pudesse dizer uma palavra, eu estava caminhando em sua direção. Olhando para mim, com olhos arregalados e escuros de luxúria e medo. Instintivamente, sentindo-se perseguida e vulnerável, ela recuou pelo quarto. Eu sorri como um lobo, ciente de que estava ensopado, vestido de preto da cabeça aos pés, e rondando em sua direção como um predador. Eu não parei, não conseguia parar. Não. Nem mesmo se Zeus entrasse com suas soqueiras e espingardas. Eu ficaria feliz em levar um tiro na bunda se isso significasse que poderia apenas tocar em Bea por um segundo glorioso de merda. Finalmente, Bea saiu correndo no quarto, suas costas batendo na parede ao lado da porta do corredor com um baque suave. Um segundo depois, eu estava sobre ela, colado em seu corpo nu das coxas ao peito. Coloquei a mão em sua garganta para sentir sua pulsação contra meu polegar, para sentir a fragilidade de sua vida em minhas mãos. Seu pulso batia contra a minha pele como uma

tatuagem, que eu usaria dentro do meu peito da mesma forma que algumas pessoas usavam uma cruz religiosa. Esta, esta era a razão pela qual meu próprio coração batia. — Você está molhado, — ela ofegou suavemente, olhando para mim com aqueles grandes olhos azul-prateados com cílios grossos de ouro. — Você também, — eu observei, sem inflexão, apenas fato. — Deixei você molhada para mim, Pequena Sombra. Você adora imitar tudo que eu faço, isso não é diferente? Ela ofegou quando minha outra mão raspou ao longo de seu lado direito, unhas curtas espetando a pele em seu rastro, até que eu alcancei seu quadril. Observei seus olhos se dilatarem enquanto fazia uma pausa, em seguida os agarrei com mais força, provocando dor em sua pele, através da costura onde sua perna encontrava a virilha reta até o topo de sua boceta, suave com cachos macios. Meus dedos brincaram lá enquanto eu falava contra seus lábios entreabertos. — Devo verificar se estou certo? Ela tremia contra mim, tão quente e vívida contra meu corpo frio e sombrio. Eu a prendi e o triunfo animal feroz me incitou a transar com ela como despojo. Eu não faria. Não foderia. Eu estava acima dos impulsos básicos, mais sábio do que os impulsos do meu corpo. Quase.

Meu dedo médio mergulhou ligeiramente sobre o doce monte inchado de seu clitóris e, em seguida, puxei para trás. Saiu molhado. Eu sorri, a expressão como um corte de faca na minha boca enquanto eu puxava minha mão para trazer a evidência entre nós. — Molhada para mim, — eu disse, ao mesmo temo em que meu pau latejava e pulsava, e ainda assim não o esfreguei contra ela. — Estou, hum, — Bea engasgou, nervosa e ruborizada de vergonha. — Sinto muito. — Não, — eu cortei, carrancudo. — Eu quero você molhada. Eu quero você escorrendo pelas suas coxas para mim. Isto? — Levantei o dedo mergulhado em mel na minha boca e lentamente corri minha língua pela minha pele, sugando seus sucos com um gemido de aprovação. — Divino pra caralho. Ela se contorceu, tentando esfregar suas coxas. Enfiei minha perna entre elas para que ela fosse forçada contra a minha coxa revestida com jeans, boceta úmida no tecido áspero. Eu me apertei contra ela até que ela gemeu, então tomei sua boca ofegante, devorando-a do jeito que eu queria devorar sua doce boceta. — Eu vou comer você aqui, — eu rosnei contra sua boca. — Última chance de parar. — Não, — Bea gemeu contra mim, movendo-se por vontade própria contra minha perna, girando seus quadris em uma tentativa desesperada por mais força. — Eu quero isso. Você. Por favor, eu desejo você desde que descobri o que era desejar.

Porra, o poder dessas palavras marcou através de mim. A adoração nelas, a reverência. Todas aquelas palavras sagradas que eu bani do meu vocabulário voltaram com o gosto da boceta de Bea como água benta na minha língua. — Nós fazemos isso, você é minha, — eu jurei para ela com uma voz áspera rasgada do meu interior. As palavras me machucaram quando explodiram, mas eu queria a dor porque com Bea, eu sabia que só traria prazer. — Sua, — ela garantiu, com a cabeça inclinada para trás para que eu pudesse morder seu pescoço. — Eu já sou, sua. — Não, — eu discordei quando minha boca finalmente encontrou um mamilo pontudo e meus dentes cederam à vontade de mordê-los. Ela gemeu alto, batendo a cabeça na parede com um baque surdo enquanto se arqueava em minha boca. — Se eu te tornar minha, você permanece minha até que a morte venha para nós. Você é minha na noite e nas sombras onde sou o maldito rei. Você é minha na luz com sua família e amigos, ao lado da Morte como sua rainha. Se eu sou um assassino, você é uma assassina. Onde eu termino, você começa, porra. — Yin e yang, — ela murmurou quando eu movi para o outro seio, mordendo e sugando com força ao redor da ondulação pálida até que floresceu rosa como uma rosa. — Perséfone e Hades, — disse ela, a voz caindo em uma intimidade de veludo baixo enquanto ela agarrava meu cabelo, então eu olhei para ela através de seus seios. — Bea e Priest. — Eu vou te destruir, — prometi sem rodeios, excitação em minhas bolas, em meu peito, uma batida de percussão como tambores cerimoniais.

— Então me destrua, — ela concordou. — Puxe meu cabelo, morda meu pescoço, me deixe machucada e arruinada pelo seu amor até que cada centímetro do meu corpo esteja cantando sobre você. Afastei-me para arquear uma sobrancelha para ela, impressionado com sua audácia suja. Seu rubor se espalhou como vinho de suas bochechas para o peito, mas ela manteve o contato visual, apesar de seu constrangimento. — Tudo bem, — eu disse lentamente. — Minha Sombra quer ser arruinada, eu vou arruinar você. Ela respirou fundo quando eu puxei meu canivete e o abri, mas ela ficou parada, a respiração presa em seus pulmões, enquanto eu o arrastava de seu pescoço para baixo de seu esterno e barriga trêmula até o ápice de suas coxas. Eu caí de joelhos, meu nariz no nível de sua boceta para que eu pudesse me inclinar para frente e arrastar a lâmina através de seus cachos. — Cheira como o céu, — eu grunhi ao arrastar aquele doce almíscar para meus pulmões e deixei que ele incendiasse minha luxúria. Arrastei a faca levemente pela borda dos seus pelos até aquela pele delicada na parte interna de sua coxa e virilha. — Um dia, vou te depilar aqui para que você fique lisa e sensível. Cada respiração, cada passo do meu aço e do meu pênis fará você tremer e implorar por mais. Ela estremeceu, quase violentamente quando eu pressionei a faca com um pouco mais de força na protuberância macia de sua coxa, forte o suficiente para desenhar uma linha vermelha. Segui com a língua para aliviar a dor, depois fiz o mesmo do outro lado.

Ela tinha gosto de pêssego, a penugem suave, o suco doce e pegajoso escorrendo por suas coxas direto para a minha língua. A explosão de sabor me fez rosnar. — Você gosta da dor, não é mesmo? — Perguntei enquanto esculpia uma pequena linha na pele acima de seus cachos, sangue escorrendo levemente como joias sobre a ferida. Ela ofegou tão alto que ecoou sobre a chuva forte batendo na lateral da casa, o tamborilar caindo pela janela ainda aberta no piso de madeira. — Gosta da ideia de ser uma garota má comigo. — Oh, Deus, — ela gaguejou quando eu terminei de gravar meu nome em sua pele. Ela mal estava sangrando, a ferida não era profunda, mas eu a acalmei com minha língua, amando o cheiro de seu sangue, precisando de mais na minha boca. Querendo isso no meu pau enquanto eu a tomava pela primeira vez. — Você tem o diabo entre as coxas, Bea, — indiquei a ela quando prendi sua virilha à parede com minha mão estendida, e a faca pressionada entre nós, abrindo suas dobras de seda com a outra. — Se você idolatrar alguém, serei eu. Mergulhei minha cabeça para enfiar minha língua no centro de sua boceta e gemi em sua doce e melosa carne. Comi-a como um glutão, chupando com força seu clitóris repetidas vezes até que inchou e latejou raivosamente sob a minha língua, lapidando o suco que fluía doce de pêssego e pegajoso de seu interior. Suas mãos foram para meu cabelo, afastando-o do meu rosto, enrolando nas minhas orelhas. Isso me distraiu, feriu-me de uma maneira para a qual eu

não estava preparado e eu não gostei nada. Arrancando minha boca de sua boceta suculenta, olhei para ela. — Sem tocar, — eu ordenei. Foi demais, como unhas em um quadro-negro. — O quê? — ela se abaixou, seu lábio inferior inchado e escuro como uma ameixa, machucado pela maneira como ela mordeu para ficar quieta. — Sem. Tocar. Ela piscou. — Priest... — Não, — ordenei novamente antes de mergulhar de volta em sua boceta, fanático pelo gosto e sua sensação se movendo contra minha língua. Qualquer homem com complexo de Deus só precisava colocar a boca entre as coxas de uma mulher para se sentir como um rei filho da puta. Então suas mãos, novamente, enfiadas no meu cabelo, acariciando a barba na minha bochecha. Retornei para trás, com a faca batendo no chão enquanto eu a girava e a empurrava com força contra a parede. Ela estremeceu, mas me deixou fazer o que eu queria. Meu pau chorava lágrimas salgadas em meu jeans, implorando para ser solto. Em vez disso, eu desfiz a fita de seda rosa amarrada em seu ventre e a enrolei completamente entre seus dois pulsos depois disso. Uma vez presa em um laço com um nó elaborado, considerei virá-la de costas e então vi sua bunda. Foda-se.

Um verdadeiro pêssego, redondo e empinado, inchado com covinhas gêmeas em suas costas em um relevo perfeito e saltitante. Eu gemi, ajustando meu pau enquanto passava a mão áspera sobre a porra da onda atrevida. — Você me obedece, — eu disse a ela sombriamente, inclinando-me e mordiscando sua orelha enquanto continuava a massagear sua bunda com as duas mãos. — Quando você estiver nua para mim, seu corpo é meu, e farei com ele o que eu quiser. — Sim, — ela gemeu, tão necessitada que amoleceu em minhas mãos, embora eu tivesse certeza de que ninguém nunca a havia tocado assim. — Eu quero que você faça o que quiser comigo. — Perigoso, — sussurrei antes de morder seu pescoço para mantê-la imóvel conforme mergulhava minha mão entre as curvas de sua bunda para deslizar um dedo dentro de sua boceta apertada. — E se eu quisesse te manter aqui presa à parede, com as mãos amarradas enquanto enfiava meu pau grosso em sua boceta? E se eu quisesse te foder forte e rápido, mesmo sabendo que você nunca tomou um pau antes? Nós dois gememos à medida que ela ficava ainda mais encharcada, vazando por toda a minha mão. Minha garota boazinha, a Pequena Sombra imunda adorava minha boca suja. Eu a ensinaria a amar cada coisa imunda que eu pudesse pensar. — Faça isso, — ela implorou lindamente. — Por favor, eu quero. Eu... eu quero que você seja duro comigo. Conseguia sentir as correntes quebrando, a besta chacoalhando livre e rugindo com triunfo.

E eu estava perdido. Perdendo o sentido e a razão. Perdido para qualquer coisa, exceto a sensação da nudez de Bea contra mim enquanto eu desafivelava, abria o zíper e batia meu pau livre contra o vinco em sua bunda, uma, duas vezes, para que ela pudesse senti-lo grosso e pesado. — Vou enfiar em você este pau, — prometi a ela enquanto dirigia dois dedos em seu calor e a observei resistir e se contorcer contra eles. — Mal posso esperar para ver seu sangue no meu pau. — Oh, meu Deus, — ela ofegou, pressionando sua bochecha na parede, espalhando mais suas pernas. — Acho que poderia gozar assim. — Apenas minha voz em seu ouvido e meus dentes em sua pele, — eu persuadi enquanto arrancava meus dedos do seu calor e os enrolava em torno de meu eixo de aço. — Pense em quão forte gozará quando eu esticar você com meu pau. Ela continuou clamando a Deus quando deslizei a cabeça do meu pau em suas dobras escorregadias algumas vezes antes de encaixá-lo em sua entrada. A conversa acabou. A visão de meu pau entalhado contra seu minúsculo buraco, sabendo que eu ia preencher sua luz com minha escuridão, possuí-la como um demônio de dentro para fora com minha perversidade fez meu pau chutar na porta da sua boceta, com pré-sêmen enriquecendo a bagunça ali.

Prendi seus longos cabelos em torno do meu punho, depois a abracei arqueada, esticada com a tensão, pronta para saltar em movimento, para o auge. — Minha, — rosnei enquanto empurrava selvagemente para frente, esmagando a barreira frágil que bloqueava minha entrada, à medida que mergulhava minhas bolas nas profundezas da boceta aconchegante de Bea. Durante sua batalha para manter-se calada, ela fez ruídos sufocantes e ofegantes; e um grito sufocado desesperado que fez minhas bolas aguarem por mais. Eu queria que ela não só se dobrasse sob minhas mãos, mas também que quebrasse. Destrua, destrua, destrua. Não fiquei imóvel. Eu não lhe dei tempo para se acostumar. Puxei-a mais forte pelos cabelos com uma mão e movi a outra do quadril para baixo para cobrir seus cachos úmidos, separando ao redor de seu clitóris, acariciando ao redor do ponto para adicionar mais pressão à nossa conexão. Pela primeira vez, quase trinta anos de vida, eu senti como se estivesse exatamente

onde

eu

pertencia. Corrompendo

um

anjo

em

pecado,

acorrentando-a a mim para que ela nunca pudesse voltar de onde veio. Destrua, destrua, destrua. O mantra ecoou com cada batida da minha pulsação no meu peito, no meu pau, na minha caixa de voz. Eu queria rugir de triunfo, fodê-la até que ela chorasse e gritasse para eu parar, embora quisesse mais.

Mas Zeus estava em casa. O tabu de foder sua cunhada muito mais nova nem sequer foi registrado. Não me importei se ele nos ouviu ou nos viu. Deixe-o. Ela era minha, minha, minha, e eu queria que todos soubessem disso. Minhas marcas em sua pele como selos, meus beijos em sua boca como batom da cor de uma contusão. Desejei que meu nome gravado na pele de seu quadril fosse uma cicatriz permanente, desejei poder marcá-la, tatuá-la, de uma forma que nunca apagaria, mesmo se eu morresse. Eu queria que ela vivesse o resto de sua vida com a minha marca em sua pele antes pura. — E...eu não posso, — Bea sussurrou enquanto eu cruelmente usava sua boceta apertada e angulava um dedo sobre seu clitóris. — Eu sinto que vou quebrar. Larguei meu punho do seu cabelo para encostá-la em mim, segurando a garganta na minha mão para que eu pudesse incliná-la lateralmente para darlhe um beijo ardente na boca. Engoli seus gemidos ofegantes e senti seu pulso tremer loucamente sob meu polegar. — Então quebre. Eu quero sentir seu gozo e seu sangue encharcar meu pau. E Bea? Vou te recompensar gozando bem no fundo da sua boceta. — Puta merda, — ela assobiou conforme a boceta dela se comprimia no meu próximo impulso, e todo seu corpo se preparava para gozar. Jamais havia me sentido tão como um Deus do submundo ao sentir seu tremor por mim, então, finalmente, em uma série de exclamações e palavras emaranhadas, ela gozou.

O respingo de seu orgasmo no meu pau parecia um batismo, como uma revelação sagrada. Me acomodei nela enquanto minha espinha formigava, minhas bolas se contraíram, e então gozei, a semente quente jorrando na entrada de seu útero. Eu a segurei com força contra mim, com tanta força que nossos corações pareciam bater como um quando chegamos ao clímax simultaneamente. E eu conheci o céu. Pela primeira vez na minha vida, sabia por que as pessoas acreditavam em alguma ilusão, e eu queria acreditar nisso também. Porque, isto? Bea em meus braços, em meu pau, tímida e meiga, enfiando sua cabeça no meu pescoço e ombro, exausta? Este foi um prazer mais luminoso do que qualquer outro que eu já havia experimentado. Ele me cegou, forçando-me a piscar, piscar os olhos para longe da sensação de calor e palpitação. Senti algo como se a mão do destino estivesse em meu coração e me recusei a soltar. Antes de Bea, eu nunca estive tão consciente do órgão em meu peito que os românticos adoravam hiperbolizar. A ideia de que o coração podia partir ou apertar, ignorar uma batida de uma forma que significasse mais do que apenas uma palpitação perigosa, era simplesmente um disparate gritante. Agora, eu estava aprendendo que havia alguma verdade nisso, um núcleo, como geralmente havia, no coração de cada lenda.

Com Bea, eu nunca estive tão ciente desse órgão bombeador de sangue e de seu desempenho como se fosse tocado sob o canto da sereia de sua influência. — Acho que não consigo andar, — refletiu Bea, a sonolência diluindo seu comentário atrevido. Eu a ignorei. Porque algo estava acontecendo comigo, algo que ameaçava sobrecarregar tudo. Aquelas bestas em suas correntes e gaiolas no fundo da minha mente chacoalharam horrivelmente, ameaçando se libertar. Afastei-me de Bea como se tivesse sido queimado. Ela se virou para mim, cobrindo instintivamente os seios e o sexo inchado vazando. Algo na minha expressão a fez estremecer. Mas eu só podia olhar fixamente para ela, engolindo rápido e pesadamente novamente e novamente para forçar os demônios a recuarem. — Priest, — ela disse suavemente, indagando, precisando que eu amenizasse sua vulnerabilidade. Concentrei-me na minha respiração, o arrasto forte em meus pulmões e soltando pela minha boca. Houve uma rachadura na base da minha vida ameaçando desmoronar tudo que eu já conheci. Uma parte até então desconhecida do meu cérebro me lembrou que a vida crescia nas fendas, a terra empurrando essas imperfeições para preenchê-las com verdes e flores.

Ainda assim, o pânico estalou e estourou entre minhas orelhas, obscurecendo minha visão com manchas pretas. — Priest, — Bea repetiu, mais forte desta vez. Ela se moveu em minha direção, uma forma borrada em meu olhar turvo. Eu vacilei quando ela se aproximou, segurando sua mão com muita força. Não se esquivando da maldade em meu olhar quando nossos olhos se encontraram. Em vez disso, ergueu o queixo, para que pudesse manter contato. — Priest, está tudo bem. Meus lábios puxaram para trás sobre os dentes, meus pensamentos ficaram estáticos, então apenas o instinto reinou. Olhei para ela, com um ruído surdo de advertência na minha garganta. Eu apertei sua mão com mais força até sentir cada contorno dos ossos delicados sob sua pele. Eu queria algo. Algo mais do que destruir, destruir, destruir. Meu pau, revestido com seus sucos, com seu sangue, esfriou com o ar frio que entrava pela janela aberta, lembrando-me que eu tinha acabado de tirar brutalmente sua virgindade. Um homem normal a teria acariciado e aconchegado, ou algo assim. Eu não era esse homem. Em vez disso, fiquei em pânico e furioso comigo mesmo ou com algum tipo de poder superior, por me dar uma obsessão por uma mulher que merecia foder alguém muito melhor do que eu. Era tarde demais para isso agora.

Já tinha o gosto dela no fundo da minha boca, a sensação dela no meu pau, e aquela voz doce e leve na minha cabeça me persuadindo a tomá-la com mais força. Eu ficaria assombrado com ela para sempre. E eu já era assombrado por tantos demônios, será que eu não merecia possuir só um? Possuir apenas uma coisa gloriosa em minha vida, só para mim? Bea leu o tumulto em meus olhos e se aproximou, puxando sua mão e a minha juntas até seu pescoço. Somente quando meus dedos se torceram, ela deslizou-a para fora da minha, então eu a coloquei ali novamente. Sua pulsação bateu forte contra minha palma.  Sua vida em minhas mãos. Fechei meus olhos contra a queimação desse pensamento em minha cabeça, a maneira como ele queimava minha massa cinzenta e descia pela minha espinha, vértebra por vértebra, antes de se estabelecer como um peso morto em meu intestino. — Homens melhores poderiam amar você, — eu disse, minha voz gutural, mas forte. Abri meus olhos e a prendi com o peso da minha convicção. — Mas agora, vou matar qualquer um que tentar. Bea fez um ruído suave no fundo da garganta que de alguma forma se traduziu em puro alívio e alegria. Como se ser possuída por mim, por um psicopata, fosse tudo o que ela sempre quis. Eu me afastei antes de poder seguir meu impulso para fodê-la na cama, fodê-la até que chorasse, fodê-la até que se transformasse definitivamente por

meu corpo e contra seu corpo. Eu não estava acostumado a refrear meus impulsos, e era mais difícil do que eu pensava. — Você não vai passar a noite, — ela sussurrou, sem fazer uma pergunta. — Não, — concordei, já me movendo em direção à janela, sabendo que a tempestade de inverno forte lá fora era mais segura para mim do que o interior perfumado do seu quarto. — Mas estarei observando.

Capítulo Treze Bea

Acordei sozinha e com dores. Meus olhos se fixaram turvamente nas espirais das vigas de madeira no teto enquanto eu corria meus dedos levemente pelo meu torso nu até o centro da dor. Minha boceta estava tenra, pétalas de seda esmagadas sob a força da selvageria de Priest, abrindo-se rasgando por sua ereção espessa e firme. Eu ainda estava molhada, vazando. Meus dedos brincaram na bagunça com ternura. Era bom, tanto o leve estímulo de prazer quanto a provocação de dor. Eu gostei disso. Não, “gostei” era uma palavra muito mansa. Como “legal” ou “tudo bem.” Não houve nenhuma moderação aplicada ao que aconteceu entre Priest e eu ontem à noite. Foi vil, selvagem e animal, e completamente fora do meu controle. Eu me submeti tão facilmente às suas demandas como se ele tivesse uma faca pressionada em minha garganta em uma ameaça. Só que ele não precisava me ameaçar. E a faca? Ela foi pressionada em meus seios e coxas, esculpindo em minha pele tão levemente que mal deixou uma casca. Estremeci quando me

lembrei da maneira como sua língua quente lambeu o sangue. Isso me lembrou um predador matando, lambendo o resíduo antes de consumir sua presa inteira. Consumida. Isso é o que ele fez comigo. Fui devorada por sua intensa paixão, envolta nas chamas de sua necessidade ardente de me levar como pudesse, de me marcar e possuir cada centímetro meu. Ele não disse nenhuma dessas coisas em palavras, mas eu as li no aperto possessivo de suas mãos e dentes na minha pele. Na maneira como ele adorou me arruinar para qualquer outro homem além dele. E foi bem sucedido. Integralmente. Talvez, lamentavelmente. Porque então ele partiu, entrando na noite como um fantasma dissolvido nas sombras. Sem palavras suaves, sem beijos, sem cuidados carinhosos no meu corpo devastado. Algo como um ataque de pânico em seus olhos, uma mão na minha garganta e uma frase cintilante, que segurei delicadamente entre minhas mãos como se fosse uma esfera de vidro quebrável. Homens melhores poderiam amar você, mas agora, vou matar qualquer um que tentar. Não era exatamente uma proclamação de amor. Mas estava perto. Era Priest.

E era mais do que suficiente para mim. Eu sorri tão largamente que meus lábios cortaram dolorosamente minhas bochechas, e isso não foi o suficiente, então comecei a rir. Em seguida, as risadas se transformaram em gargalhadas de cólicas estomacais. Rolei de lado na cama enquanto ria, segurando minha barriga enquanto as lágrimas escorriam pelo meu rosto. Isso era felicidade, pensei. Era disso que tratavam todos aqueles poemas pegajosos que King escreveu para Cressida. Por causa desse sentimento que existia em minhas entranhas como uma entidade viva e respirando, Lila continuou a amar Nova ao longo dos anos e traumas. Era o que eu via sempre que olhava para Loulou e Zeus em uma sala quando estavam juntos, aquele olhar indefinível em seus olhos. A forma como a química de Harleigh Rose e Lion zumbia em qualquer espaço em que coabitassem como uma tempestade elétrica confinada em sua órbita. Isso. Isso. Isso. E agora, eu tinha. Eu. A pequena Bea Lafayette. A reflexão tardia, de “menos que,” a segunda melhor. Eu tinha a atenção do homem mais lindo que já conheci. Não, mais do que isso. Não apenas sua atenção, não apenas alguma paixão boba ou algum ataque passageiro de luxúria. Eu tinha sua obsessão.

E, ao contrário da maioria, eu sabia o que era uma obsessão para um psicopata, para um homem como Priest. Ele me via quando fechava os olhos e pensava em mim nos espaços negros entre outros pensamentos. Ele sairia de seu caminho para me perseguir, para me observar para que ele pudesse me encontrar, apreciar minha vida de dentro para fora. Não havia nada que eu pudesse fazer, eu sabia, que Priest não ficaria intrigado. Eu sabia disso porque era uma estudante de psicologia, mas ainda mais, eu sabia disso porque me sentia assim também. Isso me fez pensar se, por baixo de todas as fitas rosa e babados brancos, eu poderia ser apenas um pouco psicopata. Dois psicopatas apaixonados, pensei e ri mais alto. — Ainda bem que todos já estavam acordados, — Loulou falou lentamente, chamando minha atenção para a porta onde ela se apoiou com a mão na proeminência de seu quadril e suas sobrancelhas levantadas. — Você está gritando pela casa toda. Eu bufei um pouco enquanto me acalmava, enxugando as lágrimas do meu rosto com meus polegares antes de lançar um sorriso enorme para ela. — Desculpa. — Ok, devia se desculpar mesmo, — ela observou secamente. — Sente muito por acordar Z e eu com seu encontro da meia-noite também ontem à noite? Eu pisquei para ela, chocada. Honestamente, pensei que tínhamos ficado relativamente quietos, especialmente por causa da tempestade que atingia a casa. Eu também teria

pensado, se eles nos ouvissem, eles viriam a... não sei... investigar, no mínimo, ou atirar na cara de Priest por me tocar. Com um suspiro pesado, Loulou entrou no quarto e fechou a porta, depois se dirigiu à cama onde ela se sentou gentilmente a meu lado. O desgosto flamejava em seu belo rosto enquanto estudava os lençóis e eu percebi que ela procurava evidências de sexo neles. Rapidamente, puxei o edredom até o queixo e olhei fixamente para ela. — Bea, — disse com um suspiro aborrecido, depois parou para passar a mão pelos longos cabelos loiros, do mesmo tom e espessura dos meus. — Tudo em mim espera que o homem aqui ontem à noite fosse algum universitário de boas maneiras de uma de suas aulas. Por favor, me diga que estou certa? Mordi meu lábio e foi resposta suficiente para ela. Ela caiu ligeiramente, e eu observei sua mão enquanto ela brincava com a ponta do edredom cinza-carvão. — Sim, bem, eu sabia que era um tiro no escuro. — Observei enquanto respirava fundo para se preparar para nossa inevitável briga. — O que diabos você estava pensando, Bea? Se entregou à Priest McKenna? Ele é dez anos mais velho que você e tão fora da lei quanto pode ser. Revirei meus olhos com tanta força que doeram. — Você não tem absolutamente nenhum direito de me repreender. Você não é minha mãe. E realmente quer dar uma de hipócrita? Seu marido é dezenove anos mais velho que você, e você se casou com ele quando tinha dezessete anos e ainda estava no último ano do ensino médio!

— Isso é completamente diferente, e você sabe disso, — ela argumentou, inclinando-se para frente como se a proximidade de seu argumento por si só pudesse mudar minha mente. — Zeus era um pai, um homem leal e amoroso que por acaso foi para a prisão por matar um homem por me salvar. Ele é afetuoso e amoroso e faria qualquer coisa por mim. — Não estou insultando Zeus, — eu disse, levantando as mãos em exasperação porque minha irmã sempre foi muito rápida em defender o marido. — Ele é todas essas coisas. Mas por que Priest não pode ser essas coisas também? Loulou piscou para mim. — Ele é um assassino, Bea. Não alguém que matou alguém porque foi obrigado, mas alguém que opta por acabar com a vida das pessoas porque gosta. — Ele mata pessoas pelo clube que você ama e cuida, — eu a lembrei com altivez, odiando-a por um momento vicioso e fugaz. Eu já odiei Loulou antes, então isso não era novo. Éramos irmãs. Quem disse que irmãs sempre se deram bem, obviamente não tinha uma irmã. Brigamos muito, mas no final sempre amávamos mais. Eu sabia, no final, talvez não hoje, mas em algum momento no futuro, Loulou entenderia. — Ele mataria de qualquer maneira. Zeus apenas lhe dá um motivo. — Seus olhos eram de um azul tão grande e sincero que pareciam infantis, lembrando-me de todos aqueles anos que ela havia passado no hospital, seus olhos eram a única mancha de cor no quarto branco monótono.

— E olhei, e eis um cavalo amarelo: e o nome que estava assentado sobre ele era Morte, e o Inferno o seguia. E foi-lhes dado poder sobre a quarta parte da terra, para matar com espada, e com fome, e com morte, e com os animais da terra. — Eu citei Apocalipse 6:8 na Bíblia. O versículo sempre ressoou em mim. Mesmo quando menina, eu me perguntava por que não havia simpatia pela Morte. Ele tinha o compromisso de governar um reino de almas inquietas que nunca amariam a sua. Quão terrivelmente solitário era isso? — Você sempre usou óculos cor-de-rosa, até mesmo sobre assuntos mórbidos como este. Não pode fazer tudo brilhar com sol e rosas. Algumas coisas não foram feitas para serem romantizadas, e a morte não é romântica, Bea, — Loulou cuspiu. — Acredite em mim, como alguém que flertou demais com isso, eu sei disso com certeza. — A morte torna tudo romântico, — retruquei. — Você não vê? A ameaça de morte dá sentido à vida. Isso dá toda a sua deliciosa tensão. Faz um amor como aquele que você e Z compartilham épico. Aquele homem matou por você na primeira vez que a viu. Ele raspou a cabeça quando pensou que você perderia o cabelo para a quimioterapia e ele a perderia para o câncer. E Mute? Ele morreu por você, e você sabe o que todos nós sabemos, que é aquele homem doce e perfeito que morreu feliz porque sabia que tinha salvo você. Fiz uma pausa para respirar fundo, sentindo como se estivesse abrindo minha alma para Lou. Esperando que ela pudesse finalmente entender Priest. Me entender. Talvez até nos entender.

— A morte não é nada se não romântica, Lou. E se você acha que é loucura da minha parte amar um homem que a personifica, então claramente você não entende que é um homem assim que torna o melhor amante. Ele sabe que as chances de sair desta vida com vida são inexistentes. Ele sabe como sugar até a última gota de cada momento, como tratar as coisas boas que vêm como se fossem milagrosas porque são. Ele sabe o que é importante porque ele fica em jogo e faria qualquer coisa, literalmente qualquer coisa, pelas pessoas a quem se sente leal. Respirei fundo e nivelei minha irmã mais velha com meu golpe final.  — O que me dói tanto é que ele faria isso por você. Qualquer coisa. Absolutamente qualquer coisa apenas para ter certeza de que você estivesse segura porque você é de Z, mas também porque, de outras maneiras, você também é dele. Quer você perceba ou não. Quer você aceite ou não, Priest é o tipo de homem que morreria facilmente pelas pessoas pelas quais mata. Encarei minha irmã mais velha impassivelmente enquanto ela olhava para mim, as emoções brincando em seus olhos azul-celestes como uma tela de cinema. Raiva, frustração, tristeza, impotência e, finalmente, um tipo relutante de aceitação temporária que transformou aquele azul em pedra molhada. — Você sempre coletou animais perdidos, quanto mais mutilados, melhor. Não pode fazer de todo monstro um animal de estimação, Bea. Admito que ainda não foi mordida, mas isso não significa que não será.  Priest não está quebrado só porque precisa de um lar. Priest está quebrado de uma forma que realmente, eu não acho que você possa consertar. — Não quero consertá-lo, — eu disse a ela honestamente. — Eu só quero amá-lo.

Lou estremeceu levemente, em seguida, suspirou, a longa fita caindo sobre a cama entre nós, uma espécie de bandeira branca. — É difícil ver a melhor mulher que conheci tomar uma decisão que eu sinceramente acredito que vai partir seu coração ou, pior, roubar sua vida. Eu não vou mentir. Não confio em Priest com o seu coração e gostaria que você também não. Mas, você está certa, não sou sua mãe e não sou sua guardiã. — Seu sorriso era pequeno, distorcido e quebrado quando ela se lembrou de seu passado. — Eu nunca impediria você daquilo que faz seu coração cantar. Phillipa e Benjamin tentaram me afastar de Zeus e às vezes, nas noites ruins, penso em como minha vida seria vazia sem ele, sem a família que ele me deu e os filhos que fizemos juntos. Eu, se houver uma chance mínima de você ter algo assim com o assassino dos Fallen, não vou ficar no seu caminho. Um flash de fogo ou irritação formigou minha nuca, mas eu segurei minha réplica. Eu queria dizer a ela que ela era sábia, mas nisso ela estava tão errada. Tão errada que fisicamente me machucou ouvi-la falar do Priest assim. Eu queria dizer a ela o que eu acreditava. Que até a Morte tinha coração. Simplesmente não tinha ninguém que pudesse aceitar isso, então não foi perdoado. Eu não disse nada disso. Éramos irmãs, mas não éramos iguais. Por muito tempo, acreditei que sim, porque as pessoas sempre me diziam que eu era muito parecida com minha irmã. Estava apenas implícito, às vezes abertamente, que eu era uma pálida imitação. Mas eu aprendi da maneira mais difícil a não comparar nosso relacionamento.

Não precisávamos ser traços contrários. Nós duas poderíamos ser lindas, inteligentes, felizes. De diferentes maneiras. Decidi pegar uma página do livro Priest e mostrar a ela por meio de ações, não de palavras. Elas eram muito mais poderosas. Então, apenas sorri levemente, envolvendo o amor da minha irmã em volta do meu coração dolorido, e me inclinei para puxá-la para um abraço. Ela caiu nele como se estivesse equilibrada e pronta, exalando do jeito que alguém fazia quando prendia a respiração. Eu ri um pouco enquanto ela se agarrava ao meu cabelo e depois ficava um pouco mais calma para conseguir nos separar. — Se você parasse de pensar em quem é Priest e se concentrasse em quem eu poderia ser, acho que seria mais fácil... sabe, ele me chama de sua ‘Pequena Sombra’, — confessei na nuvem macia de seu cabelo. Da maneira que eu poderia ter feito na confissão na Igreja Primeira Luz. — Se isso ajudar – pense nisso dessa maneira. Eu posso ser sua garota do sol, mas tudo tem uma sombra. Priest é a minha.

 

— O que é fé?

A Igreja da Primeira Luz estava quieta, o silêncio ecoante, quase ressonante de um lugar sagrado que parecia veludo contra sua pele e um enchimento macio em seus ouvidos. Os rostos dos meninos e meninas de oito a dez anos de idade no semicírculo se curvando de cada lado da minha cadeira estavam plácidos de consideração. Eles consideraram minha pergunta formulada suavemente como se fosse a própria escritura. Eles eram bons garotos, os garotos com cabelo arrumado e camisas de botões apertadas que os faziam parecer caricaturas um tanto tolas e adoráveis de homens mais velhos, enquanto as garotas pareciam imaculadamente moldadas de acordo com suas mães, assim como eu antes. Não há um rebelde entre eles. Exceto… — Fé é a crença em algo que você não pode ver, ouvir ou tocar, — Sammy Radcliff declarou, sua voz petulante, seu queixo em um ângulo de desafio. — A fé é para pessoas que não se importam em obter respostas reais para suas perguntas. Pisquei para o menino ruivo de dez anos que era um dos maiores amigos da minha irmã. Ele era autista, mas funcionava muito bem, especialmente depois de trabalhar anos com seus terapeutas e Loulou no Centro de Autismo. Eu não o conhecia muito bem. Eu tendia a evitar relacionamentos íntimos com pessoas com quem Loulou já tinha se ligado para evitar a comparação inevitável. — Não diga isso, idiota, — Ethan Mannix retrucou, inclinando-se para frente em seu assento para franzir a testa. — Você quer que Deus o derrube?

— Ei, ei, — eu acalmei. — Como nos tratamos? Com compaixão e bondade, mesmo que alguém não compartilhe das mesmas opiniões que nós. Sammy, talvez você possa explicar por que se sente assim? Queria que ele explicasse para que as crianças pudessem ter um discurso verdadeiro sobre o assunto, mas também porque concordei com ele até certo ponto. A fé não era receber respostas. Sammy piscou seus olhos arregalados. — Se você quer respostas, por que pergunta a alguém que não lhe dará respostas? Havia lógica nisso, ao mesmo tempo simples e profunda. Estudei Sammy, com seu cabelo desgrenhado e a mancha de algo em sua camisa contrastando com o propósito em seu olhar. Ele era uma contradição e eu me peguei sorrindo. Eu gostava de contradições. — Mas a fé não se trata de respostas concretas, Sammy, — expliquei, inclinando-me para a frente para aumentar a intimidade de nossa conversa. Lembrei-me vagamente de que Lou uma vez disse que Sammy gostava de ser tocado e acariciado. Meus dedos se contraíram para empurrar para trás uma mecha elástica daquele cabelo de fogo, apenas alguns tons mais claro que o de Priest. — A fé é sobre sensação. Você diz que não pode acreditar em algo que não pode ver ou tocar, mas você já ouviu falar de um sexto sentido? O sentido do espírito. Você pode sentir fé em seu corpo da mesma forma que sente tristeza ou culpa, felicidade ou melancolia. Quando penso nessas coisas em que acredito, não apenas em Deus, mas em minha

família, meus amigos e minha fé no amor deles por mim, sinto isso irradiar em meu peito. Eu bati minha mão no meu coração, então espalhei meus dedos largos, observando enquanto Sammy rastreava o movimento, enquanto ele inclinava a cabeça ligeiramente em outra imitação fraca do movimento mais robótico de Priest. O resto das crianças ouviu extasiado, até mesmo Billy Huxley, minguado e com os olhos vermelhos pela falta de sono porque seu pobre pai estava morrendo de um problema cardíaco, parecia animado com minhas palavras. — Você pode sentir isso, Sammy? — Eu perguntei suavemente. — Você pode sentir isso quando pensa em alguém em quem acredita? — Sim. — Sua resposta foi imediata. — Minha mãe. Minha melhor amiga, Loulou. Meu amigo Zeus. — Ele fez uma pausa, olhou pela janela de vitral em frente a ele e deu de ombros. — Loulou disse que meu melhor amigo, Mute, agora é um anjo e cuida de nós. Eu acredito nele. Minha voz saiu da minha garganta, despencando no chão como um elevador quebrado caindo no poço. Eu engoli compulsivamente para colocá-la de volta em funcionamento para que eu pudesse responder ao menino e suas palavras adoráveis. — É assim que a fé funciona, Sammy. Exatamente assim. 'Ora, a fé é o firme fundamento das coisas que se esperam, e a prova das coisas que não se veem,' — citei Hebreus 11: 1. — É ter uma conexão inexplicável com alguém ou coisa diferente de você. Muitas pessoas se sentem assim em relação a Deus. Ele pode nem sempre ser benevolente, mas no final, Ele se preocupa com aqueles que acreditam nele.

Os lábios de Sammy se torceram enquanto ele considerava isso, uma perna chutando para frente e para trás através das pernas da cadeira compulsivamente. — Certo. Como aquela palavra poderia parecer uma bênção estava além de mim, mas quando sorri para ele, era uma expressão de gratidão. Era assim que eu também me sentia em relação à fé. Fé em algum poder superior. Fé em Loulou para aceitar meu ponto de vista. Fé no The Fallen para me manter a salvo do serial killer com um olho em mim. Fé no Priest. Sempre fé nele. Na verdade, se alguém tinha me ensinado sobre devoção, era o segurança ruivo. Por anos, eu o amei de longe, investindo em uma ideia mais do que no homem apenas esperando que ele pudesse ser quem eu acreditava que ele fosse. Agora, minha fé estava sendo recompensada de maneiras que eu nunca poderia ter conhecido. Porque ele não era apenas o homem em minhas fantasias sombrias. Ele era mais. Ele era melhor do que qualquer coisa que meu cérebro tinha a capacidade de conjurar. Infinitamente complexo e misterioso, muito parecido com Deus. Eu bufei baixinho e alterei minha declaração.

Muito parecido com o Deus do Antigo Testamento: cruel e implacável, um Deus que feriu e abateu os descrentes com selvageria sem paralelo e recompensou apenas alguns poucos preciosos com recompensas inestimáveis. Este também era o Deus que o assassino em série parecia seguir. Ele estava matando suas vítimas, me ocorreu, da mesma forma que Deus matou pecadores na Bíblia. A concubina foi estuprada e consumida por uma matilha de cães. Jezabel foi assassinada e dividida em doze pedaços. Eu fiz uma careta, olhando para o nada enquanto seguia a trilha do pensamento, perguntando-me se eu deveria ligar para o Lion e o oficial Hutchinson para discutir isso, embora eles provavelmente soubessem. — Se me permite? Eu me assustei quando Tabitha apareceu ao meu lado com um sorriso suave, e então acenei para ela continuar. Ela direcionou aquele sorriso adorável para o meu grupo, sua própria Bíblia agarrada ao peito. — Para adicionar algum debate a esta conversa. Tenho uma teoria diferente sobre a fé que adoraria discutir. Em Tiago 2:20, está escrito: ‘Mas você quer saber, ó homem insensato, que a fé sem as obras é morta?’ O que você acha que isso significa? Billy se mexeu, suas pálpebras pesadas se alargando com ansiedade para provar seu valor para a linda Tabitha Linely. — Isso significa que você tem que provar sua fé a Deus. Ela sorriu calorosamente para ele. — Exatamente.

— Por que temos que provar nossa fé Nele se Ele não tem que fazer o mesmo? — Sammy interrompeu com uma carranca. — Isso não faz sentido. Algo cintilou no rosto de Tabby, uma hesitação perseguida por algo mais escuro. Eu fiz uma careta para ela, perguntando-me pela primeira vez se aquelas águas plácidas escondiam algo mais profundo. — Você não pode manter a fé a menos que seja recompensado. Deus nos recompensa com Seu amor e, em troca, mostramos a Ele nosso amor por meio da ação. Por que oramos? Por que punimos pecadores? Os olhos de Sammy se arregalaram como moedas gêmeas. — Nós não punimos pecadores aqui, punimos? — Nós deveríamos, — Billy declarou, um tanto ferozmente. Eu me perguntei se era a boa aparência de Tabby ou sua própria associação com a condição de seu pai que o deixava veemente. — Nós não punimos pecadores aqui, — eu concordei, deslizando um olho de lado para Tabby para diminuir seu agir. — A Igreja da Primeira Luz trata de aceitação e orientação, não seguindo rigorosamente um conjunto de regras. — Nem todas as pessoas que frequentam a Igreja irão para o céu, — anunciou Tabby. — A oração não é suficiente para garantir a passagem para o céu. Você deve prestar homenagem. — Tabby, — eu disse com um sorriso meloso de advertência. Ela sempre foi uma zelota16, um tópico sobre o qual entramos em confronto explosivo, embora respeitosamente. Isso não era respeito. 16 O termo ZELOTA ou zelote, significa literalmente alguém que zela pelo nome de Deus. Apesar de a palavra designar em nossos dias alguém com excesso de entusiasmo, a sua origem prende-se ao movimento político judaico do século I que procurava incitar o povo da Judeia a rebelar-se contra o Império Romano e expulsar os romanos pela força das armas, que conduziu à primeira guerra judaico-romana

— Como você presta homenagem? — Billy meditou. — Na Grécia antiga, eles faziam sacrifícios, — disse Sammy, prestativo. — Nós não sacrificamos agora, — eu disse firmemente. Mas eles eram jovens e indisciplinados, cachorrinhos soltos no pátio da discussão teológica. Eu havia perdido as rédeas e a conversa passou para eles. — Minha mãe me disse que alguém está matando pecadores, — Ethan anunciou. — Ele está prestando homenagem, Sra. Linley? — Não, isso é assassinato, — Cassie Aston argumentou. — Você não pode matar pessoas para Deus, isso nem faz sentido. — Não faz, — Sammy concordou. — A morte é ruim. — A morte é a sua recompensa por uma vida bem vivida, — explicou Tabby. — Você pode ir para o céu. — Tudo bem, chega, — eu declarei, levantando-me tão de repente que minha cadeira raspou contra o chão de pedra de uma forma que nos fez estremecer. — Senhorita Linley, obrigada por suas teorias interessantes, mas o grupo bíblico acabou por esta noite. Se você tiver alguma dúvida ou preocupação sobre o que discutimos hoje, por favor, fique depois para falar comigo ou procure o Pastor Lafayette, tudo bem? O grupo olhou para mim por um momento com indecisão. Eles haviam tropeçado em um tópico sensacional em um grupo de discussão dócil e não queriam abandoná-lo. Felizmente, Tabby assumiu a minha liderança e sorriu para o grupo antes de se despedir e sair da nossa antecâmara para a capelamor. Depois disso, as crianças se dispersaram prontamente.

Todos menos Billy Huxley. Ele se demorou sobre as velas extras ao lado do candelabro votivo 17, jogando um palito de fósforo entre os dedos desajeitadamente enquanto esperava que todos fossem embora. Fui ao lado dele, colocando uma mão gentil em seu ombro ossudo enquanto olhávamos para as muitas chamas bruxuleantes na exibição escalonada de velas. — Eu acendo velas para o meu pai, — ele confessou, sua voz falhando no meio. — Eu sei que ele ainda está vivo, mas... eu sei que não é por muito tempo. Meu coração estremeceu por ele. — Se isso faz você se sentir melhor, faça isso, Billy. O luto não precisa começar após a morte. Começa quando você começa a aceitar que pode ser inevitável para alguém que você ama. Billy estremeceu ligeiramente e deu um pequeno passo para o lado mais perto de mim para que nossos quadris roçassem. Ele parecia tão abatido e solitário à luz laranja das velas contra a parede escura da igreja, como um menino ansioso pela santidade. Quando ele olhou para mim, era com os olhos escuros vidrados de exaustão, tanto espiritual quanto física. — Você acha que ele está morrendo porque não mostrou a Deus que o amava o suficiente?

17

Um pequeno gemido de simpatia ficou preso na minha garganta, mas eu não o soltei. Em vez disso, agachei-me para ficar mais perto do nível dos olhos dele, então peguei suas mãos, o palito de fósforo preso entre nossos dedos. — Não, Billy, — eu disse, seda sobre ferro. — Não é assim que Deus trabalha, certo. Na verdade, não é assim que a ciência funciona. Às vezes, ficamos doentes por causa de defeitos em nosso corpo. — Defeitos que Deus colocou lá? — As palavras eram uma pergunta e uma declaração, uma crise de fé expressa em uma frase. A raiva de Tabitha por confundi-lo com sua extrema devoção queimou por mim como um pavio aceso. — Não. Me ouça quando digo isso, certo, Billy? Boas pessoas ficam doentes o tempo todo. Pessoas boas têm má sorte, dias ruins e fins terríveis e injustos. A verdade é que todo mundo tem infortúnios. Todo mundo morre. Não importa que tipo de pessoa você seja. É assim que funciona. A mandíbula de Billy mexeu enquanto ele mastigava isso. — Então eu não entendo. O que a Senhorita Linley disse fez mais sentido. Eu mordi meu lábio. Era verdade, a visão de Tabby da religião era muito mais fácil de destilar em frases de efeito organizadas e sucintas. Mas também era muito mais horrível, especialmente para um menino de dez anos. Afastei seu cabelo escuro de sua testa enquanto reunia meus pensamentos. — Às vezes, as palavras não são poderosas o suficiente para descrever a complexidade do que sentimos por dentro. Você pode me dizer exatamente o quanto você ama seu pai? — Billy hesitou, então balançou a cabeça. — Não, assim como eu não posso te dizer o quanto amo minha

família. Algumas coisas são simplesmente inexplicáveis. Você precisa ter fé na morte tanto quanto na vida. Você ama seu pai e sabe que ele é um bom homem, então você tem que acreditar que quando ele morrer, ele está apenas indo para um bom lugar. Billy suspirou, seu corpo murchando, afundando ao meu lado enquanto o fazia. Eu o abracei com força, desejando que meu afeto fosse algo físico que eu pudesse usar para protegê-lo da dor. Ele voltou seu olhar para as velas e sussurrou. — Você acenderá uma vela comigo para ele? — Claro, — eu concordei, levantando-me para pegar uma vela. Notei Tabitha e Eric na porta da sala, discutindo algo em voz baixa, mas nos observando com olhares intensos. Eu rolei meus ombros para trás para dissipar o filete de estranheza que sentia e acendi meu fósforo.

Capítulo Quatorze Priest

Ninguém fora do clube sabia onde eu morava. Mesmo assim, apenas Zeus, Axe-Man porque era nosso tesoureiro e Bat porque era sargento de armas haviam visitado minha casa. Qualquer local de residência que eu precisasse fornecer era a sede do clube. Foi assim que eles me pegaram. Antes. Muitos anos atrás, quando eu era apenas um garoto. Eles sabiam onde eu morava. Então, eu fiquei fora do radar. E muito, muito longe da igreja mais próxima. Meu apartamento era um loft reformado no coração do distrito industrial ao norte da cidade, o segundo nível inteiro de um depósito que antes era usado para armazenar produtos importados da China, mas agora abrigava o arsenal do The Fallen. Tecnicamente, Bat estava encarregado de munições e armamentos para o clube como sargento de armas, mas ele terceirizou os itens mais ilegais para mim, para serem escondidos de uma maneira que só eu sabia esconder.

Eu comprei o armazém com dinheiro de um velho antes de ele bater as botas, convertendo-o eu mesmo ao longo de dois anos. Isso manteve meu eu de dezenove e vinte anos longe de problemas e, no final, eu tinha uma casa que atendia às minhas necessidades. Não havia janelas. Eu não precisava de luz. Não havia televisão, nem computador, nem área de estar confortável. Uma cama, uma cozinha, um banheiro e uma academia enorme. A única indulgência que me permiti era minha biblioteca. Prateleiras do chão ao teto na área que deveria ser a sala de estar. Uma poltrona de couro profunda e desleixada e uma mesa lateral onde me sentava à noite sob a luz fraca da lâmpada de leitura no apartamento totalmente escuro para ler. Eu não lia ficção. Principalmente, leio textos religiosos e tomos científicos. Tecnologia também, quando se tratava de armas, e história, se fosse sobre guerra. Sim, textos religiosos. A porra de ateu ferrenho lendo sobre Deus. Fodido, mas, novamente, eu nunca disse ser o contrário. Eu li tudo o que pude sobre Deus, sobre a fé, sobre por que as pessoas acreditavam em tal absurdo. Li sobre a cultura católica na Irlanda e, felizmente, sobre seu declínio no século XXI.

Eu leio para entender. Eu entendi para poder atrelar os demônios do meu passado em cordas grossas e correntes no fundo da minha mente e esperar que eles nunca se soltassem. Por que não posso tocar em você? Bea tinha dito ontem à noite depois que eu destruí completamente seu doce corpo e o tornei inegavelmente meu. Eu não queria suas mãos no meu corpo. Sendo sincero pra caralho, eu não queria suas palavras doces no meu ouvido também, mas eu não conseguia controlar isso tão bem. Bea era tudo leve e bom, claro, ela queria esbanjar isso comigo. Eu poderia ignorar essas palavras, principalmente, virar minha cabeça para que elas passassem pelo meu ouvido sem ser ouvidas como um grito ao vento. Mas toque? Minha pele estava tão condimentada. A sensação daquelas mãos pequenas e macias, sempre com pontas em algum tom ultrajante de rosa? Elas devastariam minhas paredes, derrubariam pedra por pedra até que minhas barreiras estivessem todas em ruínas. Eu não poderia ser exposto. De novo não. Memórias chocalharam em suas correntes, flashes surgindo atrás de minhas pálpebras.

O cheiro de terra úmida e mofada em minhas narinas, a sensação de lama sob meus joelhos enquanto me prostrava em oração diante de um falso deus. Dor, explosões em minha carne como se meu próprio corpo fosse um campo de batalha, Somme18, crateras explodidas de músculos e fissuras quebradas em ossos. Minha mão bateu contra a parede do armazém ao lado da minha porta para me proteger contra o ataque. Tentei conter a náusea que cresceu na minha barriga, lambendo o ácido na base da minha garganta, mas eu sabia que era inútil. Segundos depois, virei a cabeça e vomitei na grama congelada ao lado da passarela de cascalho. A bagunça pútrida fumegava no ar congelante, um lembrete de que meu corpo tinha mais do que apenas as cicatrizes que haviam cavado em minha pele. Eu estava doente com meu passado. Era um câncer dentro de mim, corroendo tudo de bom que tentei produzir. Às vezes, como quando Bea tentava me tocar com seus dedos macios e afilados, eu podia literalmente senti-lo roendo meus ossos. Cuspi o resto do lixo ácido e passei as costas da mão na boca antes de começar a destrancar a porta do armazém. Era fortemente protegido com sensores de movimento, câmeras e várias fechaduras. Um Fort Knox para mim e meus demônios, tão necessário para manter as coisas do lado de fora quanto às vezes para me manter trancado dentro de mim. Mas então eu vi. Uma coisa tão pequena. 18 Referência à Batalha do Somme, também conhecida como Ofensiva do Somme, foi uma enorme batalha travada durante Primeira Guerra Mundial, com os exércitos do Império Britânico e da França lutando contra as forças da Alemanha.

Outra pessoa não teria percebido. Mas eu era o executor do Fallen. Eu matei mais homens do que jamais consegui tatuar os nomes nos nós dos dedos e sabia que mataria mais cem. Eu era um predador por completo. Havia pouco em meu ambiente que eu não catalogasse, poucas vezes eu perdi algo, por menor que fosse uma mudança, naqueles ambientes que eram familiares ou não para mim. Então, eu percebi. O pedaço de grama mais escura ao lado da garagem abandonada na beira da minha propriedade. Era um espaço que eu não usei, deixando-o propositadamente em desordem para que as pessoas pensassem que o prédio ao lado estava tão abandonado e destruído. Pode ter sido qualquer coisa, talvez o escoamento da chuva do dia anterior ou as sobras de um animal passando. Mas eu sabia de alguma forma que era sangue. Algumas pessoas tinham afinidade com música e matemática, o meu era mais elementar. Dizem que sangue não tem cheiro, mas eu podia sentir o cheiro. Mais, eu podia sentir isso. Talvez porque eu derramei isso muitas vezes e fui, consequentemente, amaldiçoado por saber disso intimamente para sempre. Eu caminhei até o galpão, meu coração batendo como um metrônomo constante em meu peito.

Havia sangue naquela grama então, aproximando-me, sangue na porta, enrolado em sua borda aberta como se dedos sangrando tivessem lutado para abri-la. Meus pensamentos zumbiram. Eu caí no chão com cuidado e coloquei minha cabeça mais perto da fenda entre ela e o asfalto. Meu nariz picou, agitado pelo cheiro metálico. Mais sangue. — Que se foda. Eu me levantei de um salto e abri meu celular descartável. Tocou apenas uma vez antes de Zeus começar a rir. — Priest, meu irmão. As crianças riam ao fundo, o leve trinado da voz de Loulou falando com um de seus bebês. Família. O câncer dentro de mim corroeu com seus dentes viciosos e envenenados. — Tenho um problema, — eu disse, cortando rápido, tomando cuidado para não sujar minha bota enquanto eu caminhava ao redor do prédio, procurando por um sinal de entrada forçado. Estava lá na segunda vaga da garagem, o metal corrugado com lábios e distorcido pelo que deveria ser um pé de cabra. — Passe-o para mim, — Zeus ordenou, o humor retirado de suas palavras. Todo negócios agora. Todo Prez. — Parece que alguém entrou na garagem da minha propriedade, — eu disse calmamente ao voltar para a frente. Minhas botas rangeram na grama

congelada, atraindo meus olhos para outras marcas que poderiam ter sido deixadas em seu molde. Lá, fraco, mais cedo naquela manhã, antes que o orvalho congelasse na luz anêmica do amanhecer. Pegadas largas e longas em um tipo de tênis de corrida. Grande demais para uma mulher, o passo afundou na grama. Eles desapareceram rapidamente da vaga da garagem para o caminho de cascalho. — Eles entram no arsenal? — Z perguntou, chocado com a pergunta porque era eu e eu nunca falhei em meus deveres para o clube. — Não, — eu assegurei, minha cabeça inclinada para o lado quando ouvi o barulho de rodas no cascalho seguido logo por um bip familiar e temido. A breve exclamação das sirenes de um carro da polícia. Segundos depois, luzes vermelhas e azuis se espalharam na esquina, iluminando a estrada que era mais um beco onde ficava a entrada do meu armazém. Iluminando-me. — Parece que alguém decidiu me incriminar por assassinato, — eu disse a Zeus em tom de conversa enquanto um policial saía do primeiro dos dois carros. — Porra, porra,— Zeus praguejou ao telefone, o som de móveis desalojados ao fundo enquanto ele ficava de pé. — Não mate ninguém, porra. Estou indo para você.

Soltei um suspiro curto que foi o mais próximo que cheguei a bufar. — Se eu fosse matá-los, eles já estariam mortos. Eu te encontro na delegacia. E, Zeus, não diga à Bea. Houve uma ligeira pausa quando o policial me ordenou que colocasse minhas mãos para cima. Eu não fiz. Em vez disso, inclinei-me contra a parede da frente ao lado da porta empenada da garagem e cruzei os tornozelos. — Você me escutou? — Ela vai descobrir, irmão, — Zeus finalmente disse. — E você tem que saber, Lou é uma Garro agora, mas ela era uma Lafayette e, pelo que eu sei se essas garotas querem fazer alguma coisa, não há porra de como pará-las. Não respondi porque imaginei que ele estava certo. Em vez disso, fechei o telefone e coloquei no bolso. — Ponha as mãos no ar, — o policial Talbot, um policial mais novo na força trazido após a limpeza, gritou para mim novamente. Sua voz tremeu ligeiramente. Um novato. Eu me perguntei por um momento por que diabos era o novato falando quando o segundo policial saiu do carro e eu reconheci o policial Travers. Porco fodido. Idiota, valentão que era, chocantemente, não na opinião do sargento Danner, apenas uma nota um pedaço de merda para todos. Um valentão que, notoriamente, tinha medo de mim.

— Oh, é meu policial favorito, — eu gritei para ele, puxando minha faca de caçador, o comprimento longo e curvo dela do coldre para que eu pudesse pegar sob minhas unhas. — Deve ser uma merda de uma visita social. — Corta essa merda, McKenna, — ele gritou. — Vou sacar minha arma, não deixe cair essa porra de faca. Eu sorri, sabendo que o poste de luz quebrado do outro lado da rua iria jogá-lo em uma forte luz amarela. — Esta é uma propriedade privada. Pensando que deveria ser eu quem faz as malditas ameaças aqui. E eu faria, você me entendeu? Mas não acho que seja necessário. — Eu inclinei minha cabeça, prendendo o novato com meu olhar. — Você conhece minha reputação. A respiração pesada do oficial Talbot empapou na noite fria, denunciando seus nervos. — Largue essa merda, McKenna, vou te derrubar, — o policial Travers postou. Eu ri, mas nunca ri muito bem. Era alto e oco, como uma cápsula de projétil lançada quente e forte de uma arma explodindo. — Vou te derrubar se der mais um passo em meu território, — alertei levemente. Seguiu-se um impasse, que pesou fortemente a meu favor. — Recebi uma ligação sobre um possível ataque aqui, — o novato tentou explicar. — Temos o dever de verificar isso. — Certamente, cheque na linha da propriedade, — eu permiti, graciosamente, deslizando um dedo levemente pela faca afiada. Minha pele se

abriu mesmo sob aquela pressão, um corte de meio centímetro na ponta do meu polegar. Eu coloquei o corte limpo em minha boca, passei a solução de ferro contra meus dentes, então lancei outro sorriso para eles, este manchado de sangue. — Você consiga um mandado antes de dar mais um passo em minha direção. O novato deu um passo para trás quando ele não tinha um, suas costas batendo no carro com tanta força que ele gritou. Porra, era divertido brincar com policiais. — Temos o direito de verificar o perímetro, McKenna, — o policial Travers apontou bruscamente, baixando a voz como se isso me fizesse mudar de ideia. Ele não percebeu que havia apenas um alfa em jogo aqui. — Faça o que quiser, — eu concordei agradavelmente, encolhendo os ombros levemente para distrai-lo enquanto ajustava meu aperto na faca. — Já te dei meu aviso. Você não consegue nem mesmo entender o que está fora do personagem, corra o risco que quiser. O engolir em seco do policial Talbot era visível na luz vermelha das luzes do carro de polícia, o puxão vicioso de seu pomo de adão arrastado pelo terror. Puxei com mais força para que ele soubesse, com certeza, que eu não era apenas um peixe em sua linha. Eu era um tubarão filho da puta. — Venha mais perto, — eu implorei, suavizando minha expressão, passando minha língua sobre meus dentes para apagar o sangue estranho. — Por favor, faça o que você precisa.

Talbot hesitou, seu instinto de sobrevivência entrando em ação. Mesmo que ele não pudesse articular isso, seu corpo sabia o que sua mente não permitia. Eu era uma ameaça com a qual ele não estava preparado para lidar. Travers, por outro lado, era muito idiota para salvar sua própria pele. Corajosamente, ele avançou três passos grandes e exagerados. Eu sorri profundamente, mas não agraciou meus lábios. A faca na minha mão era um peso confortável enquanto eu a jogava de ponta a ponta na direção do policial que avançava. Ele gritou depois que já estava empalado alguns centímetros na frente de sua bota de trabalho. Observei placidamente enquanto ele recuava, prendendose no capô do carro enquanto perdia o equilíbrio em sua retirada apressada. — Você está preso, porra, por agredir um oficial da lei, — Travers berrou para mim, mas eu já estava avançando, recolhendo minha faca antes de voltar para minha Harley. — Eu vou te encontrar lá, — gritei sobre o rugido do motor enquanto acelerava e saí da garagem, os pneus cuspindo cascalho no carro. Segundos depois, o som de sirenes explodiu na noite, e a perseguição começou. Eu ri no vento glacial, os dedos gelados puxando meu cabelo comprido demais enquanto eu colocava o motor em alta velocidade e corria com  

a

porra

dos

porcos

para

seu

curral.

Não era minha primeira vez no Departamento de Polícia de Entrance, e, com certeza, não seria a última. No que diz respeito às salas de interrogatório, era comum: uma caixa cinza com um espelho unilateral do comprimento da parede esquerda, quatro cadeiras, duas de cada lado de uma mesa preta. Sentei-me na cadeira de frente para a porta, coxas abertas, mãos unidas sobre a mesa, olhar fixo no espelho e as pessoas que eu conhecia espreitavam atrás dele. Houve um caos quando eles me trouxeram, mais pessoas no chiqueiro do que normalmente havia. O serial killer e seu amor por Entrance trouxeram os meninos grandes para o quintal. Eu sabia que havia oficiais da unidade especial da Real Polícia Montada do Canadá (RCMP) naquela sala adjacente me observando. Tentando me estudar. Eles não aprenderiam nada. Os policiais colocam pessoas nessas salas com um objetivo. Eles esperavam que o abalo de serem presos e desfilarem pela sala de um policial os carbonizasse como refrigerante agitado, todas aquelas emoções culpadas fervilhando e pipocando à superfície, então, quando mandaram o interrogador,

tudo o que precisaram fazer era abrir a tampa e as confissões inundariam suas mãos. Eles não esperavam que um homem se sentasse ali como se fosse sua sala de estar e os assistisse como se eles fossem o entretenimento passando na televisão, como se fossem os objetos de observação. Eu abri um pequeno sorriso, então estalei os nós dos dedos enquanto me afundava mais na cadeira, ficando confortável. Um momento depois, a porta se abriu, revelando um homem que eu não reconheci em um terno cinza escuro e o Sr. White, o advogado do clube. Eu inclinei meu queixo para White. Não havia muitas pessoas fora dos meus irmãos que eu respeitasse, mas ele era um deles. Nós passamos por muita coisa juntos. Como eu disse, não era minha primeira vez em uma sala de interrogatório. White piscou para mim e ajustou os óculos enquanto contornava a mesa e se sentava ao meu lado. O homem de terno ficou atrás das cadeiras no lado oposto da mesa, olhando para mim. Eu encarei de volta, sem expressão. Ele era baixo, mas se mantinha rígido, peito estufado, ombros para trás como um ex-militar. Bat e Dane ainda estavam assim, pés apoiados, rostos severos, olhos um receptáculo vazio para colocar ordens de seus superiores. Ele tinha aquela profundidade vagamente traumatizada em seu olhar e sulcos profundos entre as sobrancelhas como se ele sempre tivesse franzido a testa.

Então, ex-militar, provavelmente divorciado, definitivamente RCMP. — Como posso te ajudar hoje, seu filho da puta, policial? — Eu perguntei, inclinando minha cabeça para o lado enquanto me dirigia a ele com uma curva fechada dos meus lábios que poderia ter sido um sorriso em alguém mais agradável. — Priest McKenna, — ele disse lentamente, provando meu nome, tornando-o irlandês. — Bom velho irlandês, hein? Não vacilei com o insulto depreciativo para os irlandeses. Eu parei de me identificar há um ano, mesmo que não conseguisse me livrar da música com minhas palavras. O policial tentou novamente, desabotoando o paletó enquanto finalmente se sentava. — Já ouvi falar de você, sabe? O maníaco que mata pelo notório capítulo materno de The Fallen MC. Você considera esse nome uma piada? O pecador Priest? Isso te faz matar em nome do Senhor? Eu não disse nada. Isso era mais chato do que eu pensei que seria. Eu bocejei amplamente, mostrando ao homem uma bela vista de meus incisivos naturalmente afiados. — Isso tudo é especulação, Moore. Por que você não fala factualmente de agora em diante? — White sugeriu suavemente. Moore. Britânico, é claro. Ele tinha a palidez de leite derramado, corado com a idade e muita bebida.

Eu bocejei novamente. A pele ao redor de seus olhos se contraiu, a única indicação de sua irritação com meu tédio. — Senhor McKenna, encontramos um cadáver em uma garagem adjacente à sua propriedade, — afirmou dramaticamente. — Oh? — Eu perguntei com curiosidade zombeteira e moderada. — Que estranho. White pigarreou, mas era tarde demais. Eu instiguei o ego de Moore. — Estranho que você não tenha se incomodado em limpar sua última bagunça? — Moore me cutucou, pensando que eu era um animal em um canto que ele poderia provocar à violência com a ponta de uma vara afiada. Eu não era um homem reacionário, um cão raivoso procurando briga. Eu não lutava. Eu colocava os homens no chão. Eles vinham até mim para morrer. Se Moore queria lutar, ele ficaria desapontado. Embora se ele continuasse a ser tão irritante quanto estava provando ser, eu ficaria feliz em encontrar uma sepultura precoce. — Sinto muito, — eu disse, porque eu não sentia. — Você acha que eu matei alguém na minha própria propriedade e coloquei na garagem ao lado? Sem mencionar que o armazém nem é meu. É mantido em confiança, acredito, por uma Double Edge International LLC.

A mandíbula de Moore se contraiu. — Você foi encontrado na propriedade, prestes a abrir a porta. Eu cantarolei em resposta. — Muito bom trabalho de detetive, policial. Claro, isso deve significar que eu o possuo. — Oh, você estava invadindo então? — Ele rebateu, inclinando-se para frente, sua agressão levando a melhor sobre ele. Havia um animal selvagem, quase um pit bull definido em sua parte inferior e olhos pequenos e escuros. Bea me disse uma vez que havia dois tipos de agressores violentos. Eu escutei, não porque estava interessado, mas porque gostava da aparência de sua boca quando se movia em torno das palavras, como seu peito ficava rosado quando ela falava sobre suas paixões. Havia o pit bull e a cobra. O primeiro explode em fúrias breves e infernais que derrubam a violência em tudo ao seu redor. Eles frequentemente se arrependem de sua raiva, sentem remorso pela maneira como não conseguem se controlar. A cobra, por outro lado, é fria, calculada. Elas não atacam sem intenção e quando o fazem, é para a matança. Era fácil fazer uma comparação entre gente como Moore e eu. Eu inclinei minha cabeça enquanto absorvia todas as suas pequenas e óbvias palavras, sabendo que não importa o quão alto ele latisse, ele nunca seria tão controlado e poderoso quanto gostaria de ser. Ele tinha um complexo. Queria se fazer sentir um grande homem derrubando grandes criminosos. Como eu disse, fácil pra caralho.

— Senhor McKenna estava simplesmente checando um prédio de propriedade de uma pessoa conhecida. Se necessário, assinaremos uma declaração nesse sentido. Agora, você tinha algum motivo ou evidência ligando meu cliente a este crime? — White perguntou, secamente. Moore abriu o portfólio que trouxera debaixo do braço e, um por um, folheou as páginas para eu ver. Sangue. Em todo lugar havia sangue. Ah, foi uma cena de crime bagunçada, malfeita, um crime passional, não um crime de metodologia fria e calculada. Eu quase bufei. Eu nunca matei um homem assim, nem mesmo minhas primeiras mortes naquele último dia na minha terra natal. Eu estava passional também, antes de o fogo em minha alma explodir para sempre, mas, mesmo assim, as mortes foram limpas, pensativas. Eu passei anos planejando até o último detalhe. A vítima feminina foi rasgada em tiras por facas, uma pobre zombaria da minha marca, mas em uma foto, um close de seu rosto, eu reconheci quem era. Que se foda. Na próxima foto, Moore deslizou pela mesa com um dedo, uma picada excessivamente dramática. Era uma foto da vítima dias antes no Hephaestus Auto, seu cabelo escuro e brilhante refletido na luz do sol de inverno, seu sorriso suave enquanto acenava para alguém obscurecido dentro da sede do clube Fallen.

— O nome dela era Natalie Ashley, — disse Moore, sabendo que eu sabia. — Ela trabalhava na Entrance Bay Academy ensinando História e Estudos Sociais e, aparentemente, estava dormindo com um membro do seu clube. Eu olhei para Moore calmamente, mas minha mente estava trabalhando, clicando e zumbindo enquanto eu pensava nas ramificações disso. Eu não estava dormindo com Natalie Ashley. Mas Kodiak estava. — Senhor Moore, direi mais uma vez, mantenha os fatos, ou irei embora com meu cliente. Até agora, não vejo motivo pelo qual você o trouxe para interrogatório, — advertiu White, e para um velho pálido e baixo engravatado, ele não se saiu muito mal. — Ele agrediu um oficial, — Moore o lembrou. — Não tem um arranhão de merda, — eu disse suavemente. — Ouça, Natalie Ashley é amiga da mulher de King, ela a visita no clube às vezes. Você vai me prender por isso? — Ela era uma boa mulher que frequentava a igreja, — Moore tentou. — Se ela foi atraída para o seu clube, eu acredito que apenas um homem poderia ter feito isso. As mulheres pensam com o coração. Bea. Seu nome ficou na minha língua, queimado lá como uma hóstia de comunhão. Ela pensou com o coração e isso a trouxe até mim.

Era sexista, o filho da puta idiota, mas ele não estava totalmente errado. — Você quer me prender por uma merda que eu não fiz, assim como você prendeu Zeus pelo assassinato de um homem cometido por um homem vestido de azul, vá em frente para que possamos processar seus filhos da puta, — sugeri com um pequeno encolher de ombros. — Caso contrário, White e eu vamos sair deste chiqueiro. Isso fede pra caralho. Moore olhou para mim. Se este era um cabo de guerra, ele simplesmente perdeu o controle da corda. — Você encontrou uma nota na cena do crime? — Perguntou White. — Pelo que entendi, eles têm acompanhado assassinatos ultimamente. Moore hesitou e depois assentiu. — Havia algo escrito com sangue, mas não segue exatamente o modus operandi do assassino. Parece mais provável o trabalho de um imitador. Ele me lançou um olhar suspeito, mas eu o ignorei em favor da foto que ele virou para nós. Escrito mal com sangue no lado de dentro da porta da garagem estava a frase — A vingança é minha, eu retribuirei. Pela primeira vez durante todo esse intercâmbio tedioso, eu fiz uma careta. Inclinando-me para mais perto, tracei meu dedo sobre as palavras na fotografia e murmurei sob minha respiração. Essa paixão era incomum, o descuido do corpo feito em pedaços não era bíblico de nenhuma maneira óbvia, nem a escritura foi deixada em cena. Não seguiu o caminho das matanças religiosas anteriores. Pode ser que esta fosse uma mensagem pessoal entregue a mim para me advertir para ficar

longe de seus crimes ou talvez longe da própria Bea, se ele se fixou nela tão solidamente quanto eu. Ou era algo totalmente diferente, alguém com uma vingança contra mim que estava aproveitando a oportunidade para me incriminar porque ela se apresentou a ele. De qualquer maneira, ele fez um péssimo trabalho de merda. Meu DNA provavelmente estava na cena, mas não em conjunto com o crime. Eu morava na propriedade ao lado da garagem, mas esses idiotas não sabiam disso e não seriam capazes de conseguir um mandado de busca na propriedade a menos que tivessem provas concretas de que eu poderia ser o assassino. Hora desleixada e amadora, na melhor das hipóteses. Mas interessante. — Priest, — disse Moore pensativo, preparando-se para alguma besteira dramática. — Tudo se encaixa muito bem, apesar do que você diz. Um motoqueiro com uma coisa contra a religião, visa o povo piedoso de Columbia Britânica para ensinar-lhes seu próprio tipo de lição. Você tem trauma na igreja? — Ele fez uma pausa para estreitar seu olhar para mim, esperando que talvez aumentasse seu olhar intrusivo. Eu bocejei de novo, tão largo que meu queixo estalou. — Eu aposto que você tem. Aposto que um velho padre na Irlanda atrasada curvou você sobre o altar como um menino do coro e... Suas palavras se transformaram em um grito chocado quando coloquei meu pé em volta de sua perna por baixo da mesa e a puxei para frente. Moore caiu para trás em sua cadeira, sua cabeça batendo no topo do encosto de metal com um estalo alto. Antes que ele pudesse se endireitar, eu estava na mesa, joelhos apoiados, a mão em sua garganta carnuda.

Estávamos perto o suficiente, eu podia sentir o cheiro do café fétido e do almoço frito em seu hálito, mas, ainda assim, me aproximei, até que meus dentes à mostra fossem tudo o que ele podia ver. — Você já ouviu falar de mim? Então você sabe que um homem como eu não faz merdas assim. — Eu levantei um punhado amassado de fotos espalhadas em uma mão e empurrei em seu peito. — Nunca matei uma mulher e nunca mataria. Você está tão obcecado em derrubar The Fallen que não consegue ver o que está bem na frente de seus olhos? Por que você não pega o filho da puta assassino matando mulheres de Vancouver ao Rez e depois vê se ainda há algum corpo aparecendo? — Priest, — White sugeriu suavemente sobre a cacofonia do lado de fora da porta de policiais vindo em socorro de seu irmão. — Solte o homem e sente-se, sim? Eles não têm motivo para te prender, mas o farão se você continuar por muito mais tempo. Eu bati meus dentes no rosto de Moore, deliciando-me com suas pupilas abertas que ficaram pretas de medo e os pequenos diamantes de suor cobrindo sua testa enrugada. Ele se encolheu em meu aperto, pulsando uma batida rápida contra meus dedos. Eu apertei um pouco mais forte apenas para ver o tom exato de roxo que ele mudaria, então o soltei abruptamente e saltei da mesa de volta ao meu assento como se nada tivesse acontecido. Os policiais irromperam na sala, dois com as armas em punho, mas eu só fiquei ali sentado olhando para o homem que tentou usar meu passado contra mim. Eu era o único capaz de fazer isso e um dia, no futuro, quando eu pudesse chegar até ele sem suspeitas, ele saberia exatamente por que os tiras assustados de Entrance o enviaram para me interrogar em vez de fazerem eles mesmos.

Moore ficou sentado lá, paralisado pelo olhar em meus olhos, o medo colando sua bunda de amor perfeito na cadeira, sua garganta balançando enquanto ele engolia o cheiro de adrenalina de sua língua. Inclinei-me um pouco para frente novamente para cumprir minha promessa com um pequeno sorriso meloso. — Você não faz o seu trabalho e encontra ele, eu farei o meu, entendeu?

Capítulo Quinze Bea

Eu estava exausta. Mas eu não queria dormir. Havia uma inquietação me inundando como ácido lático depois de um treino, queimando meus músculos, contraindo nas pontas dos dedos. Eu não conseguia sentar, não conseguia comer ou dormir. Eu tinha que me mover, mas cansada como eu estava, meu corpo foi lentamente através do ar como se pegasse as moléculas lá como o vento em minhas roupas. Priest não estava comigo. Ninguém me disse onde ele estava, mas era assunto do clube, Zeus me assegurou, nada muito sério. Uma mentira descarada, apenas porque todos os negócios do clube eram uma merda séria. Eu não tinha visto Priest desde a noite anterior, quando ele esteve dentro de mim até o fim. A dor dele ainda permanecia lá, uma dor oca que de alguma forma eu sabia que aliviaria se ele apenas deslizasse de volta para dentro.

Harleigh Rose, Tayline, Cleo, Lila e Loulou se cansaram dos meus passeios e devaneios depois que eu mal comi meu jantar e quase não falei com elas enquanto nos sentávamos depois brincando com os bebês. Então, no típico estilo Harleigh Rose e Lila, elas declararam que precisávamos de uma noite na cidade. Eu não tinha saído desde aquela fatídica noite de Halloween e absolutamente não estava com humor para ir a algum clube lotado e suado quando não sabia onde Priest estava ou onde eu estava com ele. Mas elas não aceitariam um não como resposta. Então, agora eu estava no Sugar Nightclub no centro de Vancouver com minhas amigas motoqueiras e cinco dos irmãos Fallen que insistiram em se juntar a nós porque não iam ao centro há um tempo. Sabíamos que eles só vieram para nos proteger. Os motoqueiros rudes não se encaixavam no bar moderno e elegante do centro, mas eu meio que amei como todos olhavam para eles. Eles eram lindos, mas estranhos, então é claro, eles tinham mulheres por toda parte dentro de minutos ao entrar no clube. Eu estava no bar sob as luzes coloridas piscando, a música vibrando no ar ao meu redor, Bat à minha esquerda com Dane, que não era um irmão, mas raramente era separado de sua irmã, Lila ou Bat, e Wrath no meu lado direito. O resto das garotas estava na pista de dança com Boner e Blade. Observei Lila e Harleigh Rose pularem, gritando as palavras de ‘Crazy Train’ na cara uma da outra. Loulou girou Cleo debaixo do braço e a mergulhou, rindo dela enquanto dançavam juntas. Um homem tentou agarrar a bunda de Harleigh Rose e Tay interveio para empurrá-lo com força com uma virada de quadril.

Eu sorri levemente observando-as, sentindo a alegria se mover suavemente por mim como água através da rocha. — Não está em um momento bom, — Wrath observou, antebraços apoiados no bar enquanto ele se inclinava ao meu lado, suas ondas longas e selvagens pairando em seu rosto lindo enquanto ele olhava para mim. — Não me parece uma garota festeira. Girei o canudo curto em meu coquetel de Bourbon Peach Smash, em seguida, bloqueei a ponta do canudo com um dedo e levei a ponta à boca antes de soltar, para que o líquido preso ali caísse entre meus lábios abertos. Quando terminei, sorri fracamente para o irmão que nunca sorria. — Você também não parece muito com isso. Os olhos de Wrath enrugaram ligeiramente, mas, por outro lado, sua carranca permanente permaneceu no lugar. — Não sou muito para nada hoje em dia. Eu concordei. Todos nós conhecíamos a história trágica de Wrath, o amor de sua vida perdido na violência de gangues quando ele ainda estava ligado ao Berserkers MC anos atrás. Eu não conhecia a devastação de perder seu único amor verdadeiro, mas a aguda ponta de agonia que eu sentia obcecada por Priest, inatingível e proibido como ele foi por anos, tinha sido ruim o suficiente. Eu não podia imaginar a dor com a qual Wrath vivia todos os dias. — É difícil... — Eu comecei hesitantemente, então tomei outro gole da perfeição doce e alcoólica e falei fortemente. — É difícil continuar depois de perder alguém assim?

A sobrancelha grossa e marrom de Wrath se arqueou, cortando linhas em sua testa lisa. Às vezes, eu esquecia que ele ainda estava em seus vinte anos porque ele exibia sua dor nas linhas de seu rosto carrancudo. Ele pareceu surpreso por eu ter perguntado algo tão ousado, seu olhar me avaliando com novos olhos. Achei que talvez ele não fosse responder. Era uma pergunta invasiva, mas eu era estudante de psicologia e gostava mais desse tipo de pergunta, então não a retirei. — É como se eu tivesse levado uma espada direto no peito, — ele disse finalmente, suave o suficiente para ser difícil de ouvir por causa das notas batidas da música. Ele bateu no peito, em seguida, abaixou para tomar sua dose de bebida escura antes de continuar. — E eu tenho que viver com isso todos os dias, porra, até que eu possa me juntar a ela na morte. Um arrepio percorreu minha pele, embora o ar no clube fosse espesso e próximo. Quando Wrath inclinou a cabeça para olhar para mim, seus olhos eram uma piscina escura, insondável como o fundo do oceano e tão cheio de terrores desconhecidos. — Mas eu tenho que continuar vivendo. Ela... porra, ela era tão jovem. Ela tinha coisas que queria fazer, então vou fazer por ela. Viver para ela, eu acho que você poderia dizer. A dor é o preço que pago por não a proteger como deveria. — Wrath, — eu disse suavemente, querendo tocá-lo tanto que minha mão tremeu, embora eu soubesse que ele não apreciaria isso. — Eu sei que não há nada que eu possa dizer para fazer você se sentir melhor. Posso sentir muito e ter empatia o quanto quiser, mas sei que esta é a sua cruz para carregar. Tudo

o que posso dizer é que espero que você saiba que o peso da sua dor é um fardo que você pode compartilhar. — Fiz um gesto para os homens atrás de mim e as meninas na pista de dança, então espalmei minha palma sobre o meu coração. — Cada um de nós ficaria honrado em te ajudar a carregar isso. As narinas de Wrath se dilataram na ponta de seu nariz romano, um pequeno sinal para um homem tão colossal, mas me disse que minhas palavras foram sentidas em seu peito. — Posso ver por que Lou te chama de garota do sol, — Wrath murmurou. — Não dá para deixar o escuro bem em paz, hein? — Não, — eu concordei, estalando o '‘o’' e então sorrindo brilhantemente. — Eu sou fofa, mas psicopata. A boca inteira de Wrath se moveu um centímetro para a esquerda, curvando-se ligeiramente. — Deve ser, você gosta de Priest. Eu desviei o olhar, de repente me fixando no canudo do meu coquetel esgotado. — Desde criança sempre fui atraída por coisas que acontecem à noite. Então, é de se admirar que eu me apaixonei por um homem que é mais assustador do que a maioria das meninas jamais pode conceber em seus pesadelos? — Estou, falei. — Você não está reinventando a roda, Bea — Bat interrompeu, puxando um dos meus cachos como fazia desde que eu era criança. — Os opostos se atraem é um ditado clássico pra caralho. Eu fiz beicinho. — Todo mundo sabe que eu gosto dele?

Bat e Dane trocaram um olhar. Eles só se conheciam há meio ano, mas já eram unha e carne, compartilhando uma linguagem de intimidade que só eles podiam transcrever. — Não estou aqui há muito tempo, e eu percebi isso imediatamente, — admitiu Dane, esfregando a mão sobre o cabelo afro cortado que crescera desde que estivera em casa. — Ciclope só tem um olho, e até ele pode ver, — Boner brincou enquanto aparecia na nossa frente, levando Tay e Cleo através da multidão para o nosso lado. — É verdade, — disse Cleo com um encolher de ombros apologético quando eu olhei horrorizada para ela. — Você é tão sutil quanto um letreiro em néon piscando. — Droga, — eu murmurei em minha bebida, envergonhada, mas também um pouco aliviada. Todo mundo sabia, e parecia que ninguém se importava. Priest era dez anos mais velho do que eu e meu oposto completo, mas esses irmãos pareciam não se importar com nosso possível namoro. Isso fez a esperança brotar no solo de minhas entranhas como um tenro broto de primavera. Os obstáculos entre o Priest e eu diminuíam a cada dia. Apenas um verdadeiramente gigantesco permaneceu. O próprio Priest. — Pare de meditar, não combina com você, — provocou Cleo, batendo no meu nariz com o dedo. — Você está adorável esta noite, e é hora de se divertir um pouco! Venha dançar. Deixe algum homem desavisado verificar você.

Eu ri, alisando a mão na minha minúscula blusa de corte branco e dobrando meu quadril para que a bainha curta da minha saia xadrez preta e rosa subisse sobre a minha coxa com meia arrastão rosa. — A bajulação a levará a todos os lugares. Cleo riu comigo enquanto entrelaçava nossos dedos e me arrastava para a massa de corpos dançantes. Por cima do meu ombro, Tayline disse secamente para os caras. — Elas são tão fofas que às vezes me fazem querer vomitar. Eu deixei a energia crescente das pessoas na pista de dança ao meu redor me infectar com vitalidade. Chegamos a Lila, HR e Lou, que gritaram em saudação, sem parar enquanto dançavam até o fim. Alegria. Ela bombeou através de mim com a batida da música que zumbia contra meus pés como um bumbo, incitando-me a dançar mais forte. Eu segurei meu cabelo pesado do pescoço para esfriar o suor acumulado na parte de trás dele, fechei meus olhos para sentir melhor a música e dancei. Eu não era tão graciosa quanto minha irmã, a bailarina treinada, mas conseguia me mexer e adorava dançar. A ansiedade consumindo meu corpo era eliminada a cada batida da minha Mary Jane de salto alto contra o chão, e logo, eu estava cantando junto com minhas garotas motoqueiras ao som da música pop que fazia os irmãos no bar se encolherem. — Porra, você é sexy, — alguém disse atrás de mim um momento antes de seus dedos percorrerem a pele exposta do meu quadril e se enroscarem, prendendo-me no lugar para que pudesse se pressionar contra mim. Era, claramente pela protuberância, um homem.

Eu inclinei minha cabeça para trás. Eu era baixa o suficiente para ver seu rosto mesmo em meus saltos. — Olá, — eu disse com um pequeno sorriso. Ele era um lindo homem asiático, sua pele bronzeada e esticada sobre as maçãs do rosto oblíquas. Quando ele piscou, eu tive que piscar para afastar meu prazer perplexo. Eu posso ter sido levada pelo meu próprio psicopata, mas ainda era uma mulher. — Você se move bem, — ele elogiou quando suas mãos grandes encontraram minha cintura para mover melhor minha bunda contra sua virilha. — Obrigada. — Joguei meu cabelo por cima do ombro para sorrir para ele e me permitir desfrutar da simplicidade de dançar com um lindo estranho. — Você deveria saber, — ele disse depois de um momento, curvando-se para falar em meu ouvido para ser ouvido acima da música. — Um homem no bar está observando você. Ele não parece feliz por eu estar dançando com você. Eu ri levemente sem olhar para os Fallen, que sem dúvida estavam carrancudos protetoramente para mim nos braços de um estranho. Eles eram duplamente protetores comigo porque eu era a irmã de Loulou e porque agora, eu também poderia ser a mulher do Priest. Estremeci de enorme prazer com o pensamento. — Uh... — O cara com quem eu estava dançando estremeceu também, mas pelo jeito que ele se afastou de repente, não era de uma maneira boa. — Na verdade, vou sair.

— O quê? — Eu perguntei, um pouco confusa. Me virei para perguntar qual era o problema dele, mas ele já havia sumido, movendo-se no meio da multidão sem olhar para trás. Pisquei quando o espaço que ele deixou para trás foi engolido por dançarinos novamente e, em seguida, encolhi os ombros quando Cleo me puxou de volta para seu corpo pelos meus quadris. Dançamos juntas, minhas meninas e eu, girando e rindo, tontas com a camaradagem e bêbadas com boas bebidas. Fechei meus olhos novamente para absorver a sensação delas contra mim, escorregadias de suor e cheirosas. Era o que eu imaginava que os cachorrinhos sentiam com os irmãos, sempre se tocando, sempre brincando, sempre juntos. Este era o tipo de vida que meus amigos fora-da-lei e minha família viviam, baixos profundos e altos altíssimos. Eles sabiam como bloquear a tristeza e o medo para sugar a medula da vida quando isso apresentava a você a oportunidade de apreciar. Muitas pessoas acreditavam que a vida de MC era sobre drogas, violência e crime, mas no fundo, era sempre e para sempre sobre viver juntos como uma família encontrada, o tipo forjado voluntariamente por amor e lealdade. Quando Loulou dançou em minha direção, agarrei seus pulsos e a puxei para um abraço apertado que nos acalmou. Ela não hesitou em me envolver em seus braços, marcando suas curvas nas minhas. Lágrimas picaram atrás dos meus olhos enquanto eu a segurava, o nariz em seu cabelo com cheiro de cereja. — Obrigada por me dar esta família, — eu sussurrei em seu ouvido. — É muito melhor do que qualquer coisa que já tivemos antes.

Loulou se afastou para sorrir na minha cara, seus olhos azuis fluorescentes sob as luzes piscando. — Nós sempre tivemos uma a outra, no entanto. Espero que você saiba que isso teria sido o suficiente para me fazer feliz para sempre. Minha garganta apertou, uma bola de emoção enrolada em torno dela com força. — Sim, eu sei. Mas estou feliz que você encontrou isso, para você e para mim. — Sim, — Lou concordou solenemente, colocando meu cabelo úmido atrás da orelha. — Amo você, garota do sol. Foi uma conversa importante nesta pequena briga entre nós. Eu me joguei de volta em seus braços, sentindo sua risada se mover através de mim quando ela me pegou e me girou. — Te amo, de volta, — gritei em meio às minhas risadas antes que ela me colocasse no chão. Quando voltamos a dançar, fizemos de mãos dadas. Em algum ponto, um formigamento de consciência se aninhou na base da minha espinha, então correu os dedos gelados pelas minhas costas quentes. Eu abri meus olhos a meio mastro, meio bêbada com bourbon de pêssego e o baixo inebriante de ‘Dead Man's Arms’ do Bishop Briggs. Preguiçosamente, eu varri meus olhos sobre a multidão de corpos agitados, movendo-me sobre a visão de Lila nos braços de Nova com repentina excitação. Se Nova estava aqui agora, algum dos outros irmãos veio com ele? Nova chamou minha atenção enquanto puxava Lila para seus braços e balançou a cabeça minuciosamente antes de devorar a boca ansiosa de sua mulher. Eu desviei o olhar, a decepção um cheiro amargo na parte de trás da

minha língua. Eu olhei para a esquerda para ver Harleigh Rose inclinada sobre o braço de Lion enquanto ele atacava sua boca e apertou sua grande mão no alto de sua coxa. Fechei meus olhos novamente, meu foco perdido, o alto da música e minha irmandade desmoronando em torno de meus pés. — Vou ao banheiro, — gritei para Cleo enquanto ela girava graciosamente ao meu lado. Ela franziu a testa, jogando o cabelo castanho-claro suado para longe dos olhos. — Eu vou com você! Eu balancei minha cabeça, correndo para beijar sua bochecha úmida de suor. — Eu só preciso de um minuto, tudo bem? Eu volto já. Ela mordeu o lábio, mas acenou com a cabeça hesitante, preocupação em seus grandes olhos cinzentos. Eu ignorei, empurrando a multidão em direção ao banheiro, de repente me sentindo emocional. Como era possível que em meio a toda essa humanidade, eu me sentisse tão miserável de solidão? Era realmente simples. Eu estava obcecada, realmente viciada em um homem, e sempre me senti desequilibrada sem sua presença por perto, mesmo naqueles anos antes de ele realmente me notar. Era como se ele estivesse amarrando a gravidade da minha alma sonhadora à realidade, fundamentando meu romantismo na verdade, lançando sombra e profundidade à minha luz. Claramente, a bebida estava me deixando piegas.

Havia uma fila para o banheiro das mulheres, então eu mergulhei mais fundo no corredor e virei o corredor, procurando a opção para deficientes físicos. Ele estava escondido ao lado de uma saída de emergência e fiquei grata quando o encontrei desocupado. Fechei a porta, virei a fechadura e apoiei minhas mãos na bacia enquanto olhava para o espelho. Eu não usei muita maquiagem, mas meu gloss foi comido dos meus lábios e o rímel em meus cílios borrou sob meus olhos. Meu cabelo era uma bagunça fofa de cachos em volta do meu rosto, dando-me um ar feminino, quase infantil quando combinado com minha roupa. Eu não era a bomba que minha irmã era, a rainha durona como Harleigh Rose, a beleza boêmia de Lila ou a elegante princesa da Disney que era Cressida. Eu era apenas eu. Mas então imaginei Priest atrás de mim, sua boca severa e séria naquela exuberante barba ruiva escura, seu cabelo rebelde preso em um coque bagunçado na nuca, seus dedos tatuados em volta da minha garganta como o acessório mais sexy, e eu pensei, talvez, eu era uma coisa boa para ser. Houve uma forte vibração na porta quando alguém tentou a maçaneta e a encontrou trancada. — Ocupado, — gritei, abrindo a torneira para lavar as mãos. Outro forte barulho da alça de metal. — Ocupado! — Eu gritei novamente. Silêncio.

Eu ajustei meus seios na minha blusa e mostrei ao meu reflexo um sorriso ensolarado que eu não sentia. Como eu poderia estar tão desolada de desejo quando acabara de ver o Priest um dia atrás? Foi porque eu dei a ele minha virgindade? Eu acho que não. Embora eu tivesse sido criada para acreditar que o sexo era para marido e mulher, não subscrevia por atacado todas as crenças cristãs. Eu acreditava no casamento gay, no direito de escolha da mulher e em fazer sexo quando você se sentia bonita e corajosa o suficiente para ter essa intimidade com alguém que você acreditava ser digno. Fiquei olhando para a fita rosa que havia amarrado em meu pulso direito e me lembrei da maneira como Priest amarrou em minhas mãos, atando-as nas minhas costas para que pudesse me usar como quisesse. O calor subiu pelo meu estômago e se espalhou pelas minhas coxas. Eu queria que ele enrolasse aquela fita em volta da minha garganta um pouco apertado demais. Eu queria que a ponta de sua faca contra minha pele cortasse seu nome em meu corpo para mostrar sua propriedade sobre ele. Porque ele me possuiu, de corpo e alma. A única coisa que eu nunca soube, com certeza, era se seríamos compatíveis na cama, e depois de ontem à noite, eu tinha certeza de que todas as minhas fantasias mais obscuras e desviantes só poderiam ser satisfeitas e superadas pelo executor mais velho com mãos cruéis e olhos perversos. Houve um estalo alto contra a porta atrás de mim, como se alguém tivesse sido empurrado para dentro do batente. Eu me virei, meu coração na garganta, esperando que tudo estivesse bem lá fora.

Outro estrondo massivo sacudiu a frágil porta, mas foi sincronizado perfeitamente com o baixo da música alta, então se misturou com a melodia. Duvido que alguém ao virar no final do corredor ouviria a cacofonia. Eu percebi como minha respiração obstruída em meus pulmões que alguém estava tentando entrar, dentro. Instantaneamente, meu coração começou a acelerar, o suor escorrendo por todo centímetro da minha pele. Não havia muito na baia para deficientes físicos para usar como arma, mas eu estava grata como sempre pela faca de dois gumes que Priest havia me dado, que eu usava presa na parte superior da minha coxa, sob a meia arrastão. Meus dedos se atrapalharam para puxar a malha para chegar à faca quando houve outro estrondo contra a porta. A maçaneta caiu de dentro, deixando um buraco para o exterior. Nele, eu podia ver o corpo vestido de preto de um homem. Um segundo depois, a porta se abriu com as dobradiças que rangiam suavemente. O som causou arrepios na minha espinha. Eu olhei para cima através do meu cabelo quando o homem entrou, seu rosto obscurecido pelas sombras de seu capuz. Meus dedos entorpecidos rasgaram a rede arrastão, mas a faca caiu no chão entre meus pés. Houve uma fração de segundo que se arrastou em câmera lenta enquanto nós dois olhamos para a faca descartada. E então nos movemos. Abaixei para agarrar a faca com segurança em uma das mãos assim que ele se lançou através do espaço. Uma de suas mãos me puxou pelo cabelo com

tanta força que gritei, mas já estava levantando a faca para enfiar ela com força em sua coxa esquerda. Uma maldição cruel saiu de sua boca, mas ele não foi dissuadido. Tentei puxar a faca de seu músculo contraído, mas meus dedos estavam escorregadios de sangue. Eles escorregaram da alça de madeira entalhada enquanto ele me colocava de pé e me acertava com as costas da mão no rosto. A dor percorreu minha cabeça, branca e cegante. Tive a estranha sensação de meu corpo ser movido facilmente sem meu consentimento, meu cérebro momentaneamente desconectado do meu corpo. Voltei para ele com uma rapidez chocante e dolorosa que me roubou o fôlego. Ele me ergueu sobre a bacia, a porcelana fria contra minha bunda nua sob a saia. Ele estava mexendo na minha meia arrastão para chegar ao meu sexo. Determinação solidificou cada molécula do meu corpo com uma intenção viciosa. Aproveitando sua distração momentânea, inclinei-me para a frente e prendi a parte inferior de sua orelha entre os dentes. Ele tentou se desvencilhar, o que me desalojou da pia e me pôs de pé. A força extra da minha queda arrancou a parte inferior de sua orelha, lóbulo e cartilagem, como uma pilha de papel se rasgando. O som úmido dele rasgando era nauseante, o respingo de sangue uma onda de umidade como o spray do mar contra meu rosto. O gosto de ferro inundou minha boca, mas eu não o cuspi imediatamente, enlouquecida de pânico e autopreservação para me preocupar com o sangue escorrendo pelo meu rosto e peito.

Meu atacante cambaleou para trás, seu capuz deslocado de forma que um rosto estranho olhou para mim. Pisquei, um pouco chocada porque presumi que conheceria meu agressor, as estatísticas afirmam que a maioria das pessoas era agredida por conhecidos. Mas este era um homem branco qualquer com a cabeça raspada e uma barba bem cuidada. Ele não parecia particularmente assustador, sem a camada de sangue que a mão segurava em sua orelha semi-cortada. Ele simplesmente parecia um homem que eu não olharia duas vezes na rua. Então seu rosto se transformou, seus dentes se curvando em um grunhido enquanto ele se lançava sobre mim novamente, uma mão ensanguentada pendurada e a outra segurando uma faca que eu não tinha visto antes. Seu andar era desajeitado com a faca na coxa, mas eu não tinha arma e estava encurralada. O medo cristalizou minha visão, transformando tudo em alta definição, movimentos vívidos. Eu me perguntei, com calma, se era assim que eu morreria. Se fosse isto, isto e eu estaria morta, morta, morta. Antes que ele pudesse me alcançar, no entanto, ele parou, os olhos arregalados, o torso congelado e arqueado como um arco de tensão. Houve um som de revirar o estômago, esmagamento úmido e então a ponta de uma faca enorme se projetou de seu ombro direito interno. Eu o observei girar, observei meu atacante gorgolejar e realmente guinchar de dor antes de cair no chão inconsciente. Atrás dele, nas sombras da porta aberta, estava Priest.

Capítulo Dezesseis Bea

Um soluço ferveu na minha garganta, mas eu o peguei em minhas mãos enquanto me levantava, olhando com os olhos arregalados para meu herói improvável. Priest estava envolto em trevas, apenas a ponta de seu nariz romano e a borda íngreme de sua mandíbula tensa e maçã do rosto saliente capturados pela luz vermelha artificial da placa de saída logo atrás dele no corredor. Ele parecia um demônio vingador com tanta probabilidade de matar quanto de te ajudar, perigoso e tenso, apesar de seu comportamento calmo. Mas algo estava à espera entre nós, uma energia vibrante como a corda de uma guitarra dedilhada que cantava em meu sangue. Ele deu um passo à frente, arrancou a faca das costas do meu atacante, verificou seu pulso e passou por cima de seu corpo caído para chegar até mim. Seu corpo se movia tão sinuosamente, uma máquina pesadamente musculosa e untada pela graça. Minha boca ficou seca e minha mão tremia onde ainda estava pressionada contra minha boca coberta de sangue.

Ele parou a apenas alguns centímetros de distância, as pontas dos meus saltos de couro contra suas botas de couro. Ele não estava respirando com dificuldade, mas eu podia ver a forma como sua boca firme se separou sobre sua respiração, a forma como seu peito se movia sob o material rígido e familiar de seu corte Fallen. Eu absorvi cada centímetro dele, contando as incontáveis sardas em suas bochechas acima da barba, desenhando o formato de suas sobrancelhas retas e o ângulo exato de seu queixo quadrado. Apenas a visão dele acalmou o pássaro agitado e ansioso de medo furioso que tentava voar na minha barriga com as asas quebradas. Eu suguei um gole forte de ar envenenado por ferro enquanto ele lentamente ergueu sua mão e tirou a minha da minha boca. Cada centímetro de mim ficou precariamente imóvel como se eu estivesse sendo cheirada por um animal selvagem quando ele passou um dedo grosso e caloso ao longo da minha bochecha já inchada, em seguida, até o canto da minha boca, onde gentilmente espalhou o sangue fresco em meus lábios como um brilho mórbido. Seu olhar se intensificou quando seu polegar separou meus lábios, e o pedaço da orelha do meu atacante, ainda enfiado na minha boca, se tornou visível. Lembrando-me disso, cuspi o pedaço de carne ao meu lado no chão. Algo em sua postura mudou, seu corpo se contraindo e se inclinando em minha direção. Lentamente, ele virou a cabeça para olhar o corpo caído do homem que ele tinha esfaqueado, notando a bagunça sangrenta na lateral de sua orelha. Quando seu olhar voltou para o meu, ele me prendeu tão prontamente quanto ataduras em minhas mãos e pés. Algo brilhou entre nós, um raio de luxúria pegando fogo no local encharcado de sangue.

E então ele estava me beijando. Me-beijando-me-beijando. Beijando-me com tanta força que eu não conseguia respirar e não queria. Sua mão ainda estava na minha boca, abrindo-a com um polegar pressionado na pele sob meu lábio inferior. Passei minha língua sobre ele, sentindo o gosto salgado de sua pele, a mordida metálica do sangue de outro homem. Não deveria ser sexy. Estava errado, talvez até nojento. Mas acendeu algo em mim que eu inconscientemente vinha transformando em uma fogueira há muito, muito tempo. Eu gemi e agarrei seus ombros revestidos de couro, minha perna enganchando em torno de sua perna para que eu pudesse escalá-lo como um trepa-trepa. Eu estava desesperada por ele, este homem que era ao mesmo tempo um herói e um vilão, que era a morte para muitos, mas tão marcante para mim. Eu precisava dele em mim, dentro de mim, ao meu redor. Eu queria que ele me consumisse, porra. Ele enfrentou meu ataque frenético com facilidade, aquela mão fora da minha boca deslizando até a minha garganta, onde ele pressionou com força na minha jugular, eu sabia, para confirmar o meu batimento cardíaco. À sua maneira, ele também estava frenético, embora mais controlado, sempre mais controlado do que eu. Seu aperto chegou em meu quadril enquanto ele me pressionou até o comprimento de seu corpo, esfregando-me em sua coxa para que eu pudesse ter um pouco de fricção contra minha boceta apertada.

Era errado estar tão excitada, querer sexo mais do que meu próximo fôlego depois de quase ser agredida e estuprada, depois de arrancar metade da orelha do meu agressor, os restos de seu sangue ainda no meu queixo, sugado pela boca do Priest nos meus lábios. Em vez disso, estava extremamente excitada. Adorei saber que o homem que havíamos derrubado estava aos nossos pés. Eu adorava sentir que qualquer obstáculo futuro entre nós teria o mesmo destino. Minhas mãos ansiosas se atrapalharam com o cinto do Priest, mas não conseguiram trabalhar rápido o suficiente para nenhum de nós. Com um rosnado feroz, Priest arrancou sua boca da minha, finalmente sem fôlego. Ele olhou fixamente para a visão do sangue na minha pele, de sua macabra lápide tatuada com a mão na minha garganta. — Caralho, — ele amaldiçoou em um rosnado baixo de derreter a calcinha. — Até o sangue fica bem em você. — Eu preciso de você, — eu implorei, além do ponto da vergonha. Cada coisa que eu aprendi uma vez sobre pureza e pecado, esquecida na tempestade de uma luxúria que só o Priest poderia trazer. — Por favor. Sua mão teve um espasmo na minha garganta. Eu nunca tinha visto olhos de um verde tão claro e tão escuro ao mesmo tempo, a íris cercada de preto, o interior verdejante como grama recém-molhada. — Se eu te foder, vou te foder com força. Preciso marcar você depois que aquele filho da puta tentou tirar o que é meu.

— Se eu sou sua, você pode me levar da maneira que quiser, — eu prometi, arqueando em seu aperto firme no meu pescoço, esfregando-me descaradamente em sua coxa enquanto eu tateava o tubo de ferro de seu pau duro na braguilha de seu jeans. — E Priest? Posso parecer uma garotinha inocente, mas minhas fantasias sempre foram sombrias, pecaminosas e rudes. Eu engasguei bruscamente quando Priest me virou e me curvou com firmeza sobre a pia. Meu cabelo caiu no meu rosto enquanto eu apoiava meus antebraços na pia, espalhando minhas coxas enquanto ele levantava minha saia. Houve o estalo de seu canivete quando ele o abriu, então o gume frio da faca foi pressionado na parte interna da minha coxa. Eu observei o rosto de Priest no espelho enquanto ele observava sua faca cortar a meia arrastão, cortando uma linha de coxa a coxa entre minhas pernas e, em seguida, um músculo em sua mandíbula saltando enquanto ele cuidadosamente deslizava o metal por baixo da abertura da minha calcinha. O tecido se abriu com um sussurro enquanto se partia sob a ponta afiada onde ele desenhou o vinco entre as minhas nádegas. O ar frio flutuou sobre minha carne úmida e febril, chamando minha atenção para o quão pronta e latejante eu estava para ele. A dor daquela manhã estava de volta como um alarme estridente, avisando-me que eu entraria em combustão sem ele dentro de mim, assim como eu entraria em combustão com ele enfiado ao máximo. Sua mão era áspera com calosidades contra minha bochecha quando ele espalmou facilmente em uma mão poderosa, apertando e massageando rudemente antes de dar um pequeno tapa. Quando eu apenas gemi e balancei de volta para ele, ele me bateu forte em rajadas agudas e rápidas de calor para cada tapa. Vagamente, notei o barulho de seu cinto sendo aberto e o som

áspero de um zíper se abrindo, mas a batida de sangue em meus ouvidos e aquele toque ressonante de carne me consumiram. — Santo Deus, — eu engasguei enquanto empurrava de volta para ele. — Oh meu Deus. — Não há Deus nesta casa de adoração, — Priest disse asperamente, recolhendo meu cabelo em sua mão livre para enrolar ele uma, duas vezes em seu punho.  Ele me puxou de volta por ele como se fossem rédeas, então eu estava olhando para ele no espelho, costas arqueadas, bunda inclinada e exposta para ele. Seu sorriso era uma fatia escura e vermelho-sangue em seu rosto. — Só o diabo. E então o calor ardente de seu pau estava na minha entrada, empurrando dentro da minha carne sensível tão selvagemente, eu soltei um grito áspero. — Melhor do que a porra do céu e da terra, — Priest disse com aquela voz rouca de irlandês enquanto me batia na pia, espalmando uma nádega ligeiramente aberta para que pudesse ver seu pau deslizar para dentro e para fora de mim. — Uma bocetinha tão apertada esticada ao redor do meu pau. Eu choraminguei, o calor se acumulando em cada ponto sensual do meu corpo, no enrolar dos meus mamilos e no peso inchado dos meus seios, na parte de trás dos meus joelhos e na pulsação na minha garganta. Eu nunca senti nada parecido com esse aperto e calor entre minhas pernas. Só o sol me beijou ali, o sol e o ar e o toque frio da água. Por dezenove anos, a natureza foi minha única amante, uma coisa tímida, hesitante e

provocadora. Priest não era nenhuma dessas coisas. Ele era a antimatéria, me sugando impiedosamente e se recusando a me cuspir, corroendo minhas bordas até que eu fosse todo núcleo, toda sensação. Calor e energia se enrolaram como um novo planeta brilhando ao lado de suas profundezas negras e insondáveis. Isso era melhor, essa intensidade devastadora que me arrasou até o fundo da minha alma. Era melhor do que qualquer poesia, melhor do que qualquer devaneio. Era muito visceral para colocar em palavras, então não tentei. Eu apenas gemia e me debatia e me concentrava no bombear quase doloroso daquele pau grosso de aço dentro do meu corpo recém-tomado. — Vou te foder todos os dias agora, — Priest ameaçou como se não fosse a única promessa que eu sempre quis ouvir. — Vou te foder com tanta força e tanto tempo que você não consiga andar direito sentindo a minha ausência em sua boceta. Você vai me ligar se fizer muito tempo, implorando por uma solução. Você ficará tão viciada na minha marca em seu corpo que fará qualquer coisa que eu pedir, não é, Pequena Sombra? Doce, garotinha que se tornou devassa só por mim. — Sim, — eu sibilei por tanto tempo que perdi o fôlego e não consegui encontrar uma maneira de recuperá-lo. Em vez disso, comecei a ofegar ruidosamente, perseguindo o ar e perseguindo o meu orgasmo. — Oh, oh, Priest, oh meu, porra, eu vou... vou... — Eu não conseguia dizer, as palavras emaranhadas em minha mente errante enquanto fogos de artifício começaram a estourar e borbulhar na minha barriga. — Você vai gozar pelo seu Priest,— ele terminou enquanto puxava meu cabelo com tanta força que as lágrimas saltaram aos meus olhos e,

simultaneamente, pousou outro tapa na minha bunda. — Goze em cima do meu pau, menina bonita, e me observe enquanto eu gozo dentro de você. Quero que você veja exatamente quem é o dono dessa bunda. Eu encontrei seus olhos sob a sobrancelha escura e franzida, notei o brilho de suor em sua sobrancelha majestosa e gozei assim que vi o sangue acumulado na borda de sua boca, a maneira como sua língua saiu para proválo. Meu útero se contraiu com tanta força que me preocupei em implodir, e então o fiz, cada molécula do meu corpo girando alto e longe. Houve um lamento em meus ouvidos que reconheci vagamente como minha própria voz gritando em aleluia e um gemido gutural quando Priest me fodeu de alguma forma mais forte, então um rugido de triunfo masculino feroz quando ele atingiu o clímax dentro de mim. Eu podia sentir o calor de sua semente contra minhas paredes tenras, o fio dele vazando da costura de nossos corpos unidos. Eu afundei indefesa contra a pia, meus membros não complacentes, minha boceta, pulso e respiração as únicas coisas ainda funcionando, ainda latejando. Houve um vazio estranho que me fez estremecer quando Priest gentilmente saiu do meu corpo. Corei quando ele segurou minha boceta, batendo levemente algumas vezes, do jeito que você faria com um animal de estimação bem treinado. Isso fez meu corpo exausto formigar novamente, se iluminou com vergonha de uma forma que eu não sabia que poderia ser sexy. Eu choraminguei baixinho quando ele espalhou seu esperma sobre o meu clitóris, então de volta para o meu traseiro, que eu apertei timidamente. Sua exalação suave era uma risada de Priest. Minha calcinha e meia arrastão estavam arruinadas além do reconhecimento, então ele as arrancou de minhas

pernas com puxões eficientes, depois virou minha saia para baixo, alisando-a gratuitamente sobre minha bunda. Só então ele me puxou para cima e me virou, um braço em volta das minhas costas e o outro no meu rosto, os dedos arranhando minha bochecha inchada e rosada. — Eu vou matá-lo por tocar em você, — ele praguejou sombriamente, os olhos ardentes em meu ferimento. — Vou amarrar aquele filho da puta com as mãos para que seus braços se desloquem, então tomar meu tempo cortando-o em lindas fitas. Quando eu terminar com isso, quando ele me contar por que diabos ele atacou você, vou estripar como um peixe, cortado bem na barriga macia. Vou estender a mão e puxar suas entranhas para que possa senti-lo morrer de dentro para fora enquanto vejo isso acontecer. Eu encarei aqueles olhos luminosos com seus longos cílios castanhos, olhos tão bonitos para um homem tão cruel. Eu queria que ele lesse em meu próprio olhar as palavras que ele gravou em meu coração muito antes mesmo de me tocar. Priest nunca cruzaria uma linha que seria muito longe para eu aguentar. Ele era capaz de uma violência devastadora, mas ele nunca machucaria meus entes queridos, apenas porque eles eram amados por mim, e ele também. Tudo o que consegui escrever nas telas dos meus olhos azuis, Priest leu como um monge devora as escrituras. Quando ele terminou, seu longo suspiro soprou no meu rosto um momento antes de ele inclinar sua testa na minha. Nós descansamos lá assim, sua mão no meu rosto, a minha pressionada em seu peito, uma sobre o distintivo tecido áspero em seu peito que dizia ‘Executor,’ até que o esperma entre minhas pernas começou a secar e meu

batimento cardíaco suavizou para combinar com o baque que senti contra meus dedos. Finalmente, ele se afastou para passar o dedo no sangue reunido na cavidade da minha clavícula. Com isso, ele desenhou o único canto branco que sobrou da minha blusa. Eu o deixei, olhando para ele com todo o amor brilhante e explosivo que eu sentia em meu peito irradiando pelos meus olhos. Quando ele terminou, ele me deu um leve aceno de cabeça. A paixão que impregnava seu rosto com a beleza humana se foi deixando-o mais uma vez frio e perfeito como uma estátua. Ele abriu o telefone e discou um número, levando-o à bochecha enquanto cumprimentava Wrath. Eu me virei para o espelho, os olhos já caindo no desenho que ele fez na minha blusa. Um coração vacilante e sangrento. E assim, Priest tinha mais uma vez transformado um dos piores momentos da minha vida em um dos melhores.

Capítulo Dezessete Priest

Torturar era uma arte. Poucos eram talentos naturais e menos ainda aprenderam a habilidade verdadeira. Não era a capacidade de uma pessoa para a violência que tornava um torturador proficiente. Era a capacidade de paciência de alguém. Um homem em agonia física pode suportar uma quantidade surpreendente de dor física antes de quebrar. É o sofrimento mental que os abre como uma tampa emperrada batida contra o balcão. De fato, é uma receita simples, na verdade. Primeiro, imaginação. Nada era impensável, tudo era voltado para a profanação e desmantelamento absolutos de uma mente e corpo humano. Adicione isso ao tempo prolongado, tanto de infligir tormento por horas, mas também antecipação, de modo que eles se perguntam até a loucura, imaginando quando o próximo ataque vai acertar, e pequenas feridas acumuladas com o tempo. O tempo era tudo, o que explicava por que os torturados eram os melhores torturadores. Nada conta mais do que a experiência.

Com o suposto estuprador encapuzado, comecei como você pode imaginar, mirando em suas zonas erógenas. Eu o pendurei no celeiro da Fazenda Angelwood, onde o clube costumava se desfazer de corpos ou realizar reuniões ilícitas. Prendi suas mãos em algemas grossas presas a correntes em um sistema de roldanas fixadas no teto de madeira abobadado e o levantei até que o estalo satisfatório de seus ombros deslocados ecoasse no celeiro ventoso. Então fui trabalhar no desgraçado. Agora, ele estava nu e tremendo na noite de inverno cada vez mais profunda, as correntes soando com seus estremecimentos ferozes. Era como música para meus ouvidos, o chocalhar e o estrondo de seus gemidos de dor, embora tenham sido distorcidos pela chave de fenda que eu enfiei na parte inferior de seu queixo até o céu da boca para que ficasse aberto enquanto eu arrancava os dentes com um alicate. Ele não era um trapaceiro experiente, um criminoso vitalício, porque quebrou muito rapidamente. A porra do Humpty Dumpty19 tombou facilmente sobre a parede, quebrando-se em pedaços que eram tediosamente simples de montar. Quatro dentes perdidos, mamilos cortados e caídos no chão como rodelas de pepperoni descartados, a desculpa patética para sua masculinidade espancada em preto e azul por soqueiras, e ele estava chorando. — Ele me pagou, porra, — o filho da puta murmurou através do sangue e do metal no centro de sua língua. 19 Humpty Dumpty é uma personagem de uma rima enigmática infantil, melhor conhecida no mundo anglófono pela versão de Mamãe Gansa na Inglaterra. Ela é retratada como um ovo antropomórfico, com rosto, braços e pernas. Usado p/ apelidar uma pessoa gorda.

— Tire isso, — Zeus ordenou suavemente, restringindo a violência contida em cada linha de sua postura onde ele se encostou na minha mesa de trabalho, observando-me brincar. — Quero ouvir o bastardo claramente. Minhas mãos em punhos tremiam com a necessidade de desobedecer, com a necessidade de tornar mais difícil, não mais fácil, para o homem falar, pensar, respirar mais uma vez, mas eu fiz o que Zeus mandou. Não porque ele ordenou, mas porque eu queria saber por que esse pedaço de merda tinha ido atrás de Bea. Senti uma necessidade fria e dura na base de minhas entranhas, uma pedra de anseio nada sofisticado, quase primitivo, de despedaçar aquele homem e qualquer outro que desejasse Bea Lafayette com minhas próprias mãos. Eu queria rugir de cada telhado que ela era minha, minha, minha. Eu queria que ela usasse meu nome em sua pele, gravado ali para sempre pela minha faca. Queria o nome dela na minha carne da mesma forma, mas visível, para que todos que me temessem olhassem para mim e soubessem que também deveriam temê-la. Porque se eles foderem com Bea, eles foderam comigo. E eu não era um homem com quem você fodia. Nunca. Com um puxão vicioso e inclinado, arranquei a chave de fenda da boca do idiota. Seu guincho combinou com o uivo alto dos porcos no cercado lá fora. — Por favor, — ele cuspiu, saliva sangrenta jorrando de sua boca devastada. — Por favor, pare.

Limpei a chave de fenda na parte inferior da minha camiseta. Em momentos como esse, eu tendia a usar preto. — Eu vou parar se você me disser o que eu quero saber, — eu disse casualmente enquanto me movia para minha mesa de trabalho e examinava a extensão de minhas ferramentas. Sempre mantive um rolo de lona com minhas armas e dispositivos de tortura favoritos em meus alforjes, uma variedade de facas Karambits e ganchos de tripa, bisturis e facas dobráveis de filé, bambu para lascar unhas, frascos de veneno, instrumentos rombudos como martelos e marretas, vários bastões e chicotes, embora eu raramente os usasse. Era uma coleção da qual me orgulhava, que colecionei ao longo dos anos e tomei muito cuidado para manter limpa e bem cuidada. Eu segurei algumas facas diferentes, ouvindo os doces gemidos e exalações ásperas da minha vítima. Considerando o meu humor, eles não eram suficientes. Eu vi Wrath sentado em um fardo de feno nas sombras. — Pegue a motosserra para mim. — Porra! — Cal Mulligan gritou, as lágrimas escorrendo pelo rosto. Curtains tinha feito sua mágica geek e encontrado o velho Cal online em cerca de trinta segundos, com base na carteira de motorista que encontramos em sua carteira. Ele tinha 43 anos e vivia fora de Entrance, trabalhando para uma empresa de transporte local. E ele era um criminoso sexual condenado.

— Porra, cara por favor, — ele implorou em meio aos soluços. — Um cara que conheci me pagou uma tonelada de dinheiro para estuprar a garota. — Para estuprar Beatrice Lafayette, — eu confirmei. O frio na minha voz fez com que a geada cobrisse minha garganta. O molde frio do meu coração estava transformando meu sangue em gelo. Quando ele não respondeu rápido o suficiente, coloquei a Karambit na minha mão direita e abri um buraco com a ponta da faca logo abaixo de seu esterno. O sangue quente vazou do buraco como seiva de uma árvore e desceu por seu estômago grosso para pegar no arbusto denso de sua virilha. Uma desculpa nojenta e patética de homem. Eu torci a faca por nenhuma outra razão do que eu queria aumentar o volume de seus gritos. — SIM! — Ele gritou, soluçando tão forte agora que seu corpo tremia e balançava, o osso em seus ombros deslocados rangendo. — Porra, porra, porra. Sim! — Como você o conheceu? — Perguntei categoricamente, deixando a faca em seu estômago, pronta para abrir o zíper de sua barriga com ela e puxar suas entranhas como eu tinha prometido à Bea que faria. — Por que ele queria que você fizesse essa merda? — Ele-ele não disse, — ele ofegou. Eu bati meu punho em seu rosto, inclinando-o para a esquerda. — Tente de novo. — Priest, irmão, — Zeus tentou me acalmar. — Não o mate ainda.

Eu não podia, não me acalmar. A imagem das mãos da porra na carne pura e linda de Bea, a maneira como ele marcou seu rosto frágil com um hematoma vívido, o fato de que, se eu não estivesse lá, ela poderia ter sido levada apenas pela terceira vez na porra da vida por um tipo pior de monstro do que eu... Porra. Minha visão afundou. Eu agarrei as bochechas carnudas de Cal Mulligan em um aperto forte e trouxe meu rosto rosnando a alguns centímetros do dele. — Você me diz tudo o que sabe nos próximos dez segundos, ou vou passar as próximas dez horas matando você tão lentamente, tudo o que você vai lembrar da porra da sua vida patética é a dor. — Ele me pagou cinco mil para machucar ‘a linda garota loira’ que passa todo o seu tempo com o Priest McKenna, — ele vomitou em sua respiração ofegante. — Me disse que eu poderia encontrá-la passando algumas horas na Hephaestus Auto. Que você trabalhava lá. Eu me acalmei enquanto tudo em mim girava em torno dessa nova informação. Não o serial killer. Este não era ele. Este não era seu show ou sua motivação. Era outra pessoa totalmente diferente. E facilmente, eu sabia quem diabos era. — Qual era o nome do homem que te enviou? — Eu exigi. Quando ele hesitou, os olhos girando em sua cabeça como bolas de gude à procura de

ajuda de meus irmãos testemunhas que ele nunca teria, eu avisei. — Me diga agora, em vez disso vou matá-lo em cinco horas. O lábio inferior rasgado e ensanguentado de Cal gorjeou, sua barriga tremendo sob o sangue como gelatina vermelha. Assistir a um homem se desfazendo nas costuras era um tipo especial de embriaguez. — W-Walsh, — ele gritou. — Sean Walsh. A adrenalina borbulhava no meu sangue, incitando-me a caçar Sean Walsh e abri-lo com a minha faca, separar pele de músculo, músculo de osso, e então talhar isso em troféus pra caralho para a porra da minha lareira. — Sean Walsh, — repeti, para o caso de Curtains não ter ouvido. Um parente Walsh esquecido que quer vingar seus parentes mortos. — Ele me encontrou do lado de fora da Igreja da Primeira Luz, — Cal cantou como um canário de merda. — Depois de uma reunião. — Não sabia que eles mantinham estupradores anônimos, — Wrath murmurou sombriamente. — Faria questão de ficar fora desses edifícios também se eu soubesse. O estalo de seus dedos ressoou pelo celeiro. Cal Mulligan soluçou mais alto. — Chega, — Zeus ordenou, já se virando para colocar a mão no ombro de Curtains e olhar para a tela do computador. — Acabe com isso. — Com prazer, — eu disse com um dos meus pequenos sorrisos desgrenhados.

Sinuosamente, arranquei a Karambit da barriga de Cal e me ajoelhei na poça de sangue no chão. Um segundo depois, seu pequeno pau estava em minhas mãos, a faca ondulando e cortando como manteiga através do apêndice. Seu uivo ecoou pela estrutura de madeira úmida e cantou pelo meu sangue. — Deixe, — eu lati enquanto Wrath avançava para tirá-lo do teto. — Deixe o filho da puta sangrar. — Eu abri aquele pequeno sorriso para Cal enquanto ele choramingava e gritava de dor. — Este é meu tipo de misericórdia. Seja grato por isso. Eu virei meu calcanhar, a bota esguichando no sangue, e saí do celeiro, precisando do ar frio para me lembrar que eu deveria ter um coração frio. Em vez disso, o órgão traidor bateu forte no meu peito como um fole, soprando sangue quente por todo o meu corpo. Eu estava pegando fogo com algo pela primeira vez na minha vida, com paixão em vez de crueldade calculada. Essa violência não era apenas esporte, era uma necessidade. Ele merecia morrer repetidas vezes por colocar um único dedo na cabeça angelical de Bea Lafayette. Escória como Cal deveria fugir dela, sabendo instintivamente que ele era inferior pra caralho para estar perto de uma mulher tão pura de alma. Eu encostei contra a lateral do celeiro, o couro de volta na madeira molhada, os dedos gelados da noite tempestuosa em meu cabelo solto, chicoteando meu rosto. Eu dei boas-vindas à dor, mas ela não me aterrou do jeito que deveria, então eu puxei meu canivete e fiz um corte longo e raso em minhas palmas, traçando velhas cicatrizes. Quando cerrei minhas mãos ao

lado do corpo, o gotejamento melódico de sangue no concreto sob meus pés me acalmou. O estremecimento do meu coração descongelado sufocou com a dor, mas eu peguei minha lata de cigarros de cravo enrolados à mão do bolso da calça jeans para manter a calma. No momento em que respirei fundo o bastão tóxico, exalei como um monge em oração e fechei os olhos para saborear a névoa tonta. No próximo, eu estava jogando o cigarro no chão e perseguindo a minha moto, a mente clara e com a intenção de caçar o filho da puta do Sean Walsh para que eu pudesse alimentá-lo com suas próprias besteiras. Um aperto de aço em meu antebraço me parou no meio do caminho, fazendo com que minhas botas deslizassem na lama congelada. Quando me virei, King estava lá, segurando firme em mim mesmo quando eu me afastei, seu rosto definido com aquele olhar Garro de determinação. — Não vá todo vigilante nisso, Priest, — King insistiu. Pisquei para ele em resposta, o rosto mantido imóvel. Ele não consegue me dizer o que fazer e não consegue agir como se me conhecesse bem o suficiente para mapear meus objetivos. O bastardo tinha ‘morrido’ por meses, deixando todo o clube destruído por sua perda precoce. Muitos dos irmãos ainda não o haviam perdoado. Incluindo eu. Eu não era o tipo de homem para formar conexões íntimas, mas King significava algo para mim, esculpido nas paredes de gelo do meu coração, e

pensar que ele estava morto me assombrou. Eu era um soldado dos Fallen, a besta alugada de Zeus Garro, e o mais importante, a parede que qualquer um deveria ter que atravessar para chegar até a porra de sua família. E eu falhei. — Priest, — King repetiu, puxando com força para mim. — Não saia informado pela porra da metade. Algo sobre isso não parece certo. Quando me virei para passar uma perna por cima da minha moto, King praguejou. Um momento depois, ele estava em cima de mim, derrubando-me no chão lamacento. Eu grunhi quando bati na terra macia, mas eu já estava me movendo, rolando King de costas antes que ele me puxasse de volta para as minhas. Nós caímos na terra molhada, nossos membros faltando apoio na mancha, nossas intenções perdidas para o desejo animal de superar um ao outro. Finalmente, eu o imobilizei no chão, recuei e acertei um soco na ponta quadrada de seu queixo. Eu bati meus dentes para ele. — Só os irmãos conseguem me controlar. Da última vez que verifiquei, você era um fantasma. A luta saiu de seus músculos instantaneamente, o molde de suas feições mudando de rosnado para choque. Eu deveria ter aproveitado minha vantagem, mas havia algo suave em sua expressão que fez algo afiado perfurar minha pele grossa. — Aí está, então, — King murmurou, erguendo o queixo novamente como uma provocação. — Vá em frente, cara. Se você precisa que eu pague alguma penitência fodida porque é a única maneira que você conhece, eu vou pagar

muito bem, porra. Significa que somos irmãos de novo, você pode me bater na porra da terra. Suas palavras se encaixaram entre minhas costelas como uma adaga bem colocada, mas foi a determinação em seu rosto que torceu a faca agonizantemente sob minha carne. Ele me conhecia muito bem. Eu queria que ele se desculpasse com uma penitência, porque foi assim que fui criado. As bengalas e facas cerimoniais do padre Hannigan esculpindo pedaços de minha carne jovem e flexível. Ninguém sabia nem perto da história completa da minha infância, e ninguém nunca saberia, mas King era um bastardo inteligente, e ele chegou perto de adivinhar isso ao longo dos anos. A doença floresceu como algas na minha barriga, transformando meu intestino em ácido. Eu me lancei de King e rolei para um assento ao lado de sua forma caída na lama, encostando-me no cromo frio da minha Harley. — Levante, — eu ordenei, evitando seus olhos enquanto ele se sentava e arrastava sua bunda pela terra para se sentar ao meu lado. O silêncio desceu, o leve zumbido estático de uma televisão com sinal perdido. Apoiei meus antebraços nos joelhos levantados e olhei para as marcas da lápide em meus dedos. O nome de King chamou minha atenção, gravado em preto no polegar da minha mão direita. A tinta ainda estava fresca, tão clara que saltou da minha pele como uma declaração. O King está morto.

Minha garganta queimou com aquele fogo há muito perdido que rachou a base de concreto que eu coloquei em minhas entranhas há muito tempo. Esteve fervendo e turvando sob a superfície desde aquele beijo com Bea no Purgatory Motel, crescendo em força a cada dia depois disso. Sinceramente, senti falta de ser feito da porra do gelo. — Você sabe, estar morto não foi moleza para mim também, — King finalmente disse. O cara não conseguia ficar quieto por muito tempo. Eu fiz um tipo de grunhido na minha garganta que não era afirmação ou rejeição. King riu ligeiramente. — Sim. Sim. Ouça, eu tomei a decisão. Eu tenho que viver com as consequências. — Ele fez uma pausa, virando a cabeça para olhar os campos de trigo recém-semeados. Os dedos do vento gelado levantaram seu lindo cabelo de menino e o emaranharam sobre o toco de um lápis que ele usava atrás da orelha. — Nunca vou esquecer a cara do meu velho quando voltei. Pensei que tivesse sido rasgado no meio pela maldita agonia em seu rosto. Tenho um filho agora, então posso adivinhar melhor que inferno novo meu pai estava vivendo todos os dias que eu estava perdido para ele. Sim. Não havia como passar dos meses de pesadelo que King esteve perdido para Z e o clube. Z tinha Harleigh Rose, Ares, Angel e Monster, e sua Loulou para o apoiar, mas ele foi assombrado pelo fantasma de seu primogênito de uma forma que fez até eu acreditar em porra de fantasmas.

King encostou a cabeça na moto e olhou para o céu. A noite estava escura e repleta de nuvens, mas aqui e ali, um brilho da luz das estrelas empurrou sua pequena luz anêmica. — Senti falta da minha irmã como um buraco no estômago também. Perdi os primeiros meses de vida dos gêmeos, e isso dói. Senti falta dos meus amigos. Ansiava por meus irmãos. — Ele fez uma pausa, rolando a cabeça contra a minha moto de uma forma que me fez querer rosnar para ele para tomar cuidado, mas as palavras se transformaram em cinzas na minha língua quando ele apontou seu queixo machucado para mim. — Senti sua falta, Priest. Meus dentes cerraram contra a onda de algo subindo pela minha garganta. Tentei limpar com um engolir em seco e uma tosse curta, mas a sensação permaneceu. Era como se o câncer de sentir falta dele que eu nunca tinha percebido que me infectou estivesse se purificando do meu corpo. Eu lutei contra isso, com raiva por sentir qualquer coisa, depois com mais raiva por acumular mais emoção em cima disso. Então eu abri minha boca, admitindo a derrota, e cuspi. — Foda-se. King riu. Era a risada de Garro, o som que me tirou do estupor quando desci daquele cargueiro em solo canadense e segui Zeus Garro para tomar um café. Foi aquela de barriga cheia, cabeça erguida para o céu soando como se fosse algum tipo de oferenda a Deus, que me fez perceber, mesmo aos dezessete anos, mesmo com um trauma até o pescoço, que esse era o tipo de homem que qualquer um seguiria.

Seu filho deu aquela risada, e ouvi-la foi a gota d'água. Fiz uma careta para ele enquanto ele ria e abri meu canivete com um movimento experiente do meu pulso. — Eu vou te estripar, se você continua rindo assim. Ele está me dando uma dor de cabeça sangrenta, — eu grunhi. O bastardo riu mais forte. Eu o ignorei, principalmente, olhando para as estrelas, contando as poucas que brilhavam no escuro. Mas aquele som era uma fita de seda em minha corrente sanguínea. — Não é um crime amar alguém, você sabe, — King disse através de sua risada dissipada. — Alguns dizem que é a razão de viver. — Nós vivemos para morrer. — Não havia como se desviar da verdade disso. — Não é religioso pensar de outra forma, — King me cutucou. — Religião não é a porra do inimigo, — eu disse, relutante em compartilhar, mas irritado o suficiente para fazê-lo de qualquer maneira. King arqueou uma sobrancelha. — Poderia me enganar com o jeito que você fala às vezes. — É a merda organizada que me pega, — eu murmurei, olhando para a ponta da faca entre minhas mãos, do jeito que o luar a tornava iridescente como os olhos de Bea. — Essa merda tem sido usada demais para fins malignos. Acreditar ou não em um poder superior não é razão suficiente para arruinar a vida das pessoas.

King piscou. Seu choque me fez ferver de mau humor. Não com ele, mas comigo mesmo. Quando foi a última vez em que falei sobre qualquer uma dessas merdas? As palavras que eu precisava para articular eram lentas em meu cérebro e grossas em minha língua. — Li sobre religião para entendê-la. Por um longo tempo, foi uma obsessão. Pensei que faria toda a merda que passei fazer sentido. Fodidamente não fez. Mas aprendi que todas as religiões vêm do mesmo lugar, como rios fluindo para o mar. As pessoas têm que acreditar no bem e no mal, na justiça, para passar pela vida sentindo que vale a pena o sofrimento. — E você acha que vale a pena saber que só leva à morte? O rosto de Bea estava lá, involuntariamente invocado para o primeiro plano da minha mente. A curva de seu rosto em forma de coração tão pequeno espalhado por minhas mãos grossas e malévolas. A forma doce de sua boca rosada sorrindo aquele sorriso com as bordas curvas, lábios mal entreabertos, como uma inspiração de esperança estava viajando por eles. Como se ela não pudesse suportar a ideia de eu não a tocar, nem poderia resistir a ser totalmente oprimida pela sensação de mim em qualquer centímetro dela. Se havia um Deus, estava na maneira como aquele anjo olhava para mim como se eu fosse a própria salvação. Eu não respondi a King. Ele não pressionou. O silêncio de novo, desta vez suave como veludo na noite escura. Minha bunda estava fria na lama, o sangue de Cal Mulligan secando bem na pele do

meu pescoço, bochechas e mãos. Mas eu poderia ter ficado sentado lá, talvez por horas. Antes de partir, King teria sentado lá comigo por todas elas. Ele era apenas aquele tipo de cara. Ele foi atraído para a escuridão silenciosa da mente de uma pessoa. Mute e eu. O selvagem que ele tirou por Cress como uma fita preta amarrada muito apertada em torno de sua alma que estava implorando para se desenrolar. — Nunca entendi direito a frase ‘ver as coisas como elas são’, — King ponderou, parecendo um ator de Hollywood brincando de rebelião, todo aquele cabelo e aquele sorriso. Se eu não conhecesse o homem desde que ele era um pré-adolescente me implorando para ensiná-lo a manejar uma faca, teria pensado que ele era um tipo de fraude. — As pessoas não veem as coisas como são porque não há consenso sobre qual é a norma. As pessoas veem as coisas como elas estão. Através das lentes de seu próprio preconceito. Eu não disse uma palavra porque conhecia King. Ele eventualmente chegaria a algum tipo de ponto crucial. Ele fez isso me lançando um olhar perspicaz. — Muitas pessoas veem o Priest McKenna como um assassino, como uma espécie de monstro de pesadelo. Essa é a verdade deles. Mas a linda Bea Lafayette não vê um monstro quando olha para você, irmão. Ela vê o homem que a faz se sentir completa. Não somos apenas as coisas como nos apresentamos. Em minha experiência, a verdadeira chave para conhecer alguém é observar o que capta sua atenção. Bea pode ter essa disposição ensolarada e usar aqueles óculos escuros horríveis em forma de coração, mas atrás deles, ela te observa desde o dia em que te conheceu. — King encolheu os ombros como se não tivesse

acabado de me entregar alguma sabedoria séria pra caralho. — Estou pensando que isso fala muito alto pra caralho, cara. — Já a fiz minha, — eu admiti rispidamente. — Está feito. — Mas você não está feliz com isso? — Não sei o que é felicidade, realmente. — Tentei pensar nas vezes antes de tudo, quando eu era apenas um garoto, quando mamãe e papai, Danae e Keely ainda estavam vivos. As imagens que conjurei estavam borradas, distorcidas pelo tempo e pálidas pelo manuseio frequente. Quando eu estava na igreja, essas memórias eram as únicas coisas que me faziam continuar. Elas há muito perderam sua magia, e aquela felicidade era menos do que uma memória, era apenas uma cicatriz que mal conseguia me lembrar de ter recebido. King riu, passando o polegar contra a aliança de ouro em sua mão esquerda. Era atarracada e ostentosa porque ele estava orgulhoso pra caralho de ser o marido de uma mulher como Cress. Como ele deveria ser. — Houve um tempo, anos atrás, que eu tive que dar a definição ‘uma felicidade’ para minha esposa também. Vou dar uma diferente para você, agora, porque com certeza, você é um tipo de alma diferente dela. — Seus olhos cortaram para mim, tão claros que pareciam sobrenaturais, brilhando na lua da mesma cor de sua luz. — Felicidade é olhar nos olhos de uma mulher e ver a melhor versão que você refletiu de volta para você. Senti uma cãibra no estômago, como se a emoção que percorria meu corpo estivesse me causando indigestão. Eu cerrei meus dentes com a sensação estranha e olhei para o poeta motoqueiro ao meu lado.

— Alguém já te disse que você é sábio para um idiota? — Eu perguntei secamente. Sua risada era tão familiar para mim quanto o som da minha própria respiração. Se eu fosse o tipo de homem que tinha um melhor amigo, King seria meu. Até aquele momento, uma pequena parte de mim vivia com medo de que ele tivesse voltado dos mortos de um jeito errado, um zumbi como eu aos dezessete anos, como Wrath desde Kylie. Mas, sentado lá na lama, até o quadril, falando sobre merdas que não poderiam ter sido escritas em livros sob estrelas que pareciam ver tudo naquela noite, realmente parecia que nosso King havia retornado.

Capítulo Dezoito Bea

Tudo bem, então eu o segui. Em minha defesa, fiquei preocupada. Além disso, curiosa. Depois de ver o que sobrou da violência de Priest com Patrick Walsh no Purgatory Motel, e então sua agressão mal controlada com Eric quando pensou que estava envolvido nos assassinatos em série, tive uma necessidade estranha, mas insistente, de testemunhar Priest em seu elemento. Era perverso, talvez, mas era como estar com um atleta e não assistir seus jogos. Eu queria ver a extensão total de quem era esse homem para que eu pudesse amar cada centímetro de sua alma. Angelwood Farms era um cenário que tinha um lugar no dicionário The Fallen, mas ninguém tinha falado expressamente sobre isso comigo, e eu certamente nunca tinha visitado. Do lado de fora, o celeiro branco imponente, campos de solo recém-arado e um curral cheio de porcos farejadores quase pareciam a imagem da paz pastoral.

Mas eu podia ouvir os gritos de onde eu estava nas sombras da floresta, ao lado da estrada que levava aos edifícios. O som do vento varrendo os campos e o farfalhar dele nas árvores, combinado com os gritos, era estranhamente agitado. Quando eles pararam, observei Priest sair do prédio, King atrás, e então sua curta luta na lama. Logicamente, eu sabia que assistir dois homens musculosos e lindos lutando como pagãos não deveria me excitar, mas o fez. Eu queria muito ser amarrada com lama com Priest pesado em cima de mim, quase me sufocando, então cada respiração curta era algo como uma bala saindo da câmara comprimida de meus pulmões. Algo um pouco perigoso. Foi a madeira para a faísca em minhas entranhas, aquele perigo. Eu queria um homem que a maioria das pessoas temia que me afundasse um pouco forte demais na terra. No momento em que eles terminaram sua conversa quase silenciosa, e o resto dos homens saíram do celeiro como demônios saindo das entranhas do inferno, eu estava nervosa de luxúria e impaciente por ação. Era quase bom demais para ser verdade que Priest tivesse sido deixado para trás, encostado em sua grande moto de metal com as botas enlameadas cruzadas, o rosto uma colagem escura de terra seca e sangue humano, fumando um de seus cigarros de cravo enrolados à mão. Eu podia imaginar o cheiro porque eu roubei um uma vez quando ele deixou a lata velha de chá irlandês no balcão de café da manhã do clube durante uma festa alguns anos atrás. O almíscar terroso das folhas de tabaco, a batida aguda do cravo-da-índia e as notas suaves de algo meio doce, como âmbar ou baunilha.

Eu senti o cheiro antes de dormir por tanto tempo que o papel havia se desintegrado sob os óleos naturais dos meus dedos reverentes como as páginas da Bíblia ancestral do vovô. Mesmo assim, eu recolhi os detritos em uma velha lata da Hello Kitty e dormia com ela debaixo do meu travesseiro. Eu era uma garota obcecada e sem vergonha. Por um momento, enquanto o observava com olhos famintos, devorando o brilho opaco de seu cabelo ruivo na luz fraca do céu coberto de nuvens e a única lâmpada sobre as portas do celeiro, me perguntei por que era tão tabu para uma mulher ter tamanha intensidade de sentimento, mas tão sexy para um homem estar tão possuído pelo desejo. Eu não me importava se isso me deixava assustadora ou má. Afinal, eu estava apaixonada por um psicopata. Achei que precisava de uma pitada de loucura para combinar com ele tão bem quanto eu. Meu olhar caiu para minhas mãos, o Dara Knot 20 entalhado que eu toquei suavemente, esfregando meus polegares nas rachaduras que eu coloquei lá em meus momentos de turbulência do jeito que Priest pretendia que eu fizesse. Você não é fraca. Com Priest, não me senti fraca. Eu não sentia como se minha feminilidade, minha doçura ou minha inocência me tornassem boba ou insignificante. Elas me fizeram forte, forjada no amor e na bondade, e isso não era muito mais forte do que o ódio ou o trauma? Eu provaria isso, estava determinada, tornando meu quebrado Priest, feliz. Fazendo ele se apaixonar por mim também. 20 Dara Knot é um tipo intrincado de nó que se assemelha a uma árvore. Um símbolo celta associado à cultura irlandesa.

Quando levantei os olhos ao recolocar o nó Dara no bolso, ele havia sumido. Pisquei, perguntando-me por um momento selvagem se eu tinha imaginado a cena inteira. Mas então senti uma pressão fria e forte na parte de trás da minha cabeça. Eu nunca tive uma arma apontada para o meu crânio antes, mas era inconfundível. Uma sensação de calma tomou conta de mim, uma sensação de afogamento, a pressão contra meu corpo de toda aquela água acima de mim, o conhecimento de que eu não conseguiria chegar à superfície, a parada dura da minha respiração e o rugido abafado em meus ouvidos. — Pequena Sombra. — A voz saiu da escuridão. — Um dia, me seguir vai levar à sua morte. Um arrepio desceu pela minha espinha, uma pedra atirada contra a água. — Eu provavelmente poderia dizer o mesmo para você. Eu pareço atrair um certo tipo de homem. — Assassinos, todos nós, — Priest concordou com aquela voz que poderia assustar um criminoso experiente. — Como mariposas para uma chama eterna. — A luz precisa da escuridão para brilhar, — eu o lembrei, sentindo um medo repentino de uma forma que ele provavelmente não havia previsto. Meu medo não estava enraizado na violência. Priest nunca colocaria um dedo em mim que eu não quisesse. Meu medo era quase claustrofóbico, como se meu amor fosse essa grande coisa transbordante presa em uma sala de gelo. Ninguém jamais desejou como eu um degelo na primavera.

— Eu não sou poesia, Bea. Eu sou selvagem. Não finja o que nós dois sabemos, nenhuma palavra pode amenizar a feiura do que eu sou. — Ele parecia tão cruel, tão condescendente e velho. Eu sempre estive ciente da diferença de idade, nossas personalidades só provaram que aumentam isso, mas nunca me senti tão jovem e infantil ali com a esperança em minhas mãos como uma flor murcha. — Eu não preciso de um motivo para matar. Eu mato porque sou capaz de matar. É minha arte e, à sua maneira, por isso, também é minha alma. Preciso da morte para me lembrar porque estou vivo. Este sou eu, Bea. Manchado de sangue e pecado com a porra de nenhum arrependimento. — O coração de um assassino ainda pode amar, — eu pressionei, mas parecia uma pressão em uma ferida mortal, o sangue borbulhando muito rápido sob meus dedos. Inútil, pressionei com mais força. — Até a morte tem um coração. Ele inclinou a cabeça, os olhos em branco atrás de sua piscada, mal me divertindo. — Talvez em livros de histórias. — Na Bíblia, — protestei. — Satanás tem qualidades humanas. Ele peca porque é o mais humano de todos. Ele cobiça e ama. — Mas a religião não era a maneira de alcançar esse homem, então freneticamente, continuei. — Hades amava Perséfone tanto que rasgou a terra para roubar a luz dela para si mesmo no Submundo. O brilho foi fraco, mas o suficiente. Usei-o como a Estrela do Norte através da paisagem invernal de seu coração. Minhas mãos estavam suando um pouco com a minha angústia.

— Você me roubou no momento em que te vi, — eu disse a ele. — Você não queria, mas uma cratera se abriu na terra sob meus pés e eu caí em seu mundo, desesperada para estar nele e em seus braços. Engolindo o nó duro em minha garganta, virei-me para o encarar. Ele largou a mão que segurava a arma ao seu lado, então vendo meu olhar, ele a enfiou no coldre sob seu colete. Cautelosamente, sem ter certeza de sua resposta, estendi a mão para pegar suas mãos vazias. Elas eram frias e pesadas nas minhas, mas ele me deixou erguê-las entre nós, embora sua postura fosse rígida. Ele tinha mãos tão bonitas, dedos longos e afilados, grossos e levemente peludos com cabelos ruivos do mesmo tom avermelhado das sardas que marcavam a pele que não estava coberta de tinta escura. As tatuagens lápides foram reproduzidas lindamente, os nomes e mortos claros mesmo em sua pequena escrita. Corri meus dedos sobre eles, sentindo os sulcos na pele, esfregando minha unha sobre os nomes: Ma, Pa, Danae, Keely, O’Neal, Mute, Garrick, King. Tantas pessoas que ele perdeu ou matou, todas desgastadas em sua pele como cicatrizes deliberadas. Mas também havia essas feridas que nunca cicatrizaram até ficarem invisíveis. Linhas finas cruzavam suas palmas em vários tons de nude, branco, rosa e vermelho lívido, o último fresco e obviamente autoinfligido. Uma cicatriz em forma de espiral como uma estranha queimadura, a pele sedosa e fina. Eram mãos grandes e fortes, mãos de homem assassino, mas sempre me trouxeram paz. Eram mãos contadoras de histórias, falando mais eloquentemente com a história sombria de Priest do que seus lábios haviam prestado serviço também. As mãos de um assassino nunca foram tão amadas.

Eu encarei seu olhar sombreado enquanto levava o peso de uma para minha boca, pressionando um beijo firme em sua palma que desenrolou seus dedos rígidos como uma rosa florescendo. Então fiz o mesmo com a direita, depois as segurei juntas para que pudesse correr meus lábios sobre os nós dos dedos machucados e ensanguentados. Quando me afastei, seu sangue estava na minha boca. Ungida por seus pecados, olhei para ele com os olhos claros e cheios de intenção. — A única parte de pesadelo em tudo isso é a ideia de que você me deixaria sozinha no escuro. Estou aqui, Priest. Mesmo antes de você, eu estava aqui. Eu sou a cunhada do Prez do The Fallen MC. Estou nesta vida, goste ou não. Amar você não é um destino pior do que a morte. A ideia de não te amar? É isso que me faz sentir que estou morrendo. Uma nuvem passou sobre a lua, deixando Priest todo escuro, mas eu me sentia como se nunca o tivesse visto tão claramente. Havia necessidade em seus olhos. Necessidade. Tão feroz e comovente que irradiava dele como um perfume, como uma vibração. Eu podia sentir isso com todos os meus sentidos. E saber que fui eu que o fez se sentir tão penetrantemente? Isso me eviscerou. — Venha, — eu disse suavemente, persuadindo enquanto o puxava inexoravelmente em direção à luz. — Me mostre quem você realmente é, sempre sozinho. Me deixe te seguir no escuro. Ele se moveu tão rapidamente que eu engasguei de excitação e choque. Sua mão estava na minha garganta, apertando apenas o suficiente,

estabelecendo-me em um instante. Quando ele falou, era um som áspero e sinuoso contra minha boca entreaberta e ofegante. — Você quer ver o escuro, mo cuishle? Vou te mostrar cada centímetro disso. Basta lembrar, você me implorou por isso.  

  Ele me levou a um cemitério. Era um pequeno terreno perto o suficiente da fazenda, mas fora isso, no meio do nada. Pegamos meu carro. Meu lindo Fiat rosa no qual Priest dobrou seu corpo longo e duro dentro como um carro de palhaço depois de colocar suas coisas no porta-malas. Eu não sabia que coisas um executor de um sindicato criminoso carregava com ele, mas eu poderia imaginar. Ou pensei que poderia, porque quando finalmente chegamos ao cemitério mal iluminado, gárgulas e lápides de anjos assombrando a paisagem, eu não estava preparada para o que ele puxou do porta-malas e levantou por cima do ombro.

O corpo do homem que me atacou. Ele estava enrolado em um cobertor escuro útil de algum tipo, preso com fita adesiva no pescoço e nos pés. Priest o carregou como um saco de grãos, os músculos protuberantes no casaco com capuz preto justo sob seu corte enquanto ele saía com seu pacote para a escuridão. Com o capuz levantado, ele parecia exatamente como a maioria dos artistas interpretou o Ceifador. Priest não esperou por mim, e havia algo reconfortante sobre isso. Ele não verificaria se eu estava bem com nada. Isso era o que eu queria, conhecê-lo não apenas carnalmente, mas criminalmente, conhecer aquela parte substancial e complicada dele envolta em segredo. Depois de tomar uma decisão, ele não vacilou e esperava o mesmo de mim. Havia respeito nisso, o que me impulsionou acima das águas turbulentas do medo e da dúvida em meu estômago. Como vinha fazendo há anos, eu o segui, correndo atrás dele para as árvores. O ar da noite estava muito frio, as nuvens sobre nós condensadas e acolchoadas, cobertas por neve fofa. Eu gostaria de estar usando mais do que apenas minha saia xadrez e um casaco de lã creme com botões de madeira super fofos. Se nevasse, eu congelaria. Mas meu desconforto era fácil de ignorar em face de minha cativação mórbida. Fiquei em silêncio enquanto Priest subia a ligeira inclinação e, em seguida, percorria os lotes aleatórios de uma forma que dizia que ele já fez isso muitas, muitas vezes antes.

Ele parou perto de uma fileira irregular de criptas que revestiam a parte de trás da cerca de ferro forjado enferrujado. Facilmente, ele equilibrou o corpo de um homem adulto sobre os ombros, trocou a bolsa de ginástica preta de uma mão para a outra e pescou um conjunto de chaves antigas do bolso. O portão preto enferrujado se abriu ameaçadoramente, o som ecoando no interior vazio. Vazio, mas para os mortos. Estremeci delicadamente, sabendo que o que quer que estivesse para acontecer era um sacrilégio puro e não adulterado. Minha alma espiritual estremeceu quando dei meu primeiro passo hesitante na cripta congelante atrás de Priest, que havia sumido dentro como se fosse sua própria casa. Quando fiquei imediatamente apavorada, rolei meus ombros para trás e disse a mim mesma para parar de ser tão idiota. O ar estava tão frio que queimou minhas narinas enquanto eu inalava o cheiro de almíscar e limpei uma teia de aranha do nariz. A estrutura de pedra era surpreendentemente grande, quase cavernosa, com dezenas de fendas para caixões e um pequeno altar com uma elaborada cruz de pedra. Priest se ajoelhou ao lado dela, sua cabeça baixa e as mãos levantadas, mas obscurecido de mim por suas costas largas, o crânio alado de fogo do emblema dos Fallen rindo de mim do couro. Se ele fosse outra pessoa, eu presumiria que ele estava orando. Em vez disso, houve um barulho metálico e, segundos depois, Priest estava se mexendo o suficiente para me deixar ver a grande caixa de metal plana que ele havia arrastado de debaixo do altar. Dentro, havia duas pás, rolos de lona, corda, tesouras e um frasco de vidro cheio de moedas de prata. Reconheci o

último instantaneamente como as moedas que Bat fez para funerais Fallen, gravadas com o emblema The Fallen de um lado e a imagem de um ceifeiro do outro. Ele não estendeu a mão para aquelas agora. Em vez disso, ele se agachou para pegar uma pá, depois olhou para mim com a expressão mais feliz que eu já vi. Na verdade, a visão de seus olhos pálidos enrugados e lábios ligeiramente inclinados quase me tirou o fôlego, mas foi a malícia quase infantil em seus olhos que roubou meu coração. Ele ergueu as sobrancelhas e estendeu uma das pás na minha direção. — Já cavou uma cova antes, doce Bea? Oh, mas isso era um teste, e ele estava gostando de administrá-lo, pressionando-me com força para ver se eu voltaria chorando para a luz. Eu mostraria a ele. Levantei meu queixo no ar, rapidamente amarrei meu cabelo para trás em sua fita rosa e aceitei o cabo de madeira da pá da mesma forma que uma rainha em exercício aceitava um cetro dourado no trono. — Não, mas aprendo excepcionalmente rápido. Havia riso na voz de Priest, embora seu rosto não tivesse nenhuma emoção enquanto ele se levantava com a outra pá e se movia para içar o corpo em seus braços mais uma vez. O som disso fez sua voz estremecer, esfolando minha pele até que endureceu com luxúria. — Oh, eu não duvido disso. Armados com nossas armas funerárias, Priest liderou o caminho para fora da cripta e se moveu economicamente pelas sepulturas mais uma vez.

— Então, o que há com você usando uma cripta assustadora como um galpão de armazenamento? — Perguntei com antecedência porque ele estava se movendo rápido e meus saltos altos, embora fortemente presos, continuavam escorregando na lama congelada. — Apenas por diversão mórbida, ou o quê? Algo parecido com um bufo foi meio perdido no vento enquanto sacudia os galhos escuros dos carvalhos e cedros que nos cercavam. — Kodiak, — ele explicou quando parou abruptamente em um túmulo aparentemente aleatório no meio do cemitério mal cuidado. Havia uma enorme cruz de pedra quase da mesma altura que Priest, com marcas fracas na base que estavam muito gastas para serem lidas corretamente. — Mausoléu da família de Kodiak. Pisquei, soprando uma mecha de cabelo do meu rosto enquanto caía do meu rabo de cavalo. — E ele está bem com você usando isso como um depósito de ferramentas? — Foi ideia dele, — ele murmurou enquanto colocava o corpo no chão e arrumava suas ferramentas em alinhamento exato ao lado dele. — Oh-certo, — eu disse lentamente. — Eu pensei que Kodiak fosse das Primeiras Nações21? Eles não têm direitos de enterro diferentes? Na verdade, eu não sabia muito sobre o misterioso rastreador do The Fallen além de que ele apareceu alguns anos atrás e nunca saiu, e que ele era 21 As Primeiras Nações são os povos indígenas predominantes no Canadá ao sul do Círculo Polar Ártico. Aqueles na área do Ártico são distintos e conhecidos como Inuit. Os Métis, outra etnia distinta, se desenvolveram após o contato europeu e as relações principalmente entre povos das Primeiras Nações e europeus. Existem 634 governos ou bandas reconhecidas das Primeiras Nações espalhadas pelo Canadá, cerca de metade dos quais estão nas províncias de Ontário e Colúmbia Britânica.

decididamente lindo com o cabelo preto mais grosso e longo que eu já vi. Sinceramente, ele era quase tão assustador quanto Priest, o que dizia algo, então eu não fiz exatamente questão de provocar uma conversa fiada com ele. — O pai dele é branco, — Priest grunhiu enquanto tirava o colete. — Odeia ele e todo aquele lado da sua família. Acho que a ideia dessa profanação o deixa duro. Seu sorriso era uma fatia afiada de dentes brancos no escuro, um sorriso de gato Cheshire que era ligeiramente maníaco. Ele não precisava dizer que a blasfêmia o excitava também, porque isso era óbvio. Eu estava prestes a provocá-lo por isso quando ele me chocou tirando seu moletom preto. A camisa térmica preta de mangas compridas que ele usava por baixo beijava cada centímetro de sua pele, destacando os declives e colinas de seus músculos belamente afiados sob o tecido fino. Isso foi o mais perto que eu já estive de ver Priest nu. Mesmo no verão, ele usava mangas compridas e jeans. Eu sempre me perguntei por que, até recentemente, quando ficou claro que algo acontecia por baixo de suas roupas, além da tinta de suas tatuagens. Eu queria desesperadamente que ele me mostrasse seu eu nu em tantos aspectos, ao menos a pele nua de seu torso e pernas, mas ele parou na camisa térmica e colocou uma pá por cima do ombro enquanto saía das dimensões da sepultura. Meus olhos mapearam avidamente seu poder absoluto enquanto ele recuava com a pá levantada e a cravava profundamente na crosta dura da terra.

Ele trabalhou em silêncio por alguns minutos, aparentemente inconsciente da minha babação e cobiça desavergonhada antes de agraciar a mão contra a pá onde ela foi plantada na terra e levantar uma sobrancelha para mim. — Testemunhar e praticar atos obscuros são duas coisas muito diferentes. Já disse uma vez, direi de novo, se eu sou um assassino, você é uma assassina. Diferente da maioria dos homens no MC, mo cuishle. Não tenho planos de guardar segredos de você, mas isso é tudo ou nada, entendeu? — Ele apontou o queixo para mim. — Vá em frente ou saia. Duro, mas à sua maneira, com sua própria sabedoria, justo também. Remexi no bolso grande demais do meu casaco, tirei um punhado de doces de pêssegos açucarados que sempre mantive nos bolsos e coloquei na boca com vigor. — Certo, — eu disse com a boca cheia de açúcar. — Se afaste, um novo coveiro está na cidade. Ele tentou esconder, mas eu juro que vi o brilho de um sorriso em sua barba.

   

Aparentemente, Priest tinha muitos locais de sepultamento e métodos de eliminação de corpos. Ele não foi a fundo, explicando todas as maneiras maravilhosas com que encobria um assassinato, mas resmungou o suficiente para pintar um certo tipo de quadro. Ele usou o Cemitério Evergreen porque estava lotado e quase esquecido, exceto algumas criptas familiares que ainda tinham espaço para mais membros. Fiquei surpresa ao saber que até seis corpos cabem em uma única sepultura. Havia muita desenvoltura em desenterrar alguém já enterrado e esquecido para acrescentar mais, sabendo que ninguém mais olharia para lá. Eu aguentei quarenta e cinco minutos, mas demorou quase duas horas. Eram cerca de quatorze metros quadrados de terra que precisava ser desalojado, a noite estava fria e escura, e eu tinha apenas um metro e sessenta e o mínimo de massa muscular. Minha resistência era patética, mas eu estava feliz por sentar na lápide plana usando o corte com cheiro de cravo de Priest em volta dos meus ombros enquanto eu o observava suar e cavar na terra. Fiquei fascinada ao ver Priest se abrindo sobre seus atos sombrios. Toda a extensão da minha pele parecia eletrizada de desejo enquanto eu o observava trabalhar com calma, eficiência e um pouco brutalmente para enterrar seus pecados. Era erótico como o inferno vê-lo cavar aquela sepultura, ver a força absoluta naquela forma longa e esguia, e a determinação, sua longevidade inabalável. Eu queria pular sobre ele, devorar a linha sombria de sua boca e coçar aquelas costas profundamente contornadas. Mas havia tanto foco em sua eficiência que me contive. Nunca fui uma agressora sexual. Eu nem sabia como começar, especialmente com um homem que não era movido por pistas sociais normais.

Então, sentei principalmente em silêncio, às vezes conversando comigo mesma sobre como sentia falta de Sampson e Delilah, sobre como estava preocupada com Billy Huxley e sua pobre família, sobre por que doce de pêssegos era um bom substituto para os reais no inverno quando era difícil encontrar a fruta. Priest não reagiu, mas havia uma qualidade nele que de alguma forma me fez perceber que ele estava atento a cada palavra que eu dizia. — Oh, — eu disse em um ponto, uma breve exclamação de alegria maravilhada quando inclinei minha cabeça para o céu. — Priest, olhe! Está nevando. Eu ri para o céu escuro e lotado enquanto flocos de neve suaves de cristal como açúcar derretiam na minha testa, nos meus cílios, na minha mão estendida. Então, porque sentar não era suficiente, não quando estava nevando lindamente e o mundo estava todo envolto em um silêncio pressurizado, esperando com a respiração suspensa ser coberto de frio, eu me levantei e girei tentando pegar flocos em minha boca aberta. — É bobo, — falei para ele. — Mas a neve tem um gosto tão doce direto do céu. Uma mão fria envolveu minha mão esquerda. Eu me assustei, inalando dolorosamente um grande gole de ar frio. Priest ficou lá, olhos escuros sob as sobrancelhas franzidas, intensidade irradiando dele em ondas tangíveis. Quando tentei me mover, seu aperto em meu pulso apenas aumentou. — Priest? — Eu questionei suavemente.

Eu engasguei novamente quando ele de repente me puxou com força em seu corpo e deslizou a mão na parte de trás do meu cabelo, apertando com força suficiente para desalojar a fita e me prender no lugar. Meu cabelo caiu em uma cortina de perfume doce em torno de nós quando ele tomou minha boca em um beijo profundo e possessivo. Instantaneamente, eu cedi, meu corpo frio virando cera macia contra suas bordas duras. Ele me manteve de pé apenas com aquele aperto forte no meu cabelo e uma mão dura na minha bunda, massageando a carne enquanto me segurava perto de sua coxa. Quando ele finalmente arrancou sua boca da minha, eu não pude deixar de choramingar instintivamente, cheia tanto de desejo quanto de luxúria. O rosto de Priest era todo sombreado, os profundos vales negros de escuridão em seus olhos, sob a borda íngreme de suas maçãs do rosto fazendo ele parecer esquelético. No meio de um cemitério, enterrando um corpo, juntos, sendo beijada por um homem que encarnava a morte em tantas iterações, de alguma forma, nunca me senti mais viva. — Você está certa, — disse ele, tão áspero que suas palavras pareciam doloridas. — Tem um gosto doce na sua língua. Eu

avancei

para

ele,

lançando

meu

corpo

no

dele,

lutando

deselegantemente para escalar seu longo torso e me envolver com segurança em torno dele. Ele não ajudou, ele ficou lá como a lápide de algum anjo negro e me deixou gastar meu entusiasmo com ele como um cachorrinho destreinado. Eu salpiquei seu rosto barbudo com beijos, chupei o lóbulo de uma orelha, passei minhas mãos um pouco forte demais por suas longas mechas

emaranhadas. Meus

quadris

se

inclinaram

e

pressionaram

desajeitadamente contra sua virilha, ansiosa por atrito, mas sem saber como segurar isso. Ficando cada vez mais frustrada comigo mesma, minha luxúria crescendo mais alto como algum resultado perverso da impassibilidade de Priest, eu finalmente mordi seu lábio inferior para provocar. O inchaço completo cedeu sob meus dentinhos, o sangue jorrando na dobra. Eu lambi com minha língua e estremeci de desejo com o sal e o sabor de ferro. Oh, mas funcionou. Seus braços me envolveram com muita força, cobras gêmeas sufocando meu fervor juvenil e destreinado. Quando fiquei imóvel e flexível contra ele, ele me moldou deliberadamente com suas mãos fortes e frias na posição de sua escolha, as pernas em volta da cintura, as mãos em volta do pescoço, a garganta exposta à marcha de seus dentes duros na minha jugular. Minha pulsação bateu loucamente contra sua língua. — Oh meu Deus, — eu respirei enquanto ele acariciava uma mão pela dobra da minha bunda até o ápice das minhas coxas. Com um rasgo rápido e cruel, minha calcinha se foi, o ar frio flutuando sobre minha carne quente e úmida. Os dedos frios de Priest pareciam divinos quando separaram minhas dobras e brincaram no molhado, girando para cima sobre meu clitóris, depois mergulhando e provocando na minha entrada. — Vou te foder aqui, — ele avisou com aquela voz áspera que parecia um par extra de mãos calejadas na minha pele. — Vou te foder aqui, agora, te pegar forte no chão e te encher até que você não aguente mais. — Sim, — eu assobiei, tentando bombear meus quadris contra seu toque dolorosamente leve.

Em retribuição, ele me chocou golpeando todo o meu sexo com sua grande mão. Eu estremeci com a sensação enquanto o calor faiscava por todo o meu corpo. Meus olhos estavam arregalados, a boca aberta quando me afastei para olhar para ele com admiração. Os olhos de Priest brilharam, quadros pálidos ao redor das pupilas escuras. Ele me deu um tapa novamente. A respiração explodiu da minha boca. Senti um gotejar revelador de umidade descendo pela minha coxa, o acúmulo na palma cruel de Priest. — Priest, — cerrei os dentes, sentindo-me perigosamente perto de ser eletrocutada. Eu não entendia o que estava acontecendo comigo, por que tal força contra o meu clitóris sensível poderia parecer uma explosão de faíscas. — O-o que você está fazendo comigo? — Possuindo você, — ele respondeu instantaneamente com um grunhido. No segundo seguinte, ele estava nos levando para a terra. A grama congelada estalou sob meu corpo quando ele me deitou no chão, apoiado em um cotovelo apenas o suficiente para não me sufocar enquanto a outra mão mergulhou em sua camisa para puxar uma faca em uma fina corrente de prata. Eu ofeguei descontroladamente, o peito arfando tanto que me preocupei que ele pudesse cortar minha carne por um segundo louco. Claro, ele não fez. A adaga era uma extensão de si mesmo. Ele enrolou o suéter que eu usava por baixo do casaco e cortou meu sutiã de renda rosa para que meus seios pequenos caíssem, mamilos duros o suficiente para cortar vidro no ar frio. Não era nada comparado ao frio do aço contra a minha barriga trêmula enquanto ele corria em volta do meu umbigo repetidamente.

Ele inclinou a cabeça para observá-lo. — Uma pele tão macia e branca. Como a porra da seda. Apenas um pequeno movimento, — ele seguiu sua própria direção, seu pulso girando ligeiramente para abrir um pequeno corte acima da espiral na minha barriga e novamente abaixo. Eu engasguei com a pontada aguda de dor que foi muito breve antes de se transformar em prazer, — e eu poderia rasgar toda aquela seda em duas. Eu fiz uma careta, embora minha mente estivesse drogada de prazer, meus olhos pesados e quentes em minha cabeça. — Não, nunca. Você nunca me machucaria, Priest. Algo retorcido cintilou em suas feições como um raio em um céu escuro. A faca raspou ao longo da minha barriga, suavemente através dos meus cachos macios, então para a parte interna da minha coxa esquerda. Minhas pernas tremeram quando ele desenhou linhas duras com o lado do aço dentro da minha carne da parte interna da coxa até o topo do meu joelho. — Uma linha para cada ano em que você foi minha e não sabia disso, — disse ele, quase para si mesmo, hipnotizado pela visão de minha pele levantada e vermelha por causa de sua faca. — Quantos? — Eu me perguntei, sem fôlego. Não conseguia conceber que ele pudesse me querer antes, antes do acidente. Ele sempre foi tão indiferente, tão impenetrável. — Assisti você comer um pêssego aos dezesseis anos, — ele murmurou, tirando a corrente sobre a cabeça e largando-a junto com a faca no chão para que pudesse desfazer a braguilha e trazer seu pau longo e curvo para a noite brilhante. — Cortou em pedaços com uma faca afiada e lambeu o suco do aço.

— Ele olhou nos meus olhos depois de enfiar a cabeça grossa e quente de seu pau na minha entrada para grunhir. — Eu queria ser a faca. Em um golpe inflexível, ele se empalou ao máximo dentro de mim. Minha cabeça afundou na lama gramada enquanto eu gritava longa e baixinho para a lua tremulando entre as nuvens. Eu o agarrei a mim, segurando-me para que ele pudesse me ancorar através da sensação dilacerante de seu corpo me dividindo em duas. — Segure firme, Pequena Sombra, — ele avisou enquanto colocava uma mão na parte de trás do meu cabelo e prendia meu quadril no chão com a outra, me deixando imóvel, perfeitamente posicionada para seu prazer. — Vou te foder com tanta força que você esquece que existe um Deus. Abri minha boca para dizer algo, mas não havia nada na minha cabeça, exceto o estiramento agudo dele dentro de mim, a maneira como meu útero parecia se contrair e pulsar. Ele arrastou sua ereção para fora de mim em um deslizamento lento e cheio de fricção, em seguida, empurrou selvagemente de volta para o fim do meu sexo. Possuindo-me, ele disse. Bem, eu era propriedade então. Ele me fodeu na terra, prendendo-me, usando-me, mas também me deixando usá-lo porque ele estava me dando uma das minhas maiores fantasias. A ilusão de ser pega quase contra minha vontade, a sensação de um corpo grande e muito mais forte me prendendo com mãos duras, dentes fortes e um pau saqueador era muito inebriante, muito perfeito para expressar. Eu fiz pequenos ruídos de animal na minha garganta que aumentaram em frequência e crescendo enquanto ele me fodia em carne viva. Junto com seus

grunhidos ásperos e o suspiro pesado de nossas respirações, fizemos uma espécie de sinfonia animalesca. Eu me senti animal ou pagã, algo vil e escuro. Virei minha cabeça para o pescoço de Priest e mordi os tendões tensos ali. Seu pau chutou dentro de mim enquanto ele gemia irregularmente. De alguma forma, ele encontrou a vontade de me foder ainda mais forte. Suas estocadas me empurraram para a terra, cavando uma sepultura de luxúria ao nosso redor. Ele gosta da dor, eu estava aprendendo, assim como eu. Eu mergulhei sob a ponta de sua camiseta, passando minhas unhas por seu abdômen profundamente delineado em torno de suas costas, arranhando com tanta força que sabia que estava cortando sua pele. Priest rugiu. Cabeça inclinada para trás para o céu como um lobo uivando para sua lua, ele rugiu e me fodeu, deslocando a mão do chão para minha garganta para que pudesse me sufocar levemente. Minha visão faiscou com branco e preto como estática, mas eu não queria mudar o canal. Eu queria que a pressão na minha cabeça se abrisse e explodisse. Eu queria que a dor na minha boceta bem usada e recentemente virgem se quebrasse em torno dele. Vagamente, eu estava ciente da profundidade da minha depravação, fodendo como um animal em um cemitério. Vagamente, me perguntei se poderia ser castigada por Deus. Decidi que se morresse ali mesmo, enquanto empalada no pau longo e implacável de Priest, morreria uma pecadora feliz e viveria contente para sempre no inferno.

Aqueles olhos que você imagina seguindo você na noite, escuros e ferozes, perseguindo você das sombras? Aqueles eram os olhos pairando acima de mim agora. Os olhos de um predador prendendo sua presa e se alimentando dos despojos. Ele me fodeu com todo o vigor da vitória e a arrogância quase preguiçosa de quem estava acostumado a vencer. — Vou gozar nesta boceta bonita e apertada, — Priest ameaçou, como se suas palavras não me trouxessem um centímetro mais perto da morte. Eu entendi agora por que os franceses chamavam assim, uma pequena morte. Era apropriado que eu já estivesse em um túmulo feito por nós mesmos. — Vou te encher de porra para que vaze de você por dias, — Priest continuou, seus olhos vidrados e mais escuros do que a noite ao nosso redor. — Sua pobre boceta inchada vai doer depois disso, e a única coisa que pode consertar sou eu escorregando de volta, não é, Bea? — Sim, — eu concordei, a cabeça balançando de um lado para o outro, lama no meu cabelo, neve nos meus olhos, meu corpo inteiro focado apenas em um ponto central dentro da minha boceta que ele continuou a dirigir. — Sim, sim, Priest. Oh, meu Deus, eu amo isso. Amo pecar assim com você. — Diga, — ele ordenou friamente, suas palavras chicoteando com mais força do que o vento contra meu rosto. Sua mão apertou brevemente com força ao redor do meu pescoço. — Quero ouvir essa doce voz falar imundície por mim. — Eu quero seu esperma, — eu prometi a ele, longe demais para sentir o constrangimento que eu normalmente teria superado. Em vez disso, as

palavras pareciam doces como pêssegos difusos na minha língua. Doce e elementar como a neve. — Eu quero que você goze bem dentro de mim. Eu quero sentir que você me possui. Foi isso. Para nós dois. O som de Priest, geralmente tão silencioso e taciturno, tomado pelo desejo, rosnando e grunhindo enquanto ele me fodia com tanta força na terra, quebrou o elástico que me segurava juntos e nós dois entramos em uma espiral. Rodando. Caindo. Tudo isso no escuro, no frio, nós dois sendo os únicos dois seres em quilômetros. O ar ao nosso redor fumegou, ondas suaves de ar quente se dissipando no céu. Nós respiramos um ao outro, bocas abertas, testas alinhadas. Eu podia ver o olhar de Priest, mas estava tudo na sombra. — Você pode ser um assassino, — eu disse suavemente, arriscando a ruína de nossa intimidade pressionando por mais. Era da minha natureza mergulhar mais fundo na psique de alguém. Eu não conseguia parar de pressionar mais do que de amar a dor eroticamente carregada. — Mas você não é sem coração. Minha mão se moveu de seu cabelo, pela lua crescente de sua bochecha, descendo por seu pescoço para descansar na batida firme e forte de seu coração.

— Se você me possui, isso não significa que você é meu? — Eu quis dizer isso como uma pergunta, mas o tom da minha voz fez um apelo. A qualidade de sua imobilidade mudou então. Ele se solidificou como água em gelo, chuva na neve agora espessa no ar ao nosso redor, estabelecendo-se em um cobertor fino sobre suas costas e cabelo. Achei que o tivesse perdido. Fechando meus olhos, eu me preparei para a rejeição, mesmo sabendo que isso iria me destruir. — A única coisa que posso dar é minha escuridão, meu desejo e a fome sem fim que sinto por você em minhas entranhas. Minhas pálpebras se abriram para ver Priest me olhando solenemente, tão sombrio e agudo com algo como ódio de mim mesma que parecia que estávamos em um confessionário. — Certo, — eu disse imediatamente, deixando a alegria ricocheteando dentro de mim explodir em meu rosto. Ele piscou como se estivesse ao sol. — Está bem então. Ele me beijou então, uma batida dura de lábios contra lábios, e parecia um selo oficial em nossa declaração. Eu não tinha certeza se estávamos namorando ou não, se isso significava que poderíamos ter festa do pijama e ir a encontros, todos os rituais de namoro, mas eu não me importava. Priest não era um homem normal e eu estava descobrindo que não estava nem perto de ser uma mulher normal. Era bom reconhecer minha alteridade. Fiquei feliz por viver nas sombras, desde que pudesse segurar sua mão. Enquanto eu pertencesse ao ceifeiro dos Fallen, eu estaria no céu.

Capítulo Dezenove Priest

A sensação da minha moto entre as minhas coxas, o puxão gelado do vento no meu cabelo solto e a extensão infinita da estrada para andar diante de mim eram três das minhas malditas coisas favoritas sobre meu estilo de vida decididamente ascético. Eu não conseguia me concentrar em nenhum deles no momento. Não com Bea pressionada nas minhas costas, sabendo que ela não estava usando nada por baixo daquela saia. Eu a deixei tão molhada, tão cheia do meu esperma que eu sabia que devia estar vazando por todo o assento de couro da minha moto. Meu pau era uma barra de ferro na minha calça jeans enquanto eu pensava em como ela a estava batizando com sua porra de mel doce. A viagem inteira foi uma batalha. Lamentei ter voltado para a fazenda para trocar o carro dela pela minha Harley. Foi ideia dela tanto quanto minha, e agora eu sabia por quê. Senti-la era uma distração da qual não conseguia me livrar. Eu pretendia deixá-la em sua casa, checar antes que ela entrasse, então esperar do lado de fora até que outro irmão chegasse para protegê-la. Ela queria passar uma noite em sua própria cama, o que era justo, mas não havia

nenhuma maneira no inferno de eu a deixar sem, pelo menos, dois dos meus irmãos mais capazes como seus guardas. Mesmo assim, eu não tinha dúvidas de que acabaria voltando para sua casinha rosa mais tarde naquela noite para ficar de sentinela nas sombras. Mas eu precisava de espaço. De repente, apenas existindo no mesmo lugar que ela, o conhecimento que uma vez me trouxe algum tipo de consolo fodido, era demais para suportar. Minha pele coçava e queimava do jeito que fazia anos atrás, quando eu estava com cicatrizes, rasgada e marcada. Todas as velhas feridas da minha carne e da minha mente estavam inflamadas, com bolhas, e eu sabia que elas estourariam horrivelmente em feridas abertas se eu ficasse mais um momento com minha garota angelical com a mente suja. Mas, mas, mas…. O refrão assombrou meus pensamentos. Memórias da noite passavam por meu cérebro cada vez que repetia a advertência. Sozinha em um cemitério com um homem morto e um assassino, Bea ofereceu sua mão de uma forma que implicava que ela estava disposta a me seguir aonde quer que eu fosse, e a coragem de tal ação fez minha respiração ficar presa na garganta. — Venha, — ela disse, etérea ao luar, a voz tão doce quanto um anjo cantor. — Me mostre quem você realmente é, sempre sozinho. Me deixe te seguir no escuro.

Que esta era Bea Lafayette, a doce menina que dirigia estudos bíblicos e usava ridículos laços rosa no cabelo, a menina que me estudou durante anos como alguns monges dedicaram suas vidas ao estudo da religião, a menina que parecia saber apenas exatamente como eu estava fodido. Que essa era ela. Isso me abalou. Fodidamente me abalou. Eu pisquei porque essa era a única coisa que meu corpo sabia o que fazer enquanto eu tentava processar a beleza absoluta e irresistível dessa garota e sua confiança. Eu pisquei e respirei. Bea esperou, paciente como uma santa. Na verdade, eu estava em conflito comigo mesmo. Eu já a considerava minha de uma forma que nunca seria capaz de afastar. Estava marcado em minha pele, meus músculos e ossos. Senti sua posse de meu corpo e de qualquer alma que pudesse ter retido, assim como a senti como se minha obsessão fosse algo onipotente, fatídico e enorme. Eu não poderia cortar esse sentimento de mim nitidamente com uma boa faca e pura força de vontade. Era tarde demais para isso, inconcebível da minha parte até mesmo para querer me afundar em uma coisa tão milagrosa. Porque o amor dela era um milagre. Eu sabia disso e nem mesmo acreditava nessas coisas. O amor de uma mulher como Bea, como as mulheres que alguns de meus irmãos tiveram a sorte de encontrar, era um milagre. Eu simplesmente nunca acreditei nisso por mim mesmo. Milagres eram para o bem.

O que um homem maldito fez quando foi agraciado com um? Se ele tivesse pelo menos um grama de bondade, ele se viraria e fugiria dela, ele a libertaria de sua presença sinistra e de seus modos de lidar com a morte. Oh, mas não havia nem um grama disso em mim. Nem mesmo uma molécula de merda. Eu era totalmente mau e, infelizmente ou não para Bea, era todo dela. Se outro homem a quisesse, eu o mataria. Não me importava por que, como ou mesmo se Bea me odiaria por isso. Ela era minha até meu último suspiro. E se eu tivesse que morrer por ela, protegendo-a de selvagens como eu, que queriam possuir sua luz, então que fosse. Eu não conseguia pensar em uma maneira melhor de ir. Mesmo depois disso, eu a perseguiria até que ela se juntasse a mim em qualquer vida após a morte que pudesse haver. Então por que senti essa hesitação trêmula como uma virgem em sua noite de núpcias? Por que me senti tão recalcitrante diante de seu amor óbvio e devoção de anos? Por que eu estava com medo? Essa garota franzina com cabelos como o luar e olhos de um azul amplo e invencível, de alguma forma, tinha a capacidade de me aterrorizar como ninguém antes. Nem mesmo os demônios que assombravam meu passado tinham me prendido tanto em uma terrível escravidão. Senti como se estivesse desesperado por algo que não estava pronto, talvez nunca estivesse pronto, para encontrar. E aquela pequena Bea Lafayette estava me oferecendo em uma porra de bandeja de prata.

— Priest? Pisquei, percebendo que havíamos parado em sua garagem e que eu estava dirigindo no piloto automático. Bea estava acariciando meu abdômen com as mãos, traçando os músculos encaixados com seus dedos delicados de uma forma que me fez querer transar com ela na garupa da minha moto. Em vez disso, congelei, incapaz de suportar tanta ternura. — Estou indo para verificar o lugar, então chamando Wrath e Bat para ficar de guarda com você esta noite, — eu disse a ela, decidindo que era melhor estabelecer as regras desde o início. Para uma garota tão doce, Bea poderia ser muito tenaz. Como se para provar meu pensamento, ela saltou da moto para me encarar e colocou as mãos nos quadris. Ela parecia adorável em seu casaco enlameado e sapatos femininos destruídos, com o cabelo todo sujo e despenteado ao redor do rosto. Eu fiz uma careta, porque antes daquele momento, eu nunca tinha chamado ninguém ou nada de ‘adorável’ em toda a minha vida. Eu nem sabia o que isso significava até que vi Bea parada lá como uma garotinha indignada prestes a bater o pé enquanto meu esperma escorria por sua coxa. — Você absolutamente não fará isso, Priest McKenna, — ela me avisou com os olhos estreitos. — Você acabou de me foder de todas as maneiras no meio de um cemitério. — Ela corou ferozmente, mas continuou. Eu queria lamber o rosa em suas bochechas. — Minha boceta ainda dói de você. Acho que você me deve, pelo menos, entrar um pouco.

Eu fiz uma careta, sentindo-me como um urso preso em uma armadilha. Se precisasse, sabia que roeria minha própria perna para escapar. — Não vou te abraçar, ou algo assim. Bea revirou os olhos dramaticamente. — Como se você soubesse como. Eu não preciso de ternura. Eu só preciso de você. Agora, desça dessa moto e entre. Estou congelando e mal posso esperar para ver Sampson e Delilah. Com um movimento de sua longa juba, ela girou nos calcanhares e praticamente saltou até a porta. Diversão percorreu meu peito e talvez até um pouco de admiração. Ninguém falava comigo assim. Toda atrevimento e provocação. Normalmente, as pessoas assumem um de dois tons ao falar comigo: espanto e medo. Bea não tinha medo de mim, de jeito nenhum, apesar de meus melhores esforços. Havia admiração ali, no entanto, na maneira como ela murmurou meu nome como uma oração quando eu estava bem dentro dela, na maneira como ela prestou homenagem ao meu corpo como se fosse algum artefato religioso. Eu não queria descer da minha moto quase tanto quanto queria segui-la para dentro. O último impulso venceu. Cerrei os dentes, apoiei minha Harley e fui atrás dela. Minha mão parou a dela enquanto ela girava a maçaneta. — Você tem sua faca à mão?— Eu grunhi.

Ela mordeu a curva inferior de sua boca ligeiramente machucada. Machucada pelos meus beijos. Eu desviei meus olhos com um esforço sério do caralho. — Sim. Eu balancei a cabeça secamente. — Fique aqui, fique vigilante. Vou dar uma olhada na casa. Uma das garotas motoqueiras que passava para alimentar o gato e dar uma olhada no pássaro tinha deixado uma lâmpada acesa na sala e as luzes acesas na cozinha. As fechaduras das portas dianteiras e traseiras não pareciam estar adulteradas e não havia sinal de intruso. Era oficialmente seguro para eu deixá-la entrar em casa e esperar do lado de fora na escuridão fria como sempre fazia até que alguém pudesse assumir a vigilância dela. — Tudo limpo, — disse à Bea quando ela enfiou a cabeça dentro da porta. — Entre aqui. Ela sorriu para mim como se procurar na casa para ela fosse algum tipo de ato heroico. Então eu a observei pular para dentro de sua casa e chamar Sampson, que eu não tinha visto na casa em minha checagem. Um minuto depois, o velho gato albino de um olho só saiu do corredor com o rabo alto enquanto se aproximava por amor de sua humana. Ele parou no meio do caminho quando me avistou e então deliberadamente se afastou de mim enquanto continuava seu caminho para Bea. — O gato tem bom gosto, — resmunguei, demorando-me na porta porque alguma convicção bizarra me disse que se eu me aventurasse mais longe no

espaço rosa e branco, isso me contagiaria ainda mais com essa sensação de injustiça que sentia roer dentro de mim. Bea ergueu o olhar através dos longos cílios enquanto se agachava para acariciar Sampson. — Ele tem. Leva um tempo para ele se aproximar das pessoas porque foi abusado quando era um filhote, mas quando ele decide que você vale a pena, ele é todo um doce. Eu levantei uma sobrancelha, o rosto frio. — Isso deveria ser algum tipo de metáfora? Seu piscar de olhos arregalados foi totalmente inocente. — Eu não sei o que você quer dizer. Agora estou congelada. Por que não tomamos chocolate quente para esquentar? A sugestão explodiu fora dela e terminou com uma risadinha. Ela se levantou, entrando na cozinha sem esperar minha confirmação. Chocolate quente. Eu nunca tive essa merda em toda a minha vida, e duvido que gostaria. Doces não eram um item de minha dieta. Na verdade, eu não conseguia me lembrar da última vez que comi algo doce, descontando os sucos açucarados e pegajosos que derramavam da boceta rosa de Bea. Lambi meus lábios inconscientemente. — Não vou beber essa merda, — chamei, permanecendo no lugar na porta. — Eu faço isso com aqueles pequenos marshmallows, — ela refutou como se isso fizesse alguma diferença.

Ela era visível da cozinha aberta, mas não claramente de onde eu estava. Aproximei-me, atraído por ela enquanto ela cantarolava baixinho uma música de Natal. Era apenas final de novembro, e ela já tinha uma caixa de decorações sazonais etiquetada em sua escrita elegante e enrolada ao lado da mesa de centro. Claro, Bea adorava o Natal. Ela adorava qualquer motivo para celebrar a vida e ser grata por todas as coisas que amava em abundância. O que me incluiu. As solas dos meus pés coçaram, minhas mãos úmidas se contorceram onde estavam cerradas ao meu lado. Eu me senti agitado por alguma corrente elétrica que se estendeu entre nós dois, estalando no ar, efervescendo em meu sangue. Eu precisava desligar. Eu precisava de espaço, espaço, espaço. No entanto, eu não peguei. Em vez disso, fui para a sala de estar para dar uma olhada melhor nela e em Bea além, na cozinha, balançando os quadris enquanto mexia algo no fogão. Seu pássaro, Delilah, estava em seu ombro, tirado de uma grande gaiola no canto. Juntas, elas murmuraram baixinho uma para a outra. Como diabos eu acabei obcecado por essa garota? Ela era algo saído de um conto de fadas. O único papel que eu deveria ter desempenhado em sua vida era o de vilão, mas de alguma forma, ela me escolheu como o herói. Quão fodido era isso? — Por que os nomes? — Eu perguntei, surpreso com minha própria pergunta. Eu não era curioso por natureza e definitivamente não era intrusivo. Mas eu queria que cada centímetro do corpo e da mente de Bea pertencesse a

mim. Eu queria ser capaz de responder a qualquer pergunta sobre ela melhor até do que ela. Não para dominar meu conhecimento sobre ela, mas para encontrar algum tipo de conforto fodido nisso. Eu queria segurar tudo o que Bea era para mim como um cobertor quando eu estivesse inevitavelmente sozinho de novo, no escuro e no frio de minha própria solidão necessária. Bea parou de mexer na cozinha por tempo suficiente para me lançar um sorrisinho surpreso e feliz. Ela ergueu um dedo para acariciar a cabeça branca da pomba cautelosamente, e o pássaro, cadela sortuda, inclinou-se para a carícia ansiosamente. — Eles eram pecadores na Bíblia, — ela explicou, enquanto voltava a esquentar o leite no fogão. — Mas eu acho que eles foram mal interpretados. Às vezes, parece que temos apenas uma versão de uma história da Bíblia, e sempre me perguntei sobre Sampson e Dalila, se eles tivessem suas próprias vozes, que tipo de história eles poderiam contar. — Sempre tentando tornar a merda romântica, — eu murmurei, olhando para aquele gato de um olho só enquanto ele balançava sua cauda espessa e olhava para mim da mesa de café. — Nada de romântico na tragédia. — Estou surpresa que você diga isso. A tragédia denota uma injustiça em suas vidas. Achei que você fosse mais um cara do tipo ‘aconteça o que acontecer’, — ela disse, provocando levemente, mas também obviamente ansiosa para descobrir mais sobre a minha personalidade. Sinos de alerta soaram em meus ouvidos, mas não pude resistir ao seu puxão, gravitacional como era. Demorou bastante para permanecer na sala enquanto ela fazia o que diabos estava fazendo na cozinha. Eu queria minhas mãos sobre ela.

Eu queria que estivéssemos perto o suficiente, sempre, para respirar a mesma respiração. Minhas mãos se fecharam com a necessidade. Eu as forcei a se desenrolar, olhando para as cicatrizes e tatuagens manchadas em minha carne. Mãos feias para atos feios. Mas a maneira como Bea os ungiu com os lábios, beijando-as como um vassalo nas mãos de seu soberano, como se fossem dignas e de alguma forma bonitas... Eu balancei minha cabeça com tanta força que meu pescoço doeu. — Você está bem? — Ela chamou suavemente. Não, não, não. Eu senti como se estivesse desmoronando na porra das costuras. Eu precisava sair, sair, sair! — Aqui, — ela disse enquanto se movia em minha linha de visão, contornando o atroz sofá de veludo rosa com uma caneca de líquido fumegante em sua mão. — Beba isso, vai te aquecer. Ela colocou a caneca em forma de boneco de neve na mesa de centro diante de mim. Era chocolate quente. Com pequenos marshmallows multicoloridos. Quando eu não respondi, ela se mexeu em seus pés descalços e fez um pequeno ruído de contemplação no fundo da garganta que me lembrou dos gemidos que ela soltou no cemitério.

O sangue subiu para o meu pau tão rapidamente que tive que me ajustar discretamente no jeans. — Tudo bem... vou tomar um banho. Você se senta aqui e se aquece. Sampson fará companhia a você. Ele é uma boneca. — Ao contrário do que ela disse, o gato gordo balançou o rabo com altivez e me deu as costas para ficar de frente para a lareira. — Eu estarei de volta em um instante. Um instante. Chocolate quente com pequenos marshmallows coloridos. Sofás cor-de-rosa, gatos de resgate com um olho só, uma porra de pomba. Uma boca rosada que tinha gosto de pêssego açucarado e uma boceta bonita e apertada que só tinha sido tocada por mim. Minha cabeça girou, os pensamentos lutando como dois boxeadores em um ringue. Distraidamente, percebi Bea descendo o corredor em direção ao banheiro, mas não conseguia tirar os olhos daquela caneca de boneco de neve ridícula cheia de chocolate quente. Eu estava paralisado pra caralho. A cena era muito doméstica. Uma casa quente, uma xícara de chocolate fumegante, uma mulher cuidando de mim e um gato com uma atitude séria. Eu nunca tive isso. Não. Nunca. A vida com mamãe e papai nunca foi como a porra de um cartãopostal. Tínhamos uma pequena casa de madeira em alguns hectares de terra

mal nutrida no sul da Irlanda. Minhas irmãs eram crianças boas e gentis, mas davam muito trabalho. Tive de ajudar minha mãe tanto quanto podia quando não estava na escola, porque meu pai estava sempre trabalhando no campo. Não tínhamos família fora de casa e não éramos queridos na cidade. De jeito nenhum. A Irlanda era um reduto católico, especialmente naquela época, que o papa nem se deu ao trabalho de visitar. Os irlandeses sangraram sangue divino. Eles adoravam a Deus zelosamente, especialmente em pequenas cidades do interior como a nossa. Todos amavam o padre O’Neal. E o padre O’Neal odiava meus pais. Solteiros, vivendo em pecado com três filhos bastardos. Éramos aberrações flagrantes em sua paróquia, e ele fazia questão de que fôssemos vistos como párias. Não tínhamos nada da ajuda que a igreja reservava para os pobres, nada da comunidade de que desfrutava seu rebanho. Uma vez, quando eu era apenas um garoto entrando na cidade com minha mãe, um grupo de meninos adolescentes jogou tomates em nós. Ainda não os como até hoje, e o cheiro ácido da fruta madura induziu uma raiva quase instantânea. E então, é claro, eles morreram e tudo mudou. Nem tive o pequeno conforto de mamãe cantando na cozinha, as risadas de Danae e Keely enquanto brincavam no jardim dos fundos, de papai voltando para casa e tirando mamãe do chão.

Talvez eu tenha imaginado até mesmo esses momentos de paz. Talvez eu os tivesse criado para me ancorar a alguma aparência de alegria quando eles se foram e me deixaram sozinho nas garras do padre O’Neal e seus paroquianos. Eu mal conseguia me lembrar desses momentos agora. Era mais como assistir a algum filme granulado na televisão do que qualquer tipo de lembrança emocional. Eu não conhecia mais a felicidade, se é que alguma vez conheci. E esta... esta cena cheirava a isso. Meu corpo parecia errado, errado, errado neste espaço que cheirava a açúcar e pêssegos, de uma menina tão doce que senti a dor disso nos meus molares. Fiquei de pé tão violentamente que meu joelho bateu na mesa e jogou o copo do boneco de neve no chão, espirrando seu conteúdo por todo o tapete creme imaculado. Meu batimento cardíaco estava muito alto e abafado em meus ouvidos, o ar ao meu redor pressurizado, então meu corpo se movia muito devagar. Automaticamente, meus pés me levaram pelo corredor através de seu quarto feminino com a cama com dossel até o banheiro, a porta já entreaberta com o vapor saindo como um dedo enrolado me chamando para dentro. Eu parei dentro do local, vapor espesso no ar junto com o cheiro de pêssegos. Meu pau estava duro com a fragrância sozinha, mas eu não estava excitado. Talvez pela primeira vez na minha vida, eu estava em pânico do caralho.

E então meus olhos a encontraram no ar fechado, seu corpo todo em aquarela rosa e creme atrás do vidro embaçado da porta do chuveiro. Ela estava se lavando inocentemente, afastando-se de mim para limpar as panturrilhas, então o formato de sua bunda rechonchuda era uma curva exagerada implorando por um aperto firme, um tapa curto. Tudo que eu podia ouvir era o barulho da água caindo e o som áspero da minha respiração nos meus pulmões. A música tocava em um pequeno altofalante na pia, mas eu não conseguia ouvir as notas. Eu só podia sentir sua pulsação imitada em meu pau. Eu deveria dizer a ela que estava indo embora. Que provavelmente não voltaria. Nunca. Descobri que era alérgico a rosa, alérgico a pêssegos, alérgico a todas as coisas da porra da Bea Lafayette. Mas então ela se virou sob o spray, olhos fechados, boca entreaberta de forma que a água se derramou entre seus exuberantes lábios rosados, as mãos levantadas para todo aquele cabelo penteado para trás enquanto a espuma corria por seu corpo. Ela parecia a estátua de uma ninfa presa em uma fonte. E, de repente, irrevogavelmente, eu precisava sentir o gosto da água derramando dela. Eu tirei um tempo apenas para descalçar minhas botas e meias, então eu estava pisando no tapete de banho floral e entrando no chuveiro atrás dela. Ela não me ouviu por causa da água em seus ouvidos e da música fluindo através

do vapor. Eu adorei a ideia de assustá-la. Esse era exatamente o tipo de homem que eu era, e isso enviou ácido mastigando meu estômago. O bicho-papão estava no chuveiro com ela, e ela não sabia o quanto eu queria afundar em seu doce calor e esquecer cada coisa de pesadelo sobre mim. Minha mão se esticou para envolver os dedos em torno de sua garganta exposta. Instintivamente, ela lutou. Instintivamente, eu segurei com mais força, então a empurrei contra a parede além do fluxo de água. Quando me movi embaixo dele, minhas roupas ficaram encharcadas em um instante e água suja circulou pelo ralo. Seus olhos estavam arregalados, totalmente escuros, com terror quando eles se abriram e se fixaram em mim. Eu descobri meus dentes para ela, incapaz de articular o medo feroz e a necessidade fervente se agitando como um caldeirão de bruxa em minhas entranhas. Ela lançou algum tipo de feitiço em mim, e por mais que eu lutasse contra isso, eu não poderia resistir por minha vida. Eu observei as emoções se moverem em seu rosto, a pitada de medo, a suavização do reconhecimento, o rubor alto derramando de suas bochechas ao peito quando ela percebeu que eu a tinha presa e nua, totalmente vulnerável. Porra, ela era perfeita. Ela adorava ser perseguida, desde que eu fosse o predador rangendo os dentes em sua garganta.

Ela adorava ser entregue com força em minhas mãos como uma arma e não ser tocada com suavidade e ternura como tantas mulheres com quem estive antes dela. Ela era perfeita para mim. Ela me amava. Com um gemido áspero que rasgou o interior do meu peito com garras rancorosas, eu desabei sobre meus impulsos e avancei contra seu corpo esguio, colando cada centímetro da minha forma vestida ao seu corpo nu. Então eu a estava beijando. Não, não beijando. Atacando sua boca com a minha. Comendo. Devorando. Eviscerando com minha língua, lábios e dentes. Seu pulso disparou contra o meu polegar. Ela se contorceu contra o meu aperto, metade em luxúria e metade em luta porque eu sabia que, mesmo que ela não expressasse isso, ela gostava de fingir que não consentia. Meu pau era uma vara furiosa de carne pulsante presa no jeans encharcado, mas eu saboreei a pontada de dor quando me apertei contra ela, e o zíper bateu duramente em minha coroa. — Você está dolorida? — Eu exigi enquanto corria uma mão áspera pelos entalhes de sua coluna até aquela bunda gorda. Para uma menina pequena, ela tinha a bunda mais redonda e fodidamente sexy que eu já espalmei. — Um pouco, — ela admitiu com um pequeno suspiro ofegante.

Passei minha mão em volta da cintura dela e desci para aquele centro macio e úmido. Quando afundei dois dedos em seu calor liso, ela gemeu asperamente quando eu disse. — Ótimo. Quero foder sua boceta inchada de novo. Seu arrepio de corpo inteiro vibrou seus mamilos duros contra o meu peito, e por um segundo insano, eu desejei que estivéssemos pele com pele. — Tire a roupa, — Bea implorou. — Eu quero te sentir. — Agora, sou eu quem está sentindo você, — assegurei com uma torção de meus dedos em sua boceta apertada. Ela me recompensou com um gemido, mas depois balançou a cabeça como se quisesse clarear os pensamentos. Suas mãozinhas subiram ao meu peito e empurraram ligeiramente. — Não, Priest, por favor. Já estivemos juntos três vezes e nunca consegui realmente tocar em você. Eu quero... bem, eu quero ver como você é. — Meu corpo, — eu disse lentamente, lendo o rubor em suas bochechas. — Ou meu pau? Aquele rubor se aprofundou e se espalhou por seu peito de forma que até seus mamilos coraram. Eu apertei forte um com meu indicador e polegar apenas para vê-la se contorcer. — Meu pau, — eu confirmei. — Tudo bem, você quer ver? Fique de joelhos por mim. — A-Aqui? — Ela perguntou, os olhos arregalados. — Aqui. — Eu arqueei uma sobrancelha quando ela hesitou. — Você quer meu pau, seja uma boa menina para mim e consiga. Em. Seus. Joelhos. Quero

ver você me adorar como você adora em sua igreja. Quero ver o quão lindamente você se corrompe para mim. Com a boca trêmula e os olhos negros de desejo, Bea soltou um suspiro suave e doce e caiu sinuosamente de joelhos no ladrilho. Instantaneamente, meu pau chutou contra seus limites, o calor do pré-sêmen vazando da minha ponta. — Tire, — eu disse, minha voz áspera, tão animal que era difícil decifrar. Mas ela me entendeu. Suas mãos pequenas tremiam como pássaros pálidos enquanto ela se atrapalhava com meu cinto, depois com minha braguilha, o som áspero do zíper perceptível mesmo sobre a música e a água. — Oh, — ela sussurrou quando descobriu que eu não estava usando nada por baixo do jeans. Ela olhou para mim então, aqueles olhos grandes tão azuis sob aqueles cílios pretos espetados. Eu sorri para ela, um sorriso feroz e ameaçador para lembrá-la de que eu era mais besta do que homem. Eu assisti um engolir se mover com força através de seu pescoço fino enquanto ela se curvava de volta para sua tarefa, os dedos alcançando a dobra do pano para envolver suavemente, muito suavemente, ao redor do meu pau latejante e puxar ele delicadamente para fora. Nós dois observamos enquanto ele pulsava em seu aperto tenro, um vermelho raivoso, a coroa de um roxo tão profundo, tão inchado de sangue que parecia uma ameixa perfeita apontada para sua boca exuberante ligeiramente aberta. Não era um pau bonito, nada que combinasse com a

garota bonita de joelhos para mim. Era grosso o suficiente para esticar demais seus lábios, doer em sua mandíbula se ela se demorasse muito ou fosse muito profundamente. Ele tinha uma fita de veias proeminentes e era longo o suficiente para não caber em ambas as mãos. Ela o segurou como uma arma que não tinha a menor ideia de como usar, mas a curiosidade lasciva em seu olhar enquanto me devorava dizia que ela estava ansiosa demais para aprender. A base da minha espinha formigou e apertou, as bolas se juntando enquanto eu pensava em como arruinaria aquela boca bonita e inexperiente. — Lamba, — eu a direcionei, minha voz a única coisa fria no recinto fumegante. Lentamente, ela se inclinou para frente para dar um beijinho na ponta com os lábios franzidos. Ela se moveu para trás novamente, sua língua rosa mergulhando para me provar em seus lábios. — Oh, — ela disse antes de sorrir para mim. — Você tem um gosto bom. Um grunhido retumbou por mim quando minha decisão de ir devagar quebrou no meio. — Você quer me fazer sentir bem? — Mais do que qualquer coisa. — Mãos atrás de suas costas, — eu ordenei enquanto me aproximava, uma mão segurando as cordas de seu cabelo molhado enquanto a outra segurava a ponta redonda do meu pau em seus lábios. — Abra essa boca doce, agora, Bea. Vou foder a sua cara e não vou me conter, entendeu?

Em resposta, ela olhou para mim e deliberadamente abriu bem a boca para que eu pudesse colocar meu pau em sua língua. Eu bati lá uma vez, duas vezes, então coloquei mais fundo em sua boca. Ela fechou os olhos e gemeu ao meu redor. Olhar para Bea era pensar instantaneamente na luz do sol. Ela era tudo doce e leve, desde a ponta de sua nuvem encaracolada de cabelo dourado até os vestidos femininos que ela usava todos em branco e pastel. Sua voz era uma cadência leve, musical o suficiente para parecer a canção dos Fae nas colinas irlandesas, e quando ela ria, era igualmente sedutor. A fiação quebrada do meu cérebro me obrigou a corrompê-la, a machucar aquela pele cor de pêssego, morder a linha doce daquele pescoço brutalmente até que florescesse, então segurar todo aquele cabelo com tanta força que ela chorasse. Ela ficaria ainda mais bonita, sempre pensei cada vez que ela sorria, se ela tivesse lágrimas adornando aquelas bochechas macias como joias. Então, eu derramei os últimos vestígios de civilização de meus ombros e cedi aos meus impulsos mais sombrios. Eu fodi sua boca. Firmes investidas sobre aquela língua sedosa, profundamente nas garras de sua boca quente até que eu acertei o fundo de sua garganta, e ela apertou ao meu redor, então lentamente arrastei de volta enquanto ela chupava forte em meu comprimento. Uma garota tão boa pra caralho pegando mesmo quando ela não sabia como, olhos chorando, bochechas vermelhas e escorregadias com lágrimas. Ela choramingou e gemeu e engasgou com força na raiz do meu pau, mas nenhuma vez ela pediu um alívio. Observei enquanto ela enfiava a mão entre

as coxas e brincava consigo e sabia que minha garota adorava ser usada duramente assim. — Tire a mão, — eu exigi, minha voz um chicote áspero cortando a intimidade fumegante. Eu empurrei minha perna entre suas coxas abertas, oferecendo a panturrilha vestida de jeans para ela usar. — Se você quiser gozar, faça isso na minha perna. Seus olhos eram duas moedas azuis prateadas gêmeas quando ela olhou para mim, sua boca exuberante espalhada indecentemente ao redor do meu pau. Flexionei minha mão em seu cabelo apenas para ver as lágrimas acumuladas em suas pálpebras inferiores se soltando e escorrendo pelo seu rosto. — Você quer gozar para mim? — Eu perguntei e esperei seu pequeno aceno para continuar. — Você faz isso me usando como eu estou usando você. Ela vacilou de novo, mas notei a forma como um arrepio percorreu seus ombros delgados, como seu rubor se aprofundou para vinho. Com uma hesitação que agarrou minhas bolas em um torno de ferro, Bea se moveu para frente para pressionar timidamente suas dobras molhadas em minha perna vestida com jeans. — Esmague contra mim, — eu disse a ela asperamente, as palavras rasgando minha garganta fechada enquanto eu a observava desajeitadamente começar a se mover contra mim. — É isso aí. Amo ver minha boa menina suja por mim. Quero sentir você gozar em toda a minha perna enquanto eu uso esta garganta apertada, certo? Sua resposta foi um gemido gargarejado, cortado pela circunferência do meu pau.

Nunca na porra da minha vida eu estive tão excitado. E não era só a cena, a cabeça loira de Bea inclinada em oração sobre meu pau, chupando-o tão bem apesar de sua falta de habilidade que eu já estava lutando para não gozar. Era essa confiança que ela estava me dando. A maneira como ela ultrapassou seus próprios limites para me seguir voluntariamente mais fundo em minhas trevas e depravações. Ela ficava me dizendo que me queria em toda a minha glória fodida, e eu ficava tentando provar seu erro. Mas ela saltou sobre todos os obstáculos que eu joguei em seu caminho sem medo e com tanta graça que doeu no meu peito. Ela estava se movendo agora, esfregando sua doce boceta contra minha perna cada vez mais forte, então eu tive que me preparar. Suas respirações gaguejantes e ansiosas em torno do meu pau esfriavam o eixo cada vez que eu puxava, e ela gemia sempre que eu empurrava de volta. Era como se cada golpe do meu pau estivesse alimentando as chamas de sua luxúria cada vez mais alto. Mais cedo do que eu poderia ter imaginado, devido à sua boceta dolorida e às inibições, Bea estava se desfazendo na minha panturrilha, ensopando o tecido molhado com o doce néctar de seu clímax. Ela gritou quando gozou, as lágrimas escorrendo pelo rosto, os sucos descendo pelas coxas, até ficar mais líquida do que mulher. Aquelas lágrimas, aquela ansiedade e o aperto reflexivo de sua garganta em volta da minha cabeça toda vez que eu ia um pouco longe demais se aglutinavam como um peso urgente em minhas bolas. Eu queria gozar também. E eu ia fazer tudo sobre aquele rosto lindo e angelical.

O pensamento explodiu a represa, segurando meu clímax. Eu puxei para fora da boca de Bea enquanto ela gemia em protesto, apertando com mais força uma mão em seu cabelo para prendê-la no lugar e a outra em volta do meu eixo. Três puxões violentos e eu estava gozando, as pérolas pousando em suas bochechas macias, lábios inchados e brilhantes e queixo pequeno. Eu a pintei em depravação e pecado, glorificando-me em minha capacidade de fazer isso, sentindo-me como Satanás deve ter se sentido quando Eva deu a primeira mordida na maçã. — Porra, sim, — eu rosnei e assobiei enquanto espremia o resto da minha semente da cabeça do meu pau, então escovei sobre a boca entreaberta de Bea. Com pálpebras baixas e seios arfantes, ela olhou para mim como um anjo caído, suja com minha semente. Eu ofeguei, a mão ainda em seu cabelo, a outra apoiada na parede enquanto a água, agora fria, continuava a bater nas minhas costas, e esperei sua reação. Aquela doce e pequena língua apareceu entre seus lábios, em seguida, timidamente varreu o esperma, lambendo-o tão lindamente. Quando ela terminou de limpar a boca como um gatinho, levantou um dedo com a ponta rosa e tirou uma gota de sua bochecha. Ela o estudou, a cabeça ligeiramente inclinada, esfregando entre o polegar e o indicador, e então ela comeu também, sugando a umidade de cada dedo como eu a vi fazer uma vez com um pêssego. Um arrepio percorreu todo o meu corpo, um eco do meu clímax. — Você tem um gosto bom, — ela me disse com uma voz trêmula, quase tonta. — Você tem o gosto que eu sempre imaginei que você teria.

— Está me matando, — eu disse a ela enquanto me inclinei para pegá-la sob suas axilas e puxar facilmente em meus braços. Suas pernas me envolveram naturalmente, sua bunda embalada em minhas mãos como se ela tivesse sido feita para sentar lá. — Precisava disso, — admiti relutantemente. — Eu te machuquei? Ela se aninhou no meu pescoço, em seguida, colocou o nariz na minha barba e esfregou lá, inalando meu cheiro. — Mmm, apenas o suficiente, obrigada. Uma risada rouca me deixou. — Certo. Entendi que minha Pequena Sombra gosta de coisas duras. — Só com você, — ela concordou sonolenta, acomodando-se em meus braços como se pudesse dormir lá. Uma cãibra residual de pânico se apoderou de minhas entranhas, mas me forcei a passar por isso para que pudesse desligar a água e nos tirar do banho de vapor denso. Ela protestou em um murmúrio exausto quando eu tentei deixá-la sentada para secá-la com uma toalha laranja fofa, então eu fiz um trabalho pela metade com ela em meus braços ainda pressionada contra minhas roupas molhadas. No momento em que a carreguei para sua cama com dossel, ela estava desmaiada, a respiração suave soprando contra minha garganta. Meus braços convulsionaram em torno dela quando pensei em colocá-la sob os lençóis de cetim rosa. Eu não queria deixá-la ir.

Eu não queria sair de casa do jeito que sabia que deveria, e definitivamente não queria deixá-la fora da minha vista agora ou nunca. Ela era minha, minha, minha. Eu cerrei meus dentes enquanto as emoções borbulhavam e ferviam em meu intestino. Eu não sabia o que fazer com elas, então estava impotente para agir contra elas. Em vez disso, sentei minha bunda na beira daquela cama feminina do caralho e segurei minha garota feminina em meus braços por um longo tempo enquanto ela dormia. A noite lá fora ficou mais escura, Sampson entrou no quarto e se enrolou em um travesseiro com um olhar furioso para mim por roubar sua amante, e ainda assim, eu não podia deixá-la sair de meus braços. Ela cabia ali. Ela se encaixou no meu peito, no espaço entre minhas costelas, no buraco onde deveria haver um coração humano. Talvez fosse isso, talvez ela fosse meu coração, vivendo erroneamente fora do meu corpo, e era por isso que me sentia assim. Como se nunca devêssemos nos separar. Como se devêssemos ceder às nossas ambições gêmeas e perseguir um ao outro até o fim dos tempos. Finalmente, quando o amanhecer apareceu com sua testa pálida no horizonte, obriguei-me a deixá-la. Ela deslizou entre as cobertas com um pequeno murmúrio e uma carranca entre suas sobrancelhas pálidas que alisei com meu polegar.

Aí descobri maneiras de ficar naquela casa rosa absurda com móveis vintage e decoração feminina. Limpei a porra do copo do boneco de neve, olhei para Delilah enquanto ela arrulhou em sua gaiola e enxuguei o derramamento de água em seu banheiro com aquelas toalhas felpudas. De alguma forma, encontrei-me na frente do espelho dourado ornamentado e avistei meu reflexo. Aqueles olhos vazios, pálidos e verdes como sempre, não pareciam como costumavam ser. Eles não estavam cansados e minguados, vazios como vasos de jade. Eles eram brilhantes, iluminados por alguma chama interna que Bea acendera como uma tocha que não se apagava. A agonia passou por mim, seguida rapidamente pela raiva. Não podia sentir de novo. Eu não poderia passar por isso novamente. Ma, Pa, Keely, Danae. Morto. Morto. Morto. Morto. Mute. Morto. Eu. Morto. Morri naquela igreja, há muito tempo, que tinha o vitral pendurado na sala da igreja do The Fallen MC. Apesar de tudo, eu estava sendo arrastado, chutando e gritando, de volta para a terra dos vivos por uma garota muito jovem e totalmente ingênua com cabelos de luar e uma alma perigosamente atraída para a minha escuridão. Sem pensar, recuei e dei um soco com a mão direita no espelho. Ele se quebrou em uma teia elaborada, meu rosto feroz no centro. Meus dedos, já em

carne viva de tanto bater no rosto de Cal Mulligan, estavam rasgados e sangrando muito. Mergulhei meu dedo em uma das feridas abertas, pressionando cruelmente para que meu pânico se transformasse em dor. Eu respirei fundo algumas vezes através dos meus dentes cerrados para me centrar nisso e então resolvi dar o fora dessa armadilha de mel de casa. Antes de fazer isso, algo em mim me forçou a parar. Peguei a ponta do dedo pintado de sangue e passei uma mensagem para Bea na tigela de porcelana da pia. A rún mo chroí. O segredo do meu coração. E quando saí de casa, trancando a porta atrás de mim com a chave reserva que encontrei em uma gaveta da cozinha, e fiz meu caminho para a minha moto, onde esperei até Wrath, Bat e, surpreendentemente, Dane, aparecerem para assumir o dever de guarda, eu me sentia exatamente como se tivesse deixado qualquer aparência que eu tinha de um coração e alma enrolada em uma cama rosa naquela casa rosa.

Capítulo Vinte Bea

Acordei no domingo de manhã com uma oração na língua. Era tão popular entre os cristãos que era quase um clichê. Meu avô muitas vezes evitava a passagem, embora fosse uma das mais solicitadas para ele recitar em casamentos. A passagem de Corinthians começou afirmando que o amor era paciente e gentil, mas não foi isso que cresceu em minha boca como uma rosa recém-brotada quando abri os olhos e soube que estava sozinha em minha cama após uma noite de pecado e sexo com o amor da minha vida que pode nunca, sem culpa própria, me amar de volta da mesma maneira. Era o fim, o gemido no final do estrondo. O amor ‘sofre todas as coisas, acredita em todas as coisas, espera todas as coisas, suporta todas as coisas.’ Isso articulava perfeitamente a vasta esperança e paciência que sentia pelo Priest. Meu amor por ele não era algo que eu pudesse forçá-lo, especialmente quando ele não tinha um contexto para isso. Em vez disso, optei por pensar nele como uma casa que criei e cuidei para ele, um lugar que criei como um refúgio onde ele poderia deitar sua cabeça cansada e se livrar de seus

demônios. Onde ele pode, um dia, decidir viver comigo, feliz à nossa maneira, apaixonado nas nossas próprias condições. Suspirei cansada enquanto escorregava para fora da cama, distraidamente me inclinando para acariciar Sampson enquanto ele serpenteava em volta dos meus tornozelos no caminho para o meu banheiro. Ele saiu correndo do quarto quando eu engasguei ao avistar meu espelho quebrado. Quando me aproximei, vi um único e longo caco de vidro na pia, deitado sob as entranhas ensanguentadas das palavras que o Priest deve ter escrito na porcelana branca. A rún mo chroí. Eu tracei meu dedo sobre o sangue seco e estremeci, embora não soubesse o que as palavras significavam. O que quer que o gaélico denotasse, eu sabia que era inerentemente algum tipo de declaração. Claro, a única carta de amor que um homem como Priest escreveria seria uma escrita com seu próprio sangue. Toquei o caco de vidro, estremecendo ao me lembrar da maneira como Priest havia usado a lâmina afiada de sua faca no meu corpo. Eu nunca soube que tal coisa pudesse ser erótica, mas a sensação daquele aço frio era incendiária. Saber que ele tinha a habilidade de me dividir em duas, mas a contenção e o talento para evitar me machucar eram uma combinação inebriante. De alguma forma, ele conhecia meus pensamentos mais sombrios, as fantasias que meu cérebro criava apenas nas horas mais profundas da noite, quando eu ficava acordada e sonhando com minha mão entre minhas coxas na cama.

Eu olhei para o meu reflexo, notando a maneira como meu sorriso inundou cada centímetro do meu rosto com um contentamento gentil. A noite passada foi intensa e gloriosa. A evidência disso estava estampada na minha pele, na queimadura de barba que esfolava meu pescoço e peito, nos hematomas que decoravam meus quadris como pequenos cachos de uvas e nos hematomas mais profundos nos joelhos por me ajoelhar no chuveiro para levar o pau duro de Priest na minha garganta. Sempre me machuquei como um pêssego e, pela primeira vez, tive orgulho de carregar as feridas na minha carne. Estremeci com a imagem lasciva que eu era, observando enquanto meus olhos ficavam semicerrados com a lembrança da luxúria. Eu me assustei quando alguém bateu na minha porta da frente, então sorri bochecha a bochecha enquanto me perguntava se poderia ser Priest voltando para me ver. Eu praticamente corri para a porta, o cabelo voando, antes de perceber que estava nua. Mordi meu lábio, em seguida, agarrei a manta de malha cremosa que Cleo tinha feito para mim da parte de trás da cadeira da minha sala e enrolei em mim. — Olá, — cantei ao abrir a porta. Bat, Dane e Cleo piscaram de volta para mim. Os dois homens desviaram os olhos, cobrindo as bocas sorridentes, mas Cleo caiu na gargalhada e começou a aplaudir. — Oh, oh, eu simplesmente sabia, — ela gritou enquanto passava por mim e entrava na casa segurando uma cesta de piquenique.

— Era muito óbvio, — Bat disse a ela enquanto a seguia para dentro de casa, despenteando o cabelo sedoso de Cleo. — Não seja muito orgulhosa de si mesma. Cleo apenas sorriu para ele. — Estou tão feliz por ela. — Ela se virou para olhar por cima do ombro para mim enquanto se dirigia para a minha cozinha. — Estou tão feliz por você. Eu permaneci na porta, ficando fria com o vento gelado, observando enquanto Dane sorria para mim e batia na neve de suas botas antes de entrar e fechar a porta atrás dele. — Eu estou pensando que você não está acostumada a ser provocada assim, — ele disse suavemente. Mordi meu lábio e assenti. — Isso é meio novo, sabe? Algo cintilou em seus olhos como uma lâmpada defeituosa. — Sim, criança. Entendi. Eu cuido deles se você me prometer café. É muito cedo para funcionar sem café. Eu não conhecia o irmão de Lila muito bem. Ele foi dado como morto, desaparecido em ação dos militares no exterior por todos os anos que eu a conhecia, e quando ele voltou, ele se apegou principalmente a Lila, Zeus, Bat, Smoke e um dos promíscuos festeiros do clube, Tempest Riley. Mas agora ele estava lá na minha sala de estar, alto, largo, de pele escura e o homem mais bonito que eu já tinha visto. E ele estava cuidando de mim, embora ele não me conhecesse antes. Eu sorri beatificamente para ele. — Eu faço o melhor café. Harleigh Rose até diz isso e você pode não saber, mas ela tem um sério vício em café.

— A primeira coisa que nos ligamos, — Dane me disse com uma piscadela de seus olhos de um azul pálido incomumente de cílios absurdamente curvados. — Lidere o caminho. Bat e Cleo já estavam em casa na minha cozinha, Bat sentado em um banquinho na ilha enquanto Cleo desempacotava sua cesta de piquenique. — O que eu fiz para merecer isso? — Eu perguntei a ela enquanto me inclinei sobre seu ombro para dar um beijo em sua bochecha como uma distração para que eu pudesse roubar um pêssego da cesta de vime. — Eu vi isso, — ela disse suavemente, mas me deixou pegar a fruta e continuou a se ocupar com o café da manhã. — Você não precisa fazer nada para que eu faça algo de bom para você, Bea. Você sabe disso. Mas, neste caso, acho que você ser a obsessão de um psicopata é razão suficiente para trazer o café da manhã. Pisquei com a fruta na boca, a polpa tão macia quanto os lábios surpreendentemente macios de Priest. Cleo percebeu meu olhar e riu. — Eu quis dizer o serial killer, querida, não Priest. Embora, depois do que parece ter acontecido na noite passada, talvez este devesse ser um café da manhã comemorativo em vez de um café da manhã de consolação. Um rubor acendeu minha pele, fazendo Bat rir, e Dane o empurrou com o ombro enquanto ele se sentava ao lado dele. — Por que você não se veste para ir à igreja? — Dane sugeriu, acenando com a cabeça para a minha nudez envolta em manta. — Vamos te levar depois do café da manhã.

— Tempest vai trazer Shaw e Steele também, — Bat me disse, mencionando seus filhos gêmeos, que por acaso eu adoro. — Amelia tem um compromisso, mas ela quer os meninos na igreja com ela esta manhã, então decidimos ir juntos. Pisquei para o enorme veterano de guerra com tatuagens do pescoço aos pulsos, tentando imaginá-lo nos salões sagrados da Primeira Luz. — Você vai à igreja? Bat sorriu agudamente enquanto arrancava o pêssego de meus dedos flácidos e levava a fruta à boca, dando uma mordida monstruosa. — Porra, não. Mas vou esperar lá fora e atirar na merda com Dane enquanto você faz seus negócios. — Onde... quero dizer, Priest vai se encontrar com a gente? — Eu questionei pateticamente porque não pude evitar. Eu sabia que ele tinha ido embora porque a intimidade foi demais para ele. Ele era um animal selvagem, então não era como se ele pudesse ser domesticado durante a noite. Eu não estava com raiva e nem estava realmente triste com seu abandono. Eu estava feliz que ele se abriu tanto quanto na noite anterior. E eu queria uma oportunidade logo para abrir outra fenda nas paredes de concreto. Os lábios de Bat se curvaram em um pequeno sorriso simpático. — Nah, o homem tem negócios do clube esta manhã.

Eu balancei a cabeça com meu lábio inferior preso entre os dentes, a dor um leve conforto. Sem outra palavra, rapidamente coloquei minha máquina de café branca para funcionar e fui me vestir. Surpreendentemente, Cleo me seguiu. — O que foi, querida? — Eu perguntei enquanto ela hesitava na porta do meu quarto, abraçando o batente da porta como se quisesse se confortar. — Você está bem? Ela mordeu o lábio, uma mecha de cabelo castanho curto e desgrenhado balançando em seus olhos verdes, emaranhado com os cílios. No glamour das garotas motoqueiras, era fácil ignorar Cleo com sua beleza doce e cheia de bochechas, as sardas em seu nariz e a timidez em sua expressão. Mas eu sempre a achei adorável, sua beleza crescendo em você quanto mais você a estudava. O problema era que, com Cleo, ela não gostava de ser estudada. — Cleo? — Eu repeti enquanto removia o cobertor e rapidamente colocava uma calcinha com babados. — Você está me assustando um pouco. E aí? Ela suspirou, empurrando a porta para se arrastar até a minha cama e desabar em cima das cobertas com um suspiro forte. — Acho que estou apaixonada. Eu pisquei. Ela deu se virou no colchão para olhar minha expressão e estremeceu, então riu um pouco. — Eu sei, eu sei, sinto muito. Eu deveria ter te contado, mas você esteve ocupada com um psicopata assassino e um certo segurança ruivo.

— Querida, — enfatizei enquanto escolhi rapidamente um vestido creme de inverno do meu armário e o vesti antes de ir para o lado dela e sentar na cama. — Sério, não há desculpa para não me contar! Mesmo se eu estivesse ocupada, você deveria ter me batido na cabeça e me contado suas novidades. Ela riu um pouco, aliviada e também tonta, um pequeno rubor feliz em suas bochechas. — Honestamente, era um pouco divertido manter o segredo. Eu nem consigo te dizer quem é. Minhas sobrancelhas cortam linhas duras em minha testa. — Oh meu Deus, você está falando sério? Isso é tão diferente de você. Cleo e eu éramos melhores amigas por vários motivos. Nós duas éramos meninas bastante inocentes trazidas ao mundo do clube por laços de família, sem um homem de couro para chamar de nosso. Nós duas amávamos filmes clássicos, embora eu me desviasse para o terror e Cleo amava velhas histórias de amor, fazer compras em lojas vintage e basicamente tudo e qualquer coisa feminina. Éramos duas ervilhas em uma vagem, Axe-Man disse uma vez depois de nos ver fazendo panquecas em formato de coração à meia-noite durante uma festa do pijama. E era verdade. Então, fiquei chocada com o sigilo dela e com o fato de ela estar namorando. Ela nunca teve mais do que uma paixão, tanto quanto eu sabia. — É o Eric? — Eu perguntei, pensando sobre ela corar perto dele recentemente, enquanto estávamos encerrando um episódio de Pequena Senhorita Assassinato.

A risada dela era embaraçada e gaguejava com estranheza. — Bea! Eu não posso dizer, tudo bem? Pelo menos ainda não. — Por que você precisaria esconder um relacionamento com ele? Você tem medo do Axe-Man não aprovar? Eu sei que Eric parece um punk, mas ele é um cara muito bom. Caramba, ele é um fiel frequentador da igreja. O rubor de Cleo se intensificou. Ela agarrou minhas mãos e apertou com força, os olhos brilhando enquanto ela se inclinava para mim. — Ele é incrível. Não importa porque eu não posso te contar os detalhes, eu só estava explodindo para te contar algo. Ele me faz sentir tão bem, Bea, como pura, linda e digna. — Awnn querida, — eu murmurei, sentindo o eco dessa sensação em meu peito enquanto minha mente instintivamente se voltava para Priest. — Eu conheço a sensação e é incrível. — Tão incrível, — ela concordou. Sorrimos uma para a outra por um longo minuto, depois nos dissolvemos em risos. — Estou tão feliz por você, — eu disse a ela, saltando ligeiramente na cama para enfatizar minha excitação. Cleo me imitou, então balançou nossas mãos unidas para cima e para baixo em conjunto. — Estou tão feliz por você. — Você promete que ele está te tratando bem? — Eu exigi. — Eu vou chutar seu traseiro se ele não o fizer. Ela riu, tão despreocupada e linda, que tive vontade de apertá-la. Então, eu fiz, lançando-me sobre ela para abraçá-la com tanta força que ela soltou uma

gargalhada e protesto. Lutamos um pouco de brincadeira antes de eu cair de costas, ofegando ligeiramente enquanto olhava para o dossel rosa sobre minha cama. A mão de Cleo encontrou a minha e entrelaçou nossos dedos. — O amor não é como eu pensei que seria, — ela admitiu suavemente depois de um minuto. — Não? — Não, — ela disse com um suspiro sonhador. — É mais do que apenas se sentir feliz. Ele me faz sentir como se eu tivesse um propósito agora. Eu cantarolei enquanto pensava nisso, mas não tive uma resposta para dar a ela que ela gostaria. Na verdade, não gostei da fusão de amor com propósito. Minha vida antes de Priest era cheia de energia. Eu amava meu programa, minha escola, minha família e amigos. Tinha sonhos e objetivos. Eu existia fora de meus sentimentos por Priest, uma mulher totalmente realizada em um caminho independente pela vida. Amar Priest não era como encontrar a Estrela do Norte, uma força guiadora para segurar minha mão durante a vida e me mostrar o caminho. Eu não precisava de seu amor para reconhecer a beleza e o valor de minha própria existência. Mas… Amar Priest tornou tudo o que eu amava sobre minha vida e sobre mim vibrante e claro, de alguma forma simples e totalmente mais profundo. Todos aqueles traumas que eu carreguei sozinha antes dele, todas aquelas coisas grandes e pequenas que eu sempre acreditei que odiava em mim, de repente receberam uma nova profundidade e compaixão. Ele não mudou minha

vida. Ele me deu uma nova perspectiva, descrevendo tudo de bom e ruim à luz dourada de seu amor. Quando saímos do meu quarto um pouco depois, meu cabelo cacheado e gloss aplicado, minha cozinha estava cheia de gente. Pisquei com a visão, tentando absorver o grande número de homens massivos, tatuados e com adornos de couro apertados em meu pequeno espaço. Zeus estava preso em um canto da bancada com Loulou entre as pernas, segurado frouxamente em um braço enquanto ele segurava Monster no outro e minha irmã aninhava Angel. Lila estava ao lado deles, arrulhando para Angel, então ela riu e aplaudiu enquanto Nova observava as duas com desejo óbvio estampado em seu rosto lindo. King e Cress estavam no chão ao lado da ilha em algumas das almofadas da minha sala, brincando com Steele e Shaw, que corriam com motocicletas de brinquedo em seus membros e um Prince bebê sorridente em sua cadeirinha. Hannah estava rindo com Harleigh Rose enquanto preparavam café para todos, movendo-se entre Lion e Lysander, que estavam fazendo panquecas em minhas panelas rosa no fogão. Sander, enorme, cheio de cicatrizes e carrancudo, estava até usando um dos meus aventais, um branco estampado com corações vermelhos. Ele parecia ridículo, mas eu sabia que ele fez isso para fazer Honey sorrir, porque ela estava fazendo isso, mal escondida atrás de sua mão enquanto fingia estar entediada em um banquinho entre Dane e Bat. Era raro vê-la em reuniões Fallen, embora ela fosse tecnicamente tutelada de Maja e Buck, porque ela se ressentia de seus meios-irmãos e foi envenenada contra o clube por sua maldosa mãe agora morta. Mas se ela estava lá, Sander também estava sempre.

Boner e Curtains estavam na minha sala de estar jogando videogame em um console que eles próprios deviam ter trazido, enquanto Heckler e Blade torciam para eles, apostando no resultado. Cleo foi até o Axe-Man, que estava sentado na minha janela olhando para a neve caindo levemente na rua como se cada floco fosse uma memória que ele estava desesperado para não perder. Pela janela da porta dos fundos, pude ver Kodiak ensinando Ransom a tirar a arma do coldre sem problemas. Todo mundo estava lá. Minha família inteira de motoqueiros. Exceto Priest. — Ei, doce Bea, — gritou Loulou quando me viu parada em silêncio no meio do caos. Ela saiu do círculo dos braços do marido e veio até mim, beijando-me na bochecha e oferecendo a Angel a chance de fazer o mesmo. — Como está minha garota do raio de sol hoje? Angel puxou meu cabelo, depois puxou o dela enquanto ria, obviamente encantada por compartilharmos os mesmos cachos claros. Eu a tirei de Loulou para que pudesse inspirar profundamente seu cabelo de perfume doce. Sem surpresa, ela cheirava a cerejas. — Estou bem, — eu disse a ela honestamente. Embora eu me sentisse dominada pela emoção, era principalmente felicidade mesclada com uma nuvem de descontentamento. Eu me perguntei obsessivamente onde Priest poderia estar e por que ele estava ausente de tal reunião novamente. Se era isolamento auto imposto ou deliberado por parte do clube.

— Você parece cansada, — Lou percebeu, estendendo a mão para segurar minha bochecha. — Eu gostaria que você tivesse ficado conosco novamente na noite passada. Eu me sinto melhor quando sei que você está segura. — Eu estava segura. — Não havia lugar mais seguro para mim do que ao lado de Priest. — E, honestamente, adorei ficar com vocês, mas senti falta do meu próprio espaço. Lou mordeu o lábio, mas assentiu. — Certo, eu posso entender isso. O... Priest ficou com você na noite passada? Eu me escondi atrás de uma mecha de cabelo, aparentemente para salpicar beijos por todo o rosto rechonchudo de Angel, mas principalmente para me esconder de minha irmã observadora. Ela suspirou, mas então seus braços estavam em volta de mim e tudo que eu podia sentir era seu abraço suave. — Oh, querida, não posso dizer que não gostaria que você tivesse escolhido alguém muito mais fácil de amar, mas você é uma Lafayette, então acho que deveria estar preparada. Eu sorri para ela quando ela se afastou. — Tendemos a gostar de homens perigosos. Nós duas olhamos para Phillipa, que apareceu atrás das costas enormes de Smoke, rindo de algo que ele disse. Maja e Buck sentaram-se com eles na mesa da minha sala de jantar, o contingente mais velho do clube atirando na merda juntos. — Você acha que ela finalmente vai concordar em sair com ele? — Perguntei à Lou.

Ela balançou a cabeça, brincando distraidamente com o pezinho de Angel. — Ela está com muito medo de ser diferente. — Diferente não é ruim, — declarei, embora soubesse que minha irmã já havia aprendido essa lição. — Só porque algo é diferente da norma não o torna intrinsecamente ruim. Por que as pessoas temem tanto o que não entendem automaticamente? — As pessoas querem estar preparadas. Se eles sabem o que está por vir, eles não temem. Pessoas que agem fora da lei e dos costumes sociais normais, como o clube, são aberrações. Eles não sabem o que faremos em qualquer circunstância, e isso é assustador para eles. — Eu me pergunto se é por isso que o assassino está mirando em pessoas que eles sentem que estão à margem da sociedade. A prostituta, a mulher das Primeiras Nações, a professora que teve um caso com Kodiak... — pensei. — Talvez o assassino esteja tentando eliminar o caos. Loulou bufou, olhando a bagunça de corpos e ruídos que nos cercavam. — Boa sorte para ele se quiser eliminar tudo isso. Eu estremeci, embora ela estivesse brincando. Eu conhecia a mente de um serial killer. Uma organização fora-da-lei enorme e próspera como The Fallen seria um grande alvo vermelho para alguém obcecado com conformidade. — Não fique tão assustada, pequena Lafayette, — Z disse enquanto se aproximava de sua esposa e a reclamava novamente com uma grande mão em sua cintura. Monster fez uma careta para mim e balançou o punho como se quisesse enfatizar o ponto de vista de seu pai. — Colocamos o clube em alerta, nada vai acontecer com você, certo?

Mordi meu lábio porque não estava preocupada com algo acontecendo comigo. Eu estava preocupada com eles. — Por que vocês vieram todos? — Eu perguntei, desesperada para mudar de assunto e me livrar desse frio proibitivo e persistente. — Você sabe que tenho que ir para a Igreja em uma hora? Harleigh Rose apareceu ao meu lado e colocou um braço em volta dos meus ombros. — Você está de brincadeira? Você está sendo observada por um assassino. Você tem sorte de até mesmo te deixar fora de nossa vista. — É por isso que você deve estar em nossa casa para o jantar esta noite, — Cressida declarou de seu lugar no chão, aninhada ao lado de King. Prince balbuciou alegremente de seus braços, e eu senti algo como inveja apertar meu útero. — Farei torta de maçã para a sobremesa. — E, sério, precisamos conversar sobre meu casamento, — HR me lembrou, abrindo sua mão esquerda para que eu pudesse admirar seu diamante. — Está chegando rápido, e ainda há muita coisa para planejar para o meu dia especial. — Nosso dia especial, você quer dizer, — Lion a lembrou secamente enquanto a puxava de volta para ele pelo cinto e pressionava um beijo em sua orelha. — Ou eu tenho que te lembrar disso, de novo? — Certo, nojento, — brincou Cressida, porque Harleigh Rose estava sempre reclamando da demonstração pública de afeto do irmão e do pai. — Vocês dois podem conseguir um quarto ou algo assim? — Sim, sério, HR, você vai deixar traumatizado o seu irmão e a sua irmãzinha, — brincou Loulou, tentando esconder os olhos deles.

HR mostrou a língua para eles e todos nós rimos. Queria jantar com eles. Eu queria passar o dia inteiro com essa família feita de desajustados com os maiores corações que eu já conheci. Mas eu ainda tinha um pé em outro mundo, e esse fato estava surgindo agora. — Sinto muito, mas Phillipa e eu vamos jantar com os Linley esta noite depois da escola dominical. Os Garros ficaram em silêncio. Mudei de um pé para o outro, mexendo nas mãos. — Sinto muito, preferia jantar com vocês, mas já disse que iria. — Seth Linley é bom o suficiente, — Cress ofereceu como um ramo de oliveira. — Mas a esposa dele meio que me dá arrepios. Ela é sempre tão intensa. — Dr. Linley era um dos meus médicos, — disse Loulou suavemente, passando a mão pela cabeça de Monster como se quisesse obter conforto dele. — Diga a ele que eu disse oi. Eu sorri para minha irmã, amando-a por tentar me apoiar mesmo quando eu tomava decisões que ela não entendia. — Faremos algo esta semana, — declarou HR, piscando para mim. — Se você não estiver muito ocupada com seu Priest. Todos riram, até mesmo os outros irmãos que fingiram não escutar. — Onde ele está? — Perguntei a Zeus suavemente sob a corrente de risos.

Seus olhos de concreto se suavizaram. — Às vezes vivemos em uma gaiola que nós mesmos fazemos, pequena Bea, e às vezes, embora tenhamos a chave, não queremos sair. Você me entende? Mordi meu lábio, pensando no olhar assombrado nos olhos de Priest, o pânico que eu sentia em intervalos estranhos quando estávamos fazendo sexo. Era uma sensação estranha perceber que o intrépido executor de The Fallen tinha medo do pequeno e insignificante eu. — Vou trabalhar nisso, — eu disse a ele com uma inclinação teimosa do meu queixo. Ele bufou levemente com seu punho enorme e sorriu para mim com os olhos enrugados. — Tem aquela magia Lafayette. Eu não duvido que você vá.

Capítulo Vinte e Um Bea

A missa dominical foi um acontecimento esparso naquela semana, o que me levou a olhar para os últimos meses e notar uma tendência em cada vez menos pessoas comparecendo ao serviço do vovô. Algo no espaço sagrado estava errado, mesmo entre os poucos participantes, algum fio de energia que zumbia como iluminação barata no teto. Shaw se remexeu ao meu lado, balançando as pernas curtas no banco, olhando ao redor da igreja como se procurasse o bicho-papão. — Você está bem, cara? — Eu perguntei a ele, mergulhando para olhar em seus olhos incompatíveis, um castanho, o outro impregnado de verde de um lado, um espelho exato de seu irmão gêmeo. Shaw se assustou, embora eu tivesse falado baixinho, então pareceu envergonhado. — É meio assustador aqui. Steele se inclinou para olhar para mim, e notei que ele tinha sua mãozinha na de Tempest, apertando com força, embora tivesse dez anos e provavelmente muito velho para segurar a mão de alguém em público. — Sim, este lugar me dá arrepios.

— Shhh, — Amelia Stephens ordenou do outro lado de Bat, que estava sentado ao lado de Tempest. Ela olhou para Steele segurando sua mão, e o menino relutantemente soltou e fechou os punhos em seu colo. Bat lançou a ela um olhar de desaprovação, sua boca maldosa com censura,

mas

Amelia

os

ignorou. Eles

tiveram

uma

explosão

no

estacionamento quando Bat se recusou a ir à missa com eles e, obviamente, Amelia havia vencido. Ela fez um barulho tão estridente, pensei que ele cedeu apenas para fazê-la calar a boca. Tempest me lançou um pequeno olhar de desculpas, como se estivesse acostumada a perdoar sua discórdia. — Você fica quieto durante isso, e nós iremos ao Honey Bear Café para comer brownies depois, tudo bem? — Ela ofereceu aos gêmeos com uma pequena piscadela. Eles imediatamente se endireitaram e pararam. Tempest e eu compartilhamos um sorriso. A maioria das mulheres no clube não gostava dela porque ela começou como uma das prostitutas do clube só para dormir com um dos irmãos, mas ela era a babá dos filhos de Bat e Amelia por um par de anos agora, e sempre que a via, achava que ela era legal. — 'O amor prospera quando a culpa é perdoada,' — vovô estava pregando com aquela voz suave e cansada, reconfortante como um cobertor velho. — Mas pensar nisso separa velhos amigos. Vamos nos lembrar disso quando orarmos pela alma de Natalie Ashley. Ela era uma boa mulher, não importando seus erros anteriores. Não há necessidade de lembrar seu

pecado. Em vez disso, lembraremos como ela sempre estava ansiosa para ajudar seu vizinho e apoiar nossos jovens em suas aulas bem ministradas no ensino médio. Ela fará falta para sua família, amigos e, certamente, por esta paróquia. — Ela era uma vagabunda, — alguém murmurou alto o suficiente para perturbar o ar pacífico. — Não deveria ter sido permitido passar pelas portas. O choque percorreu os bancos. Ninguém falava assim na Primeira Luz. Não apenas porque era um lugar celestial, mas porque o vovô havia criado uma atmosfera de amor e tolerância. Não éramos odiosos e certamente não éramos rudes. Especialmente quando a mulher em questão foi assassinada por um assassino em série pelo pecado humilde de dormir com um homem fora do casamento. O queixo do vovô caiu, mas ele continuou calmamente como se o homem não tivesse falado. — O culto de Natalie será realizado nesta quarta-feira no cemitério com um culto no centro comunitário. Espero ver todos vocês prontos para prestar seus respeitos a uma mulher que foi arrancada desta vida muito cedo por um ato violento e odioso. — Não vai me encontrar lá, — outra pessoa, uma mulher desta vez, sussurrou atrás de mim. Virei o pescoço para tentar encontrar a mulher, mas apenas rostos em branco me encararam, todos observando o vovô. Um arrepio rolou ferozmente pela minha espinha. Meus dentes estavam cerrados, cerrados contra alguma promessa de ataque. Isso não estava certo.

Nada havia acontecido desde que entramos pela porta, os paroquianos sussurrando ao ver Bat com todas as suas tatuagens arrastado relutantemente atrás de sua esposa, quando viram Loulou segurando minha mão em solidariedade pela primeira vez na igreja desde que ela se casou com Zeus. Havia animosidade forte no ar como o fedor de bebida e fumaça que sobra de uma festa para a qual não tínhamos sido convidados. Eu me perguntei loucamente o que eu perdi, o que poderia ter acontecido para virar a maré dos habitantes da cidade contra alguns dos seus. Não houve mais gritos quando o vovô encerrou cuidadosamente seu sermão e dispensou a todos com uma bênção, mas assim que eles se levantaram, houve estrondos de descontentamento no ar. Loulou apertou minha mão com muita força e manteve Phillipa perto de seu outro lado. — É geralmente assim, ou eu apenas provoquei isso neles? — Não, — Phillipa disse suavemente, seu rosto lindamente envelhecido enrugado ainda mais em preocupação. — Isso não é natural. — Por que eu sinto que os aldeões furiosos estão prestes a vir para nós com a porra dos forcados e tochas? — Bat murmurou enquanto nos agrupávamos perto do altar, ambas as mãos segurando os ombros de forma protetora do filho. — Você está sendo ridículo, — Amelia repreendeu, afastando o cabelo loiro morango. — É o clube. Depois de tantos anos olhando por cima do ombro, você suspeita de todos. Loulou e eu trocamos um olhar meio estremecido, mas Bat respirou fundo para se acalmar e apenas balançou a cabeça para a esposa.

— Parece um pouco hostil aqui hoje, — admitiu Tempest. Amelia olhou para a ruiva em seu suéter vermelho-escuro bem ajustado, saia preta e botas de cano alto com olhos críticos. — Sim, bem, você saberia tudo sobre ambientes hostis, suponho. — Amy, — Bat retrucou. — Não descarte sua frustração nela. Amelia fungou, mas virou a cabeça, fingindo chamar a atenção de alguém na multidão. — Vou falar com Judy. Bat grunhiu em afirmação, mas no momento em que ela se foi, ele começou a conduzir os gêmeos para o centro dos bancos. — Vamos dar o fora daqui. Eu concordei com ele, embora a Primeira Luz sempre tenha sido um refúgio para mim. Eu os segui pelo centro, acenando para o vovô em despedida porque ele estava envolvido em uma conversa acalorada com a mãe de Bill Huxley, Margaret. Bat experimentou as portas duplas, mas franziu a testa quando elas não se separaram. Ele lançou um olhar por cima do ombro para nós, então levou o ombro para a porta. Ela não se mexeu. O clamor chamou a atenção do resto de nossa comunidade, e logo uma pequena meia-lua de espectadores nos cercou. A porta não se moveu nem mesmo quando Bat bateu com todo o seu peso contra ela.

— Isso não está certo, — eu murmurei, meu intestino agitando enquanto a atmosfera mudava e estalava como o ar antes de uma tempestade cair. — Não, — concordou Loulou. — Vamos sair pela entrada lateral. Nós nos movemos juntos como uma pequena unidade familiar de volta ao altar quando houve um estalo repentino e estilhaçamento. Uma das janelas de vitral do lado direito do prédio se quebrou no canto esquerdo inferior com o impacto de uma garrafa recheada com um pano em chamas. — Oh, meu Deus, — Loulou respirou, e de repente, nós duas fomos jogadas de volta para quatro anos antes, quando um MC rival tentou nos queimar dentro da cabana de Zeus com coquetéis molotov. Bat não hesitou. Ele estava correndo antes que eu pudesse abrir minha boca para protestar, balançando seu colete para usá-lo para apagar o pequeno incêndio onde queimava ao lado de um conjunto de bancos de madeira. Ele apagou com um leve chiado. Seth estava de repente lá também, parado na frente de Bat encarando a janela como se estivesse pronto para pegar o que quer que viesse a seguir. Todos nós esperamos em silêncio, vibrando de medo, por mais para ser jogado dentro. Nenhum veio. Bat ergueu o colete e se agachou para examinar a garrafa. Ele a cutucou com a bota e rosnou. — Tem uma porra de nota dentro. É um maldito aviso. — O que diz, Sr. Stephens? — Vovô exigiu regiamente enquanto percorria os bancos para o lado de Bat, o queixo erguido sem uma centelha de medo em seus olhos azuis Lafayette.

Bat ergueu seu olhar negro para cima e para cima de nós. — Romanos 5:19 ‘Porque, assim como pela desobediência de um só homem muitos se tornaram pecadores, assim também pela obediência de um homem muitos serão feitos justos’. Como se convocado por suas palavras, o estrondo e os estilhaços começaram novamente, desta vez de uma janela no lado oposto da igreja. Seth correu para tentar apagar a garrafa em chamas com seu paletó, mas ela imediatamente pegou fogo. Um momento depois, outro foi lançado pela outra janela e pousou ao lado de Bat. — Saiam! — Ele gritou ao cair sobre a garrafa com sua jaqueta de couro para apagar a chama. — Venha, — ordenou Loulou, arrastando-me pela mão enquanto se abaixava para pegar Shaw e prendê-lo no quadril. Ele foi de boa vontade, Steele já nos braços de Tempest e Amelia na retaguarda com Cleo, que parecia totalmente apavorada. Vovô estava conduzindo a multidão assustada pelo corredor até a entrada lateral, que felizmente não estava bloqueada. Ransom, de todas as pessoas, estava mantendo-a aberta para todos. — Priest me fez esperar do lado de fora, — ele explicou enquanto passávamos correndo em uma debandada semi-organizada. Claro, ele fez. Não tive tempo para pensar nisso, no entanto. Imediatamente, começamos a organizar o caos, garantindo que ninguém se machucasse. Kodiak também

estava lá, sua enorme moto preta e prata no estacionamento, seu grande corpo desaparecendo na esquina assim que saímos. Caçando o incendiário, sem dúvida. Tive a sensação de que ele não o encontraria. — Onde está Tabby? — Eu perguntei depois de ter contado todos, indo para Seth, que estava com fuligem e tossindo por seus atos heroicos. — Onde ela está? — Ela não veio hoje, — Seth resmungou. — Não estava se sentindo bem. Algo cutucou o fundo da minha mente, mas esqueci quando vi Bat finalmente emergir do prédio de pedra fumegante. Havia fuligem em suas maçãs do rosto, cinzas em seu cabelo preto curto e cortado, e uma queimadura lívida já borbulhava na pele de sua mão direita. Imediatamente, Tempest, Steele e Shaw correram para ele. Amelia desmaiou, mas Seth estendeu a mão rapidamente para pegá-la enquanto ela o fazia. Parei por um momento para olhar para Amelia desmaiada em seus braços, perguntando-me por que uma mulher como aquela já se sentiu atraída por um homem como Bat. Me ocorreu que algumas pessoas podem considerar Amelia e eu cortadas do mesmo tecido. Éramos ambas pequenas e bonitas, favorecendo roupas femininas e companhia feminina. Mas era aí que as semelhanças terminavam. Sob o rosa e a seda, eu tinha uma coluna de aço forjada no fogo de minha juventude negligenciada, na traição horrível de meu pai e na doença que atormentava minha amada irmã. Eu não era tão facilmente rasgada, tão

facilmente derrotada como Amelia foi para o êxtase porque seu marido estava queimado. Eu era o tipo de mulher que ficaria no fogo com ele se isso significasse estar ao lado do meu homem. Com um último, provavelmente crítico, olhar para Amelia, fui até Bat, observando que ele já estava sendo bem cuidado por sua pequena tripulação. — O fogo foi apagado, mas há fumaça e danos pela água, — Bat me disse sobre o rugido crescente das motocicletas. O Fallen estava chegando. Na hora, uma frota de Harleys cromadas e pretas dobrou a esquina na Main Street e parou no estacionamento da igreja. Zeus desceu de sua moto antes que ela fosse totalmente parada, girando pelo asfalto com os olhos apenas para sua esposa. Loulou já estava correndo a toda velocidade em direção a ele, o cabelo voando, os braços bombeando até que ela pudesse jogálos em volta do pescoço enquanto se jogava em seus braços abertos. — Pequena Lou,— ele rosnou, muito zangado e abalado para controlar seu volume. Observei enquanto Loulou o acalmava com sucesso, as mãos em seu emaranhado de cabelo escuro com pontas douradas, lábios salpicando beijos em seu rosto enrugado. Quando me virei, Bat estava olhando para eles, depois para Amelia, que estava sentada no asfalto bebendo a água que Seth havia encontrado para ela. Mesmo à distância, eu podia ouvi-la falar sobre o heroísmo de Seth e sua gratidão.

— Ela vai ficar bem, — eu assegurei a ele, esperando que ele não pudesse ouvir o que eu ouvi. Os olhos escuros como carvão de Bat cortaram os meus, mais eloquentes do que quaisquer palavras que ele pudesse ter dito. Isso, de alguma forma, ao final de muitos anos de um casamento infeliz, era o fim do caminho para Bat com sua esposa. Então Dane estava lá, andando em vez de correr, embora seu rosto fosse moldado em mármore, os traços fixos em raiva. Steele, Shaw e Tempest abriram espaço para ele quando ele parou a um passo de Bat e o olhou. — Você está bem? — Ele disse finalmente com uma voz firme vibrando como uma corda dedilhada. Bat estendeu a mão para apertar seu ombro e notei que eles tinham exatamente a mesma altura. — Bem, cara. A tensão nos ombros de Dane diminuiu, então caiu completamente quando Tempest se adiantou para lhe dar um abraço. Steele e Shaw, não querendo ficar de fora, também os abraçaram e arrastaram Bat para o redil. O abraço coletivo fez meus olhos arderem e minha garganta coçar. Em todo lugar ao meu redor, pessoas assustadas estavam sendo consoladas por seus entes queridos. Exceto para mim. Eu me virei para encontrar meu avô e o vi com Phillipa abraçando-o ligeiramente sem jeito porque ela não era uma abraçadora. Minha garganta fechou.

Lágrimas ameaçaram tomar conta de mim e tentei respirar através do fluxo de emoção, lembrando a mim mesma que não sou fraca. Mas aquela voz era do Priest, e não ajudou. Fechei meus olhos para contar minhas respirações e minhas bênçãos. Eu estava segura. Era amada por muitos. Eu estava saudável. Eu estava sozinha. Instintivamente, voltei para a porta da igreja, precisando do consolo de seu abraço para me acalmar. Os bombeiros haviam chegado pela frente e estavam passando pelas portas da frente para avaliar os danos, mas eu me esquivei pelos fundos. O corredor dos fundos estava vazio, apenas uma leve pontada de fumaça poluindo o ar. Passei meus dedos ao longo da parede de pedra, a rocha áspera como os dedos fortes e calejados de Priest. Eu me afastei, castigando meus pensamentos por sempre conduzir como um caminho de mão única de volta para aquele homem. A capela central estava revestida de fuligem em todo o comprimento de ambas as paredes, e alguns dos bancos foram danificados, mas, por outro lado, estava abençoadamente intacta. Bombeiros entravam e saíam pelas portas da frente, agora totalmente abertas. Fora delas, enquadrado como um discípulo de Cristo na luz azul invernal, estava Priest. Ele ficou na calçada a poucos metros da entrada, olhando para o espaço sagrado como se estivesse condenado aos confins do inferno. Mas ele estava lá.

Pisquei, perguntando-me se ele era uma miragem conjurada pelo choque. A imagem dele permaneceu, seu comprimento longo e escuro totalmente contra o quadro da rua coberto de neve. Ele estava muito longe para ver seus olhos, mas eu sabia de alguma forma que eles estavam fixos em mim. Deliberadamente, um pé calçado com botas se levantou e deu um passo à frente. Ele estremeceu como se até mesmo o menor movimento mais próximo do lugar sagrado queimasse dentro dele. Eu nunca o tinha visto a menos de um quarteirão da Primeira Luz, e ele estava lá, esperando decididamente do lado de fora, de sentinela como fazia todas as noites por semanas para se certificar de que eu estava a salvo de perigos, mesmo que esse dever trouxesse sua própria medida de dor. Lágrimas queimaram a parte de trás dos meus olhos novamente, mas desta vez elas provinham do poço de felicidade e esperança crescente em minha barriga. Eu corri. Escorregando ligeiramente na umidade que apagou os incêndios, tropeçando nas lajes irregulares com meus saltos altos, esquivando-me dos bombeiros que trabalhavam, corri para fora das portas da igreja indo direto para os braços do diabo. E você sabe o que ele fez? Depois que uma expressão breve e dolorosa se apoderou de seu rosto severo, ele abriu os braços e me segurou. Enterrei meu rosto na curva de seu pescoço, inalando o couro, cravo e o cheiro forte e revigorante de ar fresco impregnado em sua barba e

pele. Vagamente, eu percebi que ele inspirou profundamente a fragrância do meu cabelo. — Você está bem, — declarou ele, a mão forte flexionando minha bunda, uma delas traçando os entalhes na minha espinha do cóccix até o pescoço sob meu casaco aberto, onde se agarrou ao meu cabelo para tirar meu rosto do esconderijo. Seus olhos queimaram minha pele enquanto ele procurava em minhas feições por medo e dor persistentes. — Você está bem. — Bem, — eu concordei, apertando-me mais forte em torno dele para confirmar. — Bem. Ele acenou com a cabeça bruscamente, mas aquela mão no meu cabelo se soltou para que ele pudesse mergulhar por baixo das mechas e encontrar meu pulso com o polegar. Sua sobrancelha avermelhada franziu quando ele levou um momento para sentir o tamborilar do meu coração. — Porra, mo cuishle, — ele murmurou em um suspiro forte que soprou ar mentolado sobre minha boca. — Não vou deixar você sair da minha vista de novo. Não até que esse filho da puta seja derrubado. — Tudo bem, — eu concordei facilmente, alisando seu cabelo bagunçado para baixo com minhas mãos, olhando para seu rosto lindo com admiração, porque atualmente eu estava vivendo um milagre. Um milagre onde eu tinha o direito de tocar ele. — Estou bem com isso. — Deveria saber que você estaria aqui, — uma voz rouca e profundamente impressionada disse por cima do meu ombro. Priest não me colocou no chão para se dirigir ao homem. Em vez disso, ele me puxou ligeiramente para o lado de seu corpo para que eu pudesse encarar o

homem também. Havia um brilho perigoso em seus olhos pálidos, uma promessa de que quem estava falando com ele estava perto de ser feito em pedaços. — Costumo aparecer quando eu tenho uma família que precisa de mim, — Priest concordou com falsa facilidade enquanto passava uma mão possessiva pelo meu cabelo e o enrolava languidamente em seu punho. — Posso te ajudar com algo, policial Travers? O policial semicerrou os olhos para ele, as mãos no cinturão da arma, as pernas preparadas para uma guerra. Ele tinha o rosto de um pugilista e, aparentemente, as maneiras de um também. — Visto que esta é uma cena de crime, você pode me dizer o que aconteceu aqui. — Ele acabou de chegar, — eu disse ao idiota, levantando meu queixo para o encarar da minha pequena altura encostada no quadril de Priest. — Se você quer uma declaração, me pergunte. Eu testemunhei tudo. O policial Travers abriu a boca para falar, mas Priest virou as costas para o homem, dispensando-o. Antes que o policial pudesse protestar, meu psicopata nos moveu pela ligeira inclinação para o estacionamento, onde o resto da nossa família se aglomerava no caos. — Você nos chamou de família, — eu disse baixinho, não querendo assustá-lo repetindo suas palavras. — Acho que nunca ouvi você se referir a alguém como família. Priest lançou um olhar de esguelha pela linha forte de seu nariz para mim. A pele ao lado de seus olhos e lábios era lisa, sem linhas de sorriso ou colchetes ao redor daquela boca sem expressão porque ele raramente se

emocionava. Mas eu podia ler as profundezas daqueles olhos de verdes, e vi como eles tremeluziam com as chamas do banco. — A morte faz você perceber bem rápido como você se sente por alguém. Perdi o Mute e percebi o que o clube significava para mim. Parece que estou quase perdendo você do jeito que ganhei, e isso também acabou. — Isso o quê? — Eu respirei enquanto ele manobrava através dos grupos de fiéis chocados para o outro lado do lote onde o clube se reunia, estranhos por escolha

deles, mas também

condenados ao ostracismo pelos

paroquianos. Era incrível ver que existiam divisões sociais, mesmo em meio a todas as calamidades. — Me fez perceber que você me faz sentir humano, — ele grunhiu sem olhar para mim. — Não tenho certeza se gosto, mas aí está, porra. — Humano é bom, — eu prometi a ele, pressionando um beijo em sua barba porque eu não pude evitar. Porque a alegria estava crescendo dentro de mim, sem nenhum lugar para ir, e eu precisava de alguma saída para isso. — O humano é fraco. — Ei. — Eu puxei a ponta curta de sua barba, então passei minhas unhas por ela de uma forma que o fez estremecer apesar de tudo. — Você acha que sou humana e, uma vez, me disse que não sou fraca. Ele me considerou por um momento, um músculo em sua bochecha estalando enquanto ele mastigava minhas palavras. Finalmente, ele me colocou no grupo e deu um passo para trás, como se eu de repente tivesse sido infectada por alguma doença altamente contagiosa. Como se ele pudesse captar meus sentimentos.

— Não, Pequena Sombra, — ele murmurou enquanto se virava, apenas seus dedos ainda nos conectando enquanto se enrolavam com força em volta do meu pulso. — Você nunca foi fraca. Quando rompemos a última multidão que nos separava de nossa família escolhida, todos eles estavam nos observando, claramente tendo rastreado nosso progresso da calçada até o estacionamento. Priest hesitou, a bota suspensa no meio do caminho. Eu assisti um pouco atrás e ao lado dele quando ele inclinou a cabeça para estudar suas expressões variadas de confusão e curiosidade aberta. Eu esperei, perguntando-me como ele processaria o interesse deles em tudo o que estava acontecendo entre nós. Loulou se libertou de Zeus para vir em nossa direção, mas parou abruptamente quando Priest entrou na minha frente, bloqueando seu caminho. Eles se encararam, minha irmã mais velha e meu amado psicopata, se comunicando como alfas, sem palavras, usando apenas uma linguagem corporal intensa. Lentamente, Priest me puxou pelo pulso para o seu lado, então deliberadamente envolveu sua grande mão em volta do meu pescoço sob meu cabelo para me prender a ele. — Ela é minha, — ele disse lentamente, cada palavra mal contida com agressão. Loulou o imitou, inclinando a cabeça e estreitando os olhos. Seu quadril se inclinou para o lado quando ela cruzou os braços sobre o peito e arqueou uma sobrancelha. — E você é dela?

Ele encolheu os ombros casualmente, mas a mão no meu pescoço flexionou em espasmo. — O que quer que haja de mim para ter. Fiz um pequeno barulho de protesto na minha garganta, mas Priest apenas pressionou o polegar com mais força na minha garganta. — Alguém parece querer machucar ela, — Lou continuou como se não houvesse ninguém além dela e Priest no estacionamento, nenhum bombeiro ou policial, nenhum vizinho espionando. Percebi que era a Rainha MC falando com seu soldado, para ver se ele merecia a maior responsabilidade que ela tinha para distribuir. — Eu vou matá-lo antes que chegue até ela, — Priest afirmou categoricamente. Um pequeno arrepio percorreu minha irmã durona antes que ela pudesse reprimi-lo. — Você me mataria se eu a machucasse também, não é? Priest apenas piscou lentamente em resposta. Um sorriso surgiu nos lábios da minha irmã. — Está bem então. — Jesus, você pode sentir o cheiro de testosterona da rua, — anunciou o Lion Danner ao separar a multidão atrás dele com alguns policiais o seguindo. — Se vocês terminaram de se exibir para os habitantes da cidade, você se importaria de me dizer como salvou o dia? Zeus deu sua grande risada berrante, chamando a atenção de todos que já não estavam ouvindo, embora fossem poucos. — Parece que o maldito salvou o piedoso hoje. Talvez eles pensem duas vezes da próxima vez que fizerem campanha contra o clube, hein?

— Não prenderia a respiração, — Seth murmurou atrás de mim, então sorriu quando me virei. — Só queria ver como você está, Bea. Um rosnado cresceu no peito de Priest. Eu bati minha mão contra ele. — Estou bem, obrigada, Seth. Estou mais preocupada com você! Você foi um herói lá. Ele sorriu para mim, seu rosto classicamente bonito, mesmo coberto de fuligem. — Você é tão doce. Me diga que você ainda virá jantar esta noite com Phillipa. Precisamos nos unir em tempos de problemas como este. Mordi meu lábio, ciente de que Priest ainda estava morto ao meu lado. Ele não queria que eu fosse. Eu não queria ir. Mas não deixaria de ser quem sempre fui só porque estava apaixonada por um homem que não acreditava em algumas das coisas que me eram caras. Seth, Tabby, Eric, Vovô, minha comunidade na Primeira Luz foram todas partes importantes da minha vida, e eu devia isso a eles e a mim mesma para continuar a priorizá-las. Eu inclinei minha cabeça para olhar para Priest, que já estava olhando para mim, seu rosto totalmente inexpressivo. Pensei que talvez não fosse porque ele não se comoveu com a ideia de eu sair do seu lado, mas porque não queria impor seus próprios pensamentos sobre o assunto sobre mim. À sua maneira, achei isso terrivelmente fofo. — Me deixe e me pegue? — Eu perguntei suavemente, por algum motivo, não querendo que Seth participasse desse pequeno momento. Talvez porque parecia tão concreto, uma conversa normal entre uma namorada e um namorado.

A mão de Priest cavou na parte de trás da minha cabeça e puxou uma vez, apenas forte o suficiente para fazer doer de uma forma que me lembrou o quanto eu amava quando ele puxava meu cabelo daquele jeito estando bem profundo dentro de mim. Corei, então me contorci quando seus olhos escureceram de luxúria. — Espero lá fora enquanto você faz suas coisas, — ele concordou, seus olhos levantando para lançar um olhar furioso para Seth. — Mas se aquele idiota coloca a mão em você, quebro a maldita porta e corto a garganta dele. — Isso é razoável, — eu confirmei, sabendo que meus olhos estavam brilhando, que meu corpo inteiro estava inclinado em direção ao dele como um ímã preso em sua atração. — Ela estará em boas mãos, — Seth respondeu de uma forma que implicava que eu estaria em melhores mãos do que poderia estar com Priest. Meu homem nem mesmo o agraciou com um olhar. Em vez disso, ele enfiou a mão no bolso de seu capuz sob o corte do The Fallen e tirou algo que brilhava em prata. Era um pequeno canivete de aço brilhante enrolado contrastando em um laço rosa. Eu o reconheci como um dos muitos que mantive em uma caixa ao lado da minha mesa de cabeceira. Me aqueceu pensar em Priest arrancando o pedaço de veludo da cesta de vime enquanto me observava dormir. Havia algo sobre o contraste, a faca e o laço rosa, que nos simbolizava perfeitamente. Violência controlada pela pureza, romantismo temperado pela disciplina. Não era a primeira arma que ele me deu, e eu sabia que não seria a última. Era apenas mais uma em uma longa linha de ações que Priest tomou para me mostrar que ele se importava comigo de seu próprio jeito sombrio e quebrado.

— Você não é fraca, — ele repetiu o mantra suavemente, grosseiramente, espalmando minha garganta em uma das mãos, embora tenha feito Seth gorgolejar em protesto. — Você é forte o suficiente para fazer um morto se sentir andando, Bea. Você sempre se lembre disso, mesmo se estiver em um lugar ruim e não consigo chegar até você rápido o suficiente, certo? Você se lembra que nem mesmo o ceifeiro do The Fallen pode te assustar, e então você se defende do filho da puta. Quando eu apenas aceitei a faca silenciosamente, a boca tremendo com o esforço de conter minhas lágrimas repentinas, Priest se aproximou, me bloqueando da vista de Seth. A mão no meu pescoço se moveu para agarrar meu queixo e trazer meu olhar para o dele, que era brilhante com um propósito, selvagem com um tipo violento de verdade que ele sentia em seu interior. — Eu sou um assassino, — ele me lembrou baixinho, palavras murmuradas em minha boca aberta como uma hóstia de comunhão cuidadosamente colocada. Senti que se dissolvia docemente na minha língua. — Você é uma assassina. Enquanto eu agarrava a faca em minha mão fria, sentia o peso e a exatidão dela em minhas mãos e me lembrava do medo que toda a minha comunidade tinha ficado presa em uma igreja em chamas, decidi inequivocamente que se eu fosse confrontada com o serial killer que nos aterrorizava, eu mesma o mataria.

Capítulo Vinte e Dois Bea

A bile subiu pela minha garganta, pintando o vaso sanitário do banheiro de Seth e Tabitha na mansão à beira-mar com meu vômito. Eu agarrei a porcelana em meus dedos suados enquanto vomitava e gemia, agachada sobre o banheiro, sozinha e miserável no meio de um jantar. Eu não queria estar aqui. Meu estômago não parava de se agitar como a ressaca do Oceano Pacífico fora da janela do banheiro, revirando e levantando as paredes das minhas entranhas. Eu estava doente de inquietação, com essa sensação de mau presságio que alisava minha pele com suor úmido. Eu não conseguia afastar a sensação de que o serial killer estava apenas brincando com todos nós. Preparando o palco para seu maior ato, como um trovador de teatro demente. Ele quase incendiou uma igreja inteira, algo que deveria ser sagrado para um homem verdadeiramente religioso, apenas para provar seu ponto. Ele não era o assassino de um livro na minha aula de crimes violentos. Ele era um pesadelo totalmente realizado com complexidades tão vastas, que me peguei apavorada só de contemplar seu próximo passo.

Tudo o que eu sabia, com certeza, era que ele parecia me conhecer e, mais ainda, ele queria jogar esse jogo comigo. Com exceção da stripper no centro de Vancouver e da mulher na reserva, todos os assassinatos podiam estar ligados a mim, e este último crime, embora sem baixas, não era exceção. Achei que talvez ele estivesse ficando entediado comigo. Cansado da minha inércia, esperando alguma reação específica que ele achava que eu deveria ter em decorrência dos crimes, que ele estava começando a se desviar de seu plano. O desvio era pior do que o assassinato premeditado. Caso em questão, uma igreja inteira cheia de pessoas contra uma única vítima. A bile subiu pela minha garganta, meu estômago doeu tanto que chorei enquanto vomitava o último resíduo do meu almoço. Terminado, cuspi na pia, lavei e enxaguei o rosto e as mãos com água gelada para me reviver para o resto do que estava se tornando uma noite muito estranha na casa dos Linley. Sinceramente, embora eu amasse Tabby e Seth, eu nunca realmente gostei de passar tempo com eles. Sempre foi minha filosofia que um casal deveria extrair o melhor um do outro, mas alguma alquimia estranha ocorria quando os Linleys estavam juntos que manchava a boa natureza de ambos. Eles pareciam tensos e enérgicos, exercendo muita energia apenas por estarem na mesma sala. Isso era especialmente verdade naquela noite. Ou talvez tenha sido toda a atmosfera do jantar que deixou meus dentes no limite. Os Linleys foram anfitriões graciosos todos reunidos na mesa da sala de jantar lindamente arrumada, vestidos com roupas elegantes de inverno, rindo levemente enquanto bebiam um bom vinho e falavam alto o suficiente

para ser ouvido acima do murmúrio da música de Natal. Era tudo tão civilizado, tão lindamente fabricado e totalmente falso. Eu podia sentir a feiura inflamada sob o processo, a maneira como Margaret Huxley ficava me lançando olhares estreitos como se minha presença a ofendesse, a maneira como Tabby ficava tocando a cruz dourada em volta do pescoço como se expiasse um pecado que ainda não havia cometido. Apenas Seth parecia perplexo, tão carismático e adorável como sempre. Ele manteve a conversa mesmo quando sua esposa ficou em silêncio e divertiu minha mãe com história após história que a fez rir como uma adolescente. Voltei para a sala de jantar para recuperar meu lugar no espaço de convidada de honra à esquerda de Seth na cabeceira da mesa. Normalmente, eu adorava ouvir histórias do trabalho de Seth no hospital, mas naquela noite, eu estava exausta pelos eventos do dia e distraída pelos hematomas violetas e azuis em meus joelhos que eu tentei esconder sob minha meia-calça preta transparente. Meus dedos frequentemente deslizavam por baixo da toalha de mesa para pressionar os hematomas, adorando o leve toque de dor como um lembrete de minha devassidão na noite anterior com Priest. Secretamente me emocionou usar as marcas de um homem em uma mesa como esta. Se essas pessoas soubessem o quanto eu amo ser sufocada, espancada e geralmente fodida com força por um homem que era devotamente ateu e inteiramente criminoso, elas teriam me condenado à loucura. Talvez eu fosse louca.

O problema da ‘loucura’ como um conceito geral era que não havia um modelo básico para uma composição psicológica ‘normal.’ Cada pessoa era tão diferente, cada sociedade com suas próprias regras e sugestões, cada cultura com suas normas e penalidades significava que não havia como definir normal. No entanto, muitas pessoas fizeram um estudo de psicologia anormal. Era muito mais fácil focar no ‘outro’ do que nas semelhanças que poderíamos conceber entre eles e nós. Esse, é claro, era o problema com o assassino em série que os jornais chamavam de ‘O Profeta da Morte.’ Não original e prejudicial. Dar um apelido a assassinos em série era uma ideia horrível, porque a notoriedade de um assassino como esse, que encenava suas vítimas, estava dando a ele exatamente o que ele queria. Cartaz. Um holofote para iluminar a história que ele estava determinado a contar em sangue e cadáveres. — Tão sombria esta noite, — Seth notou com um sorriso cintilante. — O que está acontecendo nessa sua cabeça inteligente? Espero que você não tenha ficado muito traumatizada com o que aconteceu na Primeira Luz hoje. Movi meus brócolis pelo prato com o garfo, sentindo náuseas. — Traumatizada é um pouco forte. Mas acho que os policiais estão subestimando esse assassino. É claramente mais do que apenas um homem perturbado matando sem consideração. Ele tem algum tipo de objetivo e é inteligente. Talvez ele até tenha mais de uma pessoa o ajudando. — Mas isso é típico? — Seth perguntou com uma risada autoconsciente. — Me perdoe, posso listar todos os ossos do corpo, mas não sei nada sobre

crime e psicologia. Tenho medo de sempre adormecer nas minhas aulas de psicologia. — Não consigo imaginar você sendo menos do que um aluno nota A, — provoquei porque Seth era meticuloso e incrivelmente inteligente. Uma vez eu o peguei lendo a Bíblia em latim. — E eu pensei que você ouvia meu programa toda semana? Ou você estava apenas sendo educado? Eu estava acostumada com isso. Amigos e familiares que os apoiavam afirmavam sintonizar a Pequena Senhorita Assassinato, mas, na maioria das vezes, eram muito sensíveis para fazer isso. Eu não usava isso contra eles. Seth se inclinou para frente em uma confissão simulada. — Eu escuto no meu trajeto para casa às segundas-feiras, mas geralmente estou muito cansado para qualquer coisa além de registrar o som da sua voz. Você me perdoa? Eu dei um tapinha em sua mão e estalei minha língua. — Suponho que sim. Eu não falei sobre ele no ar desde que ele enviou aquele pacote horrível... para o estúdio, e nós suspendemos o programa um pouco porque eu não quero dar a ele outro holofote, sabe? — Oh? Você acha que é isso que ele quer? Atenção? — Sim, ele parece um psicopata clínico clássico por ser narcisista e muito consciente de sua própria inteligência elevada. Seth franziu os lábios sobre os dedos entrelaçados. — Inteligente o suficiente para não ser pego? — Toda a polícia provincial e o departamento local estão nisso agora, acho que é apenas uma questão de tempo e talvez uma questão de mais alguns

assassinatos antes que ele cometa um erro, — eu imaginei, divertindo-me pela primeira vez naquela noite. Então, claro, minha mãe teve que estragar tudo. — Bea, — ela murmurou ao meu lado, a boca coberta pelo guardanapo para esconder seu sussurro. — Esta não é uma conversa educada à mesa de jantar. A irritação coçou na parte de trás do meu pescoço. Eu arqueei uma sobrancelha para minha linda mãe, adornada com o conjunto de pérolas rosa que meu pai deu a ela em seu décimo aniversário de casamento. Como ela ainda suportava vestir qualquer coisa que ele tivesse dado a ela estava além da minha compreensão, mas ela sempre puxava as relíquias de nossa antiga vida quando jantávamos com nossos amigos da Igreja da Primeira Luz. Minha mãe poderia dissociar suas duas vidas ainda mais fácil do que Lou uma vez fizera entre Louise e Loulou. Dois dias atrás, ela vestiu uma jaqueta de couro elegante enquanto atirava na merda com Maja, Buck e Smoke. Hoje, ela poderia fingir que toda a vida não tinha nada a ver com ela. Estremeci ao perceber que passei tantos anos fazendo a mesma coisa, com vergonha da pessoa que realmente queria ser e das pessoas de quem honestamente queria me cercar. Eu estava com tanto medo de não viver à altura da glória de minha irmã que, involuntariamente, me tornei minha mãe ao tentar ocupar dois mundos muito diferentes e, portanto, duas almas diferentes. Era exaustivo e ineficaz.

Ela teria que fazer uma escolha em algum momento, e eu acabei de descobrir que estava mais preparada do que pensei para fazer a minha. — Está tudo bem, Phillipa, — Seth permitiu, estendendo a mão para apertar minha mão com simpatia. — Se Bea se sentir melhor falando sobre isso, acho que é saudável que ela o faça. — Certamente, vamos ouvir a irmã de uma puta falar sobre assuntos inadequados, — Margaret cortou enquanto tomava um grande gole de vinho. — Com licença? — Eu perguntei, honestamente chocada com seu rancor. A mulher mais velha, assediada por longas noites no hospício visitando seu marido moribundo, olhou para mim sem um pingo de remorso. — Você me ouviu, mocinha. É óbvio que o clube, — ela cuspiu a palavra — em que sua irmã se casou trouxe mais caos para esta cidade. Já era hora de The Fallen serem encarcerados como deveriam. Pisquei, voltando-me para minha mãe, que estava olhando para baixo em seu colo, torcendo o guardanapo entre as mãos bem cuidadas. Mas ela permaneceu em silêncio. A aversão queimou dentro de mim, acendendo algo em minha barriga que apenas Priest tinha acesso. Minha irmã era meu ídolo, minha principal fonte de amor e afeto por toda a minha infância. Ao se casar com aquele ‘criminoso,’ ela me deu uma família encontrada mais requintada do que qualquer outra na qual eu poderia conceber ter nascido. Ao se casar com aquele criminoso, ela me deu o meu. Sentei totalmente ereta na cadeira e lancei à Margaret um olhar fulminante pelo meu nariz. — Obviamente, você está em choque, Margaret, porque ficou

claro para todos que um daqueles membros do clube apagou a maior parte dos incêndios na igreja hoje. — Isso foi o meu Seth, eu ouvi, — Tabby interrompeu, sorrindo amorosamente para seu marido do outro lado da mesa. — Ele sempre teve um pouco de complexo de herói. Minha mãe riu, um pouco louca, ansiosa para dissolver a tensão. Eu não permitiria isso. Margaret queria brigar comigo, então ela descobriria o quanto eu era parecida com minha irmã ‘puta.’ — Essas mortes não têm nada a ver com The Fallen. Se qualquer coisa, você deveria ser grata por eles estarem aqui para proteger esta cidade tanto quanto eles podem, — eu continuei em uma voz tensa. Eu estava com calor e frio de raiva e decepção, meu estômago inquieto apertando em um nó duro que me fez querer contrair em torno dele na posição fetal. Eu odiava conflito. Eu abominava até mesmo o menor indício de atrito em um grupo social. No entanto, lá estava eu, praticamente provocando uma briga com uma mulher que provavelmente estava delirando de exaustão e irritada com a injustiça de perder o marido. Beatrice Lafayette era conhecida como a pacificadora, a doce menina com um sorriso fácil. Mas ela também era a segunda escolha, a irmã nas sombras, a garota que ninguém olhava duas vezes. Eu estava cansada disso, da garota que se adaptava para caber na caixinha que as pessoas faziam para ela. Eu estava pronta para ser notada e, se necessário, estava pronta para lutar.

Eu não sou fraca. — Eu sei que você está sofrendo, Margaret, — eu acalmei como seda sobre minhas palavras de ferro. — Eu sei que este ano foi difícil para sua família. Mas The Fallen não tem nada a ver com seus infortúnios. Ela fungou alto. — Eles têm sido uma maldição nesta cidade por anos. No ano passado, eles se envolveram com tráfico sexual. Um rosnado cresceu na minha garganta, mas eu engoli de volta e lhe enviei um sorriso meloso. — Na verdade, acho que teve a ver com a mulher do prefeito, Irina Ventura. Lila Meadows, uma Old Lady do MC, na verdade ajudou a derrubá-los. — Você está apenas os defendendo porque sofreu uma lavagem cerebral por aquele homem, Zeus Garro, — ela afirmou com justiça. — Ele desviou você do caminho de Deus. Você está condenada ao inferno agora, garota. — Margaret, — minha mãe finalmente protestou baixinho. — Bea é uma boa mulher temente a Deus. Por favor, não a confunda com o clube. — Eu não estaria falando se fosse você, Phillipa. — Os olhos de Margaret eram reflexos estreitos e escuros de seu coração em corrosão. — Foi você quem deixou sua filha mais velha se casar com aquele pagão. Ouvi dizer que chamaram seu filho de Monster. Nome adequado para uma abominação. — Seus lábios se curvaram em um sorriso malicioso e contemplativo. — Eu me pergunto se o pecado está na família e você é a próxima na fila para se tornar uma de suas vadias imundas... As palavras da pobre Margaret foram interrompidas com um grito estridente quando me lancei sobre a mesa para ela. Meu joelho pousou em

uma tigela fria de purê de batatas e minha coxa derrubou uma garrafa de vinho, a força do meu movimento arrastando a toalha de mesa comigo, de modo que cada prato se deslocou ao acaso. Uma das minhas mãos mergulhou em seu cabelo para apertar em um punho implacável, enquanto a outra recuou para desferir um golpe de punição direto em seu rosto amedrontado. O anel de ouro em forma de coração que eu usava na mão direita abriu sua bochecha e o sangue escorreu em sua boca aberta. Sentei-me de cócoras na mesa e limpei meus dedos sangrentos e doloridos no guardanapo descartado de Margaret. — Da próxima vez que você falar sobre minha família assim, farei mais do que bater em você, Margaret. Vou chamar aqueles criminosos pelos quais você parece tão obcecada e causaremos danos reais. Meu sorriso era quente e torcido em meu rosto como um cabide forçado entre meus lábios, mas era bom. Raiva e violência passaram por mim, fazendo minha cabeça girar alegremente. — Bea! — Minha mãe choramingou como sempre desde que comecei meu ataque. — Oh meu Deus, Bea, desça daí e peça desculpas. — Não, — Seth disse calmamente, levantando e apoiando as mãos sobre a mesa para se inclinar para frente enquanto se dirigia a nós. Havia uma fúria fria em seu rosto enquanto ele nos estudava, algum buraco escuro girando em seu olhar azul. — Margaret, acho que você deveria se desculpar com Bea. Ela não fez nada de errado e, embora eu não concorde com sua violência, você a provocou além de toda esperança de passividade. Quando Margaret apenas piscou em choque para ele, Seth contornou a mesa e ficou a poucos centímetros dela. Ele não fez nada além de manter

contato visual com ela, seu rosto composto, aqueles olhos ainda como água plácida, mas a energia que irradiava dele era tão palpável que minha pele se arrepiou. Ele tinha a mesma autoridade pacífica que meu avô tantas vezes exercia sobre as pessoas perdidas em seu rebanho, mordiscando seus calcanhares como um cão pastor para trazer eles de volta ao redil. Finalmente, ela deu uma espécie de suspiro choramingando, levando a mão à bochecha ferida e se virou para me olhar com uma carranca petulante. — Peço desculpas, Beatrice. Eu olhei de volta para ela, sem vontade de aceitar o que era tão claramente um pedido de desculpas insincero. Seth pigarreou. — Bea? O perdão é divino, preciso te lembrar? Eu aceitaria as desculpas de Margaret. Você está acima desse comportamento. Acima dela agindo tão infantilmente. Observei algo como uma guerra de medo e decepção no rosto da mulher mais velha e senti uma pontada de pena no peito. Ela estava perdendo o marido. Era uma parte normal do processo de luto sentir raiva, mesmo quando não havia causa. — Eu vou te perdoar se você prometer nunca mais dizer uma palavra ruim sobre minha família, que, só para você saber, inclui The Fallen, — eu permiti graciosamente, olhando para ela por cima do meu nariz. Ela ferveu, os olhos brilhando. — Você é uma vergonha para a nossa religião.

— Eu poderia dizer a mesma coisa sobre você, — rebati enquanto saía da mesa. — Eu vou me limpar. Seth, Tabby, obrigado por me receber no jantar, mas vou sair mais cedo. De repente, não estou me sentindo bem. Sem esperar pela resposta deles, eu naveguei para fora da sala de jantar com minha cabeça erguida, embora minha adrenalina estivesse diminuindo e os tremores estivessem caindo. Eu acabara de dar um soco no rosto de uma mulher de meia-idade. Mas, mas, mas ela chamou meu sobrinho de monstro, meu cunhado de pagão e minha irmã de prostituta. Isso era imperdoável. De repente, a raiva estava de volta, quente e pegajosa no fundo da minha garganta e impossível de engolir. Usei o banheiro novamente, cuspindo a bile que ainda estava em minha boca, limpando as batatas da minha meia-calça e endireitando a barra do meu vestido de cashmere creme. Eu não queria voltar lá. Na verdade, para ser honesta, gostaria de nunca ter vindo jantar. Eu queria estar com o Priest, com meus amigos e familiares que nunca me julgaram e sempre me apoiaram. Sem pensar, saí do banheiro e fui para a sala da frente para espiar pelas cortinas transparentes para a rua. Priest estava lá, como disse que estaria esperando por mim no escuro, vestido de preto, encharcado de sombras encostado em sua Harley do outro

lado da rua. Em sintonia com a menor mudança nas cortinas, ele ergueu a cabeça da escultura de madeira que estava esculpindo para travar intratavelmente com a minha. Mesmo do outro lado da rua, eu senti aquele olhar em minha alma, escuro e clamoroso. Minha, minha, minha, parecia dizer. Sua, sua, sua, meu coração ecoou de volta. Eu subconscientemente me movi em direção às portas da frente, precisando dele mais do que eu precisava para atender às minhas maneiras arraigadas e dizer adeus aos meus anfitriões. Mas então eu ouvi uma risadinha feminina e congelei. Eu conhecia aquela risada. Era minha mãe. Aproximei-me mais da cozinha e me esforcei para ouvir mais. — Sua filha é feroz, — Seth elogiou suavemente por trás da porta de vaivém. — Foi incrível ver isso. — Oh Seth, pare de ser tão gentil. Ela agiu terrivelmente. Meu coração apertou com as palavras da minha mãe, odiando que ela me condenasse por defender nossa família quando ela não tinha condenado meu pai todos aqueles anos atrás por bater em Louise depois de descobrir sobre ela e Zeus. A hipocrisia de viver duas vidas era um monstro feio de duas caras que minha mãe era adepta de manter escondido.

— Ela estava linda, — Seth insistiu com um sorriso em sua voz, então mais suave. — Assim como a mãe dela. Pisquei para a porta de painéis brancos, incapaz de calcular a intimidade em seu tom. Seth era casado, felizmente, eu pensei, com Tabby que estava na sala adjacente sendo gentil depois do meu incidente. E minha mãe? Nos últimos anos, ela e Smoke estavam flertando em algo mais do que amizade. Sempre achei que minha mãe era tímida porque Smoke tinha asma grave e um defeito cardíaco significativo. Ela já havia perdido o primeiro marido e quase perdido a filha mais velha, então talvez ela não estivesse pronta para mais perdas. Eu tinha entendido isso. Minha mãe era macia, bonita e delicada como uma estatueta feita para ficar em uma prateleira. Ela não foi feita para ação ou manipulação perigosa. Mas isso? Isso eu não entendi. Respirando fundo que segurei com força em meus pulmões, abri uma fresta da porta para espiar dentro. Seth estava segurando minha mãe, que era pelo menos doze anos mais velha que ele como se ela fosse uma criança, as mãos emoldurando seu rosto suavemente enrugado, a testa inclinada para a dela de forma que tudo que eles pudessem ver fosse o olhar um do outro. Tão íntimo, como olhar por uma janela que eu nunca deveria ter aberto, assombrada por cenas que eu nunca esqueceria.

— Você é tão bom para mim, Seth, — Phillipa sussurrou, colocando suas mãos sobre as dele. — O que eu faria sem a sua luz orientadora em minha vida? Devo ter feito algum barulho na minha garganta, mas a cabeça de Seth levantou, olhos infalivelmente encontrando os meus. — Beatrice, — disse ele, uma baforada, chocado com a minha presença. Ele piscou uma vez em perplexidade, então pareceu considerar a situação antes de controlar suas emoções, de uma vez limpando suas feições. — Bea, — minha mãe engasgou, a pulseira de pérola em seu pulso estalando levemente quando sua mão voou para a boca. Dramática e elegante como Grace Kelly em um filme de Hitchcock. — Oh, querida, sinto muito. — O que está acontecendo aqui? — Eu perguntei, chocada com a ideia de que minha mãe e Seth poderiam ter algum tipo de caso. Ambos eram tão devotos, tão arraigados em suas crenças que a santidade do casamento era algo que eu nunca acreditei que eles pudessem quebrar. Seth riu levemente, afastando-se de Phillipa para inclinar seus quadris estreitos contra o balcão e cruzar os pés. — É bom ver você chocada com a ideia de adultério, Beatrice. Eu sei que você é uma verdadeira crente, mas dada a companhia que tem mantido ultimamente, eu me pergunto se você ainda mantém as restrições de Deus. — Você mantém? — Eu exigi, colocando minhas mãos em meus quadris. — Explique por favor. — Seth está... — Minha mãe suspirou cansada, as mãos batendo em seu coração em aflição afetada. — Ele tem me ajudado nesses tempos difíceis

desde que seu pai faleceu. Tenho estado tão confusa ultimamente sobre o que é certo para mim, e ele tem sido inestimável... — Inestimável como? — Eu pressionei, olhando para Seth que parecia totalmente afetado pelos procedimentos, sorrindo um pequeno sorriso plácido enquanto nos observava como se minha indignação fosse apenas levemente divertida. — Tem sido difícil permanecer fiel a Deus quando passo tanto tempo com os Fallen, — Phillipa admitiu suavemente. — Estou lutando há algum tempo. Eu amo minha filha, mas a vida que ela escolheu me dá uma pausa. — Certo... — Minha pele estremeceu. Eu estava pronta para lutar até a morte com minha mãe para defender Loulou. Por que seu estilo de vida era tão flagrantemente errado? Sim, Zeus era o Prez de uma gangue de motoqueiros que às vezes negociava com drogas e violência, mas eles protegiam os cidadãos desta cidade e defendiam tantos bons valores como amor, lealdade e família. Achei que depois de todo esse tempo minha mãe entendia isso. — Então, você não está romanticamente envolvida. Phillipa corou e riu, mas Seth apenas balançou a cabeça, um olhar terno em seus olhos enquanto ele se dirigia a mim. — Você realmente pensa tão pouco de mim, Bea? Depois de todo esse tempo, achei que você soubesse que nada importa para mim tanto quanto Deus e seus ensinamentos. Soltei um suspiro trêmulo de alívio e sorri para ele, embora a devoção estrita de Seth a Deus sempre parecesse um pouco em desacordo com sua prática como médico. — Eu gostaria que você simplesmente viesse e dissesse isso. A maneira como vocês estavam juntos foi muito... íntima.

— Você nunca viu seu avô cuidando de um de seus rebanhos assim antes? — Ele questionou, já sabendo a resposta. Vovô era um padre e pastor, o líder espiritual e terno de seu rebanho. Eu o vi segurar uma viúva nos braços enquanto ela chorava, cuidar da pele arranhada no joelho de um jovem e dar um beijo na testa daqueles que receberam sua bênção. Afeto físico não era desagradável em nome de Deus, ou assim as pessoas costumavam dizer. Frequentemente me perguntei se não era isso que padres e bispos diziam a si mesmos quando exploravam meninos e meninas. Uma vez, tentei trazer à tona o escândalo de pedofilia na igreja com Seth, e ele imediatamente me fechou. Essa era a diferença entre pessoas como Seth e eu. Eu não acreditava que nada existisse apenas em preto e branco, um grau de cinza era onde se escondia a maior parte das lições de vida. — Bea, — Seth murmurou, dando um passo em minha direção para pegar minhas mãos. As dele eram frias, de dedos longos e macios por terem lavado várias vezes antes da cirurgia. — Eu não gostaria que você pensasse tão mal de mim quando penso tão bem de você. Pensei nas coisas que fiz recentemente. Dos hematomas nos joelhos por levar o pau de Priest na boca, do sangue que se espalhou em meus pés como um batismo profano quando meu psicopata matou Brett Walsh por mim, do meu interesse mórbido e eterno por todas as coisas violentas e inconformistas. Eu era apenas um coração escuro envolto em um lindo laço rosa. Fiquei surpresa com quantas pessoas optaram por se concentrar na bela fita em vez de no que ela abrigava dentro.

Seth e Tabitha eram meus amigos há anos, mas eu me perguntei, enquanto me despedia de Seth e prometia a minha mãe que conversaríamos mais tarde, o quão relevante nossa amizade era agora. Eles não me conheciam bem, e isso era culpa deles e minha. Ficamos confortáveis com a ilusão de Beatrice Lafayette, boa menina extraordinária, a menina que aceitou a vida em uma caixa construída por versos da Bíblia e julgamentos da sociedade. Ou nós tínhamos sido. Agora, eu não tinha tanta certeza de que ela existia mais. Se talvez, antes de Priest me salvar, foi ele quem me quebrou. Se eu aprendi alguma coisa nos últimos anos, foi que quebrar não era ruim. Era um passo no caminho da cura e do crescimento, uma pausa na evolução inevitável de nós mesmos ao longo de nossas vidas. Priest tinha me arrancado da minha concha, e agora que eu estava livre, jurei que nunca voltaria. Quando empurrei a porta da casa dos Linleys, ele estava lá. Levantando-se de sua posição reclinada em sua Harley, ele já estava se movendo em minha direção, puxado para mim como se por alguma força gravitacional. A força do amor, meu coração romântico sussurrou. Não me importei com o nome que dava a isso: amor, adoração, obsessão. Tudo se resumiu a uma coisa, um sentimento que me atingiu no momento em que ele me agarrou em um abraço forte e possessivo bem ali na varanda do Linley. O sentimento de que com Priest, cada pedaço de mim, escuro e claro, doce e amargo, santo e pecador, foi colado por sua aceitação em um belo mosaico. Essa sensação de que com ele, eu nunca fui tão bonita e

completa. Éramos duas metades quebradas que se uniam de uma maneira que nunca poderia ser desfeita.

Capítulo Vinte e Três Priest

O Natal explodiu na casinha rosa de Bea. Em algum momento nas últimas vinte e quatro horas, minha Pequena Sombra conseguiu decorar seu espaço com uma explosão de decoração sazonal. Um boneco de neve na base de sua árvore de Natal branca decorada em rosa e dourado emitia uma versão gravada de canções de natal quando ela pressionou um botão que sincronizava as luzes da árvore piscando com a música. Havia uma série de renas de cristal galopando em sua mesa de centro, neve falsa e velas em forma de pinheiro na mesa da sala de jantar e enfeites rosa na viga da cozinha. Sampson estava enrolado naquele sofá de veludo brincando com um travesseiro de bengala doce, e a gaiola de Delilah estava parcialmente coberta com folhagem e fita vermelha. Colocar os pés no lugar quase fez minhas bolas encolherem de volta para o meu corpo. — Você gosta disso? — Ela perguntou enquanto jogava as chaves em uma tigela de Papai Noel em sua mesa lateral antes de seguir pelo corredor. — As meninas me ajudaram esta manhã quando vieram para o café da manhã.

Eu não respondi porque ela havia desaparecido no corredor e porque eu não tinha uma única coisa boa do caralho a dizer sobre o caos do Natal. Mal era dezembro e ela espalhou o espírito natalino por toda a casa. Eu não estive tão perto de um ornamento em toda a minha vida. Eu não acreditava em Cristo, não organizava feriados ou merda sentimental, então nada disso ressoou em mim. Nada disso, exceto a imagem de Bea em uma espécie de camisola de renda espumosa subindo na ponta dos pés para colocar os enfeites na árvore o mais alto que ela pudesse alcançar de sua pequena altura. Um dos irmãos deve ter ajudado a colocar a estrela no topo e isso não fez a raiva queimar minha pele como um ferro em brasa. Ela era minha. Se ela quisesse merda de Natal por toda a casa, eu deveria ter sido o homem a chegar aos lugares altos, a segurar a árvore pesada em seu suporte, a porra de enfeitar os corredores se ela quisesse, porque apenas existindo no mesmo lugar ao mesmo tempo em que esse deslize de uma garota loira fez meu maldito sangue cantar. Eu estava carrancudo para a lareira vazia, pensando tolamente que deveria acender a maldita coisa porque minha Pequena Sombra gostava do calor, quando houve um rangido no fundo do corredor. Minha cabeça girou para o final escuro dele, coluna reta, músculos tensos como fios prontos para saltar. Bea quase morreu naquele dia. Eu não estava lá. E por quê?

Porque eu era muito covarde para entrar em um prédio só porque foi designado como uma igreja. Eu não colocava os pés em nenhum tipo de lugar sagrado desde os dezessete anos. Não era que eu tivesse algum medo irracional de que Deus me derrubasse, ou que eu fosse queimar até as cinzas por meus pecados no segundo que cruzasse o limiar. Eu não falo sobre meu passado. Eu nem penso sobre isso. Às vezes, não há palavras grandes o suficiente para descrever emoções, para descrever a maneira como os eventos se gravam em sua carne, tendões e ossos. Por que eu falaria de meus horrores apenas para diminuí-los? O indizível havia sido feito a mim em lugares sagrados, em uma igreja reivindicada por Deus. Eu vi essa configuração quando fechei meus fodidos olhos todas as noites para dormir. Senti a oração queimando em meu palato quando acordei de um sono inquieto atormentado por memórias disfarçadas de pesadelos. Evitar igrejas completamente era quase desnecessário quando o eco de uma delas assombrava cada momento de minha vida. Ainda assim, eu era um homem que gostava de um pouco de dor, mas não era um maldito masoquista. Por isso evitei lugares sagrados e até hoje estava tudo bem. Mas eu cometi um erro. Eu coloquei meus medos acima da segurança de Bea como um idiota de merda. Eu era mais inteligente do que isso, melhor do que isso. Eu não era um homem governado por seu passado, por dor ou emoções tão inúteis como o medo.

O medo era uma gaiola em que as pessoas se trancavam de boa vontade. Eu sabia disso. Ou pensei que sim. Então hoje. Hoje, hoje, hoje. Quando Bea quase morreu porque eu tinha medo de alguma pedra e argamassa. — Priest? — Sua voz suave chamou, cortando como um raio de luz meus pensamentos sombrios, arrastando minha consciência para o presente. Ela estava parada na entrada sombreada do corredor vestindo nada além de rosa. Tecido transparente modelado minimamente com pequenos corações. Eu podia ver seus mamilos pontiagudos no sutiã, a textura de seu cabelo felpudo por baixo da calcinha transparente. A tensão dentro de mim cresceu mais forte, meus dentes doendo enquanto apertavam, minhas mãos cerradas com tanta força que doíam. Eu queria cortar as palmas das mãos para liberar a tensão e sentir o calor da minha trilha de sangue escorregadio entre os nós dos dedos e pingar, pingar, pingar no chão como um encantamento. Em vez disso, eu encarei. Eu encarei a garota cujo coração estava deslocado para fora do meu peito. Só com ela é que me senti agonizantemente vivo. Cada batida do meu coração, cada molécula de sangue em minhas veias e respiração em meus pulmões reivindicada e reanimada por ela. A pequena Bea Lafayette parada ali em delicados retalhos de tecido rosa que eu poderia rasgar com um movimento de um dedo.

Ela estava olhando para mim, com os punhos cerrados, carrancuda severamente, fria como uma coluna de gelo cinzelado na forma de um homem, como se eu fosse algo macio e precioso. Como se ela pudesse me segurar na palma da mão e me acariciar com seus dedinhos. — Eu preciso de você, — ela murmurou suavemente, estendendo uma mão, os nós dos dedos machucados por socar aquela boceta faladora no jantar. A evidência de sua capacidade para a violência me deixou mais duro do que sua lingerie. Eu gostava de pensar que plantei essa brutalidade nela junto com minha semente. Que eu a infectei com um pouco da minha escuridão, assim como ela com sua luz obstinada. Eu não me movi, concentrei-me em respirar em vez de me lançar para frente para roçar os dentes em sua garganta, para abrir uma de suas veias apenas para ver as evidências de seu sangue, para saber que ela ainda estava viva, apesar da minha merda na igreja. O ar entre nós parecia chicotear e estalar, estalando com uma tensão perigosa. Bea se aproximou, minha valente tola. — Eu quero você, — ela me disse, os cachos caindo sobre seus seios pequenos como um lençol brilhante enquanto ela entrava em minha órbita e ficava na ponta dos pés. Quando ela falou em seguida, ela o fez enquanto pegava uma das minhas mãos pesadas e cheias de cicatrizes e a colocava em seu peito, meus dedos se curvando na borda de cada seio firme. Porra, mas eu poderia matá-la com uma mão, um empurrão.

Um erro e ela estaria morta sob mim. Uma raiva, um pesadelo, um momento levado longe demais e eu poderia acabar com a única razão que eu poderia pensar para viver. Eu era uma arma, o gume afiado de uma faca e a força cega de um punho, e Bea era um coração de seda. Teria sido simples presumir que ela estaria mais segura nas mãos de um homem diferente, mas quem a protegeria melhor do que uma arma, do que eu? Sinceramente, a tensão que existia dentro de mim entre arruiná-la e estimá-la pelo milagre do caralho que ela era, fez meu coração bater forte no meu peito, meu sangue rugir pelas minhas veias direto para o meu pau. Isso me fez sentir tão vivo. — Estou vendo você, — ela me disse, seus olhos escuros à luz amarela da lamparina, grandes piscinas escuras em que eu queria cair. — Eu vejo você, Priest, mesmo quando você não quer ser visto. Você não pode ser invisível para mim. A religião ensina a cobiçar o divino, a engoli-lo em sua garganta como a comunhão. Para buscar a absolvição. Para mim, você é divino, e minha busca por você é tudo, menos profana. Fiquei parado quando ela começou a explorar meu corpo vestido com mãos tenras e hesitantes. Elas esvoaçaram como pombas no meu peito, tirando a arma do meu coldre, retirando a faca de caça do meu cinto. Ela se ajoelhou aos meus pés como uma serva, os olhos brilhando de adoração enquanto levantava a ponta da perna da minha calça jeans para liberar a adaga no meu tornozelo, em seguida, deslizou a faca da bota para fora do cano do meu sapato direito. Ela estava me desarmando, de mais maneiras do que eu poderia contar. Eu estava suando, vibrando com o esforço de ficar calado e calmo enquanto ela fazia o que queria comigo. Eu dormia com aquelas facas.

Tomava banho com elas recolhidas na minha pia bem ao meu alcance. Ser separado das minhas facas parecia uma amputação, mas senti que era importante para ela me ver sem elas, ter-me indefeso sob suas mãos macias. Eu não poderia dar a ela muito, mas eu poderia tentar lhe dar isso. Restava apenas uma arma, a faca de corte preta fosca que eu usava em uma corrente em volta do pescoço. Os dedos de Bea pairaram sobre a forma tênue dela sob meu capuz, em seguida, trouxeram seu olhar para mim em uma pergunta silenciosa. Eu engoli em seco e empurrei meu queixo. Ela não foi para a faca. Em vez disso, ela enfiou as mãozinhas nos ombros do meu colete de couro e o empurrou nas minhas costas. Então ela puxou a bainha do meu moletom para cima, mas eu a substituí puxando pelo pescoço e removendo eu mesmo. Estávamos ambos ofegantes como se tivéssemos feito algum tipo de corrida. De certa forma, fizemos. Eu não aguentava mais e nós dois sabíamos disso. A qualquer momento, a besta em mim atacaria e a dominaria para que ela se esquecesse de me dominar em troca. Seus olhos percorreram minha camisa térmica preta, a maneira como ela fluía sobre a borda dura de meus músculos afiados com tinta. Eu respirei fundo e lutei contra um recuo quando ela arrastou seus dedos levemente pelo meu antebraço até meu ombro, em seguida, até meu colarinho. A sensação de sua pele contra o meu pescoço me fez sibilar, uma gota de suor escorrendo pela minha têmpora.

Ninguém havia tocado minha pele nua, exceto minhas mãos, em mais de uma década. A sensação queimou por mim como um incêndio. Bea soltou um gemido com a garganta, mas continuou sua jornada, passando a ponta do dedo por baixo do tecido para enganchar na corrente de prata que segurava a faca. Com uma curva firme de seu dedo acenando, a corrente se abriu do jeito que deveria estar em seu aperto. O deslizamento do metal sussurrou entre nós quando ela puxou suavemente debaixo da minha camisa e juntou o metal aquecido pelo corpo em sua palma. Terminadas as minhas armas, ficamos parados respirando pesadamente, olhos fixos e escuros, o ar pulsando entre nós ao ritmo do aumento da minha frequência cardíaca. Ela não parecia saber o que fazer agora que teve sucesso em sua tarefa. A indecisão e a excitação enviaram um rubor por seu pescoço e seios. — Você vai tirar a roupa para mim? — Ela perguntou baixinho, quase com medo de perguntar, ou talvez com medo da resposta. Eu cerrei meus dentes enquanto lutava comigo mesmo. Eu queria dar a ela tudo, tudo de mim, ossos ocos e alma vazia, mas isso era demais. Muito, muito, muito. Eu não ficava nu desde os dezessete anos, a última vez coberto com o sangue de homens santos que fizeram tantas coisas profanas comigo. Um arrepio me rasgou tão violentamente que dei um passo para trás para me preparar. O rosto de Bea se contraiu de tristeza. E eu estava farto.

Farto por estar muito quebrado para funcionar. Farto trazendo tristeza para aquele rosto angelical. Farto de ser passivo. O que importava se eu estivesse despido? Eu nunca estive mais nu do que estava naquela sala rosa com minha Pequena Sombra. Avancei tão rapidamente que ela deu um pequeno grito antes de derreter no meu aperto duro como cera quente. Então eu a estava beijando, roubando o ar de seus pulmões porque eu queria provar seu hálito comendo a doçura de sua língua para engolir o veneno que acabara de sentir na minha língua. — Vou tomar você esta noite como você nunca foi tomada por um homem antes, — eu a alertei entre pequenas mordidas viciosas em seu lábio inferior. Ele cresceu inchado e machucado como uma ameixa sob minhas atenções. — Você vai me deixar te levar assim? — Sim, — ela concordou instantaneamente, arqueando-se para mim, estremecendo enquanto as fantasias enrolavam em sua mente depravada. — Eu quero que você me foda. Me machuque. Me faça chorar. — Ela rolou na ponta dos pés para falar suas próximas palavras contra o canto da minha boca. — Me mostre como pode ser bonito ser quebrada. Um gemido saiu do meu estômago. Eu coloquei em sua boca com meus dentes e língua, erguendo-a em meus braços enquanto continuava a beijá-la para que pudesse nos levar pelo corredor até seu quarto. Eu a deixei cair na cama sem cuidado, observando enquanto ela saltava contra o colchão, todo aquele cabelo claro e membros mais claros espalhados para eu saquear. Eu a considerei por um segundo, a cabeça inclinada, enquanto decidia o que faria com ela. Como eu a possuiria naquela noite.

Havia Natal aqui também. No cordão de luzes coloridas que cobria a estrutura da cama, nos travesseiros com tema natalino na cama e na música suave que saía dos alto-falantes em algum lugar do quarto. — Não acredito no Natal, — eu rosnei enquanto decidia meu curso de ação, ajoelhando na cama em cada lado de seus quadris, inclinando para frente para desenrolar um pedaço de fio de luzes coloridas. — Mas sempre vou valorizar as coisas que você faz... do meu jeito. Ela se contorceu embaixo de mim enquanto eu envolvia a corda de luzes em torno de um pulso, depois de volta ao redor da estrutura da cama antes de me mover para fazer o mesmo com o outro. As lâmpadas estavam acesas, não muito quentes, e a ideia dela mantida no lugar por seu próprio projeto me deixou duro como ferro em meu jeans. Ajoelhei-me sobre ela, olhando para a forma como sua pele ficou rosada de luxúria e seus olhos azul-celestes brilharam de antecipação. — Você gosta de estar amarrada e indefesa? — Eu a provoquei enquanto corria as pontas ásperas dos meus dedos levemente em torno de seus seios antes de beliscar cada mamilo brutalmente entre os nós dos meus dedos. Falei novamente sobre seu assobio de prazer doloroso. — Você quer saber como é se entregar completamente ao monstro debaixo da sua cama, Bea? Sua resposta foi interrompida por um gemido quando alcancei atrás de mim para sentir sua boceta, deslizando um dedo por sua costura já molhada. — Você adora ser má para mim, — eu murmurei, sentindo o calor se enrolando como um dragão em minhas entranhas.

Oh, eu destruiria sua moral esta noite. Eu transformaria suas inibições em cinzas e destruiria toda a vergonha. Quando eu terminasse com ela, quaisquer farrapos de sua timidez virginal seriam destruídos. Ela protestou quando me levantei da cama, virando-lhe as costas para voltar à sala de estar para pegar algo no meu alforje. Quando voltei depois de uma parada no banheiro, ela estava pacificamente deitada na cama para mim, as pernas abertas para que eu pudesse ver o rosa brilhante de sua boceta sob os cachos. Sua única imperfeição era a descoloração lilás e azul em suas pernas por levar meu pau duro no chuveiro na noite anterior. Eu não acho que já tinha visto algo tão bonito quanto seus joelhos machucados, coxas leitosas interrompidas

pela

marca

de

sua

imoralidade. Fiquei

ingloriamente

emocionado ao saber que ela teria se ajoelhado na igreja, a dor um lembrete constante de que ela me adorava diante de seu Deus. Minha boca encheu de água quando coloquei a tigela de água quente, a toalha e a faca afiada contra a cama e me coloquei entre suas coxas. — O-O que você está fazendo? — Ela perguntou baixinho, um pequeno nó de excitação em sua respiração enquanto eu brandia a faca reta acima de sua boceta. — Eu vou barbear você, — eu disse a ela enquanto colocava o pano quente e úmido sobre sua boceta e a observava tremer. — Então eu vou te comer até que você derrame mel por toda a cama, e você estará tão inchada que mal consegue pegar meus dedos. Depois de tudo isso, vou enfiar meu pau grosso dentro de você e te foder até que você esteja cheia do meu esperma.

— Oh, meu Deus, — ela respirou, os olhos arregalados enquanto ela erguia a cabeça para me ver remover o pano e aplicar creme de barbear em sua virilha. — Por que isso é tão sexy? Eu sorri perversamente, mas não respondi, concentrando-me em segurar sua carne esticada com um polegar enquanto eu cuidadosamente arrastava a faca sobre sua vagina levemente peluda. A visão da faca de prata contra seus cachos dourados, o creme suave da pele por baixo enquanto eu cortava o cabelo era fodidamente lindo. Ter sua confiança para manejar uma faca tão perto de seu frágil centro enviou poder e luxúria por mim, meu pau chorando em meu jeans. — Você vai ficar tão sensível, — eu murmurei sombriamente enquanto dobrei sua perna para trás, esperando até que ela hesitantemente a segurasse bem larga. — Apenas a raspagem de meus dentes ao longo da pele macia aqui... — Eu corri a ponta da faca levemente sobre seu monte ao norte de seu clitóris. — Vai te fazer estremecer. Ela estremeceu então, um leve tremor de movimento que reprimi com meu antebraço em seus quadris. Era um processo delicado, depilá-la toda sem cortá-la com a faca afiada. Limpei a cada golpe ou dois na tigela de água quente, alisei o resíduo com o pano, em seguida, voltei para minha tarefa, a língua pressionada sob meus dentes enquanto estudo cada centímetro de sua boceta. — Você está fazendo uma bagunça, Bea, — eu observei, mergulhando um dedo em sua fenda transbordando, seguindo a mancha de seu clitóris até seu buraco enrugado, onde se agrupou sob sua bunda. Um rubor de corpo inteiro

escorreu por sua pele, mas eu a silenciei. — Não se preocupe, vou limpar você com minha língua. Quando terminei, limpei-a delicadamente com um pano limpo e úmido e coloquei tudo no banheiro antes de voltar a ficar ao pé da cama. Eu me aproximei dela, a única luz no quarto tingida de vermelho e lançada por aquelas luzes coloridas prendendo suas mãos a cabeceira. Ela estava respirando rápido, tão excitada pela intimidade que tínhamos compartilhado que seus olhos ficaram negros com a luxúria gananciosa. — Eu quero... — Ela parou de falar, com a língua presa em desejos que ela ainda não sabia como expressar. Eu a ensinaria. Todas aquelas coisas sombrias que ela desejava tinham nomes, e eu pretendia ensinar a ela toda a porra do alfabeto da merda. — Eu sei, — eu acalmei, só que minha voz estava fria e dura enquanto eu desabotoava meu cinto, minha calça e voava para que eu pudesse puxar meu pau dolorido para a luz. Estava latejando com raiva, o pré-sêmen formando uma poça na cabeça. Limpei a ponta com meu polegar áspero, senti a mordida aguda de prazer que isso trouxe, então segurei entre nós. — Você quer me provar? — Eu perguntei a ela. Eu não seria gentil naquela noite. Eu era um guerreiro determinado a conquistar. A fantasia de Madonna de cada homem estava espalhada e presa a esta cama, o anjo que eu planejava transformar em minha doce putinha. Bea engoliu em seco e assentiu. — Sim, por favor.

— Tão educada, — eu observei, mas em vez de alimentá-la com meu polegar, mergulhei para raspar minha língua rudemente por suas dobras, de baixo para cima, seu suco doce coletado em minha boca. Eu coloquei a mão na cama e me inclinei sobre ela, minha boca pairando sobre a dela. Ela observou com os olhos arregalados enquanto eu colocava meu polegar na boca, combinava nossos sabores e cantarolava, porque a doçura salgada de nós era muito deliciosa. — Você quer provar como somos bons? — Minha voz era áspera e um sussurro, mas ela me ouviu. Ela já estava abrindo a boca para aceitar minha comunhão. Curvei-me para aceitar o que ela ofereceu, deslizando minha língua sobre a dela, pintando seus dentes e cada centímetro de sua boca com o nosso gosto. Quando eu me afastei, seu peito estava ofegante, seus braços se esforçando em suas amarras. — Você gosta disso? — Eu exigi, segurando sua garganta vermelha em minha mão enquanto eu montava em seus quadris novamente. Ela estava serena e linda, o luar em minhas mãos. A seda prateada de seu cabelo enrolado em meus punhos cruéis, tão delicado que tive certeza de que iria rasgá-lo com minhas grandes mãos. A luz que entrava pelas janelas dourava sua carne, transformando o rosa de seu rubor excitado em um vermelho brilhante, a pequena plenitude franzida de sua boca uma rosa delineada no orvalho da manhã. Ela era tão frágil, tão bonita em todos os sentidos que uma coisa pode ser, que doía só de olhar para ela. A simples visão de Bea fez com que as emoções explodissem no solo sem cultivo da

minha alma, dando beleza e fragrância a partes de mim que há muito tempo pensava mortas e perdidas. — Tocar em você parece errado, — eu admiti enquanto movia minha mão de seu pescoço entre seus seios para a inclinação suave de sua barriga trêmula. Sua pele parecia cetim, as pontas ásperas dos meus dedos se agarrando aos pelos macios abaixo da espiral de seu umbigo. — Parece a forma mais pura de pecado ter essas mãos assassinas sobre um anjo de merda. — Eu não sou um anjo, Priest, — ela sussurrou no ar fechado entre nós, as palavras suspensas por nossa respiração quente. — Você tem que se lembrar disso. Eu grunhi meu protesto, muito focado na tapeçaria de veias lilases fracas sob a pele translúcida e pálida onde sua virilha encontrava a parte interna da coxa. Sua boceta estava tão bonita exposta para mim, e o conhecimento de que fui eu quem a depilei fez meu sangue possessivo disparar. Suas pequenas mãos mergulharam em meu cabelo, sobre minhas orelhas e puxaram, então eu olhei para cima para encontrar seu olhar sombrio. Ela era uma pintura, então, algum retrato antigo de uma garota pintada por um artista mais velho e vigoroso tentando recuperar a doçura de sua juventude por meio de sua beleza núbil. O desejo me estrangulou. Tão jovem, tão inocente, tão manchada agora por minhas mãos, meu pau, meus dentes conquistadores. Ela usava minhas marcas em sua pele imaculada, seus lábios inchados por causa dos meus beijos. Sua pequena boceta confortável estaria cheia do meu pau, então com minha semente dentro de uma hora. Minha, minha, minha.

— Se eu já fui um anjo, eu escolhi cair, — ela sussurrou. — Assim como os anjos se apaixonaram por Lúcifer, Priest, eu me apaixonaria novamente e novamente por você. — Não importa agora, — eu grunhi, a força da minha necessidade de possuir devastando meu interior. Ainda havia marcas fracas logo acima de seu monte onde eu esculpi meu nome em sua carne, e a necessidade de esculpir mais uma vez em seu corpo queimou por mim. O canivete que mantinha no bolso estava na mão antes que eu pudesse conter o impulso. O estalo suave da faca alto no quarto. Minha Pequena Sombra não vacilou. Em vez disso, ela inclinou os quadris para cima em oferta, querendo a mordida do aço tanto quanto eu queria lhe dar dor. — Não importa se você é anjo ou mulher, — eu repeti enquanto cuidadosamente passava a faca sobre sua pele fina, observando enquanto ela se abria lindamente, pequenas gotas de sangue decorando a pele pálida como joias. — Você é minha propriedade agora. Ela engasgou quando afundei dois dedos em seu calor e os enrolei, acariciando aquele ponto dentro dela que a fez se contorcer. Eu a segurei com o peso do meu torso e terminei de cortar meu nome em sua carne enquanto eu cuidadosamente arrastava meus dedos para dentro e para fora de sua boceta gananciosa. — Vou continuar gravando meu nome aqui até que pegue, — jurei. — Você vai usar meu nome em sua linda boceta pelo resto da porra da sua vida. — Sim, — ela gritou, batendo a cabeça de prazer, enquanto eu a mantinha parada e a fazia pegar.

Acabei com a faca, fechei e coloquei no bolso antes de lamber o ferimento com minha língua. Ela gritou com a primeira chicotada de calor contra sua pele cortada, a cabeça empurrada para trás nos travesseiros, as pernas tremendo. — Este é o tipo de besta que você tem em sua cama, doce Bea, — rosnei enquanto seguia uma gota de sangue na dobra de seu quadril e virilha, em seguida, mordi a carne tenra de sua coxa. — O tipo de homem que gosta de quebrar você só para encher você. — Sim, por favor, sim. Me foda, — Bea implorou, a voz tensa de necessidade. — Por favor, Priest, deixe ir. Me foda do jeito que eu quero ser fodida. Me arruíne. Um grunhido saiu da minha garganta, sua doçura cortando meu controle como uma faca. Corte, corte, corte. Eu empurrei, recolhendo suas pernas cremosas sobre meu bíceps e empurrando para frente, de forma que ela estava totalmente aberta e vulnerável. Ela estremeceu e gemeu fracamente enquanto eu empurrava meu pau contra suas dobras sensíveis e lisas, não fodendo dentro dela, apenas deslizando através daquele molhado para cobrir meu eixo nela. — Eu amo isso, — ela confessou sonhadora em um transe luxurioso. — Eu amo ser tão devassa por você. Eu amo ser sua para usar. Um arrepio percorreu minha espinha quase dolorosamente. Um momento depois, eu estava empurrando com força naquela boceta apertada, grunhindo

quando ela apertou com força em torno de mim e jogou a cabeça para trás para gritar. Sim. Eu queria seus gritos. Minha mão subiu para sua garganta, apertando apenas com força suficiente para sentir seu pulso pulsar desesperadamente contra o meu polegar. Sua boceta batia em torno de mim no tempo com aquele ritmo rápido, paredes apertadas me sugando, me forçando a bombear mais e mais fundo. Eu estava no final daquele canal confortável, cada golpe contra seu colo do útero fazendo ela gritar de dor e êxtase. — Sim, — ela cantou sem fôlego, as pernas tremendo quando um orgasmo começou a se construir. — Oh meu Deus. Não era o suficiente. O animal dentro de mim, aquela besta que governava meu corpo na escuridão profunda, ergueu sua cabeça feia e declarou guerra ao corpinho compacto de Bea. Eu me inclinei para ferir as pontas de seus seios rosados com meus dentes, grunhindo forte quando ela tentou se debater contra mim. — Priest, Priest, — ela cantou entrecortada, as lágrimas se reunindo em seus olhos azuis aveludados enquanto eu batia em sua boceta, mostrando minha propriedade irrevogável dela. — Por favor, eu, eu não posso... é demais. Eu... — É isso, — eu murmurei contra sua garganta antes de prender meus dentes lá, mordendo forte o suficiente para sentir o cheiro de sangue. Isso era o suficiente.

A pressão forte e afiada rasgou Bea que quebrou embaixo de mim como um biscoito de Natal, seus membros tremendo, sua boceta inundando ao redor do meu pau. Não era o suficiente para mim. Eu precisava de mais. A dizimação total de sua sanidade. Eu queria que ela se desfizesse no meu pau e tivesse que me implorar sem fôlego para parar. Ela me despiu até os pregos esta noite. Eu devia a ela o mesmo. Eu a virei antes que ela pudesse se recuperar, suas mãos torcendo nas luzes, os dedos envolvendo instintivamente ao redor da cabeceira da cama para se equilibrar enquanto eu empurrava seus quadris para cima e para trás. Minhas mãos cruéis em sua pequena cintura morderam a pele enquanto eu a empurrava de volta no meu pau molhado de porra. Sua cabeça jogada para trás, o cabelo com um halo voando enquanto ela grunhia e gritava nas profundezas de mim dentro dela. Passei a mão em torno daquele cabelo, usando-o como rédeas para prender sua cabeça para trás para que eu pudesse assistir a paixão contorcer aquele rosto bonito. Com a outra mão, testei a flexibilidade de sua bunda redonda e doce. Smack. Um suspiro agudo dando lugar a um gemido. Smack. Smack. Smack.

Sua pele estava se aprofundando de um rosa pêssego a um vermelho vivo, minha marca de mão estampada em sua carne delicada. Minha, minha, minha. Devo ter rosnado as palavras em voz alta porque Bea imitou de volta. — Sua, sua, sua. Eu bati nela com força, amando a sacudidela daquela bunda de pêssego, amando os gritos ferozes caindo de seus lábios para a cama do jeito que sua boceta molhada pingava nos lençóis sob meu pau. — Você é minha, — eu gritei enquanto minhas bolas apertavam, a base da minha espinha apertando forte com a necessidade de soltar dentro de sua boceta apertada. — Você é minha na vida, você é minha na morte. Nunca vamos nos separar, mo cuishle. Eu vou te assombrar, vou te assombrar, vou te assombrar. Lágrimas escorreram por seu rosto, as bordas vermelhas tornando seus olhos de um azul tão intenso que brilhavam em néon enquanto ela olhava por cima do ombro para mim, a boca inchada e aberta em volta de sua respiração áspera. — Eu vou te assombrar, — ela ecoou. Eu dei um último tapa retumbante em sua bunda e a agarrei com força contra mim com as mãos cortantes, forçando-a a praticamente se sentar no meu colo totalmente empalada no meu pau. Ela gritou quando eu comecei a gozar dentro dela, espalmando sua garganta com força para sufocar o grito e levar ela mais alto.

Ela gozou segundos depois de mim, o calor inundando meu pau e minhas bolas enquanto eu a enchia, e por um segundo, apenas um momento, tudo o que senti foi paz total.

Capítulo Vinte e Quatro Priest

Eu a segurei no colo, a mão ainda em sua garganta, embora mais suave, o polegar acariciando sua jugular enquanto lambia uma gota de suor de sua mandíbula e mordiscava o osso inclinado ali. Ela suspirava com frequência enquanto se acomodava, pequenos sons de gatinho que fizeram meu pau gasto se mexer preguiçosamente dentro dela. Uma de suas mãos acariciou meu antebraço, empurrando o tecido para que ela pudesse pintar pequenos círculos com a ponta dos dedos no meu pulso. Era um toque simples e íntimo que quase me balançou mais do que meu orgasmo fenomenal. Bea não foi a primeira mulher que me tocou assim, mas parecia que sim. Eu não conhecia tanta ternura desde que era menino, quando meus pais ainda estavam vivos e me amavam. Cada toque provocava um eco no meu peito, doloroso e agradável ao mesmo tempo. A contração foi uma das muitas entre minha Pequena Sombra e eu, nossas naturezas opostas se contraindo em uma coisa inteira e brilhante que minha mente inexperiente queria chamar de amor. — Oh, Priest, — ela engasgou, chamando minha atenção para sua cabeça inclinada, para a pele que ela revelou ao seu olhar na parte interna do meu braço.

Houve um som cacofônico em meus ouvidos quando todos os meus escudos bateram dentro de mim. Eu estava de pé, empurrando-a, recuando com um rosnado na garganta, os dentes arreganhados antes que eu pudesse pensar em me impedir. Eu estava ofegante, embora tivesse me recuperado do meu orgasmo, meu peito apertando e cada vez mais apertado. Dores agudas subiram pelos meus braços até o peito, lembrando-me que isso e apenas isso era uma razão para sentir. Dor. Era por isso que eu estava vivo. Para sentir isso. — Priest, — chamou Bea, sentando e ficando de joelhos, o cabelo desgrenhado enrolado em torno de seu rosto doce, uma marca de mordida vermelha e feroz marcando a longa coluna de sua garganta, cachos de mordidas de amor como rosas vermelhas em seus seios. Tão marcada por mim. Marcada como fui marcado, mas também tão diferente. Suas marcas desapareceriam. Suas marcas foram feitas de qualquer amor que eu pudesse trazer para dentro de mim para dar a ela. — Priest, — ela tentou novamente. — Está tudo bem. Não estava.

Ela tinha visto apenas um vislumbre da tapeçaria da história que eu usava na minha pele, mas era demais. Sem dizer outra palavra, girei nos calcanhares e fui para o banheiro, batendo a porta atrás de mim. Eu martelei minhas mãos na porcelana, lutando para respirar, mas meus olhos se fixaram na bainha levantada da minha camisa, na pele manchada do meu pulso. Minha visão ficou vermelha, então um branco ofuscante. Esmaguei minha testa no espelho já quebrado, senti a dor cortar a pele e o calor inundar minha sobrancelha direita. Não era o suficiente. A faca que usei em Bea estava na parte de trás da pia. Meus dedos desajeitados e dormentes encontraram, agarrando-a com tanta força que o cabo marcou minha palma. Cortei minha palma esquerda, depois a direita, suspirando de alívio com a dor límpida. Eu respirei, fechando minhas mãos, o sangue escorrendo pelos meus dedos. Pinga, pinga, pinga na pia. A porta se abriu atrás de mim, a cabeça pálida de Bea lentamente encaixando na abertura. Seu lábio inferior estava entre os dentes, mas seu queixo estava inclinado em desafio. Ela estava com medo de me perturbar, mas determinada a me trazer conforto de qualquer maneira que pudesse. Minha brava Pequena Sombra.

Pisquei para ela, a única concessão que era capaz de dar, mas é claro, ela entendeu. Nós nos observamos no reflexo de seu espelho quebrado enquanto ela se movia para mim e gentilmente, tão suavemente seu toque era apenas um sussurro, envolveu seus braços em volta da minha cintura antes de pegar minhas mãos grandes e cheias de cicatrizes na sua palma. As lágrimas que acumulavam em seus olhos não eram o tipo de lágrimas que eu gostava de fazê-la chorar. — Você faz isso quando se lembra, não é? — Ela perguntou em um sussurro que senti através do algodão cobrindo meu ombro. — Você precisa de dor para esquecer? — Não. — Eu apertei minhas mãos novamente, seus dedos pequeninos segurando os meus. — Eu preciso de dor para lembrar. — Você não pode me dizer o que aconteceu com você? — Era uma pergunta sem pressão, flutuando entre nós de uma forma que desafiava a gravidade. Ela me deixaria ignorar, talvez, mas a questão permaneceria sob suas unhas, uma farpa que ela não poderia tirar. Ela era uma garota curiosa, uma das coisas mais brilhantes sobre ela, e eu era o enigma mais monumental que ela já havia encontrado. Claro, eu a fascinei. Mas como dar palavras a coisas que nenhum vocabulário poderia expressar adequadamente? Falar deles era menosprezá-los inerentemente, errar ao contar era uma cruz que eu não podia suportar.

Então, eu apenas olhei para ela no vidro quebrado, meu sangue acumulando em suas palmas. Ela me estudou, o lábio entre os dentes, por um longo momento. — Automutilação não é a resposta, Priest, — ela murmurou finalmente, enrolando suas mãos sobre as minhas para que meus dedos pressionassem os cortes em minhas palmas. Estremeci de dor, mas gostei, e ela sabia disso. Ela respirou fundo, preparando-se para falar. — Você... você, pelo menos, me deixaria te machucar, em vez disso? Eu arqueei uma sobrancelha vermelha para ela, observando enquanto ela corava com aquele toque de vinho fino. — Como uma coisinha como você me machucaria muito? Ela mordeu o lábio, escondendo-se brevemente atrás do meu ombro antes de encontrar coragem para dizer. — Acho que sei de algo que pode ajudar? O desejo se moveu sobre mim como uma sombra. — Oh? — Eu provoquei, abrindo meus punhos para trazer seus dedos, molhados com meu sangue, à minha boca. Chupei o dedo mínimo com a unha rosa, lambendo a mancha vermelha metálica. — Meu anjo quer brincar de diabo, não é? — Se te ajudar. Você para de se cortar assim, — ela sussurrou em uma voz crua enquanto me observava chupar seus dedos com olhos escuros. — Eu sou um monstro, Bea, — eu a lembrei. — Você joga comigo, você tem que se lembrar, eu não jogo legal com os outros. Vou tentar dar a você um pouco de controle, mas no final, você tem que saber, vou recuperá-lo.

— Oh, estou contando com isso, — ela concordou com um sorriso travesso antes de se afastar para me levar de volta para o quarto. — Deite, me deixe pegar o que preciso. Afundar nos lençóis amarrotados que cheiravam a pêssegos doces e a boceta mais doce, saber que Bea queria me torturar fez meu pau ficar meio duro de novo. Ele arqueou obscenamente em meu jeans aberto. Quando minha Sombra voltou, ela tinha uma fita de cetim preta na mão e uma vela rosa bruxuleante na outra. Minha coisinha pervertida. Ela sentou quase afetadamente entre minhas pernas abertas, a língua enfiada entre os dentes enquanto ela se curvava para amarrar aquela fita feminina em um laço apertado em volta do meu pau e bolas. Imediatamente, a haste se encheu de sangue, as veias saltando para fora em total relevo. Bea traçou uma com a ponta dos dedos, o fascínio predominando em seu rosto. — Isso dói? — Ela perguntou, tão inocente que fez minhas bolas doerem. — É uma sensação boa, — grunhi, observando enquanto ela se ajoelhava e pairava sobre mim com a vela. — Você vai jogar cera quente em mim? — Sim, — ela admitiu naquele tom contraditoriamente modesto e luxurioso. — Se você deixar. Amassei a barra da minha camisa, observando-a cuidadosamente para ver como ela reagiria ao ver meu torso. Seus olhos se arregalaram como moedas gêmeas com o choque enquanto eu revelava as cicatrizes na minha barriga, as feridas de faca e queimaduras que manchavam minha pele, então era uma

colcha de retalhos de brancos cerosos, rosas enrugados e cristas salientes escuras como ameixas. — Sem simpatia, — eu ordenei tão rapidamente que ela se encolheu. — Você me prometeu dor. Se você não tiver estômago para isso, vou garantir que você cumpra o que me prometeu. Ela estremeceu delicadamente, gostando da ideia, mas havia uma pequena ruga de determinação entre suas sobrancelhas pálidas que falava de sua determinação. Lentamente, ela inclinou a vela do suporte, a cera rosa pastel escorrendo para pintar meu abdômen em um calor lívido. Eu assobiei, meu pau pulando, minha mente fervendo. — Porra, sim, — eu encorajei. — Me toque. Sua mãozinha envolveu meu pau amarrado. — Mais forte, — eu lati, curvando o torso enquanto mais cera espirrava dor quente na pele fina entre minha barriga e virilha. Ela apertou com tanta força que queimou, a fricção requintada enquanto ela bombeava meu pau com uma mão e derramava aquele calor com a outra. Havia um forte rubor em suas bochechas, os cachos caindo para frente para lançar seu rosto na sombra. Ela parecia uma ninfa escura, alguma criatura da noite que saiu de debaixo da cama para brincar. Ela. Estava. Fodidamente. Linda. Meu pau estava cuspindo pré-sêmen em sua mão, lubrificando seu estrangulamento nele. Ela observou minha cabeça grossa se mover através de seu punho, gemendo baixinho com o pedaço molhado de pele sobre pele.

— Suba na minha coxa, — eu disse a ela entre os dentes. — Esfregue contra mim até encharcar o jeans. Quando eu gozar, Bea, quero que você o beba para mim. — Oh, meu Deus, — ela gemeu como se eu tivesse acabado de dar a ela uma sobremesa celestial. — Vela não é suficiente, — eu ofeguei enquanto ela me puxava com mais força e começava a empurrar sua boceta molhada contra minha perna, jogando sua cabeça para trás com um gemido. — Há um canivete no meu bolso. — Eu não quero te machucar muito, — ela protestou enquanto estremecia de prazer em me montar. Ela gostou da vergonha, da escuridão de fazer o que eu disse. Mesmo que ela hesitou, ela soprou a vela e colocou no final da cama, fora do nosso caminho. — Estou machucado só de ver você se mexer assim. Só de olhar para você, sinto dor, Bea. Pegue a maldita faca e grave seu nome em meu quadril. Quero sentir você aí. — Você é tão sexy, — ela confessou. — Você me obriga a fazer coisas com as quais sempre sonhei. — Você sonhou com isso? De me machucar enquanto monta na minha perna porque você tem uma boceta tão bonita e gananciosa? Ela estremeceu novamente, curvando-se para pegar a faca do meu bolso esquerdo. O estalo da faca se abrindo era uma carícia tangível para nós dois. Nós gememos juntos. Quando ela se dobrou para pressionar a ponta no meu quadril, agarrei seu pulso e o levantei mais alto. Empunhando sua mão,

cortei a gola da minha camisa para rasgá-la até o esterno e, em seguida, pressionei a ponta afiada no topo do meu peito direito. — Aqui, — eu grunhi quando seu punho se contraiu em torno de mim. — Quero você aqui. Ela não hesitou. A dor era aguda cortando meu passado em tiras. Se me perguntassem eu não teria me lembrado do nome da minha cidade na Irlanda, as cores daquele vitral que eu olhei por sete anos, a sensação de um chicote em minha carne ou um ferro de marcar dentro de mim. Tudo o que eu sabia era esse momento, Bea gravando seu nome em minha carne para me dar a dor que ela sabia que eu precisava. Tudo que eu conhecia era essa sensação vívida e avassaladora de aceitação. Este era eu, com cicatrizes monstruosas, cheio de dor e doador de dor, mas esta mulher com cabelos claros e um sorriso que iluminava a escuridão, pensava que eu era digno de seu amor. Senti rachaduras em minhas costelas, ossos abertos e, então, com um baque brutal que me roubou o fôlego, eu a senti ali, minha garota, meu coração, se encaixando em meu peito. Fui destruído por seu amor, o homem morto assassinado por mãos doces. O floreio do ‘A’ de seu nome cortou muito fundo, sangue acumulando em torno da faca, encharcando minha camisa escura. Bea mergulhou ainda mais, sua língua aparecendo para lamber o derramamento. Simultaneamente, ela desfez a fita ao redor do meu pau com um puxão rápido e puxou com força o meu eixo.

Morto, pensei loucamente quando um clímax me rasgou em pedaços, e comecei a derramar calorosamente sobre a mão de Bea e renascer por seu amor. — Mo cuishle, — grunhi ao gozar e gozar. — Meu batimento cardíaco. Minhas palavras desencadearam seu próprio orgasmo, seus quadris batendo forte contra minha coxa, seus lábios sangrentos pressionados em uma careta, então caindo abertos em um grito para os céus enquanto ela se desenrolava em cima de mim. Finalmente, ela caiu contra meu torso, a faca em uma das mãos e a fita enrolada nos dedos da outra. Ela piscou sonolenta para mim, roçando o nariz na pele marcada ao lado da minha cicatriz recémesculpida. — Melhor? — Ela perguntou, travessura em seu pequeno sorriso. As emoções estavam turvando dentro de mim, provenientes daquele órgão que eu nunca senti tão intensamente no meu peito. Incapaz de verbalizá-las, abaixei-me para enfiar meus dedos no cabelo atrás de cada orelha para que eu pudesse levantar seu rosto em forma de coração para o meu. — A rún mo chroí, — murmurei em gaélico, depois hesitei em traduzir. — Segredo do meu coração. Meu coração secreto vivendo fora do meu peito. Instantaneamente, as lágrimas se acumularam em seus olhos, brilhando como diamantes no brilho da fita de luzes de Natal. — Eu te amo, — ela quase soluçou, agarrando minhas mãos em seu cabelo, empurrando sua testa com força na minha. — Eu te amo, Priest. Obrigada por deixar. — Eu não sou fácil.

Sua risada era molhada, mas o sorriso que apareceu em seu rosto era de pura alegria, sem adulteração. — Oh, sim, mas eu não queria de outra maneira. Eu não tinha mais palavras para ela, a exaustão mais emocional do que física escureceu as bordas da minha visão e turvou meus pensamentos. — Com sono, — ela murmurou como se estivesse lendo minha mente, aninhando-se em meu pescoço com um suspiro suave. — Vou levantar, — eu disse a ela, embora cada osso em mim doesse para ficar na cama envolto em seu corpo quente com cheiro de sexo. — Fique, — ela disse, me apertando. — Não durmo bem com os outros, — eu disse, quando quis dizer que nunca havia dormido ao lado de uma alma em minha vida e não tinha certeza se poderia começar agora. — Tente? — Ela implorou com o beicinho mais bonito que eu já vi. Seu cabelo mudou por cima do ombro quando ela se levantou para apontar aquela expressão para mim, o cheiro de pêssegos flutuando sobre mim. — Vou ficar, — concordei, — até que você adormeça. Seu suspiro estava tingido de tristeza, mas ela cedeu sem protestar, já meio adormecida em cima de mim. Eu acariciei seu cabelo para trás, a seda tingida de rosa porque eu não lavei minhas mãos ensanguentadas, e cantarolei uma das canções que minha mãe cantava para mim no fundo da minha garganta. Bea cantarolou de prazer, contorceu-se um pouco e depois adormeceu sobre meu peito. A beleza de sua confiança parecia um laço de

cetim preto muito apertado em torno do meu coração, mas eu dei boas-vindas à dor e a segurei noite adentro.

  Eu não estava dormindo. Era noite profunda, mais perto da hora da manhã do que da noite, mas o céu do lado de fora da janela de Bea estava muito escuro, nenhuma nuvem no céu. Muito escuro para ver alguém. Mas algo me alertou de uma presença, algum som fraco ou mudança em preto sobre preto fora da janela. Alguém estava lá. Instantaneamente, uma calma fria desceu sobre mim. Eu me mexi com cuidado e eficiência sob o peso da minha Sombra adormecida, arrumei meu jeans e me esgueirei para a sala de estar para recuperar meu corte e armas. Armado até os dentes, perigoso com uma raiva possessiva e protetora, fui até a janela na lateral da casa para olhar para fora. Nada. Fui até a porta da frente, sabendo que qualquer intruso que valesse a pena não estaria por perto, e entrei na noite fria. Minhas botas estavam perto da porta, mas não as calcei. Meus pés descalços ficariam quase em silêncio na neve fresca e profunda cobrindo o jardim, e eu precisava do elemento surpresa.

Só quando dei a volta na casa é que ouvi, o barulho e o arrastar de algo pesado pela neve. Espiando pela lateral da casa de telhas, vi uma mancha preta na luz cinza trabalhando em algo no chão, puxando para a varanda dos fundos. Eu sabia que era um corpo. Chame de premonição, experiência, seja lá o que for, eu sabia que o peso na neve era um cadáver sendo colocado na varanda para Bea encontrar pela manhã. Como um gato trazendo ao seu amado

dono

um

rato

morto,

o

assassino

trouxe

à

sua

obsessão, minha obsessão, um presente. Movi, frio e desumano como a neve sob meus pés. O intruso estava se demorando sobre o corpo na base da escada, arrumando-o, provavelmente plantando uma daquelas frases religiosas doentias em algum lugar de sua pessoa. Ele estava ocupado demais para notar uma mudança nas sombras, obcecado demais para perceber que a mulher que ele cobiçava já tinha um psicopata em sua vida. Eu estava logo atrás dele, a faca erguida, a um segundo de atacar quando a luz acendeu no quarto de Bea. A perturbação trouxe o homem de volta a si. Assustado, ele se agachou para dar uma corrida rápida. Eu o ataquei com força no chão, seu crânio acertando os paralelepípedos congelados no caminho do quintal. Ele não parou para se recuperar, já lutando ferozmente, rolando na neve escorregadia de forma que ficasse de costas, uma posição melhor em qualquer luta. Havia uma arma em uma das mãos que eu não tinha visto no escuro. Ele a ergueu, mas eu bloqueei com meu antebraço, então o tiro que ele disparou passou por minha orelha esquerda e nocauteou minha audição.

Eu estava vagamente ciente das luzes se acendendo no resto da casa, de Bea gritando atrás da porta dos fundos trancada, esperançosamente chamando a polícia. Ou não com sorte, porque eu cortaria esse filho da puta em pedaços. Ele grunhiu forte, trazendo seu joelho na minha virilha, conectando-se com minhas bolas de uma forma que arrancou minha respiração dos meus pulmões. Tirando vantagem da minha fraqueza momentânea, ele me empurrou e saiu correndo do meu aperto, a neve facilitando seu caminho. Ele ficou de pé rapidamente, mais alto e mais ágil do que eu acreditava. Ele decolou. Eu o segui, engolindo a bile que subiu na minha garganta. Ele era um filho da puta rápido, flexível em seus pés enquanto corria para a rua, passando por carros estacionados, arremessando-se sobre latas de lixo e deslizando sobre para-brisas. Um sorriso apareceu no meu rosto enquanto eu o perseguia. Já fazia muito tempo que eu não tinha um verdadeiro desafio. Eu sabia que o pegaria da maneira que um leão sabe que vai pegar a gazela. Era só uma questão de quando. Ele dobrou a esquina na rua principal e eu sabia que tudo estava acabado. Mesmo às quatro da manhã, a rua estava cheia de carros, caixas de correio e decorações festivas. Havia até veículos na estrada de entregas antecipadas e trabalhadores noturnos. Ele estava ferrado.

Minha boca encheu de água quando vi minha abertura. Eu tinha uma arma e facas de arremesso, mas não as usei. Por que usar um objeto inanimado quando eu era uma arma tão bem afiada? Ele tropeçou em uma rachadura na calçada e balançou. Eu ataquei, levando-o ao chão com tanta força que ouvi o estalo de osso quebrando em seu braço quando pousamos. Ele uivou de dor quando o virei e tirei seu capuz. Pisquei para o estranho, levemente surpreso por não o reconhecer. Bea não era famosa, apesar do sucesso de seu programa, e geralmente, perseguidores eram pessoas conhecidas por sua obsessão. Eu não me importava que ele não se encaixasse no perfil. Eu não me importava com nada, exceto descobrir por que ele estava mirando na minha garota e depois o matar. Eu o rasgaria, cortaria, sangraria até secar. Minha faca estava na minha mão, a faca cravando em sua garganta com tanta força que perfurou a carne e o sangue vazou como seiva. — Pare, pare, pare, — ele implorou, debatendo-se em meu aperto de ferro. — Não fui eu. Eu o ignorei. — Não fui eu, — ele cantou de novo e de novo enquanto eu enfiava a faca mais fundo em sua carne. — Foi o Profeta. O apelido idiota do assassino em série.

— Se não foi você, o que diabos você estava fazendo na casa de Bea Lafayette no meio da porra da noite com um cadáver? — Eu exigi, levantando-o pela garganta apenas para bater seu crânio de volta no pavimento. Havia postes de luz suficientes na rua principal para o iluminar agora. Uma grande cruz caiu de seu moletom enquanto eu o estrangulava, o ouro ornamentado brilhando. — Um presente do Profeta, — ele insistiu. — ‘Visto que cada um recebeu um dom especial, empreguem-no servindo uns aos outros como bons mordomos da multiforme graça de Deus’. Eu sabia que a citação era de Pedro 4:10 porque era uma das favoritas do padre O’Neal, uma forma de ele explicar que era um mensageiro de Deus e, por meio dele, poderíamos receber Seus presentes sagrados. — Um cadáver dificilmente é um presente da porra de Deus, — gritei, decidindo que o homem não precisava de sua orelha esquerda. Comecei a cortá-la metodicamente, sabendo que a cartilagem demorava para se soltar do crânio. Ele gritou loucamente. — Pare! — Vou parar quando você me disser quem diabos o enviou, se você não for o assassino. — Sua orelha estava escorregadia de sangue, a parte superior aberta no couro cabeludo. — Não, — ele choramingou. — Pois Ele é divino e deve ser protegido. — Maldito idiota louco, — eu murmurei, cansado da tagarelice religiosa. Eu cortei sua orelha.

Outro grito magnífico. — Por que diabos ele está tão obcecado por Bea? — Eu ordenei sobre seus soluços. — E-Ele pensa que ela é sua esposa sagrada, — ele chorou. — Deus enviou a ele uma visão. Porra de loucura. — Quem é ele? — Eu exigi, então quando ele não respondeu, eu bati minha palma aberta sobre sua orelha destroçada. Seus gritos ecoaram em meu sangue, fazendo-o cantar. Eu poderia fazer isso a noite toda. Apanhado pela violência, não notei que algumas pessoas saíram pelas ruas, incluindo Stella da lanchonete com o telefone pressionado ao ouvido. Como se fosse uma deixa, o bipe de um carro de polícia soou, arrastando meu olhar por cima do ombro para ver o veículo estacionando. — Levante as mãos, — exigiu a voz pelo alto-falante. — E se afaste. Eu não fiz. As portas do carro se abriram, uma arma engatilhada. — Ponha a porra das mãos para cima e se afaste! — Alguém gritou. Minha faca estava tão perto de sua jugular que eu poderia ter passado de forma limpa em seu pescoço sem me preocupar com represálias até que fosse tarde demais. Mas esse filho da puta pode ter as informações de que preciso para manter Bea segura, então rosnei e me afastei.

— É a porra do Priest McKenna, — Oficial Travers gritou enquanto alguém apontava uma lanterna para meu rosto. Houve um coro de palavrões dos outros três policiais. — Tenho um homem aqui que pode ser o assassino em série, — gritei para ser ouvido sobre sua idiotice. Eles me ignoraram, assustados demais com a ideia de tentar prender um homem como eu para fazer seu maldito trabalho. E o homem que eu persegui se aproveitou. Ele cambaleou, segurando o pescoço sangrando, e olhou freneticamente ao redor da rua. Gritei com ele, tentando mantê-lo quieto, mas ele estava longe demais. Em um momento, ele estava no meio-fio, e no próximo, ele estava se jogando na rua. No caminho de um carro que se aproximava. Observei o impacto quando ele bateu no para-brisa e depois saltou com força para a rua, contorcendo-se, mas de qualquer forma imóvel. — Que se foda, — eu rosnei, me movendo embora os policiais estivessem gritando para eu parar. Suas pernas estavam muito quebradas, uma delas tão mutilada que fez um ‘S’ no concreto e sangue jorrou de seu crânio rachado. Ele olhava quase sonhadoramente para o céu claro e piscou enquanto morria. Eu o enrolei com as duas mãos em sua gola e rosnei em seu rosto. — Me diga quem diabos é o Profeta.

O sangue gorgolejou em sua garganta, sufocando-o tanto que ele tossiu na minha cara e saliva vermelha voou para o meu corte, sujando o patch do MC Fallen. — ‘Em verdade, em verdade, eu te digo: quem recebe aquele que eu envio, me recebe, e quem me recebe, recebe aquele que me enviou’. — Ele cuspiu o versículo da Bíblia e então prontamente, como se com a graça de seu Deus fodido, ele apagou. Segundos depois, fui derrubado no chão e preso pela segunda vez, por algo de que não participei.

Capítulo vinte e Cinco Bea

Era Margaret Huxley. O corpo colocado para descansar com cuidado na base da minha varanda de trás tinha as mãos sobre o peito, os olhos fechados e a boca pintada de vermelho de prostituta. Ela quase poderia estar dormindo ali, não fosse pela estaca espetada em sua têmpora direita. Era uma estaca de barraca do meu próprio conjunto, o que eu mantinha no galpão do meu quintal. O que, é claro, significava que o assassino já estivera no meu quintal antes, talvez me observando enquanto elaborava seus planos malucos de assassinato. Ela havia sido morta da mesma forma que Jael assassinou o traidor general Sísera na Bíblia. A mensagem não poderia ter sido mais clara. Ao me insultar, ela insultou o assassino, que sentiu que estávamos de alguma forma ligados. ‘Quanto à pessoa que incita divisão, depois de avisá-la uma e duas vezes, não tenha mais nada a ver com ela,’ de Tito 3:10 foi digitado no bilhete que ela segurava em uma das mãos.

Eu disse à polícia que bagunçou minha casa naquela manhã de segundafeira inteira que o assassino poderia ter matado ela como um presente para mim, mas ele deveria saber que nós tivemos uma briga na noite anterior. Fazia sentido, talvez, que o homem que Priest havia caçado na Main Street fosse Owen Burns, o mesmo jovem que eu vi Brett dar drogas ao que parecia anos atrás, no Halloween, na festa da faculdade. Aparentemente, Owen Burns era o filho afastado de Opal Burns, uma das velhas amigas de minha mãe que se distanciou depois de nossa queda. Ela nem frequentava mais a igreja com meu avô, embora sempre tenha sido uma cristã devota. Mesmo sendo muito amiga de Tabitha Linley, que era conhecida por ser uma fofoqueira um pouco amigável. Mas eu nem conhecia Owen Burns. Por que ele mataria Margaret por mim como o ritual de namoro equivocado de um louco? Havia essa trama, essa sobreposição da família Walsh e do serial killer, como se eles estivessem intrinsecamente ligados de uma forma que eu achava que deveria entender mais claramente. Eu não entendi nada disso. Nem, ao que parecia, Lion ou o clube. Depois das entrevistas com os policiais, depois de vomitar ao ver o cadáver no meu quintal pensando no pobre Billy Huxley sem mãe e em breve sem pai, Loulou insistiu que eu fosse com eles ao clube para o churrasco. Apenas The Fallen daria uma festa quando um serial killer estava à solta e um cadáver aparecesse em uma porta. Sinceramente, eu amava isso neles. Eles

viviam cada dia como se fosse o último. Não tendo nada como certo, eles sugavam a medula de cada momento. Os prospectos, familiares e algumas das Old Ladys já estavam bem preparadas quando chegamos, e Loulou imediatamente nos conduziu para a sede do clube onde todo o resto do clã Garro estava instalado, esperando por mim. O Sr. White estava na delegacia representando o Priest novamente enquanto ele era questionado. Eu queria ir até ele, mas Zeus afirmou que Priest havia proibido expressamente isso. Normalmente, eu não teria atendido ao seu protesto, mas Zeus me garantiu que Priest seria libertado em breve e levado imediatamente para a sede do clube. Para mim. Até então, eu estava feliz por estar entre minha irmã e Cressida com o rostinho lindo de Prince sorrindo para mim de seus braços. Sentar lá com eles, sabendo que eles viriam juntos para me apoiar mais uma vez, me fez sentir vista e apreciada de uma forma que eu nunca tinha sentido antes de conhecer o Fallen. Lion esfregou as mãos no queixo mal barbeado, parecendo um cowboy bonito, mesmo cansado como estava. — O RCMP não está levando a lugar nenhum. Parece que eles querem pensar que Owen Burns é o 'Profeta'. Torna mais fácil, com certeza. — Não tem como, — eu insisti. — Ele não se encaixa em nenhum dos perfis. Acho que ele é apenas um pobre garoto que tomou algumas decisões ruins e foi arrastado para isso.

Harleigh Rose começou a esfregar a tensão nas costas de Lion, fazendo-o gemer e estender a mão para trás de sua cadeira para apertar sua coxa. — Você e eu, Bea. Não tenho mais voz com eles. Pendurei meu distintivo e, para os homens de azul, é um tipo de traição que eles não superam. — Seu pai era um policial corrupto que tentou forçar você a ser corrupto também, — resmungou Harleigh Rose. — Idiotas do caralho. Lion sorriu cansado, puxando-a para frente para sentar em seu colo. — Sim, Rosie, idiotas, todos eles. Mas só tenho esse acesso permitido porque Hutchinson está no clube e, tecnicamente, estou no caso. O T-Squad me contratou. — Que porra? — Zeus latiu. — Por que diabos estou ouvindo isso, Lion? Estamos hospedando-os para uma maldita reunião e cervejas hoje, e você não achou que eu deveria saber disso? Lion lançou a ele um olhar de esguelha, sabendo que tinha comprado a ira de Z, mas não particularmente intimidado por ela. — Meu negócio é privado, como eu acho que já disse a você quatorze mil vezes, Zeus. A carranca de Zeus foi interrompida por Angel, que brincou calmamente no chão a seus pés até que ela decidiu que queria um pouco de atenção de seu homem favorito, então ela ficou com as pernas trêmulas para o alcançar. Ele a pegou instantaneamente, o rosto suavizando como manteiga derretida enquanto ele roçava seus lábios barbudos sobre sua bochecha para ouvi-la rir. Quando ele olhou para trás, para Lion, sua carranca era ainda mais feroz. — Eles te perguntam qualquer coisa sobre negócios do clube...

— Eu direi a eles o mesmo que eu digo a você, — Lion falou lentamente. — É privado. — Você convidou seu Prez para uma reunião hoje, Z, — Loulou apontou de onde tínhamos nos sentado em um dos quatro sofás de couro. — Você já estava planejando contar a eles os negócios do clube. — Cale a boca, mulher, — ele rosnou, mas com um brilho nos olhos, porque ele amava minha irmã atrevida. Lou piscou. — Me faça calar. — Ok, argh, — Harleigh Rose reclamou, embora Lion estivesse atualmente agarrando um punhado de sua bunda em seu jeans lascivamente rasgado. Loulou revirou os olhos. Fechei o meu, recostando-me nas almofadas macias. — Você está bem, querida? — Cressida perguntou, acariciando meu cabelo para trás. Murmurei algo, esquecendo as palavras assim que foram ditas. Depois de uma noite de sexo barulhento com Priest e uma manhã cedo encontrando um cadáver na minha varanda, eu estava exausta e abalada. Honestamente, era difícil não ficar apavorada sabendo que um serial killer tinha estado no meu quintal, que talvez ele estivesse me observando viver minha vida e fazendo anotações fodidas sobre meus hábitos. Quase desejei saber o que ele queria comigo para ter algum tipo de contexto para sua obsessão. Ficar tão no escuro era horrível e lançou uma nova luz sobre os assassinatos que estudei para meu programa.

Cercada por homens que lutariam até a morte para me proteger e mulheres que me apoiariam até o último suspiro, eu me permiti relaxar novamente. Isso, até que Ransom conduziu Phillipa para dentro da sala, obviamente enviado para trazê-la para o refúgio até que soubéssemos o que realmente estava acontecendo. Amargura brotou em minha língua, borra de café que sobrou de nosso jantar com os Linleys. Ela deu uma olhada para mim imprensada entre Cress e Lou, e o olhar que devo ter estampado em meu rosto mostrou meu descontentamento porque ela congelou. Eu não. Eu estava de pé, desalojando as mãos macias de Cressida e o quadril de Lou enquanto saía do meu lugar. Elas chamaram atrás de mim enquanto eu perseguia minha mãe, ciente de que em minha saia pregueada e gola redonda vintage da Universidade da Columbia Britânica, eu não parecia exatamente ameaçadora. Mas eu falava sério. A carranca em meu rosto parecia estranha, os músculos não acostumados a se contrair de raiva. Eu não era uma mulher que se irritava facilmente ou guardava rancor. O perdão, para mim, era divino, e a paciência a penúltima virtude. Eu tinha acabado de ficar sem saber onde minha mãe fraca estava preocupada.

Ela já estava chorando quando a alcancei, o que tirou um pouco do vento das minhas velas, como ela sabia que aconteceria. Eu não tinha defesa contra o choro de alguém, e ela sabia disso. — Beatrice, — ela sussurrou, — sinto muito. Eu apenas pisquei, observando a maneira como ela torcia as mãos, percebendo a falta de um enorme anel de diamante em seu dedo. — Você tirou sua aliança de casamento? Ela fungou, os olhos disparando por cima do meu ombro para o grupo que não estava nem fingindo não nos observar. — Bem, achei que era a hora. — Passou da hora, — eu repreendi, o que era tão forte quanto eu consegui apesar de meus melhores esforços. Frustrada comigo mesma, forcei meu rosto em uma carranca mais feroz. — Você me decepcionou, mãe. Depois de todos esses anos com The Fallen, a maneira como eles nos acolheram e nos tornaram uma família quando costumávamos ficar contra tudo que eles eram, quando papai tentava ativamente derrubá-los... eu só não entendo como você pode não apenas ficar parada enquanto alguém falava mal deles, quanto mais pedir conselhos sobre como não ser... o quê? Corrompida por eles? — Não me julgue, — ela sussurrou asperamente. — Vocês, meninas, tiveram tudo tão fácil por causa de seu pai e eu. Cuidamos de você, garantindo que vocês tivessem tudo que uma menina poderia precisar! — Não tínhamos nada,  — gritei, os olhos arregalados de choque enquanto toda a toxicidade da minha juventude rachou a superfície do meu intestino e subiu pela minha garganta, quente e química na minha língua. — Loulou e eu não dávamos a mínima para pulseiras de diamantes e nossa casa enfeitada como bolo de casamento. Queríamos pais que beijassem nossos joelhos

esfolados e nos abraçassem enquanto assistíamos a filmes em família em uma noite de sexta-feira. Precisávamos de tempo de qualidade e carinho, mãe, não apenas presentes e motivos de orgulho. Precisávamos de pais, não de figuras da sociedade. Se você não entende isso depois de tudo, depois de ver e sentir como esses pagãos se amam e nos amaram, sinto muito, mas você não os merece. Talvez você nem mereça Loulou e eu. Phillipa piscou para mim, enormes lágrimas rolando por sua pele, amassadas suavemente com os anos e a tristeza como seda amarrotada. Ser tão bonita por fora e tão terrivelmente fraca, tão feia por dentro, era uma tragédia. Algo fez cócegas na minha bochecha, e quando levantei meus dedos na minha pele, eles ficaram molhados. Claro, eu tinha que chorar quando estava com raiva. Eu não poderia nem ser durona como minha irmã quando estava com raiva. Ainda assim, inclinei meu queixo e encarei minha mãe, recusando-me a me sentir culpada por falar minha verdade, embora doesse a nós duas ouvir isso. — Eu te amo, — eu disse a ela honestamente, a voz tão suave e agitada que eu me perguntei se ela poderia ao menos ouvir. — Eu te amo, mãe, mas eu te amo porque você é meu sangue. Eu os amo — eu gesticulei para a família em minhas costas, — porque eles mereceram. Espero que um dia você também consiga merecer isso. Um soluço saiu de sua garganta e explodiu contra suas mãos enquanto ela tentava segurá-lo em suas palmas. Obriguei-me a ir embora, para canalizar meu Priest interior e permanecer impassível por suas lágrimas. Por muito tempo, eu amenizei para Phillipa. Por

ser mais fraca, ela precisava de meu amor e paciência, mas já fazia muito tempo que ela defendeu suas filhas e, honestamente, ela mesma. Então eu me virei e fui até o sofá onde minha irmã estava estupefata. Ofereci minha mão a ela com um pequeno sorriso. — Venha se preparar para a festa comigo, irmã mais velha? Acho que deixei uma revista Cosmo velha aqui em algum lugar. Podemos fazer um teste para ver com que tipo de homem você vai acabar enquanto arruma meu cabelo. Loulou ergueu os olhos para mim com olhos brilhantes, apenas um tom mais escuro que os meus, olhos que eram aveludados com carinho e úmidos de orgulho. Eu sabia que ela se lembrava daquela noite, muitos anos atrás, quando li aquele teste idiota, a última noite em que vivíamos sob o mesmo teto antes de papai bater nela e a expulsar por namorar Zeus. — Você sabe que eu te amo, certo? — Ela sussurrou através do nó em sua garganta que eu senti imitado na minha. — Você sabe que estou muito orgulhosa de quem você se tornou, certo? Lágrimas quentes acumularam em minhas pálpebras inferiores. Lutei para não piscar para que não caíssem. Eu tinha sido emocionalmente durona como sempre fui, e queria manter isso pelo menos o tempo que levasse para voltar ao quarto de Z e Lou na sede do clube. — Sim, — eu respirei. — Não importa o quão solitária eu já tenha me sentido, eu sempre soube que tinha você. — Jesus, — Nova interrompeu com um pouco de tosse. — Você está tentando fazer homens adultos chorarem?

Nós duas rimos dele quando Lila deu um soco de brincadeira no seu ombro, mas foi uma boa maneira de quebrar a tensão. Maja foi consolar Phillipa, e eu respeitei isso. Elas tinham sua própria amizade e, sinceramente, fiquei feliz por minha mãe ter alguém para confortá-la porque, pela primeira vez, não poderia ser eu. — Você está pronta para fazer uma transformação de garota motoqueiro? — Harleigh Rose cantou, se levantando de um salto e esfregando as mãos com um sorrisinho maligno. Lila gritou ao se levantar e imitando HR — Sim! Vamos ficar lindas. — Já é linda, Flor Criança, — observou Nova com um olhar preguiçoso para cima e para baixo em sua mulher. — Mas você quer perder algumas roupas, estou disposto a isso. — Eu também, — Boner acrescentou com um movimento lascivo de suas sobrancelhas escuras. Nova ficou de pé e o prendeu com uma chave de braço. — Você está cantando a minha mulher? — Se eu tivesse uma chance no inferno, eu o faria, — afirmou Boner, embora Nova estivesse sufocando seu ar. Eu ri, a sensação deles, aquecendo minha barriga como uma dose do uísque favorito de Z. Houve alívio lá também, sabendo que em todo o caos e medo do assassino em série assombrando minha vida, pelo menos eu encontrei meu lugar na vida, aquele onde eu sabia que sempre pertenceria. Não era o que eu sempre imaginei que seria ao crescer, uma família normal, um emprego

estável, uma vida normal, mas graças a Deus, era muito mais do que eu poderia ter esperado.

  Ninguém sabia o que esperar do Thunderbird Squad. Eles operavam principalmente em sua reserva ou dentro da rede de outras comunidades das Primeiras Nações no continente, então os Fallen não se importavam muito com o que eles faziam, desde que não pisassem em seus dedos. Eu nem tinha certeza se alguém além de Zeus tinha conhecido um de seus membros. Ficou claro, porém, quando eles entraram no complexo, que conheciam os Fallen. Eles montavam em nenhuma formação clara como nossos homens faziam, apenas uma massa amorfa de motoqueiros em cortes de couro e bandanas. No entanto, um homem estava no comando que irradiava autoridade apenas sentado em sua Harley liderando o ataque ao estacionamento. Ele foi o primeiro a saltar da moto. O primeiro a tirar o meio capacete e revelar o rosto bronzeado e surpreendentemente jovem por baixo. Ele devia ter mais ou menos a idade de Zeus, trinta ou quarenta e poucos anos, com um corpo largo e forte que o fazia

parecer mais baixo do que realmente era. Seu cabelo era estilo curto militar, uma mancha de tinta em seu couro cabeludo, e seus olhos, mesmo à distância, eram de um marrom claro e límpido como o sol através de xarope de bordo. Ele comandou a atenção de todos instantaneamente, e ele estava ciente disso. Seus ombros largos rolaram para trás, pés apoiados, e ele encarou todo The Fallen MC como se planejasse ir à guerra contra eles. Para o bem dele, eu esperava que não. Zeus deu um passo à frente então, sua massa volumosa diminuindo o líder do T-Squad, sua arrogância uma rotação suave de seu corpo poderoso. Só de vê-lo

caminhar

para

frente,

orgulhoso,

poderoso,

completamente

imperturbável por um inimigo em potencial passando pelos portões, liberou um pouco da tensão palpável no grupo. — Nicholas Rivers, — ele cumprimentou com uma mão estendida. — Prazer em te conhecer. — Não tenho certeza se o prazer é meu, — disse Nicholas, indo direto ao ponto. — Você tem um homem aqui com o nome de Priest? Meu homem deu um passo à frente de onde estávamos trancados juntos nas escadas do clube. Não tínhamos nos separado desde seu retorno da delegacia, e eu não estava ansiosa para deixá-lo ir, mas ele se moveu inexoravelmente. — Algum problema? — Priest chamou casualmente, descendo os degraus como se não se importasse com o mundo, mesmo enquanto era uma figura ameaçadora toda vestida de preto, seu cabelo vermelho brilhando como sangue nas luzes brilhantes do estacionamento.

Os olhos de Nicholas se estreitaram e ele foi além de Zeus para encarar o Priest. — Você é o filho da puta que a polícia disse estar envolvido com esses assassinatos? Priest inclinou a cabeça para o lado daquele jeito robótico e arrepiante que fazia enquanto considerava seu oponente. Finalmente, ele enfiou as mãos nos bolsos e encolheu os ombros musculosos. — Acho que estaria atrás das grades se eles tivessem alguma prova disso. — Todos nós ouvimos rumores sobre você, — Nicholas disparou de volta, rolando na ponta dos pés como se estivesse se preparando para uma luta. — Talvez você seja inteligente o suficiente para passar pela porra dos porcos. — Nós dois podemos concordar com isso, — Priest praticamente falou lentamente, obviamente entediado com essa conversa. — Mas esse idiota assassino está obcecado pela minha mulher de uma maneira que não vai perdê-la de vista tão cedo. Não tenho razão para matar por ela quando ela já é minha. Você tem um problema comigo, no entanto, estou muito feliz de resolver isso aqui e agora. Já faz um tempo que não tenho uma boa luta, e você parece que aguenta um soco. Todo o complexo, vestido para uma festa, mas pronto para a guerra, prendeu a respiração. Nicholas Rivers olhou furioso para o meu sereno irlandês por um longo momento antes de jogar a cabeça para trás e cair na gargalhada. Pisquei em choque quando ele balançou para frente para bater uma mão amigável no ombro de Priest antes que ele voltasse para Z e pegasse sua mão em um aperto de mão vigoroso.

— Ouvi histórias sobre The Fallen, mas essa merda é melhor do que contado, — Nicholas disse através de sua risada, seu rosto ficou bonito com rugas de sorriso. — Estou ansioso para abrir uma cerveja e ver como são os outros filhos da puta em tempo real. O rosto de Zeus se transformou em charme quando o diabo sorriu quando ele ergueu as mãos unidas e gritou. — Vamos direto ao ponto! Alguém comece a porra da música e pegue uma cerveja para este homem. Acima do rugido da multidão e da agitação de corpos enquanto os homens saltavam de suas motos e as vadias Fallen corriam para os cumprimentar em tops de frente única e minissaia, eu olhei para Priest e ri baixinho quando do lado esquerdo de sua boca inclinada em um sorriso minúsculo só para mim. — Acho que ele sempre foi mais solitário do que imaginava, — murmurou Cress ao meu lado. Foi uma das primeiras vezes que a vi sem Prince desde que ela e King voltaram do Alasca, e a beleza de seu estilo de motoqueiro enfeitado me tirou o fôlego. — Você parece uma princesa da Disney no meio de uma rebelião adolescente, — eu disse a ela, observando seu delineador pesado, jeans apertados e a pequena blusa cortada branca esticando seus seios. Ela riu, deslizando o braço em volta dos meus quadris. — Livre de bebês, querida, eu tenho que aproveitar ao máximo. O objetivo é sempre fazer King me levar antes mesmo de sairmos de casa e novamente durante a festa. — Ela se inclinou conspirativamente, muito mais aberta e mais livre do que eu jamais a conheci antes de se casar com King. — Até agora, estamos um para dois.

— Ó meu Deus. — Eu ri dela enquanto ela me conduzia para a festa através da massa de corpos já fumando, bebendo e dançando ao som da música que Curtains estava tocando nas caixas de som surround. O ar de inverno era cortante, mas a festa continuava no asfalto do lado de fora da sede do clube, iluminada com luzes de Natal amarradas por Old Ladys que refletiam nas fileiras de motocicletas Harley Davidson alinhadas como dominós ao lado da Hephaestus Auto. Era a primeira noite em tantas que todo o clube se soltou para festejar e relaxar. Não passamos muitas noites sem preocupações, não quando estávamos dentro ou associados a uma das gangues criminosas de motoqueiros mais notórias da América do Norte, mas quando o fizemos, nó nos soltamos. Em duas horas, meia dúzia de irmãos estavam lutando por apostas no asfalto, ainda mais atirando facas na velha cruz de madeira de Priest nos fundos com vendas nos olhos e cervejas nas mãos. As mulheres estavam seminuas e se esfregando no colo dos homens ou dançando em um dos dois postes montadas na sede do clube, duas delas dando um show no bar onde meu primo, Carson, era o novo prospecto e em um relacionamento muito comprometido com outro homem, parecia incrivelmente desconfortável servindo em torno de seus corpos quase nus e contorcidos. Eu estava acostumada com tudo isso. Um covil de iniquidade, se é que alguma vez eu vi a definição disso. O rock baixo pulsou pelo espaço, meu batimento cardíaco vibrando no mesmo ritmo como se eu estivesse em transe. Dancei com minhas garotas, com Lila toda franjada, Maja com seu penteado Farrah Fawcett e Hannah em uma calça de couro sem bunda, apenas uma calcinha de lantejoulas por baixo.

Priest não dançou, e eu não pedi a ele, mas seus olhos escuros me observaram do bar onde ele estava sentado com Bat, Dane e Wrath atirando na merda, e quando um homem do T-Squad tentou me reivindicar, Priest estava fora de seu assento em um piscar de olhos. O pobre irmão do T-Squad deu uma olhada em Priest correndo em sua direção e girou nos calcanhares para se afastar de mim o mais rápido que pudesse. Eu ri e sorri, girando na massa de corpos, um pouco tonta, mas principalmente apenas aliviada por ter um momento de diversão, um segundo de liberdade total que eu só poderia sentir com The Fallen. Com o Priest. Esta era a razão pela qual eu fiquei entediada de ser uma boa garota, elas nunca se divertiram tanto quanto as más. Priest chegou ao meu lado, imediatamente colocando a mão na parte de trás do meu cabelo e apertando com força para prender minha cabeça no lugar. Um segundo depois, sua boca estava em mim, comendo minha boca, devorando a risada persistente de minha língua até que eu esqueci tudo, exceto a pressão de seu corpo, duro e afiado como uma arma humana, contra o meu. — Desculpe interromper, — Axe-Man grunhiu ao nosso lado, mas ele não parecia estar arrependido. Pela primeira vez desde que eu o conhecia, ele parecia pouco à vontade, seu grande corpo curvado e suas feições nórdicas escuras. Priest entrou em modo predador contra mim, seu corpo se movendo em uma inclinação firme como um chicote prestes a atacar. — E aí?

— Não consigo falar com a Cleo, — ele murmurou, passando a mão pela crina loira cacheada. — Disse que tinha alguém para ver antes de se juntar a nós, mas isso foi horas atrás. Não gosto dela simplesmente não aparecer. Você acha que estou me preocupando com nada? — Não, — Priest e eu dissemos simultaneamente. Então meu homem continuou. — Bat estava dizendo que Amelia também não voltou para casa esta tarde. Disse que tinha uma reunião na igreja, ou algo assim. Todos nós olhamos um para o outro, a festa esquecida no silêncio denso e agourento que caiu sobre nós. Como um, nós nos movemos para o Bat no bar. Ele nos viu chegando, sua postura mudando de uma postura relaxada contra o bar de mogno, inclinando-se para Dane, para a estatura ereta de um soldado prestes a ser chamado para o serviço. — O que é? — Ele perguntou instantaneamente. — Tanto Cleo quanto Amelia estão desaparecidas, — Axe-Man disse, preocupação alta em seu tom normalmente áspero. Estendi a mão e segurei a sua, apertando-a. Eu precisava acreditar que elas estavam bem e que estávamos apenas sendo paranoicos, mas aprendi da maneira mais difícil que minha esperança costumava ser perdida. Os olhos de Bat estremeceram quando ele puxou o telefone e discou um número, obviamente tentando Amelia novamente. Quando não houve resposta, ele bateu o telefone no bar com tanta força que a tela rachou.

— Tenho certeza de que não é nada, — eu disse, mas não havia coragem em meu tom. A preocupação estava se enredando em cada molécula, a intuição gritando para que eu as encontrasse o mais rápido que pudéssemos. Eu sabia que Amelia era religiosa onde Bat não era. Eu sabia que ela compareceu ao serviço religioso do meu avô por anos, e me perguntei se a porra do ‘Profeta’ poderia ter atraído ela. Cleo ia à missa comigo às vezes, mas ela não era extremamente devota. A única coisa que consegui pensar foi... — Ela começou a sair com alguém. No começo eu pensei que talvez fosse um dos irmãos ou Eric, porque ela era tão reservada, mas agora... — Eu parei, sentindo meu coração se encher de chumbo e cair na boca do estômago. — Chame Z, — Bat latiu para Carson atrás do bar, então para Priest e o Axe-Man. — Vamos começar. Verifique seus lugares normais. Ligue se você encontrar alguma coisa. Puxei a mão de Priest antes que ele se liberasse para seguir as ordens. Ele olhou para mim com olhos frios, a mente já sintonizada no problema. Eu dei outro aperto em sua mão e o calor começou a se infiltrar de volta no verde. — Me diga que estamos exagerando e que tudo vai ficar bem? — Sussurrei enquanto o terror circulava por mim como a ressaca viciosa do oceano. Seus olhos se fecharam quando ele me puxou para fechar um beijo na minha boca. — Não vou mentir para você, Pequena Sombra, nunca. Você me

promete agora que vai ficar aqui para que eu possa me concentrar em encontrá-las, certo? Você fica aqui onde ninguém pode te pegar. — Eu prometo, — eu afirmei, com lágrimas na garganta porque eu não conseguia afastar a terrível sensação de que as tragédias continuariam vindo. — Vou orar por elas. — Você não precisa de orações quando me tem, — disse ele com naturalidade. — Mas se isso te faz sentir melhor, você se ajoelha e ora por elas até que eu possa chegar até elas. Eu assisti enquanto os foliões se separavam para os homens como o Mar Vermelho, e então fui buscar minhas garotas motoqueiras para fazer uma vigília. Infelizmente, ao longo dos anos, ficamos muito boas nisso.

Capítulo Vinte e Seis Priest

Kodiak e eu as encontramos na manhã seguinte, depois de uma noite em que todo o clube e o T-Squad começaram a procurá-las. O assassino deixou um cartão de visita bastante óbvio. No meio de um dos campos de trigo de Brian Potter que se transformou em lama no inverno, uma cruz enorme e grosseiramente entalhada foi plantada no solo. Abaixo dela, com uma crosta de sujeira e sangue seco, estavam Amelia Stephens e Cleo Axelsen. — Porra, — Kodiak grunhiu atrás de mim enquanto se aproximava o suficiente para ver os corpos caídos na lama. Ele se apressou, deixando seu grande corpo entre as duas mulheres para verificar seus sinais vitais. Havia pânico em cada linha tensa de seu corpo, uma surpresa, já que ele normalmente era tão estoico. Quando ele olhou para cima de Amelia, eu sabia pela nitidez de seu olhar obsidiana que ela estava morta. Eu o ignorei para me ajoelhar ao lado de Cleo. Eu vi uma leve vibração instantaneamente, tão leve quanto a asa de uma borboleta sob a pele de seu pescoço.

— Pegue a caminhonete, — ordenei ao meu irmão com uma voz fria e calma. — Dirija-a pelo campo e traga para cá. — Por quê? — Ele perguntou, curvado sobre Amelia com uma expressão angustiada no rosto. — Porra, cara, ela se foi. Olhe o que eles fizeram com ela. — Cleo não, — eu disse a ele sem olhar para cima, procurando por feridas em Cleo, encontrando sete, oito... onze facadas. Também não havia dúvida, pelo modo como rasgaram suas roupas em tiras e o sangue coagulado em sua virilha, que a abusaram sexualmente também. — Pegue a caminhonete agora. Kodiak olhou para Cleo por um momento fraturado, algo se quebrando em sua expressão. Antes que eu pudesse ordenar que ele colocasse sua bunda em marcha, ele se inclinou sobre Cleo para afastar o cabelo emaranhado de seu rosto com ternura, então se levantou e começou a dar voltas pelo campo. Ele foi rápido, mais rápido do que qualquer outro homem no clube, mas eu ainda queria pressioná-lo para ir mais rápido. Cleo estava morrendo em meus braços. A melhor amiga da minha garota estava sangrando na terra, tão perto de ganhar um lugar abaixo dela. Eu tirei meu corte, depois meu suéter, cortando este último em tiras ásperas com a ponta da minha faca de caça para que eu pudesse fazer um torniquete para sua coxa direita acima das três facadas abertas lá. A cintilação do osso branco era visível através da carne duramente rasgada, a borda quebrada de seu fêmur mais afiada do que minha faca. Parecia o trabalho de mais de um homem ou o trabalho de um homem que tinha ficado maníaco de raiva, os fios finais de sua sanidade foram cortados irreversivelmente. Depois de passar as últimas noites com Bea e correr atrás

de seu cúmplice com roupas mínimas, o filho da puta pode ter deduzido que eu estava dormindo com sua obsessão. Se ele estava tão apaixonado por Bea, tão comprometido com a ideia dela como sua esposa ‘sagrada,’ minha corrupção de seu corpo e alma seria o suficiente para despedaçar qualquer semblante remanescente de sua lucidez. Amelia jazia fria e morta ao meu lado, olhos pálidos cegos. Parecia que ela não tinha sobrevivido aos mesmos ferimentos de Cleo, embora eles fossem mais meticulosamente feitos, os ferimentos de faca limpos e profundos, superficiais onde os de Cleo eram apaixonados. Algum velho impulso religioso me incitou a fechá-los, a colocar duas das moedas que guardava no bolso junto às suas pálpebras e abençoar sua passagem pela morte. Eu não fiz. Cleo ainda estava viva, embora mal, e eu sabia o suficiente sobre a morte para saber que havia uma pequena chance de ela resistir. Quando rolei Cleo levemente para enrolar um pedaço de tecido em torno de seu braço esquerdo, percebi a nota desintegrada e encharcada de sangue pressionada entre seu corpo e a terra como uma espécie de flor seca fodida. Esta não foi digitada, as palavras escritas em caligrafia apertada, quase ilegível. Mais importante ainda, não era um versículo bíblico. Submeta-se ao meu amor, Beatrice, pois isso curará sua multidão de pecados. Submeta-se a ser minha esposa e eu a tornarei santa mais uma vez, pois você pecou e foi corrompida pelo diabo. O diabo, é claro, era eu.

Quando eu encontrar este homem, e eu o farei, apunhalarei onze vezes, eu o cortarei em doze pedaços, alimentarei os lobos com ele, mas manterei sua maldita cabeça para mim e vou montá-la na porra de minha parede com uma estaca. Ele merecia sofrer de todas as maneiras que fez essas mulheres sofrerem. Fez Bea sofrer. Porque eu sabia, olhando para a nota suavizada pelo sangue no chão enquanto eu cuidava de Cleo, que Bea não se recuperaria da responsabilidade que ela teria com isso. Isto era o trabalho de um psicopata seriamente fodido. A diferença entre nós era que eu era um psicopata amarrado ao caminho certo por pessoas boas que, de alguma forma, encontraram uma maneira de forjar conexões comigo contra todas as probabilidades. Este assassino se perdeu na floresta de sua própria mente fodida, e não havia como escapar agora. Ninguém poderia alcançá-lo lá. Uma rajada de vento de inverno bateu em mim, agitando o cabelo de Amelia ao meu lado e deslocando outra nota, esta digitada. — Uma esposa excelente é a coroa de seu marido, mas a que envergonha é como podridão em seus ossos. — Provérbios 12:4. A morte de Amelia foi premeditada, a de Cleo não. Uma foi um ato de sua fé fodida, a outra um ato de paixão. Ele estava escorregando. E quando ele caísse, eu o pegaria com minhas garras mortais.

Trabalhei com calma e eficiência, cortando o sangramento nas extremidades de Cleo e pressionando contra a pior das lacerações em seu torso com forte pressão que fez o sangue borbulhar sob meus dedos. A dor teve um espasmo no rosto de Cleo, suas pálpebras tremendo e azuis. Um segundo depois, eles se abriram, mas sem ver, e um soluço sufocado caiu de sua boca. — Cleo, — eu disse, inclinando-me para que ela pudesse ver meu rosto. — Cleo, é o Priest. Vamos conseguir ajuda para você. Mas aqueles olhos cegos, tão claros quanto geada no chão, não me registraram. Em vez disso, seus lábios se moveram, sua respiração murmurou através deles. Eu me abaixei mais perto, quase pressionando meu ouvido em sua boca em uma tentativa louca de ouvir o que ela falava. — Eu só... — ela respirou molhada e rouca. — Eu só queria estar mais perto de Deus... — Cleo, — eu exigi bruscamente, na esperança de acordá-la de seu estupor induzido pela dor. — Cleo, você pode me dizer quem fez isso com você? Eu assisti com fúria fria e profunda enquanto o sangue escorria de sua boca e seus cílios tremulavam sobre as pupilas abertas. Ela lutou apenas um pouco, e mesmo isso pareceu exigir um esforço monumental. E então ela se acalmou. Fodidamente parada, seu pulso ainda mais lento, tão fraco que tive que cavar em seu pescoço machucado com a ponta do meu polegar e encontrei o fio fraco ainda pulsando suavemente.

Eu não conhecia a filha rechonchuda e de rosto doce do meu irmão, AxeMan, além do fato de que ele a adotou anos atrás. Ao longo dos anos, eu percebi que ela roía as unhas quando estava nervosa, que se referia ao AxeMan como pai toda vez que falava com ele, como se ela estivesse aliviada e grata por ser capaz de fazer isso, que ela nunca xingava e muitas vezes carregava livros de autoajuda, mesmo em festas de clubes. Eu sabia de tudo isso, mas nunca me importei. Eu só trabalhei incansavelmente para a salvar agora por causa de Bea, porque elas eram melhores amigas, e essa morte quebraria a minha doce menina bem no meio do caralho. Essa era a coisa sobre outras pessoas e eu. Eu os via muito bem, todas aquelas maneiras óbvias que eles não pretendiam se expressar, mas eram incapazes de evitar. O conhecimento deles ainda permanecia, catalogado e arquivado em minha cabeça para referência futura. Mas não me importei. Deixei Stella nervosa na lanchonete. Sempre que eu dava uma merda em alguns irmãos, o que não era comum, ela mandava um garçom para a mesa e sempre ficava atrás do balcão, provavelmente pronta para chamar a polícia. Uma vez, quando fomos almoçar, Cressida me perguntou se isso me incomodava e, honestamente, não me ocorreu me importar. Por que diabos eu me importaria com o que Stella pensava? Honesto como o inferno, eu não me importava com o que aconteceria com ela, se ela vivesse ou morresse, então por que eu me importaria como ela me via?

Os seres humanos e suas muitas interações eram como matemática para mim. Eu era um ótimo matemático, mas não era como se os números me comovessem. Era meu trabalho fazer anotações enquanto leio as pessoas. Para ser mortalmente preciso em minha avaliação para que eu pudesse ser, frequentemente, mortal ao lidar com eles. Apenas algumas pessoas realmente existiam em relação a mim. Zeus. A família dele. King e Cress, agora seu filho pequeno, Prince. A maioria dos irmãos eu dei mais do que uma merda passageira, mas apenas Nova, Bat, Axe-Man, Kodiak e Blade poderiam me atrair para qualquer tipo de conversa real. Então, eu me preocupava com essa garota morrendo na lama, não porque ela fosse um ser humano e eu inerentemente devia a ela algum tipo de empatia. Eu me importava porque estávamos ligados pelos poucos laços que eu tinha. Bea, Ax-Man, todo o clube ao qual eu devia minha segunda vida. — Não morra, porra, — eu ordenei a ela. A respiração fraca e úmida de sua respiração foi minha única resposta. O barulho da caminhonete esmagando o solo congelado ficou mais alto atrás de mim. Peguei Cleo cuidadosamente em meus braços para que eu estivesse pronto para Kodiak quando ele chegava a uma parada flutuante de terra a poucos metros de mim.

Ele baixou a caçamba da caminhonete, olhou para mim e estendeu os braços. — Dê ela para mim. Você dirige. — Eu posso lidar com isso, — eu disse a ele, inclinando minha cabeça enquanto estudava a forma agitada que ele saltava em seus pés. — Você pode lidar, — concordou Kodiak, já estendendo a mão para ela, puxando-a cuidadosamente para seus braços. — Mas você está muito perto da morte e não acredita em merda nenhuma. Vou abraçá-la e orar por ela. Minhas sobrancelhas cortaram minha linha do cabelo, mas eu não discuti. Estávamos perdendo tempo. Em vez disso, gesticulei para que ele entrasse na carroceria da caminhonete e fechei a tampa. — Amelia, — chamou Kodiak. — Deixando-a para os policiais, — gritei da janela por cima do barulho do motor enquanto corria para a rua. — Tenho que deixar para esses idiotas algum tipo de cena de crime. Eu dirigi como um morcego fora do inferno até o hospital mais próximo, mas era uma viagem de vinte minutos, e eu duvidava que Cleo Axelsen tivesse vinte minutos de sobra. Acima do ruído áspero do motor sobrecarregado, eu podia ouvir o murmúrio de Kodiak cantando em sua língua nativa durante todo o trajeto antes de pararmos com força na baia de emergência do Hospital St. Katherine. O único milagre em que fui forçado a acreditar foi no amor de Bea, mas quando a equipe do hospital saiu para colocar Cleo em uma cirurgia e a encontrou ainda, de alguma forma, respirando, senti uma pontada de fé enquanto olhava para Kodiak coberto de seu sangue na caçamba da

caminhonete, entregando-a com relutância. Havia suor em sua testa e um brilho febril em seu olhar escuro como breu, mechas de seu cabelo comprido grudadas no rosto. Quando ele se aproximou de mim, chamando minha atenção enquanto eles corriam com Cleo em uma maca, sua expressão era feroz como a de um guerreiro determinado a conquistar. — Nós vamos massacrar esse filho da puta, — ele disse friamente. Eu arqueei uma sobrancelha para ele enquanto estendia a mão para ajudálo a descer da traseira, sentindo uma camaradagem que raramente era tocada. Quando ele atacou para agarrar meu antebraço, puxei-o para mais perto e deixei o monstro dentro de mim espiar em um sorriso selvagem. — Eu tenho a porra da prioridade.

Capítulo Vinte e Sete Bea

Toda a sala de espera do St. Katherine estava lotada, não pela primeira vez, com The Fallen MC e seu pessoal. Um bando de corvos vestidos de couro em vez de penas, havia caído nas cadeiras laranja e no chão de linóleo frio, inativos com uma dor aguda. Cleo ainda estava em cirurgia depois de seis horas, e os médicos pararam de vir para checar com Axe-Man. Ele se sentou sozinho em uma cadeira contra a parede de trás, coxas grossas abertas, mãos grandes cobrindo todo o rosto barbudo para que não o víssemos chorar. Um homem adulto, um homem frio, chorando por sua filha. Eu estava impotente contra o turbilhão de minhas próprias lágrimas, vendo isso e sabendo que minha melhor amiga estava lutando por sua vida em uma mesa de operação. Por minha causa. Eu, eu, eu.

Enterrei minha cabeça em minhas mãos, inconsolável enquanto soluçava e chorava até me sentir mal. Eu vomitei duas vezes desde que chegamos ao hospital, a força dos meus soluços revirando tudo no meu estômago. Eu não conseguia parar. Não quando Loulou envolveu seus braços com aroma de cereja em volta de mim, não quando Cressida acariciou meu cabelo, e não quando Harleigh Rose se sentou aos meus pés, envolvendo um longo braço em volta de minhas pernas para apoiar sua bochecha contra mim. Lila tentou e Maja e Hannah e Tayline. Não podia ser consolada. Priest estava caçando o assassino com Kodiak, seguindo qualquer trilha que pudessem encontrar na cena do crime junto com Lion e um grupo seleto de RCMP que Zeus amaldiçoou como idiotas por pensar que os crimes parariam quando Owen Burns foi hospitalizado. Mas eu duvidava que ele pudesse me confortar. Eu duvidava que ele soubesse como tentar. Mas talvez fosse esse o ponto. A dor e a simpatia compartilhadas por minha culpa eram avassaladoras. Eu não merecia sua graça, e os montes dela que colocaram aos meus pés só me fizeram sentir como um santo falso. Eu precisava da intensidade do olhar fixo de Priest para amarrar meu espírito inquieto e lutador, o gume duro de seu amor para desgastar minha autoaversão como uma pedra de amolar.

Minha dor, porém, não era nada em comparação com a de Bat. Ele chegou ao hospital com um coro de gritos, berrando com qualquer um e com todos para dizer a ele em que quarto sua esposa estava. Ela não estava na sala de emergência, um pobre enfermeiro teve que dizer a ele. Ela estava no necrotério. Nunca tinha visto uma bomba explodir, mas imaginei que acontecesse assim. Bat ficou tão imóvel com a tensão vibrante que o ar ao seu redor começou a pulsar como se ele estivesse coletando toda a energia da sala para ele. Nós nos preparamos. Nem uma única pessoa se moveu. Nem mesmo Zeus, que o conhecia melhor. Era óbvio pelo momento em que ele quebrou. Com um grito de guerreiro, ele se curvou para uma das cadeiras mal aparafusadas na parede e começou a arrancar. Para minha surpresa, ela cedeu à sua força brutal, rasgando a parede com um spray de gesso e poeira. Solta em seu aperto, Bat a golpeou como um taco de beisebol na parede acima do espaço vazio que habitava, batendo repetidamente até que os destroços cobrissem seus pés, a cadeira estava uma bagunça mutilada e um buraco do tamanho de uma criança estava escavado pela parede. Ele ficou lá então, respirando fundo como se fosse um homem em uma sala em chamas e cheia de fumaça, queimando de raiva para que ele não se afogasse na dor. Seus olhos rolaram loucamente ao redor da sala enquanto ele ofegava, procurando um lugar para colocar sua dor.

Harleigh Rose, antes abusada e agora fortemente marcada pela violência masculina, moveu-se para trás das minhas pernas em um pequeno gesto de medo. Foi Dane, não Zeus, que se levantou para agitar uma bandeira vermelha na frente do javali preso do The Fallen. Ele se levantou devagar, revelando sua longa e ampla extensão. Não havia nada de manso em Dane Meadows, cada centímetro dele era uma arma humana bem afiada, mas a maneira como deu um passo à frente foi um gesto de submissão à raiva de Bat. Ele não queria apagar o fogo, sua linguagem corporal gritava que ele só queria contê-lo. Bat rosnou quando Dane se aproximou, procurando loucamente por algum lugar para correr ou se esconder, algo para destruir com o ponto fixo de sua raiva. Quando Bat se lançou para outra cadeira, Dane se lançou também, jogando-o com força no linóleo rachado. Eles lutaram com força, Bat dando um soco brutal na mandíbula de Dane antes que ele pudesse ser imobilizado, em seguida, rolando habilmente assim que ele estava deitado, então Dane estava na defensiva. Eram dois homens hábeis na arte da guerra e do combate. Eles brutalizaram um ao outro. Ninguém os impediu. Zeus parou em um ponto, pronto para interferir se fosse necessário, mas ele levantou a mão quando Nova tentou fazer o mesmo. Uma enfermeira pegou um telefone na estação de enfermagem para chamar a polícia, mas King estava lá de repente falando docemente para ela deixar essa cena acontecer.

Bat acabara de perder sua esposa e seus filhos gêmeos acabaram de perder a mãe. Para um homem como ele, irmão dos Fallen e veterano de guerra, saber que não tinha sido capaz de proteger sua mulher, não importando as falhas em seu relacionamento, era tóxico para seu sistema. Então ele lutou. E Dane o deixou descontar nele. Pareceram horas, mas provavelmente se passaram apenas dez minutos quando Bat parou de se mover quase violentamente, ainda tão repentino que eu engasguei. Dane estava atrás dele, tentando prendê-lo com uma chave de braço, mas quando sentiu a imobilidade de seu amigo, ele parou também. Então, gentil como um sussurro, seu aperto se transformou em um abraço. Suave como uma brisa de verão, ele pressionou o lado de sua mandíbula na nuca de Bat e puxou seu enorme corpo contra ele em um abraço de ferro. A ternura o esvaziou como um balão, seus membros tatuados derretendo no aperto. Ele piscou cegamente para o chão enquanto dizia asperamente. — Me diga que isso é apenas mais um pesadelo. — Não posso fazer isso, cara, — Dane disse rispidamente, lágrimas em seus próprios olhos, um já inchando por um soco bem acertado. — Não há como acordar disso. O rosto de Bat se contorceu, mas ele não chorou. Quase parecia que ele não conseguia. Mas seus olhos estavam vermelhos, muito secos nas órbitas e sua respiração soluçava nos pulmões.

— Bat, irmão, — disse Zeus finalmente, avançando para se agachar diante dele. — Vou te levar para casa com seus meninos, certo? Vamos contar a eles juntos. Os olhos escuros de Bat se fecharam, a dor se espalhando em cada centímetro dele. Ele acenou com a cabeça em uma inspiração trêmula. Z e Dane o levaram para casa para contar a seus filhos que perderam a mãe. Eu chorei mais forte. Eu também orei. Rezei ao meu Deus, não ao Deus atrás do qual esse louco se escondia. Orei à divindade para minha melhor amiga quando menina, para o Deus que meu avô me apresentou e amava tão intensamente. Rezei a Ele para que essa loucura parasse. Rezei a Ele com cada grama de minha alma pelo poder de fazer algo para parar o horror. Eu também me desculpei, tão profundamente, rasgando o arrependimento do meu coração com garras de forma que todo meu coração parecia destroçado. Pedi desculpas por quaisquer pecados que cometi que trouxeram isso para nossas cabeças. Vomitei de novo quando ele não respondeu, na bolsa de Cressida porque não consegui ir ao banheiro, e ela a abriu para mim. — Não se preocupe, querida, — disse ela docemente quando tentei dizer a ela que sentia muito. — Com um bebê, estou acostumada. Eu estou

preocupada com você, no entanto. Você não pode assumir isso, minha querida menina. Você não é Atlas. É uma carga muito grande para você carregar. — Sou eu, — eu disse a ela, as palavras arranhando dolorosamente minha garganta cheia de lágrimas. — É a mim que ele quer, e ele fez isso por mim ou para mim ou por minha causa. Não sei qual, mas depende de mim. Pensei em Cleo novamente, seu rosto doce se abrindo de tanto rir enquanto dançávamos na minha cozinha em uma de nossas festas do pijama, enquanto ela trançava meu cabelo, enquanto eu fazia sua maquiagem, porque ela sempre bagunçava tudo. Pensei em todos os anos de nossa amizade e me perguntei como ela poderia me perdoar. Se ela tivesse a chance de permanecer viva e tentar. — Beatrice. Eu olhei para cima com os olhos embaçados para notar que Seth tinha saído para nos dar uma atualização sobre Cleo. O Axe-Man estava parado perto dele, cada centímetro de seu corpo de um metro e noventa diminuído com sua tristeza. — Notícia? — Eu sussurrei. O rosto bonito de Seth estava pálido quando ele me viu enrolada na cadeira. Ele avançou e se agachou ao lado de Harleigh Rose para que pudéssemos estar no mesmo nível. Os dele estavam claros e calmos. Ele estava no modo médico, focado em salvar uma vida. — Estou hesitante em fazer promessas, mas parece bom. Conseguimos estancar o sangramento e reparar a maior parte dos danos aos principais órgãos. Agora é uma questão de vontade dela sobreviver à noite, — ele disse

suavemente, repetindo a informação só para mim. — Eu realmente sinto muito, Bea. Meu sorriso era uma coisa mutilada no meu rosto. — Obrigada, Seth. Me sinto melhor sabendo que você está aí cuidando dela. — Estou fazendo o meu melhor por você, — ele brincou, mas não deu certo entre nós porque ele não era particularmente engraçado e eu não era capaz de rir. — Estou orando, — admiti, olhando para as minhas mãos. — Bom, — disse ele, dando tapinhas em minhas mãos. — Só Deus pode ajudá-la agora. Houve um clamor nas portas automáticas. Eu me virei a tempo de ver o poder de Priest, Lion, Kodiak e Wrath no corredor, rostos em uníssono sombrio. Os olhos de Priest já estavam em mim, instantaneamente me encontrando como uma bússola apontando para o norte verdadeiro. Eles varreram para cima e para baixo, catalogando cada coisa sobre mim naquele breve levantamento. Sua boca se apertou. Então ele notou Seth em seu uniforme curvado ao meu lado, e seu rosto inteiro se transformou com crueldade indomável. — Acho que eu disse a você da última vez que vi sua porra de cara feia que se você colocasse a mão na minha mulher eu cortaria a porra da sua garganta, — disse ele, as palavras tão árticas que quase pude ver um frio no ar. Seth inclinou a cabeça enquanto considerava meu psicopata, avaliando o nível de ameaça, talvez, ou mais provavelmente, porque Seth era um homem

arrogante acostumado a fazer o que queria, apenas demorando ao meu lado para incomodar Priest. Quando ele não se afastou imediatamente, tirei minhas mãos de debaixo dele e me levantei. Eu deveria ter agradecido novamente ao médico que ajudou a salvar minha melhor amiga. Eu deveria, pelo menos, dizer adeus. Eu não fiz. Porque, de repente, não havia mais ninguém na sala, exceto Priest e eu, a salvo no abraço sombrio de nossa conexão. — Priest, — eu sussurrei passando pela obstrução em minha garganta enquanto dava um passo e bambeei com uma perna trêmula, caindo para frente. Eu estava doente de tristeza e desidratada de tanto choro, nada na minha barriga porque tinha vomitado tudo o que tinha. Não foi surpresa que eu caí. Também não foi surpresa que Priest me pegou. Eu estava de pé e em seus braços, aninhada ao seu lado com minha bunda apoiada por uma mão forte e um braço em volta do meu torso antes que eu pudesse sequer pensar em cair. Enfiei meu nariz dolorido em sua garganta, desejando que estivesse limpo o suficiente para sentir seu cheiro de cravo e tabaco. Seu calor e corpo inflexível contra o meu foram o suficiente para secar o fio de água que ainda vazava dos meus olhos. — Vou levá-la para casa, — Priest disse a alguém, provavelmente minha irmã.

— Ela precisa da família, — protestou Loulou, mas era fraca porque ela estava tão arrasada com isso quanto todos os outros, tão impotente quanto qualquer um para fazer qualquer coisa a respeito dessa tragédia. — Ela precisa de mim, — ele disse simplesmente, intratável. E então ele girou nos calcanhares e saiu, não parando até que Lion gritou e nos alcançou. — Um segundo? — Ele pediu ao Priest. Eu espiei do meu paraíso entre a barba do Priest e a gola de couro em resposta ao pedido de Lion. Seus olhos eram de um verde tão verde que imediatamente me deixaram paralisada. Eu tinha me esquecido de como Lion era profundamente magnético, como se a força de sua bondade o magnetizasse. Ele se inclinou mais perto de mim, uma mão bronzeada pairando sobre o cabelo por um instante antes de ele, desajeitadamente, docemente, colocar uma mecha atrás da minha orelha. — Tenho que dizer isso, Bea, porque sei o que você está passando e sei quem você é. Essa merda não é sobre você, está me ouvindo? — Ele leu a obstinação em meus olhos e sua voz ficou profunda, sombria. — Isto. Não. É. Sua. Culpa. Quer saber como eu sei disso? Porque eu tenho um pai que corrompeu uma força inteira contra o clube do qual minha mulher participa seriamente. Sou filho do homem que quase matou King a tiros, filho de um homem que mentiu e matou para colocar Zeus atrás das grades. Você acha que eu não sei o que é viver meio sufocado pela culpa?

Eu estava perdida em seu olhar sombrio, tremendo com o choque frio de suas palavras. Claro, ele sabia, e que cruz horrível de carregar. — Você pode me dizer que isso é diferente, e é, — ele continuou resolutamente. — É diferente porque você não sabe nada sobre esse maluco que decidiu acabar com vidas por esporte. Eu conhecia meu pai, então deveria ter feito algo muito antes do que fiz para derrubar ele. Eu tinha o poder, e vou suportar a culpa disso pelo resto da porra da minha vida. Mas você? Você está indefesa aqui, Bea. Por mais fodido e horrível que seja, você tem que saber, esse idiota tirou o poder de todos nós, mas especialmente de você. A única coisa que você pode fazer é perdoar a si mesma. Seja gentil com você mesma. Ele quer causar dano. Ele quer você isolada para que possa te agarrar e torná-la dele. Mas eu tenho que te dizer, — ele respirou fundo e olhou para Priest e depois de volta para mim. — Você não está sozinha. Você é amada, você é forte e toda a sua comunidade vai voltar disso. Incluindo Cleo porque aquela garota sabe que tem tudo pelo que lutar, e tudo está esperando por ela nesta sala. Meu coração estremeceu quando as palavras de Lion lutaram para ser aceitas. Priest me agarrou com mais força, e eu sabia que ele estava olhando para Lion. — Belo discurso. Lion encolheu os ombros, um pequeno sorriso brincando com sua boca, embora seus olhos estivessem cansados. — Sabia que ela não conseguiria de você, então achei que alguém deveria fazer isso. — Eu sou um assassino, não um poeta ou um policial. O que consigo é ação, não palavras. Bea sabe que vou cortar esse filho da puta em pedacinhos

e amarrar cada um com um laço rosa filho da puta para ela, — Priest disse, entediado com a conversa agora, já se movendo novamente. — Obrigada, Lion, — gritei por cima do ombro de Priest enquanto ele nos levava para fora das portas deslizantes da frente do hospital. — Por favor, diga à HR para me manter atualizada sobre tudo. Ele inclinou o queixo em reconhecimento, um sorriso irônico em seu rosto bonito. — Honestamente, ele ajudou, — eu admiti para Priest enquanto caminhávamos pelo estacionamento para sua moto. Ainda havia algumas manchas de neve no chão, mas não haveria mais neve por outra semana e eu sabia que Priest rodava em sua Harley sempre que podia. A ideia de me agarrar a ele agora enquanto montávamos pela noite, o mundo um caos de cores borradas em formas voando por nós, incapaz de nos tocar, fez o medo frenético dentro de mim diminuir ainda mais. Priest grunhiu em resposta, mas quando ele gentilmente me deslizou pela longa linha de seu corpo até o asfalto, seus olhos se fixaram nos meus. — Honestamente? — Ele zombou de uma forma que era quase terna quando agarrou meu queixo com dedos firmes e tatuados com lápide. — Vou ajudar mais. Agora, suba na minha moto, Pequena Sombra, vou te levar para casa. Pela primeira vez em horas, as lágrimas picaram no fundo dos meus olhos, não de tristeza, mas de alegria. Eu sonhei a maior parte da minha vida madura em ir para casa, para o Priest, e isso não tinha nada a ver com compartilhar um abrigo e tudo a ver com me sentir em casa assim, pressionada contra suas costas fortes revestidas de couro em sua Harley sem medo no escuro.

Capítulo Vinte e Oito Bea

Ele não me levou para casa. Pelo menos, ele não me levou para a minha casa rosa herdada da Main Street que eu cuidadosamente transformei em meu refúgio depois de me mudar da casa de Phillipa, dois anos atrás. Ele me levou para sua casa. Fiquei chocada quando ele parou no distrito de armazém em um longo beco de cascalho entre duas enormes estruturas industriais. Teoricamente, é claro, eu sabia que Priest tinha um lugar para dormir, mas ninguém no clube parecia saber onde era. Era quase uma piada corrente entre as garotas motoqueiras, adivinhar onde um homem como ele chamaria de casa. Um cemitério, um necrotério, um bunker subterrâneo... Um armazém parecia adequado. Silenciosamente, eu o segui enquanto ele pegava suas bolsas e minha mão antes de nos levar a uma porta sob uma luz piscando na lateral da moldura de aço sem janela. Ele usou três chaves e um sistema de alarme complicado que reconheci como uma das criações de Curtains antes de finalmente prosseguirmos para uma antecâmara de vidro que dava para o interior do

armazém. Caixas de madeira, barris e contêineres de aço foram organizados meticulosamente dentro. Eu olhei para Priest em uma pergunta silenciosa. — Armas, — disse ele, e foi isso. Descemos uma longa escada em zigue-zague que me fez perceber o quão exausta eu estava, e então chegamos a outra porta com mais uma série de fechaduras e alarmes. Meu homem não brincou. Fiquei chocada com o interior de seu apartamento. Não os dutos industriais e canos expostos, a falta de móveis, a expansão imaculada de seu armário de cozinha de aço, a estação de marcenaria ou o alvo de arremesso de facas montado ao longo de um lado do espaço ao lado de uma prateleira de armas de exibição. Tudo isso fazia todo o sentido. Foi o canto inteiro ocupado por uma biblioteca com uma única cadeira e lâmpada de leitura que me atraiu. Ele me deixou explorar, afastando-se para organizar seus alforjes, me deixando examinar seu espaço pessoal. A confiança me tirou o fôlego. Que ele me deixaria em seu refúgio, um lugar que poucas pessoas conheciam. Que conhecendo a mim e meus estudos psicológicos, ele me deixaria vagar, cutucar e revirar este santuário, seus pensamentos mais íntimos exibidos como aquelas poucas coisas importantes que ele abrigaria em tal espaço...

Eu estava chorando de novo, irritada comigo mesma por ser tão emocional. Eu me senti como um fio bruto e desencapado, exposta a cada pequena interação com qualquer coisa que encontrasse. E isso era enorme. Monumental. Meu solitário, meu psicopata, um homem que acreditava estar muito perto da morte para amar alguém, me soltou em sua casa. Eu era apenas humana. Então, enquanto chorava, aproveitei. Meus dedos percorreram as lombadas de alguns volumes familiares, diferentes versões da Bíblia, O Tipitaka, o Alcorão e O Tanakh e O Talmud22. A maioria, porém, eu não tinha lido e mal reconhecia além do fato de que eram todos textos religiosos. Ele até tinha uma edição incrivelmente antiga da Bíblia do Rei James em uma caixa de vidro hermeticamente fechada em uma mesa solitária entre as estantes. Inclinei-me sobre ela, traçando meus dedos ao longo do script nas páginas abertas. — Da minha mãe. Sua voz me assustou tanto que quase engasguei com um grito. Mão no meu peito, virei para ele com os olhos arregalados. — Você quase me deu um ataque cardíaco.

22 O Tipitaka- Ensinamentos do Budismo, o Alcorão- Livro sagrado dos Mulçumanos, o Tanakh - Bíblia Hebraica e O Talmud- Livro sagrado dos Judeus

Ignorando meu drama, ele se aproximou e ficou a menos de um centímetro de pressionar minhas costas. O espaço entre nós vibrou como uma sintonização. Eu acendi a lâmpada para iluminar o canto escuro, e a luz quente lançou um brilho laranja em Priest, seu cabelo puxado para trás por um pedaço de fio de couro, mechas de cabelo vermelho caindo sobre sua testa. Ele era dolorosamente lindo, mas ainda mais nas sombras. Levantei a mão hesitantemente, de repente precisando senti-lo para ter certeza de que ele era real e não apenas uma invenção da minha imaginação. Houve um leve estremecimento quando meus dedos arrastaram ao longo de sua barba, mas ele não se afastou do meu toque. Como o animal selvagem que ele era, estava demorando para aclimatar ao meu manuseio gentil, mas aquele pequeno feito parecia monumental para mim. Em um dia em que meu coração se partiu em dois pela tragédia de Amelia e Cleo, Priest estava permitindo que eu ultrapassasse suas defesas mais do que antes. Vagamente, eu me perguntei se ele estava fazendo isso para me distrair da minha dor e culpa, mas então decidi que não me importava. — Da sua mãe? — Eu repeti para instigar ele. Os olhos claros de Priest brilharam, estriados com fios verdes mais escuros como agulhas de pinheiro caídas em um lago transparente. Havia cemitérios naqueles olhos, olhos assombrados que poucas pessoas podiam segurar por muito tempo em qualquer tipo de olhar. Eu os achava adoráveis, melancólicos e pacíficos como caminhar por um cemitério ao amanhecer, quando o céu está dando à luz em contraste direto com os mortos eternos. — Mãe, — ele disse baixinho, a voz profunda como se tivesse saído de algum poço esquecido. — O nome dela era Aoife. Ela tinha cabelos iguais aos

meus. — Ele estendeu a mão distraidamente para colocar uma mecha de seu cabelo cobre atrás de uma orelha. Um ceifador estava tatuado abaixo dela na pele ao lado de seu pescoço, e seus dedos foram para lá em seguida, como se estivessem apertando as mãos dele. — Ela foi a primeira a morrer. O apartamento do armazém era quase frio demais para ser habitável, mas não foi por isso que estremeci. Prendi a respiração enquanto esperava que mais dessa história velada se desenrolasse. Seu pomo de Adão balançou duramente em sua garganta forte, mas ele continuou, os olhos ainda fixos na Bíblia aberta como se estivesse lendo as páginas. — Eu tinha dez anos naquele inverno e foi chuvoso. — Ele deixou cair o discurso do motoqueiro que eu sempre o ouvi sustentar, sua voz mais rica com o sotaque irlandês que ele normalmente tentava reprimir. — Não havia muito para a nossa vida e casa. Éramos pobres. Meu pai trabalhava como operário em qualquer fazenda que o aceitasse e mamãe ficava em casa comigo e com as meninas. Seus olhos piscaram para mim, avaliando minha reação ao revelar que ele tinha irmãos. Eu mantive meu rosto cuidadosamente estoico, controlando minha respiração porque eu sabia que ele podia ler mais em uma pessoa do que apenas sua expressão. — Danae e Keely tinham quatro e seis anos, ainda eram tão pequenininhas. A pneumonia era bastante comum, especialmente em nossa casa. Você podia sentir o vento através das ripas de madeira. — Sua mão se abriu inconscientemente como se pudesse sentir a brisa se movendo entre seus dedos. —

Mamãe

adoeceu

primeiro,

então

não

pôde

cuidar

das

meninas. Tentei, mas não tínhamos os remédios certos nem dinheiro para comprar. Meu pai chegou em casa um dia e todos nós estávamos doentes, até eu. Nós oramos. — Ele fez uma pausa, flexionando a mandíbula, as sobrancelhas inclinadas abruptamente sobre os olhos, marcadas como uma caveira com sombras profundas. — Oramos porque esse era nosso único recurso, porra. Outras famílias, eles tinham vizinhos para ajudá-los. Éramos um condado religioso com um padre muito querido. Padre O’Neal. Ele ditava tudo o que acontecia e ele poderia ser benevolente. Sua risada contundente me arrepia nas costas. — Nunca com a gente. Meus pais me tiveram fora do casamento, quando eles eram muito jovens e ainda mais pobres do que nós mais tarde, muito pobres para se casar. O padre O’Neal nunca os perdoou por isso. Ele nem mesmo os casou quando chegou o momento em que o poderiam. Ele nos tornou párias e quando mamãe morreu, papai logo depois, minhas irmãs alguns dias depois, ninguém levantou a mão para nos ajudar. Ele parou de repente como se tivesse batido em uma parede mental. Eu não o pressionei para continuar. Eu só fiquei lá a poucos centímetros de o tocar, embora estivesse desesperada para envolvê-lo em meus braços. Eu queria respeitar esse sacrifício que ele estava fazendo, convocando velhos demônios apenas para me mostrar por que eles existiam. — Você está com frio, — ele observou desapaixonadamente. — Venha. Ele não me tocou enquanto se afastava para o fundo do espaço quase aberto para o único quarto fechado. Eu o segui, flutuando no chão me sentindo como um fantasma atolado em seu passado, observando-o se desenrolar sem a capacidade de fazer nada para impedi-lo.

Quando entrei no banheiro, Priest estava ligando o chuveiro em um enorme box de vidro. Imediatamente, o vapor começou a envolvê-lo. — Tire a roupa, — ele ordenou suavemente enquanto ajustava a temperatura e se afastava para fechar a porta do chuveiro. Ele me observou com os braços cruzados em seu colete e seu moletom Hephaestus Auto e jeans preto, os pés descalços estranhamente eróticos apoiados no azulejo escuro, fortes e lindamente arqueados. Olhando para eles, entendi o impulso sexual e submisso de adorar os pés de alguém. Eu queria lavá-los e cuidar deles, grata por sua força e segurança enquanto carregavam Priest pela vida até mim. Tirei a roupa para ele, as mãos desajeitadas e fracas enquanto tirava a calça de moletom rosa e o moletom da UCB que vesti depois do churrasco, quando tudo virou um caos. Por baixo, eu usava calcinha branca estampada com pequenos pêssegos. A mandíbula de Priest apertou com a visão quando eu revelei a ele, mas ele não se moveu em minha direção, mesmo quando eu estava totalmente nua. — Entre, — ele apontou seu queixo para o chuveiro fumegante. Eu estava tremendo, meu equilíbrio emocional comprometido, mas fiz o que ele disse. O jato de água quente e castigante parecia uma dádiva de Deus contra meus ombros doloridos, meu rosto cheio de lágrimas. Fechei meus olhos e inclinei minha cabeça para o spray. Então, eu não estava preparada para Priest entrar no chuveiro atrás de mim.

Eu estava ainda menos preparada quando a pele nua de seu torso pressionou contra minhas costas e seus braços nus envolveram solidamente minha cintura. Minha boca se abriu em um suspiro engolido pela corrente de água enquanto eu olhava para seus antebraços expostos. Manchado de cicatrizes terríveis. Havia tatuagens aqui e ali, obviamente feitas para evitar o tecido da cicatriz, mas a maior parte de sua pele já estava coberta com marcas horríveis. Ele estremeceu violentamente enquanto eu lentamente envolvia meus braços em volta dele na minha barriga, abraçando aqueles membros estragados com ternura. Ficamos assim por um longo tempo sob a água que estava um pouco quente demais, escaldando minha pele até um rubor sensível. Finalmente, ele se afastou e começou a lavar meu cabelo superficialmente. Suas mãos foram eficientes, quase clínicas enquanto trabalhavam com a espuma de seu shampoo com aroma masculino em minhas grossas mechas, esfregando forte e deliciosamente meu couro cabeludo. Era um contraste, esse belo ato feito de forma tão superficial. Mas era tão Priest, meu psicopata cuidando de mim de uma forma que era inteiramente fora de zona de conforto, mas fazendo isso de qualquer maneira porque ele era atento o suficiente para saber que eu precisava disso. — Depois que os enterrei nos fundos, se passaram dias até que alguém viesse em busca de sobreviventes. Eu não estava mais doente, mas estava com fome e fraco. Quando o padre O’Neal chegou, eu estava delirando. Ele me parecia um ser celestial vindo para me salvar.

Outra risada forte e estridente como cartuchos de bala vazios caindo no chão de ladrilhos. Ele terminou de lavar meu cabelo e me inclinou suavemente para a frente sob a água antes de continuar sua história com aquela voz oca. — Eu morava em um canto em uma das antecâmaras da igreja local. Havia um enorme vitral acima de mim, um anjo com cabelo amarelo sendo arrastado para a terra pelas mãos de Satanás. — É aquele no clube, — eu interrompi antes que pudesse me ajudar, levada a um transe pelas mãos duras de Priest lavando cada centímetro do meu corpo. — Isso me assombrou lá, pensei que deveria me assombrar aqui, — explicou obtusamente. — Eu fazia tarefas para a igreja. Seu garotinho de recados. Logo me tornei uma espécie de servo de todos na paróquia. O padre O’Neal me emprestava aos seus devotos quando eles eram particularmente dignos. — Ele parou por tanto tempo que eu não sabia se ele continuaria. Então, quando ele fez, eu desejei que ele não tivesse. — Eles não abusaram de mim, no começo. Foi só quando cheguei à puberdade, aos doze anos, que o padre O’Neal afirmou que eu não era capaz de ser salvo. Que eu sempre seria uma abominação aos olhos de Deus. Um monstro nascido fora do casamento prometido a Satanás desde o nascimento. — Sua voz era arrepiante, morta e fria como a tundra ártica. Eu estremeci, tentando me afastar, mas suas mãos ficaram mais punitivas em meu corpo, massageando minha carne enquanto ele me lavava muito limpa. — Primeiro, ele me fez praticar a autoflagelação, esperando que eu pudesse vencer o diabo fora de mim. Quando isso não funcionou, ele usou o chicote e depois uma

faca, tentando cortá-lo de mim. Os paroquianos viveram e respiraram sua santidade. Eles seguiram seu exemplo. Fui chutado como um cachorro na rua, espancado por adolescentes por esporte. Aprendi a me defender rapidamente, mas sempre que machucava os outros, o padre O’Neal me punia amargamente. Seu tom assumiu uma qualidade atordoada, quase sonhadora, enquanto ele se afundava mais no passado. Ele não percebeu quando eu me inclinei contra ele em uma oferta silenciosa de apoio ou quando eu abafei minhas lágrimas com a palma da mão aberta. — Sua maneira favorita de me torturar era segurar uma das velas cerimoniais acesas contra minha pele enquanto eu recitava passagens inteiras da Bíblia. Se eu errar uma palavra, ele escolhe um novo local na minha carne para queimar e tudo começa de novo. — Oh, Priest, — eu sussurrei, o grito agonizante preso em minhas mãos. Inexoravelmente, ele me girou lentamente para o encarar. Eu mantive meus olhos fechados até que eu estivesse totalmente virada, preparando-me para a visão que me encontraria. Mas nada poderia me preparar para vê-lo nu, exceto pela capa de cicatrizes que ele usava tão majestosamente quanto um rei usava seu manto. Ele ficou ali diante de mim com o queixo inclinado, os ombros para trás, os pés separados em um desafio orgulhoso à minha pena. Era ele, com cicatrizes e tudo.

Ele queria me assustar quase tanto quanto queria minha aceitação. A guerra de conflito brilhando em seus olhos, lutando em sua mandíbula trêmula. Sua carne era uma ruína de cicatrizes. Tantas que eu não conseguia nem começar a contar. Meus dedos tremularam entre nós como uma borboleta com medo de pousar. Sua mão estendeu e agarrou meu pulso tão rapidamente, tão dolorosamente que engasguei. Ele manejou meus dedos como um artista com um pincel, usando cuidadosamente meus dedos para traçar as lacerações grossas esculpindo sua barriga, o turbilhão de carne queimada em chamas em seu peito, distorcendo seu mamilo esquerdo, a trilha lisa de pele mal curada que havia queimado metade do cabelo que desce do umbigo até a virilha. Até mesmo suas coxas estavam cortadas e costuradas juntas, um corte longo como uma escada mutilando a pele, claramente tendo sido costurada inadequadamente de volta. A carne se esticou sobre o forte inchaço de seu músculo e percebi que deve ter doído o tempo todo. As lágrimas turvaram minha visão enquanto ele me usava para rastrear cada centímetro de seu corpo. Seu aperto era muito forte, mas eu não reclamei. Era uma espécie de limpeza para ele, pensei, de pé no vapor e na água, expondo-se ao meu toque como uma forma de tortura de cura. Então eu engoli a bile que subiu na minha garganta ao ver o corpo mutilado do meu lindo Priest e aguentei junto com ele. Quando sua frente foi concluída, ele se virou e apoiou os braços contra as paredes de azulejos para me deixar explorar suas costas sozinha. Ele estremeceu violentamente ao meu primeiro toque, enquanto eu arrastava meus

dedos levemente ao longo da enorme tatuagem do crânio flamejante Fallen e asas esfarrapadas pintadas em suas costas marcadas. — Não é tão ruim, — ele explicou em uma voz áspera e dilacerada pela guerra enquanto eu acariciava a crista de uma longa cicatriz. — Ele gostava de me olhar nos olhos quando me obrigava a pagar sua penitência fodida. — Ele fez uma pausa, respirando tão pesadamente que suas calças subiram acima da correnteza da água. — Você vê, mo cuishle. É por isso que sou um monstro. É por isso que não tenho coração. Padre O’Neal cortou fora de mim. Um soluço borbulhou na minha garganta e explodiu entre nós. Eu doía tanto por este homem grande, dolorosamente requintado, irrevogavelmente quebrado que cada respiração que eu dava parecia uma faca em meu coração. Incapaz de resistir, me envolvi em torno de sua cintura afilada, pressionando todo o meu comprimento em suas costas com cicatrizes, escovando minhas mãos sobre os músculos retidos em seu abdômen, sabendo que nunca me esqueceria da maneira exata como eles foram desfigurados. Ele me deixou abraçá-lo, mas sua voz foi uma arma quando ele atacou. — Não terei sua pena, Bea. Eu não sou uma vítima quebrada. No meu aniversário de dezessete anos, quando aquele filho da puta tentou estuprar minha bunda com um ferro em brasa para exumar o diabo, eu o empalei naquela estaca e o cortei em tiras com a mesma faca que ele usou por anos para eliminar o mal de mim. Ele girou de repente, fazendo-me voar por um momento antes de me pegar e me esmagar contra o peito, uma mão segurando minha garganta e inclinando meu queixo para cima, então fui forçada a encontrar seu olhar ardente. 

— Eu o matei com a mesma certeza que ele me matou. E quando dois dos paroquianos me pegaram tentando fugir, eu os matei também. — Se eles não estivessem mortos, eu voaria até lá e os mataria eu mesma, — eu disse honestamente, tentando preencher as telas dos meus olhos com a eloquência das minhas emoções. — Você sabe que o padre O’Neal era um homem horrível, um homem que não sabia nada sobre Deus, certo? As pessoas tentam subverter a religião com frequência para seus próprios ganhos. Para usar isso como uma desculpa para sua ganância e seus pecados. — Deus, — Priest disse a palavra amargamente, cuspindo no vapor. — Eu nunca vou acreditar em tal coisa novamente. — Tudo bem, — eu concordei facilmente. — Mas então por que você tem tantos textos religiosos? Por que você casou King e Cressida? Por que você vai casar Lion e HR, Nova e Lila? Acho que você quer entender como alguém pode amar a Deus de maneira saudável. Como ele pode curar alguém ou perdoar alguém que merece. — Eu não mereço isso, — ele respondeu imediatamente. — Eu nunca mereci, e certamente não faço agora. Eu sou um assassino, Bea. Como o padre O’Neal sempre acreditou, sou um filho da morte. — Até a morte tem um coração, — eu pressionei, movendo minha mão sobre a pele desfigurada em seu coração, embora ele mostrasse os dentes para mim. — Você tem um, Priest, você não pode mais esconder de mim. Você ama Zeus por te receber, você ama o clube por lhe dar um lar saudável e por aceitar você exatamente como você é, assassino e tudo. Você me ama. — Respirei fundo, sentindo-me trêmula, com náuseas e cheia de tanto amor que estava quase explodindo, tudo dentro de mim escorrendo pelo ralo. Priest me

observou extasiado enquanto as lágrimas começaram a cair. — Você me ama. Eu não me importo se você nunca conseguir dizer as palavras. O que você disse ao Lion hoje é verdade. Você é um homem de ação, não de palavras, e me mostrou repetidamente que estou em seu coração. Ele riu forte novamente, a nota final quebrando em duas. — Mo cuishle, você é meu coração. — Vou mantê-lo seguro, — prometi enquanto chorava lágrimas por ele, a umidade desaparecendo instantaneamente na torrente do chuveiro. — Eu prometo, sempre estará seguro comigo. Não me importo se você é um assassino, se está marcado fisicamente e mentalmente por seu passado trágico e brutal. Eu amo você todo, e nenhuma linha que você pudesse cruzar me faria mudar de ideia sobre isso, tudo bem? — Quando ele não respondeu, seus olhos quentes e pesados como brasas queimando em seu crânio, eu o sacudi. — Tudo bem? — Tudo bem, — ele concordou impassivelmente, como se isso não significasse nada quando significava absolutamente tudo. — Tudo bem, Bea. Você mantém meu coração seguro, e eu irei te manter segura. Eu tremi, o medo correndo enquanto pensava no assassino em série, em sua tenacidade em tirar minha vida de amor para que ele pudesse intervir e tapar os buracos com sua necessidade louca. — Ele está vindo atrás de mim, — eu sussurrei. — Ele quer que eu seja dele. — Você é minha, — Priest jurou sombriamente, mergulhando enquanto apertava minha garganta para me lembrar o quanto eu era propriedade dele. — Se ele tiver que aprender da maneira mais difícil, ele o fará.

Ele me beijou então, selando meus lábios com sua promessa e comendo os soluços da minha língua como se fossem doces. Tocar sua carne nua, sabendo que eu finalmente tinha todo ele enrolado em meus membros, emaranhado irrevogavelmente em meu coração, me deixou tonta de desejo, e quando seus dedos encontraram meu sexo, eu já estava molhada. Ele grunhiu. — É bom saber que isso não te enoja. — Todos nós temos cicatrizes, Priest, — eu murmurei enquanto ele mordia meu pescoço e bombeava seus dedos grossos dentro de mim. — Você só usa o seu na pele. Ele gemeu no meu pescoço e me ergueu facilmente pelos quadris para me prender contra o chuveiro. Quando ele deslizou dentro de mim ao máximo, eu gritei, o calor latejante dele se assentando e subindo dentro de mim simultaneamente. — É por isso que eu te fodo nu, — ele explicou durante uma série de estocadas curtas e fortes que fizeram meu útero apertar. — Ele me bateu tanto que não vai sair nada disso. Mas saber que estou dentro de você assim, gozar nesta boceta doce e apertada faz minha cabeça girar. Me faz sentir como um conquistador de merda, como se eu nunca tivesse sido vítima de alguém. Eu gritei de paixão e empatia, agarrando seu cabelo com tanta força que se desfez do laço de couro e se espalhou pelo meu peito quando ele mordeu meu mamilo e me segurou alto para me foder mais fundo. — Você é o anjo com o cabelo amarelo que me assombrava do vitral, — ele confessou antes de morder meu pescoço com força, grunhindo enquanto eu espasmava em torno de seu eixo motriz.

— Sim, — eu assobiei quando seu pau atingiu aquele ponto dentro de mim que me fez ver pontos. — Eu sempre fui sua, apenas esperando por você. — Não acredito no destino, — ele protestou enquanto lambia meu pulso. — Mas caralho, se eu não acredito em você. Ele esmagou sua boca na minha, seu amor queimando de meus lábios pela minha espinha, onde explodiu em chamas entre minhas coxas. Eu cheguei ao clímax tão forte que minha visão ficou escura, e Priest comeu selvagemente o pouco fôlego que eu conseguia reunir entre meus lábios enquanto ele dirigia mais forte dentro de mim, perseguindo seu próprio orgasmo. Momentos depois, senti a inundação de calor na entrada do meu útero enquanto seu pau esvaziava dentro de mim, desencadeando um segundo clímax menor que me atingiu. Despedaçada, eu me pendurei mole em seus braços, a cabeça pendurada em seu ombro forte enquanto ele passava dentro de mim e me prendia contra a parede para recuperar o equilíbrio. Depois de alguns minutos, ele se afastou para verificar meu rosto em busca de algum trauma. — Como você está, Pequena Sombra? — Ele perguntou, rouco e cansado. Eu adorei saber que fiz um homem tão forte amolecer, mesmo que apenas por um momento, apenas comigo. — Melhor, — confessei quando ele desligou a água e me carregou para a pia onde me sentou para pegar as toalhas. Eu o observei caminhar com aquele andar poderoso e sensual como um animal predatório até o armário onde ele puxou duas toalhas escuras, completamente inconsciente, mesmo barrando sua miríade de cicatrizes para mim. Elas cintilaram contra sua pele pálida

e sardenta como artefatos meio desenterrados na poeira de algumas ruínas antigas. Prometo então escavar cada uma delas até que aquelas histórias dolorosas sejam desenterradas de suas memórias e colocadas para descansar adequadamente. Quando ele voltou para me secar superficialmente, primeiro a mim, depois a si mesmo, eu o impedi de me levantar novamente com a mão em seu peito e disse a ele a verdade sobre o que ele fez por mim. — Se você sobreviveu ao que passou e acabou sendo o homem mais lindo que já conheci, sei que posso sobreviver a isso. Obrigada por me dar essa convicção. Eu sei que te custou muito. Priest piscou para mim, a expressão completamente ilegível. Em seguida, ele avançou, agarrou minha mão e deu um beijo rápido na palma antes de se virar, totalmente nu, a toalha jogada no ladrilho molhado para entrar no quarto. — Às vezes, o custo vale a recompensa, — ele disse casualmente por cima do ombro, sem olhar para mim antes de desaparecer porta afora. Fiquei sentada ali por um longo tempo, as pernas balançando sobre a pia de porcelana, perguntando-me se era a associação íntima de Priest com a morte que deu a ele essa habilidade mágica de transformar os dias mais sombrios da minha vida de alguma forma em ouro.

Capítulo Vinte e Nove Bea Sentei-me ao microfone respirando. O programa estava oficialmente no ar, a placa de gravação piscando discretamente sobre a porta de saída. Eric estava atrás da janela de vidro à prova de som na minha frente, mas eu não olhei para ele. Não tínhamos falado além de algumas mensagens desde que Priest o interrogou. Descobri que não tinha energia para dar ao problema minha atenção no grande esquema de todo o resto. Significava algo, porém, que ele apareceu no primeiro programa desde que descobrimos a cabeça de Brenda presa sob a mesa. Priest estava lá na sala comigo, sentado em uma cadeira que arrastou do Honey Bear Café. Não me incomodei em dizer a ele para ficar totalmente em silêncio porque sabia que ele não faria nenhum som. Eu também não me incomodei em dizer a ele que não precisava dele ali comigo porque era uma mentira que eu não poderia abrigar por muito tempo, mesmo em meus próprios pensamentos. Eu me senti em carne viva, como se minha pele tivesse sido arrancada com um bisturi, e meu coração escapou das costelas para bater seu murmúrio mutilado fora do meu peito.

Loulou não queria que eu continuasse o programa. O funeral de Amelia no dia anterior tirou o ar dos meus pulmões, mas foi a vigília no hospital enquanto Cleo lutava por sua vida que me deixou anêmica, como se a ferida daquela tragédia não pudesse ou não coagulasse. Eu sangrei e sangrei por ela. Era impossível sentir que eu não era responsável por minha melhor amiga quase ser assassinada. Enquanto eu a observava em coma na cama do hospital, ouvindo a notícia de que ela havia sido apunhalada muitas vezes na barriga, que tronou impossível para salvar seu útero, que ela não seria mais capaz de ter filhos mesmo se sobrevivesse, isso me eviscerou. A culpa era controlável, principalmente, após a confissão do Priest e o discurso de Lion, mas foi o medo que me perseguiu. Eu estava com mais medo do que jamais imaginei em toda a minha vida. Eu era a garotinha que implorava para assistir a filmes de terror classificados como fortes, a mulher que estudou crimes violentos e psicopatas na universidade, que esperava um dia ser uma criadora de perfis criminais. Mas eu fiquei lá, tremendo ao acaso com ataques de terror que se moviam por mim como fantasmas das mulheres que já haviam morrido nas mãos desse louco. Os policiais estavam ouvindo porque todo esse episódio era uma ideia com que eles me abordaram há dois dias, mas Lion os reuniu do outro lado do vidro, longe o suficiente de mim para que eu não tivesse que me concentrar em sua presença.

Eu estive quieta por muito tempo. Eu precisava encontrar as palavras que queria dizer, mas elas estavam em túmulos cavados em minha alma com quase dois metros de profundidade. Finalmente, suspirei. — Olá a todos, sou Bea Lafayette e este é mais um episódio de Pequena Senhorita Assassinato. Normalmente começamos esses episódios com uma história macabra, antes de nos aprofundarmos nos detalhes de cada assassino, seu perfil psicológico e como eles foram finalmente descobertos ou levados à justiça. Hoje, vou começar de uma forma ligeiramente diferente, contando a vocês tudo sobre uma história que ainda não tem fim. Olhei por cima do ombro para me tranquilizar com um olhar para Priest. Ele estava de pé no canto traseiro ao lado da cadeira que trouxemos para ele, encostado na parede enquanto ele silenciosamente talhava um bloco de madeira escura. No momento em que movi meu olhar para ele, ele olhou para cima, os olhos pegando os meus e amarrando meu espírito inquieto ao dele para que eu pudesse encontrar o foco. Eu respirei fundo. — Nas últimas semanas, Entrance foi atormentada pelo esforço de um serial killer que a imprensa apelidou de 'Profeta da Morte.' Como todos vocês sabem, dar nomes cativantes aos serial killers afeta sua psicose, sua necessidade de serem vistos e reconhecidos por seus crimes. Portanto, não vou me referir a ele por esse nome, mas simplesmente como 'o assassino' ou 'o matador,' para que ele entenda que sua violência não o torna único. Isso o torna plebeu, um entre uma série de assassinos sem rosto agora capturados e que a consciência pública esqueceu.

Lion me deu um sinal de positivo através da divisória de vidro. Tínhamos revisado minhas anotações antes, como eu configuraria o programa como uma transmissão ao vivo na esperança de atrair o assassino para ligar ou escrever. Ficou claro para todos que ele estava em seu ponto de ruptura, e ele só precisava de um último empurrão. Só que eu sabia o que homens desesperados faziam quando estavam prestes a serem empurrados de um penhasco. Eles levaram todos em sua mira com eles ao longo da borda. — Este assassino está pervertendo as escrituras bíblicas para seus próprios fins, tentando criar uma história em que ele seja o herói exorcizando pecadores de nossa comunidade para que todos vivamos em um lugar ‘melhor e mais sagrado’. Normalmente não falo sobre religião no programa e, se você for sensível a esse assunto, entendo se você mudar ou desligar. Mas devo dizer que a obra desse assassino não é obra do Deus que conheço. O Deus em que confio desde criança, em quem busco orientação ao longo dos anos e sobre o qual aprendi em incontáveis estudos, não santifica o assassinato de forma alguma. Ele nos ensina bondade, paciência e paz, mesmo que deva vir do perdão. Este é o meu Deus e acredito que este seja o Deus da maioria dos cristãos. Não ficarei ociosa enquanto este assassino procura distorcer as palavras de um Deus bondoso nos mandamentos da loucura. Eu respirei fundo, surpresa ao ver minha mão tremendo na mesa branca. — ‘Cuidado com os falsos profetas, que vêm a vocês vestidos de ovelhas, mas por dentro são lobos vorazes’, — citei Mateus 7:15. — Este homem está se escondendo atrás da religião para mascarar seus crimes horríveis em uma santidade deslocada. Se você sabe quem ele é, se segue seus ensinamentos ou

tem alguma ideia de onde ele possa estar, ligue agora para nossa linha e ajude a colocar um assassino atrás das grades, onde ele pertence. Esperamos por um momento longo e insuportável em um silêncio vibrante. Então a mesa telefônica de Eric se iluminou e, um segundo depois, o antigo telefone fixo começou a tocar. Meu amigo olhou para mim antes de responder, uma riqueza de hesitação em seus olhos. Eu balancei a cabeça porque, embora estivesse disposta a apostar que citar as escrituras contra o assassino o incitaria a agir, eu só podia esperar que a isca funcionasse. Eric a atendeu e os policiais começaram a rastrear a ligação. Lion tinha me avisado que mesmo se ou quando eles conseguissem a localização, eles poderiam não ser capazes de levar as unidades ao local a tempo de o pegar, mas valia a pena tentar. — Olá, aqui é a Pequena Senhorita Assassinato, — eu disse alegremente como sempre fazia. Silêncio. Uma sombra desceu sobre mim quando Priest assumiu a sentinela atrás da minha cadeira. Limpei minha garganta e tentei novamente. — Olá? Aqui é o programa Pequena Senhorita Assassinato. Você tem uma dica ou pergunta sobre o assassino? — Acho que você quer dizer o Profeta, — respondeu uma voz profunda. Era obviamente colocado, a profundidade e rosnado daquele tom.

Também era, obviamente, ele. — Um profeta é um professor inspirado da vontade e das práticas de Deus, — respondi cuidadosamente. Fiquei apavorada, mas disse a mim mesma que havia me preparado toda a minha vida para negociar com psicopatas. — O assassino que tem matado mulheres inocentes por esporte não está seguindo nenhuma prática divina que eu conheça, e sou membro da Igreja da Primeira Luz desde que era menina. — Mulheres inocentes? — O frio daquela voz se espalhou sobre mim como um balde de água gelada. — Essas mulheres eram todas pecadoras e, além disso, tentavam seduzir outras pessoas para seus caminhos profanos. — Cleópatra Axelsen não era uma pecadora, — respondi e respirei fundo pelo nariz para manter a calma. Não seria bom ser cabeça quente com este homem. — Ela era o coração mais puro que já conheci. Um silêncio ferveu pelo telefone. Silêncio com textura e peso que parecia poluir toda a sala. Priest se aproximou, a ponta de seu corte de couro duro roçando meu cabelo. — As outras eram pecadoras, — disse ele finalmente, resolutamente. — E você, Bea, pecou. Não queria que você pagasse por seus crimes contra Deus. Eu queria poupar você. Mas, é claro, alguém precisava pagar penitência, e eu entendo que aquela garota era muito próxima de você... em vez disso, pareceu apropriado tirar dela minha medida de carne. Um soluço agarrou minha garganta com tanta força que eu não conseguia respirar. A culpa me submergiu como uma onda de tsunami. Eu me atrapalhei,

olhos abertos e cegos, o coração batendo em uma batida errática de percussão que latejava dolorosamente por mim. A mão de Priest desceu pesadamente sobre meus ombros, prendendo-me em meu assento, ancorando-me contra ele. Lentamente, talvez para que eu pudesse protestar se eu não pudesse lidar com isso, uma mão se moveu sobre minha clavícula até envolver minha garganta. Nenhuma pressão verdadeira, apenas uma coleira, um lembrete de que eu não era propriedade de nada ou ninguém além deste homem atrás de mim. Finalmente, eu respirei, e exalei um barulho alto pelo microfone. O assassino ouviu e deu uma risadinha, um ruído surdo que era totalmente autossuficiente. — Sei que você está arrependida e sou um homem que perdoa com a graça de Deus. Você tem sido má, Bea, tão má ultimamente, mas desta vez, vou lhe dar uma chance de confessar e pagar penitência. Priest ficou estático atrás de mim, sua mão na minha garganta firme com o desejo de esmagar a vida do assassino. Estendi a mão para colocar minha própria mão sobre a dele contra o meu pulso. — Eu dificilmente vou me entregar a você. Eu nem sei o que você quer comigo. Por que você está fazendo isso por mim. Aquela risada de novo, esta, cheia de histeria. — Eu não planejei fazer isso por você. Estou fazendo isso por Deus, por Ele, para que Seus ensinamentos possam ser praticados como deveriam ser. — E como você sabe como eles devem ser praticados? — Eu recusei, pensando em Cleo mais uma vez, seu doce rosto contraído e deformado pela violência.

— Deus fala através de mim, — disse ele simplesmente com uma finalidade reservada para os fatos e verdades estabelecidas, das quais isso absolutamente não era. — Ele me envia visões de como o mundo deve ser. Neste mundo, você é minha santa esposa, destinada a cuidar de mim e de nosso novo rebanho. Um dos policiais, Hutchinson, um membro do departamento local e amigo do The Fallen, ergueu um pedaço de papel que dizia 'pergunte sobre seu rebanho.' — Você tem um rebanho? — Claro, havia muitas pessoas nesta cidade anteriormente corrompidas por elementos criminosos como The Fallen que estavam implorando por minha luz. Como você acha que encontrei Cleo, hmm? Ela veio até mim. Amelia Stephens também. Ela estava procurando um pouco de paz depois de uma vida com um criminoso. Fechei meus olhos contra a onda de raiva fundida que ameaçava jorrar pelos meus lábios. Pela primeira vez na minha vida, eu queria matar um homem eu mesma. — Você acha que eu consentiria em ser sua esposa? — Eu perguntei, pasma com sua ousadia, embora eu soubesse que psicopatas podem sofrer de delírios de grandeza e narcisismo severo. — Você passou a noite com aquele pecador assassino do The Fallen! — Ele gritou de repente, um estrondo soando do outro lado do telefone. — Você se sujou com o abraço dele!

Outra pausa, esta porque eu não sabia o que dizer em resposta. Saber que ele estava me observando deixou um resíduo grosso na minha pele, algo como sujeira que eu sabia que nunca seria capaz de limpar. — Não, Bea, — disse ele novamente após um momento, toda a calma estranhamente restaurada. — Eu não espero que você concorde agora, não quando eu não tive a oportunidade de fazer você entender. Estou confiante de que você fará quando chegar a hora. Por enquanto, tenho um incentivo. Um pressentimento desceu pela minha espinha como a pele fria de uma serpente. — Do que você está falando? Eu sabia que cada membro dos Fallen e seus familiares estavam no complexo. Havia camas suficientes para fazer isso funcionar entre a sede do clube, Hephaestus Auto, e a casa do primo de Z, Eugene, que passava metade do tempo nos limites da propriedade. Era apertado, mas ninguém reclamou. Ficou claro que estávamos sob ataque. Não foi a primeira vez e não seria a última. Portanto, não poderia ser alguém do clube. — Eu acho que você a chama de Tabby, — ele disse com uma risadinha. — Você realmente é tão expressiva com seus entes queridos, Bea. Se tornou muito fácil decidir quem tirar de você. Eric e eu olhamos um para o outro com horror flagrante. Tabitha. A esposa do médico, a mulher que usava perfume açucarado e dava aulas de música para jovens carentes na Igreja Primeira Luz após o estudo da Bíblia.

Doce e mansa Tabby. Antes que eu percebesse, eu estava parada como se pudesse correr porta afora e encontrar ela sozinha. Através do vidro, os policiais já estavam em seus telefones e digitando em computadores. Lion fez um gesto para que eu continuasse. — Se você não me encontrar na clareira entre a fazenda de Potter e o pomar de maçãs da Waverly às oito da manhã de amanhã, vou matá-la e você terá apenas sua covardia e pecado para culpar. Então, amanhã, se você ainda não vier, vou levar outra pessoa que você ama e vou matar também. — Por quê? — Eu respirei. — Por que sou tão importante para você? Eu não sou ninguém. — Ah... — Ele sugou o ar como se fazia quando cheiravam flores, como se minhas palavras tivessem uma fragrância. — A maneira como você menospreza sua luz, tal modéstia, tal pureza. E você se pergunta como eu sei que você deveria ser meu igual espiritual. — Mas eu pequei, — eu apontei, tentando entender as voltas e reviravoltas de sua mente febril. — Sim, — ele disse, quase alegremente, ainda naquela voz profunda e estrondosa que não era verdadeiramente dele. — Mas não estou preocupado. Vou fazer você pagar sua penitência e então seguiremos em frente como um só. O tom de discagem cortou assim que sua última palavra foi pronunciada, o ruído monótono combinando perfeitamente com a linha reta do meu coração fraco.

— Não, — Priest disse instantaneamente, irrefutavelmente. — Você não está vai fazer isso. — Eu vou, — eu sussurrei enquanto virei minha cadeira para olhar para ele. — Eu tenho que fazer. — Você absolutamente não vai fazer isso, Bea, — repetiu ele com aquela voz de titânio. — Não sou o tipo de homem que proibiria você de muito, mas colocar sua vida em risco é uma dessas merdas de coisas. — Nós vamos organizar isso para que ela corra perigo mínimo, McKenna, — Hutchinson disse quando a porta entre as salas se abriu e os policiais entraram. Priest realmente rosnou e estalou os dentes, dando um passo à minha frente como se fosse uma ameaça. — Eu disse não. Você tem chumbo na porra dos seus ouvidos? — Priest, — tentou Lion, sempre moderador. — Está no papo. — Você não vai, — Priest disse não zangado, mas frio, tão frio que emanava gelo seco. — Você fodeu tudo uma e outra vez, não apenas com isso, mas com toda porra de coisa a fazer com o clube. Eu não estou colocando a porra da minha mulher na linha quando eu sei que são vocês no comando. Sua incompetência a matará. — Cuidado com a porra da sua boca, — um dos policiais da RCMP se adiantou para dizer. — Tudo bem, — Lion interrompeu. — O departamento de polícia coordenará com o clube se quiserem a cooperação da Srta. Lafayette. — Que porra é essa? — O policial RCMP latiu.

— Você nem é mais um maldito policial, Danner, — outro protestou. — Não, — Hutchinson concordou, pegando seu telefone. — Mas esse policial aposentado derrubou um MC inteiro em Vancouver e ajudou a limpar esse maldito departamento, então fale com ele com a porra do respeito. Vou ligar para o sargento Munoz e marcar algo. Os dois policiais da RCMP piscaram, claramente chocados com o fato de um departamento de polícia permitir que um investigador particular assumisse o controle ou colaborasse voluntariamente com um elemento criminoso. Esta era Entrance. Coisas mais estranhas aconteceram. Priest não disse uma palavra, mas sua linguagem corporal falou muito. Me colocar no caminho do perigo ia contra todos os instintos que ele tinha e todos os ossos de seu corpo. Me proteger era a coisa mais importante em sua vida agora porque, de certa forma, eu me tornei sua vida assim como ele tinha se tornado a minha. Éramos duas almas muito diferentes que só faziam sentido juntos. Yin e yang. Doce e amargo. Claro e escuro. Bea e Priest. Agora que nos conectamos, eu não tinha certeza se um poderia existir sem o outro. Tudo que eu sabia era que, se não fosse para a clareira, nunca me perdoaria. Eu não poderia, em sã consciência, deixar outra mulher que eu amava se machucar por minha causa, muito menos morrer por mim. Eu nunca me recuperaria.

Não importava o que acontecesse, e isso incluía a opinião de Priest sobre o assunto, eu enfrentaria meu demônio em menos de vinte e quatro horas e, com sorte, tudo estaria acabado.

Capítulo Trinta Priest

Por um momento, pensei que estava sonhando. Então me lembrei, eu não sonhava. Eu estava tão acostumado ao som de minha própria respiração, isolado dos outros, à absoluta imobilidade de meu corpo imóvel, como um cadáver em minha cama, que minha mente embriagada pelo sono não conseguia computar os ruídos de Bea ao meu lado. Ela estava sonhando. Abri os olhos para ver a luz fraca do amanhecer derramando como leite através da única claraboia que coloquei no telhado do armazém diretamente sobre minha cama. Era uma coisa estúpida, uma vulnerabilidade se alguém realmente quisesse me atacar enquanto eu dormia, mas eu sempre achei paz nas estrelas. Contá-las, ajudou-me a encontrar o sono que eu era capaz de tirar. Eu estava grato por isso agora, enquanto me virava para ver minha Pequena Sombra banhada pelo brilho pálido, sua boca pequena e perfeitamente formada da cor do interior de uma concha, a testa dourada franzida enquanto ela sonhava. Nunca dormi profundamente o suficiente para sonhar. Enquanto eu a observava nas garras de um, fiquei intrigado, um prazer voyeurístico que me

surpreendeu levemente. Parecia que eu estava obcecado com cada merda sobre essa mulher. Eu me perguntei se eu estava em seu sonho, decidi que seria inaceitável se eu não estivesse, e então considerei acordá-la apenas para fazer a pergunta absurda. Em vez disso, decidi correr meu dedo suavemente pela curva de seu rosto em forma de coração e ao longo do leque espesso de cílios de ouro branco descansando em sua bochecha. Dormindo ali ao meu lado nos lençóis pretos sob o brilho puro do sol nascente, ela nunca pareceu mais inocente. Ela também nunca pareceu mais minha. Havia uma mordida de amor no lado direito de seu pescoço espreitando sob seu cabelo sedoso, e quando eu empurrei os lençóis de sua pele, tracei os outros lembretes de minha posse em sua forma. Os joelhos machucados tão bonitos, os mamilos inchados como framboesas sob o creme. Eu queria transar com ela no colchão com tanta força que ela esqueceria qualquer outro pensamento em sua cabeça. Ela esqueceria que em pouco mais de uma hora deveria encontrar um louco em uma clareira. Minha mandíbula cerrou com tanta força que houve um estalo doloroso. Um bipe do meu telefone no chão ao lado do meu colchão chamou minha atenção para ele. Nenhuma surpresa, era Lion coordenando os últimos vestígios do que eu estava convencido de que era um plano idiota para derrubar esse assassino.

Não havia como ele não estar preparado para nós. Este não era um caipira do sertão determinado a purificar sua raça ou algum idiota trapalhão com uma faca em um beco escuro. Este homem tinha vindo para jogar e estava fazendo muito. Eles planejavam substituir Bea por uma policial sósia, uma jovem estreante chamada Marla Bennet, que tinha quase a mesma estatura e tom de loiro da minha garota. Os policiais não entendiam que Bea tinha uma qualidade especial que não podia ser reproduzida. Uma luz inocente que latejava como uma tocha no escuro, atraindo as criaturas que espreitavam nas sombras inexoravelmente em sua direção. Este homem estava obcecado por Bea. Eu estava obcecado por Bea. Assim, nos entendemos. Éramos ambos psicopatas decididos a reivindicá-la, mas as semelhanças terminavam aí. Eu não desistiria de minha reivindicação. Ele não a teria. Nem agora, nem nunca. O mais próximo que ele chegaria dela era de mim, quando eu o rasgasse com minhas próprias mãos por assustá-la. Minha garota corajosa, tão doce e corajosa, estava apavorada pra caralho. Assisti enquanto o sonho escurecia em sua mente, enquanto ela choramingava e estremecia. Ele a seguiu até lá. Inaceitável.

Coloquei minha mão cheia de cicatrizes e com tinta no ombro leitoso de Bea e sacudi suavemente antes de a rolar em meu peito. Seu corpo estava mole e quente com o sono contra mim. Sem acordar, ela se aninhou em meu corpo e deu um pequeno suspiro de satisfação. Algo revirou em minhas costelas. — Bea, — chamei em seu ouvido. — Acorde, Pequena Sombra. — Hmm? — Ela murmurou, aninhando-se tão perto que parecia que ela queria rastejar sob minha pele. A vontade de rir passou por mim. — Acorde agora. Eu vou te foder antes de termos que sair. Instantaneamente, quase comicamente, seus olhos se abriram e ela os ergueu para mim. O azul era tão vívido, totalmente intocado por qualquer outro pigmento, exceto aquele azul puro e brilhante. — Você vai me foder porque quer me reivindicar antes de eu enfrentar meu algoz? — Ela questionou. Eu não respondi verbalmente. Em vez disso, eu me abaixei e dei um beijo ardente naquela boca rosa. Ela cantarolou quando eu me afastei, cílios vibrando. — Certo. Bem, estou mais do que feliz em satisfazê-lo, mas Priest? Eu quero que você saiba, não importa o que aconteça, eu vou ficar bem. — Não há como você prometer isso. Sua mão se ergueu entre nós, os dedos trilhando daquela forma que ela tinha habituado ao longo do meu queixo barbudo. — Não. Eu não poderia

viver comigo mesma se deixasse outra pessoa sofrer ou morrer por mim. Não consigo ser tão cruel. — Sim, — sugeri sem emoção. — Eu poderia parar você. Se você acha que não estou aqui deitado pensando em todas as maneiras que eu poderia forçosamente te impedir de fazer isso, você está ferrada. Em vez de um insulto, ela encontrou humor nisso. — Você não faria isso. Eu bufei porque isso era discutível pra caralho. — Tabby faria a mesma coisa por mim, — ela continuou. — Ela praticamente colocou Phillipa e eu sob sua proteção depois que tudo aconteceu com meu pai. Sem Seth e ela, poderíamos ser párias sociais, mesmo com o vovô sendo o pastor. — Você não sabe disso, — argumentei razoavelmente. — Você não sabe o que diabos alguém é capaz de sacrificar até que seja confrontado com a difícil escolha e nenhuma opção fora dela. — Talvez seja verdade. Mas esta é minha escolha difícil, e é a única que me sinto confortável em fazer. Uma vez você me disse que era um assassino, manchado de pecado e coberto de sangue. Eu aceitei isso. Você pode aceitar que eu sou o tipo de mulher que sempre colocará seus entes queridos em primeiro lugar? Eu fiz uma careta porque a imparcialidade de seu argumento era impossível de refutar. Como poderia ser possível que ela aceitasse um assassino com muito mais graça do que eu poderia aceitar sua santidade? Eu grunhi em afirmação. Isso era tudo que eu estava disposto a dar.

Ela sorriu para mim, mais brilhante do que o sol nascente acima de nós. — Você pode me foder agora. Rolei para cima dela, já duro, duro desde o momento em que acordei com ela na minha cama. — Eu vou te foder, e então nós faremos esse plano estúpido de merda juntos porque eu vou proteger você mesmo quando você faz escolhas das quais eu discordo. Mas você não sai do meu maldito lado durante toda a troca, e se a merda foder, vamos embora. Sem perguntas, Bea. — Sem perguntas, — ela concordou um segundo antes de minha boca descer sobre a sua, e toda a conversa foi esquecida. Eu deveria saber que tudo iria para a merda e estar melhor preparado do caralho.

Tinha nevado durante a noite, uma espessa manta de um branco pegajoso que se agarrava a cada superfície de Entrance e fazia com que ela brilhasse como um diamante sob a luz de um sol frio e gelado. O brilho disso nos galhos dos pinheiros chamou minha atenção enquanto eu estava na beira da floresta que protegia a propriedade da Waverly olhando através do campo para um carro velho enferrujado e duas figuras envoltas em roupas escuras já esperando por nós.

Os policiais começaram a montar sua cena no meio da noite. As duas formas e o balde enferrujado já estavam lá. Isso irritou os policiais, mas então, pelo menos eles sabiam melhor do que tentar esconder sua presença do assassino. Ele saberia que eles estavam lá, não importa o quanto tentassem se esconder. Ele escolheu o local certo para a troca. Além do bosque de árvores de cada lado da clareira, a extensão era grande e plana, ideal para atiradores ou qualquer outra surpresa que os porcos pudessem ter usado contra ele. A floresta em suas costas dava a ele a cobertura ideal para desaparecer, ou, pelo menos, obter uma vantagem inicial na perseguição. Eu tracei o caminho das árvores sobre o vale plano até a inclinação de uma montanha decente mais distante. Lion confirmou que policiais à paisana também cercavam a área mais ampla, mas eu tinha tanta confiança neles quanto em qualquer tipo de Deus. Novamente, o assassino estava se provando mais inteligente do que o canalha médio. — Tenho um mau pressentimento sobre isso, — murmurei enquanto me encostava no carro da polícia que abrigava minha mulher. Se eu tivesse isso do meu jeito, ela não deixaria a maldita coisa até que isso fosse terminado. Em minha mente, não havia motivo para ela estar lá, mas os policiais a queriam lá para o caso de o assassino solicitar uma confirmação verbal de que era ela. — Você precisa ter um pouco de fé, — Lion encorajou, embora parecesse abatido e pálido enquanto estudava os mapas no capô do carro que traçava a área.

— Ele tem muitos lugares para onde correr a partir daqui, — eu apontei, dirigindo meu dedo no mapa. — Porra, Lion, como diabos você acha que isso vai acontecer? — Ele está aqui, cara. Isso é o mais perto que chegamos de ver o filho da puta. Mesmo se apenas conseguirmos uma visão, vai valer a pena. — Se alguma coisa acontecer com ela... — eu rosnei, a mão flexionando com tanta força no capô que fez o metal estalar sob meu aperto. Lion me lançou um olhar impressionado. — Controle isto, Priest. Se os policiais decidirem que você os está obstruindo, eles vão te prender em um piscar de olhos. Você acha que eles já não querem? Você tem uma reputação, e qualquer um desses homens ficaria feliz com o impulso que daria às suas carreiras para derrubar o executor dos Fallen. Eu grunhi enquanto me virava para assistir a falsa-Bea se mexer na frente dos carros de polícia e policiais com equipamentos. Ela estava usando o casaco de inverno branco e fofo de Bea e meia-calça creme grossa sob um vestido rosa que aparecia por baixo da bainha. Seu cabelo estava solto e cacheado da maneira que Bea fazia com os dela e ela estava fazendo um trabalho decente em imitar os modos inocentes afetados de Bea. Ainda assim, ela não passaria. Talvez a trezentos metros. Talvez a cinquenta passos. Mais perto e o assassino veria o rosto quadrado em vez do coração, os olhos castanhos em vez dos azuis, a garota bonita em vez da porra do anjo.

— Como vai você? — Hutchinson perguntou enquanto se aproximava de nós. Eu lancei a ele um olhar frio. Ele riu sem humor. — Parece certo. Escute, estamos prontos para entrar. Eu sei que você vai ficar aqui com Bea, mas vou colocar Moore nela também. Ele não vai sair do carro. — Foda-se Moore. — O bastardo foi quem me interrogou sobre os assassinatos. — Ele está nervoso, — Lion explicou calmamente. — Ignore ele. — Nós poderíamos usar você na frente, — ele ofereceu. — Estamos enviando Bennet com Harcourt, mas se você quiser ir junto, não me oponho. Lion me lançou um olhar de soslaio, provavelmente se perguntando se eu causaria problemas sem supervisão, mas eventualmente, ele acenou com a cabeça. Recebi um tapa nas costas quando ele passou. Eu nunca gostei de Lionel Danner antes de ele ficar com Harleigh Rose, e eu quase não gostava dele agora. Na minha mente, uma vez um policial de merda, sempre um policial de merda. Mas percebi que ele estava zelando pelo clube, por Bea e até por mim, embora antes de estar com ela eu nem tivesse reconhecido isso. Como se meus pensamentos a estimulassem, Bea deslizou para o meu lado do carro na parte de trás e bateu na janela. Me abaixei para espiar dentro, avistando seu sorriso. Ela pressionou a mão na janela, e tive a impressão de que ela estava me agradecendo por minha confiança.

Eu inclinei meu queixo para ela, então me virei, apoiando meus quadris contra a porta, bloqueando sua visão. Dentro do veículo, ouvi uma risadinha. Na frente, Moore, Lion e a falsa Bea começaram a avançar com cinco minutos restantes no relógio antes que o assassino ameaçasse Tabitha Linley. Sua marcha lenta pela neve era difícil de assistir na luz brilhante e cintilante do sol, mas eu estreitei minhas pálpebras e mal pisquei. Eles estavam a meio caminho das duas figuras imóveis quando algo cintilou entre o par escuro. Minha boca estava aberta em um grito de advertência apenas um segundo antes de um tiro ecoar pela clareira. A falsa-Bea desabou no chão. Eu podia ver o vermelho do sangue contra a neve mesmo de lá. Eu me movi, contornando o carro para chegar ao banco do motorista. O policial Travers estava diante de mim. — Se mova,— eu ordenei. — Vamos sair daqui antes que isso vá para o inferno. — Eu tenho ordens para mantê-la aqui. Ainda não sabemos o que está acontecendo, — argumentou. O caos estourou atrás de mim enquanto os policiais gritavam uns com os outros e os rádios explodiam com barulho. — Estou tirando minha garota daqui, — eu rosnei. — Você tem um segundo para mover sua bunda, ou eu terei prazer em movê-la para você. Ele piscou com a expressão selvagem no meu rosto, mas não se moveu.

— Seu funeral, — eu prometi enquanto me inclinei levemente e me joguei contra ele. Ele tentou se preparar, mas saiu voando para trás com força em um monte de neve. Eu espreitei para frente, estendendo a mão para a maçaneta quando algo pontiagudo atingiu minhas costas. Um segundo depois, eletricidade sacudiu por todo o meu corpo, agarrando meus músculos, contraindo-os contra o meu controle. Eu caí no chão, a cabeça batendo contra a lateral do carro enquanto caía. Um maldito Taser. Eu cerrei meus dentes contra a sensação, tentando lutar contra isso para que eu pudesse estar preparado para me mover assim que ela diminuísse. Em vez disso, um joelho duro caiu nas minhas costas no momento em que isso aconteceu. — Fique quieto, filho da puta, você está preso por obstruir a justiça, — uma voz estranha disse em meu ouvido. Eu o reconheci vagamente como pertencendo a um dos oficiais da RCMP. Lutei contra seu aperto, ficando de joelhos, então me levantando e meio agachado com todo o seu peso agarrado às minhas costas. Recuei, batendo-o no carro para o sacudir. Ele caiu. Mas a comoção chamou a atenção de outros policiais. Um veio até mim. Eu acertei um soco forte no canto da mandíbula, jogando sua cabeça

para trás, então ele desmaiou antes mesmo de atingir o chão. O próximo foi mais inteligente e sacou seu Taser, apontando-o para mim com um aviso. Eu me movi para frente ainda, esquivando-me dos fios enquanto eles voavam em minha direção para atacar idiota em volta das pernas. Enquanto o montava, disse. — Só quero levar minha mulher para casa. Me deixe levá-la para um local seguro. Ele tentou me dar um soco no rosto, mas eu agarrei seu punho e torci com tanta força que algo estalou em seu pulso. Ele gritou assim que outro policial me abordou por trás, prendendo-me no chão. Lutei, mas havia outro policial depois dele, Travers havia se recuperado. Ele rosnou no meu ouvido enquanto eu tentava me libertar. — Você terminou, filho da puta. Terminou! Acima da cacofonia, eu estava vagamente ciente dos pneus sendo esmagados na neve. Pânico como eu nunca tinha conhecido cravou em meu sangue. Eu joguei minha cabeça para trás em Travers e o ouvi xingar enquanto ele caia para o lado. O outro policial tentou prender minhas mãos atrás das costas, mas fui capaz de fazer meu corpo rolar e meio que o prendeu embaixo de mim. Quando ele tentou se levantar, dei uma cotovelada em seu rosto. Fiquei de pé, pronto para me virar para enfrentar o carro que segurava Bea, para matar qualquer um que tentasse ficar entre mim e aquele veículo. — Espere, seu bastardo, — alguém fervia ao meu lado enquanto a pressão fria de uma arma beijava minha têmpora. — Eu juro por Deus, vou te acertar onde você está se você tentar atacar mais algum dos meus homens. Eu rosnei. — Sua operação está fodida. Eu preciso tirar Bea daqui.

— O policial Moore está com ela, — disse ele. — Ele a levou de volta ao departamento para mantê-la segura. O filho da puta na clareira não era o assassino. Apenas uma criança amarrada a uma porra de uma estaca e uma mulher mais velha se passando por Linley. Ela disparou a arma, mas o garoto foi baleado no fogo cruzado. O inverno se instalou em meus ossos, silencioso e mortal. — Passe um rádio para Moore. — Eu acabei de dizer a você, ele a levou para a delegacia. — Passe o rádio, filho da puta, para Moore! — Eu rebati, acabei com essa merda. Eu chutei, pegando o policial na perna e ele tropeçou, então rapidamente me virei para pegar a arma em sua mão, liberando a trava com um movimento rápido do meu pulso. O pente caiu no chão gelado com estrépito. Usei o cano da arma como cabo e acertei no policial. Ele grunhiu quando tocou sua mandíbula. — Priest! — Lion gritou, correndo em minha direção enquanto mais policiais convergiam com suas armas em punho. O resto estava na clareira, uma ambulância gemendo ao longe, os policiais se reuniram ao redor de Bennet caída e do garoto ferido. Eu estava no semicírculo de homens em azul, sem respirar com dificuldade, apenas vibrando com a tensão enrolada. Eu mataria todos eles se não me levassem até Bea. — Priest, — Lion latiu, passando pelo ringue ao meu lado. — Que porra é essa?

— Eles levaram Bea, eles disseram, — eu rosnei. — que Moore levou Bea para a estação. Ligue para aquele filho da puta, quero a voz de Bea na linha. Os olhos de Lion arregalaram ligeiramente antes que ele pudesse restringir a expressão. — Tenho certeza que ela está bem, irmão. Apenas uma precaução para tirá-la daqui quando alguma merda acontecesse. — Ligue. Para. Ele. Lion não hesitou novamente. Ele gritou por Hutchinson, que estava comandando as operações com o representante da RCMP. Hutch deu uma olhada em meu rosto e empalideceu antes de chamar Moore. Ninguém respondeu. A convicção caiu sobre mim como um manto pesado. Eu sabia o que tinha acontecido. Era uma armadilha. Distraia todo mundo para que eles enviem algum convertido religioso fodido para tirar Bea de mim. Eu sabia antes que Hutch tentasse de novo e de novo. Antes de ligar para a delegacia e confirmar com a recepcionista que Moore não havia chegado. Na verdade, eu sabia disso em meus ossos quando acordei esta manhã. — Priest, — disse Lion em meio ao caos abafado de minha própria mente. Mas eu estava acabado. Farto com a porra dos porcos. Farto com as regras. Farto com tudo. Este homem queria Bea?

Ele tirou minha mulher de mim? Arrancou minha sombra do meu lado? Eu o faria pagar tão dolorosamente, ele choraria sangue enquanto me implorava por misericórdia. — Nós a encontraremos, — Hutch estava dizendo. Os policiais ao meu redor haviam se dissipado, chamados ao serviço para encontrar a garota que eles haviam deixado ir. Hutch se aproximou de mim. Um erro. Eu o peguei em meus braços e rosnei ferozmente em seu rosto. — Você fez isso, filho da puta. Eu disse a vocês que era um plano idiota, e você estava muito convencido de sua própria invencibilidade. Usar um distintivo não significa nada se você não proteger a porra do inocente, e Bea era a melhor nisso. Estou farto. Estou a recuperando antes que o filho da puta a mate, e farei do meu jeito. Você tenta me impedir, eu vou acabar com você também. Você me ouviu? Ele engoliu em seco, mas ergueu as mãos em sinal de rendição. — Eu te ouvi. Eu o joguei fora sem outro pensamento, perseguindo minha moto estacionada ao lado do passeio. O capacete de Bea ainda estava preso ao assento. A fúria estalou através de mim, queimando minha pele, queimando a parte de trás dos meus olhos. Eu estava vivo, vivo, vivo com fúria. — Priest, — chamou o Lion.

Eu acelerei o motor da minha moto para o abafar. — Estou aqui, — ele persistiu, levantando a voz ainda mais alto quando saí para a rua. — Você precisa de mim, estou aqui. Eu não respondi enquanto dirigia a moto pela estrada abaixo. Isso não era mais assunto de policial. Era assunto do clube. Negócios de família. Meu negócio, porra. Eu não pararia até que tivesse o sangue desse filho da puta em minhas mãos e na porra da minha garganta. Minha vida inteira de merda me preparou para este momento. Isso me deu todas as fodidas habilidades conquistadas com dificuldade que eu precisava para caçar e acabar com ele. Me ensinou a aceitar a dor em vez de sucumbir a ela. Todo o horror da minha vida valeu a pena se isso significasse que eu teria meu coração de volta.

Capítulo Trinta e Um Bea

Eu não conseguia acordar. Pelo que pareceram horas, a escuridão opressiva pesou em minhas pálpebras, pressionando todo o meu corpo como se eu estivesse envolta em uma cova de concreto, enterrada viva. Tentei lutar contra a sensação de afundamento e aterrorizante, mas não cedi na escuridão. Eu só podia ficar ali me perguntando se isso era a morte. Não o abraço suave do Ceifador do jeito que eu sempre acreditei, mas um buraco profundo e escuro em que você afunda e nunca mais volta. Gradualmente, tão gradualmente que pareceu levar uma eternidade, a sensação voltou aos meus membros. Senti um formigamento nas pontas dos dedos que parecia uma coceira. Mexi os dedos dos pés, encontrando-os frios e rígidos em minhas botas. Com a vigília veio a dor. Dor quando me lembrei de Cleo lutando por sua vida no hospital. Dor quando percebi que Priest ficaria literalmente louco, sabendo que eu tinha sido pega, se perguntando se eu tinha sido morta.

Dor ao pensar em adicionar mais dor à minha família, quando eles já estavam tão profundamente magoados. Em seguida, a dor cegante em minha cabeça que roubou a vista de meus olhos, mesmo quando eu finalmente fui capaz de abrir minhas pálpebras. Eu olhei sem ver enquanto me lembrava dos eventos que levaram a minha presença lá. O tiro na clareira, Priest tentando chegar até mim e o Oficial Moore dirigindo o carro, dizendo que estava me levando para um lugar seguro, levando-me para um refúgio. A palavra refúgio bateu errado, uma nota discordante atingiu minha mente. Eu o questionei sobre isso, inclinando-me em direção ao console. Ele pisou no freio com tanta força que eu voei para frente e bati a cabeça com um estalo forte contra o plástico. Um momento depois, suas mãos estavam vindo para mim com algum tipo de seringa em suas mãos. Agora isso. — Oh Deus, — eu resmunguei, só para ver se minha voz funcionava. Sim, embora mal como uma porta rangendo em dobradiças enferrujadas. As palavras arranharam minha garganta. Ninguém respondeu. Pisquei rapidamente, sentindo as lágrimas escorrerem no escuro e rolarem pelo meu rosto. A luz irrompeu, imagens borradas e condensadas em formas discerníveis. Eu estava em algum tipo de igreja no interior. Na verdade, era um galpão, um galpão construído com madeira velha, rachada e mal isolado. O vento assobiava forte através das aberturas, girando

na pequena capela como um sussurro áspero, de modo que todo o espaço parecia cheio de vozes fantasmagóricas. Virei minha cabeça estremecendo para ver a frente do espaço, um altar tosco no topo com uma cruz enorme e grosseiramente entalhada do tamanho de um homem adulto. Havia manchas cor de ferrugem na cruz. Eu não sabia de nada que deixasse aquele tipo de resíduo, exceto sangue. Um arrepio percorreu meu corpo, pontos negros dançando em minha visão enquanto eu cerrava a dor aguda em minha cabeça. O que meu sequestrador me deu? Suguei uma respiração congelante em meus pulmões, então observei a nuvem de respiração quente ao meu redor. A respiração profunda não fez nada para me acalmar. Eu estava sozinha em algum barraco esquecido por Deus no meio do nada, sem um telefone ou qualquer meio de comunicação com as pessoas que eu tinha certeza que estavam procurando por mim. Eu não podia simplesmente contar com eles para me encontrar. Eu tinha que confiar em mim mesma para sair dessa e chegar até eles. Minhas mãos estavam amarradas nas minhas costas com uma corda áspera que raspava sobre a pele fina dos meus pulsos toda vez que eu me mexia. Eu caí batendo o quadril, na esperança de conseguir alavancagem para ficar de pé e tentar a porta na outra extremidade do espaço, embora pudesse ver claramente as correntes em torno das maçanetas. Um gemido vindo de algum lugar entre os bancos vazios me segurou. — Olá? — Chamei.

Minha voz ecoante voltou em resposta. Com cuidado, comecei a ficar de joelhos novamente. Outro gemido, este mais agudo, mais longo como um animal ferido. Olhei em volta deliberadamente desta vez, tentando ver nas sombras mal iluminadas por duas luzes de construção de halogênio com lâmpadas expostas. Na extrema esquerda, saindo de trás de uma das duas fileiras de bancos, vi um pé. Um pé de salto alto. Instantaneamente, a esperança superou meu pânico e medo. Rolei para a frente de joelhos e comecei a me arrastar com os pés pelo chão de terra batida em direção ao sapato. Quando me aproximei, vi uma perna longa e pálida envolta em meias nude e a bainha de um vestido de lã preto. Não foi até que quase caí no canto do banco, batendo meu quadril dolorosamente contra o canto, que eu soube com certeza quem era. Tabitha Linley. Ela estava desmaiada no chão com um grande corte na cabeça, sangue seco descascando da pele de sua bochecha esquerda e pescoço, onde havia derramado e acumulado no chão abaixo dela. Eu engasguei com um suspiro. — Oh meu Deus, Tabby. Ela não se mexeu.

Eu me arrastei para frente, desesperada para deixar minhas mãos livres para que pudesse verificar sua respiração e realizar a massagem cardíaca se necessário. Uma das luzes estava acesa atrás de mim, sugerindo uma ideia. Fiquei de pé desajeitadamente e recuei até o suporte. Um assobio cortou meus lábios enquanto eu segurava meus pulsos amarrados na lâmpada exposta e comecei a trabalhar a corda para frente e para trás sobre o fio quente que a envolvia. O suor escorreu pela minha testa e rolou para os meus olhos. A pele delicada de minhas mãos queimava e empolava, mas eu continuei. Finalmente, a corda se esgarçou o suficiente para que eu pudesse parti-la com um puxão de meus pulsos. — Tabby, — chamei imediatamente, correndo de volta para sua forma deitada. Me ajoelhei ao lado dela, sacudindo-a levemente e, em seguida, batendo suavemente em seu rosto para reanimá-la. — Tabitha! Ela estava respirando, o que me deu esperança, mas levou um longo minuto para ela se mexer. Primeiro, um pequeno gemido passou por seus lábios rachados, então um gemido mais áspero. Seu rosto machucado se contraiu em uma carranca de dor quando seus olhos se abriram. — B-Bea? — Ela sussurrou roucamente enquanto tentava se sentar, mas depois caiu de volta no chão. — Oh meu Deus, o que está acontecendo? — Estamos em algum tipo de igreja em ruínas, — eu disse a ela suavemente, preocupada que ela pudesse ter uma concussão. Eu a ajudei a se sentar com as costas contra o banco, em seguida, molhei a borda do meu suéter com cuspe para que eu pudesse limpar um pouco do sangue que descamava em sua testa. — Eu sinto muito. Tentamos fazer uma troca por

você com o serial killer, mas ele nos enganou. Você está bem? Você o viu? Ele machucou você? Vê-la sangrando no chão fez meu coração apertar de culpa. Eu sabia que ela estava com dor, sofrendo algum tipo de destino horrível nas mãos do assassino, levada porque ele me queria e ele sabia que eu amava Tabby. Tabby piscou como uma coruja. — O quê? Eu não vi ninguém. Um minuto, eu estava entrando no meu carro, e no próximo, estou aqui com você. Mas por que ele nos levaria? Eu pensei que ele só levava pecadores. — Bem, eu tenho namorado um homem no The Fallen MC. Nesse ponto, é bastante óbvio que eles são a antítese das crenças do assassino, então ele provavelmente pensa que foi um pecado eu dormir com ele. Ele está obcecado com a ideia de fazer de mim sua esposa espiritual…. Ele está claramente delirando. Ele te levou para chegar até mim. Tabby piscou novamente. Ela tinha olhos arregalados da cor de argila macia, maleáveis, eu sempre pensei, muito parecido com sua personalidade agradável. Ela abaixou a cabeça, colocando uma mecha de cabelo ensanguentado atrás da orelha com a mão trêmula. — Oh meu Deus, eu não posso acreditar. Eu estava saindo da igreja quando alguém saltou sobre mim das sombras. Eu estava com tanto medo, mas então tudo ficou escuro. Lembro de pensar que Seth ficaria tão preocupado quando eu não voltasse para casa. — Eu só falei com ele por telefone brevemente, — eu disse a ela, lembrando-me da ligação rápida que eu fiz para ele enquanto Priest e eu dirigíamos para o local da troca. — Mas ele é forte. Ele vai orar por você. Tabby respirou fundo e voltou seus olhos marejados para mim. — Ele é muito melhor do que eu. Eu nunca mereci estar com alguém como ele.

Eu fiz uma careta. — Eu não sabia que você se sentia assim por ele. Para mim, você sempre me pareceu perfeitamente compatível. Um pequeno sorriso curvou sua boca, mas havia uma luz maníaca em seus olhos que fez meus dentes rangerem. — Oh bem, obrigada. Definitivamente, tento ser boa para ele. Melhor para ele. — Certo... bem, por que não vemos se podemos dar o fora daqui? — Eu sugeri enquanto levantava, me movendo para oferecer a ela minha mão antes de me lembrar de como ela estava gravemente queimada. — Não sei há quanto tempo estamos aqui, e aquele lunático pode voltar a qualquer minuto. — Você disse que tem dormido com um homem do The Fallen? — Tabby perguntou enquanto trabalhava lentamente para ficar de joelhos. — Eles são todos completamente incivilizados, Bea. Sei que sua irmã decidiu se casar com um, mas achei que você os conhecesse pelo que eram. Criminosos e animais. Eu cerrei meus dentes para não ranger para ela, tentando lembrar que o contexto da vida de Tabby era muito mais estreito do que o meu. Ela julgava porque tinha medo do desconhecido, e The Fallen eram impossíveis de prever. — Vamos falar sobre os detalhes mais sutis do crime e do pecado quando sairmos daqui, certo? — Eu recomendei, já me movendo em direção à entrada para examinar as correntes enroladas nas cruzes recortadas em cada lado das portas duplas. — Acho que essa madeira é frágil o suficiente para quebrar. Se você me ajudar com essa luz, acho que poderíamos usar para... Eu parei quando as correntes começaram a chacoalhar, recuando lentamente enquanto deslizavam com um silvo agourento pela madeira entalhada e desapareciam na escuridão do outro lado.

Então nada. Eu esperei, a respiração suspensa, o coração gaguejando em meu peito. Mas nada aconteceu. Olhei por cima do ombro para Tabby, que ainda estava de joelhos, as mãos erguidas como se estivesse rezando, o terror transformando seu rosto em algo grotesco. Hesitante, dei um passo mais perto para espiar para fora da fresta de espaço em forma de cruz preta na porta de carvalho cinza, mas apenas a escuridão encontrou meu olhar. Pressionei minha mão direita trêmula na madeira e comecei a empurrá-la para abrir. Crack. As portas explodiram para dentro, a madeira me atingiu bem na testa, enviando-me cambaleando para trás. Meu tornozelo torceu enquanto tentava me equilibrar, então caí feio, com a cabeça batendo no encosto do banco da igreja. Pontos negros crivaram minha visão enquanto eu pisquei em meio à dor e as lágrimas repentinas, desesperada para ver quem estava na porta aberta pairando sobre mim. — Beatrice Lafayette, — uma voz fria entoou de cima. — Você não vai a lugar nenhum até que expie sua miríade de pecados. Tabby avançou e se ajoelhou ao meu lado para me ajudar a sentar. O cheiro de seu perfume açucarado era um conforto enquanto eu lutava contra minha desorientação. Não havia dúvida de que tive uma concussão, minha

segunda em três meses, e era difícil me concentrar por causa da dor estonteante. Pisquei com força, então olhei para o homem que causou tanta dor. Ele se vestia todo de preto com um capuz profundo puxado sobre sua cabeça, escondendo suas feições. Por um momento sombrio e assustador, ele parecia exatamente como Priest. A euforia e a doença cresceram dentro de mim porque eu sabia que não era meu psicopata que veio me salvar, embora ele tivesse a mesma figura reconfortante. Foi de propósito, eu tinha certeza. Este homem era um psicopata que gostava de jogar. Ele tinha uma coleção de características do medidor de psicopatia diferente da do meu Priest. Eles compartilhavam a mesma falta de empatia, dessensibilização à violência e à morte e a capacidade chocante de se ajustar à norma quando lhes convinha, mas esse homem

também

era

claramente

auto

engrandecedor,

dramático

e

narcisista. Ele se achava mais inteligente do que todo mundo, mais poderoso, um autoritário total. Eu precisava me lembrar disso ao lidar com ele se eu quisesse tirar Tabby disso com vida. Eu não era ingênua o suficiente para pensar que a mesma esperança existia para mim. — Por favor, deixe Tabitha ir, — eu implorei a ele, voz trêmula e olhos arregalados e aterrorizados para que ele acreditasse que eu estava devidamente intimidada em vez de ultrajantemente zangada. — Ela é uma boa esposa, uma cristã devota. Quaisquer pecados que ela possa ter cometido não são nada em face de seu amor pelo Senhor.

Tabby fez um pequeno barulho ao meu lado, aproximando-se com conforto. Sua mão acariciou meu cabelo em um gesto que era tão familiar que fez meu coração queimar. Passei meus braços em torno dela, colocando sua cabeça sob meu queixo para proteger e confortar na mesma medida. Ela era mais velha do que eu, mas Tabby sempre foi mole. A idade não tinha nada a ver com o fato de eu ser a mais forte de nós duas e cabia a mim protegê-la. O homem ficou em silêncio enquanto pairava sobre nós, claramente apreciando a embriaguez de sua superioridade física e o poder de seu silêncio. Finalmente, ele se agachou, tendo o cuidado de manter distância suficiente para que eu não pudesse ver o recesso sombrio de seu rosto encapuzado. — Ela é uma boa esposa, — ele concordou em um tom assustadoramente monótono. — Não é boa o suficiente para o Profeta, mas ela tenta. Tabby choramingou, agarrando-se a mim com unhas afiadas. — Ela nunca foi tão boa quanto você, — ele continuou, inclinando a cabeça em uma leve imitação de Priest. — No momento em que te conheci, soube que era você quem deveria cuidar de mim e de nosso novo rebanho. Ela não. Tabby estremeceu tão violentamente que gemeu. Uma pequena pontada de terror abriu caminho como um verme no solo da minha mente. Isso não estava certo. Esse não poderia ser... — Não é verdade, Tabitha? — Ele perguntou suavemente.

Ao meu lado, minha amiga estremeceu novamente, então rolou os ombros para trás, afetando uma mudança em todo o seu comportamento. Era como se ela tivesse puxado as cortinas para revelar a operadora atrás delas. O brilho em seus olhos não era medo. Talvez nunca tenha sido. Era loucura. Eu vacilei quando ela se inclinou para dar um beijo suave e doce na minha bochecha, então rolou facilmente para ficar de pé como se ela não tivesse sido espancada. Observei com o coração batendo forte na garganta, sufocando a respiração, enquanto ela quase pulava para o lado do nosso sequestrador. — Eu não sou digna, — ela concordou simplesmente enquanto se inclinava como uma gatinha em seu ombro e o acariciava. Então ela olhou para mim com uma expressão suave, quase sonhadora. — Mas você poderia ser, se apenas se arrependesse. — Tabitha, — eu disse lentamente, quase com medo de expressar meus medos como se isso pudesse fazer uma diferença no resultado desta situação de pesadelo. — O que você está fazendo? — Apoiando meu marido como uma esposa deveria, — explicou com uma pequena ruga na testa. — Apoiando-o como você deve, Bea. — Oh, meu Deus, — eu engasguei enquanto a bile subia pela minha garganta e meu estômago revirava. — Não tome o nome do Senhor em vão, — o homem encapuzado advertiu assustadoramente, dando um passo à frente para se ajoelhar tão perto de mim que pude sentir o vento frio enquanto ele descia até o meu nível. Quando ele jogou o capuz para trás com um movimento de cabeça e me olhou com lindos

olhos azuis congelados de gelo, eu não fiquei surpresa, apenas profunda e irreconciliavelmente horrorizada. Seth Linley estendeu a mão para agarrar meu queixo em um aperto punitivo, a fim de trazer meu rosto ainda mais perto. Sua respiração, quando ele falou quase contra a minha, tinha gosto de vinho da comunhão. — Pois o nome do Senhor também é meu.

Capítulo Trinta e Dois Bea

Ele

explicou enquanto

fazia

Tabitha

me

preparar

para

minha

penitência. Irritou ele que eu lutei com os dois, especialmente quando meu pé atingiu o queixo de Tabitha e a fez bater em uma das luzes da construção. Então, ele tirou uma seringa surpreendentemente grande de dentro de sua jaqueta escura, sacudiu-a algumas vezes e depois a cravou mecanicamente em meu pescoço. Uma pressão dolorosa estourou em minhas veias, então eu relaxei, todos os músculos do meu corpo derretendo em inatividade em minutos Um relaxamento muscular, ele me disse naquele tom monótono que eu nunca tinha ouvido antes, um forte. Eles não se preocuparam em me amarrar, um descuido que planejei explorar assim que tivesse a sensação de volta em meus membros. Pela primeira vez desde sua revelação, Seth me tocou, inclinando-se para passar suas mãos suaves sobre minha cabeça em meu cabelo. A expressão em seu rosto de beleza clássica era tão terna, um estudo de empatia. Ele parecia tão humano que me gelou até os ossos. Porque eu sabia que ele era totalmente

desumano, o pior tipo de psicopata, que só acreditava em sua própria convicção. E Seth? Ele estava cheio de propósito. Ele era o porta-voz de Deus na Terra. O primeiro messias moderno. Ele falava sem parar sobre a diminuição da moralidade hoje, como as pessoas eram corruptas, quanta orientação precisavam, como Entrance era uma fossa de pecadores, desde The Fallen até a operação de pornografia e tráfico sexual de Irina Ventura. — Seu avô tentou, — ele permitiu com um sorriso que cortou nitidamente entre suas bochechas enquanto ele folheava uma Bíblia de couro preto gasto. — Mas sua ligação com Deus foi diminuída pelos pecados de sua casa. Sua irmã transformou o nome de sua família em um nome de perversidade. Eu queria falar, dizer a ele que minha irmã não tinha feito tal coisa, que meu avô era o homem mais santo que eu conhecia, mas minha língua estava seca e pesada em minha boca. Tabby estava me despindo, percebi com uma pontada de pânico, cortando minhas roupas até que eu usasse apenas minha calcinha. Seth me estudou quase clinicamente, mas foi Tabby quem falou. — Você e eu cuidaremos de nosso messias. Eu sou sua esposa física, ligada às suas necessidades corporais, e vou produzir seus herdeiros. Mas você será seu igual espiritual, sua santa esposa. Ele merece isso. Deus enviou-lhe uma visão disso. Eu era capaz de choramingar, apenas um pouco, mas Tabby apenas me deu um pequeno sorriso caloroso com camaradagem. — Será um ajuste quando

Seth ensinar nossos caminhos, mas quando você se estabelecer, eu sei que você vai adorar estar conosco. — Você reconhecerá muitos de nosso rebanho da Igreja da Primeira Luz, — Seth se gabou enquanto Tabby puxava um vestido branco antiquado com um pescoço franzido sobre minha cabeça, puxando meus braços pelas mangas compridas. — Opal Burns, é claro, interpretou Tabby tão brilhantemente na clareira hoje. O filho dela, Owen, já se sacrificou por nossa causa, então era apropriado que Opal o seguisse. E Eric... — Ele estalou a língua. — Bem, eu tentei com ele, realmente tentei. Ele veio à nossa igreja com tanto zelo no início, mas então eu o senti se afastando da minha luz. Seu sacrifício foi necessário. Vendo o pânico em meus olhos, Seth parou de andar e folhear a Bíblia para se inclinar para mim.  — Eles atiraram nele na clareira, sabe, pensando que ele disparou a arma. Era Opal, boa e doce Opal tão piedosa por mim. As mulheres sempre são. Demora um pouco mais para balançar os homens, mas é por isso que tenho Tabitha. Tabby riu calorosamente, claramente encantada com o elogio. Eric. Oh meu Deus. O doce e lindo Eric com suas brincadeiras de rebelião e seu coração puro. Lágrimas queimaram a parte de trás dos meus olhos e desceram pelo meu rosto. Seth resmungou enquanto se abaixava para pegar minha forma agora vestida em seus braços, do jeito que os noivos carregam suas noivas.

— Não chore por ele. Ele não vale o seu lindo coração. Você aprenderá, apenas os devotos são dotados da luz de Deus. Ele estava louco. Muito louco. Dentro do meu corpo congelado, estremeci e gritei contra seu aperto terno. Eu me imaginei rasgando sua garganta com meus dentes, amaldiçoando-o até o inferno, quebrando seu pescoço. Em vez disso, fiquei inerte em seu domínio enquanto ele me levava para fora para a noite iluminada pela lua e dava a volta na parte de trás da igreja. Um rio balbuciava na neve, perfurado com cacos de gelo brilhante. — Este é o momento que eu estava esperando, — disse ele, inspirando profundamente como uma criança na manhã de Natal, cheio de expectativa. — Vou te batizar, te purificar de seus pecados e então você será minha. Minha pura esposa dada por Deus. Eu vou matar o homem com quem você pecou, — ele prometeu como um juramento de amante. — Ele não merece viver depois que ele te maculou. — Ele olhou para mim, seu rosto escondido da luz da lua, tão escuro que parecia um abismo com uma voz desencarnada. — ‘Quando ela continuava se prostituindo tão abertamente e exibia sua nudez, eu me afastei dela com nojo, como me virei com nojo de sua irmã. Mesmo assim, ela aumentou sua devassidão’, — ele citou Ezequiel na Bíblia. — Quase me afastei de você, doce Bea, por causa de sua irmã e seu relacionamento imundo com o motoqueiro, mas isso teria sido um erro. Eu sou o Profeta de Deus, tenho o poder de limpar você da contaminação de sua irmã, do toque de seu motoqueiro, de seus muitos pecados recentes. Vou ajudá-la a lhe tornar pura e inteira novamente para que possamos ser um. Tabby não tinha nos seguido, por isso, tenho certeza, ele se sentia seguro em tocar minha bochecha com ternura e sussurrar.

— Eu também vou matar ela, minha doce Bea. Portanto, podemos estar juntos de todas as maneiras como marido e mulher. Apenas seja paciente. Seja paciente. Eu gostaria. Eu esperaria até que o momento se apresentasse e então correria. Se eu não pudesse correr, eu lutaria. Eu não entraria graciosamente na noite fodida de Seth. Ele entrou no riacho, andando até o meio, onde a água chegava até os quadris. Ele me abaixou no riacho, a água gelada chocando meu sistema. A sensação começou a queimar através de mim, descongelando meus membros dessensibilizados com o frio. A esperança surgiu verde primaveril e delicada no meu peito. Fiquei muito, muito quieta quando a sensação retornou primeiro aos meus dedos das mãos e dos pés. Acima de mim, Seth começou a jorrar as escrituras enquanto me segurava meio submersa no fluxo ártico. — ‘Pois todos nós fomos batizados por um Espírito para formar um corpo...’ Eu desliguei sua tagarelice zelosa, mexendo suavemente os músculos dos meus pés, sentindo o puxão em resposta, então movendo os das minhas panturrilhas, antebraços e coxas. Meu corpo estava ganhando vida, não por meio de Deus, mas por meio da ciência e de minha pura vontade. Eu estava começando a me libertar.

Eu não morreria aqui com este louco. Eu não deixaria Loulou, nem minha sobrinha e sobrinho, nem o clube que eu chamava de casa. Eu absolutamente não deixaria Priest sem seu coração, mais uma vez um homem morto caminhando por sua vida sem amor. — ‘Portanto, se alguém está em Cristo, a nova criação veio: o antigo se foi, o novo está aqui!’ — Seth finalizou meu batismo com um floreio de voz elevada, mergulhando-me completamente sob as águas geladas. Prendi a respiração e enviei uma rápida oração ao meu Deus para que sobrevivesse a isso. Então me movi. Com os braços ainda despertando, empurrei violentamente as mãos de Seth em meus ombros. Ele não estava preparado para qualquer movimento, então imediatamente, seu aperto escorregou. Minha mão encontrou uma grande pedra perto de seu joelho e a empurrei ela, impulsionando-me rio abaixo. Gaguejando, eu rompi a superfície para uma respiração ofegante e vi Seth avançando através das correntes atrás de mim. Orei enquanto era puxada para baixo da superfície para que Deus tornasse as águas mais rápidas do que o homem. Quando voltei à superfície, estava a três metros de distância. Depois quatro. Depois seis. O rio se curvou, levando-me a uma curva e fora da vista de Seth. Eu lutei contra meus membros não cooperativos, tentando chegar à margem do rio. As

rochas estavam escorregadias em meu aperto fraco, a água fria me roubando o fôlego, mesmo quando cheguei à superfície para engolir em meus pulmões apertados. O esforço me exauriu, mas fui capaz de me arrastar sobre as pedras para secar no solo. Fiquei deitada ofegante por apenas um momento antes de ouvir o barulho e respingos de Seth ainda me perseguindo. Eu não hesitei. Priest me disse uma vez que as pessoas pareciam mais lúcidas naqueles momentos logo antes de ele matá-las, mesmo que ele tivesse passado horas dizimando suas mentes e corpos. Uma clareza e calma os alcançaram, e eles se submeteram quase pacificamente ao seu destino iminente. Senti a clareza, mas lutei com unhas e dentes contra a inevitabilidade da minha condenação. Empurrei meus membros dormentes e comecei a correr, direto para a floresta escura. O barulho da neve sob meus pés, a forte mordida do frio em minhas solas e os dedos gelados de ar agarrando meu cabelo molhado e minhas roupas encharcadas, nada disso registrou. Enquanto eu corria sobre o terreno irregular e galhos afiados de árvores nus cortavam minha pele como papel de seda, tudo que eu podia ver era a esperança balançando em algum ponto interminável à distância, me puxando para frente. Minha respiração era um assobio fumegante no frio enquanto eu me forcei mais rápido, mais forte. Eu tinha que escapar. Eu precisava.

Ele me mataria, eu sabia, se não no momento em que me pegasse, então logo depois. Não havia raciocínio com a loucura, nenhuma palavra que eu pudesse usar que se traduzisse corretamente na linguagem de sua insanidade. Ele tinha ido para lá, tão perdido em sua própria mente quanto eu estava no emaranhado de árvores densas e escuras. Atrás de mim, o som de neve esmagando sob seus passos pesados e o estalo agudo de galhos de árvores cedendo a uma força em movimento. Ele estava ganhando de mim. Comecei a gritar por socorro, minha voz ofegante e estridente demais para ser carregada. Era minha última esperança. Meu corpo estava murchando, pés arrastando na neve. Eu não conseguia mais senti-los no frio e minha cabeça estava girando com o esforço e os resquícios das drogas. Não fiquei surpresa quando a forte punção de respiração ofegante rompeu o ar atrás de mim e, alguns segundos depois, após me desviar de uma árvore para despistá-lo, um peso pesado e quebradiço se acomodou na parte de trás do meu crânio. Minhas pernas se dobraram embaixo de mim, meu torso colidindo com o chão frio antes que eu pudesse esticar as mãos para evitar a queda. O ar disparou de meus pulmões em uma exalação dolorosa e explosiva. No próximo segundo, ele estava em mim, pressionando todo o seu peso nas minhas costas, minhas costelas, recentemente curadas, doendo com a pressão. — Você pode correr, Bea, mas você é o plano de Deus para mim. Não há como escapar disso, — Seth murmurou em meu ouvido enquanto tentava prender minhas mãos atrás das costas.

Ele estava perto o suficiente para que eu pudesse alcançá-lo com meus dentes. Eu me lancei antes que ele pudesse processar o movimento no escuro, prendendo meus dentes na borda de sua mandíbula e puxando com força. A carne saiu em minha boca, seu grito rouco explodiu em meu rosto antes que ele recuasse e se afastasse. — Vai se foder, — eu disse antes de cuspir o pedaço dele que eu tinha arrancado. Usando a natureza escorregadia da neve em minha vantagem, rolei para ficar de frente e arranhei descontroladamente o rosto de Seth. Ele gritou quando eu peguei carne e rasguei da testa ao queixo, sua carne se

acumulando

sob

minhas

unhas,

seu

sangue

escorrendo

atrás

delas. Aproveitando, eu me contorci debaixo dele, minhas mãos queimando na neve enquanto eu lutava. Quando ele se lançou às cegas atrás de mim, eu o chutei no queixo, deliciando-me com a maneira como sua cabeça foi jogada para trás com um estalo antes de eu virar e ficar de pé. Corri de novo, os pulmões queimando com ácido, os músculos se contraindo quando os empurrei com muita força. Soluços torturaram meu peito, lágrimas caindo quentes de meus olhos em bochechas frias enquanto eu corria para salvar minha vida. Se eu pudesse apenas sair desta floresta esquecida por Deus, Priest poderia ter uma chance de me encontrar. Eu sabia que ele não pararia até que ele me encontrasse, que cada pensamento, respiração e ação que ele tomou desde que fui levada estariam a serviço de me encontrar.

Percorri mais um quilômetro, talvez, mas meu corpo estava falhando, manchas escuras obscurecendo minha visão, meus pés tão dormentes que mal conseguia me mover no chão. Eu desabei antes que ele pudesse me alcançar, arrastando-me pelos dedos na neve, na esperança de encontrar algum tipo de esconderijo onde ele não me encontrasse. Deus não estava comigo. Algo emaranhou no meu cabelo puxou minha cabeça para trás, a voz de Seth descendo suavemente sinistra em meu ouvido. — Pare de lutar comigo. Você está apenas se machucando. Você é minha, Bea. Este é o plano divino de Deus. — Você não é um Profeta, Seth. Você é um louco de merda, — eu fervia enquanto lutava. Estava muito escuro para ver mais do que o contorno de seu rosto, mas eu senti a torção de raiva nele segundos antes de ele me atacar e me bater de lado no queixo. A dor explodiu na minha cabeça, meus pensamentos se dissiparam no nada, o ruído branco preenchendo o espaço. Sua mão segurou meu queixo, forçando-me a olhar para ele, mas ele se aventurou muito perto da minha boca e eu reivindiquei seu polegar com meus dentes. O sabor quente de seu sangue inundou minha língua enquanto eu dissecava a ponta com minha mordida. Ele fez um barulho feroz de raiva como um dragão acordado, mas ele não me soltou. Em vez disso, ele pegou uma pedra solta e bateu contra minha bochecha, a pele se abrindo como um pêssego maduro demais. Naquele ponto, havia tanta dor e dormência por causa das batidas, da corrida e do frio que eu não sentia mais nada.

Eu tinha a mancha pegajosa e férrea de sangue na boca, mas não tinha mais certeza de a quem pertencia. Nós dois estávamos sangrando de múltiplas contusões, um fio grosso caindo de sua mandíbula do corte profundo que eu fiz em sua bochecha esquerda. — Olhe para mim, — eu exigi, torcendo para olhar por cima do ombro para ele enquanto ele prendia com sucesso minhas mãos em cada lado do meu torso com os joelhos. — Olhe para o sangue em minhas mãos, sua pele sob minhas unhas. Eu não sou o que você quer que eu seja. Eu nunca fui. Ele me estudou na escuridão, raios de luar cortando as árvores como facas. Eu não deveria ter interpretado isso como um símbolo de esperança, aqueles pontos laminados de luz, mas eles eram muito Priest, muito eu para não tirar coragem deles. — Agora não, talvez, — ele admitiu pensativo, as mãos torcendo as minhas tão dolorosamente que gritei. — Ainda não, mas você estará de novo. E então ele me bateu na cabeça com uma pedra, e eu desci na escuridão mais uma vez.

Capítulo Trinta e Três Priest

O complexo dos Fallen estava cheio de motos alinhadas ao luar, o brilho prateado dele nos tanques pretos fazendo-os parecer um inseto, alguma cena de um dos clássicos filmes de terror de Bea. Homens vestidos de couro se reuniram nas baias da garagem da Hephaestus Auto, armando-se enquanto mais ainda se reuniam na igreja, discutindo táticas, debruçados sobre mapas rodoviários e desenhados à mão feitos por homens que viveram tanto tempo nas montanhas do litoral que eles os conheciam melhor do que os cartógrafos. Todos foram mobilizados para encontrar Bea. Havíamos passado o dia tentando rastreá-los em campo, mas até Kodiak, que tinha talento para essas coisas, chegou com nada depois de alguns quilômetros em qualquer direção. O amigo de Bea, Eric, estava sendo operado por causa do ferimento a bala feito pelos policiais quando presumiram que fora ele quem disparara a arma, mas Loulou foi até sua casa e falou com sua mãe em busca de pistas. Ela voltou com uma Bíblia anotada rabiscada em tinta manchada, as notas nas margens eram todos ajustes nas escrituras de Deus que ele foi encorajado a fazer pelo maldito profeta falso.

Opal Burns estava sob custódia, aberta como uma noz esmagada na dura parede de pressão policial. Ela era uma mulher obediente às regras que havia sido desencaminhada pelo Profeta, e embora o oficial Hutchinson me dissesse que ela estava com remorso, vergonha e ansiosa para falar sobre os ensinamentos da ‘Nova Igreja’ deste Profeta, ela ainda não tinha revelado um nome. As coisas estavam acontecendo, mas não rápido o suficiente. Nem para mim, nem para Bea. Não imaginei atos horríveis sendo feitos a ela. Era fácil entrar na mente de um assassino em série quando, por definição, eu também era um. Ele não queria que ela morresse. Ela era uma parte essencial de seu plano, e seu propósito não poderia ser alcançado sem ela viva. Para que ele não a matasse. Não se ele não precisasse. Corri essas palavras pela minha cabeça como um canto para me concentrar na ferocidade desenfreada que crescia dentro da minha casca dura e fria. Cressida e Lila continuaram me perguntando, quando eu andei pela sede do clube no meu caminho para armar os homens ou incitar Z a se mexer, se eu estava bem. Eu não respondi. Na verdade, eu nunca estive bem. Não estava na minha maldita natureza. Mas isso deu uma nova definição para não bem.

Se eu tinha sido um cadáver respirando antes, eu era um fantasma agora, assombrando a terra com um propósito. Para retificar um erro. Cressida me parou novamente com uma mão em meu braço, Prince seguro em seu outro. Ele era um garoto sorridente, já parecendo a cara de seu pai. Quase não parei e, por qualquer outra pessoa, não teria feito. Bea era a única coisa que importava. O que acontece com um homem que gira em torno de uma obsessão singular apenas para que ela seja arrancada dele? Pisquei sem expressão para Cress. Ela apertou meu antebraço, olhos castanhos arregalados e bonitos com sinceridade. — Sei que você está ocupado, então não vou te impedir de fazer o que precisa para trazer Bea para casa. Só queria dizer, Priest, se alguém pode trazer ela de volta para nós, é você. Se alguém pode descer ao submundo deste homem e retornar com nossa garota do sol, é você. Eu pisquei para ela novamente porque eu não entendia o que ela estava implicando emocionalmente. Às vezes, isso acontecia. Um pequeno e triste sorriso flertou em sua boca quando ela afastou o braço para balançar suavemente um Prince balbuciante contra seu peito. — O que estou dizendo, Priest, é que você já foi um herói para mim e sei que hoje será um herói para ela. A velocidade do obturador desta piscada era lenta, gaguejando enquanto eu lutava para computar suas palavras. Herói.

A palavra me deu vontade de rir. Assassino. Psicopata. Executor do The Fallen MC. Esses eram meus apelidos. Eu me sentia confortável com eles. Talvez eu até tivesse orgulho deles se eu fosse construído para ter orgulho de mim mesmo pelas coisas. Herói não estava no meu léxico. Mas algo sobre o discurso excessivamente bonito de Cress, um hábito que ela tinha de ler muito, ressoou em meu peito vazio. Para Bea. Sim, para Bea eu poderia ser o que diabos eu precisasse, contanto, que isso significasse que ela estaria de volta ao meu lado, onde ela pertencia, me atirando um daqueles sorrisos brilhantes por nenhuma outra razão além de que ela estava feliz por estar comigo. Eu empurrei meu queixo para Cress, mas ela me pegou, sorrindo o sorriso secreto de mães que sabem melhor do que o resto de nós. Como se induzido pelos meus pensamentos, a porta do clube se abriu, convidando a um silêncio espesso dentro das paredes. Eu me virei, os cabelos da minha nuca se arrepiando porque o instinto me disse quem estaria ali. Phillipa Lafayette. Ela parecia pequena no mesmo batente de porta usado por homens com o dobro de sua altura e constituição física, com três vezes mais coragem. As luzes artificiais irradiando para o lote atrás dela a colocavam na sombra, mas

eu tinha bons olhos para o escuro e vi a maneira como ela torcia as mãos e mordia o lábio. Eu vi quando ela ergueu o queixo do jeito que suas filhas faziam quando estavam convencidas de sua própria discussão antes mesmo de começarem a lutar. — Mãe, o que você está fazendo aqui? — Loulou perguntou, levantandose de um dos sofás onde ela estava segurando uma garota motoqueiro meio que de vigília com as outras Old Ladys. Seus olhos estavam feridos de tanto derramar lágrimas, a voz fraca por causa do aperto delas em sua garganta, mas ela ainda se mantinha como a realeza dos motoqueiros enquanto olhava para a mãe que havia decepcionado tanto ela quanto Bea. Um rosnado sacudiu em meu peito. A cabeça de Phillipa virou na minha direção, um pequeno arrepio rolando por ela. Eu sorri para ela, rápido e selvagem. Ela deu um pequeno passo para trás, depois girou os ombros e entrou na sala. — Estou aqui para ajudar a recuperar minha filha. — Você sabe algo? — Loulou sussurrou. — Como? Eu me movi para frente, não parando nem mesmo quando Phillipa vacilou com a minha abordagem. — Priest, — chamou Nova ao sair da igreja. — Tente não causar um ataque cardíaco à mulher antes que ela possa compartilhar suas informações. Parei a meio metro dela, os braços cruzados sobre o peito, a cabeça inclinada enquanto a olhava sem piscar.

Ela torceu as mãos com tanta força que parecia doloroso. — Ultimamente, tenho tido uma pequena crise de fé. — Houve alguns bufos das garotas motoqueiras. — Descobri que estava gostando da companhia do clube e não sabia como conciliar isso com minhas crenças... ou talvez as crenças que herdei através do meu casamento com Benjamin. — Não falamos esse maldito nome neste lugar, — Zeus disse da porta da igreja, olhando para sua sogra sem simpatia. — Bem, isso é compreensível, — Phillipa concordou sem jeito antes de respirar fundo. — Procurei orientação da Primeira Luz, minha comunidade ali. Em particular, Seth Linley me colocou sob sua asa espiritual e, por um tempo, pensei que ele estava me ajudando. Agora, vejo que ele apenas me confundiu, me fez perder de vista tudo o que era importante. — Ela parou com um soluço. — Minhas filhas, acima de tudo. Agora, Bea foi levada por algum assassino, e as últimas palavras que teríamos falado uma com a outra foram vis. — Vá direto ao ponto, — eu encorajei, mostrando meus dentes. Seus olhos se arregalaram, mas ela engoliu o medo. — O que quero dizer é que estava pensando em como fiz mal a Bea porque segui Seth por esse caminho zeloso que não era verdadeiro para mim, e algo me ocorreu. Não é isso o que este homem, o Profeta está fazendo? Seth é tão adorável, tão carismático. Mas Bea me disse que esses psicopatas poderiam ser assim? É uma das razões pelas quais eles são tão perigosos. E Seth? Ele é tão próximo do rebanho do meu pai, com Natalie Ashley, que foi morta, e Amelia Stephens. Ele era tão próximo de Opal Burns que se ofereceu para ser o mentor de seu filho equivocado. Eu só queria saber se isso poderia ser útil.

— Chame o Lion, — Zeus exigiu para ninguém em particular antes de se virar para voltar para a nossa igreja. — Curtains vai encontrar o esconderijo desse filho da puta antes dos malditos porcos. Loulou foi até a mãe, agradecendo suavemente a informação, mas o restante de nós a ignorou. Na minha humilde opinião, a vadia ainda não merecia o carinho de Bea. — Não vamos compartilhar essas informações com eles ainda, certo? — Carson Gentry, nosso novo membro em potencial, perguntou com os olhos arregalados. — Eles foderam tudo para proteger Bea. — Não, — eu prometi tão sombriamente que os olhos do garoto se arregalaram ainda mais. — Nós passamos da justiça policial. Este é um território fora da lei agora, e aquele filho da puta do Seth Linley será julgado por mim.  

  Uma velha cabana no alto das montanhas, além de Entrance, na sinuosa rodovia Sea to Sky, fora propriedade de um garimpeiro que fez uma fortuna mínima na corrida do ouro de 1862. As florestas e picos estavam repletos de estruturas abandonadas construídas por forasteiros e rebeldes.

Esta em particular foi construída por um Ronald Havisham. O nome de solteira de Tabitha Linley era Havisham. Foi assim que Curtains encontrou os registros, escavados profundamente nos arquivos de Entrance. Era o lugar perfeito para levar Bea, totalmente isolado da civilização e impossível para ela escapar a pé. Saí pela porta assim que Curtains falou as coordenadas, já armado até os dentes e pronto para colocar minha Pequena Sombra de volta onde ela pertencia. Eu estava pulando em minha Harley, prestes a enfiar meu capacete quando Kodiak, Wrath e Bat apareceram na entrada de uma das baias da garagem. Cada um deles usava Kevlar por baixo de seus cortes enquanto sua escolha de armas brilhava na luz prateada. — Estamos indo, — declarou Bat. Olhei fixamente para eles enquanto algo se movia em meu peito, algo doloroso e recém-nascido, muito vulnerável a momentos climáticos como este. Zeus saiu da sede do clube com os braços cruzados, o rosto barbado sombrio como a merda. — Leve eles, Priest. Você precisa de toda a ajuda que puder obter. Ficarei aqui para coordenar o resto dos homens, mas estaremos bem atrás de você. Minha garganta queimando como se eu tivesse sugado água benta, e isso se rebelou contra a minha forma de pecador. Zeus se empurrou para fora do batente da porta e desceu as escadas até estar a apenas alguns passos da minha moto. Sob sua testa franzida, seus olhos

prateados cortaram minha carne e ossos direto para a caverna sombria no meu coração. — Quantas vezes, desde que você veio até nós, você nos protegeu? — Ele questionou baixo, apenas para mim. — Quantas vezes você se arriscou por este clube? Não tenho dúvidas, você pode massacrar esse filho da puta do jeito que ele merece, mas Priest, pelo amor de Deus, deixe sua família te ajudar pelo menos uma vez. Havia palavras na minha garganta, mas eu não sabia como dar a elas ar e voz o suficiente para falar, então eu apenas empurrei meu queixo para o meu Prez, o homem que me acolheu aos dezessete anos e me deu um propósito. Zeus, sendo Zeus, me pegou. — Montem, — ele chamou os outros, que se moveram instantaneamente em sua ordem para suas motos alinhadas ao lado da minha. Wrath ligou seu motor, seu enorme corpo e moto quase me diminuindo. As palavras borbulharam na minha garganta e decidi não as reprimir. — Obrigado, — eu grunhi. Um sorriso tremeluziu em sua barba, mas sua voz estava tensa quando disse. — Eu daria qualquer coisa para ter a chance de salvar minha mulher. Eu penso que se éramos irmãos naquela época, você faria o mesmo. Meu aceno foi firme enquanto eu acelerava meu motor e saía do estacionamento, meus irmãos me seguindo sem hesitação. Se eu fosse um homem de oração, teria orado com tudo o que tinha. Bea não teria o mesmo fim trágico que a garota de Wrath, Kylie.

A neve chegava até as coxas em alguns lugares, agarrando-se ao meu jeans encharcado de água, fazendo o progresso pelas colinas densamente arborizadas lento e cansativo. Conhecíamos a proximidade geral da cabana, mas após duas horas de busca na encosta da montanha, ainda não havíamos encontrado nenhum tipo de estrutura humana. A voz lógica em que confiei durante toda a minha vida estava falhando. Não era por causa da paranoia emocional, mas porque eu sabia como um homem como Seth Linley trabalhava e conhecia minha mulher. Ela não desistiria. Ele não desistiria até que ela o fizesse ou ela estivesse morta. Ela foi levada há dezessete horas, e eu não tinha certeza de quanto tempo a paciência de Seth duraria. Meu olhar cortou a escuridão destacada apenas pela lanterna de nível militar que varri através das árvores próximas. O cheiro forte de resina e pinheiro destacou o ar ardente do inverno que chicoteava os galhos e arranhava minhas roupas, meu corte batendo como as asas de um pássaro. Havíamos nos espalhado para cobrir mais terreno uma hora atrás, cada um assumindo o controle de um quadrante no topo da colina. Imaginamos que

estávamos separados por cerca de trinta minutos, conectados por rádios de ondas curtas, mas até agora, havíamos encontrado merda de nada. Então eu vi, apenas uma mancha de tinta na neve, uma mancha escura seguida por três pequenas gotas. Sangue. Eu marchei pela neve funda até o sangue preso sob uma leve camada de neve nova, meus instintos de caçador vibrando. — Consegui algo, — murmurei no rádio antes de verificar em meu relógio as coordenadas para transmitir aos meus irmãos. — Entrando. — Espere por nós, — respondeu Bat. — Estou perto, faltam vinte minutos. — Não vou deixá-la por um segundo a mais do que eu preciso, — eu grunhi. — Vejo vocês quando nos encontrarmos. Desliguei meu rádio para que o ruído não chamasse uma atenção indesejada e, em seguida, me movi para a frente, saindo do respingo de sangue, mais fundo no bosque de árvores. Silenciosamente, preparei minhas armas, uma pistola Wilson Combat e minha adaga de faca fixa em punho, a lanterna em minha boca quando avistei uma clareira entre a massa interminável de árvores. Depois de alguns minutos, cheguei à orla puída da floresta e parei, paralisado pela cabana de madeira degradada na clareira apoiada por um rio caudaloso. Uma luz tremeluziu nas cruzes de madeira recortadas em ambas as portas. Eu me esgueirei para frente na neve, o barulho disso apenas um sussurro sob meus passos cuidadosos.

Cinco metros depois, ouvi os gritos. Não as notas altas e afiadas de um novo trauma, mas os gritos quase agudos de uma pessoa que sofre de uma dor contínua. Minha frequência cardíaca diminuiu, minha visão ficou mais clara e quaisquer sentimentos que eu tinha anteriormente ficaram congelados. Eu não era um homem agora. Eu era um assassino. Bea não era minha mulher, mas um objetivo. Era assim que eu operava, e essa era a única maneira de tirá-la de lá com segurança. Eu estava a um metro da estrutura quando a luz atrás das cruzes tremeluziu. Alguém estava na porta. Rápido como uma respiração, eu me abaixei e me achatei contra a parede ao lado da porta, obscurecido por ela se abrindo quando alguém saiu. Tive um instante, só isso, para fazer uma escolha. Eu pulei para fora da escuridão assim que as portas se fecharam atrás de Tabitha Linley. Ela teve apenas meio segundo para inspirar e gritar quando eu a peguei em meus braços antes de colocar uma mão enluvada em sua garganta para a abafar. Esperamos, sua luta patética absorvida pelo meu corpo apertando ao redor dela como uma cobra. Lá dentro, os gemidos suaves continuaram pontuados pelo tapa, tapa do impacto.

O som me assombrou. Eu o reconheci instantaneamente. Um chicote contra a pele macia. Seth estava açoitando Bea por seus pecados da mesma forma que Cristo foi açoitado pelos romanos. Poderia ter havido um plano melhor, talvez, com mais tempo e reflexão. Mas me recusei a deixar Bea ficar mais um momento naquela sala sem mim, sozinha com seu sofrimento. Pressionei a ponta de minha faca pontiaguda no pescoço de Tabitha e, pela primeira vez em dez anos, entrei de boa vontade em um lugar religioso, embora não santificado.

Capítulo Trinta e Quatro Bea

Quando a dor parou, rastejei lentamente para fora da caverna mental em que escondi meu subconsciente para evitar o pior da agonia. Com a consciência veio uma onda de fogo lambendo minhas costas, a queimadura maçante em torno de meus pulsos, onde uma corda áspera segurava meus braços espalhados pelos beirais de cada lado do altar improvisado de Seth. Momentos depois, eu abri meus olhos, a sala iluminada por brilhantes luzes industriais e aquecida por aquecedores, e descobri por que Seth tinha parado com sua tortura. Priest ficou parado na porta entre as duas cruzes como um anjo violento e vingativo todo vestido de preto, sua faca pressionada com tanta força no pescoço de Tabitha, o sangue já escorria por um corte substancial. Um soluço rompeu meus lábios quando o alívio perfurou meu corpo. Priest estava lá. Ele realmente me encontrou.

Seus olhos eram sombras escuras sob sua sobrancelha, tornando-o esquelético

e

desumano

enquanto

enfrentava

Seth. Ambos

estavam

inexpressivos, dois psicopatas se chocando. — Eu deveria saber que você viria, — Seth disse suavemente, virando preguiçosamente o chicote de couro encharcado de sangue em sua mão enquanto saía de trás de mim para encarar a porta e o homem que estava nela. — Se ela é um anjo, você sempre foi Satanás tentando induzi-la ao pecado. — Ela não é Eva, você não é Adão. — Não. — Seth sorriu então, aquele rosto classicamente bonito se enrugando. Ainda doía saber que estive tão completamente alheia à sua loucura. — Eu sou a voz de Deus na Terra. Priest ergueu uma única sobrancelha. — Então, no espírito da porra da ilusão, eu sou as mãos da Morte. Seth riu, encantado. — E suponho que você pense que não vou te machucar porque você tem uma faca na garganta da minha esposa. Em resposta, Priest cravou a faca mais fundo no pescoço dela, fazendo-a gemer por trás de sua mão presa em torno de sua boca. Seth nem mesmo vacilou. — Certamente, faça o que você deve. Minha única esposa verdadeira é Bea. Sério, você estaria me fazendo um favor. Priest piscou uma vez, sua mente trabalhando rápido e forte, então no segundo seguinte, sua faca estava cortando a garganta de Tabitha. Ela desabou no chão, com as mãos no pescoço aberto, gargarejando enquanto sangrava.

Seth não se moveu um centímetro, seu rosto quase em paz enquanto ele considerava Tabby. — Você se saiu bem nesta vida, Tabitha. Você foi uma boa serva de Deus. Os olhos de Tabby estavam arregalados de horror quando seu marido apenas olhava para ela. O sangue borbulhava de seus dedos e escorria de sua boca aberta. Rapidamente, muito rapidamente, a mulher que eu amei uma vez, que me traiu, morreu no chão da igreja de seu marido. Priest não fez uma pausa para um efeito dramático. Sua arma foi levantada, apontada para Seth em um instante. Mais uma vez, meu algoz parecia imperturbável. Priest não conseguia ver o motivo, a pequena pessoa atrás de mim segurando uma faca nas minhas costas. Seth sorriu. — Billy, por que você não mostra a esse homem por que ele não atira em mim? Billy Huxley saiu da sombra do meu corpo, a ponta da faca ainda pressionada com força ao meu lado. Ele estava tremendo, a ponta da faca vibrando contra minha pele, mas havia muita determinação em seus olhos. Seu pai estava morrendo. Sua mãe foi morta. Ele estava tão perdido e, infelizmente, Seth foi quem o encontrou. Quando eu recuperei a consciência depois que Seth me arrastou de volta para a capela da floresta, Billy foi quem cuidou do meu ferimento na cabeça, enxugando o sangue com um pano sujo.

Ele se desculpou baixinho, parecendo assustado, mas com medo. Caso contrário, ele não respondeu às minhas tentativas de alcançá-lo, sempre olhando para Seth para confirmação. Isso doeu quase mais do que o açoite. Senti que falhei com ele ao permitir que isso acontecesse, que estive muito envolvida em minhas próprias atividades para reconhecer uma alma perdida quando me deparei com uma. Eu não tinha dúvidas de que ele estava apavorado e se agarrando à única coisa estável que ele conheceu nos últimos meses, Seth e seu Deus. Priest olhou para a criança, mandíbula flexionada, arma ainda erguida. — Parece que estamos em um impasse, — Seth disse com alegria. — Por que você não abaixa a arma? Priest inclinou a cabeça em consideração, seus olhos pousando nos meus. Eu não sabia o que dizer ou fazer para tranquilizá-lo. Eu não queria que ele largasse a arma. Eu queria que ele atirasse em Seth na porra de sua cara estúpida, mas também queria que ele poupasse Billy. Eu não tinha ideia do que ele faria, então fiquei chocada quando ele largou a arma no chão e ergueu as mãos em sinal de rendição. — Priest!— Eu gritei enquanto Seth ria levemente e se adiantou para pegar a arma, apontando-a para o meu homem. Claro, era tarde demais. Seth apontou a arma de Priest para ele calmamente. — Isso é quase bom demais para ser verdade, mas eu deveria ter tido mais fé. Deus sempre recompensa seus discípulos.

Ele continuou a balbuciar sobre ser o escolhido enquanto escoltava Priest para um lado da sala antes de instrui-lo a abrir os braços em um gesto de súplica. Priest obedecia a todas as ordens, o rosto quase relaxado, completamente plácido. Meu coração disparou em meus ouvidos. Onde estava meu assassino feroz? Qual era o seu plano? — Seth, pare, — eu gritei, puxando dolorosamente minhas amarras. Ele sorriu por cima do ombro para mim enquanto pegava um kit de ferramentas de um dos bancos e tirava um martelo e um prego. — Calma, Bea, quero que essa alma corrupta observe enquanto trago você para a luz. Então, quando você finalmente for purificada, você vai assistir enquanto eu o mato. — Não, por favor, não o machuque, — eu gritei. — Eu prometo que farei o que você quiser. — Você fará? — Ele perguntou naquele tom baixo e profundo que enviou arrepios na minha espinha. — Eu duvido que você vá. Acho que você acredita que ama esse pecador, mas seu bom coração te desviou. Talvez seja bom vê-lo ferido. Sem hesitar, ele colocou um prego no meio da palma da mão de Priest e martelou com força através de sua carne na parede com uma maçante paulada na carne. Priest mal se encolheu, mantendo-se imóvel, seu rosto totalmente imóvel mesmo quando Seth martelou outro prego na mão direita, um conjunto de palmas crucificadas combinando.

Satisfeito, Seth recuou para examinar Priest espalhado para ele do jeito que eu imaginei que ele fizesse como um cirurgião diagnosticando clinicamente seus pacientes. A bile subiu pela minha garganta com a ideia das mãos de Seth em qualquer um, mas principalmente em Cleo, operando-a depois que ele foi o único a arruiná-la como se fosse uma piada de mau gosto. Eu não conseguia suportar a ideia de Seth adicionando mais cicatrizes à carne crivada de Priest, tendo um prazer perverso em sua dor. — Ele não está vivo o suficiente para sentir nada. Como você pode pensar que tenho sentimentos por alguém assim? — Eu gritei, tentando amarrar minha voz com desdém. — Você está vivo? — Me dirigi a Priest com um grito de raiva. — Verdadeiramente? Ou você é apenas uma casca de respiração? Tão casado com a morte que sua vida é estreita como um caixão. — Oh, bravo, — Seth disse sem sentir enquanto batia palmas. — Você é péssima em mentir, Bea. É aquele seu bom coração. Agora, fique quieta enquanto ensino a este homem uma lição importante sobre maldade, ou farei com que Billy encontre uma maneira de acalmá-la com aquela faca, hein? Você aprenderá, mas uma boa esposa sempre obedece ao marido em todas as coisas. — Eu não sou sua esposa, — eu cuspi, puxando as cordas em meio à dor terrível. — Eu nunca vou ser nada sua, exceto uma obsessão fodida. Seth me nivelou com um olhar frio. — Veremos como você se sentirá quando ele se for. Lutei, mas Billy moveu a ponta da faca para longe da minha pele para que eu não me empalasse acidentalmente.

— Por favor, Billy, querido, você não precisa ajudá-lo, — implorei novamente. — Ele é um homem muito mau. — Eu sei, — Billy sussurrou em uma respiração distorcida, lágrimas nos olhos. — Ele matou minha mãe. Ele me disse que me mataria também se eu não ajudasse. — Oh, Billy. — Eu solucei, terror e desespero se movendo através de mim como veneno, deixando um cheiro ácido e químico em minha língua. — Acredite em mim, o Priest não vai deixar isso acontecer. Billy não parecia convencido, o que era justo porque, quando olhei para ele, Seth havia cortado sua camisa com a faca do próprio Priest e estava arrastando a faca pela pele enquanto explicava onde estão os órgãos vitais. — Se eu te apunhalasse bem aqui, — Seth disse quase amorosamente enquanto olhava para o sangue escorrendo pelo torso de Priest. — Você sobreviveria, mas a dor seria excepcional. — Faça isso, então, — Priest ofereceu desapaixonadamente. Seth parou, confusão cintilando em seu rosto. Priest respondeu à sua pergunta silenciosa. — Você pode me machucar o quanto quiser, filho da puta. Contanto que você não esteja machucando Bea. — Ah, você acha que está apaixonado por ela, — ele zombou, cravando a faca alguns centímetros no lado esquerdo de Priest logo abaixo de suas costelas. — Não sei nada sobre o amor, mas sei sobre a morte. E eu não tenho medo de morrer por ela, — Priest afirmou, seus olhos encontrando os meus por cima do ombro de Seth.

Eles eram de um verde profundo e claro à luz amarela das lâmpadas de construção. Eu podia ler tudo naquela expressão vazia, o amor que ele sentia, mas não conseguia expressar explicitamente, a determinação que ele tinha e, acima de tudo, a confiança. Eu respirei profundamente, o vestido branco sujo e manchado de sangue rasgado em tiras nas minhas costas ensanguentadas vibrando sob a minha garganta com a minha expiração. Eu estava certa. Ele tinha um plano. Todo o corpo de Seth parecia afetado por uma mudança rápida provocada pela declaração de Priest, seus músculos curvando seu corpo sobre si mesmo, seus músculos tensos demais. Quando ele mergulhou a adaga no lado de Priest e torceu, ele o fez com um pequeno silvo de prazer. — Há tantas maneiras de matar na Bíblia, — Seth explicou enquanto deixava a faca no torso de Priest e se inclinava para pregar em seu rosto. — Eu me pergunto qual Deus e eu decidiremos matar você. Um sorriso cortou sangrento e cru no rosto de Priest antes que ele se lançasse para frente, estalando os dentes no pescoço de Seth. Eles pousaram no lado de sua garganta e, com um movimento violento de cabeça, ele arrancou um pedaço gigantesco da coluna carnuda. Seth cambaleou para trás, as mãos agarradas à garganta, o sangue escorrendo pelos dedos e pelo suéter escuro com a boca aberta de surpresa. Priest cuspiu o caroço irregular de pele e sorriu como um maníaco. — Duvido que você tenha a chance, — ele finalmente respondeu com os dentes pintados de vermelho, sangue escorrendo de seus lábios enquanto ele sorria aquele sorriso de animal feroz.

Eu assisti uma luz vermelha dançar através das janelas em forma de cruz nas portas da frente e cair trêmula na perna de Seth. Seth seguiu o olhar de Priest até o círculo vermelho e piscou. Um momento depois, um tiro atravessou as portas de madeira úmidas e perfurou a coxa direita de Seth. Ele gritou de agonia ao cair no chão, segurando a ferida que sangrava profusamente. Priest se moveu rapidamente então, arrancando as mãos da parede, então distraidamente puxando os pregos perfurados em suas palmas como se fossem lascas. As portas da capela se abriram, Kodiak e Wrath invadindo o interior com armas levantadas. Billy congelou ao meu lado. — Billy? — Priest chamou sobre os sons de lamentos de Seth quando Wrath foi segurá-lo. — Abaixe a faca, garoto, certo? Ele não fez tal coisa, tremendo tanto que a faca espetou meu vestido e a pele do meu quadril. Priest deu um passo à frente, mas Billy ergueu a faca e pressionou-a contra minha barriga, ameaçando. — Ei, — meu homem chamou, sua voz repentinamente suave, baixa e alegremente irlandesa. — Uma vez conheci um homem como Seth, que fingia ser padre quando na verdade era um monstro. Ele fez isso comigo quando pensou que eu era mau, — ele indicou as cicatrizes brilhando através de sua camisa rasgada. A faca ainda estava em sua barriga, e ele se moveu cautelosamente ao redor dela, mas não fez nenhum movimento para puxála. — Ele me disse: ‘Uma pessoa sem valor, um homem perverso, anda com

palavras tortas, pisca com os olhos, sinaliza com os pés, aponta com o dedo, com o coração pervertido inventa o mal, continuamente semeando discórdia, portanto, a calamidade virá sobre ele de repente, em um momento ele estará quebrado além da cura’. Você sabe que versículo bíblico é esse? Um momento vibrante passou, então Billy acenou com a cabeça minuciosamente. — Provérbios 6: 12-15. Era um dos favoritos do Profeta. Uma sombra passou pelo rosto de Priest, e ele cerrou os punhos feridos com tanta força que o sangue correu por entre os nós dos dedos e molhou o chão. — Não estou surpreso. Era um dos favoritos do meu algoz também. Ele tentou me quebrar além da cura, Billy, mas olhe para mim? Desafiei aquele homem e seu Deus, mas aqui estou. Você pode fazer o mesmo, confie em mim. Às vezes, os homens maus usam Deus como desculpa para fazer o mal. Ninguém vai te machucar. Billie estremeceu com tanta força que seus dentes bateram, enormes lágrimas rolando por seu rosto enquanto ele debatia com seus demônios. Finalmente, ele olhou para mim e sussurrou. — Se ele estiver certo, então minha mãe foi morta sem motivo. Meu coração se partiu por ele, lágrimas se acumulando em meus próprios olhos. Era impossível não traçar paralelos com o menino que Priest havia sido abusado pela igreja, completamente perdido e sozinho. — Seth não estava certo da cabeça, Billy. Eu acho que você sabe isso. Nos deixe te ajudar tudo bem? Seu fino lábio inferior tremeu quando ele olhou para Priest. — Você não vai me machucar?

Priest manteve suas enormes mãos com cicatrizes bem abertas. — Não, garoto, eu vou te ajudar. Um momento depois, a faca caiu no chão, e Priest avançou para pegar Billy, verificando-o com eficiência em busca de ferimentos antes de o passar com um murmúrio para um Kodiak que esperava. — Tire ele daqui, — ele grunhiu, já se movendo para mim. Chorei assim que ele me alcançou, quando suas mãos seguraram meu rosto e trouxeram minha testa contra a dele. — Pequena Sombra, — ele soprou em meu rosto, sua fragrância ao meu redor, e Deus, parecia que estava voltando para casa depois de um pesadelo. — Mo cuishle. Eu estava soluçando tanto que meu corpo inteiro tremia, deixando meu corte aberto em agonia, mas não conseguia parar. Ele estava lá. O homem que todos pensavam ser um prenúncio da desgraça, que foi sempre e de muitas maneiras complicadas, meu salvador. — P-Priest, — chamei repetidas vezes como se pudesse nos unir eternamente com o som de seu nome escolhido. Ele me beijou com força para conter o fluxo de palavras, seus lábios nos meus me estabelecendo o suficiente para que eu parasse de tremer. — Espere, — ele ordenou enquanto se afastava para cortar as cordas dos meus braços.

Eu sibilei quando a corda deslizou pela minha pele ferida, mas Priest estava de volta, segurando-me cuidadosamente contra seu lado esquerdo para que ele não tocasse minhas costas dilaceradas. — Minha, minha, minha, — ele rosnou como uma promessa e um lembrete, como se a posse de mim fosse um grande presente e responsabilidade. — Sua, sua, sua, — repeti. Ele estremeceu quando eu me mexi e pressionei a faca que ainda estava espetada em seu lado. — Priest! Você precisa tirar isso. — Estava preocupado com a perda de sangue. Não perfurou nada perigoso, Bea, não se preocupe. — Ainda. — Movi minha mão sobre o cabo frio e lancei a ele um olhar questionador. Ele inclinou a cabeça. Eu puxei a faca de sua carne com um leve som de sucção que causou arrepios na minha pele. Imediatamente, o sangue vazou por seu moletom, encharcando o tecido do peito à barriga. — Estou bem, — ele assegurou antes que eu pudesse perguntar. — Mas eu tenho trabalho a fazer. Você quer ficar ou esperar lá fora com Billy? Eu pisquei, meu cérebro exausto e dormente lento. Então eu entendi. Atrás de Priest, Wrath estava amarrando um Seth gritando com algumas das cordas lançadas sobre uma viga. Ele estava sangrando muito na perna, o membro balançando inutilmente enquanto o pendurava pelos pulsos com os braços torcidos para trás, os soquetes estalando ao se deslocarem.

Bat apareceu na porta com um rifle de atirador pendurado nas costas, deu uma olhada na cena e pegou seu telefone para enviar uma mensagem de texto para alguém. Não havia como chamar a polícia. Eles não pretendiam entregar Seth às autoridades porque, em suas mentes, eles eram a autoridade. Pelo menos, a única que importava. Eles me encontraram, me salvaram quando os policiais não, e eles deviam sua retribuição. — Cleo? — Eu perguntei. A boca de Priest se retesou. — Ela vai conseguir, mas a recuperação não vai ser fácil. — Eu estarei lá, — eu jurei. Algo como um sorriso se moveu em seus olhos. — Não duvido disso. Agora, Pequena Sombra, você quer ficar ou ir? Eu olhei em seus olhos claros sob aquelas sobrancelhas escuras e cortantes e sabia que se eu ficasse, eu me tornaria uma assassina. Mas eu não sabia disso o tempo todo? Se eu sou um assassino, você é uma assassina. Eu não ia deixar Priest fazer o trabalho sujo como se eu pudesse esquecer o que ele fez, o que Seth fez. A vingança não era um direito dado por Deus. Não era, embora Seth parecesse pensar que era encorajado na Bíblia, mas era um fator da minha vida com o clube, e parada ali sangrando e tonta, salva por homens que as pessoas pensavam serem vilões, eu sabia que ficaria.

Eu amava Priest. Cada sombra escura e recanto em sua mente complicada e coração frágil. Eu queria ver as profundezas de sua crueldade. Eu queria testemunhar ele dizimar um homem que dizimou tantas vidas e tentou matar as nossas. Não foi nada bonito. Não havia romantismo na tortura. A cor do sangue que ele derramou era vermelha, e havia muito sangue enquanto Priest batia nele até que ele confessou seus crimes. Bat segurou seu telefone como gravador. Ele confessou os assassinatos, confessou ter seduzido aquelas mulheres com seus encantos e depois com sua piedade antes de matá-las por alguns pecados percebidos. Ele falou emocionado sobre se casar com Tabitha em Saskatoon e descobrir a igreja, sobre se afastar de seus laços familiares criminosos para as drogas e o pecado para renascer na visão de Deus. Ele falou sobre os Walsh, sua tia Brenda e seu tio Patrick. Ele me disse como era fácil usar sua vingança contra Priest para manipulá-los para o ajudar a incriminar Priest por assassinato, como era simples fazer seu primo, Sean, encontrar alguém para 'me ensinar uma lição' sobre o que acontece com garotas pecadoras naquele banheiro da boate Sugar. Ele falou sobre como todos os criminosos mereciam ser expurgados do planeta e todas as mulheres colocadas sob o comando de homens devotos. Ele disse ao Priest que eu fui feita para coisas melhores do que ele. Depois disso, surgiram facas, armas que o Priest empunhava como uma extensão de si mesmo, cortando e retalhando pedaços de Seth até que ele chorou e balbuciou em línguas sobre Deus e seu próprio direito divino. Era

uma sinfonia de ossos quebrados, carne escorregadia e úmida se partindo em aço frio e gritos humanos diminuindo de volume para gemidos e choramingos. Nem uma vez Seth mostrou remorso. Nem mesmo quando a morte estava se aproximando, quando ele era uma ferida aberta pendurada nas cordas murmurando sobre Deus, Rute e anjos. Priest deu a ele a oportunidade de se desculpar, de exibir tristeza, mas Seth apenas riu com sangue escorrendo de sua boca. Alguns homens eram monstros até o âmago, e Seth era um deles. Quando acabou, quando Priest terminou as coisas com as mãos guardando as facas e uma torção rápida e cruel do pescoço de Seth, ele se virou para mim, respingado de sangue, mãos enluvadas escorregadias com ele, seu rosto uma máscara de pedra esculpida em forma humana. Ele não se moveu para mim ou fez qualquer som. Ele apenas ficou lá, mais morte do que homem. Eu caminhei até ele instantaneamente, tirando cuidadosamente uma luva para que eu pudesse segurar sua mão nua. Juntos, saímos da capela doente com Wrath e Bat nos seguindo. Kodiak esperava do lado de fora com Billy, que ainda tremia, mas não chorava mais. Todos nós ficamos de frente para a estrutura de madeira degradada cheia de maldade disfarçada de Deus, e quando Wrath avançou com uma pequena lata de gasolina para encharcar o que restava das portas esculpidas em cruz, eu sabia que era certo destruí-la até o chão. Bat me entregou um isqueiro com a caveira em relevo sem olhar para mim, os olhos fixos no prédio. Um momento depois, Priest me entregou um

pequeno botão de madeira entalhada, uma lápide que ele esculpiu com ‘O Profeta’ gravado na cova de madeira. Segurei o metal frio e a madeira quente em minhas mãos por um longo momento, o corpo forte de Priest pressionado em meu ombro com a mão em meu pescoço. E então eu abri a tampa, acendi a chama com meu polegar e a joguei com a lápide de madeira contra as portas. Ficamos na luz das chamas enquanto elas devoravam as evidências de tantos crimes até o uivo das sirenes e o uomp, uomp de um helicóptero soou na luz do amanhecer. Quando a polícia chegou, tudo o que restava eram os sobreviventes e as cinzas.

Capítulo Trinta e Quatro Priest

As coisas aconteceram rapidamente depois disso. Bea foi levada às pressas para o hospital por causa dos ferimentos enquanto Bat, Kodiak, Wrath, Billy e eu fomos escoltados para o Departamento de Polícia de Entrance para interrogatório. Um paramédico envolveu minhas mãos perfuradas e enfaixou com gaze sobre o meu ferimento lateral, mas eu não estava em estado crítico o suficiente para sair do interrogatório e estava ansioso para ver essa merda até o fim. Eles nos mantiveram na estação por quase vinte horas, tentando desemaranhar a bagunça de pessoas envolvidas na teia de Seth e Tabitha Linley. O oficial Moore foi encontrado tentando cruzar a fronteira para a América, e muitos membros da congregação na Igreja da Primeira Luz também estavam sendo questionados pelos oficiais. Eric estava acordado e falando. Aparentemente, ele confessou seu envolvimento limitado com a ‘Igreja Nova’ aos policiais de sua cama de hospital, já que estava confinado lá por um futuro previsível com uma espinha quebrada. Já era tarde da noite do dia seguinte quando o Sr. White me acompanhou para fora do prédio na fria e clara manhã de inverno na véspera de Natal.

Zeus estava esperando. Ele ficou encostado no corrimão ao pé da escada com um boné de malha preta da Hephaestus Auto. O homem não disse uma palavra enquanto eu descia os degraus gelados para o seu lado, seus olhos me rastreando da maneira que eu poderia ter feito se fosse um caçador enfrentando um oponente digno. Fiquei diante dele, sem expressão, pronto para receber tudo o que ele achasse que eu merecia por deixar Bea ficar no caminho da porra do Seth Linley. Ele não me deu uma bronca, no entanto. Em vez disso, ele deu um passo forte para frente, agarrou minha mão em sua enluvada carnuda e me puxou para um abraço de tapinhas nas costas. Isso era normal entre irmãos. Abraços, apertos de mãos, empurrões e puxões divertidos. Para um grupo de homens alfa, The Fallen não tinham medo de ser afetuosos uns com os outros. Eu não fui incluído nisso. Nunca pensei em fazer isso, tocar pessoas no afeto ou risadas e, como resultado, raramente tentavam fazer isso comigo. Não era o homem mais acessível nos melhores momentos. Mas isso? Zeus Garro, um dos únicos homens que eu já admirei, abraçando-me com força contra o peito como um irmão perdido há muito tempo que voltou da guerra?

Aquilo passou por mim como um terremoto, as placas tectônicas de quem eu estava mudando e moendo para acomodar essa nova sensação. — Estou orgulhoso pra caralho de te conhecer, irmão, — Zeus grunhiu enquanto me deu um tapa nas costas novamente, então me soltou. — Orgulhoso pra caralho. Eu pisquei para ele. Um sorriso apareceu em sua barba. — Por que eu não te dou uma carona para o hospital na minha jaula? Odeio a neve por prejudicar meu tempo de pilotagem, mas ela me leva do ponto A ao ponto B. Eu balancei a cabeça, ainda trabalhando com aquele aperto no meu peito que eu sabia que Bea chamaria de sentimento. Bea. — Como ela está? — Eu exigi enquanto subia na caminhonete preta de Z. Seus olhos deslizaram em minha direção, então se fixaram de volta na estrada quando ele saiu do estacionamento. — Ela está... bem. — Bem? — Eu ecoei. — O que diabos isso significa? Z me considerou por um segundo enquanto cruzávamos para parar em um semáforo. — Ela é sua Old Lady agora? — Ela é minha, chame do jeito que você quiser. — Sim, — ele concordou suavemente com uma pequena risada. — É assim que acontece com as mulheres Lafayette, eu penso. Você vai se casar com ela?

— O que está acontecendo? — Eu perguntei friamente, não gostando de ser interrogado sobre minhas malditas intenções. Tudo que me importava era chegar a minha garota. — Bea não tem pai, pensei em me tornar seu cunhado, — disse ele com um sorriso largo, obviamente se deliciando com o meu desconforto. — Então? — Então, eu não acredito que temos que nos amarrar para mostrar que vamos ficar juntos até que o fôlego deixe meu corpo, porra, — eu declarei grosseiramente. O maldito idiota riu de mim. — E família, você quer filhos? Eu olhei para ele. Ele me lançou um olhar, completamente imperturbável. Com os dentes cerrados, eu disse. — Não pense que crianças são uma opção para mim. Ela quer um pouco, então vamos descobrir isso. Embora não ache que sou material para papai. Para provar meu ponto, eu abri o zíper da sacola de armas que os policiais tinham tirado de mim quando fui questionado e comecei a prender de volta na minha pessoa. — Ex-condenado, assassino e criminoso ainda sentado bem aqui, e eu tenho que dizer, eu tenho alguns dos melhores garotos de todos os tempos para agraciar o maldito planeta, — Z se gabou quando entramos no estacionamento do Hospital St. Katherine. — Não é quem você é ou o que você passou que importa tanto, Priest, mas como você os ama quando nascem.

— Obrigado pela lição de paternidade, — brinquei enquanto ele estacionava e fiz menção de sair do carro. Sua mão agarrou meu braço, me parando. Eu olhei para ele em advertência porque não gostava de ser tocado daquele jeito, mas o olhar em seu rosto me impediu de rosnar. — Ela está grávida, — disse ele. Eu pisquei. — Lou? Ele soltou uma risada aguda. — Não, Irmão. Bea. Ela está grávida. Eles descobriram quando a estavam examinando. Parece que ela está com cerca de cinco semanas. O médico disse à Bea, e ela parecia em pânico, não sabia como você reagiria. Minha mulher, sendo minha mulher, que estava lá quando essa merda aconteceu, ela me ligou para sondar a situação antes de eu mandar você lá. Bea passou por uma tonelada de merda. Ela não precisa de mais merda empilhada em seu prato, entendeu? Eu pisquei e pisquei, os olhos focados sobre o ombro de Z no estacionamento congelado. Bea estava grávida. Com meu bebê. Meu. O traficante da morte, o morto-vivo, havia criado a vida com uma das mulheres mais incríveis e com os corações mais bonitos desta terra. Eu. Um bebê.

— Priest? — Z chamou, sacudindo meu braço antes de soltar ele. — Você está bem, irmão? — Sim, — eu disse, a voz muito rouca. Não parei para limpá-la ou para me explicar ao meu Prez. Eu estava fora do carro em um instante, cruzando a pista e correndo pela recepção até o elevador. Eu não tinha que perguntar onde ficava o quarto de Bea, já que a sala de espera estava cheia da família Fallen. Abri a boca para exigir que King me dissesse onde ela estava quando fui atingido por uma tonelada de tijolos. Fiquei olhando para Louise Garro enquanto ela se agarrava a mim com mãos fortes e afiadas e chorava em meu corte respingado de sangue seco. — Obrigada, — ela gritou em voz alta, chamando a atenção das enfermeiras em sua estação e alguns dos visitantes que caminhavam pelo corredor. Eu fiquei lá como uma prancha de madeira enquanto ela me abraçava com força, olhando para King, Cress, Nova, Lion e Harleigh Rose com olhos arregalados. As meninas riram de mim. — Sinto muito, — disse Loulou, afastando-se apenas o suficiente para levantar a cabeça para olhar para mim, os braços ainda em volta da minha cintura. Ela tinha olhos bonitos, um ou dois tons mais escuros do que os de Bea e nem de longe tão grandes e cativantes. Mas eles eram bonitos e agora cheios de lágrimas cristalinas. — Eu sinto muito por ser uma bagunça. É só que, você sabe, — ela balançou a mão no ar, em seguida, passou-a de novo em volta de mim como se muitas vezes estivéssemos em um abraço apertado, —

sua irmã é abduzida por um louco religioso, você tende a perder a calma, você sabe? Não respondi, porque não queria ser rude com a irmã de Bea, mas, porra, só queria chegar à minha garota. — De qualquer forma... — ela fungou delicadamente e depois esboçou um sorriso trêmulo que quase teve a potência de um de Bea. — Obrigada. Eu sei que tenho sido um pouco idiota, mas Bea é minha irmã e minha melhor amiga. Já passamos por muita coisa juntas e, como irmã mais velha, não quero vê-la passar por mais nada. Eu o julguei injustamente e sinto muito por isso. Quando a merda bateu no ventilador, não foi sua culpa, e você não hesitou em salvá-la. — Ela respirou fundo, e eu me preocupei que ela estivesse perdendo o fôlego, mas ela apenas exalou e me deu um tapinha no peito antes de recuar para sorrir para mim novamente. — De todas as pessoas, eu deveria saber que os heróis vêm em todas as formas e tamanhos. Estou feliz por não ser a única Lafayette com um monstro guardião. — Certo, — eu disse, aliviado pra caralho por ela ter terminado, mas ciente de que este era um grande momento para ela, se não para mim. — Onde está Bea? Ela piscou para mim e caiu na gargalhada, segurando a barriga enquanto o fazia. — Eu posso ver porque minha irmã te ama. Você definitivamente conhece suas prioridades. Ela está no quarto 207. Z, ah, falou com você? Eu a ignorei, descendo o corredor em direção ao quarto 207. A próxima pessoa com quem falar sobre esse bebê seria minha mulher, não outro maldito membro de sua família.

Assim que cheguei à porta, o pastor Lafayette passou por ela, parecendo desgastado pelos eventos dos últimos dias. Ele não pareceu surpreso em me ver. Na verdade, sua expressão questionava por que levei tanto tempo para chegar lá. — Priest, — ele disse cansado, então riu. — Esse não pode ser seu nome verdadeiro, não é? — Já faz doze anos. O menino antes de Priest morreu há muito tempo, e com ele o nome com que nasci, — confessei com relutância. O pastor não era um homem mau. De tudo o que testemunhei ao longo dos anos, ele era o único bom líder cristão que já conheci, mas, mais do que isso, ele era o amado avô de Bea e merecia um pouco do meu respeito só por isso. Ele sorriu fracamente. — Muito justo, meu rapaz, muito justo. Ela está exausta, mas está esperando por você. — Quando eu não passei imediatamente por ele, ele franziu a testa, me considerando. — Há algo em que eu possa te ajudar? Eu hesitei. — Eu não sou um bom homem. Seus olhos azuis Lafayette vasculharam meu rosto, minhas mãos envoltas e os nós dos dedos marcados como lápides. — Se você diz, embora eu acredite que existe bondade em todo homem. — Só que a bondade em mim vem da mulher nesta cama de hospital, — indiquei com um movimento do queixo. — Talvez nós nos dividimos em dois, o bem e o mal, mas eu sou o último de ponta a ponta. Não me arrependo disso, mas estou pensando, você acha que um homem assim, vivendo a vida como

ele quer, pecando e tudo mais, poderia ser um bom pai? Eu tenho minhas dúvidas. — Você está me perguntando como pastor ou avô de Bea? — Ambos, eu acho. — Eu queria saber quanta graça havia em seu Deus, se o que Bea disse sobre Ele era verdade, que Ele não lançou julgamentos severos ou descartou as almas perdidas como causas perdidas. O pastor sorriu, as linhas ao lado de seus olhos se espalharam, colchetes surgiram em torno de sua boca. Seu rosto sorria com frequência. — Sabe, Priest, posso ser um homem santo, mas até mesmo cometi erros. Criei meu próprio filho para ser um homem terrível. Eu o deixei expulsar minha neta de sua casa. Mas aprendi com meus pecados e realmente acredito que essa é a marca de um bom homem ou mulher. Se errarmos, pedimos sinceras desculpas à parte injustiçada? Seguimos em frente, tendo aprendido mais sobre nós mesmos e como ser melhores? Você diz que não se arrepende de quem você é. Não vejo nada de errado nisso, contanto que você ainda permita a mudança. Seu amor por minha neta não mudou você para melhor? Acredito que provavelmente sim, e acredito que um homem que pode ser movido pelo amor é impulsionado para a grandeza. Se você deseja amar seu filho, não tenho dúvidas de que será um pai digno. Engoli a secura acre do fundo da minha garganta, grato por ele não ter citado as escrituras ou feito referência a Deus diretamente. Eu era quase religioso neste momento. Mas suas palavras tocaram um acorde, embora leves, especialmente quando ele olhou para mim, não um homem pequeno, apenas franzino e estreito, e acrescentou. — Mas o que eu penso não importa tanto quanto

Beatrice, e se eu conheço minha neta, ela não teria se apaixonado por você em primeiro lugar se ela não acreditasse que você era o melhor dos homens. — Obrigado, — eu grunhi, pronto para chegar à minha mulher. Ele sorriu. — Você é família agora, então acho que você pode me chamar de Michael. Eu balancei a cabeça bruscamente, já entrando no quarto do hospital, me esquecendo de sua bondade e seu contraste direto com o padre O’Neal e Seth Linley assim que avistei minha garota. Ela parecia tão pequena nos lençóis brancos do hospital, sua linda juba de cabelo loiro prateado maçante com sangue e fuligem, empurrado para trás por uma faixa de veludo rosa que alguém trouxera para ela. Ela estava olhando pelas janelas para a neve começando a cair em grossos flocos brancos lá fora. Ela não se virou para olhar para mim, embora eu soubesse que ela estava ciente da minha presença. Em vez disso, ela olhou para suas mãos onde segurava o nó Dara entalhado que eu dei a ela anos atrás. — É tão engraçado porque eu sei muito sobre você em alguns aspectos. Eu conheço a constelação de sardas em suas bochechas e as cristas exatas de calosidades em suas mãos. Sei que você não bebe e que enrola à mão seus cigarros de cravo. Eu sei que você é da Irlanda, que escapou de um cargueiro com a ajuda de um estranho gentil. Eu até sei o seu endereço, quando muitos não sabem. — Ela virou aqueles enormes olhos azul-claros para mim, cada estria na íris nítida e visível sob o azul da água do lago. — Eu sei que você me ama. Mas não sei como você se sente sobre o casamento. Não sei como você se sente em relação a bebês e... estou grávida. O que não é realmente uma

surpresa porque não usamos proteção, embora eu saiba que você pensou que não seria capaz de se reproduzir e... Eu comecei a ir em direção a ela, farto com seu discurso, mas incapaz de parar o fluxo de sua bela voz porque eu estava tão fodidamente aliviado por ela estar viva para falar. Então me movi em direção a ela em três passadas devoradoras e me curvei ao meio para agarrar seu queixo entre os nós dos meus dedos e selar aquela boca tagarela fechada com um beijo. Ela tinha gosto de cinza e tristeza, mas também, enquanto minha língua se aprofundava ao me sentar na cama para me apertar mais perto de seu doce corpo, pensei de forma um tanto estranha que ela possuía gosto de esperança. Eu só me afastei quando ela estava flexível como argila quente, e então pressionei minha testa na dela, inclinando meu olhar para baixo para ver minha mão deslizar sobre a extensão plana de sua barriga. — Eu não sinto nada a menos que gire em torno de você, — eu disse ferozmente, esperando marcar as palavras em sua alma. — E agora, este bebê. Posso ser um pai de merda, mas você tem que saber que vou tentar o meu melhor, contanto que você não se importe de ter um assassino como papai do seu bebê. Então Bea fez o que fazia desde os dezessete anos, quando percebi que ela estava comendo pêssego. Ela me surpreendeu. Sua risada soou como sinos de igreja, pura e repicando quando ela ergueu as mãos para enquadrar meu rosto barbudo, trazendo-me para perto para que eu pudesse sentir aquele humor contra minha pele. — Eu nunca soube que as palavras ‘papai bebê’ poderiam me trazer tanta alegria. Eu não preciso de casamento nem nada. Eu sei que você faria, — ela permitiu antes que eu

pudesse interromper. — Mas eu não preciso disso. Só quero ter certeza de que você está bem com isso. Tenho apenas dezenove, vinte anos em cinco dias, mas quero isso muito mais do que jamais poderia imaginar. — Então eu quero também, — eu disse simplesmente porque essa era a verdade. Eu vivia e morreria por uma garota com o cabelo de halo e olhos de anjo. Eu daria a ela a porra do mundo se ela quisesse, mas de alguma forma, ela só me queria. Me movendo para pegá-la suavemente em meus braços sabendo que suas costas danificadas estavam cuidadas, mas doloridas, eu coloquei minhas botas na cama limpa e segurei minha doce menina em meus braços contra o meu corte manchado de sangue, pensando que era isso. Éramos nós. Esta era minha vida agora, meu coração vivo e batendo contra meu peito, em vez de dentro dele. Peguei sua mãozinha pálida, os dedos vermelhos e arranhados por arranhar a neve enquanto ela lutava contra Seth. Beijei as pontas daqueles dedos, em seguida, chupei cada almofada levemente em minha boca, observando enquanto seus olhos azuis ficavam pretos, adorando como um ato tão inocente poderia afetar minha inocente Bea. — Estou obcecado por todo centímetro de você. Os ossos frágeis sob seus músculos magros, toda a extensão de sua pele de camurça creme e a maneira como machuca tanto para mim. Estou obcecado com os nós dos dedos nessas mãos pequenas, — eu disse, fazendo uma pausa para morder suavemente cada gancho de osso na base de seus dedos. — E cada mecha desse cabelo com halo.

— Isso soa muito parecido com amor, Priest, — ela murmurou, quase atordoada. Eu inclinei minha cabeça, considerando isso, a definição de amor como eu li e como uma palavra tão pequena poderia definir a única emoção que já tomou conta do meu corpo e da porra da alma. Finalmente, encolhi um ombro e mergulhei a língua no pulso em sua garganta. — Você pode chamar do que quiser, mo cuishle. É assim que me sinto por você. É assim que eu vou me sentir sobre este bebê só de saber que ele ou ela é parte da minha Pequena Sombra, minha fodida garota de coração corajoso. — Os Walshes ainda estão por aí. Eu sei que Seth orquestrou muitas de suas atrocidades sob o disfarce de seu nome, mas eles ainda podem vir atrás de nós desde Saskatoon, — ela interrompeu, mordendo o lábio inferior preocupada. — E Javier Ventura. Haverá mais também, tenho certeza, inimigos do clube que aparecerão para nos derrubar ou nos matar imediatamente. Nunca estaremos verdadeiramente seguros nesta vida. Eu estou escolhendo isso, escolhendo você. Para mim, não há outra opção. Eu só queria que você soubesse que estou indo para isso de olhos bem abertos. Eu conheço os riscos e sei que, enquanto você estiver respirando, não vai deixar nada nos tirar de você. — Eu morreria por você, — concordei facilmente enquanto ela passava os dedos pela minha barba. — E eu viverei para você até esse dia. Você não se preocupa com nada, Bea. Eu cuidarei de tudo que vier. — Eu sei, — disse ela, aninhando-se em mim, os olhos pesados com a necessidade de dormir. — Eu não preciso ter medo de nada quando tenho meu próprio psicopata.

Eu ri em seu cabelo, mas segura em meus braços, segura contra meu peito, minha garota já estava apagada como uma luz.

Epílogo Bea Sete meses depois

O ar de verão era espesso e doce, meloso com o perfume de madressilva e lilás. Deitei na grama longa e seca em um cobertor rosa xadrez com os olhos fechados para saborear a sensação do sol na minha pele e aquele rico aroma do verão. Havia uma dor nas minhas costas, um nó apertado que parecia ficar mais forte a cada batida do meu coração, mas o solo macio abaixo de mim e os sons suaves das abelhas zumbindo me embalaram em uma espécie de semissono. Minhas mãos alisaram preguiçosamente sobre minha grande barriga, inchada quase comicamente por causa do meu corpo esguio sob um vestido de algodão branco. — Inchada como um pêssego. — A voz do meu parceiro, meu Old Man, meu psicopata. Eu sorri, pairando minha mão sobre os olhos para bloquear o brilho enquanto olhava para Priest pairando sobre mim em uma camiseta preta justa. Era de manga curta, algo que ele começou a fazer se passasse o dia só comigo, sem vergonha de suas cicatrizes agora porque eu disse a ele muitas

vezes que eram lindas. Para mim, elas eram. Emblemas das tragédias que ele superou, marcas da formação desse homem que significava tudo para mim. Eu adorava beijar os sulcos de sua pele curada e esfregar meu polegar sobre as queimaduras rosa e sedosas como se meu toque pudesse aliviar uma dor fantasma. Priest agora às vezes mostra os braços, então de certa forma, acho que sim. Ele não sorriu enquanto olhava para mim porque mesmo sendo o mais feliz que eu já vi, ele ainda não estava inclinado a usar a expressão a menos que fosse uma ameaça. Em vez disso, suas sobrancelhas estavam frouxas em seu sulco perpétuo, seus lábios carnudos e suaves em vez de pressionados, e seus olhos, aqueles olhos verdes pálidos como pedra preciosa, brilharam com emoção tangível quando ele olhou para minha forma aquecida pelo sol. Eu ri quando ele puxou uma sacola de trás de suas costas, enfiou a mão dentro e tirou uma caixa de pêssegos. — Sim, — eu chiei, tentando me sentar com alguma aparência de graça quando minha barriga tornou quase impossível fazer isso. Priest teve misericórdia de mim, deixando cair a sacola no chão ao meu lado antes de me oferecer a mão para me puxar para cima. Depois ele se moveu para trás de mim, colocando suas longas pernas em cada lado do meu corpo, então eu estava embalada em seu colo, sua mão me puxando para trás para me apoiar em seu torso duro e esculpido. Ele fez isso, posicionando-me, muitas vezes. Ele gostava de mim tão perto dele quanto podia ou as pessoas permitiriam em situações sociais, enfiada debaixo do seu braço, presa ao seu lado, no colo se ele estivesse sentado, ou entre as pernas em um banquinho. Mesmo se ele estivesse ocupado conversando com outra pessoa,

ele estava ciente de mim em pequenos movimentos, sua mão emaranhada em meu cabelo, um dedo preso em uma alça de cinto, seus lábios se movendo pelo meu cabelo enquanto ele ouvia alguém falar. Loulou reclamou que não conseguia chegar a nenhum de nós se estivéssemos juntos em uma sala. Estávamos presos um ao outro, o magnetismo entre nós tinha sua própria força gravitacional e ficávamos felizes em ficar na órbita um do outro. Eu ainda trabalhava na Pequena Senhorita Assassinato, que havia explodido desde o evento do Profeta, e agora me dava um salário para viver sem usar a minha herança de Benjamin, e Priest ainda tinha seus negócios com o clube e um emprego na Hephaestus. Mas sempre que estávamos livres, estávamos juntos. Sempre soube que alguns casais eram assim. Embora nunca tivesse pensado que seria um deles, fazia sentido para nós. Éramos a obsessão um do outro. Observei Priest escolher um pêssego maduro da caixa com seus dedos longos e tatuados e, em seguida, abrir o canivete com a outra mão. Com os braços em volta de mim, ele o cortou lentamente, deliberadamente um único pedaço, então o perfurou com a ponta da faca e a levou aos meus lábios. Eu o coloquei em minha boca com os dentes, os sucos doces derramando pelo canto enquanto eu mastigava o pedaço grande. Cuidadosamente, Priest inclinou minha cabeça para trás contra seu ombro para que ele pudesse usar a ponta da faca para raspar a umidade da parte de baixo do meu pescoço até o meu queixo.

Eu apertei minhas coxas contra a dor que floresceu quando ele trouxe a faca para sua própria boca e lambeu o suco. Seus olhos estavam totalmente escuros enquanto permaneciam em meus lábios enquanto ele me alimentava com outro pedaço. Minha língua atacou para pegar uma gota de suco, e senti seu pau crescer contra minhas costas. — Só você poderia tornar erótico comer um pêssego, — eu respirei enquanto seus dedos fortes envolveram minha garganta e inclinaram minha cabeça para trás para que ele pudesse lamber meus doces lábios pegajosos. — Você começou, — ele afirmou. — Dezessete anos e chamando minha atenção como se você não se importasse que eu fosse um assassino. — Se alguma vez me importei, foi apenas porque achei sexy, — admiti. Observei enquanto ele usava a faca agora limpa para traçar padrões de luz ao longo do topo dos meus seios visíveis acima do vestido de algodão. Eles incharam fortemente com a minha gravidez, praticamente derramando de todas as minhas roupas velhas, não importa o quão soltas elas estivessem. Priest estava gostando deles. Surpreendentemente, ele aproveitou cada momento da minha gravidez, saboreando as mudanças, vendo meu corpo crescer como se eu fosse uma flor rara e delicada florescendo. Era erótico como o inferno o ter me adorando na cama, o inchaço do meu estômago, a pele delicada e esticada dos meus seios. Ele espalmou um agora em sua grande mão, testando o peso. — Grávida de oito meses e você nunca foi mais sexy para mim. — Priest, — eu protestei rindo.

— Verdade. — Ele puxou meu mamilo com força entre os nós dos dedos. — Você nunca foi mais minha do que com nosso bebê crescendo dentro de você. Eu ri então, caindo nele, empurrando minha cabeça para trás em seu ombro inflexível para que eu pudesse compartilhar essa risada com os céus. — Você poderia ser mais alfa? Ele grunhiu, me ignorando principalmente, seus olhos fixos em meus seios enquanto ele usava a faca para cortar um botão, revelando ainda mais meu decote pálido. — Priest... — Eu avisei enquanto meu corpo ficava quente e flexível em seu aperto. — Estamos em público. — Em um parque às duas horas da porra de uma terça-feira, — ele apontou enquanto sua mão mergulhou no tecido aberto e puxou minha carne, meus seios levantaram e pressionaram juntos sobre o tecido embaixo. — Ninguém vai me ver foder minha mulher. — Deus vai, — eu meio que provoquei. Priest se mexeu atrás de mim, deitando-me de volta no cobertor para que ele pudesse se acomodar meio esparramado de lado para cortar outro pedaço de pêssego. Eu assisti sem fôlego enquanto ele apertava o pedaço de fruta entre seus dedos fortes sobre meus seios, o líquido dourado do pôr do sol escorrendo em riachos para baixo e entre suas redondezas. — Deixe-os assistir, — ele deu as boas vindas com aquela voz rouca que esfolou minha pele e me deu arrepios.

E então ele abaixou a cabeça para lamber cada gota daquele doce néctar da minha carne. Sua língua açoitou com força, os dentes mordendo suavemente para testar a firmeza do meu peito, sua respiração soprando friamente sobre a pele molhada. Estremeci e gemi, agarrando-o a mim por dois punhados de seu cabelo cor de cobre sedoso. — Minha sombra adora a dor, — ele cantarolou em torno do meu mamilo antes de puxar com força entre os dentes, em seguida, chicoteando o cerne inchado com a língua. — Eu amo o contraste, — eu concordei, arqueando para a pressão. — A dor com o prazer. Ele me alimentou com seus dedos pegajosos, deslizando-os sobre a minha língua para que eu pudesse sugar os sucos. O gosto de pêssego e homem era forte o suficiente para me deixar tonta e quase sem ar. Com a outra mão, ele franziu a barra do meu vestido, passando seus dedos ásperos ao longo da borda da minha calcinha, testando a abertura do algodão para ver se eu já estava molhada para ele. Eu estava. A gravidez tinha me deixado quase febril de desejo constante, e Priest não tinha nenhum problema em atender a todas as minhas necessidades. Ele começou então, os dedos brincando sob o tecido quando um espasmo doloroso rasgou minhas costas até minha barriga. Eu assobiei. Priest reconheceu imediatamente como um som ruim e puxou sua mão. Ele inclinou a cabeça, fixando seus olhos nos meus grandes. Ele não me perguntou se eu estava bem porque ele me leu em um instante. Quando ele se levantou, tentei protestar, mas ele me silenciou com uma única carranca. — Estamos indo para o hospital.

— Priest, estou bem. As dores são normais. Talvez sejam contrações de Braxton Hicks. Eu tentei ao máximo não rir, mas Priest era o futuro pai mais orientado para os detalhes que eu já conheci. Ele leu livros de ciências sobre gravidez e parto, estudando como um médico para um exame. Quando fomos às consultas médicas, ele realmente assustou a adorável Dra. Rosen tanto com seus interrogatórios quanto com sua intensidade. — Descreva a dor, — ele exigiu então. Cruzando os braços sobre o peito, ele me olhou como se eu fosse o inimigo. Meus lábios se contraíram, mas segurei meu sorriso. — Minhas costas estão doendo, mas isso não é exatamente incomum, e então tive esse espasmo na minha barriga. Seus olhos se estreitaram, cabeça inclinada enquanto ele corria cálculos mentais por sua cabeça. — Estou bem, — insisti. — Podemos continuar nosso piquenique? — Se você sentir a mesma dor em dez minutos, nós vamos, — ele determinou em um tom que não media argumentos. — Tente mudar de posição. Eu li que ajuda se for Braxton Hicks. — Sim senhor, — eu murmurei baixinho enquanto me movia para uma inclinação parcial do meu lado, apoiada em um cotovelo. Priest estava de repente agachado diante de mim, apertando meu queixo entre os dedos, então fui forçada a encontrar a intensidade de seu olhar. — Você e este bebê são meu coração, meu pulso. Você quer foder com isso?

Meu coração amoleceu. Às vezes, eu esquecia como isso era novo para ele, amar alguém. Não houve um momento ou aspecto de me amar que ele deu como certo. Para um homem que não acreditava em milagres, ele me tratava como um todos os dias. Ele já sentia o mesmo por nosso bebê. Fiquei surpresa quando ele não quis saber o sexo antes do nascimento porque ele era muito pragmático, mas dessa forma, fazia sentido. Ele explicou seu raciocínio de forma simples, descobrir quem era nosso bebê quando ele nascer era a maior surpresa, o maior milagre que ele já experimentou, e ele não queria estragar isso. Foi um dos muitos momentos nos últimos seis meses que me fez perceber que havia certa sabedoria a ser encontrada nas tendências psicopáticas do meu homem, que eram essas mesmas características que o tornavam tão singularmente belo. — Tudo bem, — eu concordei facilmente. — Até então, sente comigo. Relutantemente, ele se sentou. Ele estava tenso, os músculos enrolados com energia potencial apenas no caso de acontecer qualquer coisa que precisasse dele para entrar em ação. Observando-o, sabendo o quão conflituoso ele estava sentado lá porque eu pedi a ele quando ele realmente queria me levar para o hospital, meu coração se apertou por um longo e quase doloroso momento de amor agonizante por ele. — Eu te amo, — eu disse a ele, sentindo que as palavras eram tão inadequadas quando se tratava do que compartilhamos. — Eu te amo com tudo que sou. Priest piscou para mim do jeito que sempre fazia quando eu era efusiva, como se ele não pudesse se aclimatar totalmente às minhas declarações ou à

verdade delas. Então ele se mexeu, um lento desenrolar dos músculos magros de forma que ele ficou meio apoiado em um antebraço protuberante de frente para mim. — Você é todo o meu coração, — ele explicou de fato, sem um pingo de entonação. — E este bebê também. Ele colocou sua grande mão com a estampa da morte na minha barriga, espalhando os dedos. Eu li os nomes dos falecidos em cada junta, a mais nova adição em seu polegar um lembrete constante do que passamos. Linley. Surpreendentemente, não era um lembrete doloroso quando eu tive um vislumbre dele como sempre fazia, mas um lembrete poderoso. Era um obstáculo aparentemente intransponível que havíamos superado juntos, e talvez fosse estranho, mas eu estava orgulhosa disso. Ficamos em silêncio por um tempo, ambos mergulhados em nossos próprios pensamentos. Não éramos um casal que assistia à televisão ou saía para beber em bares. Éramos as pessoas que jogaram facas na velha cruz que o Priest transplantou para o meu quintal, o casal que praticava autodefesa para se divertir no tapete rosa de nossa sala de estar e o casal que ficava sentado em silêncio enquanto ele entalhava ou lia e eu estudava para as aulas. Não era exatamente uma vida tranquila que levamos ou normal, mas foi a única vida que eu sempre quis. Sua mão ainda estava na minha barriga quando, minutos depois, meu abdômen se contraiu com tanta força que fez meus dentes doerem enquanto se apertavam contra a dor. Ele podia sentir o aperto do meu útero sob seus dedos,

e segundos depois, eu estava sendo levantada em seus braços, peso extra e barriga de grávida e tudo tão facilmente como se fosse um saco de farinha. — Nossas coisas, — eu gritei, olhando por cima do ombro enquanto ele se afastava de nosso cobertor e cesta de piquenique. — Vou mandar um prospecto buscar quando chegarmos ao hospital. Suspirei dramaticamente, mas ele me ignorou enquanto caminhava pela grama longa e oscilante para ir direto para o estacionamento. Fazia meses desde que eu estive na garupa de sua moto. Eu perdi isso, mas adorei o fato de que Priest nos dirigiu em meu Fiat 124 Spider 1982 rosa. Ele não dava a mínima para o que alguém pensava disso, então ele não se incomodou com a ideia de dobrar seu longo corpo ao volante e nos transportar no carro rosa. Boner havia feito uma piada sobre isso uma vez, mas se deparou com o olhar frio de Priest, ele não proferiu uma de novo. Só quando eu estava acomodada no banco do passageiro com meu cinto afivelado e Priest atrás do volante ele finalmente olhou para mim de novo como se eu fosse humana. Eu não levei isso para o lado pessoal. Essa era a composição de seu cérebro, para enfrentar os problemas sistematicamente. — Se for isto, em algumas horas você terá me dado o maior presente que já conheci e sempre temi, — ele murmurou enquanto apertava minha coxa antes de colocar a mão no encosto de cabeça para verificar atrás dele enquanto dava a ré no carro. — Obrigado, mo cuishle. Eu dei um tapinha em sua coxa dura, então dei um aperto recíproco enquanto olhava pela janela para esconder minhas lágrimas de felicidade.

    Trinta e sete horas. Claro, nenhum filho de Priest seria fácil. O diabinho demorou, e nada do que fizéssemos o apressaria. — Ele gosta de lá, seguro com você, — Priest adivinhou em um ponto enquanto enxugava minha testa suada e me alimentava com pedaços de gelo com os dedos. — Não o culpe. O mundo não é um lugar fácil. — Você o protegerá, — eu disse porque sabia que ele faria qualquer coisa e tudo para garantir que nosso bebê tivesse a melhor vida possível, um tipo de vida diferente do que Priest havia sofrido. Ele grunhiu, mas houve um amolecimento em sua boca quando ele tirou uma mecha de cabelo da minha bochecha lisa. Todo o clube estava fora da sala de espera de St. Katherine, desta vez, esperando por um nascimento em vez de uma possível morte. Loulou segurou minha mão e me fez rir para tirar minha mente da dor e Phillipa também, embora ela ficasse nervosa perto de Priest, mas tentando não ficar. Estávamos trabalhando em nosso relacionamento, minha mãe, irmã e eu, sendo aberto e

honestamente comunicativo pela primeira vez em nossas vidas. Não era fácil, mas no final valeu a pena tentar ganhar o amor e a lealdade uma da outra, em vez de apenas assumir por procuração. Às tinta e seis horas, o Dr. Rosen declarou que precisávamos fazer uma cesariana de emergência porque meu colo do útero parecia não dilatar o suficiente e o bebê estava em perigo. Priest quase derrubou a mesa de instrumentos médicos na pressa de me tirar da sala privada e me levar para a cirurgia. — Estou com medo, — confessei enquanto eles me colocavam na sala de cirurgia, um lençol ocultando minha barriga. A mão de Priest estava agarrada na minha com tanta força que eu poderia estar causando a ele dor física, mas é claro, ele não disse nada. Ele se inclinou perto do meu rosto em sua roupa azul, barba obscurecida por uma máscara, uma touca sobre sua longa e espessa juba de cabelo cobre, então seus olhos eram tudo que eu podia ver. Aqueles olhos verdes pálidos contornados em um círculo preto grosso que eu aprendi que era chamado de anel limbal. — Você não é fraca, — ele me lembrou, a voz cheia de vigor como se pudesse passar a força de sua convicção para mim apenas através do tom. — Você nunca foi. E agora, depois de tudo, está ainda mais forte. Você vai fazer isso, minha Bea. Você vai trazer nosso bebê a este mundo. Me agarrei em sua mão, em seu olhar, o tempo todo em que operaram. E então, vinte minutos depois, o médico declarou que tínhamos um bebê. Um menino.

Eu estava chorando antes mesmo de ver ele por causa da expressão no rosto de Priest. Ele podia ver além do pano onde eu não conseguia, seu olhar fixo em um único ponto que deve ser nosso bebê nos braços do médico. — Oh, — ele disse, uma única e pequena exalação de som. Mas aquela única sílaba era tão profunda, um minúsculo aleluia. Toda a extensão do rosto perpetuamente carrancudo e de feições duras de Priest estava iluminada com amor, amor palpável e admiração, adoração absoluta. — Ele é... — ele tentou me explicar enquanto eles limpavam e checavam os sinais vitais do bebê McKenna. Ele balançou a cabeça, incapaz de encontrar as palavras para as emoções que sentia. — Ele é exatamente como você. — Ele parece comigo? — Eu perguntei, tão ansiosa para vê-lo que meu coração apertou. — Não, — ele sussurrou, inclinando-se para beijar minha mão que segurava através de sua máscara. — Ele é um anjo como você, nem um pouco parecido comigo. — Priest, ele é metade de você, — argumentei quando eles finalmente trouxeram meu bebê envolto em um cobertor azul para colocar ele no meu peito. Priest estava lá instantaneamente, ajudando a mover o tecido da minha camisola do hospital para que o bebê pudesse colocar sua bochecha vermelha na minha pele nua. Ele hesitou, um dedo tatuado de lápide suavemente, muito suavemente, alisando aquela bochecha rechonchuda.

Eu olhei para o rosto leve, os olhos bem fechados enquanto ele se agitava, então se acomodou ligeiramente contra mim. Ele tinha um punho tão pequeno, metade do tamanho do dedo de seu pai, e um punhado de cabelo na cabeça do mesmo tom de cobre antigo. — Ele se parece com você, — murmurei, sentindo o amor transformar cada molécula do meu corpo, me transformando da velha Bea Lafayette em algo maior, tornado inteiro e invencível pelo meu amor por seu bebê e este homem. — Como você, — Priest argumentou humildemente enquanto olhava para baixo sobre nós, alisando meu cabelo suado para trás enquanto passava o dedo sobre a cabeça felpuda do bebê. — Nós dois, então, — eu declarei em uma risada leve e chorosa. — Veja como somos lindos juntos. Priest beijou minha cabeça, e eu sabia que ele não tinha uma linguagem para os sentimentos sem precedentes que o atormentavam. — Como devemos chamá-lo? — Ele me perguntou um momento depois. Não tínhamos decidido os nomes dos bebês. Eu queria conhecer nosso pequeno McKenna antes de decidirmos qualquer coisa, talvez romanticamente pensando que o nome certo viria até nós como um raio. Eu deveria ter confiado em meus instintos porque um o fez. — Azrael, — eu disse reverentemente, ungindo sua testa com o toque do meu dedo. — Azrael Axelsen McKenna. Um pequeno sorriso, pequeno e recém-nascido como nosso bebê, apareceu nos cantos da boca de Priest. — O anjo da morte.

— Você e eu, — eu repeti enquanto Azrael fazia um pequeno som de miado. — Acho que ele gosta. — Sim, — ele concordou. — O benevolente anjo da morte parece estar certo. O produto da vida e da morte. Eu cantarolei, exaustão e contentamento profundo suavizando meu corpo em uma vigília sonolenta. — Obrigado, — Priest disse de novo, inclinando a cabeça para baixo para que pudesse me olhar diretamente nos olhos, toda a sua mão espalmada ternamente na nuca de Azrael enquanto ele se movia. — Obrigado por me trazer de volta, por me dar tanto pelo que viver. Lágrimas escorreram pelo meu rosto, limpando e renovando como um batismo. Puxei meu homem para perto de mim, pressionando um beijo em sua boca linda e séria enquanto ambos abraçávamos nosso bebê, e eu sabia que não importava nosso não convencional, os pecados do nosso passado ou as tribulações que enfrentaremos em nosso futuro, meu psicopata e eu merecíamos um epílogo suave e um final feliz do caralho.

Agradecimentos Acordei uma manhã neste outono com meu coração batendo tão forte que pensei que estava tendo algum tipo de episódio. O resultado do meu sonho ainda estava queimando no fundo do meu cérebro, puxando minha consciência ao longo do caminho que fiz enquanto dormia. Quando capturei o máximo de memória que pude, pulei da cama e fui para o meu escritório. As cenas de abertura de Dead Man Walking foram inspiradas diretamente por aquele sonho que eu tive de ser puxado de um naufrágio por um homem obscurecido em um moletom preto. Este livro é mais sombrio do que os outros em The Fallen, mas em seu cerne a história ainda é sobre encontrar aceitação, amor e família, não importa o quão quebrado ou o quanto você seja uma pária. Gosto de escrever temas obscuros ou proibidos porque eles nos fazem questionar o quão longe é demais quando se trata de amor. Na minha humilde opinião, essa linha é muito difícil de cruzar. Eu fiz uma tonelada de pesquisas sobre psicopatas e assassinos em série para que eu pudesse escrever sobre Priest, Seth e Tabitha de uma forma muito real. Se você estiver interessado na minha pesquisa, tenho uma seção no meu site sobre isso! Uma nota sobre religião: acredito piamente na liberdade de religião e expressão. Seth Linley e suas práticas não são de forma alguma como eu vejo o Cristianismo ou aqueles da fé cristã. Ele é uma aberração e um vilão horrível. Quando penso em bons cristãos, é o avô de Bea que me vem à mente. Ele incorpora todos os maravilhosos traços de perdão, amor, autoconsciência e fé que tanto admiro. Para minha garota, Allaa. Como sempre, eu não seria capaz de fazer este trabalho sem o seu apoio e entusiasmo imorredouro. Priest e Bea têm sido seus bebês desde que

mencionei sua história pela primeira vez, e seu amor por eles tornou a escrita deste livro ainda mais prazerosa. Obrigada por ser minha #gêmea e melhor amiga. A Annette, minha menina do sol, obrigada por sempre ser meu raio de luz e um apoio constante. Minha vida melhorou dez vezes desde que começamos a trabalhar juntas. Sinceramente, sou grata todos os dias por seu papel em minha vida. Eu te amo para sempre e sempre. Michelle, minha irmã alma suja, o paraíso mais seguro e sem julgamento que tenho para todos os meus pensamentos desviantes e sombrios. Obrigada por abrigar meu coração com segurança e me proteger sempre. Eu te amo. A Jenny da Editing 4 Indies, obrigada por ser a editora mais fria e gentil de todo o mundo. Como de costume, você ajudou a fazer brilhar minhas palavras com seu esmalte e aguentar minha loucura. Para Sarah Plocher, estou muito feliz por termos podido trabalhar neste livro juntas! Sua gentileza e profissionalismo são tão admirados. Você é uma estrela do rock! Para Najla, que mata em todas as minhas capas e meu design gráfico. Obrigada por ter conseguido minha visão, por sempre trabalhar até que esteja perfeita e por estar comigo desde o início com The Affair. Ella, meu amor, obrigada por pontuar minha vida com sua doce voz e sagacidade. Falar com você quase todos os dias é sempre um destaque. Becca, obrigada por acalmar minha ansiedade e pensamentos excessivos com sua calma e inteligência. Eu te adoro. Giana Darling’s Poppies! Vocês estão me humilhando com seu entusiasmo e apoio de minhas palavras. As imagens e edições que você cria inspiradas em meus livros são algumas das coisas mais impressionantes que já vi. Você tem meu amor eterno por ser minha cavalgada ou minha tribo! Queridos de Giana, não se preocupem, eu nunca os esqueceria! Obrigada por ser meu canto seguro na Internet, onde podemos falar sobre alfas, livros e a vida uns dos outros.

Aos meus amigos autores, sou muito abençoado por chamar tantos de meus colegas talentosos de meus amigos verdadeiros e há muitos de vocês para contar. Então, direi apenas, obrigada pela promoção cruzada, obrigado por se levantarem porque as rainhas apoiam as rainhas. Vocês significam o mundo para mim. Para Sarah Green, que me faz rir todos os dias, obrigada por me fazer sorrir mesmo quando estou estressada como o inferno. Um grande grito para os blogueiros que se inscreveram para promover e/ou avaliar Dead Man Walking! Sem você, este livro nunca teria sido um sucesso, então, obrigada! Todo meu amor deve ir primeiro para @fansofgianadarling que fez um lugar especial no Instagram apenas para meus leitores. Emilie, você é uma verdadeira pedra preciosa e estou muito grata por conhecê-la e chamá-la de amiga. Um agradecimento especial deve ser dado a Jessica de @peacelovebooksxo por sempre recomendar The Fallen Men e Mary @makeupandmary por seus vídeos hilários e incríveis sobre a série. Além disso, Weronica @littlesteamyreads por me tornar os flatlays mais lindos e Pang @ shereads.pang pelas minhas histórias de IG! Fiona e Lauren, vocês me ensinaram sobre a irmandade desde que eu era apenas uma criança. Obrigada por sempre estar ao meu lado apoiando e torcendo por mim tão ruidosamente sempre que faço as coisas mais minuciosas. Você me humilha e me anima com seu amor. Armie, minha esponja do amor, toda vez que me sento para escrever, imagino você na sala ouvindo o estalar dos meus dedos das teclas, zombando de mim sobre as estranhas voltas e mais voltas da minha mente. Você significa tudo para mim. Aos meus animais de estimação, Romeu e Perséfone, obrigada por me abraçar enquanto estou escrevendo. É muito solitário a busca tornada muito mais surpreendente por sua companhia. Enfim, como sempre, ao Amor da minha Vida. Este ano, nós nos mudamos juntos e nos tornamos pais, nosso primeiro bebê de peles, dois passos enormes que tornaram a tempestade de merda de 2020 de alguma forma um dos melhores anos da minha vida. Como o Priest com Bea, você tem a capacidade de me fazer grata por minha vida e seu

amor, mesmo em meio ao caos e à tristeza. Obrigada por ser o homem dos meus sonhos e me ajudar a realizar todos os meus outros sonhos.

Sobre a Autora Giana Darling é jornalista do USA Today, Wall Street Journal, escritora de romances canadense mais vendida, especializada no lado tabu e angustiante do amor e romance. Ela atualmente mora na bela Colúmbia Britânica, onde passa o tempo andando na garupa da moto de seu marido, assando tortas e lendo aconchegada com sua gata, Perséfone.
The Fallen Men 6 - Dead Man Walking (PAPA LIVROS)

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